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Cac Golpe Rogenner

O documento trata da denúncia contra ROGENNER FEITOSA LIMA por incitação ao crime e associação criminosa, relacionada a protestos antidemocráticos após as eleições de 2022 no Brasil. A denúncia descreve a participação do acusado em um acampamento em frente ao Quartel General do Exército, onde se buscava incitar as Forças Armadas a depor o governo eleito. O Ministério Público Federal argumenta que a ação do denunciado se configura como tentativa de golpe de Estado e violações ao Estado Democrático de Direito.

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Rafael Soares
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Cac Golpe Rogenner

O documento trata da denúncia contra ROGENNER FEITOSA LIMA por incitação ao crime e associação criminosa, relacionada a protestos antidemocráticos após as eleições de 2022 no Brasil. A denúncia descreve a participação do acusado em um acampamento em frente ao Quartel General do Exército, onde se buscava incitar as Forças Armadas a depor o governo eleito. O Ministério Público Federal argumenta que a ação do denunciado se configura como tentativa de golpe de Estado e violações ao Estado Democrático de Direito.

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VOTO

00
00:
O Senhor Ministro Alexandre de Moraes (Relator): Trata-se de denúncia
oferecida em face de ROGENNER FEITOSA LIMA , pela prática das
condutas descritas nos arts. 286, parágrafo único, e 288, caput, c/c. art. 69,

23
caput, todos do CÓDIGO PENAL.

0
5/2
Narra a denúncia o contexto no qual inseridos os eventos criminosos,
por meio da seguinte síntese:

6/0
O resultado das eleições de 2022 fez crescer um movimento de

-1
protesto e insatisfação, fato que levou centenas de pessoas, entre elas
ROGENNER FEITOSA LIMA , a associarem-se, em Brasília/DF, em

to
frente ao Quartel General do Exército, situado no Setor Militar
vo
Urbano, com o objetivo de praticar crimes contra o Estado
Democrático de Direito e incitar as Forças Armadas contra os Poderes
de

Constitucionais, alcançando maiores proporções no início de 2023.


Em razão do crescimento desse movimento de protesto e
ta

insatisfação e unido aos demais manifestantes, ROGENNER FEITOSA


LIMA acampou, até o dia 9 de janeiro de 2023, em frente ao Quartel
inu

General do Exército, localizado no Setor Militar Urbano, em Brasília


/DF, incitando, publicamente, animosidade das Forças Armadas
-m

contra os Poderes Constitucionais.


Um grupo expressivo de manifestantes já vinha fazendo uma série
de publicações em redes sociais questionando, essencialmente, a lisura
al

do sistema eleitoral democrático brasileiro, a higidez e a


rtu

representatividade dos Deputados e Senadores e as decisões do


Supremo Tribunal Federal que permitiram a soltura e a possibilidade
Vi

de candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ao cargo de Presidente da


República.
rio

Na data de 30 de outubro de 2022 , finalizado o pleito eleitoral ao


cargo de Presidente da República, o Tribunal Superior Eleitoral

proclamou o resultado e os eleitos, sagrando-se vencedor o candidato


Luiz Inácio Lula da Silva. A partir desse fato, verificou-se a
Ple

convocação, por meio das mídias sociais, de milhares de pessoas para


reunirem-se em acampamentos nas portas de unidades militares,
tendo por mote principal uma intervenção militar, com a tomada dos
Poderes Constituídos e a instalação de uma ditadura.
No dia 12 de dezembro de 2022, ocorreram manifestações
violentas contra a realização da diplomação, seguindo-se, nesse

1
mesmo dia, os primeiros atos de maior gravidade, com a queima de
veículos, incêndios e tentativa de invasão e destruição da sede da
Polícia Federal na capital da República.

00
Traçado esse panorama, a agregação de pessoas e o insuflamento

00:
à abolição violenta do Estado Democrático de Direito e ao golpe de
Estado levou centenas de pessoas, no início do ano de 2023, após a
posse do Presidente eleito, a aderirem ao acampamento em frente ao

23
Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano, em Brasília/DF.

0
O acampamento passou a se constituir como ponto de encontro

5/2
para uma associação estável e permanente, que ali se estabeleceu e
permaneceu inclusive durante a prática dos atos de vandalismo e

6/0
protestos antidemocráticos consumados no dia 8 de janeiro de 2023,
com a invasão das sedes dos Três Poderes na Esplanada dos
Ministérios.

-1
A estabilidade e a permanência da associação formada por
aqueles que acamparam em frente ao quartel são comprovadas, de

to
forma clara, pela perenidade do acampamento, que já funcionava
vo
como uma espécie de vila, com local para refeições, feira, transporte,
atendimento médico, sala para teatro de fantoches, massoterapia,
de

carregamento de aparelhos eletrônicos, recebimento de doações,


reuniões, como demonstram as imagens abaixo:
ta

[…]
Havia, portanto, uma evidente estrutura a garantir perenidade,
inu

estabilidade e permanência. Ao se dirigir para lá, o denunciado aderiu


a essa associação, cujo desiderato era a prática de crimes contra o
-m

Estado Democrático de Direito.


A associação criminosa insuflava as Forças Armadas à tomada do
poder. Para tanto, a ação delituosa engendrada pelos agentes, da qual
al

participou o denunciado, com o imanente dolo de impedir de forma


rtu

contínua o exercício dos Poderes Constitucionais e ocasionar a


deposição do governo legitimamente constituído, incitando o Exército
Vi

Brasileiro a sair às ruas para estabelecer e consolidar o regime de


exceção pretendido pelos acampados, teve como pano de fundo uma
rio

suposta fraude eleitoral e o exercício arbitrário dos Poderes


Constituídos, como facilmente se extrai das imagens a seguir:

[…]
Assim, plenamente ciente dos objetivos delituosos de quem ali se
Ple

encontrava, o denunciado , com absoluta consciência e vontade, até


porque as manifestações, faixas, gritos de ordem, marchas e outras
formas de expressão eram públicas e ostensivas, aderiu ao grupo de
acampados e aos seus dolosos fins ilícitos, passando a integrar a
associação criminosa que estavelmente se instalou em frente ao
Quartel General do Exército.
Já como integrante da associação criminosa, o denunciado uniu-se
aos demais e, partilhando das manifestações, gritos de ordem e
2
robustecendo a massa, participou do movimento incitando
animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais à
tomada do poder.

00
Os integrantes da horda se dividiram em grupos, que se

00:
direcionaram separadamente, porém com o mesmo fim, a cada um
dos edifícios-sedes dos Poderes da República, causando grande
destruição, com o objetivo declarado de implantar um governo

23
militar, impedir o exercício dos Poderes Constitucionais e depor o

0
governo legitimamente constituído que havia tomado posse em 1º de

5/2
janeiro de 2023, como comprova o conteúdo dos materiais difundidos
para arregimentar o grupo criminoso, os quais faziam referência

6/0
expressa aos desígnios de “tomada de poder”, em uma investida que
“não teria dia para acabar”:
[…]

-1
Mesmo após esses fatos, que foram mundialmente publicizados, e
que resultaram na prisão de dezenas de invasores e depredadores dos

to
prédios públicos, o denunciado continuou acampado em frente ao
vo
Quartel General do Exército, mantendo-se associado ao grupo e
mobilizado na incitação das Forças Armadas.
de

Na manhã do dia 9 de janeiro de 2023 , ainda à espera de um


golpe de Estado, o denunciado foi preso em flagrante, em frente ao
ta

Quartel General do Exército, em Brasília, em cumprimento a ordem


do Ministro Alexandre de Moraes, datada do dia anterior, quando
inu

determinou “a desocupação e dissolução total, em 24 (vinte e quatro)


horas, dos acampamentos realizados nas imediações dos Quartéis
-m

Generais e outras unidades militares para a prática de atos


antidemocráticos e prisão em flagrante de seus participantes pela
prática dos crimes previstos nos artigos 2ª, 3º, 5º e 6º (atos terroristas,
al

inclusive preparatórios) da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016 e nos


rtu

artigos 288 (associação criminosa), 359-L (abolição violenta do Estado


Democrático de Direito) e 359-M (golpe de Estado), 147 (ameaça), 147-
Vi

A, § 1º, III (perseguição), 286 (incitação ao crime)”.


Por todo o exposto, o Ministério Público Federal DENUNCIA a
rio

Vossa Excelência ROGENNER FEITOSA LIMA como incurso no


artigo 286, parágrafo único (incitação ao crime equiparada pela

animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais) e


no artigo 288, caput (associação criminosa), observadas as regras do
Ple

artigo 69, caput (concurso material), todos do Código Penal.

Em sua resposta à acusação, apresentada em decorrência do art. 4º da


Lei 8.038/90, a defesa do denunciado ROGENNER FEITOSA LIMA nega a
acusação, apresentando as teses a seguir analisadas.

3
1. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

00
Não prospera o argumento da Defesa, via preliminar de mérito, de que
esta CORTE SUPREMA seria incompetente para apurar, processar e julgar

00:
os fatos aqui narrados, pois a responsabilização legal de todos os autores e
partícipes dos inúmeros crimes atentatórios ao Estado Democrático de

23
Direito, que culminaram com as condutas golpistas do dia 08/01/2023, deve

0
ser realizada com absoluto respeito aos princípios do Devido Processo

5/2
Legal e do Juiz Natural, sem qualquer distinção entre servidores públicos
civis ou militares.

6/0
As garantias fundamentais aos princípios do Devido Processo Legal e

-1
do Juiz Natural, diferentemente do que ocorria nos textos constitucionais
anteriores, foram incorporadas ao texto da Constituição brasileira de 1988.

to
A garantia do Devido Processo Legal configura dupla proteção ao
vo
indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito de
liberdade e propriedade quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe
de

paridade total de condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa,


visando salvaguardar a liberdade individual e impedir o arbítrio do Estado.
ta
inu

A imparcialidade do Judiciário e a segurança do povo contra o arbítrio


estatal encontram no Devido Processo Legal e no princípio do Juiz Natural,
-m

proclamadas nos incisos LV, XXXVII e LIII do art. 5º da Constituição


Federal, suas garantias indispensáveis.
al

Como consagrado pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:


rtu

“O princípio da naturalidade do Juízo – que traduz significativa


Vi

conquista do processo penal liberal, essencialmente fundado em bases


democráticas – atua como fator de limitação dos poderes
rio

persecutórios do Estado e representa importante garantia de


imparcialidade dos juízes e tribunais” (STF – 1a T. – HC no 69.601/SP

– Rel. Min. CELSO DE MELLO, Diário da Justiça, Seção I, 18 dez. 1992,


p. 24.377).
Ple

O juiz natural é somente aquele integrado no Poder Judiciário, com


todas as garantias institucionais e pessoais previstas na Constituição
Federal, devendo a observância desse princípio ser interpretada em sua
plenitude, de forma a não só proibir a criação de Tribunais ou juízos de

4
exceção, como também exigir respeito absoluto às regras objetivas de
determinação de competência, para que não seja afetada a independência e
a imparcialidade do órgão julgador.

00
00:
Nesse mesmo sentido, decidiu o TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
FEDERAL ALEMÃO:

23
“O mandamento ‘ninguém será privado de seu juiz natural’, bem

0
como ocorre com a garantia da independência dos órgãos judiciários,

5/2
deve impedir intervenções de órgãos incompetentes na administração
da Justiça e protege a confiança dos postulantes e da sociedade na

6/0
imparcialidade e objetividade dos tribunais: a proibição dos tribunais
de exceção, historicamente vinculada a isso, tem a função de atuar

-1
contra o desrespeito sutil a esse mandamento. Como esses
dispositivos em sua essência concretizam o princípio do Estado de
Direito no âmbito da constituição (organização) judiciária, elas já

to
foram introduzidas na maioria das Constituições estaduais alemãs do
vo
século XIX, dando-lhes, assim, a dignidade de norma constitucional. O
art. 105 da Constituição de Weimar deu prosseguimento a esse legado.
de

À medida que os princípios do Estado de Direito e Separação de


Poderes se foram aprimorando, também as prescrições relativas ao
ta

juiz natural foram sendo aperfeiçoadas. A lei de organização


judiciária, os códigos de processo e os planos de distribuição das
inu

causas (definidos nas Geschäftsordnungen – regimentos internos) dos


tribunais determinavam sua competência territorial e material, (o
-m

sistema de) a distribuição das causas, bem como a composição dos


departamentos individualizados, câmaras e senados. Se originalmente
a determinação ‘ninguém será privado de seu juiz natural’ era dirigida
al

sobretudo para fora, principalmente contra qualquer tipo de ‘justiça


rtu

de exceção’ (Kabinettsjustiz), hoje seu alcance de proteção estendeu-se


também à garantia de que ninguém poderá ser privado do juiz
Vi

legalmente previsto para sua causa por medidas tomadas dentro da


organização judiciária” (Decisão – Urteil – do Primeiro Senado de 20
rio

de março de 1956 – 1 BvR 479/55 – Cinquenta anos de Jurisprudência


do Tribunal Constitucional Federal Alemão. Coletânea Original:

Jürgem Schawabe. Organização e introdução. Leonardo Martins.


Konrad Adenauer – Stiffung – Programa Estado de Derecho para
Ple

Sudamérica, p. 900/901).

Em total e absoluta observância aos princípios do Devido Processo


Legal e do Juiz Natural, o PLENÁRIO DA CORTE confirmou a competência
do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL para a presidência dos inquéritos que
investigam os crimes previstos nos artigos 2º, 3º, 5º e 6º (atos terroristas,
inclusive preparatórios) da Lei 13.260/16, e nos artigos 147 (ameaça), 147-A,
5
§ 1º, III, (perseguição), 163 (dano), art. 286 (incitação ao crime), art. 250, § 1 º,
inciso I, alínea ''b" (incêndio majorado), 288, parágrafo único (associação
criminosa armada), 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de

00
Direito), 359-M (golpe de Estado), todos do Código Penal (Inq. 4.879 Ref e

00:
Inq. 4.879 Ref-segundo, Rel. Min ALEXANDRE DE MORAES, Pleno, DJe de
10/04/2023).

23
Esta denúncia decorre de investigações conduzidas nesta SUPREMA

0
CORTE, por meio dos Inqs. 4.917/DF, 4.918/DF, 4.919/DF, 4.920/DF, 4.921

5/2
/DF, 4.922/DF, 4.923/DF e Pets dela derivadas, em razão dos atos que
resultaram na invasão e depredação dos prédios do CONGRESSO

6/0
NACIONAL, PALÁCIO DO PLANALTO e SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL ocorridos em 8/1/2023, caracterizando em tese os crimes de

-1
associação criminosa, incitação ao crime, abolição violenta do Estado
Democrático de Direito, golpe de Estado, e dano qualificado pela violência e

to
grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio
vo
da União e com considerável prejuízo para a vítima.
de

A extensão e consequências das condutas de associação criminosa (art.


288, caput, do Código Penal) e da incitação ao crime equiparada pela
ta

animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais (art.


inu

286, parágrafo único, do Código Penal) imputadas ao denunciado são


objetos de diversos procedimentos em trâmite neste SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL direcionados a descobrir a autoria dos financiadores e dos
-m

incitadores, inclusive autoridades públicas, entre eles àqueles detentores de


prerrogativa de foro.
al

Este inquérito foi instaurado objetivando a apuração das condutas


rtu

omissivas e comissivas dos denominados AUTORES INTELECTUAIS E


PARTÍCIPES POR INSTIGAÇÃO , inicialmente pela prática dos crimes de
Vi

terrorismo (artigos 2º, 3º, 5º e 6º da Lei n. 13.206/2016), associação criminosa


rio

(artigo 288), abolição violenta do Estado Democrático de Direito (artigo 359-


L), golpe de Estado (artigo 359-M), ameaça (artigo 147), perseguição (artigo

147-A, § 1º, III) e incitação ao crime (artigo 286), estes últimos previstos no
Código Penal, no contexto dos atos praticados em 8 de janeiro de 2023, na
Ple

Praça dos Três Poderes, especificamente nas sedes do SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL, do CONGRESSO NACIONAL e do PALÁCIO DO
PLANALTO.

Nota-se, pois, que as investigações tem por objeto, DENTRE OUTROS, a


prática do delito de associação criminosa, cujo objetivo principal é a prática
de crimes, tais como abolição do Estado democrático de Direito (art. 359-L),
6
e também golpe de Estado (art. 359-M), com deposição do governo eleito de
forma legítima nas Eleições Gerais de 2022.

00
A pedido da Procuradoria-Geral da República, o SUPREMO

00:
TRIBUNAL FEDERAL determinou a instauração de quatro Inquéritos: Inq.
4920, relativo aos FINANCIADORES dos atos antidemocráticos, que
prestaram contribuição material/financeira para a malfadada tentativa de

23
golpe; Inq. 4921, relativo aos PARTÍCIPES POR INSTIGAÇÃO, que de

0
alguma forma incentivaram a prática dos lamentáveis atos; Inq. 4922,

5/2
relativo aos AUTORES INTELECTUAIS E EXECUTORES, que ingressaram
em área proibida e praticaram os atos de vandalismo e destruição do

6/0
patrimônio público; e Inq. 4923, relativo às AUTORIDADES DO ESTADO
RESPONSÁVEIS POR OMISSÃO.

-1
Todas as investigações, portanto, referem-se aos mesmos atos

to
criminosos resultantes da invasão e depredação dos prédios do
vo
CONGRESSO NACIONAL, PALÁCIO DO PLANALTO e SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL ocorridos em 8/1/2023, sendo EVIDENTE A
de

EXISTÊNCIA DE CONEXÃO entre as condutas atribuídas a ROGENNER


FEITOSA LIMA na presente denúncia e aquelas investigadas no âmbito
ta

mais abrangente dos referidos procedimentos envolvendo investigados com


inu

prerrogativa de foro nessa SUPREMA CORTE.

Ressalte-se, inclusive, que alguns DETENTORES DE PRERROGATIVA


-m

DE FORO NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, inclusive, já foram


identificados e estão sendo investigados, notadamente os Deputados
al

Federais CLARISSA TÉRCIO, ANDRÉ FERNANDES, SÍLVIA WAIÃPI, e


CORONEL FERNANDA, investigados nos mencionados Inqs. 4.917/DF,
rtu

4.918/DF e 4.919/DF, a pedido da Procuradoria-Geral da República, bem


como o Deputado Federal CABO GILBERTO SILVA, investigado na Pet
Vi

10.836/DF.
rio

Há, portanto, como bem sustentado pela PGR, a ocorrência dos


denominados delitos multitudinários, ou seja, aqueles praticados por um

grande número de pessoas, onde o vínculo intersubjetivo é amplificado


Ple

significativamente, pois “ um agente exerce influência sobre o outro, a


ponto de motivar ações por imitação ou sugestão, o que é suficiente para a
existência do vínculo subjetivo, ainda que eles não se conheçam ”.

7
O Ministério Público aponta, inclusive, que todos “ agiam em concurso
de pessoas, unidos pelo vínculo subjetivo para a realização da obra comum,

00
devendo ser rigorosamente responsabilizados por seus atos em iguais

00:
medidas ”.

Vislumbra-se, neste caso, que a prova das infrações supostamente

23
cometidas por ROGENNER FEITOSA LIMA , ou ainda, suas circunstâncias

0
elementares, podem influir diretamente nas investigações envolvendo

5/2
investigados com prerrogativa de foro.

6/0
Observe-se, ainda, que foi a própria Procuradoria-Geral da República,
órgão máximo do Ministério Público da União e com atribuição para atuar

-1
perante o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que ofereceu a denúncia ora
em análise, em virtude da competência desta CORTE para processar e

to
julgar o presente caso em face da CONEXÃO apresentada e pleiteia a
vo
manutenção do caso na CORTE, pois afirma que as investigações podem
levar a novas imputações ao denunciado.
de

Inclusive, a própria Procuradoria-Geral da República sustenta que:


ta
inu

“em razão da complexidade dos fatos e da investigação, não há


arquivamento explícito ou implícito em relação a nenhum outro
potencial crime que possa ter sido cometido pelo denunciado, haja
-m

vista a possibilidade de elucidação de novas condutas delituosas a


partir da chegada dos laudos periciais, imagens, geolocalização,
oitivas das testemunhas e vítimas das agressões ou qualquer outra
al

prova válida”
rtu

A comprovar que, de fato, as infrações praticadas e investigadas nos


Vi

inquéritos mencionados possuem estreita relação.


rio

Dessa maneira, nos termos do art. 76, do Código de Processo Penal, a


competência deve ser determinada pela conexão:

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido


Ple

praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por


várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
várias pessoas, umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para
facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou
vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.
8
Não bastasse a existência de co-autoria em delitos multitudinários, há,
ainda, conexão probatória com outros dois inquéritos que tramitam no

00
âmbito do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que investigam condutas

00:
atentatórias à própria CORTE, o Inq 4781, das “ Fake News” e a prática de
diversas infrações criminais por milícias digitais atentatórias ao Estado
Democrático de Direito, investigada no Inq 4874, cujos diversos

23
investigados possuem prerrogativa de foro: Senador FLÁVIO

0
BOLSONARO e os Deputados Federais OTONI DE PAULA, CABO JÚNIO

5/2
DO AMARAL, CARLA ZAMBELLI, BIA KICIS, EDUARDO BOLSONARO,
FILIPE BARROS, LUIZ PHILLIPE ORLEANS E BRAGANÇA, GUIGA

6/0
PEIXOTO e ELIÉSER GIRÃO.

-1
Dessa forma, não há dúvidas sobre a competência deste SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL para analisar a presente denúncia e, eventualmente,

to
caso seja recebida, para processar e julgar posterior ação penal, pois É
vo
EVIDENTE A EXISTÊNCIA DE CONEXÃO entre as condutas atribuídas a
ROGENNER FEITOSA LIMA na presente denúncia e aquelas investigadas
de

no âmbito mais abrangente dos referidos procedimentos envolvendo


investigados com prerrogativa de foro nessa SUPREMA CORTE.
ta
inu

2. DO NÃO OFERECIMENTO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO


PENAL.
-m

A Procuradoria-Geral da República, em extensa e bem fundamentada


al

cota que acompanhou a denúncia, explicitou os motivos pelos quais deixou


rtu

de oferecer proposta de acordo de não persecução penal (capítulo X – Do


Não Oferecimento do Acordo de Não Persecução Penal).
Vi

Temos então que, na hipótese, no exercício legítimo de sua


rio

discricionariedade mitigada , o Ministério Público Federal, por meio da


Procuradoria-Geral da República, deixou de oferecer proposta de acordo de

não persecução penal, nos seguintes termos:


Ple

“Deixa de ser oferecido acordo de não persecução penal, na forma


do artigo 28-A do Código de Processo Penal, porque a incitação e a
formação da associação criminosa tinham por objetivo a tomada
violenta do Estado Democrático de Direito, por meio das Forças
Armadas, o que é incompatível com a medida despenalizadora.
Não pode o Ministério Público Federal transigir com bem jurídico
de tamanha envergadura. Ao contrário, envida e continuará
9
envidando todos os esforços, como sempre o fez, para a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis, incumbência constitucionalmente definida

00
no artigo 127 da Constituição Federal.

00:
Ademais, o inciso II do § 2º do artigo 28-A do Código de Processo
Penal veda o acordo de não persecução penal para conduta criminal
habitual, aqui compreendida a associação criminosa, cujo caráter

23
permanente e estável impede o benefício.

0
Some-se que, pela magnitude do grupo e do potencial lesivo, o

5/2
acordo não é suficiente para reprovar e prevenir o crime (artigo 28-A
do Código de Processo Penal) ”.

6/0
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 129, I, consagrou o sistema

-1
acusatório no âmbito de nossa Justiça Criminal, concedendo ao Ministério
Público a privatividade na propositura da ação penal pública. Durante esses

to
pouco mais de 34 anos de vigência de nossa Carta Magna, as legislações
vo
penais e processuais penais foram se adaptando a essa nova realidade. Em
um primeiro momento, não recepcionando as normas anteriores que
de

mantinham exceções à titularidade do Parquet – como nas hipóteses de


ações penais por contravenções e crimes culposos – e, posteriormente, com
ta

a aprovação de inovações legislativas que ampliaram as possibilidades de


inu

atuação do Ministério Público na persecução penal em juízo.

A construção desse novo sistema penal acusatório gerou importantes


-m

alterações na atuação do Ministério Público, que antes estava fixada na


obrigatoriedade da ação penal. Novos instrumentos de política criminal
al

foram incorporados para racionalizar a atuação do titular da ação penal,


rtu

transformando a antiga obrigatoriedade da ação penal em verdadeira


discricionariedade mitigada. Assim ocorreu, inicialmente, com as previsões
Vi

de transação penal e suspensão condicional do processo pela Lei 9.099/95,


depois com a possibilidade de “delação premiada” e, mais recentemente
rio

com a Lei 13.964/19 (“Pacote anticrime”), que trouxe para o ordenamento


jurídico nacional a possibilidade do “acordo de não persecução penal”.

Dessa maneira, constatada a materialidade da infração penal e indícios


Ple

suficientes de autoria, o titular da ação penal deixou de estar obrigado a


oferecer a denúncia e, consequentemente, pretender o início da ação penal.
O Ministério Público poderá, dependendo da hipótese, deixar de apresentar
a denúncia e optar pelo oferecimento da transação penal ou do acordo de
não persecução penal, desde que, presentes os requisitos legais.

10
Essa opção ministerial encaixa-se dentro desse novo sistema acusatório ,
onde a obrigatoriedade da ação penal foi substituída pela

00
discricionariedade mitigada; ou seja, respeitados os requisitos legais o

00:
Ministério Público poderá optar pelo oferecimento do acordo de não
persecução penal, dentro de uma legítima opção da própria Instituição que
titulariza, com exclusividade, a iniciativa de propositura da ação penal.

023
Ausentes os requisitos legais, não há opção ao Ministério Público, que

5/2
deverá oferecer a denúncia em juízo.

6/0
Entretanto, se estiverem presentes os requisitos descritos em lei, esse
novo sistema acusatório de discricionariedade mitigada não obriga o

-1
Ministério Público ao oferecimento do acordo de não persecução penal,
tampouco garante ao acusado o direito subjetivo em realizá-lo .

to
Simplesmente, permite ao Parquet que, de forma devidamente
vo
fundamentada, exerça a opção entre oferecer a denúncia ou o acordo de não
persecução penal, a partir da estratégia de política criminal adotada pela
de

Instituição, a qual deve levar em consideração todos os aspectos relevantes,


conforme já reconhecido pelo PLENÁRIO DESSA SUPREMA CORTE (PET
ta

9456/DF, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, 28/04/2021).


inu

Foi exatamente o ocorrido no presente caso.


-m

O art. 28-A, do Código de Processo Penal, alterado pela Lei 13.964/19,


foi muito claro nesse aspecto, estabelecendo que o Ministério Público
“poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e
al

suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes


rtu

condições ”.
Vi

As condições descritas em lei são requisitos necessários para o


oferecimento do acordo de não persecução penal, porém não suficientes
rio

para concretizá-lo, pois mesmo que presentes, poderá o Ministério Público


entender que, na hipótese específica, o acordo de não persecução penal não

se mostra necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.


Ple

Não cabe, inclusive, ao Poder Judiciário se imiscuir na esfera de atuação


do órgão acusador, seja para obrigá-lo, seja para proibi-lo de oferecer o
acordo de não persecução penal, por se tratar inclusive de instrumento
extraprocessual, cabendo ao julgador apenas a verificação do atendimento
aos requisitos legais, da voluntariedade do agente e da adequação,
suficiência e proporcionalidade dos termos do acordo.

11
Nesse sentido, os ensinamentos de ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES
FILHO, ALBERTO ZACHARIAS TORON e GUSTAVO HENRIQUE
BADARÓ, ao afirmarem que:

00
00:
“Segundo o previsto no caput do art. 28-A do CPP, o acordo de
não persecução penal poderá ser proposto pelo Ministério Público,
desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do

23
crime.

0
Esta é uma cláusula aberta, que permite ao Ministério Público

5/2
deixar de propor o acordo em casos em que, não obstante o
preenchimento dos demais requisitos legais previstos no art. 28-A do

6/0
CPP, o acordo não cumpriria as funções atribuídas à pena, que são a
reprovação e a prevenção do crime.

-1
Neste caso, quando as circunstâncias revelarem a impropriedade
do acordo, o Ministério Público deve motivadamente justificar o não
oferecimento do acordo, expondo as razões concretas para tanto”

to
(Código de processo penal comentado [livro eletrônico]- 4. ed. -- São
vo
Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2021).
de

Trata-se, portanto, de importante instrumento de política criminal


dentro da nova realidade do sistema acusatório brasileiro, não constituindo
ta

direito subjetivo do acusado . Neste sentido, é o posicionamento do


inu

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, conforme se vê seguintes julgados, de


minha relatoria: HC 212.806 (DJe de 14/3/2022); RHC 198.981 (Primeira
-m

Turma, DJe de 24/3/2021); HC 195.327 (Primeira Turma, DJe de 26/2/2021);


HC 206.876 (Primeira Turma, DJe de 18/11/2021); HC 191.124 AgR (Primeira
Turma, DJe de 13/4/2021), este último assim ementado:
al
rtu

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. ACORDO


Vi

DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL EM RELAÇÃO AO DELITO DE


ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE DROGAS (ART. 35 DA LEI
rio

11.343/2006). INVIABILIDADE.
1. As condições descritas em lei são requisitos necessários para o

oferecimento do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP),


importante instrumento de política criminal dentro da nova realidade
Ple

do sistema acusatório brasileiro. Entretanto, não obriga o Ministério


Público, nem tampouco garante ao acusado verdadeiro direito
subjetivo em realizá-lo. Simplesmente, permite ao Parquet a opção,
devidamente fundamentada, entre denunciar ou realizar o acordo, a
partir da estratégia de política criminal adotada pela Instituição.
2. O art. 28-A do Código de Processo Penal, alterado pela Lei
13.964/19, foi muito claro nesse aspecto, estabelecendo que o
Ministério Público "poderá propor acordo de não persecução penal,
12
desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime, mediante as seguintes condições".
3. A finalidade do ANPP é evitar que se inicie o processo, não

00
havendo lógica em se discutir a composição depois da condenação,

00:
como pretende a defesa (cf. HC 191.464-AgR/SC, Primeira Turma, Rel.
Min. ROBERTO BARROSO, DJe de 26/11/2020).
4. Agravo Regimental a que nega provimento.”

23
Diante de todo o exposto, não há qualquer ilegalidade no não

0
5/2
oferecimento, pela Procuradoria-Geral da República, do acordo de não
persecução penal.

6/0
3. INEXISTÊNCIA DE INÉPCIA DA INICIAL. PREENCHIMENTO

-1
DOS REQUISITOS LEGAIS PREVISTOS NO ARTIGO 41 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL.

to
vo
A defesa sustenta que a peça acusatória carece da estrutura objetiva das
de

condutas típicas, tendo deixado de indicar, de forma clara e precisa, as


condutas imputadas ao acusado.
ta

A tese defensiva não merece prosperar, uma vez que estamos diante dos
inu

denominados crimes multitudinários.


-m

Em crimes dessa natureza, a individualização detalhada das condutas


encontra barreiras intransponíveis pela própria característica coletiva da
conduta, não restando dúvidas, contudo, que TODOS contribuem para o
al

resultado, eis que se trata de uma ação conjunta, perpetrada por inúmeros
rtu

agentes, direcionada ao mesmo fim.


Vi

Como ensinado por NILO BATISTA,


rio

“ De índole completamente diversa é a hipótese do chamado


crime multitudinário: parte aqui o legislador (art. 65, inc. III, al. e) de

noções produzidas pela criminologia positivista a respeito de


Ple

influências desinibidoras e ativantes que a multidão em tumulto teria


sobre o indivíduo; (…) Os crimes plurissubjetivos admitem a
participação, devendo-se observar que qualquer auxílio ao fato
converte o cúmplice em autor direto ” (Concurso de agentes – uma
investigação sobre os problemas da autoria e da participação no
direito penal brasileiro. 2ºed – São Paulo: Editora Lumen Juris, 2004).

13
No mesmo sentido, os ensinamentos do saudoso JULIO FABBRINI
MIRABETE, que:

00
“ é possível o cometimento de crime pela multidão delinquente,

00:
como nas hipóteses de linchamento, depredação, saque etc.
Responderão todos os agentes por homicídio, dano, roubo, nesses

23
exemplos, mas terão as penas atenuadas aqueles que cometerem o
crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocaram

0
5/2
(art. 65, III, e). A pena, por sua vez, será agravada para os líderes, os
que promoveram ou organizaram a cooperação no crime ou dirigiram
a atividade dos demais agentes (art. 62, I) . (Manual de Direito Penal:

6/0
parte geral: arts. 1º a 120 do CP – volume 1/ Julio Fabbrini Mirabete,
Renato N. Fabbrini – 34. Ed. – São Paulo, Atlas, 2019, página 234).

-1
to
CEZAR ROBERTO BITTENCOURT, igualmente, analisa o tema da
vo
multidão delinquente, e afirma que:
de

“ O fenômeno da multidão criminosa tem ocupado os espaços da


imprensa nos últimos tempos e tem preocupado profundamente a
ta

sociedade como um todo. Os linchamentos em praça pública, as


inu

invasões de propriedades e estádios de futebol, os saques em


armazéns têm acontecido com frequência alarmante, perturbando a
ordem pública. Essa forma sui generis de concurso de pessoas pode
-m

assumir proporções consideravelmente graves, pela facilidade de


manipulação de massas que, em momentos de grandes excitações,
anulam ou reduzem consideravelmente a capacidade de orientar-se
al

segundos padrões éticos, morais e sociais. A prática coletiva de delito,


rtu

nessas circunstâncias, apesar de ocorrer em situação normalmente


traumática, não afasta a existência de vínculos psicológicos entre os
Vi

integrantes da multidão, caracterizadores do concurso de pessoas.


Nos crimes praticados por multidão delinquente é desnecessário que
rio

se descreva minuciosamente a participação de cada um dos


intervenientes, sob pena de inviabilizar a aplicação da lei. A maior ou

menor participação de cada um será objeto da instrução criminal.


Aqueles que praticarem o crime sob a influência de multidão em
Ple

tumulto poderão ter suas penas atenuadas (art. 65, e, do CP). Por
outro lado, terão a pena agravada os que promoverem, organizarem
ou liderarem a prática criminosa ou dirigirem a atividade dos demais
(art. 62, I, do CP) . (Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito
Penal: parte geral 1/ Cezar Roberto Bitencourt – 21. Ed. rev., ampl. e
atual. – São Paulo: Saraiva, 2015, páginas 570/571).

14
Trata-se do mesmo posicionamento do SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL em relação aos requisitos necessários para a tipificação dos
crimes multitudinários ou de autoria coletiva, pois ao analisar hipótese de

00
crime de dano qualificado imputado a diversas pessoas pelo fato de

00:
haverem depredado as instalações de delegacia policial, em protesto contra
a posse de novo titular, decidiu:

0 23
“nos crimes multitudinários, ou de autoria coletiva, a denúncia

5/2
pode narrar genericamente a participação de cada agente, cuja
conduta específica é apurada no curso do processo … desde que se

6/0
permita o exercício do direito de defesa” (HC 73638, Rel. Min.
MAURÍCIO CORRÊA, Julgamento: 30/04/1996, Publicação: 07/06

-1
/1996).

Nesse sentido: HC 75868, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda


to
Turma, julgado em 10/02/1998, DJ 06-06-2003; HC 73638, Rel. Min.
vo
MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, julgado em 34/04/1996, DJ 07-06-96;
HC 71899, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, julgado em 04
de

/04/1995, DJ 02-06-95.
ta

É o mesmo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, ao afirmar


inu

que:
-m

“não é inepta a denúncia, nem se reveste de qualquer vício a


sentença condenatória nela baseada, se, em se tratando de crime
multitudinário, não se descreve a conduta individualizada de cada
al

participante da quadrilha” (REsp n. 128.875/RJ, Rel. Min. Anselmo


rtu

Santiago, Sexta Turma, julgado em 16/12/1997, DJ de 29/6/1998, p.


340.)
Vi

Nesse momento processual, portanto, Poder Judiciário deve analisar –


rio

sem olvidar a natureza particular do delito objeto da presente denúncia – se


houve a observância dos requisitos essenciais da acusação penal realizada

pelo Ministério Público, que deverá ser consubstanciada em denúncia, que,


obrigatoriamente, na esteira da histórica lição do mestre JOÃO MENDES
Ple

DE ALMEIDA JÚNIOR, precisará apresentar uma exposição narrativa e


demonstrativa. Narrativa, porque deve revelar o fato com todas as suas
circunstâncias, isto é, não só a ação transitiva, como a pessoa que a praticou
( quis ), os meios que empregou ( quibus auxiliis ), o malefício que produziu
( quid ), os motivos que o determinaram ( quomodo ), o lugar onde a
praticou ( ubi ), o tempo (quando). E demonstrativa, porque deve descrever
o corpo de delito, indicar as razões de convicção e apresentar o rol de
15
testemunhas, como apontado em sua preciosa obra ( O processo criminal
brasileiro , v. II, Freitas Bastos: Rio de Janeiro, 1959, p. 183).

00
O Ministério Público imputou ao denunciado ROGENNER FEITOSA

00:
LIMA as condutas descritas nos arts. 286, parágrafo único, e 288, caput, c/c.
art. 69, caput, todos do CÓDIGO PENAL, narrando de forma clara,
expressa e precisa, o contexto no qual inseridos os eventos criminosos, por

23
meio da seguintes síntese oferecida na denúncia:

0
5/2
O resultado das eleições de 2022 fez crescer um movimento de

6/0
protesto e insatisfação, fato que levou centenas de pessoas, entre elas
ROGENNER FEITOSA LIMA , a associarem-se, em Brasília/DF, em

-1
frente ao Quartel General do Exército, situado no Setor Militar
Urbano, com o objetivo de praticar crimes contra o Estado
Democrático de Direito e incitar as Forças Armadas contra os Poderes

to
Constitucionais, alcançando maiores proporções no início de 2023.
vo
Em razão do crescimento desse movimento de protesto e
insatisfação e unido aos demais manifestantes, ROGENNER FEITOSA
de

LIMA acampou, até o dia 9 de janeiro de 2023, em frente ao Quartel


General do Exército, localizado no Setor Militar Urbano, em Brasília
ta

/DF, incitando, publicamente, animosidade das Forças Armadas


contra os Poderes Constitucionais.
inu

Um grupo expressivo de manifestantes já vinha fazendo uma série


de publicações em redes sociais questionando, essencialmente, a lisura
-m

do sistema eleitoral democrático brasileiro, a higidez e a


representatividade dos Deputados e Senadores e as decisões do
Supremo Tribunal Federal que permitiram a soltura e a possibilidade
al

de candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ao cargo de Presidente da


rtu

República.
Na data de 30 de outubro de 2022 , finalizado o pleito eleitoral ao
Vi

cargo de Presidente da República, o Tribunal Superior Eleitoral


proclamou o resultado e os eleitos, sagrando-se vencedor o candidato
rio

Luiz Inácio Lula da Silva. A partir desse fato, verificou-se a


convocação, por meio das mídias sociais, de milhares de pessoas para

reunirem-se em acampamentos nas portas de unidades militares,


tendo por mote principal uma intervenção militar, com a tomada dos
Ple

Poderes Constituídos e a instalação de uma ditadura.


No dia 12 de dezembro de 2022, ocorreram manifestações
violentas contra a realização da diplomação, seguindo-se, nesse
mesmo dia, os primeiros atos de maior gravidade, com a queima de
veículos, incêndios e tentativa de invasão e destruição da sede da
Polícia Federal na capital da República.
Traçado esse panorama, a agregação de pessoas e o insuflamento
à abolição violenta do Estado Democrático de Direito e ao golpe de
16
Estado levou centenas de pessoas, no início do ano de 2023, após a
posse do Presidente eleito, a aderirem ao acampamento em frente ao
Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano, em Brasília/DF.

00
O acampamento passou a se constituir como ponto de encontro

00:
para uma associação estável e permanente, que ali se estabeleceu e
permaneceu inclusive durante a prática dos atos de vandalismo e
protestos antidemocráticos consumados no dia 8 de janeiro de 2023,

23
com a invasão das sedes dos Três Poderes na Esplanada dos

0
Ministérios.

5/2
A estabilidade e a permanência da associação formada por
aqueles que acamparam em frente ao quartel são comprovadas, de

6/0
forma clara, pela perenidade do acampamento, que já funcionava
como uma espécie de vila, com local para refeições, feira, transporte,
atendimento médico, sala para teatro de fantoches, massoterapia,

-1
carregamento de aparelhos eletrônicos, recebimento de doações,
reuniões, como demonstram as imagens abaixo:
[…]
to
vo
Havia, portanto, uma evidente estrutura a garantir perenidade,
estabilidade e permanência. Ao se dirigir para lá, o denunciado aderiu
de

a essa associação, cujo desiderato era a prática de crimes contra o


Estado Democrático de Direito.
ta

A associação criminosa insuflava as Forças Armadas à tomada do


poder. Para tanto, a ação delituosa engendrada pelos agentes, da qual
inu

participou o denunciado, com o imanente dolo de impedir de forma


contínua o exercício dos Poderes Constitucionais e ocasionar a
-m

deposição do governo legitimamente constituído, incitando o Exército


Brasileiro a sair às ruas para estabelecer e consolidar o regime de
exceção pretendido pelos acampados, teve como pano de fundo uma
al

suposta fraude eleitoral e o exercício arbitrário dos Poderes


rtu

Constituídos, como facilmente se extrai das imagens a seguir:


[…]
Vi

Assim, plenamente ciente dos objetivos delituosos de quem ali se


encontrava, o denunciado , com absoluta consciência e vontade, até
rio

porque as manifestações, faixas, gritos de ordem, marchas e outras


formas de expressão eram públicas e ostensivas, aderiu ao grupo de

acampados e aos seus dolosos fins ilícitos, passando a integrar a


associação criminosa que estavelmente se instalou em frente ao
Ple

Quartel General do Exército.


Já como integrante da associação criminosa, o denunciado uniu-se
aos demais e, partilhando das manifestações, gritos de ordem e
robustecendo a massa, participou do movimento incitando
animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais à
tomada do poder.
Os integrantes da horda se dividiram em grupos, que se
direcionaram separadamente, porém com o mesmo fim, a cada um
17
dos edifícios-sedes dos Poderes da República, causando grande
destruição, com o objetivo declarado de implantar um governo
militar, impedir o exercício dos Poderes Constitucionais e depor o

00
governo legitimamente constituído que havia tomado posse em 1º de

00:
janeiro de 2023, como comprova o conteúdo dos materiais difundidos
para arregimentar o grupo criminoso, os quais faziam referência
expressa aos desígnios de “tomada de poder”, em uma investida que

23
“não teria dia para acabar”:

0
[…]

5/2
Mesmo após esses fatos, que foram mundialmente publicizados, e
que resultaram na prisão de dezenas de invasores e depredadores dos

6/0
prédios públicos, o denunciado continuou acampado em frente ao
Quartel General do Exército, mantendo-se associado ao grupo e
mobilizado na incitação das Forças Armadas.

-1
Na manhã do dia 9 de janeiro de 2023 , ainda à espera de um
golpe de Estado, o denunciado foi preso em flagrante, em frente ao

to
Quartel General do Exército, em Brasília, em cumprimento a ordem
vo
do Ministro Alexandre de Moraes, datada do dia anterior, quando
determinou “a desocupação e dissolução total, em 24 (vinte e quatro)
de

horas, dos acampamentos realizados nas imediações dos Quartéis


Generais e outras unidades militares para a prática de atos
ta

antidemocráticos e prisão em flagrante de seus participantes pela


prática dos crimes previstos nos artigos 2ª, 3º, 5º e 6º (atos terroristas,
inu

inclusive preparatórios) da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016 e nos


artigos 288 (associação criminosa), 359-L (abolição violenta do Estado
-m

Democrático de Direito) e 359-M (golpe de Estado), 147 (ameaça), 147-


A, § 1º, III (perseguição), 286 (incitação ao crime)”.
Por todo o exposto, o Ministério Público Federal DENUNCIA a
al

Vossa Excelência ROGENNER FEITOSA LIMA como incurso no


rtu

artigo 286, parágrafo único (incitação ao crime equiparada pela


animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais) e
Vi

no artigo 288, caput (associação criminosa), observadas as regras do


artigo 69, caput (concurso material), todos do Código Penal.
rio

No presente momento processual, portanto, é possível verificar que a


denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contém a exposição do


Ple

fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado,


a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas (Inq
2.482/MG, Rel. Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, DJe de 15/9/2011; Inq
1.990/RO, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, DJe de 21/2/2011; Inq
3.016/SP, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, DJe de 16/2/2011; Inq
2.677/BA, Rel. Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, DJe de 21/10/2010; Inq
2.646/RN, Rel. Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, DJe de 6/5/2010).
18
Assim, fica evidenciado que o discurso acusatório permitiu ao
denunciado a total compreensão das imputações contra ele formuladas e,
por conseguinte, garantirá o pleno exercício do contraditório e da ampla

00
defesa.

00:
Em conclusão, AFASTO A ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA INICIAL,
pois não há dúvidas de que a inicial acusatória expôs de forma clara e

23
compreensível todos os requisitos exigidos, tendo sido coerente a exposição

0
dos fatos, permitindo ao acusado a compreensão da imputação e,

5/2
consequentemente, o pleno exercício do seu direito de defesa, como exigido
por esta CORTE (Inq 3.204/SE, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda

6/0
Turma, DJe de 3/8/2015; AP 560/SC, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, DJe de 11/6/2015).

-1
to
4. PRESENÇA DE JUSTA CAUSA PARA A INSTAURAÇÃO DE AÇÃO
vo
PENAL PELOS TIPOS PENAIS: INCITAÇÃO AO CRIME EQUIPARADA
PELA ANIMOSIDADE DAS FORÇAS ARMADAS CONTRA OS PODERES
de

CONSTITUCIONAIS (ARTIGO 286, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO


PENAL) E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ARTIGO 288, CAPUT, DO
ta

CÓDIGO PENAL).
inu

O recebimento da denúncia, além da presença dos requisitos do art. 41


-m

do Código de Processo Penal, exige a necessária justa causa para a ação


penal (CPP, art. 395, III), analisada a partir dos seus três componentes:
tipicidade, punibilidade e viabilidade, de maneira a garantir a presença de
al

um suporte probatório mínimo a indicar a legitimidade da imputação,


rtu

sendo traduzida na existência, no inquérito policial ou nas peças de


informação que instruem a denúncia, de elementos sérios e idôneos que
Vi

demonstrem a materialidade do crime e de indícios razoáveis de autoria:


Pet 9456, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe de 21/6
rio

/2021; Pet 9844, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe
de 18/8/2022; Pet 10409, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal

Pleno, DJe de 11/11/2022; Inq 4215, Rel. Min. EDSON FACHIN, Segunda
Ple

Turma, DJe de 18/11/2020; Inq 4146, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal
Pleno, DJe de 5/10/2016; Inq 3.719/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira
Turma, DJe de 30/10/2014; Inq 3156, Rel. Min. LUIZ FUX, Relator p/
Acórdão Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe de 24/3/2014; Inq
2588, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe de 17/5/2013; e Inq 3198, Rel.
Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, DJe de 21/8/2012.

19
Presente, a justa causa para a instauração da ação penal pois, conforme
salientado pela Procuradoria-Geral da República, não é própria desta fase

00
processual a emissão de um juízo definitivo, com base em cognição

00:
exauriente, sobre a caracterização do injusto penal e da culpabilidade do
denunciado, mas tão somente um juízo de delibação acerca da existência de
um suporte probatório mínimo que evidencie a materialidade do crime e a

23
presença de indícios razoáveis de autoria, não estando presentes as

0
hipóteses de rejeição ou absolvição sumária.

5/2
O Ministério Público imputa a ROGENNER FEITOSA LIMA a prática

6/0
dos crimes acima mencionados, em razão dos fatos ocorridos no interregno
compreendido entre o encerramento das eleições de 2022 e o dia 9 de

-1
janeiro de 2023, dia posterior aos criminosos atos antidemocráticos
praticados na Praça dos Três Poderes, especificamente nas sedes do

to
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, do CONGRESSO NACIONAL e do
vo
PALÁCIO DO PLANALTO.
de

Os crimes imputados ao denunciado estão previstos nos arts. 286,


parágrafo único, e 288, caput , ambos do Código Penal, assim redigidos:
ta
inu

“Incitação ao crime
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
-m

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita,


publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra
al

os poderes constitucionais , as instituições civis ou a sociedade.


Associação Criminosa
rtu

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim


específico de cometer crimes:
Vi

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.”


rio

A denúncia, igualmente, descreve detalhadamente as condutas do


denunciado que se amoldariam ao tipo previsto para as infrações penais:

Ple

“Assim, plenamente ciente dos objetivos delituosos de quem ali se


encontrava, o denunciado, com absoluta consciência e vontade, até
porque as manifestações, faixas, gritos de ordem, marchas e outras
formas de expressão eram públicas e ostensivas, aderiu ao grupo de
acampados e aos seus dolosos fins ilícitos, passando a integrar a
associação criminosa que estavelmente se instalou em frente ao
Quartel General do Exército.

20
Já como integrante da associação criminosa, o denunciado uniu-se
aos demais e, partilhando das manifestações, gritos de ordem e
robustecendo a massa, participou do movimento incitando

00
animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais à

00:
tomada do poder.
Os integrantes da horda se dividiram em grupos, que se
direcionaram separadamente, porém com o mesmo fim, a cada um

23
dos edifícios-sedes dos Poderes da República, causando grande

0
destruição, com o objetivo declarado de implantar um governo

5/2
militar, impedir o exercício dos Poderes Constitucionais e depor o
governo legitimamente constituído que havia tomado posse em 1º de

6/0
janeiro de 2023, como comprova o conteúdo dos materiais difundidos
para arregimentar o grupo criminoso, os quais faziam referência
expressa aos desígnios de tomada de poder, em uma investida que

-1
não teria dia para acabar:
[…]

to
Mesmo após esses fatos, que foram mundialmente publicizados, e
vo
que resultaram na prisão de dezenas de invasores e depredadores dos
prédios públicos, o denunciado continuou acampado em frente ao
de

Quartel General do Exército, mantendo-se associado ao grupo e


mobilizado na incitação das Forças Armadas.
ta

Na manhã do dia 9 de janeiro de 2023 , ainda à espera de um


golpe de Estado, o denunciado foi preso em flagrante, em frente ao
inu

Quartel General do Exército, em Brasília, em cumprimento a ordem


do Ministro Alexandre de Moraes, datada do dia anterior, quando
-m

determinou a desocupação e dissolução total, em 24 (vinte e quatro)


horas, dos acampamentos realizados nas imediações dos Quartéis
Generais e outras unidades militares para a prática de atos
al

antidemocráticos e prisão em flagrante de seus participantes pela


rtu

prática dos crimes previstos nos artigos 2ª, 3º, 5º e 6º (atos terroristas,
inclusive preparatórios) da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016 e nos
Vi

artigos 288 (associação criminosa), 359-L (abolição violenta do Estado


Democrático de Direito) e 359-M (golpe de Estado), 147 (ameaça), 147-
rio

A, § 1º, III (perseguição), 286 (incitação ao crime).”


A previsão constitucional do Estado Democrático de Direito consagra a


Ple

obrigatoriedade de o País ser regido por normas democráticas, com


observância da Separação de Poderes, bem como vincula a todos,
especialmente as autoridades públicas, ao absoluto respeito aos direitos e
garantias fundamentais, com a finalidade de afastamento de qualquer
tendência ao autoritarismo e concentração de poder.

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL não permite a propagação de ideias


contrárias à ordem constitucional e ao ESTADO DEMOCRÁTICO (CF,
21
artigos 5º, XLIV, e 34, III e IV), tampouco a realização de manifestações
públicas visando à ruptura do ESTADO DE DIREITO, através da extinção
das cláusulas pétreas constitucionais, dentre elas a que prevê a Separação

00
de Poderes (CF, artigo 60, § 4º), com a consequente instalação do arbítrio.

00:
Não é qualquer manifestação crítica que poderá ser tipificada pela
presente imputação penal, pois a liberdade de expressão e o pluralismo de

23
ideias são valores estruturantes do sistema democrático, merecendo a

0
devida proteção. A livre discussão, a ampla participação política e o

5/2
princípio democrático estão interligados com a liberdade de expressão,
tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas

6/0
também opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes
públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida

-1
coletiva.

to
Contudo, tanto são inconstitucionais as condutas e manifestações que
vo
tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do
pensamento crítico, indispensável ao regime democrático, quanto aquelas
de

que pretendam destruí-lo , juntamente com suas instituições republicanas,


pregando a violência, o arbítrio, o desrespeito à Separação de Poderes e aos
ta

direitos fundamentais, em suma, pleiteando a tirania, o arbítrio, a violência


inu

e a quebra dos princípios republicanos, como se verifica pelas


manifestações criminosas ora imputadas ao denunciado.
-m

Não existirá um ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO sem que haja


Poderes de Estado, independentes e harmônicos entre si, bem como
al

previsão de Direitos Fundamentais e instrumentos que possibilitem a


fiscalização e a perpetuidade desses requisitos; consequentemente, a
rtu

conduta por parte do denunciado revela-se gravíssima e, ao menos nesta


análise preliminar, corresponde aos preceitos primários estabelecidos no
Vi

indigitados artigos do nosso Código Penal.


rio

O denunciado, conforme narrado na denúncia, associou-se, por


intermédio de uma estável e permanente estrutura montada em frente ao

Quartel General do Exército Brasileiro sediado na capital do País, aos


Ple

desideratos criminosos dos outros coautores, no intuito de modificar


abruptamente o regime vigente e o ESTADO DE DIREITO, a insuflar “ as
Forças Armadas à tomada do poder ” e a população, à subversão da ordem
política e social, gerando, ainda, animosidades entre as Forças Armadas e as
instituições republicanas.

Nas palavras do Ministério Público Federal:


22
“ como integrante da associação criminosa, o denunciado uniu-se
aos demais e, partilhando das manifestações, gritos de ordem e

00
robustecendo a massa, participou do movimento incitando
animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais à

00:
tomada do poder. ”

23
Por fim, os demais pedidos formulados pela defesa indubitavelmente
estão relacionados ao mérito, cuja análise demanda dilação probatória,

0
razão suficiente para seu não acolhimento nesse momento.

5/2
PRESENTE A JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL, a denúncia,

6/0
portanto, deve ser recebida contra ROGENNER FEITOSA LIMA pela
prática dos crimes previstos nos arts. 286, parágrafo único, 288, caput, c/c.

-1
art. 69, caput, todos do Código Penal, em razão dos fatos ocorridos entre o
fim das eleições de 2022 e o dia 9/1/2023.
to
vo
5. CONCLUSÃO.
de

Diante do exposto, presentes os requisitos exigidos pelos artigos 41 e


ta

395, ambos do Código de Processo Penal, RECEBO A DENÚNCIA


inu

oferecida contra ROGENNER FEITOSA LIMA em relação aos crimes


previstos nos arts. 286, parágrafo único, e 288, caput , c/c. art. 69, caput ,
-m

todos do Código Penal.


al

É o VOTO.
rtu
Vi
rio

Ple

23

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