0 notas 0% acharam este documento útil (0 voto) 23 visualizações 32 páginas Brasil, Avanços e Retrocessos
O documento analisa os avanços e retrocessos do Brasil, destacando as fragilidades estruturais e conjunturais que impedem o desenvolvimento econômico e social do país. Através de uma abordagem crítica, explora a trajetória econômica brasileira, desde o modelo agroexportador até as crises recentes, incluindo a pandemia de COVID-19. O texto também discute a diferença entre crescimento e desenvolvimento, enfatizando a necessidade de uma análise profunda para entender a situação atual do Brasil.
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Salvar Brasil, avanços e retrocessos para ler mais tarde 5 - Brasil: avancos e retrocessos (DL)
PTT) ae saat)
pela midia interativa,E-Book Apostila
Brasil: avancos e
retrocessos
Olé, estudante! Seja bem-vindo(a) 3 unidade de estudo Brasil: avangos e retrocessos.
Nesta unidade analisaremos o contexto politico e socioeconémico atual sob a ética histérica das
fragilidades estruturais e conjunturais brasileiras, mapeando e compreendendo as razdes profundas
do nosso atraso. Isso seré feito utilizando a abordagem politica e econémica que estamos
trabalhando na unidade.
Para iniciar a nossa discussao, analise a imagem abaixo. Trata-se de duas capas da famosa
revista inglesa The Economist.
Vocé saberia dizer em que ano cada uma delas foi publicada?
Wie The ‘tafe ht
TLE ene on)E-Book Apostila
‘Acapa da direita se chama “Brasil decola” e foi publicada em 2009. Nela, a imagem do Cristo
Redentor é comparada a um foguete em decolagem. Jé na capa da direita, “0 Brasil estragou
tudo?’, publicada em 2013, 0 Cristo Redentor, em ver de decolar, faz uma manobra no céu,
deixando um rastro de fumaga e caindo ao solo.
Em apenas cinco anos, de futuro promissor, passamos a um aparente fracasso.
+ Quantas vezes vocé jé ouviu que o Brasil é 0 pais do futuro?
‘+ Que temos todas as condigées fisicas e naturais para nos tornarmos uma
poténcia econémica?
No entanto, no conseguimos romper nossas amarras. Nao bastasse o baixo crescimento crénico da
nossa economia € a recessao dos tltimos anos, recentemente, colocou-se ainda mais gasolina
nessa fogueira, em fungdo das drésticas consequéncias provocadas pela pandemia de COVID-19, a
partir de 2020.
Mas, afinal de contas, por que nossa economia nao decola, se dispomos de tantas varidveis a
nosso favor?
Ao final desta unidade, esta seré a pergunta para qual tentaremos ajudé-lo — de maneira critica e
consciente — a encontrar a resposta.Book -Apostila
Ao final deste contetido, vocé sera capaz d
‘+ Entender momentos chave da trajetéria econémica brasileira, como 0
periodo agroexportador, o Proceso Substitutive de Importagdes e 0
Plano Real;
* Avaliar causas estruturas ¢ conjunturais das dificuldades de
desenvolvimento econémico e social no Brasil;
+ Estruturar andlises de conjuntura e propostas multidimensionais,
politicas e econémicas, acerca do processo de desenvolvimento
brasileiro.
oN
A dW
Bons estudos! a
Como explicar o desenvolvimento lento do
Brasil?
Se considerarmos 0 PIB como medida de comparacao entre os paises, encontraremos o cenério a
seguir. Observe a colocago dos paises e localize o Brasil dentro desse grupo.
A Figura abaixo demonstra a posigo do Brasil no ranking de maiores economias do mundo em 2019
€ 2022, refletindo 0 impacto da pandemia de COVID-19 na nossa economia
FIGURA 1- Rani
2020
g das maiores economias do mundo em 2019 eE-Book -Apostila
Maiores economias do mundo
PIB brasileiro em délares deve perder 3 posigdes no ranking
I EUA
22 China
3 Japao
a Alemanha
52 {ndia
6 Reino Unido
n Franca
Be Ttélia
oo Brasil
r EUA
22 China
2 Japao
4 Alemanha
2 Reino Unido
2 fndia
7 Franca
2 Italia
92 Canada
10° Coreia do Sul
ne Rassia
12° Brasil
Fonte: FGV, com dados do FMI
J8 a Figura 02 ilustra 0 ranking atualizado das maiores economias, demonstrando que em 20220
Brasil voltou a figurar entre os dez maiores PIBs nominais do mundo, com 1,83 trilhao de délares.E-Book Apostila
FIGURA 2 - Ranking das Maiores Economias do Mundo em 2022
BRASIL VOLTA AO TOP 10 DO
RANKING DE MAIORES ECONOMIAS
pafs superou a Russia, Coreia do Sul e Australia
Dee eee wee
PIB nominal
ranking (uss tri)
1 © eva 235
China 19.91 |
3° @ Japao 491 Zz
4° ME Alemanha 420
5° SSS India a |
6° SKE ReinoUnido §603,38 Sts
7 BE Franca 200
Canada 222 x
9° EE italia 200 4
[10° ESS Brasil |
11° MM Russia |
12° %@} Coreiadosul 180 J
13° Australia 1750—ClU«dR
fonte: Austin Rating
PODER;">
Em termos quantitativos, o Brasil ainda figura entre as dez maiores economias do mundo. No
entanto, cabe a pergunta: vocé se sente vivendo no décimo melhor pais do mundo? A resposta
parece ébviaE-Book Apostila
Para tentar explicar as principais contradigBes socioeconémicas apresentadas pelo Brasil,
precisamos compreender que hé diferencas fundamentais entre crescimento e desenvolvimento
econ6mico, ou seja, nem sempre uma economia que apresenta dados quantitativos positives
garante condicées de vida adequada aos seus habitantes,
FIGURA 3 - Crescimento x Desenvol
- ampliacdo quantitativa da producdo
- PIB (por exemplo)
SALMO meer ve uc
SURO eu Ce
- IDH (por exemplo)
suasonacho 00 suo, 208,
[Além disso, devemos considerar duas dimensGes de anélise para buscar essas respostas: estrutura e
conjuntura. A primeira diz respeito a questdes da nossa formagdo histérica e econémica; a segunda,
mais ligada a elementos do momento presente.
Nao podemos explicar o Brasil, portanto, apenas observando a conjuntura, por exemplo, 0 indice de
desemprego, a retracéo do PIB em funco da quarentena ou até mesmo a cotagdo do délar. Para
além dessas varidveis, hd outras, muito mais profundas, que se referem & nossa constitui¢éo
econdmica social, entranhadas na histéria e que reverberam, de alguma forma, até os dias atuais.
Essas duas esferas, estrutura e conjuntura, concorrem para o cenério atual e para o estado das
coisas em nosso pats.Book -Apostila
FIGURA 4 - Estrutura versus Conjuntura
Conjuntura
Estrutura
suanoeacto 0 auToR, 2028,
Na perspectiva histérica, para muitos estudiosos, 0 Brasil é considerado um pafs cuja formac3o do
capitalismo é tardia, por ter sido dependente durante muito tempo do modelo agroexportador. Esse
modelo de desenvolvimento durou praticamente até a década de 1930 e apresentava caracteristicas
que tornaram nossa economia bastante vulneravel, como pode ser verificado no material a seguir.
PSCC CMTE Lo)
Recomendamos a leitura das paginas 363 a 373 da obra indicada.
Clique no link e lela otivroE-Book -Apostila
GREMAUD, A. P; VASCONCELLOS, M.A. S. de; JUNIOR, &. T. Economia Brasileira Contemporanea. 8
06. S50 Paulo: Atlas, 2017,
PTE
Voc® sabia que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, muito antes de assumir
cargo em 1994, era bastante conhecido no mundo académico por ter sido, junto de Enzo
Faletto, um dos formuladores da Teoria da Dependéncia, que se esforca em explicar 0
atraso, no apenas do Brasil, mas da América Latina?
Acesse 0 material indicado e saiba mais sobre a Teoria da Dependénci
https://youtu.be/XcRDtUxftea
A despeito das dificuldades impostas pelo modelo, a economia brasileira avangou 8 medida que a
prépria economia cafeeira avancava. Embora a renda nacional fosse bastante dependente das
exportagdes, sobretudo de produtos primérios, como o café, houve melhorias significativas na
estrutura social com a introdugo da mao de obra assalariada e com as primeiras iniciativas
industriais
Separamos o terceiro episédio da série “Economia brasil
ra: contada por quem a fez", em que
especialistas descrevem esse momento da nossa formacao.
co
@< Video
eect Ce edE-Book -Apostila
A partir dos anos 1930, mas, principalmente, depois dos anos 1940, o pais encontra outro modelo
de desenvolvimento, chamado pelos especialistas de Industrializaco Substitutiva de Importago
(ISI) ou Processo de Substituicdo de Importagdes (PSI). 44 uma clara tentativa de superar o modelo
agroexportador, criando incentivos e condicées para que a indiistria se desenvolva,
Estudo Guiado
as paginas 385 a 397 do material indicado.
Clique no link eleiaotivro
GREMAUD, A. P; VASCONCELLOS, M.A. S. de; JUNIOR, 8. T. Economia Brasileira Contempordnea. 8
04. So Paulo: Atlas, 2017.
Em linhas gerals, as caracteristicas do PSI esto apresentadas no quadro a seguir.
FIGURA 5 - ISI ou PSI
30-32E-Book Apostila
Processo de Industrializacao
(origens da nossa industria)
forte protecionismo
CEPAL (1948)
suasonacho 00 suror, 20,
Os anos 1950, com a ascensao de Juscelino Kubitschek, ficaram marcados pelo chamado nacional
desenvolvimentismo, modelo em que a participagio do Estado na formagao do capital industrial é
fundamental, mesmo que signifique arcar com elevados custos, como divida externa e inflacao
crescente,
0 episédio 4 da série “Economia Brasileira: contada por quem a fez” cobre o periodo 1930 a 1973,
que abrange o PSI e descreve o desenvolvimentismo,
an-32E-Book Apostila
rere)
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eee Ce ae
Saiba Mais
Jk explica o que seu Plano de Metas produziu na economia brasileira, em uma entrevista
muito interessante. Vale a pena conferir!
https://youtu.be/3IVRTYIL9_A
Durante o perfodo militar (1964-1985), houve avangos e retrocessos na economia brasileira. APSS
uma fase inicial de ajustes com o PAEG, ainda no inicio da ditadura, os anos compreendidos entre
1968 e 1973 presenciaram o “Milagre Econémico”, em que o Brasil apresentou os maiores indices de
crescimento do mundo.
No entanto, é a fase de maiores contradigdes: se de um lado a economia cresceu, em média,
impressionantes 11,2% ao ano, por outro apresentou maiores indices de concentracao de renda e
aumento na pobreza. 0 binémio crescimento/desenvolvimento, mais uma vez, apresentou-se.
Vamos compreender melhor sobre o que estamos falando a partir do que Gremaud et al (2017)
apresenta,
Estudo Guiado
12-32E-Book Apostila
Leia as paginas 422 a 434 do material indicado.
Clique no link e lela otivro
GREMAUD, AP; VASCONCELOS, M. A. S. de; JUNIOR, 8. T. Economia Brasileira Contemporanea. 8.
ed, So Paulo: Atlas, 2017,
FT MUTE)
© Prof. Jilio Bellingieri faz um panorama da economia brasileira durante o regime militar.
Dos anos 1980 para cd, houve muitas fases de instabilidade: da crise da divida externa e a
hiperinflacdo dos anos 1990, passando pela estagna¢o econdmica, crise cambial, recessio
econémica e desemprego. N3o tem sido nada facil para empresas e cidadios. Apesar de alguns
avangos importantes, como a estabilizacdo da moeda com o Plano Real (1994) e melhor distribuicio
de renda na primeira década dos anos 2000, a economia e a sociedade brasileira experimentaram
avangos timidos.
No entanto, hé possibilidades de recuperagao. As crises sucessivas e as posteriores recuperagées,
além da liberdade dos instrumentos de politica monetéria e fiscal, do conta de que existem
alternativas para o Brasil
Krugman (2016), ganhador do Prémio Nobel de Economia, comenta a seguir.
13-32E-Book Apostila
Ler todo
Pauls
uUgman alerts sobre os mitos nossiz
O jornal britanico Financial Times desferiu
recentemente mais um golpe contra a autoestima da
classe empresarial brasileira. Ele transformou os Brics
nos Ticks, renomeando 0 acrénimo criado pelo banco
Goldman Sachs para designar os mercados emergentes
mais promissores para investidores. Do grupo
originalmente formado por Brasil, Russia, {ndia e
China, safram Brasil e Russia, e em seu lugar entraram
Taiwan e Coreia do Sul (Korea).
Ainiciativa do Financial Times pode ser interpretada
como mais uma evidéncia do que diz 0 economista
Paul Krugman, ganhador do Prémio Nobel de
Economia em 2008: “O mundo realmente se voltou
contra o Brasil, e é por isso que as coisas andam tao
ruins para vocés, e também por sua falta de
credibilidade interna e externa”.
14-32E-Book Apostila
Em entrevista exclusiva, Krugman desafia os mitos
atuais sobre nossa crise: 0 criado pelo governo
brasileiro e o construido pela maioria de nossos
economistas, dos empresarios e da midia - e muitos
outros.
Mitos do Brasil
Como Krugman enxerga a crise brasileira? “A recessdo
de vocés é realmente severa; a economia precisaria
estar crescendo ao menos 2% ao ano e, em vez disso,
vem alternando crescimento nulo e negativo. Estamos
falando de uma queda compardvel a dos Estados
Unidos de 1928 e 1929”, diz.
No entanto, ele logo complementa que a situagado nao
éa mais grave que jé se viu. “A situagao nao é como a
do Brasil em 1990, a dos Estados Unidos em 1979, ada
Grécia entre 2009 e 2013 [periodo em que o PIB teve
queda de 23%, em termos nominais] ou a da Indonésia
no fim dos anos 1990 [sé em 1998, o PIB do pais
encolheu 13%]. Mais importante, a vulnerabilidade
extrema que costuma acompanhar toda crise severa
nao € téo dbvia no Brasil de agora.”
35-32E-Book Apostila
Para Krugman, 0 fato de o Brasil ter a prépria moedae
conseguir desvaloriza-la é uma vantagem inegavel.
Além disso, a divida externa do Pais é metade do que
era em 2002, com relacao ao PIB. E, emboraa
influéncia corporativa externa tenha crescido muito
durante os anos présperos, ainda é pequena em
comparacao ao que ocorre em outros paises. “Para
onde quer que olhemos, as fontes usuais de
vulnerabilidade séo muito menores do que poderiam
ser”, garante o economista.
A insatisfago dos brasileiros com 0 atual governo é compreensivel, segundo Paul
n, devido & administragio ruim e & queda das expectativas, mas, do ponto de vis
Por que a crise é tao severa, ento? Krugman afirma
que o Brasil foi prejudicado por trés fatores. Em
primeiro lugar, houve o tombo nos pregos mundiais
das commodities, que atingiu duramente todos os
paises que as exportam, no sd 0 Brasil - 0 Canaddea
Australia também tiveram perdas significativas.
Em segundo, o Brasil havia sido transformado em
“queridinho do mercado” pelo Goldman Sachs ao ser
incluido nos Brics, mas as expectativas estavam
distorcidas - e 0 capital apressou-se em rejeita-lo,
convertendo-o rapido demais de “queridinho” em
“cachorro morto”.
16-32E-Book Apostila
Em terceiro lugar, externamente, o Estado brasileiro
nao tem boa reputacao e, no ambito interno, falta
credibilidade ao governo atual e a auséncia de
autoconfianga é generalizada. Com uma psicologia
mais positiva, 0 contexto adverso causaria uma crise
no Pais, sim, porém passageira, porque os
fundamentos de sua economia nao sao tao feios
quanto pintam. A recuperagio viria cedo. Sem
credibilidade, contudo, um arranhao facilmente vira
infeccdo de dificil tratamento.
“Se o Brasil tivesse uma histéria melhor e uma
credibilidade publica maior, sua populacao veria a alta
inflaciondria como algo temporario: a inflacado subiria e
logo recuaria, como nos Estados Unidos em 2011. Na
&poca, nossa infla¢dio aumentou por causa dos precos
das commodities; as pessoas acreditaram que isso era
tempordrio e assim fo
inflagdo caiu sem que se
tomasse nenhuma medida drdstica para isso. $6 que,
sem a mesma autoconfianga, o Brasil correu a
aumentar as taxas de juros - 0 que, em uma economia
irregular, no é bom.”
Krugman faz uma anilise de nossas politicas monetaria
e fiscal que desafia o discurso critico dominante. “A
politica monetaria foi comprimida em grande parte
porque a inflacdo aumentou. E eu acho que a inflacao
aumentou principalmente em funcado do choque da
depreciacao do real; é dificil defender a tese de haver
demanda em excesso pressionando os precos”, diz.
ar-32E-Book Apostila
“Se o Brasil tivesse uma histéria melhor, essa alta da
inflagao seria vista como temporaria”
Quanto ao aspecto fiscal, Krugman enxerga um excesso
de preocupacdo com o déficit, “De novo, se houvesse
maior credibilidade, as pessoas poderiam ver que o
déficit primario acontece por causa da economia fraca
edo aumento das taxas de juros.” Segundo o
economista, houve muita contengdo na politica fiscal, e
a “recessdo desagradavel” é consequéncia disso.
Mesmo 0 descontrole dos gastos é compreensivel para
Krugman. “O governo expandiu programas para reduzir
a pobreza e a desigualdade, o que fez com sucesso. No
entanto, perdeu um pouco o controle no que diz
respeito aos gastos. E inegdvel que teve problemas de
controle e de responsabilidade.”
De todas as formas, na avaliagdo do economista, a crise
brasileira era para ser um fendmeno breve. “Fosse
outro pais, as pessoas estariam mais calmas quando a
situacdo externa piorasse e 0 governo cortaria as taxas
de juros, como faz o Canadé, utilizando esse momento
para fazer mais investimentos ptiblicos.”
1B-32E-Book Apostila
Providenciar um ajuste fiscal drastico tende a acentuar
o nervosismo, segundo Krugman, o que é 0 exato
oposto do que ele recomenda que se faca. Se fosse
ministro da Economia, Krugman priorizaria acalmar os
mercados. “Eu nao aprovaria programas de corte as
taxas de juros e estimulo fiscal, por nado achar que o
Brasil tenha credibilidade para isso agora, porém
evitaria cortes drasticos no orcamento, pois tenho
quase certeza de que nao é boa hora para austeridade.
O Banco Central tem de ser independente, é claro, mas
no deve se apavorar diante da inflacao”, pondera.
© que mais preocupa Krugman é uma economia como a
japonesa, em que o governo precisa gastar para gerar
demanda
No front da credibilidade, o governo brasileiro precisa,
em sua opiniao, tentar recuperar a confianca de
maneira rdpida, fazendo reformas e sendo percebido
como fiscalmente responsavel. Na visdo do
economista, se isso acontecer, ao primeiro sinal de
recuperaciio econémica, a populac3o perceberd que
houve exagero quanto a crise, e o cenario melhorara.
“Uma possibilidade é que o real se estabilize ea
inflagdo diminua. Entao, as taxas de juros poderao cair,
dando inicio a um circulo virtuoso para reduzir a
inflagdo, aumentar o orcamento, e assim por diante,
mas isso leva tempo’, projeta.
19-32E-Book Apostila
Krugman enfatiza: 0 orgamento da Unido nao se
encontra tao vulnerdvel quanto anunciam e a inflacao
nao esta fora de controle a ponto de fugir em uma
espiral, a mercé do déficit no org¢amento. “Ha
pessimismo excessivo. A populacdo certamente
desejava uma administrac¢aéo muito mais cuidadosa e
tinha uma série de expectativas que nao se
concretizaram [de ser uma promissora economia Bric],
e por isso esta pessimista”, analisa.
Nem a reducao da pobreza foi uma ilusdo, em sua
avaliagéio, e muito menos foi um programa
insustentavel. “Os objetivos essenciais estavam certos;
os problemas fiscais existentes nao tiveram nada a ver
com os programas contra a pobreza em si, mas como
fato de as reformas necessarias nao terem sido feitas”,
afirma. “O Brasil tem uma administragao ruim, com
problemas de responsabilidade e controle de gastos,
porém isso no significa que esses anos nao valeram a
pena”, pontua.
Populismo, nao
0 estudo de macroeconomias populistas esté no
curriculo de Krugman, e ele garante que esse no é 0
caso do atual governo brasileiro, ao contrario do que
muitos pensam.
20-32E-Book Apostila
“Uma caracteristica clara de governos populistas é que
nao aplicam as regras econédmicas e nao fazem os
esforcos politicos convencionais; eles acham que
podem fazer tudo diferente. No Brasil, isso aconteceu
no passado, mas, por mais que haja reclamacées nao
se verifica hoje”, diz o economista. Segundo ele, a
Venezuela, sim, é populista, e a Argentina vinha sendo
também, antes da ultima eleicao.
O mundo além dos
mitos
O que mais preocupa Krugman na economia mundial?
“acredito que a crise financeira [iniciada em 2008] nao
acabou e que estamos com sérios problemas de longo
prazo: o da estagnaco da economia e o do aumento
da desigualdade.
Em relacdo 4 desigualdade, o economista acha que
esté acontecendo uma mudanga importante, e isso
deve ser um de seus focos de estudo principais nos
préximos anos.
Quanto a estagnacao, “o fato de o Japdo, a Europa e os
Estados Unidos terem de ficar baixando os juros para
alavancar a economia é um problema enorme, algo
que nunca acometeu o Brasil, por exemplo” - 0 Pais
nunca precisou gastar para gerar demanda, segundo
ele.
aa-32E-Book Apostila
“Gastos de governo para gerar demanda estao entre as
maiores razées de preocupa¢ao do mundo atual a meu
ver, € a experiéncia japonesa parece ser ainda mais
complicada do que acreditavamos.”
rtura da midia na Franga da a entender que o pais esté quase se transformando em
uma Grécia, mas, segundo Krugman, 05 niimeros no mostram isso
Especificamente sobre a Unido Europeia, cujo colapso
tem sido frequentemente previsto, Krugman também
vai contra a corrente. “Nao creio que a Europa entraré
em colapso tao cedo quanto pensam, mas é fato que
seu crescimento é lento e a inflacdo estd abaixo da
meta, e no vejo como isso pode ser resolvido. Acho
que a Europa nao tem o poder para virar 0 jogo; os
alemaes nao aprenderam nada, pois acham que todos
devem ser como eles”, complementa.
Empresas e mitos
Nao é segredo a desesperanca de empresérios e
executivos brasileiros em relacdo ao governo atual,
mas Krugman relativiza o desanimo com base em seu
convivio com alguns deles. “Estéo bem preocupados e
com muita raiva do governo, mas nao totalmente
pessimistas em relacdo aos negécios”, afirma,
acrescentando que a classe empresarial parece
concordar com sua ideia de que a recuperaco vird por
volta de 2017.
22-32E-Book Apostila
As empresas poderiam contribuir para encurtar a crise?
“No, ndo esperamos que organizacées individuais
solucionem problemas macroeconémicos. Como a
histéria nos ensina, podemos ter desastres econédmicos
e, ao mesmo tempo, empresas excelentes e altamente
competitivas.”
Que papel cabe as organizagdes? O economista oferece
duas respostas. A primeira é que “o setor privado nado
deve entrar em panico”, porque isso s6 piora o
ambiente de negécios. A segunda é que “a confusado de
curto prazo tem de ser resolvida pelo governo, mas 0
crescimento no longo prazo é um problema das
empresas”.
Indagado sobre se 0 longo prazo nao fica igualmente
comprometido por acdes do governo atual, como a nao
participagdo no Tratado Transpacifico (TPP, na siglaem
inglés), recentemente firmado, Krugman o nega com
veeméncia, e com toda sua expertise em comércio
internacional, que lhe rendeu o Prémio Nobel.
23-32E-Book Apostila
“O TPP nao é um acordo comercial. Contém algumas
regras que afetam as negociacées, principalmente nos
servicgos, mas tem a ver principalmente com protecao
da propriedade intelectual e estabelecimento de
disputa entre investidores, e ambos sdo ambiguos
economicamente - melhorar a protegdo para empresas
farmacéuticas nao é bom para nenhum pais; aumentar
a hab
também nao, em muitos casos. Isso pode servir para
idade das organizaces em processar governos
encorajar investimentos, mas o acordo foi
principalmente de um movimento geopolitico para
limitar a influéncia chinesa. O Brasil e suas empresas
nao precisam se preocupar com nada disso.”
“o Brasil é 0 que esté em situagao menos pior no BRIC. ter
democracia ajuda muito”
Compreendendo a
Oye
midia
Para Krugman, apesar da ma gestdo do governo atual,
os empresarios e executivos devem aprender a
interpretar a midia corretamente. “E sabido que todo
pais cujo governo tenta abordar a questao da pobreza e
desigualdade tende a ser desproporcionalmente
criticado pela midia.”
24-32E-Book Apostila
Seu exemplo é a Franga, presidida pelo socialista
Francois Hollande. “Quando lemos a imprensa
francesa, pensamos que 0 pais esté quase se
transformando em uma Grécia. Contudo, analisando os
numeros objetivamente, descobrimos que
trabalhadores mais jovens tém maior chance de
conseguir emprego na Franca do que nos Estados
Unidos e que os custos dos empréstimos na Franca
esto apenas poucos pontos percentuais acima dos da
Alemanha, por exemplo. Os preconceitos politicos dos
jornalistas e comentaristas econémicos enviesam suas
andlises na midia.”
Mito da tecnologia
Krugman acredita haver muita “mitologia” nas
projecdes de que as novas tecnologias provoquem o
desemprego.
25-32E-Book Apostila
“Ha uma desconexao curiosa entre o que se fala e os
numeros reais. Nao vemos um crescimento rapido na
produtividade nos Estados Unidos, o que seria de
esperar de uma maior adocao de tecnologia. O pais
no esta trocando pessoas por mAquinas na escala
alardeada, provavelmente porque isso nao é percebido
como algo tao vantajoso pelas empresas. Temos uma
frase que diz: ‘Deverfamos ter carros voadores, mas
temos apenas 140 caracteres’ [uma brincadeira sobre o
tipo de tecnologia adotado ser principalmente o da
rede social Twitter]. Talvez a substituigéo em massa
aconteca um dia, porém hoje nem os carros
autodirigidos estao a venda”, analisa.
Segundo 0 economista, se pensarmos em termos
hist6ricos, veremos que algum grau de substituico
acontece o tempo todo. “Em 1930, diziam que os
empregos acabariam por causa da tecnologia moderna
da época, e isso no ocorreu.” Como ele enfatiza, “hoje
somos praticamente sé economia de servicos, e nao ha
motivos para deixarmos de ter pessoas”.
Mito do BRIC
O “Bric”, acrénimo criado pelo banco Goldman Sachs,
inicialmente sem a Africa do Sul, nunca fez sentido,
segundo Krugman, porque os quatro paises s3o
totalmente diferentes.
26-32E-Book Apostila
“Com certeza, 0 Brasil é o que esta em situacdo menos
pior no grupo. 0 fato de ter democracia e estabilidade
politica pode contribuir muito para superar
dificuldades econémicas. O Pais nao precisa mudar
tanto quanto a China, por exemplo”, observa o
economista.
Ele continua: “A India nao mostra muita competéncia; a
Russia tem uma economia patriarcal e um governante
inseguro com inclinagées ditatoriais; e a China teve
bem mais sucesso que todos, é verdade, mas sob um
investimento de 50% do PIB, o que gerou desemprego
e se provou insustentavel - por isso investe tanto agora
em criar consumo”.
Para Krugman, a situagdo da China é bem mais
alarmante que a do Brasil. “O governo chinés nao sabe
0 que esta fazendo.”
Vocé aplica quando...
... come¢a a observar a economia mundial com
outros olhos, levando em conta as preocupacées de
Paul Krugman com a estagna¢ao econémica e o
aumento da desigualdade.
... busca acalmar-se em relacao a crise de curto prazo.
... concentra-se em planejar o crescimento de
seus negécios no longo prazo.
27-32