Os Contratos Swap
Os Contratos Swap
OS CONTRATOS SWAP
1 ANTUNES, Engrácia, “Os Instrumentos Financeiros”, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2014, página 157.
2 ALMEIDA, Castro, “Contratos II”, 5ª edição, Almedina, 2021.
2
INDICE
1. Contexto Histórico do Contrato de Swap ............................................................... 4
2. O Primeiro Swap de Divisas: IBM/Banco Mundial ................................................... 6
3. Enquadramento Jurídico ...................................................................................... 7
4. Mecanismo Económico do Contrato Swap ............................................................ 8
5. Características do Contrato de Swap .................................................................... 9
5.1 Onerosidade .................................................................................................. 9
5.2 Consensualidade ........................................................................................... 9
5.3 Contrato Duradouro de Execução Sucessiva ou Periódica ............................... 10
5.4 Sinalagmático .............................................................................................. 10
5.5 Aleatoriedade ............................................................................................... 10
6. O Contrato de Swap de Divisas ........................................................................... 11
7. O Contrato de Swap de Taxa de Juro .................................................................... 13
7.1 O Risco de Contrapartida .............................................................................. 13
7.2 Outras variantes ........................................................................................... 14
8. Troca de Vantagens Comparativas ...................................................................... 15
9. Finalidades do Contrato ..................................................................................... 16
9.1 Cobertura do Risco Financeiro (“hedging”) ..................................................... 16
9.2 Arbitragem (“arbitrage”) ................................................................................ 16
9.3 Especulação (“trading”) ................................................................................ 17
10. Aplicabilidade dos contratos de Swap de taxa de juro em Portugal ...................... 18
11. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, Proc nº 27/14.5TVPRT.P1.S1 ................ 20
Bibliografia ........................................................................................................... 21
3
1. Contexto Histórico do Contrato de Swap
Para uma melhor compreensão, importa recuar e fazer uma análise económica, técnica e
regulamentar do seu contexto. A inovação financeira, assim como os avanços tecnológicos
contribuíram para o surgimento do contrato de swap. Os avanços associados ao seu surgimento
residem nos avanços da tecnologia, capazes de reduzir custos de comunicação, informação e,
particularmente, transações.
Não se pode descartar a importância do crescimento da riqueza que, consequentemente, conduz
a uma crescente procura de ativos financeiros.
O contrato de swap surge como resposta empresarial a uma crise internacional, a crise de 1973.
Será em 1973 que se ultrapassa o sistema monetário internacional correspondente ao Acordo
de Bretton Woods3, com a constituição do Fundo Monetário Internacional (FMI). Inicialmente,
“cada país membro do Fundo era obrigado a declarar o valor do câmbio da sua moeda em
termos de Gramas de ouro fino e bem assim em relação ao dólar, cuja paridade era de 35
dólares por onça de ouro fino.”4.
Desta forma, o FMI definia um padrão de câmbio, assim como normas especificas sobre a
paridade de moedas, à sua modificação e controlo monetário. Neste desenvolvimento, em 31
de maio de 1968, aprovado na Junta de Governadores, o FMI anuncia o novo sistema dos
chamados direitos especiais de gira, considerado o primeiro passo para a reforma do sistema
monetário internacional.
Em 15 de agosto de 1971, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon suspende a
conversão do dólar em ouro. Com este ato, Nixon reconhece, implicitamente, a crise monetária
dos EUA5.
O ano de 1973 ficou marcado, como já referido, pela supressão do duplo mercado do ouro que,
como consequência, permitiu aos Bancos Centrais liquidar as respetivas reservas pelo preço
3 O Acordo de Bretton Woods, realizado em 1944, tratou da reflexão interna da hegemonia dos Estados Unidos
da América no período pós-guerra e estabelecer uma política económica internacional. Para garantir a
recuperação do crescimento dos países, estabeleceu-se que cada país deveria manter a taxa de câmbio de sua
moeda em paridade com o padrão dólar-ouro. No entanto, este acordo foi apenas uma utopia. Os grandes
investimentos externos por parte de empresas e investidores americanos, o auxílio financeiro prestado pelos
EUA a outros países e os recentes gastos militares, a balança comercial dos EUA foi afetada negativamente. O
Acordo, que pretendia reorganizar o cenário económico internacional, caiu drasticamente.
4 CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000, página 14.
5A crise deveu-se à expansão do deficit da balança de pagamentos dos EUA, que resultou dos envolvimentos
dos EUA na guerra do Vietnam e das despesas militares, assim como o investimento no estrangeiro das
empresas norte-americanas.
4
que entender, livremente. O FMI, perante tal crise, viu-se forçado a utilizar uma unidade de
conta baseado na moeda nacional para fixar o valor do Special Drawing Rights (SDR) 6.
O choque petrolífero, resultante da política de Reagan7, sentiu-se pela subida das taxas de juro
dos EUA, ao contrário do que se sucedeu em 1973, que o preço do barril de crude triplicou,
que deu origem ao “segundo choque petrolífero”.
Ressalva-se, então, relativo a este ponto, que as crises financeiras, resultantes do abando da
convertibilidade do dólar em ouro e os choques petrolíferos contribuíram para a instabilidade
internacional no investimento de capitais, num ambiente de mundialização da economia global,
e no comércio internacional, nomeadamente, de câmbios e taxas de juro.
Neste sentido, surgem os riscos associados a investimentos e operações internacionais que
comportam uma gestão mais cuidada por partes das empresas e dos bancos.
Com uma postura mais liberal por partes dos governos, em relação às taxas de juro, acrescida
de inovação financeira, permitida pelo desenvolvimento das técnicas de informação e da
tecnologia, aparece o objeto de análise, o contrato de swap, que surge “como resposta dos
profissionais da área financeira à generalizada situação de crise no panorama
internacional”8.
Para uma melhor compreensão, o contrato de swap surge numa época que se procurava superar
o trafico e instabilidade mercantil internacional, a liquidação e o endividamento dos países,
mais precisamente, como resposta às taxas de juros e oscilações monetárias.
De facto, esta técnica surgiu nos finais da década de setenta, no Reino Unido, pela necessidade
dos investidores e empresas britânicas pretenderem investir no EUA, para evitar as normas
nacionais de câmbio para adquirir moeda estrangeira.
Então, a solução encontrada pelos interessados britânicos e pelos EUA foi de um mecanismo
chamado “swap”, com a primeira a pagar em libras as dividas das segundas e, por outro lado,
estas solucionarem em dólares as dividas dos primeiros.
Ensina MARIA CLARA CALHEIROS que “o contrato swap veio permitir o estabelecimento
de uma trama internacional que mitigue as consequências de tais oscilações, de forma a que,
6 “The SDR is an international reserve asset. The SDR is not a currency, but its value is based on a basket of
five currencies—the US dollar, the euro, the Chinese renminbi, the Japanese yen, and the British pound
sterling.”- International Monetary Fund. Disponível em:
https://www.imf.org/en/About/Factsheets/Sheets/2023/special-drawing-rights-sdr
7 Política restritiva moldada para conter a inflação e financiar o deficit, através da emissão de obrigações do
Tesouro com juros reais.
8 CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000,
página18.
5
por um intercambio de posições de mercado dos agentes económicos, se alcancem situações
globalmente mais vantajosas para os intervenientes”9.
Podemos concluir que o contrato de swap surgiu para incidir sobre oscilações e anomalias no
mercado internacional, sob os agentes, carentes de financiamento, que irão tirar partido dos
diferenciais de taxas existentes nos mercados, em função das diferentes posições de acesso ao
crédito que daí resultam, procurando beneficiar as diferentes partes.
9 CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000, página
19.
10 CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000,
página 29.
6
A Salomon Brothers 11, perante a situação das duas entidades, sugeriu a elaboração de um
contrato de swap. Assim, o Banco Mundial emitia obrigações em dólares sobre o mercado
americano e, por sua vez, a IBM emitia, naquilo que eram as suas frações de marcos alemães
e francos suíços. Desta forma, trocavam, entre si, o produto dos empréstimos obtidos.
Pela importância que alcançou, pode-se afirmar que a operação foi um sucesso total. O Banco
Mundial contemplou o seu programa de financiamento em francos suíços e marcos alemães,
reduzindo os custos dos empréstimos contraídos. A IBM, conseguiu alcançar o seu objetivo de
financiamento, cobrindo o risco de câmbio.
Numa perspetiva financeira, afastando-nos um pouco da perspetiva jurídica abordada no
presente trabalho, corresponderia a um empréstimo cruzado de dólar, marco e franco entre o
Banco Mundial e o IBM.
Importa referir um elemento característico e distintivo deste contrato, em comparação com
outras técnicas financeiras. Neste contrato, os montantes em divisas fornecidas por ambas as
entidades não eram calculadas pela taxa de longo prazo, mas sim pelos reembolsos dos
empréstimos contraídos pelas partes. As quantias transferidas no contrato de swap são definidas
pelas dividas subjacentes e não sobre o controlo do mercado.
Em suma, o contrato de swap: IBM/Banco Mundial representa um encargo financeiro de uma
empresa contraída pela outra parte, sem se desvincular juridicamente pelo seu próprio encargo
e não deixar de ser responsável pelo mesmo.
3. Enquadramento Jurídico
O contrato de swap está previsto no artigo 2º, número 1, alínea e) do Código dos Valores
Mobiliários, que se cita, “e) As opções, os futuros, os swaps, os contratos a prazo e quaisquer
outros contratos derivados relativos a:
i) Valores mobiliários, divisas, taxas de juro ou de rendibilidades, licenças de emissão ou
relativos a outros instrumentos derivados, índices financeiros ou indicadores financeiros, com
liquidação física ou financeira;
ii) Mercadorias, variáveis climáticas, tarifas de fretes, taxas de inflação ou quaisquer outras
estatísticas económicas oficiais, com liquidação financeira ainda que por opção de uma das
partes;
iii) Mercadorias, que possam ser objeto de liquidação física, desde que sejam transacionados
em mercado regulamentado ou em sistemas de negociação multilateral ou organizado, com
exceção dos produtos energéticos grossistas negociados em sistema de negociação organizado
que só possam ser liquidados mediante entrega física, nos termos da legislação da União
Europeia, ou, não se destinando a finalidade comercial, tenham características análogas às
de outros instrumentos financeiros derivados;”. Conjugado com o número 2 do mesmo
11A Salomojn Brothers tratava-se de um banco de investimentos americano, fundado pelos irmãos Arthur,
Herbert e Percy Salomon em 1910. Sediado em Wall Street, era um dos maiores bancos de investimentos,
destacando-se pelo seu leque de serviços financeiros e, principalmente, pelo seu departamento de análise e
negociação de renda fixa.
7
preceito legal, que enuncia “As referências feitas no presente Código a instrumentos
financeiros devem ser entendidas de modo a abranger os instrumentos mencionados nas
alíneas a) a g) do número anterior.”. Pode-se concluir, com a enunciação de ambos os artigos
e a sua conjugação, que os swaps inserem-se na categoria de instrumentos financeiros, na
sequência, nos instrumentos derivados 12.
12Cumpre referir que o é um produto financeiro que deriva de outro, sendo que o valor do primeiro está
relacionado com o valor do segundo produto financeiro. Por exemplo, um swap de taxa de juro deriva de um
empréstimo que lhe é concedido e subjacente.
8
Como será explorado adiante, a solução que um contrato de swap de taxa de juro oferece
passará pelas empresas contrair para cada um empréstimos nas melhores condições a que tem
acesso e, num momento posterior trocar entre si o resultado obtido, desde dívidas a quantias
dos juros que se foram vencendo. No contrato de swap de divisas, permite que se obtenha
divisas “semelhantes às do mercado monetário onde se obtinham as condições mais
favoráveis”13, para além de que a obrigação e o seu cumprimento, “efetuam-se diretamente à
outra parte, com autonomia em relação aos contratos de cada das partes com terceiros.”.
5.1 Onerosidade
Independentemente que a modalidade que o contato de swap assuma, já se verificou que o
contrato de swap implica a realização de pagamentos bilaterais, isto é, de sacrifícios
patrimoniais para ambas as partes, constituindo, desta forma, na categorização de contratos
onerosos. Como refere MOTA PINTO, “a onerosidade consiste na circunstância de ambas
estarem sujeitas ao risco de perder, embora, no final de contas, só uma venha ganhar”15.
Corresponde, como já compreendido, à ideia de ambas as partes aceitarem o risco de pagar
certas quantias, de acordo, sempre, com a evolução das taxas de juro.
Como já referido, a função económico-social dos contratos de swap é a de troca, “porque neles
se verifica bilateralidade da relação custo-benefício, revelada pela dualidade das prestações
e intersectada pela divergência entre as finalidades típicas dos contraentes.”16. Podemos
retirar que a dualidade das prestações está relacionada com a bilateralidade da relação do custo
e do benefício dos agentes económicos.
Em resumo, a vantagem que, eventualmente, as partes venham a obter, estará sempre
relacionado com um sacrifício económico realizado à priori, existindo uma reciprocidade entre
as atribuições patrimoniais realizadas.
5.2 Consensualidade
Durante todo o processo de formação do contrato de swap, seremos sempre confrontados com
o acordo e o consenso presente na celebração entre as partes. Desde momento do contacto com
13 CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000,
página 32.
14 MOURATO, Helder, ”O contrato de swap de taxa de juro”, Almedina, 2014, página 49.
15 MOTA PINTO, Carlos, “Teoria Geral do Direito Civil”, 5.ª edição, 2020, página 405.
16 ALMEIDA, Castro, “Contratos II”, 5ª edição, Almedina, 2021l, página 128.
9
as primeiras cláusulas contratuais, até à redução a escrito, existe sempre o contacto com o
objetivo a obter o consenso entre as partes.
Normalmente, existe um master agreement, ou seja, um contrato quadro que é realizado
previamente, que estabelece um conjunto destinado a regular o contrato de swap consoante as
partes decidam criar no seu âmbito 17.
5.4 Sinalagmático
A relação obrigacional emergente do contrato de swap tem um caráter sinalagmático, pois
existe um nexo causal entre as prestações das partes. O dever de prestação de uma parte é a
causa, para a outra parte, que fica obrigada a realizar a sua própria prestação, cujo cumprimento
de ambas as partes devem realiza-se simultaneamente.
Pode-se levantar a problemática da compensação que dificulta a inclusão do contrato de swap
nos contratos sinalagmáticos. Na eventualidade da evolução das taxas no mercado tornar-se
desfavorável para uma das partes, levaria ao aparecimento de uma obrigação de pagamento
(unilateral), concretizada em várias prestações.
Apesar desta eventualidade, não se justifica a inclusão na categoria do contrato swap nos
contratos bilaterais.
Pela aplicabilidade, admite-se a existência da faculdade de resolução com fundamento em
mora, uma vez que se trata de um contrato sinalagmático. Retrata, assim, a importância do
contrato de swap como contrato sinalagmático, nomeadamente nas formas de cessão e dos seus
efeitos negociais.
5.5 Aleatoriedade
O conceito de aleatoriedade como característica de contrato refere-se a um contrato oneroso,
no qual o valor ou a existência das prestações dependem de um facto futuro e incerto.
17Levantava-se problemáticas relativamente ao momento que este contrato se tornava perfeito, mas
compreende-se que se considera perfeito no momento em que as partes exteriorizem a sua vontade negocial e
acordem nas suas condições, já que vigora o princípio da liberdade de forma, ou seja, a lei não estabelece uma
forma especial para os contratos de swap.
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Em contraposição, um contrato comutativo que, sendo também um contrato oneroso, o valor
patrimonial das prestações já é conhecido pelas partes, no momento da conclusão do contrato.
Importa referir ambas as características, visto que a doutrina se divide na sua estipulação quanto
um contrato aleatório ou comutativo.
No entanto, a posição maioritária classifica o contrato de swap como um contrato aleatório, o
que também vamos de encontro com a classificação do contrato de swap com contrato
aleatório.
Percebe-se que o elemento caracterizante do contrato de swap é constituído pelo facto de que
a obrigação surge somente pela verificação da subida ou descida da cotação de uma moeda em
relação á outra ou o nível de uma taxa variável. Ao verificar-se tais acontecimentos, aí surge a
obrigação a cargo de uma ou de outra parte. Significa isto que, a determinação do seu montante
depende da verificação de um acontecimento incerto. A possibilidade de perdas (ou ganhos)
acima invocada podem sempre existir para ambas as partes. Ou seja, mesmo estarmos perante
uma das partes com uma prestação certa e outra incerta, não deixamos de estar perante um
contrato aleatório.
11
mercado doméstico alta repercussão que permitiria um empréstimo na sua moeda uma taxa fixa
baixa.
Por seu lado, a empresa B tem uma filial no país da empresa A e pretende financiamento,
necessitando de um financiamento na moeda do país de A. No entanto, só conseguiria obter
um empréstimo a uma taxa mais elevada do que aquela que a empresa A consegue. Interesse
para a empresa A, a empresa B disporia da possibilidade de contrair, no seu país, uma taxa
inferior àquela que a empresa A conseguiria.
A solução destas duas empresas seria realizar um contrato de swap de divisas.
Assim, ambas as empresas contraiam o financiamento no mercado em que obtinham melhores
condições. Assim, a empresa A contraria um empréstimo, no seu país, na sua moeda e, por
outro lado, a empresa B contraria um empréstimo na sua moeda, no seu país.
Neste sentido, as empresas transferiam para a outra o montante do empréstimo, assegurando o
pagamento periódico das quantias necessárias ao pagamento da outra empresa dos juros que se
vão vencendo.
No final do contrato celebrado, as empresas restituam o capital recebido.
O contrato de swaps divisas pode ter diversas variantes que, sucintamente, serão abordadas.
a) Fix to Fix Swap: neste contrato troca-se efetivamente o capital e os juros, calculados
por uma taxa fixa estabelecida pelas partes.
b) Cross Currency Swap: a peculiaridade deste contrato de swap passa pela troca periódica
de quantias, mas, assenta para uma das partes numa taxa fixa e para a outra parte uma
taxa variável.
c) Floating to Floating Swap: este contrato é muito parecido com o contrato acima
referido, mas, enquanto no anterior uma das partes assenta numa taxa fixa e a outra
numa taxa varável, neste contrato ambas as partes pagam reciprocamente juros
calculados a taxas variáveis.
Para além das variantes mencionadas, ainda existem outras variantes, como swaps sobre
matérias-primas (commodity swaps19), swaps sobre valores mobiliários (equity swaps20).
Podemos concluir que este tipo de contrato de swap manifesta-se como um instrumento
financeiro de cobertura de risco de taxa de câmbio e a sua oscilação entre as partes perante o
seu mercado doméstico.
Veremos, agora, o contrato de swap de taxa de juro que difere, na sua execução, do contrato de
swap de divisas.
19 Trata-se de troca de fluxos financeiros, com base num certo montante nacional de uma matéria-prima ou
mercadoria, predeterminado um preço fixo e com um preço flutuante de mercado. Geralmente, de um lado,
encontramos uma empresa industrial, que fixa um preço máximo a pagar. Por outro lado, os produtores que
fixam o preço consoante o mercado da matéria-prima em causa.
20 ”Os swaps sobre valores mobiliários são contratos a prazo em que as partes trocam fluxos financeiros de
instrumentos com rendimento variável (ações, carteira de ações ou índices de ações) por fluxos de outros
instrumentos com rendimentos fixos (p.ex., obrigações com taxa fixa) ou instrumentos com uma estrutura
diferente. Os fluxos financeiros das ações ou índices são determinados pela variação de cotações bolsistas”,
como refere ..., no... Instrumentos financeiros: Os swaps, página 53.
12
7. O Contrato de Swap de Taxa de Juro
De forma que se alcance um melhor entendimento sobre o contrato de swap de taxa de juro,
será oportuno distinguir o contrato de swap de divisas e o contrato de swap de taxa de juro. No
contrato de swap de divisas, “as entregas das partes realizam-se sempre em diferentes divisas,
segundo uma taxa de câmbio pré-determinada, normalmente a que rege o mercado monetário
no momento em que se celebra o contrato.”21.
Por sua vez, ao contrário do que acontece no contrato de swap de divisas, o pagamento
recíproco previamente acordados são efetuados na mesma moeda. Para além disso, o capital,
ao contrário da troca de capital que acontece no contrato de swap suprarreferido, servirá apenas
como cálculo para a definição dos juros a efetuar durante a vigência do contrato e o seu
pagamento.
Para desmistificar a complexidade aparente do contrato de swap de taxa de juro, e
semelhantemente ao que fizemos com o contrato de swap de divisas, abordaremos um caso que
nos ajude melhor entender.
A empresa A contrai um empréstimo, por 3 anos, à taxa fixa de 10%. Por sua vez, a empresa
B contrai um empréstimo, igualmente por 3 anos, a taxa variável. No entanto, a empresa A
perspetiva que as taxas de juro descerão e pretende não sair prejudicado. Já a empresa B prevê
uma subida nas taxas de juro e pretende trocar a taxa variável por uma taxa fixa.
Assim, a empresa A assumirá as quantias devidas pela empresa B e esta obriga-se a pagar as
quantias devidas pela empresa A, ambas a título de taxa de juro (A empresa A com a taxa
variável e a empresa B com a taxa fixa de 10%).
Resumidamente, considerado um dos principais tipos dos contratos de swap, os swaps de taxa
de juro são “contratos mediante os quais dos mutuários de empréstimos do mesmo montante e
com o mesmo vencimento, mas com taxas de juro calculadas sobre bases distintas, se
comprometem a fazer pagamentos recíprocos com base nas taxas de juro da contraparte sobre
o valor nacional, mantendo-se as partes devedoras dos respetivos empréstimos para com os
respetivos mutuantes.”22.
21 CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000,
página 38.
22 ALMEIDA, António, “Instrumentos Financeiros: Os Swaps”, Estudos em Homenagem ao Professor Doutor
13
quantias reciprocamente em dívida, sendo pago apenas o diferencial pela parte cujo montante
a liquidar seja superior.”.
Assim, o risco de contrapartida surge como um dos aspetos característicos do contrato de swap
de taxa de juro, uma vez que poderá existir uma compensação entre as quantias em divida,
quando pagamento do diferencial do montante a liquidar seja superior de uma das partes. Para
além disso, reduz o eventual prejuízo decorrente do não cumprimento da prestação pela outra
parte.
No regime de compensação encontra-se um instrumento de extinção das obrigações pecuniárias
recíprocas, neste caso, periódicas, que reduz o risco de incumprimento. Isto acontece, pois,
evita, como referido anteriormente, o pagamento da dívida integralmente e, por sua vez,
apenas, o pagamento de uma das partes do diferencial do montante que seja superior às dividas
contraídas pelas partes na vigência do contrato, a referida “compensação”. Nalgumas
modalidades de swap, as obrigações recíprocas podem ser substituídas por uma só obrigação
de pagamento pela parte desfavorável, da qual se verifique a diferença, assim referida acima,
entre os valores que teriam as obrigações recíprocas.
A figura da compensação encontra-se prevista do artigo 847º ao artigo 856º do Código Civil.
O artigo 847º do CC, que estabelece os requisitos, estipula: “1. Quando duas pessoas sejam
reciprocamente credor e devedor, qualquer delas pode livrar-se da sua obrigação por meio de
compensação com a obrigação do seu credor, verificados os seguintes requisitos: a) Ser o seu
crédito exigível judicialmente e não proceder contra ele excepção, peremptória ou dilatória,
de direito material; b) Terem as duas obrigações por objecto coisas fungíveis da mesma
espécie e qualidade. 2. Se as duas dívidas não forem de igual montante, pode dar-se a
compensação na parte correspondente. 3. A iliquidez da dívida não impede a compensação.”.
Podemos concluir que, no ordenamento jurídico português, quando duas pessoas sejam,
simultaneamente, credor e devedor poderão, através da compensação, livrar-se da obrigação
quando o objeto das obrigações sejam coisas fungíveis e o crédito seja judicialmente exigível.
Assim, considera-se a melhor solução, face aos contratos de swap, perante a situação acima
exposta, a compensação contratualmente prevista para extinguir as obrigações resultantes do
contrato.
23CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000,
página 44.
14
Outra modalidade presente é a Basis Rate Swap cujo juros pagos por uma das partes calcula-
se sobre uma base minada que define a taxa de juro variável. Já os pagamentos dos juros da
outra parte, segundo uma taxa variável definida sobre uma base distinta da outra parte. Tal
como o nome indica, as bases em que se realizam os pagamentos, segundo taxas de juro
variáveis, de ambas as partes são distintas.
24O conceito de” vantagem comparativa” é introduzido por DAVID RICARDO, que, para uma melhor
compreensão, recua na posição relativa a Portugal-Inglaterra. Dá-nos como exemplo a produção do vinho e dos
tecidos. Ambos os países tinham a capacidade de produzir os dois produtos, mas, enquanto a produção inglesa
de uma certa quantidade de tecidos precisaria de 100 homens e para produzir uma certa quantidade de vinho
precisaria de 120 homens, a produção portuguesa obteria a mesma produção com apenas 90 homens os mesmos
tecidos e 80 homens a mesma produção de vinho. Assim, em comparação com ambos os produtos, são 80 para
120 e 90 para 100 homens. Portanto, a vantagem de Portugal é absoluta em ambos os produtos, mas, em termos
de vantagem comparativa, é maior em relação ao primeiro. Então, Portugal deveria especializar-se na produção
de vinho em que tinha, comparativamente, mais vantagens e a Inglaterra na produção de tecidos. O mesmo
raciocínio aplica-se à ideia na produção, ou seja, quando o aumento da produção de um país te mais baixos
custos do que na produção de outro país.
15
9. Finalidades do Contrato
No momento de celebração de um contrato de swap torna-se difícil de perceber a intenção dos
agentes que a celebram devido às variadas finalidades do contrato que este tipo de contrato
pode assumir.
de juros varável passe a pagar taxa de juros de taxa fixa, com a previsão e a expectativa que os juros do mercado
venham a subir.
16
Apesar de cada mercado ter a sua própria essência, evolução e taxas de juro, não obsta existirem
mercados equivalentes. O arbitragista tenta, então, perante essa exploração de diferença de
preços entre mercados equivalentes, retirar benefícios de eventuais imperfeições do mercado,
sem assumir qualquer risco.
No domínio do contrato de swap, a arbitragem opera de duas maneiras. Uma maneira que
arbitragem se relaciona com o contrato de swap, como já verificamos anteriormente, encontra-
se na celebração do contrato entre as partes que permitem a estas obter lucro/ganho derivado
da repartição entre elas da vantagem absoluta que as partes obtenham sobre o mercado
correspondente, cuja vantagem deriva da sua maior credibilidade. Desta maneira, pode resultar
uma outra. Ou seja, o swap pode assumir uma forma de aceder a um mercado mais atrativo,
que não estaria disponível de outra forma, o que possibilita aos agentes económicos de
transformar as características de um passivo/ativo financeiro detido.
Posto referido, podemos concluir que a motivação das partes passa por tirar um proveito
mediante exploração dos diferenciais de naturezas existentes nos mercados financeiros,
consoante a sua credibilidade e vantagem absoluta, retirando partido das imperfeições dos
mercados ou dos preços ativos do mesmo.
27 A crítica feita aos especuladores refere-se à instabilidade que a sua atividade traz aos mercados financeiros,
melos seus movimentos erráticos.
28 CALHEIROS, Maria Clara, “Os contratos de swap”, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 2000,
página 72.
17
Assim, para as partes, o contrato de swap resulta de uma diminuição da exposição ao risco (em
relação à parte que procura cobertura) e um aumento dessa exposição (relativamente ao
especulador).
29 ” O artº 402º do C. Civ. consagra a “obrigação natural” como uma figura de carácter geral, compreendendo
no seu âmbito todos os deveres de ordem moral e social, cujo cumprimento não seja judicialmente exigível, mas
corresponda a um dever de justiça.”, Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, Processo nº
4371/07.0TJCBR.C1. Disponível em: https://www.dgsi.pt/
30 Disponível em: https://www.dgsi.pt
31 Artigo 437º do Código Civil: ”1,Se as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar
tiverem sofrido uma alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução do contrato, ou à modificação
dele segundo juízos de equidade, desde que a exigência das obrigações por ela assumidas afecte gravemente os
18
Para responder à questão, procura-se entender por “circunstâncias em que as partes fundaram
a decisão de contratar”, que se compreende serem as circunstâncias que determinam as partes
a contratar que, se fossem outras, já não teria existido tal contrato.
Entende-se, para além disso, como “alteração anormal das circunstâncias” a modificação,
para além dos riscos já inerentes ao contrato, a alteração objetiva do caráter do contrato,
autónoma e diferente ao risco contraído pelas partes.
Assim, compreende-se que não é aplicável o 437º do Código Civil, uma vez que não se imputa
a qualquer alteração ou desequilíbrio contratual superveniente motivado, precisamente, pela
alteração anormal das circunstâncias. Por sua vez, não se compreende que afeta gravemente os
princípios de boa-fé e que, como já referido, encontra-se abrangido pelos riscos próprios do
contrato celebrado pelas partes.
Tenta-se perceber se o presente regime se aplica a esta modalidade dos contratos aleatórios. A
solução para essa possibilidade de aplicação considera-se simples.
Certo é que os contratos aleatórios, como o contrato de swap de taxa de juro, salientam-se pela
submissão da vontade das partes a um evento futuro e incerto, mas será precisamente por esse
“consentimento”, que se fundamenta o conhecimento destes antecipadamente que esse risco
poderá assumir32.
Neste sentido, Autores como MARIA CLARA CALHEIROS e HÉLDER MOURATO,
entendem que “não se lhe aplicará a figura da alteração de circunstâncias (art437º do CC),
já que uma inesperada e grave evolução das taxas de juro será «um risco próprio do
contrato»”33.
Decisões dos tribunais portugueses, como é o caso da decisão que resulta o Acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça Processo Nº 531/11.7TVLSB.L1.S134, trataram desta matéria com
base na resolução contratual prevista no artigo 437º, fundamentando que, perante a crise de
2008, a o grande declínio das taxas de juro, tratava-se de uma circunstância anormal e não
pertencia aos riscos inerentes ao contrato, fora do âmbito deste.
Compreende-se que a crise que provocou a descida das taxas de juro não serve de fundamento
para a resolução do contrato, sob aplicação do artigo 437º do Código Civil, não sendo
considerado uma alteração anormal das circunstâncias.
A descida ou subida das taxas de juro não podem ser consideradas circunstâncias anormais
numa relação contratual. Esta incerteza reflete o risco assumido pelas partes, inerentes, assim,
ao próprio contrato.
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Para além disso, p legislador ao formular o artigo 437º do CC não pensou numa perspetiva
socioeconómico, numa comercialização de produtos, objetos contratuais, ligados ao risco,
retratando a dificuldade na aplicação deste regime aos contratos de swap.
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