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Brasil, Avanços e Retrocessos

O documento analisa os avanços e retrocessos do Brasil, destacando as fragilidades estruturais e conjunturais que impedem o desenvolvimento econômico e social do país. Através de uma abordagem crítica, explora a trajetória econômica brasileira, desde o modelo agroexportador até as crises recentes, incluindo a pandemia de COVID-19. O texto também discute a diferença entre crescimento e desenvolvimento, enfatizando a necessidade de uma análise profunda para entender a situação atual do Brasil.

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O documento analisa os avanços e retrocessos do Brasil, destacando as fragilidades estruturais e conjunturais que impedem o desenvolvimento econômico e social do país. Através de uma abordagem crítica, explora a trajetória econômica brasileira, desde o modelo agroexportador até as crises recentes, incluindo a pandemia de COVID-19. O texto também discute a diferença entre crescimento e desenvolvimento, enfatizando a necessidade de uma análise profunda para entender a situação atual do Brasil.

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5 - Brasil: avancos e retrocessos (DL) PTT) ae saat) pela midia interativa, E-Book Apostila Brasil: avancos e retrocessos Olé, estudante! Seja bem-vindo(a) 3 unidade de estudo Brasil: avangos e retrocessos. Nesta unidade analisaremos o contexto politico e socioeconémico atual sob a ética histérica das fragilidades estruturais e conjunturais brasileiras, mapeando e compreendendo as razdes profundas do nosso atraso. Isso seré feito utilizando a abordagem politica e econémica que estamos trabalhando na unidade. Para iniciar a nossa discussao, analise a imagem abaixo. Trata-se de duas capas da famosa revista inglesa The Economist. Vocé saberia dizer em que ano cada uma delas foi publicada? Wie The ‘tafe ht TLE ene on) E-Book Apostila ‘Acapa da direita se chama “Brasil decola” e foi publicada em 2009. Nela, a imagem do Cristo Redentor é comparada a um foguete em decolagem. Jé na capa da direita, “0 Brasil estragou tudo?’, publicada em 2013, 0 Cristo Redentor, em ver de decolar, faz uma manobra no céu, deixando um rastro de fumaga e caindo ao solo. Em apenas cinco anos, de futuro promissor, passamos a um aparente fracasso. + Quantas vezes vocé jé ouviu que o Brasil é 0 pais do futuro? ‘+ Que temos todas as condigées fisicas e naturais para nos tornarmos uma poténcia econémica? No entanto, no conseguimos romper nossas amarras. Nao bastasse o baixo crescimento crénico da nossa economia € a recessao dos tltimos anos, recentemente, colocou-se ainda mais gasolina nessa fogueira, em fungdo das drésticas consequéncias provocadas pela pandemia de COVID-19, a partir de 2020. Mas, afinal de contas, por que nossa economia nao decola, se dispomos de tantas varidveis a nosso favor? Ao final desta unidade, esta seré a pergunta para qual tentaremos ajudé-lo — de maneira critica e consciente — a encontrar a resposta. Book -Apostila Ao final deste contetido, vocé sera capaz d ‘+ Entender momentos chave da trajetéria econémica brasileira, como 0 periodo agroexportador, o Proceso Substitutive de Importagdes e 0 Plano Real; * Avaliar causas estruturas ¢ conjunturais das dificuldades de desenvolvimento econémico e social no Brasil; + Estruturar andlises de conjuntura e propostas multidimensionais, politicas e econémicas, acerca do processo de desenvolvimento brasileiro. oN A dW Bons estudos! a Como explicar o desenvolvimento lento do Brasil? Se considerarmos 0 PIB como medida de comparacao entre os paises, encontraremos o cenério a seguir. Observe a colocago dos paises e localize o Brasil dentro desse grupo. A Figura abaixo demonstra a posigo do Brasil no ranking de maiores economias do mundo em 2019 € 2022, refletindo 0 impacto da pandemia de COVID-19 na nossa economia FIGURA 1- Rani 2020 g das maiores economias do mundo em 2019 e E-Book -Apostila Maiores economias do mundo PIB brasileiro em délares deve perder 3 posigdes no ranking I EUA 22 China 3 Japao a Alemanha 52 {ndia 6 Reino Unido n Franca Be Ttélia oo Brasil r EUA 22 China 2 Japao 4 Alemanha 2 Reino Unido 2 fndia 7 Franca 2 Italia 92 Canada 10° Coreia do Sul ne Rassia 12° Brasil Fonte: FGV, com dados do FMI J8 a Figura 02 ilustra 0 ranking atualizado das maiores economias, demonstrando que em 20220 Brasil voltou a figurar entre os dez maiores PIBs nominais do mundo, com 1,83 trilhao de délares. E-Book Apostila FIGURA 2 - Ranking das Maiores Economias do Mundo em 2022 BRASIL VOLTA AO TOP 10 DO RANKING DE MAIORES ECONOMIAS pafs superou a Russia, Coreia do Sul e Australia Dee eee wee PIB nominal ranking (uss tri) 1 © eva 235 China 19.91 | 3° @ Japao 491 Zz 4° ME Alemanha 420 5° SSS India a | 6° SKE ReinoUnido §603,38 Sts 7 BE Franca 200 Canada 222 x 9° EE italia 200 4 [10° ESS Brasil | 11° MM Russia | 12° %@} Coreiadosul 180 J 13° Australia 1750—ClU«dR fonte: Austin Rating PODER;"> Em termos quantitativos, o Brasil ainda figura entre as dez maiores economias do mundo. No entanto, cabe a pergunta: vocé se sente vivendo no décimo melhor pais do mundo? A resposta parece ébvia E-Book Apostila Para tentar explicar as principais contradigBes socioeconémicas apresentadas pelo Brasil, precisamos compreender que hé diferencas fundamentais entre crescimento e desenvolvimento econ6mico, ou seja, nem sempre uma economia que apresenta dados quantitativos positives garante condicées de vida adequada aos seus habitantes, FIGURA 3 - Crescimento x Desenvol - ampliacdo quantitativa da producdo - PIB (por exemplo) SALMO meer ve uc SURO eu Ce - IDH (por exemplo) suasonacho 00 suo, 208, [Além disso, devemos considerar duas dimensGes de anélise para buscar essas respostas: estrutura e conjuntura. A primeira diz respeito a questdes da nossa formagdo histérica e econémica; a segunda, mais ligada a elementos do momento presente. Nao podemos explicar o Brasil, portanto, apenas observando a conjuntura, por exemplo, 0 indice de desemprego, a retracéo do PIB em funco da quarentena ou até mesmo a cotagdo do délar. Para além dessas varidveis, hd outras, muito mais profundas, que se referem & nossa constitui¢éo econdmica social, entranhadas na histéria e que reverberam, de alguma forma, até os dias atuais. Essas duas esferas, estrutura e conjuntura, concorrem para o cenério atual e para o estado das coisas em nosso pats. Book -Apostila FIGURA 4 - Estrutura versus Conjuntura Conjuntura Estrutura suanoeacto 0 auToR, 2028, Na perspectiva histérica, para muitos estudiosos, 0 Brasil é considerado um pafs cuja formac3o do capitalismo é tardia, por ter sido dependente durante muito tempo do modelo agroexportador. Esse modelo de desenvolvimento durou praticamente até a década de 1930 e apresentava caracteristicas que tornaram nossa economia bastante vulneravel, como pode ser verificado no material a seguir. PSCC CMTE Lo) Recomendamos a leitura das paginas 363 a 373 da obra indicada. Clique no link e lela otivro E-Book -Apostila GREMAUD, A. P; VASCONCELLOS, M.A. S. de; JUNIOR, &. T. Economia Brasileira Contemporanea. 8 06. S50 Paulo: Atlas, 2017, PTE Voc® sabia que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, muito antes de assumir cargo em 1994, era bastante conhecido no mundo académico por ter sido, junto de Enzo Faletto, um dos formuladores da Teoria da Dependéncia, que se esforca em explicar 0 atraso, no apenas do Brasil, mas da América Latina? Acesse 0 material indicado e saiba mais sobre a Teoria da Dependénci https://youtu.be/XcRDtUxftea A despeito das dificuldades impostas pelo modelo, a economia brasileira avangou 8 medida que a prépria economia cafeeira avancava. Embora a renda nacional fosse bastante dependente das exportagdes, sobretudo de produtos primérios, como o café, houve melhorias significativas na estrutura social com a introdugo da mao de obra assalariada e com as primeiras iniciativas industriais Separamos o terceiro episédio da série “Economia brasil ra: contada por quem a fez", em que especialistas descrevem esse momento da nossa formacao. co @< Video eect Ce ed E-Book -Apostila A partir dos anos 1930, mas, principalmente, depois dos anos 1940, o pais encontra outro modelo de desenvolvimento, chamado pelos especialistas de Industrializaco Substitutiva de Importago (ISI) ou Processo de Substituicdo de Importagdes (PSI). 44 uma clara tentativa de superar o modelo agroexportador, criando incentivos e condicées para que a indiistria se desenvolva, Estudo Guiado as paginas 385 a 397 do material indicado. Clique no link eleiaotivro GREMAUD, A. P; VASCONCELLOS, M.A. S. de; JUNIOR, 8. T. Economia Brasileira Contempordnea. 8 04. So Paulo: Atlas, 2017. Em linhas gerals, as caracteristicas do PSI esto apresentadas no quadro a seguir. FIGURA 5 - ISI ou PSI 30-32 E-Book Apostila Processo de Industrializacao (origens da nossa industria) forte protecionismo CEPAL (1948) suasonacho 00 suror, 20, Os anos 1950, com a ascensao de Juscelino Kubitschek, ficaram marcados pelo chamado nacional desenvolvimentismo, modelo em que a participagio do Estado na formagao do capital industrial é fundamental, mesmo que signifique arcar com elevados custos, como divida externa e inflacao crescente, 0 episédio 4 da série “Economia Brasileira: contada por quem a fez” cobre o periodo 1930 a 1973, que abrange o PSI e descreve o desenvolvimentismo, an-32 E-Book Apostila rere) @< Video eee Ce ae Saiba Mais Jk explica o que seu Plano de Metas produziu na economia brasileira, em uma entrevista muito interessante. Vale a pena conferir! https://youtu.be/3IVRTYIL9_A Durante o perfodo militar (1964-1985), houve avangos e retrocessos na economia brasileira. APSS uma fase inicial de ajustes com o PAEG, ainda no inicio da ditadura, os anos compreendidos entre 1968 e 1973 presenciaram o “Milagre Econémico”, em que o Brasil apresentou os maiores indices de crescimento do mundo. No entanto, é a fase de maiores contradigdes: se de um lado a economia cresceu, em média, impressionantes 11,2% ao ano, por outro apresentou maiores indices de concentracao de renda e aumento na pobreza. 0 binémio crescimento/desenvolvimento, mais uma vez, apresentou-se. Vamos compreender melhor sobre o que estamos falando a partir do que Gremaud et al (2017) apresenta, Estudo Guiado 12-32 E-Book Apostila Leia as paginas 422 a 434 do material indicado. Clique no link e lela otivro GREMAUD, AP; VASCONCELOS, M. A. S. de; JUNIOR, 8. T. Economia Brasileira Contemporanea. 8. ed, So Paulo: Atlas, 2017, FT MUTE) © Prof. Jilio Bellingieri faz um panorama da economia brasileira durante o regime militar. Dos anos 1980 para cd, houve muitas fases de instabilidade: da crise da divida externa e a hiperinflacdo dos anos 1990, passando pela estagna¢o econdmica, crise cambial, recessio econémica e desemprego. N3o tem sido nada facil para empresas e cidadios. Apesar de alguns avangos importantes, como a estabilizacdo da moeda com o Plano Real (1994) e melhor distribuicio de renda na primeira década dos anos 2000, a economia e a sociedade brasileira experimentaram avangos timidos. No entanto, hé possibilidades de recuperagao. As crises sucessivas e as posteriores recuperagées, além da liberdade dos instrumentos de politica monetéria e fiscal, do conta de que existem alternativas para o Brasil Krugman (2016), ganhador do Prémio Nobel de Economia, comenta a seguir. 13-32 E-Book Apostila Ler todo Pauls uUgman alerts sobre os mitos nossiz O jornal britanico Financial Times desferiu recentemente mais um golpe contra a autoestima da classe empresarial brasileira. Ele transformou os Brics nos Ticks, renomeando 0 acrénimo criado pelo banco Goldman Sachs para designar os mercados emergentes mais promissores para investidores. Do grupo originalmente formado por Brasil, Russia, {ndia e China, safram Brasil e Russia, e em seu lugar entraram Taiwan e Coreia do Sul (Korea). Ainiciativa do Financial Times pode ser interpretada como mais uma evidéncia do que diz 0 economista Paul Krugman, ganhador do Prémio Nobel de Economia em 2008: “O mundo realmente se voltou contra o Brasil, e é por isso que as coisas andam tao ruins para vocés, e também por sua falta de credibilidade interna e externa”. 14-32 E-Book Apostila Em entrevista exclusiva, Krugman desafia os mitos atuais sobre nossa crise: 0 criado pelo governo brasileiro e o construido pela maioria de nossos economistas, dos empresarios e da midia - e muitos outros. Mitos do Brasil Como Krugman enxerga a crise brasileira? “A recessdo de vocés é realmente severa; a economia precisaria estar crescendo ao menos 2% ao ano e, em vez disso, vem alternando crescimento nulo e negativo. Estamos falando de uma queda compardvel a dos Estados Unidos de 1928 e 1929”, diz. No entanto, ele logo complementa que a situagado nao éa mais grave que jé se viu. “A situagao nao é como a do Brasil em 1990, a dos Estados Unidos em 1979, ada Grécia entre 2009 e 2013 [periodo em que o PIB teve queda de 23%, em termos nominais] ou a da Indonésia no fim dos anos 1990 [sé em 1998, o PIB do pais encolheu 13%]. Mais importante, a vulnerabilidade extrema que costuma acompanhar toda crise severa nao € téo dbvia no Brasil de agora.” 35-32 E-Book Apostila Para Krugman, 0 fato de o Brasil ter a prépria moedae conseguir desvaloriza-la é uma vantagem inegavel. Além disso, a divida externa do Pais é metade do que era em 2002, com relacao ao PIB. E, emboraa influéncia corporativa externa tenha crescido muito durante os anos présperos, ainda é pequena em comparacao ao que ocorre em outros paises. “Para onde quer que olhemos, as fontes usuais de vulnerabilidade séo muito menores do que poderiam ser”, garante o economista. A insatisfago dos brasileiros com 0 atual governo é compreensivel, segundo Paul n, devido & administragio ruim e & queda das expectativas, mas, do ponto de vis Por que a crise é tao severa, ento? Krugman afirma que o Brasil foi prejudicado por trés fatores. Em primeiro lugar, houve o tombo nos pregos mundiais das commodities, que atingiu duramente todos os paises que as exportam, no sd 0 Brasil - 0 Canaddea Australia também tiveram perdas significativas. Em segundo, o Brasil havia sido transformado em “queridinho do mercado” pelo Goldman Sachs ao ser incluido nos Brics, mas as expectativas estavam distorcidas - e 0 capital apressou-se em rejeita-lo, convertendo-o rapido demais de “queridinho” em “cachorro morto”. 16-32 E-Book Apostila Em terceiro lugar, externamente, o Estado brasileiro nao tem boa reputacao e, no ambito interno, falta credibilidade ao governo atual e a auséncia de autoconfianga é generalizada. Com uma psicologia mais positiva, 0 contexto adverso causaria uma crise no Pais, sim, porém passageira, porque os fundamentos de sua economia nao sao tao feios quanto pintam. A recuperagio viria cedo. Sem credibilidade, contudo, um arranhao facilmente vira infeccdo de dificil tratamento. “Se o Brasil tivesse uma histéria melhor e uma credibilidade publica maior, sua populacao veria a alta inflaciondria como algo temporario: a inflacado subiria e logo recuaria, como nos Estados Unidos em 2011. Na &poca, nossa infla¢dio aumentou por causa dos precos das commodities; as pessoas acreditaram que isso era tempordrio e assim fo inflagdo caiu sem que se tomasse nenhuma medida drdstica para isso. $6 que, sem a mesma autoconfianga, o Brasil correu a aumentar as taxas de juros - 0 que, em uma economia irregular, no é bom.” Krugman faz uma anilise de nossas politicas monetaria e fiscal que desafia o discurso critico dominante. “A politica monetaria foi comprimida em grande parte porque a inflacdo aumentou. E eu acho que a inflacao aumentou principalmente em funcado do choque da depreciacao do real; é dificil defender a tese de haver demanda em excesso pressionando os precos”, diz. ar-32 E-Book Apostila “Se o Brasil tivesse uma histéria melhor, essa alta da inflagao seria vista como temporaria” Quanto ao aspecto fiscal, Krugman enxerga um excesso de preocupacdo com o déficit, “De novo, se houvesse maior credibilidade, as pessoas poderiam ver que o déficit primario acontece por causa da economia fraca edo aumento das taxas de juros.” Segundo o economista, houve muita contengdo na politica fiscal, e a “recessdo desagradavel” é consequéncia disso. Mesmo 0 descontrole dos gastos é compreensivel para Krugman. “O governo expandiu programas para reduzir a pobreza e a desigualdade, o que fez com sucesso. No entanto, perdeu um pouco o controle no que diz respeito aos gastos. E inegdvel que teve problemas de controle e de responsabilidade.” De todas as formas, na avaliagdo do economista, a crise brasileira era para ser um fendmeno breve. “Fosse outro pais, as pessoas estariam mais calmas quando a situacdo externa piorasse e 0 governo cortaria as taxas de juros, como faz o Canadé, utilizando esse momento para fazer mais investimentos ptiblicos.” 1B-32 E-Book Apostila Providenciar um ajuste fiscal drastico tende a acentuar o nervosismo, segundo Krugman, o que é 0 exato oposto do que ele recomenda que se faca. Se fosse ministro da Economia, Krugman priorizaria acalmar os mercados. “Eu nao aprovaria programas de corte as taxas de juros e estimulo fiscal, por nado achar que o Brasil tenha credibilidade para isso agora, porém evitaria cortes drasticos no orcamento, pois tenho quase certeza de que nao é boa hora para austeridade. O Banco Central tem de ser independente, é claro, mas no deve se apavorar diante da inflacao”, pondera. © que mais preocupa Krugman é uma economia como a japonesa, em que o governo precisa gastar para gerar demanda No front da credibilidade, o governo brasileiro precisa, em sua opiniao, tentar recuperar a confianca de maneira rdpida, fazendo reformas e sendo percebido como fiscalmente responsavel. Na visdo do economista, se isso acontecer, ao primeiro sinal de recuperaciio econémica, a populac3o perceberd que houve exagero quanto a crise, e o cenario melhorara. “Uma possibilidade é que o real se estabilize ea inflagdo diminua. Entao, as taxas de juros poderao cair, dando inicio a um circulo virtuoso para reduzir a inflagdo, aumentar o orcamento, e assim por diante, mas isso leva tempo’, projeta. 19-32 E-Book Apostila Krugman enfatiza: 0 orgamento da Unido nao se encontra tao vulnerdvel quanto anunciam e a inflacao nao esta fora de controle a ponto de fugir em uma espiral, a mercé do déficit no org¢amento. “Ha pessimismo excessivo. A populacdo certamente desejava uma administrac¢aéo muito mais cuidadosa e tinha uma série de expectativas que nao se concretizaram [de ser uma promissora economia Bric], e por isso esta pessimista”, analisa. Nem a reducao da pobreza foi uma ilusdo, em sua avaliagéio, e muito menos foi um programa insustentavel. “Os objetivos essenciais estavam certos; os problemas fiscais existentes nao tiveram nada a ver com os programas contra a pobreza em si, mas como fato de as reformas necessarias nao terem sido feitas”, afirma. “O Brasil tem uma administragao ruim, com problemas de responsabilidade e controle de gastos, porém isso no significa que esses anos nao valeram a pena”, pontua. Populismo, nao 0 estudo de macroeconomias populistas esté no curriculo de Krugman, e ele garante que esse no é 0 caso do atual governo brasileiro, ao contrario do que muitos pensam. 20-32 E-Book Apostila “Uma caracteristica clara de governos populistas é que nao aplicam as regras econédmicas e nao fazem os esforcos politicos convencionais; eles acham que podem fazer tudo diferente. No Brasil, isso aconteceu no passado, mas, por mais que haja reclamacées nao se verifica hoje”, diz o economista. Segundo ele, a Venezuela, sim, é populista, e a Argentina vinha sendo também, antes da ultima eleicao. O mundo além dos mitos O que mais preocupa Krugman na economia mundial? “acredito que a crise financeira [iniciada em 2008] nao acabou e que estamos com sérios problemas de longo prazo: o da estagnaco da economia e o do aumento da desigualdade. Em relacdo 4 desigualdade, o economista acha que esté acontecendo uma mudanga importante, e isso deve ser um de seus focos de estudo principais nos préximos anos. Quanto a estagnacao, “o fato de o Japdo, a Europa e os Estados Unidos terem de ficar baixando os juros para alavancar a economia é um problema enorme, algo que nunca acometeu o Brasil, por exemplo” - 0 Pais nunca precisou gastar para gerar demanda, segundo ele. aa-32 E-Book Apostila “Gastos de governo para gerar demanda estao entre as maiores razées de preocupa¢ao do mundo atual a meu ver, € a experiéncia japonesa parece ser ainda mais complicada do que acreditavamos.” rtura da midia na Franga da a entender que o pais esté quase se transformando em uma Grécia, mas, segundo Krugman, 05 niimeros no mostram isso Especificamente sobre a Unido Europeia, cujo colapso tem sido frequentemente previsto, Krugman também vai contra a corrente. “Nao creio que a Europa entraré em colapso tao cedo quanto pensam, mas é fato que seu crescimento é lento e a inflacdo estd abaixo da meta, e no vejo como isso pode ser resolvido. Acho que a Europa nao tem o poder para virar 0 jogo; os alemaes nao aprenderam nada, pois acham que todos devem ser como eles”, complementa. Empresas e mitos Nao é segredo a desesperanca de empresérios e executivos brasileiros em relacdo ao governo atual, mas Krugman relativiza o desanimo com base em seu convivio com alguns deles. “Estéo bem preocupados e com muita raiva do governo, mas nao totalmente pessimistas em relacdo aos negécios”, afirma, acrescentando que a classe empresarial parece concordar com sua ideia de que a recuperaco vird por volta de 2017. 22-32 E-Book Apostila As empresas poderiam contribuir para encurtar a crise? “No, ndo esperamos que organizacées individuais solucionem problemas macroeconémicos. Como a histéria nos ensina, podemos ter desastres econédmicos e, ao mesmo tempo, empresas excelentes e altamente competitivas.” Que papel cabe as organizagdes? O economista oferece duas respostas. A primeira é que “o setor privado nado deve entrar em panico”, porque isso s6 piora o ambiente de negécios. A segunda é que “a confusado de curto prazo tem de ser resolvida pelo governo, mas 0 crescimento no longo prazo é um problema das empresas”. Indagado sobre se 0 longo prazo nao fica igualmente comprometido por acdes do governo atual, como a nao participagdo no Tratado Transpacifico (TPP, na siglaem inglés), recentemente firmado, Krugman o nega com veeméncia, e com toda sua expertise em comércio internacional, que lhe rendeu o Prémio Nobel. 23-32 E-Book Apostila “O TPP nao é um acordo comercial. Contém algumas regras que afetam as negociacées, principalmente nos servicgos, mas tem a ver principalmente com protecao da propriedade intelectual e estabelecimento de disputa entre investidores, e ambos sdo ambiguos economicamente - melhorar a protegdo para empresas farmacéuticas nao é bom para nenhum pais; aumentar a hab também nao, em muitos casos. Isso pode servir para idade das organizaces em processar governos encorajar investimentos, mas o acordo foi principalmente de um movimento geopolitico para limitar a influéncia chinesa. O Brasil e suas empresas nao precisam se preocupar com nada disso.” “o Brasil é 0 que esté em situagao menos pior no BRIC. ter democracia ajuda muito” Compreendendo a Oye midia Para Krugman, apesar da ma gestdo do governo atual, os empresarios e executivos devem aprender a interpretar a midia corretamente. “E sabido que todo pais cujo governo tenta abordar a questao da pobreza e desigualdade tende a ser desproporcionalmente criticado pela midia.” 24-32 E-Book Apostila Seu exemplo é a Franga, presidida pelo socialista Francois Hollande. “Quando lemos a imprensa francesa, pensamos que 0 pais esté quase se transformando em uma Grécia. Contudo, analisando os numeros objetivamente, descobrimos que trabalhadores mais jovens tém maior chance de conseguir emprego na Franca do que nos Estados Unidos e que os custos dos empréstimos na Franca esto apenas poucos pontos percentuais acima dos da Alemanha, por exemplo. Os preconceitos politicos dos jornalistas e comentaristas econémicos enviesam suas andlises na midia.” Mito da tecnologia Krugman acredita haver muita “mitologia” nas projecdes de que as novas tecnologias provoquem o desemprego. 25-32 E-Book Apostila “Ha uma desconexao curiosa entre o que se fala e os numeros reais. Nao vemos um crescimento rapido na produtividade nos Estados Unidos, o que seria de esperar de uma maior adocao de tecnologia. O pais no esta trocando pessoas por mAquinas na escala alardeada, provavelmente porque isso nao é percebido como algo tao vantajoso pelas empresas. Temos uma frase que diz: ‘Deverfamos ter carros voadores, mas temos apenas 140 caracteres’ [uma brincadeira sobre o tipo de tecnologia adotado ser principalmente o da rede social Twitter]. Talvez a substituigéo em massa aconteca um dia, porém hoje nem os carros autodirigidos estao a venda”, analisa. Segundo 0 economista, se pensarmos em termos hist6ricos, veremos que algum grau de substituico acontece o tempo todo. “Em 1930, diziam que os empregos acabariam por causa da tecnologia moderna da época, e isso no ocorreu.” Como ele enfatiza, “hoje somos praticamente sé economia de servicos, e nao ha motivos para deixarmos de ter pessoas”. Mito do BRIC O “Bric”, acrénimo criado pelo banco Goldman Sachs, inicialmente sem a Africa do Sul, nunca fez sentido, segundo Krugman, porque os quatro paises s3o totalmente diferentes. 26-32 E-Book Apostila “Com certeza, 0 Brasil é o que esta em situacdo menos pior no grupo. 0 fato de ter democracia e estabilidade politica pode contribuir muito para superar dificuldades econémicas. O Pais nao precisa mudar tanto quanto a China, por exemplo”, observa o economista. Ele continua: “A India nao mostra muita competéncia; a Russia tem uma economia patriarcal e um governante inseguro com inclinagées ditatoriais; e a China teve bem mais sucesso que todos, é verdade, mas sob um investimento de 50% do PIB, o que gerou desemprego e se provou insustentavel - por isso investe tanto agora em criar consumo”. Para Krugman, a situagdo da China é bem mais alarmante que a do Brasil. “O governo chinés nao sabe 0 que esta fazendo.” Vocé aplica quando... ... come¢a a observar a economia mundial com outros olhos, levando em conta as preocupacées de Paul Krugman com a estagna¢ao econémica e o aumento da desigualdade. ... busca acalmar-se em relacao a crise de curto prazo. ... concentra-se em planejar o crescimento de seus negécios no longo prazo. 27-32

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