Os conceitos da agricultura e pecuária
Inúmeros são os conceitos propostos por vários autores sobre agricultura e
pecuária. Abaixo apresentam-se alguns deles e são os seguintes:
Agricultura
Arte de domesticar animais e plantas úteis ao Homem (Pierre George e
Manuel Cruz).
Trabalho da terra para produzir plantas e animais (Pierre George).
Arte de cultivar a terra, de a fertilizar. Em sentido geral: o conjunto de
operações e de cuidados por intermédio dos quais o Homem obtém da terra
as produções que servem para satisfazer as suas necessidades (AAVV)
Actividade económica complexa orientada no sentido da produção de bens
destinados à alimentação e às indústrias, obtidos a partir de plantas e
animais por intermédio de transformações biológicas e tecnológicas (AAVV).
É a actividade que tem como objectivo a exploração de recursos do solo
afim de satisfazer as necessidades essenciais do Homem (nutrição e
vestuário) e do seu habitat (Dulce Garrido e Rui Costa).
É a artificialização pelo Homem do meio natural, com o fim de o tornar mais
apto ao desenvolvimento de espécies vegetais e animais, elas próprias
melhoradas (Dulce Garrido e Rui Costa).
Pecuária
Pecuária a palavra pecuária provém do latim pecus, que significa cabeça de
gado. Por seu turno, a pecuária é a arte de criar animais. É a actividade que
consiste na criação de animais e na sua reprodução com finalidade
económica. Visa abastecer o mercado consumidor de carne, leite, couro, la e
outros produtos obtidos da criação animal (Melhem Adas).
Destas definições o que se pode extrair é que a agricultura é o trabalho ou
actividade que consiste em domesticar ou cultivar plantas e animais com o
objectivo de obter alimentos, fibras, energia, matéria-prima para o fabrico
de roupas, construções, medicamentos, ferramentas, ou apenas para
contemplação estética. É portanto a união de técnicas aplicadas no solo
para o cultivo de vegetais destinados a alimentar a população humana e
animal, a produção de matérias-primas e ornamentação.
Relação entre Agricultura e Pecuára
De entre as actividades produtivas, a agropecuária é a primeira que se
encontra associada ao desenvolvimento da produção e da sociedade. Ao
longo da história foi a partir da recolecção e da caça que se iniciou o
processo da selecção e posterior domesticação das plantas e dos animais
úteis. Esta etapa representou o estágio inicial do desenvolvimento da
agricultura e da pecuária.
A agricultura e a pecuária estabelecem uma estreita relação de
complementaridade pois os recursos naturais utilizados na actividade
agropecuária, participam nesta de forma combinada a diferentes niveis e
com diversas inter-relações (produção agricola ao serviço da pecuária e
vice-versa), constituindo-se num sistema único, denominado Recursos Agro-
pecuários. Estes recursos estão relacionados tanto com os diferentes
elementos físicos (clima, hidrografia, relevo, solo, vegetação), bem como
com os diferentes tipos de meios naturais, que se caracterizam por
diferentes combinações dos seus componentes fundamentais (tipos de solo,
tipos de formações vegetais).
Assim, distingue-se no sistema de recursos agropecuários os recursos
pedológicos (solos), os recursos hídricos continentais, os recursos
climáticos, plantas e animais úteis, os recursos de água da atmosfera sob a
forma de precipitações e as condições do relevo.
Evolução da agricultura e pecuária
Origem e difusão da agricultura
Afinal onde foram pela primeira vez domesticadas plantas e animais? Ter-se-
iam difundido a partir de um único ponto de origem ou existiram
descobertas independentes em muitos lugares? Que plantas e animais
foram pioneiras na domesticação? Que povos ou povo os domesticaram?
Estas e outras questões por colocar são de resposta complexa,
contudo,Alguns autores apontam o Sudeste Asiático como o local de origem
da domesticação, especialmente com arroz, árvores frutíferas e animais
como galinhas e porcos. Outros estudos, como os de Costa et al (1989),
sugerem que a agricultura surgiu de modo variado, com sociedades
nômades de caçadores-coletores cruzando com civilizações vegetais,
formando sociedades agrícolas.
A região do Próximo Oriente (vales do Israel, Jordânia, Síria, Turquia, Irã e
Iraque) é amplamente aceita como berço da domesticação, especialmente
de cereais e animais. A partir daí, a agricultura teria se espalhado tanto
para o leste (Ásia) quanto para o oeste (Europa e África). A migração dos
povos da Anatólia (atual Turquia) ajudou a levar o conhecimento agrícola
para outras partes do mundo.
Além do Próximo Oriente, também houve centros agrícolas na China, Índia e
Sudeste Asiático, onde algumas espécies vegetais tropicais foram
domesticadas. Alguns autores defendem que houve uma rota tropical de
domesticação independente, mais antiga que a do Próximo Oriente.
No continente americano, apesar do isolamento por oceanos, também
surgiram processos de domesticação, com destaque para o milho no México
e o cultivo de leguminosas. No entanto, a América não domesticou cereais
de praga nem incorporou animais domésticos de forma significativa, como
no Velho Mundo.
Os principais centros de domesticação nas Américas foram o México e o
Peru, embora essas domesticações tenham ocorrido de forma mais recente.
A difusão dos princípios da domesticação veio acompanhada da transmissão
de técnicas básicas de cultivo.
A Recoleção do Paleolítico e a Revolução Agrícola do
Neolítico
A Recoleção do Paleolítico
No Paleolítico, “o Homem vivia essencialmente da caça, da pesca e
da recolha de frutos e plantas”. Era nómada e deslocava-se “em
função das estações do ano, consoante a escassez ou abundância de
alimentos”. A sua sobrevivência dependia do que a Natureza lhe
proporcionava, pois “desconhecia o cultivo das plantas e a
domesticação dos animais”.
Esse modo de vida implicava uma constante mobilidade, procurando
“locais ou regiões que lhe pudessem proporcionar subsistência”. O
objetivo principal era “alimentar-se”. Quanto à origem da agricultura,
existem várias hipóteses. Algumas sugerem que ela surgiu por “mera
curiosidade natural do Homem”, outras por “necessidade, provocada
pela escassez dos recursos alimentares”.
O processo de transição ocorreu entre os anos 10.000 e 7.000 a.C.,
durante o Neolítico, representando “uma autêntica revolução
económica e social”. A agricultura permitiu “o aparecimento de
habitações fixas, a existência de famílias e de grupos sociais, e a
diversificação no trabalho”. Uma teoria bastante aceita é que “a
agricultura teria surgido em diferentes locais da Terra e cada um com
a sua cultura”.
As primeiras espécies cultivadas foram “gramíneas, como o trigo e a
cevada na Mesopotâmia por volta de 10.000 a.C.” e o “arroz, por
volta de 4.200 a.C. na Índia”. Na América, a “mandioca e a abóbora
foram cultivadas por volta de 7.500 a.C., e o milho no México por
volta de 6.500 a.C.”.
Revolução Agrícola do Neolítico
A Revolução Agrícola do Neolítico também trouxe avanços
tecnológicos: “com a utilização dos metais (cobre, bronze e ferro), o
solo passa a ser mais facilmente trabalhado”, e surgem “a enxada, o
arado de madeira e, posteriormente, de ferro”. A “roda” foi uma
invenção marcante, utilizada nos transportes e na produção, como no
“carro de rodas que surgiu em Ur (Caldeia) cerca de 3.500 a.C.”.
Além disso, surgiram técnicas de “irrigação”, que aumentaram a
produtividade, bem como práticas como a “rotação de culturas e a
utilização de animais para fertilizar os campos”. O homem do
Neolítico “conseguiu domesticar as plantas que cultivou, os animais
que produziam ovos, leite e carne” e desenvolveu técnicas como “a
olaria, a cestaria e a tecelagem”.
Assim, o Homem passou de mero coletor para “produtor e
transformador das paisagens”, consolidando o seu papel como agente
ativo da sua sobrevivência e do seu espaço.