Anfíbios: Características gerais, Taxonomia e Ecologia
Os anfíbios foram os primeiros vertebrados a conquistar o ambiente terrestre e actualmente são
conhecidas 8.374 espécies no mundo (FROST,2022). A característica principal do grupo é o
ciclo de vida dividido em duas fases: uma fase larval aquática e uma fase adulta terrestre.
Durante a fase larval, a maioria das espécies de anfíbios vive exclusivamente em ambiente
aquático dulcícola e realiza respiração branquial (CARROLL, 2007). Após a metamorfose, os
jovens passam a respirar pelos pulmões, mas também podem realizar respiração cutânea (através
da pele). Por esse motivo, possuem a pele bastante vascularizada e sempre umedecida
Pertencentes a classe de vertebrados denominada Amphibia, apresentam-se divididos em três
ordens:
Caudata ou Urodela (salamandras), com 566 espécies no mundo. Possuem cauda,
alguns são totalmente terrestres, enquanto outras nunca deixam a água. No Brasil
ocorrem apenas duas espécies na Floresta Amazônica (Carroll, 2007);
Gymnophiona ou Apoda (cecílias ou cobras-cegas), com 173 espécies no mundo. Não
possuem patas e têm olhos reduzidos, por isso do nome “cobra-cega”. Na verdade, são
adaptações para viverem em galerias abaixo da terra. Algumas são aquáticas (HICKMAN
et al. 2004).
Anura (sapos, rãs e pererecas), com mais de 5.600 espécies no mundo. O Brasil possui
uma das maiores diversidades de anuros do mundo (mais de 800 espécies). Em geral, são
encontrados em locais úmidos, nas proximidades de riachos, lagoas e brejos. São
adaptados para o salto e, no caso das pererecas, para subir na vegetação (FROST,2022).
Reprodução dos anfíbios
Em muitas espécies de rãs, sapos e prerecas (Anura), na época reprodutiva os indivíduos
agregam-se em determinadas áreas à noite, de onde os machos vocalizam para atrair as fêmeas.
Dependendo da espécie, quando a fêmea se aproxima, ela pode escolher o macho pelo canto,
mais ou menos como ocorre em algumas aves. Após a escolha, a fêmea é abraçada pelo macho, o
que é chamado de amplexo. Ainda em amplexo eles procuram um bom lugar pra desovar, o qual
pode variar muito conforme a espécie. Em geral dentro da água, durante o amplexo, a fêmea vai
liberando os óvulos e o macho libera os espermatozóides na sequência. A fecundação é externa e
dos ovos nascem os girinos (larvas), que após um período muito variável de tempo, sofre
metamorfose, transformando-se em um adulto em miniatura. Após a desova, macho e fêmea se
separam. Em algumas espécies a fêmea pode permanecer no local e cuidar da desova, em outras
espécies o cuidado pode ser feito pelo macho ou pelo casal (CARROLL, 2007).
Répteis: Caracteristicas gerais e Taxonómia
Os répteis são o segundo maior grupo de tetrápodes actuais. Constituem um grupo de animais
que possui em comum a pele seca, geralmente modificada em escamas ou placas e dependem de
fontes externas de calor para regular a temperatura corporal (Zug et al., 2001). A grande maioria
das espécies pertence ao grupo dos squamata com 8.396 espécies, seguida pelos quelônios com
313 e os crocodilianos com 23 (Bencke et al., 2009). Esse grupo inclui animais como lagartos,
serpentes, anfisbênios, quelônios e crocodilos. Os estudos sobre riqueza, composição e
estruturação das comunidades são ainda escassos, não obstante muitos estudos em curso (Green
et al., 1997).
Ordem Testudine (quelônios)
São répteis com carapaça (cágados, tartarugas marinhas e tartarugas fluviais). Esta ordem é
constituída por 6 famílias, nomeadamente: a família Testudinidae, Emydidae, Dermochelyidae,
Cheloniidae, Trionychidae e Pelomedusidae (Branch, 1998).
Distribuição e Habitat
Os tartarugas são encontrados em quase todos os ambientes: aquático, marinho e terrestre em
zonas tropicais e temperadas. Os cágados são comuns em ambientes florestais mas, as tartarugas
vivem de preferência em habitats com disponibilidade de água, são comuns em extensas porções
de água como em rios, lagos e lagoas e, requerem ambientes constantemente quentes (Jacobsen
et al., 2010). Os quelônios fluviais adultos são tímidos, raramente vistos e quando perturbados,
escondem-se em lama mole (Loveridge, 1948).
Ordem Squamata
São reconhecidos três subordens: a Sáuria ou lacertília (lagartos), Ophidia ou Serpente e a
subordem Amphisbaenidae, sendo esta última a menos diversificada, e consiste em uma única
família, a Amphisbaenidae (vermes-lagarto típicos). Na Subordem Serpente ou Ophidia tem-se 7
famílias nomeadamente, Typhlopidae (cobras cegas); Leptotyphlopidae (cobras do tópico);
Boidae (jibóia e pitões); Atractaspididae (cobras africanas escavadoras); Colubrídea (cobras
típicas); Elapidae (cobras e mambas) e; Viperídea (víboras).
Tem-se também 7 famílias na subordem Sauria ou Lacertília: a Scincidae (lagartixas), a
Gerrhosauridae (lagarto de placas e seus relativos), a Cordylidae (lagartos anelado e seus
relativos), a Varanidae (monitor), a Agamidae (Agama), a Chamaeleonidae (camaleão) e, a
Gekkonidae (osgas) (Branch, 1998).
Distribuição e Habitat
Os Squamata são distribuídos ao longo da região tropical e temperada do mundo, em todos os
habitats (Gibons et al., 2000). Um dos principais factores determinantes na diversidade dos
Squamata na savana é a estratificação horizontal de habitats (Colli et al., 2002). Habitam em
condições que lhes sejam óptimas de temperatura dependendo de espécie, por isso, é possível
identificar espécies associadas a pradaria, outras com distribuição mais ampla, algumas espécies
associadas às áreas abertas, áreas florestais e por fim, um grupo de espécies com ampla
distribuição, tanto em áreas abertas quanto em áreas florestais (Bérnils et al., 2007).
A ausência de espécies arborícolas e de algumas terrestres nas áreas de floresta próximas aos
corpos de água sugerem o aumento da taxa de predação, dificuldades para a termorregulação,
perda de locais para abrigo e reprodução e, diminuição da oferta de alimento (Vitt et al., 2013).
Dentro das florestas, as clareiras e trilhas abertas favorecem a colonização por espécies de
lagartos heliotérmicos que são potenciais competidoras e predadoras de algumas espécies de
lagartos florestais (Caldwell ,et al 2001).
Ordem Crocodília
Seu representante é o crocodilo (Crocodylus niloticus). Os crocodilianos passam grande parte da
vida submersos, mas gostam de se estender na areia em margens de rios para tomar o sol
(Branch, 1998). Estes animais estão sempre associados aos corpos de água bem como a
vegetação que ocupa as margens de rios, riachos, lagoas. Estudos demonstram uma relação entre
os tipos de habitat utilizados e sua susceptibilidade a extinção, sendo que, a conservação dos
ambientes aquáticos parece ser relativamente suficiente para a manutenção da espécie. No
entanto, os impactos causados pelas alterações das condições naturais de bacias hidrográficas tais
como a construção de represa em cursos de água, agricultura, actividade de mineração em áreas
de população de crocodilianos ainda é desconhecido (Villaça, 2004).
Comportamento, Sazonalidade e Sensibilidade Térmica
Por serem ectotérmicos, os répteis são mais susceptíveis a comportamentos de exposição ao sol
para se aquecerem em casos de temperaturas baixas ou de se abrigarem a sombra ou toca se ela
aumentar. Assim sendo, movimentam-se entre o sol e a sombra, isto é, exigem áreas abertas para
se exporem ao sol e obterem o calor, e também áreas mais vegetadas e solos de fácil escavação
para abrigo e protecção, embora varie entre as espécies (Kirby, 2001).
Certas espécies de lagartos, utilizam áreas florestais com clareiras para termorregular, pois, a
temperatura e a humidade relativa do ar juntamente com a radiação solar, ajudam a regular as
actividades dos répteis, e a maioria dessas espécies, não consegue sobreviver em ambientes
alterados, como pastos, plantações de diversos tipos e até de florestas para extracção de madeira
e celulose (Marques et al., 2004)
Importância dos Répteis
Por ocorrerem muitas vezes em densidades relativamente altas, esses animais possuem papel de
grande importância no funcionamento dos ecossistemas (Pritchard e Trebbau, 1984). Além da
importância ecológica tratada acima, várias espécies de répteis possuem também importância
socioeconómica, especialmente alguns quelônios, por servir de alimento a populações humanas,
e as serpentes venenosas, cujos venenos dão origem a medicamentos anti-hipertensivos,
analgésico utilizados amplamente no mundo. Por isso, a conservação das serpentes venenosas
preservará também o potencial farmacêutico e socioeconómico de seus venenos (Bellinghini,
2004).
Ameaça aos répteis
Diversas populações de répteis estão em declínio no mundo como resultado das diversas
alterações ambientais causadas pelo homem (Branch, 1998). Estudos recentes mostram que
actualmente as principais ameaças aos répteis são a destruição, degradação e fragmentação de
habitats, exploração directa (caça comercial e caça de subsistência), introdução de espécies
exóticas, poluição e doenças (Gibbons et al., 2000). Nesta situação encontram-se os lagartos e as
serpentes que ocorrem em ilhas onde continua havendo destruição de habitats (Rocha, 1998),
Alguns répteis aquáticos encontram-se ameaçados devido a super exploração, biopirataria e
poluição da água, tal como se sucede com as tartarugas e cágados (Souza; Abe, 1997).
A conservação das espécies em floresta tropical depende, da preservação da heterogeneidade de
habitats e micro-habitats, pois, as áreas desmatadas sofrem o efeito de borda, caracterizado por
mudanças abióticas (exposição a ventos, altas temperaturas e baixa humidade), biológicas
directas (mudanças na abundância e distribuição de espécies causadas directamente por variações
nas condições físicas das bordas) e biológicas indirectas (que envolvem mudanças nas
interacções ecológicas entre as espécies) (Murcia, 1995).
Influencia da Florestais Plantadas sobre a Hereptofauna
Os répteis são sensíveis às mudanças ambientais, uma vez que a maioria é especialista em
habitats, ou seja, só consegue sobreviver em um ou em poucos ambientes distintos. A grande
maioria das espécies constituentes da hereptofauna, especialmente lagartos e serpentes das
florestas tropicais não consegue sobreviver em ambientes alterados, como pastos e plantações,
mesmo que com estrutura florestal, como plantações de eucaliptos e pinheiros (MARQUES et
al., 2004). Quando ocorre alguma modificação do ambiente em que vivem, as populações, ou
mesmo espécies, tendem a desaparecer. Por serem sensíveis às alterações antrópicas, os répteis
se tornam bons bioindicadores de qualidade ambiental. De maneira geral, a preservação de
habitats e o controle da exploração direta são as medidas mais efetivas para a conservação dos
répteis e anfíbios.
Diversidade da Herpetofauna na Região e em Moçambique
A herpetofauna de Moçambique é ainda pouco conhecida, especialmente quando comparada com
o resto da África Austral (Channing, 2001). Além disso, alguns registos iniciais têm sido
descartados em colecções de museus e, a maioria dos registos recentes, muitas vezes são
caracterizados por colecta esporádica ou oportunista. Como resultado há um vazio no nosso
conhecimento, o que também dificulta a interpretação da distribuição das espécies e até mesmo a
taxonomia de algumas delas (Broadley, 2006).
A primeira revisão sobre o conhecimento da herpetofauna em Moçambique foi realizada em
2005. Nesta revisão, foram registadas 3470 espécies de vertebrados das quais 280 (8%) e 84
(2.4%) foram répteis e anfíbios respectivamente, deste registo, 503 espécies de vertebrados
foram consideradas ameaçadas de extinção e protegidas pela legislação nacional e internacional e
nesta situação constam 11.8% de répteis (Schneider et al., 2005).