Maio Laranja
Maio Laranja
Com a expansão do uso da internet entre crianças e adolescentes, cresceram também os crimes cibernéticos contra
esse público, que se tornaram mais sofisticados e difíceis de detectar. Para se ter ideia da gravidade do tema, três em
cada dez crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de todo o Brasil (29% do total) já enfrentaram situações ofensivas
ou discriminatórias na internet, segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024.
Abusos sexuais virtuais, aliciamento, exposição indevida e cyberbullying são algumas das formas de violência que têm
afetado milhares de jovens brasileiros. Para
cometer os crimes, os criminosos virtuais se
infiltram em jogos online, redes sociais e Clique aqui para baixar a imagem.
plataformas de mensagens com perfis falsos, fingindo ser crianças ou adolescentes para ganhar a confiança das
vítimas.
Segundo a psicóloga, pedagoga e gestora da Escola Internacional de Alphaville, de Barueri, Ana Cláudia Favano, o
ambiente digital se tornou parte do cotidiano infantil, mas muitas vezes os responsáveis não acompanham esse
processo com o devido cuidado. “Isso cria um terreno fértil para que crianças e adolescentes sejam assediados no
ambiente virtual, e seus pais nem fazem ideia disso. Monitorar por onde seus filhos navegam, quais ambientes
frequentam e com quem se relacionam virtualmente é uma responsabilidade dos genitores. O abandono digital é muito
frequente atualmente. Como as crianças e adolescentes não têm o repertório necessário para reconhecer situações de
risco, a orientação de um adulto é essencial”, afirma.
Ana Claudia destaca ainda que, muitas vezes, os próprios pais contribuem — ainda que sem intenção — para a
exposição dos filhos na internet. “Publicar fotos de crianças em redes sociais abertas, divulgar rotinas, locais que
frequentam ou informações pessoais pode facilitar a ação de criminosos virtuais. A responsabilidade pela segurança
digital começa com os adultos. É preciso refletir sobre o que se compartilha e entender que a superexposição pode
colocar os filhos em risco”, alerta a especialista.
Proibir o uso não é o caminho, mas educar para o uso consciente é urgente
Para a diretora geral da Escola Bilíngue Aubrick, Fátima Lopes, em um mundo cada vez mais digitalizado — onde a
internet atravessa não apenas telas, mas objetos e relações —, proibir o uso da tecnologia simplesmente não é viável.
“A internet das coisas já é parte do nosso cotidiano. O que precisamos ensinar é o uso consciente e equilibrado da
tecnologia, pois o excesso e o uso inadequado podem causar danos reais à saúde emocional, social e cognitiva das
crianças e adolescentes”, afirma.
Inspirada em uma visão contemporânea sobre educação e tecnologia, Fátima defende que a orientação, o diálogo e a
construção conjunta de regras são ferramentas muito mais eficazes do que a proibição pura. “O papel da família é
ensinar, acompanhar e ajudar a estabelecer rotinas de uso, respeitando as fases da infância e da adolescência.
Quando crianças e jovens participam da construção dessas rotinas, compreendem os limites como aliados do seu
próprio bem-estar”, explica.
Ao mesmo tempo, a educadora enfatiza que a responsabilidade não deve ser apenas das famílias e escolas. “As
plataformas e tecnologias também precisam se transformar, adaptando seus perfis e práticas para proteger todos os
usuários, especialmente os mais vulneráveis. A segurança digital é uma responsabilidade compartilhada”, reforça.
Fátima acrescenta que, nesse contexto, a lei que restringiu o uso de celulares nas escolas surgiu como uma medida
necessária e protetiva. “A escola é um espaço de convivência, de celebração da existência e da formação de vínculos
reais. Precisamos garantir ambientes em que a atenção plena e o encontro humano sejam preservados.”
A diretora pedagógica do Brazilian International School (BIS), de São Paulo, Audrey Taguti, alerta que as crianças e
adolescentes costumam dar sinais de que algo não vai bem, seja no mundo real ou no virtual. “Mudanças bruscas de
humor e de comportamento, irritabilidade, isolamento repentino, perda de interesse por atividades que antes gostavam,
queda no rendimento escolar ou alterações no sono e apetite podem ser indícios de que estão enfrentando alguma
situação de estresse”, explica.
Outro ponto importante, segundo a especialista, é observar a forma como a criança lida com os dispositivos digitais.
“Se ela começa a usar o celular de maneira excessiva, se esconde para acessar a internet, apaga conversas ou
histórico de navegação com frequência, pode estar tentando ocultar algo que a incomoda ou assusta. Nessas horas, é
fundamental que a família esteja emocionalmente disponível para acolher, sem julgamento, e conduzir a conversa de
forma segura e aberta”, orienta Audrey.
As educadoras reuniram as dicas abaixo, que podem ajudar as famílias a lidarem melhor com o tema e, assim,
protegerem seus filhos.
Converse com as crianças e adolescentes sobre segurança on-line. Explique que existem pessoas más
na internet e que nem todo mundo é quem diz ser. O velho conselho “não converse com estranhos na rua”
também vale para o ambiente digital;
Oriente sobre o que fazer em caso de contato com estranhos ou situações desconfortáveis. A criança
precisa saber que pode contar com os adultos;
Mantenha os dispositivos em locais comuns da casa, principalmente para crianças menores;
Crie regras claras sobre tempo de uso, tipos de conteúdo permitidos e aplicativos utilizados. A
criança precisa entender, por exemplo, que não deve extrapolar o limite combinado de uso diário do
celular, ou que determinados conteúdos, games e aplicativos não podem ser baixados e usados por ela
até que tenha maturidade suficiente;
Utilize controles parentais e configure a privacidade de contas nas redes sociais. Essas ferramentas
ajudam os adultos a supervisionar o uso dos aparelhos;
Esteja presente nos ambientes digitais que seus filhos frequentam. Adicione-se às redes sociais,
conheça os jogos e participe das conversas sobre o que acessam on-line;
Procure ajuda especializada se notar qualquer mudança brusca de comportamento.
As especialistas:
Ana Claudia Favano é gestora da Escola Internacional de Alphaville. É psicóloga; pedagoga; educadora parental pela
Positive Discipline Association/PDA, dos Estados Unidos; e certificada em Strength Coach pela Gallup. Especialista em
Psicologia da Moralidade, Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização, Educação Emocional Positiva e
Convivência Ética. Dedicada à leitura e interessada por questões morais, éticas, políticas, e mobiliza grande parte de
sua energia para contribuir com a formação de gerações comprometidas e responsáveis.
Audrey Taguti acumula 41 anos de experiência e trabalho em Educação. É formada em Magistério e Pedagogia,
possui pós-graduações em Psicopedagogia e Bilinguismo e é especialista em Alfabetização. É diretora pedagógica do
Brazilian International School – BIS, de São Paulo/SP desde a fundação do colégio, em 2000.
Fatima Lopes é pós-graduada em Gestão Escolar, especialista em Bilinguismo e apaixonada pela área da Educação.
De sua primeira formação, em Enfermagem, ela mantém o dom de cuidar das pessoas: gosta de se relacionar com
alunos, pais e colegas, promovendo um ambiente de aprendizado colaborativo e acolhedor. Diz ter como missão
contribuir para a formação integral dos estudantes, formando cidadãos mais conscientes e preparados para o futuro. É
fundadora e diretora geral da Escola Bilíngue Aubrick, de São Paulo.