4 Currículo e infância
Apresentação
A infância é um dos momentos mais importantes na formação e
no desenvolvimento do ser humano, sendo a escola ou a instituição educacional um
espaço de muita aprendizagem e, principalmente, contribuição para a formação de
bons valores éticos e morais, reforçando a educação em família.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai compreender sobre as bases nacionais
que orientam a elaboração do currículo para a educação infantil, bem como
entender sobre a criação de um currículo orientado pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), assim como as perspectivas e os cuidados que precisam ser
observados na educação infantil nos dias atuais.
Bons estudos!
"Todos os seus filhos serão ensinados pelo Senhor, e grande será
a paz de suas crianças"
(Isaias 54.13).
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, aprenderemos:
• Identificar as bases nacionais para a elaboração do currículo para a educação
infantil;
• Elaborar um currículo para a educação infantil a partir da BNCC;
• Avaliar as perspectivas e os perigos na elaboração de um currículo para a
educação infantil na contemporaneidade.
Infográfico
A BNCC constitui um importante passo no estabelecimento da educação infantil como uma etapa
oficial da jornada escolar, definindo os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento a serem
trabalhados com as crianças em três faixas etárias: bebês (0 a 1 ano e 6 meses), crianças bem
pequenas (1 ano e 7 meses até 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11
meses).
Veja neste Infográfico como está organizada a estrutura da BNCC para a educação infantil no que
concerne aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.
Aponte a câmera para o
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Conteúdo do livro
A educação infantil constitui uma das principais etapas da jornada escolar, pois é um momento em
a criança deixa o seio familiar e passa a conviver socialmente com as diferenças, em tempos e
espaços diversos, reforçando valores familiares e vivenciando novas aprendizagens.
A BNCC homologada em 2017, para educação básica (educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio), constitui um importante passo para tornar a educação infantil parte integrante da
educação básica, tendo orientações para nortear os planejamentos das aprendizagens infantis.
No Capítulo Currículo e infância, da obra Currículo e desafios contemporâneos, base teórica desta
Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre as bases nacionais que orientam a elaboração
do currículo para educação infantil, assim como entender sobre a criação de um currículo orientado
pela BNCC, além de analisar as perspectivas e os cuidados que precisam ser observados na
educação infantil nos dias atuais.
Boa leitura.
CURRÍCULO E
DESAFIOS
CONTEMPORÂNEOS
Carlos Gustavo Lopes da Silva
Currículo e infância
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Identificar as bases nacionais para a elaboração do currículo para a
educação infantil.
Elaborar um currículo para a educação infantil a partir da BNCC.
Avaliar as perspectivas e os perigos na elaboração de um currículo
para a educação infantil na contemporaneidade.
Introdução
A educação infantil, até meados da década de 1980, não era vista como
parte integrante da educação básica, e, sim, como uma etapa pré-escolar.
Somente a partir da Constituição de 1988, em que a educação passa a
ser direito de todos e dever do Estado e da família e, assim, são dados
os primeiros passos para a educação infantil tornar-se uma etapa oficial
na jornada escolar.
A inserção da etapa infantil como parte da educação básica somente
começa a se tornar realidade de forma efetiva, a partir da Lei das Diretrizes
Básicas (LDB) de 1996, que determina a incorporação da educação infantil
na jornada escolar das crianças de 0 a 5 anos. Após a Emenda Constitu-
cional nº. 59, de 11/11/2009, inserida na LDB em 2013, é determinada a
obrigatoriedade da educação básica dos 4 aos 17 anos e a matrícula de
todas as crianças, de 4 a 5 anos, oficializando, assim, a educação infantil
como uma etapa da educação básica.
Em 2014, foi, então, promulgado o Plano Nacional de Educação (PNE),
que ratifica a necessidade de uma base nacional comum dos currículos.
Após inúmeros debates nas esferas federais, estaduais e municipais, é
homologada, em 2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para
a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino mé-
dio), constituindo um importante passo para tornar a educação infantil
parte integrante da educação básica, tendo orientações para nortear
os planejamentos das aprendizagens infantis. A BNCC fundamenta as
2 Currículo e infância
bases para a educação básica, possibilitando, assim, que os currículos
tenham um olhar mais integral para a criança em seu processo de
desenvolvimento, fortalecendo, dessa forma, a inserção da educação
infantil na educação básica.
Neste capítulo, você vai compreender as bases nacionais que orien-
tam a elaboração do currículo para educação infantil, assim como vai
conhecer a criação de um currículo orientado pela BNCC, analisando as
perspectivas e os cuidados que precisam ser observados na educação
infantil nos dias atuais.
1 Educação infantil na BNCC
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) constitui um documento nor-
mativo que engloba o conjunto de aprendizagens essenciais necessárias para
os alunos desenvolverem na jornada da educação básica, de modo que tenham
garantido seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, conforme preco-
niza o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, [2017]).
A educação infantil é o momento inicial da jornada escolar da criança;
portanto, é um momento importante da separação do seio familiar para viver
em sociedade e, com isso, requer uma atenção maior por parte dos professores
e da escola.
Mais recentemente, um novo olhar tem sido desenvolvido sobre essa etapa
escolar, em que o educar e o cuidar passaram a ser inseparáveis, já que, nesse
novo ambiente em que a criança vai conviver, é necessário valorizar as vivências
e os conhecimentos adquiridos em família.
Como a educação infantil é uma etapa de suma importância para a criança,
existe a necessidade de propostas didático-pedagógicas que ampliem o universo
de experiências, possibilitando novas vivências e aprendizagens, complemen-
tando, assim, a educação familiar.
De acordo com Resolução nº. 5, de 17 de dezembro de 2009, que define as
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) da educação infantil, são estabe-
lecidos dois eixos estruturantes para as práticas pedagógicas, as interações
e a brincadeira, com as quais a criança experiencia o mundo, aprende com o
outro e se desenvolve socialmente.
Currículo e infância 3
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas obrigatórias para a educação
básica que orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino e
são definidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Após a elaboração da BNCC,
as DCNs continuam valendo porque os documentos são complementares: as DCNs
dão a estrutura; a BNCC, o detalhamento de conteúdos e competências.
Diante desses eixos estruturantes e das competências gerais para educação
básica preconizadas pela BNCC, são definidos seis direitos de aprendizagem e
desenvolvimento para a educação infantil, como você pode conferir no Quadro 1.
Quadro 1. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil
Convivência com outras crianças e adultos, utilizando diferentes
Conviver
linguagens, respeitando a cultura e as diferenças entre as pessoas.
Brincar de diversas formas, em espaços e tempo diferentes,
Brincar com outras crianças e adultos, ampliando suas experiências
emocionais, corporais, sensoriais, expressivas e cognitivas.
Participar ativamente com adultos e crianças no planejamento
da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador,
Participar
desenvolvendo diferentes linguagens, conhecendo, decidindo e
se posicionando.
Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras,
emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos,
Explorar
elementos da natureza tanto no espaço da escola como fora dela,
ampliando saberes sobre artes, escrita, ciência e tecnologia.
Expressar-se como sujeito dialógico, criativo e sensível, por
meio das duas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas,
Expressar
hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio
de diferentes linguagens.
Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural,
constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos
Conhecer-se de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados,
interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição
escolar e em sua família e comunidade.
Fonte: Adaptado de Brasil ([2017]).
4 Currículo e infância
O fato da criança ter curiosidade, observar, questionar, levantar hipóteses,
construir conhecimentos e aprender pelas experiências não deve ser exclusivo
de um processo natural e espontâneo na educação infantil, pois existe a neces-
sidade de uma intencionalidade educativa nas práticas didáticas e pedagógicas.
A intencionalidade pedagógica envolve planejamento e organização por
parte do educador, a fim de que a criança experiencie os seis direitos de
aprendizagem de forma plena e integral.
Todas as práticas que envolvem as aprendizagens das crianças devem ser
registradas pelo educador com uma observação atenta da trajetória da criança,
reunindo elementos que possam reorganizar tempos, espaços e situações para
garantir o direito de aprendizagem das crianças (BRASIL, [2017]).
2 Currículo da educação infantil com base
na BNCC
A organização curricular da educação infantil preconizada pela BNCC está
organizada em cinco campos de experiências, em que são definidos os obje-
tivos de aprendizagem e desenvolvimento para todas as crianças nessa etapa
da jornada escolar.
Veja, a seguir, os campos de experiência organizados pela BNCC.
O eu, o outro e nós: por meio da interação com as outras crianças e com
os adultos, as crianças vão desenvolvendo seu próprio modo de agir,
sentir e pensar, ao mesmo tempo que compreendem que existem outros
modos de vida, diferenças e pontos de vistas diversos. Nesse sentido,
deve-se proporcionar experiências para que as crianças percebam a si
mesmas e compreendam o outro com suas diferenças.
Corpo, gestos e movimentos: por meio do corpo, a criança vivencia
sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados
ou espontâneos, permitindo a exploração do mundo, estabelecendo
relações pela brincadeira e passando a conhecer a si mesma e ao outro
pela corporeidade. A escola precisa proporcionar atividades didáticas
e pedagógicas para que a criança experiencie um amplo repertório de
movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo a fim de se
perceber como o corpo ocupa o espaço e faz uso dele.
Traços, sons, cores e formas: por meio de experiências diversifica-
das, a criança vivencia diversas formas de expressão e linguagens,
como artes visuais, música, teatro, dança e audiovisual, entre outras.
Currículo e infância 5
A partir dessas vivências, a criança passa a ser autora de suas próprias
produções artísticas, como sons, gestos, danças, encenações, desenhos,
modelagens e manipulação de recursos tecnológicos. A escola precisa
criar momentos para a criança participar da produção, da manifestação
e da apreciação artística para o desenvolvimento da sensibilidade, da
criatividade e da expressão pessoal da criança.
Escuta, fala, pensamento e imaginação: assim que a criança nasce, já
tem contato com situações comunicativas no dia a dia, manifestando-se
nas primeiras formas de interação dos bebês por meio do movimento do
corpo, olhar, sorriso, choro e sons diversos, que ganham sentido pela
interpretação do outro. À medida que se desenvolve, a criança adquire
a língua materna. Na escola, é preciso proporcionar momentos em
que a criança viva a experiência de falar e ouvir, escutando histórias,
participando das conversas e dos questionamentos, elaborando suas
próprias narrativas. Além disso, é necessário valorizar a curiosidade da
criança em relação à cultura escrita, por meio da leitura de textos, com
contação de histórias infantis, contos, fábulas, poemas, cordéis, etc.,
e possibilitar que a criança manipule livros da literatura infantil para
que comece a tecer hipóteses sobre a escrita com rabiscos e garatujas.
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações: as crianças
vivenciam o mundo em diversos espaços e tempos, o que as leva a,
desde tenra idade, procurar situar-se onde vivem e no tempo em que
se encontram. Além disso, tentam compreender seu corpo, a natureza
em geral, as relações familiares e os graus de parentesco, assim como
as tradições e a cultura. Outras situações com as quais a criança se
depara são os conhecimentos matemáticos, por meio de contagem,
ordenação, quantidades, dimensões, distâncias, conhecimento de formas
geométricas, números, etc. A escola precisa promover experiências nas
quais as crianças possam observar, manipular, investigar, explorar,
levantar hipóteses e buscar informações sobre suas dúvidas e curiosi-
dades (BRASIL, [2017]).
Um ponto importante a considerar sobre a organização curricular na edu-
cação infantil é que, enquanto a BNCC preconiza conteúdos básicos para
o ensino fundamental e o ensino médio, na educação infantil, o foco está
nas experiências que a criança vai vivenciar a cada etapa e que se tornarão
novos conhecimentos e aprendizagens. Essas aprendizagens, por sua vez, vão
constituir os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da BNCC para a
educação infantil.
6 Currículo e infância
Seguindo a organização curricular orientada pela BNCC, temos que, em
cada um dos campos de experiência, são definidos os objetivos de aprendizagem
e desenvolvimento organizados em três grupos de faixa etária:
bebês: 0 a 1 ano e 6 meses;
crianças bem pequenas: 1 ano e 7 meses até 3 anos e 11 meses;
crianças pequenas: 4 anos a 5 anos e 11 meses.
Os campos de experiências são divididos nas três faixas etárias, e um
mesmo campo de experiência tem seu objetivo diferente à medida que a criança
evolui na idade, como, por exemplo, o campo de experiências “Traços, sons,
cores e formas”, que você pode ver na Figura 1.
Figura 1. BNCC (educação infantil): campo de experiências “traços, sons, cores e formas”.
Fonte: Brasil ([2017], p. 48).
Currículo e infância 7
O código alfanumérico existe na BNCC para organizar os conteúdos e,
nesse caso, refere-se a cada objetivo de aprendizagem e desenvolvimento; a
numeração sequencial dos códigos alfanuméricos não está ligada a ordem,
hierarquia ou grau de importância nas aprendizagens.
Conforme consta na DCNEI (BRASIL, 2010), o conceito de currículo
engloba um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os
saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio
cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover
o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. Portanto, a
BNCC reforça e amplia esse conceito, promovendo suporte, segurança e
orientação para que as escolas e/ou instituições educacionais possam planejar
seus currículos, colocando a criança no centro do processo de aprendizagem
e desenvolvimento de competências.
Elaborando um currículo para educação infantil
a partir da BNCC
O currículo é a organização do percurso escolar definido pelos sistemas de
ensino de acordo com sua realidade; todavia, deve procurar seguir os direcio-
namentos a partir do que preconiza e orienta a BNCC e as DCNs.
Na elaboração de um currículo, por exemplo, em uma Secretária Municipal
de Educação, a equipe responsável poderá reunir gestores e representantes
das comunidades escolares para discutir como será o percurso escolar que
desejam para os alunos. A partir dessa reunião, começam as discussões e
reflexões sobre o mínimo obrigatório e o que todos desejam na organização
curricular; no momento que finde essa ação, as diretrizes estabelecidas farão
parte do currículo municipal, que vai ser a base para os currículos escolares.
Um ponto importante a se considerar é que, na LDB, é preconizada e
orientada a efetivação de uma gestão democrática na educação, procurando
trazer a comunidade escolar para a construção do currículo, a fim de que se
tenha um documento norteador ligado à vontade da comunidade.
Na educação infantil, a BNCC preconiza a organização curricular com base
nos campos de experiência, constituindo uma mudança lógica no currículo, que
muda sua estrutura formada por conteúdos e passa a priorizar a experiência
da criança na construção de sentido sobre si e os outros.
8 Currículo e infância
O currículo da educação infantil deve definir atividades educativas, que
vão organizar as aulas, conforme a rotina e a infraestrutura que a instituição
escolar possui, e o professor precisa ver como manifestar os campos de ex-
periências em cada momento da jornada escolar.
Veja, a seguir, alguns exemplos de como trabalhar os campos de experi-
ências na organização do currículo.
“Corpos, gestos e movimentos”: pode ser integrado à disciplina de
artes, em que se trabalhe com dança e teatro.
“Escuta, fala, pensamento e imaginação”: pode ser relacionado às artes,
bem como a história e português, com a criação de narrativas infantis
a partir da visão das crianças.
“Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações”: pode ser
ligado ao ensino das bases da matemática com algo mais perceptível,
e não abstrato.
“Traços, sons, cores e formas”: pode ser integrado muito bem às artes,
com trabalhos plásticos.
“O eu, o outro e nós”: pode transversalmente perpassar todas as dis-
ciplinas a partir do trabalho com a questão da empatia; por exemplo,
nas artes, as crianças podem desenhar a face do colega e, com isso,
expressar seus sentimento com outras linguagens, refletindo sobre as
diversidades em uma experiência muito significativa para essa etapa
de escolarização.
Após ver esses exemplos, você pode perceber o quanto o currículo é dinâ-
mico e como suas ações estão presentes no dia a dia da criança ao longo da
jornada escolar na educação infantil.
Assim, os campos de experiências norteiam os currículos da educação
infantil, tornando-se as bases da aprendizagem da criança, que aprende quando
vivencia experiências de maneira ativa. Essa vivência vai impulsionando o
desenvolvimento da criança e, por isso, o planejamento curricular precisa
ter a intencionalidade pedagógica de que a criança viva momento lúdicos de
descoberta e novas experiências.
Currículo e infância 9
3 Perspectivas curriculares da educação infantil
no mundo contemporâneo
Segundo Sacristán (2017), o currículo é um projeto mosaico que engloba
cultura, sociedade, política e questões administrativas, envolvendo todas as
esferas da atividade educacional e se adaptando à realidade de cada escola e/
ou instituição educacional.
A BNCC segue nessa direção, orientando para que a escola tenha autonomia
na construção dos currículos para uma aproximação das realidades locais, com
adequação ao contexto e à realidade dos educandos. Além disso, orienta que
sejam trabalhados temas atuais dentro dos currículos, de uma forma transversal e
integral, contextualizando fenômenos que afetem a vida humana, como: direitos
da criança e do adolescente, educação ambiental, educação alimentar e nutricio-
nal, respeito e valorização do idoso, educação em saúde, educação financeira,
diversidade cultural, ciência e tecnologia, entre outros temas relevantes.
Nas DCNs para a educação infantil (BRASIL, 2010), ficam claros alguns pontos sobre
as propostas didáticos-pedagógicas que respeitem a diversidade e que devem ser
incorporados ao currículo, como:
garantir a autonomia aos povos indígenas na escolha dos modos de educação de
suas crianças de 0 a 5 anos de idade;
garantir propostas pedagógicas da educação infantil adaptadas à realidade das crian-
ças filhas de agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos,
assentados e acampados da reforma agrária, quilombolas, caiçaras e povos da floresta.
A educação infantil é a fase em que a criança deixa o seio familiar e passa
a viver socialmente, conhecendo novas atitudes, comportamentos, espaços e
tempos diversos, sendo um dos momentos mais importantes na jornada escolar.
Nessa etapa da escolarização, o educador precisa ter um olhar e uma
visão integral para a criação de currículos que privilegiem um manancial
de experiências envolvendo todas as crianças, a fim de que adquiram novas
aprendizagens e sejam reforçados valores.
10 Currículo e infância
Um ponto importante a se considerar nesse contexto é que o educador, no
momento de organizar o currículo e planejar suas atividades, não pode atuar
em um esquema de decisões pensadas, com resultados desejáveis, previstos
para as atividades cotidianas, e, sim, ter a flexibilidade de adaptação à medida
que as atividades didáticas forem sendo efetivadas (SACRISTÁN, 2017).
A educação infantil no mundo contemporâneo se torna um grande desafio,
pois vêm ocorrendo grandes transformações culturais e sociais, com um
avanço exponencial da tecnologia, afetando todos na formação de uma nova
sociedade, mais conectada e globalizada.
Tecnologia no mundo infantil
Atualmente, com a globalização e a internet, surgem novas maneiras de se co-
municar, e essas mudanças não podem ficar longe da escola, principalmente das
crianças, que já nascem envolvidas nesse mundo interconectado e tecnológico.
Os educadores da educação infantil precisam ter consciência de que não
adianta afastar esse fenômeno da tecnologia da sala de aula; é preciso pensar
em como inserir a tecnologia nas práticas didático- pedagógicas a fim de
potencializar as experiências e aprendizagens das crianças.
A integração de gestão e tecnologia está muito facilitada no mundo contem-
porâneo, em que existem diversos software e aplicativos que otimizam a rotina
escolar tanto dos gestores quanto dos professores e dos demais funcionários
da instituição educacional.
Na sala de aula, o uso de tecnologias pode trazer muitos benefícios com
a inserção de novas metodologias, mais ativas, que despertem e aumentem o
interesse das crianças do século XXI.
Além disso, a tecnologia pode estreitar a comunicação entre os pais e a
escola, aproximando a família da vida escolar da criança, como, por exemplo,
ambientes virtuais e agendas digitais.
Na organização dos currículos, é necessário pensar no desenvolvimento
das competências gerais preconizadas pela BNCC no que se refere a novas
formas de comunicação e cultura digital, pois uma parte significativa das
crianças, muitas vezes, já chega no espaço escolar sabendo utilizar diversas
tecnologias, como, por exemplo, jogos eletrônicos.
Cabe à gestão da escola e aos educadores ter esse olhar para os potenciais
de aprendizagem que possam ser extraídos dessas tecnologias para propiciar
novas experiências educativas, bem como levar a tecnologia para aquelas
crianças que não têm acesso às ferramentas tecnológicas.
Currículo e infância 11
O uso da tecnologia estimula a produção autoral e criativa dos alunos, de
modo que o educador pode possibilitar a criação de trabalhos artísticos com
o uso das ferramentas tecnológicas e, ainda, divulgar essas produções para a
comunidade escolar em mostras ou feiras na escola, bem como no ambiente
virtual da escola, aproximando os pais do processo educativo.
A utilização de jogos e as histórias infantis on-line ajudam na estimula-
ção da criatividade e da imaginação das crianças e ampliam o potencial de
comunicação da criança.
As tendências atuais do mundo infantil
Os educadores precisam se manter atualizados sobre as novas tendências do
mundo infantil, procurando conhecer como, por exemplo, quais são os desenhos
preferidos das crianças para desenvolver atividades que se aproximem dos gos-
tos infantis e, com isso, atrair a atenção e motivar os alunos na aprendizagem.
Ainda é possível pensar em qual música é mais adequada a cada idade e
quais estão sendo mais cantadas pelas crianças e, a partir desse entendimento,
utilizar essas músicas para criar experiências e vivências na educação infantil.
O conhecimento do mundo infantil atual é importante para que o educador
possa planejar atividades artísticas mais próximas da realidade das crianças,
estimulando sua criatividade e produção autoral diante dos temas propostos.
No momento em que a escola se mantém atualizada sobre o mundo infantil
na sociedade, pode contribuir para uma educação mais adequada à realidade
das crianças e até mesmo ajudar os pais na orientação dos filhos quanto aos
cuidados e perigos que existem no mundo interconectado.
Educação digital para as crianças
Educação digital não significa apenas aprender a ter fluência tecnológica, saber
usar as ferramentas digitais, mas, principalmente, utilizar as tecnologias com
sabedoria, buscando coisas úteis e relevantes, compartilhando informações
verídicas e confiáveis, além de compreender que o mundo digital não é diferente
do mundo real. Assim, ser educado digitalmente é não se expor demais, manter
sua privacidade e respeitar a do outro, já que todos conectados são pessoas reais.
A educação digital precisa fazer parte do planejamento dos currículos
contemporâneos, já que, na BNCC, preconiza-se o trabalho com a cultura
digital como uma competência a ser desenvolvida na educação básica, assim
como a comunicação e a empatia.
12 Currículo e infância
Na educação infantil, é necessário levar em consideração a educação
digital, pois as crianças estão inseridas nesse meio tecnológico e digital, que
faz parte da realidade das novas gerações do século XXI.
Assim como os educadores trabalham com as crianças sobre valores e
convivência social, é necessário que ensinem, na educação infantil, a postura
correta no mundo digital. Dessa forma, as crianças que são beneficiadas
com uma educação digital despertam competências e habilidades úteis para
toda a sua vida.
A infância é um dos momentos mais importantes na formação cognitiva
do ser humano e na aprendizagem de valores e comportamentos para viver em
sociedade com respeito e ética; por isso, atualmente, aliar a educação digital
nesse processo pode trazer inúmeros benefícios, como:
prevenir os riscos da internet;
estimular o aprendizado;
aumentar o desempenho escolar;
potencializar criatividade, raciocínio lógico e resolução de problemas;
formar cidadãos conscientes, com aguçado senso crítico.
Hoje em dia, existem diferentes jogos e aplicativos de cunho educacional
que podem ajudar o educador a trabalhar com a educação digital utilizando
algumas tendências para a aprendizagem de crianças, como programação,
desenvolvimento de jogos e robótica.
Um ponto importante na conclusão deste estudo sobre currículo e infância
é sempre considerar a necessidade de oportunizar para a criança, na educação
infantil, mesmo com o apoio de inúmeras tecnologias, um currículo que preze
por momentos de brincadeiras e interação, como preconizam as DCNs para
a educação infantil e a BNCC.
Um cuidado necessário com o currículo na etapa da educação infantil é
evitar o perigo de se construir um currículo com base exclusivamente em
experiências com a tecnologia ou conteúdos sistematizados que não permitirão
a criança viver sua própria infância.
Outro ponto importante na organização curricular da etapa infantil é ter
muita cautela e equilíbrio com as brincadeiras, que devem servir como ativi-
dades guias ao seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, trazer a oportunidade
de aproximar-se das tecnologias na perspectiva das crianças.
Assim, com relação aos perigos na construção dos currículos para edu-
cação infantil, é necessário um olhar atento dos gestores, coordenadores
Currículo e infância 13
e professores da instituição educacional para que as crianças vivenciem
intensamente o brincar e as interações, mas não esquecendo de aproximar as
crianças da experiência de vivenciar também o mundo das tecnologias, por
meio da educação digital, para o desenvolvimento de novas competências,
fundamentais na atualidade.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 14 fev. 2020.
BRASIL. Emenda constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009 Acrescenta § 3º ao art. 76
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir
do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente
sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que
trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208,
de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a
abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica,
e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com
a inserção neste dispositivo de inciso VI. Brasília, DF: Presidência da República, 2009.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/
emc59.htm. Acesso em: 14 fev. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação –
PNE e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2014. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso
em: 14 fev. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, [2017].
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 14 fev. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 5, de 17
de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
Brasília, DF: Ministério da Educação, 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
index.php?option=com_docman&view=download&alias=2298-rceb005-09&category_
slug=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 14 fev. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares
nacionais para a educação infantil. Brasília, DF: MEC, 2010. Disponível em: https://ndi.
ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf. Acesso em: 14 fev. 2020.
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Penso, 2017.
14 Currículo e infância
Leitura recomendada
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da edu-
cação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em:< http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm> Acesso em: 29 jan. 2020.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
Um dos momentos mais difíceis para a criança que percorre as etapas da educação infantil é o
momento de transição para o ensino fundamental, requerendo da escola e/ou instituição escolar
um olhar atento sobre essa questão, procurando adequar no planejamento curricular algumas
estratégias que amenizem essa mudança para a criança.
A BNCC se preocupa com essa transição e deixa preconizadas orientações sobre como organizar
essa etapa.
Na Dica do Professor, compreenda sobre esse tema mais especificamente.
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Exercícios
1) A organização curricular da educação infantil, preconizada pela BNCC, está organizada em
cinco campos de experiências. Quando a escola cria momentos para a criança participar da
produção, manifestação e apreciação artística para o desenvolvimento da sensibilidade,
criatividade e expressão pessoal, está colocando em prática qual campo de experiência?
A) Corpo, gestos e movimentos.
B) O eu, o outro e o nós.
C) Escuta, fala, pensamento e imaginação.
D) Traços, sons, cores e formas.
E) Espaço, tempos, quantidades, relações e transformações.
2) Segundo Sacristán (2017), o educador, no momento de organizar o currículo e planejar suas
atividades, não pode se basear em esquema de decisões pensadas e resultados desejáveis,
mas deve:
A) seguir as normas curriculares independentemente do andamento da atividade.
B) definir o objetivo de aprendizagem e atingi-lo sem fazer mudanças ou adaptações.
C) ter o cuidado para seguir as normas escolares independentemente do andamento da
atividade.
D) ser flexível para adaptar as atividades à medida que são efetivadas.
E) ter o cuidado de cumprir as atividades formalmente sem adaptações.
Na prática
Na organização dos currículos, é necessário pensar no desenvolvimento das
competências gerais preconizadas pela BNCC no que se refere a novas formas de
comunicação e cultura digital, pois uma parte significativa das crianças, muitas
vezes, já chega no espaço escolar sabendo utilizar diversas tecnologias, como jogos
eletrônicos.
Um professor da educação infantil decidiu desenvolver uma atividade que
se aproximasse das competências gerais da BNCC ligadas ao repertório cultural, à
comunicação e à cultura digital. Então, fez uma leitura atenta da BNCC para a
educação infantil e focou o desenvolvimento de sua atividade no campo de
experiência "escuta, fala, pensamento e imaginação".
Como recurso tecnológico, decidiu utilizar o aplicativo Quiver, que usa realidade
aumentada para proporcionar uma experiência interativa à criança, além de poder
registrar em vídeo a produção autoral.
Assim, o professor organizou, junto com a criança, um vídeo em que ela
interage com seu personagem virtual (desenho que ganhou vida) e conta a sua
história. O professor usou os vídeos como registro da atividade e com a permissão
prévia dos pais divulgou no blog da escola.
Veja como o professor desenvolveu seu plano de aula para as crianças vivenciarem
e experienciarem o repertório cultural, a comunicação e a cultura digital.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Educação infantil na BNCC
Assista Beatriz Ferraz, diretora da Escola de Educadores, que explica de que forma a BNCC está
organizada para a educação infantil.
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Como a professora Márcia usa vídeos para avaliar os pequenos
Conheça a experiência didática e pedagógica com apoio de vídeos, utilizada pela Professora Márcia
Maria de Oliveira, para observar e avaliar as crianças da educação infantil na etapa do berçário.
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Orientações para gestores municipais sobre a implementação
dos currículos baseados na Base em creches e pré-escolas
Confira este documento elaborado com o intuito de apoiar as redes municipais de educação na
implementação da parte da educação infantil da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
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