0% acharam este documento útil (0 voto)
94 visualizações12 páginas

Pra Quê Serve A Psicanálise

O livro 'Pra quê serve a psicanálise?' de Denise Maurano explora a psicanálise tanto como um tratamento para questões individuais quanto como um reflexo cultural contemporâneo. A obra discute a importância da comunicação e da busca por conexão humana em um mundo marcado pela solidão e pelo desamparo, destacando a relevância da psicanálise na compreensão e tratamento do 'mal de amor' que permeia a sociedade atual. Além disso, o texto relaciona a psicanálise com a arte barroca, enfatizando a subjetividade e a complexidade da condição humana.

Enviado por

Renata Avila
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
94 visualizações12 páginas

Pra Quê Serve A Psicanálise

O livro 'Pra quê serve a psicanálise?' de Denise Maurano explora a psicanálise tanto como um tratamento para questões individuais quanto como um reflexo cultural contemporâneo. A obra discute a importância da comunicação e da busca por conexão humana em um mundo marcado pela solidão e pelo desamparo, destacando a relevância da psicanálise na compreensão e tratamento do 'mal de amor' que permeia a sociedade atual. Além disso, o texto relaciona a psicanálise com a arte barroca, enfatizando a subjetividade e a complexidade da condição humana.

Enviado por

Renata Avila
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 12

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

PSICOLOGIA

CLÍNICA PSICANALÍTICA
ÉLIDE AVILA KESSLER

RESUMO E ANÁLISE DO LIVRO “PRA QUÊ SERVE A PSICANÁLISE?” DE


DENISE MAURANO

Amanda Borstmann, Amanda Matos, Cassiê Ehlers, Cristiane da Silva, Eliege de Souza,
Esthella Gomes, Gabrielle Bueno, Janette Norte, Jessica Longaray, Juliana Cardoso, Kelly
Fischer, Mayandre Lesnik, Natalia Kowalski, Natalia Martins, Renata Avila

São Jerônimo, 31 de março de 2020.


RESUMO E ANÁLISE DO LIVRO “PRA QUÊ SERVE A PSICANÁLISE?” DE
DENISE MAURANO

INTRODUÇÃO

A questão " para que serve a psicanálise?" pode ser vista de dois ângulos: o primeiro
onde é observado, a psicanálise, como um tratamento e a segunda onde a psicanálise está
focada na cultura. O presente livro aborda vários aspectos importantes, relata que na
contemporaneidade o homem vê a comunicação como uma salvação para as suas
dificuldades; muitas vezes fazendo com o que seu caminho até a procura de um tratamento
psicanalítico seja bastante longo, deste modo, o indivíduo acaba passando por diversas
tentativas fracassadas para suprir suas necessidades para, enfim, procurar a psicanálise. Ao
decorrer da história houve diferentes valores de sustentação para o sujeito. A organização da
vida em cidades era esperado que as leis apontassem o que era correto a ser feito, logo
após, a religião veio em socorro aos cidadãos, depois o apelo à salvação divina deslocou-se
para a razão.
Um indivíduo pede ajuda a um analista quando algo está o intrigando, um fator muito
importante de ser lembrado é que não há análise possível sem que o indivíduo queira. A
psicanálise é indicada para tratar qualquer tipo de doença. Lembrando que, a psicanálise não
trata da doença, mas sim do indivíduo que nela está implicado.
Logo que o indivíduo pede ajuda a um analista é feita a entrevista preliminar/inicial; a
mesma, em alguns casos levam algum tempo para que se possa avaliar, tanto por parte de
quem pede quanto por parte do analista. Se há um trabalho possível a ser feito ali, se é o
momento de empreendê-lo, e se tanto o analista quanto o candidato à análise estão
dispostos.
Outro elemento conectado a psicanálise diz respeito ao efeito de beleza produzido
pelo manejo do amor na experiência psicanalítica, onde, via a transferência (designação do
amor nessa experiência), o profissional deve se reposicionar em sua relação ao indivíduo,
deve ser transportado em certa medida para além do apego ao profissional, numa relativa
dimensão de infinitude.
CAPÍTULO 1 – A PSICANÁLISE E O MUNDO DE HOJE

Há quem diga que “esse papo de Freud está ultrapassado. Com tantas mudanças
em um século, Freud já era!” Ou ainda: “A psicanálise já era!”
Se em outros momentos da história da humanidade o homem apelava a outros
valores para se haver com as dificuldades da vida — como a constituição da lei, a fé em
Deus, as luzes da razão —, na contemporaneidade parece ser no anseio de criar laços, de
comunicar-se, que o homem aspira a encontrar a salvação para suas dificuldades e,
sobretudo, para o seu desamparo. Ancorados uns nos outros buscamos obter algum apoio,
mesmo que o outro ao qual nos ligamos esteja nas mesmas condições de desamparo que
nós mesmos.
Esse apelo a se ligar aos outros participa, obviamente, da história da humanidade,
mas o que destaca-se é para o fato de, na contemporaneidade, essa estratégia tem ganhado
mais força. Assim, as pessoas recorrem mais facilmente a alguém ao alcance da mão, ou ao
alcance da linha telefônica, do que a um templo religioso para se amparar. Da mesma forma,
também não creem mais nos poderes da racionalidade para encontrarem uma fórmula para
saciar a inquietação da falta vivida na contemporaneidade como, falta de amor, ou
insatisfação sexual, esta que, por sua vez, deu origem à psicanálise.
A psicanálise veio servir para tratar dos impasses decorrentes disso. Cedo, Freud
percebeu que aquilo que fazia sofrerem as mulheres que ele atendia, e lhes fazia produzir
sintomas inexplicáveis aos olhos dos médicos de seu tempo, não eram senão diferentes
expressões de um mal inexorável: o mal de amor. Cedo, ele deu-se conta, também, de que o
tratamento para isso passava pela fala, pelos efeitos do acionamento desse fantástico
dispositivo que é a fala. Através dela, nos incluímos nessa rede que nos envolve e tenta nos
articular uns com os outros. E não importa se trata-se de um surdo-mudo: certamente este
também está incluído na estrutura de relações tecidas pela linguagem.
Assim, diante da compatibilidade entre a natureza da inquietação que domina a cena
atual e a natureza da invenção psicanalítica, esta última continua sendo um recurso
privilegiado em nossos tempos. Ou seja, diante dos inúmeros sintomas decorrentes do mal
de amor, que constitui a tônica do mal-estar da atualidade, a psicanálise apresenta-se como
opção para tratar dessa questão.
CAPÍTULO 2 – A PSICANÁLISE, HISTÓRIA E ARTE

Ao longo da história a cultura dispôs de diferentes valores de sustentação para o


sujeito. Na Antiguidade grega, momento de inauguração do mundo ocidental, a organização
da vida em cidades e o estabelecimento de suas leis de funcionamento, constituindo direitos
e deveres, regulando relações, principalmente as comerciais, configurava o anseio de que o
direito fosse uma saída para a indeterminação das ações humanas.
A qualidade de cidadão mostrou-se insuficiente para abarcar todas as dimensões do
sujeito, e eis que a religião, principalmente o cristianismo, veio em seu socorro. Durante
quase quinze séculos, o apelo a Deus foi o recurso prevalente para o balizamento das
questões da existência.
Excessos cometidos pela Inquisição, pelos efeitos da Reforma Luterana e o
afloramento de mudanças sociais, políticas e artísticas radicais, o apelo à salvação divina
deslocou-se para a razão. Considerado o pai da Idade Moderna, encarna essa aspiração do
homem moderno de tomar a razão, os recursos do pensamento, como medida de avaliação
de si mesmo e de tudo mais.
Descartes chama a atenção para os aspectos de nossa subjetividade, nossa
singularidade, que podem confundir nosso raciocínio objetivo e nos fazer chegar a
conclusões equivocadas. No anseio de criar métodos para neutralizar a interferência
subjetiva nas proposições que se pretendiam gerais, ele abre as portas para o surgimento da
ciência moderna. Quando Descartes focaliza a interferência da singularidade de um sujeito e
de suas particularidades nas produções da racionalidade, seu gesto só faz ressaltar a
importância da subjetividade.
A focalização da subjetividade como o que não se conforma à razão, ou como o que
a confunde, abriu os canais para o movimento oposto ao da valorização da razão cartesiana:
a ênfase na emoção, nas intensidades psíquicas, naquilo que é bem próprio chamar de
dimensão econômica do psiquismo, pois focaliza a existência de montantes de afeto, que
operam nos investimentos e desinvestimentos psíquicos.
Esse novo movimento inaugura a contemporaneidade, o caracteriza como momento
da prevalência do apelo à libido, ao amor e à sexualidade como via de solução dos
problemas da vida. Será ele que dará margem ao surgimento da psicanálise.
A arte barroca que se desenvolve nessa época, sobretudo no século XVII, é
expressão da visão do sujeito afetado pela paixão. A palavra “barroco” aparece,
originalmente, como vocábulo especializado da ourivesaria para designar a pérola de forma
irregular, que bem se presta, como lembra Clau-de-Gilbert Dubois em Le baroque, para que
se associe nela o esplendor e a impureza. Foi apenas no fim do século XIX que Heinrich
Wölfflin, um historiador da arte, a reconheceu. O Barroco indica uma visão de beleza que
escapa às exigências da ordem, da harmonia e do equilíbrio, próprias à visão clássica do
belo. Se designamos esta última como bela é porque estamos aí orientados por uma outra
concepção de belo, que não está submetida a um ideal de perfeição, mas sim acolhe o
dinamismo da vida, suas imperfeições, a força de suas intensidades.
Em obras como as de Aleijadinho, o que vale não é a precisão das formas, mas a
força de sua expressão, de seu poder de afetar a sensibilidade de quem a observa. Dividida
por visões de mundo opostas — como o sagrado e o profano, o sofrimento e a alegria, a
razão e a emoção, a sensualidade e a espiritualidade, o bem e o mal, a obscuridade e a luz,
a vida e a morte —, a expressão barroca é a configuração de uma crise. Tal crise, além de
poder ser datável num período da história que abriga as cruzadas pelos mares, o
desenvolvimento do mercantilismo, os conflitos religiosos provenientes da Reforma Luterana
e uma série de questões que causaram turbulência nas verdades e nos modos de viver
estabelecidos, prenuncia a própria modernidade, com tudo que esta trouxe de novidade e
subversão, e não apenas para os padrões tradicionais das Academias de Belas-Artes.
Charles Baudelaire, poeta, escritor e crítico de arte francês, propôs em um pequeno
ensaio sobre a modernidade onde a beleza é dividida em metades. Existe aquela do espírito
clássico, que fixa as imagens na dimensão da eternidade. Mas o poeta lembra que a
modernidade introduziu uma outra relação com a beleza: a beleza do que se movimenta, a
beleza do que é transitório e mesmo do que perece. A beleza que se pode ver nos gestos,
nas rugas, nas marcas da passagem do tempo. É essa dimensão de beleza na vida que é
especialmente valorizada pela psicanálise.
Certa vez, Freud estava passeando com um amigo por um jardim florido.
Comentavam sobre a transitoriedade da beleza, a propósito, o fato de que, em breve, com a
mudança das estações, aquelas belas flores não estariam mais ali. Diferentemente de uma
perspectiva que veria nessa transitoriedade um motivo de pesar, ele, ao contrário, via no
movimento do tempo uma afirmação da vida. O que está vivo se mexe, e é o contraste que
aguça a percepção. Essa forma de ver as coisas indica tal modo de sensibilidade. Não diz
respeito apenas a uma certa visão da arte ou da beleza, mas permeia todo o pensamento
psicanalítico e toda a sua abordagem da condição humana.
A psicanálise serve para percebermos a vida e o mundo pela lente da beleza do que
se movimenta, do que não se aquieta. Se isso implica uma certa inquietação com o risco das
mudanças, esse é o preço a ser pago pelo que está vivo. Antes de Freud a expressão
barroca já colocava em cena esse modo de exprimir a vida. O poema barroco “A uma
ausência”, do poeta português Antônio Barbosa Bacelar (1610-1663), é exemplar para
mostrar a visão do sujeito enquanto alguém dividido, visão esta que será posteriormente tão
afeita à psicanálise.

Um paradoxo implica a possibilidade de se acolher ideias antagônicas, sem para isso


fazer exclusões ou sínteses. Isso é tão presente na arte barroca quanto nas manifestações
do inconsciente. Por exemplo, quando é pintado um quadro de uma pessoa ricamente
vestida e situada num cenário estupendo é inserido nele um crânio, marcando sua
degeneração. Coisa bastante comum nas imagens barrocas e que bem podem fazer parte de
sonhos, que são as expressões excelentes do inconsciente. Nossos sonhos, atos falhos,
fantasias, sintomas e chistes são abordados pela psicanálise como formações do
inconsciente. Quando a psicanálise sublinha que o psiquismo não é só a consciência;
quando valoriza nossas produções psíquicas, como sonhos e fantasias, tidas até então como
bobagens, promove uma reviravolta na abordagem do psiquismo, que implica
simultaneamente uma subversão na visão tradicional da vida e do mundo.
A questão é que a psicanálise serviu para ressaltar o funcionamento de uma outra
lógica também operante no psiquismo, o paradoxo. Cabe ressaltar que nesse plano, tão
afeito ao inconsciente quanto à expressão barroca, a visão que se tem do Eu, como o que
viria a definir o sujeito, passa a ser um tema sobre o qual recai todo questionamento. A
psicanálise vem ressaltar que o Eu não é senão a fachada de nós mesmos, do sujeito que
somos. No barroco, o Eu e a natureza são tidos como manifestações legítimas e únicas
próximas da verdade, que não deve ser interpretada pela lógica intelectualista, mas sim
deixada para ser expressa livremente.
Na arte barroca exibe-se um comportamento passional que revela que é preciso todo
o vigor para nos defendermos do aniquilamento, sem que a morte seja por ela negada. O
que a articula tanto com a posição teórica quanto com a posição clínica da psicanálise: a
ideia da confrontação do homem com um limite, onde em última instância situa-se a morte, é
a convocação a que se viva a vida.
Foram os longos desdobramentos e a intensificação desses questionamentos do que
é o sujeito, da participação dos afetos na formação do Eu, que vieram a fomentar algum
tempo depois, na Idade Contemporânea, o surgimento da psicanálise.
A psicanálise veio tratar desse sujeito que cai de uma perspectiva ideal e vai ter que
se haver com seus conflitos, suas divisões, e que tem a particularidade de aspirar que o
sucesso no amor e na sexualidade resolva suas questões.
Esse é o nosso típico sujeito contemporâneo; somos nós. É óbvio que a abordagem
da condição humana enfatizando nossa fragilidade, ou mesmo a força de nossa fragilidade,
pode também ser identificada ainda nos primórdios da civilização ocidental através da
invenção do teatro, quando o homem resolveu colocar em cena não as facilidades da
existência, mas justamente seus impasses. Porém, foi somente nos tempos atuais que a
tentativa de resolução dos impasses da vida pela via da libido ganhou a cena.

CAPÍTULO 3 – QUANDO CABE PROCURAR UM PSICANALISTA?

Quando procuramos um psicanalista, possivelmente estamos sofrendo ou querendo


entender alguma questão interna. Existem inúmeras formas das pessoas chegarem até um
psicanalista, é necessário sempre avaliar esse pedido de ajuda, entender se está dentro das
competências profissionais, pois nem todo sofrimento psíquico está ao alcance de um
psicanalista.
O psicanalista não trata a doença em si, ele trata o sujeito como um todo, e entende
a doença com um sintoma analítico, que significa qualquer sintoma que seja tomado pelo
sujeito como fonte de questionamento de si mesmo, e é por isso que esse sintoma precisa
ser analisado.
Existem pessoas que não se dão conta que precisam de análise, mas também
existem pessoas que convivem por muito tempo com algumas questões e sabem que
precisam de ajuda, tentam entendê-las, até que decidem procurar um analista. E isso prova
que a psicanálise não é uma questão de necessidade e sim de desejo, a análise só acontece
se a pessoa quiser. Por isso que a natureza do sofrimento não delimita o campo de
intervenção do analista e sim a relação do sujeito com o seu sofrimento.
Na análise o seu sintoma será tratado como um sinal do que você é, como um modo
paradoxal de obter algum tipo de satisfação, por mais sinistra que ela seja. Isso se chama
gozo, processo onde o prazer e dor se entrelaçam secretamente.
CAPÍTULO 4 – AS CONDIÇÕES PRELIMINARES DE UM PSICANALISTA

O deslanchamento do processo psicanalítico vai depender de uma retificação que o


sujeito faz de sua própria posição queixosa. Essa retificação o introduz no trabalho sobre o
Inconsciente, através do desejo de empreender tal trabalho.
Um pedido de ajuda não é, necessariamente, um pedido de análise. Daí a
importância do que Freud propôs chamar de Entrevistas Iniciais e Lacan de Entrevistas
Preliminares. É preciso um tempo inicial para que se possa avaliar se há um trabalho
possível a ser feito ali e se o analista e o candidato à análise estão dispostos.
Certos questionamentos do analista podem provocar o desencadeamento de uma
psicose que até então não tinha se manifestado. O Surto psicótico é uma crise que mobiliza
uma angústia tal, uma avalanche de vivências terrivelmente dolorosas. Daí a importância de
se agir com cautela.
O diagnóstico é uma hipótese que orienta nosso trabalho e não define uma doença,
mas sim revela uma modalidade de defesa privilegiada pelo sujeito.
A transferência — denota a posição que o sujeito ocupa frente ao outro, ou seja,
frente àquilo que o referencie como sujeito e o defende de não saber quem ele é. Só pela
observação do comportamento, antes que esse investimento esteja estabelecido, não há
como fazer avaliação alguma.
A referência ao falo, que surgi na Grécia Antiga, onde é representado por um pênis,
indicando um “a mais”, faz referência a algo que vem simbolizar para nós a plena potência
vital, a ausência de limites. O que Freud designa como lei da castração é a confrontação que
cada um de nós faz com o fato de nós, homens e mulheres, não termos essa plenitude
creditada a esse símbolo (falo). Nossa satisfação é sempre parcial. O que, afinal, não é ruim,
já que a satisfação que falta é elemento motriz para novas buscas.
Existem três formas privilegiadas de modalidades defensivas: neurose, psicose e
perversão. Tais seriam as três maneiras de um sujeito colocar-se frente à lei da castração.
• Neurótico é aquele que sofre com a lei. Exige a si mesmo não a perder de vista, ainda
que sonhe com uma forma de burlá-la, e arranjar um jeito de ver-se pleno;
• Um psicótico a burla, ou seja, não se apercebe dos limites — não porque o queira,
mas por contingências operantes em seu processo de tornar-se um sujeito;
• O perverso, não desconhece a lei, muito pelo contrário, a conhece muito bem, porém
não quer saber dela. Não quer saber de limite algum, quer justamente gozar com a
transgressão do limite.
A suposição diagnóstica levantada nas entrevistas preliminares será fundamental
para que se possam avaliar as possibilidades de intervenção. Para as estratégias de
tratamento será necessário do que chamamos de histericização do sujeito. O que significa a
possibilidade de o sujeito engajar-se na transferência com o analista para que sejam
traçados os rumos da direção do tratamento.
O “ensaio de análise” designa o período inicial do trabalho, para que se evite a
dimensão de equívoco de se confundir a frequência ao consultório de um analista comum a
análise propriamente dita. Isso evita que se pense que uma psicanálise fracassou quando,
na verdade, ela nem começou.
É preciso que o sujeito se situe no que está falando e, no mínimo, se intrigue com o
seu posicionamento. A função do analista é fomentar no sujeito esse trabalho de
investigação, de escuta da própria fala, de intriga quanto a si mesmo.
Acontece também de o sujeito que chegou se queixando do mundo, dos seus
insucessos, começar a perceber que ele tem a ver com isso. A perceber-se disso pode
provocar no sujeito uma vontade de investigar que motivações são essas que o conduzem
malgrado a sua vontade, ou pode fazer com que ele não queira mexer nisso e interrompa o
processo.
Subvertendo as regras correntes, numa análise o sujeito paga para trabalhar. O
trabalho do analista vem na pista do trabalho do sujeito. Não é à toa que a palavra paciente
não é designativa da pessoa que está em análise: Freud propôs o termo analisando, e
Lacan, analisante, para sublinhar ainda mais a dimensão ativa e dinâmica dessa empreitada.
Não cabe ao analista intrometer-se, dar sugestões, ideias, fazer avaliações. Pelo fato
de sermos vulneráveis à sugestão, e pelo poder de atração que ela comporta, um analista
deve acautelar-se ao máximo em explorar essa via de trabalho. Pois trata-se de um trabalho
que tem funções específicas para o analisando e para o analista.
No pedido de análise, já aparece não apenas a queixa acerca do sintoma, mas
também uma vontade de querer saber o que se tem a ver com isso. Aparece aí o pedido de
analisar sua própria queixa.
É preciso que, para além do pedido de análise, compareça o desejo de análise, onde
o sujeito efetivamente se decida por empreender esse trabalho. Pode ser que, diante disso, o
sujeito que havia feito um pedido de análise, na hora de empreendê-la de fato, recue.
Freud foi tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma via
de expressão do sujeito. Expressão de algo que certamente não é fácil de ser expresso.
Freud percebeu que o sintoma constitui-se como uma defesa frente a algo intolerável
psiquicamente. Em termos sumários, um conflito entre o desejo que move o sujeito e aquilo
que o censura.
A clínica psicanalítica não é se não a clínica do desejo e seus impasses. Deparamo-
nos todo o tempo com as inúmeras estratégias do desejo que insiste em apelar à satisfação,
sem nunca obtê-la plenamente.

CAPÍTULO 5 – OS DESTINOS DO DESEJO E A CLÍNICA PSICANALÍTICA

A psicanálise parte da ideia de que a absurda prematuridade na qual nasce o animal


humano vem situá-lo numa radical condição de desamparo. As necessidades orgânicas e a
descrença para enfrentar isto acarreta em uma incomodidade com derivações motoras.
Quando o bebê nasce ele grita, e isso só muda se alguém ajudar, para Freud isso
faria uma marca psíquica, um primeiro traço de memória, a primeira satisfação. Então
quando o bebê gritasse de novo para que ele parasse teria que reproduzir a memória que o
tirou da situação de privação total. O meio mais rápido é reativar a percepção do que lhe fez
ter essa primeira experiência, essa noção psíquica é nomeada por Freud como “desejo”.
Na psicanálise desejo é um remetimento, a nostalgia, da coisa que nos salvou do
desamparo. Se não temos o savoir-faire, o que nos sobra é a solução encontrada no desejo,
isso tanto pode nos salvar como nos submeter ao outro, que irá nos usar para realizar seus
desejos. Isso faz com que sejamos sujeitos, ou seja, posto debaixo, nossa subjetivação é
dividida em duas, de um lado somos alienados no desejo desse outro como via de salvação
e por outro precisamos nos separar dele para poder construir o nosso desejo, ou seja, na
alienação há uma dimensão letal.
Se somos alienados nos livramos do desemparo, nos baseamos em uma
significação, mas, nenhuma significação resume a complexidade da existência humana, fica
sempre uma brecha, por ela construímos o desejo que nos faz como sujeito. Tal desejo vem
do que nos faria plenos, isso vem de um objeto que nunca existiu, Lacan nomeia esse objeto
como OBJETO A.
Com a esperança de que ao conseguir esse objeto, pagaria a Dívida com o outro e
me libertasse de suas exigências. A fantasia que vestimos o sujeito que somos, tem por
objetivo nos articular com esse objeto enigmático, o que não é possível, pois se pudesse ser
apreendido, nos deixaríamos quites com o outro e seria possível gozar plenamente e então
seriamos sujeitos sem faltas.
A fantasia que norteia nossas ações é o nosso modo de responder ao desejo do
outro tentando garantir um lugar de reconhecimento pra nós, Lacan propõe uma análise que
visa o atravessamento dessa fantasia, nesse vai e vem do sujeito ao outro, o campo da
linguagem atua como trama na qual estamos todos enredados.
O inconsciente enquanto homogêneo ao desejo, enquanto expressão mesma do
desejo, é social, referenda-se no que nos vem de fora, dessa forma o que é exterior e o que
é interior não se opõem: interconectam-se, numa torção tal como a que existe na fita de
Moebius que é bastante elucidativa e fácil de ser construída.
Os tabus manifestando-se por proibições fazem com que o proibido seja tomado
como “a coisa” que falta para a plenitude do sujeito, “coisa” esta que por ser impossível deixa
esperança de ser atingida através da transgressão.

CAPÍTULO 6 – A PSICANÁLISE E A SUA ÉTICA

A pulsão sexual não exprime a totalidade da dinâmica psíquica. Ao lado dela age a
pulsão de morte.
A ética da psicanálise não recua a entrada na zona de horror (morte) e conta com a
atuação de elementos transformadores, sem os quais ficaria inviável. Outro elemento
transformador operante na psicanálise diz respeito ao efeito de beleza produzido pelo
manejo do amor na experiência psicanalítica, onde, via a transferência (designação do amor
nessa experiência), o sujeito deve se reposicionar em sua relação ao objeto, deve ser
transportado em certa medida para além do apego ao objeto, numa relativa dimensão de
infinitude. Nessa perspectiva, um objeto é reconhecido como belo não pelo que ele é em si
mesmo, mas por sua capacidade de nos transportar para mais além dele, sua capacidade de
nos fazer transcender.
A menção da arte trágica oferece meios para explicar a lógica da ação psicanalítica e
as implicações radicais do ato desejante.
A menção do barroco prima pela oferta de visualização do que é ainda mais invisível,
do que situa para além de toda e qualquer delimitação, mesmo aquela ferida ao desejo.
A abordagem da questão “para que serve a psicanálise?” seguiu dois rumos numa
perspectiva ética: um pela ação de um psicanalista no estrito senso da clínica, o outro numa
reflexão acerca dos efeitos pretendidos pela intervenção da psicanálise na cultura.
No sentido etimológico do trabalho, a psicanálise é sobretudo serva de sua ética. A
psicanálise diferencia-se pela sua orientação ética na maneira como aborda os impasses do
sujeito desejante. Sendo que seu campo de ação amplia-se ainda mais com psicanalistas
atuando nas mais diversas áreas, portanto ela visa intervir de modo particular de acordo com
a cultura.
Frente as perspectivas de ação dirigidas pelo que é ideal, a psicanálise serve para
nos endereçar ao real. Colocar o real nessa perspectiva remete ao fato de que há um limite,
um impossível do qual não temos como escapar, neste sentido as vezes precisamos de
ajuda para mudar o percurso

Você também pode gostar