FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE
1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONTABILIDADE
Conceito e objeto da contabilidade
A contabilidade é uma ciência social aplicada que estuda, interpreta e registra os
fenômenos que afetam o patrimônio de uma entidade. Seu objeto é o patrimônio, composto
por bens, direitos e obrigações, pertencentes a uma entidade econômico-administrativa. A
contabilidade acompanha a evolução do patrimônio ao longo do tempo, registrando todas as
movimentações ocorridas e demonstrando seus resultados.
Como ciência, a contabilidade possui métodos próprios para coletar, registrar, acumular,
resumir e analisar os fatos e transações de natureza financeira, transformando-os em
informações úteis para a tomada de decisões. Sua metodologia está fundamentada em
princípios e normas que garantem a consistência e confiabilidade das informações geradas.
Finalidade e usuários da informação contábil
A finalidade primordial da contabilidade é fornecer informações úteis sobre o patrimônio das
entidades e suas variações aos diversos usuários, subsidiando a tomada de decisões. Este
conjunto de informações deve ser relevante, fidedigno, comparável, verificável, tempestivo e
compreensível.
Os usuários da informação contábil podem ser classificados em dois grandes grupos:
Usuários internos:
● Administradores, gestores e executivos
● Funcionários e colaboradores
● Proprietários ou acionistas no papel de gestores
Usuários externos:
● Investidores e potenciais investidores
● Credores e fornecedores
● Instituições financeiras
● Governo e autoridades fiscais
● Órgãos reguladores e normatizadores
● Entidades de classe
● Concorrentes
● Clientes
● Sociedade em geral
Cada grupo de usuários possui necessidades específicas de informação, e a contabilidade
deve atendê-las dentro dos limites de sua função informativa.
Princípios contábeis
Os princípios contábeis constituem o núcleo central da doutrina contábil e representam a
essência das doutrinas e teorias relativas à ciência da contabilidade. Estes princípios
formam o arcabouço fundamental que norteia o comportamento e os procedimentos dos
profissionais da área contábil, conferindo uniformidade e comparabilidade às
demonstrações contábeis.
Entidade
O Princípio da Entidade reconhece o patrimônio como objeto da contabilidade e afirma a
autonomia patrimonial. Isso significa que o patrimônio da entidade não se confunde com o
patrimônio dos seus sócios ou proprietários. Há uma clara distinção entre pessoa física e
pessoa jurídica, entre o proprietário e a empresa, entre o patrimônio particular e o
patrimônio empresarial.
Por exemplo, quando um empresário individual inicia um negócio com R$ 100.000,00 de
capital próprio, esse valor deixa de pertencer à pessoa física e passa a integrar o patrimônio
da empresa, constituindo-se em recurso próprio da entidade.
Continuidade
O Princípio da Continuidade pressupõe que a entidade continuará em operação no futuro
previsível, sem a necessidade ou intenção de entrar em liquidação ou reduzir materialmente
a escala de suas operações. Este princípio influencia diretamente a forma de avaliação e
classificação dos componentes patrimoniais, uma vez que, na continuidade das atividades,
os ativos são avaliados de acordo com a sua utilidade econômica para a entidade, e não
pelo seu valor de liquidação.
A descontinuidade das atividades implicaria em alterações significativas nos critérios de
avaliação dos ativos e passivos, que passariam a considerar valores de liquidação ou de
realização imediata.
Oportunidade
O Princípio da Oportunidade refere-se à necessidade de registro imediato e íntegro de
todos os fatos contábeis, mesmo na hipótese de alguma incerteza. Este princípio exige que
as variações patrimoniais sejam reconhecidas no momento em que ocorrem, assegurando a
tempestividade e a integridade do registro.
A informação contábil deve ser oportuna, ou seja, disponibilizada em tempo hábil para
subsidiar o processo decisório dos usuários. Um registro tardio pode prejudicar a qualidade
da informação e, consequentemente, a tomada de decisão.
Registro pelo valor original
O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes patrimoniais
devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em
moeda nacional. Este princípio estabelece que os ativos são registrados pelos valores
pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes, e os passivos, pelos valores dos
recursos recebidos em troca da obrigação ou pelos valores em caixa que se espera serão
necessários para liquidar o passivo.
Este princípio garante objetividade ao registro contábil, uma vez que o valor da transação é
uma evidência objetiva e verificável.
Atualização monetária
O Princípio da Atualização Monetária reconhece os efeitos da alteração do poder aquisitivo
da moeda nacional sobre os elementos patrimoniais. Em economias inflacionárias, a não
consideração deste princípio pode levar à apresentação de informações distorcidas e não
comparáveis ao longo do tempo.
A atualização monetária é um ajuste dos valores históricos de itens não monetários,
reconhecendo a perda do poder aquisitivo da moeda. No Brasil, a atualização monetária foi
obrigatória até 1995, sendo suspensa posteriormente, exceto em casos específicos.
Competência
O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos
sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou
pagamento. Este princípio estabelece que as receitas e despesas devem ser incluídas na
apuração do resultado do período em que ocorrem, sempre simultaneamente quando se
correlacionarem, independentemente de seu recebimento ou pagamento.
Por exemplo, se uma empresa vende mercadorias a prazo em dezembro de 2024, a receita
deve ser reconhecida neste mês, mesmo que o recebimento ocorra apenas em janeiro de
2025.
Prudência
O Princípio da Prudência determina a adoção do menor valor para os componentes do ativo
e do maior para os do passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas
para a quantificação das mutações patrimoniais. Este princípio impõe a escolha da hipótese
que resulte no menor patrimônio líquido, quando existirem opções igualmente aceitáveis.
A aplicação do princípio da prudência não deve levar a excessos de provisionamento ou à
criação de reservas ocultas. Trata-se de uma precaução no sentido de evitar que ativos e
receitas sejam superavaliados e que passivos e despesas sejam subavaliados.
Demonstrações contábeis básicas
As demonstrações contábeis, ou demonstrações financeiras, são relatórios contábeis que
apresentam a situação patrimonial, financeira e econômica de uma entidade em
determinado momento ou período. Constituem o produto final do processo contábil e têm
como objetivo fornecer informações úteis para a tomada de decisões econômicas.
Balanço Patrimonial
O Balanço Patrimonial é a demonstração contábil que apresenta a posição financeira e
patrimonial de uma entidade em determinada data. É uma fotografia da situação patrimonial
da empresa, apresentando de forma ordenada os bens, direitos e obrigações. O Balanço
Patrimonial é composto por três elementos básicos:
1. Ativo: Representa os bens e direitos controlados pela entidade, dos quais se espera
que fluam benefícios econômicos futuros. É dividido em:
○ Ativo Circulante: Itens que se espera realizar, vender ou consumir no ciclo
operacional normal da entidade (geralmente 12 meses)
○ Ativo Não Circulante: Demais itens do ativo, subdividido em Realizável a
Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível
2. Passivo: Representa as obrigações presentes da entidade, resultado de eventos
passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos capazes de
gerar benefícios econômicos. É dividido em:
○ Passivo Circulante: Obrigações que se espera liquidar no ciclo operacional
normal da entidade
○ Passivo Não Circulante: Demais obrigações
3. Patrimônio Líquido: Representa o valor residual dos ativos da entidade depois de
deduzidos todos os seus passivos. Inclui:
○ Capital Social
○ Reservas de Capital
○ Ajustes de Avaliação Patrimonial
○ Reservas de Lucros
○ Lucros ou Prejuízos Acumulados
O Balanço Patrimonial é elaborado com base na equação fundamental da contabilidade:
Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido.
Demonstração do Resultado do Exercício
A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é um relatório contábil que apresenta o
desempenho econômico da entidade durante um período específico. Ela evidencia a
formação do resultado líquido do exercício, mediante confronto entre as receitas, custos e
despesas incorridos no período.
A DRE é estruturada de forma dedutiva, partindo da receita bruta, deduzindo os impostos
sobre vendas, devoluções e abatimentos para se chegar à receita líquida. A partir da receita
líquida, são deduzidos os custos dos produtos vendidos ou serviços prestados para se
chegar ao lucro bruto. Em seguida, são deduzidas as despesas operacionais
(administrativas, com vendas, financeiras) e adicionadas outras receitas e despesas
operacionais, chegando-se ao resultado antes do Imposto de Renda e da Contribuição
Social. Após a dedução desses tributos, tem-se o resultado líquido do exercício.
Demonstração dos Fluxos de Caixa
A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é um relatório contábil que evidencia as
alterações ocorridas no saldo de caixa e equivalentes de caixa da entidade em determinado
período, classificando os fluxos de acordo com sua natureza: operacional, de investimento e
de financiamento.
● Fluxos operacionais: Relacionados às principais atividades geradoras de receita da
entidade e outras atividades que não sejam de investimento ou financiamento.
● Fluxos de investimento: Relacionados à aquisição e alienação de ativos de longo
prazo e outros investimentos não incluídos nos equivalentes de caixa.
● Fluxos de financiamento: Relacionados às atividades que resultam em mudanças
no tamanho e na composição do capital próprio e empréstimos da entidade.
A DFC pode ser elaborada pelo método direto (demonstrando os recebimentos e
pagamentos brutos) ou pelo método indireto (ajustando o resultado líquido para reconciliá-lo
com o fluxo de caixa das atividades operacionais).
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) é um relatório contábil que
evidencia a movimentação ocorrida nas diversas contas que compõem o Patrimônio Líquido
durante determinado período. Ela complementa o Balanço Patrimonial e a Demonstração do
Resultado do Exercício.
A DMPL demonstra todas as variações que ocorreram no Patrimônio Líquido durante o
exercício social, como:
● Aumentos ou reduções de capital
● Ajustes de exercícios anteriores
● Resultados do exercício
● Transferências para reservas
● Distribuição de dividendos
● Reavaliações de ativos
Esta demonstração é de grande utilidade para explicar as modificações ocorridas no
Patrimônio Líquido e para avaliar a política de destinação do lucro adotada pela entidade.
2. ESTRUTURA PATRIMONIAL
Conceito de patrimônio
O patrimônio é o objeto de estudo da contabilidade e representa o conjunto de bens, direitos
e obrigações de uma entidade. É o instrumento utilizado pelas entidades para atingir seus
objetivos, sejam eles comerciais, industriais, prestação de serviços ou sem fins lucrativos.
O patrimônio é dinâmico, estando em constante mutação em decorrência das atividades
operacionais da entidade. Essas mutações patrimoniais são objeto de registro, análise e
controle pela contabilidade, que as evidencia nas demonstrações contábeis.
Bens, direitos e obrigações
O patrimônio é composto por três elementos fundamentais:
1. Bens: São os elementos materiais ou imateriais que têm valor econômico, sendo
suscetíveis de avaliação monetária. Os bens podem ser:
○ Corpóreos ou tangíveis: possuem existência física (como veículos, imóveis,
estoques)
○ Incorpóreos ou intangíveis: não possuem existência física (como marcas,
patentes, direitos autorais)
2. Direitos: São os valores a receber ou a recuperar de terceiros. Representam
benefícios econômicos que serão obtidos no futuro. Exemplos incluem:
○ Duplicatas a receber
○ Aplicações financeiras
○ Adiantamentos a fornecedores
○ Impostos a recuperar
3. Obrigações: São as dívidas ou compromissos de qualquer natureza assumidos pela
entidade. Representam exigibilidades ou deveres da entidade para com terceiros.
Exemplos incluem:
○ Empréstimos e financiamentos
○ Fornecedores
○ Salários a pagar
○ Impostos a recolher
O conjunto de bens e direitos constitui o Ativo da entidade, enquanto as obrigações formam
o Passivo. A diferença entre o total do Ativo e o total do Passivo representa o Patrimônio
Líquido, que é o valor residual pertencente aos proprietários ou sócios da entidade.
Equação fundamental do patrimônio
A equação fundamental do patrimônio expressa a igualdade que deve existir entre os
recursos controlados pela entidade (Ativo) e as fontes desses recursos, que podem ser
externas (Passivo) ou próprias (Patrimônio Líquido). Esta equação é representada por:
Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido
Esta equação está sempre em equilíbrio, independentemente das operações realizadas
pela entidade. Isso ocorre porque cada operação afeta pelo menos dois elementos
patrimoniais de forma simultânea, mantendo a igualdade. Este é o fundamento do método
das partidas dobradas, segundo o qual para cada débito deve haver um crédito de igual
valor.
A equação fundamental pode ser reescrita como:
Patrimônio Líquido = Ativo - Passivo
Nesta forma, o Patrimônio Líquido representa a diferença entre o que a entidade possui
(Ativo) e o que deve (Passivo), ou seja, o patrimônio efetivamente pertencente aos
proprietários ou sócios da entidade.
Ativo
Definição e critérios de reconhecimento
Segundo o CPC 00 (Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório
Contábil-Financeiro), um ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de
eventos passados, do qual se espera que fluam benefícios econômicos futuros para a
entidade.
Para que um item seja reconhecido como ativo, ele deve atender aos seguintes critérios:
1. Controle: A entidade deve ter o controle sobre o recurso, podendo decidir sobre seu
uso ou destinação.
2. Resultado de eventos passados: O controle sobre o recurso deve ter sido obtido
como resultado de transações ou eventos ocorridos no passado.
3. Benefícios econômicos futuros: Deve haver a probabilidade de que benefícios
econômicos fluam para a entidade.
4. Mensuração confiável: O recurso deve ter um custo ou valor que possa ser
mensurado com confiabilidade.
Nem todos os itens que atendem à definição de ativo são reconhecidos no balanço
patrimonial. Por exemplo, gastos com pesquisa podem gerar benefícios econômicos futuros,
mas podem não atender aos critérios de reconhecimento como ativo devido à incerteza
quanto à geração desses benefícios.
Classificação (Circulante e Não Circulante)
Os ativos são classificados no balanço patrimonial em dois grandes grupos:
1. Ativo Circulante: Compreende os ativos que satisfazem a qualquer um dos
seguintes critérios:
○ Espera-se que seja realizado, ou pretende-se que seja vendido ou
consumido, no decurso normal do ciclo operacional da entidade;
○ Está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado;
○ Espera-se que seja realizado até doze meses após a data do balanço; ou
○ É caixa ou equivalente de caixa, a menos que sua troca ou uso para
liquidação de passivo seja restrita por pelo menos doze meses após a data
do balanço.
2. Ativo Não Circulante: Compreende todos os ativos que não se classificam como
circulantes. O Ativo Não Circulante é subdividido em:
○ Realizável a Longo Prazo: Bens e direitos a serem realizados após o
término do exercício seguinte ao do balanço.
○ Investimentos: Participações permanentes em outras sociedades e direitos
de qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulante ou realizável a
longo prazo, e que não se destinem à manutenção da atividade da entidade.
○ Imobilizado: Bens tangíveis destinados à manutenção das atividades da
entidade ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de
operações que transfiram à entidade os benefícios, riscos e controles desses
bens.
○ Intangível: Bens incorpóreos destinados à manutenção da entidade ou
exercidos com essa finalidade, como marcas, patentes, direitos autorais,
direitos sobre recursos naturais, entre outros.
Principais contas do Ativo
Ativo Circulante:
● Caixa e Equivalentes de Caixa: Dinheiro em caixa, depósitos bancários à vista e
aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez.
● Contas a Receber de Clientes: Valores a receber decorrentes da venda de bens ou
prestação de serviços.
● Estoques: Bens adquiridos ou produzidos pela entidade com o objetivo de venda ou
utilização no processo produtivo.
● Impostos a Recuperar: Créditos tributários que podem ser compensados com
impostos a pagar.
● Despesas Pagas Antecipadamente: Despesas pagas antes do período de sua
competência.
Ativo Não Circulante:
● Realizável a Longo Prazo:
○ Contas a Receber de Longo Prazo
○ Empréstimos a Coligadas e Controladas
○ Depósitos Judiciais
● Investimentos:
○ Participações em Coligadas e Controladas
○ Propriedades para Investimento
○ Outros Investimentos Permanentes
● Imobilizado:
○ Terrenos
○ Edificações
○ Máquinas e Equipamentos
○ Veículos
○ Móveis e Utensílios
○ Depreciacão Acumulada (conta redutora)
● Intangível:
○ Marcas e Patentes
○ Software
○ Ágio (Goodwill)
○ Direitos de Uso
○ Amortização Acumulada (conta redutora)
Passivo
Definição e critérios de reconhecimento
Segundo o CPC 00, um passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de
eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade
capazes de gerar benefícios econômicos.
Para que um item seja reconhecido como passivo, ele deve atender aos seguintes critérios:
1. Obrigação presente: A entidade deve ter uma obrigação presente, legal ou não
formalizada, como resultado de evento passado.
2. Saída provável de recursos: Deve haver a probabilidade de que uma saída de
recursos seja necessária para liquidar a obrigação.
3. Mensuração confiável: O valor da obrigação deve poder ser mensurado com
confiabilidade.
Uma obrigação presente pode ser legal (como resultado de um contrato ou legislação) ou
não formalizada (como resultado de práticas passadas ou políticas publicadas que criam
uma expectativa válida em terceiros).
Classificação (Circulante e Não Circulante)
Os passivos são classificados no balanço patrimonial em dois grandes grupos:
1. Passivo Circulante: Compreende as obrigações que satisfazem a qualquer um dos
seguintes critérios:
○ Espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade;
○ Está mantido essencialmente para negociação;
○ Deve ser liquidado no período de até doze meses após a data do balanço; ou
○ A entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação por pelo
menos doze meses após a data do balanço.
2. Passivo Não Circulante: Compreende todas as obrigações não classificadas como
circulantes, incluindo empréstimos, financiamentos e provisões de longo prazo.
Principais contas do Passivo
Passivo Circulante:
● Fornecedores: Obrigações decorrentes da compra de bens ou serviços a prazo.
● Empréstimos e Financiamentos: Obrigações decorrentes de operações de crédito,
com vencimento no curto prazo.
● Obrigações Fiscais: Impostos, taxas e contribuições a recolher.
● Obrigações Trabalhistas e Previdenciárias: Salários, encargos sociais e
benefícios a pagar.
● Adiantamentos de Clientes: Valores recebidos antecipadamente por vendas ou
serviços a serem prestados.
● Dividendos a Pagar: Parcela do lucro destinada aos acionistas e ainda não paga.
● Provisões: Obrigações com prazo ou valor incerto, mas de ocorrência provável.
Passivo Não Circulante:
● Empréstimos e Financiamentos de Longo Prazo: Obrigações decorrentes de
operações de crédito, com vencimento no longo prazo.
● Provisões para Contingências: Provisões para processos judiciais e
administrativos.
● Impostos Diferidos: Diferenças temporárias tributáveis ou dedutíveis.
● Obrigações com Partes Relacionadas: Empréstimos ou outras obrigações com
empresas do mesmo grupo econômico.
Patrimônio Líquido
Definição e elementos constitutivos
O Patrimônio Líquido representa a diferença entre o total do Ativo e o total do Passivo, ou
seja, é o valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos.
Representa os recursos próprios da entidade, pertencentes aos seus sócios ou acionistas.
O Patrimônio Líquido é composto pelos seguintes elementos:
Capital Social
O Capital Social representa os valores investidos pelos proprietários, sócios ou acionistas
para constituição ou aumento do Patrimônio Líquido da entidade. É o valor nominal das
ações ou quotas representativas do capital da entidade.
O Capital Social pode ser:
● Subscrito: Total do capital que os sócios ou acionistas se comprometeram a
integralizar.
● Integralizado: Parcela do capital subscrito que já foi efetivamente entregue à
sociedade.
● A Integralizar: Parcela do capital subscrito que ainda não foi integralizada pelos
sócios ou acionistas.
Reservas
As reservas são valores retidos da empresa e que não foram distribuídos aos sócios ou
acionistas. São subdivididas em:
● Reservas de Capital: Valores recebidos pela entidade que não transitaram pelo
resultado como receitas. Exemplos incluem:
○ Ágio na emissão de ações
○ Alienação de partes beneficiárias
○ Prêmio na emissão de debêntures
○ Doações e subvenções para investimentos
● Reservas de Lucros: Valores originados de lucros gerados pela entidade, retidos
por força de lei ou por deliberação dos sócios ou acionistas. Exemplos incluem:
○ Reserva Legal
○ Reserva Estatutária
○ Reserva para Contingências
○ Reserva de Retenção de Lucros
○ Reserva de Lucros a Realizar
● Ajustes de Avaliação Patrimonial: Contrapartidas de aumentos ou diminuições de
valor atribuído a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação
a valor justo.
Lucros ou Prejuízos Acumulados
A conta Lucros ou Prejuízos Acumulados registra os resultados apurados pela entidade e
ainda não destinados. De acordo com a Lei das Sociedades por Ações, as empresas não
podem manter saldo positivo nesta conta, devendo destinar o lucro apurado para reservas
ou distribuição de dividendos. No entanto, o saldo negativo (prejuízos acumulados) pode ser
mantido até que seja absorvido por lucros futuros.
3. LANÇAMENTOS CONTÁBEIS E MÉTODO DAS
PARTIDAS DOBRADAS
Teoria das Contas
Conceito de conta
Uma conta é a representação gráfica de elementos patrimoniais da mesma natureza. É o
instrumento utilizado pela contabilidade para registrar as variações ocorridas nos elementos
patrimoniais. As contas são classificadas em grupos homogêneos de acordo com sua
natureza.
Cada conta possui um título, que identifica o elemento patrimonial que ela representa, e um
código, que a posiciona no plano de contas da entidade. As contas são representadas
graficamente por um "T", onde a parte esquerda é denominada "débito" e a parte direita,
"crédito".
Plano de contas
O plano de contas é um conjunto sistematizado de contas estabelecido de acordo com as
necessidades de informação de cada entidade. É uma peça fundamental do sistema
contábil, pois define a estrutura das contas que serão utilizadas para o registro das
operações da entidade.
O plano de contas deve ser estruturado de forma a atender às necessidades de informação
dos usuários internos e externos, observando os princípios contábeis e a legislação
aplicável. Ele geralmente é organizado em níveis hierárquicos, partindo de contas sintéticas
(mais abrangentes) para contas analíticas (mais detalhadas).
Um plano de contas bem estruturado deve permitir:
● O registro de todas as operações da entidade
● A elaboração das demonstrações contábeis
● A análise e o controle dos elementos patrimoniais
● A apuração dos resultados
A estrutura básica de um plano de contas segue o modelo das demonstrações contábeis,
com as contas classificadas em:
1. Contas de Ativo
2. Contas de Passivo
3. Contas de Patrimônio Líquido
4. Contas de Resultado (Receitas e Despesas)
Função e funcionamento das contas
As contas têm a função de registrar as variações ocorridas nos elementos patrimoniais,
permitindo o controle e a evidenciação dessas variações. Cada conta representa um
elemento patrimonial específico e registra suas movimentações ao longo do tempo.
O funcionamento das contas segue o método das partidas dobradas, segundo o qual todo
débito em uma conta corresponde a um crédito de igual valor em outra conta. As contas
funcionam de acordo com sua natureza:
● Contas de Ativo: Saldo devedor (débito > crédito)
○ Debitadas: Quando há aumento do elemento patrimonial
○ Creditadas: Quando há diminuição do elemento patrimonial
● Contas de Passivo e Patrimônio Líquido: Saldo credor (crédito > débito)
○ Debitadas: Quando há diminuição do elemento patrimonial
○ Creditadas: Quando há aumento do elemento patrimonial
● Contas de Resultado:
○ Receitas: Saldo credor (crédito > débito)
■ Debitadas: Quando há diminuição da receita
■ Creditadas: Quando há aumento da receita
○ Despesas: Saldo devedor (débito > crédito)
■ Debitadas: Quando há aumento da despesa
■ Creditadas: Quando há diminuição da despesa
Método das Partidas Dobradas
Conceito e origem histórica
O método das partidas dobradas é um sistema de escrituração contábil que se baseia no
princípio de que para cada débito em uma ou mais contas deve haver um crédito
equivalente em uma ou mais contas, de modo que a soma dos débitos seja sempre igual à
soma dos créditos.
A origem histórica do método das partidas dobradas remonta ao século XV, quando foi
documentado pela primeira vez pelo frei franciscano Luca Pacioli em sua obra "Summa de
Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità", publicada em 1494 em Veneza,
Itália. No entanto, acredita-se que o método já era utilizado pelos comerciantes italianos
desde o século XIII.
O método revolucionou a contabilidade, pois permitiu o controle sistemático das transações
comerciais e a verificação de sua exatidão através do equilíbrio entre débitos e créditos.
Princípio fundamental: débito e crédito
O princípio fundamental do método das partidas dobradas é que todo débito em uma conta
corresponde a um crédito de igual valor em outra conta, ou que a soma dos débitos deve
ser igual à soma dos créditos. Este princípio garante que a equação básica da contabilidade
(Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido) permaneça sempre em equilíbrio.
Os termos "débito" e "crédito" não têm conotação de bom ou ruim, mas são simplesmente
indicadores do lado da conta em que o Princípio fundamental: débito e crédito
(continuação)
Os termos "débito" e "crédito" não têm conotação de bom ou ruim, mas são simplesmente
indicadores do lado da conta em que o registro é feito. O débito representa o lado esquerdo
da conta, enquanto o crédito representa o lado direito.
Uma transação contábil sempre afeta pelo menos duas contas, sendo que o valor total dos
débitos deve ser igual ao valor total dos créditos. Esse mecanismo permite que o sistema
contábil mantenha-se sempre em equilíbrio.
Regras de débito e crédito por categoria de contas
As regras de débito e crédito variam de acordo com a natureza da conta. Essas regras são
fundamentais para a correta escrituração contábil:
1. Contas de Ativo:
○ Natureza do saldo: Devedora
○ Aumento: Débito
○ Diminuição: Crédito
○
Exemplo: Quando uma empresa adquire um equipamento à vista, debita-se
a conta "Equipamentos" (ativo) e credita-se a conta "Caixa" (ativo).
2. Contas de Passivo:
○
Natureza do saldo: Credora
○
Aumento: Crédito
○
Diminuição: Débito
○
Exemplo: Quando uma empresa obtém um empréstimo bancário, debita-se
a conta "Caixa" (ativo) e credita-se a conta "Empréstimos a Pagar" (passivo).
3. Contas de Patrimônio Líquido:
○
Natureza do saldo: Credora
○
Aumento: Crédito
○
Diminuição: Débito
○
Exemplo: Quando os sócios integralizam capital na empresa, debita-se a
conta "Caixa" (ativo) e credita-se a conta "Capital Social" (patrimônio líquido).
4. Contas de Resultado:
○ Contas de Receita:
■ Natureza do saldo: Credora
■ Aumento: Crédito
■ Diminuição: Débito
■ Exemplo: Quando a empresa realiza uma venda, debita-se a conta
"Clientes" ou "Caixa" (ativo) e credita-se a conta "Receita de Vendas"
(resultado).
○ Contas de Despesa:
■ Natureza do saldo: Devedora
■ Aumento: Débito
■ Diminuição: Crédito
■ Exemplo: Quando a empresa paga o aluguel, debita-se a conta
"Despesa de Aluguel" (resultado) e credita-se a conta "Caixa" (ativo).
Essas regras garantem que a escrituração contábil seja realizada de forma consistente e
padronizada, permitindo a elaboração correta das demonstrações contábeis.
Tipos de Lançamentos
Os lançamentos contábeis podem ser classificados de acordo com a quantidade de contas
debitadas e creditadas em cada operação. Existem diferentes tipos de lançamentos, cada
um com características próprias.
Lançamento simples
O lançamento simples, também conhecido como lançamento de primeira fórmula, é aquele
em que há apenas uma conta debitada e uma conta creditada. É o tipo de lançamento mais
básico e comum na contabilidade.
Estrutura:
● Débito em uma conta
● Crédito em uma conta
Exemplo: Pagamento de uma dívida com fornecedor no valor de R$ 5.000,00:
● Débito: Fornecedores (Passivo) - R$ 5.000,00
● Crédito: Caixa (Ativo) - R$ 5.000,00
Lançamento composto
O lançamento composto envolve mais de duas contas, podendo ter múltiplas contas
debitadas e/ou múltiplas contas creditadas, mantendo sempre a igualdade entre o total de
débitos e o total de créditos.
Dentro dos lançamentos compostos, existem quatro categorias principais, conhecidas como
fórmulas de lançamento:
Lançamento de primeira fórmula
Como já mencionado, é o lançamento simples, com uma conta debitada e uma conta
creditada.
Estrutura:
● Débito em uma conta
● Crédito em uma conta
Fórmula: D (uma conta) - C (uma conta)
Lançamento de segunda fórmula
É o lançamento em que há uma conta debitada e duas ou mais contas creditadas.
Estrutura:
● Débito em uma conta
● Créditos em duas ou mais contas, cujo valor total iguala o débito
Fórmula: D (uma conta) - C (várias contas)
Exemplo: Pagamento de duplicatas no valor de R$ 10.000,00, sendo R$ 8.000,00 em
dinheiro e R$ 2.000,00 com cheque:
● Débito: Duplicatas a Pagar (Passivo) - R$ 10.000,00
● Crédito: Caixa (Ativo) - R$ 8.000,00
● Crédito: Bancos Conta Movimento (Ativo) - R$ 2.000,00
Lançamento de terceira fórmula
É o lançamento em que há duas ou mais contas debitadas e uma conta creditada.
Estrutura:
● Débitos em duas ou mais contas, cujo valor total iguala o crédito
● Crédito em uma conta
Fórmula: D (várias contas) - C (uma conta)
Exemplo: Compra de mercadorias no valor de R$ 20.000,00 e material de consumo no
valor de R$ 5.000,00, a prazo:
● Débito: Estoque de Mercadorias (Ativo) - R$ 20.000,00
● Débito: Material de Consumo (Ativo) - R$ 5.000,00
● Crédito: Fornecedores (Passivo) - R$ 25.000,00
Lançamento de quarta fórmula
É o lançamento em que há duas ou mais contas debitadas e duas ou mais contas
creditadas.
Estrutura:
● Débitos em duas ou mais contas
● Créditos em duas ou mais contas
● Total de débitos igual ao total de créditos
Fórmula: D (várias contas) - C (várias contas)
Exemplo: Pagamento de duplicatas no valor de R$ 15.000,00, com desconto de R$ 500,00,
sendo R$ 10.000,00 em dinheiro e R$ 4.500,00 com cheque:
● Débito: Duplicatas a Pagar (Passivo) - R$ 15.000,00
● Crédito: Desconto Obtido (Resultado) - R$ 500,00
● Crédito: Caixa (Ativo) - R$ 10.000,00
● Crédito: Bancos Conta Movimento (Ativo) - R$ 4.500,00
Os diferentes tipos de lançamentos permitem o registro de operações com diversos graus
de complexidade, mantendo sempre o equilíbrio entre débitos e créditos, conforme o
método das partidas dobradas.
4. ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL E PROJEÇÕES
PREVISTAS
Processo de Escrituração
A escrituração contábil é o processo de registro sistemático dos fatos que afetam o
patrimônio da entidade, seguindo uma ordem cronológica e respeitando os princípios e
normas contábeis. É o meio pelo qual a contabilidade cumpre seu objetivo de controlar o
patrimônio e fornecer informações aos diversos usuários.
O processo de escrituração consiste nas seguintes etapas:
1. Identificação do fato contábil
2. Análise e classificação do fato
3. Registro do fato nos livros contábeis
4. Levantamento de balancetes de verificação
5. Elaboração das demonstrações contábeis
Livros contábeis obrigatórios
Os livros contábeis são os instrumentos onde são registrados os fatos contábeis. Eles
podem ser classificados em obrigatórios e auxiliares. Os livros obrigatórios são exigidos
pela legislação comercial e fiscal, enquanto os auxiliares são utilizados para complementar
as informações dos livros obrigatórios.
Os principais livros contábeis obrigatórios são:
1. Livro Diário: Livro principal da contabilidade, onde são registrados todos os fatos
contábeis em ordem cronológica, dia a dia.
2. Livro Razão: Contém as contas individualizadas, permitindo o acompanhamento
das variações ocorridas em cada conta.
3. Livro de Registros de Inventário: Contém o registro detalhado dos estoques
existentes no encerramento do exercício.
4. Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR): Utilizado para apurar a base de
cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.
Além desses, existem outros livros exigidos pela legislação fiscal e pela legislação
societária, dependendo do porte e do regime tributário da empresa.
Livro Diário: características e função
O Livro Diário é o livro contábil principal, no qual são registrados todos os fatos contábeis
que afetam o patrimônio da entidade, em ordem cronológica de dia, mês e ano. Todos os
lançamentos são feitos no Livro Diário, independentemente de sua natureza.
Características do Livro Diário:
● É um livro obrigatório pela legislação comercial e fiscal
● Deve ser registrado na Junta Comercial ou Cartório de Registro de Pessoas
Jurídicas
● Deve conter termos de abertura e encerramento
● As páginas devem ser numeradas sequencialmente
● Não pode conter rasuras, emendas ou entrelinhas
● Os lançamentos devem ser feitos em ordem cronológica
Função do Livro Diário:
● Registrar cronologicamente todos os fatos contábeis
● Fornecer uma visão completa das operações da entidade
● Servir como base para a escrituração do Livro Razão
● Atender às exigências legais e fiscais
● Comprovar a autenticidade e veracidade dos registros contábeis
O Livro Diário pode ser escriturado de forma manual, mecanizada ou eletrônica, desde que
atenda às exigências legais. Atualmente, é comum a utilização de sistemas contábeis
informatizados para a escrituração, com a posterior impressão do Livro Diário em papel ou
sua autenticação digital.
Livro Razão: características e função
O Livro Razão é um livro contábil que contém as contas individualizadas, permitindo o
acompanhamento das variações ocorridas em cada conta ao longo do tempo. Enquanto o
Livro Diário registra os fatos em ordem cronológica, o Livro Razão organiza os mesmos
fatos por contas.
Características do Livro Razão:
● É um livro obrigatório pela legislação fiscal
● Não precisa ser registrado na Junta Comercial
● Pode ser escriturado de forma manual, mecanizada ou eletrônica
● Cada conta tem uma página ou ficha própria
● Os lançamentos são feitos em ordem cronológica dentro de cada conta
Função do Livro Razão:
● Controlar individualmente cada conta contábil
● Fornecer informações sobre a composição e evolução de cada elemento patrimonial
● Facilitar a elaboração de balancetes e demonstrações contábeis
● Permitir a análise e verificação dos saldos das contas
● Auxiliar na detecção de erros e inconsistências
O Livro Razão é fundamental para o controle contábil, pois permite verificar a
movimentação e o saldo de cada conta, facilitando a análise e a tomada de decisões pelos
gestores da entidade.
Balancete de verificação
O Balancete de Verificação é um relatório contábil que apresenta todas as contas do Livro
Razão com seus respectivos saldos devedores e credores em determinada data. Sua
principal finalidade é verificar a igualdade entre os saldos devedores e credores,
confirmando o equilíbrio das partidas dobradas.
Estrutura do Balancete de Verificação:
● Código da conta
● Nome da conta
● Saldo devedor
● Saldo credor
Tipos de Balancete de Verificação:
● Balancete de Verificação de Saldos: Apresenta apenas os saldos finais de cada
conta.
● Balancete de Verificação de Movimentos: Apresenta os saldos iniciais, os
movimentos (débitos e créditos) e os saldos finais de cada conta.
Função do Balancete de Verificação:
● Verificar o equilíbrio entre débitos e créditos
● Detectar possíveis erros de escrituração
● Fornecer uma visão geral da situação patrimonial da entidade
● Servir como base para a elaboração das demonstrações contábeis
● Facilitar o acompanhamento e controle das contas
O Balancete de Verificação é um instrumento importante de controle interno, sendo
geralmente elaborado mensalmente ou em períodos mais curtos, dependendo das
necessidades de informação da entidade.
Fatos Contábeis
Os fatos contábeis são os acontecimentos que provocam alterações no patrimônio da
entidade e que, por isso, são objeto de registro pela contabilidade. Esses fatos podem ser
classificados de acordo com a natureza da alteração que provocam no patrimônio.
Fatos permutativos
Os fatos permutativos são aqueles que provocam modificações qualitativas no patrimônio,
sem alterar o valor do Patrimônio Líquido. Envolvem apenas trocas entre elementos do
Ativo e/ou do Passivo, mantendo inalterado o valor do Patrimônio Líquido.
Tipos de fatos permutativos:
● Permutativos de Ativo: Envolvem apenas contas do Ativo.
○ Exemplo: Depósito bancário de valor em caixa. Neste caso, há uma
diminuição do saldo de Caixa e um aumento do saldo de Bancos, ambos do
Ativo.
● Permutativos de Passivo: Envolvem apenas contas do Passivo.
○ Exemplo: Transferência de dívida de curto prazo para longo prazo. Há uma
diminuição do Passivo Circulante e um aumento do Passivo Não Circulante.
● Permutativos mistos: Envolvem contas do Ativo e do Passivo.
○ Exemplo: Pagamento de fornecedor. Há uma diminuição do Ativo (Caixa) e
uma diminuição do Passivo (Fornecedores).
Fatos modificativos (aumentativos e diminutivos)
Os fatos modificativos são aqueles que provocam alterações quantitativas no patrimônio,
aumentando ou diminuindo o valor do Patrimônio Líquido. Envolvem contas de resultado
(receitas ou despesas) e contas patrimoniais.
● Fatos modificativos aumentativos: Provocam aumento do Patrimônio Líquido.
Envolvem receitas.
○ Exemplo: Receita de prestação de serviços recebida em dinheiro. Há um
aumento do Ativo (Caixa) e um aumento do Patrimônio Líquido, via resultado
(Receita de Serviços).
● Fatos modificativos diminutivos: Provocam diminuição do Patrimônio Líquido.
Envolvem despesas.
○ Exemplo: Pagamento de despesa de aluguel. Há uma diminuição do Ativo
(Caixa) e uma diminuição do Patrimônio Líquido, via resultado (Despesa de
Aluguel).
Fatos mistos
Os fatos mistos, também chamados de fatos compostos, são aqueles que combinam
características dos fatos permutativos e dos fatos modificativos. Provocam,
simultaneamente, alterações qualitativas e quantitativas no patrimônio.
● Fatos mistos aumentativos: Combinam permutação e aumento do Patrimônio
Líquido.
○ Exemplo: Venda de mercadoria a prazo por valor superior ao custo. Há um
aumento do Ativo (Clientes), uma diminuição do Ativo (Estoque) e um
aumento do Patrimônio Líquido, via resultado (Receita de Vendas - Custo
das Mercadorias Vendidas).
● Fatos mistos diminutivos: Combinam permutação e diminuição do Patrimônio
Líquido.
○ Exemplo: Compra de mercadoria a prazo com incidência de juros. Há um
aumento do Ativo (Estoque), um aumento do Passivo (Fornecedores)
superior ao valor do estoque, e uma diminuição do Patrimônio Líquido, via
resultado (Despesa de Juros).
A correta classificação dos fatos contábeis é fundamental para a análise e interpretação das
demonstrações contábeis, permitindo compreender a natureza das alterações ocorridas no
patrimônio da entidade.
Projeções Contábeis
Conceito e finalidade
As projeções contábeis são estimativas de demonstrações contábeis futuras, elaboradas
com base em premissas e tendências identificadas nas demonstrações passadas e
presentes, além de considerar as expectativas e planos da administração da entidade.
Também conhecidas como demonstrações contábeis pró-forma ou prospectivas, as
projeções fornecem uma visão antecipada da situação econômico-financeira da entidade
em períodos futuros.
A finalidade das projeções contábeis é:
● Auxiliar no planejamento financeiro da entidade
● Avaliar a viabilidade de projetos e investimentos
● Antecipar necessidades de capital de giro e financiamento
● Estimar resultados futuros e sua distribuição
● Fornecer informações para a tomada de decisões estratégicas
● Estabelecer metas e objetivos para a entidade
● Simular cenários alternativos e seus impactos nos resultados
As projeções contábeis são ferramentas importantes para a gestão proativa e para a
comunicação com stakeholders, como investidores e credores, que têm interesse na
continuidade e no desempenho futuro da entidade.
Metodologias de projeção de demonstrações financeiras
Existem diversas metodologias para a elaboração de projeções de demonstrações
financeiras, cada uma com características próprias e adequadas a diferentes situações. As
principais metodologias são:
1. Método de crescimento percentual: Baseia-se na aplicação de taxas de
crescimento sobre os valores históricos. É simples, mas pode não capturar relações
de causa e efeito entre as contas.
2. Método de porcentagem das vendas: Assume que várias contas variam
proporcionalmente às vendas. É útil para projeções de curto prazo e quando existe
forte correlação entre vendas e outras contas.
3. Método de regressão estatística: Utiliza técnicas estatísticas para estabelecer
relações entre variáveis dependentes e independentes, baseando-se em dados
históricos.
4. Método de construção item por item: Projeta cada conta individualmente,
considerando suas particularidades e fatores determinantes. É mais trabalhoso, mas
tende a ser mais preciso.
5. Método de simulação de cenários: Desenvolve múltiplas projeções com base em
diferentes conjuntos de premissas (cenários otimista, realista e pessimista, por
exemplo).
6. Método de orçamento base zero: Parte do princípio de que todas as operações
devem ser justificadas a cada novo período, sem considerar dados históricos.
A escolha da metodologia depende de fatores como o horizonte da projeção, a estabilidade
do ambiente de negócios, a disponibilidade de dados históricos e o propósito da projeção.
Análise de tendências
A análise de tendências é uma técnica utilizada para identificar padrões de comportamento
nas demonstrações contábeis ao longo do tempo e projetar esses padrões para o futuro. É
uma das bases para a elaboração de projeções contábeis.
Principais técnicas de análise de tendências:
1. Análise horizontal: Compara valores de uma mesma conta ou grupo de contas em
diferentes períodos, identificando variações percentuais e tendências de crescimento
ou redução.
2. Análise vertical: Estabelece relações percentuais entre contas e um valor base
(como o total do ativo ou a receita líquida), permitindo identificar a estrutura das
demonstrações e suas alterações ao longo do tempo.
3. Análise de séries temporais: Utiliza técnicas estatísticas para identificar
componentes como tendência, sazonalidade, ciclos e variações aleatórias nas séries
históricas.
4. Análise de regressão: Estabelece relações matemáticas entre variáveis, permitindo
projetar valores futuros com base em variáveis independentes.
5. Análise de indicadores econômico-financeiros: Acompanha a evolução de
índices como rentabilidade, liquidez, endividamento e atividade, identificando
tendências e padrões.
A análise de tendências deve considerar não apenas os dados históricos, mas também
fatores internos (como mudanças estratégicas e operacionais) e externos (como condições
econômicas, mercadológicas e regulatórias) que podem afetar a continuidade das
tendências observadas.
Orçamento empresarial e contabilidade
O orçamento empresarial é um instrumento de planejamento e controle que expressa, em
termos financeiros, os planos e metas da administração para um período futuro. É uma das
formas mais estruturadas de projeção contábil, integrando as expectativas de todas as
áreas da entidade em um conjunto coerente de demonstrações prospectivas.
Componentes do orçamento empresarial:
● Orçamento de vendas: Projeta receitas e volumes de venda por produto, região,
etc.
● Orçamento de produção: Planeja níveis de produção, necessidades de matéria-
prima, mão de obra, etc.
● Orçamento de despesas: Estima gastos com vendas, administração, marketing,
etc.
● Orçamento de investimentos (CAPEX): Planeja aquisições de bens de capital e
outros investimentos.
● Orçamento de caixa: Projeta entradas e saídas de caixa, identificando
necessidades ou sobras de recursos.
● Demonstrações contábeis projetadas: Compila todos os orçamentos em um
balanço patrimonial, demonstração do resultado e demonstração dos fluxos de caixa
projetados.
Relação entre orçamento e contabilidade:
● A contabilidade fornece a base histórica para a elaboração do orçamento
● As demonstrações contábeis projetadas seguem os mesmos princípios e estrutura
das demonstrações históricas
● O sistema contábil é usado para o acompanhamento da execução orçamentária
● A análise das variações entre valores orçados e realizados (análise de variância) é
uma importante ferramenta de controle
● O ciclo orçamentário geralmente se integra ao ciclo contábil, com revisões
periódicas baseadas nos resultados contábeis
O orçamento empresarial é uma ferramenta essencial para a gestão financeira e estratégica
da entidade, permitindo alinhar ações operacionais com objetivos de longo prazo e
estabelecer parâmetros para avaliação de desempenho.
Regimes Contábeis: Caixa e
Competência
Regime de Caixa
Conceito e características
O Regime de Caixa é um método contábil que reconhece receitas e despesas apenas
quando há efetiva movimentação financeira, ou seja, quando o dinheiro entra ou sai do
caixa da entidade. Este regime prioriza o fluxo monetário real, independentemente do
momento em que o fato gerador da receita ou despesa ocorreu.
Características principais:
● Reconhecimento de receitas somente quando recebidas em dinheiro
● Registro de despesas somente quando efetivamente pagas
● Simplicidade na aplicação e entendimento
● Foco no fluxo de caixa imediato
● Não exige conhecimentos contábeis avançados para implementação
Aplicações práticas e exemplos
Exemplo 1: Uma empresa prestadora de serviços emite uma fatura no valor de R$ 10.000
em 15 de janeiro, com pagamento para 15 de fevereiro. No Regime de Caixa, esta receita
só será reconhecida em 15 de fevereiro, quando o valor for efetivamente recebido.
Exemplo 2: Uma empresa adquire mercadorias no valor de R$ 5.000 em março, com
pagamento parcelado em abril e maio. No Regime de Caixa, as despesas serão
reconhecidas apenas nas datas de pagamento das parcelas, e não na data da compra.
Aplicações comuns:
● Pequenas empresas e profissionais autônomos
● Microempreendedores Individuais (MEIs)
● Entidades sem fins lucrativos de pequeno porte
● Controle financeiro pessoal
● Empresas optantes pelo Simples Nacional (para fins fiscais)
Vantagens e desvantagens
Vantagens:
● Simplicidade na implementação e manutenção
● Transparência no fluxo financeiro
● Melhor controle da liquidez imediata
● Menor complexidade para operações do dia a dia
● Facilidade para visualizar a situação financeira atual
Desvantagens:
● Não reflete com precisão o desempenho econômico real
● Pode distorcer resultados em períodos de alta sazonalidade
● Dificulta a comparação entre períodos diferentes
● Não atende aos princípios contábeis geralmente aceitos para grandes empresas
● Pode mascarar problemas de rentabilidade a longo prazo
Contextos adequados para utilização
O Regime de Caixa é mais adequado para:
● Microempresas com operações simples
● Empresas com baixo volume de vendas a prazo
● Organizações onde a gestão de caixa é prioridade sobre análises econômicas
● Entidades isentas que precisam apenas controlar entradas e saídas
● Controle financeiro doméstico ou pessoal
● Planejamento tributário em situações específicas permitidas pela legislação
Regime de Competência
Conceito e características
O Regime de Competência é um método contábil que reconhece receitas e despesas no
momento em que são geradas, independentemente do recebimento ou pagamento em
dinheiro. Este regime prioriza o aspecto econômico das transações, registrando-as no
período a que efetivamente pertencem.
Características principais:
● Reconhecimento de receitas quando ganhas (e não quando recebidas)
● Registro de despesas quando incorridas (e não quando pagas)
● Correlação entre receitas e despesas do mesmo período
● Visão econômica do negócio
● Aderência aos princípios contábeis geralmente aceitos
Aplicações práticas e exemplos
Exemplo 1: Uma empresa vende mercadorias a prazo no valor de R$ 20.000 em junho,
com recebimento em julho. No Regime de Competência, a receita de R$ 20.000 é
reconhecida em junho (quando a venda ocorreu), mesmo que o dinheiro só entre no caixa
em julho.
Exemplo 2: Uma empresa contrata um serviço de consultoria por R$ 12.000 em outubro,
com pagamento programado para dezembro. No Regime de Competência, a despesa é
reconhecida em outubro, quando o serviço foi prestado, e não quando o pagamento foi
realizado.
Aplicações comuns:
● Empresas de médio e grande porte
● Companhias abertas e empresas com obrigação de publicar demonstrações
financeiras
● Organizações com operações complexas e grande volume de transações a prazo
● Empresas com ciclos operacionais longos
● Instituições financeiras
Vantagens e desvantagens
Vantagens:
● Reflete com precisão o desempenho econômico real
● Permite correlacionar receitas com as despesas necessárias para gerá-las
● Facilita análises comparativas entre períodos diferentes
● Possibilita avaliação mais precisa da rentabilidade
● Atende às exigências das normas contábeis internacionais (IFRS)
Desvantagens:
● Maior complexidade na implementação e manutenção
● Necessidade de conhecimentos contábeis mais avançados
● Pode não refletir a situação real de caixa da empresa
● Exige controles adicionais para reconciliação com a posição financeira
● Requer ajustes e provisionamentos (como depreciação, amortização, etc.)
Contextos adequados para utilização
O Regime de Competência é mais adequado para:
● Empresas de médio e grande porte
● Negócios com ciclos operacionais longos
● Empresas com grande volume de vendas a prazo
● Entidades sujeitas a auditorias externas
● Organizações que precisam apresentar demonstrações financeiras conforme
padrões internacionais
● Análises de desempenho econômico-financeiro ao longo do tempo
Comparação entre os Regimes
Impacto nas demonstrações financeiras
Demonstração de Resultados (DRE):
● Regime de Caixa: Reflete apenas as operações financeiramente concluídas no
período, podendo distorcer a lucratividade real quando há grande volume de
operações a prazo.
● Regime de Competência: Apresenta o desempenho econômico real do período,
independentemente dos fluxos financeiros, o que proporciona uma visão mais
precisa da rentabilidade.
Balanço Patrimonial:
● Regime de Caixa: Simplificado, com menos contas a receber e a pagar, podendo
não refletir compromissos futuros e direitos a receber.
● Regime de Competência: Mais completo, incluindo ativos e passivos que
representam direitos a receber e obrigações a pagar, fornecendo uma visão mais
abrangente da situação patrimonial.
Fluxo de Caixa:
● Regime de Caixa: Representa diretamente as transações realizadas, sem
necessidade de ajustes.
● Regime de Competência: Exige a elaboração de demonstração específica para
evidenciar os fluxos financeiros, com ajustes para conciliar o resultado econômico
com o financeiro.
Ajustes de transição entre regimes
A transição do Regime de Caixa para o de Competência requer diversos ajustes:
1. Reconhecimento de contas a receber:
○ Identificação de todas as vendas realizadas mas ainda não recebidas
○ Registro desses valores como ativos no balanço patrimonial
2. Reconhecimento de contas a pagar:
○ Levantamento de todas as obrigações assumidas mas ainda não pagas
○ Registro desses valores como passivos no balanço patrimonial
3. Contabilização de estoques:
○ Inventário físico dos bens disponíveis para venda
○ Registro pelo custo de aquisição, não apenas quando pagos
4. Provisionamentos diversos:
○ Cálculo e registro de provisões para férias, 13º salário, impostos diferidos
○ Reconhecimento de depreciações e amortizações
5. Ajustes de receitas antecipadas:
○ Identificação de valores recebidos antecipadamente que não constituem
receita do período atual
○ Registro como passivo até que sejam efetivamente ganhos
Reconciliação entre regimes
Para reconciliar informações entre os dois regimes, geralmente são necessários
procedimentos como:
1. Elaboração de mapas de controle:
○ Controle paralelo de contas a receber e a pagar
○ Acompanhamento de recebimentos e pagamentos em aberto
2. Ajustes temporais:
○ Identificação das receitas e despesas por competência versus movimentação
financeira
○ Elaboração de relatórios de conciliação entre resultado econômico e
financeiro
3. Controles auxiliares:
○ Controle de depreciação e amortização
○ Acompanhamento de provisões e suas realizações
4. Relatórios gerenciais comparativos:
○ Elaboração de demonstrativos que evidenciem os resultados nos dois
regimes
○ Análise das diferenças e seus impactos na gestão
Exigências normativas
No Brasil, as exigências normativas relacionadas aos regimes contábeis são:
Regime de Competência:
● Obrigatório para todas as sociedades anônimas (Lei 6.404/76)
● Exigido para empresas tributadas com base no Lucro Real (Decreto 3.000/99)
● Determinado pelas Normas Brasileiras de Contabilidade e pelo CPC (Comitê de
Pronunciamentos Contábeis)
● Alinhado com as normas internacionais de contabilidade (IFRS)
● Exigido para empresas com faturamento anual superior a determinados limites
Regime de Caixa:
● Permitido para microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples
Nacional (LC 123/2006)
● Aceito para algumas entidades sem fins lucrativos, dependendo da legislação
específica
● Utilizado para fins específicos de apuração de impostos em determinadas situações
● Permitido para profissionais liberais e autônomos na apuração do Imposto de Renda
(pessoa física)
Situações híbridas:
● Algumas empresas mantêm registros no Regime de Competência para fins
societários e demonstrações financeiras, mas utilizam ajustes para fins fiscais
● O Livro Caixa pode ser mantido em paralelo à contabilidade por competência para
controle financeiro
É importante ressaltar que as normas contábeis brasileiras têm convergido cada vez mais
para os padrões internacionais, priorizando o Regime de Competência como base para
demonstrações financeiras confiáveis e comparáveis, enquanto o Regime de Caixa
permanece como uma alternativa simplificada para casos específicos previstos em lei.