T.S.
(Watchman) Nee
PREFÁCIO
O que é a oração? É nossa oração eficaz? Conhecemos o poder da oração? Precisamos conhecer
estes e muitos outros assuntos se quisermos ter uma vida de oração verdadeira e desejarmos que nossa
oração seja eficaz.
Neste pequeno volume de mensagens proferidas durante um longo período do ministério do
autor, agora traduzidas e publicadas pela primeira vez, T.S. (Watchman) Nee partilha conosco as lições
que aprendeu sobre a oração ao longo dos anos. Ele considera a oração um mistério, embora não
incompreensível. Percebe ser a oração a maior obra à qual os homens são chamados. É trabalhar com
Deus. Por meio da oração, o propósito de Deus é realizado, as intenções de Satanás são destruídas, e a
pessoa que ora é grandemente beneficiada.
Que nós, portanto, sigamos a admoestação de nosso bendito Senhor: “Levantai-vos, e orai” (Lc
22:46).
ÍNDICE
Prefácio
1 – O que é oração?
2 – Orar segundo a vontade de Deus
3 – Oração e a obra de Deus
4 – O princípio de orar três vezes
5 – A oração que desafia Satanás
6 – Alguns fatores da oração
7 – As táticas de exaustão de Satanás
ORAR SEGUNDO A VONTADE DE DEUS
Leitura Bíblica: 1Jo 5:14; Sl 119:147, 148; Dn 10:1-21
Ao lermos o capítulo 10 de Daniel, que nos fala de sua vida de oração, devemos notar pelo
menos dois pontos.
Primeiro
O primeiro ponto que se deve notar é que aquele que ora verdadeiramente é uma pessoa que
não somente vai a Deus com frequência, mas também cuja vontade frequentemente encaixa-se na
vontade de Deus – quer dizer, seu pensamento muitas vezes entra no pensamento de Deus. Este é um
princípio muitíssimo importante da oração.
Há um tipo de oração que se origina inteiramente de nossa necessidade. Embora, às vezes, o
Senhor ouça a tais orações, ele, não obstante, pouco ou quase nada delas aproveita. Por favor, preste
atenção a este versículo: “Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma” (Salmo
106:15). Que significa esta passagem? Ao Israel clamar a Deus pela gratificação de sua avidez, ele
respondeu-lhes dando o que pediram, entretanto, o resultado foi que se enfraqueceram perante ele.
Oh, sim, às vezes Deus ouve e responde as nossas orações somente para satisfazer nossas
necessidades, ainda que sua divina vontade não se realize. Que compreendamos que este tipo de
oração não tem muito valor.
Mas há outro tipo de oração que procede da própria necessidade de Deus. É de Deus e se
inicia em Deus. E tal oração é de valor incalculável. A fim de ter tal tipo de oração a pessoa que ora
não somente tem de aparecer com frequência pessoalmente perante Deus, mas também tem de
permitir que sua vontade se perca na vontade de Deus, seu pensamento deve perder-se no
pensamento de Deus. Por viver na presença do Senhor, tal pessoa pode conhecer sua vontade e
pensamentos. E estas vontades e pensamentos divinos tornam-se seus próprios desejos, que então ela
expressa em oração.
Oh, como devemos aprender este segundo tipo de oração! Embora sejamos imaturos e fracos,
podemos não obstante achegar-nos a Deus e deixar que seu Espírito leve nossa vontade para a
vontade de Deus e nosso pensamento para o pensamento de Deus. Ao nos apropriarmos um pouco de
sua vontade e pensamento compreendemos um pouco mais como opera o Senhor e o que requer de
nós. De modo que, gradativamente, a vontade e o pensamento de Deus, que conhecemos e que fazem
parte de nos, transformam-se em nossa oração. E tal oração é de grande valor.
Tendo entrado no pensamento de Deus e assim apropriado de sua vontade e propósito, Daniel
encontrou em seu coração os mesmos desejos de Deus. O anelo de Deus foi reproduzido em Daniel e
se transformou em seu desejo. De modo que, ao expressar este desejo em oração com gritos e
gemidos, na verdade estava articulando o desejo de Deus. Precisamos deste tipo de oração, porque
ele realmente toca o coração divino. Não mais precisamos de palavras; o que necessitamos é tocar
mais a mente do Senhor. Que o Espírito de Deus nos faça penetrar nos planos do coração de Deus.
É claro que leva tempo para aprender este tipo de oração. No começo de tal aprendizagem
não procuremos mais palavras nem mais pensamentos. Nosso espírito deve estar calmo e em
repouso. Podemos levar nosso estado atual ao Senhor e examiná-lo à luz de sua presença, ou
podemos nos esquecer de nosso estado e simplesmente meditar em sua palavra perante ele. Ou
podemos simplesmente viver perante ele e tentar tocá-lo com nosso espírito. De fato, não somos nós
que saímos para encontrar a Deus; é Deus que espera por nós. E na presença dele percebemos
alguma coisa e tocamos a sua vontade. A maior sabedoria vem, de fato, desta fonte. Assim, nossa
vontade entra em sua vontade e nosso pensamento entra em seu coração. E daí nossa oração subirá a
ele.
Ao trazermos a Deus nossa vontade e pensamento sua própria vontade e pensamento
começam a ser reproduzidos em nós, e então isto se torna nossa vontade e pensamento. Este tipo de
oração é muitíssimo valioso e de grande peso. Lembremo-nos do que o Senhor Jesus disse acerca da
oração: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha
o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6:9, 10). Estas palavras não são
simplesmente para repetirmos. Sendo reveladoras da vontade e do pensamento de Deus, devem ser
reproduzidas em nós quando o Espírito de Deus leva nossa mente para Deus. E à medida que se
tornam nossa vontade e pensamento, a oração que então proferimos é valiosíssima e de muita
autoridade.
É possível fazer dois tipos diferentes de oração acerca do mesmo assunto. Um tipo procede de
nossa própria vontade. É baseado em nosso próprio pensar e nossas próprias expectativas. O Senhor
pode ouvir nossa oração e responder a ela, mas tal oração tem valor muito pequeno. Se, por outro
lado, trazemos o assunto perante Deus e deixamos que seu Espírito una nossa vontade com a vontade
de Deus e nosso pensamento com o pensamento de Deus, descobriremos dentro de nós um anseio
profundo: a reprodução da vontade e, do pensamento dele. Suponhamos que o Senhor está sentido e
pesaroso com a morte dos homens. Também nós sentiremos o urgente desejo de que alma alguma se
perca. E é a reprodução do coração de Deus que nos capacita a orar com gemidos interiores.
Se o Senhor estiver magoado e ansioso por causa do fracasso de seus filhos, esse mesmo
encargo se reproduzirá em nós; e o resultado será que teremos o mesmo anseio de não desejar ver um
filho de Deus cair em trevas e pecado. Assim, oração e intercessão fluirão de nós. Ali confessaremos
os pecados, suplicaremos perdão, e pediremos que Deus purifique seus filhos.
Portanto, um tipo de oração é apresentado de acordo, com nossa vontade; o outro tipo é a
vontade de Deus que se reproduziu em nós e se tornou nossa vontade. Estes dois tipos de oração são
extremamente diferentes. No último caso, quando qualquer crente se aproxima de Deus, a vontade de
Deus se reproduzirá nele. Tornar-se-á sua própria essência. E a oração feita desta forma terá valor e
autoridade.
Deus tem muitas coisas que fazer na terra, em muitas áreas. Como, então, podemos orar
segundo nosso próprio sentimento e pensamento? Devemos nos aproximar de Deus e permitir que
ele imprima em nós o que ele deseja para que possamos interceder com gemidos. Às vezes, quando
nos aproximamos de Deus, ele coloca em nós sua vontade de espalhar o evangelho, e isto logo se
torna uma obrigação para nós. E quando oramos de acordo com essa obrigação, sentimos como que
se nosso próprio gemido estivesse divulgando a vontade de Deus. O Senhor pode colocar em nós
uma variedade de vontades ou reproduzir em nós diferente encargos. Mas qualquer que seja a
vontade ou encargo, sempre que for reproduzido em nosso coração somos capazes de fazer a vontade
do Senhor nossa própria vontade e orar de acordo com ela. Quando Daniel se apresentou perante
Deus, tocou em determinado assunto; e então vimos que orou por isso com gemidos profundos. Tal
oração é preciosa e de grande substância. Pode santificar o nome de Deus, apressar o seu reino e
fazer com que a sua vontade prevaleça sobre a terra como no céu.
Segundo
O segundo ponto que devemos notar é: quando fizermos este tipo de oração, sacudiremos o
inferno e afetaremos a Satanás. Por isto Satanás levantar-se-á para impedir este tipo de oração. Todas
as orações que vêm de Deus tocam os poderes das trevas. Aqui se apresenta um combate espiritual.
Talvez nossos corpos físicos, nossas famílias ou qualquer coisa que nos pertença seja atacada por
Satanás. Pois sempre que este tipo de oração é feito, ocorre ataque satânico. O inimigo ataca para que
nossa oração cesse. Ele pode até tentar lançar algum obstáculo que atrase a resposta à nossa oração.
Essa oração devia receber uma resposta rápida; entretanto, a resposta parece estar suspen-sa no ar.
Deste mesmo modo a resposta à oração de Daniel se atrasou vinte e um dias embora Deus o tivesse
ouvido no dia em que começou a orar. Nesta situação, que fez Daniel? Ajoelhou-se perante Deus e
esperou até que a resposta à oração chegasse.
Deixe-me fazer esta pergunta: Você já se perguntou por que sua oração fica sem resposta?
Talvez esteja suspensa em algum, lugar, mas dentro do prazo de vinte e um dias! É possível que a
resposta do trono já tenha sido dada, mas encontra oposição e fica suspensa no ar. Por quê? Espera
mais oração da terra; precisa que mais pessoa humilde e pacientemente esperem pelo Senhor.
Oh, aproxime-se da presença de Deus, tenha calma perante ele, deixe de lado seus próprios
pensamentos, e entre no pensamento dele. Então você compreenderá o significado da oração e verá
por quantos assuntos está Deus esperando que você ore. Há coisas em volta do mundo que
devem ser motivos de suas orações, e assuntos de todos os tipos que devem receber suas
orações. Você não ora segundo seu próprio sentimento; em vez disso, leva o desejo de seu coração
ao desejo do coração de Deus e deixa que a vontade dele se transforme em sua vontade, gemido e
esperança no universo.
Nada da vontade de Deus jamais é liberado sem passar pelo homem, e nada dessa vontade
liberada através do homem está livre de um encontro com o poder de Satanás. Para a realização da
vontade de Deus é preciso haver oração; para remover a oposição de Satanás é preciso oração. Que
exercitemos a autoridade da oração desligando o que deve ser desligado e ligando o que deve ser
ligado. Que não oremos segundo nossa vontade. Aproximemo-nos de Deus e oremos segundo a
vontade que ele reproduziu em nós. Quando Deus diz que isso deve ser feito, nós também dizemos
que deve ser feito. Quando ele diz que isto não deve existir, nós também dizemos que não deve
existir. Devemos esquecer de nós mesmos, tocar a vontade de Deus e expressar sua vontade presente
por meio da oração.