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Trabalho HIP

O trabalho de pesquisa analisa as tendências políticas atuais em África, abordando a luta pela democracia, a influência da globalização e a crise do Estado-nação. O documento discute o papel de mídias, ONGs e intelectuais na construção da democracia, além de examinar diferentes regimes políticos e suas características. A pesquisa é fundamentada em uma revisão de literatura e busca compreender os fenômenos contemporâneos em contextos históricos e culturais.
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O trabalho de pesquisa analisa as tendências políticas atuais em África, abordando a luta pela democracia, a influência da globalização e a crise do Estado-nação. O documento discute o papel de mídias, ONGs e intelectuais na construção da democracia, além de examinar diferentes regimes políticos e suas características. A pesquisa é fundamentada em uma revisão de literatura e busca compreender os fenômenos contemporâneos em contextos históricos e culturais.
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UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

Faculdade de Educação

Temas Atuais: Tendências Politicas da Atualidade

Curso de Licenciatura em Ciências de Educação- 3º ano

VIº Grupo

Ednílio Zacarias da Costa Rosário


José Castigo Júnior

Chimoio
2

Abril, 2025

VIº Grupo

Ednílio Zacarias da Costa Rosário


José Castigo Júnior

Temas Atuais: Tendências Politicas da Atualidade

Trabalho de pesquisa da cadeira de Historia


de Ideias Politicas, a ser submetido no
Departamento de Psicologia e Pedagogia no
curso de Licenciatura em Ciências da
Educação 3º ano Iᵒ semestre, sob orientação
do Mestre: Cassene Fombe

Chimoio

Abril, 2025
3

Índice

CAPITULO I...................................................................................................................................5

Introdução........................................................................................................................................5

Objetivos..........................................................................................................................................6

1.0. Objetivos...................................................................................................................................6

1.1. Objetivo Geral.......................................................................................................................6

1.1.1. Objetivos Específicos.....................................................................................................6

1.2. Metodologia..........................................................................................................................6

CAPITULO II..................................................................................................................................7

2.0. Revisão de Literatura................................................................................................................7

2.1. Tendências Políticas da Atualidade......................................................................................7

2.1.1. Principais Tendências Políticas da Atualidade...............................................................7

2.2. Tipos de Regimes Políticos da Atualidade.........................................................................10

2.3. Ideologias de Socialismo Africano e a Transição ao Pluralismo Político..........................14

2.3.1. A Transição para o Pluralismo Político........................................................................16

2.4. Evolução da centralização, descentralização e concentração e desconcentração em África


....................................................................................................................................................17

2.4.1. Características da centralização:..................................................................................17

2.5. Globalização e Crise do Estado-nação em África...............................................................19

2.5.1. O Estado-nação e como se configura em África:.........................................................19

2.5.2. Globalização: forças externas que desafiam a soberania.............................................20


4

2.5.3. Sinais da crise do Estado-nação em África..................................................................20

2.5.4. Reações e alternativas diante da crise..........................................................................20

2.6. Papel das Mídias, ONGs, Estudantes e Intelectuais na Construção da Democracia e na


Luta contra a Pobreza nos Estados Africanos............................................................................21

CAPITULO III...............................................................................................................................24

Conclusão...................................................................................................................................24

Referências bibliográficas..........................................................................................................25
5

CAPITULO I

Introdução
Nas últimas décadas, os países africanos têm passado por transformações políticas,
sociais e econômicas profundas. A luta pela consolidação da democracia, a influência crescente
da globalização, a crise do Estado-nação e o surgimento de novos atores sociais, como as mídias,
ONGs, estudantes e intelectuais, têm moldado de maneira significativa os rumos das sociedades
africanas.

Essas questões refletem tanto os desafios herdados do colonialismo quanto os esforços


atuais para alcançar maior desenvolvimento, justiça social e participação cidadã.

Ao mesmo tempo em que enfrentam problemas como pobreza, desigualdade e


instabilidade política, muitos Estados africanos vêm adotando reformas políticas, promovendo
descentralização administrativa e fortalecendo instituições democráticas.

Nesse processo, torna-se fundamental compreender o papel que diferentes atores sociais
exercem na promoção da democracia, na defesa dos direitos humanos e na construção de uma
sociedade mais justa.

O presente trabalho propõe-se a refletir sobre essas questões, oferecendo uma análise crítica das
tendências políticas atuais em África, a partir de uma abordagem teórica e contextualizada.
6

Objetivos

1.0. Objetivos

1.1. Objetivo Geral


 Analisar as principais tendências políticas da atualidade.

1.1.1. Objetivos Específicos


 Compreender os efeitos da globalização e da crise do Estado-nação nos países africanos.

 Discutir o papel das mídias, ONGs, estudantes e intelectuais na promoção da democracia


e da justiça social.

 Refletir sobre as transições políticas e ideológicas nos Estados africanos contemporâneos.

1.2. Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, com base em livros,
artigos acadêmicos, outras fontes confiáveis. A análise foi orientada pela leitura crítica de
autores africanos e estudiosos das ciências sociais e políticas, buscando compreender os
fenômenos contemporâneos em seus contextos históricos, culturais e políticos.
7

CAPITULO II

2.0. Revisão de Literatura

2.1. Tendências Políticas da Atualidade


As tendências políticas da atualidade representam os movimentos, ideologias e
abordagens emergentes e dominantes no cenário político mundial. Elas refletem as mudanças nas
valores sociais, estruturas econômicas, avanços tecnológicos e transformações culturais que têm
ocorrido nas últimas décadas, influenciadas por fatores como globalização, crises econômicas, o
papel crescente da internet e dos movimentos sociais (Abrahamson, 2017).

2.1.1. Principais Tendências Políticas da Atualidade


a) Populismo:

Para Abrahamson O populismo é uma das tendências mais proeminentes e controversas da


política contemporânea. Ele pode se manifestar de diversas formas, tanto à direita quanto à
esquerda, e pode ter impactos significativos nas democracias ao buscar moldar as políticas
públicas de acordo com a vontade do "povo", muitas vezes em oposição às elites políticas e
econômicas. O populismo é frequentemente caracterizado pela retórica anti-establishment, pelo
nacionalismo e por uma retórica polarizadora.

Exemplo na direita: A ascensão de figuras como Donald Trump (EUA), Jair Bolsonaro
(Brasil), e Viktor Orbán (Hungria), que utilizam um discurso contra a imigração, contra o
globalismo e defendem a soberania nacional (Idem).

Exemplo na esquerda: Movimentos populistas de esquerda, como o de Bernie Sanders nos


EUA, buscam reformas estruturais para combater a desigualdade social, promovendo políticas
progressistas como o aumento de salários, ampliação do estado de bem-estar social e saúde
pública universal (Idem).
8

b) Nacionalismo

Segundo o autor, o nacionalismo tem ressurgido com força nas últimas décadas,
especialmente em países que enfrentam desafios relacionados à identidade nacional, à soberania
e à globalização. O nacionalismo atual muitas vezes se mistura com o populismo e o anti-
globalismo, buscando fortalecer a identidade cultural e resistir a influências externas. Além
disso, o nacionalismo pode levar a políticas de protecionismo econômico, controle de fronteiras e
exclusão de imigrantes.

Por Exemplo: O Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) é um caso claro de como
o nacionalismo e o desejo de maior autonomia política e econômica podem levar a decisões
políticas de grande impacto. Outros países, como Polônia e Hungria, também têm adotado
políticas nacionalistas que desafiam normas da União Europeia, especialmente em questões
como direitos civis e imigração (Idem).

c) Liberalismo Progressista

Segundo Carvalho (2010), O liberalismo progressista é uma tendência que se foca na defesa
dos direitos humanos, liberdades civis, igualdade de gênero, direitos LGBTQ+ e justiça social. A
ênfase é na criação de uma sociedade mais inclusiva, onde as políticas públicas promovem a
igualdade de oportunidades e protejam as minorias. Além disso, essa tendência defende uma
economia de mercado, mas com regulamentações sociais e ambientais que busquem reduzir
desigualdades e promover o bem-estar coletivo.

Por Exemplo: Líderes como Justin Trudeau (Canadá) e Emmanuel Macron (França)
representam a defesa de uma agenda liberal progressista, que inclui questões como mudanças
climáticas, políticas de imigração inclusivas, expansão de direitos civis e governos abertos
(Idem).

d) Autoritarismo e Controle Social

O autoritarismo é uma tendência que tem se intensificado em algumas regiões do mundo,


com líderes que buscam concentrar poder e minar a democracia. Essa tendência está associada à
restrição de liberdades civis, ao controle da mídia, à supressão de oposição política e ao
9

fortalecimento das forças de segurança e do Estado. Muitas vezes, os regimes autoritários se


justificam com a promessa de estabilidade e segurança nacional, apresentando-se como uma
resposta às incertezas da globalização e das crises internas (Abrahamson, 2017).

Por Exemplo: Líderes como Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China) e Recep Tayyip
Erdoğan (Turquia) têm adotado práticas autoritárias, enfraquecendo as instituições democráticas
e controlando a sociedade, ao mesmo tempo em que afirmam agir em nome do desenvolvimento
e da segurança nacional (Idem).

e) Globalismo vs. Anti-Globalismo

O debate entre globalismo e anti-globalismo é uma característica central das tendências


políticas atuais. O globalismo defende a integração internacional, a cooperação global em
questões como comércio, segurança e política climática, e o fortalecimento de organizações
internacionais como as Nações Unidas. Já o anti-globalismo se opõe à globalização e propõe
uma maior soberania nacional, frequentemente resistindo a acordos multilaterais e políticas de
imigração (Idem).

Por Exemplo: O Brexit, liderado por movimentos anti-globalistas, refletiu um desejo de


recuperar a soberania do Reino Unido em relação à União Europeia e outras instituições
supranacionais (Idem).

f) Tecnocracia e Governança Digital

Para Carvalho (2010), o aumento da tecnologia e da inteligência artificial tem gerado


uma tendência crescente de tecnocracia, onde especialistas e cientistas governam com base em
conhecimento técnico e científico, em vez de líderes políticos tradicionais. A governança digital
também se refere à utilização de tecnologias digitais para tomada de decisões, participação
cidadã e administração pública, visando maior eficiência e transparência nos processos
governamentais.

Por Exemplo: Países como a Estônia têm explorado a ideia de governo digital,
implementando plataformas de e-governança que permitem uma interação mais eficiente entre o
cidadão e o Estado (Idem).
10

2.2. Tipos de Regimes Políticos da Atualidade


De acordo com Levinas (2020), os regimes políticos são estruturas de poder e governança
que organizam as relações políticas e sociais em uma sociedade. Na atualidade, diversos tipos de
regimes podem ser observados ao redor do mundo, variando de democracias liberais a regimes
autoritários, com variações e formas híbridas entre esses extremos. Estes regimes influenciam
diretamente as políticas públicas, os direitos dos cidadãos e a forma como as sociedades se
estruturam e se governam.

1) Democracia Liberal

A democracia liberal é o regime político mais amplamente adotado no mundo ocidental e em


várias outras regiões. Esse regime é caracterizado pela participação popular, pluralismo político,
liberdade de expressão e a proteção dos direitos individuais. Em uma democracia liberal, o poder
é frequentemente dividido entre diferentes instituições (executivo, legislativo e judiciário) e os
cidadãos têm a capacidade de escolher seus líderes por meio de eleições livres e justas (Levinas
2020).

Características principais:

 Eleições livres e regulares: Os cidadãos escolhem seus representantes por meio do


voto.

 Estado de Direito: As leis são aplicadas igualmente a todos, incluindo os governantes.

 Liberdades individuais: Direitos como liberdade de expressão, reunião e associação


são garantidos.

 Divisão de poderes: O governo é organizado em diferentes esferas de poder para


evitar abusos e garantir o controle mútuo (Idem).

Exemplos: Países como Estados Unidos, França, Alemanha e Canadá são exemplos de
democracias liberais (Idem).

1) Democracia Direta
11

Para Levinas, aa democracia direta, os cidadãos não elegem representantes para tomar
decisões em seu nome, mas diretamente participam da formulação de leis e políticas. Esse
modelo é mais raro em países modernos, mas pode ser observado em referendos, iniciativas
populares e plebiscitos, onde os cidadãos votam diretamente sobre questões específicas. O
conceito de democracia direta tem raízes na Grécia Antiga e ainda é praticado em alguns níveis
nos Cantões da Suíça.

Características principais: Participação direta do povo nas decisões políticas. Referendos e


plebiscitos para decisões cruciais. Descentralização: A tomada de decisões é mais próxima da
população (Idem).

Exemplos: A Suíça adota um sistema de democracia direta em muitos aspectos do


governo, com frequentes referendos e iniciativas populares.

2) Autoritarismo

De acordo com Forrester (2011), os regimes autoritários são caracterizados pelo controle
centralizado do poder político, com pouca ou nenhuma liberdade política e restrição às
liberdades civis. Em um regime autoritário, o poder é geralmente exercido por uma única figura
ou partido, e o espaço para a oposição política e a liberdade de expressão é fortemente limitado.
Esse tipo de regime pode ser justificado pela ideia de manter a ordem, a segurança nacional ou a
estabilidade.

Características principais:

 Poder centralizado: O poder está concentrado nas mãos de um líder ou grupo pequeno.

 Supressão da oposição: Liberdade de expressão e atividades políticas contrárias ao


regime são restritas ou proibidas.

 Controle da mídia: O governo controla ou censura os meios de comunicação.

 Ausência de pluralismo político: Não há um sistema competitivo de partidos ou eleições


livres (Idem).
12

Exemplos: China, Rússia e Arábia Saudita são exemplos de regimes autoritários, onde o
governo controla fortemente as decisões políticas e restringe a liberdade individual (Idem).

3) Totalitarismo

Forrester defende que o totalitarismo é uma forma extrema de autoritarismo, em que o


regime não só controla o poder político, mas também a vida privada dos cidadãos. Este regime
busca o controle absoluto sobre todas as esferas da sociedade, incluindo as ideias, mídia,
educação e até as ações cotidianas dos indivíduos. Os regimes totalitários buscam eliminar
qualquer forma de oposição e promover uma ideologia oficial que deve ser seguida por todos.

Características principais:

 Controle total sobre a sociedade: O governo controla todos os aspectos da vida


pública e privada.

 Ideologia oficial: Há uma ideologia dominante que o regime tenta impor à população.

 Repressão extrema: O regime usa a violência e o medo para manter o controle,


frequentemente com prisões políticas e execuções.

 Censura total: A informação é rigorosamente controlada e a oposição é silenciada


(Idem).

Exemplos: Os regimes de Joseph Stalin na União Soviética e Adolf Hitler na Alemanha


Nazista são exemplos de regimes totalitários, onde o controle do governo foi total e implacável
(Idem).

4) Monarquia Absolutista

A monarquia absolutista é um regime em que o monarca possui poder absoluto sobre o


governo e a sociedade. Esse regime foi predominante na Europa nos séculos XVI e XVII, antes
de ser progressivamente substituído por sistemas democráticos. Embora a monarquia
constitucional tenha surgido, alguns países ainda mantêm uma monarquia absolutista ou com
13

poderes amplamente concentrados nas mãos do monarca, sem a necessidade de consultar o


parlamento ou outras instituições (2000).

Características principais:

 Poder absoluto do monarca: O monarca detém o controle total sobre o governo e a


legislação.

 Ausência de controles democráticos: Não há sistemas de contrapesos ou divisão


de poderes.

 Legitimação divina: O monarca é frequentemente considerado como escolhido


por uma autoridade divina, o que justifica seu poder absoluto.

Exemplo atual: A Arábia Saudita ainda mantém um sistema monárquico absolutista, onde
o monarca detém grande parte do poder governamental (Idem).

 Teocracia

Santos (200), defende que a teocracia é um regime político no qual o governo é controlado
por líderes religiosos e as leis do país são baseadas em doutrinas religiosas. Em uma teocracia, as
autoridades religiosas não apenas influenciam a política, mas definem as políticas públicas de
acordo com os preceitos religiosos. Embora as teocracias possam adotar aspectos de regimes
autoritários, elas se distinguem por sua ênfase em normas religiosas.

Características principais:

 Governo religioso: O poder político está nas mãos de líderes religiosos ou é


influenciado fortemente por eles.

 Leis religiosas: As leis do Estado são baseadas em dogmas religiosos.

 Ausência de liberdade religiosa: O governo frequentemente restringe ou persegue


outras religiões ou práticas.
14

Exemplo: Vaticano é um exemplo de teocracia moderna, onde a liderança religiosa


desempenha um papel central nas decisões políticas (Idem).

2.3. Ideologias de Socialismo Africano e a Transição ao Pluralismo Político


Segundo Decraene (2017), a África passou por transformações políticas significativas ao
longo do século XX, e um dos movimentos mais marcantes foi a adoção do socialismo africano
por vários países recém-independentes.

O socialismo africano não foi uma réplica do socialismo marxista-leninista europeu, mas
uma adaptação do conceito de socialismo às realidades e necessidades dos países africanos. A
transição para o pluralismo político nas décadas seguintes envolveu a adaptação dos regimes
socialistas a modelos democráticos, influenciados tanto pela pressão interna quanto pelas
dinâmicas globais (Idem).

a) Socialismo Africano: Ideologias e Práticas

O socialismo africano emergiu na década de 1960 como uma ideologia política adotada
por várias nações que acabavam de conquistar a independência do colonialismo europeu. No
entanto, ao contrário do socialismo ortodoxo que se baseava no pensamento marxista-leninista, o
socialismo africano era caracterizado por um enfoque em valores tradicionais africanos, como a
solidariedade comunitária, cooperação e autossuficiência (Idem).

O socialismo africano procurava reconciliar as necessidades de desenvolvimento com a


preservação das culturas africanas e a eliminação da exploração colonial.

b) Pan-africanismo e o Socialismo Africano

Kwame Nkrumah, o primeiro presidente de Ghana, é uma das figuras mais notáveis desse
movimento. Nkrumah defendia o pan-africanismo, um movimento de união e solidariedade entre
os países africanos, e propunha um socialismo africano focado na independência econômica e
desenvolvimento nacional (Decraene, 2017).
15

A sua visão estava centrada na construção de um Estado forte, no qual a economia fosse
controlada pelo Estado para garantir a justiça social e a eliminação das desigualdades
econômicas herdadas do colonialismo (Idem).

Para Nkrumah e outros líderes pan-africanistas, o socialismo africano deveria estar enraizado
nos valores tradicionais africanos de comunidade e cooperação, ao contrário da ênfase no
individualismo que, segundo eles, caracterizava o capitalismo ocidental (Idem).

c) O Caso de Julius Nyerere e o Socialismo Ujamaa

Para Finch (2014), Julius Nyerere, presidente da Tanzânia, é outro ícone do socialismo
africano, particularmente por sua implementação do modelo Ujamaa. O termo "Ujamaa"
significa "família" ou "comunidade" em suaíli e reflete a tentativa de criar uma sociedade
socialista baseada na cooperação e na propriedade coletiva. Nyerere implementou políticas de
coletivização agrícola, visando a autossuficiência rural e a distribuição equitativa de recursos.
Ele acreditava que o socialismo deveria ser uma adaptação aos valores africanos tradicionais,
como a vida comunitária e a igualdade.

No entanto, a implementação do Ujamaa teve desafios econômicos, como a falta de


infraestrutura, resistência local e dificuldades na organização dos agricultores em unidades
coletivas, o que, eventualmente, levou a uma revisão do modelo e a uma certa flexibilização das
políticas econômicas (Idem).

d) Outros Exemplos de Socialismo Africano

Países como Angola, Moçambique, Zâmbia e Guiné-Conacri também adotaram formas de


socialismo após a independência. Cada um desses países procurou integrar elementos do
socialismo no desenvolvimento de suas economias e sociedades, adaptando-o às suas condições
locais (Finch, 2014).

O socialismo africano nesses países teve ênfase na nacionalização das indústrias,


redistribuição de terras e fortalecimento da educação e saúde pública, com o objetivo de
erradicar a pobreza e reduzir as disparidades sociais (Idem).
16

2.3.1. A Transição para o Pluralismo Político


Com o passar das décadas, o socialismo africano começou a enfrentar dificuldades, tanto
internas quanto externas. O contexto internacional, especialmente o fim da Guerra Fria, e as
pressões internas por maior liberdade política e democratização levaram muitos países africanos
a transitar para sistemas mais pluralistas (Harris, 2015).

I. Pressões Internas e Externas para Democratização:

Nos anos 1980 e 1990, muitos países africanos passaram por transições políticas
significativas, pressionados por fatores internos (descontentamento popular com os regimes
autoritários e o fracasso das políticas socialistas) e externos (pressões internacionais por
democratização e os ajustes estruturais impostos por organismos internacionais como o FMI e o
Banco Mundial) (Idem).

O autor afirma que, no cenário internacional, o fim da Guerra Fria e o colapso do socialismo
soviético também impactaram a ideologia e a prática do socialismo africano, que começou a ser
percebido como menos eficaz no contexto global de neoliberalismo e globalização.

II. O Caminho para o Pluralismo Político:

A transição para o pluralismo político envolveu a introdução de sistemas multipartidários e a


realização de eleições livres. A pressão popular e o apoio internacional para a democratização
foram fatores decisivos nesse processo. O exemplo mais significativo foi o caso de Zâmbia, onde
o presidente Kenneth Kaunda abandonou o sistema de partido único em 1991 após um
movimento popular por mais liberdade política e eleições multipartidárias (Harris, 2015).

Em Moçambique e Angola, onde o socialismo havia prevalecido por décadas, o pluralismo


político foi introduzido após longos períodos de guerra civil e regimes autoritários. A associação
da paz com o pluralismo político levou à realização de eleições multipartidárias e ao
reconhecimento das direitos humanos e das liberdades civis (Idem).

III. Desafios do Pluralismo Político na África:


17

Embora a transição para o pluralismo tenha sido positiva em muitos aspectos, a


implementação de sistemas democráticos tem enfrentado desafios consideráveis na África. A
instabilidade política, corrupção, fraudes eleitorais e golpes de estado ainda são questões comuns
em várias nações africanas, o que enfraquece as conquistas da democratização (Idem).

2.4. Evolução da centralização, descentralização e concentração e desconcentração em


África
De acordo com Nkrumah (1977), a evolução da centralização, descentralização,
concentração e desconcentração do poder em África reflete os caminhos históricos, políticos e
administrativos que os países africanos trilharam desde o período colonial até os tempos atuais.
Esses conceitos estão diretamente ligados à forma como o poder é exercido e distribuído entre os
níveis de governo, e influenciam fortemente a qualidade da governança, da prestação de serviços
públicos e da participação cidadã.

1) Centralização do Poder no Contexto Africano:

Para Nkrumah, após a independência, muitos países africanos adotaram modelos


fortemente centralizados de governo, herdados das administrações coloniais europeias. Esses
regimes concentravam o poder político, econômico e administrativo nas capitais nacionais,
limitando a autonomia das regiões e das comunidades locais.

2.4.1. Características da centralização:


Decisões políticas e orçamentárias tomadas exclusivamente por autoridades centrais;
Fraca representação dos interesses locais; Pouca autonomia administrativa e financeira das
províncias ou distritos; Concentração dos serviços públicos nas zonas urbanas.

2) Desconcentração Administrativa:

Com o tempo, e diante da necessidade de melhorar a gestão pública, muitos países


passaram a adotar a desconcentração, que é a transferência de responsabilidades administrativas
dentro da própria estrutura do governo central. Ou seja, o poder continua concentrado no Estado,
mas os ministérios e agências nacionais criam representações ou delegações em outras regiões
para facilitar a execução de políticas públicas (Lopes, 2004).
18

Por Exemplo: Um ministério da saúde com sede na capital pode abrir direções
provinciais para gerir os hospitais locais, mas sem que essas direções tenham autonomia de
decisão política.

Vantagens: Maior eficiência na administração pública; Aproximação dos serviços


públicos à população; Menor sobrecarga do governo central (Idem).

3) Descentralização Política e Administrativa

Nkrumah (1977) defende que, A descentralização ocorre quando o poder e a autoridade são
transferidos do governo central para os governos locais ou regionais, que passam a ter autonomia
política, administrativa e, em alguns casos, financeira. Essa é uma tendência crescente em África,
especialmente após os anos 1990, quando muitos países passaram a adotar reformas
democráticas.

Tipos de descentralização:

 Política: Eleição de governadores, prefeitos ou conselhos locais;

 Administrativa: Autonomia na gestão de setores como saúde, educação e obras


públicas;

 Financeira: Capacidade dos governos locais de gerir orçamentos, arrecadar


impostos e aplicar recursos.

Benefícios esperados: Fortalecimento da democracia e da participação cidadã; Melhoria


na prestação de serviços públicos; Aumento da transparência e da responsabilização dos
governos locais (Idem).

Por Exemplo: Moçambique, com sua política de autarquias locais e descentralização


progressiva.

4) Concentração e Desconcentração do Poder

Segundo Lopes (2004), esses dois conceitos estão relacionados à distribuição interna do
poder dentro de uma mesma esfera de governo. A concentração refere-se à centralização das
19

decisões em poucas mãos (por exemplo, apenas no presidente ou no ministro), enquanto a


desconcentração busca distribuir responsabilidades dentro do mesmo nível, como a criação de
direções ou repartições distritais, sem autonomia política.

A desconcentração não implica autonomia política, enquanto a descentralização, sim.

5) Desafios e Perspectivas da Descentralização em África

De acordo com Nkrumah, apesar das reformas, a descentralização em África enfrenta


diversos desafios:

a) Capacidade institucional limitada dos governos locais;

b) Baixa participação cidadã e fraca cultura democrática;

c) Falta de recursos financeiros transferidos para os níveis locais;

d) Riscos de clientelismo político e corrupção local.

2.5. Globalização e Crise do Estado-nação em África


A globalização tem transformado profundamente as relações políticas, econômicas e
sociais no mundo inteiro, e em África esses impactos são particularmente intensos. Um dos
efeitos mais discutidos é a chamada crise do Estado-nação, ou seja, a perda de autonomia,
autoridade e legitimidade dos Estados nacionais diante das forças globais. Essa crise assume
contornos específicos no contexto africano, marcado por heranças coloniais, fragilidade
institucional e crescente interdependência internacional (White, 2008).

2.5.1. O Estado-nação e como se configura em África:


O Estado-nação é uma forma de organização política onde um Estado exerce soberania
sobre um território delimitado e representa uma nação — um povo com identidade cultural e
histórica comum. Em África, esse modelo foi amplamente adotado após a independência dos
países, durante os anos 1950 a 1970. Contudo, muitos desses Estados foram formados com
fronteiras artificiais impostas pelo colonialismo, reunindo grupos étnicos, linguísticos e
religiosos distintos (Idem).
20

2.5.2. Globalização: forças externas que desafiam a soberania


Segundo White (2008), a globalização intensificou os fluxos de capitais, informações,
tecnologias, pessoas e valores culturais por meio de redes transnacionais. Para o autor, essa nova
ordem mundial impôs grandes desafios ao Estado-nação africano:

Econômicos: A abertura dos mercados expôs as economias africanas à concorrência


global, enfraquecendo indústrias locais e tornando os países dependentes de investimentos e
ajuda externa (Idem);

Políticos: Organismos internacionais e atores externos (como o FMI, Banco Mundial e


ONGs) passaram a influenciar decisões políticas internas, muitas vezes em detrimento da
soberania nacional (Idem);

Culturais: A difusão de valores ocidentais, por meio da mídia e das redes sociais, tem
desafiado culturas locais e o papel do Estado como construtor de uma identidade nacional
(Idem).

2.5.3. Sinais da crise do Estado-nação em África


Com esses fatores, o Estado-nação africano enfrenta uma série de crises:

 Crise de legitimidade: muitos governos enfrentam desconfiança popular,


eleições contestadas e conflitos étnicos ou regionais;

 Crise de autoridade: há dificuldade em controlar todo o território nacional,


especialmente em áreas rurais ou afetadas por grupos armados;

 Crise de capacidade: muitos Estados não conseguem fornecer serviços básicos


como saúde, educação, segurança e justiça de forma eficaz;

 Crise de identidade nacional: persistem tensões étnicas, tribais e regionais que


dificultam a construção de uma nação unificada White (2008).

2.5.4. Reações e alternativas diante da crise


Segundo o autor, apesar das dificuldades, há tentativas de reconfigurar o papel do Estado
africano em tempos de globalização:
21

 Integração regional: organizações como a União Africana (UA) e a Comunidade


de Desenvolvimento da África Austral (SADC) buscam fortalecer a cooperação
regional e reduzir a dependência externa;

 Descentralização e participação: reformas políticas voltadas à descentralização


têm buscado aproximar o Estado das populações locais, promovendo maior
participação democrática;

 Fortalecimento das instituições: há esforços em vários países para melhorar a


administração pública, combater a corrupção e garantir o Estado de direito;

 Valorização das identidades locais: movimentos culturais e sociais resgatam


valores tradicionais e promovem um nacionalismo africano plural e inclusivo.

2.6. Papel das Mídias, ONGs, Estudantes e Intelectuais na Construção da Democracia e na


Luta contra a Pobreza nos Estados Africanos
De acordo com Anfray (2010), nos Estados africanos, a construção de democracias
sólidas e a luta contra a pobreza são desafios centrais do desenvolvimento. Nesse contexto,
atores não estatais como as mídias, as organizações não-governamentais (ONGs), os estudantes e
os intelectuais têm desempenhado um papel cada vez mais importante. Esses grupos contribuem
para o fortalecimento da cidadania, da participação política, da justiça social e da fiscalização do
poder, em cenários muitas vezes marcados por desigualdade, corrupção e instabilidade política

a) O Papel das Mídias

As mídias tanto tradicionais (rádios, jornais, televisão) quanto digitais (redes sociais, blogs,
podcasts) são fundamentais na promoção da democracia e na luta contra a pobreza,
especialmente em países onde a transparência governamental é limitada (Idem).

Contribuições principais:

 Fiscalização do poder público: Denúncia de abusos, corrupção e má gestão dos


recursos públicos;

 Educação cidadã: Informação sobre direitos, leis, eleições e políticas públicas;


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 Pressão social: Ampliação do debate público sobre questões como desigualdade,


fome, saúde, habitação e acesso à educação;

 Inclusão de vozes marginalizadas: Espaço para expressões das comunidades


locais, mulheres, jovens e grupos étnicos.

 Em países como Nigéria, Quênia e África do Sul, as mídias têm sido instrumentos
fundamentais na mobilização popular e nas reformas políticas (Anfray, 2010).

b) O Papel das ONGs

O autor defende que as ONGs atuam em múltiplas frentes, muitas vezes onde o Estado é
ausente ou ineficaz. Elas são protagonistas na prestação de serviços essenciais e na promoção de
direitos humanos, trabalhando tanto em áreas urbanas quanto rurais.

Atuações principais:

 Combate à pobreza: Projetos de desenvolvimento comunitário, agricultura


sustentável, segurança alimentar e geração de renda;

 Promoção da educação e saúde: Construção de escolas, campanhas de vacinação,


apoio a meninas e jovens vulneráveis;

 Defesa dos direitos civis e políticos: Monitoramento de eleições, apoio a vítimas


de violência política, promoção da liberdade de expressão;

 Advocacy e lobby político: Pressão para criação ou reforma de políticas públicas


inclusivas.

ONGs como a Amnesty International, a ActionAid, a Oxfam e várias organizações locais têm
desempenhado papéis cruciais em países como Sudão, RDC, Burkina Faso e
Moçambique(Anfray, 2010)..

c) O Papel dos Estudantes


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Historicamente, os movimentos estudantis em África estiveram na vanguarda das lutas por


independência, democracia e justiça social. Hoje, continuam sendo importantes forças de
mobilização (Tomas, 2018).

Contribuições dos estudantes:

 Ativismo político: Participação em protestos contra regimes autoritários, aumento


das propinas, desemprego juvenil e exclusão social;

 Produção de ideias: Discussão sobre políticas públicas, inclusão social, justiça e


democracia;

 Inovação social: Envolvimento em projetos de empreendedorismo, educação


cívica e tecnologia a serviço do desenvolvimento local.

 Casos notáveis incluem os movimentos estudantis na África do Sul contra o


apartheid e, mais recentemente, o movimento #FeesMustFall, que exigia educação
gratuita e acessível (Idem).

d) O Papel dos Intelectuais Africanos

Para Tomas (2018), os intelectuais professores, pesquisadores, escritores, pensadores — são


essenciais para a construção de pensamento crítico e para o resgate das identidades africanas na
construção democrática e no enfrentamento da pobreza.

Contribuições fundamentais: Análise crítica das estruturas sociais e políticas; Formulação de


propostas de políticas públicas e estratégias de desenvolvimento; Resgate e valorização das
culturas locais e saberes tradicionais; Formação de novas lideranças e fortalecimento da
educação superior; Combate ao colonialismo intelectual e valorização da epistemologia africana
(Idem).
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CAPITULO III

Conclusão
A análise das tendências políticas da atualidade em África evidencia um cenário
dinâmico, desafiador e ao mesmo tempo promissor. A globalização e a crise do Estado-nação
colocam em evidência a necessidade de repensar modelos de governança e desenvolvimento,
buscando alternativas que respeitem as realidades locairomovam a soberania dos povos
africanos. Embora a influência externa continue a ser um fator importante, observa-se o esforço
de muitos países em fortalecer suas instituições e promover reformas que visem à inclusão social
e à justiça política.

Nesse contexto, o papel das mídias, das ONGs, dos estudantes e dos intelectuais mostra-
se essencial. Esses atores vêm contribuindo para a construção de democracias mais
participativas, fiscalizando o poder, denunciando injustiças e promovendo debates públicos que
dão visibilidade às necessidades das populações. São vozes que reforçam a cidadania e
pressionam por transformações sociais profundas.

Por fim, as transições políticas e ideológicas em curso demonstram que o continente


africano está longe de ser estático. Ele está em constante movimento, reinventando seus
caminhos diante de múltiplos desafios. Reconhecer e valorizar essa complexidade é fundamental
para compreender as realidades africanas contemporâneas e contribuir para a construção de um
futuro mais justo, democrático e sustentável para os povos do continente.
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dinamarquesa: emprego e proteção social na Dinamarca. SER Social, v.11, n.25, jul dez.

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