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O documento discute a formação do Estado moderno e o mercantilismo, destacando como a crise do século XIV levou à centralização do poder e à necessidade de um sistema econômico organizado. Os mercantilistas viam os metais preciosos como a base da riqueza nacional, influenciando as relações entre nações e promovendo um intervencionismo estatal na economia. As ideias de pensadores como William Petty e Gerald Malynes são apresentadas, enfatizando a importância da produção e da arrecadação de impostos para o fortalecimento do Estado.

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O documento discute a formação do Estado moderno e o mercantilismo, destacando como a crise do século XIV levou à centralização do poder e à necessidade de um sistema econômico organizado. Os mercantilistas viam os metais preciosos como a base da riqueza nacional, influenciando as relações entre nações e promovendo um intervencionismo estatal na economia. As ideias de pensadores como William Petty e Gerald Malynes são apresentadas, enfatizando a importância da produção e da arrecadação de impostos para o fortalecimento do Estado.

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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE CIENCIAS SOCIAIS E HUMANIDADES

CURSO DE ADMNISTRAÇÃO PÚBLICA


História de Pensamento Economico PL
Texto de Apoio Aula 1

O Estado moderno, a análise econômica e o mercantilismo


1.1 Formação do Estado moderno e o intervencionismo
A crise do século XIV teve papel decisivo na desorganização do feudalismo europeu. A
Guerra dos Cem Anos (1337-1453), a peste bubônica (1348), a fome e as revoltas
camponesas tiveram como consequência uma redução na esfera do poder privado da
nobreza feudal, um enfraquecimento dos laços de servidão, a desurbanização e a retração
das atividades comerciais que vinham se desenvolvendo desde o século XI.
Nas últimas décadas do século XIV, o final das guerras e a redução do ímpeto da peste
propiciaram o retorno progressivo da vida urbana, do comércio, bem como a
normalização da produção agrícola e das relações entre a cidade e o campo. Entretanto, a
retomada não ocorreu sobre as mesmas bases.
A nobreza feudal, desorganizada e enfraquecida pelas guerras e revoltas servis da fase
anterior, não podia mais oferecer a proteção e a segurança necessárias às feiras, às
atividades comerciais e ao transporte de valores e mercado- rias. Além do mais, a
experiência das violentas insurreições camponesas havia demonstrado à aristocracia de
extração feudal que as antigas formas de coerção e controle dos servos tinham perdido a
eficácia, exigindo a organização de novos mecanismos de repressão. A demanda por
segurança por parte da burguesia e da nobreza feudal convergiu, por motivos diferentes,
para a formação de um novo tipo de poder, que tomou forma numa das maiores invenções
do Ocidente, o Estado moderno.
A organização do Estado moderno ocorreu em momentos distintos da história dos reinos
europeus e, em cada um deles, percorreu etapas cuja duração variou significativamente.
De um ponto de vista mais geral, a primeira evidência do Estado moderno surgiu com a
progressiva convergência de esferas de poder para a fi gura de um monarca, expressão da
unidade do reino. O primeiro instrumento de afirmação da autoridade real, como não
poderia deixar de ser, concretizou-se em uma força militar permanente, com poder
suficiente para prover a ordem interna e a defesa dos domínios. A situação de constante
tensão entre a população camponesa e a aristocracia feudal, a recordação das recentes
revoltas e a inexistência de uma ideologia que proporcionasse um mínimo de coesão entre
os estamentos e as classes do reino tornavam arriscada a organização do dispositivo
militar baseado no recrutamento popular e no armamento de uma parcela do povo. Daí
que os exércitos tiveram de assumir necessariamente a forma de forças mercenárias. A
necessidade de metais preciosos para remunerar as tropas, que eram o sustentáculo do
poder real, da ordem interna e da defesa do reino, é fundamental para compreender o
conjunto das análises e práticas econômicas que surgiram nessa etapa inicial da
organização do Estado moderno.
A necessidade de recursos para prover as tropas exigiu a criação de um sistema
centralizado de arrecadação e a organização de um corpo de funcionários responsáveis
pela cobrança e coleta dos impostos, pela organização das finanças e pela fiscalização das
operações. Com a estruturação de uma força militar permanente, de sistemas
centralizados de arrecadação e de uma burocracia, as monarquias nacionais passaram a
exercer sua autoridade de forma cada vez mais efetiva, de maneira que esses instrumentos
podem ser considerados os pilares do Estado moderno.

1.2 O mercantilismo: principais formuladores, aspectos gerais da doutrina e da ação,


suas modalidades
Esse conjunto de transformações que conduziu à estruturação de uma nova esfera de
poder também viabilizou a retomada de uma linha de reflexão sobre os fenômenos da
produção, da distribuição e do consumo que haviam naufragado com a crise do mundo
clássico. Como destacamos anteriormente, naquele período as considerações de ordem
“econômica” estavam sempre integradas e subordinadas aos imperativos da pólis ou do
Império. Com o colapso do mundo antigo e de todos os seus códigos de regulação
políticos, a Igreja passou a desempenhar um papel cada vez mais ativo. A instituição, com
a colaboração dos seus primeiros teólogos, começou a elaborar um novo sistema de
normas e valores derivados da moralidade cristã, os quais passaram a ordenar
praticamente todos os aspectos da vida, inclusive aqueles relacionados à produção,
comercialização, distribuição e consumo, isto é, a vida econômica. Séculos depois, o
surgimento do Estado nacional, a sua progressiva afirmação diante dos poderes temporais
da Igreja, a crescente incompatibilidade entre as demandas financeiras do Estado e as
regras morais que inspiravam os procedimentos econômicos “cristãos”, criaram a
necessidade de uma nova abordagem sintonizada e subordinada às expectativas do poder
laico. Em síntese, estamos diante de um processo no qual a influência dos valores
inspirados na moralidade cristã sobre a vida econômica começava a ser ameaçada, de
forma irreversível, pelos valores comprometidos com o fortalecimento de uma nova
forma de poder, o Estado moderno.
Em tais circunstâncias, essas determinações influenciaram o pensamento de inúmeros
homens de Estado que assessoravam e aconselhavam as casas reais européias nas etapas
iniciais do processo de centralização, produzindo uma convergência em torno da idéia
metalista ou bulionista. Segundo essa visão, o poder do Estado era função direta da
riqueza do reino, cuja grandeza se definia pelo acúmulo de metais preciosos. Avaliava-se
que a disponibilidade crescente de ouro e prata dotava as casas reais de capacidade para
organizar mecanismos abrangentes e eficientes (burocracia, tropas mercenárias etc.) para
o exercício e a afirmação do poder no plano interno e externo. A identificação dos metais
com a riqueza e a constatação de que sua disponibilidade no mercado europeu era fixa
(ou variava muito pouco no tempo) implicavam na conclusão de que a acumulação por
parte de uma nação significava uma perda correspondente para as demais, criando assim
uma íntima relação entre os fluxos comerciais e monetários e as relações de poder entre
os Estados. Em síntese, o acúmulo de metais preciosos como objetivo prioritário das
monarquias nacionais contribuía para a potencialização das hostilidades e dos conflitos
comerciais entre os Estados emergentes.
Na Inglaterra, o principal defensor do metalismo foi Gerald Malynes, cujas idéias
foram apresentadas na obra Consuetudo, de 1636. Para Malynes, os ganhos e os
benefícios do comércio tendiam a se concentrar na esfera privada, pois as operações
comerciais estavam sempre subordinadas aos interesses particulares dos comerciantes.
Para que os ganhos do comércio pudessem deixar de atender exclusivamente aos
interesses privados, cabia ao Estado intervir ativamente, estabelecendo regras e
regulamentos de tal forma que as vantagens decorrentes das relações comerciais se
transferissem para o conjunto da coletividade. Segundo Malynes, para que as trocas
internacionais atendessem ao fundamento moral da equivalência, as moedas deveriam ser
trocadas obedecendo a uma paridade monetária, que ele definia como a proporção entre
os valores das duas moedas baseadas no seu conteúdo metálico. Ele afirmava que
qualquer alteração nessa paridade monetária tornava a troca injusta e, consequentemente,
prejudicava uma das partes, decorrendo daí que qualquer adulteração no valor da moeda
era inaceitável e condenável. A contribuição mais importante da análise de Malynes
reside na observação das relações entre variação da paridade monetária (taxa de câmbio)
e fluxo de metais entre as nações. Para Malynes, quando as trocas entre duas nações
obedeciam ao critério da paridade monetária, instaurava-se um equilíbrio e não havia
alteração no fluxo de metais entre os países. No entanto, se a moeda de um país era
adulterada e se desvalorizava, aumentava o fluxo de metais preciosos para o estrangeiro.
Na França, os primeiros passos nesse sentido foram dados por Barthélemy de Laffemas.
Ele era conselheiro de Henrique IV, e, em textos redigidos entre 1600 e 1610, apresentou
inúmeras sugestões para reconstruir a economia do reino, devastada pelas guerras de
religião que atingiram a França no quarto final do século anterior. Ele foi um precursor
na defesa de uma política de apoio à criação de manufaturas e de estímulo ao comércio,
e suas análises e propostas influenciaram várias medidas aprovadas pelo Conselho do rei
visando incentivar esses setores. Suas idéias tiveram larga influência sobre Montchrétien
e o Marquês de Gomberdière.
Antoine de Montchrétien publicou em 1615 seu Traité de l’économie politi- que, no qual
apresenta o que pode ser considerado o primeiro sistema orgânico e coerente de
intervenção do Estado na economia. Nessa abordagem, defende que não é o ouro ou a
prata que torna os Estados ricos, mas a capacidade de produzir os bens necessários à vida.
De acentuada inspiração calvinista, exalta os mercadores nacionais, afirma que a sua
ambição pelo lucro, suas iniciativas empreendedoras e a inclinação disciplinada e assídua
para o trabalho são extremamente benéficas para o Estado e defende uma política
protecionista agressiva para defender a França dos mercadores estrangeiros considerados,
praticamente, como inimigos do reino.
1.3 A produção como origem da riqueza
À medida que se afirmava que a vitalidade dos setores produtivos era a base da
prosperidade dos negócios públicos e privados, poderíamos dizer, da “riqueza da nação”,
fi cava também evidente que a antiga visão elaborada pelos mercantilistas sobre a via pela
qual se dá a acumulação precisava ser revista.
Como observamos, para os mercantilistas, o lucro advém do comércio e se forma na
esfera da circulação. As trocas no interior de uma nação promovem uma distribuição da
riqueza (expressa em moedas metálicas) entre as classes, mas não tornam a nação mais
rica. É no mercado internacional que as trocas operam a redistribuição da riqueza (das
moedas metálicas) entre as nações.
O crescente destaque da esfera da produção colocou o problema em outro registro. Se a
formação da riqueza está associada à produção, e não mais ao comércio, é necessário
compreender como se compõe o valor no processo produtivo, pois só dessa maneira será
possível estabelecer as medidas necessárias para a promoção da acumulação.
Nessa linha de reflexão, a primeira abordagem consistente do problema foi formulada por
William Petty, a ponto de Marx assinalar que ele podia ser considerado o fundador da
moderna economia política.13
1.4 As idéias de William Petty
Ele é autor de várias obras, destacando-se entre elas Political arithmetick, editada em
1690, e A treatise of taxes and contributions, de 1662.
A Political arithmetick pode ser considerada a primeira tentativa sistemática de se
utilizarem recursos matemáticos para a compreensão dos fenômenos econômicos. Ele
apresenta assim seus objetivos nessa obra:
Em lugar de empregar palavras comparativas e superlativas e argumentos intelectuais,
tomei o caminho de expressar-me em termos de número, peso e medida; de usar só
argumentos evidentes e de tomar em conta somente as causas que tenham fundamento
visível na natureza.14
Petty também trabalhou numa teoria sobre as finanças públicas na qual defendia que a
arrecadação de impostos é fundamental para que o Estado cumpra as suas funções.
Entretanto, ela deve ser neutra, isto é, não deve interferir nem alterar a distribuição da
renda entre os habitantes da nação. Para garantir esse princípio, é necessário criar uma
série de registros que proporcionem uma quantificação da riqueza dos cidadãos para
determinar quanto e quando a cobrança de impostos deve ser realizada para assegurar a
neutralidade desejada.
O preço natural corresponde à expressão monetária do tempo de trabalho necessário para
produzir a mercadoria. Assim, o que ele denomina preço natural é o valor da mercadoria
medido pelo tempo de trabalho que ela incorpora. Afirma, ainda, que o valor do trabalho
corresponde ao valor dos meios de subsistência necessários à reprodução do trabalhador
e que ele sempre tenderá a trabalhar apenas o número de horas necessárias para obter a
sua subsistência; assim, se ele trabalhar apenas esse número de horas, não haverá
excedente. Para uma produção excedente, o trabalhador precisa ser forçado a empregar o
máximo de sua capacidade de trabalho contra uma remuneração mínima que garanta a
sua subsistência. É evidente que, na sua visão, o valor criado por uma jornada de trabalho
é constituído de duas partes: uma que remunera o trabalhador e outra que constitui o
excedente, o trabalho não pago, parcela que Marx denominou posteriormente mais-valia.
Segundo Petty, esse produto excedente constitui a renda, e ela existe sob duas formas: a
renda da terra e o juro. A renda da terra consiste no produto total, isto é, no valor da
colheita, menos as despesas com as sementes e a remuneração do trabalhador. A
agricultura, diz, é o único setor no qual o trabalho realizado pelo produtor direto gera um
excedente, isto é, um produto que supera as necessidades de consumo do trabalhador. O
valor monetário dessa colheita é igual a uma dada quantidade de ouro ou prata que
consumiu o mesmo tempo de trabalho para ser produzida.
Assim, em resumo, “o valor da terra não é, segundo ele, senão a própria renda
capitalizada”, e, “para quem compra a renda do solo, isto é, a terra, a renda não é mais
que o juro de seu capital. Sob essa forma, a renda perde totalmente sua fisionomia própria
e toma a aparência correspondente ao juro”.

Questões
1. Explique as principais razões que conduziram os primeiros pensadores mercantilistas
a conceber os metais preciosos como o fundamento da riqueza nacional?
2. De que forma a concepção de riqueza dos mercantilistas influenciava as relações entre
as nações?
3. Exponha as principais interpretações surgidas no século XVII para explicar a
Revolução dos Preços?
4. Identifique quatro componentes centrais da política mercantilista e explique de que
forma eles deveriam contribuir para o “desenvolvimento da nação”?
5. Exponha o principal aspecto da teoria do valor adotada pelos mercantilistas?

Referências
BARBON, Nicholas. A discourse of trade. Londres: T. Milbourn, 1690.
BODIN, Jean. Lá résponse de Jean Bodin à M. de Malestroit, 1568, éd. Hausser, Paris,
Colin, 1932, cité d’aprés Latreille, L’Explication des textes historiques, Paris, Hachette,
1944.
CHILD, Josiah. A new discourse of trade, 1669. D’AVENANT, Charles. Works.
Londres: Whitworth, 1771.
DEYON, Pierre. O mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 1973.
HECKSCHER, E. F. La época mercantilista. Trad. Wesceslao Roces. México: Fundo de
Cultura Econômica, 1943. KEYNES, J. M. A teoria geral do emprego, do juro e da
moeda. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

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