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Gutenberg - Primeiras Impressões

Johannes Gutenberg, um ourives da Idade Média, inventou a prensa tipográfica, revolucionando a difusão do conhecimento ao tornar os livros acessíveis a todos. Sua invenção, que combinou várias técnicas existentes, permitiu a impressão em massa e teve um impacto significativo na cultura, religião e sociedade europeia. Apesar de enfrentar dificuldades financeiras e disputas legais, Gutenberg é reconhecido como o inventor da tipografia, com sua famosa Bíblia de 42 linhas sendo um dos primeiros livros impressos.

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Gutenberg - Primeiras Impressões

Johannes Gutenberg, um ourives da Idade Média, inventou a prensa tipográfica, revolucionando a difusão do conhecimento ao tornar os livros acessíveis a todos. Sua invenção, que combinou várias técnicas existentes, permitiu a impressão em massa e teve um impacto significativo na cultura, religião e sociedade europeia. Apesar de enfrentar dificuldades financeiras e disputas legais, Gutenberg é reconhecido como o inventor da tipografia, com sua famosa Bíblia de 42 linhas sendo um dos primeiros livros impressos.

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Gutenberg: Primeiras

Impressões
Um ourives curioso e intelectual inventa na
Idade Média a prensa tipográfica, porta para
o moderno mundo da difusão do
conhecimento .

O ano do nascimento é incerto. De sua vida pouco se sabe, pois são raros os
documentos que contam sua história. Nem poderia mesmo haver um extenso
registro escrito sobre um homem que viveu na Idade Média, quando ler e escrever
era privilégio de minorias, ainda que ele fosse o responsável por uma invenção
que tornou a palavra escrita acessível a todos e assim ditou os caminhos por onde
passaria a cultura humana. Afinal, somente depois que Johannes Gutenberg
inventou a prensa tipográfica, as informações e o conhecimento começaram a ser
divulgados de forma sistemática. Seu invento permaneceu o mesmo praticamente
por quatro séculos. Hoje, ainda que ultrapassado tecnologicamente, sobrevive
enquanto idéia, sempre onde houver palavras impressas sobre papel.

Johannes Gensfleisch nasceu entre 1395 e 1400 em Mainz, às margens do Reno,


no coração da Alemanha. Conhecido por Gutenberg, o sobrenome de sua mãe, era
filho de uma família de burgueses, uma classe que despertava na estrutura social
da época, prosperando no comércio e nas incipientes indústrias. Na Alemanha
daqueles tempos de ocaso medieval, a burguesia já ousava contestar o poder dos
nobres – e a contestação se dava por disputas armadas. Mas a infância e a
adolescência de Gutenberg transcorreram em tempos de trégua e paz. Por volta de
seus 20 anos, porém, novas disputas entre nobres e burgueses o forçaram a deixar
a já não tão pacata cidade natal e o jovem culto e bem-educado foi parar em
Estrasburgo, cidade na fronteira franco-alemã, que viria a fazer parte da França.

Interessado pelas ciências e pelas artes, Gutenberg gostava também de pedras


preciosas e delas fez seu ofício, tornando-se joalheiro e ourives. Em 1437, em
plena atividade, em Estrasburgo, foi chamado à Justiça por uma senhorita de
nome Ana Isernen Thur. Motivo: Gutenberg lhe havia prometido casamento e a
moça resolveu cobrar a promessa. O ourives não fugiu ao compromisso e casou-
se com Ana. Empobrecido, Gutenberg se ocupava da feitura de finas jóias, mas
não podia fazer o que adorava – ler e estudar. Os livros confeccionados a mão
eram caros demais e Gutenberg não tinha condições de pagar por eles.

Naquela época, copiar um livro era um trabalho fenomenal. Levava tanto tempo
que só os monges nos conventos podiam passar dias executando essa tarefa – em
latim, é claro. Por isso, os assuntos das obras eram quase sempre religiosos. O
gênio inventivo, mas carente de recursos, de Gutenberg não se conformava e
imaginava um meio de produzir grandes quantidades de livros de forma muito
mais rápida, para que qualquer pessoa alfabetizada pudesse ler sobre qualquer
assunto. A impressão propriamente dita já existia; ele só teve de usar a cabeça
para juntar várias técnicas e criar a imprensa – algo tão simples quanto o ovo em
pé, de Colombo.

A história da impressão sobre papel começara na China, no final do século II da


era cristã. Os chineses sabiam fabricar papel, tinta e usar placas de mármore com
o texto entalhado como matriz. Quatro séculos depois, o mármore foi trocado por
um material mais fácil de ser trabalhado, o bloco de madeira. Os mais antigos
textos impressos que se conhecem são orações budistas. Foram feitos no Japão
entre os anos 764 e 770; o primeiro livro propriamente dito de que se tem notícia
apareceu na China em 868. O desenvolvimento da escrita deu novo salto no
século XI graças a um alquimista chinês, Pi Cheng, que inventou algo parecido
com tipos móveis – letras reutilizáveis, agrupadas para formar textos.
Mas por alguma razão ignorada o invento não prosperou e desapareceu junto com
seu inventor. Até essa época, a Europa só conhecia da tipografia o papel. No
século VIII, os chineses começaram a distribuí-lo como mercadoria no mundo
árabe. A técnica de fabricação foi revelada aos árabes por prisioneiros chineses.
Daí até o século XIII as usinas de papel proliferaram de Bagdá, no atual Iraque, à
Espanha, então sob domínio mouro. Mas o manual de instruções não veio junto –
ou seja, o processo tipográfico permaneceu firmemente guardado em mãos
chinesas. Somente no fim do século XIV se desenvolveram por ali a xilografia,
impressão com matriz de madeira, e a metalografia, com matriz de metal. Um
rudimento de impressão de textos por xilografia apareceu com um holandês de
nome Laurens Coster, mas a qualidade final era tão ruim que a inovação virou
letra morta.

Tal qual os chineses, a Europa já conhecia no princípio do século XV o papel, a


tinta e a matriz. Faltava apenas uma idéia por assim dizer luminosa que juntasse
isso tudo num só equipamento. É quando entra em cena Johannes Gutenberg, o
ourives culto e curioso. Ao que consta, as primeiras idéias sobre imprensa lhe
ocorreram quando observava um anel com o qual os nobres selavam documentos,
neles imprimindo o brasão da família. Esse anel tinha o brasão escavado em metal
ou pedra preciosa e deixava uma impressão em alto-relevo sobre o lacre quente.
Gutenberg achou que o mesmo princípio serviria para imprimir letras, mas logo
viu que o método deveria ser posto de cabeça para baixo: em vez de escavada
num bloco de madeira, a parte que serviria para imprimir deveria ficar em alto-
relevo.

Foi assim que ele imprimiu várias imagens de São Cristóvão e, como bom
católico, as levou ao bispo de Estrasburgo. O bispo não podia imaginar como o
ourives conseguira tantas imagens iguais, já que seus monges levavam muito
tempo para desenhar apenas uma. Gutenberg, fazendo segredo de seu invento,
saiu da conversa carregado de encomendas de imagens religiosas, solicitadas por
sua excelência reverendíssima. Mas seu alvo continuava sendo imprimir uma
página inteira. Para tanto, obteve do bispo um livro emprestado e entalhou uma
página na madeira. Obviamente, as palavras saíram ao contrário, um contratempo
que naturalmente não acontecia com as imagens dos santos.

Como era apenas uma questão de inverter os termos do problema, esculpiu as


letras ao contrário na madeira – e deu certo. Gutenberg logo percebeu, porém, que
esculpir página por página um livro em placas de madeira era um trabalho
descomunal. Pensou então em cunhar as letras separadamente, primeiro em
madeira depois em chumbo fundido. Inventou uma forma que pudesse segurar os
tipos juntos para compor uma página. Fabricou ainda tintas e escovas próprias
para espalhá-las sobre os tipos. Até aí seu trabalho se equiparava ao dos chineses
de séculos atrás. Faltava o pulo-do-gato tornar o processo mecânico, para
imprimir mais rápido e com melhor qualidade do que a mão.

Gutenberg desatou o nó: adaptou uma prensa que servia para produzir vinhos. O
mecanismo consistia em um suporte fixo e uma parte superior móvel em forma de
parafuso. A fôrma com os tipos unidos era colocada sobre o suporte, recebia uma
camada de tinta e por cima a folha de papel. A parte superior era depois movida
para baixo, pressionando o papel contra os tipos. Estava inventada a impressão
tipográfica, uma tecnologia que sobreviveria com poucas modificações até o
século XIX. Mas, então, havia muito que deixara de ser apenas um aparato para
produzir cópias com rapidez. O invento de Gutenberg fizera desabar sobre uma
Europa em mutação social, econômica e religiosa a idéia da difusão do
conhecimento. Foi mais lenha na fogueira da efervescência cultural que acabaria
por consumir a Idade Média.

A invenção da imprensa na aurora dessa época também de grandes descobertas foi


metade causa, metade efeito do movimento de transformações pelas quais passava
o mundo europeu. O continente assistia ao nascimento da burguesia mercantil
como ator político, buscando desalojar a aristocracia rural do centro das decisões.
No campo das idéias religiosas, eclodia a crise que levaria à Reforma protestante.
A disseminação dos protestos de Lutero, na escala que ocorreu, só foi possível
graças ao invento daquele outro alemão dado à ourivesaría. A curiosidade
intelectual já tinha levado à criação das primeiras universidades, no século XII, e
apontava agora na direção de se recuperar o conhecimento humano proveniente
de qualquer fonte, como as obras dos antigos gregos e romanos, familiares apenas
aos doutores da Igreja.

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A sociedade em que vivia Gutenberg passava por um crescimento populacional
comparável ao aumento da produtividade na indústria e no comércio. Na Idade
Média descobriu-se a pólvora, o relógio mecânico, aperfeiçoou-se a navegação a
vela, que levaria os europeus a novos mundos. A Itália florescia em pleno
Renascimento, irradiando a Europa com um desejo de enriquecimento cultural e
civilização mais dinâmica. Só faltava colocar todas essas idéias no papel.

Foi o que fez Gutenberg. Os livros impressos com sua invenção disseminaram o
hábito de ler e escrever e deixaram a cultura ao alcance das novas classes sociais,
cujo poderio deitava raízes nas cidades. Como a vida de Johannes Gutenberg
passou quase sem registro, a data da invenção da prensa tipográfica é igualmente
incerta. Tudo o que se sabe do inventor é o que consta de documentos comerciais
ou judiciários. Mas esses poucos papéis permitiram deduzir que, durante suas
pesquisas sobre tipografia em Estrasburgo, ele gastou todo o dinheiro antes que
chegasse a produzir qualquer coisa que lhe proporcionasse uma renda. Por volta
de 1438, formou uma sociedade com três burgueses da cidade, Andreas Dritzehn,
Hans Riffe e Andreas Heilmann. Gutenberg já tinha então construído sua prensa,
um segredo que guardava a sete chaves. Começou publicando folhetos e livretos
religiosos, mas a morte de Dritzehn naquele mesmo ano lhe trouxe problemas
com a Justiça.

Os irmãos de Dritzehn processaram Gutenberg porque queriam herdar o direito de


entrar na sociedade. Perderam a causa. Foi nos documentos desse processo que
apareceram os primeiros registros do invento. A publicação dos livretos
religiosos, que Gutenberg vendia como se fossem manuscritos, continuou por
algum tempo, até que a bancarrota total o levou de volta à cidade natal de Mainz.
Provavelmente já estava ali quando imprimiu o Weltgeritch (Juízo do mundo), um
poema alemão anônimo, considerado o mais antigo testemunho da tipografia
européia, do qual sobrou apenas uma página. Em 1448, portanto com cerca de 50
anos, Gutenberg conseguiu o patrocínio de um financiador chamado Johann Fust,
a quem confiou o segredo da invenção, para imprimir seu primeiro livro. Fust
investiu no trabalho de Gutenberg 800 florins, soma considerável na época. Dois
anos depois, mais 800 florins saíram do bolso de Fust para a mão de Gutenberg,
mas a conta cobrada foi amarga.

Gutenberg trabalhava com auxílio de Peter Schöffer, um artesão de tipos tão bom
quanto ele próprio. Em 1455, como o livro não estivesse pronto, Fust cobrou
judicialmente a devolução do financiamento. Gutenberg tentou imprimir às
pressas as Cartas de indulgência do papa Nicolau V, de venda rápida, mas não
escapou à falência. A oficina de impressão caiu nas mãos de Fust e Schöffer, que
por volta de 1456 publicaram o primeiro livro impresso: a chamada Bíblia de 42
linhas, obra de 642 páginas, com tiragem de duzentos exemplares. Tinha esse
nome porque cada uma das duas colunas em suas páginas tinha 42 linhas. Saiu
sem data nem local ou nome dos impressores. Era, oficialmente, a Bíblia de Fust.
Mas, fazendo justiça ao seu verdadeiro autor, foi apelidada de “Bíblia de
Gutenberg”.

Johann Fust e Peter Schöffer, que viria a se tornar seu genro, publicaram um ano
depois o primeiro livro com indicação de data, local de edição e impressores, o
Saltério latino, uma versão dos salmos do Antigo Testamento. Fust parecia ter a
noção de que o invento em seu poder era fantástico – ele fazia seus empregados
jurar sobre a Bíblia que não revelariam a ninguém os segredos da impressão e
mantinha-os sob algo próximo a um cárcere privado. O pobre e desonrado
Gutenberg, por sua vez só escapou da ruína total graças à proteção de um
generoso funcionário municipal de Mainz, Konrad Humery que lhe proporcionou
os meios de montar outra oficina de impressão.
Não se sabe ao certo se Gutenberg deu continuidade ao seu trabalho. Acredita-se
que tenha imprimido ainda o Catholicon, do frade Johannes Balbus, e uma Bíblia
de 36 linhas. Mas a autoria da impressão dessas duas obras, principalmente a da
Bíblia, é duvidosa, pois são de qualidade inferior à que Gutenberg já alcançara.
Em 1462, Gutenberg voltou a Estrasburgo para fugir de novas guerras em Mainz.
Três anos depois, ele regressaria à terra natal sob a proteção do arcebispo Adolfo
II, que ainda por cima lhe proporcionou uma pensão, garantindo roupas, comida e
vinho. Em fevereiro de 1468, com aproximadamente 70 anos,o inventor da prensa
tipográfica morreu.

A desavença com Johann Fust quase custara a Gutenberg a paternidade de seu


invento. A Bíblia de 42 linhas saiu sem créditos e o Saltério,que usava a mesma
técnica, levava apenas o crédito de Fust e Schöffer. A escassa documentação
poderia deixar obscuro também esse ponto em sua vida, não fosse o esforço de
alguns contemporâneos, como o padre Adam Gelthus, que fez inscrever no
túmulo de Gutenberg: “O inventor da arte de imprimir”. O próprio neto de Fust e
filho de Schöffer, Johannes, eliminou as dúvidas ao escrever na dedicatória de um
livro ao imperador Maximiliano, em 1505, ter sido a arte da tipografia inventada
em Mainz “pelo engenhoso Johannes Gutenberg”.

Para saber mais:

A arte de imprimir revistas

(SUPER número 9, ano 3)

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Idade Média
Origem das coisas

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