UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
CURSO DE DIREITO
ANA CÉLIA TARGINO AGRIPINO NUNES
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA PRIMEIRO COMANDO DA
CAPITAL (PCC) NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO:
Impactos na segurança pública e desafio estatal
SANTA RITA – PB
2024
ANA CÉLIA TARGINO AGRIPINO NUNES
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA PRIMEIRO COMANDO DA
CAPITAL (PCC) NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO:
Impactos na segurança pública e desafio estatal
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Direito da
Unidade Santa Rita, do Centro de
Ciências Jurídicas da Universidade
Federal da Paraíba, como exigência
parcial para a obtenção do título de
Bacharel(a) em Ciências Jurídicas.
Orientador: Prof. Dr. Nelson Gomes de
Sant´ana e Silva Junior
Coorientadora: Profa. Dra. Rebecka
Wanderley Tannuss
SANTA RITA – PB
2024
AGRADECIMENTOS
É com imensa honra e profundo senso de gratidão que registro, nesta
oportunidade, meus mais sinceros agradecimentos àqueles que, de maneira
decisiva, contribuíram para a realização deste trabalho. Sem o apoio e a orientação
recebidos, a concretização desta etapa seria impossível.
A minha mãe, Daniella Targino e minha avó, Célia Maria, cujo amor
incondional me fez estar aqui hoje e ser quem sou, dirijo meus primeiros e mais
profundos agradecimentos. Sua dedicação, apoio incondicional e fé em meu
potencial foram o alicerce sobre o qual construí minha trajetória acadêmica. Suas
lições de vida, conselhos e sacrifícios constantes permitiram que eu chegasse até
aqui. Por tudo isso, sou eternamente grata e dedico a vocês esta e todas as
conquistas que estão por vir.
Aos meus estimados orientadores, Prof. Dr. Nelson Gomes de Sant´ana e
Silva Junior e Prof.ª Dra.ª Rebecka Wanderley Tannuss, expresso minha gratidão
pela confiança, paciência e valiosa atenção que me concederam ao longo do
desenvolvimento deste trabalho. Suas sugestões, incentivos, palavras de conforto e
vasta experiência acadêmica foram essenciais para o sucesso desta pesquisa, e
não poderia deixar de reconhecer a importância de seu papel neste processo.
As minhas amigas, que sempre me acompanharam e ofereceram apoio
emocional durante esta jornada, e sempre estiveram presentes, minha sincera
gratidão. Sua presença e companheirismo foram cruciais para que eu mantivesse o
equilíbrio e a motivação necessários ao longo deste percurso.
Por fim, agradeço à Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pela
oportunidade de realização deste trabalho e curso, ao longo dessa trajetória, que me
preparou para os desafios futuros, consolidando meu caminho em direção à
realização de meu potencial.
RESUMO
As prisões brasileiras, marcadas por superlotação e condições degradantes, são
tema central nas discussões sobre segurança pública, criminologia e direito penal. O
Primeiro Comando da Capital (PCC) é uma organização que surgiu nesse contexto
de violação de direitos e vem afetando a dinâmica intra e extra prisional. Isso posto,
o trabalho buscou investigar a influência do PCC no sistema prisional brasileiro, bem
como suas implicações para a segurança pública e os desafios estatais no
enfrentamento dessa organização criminosa. Para tanto, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica e documental, utilizando textos legais e casos jurisprudenciais
relacionados. A pesquisa discutiu sobre a origem e evolução do PCC, sua estrutura
organizacional e suas dinâmicas dentro das prisões, além de explorar como suas
atividades se expandem para fora do ambiente carcerário, afetando a sociedade. O
estudo contribuiu, desse modo, para o debate sobre o crime organizado a partir da
compreensão aprofundada dos mecanismos de atuação do PCC, oferecendo
subsídios para a formulação de políticas públicas voltadas à segurança e ao
combate à criminalidade.
Palavras-chave: Primeiro Comando da Capital (PCC); sistema prisional brasileiro;
segurança pública; facções criminosas; tráfico de drogas.
ABSTRACT
Brazilian prisons, marked by overcrowding and degrading conditions, are a central
theme in discussions about public safety, criminology and criminal law. The Primeiro
Comando da Capital (PCC) is an organization that emerged in this context of rights
violations and has been affecting the dynamics inside and outside prisons. With this
in mind, this study sought to investigate the influence of the PCC on the Brazilian
prison system, as well as its implications for public security and the challenges facing
the state in confronting this criminal organization.To this end, bibliographical and
documentary research was carried out, using legal texts and related case law. The
research discussed the origin and evolution of the PCC, its organizational structure
and its dynamics within prisons, as well as exploring how its activities expand outside
the prison environment, affecting society. In this way, the study contributed to the
debate on organized crime by providing an in-depth understanding of the PCC's
mechanisms of action, offering subsidies for the formulation of public policies aimed
at security and the fight against crime.
Keywords: Primeiro Comando da Capital (PCC); brazilian prison system; public
security; criminal factions; drug trafficking.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 8
2 ORIGENS E EVOLUÇÃO DO PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL................... 12
2.1 Fatores sociais e econômicos que contribuíram para o crescimento do
PCC.......................................................................................................................15
2.2 Análise da estrutura organizacional e hierárquica do PCC...................... 18
2.2.1 O Estatuto do PCC: Estrutura e Diretrizes......................................... 20
2.2.2 Perspectivas de Zaffaroni: Uma Análise Crítica................................ 24
3 EVOLUÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E SUA EXPANSÃO NO SISTEMA PRISIONAL
BRASILEIRO............................................................................................................. 26
3.1 Controle territorial e hierárquico................................................................. 28
3.1.1 Superlotação carcerária e suas consequências................................30
3.1.2 Megarrebelião....................................................................................... 33
3.2 Relação entre o PCC e outras organizações criminosas no sistema
prisional............................................................................................................... 35
3.3 Expansão para o controle do crime organizado fora dos presídios........36
4 IMPACTOS NA SEGURANÇA PÚBLICA E DESAFIOS ESTATAIS......................38
4.1 Impactos da atuação do PCC na segurança pública fora do sistema
prisional............................................................................................................... 38
4.2 Desafios enfrentados pelas autoridades no combate ao PCC e suas
ramificações........................................................................................................ 41
4.3 Respostas políticas e institucionais para lidar com o PCC e seu impacto
na segurança pública......................................................................................... 43
4.3.1 Desafios no intrínsecos no Sistema Penitenciário........................... 44
4.3.2 Políticas de Prevenção e Integração Social.......................................45
4.3.3 Corrupção e a Fragilidade Institucional............................................. 46
5 CONCLUSÃO......................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS..........................................................................................................52
8
1 INTRODUÇÃO
O sistema prisional brasileiro é há décadas um dos principais focos de
debate entre especialistas em segurança pública, criminologia e direito penal, em
virtude de sua superlotação e das precárias condições em que se encontram os
detentos. Nesse contexto, o Primeiro Comando da Capital (PCC) se destaca como a
organização criminosa de maior relevância no país, tanto pela sua origem dentro do
sistema prisional quanto por sua expansão além dos muros das penitenciárias,
afetando diretamente a segurança pública e os desafios estatais para conter sua
atuação (Almeida, 2023).
Fundado em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, o PCC emergiu como
uma organização de resistência às condições desumanas enfrentadas pelos presos.
Contudo, ao longo dos anos, essa resistência evoluiu para uma estrutura criminosa
altamente organizada, com hierarquia clara, estratégias de controle social e
territorial, e forte atuação dentro e fora das prisões. O grupo consolidou-se como um
ator central no tráfico de drogas e em outros crimes, como roubos e sequestros,
desafiando constantemente a capacidade do Estado em manter a ordem e a
segurança pública (Almeida, 2023).
A influência do PCC no sistema prisional brasileiro revela uma série de
implicações para a segurança pública. A organização se utiliza das falhas estruturais
do sistema para expandir seu controle e, por meio de uma comunicação eficiente,
garante a coordenação de suas atividades criminosas tanto dentro das prisões
quanto nas ruas. Além disso, sua capacidade de corromper agentes públicos e
dominar territórios é um desafio constante para o Estado, que busca desenvolver
respostas eficientes para conter sua expansão (Brasil, 2013).
A relevância do estudo sobre o PCC se dá não apenas pela sua importância
no cenário do crime organizado, mas também pelos desafios que ele representa
para o sistema de justiça criminal e as políticas públicas voltadas ao combate às
facções criminosas. A Lei nº 12.850/2013, que define organização criminosa e
dispõe sobre a investigação e obtenção de provas relacionadas ao crime
organizado, é um marco legal importante no enfrentamento dessas questões,
oferecendo bases para a repressão e prevenção das atividades do PCC (Brasil,
2013).
9
Contudo, apesar dos esforços do Estado, os desafios são muitos. O controle
que o PCC exerce sobre o tráfico de drogas, sua capacidade de mobilização dentro
dos presídios e a violência gerada por suas disputas de poder são problemas que
afetam diretamente a segurança pública nacional. Nesse sentido, esta obra oferece
uma análise detalhada sobre a origem, a estrutura e a evolução do PCC, além de
examinar os impactos de suas atividades no sistema prisional e na sociedade como
um todo.
Tendo em vista contribuir de forma significativa para o debate acadêmico e
público acerca da atuação do PCC, analisando as respostas estatais e os desafios
enfrentados no combate a essa organização. A partir de uma abordagem
interdisciplinar, que envolve o Direito Penal, a criminologia e a sociologia, espera-se
compreender as estratégias de expansão do PCC e as soluções possíveis para
mitigar sua influência no Brasil. Foi elaborada com o intuito de contribuir com a
academia, oferecendo uma análise crítica sobre a atuação do Primeiro Comando da
Capital (PCC) no sistema prisional brasileiro e seus impactos na segurança pública.
O estudo busca responder a importantes questionamentos jurídicos e sociais,
especialmente no que tange à expansão das facções criminosas e os obstáculos
enfrentados pelo Estado no combate a essas organizações.
Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa consiste em investigar a
influência do PCC no sistema prisional brasileiro, bem como suas implicações para a
segurança pública e os desafios estatais no enfrentamento dessa organização
criminosa.
Os objetivos específicos desta pesquisa são: a) Examinar a origem e a
evolução do PCC no contexto do sistema prisional brasileiro, sob uma perspectiva
criminológica e histórica; b) Analisar a estrutura hierárquica e organizacional do
PCC, buscando compreender os mecanismos que favorecem sua expansão tanto
dentro quanto fora das unidades prisionais; c) Avaliar os impactos das atividades
criminosas perpetradas pelo PCC sobre a segurança pública, incluindo o controle do
tráfico de drogas e demais práticas ilícitas; d) Identificar e discutir os principais
desafios enfrentados pelo Estado brasileiro no combate ao PCC, considerando os
aspectos jurídicos, sociais e institucionais envolvidos; e) Investigar como as
deficiências estruturais do sistema prisional brasileiro e as fragilidades institucionais
contribuem para o fortalecimento e perpetuação do poder do PCC, favorecendo a
continuidade de sua atuação criminosa.
10
No primeiro capítulo, denominado “Origens e Evolução do Primeiro
Comando da Capital (PCC)”, dedicado à análise da origem e estrutura do PCC e sua
relação com o sistema prisional brasileiro, o foco recairá sobre a trajetória histórica
da facção, que se consolidou como uma das organizações criminosas mais
influentes do país, com forte atuação tanto dentro quanto fora das prisões. Este
capítulo irá explorar, de forma detalhada, os fatores que contribuíram para o
surgimento do PCC, bem como a sua evolução e expansão em larga escala ao
longo das últimas décadas.
No segundo capítulo, intitulado “Evolução da organização e sua expansão
no sistema prisional brasileiro”, o foco é investigar as dinâmicas internas do PCC
dentro das prisões, analisando sua estrutura organizacional, formas de comunicação
e as atividades ilícitas que controla. O capítulo busca entender como a facção utiliza
as falhas do sistema prisional brasileiro para consolidar seu poder e expandir suas
operações, tanto dentro quanto fora dos presídios. Nesse contexto, são examinados
os impactos de suas atividades, como a violência gerada pela disputa de poder, a
corrupção de agentes penitenciários, e o controle territorial que exerce sobre
diferentes alas e estabelecimentos prisionais. Assim como o capitalismo influencia a
perpetuação de desigualdades, o PCC se aproveita das deficiências institucionais
para garantir sua expansão, transformando as prisões em espaços de articulação
criminosa, e fortalecendo sua atuação no cenário do crime organizado brasileiro.
No último capítulo, denominado “Impactos na Segurança Pública e desafios
estatais”, o objetivo é avaliar as repercussões das ações do PCC sobre a segurança
pública em todo o território nacional. A análise foca na forma como a atuação da
facção criminosa, que emergiu e se fortaleceu no contexto do sistema prisional,
impacta diretamente a sociedade, gerando um aumento na violência e nas práticas
ilícitas, como o tráfico de drogas e o controle territorial em várias regiões do país. O
capítulo também se propõe a identificar os principais desafios enfrentados pelo
Estado brasileiro no combate ao PCC, considerando não apenas os aspectos legais,
mas também os fatores sociais e políticos que tornam o enfrentamento dessa
organização uma tarefa complexa. O combate à facção revela a fragilidade das
instituições e do sistema de segurança pública, o que exige respostas estratégicas
por parte do Estado para minimizar os danos e lidar com a influência do PCC sobre
o crime organizado no Brasil.
11
É relevante considerar, o uso de jurisprudências do Supremo Tribunal
Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) relacionada a temas como
crime organizado, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, considerando que essas
questões muitas vezes estão interligadas às atividades de organizações criminosas
como o PCC. A jurisprudência dessas instâncias judiciais oferece percepções
valiosas sobre as tendências e perspectivas do ordenamento jurídico brasileiro no
enfrentamento do crime organizado.
Corroborando ao que foi dito, é mister considerar a Lei nº 12.850/2013, que
abordará a utilização de meios operacionais na prevenção e repressão de atividades
praticadas por organizações criminosas, incluindo estratégias de intervenção direta e
técnicas de inteligência.
Dessa forma, a pesquisa foi conduzida por meio de uma ampla revisão
bibliográfica sobre o crescimento das facções criminosas, com ênfase no Primeiro
Comando da Capital (PCC), e o cenário do encarceramento em massa no Brasil. As
fontes utilizadas incluíram livros, artigos acadêmicos, dissertações e teses
encontradas em bases de dados científicas, como reportagens jornalísticas e
legislações nacionais relevantes.
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2 ORIGENS E EVOLUÇÃO DO PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL
O Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores e mais influentes
organizações criminosas do Brasil, teve sua origem em um contexto de profunda
crise no sistema prisional do país. Antes da década de 1990, o sistema prisional
brasileiro já enfrentava críticas significativas, com denúncias de abusos e a falta de
condições mínimas para a dignidade dos detentos. Todavia, o modelo de
encarceramento, que priorizava a punição em detrimento da reabilitação, contribuiu
para a formação de uma cultura de violência e desrespeito aos direitos humanos nas
prisões. Surgido em 31 de agosto de 1993 na Casa de Custódia de Taubaté-SP,
popularmente conhecida como "masmorra" devido à severidade no tratamento dos
presos, o PCC foi inicialmente concebido por um grupo de internos que decidiu
formar uma espécie de "partido" para lutar pelos direitos dos encarcerados e contra
a opressão do Estado (Bigoli; Bezerra, 2014; Feltran, 2018; Adorno; Salla, 2007).
À época, a gestão do sistema carcerário brasileiro enfrentava desafios
significativos. As prisões eram marcadas por uma série de problemas estruturais e
humanitários, tais como: superlotação, falta de higiene, maus-tratos e condições de
sobrevivência desumanas (Bigoli; Bezerra, 2014). Consequentemente, esse
ambiente de desespero e opressão catalisou movimentos de resistência entre os
presos, culminando na criação do PCC. Seus fundadores, incluindo José Márcio
Felício (Geleião), Cezar Augusto Roriz (Cezinha) e Idemir Carlos Ambrósio
(Sombra), eram jogadores de um mesmo time de futebol dentro da prisão e, ao
perceberem a necessidade de uma representação organizada, decidiram estruturar
o que viria a ser o "Primeiro Comando da Capital" (Bigoli; Bezerra, 2014; Feltran,
2018; Adorno; Salla, 2007).
Ademais, um evento particularmente significativo para a consolidação da
identidade do PCC foi o Massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992,
visto que a brutal repressão das autoridades – que resultou em dezenas de mortes –
serviu como estopim para que o grupo se estabelecesse como uma força de
resistência. A operação policial, ordenada pelo então governador de São Paulo, Luiz
Antônio Fleury Filho, resultou na morte de 111 presos e no ferimento de muitos
outros. A intervenção foi criticada pela forma desproporcional com que foi conduzida,
com denúncias de execuções sumárias, uma vez que muitos dos detentos estavam
desarmados ou já rendidos (Bigoli; Bezerra, 2014, Manso; Dias, 2018).
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Outrossim, esse episódio não apenas revelou as condições desumanas e a
superlotação no sistema prisional brasileiro, mas também alimentou a percepção de
que os detentos precisavam se organizar para se proteger contra a violência estatal.
Para o PCC, o Massacre do Carandiru se tornou um ponto de virada. O grupo
utilizou a memória do massacre como um símbolo de resistência e unidade entre os
presos, ganhando apoio entre os detentos e se consolidando como uma das
principais forças dentro e fora das prisões (Feltran, 2018).
A percepção tardia das autoridades sobre a necessidade de reformar o sistema
prisional fez com que, no ano seguinte ao massacre, surgisse uma das maiores
facções do país, que se tornou a resposta dos presos à violência institucionalizada
(Bigoli; Bezerra, 2014). Dessa forma, a ação do Estado não apenas perpetuou as
condições desumanas nas prisões, mas também criou um vácuo de poder que foi
prontamente preenchido por organizações criminosas, que se apresentaram como
alternativas à opressão e ao abandono do sistema penitenciário (Feltran, 2018).
Pode-se dizer que o Estado não se mostra inerte frente aos desafios impostos
pela criminalidade organizada, ao contrário, suas políticas, ações e intervenções são
frequentemente marcadas por uma presença ostensiva. No entanto, a inadequação
e a ineficiência dessas medidas resultam em consequências não intencionais.
Decorrendo, assim, em problemas sociais e econômicos que afligem comunidades
vulneráveis e que têm sido um fator crucial para o crescimento em larga escala de
facções criminosas, como o PCC. Historicamente, o governo tem falhado em
implementar políticas públicas eficazes que abordem as causas profundas da
criminalidade, como a pobreza, a desigualdade social e a falta de acesso a serviços
básicos, como educação e saúde. Essa negligência não apenas perpetua ciclos de
exclusão - padrões contínuos onde a falta de oportunidades e recursos básicos
mantém certas populações marginalizadas - mas também cria um ambiente propício
para que organizações criminosas se estabeleçam como alternativas viáveis para a
população, levando em consideração a oferta de uma segurança alternativa.
(Martins, 2008).
As políticas de segurança pública, que frequentemente se concentravam em
abordagens repressivas, ignoraram a necessidade de intervenções sociais e
educacionais que poderiam ter levantado as causas subjacentes da criminalidade.
Desse modo, a falta de uma abordagem holística permitiu que o PCC se
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consolidasse no interior do sistema prisional, assim como também começasse a
exercer controle significativo sobre as comunidades ao redor (Martins, 2008).
Após sua criação, o PCC rapidamente iniciou um processo de expansão, com o
objetivo de fortalecer a facção e ampliar sua influência, tanto dentro quanto fora das
prisões. Assim, a organização passou a controlar atividades criminosas, como tráfico
de drogas, assaltos a bancos e até mesmo a gestão de "tribunais" internos, que
resolviam disputas entre os membros e definiam penas, que incluíam desde
advertências até a pena de morte (Bigoli; Bezerra, 2014). Essa expansão foi
facilitada por um planejamento estratégico que envolvia a transferência de líderes
para diferentes unidades prisionais, permitindo que as ideias e o controle do PCC se
disseminassem por todo o território nacional (Dias, 2013).
A influência do PCC se estendeu para as comunidades ao redor, onde
começou a exercer controle significativo. Isto é, em áreas marcadas pela atuação e
intervenção estatal, observa-se que, em vez de mitigar os problemas de segurança
pública, tais intervenções podem se mostrar contraproducentes, intensificando a
violência e fomentando o fortalecimento de organizações criminosas. A facção
passou a oferecer serviços e proteção, apresentando-se como uma alternativa viável
para muitos cidadãos que buscavam segurança em meio ao caos social e à
violência generalizada. Todavia, vale ressaltar que a subordinação ao domínio do
PCC não representa uma escolha deliberada, mas uma condição imposta pelas
rigorosas circunstâncias que prevalecem em um ecossistema de violência e
desordem social. Logo, a facção não emerge como uma alternativa voluntária, mas
como a única entidade que aparenta proporcionar algum semblante de ordem,
obrigando cidadãos desprotegidos a aceitarem seus serviços e proteção, dadas as
limitadas opções disponíveis (Dias, 2013).
Essa atuação do PCC não apenas preencheu a atuação estatal, que embora
ostensiva, muitas vezes peca pela falta de coerência e visão de longo prazo, o que
gera efeitos colaterais que reforçam a própria dinâmica que se propõe a combater.
Ao invés de criar um cenário de pacificação, essas ações, sem o devido
acompanhamento de políticas sociais e de reintegração, perpetuam a exclusão e
marginalização de certos segmentos da população. Assim, favorecendo a criação de
uma percepção entre os cidadãos de que o Estado atua mais como um agente de
opressão do que de proteção. Dessa forma, solidifica-se a posição da facção como
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um poder paralelo, capaz de atender às necessidades de uma população vulnerável
e desassistida (Dias, 2013).
A expansão da facção não se limitou a São Paulo, o estado onde foi fundada.
Com a transferência dos seus fundadores para outras unidades prisionais em
diferentes estados, a facção conseguiu estabelecer uma rede de contatos e alianças
que fortaleceram sua presença e ampliaram seu poder de controle. Observou-se que
a estratégia de contenção de separar os líderes da organização acabou servindo
como um catalisador para a expansão das atividades do PCC. Sendo assim, por
volta de 1995, a influência do PCC já era perceptível em várias partes do país, e sua
estrutura organizacional começava a se consolidar como um dos principais
monopólios do crime no Brasil (Dias, 2013).
Desse modo, o ponto de virada de uma "organização contra a opressão" para
uma facção criminosa acontece quando a luta por direitos e justiça se transforma em
ações sistemáticas de controle e poder por meios ilegais e violentos. Inicialmente, o
PCC surgiu como uma resposta legítima à opressão e às condições desumanas
dentro do sistema carcerário, buscando melhores condições para os presos e uma
forma de resistência à violência estatal. No entanto, com o tempo, essa organização
evoluiu para um grupo que passou a controlar o sistema carcerário e as atividades
criminosas fora dele, deixando de ser uma organização de defesa para se tornar
uma facção com estruturas hierárquicas complexas e estratégias de expansão. Sua
história de origem está profundamente enraizada nas falhas do sistema prisional
brasileiro, e sua ascensão reflete tanto a resiliência quanto a brutalidade de uma
organização que encontrou no crime organizado uma forma de reivindicar poder e
sobrevivência em meio ao caos social e institucional (Dias, 2013).
2.1 Fatores sociais e econômicos que contribuíram para o crescimento do PCC
O crescimento exponencial do PCC não pode ser entendido de forma isolada,
desvinculado dos fatores sociais e econômicos que moldaram o cenário brasileiro
nas últimas décadas. A ascensão dessa facção criminosa está intrinsecamente
ligada às condições precárias do sistema prisional, às desigualdades sociais e ao
contexto econômico desfavorável, que, juntos, criaram um ambiente propício para a
expansão de organizações criminosas (Dias, 2013).
16
O Brasil, ao longo de sua história, tem enfrentado grandes desafios em relação
à desigualdade social. Dentre eles, a má distribuição de renda e a falta de acesso a
serviços básicos, como educação e saúde, os quais geraram um ambiente de
exclusão, onde uma parte significativa da população se encontra à margem da
sociedade. Esse cenário de abandono cria um terreno fértil para o surgimento de
facções criminosas que se apresentam como alternativas ao Estado, oferecendo
proteção, recursos financeiros e uma forma de pertencimento aos excluídos (Bigoli;
Bezerra, 2014).
De acordo com Dias (2013), a origem do PCC está diretamente relacionada a
essa exclusão social, uma vez que a facção recruta seus membros principalmente
entre os jovens oriundos das periferias, que veem na organização uma forma de
ascensão social e de resposta às injustiças que sofrem cotidianamente. Nesse
contexto, o PCC não apenas capitaliza sobre a frustração e a revolta desses jovens,
mas também se apresenta como um meio de enfrentar a opressão sistêmica,
proporcionando-lhes uma identidade e um propósito dentro da facção (Bigoli;
Bezerra, 2014).
Outro fator determinante para o crescimento do PCC é a crise do sistema
prisional brasileiro, visto que as penitenciárias do país, conhecidas por sua
superlotação e condições desumanas, tornaram-se verdadeiros caldeirões de revolta
e desesperança. Dessa forma, a ausência de políticas efetivas de ressocialização e
a negligência do Estado em relação às condições carcerárias contribuíram para a
criação de um ambiente no qual o crime organizado pôde prosperar (Bigoli; Bezerra,
2014).
A superlotação das prisões, combinada com a falta de higiene, o tratamento
cruel e a corrupção entre os funcionários, alimentou o sentimento de revolta entre os
detentos, que viram no PCC uma forma de organização e resistência contra o
Estado opressor (Bigoli; Bezerra, 2014). A facção, por sua vez, aproveitou-se dessas
falhas institucionais para expandir seu controle dentro das prisões, oferecendo
proteção e melhores condições de sobrevivência para os presos que se filiassem à
organização (Dias, 2013).
No que diz respeito às políticas de segurança pública implementadas no Brasil
ao longo das últimas décadas, estas contribuíram para o fortalecimento do PCC. Em
vez de adotar medidas eficazes de prevenção e ressocialização, o Estado brasileiro
optou por políticas repressivas que, em muitos casos, apenas exacerbam a violência
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e a criminalidade. A transferência de líderes do PCC para diferentes unidades
prisionais, por exemplo, não enfraqueceu a facção, mas ajudou a disseminar suas
ideias para outras regiões do país - ao serem transferidos para diferentes prisões,
conseguiram manter o controle, disseminar as ideias da facção, recrutar novos
membros e expandir sua influência geográfica, transformando um desafio (a
tentativa do governo de enfraquecê-los) em uma oportunidade para fortalecer a
facção, ou seja, o impacto de suas ações individuais contribuiu para o crescimento
contínuo do PCC em todo o Brasil (Dias, 2013).
A violência policial e a impunidade em casos de abuso de autoridade
reforçaram a narrativa de que o Estado era o verdadeiro inimigo, legitimando, assim,
a luta armada promovida pelo PCC. A falta de confiança nas instituições de
segurança pública – a falta de confiança nestas instituições de segurança pública no
Brasil é o resultado de uma combinação de fatores, incluindo a violência policial, a
impunidade, a corrupção, o tratamento desigual de certas populações, e a
ineficiência na prevenção e resolução de crimes. Esses fatores se somam ao fato de
que o Estado, em vez de oferecer proteção e serviços, é muitas vezes visto como
um agente de repressão e violência - levando muitos a buscarem proteção na
facção, que se apresentava como uma alternativa à proteção estatal falha (Bigoli;
Bezerra, 2014).
Ainda nessa perspectiva, o crescimento econômico do PCC está fortemente
vinculado à sua capacidade de financiar suas atividades criminosas por meio do
tráfico de drogas, assaltos a bancos e extorsões. A facção conseguiu estabelecer
uma complexa rede de negócios ilícitos que não apenas garantiu sua sobrevivência,
mas também proporcionou os recursos necessários para expandir suas operações -
lavagem de dinheiro, contrabando de armas, roubo de cargas, e até o controle de
territórios e serviços - suas operações criminosas, que vão além do tráfico de
drogas, atividades estas que proporcionam à facção os recursos necessários para
manter sua estrutura, recrutar novos membros e expandir seu controle em diversas
regiões, tanto no Brasil quanto internacionalmente (Feltran, 2018).
Outrossim, o uso de técnicas sofisticadas de lavagem de dinheiro permitiu que
o PCC investisse os lucros obtidos em atividades lícitas - O PCC utiliza uma série de
atividades lícitas para lavar o dinheiro obtido com suas operações, atividades que
vão desde comércio e prestação de serviços até investimentos no setor imobiliário e
financeiro. Ao integrar os lucros ilícitos em negócios legais, a facção consegue
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fortalecer sua base econômica, permitindo não apenas sua sobrevivência, mas
também a expansão de suas atividades criminosas - e ilícitas, criando um ciclo
contínuo de fortalecimento econômico. Estima-se que, em 2014, a facção
movimentou cerca de R$200 milhões em mais de 500 contas bancárias, o que
demonstra o nível de complexidade e organização financeira alcançado pelo grupo
(Quadros, 2014).
A capacidade do PCC de transformar seu poder econômico em poder político
dentro das prisões e nas comunidades onde opera consolidou sua posição como
uma das principais forças do crime organizado no Brasil. A facção soube explorar as
falhas do sistema, tanto no âmbito social quanto econômico, para crescer e se
estabelecer como uma organização quase onipotente (Quadros, 2014).
Dessa forma, observa-se que o crescimento do PCC é resultado de uma
combinação de fatores sociais, econômicos e políticos que criaram um ambiente
favorável para a sua expansão. A desigualdade social, a crise do sistema prisional,
as políticas de segurança pública ineficazes e a economia do crime são elementos
que se entrelaçam e se reforçam mutuamente, permitindo que o PCC se tornasse
uma das mais poderosas organizações criminosas do Brasil. No entanto, para
entender plenamente o fenômeno do PCC, é necessário analisar como esses fatores
contribuíram para seu fortalecimento e quais lições podem ser aprendidas para
evitar a repetição desses erros no futuro.
Nesse contexto, a análise da estrutura organizacional e hierárquica do PCC se
torna essencial. A forma como a facção foi estruturada não apenas facilitou sua
expansão, mas também garantiu sua resiliência e capacidade de adaptação frente
às ações repressivas do Estado. Compreender essa estrutura hierárquica, que inclui
a divisão de funções, a liderança e os mecanismos de controle interno, permitirá
desvendar as estratégias que possibilitaram ao PCC consolidar seu poder e
influência, tanto dentro das prisões quanto nas comunidades. Assim, examinar a
organização interna do PCC, viabiliza a identificação dos pontos-chave que
sustentam sua operação para, consequentemente, desenvolver abordagens mais
eficazes para enfrentar e desmantelar essa complexa rede criminosa (Dias, 2013).
2.2 Análise da estrutura organizacional e hierárquica do PCC
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O PCC é uma das facções criminosas mais organizadas e influentes do Brasil,
e sua estrutura organizacional e hierárquica desempenha um papel crucial em seu
sucesso e longevidade. Dessa forma, é possível analisar essa estrutura à luz das
teorias de criminologia crítica, com ênfase na obra de Eugenio Raúl Zaffaroni,
“Criminología: aproximación desde un margen”, a qual oferece uma compreensão
aprofundada das dinâmicas de poder e organização em grupos criminosos
(Zaffaroni, 2011).
A facção é caracterizada por uma estrutura organizacional complexa e
altamente eficiente, que possibilita sua operação tanto dentro quanto fora das
prisões, desafiando as tentativas do Estado de combatê-la. Diferentemente de
gangues ou quadrilhas desorganizadas, o PCC se assemelha mais a uma empresa
multinacional, com uma cadeia de comando clara e funções específicas atribuídas a
seus membros (Dias, 2013).
Segundo Zaffaroni (2011), às organizações criminosas contemporâneas, como
o PCC, adotam configurações que se assemelham às de grandes corporações, em
que a hierarquia e a divisão de tarefas são essenciais para o funcionamento
contínuo da entidade criminosa. No caso do PCC, essa estrutura é composta por
diferentes "cargos" e "funções" que variam desde a liderança central até os soldados
de base, que executam as ordens e operam no nível da rua (Zaffaroni, 2011).
Dentro dessa estrutura, o PCC se organiza em diferentes níveis hierárquicos,
que incluem:
● Comando Geral: Também conhecido como "Sintonia Fina", é composto pelos
líderes máximos da organização, responsáveis por tomar decisões
estratégicas e coordenar operações em todo o território nacional. Esses
líderes estão geralmente encarcerados, mas, ainda assim, conseguem
comandar a facção por meio de comunicação clandestina dentro dos
presídios (Dias, 2013);
● Sintonia: Em um nível abaixo do Comando Geral, a "Sintonia" é responsável
por gerenciar setores específicos da facção, como finanças, logística,
segurança e disciplina. Cada "Sintonia" tem autonomia para tomar decisões
dentro de sua área de atuação, mas deve responder diretamente ao
Comando Geral. Portanto, compreende-se que a estrutura hierárquica do
PCC é altamente centralizada, mas com uma distribuição de
20
responsabilidades, o que permite uma flexibilidade operacional significativa
(Bigoli; Bezerra, 2014).
● Células Locais: Abaixo das "Sintonias" estão as células locais, que operam
em áreas geográficas específicas. Essas células são responsáveis pela
execução das ordens do Comando Geral, bem como pela manutenção da
ordem e da disciplina em suas respectivas áreas. Ademais, também
gerenciam atividades como o tráfico de drogas e a arrecadação de fundos
para a organização (Dias, 2013).
Essa estrutura hierárquica rigorosa, baseada em regras claras e uma cadeia de
comando bem definida, é uma das razões pelas quais o PCC conseguiu manter
coesão e controle sobre seus membros.
Dessa forma, nota-se a manutenção da hierarquia e da disciplina dentro do
PCC como elemento fundamental para a sobrevivência da organização. Zaffaroni
(2011) argumenta que a disciplina rígida e a imposição de regras são características
essenciais de organizações criminosas bem-sucedidas, pois evitam o caos interno e
garantem a execução eficiente das operações criminosas (Zaffaroni, 2011). No PCC,
essa disciplina é garantida por um conjunto de normas internas, muitas vezes
referidas como "estatuto", o qual todos os membros devem seguir fervorosamente.
2.2.1 O Estatuto do PCC: Estrutura e Diretrizes
O Estatuto do Primeiro Comando da Capital desempenha um papel central na
organização da facção, estabelecendo as normas de conduta, as responsabilidades
e as punições dos membros. Criado em 1993 por um de seus fundadores, Misael, o
estatuto original continha 16 itens que regulamentavam o comportamento dos
membros e reforçam os ideais de união e solidariedade entre os presos (Dias,
2009). Conforme Foucault (2000) sugere, normas como essas são fundamentais
para o exercício do poder, funcionando como um mecanismo para disciplinar e
controlar os indivíduos (Foucault, 2000).
O Estatuto estabelece uma série de princípios que orientam o comportamento
dos membros, incluindo a lealdade ao grupo, a solidariedade entre os integrantes e
o respeito à hierarquia. Qualquer violação dessas normas é severamente punida,
21
muitas vezes com a morte, o que reforça a subordinação e a coesão dentro da
organização (Bigoli; Bezerra, 2014).
A estrutura do PCC é delineada de forma hierárquica e disciplinada, conforme
expresso em seu Estatuto, que enfatiza a importância da "rigorosa disciplina e
respeito mútuo entre os membros" ("PCC", s.d.). Logo, percebe-se essa
sistematização como essencial para manter a ordem e o controle dentro do grupo,
garantindo que todas as operações sejam conduzidas de forma eficiente e alinhada
aos objetivos do comando.
As diretrizes do PCC vão além do controle e gestão da organização; elas
estabelecem o grupo como um defensor dos direitos dos prisioneiros e um
combatente da injustiça no sistema prisional brasileiro. O Estatuto articula uma
missão clara, declarando que o grupo visa "revolucionar o sistema de dentro para
fora, impondo respeito através de nossa união" ("PCC", s.d.). Refletindo, assim, uma
estratégia de influenciar e reformar as políticas de segurança e gestão prisional.
Dessa maneira, através do seu Estatuto, a facção manifesta sua intenção de
remodelar o ambiente prisional e influenciar a política de segurança pública. Esse
documento funciona como uma ferramenta de negociação de poder, não apenas
entre os membros, mas também nas interações com as autoridades e outras
organizações criminosas. Logo, o poder do Estatuto estende-se para além dos
muros das prisões, atingindo as esferas sociais e políticas em que o PCC busca
estabelecer sua autoridade ("PCC", s.d.).
Dessa forma, o Estatuto do PCC não é meramente um conjunto de regras
internas; é um manifesto político e social que reflete a complexidade e a organização
de uma entidade que desafia continuamente a autoridade do Estado brasileiro.
Não se trata apenas de um código de regras internas que regula o
comportamento de seus membros, mas também uma peça-chave para decifrar como
a organização opera e se perpetua ao longo do tempo. A compreensão desse
documento permite enxergar como o PCC se estruturou de forma eficaz, tanto para
manter a ordem interna quanto para expandir seu poder para além dos muros das
prisões. A partir desse estatuto, é possível perceber como o grupo adquire coerência
organizacional, estabelecendo uma cadeia de comando rígida, um sistema de
disciplina e lealdade e a garantia de proteção mútua entre os membros (Feltran,
2018; Dias, 2013).
22
No entanto, seu impacto vai muito além da mera coesão interna. A influência
do PCC afeta questões sociais e de segurança pública no Brasil. Seu controle sobre
diversas atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e armas, gera um efeito direto
no aumento da violência e no enfraquecimento da presença do Estado em certas
áreas. Dessa forma, compreender o estatuto é crucial não só para desvendar o
funcionamento interno da organização, mas também para analisar o impacto
socioeconômico e de segurança pública que o PCC exerce sobre o Brasil, ao atuar
como uma força paralela que disputa espaço com as autoridades e influencia
diretamente a vida de milhares de pessoas (Biondi, 2015).
Conforme descrito a seguir, estão os 16 itens do Estatuto do PCC, criado em
1997, e compartilhado por Rizzi (2017):
1. Lealdade, respeito, (sic)1 e solidariedade acima de tudo ao Partido.
2. A Luta (sic) pela liberdade, justiça, e paz.
3. A união na Luta (sic) contra as injustiças e a opressão dentro da prisão.
4. A contribuição daqueles que estão em Liberdade com os irmão dentro da
prisão, através de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares e ação de
resgate.
5. O respeito e a (sic) solidariedade à (sic) todos os membros do Partido, para
que não haja conflitos internos, pro que aquele que causar conflito interno
dentro do Partido, tentando dividir a irmandade será excluído e repudiado do
Partido.
6. Jamais usar o Partido para resolver conflitos pessoais, contra pessoas de
fora. Porque o ideal do Partido está acima de conflitos pessoais. Mas o
Partido estará sempre leal e solidário à (sic) todos os seus integrantes para
que não venham à (sic) sofrerem (sic) nenhuma desigualdade ou injustiça
em conflitos externos.
7. Aquele que estiver em Liberdade ‘bem estruturado’ mas esquecer de
contribuir com os irmãos que estão na cadeia, será condenado à (sic) morte
sem perdão.
8. Os integrantes do Partido tem (sic) que dar bom exemplo à (sic) serem
seguidos e por isso o Partido não admite que haja: assalto, estupro e
extorsão (sic) dentro do Sistema.
9. O partido não admite mentiras, traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo,
interesse pessoal, mas sim: a verdade, a fidelidade, a hombridade (sic),
solidariedade, e o interesse comum ao Bem de todos, porque somos um por
todos e todos por um.
10. Todo integrante tem que respeitar a ordem e a disciplina do Partido. Cada
um vai receber de acordo (sic) com aquilo que fez por merecer. A opinião de
Todos será ouvida e respeitada, mas a decisão final será dos fundadores do
Partido.
11. O Primeiro Comando da Capital — P.C.C. fundado no ano de 1993, numa
luta descomunal e incansável contra a opressão e as injustiças do Campo
de Concentração “anexo” à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, tem
como tema absoluto “a Liberdade, a Justiça e a Paz“.
12. O Partido não admite rivalidades internas, disputa do poder na Liderança do
Comando, pois cada integrante do Comando sabe a função que lhe
compete de acordo com sua capacidade para exercê-la (sic).
1
Palavra originária do latim que tem o significado de "assim".
23
13. Temos que permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra
novamente um massacre, semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de
Detenção em 02 de outubro de 1992, onde 111 presos, (sic) foram
covardemente assassinados, massacre este que jamais será esquecido na
consciência da sociedade brasileira. Por que nós do Comando vamos
sacudir o Sistema e fazer essas autoridades mudar a prática carcerária,
desumana, cheia de injustiça, opressão, torturas, massacres nas prisões.
14. A prioridade do Comando no montante é pressionar o Governador (sic) do
Estado à (sic) desativar aquele Campo de Concentração “anexo” à Casa de
Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do
Comando, no meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes
(sic).
15. Partindo do Comando Central da Capital do KG (sic) do Estado, as
diretrizes de ações organizadas e simultâneas em todos os
estabelecimentos penais do Estado (sic), numa guerra sem tréguas, sem
fronteiras, até a vitória final.
16. O importante de tudo é que ninguém nos deterá nesta luta porque a
semente do Comando se espalhou por todos os Sistemas Penitenciários do
Estado e conseguimos nos estruturar também do lado de fora, com muitos
sacrifícios e muitas perdas irreparáveis, mas nos consolidamos (sic) à (sic)
nível estadual e à (sic) médio e longo prazo nos consilidaremos (sic) à (sic)
nível nacional.
Em coligação com o Comando Vermelho – CV e PCC iremos revolucionar o
país de dentro das prisões e o nosso braço armado será o Terror ‘dos
Poderosos’ opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e o Bangú I
do Rio de Janeiro como instrumento de vingança da sociedade, na
fabricação de monstros (Rizzi, 2017).
O PCC nasceu no sistema prisional e consolidou-se por meio de uma estrutura
bem definida, com funções específicas, que organizam e controlam atividades
dentro e fora dos presídios. Essa hierarquia facilita a comunicação e a execução de
ordens, garantindo que a facção funcione de maneira coordenada e eficiente, o que
é um fator essencial para seu sucesso (Feltran, 2018).
Além disso, a disciplina interna rigorosa e o sistema de punições severas
desempenham um papel crucial na manutenção da coesão e da fidelidade dos
membros. Qualquer violação das normas internas pode resultar em punições
severas, incluindo a morte, o que reforça o controle e a lealdade dentro da
organização. A capacidade de se adaptar a mudanças, como a repressão estatal e a
prisão de líderes, sem comprometer a operação criminosa, evidencia a resiliência da
facção. Portanto, compreender a estrutura hierárquica e a organização interna do
PCC é essencial para entender como a facção conseguiu expandir sua influência e
se manter resiliente frente aos desafios ao longo dos anos (Biondi, 2015).
Portanto, pode-se concluir que a estrutura organizacional e hierárquica do PCC
é uma das chaves para compreender seu crescimento e resiliência ao longo dos
anos.
24
A análise à luz da teoria de Zaffaroni permite compreender como a organização
criminosa opera com um nível de sofisticação que lhe permite não apenas
sobreviver, mas também prosperar em um ambiente hostil. A disciplina interna, a
hierarquia bem definida e a capacidade de adaptação são elementos que
asseguram a continuidade do PCC como uma das principais forças do crime
organizado no Brasil (Zaffaroni, 2011).
2.2.2 Perspectivas de Zaffaroni: Uma Análise Crítica
A análise do PCC considerando a teoria de Eugenio Raúl Zaffaroni2, revela que
a organização se enquadra na tipologia de organizações criminosas complexas, ou
seja, são instituições que não apenas desafiam o Estado, mas operam dentro de
uma lógica de poder que compensa as falhas do sistema estatal (Zaffaroni, 2007). O
teórico argumenta que a criação de uma identidade coletiva dentro de tais
organizações é crucial para manter a lealdade dos membros, característica bem
observada no PCC, que fortalece seu vínculo interno oferecendo apoio financeiro,
proteção e um senso de pertencimento (Dias, 2013).
A estrutura organizacional do PCC reflete a teoria de Zaffaroni, na qual a
organização opera quase paralelamente ao Estado, fornecendo serviços, impondo
regras e exercendo um tipo de "justiça" entre seus membros e as comunidades onde
atua (Zaffaroni, 2011). Desse modo, o sucesso da organização reside na sua
habilidade de criar e manter uma hierarquia que assegura disciplina e eficácia
operacional, elementos que o autor considera essenciais para a sobrevivência de
qualquer organização criminosa de grande porte.
Adicionalmente, a aplicação da teoria criminológica de Zaffaroni ao caso do
PCC demonstra como a facção explora as falhas do sistema penitenciário e a
2
Eugenio Raúl Zaffaroni é um renomado jurista latino-americano, autor de importantes obras no
campo do Direito Penal e da Criminologia, com publicações na Argentina, Brasil, México e Colômbia,
como Tratado de Direito Penal, Manual de Direito Penal e Em busca das Penas Perdidas. Com mais
de 30 anos de atuação no Poder Judiciário, foi Ministro da Corte Suprema de Justiça da Argentina e,
posteriormente, integrou a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Doutor pela Universidade
Nacional do Litoral e professor emérito da Universidade de Buenos Aires, Zaffaroni recebeu o Prêmio
de Estocolmo em 2009 por suas pesquisas sobre crimes em massa. Em 2018, em entrevista,
destacou questões como criminalização da pobreza, seletividade penal e hiper encarceramento no
Brasil. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Entrevista conduzida por Tamires Maria Alves e Gabriela Laura
Gusis. Revista Estudos Políticos: a publicação eletrônica semestral do Laboratório de Estudos
Hum(e)anos (UFF), Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 04-10, dez. 2017. Disponível em:
http://revistaestudospoliticos.com/.
25
exclusão social para fortalecer-se, criando uma estrutura interna que supre o que o
Estado falha em oferecer – identidade, reconhecimento e dignidade para as
populações marginalizadas e para os presos. O PCC preenche esse vazio,
oferecendo aos seus membros uma identidade clara, baseada na lealdade,
solidariedade e proteção. Ao garantir segurança e sustento, a facção cria uma
estrutura que se torna atraente para aqueles que foram excluídos do sistema oficial,
reforçando ainda mais sua influência e poder (Zaffaroni, 2006).
26
3 EVOLUÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E SUA EXPANSÃO NO SISTEMA PRISIONAL
BRASILEIRO
O Primeiro Comando da Capital (PCC) tem marcado profundamente o
sistema carcerário brasileiro, emergindo em um contexto em que Estado, embora
presente, frequentemente demonstra ações inadequadas e ineficazes. A capacidade
de manter o controle de suas atividades dentro das prisões, mesmo após as
medidas repressivas adotadas pelo Estado, evidencia a incapacidade de
enfraquecer de forma significativa sua estrutura organizacional. Além disso, a
superlotação das penitenciárias e a ausência de políticas eficazes de
ressocialização têm transformado o sistema prisional em um ambiente propício para
o recrutamento e a expansão das operações da facção criminosa. Um fator
essencial que contribui para essa ineficácia é a corrupção sistêmica, que enfraquece
as instituições de segurança e justiça, permitindo que membros do grupo se infiltrem
em áreas estratégicas do governo.
A ausência de políticas preventivas que abordem as causas profundas da
criminalidade, como a pobreza e a desigualdade social, também favorece a
perpetuação do poder do PCC, que atrai jovens das regiões mais vulneráveis. Dessa
forma, a simples presença do Estado, sem uma abordagem que integre repressão
eficaz, prevenção e reformas no sistema prisional, mostra-se insuficiente. Apesar de
ostensivas, essas intervenções estatais acabam gerando efeitos contrários aos
esperados, fortalecendo involuntariamente o papel regulador do PCC dentro do
sistema prisional. Originado em 1993 como uma pequena facção prisional no estado
de São Paulo, rapidamente evoluiu para uma organização criminosa complexa e
ramificada, destacando-se pela sua capacidade de adaptação e expansão em
ambientes adversos (Dias; Mingardi, 2013; Santos, 2010).
A ascensão do PCC pode ser atribuída, dentre outros fatores, às condições
deploráveis do sistema penitenciário brasileiro, na qual a superlotação, a violência, a
falta de recursos, o desrespeito aos direitos humanos e a infraestrutura inadequada
criaram um terreno fértil para o crescimento de organizações criminosas. O trecho a
seguir ilustra essa realidade, onde direitos fundamentais dos cidadãos são negados:
A lei do Casarão, como era chamada a Casa de Detenção, até aquele
momento era a lei do mais forte. Estupros, homicídios considerados injustos
e violações de acordos mínimos de convivência eram frequentes. [...] O
sistema oprimia ainda, na perspectiva dos presos, na restrição e humilhação
das visitas, nos espancamentos, nas punições consideradas exageradas, no
27
atraso infinito nos processos criminais, na distribuição de comida estragada,
na superlotação [...] (Feltran, 2018, p. 180).
Logo, compreende-se que a habilidade do PCC em estabelecer ordem e
oferecer proteção aos detentos, contrastando com a incapacidade do Estado de
prover segurança e bem-estar, permitiu que a facção ganhasse rápida notoriedade e
lealdade dentro das prisões (Manso; Dias, 2018).
Ademais, é notório que por meio de uma estrutura hierárquica bem definida e
do uso eficaz de códigos de conduta rigorosos, o PCC não só domina vastas
porções do sistema prisional brasileiro, mas também estende sua influência para as
comunidades externas, operando em áreas urbanas e rurais com alta eficiência
organizacional. Isso inclui a coordenação do tráfico de drogas e armas, além da
realização de operações financeiras complexas, que são fundamentais para a
sustentação econômica da organização (Manso, Dias, 2018)
Internamente, o PCC impõe uma disciplina rígida, punindo severamente
qualquer violação de suas regras. Essas práticas contribuem para a redução da
violência caótica dentro dos presídios sob seu controle, criando uma percepção de
ordem e segurança que, paradoxalmente, pode ser vista como benéfica por
administrações prisionais sobrecarregadas. Este controle também se estende a uma
gestão sofisticada de conflitos, visto que o PCC atua como um tribunal de justiça
alternativo, resolvendo disputas internas e externas à prisão (Mingardi, 2013;
Mendroni, 2018).
No cenário político, o PCC desafia abertamente o controle e a autoridade do
Estado, influenciando legislações e políticas de segurança por meio de suas ações
coordenadas e frequentemente violentas. Grandes rebeliões, como as ocorridas em
20063, são um claro exemplo de como a facção pode mobilizar recursos humanos e
logísticos para confrontar diretamente as forças de segurança pública,
3
Os Atentados de Maio de 2006 foram desencadeados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em
retaliação à transferência de seus líderes para presídios de segurança máxima. No dia 12 de maio, a
facção orquestrou rebeliões simultâneas em mais de 70 unidades prisionais no estado de São Paulo,
além de uma série de ataques contra forças de segurança, delegacias e bases policiais. Esses
atentados resultaram em mais de 250 ações violentas, como incêndios a ônibus e execuções de
policiais, expondo a capacidade de mobilização do PCC dentro e fora das prisões, mesmo sob
suposto isolamento. A resposta do governo envolveu uma forte repressão policial, com centenas de
mortes, algumas sob suspeita de execuções extrajudiciais. Esses eventos mostraram a fragilidade do
sistema prisional e as limitações das ações repressivas, revelando a resiliência da organização
criminosa, que continuou a operar eficazmente apesar das tentativas de desarticulação (Dias, 2013;
Mingardi, 2013; Mendroni, 2018).
28
demonstrando sua força e capacidade de resistência (Mingardi, 2013; Mendroni,
2018).
Além disso, a influência do PCC não se limita ao território brasileiro; a facção
estabeleceu conexões com mercados internacionais de drogas e armas,
participando de redes de crime organizado - organizações criminosas internacionais
envolvidas no tráfico de drogas e armas, a facção expandiu suas operações além
das fronteiras brasileiras, formando parcerias com grupos criminosos em países da
América Latina, como Paraguai, Bolívia e Colômbia, que são rotas estratégicas para
o tráfico. Também estabeleceu conexões com mercados ilegais na Europa e na
África, facilitando a exportação de drogas para o continente europeu e utilizando
países africanos como pontos de trânsito no comércio global de entorpecentes - este
alcance global não apenas aumenta a complexidade do desafio enfrentado pelas
autoridades, mas também coloca o PCC como um ator significativo no cenário
internacional do crime organizado (Lima, 2020).
3.1 Controle territorial e hierárquico
O PCC, originado na década de 1990 por um sentimento de insatisfação
generalizada com as condições carcerárias, e caracterizado por sua forte hierarquia
e disciplina imposta pela violência conseguiu uma rápida expansão dentro e fora das
prisões. Dentro dos presídios, o PCC implantou um sistema de "autogoverno", onde
suas regras, conhecidas como "os mandamentos", são seguidas rigorosamente
pelos detentos, garantindo uma ordem paralela àquela que deveria ser imposta
pelas autoridades. Esse controle inclui a resolução de conflitos internos, a punição
de desrespeitos à hierarquia e a imposição de um "tribunal do crime" - criado para
impor disciplina e controle dentro da facção - que torna bastante burocrático o ato de
assassinar alguém, tanto dentro como fora da cadeia, assim como julgar atos
contrários às diretrizes da facção (Dias, 2009).
Como uma autêntica "Confederação do Crime" 4, o PCC impõe uma estrutura
de normas "éticas" aos seus membros, referidos como "irmãos". Nos presídios sob
controle da facção, todas as atividades estão sujeitas às diretrizes e aprovações dos
4
A "Confederação do Crime" é caracterizada pela colaboração para maximizar os lucros e evitar
conflitos desnecessários. Essa aliança é vista especialmente no tráfico internacional de drogas, onde
o PCC, por exemplo, atua em conjunto com grupos da Bolívia e do Paraguai para garantir o fluxo de
cocaína até os portos brasileiros, de onde as drogas são exportadas para a Europa e outros
mercados lucrativos (Dias, 2009).
29
líderes do grupo. Os membros da organização são denominados "irmãos", enquanto
aqueles que não são oficialmente membros, mas seguem as regras do estatuto do
PCC e mantêm uma relação harmoniosa com a facção. Logo, o PCC estabelece um
modelo de disciplina baseado na obediência aos líderes e na lealdade à
organização, criando uma estrutura que não só mantém a ordem interna, mas
também fortalece sua presença fora dos muros das prisões (Manso, Dias, 2018).
Um dos aspectos mais notáveis do controle do PCC nas prisões é sua
capacidade de influenciar até mesmo as condições do encarceramento. Ao garantir
um certo "controle" da violência e impor suas próprias regras, o PCC, de certa forma,
reduz a instabilidade dentro das prisões, o que, paradoxalmente, é visto por algumas
administrações prisionais como uma "ajuda" à gestão. No entanto, essa "paz" tem
um custo, pois consolida o poder do PCC e sua capacidade de recrutamento,
transformando as prisões em centros de expansão de sua influência (Feltran, 2018).
Do mesmo modo, outro aspecto significativo é o uso da comunicação para a
coordenação de ações fora das prisões. Mesmo encarcerados, os líderes do PCC
mantêm contato com membros em liberdade por meio de celulares
contrabandeados, advogados e visitas, o que lhes permite gerenciar suas operações
externas, incluindo o tráfico de drogas, assaltos e sequestros. A utilização de
aparelhos celulares contrabandeados e outras formas de comunicação clandestinas
permite ao PCC manter uma rede eficiente para a coordenação de crimes. Sendo
assim, essa rede de comunicação eficaz torna o PCC não apenas uma força
dominante dentro das prisões, mas também um ator central no cenário do crime
organizado no Brasil (Santos, 2010).
Além de seu impacto direto no sistema prisional, o PCC exerce uma influência
significativa sobre as comunidades locais, estabelecendo um regime de terror e
controle que afeta a vida diária de milhares de cidadãos. Através de uma rede de
membros que operam fora das prisões, a facção impõe um código de conduta nas
comunidades, regulando atividades econômicas e sociais e punindo severamente
aqueles que desafiam suas regras. Esse domínio territorial permite ao PCC recrutar
novos membros, expandir suas atividades criminosas e fortalecer sua posição contra
facções rivais e intervenções estatais (Dias, 2009).
Além disso, a superlotação carcerária é um fator que contribui para o
crescimento e fortalecimento do PCC, uma vez que com celas superlotadas e
condições desumanas, muitos presos veem a adesão ao PCC como uma forma de
30
proteção e pertencimento. Portanto, esse ambiente de extrema vulnerabilidade
facilita o recrutamento de novos membros, que, uma vez integrados, seguem as
regras da facção com a promessa de segurança e suporte dentro e fora das prisões
(Dias, 2009).
Essa dinâmica pode ser explicada pelo conceito de controle social
desenvolvido por Foucault (2000), que argumenta que, em espaços onde o poder
estatal é frágil ou ausente, outras formas de governança emergem. No caso do
PCC, a organização assume o controle da população carcerária, impondo uma
forma de disciplina que, embora baseada na violência, é percebida como uma
alternativa à falta de estrutura estatal.
3.1.1 Superlotação carcerária e suas consequências
A superlotação dos presídios brasileiros é um dos fatores mais críticos para o
fortalecimento do PCC. Com muitas unidades prisionais operando além de sua
capacidade, o Estado perde o controle sobre a gestão dessas instituições, e as
facções criminosas acabam assumindo funções essenciais, como a manutenção da
ordem interna e a proteção dos detentos. Segundo o levantamento mais recente do
Sistema Nacional de Informações Penitenciárias (SISDEPEN), referente ao segundo
semestre de 2023, o Brasil conta com 650.822 presos em celas físicas, muitos dos
quais estão em unidades superlotadas (Brasil, 2024).
A situação de superlotação carcerária no Brasil não é apenas uma questão de
números, mas reflete um sistema prisional que falha em oferecer condições dignas
aos detentos. Segundo dados do DEPEN, a taxa de ocupação nas prisões
brasileiras ultrapassa 170%, o cenário de superlotação e falta de controle cria um
ambiente onde a ordem é subvertida. As facções passam a desempenhar o papel
que deveria ser do Estado, mantendo uma ordem interna que muitas vezes é
baseada na violência e na coerção, isso torna o sistema prisional um espaço não de
reabilitação, mas de fortalecimento do crime organizado, o que gera um ambiente
propício para a violência e a desordem. Historicamente, as reformas implementadas
ao longo das décadas não conseguiram resolver a crise do sistema prisional
brasileiro - um problema multifacetado que persiste há décadas - resultando em
detentos que enfrentam não apenas a violência física, mas também problemas de
saúde mental, como depressão e ansiedade. Em contraste, países como a Noruega,
31
que adotam uma abordagem progressista, centrada no tratamento humanizado dos
detentos, nos mostram uma outra realidade. O principal objetivo dessa abordagem é
preparar os detentos para uma reintegração bem-sucedida na sociedade,
fornecendo-lhes educação, qualificação profissional, atividades culturais e suporte
psicológico robusto (Fonseca et al., 2024).
Como resultado dessa estratégia, a Noruega demonstra baixas taxas de
reincidência, que são algumas das menores do mundo. A filosofia de respeitar a
dignidade e os direitos humanos dos detentos não apenas melhora seu bem-estar e
chances de recuperação, mas também promove a segurança pública e reduz custos
de longo prazo para o sistema prisional. Isso demonstra que um ambiente prisional
focado na humanização e na reabilitação pode resultar em benefícios significativos
tanto para os indivíduos quanto para a sociedade em geral (Fonseca et al., 2024).
A Noruega se destaca no cenário mundial como um exemplo de prosperidade
econômica e bem-estar social, sustentada por um sistema tributário eficiente e uma
gestão governamental que redistribui riquezas de maneira a garantir um alto padrão
de vida para toda a população. Este contexto econômico privilegiado, fortalecido por
vastos recursos naturais, especialmente petróleo, permite ao governo norueguês
alocar recursos significativos para um sistema prisional que é um dos mais
avançados do mundo (Fonseca et al., 2024).
Entretanto, em contraste com a Noruega, o Brasil enfrenta enormes desafios
econômicos que se refletem diretamente na qualidade de seu sistema prisional. Com
um PIB per capita significativamente mais baixo e altos níveis de desigualdade
econômica, o Brasil luta para financiar adequadamente seu sistema prisional. A
escassez de recursos se traduz em superlotação crônica, falta de pessoal
qualificado e instalações em estado de deterioração. O orçamento limitado impede
não apenas a construção de novas prisões que poderiam aliviar a superlotação, mas
também a implementação de programas essenciais de saúde mental e reabilitação,
fundamentais para a redução da reincidência. Nos últimos anos, o investimento por
detento no Brasil foi apenas uma fração do que é investido na Noruega,
evidenciando a disparidade de recursos disponíveis para enfrentar os desafios
prisionais (Fonseca et al., 2024).
No Brasil, a implementação de programas de ressocialização poderia
contribuir significativamente para mitigar as atuais condições do sistema carcerário.
A adoção de penas alternativas e programas que visam a educação e qualificação
32
dos detentos ajudaria a reduzir a reincidência criminal e desafogar o sistema
prisional. Essas medidas teriam o potencial de enfraquecer o poder das facções, que
muitas vezes recrutam membros em prisões superlotadas e desorganizadas, e
dariam aos presos uma perspectiva de vida diferente, afastada do crime. No entanto,
para que essa transformação ocorra, seria necessário um investimento significativo
em políticas públicas que foquem não apenas na construção de mais presídios, mas
na implementação de penas alternativas, como o monitoramento eletrônico e
serviços comunitários para crimes não violentos, com também, garantir que os
presos tivessem acesso a saúde mental, educação e oportunidades de trabalho
durante o cumprimento da pena (Dias, 2009).
Outrossim, condições degradantes dentro das prisões, como falta de higiene
e alimentação inadequada, assim como a ausência de programas de
ressocialização, contribuem para o fortalecimento da facção. Além disso, o PCC se
apresenta como uma alternativa de "proteção" dentro do sistema, favorecendo a
filiação de presos sem vínculo prévio com o crime organizado (Manso; Dias, 2018).
Isto é, compreende-se que o aumento contínuo da população carcerária, sem
uma expansão proporcional da infraestrutura, alimenta um ciclo de violência e
desordem que favorece a expansão do PCC, dado que o Estado não possui os
recursos para gerir presídios superlotados e a indisciplina ocasionada pelo alto
número de presos (Feltran, 2018). O Estado enfrenta dificuldades financeiras e
políticas para construir novas unidades prisionais e implementar reformas que
reduzam a superlotação, tornando a contenção do PCC ainda mais desafiadora.
Nesse contexto, o PCC emergiu como uma figura de arbitragem,
intermediando conflitos entre os membros e impondo sanções quando necessário.
Paralelamente, a facção intensificou sua oposição ao sistema prisional, advogando
de forma mais vigorosa pelas demandas dos encarcerados (Dias, 2009).
Esta disparidade nos investimentos prisionais entre os dois países não só
enfatiza as diferenças em termos de capacidade econômica, mas também realça
como o Brasil, com suas limitações, luta para implementar uma reforma prisional que
possa efetivamente melhorar as condições de vida dos detentos e a segurança
pública geral. A falta de investimento adequado em infraestrutura e serviços
prisionais no Brasil contribui para um ambiente onde as facções criminosas podem
prosperar e onde as taxas de reincidência permanecem altas, perpetuando um ciclo
de violência e criminalidade (Graziano Sobrinho, 2014).
33
O Brasil, com sua economia emergente, enfrenta desafios persistentes como
a inflação elevada, desemprego, e uma carga tributária complexa que afeta tanto a
arrecadação quanto a distribuição de recursos. Estes problemas econômicos são
agravados por um histórico de corrupção e uma burocracia que muitas vezes
impede a implementação eficiente de políticas públicas, inclusive no setor prisional.
O resultado é um sistema sobrecarregado e subfinanciado, onde a falta de
investimento em manutenção e novas construções leva a condições desumanas,
superlotação e, consequentemente, um terreno fértil para o surgimento e
fortalecimento de facções criminosas como o PCC (Dias, 2009).
3.1.2 Megarrebelião
Sabe-se que, desde sua criação e instauração no sistema prisional, o PCC
evoluiu para se tornar a principal organização criminosa do Brasil, estendendo-se
por diversos estados. A expansão do grupo ocorreu de forma progressiva e em um
curto período, como uma resposta violenta às condições adversas enfrentadas pelos
detentos. Ademais, a consolidação do PCC no sistema prisional paulista, bem como
o reconhecimento oficial de sua existência pelo governo, aconteceu pouco após sua
formação inicial, em 1993 (Manso; Dias, 2018).
A facção só foi oficialmente reconhecida pelo governo após a denominada
"Megarrebelião" de 18 de fevereiro de 2001, que ocorreu em 29 unidades prisionais
do estado de São Paulo. Até essa data, o PCC era conhecido apenas nas prisões, e
as autoridades tratavam as informações sobre uma facção poderosa ganhando
espaço nos presídios como meros boatos. No entanto, durante o evento, cerca de
28 mil detentos conseguiram assumir o controle total de 29 unidades prisionais em
apenas 30 minutos (Furukawa, 2008).
Os detentos que ocupavam posições secundárias na hierarquia do PCC,
alojados no Pavilhão 8 da Casa de Detenção e na Penitenciária do estado, foram os
responsáveis por iniciar a ordem de rebelião. No dia anterior, através de
comunicação por celulares, os líderes do PCC nas outras unidades prisionais
receberam instruções para começar a rebelião entre 12h e 12h30. Este evento é
descrito em detalhes por diversos artigos e reportagens, como no artigo do Estadão,
"A maior rebelião da história" (Furukawa, 2008).
34
Esse dia ficou conhecido como "O dia em que o PCC virou o Sistema".
Demonstraram, assim, que o grupo continuava ativo e resistente, conforme
destacado em vários noticiários, desafiando as afirmações do governo estadual que
proclamava a "extinção" da organização (Feltran, 2018).
A partir desse capítulo, não se tratava mais de “rumores”; era o início da
maior facção do Brasil e, posteriormente, da América Latina. Após esse período de
"tomada de poder", o PCC passou a realmente mudar o sistema carcerário,
espalhando-se por todo o sistema prisional e impondo regras de conduta aos presos
(Feltran, 2018).
Visando estabelecer a ordem e a disciplina dentro do sistema penitenciário, o
Estado surge com o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), intensificando o rigor no
cumprimento de penas privativas de liberdade, seja provisória ou definitiva. Cabe
salientar, no entanto, que introduzido pela Lei 10.792/2003, o RDD não representou
uma verdadeira novidade no ordenamento jurídico, pois sua prática já havia sido
adotada no Estado de São Paulo, onde foi implementado pela Resolução nº 26, da
Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), em 05 de maio de 2001 (Castro,
2010).
A criação dessa regulamentação sobre disciplina carcerária em São Paulo
surgiu também como resposta ao aumento expressivo de rebeliões no estado,
especialmente uma grande revolta ocorrida em fevereiro de 2001. Em meio a um
cenário de caos no sistema prisional e frente à necessidade de uma resposta
imediata, o governo paulista decidiu instalar presídios de segurança máxima, ampliar
os poderes dos diretores das penitenciárias e editar a mencionada Resolução, que
trouxe o modelo do RDD (Castro, 2010).
O RDD foi instituído como uma das principais iniciativas repressivas do
Estado para enfrentar o avanço do crime organizado, especialmente em relação ao
controle exercido por facções criminosas como o PCC. Todavia, ao buscar restringir
a atuação dos líderes da facção e interromper suas comunicações dentro do sistema
prisional, o RDD gerou um efeito adverso: ao invés de enfraquecer a organização,
tal medida contribuiu para sua expansão além dos muros carcerários. O isolamento
imposto aos líderes resultou na descentralização das atividades criminosas,
permitindo ao PCC ampliar suas operações e consolidar sua influência tanto dentro
quanto fora dos presídios. Assim, a repressão estatal, representada pelo RDD,
35
paradoxalmente reforçou a capacidade da facção de atuar de maneira mais ampla
no controle do crime organizado (Castro, 2010).
3.2 Relação entre o PCC e outras organizações criminosas no sistema
prisional
O PCC evoluiu de uma organização prisional para uma das maiores facções
criminosas do Brasil, estendendo sua influência para além de São Paulo através de
uma combinação de táticas que incluíam alianças estratégicas e confrontos diretos.
A facção utilizou essas alianças inicialmente para fortalecer sua presença em novos
territórios, mas, à medida que sua influência crescia, a tendência era substituir a
cooperação pelo domínio territorial exclusivo, especialmente em áreas anteriormente
controladas pelo Comando Vermelho (CV) e outras facções regionais. (Dias, 2017).
O crescimento do PCC e sua tentativa de dominar o tráfico de drogas
precipitaram uma série de conflitos armados com outras organizações criminosas.
Estes confrontos ocorreram tanto dentro dos presídios quanto nas comunidades
urbanas, intensificando as disputas territoriais pelo controle das rotas de tráfico e
das áreas de influência. As prisões, em particular, tornaram-se cenários de violentas
rebeliões, onde rivalidades entre facções desencadearam episódios de extrema
violência, incluindo assassinatos e mutilações (Paes Manso e Dias, 2017).
Em momentos de intensa pressão estatal, como durante grandes operações
de combate ao tráfico, o PCC adotava uma postura de cooperação estratégica com
outras facções. Esses períodos de "paz entre facções" resultaram em cessar-fogo
temporários, que reduziam a violência e permitiam que as organizações se
reorganizassem e fortalecessem suas estruturas internas frente às ações do Estado.
No entanto, tais acordos eram frequentemente precários e podiam desmoronar
rapidamente devido a novas disputas territoriais ou mudanças nas dinâmicas do
tráfico (Paes Manso e Dias, 2017).
Além dos conflitos, o PCC também adotou uma estratégia de cooptação de
facções menores, oferecendo proteção e uma parte nos lucros do tráfico em troca de
lealdade. Essa abordagem permitiu que a facção expandisse sua rede de influência
de maneira mais pacífica em algumas regiões. Contudo, essas alianças eram
igualmente voláteis, sujeitas a rupturas quando os interesses deixavam de convergir,
levando a novos ciclos de violência e retaliação (Dias, 2017).
36
A trajetória de expansão do PCC reflete a complexidade do crime organizado
no Brasil, onde a fluidez das alianças faccionais e a imprevisibilidade dos conflitos
armados desafiam constantemente as políticas de segurança pública e de gestão
prisional. A capacidade do PCC de utilizar as prisões como centros de comando e
controle destaca a necessidade urgente de reformas no sistema carcerário para
impedir que essas instituições continuem a funcionar como incubadoras de violência
e criminalidade. (Paes Manso e Dias, 2017).
3.3 Expansão para o controle do crime organizado fora dos presídios
Além do controle sobre o ambiente prisional, o PCC conseguiu expandir
significativamente sua influência fora dos presídios, assumindo o controle de redes
de tráfico de drogas, roubos e outros crimes em várias regiões do Brasil. Essa
expansão é facilitada pela capacidade de coordenação dos líderes, que, mesmo
encarcerados, continuam a comandar as operações da facção por meio de uma rede
eficaz de comunicação com seus membros em liberdade (Paes Manso e Dias,
2017).
A expansão do Primeiro Comando da Capital para além das fronteiras dos
presídios brasileiros é um exemplo marcante de como uma organização criminosa
pode evoluir para influenciar de maneira significativa a sociedade. Originando-se nas
condições adversas das prisões, onde enfrentou violência institucionalizada e
negligência, o PCC não apenas se adaptou, mas também aprendeu a explorar essas
falhas para estender seu poder para fora dos muros das penitenciárias (Paes Manso
e Dias, 2017).
A expansão do PCC fora dos presídios foi estrategicamente planejada e
executada. Usando tecnologias de comunicação avançadas, como telefones
celulares e a internet, os líderes do PCC conseguiram manter uma governança
rígida e coordenar atividades criminosas, mesmo estando atrás das grades. Assim
sendo, essa comunicação eficiente permitiu que orquestrassem desde o tráfico de
drogas até o planejamento de assaltos e sequestros, mantendo o controle sobre
suas operações com precisão (Santos, 2010).
À medida que se expandia, o PCC começou a impor sua própria ordem nas
comunidades, especialmente em áreas periféricas onde a presença do Estado é
tradicionalmente mais fraca. Essa presença permitiu à facção integrar-se nas
37
comunidades, ganhando apoio e consolidando seu poder (Macacari, 2021). Sua
influência nas comunidades urbanas, especialmente nas periferias, tornou-se tão
significativa que, em muitos casos, a facção atua como uma espécie de "governo
paralelo", impondo suas próprias regras e normas de conduta. Isso inclui a cobrança
de "taxas de proteção", assim como o controle sobre o tráfico de drogas e a
resolução de disputas entre moradores e comerciantes (Santos, 2010).
Embora a presença do PCC possa trazer uma certa ordem às áreas sob seu
controle, essa estabilidade tem um custo elevado, visto que a facção impõe regras
com mão de ferro, e qualquer transgressão é severamente punida. Logo, a liberdade
pessoal e os direitos humanos são frequentemente suprimidos, e a facção usa a
violência como uma ferramenta para manter a ordem e dissuadir a oposição.
Desse modo, essa expansão territorial para fora das prisões não só fortalece
o PCC como uma organização criminosa, mas também impõe novos desafios para
as autoridades, uma vez que a facção tem mostrado uma capacidade notável de
resistir a operações policiais. Ademais, seus métodos de operação complexos e
bem-organizados tornam difícil para o Estado reprimir suas atividades sem uma
estratégia abrangente e multifacetada que vá além das abordagens convencionais
de policiamento.
Portanto, a capacidade da facção de controlar territórios fora das prisões é
uma das principais razões pelas quais o combate ao PCC é tão complexo. Qualquer
ação estatal contra a organização dentro das prisões resulta frequentemente em
retaliações violentas nas ruas, como ataques coordenados a agentes de segurança
pública, explosões de caixas eletrônicos e até mesmo atentados contra civis
(Macacari, 2021).
38
4 IMPACTOS NA SEGURANÇA PÚBLICA E DESAFIOS ESTATAIS
À medida que o Primeiro Comando da Capital (PCC) expande seu alcance,
suas atividades reverberam por toda a sociedade brasileira, exacerbando a violência
e a instabilidade em zonas urbanas e regiões fronteiriças críticas. Este grupo
criminoso não apenas intensificou suas operações tradicionais, como tráfico de
drogas e armas, mas também avançou para esferas de atividade econômica
legítima, complicando as tentativas das autoridades de desmantelar suas redes
financeiras através de táticas sofisticadas de lavagem de dinheiro e extorsão (Bigoli
& Bezerra, 2014; Feltran, 2018).
A estrutura organizada e complexa do PCC coloca desafios significativos para
o Estado brasileiro, que luta para assegurar a proteção e a segurança de seus
cidadãos. As dificuldades enfrentadas pelos órgãos de segurança e pelo sistema
judiciário são amplificadas pela corrupção sistêmica e pela escassez de recursos,
que minam os esforços para uma resposta eficaz e coordenada contra as atividades
da facção (Dias, 2013).
Diante dessa realidade, a implementação de políticas que abranjam tanto
aspectos repressivos quanto preventivos se faz essencial. A adoção de estratégias
que englobam tanto iniciativas de segurança pública quanto programas sociais e
econômicos é vital para diminuir a capacidade de atração do PCC e atenuar os
efeitos corrosivos da criminalidade organizada. Adicionalmente, a cooperação entre
países é crucial, considerando o caráter transnacional das operações do grupo
(Dias, 2013).
A batalha contra o PCC destaca os desafios enfrentados pelo Brasil na esfera
da segurança pública, um contexto que exige uma abordagem holística que não
apenas confronte o crime organizado de maneira direta, mas também fortaleça as
instituições democráticas e promova iniciativas de justiça social, essenciais para
uma transformação duradoura e efetiva (Mingardi, 2013).
4.1 Impactos da atuação do PCC na segurança pública fora do sistema
prisional
Desde sua criação, o PCC desenvolveu uma estrutura organizacional
altamente eficiente, permitindo sua expansão para além do ambiente prisional. A
facção rapidamente passou a controlar o tráfico de drogas, assaltos a bancos e
39
outras atividades ilícitas nas periferias urbanas de São Paulo, transformando-se em
uma força dominante no submundo do crime. A estrutura hierárquica do PCC,
baseada em uma liderança centralizada e um código rígido de conduta, permitiu que
a organização mantivesse o controle tanto dentro quanto fora das prisões (Dias,
2013).
Uma das principais características do PCC fora do sistema prisional é sua
capacidade de diversificar suas fontes de receita. Além do tráfico de drogas, que
continua sendo uma atividade central, a facção também se envolve em roubos a
bancos, extorsões, sequestros e contrabando de armas. Segundo Bigoli e Bezerra
(2014), parte dos lucros obtidos por essas atividades ilícitas é investida em negócios
legais, como empresas de transporte, que são utilizadas para lavar o dinheiro.
Sendo assim, essa tática não só garante a permanência financeira da facção, mas
também dificulta a ação das autoridades ao misturar dinheiro ilícito com atividades
empresariais legítimas (Bigoli; Bezerra, 2014).
Desse modo, a lavagem de dinheiro é uma prática essencial para a operação
do PCC, pois permite que a facção movimente grandes quantias sem chamar a
atenção das autoridades. Empresas de fachada são criadas e administradas por
"laranjas" — indivíduos sem vínculo direto com a facção — que operam em setores
variados, como comércio, transportes e serviços. Feltran (2018) destaca que essa
infiltração na economia formal é uma tática sofisticada que blinda a facção contra
investigações e processos legais, tornando mais difícil para o Estado rastrear e
interromper as suas operações financeiras (Feltran, 2018).
Além disso, outro aspecto relevante da atuação do PCC fora do sistema
prisional é sua expansão internacional. Inicialmente focada nas áreas urbanas e nas
regiões metropolitanas, a facção expandiu suas operações para as fronteiras do
Brasil com países como Paraguai, Colômbia e Bolívia. Essas áreas se tornaram
rotas estratégicas para o tráfico de drogas, especialmente cocaína, que é
transportada para o Brasil e distribuída tanto no mercado interno quanto no exterior.
Todavia, o controle dessas rotas aumentou significativamente a capacidade do PCC
de operar internacionalmente, colaborando com outros grupos criminosos e carteis
de drogas em nível transnacional (Dias; Paiva, 2022).
Consequentemente, o controle das rotas de tráfico nas fronteiras também
promove a intensificação da violência nessas regiões, especialmente devido às
disputas territoriais com outras facções, como o Comando Vermelho (CV). Esses
40
conflitos pelo controle de áreas estratégicas para o tráfico de drogas resultam em
frequentes confrontos armados, aumentando a insegurança nessas regiões e
desafiando a capacidade do Estado de garantir a ordem e a segurança pública
(Dias; Paiva, 2022)
Além disso, o PCC se especializou no contrabando de armas, utilizando as
rotas fronteiriças para adquirir armamentos pesados que são posteriormente
utilizados em assaltos e confrontos com as forças de segurança. A facção também
fornece armas para outros grupos criminosos, consolidando-se como um dos
principais fornecedores de armamentos no mercado ilegal brasileiro. Contribuindo,
assim, para o aumento da violência armada nas áreas controladas pela facção,
agravando os desafios para a segurança pública (Dias, 2013).
Dessa maneira, compreende-se que a atuação do PCC fora das prisões
apresenta enormes desafios para a segurança pública e o Estado de Direito no
Brasil, visto que o poder financeiro e territorial da facção, aliado à sua capacidade de
corromper autoridades, enfraquece as instituições estatais e cria um ambiente de
impunidade. Ademais, a organização se beneficia da falta de políticas públicas
adequadas para lidar com as causas profundas da criminalidade, como a
desigualdade social e a ausência de oportunidades econômicas nas periferias (Dias,
2013).
Todavia, a resposta do Estado à expansão do PCC tem sido, em grande
parte, focada em operações repressivas de curto prazo, como grandes ações
policiais e a transferência de líderes da facção para prisões de segurança máxima.
No entanto, essas medidas têm se mostrado insuficientes para desarticular a facção
ou, ao menos, conter sua expansão. De fato, como observado por Dias (2013),
essas ações muitas vezes têm o efeito contrário, consolidando ainda mais a posição
de poder da facção dentro do sistema prisional, uma vez que seus líderes ganham
prestígio ao sobreviver a essas tentativas de repressão (Dias, 2013).
A longo prazo, enfrentar a influência do PCC fora das prisões requer políticas
integradas que vão além da repressão policial. É necessário investir em programas
de prevenção, educação e geração de empregos nas comunidades mais afetadas
pela presença da facção. Além disso, a luta contra o crime organizado deve envolver
a cooperação internacional, especialmente no que diz respeito ao controle das
fronteiras e ao combate ao tráfico de drogas e armas em nível transnacional.
41
4.2 Desafios enfrentados pelas autoridades no combate ao PCC e suas
ramificações
O PCC é uma das maiores e mais poderosas organizações criminosas do
Brasil, exercendo influência significativa tanto dentro quanto fora dos presídios.
Logo, a luta do Estado brasileiro contra essa facção envolve desafios multifacetados,
que se estendem pelos campos legais, sociais e políticos. No âmbito jurídico, o
enfrentamento ao PCC está centrado na aplicação de leis penais que busquem
coibir suas atividades. Nesse sentido, a Lei n° 12.850/2013 define organização
criminosa, dirá que:
Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional (Brasil, 2013, Art. 1º, § 1º).
Desse modo, a promulgação dessa lei trouxe uma definição das organizações
criminosas perante o cenário jurídico brasileiro, sendo considerado um marco
importante ao possibilitar a tipificação das atividades ilícitas desse grupo. Essa lei foi
responsável por estabelecer critérios mais claros para a repressão dessas
organizações, permitindo a investigação e a obtenção de provas de maneira mais
eficaz.
Entretanto, a aplicação dessa legislação enfrenta dificuldades na prática,
dado os desafios para a obtenção de provas suficientes para condenar os membros
do PCC, especialmente aqueles que ocupam posições de liderança. Dessa forma,
como a facção se organiza em uma estrutura hierárquica rígida, os líderes muitas
vezes permanecem distantes das atividades ilícitas cotidianas, o que dificulta a
coleta de evidências diretas contra eles (Callegari; Weber, 2014).
Outro obstáculo é o atraso nas investigações, devido à sobrecarga do sistema
judiciário e à falta de recursos. Isto é, o número limitado de agentes especializados
em investigar o crime organizado, juntamente com a burocracia judicial, contribui
para a demora no andamento de processos. Além disso, a intimidação de
testemunhas e a corrupção dentro de algumas instituições dificultam a aplicação
plena da lei (Mendroni, 2018).
Ademais, uma das maiores dificuldades no combate ao PCC é o
rastreamento e a apreensão de ativos financeiros ilícitos, dado que a organização
obtém recursos de atividades diversas, como o tráfico de drogas, tráfico de armas,
42
extorsão de comerciantes e até mesmo a prática do "caixinha"5, que envolve a
cobrança de taxas dos próprios detentos e suas famílias. Essa diversificação das
atividades financeiras torna a identificação e interrupção desses fluxos de capital
extremamente complexa. Nesse sentido, o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF) desempenha um papel essencial na detecção dessas
movimentações, oferecendo ao Estado ferramentas como o Relatório de Inteligência
Financeira (RIF), que detalha operações suspeitas realizadas por membros da
facção (Pontes; Anselmo, 2019).
O uso do RIF, no entanto, tem sido alvo de controvérsias, visto que
advogados de defesa alegam que o acesso a informações financeiras sem
autorização judicial viola o direito à privacidade dos investigados, garantido pela
Constituição. Por outro lado, as autoridades argumentam que a urgência no combate
ao crime organizado justifica o uso de tais dados sem a necessidade de aprovação
judicial, uma vez que as operações financeiras ilegais ocorrem de maneira rápida e
disfarçada, dificultando o monitoramento se houver atrasos burocráticos (Brasil,
2022).
Segundo o Recurso Extraordinário RE 1055941,
É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da
UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil –
em que se define o lançamento do tributo – com os órgãos de persecução penal
para fins criminais sem prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o
sigilo das informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a
posterior controle jurisdicional." (Brasil, Supremo Tribunal Federal, RE 1055941,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04 dez. 2019, publicado em 06 out. 2020).
Assim sendo, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) tem se
inclinado a favor do uso do RIF sem autorização judicial, desde que seja
comprovada sua importância na coleta de provas contra organizações criminosas.
Isso tem sido uma ferramenta crucial para o Estado, permitindo a apreensão de
bens e a desarticulação de esquemas de lavagem de dinheiro usados pelo PCC
(Pontes; Anselmo, 2019).
5
A prática da "caixinha" no Primeiro Comando da Capital (PCC) refere-se à cobrança periódica de
uma taxa dos detentos e seus familiares, destinada a financiar as operações da facção dentro e fora
das prisões. Esses fundos são usados para custear advogados, apoiar membros presos e manter as
atividades ilícitas. A "caixinha" é um instrumento de controle social e financeiro da organização,
reforçando a coesão entre os membros e a dependência do grupo (Dias, 2009; ZAFFARONI, 2002).
43
4.3 Respostas políticas e institucionais para lidar com o PCC e seu impacto na
segurança pública
Ao longo das últimas décadas, o Estado brasileiro implementou uma série de
políticas públicas e institucionais visando combater o avanço e a consolidação do
Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre as principais medidas adotadas estão as
operações policiais de grande escala, que buscam reprimir as atividades criminosas
da facção, a transferência de seus líderes para presídios de segurança máxima, com
o intuito de isolar as lideranças e dificultar a comunicação com outros membros da
organização, e a desarticulação de redes financeiras ilícitas, com o objetivo de cortar
o fluxo de recursos que alimenta as atividades da facção. Entretanto, essas ações,
apesar de importantes, têm se mostrado insuficientes para reduzir de forma
significativa a influência e o poder do PCC dentro do sistema prisional e em áreas
urbanas periféricas, onde a facção mantém uma forte presença (Brasil, 2022).
A limitação das estratégias repressivas reflete a complexidade do
enfrentamento ao crime organizado no Brasil, em que o poder das facções, como o
PCC, está intimamente ligado a fatores socioeconômicos, estruturais e institucionais.
Embora as operações de repressão e encarceramento sejam necessárias para o
controle imediato da criminalidade, elas não conseguem, isoladamente, resolver o
problema. Desse modo, a repressão tem, muitas vezes, o efeito colateral de
fortalecer a organização, à medida que líderes presos continuam a comandar
atividades criminosas de dentro dos presídios, mantendo o controle sobre a
população carcerária e expandindo sua influência para novas áreas.
Dessa forma, fica evidente que o enfrentamento ao PCC exige uma
abordagem mais ampla, que vá além da repressão policial e envolva políticas
preventivas eficazes, voltadas para a criação de oportunidades para jovens em
situação de vulnerabilidade, para a melhoria das condições carcerárias e para a
reinserção social dos detentos após o cumprimento de suas penas (Pontes;
Anselmo, 2019).
Ademais, o PCC tem utilizado sua capacidade de causar violência e
desestabilizar a ordem pública para exercer pressão política. Isto é, em vários
momentos da história recente, a facção coordenou ataques contra delegacias,
instituições públicas e agentes de segurança como retaliação por operações policiais
intensivas ou tentativas de desarticulação de sua estrutura. Esses ataques geram
44
pânico na população e colocam as autoridades em uma posição delicada, muitas
vezes forçando o recuo das operações repressivas por medo de mais retaliações
(Pontes; Anselmo, 2019).
4.3.1 Desafios no intrínsecos no Sistema Penitenciário
O sistema penitenciário brasileiro desempenha um papel crucial no
fortalecimento e na expansão do PCC, visto que a facção foi criada dentro das
prisões e, ao longo dos anos, consolidou seu poder de forma a controlar grande
parte das unidades prisionais do país. Logo, o ambiente carcerário, marcado pela
superlotação, pelas condições insalubres e pela ausência de políticas de
ressocialização efetivas, contribuiu para que o PCC continue a exercer controle
sobre os presos, oferecendo proteção e serviços em troca de lealdade. Assim, as
prisões brasileiras se tornaram centros de articulação e expansão da facção, onde
seus líderes mantêm uma rede de comunicação com o mundo externo, planejando e
coordenando atividades ilícitas, tanto dentro quanto fora das cadeias (Brasil, 2022).
Nesse sentido, a superlotação crônica das unidades prisionais, associada à
falta de controle efetivo do Estado, torna o ambiente prisional propício para o
fortalecimento das facções. As prisões brasileiras, projetadas para reabilitar, acabam
servindo como "universidades do crime", onde presos de menor periculosidade são
rapidamente recrutados e doutrinados pelas facções. Da mesma maneira, a
ausência de infraestrutura adequada para a ressocialização faz com que o sistema
prisional funcione apenas como um mecanismo de contenção temporária,
perpetuando um ciclo de violência e exclusão. Dessa forma, a superlotação não
apenas agrava as condições de vida dos presos, mas também enfraquece a
capacidade do Estado de controlar as atividades ilícitas dentro das cadeias
(Mingardi, 2013).
Ademais, a tentativa do Estado de isolar os principais articuladores da facção
– transferindo-os para presídios de segurança máxima – e enfraquecer seu poder
mostrou-se limitada. Mesmo em presídios de segurança máxima, os líderes do PCC
continuaram a se comunicar com seus subordinados, utilizando advogados,
familiares ou até mesmo meios ilegais, como celulares, para manter o comando da
facção. Além disso, a transferência de líderes para outras regiões do país contribuiu
para a disseminação da facção em áreas onde antes ela não tinha tanta influência,
45
ampliando seu raio de atuação e consolidando sua posição como uma organização
de alcance nacional (Mingardi, 2013).
Portanto, conclui-se que a reforma do sistema penitenciário brasileiro é uma
necessidade urgente, e deve ir além do isolamento físico dos presos. É imperativo
que sejam implementados programas de ressocialização eficazes, que ofereçam aos
detentos oportunidades de educação e formação profissional, preparando-os para
uma vida após o encarceramento. Esses programas precisam ser desenhados para
reduzir a reincidência criminal e promover a reintegração dos ex-detentos à
sociedade, combatendo as causas estruturais que levam ao seu envolvimento no
crime. Logo, o sistema prisional deve ser transformado em um espaço de
reabilitação, onde os presos tenham acesso a oportunidades de recuperação social,
em vez de perpetuar um ciclo de violência e marginalização (Mingardi, 2013).
4.3.2 Políticas de Prevenção e Integração Social
O combate ao crime organizado, especialmente no que diz respeito ao PCC,
não pode ser sustentado apenas por ações repressivas. A facção, assim como
outras organizações criminosas, prosperam em áreas onde a exclusão social é
predominante e onde o Estado não consegue prover serviços básicos, como
educação, saúde e segurança. A exemplo, nas periferias urbanas, onde há um
vácuo de poder que é rapidamente preenchido pelas facções, que oferecem uma
alternativa, ainda que criminosa, para jovens em situação de vulnerabilidade. Desse
modo, o PCC se apresenta nesses locais como uma fonte de proteção e
oportunidades, atraindo jovens que buscam status, segurança e uma forma de
escapar da pobreza e da falta de perspectivas (Mingardi, 2013).
Nesse contexto, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania
(Pronasci), lançado em 2007, representou um importante avanço no sentido de
equilibrar as políticas repressivas com ações preventivas e de inclusão social. O
Pronasci foi criado com o objetivo de enfrentar as causas estruturais da
criminalidade, promovendo a capacitação profissional de jovens, a educação e o
fortalecimento dos vínculos comunitários. Ao priorizar a atuação em áreas de alta
vulnerabilidade social, o programa buscou reduzir o envolvimento de jovens no crime
organizado, oferecendo alternativas concretas ao tráfico de drogas e à violência
urbana (Mingardi, 2013).
46
Contudo, apesar de seu potencial transformador, o Pronasci enfrentou
inúmeros desafios, como a falta de continuidade administrativa e o
subfinanciamento, que comprometem a efetividade de suas ações a longo prazo.
Sendo assim, muitas das iniciativas previstas pelo programa não conseguiram atingir
a escala necessária para causar um impacto duradouro nas comunidades afetadas
pela criminalidade. Além disso, a execução das políticas preventivas dependeu, em
grande parte, de governos estaduais e municipais, resultando em disparidades
regionais na aplicação das medidas e na falta de uniformidade nas políticas de
prevenção. O Pronasci demonstrou que o investimento em políticas sociais e de
integração é essencial para combater o crime de maneira eficaz, mas também
revelou a necessidade de maior articulação e planejamento na implementação
dessas políticas (Mingardi, 2013).
A longo prazo, a redução da influência do PCC e de outras facções
criminosas exige investimentos contínuos e robustos em políticas públicas que
enfrentam as causas profundas da criminalidade. Isso inclui a criação de
oportunidades educacionais e de emprego para jovens em áreas vulneráveis, além
de políticas de assistência social para famílias afetadas pela violência e pela
criminalidade. Ademais, programas de apoio psicológico e de proteção para aqueles
que desejam abandonar o ciclo da criminalidade também são fundamentais para
enfraquecer o poder das facções e reduzir seu recrutamento. Somente através da
criação de alternativas viáveis e sustentáveis para a juventude será possível minar o
poder de recrutamento do PCC e promover uma transformação social nas áreas
mais afetadas pela exclusão e pela violência (Mingardi, 2013).
4.3.3 Corrupção e a Fragilidade Institucional
A corrupção é um dos principais fatores que comprometem os esforços do
Estado no combate ao PCC, dado que o envolvimento de agentes públicos, como
policiais, políticos e servidores, em esquemas de corrupção enfraquece
significativamente a capacidade das instituições de combater o crime organizado de
maneira eficaz. Dessa forma, a corrupção, que permeia desde as forças de
segurança até as instituições judiciais, cria um ambiente de impunidade, onde o
PCC pode operar com relativa liberdade, corrompendo funcionários públicos para
facilitar o contrabando de armas, drogas e outros itens ilícitos dentro das prisões,
47
além de viabilizar a lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros (Mingardi,
2013).
A corrupção dentro do sistema penitenciário e nas forças de segurança
pública é outro fator que dificulta as tentativas de contenção do PCC, dado que a
entrada de celulares, drogas e armas nos presídios é facilitada por agentes
penitenciários e policiais corruptos, permitindo, assim, que os líderes da facção
mantenham a comunicação com o mundo exterior e coordenem suas operações
criminosas. Além do mais, a corrupção enfraquece os esforços do Estado em isolar
e punir os principais líderes da facção (Lima, 2020).
Além disso, o combate à corrupção dentro das instituições de segurança
pública é um desafio contínuo. A falta de uma política eficiente de controle e
combate à corrupção, aliada à baixa remuneração e às condições precárias de
trabalho dos agentes penitenciários, são fatores que aumentam a vulnerabilidade
dessas instituições à infiltração criminosa (Dias, 2013).
A Fundação Perseu Abramo (2013) destaca que a corrupção sistêmica dentro
das forças de segurança pública e do sistema judiciário é um dos principais
obstáculos para a eficácia das políticas de combate ao crime organizado. Isto é, a
cooptação de agentes públicos pelo PCC, seja por meio de subornos ou ameaças,
enfraquece as operações policiais, permitindo que a facção continue operando sem
grandes interrupções. Essa situação é agravada pela falta de transparência na
gestão dos recursos públicos destinados à segurança pública, dificultando a
responsabilização dos envolvidos em práticas ilícitas e perpetuando um ato de
impunidade. Logo, sem um controle efetivo sobre o uso dos recursos e sem
mecanismos robustos de fiscalização, as operações contra o PCC tornam-se
ineficazes, e a facção continua a expandir sua influência (Mingardi, 2013).
Outrossim, o fortalecimento das instituições de controle, como o Ministério
Público e os órgãos de fiscalização, é essencial para garantir que os recursos
públicos sejam utilizados de forma adequada e que os responsáveis pela corrupção
sejam punidos. Nesse sentido, a Lei de Organizações Criminosas (Lei nº
12.850/2013) trouxe importantes avanços no combate ao crime organizado,
estabelecendo novos mecanismos de investigação e ampliando as possibilidades de
cooperação entre os diferentes órgãos de segurança e justiça. No entanto, é
necessário que essas ferramentas sejam usadas de maneira eficaz, com total
48
transparência e accountability6, para que as ações contra o PCC sejam realmente
eficientes e duradouras (Brasil, 2022).
6
Termo inglês utilizado para descrever as práticas relacionadas à prestação de contas, sendo
amplamente associado ao controle, responsabilidade, transparência e fiscalização.
49
5 CONCLUSÃO
O presente estudo teve como objetivo examinar a ascensão e expansão do
Primeiro Comando da Capital (PCC), evidenciando a complexidade de sua atuação
dentro e fora do sistema prisional brasileiro. A análise mostrou que o crescimento
dessa organização não pode ser compreendido de forma isolada, desvinculado de
questões sociais, econômicas e políticas que atravessam o país nas últimas
décadas. A pesquisa se baseou em uma abordagem interdisciplinar, utilizando
referenciais teóricos da criminologia, sociologia e ciência política para compreender
como fatores estruturais contribuem para a perpetuação e fortalecimento da
organização.
Dito isso, o trabalho possibilitou demonstrar como a estrutura organizacional
do PCC segue padrões semelhantes às grandes corporações multinacionais, com
hierarquias e sistematização, o que desafia a visão tradicional de facções criminosas
como entidades desorganizadas e fragmentadas e traz uma nova ótica sobre as
organizações criminosas e sua construção.
Logo, observou-se que com o aumento das desigualdades sociais e escassez
em serviços básicos como educação e segurança, a organização desempenhou um
papel crucial no ecossistema de certos grupos sociais, sobretudo aqueles
localizados nas periferias urbanas. A ausência de oportunidades econômicas para a
juventude marginalizada criou um terreno fértil para o recrutamento de novos
membros pelo PCC, que se consolidou como uma forma alternativa de organização
e proteção diante da atuação políticas sociais de inclusão ineficazes.
O estudo também destacou que o PCC soube se adaptar às políticas penais
punitivistas adotadas pelo Estado. O encarceramento em massa, muitas vezes
justificado como uma solução para a criminalidade, resultou no fortalecimento das
facções dentro dos presídios. Com uma estrutura hierárquica rígida e disciplinada, o
PCC se expandiu para fora das prisões, controlando diversas atividades ilícitas,
como o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro. A pesquisa apontou que a
capacidade da facção de articular suas operações no ambiente prisional e no
cenário urbano demonstra a complexidade do desafio enfrentado pelas autoridades
públicas.
Os impactos dessa expansão são profundos para a segurança pública. O
controle territorial exercido pelo PCC nas periferias urbanas e em comunidades
50
carentes exacerba o sentimento de insegurança, uma vez que o Estado acaba
perdendo o controle sobre determinadas áreas, sendo substituído por um sistema
paralelo de governança imposto pela facção. A influência do PCC nas regiões mais
vulneráveis não apenas subverte as instituições de segurança, como também cria
um ciclo de violência difícil de ser contido. O aumento da violência armada, os
constantes confrontos entre facções rivais e a intensificação de atividades
criminosas como sequestros, assaltos e assassinatos resultam em um cenário de
instabilidade permanente, afetando diretamente a vida da população e dificultando o
restabelecimento da ordem por parte do poder público.
Outro aspecto significativo é a capacidade do PCC de corromper agentes do
Estado, incluindo membros das forças de segurança e do sistema judiciário. Essa
infiltração no aparato estatal fragiliza ainda mais as políticas de combate ao crime
organizado, tornando a repressão ineficaz e contribuindo para a impunidade. Assim,
a organização não apenas resiste às tentativas de repressão, mas também se
fortalece em virtude da debilidade das instituições.
Assim, o presente trabalho observa que o enfrentamento ao PCC deve ir além
da mera aplicação de sanções penais, exigindo uma abordagem multidisciplinar e
multifacetada. Políticas de inclusão social, investimentos em educação e geração de
emprego, além de programas de ressocialização para os detentos, são essenciais
para combater a criminalidade de forma sustentável. Ao propor um diálogo entre as
áreas de segurança pública e políticas sociais, esta pesquisa sugere que a
resolução do problema exige esforços coordenados entre diferentes esferas do
governo e da sociedade civil.
O enfrentamento ao PCC, assim como a outras organizações criminosas no
Brasil não se restringe a abordagens puramente repressivas. É imperativo que o
Estado reavalie suas estratégias de segurança, valorizando a colaboração
intersetorial e a participação da sociedade na construção de um ambiente mais
seguro e justo.
O crescimento e a evolução das organizações criminosas não são fenômenos
recentes, mas estão profundamente enraizados na história do Brasil, sendo
alimentados por contextos como a resistência à opressão e a corrupção endêmica
nas esferas do poder. Identificar a criminalidade organizada não apenas como uma
questão de segurança pública, mas como um reflexo das falhas estruturais na
51
sociedade brasileira, é crucial para a formulação de estratégias eficazes de combate
ao crime.
Possíveis cenários futuros para o combate ao crime organizado, levando em
consideração os avanços legislativos, tecnológicos e sociais que podem influenciar a
atuação do PCC nos próximos anos, tendo isso em vista, o desenvolvimento de
novos marcos legais, como o uso mais eficaz de investigações financeiras e a
cooperação internacional, poderá enfraquecer as bases econômicas do PCC,
reduzindo seu impacto tanto no Brasil quanto internacionalmente.
Por fim, a presente pesquisa ressalta a necessidade de um aprofundamento
acadêmico em temas ainda pouco explorados, como o papel das mulheres no
interior das facções criminosas e as dinâmicas internas de poder no Primeiro
Comando da Capital (PCC). A contribuição deste trabalho consiste em oferecer uma
análise minuciosa dos impactos sociais e econômicos provocados pela atuação do
PCC, apontando direções para futuras investigações que possam ampliar o
entendimento sobre as organizações criminosas e suas repercussões para a
segurança pública no Brasil. Além disso, torna-se imperativo o desenvolvimento de
estudos voltados para a análise da expansão da facção criminosa no Nordeste,
região que tem testemunhado um aumento significativo da presença do PCC, com
especial ênfase nos impactos no estado da Paraíba. A investigação dessas
particularidades regionais e das dinâmicas locais é fundamental para subsidiar a
formulação de políticas públicas mais eficazes no enfrentamento do crime
organizado.
52
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