Eletricidade e Magnetismo
Conhecimentos sobre eletricidade e magnetismo são de fundamental importância para
as engenharias, em especial, dentre outras, para a Engenharia Elétrica. Todos os
conceitos e aplicações abordados em Engenharia Elétrica têm como base os
conhecimentos que serão transmitidos nesta disciplina.
Iniciando pelos conceitos relacionados com cargas elétricas e campos elétricos, serão
a seguir abordadas as situações em que as cargas se movem em circuitos fechados
ao longo de condutores em forma de correntes. Essas correntes, seja em escala
atômica ou circulando por condutores em escala macroscópica, produzem campos
magnéticos, os quais são fundamentais para a compreensão das máquinas elétricas e
de alguns fenômenos de conversão de energia. Quando o movimento dessas
correntes ocorre de maneira cíclica (alternada), novos comportamentos da eletricidade
se manifestam, sendo necessário o conhecimento desses comportamentos para que
se possa compreender algumas categorias de máquinas elétricas e para a
transmissão de energia a distância, seja por meio de condutores ou pelo espaço livre
em forma de ondas eletromagnéticas.
Objetivos
Ao final desta disciplina, você deverá ser capaz de:
• Compreender a natureza das cargas elétricas posicionadas no
espaço de forma invariante no tempo, como fontes de campos
elétricos.
• Aplicar os conhecimentos de cálculo integral no
desenvolvimento dos efeitos de ou sobre distribuições
contínuas de carga.
• Utilizar a lei de Gauss como ferramenta para o cálculo dos
campos elétricos de distribuições de cargas elétricas simétricas.
• Compreender o conceito de potencial elétrico produzido por
distribuições contínuas e discretas de carga elétrica.
• Aplicar os princípios de física das correntes elétricas na análise
de circuitos de corrente contínua.
• Utilizar o conceito de capacitância na análise do
comportamento temporal das cargas e correntes elétricas em
circuitos elétricos compostos por resistores e capacitores.
• Compreender os princípios físicos do magnetismo ao cálculo de
campos magnéticos produzidos por distribuições de corrente e
por ímãs.
• Aplicar o conceito de circulação de um campo vetorial com
base na lei de Ampére para a determinação do campo
magnético produzido por distribuições específicas de corrente
elétrica.
• Utilizar o conceito de indução magnética na análise de
funcionamento de dispositivos elétricos gerais.
• Compreender o comportamento de circuitos alimentados por
fontes de tensão e corrente alternadas.
• Aplicar os conceitos de reatância e impedância de circuitos
contendo resistores, capacitores e indutores ao cálculo das
correntes e suas diferenças de potencial.
• Utilizar os conceitos básicos de onda eletromagnética para
determinar os campos elétricos, magnéticos, o vetor de
propagação e o vetor de Poynting da onda eletromagnética.
Conteúdo Programático
Esta disciplina está organizada de acordo com as seguintes
unidades:
• Unidade 1 – Cargas e campos
• Unidade 2 – Potenciais e circuitos
• Unidade 3 – Magnetismo e indução
• Unidade 4 – Corrente alternada
Autoria
José Aguiar Coelho Neto
Possui graduação, mestrado e doutorado em Física, na área de Física Atômica e
Molecular, com ênfase em desenvolvimento de instrumentação científica. Também
tem experiência em Eletrônica e Tecnologia de Construção Mecânica, tendo
trabalhado em diversas empresas, atuando diretamente em projetos e manutenção de
equipamentos de pesquisa, já tendo, por intermédio destas empresas, realizado
projetos para a INB (Indústrias Nucleares do Brasil), Cenpes (Centro de Pesquisas da
Petrobrás) e várias outras empresas públicas e privadas.
É professor da UVA desde maio de 2001. Também é servidor público federal,
ocupando o cargo de pesquisador em Propriedade Industrial no INPI (Instituto
Nacional da Propriedade Industrial) desde 2006, realizando exames de pedidos de
patentes em diversas áreas tecnológicas.
Cargas e campos
A origem de todas as manifestações naturais ou artificiais da eletricidade é a carga
elétrica. Tais manifestações ocorrem quando cargas elétricas interagem entre si e
existem diversas formas desta interação ocorrer. Nesta unidade aprenderemos sobre
a interação entre cargas ou corpos eletricamente carregados que se apresentem em
condição estática, ou seja, cuja velocidade de deslocamento seja suficientemente
pequena para que a contribuição desta para a interação em si possa ser
desconsiderada.
Considerando essa condição particular, poderemos analisar de forma mais
simplificada tanto a natureza das cargas elétricas em si quanto a ocorrência de forças
entre cargas elétricas, definindo a existência de campos elétricos como entidades
físicas mediadoras dessas forças e ainda definir princípios de comportamento desses
campos e dessas cargas como suas fontes.
Este conhecimento é fundamental para que entendamos e saibamos desenvolver a
análise adequada dos sistemas envolvendo cargas elétricas e campos, que serão a
base de tudo que será estudado nas próximas unidades e que representa a essência
de todo o conhecimento em Física e Engenharia relacionado com eletricidade.
Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:
• Compreender a natureza das cargas elétricas posicionadas no
espaço de forma invariante no tempo como fontes de campos
elétricos.
• Aplicar os conhecimentos de cálculo integral no
desenvolvimento dos efeitos de ou sobre distribuições
contínuas de carga.
• Utilizar a lei de Gauss como ferramenta para o cálculo dos
campos elétricos de distribuições de cargas elétricas
simétricas.
Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:
• Tema 1 - Carga elétrica: natureza atômica da matéria;
conservação da carga elétrica; cargas puntiformes e
distribuições contínuas de carga
• Tema 2 - Lei de Coulomb: força entre cargas puntiformes;
forças entre uma distribuição de cargas e uma carga
puntiforme
• Tema 3 - Campo elétrico: campo elétrico produzido por
conjuntos de cargas puntiformes; campo elétrico
produzido por distribuições contínuas de cargas
• Tema 4 - Lei de Gauss: fluxo do campo elétrico; aplicação
da lei de Gauss para a determinação do campo elétrico de
distribuições de cargas; campo no interior de condutores
A eletricidade se manifesta na natureza de formas magníficas. Veja alguns
fenômenos elétricos naturais de grande beleza visual. As descargas elétricas
atmosféricas estão diretamente relacionadas com o que aprenderemos aqui.
Entretanto, podem ser extremamente destrutivas e alguns tópicos que estudaremos
são importantes para compreender como podemos nos proteger de seus efeitos.
Aplicações importantes da eletrostática, na forma como a aprenderemos nesta
unidade, se apresentam em máquinas de cópia e impressoras laser, em que um
cilindro de material semicondutor é totalmente eletrizado e, logo após, exposto a uma
imagem a ser copiada ou impressa. Os pontos escuros da imagem permanecem
eletrizados, mas os pontos expostos às partes claras do material a imprimir se tornam
condutores por ação da luz e se descarregam. A carga elétrica remanescente, que
reproduz uma forma latente da imagem desejada, é transferida para uma folha de
papel, por contato com o cilindro. Partículas de tinta polimérica aderem às partes
eletrizadas e são fixadas nela por calor, produzindo a folha impressa.
Figura 1 - Correntes elétricas produzindo efeitos de raios a partir de um gerador de Vander
Graaf.
James Kirkikis / Shutterstock.com
Outra aplicação conhecida da eletrostática são os filtros industriais para remoção de
poeira e partículas poluentes, que são extraídas de um fluxo de gás a ser descartado
por força de atração eletrostática, sendo posteriormente descartadas como lixo sólido
em vez de serem lançadas no ar.
Geradores eletrostáticos, como o gerador de Van der Graaf, são capazes de produzir
potenciais elétricos extremamente elevados, que são usados para testar os limites de
materiais isolantes em termos de sua capacidade de resistência a campos elétricos
elevados e permanecerem isolantes.
Esses geradores também são usados para acelerar partículas subatômicas até
velocidades altíssimas, próximas à velocidade da luz, e projetá-las contra alvos para
que produzam radiação de alta energia para radioterapia ou produzir materiais
radioativos úteis em medicina nuclear.
Tema 1
Carga elétrica: natureza atômica da matéria;
conservação da carga elétrica; cargas
puntiformes e distribuições contínuas de carga
Qual a origem da eletricidade?
Desde o século VI a.C. que se conhece o fato de que alguns materiais, quando
atritados de forma adequada, conseguem atrair à distância pequenas partículas sem
que haja um vínculo visível causador dessa força. Entretanto, somente há menos de
200 anos se alcançou a compreensão completa desse fenômeno.
Sabemos hoje que os átomos (do grego “indivisível”) são os blocos construtivos
fundamentais de toda a matéria, constituídos de partículas fundamentais, conhecidas
como partículas subatômicas, cujas principais são os prótons, nêutrons e elétrons. Os
prótons e nêutrons ocupam o núcleo do átomo. Os elétrons, que são bem menores e
mais leves do que os prótons e nêutrons, se espalham na forma de uma “nuvem
eletrônica” ocupando todo o espaço restante que corresponde ao átomo, sendo
distribuídos ao redor do núcleo.
Figura 2 - Estrutura atômica com prótons (+), elétrons (-) e nêutrons (sem carga elétrica.
Os prótons e elétrons possuem uma propriedade intrínseca fundamental
chamada carga elétrica, que é a base da existência da eletricidade. Os nêutrons, por
sua vez, não possuem carga elétrica. A carga elétrica é intrínseca às partículas
subatômicas que a manifestam e não existe separada delas, apesar de existirem
partículas sem carga elétrica.
As cargas elétricas associadas a prótons e elétrons apresentam comportamentos
complementares entre si, do ponto de vista dos efeitos que produzem. Para
representar matematicamente as relações da carga elétrica com outras grandezas
físicas, os comportamentos complementares nos levam a atribuir sinais matemáticos
diferentes aos valores das cargas elétricas de elétrons e prótons. Por convenção,
atribuiu-se à carga de prótons o sinal positivo e à de elétrons, negativo. São
justamente as cargas elétricas que produzem forças de ação a distância umas sobre
as outras de acordo com um princípio geral:
“Entre cargas de mesmo sinal existirá uma força de repulsão e entre
cargas de sinais opostos existirá uma força de atração.”
A magnitude da carga de um próton e de um elétron é a mesma, igual para
ambos, correspondendo a uma constante física conhecida como carga
elétrica elementar ou, resumidamente, carga elementar. Seu valor
numérico depende do sistema de unidades empregado.
No Sistema Internacional de Unidades (SI), legalmente adotado no Brasil,
a unidade de carga elétrica é o coulomb (seu símbolo é C).
No SI o valor da carga elementar, que simbolizaremos por e, é dado por
𝑒𝑒 = 1,602 … × 10−19 𝐶𝐶. Com isto, dizemos que a carga do elétron é 𝑞𝑞𝑒𝑒 =
−𝑒𝑒 = −1,602 … × 10−19 𝐶𝐶 e a do próton é 𝑞𝑞𝑝𝑝 = +𝑒𝑒 = +1,602 … × 10−19 𝐶𝐶 .
Considerando o que explicamos sobre a carga elétrica não ser separável da partícula
e o fato de que partículas atômicas não podem ser criadas nem destruídas durante os
fenômenos usuais da eletricidade, apenas deslocadas de um lado para outro,
definiremos o Princípio de Conservação da Carga Elétrica:
“Em uma região delimitada do espaço, a carga elétrica total só pode ser
alterada se houver a movimentação de partículas eletricamente carregadas
para dentro ou para fora dessa região.”
Usamos nesta definição o conceito implícito de que a carga total dentro da região
definida é a soma algébrica das cargas elétricas de todas as partículas eletricamente
carregadas que estão dentro dessa região. Considerando que existem cargas elétricas
com sinal positivo e negativo, a carga elétrica dentro de uma região poderá ser nula
mesmo havendo prótons e elétrons dentro dela, desde que a quantidade dessas
partículas seja igual. Dizemos, nesse caso, que o corpo está eletricamente neutro. A
cada partícula inserida ou retirada da região, a carga total da região varia em
quantidade correspondente e respectivamente à soma ou à subtração da carga
daquela partícula.
Isto nos leva a definir o Princípio de Quantização da Carga Elétrica:
“Em uma região delimitada do espaço, a carga elétrica total terá sempre
valores que são múltiplos inteiros da carga elétrica elementar.”
Podemos, então, dizer, com base neste princípio, que a carga total Q em uma região
em que existem Np cargas positivas e Ne cargas negativas é dada por:
𝑄𝑄 = �𝑁𝑁𝑝𝑝 − 𝑁𝑁𝑒𝑒 � × 𝑒𝑒.
Estando as cargas elétricas associadas a partículas que são muito menores do que
um átomo, podemos imaginar que uma quantidade razoável de cargas elétricas pode
ocupar uma região muito pequena do espaço. Mesmo regiões do espaço com
dimensões características lineares (comprimento, largura, altura) um pouco maiores
do que as de um átomo podem ser ainda infimamente pequenas quando comparadas
com objetos macroscópicos. Tais objetos poderiam ser considerados, para efeitos
práticos, como um ínfimo ponto, podendo inclusive conter bilhões de cargas
elementares. Este é o conceito a que chamamos carga puntiforme. Chamamos desta
forma porque, do ponto de vista matemático, ignoramos suas dimensões e as
consideramos como se ocupassem um único ponto no espaço.
Quando falamos de corpos extensos, considerados como macroscópicos por não
podermos desprezar suas dimensões, não poderemos utilizar o conceito de carga
puntiforme. Neste caso, consideramos que a carga está espalhada em todo o corpo.
Este é o conceito de carga distribuída. Devido às cargas elementares serem tão
pequenas, não é possível distinguir, do ponto de vista macroscópico, as partículas
individuais e nem os espaços vazios entre elas. Sendo assim, pode-se pensar que a
carga elétrica está distribuída de forma a não ter descontinuidades e definimos, então,
que é uma distribuição contínua de cargas.
Na análise de distribuições contínuas de carga, muitas vezes é necessário subdividi-la
em porções tão pequenas, que possam ser consideradas cargas puntiformes. Ainda
que precisemos ter uma noção vaga de como as partículas carregadas se distribuem
no corpo macroscópico, não precisaremos contar quantas partículas existem em cada
porção do corpo macroscópico. Para isso é conveniente considerar as dimensões
totais do objeto macroscópico e sua carga total para definir o conceito de densidade
de cargas. Conhecendo à densidade de cargas e como ela varia por meio do corpo
(definido, em geral, por alguma função matemática), podemos determinar a
quantidade de carga elétrica em cada pequena porção do corpo, que está localizada
em cada posição dentro dele. Para efeitos práticos pode-se considerar que, ainda que
o tamanho da porção seja idealmente feito tender a zero, a carga contida nela se
tornará muito pequena, porém não nula.
“Tratamos idealmente como se de fato a carga elétrica estivesse
totalmente “espalhada” no interior do corpo, independentemente do fato de
que, na verdade, as cargas estejam concentradas em quantidades inteiras
de partículas dentro do corpo, com espaços vazios entre elas. Isto não
introduz erros significativos no resultado nem viola a quantização da carga,
já que se trata de uma aproximação matemática.”
Para efeitos matemáticos consideramos, em função da forma do corpo e de
suas dimensões lineares predominantes, três tipos de densidade de carga
(Figura 1):
• Densidade volumar de cargas (ρ): neste caso, o corpo não tem predominância
significativa de nenhuma das dimensões e, portanto, seu volume V é a grandeza
que define sua dimensão. Daí, sendo Q a carga elétrica, Q = ρ V. Se a carga não
estiver uniformemente distribuída por todo o volume, a densidade de cargas
poderá variar dentro do corpo em função da posição de cada pequena porção
de volume ΔV, passando a ser uma função da posição: ∆Q(x,y,z) = ρ(x,y,z) ∆V,
em que ∆Q(x,y,z) é a quantidade de carga contida em cada porção de volume
ΔV situada na posição dada pelas coordenadas x,y,z. No limite, quando a porção
tende a zero:
𝑑𝑑𝑑𝑑(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) = 𝜌𝜌(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) 𝑑𝑑𝑑𝑑 ⇒ 𝑄𝑄𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 = � 𝜌𝜌(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) 𝑑𝑑𝑑𝑑
𝑉𝑉
• Densidade superficial de cargas (σ): neste caso, uma das dimensões do corpo
é muito pequena comparada às demais (como em uma folha). Sua área A é a
grandeza que define sua dimensão, daí, Q = σ A. Se a carga não estiver
uniformemente distribuída por toda a superfície, teremos de forma análoga ao
caso anterior: ∆Q(x,y,z) = σ(x,y,z) ∆A, em que ∆Q(x,y,z) é a quantidade de
cargas contida em cada porção de área ΔA situada na posição dada pelas
coordenadas x,y,z.
𝑑𝑑𝑑𝑑 (𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) = 𝜎𝜎(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) 𝑑𝑑𝑑𝑑 ⇒ 𝑄𝑄𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 = � 𝜎𝜎(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) 𝑑𝑑𝑑𝑑
𝐴𝐴
• Densidade linear de cargas (λ): neste caso, duas dimensões do corpo são
muito pequenas (como em um filamento). Seu comprimento L é a grandeza que
define sua dimensão, daí, Q = λ L. Se a carga não estiver uniformemente
distribuída por todo o comprimento, teremos, de forma análoga aos casos
anteriores: ∆Q(x,y,z) = λ(x,y,z) ∆L , em que ∆Q(x,y,z) é agora a quantidade de
cargas contida em cada porção de volume ΔL situada na posição dada pelas
coordenadas x,y,z.
𝑑𝑑𝑑𝑑(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) = 𝜆𝜆(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) 𝑑𝑑𝑑𝑑 ⇒ 𝑄𝑄𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 = � 𝜆𝜆(𝑥𝑥, 𝑦𝑦, 𝑧𝑧) 𝑑𝑑𝑑𝑑
𝐿𝐿
a) Carga elétrica do elemento de volume com volume ∆V.
b) Carga elétrica do elemento de superfície com área ∆A.
c) Carga elétrica do elemento de caminho com comprimento ∆L.
Figura 3 – Exemplos de aplicação do conceito de densidade de carga elétrica.
Resta perguntar: como cargas podem ser inseridas ou retiradas de um
corpo macroscópico?
A partir de um processo genericamente denominado eletrização, por meio
do qual cargas elétricas são transferidas de ou para um corpo alterando o
balanço total de cargas positivas e negativas, fazendo com que o corpo
passe a ter carga elétrica não nula.
Existem três processos de eletrização:
• Eletrização por atrito: dois corpos A e B, eletricamente neutros, são
atritados e, por razões ligadas a características particulares dos
materiais com que são constituídos, cargas de um dado sinal fluem
de um corpo para outro, fazendo com que o corpo A fique eletrizado
com cargas de sinal contrário às do corpo B.
• Eletrização por contato: um corpo A eletricamente neutro é encostado
em um corpo B eletricamente carregado, fazendo com que cargas
fluam do corpo B para o corpo A deixando ambos carregados com
cargas de mesmo sinal.
• Eletrização por indução: aproximando de um corpo A, eletricamente
neutro, um corpo B, eletricamente carregado, as cargas do corpo A se
separarão devido à atração pelo corpo B das cargas de sinal oposto e
à repulsão das cargas de mesmo sinal. No corpo A as cargas de
mesmo sinal que as do corpo B estarão mais afastadas dele, e as de
sinal oposto mais próximas. Esse fenômeno é chamado de indução
de cargas e, apesar da separação das cargas, a eletrização ainda
não ocorreu, pois continuam iguais às quantidades de cargas
positivas e negativas. Se um caminho de fuga de cargas do corpo A
for estabelecido na região em que estão concentradas as cargas de
mesmo sinal que as do corpo B e permitirmos que estas escoem,
permanecerão em maioria as cargas de sinal oposto às de B, o corpo
A passando a estar eletrizado com cargas de sinal oposto às do corpo
B.
Figura 4 – Gerador de Van der Graaf: máquina capaz de produzir eletricidade estática
e armazená-la na cúpula metálica esférica (1) na sua parte superior.
Fonte: Wikimedia.
Os processos de eletrização são fundamentais para o funcionamento do gerador de
Van de Graaf, mostrado também na Figura 1. Conforme a Figura 4, a correia isolante
se move continuamente acionada por um motor. Na escova inferior ocorre a descarga
da parte descendente da correia e a indução de cargas na parte ascendente. Na
escova superior, as cargas positivas na face externa da correia são transferidas por
contato para a cúpula metálica, onde se acumulam até a produção de potenciais
elevados capazes de produzir longas descargas no ar.
Para complementar seus conhecimentos sobre Forças Elétricas e Campos
Elétricos, acesse a biblioteca virtual “Minha Biblioteca” e leia as seções 19.1
a 19.3 do livro: SERWAY, R. A.; JEWETT JR., J. W J. Princípios de Física
vol. 3 – Eletromagnetismo. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2014.
ISBN: 9788522118069.
Tema 2
Lei de Coulomb: força entre cargas puntiformes;
forças entre uma distribuição de cargas e uma
carga puntiforme
Como se comportam as forças de ação à distância
entre cargas elétricas?
No final do século XVIII foi determinado experimentalmente por Charles Augustin de
Coulomb que a força que age entre duas cargas elétricas é proporcional à magnitude
dessas duas cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas.
Como já dito, a força é de atração se os sinais das duas cargas elétricas forem
diferentes e de repulsão, se forem iguais.
Figura 5 – Jovem aluna tocando um gerador de Van der Graaf, que é carregado com as mãos.
A eletrização de seu corpo por contato produziu uma força de repulsão entre os fios de seus
cabelos que foi suficiente para mantê-los suspensos no ar.
Fonte: Ganguly (1997).
Definir que a força depende do inverso do quadrado da distância entre as cargas
depende de se poder definir precisamente a distância entre elas. Se as cargas forem
puntiformes, a questão é simples: como já dissemos, considera-se puntiforme a carga
que pode ser considerada como ocupando um único ponto no espaço devido à suas
dimensões transversais serem insignificantes. Sendo assim, a distância entre elas é a
distância entre os dois pontos ocupados pelas cargas. Neste caso, a chamada Lei de
Coulomb pode ser expressa como:
𝑞𝑞1 𝑞𝑞2
𝐹𝐹 = 𝑘𝑘 (equação 1.2.1)
𝑑𝑑 2
Em que F é a magnitude (módulo) da força entre as cargas, q1 e q2 são os módulos
dessas cargas e d é a distância entre elas. Considerando, em unidades SI, a força em
newtons, a carga elétrica em coulombs e a distância em metros, a constante k vale:
𝑘𝑘 ≈ 9,0 × 109 𝑁𝑁𝑚𝑚2 𝐶𝐶 −2
Considerando que ambas as cargas sejam candidatas a atender ao critério de
poderem ser tidas como puntiformes, a insignificância de suas dimensões deve ser
avaliada perante a distância entre elas. Por exemplo, um átomo tem dimensões da
ordem de 10−10 𝑚𝑚 (0,1 𝑛𝑛𝑛𝑛 ). Dois íons (átomos com desbalanceamento de cargas,
apresentando uma carga total não nula) separados por uma distância da ordem do
tamanho de uma célula (≈ 10−6 𝑚𝑚) podem ainda ser considerados como cargas
puntiformes, já que a distância entre eles é cerca de 10.000 vezes maior do que as
dimensões características de cada íon. Por outro lado, uma esfera eletricamente
carregada do tamanho de uma bola de futebol é inegavelmente um corpo
macroscópico aos nossos olhos. Entretanto, se desejarmos avaliar a força elétrica
entre ela e outro corpo eletricamente carregado situado a alguns quilômetros de
distância, poderemos tratá-la ainda como se fosse puntiforme e obteremos resultados
com alto grau de exatidão. De fato, se observarmos essa esfera a partir da distância
de onde está o outro corpo, a enxergaremos como um corpo ínfimo, praticamente
invisível a olho nu, não havendo diferença significativa na magnitude da força obtida
se considerarmos a esfera como ela é ou se considerarmos que sua carga foi
concentrada em um corpo do tamanho de um átomo que ocupe a mesma posição da
esfera.
Outro aspecto importante é que a Lei de Coulomb define apenas a magnitude da força
a partir da magnitude das cargas. Ao aplicar os valores das cargas na equação
anterior, os sinais deverão ser desconsiderados. Serão considerados apenas para
definir se as forças serão de atração ou repulsão. A magnitude das forças nas duas
cargas é a mesma e seus sentidos são opostos. Esse par de forças configura um par
ação-reação, nos termos da terceira lei de Newton.
Considerando a forma como a lei de Coulomb está representada na equação
1.2.1, empregaremos à notação de dois índices para indicar as forças entre
pares identificados de cargas. Consideraremos, então, como 𝐹𝐹1,2 sendo a
força produzida pela carga q1, agindo sobre a carga q2 e 𝐹𝐹2,1 a força
produzida pela carga q2, agindo sobre a carga q1. A direção dessas forças é
a mesma da chamada linha de ação, segmento de reta imaginário que une
as posições das duas cargas. Sendo contrários os seus sentidos, podemos
dizer que 𝐹𝐹1,2 = − 𝐹𝐹2,1 . Se a força for de atração, o vetor força que age em
cada carga apontará, portanto, no sentido da linha de ação em que está a
outra carga. Se for de repulsão, apontará em sentido oposto a definição
completa da força em termos de seus componentes vetoriais, que dependem
do estabelecimento de um sistema de coordenadas de referência. A projeção
de cada vetor força sobre o(s) eixo(s) do sistema de coordenadas e sua
direção relativa do(s) é que serão consideradas para a atribuição do sinal
da(s) componente(s) dessa força. Caso existam múltiplas cargas, cada uma
sofrerá a ação da força resultante calculada como soma vetorial das forças
produzidas pelas demais. Não se considera que exista a força de cada carga
agindo sobre si mesma.
Agora, vamos aplicar o exemplo 1?
Três cargas puntiformes, q1, q2 e q3, situam-se sobre os vértices de um
triângulo equilátero com lado igual a 30 cm, em que um dos lados é paralelo
ao eixo “x” de um sistema de coordenadas cartesiana (Figura 4). Sobre esse
lado estão as cargas q3 (mais próximas da origem do sistema) e q2 (mais
afastadas da origem do sistema), sendo positivo o sentido de deslocamento
de q3 até q2. A carga q1 é positiva e tem módulo igual a 2 mC. A carga q2 é
negativa e módulo igual a 5 mc. A carga 3, também negativa, tem módulo
igual a 2 mc. Vamos determinar, em unidades SI e componentes cartesianas,
as forças exercidas em cada carga pelas demais.
Figura 6 - Distribuição de cargas descrita no exemplo, mostrando as respectivas
forças.
Pelo que apresentamos no Tema 2, as forças entre as cargas q1 e q2 e entre
q1 e q3 são de atração. A força entre as cargas q2 e q3 é de repulsão. As
distâncias entre todas as cargas são iguais, d= 0,3 m. Calcularemos, então,
seus respectivos módulos:
• F12 = F21 = k q1 q2 / d2 = 9,0 x 109 x 2 x 10-6 x 5 x 10-6 / (0,3)2 = 1,0 N
• F13 = F31 = k q1 q3 / d2 = 9,0 x 109 x 2 x 10-6 x 2 x 10-6 / (0,3)2 = 0,4 N
• F23 = F32 = k q2 q3 / d2 = 9,0 x 109 x 2 x 10-6 x 5 x 10-6 / (0,3)2 = 1,0 N
Considerando pela geometria básica que os ângulos internos do triângulo
equilátero medem 60 graus (p/3 radianos) e que a direção do semieixo –y
divide o ângulo interno formado pelos lados do triângulo que convergem sobre
a carga q1 em dois ângulos de 30°, podemos determinar os ângulos entre
cada força e o a direção do semieixo +x, que são os ângulos de referência
para a divisão das forças em suas componentes (convencionado o sentido
anti-horário como positivo). Com relação a estes ângulos, todas as
componentes na direção x serão catetos adjacentes e serão decompostas
usando a função cosseno e todas as componentes na direção y serão catetos
opostos e serão decompostas usando a função seno.
θF1,2.x= 120°; θF2,1.x= -60°; θF3,1.x= -120°; θF1,3.x= 60°; θF2,3.x= 180°; θF3,2.x= 0°;
������⃗
𝐹𝐹1,2 = �𝐹𝐹1,2 �𝑥𝑥 𝚤𝚤̂ + �𝐹𝐹1,2 �𝑦𝑦 𝚥𝚥̂ = 𝐹𝐹1,2 cos�𝜃𝜃𝐹𝐹1,2.𝑥𝑥 � 𝚤𝚤̂ + 𝐹𝐹1,2 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠�𝜃𝜃𝐹𝐹1,2.𝑥𝑥 �𝚥𝚥̂
Substituindo os valores numéricos e estendendo o cálculo para os demais
vetores:
(𝐹𝐹_1,2 ) ⃗ = 1,0 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 (120°) 𝑖𝑖 ̂ + 1,0 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 (120°) 𝑗𝑗 ̂ = −0,500𝑖𝑖 ̂ + 0,866𝑗𝑗 ̂
(𝐹𝐹_3,2 ) ⃗ = 1,0 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 (0°) 𝑖𝑖 ̂ + 1,0 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 (0°) 𝑗𝑗 ̂ = 1,000𝑖𝑖 ̂
(𝐹𝐹_1,3 ) ⃗ = 0,4 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 (60°) 𝑖𝑖 ̂ + 0,4 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 (60°) 𝑗𝑗 ̂ = 0,200𝑖𝑖 ̂ + 0,346𝑗𝑗 ̂
(𝐹𝐹_2,3 ) ⃗ = 1,0 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 (180°) 𝑖𝑖 ̂ + 1,0 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 (180°) 𝑗𝑗 ̂ = −1,000𝑖𝑖 ̂
(𝐹𝐹_2,1 ) ⃗ = 1,0 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 (−60°) 𝑖𝑖 ̂ + 1,0 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 (−60°) 𝑗𝑗 ̂ = 0,500𝑖𝑖 ̂ − 0,866𝑗𝑗 ̂
(𝐹𝐹_3,1 ) ⃗ = 0,4 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 (−120°) 𝑖𝑖 ̂ + 0,4 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 (−120°) 𝑗𝑗 ̂ = −0,200𝑖𝑖 ̂ − 0,346𝑗𝑗 ̂
As resultantes solicitadas no enunciado podem, então, ser determinadas
pelas respectivas somas vetoriais das forças em cada carga (forças em que o
segundo índice é igual):
����⃗
𝑅𝑅1 = 𝐹𝐹 ������⃗ ������⃗
2,1 + 𝐹𝐹3,1 = 0,500𝚤𝚤̂ − 0,866𝚥𝚥̂ − 0,200𝚤𝚤̂ − 0,346𝚥𝚥̂ = 0,300𝚤𝚤̂ − 1,212𝚥𝚥̂
����⃗
𝑅𝑅2 = 𝐹𝐹 ������⃗ ������⃗
1,2 + 𝐹𝐹3,2 = −0,500𝚤𝚤̂ + 0,866𝚥𝚥̂ + 1,000𝚤𝚤̂ = 0,500𝚤𝚤̂ + 0,866𝚥𝚥̂
����⃗ ������⃗
𝑅𝑅3 = 𝐹𝐹 ������⃗
1,3 + 𝐹𝐹2,3 == 0,200𝚤𝚤̂ + 0,346𝚥𝚥̂ − 1,000𝚤𝚤̂ = −0,800𝚤𝚤̂ + 0,346𝚥𝚥̂
Ponderando agora corpos extensos eletricamente carregados, vamos apresentar o
tratamento do cálculo da força entre uma distribuição contínua de cargas com carga
total Q e uma carga puntiforme q. Conforme dissemos, o corpo extenso com carga Q
deve ser dividido em uma grande quantidade de elementos de carga ΔQ,
aproximadamente puntiformes. Daí, a força entre cada um desses elementos de carga
e a carga q deve ser calculada para todos os elementos ΔQ existentes, considerando
para tanto a posição de cada um desses elementos ΔQ dentro do corpo extenso. A
soma vetorial de todas as forças calculadas corresponderá à força resultante
desejada. No limite, quando o tamanho do elemento de carga tende a zero, a soma
das forças deve ser substituída por uma integral. Teremos, entretanto, a dificuldade de
realizar a integral de uma função vetorial. Felizmente, muitos problemas apresentam
simetrias. Com base nelas, existirão problemas mais particulares, pares de forças para
os quais uma das componentes tem sinal contrário e mesmo módulo. A anulação de
componentes reduz a suma vetorial a uma soma de componentes colineares, o que
simplifica o cálculo nas regiões do espaço e que a simetria é válida.
Vamos ver este conceito a partir do exemplo 2?
Consideremos um anel circular de raio R formado por um fio de espessura
desprezível, carregado uniformemente com carga elétrica total +Q, colocado
sobre o plano x,y de um sistema de coordenadas cartesianas. Calcular a
força resultante exercida por esse anel sobre uma carga positiva qp colocada
sobre o eixo z de um sistema de coordenadas na posição z0.
Figura 7a - Distribuição de cargas do exemplo 2, mostrando as respectivas forças
produzidas por um par de elementos de carga de comprimento dL situados em
posições diametralmente opostas, quando cada um desses elementos terá uma carga
dq = ldL.
Figura 7b - Projeção do plano de corte mostrado como o triângulo em linhas
pontilhadas na Figura 5a, em que se vê que os ângulos a formados pelas forças
elementares dF produzidas pelas cargas dq sobre a carga qp em relação ao eixo z
são iguais.
Já que, conforme especificado, o anel é uma distribuição contínua de cargas,
uniformemente carregada, então a densidade de cargas é uniforme (constante)
e seu valor pode ser encontrado dividindo-se a carga total pelo comprimento
do anel (seu perímetro): λ = Q / (2πR). Com o comprimento de cada elemento,
∆L, sendo feito tender a zero no limite, a quantidade elementar de cargas é dq
= λ dL e dL pode ser determinada a partir do ângulo que o compreende em
relação ao centro do anel: dL = R dθ. Substituindo então λ e dL, teremos que
dq = Q dθ/ 2π. Ο quadrado da distância d entre a carga elementar dq e a carga
qp pode ser determinado pelo teorema de Pitágoras a partir da figura 5b: d2 =
z02+R2 e, uma vez que zo e R são constantes, d também será constante, assim
como também o ângulo α entre as forças e o eixo z, cujo cosseno vale:
cos(𝛼𝛼 ) = 𝑧𝑧0 /𝑑𝑑 = 𝑧𝑧0 ⁄ �𝑅𝑅2 + 𝑧𝑧02
O módulo força elementar dF entre a carga qp e a carga elementar dq é dado
pela lei de Coulomb:
dF = k qp dq / d2 = k qp Q dθ / (2 π (z02+R2)).
Considerando aos pares elementos de carga diametralmente opostos, veremos
que as componentes de força perpendiculares ao eixo z serão iguais e opostas,
se anulando. Precisaremos somar apenas as componentes paralelas a z, que
são colineares: dFz = 2 dF cos(α), ou
dFz = 2 * [k qp Q dθ /(2 π (z02+R2))] * [z0 / (z02+R2)½] = k qp Q z0
dθ / π (z02+R2)3/2
Como foi dito, teremos agora componentes elementares de força colineares
que podem ser somadas ao longo de todo o anel. A variável que nos permite
fazer com que a carga elementar dq percorra o anel é o ângulo θ. O anel
compreende um ângulo de 360°, porém estamos somando a contribuição de
duas cargas diametralmente opostas e assim só precisamos varrer θ de 0° até
180°, pois ao fazer isto a segunda carga elementar estará varrendo a porção
de ângulo de 180° até 360°. Dessa forma:
𝜋𝜋 𝑘𝑘 𝑞𝑞𝑝𝑝 𝑄𝑄 𝑧𝑧0
𝐹𝐹⃗ = ∫0 3 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑘𝑘�
𝜋𝜋�𝑧𝑧02 +𝑅𝑅2 � 2
Porém, como todos os termos com exceção de dθ no integrando são
constantes, na integral ele pode ser retirado, de modo que teremos:
𝑘𝑘 𝑞𝑞𝑝𝑝 𝑄𝑄 𝑧𝑧0 𝜋𝜋 𝑘𝑘 𝑞𝑞𝑝𝑝 𝑄𝑄 𝑧𝑧0
𝐹𝐹⃗ = 3 � 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑘𝑘� = 3 𝑘𝑘�
𝜋𝜋(𝑧𝑧02 + 𝑅𝑅2 ) 2 0 (𝑧𝑧02 + 𝑅𝑅2 ) 2
Sugestões para análise adicional do problema:
Observe a variação do módulo de F em função de z0 e analise seu
comportamento. O que justifica a força ser nula com z0 = 0?
Acesse a Minha Biblioteca e você poderá ver a resposta a este
questionamento, acompanhada de um comentário mais detalhado
sobre distribuição de cargas, na Seção 22.4, do livro HALLIDAY, D.;
RESNICK, R.; WALKER, J., Fundamentos de Física - Vol. 3 –
Eletromagnetismo. 10. ed., Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020.
ISBN: 9788521632092.
Tema 3
Campo elétrico: campo elétrico produzido por
conjuntos de cargas puntiformes; campo elétrico
produzido por distribuições contínuas de cargas
Qual a entidade física que media as forças entre as
cargas e como se comporta em relação às
distribuições de carga que a produzem?
Se tivermos um corpo eletricamente carregado e aproximarmos dele uma
outra carga elétrica, ela receberá a ação de uma força produzida pelo corpo.
Se movermos a carga que aproximamos, a força poderá se modificar.
Perguntamos, então:
Como o corpo carregado “sabe” que a carga que aproximamos se moveu de
um ponto para outro para que atue nela de forma diferente?
A resposta é que um corpo qualquer eletricamente carregado não é provido
de “inteligência”, por isso não tem como saber que mudamos a posição da
carga. Poderemos concluir que, quando a deslocamos de um ponto a outro,
a “entidade física” que produz a força sobre a outra carga já estará no local
para onde iremos mover a carga e já possui naquele novo ponto (e em todos
os demais pontos do espaço) as características compatíveis com as da força
modificada que a carga receberá ao ser posicionada lá. Concluímos que
cada carga elétrica produz em todo o espaço ao seu redor uma entidade
física que, ao interagir com outras cargas elétricas, produzirá força sobre
elas.
Na verdade, as outras cargas que colocaremos lá também produzirão, cada uma
delas, uma entidade similar que atuará em todas as demais cargas elétricas
presentes.
Esta entidade física é chamada de campo elétrico. O campo elétrico, que será neste
curso simbolizado pela letra E, é uma grandeza física vetorial produzida por uma carga
fonte e emanada em todo o espaço ao seu redor, que atua sobre uma carga de prova
puntiforme qp, produzindo sobre ela uma força
𝐹𝐹⃗ = 𝑞𝑞𝑝𝑝 𝐸𝐸�⃗ .
Considerando as unidades SI da força e da carga elétrica, veremos que a unidade
física SI do campo elétrico é o N/C (newton por coulomb). Em breve, na Unidade 2
demonstraremos que há uma unidade equivalente mais usual para o campo elétrico,
que é o V/m (volt por metro), mas continuaremos, por ora, utilizando o N/C.
Figura 8: Sementes de semolina flutuando em óleo isolante e se orientando sob a força do
campo elétrico gerado entre dois eletrodos metálicos carregados eletricamente. A forma
assimétrica oblonga das sementes faz com que se orientem, em cada ponto, na direção do
campo elétrico presente naquele ponto, desenhando um “mapa” do campo elétrico no espaço
entre os eletrodos.
Fonte: Mikerun (2020).
Já conhecíamos o fato de que as forças que atuam sobre uma carga se combinam de
forma linear para produzir uma força resultante equivalente pela simples soma das
forças atuantes. Considerando que a força produzida pelo campo elétrico depende
unicamente de si e da magnitude da carga de prova, podemos concluir que o campo
elétrico precisará também se comportar de forma linear.
“O campo elétrico produzido por um conjunto de cargas em um ponto
qualquer no espaço é igual à soma vetorial dos campos elétricos
produzidos por cada uma dessas cargas naquele ponto.”
Essas cargas são chamadas de cargas fonte. A contribuição das cargas fontes estará
implícita no campo elétrico gerado por elas. Ao lidar com o campo elétrico, estamos
tratando com um campo vetorial, que é uma função vetorial em um espaço de tal
forma que em cada ponto deste espaço há um vetor cujo módulo, direção e sentido
podem depender das coordenadas daquele ponto.
Um conceito empregado para visualizar configurações de campo elétrico é o
de linhas de força. Uma linha de força é o caminho traçado entre cargas
fonte ou entre uma carga fonte e o infinito de tal forma que o caminho esteja
em cada ponto por todo o espaço que atravessa, paralelo ao vetor campo
elétrico. O traçado feito pelas sementes de semolina na Figura 8 representa
aproximadamente as linhas de força do campo elétrico ali presente.
Para que a definição de campo elétrico seja coerente com a definição da força elétrica
em relação ao sinal da carga, o campo elétrico de cargas puntiformes é definido da
seguinte maneira (Figura 9):
• O vetor campo elétrico gerado no espaço por uma carga puntiforme positiva
tem direção radial e sentido apontando da carga para o infinito.
• O vetor campo elétrico gerado no espaço por uma carga puntiforme negativa
tem direção radial e sentido apontando do infinito para a carga.
Considerando esta definição e o fato de que 𝐹𝐹⃗ = 𝑞𝑞𝑝𝑝 𝐸𝐸�⃗ , e o sinal da carga de prova
temos que a atuação do campo elétrico na carga de prova ocorre da seguinte forma:
• A força produzida sobre uma carga de prova puntiforme positiva tem mesma
direção e mesmo sentido que o campo elétrico na posição onde ela está.
• A força produzida sobre uma carga de prova puntiforme negativa tem mesma
direção e sentido oposto ao campo elétrico na posição onde ela está.
Figura 9 - Representação dos vetores campo elétrico e das linhas de campo
em cargas puntiformes positiva (esquerda) e negativa (direita).
Como forma de você melhor assimilar o uso do conceito de campo elétrico,
mostraremos alguns exemplos:
Exemplo 3:
Duas cargas puntiformes estão posicionadas sobre uma linha imaginária
horizontal, que consideraremos como o eixo x de um sistema de coordenadas
cartesianas. Uma delas, a carga q1, está posicionada em x=0, e a outra, a
carga q2, em x= 0,5 m. A carga q1 é positiva e tem módulo igual a 10 mC. A
carga q2 é negativa e tem módulo 5 mC. Determine, se houver, a posição em
que o campo elétrico é nulo.
Figura 10 - Representação da distribuição de cargas do exemplo 3.
As setas representam esquematicamente o sentido dos campos produzidos
sobre o eixo x pelas cargas com a mesma cor.
Analisando a situação, temos que considerar que o campo elétrico só pode
ser nulo se os vetores campo elétrico produzidos por q1 e q2 naquele ponto
tiverem mesmo módulo, mesma direção e sentido oposto. Os campos
elétricos produzidos por essas cargas somente terão a mesma direção nos
pontos sobre o eixo x. Em qualquer ponto fora do eixo x os campos elétricos
gerados pelas duas cargas não serão colineares, por isso não haverá como
estarem em sentidos opostos e, portanto, nunca se anularão.
O sentido dos campos sobre o eixo x produzidos por cada carga é
representado esquematicamente na Figura 10. Se houver possibilidade de se
anularem, será apenas na região para x<0 ou para X>0,5 m, onde estes
campos elétricos têm sinais opostos.
Verificamos, porém, que na região onde x<0 os pontos estarão sempre mais
próximos de q1 e mais afastados de q2. Como o campo decai com o inverso
do quadrado da distância e o módulo da carga q1 é maior do que o da carga
q2, isto significa que o módulo do campo produzido nessa região por q1 será
sempre maior do que o produzido por q2, já que q1 tem maior módulo e está
mais próxima, e nunca se anularão nessa região. Já na região do espaço para
x>0,5 m, os pontos estarão mais afastados de q1 e mais próximos de q2.
Assim, do ponto somente de vista da distância, o termo 1/d2 é menor para q1
do que para q2. Considerando que o módulo de q1 é maior do que o de q2, a
diminuição do valor do campo produzido por q1 pela distância poderá ser, em
algum ponto, compensada pelo fato de que q1 tem maior módulo. Por isso,
pode existir a possibilidade de os módulos dos campos produzidos por q1 e
q2 sejam iguais e, sendo os sentidos opostos na região para x>0,5, haverá a
possibilidade de se anularem em algum ponto.
Vamos ver agora o cálculo apenas pelos módulos e sua condição de
igualdade.
A distância d1 de um ponto x à carga q1 é x, enquanto a distância d2 de x à
carga q2 é (x-0,5):
𝑘𝑘𝑞𝑞1 𝑘𝑘𝑞𝑞2 𝑞𝑞1 𝑞𝑞2
2 =
(
2 ⇒ 𝑥𝑥 2 = (𝑥𝑥 − 0,5)2 ⇒ 𝑞𝑞1 𝑥𝑥 − 0,5
)2 − 𝑞𝑞2 𝑥𝑥 2 = 0
𝑑𝑑1 𝑑𝑑2
⇒ (𝑞𝑞1 − 𝑞𝑞2 )𝑥𝑥 2 − 𝑞𝑞1 𝑥𝑥 + 0,25𝑞𝑞1 = 0
Substituindo os valores das cargas:
5𝑥𝑥 2 − 10𝑥𝑥 + 2,5 = 0 ⇒ 𝑥𝑥 ≅ 0,2929 𝑚𝑚 ; 𝑥𝑥 ≅ 1,7071 𝑚𝑚
O resultado acima implica que os módulos dos campos elétricos de q1 e de
q2 serão iguais nas posições x=0,2929m e x=1,7071 m. Pela nossa discussão
anterior, vemos que em x=0,2929 m os campos produzidos por q1 e q2 têm o
mesmo sentido, portanto não poderão se anular. Sendo assim, somente em
x=1,7071 m, quando os campos têm sentidos opostos, é que pode ocorrer a
anulação e o campo resultante será nulo nesse ponto.
Dipolo elétrico
O exemplo anterior mostra uma configuração muito importante de cargas elétricas
chamada dipolo elétrico. O dipolo elétrico é a configuração de cargas em que se tem
duas cargas de sinais opostos separadas por uma distância d. A situação mais
importante, de ocorrência mais frequente na natureza e em aplicações tecnológica, é a
do dipolo para o qual os módulos das cargas são iguais. Atribui-se a esta configuração
particular de cargas, considerando estas com valores +q e –q, uma propriedade
chamada momento de dipolo elétrico, representado pela letra p, dada pelo valor p =
q d.
Esta e várias outras configurações de campo elétrico produzido por diversos
tipos de distribuições de cargas podem ser visualizadas por meio
do aplicativo simulador de mapeamento de campos eletrostáticos de
Falstad.
Para exemplificar o cálculo do campo elétrico de uma distribuição contínua de cargas,
vamos considerar o exemplo a seguir:
Exemplo 4:
Vamos determinar o campo elétrico produzido sobre o eixo z, na posição z0,
por um disco de raio R e dimensão desprezível ao longo da direção z, com
centro na origem e carga total Q, uniformemente distribuída, colocado sobre
o plano xy de um sistema de coordenadas (Figura 9).
Figura 11 - Representação do problema campo elétrico do disco eletricamente
carregado.
Temos agora uma situação de distribuição superficial de cargas. Sendo
uniforme a distribuição de cargas, a densidade delas é constante e pode ser
calculada dividindo-se a carga total pela área do disco:
σ = Q / (πR2).
Sabemos que precisaremos reduzir a distribuição de cargas a elementos
infinitesimais. Intuímos que nossos elementos infinitesimais precisam tender a
zero em dimensões radiais e angulares. Do ponto de vista das dimensões
angulares, teremos que fazer uma integração em ângulo, como fizemos no
exemplo 2, para somar as contribuições de todos os elementos de carga que
estejam a uma determinada distância r do centro do disco. Depois integrarmos
radialmente, varrendo o raio desde 0 até o raio R do disco. Veremos, porém,
que a primeira integração transforma o elemento de carga em um anel de
largura dr e raio r. Já calculamos a força produzida por uma distribuição de
cargas em forma de anel, também no exemplo 2. Desse resultado podemos já
determinar o campo elétrico produzido por uma série de anéis carregados com
raio variando de 0 até R, o que evita uma das integrações, simplificando o
cálculo.
Se a força produzida pelo anel carregado de raio R e carga Q sobre uma carga
qp situada na posição z0 no eixo z do sistema de coordenadas é:
𝑘𝑘 𝑞𝑞𝑝𝑝 𝑄𝑄 𝑧𝑧0 𝑘𝑘 𝑄𝑄 𝑧𝑧0
𝐹𝐹⃗ = 3 𝑘𝑘�, mas sabemos que 𝐹𝐹⃗ = 𝑞𝑞𝑝𝑝 𝐸𝐸�⃗ , então, 𝐸𝐸�⃗ = 3 𝑘𝑘�
�𝑧𝑧02 + 𝑅𝑅2 �2 �𝑧𝑧02 + 𝑅𝑅2 �2
Como agora o anel carregado não possui a carga total Q do disco, mas
apenas uma fração dq, calcularemos essa fração considerando que a área
desse anel é aproximadamente:
dA = 2π r dr
E a densidade de cargas é:
σ = Q / (πR2),
Então:
dq = σ dA, ou, dq = 2 r Q dr /R2.
Logo, substituiremos na equação do campo elétrico do anel: Q por dq, R por
r (o raio do anel não é mais fixo, mas sim variável, pois tem que ser varrido
de 0 a r) e o campo elétrico agora passa a ser um elemento infinitesimal de
campo que deverá ser somado. Então, E por dE. Assim, teremos:
2 𝑘𝑘 𝑄𝑄 𝑧𝑧0 𝑟𝑟
𝑑𝑑𝑑𝑑 = 3 𝑑𝑑𝑑𝑑.
𝑅𝑅2 �𝑧𝑧02 + 𝑟𝑟 2 �2
Omitimos a notação vetorial porque todos os elementos infinitesimais de
campo que somaremos estão na direção z, com o mesmo sentido, então
podemos integrar primeiro e depois reinserir o vetor unitário para voltar à
notação vetorial:
𝑅𝑅
2 𝑘𝑘 𝑄𝑄 𝑧𝑧0 𝑟𝑟
𝐸𝐸�⃗ = � 3 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑘𝑘�
0 𝑅𝑅 2 (𝑧𝑧02 + 𝑟𝑟 2 )2
Resolvendo a integral encontramos:
2 𝑘𝑘 𝑄𝑄 𝑧𝑧0
𝐸𝐸�⃗ = 2
�1 − � 𝑘𝑘�
𝑅𝑅 �(𝑧𝑧02 + 𝑅𝑅2 )
Para complementar seus conhecimentos sobre Campos Elétricos, acesse a
Minha Biblioteca e leia as seções 19.5 a 19.7 do livro: SERWAY, R. A.;
JEWETT JR., J. Princípios de física vol. 3 - Eletromagnetismo. São
Paulo: Cengage Learning Brasil, 2014. ISBN: 9788522118069.
Tema 4
Lei de Gauss: fluxo do campo elétrico; aplicação
da lei de Gauss na determinação do campo
elétrico de distribuições de cargas; campo no
interior de condutores
O que é fluxo do campo elétrico e como se comporta?
Temos alguns fatos que nos levam a intuir sobre o campo elétrico. Vejamos:
• Uma carga puntiforme gera um campo elétrico radial em todo o espaço.
• A intensidade do campo elétrico decai com o inverso do quadrado da distância
à carga.
• A área de uma superfície esférica com centro na carga aumenta com o quadrado
da distância.
Estes três fatos nos remetem a uma analogia de que o campo elétrico seja algo que
parece "fluir" da carga, a perda de sua intensidade sendo compensada pelo aumento
da área que é atravessada por este "fluxo".
Para ser determinado, um fluxo depende da definição de uma superfície por
meio da qual esteja ocorrendo. Também depende da orientação relativa entre
a direção da entidade que flui e a superfície através da qual o fluxo ocorre. Por
exemplo: se você segura um pote na chuva com a boca virada para cima, a
água vai atravessar a boca do pote e vai enchê-lo. Se você o segura com a
boca virada para o lado, com o pote na horizontal, a chuva passa paralela à
boca do pote e não entra (idealmente, a água que está no pote não sai
também, se não for muita). Se você segura o pote com a boca para baixo, a
água que estiver dentro dele vai atravessar a boca, saindo do pote, o que
passa a ideia de que o fluxo de água depende não só do tamanho da boca do
pote, mas também da orientação dela. Tamanho e orientação juntos definem
algo que tem característica de vetor.
Supondo que o fluxo de fluido no espaço possa ser considerado
uniformemente distribuído (por exemplo, chuva), e que alinhemos a área da
abertura do recipiente de forma que o fluido a atravesse perpendicularmente,
teremos então a máxima variação da quantidade de fluido no recipiente.
Nestas condições, quanto maior a área da abertura, maior será a variação da
quantidade de fluido no recipiente. Interpretando esses fatos, o fluxo a partir
da abertura do recipiente depende de um módulo (a área da abertura), uma
direção (orientação paralela, perpendicular ou intermediária do fluxo em
relação à abertura) e de um sentido (de fora para dentro ou de dentro para
fora).
Podemos assim considerar que é correto representar a superfície da abertura do
recipiente ou, por extensão, qualquer superfície, por um vetor área cujo módulo é igual
à área da superfície, de que a direção é perpendicular à superfície e de qual o sentido
seja estabelecido em função de um sentido de referência.
Se a superfície for curva, ainda poderemos subdividi-la em pequenas áreas
aproximadamente planas, de forma que ainda faça sentido a perpendicularidade do
vetor área. Teremos um pequeno vetor área com módulo ∆A para cada fração de área
correspondente, perpendicular à fração aproximadamente plana de área. Se o tamanho
dessa área tender a zero, teremos o vetor representado como:
�����⃗
𝑑𝑑𝑑𝑑.
Com a definição da direção do vetor área como sendo perpendicular à superfície, o fluxo
é maior quando a direção de deslocamento do fluido é paralela à do vetor área e é nulo
quando esta é perpendicular ao vetor área. Isto nos remete ao comportamento de um
produto escalar entre dois vetores, conforme definido em Álgebra Linear.
Para o nosso estudo de fluxo de campo elétrico, vamos considerar a relação que
expressa esse fluxo infinitesimal como sendo
�����⃗.
𝑑𝑑Φ = 𝐸𝐸�⃗ ⋅ 𝑑𝑑𝑑𝑑
Figura 12 - Fluxo do vetor campo elétrico a partir de uma superfície A com elemento infinitesimal de área
dS.
Fonte: Adaptada de Chetvomo (2019).
Uma vez que nos interessará estudar esse fluxo a partir de superfícies imaginárias
fechadas que envolvam ou não cargas elétricas, precisaremos integrar todos os fluxos
infinitesimais para obter o fluxo total. A forma mais geral desse fluxo será dada por:
Φ = � 𝐸𝐸�⃗ ⋅ �����⃗
𝑑𝑑𝑑𝑑
𝐴𝐴
A integral com um círculo indica que é uma integral de superfície tomada ao longo de
uma superfície fechada A. Por definição, consideraremos os vetores �����⃗ 𝑑𝑑𝑑𝑑 como
apontando para fora da superfície fechada.
Veremos no exemplo 5 o cálculo do fluxo do campo elétrico produzido por
uma carga puntiforme positiva qf colocada dentro de uma superfície imaginária
qualquer.
Conforme já definido, o campo elétrico produzido por uma carga puntiforme
aponta na direção radial considerando a carga como centro. Já que a
superfície fechada é imaginária e qualquer, podemos escolhê-la como uma
esfera de raio R e com centro na posição da carga. Dessa forma, a direção do
campo elétrico será perpendicular à superfície em todos os seus pontos, sendo
�����⃗ . O produto escalar entre eles pode, então, ser
sempre paralela ao vetor 𝑑𝑑𝑑𝑑
dado por:
𝐸𝐸�⃗ ⋅ �����⃗
𝑑𝑑𝑑𝑑 = 𝐸𝐸 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 = 𝐸𝐸 𝑑𝑑𝑑𝑑 , já que θ = 0.
Na posição R, onde está a superfície imaginária, todos os pontos terão o
mesmo módulo de campo elétrico.
𝑘𝑘 𝑞𝑞𝑓𝑓
𝐸𝐸 = ,
𝑅𝑅2
Uma constante, portanto, podendo ser retirada da integral de fluxo. Assim, ao
reescrevermos a equação de cálculo de fluxo Φ do campo elétrico teremos:
𝑘𝑘 𝑞𝑞𝑓𝑓 𝑘𝑘 𝑞𝑞𝑓𝑓
Φ = � 𝑑𝑑𝑑𝑑 = 𝐴𝐴
𝑅𝑅2 𝐴𝐴 𝑅𝑅2
Por ter ficado no integrando apenas a diferencial dA, o resultado da integral ao
longo da área A da superfície fechada é a própria área dessa superfície.
No caso da esfera,
A = 4πR2
Sendo assim,
Φ = 4 k π qf
Chegamos ao interessante resultado que representa que, não importa o
tamanho da superfície imaginária, o fluxo é constante e depende apenas da
carga interna. Se a carga é positiva, o fluxo é positivo, pois o campo elétrico
atravessa a esfera de dentro para fora. Se for negativa, o fluxo é negativo
também, porque o campo elétrico atravessa a superfície de fora para dentro e
forma um ângulo de 180° com o vetor 𝑑𝑑𝑑𝑑 �����⃗ , resultando em sinal negativo do
produto escalar.
Caso escolhêssemos outro formato para a superfície imaginária, mantendo a
carga em seu interior, chegaríamos ao mesmo resultado, apenas com a
diferença de que o cálculo da integral de superfície seria mais complexo. Se,
por outro lado, posicionássemos a carga do lado de fora da superfície
imaginária, o campo elétrico produzido pela carga estaria entrando na
superfície por um lado dela e saindo pelo outro lado. Não havendo outras
cargas dentro da superfície, o resultado da integral de superfície seria nulo.
Karl Friederich Gauss, no começo do século XIX, enunciou a chamada Lei de Gauss:
“O fluxo do campo elétrico através de uma superfície fechada é
proporcional à quantidade de carga elétrica contida no interior desta
superfície.”
Experimentalmente determinou-se que, caso o meio seja o vácuo, a constante de
proporcionalidade seria 1/ε0, em que ε0 é a constante física que corresponde à
permissividade elétrica do vácuo. Seu valor no sistema SI vale:
ε0 = 8,85 x 10-12 C2 N-1 m-2
Pelos resultados que obtivemos, temos então que:
4 k π = 1/ε0 ou k = 1/ (4 π ε0).
Temos então, finalmente, a forma integral de Lei de Gauss definida como:
𝑞𝑞𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖
Φ = � 𝐸𝐸�⃗ ⋅ �����⃗
𝑑𝑑𝑑𝑑 =
𝐴𝐴 𝜀𝜀0
Em que Φ é o fluxo do campo elétrico através de uma superfície fechada imaginária A
e qint é a quantidade total de carga elétrica contida no interior da superfície.
Veremos no vídeo desta unidade como aplicar a Lei de Gauss para determinar o campo
elétrico produzido por distribuições de carga simétricas contidas em materiais
condutores e isolantes elétricos, além de outros conceitos e definições básicos.
Para complementar seus conhecimentos sobre Fluxo Elétrico, acesse a Minha
Biblioteca e leia as seções 19.8 a 19.12 do livro: SERWAY, R. A.; JEWETT
JR., J. Princípios de física Vol. 3: Eletromagnetismo. São Paulo: Cengage
Learning Brasil, 2014. ISBN: 9788522118069.
Encerramento
Qual a origem da eletricidade?
A eletricidade se origina da carga elétrica, que é uma propriedade intrínseca de
algumas partículas subatômicas como o elétron e o próton. A carga elétrica está ligada
a essas partículas de forma indivisível, de tal forma que a cada partícula corresponde
uma quantidade definida de carga elétrica, cujo valor do seu módulo (desconsiderando
o seu sinal) é constante e igual para todas as partículas fundamentais.
Como se comportam as forças de ação a distância
entre cargas elétricas?
A força de ação a distância entre cargas é diretamente proporcional ao produto dos
módulos das cargas e inversamente proporcional ao inverso do quadrado da distância
entre elas. Se as cargas forem puntiformes, as forças atuam ao longo da direção do
segmento de reta imaginário que une as cargas. Se as cargas forem de mesmo sinal,
a força será de repulsão e, se forem de sinais opostos, de atração.
Qual a entidade física que mede as forças entre as
cargas e como se comporta em relação às
distribuições de carga que a produzem?
A entidade física que media as forças entre cargas é o campo elétrico, o qual é
produzido por todas as cargas presentes, sendo considerado para calcular a força e o
campo de todas as cargas que não aquela sobre a qual se considera calcular a força
exercida. O campo elétrico produzido por cada carga é um vetor que aponta para
longe da carga, em direção ao infinito, se a carga for positiva, e do infinito para a
carga, se for negativa.
O que é fluxo do campo elétrico e como se comporta?
O fluxo do campo elétrico é a contabilização da passagem do vetor campo elétrico por
meio de uma superfície imaginária fechada. O valor deste fluxo é definido pela Lei de
Gauss como sendo proporcional à quantidade de carga elétrica contida em seu
interior.
Resumo da Unidade
Nesta unidade foram mostrados os conceitos de carga elétrica, discutindo-se
distribuições puntiformes e contínuas de carga no Tema 1, força elétrica produzida
entre cargas elétricas, no Tema 2, o campo elétrico como sendo a entidade
mediadora das forças entre cargas no Tema 3, e os conceitos de fluxo do campo
elétrico e a lei de Gauss no Tema 4, tendo sido apresentados exemplos de
aplicações para distribuições diversas de carga.
Referências
• CHETVOMO. Surface Integral. In: WIKIMEDIA Commons. [San Francisco,
CA: Wikimedia Foundation, 2019].
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Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos
abordados nessa unidade, não deixe de consultar as referências
bibliográficas básicas e complementares disponíveis no plano de
ensino publicado na página inicial da disciplina.