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Análise Real

O documento aborda a análise matemática, focando em funções reais de variável real, primitivação e cálculo integral. Ele inclui definições, teoremas e exemplos sobre primitivas, além de exercícios práticos. O conteúdo é estruturado em capítulos que abrangem desde primitivas imediatas até séries numéricas e funções.
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ANÁLISE MATEMÁTICA II-A

TEORIA E EXERCÍCIOS

ANA SÁ
BENTO LOURO

2004
Índice

1 Funções Reais de Variável Real: Primitivação 1


1.1 Primitivas imediatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Primitivação por partes e por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3 Primitivação de funções racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Primitivação de funções algébricas irracionais . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.5 Primitivação de funções transcendentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2 Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral 35


2.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2 Classes de funções integráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.3 Teoremas Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4 Áreas de figuras planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.5 Integrais impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

3 Séries Numéricas 87
3.1 Generalização da operação adição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
3.2 Definição de série. Convergência. Propriedades gerais . . . . . . . . . . . . 89
3.3 Séries alternadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
3.4 Convergência absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
3.5 Séries de termos não negativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
3.6 Multiplicação de séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
3.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

4 Sucessões e Séries de Funções 131


4.1 Introdução. Sucessões de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
4.2 Convergência uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
4.3 Convergência pontual e convergência uniforme de séries de funções . . . . . 138
4.4 Séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
4.5 Série de Taylor e série de MacLaurin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
4.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
ii ÍNDICE
Capı́tulo 1

Funções Reais de Variável Real:


Primitivação

1.1 Primitivas imediatas


Definição 1.1.1 Sejam f e F duas funções definidas num intervalo I. Diz-se que F é
uma primitiva de f em I se F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ I.

EXEMPLO 1: Como (sen(x))′ = cos(x) temos que sen(x) é primitiva de cos(x).

EXEMPLO 2: De (x2 )′ = 2x concluı́mos que x2 é primitiva de 2x.

Definição 1.1.2 Uma função f diz-se primitivável num intervalo I se existir uma
primitiva de f , definida em I.

NOTA: Há funções que não são primitiváveis. Por exemplo, a função f : R → R definida
por ½
0, se x < 2
f (x) =
1, se x ≥ 2
não é primitivável em R. De facto, a existência de uma função F : R → R tal que
F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ R, contradiz o Teorema de Darboux: f não toma nenhum valor entre
0 e 1.

Teorema 1.1.1 Se F é primitiva de f , num intervalo I, então, qualquer que seja C ∈ R,


a função G(x) = F (x) + C é também primitiva de f em I.

Demonstração: Basta notar que G′ (x) = F ′ (x) + C ′ = F ′ (x) = f (x).

Teorema 1.1.2 Se F e G são duas primitivas de f num intervalo I, então F − G é


constante em I.
2 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

Demonstração: Usa-se o Corolário 2 do Teorema de Lagrange, notando que F ′ (x) =


G′ (x) = f (x), ∀x ∈ I.

NOTAS:
1. Como consequência dos teoremas anteriores temos que todas as primitivas de f são
da forma F + C com F uma primitiva de f e C ∈ R.
2. Se F é uma primitiva de f no intervalo I, designamos por P f qualquer primitiva
de f em I, isto é, P f = F + C, com C ∈ R, qualquer.
Geometricamente:

Figura 1.1

Definição 1.1.3 Chamam-se primitivas imediatas as que se deduzem directamente


de uma regra de derivação.
A partir das regras de derivação obtém-se facilmente:
Teorema 1.1.3 Sejam f e g duas funções primitiváveis num intervalo I e a ∈ R. Então
a) P a f (x) = a P f (x);
b) P (f (x) + g(x)) = P f (x) + P g(x).

Apresentamos a seguir uma tabela com algumas primitivas imediatas.

f (x) P f (x)

xα+1
xα , α 6= −1 +C
α+1
(u(x))α+1
(u(x))α u′ (x), α 6= −1 +C
α+1
1
log(|x|) + C
x
1.1 Primitivas imediatas 3

f (x) P f (x)

u′ (x)
log(|u(x)|) + C
u(x)

ex ex + C

eu(x) u′ (x) eu(x) + C

ax
ax , (a > 0) +C
log(a)
au(x)
au(x) u′ (x), (a > 0) +C
log(a)

cos(x) sen(x) + C

cos(u(x)) u′ (x) sen(u(x)) + C

sen(x) − cos(x) + C

sen(u(x)) u′ (x) − cos(u(x)) + C

1
√ arc sen(x) + C
1 − x2
u′ (x)
p arc sen(u(x)) + C
1 − (u(x))2
1
−√ arc cos(x) + C
1 − x2
u′ (x)
−p arc cos(u(x)) + C
1 − (u(x))2
1
arc tg(x) + C
1 + x2
u′ (x)
arc tg(u(x)) + C
1 + (u(x))2

sec2 (x) tg(x) + C

sec2 (u(x)) u′ (x) tg(u(x)) + C


4 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

f (x) P f (x)

cosec2 (x) −cotg(x) + C

cosec2 (u(x)) u′ (x) −cotg(u(x)) + C

EXEMPLOS:
x3 x2
P (x2 + x + 1) = P x2 + P x + P 1 = + + x + C;
3 2
µ ¶
2 1 + cos(2x) 1 1 sen(2x)
P cos (x) = P = (P 1 + P cos(2x)) = x+ + C;
2 2 2 2
1
√ (x2 + 3) 3 +1
1 3 2 √
3
3 2
P 2x x2 + 3 = P 2x(x + 3) = 3
1 + C = (x + 3) x2 + 3 + C;
3
+ 1 4

3x2
P = log |x3 + 1| + C;
x3 + 1
1 1
P e5x = P 5 e5x = e5x + C;
5 5
P 10x cos(5x2 + 7) = sen(5x2 + 7) + C;
2
P = arc tg(2x) + C;
1 + (2x)2
2
P (cos(x) − 2 e3x ) = P cos(x) − 2P e3x = sen(x) − e3x + C;
3
1
x2 2 3 − 13 1 (x3 − 1)− 3 +1 1p3
P √ = P x (x − 1) = · 1 + C = (x3 − 1)2 + C.
3 3
x −1 3 −3 + 1 2

Teorema 1.1.4 Seja f uma função primitivável num intervalo I. Então, para cada
x0 ∈ I e cada y0 ∈ R, existe uma, e uma só, primitiva F de f tal que F (x0 ) = y0 .
Em particular, existe uma, e uma só, primitiva de f que se anula em x0 .

EXEMPLO 1: Calculemos f sabendo que f ′ (x) = x x e f (1) = 2.
Comecemos por calcular as primitivas F de f ′ , pois f é uma dessas funções.
2 5
F (x) = x 2 + C.
5
1.1 Primitivas imediatas 5

Mas
2 8
f (1) = 2 ⇔ +C =2⇔C = ,
5 5
2 5 8
portanto, f (x) = x 2 + ·
5 5

EXEMPLO 2: Pretendemos calcular f sabendo que f ′′ (x) = 12x2 + 6x − 4, f (0) = 4 e


f (1) = 5.
A função f pertence ao conjunto das funções F tais que

F ′ (x) = 4x3 + 3x2 − 4x + C

e, portanto, será uma função da forma F (x) = x4 + x3 − 2x2 + Cx + C1 . Como


½ ½
f (0) = 4 C1 = 4

f (1) = 5 C = 1
então f (x) = x4 + x3 − 2x2 + x + 4.
6 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1.2 Métodos gerais de primitivação: Primitivação por


partes e por substituição
Teorema 1.2.1 (Primitivação por partes) Sejam I um intervalo, F uma primitiva
de f em I e g uma função diferenciável em I. Então

P (f g) = F g − P (F g ′ )

Demonstração: Pela regra da derivação do produto (F g)′ = F ′ g + F g ′ = f g + F g ′ , o que


implica que f g = (F g)′ − F g ′ e, portanto, P (f g) = F g − P (F g ′ ).

EXEMPLO 1: Seja h(x) = x log(x). Calculemos a primitiva de h por partes: considere-


mos f (x) = x e g(x) = log(x).
µ 2 ¶
x2 x 1 x2 1 x2 x2
P (x log(x)) = log(x) − P · = log(x) − P (x) = log(x) − + C.
2 2 x 2 2 2 4

EXEMPLO 2: Podemos primitivar a função h(x) = log(x) usando este método. Sejam
f (x) = 1 e g(x) = log(x).
µ ¶
1
P (log(x)) = P (1. log(x)) = x log(x) − P x = x log(x) − P (1) = x log(x) − x + C.
x

EXEMPLO 3: Seja h(x) = cos(x) log(sen(x)). Sejam f (x) = cos(x) e g(x) = log(sen(x)).
Então
µ ¶
cos(x)
P (cos(x) log(sen(x))) = sen(x) log(sen(x)) − P sen(x)
sen(x)

= sen(x) log(sen(x)) − P (cos(x))

= sen(x) log(sen(x)) − sen(x) + C.

EXEMPLO 4: Para calcular a primitiva de h(x) = cos(log(x)) consideremos f (x) = 1 e


g(x) = cos(log(x)). Então

P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + P sen(log(x)).

Esta última primitiva calcula-se novamente por partes obtendo-se

P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + x sen(log(x)) − P cos(log(x)),

e, portanto,
2 P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + x sen(log(x)),
1.2 Primitivação por partes e por substituição 7

ou seja,
x
P (cos(log(x))) = (cos(log(x)) + sen(log(x))) + C.
2

EXEMPLO 5: Sejam h(x) = log3 (x), f (x) = 1 e g(x) = log3 (x).

P (1. log3 (x)) = x log3 (x) − P (3 log2 (x)).

Primitivando novamente por partes, e usando o resultado obtido anteriormente para


P (log(x)), obtemos

P (1. log3 (x)) = x log3 (x) − 3 (x log2 (x) − P (2 log(x)))


= x log3 (x) − 3x log2 (x) + 6x log(x) − 6x + C.

Teorema 1.2.2 (Primitivação por substituição) Sejam f uma função primitivável


num intervalo J e ϕ uma função bijectiva e diferenciável no intervalo I tal que ϕ(I) = J.
Seja Φ(t) = P (f (ϕ(t))ϕ′ (t)). Então a função F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) é uma primitiva de f
em J.

Demonstração: Seja F uma primitiva de f . Como, por hipótese, x = ϕ(t) temos F (x) =
F (ϕ(t)). Pela regra de derivação da função composta

(F (ϕ(t)))′ = F ′ (ϕ(t))ϕ′ (t) = f (ϕ(t))ϕ′ (t) = Φ′ (t),

porque designámos por Φ(t) uma primitiva de f (ϕ(t))ϕ′ (t).


Como F (ϕ(t)) e Φ(t) são ambas primitivas de f (ϕ(t))ϕ′ (t) sabemos que

F (ϕ(t)) − Φ(t) = C, C constante real,

ou ainda,
F (ϕ(t)) = Φ(t) + C,
o que implica que
F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) + C.

x3 √
EXEMPLO 1: Seja f (x) = √ . Para calcular a primitiva de f façamos x − 1 = t,
x−1
isto é, ϕ(t) = 1 + t2 = x.

(1 + t2 )3 t5 t7
P (f (ϕ(t)).ϕ′ (t)) = P 2t = 2 P (1+t2 )3 = 2 P (1+3t2 +3t4 +t6 ) = 2(t+t3 +3 + ).
t 5 7
Assim,
µ ¶
x3 √ √ 3 3 √ 5 1 √ 7
P√ =2 x − 1 + ( x − 1) + ( x − 1) + ( x − 1) + C.
x−1 5 7
8 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1
EXEMPLO 2: Consideremos f (x) = · Podemos calcular a sua primitiva fazendo
ex + e−x
ex = t, isto é, ϕ(t) = log(t).
1 1 1
P (f (ϕ(t)).ϕ′ (t)) = P −1
· =P = arc tg(t).
t+t t 1 + t2
Consequentemente,
P f (x) = arc tg(ex ) + C.
NOTA: Usamos, por vezes a notação

P f (x) = {Pt f (ϕ(t))ϕ′ (t)} t=ϕ−1 (x) .


1.3 Primitivação de funções racionais 9

1.3 Primitivação de funções racionais


Sejam
P (x) = an xn + · · · + a1 x + a0
e
Q(x) = bm xm + · · · + b1 x + b0 ,
n, m ∈ N0 , an 6= 0, bm 6= 0, dois polinómios com coeficientes aj , bj ∈ R; n e m os graus
de P e Q, respectivamente.

Definição 1.3.1 Chama-se função racional toda a função f : D ⊂ R → R que pode


ser expressa na forma
P (x)
f (x) =
Q(x)
em que P e Q são polinómios e D = {x ∈ R : Q(x) 6= 0}.

Definição 1.3.2 Dois polinómios P e Q dizem-se iguais, e escreve-se P = Q, se P (x) =


Q(x), ∀x ∈ R.

Verifica-se facilmente que, sendo P (x) = an xn + · · · + a1 x + a0 e Q(x) = bm xm + · · · +


b1 x + b0 , se tem

P (x) = Q(x), ∀x ∈ R ⇔ n = m ∧ an = bm , . . . , a1 = b1 , a0 = b0 .

Dados dois polinómios P e Q, de graus n e m, respectivamente, n > m, existem


polinómios M e R tais que P (x) = M (x) Q(x) + R(x) e grau de R < grau de Q. M diz-se
o polinómio quociente e R o polinómio resto.

Definição 1.3.3 Um polinómio P de grau maior ou igual a 1 diz-se redutı́vel se existem


polinómios P1 e P2 tais que grau de Pi < grau de P (i = 1, 2) e P (x) = P1 (x)P2 (x). O
polinómio P diz-se irredutı́vel se não for redutı́vel.

É possı́vel determinar quais são precisamente os polinómios irredutı́veis. Considere-se,


sem perda de generalidade, os polinómios unitários (com coeficiente an = 1): P (x) =
xn + an−1 xn−1 + · · · + a1 x + a0 .

• Todos os polinómios de grau 1, P (x) = x − a, são irredutı́veis.

• Um polinómio de grau 2, P (x) = x2 + bx + c é irredutı́vel se, e só se, não tem


raı́zes reais, isto é, b2 − 4ac < 0. Assim os polinómios de grau 2 irredutı́veis são
precisamente os polinómios da forma P (x) = (x − α)2 + β 2 , α, β ∈ R, β 6= 0,
associado às duas raı́zes complexas conjugadas α ± iβ.
10 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

• Os únicos polinómios irredutı́veis são os considerados e mostra-se que todo o po-


linómio P (x) com grau maior ou igual a 1 é produto de polinómios irredutı́veis:

P (x) = (x − a1 )n1 · · · (x − ap )np [(x − α1 )2 + β12 ]m1 · · · [(x − αq )2 + βq2 ]mq

em que ni , mj ∈ N representam o grau de multiplicidade do correspondente


factor em P .

P (x)
Definição 1.3.4 Uma função racional f (x) = diz-se irredutı́vel se P e Q não
Q(x)
tiverem raı́zes comuns.

Dada uma função racional irredutı́vel, podemos ter dois casos:

1o O grau do polinómio P é maior ou igual ao grau do polinómio Q.

2o O grau do polinómio P é menor do que o grau do polinómio Q.

No primeiro caso, fazendo a divisão dos polinómios obtemos

P (x) = M (x) Q(x) + R(x),

em que M e R são polinómios, sendo M o quociente e R o resto (que tem grau inferior
ao grau de Q). Temos então
P (x) R(x)
= M (x) +
Q(x) Q(x)
o que implica que µ ¶ µ ¶
P (x) R(x)
P = P (M (x)) + P ·
Q(x) Q(x)
A primitiva de M é imediata por ser a primitiva de um polinómio. A segunda é a
primitiva de uma função racional, em que o grau do numerador é menor do que o do deno-
minador. Concluı́mos, assim, que basta estudar o caso das funções racionais irredutı́veis
em que o grau do numerador é menor do que o grau do denominador, isto é, ficamos
reduzidos ao 2o caso atrás considerado. Os teoremas seguintes, que não demonstraremos,
permitem-nos decompor uma função racional irredutı́vel do 2o caso na soma de funções
racionais cujas primitivas são “fáceis” de calcular (ou mesmo primitivas imediatas). A
primitivação de funções racionais irredutı́veis fica, pois, completamente resolvida.
Comecemos por analisar os casos em que Q admite apenas raı́zes reais. Temos o
seguinte teorema:

P (x)
Teorema 1.3.1 Se é uma função racional irredutı́vel, se o grau de P é menor que
Q(x)
o grau de Q e se
Q(x) = a0 (x − a1 )n1 (x − a2 )n2 . . . (x − ap )np ,
1.3 Primitivação de funções racionais 11

com a1 , a2 , . . . , ap números reais distintos e n1 , n2 , . . . , np ∈ N, então a função é decom-


ponı́vel numa soma da forma

P (x) An1 A1 Bnp B1


= + · · · + + · · · + + · · · +
Q(x) (x − a1 )n1 x − a1 (x − ap )np x − ap

onde An1 , . . . , A1 , . . . , Bnp , . . . , B1 são números reais.

NOTA: Nas condições do Teorema 1.3.1, qualquer das parcelas em que se decompõe a
função tem primitiva imediata:

A A 1
P p
= · , se p 6= 1
(x − a) 1 − p (x − a)p−1

A
P = A log |x − a|
x−a
1o caso: Q tem raı́zes reais de multiplicidade 1, isto é, Q decompõe-se em factores do tipo
A
x − a com a ∈ R. A cada raiz a de Q associa-se uma parcela do tipo , com A
x−a
constante a determinar.

4x2 + x + 1
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
x3 − x
Como o número de raı́zes de um polinómio não ultrapassa o seu grau e x3 − x admite
as raı́zes x = 0, x = −1 e x = 1, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1.
Então
4x2 + x + 1 A B C
3
= + +
x −x x x−1 x+1

A(x2 − 1) + Bx(x + 1) + Cx(x − 1)


=
x3 − x

(A + B + C)x2 + (B − C)x − A
=
x3 − x
Pelo método dos coeficientes indeterminados temos
  
 A+B+C = 4  B+C = 5  B = 3
B−C = 1 ⇔ B−C = 1 ⇔ C = 2
  
−A = 1 A = −1 A = −1

Assim:
4x2 + x + 1 −1 3 2
3
= + +
x −x x x−1 x+1
12 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

e µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
4x2 + x + 1 −1 3 2
P = P +P +P
x3 − x x x−1 x+1

= − log |x| + 3 log |x − 1| + 2 log |x + 1| + C


µ¯ ¯ ¶
¯ (x − 1)3 ¯ 2
= log ¯¯ ¯ (x + 1) + C.
x ¯

2o caso: Q tem raı́zes reais de multiplicidade p, p > 1, isto é, Q admite x − a, com
a ∈ R, como divisor p vezes. Na decomposição, a cada raiz a de Q de multiplicidade p
vai corresponder uma soma de p parcelas com a seguinte forma:

Ap Ap−1 A1
p
+ p−1
+ ··· + ,
(x − a) (x − a) x−a

com Ap , Ap−1 , . . . , A1 constantes a determinar.

2x3 + 5x2 + 6x + 2
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
x(x + 1)3
Como x(x + 1)3 admite as raı́zes x = 0, x = −1 e x + 1 aparece 3 vezes na factorização
do polinómio, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1 e multiplicidade 3,
respectivamente. Então

2x3 + 5x2 + 6x + 2 A B C D
3
= + 3
+ 2
+
x(x + 1) x (x + 1) (x + 1) x+1

A(x + 1)3 + Bx + Cx(x + 1) + Dx(x + 1)2


=
x(x + 1)3

(A + D)x3 + (3A + C + 2D)x2 + (3A + B + C + D)x + A


=
x(x + 1)3

Pelo método dos coeficientes indeterminados temos


 

 A+D = 2 
 D = 0
 
3A + C + 2D = 5 C = −1


 3A + B + C + D = 6 
 B = 1
 
A = 2 A = 2

Assim:
2x3 + 5x2 + 6x + 2 2 1 −1
3
= + 3
+
x(x + 1) x (x + 1) (x + 1)2
1.3 Primitivação de funções racionais 13

e µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
2x3 + 5x2 + 6x + 2 2 1 1
P = P +P −P
x(x + 1)3 x (x + 1)3 (x + 1)2

1 1 1
= 2 log |x| − 2
+ +C
2 (x + 1) x+1

1 1 1
= log (x2 ) − + + C.
2 (x + 1)2 x + 1

Vejamos agora os casos em que o polinómio Q admite raı́zes complexas.

P (x)
Teorema 1.3.2 Se é uma função racional irredutı́vel, se o grau de P é menor que
Q(x)
o grau de Q e se α + iβ (α, β ∈ R) é uma raiz de Q, de multiplicidade r, então

P (x) Mr x + N r M1 x + N 1 H(x)
= 2 2 r
+ ··· + 2 2
+ ∗
Q(x) [(x − α) + β ] (x − α) + β Q (x)

onde H e Q∗ são polinómios tais que o grau de H é menor que o grau de Q∗, Mr ,
Nr , . . . , M1 , N1 , são números reais e nem α + iβ nem α − iβ são raı́zes do polinómio Q∗ .

1o caso: Q tem raı́zes complexas de multiplicidade 1, isto é, Q admite como divisores
polinómios de grau 2, (uma única vez cada polinómio), que não têm raı́zes reais. Na
decomposição, a cada par de raı́zes (α + iβ, α − iβ) vai corresponder uma parcela com a
seguinte forma:
Ax + B
(x − α)2 + β 2
com A e B constantes a determinar.

x2 + 2
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
(x − 1)(x2 + x + 1)
Como √
2 1 3
(x − 1)(x + x + 1) = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = − ± i
2 2
podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1. Então

x2 + 2 A Bx + C
= +
2
(x − 1)(x + x + 1) x − 1 (x + 21 )2 + 3
4

A(x2 + x + 1) + (Bx + C)(x − 1)


=
(x − 1)(x2 + x + 1)

(A + B)x2 + (A − B + C)x + A − C
=
(x − 1)(x2 + x + 1)
14 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

Pelo método dos coeficientes indeterminados temos


 
 A+B = 1  A = 1
A−B+C = 0 ⇔ B = 0
 
A−C = 2 C = −1
Assim:
x2 + 2 1 −1
= +
(x − 1)(x2 + x + 1) x − 1 (x + 12 )2 + 34
e µ ¶ µ ¶ µ ¶
x2 + 2 1 −1
P = P +P
(x − 1)(x2 + x + 1) x−1 (x + 12 )2 + 43
µ ¶
1
= log |x − 1| − P 1 2 3 .
(x + 2 ) + 4
A primitiva µ ¶
1
P
(x + 21 )2 + 43
√ √
1 3 3 1
calcula-se fazendo a substituição x + = t, isto é, ϕ(t) = t − · (No caso geral,
2 2 2 2
sendo a + ib a raiz, a substituição é x − a = bt). Então
à √ !
1 3 2 1 2
P f (ϕ(t)).ϕ′ (t) = P √ · =√ P 2 = √ arc tg(t),
( 23 t)2 + 34 2 3 t +1 3
portanto, µ ¶ µ ¶
1 2 2 1
P 1 2 3 = √ arc tg √ x+ √ .
(x + 2 ) + 4 3 3 3
Finalmente, µ ¶
2 2 1
P f (x) = log |x − 1| − √ arc tg √ x+ √ + C.
3 3 3

2o caso: Q tem raı́zes complexas de multiplicidade p, p > 1, isto é, Q admite como divisores
polinómios de grau 2 que não têm raı́zes reais, aparecendo p vezes cada polinómio na
factorização de Q. Na decomposição, a cada par de raı́zes (α+iβ, α−iβ) vai corresponder
uma soma de parcelas com a seguinte forma:
Ap x + Bp Ap−1 x + Bp−1 A1 x + B1
2 2 p
+ 2 2 p−1
+ ··· +
((x − α) + β ) ((x − α) + β ) (x − α)2 + β 2
com Ap , Ap−1 , . . . , A1 , Bp , Bp−1 , . . . , B1 constantes a determinar.

EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por


x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7
f (x) = ·
(x − 1)(x2 + 2)2
1.3 Primitivação de funções racionais 15

Como √
(x − 1)(x2 + 2)2 = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = ±i 2
e (x − 1)(x2 + 2)2 tem grau 5, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1 e
multiplicidade 2, respectivamente. Então

x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 A Bx + C Dx + E
2 2
= + 2 2
+ 2
(x − 1)(x + 2) x − 1 (x + 2) x +2

A(x2 + 2)2 + (Bx + C)(x − 1) + (Dx + E)(x − 1)(x2 + 2)


=
(x − 1)(x2 + 2)2

Pelo método dos coeficientes indeterminados temos




 A = 1

 B = 1

C = −1



 D = 0

E = −1

Assim:
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1 x−1 −1
= + +
(x − 1)(x2 + 2)2 x − 1 (x2 + 2)2 x2 + 2
e
µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1 x−1 −1
P = P +P +P
(x − 1)(x2 + 2)2 x−1 (x2 + 2)2 2
x +2
µ ¶ Ã !
1
x−1 2
= log |x − 1| + P −P x2
(x2 + 2)2 1+ 2

 
√1
µ ¶
x−1 1   2
= log |x − 1| + P −√ P  ³ ´2 
(x2 + 2)2 2 1 + √x2
µ ¶ µ ¶
x−1 1 x
= log |x − 1| + P − √ arc tg √ .
(x2 + 2)2 2 2

A primitiva à !
µ ¶
x−1 x−1
P 2 2
=P √ 2
(x + 2) (x2 + 2 )2
√ √
calcula-se fazendo a substituição x = 2 t, isto é, ϕ(t) = 2 t. Então
16 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

Ã√ !
2t − 1 √
P f (ϕ(t)).ϕ′ (t) = P · 2
(2t2 + 2)2

√ Ã√ !
2 2t − 1
= P
4 (t2 + 1)2

√ Ã √ !
2 2t 1
= P −
4 (t2 + 1)2 (t2 + 1)2

√ Ã √ !
2 2t 1
= P 2 −P 2
4 (t + 1)2 (t + 1)2

√ Ã√ !
2 2 1
= P 2t(t2 + 1)−2 − P 2
4 2 (t + 1)2

√ Ã √ 2 2
!
2 2 2 1 + t − t
= − (t + 1)−1 − P
4 2 (t2 + 1)2
√ µ ¶
1 1 2 1 + t2 t2
= − 2 − P 2 −P 2
4t +1 4 (t + 1)2 (t + 1)2
√ µ ¶
1 1 2 1 t 2t
= − 2 − P 2 −P
4t +1 4 t +1 2 (t2 + 1)2
√ µ µ ¶¶
1 1 2 1 t 1 1
= − 2 − arc tg(t) − − 2 +P
4t +1 4 t +1 2 2 t2 + 1
√ √ √
1 1 2 2 t 2
= − 2 − arc tg(t) − + arc tg(t)
4t +1 4 4 2(t2 + 1) 8
√ √
2t + 2 2
= − 2 − arc tg(t),
8(t + 1) 8
portanto, µ ¶ √ µ ¶
x−1 x+2 2 x
P =− − arc tg √ .
(x2 + 2)2 4(x2 + 2) 8 2
Finalmente,
√ µ ¶
5 2 x x+2
P f (x) = log |x − 1| − arc tg √ − + C.
8 2 4(x2 + 2)
1.3 Primitivação de funções racionais 17

P (x)
NOTA: Se admite uma decomposição da forma que aparece neste teorema, a sua
Q(x)
primitiva pode ser calculada recorrendo a primitivas de funções da forma
Ax + B Cx + D
e , p > 1.
(x − α)2 + β 2 [(x − α)2 + β 2 ]p
Temos no primeiro caso, usando a substituição x − α = βt,
½ ¾
Ax + B A(α + βt) + B
P = Pt ·β
(x − α)2 + β 2 β 2 t2 + β 2 t= x−α β

A (α + βt) + B A α + B + A βt
Pt · β = P
β 2 t2 + β 2 β(t2 + 1)

Aα+B A βt
=P 2
+P
β(t + 1) β(t2 + 1)

Aα+B 1 t
= P 2 +AP 2
β t +1 t +1

Aα+B A
= arctg(t) + log(t2 + 1)
β 2
Portanto,

µ ¶ "µ ¶2 #
Ax + B Aα+B x−α A x−α
P 2 2
= arctg + log + 1 + C.
(x − α) + β β β 2 β

No segundo caso, usando a mesma substituição,


½ ¾
Cx + D C(α + βt) + D
P = Pt ·β .
[(x − α)2 + β 2 ]p (β 2 t2 + β 2 )p t= x−α β

C (α + βt) + D C α + D + C βt
Pt 2 2 2 p
·β =P
(β t + β ) β 2p−1 (t2 + 1)p

C α+D C βt
=P + P 2p−1 2
β 2p−1 (t2
+ 1)p β (t + 1)p

C α+D 1 C t
= 2p−1
P 2 p
+ 2p−2 P 2
β (t + 1) β (t + 1)p

C α+D 1 C 1 1
= 2p−1
P 2 p
− 2p−2 · · 2
β (t + 1) 2β p − 1 (t + 1)p−1
18 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1
Resta-nos calcular P ·
(t2 + 1)p
Mas

1 1 + t2 − t2 1 t2
= = −
(t2 + 1)p (t2 + 1)p (t2 + 1)p−1 (t2 + 1)p
o que implica que

1 1 t2
P = P − P
(t2 + 1)p (t2 + 1)p−1 (t2 + 1)p

1 t 2t
=P −P · 2
(t2 + 1)p−1 2 (t + 1)p

1 t 1
=P + − P
(t2 + 1)p−1 2(p − 1)(t2 + 1)p−1 2(p − 1)(t2 + 1)p−1

t 2p − 3 1
= 2 p−1
+ P 2 ,
2(p − 1)(t + 1) 2p − 2 (t + 1)p−1
1
isto é, o cálculo da primitiva de ficou apenas dependente do cálculo da primitiva
(t2 + 1)p
1
de , que por sua vez pode, de modo análogo, fazer-se depender do cálculo da
(t2 + 1)p−1
1 1
primitiva de 2 , e assim sucessivamente até chegarmos à primitiva de que
(t + 1)p−2 1 + t2
é imediata.
P (x)
Teorema 1.3.3 Se é uma função racional irredutı́vel, se o grau de P é menor que
Q(x)
o grau de Q e se

Q(x) = a0 (x − a)p · · · (x − b)q [(x − α)2 + β 2 ]r · · · [(x − γ)2 + δ 2 ]s

então a função é decomponı́vel numa soma da forma


P (x) Ap A1 Bq B1
= p
+ ··· + + ··· + q
+ ··· + +
Q(x) (x − a) x−a (x − b) x−b
Mr x + N r M1 x + N 1
+ 2 2 r
+ ··· + + ···+
[(x − α) + β ] (x − α)2 + β 2
Vs x + Zs V1 x + Z1
+ 2 2 s
+ ··· +
[(x − γ) + δ ] (x − γ)2 + δ 2
onde Ap , . . . , A1 , Bq , . . . , B1 , Mr , Nr , . . . , M1 , N1 , Vs , Zs , . . . , V1 , Z1 são números reais.
1.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 19

1.4 Primitivação de funções algébricas irracionais


Vejamos agora alguns tipos de funções cuja primitivação pode reduzir-se à primitivação
de funções racionais com uma substituição adequada. Introduza-se em primeiro lugar a
noção de polinómio e função racional em várias variáveis.

Definição 1.4.1 Designa-se por polinómio em duas variáveis , x e y, com coefici-


entes reais, a aplicação P : R × R → R, dada por

P (x, y) = amn xm y n + · · · + a11 xy + a10 x + a01 y + a00 ,

com m, n ∈ N0 , aij ∈ R. Define-se o grau de P como o maior inteiro i + j tal que aij 6= 0.
Mais geralmente define-se, de modo análogo, polinómio em p variáveis u1 , . . . , up ,
| × ·{z
como a aplicação P : R · · × R} → R, dada por
p vezes
X
P (u1 , . . . , up ) = ai1 ...ip ui11 . . . uipp ,
i1 ,...,ip
X
i1 , . . . , ip ∈ N0 , ai1 ...ip ∈ R e uma soma finita em i1 , . . . , ip .
i1 ,...,ip

Definição 1.4.2 Se P (u1 , . . . , up ) e Q(u1 , . . . , up ) são dois polinómios em p variáveis,


chama-se função racional em p variáveis a uma aplicação da forma
P (u1 , . . . , up )
R(u1 , . . . , up ) =
Q(u1 , . . . , up )
definida nos elementos (u1 , . . . , up ) ∈ R
| × ·{z
· · × R} tais que Q(u1 , . . . , up ) 6= 0.
p vezes
Analisemos então algumas classes de funções susceptı́veis de serem racionalizadas por
convenientes mudanças de variável. No que se segue R designa uma função racional dos
seus argumentos.

Expressão Substituição

m p r
f (x) = R(x n , x q , . . . , x s ) x = tµ
µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}

³ ¡ ¢ m ¡ a x+b ¢ pq ¡ x+b ¢ rs ´
f (x) = R x, ac x+d
x+b n
, c x+d , . . . , ac x+d a x+b
= tµ
c x+d
µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}

f (x) = xα (a + b xβ )γ xβ = t
20 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1 1
EXEMPLO 1: Consideremos a função f (x) = √ √ = 1 1 · A substituição a
x+ x
3
x2 + x3
usar é x = ϕ(t) = t6 e a primitiva a calcular é
µ ¶
′ 1 5 6t5 t3 2 1
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P 3 · 6t = P 2 =6P =6 P t −t+1−
t + t2 t (t + 1) t+1 t+1
µ 3 ¶
t t2
=6 − + t − log |t + 1| = 2t3 − 3t2 + 6t − 6 log |t + 1|
3 2
tendo-se assim
1 √ √ √ √
P√ √ = 3 x − 3 3
x + 6 6
x − 6 log( 6
x + 1) + C.
x+ x 3


2x + 3
EXEMPLO 2: Seja f (x) = √ · A substituição 2x + 3 = t4 permite resolver o
1 − 4 2x + 3
problema. Temos
µ ¶
′ t2 3 t5 4 3 2 1
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P · 2t = −2 P = −2P t + t + t + t + 1 +
1−t t−1 t−1
µ 5 ¶
t t4 t3 t2
= −2 + + + + t + log |t − 1|
5 4 3 2
e
µ √ √ √ √
( 4 2x + 3)5 ( 4 2x + 3)4 ( 4 2x + 3)3 ( 4 2x + 3)2 √
P f (x) = −2 + + + + 4 2x + 3
5 ¶ 4 3 2
√4
+ log( 2x + 3) + C
p√ 2
3
EXEMPLO 3: Seja f (x) = x x2 + 2. Façamos a substituição x 3 = t. Obtemos:
3 1 3 1 3 √
P f (ϕ(t))ϕ′ (t) = P t 2 (2 + t) 2 t 2 = P t2 2 + t
2 2
que, como vimos anteriormente (exemplo 2), se resolve fazendo a substituição 2 + t = z 2 ,
isto é,
3 √ 3© ª
P t2 2 + t = Pz (z 2 − 2)2 · z · 2z z=√2+t
2 2
3© ª
= Pz 2(z 6 − 4z 4 + 4z 2 ) z=√2+t
2
½ 7 ¾
z z5 z3
= 3 −4 +4
7 5 3 z=√2+t

3 ³√ ´7 12 ³√ ´5 ³√ ´3
= 2+t − 2+t +4 2+t
7 5
1.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 21

tendo-se finalmente
q√ µq ¶7 µq ¶5 µq ¶3
3 3 2 12 2 2
Px x2 + 2 = x3 + 2 − x3 + 2 +4 x3 + 2 + C.
7 5

Expressão Substituição

√ √
a x2 + b x + c = ax + t
se a > 0

√ √
a x2 + b x + c = t x + c

f (x) = R(x, a x2 + b x + c) se c > 0


a x2 + b x + c = t (x − α)

ou a x2 + b x + c = t (x − β)
se α e β são zeros reais
distintos de a x2 + b x + c

1
EXEMPLO 1: Consideremos a função f (x) = √ . Como a = 3 podemos
x 3x 2−x+1
√ √
usar a substituição 3x2 − x + 1 = 3 x + t, tendo-se:

3x2 − x√+ 1 = 3x2 + 2 3xt + t2
−x − 2 3xt = t2 − 1
1 − t2
x= √ = ϕ(t)
1 + 2 3t
√ 2 √
−2 3t − 2t − 2 3
o que implica ϕ′ (t) = √ ·
(2 3t + 1) 2
A primitiva a calcular é
√ √
1 −2 3t2 − 2t − 2 3
P µ ¶· √
1 − t2 √ 1 − t2 (2 3t + 1)2
√ 3· √ +t
1 + 2 3t 1 + 2 3t
√ √
−2 3t2 − 2t − 2 3
= P√ √
3(1 − t2 )2 + t(1 − t2 )(2 3t + 1
√ √
−2( 3t2 + t + 3)
= P √ √ √
( 3 − 3t2 + 2 3t2 + t)(1 − t2 )
22 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

µ 1 1 ¶
1 2 2
= −2P = −2P +
1 − t2 1−t 1+t
¯ ¯
¯1 − t¯
= log |1 − t| − log |1 + t| = log ¯
¯ ¯
1 + t¯
o que implica que
¯ 1 − √3x2 − x + 1 + √3x ¯
¯ ¯
1 ¯ ¯
P √ = log ¯ √ √ ¯ + C.
2
x 3x − x + 1 2
¯ 1 + 3x − x + 1 − 3x ¯

1
EXEMPLO 2: Primitivemos a função f (x) = √ · Tendo em conta que
x + 4x − √−x2
3
−x2 + 4x − 3 = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = 3 podemos usar a substituição −x2 + 4x − 3 = t(x − 3).


−x2 + 4x − 3 = t(x − 3)
p
−(x − 3)(x − 1) = t(x − 3)

−(x − 3)(x − 1) = t2 (x − 3)2

−(x − 1) = t2 (x − 3)
3t2 + 1
x= = ϕ(t)
t2 + 1
4t
o que implica ϕ′ (t) = ·
(t2
+ 1)2
A primitiva a calcular é

1 4t
P 2
µ 2 ¶· 2
3t + 1 3t + 1 (t + 1)2
· t − 3
t2 + 1 t2 + 1
4
= P 2
(3t + 1)(3t + 1 − 3t2 − 3)
2

−2 2 √
= P 2 = − √ arc tg( 3t)
3t + 1 3
o que implica que

1 2 √ −x2 + 4x − 3
P √ = − √ arc tg( 3 · ) + C.
x −x2 + 4x − 3 3 x−3
1.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 23

Expressão Substituição

a2 − x 2 x = a cos(t) ou x = a sen(t)

x 2 − a2 x = a sec(t) ou x = a cosec(t)

x 2 + a2 x = a tg(t) ou x = a cotg(t)


9 − x2
EXEMPLO 1: Seja f (x) = · Façamos a substituição x = 3 sen(t) = ϕ(t). Temos
x2
ϕ′ (t) = 3 cos(t) e
p p
9 − 9 sen 2 (t) 1 − sen2 (t)
P f (ϕ(t))ϕ′ (t) = P · 3 cos(t) = P · cos(t)
9 sen2 (t) sen2 (t)
cos2 (t)
= P = P cotg2 (t) = P (cosec2 (t) − 1)
sen2 (t)
= −cotg(t) − t

e, assim,
√ √
9 − x2 x x 9 − x2 x
P 2
= −cotg(arc sen( )) − arc sen( ) + C = − − arc sen( ) + C
x 3 3 x 3

1
EXEMPLO 2: Consideremos a função f (x) = √ e a substituição x = 4 sec(t) =
x3 x2 − 16

ϕ(t). Temos ϕ (t) = 4 sec(t) tg(t) e

1
P f (ϕ(t))ϕ′ (t) = P p · 4 sec(t) tg(t)
43 sec3 (t) 16 sec2 (t) − 16
tg(t) tg(t)
= P p =P 3 2
43 sec2 (t) sec2 (t) − 1 4 sec (t) tg(t)
1 1 1
= 3P 2
= 3 P cos2 (t)
4 sec (t) 4
µ ¶
1 t sen(2 t)
= 3 +
4 2 4

e, assim, µ ¶
1 1 1 x sen(2 arc sec( x4 ))
P √ = 3 arc sec( ) + +C
x 3 2
x − 16 4 2 4 4
1
EXEMPLO 3: Para calcular as primitivas de f (x) = √ podemos fazer a subs-
x2 x2 + 4
24 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

tituição x = 2 tg(t) = ϕ(t). Temos ϕ′ (t) = 2 sec2 (t) e

1
P f (ϕ(t))ϕ′ (t) = P 2
p
2
· 2 sec2 (t)
4 tg (t) 4 tg (t) + 4
sec2 (t) sec2 (t)
= P p = P
4 tg2 (t) tg2 (t) + 1 4 tg2 (t) sec(t)
1 sec(t) 1
= P 2 = P cotg(t) cosec(t)
4 tg (t) 4
1
= − cosec(t)
4
e, assim, √
1 1 x 1 x2 + 4
P √ = − cosec(arc tg( )) + C = − +C
x 2 2
x +4 4 2 4 x
1.5 Primitivação de funções transcendentes 25

1.5 Primitivação de funções transcendentes

Expressão Substituição

f (x) = R(sen(x), cos(x)) tg( x2 ) = t

f (x) = R(sen(x), cos(x)) tg(x) = t


R(−y, −z) = R(y, z), ∀y, z

f (x) = R(ex ) ex = t
³x´
A substituição tg = t conduz a uma função racional de t. De facto, de
2
¡x¢
³x´ ³x´
2
tg 1
sen(x) = 2 sen . cos =2q ·q
2 2 ¡
1 + tg2 x2
¢ ¡ ¢
1 + tg2 x2
¡x¢
tg 2 2t
= 2 ¡ ¢=
2 x
1 + tg 2 1 + t2
e ¡ ¢
2
³x´
2
³x´ 1 tg2 x2
cos(x) = cos − sen = ¡ ¢− ¡ ¢
2
¡ ¢
2 1 + tg2 x2 1 + tg2 x2
2 x
1 − tg 2 1 − t2
= ¡ ¢ =
1 + tg2 x2 1 + t2
conclui-se, tendo em conta que
³x´ 2
tg = t ⇒ x = 2 arc tg(t) = ϕ(t) ⇒ ϕ′ (t) = ,
2 1 + t2
½ µ ¶ ¾
2t 1 − t2 2
P f (x) = Pt R , .
1 + t2 1 + t2 1 + t2 tg( x2 )=t

A substituição indicada serve no caso geral, mas em certos casos particulares são
preferı́veis outras substituições. Assim, por exemplo, se R(sen(x), cos(x)) é função par em
sen(x) e cos(x) (isto é, se não se altera ao mudarmos simultaneamente sen(x) para −sen(x)
e cos(x) para − cos(x)), pode fazer-se a substituição tg(x) = t, ou seja, ϕ(t) = arc tg(t) e

t 1
sen(x) = √ e cos(x) = √ ·
1 + t2 1 + t2

1
EXEMPLO 1: Calculemos as primitivas de f (x) = · A substituição indicada
2 cos(x) + 1
26 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

³x´
é tg = t:
2
1 2 2
P 2 · 2
=P
1−t 1+t 3 − t2
2 + 1
1 +µt2 ¶
1 1 1
= √ P √ +√
3 3−t 3+t ¯√ ¯
1 √ √ 1 ¯ ¯
¯ 3 + t¯
= √ (− log | 3 − t| + log | 3 + t|) = √ log ¯ √ ¯
3 3 ¯ 3 − t¯

o que implica que


¯√ ³ ´¯
¯ 3 + tg x ¯
1 1 ¯ 2 ´ ¯¯ + C.
P = √ log ¯¯ √ ³x
2 cos(x) + 1 3 ¯ 3 − tg
¯
¯
2
1
EXEMPLO 2: Para calcular as primitivas de f (x) = fazemos a substi-
cos2 (x) − sen2 (x)
tuição tg(x) = t e obtemos

1 1 1
P 2 · = P
1 t 1 + t2 1 − t2
2

1 +µt 1 + t2 ¶
1 1 1
= P +
2 1−t 1+t
¯ ¯
1 1 ¯1 + t¯
= (− log |1 − t| + log |1 + t|) = log ¯¯ ¯
2 2 1 − t¯
e, portanto, ¯ ¯
1 1 ¯ 1 + tg(x) ¯
P = log ¯¯ ¯+C
cos2 (x) − sen2 (x) 2 1 − tg(x) ¯
1
EXEMPLO 3: Para primitivar a função f (x) = usa-se a substituição ex = t:
ex + 1
¯ ¯
1 1 −1 1 ¯ t ¯
P · =P + P = − log |1 + t| + log |t| = log ¯¯ ¯
t+1 t 1+t t 1 + t¯
e µ ¶
1 ex
P x = log + C.
e +1 ex + 1
As funções do tipo f (x) = sen(ax)sen(bx), com a e b constantes, |a| =
6 |b|, podem
primitivar-se tendo em conta que
1
sen(ax).sen(bx) = [cos(a − b)x − cos(a + b)x]
2
1.5 Primitivação de funções transcendentes 27

e conclui-se que
sen(a − b)x sen(a + b)x
P sen(ax).sen(bx) = − +C
2(a − b) 2(a + b)
De modo análogo,
sen(a − b)x sen(a + b)x
P cos(ax). cos(bx) = + +C
2(a − b) 2(a + b)
Se pretendermos primitivar um produto de vários factores sen(am x) e cos(bn x) po-
demos começar por substituir por uma soma o produto de dois dos factores; depois
substituem-se por somas os novos produtos obtidos por associação de novos pares de
factores; e assim sucessivamente até esgotar todos os factores.

EXEMPLO:

P sen(3x) cos(5x)sen(6x)
1
= P (sen(8x) + sen(−2x)) sen(6x)
2
1 1 1 1
= P (cos(2x) − cos(14x)) − P (cos(−4x) − cos(8x))
2 2 2 2
1 1 1 1
= P cos(2x) − P cos(14x) − P cos(4x) + P cos(8x)
4µ 4 4 4¶
sen(14x) sen(4x) sen(8x)
= 18 sen(2x) − − + +C
7 2 4
As funções do tipo f (x) = p(x)eax , onde p é um polinómio de grau n em x e a é uma
constante, primitivam-se por partes:
1 1
P p(x)eax = eax p(x) − P eax p′ (x).
a a
A primitiva que aparece no segundo membro é ainda do mesmo tipo, mas mais simples,
pois o grau de p′ (x) é inferior em uma unidade ao grau de p(x). Aplicando novamente o
mesmo processo até chegar a um polinómio de grau zero, obtém-se
µ ¶
eax p′ (x) p′′ (x) np
(n)
(x)
P f (x) = p(x) − + 2 + · · · + (−1) + C.
a a a an

EXEMPLO: Primitivemos a função f (x) = (x2 + 2x + 1)e3x .


1 1
P (x2 + 2x + 1)e3x = (x2 + 2x + 1)e3x − P (2x + 2)e3x
µ 3 3 ¶
1 1 1
= (x2 + 2x + 1)e3x − (2x + 2)e3x + P 2e3x
3 3 3
µ ¶
1 3x 1 2
= e (x2 + 2x + 1) − (2x + 2) + + C.
3 3 9
28 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

As primitivas que obtivemos foram sempre funções elementares, isto é, funções algé-
bricas, a função exponencial, as funções trigonométricas e as trigonométricas inversas e,
de um modo geral, as funções que se possam obter por composição destas em número
finito. Por outras palavras, aprendemos a calcular primitivas de funções elementarmente
primitiváveis. Nem todas as funções estão nesta situação. No entanto,

Teorema 1.5.4 Toda a função contı́nua num intervalo [a, b] é primitivável nesse inter-
valo.
1.6 Exercı́cios 29

1.6 Exercı́cios

1. Determine as primitivas das funções definidas pelas expressões analı́ticas seguintes:



(a) 2x 3 x2 + 3;
(b) 5x4 + 2x2 + 3;
(c) ax5 , a constante não nula;
ex
(d) √ ;
1 − e2x
(e) cos(6x);
2
(f) ;
3x
(g) sen(2x − 3);
3x
(h) ;
5 + x2

(i) x x2 + 9 ;
(j) cos x − 5e2x ;
x
(k) 2
+ cos(2x);
2x + 5
1
(l) √ ;
1 − 5x2
3 5 2
(m) − 2 + + √ ;
2x x x
(n) sen(x) cos2 (x);
sen(x) 1
(o) + ;
1 + 2 cos(x) sen2 (x)
(p) (cos2 (x) + 2 cos(x)) sen(x);
kx
(q) , k 6= 0, ab 6= 0;
a + bx2
(r) asen3 (x) + x, a 6= 0;
log |x|
(s) ;
x
1
(t) .
x log x
2. Primitive, por partes, as funções definidas pelas expressões analı́ticas seguintes :

(a) arc tg(x);


30 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

(b) x cos(x);
(c) (x2 + x + 1) ex ;
(d) (x2 + 1) cos(x);
x
(e) ;
cos2 (x)
log |x|
(f) .
x2
3. Primitive, por substituição, usando em cada caso a substituição indicada, as funções
definidas por :
x3 √
(a) √ ( x − 1 = t);
x−1
x2
(b) √ (x = 2 sen(t));
4 − x2
r µr ¶
1 x+2 x+2
(c) =t ;
x+4 x+4 x+4
1
(d) (ex = t);
e + e−x
x

1 ³x´
(e) (tg = t).
sen(x) + cos(x) 2
4. Determine as primitivas das funções racionais definidas pelas expressões analı́ticas
seguintes :
x5
(a) ;
2x + 1
x2 + 1
(b) ;
12 + 3x2
x+2
(c) 2
;
3x − 12x + 12
1
(d) ;
x2 − 9
2x
(e) ;
(x + 2)(x − 3)
x3 + x2 + x + 3
(f) ;
x4 + 2x2 − 3
x4
(g) ;
2x3 − 4x2 + 8x − 16
3x
(h) 2
;
−x + x + 6
1.6 Exercı́cios 31

t+1
(i) ;
t4 + t2
2x3
(j) .
(x2 + 1)2
5. Determine a primitiva da função x → x2 ex que toma o valor 1 para x = 0.
3 5π
6. Determine a primitiva da função x → que toma o valor para x = 0.
9x2 + 6x + 2 4
3
7. Determine a primitiva da função x → (cos(x)) 5 sen3 (x) + x2 ex que toma o valor 7
para x = 0.
8
8. Determine a função f tal que f ”(x) = , f ′ (1) = −1 e lim f (x) = 1.
(x + 1)3 x→+∞
µ ¶
1
9. (a) Mostre que, com a substituição log x = t , o cálculo de P R(log x) , onde
x
R designa uma função racional do seu argumento, pode fazer-se depender do
cálculo da primitiva de uma função racional em t.
4
(b) Primitive f (x) = 3
.
x[(log x) − 3 log x − 2]
10. Sendo g(x) = cosn (x)R(sen(x)), com n ı́mpar, onde R designa uma função racional
do seu argumento , mostre que a substituição sen(x) = t permite primitivar g através
da primitiva de uma função racional.

11. Primitive as funções definidas pelas expressões analı́ticas seguintes :

(a) x sen(2x − 1);


(b) x arc tg(x);
x
(c) √ ;
1+x
t+1
(d) √ ;
t2 + 2t + 3
(e) (x + 1)ex ;
3x
(f) √ + tg(9x);
x2 + 5
x3 + 1
(g) ;
5x2 − 10x + 50
2
(h) √ ;
9 − x2
ex + e−x
(i) 2x ;
e − 2ex + 1
32 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1
(j) √ ;
x x2 + 4x − 4
(k) arc tg(5x);
1
(l) √ ;
2 + x − x2
1
(m) √ √ ;
x+1+ 4x+1
(n) cos4 (ax) , a 6= 0;
p
(o) x5 3 (1 + x3 )2 ;
1
(p) ;
5 + 4 cos(x)

x − x3 ex + x2
(q) ;
x3
(r) (log x + 1)2 ;
sen(x)
(s) ;
cos(x)(1 + cos2 (x))
3x + 5
(t) ;
2x − 2x2 − 2x + 2
3

x3 (x + 3)
(u) ;
3x3 + 9x2 − 12
(v) (x + 1)3 e2x ;
x3 − 3x − 4
(w) ;
−4x + 2x2 − 16
2x + 1
(x) √ ;
3x + 2
2t − 1
(y) 4 ;
t − 2t + 2t2 − 2t + 1
3

tg(x)
(z) .
1 + cos(x)
12. Mostre por primitivação que:
1
(a) P [(sen(x))n−1 sen((n + 1)x)] = (sen(x))n sen(nx);
n
1
(b) P [(cos x)m cos(nx)] = [cosm (x)sen(nx) + mP [cosm−1 (x) cos((n − 1)x)]].
m+n
13. Estabeleça a seguinte fórmula de recorrência :

(tg(x))n−1
n
P (tg(x)) = − P (tg(x))n−2 , n ≥ 2.
n−1
1.6 Exercı́cios 33

xn
14. Seja fn (x) = √ . Mostre que :
a + bx

2xn a + bx 2na
P fn (x) = − P fn−1 (x).
(2n + 1)b (2n + 1)b
34 1. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
Capı́tulo 2

Funções Reais de Variável Real:


Cálculo Integral

2.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades


Definição 2.1.1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dados n + 2 pontos a = x0 < x1 < x2 < · · · <
xn−1 < xn < xn+1 = b, ao conjunto dos subintervalos da forma [xi , xi+1 ], i = 0, 1, . . . , n,
chama-se partição de [a, b].
NOTAS:
1. A partição é um conjunto de subconjuntos, mais precisamente:
P = {[xi , xi+1 ] : i ∈ N0 , 0 ≤ i ≤ n}.
O nome partição resulta de ∪ni=0 [xi , xi+1 ] = [a, b] e do facto de dados dois quaisquer
elementos de P a sua intersecção ou é vazia ou se reduz a um ponto.
2. A partição P fica bem definida pelo conjunto P = {a = x0 , x1 , x2 , . . . , xn−1 , xn , xn+1 =
b} pelo que podemos identificar a partição P com o conjunto P . É claro que,
pelo modo como definimos a partição, consideramos o conjunto P ordenado, isto é,
xi < xi+1 , i = 0, 1, . . . , n.
Definição 2.1.2 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas partições P1 e P2 , diz-se que P1 é
mais fina que P2 se todos os elementos de P1 estão contidos em elementos de P2 .
NOTA: Tendo em conta a Nota 2, a seguir à definição anterior, se P1 e P2 forem os
conjuntos de pontos que definem P1 e P2 , respectivamente, a Definição 2.1.2 poderia ser
enunciada do seguinte modo: P1 é mais fina que P2 se P2 ⊂ P1 .
Proposição 1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas partições de [a, b], P1 e P2 , existe
uma partição de [a, b], P3 , mais fina que P1 e P2 .
Demonstração: Tendo em conta a Nota 2 a seguir à Definição 2.1.1 e a nota a seguir à
Definição 2.1.2, se P1 e P2 são os conjuntos de pontos que definem P1 e P2 , basta tomar
a partição P3 definida por P3 = P1 ∪ P2 .
36 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Definição 2.1.3 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada e P uma


partição de [a, b]. Chama-se soma inferior de Darboux de f , relativa à partição P a
n
X
sP (f ) = (xi+1 − xi ) inf f (x).
x∈[xi ,xi+1 ]
i=0

Chama-se soma superior de Darboux de f , relativa à partição P a


n
X
SP (f ) = (xi+1 − xi ) sup f (x).
i=0 x∈[xi ,xi+1 ]

NOTAS:
1. As somas superior e inferior estão bem definidas. Como f é limitada em [a, b], f
é limitada em [xi , xi+1 ], isto é, o conjunto {f (x) : x ∈ [xi , xi+1 ]} é limitado e,
portanto, tem ı́nfimo e supremo.

2. É óbvio que sP (f ) ≤ SP (f ). Veremos que esta propriedade se pode generalizar: para


uma função limitada em [a, b], qualquer soma superior é maior ou igual a qualquer
soma inferior.

3. Se f é uma função não negativa em [a, b], dada uma partição P, a soma inferior
de Darboux é igual à soma das áreas dos rectângulos cujos lados têm comprimento
xi+1 − xi e inf f (x) (ver Figura 2.1).
x∈[xi ,xi+1 ]

a x 1 x 2 x 3 x 4 x5 x 6 x 7 x 8 x 9 x 10 b x

Figura 2.1: Soma inferior de Darboux.

Analogamente, a soma superior de Darboux é igual à soma das áreas dos rectângulos
cujos lados têm comprimento xi+1 − xi e sup f (x) (ver Figura 2.2).
x∈[xi ,xi+1 ]
2.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 37

Figura 2.2: Soma superior de Darboux.

Proposição 2 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada, P1 e P2 duas


partições de [a, b], P1 mais fina que P2 . Então: sP2 (f ) ≤ sP1 (f ) ≤ SP1 (f ) ≤ SP2 (f ).

Demonstração: Da Definição 2.1.2, para cada [xi , xi+1 ] ∈ P2 , existem [yj , yj+1 ] ∈ P1 , j =
ki , . . . , pi , tais que ∪pj=k
i
i
[yj , yj+1 ] = [xi , xi+1 ]. Então

inf f (x) ≤ inf f (x), j = ki , . . . , pi ,


x∈[xi ,xi+1 ] x∈[yj ,yj+1 ]

pelo que
pi pi
X X
(yj+1 − yj ) inf f (x) ≥ (yj+1 − yj ) inf f (x) =
x∈[yj ,yj+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
j=ki j=ki
pi
X
= inf f (x) (yj+1 − yj ) = (xi+1 − xi ) inf f (x).
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
j=ki

Somando estas expressões (de i = 0 a i = n) obtém-se sP2 (f ) ≤ sP1 (f ). Analogamente se


obtinha SP1 (f ) ≤ SP2 (f ). A proposição fica demonstrada tendo em conta que sP1 (f ) ≤
SP1 (f ) (ver Nota 2 a seguir à Definição 2.1.3).
Proposição 3 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada, P1 e P2 duas
partições de [a, b]. Então: sP1 (f ) ≤ SP2 (f ) e sP2 (f ) ≤ SP1 (f ).
Demonstração: Pela Proposição 1 existe uma partição P3 mais fina que P1 e P2 . Pela
Proposição 2, sP1 (f ) ≤ sP3 (f ) ≤ SP3 (f ) ≤ SP2 (f ) e sP2 (f ) ≤ sP3 (f ) ≤ SP3 (f ) ≤ SP1 (f ).

NOTA: Resulta desta proposição que se a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R é uma função


limitada, o conjunto das somas superiores é minorado (todas as somas inferiores são
minorantes) e o conjunto das somas inferiores é majorado (todas as somas superiores são
majorantes); estes conjuntos têm, pois, ı́nfimo e supremo, respectivamente.
38 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Definição 2.1.4 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. Ao


ı́nfimo do conjunto das somas superiores de f chama-se integral superior de f em
Rb
[a, b] e representa-se por a f (x) dx. Ao supremo do conjunto das somas inferiores de f
Rb Rb
chama-se integral inferior de f em [a, b] e representa-se por a f (x) dx. Se a f (x) dx =
Rb
a
f (x) dx, diz-se que f é integrável à Riemann em [a, b]; a este número chama-se in-
Rb Rb Rb
tegral de f em [a, b] e representa-se a f (x) dx = a f (x) dx = a f (x) dx.

NOTAS:

1. Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. O integral superior de


f em [a, b] e o integral inferior de f em [a, b] existem (ver nota antes da definição).
No entanto a função pode não ser integrável; consideremos, por exemplo, a função



 1, x ∈ [0, 1] ∩ Q
f (x) =


 0, x ∈ [0, 1] \ Q

Como entre quaisquer dois pontos existem racionais e irracionais, dada


Z uma partição 1
qualquer, P, inf f (x) = 0 e sup f (x) = 1, pelo que f (x) dx = 0 e
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] 0
Z 1
f (x) dx = 1.
0

2. Se f é contı́nua, não negativa e integrável em [a, b], o integral de f é igual à área da


figura limitada pelo gráfico de f e pelas rectas x = a, x = b e y = 0 (eixo dos xx)
(ver Figura 2.3). Para nos convencermos deste facto, basta ter em conta as figuras
2.1 e 2.2 e a definição. O integral é o ı́nfimo do conjunto das somas superiores, que
são todas maiores ou iguais que aquela área (ver Figura 2.2), portanto o integral é
maior ou igual que a área da figura referida. Por outro lado, o integral também é
o supremo do conjunto das somas inferiores, que são todas menores ou iguais que
aquela área (ver Figura 2.1) portanto o integral é menor ou igual que a área da
figura referida. Conclui-se assim que o integral é igual à área da figura.

Rb
Proposição 4 Se a < b e f (x) = c, ∀x ∈ [a, b], então a
f (x) dx = c (b − a)

Demonstração: Qualquer que seja a partição P, sP (f ) = SP (f ) = c (b − a).

Proposição 5 Se a < b e f, g : [a, b] → R são duas funcões integráveis em [a, b] tais que
Rb Rb
f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b], então a f (x) dx ≤ a g(x) dx.
2.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 39

Figura 2.3: O integral é igual à área da figura indicada.

Demonstração: Qualquer que seja a partição P, sP (f ) ≤ sP (g) pelo que, os integrais,


(que, por hipótese, existem e são iguais aos supremos dos conjuntos das somas inferiores)
verificam a desigualdade.

Proposição 6 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. f é integrável


se, e só se, para todo o ε > 0 existe uma partição P tal que SP (f ) − sP (f ) < ε.

Demonstração: Suponhamos que f é integrável e seja ε > 0, qualquer. Visto que o integral
é o supremo do conjunto das somas inferiores, existe uma partição P1 tal que
Z b
sP1 (f ) > f (x) dx − ε/2; (2.1)
a

analogamente, visto que o integral é o ı́nfimo do conjunto das somas superiores, existe
uma partição P2 tal que
Z b
SP2 (f ) < f (x) dx + ε/2. (2.2)
a
Rb
Então, SP2 (f ) − ε/2 < a f (x) dx < sP1 (f ) + ε/2 donde obtemos SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε.
Se tomarmos uma partição P, mais fina que P1 e P2 então, pela Proposição 2, SP (f ) ≤
SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε ≤ sP (f ) + ε.
Reciprocamente, suponhamos que para todo o ε > 0 existe uma partição P tal que
Rb
SP (f ) − sP (f ) < ε, isto é, SP (f ) < sP (f ) + ε. Então, a f (x) dx ≤ SP (f ) < sP (f ) + ε ≤
Rb Rb Rb
a
f (x) dx + ε, pelo que, para todo o ε > 0, 0 ≤ a
f (x) dx − a
f (x) dx ≤ ε, o que só é
Rb Rb
possı́vel se a f (x) dx = a f (x) dx.

Proposição 7 Se a < b e f, g : [a, b] → R são duas funcões integráveis em [a, b] então


Rb Rb Rb
f + g é integrável em [a, b] e a (f + g)(x) dx = a f (x) dx + a g(x) dx.
40 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Demonstração: Visto que, para cada i,

inf f (x) ≤ f (x) ≤ sup f (x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ]


x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

e
inf g(x) ≤ g(x) ≤ sup g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

então

inf f (x)+ inf g(x) ≤ f (x)+g(x) ≤ sup f (x)+ sup g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

pelo que
inf f (x) + inf g(x) ≤ inf (f (x) + g(x)) ≤
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

≤ sup (f (x) + g(x)) ≤ sup f (x) + sup g(x)


x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

Usando estas desigualdades e recorrendo à definição, obtemos, para qualquer partição,

sP (f ) + sP (g) ≤ sP (f + g) ≤ SP (f + g) ≤ SP (f ) + SP (g) (2.3)

Seja ε > 0, qualquer. Pela Proposição 6 (desigualdades 2.1 e 2.2) existem partições
P1 , P2 , P3 e P4 tais que
Z b Z b
ε ε
f (x) dx − ≤ sP1 (f ) ≤ SP2 (f ) ≤ f (x) dx +
a 2 a 2
e Z Z b
b
ε ε
g(x) dx − ≤ sP3 (g) ≤ SP4 (g) ≤ g(x) dx +
a 2 a 2
Se considerarmos uma partição P mais fina que P1 , P2 , P3 e P4 , as últimas desigualdades
continuam válidas, com as Pi substituı́das por P e, adicionando,
Z b Z b Z b Z b
f (x) dx+ g(x) dx−ε ≤ sP (f )+sP (g) ≤ SP (f )+SP (g) ≤ f (x) dx+ g(x) dx+ε
a a a a

Usando agora as desigualdades 2.3, obtemos


Z b Z b Z b Z b
f (x) dx + g(x) dx − ε ≤ sP (f + g) ≤ SP (f + g) ≤ f (x) dx + g(x) dx + ε.
a a a a
Rb Rb
Concluı́mos assim que a f (x) dx + a g(x) dx é o supremo das somas inferiores e o
Rb Rb Rb
ı́nfimo das somas superiores de f + g, isto é, a f (x) dx + a g(x) dx = a (f (x) + g(x)) dx.

Proposição 8 Se a < b, se f : [a, b] → R é integrável em [a, b] e c ∈ R, então c f é


Rb Rb
integrável em [a, b] e a (c f )(x) dx = c a f (x) dx.
2.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 41

Demonstração: Se c = 0, cf ≡ 0 em [a, b] e aplica-se a Proposição 4.


Se c > 0, seja P uma partição de [a, b]. Como, para cada i,

inf (cf (x)) = c inf (f (x)) e sup (cf (x)) = c sup (f (x)),
[xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ]

então sP (cf ) = c sP (f ) e SP (cf ) = c SP (f ). Tomando o supremo das somas inferiores e o


ı́nfimo das somas superiores, obtemos:
Z b Z b Z b Z b Z b
(c f )(x) dx = c f (x) dx = c f (x) dx = c f (x) dx = (c f )(x) dx
a a a a a

Se c = −1, inf (−f (x)) = − sup (f (x)) e sup (−f (x)) = − inf (f (x)), pelo
[xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ]
que sP (−f ) = −SP (f ) e SP (−f ) = −sP (f ); então,
Z b Z b Z b Z b
(−f )(x) dx = − f (x) dx e (−f )(x) dx = − f (x) dx
a a a a

Rb Rb
e destas igualdades concluı́mos que a (−f )(x) dx = − a f (x) dx.
Tendo em conta os casos estudados a proposição fica demonstrada (se c < 0, basta
observar que c = −1 (−c) e aplicar o que se mostrou anteriormente).

Proposição 9 Se a < b, se f : [a, b] → R é integrável em [a, b] e se g difere de f apenas


Rb Rb
num ponto, então g é integrável em [a, b] e a f (x) dx = a g(x) dx.

Demonstração: Seja M > 0 tal que |f (x)| ≤ M ∧ |g(x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b].


Dado ε > 0 qualquer, consideremos uma partição P1 de [a, b] tal que
Z b Z b
ε ε
f (x) dx − ≤ sP1 (f ) ≤ SP1 (f ) ≤ f (x) dx + .
a 2 a 2
ε
Tomemos uma partição P, mais fina que P1 , tal que xi+1 − xi < , i = 0, . . . , n. Como
8M
f e g diferem apenas num ponto, digamos c, as respectivas somas superiores e inferiores
diferem (eventualmente) apenas nas parcelas que contêm c (duas no caso de c ser um dos
xi , uma no caso contrário). Como |f (c) − g(c)| ≤ 2M , as somas superiores e inferiores
diferem, quando muito de ε/2. Então,
Z b Z b
f (x) dx − ε ≤ sP (g) ≤ SP (g) ≤ f (x) dx + ε,
a a

donde deduzimos o resultado.

Corolário 1 Se a < b, se f : [a, b] → R é integrável em [a, b] e se g difere de f apenas


Rb Rb
num número finito de pontos, então g é integrável em [a, b] e a f (x) dx = a g(x) dx.
42 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Demonstração: Se g difere de f em m pontos, p1 , p2 , . . . , pm , basta aplicar a proposição m


vezes: considera-se a função f1 que é igual a f excepto em p1 , onde é igual a g, e aplica-se
a proposição; considera-se a função f2 que é igual a f1 excepto em p2 , onde é igual a g, e
aplica-se a Proposição; assim sucessivamente, até chegarmos a fm , que é igual a g.

Proposição 10 Se a ≤ c < d ≤ b e se f : [a, b] → R é integrável em [a, b], então f é


Rd Rb
integrável em [c, d] e c f (x) dx = a g(x) dx onde



 f (x), se x ∈ [c, d]
g(x) =


 0, se x ∈
/ [c, d]

Demonstração: Dado ε > 0 qualquer, consideremos uma partição P1 de [a, b] tal que
SP1 (f ) − sP1 (f ) < ε/2 (Proposição 6). Se ao conjunto dos pontos que definem P1 acres-
centarmos c e d, obtemos uma partição P, mais fina que P1 , pelo que SP (f )−sP (f ) < ε/2.
Se considerarmos agora a partição P ′ de [c, d], que se obtém de P por considerar
apenas os elementos contidos em [c, d], verifica-se obviamente SP ′ (f ) − sP ′ (f ) < ε/2. Pela
Proposição 6, deduzimos que f é integrável em [c, d].
Falta-nos demonstrar a igualdade dos integrais. Supomos que a < c < d < b. Se
a = c ou d = b, as adaptações (de facto, simplificações) são evidentes. Procedemos,
agora, de modo semelhante ao da demonstração da Proposição 9. Sejam M tal que
|g(x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b] e P2 uma partição de [a, b], mais fina que P, tal que os elementos
de P2 em que c é extremo direito e os elementos de P2 em que d é extremo esquerdo
têm comprimento menor ou igual a ε/(2M ). Se P2′ é a partição de [c, d] que se obtém de
P2 por considerar apenas os elementos contidos em [c, d], sP2′ (f ) e sP2 (g) apenas diferem
(eventualmente) em duas parcelas: as que correspondem ao elemento de P2 em que c é
extremo direito e ao elemento de P2 em que d é extremo esquerdo. O mesmo acontece
em relação a SP2′ (f ) e SP2 (g). Então,

sP2′ (f ) − ε ≤ sP2 (g) ≤ SP2 (g) ≤ SP2′ (f ) + ε


Z d Z b
pelo que concluı́mos que f (x) dx = g(x) dx.
c a
Rb
Proposição 11 Se a < c < b e f : [a, b] → R é integrável em [a, b], então a
f (x) dx =
Rc Rb
a
f (x) dx + c
f (x) dx.

Demonstração: Consideremos as funções


 

 

 f (x), x ∈ [a, c]  0, x ∈ [a, c[
g(x) = e h(x) =

 

 0, x ∈]c, b]  f (x), x ∈ [c, b]
2.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 43

Obviamente, f = g + h. Pelas Proposições 10 e 7:


Z b Z b Z b Z b Z c Z b
f (x) dx = (g + h)(x) dx = g(x) dx + h(x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a a a a c

Definição 2.1.5 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função integrável. Define-se


Z a Z b Z a
f (x) dx = − f (x) dx e também f (x) dx = 0
b a a

Z b Z c Z b
Proposição 12 Quaisquer que sejam a, b, c ∈ R, f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c
sempre que os três integrais existam.

Demonstração: Se a < c < b, trata-se da Proposição 11. Se c < a < b, então, pela
Rb Ra Rb Rc Rb
Proposição 11, c f (x) dx = c f (x) dx + a f (x) dx = − a f (x) dx + a f (x) dx, donde
obtemos o resultado. Os restantes casos resolvem-se do mesmo modo.

Proposição 13 Sejam a, b ∈ R e a < b. Se f, g : [a, b] → R são duas funções integráveis


em [a, b], então f g é integrável em [a, b].

Não demonstraremos esta proposição. A sua demonstração, embora possı́vel a este


nı́vel, seria demasiado longa para os propósitos deste curso.
44 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

2.2 Classes de funções integráveis


Teorema 2.2.1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f é contı́nua em [a, b] então é integrável em
[a, b].

Demonstração: Pelo Teorema de Cantor, f é uniformemente contı́nua em [a, b]. Dado


ε > 0, qualquer, existe θ > 0 tal que ∀x, y ∈ [a, b], |x − y| < θ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε/(b − a).
Se tomarmos uma partição, P, em que todos os seus elementos tenham comprimento
menor que θ, então |f (x) − f (y)| < ε/(b − a), ∀x, y ∈ [xi , xi+1 ], i = 0, . . . , n pelo que
sup f (x) − inf f (x) = max f (x) − min f (x) < ε/(b − a), i = 0, . . . , n.
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
Daqui se conclui que
n
X
SP (f ) − sP (f ) = (xi+1 − xi ) ( sup f (x) − inf f (x)) <
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
i=0

n
X ε ε
< (xi+1 − xi ) = (b − a) = ε.
i=0
b−a b−a
Pela Proposição 6, f é integrável em [a, b].

Teorema 2.2.2 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada. Se f é


contı́nua em [a, b], excepto num número finito de pontos, então é integrável em [a, b].

Demonstração: Suponhamos que f é contı́nua em [a, b] excepto num ponto c ∈]a, b[.
Sejam ε > 0, qualquer e M > 0 tal que |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b]. Então pelo Teorema
2.2.1, f é integrável em [a, c − ε/(12M )] e em [c + ε/(12M ), b] (podemos sempre tomar
ε suficientemente pequeno para nenhum destes intervalos ser vazio ou se reduzir a um
ponto), pelo que, pela Proposição 6, existem partições P1 e P2 de [a, c − ε/(12M )] e
[c + ε/(12M ), b], respectivamente, tais que SP1 (f ) − sP1 (f ) < ε/3 e SP2 (f ) − sP2 (f ) < ε/3.
Se considerarmos a partição P, de [a, b], formada pelos elementos de P1 , por C = [c −
ε/(12M ), c + ε/(12M )] e pelos elementos de P2 , então SP (f ) − sP (f ) < ε (note-se que
sup f (x) − inf f (x) ≤ 2 M e que o comprimento de C é ε/(6M )). Tendo em conta a
x∈C x∈C
Proposição 6, f é integrável em [a, b].
Se f não for contı́nua num dos extremos do intervalo, procede-se do mesmo modo,
com as adaptações evidentes. O mesmo acontece para o caso em que há vários pontos
de descontinuidade. Apenas temos que considerar vários conjuntos “C”, um para cada
ponto de descontinuidade, e adaptar as constantes.

Teorema 2.2.3 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. Se f é


monótona em [a, b], então é integrável em [a, b].

Demonstração: Vamos fazer a demonstração supondo que f é crescente. Para f decres-


cente, as técnicas são as mesmas com as adaptações evidentes.
2.2 Classes de funções integráveis 45

Sejam ε > 0 e M = sup f (x) − inf f (x) = f (b) − f (a). Se M = 0, então f é


x∈[a,b] x∈[a,b]
constante em [a, b], pelo que é integrável. Se M > 0, seja P uma partição de [a, b] tal que
todos os seus elementos têm comprimento menor que ε/M .
Como f é crescente, então inf f (x) = f (xi ) e sup f (x) = f (xi+1 ), pelo que
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

n
X n
X
sP = (xi+1 − xi ) f (xi ) e SP = (xi+1 − xi ) f (xi+1 )
i=0 i=0

donde (note-se que f (xi+1 ) − f (xi ) ≥ 0)


n n
X X ε
SP − s P = (xi+1 − xi ) (f (xi+1 ) − f (xi )) ≤ (f (xi+1 ) − f (xi )) =
i=0 i=0
M

n
ε X ε
= (f (xi+1 ) − f (xi )) = (f (b) − f (a)) = ε.
M i=0 M
Pela Proposição 6, f é integrável em [a, b].

EXEMPLO: A função



 0, se x = 0,
f (x) =

 1 1 1
 , se <x≤ , n∈N
n n+1 n
tem uma infinidade de descontinuidades em [0, 1], mas é integrável, visto ser crescente.
46 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

2.3 Teoremas Fundamentais


Teorema 2.3.1 (Teorema da média)
Sejam a, b ∈ R e a < b. Se f : [a, b] → R é contı́nua, então existe c ∈ [a, b] tal que
Z b
f (x) dx = f (c) (b − a)
a

Demonstração: Como f é contı́nua, sabemos que é integrável e que tem máximo e mı́nimo
em [a, b]: existem x0 ∈ [a, b] e x1 ∈ [a, b] tais que

f (x0 ) = min f (x) ≤ f (x) ≤ max f (x) = f (x1 ), ∀x ∈ [a, b]


x∈[a,b] x∈[a,b]

Pelas Proposições 4 e 5,
Z b Z b Z b
f (x0 ) (b − a) = f (x0 ) dx ≤ f (x) dx ≤ f (x1 ) dx = f (x1 ) (b − a)
a a a

isto é, Z b
f (x) dx
a
f (x0 ) ≤ ≤ f (x1 ).
b−a
Pelo Teorema de Bolzano existe c, entre x0 e x1 , tal que
Z b
f (x) dx
a
f (c) =
b−a
Teorema 2.3.2 (Teorema Fundamental do Cálculo Integral) Z x
Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f : [a, b] → R é contı́nua, então a função F (x) = f (t) dt
a
é diferenciável em [a, b] e F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b], isto é, F é uma primitiva de f
(também conhecida por integral indefinido de f ).

Demonstração: Sejam x ∈ [a, b] (qualquer) e h ∈ R tal que x + h ∈ [a, b]. Então

Z x+h Z x
F (x + h) − F (x) = f (t) dt − f (t) dt
a
Z x a
Z x+h Z Z
x x+h
= f (t) dt + f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt.
a x a x
Z x+h
Pelo Teorema 2.3.1, existe c ∈ [x, x+h] tal que F (x+h)−F (x) = f (t) dt = f (c) h
x
pelo que
F (x + h) − F (x)
F ′ (x) = lim = lim f (c) = f (x)
h→0 h c→x
2.3 Teoremas Fundamentais 47

(note-se que, para cada h, c está entre x e x + h, pelo que, quando h tende para 0, c tende
para x).

NOTA: Do Teorema anterior obtemos, em particular, que toda a função contı́nua em


[a, b] é primitivável em [a, b].

Corolário 1 (Regra de Barrow) Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f : [a, b] → R é contı́nua e


G é uma primitiva de f em [a, b], então
Z b
f (x) dx = G(b) − G(a) = [G(x)]ba
a
Rx
Demonstração: Vimos no Teorema 2.3.2 que a função F (x)R= a f (t) dt é uma primitiva
a
de f . Então G(x) − F (x) = c, ∀x ∈ [a, b]; mas F (a) = a f (t) dt = 0, pelo que c =
G(a) − F (a) = G(a). Por outro lado, c = G(a) = G(b) − F (b) donde se conclui que
Rb
a
f (t) dt = F (b) = G(b) − G(a).

Teorema 2.3.3 (Integração por partes) Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f : [a, b] →


R é contı́nua em [a, b], se F é uma primitiva de f em [a, b] e se g ∈ C 1 ([a, b]) então
Z b Z b
b
f (x) g(x) dx = [F (x) g(x)]a − F (x) g ′ (x) dx
a a

Demonstração: Como o produto de funções contı́nuas é uma função contı́nua, tanto f g


com F g ′ são integráveis em [a, b].
Como (F g)′ (x) = F ′ (x) g(x) + F (x) g ′ (x) = f (x) g(x) + F (x) g ′ (x), pela Regra de
Rb Rb
Barrow, [F (x) g(x)]ba = a f (x) g(x) dx + a F (x) g ′ (x) donde se conclui o resultado pre-
tendido.

Teorema 2.3.4 (Integração por substituição) Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R


uma função contı́nua em [a, b] e φ : [α, β] → [a, b] uma função de classe C 1 tal que
φ(α) = a e φ(β) = b. Então
Z b Z β
f (x) dx = f (φ(t)) φ′ (t) dt
a α

Demonstração: Sejam G : [a, b] → R uma primitiva de f e H : [α, β] → R a função


definida por H(t) = G(φ(t)). Então H ′ (t) = G′ (φ(t)) φ′ (t) = f (φ(t)) φ′ (t), pelo que, pela

Regra de Barrow, α f (φ(t)) φ′ (t) dt = H(β) − H(α) = G(φ(β)) − G(φ(α)) = G(b) − G(a)
Rb
e a f (x) dx = G(b) − G(a).
48 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

2.4 Áreas de figuras planas


1o CASO
Se f é integrável em [a, b] e f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana limitada
pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f (figura 2.3) é dada por
Rb
a
f (x) dx, como vimos atrás.

π
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = , pelo eixo dos xx
4√
Rπ π 2
e pelo gráfico de cos(x) é dada por: 04 cos(x) dx = sen( ) − sen(0) = .
4 2
2o CASO
Se f é integrável em [a, b] e f (x) ≤ 0, ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana limitada
pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f (figura 2.4) é dada por
Rb
− a f (x) dx. De facto, se considerarmos a simetria em relação ao eixo dos xx, obtemos
uma figura com a mesma área (a simetria em relação a uma recta mantém as áreas
invariantes), que é limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de
−f (figura 2.5). Visto que a função −f é não negativa em [a, b], estamos reduzidos ao 1o
Rb Rb
caso e a área é dada por a −f (x) dx = − a f (x) dx.
π
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = , x = π, pelo eixo dos xx
2
Rπ π π
e pelo gráfico de cos(x) é dada por: − π cos(x) dx = −(sen(π) − sen( )) = sen( ) = 1.
2 2 2

Figura 2.4
2.4 Áreas de figuras planas 49

Figura 2.5

NOTAS:
1. Não esquecer que a área de uma figura não degenerada (isto é, não reduzida a um
ponto ou segmento de recta ou curva, etc.) é um número positivo.
Rb
2. Em ambos os casos, 1 e 2, a área é dada por a |f (x)| dx.

3o CASO

Figura 2.6

Se f é integrável em [a, b], a área da figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b,


Rb
pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f (figura 2.4) é dada por a |f (x)| dx (note-se que
os casos anteriores são casos particulares deste). De facto, se f muda de sinal em [a, b]
(figura 2.6), consideramos os subintervalos em que f é positiva (nestes subintervalos a área
é dada pelo integral de f , isto é de |f |) e os subintervalos em que f é negativa (nestes
subintervalos a área é dada pelo integral de −f , isto é de |f |); a área total, que é a soma
Rb
de todas estas áreas é, pois, dada por a |f (x)| dx (Proposição 11).
50 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = 2 π, pelo eixo dos xx
R 2π R π/2 R 3π/2
e pelo gráfico de cos(x) é dada por: 0 | cos(x)| dx = 0 cos(x) dx + π/2 − cos(x) dx +
R 2π
3π/2
cos(x) dx = sen(π/2) − sen(0) + (−sen(3π/2) + sen(π/2)) + sen(2π) − sen(3π/2) =
1 − 0 − (−1) + 1 + 0 − (−1) = 4.

4o CASO

f1

f2

Figura 2.7

Se f1 e f2 são integráveis em [a, b] e f1 (x) ≥ f2 (x), ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana
limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo gráfico de f1 e pelo gráfico de f2 (figura 2.7) é dada
Rb Rb
por a (f1 (x) − f2 (x)) dx (= a |f1 (x) − f2 (x)| dx visto que f1 (x) − f2 (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]).
Vamos justificar este resultado. Seja k ∈ R tal que f2 (x) + k ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]; então
f1 (x) + k ≥ f2 (x) + k ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] e a área pretendida é igual à área da figura plana
limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo gráfico de f1 +k e pelo gráfico de f2 +k (trata-se de
uma translação da figura anterior). Mas a figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b,
pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f1 + k contém a figura plana limitada pelas rectas x = a,
x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de Rf2 + k. ARárea pretendida R b é, pois, a diferença
b b
entre as áreas destas duas figuras, isto é, a f1 (x) − a f2 (x) dx = a (f1 (x) − f2 (x)) dx.

EXEMPLO: A área da figura plana limitada R 1 pelas rectas x = 0, x = 1, pelo gráfico de


f (x) = e e pelo gráfico de cos(x) é dada por 0 (e −cos(x)) dx = e1 −sen(1)−e0 +sen(0) =
x x

e − sen(1) − 1.

5o CASO

Se f1 e f2 são integráveis em [a, b], a área da figura plana limitada pelas rectas x = a,
Rb
x = b, pelo gráfico de f1 e pelo gráfico de f2 (figura 2.7) é dada por a |f1 (x) − f2 (x)| dx.
Raciocinamos de modo idêntico ao do 3o caso. Se f1 − f2 muda de sinal em [a, b] (figura
2.8), consideramos os subintervalos em que f1 ≥ f2 (nestes subintervalos a área é dada
pelo integral de f1 − f2 , isto é de |f1 − f2 |) e os subintervalos em que f1 < f2 (nestes
2.4 Áreas de figuras planas 51

Figura 2.8

subintervalos a área é dada pelo integral de f2 − f1 , isto é de |f2 − f1 |); a área total, que
Rb
é a soma de todas estas áreas é, pois, dada por a |f1 (x) − f2 (x)| dx (Proposição 11).

EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = π, pelo gráfico


Rπ R π/4
de cos(x) e pelo
Rπ gráfico de sen(x) é dada por: 0
|sen(x) − cos(x)| dx = 0
(cos(x) −
sen(x)) dx + π/4 (sen(x) − cos(x)) dx = sen(π/4) + cos(π/4) − sen(0) − cos(0) − cos(π) −
√ √ √ √ √
sen(π) + cos(π/4) + sen(π/4) = 2/2 + 2/2 − 0 − 1 − (−1) − 0 + 2/2 + 2/2 = 2 2.

6o CASO

Figura 2.9

Se f1 e f2 são integráveis, a área da figura plana limitada pelos gráficos de f1 e f2


(figura 2.9) é calculada do seguinte modo: em primeiro lugar calculamos os pontos de
intersecção dos gráficos; consideramos as abcissas destes pontos, isto é, os y ∈ R tais
que f (y) = f2 (y); sejam a o menor dos y e b o maior; a área pretendida é dada por
Rb 1
a
|f1 (x) − f2 (x)| dx (trata-se do 5o caso, porque as rectas x = a e x = b têm, cada uma,
um ponto comum com a figura). Note-se que a existência de a e b é garantida pelo facto
de a figura ser limitada.
52 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

EXEMPLO:
R1 A área da figuraR plana limitada pelos gráficos das funções x2 e 2 − x2 é dada
1
por −1 ((2 − x2 ) − x2 ) dx = −1 (2 − 2x2 ) dx = 2 · 1 − 2 · 1/3 − (2 · (−1) − 2 · (−1)/3) =
4 − 4/3 = 8/3.
2.5 Integrais impróprios 53

2.5 Integrais impróprios


Na definição de integral de Riemann de uma função f num intervalo I, exige-se que
o intervalo seja fechado limitado e que f seja limitada nesse intervalo. Vamos estudar
generalizações da noção de integral quando não se verifica alguma destas condições.
Para motivar a via que adoptámos nesta generalização do conceito de integral, supo-
nhamos que, sendo a, b ∈ R e a < b, a função f é integrável em qualquer intervalo [a, x]
com x ∈ [a, b[. Nestas condições, se a função f for limitada em [a, b], será integrável em
[a, b] e tem-se
Z b Z x
f (t) dt = lim− f (t) dt,
a x→b a
devido à continuidade do integral indefinido.
Pode, no entanto, acontecer que, não sendo f limitada em [a, b], o integral indefinido
Z x
f (t) dt
a

tenha limite finito quando x → b− . Então podemos fazer por definição


Z b Z x
f (t) dt = lim− f (t) dt.
a x→b a

De modo análogo, se g for uma função integrável no intervalo [a, x], ∀x > a, e se o
integral indefinido Z x
g(t) dt
a
tem limite finito quando x → +∞, poderemos escrever
Z +∞ Z x
g(t) dt = lim g(t) dt.
a x→+∞ a

A. Integrais impróprios de 1a espécie: definição e critérios de


convergência

Definição 2.5.1 Sejam a ∈ R e f uma função definida no intervalo [a, +∞[. Suponha-
mos que f é integrável em qualquer intervalo [a, x] com x > a. Seja, para cada x > a,
Z x
F (x) = f (t) dt.
a

Chama-se integral impróprio de 1a espécie de f em [a, +∞[ a


Z x
lim f (t) dt
x→+∞ a
54 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

e designa-se por Z +∞
f (t) dt.
a
a) Se F (x) tem limite finito quando x → +∞, diz-se que f Zé integrável (em sentido
+∞
impróprio) no intervalo [a, +∞[ ou que o integral impróprio f (t) dt existe, tem
a
sentido ou é convergente.
b) Se F (x) não tem limite ou tem limite infinito quando xZ→ +∞, diz-se que f não
+∞
é integrável no intervalo [a, +∞[ ou que o integral impróprio f (t) dt não existe ou
a
é divergente.
Z +∞
EXEMPLO 1: Consideremos o integral cos(x) dx. Este integral é divergente porque:
0
Z x
lim f (t) dt = lim [ sen(t) ]x0 = lim sen(x)
x→+∞ 0 x→+∞ x→+∞

e este limite não existe.


Z +∞
1
EXEMPLO 2: Consideremos o integral dx. É um integral impróprio de 1a espécie.
1 x
Como Z +∞ x Z
1 1
dx = lim dt = lim [ log(t) ]x1 = lim log(x) = +∞
1 x x→+∞ 1 t x→+∞ x→+∞

o integral impróprio é divergente.


Z +∞
EXEMPLO 3: O integral e−x dx é um integral impróprio de 1a espécie convergente:
0
Z +∞ Z x
−x
£ ¤x
e dx = lim e−t dt = lim −e−t 0
= lim (−e−x + 1) = 1.
0 x→+∞ 0 x→+∞ x→+∞

Z +∞
Nota: Se o integral f (x) dx é convergente então
a
a) o limite de f quando x → +∞, se existir, é igual a zero;
b) qualquer que seja h > 0, o integral de f no intervalo [x, x + h] (ou o valor médio de f
no mesmo intervalo), tende para zero quando x → +∞.
Z +∞ Z +∞
Teorema 2.5.1 Se f e g são tais que os integrais f (t) dt e g(t) dt são con-
Z +∞ a a

vergentes e se α, β ∈ R, então o integral (α f + β g)(t) dt é convergente e


a
Z +∞ Z +∞ Z +∞
(α f + β g)(t) dt = α f (t) dt + β g(t) dt.
a a a
2.5 Integrais impróprios 55

Z +∞
Teorema 2.5.2 Se o integral f (t) dt é convergente e se b > a então o integral
Z +∞ a

f (t) dt é convergente e
b
Z +∞ Z b Z +∞
f (t) dt = f (t) dt + f (t) dt.
a a b

Nem sempre nos interessa saber o valor do integral impróprio e outras vezes não é
possı́vel calculá-lo porque
Z a função não é elementarmente primitivável (considere-se, por
+∞
2
exemplo, o integral e−x dx). Precisamos então de critérios que nos permitam saber
0
se um determinado integral impróprio é ou não convergente. Esses critérios chamam-se
critérios de convergência.
Z +∞
Teorema 2.5.3 O integral impróprio de 1 espécie
a
f (t) dt, com f (t) ≥ 0, ∀t ≥ a,
a
é convergente se, e só se, existe uma constante M tal que
Z x
f (t) dt ≤ M, ∀x > a.
a

O valor do integral impróprio não excede M .


Z x
Demonstração: Seja F (x) = f (t) dt. Como f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a, F (x) ≥ 0, ∀x ≥ a. Por
Z +∞ a

definição, o integral f (t) dt é convergente se existir e for finito o limite lim F (x).
a x→+∞
A função F é crescente, pois se a ≤ x ≤ y vem
Z y Z x Z y
F (y) − F (x) = f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt ≥ 0
a a x

porque f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a.
Suponhamos que F é limitada superiormente, isto é, existe uma constante M tal que
F (x) ≤ M , ∀x ≥ a. Como F é crescente, existe e é finito o limite lim F (x) 1 . Além
x→+∞
disso, lim F (x) ≤ M .
x→+∞
Se F não é limitada superiormente então para cada M existe sempreZum x tal que
+∞
F (x) > M . Como F é crescente lim F (x) = +∞, o que significa que f (t) dt é
x→+∞ a
divergente.
1
Toda a função real f limitada e monótona numa parte não majorada X de R tem limite quando
x → +∞ e lim f (x) = sup f (x) ou lim f (x) = inf f (x) conforme f é crescente ou decrescente.
x→+∞ x∈X x→+∞ x∈X
56 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z +∞ Z +∞
Teorema 2.5.4 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a
a b
espécie com funções integrandas não negativas e suponhamos que existe c ∈ R tal que
f (x) ≤ g(x), ∀x > c.
Z +∞ Z +∞
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a b

Demonstração: Seja d = max {a, b, c}. Consideremos os integrais


Z +∞ Z +∞
f (x) dx e g(x) dx.
d d

Sendo x > d temos


Z x Z x
0≤ f (t) dt ≤ g(t) dt. (2.4)
d d
Z +∞
Se o integral g(t) dt é convergente, pelo Teorema 2.5.3 existe M1 tal que
d
Z x
g(t) dt ≤ M1 , ∀x > d.
d
Z x Z x Z +∞
Mas por (2.4), f (t) dt ≤ g(t) dt, ∀x > d, pelo que f (t) dt é convergente,
d d d
usando,Z novamente o Teorema 2.5.3. Z x
+∞
Se f (t) dt é divergente então, pelo Teorema 2.5.3, f (t) dt não é limitada, o
d Z x d Z +∞
que implica, por (2.4), que g(t) dt também não é limitada e, portanto, g(x) dx
d d
é divergente.
Z +∞ Z +∞
Corolário 1 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a espécie
a b
com funções integrandas não negativas e suponhamos que existem c, k ∈ R tais que f (x) ≤
k g(x), ∀x > c.
Z +∞ Z +∞
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a b
2.5 Integrais impróprios 57

Demonstração: Basta notar que


Z x Z x Z x
lim k g(t) dt = lim k g(t) dt = k lim g(t) dt
x→+∞ c x→+∞ c x→+∞ c
Z +∞ Z +∞
pelo que k g(x) dx é convergente se, e só se, g(x) dx é convergente; termina-se
c c
aplicando o Teorema.
Z +∞
1
EXEMPLO 1: Consideremos o integral dx. É um integral impróprio de 1a

3
1 + x 3
0
espécie e a função integranda é positiva no intervalo [0, +∞[. Como
√ 1 1
(1 + x)3 ≥ 1 + x3 , ∀x ≥ 0 ⇒ 1 + x ≥
3
1 + x3 , ∀x ≥ 0 ⇒ 0 < ≤ √ , ∀x ≥ 0
1+x 3
1 + x3
e
Z +∞ Z x
1 1
dx = lim dt = lim [ log(1 + t) ]x0 = lim log(1 + x) = +∞,
0 1+x x→+∞ 0 1 + t x→+∞ x→+∞

Z +∞
1
isto é, o integral dx é divergente, concluı́mos, pelo Teorema 2.5.4, que o
0 1+x
integral em estudo é divergente.

Como se pode ver pelo exemplo anterior, é útil conhecer a natureza de alguns integrais
impróprios de modo a facilitar o uso dos critérios de convergência. Um exemplo de tais
integrais é o seguinte:

EXEMPLO 2: Estudemos o integral impróprio de 1a espécie


Z +∞
1
dx
a xα
sendo a > 0 e α ∈ R.
Se α = 1 Z x
1
dt = [ log(t) ]xa = log(x) − log(a)
a t
e se α 6= 1 Z · ¸x
x
1 t−α+1 x−α+1 a−α+1
dt = = −
a tα −α + 1 a −α + 1 −α + 1
tendo-se 


Z x
1  +∞, se α ≤ 1
lim dt =
x→+∞ a tα 
 a−α+1
 − , se α > 1
−α + 1
58 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Então o integral converge se, e só se, α > 1.


Z +∞
1
EXEMPLO 3: Consideremos o integral √ dx. É um integral impróprio de 1a
1+x 3
0
espécie e a função integranda é positiva no intervalo [0, +∞[. Como
√ √ 1 1
1 + x3 > x3 , ∀x > 0 ⇒ 1 + x3 > x3 , ∀x > 0 ⇒ 0 < √ < √ , ∀x > 0
1 + x3 x3
Z +∞
1
e √ dx é convergente, podemos concluir, pelo Teorema 2.5.4, que o integral em
1 x3
estudo é convergente.
Z +∞ Z +∞
Teorema 2.5.5 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a
a b
espécie com funções integrandas positivas e suponhamos que o limite

f (x)
lim
x→+∞ g(x)

existe finito e diferente de zero. Então os integrais são da mesma natureza, isto é, são
ambos convergentes ou ambos divergentes.

f (x)
Demonstração: Seja lim = L, L ∈ R+ . Por definição,
x→+∞ g(x)
¯ ¯
¯ f (x) ¯
∀δ > 0 ∃M > 0, x ≥ M ⇒ ¯¯ − L¯¯ < δ.
g(x)

L
Seja δ = . Então existe M > 0 tal que
2
¯ ¯
¯ f (x) ¯ L
¯ g(x) − L¯ < 2 , ∀x ≥ M,
¯ ¯

ou seja, ∀x ≥ M ,
L f (x) L
−< −L<
2 g(x) 2
L f (x) 3L
⇔ < <
2 g(x) 2
L 3L
⇔ g(x) < f (x) < g(x).
2 2
Pelo Teorema 2.5.1 e pelo Corolário do Teorema 2.5.4 temos o resultado pretendido.
2.5 Integrais impróprios 59

Z +∞ Z +∞
Teorema 2.5.6 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a
a b
espécie com funções integrandas positivas. Se
f (x)
lim = 0,
x→+∞ g(x)

então
Z +∞ Z +∞
a) se g(x) dx é convergente, f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) se f (x) dx é divergente, g(x) dx é divergente.
a b

Se
f (x)
lim = +∞,
x→+∞ g(x)

então
Z +∞ Z +∞
a) se g(x) dx é divergente, f (x) dx é divergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) se f (x) dx é convergente, g(x) dx é convergente.
a b

Demonstração:
¯ ¯
f (x) ¯ f (x) ¯
lim = 0 ⇔ ∀δ > 0 ∃M > 0 x ≥ M ⇒ ¯
¯ ¯ < δ.
x→+∞ g(x) g(x) ¯
Mas como as funções são ambas positivas,
¯ ¯
¯ f (x) ¯ f (x)
¯ g(x) ¯ < δ ⇔ g(x) < δ ⇔ f (x) < δg(x).
¯ ¯

O resultado é consequência do Corolário do Teorema 2.5.4.


Z +∞
x+1
EXEMPLO 1: O integral 4
dx é um integral impróprio de 1a espécie
1 3x − x + 2 Z
+∞
1
(note-se que 3x4 − x + 2 > 0, ∀x ≥ 1). Como dx é convergente e
1 x3
x+1
3x4 − x + 2 = lim x4 + x3 1
lim = ,
x→+∞ 1 4
x→+∞ 3x − x + 2 3
x 3

pelo Teorema 2.5.5 podemos concluir que o integral dado é convergente.


60 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z +∞ Z +∞
α −x 1
EXEMPLO 2: Consideremos os integrais x e dx, α ∈ R, e dx. São
1 1 x2
integrais impróprios de 1a espécie sendo o segundo convergente. Como

xα e−x xα+2
lim = lim = 0, ∀α ∈ R,
x→+∞ 1 x→+∞ ex
x2
Z +∞
o integral xα e−x dx é convergente.
1
Z +∞
2
EXEMPLO 3: O integral e−x dx é um integral impróprio de 1a espécie. Como
0
1 Z +∞
ex2 x2 1
lim = lim x2 = 0 e dx é convergente, podemos concluir que o integral
x→+∞ 1 x→+∞ e 1 x2
x2
em estudo é convergente.
Z +∞
Teorema 2.5.7 Se o integral |f (x)| dx é convergente então o mesmo acontece ao
Z +∞ a

integral f (x) dx e verifica-se a desigualdade:


a
¯Z +∞
¯ Z +∞
¯ ¯
¯
¯ f (x) dx¯¯ ≤ |f (x)| dx.
a a

Demonstração: 0 ≤ |f (x)| − f (x) ≤ 2|f (x)|, ∀x ≥ a. Seja g(x) = |f (x)| − f (x). Visto que
Z +∞ Z +∞
o integral |f (x)| dx é convergente, o mesmo acontece ao integral 2 |f (x)| dx e,
a Z +∞ Z +∞ a
pelo Teorema 2.5.4, também converge o integral g(x) dx = (|f (x)| − f (x)) dx.
Z +∞ a a

Como f (x) = |f (x)| − g(x) o integral f (x) dx é convergente (Teorema 2.5.1).


a
Da desigualdade −|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|, ∀x, deduzimos
Z +∞ Z +∞ Z +∞
− |f (x)| dx ≤ f (x) dx ≤ |f (x)| dx,
a a a

ou seja, ¯Z ¯ Z
¯ +∞ ¯ +∞
¯
¯ f (x) dx¯¯ ≤ |f (x)| dx.
a a
2.5 Integrais impróprios 61

Z +∞
Definição 2.5.2 Diz-se que o integral f (x) dx é absolutamente convergente se
Z +∞ a Z +∞
o integral |f (x)| dx é convergente. Diz-se que o integral f (x) dx é simples-
a Z +∞ a

mente convergente se for convergente e |f (x)| dx divergente.


a
EXEMPLO: A função integranda no integral impróprio de 1a espécie
Z +∞
sen(x)
dx
1 x2
não é sempre positiva. Mas ¯ ¯
¯ sen(x) ¯ 1
¯ x2 ¯ ≤ x2 , ∀x ≥ 1
¯ ¯
Z +∞
1
e o integral dx é convergente. Pelo Teorema 2.5.4 o integral
1 x2
Z +∞ ¯ ¯
¯ sen(x) ¯
¯ x2 ¯ dx
¯ ¯
1

é convergente. Pelo Teorema 2.5.7 o integral em estudo é convergente e diz-se absoluta-


mente convergente.
Definição 2.5.3 Sejam a ∈ R e f uma função definida no intervalo I =] − ∞, a]. Supo-
nhamos que f é integrável em qualquer intervalo [x, a] com x < a. Seja
Z a
G(x) = f (t) dt.
x

a) Se G(x) tem limite finito quando x → −∞, diz-se Z a que f é integrável (em sentido
impróprio) no intervalo I ou que o integral impróprio f (t) dt existe, tem sentido ou
−∞
é convergente.
b) Se G(x) não tem limite ou tem limite infinito quando Z ax → −∞, diz-se que f
não é integrável no intervalo I ou que o integral impróprio f (t) dt não existe ou é
−∞
divergente.
A estes integrais também se dá o nome de integrais impróprios de 1a espécie.
É óbvio que o estudo dos integrais impróprios com intervalo de integração ] − ∞, a]
é idêntico ao dos integrais sobre intervalos do tipo [a, +∞[. De resto, qualquer
Z integral
+∞
daquela forma pode reduzir-se a um desta última: basta efectuar no integral f (x) dx
a
a substituição x = −t para se concluir que os integrais
Z a Z +∞
f (x) dx e f (−x) dx
−∞ −a

são ambos convergentes ou ambos divergentes e, na primeira hipótese, são iguais.


62 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Definição 2.5.4 Seja f : R → R uma função integrável em qualquer intervalo limitado.


Diz-se que o integral de f em R é convergente se existe a ∈ R tal que os dois integrais
Z a Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ a

são convergentes.

É evidente que em tal hipótese também convergem os integrais


Z b Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ b

qualquer que seja b ∈ R e verificar-se-ão as igualdades:


Z b Z +∞
f (x) dx + f (x) dx
Z−∞
a Zb
b Z a Z +∞
= f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx
Z−∞
a Za
+∞
b a

= f (x) dx + f (x) dx
−∞ a

Este facto legitima que, em caso de convergência, o integral seja definido pela ex-
pressão: Z +∞ Z a Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
−∞ −∞ a

com a ∈ R arbitrário. A este integral também se chama integral impróprio de 1a


espécie.
Z +∞ Z 0 Z +∞
−ax −ax
EXEMPLO 1: Sendo a > 0, e dx = e dx + e−ax dx. Como
−∞ −∞ 0
Z x · ¸x µ ¶
−at 1 −at 1 −ax 1 1
lim e dt = lim − e = lim − e + =
x→+∞ 0 x→+∞ a 0
x→+∞ a a a
e Z · ¸0 µ ¶
0
−at 1 −at 1 1 −ax
lim e dt = lim − e = lim − + e = +∞
x→−∞ x x→−∞ a x
x→−∞ a a
o integral dado é divergente.

EXEMPLO 2: Seja a > 0.


Z +∞ Z 0 Z +∞ Z 0 Z +∞
−a|x| −a|x| −a|x| ax
e dx = e dx + e dx = e dx + e−ax dx
−∞ −∞ 0 −∞ 0
2.5 Integrais impróprios 63

Como
Z x Z 0 · ¸0 µ ¶
−at 1 at 1 at 1 1 ax 1
lim e dt = e lim e dt = lim e = lim − e =
x→+∞ 0 a x→−∞ x x→−∞ a x
x→−∞ a a a

o integral considerado é convergente e


Z +∞
2
e−a|x| dx = .
−∞ a
Z −2
1
EXEMPLO 3: √ dx é um integral impróprio de 1a espécie. Consideremos o
x 2 − 1
Z −2 µ −∞ ¶
1
integral − dx, que sabemos ser divergente. Como
−∞ x
1

x2 − 1 −x
lim = lim √ =1
x→−∞ 1 x→−∞ x 2−1

x
o integral dado também é divergente.

EXEMPLO 4: Consideremos o integral impróprio de 1a espécie


Z +∞
x−1
4 2
dx.
−∞ 2x + 5x + 3

Como o integral se pode escrever


Z 1 µ ¶ Z +∞
x−1 x−1
− − 4 2
dx + dx,
−∞ 2x + 5x + 3 1 2x + 5x2 + 3
4

a
temos dois integrais
Z −1 µ ¶impróprios de 1 espécie com funções integrandas não negativas. O
1
integral − 3 dx é convergente e
−∞ x
x−1
− x4 − x3 1
lim 2x4 + 5x2 + 3 = lim = ,
x→−∞ 1 4 2
x→−∞ 2x + 5x + 3 2
− 3
x
Z 1
x−1
portanto, o integral dx é convergente.
−∞ + 5x2 + 32x4
Z +∞
x−1
De modo análogo se conclui que o integral dx é convergente. Da
1 2x + 5x2 + 3
4
convergência dos dois integrais conclui-se a convergência do integral dado.
64 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 0
x
EXEMPLO 5: Consideremos o integral dx. A função integranda é
−∞ 1 + x2
sen2 (x)
negativa ou nula no intervalo de integração, tendo-se 1 + x2 sen2 (x) 6= 0, ∀x ∈ ] − ∞, 0].

0 ≤ sen2 (x) ≤ 1 ⇔ 0 ≤ x2 sen2 (x) ≤ x2

⇔ 1 ≤ 1 + x2 sen2 (x) ≤ 1 + x2
1 1
⇔1≥ ≥
1 + x2 sen2 (x) 1 + x2
−x −x
⇔ −x ≥ 2 2

1 + x sen (x) 1 + x2
Z 0 Z −1
−x −1
Estudemos o integral dx. Este integral é divergente porque dx é
−∞ 1 + x2 −∞ x
divergente e
−x
2 x2
lim 1 + x = lim =1
x→−∞ −1 x→−∞ 1 + x2
x
Dada a última desigualdade podemos concluir que o integral em estudo é divergente.
Z +∞
Nota: Seja f integrável em qualquer intervalo limitado. Diz-se que f (x) dx é
−∞
convergente em valor principal se existe (em R) o limite quando x → +∞ da função
Z x
F(x) = f (t) dt.
−x

É a este limite, se existir, que se chama


Z +∞ Z +∞ valor principal de Cauchy do integral
f (x) dx, e que se designa por vp f (x) dx.
−∞ −∞
Se o integral for convergente teremos
Z +∞ Z 0 Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
−∞ Z −∞ Z x 0
0
= lim f (t) dt + lim f (t) dt
x→−∞ −x x→+∞ 0
Z x
= lim f (t) dt
x→+∞ −x
Z +∞
= vp f (x) dx.
−∞
Portanto, se o integral converge então é convergente em valor principal, sendo este
valor igual ao integral. Mas a existência do valor principal de Cauchy não implica que o
2.5 Integrais impróprios 65

integral seja convergente. Por exemplo:


Z +∞
1 + x3
vp dx = π
−∞ 1 + x2
Z +∞
1 + x3
e o integral dx é divergente.
−∞ 1 + x2

B. Integrais impróprios de 2a espécie: definição e critérios de


convergência

Definição 2.5.5 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a, b−ε],
ε > 0, mas
Z não é integrável em [a, b]. Fica assim definida uma função F : [a, b[→ R,
x
F (x) = f (t) dt.
a Z b
Ao integral f (x) dx chama-se integral impróprio de 2a espécie. Se existir
a
finito o limite Z x
lim− f (t) dt
x→b a

diz-se que o integral impróprio é convergente e escreve-se


Z b Z x
f (x) dx = lim− f (t) dt.
a x→b a

Se o limite não existir ou não for finito diz-se que o integral impróprio de 2a espécie
é divergente.

Tal como no caso dos integrais impróprios de 1a espécie, é útil o conhecimento da


natureza de alguns integrais, como por exemplo:
Z b
1
EXEMPLO: α
dx, α ∈ R. Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann, mas
a (b − x)
se α > 0 a função integranda tem limite infinito quando x tende para b e o integral só
terá sentido se existir e for finito o limite
Z x
1
lim− α
dt.
x→b a (b − t)

Se α = 1 Z x
1
dt = [ − log(b − t) ]xa = − log(b − x) + log(b − a)
a b−t
66 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

e se α 6= 1
Z x · ¸x
1 (b − t)−α+1 (b − x)−α+1 (b − a)−α+1
dt = − =− +
a (b − t)α −α + 1 a −α + 1 −α + 1

tendo-se 
Z x

 +∞, se α ≥ 1
1
lim− dx = −α+1
x→b a (b − t)α  (b − a)

, se α < 1
−α + 1
Então o integral converge se, e só se, α < 1.

Definição 2.5.6 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a+ε, b],
ε > 0, mas não é integrável em [a, b]. Fica assim definida uma função F : ]a, b] → R,
Z b
F (x) = f (t) dt.
x Z b
Ao integral f (x) dx chama-se integral impróprio de 2a espécie. Se existir
a
finito o limite
Z b
lim+ f (t) dt
x→a x

diz-se que o integral impróprio é convergente e escreve-se


Z b Z b
f (x) dx = lim+ f (t) dt.
a x→a x

Se o limite não existir ou não for finito diz-se que o integral impróprio de 2a espécie
é divergente.
Z b
1
EXEMPLO: O integral α
dx, α ∈ R, é um integral impróprio de 2a espécie se,
a (x − a)
e só se, α > 0. Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann. O integral só terá sentido
se existir e for finito o limite Z b
1
lim+ α
dt.
x→a x (t − a)

Se α = 1 Z b
1
dt = [ log(t − a) ]bx = log(b − a) − log(x − a)
x t−a
e se α 6= 1
Z b · ¸b
1 (t − a)−α+1 (b − a)−α+1 (x − a)−α+1
dt = = −
x (t − a)α −α + 1 x −α + 1 −α + 1
2.5 Integrais impróprios 67

tendo-se 
Z x

 +∞, se α ≥ 1
1
lim+ dx = −α+1
 (b − a)
α
x→a a (t − a) 
, se α < 1
−α + 1
Então o integral converge se, e só se, α < 1.

Definição 2.5.7 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a +


ε1 , b − ε2 ], ε1 , ε2 > 0, mas não é integrável em [a, b − ε2 ] nem em [a + ε1 , b]. Define-se
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, a < c < b.
a a c

Este integral é também um integral impróprio de 2a espécie. O integral do primeiro


membro é convergente se, e só se, os dois integrais do segundo membro forem convergentes.
Se algum dos integrais do segundo membro for divergente, então o integral do primeiro
membro é divergente.
Z 1
x
EXEMPLO: O integral √
dx é um integral impróprio
3
de 2a espécie nos dois
−1 1 − x2
limites de integração. Temos de estudar os dois integrais
Z 0 Z 1
x x

3
dx e √
3
dx.
−1 1 − x2 0 1 − x2
Z 0 · ¸0 µ ¶
t 3 2 23 3 3 2 3
lim + √ dt = lim + − (1 − t ) = lim + − + (1 − x2 ) 3 =−
x→−1 x
3
1 − t2 x→−1 4 x x→−1 4 4 4

Z x · ¸x µ ¶
t 3 2 23 3 2 32 3 3
lim− √ dt = lim− − (1 − t ) = lim− − (1 − x ) + =
x→1 0
3
1 − t2 x→1 4 0 x→1 4 4 4
Z 1
x
Portanto, o integral dado é convergente e √
3
dx = 0.
−1 1 − x2

Definição 2.5.8 Se c é um ponto interior do intervalo [a, b] e f é uma função integrável


em qualquer intervalo [a, c − ε1 ], ε1 > 0, e [c + ε2 , b], ε2 > 0, mas não é integrável em
[a, b], define-se o integral impróprio de 2a espécie
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

O integral do primeiro membro é convergente se, e só se, os dois integrais do segundo
membro forem convergentes. Se algum dos integrais do segundo membro for divergente,
então o integral do primeiro membro é divergente.
68 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 1
1
EXEMPLO: O integral √
3
dx é um integral impróprio de 2a espécie porque
x 2
−1
1
lim √ = +∞. Temos de estudar os dois integrais
x→0 3 x2

Z 0 Z 1
1 1

3
dx e √
3
dx.
−1 x2 0 x2
Z x h √ ix
1 3
¡ √ ¢
lim− √
3 2
dt = lim 3 t = lim 3 3
x + 3 =3
x→0 −1 t x→0− −1 x→0−

Z h √ i1
1
1 3
¡ √ ¢
lim+ √3 2
dt = lim 3 t = lim 3 − 3 3
x =3
x→0 x t x→0+ x x→0+

Z 1
1
Portanto, o integral dado é convergente e √3
dx = 6.
−1 x2
Para os integrais impróprios de 2a espécie, os critérios de convergência são idênticos
aos obtidos para os integrais impróprios de 1a espécie. As demonstrações podem ser
efectuadas de maneira semelhante, com adaptações evidentes, pelo que as omitimos.

Teorema 2.5.8 O integral impróprio de 2a espécie no limite superior (inferior, respec-


Z b
tivamente) f (t) dt, com b > a e f (t) ≥ 0, ∀t ∈ ]a, b[, é convergente se, e só se, existe
a
uma constante M tal que
Z x
f (t) dt ≤ M, ∀a ≤ x < b
a

Z b
( f (t) dt ≤ M, ∀a < x ≤ b, respectivamente).
x

Z b Z b
Teorema 2.5.9 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie
a a
(no mesmo limite de integração) com funções integrandas não negativas e suponhamos
que f (x) ≤ g(x), ∀a ≤ x < b (ou, ∀a < x ≤ b).
Z b Z b
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
a a

Z b Z b
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a a
2.5 Integrais impróprios 69

Z b Z b
Teorema 2.5.10 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie
a a
(no mesmo limite de integração) com funções integrandas positivas e suponhamos que o
limite µ ¶
f (x) f (x)
lim ou, lim+
x→b− g(x) x→a g(x)

é finito e diferente de zero. Então os integrais são da mesma natureza, isto é, são ambos
convergentes ou ambos divergentes.

EXEMPLO 1: O integral Z 1
1
√ dx
1
2
1 − x4
é impróprio de 2a espécie, porque para x = 1 a função integranda se torna infinita.
Consideremos o integral impróprio de 2a espécie convergente
Z 1
1
1 dx.
1 (1 − x) 2
2

Tendo em conta que


1
√ 1
1 − x4 (1 − x) 2 1 1
lim− = lim− 1 = lim 1 =
x→1 1 1 1
2
x→1 (1 − x) 2 (1 + x) 2 (1 + x ) 2
1
2
x→1 (1 + x) 2 (1 + x ) 2
− 2
1
(1 − x) 2

podemos concluir que os dois integrais têm a mesma natureza, ou seja, o integral dado é
convergente.

EXEMPLO 2: O integral Z 2
1
3 dx
0 (2x − x2 ) 2
é um integral impróprio de 2a espécie nos dois limites de integração. Estudemos os inte-
grais Z 1 Z 2
1 1
3 dx e 3 dx.
2 2
0 (2x − x ) 2 1 (2x − x ) 2
Z 1
1
Como o integral 3 dx é divergente e
0 x2

1
3 3
(2x − x2 ) 2 x2 1 1
lim+ = lim+ 3 3 = lim 3 =
x→0 1 x→0 x 2 (2 − x) 2 x→0+ (2 − x) 2
3
22
3
x2
70 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 2
1
o integral 3 dx é divergente. Podemos então concluir que o integral dado
(2x − x2 ) 2
1
inicialmente é divergente.
Z b Z b
Teorema 2.5.11 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie
a a
(no mesmo limite de integração) com funções integrandas positivas. Suponhamos que
µ ¶
f (x) f (x)
lim =0 ou, lim+ =0 .
x→b− g(x) x→a g(x)

Z b Z b
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
a a
Z b Z b
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a a

Suponhamos que
µ ¶
f (x) f (x)
lim− = +∞ ou, lim+ = +∞ .
x→b g(x) x→a g(x)

Z b Z b
a) Se g(x) dx é divergente então f (x) dx é divergente.
a a
Z b Z b
b) Se f (x) dx é convergente então g(x) dx é convergente.
a a

Z b
Teorema 2.5.12 Seja f (x) dx um integral impróprio de 2a espécie. Se o integral
Z b a Z b
|f (x)| dx é convergente o mesmo acontece ao integral f (x) dx.
a a

Z b
Definição 2.5.9 Diz-se que o integral impróprio de 2 espécie f (x) dx é absoluta-
a

Z b a Z b
mente convergente se o integral |f (x)| dx é convergente. Se o integral f (x) dx
Z b a Z b a

é convergente e |f (x)| dx é divergente, diz-se que o integral f (x) dx é simples-


a a
mente convergente.

EXEMPLO: Consideremos o integral


Z 1
cos(πx)
√ dx.
0 1 − x2
2.5 Integrais impróprios 71

É um integral impróprio de 2a espécie no limite superior de integração, mas a função


integranda muda de sinal no intervalo de integração. No entanto,
¯ ¯
¯ cos(πx) ¯ 1
¯√
¯ 1 − x2 ¯ ≤ √1 − x2 , ∀ 0 ≤ x < 1.
¯

Estudemos o integral
Z 1 Z 1
1 1
√ dx = 1 1 dx.
0 1 − x2 0 (1 − x) (1 + x) 2
2

Z 1
1
O integral 1 dx é convergente e
0 (1 − x) 2
1
1 1
(1 − x) (1 + x) 2 2 1 1
lim− = lim− 1 = √ ,
x→1 1 x→1 (1 + x) 2 2
1
(1 − x) 2

Z 1
1
o que implica que o integral √ dx é convergente. Pelo Teorema 2.5.9, o integral
0 1 − x2
Z 1¯ ¯
¯ cos(πx) ¯
¯√
¯ 1 − x2 ¯ dx
¯
0

é convergente. Pelo Teorema 2.5.12, o integral dado é convergente e diz-se absolutamente


convergente.

C. Integrais impróprios mistos

Podem ainda considerar-se integrais impróprios mistos: por exemplo, com algum li-
mite de integração infinito e em que a função integranda se torne ilimitada num número
finito de pontos do intervalo de integração. Neste caso, a definição do integral faz-se divi-
dindo o intervalo de integração por forma que se obtenham integrais dos tipos anteriores;
se os integrais assim obtidos são convergentes diz-se que o integral misto é convergente e
o seu valor é igual à soma dos valores dos integrais correspondentes aos subintervalos. Se
algum dos integrais obtidos é divergente o integral misto é divergente.
Z +∞
1
EXEMPLO 1: O integral 3
dx é um integral impróprio misto porque x3 + 1 =
−2 x + 1
(x + 1)(x2 − x + 1), podendo fazer-se a decomposição
Z +∞ Z −1 Z 1 Z +∞
1 1 1 1
dx = dx + dx + dx,
−2 x3 + 1 3
−2 x + 1
3
−1 x + 1 1 x3 + 1
72 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

o a a
sendo os dois primeirosZ −1integrais do 2 membro de 2 espécie e o último de 1 espécie.
1
Como o integral dx é divergente e
−2 −x − 1
1
3 1+x 1+x 1 1
lim − x + 1 = lim − 3 = lim − = lim − 2 =
x→−1 1 x→−1 x + 1 2
x→−1 (1 + x)(x − x + 1) x→−1 x − x + 1 3
1+x
Z −1
1
o integral 3
dx é divergente. Então o integral misto é divergente.
−2 x + 1
Z −1
1
EXEMPLO 2: O integral 3 dx é um integral impróprio misto, tendo-se
2
−∞ (x − 4) 5
Z −1 Z −3 Z −2 Z −1
1 1 1 1
3 dx = 3 dx + 3 dx + 3 dx.
2 2 2 2
−∞ (x − 4) 5 −∞ (x − 4) 5 −3 (x − 4) 5 −2 (x − 4) 5

O primeiro dos integrais do 2o membro é de 1a espécie e os outros dois são de 2a espécie.


Consideremos o integral de 1a espécie convergente
Z −3
1
6 dx.
−∞ x 5
Temos
1
3 6
(x2 − 4) 5 x5
lim = lim 3 = 1
x→−∞ 1 x→−∞ (x2 − 4) 5
6
x5
Z −3
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
Z −∞ (x2 − 4) 5
−2
a 1
O integral de 2 espécie 3 dx é convergente e
−3 (−2 − x) 5
1
3
(x2 − 4) 5 −1 1
lim − = lim − 3 =
x→−2 1 x→−2 (x − 2) 5 45
3

3
(−2 − x) 5
Z −3
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
2
−2 (x − 4) 5
Z −1
a 1
O integral de 2 espécie 3 dx é convergente e
−2 (x + 2) 5

−1
3
(x2 − 4) 5 −1 1
lim + = lim + 3 =
x→−2 1 x→−2 (x − 2) 5
3
45
3
(x + 2) 5
2.5 Integrais impróprios 73

Z −1
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
− 4) 5
−2 (x2
Podemos então concluir que o integral dado é convergente.

D. A função Gama (Γ) e a função Beta (β)


Suponhamos que queremos estudar a natureza do integral
Z +∞
x3p
dx (2.5)
0 x2 − 2x + 5

para todos os valores do parâmetro real p.


Tendo em conta que x2 − 2x + 5 6= 0, ∀x ∈ R, este integral é de 1a espécie se p ≥ 0 e
misto se p < 0. Em qualquer caso podemos escrever
Z +∞ Z 1 Z +∞
x3p x3p x3p
dx = dx + dx,
0 x2 − 2x + 5 2
0 x − 2x + 5 1 x2 − 2x + 5

onde o segundo integral do 2o membro é sempre de 1a espécie e o primeiro é de Riemann


se p ≥ 0 e de 2a espécie se p < 0.
Suponhamos que p < 0.
Z 1 Z 1
x3p 1
2
dx = −3p 2
dx. (2.6)
0 x − 2x + 5 0 x (x − 2x + 5)
Z 1
1 1
O integral dx converge se, e só se, −3p < 1, isto é, p > − . Como
0 x−3p 3
1
x−3p (x2 − 2x + 5) 1 1
lim = lim+ 2 =
x→0+ 1 x→0 x − 2x + 5 5
x−3p
1
o integral (2.6) converge se, e só se, p > − .
3
Se p ≥ 0, o integral que acabámos de estudar é de Riemann. Podemos então concluir
1
que o integral (2.6) converge se, e só se, p > − .
Z +∞ 3
1 1
O integral 2−3p
dx converge se, e só se, 2 − 3p > 1, isto é, p < e
1 x 3

x3p
2 x2
lim x − 2x + 5 = lim 2 =1
x→+∞ 1 x→+∞ x − 2x + 5
x2−3p
74 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

1
pelo que podemos concluir que o integral de 1a espécie converge se, e só se, p < .
3
1 1
Então o integral (2.5) converge se, e só se, − < p < .
3 3
Consideremos o integral
Z 3
7
α β+1
dx. (2.7)
−2 (x + 2) (3 − x)

É um integral de Riemann se α ≤ 0 e β + 1 ≤ 0 e é um integral impróprio de 2a espécie


se α > 0 ou β + 1 > 0. Podemos escrever este integral na seguinte forma:
Z 0 Z 3
7 7
α β+1
dx + α β+1
dx.
−2 (x + 2) (3 − x) 0 (x + 2) (3 − x)
Z 0
1
Estudemos o primeiro integral. Como o integral α
dx converge se, e só se,
−2 (x + 2)
α < 1, e
7
(x + 2) (3 − x)β+1
α 7 7
lim + = lim + = β+1
x→−2 1 x→−2 (3 − x) β+1 5
(x + 2)α
podemos concluir que o Zintegral é convergente se, e só se, α < 1 e β ∈ R.
3
1
Dado que o integral β+1
dx converge se, e só se, β + 1 < 1, isto é, β < 0, e
0 (3 − x)

7
(x + 2)α (3 − x)β+1 7 7
lim− = lim− = α
x→3 1 x→3 (x + 2)α 5
(3 − x)β+1
podemos concluir que o segundo integral converge se, e só se, β < 0 e α ∈ R.
O integral (2.7) será convergente se, e só se, α < 1 e β < 0.
Entre os integrais com parâmetros há dois especialmente importantes:
Z +∞ Z 1
p−1 −x
Γ(p) = x e dx e β(p, q) = xp−1 (1 − x)q−1 dx,
0 0

p, q ∈ R. Estes integrais, quando convergentes, definem duas funções: a função Gama,


no primeiro caso, e a função Beta, no segundo. Pretendemos estudar o domı́nio destas
funções, isto é, saber para que valores dos parâmetros são convergentes os integrais que
as definem.
Comecemos por estudar o integral
Z +∞
Γ(p) = xp−1 e−x dx (2.8)
0
2.5 Integrais impróprios 75

Podemos escrever este integral do seguinte modo:


Z 1 Z +∞
p−1 −x
x e dx + xp−1 e−x dx.
0 1

O primeiro integral é de Riemann se p − 1 ≥ 0 e de 2a espécie se p − 1 < 0, enquanto o


segundo é de 1a espécie qualquer
Z +∞ que seja p ∈ R.
1
Sabemos que o integral dx é convergente. Dado que
1 x2
xp−1 e−x
lim = 0, ∀p ∈ R
x→+∞ 1
x2
podemos concluir que o integral de 1a Zespécie é convergente qualquer que seja p ∈ R.
1
a 1
O integral impróprio de 2 espécie 1−p
dx é convergente se, e só se, 1 − p < 1, isto
0 x
é, p > 0. Além disso,
xp−1 e−x
lim+ = lim+ e−x = 1,
x→0 1 x→0
x 1−p

o que implica que o integral de 2a espécie é convergente se,e só se, p > 0.
Então o integral (2.8) converge se, e só se p > 0, isto é, a função Γ tem domı́nio R+ .
Consideremos o integral Z 1
xp−1 (1 − x)q−1 dx (2.9)
0
Podemos sempre escrever este integral como a soma
Z 1 Z 1
2
p−1 q−1
x (1 − x) dx + xp−1 (1 − x)q−1 dx
1
0 2

onde o primeiro integral é de Riemann se p − 1 ≥ 0 e de 2a espécie se p − 1 < 0 e o segundo


é de Riemann se q − 1 ≥ 0 e de 2a espécie se q − 1 < 0.
Z 1
2 1
O integral 1−p
dx converge se, e só se, 1 − p < 1, isto é, p > 0. Como
0 x

xp−1 (1 − x)q−1
lim+ = lim+ (1 − x)q−1 = 1
x→0 1 x→0
x 1−p

podemos concluir
Z 1 que o primeiro integral é convergente se, e só se, p > 0.
1
O integral dx converge se, e só se, 1 − q < 1, isto é, q > 0. Como
1 (1 − x)1−q
2

xp−1 (1 − x)q−1
lim− = lim− xp−1 = 1
x→1 1 x→1
(1 − x) 1−q
76 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

podemos concluir que o segundo integral é convergente se, e só se, q > 0.
Então o integral (2.9) converge se, e só se, p > 0 e q > 0, isto é, a função Beta tem
sentido para p > 0 e q > 0.

E. Áreas de domı́nios ilimitados


Vejamos alguns exemplos de aplicação dos integrais impróprios ao cálculo de áreas de
domı́nios planos ilimitados.

EXEMPLO 1: Calculemos a área do domı́nio determinado pela imagem da função f (x) =


1
e o eixo dos xx (ver Figura 2.10).
1 + x2

Figura 2.10

O valor da área é dado pelo valor do integral impróprio


Z +∞
1
2
dx.
−∞ 1 + x

Calculando esse integral obtemos


Z +∞ Z 0 Z +∞
1 1 1
2
dx = 2
dx + dx
−∞ 1 + x −∞ 1 + x 0 1 + x2

Z +∞ Z x
1 1
= 2 dx = 2 lim dt
0 1 + x2 x→+∞ 0 1 + t2

= 2 lim [ arc tg(t) ]x0 = 2 lim arc tg(x) = π


x→+∞ x→+∞
2.5 Integrais impróprios 77

EXEMPLO 2: Calculemos a área do domı́nio determinado pela imagem da função f (x) =


1
p , as rectas x = −3 e x = 2 e o eixo dos xx (ver Figura 2.11).
|x|

Figura 2.11

O valor da área é o valor do integral impróprio


Z 2
1
p dx.
−3 |x|

Z 2 Z 0 Z 2 Z x Z 2
1 1 1 1 1
p dx = p dx + p dx = lim √ dt + lim √ dt
−3 |x| −3 |x| 0 |x| x→0− −3 −t x→0+ x t

£ √ ¤x h √ i2
= lim −2 −t −3 + lim+ 2 t
x→0− x→0 x

³ √ √ ´ ³ √ √ ´ √ √
= lim− −2 −x + 2 3 + lim+ 2 2 − 2 x = 2 3 + 2 2
x→0 x→0
78 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

2.6 Exercı́cios
1. Tendo em conta que toda a função contı́nua em [a,b] é integrável nesse intervalo,
use a definição de integral para mostrar que se tem :
Z b
b 2 a2
(a) x dx = − ;
a 2 2
Z b
(b) sen(x) dx = cos(a) − cos(b).
a

2. Seja f a função definida por




 0 se x ∈ Q
f (x) =

 1 se x 6∈ Q

Mostre que a função x → |f (x) − 12 | é integrável no intervalo [0, 1] , mas o mesmo


não acontece com a função x → f (x) − 21 .

3. Calcule os seguintes integrais:


Z −3
1
(a) 2
dx;
−2 x − 1
Z 1
x
(b) 2
dx;
0 x + 3x + 2
Z π
4
(c) sec2 (x) dx;
π
6
Z e2
1
(d) dx;
e x log x
Z π
4
(e) tg(x) dx;
−π
4
Z 1
ex
(f) dx;
0 1 + e2x
Z π
2
(g) (1 + cos2 (x)) dx;
0
Z 1/2
(h) arc sen (x) dx;
0
Z π
4
(i) (sen(2x))3 dx;
0
2.6 Exercı́cios 79

Z π
3
(j) tg3 (x) sec(x) dx;
0
Z 1 √
(k) x2 4 − x2 dx;
−1
Z π
(l) |sen(x)| dx;
−π
Z π
(m) (sen(x) + | cos(x)|) dx;
−π
Z π
2
(n) sen(2x) cos(x) dx;
0
Z 4
1
(o) √ dx;
0 1+ x
Z log 2 √
(p) ex − 1 dx;
0
Z π
2 1
(q) dt;
0 3 + 2 cos t
Z 3
t+1
(r) √ dt;
2 t2 + 2t
Z 4
x
(s) √ dx;
1 2 + 4x
Z 4/3
1
(t) √ dz;
3/4 z z2 + 1
Z 2
e3x + e2x + 1
(u) dx;
1 ex − e−x
Z 0 √
u + 2u + 1
(v) √ du.
−1/2 1 + 2 2u + 1

4. Calcule os seguintes integrais:


Z π
2
(a) (x2 cos(x) + 1) cos(x) dx;
0
Z e
(b) cos(log x) dx;
1
Z 1
(c) (x3 + x2 + x + 1)ex dx;
0
Z π
(d) ex sen(x) dx;
0
80 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 4
2x − 1
(e) dx;
2 3x3 + 3x + 30
Z π
3
(f) (| cos(3x)| − xsen(x)) dx;
0
Z π Z π
2 2
n−1
(g) [(sen(x)) sen((n + 1)x)] dx + [sen(3x) cos(5x)] dx.
0 0

5. Seja f uma função de classe C 0 em [−a, a]. Mostre que:


Z a Z a
(a) Se f (x) = f (−x) então f (x) dx = 2 f (x) dx;
−a 0
Z a
(b) Se f (x) = −f (−x) então f (x) dx = 0.
−a

6. Sejam m e n dois inteiros . Mostre que:



Z π 
 0 se m 6= n
(a) sen(mx)sen(nx) dx =
0 
 π se m = n
2
Z π
(b) sen(nx) cos(mx) dx = 0.
−π

7. (a) Seja f uma função contı́nua e crescente em [1, +∞[. Mostre que:
Z x
(x − 1)f (1) < f (t) dt < (x − 1)f (x).
1

(b) Utilizando o resultado da alı́nea anterior e sendo f (t) = log(t) mostre que
ex−1 < xx < (ex)x−1 .

8. Sendo f uma função real definida e diferenciável em [0, 1], mostre que
Z 1 Z 1

xf (1 − x) dx = f (x) dx − f (0).
0 0

9. Determine as derivadas das funções F definidas por :


Z 3x+2
(a) F (x) = tet dt, no ponto em que x = 1;
0
Z kb(x)
(b) F (x) = f (u) du, k constante;
a(x)
Z x2 +x+1
sen(t)
(c) F (x) = dt, no ponto em que x = 1.
1 t
2.6 Exercı́cios 81

Z x2 + 43
et (t − 74 )
10. Considere a função f (x) = dt. Determine:
1 t
(a) O seu domı́nio e a equação da recta tangente à linha que é a sua representação
gráfica no ponto em que x = 1/2.
(b) Os pontos em que a função tem extremo relativo e, em cada ponto, a natureza
do extremo.

11. Calcule Z x
sen(t3 ) dt
0
lim .
x→0 x4
12. Calcule Z
1 x √
lim+ 3t2 + 5 dt.
x→0 x 0
Z π
2
13. Seja n um inteiro não negativo e seja In = (sen(x))n dx.
0

n+1
(a) Mostre que In+2 = In .
n+2
(b) A partir do resultado da alı́nea anterior conclua que com k inteiro positivo se
tem Z π
2 (2k − 1)(2k − 3)....3 × 1 π
(sen(x))2k dx = ×
0 2k(2k − 2)....4 × 2 2
e Z π
2 2k(2k − 2)....4 × 2
(sen(x))2k+1 dx = .
0 (2k + 1)(2k − 1)...3 × 1
π
(c) Usando a substituição x = 2
− t , mostre que
Z π
2
In = (cos(x))n dx.
0

Cálculo de áreas
14. Determine a área de cada um dos seguintes domı́nios:

(a) Domı́nio limitado pela parábola y 2 = 2x − 2 e pela recta y − x + 5 = 0.


(b) Domı́nio limitado pelas parábolas y 2 = 4ax + 4a2 e y 2 = −4bx + 4b2 , a, b ∈ R+ .
(c) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = −x3 e
g(x) = −(4x2 + 12x).
(d) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = x3 −6x2 +8x
e g(x) = x2 − 4x.
82 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

(e) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = ex e


g(x) = e−x e por x = −1 e x = 2.
(f) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = x3 − x e
g(x) = sen(πx) e x ∈ [−1, 1].
1
(g) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = ,
x
g(x) = ax, h(x) = bx, a, b ∈ R+ .

15. A parábola y 2 = x + 1 determina no cı́rculo limitado pela circunferência x2 + y 2 = 3


dois domı́nios. Determine a área de cada um deles.

Integrais Impróprios
16. Calcule, se existir, o valor de cada um dos seguintes integrais impróprios:
Z +∞
2
(a) x e−x dx
0
Z +∞
log x
(b) dx
1 x
Z 6
1
(c) p dx
2
3
(4 − x)2
Z 2
1
(d) dx
1 x2 −1
Z −3
x
(e) dx
−∞ (x2 − 4)6/5
Z+∞
log(3 t)
(f) dt
1 2 t2
Z 1
(g) 2 x3 (x4 + 1)−3/2 dx
−∞
Za
1
(h) √ dx ; a ∈ R+
2
a −x 2
a/2
Z 3a
2x
(i) dx ; a ∈ R+
0 (x2 2
−a ) 2/3
Z 2
x
(j) √
3
dx
−2 x2 − 4
Z π/2
1
(k) dx
−π/2 1 − cos(x)
Z +∞
(l) t e−t dt
−∞
2.6 Exercı́cios 83

17. Estude quanto à convergência os seguintes integrais impróprios:


Z +∞
2t + 3
(a) dt
0 4 t3 + 1
Z +∞
sen(x)
(b) √ dx
1 x 1 + x2
Z +∞
log x
(c) √ dx
2 x2
Z 1/2
6
(d) x5 ex dx
−∞

x
(e) dx
3 (x2 − 9)1/4
Z 1
1
(f) p dx
0 sen(x)
Z 3
cos(x)
(g) √ √ dx
0
3
x − 1 4 9 − x2
Z 1
log(x + 1)
(h) dx
0 x−1
Z +∞
e−x
(i) dx
2 x2 − 1
Z +∞
arctg(t)
(j) dt
1 t2
18. Estude pormenorizadamente para que valores dos parâmetros reais p e q tem sentido
cada um dos seguintes integrais:
Z +∞
(a) e−x xp dx
e
Z +∞
log2 (x)
(b) dx
1 x1+p
Z 1
(c) x3 (1 − x)p dx
0
Z 1
1
(d) dx
0 x2 −p
Z +∞
xp+1
(e) dx
0 x2 − 4 x + 13
Z π/2
(f) (cos(x))p dx
0
84 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 2 µ ¶p+1
2−x 1
(g) dx
1 x−1 x
Z 0
(−x)p
(h) dx
−2 (x + 2)q
19. Seja f uma função contı́nua não negativa para x > a > 0 e suponha que existem
constantes reais M > 0 e K > 1 tais que
M
f (x) ≤ , ∀x > a
xK
Z +∞
(a) Mostre que, nestas condições, o integral impróprio f (x) dx é convergente.
a
(b) Z
Aplique o resultado da alı́nea anterior para mostrar que o integral impróprio
+∞
1
√ √ dx é convergente.
1+x 2 1 + x3
1
Z x
20. Determine uma representação analı́tica da função F (x) = g(t) dt
−∞
onde 
 2,

se |x| ≥ 1
g(x) = x2

 2, se |x| ≤ 1

21. Determine, se existir, a área do domı́nio plano ilimitado definido por:


1 1
(a) a imagem das funções f (x) = 2
e g(x) = x2 e pelo semi-eixo positivo
1+x 2
dos xx;
(b) o eixo dos xx, as rectas x = −2 e x = 5 e a representação gráfica da função
1
h(x) = p .
|x|
22. Determine, se existir, a área de cada um dos seguintes domı́nios planos ilimitados:

(a) S = {(x, y) : x ≤ 0 ∧ 0 ≤ y ≤ ex }
© ª
(b) S = (x, y) : x ≥ −2 ∧ 0 ≤ y ≤ e−x/2

23. Exame de Recurso de Análise Matemática I (15 Fev 1995):


Z +∞
1
(a) Calcule o valor do integral impróprio 2
dx
0 (x + 1) (x + 1)
Z 1
1
(b) Estude a convergência do integral 1/3
dx
−1 (sen(x))
2.6 Exercı́cios 85

24. Exame de 2a chamada de Análise Matemática I (3 Fev 1995):

(a) Z
Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
1

√ dx
2 1 − x2
0 (1 + x )
Z +∞
1
(b) Estude a convergência do integral dx
0 (x − 1) (x + 1)1/3
2 1/3

25. Exame de 1a chamada de Análise Matemática I (27 Jan 1995):


Z π/2
cos(x)
(a) Calcule o valor do integral impróprio p dx
0 sen(x)
(b) Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z +∞
(x − 1)α x2 α dx
1

26. Exame de Recurso de Análise Matemática I (15 Abr 1994):

(a) Calcule a área do domı́nio plano ilimitado definido pelo gráfico da função
1
y= e pelo eixo dos xx.
1 + x2
(b) Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z 2
x1−2α (2 − x)α/2 dx
0

27. Exame de 2a chamada de Análise Matemática I (21 Fev 1994):


Indique, justificando, se são ou não convergentes os seguintes integrais
Z +∞ −x
e
(a) √ dx
0 x
Z 1
log x
(b) √ dx
0 x
(Nota: Na alı́nea (b), pode usar quer um critério de comparação, quer a definição).

28. Exame de 1a chamada de Análise Matemática I (7 Fev 1994):


Indique, justificando, se são ou não convergentes os seguintes integrais
Z 2
ex
(a) 3 1/5
dx
0 x (1 − x)
Z +∞ p 3
1/x
(b) √ dx
0 x5 + 1
86 2. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

29. Exame de 1a chamada de Análise Matemática I (7 Fev 1994):


Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z +∞
(x − 1)α e−x dx
1
Capı́tulo 3

Séries Numéricas

3.1 Generalização da operação adição

A operação adição (ou soma) é inicialmente definida como a aplicação que a cada
par de números reais faz corresponder um número real, de acordo com determinadas
regras. Essa operação goza de certas propriedades e verificamos que podemos generalizar
a operação a um número finito de parcelas mantendo todas as propriedades. A definição
de soma de um número finito de parcelas é feita por recorrência:


Xn  a1 ,
 se n=1
à n−1 !
ai = X

 ai + an , se n > 1
i=1 
i=1

Podemos pensar agora em fazer uma generalização a um número infinito numerável


de parcelas. As parcelas constituirão a sucessão a1 , a2 , . . . , an , . . ..
Se existir uma ordem p a partir da qual todos os termos da sucessão são nulos, tem-se
a soma de todas as parcelas igual à soma dos p primeiros termos:
p
X X
ai = ai .
n∈N i=1

Se existir uma subsucessão de termos não nulos poderemos chamar soma ao limite,
se existir e for finito, da sucessão das somas dos n primeiros termos de an , sucessão essa
Xn
Sn = ai .
i=1
Se a sucessão an tivesse todos os termos positivos, poderia parecer à primeira vista
que Sn não é convergente. De facto, supor que a soma de um número infinito de parcelas
positivas é um número real não é um conceito intuitivo.
88 3. Séries Numéricas

Neste caso, a intuição falha precisamente porque pretendemos generalizar para o infi-
nito um conceito, o de soma, que temos intuitivo para um número finito de parcelas. É
comum que a intuição nos engane em casos de “passagem” do finito para o infinito.
De qualquer modo é verdade que Sn nem sempre é convergente, ou seja, que nem
sempre poderemos definir, por este processo, soma de um número infinito de parcelas.
Interessa, no entanto, saber como deve ser a sucessão an de modo que a essa sucessão
esteja associado um número real, soma de todos os seus termos.
Citando o Prof. Campos Ferreira:
“Vem a propósito lembrar um dos paradoxos formulados, há mais de 2000 anos, pelo
filósofo grego Zenão. Zenão imaginou um corredor, deslocando-se de certo ponto A para
a meta B, com velocidade constante, e raciocionou de maneira que pode exprimir-se nos
termos seguintes: designe-se por A1 o ponto médio do segmento AB, por A2 o ponto
médio de A1 B, etc. Em geral, para todo o n ∈ N, An+1 designará o ponto médio do
segmento An B.

A A1 A2 A3 B

Nestas condições, se for t o tempo gasto pelo corredor a percorrer a distância que vai
de A a A1 , será t/2 o tempo gasto de A1 a A2 , t/22 o tempo necessário para ir de A2 a A3 ,
etc. O tempo total necessário para completar a corrida, T , equivaleria assim à “soma” de
uma infinidade de tempos parciais todos positivos:
t t t
T =t+ + 2 + ... + n + ...
2 2 2
Daqui julgava Zenão poder deduzir que esse tempo total era necessariamente infinito
e que, portanto, o corredor jamais poderia atingir a meta. Tal resultado, que lhe parecia
solidamente estabelecido, estava porém em contradição evidente com o facto de que,
sendo o movimento uniforme por hipótese, o tempo correspondente ao percurso deveria ser
simplesmente o dobro do que o corredor gastava na primeira metade, isto é, T = 2t. Além
disso, aquele resultado estava ainda em contradição com a mais elementar experiência do
mundo fı́sico. Por isso se dizia tratar-se de um paradoxo.
O esclarecimento completo da questão só veio a ser alcançado, cerca de 2000 anos
depois de o paradoxo ter sido enunciado por Zenão, com a criação da teoria das séries.
Convém ainda registar que coube a um matemático português, José Anastácio da
Cunha, um papel percursor de grande relevo no estudo desta teoria (em particular, deve-
-se-lhe a primeira definição rigorosa do conceito de série convergente, formulada em 1790);
mais tarde, graças a trabalhos de grandes matemáticos como Cauchy, Weierstrass, etc., as
séries tornar-se-iam instrumentos de valor inestimável para o desenvolvimento de todos
os ramos da Análise Matemática.”
3.2 Definição de série. Convergência. Propriedades gerais 89

3.2 Definição de série. Convergência. Propriedades


gerais
Definição 3.2.10 Seja an uma sucessão numérica. Chama-se série gerada por an à
sucessão Sn definida do modo seguinte:

S 1 = a1

S 2 = a1 + a2

S 3 = a1 + a2 + a3
..
.

S n = a1 + a2 + a3 + · · · + a n
..
.

Para designar a série usa-se qualquer das notações:



X X
an , an , a1 + a2 + a3 + · · ·
n=1

Os números a1 , a2 , . . . , chamam-se termos da série, an diz-se termo geral da série


e as somas S1 , S2 , . . . chamam-se somas parciais.
P
Definição 3.2.11 A série an diz-se convergente se existir e for finito o limite
n
X
lim Sn = lim ai .
n→+∞ n→+∞
i=1

Se este limite não existir ou não for finito a série diz-se divergente.
No caso de convergência chama-se soma da série ao valor, S, do limite, isto é,

X
S = lim Sn = an .
n→+∞
n=1
P
NOTA: A identificação de uma série com o sı́mbolo ∞ n=1 an é um abuso de linguagem já
que é a identificação da série com a sua soma, quando ela existe. Este abuso, no entanto,
é de uso corrente e tem-se demonstrado útil e inofensivo.

EXEMPLO 1: Chama-se série geométrica à série gerada por uma progressão geométri-
ca: se an é uma progressão geométrica de razão r 6= 1 temos que
n n
X X 1 − rn
Sn = ai = a1 ri−1 = a1 · .
i=1 i=1
1−r
90 3. Séries Numéricas

Sabemos que Sn é convergente se, e só se, |r| < 1, logo a série geométrica é convergente
se, e só se, o valor absoluto da razão da progressão geométrica que a gerou for menor do
que 1. No caso de convergência temos que

X a1
an = .
n=1
1−r
Se r = 1 a série é uma série de termo geral constante, isto é,

X ∞
X
an = a1 ,
n=1 n=1

tendo-se, assim, Sn = na1 e, se a1 6= 0, a série será divergente.



X 1
EXEMPLO 2: Consideremos a série √ , construamos a sucessão das suas somas
n=1
n
parciais e estudemos o seu limite:

S1 = 1
1
S2 = 1 + √
2
1 1
S3 = 1 + √ + √
2 3
..
.
1 1 1
Sn = 1 + √ + √ + · · · + √
2 3 n
..
.

Como
1 1 1 1 1 1 1 n √
1 + √ + √ + ··· + √ ≥ √ + √ + √ + ··· + √ = √ = n
2 3 n n n n n n

e lim n = +∞, a sucessão Sn tem limite +∞ e a série em estudo é divergente.
n→+∞


X 1
EXEMPLO 3: Consideremos a série . Sabendo que
n=1
n(n + 1)

1 1 1
= −
n(n + 1) n n+1

podemos escrever a sucessão das somas parciais:


3.2 Definição de série. Convergência. Propriedades gerais 91

1
S1 = 1 −
2
1 1 1 1
S2 = 1− + − =1−
2 2 3 3
1 1 1 1
S3 = 1− + − =1−
3 3 4 4
..
.
1
Sn = 1 −
n+1
..
.

Como lim Sn = 1, a série é convergente e a sua soma é 1:


n→+∞


X 1
= 1.
n=1
n(n + 1)

EXEMPLO 4: A sucessão das somas parciais da série

∞ µ ¶ ∞
X n X
log = (log n − log(n + 1))
n=1
n+1 n=1

é a sucessão
S1 = log 1 − log 2 = − log 2
S2 = − log 2 + log 2 − log 3 = − log 3
S3 = − log 3 + log 3 − log 4 = − log 4
..
.
Sn = − log(n + 1)
..
.

Como lim (− log(n + 1)) = −∞, a série é divergente.


n→+∞

EXEMPLO 5: O termo geral da série


X 1
n=1
n2 + 3n

µ ¶
1 1 1
pode escrever-se na forma − . A sucessão das somas parciais pode agora ser
3 n n+3
92 3. Séries Numéricas

construı́da:
µ ¶
1 1
S1 = 1−
3µ 4¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 1 1 1 1 1
S2 = 1− + − = 1− + −
3µ 4 3 2¶ 5 µ 3 ¶ 4 2 5
1 1 1 1 1 1 1
S3 = 1− + − + −
3µ 4 2 5 3 3¶ 6
1 1 1 1 1 1
= 1− + − + −
3µ 4 2 5 3 6¶ µ ¶
1 1 1 1 1 1 1 1 1
S4 = 1− + − + − + −
3µ 4 2 5 3 6 3 4¶ 7
1 1 1 1 1 1 1 1
= 1− + − + − + −
3µ 4 2 5 3 6¶ 4 7
1 1 1 1 1 1
= 1+ − + − −
3µ 2 5 3 6 7¶ µ ¶
1 1 1 1 1 1 1 1 1
S5 = 1+ − + − − + −
3µ 2 5 3 6 7 3 5¶ 8 µ ¶
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
= 1+ − + − − + − = 1+ + − − −
3 2 5 3 6 7 5 8 3 2 3 6 7 8
..
.
µ ¶
1 1 1 1 1 1
Sn = 1+ + − − −
3 2 3 n+1 n+2 n+3
..
.

µ ¶
1 1 1
Como lim Sn = 1+ + , a série é convergente.
n→+∞ 3 2 3

Os três últimos exemplos são casos particulares de um tipo de séries chamadas séries
telescópicas. São séries cujo termo geral an se pode escrever na forma αn − αn+k , com
k ∈ N:
X∞
(αn − αn+k ).
n=1

Estas séries são convergentes se, e só se, lim vn , onde vn = αn+1 + · · · + αn+k , existe
n→+∞
e é finito.
No caso particular de existir, finito, lim αn temos:
n→+∞


X k
X
(αn − αn+k ) = αi − ka,
n=1 i=1
3.2 Definição de série. Convergência. Propriedades gerais 93

sendo a = lim αn . De facto, a sucessão das somas parciais é a sucessão


n→+∞

n
X
Sn = (αi − αi+k )
i=1
n
X n
X
= αi − αi+k
i=1 i=1

= α1 + · · · + αk + αk+1 + · · · + αn − (αk+1 + · · · + αn + αn+1 + · · · + αn+k )

= α1 + · · · + αk − (αn+1 + · · · αn+k )
k
X k
X
= αi − αi+n
i=1 i=1

Sendo αn convergente então lim αi+n existe e


n→+∞

lim αn = lim αi+n


n→+∞ n→+∞

donde se conclui que


k
à k !
X X
lim Sn = αi − lim αi+n
n→+∞ n→+∞
i=1 i=1
Xk
= αi − ka.
i=1


X
Teorema 3.2.13 Se a série an é convergente então an é um infinitésimo.
n=1

n
X
Demonstração: Como a série é convergente, a sucessão Sn = ai é uma sucessão con-
i=1
vergente, o mesmo acontecendo a Sn−1 , tendo-se lim Sn = lim Sn−1 . Então
n→+∞ n→+∞

lim an = lim (Sn − Sn−1 ) = lim Sn − lim Sn−1 = 0.


n→+∞ n→+∞ n→+∞ n→+∞

NOTA: Este teorema indica uma condição necessária, mas não suficiente para que uma
série seja convergente. Assim a sua utilidade é sobretudo para decidir que uma série é
divergente já que se o termo geral não for um infinitésimo a série será concerteza diver-
gente.

X n n
EXEMPLO 6: A série é divergente porque lim = 1.
n=1
n+1 n→+∞ n+1
94 3. Séries Numéricas


X 1 1
EXEMPLO 7: Consideremos a série √ . Temos que lim √ = 0, o que não nos
n=1
n n→+∞ n
permite concluir nada pelo Teorema 3.2.13. No entanto, já demonstrámos, no Exemplo 2,
que esta série é divergente.


X ∞
X
Teorema 3.2.14 Sejam an e bn séries convergentes de somas A e B, respectiva-
n=1 n=1
mente, e λ ∈ R. Então

X
a) A série (an + bn ), a que se chama série soma, também é convergente e a sua soma
n=1
é A + B:

X ∞
X ∞
X
(an + bn ) = an + bn .
n=1 n=1 n=1


X
b) A série λan é convergente e a sua soma é λA:
n=1


X ∞
X
λan = λ an .
n=1 n=1

Demonstração:

X ∞
X
a) Sejam Sn∗ e Sn∗∗ as sucessões das somas parciais das séries an e bn , respectiva-
n=1 n=1
mente. Como são séries convergentes temos que

lim Sn∗ = A e lim Sn∗∗ = B.


n→+∞ n→+∞

n
X
Seja Sn a sucessão das somas parciais da série soma, isto é, Sn = (ai + bi ) =
i=1
n
X n
X
ai + bi = Sn∗ + Sn∗∗ . Então
i=1 i=1

lim Sn = lim (Sn∗ + Sn∗∗ ) = lim Sn∗ + lim Sn∗∗ = A + B,


n→+∞ n→+∞ n→+∞ n→+∞


X
isto é, (an + bn ) é convergente e tem soma A + B.
n=1
3.2 Definição de série. Convergência. Propriedades gerais 95


X
b) Seja Sn∗ a sucessão das somas parciais da série an . Por hipótese, lim Sn∗ = A. Seja
n→+∞
n=1

X n
X n
X
Sn a sucessão das somas parciais da série λan . Então Sn = λai = λ ai = λSn∗ .
n=1 i=1 i=1
Assim,
lim Sn = lim λSn∗ = λ lim Sn∗ = λA,
n→+∞ n→+∞ n→+∞

X
isto é, a série λan é convergente e tem soma λA.
n=1

NOTAS:

1. Da demonstração da alı́nea a) ressalta que pode acontecer que as séries dadas sejam
divergentes e, no entanto, a série soma seja convergente. Também se nota através
da demonstração que se as sucessões das somas parciais tiverem limites infinitos
do mesmo sinal – as séries são ambas divergentes – a sucessão das somas parciais
será divergente, o mesmo acontecendo se uma das séries for convergente e a outra
divergente. Se Sn∗ e Sn∗∗ tiverem limites infinitos, mas de sinais contrários, a série
soma poderá ser convergente ou divergente já que no cálculo do limite aparece uma
indeterminação.

X
2. Da demonstração de b) resulta que se λ 6= 0, a série λan é convergente se, e só
n=1

X ∞
X
se, a série an o for. Se λ = 0, a série λan é convergente pois todos os seus
n=1 n=1
termos serão nulos.


X 1
EXEMPLO 8: Consideremos a série .
n=1
n(n + 3)(n + 6)
µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 1 1 1
= − − − .
n(n + 3)(n + 6) 18 n n+3 18 n+3 n+6
∞ µ ¶
X 1 1 1
A série − é uma série telescópica em que αn = e k = 3. Como
n=1
n n+3 n
1 1 11
lim αn = 0 a série é convergente e a sua soma é 1 + + = .
n→+∞ 2 3 6
∞ µ ¶
X 1 1 1
A série − é igualmente uma série telescópica em que αn =
n=1
n+3 n+6 n+3
1 1 1 37
e k = 3. Como lim αn = 0 a série é convergente e a sua soma é + + = .
n→+∞ 4 5 6 60
96 3. Séries Numéricas

Como são ambas convergentes, a série dada também é convergente e


∞ ∞ µ ¶ ∞ µ ¶
X 1 1 X 1 1 1 X 1 1 73
= − − − = .
n=1
n(n + 3)(n + 6) 18 n=1 n n + 3 18 n=1 n + 3 n + 6 1080

X
Teorema 3.2.15 Uma série an converge se, e só se,
n=1

∀δ > 0 ∃p ∈ N : m > n > p ⇒ |an+1 + · · · + am | < δ.

Demonstração: Como
¯ m n
¯
¯X X ¯
¯ ¯
|an+1 + · · · + am | = ¯ ai − ai ¯ = |Sm − Sn |,
¯ ¯
i=1 i=1

X
o que pretendemos demonstrar é que a série an converge se, e só se,
n=1

∀δ > 0 ∃p ∈ N : m > n > p ⇒ |Sm − Sn | < δ,


ou seja, Sn é uma sucessão de Cauchy.

X
Mas, por definição, a série an converge se, e só se, Sn é uma sucessão convergente
n=1
e em R uma sucessão é convergente se, e só se, é de Cauchy. O teorema fica assim
demonstrado.

X 1
EXEMPLO 9: Consideremos a série denominada série harmónica. Vamos de-
n=1
n
monstrar, utilizando o Teorema 3.2.15, que a série harmónica é divergente.
Se a série fosse convergente, dado δ > 0, existiria p ∈ N tal que se m > n > p então
|an+1 + · · · + am | < δ. Mas, se m = n + n,

|an+1 + · · · + am | = |an+1 + · · · + an+n |


1 1
= + ··· +
n+1 n+n
1 1
≥ + ··· +
n+n n+n
1
= n·
2n
1
=
2
ou seja, a condição do teorema não se verifica para δ < 21 . Portanto, a série harmónica é
divergente.
3.2 Definição de série. Convergência. Propriedades gerais 97

Corolário 2 A natureza de uma série não depende dos p primeiros termos, seja qual for

X ∞
X
p ∈ N, isto é, se an e bn são séries tais que ∃p ∈ N : an = bn ∀n > p, então ou
n=1 n=1
são ambas convergentes ou são ambas divergentes.


X
Definição 3.2.12 Chama-se resto de ordem p da série an à série
n=1


X ∞
X
rp = an+p = an .
n=1 n=p+1

Pelo corolário anterior podemos concluir que se uma série é convergente o mesmo
acontece ao seu resto de qualquer ordem. A soma do resto de ordem p de uma série
convergente dá-nos o erro que se comete quando se toma para valor aproximado da soma
da série a sua soma parcial Sp . De facto, o erro é dado por:
∞ ∞ p ∞
X X X X
an − Sp = an − an = an+p = rp .
n=1 n=1 n=1 n=1

Corolário 3 A natureza de uma série não é alterada se lhe suprimirmos um número


finito, arbitrário, de termos.

O teorema que se segue pode considerar-se, de certo modo, uma generalização da


propriedade associativa da adição ao caso das séries convergentes.


X
Teorema 3.2.16 Sejam an uma série convergente e k1 , k2 , . . . , kn , . . . uma sucessão
n=1
de elementos de N, estritamente crescente. Seja ainda bn a sucessão definida do seguinte
modo:  k1

 X


 ai , se n = 1
i=1
bn = kn

 X


 ai , se n > 1
i=kn−1 +1


X
Então a série bn é convergente e
n=1


X ∞
X
bn = an .
n=1 n=1
98 3. Séries Numéricas

Demonstração: Por definição de série convergente existe e é finito o limite


n
X
lim Sn = lim ai .
n→+∞ n→+∞
i=1


X
Então qualquer subsucessão de Sn será convergente e terá o mesmo limite S = an .
n=1

X n
X

A série bn será convergente se, e só se, Sn = bi for convergente. Mas
n=1 i=1

n
X k1
X k2
X kn
X kn
X

Sn = bi = ai + ai + · · · + ai = ai = S k n ,
i=1 i=1 i=k1 +1 i=kn−1 +1 i=1


ou seja, Sn é uma subsucessão de Sn sendo, portanto, convergente e para o mesmo valor:

X ∞
X

bn = lim Sn = lim Sn = an .
n→+∞ n→+∞
n=1 n=1


X
NOTA: O teorema diz que se a série an é convergente então
n=1

a1 + a2 + · · · + ak1 + · · · + ak2 + · · · = (a1 + · · · + ak1 ) + (ak1 +1 + · · · + ak2 ) + · · ·

Esta “propriedade associativa”não é válida se a série for divergente. Basta observar que
se na demonstração do teorema, Sn não fosse convergente nada poderı́amos dizer sobre a
X∞
(−1)n é divergente pois o seu termo geral não

natureza de Sn . Por exemplo, a série
n=1
tende para zero. No entanto, (−1 + 1) + (−1 + 1) + · · · = 0.
3.3 Séries alternadas 99

3.3 Séries alternadas


Definição 3.3.1 Uma série diz-se alternada se os seus termos são alternadamente po-
sitivos e negativos.
Supondo que o primeiro termo da série é positivo podemos escrevê-la na forma

X
(−1)n−1 an , an > 0 ∀n ∈ N.
n=1

Teorema 3.3.1 (Critério de Leibnitz)


Se an é uma sucessão decrescente de termos positivos e lim an = 0 então a série
n→+∞

X
(−1)n−1 an é convergente.
n=1

Demonstração: Seja Sn a sucessão das somas parciais desta série:

Sn = a1 − a2 + a3 − · · · + (−1)n−1 an .
Vamos estudar as subsucessões de ı́ndices pares e de ı́ndices ı́mpares. Seja k ∈ N, qual-
quer;
S2k = a1 − a2 + · · · + a2k−1 − a2k
S2k+1 = a1 − a2 + · · · + a2k−1 − a2k + a2k+1
A subsucessão S2k é crescente porque, como an é decrescente,
S2k+2 − S2k = a1 − a2 + · · · + a2k−1 − a2k + a2k+1 − a2k+2 −
−(a1 − a2 + · · · + a2k−1 − a2k )
= a2k+1 − a2k+2
≥ 0
e é uma sucessão limitada porque
S2 ≤ S2k = a1 − [(a2 − a3 ) + (a4 − a5 ) + · · · + a2k ] < a1
Sendo uma sucessão monótona e limitada, S2k é uma sucessão convergente. Por outro lado,
de S2k+1 = S2k + a2k+1 conclui-se que lim S2k+1 = lim S2k , visto que por hipótese an
k→+∞ k→+∞
é um infinitésimo.
Como as subsucessões dos termos de ordem par e de ordem ı́mpar têm o mesmo limite,

X
Sn é convergente. Então, por definição, a série (−1)n−1 an é convergente.
n=1

Teorema 3.3.2 Sejam an uma sucessão decrescente de termos positivos, tal que

X
lim an = 0, e S a soma da série (−1)n−1 an . Então
n→+∞
n=1

0 ≤ (−1)n (S − Sn ) ≤ an+1 ∀n ∈ N.
100 3. Séries Numéricas

Demonstração: Sabemos da demonstração do teorema anterior que S2k é uma subsucessão


de Sn crescente e com o mesmo limite, S, da subsucessão S2k+1 . Prova-se, por um processo
análogo ao usado para S2k , que S2k+1 é decrescente. Então

S2k ≤ S e S ≤ S2k+1 ∀k ∈ N.

Destas desigualdades conclui-se que

0 ≤ S2k−1 − S ≤ S2k−1 − S2k = a2k


0 ≤ S − S2k ≤ S2k+1 − S2k = a2k+1 ,

isto é,
0 ≤ S2k−1 − S ≤ a2k
0 ≤ S − S2k ≤ a2k+1 ,
ou ainda,
0 ≤ (−1)2k−1 (S − S2k−1 ) ≤ a2k
0 ≤ (−1)2k (S − S2k ) ≤ a2k+1 .
Destas duas últimas desigualdades conclui-se que

0 ≤ (−1)n (S − Sn ) ≤ an+1 .

Corolário 1 Sejam an uma sucessão decrescente de termos positivos tal que lim an = 0
n→+∞

X
e S a soma da série (−1)n−1 an . Então
n=1

|S − Sn | ≤ an+1 ∀n ∈ N.

NOTA: Do corolário anterior ressalta que, nas condições indicadas, o erro que se comete
quando se toma para valor aproximado da soma de uma série alternada alguma soma
parcial é, em valor absoluto, inferior ao valor absoluto do primeiro dos termos desprezados.
Com efeito,
|(−1)n (S − Sn )| ≤ |(−1)n an+1 |,
ou seja,
|S − Sn | ≤ an+1 .

X 1
EXEMPLO 1: Consideremos a série (−1)n , denominada série harmónica alter-
n=1
n
1
nada. Pelo Critério de Leibnitz esta série é convergente, pois an = é uma sucessão
n
de termos positivos, decrescente e com limite zero. Se nesta série tomarmos para valor
aproximado da soma a soma parcial S9 cometeremos um erro que em valor absoluto é
1
inferior a 10 , valor de a10 .
3.3 Séries alternadas 101


X 1
EXEMPLO 2: Consideremos a série (−1)n , α ∈ R.
n=1

Se α ≤ 0 a série diverge porque o seu termo geral não tende para zero.
1
Se α > 0 a série é convergente porque an = α é uma sucessão decrescente, de termos
n
positivos e lim an = 0.
n→+∞

∞ µ ¶
X (−1)n (−1)n
EXEMPLO 3: Seja an o termo geral da série √ 1+ √ .
n=1
n n
Como an é um infinitésimo e an > 0 ∀n > 1, mas an não é decrescente, pelo Critério
de Leibnitz nada podemos concluir.
No entanto, vê-se facilmente que a série dada é divergente porque é a soma de uma
∞ ∞
n 1 1
X X
série convergente – a série (−1) √ – com uma série divergente – a série .
n=1
n n=1
n
102 3. Séries Numéricas

3.4 Convergência absoluta



X ∞
X
Teorema 3.4.1 Se a série |an | é convergente, o mesmo acontece à série an .
n=1 n=1


X
Demonstração: A série |an | é convergente se, e só se,
n=1

∀δ > 0 ∃p ∈ N : m > n > p ⇒ | |an+1 | + · · · + |am | | < δ.


Como
|an+1 + · · · + am | ≤ |an+1 | + · · · + |am |
e
| |an+1 | + · · · + |am | | = |an+1 | + · · · + |am |
temos que
∀δ > 0 ∃p ∈ N : m > n > p ⇒ |an+1 + · · · + am | < δ,

X
ou seja, a série an é convergente.
n=1

NOTA: É importante observar que o recı́proco deste teorema não é verdadeiro, isto é,

X ∞
X
a série an pode ser convergente sem que a série dos módulos, |an |, o seja. Basta
n=1 n=1
observar a série harmónica (divergente) e a série harmónica alternada (convergente): a
série harmónica é a série dos módulos da série harmónica alternada.

X
Definição 3.4.1 Uma série an diz-se absolutamente convergente se a série
n=1

X ∞
X
|an | for convergente. Uma série an diz-se simplesmente convergente ou con-
n=1 n=1

X
dicionalmente convergente se for convergente e a série |an | for divergente.
n=1


X ∞
X
Definição 3.4.2 Diz-se que a série bn é um rearranjo da série an , ou que desta
n=1 n=1
se obtém por reordenação dos seus termos, se existir uma bijecção φ de N em N tal que
bn = aφ(n) .

X
Teorema 3.4.2 Se a série an é absolutamente convergente então qualquer série que
n=1
dela se obtenha por reordenação dos seus termos é absolutamente convergente e tem a
mesma soma.
3.4 Convergência absoluta 103

Este teorema generaliza às séries absolutamente convergentes a propriedade comuta-


tiva da adição usual. Contudo, é de referir que esta propriedade não vale para as séries
simplesmente convergentes e pode mesmo demonstrar-se que por reordenação dos termos
de uma série simplesmente convergente se pode obter outra série de soma previamente
fixada e até uma série divergente.

X
Teorema 3.4.3 Seja an uma série simplesmente convergente. Então:
n=1

X
a) Existem bijecções φ : N → N tais que a série aφ(n) é divergente.
n=1

X
b) Para todo o número real k existe uma bijecção φ : N → N tal que a série aφ(n) é
n=1
convergente e tem soma igual a k.

X 1
EXEMPLO: Consideremos a série harmónica alternada, (−1)n−1
, que sabemos
n=1
n
ser simplesmente convergente. Reorganizemos os seus termos por forma que cada termo
positivo seja seguido por dois termos negativos. Obtemos a seguinte série:
1 1 1 1 1 1 1 1
1− − + − − + − − + ···
2 4 3 6 8 5 10 12
Temos para esta série as somas parciais:

S1 = 1
′ 1
S2 = 1 −
2 µ ¶
′ 1 1 1 1 1 1 1
S3 = 1− − = − = 1− = S2
2 4 2 4 2 2 2
′ 1 1 1
S4 = 1− − +
2 4 3
′ 1 1 1 1
S5 = 1− − + −
2 4 3 6 µ ¶ µ ¶
′ 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S6 = 1− − + − − = 1− − + − −
2 4 3 6 µ8 2 ¶4 3 6 8
1 1 1 1 1 1 1 1 1
= − + − = 1− + − = S4
2 4 6 8 2 2 3 4 2
..
.
µ ¶ µ ¶
′ ′1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S9 = S6 + − − = 1− + − + − −
µ 5 10 12 ¶ 2 2 3 µ4 5 10 12 ¶
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
= 1− + − + − = 1− + − + − = S6
2 2 3 4 10 12 2 2 3 4 5 6 2
..
.
104 3. Séries Numéricas

n
X 1
onde Sn = (−1)i−1 .
i=1
i
′ 1 ′ 1
Então S3n = S2n o que implica que, sendo lim Sn = S, lim S3n = S.
2 n→+∞ n→+∞ 2
′ ′ 1 ′ ′ 1 1
Como S3n+1 = S3n + e S3n+2 = S3n + − tem-se
2n + 1 2n + 1 4n + 2
′ ′ 1
lim S3n+1 = lim S3n + lim
n→+∞ n→+∞ n→+∞ 2n + 1

e
′ ′ 1 1
lim S3n+2 = lim S3n + lim − lim
n→+∞ n→+∞ n→+∞ 2n + 1 n→+∞ 4n + 2
ou seja,
′ ′ ′ 1
lim S3n+1 = lim S3n+2 = lim S3n = S.
n→+∞ n→+∞ n→+∞ 2
′ 1
Conclui-se assim que lim Sn = S, isto é, a série obtida por reordenação dos termos
n→+∞ 2
da série harmónica alternada é convergente e tem soma igual a metade da soma da série
dada.
3.5 Séries de termos não negativos 105

3.5 Séries de termos não negativos

Neste parágrafo vamos estabelecer alguns critérios de convergência de séries de termos


não negativos e, portanto, aplicáveis também à investigação da convergência absoluta das
séries em geral. É evidente que uma série de termos não negativos se for convergente é
absolutamente convergente uma vez que o valor absoluto do seu termo geral é ele próprio.

X ∞
X
Teorema 3.5.1 Seja an uma série de termos não negativos. Então a série an é
n=1 n=1
convergente se, e só se, a sucessão das suas somas parciais é limitada.
n
X
Demonstração: Seja Sn = ai . Se a série é convergente então, por definição, a sucessão
i=1
Sn tem limite finito. Consequentemente é uma sucessão limitada.
Suponhamos que Sn é limitada. Como an ≥ 0 tem-se Sn+1 ≥ Sn ∀n ∈ N, ou seja, Sn é
uma sucessão monótona crescente. As duas afirmações anteriores implicam a convergência

X
de Sn o que equivale a dizer que a série an é convergente.
n=1

Teorema 3.5.2 (Critério do integral) Seja f : [1, +∞[→ R uma função contı́nua,
positiva e decrescente em [1, +∞[. Para cada n ∈ N, seja an = f (n). Então a série
X∞ Z ∞
an e o integral impróprio f (x) dx são da mesma natureza (isto é, são ambos
n=1 1
convergentes ou ambos divergentes).

Demonstração: ∀x ≥ 1 ∃n ∈ N : n ≤ x ≤ n + 1. Como f é decrescente,

f (n + 1) ≤ f (x) ≤ f (n).

Mas f (n) = an e podemos escrever

an+1 ≤ f (x) ≤ an .

Integrando em ordem a x entre n e n + 1 obtemos


Z n+1 Z n+1 Z n+1 Z n+1
an+1 dx ≤ f (x) dx ≤ an dx ⇔ an+1 ≤ f (x) dx ≤ an .
n n n n

Somando ordenadamente desde n = 1 até n = N − 1 temos


NX−1 N
X −1 µZ n+1 ¶ NX−1
an+1 ≤ f (x) dx ≤ an
n=1 n=1 n n=1
N
X −1 Z N N
X −1
⇔ an+1 ≤ f (x) dx ≤ an
n=1 1 n=1
106 3. Séries Numéricas

Z N
Se o integral é divergente, pelas condições de f , lim f (x) dx = +∞. Então, pela
N →+∞ 1
desigualdade da direita, o limite da sucessão das somas parciais da série é também
Z N +∞,
isto é, a série diverge. Se o integral converge então existe e é finito lim f (x) dx.
N →+∞ 1
n
X
Em consequência, a sucessão Sn = ai é limitada. Como a série é de termos positivos
i=1
conclui-se que é convergente.

X 1
EXEMPLO 15: Consideremos a série , α ∈ R, habitualmente designada por série
n=1

de Dirichlet.
Se α ≤ 0, a série é divergente porque o seu termo geral não tende para zero.
1
Se α > 0, a função f (x) = α é contı́nua, positiva e decrescente em [1, +∞[. Sabemos
Z +∞ x
1
que dx converge se, e só se, α > 1. Então, pelo Critério do Integral, a série
1 xα
converge se, e só se, α > 1.

X 1
EXEMPLO 16: Seja an a série de termo geral an = , α ∈ R. Seja
n=2
n(log(n))α
1
f (x) = .
x(log(x))α
É uma função positiva e contı́nua em [2, +∞[. Como, se x > 2,

(log(x))α + α(log(x))α−1
f ′ (x) = 0 ⇔ − =0
x2 (log(x))2α
(log(x))α−1 (log(x) + α)
⇔− =0
x2 (log(x))2α

⇔ log(x) + α = 0

⇔ x = e−α

se x > e−α vem f ′ (x) < 0 e, portanto, f é decrescente. Estudemos o integral


Z +∞
1
dx
p x(log(x))α
sendo p ∈ N tal que p ≥ 2 e p ≥ e−α .
Se α = 1
Z t
1
dx = [ log(log(x)) ]tp = log(log(t)) − log(log(p))
p x log(x)
3.5 Séries de termos não negativos 107

e se α 6= 1
Z t · ¸t
1 (log(x))−α+1 (log(t))−α+1 − (log(p))−α+1
dx = =
p x(log(x))α −α + 1 p −α + 1
tendo-se 
t Z 
 +∞, se α ≤ 1
1
lim dx = −α+1
t→+∞ p x(log(x))α
 (log(p))

, se α > 1
α−1
Então o integral converge se, e só se, α > 1. Pelo Critério do integral a série converge se,
e só se, α > 1.

X ∞
X
Teorema 3.5.3 (Critério geral de comparação) Sejam an e bn duas séries de
n=1 n=1
termos não negativos tais que an ≤ bn , ∀n ∈ N.

X ∞
X
a) Se a série bn é convergente então a série an é convergente.
n=1 n=1

X ∞
X
b) Se a série an é divergente então a série bn é divergente.
n=1 n=1
n
X n
X

Demonstração: Sejam Sn = ai e S n = bi . Como 0 ≤ an ≤ bn , ∀n ∈ N, temos que
i=1 i=1

0 ≤ S n ≤ Sn .

X ′
a) Visto que bn é convergente a sucessão das suas somas parciais, Sn , é limitada
n=1

X
(Teorema 3.5.1) o que implica que a sucessão Sn também é limitada, isto é, a série an
n=1
é convergente.

X
b) Se a série an é divergente então a sucessão Sn não é limitada (Teorema 3.5.1). Isto
n=1

X

implica que a sucessão Sn também não é limitada e, assim, a série bn é divergente.
n=1

NOTA: A omissão de um número finito de termos não altera a natureza da série como
vimos, portanto, o teorema anterior mantém-se válido se ∃p ∈ N : an ≤ bn ∀n ≥ p.

X 1
EXEMPLO 1: Consideremos a série . Como
n=1
n!
1 1 1
0< = ≤ n−1
n! n(n − 1)(n − 2) . . . 2 2
108 3. Séries Numéricas

∞ ∞
X 1 1 X 1
e a série n−1
é uma série geométrica de razão , portanto convergente, a série
n=1
2 2 n=1
n!
é convergente.

X 1
EXEMPLO 2: Consideremos a série α
, α < 1. Com esta hipótese, nα < n, o
n=1
n

1 1 X 1
que implica que α > . Como a série é divergente a série dada também será
n n n=1
n
divergente.
∞ ∞
X 1 X 1
EXEMPLO 3: Estudemos a natureza da série 2
. Já vimos que a série
n=1
n n=1
n(n + 1)
é convergente e como temos

1 1
0< 2
<
(n + 1) n(n + 1)

X 1
podemos concluir, pelo Teorema 1.5.2, que a série é convergente, o mesmo
n=1
(n + 1)2

X 1
acontecendo à série 2
porque difere desta apenas num termo.
n=1
n


X ∞
X
Corolário 1 Sejam an e bn duas séries de termos positivos, c uma constante
n=1 n=1
positiva e p um número natural tais que an ≤ c bn , ∀n ≥ p.

X ∞
X
a) Se a série bn é convergente então a série an é convergente.
n=1 n=1


X ∞
X
b) Se a série an é divergente então a série bn é divergente.
n=1 n=1

Demonstração: Seja cn = c bn . Pelo Teorema,



X ∞
X
a) se a série cn é convergente então a série an é convergente;
n=1 n=1


X ∞
X
b) se a série an é divergente então a série cn é divergente.
n=1 n=1
3.5 Séries de termos não negativos 109


X ∞
X
Como c > 0, as séries cn e bn têm a mesma natureza e deste facto sai o resultado
n=1 n=1
pretendido.

X ∞
X
Corolário 2 Sejam an e bn duas séries tais que an ≥ 0 e bn > 0, ∀n ∈ N. Se
n=1 n=1
an
lim = k ∈ R+ então as séries são da mesma natureza.
n→+∞ bn

an
Demonstração: Seja lim = k. Por definição,
n→+∞ bn
¯ ¯
¯ an ¯
∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀n > p ¯¯ − k ¯¯ < δ.
bn
k
Seja δ = . A partir de certa ordem p temos
2
¯ ¯
¯ an
¯ − k ¯ < k ⇔ − k < an − k < k ⇔ k < an < 3 k
¯
¯ bn ¯ 2 2 bn 2 2 bn 2
e, portanto,
3 k
an <
k bn e bn < an .
2 2
Destas desigualdades conclui-se, pelo corolário anterior, o resultado pretendido.

X ∞
X
Corolário 3 Sejam an e bn duas séries tais que an ≥ 0 e bn > 0, ∀n ∈ N. Se
n=1 n=1
an
lim = 0 então
n→+∞ bn

X ∞
X
a) se a série bn é convergente, a série an também é convergente;
n=1 n=1

X ∞
X
b) se a série an é divergente, a série bn também é divergente.
n=1 n=1

an
Demonstração: Seja lim = 0. Por definição,
n→+∞ bn
¯ ¯
¯ an ¯
∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀n > p ¯¯ ¯¯ < δ.
bn
A partir de certa ordem p temos
¯ ¯
¯ an ¯ an
¯ ¯=
¯ bn ¯ bn < δ,

pois an ≥ 0 e bn > 0. Consequentemente, 0 ≤ an < δbn , e do Corolário 1 sai o resultado.


110 3. Séries Numéricas


X ∞
X
Corolário 4 Sejam an e bn duas séries tais que an ≥ 0 e bn > 0, ∀n ∈ N. Se
n=1 n=1
an
lim = +∞ então
n→+∞ bn


X ∞
X
a) se a série bn é divergente, a série an também é divergente;
n=1 n=1


X ∞
X
b) se a série an é convergente, a série bn também é convergente.
n=1 n=1

an
Demonstração: Seja lim = +∞. Por definição,
n→+∞ bn

an
∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀n > p > δ.
bn
A partir de certa ordem p temos an > δbn > 0, pois bn > 0, e desta desigualdade conclui-se,
pelo Corolário 1, o que pretendı́amos.

X ∞
X
Corolário 5 Sejam an e bn duas séries tais que an > 0 e bn > 0, ∀n ∈ N. Se
n=1 n=1
existir p ∈ N tal que
an+1 bn+1
≤ ∀n ≥ p
an bn
então

X ∞
X
a) se a série bn é convergente, a série an é convergente;
n=1 n=1


X ∞
X
b) se a série an é divergente, a série bn é divergente.
n=1 n=1

Demonstração: Como an > 0 e bn > 0 temos

an+1 bn+1 an+1 an


≤ ⇔ ≤ ,
an bn bn+1 bn
an
ou seja, a sucessão é uma sucessão decrescente a partir da ordem p. Então existe uma
bn
ap
constante k (k ≥ ) tal que
bp
an
≤ k,
bn
3.5 Séries de termos não negativos 111

ou seja, an ≤ k bn , ∀n ≥ p. Do Corolário 1 sai o resultado.



X 2n2 + 1
EXEMPLO 4: Consideremos a série . É uma série de termos positivos. Como
n=1
n4 + 3

2n2 + 1
4 2n4 + n2
lim n + 3 = lim =2
n→+∞ 1 n→+∞ n4 + 3
n2
∞ ∞
X 2n2 + 1 X 1
pelo Corolário 2 as séries 4
e 2
têm a mesma natureza e como esta última
n=1
n + 3 n=1
n
é convergente (Exemplo 3) a série dada é convergente.

X 1 + (−1)n
EXEMPLO 5: A série é uma série de termos não negativos. Como
n=1
n2

1 + (−1)n 2
0≤ 2
≤ 2
n n

X 1
e a série 2
é convergente, a série dada é convergente (Corolário 1).
n=1
n

∞ ∞
X log n X 1
EXEMPLO 6: A série é uma série de termos não negativos. Como é
n=1
n3 n=1
n2
convergente e
log n
3 log n
lim n = lim =0
n→+∞ 1 n→+∞ n
n2
podemos concluir, pelo Corolário 3, que a série dada também é convergente.
∞ ∞ ∞
X X 1 × 3 × · · · × (2n − 1) X 1
EXEMPLO 7: Consideremos as séries bn = e . São
n=1
2 × 4 × · · · 2n
n=1 n=1
n
ambas séries de termos positivos, sendo a segunda divergente. Como
1 × 3 × · · · × (2n − 1)(2n + 1) 1
bn+1 2 × 4 × · · · 2n(2n + 2) 2n + 1 an+1 n
= = e = n+1 = ,
bn 1 × 3 × · · · × (2n − 1) 2n + 2 an 1 n+1
2 × 4 × · · · 2n n
verifica-se facilmente que
n 2n + 1
≤ ,
n+1 2n + 2
112 3. Séries Numéricas


X
o que permite concluir, pelo Corolário 5, que a série bn é divergente.
n=1


X
Teorema 3.5.4 (Critério da Razão) Seja an uma série de termos positivos.
n=1


an+1 X
a) Se existirem r < 1 e p ∈ N tais que ≤ r < 1, ∀n ≥ p, então a série an é
an n=1
convergente.

an+1 X
b) Se existir p ∈ N tal que ≥ 1, ∀n ≥ p, então a série an é divergente.
an n=1

Demonstração:

X ∞
X
a) A série bn = rn é uma série geométrica de razão r. Como 0 < r < 1, a série é
n=1 n=1
convergente. Mas
an+1 rn+1
≤ n = r, ∀n ≥ p,
an r

X
o que implica, pelo Corolário 5, que a série an é convergente.
n=1

X ∞
X
b) A série bn = 1 é uma série divergente. Como
n=1 n=1

an+1 bn+1
≥1= , ∀n ≥ p,
an bn

X
o Corolário 5 permite-nos afirmar que a série an é divergente.
n=1


X
Corolário 1 (Critério de D’Alembert) Seja an uma série de termos positivos. Se
n=1
an+1
existir lim = a (a ∈ R+
0 ou a = +∞), então
n→+∞ an


X
a) se a < 1, a série an é convergente;
n=1


X
b) se a > 1, a série an é divergente.
n=1
3.5 Séries de termos não negativos 113

Demonstração: Sabemos que, se a ∈ R,


¯ ¯
an+1 ¯ an+1 ¯
lim = a ⇔ ∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀n > p ¯¯ − a¯¯ < δ.
n→+∞ an an
a) Seja δ tal que 0 < δ < 1 − a. Então existe p ∈ N tal que
¯ ¯
¯ an+1
¯ < δ ∀n > p ⇔ −δ < an+1 − a < δ ∀n > p ⇔ a − δ < an+1 < a + δ ∀n > p.
¯
¯
¯ an − a ¯ an an
Mas se δ < 1 − a então a + δ < 1 e a alı́nea a) do Critério da Razão permite-nos concluir

X
que a série an é convergente.
n=1
b) Se a ∈ R, seja δ = a − 1. Então existe p ∈ N tal que
¯ ¯
¯ an+1 ¯ an+1
¯ an − a¯ < a − 1 ∀n > p ⇔ 1 < an < 2a − 1 ∀n > p.
¯ ¯


X
Pelo teorema anterior a série an diverge.
n=1
Se a = +∞, existe p ∈ N tal que
an+1
> 1 ∀n > p,
an

X
e, ainda pelo teorema anterior, a série an diverge.
n=1

an+1
NOTA: Se lim = 1 nada se pode concluir, pois existem séries divergentes e séries
n→+∞ an

X 1
convergentes nesta situação. Por exemplo, a série harmónica é uma série divergente
n=1
n
e
an+1 n
lim = lim =1
n→+∞ an n→+∞ n + 1

X 1
e a série é convergente e
n=1
n2
µ ¶2
an+1 n
lim = lim = 1.
n→+∞ an n→+∞ n+1
an+1
No entanto, se lim = 1 e a convergência for por valores maiores do que 1, isso
n→+∞ an
an+1
significa que existe uma ordem p ∈ N a partir da qual ≥ 1, o que implica, pelo
an
X∞
Critério da Razão, que a série an é divergente.
n=1
114 3. Séries Numéricas


X k n n!
EXEMPLO 8: Seja k > 0. A série é uma série de termos positivos. Como
n=1
nn

k n+1 (n + 1)!
µ ¶n
(n + 1)n+1 k n+1 (n + 1)! nn n 1
lim n = lim n = lim k · =k·
n→+∞ k n! n→+∞ k n! (n + 1) n+1 n→+∞ n+1 e
n n

k
o Critério de D’Alembert permite-nos concluir que: se < 1, isto é, se k < e, a série é
e
k
convergente e se > 1, isto é, se k > e, a série é divergente.
e
k
Se = 1, isto é, se k = e, nada se pode concluir pelo Critério de D’Alembert. No
e µ ¶n µ ¶n
n+1 n
entanto, como é uma sucessão crescente com limite e, é uma sucessão
n µ ¶n n + 1
1 n
decrescente com limite , o que implica que e · será decrescente e terá limite
e n+1
an+1
1, ou seja, tende para 1 por valores maiores do que 1. Então a série é divergente se
an
k = e.

X (n!)2 + n!
EXEMPLO 9: A série é uma série de termos positivos e
n=1
(4n)! + n4

(n!)2 + n! 2(n!)2
0< < .
(4n)! + n4 (4n)!

X 2(n!)2
Estudemos a série pelo Critério de D’Alembert.
n=1
(4n)!

2((n + 1)!)2
(4n + 4)! (n + 1)2
lim = lim =0
n→+∞ 2(n!)2 n→+∞ (4n + 4)(4n + 3)(4n + 2)(4n + 1)

(4n)!

X 2(n!)2
Concluı́mos, assim, que a série converge, logo a série dada converge.
n=1
(4n)!

EXEMPLO 10: Consideremos a série de termos positivos

1 1 1 1 1 1 1 1 1
+ · + 2 · + 2 · 2 + 3 · 2 + ···
2 2 3 2 3 2 3 2 3
3.5 Séries de termos não negativos 115

1 1 1 1 1 1 1
ou seja, a1 = , a2 = · , a3 = 2 · , a4 = 2 · 2 , . . . , ou ainda,
2 2 3 2 3 2 3

 1 1
 n n ,
 se n é par
an = 22 32
 1 1
 n+1 n−1 , se n é ı́mpar

2 2 3 2
11
n n n
an+1 2
n+2
32 2232 1
se n é par então = 2
= n+2 n = 2−1 =
an 1 1 2 2 32 2
n n
2 3
2 2

1 1
n+1 n−1
an+1 n+1 n+1
2 2 3 2 1
se n é ı́mpar então = 2 2 3 2 = n+1 n+1 = 3−1 =
an 1 1 2 2 3 2 3
n+1 n−1
2 2 3 2

Pelo Critério da Razão a série converge.



X
Teorema 3.5.5 (Critério da Raiz) Seja an uma série de termos não negativos.
n=1


√ X
a) Se existirem r < 1 e p ∈ N tais que n
an ≤ r, ∀n > p, então a série an é conver-
n=1
gente.

b) Se existirem p ∈ N e uma subsucessão, (akn ), de (an ) tal que kn
akn ≥ 1, ∀kn > p,

X
então a série an é divergente.
n=1

Demonstração:

√ X
n
a) Se an ≤ r, ∀n > p então an ≤ r < 1 ∀n ≥ p. A série
n
rn é uma série
n=1
convergente por ser uma série geométrica de razão r, com 0 < r < 1. Portanto, a série
X∞
an é convergente.
n=1 √
b) Se kn akn ≥ 1, ∀kn > p então akn ≥ 1, ∀kn > p, pelo que não tende para zero.

X
Em consequência, a sucessão an não tende para zero o que implica que a série an é
n=1
divergente.

X
Corolário 1 Seja an uma série de termos não negativos.
n=1
116 3. Séries Numéricas


√ X
a) Se n→+∞
lim n an < 1, a série an é convergente.
n=1


√ X
b) Se n→+∞
lim n an > 1, a série an é divergente.
n=1


Demonstração: Seja a =n→+∞
lim n an .
a) Seja r tal que a < r < 1. Podemos afirmar que

∃p ∈ N : ∀n > p n an < r

X
o que implica, pela alı́nea a) do teorema, que a série an converge.
n=1

b) Por definição de limite superior, existe uma subsucessão de n an com limite a > 1,
pelo que esta sucessão tem uma infinidade de valores maiores do que 1. Pela alı́nea b) do
teorema, a série diverge.

X
Corolário 2 (Critério da Raiz de Cauchy) Seja an uma série de termos não
√ n=1
negativos. Se existir lim n an = a (a ∈ R+
0 ou a = +∞), então
n→+∞


X
a) se a < 1, a série an é convergente;
n=1


X
b) se a > 1, a série an é divergente.
n=1

Demonstração:
√ √ √
Se existir lim
an = a, entãon→+∞
n
lim n an = lim n an = a e aplica-se o Corolário 1.
n→+∞ n→+∞

NOTA: Se lim n an = 1 nada se pode concluir, pois existem séries divergentes e séries
n→+∞

X 1
convergentes nesta situação. Por exemplo, a série harmónica é uma série divergente
n=1
n
e r
n 1 1
lim = lim √ =1
n→+∞ n n→+∞ n
n

X 1
e a série é convergente e
n=1
n2
r
n 1 1
lim 2
= lim √ = 1.
n→+∞ n n→+∞ n
n2
3.5 Séries de termos não negativos 117

∞ µ ¶n2
X n+1
EXEMPLO 11: A série é uma série de termos positivos. Como
n=1
n
s
µ ¶n2 µ ¶n
n n+1 n+1
lim = lim =e>1
n→+∞ n n→+∞ n

a série é divergente.

X 1
EXEMPLO 12: Consideremos a série .
n=1
(3 + (−1)n )n

 1 , se n é par
s 
1 4
n
=
(3 + (−1)n )n  1 , se n é ı́mpar
2
√ 1
Então n
an ≤ < 1, ∀n ∈ N. Portanto, pelo Critério da Raiz a série é convergente.
2
NOTA: O Critério de Cauchy é mais geral do que o Critério de D’Alembert. Isto significa
que se nada se puder concluir pelo Critério de Cauchy também nada se concluirá pelo
an+1 √
Critério de D’Alembert. De facto, sabe-se que lim = a ⇒ lim n an = a (em
n→+∞ an n→+∞
particular, se a = 1, o Critério de D’Alembert é inconclusivo, o mesmo acontecendo com o
Critério de Cauchy). Note-se que o recı́proco não é verdadeiro. Pode, portanto, acontecer
que se possam tirar conclusões através do Critério de Cauchy sem que o possamos fazer
com o Critério de D’Alembert.

X n
EXEMPLO 13: Consideremos a série 2−n−(−1) . Usando o Critério de Cauchy,
n=1


n (−1)n 1
lim 2−n−(−1)n = lim 2−1 .2− n = <1
n→+∞ n→+∞ 2
concluı́mos que a série é convergente. Pelo Critério de D’Alembert nada se pode concluir.
De facto,
n+1 ½
2−(n+1)−(−1) −n−1−(−1)n+1 +n+(−1)n −1−(−1)n+1 +(−1)n 2, se n é par
=2 =2 = −3
2−n−(−1) n
2 , se n é ı́mpar

X ∞
X
Teorema 3.5.6 (Critério de Kummer) Sejam an e bn duas séries de termos
n=1 n=1
∞ µ ¶
X 1 an 1
positivos, com bn divergente. Se existir lim · − = k (k ∈ R ou
n=1
n→+∞ bn an+1 bn+1
k = ∞), então
118 3. Séries Numéricas


X
a) se k > 0, a série an é convergente;
n=1


X
b) se k < 0, a série an é divergente.
n=1

Demonstração:
µ Se k ∈ R,¶ ¯ ¯
1 an 1 ¯1 a n 1 ¯
lim · − = k ⇔ ∀δ > 0 ∃p ∈ N ∀n > p ¯ · − − k ¯<δ
n→+∞ bn an+1 bn+1 ¯ bn an+1 bn+1 ¯
Mas ¯ ¯
¯1 a n 1 ¯ 1 an 1
¯ ·
¯ bn an+1 − bn+1 − k ¯ < δ ⇔ k − δ < bn · an+1 − <k+δ
¯
bn+1
k
a) Seja k ∈ R+ e δ = . Existe uma ordem n0 ∈ N a partir da qual se tem
2

k 1 an 1
k− < · −
2 bn an+1 bn+1
k 1 an 1
⇔ < · −
2 bnµ an+1 bn+1 ¶
2 1 an 1
⇔ 1< · −
k bn an+1 µ bn+1 ¶
2 1 an 1
⇔ an+1 < an+1 · −
kµ bn a¶ n+1 bn+1
2 an an+1
⇔ an+1 < −
k bn bn+1

Somando ordenadamente os dois membros da desigualdade desde n0 + 1 até n + 1


obtemos
n+1 n+1 µ ¶
X X 2 ai−1 ai
ai < −
i=n0 +1 i=n0 +1
k bi−1 bi
n+1 µ ¶
X 2 an0 an0 +1 an0 +1 an0 +2 an an+1
ai < − + − + ··· + −
i=n0 +1
k b n0 b n0 +1 b n0 +1 b n0 +2 b n bn+1
n+1 µ ¶
X 2 an0 an+1 2 an0
ai < − <
i=n +1
k bn0 bn+1 k bn0
0


X
Então a sucessão das somas parciais da série an é limitada, pois
n=1

n+1
X 2 an0
0 < Sn+1 = ai = Sn0 + an0 +1 + · · · + an+1 ≤ Sn0 +
i=1
k bn0
3.5 Séries de termos não negativos 119


X
e pelo Teorema 3.5.1 a série an converge.
n=1
Se k = +∞, seja α > 0, qualquer. Existe uma ordem n0 ∈ N a partir da qual se tem
1 an 1 α
· − >
bn an+1 bn+1 2
e podemos aplicar o raciocı́nio anterior.
b) Seja k ∈ R− e δ = −k. Existe uma ordem n0 ∈ N a partir da qual se tem

1 an 1
· − <0
bn an+1 bn+1
an bn
⇔ <
an+1 bn+1
an+1 bn+1
⇔ >
an bn

X ∞
X
Como a série bn é divergente, o Corolário 5 permite-nos concluir que an é
n=1 n=1
divergente.
Se k = −∞, também existe uma ordem n0 ∈ N a partir da qual se tem
1 an 1
· − <0
bn an+1 bn+1
e termina-se do mesmo modo.

X
Corolário 1 (Critério de Raabe) Seja an uma série de termos positivos. Se existir
µ ¶ n=1
an
lim n − 1 = a, então
n→+∞ an+1

X
a) se a < 1, a série an é divergente;
n=1


X
b) se a > 1, a série an é convergente.
n=1


1 X 1
Demonstração: Basta fazer no teorema anterior bn = . A série é divergente e
n n=1
n
µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 an 1 an an
lim · − = lim n· − n − 1 = lim n − 1 −1 = a−1.
n→+∞ bn an+1 bn+1 n→+∞ an+1 n→+∞ an+1
O corolário está demonstrado.
120 3. Séries Numéricas

NOTA: Muitas vezes os casos que pelo Critério de D’Alembert são inconclusivos podem
ser resolvidos pelo Critério de Raabe.
∞ ∞
X 1 × 3 × · · · × (2n − 1) 1 X
EXEMPLO 14: Consideremos a série · = an .
n=1
2 × 4 × · · · × 2n n n=1
an+1 n(2n + 1)
lim = lim =1
n→+∞ an n→+∞ (n + 1)(2n + 2)

e, assim, pelo Critério de D’Alembert nada se pode concluir. Pelo Critério de Raabe
µ ¶ µ ¶
an (n + 1)(2n + 2)
lim n − 1 = lim n −1
n→+∞ an+1 n→+∞ n(2n + 1)
(n + 1)(2n + 2) − n(2n + 1) 3n + 2 3
= lim = lim = >1
n→+∞ 2n + 1 n→+∞ 2n + 1 2
portanto, a série é convergente.
3.6 Multiplicação de séries 121

3.6 Multiplicação de séries



X ∞
X
Sejam an ebn duas séries convergentes de somas A e B, respectivamente. Ao
n=1 ̰n=1 ! ̰ !
X X
pensarmos no produto an × bn será natural defini-lo por forma que a série
n=1 n=1
obtida, sendo convergente, tenha soma A × B. Podemos definir, por exemplo
Ã∞ ! Ã∞ ! ∞
à ∞
!
X X X X
an × bn = an bk
n=1 n=1 n=1 k=1

obtendo-se à !

X ∞
X ∞
X ∞
X
an bk = an · B = B · an = B × A.
n=1 k=1 n=1 n=1

Pode, no entanto, perguntar-se se não seria possı́vel fazer o produto das séries mul-
tiplicando cada termo an da primeira por cada termo bk e formar uma única série cujos
termos sejam os produtos an bk por qualquer ordem, de modo que a soma dessa série fosse
A × B. Como resposta temos o teorema

X ∞
X
Teorema 3.6.1 Sejam an e bn duas séries convergentes, de somas A e B, res-
n=1 n=1
pectivamente. Seja φ uma aplicação bijectiva, φ : N2 → N, φ(i, j) = n. A cada φ
X∞ ∞
X
podemos fazer corresponder uma série cn , com cn = cφ(i,j) = ai × bj . A série cn
n=1 n=1

X ∞
X
converge, seja qual for a aplicação φ considerada se, e só se, an e bn são absolu-
n=1 n=1

X ∞
X
tamente convergentes e, nesse caso, tem-se cn = A × B, sendo a série cn também
n=1 n=1
absolutamente convergente.


X
NOTA: Dizer que cn converge seja qual for a aplicação φ considerada, equivale a
n=1
afirmar que a série produto converge seja qual for a ordem por que se tomem os seus
termos.

X
Definição 3.6.1 Chama-se produto de Cauchy de duas séries convergentes, an e
à n ! n=1

X ∞
X X
bn , à série ak bn−k+1 .
n=1 n=1 k=1
122 3. Séries Numéricas

NOTA: Se n ∈ N0 então o produto de Cauchy escreve-se



à n !
X X
ak bn−k .
n=0 k=0

X ∞
X
Corolário 1 Se an e bn , são séries absolutamente convergentes de somas A e B,
n=1 n=1
respectivamente, então o seu produto de Cauchy é absolutamente convergente e tem soma
A × B.

X xn
EXEMPLO 1: Consideremos a série , x ∈ R. Como
n=0
n!
¯ n+1 ¯
¯ x ¯
¯ ¯
¯ (n + 1)! ¯ |x|
lim ¯ n¯
¯x ¯ = lim =0
n→+∞ n→+∞ n + 1
¯ ¯
¯ n! ¯

a série é absolutamente convergente ∀x ∈ R. Então o produto de Cauchy de duas séries


deste tipo é absolutamente convergente. Formemos o produto e verifiquemos que a série
obtida é absolutamente convergente.
Ã∞ ! Ã∞ ! ∞
à n !
X xn X yn X X xk y n−k
× = ·
n=0
n! n=0
n! n=0
k! (n − k)!

à n
!k=0
X 1 X n!
= · xk y n−k
n=0
n! k=0
k!(n − k)!

X (x + y)n
=
n=0
n!

NOTA: O produto de Cauchy de duas séries não absolutamente convergentes pode con-
duzir a uma série divergente.

X (−1)n
EXEMPLO 2: A série √ é uma série simplesmente convergente. Calculando o
n=0
n+1
produto de Cauchy da série por ela própria, obtemos

à n ! ∞
à n !
X X (−1)k (−1)n−k X X 1
p ·p = (−1)n √ √
n=0 k=0 Ã
(k + 1) (n − k + 1) n=0 k=0
k+1 n−k+1
∞ n
!
X X 1
= (−1)n √ √
n=0 k=0
k+1 n−k+1
X∞
= (−1)n an
n=0
3.6 Multiplicação de séries 123

que é uma série alternada e como


n n
X 1 X 1
an = √ √ ≥ √ √ =1
k=0
k+1 n−k+1 k=0
n+1 n+1

an não tende para zero, sendo a série produto uma série divergente.

X ∞
X
Teorema 3.6.2 (Mertens) Se pelo menos uma das séries convergentes an e bn é
n=1 n=1
absolutamente convergente, então o seu produto de Cauchy é convergente e tem por soma
o produto das somas das séries dadas.

X ∞
X
Teorema 3.6.3 Se as séries an e bn são convergentes, de somas A e B, respecti-
n=1 n=1
vamente, então, se o seu produto de Cauchy é convergente, tem soma A × B.
∞ ∞
X (−1)n X (−1)n
EXEMPLO 3: A série é uma série simplesmente convergente e a série
n=1
n n=1
n2
é uma série absolutamente convergente. Pelo Teorema de Mertens a série produto, que é
uma série alternada, é convergente:
Ã∞ ! Ã∞ ! ∞
à n !
X (−1)n X (−1)n X X (−1)k (−1)n−k+1
× 2
= ·
n=1
n n=1
n n=1 k=1
k (n − k + 1)2

à n
!
X
n+1
X 1
= (−1) 2
.
n=1 k=1
k(n − k + 1)
124 3. Séries Numéricas

3.7 Exercı́cios

1. Determine o termo geral e a soma de cada uma das seguintes séries:


1 1 1 1
(a) + + + + ···;
3 8 15 24
1 1 1
(b) + + + ···;
1×2×3 2×3×4 3×4×5
1 1 1
(c) + + + ··· .
1×2×3×4 2×3×4×5 3×4×5×6
2. Determine a soma das séries:

X 2n + 1
(a) (−1)n ;
n=1
n(n + 1)
∞ ³a´ ³x´ ³x´
X 1
(b) n
tg n
, sabendo que tg = cotg − 2 cotg(x);
n=1
2 2 2 2
∞ √ √
X n+1− n
(c) √ ;
n=1
n2 + n

X (−1)n − 8
(d) .
n=1
3n


X
3. Seja an uma série convergente. Mostre que é divergente a série
n=1

X a3 + 5n
√n .
n=1
n2 + 1

4. Indique os valores de x para os quais convergem as seguintes séries e, quando


possı́vel, calcule a sua soma:

X 8n
(a) ;
n=0
(x + 1)3n

X
(b) (|x| − 1)n ;
n=1

X
(c) (−1)n x2n+1 .
n=0
3.7 Exercı́cios 125


X ∞
X
5. Mostre que se an = A ∈ R, então (an−1 + an + an+1 ) = 3A − a1 − 2a0 .
n=0 n=1

6. Estude do ponto de vista da convergência as seguintes séries e, em caso de con-


vergência, se esta é absoluta ou condicional:

X (−1)n+1
(a) ;
n=1
n

X (−1)n−1
(b) ;
n=1
n2

X n2
(c) (−1)n .
n=1
1 + n2

7. Considere a seguinte série:



X (−1)n+1
.
n=1
n

(a) Estude-a quanto à convergência.


1
(b) Qual a soma Sn da série que dá um erro inferior a 1000
?
(c) Indique um majorante do erro que se comete quando se toma para soma da
série S5 .

8. Considere a série: ∞
X (−1)n
.
n=1
(n + 1)2

(a) Verifique que é convergente.


1
(b) Calcule a soma com erro inferior a 1000 .
P P P P
9. Sejam an e bn duas séries convergentes, cn e dn duas séries divergentes e
α 6= 0 um número real. O que se pode afirmar sobre a natureza das seguintes séries?
X X
(a) (an + bn ) (b) (an bn )

X X
(c) (αan ) (d) (an + cn )

X X
(e) (an cn ) (f) (αcn )

X X
(g) (cn + dn ) (h) (cn dn )
126 3. Séries Numéricas

10. Determine a natureza das seguintes séries por um critério de comparação:


∞ ∞
Ãr !
X 1 X n+1
(a) 3+3
(b)
n=1
n n=1
n2 + 1
∞ ∞
X 1 X √
(c) p (d) (n − n2 − 1)
n=1 n(n2 + 1) n=1
∞ ∞ √
X 1 X n+ n
(e) (f)
n=1
(n + 1)n n=2
n2 − n
∞ √ ∞
X n n X n2 + 1
(g) √ (h)
n=1
(n + 1)3 n3 + 1 n=1
n3 + 1

11. Estude a natureza das seguintes séries pelo Critério da Raiz (ou da Raiz de Cauchy):
∞ ∞
X 1 X kn
(a) (b) , k constante
n=1
n4n n=1
n!
∞ µ ¶n2 ∞ ³ ³ π ´´n
X n X
(c) (d) sen
n=1
n+1 n=1
n

12. Estude a natureza das seguintes séries pelo Critério da Razão ou pelo de D’Alem-
bert:
∞ ∞
X n3 X nn
(a) (b)
n=1
n! n=1
(2n)!


X n! 1 2 3
(c) (d) + 2 + 3 + ···
n=1
n2 3 3 3

1 2! 3! 2 2×3 2×3×4
(e) + 2 + 3 + ··· (f) 1 + + + + ···
3 3 3 3 3×5 3×5×7
3.7 Exercı́cios 127

13. Estude a natureza das seguintes séries pelo Critério de Raabe:


∞ ∞
X n × n! X n
(a) (b)
n=1
(2n + 1)! n=1
(2n + 1)!
∞ √ ∞ √
X n−1 X n
(c) (d)
n=1
n n=1
n2 + 1

X 1
(e)
n=1
n(n + 1)(n + 2)

14. Usando o Critério do Integral, estude a natureza das seguintes séries:


∞ ∞
X 1 X 1
(a) (b)
n=2
n(log n)2 n=2
n log n

∞ ∞ µ ¶ n
X 1 X 1
(c) √ (d)
n=1
n+1−1 n=1
2

15. Estude quanto à convergência as seguintes séries:


∞ ∞
X 1 X 1
(a) √ (b) p
n=0
n2 +1 n=2 n(n2 − 1)
∞ ∞
X en nn X (n + p)!
(c) (d) , p, q ∈ N
n=1
n! n=1
n!(n + q)!
∞ µ ¶ ∞
X (−1)n 1 X 2n + 3
(e) +√ (f) (−1)n
n=1
n(n + 1) 3n n=0
(n + 1)(n + 2)
∞ ³ ³ π ´´n ∞ ³ nπ ´
X X 1
(g) tg (h) cos
n=3
n n=1
n 2
∞ ∞ µ ¶3n−1
X 1 X 2n
(i) 1 (j)
n=1 n(1+ n ) n=1
4n + 1
∞ ∞ ³e´
X n! X
(k) (l) cos (nπ) tg
n=1
(π + 1)(π + 2) . . . (π + n) n=3
n
∞ µ ¶ ∞
X n! 1 n
X sen(n + 1)
(m) n
2 + 2 (n) 2
n=1
n n +n n=1
n log (n + 1)
128 3. Séries Numéricas

∞ ∞ µ ¶
X 1 X 1 (n!)2
(o) n
, a ∈ R+
0 (p) +
n=0
2 +a n=3
3n (2n)!
∞ ∞
X 2 X n2 + 2n + 1
(q) (r)
n=1
n + p2
2
n=1
3n2 + 2
∞ ¡ ¡ ¢¢n ∞
X sen 3π2
X 1
(s) 2+1
(t)
n=1
n n=2
nn log n
∞ ∞
X 1 X
(u) (v) ne log n
n(1+ log n )
1
n=2 n=2

∞ ∞
X 1 X 1
(x) p (z) p
n=1 (n + 1)(n + 2) n=1 n(n2 + 2)

16. Estude quanto à convergência as seguintes séries:


∞ ∞
X |sen(nπ)| X 52n
(a) (b)
n=1
n2 n=0
(n + 1)!
∞ µ ¶n ∞
X a X 2n
(c) ,a∈R (d)
n=0
n+3 n=0
(2n + 1)!
∞ ∞ ¯ µ ¶¯
X 2 cos (nθ) X ¯ 1 ¯¯
(e) 5 (f) log ¯¯log
n=1 n2 n=2
n! ¯
∞ ∞
X n2n n X log (n!) + n!
(g) x (h)
n=0
(2n)! n=1
nn + 2n
∞ √
1 1 1×3 1 1×3×5 1 X 2n − 1 log (4n + 1)
(i) 1 + · + · + · + ··· (j)
2 3 2×4 5 2×4×6 7 n=1
n(n + 1)
P P
17. Seja an uma série convergente. Mostre que a série bn , onde

b1 = a1 + a2
b2 = a3 + a4 + a5
b3 = a6 + a7 + a8 + a9
b4 = a10 + a11 + a12 + a13 + a14
... ... ...........................

também é convergente e as somas coincidem.

18. Para que valores de α são simples ou absolutamente convergentes as seguintes séries:
3.7 Exercı́cios 129


X
(a) (1 + sen(α))n
n=1

X 1
(b) (−1)n
n=0
(n + 1)α
P P
19. Sejam an e bn duas séries convergentes, an > 0, bn > 0. Mostre que a série
Xp an + b n p
an bn também converge. (Sugestão: prove que ≥ an bn ).
2
P
20. Sabendo que an é convergente, an > 0, e bn > 0, qual a natureza da série
X an
?
1 + bn
P P
21. Sabendo que an e bn são convergentes, estude quanto à convergência as seguin-
tes séries:
Xµ 1 1

(a) + sendo an > 0 e bn > 0.
an b n
Xn+1
(b) an .
n
P
22. Seja an uma série divergente, an ≥ 0, e seja sn a soma dos seus n primeiros
termos. Mostre que a série X √ √
( sn+1 − sn )
é divergente.

23. Prove que a série


X a0 np + · · · + a p
b 0 nq + · · · + b q
em que a0 , . . . , ap , b0 , . . . , bq são números reais e a0 > 0, b0 > 0, é convergente se e
só se q − p > 1.

24. Estude quanto à convergência simples e absoluta as séries



X an
(a) ,a>0
n=1
(1 + a)(1 + a2 ) . . . (1 + an )

X (α + 1)(α + 2) . . . (α + n)
(b)
n=1
(β + 1)(β + 2) . . . (β + n)
i. Se α, β ∈ R \ Z− .
ii. Se α ∈ Z− .
un+1 2 1 P
25. Seja un > 0 e ≤ 1 − + 2 . Mostre que un é convergente.
un n n
130 3. Séries Numéricas

un+1 1 P
26. Seja un > 0 e ≥ 1 − . Mostre que un é divergente.
un n
27. Estude a natureza da série ∞
X (3n!)
n (n!)3
.
n=0
27

28. Considere as séries


∞ ∞
X (−1)n X 1
e √ .
0
n! 0
(n + 1) n + 1

(a) Calcule a soma de ordem três do produto de Cauchy das duas séries.
(b) Estude quanto à convergência a série produto.
Capı́tulo 4

Sucessões e Séries de Funções

4.1 Introdução. Sucessões de funções

Em muitas questões de Análise interessa considerar sucessões de funções da forma


f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x), . . . e surge evidentemente a questão da passagem ao limite.

Definição 4.1.1 Seja fn uma sucessão de funções, fn : D ⊂ R → R. Diz-se que fn


converge num ponto a ∈ D se a sucessão numérica fn (a) é convergente (com limite
finito).
Se a sucessão fn converge em todos os pontos de D, pode definir-se uma função
f : D → R por f (x) = lim fn (x), a qual se diz limite de fn em D. Diz-se também que
n→+∞
fn converge pontualmente para f em D.

³ x ´n
EXEMPLO 1: A sucessão de funções 1 + , definidas em R, converge qualquer que
n x
seja x ∈ R. A função limite é a função f (x) = e :
³ x ´n
lim 1 + = ex , ∀x ∈ R.
n→+∞ n

EXEMPLO 2: Consideremos as funções fn (x) = xn , n ∈ N, no intervalo [0, 1] (na figura


4.1 podem-se observar os gráficos de f1 , f2 , f3 e f4 ). São funções contı́nuas e a função
limite existe: 

 0, se 0 ≤ x < 1
n
f (x) = lim x =
n→+∞ 
 1, se x = 1

Note-se que esta função não é contı́nua.


132 4. Sucessões e Séries de Funções

Figura 4.1
4.2 Convergência uniforme 133

4.2 Convergência uniforme


Vimos em Análise Matemática I que se verifica uma certa compatibilidade entre as
operações algébricas fundamentais e a continuidade, derivabilidade e integrabilidade de
funções reais de variável real. Surge naturalmente a pergunta: verificar-se-á esse mesmo
tipo de compatibilidade entre continuidade, derivabilidade e integrabilidade e a passagem
ao limite? No caso da continuidade, por exemplo, a pergunta pode pôr-se da seguinte
forma: se a sucessão de funções convergir para uma função determinada e se os termos
da sucessão são funções contı́nuas, será também contı́nua a função limite? A resposta é:
não necessariamente, isto é, existem sucessões de funções contı́nuas que convergem, no
sentido da Definição 2.1.1, para uma função descontı́nua (Exemplo 2 da secção anterior).
Vamos ver que é possı́vel definir um tipo de convergência de forma que a função limite
de uma sucessão de funções contı́nuas seja contı́nua. Trata-se da convergência uniforme:

Definição 4.2.1 Diz-se que a sucessão de funções fn converge uniformemente para


f em D se
∀δ > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ |fn (x) − f (x)| < δ, ∀x ∈ D.

Esta condição é equivalente a


∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀n > p, sup |fn (x) − f (x)| < δ
x∈D

isto é,
lim sup |fn (x) − f (x)| = 0
n→+∞ x∈D

f(x)+d
fn(x) f(x)
f(x)-d

Figura 4.2

A convergência uniforme é mais forte que a convergência pontual pois exige, para se
verificar, que, seja qual for o δ > 0 fixado, exista uma ordem a partir da qual as imagens
de todas as funções estão entre f (x) − δ e f (x) + δ (ver Figura 4.2).
134 4. Sucessões e Séries de Funções

Evidentemente, existem sucessões de funções que convergem para funções contı́nuas,


mas não uniformemente, como se pode ver no exemplo seguinte.

EXEMPLO 1: A sucessão de funções fn (x) = xnα e−nx converge para a função f (x) = 0
∀x ∈ R+0 (na Figura 4.3 podem-se observar os gráficos de algumas destas funções). No
entanto, essa convergência não é uniforme, se α ≥ 1: note-se que
µ ¶
1 nα−1
sup |fn (x) − f (x)| = max+ fn (x) = fn = .
x∈R+ x∈R0 n e
0

Figura 4.3

Definição 4.2.2 Diz-se que uma sucessão de funções (fn ) é uniformemente de Cauchy
em D se
∀δ > 0 ∃p ∈ N : m, n > p ⇒ |fn (x) − fm (x)| < δ, ∀x ∈ D.

Esta condição é equivalente a

∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀m, n > p, sup |fn (x) − fm (x)| < δ


x∈D

Teorema 4.2.1 Uma sucessão de funções (fn ) é uniformemente convergente em D se, e


só se, é uniformemente de Cauchy em D.

Demonstração: Seja (fn ) uma sucessão de funções, uniformemente convergente em D para


f . Dado δ > 0, qualquer, seja p ∈ N tal que ∀n > p, |fn (x) − f (x)| < δ/2, ∀x ∈ D; se
m, n > p, então
|fn (x) − fm (x)| = |fn (x) − f (x) + f (x) − fm (x)|
≤ |fn (x) − f (x)| + |f (x) − fm (x)| < δ/2 + δ/2 = δ, ∀x ∈ D
4.2 Convergência uniforme 135

pelo que (fn ) é uniformemente de Cauchy em D.


Reciprocamente, se (fn ) é uniformemente de Cauchy em D, para cada x ∈ D, a
sucessão (fn (x)) é uma sucessão de Cauchy de números reais; consequentemente, para
cada x ∈ D, (fn (x)) é convergente. Assim, a cada x ∈ D, podemos associar o limite
de (fn (x)), isto é, a cada x ∈ D associamos um número real; temos, pois, definida uma
função a que chamamos f : fn (x) → f (x), ∀x ∈ D. Falta-nos mostrar que (fn ) converge
para f uniformemente em D.
Sejam δ > 0, qualquer, e p ∈ N tal que ∀m, n > p, |fn (x) − fm (x)| < δ/2, ∀x ∈ D.
Então, passando ao limite em m, ∀n > p, |fn (x) − f (x)| ≤ δ/2 < δ, ∀x ∈ D. Mostrámos,
pois, que
∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀n > p, |fn (x) − f (x)| < δ, ∀x ∈ D,
isto é, a sucessão de funções (fn ) converge uniformemente para f em D.
Teorema 4.2.2 Se (fn ) é uma sucessão de funções contı́nuas em D que converge unifor-
memente para f em D, então f é contı́nua em D.
Demonstração: Seja a um ponto qualquer de D. Vamos mostrar que f é contı́nua em
a. Seja δ > 0, qualquer. Como a sucessão (fn ) converge uniformemente para f em D,
∃p ∈ N : ∀n > p, ∀x ∈ D |fn (x) − f (x)| < δ/3. Seja n > p; então, como fn é contı́nua
em D, ∃ǫ > 0 tal que x ∈ D ∧ |x − a| < ǫ ⇒ |fn (x) − fn (a)| < δ/3. Obtemos, assim:
x ∈ D ∧ |x − a| < ǫ ⇒ |f (x) − f (a)| = |f (x) − fn (x) + fn (x) − fn (a) + fn (a) − f (a)| ≤
|f (x) − fn (x)| + |fn (x) − fn (a)| + |fn (a) − f (a)| < δ/3 + δ/3 + δ/3 = δ, isto é, f é contı́nua
em a.

EXEMPLO 2: Vimos, no Exemplo 2 da Secção 4.1 que a sucessão de funções fn (x) =


xn , n ∈ N, converge pontualmente para a função


 0, se 0 ≤ x < 1
f (x) =

 1, se x = 1

que não é contı́nua em [0, 1]. Concluı́mos, usando o Teorema, que a convergência não é
uniforme.

EXEMPLO 3: A sucessão de funções fn (x) = x n e−nx converge pontualmente, mas não


uniformemente, para a função f (x) = 0 ∀x ∈ R+ +
0 (ver Exemplo 1) que é contı́nua em R0 .
Se o limite for uma função contı́nua em D, o Teorema não nos permite concluir, se há
convergência uniforme ou não.

EXEMPLO 4: Consideremos a sucessão de funções (fn ) definidas em [0, 1] por:




 x/n, se 0 ≤ x < 1/2
fn (x) =

 1, se 1/2 ≤ x ≤ 1.
136 4. Sucessões e Séries de Funções

A função limite é 

 0, se 0 ≤ x < 1/2
f (x) =

 1, se 1/2 ≤ x ≤ 1
e 

 x/n, se 0 ≤ x < 1/2
|fn (x) − f (x)| =

 0, se 1/2 ≤ x ≤ 1
pelo que
1
sup |fn (x) − f (x)| = .
x∈[0,1] 2n
A sucessão de (fn ) converge uniformemente, em [0, 1], para f .
O facto de a função limite não ser contı́nua em [0, 1] não nos permite concluir que a
convergência não é uniforme, porque as funções fn não são contı́nuas em [0, 1].
Teorema 4.2.3 Sejam a, b ∈ R, a < b e (fn ) uma sucessão de funções contı́nuas em
[a, b], uniformemente convergente para f em [a, b]. Então:
Z b Z b
fn (x) dx → f (x) dx
a a

Demonstração: As funções fn são integráveis em [a, b] por serem contı́nuas neste inter-
valo. Por ser limite uniforme de uma sucessão de funções contı́nuas, f é contı́nua em
[a, b] e, consequentemente, integrável em [a, b]. Seja δ > 0, qualquer; pela definição de
convergência uniforme, sabemos que existe p ∈ N tal que
δ
∀n > p, ∀x ∈ [a, b], |fn (x) − f (x)| < .
b−a
Tomando n > p, obtemos
¯Z b Z b ¯ ¯Z b ¯ Z b
¯ ¯ ¯ ¯
¯
¯ fn (x) dx − f (x) dx ¯ = ¯ (fn (x) − f (x)) dx¯ ≤
¯ ¯ ¯ |fn (x) − f (x)| dx
a a a a
Z b
δ δ
≤ dx = (b − a) = δ,
a b−a b−a
Rb Rb
isto é, a fn (x) dx → a f (x) dx.
2
EXEMPLO 5: A sucessão de funções fn (x) = x n e−nx converge pontualmente para a
função f (x) = 0 em [0, 1]. Uma vez que f é contı́nua em [0, 1], o Teorema 4.2.2 não nos
permite concluir se a convergência é uniforme ou não. No entanto
Z 1 Z 1 · ¸1 Z 1
−nx2 1 −nx2 1 1 −n 1
fn (x) = xne dx = − e = − e → 6= 0 = f (x) dx,
0 0 2 0 2 2 2 0
4.2 Convergência uniforme 137

e o Teorema 4.2.3 permite concluir que a sucessão (fn ) não converge uniformemente para
f em [0, 1].

Teorema 4.2.4 Sejam a, b ∈ R, a < b. Se (fn ) é uma sucessão de funções de classe C 1


em [a, b], que verifica as seguintes propriedades:
1) existem x0 ∈ [a, b] e c ∈ R tais que fn (x0 ) → c,
2) a sucessão fn′ converge uniformemente em [a, b],
então existe uma função, f , tal que (fn ) converge uniformemente para f em [a, b], f (x0 ) =
c e (fn′ ) converge uniformemente para f ′ em [a, b].

RDemonstração: Pela Fórmula de Barrow, sabemos que, se x ∈ [a, b], fn (x) = fn (x0 ) +
x ′
f (t) dt. Seja g a função limite da sucessão (fn′ ). Podemos aplicar o Teorema 4.2.3,
x0 n
entre x0 e x (note-se que, se x < x0 , o Teorema não se altera) e a alı́nea 1) para concluir
que Z Z
x x
fn (x) = fn (x0 ) + fn′ (t) dt → c + g(t) dt.
x0 x0
Rx
A função g é contı́nua em [a, b] pelo que f (x) = c+ x0 g(t) dt é contı́nua em [a, b], f (x0 ) = c
e, pelo Teorema Fundamental do Cálculo Integral, f ′ (x) = g(x), ∀x ∈ [a, b]. Por hipótese,
(fn′ ) converge uniformemente para g = f ′ em [a, b]. Por outro lado,
¯ Z x Z x ¯
¯ ′ ′
¯
|fn (x) − f (x)| = ¯fn (x0 ) +
¯ fn (t) dt − c − f (t) dt¯¯
x0 x0
¯Z x Z x
¯ ¯Z x
¯
¯ ¯ ¯ ¯
≤ |fn (x0 ) − c| + ¯¯ fn′ (t) dt − ′
f (t) dt¯¯ ≤ |fn (x0 ) − c| + ¯¯ |fn′ (t) ′
− f (t)| dt¯¯
x0 x0 x0

≤ |fn (x0 ) − c| + |x0 − x| sup |fn′ (t) − f ′ (t)|,


t∈[a,b]

pelo que

sup |fn (x) − f (x)| ≤ |fn (x0 ) − c| + (b − a) sup |fn′ (x) − f ′ (x)|.
x∈[a,b] x∈[a,b]

Como sabemos que (fn′ ) converge uniformemente para f ′ em [a, b] e que fn (x0 ) → c,
concluı́mos que sup |fn (x) − f (x)| → 0, isto é, (fn ) converge uniformemente para f em
x∈[a,b]
[a, b].
x2 −x
EXEMPLO 6: Consideremos a sucessão de funções fn (x) = e n . A sucessão das funções
x2 −x
derivadas,
¯ f¯n′ (x) = 2x−1
n
e , converge uniformemente, em [0, 1], para a função nula
n
2
¯ 2x−1 x n−x ¯ 1
(¯ n e ¯ ≤ n , ∀x ∈ [0, 1], pelo que sup |fn′ (x) − 0| → 0). Como fn (0) = 1, ∀n ∈ N,
x∈[0,1]
concluı́mos que a sucessão (fn ) converge uniformemente, em [0, 1], para a função f (x) ≡ 1.
138 4. Sucessões e Séries de Funções

4.3 Convergência pontual e convergência uniforme


de séries de funções

Os conceitos de convergência pontual e convergência uniforme estendem-se às séries


de funções.
Definição 4.3.1 Seja fn uma sucessão de funções, fn : X ⊂ R → R. Chama-se série
de termo geral fn à sucessão de funções Sn (somas parciais) definida por
Sn (x) = f1 (x) + f2 (x) + · · · + fn (x), ∀x ∈ X;

X
também se representa a série por fn .
n=1

X
Definição 4.3.2 Diz-se que a série fn converge no ponto a ∈ X se a série
n=1

X
numérica fn (a) for convergente.
n=1
Se a série for convergente em todos os pontos de D ⊂ X, podemos definir uma função

X
f : D → R que a cada ponto x ∈ D faz corresponder a soma da série fn (x); à função
n=1
f chama-se função soma da série, e diz-se que a série converge pontualmente em
D.

NOTA: Dizer que a série converge em a ∈ X é equivalente a afirmar que a sucessão


das somas parciais, Sn , converge em a. Do mesmo modo, dizer que a série converge
pontualmente em D equivale a afirmar que a sucessão das somas parciais, Sn , converge
pontualmente em D.

X x2
EXEMPLO 1: Consideremos a série .
n=0
(1 + x2 )n
Se x = 0 a série dada é a série nula, logo convergente.
Se x 6= 0, podemos escrever
∞ ∞ ∞ µ ¶n
X x2 2
X 1 2
X 1
=x =x
n=0
(1 + x2 )n n=0
(1 + x2 )n n=0
1 + x2
1
e esta série é uma série geométrica de razão r = ; como |r| < 1, a série é convergente.
1 + x2
Então ∞
X x2 1
= x2 · = 1 + x2
2
(1 + x )n 1
n=0 1−
1 + x2
4.3 Convergência pontual e convergência uniforme de séries de funções 139

e a função soma é 
 1 + x2 , se x 6= 0

f (x) =

 0, se x = 0


X xn
EXEMPLO 2: Consideremos a série .
n!
n=0
Podemos usar os critérios das séries numéricas para estudar a convergência pontual
das séries de funções. Neste caso, vamos aplicar o critério de D’Alembert para estudar a
série ∞ ¯ n¯
X ¯x ¯
¯ ¯.
¯ n! ¯
n=0
¯ n+1 ¯
¯ x ¯
¯ ¯
¯ (n + 1)! ¯ |x|
lim ¯ n¯ = lim = 0, ∀x ∈ R.
n→+∞
¯x ¯ n→+∞ n + 1
¯ ¯
¯ n! ¯
Concluı́mos, assim, que a série dada é absolutamente convergente ∀x ∈ R, definindo uma
função f em R. Veremos mais tarde que f (x) = ex , isto é,

X xn
= ex , ∀x ∈ R.
n=0
n!


X
EXEMPLO 3: Consideremos a série x (1 − x)n , x ∈ [0, 1].
n=0
Se x = 0 a série dada é a série nula, logo convergente.
X∞
Se x 6= 0, como a série (1 − x)n é uma série geométrica de razão r = 1 − x e |r| < 1
n=0
se, e só se, 0 < x < 2, a série converge porque x ∈ ]0, 1]. Neste caso,

X 1
x (1 − x)n = x · = 1.
n=0
1 − (1 − x)

X
Podemos então dizer que a série x (1 − x)n , x ∈ [0, 1], converge pontualmente para a
n=0
função 

 1, se 0 < x ≤ 1
f (x) =

 0, se x = 0
140 4. Sucessões e Séries de Funções


X
Definição 4.3.3 Diz-se que a série fn (x) converge uniformemente para a função
n=1
f em D ⊂ R (D 6= ∅) se
n
X
∀δ > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ |f (x) − fi (x)| < δ, ∀x ∈ D.
i=1

Esta condição é equivalente a

∀δ > 0 ∃p ∈ N : ∀n > p, sup |f (x) − Sn (x)| < δ


x∈D

isto é,
lim sup |f (x) − Sn (x)| = 0.
n→+∞ x∈D

NOTA 1: A convergência uniforme implica a convergência pontual, mas o recı́proco não


é verdadeiro.

X
NOTA 2: Poderı́amos ter dado a definição de forma sucinta: Diz-se que a série fn (x)
n=1
converge uniformemente para a função f em D ⊂ R (D 6= ∅) se a sucessão das somas
parciais, Sn , converge uniformemente para a função f em D ⊂ R.

X x2
EXEMPLO 4: Vimos que série é pontualmente convergente para a função
n=0
(1 + x2 )n
f definida por

 1 + x2 , se x 6= 0

f (x) =

 0, se x = 0

No entanto, esta série não é uniformemente convergente em [−1, 1]. De facto,


¯ µ ¶¯
¯ 2 2 1 ¯
lim sup |f (x) − Sn (x)| = lim sup ¯1 + x − (1 + x ) 1 − ¯
n→+∞ x∈[−1,1] n→+∞ ¯ (1 + x2 )n+1 ¯
x ∈ [−1, 1]
x 6= 0
¯ ¯
¯ 1 ¯ 1
= lim sup ¯ (1 + x2 )n ¯ = n→+∞
¯ ¯ lim sup = 1.
n→+∞ (1 + x2 )n
x ∈ [−1, 1] x ∈ [−1, 1]
x 6= 0 x 6= 0
4.3 Convergência pontual e convergência uniforme de séries de funções 141


X
Teorema 4.3.1 É condição necessária e suficiente para que a série fn seja unifor-
n=1
memente convergente em D ⊂ R que
¯ m ¯
¯X ¯
¯ ¯
∀δ > 0 ∃p ∈ N : m > n > p ⇒ ¯ fr (x)¯ < δ, ∀x ∈ D.
¯r=n+1 ¯

Demonstração: Na definição de sucessão de funções uniformemente de Cauchy em D,


podemos tomar, sem perda de generalidade, m > n. Aplicando à sucessão Sn , obtemos
¯ m n
¯ ¯ m ¯
¯X X ¯ ¯X ¯
¯ ¯ ¯ ¯
|Sm (x) − Sn (x)| = ¯ fr (x) − fr (x)¯ = ¯ fr (x)¯ .
¯ r=1 r=1
¯ ¯r=n+1 ¯

Sabemos, pelo Teorema 4.2.1, que uma sucessão de funções é uniformemente convergente
em D se, e só se, for uniformemente de Cauchy em D. A demonstração fica concluı́da
tendo em conta a NOTA 2 que se segue à Definição 4.3.3.

Teorema 4.3.2 (Weierstrass) Se existir uma série numérica convergente, de termos



X
positivos, an , tal que
n=1
|fn (x)| ≤ an , ∀x ∈ D, ∀n ∈ N

X
então a série fn é uniformemente convergente em D.
n=1


X
Demonstração: Sabemos, pelo Teorema 1.2.3, que an converge se, e só se,
n=1

∀δ > 0 ∃p ∈ N : m > n > p ⇒ |an+1 + · · · + am | < δ.


Para todo o x ∈ D,

|fn+1 (x) + · · · + fm (x)| ≤ |fn+1 (x)| + · · · + |fm (x)|


≤ an+1 + · · · + am
= |an+1 + · · · + am |, pois an > 0, ∀n ∈ N.

Seja δ > 0. Então

∃p ∈ N : m > n > p ⇒ |fn+1 (x) + · · · + fm (x)| < δ, ∀x ∈ D

ou ainda, ¯ ¯
¯X m ¯
¯ ¯
∃p ∈ N : m > n > p ⇒ ¯ fr (x)¯ < δ, ∀x ∈ D.
¯r=n+1 ¯
142 4. Sucessões e Séries de Funções

Do teorema anterior sai o resultado pretendido.



X
EXEMPLO 5: Seja k uma constante tal que |k| < 1. A série fn (x), onde
n=1
1 × 3 × · · · × (2n − 1) 2n
fn (x) = · k (sen(x))2n , é uniformemente convergente em qualquer
2 × 4 × · · · × 2n
conjunto D ⊂ R. De facto,
¯ ¯
¯ 1 × 3 × · · · × (2n − 1) 2n ¯ 1 × 3 × · · · × (2n − 1) 2n
2n ¯
|fn (x)| = ¯
¯ · k (sen(x)) ¯ ≤ · k , ∀x ∈ D
2 × 4 × · · · × 2n 2 × 4 × · · · × 2n

X 1 × 3 × · · · × (2n − 1)
e a série numérica · k 2n é convergente. Para o verificar basta
n=0
2 × 4 × · · · × 2n
aplicar o critério de D’Alembert:

1 × 3 × · · · × (2n − 1)(2n + 1)
· |k|2n+2
2 × 4 × · · · × 2n(2n + 2) 2n + 1
lim = lim · |k|2 = |k|2 < 1.
n→+∞ 1 × 3 × · · · × (2n − 1) n→+∞ 2n + 2
· |k|2n
2 × 4 × · · · × 2n

¯ ¯ ∞
¯ sen(nx) ¯ 1 X 1
EXEMPLO 6: Como ¯ ¯
2
¯ ≤ 2 , ∀x ∈ R, e a série é convergente, a série
n ¯ n n=1
n2

X sen(nx)
é uniformemente convergente em qualquer subconjunto de R.
n=1
n2

NOTA: O Critério de Weierstrass é uma condição suficiente, mas não necessária para a
convergência uniforme de uma série de funções: há séries uniformemente convergentes cujo
termo geral não admite uma majoração do tipo da do Critério de Weierstrass. Repare-se
que essa majoração implica a convergência absoluta da série de funções.

X x2 + n
EXEMPLO 7: Consideremos a série (−1)n
2
. É uma série alternada e pelo
n=1
n
Critério de Leibnitz podemos afirmar que é convergente qualquer que seja x ∈ R. Mas
não é absolutamente convergente porque
¯ 2
¯ 2
¯(−1)n x + n ¯ = x + n ≥ 1 ∀x ∈ R
¯ ¯
¯ n2 ¯ n2 n

X 1
e a série harmónica, , é divergente. Não é então possı́vel usar o Critério de Weiers-
n=1
n
trass para tirar conclusões sobre a convergência uniforme desta série.
4.3 Convergência pontual e convergência uniforme de séries de funções 143


X
Teorema 4.3.3 Se as funções f1 , f2 , . . . , fn , . . . são contı́nuas em D e a série fn
n=1
converge uniformemente para f em D, então f é contı́nua em D.

Demonstração: Se f1 , f2 , . . . , fn , . . . são contı́nuas em D, as somas parciais, Sn , são


contı́nuas em D. Se a série converge uniformemente para f em D, então a sucessão das
somas parciais converge uniformemente para f em D e, pelo Teorema 4.2.2, f é contı́nua
em D.

NOTA: Se a soma de uma série de funções não é contı́nua isso significa a série não
converge uniformemente ou que, a partir de certa ordem, as funções f1 , f2 , . . . , fn , . . . não
são contı́nuas. Portanto, se f1 , f2 , . . . , fn , . . . são funções contı́nuas e a soma da série não
é contı́nua podemos afirmar que a convergência não é uniforme.

x2 X
EXEMPLO 8: Consideremos a série 2 )n
, no intervalo [−a, a], a > 0. Provámos
n=0
(1 + x
que esta série converge pontualmente para a função

 1 + x2 , se x 6= 0
f (x) =
 0, se x = 0

x2
Como f é descontı́nua em x = 0 e fn (x) = é contı́nua ∀n ∈ N, a série não
(1 + x2 )n
converge uniformemente.

Teorema 4.3.4 Sejam a, b ∈ R, a < b. Se as funções f1 , f2 , . . . , fn , . . . são contı́nuas em



X
[a, b] e a série fn converge uniformemente para f em [a, b], então
n=1
Z b ∞ Z
X b
f (x) dx = fn (x) dx
a n=1 a

(Diz-se que a série é integrável termo a termo).

Demonstração: Se f1 , f2 , . . . , fn , . . . são contı́nuas em D, as somas parciais, Sn , são con-


tı́nuas em D. Se a série converge uniformemente para f em D, então a sucessão das somas
parciais converge uniformemente para f em D e, pelo Teorema 4.2.3,
Z b Z b Z bXn
f (x) dx = lim Sn (x) dx = lim fr (x) dx
a a a r=1

n Z
X b ∞ Z
X b
= lim fr (x) dx = fn (x) dx.
r=1 a n=1 a
144 4. Sucessões e Séries de Funções


X e−nx
EXEMPLO 9: Consideremos a série , em [0, 1].
n=1
2n

¯ −nx ¯
¯e
¯ = 1 ≤ 1 ∀x ∈ [0, 1].
¯
¯
¯ 2n ¯ enx 2n 2n


X 1 1
A série n
é uma série geométrica de razão sendo, portanto, convergente. Pelo
n=1
2 2
Teorema de Weierstrass a série dada é uniformemente convergente em [0, 1]. Pelo Teorema
4.3.4
Z 1X ∞ ∞ Z 1 −nx ∞ · −nx ¸1 X ∞
e−nx X e X 1 e 1 − e−n
n
dx = n
dx = n
− = n
.
0 n=1 2 n=1 0 2 n=1
2 n 0 n=1
n2


X xn
EXEMPLO 10: A série é uniformemente convergente em qualquer intervalo [a, b],
n=0
n!
a, b ∈ R, pois nesse intervalo
¯ n¯
¯x ¯ Mn
¯ ¯≤ , sendo M = max (|a|, |b|),
¯ n! ¯ n!

∞ ∞
X Mn xn X xn
e a série é convergente. Como fn (x) = é contı́nua ∀n ∈ N, a série é
n!
n=0
n! n=0
n!
integrável termo a termo e


Z bX ∞ Z b ∞ · ¸b X ∞
xn X xn X 1 xn+1 bn+1 − an+1
dx = dx = = .
a n=0 n! n=0 a n! n=0
n! n + 1 a n=0
(n + 1)!

NOTA: Uma série pode não ser uniformemente convergente num intervalo [a, b] e ser
integrável termo a termo nesse intervalo.

X
EXEMPLO 11: A série x+ (xn −xn−1 ) é convergente em [0, 1] para a função f definida
n=2
por
½
0, se 0 ≤ x < 1
f (x) =
1, se x = 1

Como fn é contı́nua em [0, 1] ∀n ∈ N, e f é descontı́nua nesse intervalo, a série não é


4.3 Convergência pontual e convergência uniforme de séries de funções 145

Z 1
uniformemente convergente. No entanto, f (x) dx = 0 e
0

∞ Z
X 1 Z 1 ∞ Z
X 1
fn (x) dx = x dx + (xn − xn−1 ) dx
n=1 0 0 n=2 0
· ¸
2 1 ∞ · n+1 n
¸1
x X x x
= + −
2 0 n=2
n+1 n 0
∞ µ ¶
1 1 X 1
= + −
2 n=2 n + 1 n
∞ µ ¶
1 X 1 1
= − − = 0.
2 n=2 n n + 1

Corolário 1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Se as funções f1 , f2 , . . . , fn , . . . são contı́nuas em



X
[a, b] e a série fn converge uniformemente para f em [a, b], então
n=1
Z x ∞ Z
X x
f (t) dt = fn (t) dt, ∀x ∈ [a, b],
a n=1 a

isto é, a série é primitivável termo a termo.


Demonstração: Basta, para cada x ∈ [a, b], aplicar o Teorema 4.3.4 ao intervalo [a, x].

NOTA: No Corolário, quando dizemos que a série é primitivável termo a termo, não es-
tamos a tomar primitivas genéricas: tomamos os integrais indefinidos, isto é, as primitivas
que se anulam em a.
Teorema 4.3.5 Sejam a, b ∈ R, a < b e (fn ) uma sucessão de funções de classe C 1 em

X ∞
X
[a, b]. Se existir x0 ∈ [a, b] tal que a série numérica fn (x0 ) converge e a série fn′
n=1 n=1

X
convergir uniformemente em [a, b] então a série fn converge uniformemente em [a, b]
n=1
para uma função f e

X
f ′ (x) = fn′ (x), ∀x ∈ [a, b].
n=1

Demonstração: Se as funções (fn ) são de classe C 1 em [a, b], então as funções Sn são de
classe C 1 em [a, b]. Além disso,
n
X
Sn′ (x) = fr′ (x), ∀x ∈ [a, b].
r=1
146 4. Sucessões e Séries de Funções

Termina-se a demonstração aplicando o Teorema 4.2.4 à sucessão (Sn ).


X
EXEMPLO 12: Consideremos a série xn . É uma série geométrica de razão x. A série
n=0
converge se, e só se, |x| < 1 e, neste caso,


X 1
xn = .
n=0
1−x


X
n n
Seja 0 < r < 1. Então |x | ≤ r , ∀x ∈ [−r, r]. Como a série rn é uma série
n=0

X
numérica convergente, a série xn é uniformemente convergente em [−r, r].
n=0
Z r Z r ∞ ∞ Z r
1 X
n
X
dx = x dx = xn dx
−r 1−x −r n=0 −r
∞ · n+1
¸n=0
r
x X
⇔ [ − log |1 − x| ]r−r =
n=0
n + 1 −r
∞ µ n+1 ¶
X r − (−r)n+1
⇔ − log |1 − r| + log |1 + r| =
n=0
n+1
µ ¶ X ∞ n+1 ∞
1+r r n+1
X r2n+1
⇔ log = (1 − (−1) ) = 2 .
1−r n=0
n+1 n=0
2n + 1


X
Consideremos novamente a série xn . Derivando-a termo a termo obtemos a série
n=0

X
(n + 1)xn . Como
n=0

|(n + 2)xn+1 | (n + 2)|x|


lim = lim = |x|
n→+∞ |(n + 1)xn | n→+∞ n+1

podemos afirmar, pelo Critério de D’Alembert, que se |x| < 1 a série converge e se |x| > 1

X ∞
X
a série diverge; se |x| = 1 temos as séries divergentes (n + 1) e (n + 1)(−1)n .
n=0 n=0

X
Esta série, (n + 1)xn , é uniformemente convergente em qualquer intervalo [−r, r] se
n=0

X
n
0 < r < 1 porque |(n + 1)x | ≤ (n + 1)r e a série n
(n + 1)rn é convergente. Podemos
n=0
4.3 Convergência pontual e convergência uniforme de séries de funções 147

então escrever que


µ ¶′ Ã∞ !′ ∞
1 X X
= xn = (n + 1)xn , |x| < 1
1−x n=0 n=0

1 X
⇔ = (n + 1)xn , |x| < 1.
(1 − x)2 n=0
148 4. Sucessões e Séries de Funções

4.4 Séries de potências


Definição 4.4.1 Seja x0 ∈ R. Chama-se série de potências em x − x0 a uma série
X∞
da forma an (x − x0 )n com an ∈ R, ∀n ∈ N.
n=0

NOTA: Fazendo y = x − x0 , as séries de potências podem sempre reduzir-se à forma



X
an x n .
n=0


1 X
Teorema 4.4.1 Seja pn
= r. Se r ∈ R +
, então a série de potências an xn é
lim |an | n=0
absolutamente convergente em cada ponto x ∈ ] − r, r[ e divergente em cada ponto x ∈
] − ∞, −r[∪]r, +∞[. Se r = +∞ então a série de potências é absolutamente convergente
para todo o x ∈ R. Se r = 0, a série converge se x = 0 e diverge se x 6= 0.

X
Demonstração: Consideremos a série |an xn |. Tendo em conta que
n=0
p
n
p
lim |an xn | = |x| lim n |an |,
p
temos, pelo Corolário 1 do Critério da Raiz, que, se |x| lim n |an | < 1 (isto é, se |x| < r),
X∞
a série converge, ou seja, a série an xn converge absolutamente.
p n=0
Se |x| lim n |an | > 1 (isto é, se |x| > r) então, pelo raciocı́nio usado no Corolário 1 do
Critério da Raiz, existe uma subsucessão de |an xn | que toma valores maiores ou iguais a
1, o que implica que a sucessão |an xn | não tende para zero, pelo que sucessão an xn não
X∞
tende para zero, donde se conclui que a série an xn diverge.
n=0

Definição 4.4.2 Nas condições do Teorema 4.4.1, a r chama-se raio de convergência


da série e, ao intervalo ] − r, r[, intervalo de convergência.
¯ ¯
¯ an ¯
Corolário 1 Se lim ¯¯ ¯ = r ∈ R+ então o raio de convergência da série de potências
n→∞ an+1 ¯
é r.
X∞
EXEMPLO 1: Consideremos a série (3 + (−1)n )n xn . Sendo an = (3 + (−1)n )n , não
¯ ¯ n=0
¯ an ¯ 1 1
existe lim ¯¯ ¯, mas r = p = .
an+1 ¯ n
lim |an | 4
4.4 Séries de potências 149


X xn
EXEMPLO 2: Calculemos o raio de convergência da série :
n=1
nn

1 1 1
r= p = r = = +∞.
n
lim |an | 1 1
lim
n lim
nn n

A série tem raio de convergência infinito, isto é, a série é absolutamente convergente
∀x ∈ R.

X
EXEMPLO 3: A série n! xn tem raio de convergência r = 0:
n=0
¯ ¯
¯ an ¯
r = lim ¯
¯ ¯ = lim n! = lim
1
= 0,
an+1 ¯ (n + 1)! n+1

isto é, a série só converge em x = 0.



X xn
EXEMPLO 4: Consideremos a série . Tendo em conta que
n=1
n

¯ ¯ 1
¯ an ¯ n = lim n + 1 = 1
r = lim ¯¯ ¯ = lim
an+1 ¯ 1 n
n+1
podemos afirmar que o intervalo de convergência da série é ] − 1, 1[: a série converge
absolutamente no intervalo ] − 1, 1[ e diverge em ] − ∞, −1[∪]1, +∞[.

X (x + 1)n
EXEMPLO 5: Consideremos a série (−1)n . Seja y = x + 1. A série
n=0
2n


X yn
(−1)n n
n=0
2

tem raio de convergência


¯ ¯
¯ ¯ ¯ (−1)n ¯
¯ an ¯ ¯ ¯
¯ 2n ¯
r = lim ¯
¯ ¯ = lim ¯ ¯ = 2.
an+1 ¯ ¯ (−1)n+1 ¯
¯ ¯
2n+1
Então a série converge absolutamente se y ∈] − 2, 2[, isto é, se x ∈] − 3, 1[, e diverge
se x ∈] − ∞, −3[∪]1, +∞[.
150 4. Sucessões e Séries de Funções

NOTA: O teorema anterior não diz nada sobre a natureza da série de potências nos
extremos do intervalo de convergência, ] − r, r[, r ∈ R+ . Pode acontecer que a série seja
convergente nos dois extremos, convergente num e divergente no outro, ou divergente nos
dois. Teremos sempre de estudar os casos x = r e x = −r.
No caso do Exemplo 4, o intervalo de convergência é ] − 1, 1[:

X (−1)n
– Se x = −1, obtemos a série que é convergente.
n=1
n

X 1
– Se x = 1, obtemos a série que é divergente.
n=1
n
Concluı́mos que a série converge no intervalo [−1, 1[ e diverge em ] − ∞, −1[∪[1, +∞[.

X
Teorema 4.4.2 Se o raio de convergência da série an xn é r > 0 e se 0 < ρ < r
n=0
então a série é uniformemente convergente em [−ρ, ρ].

X
n n
Demonstração: Por hipótese, |an x | ≤ |an | ρ , ∀x ∈ [−ρ, ρ]. A série |an | ρn é uma
n=0
série numérica convergente, pois
p p 1 1
lim n |an | ρn = lim ρ n |an | = ρ < ρ = 1.
r ρ

X
Então, pelo Critério de Weierstrass, a série an xn é uniformemente convergente em
n=0
[−ρ, ρ].
Corolário 1 Toda a série de potências é uniformemente convergente em qualquer inter-
valo fechado [a, b] contido no seu intervalo de convergência e tem-se:
Z bX∞ ∞
n
X bn+1 − an+1
an x dx = an .
a n=0 n=0
n+1

Demonstração: Se [a, b] ⊂ ] − r, r[ então existe ρ > 0 tal que [a, b] ⊂ [−ρ, ρ] ⊂ ] − r, r[.
Pelo teorema, a série é uniformemente convergente em [−ρ, ρ] e sê-lo-á também em [a, b].
Então podemos integrar a série termo a termo em [a, b]:
Z bX∞ ∞ Z b ∞ Z b ∞
n
X
n
X
n
X bn+1 − an+1
an x dx = an x dx = an x dx = an .
a n=0 n=0 a n=0 a n=0
n+1

Teorema 4.4.3 Toda a série de potências de raio de convergência r > 0 é derivável


termo a termo no intervalo de convergência, isto é,
Ã∞ !′ ∞
X X
n
an x = n an xn−1 , ∀x ∈ ] − r, r[.
n=0 n=1
4.4 Séries de potências 151

Demonstração: VimosPno Corolário 4.3.5 do Teorema 4.3.4 condições suficientes para que
uma série de funções un (x) seja derivável termo a termo:
P
– un (x) pontualmente convergente em [a, b];

– u′n contı́nua em [a, b], ∀n ∈ N;


P
– (un (x))′ uniformemente convergente em [a, b].
P
Consideremos a série an x n :

– é pontualmente convergente em ] − r, r[;

– (an xn )′ = nan xn−1 são contı́nuas em ] − r, r[, ∀n ∈ N;


P
– nan xn−1 é uma série de potências cujo raio de convergência é r:

1 1 1
p = √ p = p = r,
lim n |nan | lim n n n |an | lim n |an |

portanto, é uniformemente convergente em [a, b] ⊂ ] − r, r[.

Assim,
Ã∞ !′ ∞
X X
n
an x = n an xn−1 , ∀x ∈ ] − r, r[.
n=0 n=0

P
NOTA: Se a série de potências an xn tem raio de convergência r, então a série das
derivadas tem o mesmo raio de convergência r, assim como a série das primitivas.

X x2n+1
EXEMPLO 6: Consideremos a série (−1)n . Seja y = x2 e estudemos a série
n=0
(2n + 1)!

X yn
(−1)n .
n=0
(2n + 1)!
¯ ¯
¯ (−1)n ¯
¯ ¯
¯ (2n + 1)! ¯ (2n + 3)!
lim ¯
¯
n+1 ¯ = lim
¯ = lim (2n + 3)(2n + 2) = +∞
¯ (−1) ¯ (2n + 1)!
¯ (2n + 3)! ¯

portanto, a série é absolutamente convergente ∀y ∈ R+


0 , sendo a série em estudo absolu-
tamente convergente ∀x ∈ R.
152 4. Sucessões e Séries de Funções

Z 1 ∞
X x2n
EXEMPLO 7: Calculemos f (x) dx sendo f (x) = (−1)n . Seja y = x2 . A série
0 n=0
(2n)!
∞ n
X y
(−1)n tem raio de convergência infinito:
n=0
(2n)!
¯ ¯
¯ (−1)n ¯
¯ ¯
¯ (2n)! ¯ (2n + 2)!
r = lim ¯
¯
n+1 ¯ = lim
¯ = lim (2n + 2)(2n + 1) = +∞,
¯ (−1) ¯ (2n)!
¯ (2n + 2)! ¯

o que implica que a série dada converge ∀x ∈ R. Será então uniformemente convergente
em [0, 1] e integrável termo a termo nesse intervalo:
Z ∞
1X ∞ Z 1
x2n n
X x2n
(−1) dx = (−1)n dx
0 n=0
(2n)! n=0 0 (2n)!

∞ · 2n+1 ¸1 X∞
X 1 x n (−1)n
= (−1) = .
n=0
(2n)! 2n + 1 0 n=0 (2n + 1)!


X (x − 5)n
EXEMPLO 8: Consideremos a série (−1)n+1 . Seja y = x − 5. A série
n=1
n 5n
∞ n
X y
(−1)n+1 tem raio de convergência
n=1
n 5n
¯ ¯
¯ (−1)n+1 ¯
¯ ¯ n+1
¯ = lim (n + 1) 5
¯ n 5n ¯
r = lim ¯
¯
n+2 = 5,
¯ (−1)
¯
¯ n 5n
¯ (n + 1) 5n+1 ¯

o que implica a convergência absoluta da série dada no intervalo ]0, 10[.



X −1
– Se x = 0, obtemos a série que é divergente.
n=1
n

X (−1)n+1
– Se x = 10, obtemos a série que é convergente.
n=1
n

X (x − 5)n
Concluı́mos que a série (−1)n+1 converge no intervalo ]0, 10] e diverge em
n=1
n 5n
] − ∞, 0]∪]10, +∞[.
4.4 Séries de potências 153

A série das derivadas é a série


Ã∞ !′ ∞ ∞
n
X
n+1 (x − 5) X
n+1 (x − 5)n−1 X n+1 (x − 5)
n−1
(−1) = (−1) n = (−1)
n=1
n 5n n=1
n 5n n=1
5n

O intervalo de convergência desta série é ]0, 10[.



X 1
– Se x = 0, obtemos a série que é divergente.
n=1
5

X (−1)n+1
– Se x = 10, obtemos a série que é divergente.
n=1
5
154 4. Sucessões e Séries de Funções

4.5 Série de Taylor e série de MacLaurin

Sejam I um intervalo e f : I ⊂ R → R uma função de classe C n em I. Seja x0 ∈ I.


Sabemos que
(x − x0 )2 (x − x0 )n−1
f (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ) + f ′′ (x0 ) + · · · + f (n−1) (x0 ) + Rn (x),
2! (n − 1)!
(x − x0 )n
onde Rn (x) = f (n) (x0 + θ (x − x0 )) , sendo 0 < θ < 1. É a fórmula de Taylor de
n!
f , de ordem n, com resto de Lagrange, em torno do ponto x0 .
Suponhamos que f ∈ C ∞ (I). Chama-se série de Taylor de f em x0 à série de
potências

X f (n) (x0 )
(x − x0 )n .
n=0
n!
Se x0 = 0 ∈ I, a série de Taylor designa-se por série de MacLaurin e escreve-se

X f (n) (0) n
x .
n=0
n!

EXEMPLO 1: Determinemos a série de MacLaurin de f (x) ³ nπ=´ sen(x). Sabemos que



f ∈ C ∞ (R) e f (n) (x) = sen(x + ). Então f (n) (0) = sen e, portanto, a série de
2 2
MacLaurin de f é

x3 x5 x7 X x2n+1
x− + − + ··· = (−1)n
3! 5! 7! n=0
(2n + 1)!
Vimos, num exemplo anterior, que esta série converge ∀x ∈ R.

EXEMPLO 2: Consideremos a função f (x) = (1 + x)α , α ∈ R, x > −1. Esta função é


de classe C ∞ no seu domı́nio e f (n) (x) = α(α − 1) . . . (α − n + 1)(1 + x)α−n . Portanto,
f (n) (0) = α(α − 1) . . . (α − n + 1) e a sua série de MacLaurin é
α(α − 1) 2 α(α − 1)(α − 2) 3 α(α − 1) . . . (α − n + 1) n
1+αx+ x + x + ··· + x + ··· ,
2! 3! n!
isto é,

X α(α − 1) . . . (α − n + 1)
1+ xn .
n=1
n!
Se α ∈ N0 a série reduz-se ao desenvolvimento do binómio de Newton. Suponhamos
que α 6∈ N0 e estudemos a convergência da série. O raio de convergência é
¯ ¯
¯
¯ α(α − 1) . . . (α − n + 1) ¯
¯
¯ = lim (n + 1)! 1 n+1
¯ n! ¯
lim ¯¯ = lim = 1.
¯ α(α − 1) . . . (α − n + 1)(α − n) ¯ n! |α − n| |α − n|
¯
¯ (n + 1)! ¯
4.5 Série de Taylor e série de MacLaurin 155

Então a série converge absolutamente em ] − 1, 1[ e diverge em ] − ∞, −1[∪]1, +∞[.


Esta série designa-se, habitualmente, por série binomial.

A questão fundamental no desenvolvimento em série de Taylor de uma função indefi-


nidamente diferenciável é a seguinte:
Existe uma vizinhança V de x0 tal que

(x − x0 )2 (x − x0 )n−1
f (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ) + f ′′ (x0 ) + · · · + f (n−1) (x0 ) + ···
2! (n − 1)!

∀x ∈ V , isto é, a série de Taylor de f em x0 é convergente para todo o x ∈ V e a sua


soma é igual a f (x)?
Na realidade, a mera existência das derivadas f (n) (x0 ) para todos os valores naturais
de n, embora permita escrever a série de Taylor de f no ponto x0 , não garante que, em
alguma vizinhança de x0 , seja verificada a igualdade:

X f (n) (x0 )
f (x) = (x − x0 )n (4.1)
n=0
n!

como se pode ver no exemplo seguinte:

EXEMPLO 3: Consideremos a função




 1
 e− x2 , se x 6= 0

f (x) =


 0,
 se x = 0

Como f (n) (0) = 0, ∀n ∈ N, a série de MacLaurin de f é a série

0 + 0x + 0x2 + · · · ,

que converge para a função nula em R. Portanto, f não é a soma da série em nenhum
ponto, excepto em 0, dado que f (x) 6= 0 se x 6= 0.

Que condições suplementares devem ser impostas a uma função f , suposta indefinida-
mente diferenciável numa vizinhança de x0 , para que fique garantida a igualdade (4.1)?
A consideração da fórmula de Taylor de f permite responder de forma simples a esta
questão. De facto, sendo Sn (x) a soma dos n primeiros termos da série de Taylor de f
em x0 ∈ I, tem-se
Rn (x) = f (x) − Sn (x),
verificando-se o seguinte resultado:
156 4. Sucessões e Séries de Funções

Teorema 4.5.1 É condição necessária e suficiente para que a função indefinidamente


diferenciável, f : I → R, seja soma da sua série de Taylor numa vizinhança, V , de
x0 ∈ I, que
lim Rn (x) = 0, ∀x ∈ V.
n→+∞

Na prática utilizam-se condições suficientes:

Teorema 4.5.2 Seja f : I → R uma função indefinidamente diferenciável e suponhamos


que existem constantes M, k ≥ 0 tais que, numa vizinhança, V , de x0 , se verifica
¯ (n) ¯
¯f (x)¯ ≤ M k n , ∀x ∈ V, ∀n ∈ N.

Então f é soma da sua série de Taylor em V .

Demonstração: Sabemos que a expressão do resto de Lagrange, Rn (x), é


(x − x0 )n
Rn (x) = f (n) (x0 + θ (x − x0 )) , 0 < θ < 1.
n!
Então
(k|x − x0 |)n
|Rn (x)| ≤ M , x∈V;
n!
(k|x − x0 |)n
como a série de termo geral é convergente, esta sucessão tem limite 0, sendo
n!
o resultado pretendido uma consequência imediata do Teorema 4.5.1.

Corolário 1 Se existe M ≥ 0 tal que em V se tenha


¯ (n) ¯
¯f (x)¯ ≤ M ∀x ∈ V, ∀n ∈ N,

então f é soma da sua série de Taylor em V .

EXEMPLO 4: Consideremos a função f (x) = sen(x). Concluı́mos no Exemplo 1 que a


sua série de MacLaurin converge absolutamente em R. Sabemos que
¡ ¢
sen θx + nπ
Rn (x) = 2
xn , 0 < θ < 1,
n!
donde ¡ ¢

|sen θx + | |x|n
0 ≤ |Rn (x)| = 2
|x|n ≤ .
n! n!
|x|n
Mas lim = 0, ∀x ∈ R, por se tratar do termo geral de uma série convergente, o que
n→+∞ n!
implica que

X x2n+1
sen(x) = (−1)n , ∀x ∈ R.
n=0
(2n + 1)!
4.5 Série de Taylor e série de MacLaurin 157

EXEMPLO 5: Se f (x) = ex obtemos f (n) (x) = ex , ∀n ∈ N. Então o seu desenvolvimento


em série de MacLaurin é ∞ ∞
X f (n) (0) n X xn
x = .
n=0
n! n=0
n!
Sabemos que esta série é absolutamente convergente em R definindo uma função g em R.
Provemos que f (x) = g(x), ∀x ∈ R. Para isso, vamos demonstrar que o resto de Lagrange
da fórmula de MacLaurin da função f tende para 0 em R.

f (n) (θx) n eθ x n
Rn (x) = x = x , 0 < θ < 1,
n! n!
o que implica que, tendo em conta que eθ x ≤ ex pois ex é uma função crescente,

e|x| n
0 ≤ |Rn (x)| ≤ |x| .
n!
e|x| n
Mas a série de termo geral |x| é uma série convergente, ∀x ∈ R, portanto,
n!
e|x| n
lim |x| = 0, ∀x ∈ R,
n→+∞ n!

o que nos permite concluir que



x
X xn
e = , ∀x ∈ R.
n=0
n!

Nos dois primeiros exemplos, os desenvolvimentos em série de MacLaurin foram obti-


dos recorrendo directamente à fórmula

′ f ′′ (0) 2
f (0) + f (0) x + x + ···
2!
na qual se substituı́ram os valores das sucessivas derivadas da função considerada. Dado
que este processo é bastante trabalhoso, raramente se recorre a ele na prática, preferindo-se
o recurso a certos desenvolvimentos já conhecidos e tendo em conta o seguinte resultado:

Teorema 4.5.3 Toda a série de potências de x − x0 é a série de Taylor (em torno de


x0 ) da função por ela definida. Em particular, o desenvolvimento em série de potências
de x − x0 é único.

Demonstração: Por hipótese,



X
f (x) = an (x − x0 )n
n=0
158 4. Sucessões e Séries de Funções

numa vizinhança V de x0 , o que implica que f (x0 ) = a0 . Derivando,



X

f (x) = nan (x − x0 )n−1
n=1

e, portanto, f (x0 ) = a1 . A derivada de ordem n é
f (n) (x) = n!an + (n + 1) . . . 2an+1 (x − x0 ) + (n + 2)(n + 1) . . . 3an+2 (x − x0 )2 + · · ·
donde se deduz que f (n) (x0 ) = n!an , n ∈ N. Concluı́mos, assim, que
f (n) (x0 )
an = , ∀n ∈ N.
n!
1
EXEMPLO 6: Consideremos a função f (x) = . Tendo em conta que
2 + 3x
1 1 1
= ·
2 + 3x 2 1 − (− 32 x)
e que

1 X
= xn , ∀x ∈ ] − 1, 1[
1 − x n=0
podemos concluir que
∞ µ ¶n
1 1 1X 3
· = − x
2 1 − (− 32 x) 2 n=0 2
¯ ¯
¯ 3 ¯ 2
igualdade válida desde que ¯¯− x¯¯ < 1, isto é, |x| < .
2 3
Então a série de MacLaurin de f é

X 3n n 2
(−1)n x , |x| < .
n=0
2n+1 3

1
EXEMPLO 7: Seja f (x) = 2 . Tendo em conta que x2 − x − 6 = (x − 3)(x + 2)
x −x−6
vem  
µ ¶
1 1 1 1 1 1 1 1
f (x) = − = − · x − · ³ x´ .
5 x−3 x+2 5 3 1− 2 1− −
3 2
Sabendo que
∞ ³ ´
1 X x n
x = , |x| < 3
1− n=0
3
3
e ∞ ³ ∞
1 X x ´n X n x
³ ´n
x = − = (−1) , |x| < 2
1 − (− ) n=0 2 n=0
2
2
4.5 Série de Taylor e série de MacLaurin 159

podemos escrever a série de MacLaurin de f , tendo-se:


à ∞ ∞
! ∞ µ ¶
1 1 X ³ x ´n 1 X n
³ x ´n X 1 (−1)n+1 1
f (x) = − − (−1) = n+1
− n+1 xn , |x| < 2.
5 3 n=0 3 2 n=0 2 n=0
5 2 3

EXEMPLO 8: No Exemplo 2 desenvolvemos a função f (x) = (1 + x)α , α ∈ R, em série


de MacLaurin, obtendo

X α(α − 1) . . . (α − n + 1) n
1+ x ,
n=1
n!
convergente no intervalo ] − 1, 1[. Seja

X α(α − 1) . . . (α − n + 1) n
g(x) = 1 + x , |x| < 1.
n=1
n!
Provemos que f (x) = g(x), ∀x ∈] − 1, [1, isto é, f é a soma da sua série de MacLaurin
naquele intervalo.
Sendo uma série de potências, é derivável termo a termo no intervalo de convergência.
Obtemos


X α(α − 1) . . . (α − n + 1)
g (x) = xn−1 ,
n=1
(n − 1)!
e multiplicando por x


X α(α − 1) . . . (α − n + 1)
x g (x) = xn .
n=1
(n − 1)!
Então
∞ ∞
X α(α − 1) . . . (α − n + 1) X α(α − 1) . . . (α − n + 1)
g ′ (x) + x g ′ (x) = xn−1 + xn
n=1
(n − 1)! n=1
(n − 1)!
∞ ∞
X α(α − 1) . . . (α − n) X α(α − 1) . . . (α − n + 1)
= xn + xn
n=0
n! n=1
(n − 1)!
∞ µ ¶
X α(α − 1) . . . (α − n + 1)
α(α − 1) . . . (α − n)
=α+ + xn
n=1
n! (n − 1)!
∞ µ
X α(α − 1) . . . (α − n + 1) α − n ¶
=α+ + 1 xn
n=1
(n − 1)! n

X α(α − 1) . . . (α − n + 1) α
=α+ xn
(n − 1)! n
à n=1 ∞ !
X α(α − 1) . . . (α − n + 1)
=α 1+ xn
n=1
n!

= α g(x)
160 4. Sucessões e Séries de Funções

ou seja,
(1 + x) g ′ (x) = α g(x). (4.2)
g(x)
Consideremos a função e calculemos a sua derivada:
(1 + x)α
µ ¶′
g(x) g ′ (x)(1 + x)α − α(1 + x)α−1 g(x) (1 + x)α−1 ((1 + x) g ′ (x) − α g(x))
= = ·
(1 + x)α (1 + x)2α (1 + x)2α

O numerador desta fracção é zero por (4.2), isto é,


µ ¶′
g(x)
=0
(1 + x)α

o que implica que


g(x)
(1 + x)α
é uma função constante em ] − 1, 1[, ou ainda, g(x) = c (1 + x)α , se for c essa constante.
Mas como g(0) = 1, obtém-se para c o valor 1 e vem g(x) = (1 + x)α , ∀x ∈ ] − 1, 1[.
4.6 Exercı́cios 161

4.6 Exercı́cios
1. Considere a sucessão de funções fn : [0, 1] → R definida por
xn
fn (x) = .
n+1
(a) Mostre que a sucessão (fn ) converge pontualmente em [0, 1] e determine a
função limite.
(b) Mostre que a sucessão (fn ) converge uniformemente em [0, 1].

2. Considere a sucessão de funções fn : R → R definida por fn (x) = x e−n|x|

(a) Prove que a sucessão fn é pontualmente convergente em R.


(b) Diga, justificando, se a convergência é uniforme em R.

3. Considere a sucessão de funções fn : [0, +∞[→ R definida por


1
fn (x) =
1 + (2x)n

(a) Mostre que a sucessão (fn ) converge pontualmente em [0, +∞[ e calcule a
função limite.
(b) Mostre que a sucessão (fn ) converge uniformemente em [1, 3].
(c) Mostre que a sucessão (fn ) não converge uniformemente em [0, +∞[.

4. Considere a sucessão de funções fn : [0, 1] → R definida por


³ x´
fn (x) = log 1 + .
n
(a) Mostre que a sucessão (fn ) converge pontualmente em [0, 1] e determine a
função limite.
(b) Diga, justificando, se a sucessão (fn ) converge uniformemente em [0, 1].

5. Considere a sucessão de funções fn : R → R definida por



1


 −ex+ n , se x < − n1

fn (x) = n x, se − n1 ≤ x ≤ 1
n


 ex− n1 ,

se x > 1 n

(a) Prove que a sucessão fn é pontualmente convergente em R.


(b) Diga, justificando, se a convergência é uniforme em R.

6. Considere a sucessão de funções fn : [0, 1] → R definida por fn (x) = n2 xe−nx


162 4. Sucessões e Séries de Funções

(a) Prove que a sucessão fn é pontualmente convergente em [0, 1].


R1
(b) Para cada n, calcule 0 fn (x) dx.
(c) Use a alı́nea (b) para concluir se a sucessão fn é, ou não, uniformemente con-
vergente em [0, 1].

7. Considere a sucessão de funções fn : [−1, 1] → R definida por

fn (x) = x2n+1

(a) Determine a função f : [−1, 1] → R, limite pontual da sucessão (fn ), em [−1, 1].
Z 1 Z 1
(b) Mostre que lim fn (x) dx = f (x) dx.
−1 −1
(c) Diga, justificando, se a convergência da sucessão (fn ) é, ou não, uniforme em
[−1, 1].
nx2
8. Considere a sucessão de funções definida por fn (x) = , n ∈ N.
1 + nx
(a) Prove que a sucessão é pontualmente convergente em [0, 1].
(b) Estude a sucessão (fn ) quanto à convergência uniforme em [0, 1].
Z 1
(c) Calcule lim fn (x) dx
n→+∞ 0

9. Considere a série
+∞
X (n − 1) x
n=1
(1 + x2 )n

(a) Determine o conjunto A, de pontos de R, em que a série é convergente.


(b) Mostre que a série não é uniformemente convergente em A (Sugestão: considere
a série das primitivas).

10. Seja (fn ) uma sucessão de funções reais de variável real, contı́nuas em [0, 1], que
converge uniformemente para f em [0, 1]. Mostre que

(a) f é integrável em [0, 1];


Z 1− 1 Z 1
n
(b) lim fn (x) dx = f (x) dx.
n→+∞ 0 0

11. Considere a função


+∞
X 1
f (x) =
n=0
1 + (3x)n

(a) Determine o domı́nio de f .


4.6 Exercı́cios 163

(b) Mostre que f é contı́nua em [1, +∞[.

12. Considere duas sucessões de funções fn , gn : A ⊂ R → R que convergem pontual-


mente em A, mas não uniformemente em A. Que pode dizer acerca da convergência
pontual e uniforme de fn gn em A? Justifique.

13. Mostre que se tem



1 X
= (−1)n xn
1 + x n=0
com |x| < 1.

14. Mostre que a série de funções



X x2
n=0
(1 + x2 )n
define uma função de domı́nio R e que a série não é uniformemente convergente num
intervalo que contenha o ponto x = 0.

15. Prove que a série de funções



X x2 + n
(−1)n
n=1
n2
converge uniformemente em todo o intervalo limitado, mas que não existe x tal que
a série seja absolutamente convergente.

16. Tendo em conta que



X xn
ex =
n=0
n!
mostre que
ex − 1
lim = 1.
x→0 x
17. Estude quanto à convergência a série

X nα
n=1
xn

com α ∈ R, x 6= 0 e mostre que ela é uniformemente convergente no intervalo [2,3].

18. Mostre que a série de funções



X 1 1
(x n − x n−1 )
n=2

converge pontualmente em [0,1], mas não uniformemente.


164 4. Sucessões e Séries de Funções

19. Mostre que a série de funções



X sen(nx)
n=1
n2
converge uniformemente em R, mas que, no entanto, há pontos de R nos quais a
série das derivadas diverge. Prove ainda que

X sen(nx)
f (x) =
n=1
n2

é integrável em [0,1]; exprima Z 1


f (x)dx
0
como soma de uma série.

20. Mostre que a série de funções



X e−nx
n=1
2n
converge em [0,1] e que a função soma é integrável nesse intervalo; exprima o integral
dessa função no intervalo [0,1] como soma de uma série.

21. Mostre que a série de funções



X cos(nx)
n=0
2n
converge em R e que a função soma é diferenciável.

22. Considere a função



X x
f (x) =
n=1
n(x + n)
sendo x ∈ R+
0.

(a) Prove que f é contı́nua em [0,1].


R1
(b) Calcule 0 f (x)dx.

23. Estude quanto à convergência uniforme as séries de funções



X xn
(a) , x ∈ [0, 1].
n=1
n2
X∞
(b) xn (1 − xn ), x ∈ [0, 1].
n=1

24. Estude quanto à convergência as seguintes séries de funções


4.6 Exercı́cios 165


X
(a) nn x n ;
n=0
∞ µ ¶n
X (−1)n 1−x
(b) ;
n=1
2n − 1 1+x

X (x + 3)n
(c) ;
n=0
(n + 1)2n

X (1 − x2 )n
(d) √ ;
n=0
n + 2

X x2n+1
(e) (−1)n ;
n=0
2n + 1
∞ µ ¶n
X (−1)n
(f) 1+ (2x + 1)n .
n=0
2

25. Sejam a, b ∈ R+ . Determine os valores de x para os quais as seguintes séries são


absolutamente convergentes:

X 2
(a) an xn , a < 1.
n=0

X xn
(b) .
n=0
an + b n

26. Escreva o desenvolvimento de MacLaurin para as funções:

(a) x −→ ax , a > 0;
1
(b) x −→ 2 ;
a + x2
(c) x −→ arc tg x.

27. Sabendo que

ex − e−x ex + e−x
senh(x) = e cosh(x) = ∀x ∈ R
2 2
escreva as respectivas séries de potências de x.

28. Desenvolva em série de potências de x + 3 a função


2
f : x −→
4x + 5
e determine o raio de convergência da série.
166 4. Sucessões e Séries de Funções

29. Desenvolva em série de potências de x − 3 a função


1
f : x −→ 2
x − 6x + 5
e determine o intervalo de convergência da série obtida.
30. Obtenha por dois processos diferentes a série de MacLaurin da função
f (x) = (1 + x)−2 .
Qual o raio de convergência da série?
31. Determine duas séries de potências que representem a função
1
f : x −→
2−x
£1 3¤
no intervalo 2 , 2 . Justifique a resposta.
32. Determine a série de Taylor da função
Z x
2
f (x) = e−t dt
0
numa vizinhança de x = 0.
33. Desenvolva em série de MacLaurin a função
1
f : x −→ 2x +
2+x
e indique, justificando, o intervalo de convergência da série obtida.
34. Desenvolva em série de MacLaurin a função
f : x −→ x log(1 + x3 )
e aproveite o desenvolvimento para justificar que a função tem um mı́nimo no ponto
x = 0.
35. Desenvolva em série de potências de x − 2 a função
f : x −→ log(x)
e indique um intervalo aberto no qual a função coincide com a soma da série obtida.
36. Desenvolva em série de potências de x − 1 as funções
1
f : x −→ log(3 − x) e .f : x −→
x2
Em cada caso indique o maior intervalo aberto em que o desenvolvimento representa
a função considerada.
37. Seja f a função definida por f (x) = x2 log(x2 ) em R \ {0}. Desenvolva f em série
de potências de x − 1 e indique o maior intervalo aberto onde esse desenvolvimento
representa a função.
Bibliografia

[1] APOSTOL, T. - Calculus, Blaisdell, 1967.

[2] CAMPOS FERREIRA, J. - Introdução à Análise Matemática, Fundação Calouste


Gulbenkian, 1982.

[3] ELLIS, R.; GULLICK, D. - Calculus with Analytic Geometry, 5a edição, Saunders
College Publishing, 1994.

[4] FIGUEIRA, M. - Fundamentos de Análise Infinitesimal, Textos de Matemática,


vol. 5, Departamento de Matemática, Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa, 1996.

[5] HUNT, R. - Calculus, 2a edição, Harper Collins, 1994.

[6] LARSON, R.; HOSTETLER, R.; EDWARDS, B. - Calculus with Analytic Geometry,
5a edição, Heath, 1994.

[7] SANTOS GUERREIRO, J. - Curso de Análise Matemática, Livraria Escolar Editora,


1989.

[8] SARRICO, C. - Análise Matemática, Leituras e Exercı́cios, Gradiva, 1997.

[9] SPIVAK, M. - Calculus, World Student Series Edition, 1967.

[10] STEWART, J. - Calculus, 3a edição, Brooks/Cole Publishing Company, 1995.

[11] SWOKOWSKI, E. W. - Cálculo com Geometria Analı́tica, vol. 1, 2a edição, Makron


Books, McGraw-Hill, 1994.

[12] TAYLOR, A.; MANN, R. - Advanced Calculus, 2a edição, Xerox College Publishing,
1972.
Índice Remissivo

convergência impróprio de 1a espécie, 53, 61, 62


pontual, 131, 138 absolutamente convergente, 61
uniforme, 133, 138, 140 convergente, 54
Critério simplesmente convergente, 61
da Raiz, 115 impróprio de 2a espécie
da Raiz de Cauchy, 116 convergente, 66
da Razão, 112 impróprio de 2a espécie, 65–67
de D’Alembert, 112 convergente, 65
de Kummer, 117 divergente, 65, 66
de Leibnitz, 99 impróprio misto, 71
de Raabe, 119 inferior, 38
de Weierstrass, 141 superior, 38
do integral, 105 intervalo de convergência, 148
Critério geral de comparação, 107
critérios de convergência, 55 partição, 35
mais fina, 35
função polinómio, 9
primitivável, 1 em duas variáveis, 19
racional, 9 em p variáveis, 19
integrável, 38 grau de um, 9
função Beta, 74 irredutı́vel, 9
função Gama, 74 redutı́vel, 9
função racional primitivável termo a termo, 145
em p variáveis, 19 primitiva, 1
irredutı́vel, 10 imediata, 2
função soma da série, 138 primitivação
de funções irracionais, 19
grau de multiplicidade, 10 de funções racionais, 9
por partes, 6
integrável termo a termo, 143 por substituição, 7
Integração produto de Cauchy, 121
por partes, 47
por substituição, 47 raio de convergência, 148
integral, 38 rearranjo, 102
impróprio de 1a espécie Regra
divergente, 54 de Barrow, 47
ÍNDICE REMISSIVO 169

resto de ordem p, 97

série, 89
absolutamente convergente, 102
alternada, 99
binomial, 155
condicionalmente convergente, 102
convergente, 89
de Dirichlet, 106
de potências, 148
divergente, 89
geométrica, 89
harmónica, 96
harmónica alternada, 100
simplesmente convergente, 102
telescópica, 92
termo geral, 89, 138
termos da série, 89
série de MacLaurin, 154
série de Taylor de f em x0 , 154
soma, 89
soma inferior de Darboux, 36
soma superior de Darboux, 36
somas parciais, 89

Teorema
da média, 46
Fundamental do Cálculo Integral, 46
Teorema
de Mertens, 123

valor principal de Cauchy, 64

Zenão, 88

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