Código de Ética
O Código de Ética é um conjunto de directrizes e princípios que orientam a conduta de
indivíduos ou organizações em suas práticas profissionais. A definição e a aplicação de um
Código de Ética têm sido objecto de debate entre diversos autores.
Debate sobre a Definição de Código de Ética
Resnik (2018), argumenta que um Código de Ética é essencial para garantir a integridade e a
responsabilidade nas acções dos profissionais. Ele enfatiza a necessidade de directrizes claras
que ajudem os indivíduos a tomar decisões éticas em contextos complexos.
Beauchamp e Childress (2013), por outro lado, ampliam essa discussão ao afirmar que um
Código de Ética deve incorporar princípios fundamentais como autonomia, beneficência, não-
maleficência e justiça. Para eles, a ética não se resume a regras, mas deve considerar valores
éticos mais amplos que guiam a prática profissional.
Gert et al. (2017), trazem uma perspectiva adicional ao afirmar que um Código de Ética deve
promover a confiança nas relações interpessoais e profissionais. Eles argumentam que, para ser
eficaz, um Código de Ética deve ser compreensível e aplicável, ajudando a construir uma cultura
de confiança e responsabilidade.
Importância do Código de Ética
Orientação e Directrizes: O Código de Ética fornece um guia claro sobre como agir em situações
éticas. A American Psychological Association (2020), destaca que essas directrizes ajudam os
profissionais a enfrentarem dilemas éticos, promovendo decisões mais informadas e
responsáveis.
Protecção: O Código de Ética protege os profissionais contra práticas antiéticas. Resnik (2018),
menciona que a existência de tais códigos pode ajudar a prevenir comportamentos prejudiciais
tanto para os indivíduos quanto para a organização. Segundo McEthics (2021), a implementação
de um Código de Ética sólido pode servir como um escudo contra litígios e danos à reputação.
Confiança: Um Código de Ética bem estruturado aumenta a confiança do público e dos
stakeholders. A American Psychological Association (2020), afirma que essa confiança é crucial
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para a credibilidade de qualquer profissão, pois demonstra um compromisso com altos padrões
éticos.
Responsabilidade: O Código de Ética estabelece a responsabilidade dos profissionais em suas
acções. Isso é importante para a promoção da accountability, em que os indivíduos são
responsabilizados por suas decisões e comportamentos (Resnik, 2018). Hartman e DesJardins
(2013), enfatizam que a responsabilidade ética é fundamental para o funcionamento efetivo de
qualquer organização.
Cultura Organizacional: A implementação de um Código de Ética contribui significativamente
para a formação de uma cultura ética dentro das organizações. A American Psychological
Association (2020), ressalta que essa cultura influencia positivamente o comportamento dos
colaboradores e promove um ambiente de trabalho saudável e colaborativo. Segundo Treviño e
Nelson (2016), organizações com uma forte cultura ética tendem a ter um desempenho superior e
maior satisfação dos colaboradores.
Código de Ética da Polícia da República de Moçambique (PRM)
A ética policial representa o conjunto de princípios, valores e normas que orientam a conduta dos
agentes da PRM, assegurando que suas acções estejam sempre em conformidade com a
legalidade, o respeito à dignidade humana e a responsabilidade social (Santos, 2025). Silva
(2023) reforça que o Código de Ética da PRM é fundamental para garantir uma actuação
profissional íntegra, disciplinada e comprometida com o bem-estar da sociedade, fortalecendo a
confiança da população na instituição policial. Assim, o Código de Ética funciona como um guia
prático e normativo que assegura que os membros da PRM atuem com honestidade, respeito e
justiça, preservando a imagem e a legitimidade da corporação.
Normas e Directrizes Previstas no Código
O Decreto nº 30/2019, de 30 de Abril, que institui o Estatuto Orgânico da PRM, estabelece que a
polícia é um serviço público de natureza paramilitar que deve actuar respeitando a Constituição,
as leis, os direitos humanos e a ordem pública (República de Moçambique, 2019).
O Código de Ética da PRM impõe normas claras para a conduta dos seus membros, entre as
quais destacam-se:
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Cumprimento rigoroso da legislação e ordens superiores: Os agentes devem agir
estritamente conforme a Constituição, as leis e as ordens legítimas, garantindo que suas
acções estejam dentro do marco legal e institucional.
Respeito à dignidade e aos direitos humanos: O polícia deve tratar todas as pessoas com
respeito, sem discriminação por raça, sexo, religião, origem ou qualquer outra condição,
evitando abusos de poder e garantindo o tratamento justo e igualitário.
Conduta exemplar dentro e fora do serviço: A ética policial exige que o
comportamento do agente seja íntegro não apenas durante o serviço, mas também em sua
vida pessoal, pois a imagem da instituição depende da conduta individual.
Imparcialidade, honestidade e transparência: Os agentes da PRM devem actuar sem
favorecimentos, com honestidade e clareza, promovendo a confiança da população.
Zelo pelo uso correto dos recursos públicos e património do Estado: O agente deve
proteger os bens públicos e utilizar os recursos da corporação de forma responsável e
eficiente (Decreto nº 28/99, 24 de Maio).
Essas directrizes são essenciais para manter a legitimidade da PRM e garantir a confiança da
sociedade.
Sanções para condutas antiéticas – Explicação detalhada e exaustiva
O Regulamento Disciplinar da Polícia da República de Moçambique, aprovado pelo Decreto nº
84/2014, de 31 de Dezembro, detalha o regime disciplinar e o processo para apurar e punir as
infracções cometidas pelos membros da PRM (República de Moçambique, 2014). A seguir,
explicamos detalhadamente as sanções previstas, o processo disciplinar e os órgãos responsáveis,
para compreender como a PRM assegura a disciplina e a ética institucional.
1. Conceito de infracção disciplinar
Considera-se infracção disciplinar qualquer ato ou omissão dolosa ou culposa que viole os
deveres, normas e princípios éticos da PRM, comprometendo a ordem, a disciplina ou a imagem
da instituição (Art. 5, Decreto nº 84/2014). Exemplos incluem desobediência, negligência, abuso
de poder, corrupção, indisciplina, entre outros.
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2. Tipos de Sanções Disciplinares
As sanções são graduadas conforme a gravidade da infracção, visando corrigir o comportamento
e preservar a disciplina. São elas:
Advertência (Art. 15): É uma crítica formal feita pelo superior hierárquico, destinada a corrigir
uma falha leve na conduta do policial. Tem carácter educativo e serve para alertar o agente sobre
a necessidade de mudança de comportamento.
Repreensão pública (Art. 16): Consiste em uma crítica feita na presença dos colegas ou
em público, para enfatizar a gravidade da infracção e estimular a correcção imediata. É
uma sanção mais severa que a advertência e visa preservar a disciplina no ambiente de
trabalho.
Multa (Art. 17): Aplicada como desconto no vencimento do policial, que pode variar
entre 5 e 90 dias, graduada conforme a gravidade da infracção. A multa tem carácter
punitivo e educativo, desestimulando a repetição da conduta inadequada.
Aquartelamento ou corte de licença (Art. 41): Restrição temporária da liberdade de
circulação do policial dentro da unidade, ou suspensão da licença de saída, por até 15
dias, aplicada em infracções que demandam maior controle disciplinar.
Despromoção (Art. 18): Implica a perda de antiguidade, redução de direitos como
licença anual e impossibilidade de promoção durante o período da sanção. Aplica-se em
infracções graves que comprometem a confiança e a hierarquia.
Demissão (Art. 19): A demissão implica a perda do cargo e da função pública, com
consequências administrativas, como a perda do tempo para efeitos de pensão. É aplicada
em infracções muito graves que comprometem a integridade da instituição.
Reforma compulsiva e expulsão (Arts. 20 e 21): São as sanções mais severas, aplicadas
em casos extremos, que implicam a saída definitiva do policial da corporação, com perda
total dos direitos funcionais.
3. Processo Disciplinar – Garantias e Etapas
O processo disciplinar é um procedimento formal que assegura o direito à ampla defesa e ao
contraditório do policial acusado (Art. 34). As etapas principais são:
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Início: O processo pode ser iniciado por ordem do dirigente, mediante denúncia,
participação ou conhecimento directo da infracção (Art. 100 do EGFAE).
Instrução: Recolha de provas, audições de testemunhas e elaboração da nota de culpa,
que informa o policial sobre as acusações.
Defesa: O arguido tem direito a apresentar defesa escrita e provas em sua defesa.
Julgamento: O Conselho de Ética e Disciplina analisa as provas e decide pela aplicação
ou não da sanção.
Recurso: O policial pode recorrer da decisão para instâncias superiores, garantindo o
devido processo legal.
A suspensão preventiva do serviço pode ser aplicada por até 60 dias, prorrogáveis, quando
houver fortes indícios de culpa e risco de continuidade da infracção, protegendo a integridade do
processo e da instituição (Art. 42).
4. Registro e Cancelamento das Sanções
As sanções a partir da repreensão pública são registadas no assento biográfico do policial, o que
pode influenciar sua carreira (Art. 33). Contudo, se o agente demonstrar boa conduta e
regeneração, a menção da infracção e da sanção pode ser cancelada após três anos, permitindo a
reabilitação profissional.
5. Competência para Aplicação das Sanções
A aplicação das sanções é distribuída hierarquicamente:
Comandante de Quartel: aplica advertência e repreensão pública (Art. 40).
Comandante Distrital: aplica advertência, repreensão pública, aquartelamento ou corte
de licença até 15 dias e multa até 15 dias (Art. 41).
Chefe de Departamento Regional: competência para sanções mais severas, conforme
regulamento (Art. 42).
Comandante-Geral: competência para demissão, expulsão e demais sanções máximas
(Art. 5, Decreto nº 30/2019).
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Referências
American Psychological Association. (2020). Publication manual of the American Psychological
Association (7th ed.). Washington, DC: Author.
Beauchamp, T. L., & Childress, J. F. (2013). Principles of biomedical ethics (7th ed.). Oxford
University Press.
Gert, B., Culver, C., & Clouser, K. D. (2017). Bioethics: A return to fundamentals. Oxford
University Press.
Hartman, L. P., & DesJardins, J. (2013). Business ethics: Decision making for personal integrity
and social responsibility. McGraw-Hill.
McEthics. (2021). The role of ethics in business. Retrieved from [McEthics]
Resnik, D. B. (2018). What is ethics in research & why is it important? National Institute of
Environmental Health Sciences.
Treviño, L. K., & Nelson, K. A. (2016). Managing business ethics: Straight talk about how to do
it right (6th ed.). Wiley.
Santos, M. (2025). Ética e conduta policial em Moçambique: desafios e perspectivas. Editora
Académica. Maputo.
Silva, J. (2023). Princípios éticos na actuação policial: um estudo sobre a Polícia da República
de Moçambique. Revista Moçambicana de Segurança Pública, 12(1), 45-60.
Legislação Consultada
República de Moçambique. (1999, 24 de Maio). Decreto nº 28/99 - Estatuto do Polícia. Diário da
República.
República de Moçambique. (2014, 31 de Dezembro). Decreto nº 84/2014 – Regulamento
Disciplinar da Polícia da República de Moçambique. Diário da República.
República de Moçambique. (2019, 30 de Abril). Decreto nº 30/2019 – Estatuto Orgânico da
Polícia da República de Moçambique. Diário da República.