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Conceito e fins da ação executiva DPE
Processo executivo (Universidade de Coimbra)
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Resumos de DPC III e aulas 1ª até 5ª
CONCEITO E FINS DA
AÇÃO EXECUTIVA
DELIMITAÇÃO
No direito processual civil há duas espécies fundamentais de ações (artigo 10º/1):
Ação de Simples TB declare a existência ou
Declarativa apreciação
inexistência dum direito ou
dum facto juridico
Condenação TB condene o réu na
Duas prestação duma coisa ou
dum facto
Espécies
de ações
Constitutiva Exercicio judicial dum
direito potestativo cria
novas situações juridicas,
constituindo, impedindo,
modificando ou extinguindo
direito e/ deveres
Pretende a reparação Há três tipos
Executiva efetiva dum direito
violado. Não se trata de •Pagamento de
quantia certa
declarar direitos pré-
existentes ou a •Entrega de coisa
certa
constituir mas sim de
providenciar pela •Prestação de facto
realização coativa de
uma prestação devida.
Com ela passa-se da
declaração concreta da
norma juridica para a
sua atuação prática,
mediande o
desencadear do
mecanismo de garantia.
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TIPOS
Artigo 10º/6 prevê a existência de três tipos de ação executiva:
1) Ação executiva para pagamento de quantia certa: um credor {o exequente}
pretende obter o cumprimento duma obrigação pecuniária através da execução do
património do devedor {o executado} [art 817º CC].
Para tanto, apreendidos pelo tribunal os bens deste que forem considerados suficientes
para cobrir a importância da divida e das custas, tem lugar, normalmente a venda desses
bens a fim de, com o preço obtido, se proceder ao pagamento.
O exequente obtém assim o mesmo resultado que com a realização da prestação que
segundo o título executivo, lhe é devida.
2) Ação executiva para entrega de coisa certa: o exequente {titular do direito à
prestação} duma coisa determinada, pretende que o tribunal apreenda essa coisa
ao devedor {executado} e seguidamente lhe entregue [art 827º CC].
Pode acontecer, que a coisa não seja encontrada e neste caso o exequente procederá à
liquidação do seu valor e do prejuízo resultante da falta de entrega, penhorando-se e
vendendo-se bens do executado para pagamento da quantia liquidada (art 867º).
Neste tipo de processo, pode assim o exequente obter um resultado idêntico ao da
realização da própria prestação que segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente.
Por outro lado, o direito à prestação da coisa pode ter por base uma obrigação ou um
direito real.
3) Ação executiva para a prestação de facto: quando este seja fungível o exequente
pode requerer que ele seja prestado por outrem à custa do devedor (art 828º CC),
sendo então apreendidos e vendidos os bens deste que forem necessários ao
pagamento do custo da prestação.
Mas, quando o facto seja infungível o exequente só pode pretender a apreensão e a venda
de bens do devedor suficientes para o indemnizar do dano sofrido com o incumprimento
(art 868º).
Por outro lado, no caso de violação dum dever de omissão [prestação de facto negativo] o
exequente, pedirá (consoante os casos) a demolição da obra que porventura tenha sido
efetuada pelo devedor, à custa deste, assim como a indemnização do prejuízo sofrido, ou
uma indemnização compensatória (829º) (876º).
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Assim, também neste tipo de processo o credor pode obter o mesmo resultado que obteria
com a realização ainda que por um terceiro da prestação que segundo o título lhe é devida
ou um seu equivalente.
E, embora em todos os casos se realize uma prestação de natureza obrigacional, a
obrigação de demolir ou indemnizar pode resultar da violação dum direito real.
FUNÇÃO
Desta análise dos tipos de ação executiva, é possível retirar certas conclusões:
A ação executiva pressupõe sempre o dever de realização duma prestação {esta
prestação constitui, na maioria das vezes, o conteúdo duma relação jurídica
obrigacional, primário ou de indemnização}.
Mas nem sempre, também os direitos reais podem fundar pretensões a uma
prestação a efetuar a favor do seu titular. A afirmação de que apenas obrigações
podem dar lugar à ação executiva só tem cabimento quando se utilize o termo
obrigação num sentido lato que abranja qualquer relação jurídica que tenha por
conteúdo, ainda que só subordinadamente a uma relação ou situação jurídica de
outra natureza, o dever de realizar uma prestação, e significará que as restantes
relações ou situações jurídicas de direito privado (reais, família, sucessórias, direitos
de personalidade) não podem, enquanto tais, dar lugar a procedimento executivo.
Este aspeto é comum ao objeto da ação executiva e ao da ação declarativa de
condenação.
Diversamente da ação declarativa, a ação executiva não pode ter lugar perante a
simples previsão da violação dum direito.
Através dela, o exequente visa reparar um direito violado.
O autor que tenha obtido a condenação do réu a abster-se de certa conduta violadora
dum seu direito ou a cumprir uma obrigação ainda não vencida só poderá propor ação
de execução depois de consumada a violação ou de se ter tornado exigível a
obrigação.
Das duas situações: (1) dúvida (2) violação que originam o processo civil, apenas a
violação tem a ver com a génese do processo executivo, que, sem deixar de ter
na sua base, tal como o processo declarativo, um conflito de interesses, logicamente
pressupõe a prévia solução da dúvida que possa haver sobre a existência e a
configuração do direito exequendo.
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Através da ação executiva, o exequente pode obter resultado idêntico ao da
realização da própria prestação que, segundo o título executivo, lhe é devida
(execução especifica) quer por meio direto {apreensão e entrega da coisa ou
quantia devida; prestação do facto devido por terceiro} quer por meio indireto
{apreensão e venda de bens do devedor e subsequente pagamento} ou em sua
substituição, um valor equivalente do património do devedor (execução por
equivalente).
O tipo de ação executiva é sempre determinado em face do título executivo:
consoante deste conste uma obrigação pecuniária, uma obrigação de prestação de
coisa ou uma obrigação de prestação de facto, assim se utiliza um ou outro dos três
tipos de ação, ainda que por esta se vise obter, não a prestação mas o seu
equivalente.
A satisfação do credor na ação executiva é conseguida mediante a substituição do
tribunal ao devedor. Porque este não efetuou voluntariamente a prestação devida,
ou não procedeu à demolição da obra que não podia ter feito, o tribunal procede à
apreensão de bens para, em substituição do devedor, pagar ao credor, ou para
conseguir meios que permitam custear a prestação, por terceiros em vez do
devedor do facto por este devido.
NORMAS SUBSTANTIVAS E NORMAS PROCESSUAIS
Instrumental como qualquer outro, o processo executivo visa um resultado de direito
substantivo: a satisfação do direito do exequente.
Como, fora dos casos de execução especifica direta, tal implica a apreensão, normalmente
seguida da venda, de bens do património do devedor, os efeitos de natureza real destes
atos executivos e a necessidade de os articular com eventuais direitos de terceiros sobre
os bens apreendidos importa o estabelecimento de normas que são também de direito
substantivo.
As disposições dos artigos 819º a 826º do CC vêm responder a esta necessidade.
Ao direito substantivo cabe ainda a prévia definição dos regimes de responsabilidade
patrimonial e de sujeição à execução dos bens objeto de garantia real e de obrigação de
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prestação de coisa determinada, bem como do da exequibilidade intrínseca {nota 30 da
página 22} da pretensão [817º, 818º, 827º, 829º, 400º/2, 458º, 777º/2/3 CC].
Cabe-lhe a criação de medidas que visam a coação indireta do devedor ao cumprimento
de obrigações impostas, mas insuscetíveis de execução especifica (art 829º A CC).
O ACERTAMENTO E A EXECUÇÃO
A ação executiva logicamente pressupõe a prévia solução da dúvida sobre a existência e a
configuração do direito exequendo.
A declaração ou acertamento {dum direito ou de outra situação jurídica, dum facto} que é o
ponto de chegada da ação declarativa, constitui, na ação executiva, o ponto de partida.
Esta constatação leva a concluir que o processo executivo, ainda que estruturalmente
autónomo, se coordena com o processo declarativo no ponto de vista funcional, sempre
que por ele é precedido, nem sempre, porém tal precedência se verifica e quando o
título executivo não é uma sentença, cessa esta coordenação funcional dos tipos de
processo.
Mas, em qualquer caso, no processo executivo enquanto tal, que visa a satisfação do
direito duma das partes contra a outra, os princípios da igualdade de armas [art 4º] e do
contraditório [art 3º/3/4] não têm o mesmo alcance que no processo declarativo.
O princípio da igualdade de armas, exige o equilíbrio entre as partes na
apresentação das respetivas teses, na perspetiva dos meios processuais de que
para o efeito dispõem, implica a identidade dos direitos processuais das partes e a
sua sujeição a ónus e cominações idênticos, sempre que a sua posição no processo
é equiparável, e um jogo de compensações, gerador do equilíbrio global do
processo, quando a desigualdade objetiva intrínseca de certas posições
processuais, não permitindo a identidade formal absoluta dos meios processuais,
não permitindo a identidade formal absoluta dos meios processuais, leve a atribuir a
uma parte meios processuais particulares não atribuíveis à outra.
O princípio do contraditório, não se confunde com o direito de defesa (3º/1) não só
implica que o mesmo jogo de ataque e resposta em que consistem a ação e a
defesa deve ser observado ao longo de todo o processo, de tal modo que qualquer
posição tomada por uma parte deve ser comunicada à contraparte para que esta
possa responder, mas também que às partes deve ser fornecida, ao longo do
processo a possibilidade de influírem em todos os elementos que se encontrem em
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efetiva ligação com o objeto da causa e em qualquer fase do processo se pressinta
serem potencialmente relevantes para a decisão.
Ambos estes princípios, manifestação do princípio mais geral da igualdade das partes, que
implica a paridade simétrica das suas posições em face do tribunal, são hoje tidos como
fundamentais, diretamente decorrentes do direito constitucional de acesso à justiça e como
tal de absoluta observância no processo civil de tipo contencioso.
Mas a circunstância de no processo executivo estar apenas em causa a atuação da
garantia dum direito subjetivo pré-definido leva a que:
1) O executado não goze de paridade de posição com o exequente.
2) A sua participação no processo se circunscreva no âmbito da substituição dos bens
penhorados ou duma eventual indicação de bens a penhorar, da audição sobre a
modalidade da venda e o valor-base dos bens a vender e do controlo da
regularidade ou legalidade dos atos do processo.
3) O seu direito à contradição seja fundamentalmente assegurado ex post, através da
possibilidade de oposição aos atos executivos (máxime a penhora) já praticados ou
através de oposição à execução que constitui uma ação declarativa estruturalmente
autónoma relativamente ao processo executivo.
Sem que estes princípios (igualdade de armas e contraditório) deixem de ser observados
no processo executivo, o primeiro circunscreve a sua atuação ao uso dos meios técnicos
gerais do processo civil e o segundo só ocasionalmente apresentará a estrutura dialética
que tem no processo declarativo podendo dizer-se que a igualdade das partes é no
processo executivo, meramente formal.
Esta particularidade do processo executivo leva a que sempre que na sua pendencia deva
ter lugar uma atividade de tipo cognitivo, tal aconteça em ação declarativa que corre por
apenso, ou em incidente declarativo enxertado na tramitação do processo executivo, uma
e outro estruturalmente autónomos, embora funcionalmente subordinados ao processo
executivo.
Nestas ações ou incidentes recuperam os princípios da igualdade de armas e do
contraditório a sua amplitude integral. Mas estamos então fora da tramitação executiva
propriamente dita.
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JUIZ E AGENTE DE EXECUÇÃO
No direito português anterior à reforma da ação executiva cabia ao juiz a direção de todo
o processo executivo, em paralelismo com o que acontece na ação declarativa e a norma
do atual artigo 6º/1 aplicava-se sem restrições:
Cumpria-lhe providenciar pelo andamento regular e célere do processo,
promovendo oficiosamente as diligências necessárias ao seu normal
prosseguimento.
A jurisdicionalização da ação executiva acarretava neste modelo do processo executivo,
igualmente vigente ainda hoje em Espanha, Itália, o proferimento de numerosos despachos
judiciais que, na sua grande maioria, não constituíam atos de exercicio da função
jurisdicional.
Com a reforma o modelo foi abandonado, seguindo-se o exemplo de outros sistemas
europeus.
Optando-se por outro em que o juiz exerce funções de tutela intervindo em caso de
litígio surgindo na pendência da execução (art 723º/1/b) e de controlo,
Proferindo nalguns casos despacho liminar [controlo prévio aos executivos atuais art
723º/1/a e 726º].
Intervindo para resolver duvidas [723º/1/d].
Garantir a proteção de direitos fundamentais ou matéria sigilosa [738º/6, 749º/7,
757º, 764º/4, 767º/1].
Ou assegurar a realização dos fins da execução [759º, 773º/6, 782º/2/3/4, 814º/1,
829º/1, 820º, 829º/1/2, 833º/2]
Mas deixou de ter a seu cargo a promoção das diligencias executivas, não lhe
cabendo (como antes) ordenar a penhora, a venda ou o pagamento, ou
extinguir a instância executiva.
A pratica destes atos, eminentemente executivas e a realização das várias diligencias do
processo de execução quando a lei não determine diversamente passa a caber ao agente
de execução [719º/1 e 720º/6].
Foi assim deslocado para um profissional liberal o desempenho dum conjunto de tarefas,
exercidas em nome do tribunal, sem prejuízo da possibilidade de reclamação para o juiz
dos atos ou omissões por ele praticados [723º/1/c].
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O agente de execução é um misto de profissional liberal e de funcionário público cujo
estatuto de auxiliar de justiça implica a detenção de poderes de autoridade no processo
executivo.
A sua existência, sem retirar a natureza jurisdicional ao processo executivo implica a sua
larga desjudicialização {entendida como menor intervenção do juiz nos atos processuais} e
também a diminuição dos atos praticados pela secretaria.
Não impede a responsabilidade do Estado pelos atos ilícitos que o agente de execução
pratique no exercicio da função, nos termos gerais da responsabilidade do Estado, pelos
atos dos seus funcionários e agentes [lei 67/2007 de 31 de dezembro].
Páginas 21 a 35.
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PRESSUPOSTOS DA
AÇÃO EXECUTIVA
1 PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS
Para que possa ter lugar a realização coativa de uma prestação devida (ou do seu
equivalente) há que satisfazer dois tipos de condição, dos quais depende a exequibilidade
do direito à prestação:
O dever de prestar deve constar dum título: o título executivo {pressuposto de caráter
formal, que condiciona a exequibilidade do direito, na medida em que lhe confere o
grau de certeza que o sistema reputa suficiente para a admissibilidade da ação
executiva}.
A configuração do título executivo como pressuposto processual não é muito
duvidosa sem prejuízo da sua articulação com o direito exequendo, cujo
acertamento no titulo já foi dito constituir a única condição da ação executiva.
A prestação deve mostrar-se certa, exigível e líquida {são pressupostos de caráter
material, que intrinsecamente condicionam a exequibilidade do direito, na medida em
que sem eles não é admissível a satisfação coativa da pretensão}.
Embora também como pressupostos, dir-se-ia que melhor lhes cabe a qualificação
de condições da ação executiva, enquanto características formadoras do conteúdo
duma relação jurídica de direito material.
Mas a certeza, exigibilidade e liquidez só constituem requisitos autónomos da ação
executiva quando não resultem já do seu título executivo (713º). Caso contrário
diluem-se no âmbito das restantes características da obrigação e a sua verificação é
tal como elas presumida pelo título sem qualquer especialidade de regime a ter em
conta.
Trata-se de exigências de complemento do título executivo que acabam por exercer
uma função processual paralela à deste.
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A certeza, a exigibilidade e a liquidez da prestação, desde que entendidas menos
como características duma relação de direito material do que como verificação
autónoma dessas características, quando elas não constem do titulo executivo
constituem pressupostos processuais.
*Diverso é o estatuto da liquidez desde a reforma da ação executiva quando referida à
sentença judicial condenatória; esta só constitui título executivo após a liquidação da
obrigação pecuniária que não dependa de mero cálculo aritmético, à qual tem lugar
no próprio processo declarativo (704º/6). Neste caso a liquidez integra o próprio titulo, em
vez de complementar um titulo já constituído.
Integra também o próprio titulo executivo a liquidez da obrigação pecuniária [sempre
ressalvada a liquidação por mero calculo aritmético] quando se está perante um titulo de
crédito (703º/1/c).
Até à revisão do CPC de 1961 o regime da certeza e da exigibilidade, por um lado, e o da
liquidez por outro divergiam. Enquanto a liquidação da obrigação podia ter lugar no
processo executivo a certeza e a exigibilidade tinham de estar já verificadas à data em
que a ação era proposta.
Mas o facto de as providencias executivas propriamente ditas, das quais a penhora é a
primeira não poderem ter lugar enquanto a obrigação fosse ilíquida conferia à liquidez a
mesma natureza de pressupostos de que se revestiam a certeza e a exigibilidade, tendo
todas as três que se verificar para que a pretensão do credor exequente obtivesse
satisfação.
As mesmas razões passaram a valer para a certeza e a exigibilidade, que tal como a
liquidez (quando não integra o título executivo) passaram a poder verificar-se na fase
liminar da ação executiva.
Como pressupostos processuais o titulo executivo e a verificação da certeza, da
exigibilidade e da liquidez da obrigação exequenda são requisitos de admissibilidade da
ação executiva, sem os quais não têm lugar as providencias executivas que o tribunal
deverá realizar com vista à satisfação da pretensão do exequente e que são, no processo
executivo equivalente à decisão de mérito favorável no processo declarativo, dificilmente
se podendo encontrar no processo executivo um equivalente da decisão de mérito
desfavorável.
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A esta desnecessidade duma distinção rigorosa entre pressuposto processual e condição
da ação no âmbito do processo executivo se devem as concomitantes afirmações de que
o título executivo é um pressuposto processual e de que é condição necessária e
suficiente da ação executiva.
2 PRESSUPOSTOS GERAIS
Têm para além dos pressupostos específicos de verificar-se na ação executiva os
pressupostos gerais dos processo civil, nomeadamente a competência do tribunal, a
personalidade e a capacidade judiciaria das partes, a sua representação, assistência
(quando incapazes), o património judiciário quando obrigatório, a legitimidade das partes.
Porque relativamente aos restastes têm aplicação sem adaptações as normas gerais
conhecidas do processo declarativo, limitar-me-ei a analisar aqueles que apresentam
especialidades na ação executiva, ou seja:
1) Competência do tribunal
2) Legitimidade das partes
3) Patrocínio judiciário
4) Os pressupostos no caso de pluralidade de sujeitos da ação
5) Os pressupostos no caso de cumulação de pedidos
Pressupostos
da ação
executiva
Especificos Gerais
Pressupostos Pressupostos
Competência Patrocinio no caso de no caso de
Titulo executivo Prestação
do tribunal judiciario pluralidade de cumulação de
sjts da ação pedidos
Certa Exigivel Liquida
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COMPETÊNCIA DO
TRIBUNAL
EM RAZÃO DA MATÉRIA
Tal como na ação declarativa a competência dos tribunais judiciais para a ação executiva
determina-se por um duplo critério:
1) Critério da atribuição positiva: cabem na competência dos tribunais todas as
ações executivas baseadas na não realização de uma prestação devida segundo as
normas do direito privado.
2) Critério de competência residual: os tribunais judiciais são também competentes
para as ações executivas que não caibam no ambito da competência atribuída aos
tribunais de outra ordem jurisdicional [artigo 40º LOSJ e 64º]. Mais ampla do que no
processo declarativo esta competência residual verifica-se quanto à execução de
sentenças proferidas por tribunais carecidos de competência executiva.
LOSJ
Tribunais de
comarca
Instâncias Centrais
Seções de
Seções
competência
competência
generica (80º/2 e
especializada
81º/1 LOSJ)
Seções de Seções Civeis
Seções civeis execução (81º/2 (81º/3 LOSJ e
LOSJ) 130º/2 LOSJ)
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Quando haja seção especializada de execução esta tem competência exclusiva
(129º/1 LOSJ), inclusivamente para a execução das decisões proferidas pela secção cível
da instância central (129º/3 LOSJ).
Quando não haja seção especializada de execução, a seção especializada cível da
instância central tem competência para as ações executivas de valor superior a 50 000
(117º/1/b LOSJ) e o juízo de competência genérica tem-se para as execuções de valor
igual ou inferior a 50 000 euros (130º/1/d LOSJ).
Em suma, dentro dos tribunais judiciais a competência do tribunal de competência
genérica ou da seção especializada de execução cede quando é atribuída a outro tribunal
ou secção de competência especializada competência para a execução das decisões
(sentenças ou meros despachos por ele proferidas).
Carecem de competência executiva os tribunais arbitrais por não serem
dotados de jus imperii.
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA
Apenas os tribunais de 1ª instância têm competência executiva (art 85º e 86º). O que
abrange as decisões proferidas em ações propostas na Relação, Supremo e em alguns
casos especiais (indemnização contra magistrados, revisão de sentenças estrangeiras) em
que, no âmbito da ação declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância.
Não havendo nunca lugar a atos executivos em tribunal superior, os tribunais da Relação e
do Supremo limitam-se no que concerne às decisões proferidas no decurso da ação
executiva, a decidir, nos mesmos termos que na ação declarativa, os recursos para eles
interpostos e os conflitos de jurisdição e competência.
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR
As normas de competência em razão do valor estabelecem quais as execuções que
competem às secções cíveis das instâncias centrais e quais as que competem as seções
de competência genérica das instâncias locais, quando não haja na instância central
secção especializada de execução (50 000€).
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COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO TERRITÓRIO
Sem prejuízo da aplicação subsidiaria das disposições reguladoras do processo
declarativo (70 a 84º) a competência para a ação executiva em razão do território é
estabelecida nos artigos 85º a 90º , bem como no caso de cumulação de pedidos
(709º/2/3/4) (56º/3).
Há agora que distinguir entre a execução baseada em decisão condenatória dum tribunal
judicial ou dum tribunal arbitral e a execução baseada noutro título.
Decisão do tribunal judicial
Baseando-se a execução em sentença condenatória proferida por tribunal judicial
(português) há ainda que distinguir os casos em que a ação declarativa tenha sido
proposta num tribunal de 1ª instância e aqueles em que tenha funcionado como 1ª
instância um tribunal superior.
No caso de a ação em que foi proferida a decisão exequenda ter sido proposta
num tribunal de 1ª instância é competente para a execução o tribunal da comarca
em que a causa foi julgada em 1ª instância (art 85º/1/2) ainda que a sentença
proferida tenha sido revogada em recurso e por isso se execute a decisão proferida
em substituição por um tribunal superior.
No caso se a ação em que foi proferida a decisão exequenda ter sido proposta
na relação ou no supremo a execução é promovida no tribunal de 1ª instância do
domicílio do executado (89º/1) ou se este não tiver domicílio em Portugal mas aqui
tiver bens, no da situação desses bens (89º/3).
Decisão do tribunal arbitral
Para a execução das sentenças proferidas por árbitros é competente o tribunal do lugar da
arbitragem (85º/3). Esta norma aplica-se mesmo quando o objeto do processo tenha
conexão com ordens jurídicas estrangeiras.
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Outros títulos
Baseando-se a execução em título que não seja decisão dum tribunal judicial ou dum
tribunal arbitral há que distinguir:
Se a execução for para entrega de coisa certa ou por divida com garantia real,
é competente o tribunal do lugar em que a coisa se encontre ou situe (art 89º/2).
Nos restantes casos [execução por divida pecuniária ou de prestação de facto,
sem garantia real] é competente o tribunal do lugar do domicilio ou do executado, ou
em alternativa, tratando-se de ação movida contra pessoa coletiva ou em que
exequente e executado tenham domicilio na área metropolitana de Lisboa ou Porto,
o tribunal do lugar onde a obrigação devia ser cumprida (89º/1).
Estas normas aplicam-se no caso de a execução se fundar em titulo executivo extra
judicial ou em sentença condenatória proferida por tribunal não integrado na ordem dos
tribunais judiciais.
O artigo 89º/4 contém uma norma residual: sendo o tribunal português internacionalmente
competente por os bens a executar se situarem em território nacional, mas não se
verificando com o território português nenhuma das conexões relevantes para a
determinação da competência territorial, é competente o tribunal em cuja circunscrição se
situem os bens a executar.
Sentença estrangeira
Foi controvertida a competência para execução de sentença estrangeira revista e
confirmada pela relação.
A execução funda-se na sentença de confirmação e não na sentença confirmada, o que
levava a entender que era competente o tribunal da comarca do domicilio do executado e
só na falta dele o da situação dos bens penhoráveis.
Isto mesmo passou o artigo 95º CPC de 1961 a determinar expressamente apos a reforma
da ação executiva, não apenas no caos em que sentença estrangeira careça de
confirmação, mas também naqueles em que, não há lugar a revisão. A norma passou para
o 90º do novo código.
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COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
Lei portuguesa
Fora do âmbito de aplicação do direito convencional, a doutrina tradicional confrontada
com a inserção das normas de competência internacional na parte geral dó Código e com
ausência de qualquer norma que afaste explicitamente no âmbito da ação executiva,
procedia à sua aplicação direta a esta ação, utilizando assim os mesmos critérios para
definir a competência internacional dos tribunais portugueses na ação declarativa e na
ação executiva.
Mas houve quem defendesse a inaplicabilidade dessas normas à ação executiva, com a
consequência de os tribunais portugueses terem para ela competência internacional
sempre que a execução deva correr sobre bens sitos em Portugal, e só neste caso, ou de
só terem competência para se ocuparem daquelas execuções para as quais resultam já
competentes por aplicação das normas de competência territorial.
Estas teses, criticáveis no âmbito do direito constituído então, tiveram o mérito de
chamarem a atenção para a conveniência de atender na ação executiva a elementos de
conexão distintos dos utilizados na ação declarativa, dada a especificidade funcional da
primeira quando se dirige à realização coativa do direito a uma prestação.
A esta mesma especificidade atendeu a reforma da ação executiva, ao introduzir a norma
hoje constante, com restrição aos bens imóveis, da alínea d) do artigo 63.
Em consequência, sempre que se pretenda penhor coisa imóvel existente, à data da
propositura da execução, em território português, a regra de competência exclusiva leva a
que a execução deva ser proposta em tribunal nacional, sem que outro possa ser
reconhecido como competente.
Não pode, pois, proceder-se à penhora de bens imóveis aqui existentes por mera carta
rogatória, ainda que a decisão em que a execução se funde se mostre revista e confirmada
(art 180º d).
O mesmo se diga da ação executiva para entrega de coisa móvel certa que se localize em
Portugal.
Mas a norma de competência exclusiva do artigo 63º d não afasta as normas de
competência (não exclusiva) do artigo 62, pelo que a competência do tribunal português
para uma execução a incidir sobre bens imóveis não localizados em Portugal pode resultar
do critério da coincidência (art 62º/a) do critério da causalidade (62º/b) ou do critério da
necessidade (art 62º c).
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Quanto aos critérios que, uma vez assente a competência dos tribunais portugueses à luz
da alínea c do artigo 62º, permitirão determinar o tribunal interno territorialmente
competente, duas vias são defensáveis:
O recurso, à falta de outros no plano do direito constituído aos critérios constantes
do artigo 80º, a aplicar subsidariamente.
A aplicação analógica da norma 89º/4
A segunda via é a que melhor se enquadra no atual sistema.
Incidindo a execução sobre coisa móvel ou direito, não há preceito especial em matéria de
execuções pelo que se aplicam tão só as normas gerais de competência internacional (não
exclusiva) do artigo 62º.
Podem, por fim, as partes celebrar nos termos gerais do artigo 94º pactos de jurisdição.
O regulamento Bruxelas I e a Convenção de Lugano
O regulamento de Bruxelas I e a Convenção de Lugano sobrepõem-se às normas internas
sobre a competência internacional dos tribunais portugueses.
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COMPETÊNCIA CONVENCIONAL E REGIME DA
INCOMPETÊNCIA RELATIVA
Em processo declarativo, a infração das normas de competência em razão da matéria e da
hierárquica gera incompetência absoluta (art 96º), trata-se de normas imperativas, que
não podem ser afastadas por vontade das partes e cuja violação é oficiosamente
cognoscível (art 95º/1 e 97º/1).
O mesmo regime de imperatividade e oficiosidade têm as normas de competência em
razão do valor, que geram, porém, incompetência relativa (art 95º/1) (104º/2).
Quanto às normas de competência em razão do território, são em regra supletivas,
podendo ser afastadas por acordo expresso das partes, exceto nos casos a que se refere
o artigo 104º (art 95º/1), e a sua infração gera incompetência relativa, só oficiosamente
cognoscível nesses mesmos casos (art 102º a 104º).
Por sua vez, a infração das normas de competência internacional gera
incompetência absoluta, também oficiosamente cognoscível (art 96º a e 97º/1) mas,
dentro de certos limites, essas normas são supletivas, pois podem ser afastadas por
vontade das partes (art 94º).
Na vigência dos textos anteriores à revisão, a doutrina e a jurisprudência correntes
aplicavam estas normas à ação executiva.
A doutrina de Anselmo de Castro
Diversa foi a posição defendida por Anselmo de Castro: as normas de competência em
razão do território são, na ação executiva, tao imperativas como as restantes, geram
também a incompetência absoluta do tribunal, não podem ser afastadas por um pacto de
competência.
Razão de ser desta posição é entender-se que na ação executiva, diferentemente do que
acontece na ação declarativa, não está em causa somente o interesse particular das
partes, pelo que há que atender também ao interesse público em que o processo
executivo, pelo qual eminentemente se exerce o poder coercivo do estado, corra no
tribunal mais adequado. Os argumentos apresentados de jure constituto não são hoje
invocáveis.
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Regime atual
Desde a revisão do código, a subordinação do regime da incompetência na ação executiva
ao regime geral da incompetência na ação declarativa é bem acentuada, nomeadamente
quando, no artigo 104º/1 são enunciadas, lado a lado, as exceções no campo de uma e da
outra, à regra da não oficiosidade do conhecimento da incompetência relativa.
As disposições reguladoras da competência dos tribunais enquadra-se na parte geral do
Código e por isso, ressalvadas especialidades e exceções, são diretamente aplicáveis à
ação executiva, uma vez que, sem prejuízo de poderem não ser as mais conformes com
este tipo de ação, não lhe são, no entanto, contrárias.
Não obstante a revisão atendeu às razões invocáveis de jure constituindo para que não
fossem admitidos desvios às normas de competência para a execução das decisões
judiciais.
O mesmo se dispôs, em paralelismo com o regime vigente na ação declarativa referente a
diretos reais ou pessoais de gozo sobre bens imoveis (art 70º/1), quanto à ação executiva
para entrega de coisa certa e por divida com garantia real (art 89º/2 e 104º/1/a) mas aqui
foi-se longe demais e estendeu-se a regra aos casos em que a coisa a entregar ou o bem
onerado é um bem móvel.
Longe demais foi também, a meu ver a lei 14/2006 de 26 abril (cujas soluções foram
igualmente mantidas no CPC de 2013) ao impor o conhecimento oficioso da incompetência
fundada na inobservância da regra geral da primeira parte do art 89 (propositura da ação
executiva no tribunal do domicílio do executado, ressalvadas as exceções da 2ª parte do
artigo).
Passo a passo, o regime legal vai-se aproximando da posição outrora defendida por
Anselmo de Castro, mas no âmbito dum regime da incompetência relativa também
descaracterizado no âmbito da ação declarativa.
O art 104º/1/a impede, sem distinguir, o afastamento das normas dos artigos 85º/1 e 89º/1
1ª parte. Só fora do âmbito destas normas é admitida às partes a liberdade de estipulação
do foro competente (art 95º/1) e consentida ao exequente, desde que o executado não se
oponha, a determinação do tribunal em que pretende que siga a ação executiva.
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LEGITIMIDADE DAS
PARTES
QUEM É PARTE LEGITIMA
A legitimidade das partes determina-se na ação executiva, com muito maior
simplicidade do que na ação declarativa
Ação declarativa Ação executiva
Há que indagar a posição das partes em A indagação a fazer resolve se no
face da pretensão o que implica averiguar a confronto entre as partes e o título
titularidade real ou meramente afirmada pelo executivo: têm legitimidade como
autor, da relação/ situação jurídica material exequente e executado, quem no título
em que ela se funda e isso cria dificuldades figura, como credor e devedor (art 53º).
de distinção perante a questão de mérito.
Esta regra consente
Quanto à legitimidade passiva –um desvio {caso de execução por divida provida de
garantia real}.
Exceções {por alargamento a terceiros abrangidos pela eficácia do caso julgado}.
Há além disso que considerar a legitimidade especifica do MP para a ação
executiva.
Mas há desvios a este regime regra
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ADAPTAÇÃO/ DESVIOS DO REGIME REGRA
A regra geral da legitimidade para ação executiva carece de ser adaptada nos casos de
sucessão e de título ao portador.
a) Quando tenha ocorrido a sucessão singular ou universal na titularidade da
obrigação, quer do lado ativo, quer do lado passivo desta, a execução deve ser
promovida por ou contra os sucessores da pessoa que como credor ou devedor,
figura no título, pelo que o exequente deve no próprio requerimento para a execução
alegar os factos constitutivos da sucessão (art 54º/1).
Sendo o título extrajudicial, a sucessão prevista ocorre entre o momento da sua
formação e o da propositura da ação executiva.
Sendo uma sentença, pode também ter ocorrido na pendência da ação
declarativa, uma vez que a sucessão entre vivos no direito litigioso pode não dar
lugar à habilitação do adquirente na pendência da instância (356º). A formação
perante ele, do caso julgado (263º/3) tem como principal razão de ser, proteger a
contraparte (autor ou réu) do efeito que, de outro modo, teria a transmissão
efetuada: o autor teria de propor nova ação contra o adquirente, não atingindo na
ação proposta o efeito prático pretendido (de entrega ou restituição da coisa), o
réu estaria sujeito à eventualidade de nova ação declarativa, quando confrontado
com a eminencia de uma ação desfavorável o autor transmitisse o seu direito a
terceiro.
o Mas, quando a sentença seja de procedência e a transmissão se tenha
dado no lado ativo, a consideração do interesse do adquirente, que pode
até ter ignorado a pendência da ação declarativa e o princípio da
economia processual aconselham a que seja atribuída legitimidade para a
ação executiva, sem necessidade de previamente propor nova ação
declarativa, que estaria sujeita, aliás, à invocação da exceção de caso
julgado.
o Tendo sido transmitida a situação litigiosa do réu, a legitimidade do
adquirente para a ação executiva baseada na sentença de condenação
estaria sempre assegurada pelo artigo 55º, mas a equiparação das duas
situações (sucessão no crédito, sucessão no debito) leva a abrangê-las
ambas na norma do artigo 54º/1 que prevalece no concurso aparente dos
dois preceitos.
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Conclusão
É assim dispensado o incidente de Já no caso de a sucessão ocorrer na
habilitação no caso de sucessão pendencia do processo executivo, é o
ocorrida antes da propositura da ação incidente de habilitação o meio adequado
executiva. Mas, tal não dispensa o para fazer valer, pelo que têm se de observar
exequente de liminarmente, provar então as normas dos artigos 351º a 355 (para
como nele faria, os factos constitutivos a sucessão universal), 356º (sucessão
que alega. singular), 357º (habilitação perante os
tribunais superiores), com as necessárias
adaptações.
b) Fundando-se a execução em título ao portador, de que o cheque é um exemplo,
a regra geral tem obviamente, de ser adaptada no que se refere à legitimidade ativa.
Não contando o nome do credor no título executivo, a execução é promovida pelo portador
(art 53º/2).
Da mesma forma, se, em processo penal, for proferida a condenação do réu a pagar
uma indemnização a quem a ela tenha direito, deverá entender-se que têm
legitimidade ativa para a execução as pessoas que nela provirem ser titulares do
direito em causa.
Situação algo semelhante surge em processo civil quando, em sentença proferida
em ação popular, o réu seja condenado a indemnizar globalmente os titulares de
interesses protegidos não individualmente identificado. Não sendo disponibilizada
voluntariamente, pelo réu condenado, a quantia global fixada na sentença, os
interessados têm três anos para reclamar a sua quota-parte, podendo seguir-se
uma execução por eles promovida.
O TERCEIRO PROPRIETÁRIO OU POSSUIDOS DO
BEM ONERADO
(Nos sumários diz que é um desvio ao regime regra).
Pode acontecer que a garantia real dum crédito incida sobre bens de terceiros, ou porque
assim tenha sido constituída ou porque, constituída embora sobre bens do devedor este os
tenha posteriormente alienado, em data anterior à propositura da ação executiva.
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Dado não ser possível a penhora de bens pertencentes a pessoa que não tenha a posição
de executado, a ação executiva tem na medida em que se queira atuar a garantia
prestada, de ser proposta contra o proprietário do bem.
A esta é equiparável a situação do adquirente de bens após procedência da impugnação
pauliana, pelo que é de analogicamente lhe aplicar o regime do artigo 54º/2.
A renúncia do credor à garantia real só pode ter lugar pelas formas indicadas na lei civil
entre as quais não se conta a mera propositura duma ação em que a garantia não seja
invocada, embora em alguns casos seja admissível a renuncia no requerimento inicial,
desde que expressa.
Mas, fora o caso de exercicio desta faculdade o exequente só não pode, sob pena de
ilegitimidade, deixar de propor a ação executiva contra o proprietário dos bens quando
pretenda fazer valer, na execução, o direito real de garantia, pois no caso contrario pode
mover a ação executiva apenas contra o devedor e nela penhorar os seus bens, sem que
ele possa opor a necessidade de previamente se reconhecer nos termos do artigo 752º/1,
a insuficiência dos bens dados em garantia para o fim da execução.
Por isso o artigo 54º/2/3 é bem expresso em estabelecer que, quando os bens dados em
garantia pertençam a terceiro o exequente que queira fazer valer a garantia na execução
tem opção entre:
A propositura da execução contra o terceiro e mais tarde se os bens forem
insuficientes, o chamamento do devedor.
Ou a propositura da execução, desde logo contra o terceiros e o devedor,
litisconsórcio voluntário.
Mas, se o título executivo for uma sentença condenatória, a propositura da ação executiva
contra o proprietário que sobre os seus bens haja, constituído a garantia real pressupõe
que contra ele tenha sido também proposta a ação de condenação e que nesta tenha sido
declarada a existência da garantia (art 635º/1 CC) (667º/2 CC) (717º/2 CC).
Pode ainda acontecer que, sendo o devedor o proprietário pleno dos bens dados em
garantia, estes estejam na posse de terceiro. Neste caso, o credor pode livremente
escolher entre a propositura da execução só contra o devedor ou contra este e o
possuidor, visto que em qualquer dos casos a penhora dos bens é possível (art 54º/4).
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TERCEIROS ABRANGIDOS PELO CASO JULGADO
(Nos sumários diz que é um desvio ao regime regra).
Quando o título executivo é uma sentença, a legitimidade passiva para a ação executiva é
alargada às pessoas que, não tendo sido por ela condenadas são, porém, abrangidas pelo
caso julgado (art 55º) manifestação da ideia de que o âmbito subjetivo da eficácia
executiva do título coincide no caso da sentença, com o âmbito da eficácia subjetiva do
caso julgado.
Esta extensão da eficácia subjetiva passiva do título executivo, de caráter também ela,
excecional, não abrange, por já ser abrangido pela norma do artigo 54º/1, o caso de
transmissão da situação jurídica do réu, por ato entre vivos, sem subsequente intervenção
do adquirente no processo, em que há caso julgado perante o adquirente, desde que a
transmissão seja posterior à propositura da ação ou, estando sujeita a registo, seja
registada depois do registo da ação (art 263º/3).
Sobram assim, para integração da previsão do artigo 55º os casos de chamamento à
intervenção principal de terceiro titular de situação suscetível de gerar litisconsórcio
voluntário passivo, nos termos do artigo 32º/2 que não intervém na causa.
O chamamento à intervenção principal pode ser requerido por qualquer das partes quando
haja lugar a litisconsórcio necessário, pelo autor quando haja lugar a litisconsórcio
voluntario passivo, principal ou subsidiário, e pelo réu quando haja lugar a litisconsórcio
voluntario ativo ou passivo (316º, 261/1º).
A sentença que vier a ser proferida constituirá caso julgado perante o chamado não
interveniente, por imposição do artigo 320º, sendo que, no caso de litisconsórcio
necessário, tal solução resulta da sua própria natureza e da finalidade de assegurar a
legitimidade das partes a que obedece o preceito do art 261º/1.
No regime do novo código, a sentença condenatória pronuncia-se sobre a situação jurídico
do chamado, mesmo que o litisconsórcio seja voluntário (art 320º), pelo que, ainda que não
intervenha, o terceiro fica, com a citação, constituído, como parte, sendo condenado,
aplica-se-lhe a norma do artigo 53º e não a do art 55º.
Nos casos de intervenção acessória (art 321º e 326º) embora o interveniente, provocado
ou espontâneo, tal como o não interveniente provocado, seja abrangido pelo caso julgado
(art 323º/4 e 332) não lhe é conferida legitimidade para a ação de execução da sentença
que o constitui, visto que, sendo na causa um mero auxiliar da parte principal, a apreciação
da sua posição jurídica terá lugar em ação autónoma, embora condicionada pelos limites
decorrentes da formação daquele caso julgado (prejudicial).
Não se vê, pois, que tenha hoje aplicação da norma do artigo 55º.
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O MINISTÉRIO PÚBLICO
Ao MP compete promover a execução por custas e multas impostas em qualquer processo
(art 57º).
Além desta legitimidade especifica do MP para a ação executiva, conservam aplicação as
normas que, em geral regulam a sua legitimidade processual (art 21º a 24º).
CONSEQUÊNCIAS DA ILEGITIMIDADE DAS PARTES
A ilegitimidade constitui uma exceção dilatória de conhecimento oficioso (art 577º/e e
578º).
Consequentemente, cabe ao juiz, quando se verifique, seja insanável e haja lugar a
despacho liminar, indeferir liminarmente a petição inicial (art 726º/2/b) mas sendo sanável,
cabe-lhe proferir despacho de aperfeiçoamento (art 6º/2, 726º/4) e só se não for sanada
indeferir o requerimento executivo (art 726º/5). Aplica-se igualmente o artigo 734º.
Quando seja citado não obstante uma ilegitimidade insanável ainda que não manifesta, o
executado tem a possibilidade de se opor à execução por embargos (art 729º/c quanto à
execução da sentença).
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PLURALIDADE DOS
SUJEITOS E
PLURALIDADE DOS
PEDIDOS
LITISCONSÓRCIO INICIAL
O conceito e o regime do litisconsórcio são, na ação executiva os mesmos que na ação
declarativa.
Assim, quer vários autores formulem contra um só réu um único pedido (litisconsórcio
ativo) quer um autor formule contra vários réus um pedido único (litisconsórcio passivo),
quer um pedido único seja formulado por vários autores contra vários réus (litisconsórcio
ativo e passivo) são lhes aplicáveis as mesmas normas que regem no processo
declarativo, sem que o facto de constar do titulo uma pluralidade de devedores, ou um
terceiro com património sujeito à execução para além do devedor, implique só, por si, a
necessária propositura da ação executiva contra todos os obrigados ou sujeitos à
execução.
Há litisconsórcio voluntário sempre que, podendo o pedido ser formulado apenas
por um autor ou contra um réu, tenha sido deduzido por vários autores ou contra
vários réus. Tanto na obrigação conjunta (31º/1) como na solidaria (517º CC) e a
garantida pelos bens de terceiro (641º/1 CC) (667º/2 CC) (717º CC) assim como do
lado ativo, a obrigação indivisível com pluralidade de credores (art 538º/1 CC) e as
relações reais que lhe são equiparadas (art 1286º/1 CC) (1405º/2 CC) (2078º/1 CC)
podem configurar casos de litisconsórcio voluntario.
Há, por outro lado, litisconsórcio necessário quando a lei, o negócio jurídico ou a
própria natureza da prestação a efetuar imponha a intervenção de todos os
interessados na relação controvertida.
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Os casos em que esta imposição surge são, na ação executiva, muito mais raros do que
na ação declarativa e por isso foi defendida a inexistência de litisconsórcio necessário em
sede de execução. No entanto alguns casos de litisconsórcio necessário e passivo quando,
na execução para entrega de coisa certa, esta pertença a vários e quando, na execução
para prestação de facto, a obrigação incumba a vários também, na execução para
pagamento de quantia certa, pode o negócio jurídico ou a lei exigir a intervenção de todos
os interessados.
LITISCONSÓRCIO SUCESSIVO
Na ação declarativa, verifica-se a figura do litisconsórcio sucessivo quando, em
consequência da dedução dum incidente de intervenção de terceiro, este fique a ocupar na
ação proposta a posição de autor ou de réu, ao lado da parte primitiva.
Percorrendo as disposições reguladoras dos vários tipos de incidente de intervenção de
terceiros, verifica-se que, à exceção do incidente da assistência, eles foram pensados em
função da ação declarativa.
Concluir-se-á que não podem ter lugar na ação executiva?
O problema só se põe em relação à intervenção principal (baseada na admissibilidade do
litisconsórcio ou da coligação) pois, quanto aos restantes incidentes, o objetivo da
intervenção só se realiza em processo declarativo.
A sua admissibilidade em geral, só é defensável quanto a pessoas com legitimidade para a
ação executiva, pois de outro modo o incidente de intervenção iria servir à formação dum
título executivo a favor ou contra terceiros, o que só se compadece com o fim (art 10º/4) e
os limites (art 10º/5) da ação executiva quando uma norma excecional o preveja.
Um caso há logo em que se impõe a admissibilidade do incidente em processo executivo:
quando o exequente careça de chamar a intervir determinada pessoa para assegurar a
legitimidade duma, nos termos do artigo 261º.
Convidado o exequente nos termos do artigo 726º/4 a requerer a intervenção, proferido
despacho de indeferimento liminar nos termos do artigo 726º/5, rejeitada oficiosamente a
execução nos termos do artigo 734º, ou julgada procedente a oposição à execução, o
exequente pode requerer o chamamento da pessoa em falta, tal como o pode requerer
espontaneamente.
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Já no âmbito do litisconsórcio voluntário a admissibilidade geral do incidente é discutível.
Quatro casos há em que hoje a lei é expressa em admiti-lo: quando o exequente demande
apenas o proprietário dos bens onerados, tem a possibilidade de, mais tarde, demandar o
devedor, se os bens que garantem o cumprimento da obrigação se vierem a revelar
insuficientes (art 54º/2).
Instaurada a execução apenas contra o devedor principal, cujos bens se relevem
insuficientes, pode o exequente demandar o devedor subsidiário (745º/3), instaurada a
execução apenas contra o devedor subsidiários, que invoque o beneficio da execução
prévia, o exequente pode demandar o devedor principal (745º/2), instaurada a execução
contra o devedor obrigado no titulo e citado o conjuge, a requerimento do exequente ou do
executado, para declarar se aceita a comunicabilidade da divida, constitui-se ele como
executado se a aceitar ou nada declarar, bem como quando tendo impugnado a
comunicabilidade, venha a ser desta convencido em decisão incidental da própria
execução (art 741º/1 a 5 e 742º).
Deixando de lado este último caso, cuja principal particularidade consiste na criação dum
título executivo, vemos que os dois primeiros têm de comum a responsabilidade subsidiaria
dos chamados subsequentemente à intervenção principal, mas o terceiro, em que a
relação de subsidiariedade é inversa, permite defender que o incidente de intervenção
principal, é em geral, admissível na modalidade de intervenção passiva provocada pelo
exequente, em nome da economia processual.
Ao invés, fora o caso particular do artigo 742º (em que não basta a sua vontade), a
intervenção principal provocada pelo executado não é admitida.
De facto, constituindo o meio do chamamento à demanda forma de tutela dum interesse do
réu na ação declarativa de condenação (interesse em nela não ser o único condenado,
assim proporcionado a formação do titulo executivo também contra o chamado) dele, não
carece o executado que, não beneficiando do privilegio da excussão prévia, não possa,
uma vez chamado, procurar evitar a penhora dos seus bens mediante a nomeação de
bens do devedor principal: a imposição ao credor da intervenção no processo de outra
pessoa, ainda que também obrigada no título, ao lado do executado, deixou de ter a
justificá-la a satisfação dum interesse atendível deste ultimo.
Finalmente, há quem configure como de litisconsórcio sucessivo a situação decorrente da
intervenção na ação executiva para pagamento de quantia certa, após a penhora, do
conjuge do executado (independentemente do caso em que hoje, assume a posição de
executado) e dos credores com garantia sobre os bens penhorados, convocados nos
termos do artigo 864º.
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Defendi, nas três primeiras edições desta obra, que tanto o cônjuge como os credores
eram partes acessórias.
Com o aumento dos poderes processuais do conjuge do executado, em consequência
primeiro da revisão e depois da reforma, é hoje mais adequado considera-lo, a partir da
citação, uma parte principal, dado ter um estatuto equiparado ao do executado,
continuando os credores reclamantes a ser meras partes acessórias.
A equiparação do conjuge do executado a esta consta do artigo 787 tendo direitos
idênticos aos do executado, os dois estatutos processuais pouco diferem após a citação
(ponto de divergência; a responsabilidade pelas custas da execução) sendo assim o
conjuge parte principal.
Quanto aos credores reclamantes ficam uma vez citados, com alguns dos poderes
processuais que cabem ao exequente e, por outro lado, a falta da sua criação, tal como a
do cônjuge executado, tem, embora limitadamente o mesmo efeito que a falta de citação
do réu (art 786º/6), o que permite considerá-los como partes.
Dado, porém, que é taxativamente limitado o elenco dos poderes processuais que podem
exercer no processo de execução e que não têm a disponibilidade do seu objeto, não se
constituem como partes principais, mas como partes acessórias.
Ora a posição do litisconsorte (parte principal) e a da parte acessória ou auxiliar (art 328º)
não se confundem.
COLIGAÇÃO
Por força do artigo 56º, a coligação é admitida em processo executivo quando, não se
baseando um dos pedidos em decisão judicial a executar nos autos da ação declarativa
(art 709º/1/d) (56º/1) cumulativamente se verifiquem os seguintes pressupostos:
1. A espécie de ação executiva decorrente de cada um dos pedidos deve ser a
mesma {pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa ou prestação de
facto}, a menos que todos se baseiem numa mesma sentença [art 709º/1/b e
710º].
2. Tendo a execução por fim o pagamento de quantia certa, as várias obrigações
devem ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo aritmético (art 56º/2).
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3. O tribunal deve ser competente internacionalmente e em razão da matéria e da
hierarquia para a apreciação de todos os pedidos, ainda que não o seja em
razão do valor do território (art 709º/1/a).
4. Cada um dos pedidos, individualmente considerado, deve ter de ser apreciado
em processo executivo comum, ou no mesmo processo executivo especial que
caberia para apreciação dos outros pedidos, não interessando para o efeito, se
se tratar de execução de sentença, a forma de processo declarativo em que ela
tenha sido proferida, e sem prejuízo de o juiz poder autorizar a cumulação,
adequando a forma processual às necessidades do caso concreto (art 709º/1/c).
5. Tratando-se de coligação passiva, é ainda necessário que a execução tenha por
base, quanto a todos os pedidos, o mesmo título (art 56º/1/b) ou que os
devedores sejam titulares de quinhões no mesmo património autónomo (ex:
herança) ou de direitos relativos ao mesmo bem indiviso (ex: compropriedade)
quanto um ou outro sejam objeto de penhora (art 56º/1/c).
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CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE LITISCONSÓRCIO,
QUANDO NECESSÁRIO, E DA COLIGAÇÃO ILEGAL
Havendo lugar a litisconsórcio necessário, a falta de qualquer dos litisconsortes é
fundamento de ilegitimidade da parte (art 33º/1).
No despacho liminar, quando o houver, o juiz deve convidar o exequente a requerer a
intervenção principal do terceiro (art 6º/2 e 726º/4) e se, o exequente não corresponder ao
convite, indeferir liminarmente o requerimento executivo (art 726º/5). Ver também o art
734º *.
O vicio pode ser corrigido pelo exequente até 30 dias sobre o trânsito em julgado do
despacho de indeferimento liminar (ou de rejeição oficiosa da execução nos termos do
734º) ou da sentença que julgue procedentes os embargos de executado.
Permite-o o artigo 261º mediante chamamento da pessoa cuja falta é motivo de
ilegitimidade e se já estiver extinta à data do chamamento, a instância é renovada,
pagando o exequente as custas.
No caso de coligação ilegal, por não verificação de algum dos pressupostos atrás
enunciados, o juiz, havendo lugar a despacho liminar, profere despacho de
aperfeiçoamento, convidando o exequentes –ou exequentes—a que escolha o pedido
relativamente ao qual pretende que o processo prossiga, e só no caso de ele não o fazer
absolverá o executado da instância (art 38º, 726º/4/5).
Quando, quanto a algum dos pedidos, se verificar a incompetência absoluta do tribunal ou
a inadequação da forma de processo o princípio da economia processual impõe que se
profira um despacho de indeferimento parcial e a causa prossiga relativamente aos outros
pedidos (art 726º/3), verificada a incompetência absoluta do tribunal ou a inadequação da
forma de processo quanto a todos os pedidos, tem lugar o indeferimento liminar total (art
726º/1/b).
Quer no caso de preterição de litisconsórcio necessário, quer no de coligação ilegal, o
executado pode opor-se à execução (art 729º/c).
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CUMULAÇÃO SIMPLES DE PEDIDOS
Formas
A coligação constitui uma cumulação de pedidos. Mas pode também o exequente (ou
exequentes litisconsortes) cumular pedidos contra o mesmo executado (ou os mesmos
executados litisconsortes).
Esta cumulação simples de pedidos pode ser inicial (art 709º) ou sucessiva (art 711º):
É inicial quando tem lugar logo no ato de propositura da ação executiva.
É sucessiva, quando na pendencia duma execução já instaurada, o exequente
deduz, no mesmo processo, novo pedido executivo.
Pressupostos
Quer seja inicial, quer seja sucessiva, a cumulação simples de pedidos, também excluída
quando um deles se baseie em sentença a executar nos autos da ação declarativa,
pressupõe a verificação das circunstâncias atrás referidas, sob as alíneas (1) (tipo de ação
executiva), (3) competência, (4) forma de processo.
Mas ainda que sejam diferentes os tipos de ação executiva, a cumulação sucessiva é
admitida quando em virtude da conversão da ação executiva para entrega de coisa certa
ou para prestação de facto em ação executiva para pagamento de quantia certa (art 867º e
869º), as diligencias executivas acabam por ser apenas as deste tipo de ação.
A cumulação torna-se possível a partir da conversão. Tenha-se também em conta a
cumulabilidade na mesma execução, dos pedidos baseados na mesma sentença (art
709º/1/b e 710º).
A cumulação simples não exige que as obrigações devam ser liquidas ou liquidáveis por
simples calculo aritmético. Os pedidos cumulados podem fundar-se no mesmo titulo ou em
títulos diferentes.
Observam-se as mesmas regras relativas à competência e à forma de processo que
encontrámos ao tratar da coligação. (709º/2 a 5).
Consequências da cumulação indevida
Põem-se aqui as mesmas questões e valem as mesmas soluções que foram avançadas a
propósito da coligação ilegal.
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Sendo a cumulação sucessiva, o juiz, se o novo título exigir despacho liminar ou o suscitar
o funcionário judicial, aprecia a admissibilidade no despacho que proferir sobre o
requerimento do exequente.
Haja ou não despacho liminar, o executado pode, se entender que a cumulação é indevida,
opor-se à execução (art 729º/c). Em tudo o mais valem as considerações feitas a propósito
da coligação ilegal.
PATROCINIO
JUDICIÁRIO
A lei é menos exigente quanto ao patrocínio em processo executivo do que em processo
declarativo.
Nas ações executivas cujo valor exceda a alçada da relação é obrigatória a constituição de
advogado em processo executivo (art 58º/1 1ª parte).
Naquelas cujo valor se contenha entre a alçada da comarca e a da relação, o patrocínio é
igualmente obrigatório, mas pode ser exercido por advogado, advogado estagiário ou
solicitador (58º/3).
Quando, porém, tenha lugar uma ação ou incidente que corra por apenso ao processo
executivo ou nele se enxerte, mas siga os termos do processo declarativo, isto é, duma
tramitação de natureza declarativa, principal (não incidental) segue-se um regime
decalcado do regime geral deste processo:
Em regra, a constituição de advogado é obrigatória desde que o valor seja superior
ao da alçada do tribunal de 1ª instância (art 58º/1 2ª parte). Assim, acontece nos
embargos de executado, nos embargos de terceiro e no incidente de liquidação.
Se se tratar de ação de reclamação e verificação de créditos, a constituição de
advogado é obrigatória quanto à apreciação dos créditos cujo valor seja superior à
alçada do tribunal de comarca (art 58º/2). De notar que o patrocínio não é
obrigatório para a reclamação, mas apenas para a apreciação, apenas quando for
impugnado o crédito reclamado e a partir do momento da impugnação.
É por outro lado aplicável o artigo 40º/1/c que exige a constituição de advogado nos
recursos: a norma do art 58º é especial em face da norma geral do art 40º/1/a, mas não
derroga a alínea C do mesmo artigo.
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PRESSUPOSTOS
ESPECIFICOS DA AE
Obrigação
exequenda
Certeza Liquidez Exigibilidade
Ao tratar da articulação entre o título e a obrigação exequenda, a existência desta não é
pressuposto da execução:
Presumida pelo título executivo, dela não há necessidade de fazer prova.
Vimos também que dentro de que limites o juiz pode, em face do título, julgar
oficiosamente da validade formal e substancial, bem como da subsistência, da obrigação
exequenda. Ao exequente mais não compete, relativamente à existência desta obrigação,
do que exibir em tribunal o título executivo, pelo qual ela é constituída ou reconhecida.
Vimos por outro lado, que a ação executiva pressupõe o incumprimento da obrigação. Ora
o incumprimento não resulta do próprio título quando a prestação é, incerta, inexigível ou
ilíquida.
Há então que a tornar certa, exigível ou liquida, sem o que a execução não pode
prosseguir (art 713º).
A CERTEZA
É certa a obrigação cuja prestação se encontra qualitativamente determinada (ainda que
esteja por liquidar ou individualizar).
Não é certa aquela em que a determinação (escolha da prestação), entre uma pluralidade,
está por fazer (art 400ºCC). Tal acontece nos casos de uma obrigação alternativa (em que
o devedor está obrigado a efetuar uma de duas ou mais prestações, segundo escolha a
efetuar 543º CC) e nos de obrigação genérica de espécie indeterminada (o devedor está
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obrigado a prestar determinada quantidade dum género que contém duas ou mais
espécies diferentes: art 539º CC).
A certeza da obrigação é requisito da ação declarativa de condenação, em que é possível
deduzir pedidos em alternativa.
A EXIGIBILIDADE
A prestação é exigível quando a obrigação se encontra vencida ou o seu vencimento
depende, de acordo com estipulação expressa ou com a norma geral supletiva do art
777º/1 CC, de simples interpelação ao devedor.
Não é exigível quando, não tendo ocorrido o vencimento este não está dependente de
mera interpelação. É este o caso quando:
Tratando-se duma obrigação de prazo certo, este ainda não decorreu (art 779º CC).
O prazo é incerto e a fixar pelo tribunal (art 777º/2 CC).
A constituição da obrigação foi sujeita a condição suspensiva, que ainda não se
verificou (art 270º CC) (715º/1).
Em caso de sinalagma, o credor não satisfez a contraprestação (art 428º CC).
Neste último caso, a lei processual equipara a falta de realização ou oferta da prestação a
efetuar pelo exequente às situações de pura inexigibilidade (art 715º/1). O conceito de
exigibilidade não se confunde com o de vencimento, nem com o de mora do devedor.
A obrigação pura cujo devedor não tenha sido ainda interpelado não está vencida e no
entanto a prestação é exigível e a obrigação estar vencida, e no entanto, não haver mora
do devedor: basta que tenha ocorrido mora do credor, por este não ter aceite a prestação
ou não ter realizado os atos necessários ao cumprimento (813º CC), quer se trate de
obrigação pura em que já tenha sido feita a interpelação (ou a oferta da prestação pelo
devedor) quer de obrigação a prazo em que este já tenha decorrido.
A exigibilidade da prestação não é requisito da ação declarativa de condenação.
A LIQUIDEZ
No seu conceito rigoroso de direito das obrigações, é obrigação liquida aquela que tem por
objeto uma prestação cujo quantitativo não esteja ainda apurado.
A obrigação ilíquida distingue-se da obrigação genérica, que é aquela cuja objeto é referido
a um genero que o contém.
A obrigação genérica pode ter objeto quantitativamente indeterminado (obrigação de
espécie indeterminada) ou determinado (ex: são devidas 200 toneladas de mármore de X
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qualidade) e neste último caso, a concretização do objeto depende dum mero ato de
individualização das unidades que serão prestadas (para o processo de execução para
entrega de coisa certa –art 861º/2).
Normalmente, a obrigação genérica é uma obrigação líquida, a menos que também
quantitativamente o seu objeto se apresente indeterminado (deve-se uma quantidade de
toneladas de mármore que ainda está por determinar).
Mas, o código faz coincidir os conceitos de pedido genérico (que nada tem a ver com a
obrigação genérica) e de pedido ilíquido, ou seja, de pedido (de condenação ou execução)
respeitante a uma obrigação ilíquida, abrangendo neste conceito o caso da universalidade.
O conceito de pedido genérico (556º e 557º/1).
O primeiro indica casos em que na ação declarativa ele é admitido e é
expresso em que a subsequente concretização do pedido genérico “em
prestação determinada” se pode fazer mediante o incidente da liquidação dos
artigo 358º a 360º sempre que ele se refira a uma universalidade ou às
consequências de um facto ilícito.
Mas o pedido genérico é também o respeitante a outros casos de obrigação
ilíquida, de acordo com o conceito restrito do direito das obrigações, para o
que aponta o art 557º/1.
Quando o pedido genérico não é subsequentemente liquidado na pendência do processo
declarativo, bem como quando o pedido se apresenta determinado, mas os factos
constitutivos da liquidação não foram provados, o tribunal “condena no que vier a ser
liquidado, sem prejuízo de condenação imediata na parte que já seja líquida” (art 609º/2).
Este redação (609º/2) proveio da reforma da ação executiva, antes dela se determinando
que o tribunal que condenasse no que se liquidasse em execução de sentença.
É que liquidação da obrigação tem, desde a reforma sempre lugar na ação declarativa que
decorra nos tribunais judiciais (art 704º/6), renovando-se para o efeito, a instância quando
o pedido de liquidação tenha lugar depois do transito em julgado da sentença (358º/2).
Excetuam-se os casos em que a liquidação dependa de simples cálculo aritmético.
O artigo 716º trata da liquidação da obrigação na ação executiva, aplicando-se a todos os
casos em que a obrigação exequenda (constante de título diverso da sentença judicial ou
de sentença que condene no cumprimento de obrigação para cuja liquidação baste o
cálculo aritmético) se apresente ilíquida em face do título executivo.
O nº1 refere-se à obrigação pecuniária ilíquida e o nº7 à obrigação de entrega de uma
universalidade.
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Neste último caso, bem como quando a liquidação da obrigação não dependa de simples
cálculo aritmético, pode ter lugar um incidente de liquidação na ação executiva.
REGIME DA CERTEZA E DA EXIGIBILIDADE
Obrigações alternativas
Nas obrigações alternativas, a escolha ou determinação da prestação a efetuar, entre a
pluralidade de prestações que constitui o seu objeto pode incumbir ao credor, ao devedor
ou a terceiro (art 543º/2 CC). (549º).
Se a escolha pertencer ao credor: e este a não tiver feito, fá-la-á no requerimento inicial da
execução (art 724º/1/h). Assim, quando este der entrada no tribunal (primeiro ato do
processo executivo), a obrigação é já certa.
Se a escolha pertence ao devedor: (ao mesmo tempo que é citado) para, no prazo da
oposição à execução, se outro não tiver sido fixado pelas partes declarar por qual das
prestações opta (art 714º/3).
Esta norma, que vem da reforma da ação executiva, é fruto duma evolução de regimes que
foi controvertida.
De acordo com ela:
Se o prazo da escolha estiver fixado no título executivo, basta, sem prejuízo de o
credor poder preferir a notificação judicial avulsa do devedor (art 256º) que este seja
convidado, no ato da citação, a escolher a prestação.
Se o prazo de escolha não estiver fixado, o devedor tem o ónus de escolher o prazo
de 20 dias do art 728º/1 (em conformidade com o que dispõe, desde a reforma da
ação executiva, o artigo 548º CC).
Se o executado não escolher é notificado o exequente para o fazer.
Sendo vários os devedores e não sendo possível formar maioria quanto à escolha,
cabe esta ao exequente. (714º/3).
Escolhida a prestação, seguem-se os termos da execução que lhe corresponda.
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E se o prazo, previamente fixado, se mostrar há muito excedido?
Ou se, não tendo sido expressamente fixado o prazo algum para a escolha, a obrigação for
a prazo e este já tiver decorrido? Embora qualquer das questões apresente dificuldades,
inclino-me para pensar que:
No primeiro caso, o direito de escolha ter-se -á por automaticamente devolvido ao
exequente.
No segundo caso, depende da interpretação do contrato saber se o prazo da
escolha coincide com o previsto para o cumprimento ou se, uma vez este decorrido
deve ter lugar a notificação do devedor para que escolha (caso em que só depois
poderá ocorrer o vencimento da obrigação).
Se a escolha couber a terceiro e este não a efetuar, há lugar na fase liminar do processo
executivo, à sua notificação para o efeito (art 714º/2) e se não escolher, passa o exequente
a fazê-lo (art 714º/3).
A remissão para o art 714º/1 implica, tomada à letra, que não estando o prazo da escolha
determinado, o terceiro a deva fazer até ao termo do prazo para a oposição do executado.
A solução é absurda: por um lado, o terceiro tem de controlar um prazo que conta a partir
da citação de outrem, por outro lado, o devedor pode não saber, ao opor-se, qual a
prestação escolhida, designadamente quando o terceiro não escolha e deva ser por isso o
credor a fazê-la, de acordo com o artigo 714º/3.
Uma interpretação restritiva da remissão legal impõe-se, porquanto o artigo 713º impõe
que a determinação seja feita na fase liminar da execução anterior à oposição do
executado.
Mais grave é a reversão para o exequente da faculdade de escolher. Com ela pode perigar
o equilíbrio negocial das prestações, tal como as partes o estabelecerem.
O desfasamento com o regime de direito substantivo não tem explicação aceitável.
Se a escolha tiver sido feita antes do processo de execução, seja pelo devedor, por
terceiro ou pelo tribunal, cabe ao exequente ao propor a ação executiva, fazer nela prova
de que foi efetuada, por aplicação analógica do art 715º/1 a 4.
Obrigações genéricas
Vimos que só são incertas quando, no género em que se recorta o seu objeto, há uma
pluralidade de espécies, podendo a quantidade que o devedor está obrigado a prestar se
de uma outra dessas espécies.
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Aplica-se todo o regime descrito para as obrigações alternativas, sendo certo que esta
figura é um misto de obrigação genérica e alternativa.
OBRIGAÇÕES A PRAZO
1. Se a obrigação tiver prazo certo, só decorrido este a execução é possível pois até
ao dia do vencimento a prestação é inexigível.
Fica o devedor imediatamente constituído em mora (805º/2/a CC) a menos que o credor
não tenha realizado os atos de cobrança da prestação que porventura lhe incumbissem
como acontece com especial relevância (dada a regra 772º CC), nos casos em que a
prestação deva ser efetuada no domicílio do devedor.
Esta situação de mora do credor não impede a propositura da ação executiva, como
resulta do art 610º/2/b, conjugado com o artigo 551º/1 bem como do direito substantivo.
O preceito do artigo 610º/2/b só é diretamente aplicável aos casos de obrigação pura em
que não tenha sido feita interpelação ou esta tenha tido lugar fora do local do cumprimento.
Mas é aplicável por analogia, ao caso de obrigação a prazo em que o credor deva
proceder à cobrança no domicílio do devedor, com a única diferença de no termo do prazo
ocorrer o vencimento, mas não a mora do devedor.
Adaptando o preceito a esta situação, temos que a divida esta vencida no momento da
propositura da ação, mas a mora do devedor só tem lugar a partir da citação.
A responsabilidade pelas custas incumbe, neste caso, porém, ao autor (535º/2/b). se ele a
quiser evitar, deve proceder previamente ao ato de cobrança, provando que, por sua parte,
o efetuou nos termos do art 715º/1 a 4.
Note-se que o artigo 610º/2/B não utiliza o termo inexigibilidade no sentido técnico do
termo, mas como sinonimo de não vencimento.
2. No caso de obrigação com vencimento dependente de prazo a fixar pelo tribunal,
tem o credor, na fase liminar da ação executiva, de promover a fixação judicial do
prazo, nos termos aplicáveis dos artigos 1026 e 1027 (847º no domínio da
obrigação para a prestação de facto).
Pelo art 713º, trata-se também neste caso, de tramitação que precede a determinação do
tipo de ação executiva (diligências … destinadas a tornar a obrigação exigível).
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3. Controvertida é a questão da licitude do pactun de non exequendo ad tempus, pelo
qual o credor e devedor acordam em que a obrigação já vencida, não será sujeita a
execução durante determinado prazo.
Contra a sua admissibilidade diz-se que representa uma renúncia ao direito de ação que é
irrenunciável. Mas a favor dela argumenta-se que, no campo do direito disponível não há
razão para que o credor, que pode remitir a obrigação, não se possa vincular a retardar a
sua execução.
Enquanto configurado como modalidade do pactum de non pretendo, o pactun de non
exequendo é como este ilícito, mas, se for entendido como estipulação de um novo prazo
de cumprimento da obrigação não se vê razão que obste à sua validade. É uma pura
questão de interpretação de vontade das partes.
Quando o pacto é válido, a obrigação fica, após a sua celebração sujeita ao regime das
obrigações a prazo.
OBRIGAÇÕES PURAS
O vencimento depende, do ato de interpelação, intimação dirigida pelo credor ao devedor
para que lhe pague.
Tratando-se de prestações exigíveis a todo o tempo, a citação equivale a interpelação, se
esta não tiver tido lugar anteriormente (art 610º/2/b e 551º/1).
Quer a interpelação não tenha sido efetuada, quer ela tenha sido feita, mas não
acompanhada (nem seguida) dos atos que ao credor incumbia realizar {ex: dirigir-se ao
local do cumprimento}, a ação executiva pode ter lugar, embora com a consequência de o
autor pagar as custas.
Se a interpelação tiver sido devidamente realizada ao credor exequente competirá prová-lo
nos termos do art 715º para evitar a sua condenação em custas.
OBRIGAÇÕES SOB CONDIÇÃO SUSPENSIVA
A prestação de obrigação sob condição suspensiva só é exigível depois de a condição se
verificar, pois até lá todos os efeitos do respetivo negócio constitutivo ficam suspensos (art
270º CC).
Daí que o art 715º/1 a 4 exija ao credor exequente a prova da verificação da condição sem
o que a execução não é admissível.
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Claro que no caso de condição resolutiva o problema não se põe: a obrigação produz
todos os seus efeitos em face do título executivo e ao executado caberá, em oposição à
execução, provar que a condição ulteriormente se verificou, extinguindo ex tunc a
obrigação (art 729º/1/g).
OBRIGAÇÕES SINALAGMÁTICAS
Estando o credor obrigado para com o devedor a uma contraprestação a efetuar
simultaneamente, para o que basta não terem sido estipulados diferentes prazos de
cumprimento (art 428º CC) incumbe-lhe, independentemente da invocação, pelo devedor,
da exceção de não cumprimento, provar que a efetuou ou ofereceu (art 715º/1 a 4) sob
pena de não poder promover a execução.
Embora não se trate de caso de inexigibilidade é lhe dado, no plano dos pressupostos da
execução, tratamento semelhante ao dos casos de prestação inexigível.
Como por sua vez, também o exequente podia invocar a seu favor a exceção de não
cumprimento do contrato, basta-lhe provar que ofereceu a sua prestação contra a
exigência da que lhe é devida.
O mesmo regime, devidamente adaptado, se aplica ao caso de o credor (exequente) dever
cumprir a sua prestação antes da do seu devedor.
PROVA COMPLEMENTAR DO TÍTULO
1) A certeza e a exigibilidade da obrigação exequenda têm de se verificar antes de
serem ordenadas providências executivas, pelo que, quando não resultem do
próprio titulo nem de diligências anteriores à propositura da ação executiva, se abre
uma fase liminar do processo executivo que visa tornar certa ou exigível a obrigação
ainda que não o seja, sem prejuízo de ter lugar no próprio requerimento de
execução a atuação, a desenvolver para o efeito, que dependa pura e simplesmente
da vontade do credor (ex: escolha da prestação que a ele incumba), bem como a
solicitação por ele, da atuação do tribunal, do devedor ou de terceiro que para o
mesmo efeito seja necessária (fixação de prazo, escolha da prestação).
Mas, quando a certeza e a exigibilidade não resultam do titulo, tiverem resultado de
diligencias anteriores à propositura da ação executiva, há que provar no processo
executivo que tal aconteceu.
Trata-se agora duma atividade, liminar, de prova a ter lugar, no inicio do processo.
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A esta atividade de prova {prova complementar do título} se refere o art 715º/1 a 4,
os quais têm alcance geral, pelo que se aplicam, para além dos casos neles
expressamente previstos (obrigação dependente de condição suspensiva ou duma
prestação por parte do credor ou de terceiro), a todos aqueles em que a certeza e a
exigibilidade não resultam do título executivo, mas já se verificavam antes da
propositura da ação executiva, assim como ainda àqueles em que, sendo a
prestação exigível em face do titulo, o credor queira provar que ocorreu o
vencimento e a mora do devedor, para evitar a sua condenação em custas.
2) Nas execuções com processo sumário, em que não há lugar a despacho liminar (art
855º/1) a certeza e a exigibilidade da obrigação exequenda são verificadas pelo
agente de execução sem intervenção do juiz:
Em face ao título executivo: se á data esses requisitos já se verificavam ou se
a exigibilidade resultar do simples decurso dum prazo certo nele estipulado.
Perante documento apresentado no processo, que prove a ocorrência,
posterior à formação do título, do facto constitutivo da certeza ou
exigibilidade.
Tendo, porém, o agente de execução dúvida quanto à verificação desses pressupostos,
cabe-lhe suscitar a intervenção do juiz, que decidirá (art 855º/2/b).
Nas execuções com processo ordinário, em que há despacho liminar (art 726º/1) cabe ao
juiz verificar se a obrigação exequenda é certa e exigível, em face do título executivo e da
prova documental complementar.
3) Sendo necessária a produção de prova (extradocumental) para a verificação da
certeza ou exigibilidade da obrigação, o exequente oferece-a no requerimento (art
724º/1/B) seguindo-se sempre despacho liminar (art 715º/3).
Não ocorrendo causa de indeferimento ou aperfeiçoamento (art 726º/2/b e 4), o juiz a
menos que entenda necessária a audição do executado, designa dia para a produção de
prova, a qual é sumariamente feita, em termos semelhantes aos estatuídos pelo artigo 345
para a fase liminar dos embargos de terceiro, após o que, se o juiz entender provada a
certeza e a exigibilidade o processo prossegue (com ou sem citação previa do executado
conforme o caso).
Tem caráter de exceção a audição do devedor (715º) a menos que (…). Entendo o juiz que
a audição é necessária o devedor é citado para pagar ou opor-se à execução (715º/4),
com a advertência de que, não contestando os factos, alegados no requerimento
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executivo, constitutivos da certeza ou da exigibilidade da obrigação eles se terão por
assentes, sem prejuízo das exceções vigentes no processo comum de declaração (art
568º).
A contestação do executado só pode ter lugar na oposição à execução, mediante
invocação do fundamento consistente na incerteza ou inexigibilidade da obrigação
exequenda (art 729º/e).
Continua, porém, o exequente a ter o ónus da prova dos factos de que depende a
exigibilidade e a certeza da obrigação (verificação da condição, efetivação ou oferta da
contraprestação ou da prestação devida por terceiro, escolha extrajudicial da obrigação) ou
o seu vencimento (interpelação extrajudicial, cobrança frustrada no domicilio do devedor).
CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE CERTEZA OU
EXIGIBILIDADE
Proposta execução baseada em título de que resulte a incerteza da obrigação ou a
ilegibilidade da prestação, não sendo imediatamente oferecida e efetuada prova
complementar do título nem requeridas as diligencias destinadas a tornar a obrigação certa
ou a prestação exigível, foi discutido na vigência do direito anterior à revisão do CPC de
1961, se o juiz devia proferir despacho de indeferimento liminar ou despacho de
aperfeiçoamento.
Constitui orientação fundamental do Código a de proporcional o aproveitamento das ações,
mediante o suprimento da falta de pressupostos processuais, bem como a correção de
irregularidades formais, suscetíveis de sanação (art 6º/2, 590º/2).
Por isso, a orientação que já anteriormente à revisão preconizada a solução do
aperfeiçoamento no caso que nos ocupa, é depois dela, indiscutível (art 726º/4) e só no
caso de o requerente não aperfeiçoar a petição é que se seguirá, tal como no de falta de
apresentação do título executivo, o indeferimento do requerimento executivo (art 726º/5).
A apreciação judicial tem lugar no despacho liminar sem prejuízo de, não tendo poder
ainda vir a ser feita até à primeira transmissão de bens penhados (art 734º/1).
Ao executado, se a execução prosseguir sem que a falta do pressuposto seja sanada, fica
sempre salva a possibilidade de se opor à execução (art 729º/e).
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O REGIME: A LIQUIDEZ
OS MEIOS DE LIQUIDAÇÃO
A liquidação (conversão da obrigação em líquida) tem também lugar em fase liminar do
processo executivo, quando não deva fazer-se no processo declarativo.
A lei processual distingue entre a liquidação que depende de simples cálculo aritmético e a
que dele não dependa, referindo-se ainda à liquidação por árbitros e à liquidação da
obrigação de entrega duma universalidade (art 716º 4 a 7).
LIQUIDAÇÃO POR SIMPLES CÁLCULO ARITMÉTICO
Quando a liquidação dependa de simples cálculo aritmético, o exequente deve fixar o seu
quantitativo no requerimento inicial da execução mediante especificação e calculo dos
respetivos valores (art 716º/1).
Dá lugar a este meio de liquidação, por exemplo, a obrigação de pagamento dum preço a
determinar de acordo com a cotação (duma moeda, ação ou mercadoria) verificada em
determinado dia, a de pagamento de uma indemnização em montante a ratear por vários
credores conjuntos na proporção dos respetivos direitos, ou ainda a de pagamento de
juros, cujo montante dependerá do período de tempo durante o qual se vençam.
Quanto a esta última, deve ser deduzido um pedido ilíquido quando os juros continuem a
vencer-se na pendência do processo executivo, sendo liquidados no requerimento inicial
os já vencidos (de acordo com a regra geral) e liquidados a final, pelo agente de execução,
os vincendos (art 716º/2).
A liquidação pelo agente de execução tem também ligar no caso de sanção pecuniária
compulsória:
Executando-se a obrigação pecuniária, a liquidação não depende de
requerimento do executado, devendo ser feita a final (716º/3).
Executando-se a obrigação de prestação de facto infungível o exequente tem
de a requerer, quer já tenha sido fixada na sentença declarativa, quer se
pretenda que seja pelo juiz de execução (art 868º/1) (874º/1) (876º/1/c).
Estes são os únicos casos de pedido ilíquido (ou genérico, na terminologia do art 556)
admitidos na execução para pagamento de quantia certa.
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Não se segue qualquer procedimento especial.
Pode, porém, o agente de execução, não havendo lugar a despacho liminar,
suscitar a intervenção do juiz (855º/2/B).
Pode o executado, que discorde da liquidação feita pelo exequente opor-se à
execução, quando para ela citado, com fundamento no artigo 729º/e (liquidez
da obrigação tal como ela é definida pelo exequente ao deduzir a liquidação).
Pode ainda o ato do agente de execução, que liquide os juros vencidos na
pendência da execução, reclamar-se para o juiz, nos termos do art 723º/1/c,
sem prejuízo de o agente encarregado de os contar poder suscitar
previamente perante ele a resolução de alguma dúvida que tenha (art
723º/1/d).
LIQUIDAÇÃO NÃO DEPENDENTE DE SIMPLES
CÁLCULO ARITMÉTICO
Não dependendo a liquidação de simples cálculo aritmético, o exequente no próprio
requerimento inicial da execução, especificará os valores que considera compreendidos na
prestação devida e concluirá por um pedido líquido (art 716º/1).
O executado era, antes da reforma, citado para contestar a liquidação e só depois de esta
julgada era notificado para pagar ou nomear bens à penhora.
A contestação era feita:
a) Em articulado próprio, seguindo-se os termos do processo sumário de declaração
b) Quando o executado se opusesse à execução na petição de embargos, que
assumia assim o duplo papel de contestação no incidente e de petição da ação de
oposição, na qual se conhecia a matéria dos embargos e a da liquidação.
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Apresentada a contestação, seguem-se por apenso (art 732º/1) os termos subsequentes
do processo comum de declaração (art 360º/3) por remissão do artigo 716º/4 e art 732º/2.
Mas quando o executado não conteste nem se oponha e a revelia seja inoperante, já os
termos subsequentes do processo sumário têm lugar nos autos do processo executivo,
como incidente deste.
Não se verificando nenhum dos casos do art 568º, a obrigação considera-se liquidada nos
termos constantes do requerimento inicial, o que caracteriza um efeito cominatório pleno.
Quando a prova produzida pelos litigantes seja insuficiente para fixar a quantia devida,
deve o juiz completá-la oficiosamente, nos termos gerais do artigo 411º, ordenando
designadamente a produção de prova parcial, nos termos do artigo 487º. Como ultimo
recurso, estando em causa o montante duma indemnização, o juiz julgará segundo a
equidade, nos termos do art 566º/3 CC.
LIQUIDAÇÃO POR ÁRBITROS
Em conformidade com o artigo 716º/6 quando uma lei especial determine ou as partes
hajam estipulado que a liquidação se faça por árbitros, a arbitragem tem lugar
extrajudicialmente, sem prejuízo de ao juiz presidente do tribunal de execução caber a
nomeação do terceiro árbitro (se os dois primeiros não o designarem) ou do segundo (no
caso de o requerido não o designar) nos termos dos artigos 10-4 LAV e 59-1-a LAV.
Só assim não será quando se trate de liquidar a obrigação constante de sentença judicial,
caso em que se aplica diretamente o artigo 361º ou de liquidar a obrigação constante de
título de crédito (ex: quantia constante da letra respeita a moeda estrangeira, carecida de
conversão em euros) cuja exequibilidade não admite iliquidez que não dependa de mero
cálculo aritmético.
Constituindo a arbitragem o exercicio da função jurisdicional, o princípio do contraditório é
aplicável à arbitragem voluntaria (30º/1 C LAV) (209º/2 CRP), assim como à arbitragem
necessária, impor que as partes possam expor as suas razões de facto e de direito antes
da decisão dos árbitros.
Designadamente, o executado pode querer pôr em causa, mediante contestação da
liquidação, a própria imposição da arbitragem, e baseando-se esta em estipulação das
partes, necessitar de provar, que o compromisso não existiu ou caducou.
Por outro lado, ao devedor há de ser dada a possibilidade de impugnar os valores
alegados.
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Não basta por isso que o exequente requeira a arbitragem e nomeie o seu arbitro, sem
necessidade de especificar nos termos aplicáveis do art 716º/1 os valores que considera
compreendidos na prestação devida.
A remissão do artigo 361º/1 (remete para o 716º/6) para o art 358º/2 que trata da dedução
do incidente de liquidação com sujeição às normas gerais do artigo 293º, aponta para a
necessidade dessa especificação na petição inicial da arbitragem (art 33-2-LAV) seguida
de contraditório –isto não obstante a simplicidade de que normalmente se reveste a
liquidação da obrigação exequenda constituída ou reconhecida em titulo extrajudicial.
A liquidação considera-se feita:
Em conformidade com o laudo dos dois árbitros nomeados pelas partes no
caso de acordo entre eles (art 361º/3).
Em conformidade com o laudo do arbitro nomeado pelo tribunal, se se
verificar a divergência, único caso em que esse arbitro intervém não para
desempatar, mas com autonomia relativamente aos laudos dos dois outros
(art 361º nº3 e 4).
As restantes normas processuais a aplicar na arbitragem determina-se de acordo com a lei
geral (art 30º LAV nº2/3).
PEDIDO DE ENTREGA DE UNIVERSALIDADE
Quando o exequente pede, de acordo com o título executivo, que lhe seja entregue uma
universalidade, constituiria desnecessária complicação do acesso à justiça negar a
possibilidade de dedução genérica do pedido, na ação executiva, quando o exequente não
seja possível fazê-lo no requerimento inicial, por a universalidade se achar na posse do
executado e não ter meios para a ela aceder.
Neste caso, devidamente justificado, o pedido ilíquido é admitido, procedendo-se à
liquidação em incidente imediatamente posterior à apresentação dos bens e anterior à sua
entrega ao exequente (art 716º/7).
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FORMAÇÃO DO CASO JULGADO
A decisão de mérito favorável proferida no incidente de liquidação tem como efeito
quantificar ou especificar o objeto da obrigação constante (normalmente) de documento
autêntico, completando o título mediante o acertamento dum aspeto do seu objeto que nele
está por acertar e ao qual se circunscreve o juízo declarativo.
Não se trata propriamente de delimitar o objeto da obrigação exequenda, mas sim, o de
determinado título executivo.
Consequentemente, a sentença de liquidação da obrigação exequenda constitui caso
julgado que obsta a que, em nova execução fundada no mesmo título se volte a discutir a
liquidação da mesma obrigação, mas não poderá impedir que tenha lugar um novo
incidente de liquidação da mesma obrigação em execução fundada noutro título, nem é
invocável como caso julgado numa ação declarativa autónoma (inclusive de restituição do
indevido).
Quando sendo o titulo executivo uma sentença (condenação no que se vier a liquidar) a
liquidação tem lugar na instancia declarativa, a sentença de liquidação que a complementa
fica a integrar o âmbito objetivo do caso julgado por ela formado.
CONSEQUÊNCIAS DA ILIQUIDEZ DA OBRIGAÇÃO
Se não for requerida a liquidação de obrigação ilíquida, deve o juiz, nos mesmos termos e
condições em que nos casos de incerteza ou inexigibilidade, proferir despacho de
aperfeiçoamento e só no caso de a petição não ser consequentemente aperfeiçoada vir a
indeferi-la, podendo se não o fizer, haver oposição à execução (art 729º/e).
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TÍTULO EXECUTIVO
NOÇÃO
Vimos que o acertamento é o ponto de partida da ação executiva, pois a realização coativa
da prestação pressupõe a anterior definição dos elementos objetivos e subjetivos, da
relação jurídica de que ela é objeto.
O título executivo contém esse acertamento –é a base da execução, por ele se
determinando o “fim e os limites da ação executiva” (10º/5) isto é, o tipo de ação e o seu
objeto, a legitimidade (ativa/passiva) para ela (53º/1) e sem prejuízo de poder ter que se
complementado (art 714 a 716º), em face dele se verificando se a obrigação é certa,
liquida e exigível (art 713º).
O termo título inculca a ideia de que se trata dum documento. *veremos se assim é.
O título executivo ganha a relevância especial que a lei lhe atribui da circunstância de
oferecer a segurança mínima reputada suficiente quanto à existência do direito de crédito
que se pretende executar. Também adiante veremos como o título e direito se articulam para efeitos da
ação executiva.
Que tipo de espécies de título executivo temos?
ESPÉCIES
O artigo 703º/1 enumera quatro espécies de titulo executivo:
1) Sentença condenatória
2) Documento exarado ou autenticado por notário (ou outra entidade ou profissional
com competência para tal).
3) Título de crédito
4) Título executivo por foça de disposição especial
A SENTENÇA CONDENATÓRIA
Quis o legislador demarcar a sentença condenatória (não de forma muito feliz) do conceito
de sentença de condenação.
É que em qualquer tipo de ação (não apenas de condenação, mas de mera apreciação,
constitutiva ou até de execução) tem, em princípio, lugar a condenação em custas e a
decisão que a profere constitui título executivo para o efeito da sua cobrança coerciva.
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O mesmo se diga quanto à condenação da parte em multa, indemnização como litigante
de má-fé ou em sanção pecuniária compulsória.
Por outro lado, discute-se se a sentença de mérito favorável proferida em ação declarativa
constitutiva é enquanto tal, suscetível de ser executada.
O problema põe-se quando por ela são criadas obrigações que, como tais, podem ser
objeto de incumprimento. Exemplos:
O conjuge obrigado a prestar alimentos não os presta.
O arrendatário cujo arrendamento foi resolvido não entrega a casa a despejar.
O promitente vendedor contra quem foi julgada procedente a ação de
indemnização especifica não entrega o andar cuja propriedade a sentença
transmitiu.
À primeira vista dir-se-á, nestes casos, a sentença constitui título executivo, por força
perfeitamente análoga à sentença proferida em ação declarativa de condenação.
Mas, se bem se vir, o efeito constitutivo da sentença produz-se automaticamente nada
restando dele para executar, e o que pode vir a ser objeto de execução é ainda uma
decisão condenatória, expressa ou implícita, que com ele se pode cumular (condenação no
pagamento dos alimentos fixados, condenação na desocupação e entrega do prédio
arrendado (936º/4) (1081º/1 CC).
Quanto às sentenças de mérito proferidas em ações de simples apreciação, é pacifico que
não se pode falar de título executivo.
Efetivamente, ao tribunal apenas foi pedido que apreciasse a existência dum direito ou
dum facto jurídico e a sentença nada acrescenta quanto a essa existência, a não ser o seu
reconhecimento judicial.
Pela sentença, o réu não é condenado no cumprimento duma obrigação pré-existente nem
sequer constituído em nova obrigação a cumprir.
Vigorando o princípio do dispositivo, compreende-se que tal sentença não possa ser objeto
de execução.
Pode ainda acontecer que a condenação seja proferida em processo de natureza não civil,
por exemplo de caráter penal (sentença em que o réu seja condenado a pagar uma
indemnização ao ofendido) ou administrativo (sentença de condenação do estado em
indemnização por ato de gestão pública, ilícito ou lícito). Também aqui temos uma
sentença condenatória.
Das sentenças judiciais só a de condenação constitui nos termos explanados, título
executivo. O termo sentença abrange os acórdãos (art 156º/3).
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TRÂNSITO EM JULGADO E LIQUIDEZ
1) Para que a sentença seja exequível é necessário que tenha transitado em julgado,
que seja já insuscetível de recurso ordinário ou reclamação (628º) salvo se contra
ela tiver sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo (art 704º).
A atribuição de efeito meramente devolutivo significa que é possível executar a decisão
recorrida na pendência do recurso.
Constitui hoje a regra no recurso de apelação (art 647), tem sempre lugar no recurso de
revista (art 676º).
Ora, se tiver sido instaurada execução na pendência de recuso com efeito meramente
devolutivo, essa execução por natureza provisória, sofrerá as consequências da decisão
que a causa venha a ter nas instâncias superiores.
Assim, quando a causa vier a ser definitivamente julgada a decisão proferida terá o efeito:
De extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão exequenda,
absolvendo o réu (executado).
De a modificar, se apenas em parte revogar a decisão exequenda mantendo uma
condenação parcial do réu (art 704º/2 1ª parte).
Se pelo tribunal de recurso vier a ser proferida decisão que por sua vez seja objeto de
recurso para um tribunal superior, a execução:
Suspender-se-á ou modificar-se-á consoante a decisão da 2ª instância for total ou
parcialmente revogatória da anterior, se ao novo recurso for também atribuído efeito
meramente devolutivo.
Prosseguirá tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada com a
decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito suspensivo, o
qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia proferida (art 704º/2
2ª parte).
A ação executiva proposta na pendência do recurso pode também ser suspensa a pedido
do executado que preste caução, destinada a garantir o dano que, no caso de confirmação
da decisão recorrida, o exequente sofra em consequência da demora da execução.
É o que dispõe o artigo 704º/5 em expressa equiparação desta situação à do executado
que se tenha oposto à execução.
Não havendo lugar a esta suspensão e prosseguindo a execução não é admitido
pagamento, enquanto a sentença estiver pendente de recurso sem previa prestação pelo
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credor (exequente ou reclamante) de caução (704º/3). QQ destas cauções é prestada nos
termos gerais do 623º e 906º.
2) Proferida condenação judicial genérica (art 609º/2) e não dependendo a liquidação
da obrigação pecuniária de simples cálculo aritmético, esta tem lugar desde a
reforma da ação executiva, em incidente do próprio processo declarativo,
renovando-se para tanto a instância se já estiver extinta (art 704º/6 e 358º/2).
Neste caso, a sentença de condenação só se torna exequível com a sentença de
liquidação, que a complementa, completando a formação do título executivo.
Tal não prejudica, evidentemente, a imediata exequibilidade da parte da sentença de
condenação que seja já líquida (art 609º/2).
Esta imposição da liquidação da obrigação na ação declarativa rege igualmente em caso
de obrigação de entrega duma universalidade, mas só quando o autor possa caracterizar
os elementos que a compõem antes do ato da apreensão (art 716º/7).
Não obstante a distinta função que assim é desempenhada pela liquidação da obrigação
reconhecida na sentença declarativa de condenação, a liquidação em si tem lugar nos
mesmos termos dentro ou fora da execução, pelo que lhe são aplicáveis, com algumas
adaptações, os conceitos e regimes a ter em conta na liquidação em execução de
sentença.
Sentença proferida por tribunal estrangeiro
1. A sentença proferida por tribunal estrangeiro é exequível por força do mesmo art
703º/1/a.
Só o é, porém, após revisão e confirmação pelo competente tribunal da relação (art 706 e
979) visto que só depois de confirmadas é que, salvo tratado, convenção, regulamento
comunitário ou lei especial em contrário, as sentenças estrangeiras têm eficácia em
Portugal (978º/1).
A confirmação é assim, necessária, não apenas para efeitos de execução, mas também
para qualquer outro efeito de direito (ex: registo civil, comercial, predial, levantamento de
deposito bancário, todo e qualquer efeito de direito civil ou de processo civil) com a única
ressalva da sua invocabilidade em tribunal como meio de prova, a apreciar livremente pelo
julgador (978º/2).
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A confirmação tem lugar quando se verifiquem os requisitos enunciados no artigo 980º. De
entre eles, são de destacar:
O transito em julgado da sentença, segundo a lei do pais em que foi proferida a
alínea B. Não é assim possível a execução provisoria de uma sentença estrangeira
pendente de recurso.
A não ocorrência de competência internacional exclusiva dos tribunais portugueses,
nos termos do artigo 63º, nem de fraude à lei, que fora do domínio dessa reserva de
competência, tenha provocado a competência do tribunal estrangeiro (alínea C).
O respeito pelo direito de defesa e a observância dos princípios do contraditório e
da igualdade de armas (alínea e).
A ininvocabilidade da exceção de litispendência ou de caso julgado com fundamento
na afetação da causa a um tribunal português {exceção que é ininvocável se, não
obstante essa afetação, a ação em que tenha sido proferida a sentença a rever tiver
sido proposta em primeiro lugar (alínea d).
A não contradição da decisão com a ordem publica internacional portuguesa (alínea
F).
2. O âmbito de aplicação dos preceitos da lei portuguesa sobre a revisão das
sentenças estrangeiras encontra-se reduzido em consequência do regulamento de
Bruxelas e Convenção de Lugano que estabeleceram reconhecimento automático
das sentenças proferidas noutro Estado da União ou no caso da Convençao noutro
estado contratante, sem necessidade de recurso a qualquer processo: delas
conhece qualquer tribunal perante o qual a decisão seja invocada a titulo incidental,
isto é como resolução duma questão previa de que dependa a decisão a proferir ou
para a dedução da exceção de caso julgado.
Mas, se for invocada a título principal, isto é extrajudicialmente e houver impugnação, isto
é, não for aceite por aquele perante quem é invocada, o reconhecimento pode ser pedido
por quem a invocou, em ação de simples apreciação dirigida ao tribunal de comarca em
cuja área de jurisdição esteja domiciliada a parte contra a qual a pretenda fazer valer ou ao
do lugar da execução (26 a 32 da convenção/ 33 e 39 do regulamento).
A decisão só não será reconhecida nos casos do art 27º, 28º da convenção, 34º, 35º do
regulamento.
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Despachos judiciais e decisões arbitrais
Às sentenças da 703º/1/a são equiparados os despachos e outras decisões ou atos de
autoridade judicial que condenem no cumprimento de uma obrigação, assim como as
decisões dos tribunais arbitrais (art 705).
Como exemplos de despachos condenatórios exequíveis, temos os que imponham multas
às partes ou a testemunhas, condenem em indemnizações ou fixem honorários de peritos,
depositários, agentes de execução ou liquidatários judiciais.
Estão também nesse caso as decisões que ordenem providências cautelares que não
sejam executadas, por medida de tipo executivo especificamente prevista, nos próprios
autos do procedimento cautelar.
Quanto às decisões dos tribunais arbitrais, estão quando proferidas no estrangeiro, sujeitas
a revisão (Convenção de Nova Iorque sobre o Reconhecimento e Execução de sentenças
Arbitrais Estrangeiras e dos 55º a 58º LAV e quando proferidas no território nacional,
sujeitas às regras de exequibilidade das sentenças dos tribunais judiciais de 1ª instância.
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Sentença homologatória
i. Na categoria de sentenças condenatórias cabem as sentenças homologatórias,
das quais são exemplo a de transação ou confissão do pedido (art 290º/3) e a
decisão homologatória de partilha.
Em confronto com as sentenças em que o juiz decide o litígio entre as partes, mediante
aplicação do direito substantivo ao caso que lhe é presente, as sentenças homologatórias
caracterizam-se por o juiz se limitar a sancionar a composição dos interesses em litigio
pelas próprias partes, limitando-se a verificar a sua validade enquanto negocio jurídico.
Dai terem sido qualificadas como títulos executivos parajudiciais ou impróprios, em
oposição às sentenças propriamente ditas (títulos executivos judiciais, ou judiciais
próprios).
Anselmo de Castro define os títulos executivos parajudiciais como aqueles «que formando-se num
processo de caráter formalmente judicial, não procedem, todavia, de uma decisão judicial, mas de
um ato de confissão expressa ou tácita das partes tendo assim caráter substancialmente
extrajudicial».
À distinção destes dois tipos de título executivo corresponderiam pelo menos ainda segundo
Anselmo de Castro duas especialidades de regime:
Por um lado, a oposição à execução da sentença homologatória de conciliação, confissão,
ou transação é possível com maior amplitude do que a oposição à sentença judicial
propriamente dita, pois nela se pode invocar qualquer causa de nulidade ou anulabilidade
desses atos (art 729º/i).
Por outro lado, a sentença homologatória proveniente de tribunal estrangeiro não teria de
ser objeto de revisão e confirmação por um tribunal português, devendo ser equiparada aos
títulos estrangeiros extrajudiciais, que delas não carecem.
ii. Em face do direito português, esta qualificação não é de adotar.
Na lógica da sua definição Anselmo considerava também o título executivo parajudicial, a
sentença de condenação provisória do réu.
Esta na lógica daquela definição considerar título executivo parajudicial toda a sentença
proferida por via dum efeito cominatório pleno.
Nada permite distinguir estas decisões quanto ao seu regime, validade e eficácia, da
sentença a que chamamos propriamente dita. Nem no que respeita à sua execução, é
defensável que a elas se apliquem as duas especialidades acima indicadas.
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A sentença homologatória constitui no nosso direito uma sentença de condenação como
as restantes, sem prejuízo de os atos dispositivos das partes que a determinam estarem,
como negócios jurídicos de direito civil, sujeitos a um regime de impugnação que não se
confunde com o da sentença homologatória, da qual resulta, designadamente, o efeito da
exequibilidade.
Tenha-se em conta, em sede de ação declarativa (291º/2) –[o trânsito em julgado da
sentença homologatória não obsta a que se intente ação de declaração de nulidade ou de
anulação da transação ou confissão ou se peça a revisão da sentença com esse
fundamento] e os artigos 70 a 73 da lei 23/2013 de 29 junho [possibilidade de emenda e
anulação da partilha judicial após o trânsito em julgado da sentença que a homologue] e
em sede de ação executiva, o 729º/i, que consideramos aplicável não apenas à confissão
do pedido e à transação em geral, mas também à partilha em processo de inventário.
Quanto à revisão das sentenças homologatórias proferidas por tribunais estrangeiros,
cremos muito duvidosa a sua dispensabilidade, embora, dos requisitos para a confirmação
indicados no ar 980º, apenas se apliquem ao caso os que o puderem ser.
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Conceito
Os documentos exarados ou autenticados por notário ou noutra entidade com competência
(703º/1/b) são tal como os títulos de crédito (art 703º/1/c) títulos extrajudiciais, visto não se
produzirem em juízo, ou negociais, porque emergentes dum negócio jurídico celebrado
extrajudicialmente.
São exarados por notário (doc. Autênticos) o testamento público e a escritura publica
(entre outros).
São documentos autenticados por notário aqueles que, por ele não exarados, lhe são
posteriormente levados para que, na presença das partes, ateste a conformidade da sua
vontade com o conteúdo.
Na categoria dos documentos autenticados inclui-se porque aprovado por notário (art
2206º/4 CC) o testamento cerrado.
Evidentemente que o testamento (ato de disposição por morte) não pode constituir título
executivo enquanto nele radica a transmissão dos bens do testador.
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Mas já o será, por nos situarmos então no campo das obrigações, quando o testador
confesse uma divida sua (1) ou constitui uma divida que impõe a um sucessor (2).
Em ambos casos temos de verificar a posterior aceitação da herança pelo sucessor, a qual
constitui, no primeiro caso, condição da transmissão da divida, e, portanto, fundamento da
legitimidade passiva do sucessor para a execução. E no segundo caso, condição
suspensiva da própria obrigação.
Por isso, a aceitação tem de ser alegada e pelo menos no segundo caso, provada pelo
exequente (54º/1) (715º/1).
Mas o título executivo é sempre o testamento e não (aquilo que para o segundo caso já se
defendeu) o ato de aceitação da herança.
A atribuição de força executiva aos documentos exarados ou autenticados por serviço com
competência para tal (é o caso dos registos predial, comercial, automóveis, aeronaves,
navios) tem em conta a atribuição aos conservadores e entidades equiparadas do poder de
exarar e autenticar documentos dentro da esfera da sua competência.
Documento recognitivo
Os documentos autênticos e autenticados não constituem título executivo apenas quando
formalizem o ato de constituição de uma obrigação.
Também o são quando deles conste o reconhecimento pelo devedor, duma obrigação pré-
existente:
Confissão do ato que a constituiu –art 352º CC, 358º CC, 364º CC.
Reconhecimento de divida –art 458º CC.
Isso consta do 703º/1/b.
A prova da obrigação tanto pode ser feita através do documento original como através
duma sua certidão ou fotocópia autêntica –art 383º CC, 384º CC e 387º CC.
A promessa de contrato real e a previsão de obrigação
futura
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Artigo 715º CC o preceito com a revisão ganhou uma nova redação, mas não maior
clarificação textual. Nele se preveem dois tipos de situação:
1) A convenção de prestações futuras: exige-se a prova de que alguma prestação foi
realizada para a conclusão do negócio.
2) Previsão da constituição de obrigações futuras: a de que alguma obrigação foi
constituída na sequência da previsão das partes.
Correspondendo a primeira formulação à do direito anterior –a substituição da expressão
por “para a conclusão do negócio” quis exigir a prova complementar da realização da
prestação constitutiva dum contrato real prometido por documento autêntico ou
autenticado, assim consagrando a interpretação mais racional do preceito revogado.
Os contratos de abertura de crédito, bem como os de promessa de mútuo, fornecimento,
comodato, depósito, locação, são abrangidos por esta primeira previsão do preceito.
Quando à segunda previsão procura abranger casos em que as partes não se tenham
vinculado, bilateral ou unilateralmente à celebração dum negócio jurídico mas se tenham
limitado a prever em documento autentico ou autenticado, a possibilidade dessa
celebração nomeadamente constituindo logo garantia (hipotecaria) que cubra a realização
dessa previsão.
OS TÍTULOS DE CRÉDITO
*regime anterior página 70
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O título de crédito, enquanto tal
O CPC de 2013 restringiu drasticamente a exequibilidade dos documentos particulares,
arrepiando o caminho que entre nós ela tomava: a alínea c do 703º/1 apenas concede
exequibilidade aos “títulos de crédito, ainda que meros quirógrafos, desde que, os factos
constitutivos da relação subjacente constem do próprio documento ou sejam alegados no
requerimento executivo”.
A letra, livrança e o cheque são os únicos documentos particulares que a lei geral confere
exequibilidade.
Enquanto ao cheque: alguma jurisprudência minoritária negava-lhe exequibilidade
por não ser mais do que uma ordem de pagamento, não se constitui pela qual nem
se reconhece qualquer obrigação.
o Esquecendo-se que o preenchimento do cheque à ordem ou a sua entrega
ao portador tem implícita a constituição ou reconhecimento duma divida, a
satisfazer através da cobrança dum direito de crédito (cedido), contra a
instituição bancária.
Só é exigido o reconhecimento da assinatura do devedor no título de crédito quando ele
não saiba ou não possa ler, sendo então assinado a rogo.
Fora deste caso, o reconhecimento por notário da assinatura do devedor tem a utilidade de
obstar ao pedido de suspensão da ação executiva pelo executado que, em embargos
alegue a não genuinidade da assinatura.
O título de crédito, enquanto quirógrafo
Prescrita a obrigação cartular constante numa letra, livrança ou cheque, poderá o titulo de
credito continuar a valer como título executivo desta vez enquanto escrito particular
consubstanciando a obrigação subjacente?
Assim foi entendido na vigência do CPC 1961.
É essa a orientação consagrada no 703º/1/c
Quando o título de crédito mencione a causa da relação jurídica subjacente, o título
prescrito vale como documento particular respeitante à relação jurídica subjacente.
Quanto aos títulos de crédito prescritos dos quais não conste a causa da obrigação há que
distinguir:
Consoante a obrigação a que se reportam emerja dum negócio jurídico formal:
uma vez que a causa do negócio é um elemento essencial deste, o documento
não constitui título executivo (221º/1 CC e 223º/1/CC).
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Consoante a obrigação a que se reportam não emerja dum negócio jurídico
formal: a autonomia do título executivo em face da obrigação exequenda e a
consideração do regime do reconhecimento de divida (458º/1 CC) leva a admiti-
lo como título executivo, sem prejuízo de a causa da obrigação dever ser
invocada na petição executiva e pode ser impugnada pelo executado. Mas, se o
exequente não a invocar ainda que a titulo subsidiário, no requerimento
executivo não será possível fazê-lo na pendencia do processo, após a
verificação da prescrição da obrigação cartular e sem o acordo do executado (art
264º) por tal implicar alteração da causa de pedir.
A invocação da causa da obrigação subjacente introduz esta como objeto do processo
executivo, mesmo que ainda não tenha prescrito a divida abstrata.
A legalização de documentos estrangeiros
Os documentos exarados em país estrangeiro, quer sejam autênticos, quer particulares,
não carecem de revisão para serem exequíveis em Portugal (706º/2) mas, devem ser
objeto de legalização.
Esta legalização tem lugar, para os documentos autênticos e autenticados, mediante o
reconhecimento da assinatura do oficial publico que os emitiu ou autenticou pelo agente
diplomático ou consular português no estado respetivo (440º/1) de acordo com a exigência
deste artigo só dispensável, para os casos abrangidos pelo regulamento comunitário, ou
por convenção aprovada e ratificada pelo Estado Português como é o caso do regulamento
Bruxelas I da convenção de Lugano e da convenção de Haia de 1961 quando a
autenticidade do documento for manifesta.
A idênticas formalidades estão sujeitos os títulos de credito que, para serem exequíveis,
careçam do reconhecimento notarial da assinatura do subscritor; este reconhecimento só
tem valor quando a assinatura da entidade que os reconhece seja, por sua vez assim
reconhecida (440º/2).
O TÍTULO EXECUTIVO POR FORÇA DE DISPOSIÇÃO
ESPECIAL
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Títulos judiciais impróprios
Alguns dos títulos cuja força executiva resulta de disposição especial da lei (703º/1/d)
formam-se no decurso dum processo.
Assim, no processo de prestação de contas, quando o réu as apresente e delas resulte um
saldo a favor do autor, pode este requerer que o réu seja notificado para pagar a
importância do saldo, sob pena de lhe ser insaturado processo executivo (944º/7). Aqui, o
título executivo são as próprias contas apresentadas pelo réu.
Assim também, nos termos do DL 269/98 de 1 de setembro e do DL 32/2003 de
17 de fevereiro, que regulam o processo de injunção o titular do direito de credito
pecuniário, decorrente de contrato, cujo valor não exceda a alçada do tribunal da
1ª instancia, ou que constitua remuneração estabelecida em contrato de
fornecimento de mercadorias ou prestação de serviços, celebrado entre
empresas ou entre empresas e entidades públicas, pode requerer, na secretaria
do tribunal do lugar do cumprimento da obrigação ou do domicilio do devedor, a
injunção deste para o cumprimento da obrigação (art 1 DL 269/98, art 8º/1 do
regime anexo e art 2 DL 32/2003).
O requerido é notificado para em 15 dias pagar ao credor a quantia pedida ou deduzir
oposição à pretensão.
Se se opuser, tal como se a notificação se frustrar seguem-se os termos do processo
especial de ação declarativa criado pelo mesmo diploma (art 16 e 17 do regime anexo).
Mas, se o requerido não deduzir oposição, o secretário judicial, sem que o processo seja
concluso ao juiz, escreverá no requerimento de injunção que “este documento tem força
executiva”, a menos que não se verifiquem os requisitos do processo de injunção (art
14º/1/3).
O requerente pode propor, no competente juízo civil, ação executiva com base no título
executivo assim formado pelo requerimento de injunção a que é aposta a fórmula
executória.
Os títulos deste tipo, formados num processo, mas não resultantes duma decisão judicial,
têm sido classificados como judiciais impróprios. Alguns têm a particulares de se formarem
na pendência dum processo executivo.
Títulos administrativos
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Exemplos de outro tipo de titulo executivo especial: títulos de cobrança de tributos, coimas,
dívidas determinadas por atos administrativos, reembolsos ou reposições e outras receitas
do Estado (art 148º CPPT e 162º CPPT), certificado de conta de emolumentos e demais
encargos devidos por ato de registo ou de notariado, certidão de divida de contribuições a
uma instituição de segurança social (art 9º DL 511/76 3 julho), certidão passada pelos
serviços competentes da Câmara Municipal comprovativas das despesas efetuadas com
obras de conservação ou demolição por ela ordenadas e não feitas no prazo estabelecido.
A este tipo de títulos, emitidos por repartições do Estado, autarquias locais, outras
determinadas pessoas coletivas públicas e tendo por conteúdo créditos próprios, tem sido
dada a designação de títulos administrativos ou de formação administrativa.
Títulos particulares
Também documentos particulares podem constituir título executivo por disposição especial
da lei. Deles constituem por exemplo:
A ata de reunião da assembleia de condóminos, assinada pelo condómino devedor,
em que se encontrem fixadas as contribuições a pagar ao condomínio.
Documento de contrato de arrendamento de prédio urbano acompanhado de
comprovativo de comunicação ao arrendatário efetuada nos termos do art 9 NRAU,
da resolução ou da denúncia do contrato pelo senhorio, nos termos do artigo
1084º/1 CC do artigo 1097º CC ou do artigo 1101º CC fundando execução para
restituição do local arrendado (art 15ç/1 NRAU alíneas c/d/e).
O extrato de conta passado por sociedade com sede em Portugal dedicada à
concessão de crédito por via de emissão e utilização de cartões de crédito, titulando
o respetivo saldo.
Os certificados passados pelas entidades registadoras de valores mobiliários
escriturais, a estes relativos (art 84º CVM).
Os documentos de contrato de mútuo cedido pela Caixa Geral de Depósitos nos
termos do artigo 9º/4 DL 287/93 de 20 agosto.
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NATUREZA E FUNÇÃO
DO TÍTULO EXECUTIVO
O TÍTULO É UM DOCUMENTO
Quer os títulos criados pelas alíneas b/c/d 703º/1 constituem inequivocamente,
documentos escritos.
Sabidos que o documento escrito é um objeto representativo duma declaração e como tal
constitui meio de prova legal plena (art 362º CC) (371º/1 CC) (376º/2 CC), parece impor-se
a conclusão de que o título executivo extrajudicial ou judicial improprio é um documento,
que constitui prova legal para fins executivos, e que a declaração nele representada tem
por objeto o facto constitutivo do direito de crédito ou é, ela própria este mesmo facto.
No caso da sentença condenatória, o aspeto dinâmico da injunção ao réu para que realize
uma prestação devida sobressai sobre o aspeto estático do documento em que ela se
materializa. Se a tomarmos como paradigma do título executivo, este parecerá constituir
um ato jurídico e não um documento –ato jurídico que aplicando e concretizando o direito,
torna possível, graças à sua estrutura de comando, a subsequente atuação pratica da
sanção se a ordem judicial não for cumprida.
Esta diferente perspetiva de aproximação do conceito de título executivo deu origem a uma
celebre polémica, hoje clássica entre Carnelutti (para quem a sua natureza era de
documento) e Liebman (para quem revestia natureza de ato).
A conceção de Liebman acabaria no caso dos títulos negociais por fazer coincidir o
título com o próprio negócio, quando há muito a doutrina vem afirmando que a ação
executiva, baseada no titulo goza em face da obrigação exequenda, duma
autonomia paralela à do titulo de crédito em face da obrigação subjacente.
Quanto a definição do título como documento, compatibiliza-se com esta autonomia,
desde que no documento, enquanto título, se veja mais a materialização ou
corporalização dum direito exequível do que o meio de prova do facto constitutivo
desse direito.
O título executivo extrajudicial constitui documento probatório da declaração de vontade
constitutiva duma obrigação ou duma declaração direta ou indiretamente probatória do
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facto constitutivo duma obrigação e é este o seu valor probatório que lhe atribui
exequibilidade.
O título executivo judicial constitui documento probatório dum ato jurisdicional que acerta
(dá como provado, nem que seja por implicação) esse facto constitutivo.
Mas a consideração da inexequibilidade da sentença de mera apreciação, que também
realiza esse acertamento, leva a concluir que tal não chega para explicar a constituição do
título executivo judicial, o qual requer também a emanação duma ordem jurisdicional
emitida em função dum pedido (autor).
Talvez esta dualidade de justificações da figura seja insuperável e, na tentativa de chegar
a um conceito unitário se tenha de ficar pela afirmação de que uma e outra são
consideradas, cada qual no seu campo especifico, base suficiente da radicação da própria
obrigação no título (documento) para efeitos executivos, dado constituir qualquer delas o
grau de certeza (sobre a existência do direito) que o sistema entende exigível para a
admissibilidade da ação executiva.
De qualquer modo, a função executivo do documento, embora pressupondo sempre a sua
função probatória, não se confunde com ela e o documento constitui base da ação
executiva, com autonomia relativamente à atual existência da obrigação que não tem, em
principio de ser questionada na ação executiva, e em conformidade com a lei vigente à
data em que o tribunal tenha de verificar a exequibilidade.
O título executivo é um documento, e no caso da sentença a ordem do tribunal fica
representada nas próprias folhas do processo em que é exarada, as quais não se
confundem com o ato de condenação que lhe constitui o conteúdo.
O TÍTULO COMO CONDIÇÃO DA AÇÃO
Do título executivo é frequente dizer-se que é condição necessária e suficiente da ação
executiva.
1) Condição Necessária: porque não há execução sem título, o qual tem de
acompanhar o requerimento inicial, ou nos casos de processo misto de declaração e
de execução, de se formar dentro do próprio processo, antes que tenha lugar
qualquer diligência de ordem executiva.
2) Condição suficiente: levanta mais dificuldades. Não porque brigue com a existência de
outros pressupostos da ação executiva, uma vez que a afirmação não tem outro
alcance que não seja o de dispensar qualquer indagação previa sobre a real
existência ou subsistência do direito a que se refere, de onde decorrerá que o juiz
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não pode conhecer oficiosamente da questão da conformidade ou desconformidade
entre o título e o direito que se pretende executar.
Mas, mesmo com este alcance a afirmação não tem valor absoluto.
Consideremos os títulos negociais:
A desconformidade entre o titulo e a obrigação exequenda pode resultar de vicio
formal ou substancial da declaração de vontade ou de ciência que lhe constitui o
conteúdo ou do ato jurídico a que a declaração de ciência se reporte ou ainda de
causa que afete ulterior subsistência da obrigação.
Ora no plano da validade formal, é óbvio que, quando a lei substantiva exija certo
tipo de documento para a sua constituição ou prova, não se pode admitir execução
fundada em documento de mero valor probatório para o efeito de cumprimento de
obrigações correspondentes ao tipo de negócio ou ato em causa.
Do mesmo modo, não deve ser admitida a execução pretendida se tiver sido
convencionada pelas partes certa forma voluntaria e dado conhecimento ao tribunal desta
estipulação que não tenha sido respeitada no ato de contração da obrigação exequenda.
No plano da validade substancial ser conhecidas todas as causas de nulidade do
negócio ou ato que o título formaliza ou prova, desde que sejam de conhecimento
oficioso e o juiz se posa servir dos factos de que decorrem nos termos do art 5º.
Também aqui a desconformidade manifesta entre o título e o direito que se pretende fazer
valer impede a realização dos atos executivos.
Estes não deverão ter lugar se, por exemplo, a simulação do negócio jurídico resultar
seguramente do próprio titulo (hipotese meramente académica) de elementos de facto
fornecidos ao tribunal pelo próprio exequente no requerimento inicial (o que é altamente
improvável) ou de prova produzida ou admitida em embargos à execução, ainda que
deduzidos com outro fundamento, ou ainda se ela tiver sido reconhecida por sentença
proferida em ação declarativa que tenha corrido no mesmo tribunal.
A mesma orientação deve ser seguida quanto à ocorrência de factos modificativos ou
extintivos posteriores à constituição do título.
Imagine-se por exemplo, que a extinção da obrigação exequenda por ato de pagamento de
terceiro resulta do próprio requerimento inicial ou que, em caso julgado pelo próprio
tribunal da execução foi declarada prescrita a obrigação ou anulado, por erro a
incapacidade, o contrato de que ela emergia.
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Toda a desconformidade entre titulo e a realidade substantiva, pode e deve ser conhecida
pelo juiz, desde que a sua causa seja de conhecimento oficioso e resulte do próprio título,
do requerimento inicial de execução, dos embargos de executado ou de facto notório ou
conhecido pelo juiz em virtude do exercício das suas funções.
Da articulação do artigo 726º/2/c com o art 374º resulta que o juiz deve indeferir
liminarmente o requerimento de execução com algum dos fundamentos referidos, mas
resulta também, que não o tendo feito deverá rejeitar ulteriormente a execução,
extinguindo-a quando se aperceba da situação ainda que em virtude dos embargos de
executado deduzidos com outro fundamento, ou quando o processo lhe seja concluso, por
outro motivo até ao primeiro ato de transmissão de bens.
O que o juiz não pode é levar mais longe a sua indagação sobre a obrigação exequenda,
quer oficiosamente quer solicitando elementos complementares da prova ao exequente.
A obrigação exequenda tem de constar do título e a sua existência é por ele presumida, só
nos termos que se deixam referidos podendo ser ilidida tal presunção, salvo o recurso da
ação declarativa de embargos de executado, movida com essa finalidade.
Só neste sentido julgamos poder ser afirmada a suficiência do título para a ação executiva
e a sua consequente autonomia em face da obrigação exequenda.
O TÍTULO E A CAUSA DE PEDIR
Próxima da afirmação da suficiência do titulo executivo, por este dispensar a indagação do
direito que pressupõe é a configuração do título como causa de pedir na ação executiva,
de acordo com a qual a causa de pedir deixaria, na ação executiva, de ser o facto jurídico
de que resulta a pretensão do exequente (art 581º/4) para passar a ser o próprio titulo
executivo (dela constitui prova ou acertamento).
Não constituindo o título executivo um ato ou facto jurídico, esta construção não se
harmoniza com o conceito de causa de pedir.
Resultaria também na impossibilidade de deduzir a exceção de litispendência, por serem
diversas as causas de pedir, quando o mesmo crédito estivesse representado por dois
títulos executivos (por exemplo, escritura e sentença) e ambos fossem executados, cada
um em seu processo.
Se assim fosse, um resultado pratico semelhante ao da litispendência poderia conseguir-se
mediante a invocação do art 752º/1 (constituição, pela primeira penhora efetuada, de
garantia real a favor do exequente consequentemente inadmissibilidade da penhora de
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outros bens, no outro processo, enquanto não se verificasse a insuficiência do bem
penhorado).
Mas, afastada a configuração do título executivo como causa de pedir, a exceção de
litispendência deduzida nos termos do art 729º/c impede mais radicalmente (art 732º/4) o
prosseguimento da segunda execução.
CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE APRESENTAÇÃO DO
TÍTULO EXECUTIVO
Pressuposto formal da ação executiva, o título deve em regra, acompanhar o requerimento
inicial de execução.
Só assim não é quando o requerimento executivo é apresentado nos autos da ação
declarativa em que foi proferida a sentença exequenda (art 85º/1) visto que esta consta do
próprio processo, a menos que –caso em que a regra volta a jogar –dela tenha sido
interposto recurso com efeito meramente devolutivo (a sentença é então certificada por
translado: art 649º/1).
Como proceder se, fora o caso excecional referido, der entrada no tribunal um
requerimento executivo desacompanhado do título que lhes serve de base ou
acompanhado dum titulo que nada tem a ver com a execução instaurada?
Já foi defendido que o juiz devia proferir despacho de indeferimento liminar.
Mais correta, porque respeitadora do princípio da economia processual, é porém a solução
do despacho de aperfeiçoamento que resulta do artigo 726º/2 e 4, quando seja manifesta a
falta ou insuficiência do titulo, tem lugar o indeferimento do requerimento executivo pelo
juiz, não o sendo o juiz deve convidar o exequente a suprir a irregularidade apresentando o
titulo em falta ou corrigindo o requerimento inicial.
No caso de se pedir mais do que o constante do título (por exemplo, 2500 euros, quando
título consta a obrigação de pagar 1500 euros) tem lugar o indeferimento parcial (art
726º/3).
As soluções acabadas de referir aplicam-se devidamente adaptadas aos casos em que
vimos que o juiz pode conhecer da desconformidade entre o titulo e a obrigação
exequenda.
Já no caso de serem deduzidos a vários pedidos e nem todos constarem do título, não
sendo manifesta a falta de título para os pedidos a descoberto deve o juiz mandar
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aperfeiçoar a petição, ordenando a apresentação de titulo do qual constem os pedidos a
descoberto, e no caso de apresentação não ser feita, indeferir a petição inicial quanto a
eles.
Se o executado for citado, em caso em que a petição devia ter sido recursada, indeferida
ou mandada aperfeiçoar, pode o executado deduzir oposição à execução.
USO DESNECESSÁRIO DA AÇÃO DECLARATIVA
O facto de se dispor de título executivo não impede que o credor legitimado proponha
contra o devedor legitimado a ação declarativa, embora desnecessária.
Admite-o implicitamente o art 535º/2/c ao entender que o réu não dá causa à ação
declarativa e por isso o autor pagará as respetivas custas, sempre que o título de que o
autor dispõe tenha manifesta força executiva e não haja necessidade do processo de
declaração.
Este regime afasta-se de uma das consequências que teria consagração geral (e não
excecionada) do pressuposto do interesse processual ou interesse em agir, servindo de
argumento para quem rejeita a sua consagração no direito constituído.
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CONTEÚDO
Delimitação ................................................................................................................................................... 1
Tipos ............................................................................................................................................................. 2
Função .......................................................................................................................................................... 3
Normas substantivas e normas processuais ............................................................................................... 4
O acertamento e a execução..................................................................................................................... 5
Juiz e agente de execução .......................................................................................................................... 7
1 Pressupostos Específicos ......................................................................................................................... 9
2 Pressupostos gerais ................................................................................................................................ 11
Em razão da matéria .................................................................................................................................. 12
Competência em razão da hierarquia ........................................................................................................ 13
Competência em razão do valor ................................................................................................................ 13
Competência em razão do território ........................................................................................................... 14
Decisão do tribunal judicial ............................................................................................................... 14
Decisão do tribunal arbitral ............................................................................................................... 14
Outros títulos ....................................................................................................................................... 15
Sentença estrangeira........................................................................................................................... 15
Competência internacional ......................................................................................................................... 16
Lei portuguesa ........................................................................................................................................ 16
O regulamento Bruxelas I e a Convenção de Lugano ........................................................................... 17
Competência convencional e regime da incompetência relativa .............................................................. 18
A doutrina de Anselmo de Castro .......................................................................................................... 18
Regime atual ........................................................................................................................................... 19
quem é parte legitima................................................................................................................................. 20
Adaptação/ desvios do regime regra.................................................................................................... 21
O terceiro proprietário ou possuidos do bem onerado .............................................................................. 22
Terceiros abrangidos pelo caso julgado .................................................................................................... 24
O ministério público .................................................................................................................................... 25
Consequências da ilegitimidade das partes .............................................................................................. 25
Litisconsórcio inicial.................................................................................................................................... 26
Litisconsórcio sucessivo............................................................................................................................. 27
coligação .................................................................................................................................................... 29
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Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da coligação ilegal ............................... 31
Cumulação simples de pedidos ................................................................................................................. 32
Formas .................................................................................................................................................... 32
A coligação constitui uma cumulação de pedidos. Mas pode também o exequente (ou exequentes
litisconsortes) cumular pedidos contra o mesmo executado (ou os mesmos executados litisconsortes).
................................................................................................................................................................ 32
Esta cumulação simples de pedidos pode ser inicial (art 709º) ou sucessiva (art 711º): ..................... 32
É inicial quando tem lugar logo no ato de propositura da ação executiva. .................................... 32
Pressupostos .......................................................................................................................................... 32
Consequências da cumulação indevida ................................................................................................. 32
a certeza ..................................................................................................................................................... 34
a exigibilidade ............................................................................................................................................. 35
A Liquidez ................................................................................................................................................... 35
regime da certeza e da exigibilidade ......................................................................................................... 37
Obrigações alternativas .......................................................................................................................... 37
Obrigações genéricas ............................................................................................................................. 38
OBRIGAÇÕES A PRAZO....................................................................................................................... 39
OBRIGAÇÕES PURAS .......................................................................................................................... 40
OBRIGAÇÕES SOB CONDIÇÃO SUSPENSIVA .................................................................................. 40
OBRIGAÇÕES SINALAGMÁTICAS ....................................................................................................... 41
Prova complementar do título .................................................................................................................... 41
Consequências da falta de certeza ou exigibilidade.................................................................................. 43
Os meios de liquidação .............................................................................................................................. 44
liquidação por simples cálculo aritmético................................................................................................... 44
liquidação não dependente de simples cálculo aritmético ........................................................................ 45
liquidação por árbitros ................................................................................................................................ 46
Pedido de entrega de universalidade ........................................................................................................ 47
formação do caso julgado .......................................................................................................................... 48
consequências da iliquidez da obrigação .................................................................................................. 48
Noção......................................................................................................................................................... 49
espécies ..................................................................................................................................................... 49
A SENTENÇA CONDENATÓRIA .......................................................................................................... 49
Trânsito em julgado e liquidez ............................................................................................................ 51
Sentença proferida por tribunal estrangeiro ........................................................................................... 52
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lOMoARcPSD|3043896
Resumos de DPC III e aulas 1ª até 5ª
Despachos judiciais e decisões arbitrais ............................................................................................... 54
Sentença homologatória......................................................................................................................... 55
O documento exarado ou autenticado por notário .................................................................................... 56
Conceito .................................................................................................................................................. 56
Documento recognitivo ........................................................................................................................... 57
A promessa de contrato real e a previsão de obrigação futura ............................................................. 57
Os títulos de crédito ................................................................................................................................... 58
O título de crédito, enquanto tal ............................................................................................................. 59
O título de crédito, enquanto quirógrafo ................................................................................................. 59
A legalização de documentos estrangeiros ........................................................................................... 60
O título executivo por força de disposição especial................................................................................... 60
Títulos judiciais impróprios ..................................................................................................................... 61
Títulos administrativos ............................................................................................................................ 61
Títulos particulares ................................................................................................................................. 62
O título é um documento ............................................................................................................................ 63
O título como condição da ação................................................................................................................. 64
O título e a causa de pedir ......................................................................................................................... 66
cOnsequências da falta de apresentação do título executivo ................................................................... 67
Uso desnecessário da ação declarativa .................................................................................................... 68
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