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CAPTURADO - Serie Dos Herdeiros - Bianca Brito

O documento é um aviso legal e sinopse de uma obra de ficção chamada 'Capturado', escrita por Bianca Brito. A história segue Viktor Aandreozzi, herdeiro de uma família italiana, que lida com ameaças da máfia russa e sentimentos complicados por seu primo Justin. A narrativa explora temas de lealdade familiar, amor proibido e a luta contra forças externas que ameaçam a segurança da família.

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CAPTURADO - Serie Dos Herdeiros - Bianca Brito

O documento é um aviso legal e sinopse de uma obra de ficção chamada 'Capturado', escrita por Bianca Brito. A história segue Viktor Aandreozzi, herdeiro de uma família italiana, que lida com ameaças da máfia russa e sentimentos complicados por seu primo Justin. A narrativa explora temas de lealdade familiar, amor proibido e a luta contra forças externas que ameaçam a segurança da família.

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Aviso Legal

Os personagens encontrados nesta história são fictícios e nenhuma das


situações e personalidades aqui encontradas refletem a realidade, tratando-se
esta obra de uma ficção. Os personagens desta história são de minha
propriedade intelectual.

Copyright © Bianca Brito, 2025


Revisão: Francieli Teleginski
Diagramação: Fran Buarque
Capa: L.A Capas
Leitora Beta: Rosália Damasceno

Revisão gramatical e ortografia seguindo o Novo Acordo Ortográfico de


2009.
1° Edição, 2025 |

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer


meio ou forma sem a prévia autorização do autor. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei n° 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.

Todos os direitos reservados à Bianca Brito


Classificação indicativa: 18+

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas vivas ou
mortas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
SINOPSE

Sendo o herdeiro mais velho de uma renomada família


italiana, Viktor Aandreozzi aprendeu o verdadeiro significado do
que é viver e morrer pela família. Apesar de suas inúmeras
lembranças dolorosas, que o assombram até os dias atuais, Viktor
faz o impossível para tentar retribuir tudo o que essa família italiana
excêntrica e extremamente amorosa faz por ele. E mesmo que tenha
cometido o erro de ceder às constantes ameaças da máfia russa, a
Bratva, os integrantes dessa família incrível o respeitam e esperam o
momento certo para agir. Porém Viktor sabe muito bem que as
coisas são mais complicadas do que sua família pensa. E uma dessas
complicações é o sentimento profundo e avassalador que ele sente
por um dos seus primos, Justin Aandreozzi. Seu nome ressona em
sua mente, no seu coração e faz vibrar seu corpo de modo que
Viktor não consegue controlar.
Viktor tem certeza que se afastar da família para protegê-los,
também fará com que seus sentimentos confusos por Justin sejam
facilmente esquecidos. No entanto, o que eles não sabiam é que
bastava um simples ato irresponsável para que eles sejam
irreversivelmente capturados.
No entanto uma coisa é certa, quando você é CAPTURADO,
não tem como escapar.
DEDICATÓRIA

Aos que achavam que tudo acabava


com os pais: “Capturado” é só o
aquecimento. Esperem pra conhecer o
resto da família.
PRÓLOGO
Alguns meses atrás

Esses merdas à minha frente ainda não sabem, mas em


algum momento eles saberão que eu posso ser muito pior do que
Maxim Konstantinov, principalmente quando se trata da segurança
de minha família. Essas palavras juntas ressoam na minha mente
várias e várias vezes, e isso está funcionando como um mantra para
mim. Ainda mais agora sendo analisado de forma nojenta por um
bando de desgraçados sujos. Quem são eles? Bem, isso é uma
pergunta que nem mesmo eu tenho capacidade de responder, tudo
o que sei é que eles compõem partes importantes da Bratva aqui
nos Estados Unidos. Vamos dizer que são famílias influentes e
poderosas que fazem o sistema implantado aqui fluir. E o que eles
querem de mim? Isso é algo que só vou saber com clareza com o
passar do tempo, por enquanto eu vou navegar sob as águas
turbulentas, e fazendo de tudo para manter minha família fora de
tudo isso.
Sinto um aperto no meu peito ao lembrar o quanto meus pais
ficaram preocupados. Não era minha intenção deixá-los tão
apreensivos ao saber sobre a minha decisão, mas me recordar do
rosto temeroso de meu pai Andrea faz com que eu me sinta um
verdadeiro fodido. Tudo o que menos quero nessa vida é falhar com
meus pais, principalmente o meu Papa, pois eu presenciei todas as
merdas que o demônio do Maxim causou nele por minha causa. Ele
fazia questão de torturar nós dois, usando um ao outro como forma
de chantagem. E como ele fazia isso? Bem, com o meu pai Andrea,
ele o usava como objeto, a fim de saciar os seus desejos sórdidos e
Maxim ainda o avisava que se não cumprisse com determinada
tarefa, quem teria que fazer seria eu.

E comigo, ele não era diferente, porém mesmo que eu fizesse


o que Maxim queria, ele ainda tinha a capacidade de não cumprir
com sua palavra e fazer de mim o que ele bem queria. E suas
torturas eram sórdidas demais!

Muitas das coisas que passei nas mãos de Maxim eu fiz


questão de que nunca fosse revelada aos meus pais, nunca foi de
meu feitio torturar meu pai Andrea com as lembranças daquele
monstro. Papa vive uma boa vida agora com o meu otets (pai), e é
assim que deve continuar sendo. Eles sempre fizeram questão de
me dar todo amor que eles poderiam oferecer, tanto a mim quanto
aos meus irmãos, isso inclui o Otto também. Meus pais nos
protegeram do mundo, e ao mesmo tempo nos criaram e preparam
para enfrentar esse mundo caótico, no entanto agora é minha vez
de protegê-los. Jamais vou permitir que a Bratva os alcance, esse é
um fodido legado que terei que lidar de qualquer maneira.

Com isso em mente que encaro com firmeza cada um dos


velhos idiotas, que estão sentados confortavelmente em frente a
uma longa mesa de madeira antiga de 12 cadeiras. Me encarando de
volta como se eu fosse um moleque qualquer que nem merece estar
no lugar que estou.
Yблюдки (Bastardos)! Se é assim, então por que fizeram
questão de me lançar inúmeras ameaças até atender seus pedidos?

— Já estava na hora de você finalmente aparecer,


Konstantinov! — Um dos velhos diz em russo olhando para mim
cheio de altivez.

— Não é como se eu tivesse alguma escolha! — Respondo


também em russo friamente me sentindo mal por ter que atender
sob o nome daquele filho de uma vadia.

— Blyat (merda)! Olha o modo que esse moleque fala


conosco! — Outro velho apontou para mim com ódio e eu faço
questão de ignorá-lo. — Ainda me ignora, olhem isso! — Grita dando
um tapa forte na mesa.

— Acalme-se Oleg! — Um outro homem fala fazendo Oleg


ficar quieto.

— Tudo bem,Vsevolod! — Concorda Oleg a contragosto.

— Já que você concordou em estar conosco, Viktor, não seria


importante nos apresentarmos a você em primeiro lugar? —
Pergunta Oleg fingindo um sorrindo, mas eu permaneço impassível.

— Se você achar necessário, vá em frente! — Aponto para


eles e descanso meus braços à frente do meu corpo.

— Ochen' neuvazhitel'no! (Muito desrespeitoso!) — Um


resmungo chega ao meu ouvido, mas não me dou ao trabalho de
saber de que direção veio.

— Seu tio avô ficará feliz em saber que você é bem diferente
de seu pai, como imaginávamos — Vsevolod diz, olhando de cima a
baixo como se visse algo que o agradasse, mas esse olhar só me faz
sentir enojado.
— Tio avô, você quer dizer, Aleksandr? — Indago franzindo o
cenho.

— Sim, que bom que se lembra dele perfeitamente. —


Vsevolod diz após sorrir largamente.

Faço um esforço sobrenatural para mascarar o ódio que ferve


dentro de mim ao ser confirmado o nome do desgraçado que me
enfiou em toda essa porcaria de merda. Confesso que tinha as
minhas suspeitas, mas somente agora que pude ter a confirmação
real de que tinha dedo de Aleksandr nisso tudo. Não tenho muitas
lembranças desse chamado “tio avô”, já que boa parte da família
Konstantinov se afastou de Maxim por o considerar uma aberração
completa. Aquele sujeito era um verdadeiro psicopata, que fez até
mesmo sua própria família temê-lo ao ponto de nem mesmo se
importarem quem tirou a sua vida. Eu e meus pais sabíamos que em
algum momento essa dita família viria até mim, eles querem que eu
assuma o lugar de Maxim a qualquer custo. Mal sabem eles do que
eu sou capaz de fazer, mas eu esperarei o momento certo para
mostrá-los.

Fiquei em um silêncio mortal quando começaram a me


apresentar formalmente para os membros de duas famílias
presentes. O senhor mais velho entre todos, que tem cabelos e
barba brancos como neve, se chama Vsevolod Egorov. Junto dele
estão mais dois membros de sua família, seus nomes são Timur e
Pavel Egorov, eles aparentam estar na casa dos 30 a 40 anos,
supostamente, não sei ao certo. Já a outra família que se faz
presente são os Yegorov, a pessoa mais velha entre eles é Oleg
Yegorov, que aparentemente mostra ser um pouco mais jovem que
Vsevolod, mas isso não me traz nenhuma importância. Em
companhia a Oleg está Yuri e Vasily Yegorov, pelo o que soube por
alto por Nastka, Vasily era o responsável por todas as transações
aqui em Nova York. Só que agora as coisas serão diferentes, já que
é do interesse de Aleksandr que eu tome a responsabilidade de tudo
por aqui.
Não faço ideia do que se passa na cabeça daquele velho
inútil, seja como for, sinto que esse desgraçado me enfiou em uma
toca de lobos famintos, prontos para estraçalhar meu corpo a
qualquer sinal de inferioridade minha. Nada disso importa para mim,
minha intenção aqui não é ter o poder em minhas mãos, eu sou
eficiente o suficiente para conseguir qualquer coisa, basta querer. O
que esses filhos da puta querem ou deixam de querer não é da
minha conta, só espero que eles se mantenham longe de mim. Por
que qualquer sinal de ataque contra mim, minha família Aandreozzi
ou os meus, eu farei questão de destruí-los e vê-los sangrar como
porcos que são.

Meus pensamentos são despertados abruptamente quando


ouço o som de um tapa forte na mesa de madeira à minha frente.

— Você está vendo isso, Vsevolod? Olha a cara que esse


sujeito está fazendo enquanto você apresenta as nossas famílias
para ele! — Oleg grita com raiva, apontando para mim e eu sinto
Mikhail querer avançar.

— Se mantenha em seu lugar, Griboedov! — Comando de


forma leve e fria o fazendo voltar seu passo anterior.

— Prostite nas, boss! (Desculpe, chefe!) — Mikhail se retrata


rapidamente, mas ainda consigo sentir seu olhar malicioso em Oleg.

— Isso mesmo, controle seus cães, moleque! — Resmunga


Oleg com altivez e eu o encaro com o canto dos lábios curvados.

— Da, Oleg Yegorov, cães devem ser adestrados ou


descartados, tudo depende se eles pretendem morder a mão de
quem os controla. — Digo fechando completamente minha
expressão. — Não é verdade? — Pergunto diretamente para esse
velho cretino.

— Ora seu… — Oleg começa, mas é interrompido por Vasily.


— Pai, se acalme! — Vasily diz descansando sua mão no
antebraço de Oleg.

Observo o olhar de Vasily em mim como se me avaliasse, no


entanto não me importo de forma alguma. É do meu conhecimento
que a família Yegorov está sob o controle maior dos negócios aqui
nos Estado Unidos, e como Oleg está em idade avançada, quem
ficou a frente foi Vasily. Um homem cheio de ambição que nunca
escondeu que ele era um cão leal de Maxim, e fez de tudo para que
Maxim o deixasse liderar as coisas por aqui. No entanto, ele não
estava contando que Aleksandr iria fazer questão que eu assumisse
esse lugar. Para falar a verdade, acho que todos achavam que a
linhagem deixada pelo psicopata do meu pai biológico seria
esquecida, e quem sabe um dia descartada. Mas eles foram
fodidamente pegos de surpresa pela minha volta forçada.

Tenho a sensação que o gosto amargo na boca que os


Yegorov estão sentindo agora não irá passar tão cedo. Só que isso
não é da minha fodida conta, eu tenho coisas para fazer aqui, e
passe o tempo que for eu irei alcançar o meu desejo. Eles não fazem
ideia da merda que eles trouxeram a sua porta, e para falar a
verdade isso continuará não sendo da minha fodida conta. Se for
para incomodar, sei fazer esse papel com excelência.

— Não estamos com intenção de brigar com você, certo pai?


— Vasily diz direcionado sua atenção ao pai, que vira o rosto com
raiva.

— Com relação a isso eu não tenho interesse o suficiente para


me incomodar. — Respondo levemente e vejo Timur assentir com a
cabeça levemente.

— Isso é bom, não queremos entrar em conflito, pois estamos


aqui para ajudá-lo. — Timur fala e eu faço um grande esforço para
não mostrar meu desagrado.
— Timur disse certo, deixaremos sua liderança o mais
tranquila possível. — Pavel disse em concordância com Timur.

— Isso mesmo, vocês falaram a coisa certa! — Vsevolod fala


sem esconder seu contentamento.

— Vocês, Erogov, estão felizes e animados, pelo o que


podemos ver, mas será que avisaram ao nosso Konstantinov mais
novo que ele deve passar por testes como todos? — A voz sarcástica
de Yuri Yegorov chama a atenção de todos.

— Teste? — Pergunto arqueando minhas sobrancelhas,


fingindo surpresa.

— Sim, você não ficou a par disso? — Vasily diz e posso notar
a malícia em suas palavras.

— Eu já estava pronto para contar sobre isso, não era


necessário sua interferência, Yuri! — É nítido o desagrado de
Vsevolod, ao apontar para Yuri com irritação.

— Tudo bem, prossiga com a explicação! — Peço perdendo a


paciência.

— Bem, meu caro Viktor, antes de assumir a liderança a


Família precisa ter certeza de suas capacidades e lealdade. —
Vsevolod fala olhando para mim como se tentasse avaliar a minha
reação ao ouvi-lo. — Como membro de uma linhagem importante, é
necessário passar por certos procedimentos. — Termina me olhando
com expectativa.

— Quem executa esses testes? Vocês? — Passo meus olhos


por cada presente e volto a encarar fixamente Vsevolod.

— Net! — Responde ele prontamente. — Esses testes seriam


feitos pelas famílias mais velhas, incluindo a Konstantinov.
Assim que Vsevolod fecha a boca algumas pessoas vestidas
elegantemente entram na sala. Notei que eles formavam pequenos
grupos de três e param estrategicamente atrás dos meus
subordinados e do meu segurança particular. Franzo o cenho quando
percebo que Dominik está sendo contido por eles, isso não está
certo, pois eu sempre deixei claro que Dominik estava fora dos
limites, pois ele é meu segurança e que trabalha exclusivamente sob
meu comando.

— Soltem-no! — Digo perigosamente, mas esses homens não


me dão ouvidos.

— Eles não estão sob seu controle ainda, Viktor, sendo assim
eles não o obedecerão. — Vasily diz e eu cerro meus punhos com
força.

— Dominik não pertence a Bratva, ele me pertence! — Minha


voz sai baixa e gélida.

— Isso não está ao nosso controle, são ordens que temos que
seguir. — Vsevolod diz com pesar.

Minha vontade agora é pegar minhas armas e atirar em cada


presente nessa sala. Por que só assim eu sei que conseguirei tirar os
meus homens desse lugar com segurança. Faço menção de estender
minha mão para poder alcançar meu coldre, mas a voz de Dominik
me faz parar no mesmo momento.

— Estou bem senhor, não se importe comigo! — Dominik diz


e eu viro para olhar na sua direção.

Sob sua máscara séria e profissional, eu posso ver seus olhos


escuros refletindo a confiança necessária que realmente me fez
parar. Não posso deixar que nada aconteça a Dominik, ele foi o
segurança particular que veio cuidar de mim escolhido a dedo pelos
meus pais. Se eu falhar com ele vai ser a prova que se eu não tenho
como manter meus homens seguros, eu não terei capacidade de
proteger minha família e a pessoa que amo. Blyat! O que diabos eu
estou pensando? Devo me recompor, agora! Olho de Dominik para
os irmãos, e todos os três estão com uma expressão positiva no
rosto e notar isso faz com que o inferno fora de mim se acalme
totalmente.

— Ficaremos bem, senhor! — Nastka diz sorrindo


maliciosamente.

— Vai ser como um passeio no parque, certo irmã? — Mikhail


pergunta sorrindo maliciosamente.

— Só se cuide, senhor Aandreozzi! — Ao ouvir Dominik me


chamando por um nome tão familiar para mim, meu corpo relaxa
imediatamente.

— Não se preocupem comigo, ficarei bem! — Falo com


tranquilidade sem me importar com os olhares em mim. — Vocês
três voltem inteiros! — Aviso de uma forma que não tem
como retrucar.

—Sim senhor! — Os três respondem uníssono.

Observo mordendo minha mandíbula com força enquanto


vejo meus homens saírem do meu campo de visão sendo
acompanhados pelo pessoal da Bratva, para seja lá quais sejam
esses malditos testes. Volto minha atenção aos presentes, ignorando
totalmente a existência dos homens que vieram para me
acompanhar.

— Temos esperança que você e seus homens passarão nesses


testes. —Vsevolod disse dando um curto sorriso.

— Hum! Acho que somente eu percebi que esse moleque


ainda não entendeu que ele deixou de atender por qualquer outro
sobrenome que não seja Konstantinov. — Oleg disse de forma para
me provocar, mas eu somente dei um curto sorriso.

É
— É assim que você vê, Oleg? — Indago e ele ergue o rosto
para cima.

— Oleg, não comece novamente! — Vsevolod pede em tom


cansado.

— Vamos deixar algo claro aqui! — Falo em voz alta


interrompendo qualquer um que queira começar com um papo
irrelevante. — Em nenhum momento eu disse que iria abandonar o
nome da minha verdadeira família, para adotar novamente o nome
Konstantinov. — Revelo vendo suas expressões de surpresa.

— O que… — Vasily tenta falar, mas eu ergo a mão o


impedindo.

— Não se enganem, eu tenho um único propósito em vir até


vocês, e isso não inclui abraçar a família Konstantinov como minha.
— Faço uma pausa e estalo a língua. — Eu tenho uma família e eu a
protejo como o diabo protege suas almas amaldiçoadas, se algo
acontecer com a minha família, espero que vocês saibam que o
inferno é um lugar ínfimo para onde eu planejo mandar cada um de
vocês. — Explico, levianamente, enquanto encaixo os botões do meu
terno preto.

— Podemos ir? — Os homens de Aleksandr perguntam e eu


concordo com a cabeça. Antes que eu possa virar para sair, olho
para cada um presente.

— Meu nome é Viktor Aandreozzi, eu sou filho de Enzo e


Andrea Aandreozzi. — Minha voz sai alta e leve, mas logo adquire
um tom perigoso. — Espero que nunca se esqueçam disso! — Viro
novamente para meus acompanhantes. — Podemos ir agora! —
Mando e eles assentem.

Com isso deixei as Famílias Yegorov e Egorov para trás, sem


me dar ao trabalho de me preocupar se eles entenderam minhas
palavras. Por que isso para mim não tem nenhum sentido, a única
coisa que espero é que eles absorvam cada palavra minha quando
eu avisei que minha Família Aandreozzi está totalmente fora dos
seus limites.

Por que se for necessário eu moverei o mundo de lugar para


protegê-los, porque eles são a única família que eu reconheço como
minha.
CAPÍTULO 1

Dias Atuais…

Uma dor de cabeça intensa está me acompanhando desde o


momento em que abri meus olhos hoje pela manhã. Não consigo me
lembrar da última vez que me senti dessa maneira, mas de tempos
em tempos essa maldita dor vem me tirando a paz. Fiz o impossível
para esconder das minhas mães que me sentia desconfortável
quando acordei. Elas já têm problemas o suficiente para lidar, não é
necessário que eu acrescente mais um problema na equação, sendo
assim eu vivo minha vida da forma mais normal do mundo. Fiz o
meu treinamento matinal, ajudei nos cuidados de Ella, alimentei e
escovei Tom e após terminar de tomar meu banho e me arrumar
para sair para Universidade, consegui deixar Hope a tempo na
escola. Tento ao máximo ser proativo em casa, por que assim facilita
um pouco o dia a dia das minhas mães.

Muitas pessoas me perguntam se minha cegueira é um


empecilho para mim, mas não. Para falar a verdade, o fato de ser
cego me faz enxergar a vida de um modo diferente de outras
pessoas. E não tem como se sentir frustrado com algo que você
nunca teve, mas eu tenho um forte reconhecimento que minhas
mães em conjunto com o restante da nossa família facilitaram
muitas coisas para mim. Me fazendo sentir todos os dias que sou
uma pessoa extremamente privilegiada e amada. Todos os meus
entes queridos permitem minha independência, me dão espaço o
suficiente para que eu não me sinta um peso em suas vidas. O que
é muito bom, pois nenhuma pessoa com alguma deficiência gosta de
se tornar um fardo, sendo assim eu continuo a viver minha vida da
melhor forma possível. Seja me aprimorando nos meus pontos
fortes, nos meus estudos diários ou até mesmo na forma de sentir a
vida à minha maneira.

Posso dizer de coração e peito aberto que sou um homem


feliz. E como eu não seria? Tenho duas mães fortes, duas irmãzinhas
fofas, tios, primos e avós maravilhosos, durmo tranquilamente todas
as noites e acordo todos os dias para poder sentir o cheiro do novo
amanhecer. Sinto o piso gelado da minha casa, ou da grama
fresquinha, quando decido passar tempo lendo um livro do lado de
fora da casa. Ouço o ressoar das risadas infantis de minhas
pequenas princesas, sinto a vibração dos pés acelerados das minha
mães quando se atrasam para ir à empresa, por que namoraram
demais pela manhã e esqueceram do horário. Sorrio com a
lembrança de minha mãe Laila reclamando com minha mãe Luna por
deixar sua roupa ficar amassada.

Viro a cabeça para o lado entrando em alerta quando ouço


passos vindo em minha direção. Tom que estava deitado ao meu
lado levanta para poder se posicionar entre minhas pernas abertas,
faço um carinho na sua cabeça pelo seu bom trabalho. Notando o
modo relaxado que ele está, sei que as pessoas que se aproximam
são conhecidas e não nos representam nenhuma ameaça.

— Justin, o que faz aqui sozinho? — Ouço uma das pessoas


falar comigo em espanhol, reconheço a voz rapidamente e sei que é
Violeta.

— Pois é, ficamos sem entender por que você saiu da sala


mais cedo. — Dessa vez é Saulo quem está falando.

— Olá pessoal, eu saí porque precisava de um ar. — Explico


de forma sucinta, mas sem deixar de ser educado.

— Ah, pensávamos que estava se sentindo mal. — Uma voz


baixa e delicada se faz presente e eu sei que se trata de Sol, irmã
gêmea de Saulo.

— Não, eu estou bem! Obrigado pela preocupação de vocês.


— Respondo tranquilamente expondo um sorriso leve.

— Não precisa agradecer, você é o namorado da minha


melhor amiga, nada mais justo que nos preocuparmos com você. —
Violeta diz com sua voz alegre e eu fico sem jeito.

— Agradeço a vocês pela consideração. — Falo humildemente


e eles deram uma risada leve.

— As vezes eu acho que Justin pertence a alguma realeza,


por que esse cara tem uma aura diferente, não é mesmo pessoal? —
Raúl indaga os outros que fazem som de confirmação.

— Verdade, sempre pensei da mesma maneira! — Pilar diz e


faz uma pausa. — Será que Justin está escondendo o jogo e é
algum príncipe de um lugar distante? — Pilar questiona e eu solto
uma risadinha.

— Não Pilar, eu não pertenço a nenhuma realeza distante,


pode ficar despreocupada. — Respondo achando graça de sua
imaginação fértil.

— Ah, que pena! Minha amiga poderia ser uma princesa! —


Violeta fala com uma voz sentida.
Nora e eu ainda não oficializamos nenhum relacionamento,
mas não vou ser indelicado e dizer isso para seus amigos mais
chegados. Confesso que ainda tenho dúvidas com relação a esse
relacionamento, não que eu não sinta nada por Nora, ela é uma
menina muito adorável. O que se torna difícil para mim é que eu não
sei se amo o suficiente para embarcar em um relacionamento tão
sério. O amor que eu aprendi na convivência com minhas mães e
com os outros casais fantásticos da minha família, é aquele que faz
seu peito esquentar, e a carne do seu corpo tremer. Aquele tipo de
amor único, que você sabe que na sua vida você jamais irá amar
alguém como ama a pessoa que está ao seu lado. E é nesse tipo de
amor que eu acredito, é esse tipo de amor que quero para mim,
desejo fortemente poder envelhecer ao lado da pessoa que faz meu
coração cantar.

É justamente por isso que tenho dúvidas sobre meu


relacionamento, sobre principalmente os sentimentos que
perambulam no meu coração. Existe algo lá no fundo que me faz
pensar que talvez Nora não seja essa pessoa, a minha pessoa. No
entanto existe um segredo que guardo muito profundamente dentro
de mim, uma ilusão infantil, uma loucura de adolescência, mas que
poderia… não, não posso continuar com esse tipo de pensamento.
Isso foi enterrado para sempre, eu fiz questão de me libertar de
coisas que são impossíveis e não vou procurar revivê-las nesse
momento.

Agradeço aos céus quando os amigos de Nora voltam a


conversar entre si, porque assim me afastam de pensamentos
estranhos.

— Falando na Nora, onde será que ela foi, querida? — Raúl


pergunta a Violeta.

— Não sei, ela foi resolver algo em ligação com a mãe, mas
disse que logo estaria aqui. — Violeta responde calmamente.
— Olha só quem está vindo correndo para cá! — Saulo diz
com a voz sorridente.

— Você disse a ela onde estávamos? — Sol questiona e


Violeta faz um som de confirmação.

— Mandei uma mensagem assim que encontrei o príncipe


dela. — Violeta diz, e eu dou uma risada sem graça. Odeio o fato de
ser chamado de forma íntima por pessoas que não são tão próximas
assim.

Em alguns instantes, consigo ouvir os passos apressados dos


saltos altos de Nora. Quando o vento chega até minha direção, ele
traz consigo o cheiro floral com uma pitada de mel, esse é o cheiro
de Nora. Desde que eu contei a ela que a conheço pelo cheiro do
seu perfume ela nunca mais mudou a fragrância que usa. Dizendo
que assim fica mais fácil para que eu possa reconhecê-la sempre
que estiver por perto. Mas como explicar a ela que eu não necessito
de nada disso para poder reconhecer facilmente as pessoas que
convivo? Para falar a verdade, até o som do respirar das pessoas eu
consigo, após muitos treinamentos, diferenciar facilmente. Essa é a
parte da minha vida que Nora não tem acesso, por que é algo
pessoal, e pode até mesmo se tornar perigoso para mim se essas
informações vazassem.

— Cheguei! — Nora anuncia de forma ofegante.

— Finalmente chegou, Norinha! — Violeta diz de modo feliz


ao ver a melhor amiga.

— Tudo certo com a sua mãe? — Pilar pergunta a Nora que


se aproxima de mim.

— Sim, ela só estava… ah! — Exclama ela de repente, sinto


um movimento estranho seu e ergo os braços rapidamente para
poder ampará-la.
— Cuidado! — Aviso segurando o corpo leve de Nora, que iria
cair no chão se eu não fosse mais rápido.

Um silêncio estranho toma conta do ambiente de repente, de


modo que as pessoas presentes ficaram tão quietas que poderíamos
até mesmo ouvir o som de uma agulha caindo no chão. O momento
se tornou um pouco estranho, mas decidi não ligar para isso e foquei
minha atenção em Nora.

— Você está bem, querida? — Questiono ao reparar sua


quietude.

— S… sim! Estou bem, você me segurou a tempo, obrigada!


— Ela agradece e eu sorrio.

— Não foi nada, o importante é você não se machucar! —


Levanto Nora levemente, a ajudando a se acomodar ao meu lado.

— Meu Deus!! — Pilar exclama em voz alta.

— Cara, vocês viram, ele pegou Nora no ar? — Saulo diz


como se não acreditasse.

— Eu vi, mas mesmo assim não consigo acreditar! — Violeta


diz com emoção.

— Justin, tem certeza que você não enxerga nada? — Sol


questiona e consigo notar a dúvida no seu tom de voz.

— Sol, como pode dizer isso? — Nora se exalta e eu acaricio


sua mão.

— Tudo bem, Nora! — A tranquilizo. — É normal as pessoas


terem dúvidas às vezes. — Conto e ela solta um som frustrado.

— Mesmo assim, isso foi inconveniente! — Fala e eu dou uma


risada.
— Não diga isso, não deixe a pobre Sol ficar envergonhada.
Tenho certeza que ela pode estar fazendo uma carinha sem jeito.
Estou certo, pessoal? — Pergunto de forma descontraída.

— Esse sujeito deve ter super poderes, não é possível! —


Raúl fala de forma extravagante.

— Lamento pela minha falta de tato, Justin! — Sol se


desculpa e eu nego com a cabeça.

— Não precisa se desculpar, Sol! Fique tranquila com relação


a isso, tudo bem? — Digo calmamente e a ouço soltar uma forte
respiração.

— Você é uma pessoa muito doce, Justin. — Fala de modo


melancólico. Nesse momento Nora abraça meu pescoço com força.

— Tira seus olhos do meu lindo namorado, Solzinha! — Nora


avisa de modo possessivo e eu dou tapinhas leves no seu braço.

— Olha só como nossa Norinha está toda empolgadinha! —


Violeta diz tirando sarro de Nora.

— Pois é, acho melhor deixarmos o casal feliz ter um pouco


de privacidade. — Pilar diz avisando a todos.

— Isso mesmo, vamos voltar! — Saulo fala tendo


confirmações sonoras das pessoas presentes.

— Tudo bem, vamos! Nos vemos depois, Nora e Justin! —


Violeta diz e eu ergo minha mão para acenar um adeus leve.

— Até mais pessoal! — Digo de forma sucinta, dando um


sorriso curto.

Os amigos de Nora começaram a se dispersar, aproveitei a


deixa para mover Tom de lugar, o fazendo relaxar um pouco
deitando ao meu lado. Sinto o toque das mãos macias de Nora
alcançar o meu rosto, e antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela
deixa um beijo repentino nos meus lábios. Espero um momento
antes de erguer minhas mãos para aproximar o seu corpo ao meu,
deixando com que nosso beijo tome seu curso. É muito agradável
beijar Nora, o toque suave dela em mim faz meu corpo reagir, mas
como estávamos na Universidade eu preciso parar para não
avançarmos mais ainda.

— Por que você não dorme no meu apartamento hoje? —


Pergunta ela e eu tateei seu rosto pequeno, mas que posso saber
nitidamente que é lindo e fofo.

— Infelizmente hoje eu não vou poder, querida. — Digo


deixando ela descansar sua cabeça no meu peito.

Como eu digo a ela que estou sentindo tanta dor de cabeça


que não posso cogitar fazer nada com o meu corpo que não seja
deitar e dormir na minha cama hoje? É frustrante, eu sei, mas é
tudo o que posso oferecer nesse momento.

— Nossa, queria tanto! — Nora fala com a voz cheia de mimo.

— Você falando cheia de dengo assim parece minhas irmãs!


— Aponto rindo e ela me dá um tapa leve no peito.

— Eu não sou uma criancinha! — Nora exclamou irritada e eu


sorri.

— Claro que não, uma senhorita adulta, isso sim! — Brinco e


ela volta a me abraçar.

— Justin, minha mãe está planejando um jantar na minha


casa semana que vem. — Nora começa e para por um instante. —
Ela me pediu para convidá-lo, o que acha? — Pede ela me fazendo
pensar.

— Terei que ver a data direitinho, porque tenho algo na


semana que vem. — Conto analisando mentalmente minha agenda.
— O que será que… — As palavras de Nora são interrompidas
com a voz de aviso do meu celular me indicando uma nova
chamada.
Recebendo ligação da Marrentinha…

— Espera um momento, Nora! — Sorrio ao ouvir o som da


notificação. Por isso não perco mais tempo e atendo a ligação da
minha prima problemática.

— Pumpkin (Abóbora)! Por que demorou a atender? Estava


em aula? — Samantha desembesta a perguntar em inglês.

— Calma, Sam, respira! — Peço também em inglês e ouço o


bufar de sua respiração do outro lado da linha.

— Me deixe, eu estava ansiosa para falar com o meu primo


favorito! — Sam fala de forma dramática e eu sorrio.

— Isso não me compra, porque sei que você diz isso a todos!
— Digo sem frustração alguma.

— Você me pegou! — Sam fala com seu modo sapeca de ser.

— A que devo a honra da sua ligação, Marrentinha? —


Pergunto, curioso.

— Por que diabos continuam me chamando assim? — Indaga


frustrada.

— Por que essa é você! Mas se não quer mais, sendo assim,
pare de me chamar de abóbora também! — Provoco tranquilamente
e ela fez um som de asfixia.

— Nem pensar, isso seria a morte para mim, abóbora! —


Afirma ela de modo dramático e eu nego com a cabeça.

— Pare de exagerar, Sam! — Peço e ela solta uma


gargalhada.
— Claro, claro, pode deixar! — Fala ainda rindo.

— Vamos parar de enrolação, a que devo a honra da sua


ilustre ligação? — Questiono cheio de curiosidade.

— Ah sim, eu liguei para poder saber se você, as meninas e


minhas tias vão para Milão neste final de semana? — Sam pergunta
e eu estranho.

— Mas não será no próximo final de semana? — Indago


confuso.

— Bem, não sei como, mas nossa adorável bisnonna


descobriu que estávamos planejando esse almoço em família, para
decidir sobre o seu aniversário, e decidiu tentar fugir com nosso
bisnonno para as Maldivas. — Sam conta me fazendo rir.

— Pelos céus, nonna não tem jeito! — Digo com um sorriso


leve no rosto.

— Não sabe como é? Essa senhorinha é um furacão vivo! —


Sam diz e eu tenho que concordar. — E aí o que vocês vão fazer?
Meus pais disseram que nós vamos! — Sam confirma.

— Vou perguntar às minhas mães e depois te retorno, pode


ser? — Pergunto e ela faz um som de confirmação.

— Claro, fique em paz! — Sam fala de forma leve. — Para


falar a verdade eu espero que todos possam estar presentes, sabe.
Sinto falta de nossa reunião de sempre! — ela diz e eu suspiro.

— Seria ótimo mesmo, será que todos vão poder ir? —


Indago com expectativa.

— Olha, a única pessoa que está sem dar sinal é o Vik, mas
Duda disse que ele deve estar trabalhando em algo que impossibilita
comunicação agora. — Sua explicação me deixou tenso no mesmo
momento.
— Se… será que ele está bem? — Pergunto rápido sem
esconder minha preocupação.

— Óbvio, é do nosso primo mafioso que estamos falando,


então relaxa senhor preocupado! — Sam diz de um modo tranquilo,
mas sei que no fundo ela está preocupada também.

— Isso mesmo, Vik sabe o que faz! — Falo cerrando meus


punhos com força. Sinto um movimento de Nora ao meu lado, o que
é um indício do seu desconforto, por isso eu sei que é hora de me
despedir de Sam. — Marrentinha, eu vou desligar agora, porque
estou com Nora no momento e em breve vamos voltar para a aula.
— Explico à minha prima.

— Tudo bem, mande lembrança a Nora, apesar de não tê-la


conhecido ainda. — Sam diz me provocando e resolvo ignorar.

— Certo, pode deixar! — Falo levemente.

— Te amo, Abóbora! — Declara minha prima e melhor amiga


me causando um sorriso amoroso.

— Também te amo, Marrentinha! — retorno seu afeto


docemente.

Minha ligação com Samantha foi encerrada deixando um


sentimento saudosista no meu peito. Faz tempo que não me reúno
com minha família e espero poder encontrar com eles em breve,
mas enquanto isso não acontece vou voltar a minha atenção a Nora,
que deve estar se sentindo desconfortável. Digo isso pelo modo que
ela mexe suas pernas e o aperto de suas mãos no meu braço.

— Desculpe te deixar solitária, Nora! — Falo levemente e ela


pressiona seu rosto no meu braço.

— Tudo bem, você estava falando com sua prima! — Diz ela
com a voz pequena. — Jus, quando vou ser apresentada à sua
família oficialmente como sua namorada? — Indaga ela sem
esconder sua frustração.

Não me surpreende nenhum pouco que ela faça esse tipo de


pergunta, por isso penso em um modo de dizer sem machucar seus
sentimentos.

— Já conversamos sobre isso, Nora! Espere só um pouco


mais, tudo bem? — Peço de modo tranquilo e ela assente com a
cabeça.

— Tudo bem, querido, não se sinta pressionado! — Diz ela


alisando meu peitoral.

— Vamos conversar sobre isso logo, prometo a você! —


Prometo erguendo minha mão para poder alcançar seu rosto.

— Está bem! — Responde de modo fofo. — Jus, posso te


fazer uma pergunta? — Começa ela e eu lhe dou atenção.

— Você é muito próximo dos seus primos e primas? —


pergunta sem esconder sua curiosidade e isso me traz um sorriso no
rosto.

— Muito! Eles são meus melhores amigos, sem falar que eles
são os melhores defensores que alguém poderia ter. — Conto
sentindo meu coração ficar quentinho no peito.

— Que adorável isso, eu não sou assim com os meus


parentes! — Nora diz e eu acaricio sua mão.

— Um dia a apresentarei para eles, você vai ver como são


pessoas incríveis! — Falo de modo divertido e ela fez um som de
confirmação.

— Tenho certeza que vou adorar! — Nora diz e eu concordo.


— Nossa Jus, olha a hora, eu vou me atrasar para a aula! E se eu
fosse você também iria logo! — Nora diz de supetão dando um pulo
do lugar.

— Vá em frente, nossas matérias são diferentes, não se


preocupe comigo! — Lembro a ela e mando ir rapidamente.

— Tudo bem, eu vou indo então! Essa aula é muito


importante! — Nora diz e ouço um farfalhar de coisas.

— Nos vemos depois! — Aviso.

— Claro, até depois, querido! — Nora segura meu rosto e


deixa um beijo leve e rápido nos meus lábios.

Pouco tempo depois consigo ouvir os passos apressados de


Nora correndo para não perder sua aula. Dou um sorriso de lado e
aproveito a deixa para voltar aos meus próprios afazeres, seguro o
suporte do guia de mão de Tom, pego minha bengala que estava ao
lado e guardo meu celular no bolso de trás da minha calça. Quando
sinto que estou pronto levanto do lugar que estava sentado, no
entanto antes que eu possa dar um passo sinto minha cabeça rodar.
O impacto é tão abrupto e grande que meu corpo amolece, fazendo
assim com que meu corpo caia no chão em um baque alto. A
situação é tão assustadora que Tom começa a latir muito alto, minha
cabeça começa a doer tanto que eu pressiono minhas pálpebras com
força.

— Tom! — Chamo com a voz arrastada, sentindo que minha


consciência está se esvaindo. — Mer… merda! — Xingo quando tento
encontrar meu celular e não consigo.

Agora eu só tenho outra alternativa, preciso ser rápido antes


de cair na inconsciência.

— T… Tom, vá chamar Reyes, garoto! Reyes, Tom! Agora! —


Seguro o pelo do meu cão-guia e, quando o solto, consigo ouvir as
passadas rápidas de suas patas. — Isso, Tom, bom garoto! —
Sussurro, esforçando-me para não desmaiar agora.
Não faço ideia de quanto tempo se passou, mas logo consigo
ouvir o som de sapatos e patas caninas vindo na direção onde estou
caído. Levanto meu braço com muito esforço, pois é um indicativo
da minha localização.

— Estou aqui, Jus! — A voz de Reyes se faz presente e logo


sua mão forte alcança a minha. — Vamos lá, amigo! — Diz ele e eu
permito ser levantado por ele.

— Me leve para um hospital, e não deixe minhas mães


saberem, Reyes! — Peço rapidamente.

— Impossível aceitar essa ordem, amigo! — Reyes avisa após


estalar a língua em frustração.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, sinto a


inconsciência tomar conta de mim. Só espero não preocupar muito
minha mães!
CAPÍTULO 2

Desperto vagarosamente, mas permaneço de olhos fechados


por enquanto, fazendo um esforço enorme para não esboçar meu
desagrado, por estar sendo bombardeado pelo cheiro forte de
antisséptico hospitalar. Tirando esse fato desagradável, a primeira
coisa que consigo perceber é que a dor insuportável, que estava a
ponto de me matar, já não me incomoda mais. Me sinto
infinitamente aliviado por ter me livrado desse martírio, faz tanto
tempo que não me sentia desse jeito, que até tinha esquecido que
de tempos em tempos o meu nervo óptico atrofiado me causa esse
tipo severo de desconforto. Fico grato a meu confiável amigo de
todos os dias, Tom, que foi ágil e preciso ao correr a tempo de
chamar Reyes, imagino como deve ter sido agonizante ter que correr
comigo para longe da Universidade daquela forma. Graças aos céus,
temos todos os tipos de protocolos para quando algo acontece com
qualquer um de nós, e a eficiência desse pessoal é admirável de
muitas maneiras.

Droga, eu sei que estou me enrolando com meus próprios


pensamentos.
Porém tudo isso está acontecendo por que agora que estou
consciente consigo ouvir a voz chorosa de mommy ao meu lado,
enquanto segura minha mão com tanta delicadeza, que me dá
vontade de chorar. Sem falar de minha mamma, que está com sua
voz cheia de rigidez, fazendo perguntas e mais perguntas para as
pessoas que suspeito serem os médicos que estão cuidando de meu
quadro clínico no momento. Deus sabe que eu estive em silêncio
esse tempo todo, desde que as dores se iniciaram, tomando os
remédios que meu médico havia prescrito anteriormente, a fim de
aliviar a dor ou alguma inflamação. Tudo isso ocorreu porque eu não
queria que minhas mães se preocupassem tanto, elas já tem o prato
cheio com suas próprias coisas. Tendo que cuidar de suas empresas,
de educar uma criança de 11 anos e uma bebezinha de quase 1 ano
e pouco.

Não é preciso que minhas mães que se matam todos os dias


para dar conta de seus próprios problemas, tenham que estar aqui
no hospital com seu filho de 21 anos. Filho esse que é um adulto e
pode muito bem lidar com suas merdas, mas reconheço que mesmo
que eu deseje que seja diferente, elas vão largar tudo se caso eu ou
minhas irmãs precisemos delas. Por que assim que as mães são, elas
são seres preciosos, almas guerreiras, que estão prontas para poder
enfrentar qualquer inferno para proteger e zelar por suas crias. Às
vezes desejo que todas as pessoas do mundo tivessem mães
fabulosas, da mesma forma que minhas mães, e as mulheres da
família Aandreozzi são para nós, seus filhos e netos.

Sou o cara mais sortudo desse mundo, sei disso, e é por isso
que decidi parar de fingir que estou inconsciente para poder acalmar
o coração aflito das mulheres da minha vida. Aproveito que a mão
de mommy está sob a minha e pressiono levemente, para indicar a
ela que estou desperto.

— Oh meu Deus, meu bebê, você acordou! — Mommy grita


de forma chorosa assim que sente meu toque.
— Sim, mommy, estou aqui! — Informo abrindo um sorriso
pequeno.

— Luna, nosso filho acordou! — Mommy chama por minha


mamma e em poucos instantes o som abrupto da porta sendo
aberta é ouvido por mim.

— Dio santo, ragazzo mio! (Deus santo, meu menino!) —


Mamma fala com a voz carregada de emoção.

Meu corpo está sendo pressionado por dois pesos e


fragrâncias diferentes, um deles é rechonchudo e macio que traz um
cheiro de cassis com um toque de jasmim que me lembra muito a
infância. Já o outro é tão macio quanto, mas o que diferencia um do
outro é a firmeza e o cheiro pimenta rosa com uma pitada de
gardênia em uma das notas. Essas duas fragrâncias são únicas,
feitas por mim, para minhas duas mães, por isso que se torna tão
especial senti-las. Consigo sentir também a umidade das suas
lágrimas que molham a roupa que estou usando. Tenho a impressão
que seja um roupão hospitalar, mas isso é o que menos importa
agora.

— Mommy, Mamma, eu sinto muito! — Digo com a voz baixa.

— Oh meu filho, por que não nos avisou? — Minha mãe Laila
pergunta em tom de lamento.

— Eu não queria preocupar vocês duas. — Respondo


levemente, segurando a mão das duas com as minhas.

— Como assim? Você está pensando que somos estranhas,


Justin! — Minha mãe Luna diz sem esconder sua fúria.

— Não, mamma, jamais pensaria em algo assim! — Exclamo


rapidamente negando com a cabeça.

— Então, querido, por que você aguentou tanta dor sem falar
nada? — Indaga e eu solto um suspiro forte.
— Não foi bem assim, não estava… — Tento desconversar,
mas antes que eu pudesse terminar Mamma me interrompeu.

— Você entrou em colapso no jardim da sua faculdade, Justin


Aandreozzi! — Mamma fala entre dentes cerrados. — Não me venha
com essa de que não foi bem assim ou qualquer coisa do tipo,
porque senão eu juro que vou lhe dar umas palmadas, va bene? —
Confirmo com a cabeça em silêncio, tenho certeza se eu disser algo
errado vou deixá-la ainda mais chateada.

— Reyes nos passou o relatório que você estava


constantemente segurando sua têmpora e fazendo careta, filho. E
que várias vezes perguntava sobre a sua condição, só que você
sempre desconversava. — Mommy comenta e eu mordo meus lábios
inferiores.

— Sinto muito! — Falo baixinho me sentindo envergonhado.

— Cazzo, se esse maledetto tivesse nos contado sobre isso


antes, não estaríamos assim agora. — Minha mãe Luna esbraveja e
eu seguro sua mão com mais fervor.

— Mamma, não culpe Reyes, isso não tem nada a ver com
ele! — Digo seriamente e ela solta um xingamento baixinho.

— Minha Lua, por favor, se acalme! Nossa prioridade é saber


o estado real do Jus, não praguejar o seu segurança. — Mamma diz
acalmando os ânimos de minha mãe Luna.

— Você está certa, dolcezza! — Mamma concorda, após


respirar fundo.

— Claro que estou! — Mommy brinca e eu ouço a risada de


Mamma.

— Verdade, você nunca está errada, amore mio! — Declara


mamma mais relaxada.
Sinto um aperto tranquilizador de minha mãe Laila em minha
mão e isso me faz dar um sorriso de lado. Me sinto grato pelo apoio
de mommy, mesmo sabendo que o que eu fiz não foi certo, ela
ainda faz um esforço para que Mamma não perca seu controle. Sei
que as duas estão extremamente preocupadas, e para notar isso
nem precisa ser um gênio, e o culpado disso tudo sou eu. Não posso
permitir que elas culpem os outros pela minha falta de senso lógico
de avisá-las sobre o meu estado atual. Aproveitando esse momento
menos tenso de agora, resolvo explicar às minhas mães o motivo
por ter deixado tudo chegar até o ponto em que chegou.

— Mamma, Mommy! — Chamo a atenção das duas.

— Sim, querido! — Minha mãe Laila diz.

— Pode falar, bambino! — Mamma fala rapidamente.

— Por favor, não culpem ninguém por eu ter ficado da


maneira que fiquei, faz um bom tempo que não sinto dores de
cabeça dessa forma. E eu, com a minha infame ignorância, pensei
que conseguiria controlar com os remédios que o meu médico
prescreveu anteriormente. — Faço uma breve pausa, mas logo volto
a falar. — Não foi minha intenção preocupar vocês, não desejei que
nada disso acontecesse. Por isso, mães, peço que me perdoem! —
Revelo com a maior sinceridade do mundo.

— Oh meu amor! — Minha mãe Laila diz de modo choroso me


puxando para um abraço. — Por que você é tão bom filho assim?
Por que você tenta facilitar as nossas vidas se machucando dessa
maneira? — Mommy diz fazendo meu olhos encherem de lágrimas.

— Eu não quis me machucar, mommy! É meu dever como


filho mais velho, e um adulto que me tornei, evitar suas
preocupações. — Confesso deixando uma lágrima rolar no meu
rosto.
— Mas não pode ser desse jeito, meu filho! — Mommy diz me
abraçando com força.

— Jus, mio bambino! — Mamma chama, em poucos instantes


sinto o toque suave de suas mãos na minha bochecha.

— Sim, mamma! — Respondo percebendo que Mommy soltou


meu corpo e se acomodou ao lado da minha cama hospitalar.

— Independente de você ser um homem adulto, ser o irmão


mais velho, um universitário, você ainda vai continuar sendo o nosso
bebezinho, o nosso menino lindo e gentil. Será que você consegue
entender, meu amor? — Mamma diz cada palavra segurando os dois
lados do meu rosto, usando os dois polegares para limpar as
lágrimas da minha bochecha.

— Sim, mamma! — Minha voz sai tão pequena que é quase


como um sussurro.

— Do lado de fora do mundo, você pode ser a fortaleza que


quiser, Justin, só que dentro de nosso lar, sua mãe e eu precisamos
que você se abra para nós. — Mamma fala deixando um beijo doce
na minha testa. — Precisamos saber que você está bem nos
estudos, se está saudável e feliz, tanto quanto precisamos saber
sobre suas irmãs também. — Confirmo com a cabeça, pois estou
cheio de emoção.

— Minha lua está certa, abóbora, nosso bem estar depende


que você e suas irmãs estejam bem. — Mommy diz pegando minha
mão e colocando no seu rosto.

— Fui um idiota, prometo que não farei mais isso! — Digo


com clareza e minhas mães soltam um som de alívio.

— Só não esconda as coisas importantes de nós, e está tudo


bem! — Mamma diz de modo sorridente deixando um beijo na
minha testa.
— Claro, mamma, tentarei o melhor! — Brinco sentindo um
arrepio na minha espinha de repente. — Estou brincando, as duas
não precisam ficar assim! — Senti seus olhos me fuzilando a poucos
momentos atrás.

— Acho bom! — As duas responderam em uníssono.

— Podem deixar, fiquem tranquilas e relaxadas agora! —


Brinco levemente e ouço o bufar indignado de mamma.

— Olha isso, dolcezza, como esse menino está sem vergonha!


— Aponta mamma e ouço a risadinha de mommy.

— Pois é, às vezes ele tem esses momentos safados, certo


abóbora? — Mommy pergunta e eu assinto com a cabeça.

— Mommy, mamma, agora que já acertamos nossos pontos,


as senhoras podem me dizer o que houve de fato? — Questiono as
duas e elas ficam quietas por um tempo.

O silêncio de minhas mães não durou muito tempo até que


elas me contaram o que houve depois que fiquei desacordado. Foi
me dito que no instante que Reyes me colocou em segurança no
carro, ele correu comigo para o hospital e acionou minhas mães logo
em seguida. Quando as duas chegaram foram recepcionadas e todo
o relatório foi passado, fiquei sabendo por mommy, que mamma
segurou Reyes pela gola do terno e estava tão agitada que não
deixava o homem falar. No entanto, o meu médico, doutor Álvaro
García apareceu para dar notícias minhas a Reyes, e ficou surpreso
quando notou minhas mães agitadas na recepção. Logo após a
surpresa o doutor García levou as duas para a sala de espera
enquanto alguns exames estavam sendo feitos, e eu estava
medicado e adormecido.

Através do médico, minhas mães foram informadas que o que


houve comigo foi uma compressão no meu nervo óptico. Alguns
tecidos ao redor dos nervos estavam sendo comprimidos ao ponto
de evitar o fluxo do líquido cerebral de circular livremente. Sendo
assim, sofri uma pressão intracraniana muito forte, ao ponto de me
deixar desacordado. Ao saber dessa informação fiquei extremamente
assustado, pois se alertasse as pessoas sobre o meu desconforto
tudo o que ocorreu poderia ser evitado.

— Eu não sabia disso, pensei que fosse alguma inflamação


leve como da última vez. — Falo me sentindo totalmente sem jeito.

— Não fique pensando desse jeito, tudo já passou agora. —


Mamma disse bagunçando meus cabelos de leve.

— Agora é só se preparar para a cirurgia, por que… — Não


deixo mommy terminar de falar paro rapidamente.

— Cirurgia? Por que? — Questiono apreensivo.

— Ei Jus, acalme-se! — Mamma pede e eu respiro fundo.

— Doutor García nos informou que a pressão que seu cérebro


está recebendo é muito intensa, por isso a urgência. O remédio que
você tomou não vai durar muito tempo, você pode passar pela
mesma situação de antes. — Mommy explica com cautela para que
eu compreenda tudo perfeitamente.

— Vai ser uma cirurgia de no máximo 2 horas, você vai


receber anestesia geral e vai ficar tudo bem. — Mamma conclui e eu
puxo uma forte respiração.

— Compreendo a situação, mas o que vai ser das meninas


com as senhoras aqui comigo? — Questiono sem esconder minha
preocupação.

— Hope e Ella estão com a babá e os seguranças em


prontidão, por isso fique despreocupado. — Mommy diz me
deixando aliviado.
— Sem falar que os seus avós já foram informados, não
duvido nada que logo mais esse lugar esteja cheio de Aandreozzi
chamando a atenção por todo esse lugar. — O modo que Mamma diz
me fez rir, pois eu consigo imaginar a loucura que isso vai ser.

— Pelo menos uma coisa boa vem disso tudo! — Digo me


sentindo feliz.

Sinto uma onda de dor envolver minha cabeça, fecho minhas


pálpebras com força, seguro os dois lados da minha cabeça e me
encolho na cama.

— Justin, o que houve? — Mommy pergunta com a voz


estridente e apreensiva.

— A dor… ela voltou! — Respondo com dificuldade.

— Espera filho, vou chamar o médico! — Mamma fala


seriamente e logo ouço o som dos seus saltos altos andando
apressadamente pelo piso.

Ao lado de minha mãe Laila enfrento essa dor terrível que


martela fortemente a minha cabeça. Mordo minha mandíbula com
força, apertando o lençol fino que está cobrindo minha cintura entre
meus dedos. Não demora muito para que a voz alta de minha mãe
Luna alcance os médicos e enfermeiros do lugar. Doutor García
chega ao meu quarto, fala alguma coisa com minhas mães que não
consigo compreender. Elas dão alguma confirmação ao meu médico,
logo em seguida alguém destrava a cama que estou para poder
encaminhá-la para fora. E isso assusta o inferno fora de mim, que
me faz chamar por minhas mães, como se eu fosse uma criança
assustada.

— Mamma, mommy! — Chamo por elas, erguendo minha


mão para frente à procura dos seus toques. Imediatamente cada
uma delas segurou minhas mãos com força, acalmando um pouco
minha preensão.
— Estamos aqui, bambino! — Mamma diz me fazendo relaxar
um pouco a ansiedade.

— Você vai agora para a sala de cirurgia, Justin, não podemos


mais atrasar. — A voz do meu médico fala apressadamente.

— Fique calmo, filho! Quando tudo acabar e você acordar da


anestesia sua família vai estar aqui à sua espera. — Mamma diz com
a voz embargada, deixando um beijo nos meus dois olhos.

— Mommy e Mamma vão está aqui para esperar sua doce


abóbora ficar bom, tudo bem? — Mommy fala do mesmo jeitinho
quando eu era criança e por alguma razão isso me enche de
determinação.

— Vou ficar bem, amo vocês demais! — Declaro


amorosamente.

— Amamos você, abóbora! — As duas respondem em


uníssono.

— Podem levá-lo! — Doutor García manda e logo estou sendo


guiado para fora do quarto.

Odeio a ideia de ter que passar por cirurgia, mas sei que é
necessário e confio plenamente no meu médico. Se ele diz que esse
procedimento é o único modo de parar com essa dor infeliz, devo
depositar todas as minhas esperanças nisso. Quando o movimento
da maca parou, meu médico veio ao meu lado para me explicar um
pouco o processo e informar que o anestesista estaria aplicando
uma anestesia geral. Após o meu aval não demorou nada para que a
minha mente agitada fosse tomada mais uma vez pela inconsciência.
A próxima vez que desperto sou tomado pelo sons constantes
de sussurros no ambiente. Tento me mover um pouco, mas o meu
corpo não me responde bem o suficiente. Isso deve ser o efeito da
anestesia geral que tive que tomar por causa do procedimento, não
gosto muito da ideia de sentir meu corpo tão vulnerável. Desde o
meu treinamento com meu saudoso mestre, aprendi a sempre usar
muito bem cada um dos meus sentidos. Mas no momento a única
coisa que sinto é uma bagunça chata nos meus sentidos por conta
da medicação. Esse é um dos motivos que detesto passar por
cirurgia ou qualquer coisa que envolva usar drogas. Tento me
acalmar pouco a pouco e assim que finalmente consigo me mover
um pouco ouço alguém falar meu nome.

— Oh mio caro, finalmente sei sveglio! (Oh meu querido, você


finalmente acordou!) — Uma voz extremamente amorosa e
preocupada chegou aos meus ouvidos.

— Nonna Arianna! — Falo levemente em italiano com a voz


rouca.

— Oi meu neto, uma parte da família já se encontra aqui para


poder te ver. — Minha nonna diz e eu sorrio.

— Foi uma cirurgia rápida, não precisavam se deslocar até


Madri assim. — Explico e ouço um bufar descontente.

— Como pode dizer isso, meu neto? Assim que recebemos a


notícia pegamos logo o jatinho para vir saber a sua situação. — A
voz forte e grossa de meu nonno Donatello chegou até mim e eu
fiquei sem jeito.

—Desculpe preocupá-lo, nonno! — Peço e ele riu em tom


baixo.

— O que tem para se desculpar, garoto, nós somos sua


família. — Diz meu nonno dando batidinhas leves na minha perna
direita.
— Onde estão minhas mães? — Indago sentindo falta das
suas presenças.

— Suas mães… — Nonna Arianna começa a falar, mas no


mesmo momento a porta do quarto é aberta e o som de risos é
ouvido. E as vozes que vem a seguir aquecem meu coração.

— Não é bem assim, Nonna! — Tio Andrea fala com o tom


gentil de sempre.

— Como não? Eu disse a você, Andrea, Enzo é o maior


“atrasa lado” de todos! — Bisnonna Francesca fala furiosa fazendo
os demais rir.

— Como assim, Nonna? A senhora queria que eu deixasse a


senhora dar em cima do médico do seu bisneto? — Tio Enzo reclama
irritado.

— É óbvio, estou velha mas não morta! Estou em uma fase


de relacionamento aberto com Lolo, e estou aproveitando o
momento. — Nonna Francesca aponta de modo malicioso.

— Será que meu nonno sabe desse relacionamento aberto,


nonna? — Minha mãe Luna perguntou confusa.

— Acho que sim, sugeri isso a ele ontem! — Nonna Francesca


diz diminuindo a voz como se estivesse em dúvida.

— Quer dizer quando ele estava cochilando na poltrona da


minha casa? — Tio Enzo sugere inconformado.

— Talvez! — Responde Nonna cheia de dúvidas.

— Mamma, eu sabia que a senhora deveria ter ficado em


casa! — Meu avô resmunga chateado. — Aí mamma, não me bata
com sua bengala! — Reclama meu avô abruptamente.
— Calado, você é o mais “atrasa lado” de todos! Seus filhos
são iguais a você! — Nonna diz entre dentes. — Pobrezinha da
minha Anna, sofre demais com esse marido e filhos tontos! -
Lamenta minha bisavó de forma dramática.

— Bisa, onde a senhora aprendeu essa nova gíria? —


Pergunto e todos param de falar.

— Você acordou, meu filho! — Mamma fala contente.

— Como está se sentindo? Ainda com dor? — Mommy me


metralha com perguntas e eu sorrio.

— Sem dor, sem incomodo, estou bem realmente! — Digo


para aliviar os seus nervos.

— Bom saber disso, meu menino lindo! Tive que levar essas
duas aqui para tomar uma água, porque não queriam desgrudar de
você um instante sequer. — Nonna Francesca fala e logo sinto seu
toque suave e carinhoso no meu rosto.

— Saudades da senhora, Bisa! — Declaro com sinceridade.

— Eu também estava, bambino mio! — Responde


amorosamente.

— Caspita! Você nos deu um grande susto, ragazzo! — Tio


Enzo conta e eu dou um pequeno sorriso.

— Mas agora estamos aliviados em saber que tudo está bem,


Jus! — Tio Andrea fala e eu assinto.

— Quando vou poder ter alta? — Pergunto curioso.

— Amanhã depois de tirar os curativos dos olhos. — Mommy


explica e eu concordo com a cabeça.

— Fique tranquilo, porque vamos permanecer aqui com você,


meu filho! — Mamma revela aquecendo meu coração. A segurança
que sinto agora me faz desligar totalmente e bocejar de puro
cansaço. — Descanse meu amor, sua família vai estar aqui te
protegendo de perto.

— Grazie di tutto, famiglia! (Obrigado por tudo, família!) —


Digo em italiano me permitindo ser levado pelo cansaço.

Deixo o sono me levar para poder me recuperar rápido,


porque não existe no mundo proteção melhor do que da minha
família.
CAPÍTULO 3

— Você tem noção do quão preocupados ficamos quando


soubemos o que aconteceu, Justin? — Samantha fala de modo
colérico, segurando meu roupão hospitalar com força.

— Tenho uma pequena noção, Sam! — Replico, colocando


minhas mãos sobre as suas.

— Sua abóbora sem vergonha, não venha falar comigo desse


jeitinho doce, está tentando me tranquilizar para não brigar com
você, é? — Sam indaga me chacoalhando.

— Samantha, Jus ainda está em recuperação, não faça isso!


— Otto avisa rapidamente e Sam para abruptamente.

— Ops! Sinto muito, esqueci, mas esse cara me deixou muito


puta! — Sam aponta inconformada.

— Sabemos sua chateação, e estamos tão chateados quanto,


mas agora temos que cuidar desse teimoso dos infernos. — Pietro
resmunga e eu solto uma respiração leve.
— Mas é como Otto disse, brigar com Jus não é solução! —
Isabel retruca fazendo Samantha bufar.

— Quando foi que você ficou tão consciente, sua adolescente


sem noção? — Contesta Sam a sua irmãzinha. — Me mostre esse
dedo novamente e eu vou arrancá-lo, garota! — Ameaça irritada.

— Venha aqui, quero ver se você tem coragem! — Isabel


provoca a irmã mais velha de forma maliciosa.

— Olha Isabel! — Avisa Sam perigosamente tentando ir até


Bel, mas eu a segurei com força.

— Não briguem, por favor! — Peço calmamente fazendo Sam


parar seus movimentos.

— Obrigado, Jus! — Isabel diz dando uma risadinha para


provocar a irmã.

— Você está protegendo essa adolescente sem noção, Jus! —


Sam aponta sem acreditar e eu nego.

— Só não quero que vocês quebrem nada dentro do hospital,


a conta hospitalar já é cara o suficiente para ter que acrescentar
algumas máquinas e portas na soma de tudo. — Digo calmamente e
ouço risadas no ambiente, que eu sei que é Pietro e Otto.

— Prático como sempre, primo! — Pê diz entre risos.

— Mas ele tem um ponto! — Otto ressalta de modo


pensativo.

Desde o momento que abri meus olhos no dia seguinte


àminha cirurgia de emergência que estou sendo confrontado pelos
membros da família. Para ser mais específico, estou sendo
confrontado pelos meus primos que foram aparecendo de tempos
em tempos com meus tios. O primeiro a aparecer foi Otto, que
estava em Paris trabalhando em um projeto de pesquisa
antropológica para seu curso da Universidade. Otto lamentou por
somente ter recebido a mensagem hoje pela manhã cedo, quando
chegou de sua viagem de trem. Meu primo estava tão agitado que o
tio Andrea teve que acalmá-lo e dizer que estava tudo bem e que eu
não estava mais em perigo. É sempre fácil acalmar os ânimos de
Otto, por que ele é um sujeito que sempre consegue organizar suas
emoções com facilidade. Ou seja, Otto leva a vida em uma
tranquilidade assustadora, às vezes, mas eu acho isso o mais bacana
nele.

Deixando Otto, e seu modo de levar a vida, de lado, a


próxima pessoa que chegou quase derrubando o hospital abaixo foi
Pietro e tio Luiz Otávio. Meu primo e tio chegaram aqui
acompanhados pelo meu tio Filippo. Diferente da seriedade do meu
tio Lippo, Tio Luti e o Pê estavam extremamente nervosos quando
souberam do acontecido. Não sei dizer se o fato deles serem
especificamente da área de saúde influenciou de algum modo. No
entanto, quando eles chegaram ao meu quarto e me viram acordado
e bem, eles relaxaram imediatamente. Mas não antes de Pietro
resmungar muitas vezes que fui um verdadeiro idiota até ser
repreendido por tio Lippo.

Pensei que tudo havia voltado a normalidade até ser pego de


surpresa pelo som abrupto da porta do quarto abrindo com força
novamente. E dessa vez as pessoas que vieram não foram ninguém
menos que Tio Lucca, Samantha e Isabel. Nem esperei por calmaria
ou coisa do tipo, por que se tem uma coisa que tio Lucca e Sam não
são é calmos. Por isso que agora estou aqui enfrentando essa fera
em forma de mulher, que estava pronta para me descer a mão se
não fosse pelos outros.

— Onde está Tio Lucca? Não sinto a presença dele. —


Pergunto curioso. Tio Lucca veio me ver, perguntar como eu estava,
deixou um beijo na minha cabeça e saiu logo em seguida.

— Papai Lucca disse que ia ligar para Papai Luigi e para


minha mãe para avisar sobre seu estado de saúde. — Isabel conta e
eu ergo a mão para chamar por ela.

Soube pelas meninas que tia Gio ficou em Chicago por que
seu marido tinha que resolver algo sobre a compra de alguma obra
de arte dele. E tio Luigi estava finalizando uma reunião importante
na empresa sozinho para que tio Lucca pudesse vir com as meninas.
Mas talvez iremos nos encontrar na casa de nossos avós em Milão
esse final de semana. Tem como não se sentir amado e valorizado
desse jeito? Essa família é fora de série!

— Você não veio me dar um beijo, sua pequena rebelde. —


Falo carinhosamente e logo consigo sentir o toque suave de sua mão
na minha.

— Que bom que você está bem, primo! — Diz ela


descansando minha mão no seu rosto.

— Essa garota sabe fingir doçura quando quer. — Sam


resmunga, mas sei que no fundo se derrete por sua irmã também.

—Você era pior que ela nessa idade! — Pietro brinca fazendo
Samantha rosnar.

— Olha quem fala, não sei quem era pior! — Otto diz
baixinho, mas com minha audição apurada consegui ouvir muito
bem.

— Concordo! — Falo e sinto um beliscão na minha costela. —


Isso doeu, Sam! — fingi dor de modo dramático.

— Não minta seu príncipe safado, nem foi tão forte assim! —
Sam diz e eu ri baixinho. Nem me dei o trabalho de evitar seu
“ataque” repentino, pois sabia que não doeria nada.

— Conseguiu falar com o Vik, Otto? — A voz de Pietro me


alcança de repente fechando meu sorriso.
— Não! — Responde ele soltando um longo suspiro. — Ele
ficou incomunicável por um tempo, consegui falar com ele
brevemente outro dia. — Otto explica.

— Mas Duda não estava em Nova York? — Sam indaga e Pê


solta um som de confirmação

— Sim, ela foi atrás do Vik, contou aos nossos pais que foi
junto com nosso primo resolver algum problema de um dos clientes
de Miami. — Pietro faz uma pausa. — Mas tenho a impressão que
ouvi papai contar a ela sobre o estado de Jus. — Conta com duvidas
me deixando em alerta.

— Será que ela disse ao Vik que… — Começo a falar, mas não
consigo terminar por conta da tensão.

— Tenho certeza! Até parece que você não sabe como os


nossos primos mais velhos são. — Retruca Sam sem esconder seu
descontentamento. — É uma puta injustiça que só Duda consegue
encontrar Vik! — Samantha reclama com desgosto.

— Nem começa essa história, Sam! A última vez que


tentamos correr até Vik nossos pais ficaram loucos, quase pensei
que levaria minha primeira surra de Babo a sério sem ser
treinamento. — Pietro lembra em tom amedrontado e eu estremeço
com a lembrança.

Tio Filippo é muito, muito assustador às vezes!

— Vik foi muito claro que a Bratva não é brincadeira, qualquer


vacilo nosso vai ser terrível. Não é como das vezes que Samantha e
Pietro aprontam nas baladas e vamos presos para nossos pais nos
tirarem. — Otto ressalta, deixando Pietro e Samantha se agitarem.

— Eu? Como é que eu apronto? — Sam questiona em revolta.

— Pois é, também quero saber! Temos senso de medida! —


Pietro replica bravo.
—Senso de medida? Vai querer mesmo que relembre sobre a
balada que você humilhou aquele valentão da sua faculdade a quase
um ano? — Otto pergunta com seu jeito calmo.

— Precisa não! — Pietro diz após soltar um pigarro com a


garganta.

— Falando nisso, você já resolveu o que sente por aquele


brutamontes tatuado e hétero? — Samantha solta de repente e
Pietro exclama horrorizado.

— O que… o que merda, você está dizendo, mulher? — A voz


de Pietro saiu alta e aguda.

— Mas por que essa reação, eu perguntei algo absurdo? —


Diz Sam do seu jeitinho malicioso.

— Não estávamos falando do Vik? Por que não voltamos? —


Pietro pergunta com um grande esforço para fugir do assunto.

— Por que? Tenho certeza que logo mais nosso primo mafioso
e a mini versão de Tio Lippo estão chegando por aqui. — As palavras
confiantes de Samantha me fizeram torcer as mãos juntas.

— Como tem tanta certeza disso? — Otto indaga a Sam que


solta um bufo indignado.

— Duvido muito que ao saber que Jus não estava bem, que
os dois não corram pra cá. Se eles não virem eu mudo meu nome
amanhã mesmo! — Sam brinca soltando uma gargalhada.

— Se isso acontecer eu vou te chamar de Jennifer a partir de


amanhã, mana! — Isabel fala de um jeito sapeco.

— Tente a sorte, lindinha! — Aponta Sam, e Bel ri.

Minha mente viaja nas palavras de Samantha, por que para


mim é inconcebível que Viktor deixe suas coisas de lado e apareça
por aqui. Logo ele que tem tanto medo de deixar a família
vulnerável, que é sério e decidido em suas palavras e ações. Então
não, tenho absoluta certeza que Viktor não faria uma coisa dessa!
Claro, não vou tirar seu cuidado e preocupação com o bem estar da
família, pode ser que ele ligue para mamma para se atualizar sobre
a situação. Meu primo mais velho tem um zelo muito grande não só
comigo, mas com todos os outros primos também, porque além de
ser nossa família, ele é nossa referência. Aquele que procuramos
quando as coisas ficam complicadas, o nosso conselheiro e o irmão
mais velho de todos. Sendo assim, posso pensar que ele não se
importaria. Isso literalmente nem passa pela minha cabeça, mas ele
aparecer aqui já é demais para assimilar.

Por isso que tenho uma concepção errônea dos meus


sentimentos estranhos por Viktor. Talvez a minha mente infantil
tenha idealizado alguns sentimentos contraditórios pelo fato de
depender de Vik, assim como meus primos, por ele ser o mais velho
de nós. Quem sabe o amor fraternal que tenho por ele, seja tão
forte ao ponto de confundir minha cabeça, enviando mensagens
pouco compreendidas. Sei lá, mas em minha mente isso explica
muita coisa, ou pelo menos eu me force a sempre pensar assim.
Merda, não sei! E é melhor continuar desse jeito, porque é uma
loucura! Viktor é meu primo, praticamente meu irmão, e isso é algo
muito perigoso para mim. Posso até dizer que é ridículo e risível, por
isso é melhor deixar essas coisas para trás como sempre fiz e focar
no momento de agora.

— Acabou o assunto que nossos velhos estão chegando! —


Pietro avisa quando o som das vozes de nossos pais chegam até
nós.

— Eu nem estava dizendo mais nada! — Sam resmunga


fazendo Pietro bufar.

— E aí crianças colocando as fofocas juvenis em dias? —


Nonna Francesca nos pergunta com um ar de riso.
— Claro, Bisa, estamos aqui a todo vapor na fofoca! —
Samantha diz e Nonna Francesca caiu na risada.

— Essa é minha garota! — Bisa diz e logo ouço o som de


palmas batendo juntas.

— Como você está, filho? — Mamma indaga assim que se


aproxima de mim.

— Estou bem, mamma, só esperando para sair logo daqui. —


Falo levemente e ela alisa minha cabeça.

— Jus deve estar louco para sair desse lugar cheio de cheiros
estranhos, não é? — Tio Luti fala e eu não posso deixar de
concordar.

— Sim titio, não vejo a hora! — Digo desanimado.

— Não fique assim, ragazzo, conversamos com seu médico e


logo você poderá sair. — Tio Filippo fala com seu modo sério de
sempre e eu sorrio.

— Entendo! — Falo assentindo com a cabeça.

— Espero que você não ignore mais os sinais do seu corpo! —


Tio Filippo fala em tom de aviso e eu fico rígido.

— Não assuste o Jus desse jeito, Ursão de Luti! — Tio Lucca


provoca maliciosamente.

— Isso mesmo, Ursão de Luti! — Tio Enzo ajuda na


provocação e mamma ri ao meu lado.

— Due imbecilli! (Dois imbecis) — Tio Filippo diz friamente.

— Calma amor, os meninos só estão tentando distrair o


ambiente. — Tio Luti fala tentando acalmar seu marido.

— Não os defenda, bello! — Retruca meu tio desgostoso.


— Mamma, onde estão mommy e meus nonnos? —
Questiono sentindo falta deles de repente.

— Seus avós acompanharam minha dolcezza para arrumar as


coisas das meninas e as suas para irmos para Milão assim que você
for liberado. — Franzo o cenho ao ouvir isso.

— Pensei que íamos em casa antes. — Disse confuso.

— Não, Laila e eu conversamos com seus tios e avós, e


decidimos ir todos juntos para casa. — Mamma me explica
calmamente.

— Então passaremos meu resguardo da cirurgia lá, certo? —


Indago.

— Isso mesmo, por que? Não gostou de saber disso? —


Mamma brinca e eu ri.

— Nada disso, é sempre bom ir para casa dos Nonni. —


Confirmo e sei que a fiz feliz.

— Você é uma criatura de outro mundo, bambino mio! —


suas mãos bagunçaram meu cabelo e eu sorrio.

Uma batida na porta faz a conversa entre a minha família


cessar rapidamente. Todos ficaram em silêncio e sem se movimentar
para abrir a porta. Naturalmente acharam estranho alguém bater no
quarto desse jeito e esperar abrir, pois se fosse o meu médico ou
alguém da família já teria entrado sem fazer cerimônia. Sinto a
pressão violenta tomar conta do ar, o som tão conhecido por mim de
destravar armas chega ao meu ouvido. Se fossem outras pessoas se
assustariam agora, mas comigo é diferente, pois sei que minha
família está sempre preparada para qualquer eventualidade. A
família Aandreozzi se reunindo assim, em um local desconhecido e
público pode chamar a atenção de inimigos, e para nos proteger
fazemos o que temos que fazer. Independentemente de qualquer
eventualidade!
— Calma crianças, eu vou abrir! — Nonna Francesca fala, não
demora muito para sua voz divertida ser ouvida por mim novamente.
— Olha só o que temos aqui, são duas jovenzinhas lindas e com
carinhas assustadas! — Minha bisa diz e eu franzo o cenho.

— Você está esperando alguém, filho? — Mamma questiona e


eu nego em dúvida.

— Estão procurando por alguém, crianças? — Bisa pergunta


em espanhol e quando o vento muda de direção trazendo com ele o
cheio eu franzo o cenho.

Droga, por que elas estão aqui?

— Nora, Violeta, são vocês? — Pergunto ainda em confusão.

— Justin, desculpa! Eu só… eu só soube agora! — Nora diz


sem jeito.

— Se vocês são conhecidas, não fiquem com medo desses


marmanjos cheios de testosteronas e entrem. — Tio Andrea fala em
espanhol de forma tranquilizante para as meninas.

— Com sua permissão! — As meninas dizem em uníssono.

— Oh querido! — Nora exclama chorosa e ouço seus passos


se aproximarem mais perto de mim.

— Sentimos muito, Justin, não sabíamos que você havia sido


hospitalizado. Se não fosse por um dos professores comentar, ainda
não saberíamos. Certo, amiga? — Violeta comenta com pesar e eu
continuo quieto.

— Quem são essas meninas, Jus? São suas colegas de


faculdade? — Mamma pergunta delicadamente. Quando abro a boca
para confirmar a voz de Violeta me faz praguejar mentalmente.
— Eu sou colega de faculdade, mas Nora aqui é a namorada
do Justin! — Violeta conta e imediatamente sinto os olhos fervorosos
de minha família sob mim.

Minha nossa, estou ferrado!

— Namorada? Olha que notícia surpreendente! — Samantha é


a primeira a falar depois de um silêncio atormentador.

Tenho certeza que Sam deve estar pensando que menti, por
que havia dito que Nora era só amiga, pelo menos foi isso que acho
que disse.

— Você nunca me falou sobre namorada, bambino! — A voz


de mamma sai de forma estranha e eu nem sei o que fazer agora.

— Oh, não é bem assim senhora, nós ainda não… — Nora


começa a tentar explicar de forma apressada.

— Fique tranquila querida, não precisa explicar! — Nonna


Francesca fala de modo alegre. — O importante é que um de meus
bisnetos desencantou! Está aqui um dos meus garotinhos com uma
namoradinha! — Bisa fala feliz.

— Mas Bisa, Otto já namorou antes, lembra? — Pietro fala


como se lembrasse de algo.

— Pietro, pare! — Pede Otto como se não quisesse tocar no


assunto.

— Aquele maledetto que Otto namorou não conta como tal,


meu pobrezinho tem dedo podre como Andrea. — Bisa diz causando
um alvoroço de risos.

— Nonna, meu anjo é casado comigo! — Reclama meu tio em


tom de desaprovação.
— Por isso mesmo, mas esse não é o assunto da vez e sim o
nosso Justin. — Bisa diz me causando uma onda de
constrangimento.

— Isso é uma surpresa e tanto, queria que Laila tivesse aqui


para saber da notícia. — Tio Lucca fala maliciosamente piorando
meu estado.

— Tenho a impressão que ela ficaria tão chocada como estou,


não é Jus? — Mamma diz e eu dou um sorriso sem graça.

— Desculpe, Jus, não sabia que sua família estava aqui. Eu só


estava preocupada mesmo! — Nora se desculpa com uma voz
pequena e eu ergo a mão para ela que a segura rapidamente.

— Tudo bem, Nora! — A tranquilizo porque sei que ela está


tão sem jeito como eu.

— Você está bem? Tentei ligar para seu celular, mas está
desligado. — Sussurra apreensiva e eu dou tapinhas calmantes em
sua mão.

— Sim, estou bem e obrigado pela visita! — Agradeço


calmamente.

— Tudo bem, o importante é que você está bem! — Nora diz


com a voz aliviada.

— Mamma, família, essas aqui são Nora Vergara e Violeta


Mendez! — Apresento formalmente as duas e elas recebem
saudações de minha família. — Com relação a Nora, nós ainda
estamos nos conhecendo, por isso que ainda não a apresentei
formalmente a vocês. — Esclareço a situação desconfortável.

— Fique tranquilo, querido, nós entendemos, não é sorellina?


— Tio Luti pergunta, fazendo um som com a garganta chamando a
atenção de minha mãe.
— Claro, claro! — Mamma responde, mas sei que ela irá me
encher de perguntas quando estivermos sozinhos. — Por que não
saímos um pouco e deixamos Jus com sua er… namorada e amiga?
— Mamma sugere sem jeito e toda família solta um som particular
de concordância.

Durante as confirmações verbais da minha família, minha


atenção foi para outro som um pouco distante, mas não tanto, pois
realmente me fez focar. Esses passos que são firmes no chão, mas
trazendo um certo arrastar me traz a impressão de que… Não pode
ser! Uma brisa leve passeia pelo meu nariz, esse cheiro… eu
conheço! Um musk, um amadeirado com leves notas de bergamota
que trazem a imagem clara de um homem forte, e que chama a
atenção em qualquer ambiente que chega.

— Viktor! — Murmuro o nome dele fazendo todos ficarem


quietos.

— Como assim, Viktor? Zuco, será que nosso filho… —


Mesmo cheio de emoção a voz de tio Andrea para abruptamente, só
que logo se ilumina novamente. — Meu filho! — Tio Andrea fala e
solto as mãos de Nora rapidamente.

— YA zdes', papa, otets i sem'ya! (Estou aqui, papai, pai e


família!) — A voz extremamente forte e rouca de Viktor chega aos
meus ouvidos fazendo meu coração bater em um ritmo
assustadoramente acelerado.

Meu Deus, por que estou desse jeito? Ele é meu primo! Isso
não deveria ser desse jeito, certo? Deve ser saudades de um irmão,
é isso mesmo! Não é?
CAPÍTULO 4

Há quase um ano que minha vida virou um verdadeiro


redemoinho carregado de merda, tudo isso porque tive que abrir
mão de muita coisa para estar à frente de algo que nem mesmo
queria. Mas tudo bem, essa foi uma escolha que fiz e não tenho
para onde correr agora. Só os deuses sabem o que passei nesse
tempo, o quanto de atrocidades impensáveis tive que cometer para
chegar no momento que estou agora. Logo quando pensei que
Maxim já havia me mostrado tudo de ruim que a máfia poderia
causar, percebo agora, de perto, que esse é um mundo vasto e
extremamente perigoso. Sinto que esse mundo está me modificando
pouco a pouco, me vejo abraçando meu monstro interior, monstro
esse que fiz questão de afastar a muito tempo. No entanto, mesmo
com toda essa porcaria fodida me quebrando em vários pedaços, me
vejo tranquilo por poder deixar minha família Aandreozzi longe de
tudo isso.

Nem quero cogitar a ideia de meus pais saberem dos testes


hediondos que tive que passar, dos atos tenebrosos que tive que
executar para que hoje tenha a confiança de Aleksandr e das
famílias. Tenho a firme sensação que se eles souberem vão se culpar
demais, e não é isso que desejo, porque tudo o que sou, o que faço
ou o que ainda vou fazer é por um bem muito maior. Somente
Eduarda sabe de algumas coisas por alto, pois infelizmente ela teve
que me ajudar a mudar alguns curativos e limpar algumas
quantidades de sangue em meu corpo. Agora sei a força da natureza
que ela verdadeiramente é, uma mulher cheia de garra que é capaz
de enfrentar qualquer pessoa a fim de se manter ao meu lado,
mesmo com todos os meus avisos. Confio em Duda ao ponto de
deixá-la à frente da minha empresa em Nova York, esse é um dos
segredo que mantemos longe da família, só que tudo é por um bem
maior. Pelo menos é isso que acredito.

E é justamente por esse nível de cumplicidade entre nós que


quando ela me avisou que a família precisava de mim, por que
Justin estava passando por cirurgia. Eu não pestanejei nem por um
segundo em jogar tudo para o alto, acionando o jatinho para
podermos chegar em Madri o mais rápido possível. Não posso dizer
ao certo se foi o fato dela dizer que a família precisava de mim, ou
por que o homem que amo teve que fazer uma cirurgia de
emergência, que me fez tomar essa atitude. Blyat! A quem inferno
estou querendo enganar? Sei exatamente o motivo do meu
desespero em correr para viajar por mais de sete incontáveis horas
direto para chegar na Espanha. Só que isso não é algo que devo
pensar demais, por isso ficarei com a primeira alternativa em mente,
é melhor assim. É muito melhor assim!

No fim das contas agora estou aqui, surpreendendo meus


pais e família com o meu aparecimento repentino. As suas
expressões é um misto de felicidade, confusão com um toque sútil
de apreensão, e eu não os julgo, pois tem muito tempo que não
conseguimos nos encontrar. E isso só aconteceu por um pedido meu,
por que se fosse por conta de meus pais, eles não levariam tanto
tempo. Sinto que tenho muito o que me desculpar com eles depois
que os nervos se acalmarem.
— Fodido Deus, que boa surpresa! — Otets exclama me
olhando com seu afeto paternal.

— Oh meu menino! — Papa fala choroso correndo para se


jogar em meu braços.

— Acalme-se papa, agora estou aqui! — Digo em tom baixo,


voltando a falar em italiano depois de um tempo.

Correspondi ao abraço apertado de meu pai Andrea, o


segurando com todo cuidado, por que sempre sinto que ele é
pequeno e delicado demais para ser apertado com força. Claro, isso
é só uma ilusão filial de minha cabeça, por que não existe homem
mais forte e letal como meu pai, pelo menos não fora dessa família.
Acaricio os cabelos longos, loiros e sedosos do meu pai, sem me
importar com o quão ásperas minhas mãos são agora. Sinto um
aperto firme no meu ombro, viro minha cabeça vendo o rosto de
meu otets sorrindo para mim, retorno seu afeto com um curto
sorriso. É bom, é muito bom sentir que estou em casa novamente, e
essa sensação de lar que só essas pessoas podem causar em mim.
Inferno, como é bom!

— Olha Zuco, o nosso mais velho! — Papa fala me abraçando


com força.

— Sim, meu anjo, eu estou vendo! — Otets diz após soltar


um pigarro na garganta.

— Você está tão magro meu filho, seu rosto está tão cansado!
Você tem comido bem? Será que tem perdido muitas noites de
sono? Está com fome agora? — Meu pai Andrea começa a perguntar
enquanto avalia meu corpo de perto.

— Estou bem, papa! — Respondo simplesmente fazendo meu


Otets rir.

— Meu anjo, deixa o garoto respirar um pouco, podemos


metralhá-lo com perguntas depois. — Otets fala levemente, puxando
meu pai Andrea de cima de mim. Lanço um olhar de agradecimento
para meu Otets que assente com a cabeça.

— Mas… — Meu pai Andrea começa, mas meu pai Enzo o


interrompe.

— Teremos tempo, meu anjo! — Ele ressalta simplesmente de


forma carinhosa.

— Va bene! — após um momento de silêncio meu pai


finalmente concorda.

— Será que vocês podem nos atualizar dos acontecimentos?


— Duda pergunta enquanto é segurada por meu tio Luiz.

Olho ao redor do espaçoso quarto hospitalar, acenando


brevemente para os integrantes da família. Até que meus olhos
fixam na pessoa deitada na cama, procuro por algo errado, mas
noto que ele está bem apesar de estar ligado por alguns aparelhos
de monitoramento. Um alívio mental toma conta de mim, porém me
esforço ao máximo para manter minha impassividade. Mas que
inferno, por que ele é tão lindo? Seus cabelos loiros claros, um rosto
mais jovem com traços delicados, mas ao mesmo tempo bem
desenhado com uma maturidade leve. O sorriso que ostenta no seu
rosto impecável é uma afronta aos deuses, porque tenho certeza
que se eles o admirassem de perto ficariam com uma inveja
violenta. A única coisa que está destoando de tamanha beleza são
os curativos nos seus dois olhos, mas isso é nada perto do quão
maravilhosamente belo Justin é.

Mne pisdestd! (Estou fodido!) Estou terrivelmente fodido de


muitas maneiras!

Será que fiquei longe tempo o suficiente para pensar que


Justin ficou mais encantador do que a última vez que nos
encontramos? A vontade que tenho de ir até ele, segurar suas mãos
e ouvi-lo contar o que diabos realmente aconteceu com sua saúde, é
enorme. No entanto, sou seu primo, sou sua família e não devo ter
esses tipos de pensamentos sórdidos. Pensei que me manter longe
era uma boa alternativa para tirar essa bagunça fodida de dentro de
meu peito, mas parece que não é bem assim. Seja como for, devo
manter uma certa distância, para não mexer em algo que beira ao
impossível.

— Está tudo bem agora, Vik, esse garoto aqui nos deu um
susto e tanto! — Tia Luna diz no mesmo instante em que me
aproximo dela.

— Imagino que sim, Eduarda estava bem eufórica quando me


contou o acontecido. — Conto seriamente e viro para olhar para
Justin. — Você deve se cuidar melhor, primo! — Minha voz sai mais
profunda do que eu queria. Se controla, porra!

— Sinto muito por faze-lo se arriscar para vir aqui, Vik!


Poderia ligar que eu te contaria o que… — Não deixo Justin terminar
de falar e logo o interrompo.

— Nós somos família, é claro que viria! — Afirmo seriamente


o fazendo assentir vagarosamente.

— Que conversa é essa, é óbvio que estaríamos aqui! —


Eduarda disse vindo para perto da cama de Justin.

Vejo minha prima segurar a mão de Justin e colocar no seu


rosto risonho. Me controlo internamente para não deixar
transparecer o puta ciúme doentio que toma conta de mim, com
esse simples ato familiar entre os dois. Sou um verdadeiro idiota
doentio, isso sim!

— Você que é linda, ursinha! Perfeita como sempre! — Justin


diz abrindo um sorriso brilhante.

— Ah que abóbora mais gentil! — Eduarda brinca e eu ouço o


som de desaprovação de Samantha.
— Duda, você deveria puxar a orelha desse sem vergonha,
não mimá-lo! — Samantha diz e Eduarda franze o cenho.

— Por que diz isso? — Pergunto friamente, antes mesmo que


Eduarda tenha a chance, olhando na direção de Samantha.

— Marrentinha, não seja tão dura com nosso primo! — Meu


irmão pede e eu viro para ele.

— O que houve? — Eduarda pergunta curiosa.

— Nossa doce abóbora escondeu por dias que estava com


dor, até desmaiar no campus da faculdade. — Pietro aponta me
fazendo cerrar os punhos.

— Por que? Por que fez isso? — Questiono controlando meu


temperamento ao máximo.

— Eu só não quis preocupar a todos, foi besteira minha e já


sei disso. — Justin explica e Eduarda solta uma respiração
resignada.

— Ainda bem que sabe que é besteira, somos família e


cuidamos uns dos outros. — Eduarda fala para Justin e vira para
olhar para mim. — Certo, Vik? — Pergunta e eu mordo a mandíbula
com força.

— Isso mesmo! — Respondo levemente irritado, pois eu é


que deveria estar o acalentando agora, não a Eduarda.. Ah, diabos!

— Oh não vamos ser assim, pelo menos soubemos de algo


interessante! — Tio Luiz fala trazendo leveza para o ambiente. Olho
na sua direção vendo meu tio sorrir enquanto está preso nos braços
fortes de tio Filippo.

— É verdade, foi uma surpresa e tanto! — Tio Lucca brinca


me deixando ainda mais interessado.
— O que foi gente, por que tanto mistério? — Eduarda
perguntou olhando em volta do quarto.

— A novidade é que nosso garotinho está namorando! —


Minha bisavó se pronunciou pela primeira vez desde que chegamos.

Namorando? Espera, será que eu ouvi essa merda direito?

— O que? Sério isso? — Eduarda indaga sem jeito, olhando


para mim como se tentasse me perguntar algo sob seu olhar, no
entanto eu só desvio o olhar por que é demais para mim.

— Justin é mais novo que vocês dois e já está me dando


orgulho, olha como sua namorada é linda! — Nonna Francesca
aponta para seu lado.

Agora consigo notar a presença de duas garotas, uma delas


tem um tom de pele mais escuro, cabelos trançados até a metade
da cabeça, com a parte de trás cacheado preso em um rabo de
cavalo cheio. Já a outra é baixinha, com cabelos ruivos naturais,
sardas no rosto e olhos verdes claros, uma típica ruiva. E é
justamente para essa ruiva que minha bisavó está apontando. Porra!
Uma onda forte de ódio tenta tomar o controle total do meu corpo,
uma possessividade avassaladora perturba minha mente. É como se
no meu interior existisse um monstro preso em uma jaula, pronto
para sair e rasgar qualquer um que chegasse perto de sua presa.
Afirmando que esse homem deitado na cama deve somente lhe
pertencer, que ninguém no mundo deve tomá-lo de nós. Por que não
existe ninguém neste mundo desgraçado capaz de tocá-lo!

Meus pensamentos são tão intensos que me causam náuseas,


mas eu não tenho poder de contê-los. De modo algum eu posso
deixar que a fúria que estou sentindo agora seja vista por alguém.
Acalme-se filho da puta! Você prometeu a si mesmo esquecer isso!
Continuo trabalhando minha mente repetidamente, a fim de
absorver pouco a pouco, ignorando totalmente os batimentos
acelerados do meu coração dolorido e traído.
— Muito obrigada pelo elogio, senhora! — A menina ruiva diz
envergonhada.

— Não precisa ficar envergonhada, mocinha! — Tio Lucca fala


e ouço um bufar vindo de Samantha.

— Pessoal, Jus já deixou claro que ele e Nora estão se


conhecendo aos poucos. — Otto diz como se tentasse explicar algo.

— Ah sim, conhecendo, certo? Então o que elas fazem aqui,


Bisa? — Eduarda pergunta de modo sério, fazendo a nonna rir.

— Para balançar as coisas, por que mais seria, mia piccolina?


— Nonna diz maliciosamente me deixando sem entender.

Nesse momento sinto meu celular vibrar no bolso do meu


paletó. Agradeço mentalmente ao infeliz que resolveu me ligar nesse
momento, por que só assim vou ter uma desculpa plausível para sair
daqui sem parecer estranho.

— Com licença, preciso sair por um instante! — Conto


rapidamente, levantando um pouco meu celular.

— Vik, houve algo? — Meu pai Andrea pergunta rapidamente.

— Não papa, fique tranquilo! — O tranquilizo sem dar


nenhum parecer.

Quando estou pronto para cruzar a porta ouço uma voz que
faz meus pés ficarem presos ao chão.

— Vik! — Justin chama e eu engulo em seco.

— O que foi? — Pergunto sem virar para olhar para dentro do


quarto.

— Você não vai embora, não é? Você vai ficar, certo? — Justin
sonda como se precisasse de uma resposta.
— A poka da, durak! (Até então sim, bobo!) — Digo sem
conseguir controlar o sorriso de lado que escapa dos meus lábios.

— Bom! — Justin diz sem esconder seu alívio.

Antes que minha mente traiçoeira comece a cogitar coisas


idiotas, saio do local em passos rápidos. Procuro um lugar isolado e
longe do quarto para poder atender essa maldita ligação de Nastka,
que ficou em Nova York de olho nos meus negócios, e controlando a
situação para que a informação da minha viagem não vaze.

— O que foi? — Questiono em russo assim que atendo a


ligação.

— Senhor, como foi a viagem? — Nastka pergunta sendo


educada.

— Foi bem, agora diga-me o que aconteceu! — Mando e ela


respira fundo.

— Só preciso atualizar ao senhor o que aconteceu, mas não é


nada demais! Controlei bem a situação. — Nastka começa a explicar
antes mesmo de me dizer o que de fato aconteceu.

— Essa sua mania de controlar os ânimos das pessoas antes


de soltar as merdas é totalmente idiota! — Falo de modo gélido. —
Só fala logo! Foi o Mikhail? — Suponho e pelo seu silêncio tenho
certeza que fui direto no problema.

— Bem, foi, mas em defesa daquele idiota irritante do meu


irmão, quem começou foram os homens de Vasily. — Nastka explica
e eu pressiono minhas têmporas com meus dedos.

— Algum dos nossos se machucou? — Indago.

— Não, pelo contrário, é por isso que os Yegorov estão


ameaçando se queixar com seu tio-avô. — Ela diz com ar leve e eu
solto um som desgostoso.
— Deixe que com aquele velho eu me entendo, só deixe seu
irmão e os nossos controlados até eu voltar. — Alerto e ela faz um
som de confirmação.

— Vai voltar amanhã como o senhor disse? — Indaga ela.

— Não, talvez você tenha que cuidar de Sasha por mais dois
ou três dias. — Comento e ela fica em silêncio.

— Aconteceu algo muito grave com sua família, Boss? —


Pergunta com cautela.

— Tudo está em ordem, só serão poucos dias. — Reafirmo de


modo sério.

— Tudo bem, Boss, cuidarei do sapeca do Sasha com


cuidado. — Minha feição amolece ao pensar em Sasha, mas logo
volto ao meu estado normal.

— Bom, vejo você quando chegar! — Declaro e ela confirma


do outro lado da linha.

Notei a aproximação de alguém, espero pouco tempo e logo


Eduarda aparece no meu campo de visão. Daqui posso ver o seu
impecável rosto mostrando apreensão, ela deve ter notado algo, por
que se existe alguém mais atenta aos arredores essa é minha prima.
Às vezes a observo em silêncio, vendo como é impressionante o
tanto que ela se parece com meu tio Filippo. O único diferencial dos
dois é que Duda é um pouco mais aberta às pessoas, diferente do
meu tio. Existe um detalhe bem significativo e irritante com relação
a Eduarda, ela tem um sentido desumanamente aguçado, quando o
assunto é analisar os perfis das outras pessoas. E é justamente essa
inteligência emocional que é fodidamente irritante!

— Viktor? — Chama ela e eu fecho meus olhos com força.

— Não começa, Eduarda! — Peço e ela arregala seus olhos


azuis.
— Mas eu nem falei nada! — Se defende me encarando
ofendida.

— Certo, até parece que não sei o que você vai falar! — Digo
irritado e ela revira os olhos.

— Se sabe então por que evita? — Pergunta e eu me


mantenho em silêncio. — Irmão, até quando você vai esconder o
que sente? — questiona e eu desvio o meu rosto.

— Não sei do que você está falando! — Desconverso com


raiva.

—Em algum momento você não irá conseguir esconder que é


loucamente apaixonado pelo nosso primo. — Amplio meus olhos
observando a redondeza.

— Que tipo de merda você esta dizendo, porra? Alguém


poderia ter vindo atrás de você e a ouvido vomitar merda. —
Esbravejo entredentes sem conseguir controlar.

— Se acalme, consegui evitar que viessem atrás de você,


então relaxa! — Avisa ela e eu solto uma forte respiração. — Então,
irmão? — Questiona ela e eu franzo o cenho.

— Então o que? — Pergunto de forma impassível.

— Essa namorada de Justin aí, o que você acha? — Cutuca


ela como uma pentelha.

— O que mais tenho que achar? Ele deve estar feli… — Não
consigo terminar o que eu estava dizendo porque fui tomado por um
desespero doentio. — Blyat! — Praguejo socando a parede à minha
frente.

— Era disso que estava falando! — Eduarda murmura como


se entendesse o que eu estava sentindo, mas é impossível, porque
nem mesmo eu entendo.
O fato de saber que o homem que desejo por anos permite
que outra pessoa toque no seu corpo, beije seus lábios rosados e
faça amor com ele, é completamente enlouquecedor para mim. Meu
desejo de quebrar, queimar, destruir algo ao ponto de sangrar é fora
de sério, por isso que devo me obrigar a usar todo o meu
autocontrole.

— Ei, se controla! — Eduarda sussurra ao meu lado e eu


respiro fundo. — O que planeja agora? — Perguntou ela baixinho me
fazendo franzir o cenho.

— Eu deveria planejar alguma coisa? — Retorno a pergunta e


ela revira os olhos.

— Não sei, Viktor, talvez evitar que essa situação se


prolongue! — Exclama ela de modo imperativo e eu enrijeço.

— Impossível, isso é impossível e você sabe disso! — Faço


uma breve pausa e dou uma sombra de um sorriso auto
depreciativo. — Você sabe a vida que levo, e não vou colocar
alguém que tenha sentimentos nesse tipo de vida. Nossa família não
merece mais esse tipo de decepção, sestra (irmã). — Explico de
forma decidida, expondo em voz alta o que sinto pela primeira vez.

— Viktor… — Duda começa, mas ergo a mão para evitar que


ela continue.

— Não quero mais falar sobre isso! — Sou curto e grosso, por
que não quero mais deixar esses sentimentos me perturbarem.

— Tudo bem, entendo você, mas saiba que estou do seu


lado! — Eduarda diz se aproximando mais de perto para descansar
seu punho direito no meu peitoral. — Vocês merecem uma história,
Vik! — ressalta ela e eu nego.

— Existem histórias que é melhor deixar guardadas somente


em uma gaveta. — Digo a fazendo me olhar com tristeza.
— Crianças! — A voz do meu tio Lucca chama a atenção de
nós dois.

Olhamos rapidamente para a direção da voz para ver tio


Lucca sendo acompanhado pelo tio Filippo, tia Luna e meu pai Enzo.
Eles se aproximam, nos deixando rígidos no mesmo instante, pois se
fosse um pouco mais cedo eles teriam ouvido, com certeza, a nossa
conversa. Não sei se devo agradecer aos céus ou a nossa fodida
sorte!

— Babo, aconteceu alguma coisa? — Eduarda pergunta


olhando para mim com olhos amplos e depois virando para seu pai e
tios.

— Nada aconteceu, só precisamos falar com Viktor um


instante! — Tio Filippo responde de modo impassível.

— Mas por que… — Eduarda começa, mas tio Lucca solta


uma risada.

— Relaxe, ursinha, não vamos assustar seu primo. — Meu tio


diz de modo divertido.

— Como se meu filho fosse se assustar contigo, idiota! —


Meu pai diz cruzando os braços.

— Não há nada demais. — Tia Luna fala de modo para nos


tranquilizar.

— Se é assim, vou lhes dar um pouco de privacidade. — Diz


ela lentamente após assentir com a cabeça.

— Então Viktor, podemos conversar agora? — Tio Filippo


pergunta me deixando tenso de repente.

A pergunta séria de meu tio, em conjunto com os olhares


avaliativos do meu pai e o restante dos seus irmãos me deixou com
um misto entre apreensão e curiosidade. Mas uma coisa é certa, é
sempre difícil ficar frente a frente com essas pessoas fodidamente
intensas, mesmo que eles sejam minha família e eu os ame e os
respeite como um louco.

Agora é se acalmar e esperar para saber o que vem a partir


desse papo em família.
CAPÍTULO 5

Música: Selfish - Mario

Espero pacientemente para que as quatro pessoas à minha


frente comecem a falar. Apesar de lidar com todo tipo de gente
agora, eu ainda me sinto ansioso quando estou frente a frente com
o meu otets e meus tios, eles são as pessoas mais fortes e
poderosas que já vi nessa vida. O respeito que tenho por cada um
deles é algo que nem sei como explicar, eles são referência na minha
vida, e sei que são assim com outras pessoas também. A história de
cada um separadamente é uma puta inspiração para mim, por
exemplo o tio Filippo que como mais velho de quatro irmãos
conseguiu mudar a vida de todos. Ele é um tipo de homem que
mesmo não precisando demonstrar abertamente, está sempre
cuidando de todos nós em silêncio para que no primeiro sinal de
problema ir lá e resolver. Um verdadeiro zelador nas sombras, esse é
meu tio!
O tio Lucca não é diferente do irmão mais velho, mas sua
leveza de levar a vida, juntamente com seu descontrole, faz com
que todos nós dessa geração o queira sempre por perto. Mas uma
coisa que devo ressaltar é que não deve subestimar esse seu ar
risonho, por que se existe alguém desumanamente feroz, esse
alguém é o tio Luc. Em contrapartida, tia Luna é uma força
avassaladora da natureza, uma mulher que traz inspiração e
comprometimento onde quer que passa. Minha tia sabe como
acalmar as almas mais desesperadas, com seu toque pessoal de
afeto, só que assim como seus irmãos, ela não pode ser levada em
ânimo leve, porque senão você nunca saberá quando sua vida pode
entrar em ruína. E meu otets, o que eu posso falar dele? São tantas
coisas que às vezes posso até me perder.

Mas bem, meu pai Enzo é a pessoa que me traz a maior


confiança nesse mundo cruel e totalmente fodido. Foi esse homem
que tirou a sombra obscura de Maxim, foi ele que me ensinou a me
tornar um verdadeiro Aandreozzi, deixando conceitos estranhos
infringidos em minha vida. A proteção que ele demonstra
abertamente à família serve de inspiração para mim, e é por isso
que tenho muito medo de decepcioná-lo com minhas escolhas de
vida. Por isso, luto todos os dias, derramando uma considerável
quantidade do meu próprio sangue, para ser ao menos 1% do
guardião incrível que meu pai foi, e é, durante toda a sua vida.
Mesmo sendo um homem adulto, independente e com um certo
poder em mãos, eu ainda me sinto o mesmo menino de 14 anos
quando estou à sua frente.

— Por que está com essa cara, meu filho? — A voz de meu
pai me tira dos pensamentos.

— Parece que ele está pronto para ser flagelado, não é? —


Tia Luna questiona sem esconder sua preocupação.

— Será que deveríamos montar um plano para assustá-lo? —


Tio Lucca diz maliciosamente.
— Não começa Lucca! — Tio Filippo o repreende friamente.

— Nossa, não se pode nem quebrar o clima! — Tio Lucca olha


para o irmão com desgosto.

— Leve as coisas com seriedade, stronzo! — Tia Luna diz o


fazendo olhar para ela de modo horrorizado.

— Luna, você deve ser um pouco menos rabugenta, sabe? Vi


em uma pesquisa na internet que isso pode levar a rugas, olha só
essas linhas de expressão. — Rebate ele fazendo minha tia tocar seu
rosto nervosa.

— Vou te mostrar onde tem linhas de expressões, seu idiota!


— Tia Luna cospe entre dentes mostrando a tio Lucca seu punho
cerrado.

— Olha isso Ursão, repreenda nossa sorellina também! —


Apontou tio Lucca fazendo meu pai e tio Filippo respirarem fundo.

— Parem vocês dois! — Meu pai e tio Filippo dizem em


uníssono.

Os dois param suas provocações no mesmo instante que seus


dois irmãos mais velhos avisam. Mas isso não faz com que eles
parem de se encarar por um tempo, e murmurar ameaças de
treinamento intenso um para o outro. Desvio o meu rosto quando
noto que um sorriso toma conta da minha expressão séria, por que
não será nada bom se eles notarem que estou achando o impasse
dos dois hilário demais. É bem capaz deles me colocarem para
treinar junto com eles, e isso é a porra de um pesadelo. Por que tem
uma coisa que meus tios Luna e Lucca não sabem ter é senso de
medida. Lembro da última vez que eles pegaram Pietro para treinar
com eles, foi tão terrível que consegui ficar com pena do caçula.

— Vik! — Meu pai chama e eu olho na sua direção.

— Sim Otets! — Respondo prontamente.


— Você vai com a gente para casa de seus avós, certo? —
Meu pai pergunta e eu assinto levemente. — Mesmo? Isso é uma
notícia boa! — ele diz sem esconder seu contentamento.

— É verdade, você esteve tão distante da família, vai ser


muito bom para toda família tê-lo por perto. — Tia Luna aponta e eu
desvio o olhar.

— Não sei se a senhora está certa, tia! — Confesso em tom


profundo.

— Como não? — Pergunta ela, exasperada.

— Calma, sorellina! — Meu pai diz e minha tia desvia o olhar


para baixo.

— Viktor! — Tio Filippo diz meu nome de um modo que me


fez levantar minha cabeça para olhar para ele.

— Diga, tio! — Peço levemente.

— Você sabe sobre a história dessa família? — Pergunta ele


seriamente.

— Sim, eu a conheço bem! — Olho para meu pai que sorri de


lado e assente com a cabeça.

— Agora me responda outra pergunta! — Meu tio começa e


dá um passo para chegar perto de mim. — Qual o lema dessa
família? — me pergunta em tom frio, me pegando de surpresa.

— Que a família protege a família! — Respondo com um


pouco de dificuldade por conta do nó que se forma na minha
garganta. Porra!

— Bom! — Meu tio Filippo coloca sua grande mão atrás do


meu pescoço. — Qual é a frase dessa família, Viktor? — Indaga ele e
eu ampliei um pouco os olhos. — Vamos, diga em voz alta! —
Manda ele e eu olho nos seus olhos.

— P… — Abro a boca para dizer, mas paro cerrando a


mandíbula com força.

— Vamos, bambino! Diga ao seu tio! — Meu pai diz


seriamente e eu olho na sua direção.

Porra! Por que é tão difícil? Por que sinto que não sou bom o
suficiente para dizer essa frase que ouvi por boa parte de minha
vida? Por que é tão doloroso pensar que um dia posso não fazer
parte dessa família? Fodido inferno! Meu peito se aperta somente
por pensar nessa hipótese, mas me afastei tanto do legado dessa
família que sinto que não sou bom para eles. Que sou um
desgraçado mafioso que nem deveria estar aqui para começo de
conversa.

— Viktor Aandreozzi, responda! — A voz de meu tio sai alto,


apagando rapidamente meus devaneios turbulentos.

— Vai Vik, diz! — Tia Luna pede com a voz cheia de emoção.

— Vamos, garoto! É só dizer! — Tio Lucca diz me


confortando.

— Qual a frase dessa família, meu filho? — Meu pai repete a


pergunta do meu tio e eu ergo minha cabeça.

— Para tudo e por tudo… — Consigo dizer após alguns


momentos de silêncio.

— Sempre! — Meus tio e pai respondem juntos me causando


uma avalanche de sentimentos.

— Porra! — Murmuro ao ouvir a respiração aliviada deles.


— Viu só, ragazzo? Não é tão difícil assim! — Tio Lucca fala
sorrindo largamente.

— Agora que você está ciente de tudo, Viktor, devo lhe dar
um aviso. — A voz forte de tio Filippo me faz prestar atenção em
suas próximas palavras. — Essa foi a última vez que você ficou
incomunicável com a sua familia, por que sim, somos a porra da sua
familia. — Meu tio rosnou entre dentes e eu abaixei a cabeça. —
Entendo seus motivos, sei bem como são alguns procedimentos,
mas nada deve impedi-lo de nos contatar. Principalmente seu pai,
você não tem noção de como o deixou preocupado e desesperado, e
eu nunca mais quero ver meu irmão desse jeito. Será que consegue
entender, garoto? — pergunta com a voz carregada de fúria.

— Sim, tio, sinto muito! — Respondo arrependido.

— Você pode ser um mafioso russo fodão em Nova York, mas


aqui ou em qualquer outro lugar nessa porra de mundo, você vai
continuar sendo o nosso ragazzo, Vik. — Tia Luna diz e eu concordo
lentamente.

— Figlio mio, guardami! (Meu filho, olhe para mim!) — Otets


pede colocando suas duas mãos no meu rosto e eu respiro fundo. —
Os filhos sempre seguem caminhos diferentes dos seus pais, sei
disso e não tem problema algum, não podemos mandar no destino.
— Fala calmamente.

— Sei disso, otets! — Respondo em tom leve.

— Pois bem, agora preciso que você coloque algo na sua


cabeça. — Meu pai respira fundo e continua. — A Bratva pode ser
uma parte de você agora, no entanto, todo resto de você pertence a
essa família. Você, Viktor Aandreozzi, pertence a essa família! — O
sorriso orgulhoso do meu pai quebra algo dentro de mim.

— Obrigado, otets! — Peço como se uma enorme pedra


tivesse saído do meu peito.
Sei que ainda terei um grande trabalho interno para poder
assimilar cada palavra que foi dita agora para mim. Mas me sinto
grato, é uma gratidão tão imensa que só consigo pensar que não
mereço nada disso. No entanto, esse sentimento é muito bom!
Somente com essa família eu posso ser o Viktor ou Vik, muito
diferente que sou em outros ambientes. A única explicação é que
esse aqui é o lugar que escolhi no meu coração, e é justamente por
isso que reforço ainda mais a minha preocupação com a segurança
deles. É meu dever como membro dessa família não deixar com que
nenhuma merda minha recaia sobre eles, e eu vou fazer isso
acontecer.

— Vamos estar para você a qualquer sinal de perigo, vou


adorar esmagar alguns russos idiotas que tentarem foder o trabalho
do meu sobrinho. — Tio Lucca diz esfregando as mãos juntas.

— Você só quer encontrar uma luta, seu sádico sem noção! —


Tia Luna diz e meu tio dá de ombros.

— Talvez, quem sabe! — Brinca ele e minha tia nega com a


cabeça.

Franzo o cenho quando minha atenção vai para o celular que


está tocando, deixo meus tios falando com meu pai e tiro o aparelho
do bolso. Me irrito quando vejo o nome de Aleksandr Konstantinov
aparecer na tela. Essa é a porra de uma péssima hora!

— Você precisa atender? — Meu pai pergunta e eu confirmo


seriamente.

— Sim, deve ser algo que requer minha atenção! — Explico


sem dar muitos detalhes.

— Tudo bem, fique à vontade, só não demore muito porque


estamos indo para Milão juntos. — Meu pai lembra e eu concordo.

— Sim, pai, serei rápido aqui! — Respondo prontamente.


Antes de sair acompanhado dos meus tios, meu pai aperta
meu ombro em sinal de apoio. Sorrio levemente ao receber seu
afeto paterno, espero que todos tenham saído do meu campo de
visão e procuro outro lugar mais afastado para poder retornar a
ligação de Aleksandr. Esse velho pode parecer gentil e fácil de
conversar nas extremidades, mas quando você se aproxima e passa
a conviver um pouco de perto, essa máscara gentil imediatamente é
queimada em cinzas. Isso porque esse velho não esconde por muito
tempo o quão desgraçado pode ser. E como não estou com
paciência e nem tempo para ficar aturando seus problemas, é
melhor retornar logo essa maldita ligação.

— O que meu querido estava fazendo que não atendeu a


ligação desse velho antes? — Aleksandr fala assim que aceita a
ligação.

— Se eu disser que não é da sua conta, você aceita essa


resposta? — Respondo em russo friamente, ouvindo seu riso do
outro lado da linha.

— Claro que não, mas vou deixar essa passar por hoje! — Diz
ele e eu arqueio a sobrancelha.

— Sério? Isso é uma surpresa desagradável! — Revelo, pois


sinto que esse velho idiota está aprontando alguma coisa.

— Que seja, soube que os homens de Vasily estão


procurando problema, estou certo? — Sonda ele e eu praguejei
metalmente.

— Como você ficou sabendo? — Indago, um pouco surpreso


com a rapidez da sua rede de informação.

— Ah Viktor, você ainda tem muito o que aprender! — Aponta


ele com um ar orgulhoso.

— Que seja, agora me diga o por que da sua ligação. — Digo


e ouço sua respiração do outro lado.
— Daqui a duas semanas daremos um jantar para as famílias,
estou tentando acertar um casamento para você o mais rápido
possível. Essa família é… — Parei de ouvi no momento que ele disse
a palavra casamento.

— Não fode comigo, Aleksandr! — Solto um ruído raivoso.

— Olha como fala comigo, Viktor! Eu sou seu avô! —


Aleksandr diz com fúria e eu desdenho.

— Tio-avô, Aleksandr, você é um tio-avô distante. — Aponto


de modo gélido e ele faz um som de desdém.

— É a mesma coisa, mas antes de sermos parentes, lembre-


se que estou no comando aqui, rapaz! — Lembra ele e eu fico em
silêncio, pois não tem como esquecer essa merda.

— Pode desistir de encontrar uma esposa, porque eu não vou


me casar com ninguém. — Enfatizo de repente.

— Viktor, você precisa ter uma linhagem e… — Começa a


explicar, mas eu o corto rapidamente.

— Sinto muito desapontá-lo, mas eu sou fodidamente gay! —


Exclamo sem me importar. — Nem se eu quisesse o meu pau iria
subir para foder uma mulher qualquer para engravidá-la. — Termino
minha explicação me sentindo bem com isso.

— Você está falando sério? — Aleksandr pergunta após um


instante de silêncio.

— Óbvio que estou! — Afirmo seriamente e ouço seu


praguejar.

— A família está me pressionando, Viktor! — Conta ele, mas


eu não me importo.
— Essa é a verdade, você deveria ter me perguntado antes,
mas saiba que não vou me casar com ninguém nessa vida. — Digo
friamente.

Só existe uma pessoa que eu poderia me comprometer, mas


isso é absurdamente impossível.

— Que seja, o importante é que você venha a Moscou em


duas semanas, entendido? — Pergunta ele e cerro os punhos com
força.

— Entendido! — Respondo simplesmente, mesmo que por


dentro esteja queimando.

— Nos veremos daqui a algumas semanas! — Enfatiza ele e


eu reviro os olhos, pronto para desligar essa maldita ligação. — E
Viktor, mantenha a família Yegorov sob controle, eles vão tentar de
todas as formas atrapalhar nossos negócios. — Aleksandr diz
friamente.

— Não se preocupe se for necessário cortar algumas asas,


farei com prazer. — Conto friamente o fazendo rir.

— Bem assim mesmo! — Diz ele contente. — Da_svidánhia!


(Até logo!) — saúda ele antes que a ligação fosse finalmente
encerrada.

Se tem uma coisa que aprendi desde o momento que aqueles


malditos testes começaram, para que eu pudesse mostrar para a
Família que tenho capacidade para estar no comando dos negócios
na América, é que Aleksandr Konstantinov precisa de mim. Não
posso dizer ao certo como, mas ele necessita de mim para manter
as família Yegorov e Egorov sob controle. Apesar da família Egorov
não parecer tão hostil com Aleksandr, até demonstrarem uma certa
submissão, é sempre importante estar com todas as cordas muito
bem apertadas. Contudo, ao contrário dos Erogov temos os Yegorov,
eles sim, não escondem o desprazer de não poder passar por cima
de mim. E isso é uma afronta direta para Aleksandr, o deixando
desumanamente infeliz com isso.

No entanto, não devo pensar em negócios agora e sim focar


na minha família, pois faz um tempo que não estamos juntos. Com
isso em mente que caminho em direção ao local onde Justin está
internado, sou pego de surpresa quando chego no limiar da sua
porta e encontro o quarto praticamente vazio. Somente Justin está
no lugar, sem os curativos cobrindo o rosto, antes que eu possa abrir
a boca para poder questionar para onde todos foram, ele chama
meu nome.

— Viktor? — Chama, não consigo parar o sorriso bobo no


meu rosto toda vez que ele sente minha presença sem esforço
algum.

— Sim, sou eu! — Respondo e ele sorri levemente.

— Eu sei, eu sempre sei! — Diz ele me fazendo engolir em


seco.

Não sorri desse jeito, droga!

— Er… bem, por que você está sozinho? — Questiono


mudando de assunto.

— Mamma e o restante saíram para me deixar a sós com


Violeta e Nora, mas elas não demoraram muito tempo e foram
embora. — Justin explica calmamente e eu assenti, mesmo sabendo
que ele não verá.

— Soube que está namorando, devo lhe desejar felicitações?


— A pergunta escapou entre meus lábios antes que eu pudesse
engoli-la de volta.

Blyat! Por que infernos perguntei isso?


— Nora e eu estamos nos conhecendo, já disse isso à família!
— Justin diz e eu vejo uma careta tomar conta do seu lindo rosto.

— Entendo, mas namorar é normal na sua idade, só tome


cuidado para não se machucar. — Digo seriamente, mesmo
querendo me chutar pela besteira que falei.

Ouço um riso escapar dos seus lábios, o som é tão lindo que
faz meu coração bater mais forte. Como pode uma criatura tão linda
existir nesse mundo? Até mesmo o som do seu riso é belo, me sinto
agraciado por poder estar sozinho com ele agora. Por que assim
posso olhar descaradamente para ele, sem me preocupar que
alguém veja o tanto de afeto que meus olhos refletem a cada vez
que estou diante dele.

— Por que esse riso? — Indago apertando minhas mãos com


força para controlar minha incessante vontade de tocá-lo.

— Você fala como se fosse um velho, mas é só alguns anos


mais velho que eu. — Explica ele e eu respiro fundo.

— Me sinto um velho muitas vezes. — Coço a cabeça e vejo


ele negar com a cabeça.

— Nada de velho, deixe-me vê-lo para ter certeza! — Justin


pede erguendo sua mão e eu travo no lugar.

— O que? — Questiono debilmente. — Está precisando de


alguma coisa? Vejo que o médico tirou o curativo! — pergunto
rapidamente tentando mudar de assunto.

— Não mude de assunto assim, vem aqui, deixe-me vê-lo! Faz


tanto tempo que você me deixou vê-lo! — Justin pede e eu vejo um
fofo biquinho se formar nos seus lábios.

Estou muito, muito fodido mesmo!


Me aproximo pouco a pouco da cama que ele estava sentado,
enquanto ando sinto as palmas das minhas mãos começarem a suar.
Meu fodido coração parece que vai pular para fora do meu corpo,
mesmo assim arrastei meu corpo pesado até onde ele está. Olho
para sua mão estendida como se fosse minha inimiga, por que sei
que no instante que sentir o toque da sua pele contra a minha, eu
serei derrotado. Após alguns segundos de me auto torturar resolvo
enfim segurar sua mão estendida. Sua mão é tão agradável ao
toque que eu poderia ficar por horas massageando e alisando sua
mão, mas me contenho.

— Vamos, Vik! Não me deixe esperar! — Justin diz com um


toque de emergência.

— Justin, eu… — Começo a falar sentindo minha voz mais


profunda do que gostaria.

— Justin, meu filho, eu trouxe suas coisas! — A voz de tia


Laila alcança meus ouvidos, isso faz com que eu largue as mão de
Justin e me afaste dele como um ladrão desgraçado. —Vik, é tão
bom te ver querido! — Tia Laila fala com alegria.

— Oi tia, é bom ver a senhora também! Onde estão as


pequenas? — Pergunto sobre minhas primas para distrair o inferno
dentro de mim.

— Elas estão lá em frente esperando por Jus, vá lá tenho


certeza que Hope vai amar te ver. — Tia Laila diz docemente e eu
concordo.

— Então vou indo, espero por vocês com os outros! — Digo e


saio rapidamente, mas não antes de deixar um beijo no rosto
gordinho de minha tia e dar uma última olhada em Justin.

Inferno, por que parece que cometi um crime?

Preciso me afastar, preciso sair daqui antes que alguém note


que eu estou parecendo um maníaco do caralho. Necessito correr
para o mais longe de Justin possível, e talvez assim eu consiga
esquecê-lo.

Mas como será que posso fazer isso, se todas as vezes que o
tenho perto de mim anseio em possuí-lo como um louco egoísta?
CAPÍTULO 6

Massageio minhas mãos levemente, sentindo a ausência de


algo que nem sei explicar direito o que é. Não sei o que deu em
mim, fico me perguntando o por que pedi a Vik para poder vê-lo, as
palavras simplesmente saíram da minha boca sem que eu pudesse
segurá-las de novo. No entanto, ainda não consigo entender o
motivo pelo qual fiz tal pedido repentino, talvez eu estivesse
sentindo mais falta dele do que gostaria de admitir. Mas isso é
normal, certo? Viktor é meu primo, crescemos todos juntos e ele é
como um irmão para mim, mas mesmo assim noto que existe algo
que está mudando em mim. E fico sem compreender o que é, por
que não existe condições de haver algo a mais do que sentimentos
de fraternidade entre nós, certo? Isso seria errado, tenho absoluta
certeza que isso seria absurdamente errado.

A figura do meu primo mais velho sempre foi muito


significativa para mim e para todos os meus primos, ele é o elo que
nos une, aquele tipo de cara que corremos para pedir ajuda quando
tentamos evitar preocupações, ou reclamações dos nossos pais.
Sendo assim, é entendível o fascínio que sentimos pelo nosso primo
mais velho, por que apesar dele ter aquele tipo de imagem distante
e rígida, ele é a pessoa mais compreensível que existe nessa vida. É
isso! Acho que estou confundindo algumas coisas, essa decepção
que senti quando ouvi os passos de Vik se distanciando, deve ser
exclusivamente pelo fato de que senti sua falta. Além de tudo isso,
tem também a inquietação que sentia por não saber exatamente o
estado atual no qual ele se encontrava. O que mais importa é o
quão felizes ficamos por sermos presenteados com sua presença.
Agora podemos ver que independente de onde Viktor esteja, ele
sempre estará presente quando o assunto é a nossa família. É só
isso que importa, certo?

— Querido? — Ouço mommy me chamar, e isso faz com que


me acorde dos devaneios.

— Sim, mommy! — Respondo prontamente.

— Trouxe suas roupas, deseja trocá-las agora? — Indaga e


concordo com a cabeça.

— Acho bom, deixa só a enfermeira vir tirar os meus acessos.


— indico e mommy solta uma exclamação.

— Oh sim, é verdade! — Diz ela exagerada me fazendo rir.

— Não precisa ficar tão nervosa, mamãe! — Peço ouvindo seu


suspiro alto.

— Ah, meu filho, isso é algo que essa sua mãe aqui não vai
poder cumprir. — Explica e eu dou um sorriso triste.

— Me perdoe novamente por deixar a senhora e mamma tão


apreensivas. — Peço com toda sinceridade no meu coração.

Um toque delicado chega na minha bochecha, sendo


acompanhado pelo aroma calmante que só uma mãe pode ter. Fecho
minhas pálpebras para me deliciar com todo o seu amor, meu
coração canta feliz com tal acalento. Minha mãe Laila já passou por
tanta coisa nessa vida, ela já sofreu tanto que me quebra o coração
todas as vezes que as lembranças do passado começam a me
assombrar. Minha mãe perdeu seu irmão mais velho tragicamente, e
durante o velório tão triste ela foi abusada de modo brutal pelo
melhor amigo dele. Esse abuso gerou um fruto, que nesse caso sou
eu, tentei muitas vezes não me culpar na infância, por que sempre
pensei que os infortúnios que minha mommy passou foi tudo por
minha causa. Todas as vezes que lembro o que minha mãe passava
enquanto era casada com aquele homem maldito, sinto um
sentimento ruim ao ponto de querer revivê-lo só para matá-lo
novamente, só que dessa vez com minhas próprias mãos.

No entanto, minha mãe não merece reviver tudo isso, esses


foram momentos horríveis. Momentos esses que foram totalmente
mandados embora no instante em que minha mãe Luna e a sua
família entraram em nossas vidas. O amor, aliança, cumplicidade e
paixão que as duas sentem uma pela outra faz com que qualquer
ferida do passado seja curada pouco a pouco. Juntas minhas mães
formaram uma família unida, que não esconde o amor que sentem,
e essa é uma das lições que elas sempre me passaram. Foi com esse
tipo de amor mágico que cresci, é esse tipo de amor que desejo
para o meu futuro.

Apesar de ansiar por um amor épico como o das minhas


mães, meus tios e avós, continuo mantendo meus pés no chão, meu
relacionamento com Nora é bom, é realmente bom, mas os meus
sentimentos não são dessa forma. E sem falar que ainda tem
questões internas que necessito avaliar melhor.

— O que você pensa tanto nessa sua cabecinha linda? — Ela


pergunta e eu sinto o lado do colchão afundar, pois ela sentou ao
meu lado.

— Não é nada, mommy! — Respondo e ela solta uma risada


leve.
— Eu te conheço meu filho, sei que algo está mastigando
seus pensamentos. — Mommy diz e eu viro a cabeça.

— Hum.. talvez! — Digo simplesmente.

— Entendo, será que isso tem a ver com a fofa ruivinha que
conhecemos hoje? — Minha mãe questiona com um ar brincalhão.

— Um pouco, mas não da forma que a senhora pode estar


pensando. — Aviso e ela solta um som de surpresa.

— Que tipo de forma você acha que estou pensando? —


Indaga e eu respiro fundo. — Será que meu filhinho está
apaixonado? — Diz de modo avaliativo e eu franzo o cenho.

Mesmo que mommy tente esconder, ainda sinto um pouco de


ciúme na sua voz, mas não aponto nada. Não pretendo deixá-la sem
jeito.

— Mommy! — Chamo em tom sério e ela deu uma risada


anasalada.

— Calma, bebê, só estou brincando com você! — Diz ela e eu


concordo com a cabeça.

— Eu sei, acho que… acho que não tenho esse tipo de


sentimento por Nora. — Confesso aproveitando que estamos
sozinhos no momento.

— Oh, é isso! — Mamãe diz como se pensasse em algo.

— Sim, gosto de Nora, ela é uma menina adorável, sinto


atração por ela e gosto de suas conversas, mas… — não termino
minha frase, pois nem sei muito bem o que dizer.

— Mas ela não é a pessoa que faz você mover a terra e


enfrentar o mundo, certo? — Mommy diz levemente e eu só posso
assentir com a cabeça.
— Tenho algumas confusões permanentes no meu coração,
mas não sei se devo expor ainda. — Aproveito a deixa para expor
um pouco meus pensamentos.

— Quer falar sobre isso agora? — Mamãe pergunta, mas eu


nego.

— Ainda não, tudo bem? — Pergunto torcendo minhas mãos


juntas.

— Claro, só entenda que independentemente de qualquer


coisa, você deve ser sincero, filho. Você é o rapaz mais gentil,
inteligente e responsável que conheço, e sei que vai poder ser
sincero. — Mommy diz e eu abro um sorriso leve.

— Não é válido me dizer isso, mommy. — Brinco e ela ri em


reconhecimento da frase que acabei de falar.

— Mas por que não? — Pergunta em tom divertido.

— Por que a senhora é minha mãe, e boas mães dizem isso


aos seus filhos. — Concluo e ela me abraça com força.

— Ah, meu menino precioso! — Fala com carinho e eu


retorno seu abraço com força.

Repito quantas vezes for preciso que sou o cara mais sortudo
que existe nesse mundo, fui presenteado com uma mãe incrível.
Que sempre lutou muito, se anulando muitas vezes para que eu
pudesse ter uma vida tranquila. E para completar, Deus foi muito
fantástico comigo, me dando uma segunda mãe tão maravilhosa
quanto a primeira, que protege nossa família de tudo a cada passo.
Eu amo nossa vida, e rezo a Deus todos os dias para que a
cumplicidade que temos continue do mesmo modo de sempre.

— Vamos, me deixe procurar por essa enfermeira, porque


senão minha lua vem aqui chamar por nós. — Mommy diz
apressadamente se levantando do meu lado.
— Tudo bem! — Respondo simplesmente e ela faz um som de
confirmação.

Ouço as passadas de mommy se afastando pouco a pouco do


quarto, me deixando sozinho novamente. Não demora muito e ela
volta acompanhada da enfermeira, que tira os acessos do meu
corpo. Agradeço assim que estou livre, peço a ajuda de mommy
para me guiar em direção ao banheiro do quarto para que eu possa
tomar um banho rápido e trocar de roupa. No momento que
chegamos no banheiro minha mãe vai me coordenando sobre a
localização de cada coisa. Os detalhes são de extrema importância,
para que eu possa fazer coisas de forma independente. O mais difícil
de ser cego é não poder contar com determinados ambientes sem
orientação, nem todo lugar é adaptado para receber pessoas com
deficiência. Apesar disso eu consigo lidar com a maioria das coisas,
pois recebi um treinamento desde muito jovem para me adaptar às
adversidades.

No entanto, existem muitas pessoas vivendo do mesmo


modo, ou até mesmo em condições piores. Pessoas que não têm o
mesmo acesso privilegiado, que passam muitas e muitas dificuldades
na sociedade. Infelizmente vivemos em um mundo onde pessoas
com deficiência visual, ou qualquer outro tipo de deficiência, sofrem
por somente tentar viver humanamente independentes. Hoje em dia
existem aplicativos de celulares, suportes técnicos, ONGs, e alguns
outros meios que fornecem uma estrutura de auxílio, mas ainda não
é suficiente. Necessitamos de mais, precisamos de mais qualidade
de vida. Minhas mães e minha família investem em muitas
instituições para pessoas com deficiência, mas enquanto a sociedade
não puder agir de forma que melhore ainda mais a ajuda oferecida,
as coisas ainda serão complicadas. No entanto, ainda consigo ter fé
na humanidade, pelo menos isso ainda me resta.

Enquanto isso ainda não acontece, meu foco está em


terminar de me ajeitar para poder ficar livre desse lugar. Após
terminar de me banhar, enrolei a toalha na minha cintura e fui pegar
a bolsa que Mommy informou que estava descansando na pia.
Vasculhando a bolsa encontro roupas leves e confortáveis, toco nas
etiquetas para identificar melhor o que pretendo usar. Pego uma
camisa branca, uma calça e blusão de moleton cinza simples e
quentinho. Mesmo que eu nunca tenha conhecido as cores, sei bem
como encaixar as cores em roupas. Fui ensinado desde sempre
sobre diferenciar pequenas coisas para uso no dia a dia, tipo, peças
de roupas, modo de vesti-las, gestos faciais e de mãos que ajudam
tanto as pessoas ao meu redor quanto a mim mesmo. Por que se
tem uma coisa que sei desde sempre, como é importante as pessoas
saberem o que você sente, mesmo que não precise necessariamente
falar em palavras.

Bem, essa é a minha vida, para mim se tornou confortável, já


que foi a única vida que tive. Sempre fui cego, e essa é uma
condição que nunca vai mudar, a única coisa importante é sobreviver
dia após dia.

— Estou pronto! — Afirmo assim que abro a porta do


banheiro.

— Ótimo, querido! — Mommy diz vindo até mim. — Aqui,


tome a sua bengala! — Mommy segura minha mão para colocar
minha bengala.

— Obrigado, me sinto estranho sem ela. — Conto ouvindo um


som de confirmação dela.

— Imaginei, por isso trouxe logo! — Mommy diz.

— Onde está o Tom? — Pergunto curioso.

— Ele ficou aos cuidados de Reyes, mas está lá fora lhe


esperando. Aquela criaturinha fica ansiosa sem você por perto. —
Explica ela e eu concordo com um sorriso.

— Confesso que eu também fico, somos inseparáveis! — Digo


lembrando do meu companheiro maravilhoso.
— Se é assim então vamos! — Conduz minha mãe e eu paro
confuso. — O que foi? — Pergunta ela.

— As coisas, deixe-me pegá-las! — Lembro tentando voltar,


mas mommy me para.

— Não precisa amor, nosso pessoal virá buscar daqui a pouco.


— Avisa ela. — Relaxe e vamos encontrar nossa família! — Me
tranquiliza e eu assinto.

Coloco os óculos escuros que estavam na bolsa e com um


movimento de mão eu abro minha bengala, que foi feita sob medida
para mim, descanso o braço de mommy sob o meu e seguimos
juntos até a saída. Enquanto caminhamos conversamos sobre as
recomendações do médico, ela me fez prometer que seguiria
perfeitamente o repouso. E como bom filho que sou, concordei
rapidamente, pois não quero deixá-la aflita novamente. Saímos do
hospital e no instante que chegamos do lado de fora ouço a voz alta
e infantil de Hope. Solto o braço de minha mãe Laila para me
preparar para receber a minha doce irmãzinha. Só que no instante
em que seus pezinhos ritmados e rápidos se aproximam de mim ela
é interceptada.

— Não pode correr assim, krôchka (biscoitinho)! — A voz


profunda e mansa de Viktor chega aos meus ouvidos me fazendo
parar.

— Mas eu quero ver minha abóbora, brat (irmão)! — Lamenta


minha irmã.

— Seu irmão está em recuperação não pode ter fortes


impactos. — Viktor explica.

— Boo, estou bem! Quando chegarmos na casa dos nossos


avós vamos dormir juntinhos, o que você acha? — Pergunto e ouço
minha irmã se iluminar.

— Promete, abóbora? — Pergunta cheia de alegria.


— Claro, quando seu irmão mais velho mentiu para você? —
Indago.

— Nunca, nunquinha mesmo! — Diz ela e eu sorrio


carinhosamente.

— Não posso te carregar, mas posso te pedir ajuda para me


guiar até o carro? — Peço e ela saltita em seus pés.

— Sim, aqui está minha mão! — Diz ela docemente,


colocando sua mão na minha. — Vamos, abóbora, Ella também
sentiu sua falta, sabia? — Hope revela.

— E eu também senti falta de minhas princesinhas! — Digo


ouvindo seu riso. Paro de caminhar com minha irmã quando sinto
que me aproximei de Viktor, sei disso pelo aroma amadeirado
presente. — Obrigado, Vik! — Agradeço baixinho assim que estamos
um do lado do outro.

— Não por isso. — Responde ele em tom profundo quase


inaudível.

Penso em dizer mais alguma coisa, mas penso melhor e


desisto. Hope me puxa para voltarmos a andar e a deixo me guiar.
Quero muito conversar com Viktor, só que esse não é o momento
certo, e nem sei dizer o por que quero tanto isso, mas tenho certeza
que haverá um momento propício para que possamos nos falar.
Agora é hora de me recuperar na casa de meus avós, e passar um
momento com a família, quem sabe lá a oportunidade não surja,
certo?
A viagem até a enorme mansão dos meus avós foi pacífica,
minha família se dividiu em jatinhos. Samantha e Pietro se juntaram
para formar um complô, exigindo que os primos se separassem de
seus respectivos pais, e ficassem juntos no jatinho de Viktor.
Contudo eles falharam em suas revoluções, pois tio Filippo disse que
juntos somos muito bagunceiros. Sendo assim, tio Filippo levou
Pietro com ele e Sam foi murmurando sobre injustiça no mesmo
jatinho que tio Enzo. Esses dois não tem jeito! De qualquer forma
chegamos tranquilamente em Milão, e no instante que respirei o ar
limpo desse lugar eu tinha certeza que aqui era o melhor lugar para
minha recuperação. O cheiro gostoso de terra molhada e grama
recém cortada, o barulho tranquilizador da água do rio que tem
nesse lugar, formam um complemento perfeito para que a paz se
torne presente.

Como venho aqui desde pequeno, esse lugar se tornou meu


paraíso particular, conheço cada espaço como a palma da minha
mão. E meus avós fazem questão de manter tudo exatamente como
sempre foi, facilitando ainda mais as coisas para mim. E eu amo
isso, amo essa casa, porque aqui é o lar onde todos da família
podem sempre voltar, e ter um lugar para acomodar a mente e o
coração. Simplificando, esse é o ambiente pacífico que todos dessa
família sempre precisam.

— Dio, como é bom estar em casa! — Otto diz assim que


passamos pela porta da mansão.

— Sim, senti falta daqui! — Pietro diz saudoso.

— Até parece que ficamos longe por muito tempo, estávamos


aqui dois meses atrás. — Duda fala rindo de seu irmão.

— Mesmo assim, senti falta! — Reclama Pê. — Pare de


bagunçar meu cabelo, ursinha! — Briga ele e Duda estala a língua.

— Pare de ser um moleque reclamão, ursinho! — Rebate


minha prima me fazendo rir.
— Por que essa casa é tão confortável? Céus, isso é bom! —
Samantha grita alegremente.

— Vou dizer a Nonna Arianna que você está se jogando no


sofá usando sapatos. — Aponto e ela solta um grito.

— Como você sabe disso, Jus! Que porra é essa? —


Samantha reclama e dou de ombros.

— Deve ser por que você sempre faz isso, sua sem modos! —
Isabel diz e Sam faz um som de desagrado.

— Vem aqui e vou te mostrar quem é a sem modos! — Sam


diz e logo ouço o grito de aviso de Bel.

— Não chegue perto, eu vou puxar seus cabelos! — Bel


ameaça e Sam bufa.

— Tenta a sorte, sabe quanto tempo demorei para finalizar


esse cabelo? — Grunhiu Sam com raiva.

— Não venha, ou vou chamar tio Lippo! — Isabel diz em tom


de aviso.

— Puxa-saco! — Meus primos e eu lamentamos em uníssono.

— Eu não sou puxa-saco! — Bel se defende e ouço uns sons


de desdém. — Vocês têm medo do tio Lippo, isso sim! — Isabel joga
em nossa cara de um jeito sarcástico.

— Claro que temos! — Confirmamos juntos, por que seria


loucura não ter, isso sim.

Aproveito a guerra repentina de Sam e Bel para me acomodar


em uma das poltronas, assim que me sentei libertei Tom do seu
trabalho de hoje, para que ele possa correr e se exercitar ao máximo
no terreno. Como estou em um lugar muito conhecido não tem
necessidade de deixá-lo me guiar.
— Pode ir garoto! — Mando dando tapinhas na sua lateral. De
repente ouço o som de risos vindo para essa direção.

— Você prometeu, irmão! — Gian fala chamando minha


atenção.

— Isso mesmo, promessa é dívida! — Enrico ressalta e ouço


uma forte respiração, e essa com certeza é de Viktor.

— Tudo bem, mas vocês terão que acordar cedo! — Viktor


fala de modo firme.

Tenho absoluta certeza que Viktor está neste momento


segurando seus dois irmãos gêmeos que adoram grudar nele como
dois macaquinhos.

— Eu também quero! Eu posso ir, certo? — Hope pede em


lamento.

— Não, Vik é nosso irmão! — Os gêmeos apontam com


ciúmes.

— Não falem assim com a Hope, ela é mais nova que vocês, e
vocês devem cuidar dos mais novos, entenderam? — Vik diz em tom
profundo, educando seus irmãos mais novos.

— Sim, irmão! — os dois dizem juntos com tristeza.

— Quer ir onde, Boo? — Indago levemente e ouço seus


passos fofos na minha direção.

— Abóbora! — Hope diz chorosa e eu abro meus braços,


imediatamente sinto seu peso se acomodar no meu colo. — Os
gêmeos não querem me deixar lutar com ele e o irmão Vik. — Acusa
Hope, deixando sua cabeça no meu peito.

— Ei, não chore, Boo! Os meninos querem um momento com


o irmão deles, eles sentem muita falta dele, você sabe? — Explico
pacientemente e minha irmã ficou quieta. — Como você se sentiria
se ficasse sem mim por muitos dias? — Questiono e sua mãozinha
prende minha roupa com força.

— Ficaria chateada! — Confessa minha irmãzinha e eu


acaricio suas costas.

— É assim que os gêmeos se sentem, amor! — Falo e ela


esconde seu rostinho macio no meu peito.

— Boo! — Os gêmeos chamam, mas minha irmã continua


quieta.

— Vamos brincar! — Gian chama por ela.

— Vimos mais cedo que tem um ninho de passarinho na


árvore do lado do jardim leste. Vamos ver juntos? — Enrico sugere e
minha irmã se agita.

— Sério? — Hope pergunta encantada.

— Sim, Boo! Vamos lá! — Eles a chamam e logo sinto meu


colo ficar vazio.

— Vamos sim, será que vamos poder ver os bebezinhos? —


Hope diz alegre esquecendo totalmente a briga anterior. — Vem
Tom! — Hope chama Tom que corre até ela.

— Essas crianças são umas coisinhas fofas! — Otto declara


assim que os três saem do lugar.

— Eles são! — Pietro, Duda e Sam concordam ao mesmo


tempo.

— Crianças, venham fazer um lanche até a hora do jantar! —


A voz calorosa de minha nonna Arianna chega ao meu ouvido.

— Oba, comida! — Pietro fala contente.


— Cara, estou com tanta fome! — Duda declara.

— Eu também, faz tempo que comi alguma coisa. — Otto diz


e eu concordo por que também estou com fome.

— Vamos, logo! — Isabel chama correndo em direção a área


da cozinha.

Abro minha bengala e penso em sair junto com meus primos,


mas antes que eu possa levantar do lugar que estou sinto uma mão
grande e áspera tocar minha mão. Não me assusto porque sei bem
de quem se trata essa mão. Não poderia se tratar de outra pessoa
que não fosse, Viktor.

— Vik, o que foi? — Questiono curioso do por que ele me


parou.

— Você não disse que queria me ver? Então, ainda quer? —


Pergunta ele e noto um toque de insegurança na sua voz.

Meu coração bate de modo frenético, e nem consigo entender


direito a loucura de batimentos que estou sentindo no meu peito. No
entanto, não importa, por que tenho a resposta para essa sua
pergunta.

— Sim, quero! Quero muito! — Respondo prontamente sem


esconder minha felicidade.

O que é isso? Por que ele sugeriu isso de repente? Porém não
importa, por que eu quero isso! Deus, eu realmente anseio por isso!
CAPÍTULO 7

Que porra é essa que estou fazendo?

Repreendo internamente essa minha loucura repentina, por


que eu não faço ideia do que estava em minha cabeça, quando
decidi impedir Justin de seguir os nossos primos. E que história é
essa de perguntar se ele ainda queria me ver? Que merda estava
pensando? Não sei dizer ao certo o que deu em mim, mas quando vi
já estava avançando e segurando sua mão. Talvez minha mente
doentia estava ansiosa demais para sentir o toque de suas mãos, ou
simplesmente sou um fodido louco à procura de sua atenção. Não
sei, realmente não tenho uma resposta para isso. Só que posso dizer
com toda certeza do mundo que não posso mentir para mim mesmo
e dizer que não quero isso.

Eu quero, eu quero muito! Quero que Justin encoste seus


dedos no meu rosto, quero sentir a quentura de seu corpo perto do
meu, quero sentir nossas respirações juntas, mesmo que não seja
exatamente do modo que espero.
Foda-se! Sou um verdadeiro desgraçado! Parece que tenho
uma fantasia absurda por me torturar. Se não for isso, eu não sei
dizer ao certo o motivo dessa minha loucura. No entanto, acho que
minha mente virou gelatina quando ouvi Justin com sua irmã de
modo tão adorável. Explicando a ela sobre o motivo de meus irmãos
estarem tão ciumentos e territoriais comigo. Nesse momento algo
estalou em mim e a única coisa que desejei era poder voltar no
tempo, eu queria parar no exato momento que Justin pediu para me
ver. Se não tivesse hesitado, quem sabe assim eu não estaria
passando por esse tipo de situação agora.

Às vezes queria poder chutar minha bunda por estar


perdendo pouco a pouco o meu auto controle. Devo parar com isso,
devo evitar que meu controle escape entre meus dedos. Quem sabe
agora, depois de ter feito essa merda, tudo volte a entrar nos trilhos
e eu consiga me distanciar desses sentimentos furiosos que sinto
por Justin.

— Vik, você está falando sério? — Pergunta Justin com uma


estonteante expressão de alegria.

— Estou! — Respondo de forma firme e sucinta.

— Hum… aqui! — Justin diz estendendo a outra mão. —


Deixe-me vê-lo, Vik! — Pede sorrindo e respiro fundo antes de
segurar suas duas mãos.

— Tudo bem! — Digo baixo engolindo em seco.

No mesmo instante que deixo as mãos de Justin descansar no


meu rosto, sinto como se a porra do meu coração idiota fosse pular
para fora do meu peito. Fecho meus olhos para manter o único fio
existente da minha sanidade, porque só Deus sabe a vontade que
tenho neste momento. Justin murmura coisas suaves enquanto seus
dedos passeiam pelo meu rosto, mas minha mente está tão nublada
que nem consigo entender direito o que inferno ele está falando.
Seus dedos alisam vagarosamente minha testa, minhas
sobrancelhas, deslizando livremente até desenhar com delicadeza as
linhas do meu nariz, descendo até minha barba por fazer. A ponta
dos seus dedos coçam minha barba como se ele estivesse achando
divertido e interessante.

Olho para seu sorriso de perto, sentindo meu interior se partir


ao meio. Meus dedos coçam para traçar as linhas harmônicas dos
seus lábios rosados, bem do modo que ele está fazendo agora
comigo. Quero muito tocar no homem à minha frente, uma vozinha
maligna em minha cabeça diz para jogar tudo para o inferno e
abraçar sua cintura estreita com força. Juntando nossos corpos em
um nível que poderíamos virar uma única pessoa. Mas não, eu não
posso ceder a essa voz infeliz, devo continuar trabalhando o meu
controle. Não posso ultrapassar essa linha porque ela está se
tornando gasta além do meu limite. Aperto meus punhos com força,
cravando minhas unhas na palma da mão a ponto de feri-la. No
entanto, não ligo para a porra do meu ferimento, tudo o que tenho
que fazer é manter a cabeça no lugar. Suas belas mãos sobem para
meu cabelo, e uma risadinha fofa sai dos seus lábios novamente.

Como demônios vou conseguir evitar de calar esse seu risinho


com um beijo, que é capaz de sugar até mesmo sua alma? Blyat!

— O que o fez rir? — Questiono com a voz mais rouca do que


eu gostaria. Olho intensivamente para seu rosto risonho enquanto
seus dedos brincam com a mecha do meu cabelo.

— É porque seu cabelo cresceu bastante desde a última vez


que toquei. — Justin revela e eu fecho meus olhos com força.

— Hum… — Digo, não conseguindo formular palavras


corretamente.

— Acho legal, você está mais velho, e parece até mais forte!
— Justin diz descendo sua mão da minha cabeça até meus ombros.
Ah, merda!
— Você acha? — Pergunto após soltar um pigarro da minha
garganta.

— Foi isso que minha amiga Violeta disse quando você saiu
do quarto ontem. — Justin explica franzindo o cenho.

— O que ela disse? — Indago sem um pingo de interesse no


que essa tal pessoa disse, mas só o fato de deixá-lo falar mais um
pouco é o mais importante.

— Ela disse que você era muito bonito, que tinha uma
presença marcante, e que era alto e forte como uma montanha. —
Justin conta divertido e eu faço uma careta.

— Não sabia que parecia assim para os outros. — Digo


seriamente e ele estalou a língua.

— Nora disse que você parecia uma pessoa assustadora


também. — Justin revela com tom de dúvida.

— Você pensa assim? — Indago o vendo negar.

— Claro que não, você é o nosso irmão mais velho, como


poderia ser assustador? — As palavras de Justin me fazem parar.

Seguro as mãos de Justin de forma tão abrupta que o assusta


um pouco, o afasto de mim com a distância de um braço. Sinto que
a realidade do momento recai sob minha cabeça com o peso de uma
tonelada. Inferno, o que estou fazendo? Justin tem a mim como um
membro da sua família, um irmão mais velho que irá protegê-lo e
que lhe guiará em momentos de dificuldades. Meus sentimentos
sujos com relação a ele destoam de tudo isso, e eu me sinto um
verdadeiro desgraçado agora. Preciso sair daqui o mais rápido
possível, necessito alinhar todos esses sentimentos conflitantes
dentro de mim. E o principal de tudo, preciso me manter longe de
Justin! Me perdi por um instante, mas agora que a realidade bateu
na porta, devo me concentrar em esquecer essa paixão enfurecida
que queima em mim como um veneno maldito.
Não posso me permitir sentir esse amor, não posso me deixar
ser capturado dessa maneira. Justin é minha família, meu primo que
precisa de mim assim como os outros primos. Devo colocá-lo no
mesmo lugar que Hope e Ella e nada mais do que isso. É isso! É
bem isso mesmo! Mas por que ainda anseio em abraçá-lo forte e
não soltar até que ele se torne meu por completo? Ah porra! Tenho
que sair daqui o mais rápido possível!

Inferno maldito, meu pau está duro!

— Vik? — Chama Justin sem esconder sua dúvida no rosto. —


O que houve? — Indaga e eu engulo em seco.

— Não foi nada, por que você não vai comer alguma coisa
com os outros? — Aponto tentando me distanciar um pouco mais, e
ele franze o cenho.

— Eu vou, mas porque… — Nem deixo ele terminar de falar e


já o interrompo.

— Você precisa se recuperar, vá se alimentar e descansar um


pouco. — Peço, ele assente levemente, mas ainda vejo a dúvida
nele.

— Tudo bem, mas você vai vir também, certo? — Questiona e


eu respiro fundo.

— Agora não, vou tomar um banho primeiro e já estarei lá. —


Explico em tom firme e ele vira a cabeça de um modo fofo, quase
me matando por dentro.

— Está bem então! — Responde em forma de sussurro.

— Aqui, tome sua bengala! — Pego sua bengala que foi


largada em qualquer lugar, abro e deixo em sua mão.

— Obrigado, Vik! — Agradece com a voz pequena.


— Certo, estou indo! — Digo virando para ir em direção às
escadas, mas quando vou dar um passo largo sinto minha roupa
sendo puxada com força.

Praguejo mentalmente, fechando meus olhos por um breve


instante, e quando os abro novamente vejo os dedos brancos e
firmes de Justin segurando o meu paletó com uma intensidade que
deixa os nós dos seus dedos pálidos. Abro minha boca para
perguntar o por que ele está me impedindo de sair, mas fecho sem
conseguir soltar as palavras corretamente.

— Por que sempre tenho a impressão de que você vai fugir


para longe? — Sua voz saiu firme, só que consigo perceber um
pouco de tristeza também.

— Mas… como? — Indago piscando várias vezes.

— Viktor, você sempre vai embora, não sei dizer ao certo,


mas é isso que sinto. — Justin explica colocando a mão livre no
peito, ao ver isso aperto meu nariz com força.

— É impressão sua, Justin! Prometo que só vou subir para


meu quarto. — Paro o encarando — Não é como se eu fosse correr
para Nova York ou coisa do tipo. — Tento aliviar meu tom de voz ao
máximo.

— Se é assim, tudo bem! — Diz ele respirando fundo, mas


mesmo assim ele não me solta do seu aperto.

— Jus, você pode me soltar? — Pergunto de modo suave.

— Oh sim, desculpe! — Diz soltando o tecido do meu paletó


em um pulo. — Eu… eu vou… eu vou indo! — Fala confuso andando
apressadamente em direção a sala de jantar com sua bengala em
mãos.

— Inferno, é por isso que estou fodido! — Resmungo


inconformado, desviando os olhos das costas firmes de Justin.
Sem perder mais tempo corro até as escadas, pulando os
degraus de dois em dois, pois tenho muita pressa em chegar ao meu
quarto. No momento que abro a porta começo a me livrar das
roupas que estou usando, sem me importar onde elas vão cair.
Quando chego ao banheiro consigo terminar de me despir, com a
cabeça turbulenta abro a torneira do chuveiro sem me importar com
a temperatura da água ou coisa do tipo. Deixo a água molhar minha
cabeça, fecho meus olhos com força tentando livrar meu coração de
tanta confusão. Faz tanto tempo que escondo de todo mundo que
vejo o Justin como algo além de um primo. Esse sentimento foi
tomando proporções tão gigantescas que hoje me vejo entrando em
desespero com um simples e fodido toque de mão.

Não existe nada que possa me assombrar, sobrevivi dentre


tantas barbaridades, hoje estou no controle de uma organização
criminosa. No entanto nada me deixa mais temeroso do que perder
o controle e revelar o amor, paixão e tesão avassalador que sinto
pela porra do meu primo. As vezes acho que os deuses olham para
mim e riem da minha cara por ser um infeliz! Todas as torturas que
passei nos testes da Bratva são fichinha perto do que é estar com o
amor da sua vida bem diante de você e não poder tê-lo para si.
Inferno, como isso é fodido! Gostaria muito de poder rasgar o véu e
roubá-lo para mim, mas eu simplesmente não posso.

— Não esqueça que ele está namorando também, porra! —


Falo para mim mesmo enquanto abaixo a cabeça para olhar minhas
mão feridas. — Se controla, seu idiota imprestavel! — Xingo dando
um soco forte na parede.

A dor em minha mão faz com que eu acorde para vida, por
que só assim meu controle volta a se estabilizar. Escovo meus
cabelos ensopados com os dedos, expiro uma forte respiração entre
meus lábios, isso me ajuda a acalmar meus nervos. Quando me vejo
estável novamente termino meu banho, limpando meu corpo e
minha mente de qualquer tipo de impureza. Finalizo o banho,
sentindo que voltei a ser o mesmo de sempre, enxugo meu corpo e
enrolo a toalha na minha cintura. No momento que saio do banheiro
noto que meu celular, que foi jogado no chão, está indicando uma
ligação. Franzo o cenho, tentando imaginar quem poderia estar me
ligando nesse momento, mas quando levanto o celular e vejo o
nome na tela me surpreendo.

— Então quer dizer que o senhor mafioso russo, voltou para


Milão! — A voz de Arthur Nardelli chega ao meu ouvido e eu nego
com a cabeça.

— Você poderia ser menos inconveniente? — Pergunto e ele ri


do outro lado.

— Impossível! — Responde seriamente e eu me forço a não


revirar os olhos. — Já faz tempo, meu amigo! — Declara ele sentido
e eu dou um sorriso curto.

— Verdade, mas você sabe que tive motivos. — Aponto e ele


faz um som de confirmação.

— Claro que sei, mas não entendo! — Arthur diz e quando


penso em responder ele volta a falar. — Deixe isso para lá, não é
momento! — Arthur faz uma pausa. — Diga-me, o que veio fazer
aqui? — Indaga e arqueei minha sobrancelha.

— Essa é uma pergunta de um amigo ou de um policial? —


retorno a pergunta o fazendo rir.

— De um amigo é claro! — responde levianamente.

— Vai me dizer que seus superiores não mandaram você ficar


de olho em mim? — Questiono o deixando em silêncio por um
tempo.

— Cazzo, Viktor! Você sabe como estragar o momento! —


Acusa irritado e eu dou um curto sorriso.
— Então é verdade, certo? — O provoco olhando friamente
para fora da janela ampla do meu quarto.

— Aqueles idiotas sempre estão preocupados em explodir


uma guerra de território por aqui. — Arthur conta e eu reviro os
olhos.

— Não penso em expandir meus negócios por aqui, Nardelli.


— Digo seriamente. — Esse é o lar da minha família. — Concluo e
ele bufa.

— Sei disso, mas não te liguei por causa disso, eu só queria


falar com um amigo que não vejo há um tempo. — Relata Arthur
tranquilamente.

Não faço a mínima ideia de como essa amizade começou,


pode ser o fato de nossas famílias serem próximas uma da outra. Ou
o fato de nós dois sermos fodidos da cabeça, com um passado mais
fodido ainda. Não posso dizer qual é a melhor alternativa, no
entanto cá estamos nós aturando um ao outro desde a nossa
adolescência. Arthur é um cara do bem, que conseguiu se abrir de
coração para a família Nardelli, mesmo diante de todas as merdas
que passou. Mesmo que tenhamos seguidos caminhos diferentes
tenho certeza que se um dia pedir por alguma ajuda, ele vai ser uma
das primeiras pessoas a carregar suas armas para ir onde quer que
eu esteja. Somos homens adultos, de poucas palavras, rígidos com a
vida, mas que sabem ser leal, é por isso que continuamos nos dando
bem.

— Não precisa se explicar, porque até se fosse o contrário


estaria tudo bem para mim. Você só está fazendo seu trabalho. —
Digo e ele ri.

— Acho que ter se bandeado no meio dos russos mafiosos fez


você dar mais valor às amizades verdadeiras. — Provoca ele me
deixando irado.
— Vai se foder, Suka (cadela)! — Esbravejo o fazendo rir no
primeiro momento, mas logo fica sério.

— Do que você acabou de me chamar? — Pergunta friamente


e eu o ignoro. — Sabia que deveria aprender mais russo, esse idiota
me xinga em russo e eu não sei o que é. — Arthur lamenta
inconformado.

— Dio Santo! — Ouço um arfar repentino atrás de mim, que


faz com que eu seja pego desprevenido.

Viro meu corpo para encontrar a origem do barulho, mas


lamento internamente quando vejo meu pai Andrea parado na porta
do meu quarto com uma expressão de dor no seu rosto delicado.
Não preciso averiguar demais para saber o porquê dessa sua
expressão, pois seus olhos estão encarando fixamente a parte nua
do meu corpo. Desvio meu rosto por que é dolorido para mim vê-lo
desse jeito, aproveito o momento para me despedir de Arthur o mais
breve possível.

— Tenho que ir, Arthur, ligo para você depois! — Aviso e antes
que ele pudesse responder eu desligo a ligação. — Papa! — chamo o
observando vir em minha direção.

— Quem? Quem fez isso com você, Viktor? — Papa pergunta


em russo erguendo a cabeça, me encarando com uma expressão
gélida.

Droga, ele falou em russo, isso é sinal de que está muito


furioso!

— Papai, espera! — Começo, estendendo a mão para pará-lo,


mas ele dá um tapa na minha mão.

— Não me mande esperar, garoto! — Manda apontando o


dedo indicador para mim. — Você não pode mandar seu pai esperar,
ainda mais quando preciso descobrir os nomes das pessoas que vão
morrer! — Diz em seu modo assassino que faz minha espinha
arrepiar.

— Sinto muito! — Respondo abaixando minha cabeça sem


jeito.

— Como eles podem fazer isso com o meu filho! — papa


esbraveja. — Quais foram os malditos testes que eles fizeram para
que você esteja cheio de cicatrizes nas costas assim? — Indaga
entre dentes e eu tento segurá-lo, mas ele desvia de mim.

— Não pense em me amolecer, Viktor Aandreozzi! Eu só


preciso de nomes, vamos, diga-me! — O ódio de meu pai é palpável,
mas não posso deixá-lo continuar assim.

— Papai, por favor, me ouça, sim? — Peço estendendo minha


mão para ele.

— Como posso me sentar e deixar você ficar desse jeito? Eu


te protegi tanto, meu filho, eu cuidei de você, cuidei de todos seus
machucados. Então como posso deixar que esses desgraçados
infelizes deixem tais cicatrizes em você? — Meu pai pergunta e vejo
lágrimas se acumularem em seus olhos claros.

Sem me importar se estou só de toalha, eu abraço o corpo do


meu pai com força. Sei exatamente o porque que ele está assim,
entendo muito bem sua frustração, sua raiva e vontade de matar.
Juro por tudo que há de mais sagrado nesse mundo que entendo,
pois meu pai sabe exatamente o que essas marcas significam. Papa
passou por muitas coisas enquanto estava na máfia, então ele
entende. Eles sempre dizem que primeiro você deve ser torturado,
para aprender o que verdadeiramente significa sobre ser Família.
Eles exigem lealdade, ele mexem em sua mente e em seu coração
para que você se quebre pouco a pouco. Porque só assim você
entenderá que sua única salvação é a Bratva, e que sua lealdade
deve ser somente para os interesses da família.
— Eu nunca quis isso para você, filho! — Papai fala entre
soluços e eu fecho meus olhos.

— Mas eu não teria como correr por muito tempo, papa! —


Confesso em tom baixo. — Os membros da nossa família podem não
entender o verdadeiro significado dessas palavras, mas o senhor
sim. O senhor sabe disso, papai! — Digo e ele levanta o rosto para
poder me olhar nos olhos.

— Eu sei, e é por isso que dói tanto! — Papa diz e eu dou um


sorriso triste.

— Não seja assim, confie um pouco no seu filho, tudo bem?


— Peço e ele me encara em silêncio.

— É claro que confio em você, Vik! — Diz e eu respiro fundo,


voltando a abraçá-lo.

— Somos dois sobreviventes, papai, vencemos uma vez e


vamos continuar vencendo sempre que for necessário. Não tenha
medo, e não pense em vingança, só não esquece que eu sou o seu
filho, a sua cria, e que não vou deixar que nada de ruim aconteça a
mim ou aos meus. — Digo cada palavra com fervor, pois elas foram
tatuadas em minha alma.

— Eu te amo tanto, meu filho! — Declara meu pai apertando


seus braços em volta de mim com mais força.

— Da, i ya lyublyu tebya, papochka! (Sim, e eu te amo,


papai!) — Respondo o mais verdadeiro possível.

Devo minha vida ao meu pai, agora é minha vez de retornar


tudo aquilo que ele fez por mim. Só espero conseguir alcançar esse
objetivo!
CAPÍTULO 8
Justin Aandreozzi

Um peso confortável, junto com um calor corporal e um


cheiro frutado delicioso, faz com que venha o sentimento de que o
meu dia será incrível. Isso porque é impossível ter um péssimo dia
acordando tão confortável ao lado da minha irmãzinha, que ontem a
noite após o jantar fez questão de me recordar da promessa que fiz
a ela. Minha mães tentaram impedi-la de vir passar a noite comigo,
explicando que eu ainda estava em recuperação e que Hope tem um
jeitinho de dormir um pouco peculiar. A pequena gosta de se mexer
bastante durante a noite, algumas vezes já acordei com o seu
pezinho roliço descansando na minha garganta, mas nada que eu
não pudesse tirar, e arrumá-la novamente nos travesseiros. Desde
pequena Hope gosta de dormir ao meu lado, lembro que muitas
vezes ela invadia meu quarto a noite trazendo seu coelhinho de
pelúcia, pedindo com a voz fofa e sonolenta para ficar comigo. E era
impossível recusá-la, nunca consegui resistir ao nível de fofura que
essa minha Boo tem.
Mommy vive dizendo que vou estragar Hope e Ella, porque
não resisto e fico fazendo todas as vontades delas. Para falar a
verdade, não existe ninguém nessa família capaz de resistir a essas
duas criaturinhas. Acaricio a cabeça de Hope, ajeitando seus cabelos
longos que estão emaranhados no seu rosto, quando me sinto
satisfeito levanto da cama. Vou ao banheiro, alivio minhas
necessidades básicas e quando estou pronto para começar a escovar
meus dentes ouço a voz de Hope chamando por mim.

— Irmão, onde está? — A voz pequena arrastada, mostra


seus estado de recém acordada.

— Estou aqui, Boo! — Digo alto o suficiente para chegar aos


seus ouvidos.

— Ah, estou indo, vamos também Tom! — Diz ela


alegremente.

Em pouco tempo ouço seus pés curtos e saltitantes,


acompanhados por patas, virem em direção ao banheiro. Arrasto
com os pés o banquinho que tem embaixo da pia o posicionando ao
meu lado, por que tenho certeza que ao me ver escovar os dentes,
ela me fará companhia. Dou um sorriso quando Hope chega ao
banheiro e abraça minha cintura, dou um tapinha em sua cabeça e
desejo um bom dia a ela. Imediatamente minha irmãzinha começa a
conversar, contando os seus planos para o dia junto com os gêmeos.
Ouço cada uma das suas palavras com atenção, estendendo minha
mão para pegar sua escova de dentes ao lado da minha. Peço para
Hope prestar atenção ao subir no banco para não cair, mas ela
começa rir baixo e diz que já é grande o suficiente e que daqui a um
tempo nem precisará mais de banquinho. Nego com a cabeça
soltando um suspiro triste, por que a realidade disso acontecer está
bem perto.

— Por que está triste agora, abóbora? — Hope pergunta e eu


fico mais triste.
— Por que você está crescendo muito rápido, querida! —
Conto e ela faz um som de concordância.

— Claro, eu já estou acima da sua cintura, daqui a pouco


estou do seu tamanho. — Diz ela contente e eu gemo.

— Não cresça tão rápido, Boo! Crescer é ruim! — Explico e


ela faz um som de espanto.

— Nada disso, crescer é bom sim! —Reclama me fazendo


sorrir com pesar.

—Continue pensando assim, querida, quando você chegar lá


teremos essa conversa novamente, sim? — Falo dando tapinhas na
sua cabeça. Até lá continue sendo o meu bebê, está bom? —
Pergunto, e ela dá uma risadinha.

— Eu não sou um bebê, o bebê aqui é Ella! — Aponta ela e


eu solto um suspiro.

— Ella também, mas você vai continuar sendo um bebê para


o irmão. — Conto a deixando em silêncio.

— Até quando eu estiver do tamanho das nossas primas? —


Questiona e eu concordo.

— Claro, Boo! — Afirmo e ela faz um som de horror.

— E como vou poder casar, irmão? — Essa sua pergunta é a


mesma coisa que enfiar uma faca no meu peito.

— Casar? — Minha voz sai sufocada, ainda sentindo o baque


no meu coração.

— Óbvio, eu vou casar quando crescer. Será que o irmão


ainda vai me chamar de bebê? — Hope pergunta em tom de pura
provocação.
— Vamos mudar de assunto, Boo, esse não é o tipo de
conversa para se ter com o irmão mais velho pela manhã. — Peço,
sem esconder o meu mal estar, mas isso só fez a danada cair na
gargalhada.

— Irmão você é tão ciumento! — Hope aponta entre risos.

— Sou sim, sou um irmão muito ciumento, é bom avisar isso


aos meninos que dizem gracinhas para você. Ah, e pode dizer
também que luto com muitas armas! — Exclamo com firmeza e isso
a fez parar de rir.

— Isso vai assustar as pessoas, abóbora! — Diz ela com


indignação.

— Melhor assim! — Exclamo contente e ela solta um gemido.

—Então é melhor não dizer nada, vou proteger meu futuros


pretendentes de você! — Hope diz me causando um impacto
grande. — Vou terminar de escovar os dentes e vou procurar
mamma e mommy. — Diz ela distraidamente enquanto escova os
dentes.

Não consigo encontrar minha voz para responder, pois sinto


que o impacto que recebi foi em grande proporção. Ao ponto de
nem mesmo conseguir organizar as palavras em minha cabeça. Essa
é minha irmãzinha, a pequena Boo que carreguei no colo e ajudei a
colocar para dormir quando bebê. Sua primeira palavra não foi
mamãe e sim Pump, que nesse caso sou eu. Bem isso mesmo,
minha irmãzinha me chamou enquanto balbuciava pela primeira vez,
deixando nossas mães muito ciumentas enquanto eu estava
extasiado de felicidade. Mas agora cá estou eu, em choque
completo, só porque a minha Boo decidiu proteger seus futuros
pretendentes de mim.

Que porcaria é essa? E ainda por cima, pretendentes, no


plural! Que absurdo é esse? De onde essa menina tirou isso? Será
que a pré-puberdade está deixando Hope estranha, sinto que devo
conversar com nossas mães depois.

— Hope, espera, por que voc… — Tento falar, mas a pestinha


já está saindo correndo do banheiro.

— Não tenho tempo, abóbora, preciso comer e Tom também!


— Hope diz animada e eu fico parado no lugar.

— Mas… mas eu também! — Murmuro me sentindo


abandonado por minha irmã menor e o meu próprio cão guia.

Negando com a cabeça, me sentindo totalmente desolado, eu


terminei de escovar os dentes. Após isso caminho livremente pelo
quarto em direção ao closet. Como tenho o quarto memorizado na
minha cabeça, é muito prático seguir sem precisar da ajuda da
minha bengala. Procuro o que vou vestir pelas etiquetas,
especialmente preparadas para mim em braille, achando uma calça
jeans, uma camiseta e um blusão de frio, porque aqui em Milão está
mais frio nessa época do ano. Depois de me vestir optei por não
calçar nenhum sapato, pois não gosto muito de calça-lós quando
estou em casa. Quando me vi vestido e pronto, saio do quarto
abrindo minha bengala, pois me sinto mais seguro ao descer as
escadas com elas em mãos, mesmo sabendo que possivelmente
nem chegue a usar corretamente. Assim que meu pés tocam o
último degrau sorri ao notar a pessoa que vem me receber.

— Buongiorno, senhor Justin! — Giuseppe saúda com seu


tom de voz profissional e zeloso.

— Buongiorno, Giuseppe! — Saúdo de volta levemente. —


Onde está minha família? — Pergunto sem sentir a presença de
ninguém por perto.

— Os senhores mais novos e os senhores mais velhos foram


para a sala de treinamento, mas a senhora Laila, a jovenzinha Ella e
os idosos estão na sala de estar. — Conta ele e eu assinto com a
cabeça.

— E a Hope? — Pergunto confuso, pois a danadinha disse que


ia correr para tomar café da manhã.

— A jovem Hope disse que iria encontrar com os outros


quando soube que estavam em treinamento. — Giuseppe explica e
eu concordo com a cabeça.

— Entendo! — Digo sem muito o que dizer.

— Trouxe o seu remédio, o senhor deve tomá-los antes do


desjejum! — Giuseppe diz e eu franzo o cenho.

— Não precisava, eu poderia pegá-los! — Comento e ouço um


som de uma profunda respiração.

— É meu trabalho manter essa família bem, então por favor,


jovem Justin! — Giuseppe diz com seu tom profissional e eu sorrio
de lado. — Nem mesmo reclamei sobre o senhor descer as escadas
de pés descalços nessa frieza, e nem mesmo usar o elevador da
casa. — Giuseppe diz em tom de reclamação aumentando mais
ainda meu sorriso.

— Você se tornou nosso guardião, Peppe! — Brinco o fazendo


soltar uma risada anasalada.

— Faço esse trabalho desafiador com prazer, por isso tome


seu remédio senhor! — Giuseppe fala e eu ergo minha mão.

Logo sinto a superfície lisa e gelada tocar meus dedos,


identifico como sendo uma bandeja, e nela está descansando um
copo de suco de laranja e os comprimidos receitados pelo médico.
Tomo o remédio sem fazer nenhuma reclamação, pois sei que isso
não funcionaria de jeito nenhum com Giuseppe. Se até minha
bisnonna não consegue ganhar de Guiseppe em argumentos, eu
com certeza, não seria a pessoa que conseguiria.
— Obrigado, agora devo ir até minha mãe! — Revelo e ele faz
um som de confirmação.

— Precisa de algo mais? — Pergunta e eu nego.

— Pode cuidar dos seus afazeres, sei que você tem muito
trabalho pela frente, Peppe! — Aponto de modo descontraído.

— Isso é certo, de fato! — Giuseppe diz de um modo que me


faz rir. — Tenha um bom dia, senhor Justin! — Deseja e eu assinto
com a cabeça.

Após mais alguns simples cumprimentos me afasto de


Giuseppe, mesmo sabendo que ele está parado no mesmo lugar
averiguando se está tudo bem comigo. Sorrio de lado pela sua
preocupação, já estou acostumando com a superproteção de
Giuseppe, sendo assim não é nenhum incômodo realmente. Faz mais
ou menos 10 anos que Giuseppe atua como mordomo na mansão
dos meus avós, e a única coisa que tenho a dizer é que foi uma
verdadeira guerra até que ele conseguisse executar o trabalho a que
foi designado. Tudo isso aconteceu porque, no início, quando o meu
tio Filippo apareceu com esse homem alto, afrodescendente e de
beleza radiante — palavras descritas por Otto —, no auge dos seus
30 e poucos anos, ele afirmou que meus avós e bisavós estavam
envelhecendo e já não tinham mais necessidade de administrar a
mansão sozinhos, que crescia a cada dia, como antes.

E para segurança deles um mordomo capacitado seria a


melhor opção para que todos pudessem ficar tranquilos, em seus
respectivos países sem se preocuparem demais com seus pais e
avós. Obviamente o modo que tio Filippo disse isso não foi bem visto
pelos mais idosos da mansão, meu nonno Donatello ficou muito
furioso, sendo acalmado por minha nonna Arianna. Minha bisa
ameaçou a todos com uma greve de fome, porque ela afirmou
veementemente que estava velha, mas não incapacitada. Meu biso
tentou acalmá-la do mesmo modo que nonna Arianna fez com
nonno, mas não funcionou muito bem, pois bisa ameaçou meu biso
para que entrasse na greve junto a ela. Céus, foi uma verdadeira
guerra dentro dessa mansão, mas no final minha bisavó não
aguentou um dia de greve, pois meu bisavô assaltou a geladeira
naquela madrugada. Em resumo, minha bisavó decidiu colocar
Giuseppe sob testes para ver se ele conseguiria lidar com a família
Aandreozzi.

No entanto, esses testes não duraram muito, pois a eficiência


de Giuseppe deixou todos nessa casa boquiabertos. Em menos de
uma semana todas as situações pendentes dessa mansão foram
resolvidas por ele, sem nem sequer suar um pouco. O excelente
trabalho de Giuseppe foi uma parte importante para ele ser aceito
pela família, sem sombra de dúvidas. Entretanto, teve um dia que
veio a certeza de que além de ser o mordomo, Giuseppe também
seria oficialmente um membro dessa família. Tudo começou quando
Giuseppe acompanhou bisnonna Francesca em uma das missas de
domingo. Eles estavam na companhia um do outro, enquanto
Guiseppe também servia como seu segurança, e enquanto os dois
conversavam, uma das beatas idosas da igreja ousou insultar Peppe
o chamando de macaco, repentinamente.

Aquela velha infeliz!

Giuseppe fingiu que não tinha ouvido nada, tentando evitar


qualquer tipo de desconforto, mas nonna Francesca não pensou
dessa forma. Não sei dizer em detalhes como aconteceu, mas a
revolta de minha bisavó foi tão grande que todos os bancos da
catedral foram virados de ponta a cabeça. Ela ainda chutou a velha
racista no chão, apontando o dedo na sua cara, exigindo que os
policiais aparecessem para que prendessem aquela velha desgraçada
que merece uns bons tapas na cara, palavras de bisnonna não
minhas. Foi um domingo muito revolucionário, onde tanto minha
bisavó quanto a senhora que ofendeu Giuseppe foram presas pela
polícia. E depois que tudo acabou, meus avós, tios e mães vieram
tirar minha bisavó da cadeira, ela disse a Giuseppe que ele nunca
deveria permitir que ninguém o ofendesse. Que se isso acontecer,
ele não seria mais membro daquela família. E que enquanto ela
estiver viva, ela irá defendê-lo com unhas e dentes, porque ninguém
mexe com seu mordomo e fica impune.

Depois de todo esse desenrolar, ninguém na família tocou


mais no assunto, e Giuseppe continuou sendo o mordomo, amigo e
uma parte importante desta família Aandreozzi.

— Bom dia, querido! — Nonna Arianna saúda assim que


chego na sala de estar. Me fazendo interromper os pensamentos
anteriores.

— Bom dia, vovó! — Saúdo sentindo sua aproximação.

— Como está se sentindo hoje, alguma dor? — Ela pergunta


colocando sua mão carinhosa no meu rosto.

— Estou bem, nonna, sem dor alguma! — Relato ouvindo um


som de contentamento sair dos seus lábios.

— Bom menino, já tomou seus remédios? — Minha avó


pergunta e eu concordo.

— Sim, fui recepcionado por Peppe, que não me deixaria ficar


sem tomá-los. — Acuso fazendo careta exagerada e minha avó ri.

— Isso mesmo, Peppe é persuasivo desse jeito! — Comenta


minha avó me fazendo rir.

— É por isso que não ficamos sem ele! — Mommy diz risonha
e eu ouço o gritinho de Ella. — Calma, El, seu irmão vem te ver! —
Mommy pede e eu sorrio de lado.

— Vou desejar bom dia a minha pequena, nonna! — Indico


após deixar um beijo na bochecha de minha avó.

— Vá querido se não ela não vai parar de te chamar! —


Nonna Arianna diz solene.
— Bom dia, mommy e El, dormiram bem? — Pergunto assim
que me aproximo ao sofá que mommy está com Ella.

— Dormimos sim, amor, e você algum incômodo à noite? —


Mommy pergunta me auxiliando a sentar ao seu lado.

— Nada, os remédios estão ajudando muito. — Conto para


livrá-la de qualquer preocupação com o meu estado.

— Bom, isso é bom! — Diz aliviada e eu ergo meus braços


para pegar minha caçulinha, mas sou barrado por minha mãe Laila.

— Nem pensar, você não pode pegar peso e essa garotinha


aqui está bem pesada. — Fala ela e eu solto um suspiro.

— Só a coloque em meu colo, mommy, e tudo estará bem! —


Peço e ela fica em silêncio por um tempo.

— Não se preocupe minha nora, Justin tem senso de medida.


— Nesse momento a voz de meu avô Donatello se faz presente.

— Bom dia, vovô! — Saúdo contente com suas palavras.

— Fico feliz que você está bem, ragazzo! — Ele diz com a voz
cheia de calor, me fazendo sorrir.

— Já que Babo diz, então tudo bem! Só tome cuidado para


não se exigir demais. — Mommy diz colocando minha pequena no
meu colo.

— Dormiu bem, meu passarinho? — Pergunto a ela que se


joga confortável em meus braços.

Abraço Ella feliz por poder sentir seu cheirinho agradável de


bebê, enquanto minha mãe e meus avós iniciam uma conversa
sobre a empresa. Me desligo do papo deles para poder aproveitar ao
máximo esse tempo com minha caçulinha, pois o tempo passa
rápido demais. Daqui a uns anos ela estará igual a Hope falando
sobre proteger seus pretendentes de mim. E cara, parece que isso
vai ser uma sombra no meu coração. Só espero que esse tempo
demore a chegar e que minhas irmãs não namorem tão cedo.

— Quando será que as crianças virão tomar café da manhã,


será que devo ir buscá-los? — A voz de minha avó Arianna chega
aos meus ouvidos, me fazendo parar de brincar com Ella.

— Não deve demorar muito! — Mommy diz e eu concordo.

— Daqui a pouco… — Começo a falar, mas paro quando


escuto uns sons repentinos. — Acho que eles já estão chegando! —
Revelo com um sorriso curto.

— Eu já disse a vocês que agora é minha vez, cai fora Gian e


Enrico! — Hope grita com injustiça.

— Você fica grudada no meu irmão mais velho, mas você tem
o seu. — Enrico diz irritado.

— E daí, Vik também é meu irmão, não é mesmo Vik? —


Hope fala em som manhoso.

— Crianças, não briguem! — A voz masculina e baixa de


Viktor chega aos meus ouvidos em resposta.

— Irmão, você só trata a Hope assim porque é menina! —


Gian diz de modo sarcástico.

— Injustiça! Vik está se desculpando por não ter me treinado


como fez com vocês hoje de manhã, não é mesmo, irmão? — Hope
pergunta cheia de justiça.

— Até parece! — Gian e Enrico falam em uníssono.

— Crianças barulhentas! — Isabel provoca sarcasticamente.

— Quem você está chamado de criança? — Enrico e Gian


perguntam juntos.
— Vocês é claro! — Isabel aponta irritada.

— Criança é você que não sai de perto de tio Filippo como


uma sombra! — Enrico aponta maliciosamente.

— Isso mesmo, sua puxa saco! — Gian conclui e Hope ri.

— Puxa saco! — Repete Hope deixando Bel irada.

— Ora, seus… vou pegá-los! — Isabel fala e logo ouço o grito


animado de Hope, acompanhado dos pés agitados dos gêmeos.

— Como eles conseguem ficar tão animados, eu estou morta!


— Samantha diz com cansaço na voz.

— Não tem como comparar o treinamento das crianças com o


nosso! — Otto diz como se estivesse abafado.

— Injustiça pura, eu também sou criança! — Pietro reclama e


Samantha cai na risada.

— Você não se envergonha de dizer isso não, ursinho? —


Indaga Duda cheia de poder.

— Pois é, uma criança que está louco para cair na… —


Samantha começa, mas algo abafa sua voz, tenho a ligeira
impressão que é uma mão.

— Fica na sua, Marrentinha cretina! — Grunhiu Pietro


irritado.

— O que vocês estão falando aí? — A voz poderosa de tio


Filippo faz todos os meus primos se calarem ao mesmo momento.

— Não é nada, tio, pai! — Pietro e os outros falam juntos de


forma rígida.

Sem esperar muito tempo todos se juntaram a nós na sala de


estar, Ella foi roubada de mim por Duda, pensei em reclamar, mas o
riso feliz de minha irmãzinha bebê com nossa prima mais velha me
fez parar. Mamma veio até nós deixando um beijo em mommy e um
beijo na minha cabeça, mas não antes de perguntar como eu
estava. E antes que todos continuassem a perguntar sobre meu
estado de saúde, dei a eles um resumo da minha noite tranquila e
sem dor, os deixando aliviados no processo. Sorrio negando com a
cabeça, pois o cuidados dessas pessoas é adorável demais.

— Só faltou você hoje, Jus! — Samantha diz sentando no


meu colo.

— Nem pense, Samantha, Justin ainda está em recuperação.


— Vik aponta friamente antes mesmo que eu pudesse dizer algo. Em
seguida sinto meu colo vazio novamente.

— Nossa, deixa de ser chato, homem! — Sam diz irritada. —


Eu só precisava do abraço do meu Jus! — Lamenta ela fazendo
Viktor bufar.

— Até parece que ele é seu! — Murmura Viktor enraivecido,


mas tenho a impressão que ouvi errado. Por isso tento não ir adiante
em tentar entender.

— Se quer carinho venha aqui que seu tio favorito pode fazer
esse favor, marrentinha. — Tio Enzo diz rindo e Sam solta um arfar.

— Nem pensar, o senhor hoje não teve piedade com seu


treinamento louco, tio Zuco! — Reclama Sam sem deixar de mostrar
sua ira.

— Achou que peguei muito pesado hoje, meu anjo? — Tio


Enzo pergunta em dúvida.

— Você poderia ter pegado mais leve, amor! — Tio Andrea


fala calmamente e tio Enzo solta um pigarro na garganta.

— Nada de pegar leve, nossos inimigos não vão pegar leve! E


não podemos deixar ninguém vivo no processo. — Tio Lucca diz de
modo sorridente e eu nego com a cabeça sorrindo.

— Sádico louco! — Mamma, tio Enzo e Tio Lippo falam em


uníssono.

Enquanto meus tios e minha mamma brigam entre eles,


detectei novos movimentos. Viro a cabeça para poder averiguar
melhor quem estava chegando a essa hora da manhã, quando
consegui me situar corretamente abro um largo sorriso. Porque faz
bastante tempo que não sei sobre essa pessoa, e ela é do tipo que
expande o ambiente de um modo que só ele é capaz.

— Ainda bem que conseguimos chegar antes do café da


manhã, não é Lila? — fala e logo para quando chega na sala de
estar. — Sentiram minha falta, família linda?

A pessoa que acabou de chegar não é ninguém menos que


Roberto Nardelli, mas conhecido respeitosamente por nós mais
novos como o tio Beto, ou Betito para os mais íntimos. Uma figura
única, mas que é muito querida por todos nós.

Tenho a sensação que esse café da manhã em família vai ser


muito mais divertido do que imaginei.
CAPÍTULO 9

— Papai, o senhor está me matando de vergonha! — Marília


murmura, mas consigo ouvir facilmente.

— Que vergonha o que? Por que vergonha se estamos todos


em família? — Tio Beto contesta em confusão.

— Não existe família aqui para você, Roberto! — Tio Filippo


diz seriamente fazendo o tio Beto arfar.

— Olha isso que blasfêmia, Lutito! — Tio Beto diz


inconformado.

— Ursão, não diga isso, Beto é nosso amigo! — Tio Luti


repreende o marido, mas meu tio não diz nada.

— Tios, tias, avós, bom dia! — Lila saúda recebendo


saudações calorosas em seguida da família.

— Não ligue para seu tio, querida! — Tio Andrea fala


calmamente e Lila solta um suspiro alto.
— Não levei para o pessoal, tio! — declara cansada. — Tio
Filippo e meu pai se entendem, não é tio Lippo? — Lila indaga com
um ar sorridente.

— É claro, piccolina! — Tio Lippo responde com seriedade e


em poucos instantes ouço um bater de punhos juntos. — Vá se
divertir com Isabel, porque você é da família, seu pai que não. — Tio
Lippo afirma, e eu prendo a risada, assim como todos da família.

— Como assim? — Tio Beto exclama com indignação.

— Juro que tentei parar o papai, mas ele é incontrolável.


Sabe como é né, tio? — Marília diz isso em voz baixa para que só tio
Filippo ouça.

— Hum… sei! — Tio Lippo responde e eu nego com a cabeça


rindo desse diálogo.

— O que vocês dois andam cochichando? — Tio Beto


perguntou, mas tio Lippo bufa.

— Não se importe, Beto, o Ursão de Luti é assim, mas no


fundo, bem lá no fundo, ele gosta de você. — Tio Lucca diz tentando
consolar Beto.

— Oh sim, eu sei! Ele é todo indiferente, mas seu amor por


mim é presente. Sou praticamente um irmão de vocês, não é Lunita?
— Tio Beto direciona para minha mãe que ri.

— Tem como negar isso? — Mamma questiona com ar de


riso.

— Claro que não! — Tio Beto diz incisivo.

— Lila, vamos! — Bel chama por sua amiga.

— Sim, por favor, vamos sair! — Lila pede cansada e minha


prima ri.
Imediatamente ouço os passos das duas se afastando da sala
de estar, deixando os adultos discutindo o lugar de tio Beto nessa
família. Ainda fico impressionado como todas as vezes que tio Beto
está presente, ele faz de tudo para que tio Lippo deixe claro e
abertamente o seu lugar nessa família. No entanto, isso não é
necessário, pois qualquer pessoa pode ver o quão significativa é a
presença dos Nardelli em torno de nós. Mesmo que a relação deles
seja composta por uma incessante briga de gato e rato. Como por
exemplo a relação entre tio Beto e tio Lippo, apesar de parecer que
meu tio Filippo está sempre pronto para expulsar o tio Beto na
primeira oportunidade que o vê. É nítido que eles tem uma boa
relação, já que tirando o nosso núcleo familiar, não existe mais
ninguém capaz de arrancar mais do que três palavras da boca de
meu tio, assim como Beto consegue fazer. Ainda não consigo
compreender essa amizade dos dois, mas lá no fundo existe uma e é
de extrema confiança.

Continuando a exemplificar a amizade entre os membros da


família Aandreozzi e Nardelli, vem a camaradagem de tio Enzo com
Tio Augusto. Ninguém sabe realmente como essa amizade começou,
mas eles se dão bem, apesar das sempre provocações que os dois
fazem um com o outro. E apesar de todas as diferenças, um sempre
pode contar com o outro em caso de necessidade, o que acho muito
bacana neles. Já a amizade entre Viktor e Arthur é o que mais
surpreendeu a todos nós das duas famílias. Por que nenhum dos
dois são homens de muitas palavras, ou de demonstrar muita
simpatia, mas se comunicam de um modo que dá muito certo. Às
vezes tenho a impressão que o passado turbulento dos dois, e a
mesma faixa etária foi um fator decisivo na formação dessa amizade.

Seja como for, os Nardelli têm um papel nessa família, eles


têm uma grande importância para todos nós e vamos continuar
estreitando esse laço estranho, que dá muito certo, por muito
tempo.
— E você, Justito, está bem? — Tio Beto fala repentinamente
comigo, me tirando dos devaneios.

— Estou bem, tio Beto, obrigado pela sua preocupação. —


Respondo com um sorriso tranquilo.

— Fico contente em saber disso, suas mães devem ter ficado


muito nervosas, mas que bom que tudo foi resolvido. — Tio Beto diz
e sinto os toques de minhas mães em mim.

— Nem fale, Beto, foi assustador! — Mommy diz e ouça o


suspiro vindo do Beto.

— Imagino, quando Arthur se machuca em uma das missões,


e quando Lila ou Gustavo adoecem é um sufoco para mim e para
meu Panda. — Tio Beto diz com pesar.

— Falando nisso, como está o pequeno Gabriel? — Tio Andrea


pergunta e faz tio Beto exclamar feliz.

— Crescendo a cada dia que passa como uma erva daninha,


acredita? — Tio Beto fala alegremente deixando claro o amor que
tem pelo neto.

— Quem imaginaria que meu amigo já seria avô! — Tio Luti


diz suspirando alto.

— Nem eu acredito as vezes, mas não troco essa vida por


nada! — Tio Beto fala exalando o cheiro doce da felicidade. — Duda
e Pê podem dar uns netinhos a vocês para você e o Filippitito
saberem como é imensurável esse amor. — Provoca ele
descaradamente.

— Nem pensar! — Tio Luti e o marido exclamam juntos


rapidamente.

— Ainda sou novo para ser avó, estão ouvindo crianças? —


Tio Luti pergunta em alto e bom som. Mas meus primos evitaram
fazer qualquer som, o que é inteligente da parte deles.

— Stronzo! — Tio Filippo fala para tio Beto de modo gélido.

—O que isso tem a ver, irmão mais velho? — Tio Lucca


pergunta maliciosamente.

— Não foi você que roubou um berço e foi o primeiro de nós


a ter filhos? — Tio Zuco provoca o irmão em conluio com tio Lucca.

— Bom ponto, irmãos! — Mamma diz como se analisasse


algo.

— Sorella, não esqueça que de nossas crianças a única que


está em relacionamento é o Jus! — Aponta tio Filippo seriamente.
Imediatamente sinto os olhos de todos me fuzilarem.

Minha nossa, como vim parar nesse assunto sem sentido?

— Nossa, que notícia interessante, Jus está namorando? —


Tio Beto pergunta e nesse momento sou muito feliz por ser cego,
porque o constrangimento é pesado.

— Não é bem assim tio Beto, é que… — Comecei a explicar a


situação, mas a voz irritada de bisnonna Francesca chega aos meus
ouvidos.

Agradeço mentalmente a todos os santos, a Deus e ao


Universo que o foco saiu de mim, porque eu iria morrer de puro
constrangimento.

— Vocês não podem me parar! — Bisa solta inconformada.

— Amore, você não pode mais ficar agitada desse jeito! —


Meu bisavô pede delicadamente.

— Agitada é o cacete, se não for do jeito que quero não vai


ser de jeito nenhum! — Berra irritada.
— Você deve abrir uma concessão dessa vez, querida! — Meu
bisavô Lorenzo diz com pesar.

— Não quero, o aniversário é meu, Lolo! — Minha bisa avó diz


consternada.

— Giuseppe me ajude aqui! — Pede meu bisavô em tom


sofrido.

— Não precisa se preocupar, senhor Lorenzo, esse trabalho os


senhores Aandreozzi já deixaram para mim. — Giuseppe fala
calmante e ouço um soluço irritável vindo de minha bisa.

— Como é que é? Agora virei questão de trabalho nessa


família? — Bisa pergunta com raiva. — Não se esconda, Donatello
Aandreozzi! — Grita bisa Francesca.

— Mamma, eu não estava me escondendo! — Meu nonno


explica tranquilamente.

— Se não é questão de trabalho, quem é a pessoa que mais


foge nessa casa para poder explorar os lugares mais simplórios? —
Giuseppe começa a perguntar a Nonna Francesca, mas ela solta uma
respiração irada.

— Não sei do que você está falando! — Resmunga minha bisa


com desgosto.

— Não sabe? Va bene! Mas quem foi que estava tentando


coagir, senhor Lorenzo, a levá-la escondido com seus bisnetos para
aquela boate suspeita em Napoli? — Giuseppe fala em tamanha
calma que é surpreendente. E nem parece que ele está entregando
os planos de minha bisavó ao seu filho e netos super protetores.

— Nonna! — Minha mãe e tios gritam indignados, porém isso


só a fez ignorá-los.
— Peppe, olha só o que você fez! Agora eles vão ficar em
cima de mim! — Bisa diz com raiva.

— A senhora está correndo da fisioterapia, mas para boate


não existe isso. — Peppe fala deixando minha Bisa furiosa. —
Pronto, a partir do início da semana chamarei a sua fisioterapeuta
para vir novamente iniciar suas sessões. — Conclui ele
simplesmente.

— Seu ditador, seu carrasco! Está vendo só Filippo o tipo de


dementador que você colocou nessa casa? — Minha bisa direciona
sua ira ao meu tio Filippo.

— Ótimo trabalho, Giuseppe! — Meu tio Filippo diz, e ao


mesmo momento ouço um som de satisfação saindo de meu nonno
Donatello.

— Fique tranquilo, é meu dever manter tudo em ordem! —


Peppe diz simplesmente e tenho quase certeza que ele está
encarando minha bisa, pelo som de desgosto que vem dela.

Acho impressionante como Giuseppe consegue lidar com essa


família de modo tão natural. Tenho a ligeira impressão que
deveríamos dar a ele um prêmio de gratificação, por que esse
homem consegue fazer o que ninguém de fora conseguiu esse anos
todos. Por que se tem uma coisa que as pessoas dessa família
Aandreozzi são, é teimosas e desconfiadas ao extremo, sempre foi
impossível alguém conseguir o que Peppe consegue tão facilmente.
Quem nessa vida conseguiria fazer minha bisavó mudar de planos e
voltar a fazer fisioterapia de um jeito tão simples? Ninguém,
ninguém mesmo! A saúde de minha bisa já não é a mesma agora
que ela passou dos 80 anos de vida, e se quisermos que ela fique
conosco por mais tempo, o melhor a fazer é zelar e cuidar do seu
bem estar ao máximo. E Pepe faz isso como ninguém, realmente!

— Beto, amore, que bom que está aqui! — Bisa diz e seus
passos vão em direção a tio Beto. — Leve-me para morar com você
e seu Panda! — Bisa clama de forma dramática.

— Pode deixar, Nonna! Vou te carregar comigo! — Tio Beto


diz rindo maliciosamente.

Uma forte tensão toma o ambiente, e essa tensão foi


direcionada ao Tio Beto. Essa violenta é tão grande que se fosse em
minha direção eu encolheria como uma bola, com certeza. Só que o
tio Beto está relaxado ao ponto de rir e continuar brincando com
minha bisa. No entanto, as ameaças que vem a seguir faz com que
ele mude rapidamente.

— Se não quiser morrer, Beto, é melhor parar com essa


conversa! — Tio Enzo diz com ciúmes.

— Gosto de você, Beto, mas não encoste na minha nonna! —


Tio Lucca avisa de forma carrancuda.

— Essa brincadeira está indo longe demais! — Mamma fala de


modo tranquilo, mas sinto uma pitada de perigo na sua voz.

— Tente a sorte, Roberto! — Meu tio Filippo diz friamente.

— Olha como meus lindos bambini são possessivos com essa


Nonna! — Bisa fala cheia de orgulho.

— É amigo, acho melhor você desistir! — Tio Luti brinca


fazendo Beto suspirar.

— Tentamos na próxima vez, Nonna! — Tio Beto fala fingindo


desânimo.

— Vamos todos, o café da manhã está servido! — Nonna


Arianna fala de repente para a alegria das pessoas que estão cheias
de fome.

— Ah, nonna, a senhora é a melhor! — Samantha aponta


contente.
— Sim, estou morrendo de fome! — Pietro geme com tristeza.

— Não podemos deixar o meu ursinho com fome, não é? —


Duda brinca deixando Pê irritado.

— Pare de me tratar como criança, ursinha! — Pietro diz entre


dentes, fazendo Duda soltar uma risada.

— Deixe de ser um pentelho e venha com sua irmã! — Manda


ela e eu ouço o som de corpos colidindo.

— Não se jogue assim, estou todo dolorido por causa desse


treinamento louco! — Pietro diz e Otto faz um som de concordância.

— Nem fale, parece que vou desmaiar a qualquer momento.


— Otto conta cansado.

— Venha Jus, deixe-me abraçá-lo para guiá-lo até a sala de


estar. — Sam pede e quando vou dizer que não é necessário, noto
um corpo se aproximando de mim.

— Não precisa, eu o acompanho! — A voz rouca de Viktor


chega aos meus ouvidos.

— Mas… — Sam começa, mas Duda a impede.

— Vem comigo também marrentinha, faz tempo que você e


eu não conversamos. — Duda diz fazendo Sam se iluminar.

— Você ainda está me devendo, nem pense que esqueci! —


Sam aponta com firmeza fazendo nossa prima mais velha rir.

— Claro, claro, vou deixar você ficar com aquela jaqueta da


Gucci, promessa é promessa! — Duda confirma fazendo Sam bufar.

Enquanto todos caminhavam em direção a sala de jantar,


Viktor segurou minha mão e a fez descansar no seu antebraço. Meus
dedos coçam para pressionar mais a sua pele rígida, mas me
repreendi mentalmente e evito fazer movimentos desnecessários.
Sinto que meu coração está ficando mais confuso do que antes,
muitas vezes me pego pensando como seriam as coisas se eu
decidisse tomar um rumo diferente do que agora. No entanto, esses
tais pensamentos são dispensados de mim, porque só Deus sabe
como isso seria estranho para mim e para todos à minha volta. Só
que lá no fundo há uma singela onda sonora dizendo que talvez, só
talvez, eu devesse criar o mínimo de coragem.

— Vik, por que você decidiu me ajudar? — Sondo sem


conseguir segurar as palavras.

—Como? — Questiona em confusão parando repentinamente


seus movimentos.

— Você sabe que não preciso de ajuda para andar pela casa,
todo esse lugar é memorizado por mim, certo? — Continuo a induzir,
sentindo seu corpo ficar rígido.

— Hum… — Sua resposta é sucinta.

— Então por que? — Pergunto em dúvida.

— Não foi nada realmente, você acabou de passar por uma


cirurgia delicada. — A voz de Viktor é firme e cheia de intensidade.

— Samantha poderia me ajudar, sabe! — Indico levemente


percebendo o salto das veias grossas no seu braço.

— Justin! — Ele diz meu nome com cautela, mas logo volta a
falar. — Você e Sam vivem brincando por aí, sem nenhum senso de
responsabilidade. Se vocês esquecerem e você se machucasse?
Tenho certeza que minhas tias se preocupariam, certo? — Questiona
e eu desvio a cabeça.

— Entendo! — Respondo tentando soar calmo, escondendo a


decepção que estou sentindo nesse momento.
— Agora por que não vamos nos encontrar com os demais?
— Questiona ele e eu assinto. — Bom! — Responde, só que antes de
dar qualquer passo a frente eu o seguro com força. — O que foi?
Quer falar algo? — Indaga.

— Sabe, Vik… — Tento começar a falar, mas mordo meus


lábios inferiores. Tenho a impressão de ter ouvido um leve
xingamento em russo, só que não consigo mais continuar a falar,
porque meus pensamentos simplesmente se silenciam.

— O que houve, Justin? — Pergunta com a voz arrastada.

— Nada, não é nada! — Falo rápido voltando a me recompor.


— Vamos! — Peço e ele faz um som de confirmação com a garganta.

O que diabos há de errado comigo? Começo a me questionar


incessantemente enquanto Viktor me guia em direção a sala de
jantar. O aperto no meu peito se tornou muito pesado, pois nem
mesmo sei por que o parei ou por qual motivo ansiava por sentir
qualquer indício que diferencie os seus atos comigo. Não quero criar
uma situação de desconforto para nós, só que sinto lá no fundo do
meu ser que gosto muito mais de Viktor do que quero admitir. E
esse sentimento vai além de nossa relação de primos, porém o meu
medo de errar é muito maior do que a minha vontade. Necessito
reorganizar os meus limites, devo começar a entender a real de toda
essa coisa, só que não vou conseguir fazer isso sozinho.

Tenho a sensação que precisarei de ajuda, mas a quem será


que devo confidenciar toda essa minha agonia?

Balanço a cabeça com a intenção de dispersar esses


pensamentos conflitantes. Aproveito as vozes alegres da minha
família unida para deixar esse assunto de escanteio por um tempo.
Sento no lugar à mesa que Viktor indicou, que fica entre minha mãe
Luna e Hope, agradeço a ele pelo cuidado e volto minha atenção
para a conversa que se segue animada. O desjejum da família
reunida é sempre um gole de ar fresco para poder se desligar de
qualquer perturbação interna, então foco exclusivamente nisso.

No término do café da manhã, tio Beto resolve ir embora, por


que ele tem uma reunião para participar, mas Marília continua aqui
para fazer companhia a Isabel. Minhas primas mais velhas decidem
ir as comprar com Mommy, tio Andrea e tio Luti, enquanto tio
Filippo, tio Enzo e Viktor se trancam no escritório com nonno
Donatello para conversarem. Tio Lucca assumiu a liderança em
cuidar de Ella, enquanto vigia a segurança de Hope e os gêmeos que
decidiram brincar livremente ao redor do lago. Otto foi trabalhar em
seus estudos, como sempre adora fazer. Meu bisavós aproveitaram
para poder descansar um pouco após o café cheio dessa manhã,
minha nonna foi orientar Giuseppe sobre os afazeres diários. E eu?
Bem, decidi ficar no jardim, recebendo a brisa fria de Milão na
companhia de Tom, à medida que leio um livro tranquilo. Porém,
minha concentração está em qualquer coisa, menos no livro em
minhas mãos.

— O que está fazendo aqui ao invés de ir ao seu quarto


descansar um pouco, bambino? — A voz adorável e curiosa de
nonna Arianna chega aos meus ouvidos.

— Nonna! — Reconheço sorrindo, fechando o livro para


descansar nas minhas pernas cobertas por uma manta fofa. — Só
estou tentando passar o tempo! — Digo levemente com um sorriso.

— Posso me acomodar ao seu lado? — Pergunta ela e eu


concordo rapidamente.

— Claro vovó! — Digo com pressa, e indicando o lugar para


que ela se acomode.

— Nossa, deixaram meu garoto aqui solitário! — Nonna diz


me fazendo negar com a cabeça.
— Longe disso, todos estão tão preocupados com minha
saúde que é bom vê-los espairecer um pouco. — Explico e ela solta
um suspiro alto.

— Não se sinta mal com a nossa preocupação, querido, isso é


porque te amamos! — Nonna Arianna diz aquecendo meu peito.

— Sou muito grato por isso, amo vocês demais também! —


Declaro abrindo um largo sorriso.

— Oh Justin! — Nonna Arianna diz tocando minha cabeça


com carinho. — Essa sua nonna aqui pode te fazer uma pergunta,
querido? — Minha avó fala repentinamente.

— Claro, pode ficar à vontade, vovó! — Respondo após a


surpresa.

— Você sabe como a minha história com seu avô começou?


— Pergunta ela e eu concordo levemente.

— Sei sim, a história de vocês, assim como a história de amor


de todos os casais dessa família são inspiradoras demais. — Falo
sorrindo levemente.

— Oh querido, não é bem assim, todos nós tivemos altos e


baixos, e comigo e seu avô não foi diferente. Nós só mostramos aos
nossos pequenos as melhores partes. — Minha avó diz sorrindo,
dando tapinhas acalentadores na minha mão.

— Entendo, nonna! — Respondo de forma pensativa.

— Vou te perguntar algo, mas prometa ser sincero com sua


avó aqui, tudo bem? — Pede ela e eu confirmo com a cabeça sem
pestanejar. — Você não está plenamente apaixonado pela garotinha
com quem está namorando, certo? — Pergunta nonna, me deixando
rígido por um instante, só que meu corpo logo cede desanimado.
— A senhora está certa, nonna! — Respondo baixinho e ela
respira fundo.

— Entendo, e saiba que não estou aqui para te julgar, porque


você ainda é jovem e precisa conhecer o mundo do seu jeito,
bambino mio! — Fala e eu concordo levemente.

— Só não quero parecer que estou enganando a Nora! —


Digo e ela aperta minha mão.

— Então seja sincero consigo mesmo, com seus próprios


sentimentos, e com ela. A sinceridade é a chave para muitas portas,
querido. — Nonna diz amorosamente e eu concordo.

— Nonna, é que tem algo que… — Tento falar, mas termino


pressionando os meus lábios juntos com força.

— Você pode me dizer o que quiser, Jus. — Nonna Arianna


indica e eu respiro fundo.

— Então… — Mexo meus dedos juntos me sentindo meio sem


jeito agora. — Tenho sentimentos muito fortes e conflitantes dentro
do meu coração, mas tenho medo de que meus sentimentos possam
magoar algumas pessoas ou que não seja recíproco. — Derramo
livremente o peso no meu coração para minha nonna, peso esse que
a muito anda me assombrando.

— Oh mio bambino! — Nonna Arianna diz com um ar risonho.


— Ter medo é muito natural, a única coisa que você não pode deixar
é esse medo tomar conta de você, e sabe por que? — Questiona
amorosamente.

— Não, não sei! — Respondo tentando forçar um tom de voz


calmo.

— O amor é a coisa mais bela neste mundo, mas é feito


exclusivamente para pessoas corajosas. — As palavras de minha
nonna me fazem parar. — Nessa família não existem covardes,
porque nós sabemos lutar como ninguém. Estou certa? — questiona,
e eu concordo debilmente."

— Sim, nonna, é verdade! — Respondo em forma de


sussurro.

— Lembre-se, meu neto, o seu amor é só seu! Você deve


sempre tomar o primeiro passo, se quiser! — Nonna diz alegremente
deixando um beijo na minha testa. — Caspita, olha só o horário!
Tenho que ir querido! — Diz nonna Arianna saindo do lugar me
deixando parado com os pensamentos em pleno vapor.

Deus, que tipo de conversa foi essa que acabou de


acontecer?

Mesmo não conseguindo compreender direito, tenho um


sentimento profundo no meu peito que encontrei a resposta para
toda a confusão que estava me assombrando. É isso, acho que
finalmente encontrei uma resposta, porque o meu amor deve ser
meu!

E ele será, basta ter coragem!


CAPÍTULO 10

Estou ficando sem tempo a cada hora que passa, fazem


quase dois dias que estou na mansão dos meus avós. E descobri
através do meu pessoal que a vigilância das outras famílias está
mais acirrada do que pensávamos. Essas pessoas não podem saber
que saí de Nova York para vir à Itália, por isso mantenho a minha
localização em sigilo para todos. No entanto, estou ficando sem
tempo para conseguir mantê-los afastados. O pessoal dos Yegorov
são como cães farejadores prontos para tentar foder comigo na
primeira oportunidade. Diferente dos Yegorov, a família Egorov
mantém sua palavra em não atrapalhar o meu comando, facilitando
assim a minha liderança nos negócios. Porém, não me engano ao
pensar que suas lealdades estão comigo, porque sei que eles
estariam sempre a favor das ordens de Aleksander. E de qualquer
forma os mantenho em vigilância. Por que qualquer sinal de traição
eles serão descartados no primeiro instante, sem me importar com a
opinião do velho ridículo.
Se os Konstantinov fizeram questão de me trazer contra
minha vontade para máfia, eles terão que suportar o que quer que
eu jogue em seus colos. Mesmo que tenha que destruir as pessoas
que estão ao seu lado. Minha vida mudou drasticamente por causa
desses fodidos, nada mais justo do que fodê-los se eles tentaram
bagunçar as coisas para mim, certo? Mas para que eu possa lidar
com qualquer inimigo que bater na minha porta não devo dar
munição para eles. Esse é um dos motivos que me afastei da minha
família, mesmo sabendo que eles são poderosos ao ponto de
saberem se cuidar caso seja necessário. Só que mesmo sabendo
disso, sinto que não poderia viver comigo mesmo se algo lhes afligir
por minha causa. Tenho absoluta certeza que fraquejarei e não
poderei ser o homem que preciso ser se as coisas chegassem a esse
ponto.

Devo manter minha mente equilibrada, a minha frieza sempre


em prontidão e minha sede de sangue no auge, para poder fazer o
que for necessário. Por que um momento de fraqueza minha pode
levar a situações irreversíveis. E essa foi uma das coisas que deixei
bem claro aos meus tios e pai ontem, eu os alertei que a Bratva não
está de brincadeira, para que assim eles possam estar sempre em
alerta. Tenho absoluta certeza que eles estão cientes desse fato, e é
por isso suas preocupações com a minha segurança. Mas deixei
claro que estou bem, e que aos poucos terei mais poder em minha
mão, por que só assim os manterei longe de toda essa bagunça
sangrenta. Óbvio que essa parte não revelei abertamente a eles,
mas sinto que lá no fundo eles sabem bem o significado de minhas
palavras.

— Vik! — A voz de Pietro chama minha atenção, fazendo


assim meus pensamentos se dispersarem.

— O que houve? — Indago seriamente e ele me encara com o


cenho franzido.

— Aconteceu alguma coisa que nós não estamos sabendo? —


Pietro pergunta e é a minha vez de franzir o cenho.
— Não aconteceu nada, por que? — Questiono um pouco
perdido.

— Não sei, é isso que estou perguntando, você e Justin estão


muito quietos. — Pietro aponta em direção a Justin que pisca e
balança a cabeça perdido como se estivesse acordando de
pensamentos também.

— Nossa, eu estava só aqui pensativo! — Justin diz com a voz


sem jeito. Estranho!

— Houve alguma coisa? Você está sentindo algum


desconforto? — Pergunto sem esconder minha preocupação.

— Nada aconteceu, estou bem realmente. — Diz ele com tom


baixo e estranho ainda mais.

— Agora que observei, Jus está bem pensativo hoje mesmo!


— Sam diz como se analisasse algo.

— Hum… é verdade! — Eduarda concorda e me olha de canto


de olho.

— Tem alguma coisa que te deixou pensativo assim, Abóbora?


— Sam pergunta e eu observo ele dar um sorriso.

No entanto, ao olhar com mais detalhe, dá para ver que esse


não é o seu sorriso brilhante de sempre. Está mais para um sorriso
tenso, como se algo estivesse castigando sua cabeça de algum jeito.
Não gosto de vê-lo dessa forma, me faz lembrar de quando ele
acordava a noite com pesadelos, no passado, e essa não é uma
sensação bem-vinda. Odeio saber que existe alguma coisa ou
alguém que possa deixar Justin incomodado dessa forma. Fico me
perguntando se há algo acontecendo na sua vida que não sei,
tirando o fato dele ter uma… er… namorada. Merda, até mesmo
pensar nisso me deixa furioso de algum modo, só que devo me
acostumar. Talvez Justin esteja apaixonado pela garota, e mesmo
que eu odeie admitir, parecia ser uma menina gentil. Chega disso,
não quero pensar nessa merda agora!

— Tem alguma coisa te afligindo, Justin? — Pergunto


tentando esconder minha ira.

— Bem… — ele para e gira na minha direção.

Não sei por que, mas sinto como se Justin estivesse olhando
diretamente para mim agora. Louco, não é? Entretanto, mesmo que
ele não possa ver com a visão externa, mas sim uma visão interna,
isso é absurdamente intenso. Me sinto estranho por algum motivo,
pois é como se algo estivesse sendo revelado. Não sei, pode ser só
coisa da minha mente transtornada.

— Pode se abrir com a gente se quiser, irmão! — Otto o


conduz levemente e eu respiro profundamente.

— É sobre sua namorada? — Eduarda diz repentinamente


deixando os outros se olharem.

— Não, só estou um pouco pensativo mesmo! — Fala ele,


mas eu não consegui acreditar nas suas palavras.

— Entendo! — Digo simplesmente beirando a indiferença,


mas internamente eu estou me sentindo diferente.

— Sabe que qualquer coisa pode contar com a gente, certo?


E se essa menina estiver exigindo demais de você é só deixar mais
claro do que você já deixou, tudo bem? — Eduarda aconselha Justin
que concorda com a cabeça.

— Sei disso, irmã! — Concorda ele com um sorriso lindo, que


faz meu peito se encher de afeto por ele.

Esse é o meu Justin, esse é o sorriso sincero que adoro


admirar.
— Ah, deixe-me lembrá-lo também para não magoar a pobre
menina se vocês dois não estiverem na mesma sintonia, entende? —
Duda diz e ele concorda com a cabeça.

— Compreendo totalmente! — Relata ele deixando todos


respirarem aliviados.

— Você é um bom menino, Jus! — Duda diz bagunçando


seus cabelos loiros.

— Sim, por Deus, minha abóbora é a mais doce! — Sam diz


batendo palmas.

— Se eu não estivesse de óculos escuros, revirava os olhos


para você, Sam. — Justin diz fazendo Samantha arfar em ofensa.

— Olha só isso, quem te ensinou a revirar os olhos fui eu, sua


abóbora ingrata! — aponta Sam em injustiça.

— Claro, claro, você está sempre certa! — Justin diz sorrindo,


ignorando os dramas de Samantha.

— Olha isso, Vik! Me defenda, por favor! — Sam diz deitando


sua cabeça no meu colo.

— Levante do meu colo, Sam! — Mando, mas ela agarra as


minhas pernas com mais força.

— Nada disso, estou me sentindo abandonada por você, pois


você prefere Duda a mim! — Reclama ela e eu franzo o cenho.

— Idiot, isso nunca existiu! — Digo a Samantha, mas ela me


ignora. — Vamos lá, Sam! — Peço alisando seus cabelos cacheados
enormes e cheios.

— Olha só o que um drama não faz, até mesmo carinho


recebi! — Sam diz levantando do meu colo em um pulo, para sorrir
largamente para mim.
— Milagres existem! — Pietro exclama e Sam lhe mostra o
polegar para cima.

— Vocês se humilham pelo mínimo! — Otto diz com pesar e


Duda estala a língua.

— Ao invés de um idiota, temos dois agora! — Duda brinca os


fazendo parar de festa.

— Pegou pesado agora, ursinha! — Pietro diz com uma


carranca.

— Nós ajude aqui, Jus! — Pede Sam me fazendo olhar na


direção de Justin, mas o que vejo me pega um pouco de surpresa.

— Fiquem aí se divertindo, estou um pouco cansado! Vou ao


meu quarto descansar! — Declara ele com um sorriso sem jeito,
levantando da poltrona que estava sentado. — Vamos, Tom! —
Chama seu cão guia que se posiciona ao seu lado.

Observo Justin se afastando notando que realmente não foi


coisa da minha cabeça, mas sim que ele está um pouco estranho.
Meu instinto grita para ir atrás dele para saber o que exatamente
passa naquela cabecinha, mas me contenho. Ele deve estar
precisando de um tempo para se reorganizar mentalmente, tenho
certeza que quando necessitar desabafar com algum de nossos
primos ele o fará.É assim que o Justin age: ele fica um pouco
introspectivo quando algo o incomoda, mas logo procura uma
alternativa. Ele sempre foi desse jeito, e é uma das coisas que mais
o admirei. Mesmo que a vontade de ir até ele seja grande, sei que
não devo fazer isso. Por que não sei se posso me controlar ao ponto
de não dizer coisas desnecessárias e me comprometer além dos
limites permitidos.

Não sei se conseguirei manter o controle tempo o suficiente,


porque o desejo que sinto por Justin cresce a cada dia que passa. E
seria loucura de minha parte mandar tudo ir a merda e beijar aquela
boca que tanto sonho em provar. Acordo de minha loucura quando
noto a presença de Dominick, ele faz um sinal de que precisa falar
comigo e eu aceno de volta.

— Vou sair um pouco! — Anúncio chamando a atenção dos


meus primos e irmão.

— O que… Ah! — Otto começa a perguntar, mas ao ver


Dominick ele para em reconhecimento.

— Será que teve algo que Dominick veio te procurar? — Duda


pergunta, mas eu nego.

— Não é nada, fiquem tranquilos! — Tranquilizo a todos que


me olham em alerta. — Volto já! — Digo seriamente.

— Hum, certo! — Sam diz em reconhecimento.

Aceno um adeus aos presentes e caminho até onde Dominick


se encontra. Saio do lugar onde estou, no intuito de achar um local
mais quieto para podermos falar livremente. Quando estamos
sozinhos encaro Dominick, observando seus olhos azuis sérios, e
postura firme e profissional.

— Desculpa atrapalhá-lo, senhor! — Dominick começa, mas


eu aceno com desdém.

— Só diga o que quer dizer! — Mando friamente e ele


assente.

— Recebi informações dos homens em Nova York! — Fala


simplesmente e eu entendi o que ele quer dizer.

— Os Yegorov estão causando problemas novamente? —


Questiono em tom gélido.

— Correto, senhor! Viram movimentos dos homens de Yuri


em um dos seus negócios. — Dominick diz e eu cerro os punhos
com força.

— Onde? — Indago perigosamente.

— Na Paradise, senhor! — Dominick diz me fazendo sorrir


friamente.

— Suka! (Cadelas!) — Praguejo entredentes dando um tapa


na minha coxa.

— Qual seu comando, senhor? — Indaga e eu olho para ele.

— Deixe o jatinho pronto, vamos embora assim que estiver


finalizado. — Oriento e Dominick me encara.

— O que falará a família Aandreozzi? — Pergunta Dominick


me fazendo desviar o olhar para longe.

— A verdade, fiz uma promessa que devo cumprir! — Falo de


forma clara e direta.

— Certo senhor, vou fazer minha tarefa! — Dominick diz antes


de virar e sair logo em seguida.

Foda-se!

Praguejei mentalmente quando imagino o quão decepcionada


minha família ficará ao me ver sair novamente. No entanto, isso não
é algo que está sob o meu controle, eu sabia que eles estavam se
aproximando, agora é meu dever controlar essa situação
insuportável. A Paradise é um bar e restaurante de luxo onde os
Konstantinov lavam seus investimentos na América, e esse é um dos
lugares que Aleksandr deixou ao meu total controle. Ele me deu
plena liberdade para manter os negócios do jeito que eu quiser, pois
esse era um dos locais onde Vasily estava coordenado
anteriormente. E para ter o controle sobre os movimentos da família
Yegorov, Aleksander decidiu deixar esse exclusivo lugar e alguns
outros lugares sob minha responsabilidade, no mesmo momento que
passei nos testes.

Obviamente isso deixou Vasily e seu pai muito chateados com


essa decisão, mas não me importo com seu ataque de pelancas,
muito mesmo Aleksandr. Que almeja futucar ainda mais para ver até
onde tudo isso vai chegar. Ainda conseguirei alcançar meus
objetivos, e um deles é a destruição completa da família Yegorov,
pois sei muito bem as coisas que eles fizeram com o meu pai Andrea
a mando de Maxim. A dívida desses cães sou eu mesmo quem irá
liquidá-la, pode apostar nisso! Deixando esses pensamentos
obscuros de lado eu vou à procura dos mais velhos da minha família.
Fico aliviado quando encontro todos juntos em uma das salas da
mansão.

— Filho, estava à nossa procura? — Otets pergunta


tranquilamente assim que me vê parado.

— Sinto muito interromper a conversa de vocês! — me


desculpo e meu nonno faz um gesto de desdém com a mão.

— Você não está interrompendo nada, querido, só estávamos


terminando os últimos ajustes da festa da sua bisnonna. — Minha
avó Arianna diz e eu dou um curto sorriso em reconhecimento.

— Contra minha vontade, por mim estaríamos nos divertindo


em Napoli. — Babushka diz irritada.

— Mamma, já falamos sobre isso! — Meu avô Donatello fala


cansado e minha vó lhe mostra a língua.

— Que seja seu controlador de velhas indefesas! — Bisa


Francesca diz com um longo suspiro, fazendo meus tios e pais
negarem com a cabeça.

— Sim, Viktor, diga-me o que precisa! — Meu avô diz e eu


respiro fundo.
— Eu vim me despedir de vocês! — Aviso seriamente e vejo
todos com uma expressão de surpresa no rosto.

— Não, mas já? — Meu pai Andrea indaga alto.

— Anjo! — Meu pai Enzo chama, mas ele o ignora.

— Synok, pochemu imenno seychas? Pochemu vdrug? (Filho,


por que agora? Por que de repente?) — Meu pai Andrea questiona
com tristeza, vindo até mim.

— Papa, ya vernus'! (Papai, eu volto!) — Prometo com um


tom de voz mais baixo, passando meus braços à sua volta.

— É claro que você vai voltar, mas achei que teríamos mais
tempo! — Diz ele com muita tristeza.

—O aniversário de Bisa está vindo, e eu retornarei! —


Comunico olhando para todos na sala.

— Ai de você que não venha, garoto! Eu te deserdo, está


ouvindo bem? — Nonna Francesca diz irritada, mas sei que está
escondendo seus sentimentos desse jeito.

— Konechno, babushka! (Claro, vovó!) — Respondi


prontamente e ela concordou com a cabeça, desviando o olhar e
sendo abraçada por nonno Lorenzo.

— Se é isso que precisa, vá, mas saiba que essa família


estará por você no primeiro sinal de problema. Ouviu bem? —
Nonno Donatello diz e eu assinto com firmeza.

— Lembre-se de minhas palavras anteriores, ragazzo! — Tio


Filippo lembra de modo impassível. Tio Luti olha para mim e
concorda sorrindo com tristeza.

— Não esquecerei, tio! — Afirmo com muita certeza.


— Vamos estar aqui, nipote (sobrinho)! — Tio Lucca diz
dando uma piscadela.

— Sempre atenda nossas ligações, Vik! — Tia Luna diz


olhando para mim, enquanto abraça tia Laila que está com Ella
adormecida em seus braços. Sei que ela está se controlando para
não dizer muita coisa, eu a conheço muito bem.

— Pode deixar, tia! — Respondo prontamente a deixando


aliviada.

— Vik, meu filho! — Meu pai fala vindo até mim e meu pai
Andrea. — Sentimos muito sua partida repentina por que te amamos
e sentimos sua falta todos os dias. — Otets diz e eu abaixei a
cabeça.

— Eu sei disso! — Digo sem conseguir dizer que sinto a falta


deles tanto quanto.

— Nos preocupamos todos os dias, mas sabemos que você irá


nos contactar no primeiro sinal de dificuldade, certo? — Sonda e eu
dou um sorriso curto. — Te amo, meu filho! — Otets diz e meu
coração se aperta, e meus olhos ardem, mas evito me emocionar.

— Também amo todos vocês! — Respondo olhando de meus


pais, para todas as pessoas presentes. — Vou agora! — Aviso e com
isso deixo meu pai Andrea choroso no braço do meu Otets.

Saio rapidamente antes que a emoção tome conta de mim de


um modo que não consiga ir embora daqui. Penso em subir para
poder arrumar minhas coisas, mas sou barrado no mesmo momento.

— Você estava saindo sem se despedir de nós! — Samantha


aponta com raiva e eu solto um suspiro.

— Não acredito que você faria isso de novo! — Pietro diz sem
esconder sua chateação.
— Meu irmão não faria isso, certo? — Otto perguntou em
dúvida.

— Ele faria sim, você bem sabe que ele odeia despedida! —
Duda diz estalando a língua com os braços cruzados.

— Eu não sairia sem falar com vocês! — Reclamo seriamente.

— E as crianças? — Otto pergunta e eu desvio o olhar.

— Elas ficarão tristes, não as deixem me ver sair! — Peço


porque sei como vai ser complicado, principalmente para Hope e os
meus irmãos caçulas.

— Te cobrimos, mas você não terá a mesma sorte na próxima


vez! — Samantha diz irritada e eu dou um sorriso curto.

— Venham aqui! — Chamo a todos abrindo meus braços.


Imediatamente os quatros vem ao meu encontro, e os abraço com
força. — Cuidem da família, enquanto eu estiver ocupado! — Peço
baixinho e eles concordam um a um.

— Faremos isso! — respondem em uníssono, me deixando


aliviado.

Me afasto dos meus primos aos poucos, dou mais um sorriso


para eles me virando para poder chegar ao meu quarto
rapidamente, mas antes de conseguir subir as escadas ouço Eduarda
atrás de mim dizer para não esquecer de me despedir de Justin.
Ouvir o que ela disse me fez parar e começo a pensar na hipótese
de sair sem que ele saiba. No entanto meus planos são frustrados
assim que passo pela porta do meu quarto, isso por que aqui está
Justin, sentado lindamente na minha cama, com suas delicadas
mãos descansando ao lado do seu corpo.

— Por que sinto que você ia embora sem falar comigo? —


Pergunta levemente virando sua cabeça, esse movimento me mostra
que ele está chateado. Por que sei disso? Não tenho uma resposta
clara, eu só sei!

— Hum… Justin! — pronuncio seu nome desviando meu olhar


dele.

— Será que foi impressão minha? — Indaga ele erguendo a


cabeça na minha direção.

— Você sabe que estou saindo. — Digo sem saber se estou


dizendo isso a ele ou a mim mesmo.

— Eu sempre ouço tudo! — Responde ele apontando para seu


ouvido com o dedo indicador.

— Eu sei. — Digo tranquilamente o observando levantar e vir


até onde estou.

— Tem mesmo que sair desse jeito? — Pergunta baixinho, se


aproximando a cada passo. — O que digo a minha irmãzinha? —
Indaga de um modo que não sei como responder.

— Pedi aos nossos primos para ajudá-los. — Conto alisando


as palmas das minhas mãos na minha calça jeans.

— Certo! — responde simplesmente e ergue a mão para tocar


meu peitoral. Merda! — Vik, você tem que ir mesmo? — Pergunta
com tristeza.

Sinto os músculos do meu peitoral se contraírem de forma


involuntária, aperto meus punhos com força ao ponto de sentir dor,
para me impedir de fazer algo que possa me arrepender depois.
Com essa realidade me golpeando mais uma vez, dou um passo
para trás para dar um distância entre nós dois.

— Sim, Jus, eu devo ir! — Respondo após soltar um pigarro


da minha garganta.
— Tudo bem, entendo! — Diz simplesmente alisando as
pontas dos seus dedos com o polegar. — Me dê um abraço! — Pede
ele erguendo os braços.

— O que? — Engasgo com o ar ao vê-lo me fazer esse


pedido.

— Vamos, Vik! Me deixe te abraçar! — Justin pede


novamente, fazendo meu coração bater furioso dentro do peito. —
Você abraçou os outros, sei disso, eu os ouvi! — Justin diz
inconformado, e assim começa a lutar internamente.

— Tudo bem! — Concluo após perceber que eu estava tendo


uma reação grande demais para um simples abraço entre primos.

Volto a me aproximar de Justin, passando meus braços ao


redor do seu corpo. O cheiro dos seus cabelos é algo tão agradável
que me faz desejar prendê-lo aqui para sempre. Noto que os braços
de Justin se apertam com mais firmeza ao redor da minha cintura e
seu rosto fica pressionando no meu peito, enquanto ele puxa uma
longa respiração. Como se desejasse gravar o meu cheiro, mas isso
só pode ser coisa da minha cabeça tola e apaixonada.

— Tenha cuidado, por favor, Vik! Você sempre deve voltar


inteiro, você sempre deve se manter seguro. — Diz ele com emoção
me pegando desprevenido. — É sua obrigação voltar para nós! —
Pede ele de um modo que faz meu coração voltar a bater
violentamente.

— Você também precisa se cuidar! — Peço levemente sem


nem saber o que falar, para não acabar confessando que sou louco
de amor por ele.

— Vik, eu… — Começa Justin, mas ele para como se


pensasse em algo. — Não é nada, só mantenha em mente o que
pedi, tudo bem? — Justin diz e eu engulo em seco.

— Certo! — Respondo o vendo se afastar.


Antes que eu pudesse mover meu corpo sinto o seu corpo se
chocar com o meu novamente. Me pegando totalmente de surpresa,
mas as palavras que vem a seguir me deixam ainda mais surpreso.

— Espere um pouco mais, só um pouco mais! — Sussurra ele


apertando seus braços ao redor do meu pescoço.

— O que? — Pergunto confuso, tentando entender se


compreendi direito suas palavras.

Mas antes que eu pudesse realmente compreender o que


diabos acabei de ouvir, Justin saiu do meu quarto me deixando para
trás em plena confusão.

Merda! O que será que ele quis dizer com aquilo?


CAPÍTULO 11

Não sei quanto tempo fiquei parado no meu quarto tentando


entender o sentido das palavras sussurradas de Justin para mim. Só
que no final não consegui chegar a nenhum denominador comum, e
para falar a verdade nem tive tempo direto para poder decifrar, pois
Dominick apareceu de repente para me trazer de volta para a
realidade. Sendo assim qualquer bagunça interna em mim teve que
ser deixada para escanteio no momento. Mesmo que o peso e a
maciez do seu corpo estejam frescos em minhas lembranças, eu não
poderia mergulhar nisso, porque o peso da responsabilidade sob
meus ombros era grande demais e eu tinha que correr contra o
tempo para poder chegar a Nova York em tempo hábil. Com isso, me
forcei a deixar minha mente em branco, focando em mudar de roupa
e arrumar as poucas coisas que trouxe comigo nessa viagem
repentina.

Após tudo em ordem me apressei a sair com Dominick, mas


assim que estou entrando no carro me deparo com a visão de toda
minha família reunida em frente à mansão dos meus avós. Olhei
para minha família, amolecendo totalmente minha expressão
determinada, pois é impossível manter alguma máscara rígida.
Principalmente quando vejo meu pai Andrea choroso sendo
segurado por meu pai Enzo. Sem falar dos gêmeos, que estão
abraçando a cintura magra de Otto e escondendo os rostos em suas
roupas. Hope é carregada por Eduarda, que lhe fala palavras
reconfortantes após um choro triste ao me ver partir. Samantha
apoia os braços no ombro de Isabel, que com os olhos marejados
acena um adeus breve para mim. E Pietro que se junta aos seus
pais, tios, avós e bisavós com um olhar determinado no rosto. Me
sinto mal por vê-los com essas expressões no rosto, por isso que
odeio despedidas, pois elas sempre me deixam fraquejar um pouco.

Odeio me afastar da minha família desse jeito, só que por


enquanto é necessário. Sei que um dia terei poder o suficiente para
permitir ter acesso a minha vida como antes, mas no momento não
seria muito bom para eles e para mim. Com essa determinação em
mente que entrei no carro sem dar um segundo olhar, só que minha
determinação foi por água abaixo quando notei a aproximação de
Justin. Ele ficou parado ali, ao lado da porta grande de madeira da
mansão, apertando sua bengala com força entre seus dedos. Fiquei
enfeitiçado pela magnificência de sua beleza, sentindo meus dedos
coçarem ao querer tocar sua pele, sobre a curiosidade de poder
afundar meu corpo no seu. Inferno, se eu não parar agora poderia
cometer algum ato irreversível! Por isso decidi desviar meu olhar do
homem que amo e dar o comando para que Dominick seguisse em
frente.

Do percurso da Mansão da minha família até a pista de


decolagem particular, evitei manter meus pensamentos nas pessoas
que deixei para trás. A pessoa que deveria assumir agora não era
Viktor Aandreozzi, filho de uma família italiana amorosa, mas sim,
Viktor Konstantinov. Que mesmo odiando esse sobrenome como se
ferro em brasa atravessasse o meu corpo, sei que naquele ambiente
não posso ser uma pessoa diferente. Por que todo meu afeto é
depositado somente para as pessoas a quem tenho um forte vínculo,
para outros tipos de pessoas eles só receberão de mim a violência,
descaso, frieza e autoridade. Assumir personalidades diferentes faz
com que eu possa lidar com as coisas sem envolver sentimentos, o
que foi muito bom para mim. Por que nesse mundo ou você se torna
um verdadeiro predador, ou será consumido em um estalar de
dedos, não sobrando nada para poder contar história.

— Alguma atualização, Dominick? — Indago friamente.

— Nenhuma atualização desde o momento da decolagem! —


Dominick responde com sua voz profissional.

— Entendo, e os irmãos Griboedov? — Sondo e ele nega com


a cabeça.

— Passaram a informação que ninguém apareceu! —


Dominick diz e eu concordo de modo indiferente.

— Bom! — Respondo de modo simples.

— O senhor tem algo em mente? — Indaga Dominick, sem


esconder totalmente sua curiosidade.

— Não sei ao certo, mas uma coisa eu sei. — Falo


continuando a olhar pela pequena janela do jatinho.

— O que seria, senhor? — Questiona, me fazendo olhar na


sua direção.

— O que mais seria além deles tentarem foder meus


negócios? — Pergunto de volta arqueando uma das minhas
sobrancelhas.

— O senhor acha que eles descobriram sobre o ouro


armazenado nos cofres da Paradise? — Dominick pergunta esfriando
sua expressão.
— Acho que eles não chegaram a isso ainda! — Digo fazendo
um gesto de desdém.

— Claro, o senhor tem salvaguardado o contrato de vida e


morte dos envolvidos pela construção e transporte do ouro. —
Dominick diz como se explicasse alguma coisa, mas eu só abro um
sorriso frio.

— Meu caro Dominick, você pensa que um contrato de morte


fará com que algumas moscas gananciosas fiquem paradas por
muito tempo? — Indico e ele abaixa a cabeça.

— O senhor tem um ponto! — Dominick confirma.

— Claro que tenho, meu fiel segurança. — Falo simplesmente


voltando a olhar para fora.

— O que devemos fazer se essa informação tiver sido vazada?


— Dominick pergunta e eu sorrio.

— Liquidar os contatos! — Falo impassivelmente.

— Com certeza, senhor! — A resposta de Dominick é forte e


precisa.

— Não esperaria menos de você, agora deixe-me descansar


porque sinto que teremos um momento divertido quando
chegarmos. — Falo simplesmente ouvindo seu som de confirmação.

Quando Dominick sai, ele ordena aos demais para que não
me incomodem durante o tempo restante do voo. Ao me encontrar
sozinho de novo começo a pensar no papel que Dominick executa
hoje em dia, pois a muito tempo ele deixou de ser somente meu
segurança particular. Dominick se tornou praticamente meu braço
direito enquanto os gêmeos atuam os dois como meu braço
esquerdo. A dedicação desse polonês de cabelos e olhos escuros,
porte alto e forte, com algumas tatuagens aparecendo pela gola do
seu terno muito bem arrumado, vai além do limite. Sou muito grato
ao meu pai Enzo por ter encontrado alguém tão capaz para estar ao
meu lado. No entanto, não posso ser injusto em dizer que somente
Dominick é confiável, pois os irmãos Griboedov também são de
extrema confiança.

Eles foram um verdadeiro tiro no escuro, mas que está


funcionando muito bem até os dias atuais. Esses três fazem um
trabalho excelente ao meu lado, e é justamente por isso que não
preciso pensar demais sobre o nível de confiança que eles
alcançaram depois de trabalharem tanto para se provarem dignos.
Assim como eu, todos eles passaram por testes na Bratva, e para
meu alívio eles passaram com excelência. Aumentando ainda mais o
nível da aliança que formamos. E são por esses motivos que posso
descansar feliz minha cabeça contra o encosto do banco do jatinho e
esperar que o tempo exaustivo da viagem passe livremente.

— Senhor! — Ouço a voz de Dominick ao meu lado.

— Fale! — Respondo ainda de olhos fechados.

— Estamos pousando em breve, senhor! — Declara ele me


fazendo assentir.

— Certo! — Digo abrindo meus olhos e arrumando o cinto de


segurança novamente.

Vejo Dominick sair e em poucos instantes o piloto anuncia a


aterrissagem. Me mantenho de forma impassível, esperando que o
jatinho pousasse tranquilamente. Quando o jatinho chegou ao chão
notei que os meus homens já estavam com carros estacionados à
minha espera. Sou guiado por Dominick até onde os carros estão,
cumprimento brevemente os presentes e me acomodo no banco
traseiro de um dos carros. Peço para que me levem diretamente
para meu apartamento na zona nobre de Nova York, pois tinha
coisas para fazer antes de ir para o Paradise. Com o fuso horário da
Europa até a América do Norte, percebo que tenho tempo sobrando
até a abertura do meu estabelecimento.
Meu celular toca assim que penso em mandar uma
mensagem para minha família, contando que cheguei em segurança,
pois esse foi um dos pedidos que meu pai Andrea fez a mim antes
de minha partida.

— Boss, chegou em segurança? — Nastka pergunta assim


que atendo a ligação.

— Sim, aconteceu algum contratempo? — Indago seriamente.

— Não, senhor! Só queria saber se devemos esperar o senhor


agora na Paradise? — Questiona ela e eu pressiono os dedos na
minha têmpora.

— Me encontre em minha casa! — Aviso seriamente.

— Até mesmo o Mika? — Indaga ela e eu franzo o cenho.

— Ele está ocupado com algo que eu não fiquei sabendo? —


Questiono olhando para Dominick do retrovisor.

— Claro que não Boss, o panaca já está no Paradise desde


cedo. — Conta ela irritada.

— Mande-o voltar, preciso dizer algo aos três! — Mando


seriamente.

— Ok, falarei a ele! — Confirma rapidamente. — Até daqui a


pouco, Boss! — saúda ela.

— Até! — Retorno e logo em seguida encerro a ligação.

Sinalizo para Dominick para seguirmos adiante pelo retrovisor


do carro e ele entende o meu comando. Enquanto aproveito a
viagem até o meu apartamento, volto a mandar mensagem ao meu
pai, contando a ele que cheguei em segurança e que assim que lidar
com minha coisas falarei com ele. Recebendo um texto carinhoso em
retorno, contando como ele e toda a família já estão sentindo a
minha ausência. Leio a mensagem com um sentimento de puro
afeto, aquecendo o meu peito. É impressionante como minha família
consegue tirar de mim sentimentos tão puros, e isso me mostra o
quanto devo valorizá-los a cada dia que passa. Independentemente
do tanto de dificuldade que a vida despeje no meu colo, por que sei
que quanto mais dificultoso o mundo seja, ainda existe um lugar
onde a minha cabeça pode repousar com tranquilidade. E esse lugar
está ao lado das pessoas importantes para mim, e é justamente por
esse lugar de paz que luto diariamente.

— Chegamos, senhor! — Dominick diz me tirando dos meus


devaneios.

— Deixe os outros guardarem os carros e você vem comigo


encontrar com os irmãos! — Comando e ele assente.

— Será feito, senhor! — Dominick diz e eu abro a porta do


carro.

Saio do veículo indo direto para o hall da entrada do


apartamento, sinalizando para os guardas da entrada e o porteiro do
térreo, mas sem lhes dar muita abertura para eles não iniciarem
algum assunto aleatório. Caminho em direção ao elevador VIP,
apertando o último andar logo em seguida, e no momento que as
portas do elevador se abrem sou confrontado com a visão do
ambiente, muito familiar para mim. Solto um assovio alto o
suficiente que alcance toda área do meu apartamento, em poucos
instantes ouço o barulho de algumas coisas caindo no chão. Dou um
curto sorriso e espero mais um pouco, não demora muito para sentir
pequenas e rechonchudas patas tocarem minhas pernas. Olho para
baixo e vejo Sasha escalando minha perna em uma rapidez digna
somente dele, ele termina de escalar todo o meu corpo até chegar
ao meu rosto. Cutucando e cheirando minha bochecha com seu
focinho pontiagudo, macio e gelado.

— Estou de volta, garoto! — Digo com calor, coçando seus


pelos macios com os meus dedos. — Cara, você estava na sua
piscina, certo? Para estar todo molhado desse jeito, só poderia ser.
— Reconheço vendo minha roupa ficar com manchas molhadas.

Sasha é o meu bichinho de estimação, ele é um Vison


Americano, com sua pelagem castanho-escuro e olhos pequenos,
redondos e brilhantes. Nunca me vi tendo um animal de estimação,
mas ao resgatar Sasha em um ambiente não muito acolhedor, foi
como um divisor de águas para mim. Por que essa pestinha aqui
ganhou meu coração assim que correu para a bolsa que eu estava
usando e nunca mais quis sair. Como seu antigo tutor foi morto
pelas minhas mãos, me vi sendo responsável por esse bichinho que
só tinha alguns meses de vida. Obviamente Sasha passou por todo
tipo de checagem com um veterinário especializado em animais
como ele, adquirindo assim a legalização necessária para poder ser
levado comigo. Eu nem mesmo sabia como se cuidava de um vison,
mas com o tempo fui estudando tudo sobre essa criatura
brincalhona, dorminhoca e comilona.

Quem imaginaria que um mafioso estaria dividindo o mesmo


espaço com um animal tão safado. No entanto, cá estamos nós,
esse apartamento foi todo projetado para que Sasha pudesse
explorar da maneira que achar interessante. Até mesmo me vi
fazendo um jardim de inverno para que esse pestinha pudesse nadar
em uma piscina preparada e aquecida somente para seu bel prazer.
Contudo, devo concluir que Sasha foi uma das melhores adições na
minha vida, com ele ao meu lado eu não me sinto tão sozinho o
tempo todo.

— Cuidaram bem de você, certo Sasha? — Pergunto ao meu


vison, mesmo sabendo que ele não iria me responder. Ele me encara
com seus olhinhos espertos e eu esfrego seu queixo peludo.

— Boss, chegamos! — Ouço vozes distintas que chamam


minha atenção.

— Estou aqui! — Respondo com o intuito de indicar minha


localização.
Dominick, Nastka e Mikhail chegam juntos na sala, indico para
que eles se acomodem onde bem quiserem, mas eles evitam o meu
pedido e continuam de pé. Deixo Sasha se ajeitar em meu ombro
enquanto me livro do terno que ficou úmido por causa de Sasha, e
assim que estou pronto direciono minha atenção para os presentes.

— Sasha, vem aqui com o seu favorito! — Mikhail diz sorrindo


estranhamente e Nastka lhe dá uma cotovelada.

— Jogue essa merda de pirulito fora, por que da ultima vez o


Sasha pegou essa merda e foi um trabalho para tirar dele. — Nastka
diz entre dentes e Mikhail xinga em russo massageando sua lateral
dolorida.

— Dom, proteja seu amante! — Mikhail provoca Dominick que


nem lhe dá um segundo olhar.

— Não somos amantes, Griboedov! — Dominick repreende


friamente.

— Não comece, Mika! — Nastka fala irritada, mas seu irmão a


ignora focado somente em Dominick.

— Somos amantes sim, só que você ainda não sabe! —


Mikhail diz piscando para Dominick.

— Leve seu trabalho a sério! — Reclama Dominick, voltando


sua atenção para mim. — Me desculpe senhor, pode dizer o que o
senhor deseja de nós. — Dominick pede de modo profissional.

— Agora que acabaram, podemos conversar? — Pergunto de


modo sério e os três assentem rapidamente. — Bom! — Acaricio o
pelo de Sasha antes de voltar meus olhos para os três novamente.
— Daqui a duas semanas, estou indo para Moscou a mando de
Aleksandr. — Aviso simplesmente os vendo franzir o cenho.

— Mas agora? Ainda é cedo para o senhor se ausentar desse


jeito! — Nastka comenta olhando para os dois ao seu lado. — Ainda
mais tendo os Yegorov em nossos calcanhares.

— Concordo com você, mas o velho quer minha presença. —


Digo levemente.

— Vamos com o senhor, Boss! — Mikhail assume e eu nego.

— Somente um de vocês irá comigo, preciso que o restante


de vocês fique e me ajude com os negócios aqui. — Comunico.

— Entendemos! — Respondem em uníssono.

— Já escolheu quem de nós irá? — Dominick pergunta e eu


dou de ombros.

— Não sei, vou deixar isso com vocês, porque independente


de quem for pra mim está de bom tamanho. — Explico de modo
impassível olhando para Sasha adormecido no meu colo.

— Entendemos, mas só que… — Nastka começa a falar, mas


uma mensagem chega no seu celular. — Mudak! — pragueja ela e
eu cerro os olhos.

— Do que se trata? — Indago, já imaginando do que possa se


tratar.

— Os homens de Yuri estão indo para o Paradise agora, Boss!


— Nastka diz entre dentes e Mikhail pragueja ao seu lado.

— O que faremos, senhor? — Dominick me pergunta e me


levanto do meu lugar tranquilamente.

— O que mais seria? Se eles estão buscando por mim, por


que não lhes dar um pouco de presença, certo? — Questiono em
tom gélido, abrindo um sorriso de lado. — Sairemos agora! —
Comunico friamente.

— Sim, senhor! — Respondem em uníssono.


Deixo Sasha adormecida em seu local de descanso, vou a
procura de um terno completo para trocar de roupa. Após me
arrumar saí acompanhado pelos três, a tensão de Nastka e Mikhail é
nítida, no entanto, permaneço do mesmo modo. Por que sei
exatamente o que devo fazer, para que essa palhaçada ridícula seja
interrompida antes mesmo de começar. Não demora muito para
chegarmos em frente a Paradise, olho de relance para alguns
seguranças, que foram contratados pela antiga administração. Sorrio
mentalmente, mesmo que por fora mantenha uma máscara fria e
inacessível, por que mesmo daqui consigo ouvir as vozes alteradas
das pessoas dentro do meu estabelecimento.

— Quero saber se não temos direito de saber onde o Viktor


se meteu! — O grito alto e cheio de autoridade em russo não me
causa raiva, muito pelo contrário, me causa expectativa por que é
tudo o que eu precisava.

— Se está tão curioso sobre a minha estadia, me encontro


bem atrás de você! — Falo de um jeito tão sem emoção que isso
chama a atenção dos demais.

— Oh, nosso atual chefe resolveu finalmente aparecer! — O


homem diz em tom malicioso, girando seu corpo para me encarar
cheio de altivez.

— Hum… — Solto um som de reconhecimento e me viro para


Mikhail. — Será que devo dar meus itinerários para todas as famílias,
Griboedov? — Questiono sem emoção e ele nega.

— Não Boss, sua liberdade é o que prova sua autoridade e


legalidade a Bratva! — Mikhail responde olhando para os homens à
sua frente com um olhar vidrado e enlouquecido.

— Bom, entendo! — Confirmo em reconhecimento,


entrelaçando meus dedos à frente do meu corpo.
— Estávamos preocupados que um legado tão importante do
senhor Vasily e sua família ficaria entregue para pessoas
incompetentes e imaturas. — O homem se levanta para dizer, e eu
posso não me interessar para saber seu nome, mas sei muito bem
que ele é um dos braços de Yuri.

— Do senhor Vasily? É isso que você realmente acabou de


dizer? — Indago para ter certeza de suas palavras.

Vou me aproximando pouco a pouco, a cada passo que dou


em direção ao infeliz ignorante à minha frente. Isso faz com que os
homens que o acompanham se movam do lugar de modo
desconfortável. Alongo meu pescoço, pois nem mesmo tive tempo
para poder fazer isso sem que essas pessoas desgraçadas
encontrassem problemas em minha porta. Quando estou perto o
suficiente do fiel subordinado de Yuri, percebo o quão idiota esse
sujeito na minha frente foi.

— Antes de você surgir do nada era para a fami… — Suas


palavras são interrompidas quando um soco abrupto corta o ar do
seu diafragma.

— O que estava dizendo mesmo? — Pergunto arrumando


meu terno, enquanto vejo o homem se contorcendo de dor.

— Ah… — Ele tenta recuperar o ar nos seus pulmões, mas


não consegue e eu aproximo meus ouvidos até a sua boca
balbuciante.

— Ficou sem palavras? Será que devo ajudá-lo a continuar


derramando merda? — Pergunto seriamente, fingindo confusão.

Imediatamente ouvi os gritos de aviso dos demais presentes,


e a única coisa que faço é ignorar as vozes irritantes e olhar em
direção aos meus três executores. Que são inteligentes o suficiente
para entender a minha mensagem. Antes que os gritos
continuassem a perturbar o meu ambiente controlado, os três são
rápidos e cirúrgicos em imobilizar toda a confusão. No instante que o
silêncio bem-vindo chega até mim, é a minha vez de agir, com isso
chuto a parte de trás dos joelhos do desgraçado ousado. Vejo o seu
corpo grande cair como a porra de uma fruta podre, mas não espero
que seu corpo desmorone completamente no chão frio. Por que logo
me posicionei atrás de suas costas, apertando os cabelos no alto da
sua cabeça com força.

— Como era mesmo a merda que você estava derramando


para mim? — Pergunto com meus lábios bem próximos do seu
ouvido.

— Nã… não, boss! Não foi minha… — Gagueja ele


amedrontado, soltando ranho e baba por todo lugar.

— Curitsa (covarde)! — Digo com desgosto, porque ele estava


tão ativo até poucos instantes, mas agora age tão covardemente. —
Sabe qual foi a verdadeira herança que Maxim Konstantinov deixou
para mim? — Indago em tom uniforme, alisando seu rosto nojento.

— Boss… — Diz ele e eu nego fazendo um som de silêncio,


enquanto ergo minha mão para pedir a adaga de Mikhail.

— Aqui está, Boss! — Diz ele descansando sua adaga entre


meus dedos.

— Maxim me ensinou o verdadeiro significado do que é ser


um assassino a sangue frio! — Confidencio ao homem, deixando
cada palavra sair arrastada e sem dar muita importância.

Sem dizer uma única palavra de aviso ou conforto, descanso


a lâmina da adaga no seu pescoço esticado para trás. Seus olhos se
arregalaram de tamanha forma que chega a ser palatável o terror
que ele sente. O observo se debater sobre minha mão, mas não
sinto nada sobre a sua dor, porque foi exatamente isso que eles
procuraram quando vieram bater na minha fodida porta. Vejo de
perto a vida se esvair dos olhos do homem à minha frente, não
ligando que os respingos do seu sangue sujem o meu rosto. Ao me
deparar com seu corpo sem vida, o jogo no chão com descaso, me
virando para encarar os outros homens que foram subjugados pelos
meus homens.

— Mandem essa bagunça de volta para Yuri Yegorov, mas


antes cortem a língua das pessoas que me difamaram
descaradamente. — Mando após alisar os fios rebeldes do meu
cabelo com as mão ensanguentadas.

— Sim, Boss! — O coro de vozes firmes tomam o ambiente


assustadoramente silencioso.

Vamos ver até quando vão continuar a me subestimar, mesmo


que eu continue sem lhes dar nenhum significado. Tenho certeza
que vou adorar brincar com quem quer que anseie por uma
diversão, por que se tem uma coisa que não desperdiço é o meu
tempo.
CAPÍTULO 12

Faz duas semanas desde a minha cirurgia, mas só tem poucos


dias que voltei para Madri. E com isso alguns membros da minha
família foram voltando para seus respectivos países pouco a pouco.
Até mesmo minha mãe Laila teve que voltar um pouco mais cedo
trazendo Hope junto com ela. Porque ela tinha uma reunião de
extrema importância na empresa, e Hope logo deveria voltar para as
aulas. E mesmo que Hope choramingasse pedindo para não se
separar de todos nós, para que voltássemos juntos, ela tinha que
voltar mesmo assim. Dessa vez tive que agir como um bom irmão
que tem uma conversa com sua irmãzinha seriamente, explicando
abertamente que ela não poderia mais faltar nas aulas e que assim
que passasse o restante do meu resguardo voltaria para casa ao seu
encontro. Foi uma conversa intensa naquele dia, mas que no final
ela entendeu muito bem e voltou com a nossa mãe tranquilamente.

Pouco tempo depois que mommy e Hope voltaram para casa,


meus tios e primos voltaram também para suas vidas. Pietro tinha
que se concentrar nos seus estudos, já que logo mais começariam
suas provas finais do semestre. Levando Eduarda e meus tios Filippo
e Luiz Otávio a voltarem para São Paulo também. Otto teve que ir
para Riomaggiore passar um tempo com seus avós antes de voltar
às suas pesquisas, os tios Enzo e Andrea levaram os gêmeos com
eles, pois ficaram afastados por um tempo e deveriam também
cumprir suas respectivas obrigações diárias. Já tio Lucca decidiu
voltar com Isabel deixando Samantha para trás, porque ela disse
que estava de férias e ficaria comigo em Madri. No final fiquei sob os
cuidados de meus avós zelosos, na companhia de minha prima
incrivelmente divertida, até que meu corpo ficasse bem o suficiente
para voltar para minha casa.

Devo dizer que mesmo faltando os outros integrantes da


família, consegui relaxar bastante, pois ainda estava em ótimas
companhias. Que me fez distrair de muitos pensamentos que
castigavam minha cabeça sem que eu pudesse controlá-los, e um
desses pensamentos tem relação direta com o Viktor. Vê-lo partir tão
rápido deixou um misto de sensações dentro de mim, ao mesmo
tempo que o queria perto de mim. E me preocupava particularmente
com sua volta a Nova York, já que ali ele estaria completamente
sozinho ao enfrentar perigos inimagináveis. Em contrapartida, minha
razão dizia que seria importante esse afastamento de Viktor, por que
assim eu poderia colocar meus sentimentos em ordem novamente.
Para assim poder entender o que de fato existe no meu coração,
percebendo que a resposta estava sempre ali e somente eu que
fingia não ver.

Nossa, só Deus sabe como realmente me senti quando toda


essa realidade caiu no meu colo, quando me vi confrontando tudo
abertamente. Foi naquele momento que eu queria sair gritando ao
mundo o que sentia, só que isso deveria ser feito exclusivamente
para a pessoa de meu coração e ninguém mais. No entanto, para
que isso possa acontecer de forma justa e honesta, devo fazer algo
que deveria ter feito a muito tempo.
E foi com isso em meu coração que voltei hoje para o meu lar
com Mamma, Ella e Samantha, que ainda estava passando um
tempo ao meu lado.

— Tem certeza que não quer minha companhia nesse jantar?


— Samantha diz com um tom de voz baixo.

— Sim, Sam, tenho certeza! — Sorrio terminando de vestir


minhas roupas, após o banho.

— Você está recém operado, e se essas pessoas forem um


bando de babacas? — Sam pergunta com esperança.

— Não posso fazer muita coisa, a não ser me virar e voltar


para casa. — Conto ouvindo seu bufo.

— Você é muito príncipe, às vezes! — Resmunga ela e eu


respiro fundo.

— Esse não é o caso, só procuro evitar desconfortos


desnecessários. — Falo dando de ombros e ela faz um som de
estrangulamento.

— Seja mais raivoso, pelo amor de Deus, nem parece que é


filho de uma Aandreozzi! — Julga Sam e eu arqueio a sobrancelha.

— Você quer dizer que nossa família é composta por pessoas


raivosas? — Indago e ela estala a língua.

— E não é? Estou mentindo por acaso? — Questiona ela e eu


desvio a cabeça para o lado.

— Calma, não chega a ser desse jeito! — Exclamo sem jeito e


ela solta uma gargalhada alta.

— Meu primo, meu príncipe, minha abóbora adocicada, você


realmente esqueceu do último evento que a família foi a dois anos
atrás? — Sam perguntou e me encolhi no lugar.
Sua pergunta me fez voltar a esse dia tão perturbador, e devo
dizer que esse dia além de louco foi memorável. Digo isso porque a
família inteira foi convidada para um evento de arrecadação de
fundos para caridade, organizado por um conhecido de longas datas
de meu nonno Donatello. A festa estava muito tranquila, onde
minhas primas me contaram detalhadamente sobre a ornamentação
do lugar, as bebidas, comidas e principalmente os convidados.
Pensei que naquela noite estaríamos realmente tranquilos e que
nada nem ninguém poderia ser capaz de desestabilizar o equilíbrio
perfeito daquela noite. No entanto, todos os meus pensamentos
otimistas foram jogados pela janela, no mesmo momento que minha
mãe Laila, minha tia Giovanna, minha nonna Arianna, Duda e Sam
foram barradas por velhos aparentemente alcoolizados e muito
inconvenientes.

Do lugar em que eu estava sentado consegui ouvir muito bem


quando minha nonna Arianna tentava afastar os homens, com toda
sua elegância e sensatez. Porém eles estavam sendo insistentes e
perturbadores, não permitindo que elas fossem embora sem antes
lhes dar uma palavra. Aquilo estava deixando todos em alerta, mas
foi justamente quando um dos velhos tentou passar a mão em
minhas primas que as coisas foram para o inferno completamente.
Até mesmo eu que tento sempre pensar em um lado positivo da
coisa, fui confrontado por uma raiva que não cabia dentro de mim.
Avançamos sem pensar duas vezes, ouvi nitidamente os sons de
carpos e metacarpos das mãos dos velhos sendo quebrados,
acompanhados com gritos de socorro e dor. Eles gritaram por seus
seguranças e por suas família, e foi aí que cheguei a perder a razão
e cair para briga junto com a minha família.

Nonna Francesca que adora confrontar os outros com


cadeiras e sua bengala, foi ajudada por Nonno Lorenzo que caiu na
briga também. Somente para que os dois depois fossem
repreendidos por Peppe no dia seguinte. Resumindo, foi um
verdadeiro caos, e no final de tudo Nonno Donatello berrou em fúria
que se sua família não pode ser devidamente respeitada em certos
ambientes, eles não aceitariam mais nenhum convite de pessoas de
fora. A raiva e desgosto na sua voz era tão grande que fez muita
gente presente abaixar suas cabeças e saírem em silêncio, pelo
menos foi isso que os meus primos me contaram. Até hoje não
vamos a eventos que não sejam exclusivamente da família, ou de
pessoas muito próximas à família, para evitar certos acontecimentos.

— Lembro até hoje que papai Lucca teve que dar uma
coletiva de imprensa para explicar o acontecido. — Sam diz irritada.
— Não deveríamos nos explicar por quebrar uns ossos, eles que
deveriam explicar porque velho malditos se acham no direito de
passar a mão em mulheres com idade de serem suas netas.

— Por causa disso não podemos mais usar redes sociais. —


Replico e minha prima solta um som frustrado.

— Sim, cacete! Minhas contas nas redes estavam alcançando


mais de 5 milhões de seguidores. — Sam diz entre dentes e eu
sorrio.

— Nossos tios e pais só faltaram infartar quando souberam


disso. — Aponto rindo e ela bufa.

— Ninguém mandou eles viverem em anonimato, sendo que


nunca foram totalmente anônimos. — Sam fala com desgosto e eu
rio.

— Mesmo se quisermos, não podemos fugir disso, porque


estão sempre fazendo vídeos na internet sobre nós. — Digo
deixando Samantha gargalhar.

— Como é que eles nos chamam? — Pergunta ela, ainda


rindo.

— Mafiosos contemporâneos! — Falo com desgosto. — Mas


isso não é para rir, as empresas da família foram denunciadas várias
vezes por sonegação de impostos, lavagem de dinheiro e muitas
outras coisas. — Não consigo parar a raiva que sinto.
— Tudo inveja e você sabe disso, só nossa família sabe o duro
que deu para conseguir a fortuna que tem hoje. — Sam diz com
descaso e eu respiro fundo.

— Você tem razão, não tem como não se chatear com essas
pessoas. — Replico calmamente.

— Pois é, vamos só seguir o fluxo de nossas vidas! — Sam diz


e ouço o som abafado do seu corpo caindo em minha cama. —
Nossa sua cama é tão macia! — Sam diz me fazendo negar com a
cabeça.

— Não se acostume, sua cama fica no mesmo corredor. —


Falo e ela faz um som enojado.

— Você já foi melhor, não me leva contigo para o jantar e


nem quer que eu fique na sua cama. — Samantha fala
dramaticamente.

— Vou te deixar aí, em companhia do seu drama, pois tenho


que sair agora. — Digo pegando minha bengala e os óculos escuros.
— Vamos Tom, em serviço, bom garoto! — Imediatamente Tom se
posiciona ao lado do meu corpo.

— Não durma na casa daquela ruiva sem sal! — Sam avisa


assim que tento sair pela porta.

— Boa noite, Sam! — Peço e ela faz um som de insatisfação.

— Só estou falando por cautela, abóbora! — Sam diz e eu


aceno com a mão.

— Até breve, marrentinha! — Falo saindo com Tom.

Me despedi brevemente de minhas mães, deixei beijinhos


suaves nas minhas irmãzinhas. Antes de sair de casa tive que passar
por uma checagem de minhas mães, que exigiram saber se eu
estava bem o suficiente para sair de casa. Contei a elas que estava
bem e que qualquer sinal de desconforto eu chamaria por Reyes
para me trazer de volta para casa. Depois disso eu finalmente pude
sair de casa, ouvindo o riso de Reyes ao meu lado, que brincou
dizendo que isso é minha culpa por deixar toda a família
preocupada. Fiz uma careta para ele, e pedi para que fosse logo
para o nosso destino. No caminho até o endereço informado por
Nora me mantive em silêncio, analisando se devia ter uma conversa
com Nora depois desse jantar. Porém conclui que não seria de bom
tom da minha parte ter esse tipo de conversa nesse momento, quem
sabe amanhã depois da aula. Esse poderia ser um bom momento,
não quero estragar a noite de ninguém, pois esse não sou eu.

— Chegamos, senhor! — Reyes diz e franzo o cenho.

— Qual é essa de senhor, Reyes? — Pergunto infeliz e isso o


faz rir.

— Sinto muito, não serei mais assim! — Diz ele com uma voz
tranquila me fazendo assentir. — Devo ir com você, essa casa parece
meio… barulhenta! — Reyes diz, mas já tinha percebido o som de
vozes altas.

— Não precisa, mas se mantenha apostos. — Aviso


seriamente.

— Meus homens estão à espreita se algo acontecer, confie em


nós! — Reyes diz e o ouço sair do carro para vir abrir a porta para
mim.

— Confio em você, Reyes! — Falo levemente ao sair do carro


com meu cão guia.

— Tenha uma boa noite, senhor Justin! — Deseja ele após


soltar uma curta tosse de constrangimento, me fazendo rir.

Comando Tom para me guiar até a entrada da casa da família


de Nora, e antes que eu pudesse levantar a mão para poder tocar a
campainha ela foi aberta abruptamente. Sinto o cheiro de Nora,
misturado com o cheio de comida sendo preparada e álcool tomando
conta do meu nariz muito sensível. Ignoro qualquer tipo de
desconforto e sorrio educadamente ao ouvir sua voz animada.

— Você realmente veio! — Nora diz se jogando em meu


braços, se eu não tivesse a força que tenho poderíamos cair no
jardim de sua casa.

— Oh, me desculpe, querido! — Diz ela quando a coloco sob


seus pés. — Esqueci que você ainda está se recuperando de uma
cirurgia. — Nora fala sem jeito.

— Tudo bem, fique tranquila! — Falo levemente dando


batidinhas em sua cabeça.

— Senti tanto sua falta! — Nora fala e antes que ela pudesse
beijar meus lábios de forma repentina, eu a afastei deixando um
beijo singelo na sua testa. — Aconteceu alguma coisa? — Pergunta
ela de forma estranha.

— Não, nada aconteceu, vamos jantar primeiro! O que acha?


— Pergunto com um sorriso educado e ela fica em silêncio por um
tempo.

— Tudo bem, você deve estar muito cansado, chegou de


viagem hoje mesmo, certo? — Nora diz e eu concordo com a
cabeça.

— Isso mesmo! — Respondo levemente.

— Ei sua idiota, sai da minha frente com seu namoradinho! —


Uma voz masculina jovem chega aos meus ouvidos e eu franzo o
cenho.

— Seja mais educado e não fale com Justin dessa maneira


rude, António! — Nora grita me deixando incomodado pelo quão alto
foi seu grito.
— Não me chame assim, sua ridícula, já disse para me
chamar de Tony! — O irmão de Nora diz agressivamente.

— Vou chamar nossa mãe, ela vai saber disso! Aí! — De


repente sinto um movimento abrupto em direção a Nora, seguro o
punho do irmão de Nora antes mesmo de chegar até o corpo de sua
irmã.

— Solte-me e não se envolva, namoradinho cego de araque!


— Grita o António. Ouço a movimentação de Reyes vindo rápido até
mim, e a agitação protetiva de Tom, mas os paro com um único
aceno.

— Senhor! — Reyes começa mais eu nego.

— Tudo bem, estou bem, voltem para seus postos! — Aviso a


Reyes e aos demais responsáveis pela minha segurança. — Por que
não acalmamos os ânimos, sim? — Sugiro me referindo diretamente
ao irmão de Nora.

— Solte-me, porra! — O rapaz grunhe com raiva, e logo passa


por mim batendo os pés.

— Oh, Justin! Sinto muito por isso! — Nora pede com a voz
chorosa.

— Não foi nada, realmente! — Digo levemente para ela não


se sentir incomodada com isso.

— Mas… — ela começa a dizer, mas a voz de uma mulher


mais velha a interrompe.

— Nora, onde está seu namorado? — A mulher diz, mulher


essa que tenho a impressão que seja a mãe de Nora.

— Estamos aqui, mamãe! — Exclama Nora e eu tiro do


suporte de Tom o vinho que trouxe.
— Ah, então esse é o lindo rapaz que você queria nos
apresentar, querida? — A mulher fala se aproximando mais de perto.

Antes que a mulher se aproxime perto o suficiente sinto o


odor claro de álcool saindo de sua respiração. Não sei ao certo o
quanto ela bebeu, mas tenho a impressão que não foi somente uma
taça de vinho, para o cheiro ser tão intenso dessa maneira. Mas de
qualquer forma ignoro, sendo que não é da minha conta o quanto as
pessoas consomem de álcool no seu momento de lazer.

— Muito obrigado pelo convite, senhora Vergara! — Digo


educadamente a ouvindo exclamar surpresa.

— Tão educado, Nora disse que você tinha um probleminha,


mas você não deixa de ser fofo. — A senhora Vergara diz e eu
ignoro o dito “probleminha” que ela acabou de falar.

— Mãe, não seja tão invasiva assim! — Nora repreende a


mãe.

— Aqui está senhora Vergara, espero que esse vinho agrade o


seu paladar. — Ergo o vinho italiano da melhor safra da adega de
mamma, que foi embrulhado delicadamente por mommy.

— Que preciosidade, abrirei ele nesse jantar! — Senhora


Vergara diz feliz. — Venha, entre e se acomode, o jantar está para
começar.

— Venha, Justin, deixe-me ajudá-lo! — Nora diz segurando


meu braço, penso em dizer que não precisa já que tenho Tom ao
meu lado, mas não quero ser indelicado negando sua ajuda. Só
espero que esse jantar seja tranquilo e que não ocorra nenhum
incidente inesperado.
Se for para resumir o jantar na casa de Nora com uma única
palavra, o certo dizer seria incômodo. Sim, essa é a melhor palavra
que posso dizer sobre esse jantar que eu considero desastroso. Da
família de Nora, os únicos que estavam presentes eram seu pai e
sua mãe, porém não sei ao certo se o seu pai estava realmente
presente, pois o senhor Vergara em nenhum momento me dirigiu a
palavra. Só que notei sua presença na energia infeliz que ele
emanava, e no olhar intenso que ele direcionava para mim a cada
vez que Nora falava comigo. Senhor Deus, isso foi fodidamente
desconfortável! E essa é a melhor frase que posso dizer sobre como
realmente me senti. Tive que aturar os olhares desgostosos do seu
pai, a bebedeira e perguntas estranhas sobre a minha deficiência
visual, as perguntas incessantes sobre o meu cão guia ou a minha
família.

Tudo isso e muito mais foi o bastante para querer sair de lá


assim que aquele jantar acabasse. Quando cheguei em casa cedo e
com um aspecto extremamente cansado, minhas mãe e Samantha,
sabiam que eu não gostaria de responder perguntas naquele
momento. Por que só havia duas coisas que desejava no momento,
tomar um belo banho, para me livrar da inhaca de álcool do corpo, e
dormir até o dia seguinte. E foi justamente isso que fiz, dormi assim
que minha cabeça alcançou o travesseiro. Acordei no dia seguinte
me sentindo revigorado e decidido a ter uma conversa definitiva com
Nora após a aula, tenho certeza que do dia hoje não passa.

— Tem certeza que não quer conversar? — Sam pergunta ao


meu lado após me encarar por um bom tempo em silêncio. — Até
mesmo Tom você deixou em casa hoje, e você só faz isso quando
está estressado com algo. — Diz ela me analisando. — Tem certeza
mesmo? — Volta a perguntar.

— Tenho sim! — Respondo de modo sucinto. Admirando o


quanto Samantha me conhece.

— Olha isso, isso lá é a resposta que se dá a sua melhor


amiga? — Indaga ela deitando sua cabeça no meu ombro.

— Não seja pentelha, mais tarde a gente conversa, pode ser?


— Pergunto em tom carinhoso, acariciando seus cabelos cacheados.

— Tudo bem, se você quer assim, vou esperar! — Diz ela e eu


concordo.

— Onde você vai? — Pergunto curioso.

— Vou te deixar na universidade e vou até a loja olhar os


novos produtos. — Sam diz e eu arqueio a sobrancelha.

— Você poderia me esperar que iríamos juntos, quem sabe


nós dois não passaríamos no laboratório da fábrica? Sei que você
adora isso! — Sugiro ouvindo um som feliz sair de Samantha.

— Ah abóbora, você me conhece tão bem! — Fala de modo


falsamente meigo e eu faço uma careta.

— Nossa, isso ficou estranho! — Digo e ela bufa.

— Pior que ficou mesmo, essa não sou eu! Cruzes! —


Samantha fingindo arrepio e me fazendo rir.

— Chegamos, senhor Justin! — Reyes diz de repente.

— Tudo bem! — Respondo a ele e seguro a mão de Sam na


minha. — Vejo você depois da aula, marretinha? — Indago e ela
deixa um beijo na minha bochecha.
— Pode apostar, abóbora! — Exclama ela de modo divertido.
— Nós nos vemos mais tarde! — Pontua ela e eu concordo abrindo a
porta do carro para sair.

— Arrivederci, sorella! — saúdo de forma brincalhona após


fechar a porta.

Caminhando com a ajuda da minha bengala ouço a risada


divertida de Samantha dentro do carro. Com um pequeno sorriso
nos lábios, vou em direção ao meu campus, que foi memorizado por
mim de tanto que venho na companhia de Tom. Percebo que estou
atrasado para a aula, pois poucas pessoas rodeiam o jardim, mas
ignoro isso e continuo a seguir o meu percurso. Quando estou perto
de chegar até o corredor que vai direto a minha sala de aula ouço
algo que me faz parar onde estou, voltando dois passos para trás.
Por que o que acabei de ouvir me causou tanta surpresa, que me fez
interromper meus passos para prestar atenção na conversa que
ocorre a poucos metros de distância.

— Nora, você não pode mais esconder isso do Justin! — A voz


de Pilar fala nervosa.

— Isso mesmo, você disse que iria dizer a ele antes de vocês
começarem a namorar! — Sol fala irritada aguçando ainda mais
minha curiosidade.

— Meninas, parem de pressionar Nora! — Violeta diz tentando


apaziguar algo.

— Não defenda, Nora, Violeta! — Pilar aponta desconfortável.

— Parem, parem de falar! — Nora pediu chorosa.

— Não é isso que… — Sol começa, mas é interrompida por


Nora.

— O que vocês querem de mim, hein? Querem que eu diga


ao Justin como? — Nora faz uma pausa. — Falo como? Olha Justin,
nosso namoro começou por que eu e meus amigos fizemos uma
aposta, mas eu me apaixonei por você de verdade! É isso que
querem? - ela faz outra pausa. — Não estamos vivendo na merda de
um romance ruim! — Nora conclui, me deixando completamente
paralisado.

Será que ouvi direito? Será que é exatamente isso que acabei
de ouvir? Quer dizer que eu era uma aposta entre amigos, é isso?

Que merda é essa?


CAPÍTULO 13

Tento compreender o significado da conversa que acabei de


ouvir, fico me perguntando se estou ficando desorientado
mentalmente ou qualquer outra coisa. Mas não, não é bem isso que
está acontecendo! Para falar a verdade gostaria de poder ter
confundido as informações, as pessoas, as vozes e os odores, porém
não é bem isso que está acontecendo. As vozes que ouço
sussurradas são das mesmas pessoas que já sorriram para mim, me
chamando de príncipe com tamanha intimidade, que chega até ser
desconcertante. Essas mesmas pessoas que me fizeram abaixar as
barreiras que a muito tempo havia erguido, para que pudesse me
aproximar um pouco mais deles. Não sou uma pessoa que se abre
com tamanha facilidade, pois não tenho confiança em pessoas fora
da família. Muitas pessoas no ciclo social do qual vivo são tacanhas,
superficiais e muitas vezes maldosas.

Já tive minha cota de pessoas desse tipo à minha volta, mas


mesmo assim me permiti aceitar me envolver não só com Nora, mas
com seus amigos também. Desde o início eles foram como um gole
de ar fresco, sempre foram muito simpáticos e não ficavam me
fazendo perguntas desnecessárias sobre a minha família
multimilionária e misteriosa. E tenho a impressão que foi isso que
me fez descer a barreira com relação a eles. Meus únicos amigos de
verdade são os meus primos, por isso me permiti fazer novos
amigos, mesmo que no futuro o meu relacionamento com Nora não
fosse para frente. Quem poderia imaginar que no fundo eu estava
correto em manter meus muros elevados, sim? Quem diria que
esses amigos que conheci durante o semestre poderiam ter me
usado como uma brincadeira fútil e antiquada, como uma aposta tão
infantil?

Começo a me perguntar se deveria dar meia volta e ir para


casa, quem sabe assim eu ainda tenho tempo de me encontrar com
Samantha antes de sair. Esse é um bom plano, porque nem mesmo
tenho vontade de participar da aula. No entanto, algo me diz que
devo enfrentá-los, por que assim já me poupa tempo e conversas
desnecessárias. É isso, acho que essa pode ser a melhor alternativa.

— Nora… — Ouço a voz de Sol chamar baixinho por Nora.

— Não, Sol! Eu vou pensar no momento melhor para poder


contar a ele. — Nora responde com um pouco mais de firmeza.

Me sinto enojado para continuar ouvindo essa conversa às


escondidas, por isso que respiro fundo e dou alguns passos para
frente. Indo em direção às vozes sussurradas que ainda estão em
uma discussão moral acalorada. Entretanto, isso não é da minha
conta, o que importa é encerrar com isso sem mais confrontos que
não me acrescentam em nada.

— Nós já esperamos tempo demais, você deve conversar com


Justin! — Pilar fala e eu continuo a seguir.

— Meninas, não façam isso com a nossa… — Violeta começa,


mas para ao notar minha presença. — Justin! — Violeta grita
assustada.
— O que? Justin? — Pilar e Sol perguntam ao mesmo tempo.

— Oh meu Deus! — Nora exclama nitidamente assustada. —


Mas como ele… — A voz confusa de Nora treme.

— Tenho a impressão que vocês não vão mais precisar ter


essa conversa comigo. — Digo friamente, falando alto o suficiente
para chegar aos seus ouvidos.

— Não, não, não você ouviu errado, não é mesmo meninas?


— Violeta pergunta apressadamente às amigas. — Não é mesmo,
meninas? — Violeta volta a perguntar, mas o silêncio das outras é
constrangedor.

— Violeta, por favor, sei bem o que ouvi! — Minha voz sai
firme. — Posso ser cego, mas a minha audição não deixa a desejar.
— Aponto para o meu ouvido esquerdo.

Ouço as lamentações das meninas, acompanhadas do choro


carregado de medo de Nora. No entanto, não estou aqui para
acalentar ninguém, só preciso que elas entendam que o que fizeram
foi errado. E como a pessoa que foi usada, eu preciso obter
respostas, isso é tudo o que necessito agora. Com isso em mente,
caminho em direção ao jardim do campus, induzindo Sol, Pilar,
Violeta e Nora a me acompanhar. Balanço a minha bengala,
encontrando assim o banco mais próximo para sentar, sem me
importar se elas irão buscar um lugar para se acomodarem ou não.

— Querido, eu… — Nora começa a falar chorosa, mas ergo a


mão para evitar dela continuar.

— Nossa conversa será depois, Nora! — Aviso a fazendo calar


no mesmo instante.

— Venha aqui amiga! — Violeta chama com pesar.

— Mas Violeta, ele precisa me ouvir! — Nora diz soluçando


alto.
— Vocês terão tempo de se acertar! — Violeta diz com um
tom profundo.

— Mas… — Nora começa, mas a minha paciência está


chegando ao limite.

— Quando vocês decidiram que um rapaz cego é um bom


material de aposta entre amigos? — Pergunto seriamente, sem me
incomodar com o peso das minhas palavras.

— QUE PORRA É ESSA? — A voz estridente e carregada de ira


de Samantha me faz encolher no lugar.

— Merda! — Murmuro ao não ter percebido a presença de


Samantha.

Malditos pés de bailarina!

Levanto do lugar no mesmo instante que ouço passadas


rápidas vindo do meu lado direito. Suas botas pesadas pulam
arbitrariamente os arbustos do jardim, o som é tão grandioso que
afasta os pássaros que estavam procurando alguns restos de grãos e
folhas ao redor nas grossas árvores. Deixo minha bengala de lado,
posiciono meu corpo no ângulo corretamente, e em poucos
milésimos de segundos o corpo ágil e flexível de Samantha bate
contra o meu. Enrijeço os músculos das minhas pernas e braços a
fim de evitar com que minha prima furiosa mate as meninas em um
ataque de fúria. Os ruídos irritados de Sam chegam até meus
ouvidos, no mesmo instante em que abraço seu corpo ao meu.
Conheço a prima que tenho, se eu a soltar agora não sobrará muito
para contar das amigas de Nora, e não é isso que desejo. Por isso
começo a falar com ela de forma leve, sussurrando que estou bem e
que não fui magoado.

— Sam! — Chamo calmante minha prima.

Ouço os gritos amedrontados das meninas. Tenho a sensação


de que Samantha está encarando elas com sangue nos olhos.
— Me deixe pegar cada uma dessas vadias e lhes dar uma
bela surra! — Samantha pede com os dentes cerrados.

— Sam, o que faz aqui? Pensei que você estava indo com o
Jasper para a empresa! — Digo e ela soltou um bufo irritado.

— E eu estava, mas você esqueceu seu celular no banco do


carro. — Sam explica e eu continuo a abraçar sua cintura.

— Hum, deve ter caído! — Explico brevemente.

— Isso foi obra do destino, por que agora sei o que está
acontecendo! — Sam diz apontando seu braço na direção das
meninas.

— Se acalme, sim? Venha aqui, sente-se comigo! — Peço


calmante e Sam solta um som irritado.

— Não tente me acalmar, preciso da raiva para mandá-las


para a UTI! — Exclama Samantha que quase me causa um ataque
de riso. — Não ria, o assunto aqui é sério! — Ela diz irritada
cutucando minha bochecha.

— Não fiz isso! — Me defendo. — Venha, se acalme e ouça a


explicação junto comigo! — Peço e ela respira alto.

— Sua passividade é irritante! — Resmunga ela.

Volto a sentar no banco anterior, puxando Samantha para


sentar ao meu lado. O mais lógico seria pedir para que minha prima
me deixe conversar a sós com as meninas. Porém se eu fizer isso
Sam é capaz de atirar nas meninas sem pensar nas consequências.
O importante aqui é poder acalmar os ânimos para poder entender
como diabos isso aconteceu, porque estou realmente curioso para
saber dessa merda.

— Agora que os ânimos acalmaram, podemos conversar? —


Pergunto sentindo a energia sombria que minha prima está lançando
nas pessoas.

— Nós sentimos muito, não deveria ser desse jeito. — Sol diz
com a voz pequena, após criar coragem.

— Não tínhamos intenção de magoar ninguém! — Pilar fala


através do choro sentido. — Principalmente você, Jus! — Conclui ela.

— Oh sim, não quer magoar, mas usa as pessoas como


material de apostas! Fúteis do caralho! — Repreende Samantha e as
meninas começam a discordar.

— Não foi assim, fomos idiotas e sabemos disso! — Violeta


toma a palavra. — Nós só estávamos brincando inocentemente no
início de tudo, mas não esperávamos que fôssemos gostar tanto do
Justin. — Violeta diz e sinto seu olhar em mim.

— Exato, Justin é um cara bacana! Ele é diferente das elites


que frequentam essa Universidade. — Sol diz como uma desculpa.

— Justin sempre foi um cavalheiro com nós meninas, e um


cara gentil com os meninos do nosso grupo. — Diz Pilar se
desculpando. — Gostamos dele no primeiro momento que tivemos
contato com sua gentileza.

— Mas ainda não entendo por que isso começou! — Falo


simplesmente enquanto enrolo as pontas dos cabelos cacheados de
Sam com os dedos. Assim posso distraí-la da energia assassina que
emana do seu corpo.

— Hum… bem… — Sol diz sem jeito.

— Pare de ficar enrolando, porra! Por que ficam se olhando


entre vocês e não contam logo o que meu primo quer saber? — Sam
exalta sem paciência.

— Ei, acalme-se! — Peço baixinho e ela aperta minha


bochecha entre seus dedos. — Ai, isso doi! — Digo doloroso.
— Não venha me pedir para me acalmar, estou me
controlando bem o suficiente! — Diz ela chateada e eu respiro
fundo.

— Justin! — A voz de Violeta chama nossa atenção. — Peço


desculpas a você, tudo isso aconteceu por minha causa. — Violeta
diz com a voz triste.

— Como assim? — Questiono com dúvidas.

Ouço um suspiro alto vindo de Violeta, não demora muito e


ela começa a contar como tudo isso aconteceu. No início do nosso
curso de Farmácia, eles ficaram curiosos sobre o porquê de haver
um aluno cego entre eles. E ficaram mais intrigados quando
descobriram qual família tal pessoa representava, pois o nome
Aandreozzi é muito falado por toda região europeia. Para eles eu
seria só mais um sujeito rico e que nem mesmo saberia andar sob
os próprios pés. E em uma noite de bebedeira e brincadeira entre
universitários, eles se misturaram entre outros alunos de diferentes
cursos. Em uma dessas brincadeiras o meu nome surgiu, foi daí que
a aposta entre grupos surgiu. Nora e seus amigos estavam certos de
que as coisas ficariam por isso mesmo, mas não esperavam que as
coisas caminhassem de modo diferente.

— Nós não esperávamos que você realmente fosse namorar


com a Nora! — Violeta diz com pesar. — Nora e eu nos conhecemos
desde crianças, seus pais e os meus fazem negócios juntos. Por isso
que posso te dizer com toda sinceridade que minha amiga de
infância te ama de verdade. — Violeta diz as últimas palavras com
firmeza.

— Mesmo assim, nossos atos irresponsáveis não justificam


esse tipo de coisa. — Sol diz com tristeza.

— Sim, sentimos muito! – Pilar começa. — Tenho certeza que


se os meninos estivessem aqui, falariam a mesma coisa. — Ela
concluiu e eu respiro fundo.
— Tenho mais uma coisa para perguntar. — Solto seriamente.

— Sim, pode perguntar! Podemos responder tudo o que você


quiser saber! — Violeta diz e eu concordo com a cabeça.

— Existe alguma gravação de áudio ou vídeos que


comprovem que tal aposta existiu? — Indago sério e ouço um som
de negação.

— Não, não faríamos isso! — Pilar diz com temor.

— Como se pudéssemos confiar na palavra dessas pessoas!


— Sam bufa balançando as pernas de modo agitado.

— Estamos falando a verdade, nós nunca pensaríamos em


prejudicar a Justin e sua família. Sabemos como a internet pode ser
terrível hoje em dia. — Sol explica com pressa.

— Nunca esperamos gostar de Justin como gostamos. — Pilar


diz desanimada.

Será que eu seria considerado como uma pessoa ruim, se por


acaso disser que não me importo? Por que é exatamente isso que
sinto sobre o que eles sentem com relação a mim. Tudo o que mais
importa para mim é que minha família não esteja nas mídias por
causa de uma brincadeira irresponsável entre jovens universitários
bêbados. Merda, como fui irresponsável, droga! É meu dever prestar
atenção aos arredores, saber exatamente quais são as pessoas com
quem eu devo me envolver. No entanto, eu não fiz isso, levei de
forma leviana as pessoas à minha volta, e não foi esse tipo de
aprendizado que tive com os membros da família. Não posso dizer
que não me sinto nem um pouquinho magoado, mas não abri minha
vida inteiramente para eles para poder me sentir dessa maneira.
Agora que tudo foi exposto me sinto mais aliviado do que
injustiçado, engraçado, não?

— Justin, querido, podemos conversar a sós? — A voz baixa e


envergonhada de Nora chega aos meus ouvidos.
— Para que? Não vai pensar que vocês ainda estão em um
relacionamento, certo? — Samantha pergunta grosseiramente.

— O que, mas… — Nora começa, mas Sam dá um tapa em


sua própria coxa que é alto o suficiente para calar a voz de outras
pessoas.

— Não se faz de vítima para o meu lado, garota! Qual é a


porra do seu problema, hein? — Sam esbraveja. — Vocês armaram
essa merda, não vem pagar de sonsa aqui não, garota! Está
querendo o que? Fingir de inocente. Pra acusar meu primo, que é a
vítima, por acabar com essa maldita farsa? — Sam grita com
indignação.

— Desculpe, mas eu… — Nora começa, mas para de falar.

— Entendo sua irritação por proteger seu primo, mas Nora


gosta mesmo de Justin! — Violeta defende Nora e isso faz minha
prima rir.

— Você não quer que eu acredite nessa merda, não é? —


Sam diz após soltar uma risada sarcástica. — E você, puta, fica fora
disso! — Sam fala deixando Violeta quieta.

— Justin, por favor! — Nora pede e eu solto um longo


suspiro.

— Tudo bem, Nora, precisamos realmente conversar! —


Relato e ela solta um suspiro aliviada.

— Sim! — Sua resposta sai leve, quase como um sussurro.

— Por que? Mas não vai mesmo! — Minha prima diz furiosa e
eu respiro fundo.

— Sam, pode ficar tranquila, eu só preciso resolver isso! —


Conto e ela fica em silêncio.
— Eu vou ficar! — Samantha diz de repente e eu dou
batidinhas na sua mão.

— Não, você vai me esperar pacientemente! — Digo e ela


começa a negar.

— Nem pensar! — Sam fala em tom carrancudo.

— Marrentinha, vamos lá! — Peço de modo carinhoso e ela


para por um tempo e concorda a contragosto. — Existem coisas que
preciso falar com Nora a sós. — Explico.

— Tudo bem, mas não vou ficar muito longe! — Fala ela ainda
carrancuda e eu concordo.

— Obrigada, Sam! — Agradeço levemente e ela aperta minha


mão.

Entendo a chateação de Sam por minha causa, se fosse o


contrário e ela se magoasse por causa de alguém, eu não saberia o
que seria capaz de fazer. No entanto, esse é um assunto que devo
finalizar por minha conta. Apesar de ter começado de forma errada,
eu realmente gostei de estar conhecendo Nora nesses poucos
meses. Ela é uma menina doce, às vezes um pouco pegajosa e sem
muita confiança, mas ainda assim é uma boa garota. Sei que ela
espera algo a mais comigo, e não posso mais enganá-la, porque o
meu coração nunca poderá pertencer a outra pessoa. Não importa
quem seja, se não for aquela pessoa, não poderei ser verdadeiro
com ninguém.

— Justin! — Nora chama meu nome no momento que


estamos sozinhos.

— Sim, Nora! — Respondo de modo uniforme.

— Será que você pode me perdoar por tudo? — Pede ela


voltando a chorar. Chamo ela sinalizando com a mão para o lugar
vago ao meu lado.
— Sente-se aqui ao meu lado! — Sugiro, e ela se aproxima de
mim a passos rápidos.

— Justin, me ouça tudo bem! — Nora pede colocando sua


mão na minha, mas me afasto sem dizer muito. — Querido? —
Chama, sem esconder o temor na voz.

— Olha Nora, tenho que ser aberto com você e… — Tento


concluir minha frase, mas Nora levanta do lugar em um pulo.

— Você está terminando comigo, não é? — Nora questiona


ansiosa.

— Sim, Nora! É melhor para nós dois que paremos de nos


envolver! — Respondo simplesmente.

— Por que? — Pergunta ela em forma de sussurro. — Será


que você ficou muito magoado comigo por causa do que aconteceu?
— Nora pergunta e eu nego com a cabeça. — Não, como não? —
Indaga chorosa.

— Olha Nora, eu não me importo muito com o que vocês


fizeram, para falar a verdade a única coisa que me importo é que
essa brincadeira pudesse prejudicar minha família. — Conto com
clareza e ela faz um som espantado.

— Eu deveria ter contado antes, mas fui covarde. — Ela fala


com tristeza e eu não sei o que dizer, pois não faria diferença.

— Você é uma boa garota, Nora! Tenho absoluta certeza que


você encontrará alguém bacana, que a ame da mesma maneira que
você o ama. — Digo isso de coração, mas ela soluçou alto.

— Por que diz isso? Pensei que você me amava! — Nora diz e
eu dou um sorriso de desculpa.

— Sinto muito, Nora! — Me desculpo e ela chora com tristeza.


— Não sei o que é pior, você terminar comigo gentilmente ou
dizer que ama outra pessoa. — Ela fala me deixando confuso.

— Mas eu disse que amava outra pessoa? — Pergunto em


confusão e ela bufa.

— Nem precisa dizer, eu senti isso! — Ela conta e eu franzo o


cenho.

— Hum… não sei o que dizer! — Fico realmente sem


palavras.

Nesse momento sinto o calor do corpo de Nora se


aproximando, me inclino um pouco para o lado, evitando assim ser
pego por um beijo de surpresa. Ela solta um som ressentido entre
seus lábios, mas evito tocar nesse assunto, deixando com que Nora
se acomode novamente ao meu lado. Não sei o que passou na
cabeça dela por tentar me beijar de repente, mas se foi algo como
reviver sentimentos, eu só posso dizer a ela que sinto muito. Como
disse anteriormente, Nora é realmente uma boa menina, meu corpo
respondeu aos seus avanços antes, mas isso não quer dizer que
deveria trair meu coração desse jeito.

Deus sabe como foi difícil reunir coragem e determinação


para entender de fato que sou louco por Viktor. Que meus
sentimentos por ele vão além de familiaridades entre primos, e que
espero por seu toque em mim, pelos seus beijos e quem sabe…
Bem, é isso! Coço minha cabeça em constrangimento, por permitir
que meus pensamentos flutuem vergonhosamente. Me esquecendo
totalmente da presença de Nora, e que estamos finalizando um ciclo
entre nós.

— Tem certeza que a gente não pode tentar mais uma vez?
— A voz baixa de Nora me traz de volta para a realidade.

— Sinto muito, Nora, estaremos em caminhos opostos agora!


— Digo tranquilamente, ouvindo sua respiração trêmula.
— Não posso dizer que está tudo bem agora, mas quem sabe
depois! — Nora confidência e eu tateei o banco até encontrar sua
mão.

— Realmente sinto muito, Nora! — Reafirmo de modo leve.

— Espero que essa pessoa em seu coração, possa te amar


também, Jus! — Nora diz baixinho e eu concordo com a cabeça.

Mas evito dizer qualquer outra coisa, mesmo que meu


coração esteja desejando alegremente que os meus sentimentos
possam ser correspondidos.

— Adeus, Nora! — Saúdo assim que notei seu movimento.

— Adeus, Jus, quando tudo passar, espero que possamos ser


amigos. — Nora diz e eu dou de ombros, só que permaneço em
silêncio.

Espero Nora se afastar para poder soltar livremente a


respiração que estava segurando. A alguns passos, ouço o sussurro
acalentador das amigas de Nora para acalmá-la. Mas evito direcionar
meu foco nisso, porque não é mais da minha conta. Esfrego meu
rosto, tento me livrar do súbito cansaço que toma o meu corpo. Um
movimento de pés conhecido por mim me faz levantar a cabeça, dou
um sorriso triste e espero até ela se aproximar perto o suficiente.

— Agora você pode ser sincera comigo e me explicar por que


inventou que perdi meu celular? — Pergunto vendo seus passos
pararem. — Hein, Sam? — Indago levemente e ela bufa.

— Droga! — Samantha pragueja de modo abafado.

Ergo minha mão e não demora muito para que ela aceite.
Sam senta do meu lado, colocando sua cabeça no meu ombro e eu
espero pacientemente para que ela fale. Tenho todo tempo do
mundo para essa conversa, não preciso ter pressa, porque tudo o
que posso sentir agora é leveza.
Leveza da esperança de um novo ciclo!
CAPÍTULO 14

— Aí Sam, vai me dizer agora? — Questiono e ela aperta mais


ainda os seus braços à minha volta.

— Por que você é tão inteligente, hein? — Rebate Sam a


contragosto.

— Quem sabe, talvez seja por que te conheço! — Dou de


ombros a fazendo rir.

— Fato, minha abóbora me conhece como ninguém! — Brinca


ela falando de forma exagerada.

— Já que sabe disso, vamos logo e derrame os feijões! —


Peço a fazendo rir sem vontade.

— Tudo bem, mas saiba que não sou nenhuma mentirosa! —


Reclama Sam e eu dou um tapinha de leve na sua cabeça.

— Sei disso, minha Sam não é nenhuma mentirosa! — Brinco


levemente e ela dá um tapa na minha mão.
— Abóbora safada! — Briga ela me fazendo rir. — Mas vou
parar de enrolar e te dizer o que sei. — Fala Sam e eu concordo com
a cabeça.

— Por favor, prossiga! — Peço a fazendo tirar sua cabeça do


meu ombro e sentar corretamente.

— Pouco antes de voltar para o Brasil, Duda me pediu para


ficar, e voltar contigo aqui para Madri. — Sam faz uma pausa. —
Nossa prima estava desconfiada de Nora e aquela sua amiga. E devo
confessar que também não gostei muito dessa aparição repentina e
sem convite, não fazemos as coisas desse jeito. Sua segurança não
é piada, mocinho! — Sam diz pressionando seu dedo indicador na
minha bochecha.

— Eu sei, eu sei, para com isso! — Digo segurando seu dedo


indicador pertinente.

— Aquilo nos incomodou bastante, mas evitamos levar essa


preocupação para você que estava relaxado e feliz na casa dos
nossos avós. — Sam diz e eu concordo com a cabeça.

— Entendo, e por isso que Duda pediu que você voltasse


comigo, certo? — Pergunto e ela faz um som de confirmação. — Mas
por que Duda te fez esse pedido? — Indago confuso.

— Isso eu não sei dizer muito bem, mas parece que foi o
Viktor que mandou ela ficar de olho. — Sam diz levemente.

— Vik, não é mesmo? — Pergunto baixinho sentindo meu


coração acelerar.

Meu corpo aquece assim que Sam diz o nome de Viktor. Será
que ele notou alguma coisa que não estamos sabendo? Ou será
que… será que foi outra coisa? Porcaria, talvez não e eu esteja aqui
criando teorias idiotas! Viktor sempre foi assim, ele sempre foi o tipo
de cara que vê os problemas a mil léguas de distância. Ainda mais
agora com a Bratva no seu rastro, tenho absoluta certeza que ele
deve estar sempre alerta se algo pode acontecer com a família.
Mesmo assim, ainda me sinto feliz com sua preocupação comigo. E
para falar a verdade, é muito normal esse cuidado excessivo porque
nunca sabemos realmente que tipo de pessoa chega a nós. Quem
poderia imaginar que eu iria descobrir que meu envolvimento com
Nora e seus amigos era por causa de uma aposta tão infantil.

No entanto, isso agora é coisa do passado! Não quero ficar


apontando sobre certo e errado, e pelo visto acho que eles se
arrependeram dessa aposta ridícula. O importante para mim é que
finalmente terminei meu relacionamento com Nora. Fiz minha parte
em não decepcioná-la, e tentei ao máximo não ferir seus
sentimentos. Por que uma coisa é certa, o que você não deseja para
si, não tem porque fazer com os outros. Só espero que ela se
recupere bem, que esse momento sensível passe e que ela possa
encontrar alguém verdadeiramente bacana que a ame.

— Espera, por que você está fazendo essa cara? — Sam


pergunta de forma analítica me assustando.

— Que cara? — Indago colocando minhas mãos no meu


rosto.

— Essa cara triste, aí! O que é isso? — Sonda Sam.

— Não tem tristeza nenhuma! — Ressalto dando um sorriso


sem jeito.

— Não vai dizer que você está pensando naquela Nora, certo?
— Esbraveja ela me fazendo negar.

— Espera! Não é desse jeito, não é como se eu estivesse


triste com o término do nosso envolvimento. — Explico sentindo seu
olhar fixo em mim.

— Hum… sei! — Diz como se duvidasse e eu respiro fundo.


— Estou falando sério, não é como se eu já tivesse mentido
para você! — Aponto e ela fica em silêncio por um tempo. —
Samantha! — Chamo seu nome estranhando seu silêncio.

— Tem certeza que nunca mentiu para sua melhor amiga


aqui? — Questiona ela e eu fico quieto.

— Bem… — Começo a falar, mas não sei ao certo o que dizer.

Talvez eu devesse me abrir com Samantha sobre Viktor, quem


sabe assim ela possa me trazer um novo olhar para tudo que anda
perturbando minha mente. O que sinto por Vik passou por muitas
variáveis, que nem consigo entender completamente. Primeiro foi na
minha adolescência, essa foi uma fase de descobertas para mim. No
entanto, o que mais aguçou minha curiosidade foi sobre as
mudanças que Viktor sofria ao longo desse tempo. Prestei atenção
em cada detalhe, como o tom da sua voz, perdendo os traços jovens
e assumindo uma rouquidão viril e madura. Os reflexos no seu
corpo, os passos que seus pés dão, até mesmo a sua forma de
treinar. Todos esses detalhes foram gravados em minha mente com
o passar do tempo. Me vi avaliando Viktor como se ele fosse o meu
material de estudo particular.

Agora vejo que essa minha curiosidade já era um indício de


que algo era diferente entre nós. Quero poder confessar meus
sentimentos abertamente para Viktor, mas lá no fundo ainda tenho
um certo receio. Receio que seja tudo fruto da minha imaginação
idiota, e que tudo não passa de uma idiotice da minha cabeça.
Viktor pode não ter os mesmos sentimentos com relação a mim, e
tudo o que sinto é platônico. Só que… bem, eu sinto! Sinto o pulsar
de suas veias ao toque do meu dedo cada vez que me aproximo
dele. Aquele abraço que demos foi… meu Deus! Como posso
explicar a intensidade que senti em um simples abraço? Me explica
como posso alçar palavras exatas para detalhar a dor no meu peito
com relação a sua partida? Não sei! Eu realmente não tenho uma
explicação justa para tudo o que estou sentindo por esse homem.
— Abóbora, sinto que algo está te perturbando! — Samantha
chega a uma conclusão. Me tirando dos devaneios de sentimentos
conflitantes.

— Sim! — Confirmo levemente, e ela passa seu braço à


minha volta.

— Vamos lá, conte para essa sua prima aqui! E assim vou
enfrentar o mundo para te ajudar! — Sam diz me causando um riso
verdadeiro.

— Ai Sam, só você mesmo! — Digo através de risos,


retornando seu abraço.

— Vamos lá, desabafe suas preocupações! — Sam pede e eu


solto um longo suspiro.

— Acho que… — Faço uma breve pausa e resolvo finalmente


falar. — Acho que estou apaixonado! — Confesso com a voz baixa.

— Espera! Como é? — Sam pergunta e eu abaixei a cabeça.

— Isso mesmo que você ouviu, mas não é só uma paixão, é


algo mais. — Digo e ela fica muito quieta.

— Algo mais, você quer dizer… — Ela diz depois de um


tempo.

— Sim, amor! Eu acho que amo uma pessoa profundamente,


Sam! — Declaro com firmeza.

— Amar do tipo aquele amor? Aquele amor único? É esse tipo


de amor? — Questiona ela nervosa como se não acreditasse em
minhas palavras.

— Eu demorei muito tempo para entender, mas sim, esse tipo


de amor! — Explico baixinho deixando Samantha sem palavras.
— Justin Allen Aandreozzi, você tem certeza? — Sam
pergunta seriamente e eu concordo com a cabeça vagarosamente.
— Oh meu Senhor, eu não estou acreditando! — Exclama Sam
encantada.

— Fale baixo, Sam! Ainda estamos na universidade! — Chamo


sua atenção desconcertado.

— Sim… parei! — Diz ela rapidamente apertando minha mão


na sua. — Quem é a pessoa? Será que é… — Sam começa, mas
para me analisando com força. — Não, será que… — Sam tenta
terminar a frase, mas eu a interrompo.

— É o Viktor, o nosso primo Viktor! — Digo abertamente,


deixando o nome soar entre meus lábios como uma oração secreta.

Ao finalmente dizer o nome de Viktor em voz alta, vejo que


realmente isso está acontecendo. Pois somente deixar o nome dele
fluir livremente entre meus lábios, eu pude sentir o meu coração
cantar em pleno contentamento. Eu disse, eu realmente revelei
minha paixão secreta, agora minha prima e melhor amiga sabe o
conteúdo do meu coração. Nem acredito que consegui dizer,
consegui admitir para mim mesmo e uma das pessoas que mais
confio nessa vida, que estou apaixonado. Assim, fácil, sem nenhum
esconderijo ou temor. Eu só deixei fluir as ondas sonoras lindas e
precisas, e Deus, como isso foi bom! Tentei negar por muito tempo,
fingir que esse sentimento não crescia dentro do meu peito, que
essa ilusão era obra de uma fantasia infantil. Mas não, vai além
disso, vai muito além disso!

E a prova disso tudo foi esse meu reencontro com Viktor, essa
cirurgia infeliz serviu para me mostrar o grau de importância que
esse homem tem para mim. O encantamento descabido a cada vez
que ele se aproximava, seu zelo comigo, o carinho ao falar comigo.
Meu alívio ao poder tocar em seu rosto maduro, charmoso e cheio
de perfeição foi algo que jamais senti com outro alguém. E Deus é
testemunha que eu tentei, tentei esquecer Viktor com todas as
células do meu corpo, mas foi impossível. Bastou ele aparecer
novamente, com seu jeito único, seu sotaque russo pesado e sua
alma corajosa para que tudo em mim caísse em um completo caos.
Tudo o que eu achava que sabia sobre mim mesmo, caiu por terra
nessas duas últimas semanas. E cara, isso tudo é uma loucura!

— Foda-se! Eu sabia! Ah, eu sabia! — Sam salta de repente


rindo feliz.

— Como? — Pergunto confuso e ela dá um tapa na sua coxa.

— Por que a pergunta, Jus? Todo mundo desconfiava que


existia um forte clima rolando. — Sam diz me deixando ainda mais
confuso.

— Todo mundo sabia? Quem são as pessoas que sabem? —


Disparo a pergunta desorientado.

— Nós, seus primos, é claro! — Sam diz, simplesmente, como


se explicasse muita coisa.

— Mas… — Tento falar, mas Sam faz um som de desdém.

— Desculpe o trocadilho, mas o único cego aqui é você! —


Samantha diz eu faço uma careta.

— Será que Viktor sabe o que sinto também? — Questiono


sentindo um frio na espinha.

— Nada! Aquele ali é um verdadeiro bloco de gelo quando


quer, a única pessoa que pode saber o que ele sente mesmo deve
ser Duda. Isso tenho certeza! — Ela fala cheia de vigor e eu fico
ainda sem saber o que pensar.

— Estava tão na cara assim? — Pergunto com a voz triste e


minha prima respira fundo.
— Ei, para com isso! Não é fácil ter coragem e admitir o que
sente desse jeito! — Sam diz ao sentar de volta ao meu lado.

— Não sei, me sinto um idiota! — Confesso e minha prima ri.

— Quem nessa vida não é um pouco idiota, Jus? — Rebate


ela e eu solto uma risada sem humor.

— É, você está certa! — Concordo e ela bate seu ombro no


meu.

— Oh, meu bebê abóbora está apaixonadinho! — Brinca Sam


e eu faço uma careta.

— Você pode ser séria, por favor? Demorou para eu abrir meu
coração, sabe? — Digo torcendo meu nariz.

— Desculpa, perdão, mas não posso deixar de dizer isso. —


Sam fala e eu dou de ombros.

— Que seja! — Falo desdenhoso.

— Jus! — Chama de repente e eu estranho.

— O que foi? — Indago lhe dando atenção.

— Vem cá, quando você vai dizer a Viktor o que sente por
ele? — Pergunta e eu paro.

Essa é literalmente a pergunta de um milhão de euros! Por


que não faço a mínima ideia do que devo fazer a partir de agora.
Viktor está em Nova York enquanto eu estou aqui em Madri, tudo
bem que a distância não é muito relevante para nós, pois tenho
meios para isso. No entanto, Viktor está chefiando os negócios na
máfia, não posso só chegar lá e acabou. Como faço isso, devo só
ligar para ele e dizer: Olha só, descobri que te amo, um amor que
vai muito além do amor de primo, e te quero pra mim? Não, isso
com certeza não! Devo colocar minha cabeça para pensar e ver
como posso ver um jeito correto para ter um momento a sós com
ele. Porém, como vou fazer isso?

— Sam, acho que vou precisar de ajuda! — Peço sem jeito.


Sinto que Sam tenta controlar sua agitação o máximo possível.

No entanto, esse controle vai a merda quando ela levanta


repentinamente e começa a dar pulinhos animados. Reconheço
tranquilamente seus pulinhos pela vibração que suas botas pesadas
fazem no chão. E Deus, isso é desconcertante!

— Sam, pare de brincar! — Falo erguendo minha mão para


ela. — O que você está fazendo? — Pergunto quando noto que ela
não aceitou minha mão.

— Por que perguntar o óbvio? Estou chamando todos os


primos mais velhos, menos o Viktor, para uma pequena reunião
online! — Conta Sam ansiosa.

— Reunião, não é? — Indago após negar com a cabeça.

— Vamos, abóbora! — Sam chama segurando meus ombros.


— Levanta homem, temos um assunto importante como pauta dessa
reunião!

— Mas todos devem estar ocupados ou até dormindo! —


Aponto e ela estala a língua.

— Sem chance! Isso nunca foi uma questão para nós, agora
vamos lá! — Samantha diz duramente.

— Tudo bem, vamos então! — Digo cansado e ela bate


palmas.

Me sinto nervoso por algum motivo, não sei dizer ao certo,


mas me sinto incrivelmente nervoso. Contudo, independente do meu
nervosismo eu devo ter coragem para seguir com o fluxo. As coisas
estão acontecendo de modo muito rápido, e acho que essa rapidez
está me deixando um pouco ansioso. Não fazia ideia que estava
esperando somente um empurrãozinho para que tudo caminhasse
dessa forma. Mas tudo bem, a melhor coisa que devo fazer é colocar
essa ansiedade de lado e seguir o conselho de Sam e dos outros.
Tenho a convicção de que eles saberão me auxiliar com isso, eles
são os melhores, os meus melhores amigos. Agora só basta a outra
parte envolvida me deixar entrar da mesma forma que estou
disposto.

Balanço a cabeça para poder me libertar de tais pensamentos


confusos, deixando Sam assumir o controle dos nossos movimentos.
Quando estamos perto o suficiente da saída do campus ouço duas
vozes masculinas chamando por mim. Reconheço essas vozes, paro
de andar me perguntando o que eles desejam comigo. Espero
pacientemente, mesmo que Sam peça para que ignore, pois não é
importante.

— Justin, amigo, obrigada por ouvir nosso chamado! — Raúl


diz ofegante assim que chega perto de nós.

— Amigo, uma porra que é amigo, seus filhos da puta! —


Samantha murmura ao meu lado e eu dou um sorriso de lado.

— Sem brigas, marretinha! — Peço e ela faz um som de


desdém.

— Que bom que conseguimos alcançá-lo! — Saulo diz


também ofegante. — Oh, boa tarde! — Saúda ele ao ver Sam, mas
ela não faz questão de responder.

— Olá Raúl e Saulo! — Saúdo educadamente. — O que


desejam? — Pergunto impassível.

— Viemos aqui porque soubemos do que houve! — Saulo diz


sem jeito.

— Cara, sentimos muito! — Raúl diz e eu concordo com a


cabeça.
— Aceito suas desculpas, mas ainda é muito recente para
vocês terem qualquer parecer meu. — Digo antes mesmo que eles
comecem com mais falatório.

— Nos arrependemos disso tudo, e esperamos que você


continue sendo nosso amigo. — Saulo diz com pesar.

— Foi uma brincadeira idiota! — Raúl completa.

— Parem com essa merda! — Sam esbraveja de repente. —


Agora, que foram descobertos, vocês vem com a cara mais sínica do
mundo pedindo desculpas para meu primo. Corta essa merda! — Ela
completa enfurecida.

— Só queríamos pedir desculpas! — Raúl diz, mas Sam solta


um som irritado.

— Vou dizer uma coisa a vocês, se fosse por mim estaria


derrubando cada um de vocês com muita força, mas Jus é diferente
de mim. — Sam para, segurando minha mão com força. — Justin
pode gostar de evitar conflitos desnecessários, mas eu sou diferente
dele. Eu amo conflitos, ainda mais quando envolve mandar alguns
filhos da puta para o hospital. — Sam conclui entre dentes.

— Mas Justin… — Saulo tenta falar, mas Sam o corta


cirurgicamente.

— Fiquem longe do meu primo, e rezem para que minhas


tias, ou pior, o restante da nossa família não descubram o que
fizeram com o nosso Justin. — Sam fala irada. — Que irritantes! —
Pragueja com raiva. — Já tolerei essa porra por muito tempo, vamos
embora, abóbora! — Diz ela me puxando para voltar a andar.

Saulo e Raúl ficam quietos depois do aviso bem explícito que


Samantha acabou de dar a eles. Não me importaria de ser educado
com eles, mas como já aceitei suas desculpas, para mim esse
assunto foi dado como encerrado. Temos coisas mais sérias para
discutir, Nora e seus amigos não estão incluídos na equação.
Deixando tudo o que rolou de lado, seguimos ao encontro dos
nossos seguranças, que atendem nossos pedidos para ir para casa.
Durante o trajeto de volta para casa vou tentar acalmar minha prima
que está cheia de raiva, exalando energia violenta. Essa brincadeira
sem sentido dos amigos de Nora mexeu muito com Sam. Mas não
posso evitar sua fúria, por que se fosse com ela ou com qualquer
outro da família, eu também não levaria o que aconteceu em ânimo
leve.

A viagem para casa foi tranquila apesar do meu nervosismo.


Mamma ficou bem surpresa ao nos ver chegar tão rapidamente, mas
não fez muitas perguntas quando dissemos que tínhamos algo para
fazer. Após dar um beijinho em Ella, em Hope e fazer um carinho em
Tom, subimos para o meu quarto para iniciar a chamada com todos.
Em poucos instantes as ligações foram atendidas e uma enxurrada
de perguntas preocupadas começaram.

— O que aconteceu? — Eduarda perguntou com


preocupação. — Descobriu algo sobre o assunto do qual te pedi,
Sam?

— Jus, você está bem? Houve alguma complicação durante


sua recuperação? — Pietro avalia agitado.

— Vocês, deixem eles falarem primeiro! — Otto indica com


calma.

— Sim, Otto tem razão! — Sam diz risonha.

— Se não teve nada de ruim, por que essa reunião repentina?


— Duda questiona seriamente.

— Pessoal, desculpem fazê-los largar seus afazeres, mas


preciso de um conselho de vocês! — Respondo sendo sincero com
minhas palavras.

— Não precisa se desculpar, Jus! — Otto diz e eu concordo


com a cabeça.
— Isso mesmo, querido, só peça, estamos aqui! — Duda diz e
eu sorrio.

— Ah, eu não tenho paciência para tanta enrolação! — Sam


exclamou de modo repentino. — Jus me confidenciou algo hoje, do
qual todos nós já desconfiávamos. — Sam diz de modo agitado e
contente.

— Espera aí, será que… — Otto para de falar, ficando


espantado.

— Não, mentira! — Duda para e solta uma risada. — Ah, não


estou acreditando! — Duda conclui em negação.

— Sim, isso mesmo! — Sam diz me deixando sem jeito.

— O que gente? O que está pegando? O que vocês


desconfiavam? — Pietro pergunta totalmente perdido na conversa.

— Pelo amor Deus, parem com isso! — Exclamo em revolta.


— Eu só… eu só caí em mim que estou apaixonado pelo Viktor e que
quero poder ir até ele! Quero poder dizer isso pessoalmente, mas
não quero atrapalhá-lo. — Digo ansioso, percebendo que todos
ficam em um silêncio constrangedor.

— Justin gosta do Viktor? Sério isso? De verdade mesmo? —


Pietro diz abobalhado, mas sem esconder quão feliz a notícia o
deixou.

— Ah ursinho, em que mundo paralelo você vive? — Duda


pergunta em forma de lamento.

— Todo mundo já sabia, Pê, mas parece que menos você! —


Otto diz com pesar.

— Notícia velha, ursinho! — Sam brinca provocando Pietro.


— Mas fora a brincadeira, Jus, você está certo disso? O que
você pretende? — Duda pergunta seriamente, após todos brincarem
com Pietro.

— Sim, estou certo! Demorei para entender meus


sentimentos de fato, mas agora não tem mais volta! — Respondo
com segurança nas minhas palavras.

— Isso é bom, primo! — Otto diz, feliz.

— Enfim, do que precisa de nossa ajuda? — Pietro diz após


absorver a informação.

— Jus precisa ir para Nova York! Ele precisa se encontrar com


o nosso… quer dizer, seu mafioso fodão! — Sam pontua empolgada,
me deixando envergonhado.

— Não tem como! — Duda nega de repente chamando nossa


atenção.

— Como assim? — Pergunto em confusão e ela solta um


longo suspiro.

— Viktor está em Moscou agora, não sei ao certo quando


volta. — Duda avisa nos pegando desprevenidos.

Vik foi para Moscou, mas quando isso aconteceu? Será que
ele vai ficar bem lá? Droga, não pude deixar de me preocupar ao
saber dessa notícia que me pegou totalmente de surpresa.

— O que isso tem a ver? Podemos ir até Moscou! — Sam


exclama.

— Não, não podemos! Justin ainda está recém operado,


Pietro tem provas, Otto e eu temos nossos afazeres e você, Sam,
também tem suas próprias coisas. Não podemos ir assim sem
pensar! — Duda diz e ouço Sam e Pietro começarem a reclamar, mas
eu entendo o seu ponto. — Tenho uma sugestão! — Duda diz
chamando nossa atenção.

— O que sugere, prima? — Pergunto curioso.

— O aniversário de nossa bisnonna está chegando, Viktor não


vai deixar de aparecer, tenho certeza disso. — Ela faz uma pausa e
solta uma risadinha. — Até lá, Jus, você vai se preparar, porque
acredite em mim, vai ser uma grande luta! — Duda diz rindo, me
deixando sem entender. — Mas o importante é que quando vocês
dois se encontrarem, sugiro que agarre seu homem com força! —
Duda diz me deixando confuso, mas mesmo assim concordo.

— Trabalharei no meu condicionamento físico! — Falo sem


nem entender direito porque respondi dessa forma.

— Ótimo, isso vai ser ótimo! — Duda fala maliciosamente. —


Operação secreta: Capture o mafioso! Entra em ação agora! — Duda
declara de forma sarcástica.

— Vamos dar nosso melhor pelo Jus! — Pietro diz entrando


na brincadeira com sua irmã.

— Esse aniversário vai ser de muitas emoções! — Sam diz me


cutucando.

— Torço por você, Jus! — Otto diz com um ar divertido.

Não sei o que meus primos estão aprontando, mas de


qualquer forma me sinto grato. Por que tem uma coisa que é certa,
eu não vou mais deixar Viktor fugir de mim.

Disso não tenho dúvida!


CAPÍTULO 15

Apesar de ser o meu país de origem, o local onde passei


grande parte da minha vida, devo dizer que odeio vir à Rússia. Tudo
o que me restou sobre esse lugar foram cenas fodidas de um
passado mais fodido ainda. Agora tenho certeza que esse aqui não é
o meu lar, aqui é somente um lugar que está disposto a me
transformar em um verdadeiro monstro. Um lugar cheio de manchas
de sangue e gritos de dor de uma guerra sem sentido, disposta a
passar por cima de almas humildes. Não existe calor, e isso se
reflete especialmente nesse clima desagradável — frio, sólido e
obscuro —, mas não me importo. Porque, se eu preciso de calor, sei
muito bem onde encontrar: nos abraços calorosos e cheios de afeto
dos meus pais, no riso inocente dos meus irmãos, nas brincadeiras
descontraídas, na união e na força que tudo aquilo significa para
mim...
Ou, principalmente, no sorriso radiante do homem por quem
sou loucamente apaixonado, mesmo que ele não o mostre
exclusivamente para mim. Ah... esse sorriso... eu poderia facilmente
morrer ali para sempre.

É
É engraçado pensar que um russo de sangue puro, como
muitos gostam de classificar, prefere estar ao lado de uma família
italiana amorosa do que voltar para sua terra natal. E isso nem
mesmo é uma piada infeliz, mas a verdade nua e crua. No entanto,
cá estou eu, passando pela porta da luxuosa mansão clássica de
Aleksandr Konstantinov, sem sentir nada além da indiferença que
tudo isso representa. Acompanhado somente por Nastka que é um
dos membros importantes do meu pessoal, ando a passos firmes até
onde Aleksandr está em reunião. Ao chegar em frente a porta do
seu escritório sou recepcionado por dois homens russos enormes,
que me encaram de volta como se eu fosse a porra de um intruso e
não de um convidado. E essa demostração de falta de respeito deixa
Nastka cheia de raiva, mas levanto a mão para impedi-la de
confrontá-los.

— Vamos ficar aqui a manhã inteira ou vão me deixar passar?


— Pergunto de modo impassível, sem erguer meus olhos nas suas
direções.

— O senhor Konstantinov está em uma reunião importante!


— O primeiro homem cospe as palavras de forma irritável.

— Desde quando isso é do meu interesse? — Rebato sem


vontade e ele solta resmungo.

— O senhor deve entender que estamos fazendo nosso


trabalho! — O segundo homem explica seriamente.

— Sim, e? — Retruco deixando o seu companheiro no limite.

— O que você acha que é? — Ele grunhiu sem conseguir


controlar.

— Nastka, é com você! — Falo em tom cansado

— Obrigada, Boss! — Agradeceu ela seriamente, mas notei


um pouco de felicidade em sua voz.
Quando pisco meus olhos, vejo o segundo subordinado de
Aleksandr sob seus joelhos no chão. Nastka com toda agilidade e
destreza em seu corpo de porte médio e magro, subjuga o enorme
homem, sem nem ao menos sair uma gotícula de suor de sua testa.
Entortando seu punho para trás em um gesto simples, sem dar
espaço para que ele consiga mudar suas posições, assim o confronto
termina muito antes de começar. Essa é a parte de Nastka que mais
gosto, e fiz dela meu braço esquerdo duplo, ela e seu irmão juntos
são uma coisa de outro mundo, mas ela sozinha não é capaz de
perder para ninguém. A sua imagem feminina, repleta de tatuagens
coloridas e diversas, fazem com que nossos inimigos a olhem com
descaso. Só que no primeiro momento que tem a mínima
oportunidade de retaliar, ela não fica por baixo de jeito algum. Por
isso que em muito pouco tempo Nastka conseguiu deixar um
homem de quase 2 metros gemendo de dor. E essa dor para mim é
poesia pura!

O primeiro homem de Aleksandr dá um passo para frente


assustado pela rapidez dos acontecimentos bem diante dos seus
olhos. Contudo, no mesmo instante que ele tenta ajudar seu
companheiro, o cano de uma arma se posiciona diretamente na sua
têmpora. Ergo meus olhos frios para ele, isso foi o suficiente para
fazê-lo retroceder qualquer tipo de movimento.

— O que pensa que está fazendo? — Pergunto friamente. —


Esse não é o seu momento, seu merda! — Falo franzindo o cenho.

— Senhor, só estou tentando evitar uma morte. — Explica ele


tentando controlar a raiva.

— Mata essa cadela suja, Pyotr! — Rosna o homem


subjugado por Nastka.

— Sim, Pyotr, tenta a sorte, gatão! — Nastka fala sorrindo.

Quando Pyotr tentou abrir a boca para dizer alguma coisa,


noto ele concordar com algo pelo ponto de comunicação. Ele olha
para mim e faz uma expressão de medo, que ao meu ponto de vista
é refrescante de ver. Não sei o que a pessoa do outro lado do ponto
disse para ele, mas isso o deixou bastante temeroso.

— Perdoe-me, senhor! Se eu soubesse quem era, jamais teria


ousado agir assim! — Pyotr diz abaixando a cabeça e eu bufo.

— Posso entrar agora? — Indago, erguendo a sobrancelha.

— Com certeza, isso nunca deveria ter acontecido! — Diz ele


se retraindo.

— Pyotr! — O homem que está com Nastka chama, mas seu


companheiro lhe lança um olhar.

— Fique quieto, e abaixe sua cabeça, idiota! — Manda ele


entre dentes, deixando-o sem entender nada.

— Olha só, a subordinação é muito melhor do que a


insubordinação, não acha Nastka? — Questiono ao meu braço
esquerdo que dá um tapinha provocante no rosto do homem aos
seus pés.

— Com toda certeza, chefe! — Diz ela sorrindo de lado.

— Deixe-o ir, Nast! — Falo de modo descontraído

Natska faz exatamente o que mando, libertando o homem


assim que minha voz se cala. Vejo ele se levantar, massageando sua
mão que foi deslocada. Ele tenta perguntar algo para Pyotr, mas o
olhar de aviso de seu companheiro o faz engolir rapidamente suas
palavras. Gosto disso, me lembra os irmãos Griboedov, e isso é um
bom indicativo para mim.

— Qual o nome de vocês e de que família vieram? —


Pergunto os avaliando de perto.
— Somos Pyotr e Pavel, filhos da família Glinka no sudeste,
senhor Konstantinov! — Pyotr explica com firmeza, tentando não
demonstrar novamente fraqueza na minha frente.

— Bom, muito bom! — Digo de forma impassível, fingindo


que não vejo o olhar ampliado de Pavel para mim.

— Precisa que eu entre com o senhor, Boss? — Natska indaga


e eu nego.

— Não, faça companhia aos rapazes! — Mando e ela assente


com a cabeça.

Natska assume seu lugar, do outro lado do corredor do


escritório, à minha espera. Passo mais um olhar sob os Glinka e giro
a maçaneta da porta sem mais nenhuma palavra. Ao passar pelo
limiar da porta ouço o riso cheio de rouquidão de Aleksandr, mas
faço questão de ignorar. Tenho certeza que foi muito divertido esse
pequeno confronto entre os Glinka e o meu pessoal para esse velho.
Só que não é do meu interesse o que ele considera como divertido.
Achei que os malditos testes que passei foram o suficiente para
mostrar a esse velho a minha capacidade de liderança, mas parece
que não é bem assim. Sinto que ele estará sempre fazendo jogos
idiotas para que eu possa me mostrar tanto para ele, quanto para
aqueles que juram lealdade a Família Konstantinov. Para mim, isso
não passa de besteira, mas entendo que para eles é de algum modo
necessário.

— Esse foi um dos seus testes sem sentido, Aleksandr? —


Questiono ao apontar para a porta e ele ri.

— Não digo isso como um teste, mas queria ver o seu


comportamento. — Explica ele e eu solto um estalo desagradável.

— Se é assim, aqueles dois lá, eu os quero! — Aviso e ele


amplia um pouco os olhos.
— Sério? Você gostou dos rapazes Glinka? — Indaga ele
curioso e eu respiro fundo.

— Não é como se você ligasse, até porque você iria matá-los.


Estou certo? — Comento sem emoção. Aleksandr fica quieto por um
tempo, até que joga a cabeça para trás e solta uma risada alta.

— Você é um jovem sem igual, Viktor! — Diz ele limpando as


lágrimas no canto dos olhos.

— Se você diz isso, tudo bem, mas saiba que aqueles dois
fazem parte do meu pessoal agora. — Conto friamente e ele
concorda.

— Faça como bem entender, deixo eles contigo então! —


Aleksandr confirma sorrindo largamente. — Você realmente está
crescendo a cada dia que passa, meu neto! — Aleksandr expõe
levemente, e eu mordo o maxilar com força.

— Já falei que você não é meu avô! — Digo friamente o


fazendo rir.

— Olhem só o que disse, ele não é um jovem espirituoso! —


Aleksandr diz rindo para as duas pessoas sentadas ao redor da sua
mesa.

Primeira vez desde que entrei vasculho ao redor do escritório,


notando que realmente existem duas figuras na companhia de
Aleksandr. Um deles é um senhor de estatura mediana, com uma
idade entre 60 a 70 anos, usando um terno de duas peças de grife,
branco, camisa de seda preta e sapatos de couro de cobra. E o outro
é um homem alto, usando um terno de três peças cinza claro, com
cabelos escuros com uns fios brancos no topo da cabeça. Esse
segundo homem aparenta ter idade entre 40 a 50 anos, usando um
óculos de armação metálica, que lhe traz a aparência de um
professor universitário e não um mafioso ordinário, como todos os
presentes.
Essa é a primeira vez que os confronto, mas de qualquer
forma seus olhares avaliadores, me encarando de cima a baixo
conseguem me deixar extremamente incomodado. Não gosto desses
olhares, é como se eles estivessem olhando a porra de um animal
premiado, que custa milhões. E eu não tenho a mínima vontade de
saber o por que eles me olham dessa maneira, só que de qualquer
jeito isso me tira do sério.

— Ele é realmente um homem muito bem apanhado como


você nos disse anteriormente, Aleksandr. — O homem mais velho
fala em tom de apreço.

— Como disse a vocês, meu sobrinho-neto é um homem de


beleza sem igual. — O mais jovem concorda.

— Isso mesmo, seria de bom tom a união entre as duas


famílias. — Aleksandr diz sem esconder seu contentamento, mas
isso só faz com que minha fúria aumente.

— Espera, o que está acontecendo aqui? — Pergunto em tom


sombrio, encarando Aleksandr com frieza.

— Ah sim, esqueci de apresentar vocês! — Aleksandr diz


como se recordasse de algo. — Esses são Vigor e Sergey Petrova! —
Ele aponta primeiro para o mais velho depois para o mais novo. —
Eles estão negociando comigo sobre a união entre nossas famílias.
— O velho desgraçado fala de modo tranquilo.

— E estamos muito felizes contigo, não é mesmo meu filho?


— Vigor pergunta olhando para seu filho.

— Sim meu pai, podemos ver futuro nessa aliança! — Sergey


diz seriamente, arrumando com os dedos o óculos de grau.

— A filha Petrova também é uma jovem com uma beleza


inigualável. — Aleksandr fala todo cheio de elogios.
— Agradecemos pelo elogio, minha neta é uma menina muito
linda e gentil! — Vigor diz orgulhoso. — Ainda bem que ela puxou a
mãe, por que se puxasse ao meu filho talvez essa negociação não
acontecesse. — Vigor diz em tom de brincadeira, piscando para
Aleksandr.

— Pai, não me diminua na frente dos nossos amigos! —


Sergey diz dando um sorriso para mim, mas eu o ignoro.

Pensei que Aleksandr tinha tirado essa ideia absurda da


cabeça no momento que abri a ele sobre minha sexualidade. No
entanto, parece que a informação não chegou da forma que eu
gostaria que houvesse chegado. Tenho a impressão de que deve
estar pensando que afirmei que era gay somente para não ter que
casar com uma maldita garota que nunca vi na vida. Entretanto, se
foi isso ou não, eu não tenho o mínimo interesse, já que casar por
conveniência não é algo que estou disposto a fazer. Como havia dito
a Aleksandr, eu sou um homem gay, que inclusive tem alguém que
gosta muito, alguém que eu me distancio para não machucá-lo ao
trazê-lo para essa merda de vida. Então, por que diabos eu me
casaria com outra pessoa? Essa pergunta responde a si mesma. Só
Justin tem esse poder sobre mim, só ele consegue me dominar
dessa forma... só ele, e mais ninguém.

— Quem disse a vocês que aceitei esse casamento? — Falo


de repente chamando a atenção para mim.

— O que ele disse? — Sergey diz esfriando o tom de voz.

— Seu neto não aceitou casar com a minha Polina? — Vigor


pergunta com raiva e eu olho para Aleksandr.

— Você não contou a eles, Aleksandr? — Indago erguendo a


sobrancelha, e ele fixou os olhos em mim.

— Nos contou o que? — Vigor questiona olhando para mim e


para Aleksandr de modo agitado.
— Não é nada! O que há pra dizer, não é mesmo? — Pergunta
Aleksandr tentando mudar de assunto rapidamente.

— Mas só que… — Sergey tenta perguntar cheio de


agressividade, mas Aleksandr levanta da sua cadeira.

— Como eu disse anteriormente, estou muito ansioso para o


jantar com as famílias amanhã. Vocês também devem estar muito
ansiosos, certo? — Aleksandr diz olhando para os dois Petrova
sorrindo.

— Sim, isso mesmo! — Vigor diz olhando para mim com


desconfiança.

— Ótimo, nos vemos amanhã! — Aleksandr fala sorrindo. —


Essa reunião foi muito produtiva, agora peço que vocês deixem com
que eu e meu neto tenhamos uma pequena conversa, sim? — Pede
ele indicando para que os dois nos dêem licença.

— Certo, espero uma posição de sua família, Aleksandr. —


Vigor diz cheio de autoridade.

— Até amanhã, camaradas! — Aleksandr diz assim que os


Petrova chegam à porta.

Observo pai e filho saírem do meu campo de visão enquanto


Aleksandr pede aos seus homens para acompanharem os seus
convidados até a saída. Quando a porta é fechada novamente e
estamos os dois sozinho no local, Aleksandr vira para mim. E eu sei
que coisa boa não vem a seguir, diante da expressão descontente
que ele está agora. Só que isso não é da minha conta, ele pode ficar
do jeito que for, que ao meu ver isso não tem nada a ver comigo.
Sendo assim, procuro uma poltrona confortável para me acomodar,
esperando que esse velho comece a despejar suas merdas.

— Você está querendo estragar os nossos planos, garoto? —


Aleksandr diz, perdendo toda sua gentileza anterior.
— Você diz, seus planos? — Pergunto arqueando a
sobrancelha. — De onde você tirou que esse casamento faz parte
dos meus planos futuros, Aleksandr? — Questiono sem esconder
minha irritação.

— Tem tudo a ver! — Aleksandr diz alterando seu tom de voz.

— Gosto de homens, e mesmo que um homem da família


Petrova conseguisse engravidar de mim, o que é biologicamente
impossível, eu não iria querer. E você sabe disso! — Falo impassível
e ele soltou uma longa respiração.

— Você deixou bem explícito que não planeja se casar,


garoto! — Aleksander grunhiu olhando para mim irritado.

— Vamos parar de rodeios e me conte o que diabos você quer


com uma família como a Petrova? Me lembro bem que você não faz
negócios com eles há um tempo! — Aponto tranquilamente e ele dá
uma risada cansada.

— A família Petrova está entrando em declínio Viktor, será


bom conseguir trazer os últimos negócios lucrativos deles para nós.
— Aleksandr explica, sentando na sua cadeira novamente. — Essa é
a forma mais tranquila de conseguirmos isso sem ter um
derramamento de sangue. — Termina ele e eu dou um sorriso de
escárnio.

— Quando foi que evitar mortes foi de seu interesse, velho?


— Pergunto e ele ergue a cabeça para olhar para mim sorrindo
friamente.

— Nunca! Mas às vezes é bom tentar algo diferente, não


acha? — Indaga brincando com as sobrancelhas e eu reviro os
olhos.

— Por que eu ainda me dou ao trabalho de conversar com


você? — Pergunto enojado e ele descansa livremente na sua
poltrona acolchoada.
Aleksandr é um velho asqueroso, isso eu sei, mas tenho que
dizer que esse desgraçado é um ótimo estrategista. No fundo sei
que esse sujeito está planejando levar os ativos da família Petrova a
muito tempo, sem fazer muito esforço. No entanto, ele sabe que não
vou permitir ser usado por ele dessa maneira, seu interesse não é da
minha conta. Se ele quer fazer suas próprias coisas, que faça, mas
que não me envolva no processo. Mas também o que se pode
esperar de um homem que come pelas beiradas? Esse é o tipo de
homem que posso classificar Aleksandr Konstantinov, ele assumiu a
responsabilidade da família após a morte do meu genitor, Maxim. A
liderança nunca deveria ter sido deixada para ele, em específico,
mas com a morte do pai de Maxim, e do próprio Maxim, as coisas
para Aleksandr ficaram mais fáceis. Já que nunca foi do meu
interesse querer a família Konstantinov como uma parte de mim.

Entretanto, Aleksandr não possui um herdeiro direto, já que


foi infértil a vida toda e nunca pode conceber um filho biológico. E
para a família Konstantinov isso é uma enorme falha em sua
linhagem, o que considero uma grande piada. A maior falha de
todas foi deixar Maxim vivo, tempo o suficiente para fazer da vida
das pessoas meros brinquedos descartáveis, para seu bel prazer
sórdido. Isso sim que considero ser uma falha de linhagem, uma
falha em grandes proporções. No entanto, isso não vem mais ao
caso, porque meu relacionamento com Aleksandr nada mais é do
que uso mútuo. Eu o ajudo a garantir seu lugar na família, como seu
herdeiro, e ele faz com que o restante das famílias deixem minha
família Aandreozzi fora do radar.

Com isso ganhamos os nossos objetivos sem atrapalhar um


ao outro. E até o momento isso ainda está funcionando, mas se
Aleksandr descumprir com o nosso acordo. Aí as coisas ficaram feias,
bem feias mesmo, e não posso garantir a sua sobrevivência, muito
menos o poder da Família.

— Se você afirma que não vai se casar com Polina, então vou
precisar da sua ajuda para poder lidar com os Petrova. — Diz ele
repentinamente, me acordando dos meus devaneios.

— O que ganho com isso? — Questiono e ele solta uma risada


sem humor.

— Precisamos chegar a isso mesmo? Essas coisas serão suas


quando eu morrer! — Diz ele como se explicasse muita coisa.

— Por que eu entraria em suas merdas sem ter nenhuma


segurança? Por algum acaso sou louco? — Pergunto e ele dá uma
risada seca.

— Esperto, muito esperto! — Aleksandr diz apontando o dedo


indicador para mim.

— Deixe de sua palhaçada e diga logo! — Mando sem


paciência.

— Os Petrova tem dois contêineres de armas militares


ucranianas em seu inventário. Posso deixar essas armas com você,
assim você pode ultrapassar os Yegorov em questão de armas lá nos
Estados Unidos. O que me diz? — Aleksandr pergunta me olhando
com expectativa.

— Isso ainda é pouco, preciso dar uma olhada mais a fundo


para poder ver o que posso conseguir nisso tudo. — Comento e ele
faz uma careta.

— Se ia me dizer isso, por que perguntou então? — Indaga


ele com desgosto.

— Para te testar, para que mais seria? — Digo como se fosse


óbvio e ele fica parado me encarando até que solta uma rica
gargalhada.

— Ah, garoto! Você é terrível demais! — Aleksandr fala entre


risos.
— Que seja, vou voltar para o hotel, preciso estudar sobre os
Petrova! — Aviso me levantando da poltrona.

— Por que insiste em ficar em um hotel, essa aqui também é


sua casa! — Aleksandr aponta em volta do lugar, mas eu nego.

— Essa aqui nunca foi minha casa! — Digo friamente


ajeitando meu sobretudo. — Nos vemos amanhã à noite! — Aviso
antes de ir em direção a porta.

— Não esqueça de aparecer junto comigo nessa festa


amanhã! — Diz ele e eu abro a porta do escritório.

— Estou ciente disso! — Falo sem olhar na sua direção.

Fecho a porta do escritório de Aleksandr e procuro por


Nastka, que ao encontrar meu olhar vem até mim rapidamente. Olho
para os dois homens que ainda estão parados na porta como
anteriormente, mas um deles está usando uma atadura em volta do
punho que foi torcido por Nastka.

— Podemos ir, Boss? — Pergunta Nastka e eu concordo.

— Vocês dois! — Digo apontando para Pavel e Pyotr. — Vocês


dois vem comigo agora! — Indico e eles olham um para o outro.

— Nós? Por que, senhor? — perguntam juntos, sem esconder


suas dúvidas no rosto.

— Por que agora trabalham para mim, sem falar que


aparentam ser muito bons para morrerem por desrespeitar o
herdeiro Konstantinov. Não é mesmo? — Indico, vendo seus olhos se
arregalarem no exato momento em que mencionei suas mortes.

— Muito obrigado, senhor! — Eles agradecem e eu faço um


jeito de desdém.
— Nastka, eles respondem a você agora! — Digo e ela
assente sem fazer perguntas. — Vamos embora, temos trabalho
para fazer! — Comunico, e estou pronto para sair.

— Sim senhor! — Eles respondem em uníssono.

Tenho a impressão que ficarei mais tempo em Moscou do que


gostaria. Mas fazer o quê? É assim que são as coisas! Agora é
esperar até o momento desse maldito jantar, para ver quais são as
surpresas desagradáveis que essa noite está me reservando.
CAPÍTULO 16

Sinto o olhar cheio de reclamações de Nastka em mim, mas


ignoro totalmente, voltando a arrumar essas malditas abotoaduras
que são muito mais interessantes do que resolver suas injustiças.
Como um dos meus braços de confiança, Nastka deve ajudar o seu
chefe a passar por esse jantar amaldiçoado. Sendo assim, a fiz de
minha acompanhante nessa noite, o que não a deixou muito feliz,
pois tudo o que Nastka menos gosta é ter que frequentar esse tipo
de lugar. Mas como o mundo não é justo, quem manda nela sou eu,
ela vai me acompanhar querendo ou não. A presença de Nastka vai
me ajudar não só em controlar o ambiente, como também em evitar
que velhos idiotas se aproximem de mim com o intuito de me
apresentarem suas filhas e netas. Isso é tão insuportável que nem
sei descrever em palavras. Tenho uma vontade súbita de sair
atirando nesses velhos e quem mais aparecer na minha frente.
Porém, faço uso do meu controle infinito de temperamento para
evitar certos tipos de atitudes impensadas.
Direciono meu olhar para Nastka, que usa um vestido preto
bonito e justo em seu corpo magro, com alças simples e um decote
atraente, deixando à mostra suas inúmeras tatuagens. Seus cabelos
castanhos com luzes loiras, cortados baixos nas laterais, estão
penteados para trás, conferindo-lhe um estilo elegante. Até mesmo
maquiagem e saltos altos ela está usando hoje — um contraste
marcante com seu estilo habitual, casual, distante e despojado.
Simplificando, Nastka está muito bonita, destoando de sua beleza
agressiva de sempre. Atrevo-me até a dizer que, esta noite, ela
permitiu que seu lado mais feminino transparecesse.

— Como estão Pavel e Pyotr ao seu comando? — Questiono


de repente.

— Ao que parece eles se adaptaram bem, mas os deixarei


afiados para o senhor, Boss! — Conta ela seriamente.

— Entendo, como eu disse antes, deixarei eles em suas mãos.


O que você fará com eles fica por sua conta em risco. — Falo e ela
assente.

— Compreendo! — Responde ela em tom firme.

A melhor pessoa para utilizar os serviços dos Glinka não


poderia ser outra senão Nastka. A imagem feroz que esses irmãos
transmitem — com todos aqueles músculos extravagantes, altura
que facilmente ultrapassa os dois metros, cabelos e barbas longas e
espessas em um castanho avermelhado — representa com perfeição
a autoridade de Nastka. Não tenho muita paciência para ter que
lidar com treinamento de novas pessoas. Ela já está comigo a tempo
suficiente, para saber como eu gosto de fazer as coisas, com isso me
mantenho preocupado com outras coisas. Como por exemplo usar
esse jantar para averiguar melhor o caso dos Petrova. Nessas 24
horas que se passaram durante o nosso primeiro contato, já tive
respostas bem satisfatórias de como devo caminhar a partir de
agora. Tenho certeza que será um assunto fácil de lidar, basta fazer
bom uso das minhas ferramentas.
deixando esse assunto de lado, volto a terminar de me
aprontar, mesmo percebendo que Nastka volta a se agitar sob seus
pés.

— Tenho mesmo que usar essa porcaria apertada hoje, Boss?


— Ela indaga repentinamente, sem disfarçar que já me fez essa
mesma pergunta pela milésima vez.

— Quer mesmo que eu responda? — Indago olhando de


canto de olho.

— Merda, não! — Responde cheia de desânimo.

— Ainda bem que o idiota do meu irmão não está aqui para
me ver vestida desse jeito! — Reclama ela sem esconder seu alívio.

— Posso tirar uma foto para mostrar ao seu irmão outra


perspectiva sua, o que acha? — Sugiro a vendo ficar pálida no
mesmo momento.

—Confiei que o senhor não gostasse de torturar seus


subordinados mais leais! — Nastka diz em tom de repreensão.

— Realmente, não é do meu feitio se eles se manterem fieis,


caso o contrário os elimino na primeira oportunidade. — Explico
friamente e a vejo ficar rígida.

— Mensagem clara, senhor! — Responde entre dentes e eu


dei um pequeno sorriso.

— Não haja como se eu fosse enviá-la para a forca,


Griboedov! — Digo levemente e ela concorda duramente.

—Sim, Boss! — Confirma infeliz e eu nego com a cabeça.

—Vamos embora, Aleksandr nos espera! — Aviso seriamente


e ela assente.
Após dizer isso saio acompanhado de minha subordinada. No
momento que descemos com o elevador até a área da garagem,
vemos os irmãos Glinka à nossa espera. Eles me cumprimentam de
forma educada, faço um gesto simples de cabeça em retorno e
espero que Nastka dê seus comandos a eles. Assim que todas as
informações foram passadas entramos nos respectivos carros. Me
acomodo no banco do carro, averiguando meu celular para saber se
existe algo que requer minha atenção. Contudo não existe nenhuma
emergência, o que prova que as coisas em Nova York estão
tranquilas depois da mensagem clara que deixei para os Yegorov.
Mas não me engano, eles estão calmos por agora, não demora
muito e eles vão estar voltando com suas merdas de sempre.

Oleg e Vasily não são idiotas, para dizer a verdade eles são
espertos demais para o meu gosto. Eles sabem que estou aqui em
Moscou na companhia de Aleksandr, e não são burros ao ponto de
me dar mais munição do que necessário. No entanto, o que eles não
sabem é que Aleksandr já me deu toda ou qualquer munição que
precise para lidar com sua familiazinha de merda. O que o velho
Konstantinov quer é domínio completo, sua ganância cresce a cada
dia que passa e tudo isso por que aceitei sua “proposta amigável” de
me tornar o seu herdeiro. Isso é bom para mim, em algum momento
eu vou poder eliminar por completo as pessoas que antes fizeram
mal a mim e ao meu pai. Sem falar que poderei proteger minha
família obtendo mais poder, e isso sem dúvidas é o que mais almejo.

A chegada na Mansão de Aleksandr não durou muito tempo,


e antes que eu pudesse descer do carro fui recepcionado pelos
homens de Aleksandr. Eles pediram para eu me encontrar com o
velho antes mesmo de passar pelo salão, onde o jantar está sendo
organizado. Peço a Nastka para ir em direção ao salão e sigo a
procura de Aleksandr, não demora muito e o encontro no seu
escritório. Nem preciso avisar minha chegada e seus homens abrem
a porta para que eu entre imediatamente.

— Se aproxime! — Aleksandr diz e eu franzo o cenho.


— Algum problema surgiu? — Questiono ao me aproximar.

— Não, só estou aqui vendo os nossos convidados chegarem.


— Fala apontando para as diversas pessoas que andam de forma
descontraída pelo jardim.

— Hum… o que foi isso? Será que está emotivo? — Indago


friamente e ele olha para mim com nojo.

— Não posso? — Rebate e eu me forço para não revirar os


olhos.

— Você não é o tipo de homem emotivo, Aleksandr! —


Exclamo com asco.

— Como pode dizer isso? — Questiona cerrando os olhos.

— Se você fosse esse tipo de homem, eu já teria conseguido


te matar a muito tempo. — Exponho de forma simples e o vejo parar
por um instante, para logo depois jogar a cabeça para trás e soltar
uma risada cheia de humor.

— Eu realmente gosto muito de você, garoto! — Aleksandr diz


entre risadas.

— Que seja, por que me chamou aqui? — Pergunto, sentando


na poltrona mais próxima.

— Não sente, você vai amassar o smoke incrivelmente caro


que mandei preparar especialmente para você! — Aleksandr aponta
com raiva e eu o encaro com descaso.

— Não sou a porra de uma criança! — Digo impassível e ele


solta uma forte respiração.

— Você é sempre duro comigo, eu sou o capitão aqui, sabe?


— Pergunta em tom fingido e eu o ignoro. — Aqui, toma! — Diz ele
colocado um anel na minha frente.
— E isso seria? — Pergunto sem esconder minhas
desconfianças. Olho com mais atenção e franzo o cenho em
reconhecimento. — Esse é… — Não termino a frase por que ele
começa a concordar com a cabeça.

— Sim, esse é o anel do herdeiro Konstantinov, nesse caso ele


é seu! — Aleksandr diz apontando para o anel.

Olho para esse maldito anel como se fosse meu maior inimigo
nesse mundo, porque não existe objeto que eu ache mais
abominável do que esse. Recordações que fiz questão de deixar no
passado, voltam a perturbar minha mente no mesmo instante que
encarei esse anel. Lembro de ver Maxim usar ele quando socava o
meu rosto com força, enquanto sorria como um doente sombrio, um
louco psicopata que ele sempre foi. Muitas vezes tive vontade de
jogar esse maldito anel no inferno, mas era pequeno demais para
poder conseguir tal façanha. Suas palavras odiosas massacraram
minha mente, palavras essas que me desmotivaram a continuar vivo,
a me manter forte o suficiente para lidar com suas agressões diárias.
Maxim berrava várias e várias vezes machucando minha mente
infantil que eu teria que matá-lo, por que esse anel é usado por
pessoas fortes e poderosas. Um inútil, bastardo e fraco como eu
jamais poderia usar tal anel, que meu lugar era junto da cova de
minha mãe, ou ser vendido como escravo sexual como meu pai
Andrea.

Cerro meu punhos com toda força que tenho no meu ser,
desviando meus olhos desse anel cheio de lembranças e maldições.
No entanto, me recomponho em um estalar de dedos, deixando um
sorriso sanguinário tomar conta dos meus lábios. Ah, Maxim, seu
maldito demônio abusador! Tenho absoluta certeza que ele agora
deve estar saltitando no inferno de tanto ódio que deve estar
sentindo. Não, espera! Um psicopata como Maxim não tem
sentimentos, isso é verdade, mas eu sei que ele ficaria bem infeliz
ao me ver recebendo tal símbolo. Ele o monopolizou de tantas
maneiras sórdidas, que chega a ser engraçado agora segurar esse
anel. Olha só como a vida é uma cadela, como fala minha adorada
bisnonna Francesca, não é mesmo? Me tornei o herdeiro do lugar
que abomino por causa de Maxim. E qual seria a melhor vingança
para ele do que monopolizar o poder que ele tanto se orgulhava?

— Vejo que gosta desse anel, meu neto! — Diz Aleksandr me


fazendo recordar de sua presença.

— Hum… pode ser! — Respondo fechando meu sorriso no


mesmo momento.

— Bem que te avisei que ser meu herdeiro não era tão ruim
assim, certo? — Brinca ele e eu o encaro friamente.

— Não é lá dos piores! — Falo o deixando satisfeito.

— Mudando de assunto, você conseguiu alguma informação


dos Petrova? — Pergunta Aleksandr caminhando até o seu pequeno
bar.

— Estou trabalhando nisso, tudo vai ser encaminhado quando


eu conhecer a minha pretendente. — Falo o vendo pegar sua vodka
favorita e dois copos de cristal.

— No que ela pode nos ajudar? — Questiona curioso


adicionando a bebida nos dois copos.

— Talvez em muita coisa, quem sabe! — Respondo sem dar


muita informação.

— Vai manter o mistério para seu tio-avô aqui? — Indaga com


um ar de riso, oferecendo um dos copos.

— Não gosto de revelar meus planos antes dele ser


encaminhado. — Digo aceitando o corpo.

— Compreendo! Não vou ficar me metendo nisso, deixo


exclusivamente contigo. — Aleksandr diz erguendo seu copo. — Ao
herdeiro Konstantinov e aos futuros planos em ascensão. — Fala
seriamente. — Pela Família! — Saúda ele e eu olho para seu copo
fixamente.

— Pela Família! — Saúdo de volta, batendo nossos copos


juntos.

Bebo o líquido de vez, sentido a queimação da vodka


descendo sem esforço pela minha garganta. Por que essa bebida
tomo na intenção da família sim, mas é sobre a minha verdadeira
família, minha família Aandreozzi. Minha luta é pelo bem maior de
minha família, pela segurança e bem estar daquelas pessoas que me
amam de verdade. É sobre meus pais, que são dois homens sem
igual, meus avós, tios e tias, pelos meus irmãos caçulas e primos. E
por último, mas não menos importante, eu saúdo o meu amor.
Aquele que não conto duas vezes antes de proteger de qualquer
perigo, aquele que faz meu coração balançar a tanto tempo que
nem me dou ao trabalho de contabilizar. Ao homem que passeia
livremente pelos meus sonhos a noite, e que faz o meu corpo gritar
de saudades. Essa bebida é para essas pessoas, as minhas pessoas,
a minha amada família.

— Essa vodka recebi do meu pai a muito tempo, é boa não?


— Aleksandr fala olhando para o copo sem esconder seu
contentamento.

— Quando vamos descer? — Pergunto mudando de assunto,


porque suas lembranças familiares não são da minha conta.

— Para que a pressa? Eu sou o chefe aqui, uma figura


importante! — Ele diz orgulhoso.

— As famílias vão começar a sentir falta de toda sua


bajulação. — Aponto e ele solta uma risada seca.

— Você nunca deixa com que eu me divirta! — Fala com raiva


e eu me levanto para poder sair.
— Vou descer! — Comunico o fazendo estalar a língua com
desgosto.

— Espere-me, temos que descer juntos! — Aleksandr diz e eu


concordo sem virar. — Falando nisso, Viktor, quando você vai
começar a me chamar de Pakhan? — Pergunta seriamente me
analisando de perto.

— Nos seus sonhos, Aleksandr! — Respondo levemente.

— Não esqueça, garoto, você é meu herdeiro! — Aleksandr


aponta infeliz e eu evito continuar essa conversa, pois me dá muita
preguiça.

Continuo saindo do escritório, mas dessa vez na companhia


de Aleksandr. Seguimos juntos em direção ao grande salão de
festas, onde as pessoas estão se reunindo. O salão está
ornamentado com muito luxo, glamour e ostentação, tudo para
refletir o empoderamento que Aleksander deseja transmitir. No
momento que aparecemos juntos todos os olhares foram
direcionados exclusivamente para mim. Eles estão surpresos, eu sei,
mas como não deveriam? É normal isso, pois o filho legítimo do
antigo Pakhan deles está ao lado do atual, como se fosse a coisa
mais simples do mundo. Para muitos eu perdi a legitimidade a muito
tempo quando fui trazido por uma família italiana, mas o que muitos
desconhecem é sobre o problema de Aleksandr de ter um herdeiro
seu biologicamente. Por isso que estou aqui, por isso estou
assumindo um lugar que já era meu por direito, mas que para
manter minha família longe dessas pessoas, eu aceitei assumir a
herança maldita desse mundo Bratva novamente.

Sei que alguns outros olham para mim e veem Maxim logo de
cara, para dizer a verdade eles anseiam pela volta do meu genitor
impiedoso. Entretanto, isso não irá acontecer, e é por isso que vem a
outra parcela de pessoas. Aquelas que me querem morto a todo
custo, aqueles que pensam que a minha volta seria uma afronta ao
antigo Pakhan. Eu sou o símbolo do fracasso do homem ao qual eles
devotaram a vida, mas isso não é da minha conta. Quem mandou
eles endeusarem um homem tão ridículo quanto Maxim
Konstantinov? Bem, essa pessoa não foi eu, eles são pessoas burras
e sem cérebro algum. Ignorando esses olhares insatisfeitos,
esperançosos ou duvidosos, eu simplesmente retiro meu olhar e
direciono minha atenção a Nastka. Que está esperando
pacientemente minha volta, sendo acompanhada pelos Glinka, que
guardam sua segurança obedientemente.

Faço sinal para que ela venha ao meu encontro, e ela faz
exatamente aquilo que pedi. Quando Natska está perto o suficiente
eu dobro meu antebraço para que ela segure, como uma
acompanhante deveria fazer. Ela olha para o meu braço estendido,
sem esconder o temor nos seus olhos, na dúvida, se seria
desrespeitoso ou não ser guiada pelo seu chefe.

— Vamos logo, Griboedov, não me faça perder tempo! —


Mando e ela piscou várias vezes em reconhecimento.

— Desculpe, chefe! — Lamenta ela envergonhada.

— Não se preocupe, porque os meus gostos se bandeiam


para o lado oposto de você. — Confesso a Nastka que olha para mim
com olhos amplos. — Vamos lá, não me olhe assim! — Aponto
seriamente e ela engole em seco.

— Não estou olhando para o senhor de forma nenhuma,


Boss! — Nega ela dando um sorriso de lado.

— Os Petrova já chegaram? — Pergunto e ela concorda


rapidamente, assumindo seu modo de negócios.

— Sim, chegaram a pouco tempo! — Conta ela e eu faço um


som de interesse.

— Vamos ficar perto de Aleksandr, tenho certeza que eles se


aproximarão assim que as outras famílias decidirem me apresentar
as filhas de suas famílias — Comento e ela assentiu em
concordância.

— Tudo bem! — Responde prontamente.

— Não vai me perguntar como tenho tanta certeza em


minhas palavras? — Indago erguendo a sobrancelha e ela nega.

— O senhor sempre sabe, Boss! — Diz ela como se não


restasse dúvidas, concordo satisfeito com sua resposta.

— Vamos então! — Chamo, virando rapidamente para me


encontrar com Aleksandr novamente.

Caminhamos ao encontro de Aleksandr, que estava todo


sorridente sendo bajulado pelos chefes de outras famílias. Quando
chego ao lado dele, ele começa a me puxar com a intenção de me
introduzir a uma conversa sobre o aumento das vendas de suas
drogas nas ruas. Observo a conversa em silêncio, evitando ao
máximo me envolver com pessoas que atualmente não fazem parte
do meu plano. Vejo Natska se agitar ao meu lado, me mostrando
que minhas palavras anteriores estavam corretas, pois Vigor e
Sergey Petrova estão caminhando na minha direção. Percebo
também que acompanhado deles está uma bela jovem de beleza
sedutora, com cabelos pretos como tinta, longos e lisos como seda
escura. Seus olhos verdes são bem chamativos, mas o que chama
realmente atenção são seus lábios grossos, que não tem como
esconder que foram feitos de forma exagerada por processos
estéticos. Tem pessoas que gostam, mas eu com certeza não sou
esse tipo de pessoa, meus gostos são… bem, não precisamos entrar
em detalhes.

— Aleksandr, Viktor, viemos cumprimentá-los! — Vigor diz


cheio de sorrisos.

— Olha só vocês, espero que estejam aproveitando a noite!


— Aleksandrs diz carismático.
— Claro, vocês sabem prestigiar a nós da irmandade. — Vigor
fala fazendo Aleksandr sorrir mais ainda.

— Essa moça ao lado de vocês seria? — Aleksandr pergunta


observando a mulher, que está me analisando desde o momento que
apareceram.

— Desculpe a introdução tardia, mas essa aqui é minha filha,


Polina Petrova. — Sergey abre um sorriso sincero ao apontar para a
filha ao seu lado.

— Uma bela moça, espero que o jantar seja agradável para


você, querida! — Aleksandr diz e ela sorri para ele.

— Muito obrigada, Pakhan! Tenho certeza que será uma noite


adorável! — Polina fala com um tom de voz aveludado, mostrando
submissão feminina clara.

— Por que não deixamos eles dois se conhecerem um pouco,


hum? — Vigor sugere alegremente e Aleksandr olha para mim.

— Deixe sua acompanhante um pouco e convide a senhorita


Petrova para uma dança antes do início do jantar, meu neto. —
Aleksandr diz e eu concordo com a cabeça.

— Gostaria de uma dança, senhorita? — Chamo


educadamente, e ela dá um sorriso radiante para mim.

— Vou adorar poder te conhecer um pouco mais, já que


nossas famílias planejam um futuro juntos. — Diz ela toda feliz,
aceitando minha mão depois de tanta tagarelice.

— Bom! — Respondo de forma impassível.

Segurando a mão de Polina, a guio em direção ao meio do


salão. A orquestra vê nossa aproximação e muda a música que
estava tocando para uma mais suave e romântica. Iniciamos uma
dança tranquila, notei que ela estava esperando que eu iniciasse
alguma conversa, mas preferi permanecer do mesmo modo que
estava. Polina começou a ficar impaciente, e assim como eu
esperava ela deu o primeiro passo para uma conversação.

— Seu nome é Viktor, certo? — Indaga ela de repente, e eu


confirmo com a cabeça. — Você é um homem muito bonito, assim
como o meu pai tinha me informado. — Diz ela dando um sorrisinho
de flerte.

— Obrigado, seu nome é Polina, certo? — Pergunto olhando


para os lados, vendo que os velhos estão de olho em nós.

— Sim, eu acho que você e eu vamos… — Não espero Polina


terminar sua frase e puxo seu corpo contra o meu abruptamente.

— Vou parar de enrolar e ir direto ao assunto! — Falo cada


palavra com minha boca bem próxima a sua orelha, assustando
Polina no processo, mas eu não me importo.

— Mas o que você… — Tenta ela amedrontada, mas eu não


lhe dou tempo.

— Quieta, Polina, não precisamos de um escândalo certo?


Ainda mais quando você e o seu amante, que é subordinado direto
de seu pai, estão dando o tiro de misericórdia na sua própria família,
que já estava afundando, nessa mesma noite. Será que estou certo
com as minhas pesquisas? — Pergunto e seu corpo fica totalmente
rígido.

— Como você sabe disso? Ninguém sabia sobre meus planos!


— Sua voz perdeu o encanto feminino de antes, para dar lugar a
uma megera fria que quer golpear fortemente seu pai e avô.

Uma grande víbora que está pronta para assassinar as duas


figuras paternas de sua família.

— Isso não vem ao caso, a única coisa que vou te dizer é


para desistir dos seus planos! — Digo e ela crava suas unhas nas
costas da minha mão e ombro. — Não seja tão agressiva, você, seu
amante valioso e o restante de toda sua família podem ser
exterminados com um click de uma mensagem, da minha
subordinada logo ali. — Aponto com a cabeça para Natska que
estava olhando para Polina com o celular em mãos.

— O que vocês querem de mim? — Pergunta ela, percebendo


que nesse jogo de merda é mais provável que eu saia como
ganhador.

— Nada, não esperamos nada! Na verdade, acho melhor lhe


dar duas alternativas, a primeira, você foge com seu amante, do
jeito que você estava planejando hoje a noite, levando todo o
dinheiro e drogas restantes de sua família, se tornando fodidos
traidores de merda. — Paro olhando para ela de modo sombrio. —
Ou a segunda alternativa, você continua fingindo que é uma puta
inocente, me ajuda a ter os negócios de sua família em meu poder
sem precisar que você e os seus tenham uma morte trágica. O que
acha? — Pergunto friamente, e ela me encara fixamente.

— Você deve estar louco de pensar que vou escolher alguma


dessas alternativas! — Ela diz sem calor, se fingindo de forte, mas
nem mesmo consegue segurar o meu olhar.

— Continue pensando, mas escolha com sabedoria, pois


tenho um aniversário muito importante para estar presente. E meu
tempo é muito valioso, Petrova! — aviso duramente soltando seu
corpo logo em seguida.

O que Poline não sabe é que qualquer uma das alternativas


resultará na morte dela e de seu amante, seja por minhas mãos ou
nas mãos de Aleksandr. Por que uma coisa é certa, não se pode
roubar a Bratva, essa lei é incontestável! A minha única alternativa é
finalizar meus negócios em Moscou o mais rápido possível, pois fiz
uma promessa a minha bisnonna. Promessa essa que jamais irei
descumprir, porque nesse mundo não existe ninguém capaz de me
fazer falhar com a minha família.
Principalmente com a minha sapeca e adorável vovó!
CAPÍTULO 17

Algumas semanas depois…

Sentando em posição de lótus concentro toda minha atenção


na prática de respiração ensinada a mim pelo meu mestre. Regulo
todos os meus chacras através deste simples movimento natural.
Meu corpo relaxa completamente, mergulhado em uma
concentração profunda, com isso todos os meus sentidos estão
entrando em sincronia. Minha mente está leve, adentrando em um
ritmo produzido pelo meu próprio corpo, com isso os meus sentidos
se tornam únicos. Abro o canal da minha audição, o que me permite
perceber pequenos nuances vibracionais, meu olfato se apura e com
isso encho os meus pulmões de ar, os esvaziando e transmutando
livremente pelo meu diafragma. Da palma das minhas mãos até o
solado dos meus pés visualizo uma energia única circulando, como
se enraizasse entre eles, passando como fios perfeitos e conectados
em toda extensão do meu corpo até o topo de minha cabeça.
Não sei quanto tempo permaneço nessa posição específica,
mas no instante em que me sinto pronto desfaço a posição de lótus
levemente, para apoiar meus joelhos no chão e as palmas das
minhas mãos sob meus joelhos dobrados. Após descansar meus
membros, ergo minha mão para frente, a fim de localizar a minha
espada de dois gumes. Alisando com a mão na superfície gelada, lisa
e sensível ao meu toque, até chegar no cabo firme, que me foi
presenteado por meu mestre como uma herança deixada para seu
último discípulo. Quando minha mão segura com força o cabo,
impulsiono meu copo para cima em um único movimento. Após isso
iniciei um Tai chi formado por 49 movimentos, deixando o meu
corpo, meus pés e braços entrarem em uma sincronia perfeita.
Envolvendo, armazenando e liberando energia, se misturando entre
firme e flexível, leveza e força, tudo isso em movimento junto ao
meu corpo e minha própria energia. Me permito ser levado por cada
gesto, indo e voltando, levando e trazendo, conforme cada momento
exige. Me deixo ir, fortalecendo cada célula do meu corpo.

Eu amo isso, amo sentir o meu corpo a cada jogada de


braços e pernas, a cada giro da minha cintura. Por que assim eu
deixando o mundo lá fora inconscientemente, deixando com que
somente o meu corpo possa ser sentido por mim. Após o término
dos meus movimentos volto a regular minha respiração agitada, me
permitindo abraçar novamente meus sentidos. Com isso sinto um
movimento vindo até mim, o som de tecido sendo lançado me faz
levantar a mão esquerda no momento exato que o tecido bate em
minha palma.

— Foi um bom treinamento hoje, Jus! — Reyes diz e eu


concordo com a cabeça.

— Sinto que meu corpo enfim voltou a sua forma original! —


Digo em um tom leve entregando minha espada para ele. Para logo
depois começar a limpar o suor do meu rosto, ombro e peitoral
desnudo.
— Parabéns por isso senhor, mas também você treinou
deliberadamente depois que foi liberado pelo médico. — Reyes fala e
eu dou de ombros. — Será que o senhor está com problemas? —
Pergunta e eu nego.

— Não é nada, só tenho meus motivos para isso. — Explico


de forma sucinta.

— Entendo, mas de qualquer forma você está ótimo! — Ele


elogia de uma forma que me faz rir.

— Pare com seus elogios, temos muito o que fazer hoje! —


Aponto e ele solta um suspiro alto.

— Verdade, é momento de nós, os seguranças da família,


ficarmos em alerta máximo. — Reyes conta e eu coloco a mão no
seu ombro.

— Lidar com um Aandreozzi não é para muitos, amigo. Você


vai dar conta! — Brinco e ele arfa de surpresa.

— Estou tão impactado com sua confiança em mim que fiquei


até sem palavras. — Reyes diz, e eu nego sorrindo.

— Vou subir para tomar um banho, vejo você quando formos


sair. — Aviso e ele faz um som de confirmação.

— Nos vemos daqui a pouco, senhor Aandreozzi! — Diz com


um ar risonho e eu lhe mostro o dedo do meio. — Muito feio mostrar
esse gesto para seu homem de confiança, Jus! — Grita Reyes, mas
estou longe o suficiente para lhe dar uma resposta digna.

Ainda com um sorriso no rosto eu lembro do que Reyes disse


para mim na sala de treinamento. E ele está certo, meu treino após
liberação médica foi deliberadamente intenso, mas eu tenho um
motivo especial para isso. Eu precisava manter meu corpo forte e
saudável para poder seguir com os meus planos futuros. Nunca se
sabe se terei que ser mais ágil do que o homem que amo, certo?
Mas deixando a brincadeira de lado, eu realmente precisava manter
o meu corpo equilibrado, e minha mente mais equilibrada ainda.
Essas semanas que se passaram foi como um tormento para mim,
onde tudo o que eu podia fazer era me dedicar no meu
condicionamento físico. Quero estar bem quando confrontar Viktor,
nunca se sabe que tipo de reação ele pode ter, mas uma coisa é
certa. Eu não vou deixar ele fugir de mim, e agora que sei da
profundidade dos meus sentimentos estou decidido a persegui-lo se
assim for necessário.

No entanto, além de fazê-lo me aceitar ao seu lado, devo


estar completamente bem para estar verdadeiramente ao seu lado, e
ser seu companheiro de vida. Sei dos perigos que Viktor enfrenta,
por isso tenho que estar bem para lutar ao seu lado quando chegar
a hora. Anseio em ser o homem de sua vida, aquele que vai ampará-
lo nos momentos de crises, ainda mais agora, depois da informação
que soube através de Mamma. Isso porque durante o jantar de
alguns dias atrás, minha mãe Luna expôs para minha mãe Laila que
Viktor estava com problemas lá em Moscou, mas ela não sabe
exatamente do que se trata. Ao que parece é algo sobre luta de
território, só que ela não sabia informar direito, mas foi por isso que
Viktor disse ao meu tio Enzo que poderia ficar sem contato por um
breve tempo. Todos da família ficaram apreensivos, mas para minha
surpresa eu não fiquei com medo.

Dentro de mim vinha uma certeza imensa de que Viktor


estaria bem, e que essa briga de território seria fichinha para ele. Foi
até de certa forma relaxante pensar desse jeito, porque percebi
nitidamente a confiança que sinto com relação ao Viktor. Nem
mesmo tive receio dele não poder ir para o aniversário de nossa
bisavó, lá no fundo eu sabia que meu Viktor jamais deixaria de
cumprir a promessa que fez a nossa bisa. Ele é um homem firme,
que tem suas palavras usadas com uma onda de força interna.
Agora só me basta esperar pela sua volta em segurança, e esperar
pelo momento certo para roubá-lo para mim.
— Filho, como foi o treinamento! — Mommy pergunta assim
que apareço na sala de estar da nossa casa.

— Foi bem incrível, sinto que estou 100%! — Conto e ela se


aproxima de mim.

— Fico feliz de saber, acho que você até ficou um pouco mais
forte, sabia? — Mommy fala de forma analítica e eu fico sem graça.

— Mommy, não fique encarando meus músculos assim! —


Peço com um tom de súplica.

— Dolcezza, não deixe nosso filho se contorcendo desse jeito!


— Mamma pede rindo, vindo até nós.

— Mas eu não disse nada demais! Sabia que eu cuidei desse


menino e até limpei sua bundinha quando ele se sujava? — Mommy
fala como se fosse a coisa mais normal do mundo, e isso faz Mamma
cair na risada.

— Ah, amore! Só você mesmo! — Mamma diz ainda rindo


muito.

— Mommy, nada de conversa sobre ter limpado partes do seu


filho de 21 anos, por favor! — Aponto em sofrimento e ela bufa.

— Os filhos devem entender que a idade deles não importa


para uma mãe! — Diz ela magoada e eu passo os meu braços a sua
volta.

— Não fique magoada, mamãe, ainda te amo mesmo sendo


um adulto de 21 anos. — Brinco e ela dá uma risadinha.

— Acho bom, senhor abóbora! — Exclama ela dando um tapa


de leve na minha bunda.

— Mamma, sua esposa está me agredindo! — Finjo estar


ofendido e isso faz Mamma parar de rir.
— Deixe minha linda esposa fazer o que ela quiser, abóbora!
— Mamma finge seriedade e é minha vez de rir dessa troca sem
sentido.

— Vocês dois não brinquem com a minha cara! — Manda


mommy.

— Claro amor, não tem ninguém aqui brincando, não é


mesmo filho? — Mamma pergunta e eu concordo rapidamente.

— Hum, sei! — Mommy diz com desconfiança. — E, por


favor, vá logo tomar um banho porque você está todo sujinho, meu
filho. — Fala para mim, mas eu nem penso em dizer que não.

— Estou indo agora mesmo! — Digo rindo e começo a sair,


mas paro. — Vamos para Milão logo depois que Hope voltar da
escola? — Pergunto para ter certeza.

— Isso mesmo, por que a pergunta? — Mamma indaga e eu


sorrio.

— Tenho que ir adiantar algumas avaliações na universidade,


mas logo depois posso passar e pegar Hope. O que minhas lindas
acham? — Comento e ouço risos.

— A boca desse menino fica mais doce a cada dia que passa,
não é mesmo minha lua? — Mommy questiona e eu sorrio.

— Você está certa, dolcezza! — Concorda mamma


alegremente. — Tudo bem, filho! Depois disso podemos seguir direto
para a fazenda. — Conclui mamma e eu assinto.

— Vou adiantar então! — Digo e volto a caminhar.

Enquanto caminho até o meu quarto fico pensando no


aniversário de minha bisa. Foi uma verdadeira luta a decisão sobre
como nonna Francesca queria sua festa. Todos os meus avós, tios e
mães queriam que ela aceitasse uma grande festa, em grande estilo
para essa senhora que tem nossos corações, mas ela foi firme em
dizer que não aceitaria ninguém além dos membros da sua família.
No final, ficou decidido que sua festa seria no vinhedo da família.
Um lugar especial para minha bisa, e que somente membros
importantes da família tem o privilégio de estar. Confesso que amei a
ideia, porque naquele lugar guardo as melhores recordações da
minha infância. Para ser sincero, todos amam estar ali, e se for para
deixar a matriarca feliz, não poderia existir um ambiente melhor
para isso. E espero de coração que eu possa iniciar a minha história
e a de Viktor naquele lugar especial, esse é um dos motivos que
mais estou ansioso.

Com essa esperança em meu coração, vou tomar um banho


refrescante e procurar algo para vestir. Minhas malas já estão
prontas desde ontem, e nem tenho mais com que me preocupar.
Minhas mães adoram cuidar de mim, como se eu ainda fosse um
menino, mas não tenho o que reclamar, somente deixo elas fazerem
o que acham interessante. Assim que termino de me arrumar ouço
uma notificação de ligação no meu celular, sorrio ao ouvir o nome do
identificador de chamada.

— Quando você vai chegar? — Samantha pergunta assim que


aceito a ligação.

— Olá para você também, marrentinha, passou bem a noite?


— Sou cínico com minhas palavras e ela bufa descontente.

— Corta essa, abóbora! — Diz com raiva.

— Está falando com Jus? — A voz de Pietro surge de repente.

— Sim, ele acordou cheio de graça hoje, mas já deveria estar


aqui! — Sam fala entre dentes e eu rio.

— Diga isso a minhas mães, tivemos coisas para resolver


antes de sair! — Explico e ela solta uma forte respiração.
— E se Vik chegar antes de você? — Pergunta ela abaixando
o tom de voz.

— Pensaremos em outro plano! — Digo simplesmente e ela


faz um som de asfixia.

— Nem pensar, vamos logo Justin! — Samantha manda


nervosa.

— Irmã, fique calma! Até parece que está mais ansiosa do


que eu? — Aponto e ela faz um som estranho.

— Pois é, né? Mas ainda bem que não sou! Agora vai terminar
seus afazeres e venha para a fazenda! — Sam manda e eu faço uma
careta.

— Deixe Justin em paz, garota! Venha aqui terminar de


ajudar na arrumação! — Duda fala irritada e Sam estala a língua.

— Estou indo! — Responde alto, mas retorna sua atenção


para mim. — Recado dado, adiante seus movimentos, abóbora
apaixonada! — Diz ela decidida e eu não aguento e começo a rir.

— Está bem, está bem, pare de ser assim! — Peço com um ar


leve.

— Me acalmei, agora vá continuar com seus afazeres e venha


logo, pelo amor de Deus! — Sam pede, mas não sei dizer se ela está
pedindo ou mandando.

Me despeço de Sam, ouvindo mais algumas recomendações


confusas e ansiosas. Após encerrar a ligação finalizei o que eu tinha
que fazer para poder sair. Passei rapidamente pela cozinha para
comer alguma coisa, deixei um beijo em Ella, que havia acordado do
seu cochilo, e arrumei Tom para que pudéssemos sair
tranquilamente. Dei um adeus simples a minhas mães reafirmando
que buscaria Hope ao encerrar minhas coisas. Sou recebido por
Reyes que já estava à minha espera, falo com ele brevemente e
peço para que Tom entre no carro. O caminho até a universidade foi
em um silêncio pacifico, quando Reyes anunciou nossa chegada,
agradeci saindo logo em seguida. No instante que estou caminhando
em direção a minha sala de aula ouço uma voz chamando por mim.

— Justin! — Estranho por conta do chamado tão de repente.

— Violeta? — Pergunto confuso, pois tem tempo que não


ouço falar dela ou dos outros.

— Faz tempo que não nos vemos, será que podemos falar
agora? — Pergunta ela e eu nego no mesmo instante.

— Infelizmente não, Violeta, tenho coisas para fazer e já


estou atrasado! — Respondo firme, mas sem perder a gentileza.

— Mas eu queria falar sobre Nora, acho que… — Não deixo


Violeta terminar e já interrompo.

— Não tem por que você falar comigo sobre Nora, não
estamos mais juntos. Se me der licença eu realmente preciso seguir
adiante! — Reafirmo dando o comando a Tom para sairmos
imediatamente.

Sem dar mais espaço de fala para Violeta, vou em direção a


sala onde serão feitas as minhas avaliações. Sala essa que foi
especialmente preparada para mim e para outras pessoas com
algum outro tipo de deficiência. Assim que cheguei, dois professores
já estavam à minha espera, pois pedi uma licença especial para
adiantar minhas avaliações. Cumprimentei os dois educadamente,
pedindo desculpas pelo meu atraso. Ainda bem que eles não se
chatearam, afirmando que não tinha problema, mas que não fizesse
isso na próxima vez. Sermão normal de educador, só isso! Depois de
um breve momento de arrumação de material, usei da ajuda de um
dos professores para ser o meu leitor e transcritor. Com isso as
provas vão ser mais dinâmicas, e não vou precisar de muito tempo
para finalizá-las. Foram algumas horas até o término de todas as
avaliações, e quando finalmente terminei eu estava mentalmente
sobrecarregado.

— Como foi? — Reyes me pergunta assim que chego ao


carro.

— Cansativo, mas nada que um cochilo durante a ida para a


fazenda não resolva. — Explico fechando minhas pálpebras e
encostando a cabeça no estofado do carro.

— Vamos buscar a senhorita Hope? — Indaga e eu concordo


com a cabeça.

— Sim, ela já deve estar à nossa espera.

— Tudo bem, Jus, continue a descansar. — Fala Reyes e eu


dou um sorriso.

— Obrigado, amigo! — Agradeço e ele faz um som de


confirmação. Agora é só buscar minha Boo, e reagrupar nossa
família para podermos chegar a fazenda o quanto antes.

— Você demorou demais, abóbora! — Pietro diz assim que


cheguei à casa da fazenda.

— Ursinho, não seja como a Sam! — Peço sorrindo, enquanto


liberto Tom do suporte. — Vamos lá garoto, corra à vontade! —
Mando dando tapinhas carinhosos nas suas costas peludas.

— Todo mundo já chegou aqui! — Sam diz seriamente e eu


me assusto.
— Todo mundo, você quer dizer o Viktor também? —
Pergunto e ela soltou um bufo irritado.

— Não, mas Duda foi ali fazer uma ligação para Dominick,
que está em Nova York, mas faz seu trabalho de guarda costas com
excelência. Ele deve saber a localização exata de nosso primo. — Ela
explica e eu solto um suspiro longo.

— Será que ele vai dizer a localização de Vik? — Otto indaga


com dúvida.

— Não sei, mas vamos ter esperança! — Sam diz com firmeza
e eu nego com a cabeça sorrindo.

— Crianças, estão fazendo o que aí cheios de segredinhos? —


Uma voz animada chega aos meus ouvidos me fazendo abrir um
largo sorriso.

— Tia Gio, que saudades! — Saúdo feliz ao sentir seu cheiro


único e especial ao me abraçar.

— Saudades de você também, meu amor, fiquei tão chateada


por não poder estar presente quando você passou por cirurgia. —
Tia Gio diz me abraçando apertado.

— Não se preocupe, tia, eu estou bem agora! — Conto


ouvindo sua respiração de alívio.

— Que bom, meu lindo, que bom! — Diz ela carinhosamente.

Faz tempo que não tenho contato com a tia Giovanna, mas é
compreensivo já que sua galeria de arte cresce a cada dia que
passa. Ainda mais tendo as esculturas de tio Aaron sendo bastante
requisitadas a cada exposição que eles fazem. O casamento deles
vem de uma união firme, onde o amor dos dois e o amor pelas artes
plásticas se uniram em perfeição. Espero que juntos eles continuem
a crescer a cada dia que passa, seja em qualquer âmbito das suas
vidas, porque os meus tios são duas figuras muito incríveis.
— Onde está tio Aaron? — Pergunto curioso e ela ri.

— Aquele homem deve estar sendo apalpado por Nonna, ele


fez uma escultura especialmente para ela. — Tia Gio diz cheia de
mistério e graça.

— Já posso até imaginar o conteúdo! — Sam diz


maliciosamente.

— Você sabe que tio Aaron adora fazer as vontades da bisa.


— Otto fala com um sorriso na voz.

— Não só ele como todos nós, ainda mais amanhã que é o


aniversário dela. — Pietro diz animado.

— Sim, é muito bom festejar mais um ano de vida dela


conosco. — Relato carinhosamente. — Falando nisso, tenho que
enche-la de amor, e depois falar com tio Luigi, porque estou ouvindo
sua voz. — Digo em reconhecimento.

— Agora não, temos outros assuntos importantes! — Sam diz


com firmeza.

— Isso é verdade! — Pietro fala e Otto faz um som de


confirmação.

— Estou sentindo que vocês, crianças, estão aprontando algo!


— Tia Gio fala com desconfiança.

— Oh, não é nada, mamãe! É só coisa entre primos, não é


mesmo, Jus? — Pergunta ela de modo apressado e eu balanço a
cabeça em afirmação.

— Isso mesmo, Sam está certa! — Concordo sem pestanejar.

— Olha só, Duda chegou! — Otto diz de repente me


assustando.
— Tia Gio, vamos roubar a abóbora por um instante! — Duda
diz ao se aproximar.

— Tudo bem, vejo vocês depois então! — Tia Gio diz com a
voz arrastada, carregada de estranheza.

— Vamos abóbora! — Sam fala, e eu sinto o meu braço sendo


puxado.

Falo mais algumas palavras em despedida para tia Gio, me


permitindo ser puxado por Sam. Tento perguntar para onde estamos
indo, mas eles não dizem nada me deixando muito ansioso. Não sei
o que eles estão querendo fazer, mas confio nos meus primos. Sei
que eles estão fazendo de tudo para que eu tenha um tempo a sós
com o meu Vik, antes de toda bagunça familiar começar. Sendo
assim, não peço por mais nada, deixando com que eles façam o que
quiserem. Durante o nosso caminhar apressado, percebo algumas
nuances de reconhecimento. Noto que passamos por algumas áreas
do vinhedo e fico me perguntando se estamos indo para as
plantações. Minha pergunta, no entanto, é respondida quando ouço
o som metálico de ferraduras batendo no chão, acompanhado pelo
cheiro forte do estábulo. Sorrio ao perceber para onde eles estão me
levando.

— Jus, você fica aqui! — Sam diz me colocando em uma


superfície macia, lisa ao toque, que me lembra a textura de tecido.

— Isso aqui é… — Pergunto sem entender direito.

— Não se preocupe, você está distante dos cavalos! — Otto


diz calmante e eu solto uma respiração resignada.

— Vocês sabem que eu odeio não ter dimensão do lugar que


estou, certo? — Digo seriamente e eles riem.

— Você não precisa saber, faça sua parte que logo você vai
ter o melhor guia da sua vida! — Sam diz com malícia.
— Sam! — Chamo seu nome nervoso.

— Confie na gente, abóbora, e fique quietinho no lugar! —


Otto pede de modo tranquilo.

— Só acalme seu pretendente e não deixe com que ele nos


dê uma surra depois, tudo bem? — Pietro diz com um leve temor.

— Mas o que… — Tento falar, mas eles começam a se


distanciar. — Pessoal! — Chamo, mas ninguém responde.

Droga! Eles não vão me deixar sozinho, certo? Sim, eles


fizeram isso!

Tenho que me concentrar agora, devo saber onde estou


agora! É só me acalmar que vou conseguir mapear o lugar conforme
as informações que já tenho, que são poucas. Tudo o que sei é que
estou perto do estábulo, por tanto deve ser um lugar conhecido por
mim, mas ainda não consigo dizer ao certo. Espera, tenho a
impressão que… ah, lembrei! Foi a tanto tempo, mas não tem como
esquecer esse lugar! Tudo aconteceu quando éramos crianças e eu
me perdi tentando chegar nos estábulos sozinho. Mamma tinha me
trazido aqui para ver os cavalos que tanto amava, e eu me achei
capaz o suficiente para voltar aqui sozinho, só que acabei me
perdendo. Soube que todos na família ficaram bem nervosos e muito
preocupados ao saírem à minha procura, mas só teve uma pessoa
que foi capaz de realmente me encontrar.

Naquele dia, quando me vi totalmente perdido comecei a


chorar em desespero. Eu estava com tanto medo, e depois de chorar
por muito tempo ao cogitar que minhas mães não iriam me
encontrar, eu finalmente ouvi uma voz que veio de longe. Essa voz
era dele, foi o Viktor! Ele havia me encontrado, ele estava a minha
procura e eu nunca me senti tão feliz como naquele momento.

— JUSTIN! — O grito alto me assusta, me tirando dos


pensamentos e recordações, só que logo me acalmo e deixo um
sorriso tomar conta dos meus lábios.

É ele! Viktor sempre vem ao meu encontro, ele sempre está


disposto a me encontrar quando estou perdido. Como não tinha
percebido isso antes?

— Vik, estou aqui! — Aviso minha posição com a voz alta o


suficiente para alcançá-lo.

E em poucos instantes ouço as pisadas fortes, firmes e


rápidas de Viktor virem até mim. Suas mãos grandes seguram o meu
ombro com força, noto que suas mãos estão até tremendo um
pouco. Seu corpo grande abraça o meu, e eu aperto minhas mãos
com força no tecido da sua camisa, encostando minha cabeça no
seu peito. Aproveitando ao máximo o seu cheiro embriagante, e o
calor acolhedor do seu corpo forte.

— Foda-se! O que você estava pensando? — Pergunta ele


com raiva. — Eduarda me disse que você tinha saído sozinho para os
estábulos! Você enlouqueceu? Eu pensei… eu pensei que… — Viktor
tenta dizer, mas sou mais rápido que ele.

Assumindo uma coragem sem igual, deixando com o que meu


coração me guie nesse momento. Eu assumo a liderança, abraço seu
pescoço, fico na ponta dos pés e puxo sua cabeça na direção da
minha, colando os nossos lábios um no outro. Isso é o suficiente
para fazê-lo calar essa maldita boca cheia de reclamações. Deus, eu
esperei tanto por isso! Um simples beijo, mas o necessário para
fazê-lo entender o que sinto. Preciso que Viktor saiba que eu o amo,
eu necessito ter ele para mim. E tem que ser agora!

— Por que… Jus, o que é isso? — Vik pergunta confuso de


forma rouca, assim que afasto brevemente os nossos lábios.

— Viktor, não me pergunte nada, só me beije! — Mando


sentindo a rouquidão na minha voz também.
— Se eu fizer isso, não tem mais volta, Justin! Todo meu
controle vai para o inferno e nem mesmo o diabo poderá me tirar
isso. Você tem certeza, Justin? — Questiona Vik como se estivesse
se controlando ao máximo.

— Sim, tenho certeza! — Confirmo verbalmente. — Me beije,


Viktor! — Peço em forma de súplica, sentindo os meus olhos se
encherem de lágrimas.

— Porra! — Pragueja baixinho e em poucos instantes meu


corpo é carregado com tamanha firmeza, que me sinto totalmente
preso e a mercê dele.

Viktor precisa entender o significado dos meus sentimentos


através desse beijo, por que depois disso não posso mais soltá-lo.
Merda, eu nunca mais vou deixá-lo ir para longe de mim. Porque ele
é meu, sempre foi, mas só agora pude reconhecer isso
verdadeiramente.

Reconhecer que sou louco por ele, que o amo a cada batida
ritmada do meu coração acelerado!
CAPÍTULO 18

Viktor Aandreozzi

Devo estar sonhando, tenho plena certeza de que estou


sonhando!

Essas são as palavras que rondam minha cabeça agora. Ainda


mais depois dos dias sangrentos e cheios de assassinatos que
passaram, depois de satisfazer as vontades de Aleksandr e me
mostrar como o herdeiro da máfia, e principalmente depois de
conseguir ter em minhas mãos os negócios da família Petrova.
Depois de tanto sangue derramado tudo o que eu mais desejava era
voltar para os braços da minha verdadeira família. Fiz o impossível
para chegar a tempo para festejar o aniversário da minha bisavó na
companhia das pessoas que me amam. Confesso que não foi nada
fácil, mas quando coloquei meus pés em solo italiano eu tinha total
certeza que finalmente estava em casa. E que tudo que tive que
fazer foi deixado para trás, só que eu não esperava ser recepcionado
por uma Eduarda ansiosa. Antes mesmo de chegar a porta eu fui
informado que Justin havia se perdido entre os estábulos, da mesma
maneira que aconteceu a alguns anos atrás.

Quando soube disso não tive condições de raciocinar direito e


vi minhas pernas ganhando velocidade por conta própria. Corri com
toda força, porque eu sabia onde ele estava. Isso porque quem o
resgatou daquele lugar na primeira vez, que ele havia se perdido foi
eu, pois somente eu sei exatamente onde encontrá-lo. Fiquei
imaginando como Justin poderia estar assustado, daquela vez foi do
mesmo jeito, e eu o encontrei chorando, nervoso e amedrontado.
Não gosto de ter esse tipo de sensação, odeio o fato de encontrar o
meu Justin tão vulnerável, e com isso em mente eu corri com mais
velocidade, gritando por seu nome. Contudo, quando ouvi sua voz
não contei dois tempos em localizá-lo, segurar seu corpo e abraçá-lo
com toda força que tinha.

Tudo o que envolve Justin me torna um inútil, eu deixo de ser


o cara estratégico, o homem de negócios que sabe lidar muito bem
com finanças, com uma grande máfia e com a sujeira pesada do
submundo. Minha mente esquece completamente de quem eu sou,
por que tudo se volta somente em tê-lo em segurança nos meus
braços. E assim fiz, o abracei, tentando entender o que aconteceu e
se ele estava bem, mas o que eu realmente não esperava era o que
iria acontecer depois disso. Justin me beijou! Fodido deus, ele
realmente me beijou! Quando senti o toque suave dos seus lábios
rosados nos meus, minha mente não sabia se explodia, entrava em
êxtase ou continuava com esse beijo fascinante. E Deus ou o Diabo
sabem que o que eu queria era continuar, parar não era uma
alternativa, nunca foi. No entanto eu tinha que entender o que ele
queria, porque meus desejos egoístas não interessam aqui, mas sim
os seus desejos.

E foi quando Justin disse, ele confirmou com todas as letras


que queria aquele beijo, que me queria. Porra, ele me quer! Isso só
pode ser a porcaria de um sonho, mas se for eu desejo permanecer
nesse momento para sempre. Para mim, o agora se tornou para
toda eternidade, e Justin precisa saber disso. Sem necessitar de
mais palavras de confirmação eu aprofundei nosso beijo como o
louco apaixonado que sou. Chupei sua língua macia e molhada,
suguei cada gota que ele estava disposto a compartilhar comigo. E o
nosso beijo é… fodido senhor! Nosso beijo é explosivo, apaixonado,
cheio de desejo, felicidade, e a certeza maior do amor que sinto por
ele, do amor que sempre senti. Como desejo que esse beijo nunca
acabe, mesmo que meus pulmões reclamem da falta de ar, mas eu
não me importo. Beijar Justin foi tudo o que sempre quis nessa
minha merda de existência, e agora eu tenho isso, agora ouso
finalmente sentir seu gosto, posso tocar seu corpo firme sem culpa.
Agora eu finalmente posso tê-lo só para mim!

Me sinto como uma pessoa que está com sede por muitos
dias, desidratada e fraca. Porém, que nesse exato momento
encontrou um poço distante, e que tudo o que pode fazer é saciar
essa sede incontrolável. Porra, eu sou um fodido, eu sou realmente
um fodido louco! Meu corpo transborda de desejo, mas não um
simples desejo, mas aquele tipo de desejo enfurecido que faz um
animal selvagem no cio perder o controle de suas ações. No entanto,
devo voltar a mim, preciso esclarecer o que diabos está acontecendo
e deixar Justin saber que realmente não tem mais volta. Que não
existe no mundo alguém que possa tirar ele de mim agora, mas
ainda preciso que ele saiba com clareza.

— Jus, querido! — Chamo, ainda com nossos lábios unidos.

— Hum… — Responde de forma desconexa e isso me causa


um sorriso.

— Precisamos parar um pouco! — Digo tentando afastar um


pouco nossos corpos, mas ele trava os braços em volta do meu
pescoço.

— Não quero! — Diz negando com a cabeça.


— Mas é necessário, precisamos conversar! — Aponto e ele
franze o cenho.

— Precisamos não, eu disse que te queria, e você disse que


sou seu, certo? — Justin fala da forma mais simples e cirúrgica
possível.

— Sim, malêch (bebê)! — Minha voz sai rouca, cheia de


carinho.

— Então o que tem mais para falar? Vem aqui, me beije! —


Justin fala em tom mandão e isso me faz rir.

Porra, como pode ser tão fofo? Essa com certeza é a merda
de um sonho!

Não consigo resistir a ele, eu sabia que isso poderia


acontecer, tinha certeza que se um dia Justin soubesse e aceitasse
meu sentimentos, eu não teria condições de negar nada a ele. E
olha onde estamos agora, ele simplesmente diz e eu executo sem
reclamar. Por que isso é tudo o que mais quis nessa vida, e é
justamente por isso que volto a beijar seus doces lábios. Rodeando
meus braços na sua cintura, trazendo seu corpo macio para o meu
com força, nos deixando tão grudados um ao outro que consigo
roçar meu pau duro contra o seu também enrijecido. Com a mão
livre, acaricio seu rosto, traçando as costas dos meus dedos sobre
sua pele, alisando seus cabelos loiros e macios, sentindo a textura
de seu corpo em minhas mãos.

Sempre quis isso a minha vida toda, e é muita loucura pensar


que finalmente consegui. Tenho a ligeira impressão de que eu
poderia morrer agora. E se isso acontecesse eu iria para o inferno
sem nenhuma culpa, sem nenhum pesar. Seguro seu rosto com
cuidado, voltando a unir os meus lábios nos seus agora inchados e
mais avermelhados por causa do nosso beijo voraz anterior. Porém
esse beijo de agora é mais lento, pois eu quero aproveitar a doçura
dos seus lábios com calma. Quero guardar o seu sabor em minha
memória, para que ela sempre viva em meus pensamentos diários.
Eu o amo, eu o amo tanto! Amo de uma maneira que nem sei como
explicar o tanto e nem mesmo dizer o tamanho desse amor, mas
entendo que é infinito.

— Droga, por que você é tão bom nisso? — Justin pergunta


irritado me deixando sem entender.

— Como? — Indago e ele faz uma careta, tentando se afastar


de mim, mas é minha vez de não permitir seu afastamento.

— Não é nada, acho que pensei em voz alta! — Resmunga


me causando um riso sincero.

A única pessoa de nós dois que assumiu namoro aqui foi ele,
não eu. Será que ele lembra disso?

— Jus, isso é meio hipócrita, não acha? — Paro olhando para


seu bico, querendo muito morder.

Espera, eu posso fazer isso!

— Aí, caramba! — Reclama ele e eu me sinto na merda do


céu.

— Desculpa, sempre quis fazer isso! — Digo com um pouco


de provocação.

— Por que nunca fez então? — Questiona em confusão e eu


respiro fundo.

— Bem, não é tão simples! — Falo após soltar um pigarro da


garganta. — Por que não sentamos para conversar? — Comento
olhando para ele que está quieto, e cheio de traços do nosso beijo
de antes.

— Tudo bem! — Diz ele de forma calma e eu começo a soltar


seu corpo, mas suas pernas cedem um pouco. — Nossa, acho que
minhas pernas estão meio bambas! — Exclama ele com as
bochechas assumindo um tom avermelhado.

— Está se sentindo bem? — Questino preocupado.

— Sim, você só sugou as forças das minhas pernas com seu


beijo, só isso! — Conta com a voz baixa, perto do meu ouvido. O
calor soprado em meu ouvido, junto com o cheiro delicioso do seu
corpo me causa uma excitação além do limite.

— Justin, querido, não faça isso! Precisamos conversar! —


Aviso com a voz rouca, engolindo em seco.

— Só estava testando! — Brinca ele e eu deixo um beijo forte


nos seus lábios.

— Passei no teste? — Indago em tom sério e ele concordou


debilmente.

— Sim, passou! Agora sei que não se deve subestimar um


mafioso! — Diz ele levemente e eu reviro os olhos.

— Pare de brincar, e venha aqui, bobo! — Peço o carregando


nos meus braços.

Pela primeira vez desde que cheguei começo a notar que o


ambiente está bem diferente da última vez que vim aqui. Vejo isso
porque há uma tenda descansando lindamente no lugar, enfeitada
com pequenas luzes delicadas e brilhantes. Há também um tapete
fofo cobrindo o chão de terra, e muitas almofadas confortáveis
formando um ambiente charmoso, simples e acolhedor. Explico os
detalhes para Justin, o colocando sentado novamente, ao ouvir
minhas palavras ele sorri e nega com a cabeça.

— Eles pensaram literalmente em tudo. — Justin diz sorrindo


lindamente.
— Você fez isso com aqueles pestinhas? — Pergunto olhando
ao redor.

— Tudo o que queria era um momento a sós com você, e eles


fizeram acontecer. — Conta e eu estalo a língua.

— Gostei, não posso negar, mas eles te deixaram aqui


sozinho? E se você realmente se perdesse como aquela vez? — Digo
chateado e ele tateia o tapete para encontrar minha mão. Não perco
tempo e seguro sua mão na minha, entrelaçando nossos dedos.

— Não fique chateado, deu certo, não deu? — Indaga e eu


respiro fundo após beijar os nós dos seus dedos.

— Sim, você tem razão! — Concordo levemente.

— Vik! — Justin chama depois de um breve instante em


silêncio.

— Sim, querido! — Respondo carinhosamente.

— Vamos fazer isso, certo? Vamos ficar juntos, não vamos? —


Questiona apertando nossas mãos com força.

— Como posso negar algo que eu quis por tanto tempo? —


Pergunto de volta, e o vejo sorrir contente.

— Eu também, Vik, mas tive medo de ser só uma ilusão


minha, que esse sentimento intenso que sinto fosse unilateral. —
Explica Justin com pesar.

Não resisto ao vê-lo dessa maneira, por isso o peguei nos


meus braços novamente. Fazendo ele sentar entres minhas pernas,
descansando as suas costas no meu peito, agarrando Justin como o
ser precioso que ele sempre foi para mim. Enterro meu rosto nos
seus cabelos loiros, inspirando profundamente o aroma magnífico
que fica ali, preenchendo cada espaço dos meus pulmões com o seu
cheiro.
— Você não faz ideia de quanto tempo escondo os
sentimentos que tenho por você, malêch. — Minha voz sai abafada
pelo seus cabelos.

— Sério? — Questiona como se não acreditasse.

— Sim, Jus, eu sou louco, alucinado, fascinado de amor por


você! — Declaro sem conseguir mais esconder. — Tudo o que mais
queria nessa minha vida inútil é poder tê-lo assim nos meus braços,
beijar seus lábios e possuí-lo inteiramente para mim. Só que esses
pensamentos eram tão ferozes, intensos de uma forma que achava
que era impossível. Eu me sentia uma besta por desejar o meu
próprio primo de tal maneira tão animalesca e dominadora. —
Aperto meus braços com mais força à sua volta.

— Vik… — Tenta falar Justin, mas o impeço, pois eu precisava


desabafar tudo o que estava em meu coração.

— A vida que escolhi seguir é muito sangrenta, Jus, é


perigosa demais para eu trazê-lo comigo. Você não faz ideia de
quantas vezes eu queria ter coragem de admitir para mim mesmo a
obsessão que sinto. Por que tudo o que espero nessa vida é que
você saiba o quanto eu te amo, o quanto daria ao mundo para tê-lo
nos meus braços. De poder beijar sua boca e fazer o sexo mais
apaixonante que ninguém nesse mundo poderia lhe dar. — Faço
uma pausa ao ouvi-lo arfar. — Sou uma verdadeira besta dominante,
Justin, eu queria rasgar a garganta daquela sua namoradinha no
exato momento que soube que você estava namorando com ela. Eu
queria correr com você para longe, para que ninguém mais tivesse
acesso a você, meu desejo por você é tão grande que é até difícil de
respirar ou manter meu controle. — Termino sentindo sua mão tocar
o meu rosto.

Em poucos instantes Justin ergue seu corpo, e com um


movimento rápido senta no meu colo, se posicionando de forma que
nós dois ficássemos um de frente para o outro.
— Vik, sinto muito, eu não sabia! — Justin diz
apressadamente, colando nossas testas. — Você deve ter sofrido
tanto, mas eu estava preso em um mar de dúvidas sobre o que
sentia. Fui tão burro! — Jus fala em sofrimento e eu beijei
levemente seus lábios.

— Não diga isso de você, você não é burro! — Aviso


seriamente e ele soca meu peito de leve.

— Não me defenda, ainda mais quando neguei meus


sentimentos desse jeito. — Diz ele entre dentes. — Eu realmente
pensei que o fato de querer tê-lo sempre por perto era o meu senso
de familiaridade por você ser o meu primo mais velho, mas é pura
idiotice. O que sinto por você é tão profundo que não se compara
com os nossos outros primos, não é irmandade o que sinto por você,
Vik. — Ele para erguendo a cabeça, me fazendo encarar seus olhos
claros. — Eu te amo, Viktor! Aquele mesmo tipo de amor único que
ouvimos dos nossos pais e avós, o mesmo amor que me faz querer
enfrentar o mundo ao seu lado. O tipo de amor que é difícil de
respirar de tão intenso, o amor que me faz desejá-lo todos os dias.
Posso te dizer isso sempre, porque eu verdadeiramente te amo, Vik!
— Justin diz e eu o abraço com força, enterrando meu rosto no seu
pescoço.

— YA tak sil'no lyublyu tebya, moy Dzhastin! (Eu te amo


muito, meu Justin!) — Me declaro a ele com toda intensidade do
meu ser.

— YA tozhe tebya lyublyu, moy Viktor (Eu também te amo,


meu Viktor!) — Respondeu em russo fazendo meu coração bater
como louco no meu peito.

Volto a beijar o meu amor, amor esse que tanto esperei, que
tanto desejei por muitos e muito anos de minha existência. Sinto
como se esse fosse o momento certo, é como se tudo se encaixasse
para que esse dia fosse o mais perfeito possível. Será que ainda
devo considerar tudo isso que está acontecendo como um sonho?
Será que os deuses vão ser tão infelizes comigo ao me fazer
acreditar que tudo não passou de mais uma loucura da minha
cabeça. Espero que não, porra, eu realmente espero que não! Seria
muito triste se isso acontecesse, por que nunca consegui me
envolver com ninguém todo esse tempo. Minhas noites sempre
foram solitárias, nunca deixei nenhum outro homem se aproximar
demais, pois no final eu sentia como se estivesse traindo o amor que
sinto por Justin.

Sem falar que não existe, neste mundo, ninguém que possa
substituir esse homem à minha frente. Por que independente de
qualquer coisa, o meu coração só poderia pertencer a uma única
pessoa. E essa pessoa é Justin Aandreozzi, o meu único amor!

— Vamos ficar juntos, não é Viktor? — Pergunta ele enquanto


recupera sua respiração.

— É isso mesmo que você quer? — Retorno a pergunta


sentindo o toque de seus dedos no meu rosto.

— Sim, eu treinei esse tempo todo, melhorei meu


condicionamento físico para poder lutar, se caso você corresse de
mim. — Conta ele me fazendo rir.

— Você iria lutar comigo? — Provoco roucamente e ele


concorda com a cabeça.

— Pode apostar que sim — Diz com firmeza.

— Tudo bem, malêch, você não precisa lutar! Por mim você
nunca irá precisar lutar por nada nessa vida. — Digo com a maior
sinceridade.

— Mas não, eu disse e repito, que vou lutar ao seu lado! —


Justin diz e eu franzo o cenho.

— Se você estiver falando da Bratva, eu não quer… — Não


consigo terminar minha frase, pois a palma macia de Justin
bloqueou meus lábios.

— Viktor, não venha me dizer que você me quer longe da


Bratva, por que isso não vai acontecer! — A voz de Justin é tão
decidida que me faz entrar em pânico.

— Você tem ideia do que está falando, Justin? — Rebato


infeliz.

— Com certeza, que tenho! — Confirma com força e eu fico


irritado.

— Não mesmo! — Falo em revolta e ele franze o cenho.

— Não? Você acabou de dizer não? — Pergunta com fúria, e


eu abro a boca para dizer algo, mas fecho de novo. — O que? Você
acha que não tenho capacidade de te proteger porque sou cego? —
Justin diz com raiva e eu ampliei meus olhos.

— De onde… de que merda você está falando? — Questiono


em fúria. — Não existe, nessa geração da nossa família, pessoa mais
forte que você, Justin! O que diabos a sua cegueira tem a ver com
isso? Você é a pessoa que eu mais confiaria minhas costas, não só
por que te amo, mas por que você é a porra do homem mais feroz
com uma maldita espada que já vi! — Esbravejo em revolta, me
sentindo injustiçado por ele pensar uma besteira dessas.

— Era isso que eu queria ouvir! — Justin diz abrindo um


sorriso cheio de confiança. — Viu só amor, até você reconhece que
sou mais forte que você! — Justin fala me provocando, mas parei de
ouvir qualquer outra coisa além de ouvi-lo me chamar de amor.

— Amor, não é? — Pergunto, me sentindo um verdadeiro


bobo.

— Claro, e você queria o que mais? — Questiona virando a


cabeça, do mesmo modo de sempre quando está com dúvidas. E
isso fez meus dedos coçarem para tocá-lo.
— Nada, nada mesmo! — Respondo profundamente, alisando
os meus dedos no seu pescoço. — Merda, como você pode me fazer
esquecer o que estava falando, só por causa de uma simples
palavra? — Pergunto com indignação e isso o faz rir.

— É a arte milenar de estar apaixonado, Vik! — Brinca Jus me


fazendo concordar.

— Não tenho como negar isso! — Respondo e ele se joga nos


meus braços.

Não posso deixar a conversa anterior parar por aqui. Mesmo


que eu saiba a força da natureza que Justin é, não posso permitir
que ele se machuque por minha causa. A Bratva não é uma simples
organização, é um núcleo infernal que contém pessoas em todos os
lugares. Eu tenho muitos inimigos, ainda mais agora que matei
praticamente toda a família Petrova, e tem a família Yegorov
tentando puxar meu tapete. As coisas vão ficar mais intensas a
partir de agora, tenho absoluta certeza disso, os meus inimigos
ficaram mais ansiosos do que nunca. Como posso deixar o amor da
minha vida entrar em uma sujeira dessas, ainda mais agora que sei
seus sentimentos? Merda, ainda tenho muito o que falar com Jus,
mas não hoje, deixe-me curtir esse momento de agora!

— Querido, tenho uma pergunta. — Jus diz me tirando dos


pensamentos.

— O que foi? — Indago curioso.

— Agora que estamos juntos, quando vamos contar a nossa


família? — A pergunta de Justin fez a minha bolha de amor estourar
e a realidade me dar um tapa na cara.

— Essa é uma boa pergunta, malêch! — Respondo em forma


de sussurro.

Não tenho uma resposta clara para dar a Justin agora, mas
uma coisa eu tenho certeza. Agora que tenho Justin para mim,
retorno a dizer que não existe ninguém nesse mundo capaz de tirá-
lo de mim.

E nossa família precisa saber disso, ela vai saber disso o mais
rápido possível!
CAPÍTULO 19

— Não seria legal anunciar para a família no aniversário de


nossa bisavó, certo? — Justin pergunta e eu respirei fundo.

— Realmente, a atenção deve estar toda nela, pois é seu dia


festivo. — Digo e Justin aperta seus braços à minha volta.

— Mas eu não queria esperar muito tempo, não gosto de


esconder coisas importantes de minhas mães. — Aponta ele e é
impossível não deixar um sorriso escapar dos meus lábios.

— Coisas importantes, certo? — Pergunto alisando seus


cabelos macios.

— Claro, nosso relacionamento é algo de extrema


importância! — Diz ele com tanta confiança que faz meu corpo
acender.

— Merda, Justin, você não pode falar essas coisas enquanto


está sentado no meu colo. — Digo com a mandíbula cerrada e ele
para voltando a sentar ereto.

— Espera, mas eu… — Começa ele fazendo um leve


movimento de quadril, encaixando sua bundinha perfeita no meu
pacote endurecido. — Ah, eu vejo! — Fala baixinho com o rosto
ficando vermelho.

— Droga! — Xingo após engolir em seco.

Sem perder tempo segurei o seu pulso e puxei o corpo


delicioso de Justin, deixando assim que o seu peitoral forte bata com
força contra o meu. Passo minha mão livre por todas as suas costas
fortes, parando na sua nuca, permitindo que meus dedos
pressionem um pouco sua pele. Mergulho minha boca contra a dele,
desejando que eu pudesse desesperadamente afundar o meu corpo
no seu. Mordo e lambo a costura dos seus lábios, aprofundando
mais e mais o nosso beijo cheio de prazer, ardência e paixão. Fui um
pouco mais ousado em libertar seus lábios, para que assim minha
boca possa descer livremente pelo seu pescoço alongado. Roço
minha barba por toda extensão, fazendo com que sua pele branca
fique rosada devido ao atrito. Um doce e arrastado gemido sai dos
lábios entreabertos de Justin, e isso me dá um incentivo maior de
continuar com as minhas investidas.

Volto a beijar sua boca com mais afinco, ousando descer


minhas mãos até sua bunda arredondada. Aperto com força sua
carne, e isso faz com que Justin pressione seu pau rígido e com um
ótimo volume contra a minha barriga. Suas mãos alisavam minhas
costas cheias de ansiedade, e me sinto no céu com tudo isso. No
entanto, quando uma das suas mãozinhas atrevidas decidiu deixar
minhas costas para poder perambular contra o cós da minha calça, a
realidade recai sobre mim. Deixo um último beijo nos lábios de
Justin e afastei seu corpo rapidamente, e isso o deixa confuso.
Regulo minha respiração, observando-o fazer a mesma coisa, engulo
com dificuldade, principalmente quando vejo seus lábios inchados e
pescoço avermelhado.
— Por que, Vik? — Questiona Justin com uma expressão
enérgica.

— Mílêy (Querido), me ouça com atenção. — Peço com a voz


profunda segurando os dois lados do seu rosto lindo. — Se
continuarmos desse jeito, eu não sei se vou poder me segurar. —
Explico deixando um beijo em cada um dos seus olhos.

— E por que se segurar? — Pergunta ele com um rosto ainda


mais confuso.

— Justin, malêch, você não faz ideia do quanto desejei você


dessa forma, nos meus braços, mas não podemos fazer isso aqui e
agora, entende? — Pergunto com carinho, distribuindo beijos por
toda a extensão de seu rosto.

— Ah, é isso! — Diz ele fazendo bico, e eu não resisto e


mordo. — Nossa, Vik, isso doeu! — Reclama ele, mas eu rio.

— Tudo bem, tudo bem, me desculpe! — Peço não sentindo


nenhuma culpa. — Não quero que nossa primeira vez seja em uma
tenda formada por nossos primos, perto de um curral na véspera do
aniversário de nossa bisnonna. — Digo seriamente com desgosto e
isso lhe causa um ataque de riso.

— Isso seria realmente péssimo! — Fala em compreensão.

— Pois é, quando eu tiver você nos meus braços quero que


seja um momento… — Tento dizer, mas a mão de Justin me impede
de continuar.

— Não diga especial, porque não sou uma menina para ser
tratado com delicadeza. — Repreende ele com uma careta.

— Mas eu não penso em você delicado de forma alguma, Jus!


— Rebato assim que me livro de sua mão.
— Acho bom mesmo, não gosto disso! — Reclama e eu bufo
uma risada.

— Não seja assim, eu nunca namorei com uma menina para


saber como se trata uma. — Aponto levemente e ele fica surpreso.

— Sério? — pergunta sem jeito.

— Sim, desde sempre me considerei um homem gay. —


Respondo livremente, já que não pretendo esconder nada dele.

— Com quantos homens você já dormiu? — Indaga ele sem


esconder os ciúmes e isso me deixa feliz por algum motivo.

— Não sei ao certo! — Digo tranquilamente e ele dá um soco


no meu peito.

— Porra, foram tando assim para faze-lo esquecer? —


Pergunta entre dentes e é minha vez de rir alto.

— Se acalme, querido, não foram tantos assim! — Respondo


ainda rindo, mas isso o deixa mais irritado.

— Olha só isso, eu me tornei um louco possessivo! —


Reclama ele com fúria e eu o abraço.

— Agora você sabe como me senti quando cheguei no


hospital e vi aquela pequena criatura tímida ao seu lado, segurando
sua mão como se você pertencesse a ela. — Conto com meus lábios
colados no seu ouvido. — Odiei aquilo, eu queria matá-la, Justin! Eu
queria rasgar aquela menina como a porra de uma fera amaldiçoada.
Saber que o meu Justin poderia estar tão perto de alguém que não
fosse eu, me deixou maluco. — Confesso abertamente, mostrando o
quão louco e possessivo que sou.

— Sério? — Indaga com a voz pequena, com uma certa


dificuldade por causa da rouquidão.
— Não duvide nenhum maldito segundo sequer, Justin! —
Mando e ele assentiu engolindo com dificuldade.

— Nora e eu não estamos mais juntos desde o momento que


descobri meus sentimentos por você, Vik! — Conta ele e eu respiro
fundo.

— Acho bom ela manter distância, porque agora você é meu!


— Aviso com firmeza e ele morde os lábios inferiores.

— Serei um tarado se disse que adoro ver você desse jeito


tão violento e territorial? — Questiona em dúvida. — Talvez não, por
que também me sinto da mesma maneira! — Ele responde sua
própria pergunta e isso me faz relaxar.

— Ah, Jus! Não sei o que faço com você! — Falo esquecendo
minha onda violenta anterior.

Abraço Justin com força, tentando de todas as formas manter


esse momento para sempre. Adoro o modo que estamos falando
livremente um com o outro, isso é tão agradável que me faz desejar
que o tempo parasse. Quando digo que gostaria muito de matar
aquela menina que Justin namorava anteriormente, eu estou
dizendo a verdade. Procurei por alguma falha dela através de
Eduarda e Samantha, se elas me dissessem que algo estava errado e
que aquela menina não era nada do que aparentava para Justin, eu
a mataria sem pensar duas vezes. Para mim seria menos uma coisa
no meu caminho, nada mais do que isso, mas havia Justin também.
Eu não poderia fazer isso, pois não é do meu feitio deixá-lo infeliz,
para mim a felicidade de Justin vem em primeiro lugar. Sendo assim,
deixei de lado as informações coletadas, que não havia nada demais
realmente, e deixei esse assunto de lado. Por que se Jus queria
manter um relacionamento, eu não seria ninguém para poder
impedi-lo.

Contudo cá estamos nós, mergulhados nos braços um do


outro, esquecendo completamente do mundo lá fora da nossa
pequena bolha. Neste momento não existe o Viktor mafioso, mas
sim o Viktor adolescente que carregou o pequeno Justin no colo pela
primeira vez. Ali eu queria proteger a pequena criatura que não
poderia ver o mundo do mesmo modo que todos. Queria que ele
soubesse que haveria pessoas como eu, que estariam sempre ao
seu lado, mas naquele momento eu ainda não tinha dimensão do
quanto essa proteção se transformaria em algo tão intenso. Valioso
ao ponto de ser inquebrável como a porra de um diamante. Eu
amava Justin antes, e o amo muito mais agora, pois agora sei o
quão incrível é quando estamos juntos. Como beijar sua boca me
transforma em um homem sedento, alucinado e fodidamente
apaixonado.

Céus, será que eu realmente devo ter tanta felicidade? Será


que eu posso manter Justin seguro das merdas da minha vida? Por
favor, eu não quero muito para mim, mas por ele eu faço qualquer
coisa para que ele esteja sempre com um sorriso radiante, mesmo
que eu tenha que sujar minhas mãos ainda mais com sangue.

—O que tanto você pensa, Vik? — Pergunta Jus me tirando


dos pensamentos.

— Que a gente vai ter que ir para casa, infelizmente. — Minto


em tom baixo.

— Verdade, não quero isso! — Confessa apertando seus


braços em volta de mim.

—Também não, mas nossos pais devem estar se perguntando


onde estamos. — Digo e ele bufa um riso.

— Tenho certeza que… — Justin começa a falar, mas para


erguendo o corpo. — Ouço passos, mas ainda não consigo
reconhecer. — Conta ele assumindo uma postura totalmente
diferente.
— Passos, em qual direção? — Pergunto já pronto para
levantar, pois pode ser algum dos muitos inimigos que nossa família
possui.

— Espera! — Diz Jus, segurando meu braço. — São nossos


primos, eles vão chegar em poucos instantes! — Detalha ele e eu
franzo o cenho.

— Justin, Viktor! — Samantha chama nossos nomes, trazendo


com ela Pietro e Eduarda.

— Sinto muito estourar a bolha de amor de vocês, mas tia


Luna está preocupada com Justin e Tio Andrea acabou de descobrir
que Vik chegou de viagem. — Duda diz apontando com o polegar na
direção da casa.

— O pobre Otto está tentando impedir tio Déa de fazer


perguntas a Natska, que mentiu ao dizer que você estava em
ligação. — Pietro conta e eu franzo o cenho, enquanto ajudo Justin a
levantar.

— Natska está junto com vocês nisso tudo? — Questiono


friamente e eles negam rapidamente.

— Nem pensar, ela só sabe que você tinha ido ajudar nosso
primo, e que minhas tias não podiam saber para não ficarem
preocupadas. — Sam conta, dando um sorriso malicioso, mas vendo
o meu rosto impassível para ela no mesmo momento.

— Então vamos, não podemos ficar inventando histórias para


nossos pais! — Justin diz fazendo careta.

— Sei que você não gosta disso, mas vamos só esperar


passar o aniversário de bisnonna Francesca. — Digo a ele, apertando
sua mão, é isso o fez sorrir lindamente.

— Sim, querido, eu vou te ouvir! — Jus diz e eu aliso seu


rosto carinhosamente.
— Caramba, é feio sentir inveja dos irmãos? — Pietro diz com
tristeza e Duda lhe dá um tapa atrás da cabeça.

— Fica quieto, ursinho! — Eduarda manda e Pietro olha para


ela com irritação, esfregando a cabeça.

— Caspita, que mãozinha pesada! — Resmunga Pietro e sua


irmã ergue a mão para bater nele novamente, mas ele evita. — Sai
daqui, ursinha!

— Tudo bem, parem de lutar! — Mando e eles param. —


Samantha e Pietro acompanhem Jus de volta para casa. — Peço e
eles assentem.

— Mas e você? — Justin pergunta segurando meu antebraço.

— Fique tranquilo, vou logo depois de você! — Digo e ele


franze o cenho. — Não se preocupe, isso será por pouco tempo. —
Explico com a voz tranquila e ele concorda com relutância.

— Se é assim, tudo bem! — Fala desanimado e eu olho para


meus primos que vem até Jus.

— Vamos lá, abóbora! — Sam chama, colocando sua mão no


seu braço e Pietro faz o mesmo.

Vejo Sam e Pietro começarem a guiar Justin para longe, mas


eles param de repente olhando para mim com a felicidade escrita
naqueles olhos espertos e cheios de vida.

— Estamos muito felizes por vocês! — Pietro diz alegremente.

— Parabéns, a vocês dois, irmãos! — Sam completa e eu dou


um curto sorriso, confirmando com a cabeça em agradecimento. E
após isso eles saem, levando o meu Justin com eles.

— Obrigado, eu não esperava por isso! — Digo em voz alta


para a única pessoa restante que era Eduarda.
— Não há necessidade de agradecimentos, somos família, seu
russo sem noção! — Duda diz dando um soco de leve no meu braço.

— Compreendo! — Falo levemente e ela sorri brilhantemente.

— Estou muito feliz por vocês, não aguentava mais olhar para
sua cara de cachorrinho apaixonado toda vez que via nosso Jus. —
Eduarda diz e eu a encaro friamente.

— Não existe nosso aqui, fique ciente disso! — Conto em tom


sério e ela estala a língua.

— Sim, sim senhor territorialista! — Diz ela abanando as


mãos com desdém.

— Esse é o mal de nós, Aandreozzi, sestra! — Olho para ela


fixamente. — Espere de mim o retorno quando você encontrar sua
pessoa! — Concluo minhas palavras, saindo logo em seguida,
deixando Duda boquiaberta.

— Olha o que temos aqui? Isso é terrível até para você,


irmão! — Grita ela inconformada. — Espere por mim, Vik! — Grita
ela novamente.

Não paro meus passos, mas logo ouço suas botas de salto
batendo no chão, e em poucos instantes Duda se posiciona ao meu
lado. Caminhamos juntos em direção a grande casa da fazenda, ao
passar por Natska aceno com a cabeça em agradecimento e ela
retorna o meu aceno. Não dizemos mais nada um ao outro e eu
volto minha atenção agora a meu pai Andrea que surgiu na grande
varanda da casa. Ele vem ao meu encontro, e eu logo o abraço
apertado, afirmando para ele que não se preocupasse, e que me
encontrava bem e que os negócios em Moscou foram resolvidos. Ao
ouvir minha explicação, meu pai Andrea ficou visivelmente aliviado,
depois de tanta preocupação fui puxado pelo meu pai para dentro
da casa. A primeira coisa que faço ao dar de cara com todos os
integrantes de nossa família é procurar a localização de Justin entre
eles.

Quando finalmente o encontro, me sinto aliviado ao vê-lo


sendo abraçado por minha tia Luna e Laila ao lado. Mesmo daqui eu
posso ver seu sorriso radiante ao conversar animadamente com suas
mães e Samantha. Tiros meus olhos de Justin com relutância e volto
a dar atenção ao meu pai Andrea, que agora está sendo
tranquilizado por meu pai Enzo, reafirmando ao Papa que eu cumpri
com a minha promessa. Enquanto conversava com meus pais como
foi minha viagem a Moscou, sem dar muitos detalhes, fui
interceptado de forma brusca pelos meus irmãos gêmeos. Gian e
Enrico vieram até mim na companhia de Otto, falando
animadamente sobre coisas diversas que aconteceram com eles no
tempo em que estive fora. Ouvi cada uma das suas palavras com o
máximo de atenção possível, mas quando meus avós apareceram,
eu tive que pedir para falar com eles depois, pois tinha que
parabenizar a nossa bisavó.

— Buon compleanno, bisnonna! — Desejo em italiano,


fazendo nonna Francesca sorrir largamente.

— Grazie mille, mio ​bellissimo ragazzo! (Muito obrigada, meu


lindo menino!) — Bisa agradece dando tapinhas leves no meu rosto
em forma de carinho. — Eu sabia que você passaria esse dia com
sua nonna! — Conclui, sem esconder sua felicidade e eu dou um
pequeno sorriso.

— Eu não poderia estar em outro lugar, bisa! — Falo e ela


sorri ainda mais. — Aqui está, eu trouxe um presente para a
senhora! — Digo sinalizando para Natska que estava esperando pelo
meu sinal.

— Davvero? (Realmente?) — Pergunta ela sem acreditar.

— Claro que sim, eu não poderia vir de viagem e não trazer


presente para a senhora. — Digo seriamente pegando a caixa de
presente com Natska. — Aqui está! — Apresento a caixa a ela que
pega animadamente.

— Ma dali! — A primeira expressão de surpresa é de nonna


Arianna.

— Non posso crederci! (Não acredito!) — Nonna Francesca


exclama colocando uma das mãos livres na boca.

— Deixe-me segurar para a senhora, mamma, isso é muito


sensível. — Nonno Donatello diz tentando pegar a caixa das mãos de
minha bisa, mas ela desvia.

— Cai fora, praga! Esse é o presente que meu bisneto me


deu! — Bisa diz com raiva para meu nonno, mas logo voltou sua
atenção para mim. — Diga-me querido, conte como conseguiu algo
tão magnífico, isso aqui é um dos Ovos de Fabergé. Tenho certeza
que matou alguns russos danatti (malditos), para passar a mão
nessa preciosidade, não é? — Questiona bisa, balançando as
sobrancelhas de forma animada.

— A senhora sabe como é, certo? — Aponto dando de


ombros e ela solta uma gargalhada.

— Esse é meu garoto! — Diz ela abraçando a caixa com


carinho. — Essa preciosidade eu vou levar para o meu caixão, é uma
pena deixar de herança para Donatello, ele só me dá desgosto. —
Confidência Bisa e meu nonno fica horrorizado.

— Mamma, não posso crer nisso! — Nonno diz inconformado.

— Não seja assim, com o nonno, ele é incrível para todos nós.
— Digo a bisa e meu avô sorri para mim em agradecimento por
estar ao seu lado.

— Ele pode ser bacaninha às vezes, mas nem sempre! — Bisa


diz dando uma piscadela para mim. — Aqui filho, babe nos ovos dos
outros… que dizer… Ovos de Fabergé. — Bisa diz e eu tento não
olhar para meu pobre nonno, que está fazendo uma cara de
inconformado.

Dou um sorriso curto ao ver meus avós discutindo do mesmo


modo de sempre, mas mesmo com tantas coisas que bisa faz com
nonno, eles não se desgrudam um segundo sequer. Tiro os olhos da
animação dos mais velhos da família quando notei a aproximação de
tio Luigi, e o marido de tia Gio, Aaron, virem até mim.

— Não pude vir na última vez, mas soube que você poderia
estar com problemas, Vik! — Tio Luigi diz com preocupação.

— Tudo foi resolvido, tio, não precisa se preocupar! — Falo


levemente e ele concorda.

— Se precisar de alguma coisa, eu ainda tenho meus contatos


na minha antiga gangue de motoqueiros. — Aaron diz seriamente e
eu dou um curto sorriso.

— Agradeço por isso, e vou me lembrar dessa sugestão! —


Sorrio de lado, agradecendo a Aaron pelo apoio.

— Não precisa de agradecimento, essa família me acolheu


desde sempre, se eu puder fazer algo ficarei feliz. — Diz ele e tio
Luigi segura seu ombro.

— Você está tão sociável agora, não lembro de ser assim o


tempo todo. — Tio Luigi diz e Aaron revira os olhos.

— Não tente imitar o Lucca, isso não combina contigo, cara!


— Aaron acusa e tio Luigi bufa.

— Me pegou, senhor tatuado! — Tio Luigi diz, assumindo sua


postura séria de sempre.

— Melhor assim, eu já estava começando a ficar nervoso


aqui. — Aaron aponta franzindo o cenho.
Fico conversando com eles por um tempo, até a chegada de
tio Lucca e Giovanna, que me saudaram animadamente e com todo
o carinho de tios que sentem por mim. No entanto, eles logo
iniciaram uma conversa com seus respectivos maridos, resolvi deixá-
los e ir até meus pais que estavam em uma conversa com tio Filippo
e Luti, e minhas tias Luna e Laila. Após dizer olá aos meus tios,
contei a eles minha vontade de dormir cedo para poder estar inteiro
no aniversário de minha bisa. Meus pais ficaram preocupados com a
possibilidade de que eu esteja ferido em algum lugar, e esteja
escondendo deles, mas neguei rapidamente. Até porque o ferimento
que tive, causado especialmente por Vigor Petrova, passou de
raspão e logo foi cicatrizado. Porém, eles não precisam se preocupar
por uma besteira dessas, só que meu corpo está realmente cansado
devido a mudança brusca de fuso horário.

Depois de falar mais um pouco com meus pais, me despedi


dos presentes e fui para a ala da mansão antiga onde fica o meu
quarto. Mas antes de subir passei por Justin que estava segurando
Hope, enquanto conversava animadamente com nossos primos.
Observei seu rosto magnífico, me sentindo um homem muito
sortudo por poder tê-lo finalmente ao meu lado. Inferno, eu adoraria
poder gritar para a família inteira que Justin é meu, para que assim
eu pudesse arrastá-lo para o meu quarto. Mas infelizmente ainda
não podemos fazer isso, terei que esperar mais um tempo. Evitando
dizer qualquer coisa, tirei meus olhos de Justin e segui para o meu
quarto. Me desfaço das minhas roupas pronto para me jogar em um
banho quente, afim de relaxar os meus músculos tensos.

No entanto, antes que eu pudesse seguir para o banheiro, a


porta do meu quarto foi aberta abruptamente. Me assusto ao ver
Justin passar pela porta correndo, fechando ela logo em seguida.

— Jus, querido, o que você está fazendo? — Pergunto


confuso ao vê-lo tatear a porta à procura da fechadura. Logo ouço o
trinco da chave sendo passado, e Justin descansando as costas na
porta de madeira.
— O que mais seria? Eu vim passar a noite com o meu
homem às escondidas! Nossa, isso é excitante, não acha? — Justin
diz com um largo sorriso nos lábios.

— Merda, Justin! — Falo com a voz rouca e com passos largos


chego até onde ele está. — Porra, eu te amo! — Declaro com a voz
arrastada, jogando meu corpo sobre o dele.

— Então prove! Prove que me ama, senhor mafioso russo! —


Brinca Justin, mas eu infelizmente não estou para brincadeira.

O desejo no meu corpo é tão grande que nem mesmo estou


conseguindo raciocinar direito. Tudo o que sei é que minha doce
presa veio ao meu encontro, pronto para ser devorado ferozmente
por mim.

E porra, isso é fodidamente incrível!


CAPÍTULO 20

Fico me perguntando o que passa na cabeça de Justin para


vir ao meu quarto de modo tão repentino. Será que ele realmente
sabe as coisas que eu poderia fazer com ele agora? Acho que não,
porque se soubesse ele não estaria aqui tão desprevenido. Sinto
minha respiração ficar mais pesada ao olhar para o belo homem
parado à minha frente, encostado na porta como a linda presa que
ele é. Por que sim, para um animal enjaulado como eu, que a muito
tempo está lutando para tomar controle do meu corpo, Justin é
considerado a melhor presa possível. Salivei ao sentir o cheiro
gostoso que emana do seu corpo, me sinto como um fodido lobo
faminto dando de cara com um belo bife sangrento. Aperto com
força os meus punhos, pressionados contra a madeira da porta do
meu quarto. Tentando assim manter o fio único de controle que me
resta.

No entanto, esse maldito fio se partiu no momento que o


amor da minha vida rodeia seus braços no meu pescoço e pede para
que eu o beije. Porra, como posso negar um pedido desses? Sendo
assim, não perco tempo e pego Justin no meu colo de modo
abrupto, o assustando um pouco. Só que peço baixinho no seu
ouvido para que ele se acalme, pois jamais deixarei com que ele se
desequilibre em meus braços. Ele ri, dizendo que não se importa,
pois confia plenamente em mim. Merda, como posso lidar com uma
coisa dessas? Soltando um rosnado baixo na garganta eu beijo
Justin como um louco, não me importando com mais nada. Com
suas pernas em volta da minha cintura, suas costas presas na porta,
seu pau duro pressionando contra o meu, que já está rígido desde o
momento que ele entrou aqui. Eu me vi enlouquecendo até não
aguentar mais.

— E essas cicatrizes que sinto no seu corpo, Vik? — Justin


pergunta baixinho alisando minhas costas.

— Sei que são nojentas, você não precisa tocá-las! — Peço


com a voz rouca, tentando descê-lo, mas Justin prende suas pernas
com força.

— Que merda você está dizendo? Nada em você é nojento,


Viktor! — Diz ele com firmeza segurando os dois lados do meu rosto.

— Você diz isso porque não pode… — Começo a dizer, mas


me calo quando suas mãos pressionam meu rosto com força a ponto
de doer. — Nossa, Jus! — Reclamo e ele faz um bico.

— Só assim para você parar de dizer merda! — Reclama com


irritação.

— Mas só estou dizendo a verdade! — Tento explicar e ele


fica mais irritado ainda.

— Se é assim, tire toda sua roupa e me deixe tocar em toda a


extensão do seu corpo. — Diz ele e eu amplio meus olhos. — Só
assim vai evitar que você diga alguma bobagem! — Jus conclui entre
dentes.
— Hum, querido… — Tento dizer, mas minha boca seca em
expectativa de suas mãos em mim.

— O que? Vai me impedir? — Justin pergunta e eu faço um


som de negação.

— Jamais! — Nego sem pensar duas vezes. — Eu sou seu e


você pode fazer o que quiser! — Respondo de forma rápida e ele
abre um sorriso cheio de malícia.

— Se é assim, vamos tomar um banho juntos? — Pede ele


dando um lindo sorriso e eu paro no mesmo momento.

— Malêch, por favor, não me torture! — Suplico com


dificuldade, sentindo meu pau forçar contra a roupa.

— Como posso torturar você? — Indaga ele, fingindo


inocência.

— Justin! — Chamo seu nome em forma de súplica e ele ri,


seu riso é tão gostoso que escondo meu rosto na curva do seu
pescoço.

Justin não faz dimensão do quanto esse tipo de pedido pode


causar em mim. Se ele soubesse não estaria pedindo para tomar
banho comigo, porque só os Deuses sabem quantas noite sonhei em
ter seu corpo nu à minha mercê. Foram tantos sonhos molhados que
perdi as contas, faz muito tempo que sonho em ter esse homem
para mim. Sempre quis saber o gosto do seu pau na minha boca,
tremo só de imaginar o jato quente do seu esperma descendo pela
minha garganta. Inferno! Se ele tivesse noção do quanto quero
afundar meu pau tão fundo no seu buraco, como espero fazê-lo
gritar, chorar e implorar enquanto continuo a marcá-lo para sempre
como meu. E se eu tivesse permissão de poder ter seu corpo nu
perto do meu, seria fodido demais, pois se tem uma coisa que iria
deixar de existir é o meu controle.
Sentindo minha mente nublada com os conteúdos dos meus
pensamentos, eu devoro sua boca novamente. Carrego Justin nos
meus braços, guiado apenas pelo instinto, caminhando cegamente
até sentir a beirada da cama contra minha perna. É só então que o
deito com cuidado, como se o mundo inteiro estivesse nas minhas
mãos. Sem esperar que ele se adapte à nova superfície, eu deito
meu corpo sob o dele. Observo como um louco alucinado o seu
rosto corado, sua boca entreaberta enquanto tenta puxar o ar para
seus pulmões, e sua camisa erguida mostrando brevemente o
caminho em formato de v no seu abdômen.

Inferno, se exige um homem mais sexy nessa terra de merda,


que o homem em minha cama, eu simplesmente desconheço.

— Se você soubesse do perigo dessas suas palavras, você


não estaria ousando dizê-las para mim, Jus! — Rosno essas palavras
descendo meu rosto até chegar em seu ouvido e ele estremece.

— Sim… por que? — Questiona baixinho de modo arrastado


mordendo os lábios inferiores.

Tesão do inferno!

— Você não está pronto ainda, querido! — Falo com


dificuldade descendo uma das minhas mãos até o cós da sua calça.

— E se eu estiver? Eu não sou mais nenhum virgem, sabia?


— Indaga ele me causando uma raiva sem igual.

— Não fale sobre ex-amantes quando você estiver comigo! —


Mando seriamente, rangendo os dentes.

— Oh, entendo! — Diz ele em reconhecimento, e logo solta


uma risada.

— Por que esse risinho? — Pergunto e ele nega.


— Não é nada, só percebi que você sente a mesma
possessividade que sinto. — Justin diz sorrindo de forma brilhante.

— Só não se esqueça que comigo as coisas são diferentes, eu


posso matar qualquer um sem pudor algum. Eu sou um mafioso,
lembra? — Aviso friamente e ele concordou prontamente.

— Claro que lembro, essa é a parte sexy em você! — Jus diz


e eu faço um som de negação. — Mas saiba de algo também, Vik,
eu também posso matar! — Diz ele assumindo uma seriedade que
me deixou mais louco por ele do que já sou.

— Golpe baixo, isso foi puro golpe baixo! — Reclamo de


forma carrancuda.

— As pessoas trabalham com as armas que tem, e olha, eu


tenho muitas! — Diz ele convencido e eu não resisto a beijá-lo
novamente.

Confesso que estou louco para fazer amor com Justin, se nós
não estivéssemos com toda nossa família reunida aqui, eu
obviamente já teria caído na tentação. No entanto, respeito demais
os mais velhos dessa família, e a Justin também, para me deixar
levar dessa maneira. Quero fazer as coisas certas com ele, quero
que nossos pais saibam sobre o nosso relacionamento, quero levá-lo
para jantar. Sei lá, quero poder fazer coisas que jamais sonhei em
fazer com outra pessoa, por que esse é o meu Justin, o único que
sempre quis ao meu lado. Para mim ele é o ser mais especial,
precioso e infinito que existe nesse mundo sujo e cheio de merda.
Um homem cheio de virtudes, que jamais se deixou abater pela
cegueira — uma condição que nunca o fez se sentir menor.. Tenho
tanto orgulho de Justin, e ele nem sabe o quanto.

— Me abrace, Vik! — Pede ele.

— Como quiser, malêch! — Respondo carinhosamente.


Ao ouvir seu pedido não perco tempo em deitar ao seu lado,
para poder encaixar nossos corpos, segurar sua cintura com força,
enterrando meu rosto nos seus cabelos. Aproveitando toda a magia
desse momento íntimo, momento esse que faço questão de
desfrutar cada segundo ao máximo.

— Querido? — Chama Jus depois de um tempo, com os olhos


fechados.

— Sim! — Respondo de forma abafada.

— A partir de hoje, deixamos de ser primos, para nos tornar


oficialmente namorados, certo? — Questiona Justin baixinho.

— É isso que você quer? — Indago com a voz pesada.

— Sim, não quero mais perder tempo, quero viver isso que
temos com toda intensidade. — A voz de Justin sai calma, como se
quisesse realmente me passar uma mensagem clara.

— Se é isso que você quer, cumprirei com seus desejos, moy


sólnyshko. — Digo o apertando com mais força.

— O que essa palavra significa, não sei se eu lembro de


aprendê-la. — Justin pergunta com dúvida na voz e isso me faz rir.

— Não sei se quero dizer, acho que vou guardar só para mim.
— Provoco e ele gira o corpo para poder ficar de frente para mim.

— Por que eu não sabia que você tinha esse lado? —


pergunta franzindo o cenho.

— Que lado? — Pergunto de volta o encarando em confusão.

— Esse lado aí, cheio de palhaçadinhas!!! — Diz ele infeliz e


eu rio.

— Como não? Eu sou um verdadeiro brincalhão! — Respondo


seriamente e o ouço soprar.
— Oh sim, até parece que não te conheço, praticamente
minha vida toda. — Aponta ele, erguendo sua mão para colocar no
meu rosto, e sem esperar por seu pedido descanso a sua palma
quente na minha bochecha.

— Sim, você conhece! — Ressalto o encarando com os olhos


amolecidos. — Para você eu posso ser qualquer coisa, mas isso é só
para você, e sabe por que? — Questiono e ele negou com a cabeça.
— Por que você sempre foi como um sol para mim, iluminando meu
caminho com sua luz brilhante e cheia de vida. Ty moye solntse, Jus!
(Você é meu sol, Jus!) Meu pequeno sol da manhã, minha luz! —
Minha voz sai rouca, carregada de sentimentos intensos.

— Nossa, estou sem palavras, estou realmente sem palavras,


mas consigo dizer que te amo. — Justin volta a me abraçar. — Te
amo muito e serei seu, sou seu para sempre, Vik! — Diz com a voz
embargada.

— Sim, Jus, você é meu pra sempre! — Digo com a voz


carregada de possessividade.

Volto a descansar minhas costas na cama, mas dessa vez


trazendo Justin para o meu peito. Fecho meus olhos, aproveitando
esse instante de amor que nos rodeia, e que por mim, poderíamos
ficar aqui por muito tempo. Porém, temos um aniversário para
festejar, e depois de passar as festividades poderemos aproveitar ao
máximo um ao outro.

Observo no canto da enorme sala de estar da fazenda a


minha família toda reunida, conversando, rindo e brincando uns com
os outros. E um sentimento puro preenche meu coração de uma
forma que nem sei explicar. Eu amo essa família, amo a forma como
tudo aqui é leve apesar de todas as adversidades, que cada um que
está presente, já viveu. Deixo um pequeno sorriso sair dos meus
lábios ao ver minha bisavó sorrindo animada em seu aniversário,
enquanto seu filho, nora, netos e bisnetos estão ao seu lado. Sinto
sua felicidade expandir por todas as direções, e com isso sei que ela
está se sentindo realizada com esse aniversário simples, mas
recheado de amor, que organizamos para ela. E isso me deixa
imensamente contente, porque sei no meu coração que é
justamente aqui que eu deveria estar. Por que aqui eu esqueço
totalmente que em minha vida agora existem perigos constantes
que me rondam dia e noite. Aqui eu posso somente ser o bisneto de
nonna Francesca, essa velhinha cheia de fibra, e obviamente, de
traquinagem.

Lembro dessa manhã quando acordei com Justin dormindo


pacificamente no meu peito. Naquele momento eu me sentia um
homem poderoso, somente por poder dormir a noite toda com o
meu amor. Sabe como isso é incrível? Eu não sabia até poder viver
aquilo, e porra, foi lindo demais! Porém aquele momento feliz teve
que ser quebrado quando tive que acordá-lo para mandá-lo até seu
quarto. Como a família ainda não sabe sobre nós, seria um pouco
complicado explicar a situação, mas sei que isso não irá durar muito
tempo. Por que faço questão de não esconder o que sinto por Justin,
nem mesmo para nossa família. E mesmo que tenha me cortado em
pedaços sair às escondidas daquela forma, nós tivemos que fazer. Só
que esse sentimento ficou de escanteio no momento que terminei
de me arrumar e desci para tomar café com a família. Ao vê-los
reunidos no café da manhã me fez entender que esse momento é de
minha bisavó, e de mais ninguém.

— Viktor, como você está? — Ouço uma voz grave em


italiano, olho para o lado, dando de cara com Augusto Nardelli vindo
até mim.
— Oi tio, estou bem, por que a preocupação? — Indago
olhando para ele com calma.

— Não sei, vi você aqui sozinho, achei que tinha algum


problema acontecendo. — Revela ele e eu olho para sua postura
carrancuda de sempre.

— Todos os meus problemas foram deixados de lado, por que


ver essa cena me traz muita paz. — Confidencio apontando para
minha família reunida.

— Entendo você, meu sobrinho! — Concorda ele.

Seu olhar se volta para seu marido rindo com tio Luiz e seu
neto, Gabriel, sentado no colo de Duda enquanto brinca com Hope.
Já ficou claro para qualquer pessoa que a família Nardelli faz parte
do nosso núcleo familiar. Tenho a impressão que sem eles, minha
bisa ficaria um pouco infeliz, e o restante da familia também, apesar
de tio Filippo e meu otets não admitirem isso nem sob tortura.

— Foi uma pena que Arthur não pode vir! — Digo e ele solta
um suspiro.

— Sim, ele está em missão, infelizmente! — Tio Nardelli fala


com pesar, acenando para Lila que apareceu com Isabel.

— Babo, posso ir com Bel ver o vinhedo? — Lila pergunta


apontando o polegar para minha prima.

— Nós também vamos! — Gian e Enrico aparecem, e isso faz


Bel fazer uma careta.

— Ninguém chamou vocês! — Bel aponta carrancuda.

— Deixe de ser chata, papa não vai nos deixar ir sozinhos. —


Enrico diz com desgosto.
— Otto disse que não vai com a gente! — Gian diz
inconformado.

— Deve ser por que vocês não ficam parados um minuto


sequer! — Aponto olhando para eles seriamente e isso os faz
encolher. — Vou pedir para Nastka acompanhá-los! — Pego meu
celular para mandar uma mensagem para ela.

— Aquela mulher é tão assustadora, irmão! — Gian diz


fazendo bico.

— Por isso mesmo, com ela vocês não vão aprontar, diferente
dos seus próprios seguranças, que vocês gostam de dar perdido. —
Digo em tom sério e eles olham um para o outro. — Vão e deixem
Marília e Isabel terem o tempo delas. — Sinalizo e eles concordam
com relutância, mas saem logo depois.

— Você é o melhor com esses capetinhas, irmão! — Bel diz


abraçando minha cintura e eu aliso seus cabelos lisos com cachos
nas pontas como o de tia Giovanna.

— Pode ir com sua amiga, mas não fiquem muito tempo do


lado de fora. — Tio Nardelli diz, fazendo Marília abrir um largo
sorriso, e concordar com a cabeça balançando seus cabelos crespos,
soltos e cheios.

— Grazie, Babo! Vamos logo, Bel! — Agradece ela correndo


com minha prima para fora.

— Elas estão tão crescidas! — Digo em lamentação e tio


Nardelli suspira alto.

— Nem me fale, sinto que terei fortes dores de cabeça com


essa menina. — Meu tio diz massageando sua têmpora.

— Espero que não seja assim! — Falo levemente e ele bufa.


— Agora Vik, deixe-me dizer algo a você! — Tio Nardelli fala
atraindo minha total atenção.

— O que houve, tio! — Pergunto curioso e ele vira segurando


meu ombro com força.

— Esse seu tio aqui não tem muito o que fazer por você, já
que vivemos em lados opostos da lei, mas saiba que o que você
precisar de mim, estarei aqui para poder ajudá-lo. — Tio Nardelli fala
com firmeza, engulo em seco e o encaro por um tempo.

— Spasibo (obrigado), por isso tio! — Agradeço sinceramente.

Estou grato de verdade, porque sei o que essa promessa


representa. Mesmo sabendo que jamais colocaria tio Nardelli ou
Arthur em tal posição, de se envolver mesmo que indiretamente com
a Bratva. Ainda assim, me sinto grato com suas palavras, por que
isso é gerado pela confiança e comprometimento que essa família
tem comigo e com a minha família Aandreozzi.

— O que você está falando com o meu filho, hein seu velhote
sem noção! — Otets surge de repente, assustando tio Nardelli.

— Está querendo me matar do coração, Andreozzi! — Tio


Nardelli diz e meu pai revira os olhos.

— Como se Beto já não fizesse isso todos os dias! — Meu pai


aponta para tio Beto que está deixando tio Filippo no limite
novamente.

— Cuide do seu marido que eu cuido do meu, stronzo! — Tio


Nardelli aponta irritado e meu pai ri.

— Claro, claro, eu cuido do meu anjo como ninguém! — Meu


pai diz convencido e eu faço uma careta.

— Essa é minha deixa para sair, vou deixar vocês dois


conversarem! — Falo saindo de perto dos dois no momento que eles
começaram com suas gracinhas.

Me afasto de meu pai e tio, passando meus olhos pela sala à


procura de Justin. O encontro junto a Eduarda, Samantha, Pietro e
Otto, eles estão falando algo de forma agitada com Justin. Isso atrai
minha total atenção, me fazendo franzir o cenho no mesmo
momento, fico curioso com o que diabos causou tal agitação neles.
Sinto que coisa boa não deve ser, por isso caminho a passos largos
até onde eles estão reunidos. Como sempre, Justin é o primeiro a
notar minha presença e diz alguma coisa aos nossos primos, que
olham juntos na minha direção.

— Droga! — Pietro pragueja desviando o olhar para o chão.

— O que está acontecendo? Por que vocês estão agitados? —


Pergunto em tom firme, passando os olhos em Justin brevemente.

— Não é nada, só estamos tendo um papo de primos! —


Samantha diz dando um sorriso sem graça.

— Que eu saiba também sou primo, sendo assim, o que está


rolando? — Questiono friamente.

— Não é nada para se preocupar, Vik, podemos conversar


depois. — Jus diz calmo vindo até mim, para poder pegar minha
mão na sua.

— Algo não está certo, e quero que me contem! — Exijo


duramente. — Otto? — Chamo e meu irmão mexeu as mãos,
visivelmente desconfortável.

— Sabe irmão… é que… — Otto tenta, mas olha para Duda


pedindo ajuda.

— Cazzo! Sabe o que é Vik, acabamos de descobrir que o


nosso Justin sofreu na faculdade e nós não ficamos sabendo. —
Duda diz entre dentes, olhando para Samantha irritada.
— Não é bem assim, eu só não falei nada a pedido de Jus! —
Retruca Samantha e eu cerrei meus olhos.

— O que diabos está acontecendo aqui, o que você não


contou, Sam! — Pergunto tirando meus olhos dela para olhar para
Justin. — Justin? — Chamo em tom duro e ele solta um suspiro alto.

— Podemos falar disso depois, aqui não é momento pra isso.


— Justin pede apertando minha mão. — Sem falar que eu já resolvi
as coisas pendentes! — Conclui ele de forma tranquila me deixando
ansioso.

— Eduarda! — Peço a minha prima mais velha, já que pelo


visto Justin não está muito afim de me contar. Duda olha para Jus e
Sam, e finalmente começa a me atualizar.

— Sam deixou escapar que aquela ruiva sem sal e os amigos


dela se envolveram com o nosso Justin por causa de uma maldita
aposta. — Eduarda cospe as palavras me deixando sem acreditar.
Fecho meus olhos por um momento, tentando controlar o ódio
dentro de mim.

— Justin, isso é verdade? — Minha voz sai carregada de


perigo, mesmo que eu tenha feito de tudo para manter o controle.

— Sim, mas… — Começa ele, mas a sua simples confirmação


é o suficiente para mim. — Vik, se acalme e me ouça, está bem? —
Pede Justin quando percebe que eu ia me mover.

— Como você quer que eu me acalme, ninguém nesse mundo


deve tratá-lo com tal desrespeito. Eu vou matá-los, vou matar cada
um desses desgraçados! — Digo friamente, cerrando meus punhos
com força.

— Ei, querido, vamos lá! Se acalme, sim? — Pede ele


docemente abraçando meu braço com cautela.
Entendo que Justin quer que eu pare para ouvi-lo, mas essa
informação foi tão ridícula que não tem como não ficar cheio de
fúria. Como alguém pode ser tão desgraçado em cogitar a ideia de
usar o meu Justin como a merda de uma aposta. Uma aposta?! É
muita audácia desses filhos da puta! E pensar que eles fariam algo
assim e sairiam impunes desse jeito, a ideia disso acontecer é
impossível para mim. Justin pode ser um homem tranquilo, mas eu
estou muito longe disso. Vou mostrá-los que Justin está fora dos
limites, eles tem que saber que ele jamais deve ser usado dessa
forma. No entanto, eu tenho que me acalmar, pois não quero iniciar
nosso relacionamento o deixando irritado ou qualquer coisa do tipo.

— Como posso me acalmar depois de saber o que soube


agora? — Pergunto com muita raiva, e ele dá um sorriso triste.

— Eu entendo sua frustração, acredite em mim quando digo


isso. — Jus diz colocando a palma da sua mão no meu rosto.

— Então me deixe matá-los, amor? — Peço entredentes, mas


isso só o faz rir e negar com a cabeça.

— Não posso deixar você fazer isso, você entende certo? —


Fala ele com a voz meiga e eu não resisto.

— Como eles puderam fazer isso com uma criatura tão


magnânima quanto você? — Questiono cerrando o punho com força
para não beijá-lo.

— Amor, é injusto você… — Jus começa a falar, mas a voz


cheia de impacto de meu pai Andrea e tia Luna chamam a nossa
atenção.

Oh merda!

— Vocês acabaram de… Dio! — Tia Luna exclama cheia de


surpresa olhando entre mim e Justin.
— Vik, meu filho? — Papa pergunta com os olhos cheios de
dúvidas. — Será que você e Jus estão… — Papa não termina de
falar, mas vejo em seus olhos a emoção que ainda não sei decifrar.

Será que eles já… impossível!

Pisdets! (Fodeu!) Desvio meus olhos do meu pai e encaro


Justin ao meu lado, segurando sua mão para entrelaçar com a
minha. Porque conheço muito bem as duas pessoas à minha frente,
e uma coisa que sei, é que não são idiotas. Eles nos ouviram,
notaram agora a mudança do nosso relacionamento, sendo assim
não tem mais por que esconder o meu amor. Eu o amo demais, e
preciso que todos saibam!
— Pai, papa, tia Luna e tia Laila, não é como se quiséssemos
esconder de vocês, mas é tudo muito recente. — Engulo em seco,
olho para nossos pais e para o restante dos integrantes da família
com firmeza. — Justin e eu estamos namorando, e estamos
verdadeiramente apaixonados um pelo outro. — Soltei a bomba sem
nenhum pesar.
Não sei como eles vão receber essa notícia, que foi de forma
tão abrupta, mas só espero que eles aceitem nosso relacionamento,
porque esperei por Justin tempo o suficiente para entender que é
impossível viver sem ele.
Isso tenho absoluta certeza!
CAPÍTULO 21

Meu coração está tão acelerado que está me deixando


desconfortável. Seguro a mão de Viktor com mais força, a fim de me
tranquilizar ao máximo. Mesmo que eu estivesse ansioso para
revelar às minhas mães sobre o nosso relacionamento, eu não
esperava que isso fosse acontecer agora. Ainda mais depois de
nosso acerto de antes, que só contaríamos depois do aniversário de
nossa bisa. Não queríamos tirar esse momento dela, porque, assim
que contássemos, poderia ser que nossos pais não aceitassem como
esperávamos. Meu corpo está tão tenso que nem consigo mover os
meus lábios para poder dizer uma palavra sequer. Minha única
alternativa é esperar, esperar que alguém resolva encontrar suas
próprias palavras sobre a notícia que acabara de saber.

No entanto eu sei, dentro do meu ser, que independente de


quais forem suas reações, eu não penso em deixar Viktor. Se antes
de saber sobre seus sentimentos eu já queria lutar por ele, agora
depois de sentir toda essa intensidade e amor que temos um pelo
outro, vai ser impossível me ver longe do que temos. Nunca imaginei
que o que eu sentia pudesse ser tão forte, mas é assim que é, a
cada minuto que passa me vejo mais apaixonado por Viktor.
Ninguém nunca conseguiu me fazer sentir o que esse homem
consegue. É louco dizer isso, mas acho que me viciei nele, no toque
de suas mãos grandes em minha pele e no aperto firme de sua
palma no meu corpo quando ele está tentando se controlar ao
máximo. Adoro também, o modo como sua voz soa arrastada
quando ele fala carinhosamente comigo, amo como meu corpo
responde a ele de maneira tão acalorada. E seus beijos? Meu senhor,
seus beijos me tornam um homem embriagado, viciado e incapaz de
viver sem.

Como esse sentimento pode ser um misto de sensações desse


jeito? Ao mesmo tempo que quero ser acarinhado, protegido e
adorado, eu também anseio em tê-lo por inteiro. Descobrir coisas
que somente Viktor pode me ensinar, me deixar levar por todo esse
fogo ardente que queima dentro de mim. Não sei, eu realmente não
sei como explicar tudo isso. No entanto, existe algo que sei, eu
quero me jogar de cabeça! Quero aproveitar cada instante tendo
Viktor ao meu lado, para ser meu e com isso me fazer dele também.

— Jus, amor, o que Viktor acabou de dizer é verdade? — A


voz de mamma sai calma, mas cheia de cautela.

— Sim, mamma, nós realmente estamos apaixonados! — Falo


com confiança, ouvindo minha mãe puxar uma forte respiração.

— Mas Jus, você não estava com aquela menina? — Tio


Andrea pergunta e eu sinto o corpo de Vik ficar rígido ao meu lado.

— Estava, mas aquilo foi um erro! — Respondo sem jeito,


alisando os nós dos dedos de Vik com delicadeza. Isso foi o
suficiente para poder acalmá-lo.

— Um erro, certo? — A voz do tio Andrea saiu baixa, e sinto


seu olhar ao meu lado. Me fazendo entender que ele está olhando
para seu filho, que permanece quieto ao meu lado.
— Viktor, você não fez nada que pudesse… — A voz firme de
tio Enzo ressoa, mas antes que ele termine o que iria dizer, eu dou
um passo para frente.

— Jus? — Vik me chama, mas eu viro a cabeça para lhe


mostrar um sorriso.

— Fique tranquilo e deixe isso comigo, sim? — Peço e ele faz


um som de confirmação.

— Mães, tios, família, me deixem explicar algo para vocês,


antes de qualquer coisa. — Digo e respiro fundo. — Primeiramente,
quero que bisnonna Francesca nos perdoe por expor nossos
sentimentos um pelo outro nesse momento. Sei que é seu
aniversário, e estávamos pensando em fazer isso em outro
momento. Nos desculpe, Bisa! — Dou um sorriso de desculpas e
ouço seu riso.

— Não se preocupe, mio bambino, essa velha aqui viverá


muitos aniversários! — Bisa diz em tom brincalhão me deixando
aliviado. — Então relaxe, e pode continuar com suas palavras. —
Bisa fala e eu concordo com a cabeça.

— Obrigado, vovó! — Agradeço cheio de afeto. — Voltando ao


que eu estava falando anteriormente, não sei como nossos
sentimentos se transformaram dessa maneira. Mas posso dizer de
coração que nos amamos, e antes que esse amor pudesse ser
exposto eu fui correto ao terminar meu envolvimento com Nora, pois
eu só estava me enganando ao fugir do que sentia por Vik. — Faço
uma breve pausa. — Mamma, mommy, eu não quero mais esconder
ou temer o que sinto. Não quero mais deixar de amá-lo, e nem
quero fazer isso em segredo. Vocês e minhas irmãs são meu tudo,
mas o Vik também é o meu destino. Vocês entendem, certo? —
Minha voz sai embargada, e eu sinto o meu corpo sendo puxado.

— Malêch, não chore! Eu estou aqui com você, e eu te amo


tanto quanto! — Viktor diz baixinho no meu ouvido ao me abraçar.
— Oh meu filhinho! — Ouço a voz chorosa de mommy ao se
aproximar.

Não quero que Viktor leve nenhuma culpa, ou que seja


interpretado por nossa família de forma errônea. Não quero que ele
tenha que falar por nós dois, eu tenho voz o suficiente para fazer
nossa família entender nossos sentimentos. No entanto, somente o
pensamento de decepcionar minhas mães me deixa muito
amedrontado. Sei que somos primos, talvez para eles esse nosso
relacionamento seja errado, mas de qualquer forma eu necessitava
tomar uma postura. Devo ser corajoso para poder proteger o amor
que fervilha dentro do meu coração.

— Viktor, Justin! — A voz poderosa de meu tio Filippo chama


nossa atenção. — Vocês tem noção do que tudo isso representa? —
Tio Lippo pergunta com a voz calma sem nenhuma repreensão.

— Sim, tio, nós realmente temos! — Viktor e eu respondemos


juntos.

Aproveito que afastei nossos corpos para limpar meu rosto,


mas Viktor me impediu e fez isso por mim delicadamente.

— Vocês dois estão sérios sobre isso? — Tio Lippo pergunta e


sinto o braço de Vik apertar a minha volta.

— Estamos sim! — Respondemos sem medo.

— Entendo! — Tio Lippo diz calmamente.

Aperto a mão de Vik na minha, me sentindo muito confuso e


amedrontado agora. Deus, como estou nervoso!

— Jus, meu filho, você realmente pensa que eu e sua mãe


poderíamos não entender você? — Mamma pergunta levemente,
chegando até nós. Em poucos instantes sinto seu toque no meu
rosto, sinto algo estourar no meu coração.
— Eu só… só não quero decepcioná-las! — Respondo com
tristeza e minha mãe Laila solta um soluço.

— Filho, você nunca poderia fazer algo assim, meu amor! —


Mommy diz com a voz embargada.

— Eu amo Viktor, mommy! — Pressiono minhas mãos nas de


minhas mães. — Eu o amo de verdade, Mamma! — Reafirmo
sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Em poucos instantes, sinto o meu corpo ser arrastado para


longe de Viktor para ser envolto por todo amor maternal que só
minhas mães conseguem dar. As duas me abraçaram com força, me
deixando desabafar todo o medo que estava sentindo. Deus, como
eu as amo! Me permito ser cercado pelo cheiro doce tão conhecido
por mim, esse cheiro me lembra a minha infância e o quanto me
sinto seguro ao lado dessas duas mulheres tão incríveis na minha
existência.

— Nós entendemos meu amor, nós entendemos! Não se


preocupe mais com isso, minha abóbora! — Mommy diz
apressadamente, acarinhando meus cabelos.

— Você é livre para amar, querido, nós te apoiamos! —


Mamma diz beijando minha bochecha com força. — Não chore,
mamma odeia vê-lo chorar assim! — ela fala com pesar e volta a me
abraçar.

Continuo abraçando as minhas mães, que são mulheres


maravilhosas e compreensivas. Contudo, mesmo mergulhado no
carinho delas, presto atenção no que está acontecendo à minha
volta.

— Vik, meu filho, só queremos que você seja feliz, é tudo o


que queremos nessa vida. — Tio Andrea fala ao lado, com carinho.

— Somos seus pais, garoto, não somos juízes de nada! — Tio


Enzo fala, e ouço daqui os movimentos deles ao meu lado.
— Obrigado papa e otets, eu juro que tentei me esquivar do
que sentia. Só que… só que não consegui mais aguentar. — Vik diz
com a voz baixa aos seus pais.

—Sim, sim, sabemos! Na verdade, sempre desconfiamos


disso, mas não tivemos nenhuma confirmação de você. — Tio
Andrea fala com Vik com um toque de lamento. — Sentimos muito
deixá-lo sozinho, filho! — A voz de meu tio é cheia de sentimento.

— Vocês nunca fizeram isso, nunca me deixaram sozinho até


quando poderiam fazer, mas não fizeram. — Vik diz com um tom
baixo, como se ele estivesse lutando com suas palavras.

— Eu entendo seu pai, cucciolo (filhote), poderíamos ajudá-lo


a entender seus medos. — Tio Enzo fala com a voz abafada, e sei
que tanto ele quanto o tio Andrea estão com Vik em seus braços.

Nós deixamos nossos pensamentos confusos fazerem com


que a desconfiança falasse mais alto. Desconfiança de que nossas
famílias poderiam não aceitar o que sentimos um pelo outro,
desconfiança de que, o que sentíamos poderia ser qualquer outra
coisa que não fosse amor. E o principal, desconfiança que essas
pessoas tão maravilhosas e acalentadoras poderiam não nos aceitar
juntos. Como poderíamos pensar em algo assim, certo? No entanto,
o medo é a maior explicação de todas. Apesar de não sermos primos
consanguíneos ainda fazemos parte de uma família tão unida, que
poderia gerar uma estranheza entre o que é certo e errado. Só que
ninguém nesse mundo poderia nos entender melhor do que as
pessoas que estão presentes nesta sala.

Cada casal presente lutou de unhas e dentes para proteger


seus amores do mundo, das pessoas preconceituosas que nunca
entenderam o verdadeiro significado do que é amar outra pessoa,
com tal intensidade que cada um deles viveu. Fomos criados desde
pequenos aprendendo a respeitar o amor dos outros, para sermos
gentis com os outros e principalmente com nós mesmos. Sempre
soubemos que juntos somos o elo que mais nos fortalece. Tanto eu
quanto Viktor somos sortudos por pertencer a essa família, por
pertencer a esse elo. E é envolto de tanto amor e aceitação que me
deixei levar nos braços das minhas mães.

No entanto, meus pensamentos foram desviados no instante


que ouço a voz de Nonna Arianna, que diz palavras que chamam
nossa atenção.

— Meus netos queridos! — Nonna Arianna diz com a voz


emocionada. — Não existe ninguém aqui que nunca tenha notado
que a relação entre vocês dois é completamente diferente dos
demais, queridos. — Nonna diz com um sorriso na voz me fazendo
ampliar os olhos. — Lembre-se sempre, meus queridos netos, o
amor é algo somente para os corajosos, e vocês foram corajosos de
assumirem o que sentem um pelo outro, estou certa, meu Don? —
Pergunta ela amorosamente e meu nonno solta uma risada.

— Sim, mia fiore, você está sempre coberta de razão! —


Nonno diz com amor para sua esposa. — Somos sua família,
bambini, não seus algozes! — Nonno diz direcionando suas palavras
para nós.

— O destino às vezes é uma cadela, mas ele também trabalha


de forma inexplicável às vezes, crianças do meu coração. — Nossa
bisa toma a palavra dessa vez. — Vivam o amor de vocês sem
nenhum peso, lutem sempre um pelo outro e caminhem de mãos
dadas, por que estaremos aqui para sempre cuidar e protegê-los
com tudo o que temos. Vocês, e o restante dos meus bisnetos, são
meus tudo, queridos! — Bisa termina de dizer e Biso vai até ela.

—Não se emocione tanto, amor, eles sabem que amamos


eles! — Bisavô Lorenzo diz com um sorriso amoroso na voz.

— Como posso não me emocionar se eu ganhei a aposta com


Arianna? — Bisa diz como se contasse um segredo, mas tenho a
impressão que todos ouviram.
— Que tipo de aposta é essa, amore? — Nonno pergunta à
sua esposa, e tenho a impressão que todos queriam lhe fazer a
mesma pergunta.

— Nada, carinho, depois falamos! Vamos prestar atenção nas


crianças. - Nonna diz e bisa bufa.

— Fique de fora disso, perninhas de sabiá velho! —


Resmunga Bisa, fazendo todos se controlarem para não rir.
Agradeço imensamente esse momento de distração para
poder relaxar a tensão e emoção que estavam tomando meu corpo.
Somente minha Bisa tem o poder de quebrar o clima de modo tão
tranquilo e divertido. Meus avós, incluindo meus bisavós, são as
criaturas mais incríveis que já vi nessa vida. Eles nos protegem e
zelam por cada um dos seus netos e bisnetos com muito amor.

— Obrigado por tudo, avós! — Digo com a voz rouca de


emoção.

Minhas mães se afastam de mim, mas não fico sozinho por


muito tempo. Pois sinto o corpo grande de Viktor tomar conta do
meu. Me permito ser abraçado por Vik sem nenhum medo ou
preocupação, ele diz que me ama bem baixinho no meu ouvido, para
que só eu possa ouvi. Sorrio e aceito seu amor, me sentindo um
homem cheio de sorte. Logo os membros da nossa família vieram
até nós para nos parabenizar, primeiro foram meus tios e seus
respectivos companheiros. Depois vieram a família Nardelli que
foram educados e amáveis ao desejar suas felicitações também. E o
barulho de risadas, misturadas com palavras de incentivos e afeto
fraternal vieram através de nossos primos. E suas brincadeiras sem
noção me fizeram relaxar novamente de toda essa situação
repentina.

— Sabe, Vik, você deveria nos agradecer e não repreender! —


Pietro diz com uma carranca na voz.
— Eu também concordo com o ursinho, se não fosse por mim
Deus sabe quando o abóbora teria coragem para expor o amor de
vocês! — Sam diz e eu franzo o cenho.

— Isso mesmo, a operação: Capture o mafioso foi um


sucesso tremendo! — Duda fala cheia de injustiça.

— Isso mesmo irmão, eles tem um ponto! — Otto fala


levemente.

— Vocês realmente querem dizer isso depois de deixar Justin


sozinho daquele jeito? — Vik repreendeu e eu dei risada.

— Pelo menos eles nos deram privacidade! — Solto baixinho e


sinto o olhar cheio de fúria de Vik em mim.

— Não tenho tanta certeza assim… — Otto solta de repente.

— Cala a boca, seu professorzinho sem vergonha! — Sam


repreende nosso primo.

— O que você quer dizer, Otto? Duda? — Vik indaga com


seriedade.

— Bem, não foi bem assim! — Duda usa um tom de


desculpas, após soltar uma tosse de leve.

— Ah, deixa de besteira! Ficamos só um pouquinho até Jus te


agarrar com uma força digna de ser um Aandreozzi. — Sam conta
sem nenhum pingo de vergonha.

— Fui induzido a pegar o mafioso, e assim fiz! — Respondo


dando de ombros como se não fosse nada.

— Esse é meu garoto, bate aqui, abóbora! — Pietro diz e eu


bato onde sinto sua movimentação.

— Malêch! — Vik repreendeu e eu dou um largo sorriso.


— Viu só, Vik, até Jus consegue entender! — Duda aponta e
meu namorado bufa.

— Você deveria me ajudar a dar juízo a essas cabeças de


vento, Eduarda. — Vik diz e eu caio na risada.

— Relaxa um pouco, amor! — Falo segurando seu braço.

— Só vou relaxar porque agora eu finalmente posso ter você,


Jus! — Diz ele e eu sinto as costas dos seus dedos alisarem minha
bochecha.

— Olha só isso, veja só isso! — Exclama Sam cheia de


exageros. — Nós lutamos por isso, me abraça, ursinho, eu vou
chorar! — Sam grita de forma dramática e ouço o barulho de corpos
se chocando.

— Dois idiotas! — Vik cospe friamente, mas eu caio na risada.

— Esperem, esperem! Não vai me dizer que existe mais


algum segredo que vocês não revelaram? — O berro do tio Lucca
chama nossa atenção.

— Que diabos, Lucca! — Mamma fala irritada.

— Sério, algum de vocês tem mais alguma coisa para contar?


Mais algum primo que… — Tio Lucca não termina de dizer e meus
primos entram em revolta.

— Eca, papai Lucca! — Sam grita indignada.

— Não, tio, somos todos irmãos! — Pietro diz e Sam


concorda.

— Isso mesmo, Pê gosta de algo com mais tamanho,


grossura e tatu… — A voz de Sam é irrompida pela palma da mão de
Pietro.
— Fica quietinha, bailarina safada! — Pietro sussurra para
Sam, mas eu escutei.

— Do que Pietro gosta? — Tio Luti fala e Duda toma a frente.

— Nada papai, é só brincadeira inocente entre primos, certo


Otto? — Duda pergunta ao nosso primo.

— Claro que sim, tio, é só brincadeira entre nós. — Otto


conclui livrando a cara do Pê.

— Devemos ter entendido errado, Lutito! — Beto fala rindo.


— Vamos, lá! Vá ajudar seu Ursão que está separando Lunita e
Enzito de se digladiarem novamente. — Tio Beto fala e eu solto uma
forte respiração.

O tio Enzo começou a provocar minha mãe dizendo que agora


eles são mais que irmãos, são sogros. E isso foi o suficiente para
que minha mãe, nem um pouco explosiva, começasse a lutar com
ele. As vezes minha mãe e meus tios são como adolescentes!

— O meu Deus, esses dois começaram novamente! — Tio Luti


lamenta chateado. Com isso ouço seus passos saírem apressados.

— Obrigado, tio Beto! — Pietro sussurra e ele ri baixinho.

— De nada, ursito do tio! — Tio Beto diz divertido. — Ah, a


juventude! Vou ter que amar muito meu panda envelhecido hoje. —
Ele diz isso soltando um suspiro.

— Quem é o panda envelhecido aqui, seu moleque! — Tio


Nardelli aparece à procura do marido.

— Meu panda, eu estava a sua procura, olha só como você


sempre vem ao meu encontro. Vamos lá, diga que me ama e que
não vive sem mim! — Tio Beto brinca, ignorando o tom irritado do
marido. — Tchauzinho crianças, e parabéns mais uma vez Jus e Vik!
— Saúda tio Beto e eu ergo a mão para acenar com um sorriso.
Ouço os dois se afastarem, ao mesmo tempo que ouço minha
mãe Luna acusar tio Enzo do filho mais velho dele ser um ladrão do
bebê dela. E tio Enzo ri da cara de minha mãe, dizendo a ela para
deixar de ser uma ciumenta sem noção. Toda essa discussão
acontece em italiano, eles falam rápido e de modo tão confuso que
me faz gemer de vergonha. Enquanto a família continua reunida
falando sobre mim e Viktor, eu resolvo segurar sua mão para poder
encontrar a melhor oportunidade para fugir. E assim fiz, segurando a
mão de meu namorado, eu o arrasto para o mais longe possível. O
que mais adorei foi que Vik não me fez perguntas, pois ele entendeu
logo de cara qual era a minha intenção.

Esse é o meu Viktor, ele é simplesmente maravilhoso demais!


Minha felicidade por ter logo chutado o balde e exposto nossa
relação me deixou tão feliz e aliviado, que tudo o que preciso agora
é ter um momento com ele. Longe de toda a bagunça que só nossa
família é capaz de fazer!

Chegamos ao quarto dele juntos, tranco a porta e sinto os


movimentos de Vik atrás de mim. Em poucos instantes sinto o seu
corpo grande abraçar o meu por traz com força, percebendo sua
cabeça descansar no meu ombro, virando para poder alisar meu
pescoço com seu nariz. É um gesto tão delicado, carinhoso e íntimo
que me faz fechar as pálpebras em puro contentamento com seu
toque.

— Sinto muito agir de forma tão impulsiva! — Viktor diz e eu


abro um sorriso.

— Acho que tenho que te ensinar a controlar a raiva. —


Brinco e ele faz um som com a língua.

— Você vai me ensinar? — Pergunta ele abafado contra a


minha pele.

— Claro, farei uma aula intensiva de controle de raiva, só para


você. — Minha voz sai brincalhona o fazendo rir.
— Pelo menos não precisamos mais esconder. — Diz ele
seriamente e eu respiro fundo.

— Sim, nem mesmo havia cogitado a ideia de esconder de


nossa família. Só tinha medo de que eles fossem contra. — Confesso
em voz alta para Vik que nega.

— Os integrantes da nossa família são pessoas especiais, Jus!


— Viktor fala com firmeza e concordo.

— Sim, eles são! — Respondo com carinho ao pensar em


minhas mães.

— Não pense que você vai me distrair sobre o assunto


anterior, está ouvindo? — Ele fala repentinamente em tom profundo,
deixando meu corpo rígido.

— Eu já te pedi para deixar isso para lá! — Digo virando meu


corpo para poder abraçar seu pescoço.

— Impossível, eu vou querer saber de tudo, nem pense em


tentar me esconder, Jus! — Vik fala com tamanha seriedade que me
faz soltar uma risadinha. — Do que está rindo? — Pergunta
desgostoso e eu nego.

— Nada, só estou pensando que vamos ser sempre assim, eu


tentando fazer de um jeito mais tranquilo e você querendo pôr fogo
no mundo. — Relato e ele beija meus lábios.

— O que você acha? — Vik pergunta enquanto distribuía


beijos molhados dos meus lábios até o meu pescoço.

Solto um gemido baixinho quando sinto sua barba roçar nos


pontos sensíveis de minha pele. Perdendo a paciência eu puxei a
gola da roupa de Vik para que sua boca voltasse a se encontrar com
a minha. Faço um som de satisfação quando começamos a nos
beijar animadamente, porque o gosto do meu homem é tão bom
que é impossível não sentir prazer ao apreciar. Ainda nos beijando
eu empurro Vik para trás, indo na direção perfeita até que suas
pernas batam na lateral da sua cama enorme. Empurro ele de mim,
o fazendo sentar na cama em um baque abafado por causa da
colcha fofa da cama.

— Jus, o que você… — Viktor começa a falar de modo rouco,


mas antes que ele possa continuar eu sento nas suas coxas
musculosas.

— Não me importo como vai ser a dinâmica do nosso


relacionamento, Vik, mas eu sei de uma coisa. — Conto beijando sua
boca.

— E o que você sabe, malêch? — Pergunta ele, sua voz


assumindo uma onda a mais de intensidade.

— Sei exatamente o quanto eu quero descobrir uma vida ao


seu lado, o quanto quero pertencê-lo por inteiro. — Digo agarrando
seu rosto com minhas duas mãos.

— Justin, você não sabe o que está pedindo! — Avisa ele,


mas é impossível me parar.

— Quero você, Vik! Quero você como nunca quis ninguém na


minha vida! — Confesso em segredo, derramando livremente o meu
desejo.

— Oh porra, Justin! — A voz de Viktor sai sufocada, como se


tentasse se controlar.

Agarro o meu Viktor com força o suficiente para que ele


entenda de uma vez por todas, que eu sou um homem que
reconhece suas próprias palavras. Eu o quero para mim, para
pertencer somente a ele de coração, corpo e alma.

E Deus sabe como eu realmente quero isso! Quero o meu


Viktor!
CAPÍTULO 22

Justin Aandreozzi

Sentado no colo de Viktor eu sinto o meu corpo queimar


loucamente, a cada vez que suas mãos passeiam pelas minhas
costas um arrepio prazeroso toma conta de mim. Quanto mais ele
me toca, eu anseio por mais, por mim Viktor poderia ter suas mãos
em minha pele para sempre. Sua boca na minha, nossas respirações
agitadas, nossos corações unidos em um único batimento, é como
se tudo fosse a coisa mais certa neste mundo. Nunca me senti desse
jeito com qualquer outra pessoa, é até antiético ficar comparando
pessoas, eu sei disso, mas não tem como não comparar. Por que
essa comparação me mostra que mais ninguém conseguiu
movimentar as moléculas do meu corpo, assim como Viktor é capaz
de fazer. Eu deveria saber, eu deveria ter descoberto isso antes, mas
fui muito tolo em admitir, em ter coragem de viver o que estou
vivendo agora.

Com isso em mente, pressiono meu quadril com mais força no


colo de Vik, sentindo o volume gigantesco do seu pau duro contra a
minha bunda. Sorrio contra seus lábios quando noto que causei um
gemido nele, isso reacende ainda mais o meu desejo. Esfrego o meu
pau endurecido contra sua barriga, a procura do melhor atrito para
poder aliviar o meu tesão furioso. Preciso de mais, quero tocar seu
corpo, quero ver cada detalhe do seu corpo através do meus dedos,
quero ter certeza do quanto esse homem pertence a mim e somente
a mim. Preciso contar isso a ele, mas estamos tão entregues que
nem consigo encontrar minha própria voz. Deus é testemunha o
quanto quero Viktor, como desejo descobrir coisas novas ao seu
lado, na sua cama, como quero que ele mostre ao mundo que o
meu corpo é dele.

— Jus, querido, se você continuar desse jeito, eu não sei se


posso me controlar e não te foder. — Viktor diz com sua boca colada
no meu ouvido.

— Mas quem disse que eu quero que você se controle? —


Pergunto ofegante.

— Justin, você sabe o que está me pedindo? — Vik pergunta


em um tom de voz mais sério.

— Eu não estaria pedindo se não soubesse, não acha? —


Rebato e ouço o movimento na sua garganta de engolir em seco.

— Não vá por esse caminho, malêch, você pode se assustar!


— Avisa ele e eu dou uma risadinha.

— Sério? Tem certeza disso? — Indago e ele puxa uma forte


respiração.

— Tenho sim, tenho muita certeza disso! — Sua voz assume


um toque de perigo.

— Mas eu quero, Vik! Você não vê o quanto que desejo você?


— Digo pressionando ainda mais minha bunda contra seu pau. —
Viu só, isso é uma pequena demonstração do quanto eu o quero! —
Falo baixinho, enquanto passo a minha língua contra seus lábios
entreabertos.

— Você ainda não está pronto, amor! — diz ele, me deixando


infeliz.

— Essa sua mania de me tratar como a porra de uma pessoa


delicada está me deixando no limite! — Reclamo seriamente e ele
beija minha boca.

— Não é isso, eu só quero te dar um momento especial. —


Explica Vik e eu faço um som de desgosto.

— O que eu quero é ser fodido, mas se não é isso que você


quer me dar, vou procurar alguém… — Antes que eu possa terminar
sinto o ambiente esfriar.

Conto mentalmente até 3 e antes de concluir minha


contagem a mão grande Viktor estava na minha garganta.
Pressionando forte o suficiente para me imobilizar, mas não para me
privar de ar. Minhas pernas em volta da sua cintura ficam
amolecidas, e o meu pau fica ainda mais puro, evito ao máximo
soltar um gemido que quer se libertar de mim. Deus, eu amo isso!
Acho que amo ver Viktor no limite pronto para qualquer coisa.

— Não queira ir por um caminho que você não será capaz de


lidar, malêch! — Sua voz sai baixa, profunda e quase animalesca.

— E se eu quiser? — O confronto com as pálpebras trêmulas.

— Posso facilmente matar uma pessoa por bem menos! — Vik


diz e eu sorrio.

— Sei disso, por isso que sou louco por você! — Sussurro o
fazendo puxar uma forte respiração.

— Ah, meu Justin, meu amor, você está realmente pedindo


por isso! — Vik rosna contra minha pele me deixando louco.
— Me faça seu, Vik, me deixe sentir tudo de você! Me mostre
tudo, não me esconda nada! — Peço agitado e sinto seus olhos me
observarem de perto.

— Lembre-se que foi você mesmo que pediu! — Avisa ele


através de um rosnado que me faz engolir em seco.

A atitude do meu homem mudou e eu entendo tudo com


clareza agora. Esse é o meu homem, mas que agora deixou de ser o
Vik que conheço, para se tornar um homem feroz, violento e cheio
de atitude sexy. Essa é a sua versão com a qual ainda não estou
familiarizado. Esse é o meu mafioso russo. E merda, é isso! É bem
isso mesmo que eu queria! Com um movimento repentino Viktor me
carrega em seus braços, para poder me deitar na cama. Quando
sinto minhas costas contra o colchão macio da cama eu fecho
minhas pálpebras, e ao abrir novamente percebo que minha roupa
está sendo retirada do meu corpo. Primeiro o meu casaco, camiseta,
sapatos e meias, sinto os dedos de Viktor brincarem com o cós da
minha calça. E antes que eu pudesse fazer qualquer questionamento
sou liberto de minhas calças, ficando somente de cueca diante de
seus olhos.

— Essa visão magnânima só pode ser apreciada pelos meus


olhos, Jus, você entende? — Vik pergunta e eu engulo em seco
antes de assentir. — Diga as palavras, amor, até pouco tempo sua
boquinha esperta estava sendo bem ativa. Perdeu a língua, meu
Justin? — Pede ele, fazendo meu coração bater com força.

— N-não! — gaguejo minha resposta, e isso o faz rir de um


modo profundo.

— Bom, isso é bom! — Diz ele alisando meu corpo com sua
mão grande. Vou fazê-lo implorar, querido, não vou sossegar até vê-
lo implorar! — Vik diz e eu sinto sua boca na minha barriga nua.

— Viktor, beije-me! — Peço e ele faz um som de negação.


— Ainda não, quero aproveitar um pouco mais, posso? —
Pergunta ele e eu tento puxá-lo para mim, mas ele é mais rápido. —
Você não tem ideia do quanto idealizei ver o seu corpo assim,
entregue a mim. Deixe-me apreciá-lo ao máximo, Jus! — Vik diz
apertando minha coxa sensível.

— Vik! — Chamo ao notar que sua mão agora está na minha


cueca.

— Porra, como pode ser tão lindo! — Viktor diz encantado


assim que ele tira minha cueca.

Antes que eu pudesse abrir minha boca para reclamar ou


qualquer outra coisa, sinto a minha glande ser sugada, e as gotas de
pré-semen serem limpas por uma língua macia e molhada. E logo
depois o meu pau inteiro foi abocanhado de uma forma tão gostosa
que fez os dedos dos meus pés se contorcerem. Sou confrontado
pela quentura úmida, escorregadia e macia da boca de Viktor
chupando o meu pau, como se fosse o melhor doce que ele já
provou na vida. Ô senhor, eu estou tão excitado! Meu corpo inteiro
clama por libertação, mas ainda nem começamos direito e eu já me
vejo dessa forma. Minhas mãos tateiam a procura do seu corpo, pois
preciso tocá-lo também, só que não consigo alcançá-lo, pois meus
pulsos foram presos juntos em um aperto firme. Mordo meus lábios
inferiores com força, por que sei que se parar de mastigar meus
lábios eu posso gozar facilmente na boca de Viktor e esse prazer
acabar rápido. E eu não quero que acabe, eu preciso disso, preciso
disso como um louco!

— Vik, por Deus, se você continuar a me chupar assim eu vou


gozar! — Falo sem controle algum da agitação do meu corpo.

— Oh meu lindo bebê, pode gozar quando quiser! Goze na


boca do seu homem, Justin! — Sua voz é tudo o que precisava para
que o meu esperma saísse livremente.
— Ah, Deus! Isso… isso é tão bom! — Minhas palavras soam
sem sentido, o meu corpo é tomado por espasmos por conta do
orgasmo brutal que tive.

— Doce, tão fodidamente doce! — Vik diz como se estivesse


degustando o meu sabor.

— Mais, Vik, eu preciso de mais! — Imploro, após conseguir


segurar seu ombro largo.

Consigo tirar a roupa de Viktor, o libertando primeiro da sua


camisa, aproveitando o momento para poder tocar na sua barriga.
Não me surpreendi ao encontrar um pacote de seis músculos
abdominais, inchados, rígidos e maravilhosos de pegar. Meus dedos
passeiam livremente pelo seu corpo, e eu aproveito a deixa para
poder continuar a tirar sua roupa. E no instante que puxei sua
cueca, que está muito úmida por causa do seu fluido de excitação,
eu xingo em tom sussurrado. Isso porque minha mão finalmente
conseguiu alcançar o glorioso pau de Viktor. Não tem como não se
assustar com a espessura, tamanho maior que o meu, quentura e
textura cheia de veias salientes desse jeito.

Como que vou… caramba! Não tenho porque pensar nisso


agora, vou deixar o fluxo rolar. Eu pedi por isso, agora tenho que ser
um homem forte, por que tesão eu tenho além do limite lógico.

— Se você continuar me tocando desse jeito, eu não sei se


vou poder me segurar por muito tempo. — A voz de Viktor sai
controlada, enquanto sua mão alisava a minha bunda erguida para
cima.

— Você é tão… será que isso vai entrar em mim? — Minha


voz soa com dúvida, e eu ouço um riso rouco no ar.

— Claro que sim, vou folgá-lo muito bem, vou deixá-lo bem
para que eu possa tomá-lo por inteiro. É isso que você quer? —
Viktor diz ao mesmo tempo que sinto algo gelado e escorregadio
escorrer pela minha bunda.

— Sim, é isso que eu quero! Eu quero você, Viktor! — Digo


sem qualquer dúvida. — No-nossa! — exclamo ao notar a pressão
de um dos seus dedos grossos invadir a minha entrada.

— Macio, gostoso, e delicado assim como nos meus sonhos!


— Viktor fala com sua voz magnética. — Não querido, não use sua
boca para me dar prazer, por que se isso acontecer, não vou poder
foder essa sua bunda linda como bem desejar. — ele pede com uma
rouquidão.

— Vik, isso é… — Tento dizer, mas minha voz simplesmente


não sai por causa do prazer que somente seus dedos me causam.

— Isso mesmo, está gostoso? — Pergunta ele me acariciando


com uma mão, enquanto com a outra seus dedos continuam a
invadir minha bunda, em um ritmo de vai e vem.

— S-sim, por favor, Vik! — Imploro deitando minha cabeça na


sua coxa forte, notando minha boca encher de saliva.

— Do que você precisa, amor? Diga para seu homem, o que


você quer dele! — Viktor fala abrindo mais ainda minha bunda com
seus dedos escorregadios.

— Coloque seu pau em mim, Vik, eu preciso muito de você


agora! — Falo notando meu pau molhar o lençol da cama, gotejando
sem parar com todo esse prazer enlouquecedor.

— Você pedindo desse jeito como um gatinho manhoso, eu


não tenho como negar! — Viktor fala após soltar um praguejar em
russo.

Viktor volta a me deitar na cama, se posicionando atrás de


mim, beijando, mordiscando e lambendo a minha nuca. Abro minha
boca para tentar falar algo, mas sinto a grossura do seu pau, vestido
com uma camisinha, beirar a entrada do meu anus, que agora está
pronto e escorregadio para poder recebê-lo. Fecho minhas pálpebras
com força quando noto sua invasão muito dolorosa, Vik começa a
falar palavras calmantes no meu ouvido, me ensinando a usar a
respiração e o modo correto para que a sua entrada em mim não
seja tão dolorida dessa forma. Faço o que ele me pede, meu corpo é
abraçado pelo seu suado, e minha perna é erguida e presa entre sua
coxa grossa. Por que assim meu corpo está livre para que sua
entrada seja mais rápida, viro minha cabeça para poder localizar sua
boca. E no instante que começamos a nos beijar com mais
intensidade, eu sinto o meu corpo ser completamente penetrado
pelo seu pau robusto.

No primeiro momento é como uma dor da morte, ao ponto de


sair muitas lágrimas nos meus olhos. No entanto, Viktor é tão
carinhoso comigo que meu corpo foi relaxando pouco a pouco,
deixando com que o meu corpo se acostume com essa nova forma
de sentir prazer. É como se eu estivesse visitando um novo mundo,
um mundo que pertence somente a nós dois. E eu estou totalmente
entregue, entregue ao momento único, esse desejo compartilhado
por nós, a doçura que é ter Viktor em mim desse jeito. Estou
completamente perdido no seu calor, e eu amo isso, amo tudo nesse
homem cheio de tesão. É como se eu estivesse deixando a natureza
seguir seu curso, como se eu permitisse que um animal enjaulado
me consumisse por inteiro.

— Diga Justin, diga que você pertence a mim! — Viktor pede


enquanto seu pau martela com força a minha bunda.

— Oh, Vik, isso é tão… Oh céus, é tão bom! — Meu gemido


sai cortado, enquanto cravo minhas unhas na sua cintura.

— Diga Justin! Fale as palavras! — Manda ele como uma fera


territorial.

— Viktor, por favor, continue! Eu quero gozar! — Suplico


enlouquecido sem conseguir raciocinar.
— A quem você pertence, Justin? — Pede Viktor mudando
seus movimentos para mais devagar.

— Você, VIKTOR! — Berro infeliz por seus ritmos terem


diminuído quando estou pronto para alcançar o ápice. — Droga, eu
pertenço a você! — Falo sofrido empurrando minha bunda para trás
em busca de mais prazer.

— Sim, porra, você me pertence! — Viktor diz colocando meu


braço apoiado na sua nuca. — Você é MEU! Porra, é meu, tudo de
você é meu! — Viktor declara abraçando o meu corpo com mais
força.

Os movimentos do quadril de Viktor se intensificam mais e


mais, sua mão livre alcança o meu pau punhetando no mesmo ritmo
que seu pau invade minha bunda. Vik começa a falar em russo
coisas que a minha mente nublada nem mesmo consegue alcançar
uma tradução lógica. Em instantes minha mente explode por inteiro,
ao mesmo tempo que um urro alto escapa dos meus lábios e o
líquido quente do meu próprio esperma molha minha barriga e
peitoral. Não demorou muito para um gemido estrangulado e forte,
carregado de satisfação de Vik tome os meus ouvidos, e logo um
jato fervente preencha o látex da camisinha. Meu corpo inteiro
desmorona, e os movimentos de Viktor se acalmam, mesmo que ele
ainda esteja gozando. Sinto seus beijos por toda a extensão da
minha nuca, bochecha e ombros.

Esse homem é literalmente um verdadeiro animal!

— Isso foi… Deus, isso foi explosivo demais! — Encontro


minha voz e isso o faz rir baixinho.

— Eu imaginei que seríamos assim juntos, mas não sabia o


quanto! — Viktor diz após tirar seu pau de mim, se livrar da
camisinha, voltar a deitar e me puxar para seu peito.
— Vai ser assim todas as vezes? — Pergunto, me
acomodando confortavelmente.

— Por mim vai ser muito melhor cada vez que fizermos amor,
malêch! — Diz ele e eu sorrio o apertando com o restante das forças
que ainda tenho.

— Se é assim, eu vou querer sempre! — Brinco pensando que


Viktor iria rir comigo, mas ele fica quieto. — Vik? — Chamo ele e de
repente sinto o meu corpo sendo puxando para cima do seu.

— Se é desse jeito, podemos começar agora mesmo, meu


amor! — Viktor diz me assustando.

— Mas Vik, nós acabamos de… — Começo a falar, e paro


quando sinto o seu pau se erguendo novamente. Merda!

— Você é tão irresistível, que sinto que tive muito pouco de


você! — Sua voz magnética faz com que o meu corpo se acenda
também.

— Vik! — Gemo quando sinto seu pau entrar em mim


novamente, mas dessa vez é diferente de antes. É muito, muito
melhor!

Volto a dizer que esse homem é a porra de um animal, mas o


meu animal insaciável.

Perdi completamente a noção de quantas horas se passaram


desde o momento que Viktor e eu fomos para seu quarto. Tudo o
que sei é que agora estamos no final da tarde do dia seguinte, e faz
pouco tempo que despertei, tomei um banho e consegui finalmente
a minha liberdade. Cada parte do meu corpo está dolorida demais,
tudo o que consigo fazer é reclamar de Viktor por ele ser um infeliz
sem discernimento algum. E para o bem dele, ele ficou quietinho
ouvindo toda a minha reclamação, abria sua maldita boca somente
para pedir desculpa e afirmar que me amava.

No entanto, quero que seu amor e suas desculpas vão para o


inferno! Mas tudo bem, a culpa foi minha por mexer em um homem
como Viktor, eu pedi por isso e agora é minha bunda que sofre as
consequências. Ah, que ódio! Agora tenho que descer para
confrontar a família morrendo de vergonha!

E para completar a minha vergonha, a primeira pessoa que


sinto a presença é minha bisavó. E suas próximas palavras me fazem
querer enterrar minha cabeça em um buraco e morrer bem ali
mesmo.

— Finalmente saíram da toca! — Bisa diz em tom malicioso.


— Jus, meu neto, nem só de pau e água viverá o homem! — Sinto o
bufar de risos de algum dos meus primos e meu rosto fica quente
como o inferno.

— Olá, boa tarde bisa! — Minha voz soa pequena, quase


inexistente.

— Já é quase noite, querido, só para sua informação. —


Nonna Francesca diz de forma sarcástica.

— Boa noite, vovó! — Viktor diz tranquilamente ao meu lado,


como se nada tivesse acontecido e eu quero muito matá-lo.

Mafioso sonso, sem vergonha!

— Olha só, Lolo, meu neto é como um cavalo de raça! Cheio


de disposição, meu orgulho! — Bisa diz feliz e eu brinco com minhas
mãos.
— Eu não aguento mais segurar o riso! — Sam diz como se
estivesse se contorcendo.

— Eu também não vou conseguir! — Pietro diz sufocado.

— Fica quieta, o Vik vai te lançar aquele olhar mortal! — Otto


aconselha baixinho.

— Gente, eles me surpreenderam! — Duda sussurra entre


eles.

— Saibam que consigo ouvi-los, seus cretinos! — Digo entre


dentes, tentando amenizar a vergonha.

— Desculpa, abóbora da minha vida! — Sam diz, e ouço os


seus passos vindo até mim junto a Pietro. — Nos conte tudo! — Sam
fala no meu ouvido.

— Não esconda nada! — Pietro também pede e eu tento


afastá-los, mas estou sem condições disso no momento.

— Podem largar o meu namorado! — A voz fria de Viktor


chega aos meus ouvidos e eu viro irritado para ele.

— Se eu fosse você nem encostava mais em mim hoje,


senhor! — Mando com raiva e ele soltou um pigarro com a garganta.

— Mas malêch… — começa ele e eu o ignoro.

— Irmão, o que você fez que deixou nosso príncipe desse


jeito, hein? — Duda pergunta com riso na voz.

— Cai fora, Eduarda! — Vik manda, mas isso só faz nossa


prima rir.

Ouço mais passos vindo até onde estamos, fico quieto até
que minhas mães surgem, junto com meus tios e seus respectivos
companheiros. Minha mãe Luna nota minha presença ao lado de
Sam e Pietro me tira deles, para poder colocar seus braços à minha
volta. Avaliando meu estado atual de perto, enquanto lança farpas
em Viktor que permanece quieto no seu lugar sem mover um dedo
sequer.

— Olha só, dolcezza, o nosso menino está tão desidratado! —


Mamma diz com tristeza e eu quero voltar a morrer.

— Mamma, por Deus! — Imploro e ela me ignora.

— Vamos, filhinho, suas mães vão te alimentar! — Mommy


diz e eu fico mais envergonhado do que antes.

— Por que você está tão orgulhoso aqui, Zuco? — Mamma diz
entre dentes.

— Olha só, lua de Laila, eu estava quieto aqui! — Tio Enzo


rebate divertido e minha mãe avança nele.

— Parem de lutar sozinhos e me chame também, seus


egoístas! — Tio Lucca grita indo até minha mãe e tio Enzo.

— Bando de idiotas! — Tio Filippo diz seriamente.

— Minha Lua, não se jogue assim para não se machucar! —


Mommy avisa, mas os gritos de mamma raivosos e o riso divertido
de tio Enzo enchem o ar.

Sinto o meu corpo ser abraçado pelos braços fortes e


acolhedores de Viktor, e logo sinto um beijo amoroso na minha
cabeça. Sorrio com seu toque amável, por que mesmo que ele me
irrite por ser um animal cheio de tesão, eu o amo como nunca
conseguiria amar qualquer outra pessoa.

— Desculpa pela minha falta de controle, amor! — Vik diz


contra meus cabelos e eu ri.

— Está desculpado, mas nem pense em chegar perto de mim


a noite! — Repreendo e ele dá um suspiro triste.
— Triste, mas vou te ouvir! — Diz ele com uma tristeza
fingida e eu deito minha cabeça no seu peito. — Te amo como um
animal louco, malêch! — Fala no meu ouvido e eu solto um suspiro.

— Eu te amo demais, meu mafioso sem noção! — Brinco e


isso faz ele me apertar com mais força.

Esse é o lugar que quero sempre estar, nos seus braços, por
que se existe outro lugar que eu quero permanecer, eu desconheço
completamente.

E assim a nossa vida juntos se inicia!


CAPÍTULO 23

Acho que o desejo fervoroso que sinto por Justin superou


qualquer sentido do que a lógica representa. Sei que ultrapassei
todo ou qualquer limite existente, mas mesmo assim, eu não me
sinto nenhum pouco culpado. Mesmo que tia Luna tenha passado
praticamente todo o jantar me encarando como um ser
desconhecido, que está pronto para perverter o seu filhinho
inocente. De qualquer maneira, eu ainda não me sinto nem um
pouco culpado, só eu sei o quanto sonhei em ter Justin em meus
braços. O quanto desejei tê-lo ao meu lado para sempre, mas
sempre tive um grande medo, vivendo uma vida sem cor, fria e
solitária. Me permitindo sofrer sozinho por um longo tempo, por me
sentir a pior pessoa do mundo por amar o meu próprio primo, que
me via como um irmão mais velho e nada mais. Só que não é bem
assim, hoje eu vejo que todo o meu sofrimento foi em vão, tudo o
que achei que seria impossível se tornou a minha própria realização.

A noite anterior foi tudo aquilo que sempre sonhei para nós
dois. O modo que Justin entregou seu copo para mim foi mágico
demais, se eu pudesse voltaria no tempo para ficar revivendo aquele
prazer que compete só a nós dois. Só que tem uma coisa, não tenho
mais porque reviver nada em pensamentos ou em sonhos, por que
agora Justin é meu. Meu namorado, meu bebê, minha vida inteira
que está bem ali a pouca distância de mim, brincando com sua irmã
caçula em seus braços. Sorrindo feliz enquanto conversa com Otto e
Pietro, algo interessante que o faz se distrair de Ella para poder rir,
seja lá o que eles disseram. Ao ver seu lindo sorriso nos seus lábios,
eu sinto vontade de sorrir também, me sentindo um completo idiota
só por estar aqui o observando a distância.

— Ei, senhor mafioso, porque está aqui parecendo um bobo e


não lá com ele? — Duda pergunta ao meu lado chamando minha
atenção.

— Eu só me acostumei a estar sempre o encarando! —


Respondo com sinceridade, olhando brevemente para ela e
Samantha que também está presente.

— Você não sabe o quanto estamos felizes por vocês dois! —


Samantha diz dando um soco no meu braço.

— Fizemos até planos para juntar esses dois, como não


ficaríamos felizes, não é marrentinha? — Eduarda indaga a nossa
prima de modo dramático.

— Mesmo vocês duas sendo tão irresponsáveis, eu agradeço


de coração. — Minha voz soa calma e cheia de verdade.

— Somos suas irmãs, Vik! — Duda diz dando um sorriso de


lado e Sam concorda com a cabeça.

— Sim, vocês são! — Confirmo dando um curto sorriso.

— Olha isso ursinha, será que foi um sorriso? — Sam


questiona como se não acreditasse.
— Foi, foi sim! Tenho certeza disso! — Brinca Duda
apontando para o meu rosto, e eu reviro os olhos.

— Vik! — A voz infantil de Hope me chama, me fazendo olhar


para sua direção.

— Oi querida, venha aqui! — Chamo Hope, que está me


olhando com uma seriedade incrível.

— Não seja tão legal, eu vim aqui para ter um papo sério com
você! — Hope diz colocando a mão na sua cintura rechonchuda.
Olho para minhas primas mais velhas que dão de ombros, tentando
não rir da fofura de Hope.

— Olha só isso, será que deveríamos sair para lhes dar


privacidade? — Sam indaga para a pequena que nega com a cabeça.

— Não, o que vou perguntar, é importante que tenha


testemunhas! — Hope fala cheia de seriedade.

— Oh sim, se for assim tudo bem! — Duda diz tentando não


rir, dando um tapinha no meu ombro. — Vamos lá Vik, nossa
priminha precisa conversar! — Franzo o cenho para Duda, mas volto
a olhar para Hope.

— Oi amor, pode falar o que você deseja! — Peço e ela


concorda de forma rígida.

— Você e Abóbora estão namorando, certo? — Pergunta ela e


eu concordo com a cabeça. — Você ama meu irmão como mamma e
mommy se amam? Como meus tios e avós, não é? — Questiona
com sua voz ficando embargada e eu volto a concordar com
seriedade.

— Claro, krôchka (biscoitinho), seu irmão é o amor da minha


vida! — Dou dois passos para me aproximar mais perto de Hope, me
agachando à sua frente.
— Você promete? — Questiona fazendo bico como o de Justin
quando está triste ou chateado.

— Prometo, querida! Juro a você que vou amar e proteger


seu irmão com tudo de mim! — Me aproximo segurando suas
mãozinhas roliças. — Acredita em mim, querida? — Digo baixo para
que seja um segredo nosso, e é sua vez de assentir com a cabeça.

— Você é o melhor, Brat (irmão)! — Diz Hope jogando seus


braços ao redor do meu pescoço.

— Nada disso, a melhor é você, pequena! — Falo deixando


um beijo na sua cabeça.

Aproveito o abraço da minha priminha, mas um movimento


nos fundos de casa chama minha atenção. Olho para o local dando
de cara com Natska, que me lança um olhar que diz que ela precisa
falar comigo. Droga, deve ser problema mais uma vez! Sinalizo para
ela que já estou chegando e peço a Eduarda e Samantha para poder
ficar na companhia de Hope por um tempo. Assim que recebo suas
confirmações verbais, deixo mais um beijo na cabeça de Hope e
caminho até onde minha subordinada está. Indico a ela para me
seguir até um local menos barulhento, e ela me segue sem dizer
nenhuma palavra. No instante que encontro o melhor lugar para
falarmos, eu percebo que ela está um pouco mais rígida do que de
costume.

— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto franzindo o cenho.

— Ainda não senhor, mas Mika tem notado um movimento


estranho de Yuri e seus homens. — Ouço o que ela diz e concordo
com a cabeça.

— Suspeita que ele irá retaliar? — Indago arqueando uma das


minhas sobrancelhas.

— Não sei senhor, mas se ele fizer isso ele vai contra os
avisos de Aleksandr! — Natska fala fazendo uma careta.
— Não foi você que me disse que Yuri é o mais impaciente
entre Oleg e Vasily? — Indago e ela puxa uma forte respiração.

— Queremos que ele cometa um erro, certo senhor? —


Questiona ela e eu dou um curto sorriso.

— O que você acha? — Rebato seriamente e ela assente com


a cabeça.

— Entendido, mas quando o senhor pretende voltar para


Nova York? — Natska pergunta e eu olho em volta de todas as terras
da minha família.

— Sairemos daqui amanhã, peça para Mikhail e Dominick não


fazerem nada e só esperar a nossa volta. — Aviso e ela assente de
forma rígida.

— Falarei a eles! — Afirma ela, mas logo sinto seu olhar cheio
de curiosidade em mim.

— Deseja perguntar alguma coisa? — Olho para ela que olha


para baixo sem jeito. — Vamos, pergunte! — Mando diretamente.

— Er… o senhor irá levar o seu… — Natska não termina sua


frase, mas eu compreendo o que ela quer dizer.

— Quer saber se eu vou levar Justin comigo? — Arqueio a


sobrancelha e ela assente com a cabeça. — Sabemos que a família
Yegorov irá agir em breve, e não planejo Justin se envolver nisso,
quero deixá-lo seguro. — Confidencio e ela fica quieta.

— Compreendo, mas não sei se ele irá aceitar, pelo pouco que
observo sua família, senhor! — Diz ela e eu dou um sorriso de lado.

— Independente, não planejo levar Justin para essa minha


vida obscura! — Conto e assim que fecho minha boca ouço a voz fria
de Justin preencher o ambiente.
— O que diabos você está falando, Viktor! — Olho para o lado
e lá está meu lindo namorado franzindo sua testa perfeita.

Porra!

Deixo Natska de lado e corro em direção a Justin, assim que


estou próximo o suficiente ergo minha mão para alcançá-lo, só que
ele desvia de mim. Sei que ele está chateado. Isso foi algo sobre o
qual não conversamos, e ele teve que descobrir dessa forma — e eu
não gosto nada disso. Não gosto de deixá-lo chateado, mas espero
que ele possa entender que no momento estou enfrentando muita
merda para trazê-lo ao meu lado. Justin tem que entender que a
única coisa que quero nesse mundo é que ele se mantenha em
segurança, e se eu já ansiava por isso antes, agora que estamos
juntos é como se fosse uma necessidade física minha. Imaginar
Justin ser ferido por minha causa vai me matar por dentro, ele é o
meu amor, ele é tudo o que sempre quis. E se algum desgraçado da
Bratva descobrir sobre sua importância para mim, podem
simplesmente usá-lo para me atingir.

— Justin, amor, não fique chateado! — Peço levemente com


ele, voltando a me aproximar.

— O que você pensa que sou Viktor? Alguém indefeso que


tem que se manter longe do mundo cruel? — Ele para por um tempo
controlando sua respiração, mas logo volta a falar. — Assim como
você, eu conheço de perto o quão cruel o mundo pode ser, e eu me
fortaleço todos os dias para enfrentar tudo de ruim que cair no meu
colo. Você me acha incapaz? — Questiona ele com mágoa, cortando
meu coração em pedaços.

— Não é dessa forma, malêch, eu só não quero envolvê-lo na


minha bagunça! — Conto de forma sincera.

— Sim, você deveria ter pensado nisso antes de ter se


apaixonado por mim e eu por você, Viktor! — Justin é duro com
suas palavras.
— Você tem uma vida em Madri, como posso te tirar de sua
vida para poder levá-lo comigo para Nova York? — Indago puxando
uma forte respiração.

— Olha aqui seu russo idiota, nossas vidas separadas deixou


de existir quando fodemos como dois loucos no seu quarto ontem a
noite! — Jus cospe as palavras com raiva e eu engulo em seco,
porque é muito sexy vê-lo falando raivoso dessa forma.

Inferno, estou realmente fodido!

— Jus, me ouça, tudo bem? — Peço segurando suas mãos


que estão agitadas.

— Não quero! É você, seu idiota, que tem que me ouvir! —


Diz ele libertando sua mão pra socar meu peito. — Se você for para
Nova York sem mim, eu nunca mais vou deixar você chegar perto de
mim, está me ouvindo, cacete? — Justin pergunta agarrando minha
roupa com força.

— Eu não vou deixar! — Mordo a mandíbula com força,


olhando fixamente para ele. — Você é meu, Justin! — Falo
seriamente e ele ri.

— Viu só, olha aí a hipocrisia! — Justin fala com uma risada


carregada de sarcasmo.

— Foda-se, posso ser um hipocrita, mas só quero deixa-lo


seguro, Jus! — Aponto de modo rígido e ele estala com a língua.

— E como eu fico por também querer te manter em


segurança? Eu também quero estar ao seu lado, pra te ajudar no
que for preciso. — pergunta ele, me deixando com o peito quente.

— Malêch, não fale assim, eu simplesmente não posso… —


Minha voz é cortada quando sinto Justin puxar minha roupa com
força, para que assim nossos rostos fiquem próximos.
— Viktor, pare de ser a merda de um covarde! — Justin diz e
é como se seus olhos cristalinos estivessem olhando diretamente
para os meus. — Eu pertenço a você e aceitei isso, mas tem algo
que você ainda não entendeu, meu amor! — Fala ele e eu aliso sua
nuca, por que não resisto vê-lo dessa maneira tão foda.

— E o que eu não compreendi, radnóy (querido)? — Minha


voz sai baixa e rouca.

— É que você me pertence na mesma medida, lembre-se


sempre disso! — Diz ele e eu engulo em seco.

Blyat! Quero muito, muito mesmo, levá-lo novamente para o


meu quarto e trancá-lo lá até poder tirar essa ideia de me seguir. No
entanto, eu sinto que nada pode tirar essa ideia perigosa de Justin
de sua cabeça. Sinto sua determinação daqui, ele está pronto para
largar tudo e seguir ao meu lado. E claro que isso me torna mais
louco por ele, mais apaixonado do que nunca, mas em contrapartida
me deixa mais temeroso também. As coisas que tenho que fazer, são
coisas que não queria o homem que amo perto, só que pelo visto
não vou ter lugar para onde correr.

— Crianças? — A voz cheia de curiosidade de Tio Luiz chega


aos meus ouvidos. — É impressão minha ou vocês estão brigando?
— Meu tio pergunta e eu olho na sua direção.

— Estamos só… — Eu ia inventar uma desculpa, mas Justin


responde antes de mim.

— Estou lutando com esse idiota que queria voltar para Nova
York e me deixar aqui, tio Luti! Será que o senhor poderia me ajudar
aqui? — Jus diz com firmeza e eu vejo um sorriso de
reconhecimento tocar seu rosto bonito.

— Oh queridos, é sempre uma luta lidar com os amantes


dessa família! — Exclama meu tio rindo.
— Belo, houve algo? — Tio Filippo surge, segurando seu
marido e olhando para nós com dúvida.

— Sim, ursão, acho que você vai ter que ter aquela conversa
com os garotos! — Tio Luiz diz em enigma, fazendo seu marido
soltar uma respiração forte.

— Entendo, amore! — Fala meu tio direcionando seus olhos


sérios para mim e Jus. — Vocês dois, vamos ter uma conversa no
escritório! — Tio Filippo comunica, deixando um beijo em seu
marido e saindo logo em seguida.

— Vão queridos, Ursão não gosta de esperar! — Tio Luiz diz


apontando para dentro com o polegar, rindo.

— Obrigado, tio! — Jus agradece, abrindo sua bengala para


poder seguir adiante.

Observo ele sair sem mim, isso mostra que ele ainda está
bastante chateado comigo. Cerrei os punhos ao segui-lo, mas não
antes de lançar um olhar de agradecimento ao meu tio Luiz. Em
seguida, caminho em direção ao antigo escritório da família. Ao
entrar no lugar vejo os móveis vintage, que são preservados a
pedido de minha bisavó, para que assim possa manter as memórias
da sua juventude. Espero Justin se acomodar em um lugar para
poder sentar ao seu lado. Penso em abrir minha boca para lhe dizer
algumas palavras, mas a porta é aberta novamente me fazendo
fechar a boca. Noto a presença de meu tio Filippo, trazendo com ele
duas maletas que aguçam minha curiosidade. Só que evito fazer
perguntas, porque sinto a tensão no ar.

Relaxo o meu corpo e noto que junto com meu tio mais
velho, veio também meu otets, tio Lucca, tia Luna e nosso nonno
Donatello. Cada um deles se acomodou em pontos distintos do
escritório, tio Lucca ficou de pé, descansando as costas contra os
diversos livros na estante, cruzando os braços e projetando suas
pernas para frente. Meu pai Enzo veio para o meu lado, tia Luna
para o lado de Justin, meu avô se acomodou na poltrona grande e
confortável. E tio Filippo se posicionou ao seu lado, de pé cruzando
seus braços, apertando seus músculos protuberantes em seu suéter
vermelho escuro. Olho para eles me mantendo em silêncio, porque
suas expressões me dizem que o assunto que eles tem para falar
com nós dois requer seriedade.

— Viktor, Justin, por que vocês estavam em uma discussão


agora a pouco? — Tio Filippo questiona e eu vejo Justin apertar sua
bengala até os nós dos seus dedos ficarem brancos.

— Discussão? Mas vocês não começaram a namorar ontem?


— Meu pai pergunta confuso.

— Sim, querido, o que Vik fez para irritá-lo? — Tia Luna


pergunta a Jus docemente.

— Por que meu filho é o causador da briga, sorella? — Meu


pai reclama e tio Lucca ri.

— Não comecem vocês dois, o assunto é sobre seus filhos,


caspita! — Tio Lucca diz e tio Filippo o encara com um toque de
surpresa.

— Pela primeira vez você disse algo sensato, Luc! — Meu tio
aponta sério e tio Lucca faz um gesto de desdém com a mão.

— Eu sou o mais sensato dessa família! — Exclama meu tio


cheio de orgulho, fazendo meu pai e tia Luna revirarem os olhos.

— Até parece! — Dizem eles em uníssono.

Eles começam uma conversa entre eles em um italiano


acelerado, e eu aperto minha têmpora. Sentindo que não tenho mais
saída além de expor meu pensamentos para eles. Por isso que me
acalmo e peço por suas atenções.
— Confirmo que Justin e eu tivemos uma pequena
divergência. — Digo os fazendo se calarem e direcionar suas
atenções para mim. — Jus descobriu que planejo voltar para Nova
York, mas que não penso em levá-lo comigo. — Expus, os deixando
saber o que realmente aconteceu.

— Mas não é você que decide por mim! — Jus diz carrancudo.

— Os problemas que enfrento são muito ruins, Jus! — Digo


em tom firme e ele bufa. Vejo que tanto meu pai quanto tia Luna
ficam pensativos em algo, mas meu nonno resolveu falar pela
primeira vez que ele entrou na sala.

— Meninos, antes que vocês comecem a dizer qualquer coisa,


deixem esse velho perguntar algo a vocês dois. — Nonno toma a
palavra. — Vocês realmente querem ficar juntos? — Meu avô
pergunta olhando para mim e para Justin seriamente.

— Sim, nonno! — Respondemos juntos sem pestanejar.

— Se é isso que vocês realmente querem, devem também


estar dispostos a seguir a vida em comunhão. E isso se resume a
enfrentar as adversidades da vida juntos, porque um relacionamento
não só se solidifica com as coisas boas, mas com as coisas ruins
também. — Nonno diz com um sorriso leve nos lábios.

— Sabemos que Justin tem suas limitações, apesar de todo


treinamento que teve, mas vocês dois devem confiar um ao outro. E
se ele diz que é capaz de estar ao seu lado, Viktor, você deve por
obrigação confiar e ajudá-lo incondicionalmente. Foi assim com
todos nessa sala. — Tio Filippo diz olhando para cada um dos seus
irmãos.

— Irmão, mas estamos falando da Bratva! — Tia Luna diz e


meu tio confirma com a cabeça.

— Luna, quando você se apaixonou por Laila não quis saber


se ela tinha um marido violento e um filho para proteger. — Tio
Filippo fala para minha tia que concorda e segura a mão de Jus
antes de assentir. — Enzo é outro que não quis saber sobre a Bratva
quando protegeu Andrea com a sua própria vida. O Lucca não se
importou de que Luigi estava com casamento marcado e com uma
mulher grávida dele. — Tio Lucca sorriu abertamente concordando
com as palavras do irmão mais velho. — E eu? Bem, eu só peguei o
meu marido para mim, não me importando com a Finastella
tentando foder com os meus negócios. — Meu tio conclui apontando
para si mesmo.

— O que Filippo quer dizer é que todos nessa sala passamos


por momentos bem desafiadores, mas juntos conseguiram forças
necessárias para suprimir suas próprias limitações, meus queridos.
— Nonno fala e direciona seu olhar para mim. — Viktor, meu neto,
sei que você não quer que nada aconteça nem conosco ou com o
Justin, mas você tem que viver sua vida independentemente do
tamanho dos seus problemas. — Meu avô fala com carinho.

— E se… se algo acontecer e eu não puder controlar a


situação, nonno? — Pergunto em tom baixo, cerrando meus punhos
com força.

— Aí você vai relembrar que estaremos lá para você e para


Justin no primeiro instante. — Nonno fala e eu respiro aliviado.

— Eles podem pensar que tem o herdeiro da Bratva, mas


junto a ele vai estar outro herdeiro, um dos herdeiros dos
Aandreozzi. — Tio Lucca esfrega suas mãos juntas. — E se eles
mexerem com os nossos garotos, eles devem estar preparados para
sofrer uma morte horrível. — Conclui ele e eu dou um sorriso, vendo
um sorriso se formar nos lábios de Justin também.

— A união de vocês nos dará o motivo exato para podermos


lutar ao seu lado, meu filho! — Meu pai diz pressionando meu ombro
com sua mão.
— Confio que você protegerá o meu bebê, Vik, mas também
confio em meu abóbora! — Tia Luna diz deixando um beijo em meu
namorado que solta um suspiro.

— Obrigado, mamma! — Agradece ele à minha tia, que sorri


e diz algo em seu ouvido que o faz ficar vermelho como tomate. —
Pare com isso, mãe, pelo amor de Deus! — Jus reclama me
deixando curioso para saber o que tia Luna lhe disse.

— Oh meu bebê, você cresceu tanto! — Brinca minha tia de


forma dramática, agarrando Jus em seus braços.

— Vou aproveitar que vocês estão aqui para dar isso aqui a
vocês. — Nonno fala e olha para meu tio Filippo. — Mostre para
eles, filho! — Pede levemente.

— Va bene, Babo! — Meu tio fala, vindo até nós dois com as
maletas prateadas.

Meu tio se aproximou de mim erguendo uma das maletas na


minha direção, eu a peguei sem pensar demais. Logo depois ele vai
até Jus e pede para que ele erga seus braços também, e quando ele
faz o que é pedido, meu tio coloca a maleta, que é muito maior do
que a minha, em seus braços. Com a ajuda da tia Luna a maleta de
Justin é aberta, aproveito a deixa para poder abrir a minha. E o
conteúdo das duas maletas me deixa completamente surpreendido e
emocionado, porque eu sei o verdadeiro significado desse gesto de
meu avô. Na minha maleta contém duas pistolas grandes, prata
brilhantes, contendo nos dois lados do seu cabo o brasão da família.
Já na maleta de Justin contém uma linda espada de dois gumes,
onde no seu punho que foi traçado de forma delicada e esplêndida,
também tem o brasão, completando toda magnitude da sua arma.

— Essas armas foram preparadas para vocês a muito tempo,


pedi a Giuseppe que fosse buscá-las para poder entregá-las a vocês.
— Nonno diz e eu pisco algumas vezes, tirando meus olhos das
nossas armas para poder encará-lo.
— Nonno, isso… — Justin começa a dizer, mas a sua garganta
trava de tamanha emoção. Sei como ele se sente porque me sinto
da mesma forma.

— Essa é a tradição de nossa família, para que vocês sempre


se lembrem que devem lutar de unhas e dentes pelos seus destinos.
— Nonno diz passando os olhos por todos na sala. — E que somos
as pessoas que vão protegê-los a todo custo, por que somos os
Aandreozzi, e ninguém mexe com um membro dessa família. —
Nonno fala com tamanha fibra que faz o meu coração acelerar.

— Para tudo e por tudo… — Tio Filippo fala seriamente.

— Sempre! — Tanto eu quanto Justin e o restante dos


presentes respondem com a mesma seriedade.

Essa segurança era tudo o que eu precisava para seguir


minha vida, tendo o homem que amo ao meu lado. Mesmo que eu
tenha que cavar até o fundo do inferno, eu vou manter Justin
protegido. Ainda mais carregando essa tradição familiar tão
importante e significativa.

Por que eu sou um Aandreozzi, e eu protejo quem eu amo a


todo custo!
CAPÍTULO 24

Estou voltando para Nova York novamente, só que dessa vez


será diferente, porque estou levando Justin comigo. Devo confessar
que estive muito apreensivo em levá-lo, só que após aquela reunião
tão significativa com o meu nonno e os demais, minha mente
turbulenta pode se tranquilizar um pouco. Toda aquela conversa
tranquilizadora, receber aquelas armas e o apoio dos nossos pais,
avô e tios foi como se minha mente finalmente se libertasse de
diversos medos. Com todo esse acolhimento, sem nenhum tipo de
julgamento — só afeto e confiança —, tive coragem suficiente para
permitir que Justin seguisse ao meu lado. Mesmo sabendo que os
dias que virão não serão fáceis de enfrentar, tê-lo comigo me dará
uma força sobre-humana para continuar seguindo em frente.

Farei de tudo para protegê-lo, mas se alguma situação fugir


do meu controle, eu sei que tenho um homem incrivelmente
talentoso ao meu lado, e uma família pronta para enfrentar o mundo
ao nosso lado. Com isso em mente, olho para os integrantes da
nossa família, que estão aqui para se despedir de nós. Me sinto um
sujeito de muita sorte, e não é pra menos, porque agora sei que
essas pessoas que estão aqui presentes são a base sólida que me
sustenta diariamente. O elo firme que me impede de me afundar de
vez na escuridão, que teima em querer me engolir. Se isso não é ser
um homem de grande sorte, eu não sei mais o que poderia ser.

— Não esqueça de estar sempre nos mantendo informado,


meu filho! — Meu pai Andrea diz, após averiguar se minha roupa
está bem arrumada em meu corpo. Sorrio com o seu cuidado e
acaricio seus cabelos loiros compridos.

— Sim, papa, os deixarei saber se as coisas ficarem fora do


meu controle. — Digo em tom calmo e ele sorri com um pouco de
tristeza por conta da separação.

— Confiamos em você, Vik, sempre confiamos em você! —


Otets diz trazendo Papa para ele.

— Fico feliz com a confiança, otets! Eu também estou aqui


para cuidar de vocês, qualquer emergência pode me chamar. E os
gêmeos… — Começo a falar fazendo uma careta de desculpa por
deixar os gêmeos chateados com a minha partida.

— Nem se preocupe com isso, eles vão ficar bem,


principalmente porque Hope e Isabel foram acalmá-los. — Tio Luiz
fala sorrindo e apontando para onde as crianças correram para
encontrar os gêmeos.

— Sei bem como Isabel pode ser persuasiva. — Tia Giovanna


fala revirando os olhos.

— Hope também não fica por baixo. — Tia Laila fala negando
com a cabeça.

— Me sinto aliviado ao saber disso. — Mostro um sorriso


curto, olhando para minhas tias e tio Luiz com afeição.
Há um breve momento de silêncio, mas logo a tia Laila se
aproxima mais perto de mim. Vejo que seu rosto contém alguma
luta interna, só que logo se dissipa e ela me encara com uma
seriedade pouco mostrada por ela.

— Vik, não vou vim com o discurso sobre não magoar meu
filhinho, porque sei dos sentimentos que você tem por ele. — Tia
Laila diz de modo tranquilo, mas percebo que ela tenta controlar a
suas emoções.

— Eu amo Justin, tia! — Declaro e ela concorda com a


cabeça, deixando um sorriso fofo tomar conta do seu rosto
gordinho.

Tia Laila olha brevemente para Justin que está se despedindo


de nossos avós, ostentando um sorriso brilhante e cheio de vida. Ele
diz algo que faz nossa bisavó jogar a cabeça para trás e rir alto, e
isso me faz rir de modo involuntário. Fico impressionado como a
felicidade dele é tão contagiante que faz com que qualquer
despedida, que poderia ser cheia de tensão, se torne leve e
descontraída. Eu poderia ficar parado aqui por um longo tempo, mas
as próximas palavras de tia Laila fazem com que minha atenção se
volte para ela novamente.

— Mas saiba que se algo acontecer ao meu Justin, eu não


vou esperar sentada para acabar com a raça daqueles russos
infelizes. — Diz cerrando os punhos — E não vou deixar ninguém
impune! — Ela conclui seriamente e eu dou um sorriso de lado.

Minha tia fofinha, sabe como ser durona!

— Não esperaria menos da senhora, tia Laila! — Respondo


levemente e ela me puxa para um abraço.

— Lembre-se sempre que estar juntos é melhor do que


separados, sim? — Lembra ela e eu concordo com a cabeça.
— Agora eu sei! — Respondo, voltando a olhar para o amor
da minha vida, que está sendo orientado pela tia Luna ao seu lado.

— Vou mandar algumas das suas coisas depois, por enquanto


você usa o que sua mãe e eu arrumamos. E você sabe que sempre
pode comprar qualquer coisa que você achar necessário. — Tia Luna
fala com Justin que concorda com a cabeça.

— Mamma, fique tranquila, eu sei disso tudo. — Jus fala


levemente ostentando um sorriso tranquilizador.

— Eu sei que você sabe, mas como mãe eu devo sempre te


lembrar! — Minha tia fala alisando o rosto bonito do meu namorado.

— Vou estar sempre em contato, então a senhora ficará


sabendo de qualquer necessidade minha. — Jus conta e minha tia
solta uma longa respiração.

— Nunca ficamos tanto tempo longe de você, abóbora! — Tia


Laila fala saindo de perto de mim para ir até eles.

— Isso mesmo, dolcezza! — Tia Luna fala e volta seu olhar


para mim. — Cuide do meu filhinho, Vik, ou eu arranco suas bolas!
— Ela ameaça e meus primos se controlam para não rir.

— É irmão, acho melhor você cumprir com esse pedido! —


Otto falou baixinho, enquanto eu bagunçava seus cabelos
compridos.

— Fica quieto, Otto! — Digo seriamente e ele me encara com


desgosto, penteando novamente.

— Sorella, deixe os meninos irem! — Tio Filippo fala, fazendo


minha tia assentir com dificuldade.

— Tudo bem, tudo bem, venha aqui dolcezza! — Tia Luna fala
puxando sua esposa que estava grudada em um abraço forte com
Justin.
Aproveito que meu namorado está liberto das garras das suas
mães tão protetoras, e o trago para mim, deixando um beijo na sua
têmpora. Eu poderia me perder no sorriso que ele está ostentando
nos seus lábios, mas a voz empolgada de tio Lucca chama minha
atenção.

— Estou ansioso para ver uns russos safados morrerem por


minhas mãos, meu sonho é invadir a Bratva! — Tio Lucca fala
lambendo os lábios em expectativa

— Controle um pouco seus ânimos, miele, você não vai


invadir lugar nenhum, sim? — Tio Luigi diz beijando o rosto de Tio
Lucca que estalou a língua em desgosto. — Só tomem cuidado e
lembrem que estamos aqui! — Tio Luigi diz, após acalmar seu
marido, sorrindo para nós do seu jeito harmônico de sempre.

— Obrigado, tio! — Agradeço e ele assente com a cabeça.

— Podem ir tranquilos, meus netos, estaremos aqui para


qualquer coisa. — Nonno Donatello diz ao lado de nossa nonna
Arianna, deixando eu e Jus agradecidos.

— Estamos indo então! — Jus diz apertando sua bengala com


força, noto seu nervosismo e eu abraço sua cintura, o deixando mais
relaxado.

— Esperem crianças! — Bisnonna Francesca grita antes que


possamos nos virar e entrar no carro.

— O que foi, bisa? — Jus pergunta confuso. Vejo que


Giuseppe entrega algo à nossa bisavó, que a faz sorrir largamente.

— Que demora, Peppe, quase não consigo entregar o meu


presente! — Exclama ela em reclamação, agarrando a caixa com um
olhar que me faz sentir apreensivo por alguma razão. — Aqui, Jus,
isso é pra você! — Diz ela entregando a caixa para Justin, que fecha
sua bengala e passa para mim, aceitando o presente com
curiosidade.
— Do que se trata isso, bisa? — Jus pergunta abrindo a caixa,
mas o sorriso traquino de nossa bisavó me fez erguer a mão para
impedi-lo de abrir na vista de todos. — Vik? — Pergunta ele
assustado.

— Sinto que essa caixa não deve ser aberta! — Digo perto do
seu ouvido o fazendo endurecer no mesmo momento. Logo após
dizer isso a ele ouço o riso alto de nonna Francesca.

— Droga, Vik, você é tão espertinho às vezes! — Bisa diz


confirmando a minha suspeita.

— Bisa, por favor! — Digo seriamente, mas ela me ignora


continuando a rir.

— O que tem na caixa, bisa? — Samatha e Eduarda


perguntam juntas me fazendo lançar um olhar de aviso para elas.

— Estou curioso também! — Pietro diz, e Otto concorda ao


seu lado. Isso só faz bisa rir ainda mais, enquanto meus pais, tios e
avós balançam a cabeça em negação.

— Meu filho Don tem suas próprias tradições e eu tenho as


minhas! — Nonna diz como se explicasse muita coisa, mas nossos
pais e tios compreenderam muito bem. — Jus, meu neto, como você
ficou destruído por que seu russo mafioso é muito… bem, você sabe!
A sua bisa aqui fez um kit de suprimentos com tudo o que você
precisa, não é um bom presente? — Bisa diz fazendo Jus ficar com o
rosto extremamente vermelho.

— Mamma, por Deus! — Nonno fala, tenta vir ao nosso


socorro, mas bisa esbraveja.

— Fica quieto Don, por que na hora de me pedir remédio


para seu “querido envelhecido”, você sabe ficar todo mansinho. —
Bisa diz fazendo Nonno ficar mudo no mesmo instante.
— Isso nunca existiu! — Resmunga Nonno, tentando começar
a reclamar, enquanto minha Nonna Arianna dá batidinhas nas costas
dele, consolando-o.

— Não provoque mamma, Don! — Alerta minha avó,


impedindo meu avô de continuar reclamando.

— Você é a mais sábia nessa família, minha Anna querida,


mas voltando aos meus netos. — Bisa diz olhando para nós. — Eu
cuidei da vida sexual de todos nessa família, com vocês não será
diferente, ragazzi! Usem os presentinhos da bisa com sabedoria! —
Diz dando uma piscadela.

— Agradeço, vovó! — Falo tentando permanecer impassível,

Mesmo que os idiotas dos meus primos estejam fazendo de


tudo para não rir da minha cara. Bando de idiotas!

— Mas deixando de lado o momento dos presentes, a vovó


espera que vocês tenham uma vida maravilhosa juntos. Espero que
vocês possam se apoiar um no outro e lutar juntos pelo futuro de
vocês. Vê-los assim tão crescidos e cheios de determinação é tudo o
que essa velha poderia querer nessa vida. Amo vocês meus netos
amados, se cuidem! — Bisa diz com tanto amor nas palavras que Jus
e eu não perdemos tempo em ir abraçá-la.

— A senhora sempre terá nosso coração, bisa! — Jus diz


escondendo seu rosto na curva do pescoço dela.

— Se cuide também, e não seja tão sapeca ao tentar fugir


dos médicos. — Aviso deitando minha cabeça sob a dela.

— Eu sou sempre tão quietinha! — Rebate ela com uma


indignação fingida, mas eu só nego e deixo um beijo no topo da sua
cabeça. — Vão, entrem logo no carro, sei que vocês precisam sair
logo! — Diz bisa nos empurrando para longe.
Sei que ela faz isso para evitar soltar lágrimas na nossa
frente. Sempre tentando ser durona! Após sermos separados de
bisa, segurei a mão de Justin na minha, entrelaçando nossos dedos.
Volto meus olhos para os membros da nossa família, acenando um
breve adeus, com a certeza de que logo voltaremos a encontrá-los.
Sem mais delongas pedi para que Justin se acomodasse no banco
do carro, para que logo depois eu me sentasse ao seu lado. Com
isso o carro iniciou uma viagem até a pista particular onde está
localizado o meu jatinho. A viagem até o local esperado demorou
quase uma hora, e foi o suficiente para que Justin caísse no sono,
descansando sua cabeça no meu ombro. E quando avistei o jatinho
preto brilhante, já pronto esperando nossa partida, eu tentei acordá-
lo para que saíssemos.

— Malêch, acorde, estamos aqui! — Chamo baixinho e ele


gemeu tentando não abrir as pálpebras. — Vamos, querido, ou
deseja que eu te carregue? — Pergunto e ele abre um sorriso.

— Sim, estou querendo ser mimado! — Diz ele me fazendo rir.

— Se é isso que meu adorável namorado deseja, eu vou


mimá-lo com prazer! — Falo deixando um beijo nos seus lábios
sorridentes.

— Vou ficar mal acostumado desse jeito! — Aponta ele e eu


faço um som de indiferença.

— Não me importo com coisas tão pequenas, farei o máximo


de vontades possível para que você me ame cada dia mais. —
Confesso acariciando seus lábios com meu polegar.

— Só que tem um problema, amor! — Diz Jus e eu ergo a


sobrancelha.

— E qual é? — Pergunto e ele entrelaça seus braços em volta


do meu pescoço.
— Eu já te amo mais a cada dia que passa! — Justin diz em
forma de sussurro e isso faz meu pau ficar duro no mesmo
momento.

— Jus, malêch, não diga essas coisas assim, estamos em um


lugar onde não posso ter seu corpo perfeito para mim. — Respondo
com o mesmo sussurro e isso o faz rir.

— Então me leve para casa logo, porque eu também quero


seu corpo gostoso dentro de mim. — Justin diz me fazendo engolir
em seco.

— Blyat, você quer me matar! — Minha voz saiu baixa e tão


rouca, que quase foi difícil conseguir reproduzir pelas minhas cordas
vocais.

Saio do carro antes que eu perca o fio de controle que ainda


me resta, por que esse é o poder que Justin tem sob meu corpo.
Qualquer dose de provocação sexual vindo dele, é o suficiente para
me deixar louco em querer fodê-lo como um maníaco. Ajusto meu
pau rígido contra a minha roupa, fechando meu blazer na intenção
de escondê-lo. Quando me vejo mais recomposto, mudo minha
postura ao me virar em direção aos meus homens, pedindo que
guardem as coisas que trouxemos e avisem ao piloto que estamos
indo. Peço para que Natska auxilie Reyes, segurança particular de
Justin, para acomodar Tom no compartimento de segurança de
animais na aeronave. Ela faz o que mando levando Reyes com ela
logo em seguida, observo os dois, que seguem juntos em direção às
escadas do jatinho.

Ajudo Justin a sair do carro, cumprindo com a sua sugestão


de carregá-lo nos meus braços, e isso é o suficiente para fazê-lo rir.
No entanto, não rejeita os meus avanços, o que prova que ele
realmente queria que eu o carregasse.

— Você é tão fofo, meu Vik! — Diz ele enganchando suas


pernas fortes em minha cintura, agarrando meu pescoço com força,
e deitando sua cabeça na curva do meu pescoço.

— Não diga isso na frente dos meus homens, malêch! — Peço


seriamente e ele volta a rir.

— Se quer manter sua postura de mafioso frio e distante,


então é melhor me colocar no chão! — Provoca ele tentando sair,
mas eu aperto sua bunda com força.

—Nem pense nisso! — Aviso e ele cheira meu pescoço. —


Jus! — Digo seu nome em tom de aviso, e ele ri.

— Tudo bem, tudo bem, parei! — Fala entre risos e eu nego


com a cabeça.

— Tem certeza que está pronto para conhecer o meu mundo,


Jus? — Pergunto pela última vez e ele concorda no mesmo instante.

— Vou até mesmo para os confins do inferno com prazer, se


você estiver ao meu lado, meu amor! — Confessa fazendo meu
coração bater com força.

—Isso era tudo o que eu precisava ouvir, malêch! — respondo


com firmeza, mas senti meu peito cheio de amor.

O desgaste que eu sentia das viagens anteriores de Milão até


Nova York, surpreendentemente não aconteceu dessa vez. Isso é
atribuído obviamente à presença marcante de Justin, ele é curioso,
atento, animado, manhoso em alguns momentos e mandão em
outros. Percebo que ouvi-lo falar é o meu melhor passatempo, e
faço questão de induzi-lo a continuar falando, pois suas palavras são
direcionadas somente a mim e a ninguém mais. Gosto disso, gosto
muito disso, pois assim sinto como se existisse somente nós dois
dentro desse pequeno espaço.

Consigo esquecer toda a bagunça fodida que me aguarda,


para focar somente no sorriso e no toque delicioso das mãos de
Justin nas minhas. Estávamos imersos na nossa pequena bolha de
paz, mas os problemas surgiram assim que lembrei da existência de
Aleksandr na minha vida. Não sei como será a sua reação ao
descobrir que agora tenho um compromisso inquebrável com
alguém que amo.

Mas independente da sua reação vou deixar claro que se ele


tentar machucar Justin de algum jeito, eu vou matá-lo sem me
preocupar com mais nada. Justin está acima de qualquer coisa, e
isso é algo inevitável.

— Com licença, senhor Aandreozzi, Boss! — Natska fala com


cautela ao se aproximar de nós.

— Já vamos pousar? — Pergunto e ela concorda.

— Sim senhor, recebi a mensagem que os nossos homens


estão à sua espera. — Ela diz e eu assinto olhando para Jus que está
em silêncio. — O que foi, querido? — Pergunto e ele nega.

— Não é nada, só quero pedir a Natska para não me chamar


de senhor Aandreozzi. Deixe isso para os mais velhos de nossa
família! — Diz ele, educado e gentil, surpreendendo Natska.

— Mas, senhor, eu não posso fazer isso! — Ela diz


desconcertada olhando entre nós dois.

— Acostume-se com isso, não gosto muito de formalidades


dessa forma. — Jus dá de ombros e ela ainda se encontra em
desespero.
— Chame Justin do jeito que ele gostar, não se preocupe! —
Mando e ela solta um suspiro.

— Sim, Boss! — Diz a mim virando para encarar Justin. — É


um prazer servi-lo, Justin! — Natska fala deixando meu namorando
assentir feliz.

— O prazer é todo meu, pessoas da confiança de Vik também


são de minha confiança. — Fala ele e vejo um sorriso discreto sair
dos lábios de Natska.

— É uma honra para mim! — Comenta ela docilmente e eu


franzo o cenho.

— Não faça com que me arrependa de deixá-la usar o tom


informal, agora tire os olhos do meu namorado! — Digo friamente, e
ela faz uma careta.

— Ei, amor! — Jus chama e eu tiro os olhos de Natska para


lhe dar minha total atenção. — Não afaste minhas futuras relações
de mim com seus ciúmes! — Justin diz me deixando completamente
irritado.

— Que relações, Justin? Que porra de relações? — Pergunto


com os dentes cerrados.

— Como assim? Nat pode muito bem se tornar uma amiga


minha, por que você só pensa por outro lado? — Pergunta Justin
rindo e eu olhei intensamente para Natska, que enrijece à minha
frente, sem saber para onde olhar.

— Nat? Nat, não é? — Falo em tom gélido e meu namorado


concordou distraidamente.

— Er… tenho que ver com o piloto! Com licença! — Avisa ela
de forma apressada saindo logo em seguida como se um animal
feroz estivesse pronto para estraçalhá-la.
E talvez esteja!

Observo Natska sair como um maldito falcão, mas tiro o meus


olhos imediatamente quando Justin me chama para avisar sobre
colocar o cinto. Faço o que ele pede, esperando paciente até que o
jatinho aterrize com segurança. No instante que chegamos a solo
americano não esperei por mais nada, pois precisava levar Justin
diretamente para um dos carros que nos aguardava. Não posso dar
bobeira, porque nunca sabemos quais são os olhos que estão nos
vigiando. Por isso que no momento que Justin se acomodou no
banco do passageiro, eu me sentei ao seu lado, mas não antes de
explicar a ele que Tom estava indo em outro carro com Reyes. E que
era para ele não se preocupar com seu cão guia mais leal.

Quando chegamos no edifício onde se localiza meu


apartamento, comunico a Justin que está muito cansado, depois de
tantas horas de viagem, que só concorda com a cabeça e boceja de
modo fofo. Deixo um beijo leve em seus lábios, pois não resisto a
vê-lo, mesmo com sono — acho a coisa mais preciosa do mundo.
Curtindo toda explosão de sentimentos em meu peito que levo
Justin comigo até o elevador VIP. Quando a porta do elevador é
aberta, mostrando logo de cara a sala do meu apartamento, noto
que Justin começa a prestar mais atenção ao ambiente.

Tenho que me preparar para ajudá-lo a mapear todo o lugar,


mas é melhor deixar isso para amanhã porque ele está cansado
demais para poder fazer o que tem que fazer com cuidado. Pelo o
que conheço do meu Jus, ele odeia ter que fazer as coisas muitas
vezes seguidas.

— Adoraria poder tirar meus sapatos para me acostumar com


o chão, mas eu… — Jus para, virando a cabeça para determinada
direção. — Patas? Mas essas não são de Tom! Vik, você tem um
animalzinho? — Pergunta ele, e antes que eu pudesse terminar de
falar notei a bola de pelos castanhos avermelhados vindo rápido.
— Net, Sasha! — Comando rapidamente, mas sou ignorado
completamente.

Vejo o Vison cretino avançar correndo na direção de Justin,


assim que vou alcançá-lo ele gruda as suas patinhas úmidas nas
calças jeans claras de Justin. Tom, que estava atrás com Reyes,
começa a rosnar em aviso, mas isso não impede as travessuras de
Sasha.

— Sasha? — Jus pergunta confuso erguendo a mão na


direção do ousado Vison.

— Cuidado, Jus, esse é meu Vison, mas ele não é sociável


com estranhos e pode… — Não termino o que eu estava falando,
pois Sasha simplesmente deixa Justin o levá-lo em seus braços com
muita tranquilidade.

O que diabo…? Esse é o mesmo Sasha que conheço?

— Oh, que pelos macios! Um Vison? Ele é um Vison, que fofo!


Tão quentinho! — Justin diz encantado, e o cretino amaldiçoado do
meu animal de estimação está todo derretido aceitando o carinho do
MEU Justin.

— Esse maldito sacana! — Cuspo com irritação, mas Sacha


deita confortavelmente nos braços de Jus, como se sempre o tivesse
conhecido.

— Oh, amor, não diga isso, ele é tão fofinho! — Jus diz
apalpando Sasha, mas logo pára e vira na minha direção. — Sinto
que nossa vida juntos está começando de verdade a partir de agora,
Vik! — Jus diz aquecendo meu peito com seu sorriso encantador.

Deixo de lado o ciúmes do meu Vison sem vergonha, como se


nunca tivesse existido. Porque ver o seu sorriso é tudo o que eu
sempre quero. Justin vai ser sempre o meu tudo!
— Sim, malêch, estaremos juntos agora e por toda nossa
eternidade! — Respondo passando meu braço em sua cintura fina e
firme.

Essa é a nossa eternidade, esse vai ser o nosso novo ciclo.


Juntos, sempre juntos!
CAPÍTULO 25

A primeira coisa que senti assim que cruzei as portas do


elevador da casa de Viktor foi frieza. Mas não uma frieza de
temperatura, mas uma frieza de sentimentos, notei logo de cara a
solidão do ambiente. Isso só comprova o que sentia quando ele
estava longe da família, eu sabia no fundo do meu peito o quão
solitário Viktor estava. A vibração que sinto nesse ambiente é de
distanciamento, solidez e obscuridade, mas para compensar, cada
espaço aqui tem o cheiro marcante de Viktor. O que para mim é bom
o suficiente, por que aqui, mesmo trazendo esse sentimento se
torna acolhedor, pois a presença do meu homem me traz conforto. E
eu espero verdadeiramente trazer o mesmo tipo de conforto para
Vik, espero que o tempo em que estivermos juntos nesse
apartamento possa transformar o seu lugar em nosso lugar. Espero
mostrá-lo que a solidão que antes existia, não faz mais parte de sua
vida.

Quero que Viktor entenda que aceito tudo vindo dele, ainda
mais agora que estamos verdadeiramente juntos. Mesmo que ele
não tenha me contado tudo o que vem passando até chegar a esse
momento. Farei o possível e o impossível para ser o parceiro que lhe
trará uma base sólida, nesse mundo tão perigoso que o aflige dia e
noite. E é com esse pensamento fervilhando em minha mente, que
respiro fundo, e continuo a acariciar seu pequeno animal de
estimação que foi uma total surpresa para mim. Quem imaginaria
que um homem tão rígido quanto Vik estaria cuidando de um
serzinho tão pequeno. E pelo que pude notar, arteiro e muito fofo.
Sorrio e continuo a acariciar o pequeno animal que insiste em ficar
nos meus braços, sem se importar com o rosnado de aviso de Tom,
e as constantes tentativas de Vik de tirá-lo de mim.

— Sasha irá te sujar todo, querido! — Vik diz ao meu lado e


eu dou uma risada.

— Não tem problema, parece que ele gosta de mim! —


Aponto e Vik bufa.

— Devo dizer que me surpreendeu bastante, mas não tanto,


por que você passa esse tipo de energia incrível onde quer que
chegue. — Vik fala carrancudo e eu viro a cabeça em curiosidade.

— Que tipo de energia você está dizendo? — Indago curioso


e sinto seu corpo forte me abraçar.

— Está tentando pescar elogios, malêch? — questiona


amorosamente, cheirando a lateral da minha cabeça.

— É sempre bom ouvir seu namorado dizer o quanto ele o


admira, não é? — Pergunto de modo maroto e Vik ri.

— Ah, meu Jus, você é uma criatura sem igual! — Vik fala
deixando um beijo forte na minha bochecha. — Até mesmo Sasha
que não gosta de ninguém, parece não querer largá-lo! — Sinto o
desgosto em sua voz e eu nego com a cabeça.

— Não seja tão ranzinza! — Falo e ele respira fundo. — Amor,


posso pedir a Reyes para ajudar Tom a se acostumar com o novo
ambiente? — Indago e ele faz um som de confirmação.

— Claro, espero que você faça desse lugar um lar também,


Jus! — Conta ele me deixando contente.

— Reyes! — Chamo, e meu segurança, que está logo atrás,


respondeu prontamente.

— Sim, senhor, estou aqui! — Responde em tom profissional e


eu faço uma careta.

— Pode ir parando com tanta formalidade, por que já


passamos dessa fase, e o considero meu amigo, e não só meu
segurança, Reyes! — Digo a ele com firmeza, sentindo uma vibração
irritada de Viktor atrás de mim, mas ignoro totalmente.

— Desculpe, Justin! — Reyes diz com um pouco mais de tato,


naturalmente por que está sob o olhar matador do meu namorado
ciumento.

— Bom, muito bom! — Respondo aliviado. — Pedi a


permissão de Vik, então pode levar Tom pelo apartamento para se
adaptar ao novo lugar. — Comando e ele faz um som de
confirmação.

— Como desejar! — Fala com seriedade e eu sorrio.

— Natska, você ajuda Reyes a se adaptar e leva Sasha para o


lugar dele! — Manda Vik seriamente, tirando Sasha dos meus
braços. — Nem se contorça rapazinho, vá com Natska! — Vik fala
seriamente com o pequeno Vison que solta ruídos engraçados.

— Sim Boss, só para avisar ao senhor que logo mais Dominick


e Mika estarão vindo para poder atualizá-lo. — Natska lembra e Vik
faz um som de concordância.

— Tudo bem, agora pode ir! — Indica Vik e logo depois ouço
passos se afastando de onde estamos.
Logo após estarmos sozinhos, Viktor me perguntou se eu
desejava ser guiado pelo apartamento, mas eu disse que não. Meu
corpo e mente estão muito cansados, para poder mapear todo o
ambiente. Necessito descansar para poder memorizar tudo com
excelência. Apesar que só poderei completar toda ambientação com
o passar dos dias, mas de qualquer jeito é sempre bom tê-lo tão
prestativo desse jeito. Após isso, Vik me chamou para sentar com
ele um pouco no sofá extremamente aconchegante, pois estava
planejando pedir algo para comermos. Estranhei perguntando se ele
não tinha nenhuma pessoa o ajudando a fazer as refeições, só que
ele me acalmou dizendo que tinha sim. Essa pessoa, juntamente
com a equipe de limpeza, foram contratados pelo meu tio Andrea,
logo depois que Viktor se mudou para Nova York, e estão
trabalhando com ele desde então.

No entanto, sua vida é mais do lado de fora, pois tem que


estar sempre a par de tudo o que acontece com seus negócios. Me
sinto meio depressivo ao saber dessa informação, mas ele tentou me
acalmar dizendo que está bem. Porém desconfio que só foi para me
deixar tranquilo. Abraço o corpo forte de Viktor com força, deitando
minha cabeça no seu peito largo, pensando no que terei que fazer
para ter que deixá-lo entender que precisa de cuidado tanto quanto
qualquer outra pessoa. Sinto que Viktor não estava vivendo, mas só
existindo dia após dia, por isso devo mostrá-lo que ele precisa de
mais do que isso. É tão bom ter um tempinho em casa, fazer as
refeições quentinhas recém saídas do forno, curtir um momento
para poder recarregar as energias. Assim como eu, Vik também
tinha esses momentos junto com as nossas famílias, mas aqui
sozinho noto que ele possa ter esquecido.

Não se preocupe querido, vou deixá-lo entender que agora


você me tem aqui para cuidar de você!

— O que há nessa cabecinha linda? — Vik pergunta me


tirando dos pensamentos.
— Só estou pensando no quanto trabalho vou ter para cuidar
de você! — Digo com um cansaço fingido.

— Eu sou um trabalho pra você, malêch? — Viktor pergunta


apertando minha bochecha, mas sem usar força.

— Sim, um trabalho muito sexy e gostoso! — Revelo de modo


safado e ele riu.

— Ah Justin, você nem faz ideia de que o gostoso aqui é


você! — Rebate Vik, trazendo meu rosto para mais perto do seu. —
Você é o meu ser delicioso! — Vik fala com voz rouca e eu mordo os
lábios.

— Sério? Então prove! — Provoco, ouvindo um ruído


prazeroso sair da sua garganta.

— Com prazer! — Promete, segurando os dois lados do meu


rosto.

Viktor mergulha seus lábios nos meus, aperto o tecido da sua


roupa entre meus dedos, e me deleito quando nosso beijo vai se
aprofundando pouco a pouco. De repente estamos em uma luta
entre línguas, lábios e dentes, mergulho minha língua na sua boca,
ficando enlouquecido ao sentir ele sugá-la de um jeito tão erótico
que faz meu corpo reacender completamente. Sua mão grande
aperta minha bunda, me deixando ansioso para que ele explore o
meu corpo mais um pouco. Quero sentir mais e mais Vik, quero que
ele me segure com força, me sinto ansioso ao desejar ter seu pau
afundando dentro de mim novamente. Antes eu não tinha ideia do
quanto me tornaria um viciado em fazer amor com esse homem, até
que ele me mostrou a verdadeira cor do desejo carnal que temos um
pelo outro.

— Jus, eu quero comer você, quero devorá-lo, marcá-lo de


novo e de novo! — Viktor pede ferozmente, enquanto nossas bocas
ainda estão unidas.
— Eu também quero isso, mas, querido, senti uma
movimentação vindo até nós! — Conto com pesar.

— Idi narrui! (Puta que pariu!) — Pragueja Viktor, soltando


meu corpo contra sua vontade.

— Desculpe, amor! — Digo dando uma risadinha.

— Você riu, Jus? — Pergunta ele e eu escondo meu rosto no


seu peito. — Olha como você me deixou! — Vik fala entre dentes,
pegando minha mão e colocando em cima do seu pacote duro e
volumoso.

— Sinto muito amor, mas eu estou do mesmo jeito! Quer


pegar? — Indago em tom de provocação e ele solta um som irritado.

— Justin, não faça isso, porque senão eu largo tudo e vou te


levar para o nosso quarto! — Diz ele acelerando meu coração.

— Nosso quarto? — Questiono esperançoso e ele estala a


língua.

— Óbvio, amor! Tudo o que vem de mim pertence


inteiramente a você, meu corpo, minha alma, meu coração e
qualquer coisa que você quiser! — Ele diz baixinho, só que com
tanta intensidade que nem sei explicar.

— Merda, Vik! — É minha vez de praguejar, sendo puxado


para outro beijo maravilhoso.

Aceito seu beijo, mas logo afastei nossos corpos, pois ouço
três passos diferentes. No entanto, um desses passos eu reconheço,
mas os outros dois são completamente desconhecidos por mim. O
primeiro é firme e rígido, como se cada centímetro do solado do seu
pé pudesse pressionar o chão completamente, já o outro é
arrastado, com pisadas confusas e inconstantes. Somente com isso
consigo notar que essas duas pessoas contém personalidades
completamente distintas, um é rígido e o outro é uma completa
variável. Não demora muito para que as três pessoas se apresentem
diante de nós, não me surpreende que seja Natska, Dominik e
Mikhail que são os subordinados mais confiáveis de Vik.

— Nós perdoe pela interrupção, senhor! — Dominick fala, me


fazendo reconhecer sua voz logo de cara.

— Que seja! — Viktor diz seriamente, assumindo uma postura


totalmente diferente de pouco tempo atrás, quando estamos só nós
dois. — Espero que vocês dois tenham mantido as coisas no controle
com a minha ausência. — Fala Viktor com frieza.

— Com certeza, Boss, apesar de ter surgido alguns pequenos


problemas! — Essa voz irritada deve ser de Mikhail.

— Colocaremos as coisas em ordem agora que nosso chefe


está aqui! — Natska responde com confiança.

— Não tenho dúvidas, nós temos que… — Mikhail fala, mas


se silencia, naturalmente ao notar minha presença.

— Continue a falar, Justin agora estará conosco, e eu não irei


esconder nada dele. — Conta Viktor e eu dou um pequeno sorriso.

— Olá pessoal, espero não estar atrapalhando! — Falo


erguendo a mão para acenar na direção de onde suas vozes ecoam.

— O senhor não atrapalha em nada, senhor Aandreozzi! —


Dominick diz e eu aceno com a cabeça. — Desejo felicidades aos
senhores! — Dominick fala fazendo meu sorriso aumentar.

— Muito obrigada, Dom! — Agradeço sendo abraçado por Vik.

— Espera um pouco, o nosso Boss está namorando? — A


pergunta cheia de surpresa veio de Mikhail.

— Não seja tão indelicado, seu idiota! — Natska repreendeu


com raiva.
— Eu só queria saber, o que tem demais? — Resmunga ele
com tristeza, e eu ouço uma forte respiração vindo de Viktor.

— Já que você está tão curioso, então deixe-me aproveitar e


contar abertamente que esse é Justin. — Vik une nossas mãos. —
Ele é o meu namorado, e a partir de hoje você, Mikhail, ficará
responsável pela sua segurança e por orientá-lo o máximo possível
sobre todas as coisas que fazemos por aqui. — Viktor fala em um
tom rígido, e logo ouço um arfar surpreso.

— Fico feliz em servi-lo, mas Boss, não seria perigoso colocar


o pequeno chefe nessa merda? — Indaga ele cheio de cautela.

— Não seja tão indelicado, Mika! — Sua irmã o repreendeu


novamente e eu soltei um suspiro.

Percebi a agitação de Viktor ao meu lado, mas apertei sua


mão para acalmá-lo.

— Só estou perguntando, o pequeno chefe é visivelmente…


— Antes que ele pudesse concluir eu o interrompi.

— Você está apreensivo pelo fato de eu ser cego e ter que


estar atualizado dos negócios da Bratva, Mikhail? — Questiono com
tom leve e descontraído.

— Não é bem isso que quis dizer, pequeno chefe! — Mikhail


fala rapidamente. — Esse mundo é completamente sem piedade, e
eu só estou surpreso. — Fala ele e eu concordo com a cabeça.

— Compreendo sua preocupação, mas garanto a você que


não sou um homem que se deve subestimar. — Minha voz sai mais
dura do que eu gostaria de admitir. — Espero não te assustar
quando o momento certo chegar, Mika! — Dou um sorriso o
deixando em completo silêncio.

— Sim, pequeno chefe! — Mika fala me fazendo assentir.


— Vou deixar para me reunir com vocês amanhã, Justin e eu
estamos cansados da viagem. — Viktor assume levantando do sofá e
me puxando com ele. — E Griboedov, da próxima vez que
contradizer minhas palavras, eu vou fazê-lo pagar por suas
insubordinações! — Ele completa friamente, me deixando com pena
de Mika. — Dominick, Reyes está aqui, o ajude a se adaptar! Vejo
vocês amanhã! — Diz me guiando para sair junto a ele.

— Sim, Boss! — Os três respondem em uníssono, mas Vik


nem se dá ao trabalho de parar sua caminhada.

Viktor e eu caminhamos por um breve momento até que


chegamos ao seu quarto. Ao chegar no cômodo noto que a presença
marcante de Vik está por todo o espaço, inspiro profundamente
amando estar mergulhado em seu cheiro com mais intensidade. É
impressionante como ando descobrindo coisas novas sobre mim
mesmo, porque eu sabia que gostava do cheiro de Vik, mas não
tinha dimensão do quanto. Por causa disso sinto qualquer ansiedade
que queira me dominar simplesmente evaporar.

O acalento da presença, do toque, do afeto e principalmente


o cheiro de bergamota, que me traz um sentimento inexplicável. E
eu só quero continuar vivendo no nosso próprio mundo, por que só
isso me importa.

— Não fique chateado com o que Mika disse, ele só está


surpreso! — Viktor fala de repente e eu franzo as sobrancelhas.

— Por que ficaria chateado, amor? — Retorno a pergunta e


sinto sua irritação.

— Sei que não gosta quando te subestimam! — Aponta ele e


eu sorrio concordando.

— Eu realmente não gosto, mas por ele ser um dos seus


braços, sei que ele está só preocupado. — O acalmo erguendo
minha mão, e ele a coloca no seu rosto.
— Você é uma criatura impressionante, meu Jus! — A voz de
Vik é carregada de amor ao falar isso, e eu me sinto um homem
muito sortudo.

— Serei um homem mais impressionante se me levar para


tomar um banho contigo, porque preciso muito dormir! — Brinco o
fazendo rir.

— Claro, o que meu namorado pede que não corro para


atender? — Pergunta e eu assinto com a cabeça.

— Continue assim e nossa vida juntos vai ser a mil


maravilhas! — Falo, ouvindo-o soltar um som de descrença.

— É isso que você acha? — Pergunta e eu concordo. —


Hum… se é assim, vem aqui! — Viktor fala em tom misterioso me
surpreendendo ao me carregar no seu colo abruptamente. — Meu
lindo bebê precisa ser muito mimado então! — Declara me fazendo
dar uma gargalhada sincera.

— Não deixe seus homens verem esse seu lado! — Digo


passando meus braços em volta do seu pescoço.

— Não querido, esse lado é somente seu, ninguém teria essa


coragem! — Vik diz alisando seu nariz no meu.

— Acho bom, deixe-me ser o único corajoso aqui! — Enfatizo


aproveitando todo esse carinho maravilhoso.

— Céus, ter você ao meu lado é tudo o que sempre sonhei,


Jus! — Vik diz com tanto fervor que faz meu coração acelerar.

— Estou aqui, querido, eu estou aqui! — Respondo sem


esconder minha felicidade.

— Sim, meu amor, você está! — Responde ele me deixando


mais apaixonado a cada minuto.
Após essa dose embriagante de afeto, Vik me levou para
tomarmos um banho juntos. Confesso que adoraria poder tê-lo
dentro de mim mais uma vez, mas eu estou tão incrivelmente
cansado que poderia dormir antes mesmo de alcançar o orgasmo. E
como não sou um namorado egoísta, prefiro me vestir
confortavelmente após o banho, deitar nos braços de Viktor e deixar
o sono me levar tranquilamente.

E foi exatamente isso que fiz, e devo dizer que não tem lugar
melhor que eu poderia estar nesse momento.

Acordei no dia seguinte me sentindo um novo homem, meu


corpo estava bem descansado, e ainda fui agraciado por um
delicioso café na cama de boas-vindas. Vik faz questão de
demonstrar o quão satisfeito está com a minha vinda para cá, e eu,
obviamente, me sinto do mesmo modo. É bom estar vivendo essa
realidade agora, mesmo que às vezes minha mente sempre queira
me dizer que tudo não passa de um sonho. Só que eu sei a verdade,
por que noto isso sempre que Viktor beija meus lábios e reafirma
sua alegria ao me ter por perto. Por isso fiz questão de aproveitar ao
máximo o café da manhã, porque estava cheio de fome e estava
com um aroma tão fantástico que me deu água na boca. Após
comermos juntos, Vik resolveu me guiar pelo apartamento, para
conhecê-lo e mapear o máximo do espaço para ser o mais
independente possível.

Descobri que aqui estava localizado em uma área incrível de


Manhattan, seu apartamento é enorme, tendo 6 quartos, tirando a
suite espaçosa que dormimos. Vik me contou detalhadamente sobre
a vista privilegiada que o apartamento lhe proporciona, mas que
nem sempre tem tempo para apreciá-la. Ele contou sobre o espaço
que ele fez para Sasha, e que logo estará projetando algo para Tom
também. O que achei fofo de sua parte! Continuando ele me levou
até o segundo andar onde ficava a área de lazer que foi
transformada em sala de treinamento e área para seus homens
ficarem próximos a ele. Não explorei muito essa área, por que no
momento meu interesse maior é em conhecer os locais pelos quais
preciso me movimentar com mais fluidez, sem necessitar de Tom ou
de Vik para me ajudar. Após isso, fomos para as salas de estar e
entretenimento, banheiro social e por último a cozinha.

E foi justamente na cozinha que conheci mais duas pessoas


do pessoal particular de Viktor. Um era o cozinheiro, Boris, um russo
que mora na América com sua família, há muitos anos, e se
aposentou como dono de restaurante a alguns anos. Vik me disse
que Boris era um homem na casa dos 50 anos, tinha cabelos
grisalhos cortados baixo, com o corpo gordinho, e um bigode
estranhamente engraçado. A próxima pessoa era sua governanta,
Nadzhda, uma mulher com uma voz rígida e distante. Usando
somente tons formais, muito diferente de Boris, que me pareceu ser
simpático e bom de conversar. Vik me disse que ela está no auge
dos seus 40 e poucos, tem um rosto oval, cabelos loiros puxados em
um coque arrumado e simples, usa óculos de armação vermelha e
tem olhos vigilantes. Os dois foram gentis comigo, mas confesso que
gostei mais de Boris, nada contra
Nadzhda, mas Boris é mais receptivo.

— Tem certeza que vai ficar bem sozinho? — Viktor me


pergunta pela décima vez e eu paro de brincar com Tom e Sasha
para fazer uma careta.

— Que sozinho? Tenho Reyes, Mika, Tom e Sasha para me


fazer companhia! — Falo sentindo as patinhas de Sasha subindo no
meu braço, enquanto Tom tenta pegá-lo, mas sem sucesso.

— Mesmo assim, estarei do outro lado da cidade, fico meio


apreensivo em deixá-lo sozinho por muito tempo. — Viktor diz com
uma carranca na voz.

— Relaxe, o que poderia acontecer? — Indago levemente


dando um sorriso.

— Blyat! Me promete que vai ficar em casa me esperando? —


Vik pede e eu franzo o cenho.

— Tudo bem, fique tranquilo e vá fazer o que tem que fazer!


— Peço e ele fica quieto por um tempo até que solta uma forte
respiração.

— Se é assim, tudo bem, prometo terminar meus negócios


rápido e vim para casa. — Conta ele me fazendo sorrir.

— Estarei à sua espera! — Digo com confiança, erguendo


meu rosto para ele poder deixar um beijo de despedida. E assim ele
faz!

— É tão bom ouvi-lo dizer isso! — Vik fala profundamente


após me beijar. — Volto logo, malêch!

— Tome cuidado! — Peço e ele me beija outra vez.

— Sempre! — Responde e direciona sua atenção para Dom e


Natska. — Vamos embora!

— Sim, Boss! — Respondem eles e eu ergo a mão para


acenar um adeus.

Após isso ouço os passos de Viktor e do seu pessoal se


afastando, sinto uma onda de preocupação tomar conta de mim no
momento que não sinto mais a presença de Vik. No entanto, tento
não pensar nisso, pois sei que ele está bem, tem muitas pessoas
para ajudá-lo e logo ele estará em casa para jantar comigo. Sendo
assim, deixo esses pensamentos de lado e foco em aproveitar a
adaptação de Tom e Sasha, que continuam se estranhando, mas
tenho certeza que logo eles estarão correndo por esse apartamento.
Bagunçando tudo e deixando os cabelos de todos em pé, somente
pensar nisso me faz rir sozinho.

— Com sua licença, senhor! — Nazhda fala em tom sério ao


se aproximar de mim.

— Sim, o que deseja? — Pergunto curioso por sua


aproximação.

— Boris quer saber se o senhor deseja mudar o cardápio do


jantar, ou segue com o cardápio anterior? — Questiona ela e eu
nego.

— Não precisa, pode deixar como está! — Respondo


enquanto acaricio Tom.

— Certo, senhor! — Diz ela antes de se afastar.

Minha atenção se direciona para outra área do apartamento,


não consigo ter certeza, mas parece que existe alguém brigando ao
telefone. Franzo o cenho quando sinto uma apreensão tomar conta
de mim, estou a ponto de me levantar do lugar onde estou para ir
em direção da voz. Que agora consigo identificar sendo a de Mikhail,
que fala em um russo agitado e uma forte irritação. Consigo traduzir
algumas palavras soltas, mas nada que me traga algum significado
preciso.

— Mika, aconteceu alguma coisa? — Pergunto assim que


notei sua presença.

— Não é nada demais, pequeno chefe, é só que está


acontecendo uma infestação de ratazanas na Paradise! — Mika diz e
eu franzo o cenho.

— Paradise? É um dos negócios de Vik, certo? — Indago e ele


faz um som de confirmação.
— Sim, mas pode deixar que dou conta, só terei que me
ausentar por um tempo! — Mika diz com um ar de quem está pronto
para uma boa luta.

— Eu vou junto! — Revelo repentinamente o deixando em


silêncio.

— MAS… — Tenta começar com alguma desculpa para me


impedir, mas eu me levanto do lugar.

— Reyes! — Grito pelo meu segurança que vem ao meu


chamado.

— Estou aqui, Jus! — Diz prontamente e eu aceno.

— Pegue minhas armas, e vamos junto com o Mika! — Aviso


e ele faz um som de concordância.

— Agora mesmo! — Reyes diz saindo logo em seguida.

— Pequeno chefe, tem certeza? O Boss não ficará feliz em


saber disso! — Mika diz com relutância e eu dou um sorriso de lado.

— Não se preocupe que com Vik eu me entendo depois! —


Conto e ele faz um som de estrangulamento. — Chega de perder
tempo e vamos! — Digo abrindo minha bengala, pronto para sair.

Seja uma infestação de ratazanas ou não, eu vou destruí-las


para poder fazer o que deveria ser feito, que é cuidar do meu Viktor.
Vou mostrar a esses russos malditos, o modo Aandreozzi de ser!
CAPÍTULO 26

Sinto uma agitação ardente queimar dentro de mim, e se eu


continuar desse jeito posso cometer algum erro. E não foi assim que
fui treinado, só que tudo o que envolve Viktor causa isso em mim.
No entanto, devo regular minha respiração, por que só assim posso
voltar a minha normalidade. Enquanto espero que Reyes atenda os
pedidos que fiz a ele, faço de tudo para manter o controle do meu
corpo. Tento me desligar do ambiente o máximo possível, penso em
Viktor e imagino se ele pode estar passando por algum momento
ruim, principalmente ao saber que Mika não consegue entrar em
contato nem com ele, nem com os demais à sua volta. E foi
justamente por essa falta de contato, que um medo surreal começou
a tomar conta de mim. Quebrando toda estrutura mental e corporal
que venho criando desde o momento que comecei a ser treinado.

Só que não vou me manter dessa maneira, tenho uma


confiança surreal em Viktor para me deixar ficar desse jeito. Meu
papel aqui é ajudá-lo ao máximo que puder, se ele está do outro
lado da cidade enfrentando Deus sabe o quê, é meu dever cuidar
daquilo que ele não pode cuidar por agora. Esse é o papel de um
verdadeiro parceiro, e eu desejo ser o seu parceiro de vida,
conquistar o mundo ao seu lado se for possível. E eu tenho o poder
necessário para alcançar isso, sendo assim farei uma pequena
demonstração dessa potência.

— Ainda não conseguiu entrar em contato com Viktor? —


Questiono de modo sério e Mikhail solta um som de frustração.

— Porra, não! Nem mesmo com Dominick ou Natska! —


Mikhail diz frustrado e eu assinto.

— Tudo bem, não temos porque perder tempo! — Falo e ele


para de andar e fixa sua atenção em mim.

— Você não está preocupado com o Boss? — Pergunta em


um tom confuso e eu sorrio.

— Não, conheço Vik o suficiente para saber do que ele é


capaz! — Digo com confiança e ouço uma risada vindo dele.

— Sim, você está certo! O meu chefe é muito poderoso! —


Mika conclui me deixando contente.

— Isso mesmo, ele é! — Concordo sem nem pestanejar.

— Tem certeza que quer ir comigo? — Mika pergunta com um


certo receio e eu concordo com a cabeça.

— Claro, eu não tenho mais nada para fazer! — Respondo


dando de ombros e ele dá uma gargalhada.

— Eu realmente pensei que ficaria ocioso em ficar ao seu


lado, mas parece que será tão divertido quanto ficar com o Boss. —
Mika diz e eu dou um sorriso de lado.

— Não é só você que precisa de um pouco de adrenalina às


vezes, lembre-se disso! — Digo e ele faz um som de confirmação.
— Só espero que o Boss não seja tão duro com o castigo
quando souber que estou levando seu homem para se aventurar por
aí. — Mikahil diz rígido e eu arqueio a sobrancelha.

— Acho que pensei errado sobre você, Mika. — Digo com ar


de lamentação.

— Como assim? O que o pequeno chefe pensou? — Mika


indaga de modo ansioso e curioso.

— Hum… deixe-me ver… — Paro e movo meus olhos


diretamente em direção a sua respiração. — Devo ter entendido que
você era mais destemido, talvez? — Falo sarcasticamente e Mika
solta um som ofendido.

— Pequeno chefe, o senhor pensou certo! Vamos lá, vamos


acabar com algumas infestações! — Mika diz com a voz carregada
de determinação.

— Nossa, ele não sabe onde se enfiou! — A voz de Reyes soa


com pena assim que ele chega na sala.

— O que? — Mika pergunta, mas Reyes o ignora.

— Está tudo pronto senhor, podemos ir quando quiser! —


Reyes diz e eu aceno com a cabeça.

— Se é assim então vamos! — Digo, caminhando em direção


ao que agora sei ser a porta do elevador.

— Pequeno chefe, pode me explicar o que esse cara estava


falando? — Mika pergunta, mas não respondo nada, somente sorri
continuando a seguir em frente.

— Vamos lá, russo estranho, quando chegar o momento você


vai entender o que eu quis dizer exatamente. — Reyes diz com a voz
melancólica deixando Mika ainda mais perturbado.
— Sério que essa colaboração vai ser desse jeito? — Mika
pergunta irritado e Reyes suspira alto.

— Acredite em mim e fique quietinho! — Reyes diz com ar


misterioso e eu nego com a cabeça.

— Me ajude a caminhar, Reyes! — Peço erguendo a minha


mão quando entramos no elevador.

— Agora mesmo, Jus! — Diz ele se pondo em movimento.

Ergo minha mão para poder facilitar que Reyes a pegue e a


descanse em seu antebraço. Sinto os olhos avaliativos de Mika em
nós, como se estivesse estudando para fazer exatamente o mesmo
movimento de Reyes se for preciso. Fico pensando se Mika
realmente for permanecer ao meu lado, esse é o momento para
poder saber se ele tem sincronia e afinidade para trabalhar comigo e
com o Reyes. Digo isso porque foram muitos anos até que Reyes e
eu tivéssemos a química necessária para poder executar nossos
movimentos com a precisão que temos hoje em dia. Não vai ser
nenhum trabalho ter que fazer a mesma coisa com o Mika, só que
para isso acontecer eu devo saber quais são os seus pontos fortes. E
qual é o melhor momento para verificar isso do que agora, quando
estamos perto de entrar em ação juntos? Não sei, tenho uma ligeira
impressão que isso pode funcionar mais do que imaginei!

Digo isso porque pelo que Viktor me contou sobre os irmãos


Griboedov, o único que usa arma branca com excelência é o Mikhail.
Ele pode passar uma imagem que não passa confiança, com todas
aquelas tatuagens estranhas no corpo todo, cabeça e rosto, e um
olhar de maníaco, mas é de confiança. Essas foram as palavras de
Viktor ao descrever Mikhail, e confesso que fiquei muito curioso para
poder perguntar mais sobre o aspecto físico de Mika, mas assim que
fui tentar perguntar ele disse que não preciso saber da aparência de
outros homens. Com uma resposta dessas, quem seria louco de
continuar perguntando? Eu mesmo não seria! Mas voltando ao
momento de agora, tenho um sentimento indescritível de que Reyes,
Mika e eu poderemos dar um jeito na situação, seja ela qual for.

Quando nós três nos acomodamos no carro que vai nos levar
ao nosso destino, Mika me contou que o lugar que está sendo
invadido é o Paradise. Um dos pontos principais dos negócios de
Viktor. E que lá é um lugar onde está escondido coisas que irão
auxiliar muito a situação atual de Vik na Bratva. Não preciso
perguntar demais, pois isso não tem muita relevância, e já que o
lugar deve ser mantido em segurança é exatamente isso que vou
fazer. Durante o trajeto Mikhail foi contando algumas coisas por cima
sobre a situação que meu namorado anda enfrentando. Pelo que
parece existem duas famílias principais no comando dos negócios da
Bratva, essas famílias são Yegorov e Egorov. E Viktor foi enviado
pelo Pakhan para poder tomar controle dessas famílias e seus
negócios.

A família mais infeliz com essa decisão foram os Yegorov, que


estão fazendo de tudo para prejudicar a liderança de Aleksandr e o
futuro legado de Vik.. Já a outra família não faz nada para poder
atrapalhar, e se mostram bastante interessados em Viktor. E, pelo
que parece, são pessoas da família Yegorov que se puseram em
movimento agora.

— Quem você acha que está invadindo o lugar? — Pergunto


para me orientar.

— Com certeza devem ser pessoas ligadas a Yuri Yegorov, ele


ficou quieto por um tempo, mas sabíamos que isso não iria demorar
para acontecer. — Mika diz com claro desprezo.

—Esse é o lugar, Mikhail? — Reyes pergunta e Mika solta um


xingamento em russo.

— Sim, esse mesmo! E parece que temos mais companhia do


que eu havia pensado. — Mika diz e sua voz assume um tom
perigoso e obscuro.
— Isso não é um problema, será que existe a possibilidade de
entrarmos no restaurante sem que ninguém nos veja? — Indago
começando a empurrar as mangas compridas do blusão que estou
usando.

— Tem, mas tenho certeza que eles devem ter coberto aquele
local também! — Mika diz entre dentes e eu concordo com a cabeça.

— Se é assim, então vamos! — Indico e ele faz um som


surpreso.

— Assim? Só caminhar em direção a entrada? — questiona


ele nervoso e eu concordo com a cabeça.

— O que mais seria? — Pergunto colocando a mão na trava


da porta. — Vamos, Reyes! — Chamo e meu segurança se adianta
em sair do carro.

— Vou guiá-lo, senhor! — Indica Reyes assim que saio do


carro.

— Bom! — Respondo simplesmente e viro meu rosto para


trás. — Vai continuar aí, Mika! Vamos logo! — Minha voz sai calma e
controlada.

— E eu pensando que o louco aqui sou eu! — Mikhail


resmunga me causando uma risadinha.

— Esse mundo é repleto de loucos, meu caro Mika! — O


provoco, e ele fez um som de asfixia.

— Lembre-se que esse cara aqui ouviu tudo, se for


resmungar, resmungue mentalmente! — Aconselha Reyes e Mika faz
um som de confirmação.

— Obrigado pelo conselho, vai ser legal trabalhar junto a


você, cara! — Mika diz com alívio.
Deixamos o breve momento de distração de lado para poder
caminharmos juntos em direção ao restaurante de luxo. Peço para
que Mikhail detalhe para mim as coisas à minha frente, como
quantidade de pessoas, se há escadas, janelas, portas, entre outras
coisas. Ele faz o que peço, informando que ele contou 10 capangas,
que observando de perto deu para ele identificar serem realmente
homens que trabalham diretamente com Yuri. Mika me conta
também que pelo horário o lugar havia acabado de abrir, mas pelo o
que parece os clientes ainda não chegaram, no entanto devem haver
funcionários mortos ou sendo detidos pelos capangas dentro do
lugar. Concordo com a cabeça e estendo a mão para que Reyes
passe para mim a venda de seda vermelha sangue que gosto de
usar, por ser confortável. E assim ele faz, amarro a venda sem muito
problema, e volto a estender a mão para aceitar a minha espada.

Ouço um assobio soar levemente vindo de Mika, dou um


sorriso de lado e não digo nada, já que sua surpresa é realmente
bem-vinda. Essa é uma espada belíssima, dada de presente a mim
por meu nonno Donatello, sendo assim a seguro com muito orgulho.
Deixando a minha satisfação de lado, foco no presente momento
onde os passos de nós três ecoavam, firmes e coordenados, ao
longo do calçamento irregular. Noto que nos aproximamos bem o
suficiente da entrada quando vozes alteradas começam a identificar
Mikhail.

— Reyes, você pega as pessoas à sua direita e Mika a sua


esquerda! — Comando continuando a caminhar em frente.

— Sim! — Os dois respondem juntos.

Reconheço, nos meus ouvidos, o som de armas sendo


destravadas. Continuo a andar usando minha bengala de forma
tranquila, logo após ter arrumado o cinto onde nele tem o estojo da
minha espada. Como se não houvesse nada acontecendo ao meu
redor.

— Mas… — Um dos capangas fala, mas para abruptamente.


Dez incríveis disparos chegaram aos meus ouvidos de forma
rápida, sincronizada e precisa. Interrompendo assim toda ou
qualquer voz que pudesse perturbar a minha concentração atual.
Reyes e Mikhail foram bem, eles trabalharam bem juntos e isso me
mostrou que fiz bem em colocá-los nisso juntos.

— Pronto, chefinho! — Mika respondeu com excitação.

— Bom! — Respondo levemente parando na frente da porta


de vidro espelhado do restaurante.

— Espera, agora não está tudo muito silencioso? — Reyes


pergunta e me impede de erguer a mão para abrir a porta.
Reyes e Mika não viam nada, mas a minha percepção do
ambiente estava além do normal. Meus outros sentidos são
aguçados demais, com isso pude sentir o peso da ameaça à nossa
volta. Sou cego, mas eu confio em minha intuição para liderar os
demais sem problema algum.
— Eles estão nos esperando. — digo em voz baixa, mas
firme.
— Como você sabe, pequeno chefe? — pergunta Mika, com
um toque de dúvida.
— Por que o cheiro inconfundível de tensão está no ar… —
Sorrio de modo depreciativo. — Eles estão só esperando para
atacar! — Concluo abrindo a porta sem dizer mais nada.
A mudança de temperatura no ambiente é sentida por mim, o
som de vozes abafadas param no momento que somos notados.
Além do som das vozes abafadas, consigo notar o barulho de vidro
quebrados sendo pisados com firmeza, o som metal de talheres e o
barulho de tecidos sendo rasgados. Reyes detalha no meu ouvido
que um homem corpulento, com algumas tatuagens, usando um
terno risca de giz, está parado no meio do restaurante todo revirado.
Com os braços na frente de seus capangas, que riam baixinho,
trocando olhares de deboche enquanto nos observavam. Pela
descrição de Reyes, posso dizer que esse homem é o líder deles,
Yuri Yegorov. Me mantenho relaxado, esperando que eles comecem
a despejar merda, e nem demora muito para que isso aconteça.
— Isso é alguma piada? Onde está Viktor? — A voz em um
russo pesado ecoa no ambiente hostil. — Será que ele é tão
medroso que resolveu mandar essas figuras, que parecem recém
saídos dos quadrinhos de super heroi? — Ele diz sarcasticamente.
Seus capangas riram, se divertindo com a situação. Mika ao
meu lado tenta dar um passo, mas eu levanto minha mão o
impedindo.
— Então você deve ser Yuri Yegorov, certo? A ratazana líder
que está invadindo o lugar que não lhe pertence? — Rebato
calmamente e isso causa um alvoroço.
— Quem é você, maldito, para estar me chamando de
ratazana com tamanha confiança? — Yuri pergunta de modo
agressivo e eu dou de ombros.
— Ninguém que seja do seu interesse, você só precisa saber
que sou do controle de infestação e vim para exterminar algumas
ratazanas nojentas do restaurante do meu homem. — Conto
tranquilamente e isso o deixa furioso.
— Filho da puta! — Xinga ele, mas logo se acalma e solta
uma risada maliciosa. — Então você realmente acha que pode nos
enfrentar assim? Com essa venda nos olhos? — Yuri sorriu de forma
cínica. — Acha que somos tolos? O que você vai fazer, ceguinho?
Lutar com o som do vento? — Pergunta em tom malicioso, seus
capangas riram, se divertindo mais ainda com a situação.
— Você pode começar a testar para ver o que eu consigo
fazer! — Rebato tranquilamente os calando imediatamente.
— Idi seychas zhe! (Vá agora)! — Após a palavra de Yuri ouço
algumas fortes pisadas virem na nossa direção.
Mesmo seus capangas vindo cheios de fúria até nós, me
mantenho sem me mover. Meus dedos relaxados, mas firmes
estavam sobre a empunhadura da espada que estava apoiada na
lateral do meu quadril. Eu sabia o que deveria fazer, o som era tudo
para mim, por isso sinalizei para que Reyes e Mika ficassem sem se
mover por enquanto. Cada respiração dos capangas, cada
movimento sutil no ambiente, cada vibração que emanava do meu
corpo e da minha espada. Fazia com que eu ficasse mais atento do
que qualquer um poderia imaginar. Com um gesto rápido e preciso,
a lâmina da minha espada foi cortando o ar com um som suave,
quase imperceptível.
Um dos capangas tentou atacar com um soco, mas eu já
havia antecipado o movimento. Girei a espada no ar, parando o
golpe antes que o punho do capanga alcançasse meu corpo,
desarmando-o com um simples movimento. Eliminei rapidamente os
que tomaram a iniciativa; os capangas restantes silenciaram,
emitindo sons de surpresa. Yuri, porém, não perdeu o ar de
arrogância. Que tolo!
— Homens, fiquem alertas! — Avisa de forma arrogante. —
Não podemos deixar que esse truque nos engane. Vamos ver o que
esse desgraçado mentiroso consegue realmente fazer. — Yuri fez um
som típico indicando um sinal, e mais capangas avançaram ao
mesmo tempo, pelo som frio um deles estava sacando uma faca.
— Reyes, Mikhail, essa é a deixa de vocês! — Coordeno
começando a avançar.
— O que está fazendo parado boquiaberto, Mikhail, o nosso
chefe está pedindo por nós. — Reyes grita chamando a atenção de
Mika.
— Puta que pariu, chefinho, você é foda demais! — Mika diz
como se estivesse apaixonado.
— Se eu fosse você não faria essa cara abobalhada perto do
seu Boss, vamos lá acabar com esses desgraçados russos! — Reyes
diz friamente enquanto começa a recarregar sua arma.
— Ei, eu também sou russo! — Mika grita em revolta,
também em movimento, pois ouço o som de pequenas lâminas
cortando o ar.
— Você entendeu, não leve isso para o pessoal! — Reyes diz
e ouço o som de punhos batendo contra a carne humana.
Deixo meus homens lutarem contra seus próprios inimigos e
com a minha espada em punhos eu danço livremente pelo ar. Não
me importo com o cheiro pesado de sangue que preenche o ar, ou
com o som de tiros, aprendi muito bem a focar minha atenção no
que é necessário. E com um movimento preciso, bloqueiei com o
corpo da espada um projétil que vinha em minha direção.
Antecipando o movimento do outro capanga, desarmei-o com um
único corte e o eliminei antes que o homem conseguisse reagir.Os
presentes ficaram perplexos agora, noto que Yuri tenta manter o
controle, só que falha miseravelmente. Aprimorando meus ouvidos,
consigo seguir em direção a Yuri, pois é muito idiota me dando sua
localização com facilidade.
— Você... você deve estar vendo de verdade, não está? —
Yuri pergunta com a voz vacilante, enquanto tenta se afastar, para
ampliar mais a distância entre nós.
Não digo uma palavra sequer, cortando livremente com minha
linda espada no ar, com a precisão de um maestro regendo uma
orquestra silenciosa. Giro meu corpo no lugar, ouvindo os sons
distintos de inimigos se aproximando, e os cortei com golpes rápidos
e implacáveis. Não sou muito adepto a usar uma violência excessiva,
mas cada golpe meu era letal. Com minha concentração ao máximo
eu sentia a vibração do ambiente de forma completa. O som de cada
respiração, cada passo dos capangas de Yuri que tentavam se
afastar. E então, com um movimento rápido e fluido, eu parei diante
de Yuri com a espada à minha frente, pronta para qualquer coisa. A
venda sobre os meus olhos nunca foi uma limitação para mim, para
dizer a verdade ela era apenas uma forma de conexão com o que
realmente importava: a precisão do corpo e da mente.
— Você... é… impossível!— Yuri diz com a voz assumindo um
leve tremor.
— Impossível? — Indago virando minha cabeça para o lado.
— Não foi você que disse que eu era um mentiroso, e que queria ver
o que eu poderia fazer? — Pergunto levemente. — Bem, é isso que
você deveria esperar! — Digo de modo impassível.
— Afaste-se de mim, porra! — Yuri avisa dando passos para
trás, enquanto continuo a avançar.
— Não fuja, isso está ficando cansativo! — Peço
delicadamente dando um sorriso de lado.
— O QUE… — O grito amedrontado de Yuri para
abruptamente.
A minha lâmina cortou o ar mais uma vez, fazendo Yuri cair
no chão, derrotado, sem sequer perceber o meu movimento. Me
posicionei entre suas pernas abertas, sem me importar com seu
corpo cheio de pânico. O restaurante, que antes estava cheio de
murmúrios e risos sarcásticos, agora estava em completo silêncio.
Naturalmente pela quantidade de corpos que Mika e Reye também
conseguiram interceptar. Sinto um forte cheiro de urina preenchendo
o meu nariz, o confiante e arrogante Yuri mijou nas calças.
Hum… bebezão!
— M… mas como? — Pergunta ele, tremendo como louco.
Paro com minha espada no seu pescoço e dou um sorriso largo.
— Porque eu escuto mais do que vejo… — Digo
tranquilamente e antes de qualquer movimento vindo dele, estoco
com força a ponta da minha espada no seu pescoço, causando uma
morte instantânea. — Já que nunca vi nada nessa vida! — Concluo
minha fala sem me importar se ele vai ouvir ou não do inferno.
— Acho que não tem mais ninguém restante, Jus! — Ouço
Reyes dizer enquanto regulo minha respiração.
— Isso é bom, mas acho que… — Começo a falar, mas um
grito forte e desesperado é ouvido por mim.
— JUSTIN!! — A voz de Viktor me causa uma surpresa muito
grande, fazendo meu peito bater forte no peito.
Graças a Deus, ele está bem! Que bom que ele está bem!
— Estou aqui, querido! — Aviso assim que ouço passos
entrarem no restaurante.
— Puta merda, isso tudo são… — Dominick fala como se
estivesse surpreendido.
— Espera, Yuri, aquele é Yuri? Ele morreu? — Natska diz
cheia de surpresa me deixando confuso.
— Espera… será que eu não deveria matá-lo? — Questiono
com pesar usando meu punho para poder limpar os pingos de
sangue no meu queixo.
O silêncio no ar é palpável, quero muito perguntar o que foi
que aconteceu com eles, mas o silêncio me deixa desconfortável.
Será que vou atrapalhar os planos de Vik? Poxa, não era essa minha
intenção! Acho que vou ter que… Meus pensamentos são
interrompidos quando ouço uma risada rica e cheia de obscuridade
misturada com orgulho de Viktor preencher todo o ambiente. Ouço o
som pesado de passos correrem até mim, e antes que eu pudesse
raciocinar sou arrastado por braços fortes. Minha boca, mesmo cheia
de respingos de sangue, é tomada pela boca ávida de Viktor.
— Foda-se tudo, foda-se Yuri, foda-se a Bratva! — A voz de
Vik diz abafada entre nosso beijo devastador. — Porra, como eu sou
louco por você, meu feroz bebê! — declara com a voz carregada de
sentimentos indescritíveis.
Não sei por que ele está tão intenso, mas seja como for, eu
estou feliz! Será que eu pude aliviar um pouco o seu peso de ser um
herdeiro da Bratva?
Espero que sim, espero isso de verdade!
CAPÍTULO 27

Esse dia se iniciou sendo um completo desastre. Tudo


começou quando recebi informações anônimas de que Oleg e Vasily
estavam voltando a traficar pessoas no meu território. Fiquei tão
furioso que não tive outra alternativa a não ser deixar meu lindo
namorado, depois de passar sua primeira noite aqui ao meu lado.
Inferno, saí de casa com a belíssima cena de Justin, sentado no sofá
do meu apartamento, enquanto brincava com Tom e Sasha.
Ostentando um sorriso doce, que me fez sentir vontade de dar meia
volta e ficar ali com ele. Ter Justin naquele apartamento, que antes
gritava solidão e amargura, preenchendo o ambiente com luz e afeto
de um modo único que só ele pode fazer, era como trazer uma nova
vida para o que antes parecia irreparável. Nesse início de manhã eu
era um homem visivelmente apaixonado, que não queria se ver
distante do seu amor, nem por um segundo. No entanto, toda a
minha felicidade caiu por terra, no exato momento que a porta do
elevador fechou diante de mim.
No mesmo momento que me afastei de Jus, voltei a ser o
mesmo mafioso ordinário de sempre, que estava pronto para
destruir quem tentasse foder meus negócios. Com isso em mente
sair tendo Natska e Dominick ao meu lado, me sentindo aliviado por
ter deixado Mikhail para trás. Não é que eu não confie nos
seguranças que foram designados pelos nossos pais, longe disso.
Posso falar por Dominick, que é um protetor excepcional, por isso
nem me preocupo que Reyes não seja o mesmo para Justin. Porém,
é sempre bom reforçar sua segurança colocando um dos meus
homens mais confiáveis ao seu redor. Com essa preocupação a
menos no meu coração que pude ir para o outro lado da cidade, a
fim de chegar ao local dito. O que eu não esperava era que ao invés
de encontrar uma situação relacionada ao que me foi informado, tive
que lidar com uma fodida emboscada.

Homens muito bem armados estavam dispostos a acabar com


a minha vida e a vida dos meus homens. Foram chuvas de balas,
direcionadas especialmente para mim, prontas para acabar com a
minha existência. Ordenei a meus homens para revidar, tentando ao
máximo conseguir algum desgraçado vivo para poder arrancar o
nome do mandante de toda essa encenação. Enquanto lutava com
alguns caras, notei algo que me fez entrar em alerta máximo. Esse
não era o modo de Vassily ou o seu pai trabalharem, eles não são
burros o suficiente para ir diretamente contra a minha vida daquela
forma. Deveria ter alguém por traz, e isso me foi confirmado assim
que capturei um daqueles filhos da puta vivo, que nem mesmo
tentou esconder que Yuri estava pronto para me destruir, tomar o
que lhes pertencia de novo. Ali pude ver que eles estavam falando
da Paradise.

Sendo assim, finalizei com todas as pessoas que vieram


atentar contra a minha vida em instantes. E estava pronto para ir em
direção a Paradise quando vi inúmeras ligações perdidas de Mikhail e
Nadzhda na tela do meu celular. Naquele momento a minha alma
havia saído do meu corpo, por que se essas pessoas estavam
tentando me contatar, era um indício de que algo poderia ter
acontecido com Justin. Pensei em ir direto para casa, mas mudei de
ideia quando Natska me disse de forma acelerada que conseguiu
falar com minha governanta, e que ela contou sobre a saída de
Justin. Naquele momento uma forte intuição me dizia que Justin
estava indo para a Paradise, essa informação foi o suficiente para
meu coração ser inundado por um medo fora do normal. Comandei
que alguns poucos homens ficassem para trás para poder limpar a
bagunça, levando a maioria deles comigo.

Me culpando como um louco a todo caminho por ter deixado


poucas pessoas para fazer a segurança da Paradise. Que
possivelmente meu namorado estava indo para lá sem saber o que
poderia encontrar, mas tudo mudou no exato momento que avistei a
fachada da Paradise. O que eu vi foi totalmente diferente do que
imaginei. Havia, talvez, pessoas ali, mas o que realmente encontrei
foram corpos mortos e sangrentos espalhados pelo chão. Com a
mente em branco corri diretamente para a entrada da Paradise,
gritando em plenos pulmões o nome de Justin. Mas quando passei
no limiar da entrada do restaurante a minha mente ficou
completamente em branco após o que tinha acabado de presenciar.

E… porra! A única coisa que gritava em meu interior, é que eu


não tinha um namorado, e sim um anjo da morte. Afirmo isso
porque lá estava Justin, no meio de um mar de sangue, tendo o
corpo morto de Yuri Yegorov sob seus pés, como se exigisse justiça
por mim. Com seu rosto demonstrando confusão e muita
preocupação comigo e nada além disso. A minha única reação foi rir
a plenos pulmões, um riso verdadeiro, enquanto observava o meu
amor lutando por mim. E foda-se, se eu não me sentir no céu,
mesmo que a imagem refletida seja nada mais do que um inferno
sangrento. Meu lindo homem com cara inocente, estava com
respingos de sangue em todo seu rosto, seu blusão branco havia
mudando de cor para um vermelho intenso e a venda nos seus olhos
lhe dava um ar de lutador misterioso e inabalável.
Inferno fodido dos céus, como eu o amo! Eu o amo como a
porra de um lunático!

Sem me importar com o odor desagradável de sangue,


pólvora ou urina, eu mergulhei meus lábios nos seus. Apertando seu
rosto angelical entre minhas mãos, enquanto continuava a devorá-lo
como um louco ensandecido que sou.
— Foda-se tudo! Foda-se Yuri Yegorov! Foda-se a Bratva! —
Minha voz sai abafada enquanto continuo a saquear a sua boca
deliciosa. — Porra, como sou louco por você, meu feroz bebê! —
Declaro com o coração acelerado.
— Vik, espera, eu estou todo cheio de sangue! — Jus pede,
tentando me tirar dele, mas eu não permito.
— Não me importo! — Digo o abraçando com força.
— Mas eu me importo, e eu preciso saber se você está bem!
— Jus fala conseguindo se soltar, levantando a mão para tirar a
venda nos olhos, mas eu evito seu movimento.
— Não, não tire ainda! — Peço com a voz rouca, pois estou
cheio de tesão.
— Mas… — Começa ele, mas eu não digo nada e só me
abaixo para tirar sua espada ensanguentada de suas mãos.
— Deixe isso comigo! — Peço, a segurando entre meus dedos
e virando meu corpo para encarar Reyes. — Leve isso, limpe e
guarde! — Mando e ele assente.
— Sim senhor! — Reyes respondeu prontamente, dando
alguns passos para frente para segurar a espada.
— Nastka, traga roupas para o Justin! — Mando e ela
concorda prontamente.
— E para o senhor, Boss? Precisa que eu traga o médico para
vê-lo? — Ela pergunta, deixando Jus agitado ao meu lado.
— Médico? Você foi ferido, Vik? — Questiona nervoso e eu
olho para Natska irritado, que se encolhe no lugar.
— Não foi nada demais querido, falo sobre isso depois! —
Digo tentando acalmá-lo, mas ele continua agitado.
Justin apalpa meu corpo nervoso, tentando ver se existe
algum ferimento, mas eu evito que suas lindas mãos me toquem,
pois o tesão que sinto é grande o suficiente. E suas mãos em mim
só iriam piorar minha situação, estou a ponto de mandar tudo ir a
merda para arrastá-lo daqui o mais rápido possível. Sem dizer
nenhuma palavra, o carrego no meu colo, ignorando os seus pedidos
para que eu o liberte, pois estou machucado. Quem se importa com
um pequeno ferimento de bala quando se está com o pau duro,
sedentoo para foder como um louco?
— VIKTOR ME SOLTE! — Grita Justin, mas eu continuo
fingindo não ouvir.
— Fique quietinho, malêch! — Murmuro roucamente e ele
finalmente entende meu estado excitado.
— Mikhail e eu vamos cuidar da limpeza, senhor! — Dominick
diz indo até Mikhail que assente.
— Deixaremos o Paradise fechado por enquanto, comece
limpando a frente, pois não quero a visita indesejada da polícia. —
Concluo e começo a sair com Justin.
— Desculpa Boss, mas o que fazemos com o corpo de Yuri?
— Mikhail pergunta e Dominick toma a iniciativa.
— Vamos cuidar da limpeza primeiro! — Diz ele a Mikhail que
arregala os olhos e concorda com a cabeça.
Não dou mais atenção aos presentes e sigo em direção ao
quarto que fica nos fundos. Todo ou qualquer assunto será resolvido
quando eu terminar de limpar o meu namorado, por que é
inconcebível que ele fique da forma que está. Planejo limpar seu
corpo maravilhoso com todo cuidado que ele merece, e isso com
certeza farei. Tamanha é a adrenalina que corre em minhas veias,
que estou a ponto de explodir a qualquer momento. Aproveitando
que não havia mais ninguém para me impedir, eu segui com Justin
em meu colo. Peço para que ele erga sua mão para poder me ajudar
a abrir a porta, e assim que ele faz o que peço passo por ela, a
fechando rapidamente.
Observo que tudo está no lugar desde a última vez que
precisei passar a noite por aqui. Esse é um quarto preparado
especialmente para mim, tendo uma cama simples e um banheiro
caso for necessário. É justamente aqui que venho descansar quando
não posso voltar para casa.
— Vik, por favor, diga-me se você está muito ferido! — Jus
fala assim que estamos sozinhos.
— Não amor, levei sim um tiro, mas foi de raspão. —
Confidencio e ele faz uma careta.
— Solte-me que vou pedir a Nat para trazer o médico agora
mesmo! — Manda ele e eu sorrio.
— Nem pensar! — Digo e ele fica infeliz. — Venha tomar um
banho comigo que depois disso deixo você fazer o
que quiser! — Falo e ele tenta dizer algo, mas o beijo. —
Um banho, querido, tome um banho comigo! — Peço entre seus
lábios entreabertos.
— Vik, você realmente quer foder agora sem se preocupar se
vai sangrar até a morte? — Pergunta me agarrando com força e eu
dou risada.
— Claro, estou com um tesão louco, desde o momento que te
vi com aquela maldita espada em mãos. — Falo a verdade e ele
morde os lábios inferiores.
— Droga, Vik, isso é golpe baixo! — Resmunga ele, e vejo
que minhas palavras despertaram seu corpo.
— Posso levá-lo para tomar um banho, posso? — Pergunto
beijando seus lábios rosados.
— Sim… leve-me, Vik! — Diz ele de modo arrastado.
Não digo mais nada e com passos rápidos chegamos até o
pequeno banheiro. Coloco Justin sob seus pés avançando nele como
uma fera faminta, beijando seus lábios, sugando sua língua,
varrendo sua boca saborosa com a minha. Começo a livrar Justin do
seu blusão que antes era branco, sua camiseta azul, sapatos e meias
sujas. Desatei o cinto em sua cintura, desabotoei seu jeans e o
retirei em um instante, revelando sua cueca branca apertada. Droga,
malêch! Praguejo mentalmente quando vejo as gotas de pré-semem
molharem o tecido, formando um ponto úmido pronto para ser
lambido. Mordo minha mandíbula com força, tentando não gozar em
minhas calças como um adolescente virgem. Do jeito que estou
agora, eu poderia facilmente jogar Justin em qualquer superfície
plana e fodê-lo até não restar mais nada de nós dois.
— Eu quero muito chupar esse seu pau lindo, meu amor, mas
eu preciso mais ainda enfiar o meu pau nesse seu cuzinho apertado.
— Confidencio com dificuldade por causa da rouquidão.
— Por Deus, Vik, se você disser essas coisas quando está com
o rosto perto do meu pau quem vai gozar sou eu. — Justin diz,
arfando em expectativa.
— Mas não é isso que queremos, não é mesmo? — Pergunto
alisando suas coxas firmes o vendo estremecer.
— Não, eu o quero dentro de mim! Quero agora! — Seu tom
é firme e cheio de necessidade.
— Se é isso que o meu amor quer, quem sou eu para falhar
com ele assim? — Pergunto o pegando no colo novamente, deixando
Jus abraçar minha cintura com suas pernas.
— Você vai me deixar ainda com essa venda? — Pergunta
deixando rastros da sua língua rosada e úmida no meu pescoço.
— Sim, eu o quero desse jeito, anseio por isso! — Conto e ele
me agarra com a sua força.
— Pode fazer comigo o que você quiser, não existe nada
nesse mundo que eu não faça para te agradar, Viktor! — Diz ele com
um rosnado sexy me deixando louco.
Porra, preciso muito, muito dele!
Ao chegar no banheiro eu já estava sem a parte de cima de
minha roupa. Justin foi rápido em tirá-las de mim com suas mãos
ágeis, e eu o deixei fazer sem reclamar. Ignoro o ferimento do meu
braço, ao colocar Justin no chão novamente e ligar o chuveiro sob
nossos corpos. Me livro do restante da minha roupa e de sua cueca,
expondo nossos corpos nus que muito em breve estariam unidos.
Observo o sangue que estava manchando seu precioso corpo sendo
levado pela água e ajudo a limpá-lo com cuidado. Mordendo meus
lábios inferiores com força, até sentir o gosto do meu próprio
sangue, no instante em que minha mão alcança sua bunda perfeita.
Tateio na prateleira mais próxima um lubrificante à prova d'água,
colocando nos meus dedos em grande quantidade. Invado seu
cuzinho apertado usando dois dedos bem lubrificados e
escorregadios, e vejo seu corpo perder o equilíbrio.
— Você apertando meus dedos dessa forma vai ser impossível
manter o controle, porra! — Grunhi minhas palavras, sentindo o meu
corpo pegar fogo.
— Me foda, Vik, não precisa disso… só me foda agora! —
Justin diz em suplica e eu engulo em seco.
— Droga, Jus! — Reclamo o vendo jogar sua bunda para trás
tendo meus dedos o invadindo.
— Eu quero seu pau dentro de mim! — Pede em tom
manhoso se agarrando em mim.
Ao vê-lo desse jeito, usando essas palavras de incentivo, se
torna difícil resistir. Tiro meus dedos de dentro dele, o deixando de
frente para a parede em um movimento rápido. Abraço suas costas,
desço minhas mãos pela sua barriga até chegar no seu pênis muito
duro e pingando, enquanto colei minha boca contra seu ouvido.
— Espalhe suas mãos contra a parede, abra bem as pernas e
empine essa bunda para mim, Justin! — Vocifero minhas palavras o
sentindo estremecer em minhas mãos.
— Desse jeito? — Pergunta baixinho, fazendo exatamente o
que pedi.
— Sim, amor, bem desse jeito! — Falo enquanto direciono
meu pau até sua entrada rosada. — Oh merda, você está
estrangulando meu pau, querido! — Digo com dificuldade quando
enfio cada centímetro do meu pau nele.
— Tão gostoso, estou tão cheio! — Justin diz colocando sua
testa contra a parede fria.
— Porra! — Praguejo entre dentes. — Segure com força,
querido, por que eu não aguento mais! — Falo o vendo fazer
exatamente o que pedi.
Sem mais nenhum controle restante do meu corpo, eu
começo a fodê-lo. Entro e saio dele em um ritmo único, adoraria ser
carinhoso nesse momento, mas tudo o que quero agora é me
afundar nele mais e mais. Justin é tão fodidamente apertado, tão
delicioso, tão meu! Soco meu pau com força dentro dele, ansiando
pelos seus gemidos altos, guturais, e magnânimos enquanto me
implora para que eu não pare. Deslizo uma das minhas mãos até seu
pau muito rígido, enquanto com a outra entrelaço meus dedos nos
seus. Continuo a penetrá-lo com força, e no mesmo toque sinto o
orgasmo vindo, mudo nossas posições rapidamente porque não
quero que esse momento acabe.
Carrego o corpo de Justin novamente, rodeando suas pernas
na minha cintura, e descansando suas costas contra a parede. Volto
a enfiar o meu pau com tudo dentro dele, iniciando meus
movimentos novamente. Justin geme abraçando meu pescoço com
força, beijo sua boca ferozmente, é tudo tão intenso que me vejo
cada vez mais enlouquecido de desejo. E mais uma vez sinto o meu
orgasmo tomando forma, mas dessa vez não consigo evitar.
— Estar dentro de você é como a porra do céu! — Falo entre
meus próprios gemidos.
— Tão gostoso, amor! — Jus geme e acelerei meus
movimentos. — Quero gozar, eu necessito gozar! — Implora ele
cravando seus dedos no meu ombro.
— Goze, goze comigo, meu Justin! — Mando e quando dou
por mim solto todo o meu esperma dentro dele em um urro
ensandecido.
— Ah… merda! — Justin geme alto, chegando ao orgasmo no
mesmo instante. Molhando toda minha barriga e peitoral com
esperma.
O corpo de Justin desmorona sobre o meu quando uma onda
de prazer aos poucos sai dos nossos corpos. Faço um trabalho
incrível ao nos manter de pé, saio de dentro dele, notando agora
que nem mesmo usamos camisinha. Meu desejo estava tão intenso
que qualquer racionalidade que tinha em mim foi mandada para os
ares. Após regular nossas respirações, desço Justin sob os seus pés
novamente, o liberto da venda de seus olhos, o ajudando a terminar
de tomar banho. Nenhum dos dois diz qualquer palavra que seja, o
sexo que acabamos de ter foi tão… nossa, nem sei descrever em
palavras. Se eu tinha alguma dúvida de que Justin foi feito
exclusivamente para mim, hoje qualquer resquício de dúvida foi para
o inferno. Esse homem é meu, ele sempre foi e sempre continuará
sendo. Ele é tão letal, tão incrível, e ao mesmo tempo doce e fofo na
medida que só Justin é capaz de ser.
E eu o amo, o amo como cada molécula existente nesse meu
corpo fodido.
— Como está seu ferimento, Vik? — Pergunta ele preocupado
após um silêncio acalentador.
— Estou bem, não é nada demais, querido! — Respondo
colocando sua mão sob meu ferimento.
— É fundo, isso precisa de ponto! — Avisa ele após estalar a
língua com chateação. — Eu deveria evitar que você preferisse me
foder ao invés de procurar tratamento. — Reclama ele me fazendo
rir.
— Impossível, eu estava decidido a ter esse homem letal sob
meu poder. — Brinco e ele esquece dando um tapa no meu braço
ferido. — Aí! — Sibilo e ele fica rígido.
— Oh merda, desculpa amor! — Lamenta apressadamente e
eu seguro sua mão.
— Não se desculpe, nem doeu tanto assim! — Conto beijando
os nós dos seus dedos.
— Não podemos mais perder tempo, vamos sair daqui para
poder pedir por um médico logo. — Manda meu namorado e eu faço
um som de confirmação.
— Se isso vai deixá-lo mais tranquilo, então que seja! — Digo
vencido por ele.
— Bom, isso é bom! — Diz aliviado, assentindo com a
cabeça.
Passo uma toalha na minha cintura e na de Justin, abri a
porta à procura da roupa que pedi a Natska. Encontrei algumas
sacolas e cabides pendurados esperando por nós, vasculho o
conteúdo satisfeito com as peças que ela nos trouxe. Ajudo Justin a
usar a calça jeans em tom claro, camisa e um blusão quentinho do
estilo que ele gosta. Me visto com uma camisa e calça jeans preta,
sendo aconselhado por Justin a não cobrir o ferimento até receber
atendimento, sendo assim deixo o blazer preto para usar depois.
Tento ajudá-lo a calçar seus tênis, mas ele diz que está tudo bem,
por isso só o observo terminar de se ajeitar enquanto calço meus
próprios sapatos sociais. Quando enfim estamos vestido saímos do
quarto juntos, contente que a bengala de Jus estava no meio das
coisas trazidas para nós.
Assim que chego no salão percebo que a bagunça de corpos
espalhados já não existe mais. Agora o que restou foram algumas
pessoas que estão ajudando na limpeza do sangue no chão e nas
paredes. Os nossos passos atraem a atenção das pessoas, que
olham em nossa direção com cautela.
— E o médico? — Pergunto ignorando suas caras cautelosas.
— Boss, o médico está esperando no escritório! — Makhil
informa ao soltar um pigarro.
— Bom! — Respondo seriamente.
— Então vamos logo, Vik! — Jus fala apertando minha mão
na sua.
— Calma, malêch, preciso dizer algo antes de subirmos para
ver o médico. — Digo deixando um beijo na sua mão, e ele assente
a contragosto.
— Do que se trata, senhor! — Dominick diz e eu ergo meus
olhos na direção dele e dos demais.
— Onde está o corpo de Yuri? — Questiono, sentindo Jus ficar
tenso ao meu lado.
— Foi preservado como o senhor mandou! — Natska fala e eu
concordo com a cabeça.
— Se é assim, mande para a família Yegorov, eles vão
precisar de um corpo para velar. — Falo dando um sorriso
depreciativo.
— Isso quer dizer que… — Mikhail começa e eu assinto.
— Sim, a partir deste momento estamos em guerra contra a
família Yegorov! — Declaro vendo as pessoas de minha confiança
adquirirem uma expressão de ferocidade.
— Sim, senhor! — Mikhail, Natska, Dominick e até Reyes
respondem juntos com firmeza.
Já passou da hora de tirar essa maldita família da jogada, é
momento de me vingar desses desgraçados e eu os reduzirei a pó
com minhas próprias mãos. Não vou deixar nada atrapalhar a vida
que planejo ter com o meu Jus!
E isso é a porra de uma promessa!
CAPÍTULO 28

— Tem certeza que não vai aceitar a anestesia, Vik? — Jus


pergunta ao meu lado, com uma expressão apreensiva no rosto.

— Sim, malêch, está tudo bem! — Digo olhando para o


médico russo, um velho conhecido de Aleksandr, que agora trabalha
para mim.

— Mas não precisa ser assim, não tem medo da dor? —


Indaga chateado e eu dou um curto sorriso.

— Você teve medo quando resolveu enfrentar um bando de


mafiosos russos sozinho? — Rebato lembrando do medo que senti
ao receber essa informação.

— Mas eu me saí muito bem, só para você saber! — Diz ele


orgulhoso e eu aperto seu queixo sem usar a força.

— Olha só, esse rostinho cheio de orgulho! — Brinco


levemente enquanto ele estala a língua.
— Pare de brincar e foque no seu ferimento, por favor! —
Manda ele tirando a minha mão do seu rosto para poder segurá-la.

— Izvinite, gospodin Konstantinov! (Desculpe, senhor


Konstantinov!) — O médico diz e eu olho na sua direção.

— Mozhet govorit'! (Pode falar!) — Mando simplesmente e


ele assente.

— Irei começar agora, seu amigo pode estar certo sobre a


anestesia. — Czar fala e eu o fito friamente.

— Etot muzhchina ne moy drug, a moy budushchiy muzh!


(Esse homem aqui não é meu amigo, mas meu futuro marido!) —
Conto seriamente, sabendo que Justin acabou de entender minhas
palavras.

— Uh, marido, não é? — Murmura Justin sem esconder seu


contentamento.

— Podemos falar sobre isso quando Czar resolver terminar


essa merda de costura! — Falo alto o suficiente para que esse
médico fajuto comece seu trabalho.

— YA nachnu seychas, ser! (Vou começar agora mesmo,


senhor!) — Diz ele após olhar para Justin e olhar para mim
assustado.

Olho para a cabeça careca de Czar como se quisesse poder


perfura-lo por ele ser um intrometido de merda. Só que o toque
suave de Justin me tira esse tipo de pensamento no mesmo
momento. Czar Rurik é responsável por cuidar do ferimento da máfia
a muito tempo, ele estava fazendo seu trabalho na Rússia muito
bem, mas Maxim invocou com sua cara de repente. Sim, aquele
monstro era um louco ordinário que queria exterminar as pessoas só
pelo seu bel prazer sádico e doentio. Para que Czar não fosse morto,
o irmão de Aleksandr, meu avô, tirou ele e sua família de Moscou e o
trouxe para os Estados Unidos. Fazendo com que esse baixinho,
gordo, careca com alguns poucos tufos de cabelo grisalhos nas
laterais em sua cabeça esquisita, continuasse com sua vida e longe
dos olhos de Maxim. Agora ele trabalha para Aleksandr, que o
mandou ficar ao meu lado e lidar com os meus ferimentos e dos
meus homens, se caso fosse necessário.

Não é do meu interesse de qual origem esse médico de


araque veio. Contanto que ele faça as coisas de forma correta, e que
não faça muitas perguntas, para mim está bom o suficiente. Uma
das coisas que o avisei quando ele veio trabalhar sob o meu
comando, foi que se na Bratva traição era imperdoável, comigo não
seria diferente. E se ele aceitou fazer seu trabalho, que ele fizesse
com excelência! Czar concordou, e tanto agora como das outras
vezes que ele precisou ser útil, fez o que tinha que fazer da melhor
maneira possível.

— Gotovo, ser! (Pronto, senhor!) — Czar diz de repente me


tirando dos pensamentos.

Olho distraidamente para o meu braço enfaixado por atadura,


com o curativo muito bem acabado. Fico satisfeito ao ver sua rapidez
e cuidado.

— Bom! — Respondo de modo simples. Abro a boca para


dispensar Czar, mas Justin se pôs a falar de modo agitado.

— Tem alguma recomendação de cuidado no ferimento? O


que deve ser feito para mudar o curativo? — Justin pergunta em
tom sério e eu tento não sorrir como um bobo com seu cuidado
comigo.

— Er… recomendação? — Czar fala em um inglês terrível


olhando estranhamente para Justin. — Senhor? — Pergunta ele
pedindo socorro.

— Pode sair, Czar! — Mando de modo frio. — Diga aos


outros que espero por eles aqui no escritório daqui a meia hora. —
Falo e Czar arruma suas coisas na sua maleta médica.

— Sim, senhor! — Czar fala terminando de arrumar suas


coisas, saindo logo em seguida após cumprimentar, sinalizando com
a cabeça, esquecendo ele que Jus é cego.

Médico fajuto!

Observo Czar sair e fechar a porta logo em seguida. Aproveito


que temos esse tempo sozinho para puxar Justin até mim com afeto.
Beijando seu rosto preocupado, a fim de explicar a ele a situação.

— Malêch, estou acostumado a lidar com esses pequenos


ferimentos à bala, daqui a sete dias Czar vai voltar para tirar os
pontos e tudo ficará bem. — Falo com Justin que franze o cenho.

— Quantos tiros você já levou para ficar tão experiente


assim? — Pergunta magoado e eu não entendo seus sentimentos.

— Alguns! — Confesso como se não fosse nada.

— Alguns? E você fala desse jeito? — Questiona fazendo


careta.

— Você queria que eu mentisse, malêch? — Indago e ele faz


um som frustrado.

— Não importa, só vamos evitar que essas coisas aconteçam,


tudo bem? — Justin diz e eu o abraço com força.

— Se eu tiver que dizer isso, você também deve me prometer


não sair por aí enfrentando meus inimigos sozinho. Você me
promete isso? — Sugiro e ele fica em silêncio. — Justin, eu estou
falando sério! — Minha voz sai séria e ele respira fundo.

— Você mesmo disse ao médico que sou seu futuro marido,


como tal é meu direito protegê- lo, Vik! — Justin diz segurando meu
rosto para colocar nossas testas juntas.
— Protegemos um ao outro, por isso estou dizendo isso a
você! — Falo beijando a ponta de seu nariz. — Você conseguiu
matar Yuri sem problema por que ele e seus homens o
subestimaram por usar uma venda. Só que não sabemos o que pode
acontecer a partir de agora. — Conto a ele com sinceridade.

— Você acha que vão vir atrás de mim? — Pergunta e eu


trinco os dentes com força.

— Sim, infelizmente! — Revelo sem escondê-lo.

— Por isso que você declarou guerra para aquela família? —


Indaga e eu faço um som de confirmação.

— Sim, eles atentaram contra a minha vida, e seus membros


atentaram contra a sua. — Digo e Jus dá um sorriso sem jeito.

— Mas eles não sabiam sobre nós! — Fala sorrindo e eu beijo


seus doces lábios.

— Isso não tem importância para mim. — Respondo


simplesmente, aprofundando nosso beijo.

O que eu disse é o que realmente penso, pois


independentemente da falta de informação que eles tiveram,
aqueles desgraçados ainda tentaram contra a vida do Justin. E isso é
algo que não posso perdoar de maneira nenhuma! O que fazem
contra mim, tanto faz, eu estou sempre pronto para enfrentar, mas
Justin é diferente. Ele não sabe lidar com o submundo, ele foi
preparado para se proteger contra os inimigos de nossa família.
Minhas tias trouxeram pessoas capazes para treiná-lo desde muito
jovem, sendo assim essa é de fato a primeira vez que Jus entra em
ação. Sinto um orgulho tremendo dele por ter feito o que fez para
proteger os meus negócios, e a mim, só que não posso permitir que
ultrapasse isso. É meu dever zelar pela sua segurança, sempre foi,
mas agora as coisas se tornaram muito mais sensíveis do que antes.
— Farei de tudo para que nada caia sobre seu colo, Jus! —
Juro com a voz firme, enquanto abraço seu corpo.

— Estamos juntos nisso, querido, para mim é o que importa.


— Diz ele com a voz abafada contra a minha roupa.

— A única coisa… — Começo a falar, mas interrompo minhas


palavras quando ouço a batida na porta. — Podem entrar! —
Permito, pois sei de quem se trata.

— Com licença, Boss! — Natska fala assim que a porta é


aberta.

Me sento confortavelmente no sofá do meu escritório, após


ajudar Justin a se acomodar ao lado. Observo Natska entrar, sendo
acompanhada por Dominick, Mikhail e Reyes, peço para que eles
procurem onde sentar. No entanto eles são decisivos em ficar de pé,
passo meus olhos sobre eles e deixo com que eles façam o que
quiserem.

— Vocês cuidaram do que mandei? — Pergunto seriamente,


pegando a mão de Jus na minha.

— Sim, uma parte do pessoal da limpeza está cuidando dos


corpos e a outra parte limpando o lugar. — Dominick diz e eu
assinto.

— E os funcionários que foram mantidos como reféns? —


Indago olhando para Mikhail.

— Eles foram compensados financeiramente, e enviados para


casa. — Responde e eu vejo Justin ficar agitado do meu lado.

— O que foi querido? Está sentindo alguma coisa?—


Pergunto sem esconder minha preocupação.

— Não é isso, só estou me perguntando por que o dinheiro?


— Diz ele de forma estranha e eu aliso sua cabeça.
— Está no contrato que fizemos com eles. — falo de modo
sucinto, mas ainda vejo dúvida em seu rosto. — Cada um dos meus
funcionários, que não está ligado diretamente à máfia, são
compensados se suas vidas correrem riscos. Eles assinam um
contrato de vida e morte, Jus! — Digo e ele se ilumina em
reconhecimento.

— Entendo, tenho certeza que você acertou o dinheiro no


contrato por conta própria. — Jus diz me deixando surpreso.

— Por que você diz isso? — O questiono tranquilamente e ele


abre um largo sorriso.

— Por que você sabe dar valor a uma vida, eu sei disso! —
Responde fazendo meu peito esquentar.

Inferno, como não amar esse homem?

— Isso mesmo, chefinho, o Boss mudou o contrato para todos


nós recebermos essa compensação. Se morremos, nossa família não
fica desamparada também! — Mikhail fala, e quando olho para ele,
percebo que estava encarando meu namorado — o que me irrita
profundamente.

— Mikhail! — Digo seu nome em tom de aviso. Mas o aperto


da mão de Jus na minha, chama minha atenção.

— Você é incrível, amor! — Jus diz com orgulho, mas eu


acho que isso não é nada para me sentir orgulhoso.

— O Boss é incrível mesmo, mas o chefinho não fica de fora,


não é mesmo Reyes? — Mikhail diz e eu estou a ponto de atirar
nele.

— Por que você não fecha a boca? — questiona Dominick


friamente.
— Por que você não vem fechar, Dondon! — Mikhail fala
cheio de malícia a Dominick fazendo Jus rir.

— Nossa, acho que isso nem foi uma indireta! — Jus diz
risonho.

— Não dê atenção às palhaçadas desse maníaco, senhor


Aandreozzi. — Dominick pede seriamente e Justin nega rindo.

— O que devemos fazer a partir de agora, Boss? — Natska


pergunta deixando o clima no escritório mais sério.

— Vocês sabem o que fazer, vou declarar guerra aos Yegorov,


então todo cuidado agora é necessário. — Digo em tom rígido e
eles concordam.

— Sim, senhor! — Eles dizem juntos com muita


determinação.

Abrirei a porta do inferno, tenho certeza que depois disso


todos esses demônios virão para cima de mim com toda força
possível. No entanto, isso já era uma coisa que deveria ser feita a
muito tempo. Antes eu queria ver essa família perder suas mãos e
pés aos poucos, mas agora tudo mudou, quebrarei suas pernas de
um modo que eles não terão como voltar a andar. Matarei Vassily e
Oleg com minhas próprias mãos, vingarei meus pais, e mostrarei
através deles que não sou um homem com quem se deve brincar. Se
for para iniciar a brincadeira, que ela seja iniciada através desses
filhos da puta. Esse foi um dos muitos ensinamentos que tive com os
Aandreozzi, que obviamente são as únicas pessoas as quais respeito
nessa vida. Eu sou o dono do meu próprio destino, sou eu quem
está no controle de quem deve morrer e viver, não o contrário.

— Deixe- me perguntar algo, Boss! — Natska fala me tirando


dos devaneios sombrios.

— Diga! — Mando friamente.


— Devo dizer aos Glinka para vir a Nova York? — Indaga e
eu pondero por um tempo antes de assentir.

— Traga-os, mas as armas que conseguimos dos Petrova


serão mandadas para outra localização. — Aviso deixando Natska,
Dominick e Mikhail surpresos.

— Não me diga que… — Mikhail começa e olha para sua irmã


que assente.

— Isso mesmo, os Harbor, cobrarei a dívida que seu líder tem


comigo! — Conto sem precisar de muitas palavras.

— Esses são seus planos, e não temos o que dizer, senhor!


— Dominick diz seriamente e os demais balançam a cabeça em
concordância.

— Harbor? Quem são esses? — Justin pergunta confuso.

— Enquanto eu estava fechando as negociações eu conheci


Jaxon Harbor, líder de uma gangue de Miami. — Paro observando
Justin prestar a atenção. — Nesse dia a sua noiva havia sofrido um
atentado, e eu ofereci levá-lo de volta usando meus recursos. —
Concluo simplesmente e Jus franze o cenho.

— Foi quando a Duda veio te encontrar? — Indaga ele.

— Sim, foi exatamente nesse momento! — Conto, sem


esconder nada

— Entendo, será que eles ficaram bem? — Sua pergunta é


cheia de preocupação e eu deixo um pequeno sorriso tomar conta
de mim.

Tão gentil, meu Justin!

— Soube que se casaram a pouco tempo atrás! — Respondo


levemente e ele sorri.

É
— É bom saber que você fez novos amigos, amor! — Jus diz
de forma tão amorosa, que fica difícil manter a pose de mafioso
sanguinário dessa forma.

— Não digo que fiz amigos, aliados poderia soar melhor, não?
— Pergunto e ele dá de ombros.

— Se você quiser nomear desse jeito, que seja! — Fala rindo


de mim, mas eu nem ligo, porque amo seu sorriso.

— Vamos para casa? — Pergunto após soltar um pigarro na


garganta.

— Por favor, preciso muito comer! — Jus conta fazendo bico.

— O chefinho consegue sentir fome, mesmo depois do banho


de sangue de mais cedo? — Mikhail diz sem conseguir segurar sua
maldita língua.

— Hum? Por que eu deveria me importar? — Justin rebate de


modo inocente.

— Reyes, agora entendo por que você gosta tanto de


trabalhar com o chefinho, ele é fabuloso! — Mikhail fala erguendo o
polegar para Reyes que me olha cheio de medo.

— N-não é isso, senhor! — Reyes diz cheio de pavor.

Esses filhos da puta querem realmente morrer! E eu vou


matá-los!

— Mike, fica quietinho para não morrer! — Natska diz


rapidamente, desembalando um pirulito para enfiar na boca do seu
irmão suicida.

— Estamos os aguardando, senhores! — Dominick diz


levando os demais junto a ele. Mikhail foi praticamente arrastado
pela orelha por sua irmã.
— Por que tenho a impressão que eles saíram com medo de
você? — Justin diz e eu tiro meus olhos frios da porta, para olhar
para ele.

— Deve ser impressão sua, amor! — Digo controlando meu


temperamento assassino ao máximo.

— Vou fingir que o que você disse é verdade! — Justin diz e


eu não resisto em deixar um beijo na sua boca gostosa.

Aprofundo nosso beijo avidamente, enfiando minha língua na


sua boca, e sugando a sua com gosto. Meu desejo é de marcá-lo
como meu, quero que todas as suas membranas saibam a quem
esse corpo pertence. Para dizer a verdade Justin já era meu muito
antes dele saber, a muito tempo eu esperei, desejei, e sonhei com
seu corpo, com sua boca, com o seu coração pertencendo só a mim.
O amor que sinto por ele está tão enraizado dentro de meu ser, que
sinto medo de assustá-lo. Só que independentemente de seu medo,
abrir mão dele é algo que jamais poderei fazer.

— Amor, se não pararmos, vamos acabar fodendo no sofá do


seu escritório. — Justin diz com a respiração acelerada.

— Isso seria muito bom, porque todas as vezes que voltar


aqui lembrarei do seu cheiro. — Digo o querendo como um louco.

— Mas amor, isso seria ótimo se meu estômago não estivesse


roncando e seu celular não estivesse tocando. — Justin diz me
fazendo voltar a mim.

— Sinto muito, malêch, deixe-me levá-lo para casa e


alimentá-lo! — Digo carinhosamente, percebendo que de fato há
uma chamada no meu celular.

— Tudo bem, mas quem está ligando? — Pergunta ao notar


meu silêncio.
— Um momento, já te falo! — Digo com minha voz
assumindo um tom frio e distante.

Deixo Justin acomodado e confortável onde está, para me


levantar para parar de frente a minha mesa. Fixo meus olhos no
meu celular, sem dizer mais nenhuma palavra atendo a ligação. Fico
calado, ouvindo xingamentos e choros altos do outro lado da linha.
Não demora para que a pessoa que fez a chamada se faça presente.

— Yuri morreu, e você fez questão de mandar o seu corpo


para nós! — Vassily diz sombriamente.

— Eu estava esperando saber quando você iria agradecer por


ter feito tal ato amigável. — Minha voz é calma e controlada.

— Então é assim que você quer jogar? — Ele cospe as


palavras em questionamento.

— Claro, se fosse outra pessoa, incineraria o corpo como fiz


com os demais. — Falo ouvindo um riso depressivo vindo dele.

— Você não tem noção com quem está brincando moleque


estupido e traidor! — Vassily diz com ódio e eu estalo a língua.

— Traidor, você diz. Agora, diga-me: qual é a sua definição de


traição?. — Peço levemente e noto que ele está começando a
perder o controle.

— Yuri era da minha família, e saiba que nós vamos vingar


sua morte! — Avisa e eu reviro os olhos.

— Ele tentou me matar primeiro, usando meios ridículos e


ainda tentou controlar meus negócios. Acho que sua morte foi
justificada, não acha? — Pergunto cinicamente.

— Vamos acabar com você! — Jura ele de forma intensa.


— Esse é o recado que queria dar? — Pergunto sem
paciência.

— Não reconhecemos você ou Aleksandr como líder da


irmandade. Não aceitaremos você como herdeiro e futuro Parkan!
— Diz cheio de veneno.

— Diga-me uma novidade, Vassily! — Mando seriamente e


ele ri, um riso seco e sem vida.

— Podemos fazer uma concessão e evitar essa guerra com


você, se caso você fizer algo que mostre seu compromisso com a
família. — Diz ele e eu contraio os olhos, pensando que ele deve
pensar que sou realmente um moleque inútil e sem cérebro.

— Deve ser algo muito importante para você querer evitar


uma guerra. — Paro por um instante. — Vamos lá, diga-me do que
se trata! — Mando sem pensar demais, mas as palavras que vem a
seguir fazem meu corpo queimar no mesmo momento.

— Mande para nós! Mande a pessoa que matou Yuri de forma


tão humilhante, e eu vou pensar em me submeter a você! — Vassily
diz e cerrei os meus punhos com muita força.

O ódio que queima dentro de mim é tão intenso que nem sei
encontrar palavras para conseguir explicar. Eu sei que Vassily não
sabe especificamente sobre Justin, mas ele propor algo assim, sendo
que está falando indiretamente do meu Jus. É como a morte para
mim! Minha vontade é de sair agora, ir até onde ele está e mirar o
cano da minha arma bem no meio da sua testa. Só que isso é muito
precipitado, devo me acalmar, devo conseguir ganhar tempo para
averiguar se os Yegorov sabem sobre Justin. E o seu papel principal
na morte do inútil do Yuri.

— Sua submissão nunca foi algo pelo qual almejei, Vassily! —


Digo friamente, controlando a intenção assassina que queima dentro
de mim.
— Você sabe o que está falando? Isso é uma declaração de
guerra contra nós! — A voz de Vassily é carregada de ódio e isso
me causa um riso desdenhoso.

— Que assim seja, nos encontramos no inferno! — Paro e


olho para Justin que está parado com o rosto cheio de tensão. —
Nos vemos por aí, Yegorov! É uma pena que não poderei
comparecer ao enterro de Yuri, pois ele já foi tarde! — Ouço seu
xingamento, mas tiro o celular do meu ouvido, pois não sou
obrigado a nada.

Encerro minhas palavras desligando a ligação no mesmo


momento. Aperto o celular na minha mão com muita força,
imaginando que esse maldito aparelho é a cabeça de Vassily. Se a
família Yegorov está pensando que me dizer isso causará qualquer
tipo de medo em mim, eles realmente não fazem ideia com que
estão mexendo. Minha vingança será doce, tão doce quanto o
melhor mel que se pode encontrar!

— Vik, você está bem? — Justin pergunta vindo até mim, e


eu encerro meus pensamentos vingativos para lhe dar total atenção.

— Sim, malêch, estou bem porque tenho você aqui! — Digo


trazendo seu corpo para mais perto.

— Ficarei do seu lado, amor, por que sua vitória é minha


vitória também! — Justin diz erguendo sua bela mão para segurar o
meu rosto mais perto.

— Spasibo, malêch! (Obrigado, bebê!) — Agradeço baixinho


com todo amor. — Agora vamos para casa, para que eu possa te
alimentar, sim? — Pergunto levemente. Ele assentiu abrindo um
sorriso.

— Sim, por favor, vamos para casa! — Diz ele e eu não penso
demais em atender seu pedido.
Isso é tudo o que preciso agora, os problemas podem muito
bem ficar para depois. Minha prioridade é alimentar meu adorável
Justin, deixá-lo bem e saudável é minha maior realização. Por que
Justin é a minha imensa prioridade!
CAPÍTULO 29

A noite passada foi recheada de sonhos quentes e realistas,


onde meu corpo queimava em fogo vivo a cada vez que o pau de Vik
afundava dentro de mim. Engulo em seco, sentindo o meu próprio
pau começar a ficar duro somente com esses flashes acalorados.
Acho que a saudade que estou sentindo de Viktor está afetando
minha mente, fazendo com que essas lembranças atrevidas surjam,
e até mesmo interferindo no meu sono à noite.Faz poucos dias que
ele está viajando, junto com Natska e Dominick, e eu sinto sua falta
loucamente.

As coisas para o lado dele se complicaram a partir do


momento que ele declarou guerra abertamente à família Yegorov.
Sei que essa sua declaração em partes é para poder tomar o
controle total dos negócios dessa família, e com isso destruí-los por
completo. Só que sei que não se trata apenas disso, porque não sou
idiota a ponto de não considerar a possibilidade de ele estar me
protegendo também.
Posso não ter nascido em uma máfia grande como a Bratva,
mas a nossa família tem uma contagem grande de inimigos que quer
ver o nome de nossa família entrar em ruína. Tanto eu quanto meus
outros primos aprendemos desde muito jovens a nos proteger, tanto
fisicamente quanto mentalmente, caso algo aconteça e eles não
possam intervir logo de imediato. Sabemos nos proteger, temos
conhecimento básico sobre coisas do submundo do crime, assim
como o mundo dos negócios. Fomos sim crianças protegidas, só que
não desinformadas de como o mundo realmente funciona. Minhas
mães fazem de tudo para que tanto eu quanto minhas irmãs
cresçamos cheios de vitalidade e amor. No entanto, isso não as
impede de deixar claro que o mundo é sujo, e que podemos um dia
ter que sujar nossas próprias mãos para que possamos nos proteger.

E foi justamente por isso que não sinto nenhum pesar por ter
tirado a vida de pessoas que estavam tentando prejudicar Viktor.
Porque assim como ele pensa e age tão protetor com tudo e todos à
sua volta, eu tenho que deixar claro que sou tão protetor quanto.
Que farei de tudo para que sua integridade, mente, corpo e espírito
se mantenham intactos. Esse é o meu papel como seu companheiro,
estou aqui para ajudá-lo e não ser um fardo.

— Voltem aqui, seus pestinhas! — A voz de Mika me tira dos


pensamentos.

Logo ouço o som das patas grandes e pesadas de Tom


correndo pelo apartamento, enquanto consigo ouvir também os
pequenos grunhidos fofos que Sasha solta sempre que está agitado.
É impressionante como a adaptação dos dois foi algo meio estranho,
para dizer o mínimo. No início foi como se Sasha testasse o limite de
Tom, sempre pulando em meu colo, com suas patinhas macias e
úmidas, impedindo a aproximação de Tom. Porém, essa mini
provocação não demorou muito tempo, por que logo eles estavam
correndo pelo apartamento de Vik, dormindo juntos e até
bagunçando todo o lugar. Que todos os dias é arrumando
meticulosamente por Nadzhda, que é exigente com a limpeza pelo o
que pude perceber.

— Eu já avisei para parar! — Mika grita em revolta.

— Senhor Griboedov não corra pelo apartamento! — A voz


fria de Nadzhda é ouvida por mim.

— Mas como não, esse pestinha do Sasha roubou meu pirulito


de novo! — Mika diz inconformado. — Sem falar que ele ainda usa o
pobre Tom, o colocando nos seus esquemas sombrios. — Ele fala de
uma maneira que é impossível manter a seriedade.

— Dom e Nat te avisaram para não ficar com o pirulito perto


de Sasha, você só gosta de testar a esperteza dessa Vison. — Falo
chamando sua atenção.

— Pequeno chefe, interceda ao meu favor, eu sou seu homem


de confiança agora. — Apela ele de forma ridícula.

— De onde você tirou isso? Sabe quanto tempo trabalho para


a família Aandreozzi para você vir, na cara de pau, tentar tomar meu
lugar desse jeito? — Reyes fala com irritação enquanto se aproxima
de nós.

— Não seja um egotista, Rey! — Mika fala de modo que


Reyes solta um som enojado.

— Egoísta? Você que é vira folha! — Reyes aponta enojado.

— Não mesmo, eu sou um dos braços da máfia, meu dever é


executar as ordens do meu futuro Pakhan. — Mika diz cheio de
orgulho e eu sorrio. — Como meu Boss disse que estou responsável
pelo futuro marido do Pakhan, é assim que tem que ser! — Conclui
deixando Reyes com raiva.

— Com toda certeza, ainda mais quando o seu Boss souber a


admiração descarada que sente pelo, chefinho! — Reyes diz com
veneno na voz.

— Como não admirar? É todos os dias que conseguirei ver o


chefinho em ação como naquele dia? Aquilo foi como ver um anjo
vingador vindo arrancar cabeças! — Mika diz de uma força que faz
minha cabeça latejar de dor.

— Oh, por favor, deixem de besteira! — Mando os fazendo


parar de falar.

— Desculpe, senhor! — Eles falam juntos e eu solto um bufo.

— Parem de formalidades, estamos só nós aqui! — Mando


fazendo gesto de desdém com as mãos.

— Oh sim, é verdade! — Mika diz procurando um lugar na


sala de estar para sentar.

— Tão expansivo! — Reyes resmunga, mas também procura


um lugar para se acomodar.

— Você gosta de mim, Rey! Eu só acho que poderíamos


formar um trisal, eu você e Dom, seríamos quentes juntos, não acha
pequeno chefe? — Mika diz me causando uma risada sincera.

— Não sei, seria estranho dizer que sim, já que nunca vi! —
Brinco causando um silêncio repentino. — O que foi? Por que
ficaram calados? — Pergunto franzindo o cenho.

— Não foi nada, eu só fiquei curioso! — Mika diz de repente


me fazendo rir.

— Curioso com o que? Com a minha cegueira? — Indago e


ele faz um som de confirmação.

— Eu já te disse tudo o que você precisava saber, e só disse


por que você agora faz parte da nossa equipe. — Reyes fala e Mika
respira fundo.
— Sei disso, mas quando perguntei sobre como o pequeno
chefe sabe nossa aparência você não quis dizer. — O russo fala para
Reyes sem esconder seu rancor.

— Não disse isso porque é indelicado, e o senhor Viktor iria te


matar! — Reyes explica deixando Mika confuso.

— Como… — Antes que ele finalizasse o que ia dizer eu


chamo sua atenção.

— Entendo sua confusão, Mika, mas posso te responder


tranquilamente. — Falo com um pequeno sorriso.

— Ótimo! — Exclama ele e Reyes estala com a língua.

— Você deve saber que nasci com uma deficiência congênita,


certo? — Pergunto sentindo um movimento vindo do meu lado
direito que chama minha atenção.

Com muita tranquilidade, e cronometrando perfeitamente o


tempo, eu ergo a mão esquerda. Assim que faço esse simples
movimento sinto as patinhas rechonchudas de Sasha cair sobre o
meu antebraço esquerdo. Ouço um som de surpresa vindo de Mika,
mas ignoro pois uso a esperteza para poder tirar o seu pirulito da
boquinha do Vison safado. Jogando o pirulito mordido na direção de
onde vem a voz de Mika logo em seguida.

— Seu gordinho fofo, pare de tentar comer doces, isso faz


mal pra você! — Brinco em voz baixa, colocando Sasha entre minhas
pernas cruzadas.

— Surpreendente, ainda não consigo me acostumar! — Mika


murmura surpreso.

— Com o tempo acostuma, acredite em mim! — Reyes fala


levemente.
— Sim, acho que sim! — Mika responde e eu nego sorrindo
enquanto acaricio a barriga redondinha de Sasha.

— Mika, minhas mãos, ouvidos e nariz me dão tudo o que


preciso para poder enxergar as pessoas, o mundo e as coisas à
minha volta. Não sei cada detalhe específico atrás dos outros, mas
tudo o que preciso realmente saber consigo adquirir através dos
meus outros sentidos aguçados. — Falo simplesmente e parei
virando na sua direção. — Será que agora você consegue
compreender? — Pergunto e ele faz um som de confirmação.

— Sim! — Responde rapidamente e eu sorrio. — Será que o


senhor quer poder me tocar para poder me conhecer melhor? —
Questiona ele meio de modo meio bobo, me fazendo rir.

— Olha, se eu fosse você, manteria suas mãos longe do Jus.


— Avisa Reyes. — Isso se você ainda quiser se manter com vida. —
Diz assustando o pobre Mika.

— Oh sim, acho que você tem razão! — Mika respondeu


rapidamente.

Para as pessoas à minha volta deve ser bem estranho me ver


fazer coisas de modo tão normal. O treinamento que tive durante
boa parte de minha vida facilitou muito a minha adaptação, mas fora
isso, eu tive muito apoio da minha família também. Gosto de dizer
que, além do treinamento para me auxiliar em uma luta entre a vida
e a morte, eu não devo esquecer que também houve o treinamento
para me comportar como se eu não tivesse deficiência
alguma.Espera, acho que isso pode soar estranho, mas acho que
consigo alcançar uma boa explicação para esse meu pensamento.
Digo isso porque desde muito novinho, minha mãe Laila me ensinou
sobre as coisas, números, formas, letras, mesmo que eu não as
pudesse definir através dos meus olhos. Ela também me auxiliou
diariamente a como movimentar os meus olhos, a fim de que eu não
vivesse refém dos óculos escuros o tempo todo.
Minha mãe Laila percebeu, desde muito cedo, que as crianças
da pré escola podem ser um pouco perversas. Sem falar que a nossa
vida em Austin no Texas não era nada fácil para mim, mas
principalmente para ela, que evitava que sua família nojenta usasse
minha cegueira para machucá-la todos os dias com palavras cruéis.
Para simplificar: tudo o que eu pudesse aprender para evitar
perguntas desconfortáveis e momentos estranhos, eu aprendi — e
isso com a ajuda da mommy. Só que quando a minha mamma e a
família Aandreozzi entraram em nossas vidas, tudo o que era
considerado castigo divino, estranho e doloroso, se tornou uma arma
cheia de letalidade.

Me vesti como uma arma cheia de letalidade não porque fui


obrigado, mas por que eu quis, sempre quis um meio de proteger a
minha mãe que foi abusada sua vida inteira. E além da minha mãe
Laila, havia também minha mãe Luna, Hope e Ella para serem
protegidas também. Jamais vou permitir que alguém que amo se
machuque pela minha falta de capacidade, por isso que mesmo
Viktor cheio de receio eu farei de tudo, tudo mesmo para poder
caminhar ao seu lado. Ser o seu melhor anjo vingador, como Mika
mesmo disse, se assim for preciso.

— Vou voltar a dizer que o chefinho é incrível! — Mika diz


repentinamente me causando um riso sincero.

— Sim, sim, agora deixe de fazer essa cara de idiota que eu


mesmo vou lhe dar um soco. — Reyes manda em revolta.

— Mas por que? — Mika perguntou inconformado.

— Ainda pergunta? Você é assustador fazendo isso, essas


suas tatuagens, palidez, olhos profundos e dentes de ouro. Usando
sempre correntes, e outras coisas estranhas! — Reyes fala com
exasperação e eu arqueio a sobrancelha. — Alguém já te disse que
você parece com o Coringa dos cinemas? — Meu segurança
pergunta, deixando Mika sem entender.
— Não, e nem quero saber! Dizem que tenho uma boa
estética, eu sou lindo, sabia? — Mika fala com raiva e cheio de ego.

— Pra quem gosta deve ser mesmo! — Reyes fala enojado e


eu começo a rir.

— É bom ver vocês se dando bem! — Digo me sentindo


realmente contente por isso.

— Quem está se dando bem, Jus? — Reyes me pergunta com


desgosto.

— Vocês é claro! — Respondo dando de ombros e ele bufa.

— Ele gosta muito de mim igual ao Dom, por isso que digo
que fazemos um trio muito bom! — Sugere Mika para a infelicidade
de Reyes.

— Nos seus sonhos mais sombrios, seu louco! — Exclama


Reyes cheio de estranheza.

— Com licença! — Nadzhda fala, chamando nossa atenção.

— O que foi, Nadzhda? — Pergunto e ela se aproxima.

— O senhor deseja que eu sirva o jantar agora? — Indaga


ela, e assim que vou responder, ouço a notificação no meu celular.

Violeta ligando…

Junto as minhas sobrancelhas cheio de suspeita, fico me


perguntando por que Violeta está me ligando depois de tanto tempo.
Sinto que algo deve ter acontecido, por isso não demorei e resolvi
aceitar a ligação.

— Tenho que atender esse telefonema no escritório, depois


eu venho jantar. — Respondo colocando Sasha no sofá para poder
me levantar e pegar minha bengala.
Caminho tranquilamente em direção ao escritório de Vik,
ignorando a chamada repentina de Violeta até estar sozinho. Ao
abrir a porta do escritório sou arrebatado com a lembrança de Viktor
no ambiente, me deliciando com o cheiro de masculinidade vibrante
que só o meu homem é capaz de ter. Procuro um lugar para me
acomodar, e quando faço, respiro fundo e retorno a ligação, que é
atendida no primeiro toque.

— Ju-Justin? — A voz de Violeta é cheia de apreensão.

— Olá, Violeta! — Respondo tranquilamente, ouvindo um


longo suspiro do outro lado da linha.

— Desculpa te ligar repentinamente, e pelo horário também!


— Se desculpa e eu percebo que realmente ela me ligou em um
horário inoportuno.

— Tudo bem, o mais importante é saber por que está me


ligando. — Digo diretamente sem qualquer receio.

— Eu... eu queria falar com você sobre a Nora e sobre as


coisas estranhas que têm acontecido ultimamente. — Violeta diz
nervosa e eu franzo o cenho.

— Eu deixei claro que Nora e eu não temos mais


envolvimento algum, por isso não consigo entender, por que esse
assunto tem algo a ver comigo? — Digo com meu tom assumindo
uma dureza.

— Tem sim, tem que ter! — Afirma ela de forma ativa e eu


fico sem entender.

— Mas como que… — Tento falar, mas ela começa a ficar


mais agitada.

— Nora tentou suicídio, você sabia disso? — Ouvir isso me fez


ampliar os olhos.
— Como? — Pergunto seriamente, tentando entender por que
ela faria algo como isso.

— Isso mesmo que você ouviu, minha melhor amiga tentou


se matar por que se sente culpada pelo o que aconteceu entre
vocês! — A voz de Violeta é acusatória. — Raúl, meu namorado,
Saulo, Sol e Pilar levaram uma surra ao sair da boate. A surra foi tão
repentina e forte que os meninos estão hospitalizados, e as meninas
estão em casa, mas em uma situação deplorável. Elas estão até com
medo de sair porta afora, porra! — Violeta diz entre dentes, expondo
sua raiva abertamente.

— Entendo e lamento o infortúnio de vocês, mas não


compreendo por que está atribuindo isso a mim. — Aponto
friamente e ela dá uma risada sarcástica.

— Como não? Deve ser a sua família, quem mais faria um


absurdo desses? — Sua voz mostra o quão irritada ela está com essa
situação.

No entanto, eu também não estou muito feliz, principalmente


por ela acusar minha família desse jeito sem ter o mínimo de prova
plausível para isso. Não posso defender minha família abertamente,
pois sei que isso é algo que eles fariam, mas eles não sabem o que
aconteceu. Se fosse atribuir essa surra a alguém eu falaria que foi o
Viktor, mas ele… Oh merda! Será que foi o Vik? Que seja, se foi ou
não, eu não vou, eu não posso fazer nada! Mas de qualquer maneira
terei que perguntar a ele se isso tem dedo dele, só com o intuito de
averiguar as informações mesmo.

— Olhe aqui, Violeta, fazem semanas que meu namoro com


Nora, e a amizade que tinha com vocês foi encerrada por completo.
Não vejo motivo plausível para que minha família faça algo contra
vocês, sendo que eles nem ficaram sabendo do que ocorreu. —
Minha voz é rígida, fria e distante, espero que ela entenda que esse
assunto não tem nenhuma relevância para mim.
— Mas Nora… — Ela tenta falar, mas volto a cortá-la.

— Olha, sinto muito pelo o que aconteceu com ela, de


verdade, sugiro que você converse com a família dela para poder
procurar ajuda psicológica para ela o quanto antes. Tentativa de
suicídio é algo sério, que deve ser acompanhado por profissionais da
área, me fazer entrar em contato com ela só fará com que ela não
entenda o real problema que enfrenta. — Digo com mais leveza,
porque realmente me sensibilizo com essa notícia terrível, mas não
ao ponto de querer entrar em contato.

— Você não sente pena dela, Justin? Nora te ama, seu filho
da puta! — Violeta grita do outro lado e eu faço uma careta.

— Me sensibilizo sim, mas isso não quer dizer que vou parar
minha vida, deixar o meu namorado que me ama e que nunca fez
uma maldita aposta para se aproximar de mim! — Digo entre dentes
sentindo minha calma se partir.

— Namorado? Você… você está namorando? E ainda mais um


homem! — Violeta diz como se me acusasse de cometer um ato
terrível.

Antes que eu pudesse abrir a boca para responder essa


reação completamente sem sentindo algum, ouço a porta abrir. Um
sorriso toma conta dos meus lábios, isso por que eu consigo sentir a
sua presença. Presença essa que toma toda a minha atenção e faz o
meu coração bater em um ritmo que somente ele é capaz de fazer.
Nossa… eu não fazia ideia do tamanho da falta que estava sentindo
dele, mas agora o tendo aqui, sentindo seus olhos sob mim é como
se essa realidade batesse bem forte. Por que sim, mesmo poucos
dias são o suficiente para poder sentir uma saudade que nem
mesmo consigo controlar.

Meu Viktor, ele finalmente está em casa, para mim,


preenchendo sua casa, a fazendo nossa.
Com essa realidade bem diante de mim, me sinto mais forte,
mas sóbrio para dizer a Violeta exatamente o que ela precisa ouvir. E
finalizar de uma vez por todas qualquer tipo de contato que venha
voltar a acontecer. Por que isso não mais me importa, o meu
passado devo continuar onde sempre esteve desde o momento que
Vik se tornou meu presente.

— Respondendo sua pergunta Violeta, eu tenho sim um


namorado. — Paro sentindo meus lábios doerem do tamanho do
meu sorriso. — Ele é um homem incrível, que sempre me amou e
que amo de volta. O homem que preenche minha vida de cor, o
homem que se tornou meu tudo, o meu homem. — Sinto sua
aproximação fazendo meu corpo se encher de expectativa. — Sinto
muito pelas coisas que aconteceram com vocês, mas espero que
você não entre mais em contato comigo, porque minha vida de
agora não tem espaço para distrações. Adeus! — Finalizo a ligação
logo em seguida.

— O que está acontecendo, malêch? — Viktor me pergunta


com a voz profunda, assim que chega perto o suficiente.

— Nada que importe! — Ergo minha mão após negar com a


cabeça. — Senti sua falta, amor! — Declaro no momento que sua
mão encontra a minha.

Sou erguido por Viktor com um impulso rápido, meu corpo é


rodeado por braços fortes e capazes. Sinto seus lábios tomarem os
meus, de modo faminto, sua língua invade a minha boca
aprofundando o nosso beijo mais e mais. Me agarro a ele como a
porra de um bote salva vidas, me deixando ser beijado, tocado, e
amado por ele. Quando nosso beijo maravilhoso termina, sinto
Viktor descansar seu belo rosto na curva do meu pescoço, enquanto
absorve cada traço de cheiro que exala de mim. Tão primitivo, tão
meu!

— Eu também senti sua falta todos esses fodidos dias! —


Viktor diz contra minha pele me fazendo rir.
É
— É bom que você esteja de volta, amor! — Digo fechando
minhas pálpebras com força.

— É muito bom estar de volta, malêch! — Responde ele me


deixando feliz e aliviado pela sua volta em segurança.

Deus, como posso amar mais esse homem a cada dia que
passa?
CAPÍTULO 30

Mesmo sabendo que foram poucos dias que Vik esteve longe
para resolver seus próprios problemas referentes a máfia, eu não
pude deixar de sentir sua falta e me sentir imensamente
preocupado. Para dizer a verdade, de agora em diante, todos os dias
vou sentir medo pela sua segurança quando Viktor não estiver ao
meu lado. Só que coloquei em minha cabeça, que antes que o nosso
romance acontecesse ele já estava colocando sua vida em perigo. E
estava lidando com tudo muito bem, apesar de tudo o que ele tinha
que passar. Sendo assim, decidi confiar plenamente nas suas ações,
reforçando sempre que ele terá a mim se caso for necessário. Não
escondo a felicidade que estou sentindo em poder abraçá-lo como
estou fazendo agora. Por mim ficaria o tempo todo dessa forma,
mas infelizmente sei que meus desejos egoístas não podem ser
atendidos assim livremente.

— O que aquela mulher queria com você? — A voz de Viktor


é cheia de curiosidade.
— Você realmente quer saber disso? — Pergunto de volta
com desgosto.

— Sim, tudo o que envolve você é importante para mim! —


Diz ele com firmeza e eu respiro fundo.

— Ela veio me dizer que Nora tentou suicidio! — Revelo em


tom baixo.

— Entendo! — Fala simplesmente. — Está preocupado? —


Indaga e eu me ajeito no seu colo.

— Um pouco, mas deixei claro a Violeta que o que Nora


precisa é de ajuda médica não de mim. — Digo com a voz leve,
sentindo a mão de Vik acariciar minha cabeça.

— Hum… você tem razão! — Concorda depois de um tempo.

— Ficou chateado? — Indago erguendo meu corpo.

— Ninguém gosta de saber que a ex-namorada do seu


namorado está tentando contra a sua vida. — Viktor fala com
irritação.

— Você acha que pode ser mentira para chamar minha


atenção? — Indago curioso e ele faz um som de negação.

— Não sei, de qualquer forma se mantenha longe dos


problemas dos outros! — Vik manda e eu respiro fundo.

— Não gosto de parecer insensível, mas você está certo, me


aproximar de Nora fará com que ela entenda as coisas de forma
errada. — Falo com tristeza e Vik segura dos dois lados do meu
rosto.

— Sua gentileza é admirável, malêch, mas às vezes as


pessoas precisam lutar suas próprias batalhas. — Viktor diz
seriamente e eu concordo com a cabeça.
— Sim, você está certo! — Respondo baixinho e ele deixa um
beijo amoroso nos meus lábios.

Viktor está certo com suas palavras, eu posso sentir muito por
Nora, mas também não posso deixá-la confundir as coisas. O que
tivemos foi um momento bom, apesar de ter tido um começo um
pouco estranho. Posso dizer que me diverti enquanto estávamos
juntos, mas não passou de um momento. Pensei que quando
terminei nosso lance tinha deixado claro de modo aberto e sincero
que nunca tivemos um relacionamento. E que meu coração
pertencia a outra pessoa, que eu sentia muito por ter deixado isso
chegar tão longe. Tentei de verdade ser uma pessoa o mais decente
possível, mas infelizmente a gente não pode mandar nos sentimento
das pessoas. Não quero fugir da responsabilidade, porque em
primeiro lugar, essa responsabilidade nunca foi minha. Violeta pode
querer jogar isso na minha cara, mas não posso me deixar levar por
isso, sei que é seu carinho por sua amiga falando por ela.

Sinto por Nora, de verdade, mas não posso fazer muitas


coisas com relação aos seus sentimentos. Só espero que ela consiga
a ajuda necessária e que tudo fique no passado. Espero de coração
que ela possa ter uma boa vida daqui para frente, que encontre uma
boa pessoa que cure suas feridas. Desejo isso com toda minha alma,
porque o meu destino nunca foi e nunca será Nora.

— Amor? — Chamo após lembrar de algo.

— O que foi, malêch? — Indaga em tom profundo,


demonstrando o cansaço de sua viagem.

— Além da notícia sobre Nora, Violeta veio me dizer algo bem


interessante. — Digo e Vik faz um som com a garganta
demonstrando que estava me ouvindo. — Ela me disse que os seus
amigos foram surpreendidos na saída de uma festa e que levaram
uma surra digna de irem parar no hospital. — Conto, sentindo
levemente seus músculos se tensionarem.
— Hum… foi mesmo? — Questiona ele sem vontade e eu me
sentei automaticamente.

— Foi você, não foi? — Acusei já tendo certeza de sua


resposta.

— Sim! — Responde de forma simples e eu franzo o cenho.

— Mesmo depois que te pedi para não fazer nada, querido?


Por que? — Questiono irritado.

— Por que não? Eles brincaram com você, Justin! — Viktor diz
e eu aprofundo minha carranca. — Ninguém usa o meu Justin como
uma aposta e sai impune! — Avisa Vik em tom perigoso e eu bufo.

— Eu já tinha resolvido isso, deixei essa merda para trás! —


Aponto com o meu dedo indicador no seu peito e ele segura minha
mão.

— Você deixou para lá, mas eu e a família não! — Vik fala me


assustando.

— A família? Nossa família? Mas como… — Começo a


pergunta, mas paro quando me ilumino.

— Justin, você realmente acha que nossa família não iria


saber de tudo o que acontece com a gente? — Viktor pergunta com
tom humorado e eu nego debilmente.

— Mas mamma e mommy não me falaram nada! — Acuso e


ele estala a língua.

— Quando liguei para minha tia, ela estava muito chateada


com você por não ter contado a elas o ocorrido. — Viktor diz e eu
mordo meus lábios. — Elas estavam planejando, junto com os outros
mais velhos da família, encerrar com as empresas das famílias
daqueles moleques, subornar a faculdade para expulsão deles e
ainda dar uma surra em cada um deles. — Viktor diz cada palavra
com orgulho e eu nego com a cabeça.

— Mas essa situação não precisa disso tudo, eles se


arrependeram? — Falo e Vik faz um som de desgosto.

— Você não entende, não mesmo querido? — Viktor pergunta


com a voz doce, alisando a lateral do meu rosto com afeto.

— O que eu não entendo? — Retorno a pergunta de modo


confuso.

— Malêch, você é aquele que todos da nossa família


protegem, não por sua cegueira, mas por que você é um ser tão
especial que ninguém quer vê-lo magoado de forma alguma. —
Viktor diz cada palavra com tanto amor, que faz meu peito se encher
de calor.

— Eu não sei o que dizer. — Digo baixinho e isso o faz rir.

— Você realmente achou que ninguém da nossa família iria


tentar destruir as pessoas que usaram você, meu amor? — Sua
pergunta me fez desviar a cabeça para o lado.

— Isso não é tão importante! — digo, dando de ombros. Vik


dá um tapinha na minha testa. — Ai, amor, doeu! — reclamo com
manha, e ele logo beija o lugar ‘“machucado”.

— Desculpe, mas às vezes você é irritante! — Viktor diz e eu


faço bico.

— Igual a você! — Rebato jogando na sua cara.

— Sim, sim, somos iguais, não é atoa que somos amantes! —


Aponta e eu solto uma risadinha.

— Você está coberto de razão! — Digo sorrindo largamente,


mas logo meu sorriso fecha um pouco. — Mas tem algo que não
entendo. — Falo lembrando de algo.

— E o que seria isso? — Indaga ele sério.

— Como você conseguiu impedir nossa família de virar a


economia de Madrid de cabeça para baixo? — Pergunto lembrando
que nossa família queria fechar as empresas dos pais dos envolvidos
na aposta.

— Eu intervi, porque sabia que você não ficaria feliz com isso.
— Diz ele calmamente. — Você é letal, malêch, mas tem um coração
amolecido. — A voz dele é doce ao dizer isso, mas logo assume um
tom perigoso. — Uma surra é o suficiente para não fazê-los esquecer
que são idiotas aproveitadores da boa vontade alheia. E que jamais
devem subestimar as pessoas por suas deficiências. — Vik conclui e
eu tenho que concordar com suas palavras.

— Acho que o recado foi dado com excelência, por isso não
precisa mais se preocupar com essas pessoas. Eles não fazem mais
parte da minha vida, tudo bem? — Pergunto e ele faz um som de
concordância.

Não sei o que devo pensar da atitude vingativa de Vik, mas


também não vou julgar. Por que se fosse o contrário eu não sei que
tipo de atitude eu teria. Só que de qualquer forma essas pessoas
realmente não fazem mais parte da minha vida, pois vivo uma vida
ao lado do homem que amo. Para que esse assunto fique no
passado, resolvo chamar Vik para jantar, pois sei que ele deve estar
bastante cansado da viagem e precisa de uma boa comida nutritiva.
Vik aceita minha sugestão, se levantando do sofá e me trazendo
junto a ele. Quando saímos do escritório consigo ouvir a voz
empolgada de Mikhail, acompanhado da voz poderosa de Dominick e
Natska. Reyes também está com eles, rindo de algo que Mika deve
ter dito, naturalmente na tentativa de chamar a atenção de Dom.

Caminho de braço dado com Viktor, que me repreendeu por


estar descalço mais uma vez. Porém desconversei, para não
sustentar essa briga que não dará em nada, porque enquanto eu
puder colocar meus pés no chão, assim irei fazer. No momento em
que chegamos na sala de estar fomos cumprimentados por todos.
Falo com Natska e Dom que eles fizeram falta por aqui, e que estava
feliz que eles voltaram em segurança. Eles são gentis comigo, como
sempre, e assim que iriam falar mais alguma coisa, Nadzhda
apareceu para dizer que o jantar estava na mesa. Fomos para a
mesa juntos, algo que comecei a implementar depois que me mudei
pra cá, e Viktor aceitou tranquilamente. Tenho a impressão que esse
meu homem adora fazer minhas vontades, e não posso dizer que
não gosto disso.

— Não esqueça de alimentar essas pestinhas! — Viktor diz a


sua governanta que faz um som afirmativo.

Sorrio ao ouvir os barulhos de patas correndo ao redor da


mesa de jantar. Tom e Sasha estão se divertindo, enquanto meu
namorado rabugento se irrita e manda eles ficarem quietos, mas
nenhum dos dois está muito a fim de atender seu chamado.

— Tenham um bom jantar! — Nadzhda fala de modo


profissional, chamando os animais para irem com ela. E sem
nenhuma surpresa, eles vão imediatamente!

— Quando se trata de comer todo mundo sabe se comportar.


— Mika fala com ar de riso e sua irmã faz um som de desgosto.

— Incluindo você, não é mesmo? — Nat pergunta irritada.

— Você me conhece muito bem, irmãzinha! — Mika diz em


tom brincalhão.

— Aqui está, Jus! — Vik diz colocando meu prato na minha


frente, me indicando o que tem no prato e cada localização.

Tem como não amar esse cuidado?


— Obrigado, meu amor! — Agradeço sorrindo e ele alisa
minha cabeça.

— Coma bem, malêch! — Diz e eu assinto com a cabeça.

— Pelo amor dos deuses, parem de judiar dos solteiros à


mesa! — Mika diz com uma tristeza falsa.

— Levante da mesa e fique sem jantar! — Vik diz duramente,


o fazendo calar na mesma da hora.

— Nunca, Boss! — Diz corajoso e ouço o bufar de Dom.

— Fique quieto, Griboedov! — Dom diz friamente e ele solta


um suspiro alto.

— Boss, o senhor irá se encontrar com os Harbor amanhã,


certo? — Natska pergunta a Vik impedindo seu irmão de ser expulso
da mesa pelo meu namorado.

— Sim, eles virão pegar a mercadoria! — Viktor diz e eu


franzo o cenho.

— Espera, pensei que as armas iriam ser mandadas para


Miami. — Paro confuso. — O que mudou? — Pergunto com
curiosidade.

— Aleksandr não conseguiu uma rota para Miami. Há uma


família da Bratva lá, mas eles não estão em bons termos com ele —
Viktor explica, e eu concordo com relutância.

— Mas isso não será perigoso para você? — Questiono com o


cenho franzido.

— Um pouco, mas tenho que arriscar! — A voz de Viktor é


profunda e decidida.

— Não precisa se preocupar tanto, Justin, os meus homens


irão vir com o carregamento. — Natska diz, naturalmente falando
dos irmãos Glinka, dos quais já ouvi eles conversando.

— Sem falar que ninguém sabe que a mercadoria está vindo


amanhã! — Mika diz com a boca cheia e ouço o som do tapa.

— Engole antes de falar, seu animal! — Nat reclama e ele


solta um grunhido.

— Isso se não houver nenhum vazamento de informação. —


Reyes diz repentinamente chamando a atenção de todos.

— Porra, é verdade! — Mika diz quebrando o silêncio.

— Vamos ficar mais atentos do que de costume! — Dominick


ressalta e eu concordo com a cabeça.

— Essa entrega deve ser feita amanhã de qualquer maneira!


— Vik diz em tom profundo. — Só fiquem em alerta e vamos lidar
com qualquer merda que possa acontecer! — Conclui ele e eu
aperto sua mão na minha.

— Estarei do seu lado, querido! — Digo segurando sua mão.


— E não vou aceitar uma negativa vindo de você, tudo bem? — Falo
e ele pressiona sua mão na minha com mais força.

— Certo! — Vik confirma me fazendo sorrir. — Agora vamos


terminar o jantar! — Induz ele e todos voltam a atenção para sua
própria comida.

Não posso dizer que não estou apreensivo com essa entrega,
mas seja como for vamos lidar com isso juntos. E nos manter em
segurança, por que essa sim é a prioridade.
O dia seguinte foi tranquilo apesar dos pesares, tentamos
evitar falar muito sobre isso, focando somente nos preparativos. Só
que esse silêncio foi só até quando Viktor recebeu a ligação de que o
jatinho dos Harbor estava perto de aterrizar. Depois disso seguimos
viagem para encontrá-los em uma pista clandestina, longe do radar
da polícia e da vigilância constante dos Yegorov. O avião trazendo as
armas tem uma previsão de chegada no final da tarde, e Viktor
marcou de se encontrar com os Harbor praticamente num horário
próximo. Para evitar que movimentos desnecessários sejam feitos,
como levar para outra localização e só depois levar ao encontro dos
Harbor. Essa foi a melhor solução que eles puderam encontrar, e
para falar a verdade acho que é realmente o melhor a se fazer.

Não posso dizer que não estou nervoso, mas confio em Viktor
e sei que ele vai conseguir seguir com seus planos. Essa vai ser a
primeira vez que estaremos fazendo esse tipo de coisa juntos, mas
não consigo seguir com o seu pedido de me manter em um local
seguro, ainda mais em um momento tão delicado como o de agora.
Mesmo que ainda não haja nenhum indício de que eu tenha um alvo
nas minhas costas, por conta da morte de Yuri — causada por mim
—, de qualquer forma eu não conseguiria permanecer no conforto
do apartamento, ou em qualquer outro lugar, sabendo que Viktor
poderia estar em perigo.

— Você deveria ter ficado no apartamento, Jus! — Vik diz


chamando minha atenção. Aperto a bengala em minha mão com
força e viro minha cabeça na sua direção.

— Nem pensar, já deixei claro que estarei do seu lado e é


assim que vai ser! — Digo com firmeza e ele respira fundo.
— Eu sei, você é incrivelmente teimoso às vezes! — Diz ele
duramente e eu sorri.

— Esse é um dos meus charmes, meu amor! — Respondo


dando um sorriso de lado e ele segura o meu queixo, aproximando o
meu rosto do seu.

— Muito charmoso mesmo, tão charmoso que quero devorá-


la o tempo todo. — Sua voz sussurrada contra os meus lábios me
fazem engolir em seco.

— Pare com isso! — Mando com a voz baixa, tentando afastá-


lo de mim, pois estamos no carro na companhia de Dom e Reyes.

— Parar com o que, querido? — Indaga ele com tom de


provocação.

— Você sabe com o que, agora fique quieto! — Mando


sentindo minhas bochechas esquentarem.

— Oh, meu doce Justin! — Vik fala dando uma risada rouca,
enquanto alisa minha bochecha ruborizada.

— Chegamos, senhor! — Dominick fala chamando minha


atenção.

— Certo! — Responde Vik. — Vamos, malêch? — Pergunta e


eu confirmo com a cabeça.

Sinto o carro parar seus movimentos, e espero que Viktor saia


do carro para poder sair logo em seguida. Coloco os óculos escuros
que estavam guardados no bolso do meu sobretudo, seguro minha
bengala e aceito a mão estendida de Viktor. Que já abriu a porta do
carro e saiu, esperando para que eu o ajudasse como guia. Assim
que coloco meus pés para fora do veículo entro no modo de
vigilância rapidamente, tentando pegar qualquer nuance estranho do
ambiente. No entanto, o que consigo sentir é o vento frio e cortante
no meu rosto, e o barulho do motor do jatinho, que acabou de
aterrissar, ecoando no hangar. O cheiro de óleo queimado e metal
fazem cócegas no meu nariz, mas tento me desligar desses cheiros
insignificantes, para focar no meu objetivo. Guardo a minha bengala
no bolso interno do meu sobretudo, deixando com que só Viktor faça
o trabalho de me levar junto a ele.

Ouço um barulho distinto de pessoas no local, alguns deles eu


consigo diferenciar muito bem, pois são os homens de Viktor.
Dominick e Reyes estão andando dois passos à nossa frente, Natska
e Mikhail, que acabaram de descer do outro veículo, correm a passos
rápidos para se posicionarem atrás de nós. Mika fica ao meu lado
direito e Nat ao lado esquerdo de Viktor. Caminho sem medo,
mantendo a atenção nos arredores, pronto para agir caso algo saia
do nosso controle. Como de costume, Reyes me avisa que à frente
há um casal. Ambos têm estaturas semelhantes, e estão muito bem-
apresentados. A mulher usa um macacão preto elegante, saltos altos
e tem cabelos castanhos claros soltos. O homem veste um terno de
três peças, e na cintura dele está visível uma arma automática de
baixo calibre.

Os dois ostentam um sorriso amigável, fácil de conversar, o


que me deixa aliviado por algum motivo. Isso mostra que, de fato,
são pessoas amigáveis conosco. Agradeço a Reyes em tom
moderado, e ele faz um som de confirmação em resposta.

— Jaxon, obrigado por ter atendido prontamente ao meu


pedido! — Viktor diz em tom moderado, mas sério, no instante que
nos aproximamos do casal.

— Eu estava em dívida com você, desde o momento que me


ajudou a chegar até a minha mulher! — O homem chamado Jaxon
responde de modo amigável. — Falando nisso, deixe-me apresentar,
essa aqui é minha esposa. Valentina Harbor! — O homem apresenta
sua esposa com orgulho na voz.

— Bom saber que a senhora Harbor está bem! — Viktor diz


lisonjeiro, mas logo sinto seu olhar em mim. — Esse aqui ao meu
lado é o meu futuro marido, Justin Aandreozzi. — O tom de Vik
muda quando ele se direciona para mim, e isso me causa um
sorriso.

— Prazer em conhecê-los, senhores Harbor, estou grato pela


ajuda de vocês! — Digo educadamente e ouço o arfar do senhor
Harbor.

— Se não for indelicado, permita-me dizer que vocês dois


fazem um casal muito bonito juntos. — Valentina diz me causando
um sorriso sincero.

— Muito obrigada, eu posso não enxergar, mas, sinto uma


vibração impressionante vindo de vocês. — Digo com sinceridade.

— Oh, fico muito feliz em ouvir isso! — Valentina diz com um


sorriso na voz.

Valentina se aproxima de mim, enquanto Viktor vai até Jaxon


para poder fazer os últimos preparativos juntos. Converso com a
senhora Harbor, percebendo de fato que não estava errado com a
minha análise, ela é realmente uma mulher com uma boa vibração.
E mesmo que estejamos em uma conversa aleatória, meus ouvidos
estavam atentos a qualquer sinal estranho.Em determinado
momento, o avião trazendo as cargas chegou, fazendo com que
tanto os homens de Viktor quanto os homens trazidos pelos Harbor
se colocassem em movimento. Mesmo daqui ouço Natska falar com
dois homens estranhos, que suspeito serem os irmãos Glinka.
Gostaria de poder conhecê-los, mas haverá outro momento para que
as apresentações sejam feitas. O foco agora é outro, pois ouço os
comandos em russo de Viktor, pedindo que o carregamento seja
repassado para o avião dos Harbor.

O andamento da transferência está ocorrendo muito bem, fico


conversando com Valentina. Reyes fica ao nosso lado, pronto para
atender a qualquer pedido que precisemos, enquanto Mika ajuda
com as outras tarefas a serem feitas. Sinto que posso relaxar e até
penso em convidar o casal Harbor para que, em outro momento,
possamos ter um tempo de distração. Porém, toda a minha ideia de
relaxar cai por terra quando ouço uma movimentação estranha.

— Você e o Viktor poderiam ir… — Valentina começa a sugerir


algo, mas a interrompi erguendo minha mão.

— Desculpe interrompê-la Valentina, mas poderia ficar atrás


de mim? — Peço rapidamente e ela faz um som de surpresa.

— O que houve? — Pergunta ela e eu não digo nada e


direciono minha atenção a Reyes.

— Reyes! — Chamo meu segurança que vem ao meu lado.

— Sim, senhor Aandreozzi! — Diz ele seriamente.

— Alerte a Viktor — Digo friamente erguendo minha mão.

Reyes entendeu perfeitamente a minha intenção ao estender


a mão, por que logo sinto a textura do punho da minha espada
sendo passada para mim. Ouço o soluço surpreso de Valentina atrás
de mim, mas faço um sinal de silêncio com os dedos e ela atende o
meu pedido ficando quieta. Ignoro as vozes já conhecidas, me
concentrando nas possíveis situações que ocorrem paralelamente.
Inclino a minha cabeça levemente, os ouvidos atentos aos sons ao
redor. Finalmente eu escuto algo que os outros não perceberam
ainda: passos pesados, o som abafado de armas sendo carregadas e
o clique metálico de um fuzil sendo preparado para disparo.
— Eles estão aqui! — Paro mais uma vez, desembainhando
minha espada.
— O quê?! Como você sabe? — Valentina questiona com um
tremor na voz.
— Jus, o que está acontecendo? — Viktor vem até nós
rapidamente, ao ser informado pelo ponto de comunicação.
— Emboscada! — Respondo simplesmente, e isso é tudo o
que preciso para que eles também comecem a se preparar.
Fecho minhas pálpebras atrás dos óculos escuros e respiro
fundo, dando um passo à frente, virando o rosto levemente na
direção certa.
— Vinte homens. — Digo friamente. — Seis vindo na direita,
quatro cobrindo a entrada principal, dez circulando pelo flanco
esquerdo. — Paro novamente e logo assinto com a cabeça. —
Cuidado, eles estão usando silenciadores. — Consigo perceber o
enrosco do metal nas armas.
— Droga… Vamos abortar? — Jaxon pergunta em dúvida.
Aperto meus lábios juntos com força, ouvindo o som de uma
bota raspando no concreto, giro novamente a cabeça na direção
certa.
— Não! Vamos terminar isso. — Revelo direcionando minha
cabeça para Viktor.
— Porra, vocês ouviram, vamos terminar com essa merda
rapidamente! — Viktor grita para seus homens, que aceleram o que
estavam fazendo.
— Sim, Boss! — Os homens de Viktor respondem em
uníssono.
— Querido? — Valentina chama o marido que vem até ela.
— Fique tranquila, baby, estou com você! — Jaxon respondeu
entre dentes, arrumando suas próprias armas.
— Malêch, estarei ao seu lado! — Viktor diz e eu dou um
sorriso de lado.
— Eu sei que sim, vamos lutar juntos, meu amor! — Digo e
logo sinto um beijo nos meus lábios.
— Sim, juntos! — Viktor diz destravando suas armas. Um som
lindo de se ouvir!
De repente, um estrondo ecoa, o vidro de um dos galpões do
hangar explode, enquanto o fogo cruzado começa. Agora é hora de
mostrar a esses desgraçados o quão incômodos eles estão sendo
agora!
Vou arrancar as cabeças dos inimigos de Viktor e as
entregarei a ele como um presente, junto com todo o meu amor.
CAPÍTULO 31

Temos pouco tempo para poder finalizar o transporte das


caixas com as armas que foram enviadas por Aleksandr para o
jatinho dos Harbor. Dominick, Mikhail e Natska estão trabalhando
juntos com os seus próprios homens e com os homens dos Harbor,
para que agilize ainda mais a operação. Tensão está no ar, todos
estão em alerta máximo, deixo Justin junto a mim, não posso
permitir que ele saia das minhas vistas. Por mais que eu confie
plenamente no seu treinamento, prefiro mantê-lo sob minha
vigilância. O casal Harbor também está em alerta máximo. Vejo
Jaxon conversando calmamente com sua esposa, que assente com
algo que ele diz e aceita a arma que ele coloca em suas mãos. Grito
para que corram mais rápido com as caixas, e recomendo para que
deixem o jatinho pronto para a partida. Chamo os irmãos Glinka,
que estavam sendo coordenados por Nastka, e ao ouvir meu
chamado eles olham na minha direção.

— Sim, senhor! — Respondem prontamente e eu aponto para


o casal Harbor.
— Vocês, cuidem para que eles entrem nesse maldito jatinho
em segurança. — Falo entre dentes e eles concordam.

— Não, eu posso ajudá-lo a lidar com isso. — Jaxon sugere


com confiança.

— Isso não é problema seu, Harbor, não posso deixá-lo se


envolver mais nisso. — Nego rapidamente.

— Acho que já estou envolvido, não acha? — Questionou


arqueando a sobrancelha.

— Sua ajuda é muito bem vinda, então, só chegue nesse


jatinho e leve essas armas embora daqui. Não posso deixar que
esses desgraçados as tenham! — Aperto minhas armas em punhos
com força. — Isso já vai ser uma ajuda sem precedentes! — Concluo
e ele respira fundo.

— Tudo bem, farei isso! — Diz ele arrastando sua esposa para
seus braços. — Vamos querida, lembre-se de estar em alerta! —
Jaxon diz e a senhora Harbor assente com a cabeça de modo rígido.

— Certo! — A senhora Harbor diz com determinação nos


olhos.

— Dois minutos, Viktor! — Justin diz ficando de costas para


mim.

— Vão, vão, vão, corram para o jatinho! — Berro em aviso.

Vejo Jaxon e sua esposa correndo em direção ao jatinho,


seguidos pelos irmãos Glinka, que ajudam os homens do Harbor a
garantir a segurança do casal. Já próximos ao jatinho, os gângsteres
dos Harbor avançam dois passos à frente, enquanto Jaxon tenta
fazer com que sua esposa seja protegida por um de seus homens.
Mas antes que ela pudesse finalmente subir, o som de uma explosão
pequena nos atinge. Rapidamente, o rugido distante dos motores do
jatinho se mistura ao som abafado de tiros ricocheteando no asfalto
rachado da pista.A névoa do cair da noite se misturava à fumaça das
balas traçantes, criando uma cortina opaca que dificultava enxergar
mais do que alguns metros à frente. As luzes fracas das laterais da
pista piscavam de forma intermitente, aumentando a sensação de
que estavam todos à beira de um verdadeiro inferno sangrento.

Começo a atirar também, e ouço Justin atrás de mim dar seus


comandos a Reyes, e quando dou por mim ele sai em disparada
junto com seu segurança. Mas ele não vai longe, ele só correu
poucos metros para poder interceptar quatro homens que vieram até
nós. Homens esses que se esconderam muito bem de mim, mas não
de Justin, pois ele é um ser tão excepcional que não deixa nada
passar por ele. O observei dançar com sua espada como um deus da
morte, enquanto Reyes ia atirando nos corpos jogados no chão por
Justin, para que assim os eliminasse com precisão. A cada giro que
Justin dava, eu podia ouvir os gritos dolorosos dos seus inimigos, era
como se uma tempestade turbulenta os levassem para longe. E
porra, isso é simplesmente fascinante de se ver!

Engulo em seco, hipnotizado. Eu sei que deveria estar


ajudando, mas não conseguia tirar os olhos de Justin. Esse é o meu
Justin, e porra, ele é incrível demais!

— VIKTOR À SUA ESQUERDA! — Justin grita me acordando


totalmente.

Sem precisar de mais palavras, sendo guiado pelo meu


namorado letal, eu viro o meu corpo para a direita, posicionado
minhas armas para a esquerda. Os meus tiros são limpos, para logo
ver um corpo alongado caindo no chão sem vida. Noto que Dominick
e Natska também entram em confronto, mas com eles eu não
preciso me preocupar, eu sei o nível que eles estão. Os casal Harbor
finalmente entra no jatinho, e assim que Mikhail e os seus homens
terminam de realocar a última caixa contendo as armas. Enquanto
continuo a atirar cegamente, vejo a porta do jatinho sendo fechada,
para que assim ele começasse a ganhar movimento na pista de
decolagem. Alguns desgraçados percebem isso e começam a atirar
contra o jatinho. Direciono minhas armas para esses infelizes,
porque, se uma bala dessas atingir o tanque de gasolina, só o
inferno sabe o tipo de desastre que pode acontecer.

— Mikhail, vá até Justin! — Mando e ele assente.

— Sim, Boss! — Mikhail diz, fazendo exatamente o que


mandei.

— Dominick, não pare de atirar até esse jatinho ganhar


altitude! — Rosno em aviso, furioso com essa merda toda.

— Sim, senhor! — Fala e começa a me cobrir.

Com os outros ao meu redor enfrento os desgraçados que


estão tentando acabar com as nossas vidas e foder os meus planos.
Pelas informações repassadas por Justin, que seriam vinte homens,
consigo perceber que a contagem de mortos no chão chegou a isso,
mas ainda não posso ter certeza. O importante é que os Harbor
conseguiram sair daqui em segurança, eu me sentiria um filho da
puta se caso algo acontecesse a eles. Sendo que eles só vieram aqui
para poder me fazer um favor. Não consigo mais ver o jatinho, prova
que conseguimos fazer com que ele alcançasse altitude o suficiente
para que as pessoas que embarcaram fiquem em segurança.

Ao mesmo tempo que noto isso, também consigo ver que os


meus homens conseguiram terminar com o resto dos desgraçados
que tentaram atirar contra mim. Meu namorado que agora abaixou
sua espada, que está suja com o sangue dos nossos inimigos, vem
em minha direção sendo acompanhado por Reyes e Mikhail. No
instante que ele chega até mim, vejo que ele para, apertando o
punho da sua espada com força.

— Porra, um sniper! — Justin avisa enfurecido, enquanto vira


a cabeça.

Merda, agora isso! Filhos da puta, eles vieram preparados!


— Onde? — Pergunto ferozmente.

Justin mantém a cabeça levemente inclinada para o lado,


como se estivesse ouvindo algo muito além do alcance comum.
Observo suas pálpebras se fechando levemente através do pequeno
espaço do seus óculos escuros, mas logo seus olhos se abrem e
agora estão fixos em um ponto específico da estrutura metálica
acima dele. Mikhail se aproxima com cautela, mas em alerta pelo
repentino momento de tensão.
— Tem certeza? Não ouvi nada. — Mikhail questiona em
confusão.
Justin levanta a mão, interrompendo as palavras de Mikhail.
Ele vira o rosto um pouco mais para a esquerda de modo sereno.
— Na viga, sete metros à esquerda da janela que foi
quebrada! — Diz ele com uma precisão incrível. — Respiração
curta… Está nervoso. — Conclui de modo assustadoramente sexy.
Mikhail franze o cenho, puxando a arma para cima, os olhos
buscando o ponto indicado. Ergo minha cabeça também, mas até
mesmo eu não consigo ver nada daqui. Dou um passo na direção de
Justin, tento erguer minha mão para alcançá-lo, mas ele está em um
forte estado de concentração.
— Eu também não vejo nada, malêch. — Digo em forma de
sussurro, tentando não atrapalhá-lo.
Justin fecha os olhos novamente, inspirando lentamente. Ele
ergue sua espada para mim e coloca as palmas das suas duas mãos
no chão. Conheço Justin o suficiente para saber que ele está agora
tentando captar a vibração que o metal ecoa através do chão. Sei
disso porque já vi ele fazer isso algumas vezes, e mesmo sabendo
das coisas que ele é capaz de fazer, eu ainda sinto uma emoção sem
precedentes ao vê-lo desse modo tão magnânimo.
— Ele está segurando a arma com a mão esquerda. — Diz ele
em tom calmo e moderado. — O peso mudou… agora! — Justin diz
e logo conseguimos ouvir o rangido metálico.
— Nastka e Mikhail, agora! — Mando rapidamente
estendendo a minha arma na direção do som.
O sniper tenta correr através das vigas para alcançar o teto
do galpão, mas Natska é mais rápida atirando em sua perna. Isso
faz com que o sniper caia no chão em um baque surdo, ouço o seu
gemido, e ele tenta se erguer do chão para sair correndo, mas
Mikhail é mais rápido e se jogou sobre ele. Mikhail e o sniper entram
em luta corporal, o vejo puxar uma arma de sua perna, mas antes
que ele tenha chance de atirar, Dominick é mais rápido atirando bem
no meio da sua cabeça.

— Merda, precisávamos dele vivo! — Mikhail reclama com


ódio, mas Dominick o encara friamente.

— Você poderia ter morrido, me agradeça por salvar sua vida!


— Dominick fala, mas Mikhail o encara com fúria.

— Não tinha visto essa arma, droga! — Natska fala se


repreendendo.

— Tudo bem, não adianta se lamentar agora! — Reyes diz e


Justin assente.

— Reyes tem razão, o importante é que ninguém saiu ferido e


que conseguimos o que queríamos. — Justin fala calmante e eu o
puxei até mim, avaliando seu corpo.

— Você está bem? — Pergunto sem esconder minha


preocupação.

— Sim amor, estou bem e você? — Responde ele levemente.

— Você foi incrível, querido! — Digo deixado um beijo na sua


bochecha. — É impressionante como você sempre é capaz de me
surpreender. — Revelo vendo Justin sorrindo levemente.

E não estou falando isso da boca pra fora, ou como um


namorado apaixonado que está pronto para engrandecer o ego do
seu amado. Muito pelo contrário, eu verdadeiramente estou
encantado com o poder que Justin vem solidificando e aprimorando
todo esse tempo. Se não fosse Justin, essa noite poderia ser
desastrosa demais, poderíamos ter perdido mais homens do que os
poucos que perdemos. Sem falar que poderíamos agora ter que
enfrentar além da família Yegorov, os gângster de Miami também. A
família Harbor não ficaria feliz se Jaxon e sua esposa saíssem daqui
feridos, ou para piorar, sem suas vidas. Sem Justin aqui, não sei
como toda essa merda iria se desenrolar, mas ainda bem que ele
estava e que nada de ruim aconteceu com ele.

— Acho que agora conseguiremos sair daqui e ir para casa! —


Justin diz e eu faço um som de confirmação.

— Mandei meus homens cuidarem da limpeza, não queremos


atrair a atenção desnecessária da polícia de Nova York, certo? —
Comento e Justin concorda com a cabeça.

— Isso seria fatídico e… — Justin começa a falar, mas para ao


virar a cabeça com uma expressão tensa.

Porra, conheço bem esse jeito que ele fica, isso só mostra
que ele está captando alguma coisa. Idi narrui! (Puta que pariu!),
será que essa merda ainda não acabou?

— Porra, granada! — Justin rosna e eu fico sem entender. —


GRANADA, PARA O CHÃO AGORA! — Berra Justin em aviso e eu o
jogo para baixo.

De repente uma forte explosão é ouvida, e em poucos


instantes mais algumas bombas de fumaça começam a tomar conta
do galpão. Minha visão foi obstruída, mas mesmo assim consigo
ouvir o som de pneus de carro invadindo o lugar. Justin em meus
braços está com as duas mãos presas com força nos seus ouvidos.
Tento acalmá-lo, mas é sem sucesso, seus ouvidos são sensíveis
demais e ele não consegue ouvir minha voz. Enquanto tento me
levantar, para trazer Justin comigo, sinto o meu corpo ser jogado
abruptamente para longe dele.
Em meio à luta corporal com um desgraçado que já me socou
o rosto duas vezes, consigo bloquear quando ele tenta novamente.

Agarrando seu tornozelo para poder desestabilizar o seu


corpo, que cai em um baque surdo. Enquanto estou lutando com um
dos homens, noto que meus próprios homens começaram a trocar
balas com os invasores. Tento puxar a minha arma do coldre, mas o
meu abdômen é chutado por outro homem que vem a socorro do
capanga anterior. Desvio rapidamente dos seus golpes, conseguindo
assim erguer meu corpo com um pulo para cima. Consigo pegar
minhas armas para me livrar desses filhos da puta, e quando estou
pronto para pedir a localização de Justin, ouço o seu grito chegar até
mim.

— Não, Reyes! — Justin grita em desespero pelo seu


segurança. — Mika, o Reyes, levou um tiro! — Conta Justin em
desespero.

Olho na direção da voz de Justin para vê-lo segurar Reyes


que foi baleado na barriga. Mika corre até eles, mas antes que
finalmente os alcance, ele é jogado para o lado por um dos
capangas. Dominick, Natska e os irmão Glinka estão a alguns metros
de distância lutando também, por isso só me resta me livrar dos
meus próximos atacantes para poder correr até Justin. Porra, não!
Não vou permitir que esses filhos da puta machuquem o meu Justin!
Impulsiono os músculos das minhas pernas para poder tentar
alcançá-los, mas mais uma vez sinto uma dor forte, do lado direto,
que me faz cambalear. Ergo minha cabeça a tempo de ver o meu
lindo namorado ser arrastado para dentro de um SUV preto. Me
desespero, sentido o meu sangue ferver dentro das minha artérias,
mordo o maxilar com força, me transformando em uma máquina de
matar.

— BOSS, VAMOS! — Mikhail surgiu com armas em punho


para me ajudar com os últimos atacantes, enquanto Dominick para
com o carro diante de mim.
— Podem ir, vão, vão! Eu fico com o Reyes! — Natska grita
segurando e pressionando o ferimento do segurança de Justin.

— Vamos conseguir alcançá-los! — Dominck diz ansioso.

— Vai, porra! — Mando alcançando o carro.

Entro no carro sem pensar em mais nada, tendo Mikhail ao


meu encalço. Os pneus do carro cantam loucamente quando
Dominick coloca o carro para seguir em direção ao veículo no qual
Justin está sendo mantido. Minha mente grita para que eu vá salvar
Justin, eu tenho que conseguir chegar até ele o mais rápido possível.
Daqui consigo ver o SUV, eles tem uma certa distância de nós,
porém o nosso carro é mais rápido e conseguimos encurtar a
distância um pouco. Mikhail tenta puxar uma submetralhadora, mas
eu o impeço de atirar contra o carro à nossa frente.

— Está maluco, porra! Justin está ali! — Aviso em um tom


carregado de perigo.

— Eu sei, Boss, só precisamos atirar nas rodas para ganhar


um tempo! — Diz ele tendo a decência de ficar sem jeito.

— Mesmo assim, não atire até que seja realmente necessário!


— Mando e ele olha para Dominik pelo retrovisor.

— O chefe está certo, o senhor Justin pode fazer algo. Por


enquanto, vamos continuar tentando alcançá-los. — Dominick diz, e
eu cerro meus punhos com força.
— Justin vai nos dar uma ajuda, ele não vai ser mantido a
força desse jeito! — Minha voz é rígida e obscura.

— Olhe ali, Boss, parece que há uma movimentação dentro


do carro! — Mikhail diz apontando para o veículo à nossa frente com
o dedo indicador.

Não consigo ver muito bem por causa dos vidros escuros,
mas os faróis do nosso SUV são altos o suficiente para iluminar
algumas silhuetas. E sim, Mikhail está certo. Há uma movimentação
à frente, e, logo em seguida, um clarão vem de dentro, fazendo
minha respiração acelerar instantaneamente.Meu coração para por
um instante, quando vejo a cena bem diante dos meus olhos. E com
isso um medo fora do comum toma conta de mim. Isso porque o
carro à frente girou violentamente para a direita, perdendo
totalmente o controle. Os pneus derraparam no asfalto da pista de
decolagem, fazendo com que o carro atravessasse a pista e batesse
contra uma grade de proteção com um estrondo metálico. Daqui, é
possível ouvir os gritos de dentro enquanto o carro capotava até
parar, com o teto amassado.

— JUSTIN! — Grito em desespero ao ver essa maldita cena


passar bem diante dos meus olhos.

Abro a porta da porra do carro sem me importar se ele está


em movimento ou não. Corro na direção onde o acidente aconteceu,
mas no momento que chego perto o suficiente posso ver fumaça
saindo dos motores, e uma quantidade grande de combustível no
asfalto. Deus, eu tenho que tirá-lo de lá, tenho que fazer isso antes
que alguma dessas fagulhas de fogo alcance o combustível. Por que
se isso acontecer, vai ser tarde demais! Quando estou pronto para
alcançar o carro amassado ouço um baque alto, e uma das portas
do carro é forçada a abrir. Franzo o cenho quando noto que alguém
está saindo do carro, arrastando uma outra pessoa junto. Todo meu
corpo que está cheio de tensão relaxa no mesmo momento que noto
que a pessoa que está saindo é o meu Justin.

E fodido céus, ele está bem, ele está realmente bem!

Sem pensar em mais nada, me agilizo a chegar até onde ele


está. Daqui posso ouvir o Dominick pedindo para Mikhail ver se há
mais algum sobrevivente, mas nada disso me importa agora. Tudo o
que preciso é ter Justin nos meus braços para ter certeza de que ele
está respirando, se seu coração está batendo normalmente e se ele
não tem nenhum ferimento grave.
— Justin, você está bem? — Digo nervoso enquanto me
apresso em ir até ele.

— Desculpa a demora, mas pensei que você fosse precisar


interrogar alguém! — Justin diz ofegante, mas tão tranquilamente
que faz o meu peito bater com força. — E Reyes, ele está bem? —
Pergunta lembrando do seu segurança ferido, mas eu estou mais
preocupado com ele.

— Isso não me importa agora, eu só preciso saber se você


está bem! — Falo duramente, tentando segurar o seu ombro, mas
Justin se esquiva com dor. — O que foi isso? — Questiono
apreensivo.

— Relaxe, amor, acho que desloquei meu ombro! — Justin diz


como se não fosse nada e eu mordo meu maxilar com força.

— Venha, eu vou te levar para o médico avaliar! — Digo


abruptamente e ele respira fundo.

— Amor, se acalme, olhe para mim! — Justin segura meu


rosto. — Respira, Vik, eu estou bem! — Sua voz é como uma dose
tranquilizante para mim.

— Você está machucado, malêch! — Aponto segurando os


dois lados do seu rosto.

— Eu sei, um ombro deslocado não é nada! — Diz ele dando


um sorriso de lado.

— Como você pode dizer isso? — Reclamo e ele deixa um


beijo nos meus lábios.

— Eu estou bem! — Diz ele, e eu respiro fundo, colando


nossas testas juntas.

— Cacete, eu não acredito! — Mikhail diz de repente. — A


pessoa que está sendo levada pelo pequeno chefe é... filho da puta!
— Mikhail aponta para baixo de Justin.

Pela primeira vez desde que alcancei Justin, eu consegui


desviar os olhos para outro lugar que não fosse nele. Olho na
direção em que Mikhail está apontando. No primeiro momento, não
consigo reconhecer a pessoa, mas logo algo clareia em minha
mente. O homem no chão, desacordado, não é ninguém menos do
que Sergey Petrova. Um homem que pensei estar morto lá em
Moscou, mas que agora está aqui diante de mim, em Nova York.
Desgraçado inútil!

— Vou matá-lo, e vou terminar o serviço que pelo visto deixei


pendente em Moscou! — Grunhi sombriamente tentando ir até ele,
mas fui impedido por Justin.

— Não querido, se você pegá-lo agora vai matá-lo! — Avisa


ele e eu concordo.

— Essa é realmente a intenção, ele tentou te tirar de mim! —


Falo perigosamente e ele solta um suspiro.

— Tive um trabalho grande em deixar alguém vivo para


interrogatório, não menospreze o presente que te dei! — Diz Justin
alisando o meu rosto.

— Mas ele precisa saber que ninguém deve tocar em você! —


Reclamo irritado e ele ri.

— Claro, claro, mas precisamos saber por que ele me tinha


como alvo, não? — Justin diz com um sorriso pálido.

— Você está com dor! — Reconheço o avaliando.

— Acho que eu posso estar com um pouquinho de dor! — Diz


ele fazendo uma careta.

— Vamos sair daqui! — Digo e ele assente com a cabeça. —


Dominick pegue esse desgraçado e coloque no porta-malas. —
Ordeno e ele concorda pegando Sergey que ainda está desacordado.
— Mikhail você dirige! — Indico e ele vai sentar no banco do
motorista.

Preciso de respostas, mas antes de qualquer coisa, a minha


prioridade máxima agora é cuidar do homem que amo. Depois que
eu tiver certeza de que ele está bem, eu posso destruir o mundo, se
assim for preciso.
CAPÍTULO 32

Na escuridão do meu quarto, sentado em uma cadeira


qualquer, segurando em minha mão um copo com vodka pura, eu
contemplo o rosto perfeito do meu Justin. Que dorme
tranquilamente após ter seu ombro recolocado por Czar, e tomar um
sedativo leve. Mandei o Czar fazer uma avaliação completa para
saber se, além do ombro deslocado e alguns hematomas, Justin
tinha alguma lesão interna após o acidente. Mas para minha
felicidade ele está bem, nenhum indício de sangramento interno, ou
qualquer outro tipo de lesão. Saber disso me trouxe um alívio
temporário muito grande, mas digo temporário porque eu sei que
essa merda ainda não vai acabar. Isso só terá um verdadeiro fim no
momento que eu tirar a vida de Vassily e Oleg com minhas próprias
mãos.

Não posso deixar que algo como o que aconteceu hoje


aconteça uma segunda vez. Mesmo odiando o fato de ser o herdeiro
da máfia, eu ainda sou o inferno dos herdeiros, eu me coloquei
nesse lugar em prol de cuidar das pessoas que amo na escuridão. E
não posso deixar com que esse mesmo mundo merda tente tirar o
meu homem de mim. Isso é algo que não posso aceitar! Não
precisei pensar demais para saber que isso vai além da guerra de
território. Isso é uma retaliação contra mim, mas principalmente a
Justin por ter tirado a vida de um dos membros da família Yegorov.
Devo mostrar a esses desgraçados dos Yegorov que o poder que
tenho hoje em minhas mãos não é de enfeite, se eles querem tanto
me provocar e tirar a minha mente do sério, então eu devo mostrar
a eles que não é a vida do meu Justin que está em jogo e sim a
deles.

Farei que tanto essa familiazinha de merda, quanto qualquer


outra que apareça, que não sou um homem com quem se deve levar
de ânimo leve. Matarei cada um deles, destruirei tudo o que eles
acham que lhes pertence, e vingarei as injustiças contra o meu pai.
Nem que após tudo finalizado a minha vida seja tomada no
processo. Vou fazer Oleg Yegorov lembrar das coisas sujas que ele
fez com o meu pai, nem que para isso eu tenha que fazê-lo engolir o
seu próprio pau através de sua boca porca e nojenta. E além disso
vou mostrar a ele que sua família não é nada comparada à minha,
pois eles tentaram tirar o que mais amo nesse mundo, o meu ponto
de equilíbrio e a luz que me guia nesse túnel infinito de obscuridade.

— Vik! — A voz sonolenta chega aos meus ouvidos, me


tirando totalmente dos pensamentos violentos.

— Estou aqui, malêch! — Respondo de modo rouco.

— Como está o Reyes? — Pergunta com sono e eu solto um


suspiro.

— Ele foi atendido pelo Czar, está fora de perigo, mas agora
um enfermeiro está cuidando dele. Pode ficar tranquilo, ele está
bem. — Digo com a voz distante.

— Hum.. isso é bom! Fico aliviado! — Justin diz piscando


algumas vezes.
— Sim! — Respondo de modo sucinto.

— Vem aqui, por que está longe? — Justin pergunta em


dúvida.

— Eu só… — Tento dizer, mas as palavras simplesmente não


saem.

— Você está bebendo? — Pergunta com dúvida na voz, e


mesmo daqui posso ver seu nariz franzir um pouco.

— Sinto muito! — Peço e ele faz um som com a língua.

— Querido, vem aqui? — Justin diz erguendo seu braço que


não está imobilizado.

— Acho melhor não, Jus, você precisa descansar. — Digo com


a voz baixa, bebendo um pouco do líquido do meu copo, que desce
rasgando em minha garganta.

Justin fica quieto por um tempo, espero que ele diga algo,
mas acho que desistiu e finalmente ouviu meu pedido de tentar
voltar a dormir. É melhor assim, ele precisa descansar, eu estive
segurando sua mão enquanto Czar colocava seu ombro no lugar e
sei que deve ter doído bastante. Digo com certeza porque já tive um
ombro deslocado e não é algo que as pessoas querem passar. Dói
feito uma cadela! Ver meu Justin sentir dor daquela maneira,
enquanto sua testa estava molhada de suor, e o rosto vermelho
tentando não gritar de dor, acabou comigo. E fiquei mais triste
porque percebi que ele estava sentindo tudo isso por minha culpa.
Se eu não tivesse permitido que ele entrasse em meu coração, a
vida dele poderia ser muito melhor.

Talvez, só talvez, o lugar de Justin não seja ao meu lado.


Blyat! Só o pensamento disso faz meu peito doer de uma forma que
nunca havia doído antes. Aperto a mão contra meu peito, tentando
aliviar essa dor tão terrível.
— Viktor, se você não vier até mim, não me culpe se eu for
até você e acabar me machucando no processo. — A voz de Justin é
fria me tirando dos devaneios no mesmo momento.

— Justin, espera! — Digo nervoso quando o vejo tentar


levantar da cama.

— Esse é meu último aviso, Viktor Aandreozzi! — Diz ele com


fúria e eu respiro fundo.

Me sentindo totalmente sem saída, eu passo a mão no meu


cabelo desalinhado, termino de tomar a minha bebida em um único
gole e levanto da cadeira. Me aproximo devagar da cama, e
respirando fundo mais uma vez, eu tomo a mão de Justin na minha.
Ao sentir o calor da sua mão eu sinto o meu coração bater com
força no meu peito, porque o seu calor me mostra que ele está vivo
e bem, diante de mim. Me agacho ao lado da cama, trazendo a sua
mão para minha testa, fechando os meus olhos com força para
acalmar o meu coração desesperado.

Meu Justin está bem, ele está aqui comigo!

— Amor, por favor, pode me abraçar? — Justin pede baixinho.

Tem como recusar um pedido desses? Ainda mais ele falando


dessa maneira tão manhosa? Não, é impossível!

— Claro, malêch! — Digo rapidamente sentando na cama.

Passo meus braços em volta do seu corpo com cuidado para


não machucá-lo. Justin bufou pelo cuidado excessivo e encostou sua
cabeça na curva do meu pescoço. Aspirando o meu cheiro
profundamente, e o calor da sua respiração no meu pescoço faz com
que eu aperte mais o meu braço em volta da sua cintura, o trazendo
para mim. Eu quero manter Justin assim para sempre, pois aqui sei
que ele está protegido e que ninguém ousaria tentar levar ele de
mim novamente.
— Seja lá o que esteja passando pela sua cabeça é melhor
parar! — A voz cheia de aviso de Jus faz meu corpo ficar tenso.

— Como você sabe o que estou pensando? — Questiono de


modo leve.

— Eu sempre sei o que passa na sua cabeça, Vik, ainda mais


em momentos como esses. — revela ele alisando a minha testa com
a ponta do seu dedo indicador.

— Pode contar o que estou pensando agora? — Pergunto


alisando a lateral da sua cabeça.

— Tem certeza? — Indaga ele, piscando algumas vezes suas


pálpebras.

Digo isso porque sinto os seus cílios alisando a pele do meu


pescoço. E para mim isso é tão terno, tão fodidamente fofo que nem
sei como explicar, mas parando para pensar tudo que envolve Justin
é fofo e terno.

— Sim, amor, eu gostaria de saber! — Falo tranquilamente.

Dou meu aval para que ele diga o que quiser dizer, percebo
Justin ficar quieto por um tempo, mas quando ele começa a falar, eu
sinto o meu corpo tensionar mais uma vez.

— Você se culpa, mas não deveria, eu estou bem e estou aqui


com você agora. Não vê? — Diz ele e suas palavras são como um
soco no meu rosto. — Sei que você é um homem que controla tudo
à sua volta, não julgo, porque você é assim, Vik! — Ele para um
curto tempo, mas logo volta a falar. — Você foi criado ao lado de
pessoas terríveis, em um mundo mais terrível ainda, assim como eu.
Nossa infância não foi nada fácil, existem coisas que não podemos
esquecer jamais, mas meu amor, tudo nessa vida leva tempo e
tenho fé que você vai lidar com tudo muito bem. — Justin diz e eu
vejo um pequeno sorriso nos seus lábios.
— Você é realmente um homem muito inteligente, malêch! —
Digo em tom resignado, apertando mais o seu corpo contra o meu.

— Não acho que sou o homem mais inteligente, mas com


certeza sou o homem mais louco por você e o que mais te ama! —
Justin diz e eu não resisto em querer beijá-lo.

— Sim, meu amor, eu também sou louco por você, e o meu


amor por você vai muito além. — Minha voz sai carregada de
emoção.

— Me ame, Vik, tenha certeza que estou bem, que meu corpo
pertence somente a você. — Justin pede com a boca colada à
minha.

— Mas você está com o braço imobilizado, querido! — Lembro


e ele negou com a cabeça.

— Isso não vai me impedir de querê-lo dentro de mim! — Sua


voz sai em forma de sussurro.

Sem que eu estivesse esperando, Justin aprofunda o nosso


beijo, enfiando sua língua macia e quente na minha boca,
procurando pela minha. Não consigo resistir por muito tempo, pois
logo correspondi ao seu beijo com todo fervor que há dentro de
mim. É tão gostoso beijar esses lábios, é sempre bom provar o gosto
alucinante que só o meu Justin é capaz de ter. Mordisco, lambo e
chupo sua língua com gosto, apertando as minhas mãos na sua
bunda redonda, sexy e que me enlouquece. Porra, como posso
conseguir pensar em alguma coisa sendo que tudo o que quero
agora é afundar o meu pau dentro dele. O meu pênis está tão duro,
cheio e latejante que nem consigo pensar direito, sinto sua
mãozinha safada alcançar o cós da minha calça.

No entanto, evito que ele faça o que sei que ele quer fazer,
por que não quero gozar na minha cueca como um menino virgem.
Se Justin quer que eu o devore, farei isso, porque é tudo o que
minha mente sádica deseja nesse momento. Com isso em mente eu
arranco a parte de baixo do seu pijama e sua cueca com cuidado
para não machucar seu ombro. Peço para que Justin não se mexa e
que deixe todo o trabalho comigo, ele não diz nada e assente com a
cabeça. Observo seus olhos nublados de desejo, suas bochechas
vermelhas e seu lindo pau também rígido, com a umidade da ponta
pingado no lençol da minha cama. Mordo o meu lábio inferior com
força para evitar de gemer com essa visão maravilhosa. Meu peito
se enche de orgulho, porque sei que ele está desse jeito por minha
causa, por causa do seu desejo por mim.

Porra, eu sou um completo fodido!

Tiro minhas roupas enquanto vou até a mesinha ao lado da


cama, abro a gaveta e pego um tubo de lubrificante. Observo Justin
desabotoar a parte de cima do seu pijama, mas evito que ele o tire.
Eu o quero assim mesmo, não me importo, contanto que eu possa
marcá-lo agora, nada mais é relevante. Após pegar o lubrificante,
sento na cama novamente, só que dessa vez puxei Justin para
encaixá-lo no meu colo. Molho dois dedos com bastante lubrificante
e introduzo no seu cuzinho apertado, o ouço arfar de surpresa pela
invasão repentina. Volto a beijar seus lábios saborosos, enquanto
alargo a sua entrada para poder me receber com cuidado. Enquanto
brinco com sua bunda escorregadia, quente e apertada, ouço os
seus gemidos de prazer.

— Vik, por favor, coloque seu pau em mim! — Pede Justin


empurrando sua bunda para trás à procura de mais prazer com os
meus dedos.

— Eu vou amor, mas preciso que você fique pronto. — Digo


com a voz rouca.

— Não, eu quero! — Diz ele de modo suplicante.

— Olha você todo mandão! — Brinco dando um sorriso rouco.


— Amor, mete em mim! — Jus diz e eu engulo em seco.

— Porra, Justin, você pedindo desse jeito fica difícil resistir! —


Mordo seu queixo enquanto coloco a cabeça do meu pau aos poucos
dentro dele.

— Ahhh… tão gostoso! Oh, isso é tão gostoso, Vik! — Justin


diz ao aceitar o meu pau todo dentro dele.

— Porra! — Digo fechando meus olhos, tentando controlar o


meu instinto de querer foder ele com força.

Seguro a pélvis de Justin com força, apertando sua carne


entre meus dedos, sem me importar se vou deixá-lo marcado ou
não. Gemo contra o seu ouvido, enquanto controlo os movimentos
do seu quadril, evitando que ele faça esforço desnecessário para não
machucar sua lesão. Fodo o seu cuzinho com força, o fazendo subir
e descer do meu pau, me deliciando com o prazer que queima
dentro de mim. Justin lambe a minha clavícula, deixando rastros
molhados ali, e isso me deixa mais excitado. O choro trêmulo de
Justin me diz que ele está louco para poder alcançar o orgasmo, e
como estou me sentindo do mesmo jeito evito deixá-lo sofrer sem
necessidade. Alcanço o seu pau com minhas mãos, usando o atrito
para poder conduzi-lo mais ainda a ficar à beira da libertação.

— Ah, eu preciso… droga! — Antes que eu pudesse dizer


qualquer coisa, sinto os jatos quentes do seu esperma na minha
barriga. — Viktor! — Justin chama meu nome, e eu ao ouvir isso,
gozo sem conseguir me conter.

— Merda, porra, que delícia! — Digo fechando meus olhos


gozando loucamente, enquanto pressiono mais a sua bunda contra o
meu pau.

Não sei quanto tempo me sinto à deriva, no meio de um


orgasmo enlouquecedor. No entanto, não demora muito para que eu
perceba que o corpo de Justin desmorona contra o meu. Logo de
cara me assusto pensando que ele deve ter desmaiado de dor, mas
me acalmo quando vejo que não. O orgasmo foi tão intenso que
Justin caiu em sono profundo logo em seguida. Tento não rir, só que
é impossível. Aliso seus cabelos na testa suada, deixo um beijo terno
ali, me retiro de dentro dele e o deito na cama com cuidado. Vou
pegar uma toalha, molho a toalha com água quente para poder
limpar o seu corpo. Depois de limpo e refrescado, visto seu pijama
novamente, o cubro com o cobertor dando um beijo doce nos seus
lábios logo em seguida.

Justin dorme de modo relaxado, sorrio com essa cena fofa e


vou tomar um banho. Termino meu banho e vou direto procurar um
terno para usar. Mando uma mensagem para Natska para que ela
fique à minha espera, depois disso terminei de vestir minhas roupas.
Ao sair do closet deixo mais um beijo em Justin e saio cheio de
determinação, me sentindo revigorado.

— Dominick, você fica e cuida da segurança com os Glinka! —


Mando e ele assente.

— Como quiser senhor! — Diz em tom sério.

— Você vem comigo, Natska! — Aviso e ela concorda.

— Tudo bem, Boss! — Fala ela e eu assinto.

Quando dou um passo para poder seguir Nastka para o


elevador da minha cobertura, sinto patinhas rechonchudas subirem
em mim. Olho para o lado e encontro Sasha subindo da minha calça
até o meu ombro. Ergo a mão para acariciar sua cabeça, e noto que
Tom me encara, como se eu soubesse que ele quer ficar ao lado de
Justin agora.

— Tudo bem garoto, pode ir — Falo com Tom, que correu até
o meu quarto. — Aqui, Dominick, leve Sasha e não deixe ele entrar
no quarto para não fazer bagunça. — Aviso e ele concorda
brevemente.
— Vá com segurança, senhor! — Manda Dominick e eu dou
um sorriso curto.

— Vamos, Natska! — Chamo e logo após saímos para o lugar


que precisamos estar.

A madrugada é silenciosa e chuvosa, criando o clima perfeito,


o que torna tudo ainda mais agradável no momento em que chego
ao Paradise. O estabelecimento comercial está fechado, mas existe
algo nesse lugar que foi projetado exclusivamente por mim, que
somente homens de minha total confiança têm acesso. Um túnel
subterrâneo, que foi construído para poder abrigar a fortuna em
ouro da Bratva. Vamos dizer que este é um legado dourado deixado
pelo meu tenebroso pai, reservado exclusivamente para mim. O que
é uma total besteira, porque nunca que o desgraçado do Maxim iria
deixar nada além de ódio para mim. Esse é o dinheiro que guardo
para usar em prol do meu bem, por que sem ele eu não poderia
ostentar o poder necessário que preciso dentro da “Irmandade”. No
entanto, isso é irrelevante no momento, porque além de guardar o
meu ouro, é aqui que mantenho as pessoas para interrogatório.

Me aproximo da sala onde Sergey está sendo mantido, tendo


Mikhail como a melhor companhia possível. De todos que estão ao
meu lado, Mikhail é aquele que chamamos quando precisamos de
uma boa tortu... quer dizer, de um bom bate-papo. Ele aprendeu
muito bem com os homens de Aleksandr, especialmente durante o
teste de lealdade à Bratva, onde passamos por intermináveis
torturas físicas e psicológicas. Ou seja, Mikhail é o homem certo para
conduzir uma boa e 'amigável' conversa com Sergey Petrova, que
insiste em não revelar o que sabe, tentando barganhar e
reafirmando que só falaria comigo e com mais ninguém. Foda-se! Eu
não tenho tempo para as palhaçadas de Sergey; só preciso que ele
me dê a localização precisa de Vassily e Oleg, esses ratos que estão
se escondendo.

Assim que abro a porta, a primeira coisa que sinto é o forte


cheio de sangue, urina, fezes e vômito. Isso só prova que Mikhail
está indo muito bem até agora, ele está de frente para Sergey, que
está com correntes grossas presas nos punhos e tornozelos, em uma
posição bem constrangedora. Me aproximo lentamente, com os
olhos injetados de sangue, fixos no desgraçado. No instante em que
ele nota que não está mais sozinho com Mikhail, ele ergue a cabeça
dando uma risada soluçada. Nossos olhos se encontram e ele dá
uma risada enlouquecida, sendo acompanhada por uma crise de
tosse.

— Ora, tosse… o que temos… tosse, aqui? O herdeiro, o..


tosse… futuro Pakhan! — Sergey diz e eu faço um sinal para que
Mikhail se afaste.

— Você disse que só falaria comigo, aqui estou eu, Sergey! —


Digo friamente ele continua a sorrir estranhamente.

— Oh sim… eu disse! — Fala após cuspir uma boa quantidade


de sangue.

— Como os Yegorov vieram até você? — Questiono cerrando


os olhos, não querendo perder tempo.

— Vai se foder, seu desgraçado! Vassily salvou minha vida,


vida essa que você tentou tirar, assim como fez com a minha família.
— Sergey diz e eu reviro os olhos.

— Por que está me culpando por isso? Aleksandr deu a ordem


e eu cumpri, simples assim! — Digo de modo impassível e ele nega.

— Nunca, Aleksandr não iria fazer isso conosco! Meu pai…


meu pai e o Pakhan tinham planos de casar você com minha filha! —
Sergey tenta se jogar sobre mim, mas Mikhail o chuta com força na
barriga.

— O Pakhan, você diz… bem, mas isso não passava de uma


encenação para fazê-los baixar a guarda. — Revelo e Sergey
arregala os olhos.

— MENTIRA! — Berra ele em negação.

— Aleksandr ficou sabendo que sua filha e o amante dela,


que no caso era um dos seus homens, estavam planejando roubar
toda a carga de armas e drogas que vocês ainda tinham em mãos.
— Digo e paro para encará-lo. — E você sabe que nessa vida o que
Aleksandr mais odeia é traição, isso é punível com a exterminação
de toda a família. — Conto levemente e ele balança a cabeça com
loucura.

— Minha.. minha Poline jamais faria algo como isso! — Nega


Sergey veementemente.

— Eu dei meu aviso a ela, mas ela duvidou de minhas


palavras! — Faço um som de desgosto com a boca. — Uma idiota
assim como os restante da família! — Afirmo.

— VOCÊ ME TIROU TUDO! VOCÊ! EU VOU MATÁ-LO! — Grita


ele perdendo o último fio de sanidade.

— Acredite se quiser. Você teria o direito de retaliar se sua


família estivesse com a razão, mas não estava. Sua família foi
marcada pela Bratva como um clã de traidores! — digo de modo
gélido, aproximando-me e segurando sua mandíbula em um aperto
mortal.

— Não, somos leais à família! — Sergey diz afundando de vez


na insanidade.

— Não, não são! Sua filha fez questão de escolher trair sua
própria família, e trair a Bratva! — Falo vagarosamente para que ele
fosse torturado pelas minhas palavras. — Você tentou tirar o meu
homem de mim, aquele que amo, hoje independente de qualquer
que seja suas palavras eu vou fazer questão de vê-lo morrer bem
diante dos meus olhos. Destruirei o último resquício seu da face
dessa maldita terra! — Minha voz sai como uma promessa velada.

— NÃO! NÃO! NÃO! — Sergey diz de forma louca e perdida.

— Continue! — Comando sem precisar olhar para Mikhail,


porque ele sabe que estou falando com ele.

A tortura continuou por mais algumas horas, eu vi diante do


mim a vida desse desgraçado que ousou tocar no meu Justin se
esvaindo pouco a pouco. Enquanto ele gritava por socorro, gritava
pela sua filha, gritava por perdão, mas eu não me importava com os
seus gritos ou sua dor, eu necessitava que ele sofresse mais, muito
mais. No final Sergey contou tudo o que eu precisava saber, ele
disse que quem mandou ele levar Justin foi Oleg. Que queria retaliar
pela morte de Yuri, e para completar ele ficou sabendo das
habilidades de Justin e sobre seus pontos fracos. Isso me deixou em
alerta, por que com isso eu pude ver que há um traidor entre nós.

Porra!

— Natska! — Digo seu nome com os dentes cerrados.

— Vou começar a investigar, Boss! — Com isso ela sai logo


em seguida.

— Termine com isso, Mikhail! — Comando indo em direção a


porta de saída.

— Sim, Boss! — Diz ele puxando sua arma da parte de trás


da cintura.

Saio da sala com a mente fervilhando, por que agora sei que
Justin está verdadeiramente em perigo e isso me assusta demais.
Qualquer coisa que vier sobre mim eu sustentarei livremente, mas
Justin não, ele nunca pode ser tocado novamente. Ele nunca deve
passar por nada nessa vida! Eu só tenho uma alternativa, é isso, eu
preciso fazer uma ligação! Com isso em mente, puxo meu celular e
pressiono na tela um dos nomes que está salvo como favorito. A
chamada não demora a ser atendida e, ao ouvir a voz do outro lado
da linha, meu corpo desmorona contra a parede mais próxima.

— Viktor, figlio mio, cosa è successo? (Viktor, meu filho, o que


aconteceu?) — Meu Otets atende com a voz rouca de sono.

— Cos'era Zuco, quello è il nostro Vik? (O que foi Zuco, é o


nosso Vik?) — Papa pergunta acordando alarmado

— Sì, angelo, è il nostro ragazzo! (Sim anjo, é o nosso


garoto!) — Otets diz a papa.

E eu olho para minha mão, notando que ela está tremendo


muito e até mesmo minha respiração está acelerada. Droga!

— Babo, ho bisogno di aiuto! Ho bisogno della nostra


famiglia! (Pai, eu preciso de ajuda! Preciso da nossa família!) — Digo
sem esconder o meu temor e cansaço.

— Aspettaci figliolo, stiamo arrivando! (Espere por nós filho,


estamos chegando!) — Otets diz com a voz firme e eu fecho meus
olhos com força.

É isso, isso é tudo o que eu precisava ouvir! Foda-se se estou


parecendo um menino! No entanto, tudo o que quero agora são os
meus pais aqui, porque somente neles é que eu posso confiar
verdadeiramente.

Só posso confiar na família, na minha família Aandreozzi.


CAPÍTULO 33

Desperto abruptamente quando sinto uma aproximação


repentina que me faz entrar em alerta, mas relaxo e dou um sorriso
sonolento quando sinto o cheiro da pessoa que me acorda. É Viktor,
o cheiro dele é inconfundível para mim, sempre foi assim e vai
continuar sendo. O colchão ao meu lado afunda, braços fortes
rodeiam a minha cintura e logo meu corpo é puxando para perto,
fazendo assim com que as minhas costas se encontrem com o seu
peitoral rígido. Mesmo cheio de sono sinto uma vibração estranha
vindo de Viktor. Ele me abraça com força, colando seu rosto na curva
do meu pescoço, cheirando a minha pele profundamente como se
quisesse memorizar o meu cheiro em sua mente. Se fosse em outro
momento eu acharia fofo, mas minha mente grita que tem algo além
disso.

Franzo um pouco o cenho, alisando a sua mão presa na


minha barriga, tentando mostrar a ele que estou aqui, que estou ao
seu lado. Acho que meu quase sequestro deixou uma marca
profunda em sua mente, o deixando mais perturbado do que pensei.
Abro a boca para falar com ele, mas paro quando noto que além do
cheiro costumeiro da sua pele há outros cheiros o rodeando.
Pólvora, ferrugem, fuligem e sangue, esses cheiros podres estão
presentes, apesar de Viktor ter recém saído do banho.

— Onde você esteve? — Questiono com a mente agora


totalmente desperta.

— Podemos falar disse mais tarde, malêch? — Sua resposta


soa cansada.

— Aconteceu alguma coisa, Vik? — Pergunto e ele enterra


mais ainda seu rosto no meu pescoço.

— Só estou cansado! — Responde e eu sinto uma pontada de


curiosidade

— E nosso prisioneiro? — Indago e ele bufa.

— Morto, como deveria ser! — Conta e eu assinto.

— Bom! — Respondo querendo virar para poder abraçá-lo,


mas ele me impede.

Estranho essa atitude de Viktor, mas sinto que ele precisa me


segurar para ter certeza que ele está aqui. Não sei porque sinto isso,
só que eu só sinto. Viktor pode ser um homem cheio de confiança,
violência e dominação, porém há uma outra face dele que faz um
grande trabalho para não demonstrar. E esse lado é o mais carente,
ansioso e depressivo, e eu o entendo, porque todos nós temos
marcas profundas dentro de nós. Marcas essas que evitamos ao
máximo, e muitas vezes deixamos de escanteio, fingindo que não
existe. Por que se fazemos isso, podemos esquecer que ela está lá,
mas infelizmente em algum momento essa parte de nós vai gritar,
vai querer sair e vai nos revelar o quão quebrados podemos ser.

Apesar de termos uma rede de apoio familiar incrível, que nos


segura até os dias de hoje, sempre existirá um momento que
precisaremos de uma pausa. Pausa para lidar e organizar nossos
medos e inseguranças sozinhos. E o meu Viktor não é diferente, ele
precisa descansar, se reestruturar e voltar a ser o homem
endurecido que sempre demonstra do lado de fora dessas paredes.
No entanto, enquanto estiver comigo, deitado ao meu lado e
agarrado ao meu corpo como se fosse um bote salva-vidas, eu o
deixarei ser somente o meu Vik, o meu amor, o meu homem
quebrado. Por que isso que o amor é, ele não julga o nosso pior
lado, ele abraça e conforta o máximo possível. E é isso que o meu
amor representa para Viktor, e o seu amor representa para mim o
mesmo grau de segurança.

— Você não está bem! — Digo com a voz sentida, pois eu


odeio vê-lo dessa forma.

— Por que diz isso? — Pergunta dando um sorriso sem graça.

— Isso não é algo que tenha uma explicação simples, eu só


te conheço muito bem, meu amor! — Revelo e ele me apertou um
pouco mais.

— Deus, como eu amo você, Jus! — Declara ele cheio de


afeto e eu sorrio.

— Eu sei, e eu amo você muito mais! — Falo carinhosamente


e ele nega.

— Duvido, mas vou te dar esse crédito dessa vez! — Fala e eu


dou uma risadinha.

— Tão legal, meu namorado! — Digo e ele solta um bufo.

— Com certeza! — Responde e é minha vez de negar.

Ficamos um tempo mergulhados em uma silencio acalentador,


onde somente o ressoar das nossas respirações pode ser ouvido. No
entanto, Viktor é o primeiro a quebrar esse silêncio, e o que ele me
diz a seguir tem a minha total atenção.
— Mikhail torturou Sergey até poder tirar todas as
informações que precisamos. Ele contou que os Yegorov sabem
sobre você e estão planejando nos destruir por completo. — Vik
conta com a voz assumindo uma frieza assustadora.

— Isso prova que realmente temos um traidor entre nós,


certo? — Questiono e ele faz um som de confirmação.

— Pode ser mais de um, Jus! — Vik revela cansado.

— Você acha que… — Tento falar, mas antes de concluir Vik


responde o conteúdo dos meus pensamentos.

— Confio nos irmãos Griboedov e no Dominick! — Confirma


Viktor e eu solto uma respiração aliviada.

— Ainda bem, por que também confio neles, assim como


confio no Reyes! — Digo e Vik deixa um beijo na minha cabeça.

— Os testes que passamos com a Bratva me mostraram isso,


passamos por muitas coisas juntos, querido, seria verdadeiramente
desleal da minha parte desconfiar deles. — Conta Viktor eu solto um
suspiro.

— Entendo amor, eu também penso assim! — Digo sem


esconder minha opinião.

Mika e Nat passam uma vibração de devoção pura e


cristalina, eles verdadeiramente têm Viktor como o seu líder. Aquela
pessoa que irá ditar os seus próximos passos e eles fariam de olhos
fechados, porque tem a confiança necessária para saber que Viktor
os guiará bem. E ter esse tipo de devoção hoje em dia é muito
difícil, ainda mais de pessoas que viveram a vida brutal como a
desses irmãos. Não sei muito, mas o pouco que Viktor já me contou
pode me dar um gostinho das merdas que eles tiveram que passar. E
agora, com Mika ao meu lado, pude entender por que Viktor gosta
de tê-los ao seu lado. Agora o que falar de Dom e do Rey? Eles
estão com a gente desde jovens, cresceram conosco e o elo que
formamos vai muito além de qualquer coisa. Esses homens são uns
verdadeiros guardiões, porque sim, Dom e Rey são nossos
guardiões, não existe possibilidade deles traírem nossa confiança.

— Comecei a agitar as coisas para que esses ratos


desgraçados possam sair da toca. — Viktor confidencia e eu franzo o
cenho.

— O que você fez? — Indago e ele bufa irritado.

— Botei fogo nos armazéns onde ficam as mercadorias dos


Yegorov! — Diz ele entre dentes e eu solto um assobio.

— Por isso o cheiro de fuligem vindo de você! — Aponto em


compreensão.

— Sim! — Sua resposta é sucinta e amarga.

— Você destruiu as drogas? — Questiono e ele assente. —


Opa, isso é uma grande perda para eles. — Comento, dando um
curto sorriso.

— Não é como se eu me importasse! — Diz sombriamente. —


Se eles estão esperando para me destruir e destruir o homem que
amo, eles devem estar preparados para serem destruídos também.
— Conclui e eu aliso seu antebraço.

— Estarei ao seu lado, não vou permitir que nada te


aconteça, Vik! — Digo e viro meu corpo para abraçá-lo.

— Tenho a impressão que deveria ser eu quem fala essas


palavras a você, malêch! — Diz com um pouco mais de humor.

— Não me importo, somos um só, amor! — Revelo, e ele


respira fundo.

— Sim, somos um só! — Diz beijando minha testa. — Durma


um pouco mais comigo, Jus! — Fala e eu concordo.
— Claro, você precisa descansar, amanhã podemos resolver
tudo o que tiver que ser resolvido. — Conto abraçando seu peitoral
com força.

— Você tem razão, malêch, para dizer a verdade você sempre


tem razão! — Sua voz soa sonolenta e isso me faz rir.

— É bom que você esteja bem treinado para quando


estivermos casados, ter essa compreensão fará nossa vida juntos
mais fácil. — Provoco, e isso faz ele rir.

— Espero com ânsia para que essa vida chegue o mais breve
possível, meu Jus! — Viktor fala com a respiração um pouco mais
leve.

Deixo um sorriso tomar conta do meu rosto quando noto que


enfim Viktor consegue descansar. Ouço o ressoar da sua respiração,
acompanhado com o batimentos fortes, saudáveis e ritmados do seu
coração. É bom que ele tenha conseguido livrar sua mente de
pensamentos tão complexos. Por mais que eu saiba que a partir
desse momento tudo pode acontecer, tenho fé que podemos vencer
esse conflito. Farei o meu máximo para continuar lutando ao seu
lado, seja nessa batalha ou nas demais que ainda virão, por que é
disso que somos feitos. Não fugimos dos perigos, porque temos algo
especial que os outros que nos enfrentam não tem, nós temos um
ao outro para nos apoiar.

Sem falar de umas certas pessoas que fariam de tudo para


que nada nos acontecesse, não é mesmo? Sorrio com a lembrança
de nossa família, e no tanto que cada integrante dessa família está
ávido por um pouquinho de perigo, principalmente meus primos.
Pensando neles, sinto saudades, acho que amanhã irei ligar para
matar essa saudade e ter um pouco mais de força para enfrentar os
desafios que vem a seguir. No entanto, isso é assunto para depois,
porque tudo o que preciso agora é estar nos braços do homem que
amo. Respiro fundo, aliso o rosto de Viktor adormecido e deixo um
beijo no seu peito.
— Eu também espero pelos dias felizes ao seu lado, meu Vik!
— Confidencio baixinho para não despertá-lo.

Volto a fechar minhas pálpebras, e em poucos instantes eu


sinto o meu corpo começar a relaxar também. E nos braços de
Viktor, eu deixo o sono relaxante tomar conta de mim. A próxima vez
que desperto percebo que estou preso totalmente sob o domínio de
Viktor, que permanece dormindo profundamente. Faço um esforço
sobre-humano para sair da cama, evitando ao máximo acordá-lo,
pois sei que esse sono é tudo o que Viktor precisa neste momento.
Após conseguir me desvencilhar dos seus braços, eu pego meu
celular para ir direto ao banheiro. Conferindo o horário, noto que já
está quase na hora do almoço, nego com a cabeça e vou escovar
meus dentes para poder conferir o estado de Reyes.

Foi um pouco complicado conseguir me resolver sozinho no


banheiro, sendo que estou com o braço imobilizado, mas no final
deu tudo certo. Depois de minha luta no banheiro, vou em direção a
outra luta, que é trocar de roupa. Merda, que piada de mau gosto
do universo! Reclamo mentalmente, mas mesmo assim faço de tudo
para não acordar Viktor. Termino de me arrumar, pego minha
bengala e saio do quarto evitando ao máximo fazer barulho. No
instante que saio, sou recepcionado por Tom, aliso o seu pelo macio,
me agachando para poder receber suas lambidas molhadas de amor.

— Após as coisas se resolverem, poderemos sair um pouco


juntos, amigão! — Falo com Tom em espanhol, pois seus comandos
são feitos em espanhol. Já que ele foi treinado lá em Madri. —
Vamos visitar Reyes! — Digo e ele se enrosca na minha perna,
querendo mais atenção e isso me faz rir.

Chamo Tom e ele se posiciona ao meu lado, após isso saímos


juntos em direção a sala de estar. Assim que me aproximo do
ambiente ouço a voz irritada de Mika brigando com Sasha. Nego
com a cabeça, por que isso já se tornou uma rotina, tenho certeza
que Sasha deve ter roubado alguma comida de Mika, ou até mesmo
seu pirulito. Falando nisso, lembro perfeitamente de perguntar a ele
por que está sempre chupando doces, mas ele diz que os seus
remédios psicoativos o deixam com muita vontade de comer doces.
Duvidei que ele estava sendo sincero, mas Natska confirmou o que
ele disse, então eu não tive mais como duvidar. Esse é o Mika, um
cara bacana, mas cheio de problemas!

— Sasha, venha aqui, devolva essa comida! — Mika pede em


russo e ouço o seu pisar acelerado acompanhado de patinhas fofas.

— Você é realmente um idiota! — Natska diz inconformada


também em russo.

— Ao invés de me criticar, por que não me ajuda a tirar a


comida que pedi para Boris preparar especialmente para Rey das
garras desse ladrãozinho. — Diz Mika chateado.

— Problema seu! — Aponta Nat e Mika faz um som frustrado.

— Mais que irmã terrível você… Pequeno chefe! — A voz de


Mika se ilumina quando ele nota minha presença.

— Bom dia pessoal! — Digo acenando com a cabeça.

— Bom dia, senhor Justin! — Nat responde seriamente.

— Como está se sentindo, o ombro está doendo muito? —


Mika pergunta curioso e eu nego.

— Não, obrigado pela preocupação! — Agradeço dando um


sorriso. — Onde está Dom? — Sondo ao não notar sua presença.

— Dominick foi atender um pedido do Boss. — Nat responde


e eu concordo. — Precisa de algo, senhor Justin? — Pergunta ela e
eu nego.

— Não, só perguntei por curiosidade mesmo! — Digo e ela faz


um som de confirmação.
— Tenho que ir, devo encontrar com os irmão Glinka na
Paradise agora. — Nat diz seriamente e começa a andar, mas para e
foca sua atenção em mim. — Fico feliz que nada de grave aconteceu
com o senhor! — Fala gentilmente, me tirando um sorriso sincero.

— Obrigado, Nat! — agradeço com sinceridade.

— Olha só para isso, essa daí não vai admitir, mas está mais
surpreendida com sua força do que eu dá pela primeira vez que eu
vi, Jus! — Mika diz com empolgação. — Aquilo de descobrir o sniper
foi… Kakogo cherta, sestra! (Que diabos, irmã!) — Lamenta Mika
quando é interrompido por um tapa forte.

— Fica quieto, Mikhail! — Repreende Nat e isso me fez rir


baixinho. — Vou indo, senhor! — Nat diz apressadamente e eu logo
ouço seus passos se afastando.

— Durona, mas é muito tímida as vezes! — Reclama Mika


após fazer um som de estalo com a língua.

— Você está indo ver Reyes? — Indago e Mika faz um som de


confirmação.

— Sim, estou levando algo para ele comer! — Afirma como se


lembrasse de algo.

— Então vamos juntos! — Aviso abrindo novamente a minha


bengala.

— Me acompanhe, pequeno chefe! — Diz ele e eu concordo.

Quando Mika e eu estávamos saindo juntos, fui parado por


Nadzhda que queria saber sobre o meu desjejum, mas eu disse que
acompanharia Viktor quando ele estivesse acordado. Após a saída da
governanta continuei a seguir Mikhail até o quarto de Reyes, no
momento que passamos pela porta eu posso sentir o cheiro
inconfundível de antissépticos. Entortei o nariz por que odeio esse
cheiro, pois é um odor que agride facilmente o meu nariz sensível e
me lembra hospital, mas mesmo assim segui para averiguar as
condições do meu segurança e amigo.

— Olha quem veio visitar o paciente! — Mika diz em tom


brincalhão.

— Justin, por que está aqui! — Reyes pergunta surpreso. —


Soube que se machucou e quase foi sequestrado. — Reyes diz com
pesar assim que nota a minha presença.

— Relaxe, homem, eu estou bem! — Falo a fim de tranquilizá-


lo. — Isso aqui é fichinha para mim! — brinco e ele solta um suspiro.

— Eu deveria ter te protegido, isso não deveria ter acontecido


e eu sinto muito, senhor Aandreozzi! — Reyes diz com pesar e eu
solto um suspiro forte.

Mika me ajuda a sentar em uma cadeira confortável que tem


no quarto de Reyes. Agradeço a ele por esse gesto e volto a focar
minha atenção em Reyes, que está se lamentando pelo meu
machucado.

— Reyes, pode ir parando com isso, você levou um tiro por


mim. Eu me sinto culpado por isso. — Digo levemente, lembrando
que ele se pôs na minha frente naquele momento conturbado.

— Manter a sua segurança é minha prioridade como seu


segurança, senhor. — A voz de Reyes é cheia de peso.

— E eu agradeço por isso, mas por favor, não faça isso na


próxima vez. — Peço e ele dá um sorriso leve.

— Impossível, pois eu me colocarei no seu lugar sempre, Jus!


— Afirma ele e eu nego com a cabeça.

— Ah, Reyes, o que faço com você, hein? — Pergunto irritado


e ele ri.
— Continue pagando o salário alto que recebo? — Pergunta
de forma que me faz dar uma gargalhada sincera.

— Vou dizer à mamma que você está querendo um aumento!


— Digo entre risadas e ele faz um som assustado.

— Por Deus, não! A senhora Aandreozzi é muito assustadora!


— Reyes nega rapidamente de modo amedrontado.

— Vem cá, o quão alto é esse salário? — Mika perguntou


distraidamente, cheio de interesse.

— Alto, muito alto! — Reyes responde fazendo Mika soltar um


som de exasperação.

— Será que ainda dá tempo de me candidatar à segurança do


pequeno chefe? — Mika pergunta a Reyes.

— Não sei se… — Reyes ia dizer algo, mas algo o fez calar a
boca no mesmo momento. — Bom dia, senhor Aandreozzi! — Saúda
ele e eu sorrio, porque sei de quem se trata.

— Então quer dizer que você quer pedir emprego para a


minha tia Luna? — A voz rouca e grave de Viktor chega aos meus
ouvidos.

— Net, Boss! — Diz Mika visivelmente assustado. — Isso foi


só um bate papo aleatório, não é mesmo, Rey? — Ele pergunta
passando a bola para Reyes.

— Hum.. eu acho que sim! — Reyes responde sem muita


certeza.

— Sei… — Vik diz friamente e ouço um som estrangulado sair


de Mika. — Soube por Nadzhda que você ainda não comeu, porque
estava me esperando, se é assim vamos, malêch! — Viktor fala,
colocando sua mão no meu ombro.
— Claro, vamos sim! — Digo dando um sorriso, erguendo a
mão e Vik a pega rapidamente. — Reyes, se recupere corretamente,
não precisa se preocupar com nada além da sua recuperação. —
Aviso a Reyes que faz um som de confirmação.

— Tudo bem, senhor! — Diz de modo sucinto, e eu dou um


sorriso de lado.

Me permito ser guiado para longe do quarto de Reyes por


Viktor, andamos por uma breve distância até que sinto o meu corpo
ser pressionado pelo seu corpo forte. Viktor me arrasta de encontro
a ele, e antes que eu pudesse falar alguma coisa, sinto sua boca
tomar a minha. Hum… que delícia! Beijo com sabor de menta! Gemo
contra os lábios de Vik, apertando o seu ombro e exigindo que ele
me dê mais do seu beijo fabuloso, mas ao invés disso ele me afasta
vagarosamente e abraça a minha cintura.

— Você me deixou sozinho, malêch! — Viktor diz em


reclamação e eu descanso minha cabeça no seu ombro.

— Te deixei dormir mais um pouco, porque você precisa de


um descanso, amor. — Digo e ele faz um som de desdém.

— Não importa, porque se você não está ao meu lado eu vou


acordar automaticamente. — Diz ele e eu solto uma risadinha.

— Tão dependente de mim! — Brinco e ele deixa um beijo na


minha testa.

— E eu sou mesmo! — Assume e eu ergo a cabeça para


beijá-lo mais uma vez.

— Agora que você está de pé, por que não comemos algo
juntos? — Pergunto e ele solta uma vibração leve de contentamento.

— Eu vou adorar, mas acho que não haverá somente eu e


você na mesa. — Diz ele de modo misterioso e eu franzo o cenho.
— O que você quer dizer com isso? Vai esperar que os outros
venham para comermos juntos? — Indago confuso.

— Não é bem isso, mas logo você saberá! — Vik diz e eu fico
mais confuso ainda.

Viktor segura minha mão e volta a andar em direção a sala de


estar. No momento que me aproximo da sala eu sinto algo diferente,
me concentro um pouco mais e logo entendo o que há de tão
diferente. São os cheiros, as vibrações e os sons… eu os conheço, eu
sei de quem… quer dizer, eu sei quem são as pessoas que estão
presentes aqui.

E meu Deus, eu não posso acreditar!

— Mamma, tios, primos… vocês estão aqui! — Digo baixinho


sentindo o meu coração bater forte no peito.

— Sim, abóbora, a mamma está aqui para você! — Minha


mãe Luna diz e eu sinto meus olhos se encherem de lágrimas.

— Vamos cuidar de tudo a partir de agora, ragazzi! — Tio


Enzo diz e eu sinto a mão de Vik apertar a minha.

— Obrigado por virem ao meu pedido, família! — A voz de Vik


embargou um pouco.

Essa é a nossa família, eles estão aqui para lutar ao nosso


lado. E meu Deus, como eu sou grato por tê-los em minha vida!
CAPÍTULO 34

Observo de longe Justin ser abraçado carinhosamente por sua


mãe Luna, ela segura os dois lados do seu rosto e começa a
perguntar sobre o seu estado de saúde. Seu rosto caloroso, cheio de
preocupação, vasculha o corpo do seu primogênito com cuidado,
mas Justin sorri dizendo que estava bem e que o deslocamento de
ombro não era nada. Tia Luna suspira e continua a expor sua
preocupação, só que em determinado momento ela desvia seu olhar
de Justin e olha na minha direção friamente. E através desses olhos
eu sabia que ela queria saber de mim se a pessoa que machucou
seu filho foi tratada devidamente. Ao acenar com a cabeça sem
esconder minha satisfação ao efetuar esse feito, eu a vi relaxar sua
expressão e sorrir de lado para mim. Conheço essa mulher na minha
frente como ninguém, fui ensinado por ela, ela sempre foi uma
figura importante na minha construção como um homem decente,
além dos meus pais é claro.
Falando em meus pais, eles estão bem aqui, diante de mim
nesse momento. Meu pai Enzo fez suas perguntas tranquilas,
demonstrando sua preocupação paterna, tentando me passar o
máximo de calma e controle possível. Esse é meu otets, mesmo que
eu saiba que por dentro ele deve estar querendo muito correr para
poder acabar com o perigo que me rodeia, ele ainda consegue se
manter em uma postura confiável. No entanto, meu pai Andrea não
tem todo esse controle, por que tudo que envolve, eu ou os meus
irmãos, faz com que meu pai, que sempre se mostra dócil, calmo e
racional, assuma um lado totalmente diferente. Papa deixa sua
selvageria à mostra sem pensar duas vezes, e dessa vez não é
diferente. Apesar de estar cheio de preocupação com meu estado
físico e emocional, ele não esconde o fato de que anseia por justiça
contra mim.

Meu coração se aquece ao sentir toda essa proteção, o


sentimento que tenho é que voltei à minha fase juvenil. Sem
preocupações desnecessárias porque eu tinha dois pais fortes e
capazes para me ajudar a segurar a bagagem sangrenta que estava
carregando sempre comigo. Mesmo sendo um sujeito quebrado de
dentro para fora, eu tinha esses dois homens para me ajudar a
seguir adiante. E é por isso que deixo com que minha mente
perturbada descanse um pouco. Descanse sobre os acontecimentos
passados, e tenha uma mente mais sã para poder planejar
detalhadamente os meus planos futuros. Com a nossa família aqui
eu posso relaxar com a segurança de Justin, por que sei que não
existem melhores pessoas para protegê-lo do que eles.

Ainda mais agora, estando ciente da existência de um traidor


próximo a mim. Mas essa é uma parte com a qual lidarei em breve,
pois meu instinto grita onde devo procurar essa pessoa infeliz.

— Vik! — A voz alta de tio Lucca me tira dos pensamentos.

— Sim, tio? — Pergunto observando sua expressão séria.


Bem diferente do que é de costume, já que meu tio Lucca
está sempre ostentando um sorriso. Seja ele alegre e cheio de
sarcasmo, ou um sorriso sanguinário que está pronto para fazer
pessoas sangrarem. Ver uma expressão dessas na face do meu tio é
tão assustador, por que mesmo que ele não esteja dizendo ainda o
que quer me dizer, eu sei, eu simplesmente sei.

— O que você está planejando? — Questiona ele, me fazendo


ampliar um pouco os olhos.

— O meu pai te disse algo? — Pergunto olhando


especialmente para Justin.

— Não se preocupe com Justin, Samantha o está distraindo e


ele não pode nos ouvir agora. — Meu tio diz friamente e eu engulo
em seco.

— Obrigado! — Digo em forma de sussurro.

— Não precisa agradecer, eu sou seu tio, sua família, ragazzo.


— Diz e eu dou um sorriso curto de lado.

— Sei disso, eu sempre sei! — Falo e ele assente de forma


rígida.

— Independente do que esteja planejando, estarei ao seu


lado, limparei quem tiver que limpar, organizar o que tiver que
organizar, torturar quem tiver que ser torturado. — Ele faz uma
pausa e olha para os demais presentes. — No entanto, me prometa
que vai sempre se manter vivo e são! — As palavras do tio Lucca me
trouxeram uma onda de forças que não consigo explicar em
palavras.

— Farei o máximo para atender o seu pedido! — Falo com


sinceridade e ele me lança um olhar cheio de loucura.

— Não se engane, garoto, isso não é um pedido! — Sua voz é


intensa e eu cerrei meus punhos com força.
— Ordem recebida, tio! — Respondo com a mesma
intensidade e ele abre um sorriso.

— Sua inteligência é o que mais admiro em você, meu


sobrinho querido! — Brinca ele e eu nego com a cabeça.

— Se o senhor diz eu acredito! — Respondo em tom leve.

— Ah, não deixe o meu irmão mais velho saber os seu planos.
— Meu tio para olhando para tio Filippo que está conversando algo
com meu otets e tio Luigi. — Apesar que tenho minhas dúvidas de
que algo possa escapar da rede de vigilância daquele urso
dominador. — Diz ele estremecendo logo em seguida.

— Lucca, o que houve? — A voz séria de tio Filippo chega em


nossos ouvidos, fazendo tio Lucca endurecer no lugar.

— Nada Ursão de Luti! — Tio Lucca responde rapidamente e


seu irmão mais velho cerra os olhos em nossa direção.

— Hum! — Resmunga e volta a conversar com meu otets.

— Viu o que disse, Vik, nada escapa daquele urso violento! —


Sussurra meu tio e eu só pude concordar.

Depois de dizer isso meu tio deu uma piscadela e foi até onde
tio Luti e tia Luna estavam conversando seriamente sobre algo.
Aperto minha têmpora absorvendo o aviso deixado para mim,
porque começo a perceber que meus planos não vão ser tão
tranquilos como eu poderia imaginar. Após terminar a ligação
anterior com meu pai, que eu não sabia que estava em uma viagem
de negócios com meu papa, tudo o que eu pedi a ele foi que viesse
me ajudar. Já que o medo de que algo mais grave acontecesse com
Justin era muito grande, e eu não conseguisse meios o suficiente
para poder lidar com a retaliação do outro lado. A segurança que
meu pai me passou me deu a oportunidade e os meios necessários
para iniciar os meus planos, que era basicamente jogar tudo para
cima.
Acabar com os Yegorov de uma forma que eles não teriam
mais como se esconder nas sombras. Por que uma coisa que aprendi
nesse mundo nojento, é que quanto mais eles perdem aquilo que
consideram como seus, mais eles fazem questão de retaliar. E vai ser
nesse momento que vou entrar com tudo, porque se eles sabem um
jeito de retaliar, eu sei tanto quanto. Ainda mais quando se trata das
pessoas que eu amo. No momento que eles mexeram com o meu
Justin, eu soube que chegou o momento de finalizar com essa
merda. Seja a família Yegorov ou qualquer outra, que esteja
insatisfeita com a minha herança na Bratva, mesmo detestando essa
liderança, cumprirei meu papel com excelência para destruir a
linhagem Konstantinov junto comigo. Mesmo que Justin e eu
tenhamos filhos no futuro, todos eles vão carregar o sobrenome da
minha verdadeira família, que é a Aandreozzi. E nada além disso.

— Que lindinho, como eu não soube da existência dessa coisa


linda? — A voz estrondosa e cheia de lamentação de Samantha
chegou aos meus ouvidos. — Viktor, como você tem um Vison e
nunca nos disse? — Sam pergunta em tom de acusação.

— Só aconteceu! — Respondo de forma sucinta dando de


ombros.

— Quando você o adotou? Nas últimas vezes que estive aqui,


essa fofurinha ainda não existia. — Eduarda diz com um sorriso leve,
acariciando o queixo de Sasha que insiste em ficar no colo de Justin.

— Foi durante os testes da Bratva, ele não quis largar de


mim. — Respondo de forma sincera.

— Mas parece que ele agora escolheu Jus e não você! —


Pietro aponta maliciosamente e eu evito revirar os olhos.

— Parece ser um fato, Pê! — Otto diz dando um sorriso de


lado.
— Justin é o meu companheiro, o que é meu é dele! —
Afirmo em tom firme fazendo Justin dar um sorriso.

— E o que me pertence, pertence a você também, querido! —


Jus diz aquecendo meu peito.

— Eu sei! — Respondo levemente, sem esconder o meu amor


e contentamento no meu olhar.

— Nossa, essa dupla adora ficar humilhando os seus irmãos


de forma gratuita com todo esse amor. — Pietro diz dramático,
fazendo os outros assentirem com a cabeça.

— Se acostume com isso, ursinho, vai ser assim toda vez que
estivermos com eles! — Otto diz com a voz resignada.

— Vocês são uns invejosos, isso sim! — Justin diz de modo


brincalhão.

Deixo um sorriso curto escapar dos meus lábios enquanto


observo a interação entre meus primos e meu namorado lindo.
Gosto disso, porque a presença de todos faz com que Justin esqueça
os últimos acontecimentos que tivemos que passar. Sem falar que
também lhe traz um pouco mais de paz no coração, em saber que a
nossa família está aqui para nos apoiar nos momento de
dificuldades. Justin é um ser muito especial, ele é capaz, corajoso,
decidido e cheio de vida, mas em contrapartida ainda está em
desenvolvimento nesse mundo infeliz. E o quanto mais eu puder
deixá-lo viver com um pouco mais de leveza, eu farei sem pensar
duas vezes.

Seria totalmente injusto da minha parte, jogar todas as


merdas da minha vida completamente no colo do homem que amo.
Esquecendo das minhas próprias responsabilidades, e esquecendo
principalmente que tanto eu quanto Justin não estamos sozinhos
nessa vida e jamais seremos. Só espero que quando tudo isso
acabar, não ocorra nenhuma fatalidade importante para mim e que
meu Justin possa me perdoar pela execução do meu plano. No
entanto isso não é algo que devo me preocupar agora, vou viver o
momento de agora, por que talvez esse seja o último instante de
leveza que… não porra! Não posso me deixar levar por tais
pensamentos!

— Otets, papa, tios e irmãos, por que não vamos comer algo?
Nadzhda preparou algo para nós! — Chamo a atenção de todos.

— Que ótimo, querido, vamos Ursão? — Tio Luti sugere,


aceitando meu chamado.

— Claro, Belo, o que você quiser! — Meu tio diz seriamente,


fazendo seu marido sorrir satisfeito.

— Miele, vamos! — Tio Luigi ergue a mão deixando tio Lucca


aceitar alegremente.

— Tão adorável quando você é um cavalheiro assim, amore!


— Tio Lucca fala fazendo seu marido o encarar de modo sério.

— Eu sempre sou um cavalheiro, Luc! — Diz e meu tio morde


os lábios inferiores.

— Nem sempre, ontem mesmo você fez aquele negócio que…


— A voz de Tio Lucca é abafada pela palma da mão de tio Luigi.

— Vem, meu amor, vamos te alimentar! — Tio Luigi diz e logo


sai arrastando seu marido junto a ele.

— Você vai vir, meu filho? — Papa indaga e eu assinto


brevemente.

— Vou sim, só preciso dizer algo ao Jus primeiro. — Falo e


papa sorri e concorda.

— Não demorem, você e o Jus precisam comer algo também.


— Tia Luna aponta com preocupação.
— Eu sei tia, logo estaremos com vocês! — Conto de modo
tranquilo.

Observei uma parte dos integrantes da família seguirem em


direção à sala de jantar. Minha casa que antes era feia e solitária
hoje em dia está cheia de calor. Primeiro pela presença marcada de
gentileza que Justin trouxe, preenchendo minha cobertura com todo
amor que ele é capaz de me dar. E agora para terminar de completar
alguns membros da minha família também se fazem presentes. Acho
engraçado como a vida faz questão de nos fazer quebrar a cara
sempre quando temos total certeza de algo. Digo isso porque eu
sempre pensei que esse lugar fosse ser sempre do mesmo jeito de
antes. Que minha família deveria estar sempre longe de mim, e que
o meu sacrifício seria necessário para agradecê-los por todo
sentimento de amor e pertencimento que eles sempre me deram.

No entanto todos esses pensamentos eram pura besteira!


Hoje vejo que fui egoísta, medroso e rígido comigo mesmo, mas
agora, ouvindo o riso descontraído dos meus primos enquanto
conversam com seus pais e tios, sinto meu peito endurecido saltar.
Não imaginei que tio Luigi e tio Lucca trouxessem com eles
Samantha, a mesma coisa são os meus tios Luiz e Filippo com
Eduarda e Pietro. E soube por meu Otets que Otto fez questão de
encontrá-los para que chegassem juntos em tempo hábil. Ouvi tia
Luna dizer a Justin que Tia Laila não pode vir porque Hope havia
pego um resfriado, mas que estava ansiosa por notícias. E que os
demais da família que não vieram, estavam em prontidão caso
precisássemos de suas presenças. No entanto, espero que nada
grave aconteça para que a família não esteja fragilizada e sem
membros capazes ao redor.

Não sei como eles tiveram a capacidade lógica de estarem


aqui por mim e por Justin, mas de qualquer forma eu sou grato. Por
isso que sempre vou reafirmar ao mundo o quão sortudo sou por ter
a Família Aandreozzi como minha. Sei o quanto cada uma dessas
pessoas são ocupadas com suas próprias vidas, mas são nesses
momentos de necessidade que eles estão lá para sempre dar seus
máximos.

— Vik! — Justin chama, enquanto vem até mim.

— Oi meu amor! — Digo estendendo meus braços para trazer


seu corpo ao meu.

— Quando você fez tudo isso? — Questiona ele, alisando meu


rosto com sua mão livre.

— Tudo o que? — Pergunto fingindo não entender sua


pergunta.

— Pare de fingir! — Briga sem calor e eu sorrio.

— Gostou? — Pergunto deixando um beijo na sua bochecha


rosada.

— Tem como não ser feliz com a presença da nossa família?


— Rebate e eu solto uma risada rouca.

— Essa é uma pergunta que é fácil de ser respondida. — Digo


e ele deixa um beijo no meu queixo.

— Obrigado! — Agradece meu amor, sem precisar dizer mais


palavras, porque eu sei exatamente o significado.

— Tudo bem, malêch! — Falo em forma de sussurro.

Gostaria de dizer a Justin todas as palavras que estão presas


em minha garganta, mas não consigo. Tenho medo de que se eu
disser, se eu contar o que estou planejando, uma palavra que ele
diga em negação seja o suficiente para jogar todo o meu plano pelos
ares. Sendo assim, permaneço em silêncio, aproveitando para
abraçá-lo o máximo que posso, porque talvez esse seja o último
abraço que lhe darei nessa vida. Chega! Não posso trazer
pensamentos tão deploráveis para um momento como este. Devo
aproveitar ao máximo e absorver toda a força que o amor de Justin
pode me oferecer.

— Está acontecendo algo? — Justin pergunta repentinamente


e eu me controlo ao máximo para não demonstrar qualquer coisa.

— Nada, malêch! O que poderia ser? — Questiono o mais


tranquilo possível.

— Hum… deve ser impressão minha! — Justin diz com um


pouco de estranheza no início, mas logo relaxa abrindo um sorriso.

— Vamos comer, que mais tarde temos que nos reunir com a
família e falar sobre a família Yegorov! — Digo e ele fecha o sorriso
na mesma hora.

— Sim, vamos resolver logo esse problema! — Diz ele com


firmeza. — Vamos fazer isso juntos, Vik! — Justin concluiu apertando
sua mão na minha.

Sem conseguir me controlar eu o abraço com força,


abaixando minha cabeça para encaixar sua boca na minha. Justin
soltou um som de surpresa, mas logo um gemido prazeroso sai
entre seus doces lábios. Esse nosso beijo é a confirmação de todo o
amor que sinto por ele, do quanto sou grato ao destino por ter me
escolhido para carregar seus sentimentos. Deus, eu sou louco por
Justin, nunca escondi isso para mim mesmo, e agora que podemos
enfim estar contemplando esse amor, existem fatores externos que
querem nos impedir. Porra, isso é tão fodido de injusto! Mas farei o
impossível, me colocarei de bandeja e ficarei de frente ao diabo se
for possível. Só para poder evitar que algo grave aconteça com esse
homem tão incrível à minha frente.

— Nossa, que beijo mais delicioso! — Justin diz em forma de


sussurro enquanto deixo beijos leves por todo seu rosto.

— Essa é a demonstração do tanto que… — Antes que eu


pudesse completar minha declaração paro, porque meu celular
começou a tocar.

— Quem é? — Justin pergunta assim que reconheço o nome


na tela do meu celular.

— Vsevolod Egorov! — Respondo de forma gélida.

— Mas o que será que essa família quer contigo? — Justin


pergunta apreensivo.

— Não sei, mas tenho que atender! — Respondo sem


demonstrar muito.

— Eu vou ficar com você! — Justin anuncia e eu aperto o


celular entrem meus dedos com força.

— Não se preocupe, malêch, os Egorov devem estar


querendo atualização sobre os últimos acontecimentos com os
Yegorov. — Explico por alto, e ele franze o cenho.

— Mas Vik, você confia nessa família? — Indaga ele com


preocupação e eu sorrio.

— Só existe uma família em que posso confiar a minha vida e


essa família é a nossa família, meu amor! — Revelo com um sorriso
no rosto e ele respira aliviado.

— Tudo bem amor, você deve saber o que fazer! — Justin diz
e eu deixo mais um beijo nos seus lábios.

— Vá comer alguma coisa, em breve estarei ao seu lado! —


Digo carinhosamente e ele concorda.

— Não demore muito, nossa família lhe aguarda! — Justin diz


com uma expressão fofa.

— Eu sei, malêch! — Respondo carinhosamente.


Justin se afasta de mim, caminhando aos poucos com a ajuda
da sua bengala. Fico onde estou, o observando atenciosamente até
que ele suma do meu campo de visão. No instante em que a
silhueta de Justin some do meu campo de visão, resolvo ir em
direção ao meu quarto. Assim que fecho a porta atendo a ligação
incessante de Vsevolod.

— Você está maluco, garoto? — O velho, que sempre mostrou


gentileza ao falar comigo, atendeu a ligação em fúria.

— Em que parte eu sou maluco, pode clarear a minha mente,


Egorov? — Pergunto friamente e ele bufa.

— Não se faça de desentendido, Viktor, você queimou todos


os negócios de Oleg! Tem noção do que isso pode te trazer? —
Questiona nervoso.

—Sim! — Respondo simplesmente e ele solta um som de


asfixia.

— Olha, eu sei que você não confia em nós, garoto, mas


temos o mesmo sangue correndo em nossas veias, só estou te
dizendo isso para que saiba. Oleg e Vassily não vão deixar barato,
eles são gananciosos e loucos, Viktor! — Vsevolod alerta sem
esconder seu descontentamento.

— Sei disso muito bem, e espero poder enlouquecê-los mais e


mais! — Digo de forma sucinta enquanto troco de roupa.

— Viktor, garoto, eu fiz uma promessa à sua mãe, Katrina,


antes de ela morrer, e antes que toda a sua família paterna fosse
eliminada por Maxim." — Ele faz uma breve pausa, mas logo volta a
falar. — Nós vivemos em silêncio, fingindo apoiar as loucuras dos
Konstantinov para poder manter um olho em você, protegê-lo na
escuridão. O papel da família Egorov é proteger o seu legado, o que
é seu por direito, e direito da sua mãe, que teve que lidar com um
monstro como Maxim para poder te trazer a vida. — Vsevolod diz e
eu fecho meus olhos com força.

— Não lembro dela, nunca a conheci! — Digo sombriamente.


— No entanto, eu sei exatamente a quem devo a minha vida, e o
nome dele é Andrea Aandreozzi! — Digo friamente cheio de fúria.

— Reconheço o papel do viúvo de Maxim em sua vida, mas


sua mãe fez o possível, Viktor! — O velho diz e eu mordo meu
maxilar com força.

— Não tente recuperar uma relação que nunca existiu,


Egorov! — Digo sombriamente, enquanto ele solta um suspiro.

—Entendo, mas saiba que atenderei o pedido que me fez. —


Diz ele me deixando satisfeito.

— Obrigado! — Agradeço, porque sei que meu pedido vai


revelar algo que talvez seja perigoso para sua família.

— Não precisa agradecer, minha lealdade não está com


Aleksandr e sim com você, garoto. — Confidência ele mais uma vez
e eu fecho os olhos brevemente.

— Que seja! — Digo já querendo desligar essa ligação sem


sentido.

— Tome cuidado, Oleg e Vassily são duas raposas espertas!


— O velho alerta e eu faço um som de concordância.

Após mais algumas palavras eu desligo a ligação


rapidamente, prometendo a mim mesmo não me enfurecer com as
palavras desse velho sem noção. Desde o momento que eu passei
nos testes da Bratva, ele fez questão de deixar claro o seu lado
entre mim e Aleksandr. Expondo para mim nossa ligação
consanguínea por ser tio materno de minha mãe biológica. Só que
essa informação não tem muita relevância para mim, Katrina morreu
a muito tempo. Foi meu pai Andrea que me protegeu o máximo que
pode das coisas perversas que Maxim e seus leais subordinados
tentaram fazer comigo. Onde estava a família Egorov quando eu
mais precisei? Longe, muito longe, vivendo como ratos que são!

Então não, eles não são nada para mim além de massa de
manobra. Se eles se permitirem serem usados por mim, usarei com
muito prazer e nada além disso. Não acredito em lealdade de
pessoas desse tipo, porque nunca sabemos o que virá por trás de
minhas costas. Foda-se essa família Egorov e a promessa que
fizeram a uma mãe que nem mesmo teve a oportunidade de me ver
crescer! Respiro fundo tentando me livrar de sentimentos
irrelevantes e vou dar início ao meu plano. Finalizo de me arrumar e
saior do quarto. Faço uma breve agitação em Sasha e Tom, por que
essa agitação fará com que eles corram pela cobertura, evitando
assim que Justin ouça meus passos.

Vou em direção ao elevador de serviço onde os seguranças e


os outros funcionários têm acesso. No instante que entro no
elevador vejo a figura de Mikhail aparecer diante de mim, ele abre a
boca para dizer algo, mas faço sinal para que ele fique onde está em
silêncio. Ele atende meu comando, mas sem deixar de franzir o
cenho. Ignoro sua expressão e observo a porta do elevador se
fechar, em poucos instantes as portas do elevador se abrem
novamente e dou de cara com a garagem. Pego um dos meus carros
e sigo em direção ao Paradise. Durante a viagem, tento com todas
as forças não pensar que estou cometendo o maior erro da minha
vida, e que, possivelmente, não poderei mais voltar atrás.

— Só espero que Justin e meus pais não fiquem muito


chateados! — Resmungo, aproveitando para pegar o meu celular e
programar uma mensagem de voz para Justin.

Gravo a mensagem, programando um horário para que ela


fosse enviada. Penso em gravar outra, mas assim que tento noto
que finalmente cheguei na Paradise. Natska, Dominick e os irmãos
Glinka estão na porta à minha espera, saio do carro e antes que eu
pudesse me aproximar mais perto dos meus homens eu ouço um
grito alto, esse grito veio de Pyotr Pavel.

Fodidos traidores de merda, eu sabia! Pensei que fosse


demorar, mas parece que estão com muita pressa!

— AGORA! — Pyotr grita e seu irmão, Pavel, puxa duas armas


em direção a Natska e Dominick.

— FILHOS DA PUTA! — Natska grita de volta, tentando puxar


sua própria arma, mas é atingida duas vezes.

— Porra, Natska! — Solto um grunhido ao vê-la cair no chão.


— Dominick, vá até Natska e se proteja! — Comando, mas não
consigo ouvir sua resposta.

Nesse momento o caos foi instaurado, e os irmãos Glinka


estão no meio do caos atirando contra os meus subordinados que
tentam retaliar contra a chuva de balas que foram lançadas de
forma desprevenida. Eles estavam escondidos, esperando a minha
chegada, e com a ajuda dos irmãos Glinka conseguiram me
emboscar de forma ridícula. Daqui consigo ver Dominick lutar
incessantemente para poder vir até mim, mas é em vão, são muitos
e ele não pode fazer muita coisa. Atiro em todos que consigo, mas
parece que esse filhos da puta brotam de todos os lugares. Tento
correr, mas assim que dou um passo sinto algo gelado alcançar
minha nuca. É o cano de uma arma!

— Fique parado senhor, não posso atirar, essas são as ordens


que recebi! — Pavel fala grosseiramente, sem esconder o desdém na
voz.

— Então quer dizer que você me traiu pelos Yegorov. — Digo


com a voz tranquila e ele me olha com um riso sarcástico.

— Não existe traição se nós já éramos pessoas dos Yegorov


antes, certo? — Pavel revela e me traz uma compreensão.
— Entendo! — Digo simplesmente.

— Surpreso? — Indaga ele de modo provocativo e eu viro


minha cabeça para o lado.

— Não! — Respondo em tom desleixado o deixando furioso.

— Não vai adiantar pagar de bacana comigo, você vai morrer!


Você vai ser morto pela família Yegorov! — Pavel diz cheio de ódio e
rancor e eu dou de ombros.

— Se for o meu destino, que seja! — Respondo dando de


ombros.

— Ora seu… — Pavel começou a falar, mas o som de carros


velozes se aproximando chamou nossa atenção. — Que merda, essa
é… esses são o povo dos Egorov! — Pavel diz surpreso.

— Pavel, vá embora! Va…— o grito de alerta de Pyotr foi


interrompido quando um tiro acertou o meio da sua testa.

— BRAT (irmão) — Pavel soltou um grito doloroso,


observando Natska mesmo caída no chão matar seu irmão de forma
limpa. — SUKA! (vadia!) BLYAD! (vagabunda!) — Pavel tenta
direcionar sua arma para Natska, mas um dos subordinados dos
Yegorov o alerta.

— Faça seu trabalho porra! — Diz o homem deixando Pavel


voltar a si.

— Merda! — Grunhiu ele em lágrimas puxando uma seringa


até meu pescoço.

Foda-se! Sem me importar com as armas direcionadas contra


mim eu tento tirar a seringa das mãos grandes de Pavel, mas o
desgraçado é mais rápido do que eu. E antes que eu pudesse ter
noção do que estava acontecendo, sinto o meu corpo começar a
ceder.
— Vou me deliciar com sua morte, e tenho certeza que será
um presente especial para o meu irmão que foi morto por aquela
vadia. — Pavel pisa em meu rosto quando caio do chão, mas o meu
corpo está tão pesado que não consigo nem mesmo dizer uma
palavra sequer. — Durma, Viktor Konstantinov, talvez quando você
acordar, você estará no seu inferno pessoal! Suka! — Pavel diz após
cuspir no meu rosto.

Ouço mais alguns barulhos e vozes altas, mas não consigo


assimilar nada, pois a minha mente lutou muito, mas no fim foi
levada pela escuridão pegajosa e arrepiante. Só espero que, seja o
que for que me aconteça, seja o bastante para deixar o meu amor,
meus pais e toda minha família em paz.

Isso é tudo o qeu espero, minha vida é irrelevante, mas ele…


eles são tudo para mim!
CAPÍTULO 35

Bônus

— Cadê o Viktor, ele não está demorando demais? — Luna


pergunta chamando a atenção de todos. Franzo o cenho ao perceber
que realmente, meu filho está demorando mais do que o esperado.

— É verdade, estou morrendo de fome e essa sopa está com


uma carinha boa! — Samantha fala alisando as suas mãos,
mostrando sua expectativa.

— O que o Vik disse a você, Jus? — Pietro pergunta a Justin


que acabou de sentar à mesa conosco.

— Nada demais, dissemos poucas palavras um ao outro e ele


disse que eu deveria comer alguma coisa. — Conta Justin virando o
rosto brevemente para o lado, demonstrando a confusão na sua
face.
— Não há necessidade de se preocupar, um de vocês vai lá
chamá-lo. — Lucca fala pegando um pedaço de pão para jogar na
sua boca.

— Eu vou! — Otto levanta da mesa em um pulo.

— Grazie mille, bambino! — Agradece Enzo e Otto dá um


sorriso de lado.

— Se acalme, anjo, nosso garoto deve estar muito ocupado


com tudo o que está acontecendo. — Enzo diz entrelaçando nossas
mãos, e deixando um beijo carinhoso na minha mão logo em
seguida.

— Isso mesmo, ele só deve estar com muita coisa em mente!


— Luigi diz e vejo meu marido me lançar um sorriso calmante.

— A sopa está realmente com uma cara ótima, tome um


pouco, Dea. — Luti diz dando um sorriso tranquilizador. Olho para
ele e para Filippo, que com sua expressão de sempre assente com a
cabeça para mim.

— Tudo bem! — Falo em tom baixo, olhando brevemente em


direção ao quarto do meu filho.

Nunca foi da minha vontade que meu filho mais velho tivesse
que passar por tantas situações difíceis por causa da Bratva. Uma
organização que leva a ferro e fogo as questões sobre linhagem e
poder, e infelizmente meu filho é o primogênito de uma família russa
antiga. Onde tem muitos grupos na própria irmandade que confiam
muito na existência desse nome. Sei disso mais do que ninguém,
pois vivi essa vida por 10 anos naquele inferno. Foram momentos de
tormentos intermináveis para mim, que ainda era apenas um menino
e nem sabia o que era viver longe da ilha, com seus pais e sua irmã
mais velha ambiciosa. No entanto, aqueles anos ficaram para trás,
porque agora faço parte de uma linda família. Uma família que
acolheu tanto a mim quanto Viktor e Otto, transformando nossas
vidas para melhor. Mudando completamente nossa existência e
refazendo nossas memórias dolorosas em momentos únicos e
felizes.

Só que jamais imaginei que essa vida cheia de imundície


retornasse com força, puxando meu filho de volta para toda essa
merda. Tudo isso sempre foi inaceitável para mim, porque somente
eu sei os horrores que Viktor viveu com a Bratva a mando de Maxim.
Aquele garoto tem cicatrizes profundas no seu coração, meu filhinho
viu e ouviu tanta coisa, teve que amadurecer muito rápido a fim de
aguentar todas as suas dores calado. Meu ex marido… quer dizer,
meu ex algoz, sempre foi muito firme sobre não chorar, que as
lágrimas eram coisas de pessoas fracas, inúteis e dignas de dor e foi
com essas palavras que meu filho cresceu. Foi nesse molde que meu
menino teve que viver, por isso com todas as reviravoltas da minha
vida eu fiz questão de arrancá-lo das mãos assombrosas da família
Konstantinov.

E pensei, eu realmente pensei, que essa luta havia sido ganha


e que jamais meu menino voltaria para essa vida desgraçada, mas
infelizmente eu estava errado. Maledetti! Como eles poderiam fazer
isso? Como fizeram meu filho voltar para essa vida de merda? E
ainda mais… como eles poderiam tentar matar o meu filho? Vou
resolver… meus pensamentos foram interrompidos pelo grito de
aviso de Justin.

— NÃO COMAM A SOPA! — Justin grita em aviso e logo ouço


o som de talheres batendo com força na louça.

— O que foi? — Pietro diz assustado.

— Jus, o que está acontecendo? — Duda pergunta nervosa.

— Filho? — Luna olha para nós e depois chamando Justin que


estava concentrado.
— Veneno! — Uma única palavra de Justin foi o suficiente
para nos fazer entender.

— Foda-se! — Sam fala olhando para o prato a sua frente


com olhos arregalados.

— Você tem certeza, Justin? — Filippo pergunta afastando o


prato de sopa de seu marido e filhos.

— Sim, tio, eu sinto um leve cheiro que está mascarado pelos


outros ingredientes, mas não tem como confundir. Há um odor no
meio de tantas coisas, e esse cheiro é proveniente de arsênico, que
se metaboliza com o calor. — A voz de Justin é fria e distante. — O
traidor, ele está aqui, nessa cobertura!

— Eu, Lucca e Luigi vamos procurar esse rato! — Filippo toma


sua posição.

— Precisamos… — Enzo começa a falar, mas a voz abafada de


Otto chega aos nossos ouvidos.

— Tio Andrea! — Chama Otto e eu viro rápido em sua


direção. — O Viktor, ele não está aqui! O Viktor saiu da cobertura!
Diga a eles, Mikhail! — Otto manda e é a primeira vez que noto a
presença de um dos irmãos Griboedov.

— Mika? — Justin pergunta com a voz cheia de temor.

— Sinto muito, pequeno chefe, o Boss, ele… — Mikhail tentou


terminar de falar, mas Justin passou por mim como uma maldita
flecha.

— Como você pode deixá-lo sair e não me avisar, porra! —


Justin agarra Mikhail pela gola da sua camisa e ele não tenta se
soltar.

— O Boss saiu e eu nem mesmo pude ir atrás dele, tentei


ligar para minha irmã, para o Dominick, mas ninguém respondeu
meus chamados. — Ele conta seriamente, enquanto cerra os punhos
ao lado do seu corpo.

— Oh Deus! — Alguém exclama, suspeito que seja Luti, mas


nem mesmo virei o rosto para poder ter certeza.

— Você é um dos meus homens, como você não pode me


avisar, Mika! Eu confio em você, Viktor confia em você e como é
que… — Justin dispara a pergunta com os dentes cerrados e Mikhail
coloca a mão sob a sua.

— Obrigado pela sua confiança, pequeno chefe, mas eu sou


fiel ao meu futuro Pakhan! — Mikhail diz friamente. — Eu sou um
dos braços do Boss, e se ele me mandar morrer, farei isso sem nem
ao menos pensar. Se ele me mandar ficar quieto, assim eu farei! —
Conclui ele dando um sorriso de autodepreciação.

— Merda! — Justin diz com a voz perdida e eu vejo seu corpo


desmoronar, mas antes que ele alcance o chão Filippo vem até ele.

— Fique tranquilo, bambino, vamos atrás do Viktor! — Filippo


diz seriamente e olha em direção a Luna. — Luna, acalme Justin, eu
vou procurar por respostas! — Filippo diz e minha cunhada assente.

— Venha aqui, abóbora! — Luna chama seu filho.

— Mamma… como o Vik pode fazer isso? — Justin diz com a


voz cheia de dor e eu fecho os meus olhos com força.

— Vamos descobrir o que está acontecendo, fique tranquilo,


meu amor! — Luna fala enquanto o abraça com força, tentando
tranquilizar o seu filho.

Me afasto de todos para poder ficar de frente para a enorme


parede de vidro. Enquanto olho para essa cidade onde reside meu
filho mais velho, fico tentando reorganizar meus pensamentos
confusos e agitados. No meu coração sabia que existia algo que não
estava certo, não sou só pela demora de Viktor aparecer na mesa,
mas eu vi isso assim que encontrei seus olhos. Eles estavam
cansados, perdidos, ansiosos e muito culpados, conheço o meu filho
como ninguém. Eu o criei desde que ele tinha três anos de idade, eu
o vi alcançar todas as fases de sua vida, eu estive com ele a cada
momento. E posso garantir que ninguém nesse maldito mundo o
conhece mais do que eu! Através dos seus olhos eu sabia que algo
não estava bem, esperei até que nós terminássemos de comer para
poder questioná-lo sobre seus próximos passos.

Só que é daí que vem o meu erro! Eu esqueci que assim


como eu o conheço, o meu garoto me conhece também. Viktor tem
essa mania de sempre achar que pode atrapalhar nossas vidas de
algum modo, como se ele fosse um intruso que nos coloca em
perigo. No entanto ele está totalmente errado, por que ele não é
responsável por nada, nossas vidas nunca foram um mar de rosas e
não seria diferente agora. A Bratva é só mais um lixo que temos que
lidar, nada mais do que isso. Só que o meu menino ainda não
entendeu sobre isso, terei que deixar claro de uma vez por todas.
Nem que eu tenha que lhe dar uma bela surra e deixá-lo de castigo!
Droga, eu não sou assim! Não é esse tipo de pai que tento ser para
os meus filhos, eu os deixo livres para errar e acertar, lutando suas
próprias batalhas e tendo nós, seus pais, para reunir os caquinhos
que foram danificados em meio às suas lutas.

Meu peito está apertado, por que sinto que algo não está
certo. Sinto que algo deve ter acontecido, fora a sua saída, mas vou
fazer de tudo para continuar de pé. Farei o impossível para encerrar
essas coisas para meu primogênito, e para isso acontecer devo me
manter inteiro. Fecho os olhos quando sinto braços fortes tomarem a
minha cintura, nem preciso virar meus rosto para saber de quem se
trata esse abraço.

— Você sabia que nosso filho iria fazer isso, não sabia? —
Indago e pela reação rígida do seu corpo eu posso ter certeza de
minhas palavras.
— Suspeitava, mas não tinha certeza, porque a preocupação
dele era deixar Justin em perigo. — Enzo conta e eu respiro fundo.

— Ele o ama demais! — Confirmo e Enzo solta um som de


confirmação.

— Sim meu anjo, eles foram feitos um para o outro! — Enzo


diz e eu respiro fundo.

— Zuco, porque Vik sempre tenta fazer tudo sozinho? —


Pergunto mesmo sabendo da resposta.

— Nosso filho sempre foi assim, anjo! — Enzo diz deixando


um beijo no topo da minha cabeça. — Lembra quando os gêmeos e
Otto eram mais novos, ele sempre ia à escola averiguar o problema
antes mesmo que chegasse aos nossos ouvidos. Viktor tem um
senso de responsabilidade muito grande, meu anjo. — Zuco diz e eu
sinto meus olhos arderem.

— Lembro sim, ele dizia que não tinha por que nos preocupar
já que ele poderia lidar com tudo. — Solto um bufo e Zuco me
aperta mais forte.

— Garoto tolo! — Digo com pesar.

— Vamos conseguir… — Enzo começa a falar, mas o som


abrupto de algo chega aos nossos ouvidos.

Me desvencilhei do meu marido para poder olhar ao redor. Os


integrantes da família estavam espalhados pelo ambiente, mas
independentemente do local onde estavam, todos tinham a cabeça
virada para a mesma direção. Fico confuso por um breve momento
até que consigo entender a cena à minha frente. A governanta de
Viktor está limpando suas mãos após jogar o cozinheiro de Viktor no
chão com toda sua força. Boris, o mesmo cozinheiro que eu
contratei para que meu filho não passasse das horas de comer, e
resolvesse ingerir qualquer coisa não tão saudável quanto uma boa
refeição feita em casa. O rosto arredondado de Boris está cheio de
lágrimas e ranho, enquanto tenta barganhar com Nadzhda em russo.
Porém o rosto da governanta é frio ao encará-lo em silêncio antes
de virar para Justin.

— Senhor Justin, peguei esse homem falando ao celular com


Vasily Yegorov! — Nadzhda fala seriamente, olhando para Boris com
asco.

— O que? — Justin pergunta confuso e sai dos braços da sua


mãe.

— Ele disse que havia feito o que foi mandado e perguntou se


poderia ir embora. — A governanta conta e eu cerro meus punhos.

— Como você sabe que ele estava falando com Vasily? —


Pergunto de modo gélido, atraindo a atenção para mim.

— Todos nós da Bratva sabemos que o único covarde que


ousa eliminar seus inimigos de modo tão sorrateiro é ninguém
menos que Vasily. — A governanta diz me olhando fixamente e eu
não posso deixar de concordar.

— Senhor Andreozzi, eu sou inocente! Senhor, por favor! Eu


não fiz nada disso! — Boris começa a negar desesperadamente.

— Não adianta, eu o peguei! — Nadzhda fala e Mikhail toma a


dianteira parando na frente de Boris.

— Como você pode trair o Boss? O que te ofereceram? O que


ofereceram para poder trair o Boss que só lhe trata bem? — Mikhail
pergunta em tom perigoso e profundo.

— Eu não fiz! Eu não envenenei a comida! — Boris diz de


repente fazendo todos olharem para ele de modo estranho.

— Boris, nós nunca dissemos nada sobre a comida estar


envenenada! — Digo sombriamente puxando uma das minhas facas
escondidas e lançando na sua coxa.
— AAAAAAAAAAAAA…. — Boris grita em surpresa.

— Então o Vasily sabe que estamos aqui e mandou você


envenenar nossa comida, certo? — Questiono friamente chegando
até ele para segurar a sua mandíbula.

— E-eu não… eu não sei! — Boris gagueja enquanto o seu


sangue mancha o piso do apartamento.

— Você vai nos dizer tudo o que precisamos saber, Boris! —


Digo olhando nos seus olhos e daí eu posso ver o medo.

Sim, eu gosto assim! Tenha medo de mim, seu filho da puta


traidor!

— Eu não sei de nada! Juro que não sei, só fiz o que me


mandaram fazer! — Boris diz amedrontado.

— Você sabe, eu sinto que você sabe mais e eu tenho acesso


à pessoa certa para poder tirar toda essa informação de você. Certo,
meu cunhado Lucca? — Questiono sem olhar em sua direção.

— Claro, faz tempo que não sei o que é dilacerar alguns


corpos! — Lucca diz com ar sorridente, enquanto começa a estalar
os dedos.

— Leve-me com o senhor, papai! — Samantha pede com voz


animada.

— Claro meu docinho, o papai vai te dar uma boa aula


prática! — Lucca diz e sua filha ri ferozmente.

— Senhor… por favor! Eu não… aaaaa…! — Boris é atingido


por mais uma das minhas facas.

— Existe alguma sala onde podemos levar esse estorvo para


brincar? — Lucca pergunta a Mikhail que concorda.
— Sim senhor, mas eu preciso que o pequeno chefe autorize!
— Mikhail diz olhando para Justin calmante.

— Tudo bem, faça o que for pedido, Mika! — Justin diz, agora
mais recomposto do que antes.

— Como desejar, pequeno chefe! — Mikhail diz, sinalizando, e


logo, dois capangas surgem para arrastar Boris, ensanguentado,
para longe.

Assim que Boris sai do meu campo de visão eu mudo meu


olhar para Mikhail e Nadzhda. No momento que vou dizer algo a eles
ouço um movimento vindo de uma das áreas da cobertura. Justin
ergue seu corpo e começa a balbuciar o nome de Viktor, mas logo
para quando consegue sentir algo além. Justin diz a governanta para
chamar rápido por Czar, ele começa a direcionar seus passos para
fora da sala. Olho para os demais presentes e todos estão tão
confusos quanto eu, mas logo entendemos o nervosismo de Justin.
Cazzo! A visão que temos assusta o inferno fora de nós! Isso porque
Dominick e Natska estão sendo carregados, seus corpos
desmaiados, machucados e muito ensanguentados. Mikhail grita
algo em russo para sua irmã gêmea, mas ela não responde, ele
aponta suas armas para os homens que vieram trazer os dois.

No momento que reconheço essas pessoas é minha vez de


pegar a minha arma e também apontar para eles. Fazendo assim
com que o restante da família também puxasse suas armas e
direcionasse para esses invasores. Por que sim, eu os conheço! Eles
são pessoas que podem facilmente ser consideradas como inimigas
do meu filho, por que tanto essa família quanto a família Yegorov
lutam por monopólio nos Estados Unidos a anos. Sim, estou falando
da família Egorov! Pode ter passado anos, mas nunca esqueceria um
rosto, principalmente quando se trata da Bratva!

— Chto ty sdelal s moyey sestroy i Domom? Gde boss, idioty!


(O que vocês fizeram com a minha irmã e com o Dom? Onde está o
chefe, seus merdas!) — Mikhail cospe as palavras cheias de violência
latente.

— Prezhde chem nachat' srazhat'sya, istselite ikh. My


smozhem proyasnit' situatsiyu pozzhe! (Antes de começar a lutar,
cure-os. Podemos esclarecer a situação mais tarde!) — Um homem
alto, usando um terno todo sujo e bagunçado toma a frente para
falar.

— Timur, você acha que… — Mikhail fala, mas a voz de


Dominick alcança nossos ouvidos.

— Mika, faça o que ele pediu, sua irmã está perdendo muito
sangue! — O segurança de Viktor diz e logo desmaia.

— Blyat! (Merda!) — Pragueja correndo para segurar sua irmã


nos braços. — Nichego, sestrenka, ya obo vsem pozabochus'! YA
zdes', sestra! (Está tudo bem, irmã, eu cuido de tudo! Estou aqui,
irmã!) — Mikhail diz nervoso, segurando sua irmã com força.

— As pessoas capazes de fazer primeiros socorros vão e


ajudem no que for possível! — Filippo tomou a dianteira e começou
a direcionar as pessoas.

— Nós vamos! — Luti, Pietro e Luna começaram a sair com os


feridos.

— Czar e sua equipe estão vindo, chamarei o enfermeiro de


Reyes para vir também! — Nadzhda diz seriamente.

— Você fica para trás e nos conta o que diabos está


acontecendo! — Zuco aponta para Timur Egorov que assente com a
cabeça.

— Sim! — Responde dando de ombros.

— O que diabos está acontecendo aqui? Como Natska e


Dominick ficaram nesse estado? Onde está o Viktor? — Justin não
aguenta mais esperar e estoura indo até Timur que desvia do seu
ataque.

— Eu só sou o mensageiro, o meu avô mandou eu vir trazer


esses dois e ele está junto com o restante da família, tentando evitar
que Oleg e Vasily saiam do país com o Viktor! . — Timur conta
rapidamente erguendo suas mão em sinal de rendição.

— Não me diga que… — Justin começa a falar, mas para


colocando as mãos na boca.

— Sim, Viktor foi levado pelos homens de Vasily! — Timur


disse com pesar e eu corro até Justin que desmorona.

— Não, não diz isso! É mentira, não é? Tio Andrea, diz que é
mentira! — Justin diz e eu o abraço com força.

— Quanto tempo? — Enzo pergunta em tom gelado a Timur.

— Menos de uma hora! — Timur responde e eu fecho meus


olhos enquanto seguro o amor do meu filho nos meus braços.

— Onde está o pessoal da sua família agora? — Filippo


pergunta vindo até Enzo.

— Não sei ao certo, mas o principal é evitar que eles tirem


Viktor do país. — Timur faz uma pausa e nossos olhos se
encontram. — Eles não podem levá-lo para a Rússia de modo
algum! — Conclui ele e eu fecho meus olhos com força.

— E se não conseguirem evitar que eles saiam do país? —


Luigi pergunta.

— Precisaremos da ajuda de Aleksandr, mas a minha família e


a família Konstantinov não se ajudam mutuamente. — Timur revelou
e eu mordi o maxilar com força.
— Então, por que você está ajudando o Viktor? — Lucca
pergunta confuso.

— Hum… — Timur me encara.

— Os Egorov tem parentesco com o meu filho, eles têm um


laço sanguíneo por causa de Katrina, mãe biológica de Viktor. —
Digo com a voz fria e sinto os olhos de todos em mim.

— Entendo! — Filippo diz e eu concordo com a cabeça.

— Não se preocupem com Aleksandr, eu falarei com ele! Está


na hora de resolver algumas coisas e tirar meu filho das garras
doentes e gananciosas dos Yegorov e trazê-lo de volta para casa. —
revelo sentindo o meu interior queimar de ódio mortal.

Aleksandr terá que escutar minhas palavras, porque se ele


não fizer eu o arrancarei de sua posição e o matarei sem dó. Meu
filho é minha maior prioridade, e ninguém jamais tirará ele de mim,
porque é ao nosso lado o seu lugar. Farei com que a Bratva entenda
que Viktor não pertence a eles e sim o contrário, porque basta uma
palavra da minha criança e colocarei cada um desses desgraçados
para chorar pedindo por piedade aos seus pés.

Por que é assim que deve ser!


CAPÍTULO 36

A escuridão da minha visão inexistente parecia se misturar


com a escuridão do meu coração. Estou parado no centro da sala,
imóvel, como se fosse uma parte do ambiente, quase como se
tivesse sido engolido pela própria confusão mental. O som das vozes
misturadas dos membros da minha família, junto com a mistura de
odores de pessoas desconhecidas no ambiente, fazia com o que a
minha turbulência só crescesse gradativamente. Mesmo com todo o
desconforto de ter essa poluição presente no apartamento de Viktor,
eu sentia como se aquilo, e tudo isso, fosse os únicos fios de
conexão com a realidade, porque ainda tinha a forte sensação de
que, naquele momento, a realidade havia desaparecido.
Meu coração bate muito rápido me deixando enjoado, mas
mesmo assim consigo forçar para me controlar. Pressiono a palma
da minha mão contra minhas pálpebras fechadas, como se pudesse
sufocar o medo e a tristeza que teimam em me consumir. Viktor...
onde você está? O nome do amor da minha vida soava como um
sussurro, mas cada vez que essa frase se repetia, a sensação de
impotência aumentava. Sei que não posso ver as coisas, mas a
minha percepção é muito aguçada a tudo à minha volta. E posso
dizer com clareza que mesmo esse apartamento sendo grande do
jeito que é, e cheio de pessoas, eu ainda consigo o sentir vazio,
solitário e frio como a primeira vez que coloquei meus pés aqui. Só
que naquela vez eu podia sentir o calor e o conforto através do
cheiro marcante de bergamota.
Mas agora? O que me resta agora? Está tudo tão vazio!
O calor do seu corpo, a vibração de seus passos no chão, as
nossas conversas baixas e as risadas suaves que compartilhamos,
agora estavam apenas em minha mente, como uma memória
distante que se apagava. Só que eu não quero que se apague, eu
não vou permitir que se apague, por que eu vou lutar com
unhas e dentes para poder trazer o meu Viktor de volta para casa.
Só que… eu não sei por onde devo começar! Deus, como essa
situação pode ser tão merda?Eu sei que nossa família uniu forças
com a família Egorov, o que, para mim, foi uma grande surpresa, já
que descobri que eles têm parentesco com Viktor por parte de sua
mãe, a fim de montar um plano de ataque perfeito para tirar meu
Vik das garras dos seus inimigos.
Minha mente analítica sabia que a minha família estava em
busca de respostas, mas em meu peito, eu sentia que o tempo só se
arrastava, e cada minuto que passava sem saber onde Viktor estava,
era como uma faca cravada mais fundo. Um leve ruído chamou
minha atenção, meu corpo enrijeceu um pouco por conta dos meus
sentidos aguçados, é uma reação intuitiva pelo tanto de tensão que
estou sentindo. Mas ao parar um pouco, eu noto a presença de
Samantha e Eduarda, sendo assim eu relaxo um pouco.
— Abóbora? — Sam chama com uma voz leve, mas eu nem
mesmo ergo minha cabeça, que está descansando entre meus
joelhos.
— Justin, você precisa comer alguma coisa! — Duda fala, mas
ao ouvir mordo meu maxilar com força.
— Sam, você e o tio Lucca conseguiram algumas informações
com o desgraçado do Boris? — Indago e ouço um suspirar alto.
— Nada de útil, porém, após algumas doses de conversa
franca, nós ficamos sabendo de algumas informações sim. — Sam
conta e eu franzo o cenho.
— Conversa franca é um modo delicado de dizer tortura? —
Duda indaga e Sam solta uma risada sem graça.
— Se você quer chegar nisso, então sim! — Conta Sam com a
voz preguiçosa.
— Então, o que descobriram? — Pergunto seriamente.
— Ah sim! — Sam exclama e logo começa a contar.
Sam diz que ela e meus tios descobriram que Boris fez isso
para proteger sua mulher e filhos, que estavam sendo mantidos por
Oleg Yegorov. Ele manteve essa conversa por um bom tempo até
que meu tio Lucca percebeu que havia mais nisso do que uma
simples ameaça. Ao perguntar à governanta, Nadzhda, meu tio
soube que a mulher e os filhos de Boris haviam ido embora há
algum tempo e que estavam vivendo em Ijevsk, no leste da Rússia.
Após investigar mais a fundo, descobriu que a esposa e os filhos de
Boris tinham deixado Nova York porque ela suspeitava de uma
traição. No entanto, a vida conjugal desse desgraçado falso e
mentiroso não é o mais importante aqui. O que realmente importa é
descobrir o que foi que Oleg Yegorov ofereceu a ele em troca de
envenenar nossa comida e contar os passos de Viktor.
E a resposta é simples, sou eu, o que Oleg queria com isso
era me matar. Em partes para vingar Yuri, e a outra para
desestabilizar Viktor, porque ele sabia da minha força. E com a vinda
da família Aandreozzi para a casa de Viktor, seria um bônus que nem
mesmo Oleg ou Boris estavam esperando, e matar todos
envenenados seria algo muito melhor do que somente se livrar de
mim. Foda-se! Esses filhos da mãe realmente estavam muito bem
infiltrados em nossas vidas, e nem tínhamos dimensão do quanto.
Era como se eles estivessem brincando conosco o tempo todo, mas
só agora conseguimos ver. O ódio que estou sentindo agora é muito,
muito grande mesmo! É o tipo de ódio que desperta em mim o
desejo de sentir o calor do sangue dos meus inimigos escorrendo
pelas minhas mãos.
— Que raiva, como pude me deixar enganar por aquela
gentileza de Boris? — Me repreendo amargamente.
— Não seja tão duro consigo mesmo, Jus! — Duda diz
calmamente e eu sinto o toque suave de sua mão no meu braço. —
Somos humanos, podemos ser enganados, porque essa é a parte de
ser humano. — Ela diz e eu cerrei meus dentes com força.
— Mas fomos treinamos para poder pegar todo tipo de
nuances estranhas, Duda! — Digo cheio de irritação e ela sorri.
— Somos sim, mas essas coisas acontecem justamente para
entendermos que não somos deuses, que podemos falhar sim e que
está tudo bem. — A voz da minha prima mais velha é tão calmante
que me faz respirar fundo.
— Se estivesse tudo bem o Viktor não seria sequestrado. —
Resmungo cheio de amargura.
— Oh Jus, confie um pouco em nosso Viktor, ele não é um
homem que se submete desse jeito. — Sam fala cheia de confiança
e ergo minha cabeça.
— Você acha que isso pode ser um plano de Viktor? —
Pergunto repentinamente, quando um sentimento surgiu no meu
coração.
— Claro, estamos falando de Viktor Aandreozzi, e não de
qualquer outra pessoa. — Samantha fala e uma onda de confiança
chega até mim.
— Duda, você tem esse mesmo pensamento? — Indago a
minha prima mais velha e ela dá um risinho.
— Com certeza, ele não chamaria nossa família aqui se não
tivesse algo em mente. Viktor é um homem muito inteligente, que
tem uma resistência muito forte e deve estar só esperando que nós
finalizemos toda essa história, com essa família, junto a ele. — A
explicação de minha prima é lenta, detalhada e precisa, fazendo com
que alcance meu coração e mente perturbada.
— Então é isso! — Falo em forma de sussurro.
— Isso mesmo, Jus, continue pensando dessa maneira. —
Sam diz animada passando seus braços em minha volta.
— Mas… mas se ele fez isso de caso pensado eu vou ficar
muito furioso com ele. — Relato ao reunir meus pensamentos.
— Óbvio, ele pode esperar que quando o encontrarmos
vamos chutar sua bunda com muita força. — Duda diz de modo
malicioso.
— Isso aí, vamos ter fé em nossos pais e vamos esperar a
localização precisa onde Vik está sendo mantido. — Sam conta e eu
só posso concordar com a cabeça.
Mesmo com as palavras de minha prima, a minha mente
continua uma verdadeira bagunça. Fico em uma luta em tentar me
controlar para quando chegar o momento eu puder ajudar com
todas as minhas armas. No entanto, quanto mais as horas passam,
mais me sinto vazio, eu preciso saber se Viktor está bem. Ou pelo
menos ter a certeza de que ele continua vivo, não sei, eu só preciso
de algo para poder me ancorar. É estranho demais tudo o que estou
sentindo, porque nunca me imaginei numa situação como essa. Tudo
bem que somos treinados desde pequenos para lidar com
sequestros — afinal, nossos pais têm muitos inimigos espalhados por
aí, inimigos que acreditam que nos capturar fará nossa família ceder.
Só que as coisas não funcionam exatamente assim, e muitas vezes
conseguimos escapar do mesmo jeito que fomos levados.
Contudo, mesmo sabendo de tudo isso, mesmo tendo
algumas experiências, sejam elas engraçadas e outras não, o medo
de que algo aconteça e a vida do meu Viktor seja perdida é muito
maior do que qualquer coisa. O amor que sinto por ele tomou uma
proporção tão grande que me fez esquecer completamente da
lógica. Esquecer de todo o meu treinamento, esquecer que não
estou sozinho nisso tudo e principalmente esquecer o quão capaz o
meu homem também é. Não sei, eu não sei de mais nada, a única
coisa que tenho plena certeza é que quero encarar Viktor o mais
rápido possível.
Meus devaneios são despertos quando uma conversa de
minhas primas chegam aos meus ouvidos.
— Meu tio vai ligar para Aleksandr, quando? — Eduarda
perguntou chamando minha atenção.
— Pelo o que fiquei sabendo eles só estão esperando que
Bisa Francesca e o nosso Nonno possam estar presentes em ligação
também. — Sam responde tranquilamente.
— Bisnonna Francesca e Nonno Donatello? — Questiono
confuso e Sam faz um som de confirmação.
— Sim, essa conversa aconteceu antes que Duda, Tio Luti e
Pê voltassem dos cuidados com os subordinados de Viktor. — Sam
fez uma pausa. — Você estava presente, não prestou atenção? —
Pergunta ela e eu nego com a cabeça com tristeza.
— Sinto muito, minha mente estava em outro lugar! — Dou
de ombros e ela respira fundo.
— Não se preocupe tanto, minha abóbora amada, tudo ficará
bem no final. — Sam diz deixando um beijo na minha bochecha.
— Estaremos ao seu lado, Jus! E vamos juntos trazer meu
irmão mais velho para casa são e salvo! — A voz de Otto chega aos
meus ouvidos e eu dou um sorriso curto.
— Otto! — Falo revelando sua presença.
— Vim chamar vocês, tio Andrea vai falar com Aleksandr
agora mesmo. — Otto avisa e isso me faz levantar do lugar.
— Sério? Então vamos! — Abro minha bengala e quando
estou pronto para sair sinto uma mão alcançar a minha.
— Lembre-se, Jus, estaremos ao seu lado! — Eduarda diz e
eu dou um curto sorriso.
— Eu sei, mas agradeço por me lembrar disso. — Digo dando
um sorriso e sinto me levarem para um abraço.
— Vamos trazer Vik de volta! — Sam diz com fervor e eu
concordo.
— Juntos! — Otto exclama.
— Sempre juntos! — Respondemos todos juntos.
Nem precisei da minha bengala para poder ir em direção
onde minha família estava, já que cada uma das minhas primas
tomaram a iniciativa de me guiar junto a elas. Esse ato aqueceu meu
peito, pois com isso elas deixaram claro de que eu não estava
sozinho e que estariam ao meu lado para me dar a força que
necessito. Sentindo meu espírito mais elevado, alcancei minha
família, e assim que minha mãe nota minha presença faz questão de
vir perguntar como estou. Sorrio tentando lhe passar tranquilidade,
mas como uma boa mãe que é, sabe exatamente o que está se
passando comigo nesse momento. Agradeço mentalmente por ela
não me fazer muitas perguntas, e me deixar participar da ligação.
Sinto alguns outros olhares estranhos sobre mim, nem preciso
pensar demais para saber que se trata da família Egorov, mas eles
são importantes agora. Quem sabe um dia a gente possa se
conhecer, em outro momento, pois com toda certeza esse momento
não é agora.
— Estão todos presentes, meu filho? — A voz firme do meu
nonno chama minha atenção.
— Tio Filippo colocou a chamada em formato de vídeo! —
Sam sussurra a informação no meu ouvido e eu assenti.
— Sim, pai, estão todos aqui! — Tio Filippo diz com a mesma
firmeza.
— Então inicie a ligação, meu genro Andrea! — Manda ele e
meu tio faz um som de confirmação.
— Espero que esse corno velho atenda logo! — Bisa diz com
raiva do outro lado da linha.
— Querida, você precisa se acalmar! — Biso aconselha minha
bisa, mas ele solta um som enfurecido.
— Como vou me acalmar, Lorenzo! Meu neto, meu neto mais
velho foi sequestrado por algum filho de uma cagna maledetta, mas
onde estou? Estou presa entre um monte de velhote e um mordomo
intrometido que não me deixou escapar! — Bisa grita cheia de raiva
e eu dou um sorriso de lado.
— Filippo e os meus outros filhos nos disseram que trariam
Viktor para casa, e eu confio nos meus filhos, mamma! — Meu
nonno diz e minha bisavó bufa.
— Eu também confio nas minhas crianças, mas eu queria
chutar algumas bundas murchas! — Resmunga ela fazendo meus
primos se contorcerem para não rir.
— Quando a senhora estiver melhor, nonna! — Minha nonna
diz com leveza e minha bisa faz um som de confirmação.
— Que seja! Agora onde está esse… — Minha bisavó não
concluiu por que a ligação foi atendida.
— Kto mog... Andrea? (Quem poderia… Andrea?) — Uma voz
rouca com um forte sotaque russo chega aos meus ouvidos. Nem
preciso pensar demais para saber de quem se trata essa voz.
— Da, Aleksandr, eto ya! (Sim, Aleksandr, sou eu!) — A voz
do meu tio é fria, sem dar qualquer brecha para outro tipo de
saudação.
— Mas o que… espera! Se você está me ligando, deve ser
sobre o Viktor? — Aleksandr pergunta com a voz duvidosa.
— Você não sabia? — Meu tio rebate cheio de asco.
— Sei o que? O que está acontecendo? — Indaga ele com a
voz assumindo uma certa seriedade.
— Oleg e Vasily levaram o Viktor! Eles o sequestraram,
Aleksandr, e o culpado de toda essa merda é você! — Tio Andrea
acusa sombriamente e ouço um arfar vindo da ligação.
— Minha culpa? Mas eu nem estou sabendo disso? Como é
minha culpa? — Dispara a pergunta em confusão.
— Quem trouxe meu filho de volta para uma vida de merda
como essa? Quem foi que jogou com a mente do meu filho a fim de
fazê-lo aceitar seu pedido de retorno para ser seu herdeiro? Se você
não é o culpado nessa situação, então quem é? — Tio Andrea expõe
seu ódio por Aleksandr livremente, perdendo o controle.
— Anjo, se acalme! — Tio Enzo fala de modo calmante.
— Mas Zuco, foi ele que… — Tio Andrea começa entre
dentes.
— Não, tem algo muito errado em suas palavras, Andrea! —
Aleksandr o interrompe. — Viktor nunca foi ameaçado por mim ou
qualquer coisa do tipo, o que acontece é que eu lhe contei a
realidade de toda situação. Como Pahkan eu preciso de um herdeiro,
e se não fosse ele, deveria ser o seu irmão biológico. — Ele fez uma
breve pausa. — As outras famílias estavam aguardando a sua volta
há muito tempo, eu fiz um trato com ele. Ele me dá o que preciso,
que no caso é a legitimidade do meu posto, em contrapartida, eu
faço as outras famílias esquecerem que você e sua família italiana
mataram o seu antigo Pahkan. — Conclui ele sua explicação.
— Mas Viktor é meu filho, meu herdeiro, não um herdeiro de
uma maldita mafia. — Tio Andrea diz entre dentes.
— Ele já foi reconhecido como o próximo Pahkan, e você sabe
disso, sempre soube — Aleksandr rebate.
Sinto a tensão tomar conta de todos os membros da minha
família, é como se todos quisessem atravessar as barreiras
tecnológicas para enforcar Aleksandr Konstantinov com suas
próprias mãos.Esse homem é muito cínico; sua dissimulação com as
palavras é de tirar qualquer um do sério. E isso só faz as pessoas
quererem bater nele até que vire uma polpa de carne. Odioso!
Nojento! E essa raiva é imensa porque suas palavras foram
verdadeiras, e isso é o que mais irrita.
— Engraçado você dizer isso, Aleksandr, sendo que foi você
que me ajudou a tirar Andrea de Moscou a alguns anos atrás. Certo?
— Bisnonna fala de repente surpreendendo a todos.
— Como? Foi ele que te ajudou, nonna? — Minha mãe
pergunta surpresa.
— Não tenho interesse em mentir, minha preciosa neta. —
Bisa diz com elegância e um ar malicioso. — Esse homenzinho
incapaz e sem vergonha, ajudou nosso Dea a sair de Moscou. Mas
não pensem que foi por ter um bom coração, o seu desejo sempre
foi e sempre vai ser poder, estou certa, Aleksandr? — Bisnonna
Francesca aponta e o silêncio se faz presente.
— O que precisam que eu faça? — Aleksandr diz após um
breve momento de silêncio.
— Oh, eu gosto quando as pessoas sabem ser inteligentes,
não é mesmo? — Bisa fala e depois dá uma risadinha sarcástica. —
Seria muito estranho se eu colocasse tudo o que sei para fora,
certo? — Minha Bisa pergunta e ouço uma tosse.
— Não sei onde a senhora quer chegar, senhora Aandreozzi!
— Aleksandr diz e eu cerro os punhos.
— Sabe, você sabe! O que a Bratva mais detesta é a traição,
eles levam a irmandade muito a sério, seria muito, muito complicado
se uma informação mentirosa sobre a morte de Maxim começasse a
ser espalhada pela Rússia, certo? — Bisa diz e sua voz soa com um
toque de aviso velado.
— Mas isso… porra! O que você quer de mim? — Aleksandr
pergunta derrotado e eu respiro fundo.
— Consiga a localização da família que sequestrou Viktor em
menos de uma hora. Se isso não acontecer, as informações que
tenho em mãos serão lançadas na mídia anonimamente. — Nonna
Francesca diz e eu ouço o som de sua bengala de madeira batendo
no chão.
— Farei o meu melhor! — Aleksandr diz friamente.
— Não, você fará o impossível, o meu bisneto pode ser ser só
um objeto de manobra para você, mas para mim ele representa o
mundo. Traga a informação para que a minha família Aandreozzi
destrua aqueles que ousaram levar o nosso Viktor de nós. — Minha
bisa diz fazendo meu coração acelerar.
— Você pode não acreditar, mas eu gosto do Viktor! —
Aleksandr diz e eu faço uma careta.
— Gosta meu cu, seu porquinho russo ganancioso! — Explode
Nonna Francesca. — Eu só não deixei o meu neto Enzo te matar,
porque infelizmente você ainda tem um papel para representar,
Aleksandr. — Ela conclui.
— Mas não se engane, nós ainda podemos te matar a
qualquer momento. — Tio Enzo diz de modo sombrio.
— Principalmente se algo acontecer com o meu filho! — Tio
Andrea conclui com leveza, mas essa leveza foi mais assustadora do
que nunca.
— Entendo, vou procurar a localização agora mesmo! —
Aleksandr diz e interrompe a ligação.
Esse foi o contato mais estranho que já vi nessa vida, mas
apesar de estranho ele trouxe muitas informações que eu nunca
imaginei nessa vida. Quem imaginaria que foi Aleksandr quem
ajudou Nonna Francesca a tirar meu tio Andrea das garras
asquerosas de Maxim Konstantinov? Minha nossa, quais serão os
próximos segredos revelados por essa minha família? Não sei, mas
independentemente do que seja, a minha única vontade agora é de
poder saber logo o paradeiro de Viktor. Espero que Aleksandr não
demore!
— Vamos nos aprontar, temos que estar preparados para
quando a informação for enviada. — Tio Filippo diz chamando a
atenção de todos nós.
— Isso é o melhor a se fazer, vamos estar aqui esperando por
notícias de vocês! — Nonno Donatello diz firmemente.
— Anna e eu estaremos aqui rezando na capela até que
Viktor seja encontrado. — Nonna Francesca diz com segurança na
voz.
— Vamos estar sempre à disposição, crianças! — Minha
nonna Arianna fala com seu jeito preocupado e amoroso de sempre.
— Fiquem em segurança, queridos! — Bisnonno Lorenzo pede
com preocupação.
Após mais algumas palavras para transmitir cuidado e
preocupação, a ligação com os mais velhos da família foi encerrada.
Sinto uma onda de força tomar conta de mim, com isso eu me livro
rapidamente da tipoia que estava usando. Eu preciso estar sem isso
aqui para poder lutar com tudo de mim, e trazer o homem que amo
de volta para mim.
— Justin , filho, por que você… — Minha mãe Luna começa a
falar nervosa e eu respiro fundo.
— Eu vou ajudar a trazer Viktor de volta e não vai ser um
ombro machucado que vai me impedir, mamma! — Relato
seriamente e ela respira fundo.
— Mas filho… — minha mãe começou a falar, mas meu tio
Andrea a impediu de continuar.
— Luna, deixe ele, vamos estar por perto! Ele precisa disso!
— Tio Andrea diz seriamente.
— Tudo bem! — Minha mãe responde resignada. — Vamos
estar juntos a todo momento, eu estarei ao seu lado, meu filho. —
Mamma diz e eu dou um curto sorriso.
— Eu também, tia Luna! Vou lutar lado a lado com o abóbora!
— Sam diz se colocando à disposição como sempre.
— Vamos estar todos juntos, tia! — Pietro diz com confiança.
— Até mesmo eu estarei lutando, trouxe o meu arco e flecha,
e farei o impossível para tirar nossos inimigos do caminho. — Otto
diz seriamente.
— Traremos Vik de volta pra casa! — Eduarda fala friamente e
não posso deixar de concordar.
— Só tomem cuidado e deem o seu melhor, crianças! — Tio
Luti diz com um sorriso na voz.
Depois dessas palavras me pus a andar em direção ao salão
de treinamento, trazendo meus primos junto comigo, pois
precisávamos de um local para podermos nos preparar. Troquei de
roupa, vesti um equipamento de suporte em Tom, pois como eu
estava sem o Reyes ao meu lado, eu precisaria colocar o
treinamento de força de Tom em prova hoje. Como não sei para qual
lugar deveremos ir, e nem faço dimensão de como deve ser a
estrutura do local ou qualquer outra coisa parecida, ter Tom ao meu
lado vai ser de grande ajuda. Terminei de me aprontar, pegando a
roupa de combate preparada por Eduarda para mim. No momento
que estava vestido, pedi a Sam para guardar a minha espada e o
lenço de seda, porque irei usar quando chegar a hora certa. No
momento em que eu e meus primos estávamos prontos, com todas
as armas carregadas, saímos juntos do local onde nos
encontrávamos.
— Não, eu vou junto! Eu vou tirar o Boss dessa merda! — A
voz cansada de Natska chega aos meus ouvidos e eu paro minha
caminhada.
— Natska, o que faz fora da cama? Você está em
recuperação! — Digo e ouço seus passos arrastados vindo até mim.
— Sestra, para com isso! — Mika diz nervoso.
— Me deixe, Mikahil, eu vou ajudar o senhor Justin! — Ela diz
entre dentes, como se estivesse lutando com a dor. — Se eu não
fosse uma incompetente e tivesse percebido as más intenções dos
irmão Glinka tudo isso poderia ser evitado. — Natska diz com dor e
eu tomo a frente para poder segurá-la.
— Natska, você confia em mim? — Pergunto seriamente,
segurando seu corpo magro, mas com alguns músculos pequenos.
— Claro que sim, senhor Justin! — Responde ela rapidamente
sem nem ao mesmo pensar.
— Então confie em mim mais uma vez. Eu prometo: vou
trazer o meu Viktor de volta, vou trazer o Boss de vocês de volta! —
digo, virando-me e sentindo sua mão agarrar o tecido da minha
camisa de manga preta.
— Eu só tenho dois pedidos, senhor! — Nat diz entre dentes.
— Pode dizer! — Peço em tom sério.
— Leve o Mika com o senhor, assim eu ficarei tranquila! —
Nat diz, e eu dou um curto sorriso, virando minha cabeça na direção
de onde está vindo a respiração de Mika.
— Um dos meu homens já está incapacitado, é claro que eu
não ficarei sem o outro! — Digo ouvindo uma respiração aliviada
vindo de Mikhail.
— Spasibo (Obrigado), pequeno chefe! — Agradece Mika e eu
assinto.
— E seu segundo pedido, Nat? — Pergunto curioso.
— Faça um favor a mim e ao Dom, de arrancar a cabeça
desses desgraçados com sua espada, senhor! — A voz de Natska sai
carregada de violência crua e eu respiro fundo.
— Isso será um prazer, minha querida, Nat! — Respondo com
ar sorridente e ela faz um som de confirmação. — Leve a sua irmã
para descansar, Mika, estarei te aguardando! — Digo a ele que vem
prontamente levar a irmã.
— Tudo bem, pequeno chefe! — Diz ele e leva sua irmã de
mim.
— Vamos andando, irmãos! — Chamo meus primos que
estavam quietos observando a cena diante deles.
— Claro, pequeno chefe abóbora! — Sam diz maliciosamente
e eu nego com a cabeça.
Meus primos brincam entres eles a fim de aliviar a tensão, me
sinto muito mais tranquilo ao tê-los ao meu lado, sempre foi assim e
vai continuar sendo. Por que eles são os meus irmãos de alma,
aqueles que chamo no momento de necessidade e estão sempre
prontos para me estender a mão. E eu os amo demais, e tenho
certeza que se eles não estivessem aqui, só Deus sabe como eu
poderia estar em um momento como esse sem o Viktor ao meu
lado. Eu sou e serei eternamente grato por isso, por tudo sempre!
— Que bom que chegaram crianças, já estávamos indo
chamá-los! — Tio Luigi diz assim que chegamos à sala de estar.
— O que foi papai Luigi? — Sam pergunta.
— Temos uma localização! — Tio Filippo diz friamente, me
deixando rígido no mesmo momento.

É
— É verdade? — Questiono após fechar e abrir minhas
pálpebras.
— Sim, meu filho, é verdade! — Mamma confirma e eu cerrei
meus punhos com força.
— Meus homens conseguiram rastrear alguns esconderijos
dos Yegorov, mas grande parte deles já foi destruída pelo Viktor em
retaliação. No entanto, meu avô conseguiu localizar um deles em
Nova Jersey. — diz Timur, chamando minha atenção.
— E foi confirmando com a mensagem que Andrea acabou de
receber de Aleksandr. — Tio Lucca diz com ar ansioso e feroz.
— O que fazemos agora? — Otto pergunta e sinto seu olhar
em mim.
— Sairemos imediatamente! — Tio Enzo diz friamente e eu
não posso deixar de concordar.
— Nunca se esqueçam, se mantenham em segurança e
fiquem juntos! — Tio Filippo diz, mas eu estou muito concentrado
agora. — Lembrem-se: Para tudo e por tudo! — Tio Filippo diz,
fazendo meu coração acelerar.
— SEMPRE! — Todos nós respondemos em uníssono.
Me espera. Onde quer que você esteja... me espera. Eu vou
te encontrar, e trazê-lo de volta para mim Viktor!
CAPÍTULO 37

Perdi a noção de quanto tempo estou nesse lugar úmido,


pegajoso, com o cheiro forte de sangue por todos os lados. Não sei
dizer se foram minutos, horas, dias ou meses, pois minha cabeça
está muito confusa depois de toda surra que levei no momento que
cheguei a esse lugar. Tento chegar a algum tipo de reconhecimento,
mas está tudo muito bagunçado, seja por causa das drogas que
ainda se fazem presentes na minha corrente sanguínea ou pelo
tanto de tortura que esses desgraçados me fizeram passar. No
entanto eu sei de algo, sei que esses filhos da puta estão com muita
raiva, consegui ouvir uma das conversas de Oleg com Vasily. Pai e
filho tentaram sair me levando com eles, mas parece que o cerco
está se fechando pouco a pouco. E isso é a prova de que do lado de
fora a minha família está trabalhando para tentar me livrar das
garras deles, e isso me deixa incrivelmente em paz.
Pedir ajuda aos meus pais e a minha família Aandreozzi foi
um dos melhores acertos que fiz. Oleg e Vasily podem tentar jogar
com minha mente quantas vezes eles acharem necessário, mas tudo
o que eu posso sentir além da raiva e a ânsia por acabar com suas
vidas sendo destruídas é conforto. Conforto em saber que eles
podem tentar inúmeras coisas, mas o fim de cada um deles está
mais perto do que se possa imaginar. Cada hematoma em meu rosto
era um lembrete. Cada gota de sangue que escorria pelos meus
braços, presos por correntes grossas ao teto da gaiola onde estou
sendo mantido, era uma promessa. Os Yegorov haviam me
capturado, sim — mas não me haviam quebrado. E jamais
conseguiriam.
Eles acham que isso é o fim?… penso, e os meus lábios se
curvam em um meio sorriso amargo. Mal sabem que só cavaram a
própria cova.
Eu sabia que minha família viria, eles iriam me encontrar! Os
Aandreozzi não deixavam um dos seus para trás. E ele… Ele também
viria. Meu amante. Meu caos e sua cura. O único capaz de incendiar
o mundo por mim, mesmo que lá no fundo eu deseje mais do que
tudo mantê-lo em segurança, escondido do terror que esse meu
mundo sujo possa lhe causar, mas de qualquer jeito, seja como for,
ele também virá. Inferno fodido, como sinto falta do meu Justin, de
sentir o toque das pontas dos seus dedos no meu rosto, de ouvir sua
respiração constante e leve enquanto dormia ao meu lado. Se eu
conseguir sair daqui com vida, espero poder pedir ao meu Justin
para que ele se case comigo. Eu deveria ter feito isso a um tempo,
tenho nossas alianças prontas esperando só para poder descansar
em nossos dedos anelares.
E além de tudo isso, eu espero do fundo do meu coração
maldito que meu bebê possa me perdoar por sair sem falar uma
única palavra. Nem que eu tenha que me ajoelhar em seus pés por
muitos e muitos dias, eu verdadeiramente espero que ele possa me
perdoar. Meus pensamentos são interrompidos quando ouço um
movimento vindo do lado de fora. Volto a abaixar minha cabeça, por
que reconheci as vozes sendo de Oleg e de Pavel, um dos gêmeos
Glinka que eu achava que trabalhava para mim. Se fosse em outro
momento eu estaria dando um sorriso auto depreciativo, mas eu não
tenho muito tempo para tais emoções.
— Como está Viktor? Está gostando da hospitalidade
oferecida por mim e pelo meu filho? — Oleg diz com uma simpatia
fingida.
— Deve ser boa, já que esse filho da puta está dormindo! —
Pavel fala com a voz pingando ódio.
— Se está com inveja das minhas acomodações eu posso
ceder meu lugar facilmente para você, Glinka. — Respondo com a
voz rouca, arrastada e leve.
— Ora, seu… — Ele tenta avançar até a gaiola, mas Oleg não
permite.
— Fica quieto, Pavel, não está vendo que ele quer provocá-lo?
— Oleg diz friamente e Pavel rosna olhando para mim.
— Deixe-me matá-lo para vingar o meu irmão, senhor! —
Pavel pede tentando ao máximo se controlar e eu dou um sorriso de
lado.
— Olha só Oleg, eu não sabia que você agora pede sua
própria caça para seus subordinados inferiores. — Digo lentamente
cada palavra, saboreando o rosto enrugado de Oleg.
— Mas… — Pavel tenta avançar, mas é interceptado pelo
chute forte de Oleg nas suas pernas.
— Cale essa sua maldita boca e se coloque no seu lugar! —
Oleg grita com raiva apontando o dedo para Pavel no chão sujo.
— Sinto muito, senhor! — Pavel se desculpa, abaixando sua
cabeça.
Sinto seus olhos pingando ódio em mim, sem pudor volto os
meus olhos para ele cheio de descaso. Uma formiga nunca poderá
ser um leão, essa é a frase mais certa que pode resumir a existência
dos Glinka. Esses irmãos que antes fingiram muito bem trabalhar
com Aleksandr Konstantinov, agora foi revelado que eles sempre
pertenceram à família Yegorov. Nem sei como descrever que tipo de
situação de merda é essa, mas seja como for, no final eles irão
morrer. Se conheço bem o irmão de Natska, ele jamais permitirá que
Pavel continue vivo por muito tempo depois que seus olhos se
cruzarem novamente.
Já que por causa dele, sua irmã foi seriamente ferida,
pensando nisso, eu espero que tanto ela quanto Dominick tenham
conseguido sair daquele caos causado pelos homens dos Yegorov.
Porque, diferente dos Glinka e de todos que se aproximaram de mim
com segundas intenções, os irmãos Griboedov e Dominick sempre
foram aqueles que deram as suas vidas para me proteger e manter
seguro.. Sou muito grato a essas pessoas, por que desde o
momento em que assumi a minha posição como Herdeiro da Bratva,
eles estão prontos para se lançarem no fogo junto comigo, se caso
for necessário.
— Tudo bem, só se coloque no seu lugar e tudo ficará bem
para você! — Oleg diz balançando a mão em sinal de desdém.
— Eu ouço o futuro Pakhan! — Pavel responde em sinal de
respeito.
Ouvir isso me faz rir baixinho, porque essa é a maior ambição
dos Yegorov. Eles ainda sonham com essa posição, mas o que eles
não sabem é que independentemente de qualquer coisa, esse será
um sonho que eles jamais irão alcançar. Oleg quer ser o chefe dos
chefes e fazer do filho o herdeiro da irmandade. Se isso não soa
como a piada mais batida de todas, então eu já nem sei mais como
qualificar.
— O que que te faz rir? — Oleg pergunta em um tom cheio
de asco.
— Você! — Ergo minha cabeça para encarar os seus olhos. —
Você me faz rir! — Concluo sentindo meus lábios secos e rachados.
— Ria o quanto quiser, mas saiba o que está diante de você,
Viktor! — Oleg diz cheio de veneno.
— E você poderia me dizer com clareza o que me aguarda? —
Indago com a voz zombeteira.
— A morte, o que mais seria? — Oleg diz após se aproximar
de mim.
— Você deveria escrever contos de fadas, Oleg Yegorov, por
que só assim você seria capaz de ter um império, como imagina. —
Conto sem esconder o meu desdém.
— Olhe para mim e olhe para você, perceba quem de nós
dois está preso agora, Viktor! — Oleg fala, e noto que está
começando a perder sua compostura.
— Não, Oleg, você está muito enganado! — Digo carregado
de ódio e malícia.
— Oh, onde estou enganado? — Pergunta ele entre dentes e
eu dou um sorriso com meus lábios partidos.
Observo o corpo envelhecido de Oleg se aproximar
lentamente de mim. Tento não demonstrar o quanto esperei por
esse momento — não quero vê-lo recuar. Pavel ergue a cabeça e me
encara fixamente. Vejo a dúvida e o medo em seus olhos, mas
desvio o olhar daquele ser traidor e insignificante. Seria sujeira
demais para os meus olhos dar-lhe qualquer atenção. Volto minha
atenção para Oleg. Esse velho maldito. Esse filho da puta imundo. O
homem que anseio matar com as minhas próprias mãos. Homem
que abusou sexualmente do meu pai Andrea, bem diante dos meus
olhos, a mando do meu próprio pai biológico, Maxim. Uma das
cadelas velhas que lambiam o chão onde Maxim pisava, o mesmo
homem que jurei com todas as letras matar com minhas próprias
mãos.
Oleg Yegorov pode não saber, mas eu esperei por esse
momento, me deixei ser capturado para poder me encontrar cara a
cara com ele como agora. Foram anos, anos esperando sua morte
de forma sangrenta. Agora eu posso! Eu posso deixar a minha
escuridão brincar com sua presa, posso mergulhar de cabeça em
minha própria loucura, desligando minhas emoções sem me importar
com o que vem a seguir.
Sim… venha até mim Oleg! Entre aqui e me deixe confrontá-
lo! Penso ansioso enquanto o vejo entrar na jaula na qual estou
preso.
— Diga-me, onde estou errado? — Diz ele novamente,
friamente, me tirando dos pensamentos. — Não vai me dizer que
perdeu a coragem agora que estou aqui, diante desse seu risinho
desdenhoso? — Oleg pergunta segurando uma arma em punhos,
que está apontada em direção a minha cabeça.
— Senhor, não se aproxime… — Pavel fala com Oleg, mas ele
atira no chão perto de Pavel que se assusta.
— CALADO PORRA! — Oleg grita enfurecido. — Se você falar
mais alguma coisa vou atirar no meio da sua testa, seu merda. —
Avisa Oleg, e Pavel fica quieto dando uma passo para trás.
— Sim, senhor Yegorov! — Pavel responde em tom baixo,
mas não antes de olhar novamente para mim.
— Viktor, onde estamos? — O velho nojento vira seu corpo,
direcionando sua arma na minha direção novamente. — Será que
terei que ir atrás daquele ceguinho infeliz que matou o meu querido
sobrinho? — Oleg diz e eu mordo a mandíbula com força.
— Oleg, não vá adiante com suas palavras! — Aviso cheio de
obscuridade.
— Oh, isso fez você falar, olha só! — Oleg diz e começa a
gargalhar. — Vou trazer aquele ceguinho até aqui, vou jogá-lo nesse
chão imundo e foder sua bunda. Isso será bem diante dos seus
olhos, assim como seu adorado pai traidor. Você lembra, Viktor?
Lembra como seu pai gritava e pedia para que eu parasse? Lembra
como Maxim ria da situação e te mandava ser forte? Será que você
lembra disso tudo, Viktor? — Oleg pergunta de modo enlouquecido
pressionando a arma contra minha testa.
Fecho meus olhos com força, enquanto arranho a ponta dos
meus dedos dos pés contra o cimento desalinhado do chão sujo.
Sim, Oleg, eu lembro! Eu lembro de cada atrocidade que o meu pai
passou, não tem como esquecer toda essa merda fodida. E é por
isso que vou me vingar de você, mesmo que depois disso eu tenha
que morrer, eu vou destruí-lo no processo. Com isso em mente eu
continuo a folgar a corrente que está presa no meu punho esquerdo.
Ela já estava sendo afrouxada a muito tempo, desde o momento que
acordei depois da surra sem fim que os capangas dos Yegorov me
fizeram passar. Eles não tinham notado esse afrouxo, e eu fiz
questão de desviar suas atenções disso propositalmente.
— Você já foi mais resistente, Viktor... Está mesmo tão
quebrado assim? — Oleg diz de modo provocante, enquanto passa o
cano da arma contra o meu rosto.
Abaixo minha cabeça, tentando me mostrar aparentemente
vencido e Oleg dá mais um passo, confiante. Antes que Oleg
pudesse abrir sua maldita boca novamente, um som metálico chega
aos nossos ouvidos. É isso, é agora! Sorrio com o meu pensamento
de pura carnificina que toma conta de todo o meu ser. Com um
movimento brusco, forço o meu ombro contra a corrente esquerda,
e com isso há um estalo alto e seco. Um grito rouco escapou de
minha garganta seca e machucada, mas finalmente consegui! Meu
punho esquerdo está livre, sangrando, mas solto. Oleg recua,
surpreso, levanto meus olhos sanguinários, o rosto sujo de sangue e
suor, encarando um dos homens que mais odeio nessa fodida vida.
— Quebrado? Você nem começou a me ver quebrar. Oleg! —
Rosno cada palavra, sentindo meu corpo rígido louco para pegá-lo e
destruí-lo.
Num salto, mesmo ainda preso pelo pulso direito, avanço com
a força que ainda me resta contra Oleg, usando o pedaço de
corrente solta como um chicote improvisado. O golpe atinge o rosto
de Oleg, rasgando a sua pele, ele cambaleia para trás, atordoado
gritando de dor, mas eu não me importo. Para falar a verdade o seu
grito de dor é o combustível que eu preciso para continuar a lançar a
corrente contra o seu corpo velho e decadente. Giro o corpo, envolto
em raiva e adrenalina, preparando o próximo ataque, agora não é
mais a corrente que me prende. É ela que virou a minha arma,
minha única arma no momento.
— Sim, Oleg, eu lembro, e me lembro de tudo! — Minha voz
sai gélida, com uma ânsia mortal.
— Fi… fique longe, porra! — Oleg manda, mas eu estou longe
de obedecer.
Assim que sua voz morreu eu usei todas as minhas últimas
forças para jogar a corrente presa no meu pulso esquerdo no seu
corpo. Aproveito um momento breve de distração de Oleg para
impulsionar meu corpo para frente. Dando-lhe uma cabeçada forte,
a força do impacto faz seu corpo cair no chão. Com sua queda Oleg
afrouxa seu apego contra a arma, fazendo assim com que ele caia
em minha frente. O que é uma grande sorte para mim, por que
assim que me abaixo para pegar a arma, Pavel entra na jaula para
tentar salvar Oleg. O que ele não sabia era que eu usaria a arma
para poder atirar contra ele.
Porra! Esse tiro era para ser na sua cabeça, mas infelizmente
minha mira foi errada e pegou na sua coxa direita. Minha mente
cansada e cheia de rancor sólido entra em modo mortal, com isso
jogo a corrente contra Pavel que protege o corpo de Oleg com o
dele. Tento posicionar a arma contra os dois mais uma vez, mas um
grito alto é ouvido por mim, e antes que eu pudesse descarregar as
balas restantes nos dois infelizes a minha frente sinto o meu corpo
ser jogado no chão. Dor, é tudo o que consigo sentir, tento lutar,
mas há muitas pessoas em cima de mim nesse momento.
— Pai! — Vasily entra na jaula e recupera seu pai do chão. —
O senhor está bem? — Vasily pergunta cheio de confusão.
— MATE! MATE ESSE FILHO DA PUTA AGORA! — O velho
Oleg manda ensandecido.
— Acalme-se, pai, olha o estado em que o senhor se
encontra! — Vasily diz seriamente e eu vejo Oleg tentar sair do seu
aperto para vir em minha direção.
— Você viu o que esse moleque inútil fez comigo? Olha isso,
ele conseguiu me ferir, Vasily! — Oleg reclama em fúria ao seu filho.
A câmara é iluminada por tochas presas nas paredes úmidas
de pedra, meu corpo preso em aperto firmes nesse chão sujo,
pegajoso e fétido. No entanto, mesmo suado e com a respiração
pesada, eu encaro essa dupla fodida de pai e filho com um ódio
fervoroso. Os capangas de Vasily após chutar, pisar e quebrar o meu
corpo de várias maneiras dolorosas possível, voltaram a prender o
meu pulso esquerdo na corrente contra a jaula. Não sei o que ainda
me mantém consciente, mas seja o que for, eu devo agradecer, pois
ainda quero olhar bem na cara desses desgraçados até o último
suspiro de vida, se assim for possível.
— Você devia ter me matado quando teve a chance, Yegorov.
— Digo após cuspir uma boa quantidade de sangue da minha boca.
— Você devia ter aprendido a perder, Viktor! — Vasily ergue
uma sobrancelha, desdenhoso, sem recuar ou se importar com o
ferimento do seu pai.
Como imaginei, essa dupla de pai e filho são verdadeiramente
uns vermes.
— Pensei que você e esse velho estariam planejando me tirar
daqui. O que será que aconteceu? Tem algo atrapalhando os planos
de vocês? — Questiono tentando manter um sorriso, mas um dos
capangas de Vasily socam meu estômago com força. — Porra! —
Xingo após sentir o forte golpe.
— Pobre, garoto! —Vasily faz um som enjoado com a língua.
— Sinto que ainda existe esperança em você, mas isso é irrelevante.
— Vasily diz friamente e eu dou um sorriso de lado.
— Esperança? Assim como você que viveu a vida inteira
sendo usado por Maxim, em troca de uma noite de foda qualquer?
— Pergunto e vejo sua expressão gélida cintilar um pouco.
— Não sei o que você está querendo dizer! — Vasily diz
tentando passar a imagem elegante de sempre, mas eu sei que
minhas palavras o alcançaram.
— Tem certeza que não sabe? Ou será que o seu velho pai
não pode saber que você sempre foi, e se Maxim tivesse vivo,
sempre continuaria sendo a putinha dele? — Jogo essa informação
na cara de Vasily e ele olha para mim com raiva.
— Viktor, você… — Ele começa a falar, mas eu começo a rir.
— Você não quer deixar Oleg me matar por que pareço com o
imundo do Maxim, certo? O que você quer? Quer que eu te foda
para… — Tento continuar com as minhas palavras, mas Vasily lança
socos fortes contra o meu rosto.
— Vejo que está tentando me fazer te matar, certo? — Vasily
pergunta e eu cuspo o sangue no seu terno caro.
— Não mesmo, eu ainda tenho que degustar a sua morte! —
Respondo dando um sorriso cheio de sangue.
— Não é assim que isso acaba, Viktor. Você sabe disso!—
Vasily avisa. — Sangue por sangue, negócios por negócios, você e
Aleksandr aprontaram demais comigo, com os meus negócios e com
meu povo. — Vasily diz segurando meu queixo, assim como seu pai
fez antes.
— Eu ainda nem comecei direito, mas quando isso acontecer
saiba que não haverá registro de que a família Yegorov existiu nesse
mundo. — Ameaço olhando diretamente nos seus olhos.
— Você já tentou e olhe onde está agora! — Aponta ele,
cheio de altivez, como se realmente tivesse me vencido.
— Mas existe algo sobre mim que nem você e nem o inútil do
seu pai sabia, Vasily. — Aponto e ouço o som raivoso de Oleg.
— Seu moleque atrevido, mate ele logo, meu filho! — Manda
Oleg, mas Vasily nem lhe dá um segundo olhar.
— O que seria isso? — Questiona Vasily e eu dou um sorriso
de lado.
Antes que eu pudesse abrir minha boca para dizer as palavras
que estão entaladas em minha garganta , tiros ecoam por todos os
corredores, o som seco de balas atravessando paredes, a carne das
pessoas, gritos de surpresa e um cheiro de pólvora enchem o ar.
Mesmo daqui eu consigo ouvir o pânico dos capangas de Vasily e
Oleg, muitos deles entram nessa sala em busca de orientação dos
seus chefes. No entanto uma forte explosão joga poeira pela
entrada, os olhos cheios de pânico de Vasily vieram na minha
direção.
— O que é isso? Que merda está acontecendo? — Vasily
pergunta e eu dou um largo sorriso.
— Essa é a resposta para sua pergunta, Yegorov! — Digo
sentindo o meu coração bater como um louco dentro do meu peito.
— Essa é a minha família, por que esse é o lema da nossa Família
Aandreozzi. Nós protegemos os nossos, sempre! — Respondo sem
me importar se minhas palavras chegaram até ele ou não.
Sim… essa é minha família Aandreozzi, e eles vieram por
mim! E eu sabia que isso aconteceria!
CAPÍTULO 38

Meu corpo está muito quebrado, sinto cada parte do meu


corpo gritar de dor, o sangue do meu supercílio flui livremente até o
meu olho esquerdo me impedindo de ter uma boa visualização do
que ocorre à minha frente. No entanto, não será isso que irá me
impedir de ver os últimos momentos dessa dupla de pai e filho. Irei
me esforçar para me manter de pé, mesmo que minha mente esteja
lutando entre ficar consciente ou não. Continuo ouvindo os gritos em
russo vindo dos corredores, observo com o espírito animado
enquanto Oleg arregala seus velhos olhos e manda que seu filho
planeje algo para que eles possam escapar daqui. Porém é tudo em
vão, se eu sei disso que estou aqui preso e fodidamente torturado,
eles com toda certeza devem ter a certeza que não existe alternativa
para eles agora. Um sorriso doentio surge na lateral dos meus
lábios, Pavel Glinka nota isso e me encara de volta em fúria.
Sem nenhuma ordem o desgraçado inútil vem até mim,
cerrando os punhos pronto para socar o meu corpo. E assim ele faz,
a dor vem me rasgando de dentro para fora, fazendo com que um
forte jato de sangue seja expelido de minha garganta. Continuo
rindo da fragilidade de sua mente raivosa e de luto pelo seu irmão, e
isso o enfureceu ainda mais.
— Do que está rindo seu filho da puta? — Pavel pergunta
entre dentes enquanto agarra o meu cabelo molhado e joga minha
cabeça para trás.
— Você, você me faz rir! — Respondo sem demonstrar
fraqueza.
— Oh, mas não sou eu que estou preso e com o corpo todo
fodido, não é mesmo? — Pavel indaga em tom provocador.
— Isso não é nada! — Respondo mostrando a ele meus
dentes ensanguentados.
— Vou matar você e toda sua família de merda! — Promete
Pavel e eu olho para ele com descaso.
— Você não tem essa capacidade, antes de você ou qualquer
outra pessoa sonhar em matar alguém, membro da minha família,
você será o primeiro a morrer. — Conto a ele como se estivesse
contando um segredo e isso o irrita.
— Demônio lunático! — Pavel diz e volta a socar minha
barriga.
— Você bate como uma vadiazinha, Glinka! — Digo em tom
de sarcasmo o analisando de perto.
— Vou te mostrar quem é que bate como uma vadia, seu filho
de uma puta! — Pavel grita perdendo o último resquício de controle
que ele ainda tinha.
E assim que ele tenta erguer sua arma para atirar em mim,
Vasily apareceu na sua frente e segurou seu punho antes mesmo
que ele tivesse a oportunidade. Pavel se assusta com o
aparecimento repentino de seu chefe. Ele abre a boca para falar
alguma coisa, mas antes que qualquer som saia de seus lábios,
Vasily ergue a mão e lhe dá um tapa forte. Agarrando a gola da
camisa de Pavel com força, e o puxando na direção do seu rosto.
— Que merda você pensa que está fazendo, Glinka? — Vasily
pergunta com os dentes cerrados.
— Foi ele que… — Pavel começa a dizer, mas Vasily lhe dá
uma cabeçada.
— Seu inútil de merda! — Vasily diz com raiva jogando Pavel
no chão. — Estamos tentando organizar nossa saída dessa merda,
mas você está deixando Viktor mexer com sua mente. Ainda não
percebeu que é isso que ele quer? — Vasily diz apontando para mim.
— Pobre Pavel, deixando o luto tomar seus sentidos! — Digo
com a voz profunda, negando com a cabeça.
— Ora seu… —Pavel tenta levantar, mas Vasily chuta sua
perna.
— Quieto, e sai daqui e vá ficar com o meu pai e os homens!
— Vasily manda e Pavel me dá uma última olhada cheia de fúria
antes de assentir com a cabeça.
— Ele e seu pai devem estar se perguntando o por que você
ainda não se livrou de mim. — Digo olhando para Vasily fixamente.
— Não se engane, eu posso acabar contigo a qualquer
momento, você está em minhas mãos, Konstantinov! — Vasily tira os
olhos de Pavel, que caminhava a passos lentos até o outro lado,
para virar para mim.
— Não, você não pode! — Digo cheio de certeza com minhas
palavras.
— Como pode ter tanta certeza? — Pergunta, me olhando
com um toque de estranheza.
— Muitos dos seus capangas podem não saber, mas você
precisa me tirar de solo americano se quiser alguma legitimidade
sobre a minha morte. Se a família Yegorov matar o herdeiro legítimo
do Pakan fora do próprio país, serão caçados como os ratos que
sempre foram." — concluo, olhando para ele como se fosse uma
mosca maldita..
— Como… como você sabe? — Questiona me analisando.
— É impressionante como você esquece que eu sou o
primogênito de Maxim Konstantinov, não é mesmo? — Indago
olhando para o homem à minha frente com descaso.
Essa é uma lei instaurada quando Maxim estava no poder. Ele
sempre se dispôs a ser posto à prova por suas ações doentias e
pérfidas. No entanto, deixou claro que as outras famílias podiam
tentar, à vontade, tirar sua vida, seus negócios e, principalmente,
sua liderança. Mas havia uma condição: isso só seria legítimo se
acontecesse em solo pátrio — no caso, a Rússia.
Se alguma família atentasse contra sua vida fora da terra
natal, estaria agindo sem legitimidade. Nesse caso, todas as demais
famílias deveriam se unir para exterminar os responsáveis, sem
deixar sobreviver sequer uma linhagem de sangue. Essa foi a
cláusula suja, assinada por todos os líderes da Bratva.
E assim como essa lei se aplicava a Maxim, ela também
passou a valer para sua linhagem direta e legítima — seu principal
herdeiro. No caso, eu.
Para a família Yegorov terem legitimidade contra a minha
morte, eles devem conseguir voltar para Rússia, me levando com
eles preso do jeito que estou. Por que assim dará mais força às suas
palavras de que não sirvo para ser o Herdeiro da Bratva, e fazendo
assim com que a liderança de Aleksandr caia do mesmo modo. Oleg
havia esquecido desse fato, mas Vasily, um dos braços de Maxim,
jamais iria esquecer uma lei feita e declarada especialmente pelo seu
amado. Entretanto, eles não têm mais tempo de tentar sair daqui
comigo, pelos sons de explosões e de gritos de lado de fora que se
aproximam a cada minuto que passa. A minha família Aandreozzi
não irá dar espaço para que ninguém corra daqui sem passar por
eles em primeiro lugar.
Estou começando a ficar ansioso, eu anseio mais e mais em
ver as pessoas que amo. Quero poder lutar ao lado deles, mesmo
que o meu corpo me reafirme que esse desejo não poderá ser
realizado. Eu não me importo, eu só… porra! Eu só preciso saber
que eles estão aqui realmente, e farei isso assim que eu os ver
diante de mim, mas em meu coração há a certeza de que eles estão
perto.
O meu amor, o meu Justin está muito perto de mim!
— Porra! Você deve pensar em algo, Vasily! — Oleg grita em
desespero ao ouvir, do lado de fora, o som dos seus homens sendo
mortos um a um.

— Acalme-se pai, vamos consegui… — Vasily tenta acalmar


seu pai que se perdeu totalmente em sua mente.
— VAMOS AGORA! — Oleg grita e Vasily tenta falar, mas o
som está presente.
— Não adianta, eles chegaram! — Digo em tom leve sentindo
meu peito encher de expectativa.
— Vamos lutar, homens, peguem suas armas! — Vasily
ordenou. enquanto colocava suas próprias armas em punhos.
Nesse momento os sons de tiros e gritos dos capangas dos
Yegorov ficaram ainda mais altos. Olhei fixamente para a enorme
porta de ferro, enferrujada e pesada, com muita expectativa. Em
poucos instantes as dobradiças da porta de ferro foram derretidas
pelo equipamento trazido pela minha família. Antes que a porta
fosse chutada para baixo, Vasily, Oleg, Pavel e o restante dos
capangas presentes nessa grande sala começaram a disparar contra
a porta. Porém isso não parou os membros da família de avançar,
derrubando a porta em um estrondo alto, levantando assim um
pouco de poeira no local. A primeira coisa que aconteceu assim que
a porta foi derrubada foi que alguns dos homens dos Yegorov caíram
no chão mortos de maneira instantânea. Abaixo a cabeça para ver
em detalhe um dos corpos e sorri assim que notei que foi
justamente uma flecha negra que os fizeram perder as suas vidas
medíocres.
É o Otto, isso mesmo, não tem como não reconhecer o jeito
de meu irmão lutar. Já que fui eu quem o incentivou a usar o arco ao
invés de arma de fogo. Otto tem um trauma muito grande de
infância, obviamente esse trauma não o impede de lutar quando
preciso, mas ele tem uma resistência muito grande contra armas de
fogo. As pessoas podem até não dar muito crédito ao meu
irmãozinho, por conta de sua calma e modo de ser, mas não se
engane, aquele cara é um atirador fenomenal. É como se Otto
tivesse nascido para ser arqueiro, e meus pais fizeram questão de
trazer os melhores profissionais a fim de ensinar meu irmão a ser
independente e saber se defender quando preciso. No entanto, Otto
não gosta de lutar, e para ele estar aqui para me salvar é algo que
serei grato pela minha vida inteira.
Ergo minha cabeça a tempo de ver os membros da minha
família invadindo o lugar, Otto se mantém à distância, usando suas
flechas para abrir caminho, enquanto Tio Filippo, tio Lucca e Pietro
tomam a dianteira, lutando com seu punhos com uma precisão
assustadoramente feroz. Eduarda, Tia Luna e Tio Luiz atiram nos
homem que foram derrubados e que continuam com vida. Assim
como Otto, todos estão usando uma roupa preta de combate, eles
vieram prontos para tudo e eu posso ver isso bem diante dos meus
olhos. Viro minha cabeça um pouco para esquerda a tempo de ver
meu pai Enzo e meu pai Andrea lutando lado a lado, mostrando que
além de um casal em casa, eles têm uma comunicação em batalha
como ninguém. Meu pai Enzo faz sinal para meu pai Andrea e juntos
eles vão lutar de unhas e dentes para interceptar Oleg e Vasily.
— Eu aguardei esse momento há muito tempo! — Meu pai
Andrea diz ao confrontar Oleg enquanto posiciona firmemente seus
punhais de prata.
— Vo… você! — Oleg aponta com o dedo indicador como se
estivesse vendo um fantasma.
— Sim, Oleg, lembra de mim? — Meu pai diz olhando para o
homem à sua frente com sede de vingança.
— Vou matar cada um de vocês! — Meu pai Enzo vocifera
enquanto desarma Vasily e eles entram em luta corporal. — Meu
filho, vocês levaram meu filho! — Fala ele em tom animalesco.
— Justin e Samantha, vocês vão até o Viktor… agora! — Meu
pai Andrea grita enquanto derruba Oleg ao chão.
Minha mente meio turva e animada por ver as pessoas que
amo vindo até mim luta para me manter desperto. E logo sinto uma
injeção de adrenalina tomar conta do meu corpo quando eu sou
agraciado com uma visão fantástica do homem da minha vida,
dançando livremente com uma espada em punhos. Ao seu lado
direito estava Samantha, usando suas pernas de bailarina para
derrubar qualquer pessoa que cruzasse a sua frente. E ao seu lado
esquerdo estava Mikhail, que estava jogando suas adagas enquanto
encarava Pavel com sede de sangue. Sim, ele veio atrás de vingar
sua irmã! É sempre impressionante ver os demais lutando, porém os
meus olhos estavam fixos somente em uma pessoa agora. Eu estava
com tanto medo de que algo acontecesse a Justin, mas o vendo
agora com tamanha agilidade, letalidade e capacidade,
independentemente de sua falta de visão, me faz entender que meu
medo não é nada comparado a grandeza que esse homem lindo
possui.
Justin é como um anjo, um pequeno Deus, um ser de muita
magnitude principalmente quando o vejo dessa forma, girando a
lâmina da sua espada. Principalmente agora fazendo os respingos de
sangue dos seus inimigos molharem o chão. Porra, como eu quero
poder passar o resto dos dias da minha vida ao seu lado! Penso isso
enquanto o vejo correr até a gaiola onde estou sendo mantido, e
assim que ele ergue a mão para poder alcançar a grande, um dos
capangas ergue a arma para atirar contra ele e isso faz meu coração
parar no mesmo momento.
— Justin! — Chamo por seu nome, sem me importar com a
dor que rasga o meu corpo.
Vejo Justin franzir a testa, mesmo com boa parte da faixa
cobrindo o seus olhos, mas antes que ele vá evitar o ataque, Otto
atira da sua posição. Ergo a cabeça em agradecimento e ele olha
para mim com pesar, naturalmente sentindo pela quantidade de
ferimentos no meu corpo.
— Obrigada, primo! — Justin grita erguendo a mão e Otto
sinaliza voltando sua atenção ao ambiente. — Viktor, estou aqui! —
Justin diz segurando na grade com as mãos firmes.
— Estou bem, preste atenção ao redor! — Peço com
preocupação e ele nega.
— Não, a família está aqui, não preciso me preocupar com
mais nada a não ser te tirar daqui! — Justin diz cheio de ansiedade.
— Eu estou… — tento dizer, mas a minha voz simplesmente
não sai.
— Viktor! — Justin chama meu nome com medo na voz. —
Porra, voce está muito ferido! Eu sinto o cheiro pesado do seu
sangue, meu Deus, o que fizeram com você? — Justin fala com
muita tristeza.
— Precisamos tirar Vik daqui rápido! — Samantha fala com
pressão.
— A… a chave! — Digo com dificuldade, pois sinto meus
pulmões arderem como se fossem explodir.
— Onde, onde está? — Justin pergunta com pressa.
— Va… Vasily!— Respondo quase entrando em colapso.
— TIO ENZO! — Justin grita e meu pai ergue a cabeça, vejo
seu grande corpo em cima de Vasily que está no chão todo
machucado. — Ele tem a chave, pegue a chave! — Justin diz rápido
e meu pai começa a tatear os bolso de Vasily.
— Aqui! — Meu pai joga as chaves e Justin ergue a mão a
interceptando no mesmo momento que chega até ele. Tão incrível!
— Eu as tenho, amor, eu vou te tirar daí! — Justin diz e passa
as chaves para Sam que assume a liderança.
Enquanto Justin e Sam tentam entrar na cela onde estou
sendo mantido, daqui eu consigo ver os últimos momentos do meu
pai Andrea retaliando o corpo de Oleg, deixando a mostra todo o
ódio e as memórias infelizes que esse velho desgraçado o causaram.
— Você não pode me matar! — Oleg diz enquanto tenta
escapar, mas meu pai Andrea usa um dos seus punhais para cravar
bem na sua panturrilha. — AAAAAAHHHHH…! — Oleg grita cheio de
dor.
— Essa é a dor que você causou ao meu filho! — Meu pai
Andrea diz em tom gelado.
— Me solte sua putinha, me solte! Sua… sua família sabe que
você é uma p… Ahhh! — A voz de Oleg é interrompida pela dor que
ele sentiu de outra punhalada, dessa vez na coxa.
— Vivi minha vida focado no presente, focado em ser feliz ao
lado de um marido que me ama e me respeita, e criar meus filhos
para serem homens fortes e capazes. Decidi deixar o passado para
trás, mas não sabia que o ódio que sentia ainda não foi totalmente
suprimido com a morte de Maxim. Não sabia que ainda queria
vingança, até vocês irem atrás do meu filho, vocês poderiam fazer o
que quisessem comigo, mas o meu filho. O meu amado garotinho,
não, vocês não tinham esse direito! — Meu pai Andrea diz enquanto
posiciona seus dois punhais contra o peito envelhecido de Oleg
Yegorov.
Em poucos instantes, sob o olhar horrorizado de Oleg em
meu pai, ele é morto. Morreu sem conseguir expor mais nenhuma
palavra, mas ele não é o único, porque além dele ainda existia o seu
filho para conhecer a morte, e ela viria através do meu outro pai.
— S… se afaste! — Vasily diz horrorizado, perdendo toda sua
postura anterior.
— Nós poderíamos enfrentar qualquer coisa, qualquer
situação, mas as nossas crianças devem ser livres para fazer o
quiserem. No momento que Viktor me reconheceu como seu pai, ele
deixou de ser o filho de Maxim, e passou a ser um Aandreozzi. E se
meu filho quer tomar a Bratva, eu estarei atrás dele, para protegê-
lo! E vocês não fazem ideia da família que sua família ousou mexer,
agora estamos aqui para mostrá-los. Grazie, Yegorov, por trazerem
os Aandreozzi a sua porta e sua Irmandade! — Depois de dizer isso
meu pai atirou bem no meio dos olhos de Vasily.
É isso… eles se foram! Eles morreram! Os dois membros
importantes da família Yegorov se foram!
— Vik, meu Deus! Você está preso, está ferido, muito ferido!
— Justin diz assim que entra na cela e ergue suas mãos para
segurar o meu corpo. — Mika, já acabou? — Justin pergunta.
— Sim, pequeno chefe, me vinguei! — Mikhail diz pulando o
corpo sem vida de Pavel para vir até nós.
— Você e Sam precisam tirar essas correntes de Viktor ao
mesmo tempo! — Justin diz tentando manter a calma.
— Crianças! — Ouço a voz do meu tio Lucca.
— Papai Lucca, nos ajude aqui! — Sam diz, mas nem mesmo
consigo mais virar minha cabeça, meus olhos estão somente focados
em Justin.
— Esses miseráveis fizeram a festa com você, garoto! — Tio
Lucca diz com ódio.
— Vamos te tirar daqui, querido! — Jus diz e sinto a palma da
mão de Justin tocar meu rosto.
— MEU FILHO! — Meus pais gritam em uníssono assim que
chegam até mim.
Juntos todos trabalharam para me livrar das correntes, assim
que meus braços foram soltos meu corpo cedeu automaticamente.
Eu não tinha mais força nenhuma para poder me manter de pé, já
estava esperando que meu corpo fosse com tudo para o chão. No
entanto, antes que meu corpo ensanguentado e cheio de
hematomas caísse, um par de braços firmes me segurou.. Meu
coração sorriu quando percebi que fui amparado amorosamente por
Justin. Ele me deita no chão com cuidado, e antes de posicionar seu
rosto contra o meu ele arranca a venda r dos seus olhos expondo
para mim seu rosto perfeito.
— Vik, por favor, aguente só mais um pouquinho! — Justin diz
com pressa.
— E-eu te amo, malêch! — Digo sentindo meus olhos
começaram a se fechar.
— Não Vik, não dorme, sim? Amor, por favor, me ouça e não
durma! — Justin diz chorando muito, tento erguer meus braços para
limpar as lágrimas dos seus olhos, mas meu corpo não responde ao
meu desejo.
— Filho, faça o que seu namorado está pedindo, não durma!
— Meu pai Enzo pede em desespero.
— Vamos lá meu garotinho, fique acordado, sim? — Meu pai
Andrea diz cheio de dor.
— Nos vingamos, papa! — Falo olhando para meu pai Andrea
que sorri entre lágrimas.
— Sim, meu garotinho, eles desapareceram de nossas vidas!
Você pode respirar agora! — Papa fala e eu sorrio um pouco, mesmo
através da dor.
— Obrigado por vir, família! Obrigado, por vir por mim!
Obrigado por todo amor! — olho para Justin e sorrio com todo amor
que supri por ele todos esses anos. — Malêch, obrigado por se
manter seguro, amo você demais! Me desculpe! — Recupero o
último gole de forças do meu corpo para poder dizer essas últimas
palavras.
— Não, Vik! Não fecha os olhos! — Justin diz em desespero
segurando os dois lados do meu rosto. — Você prometeu voltar
sempre para casa! Vamos meu amor, não dorme! — A voz de Justin
começou a ficar distante.
— Vamos, Jus, deixe seus tios carregarem Vik! — Tia Luna
fala, mas Jus me aperta com mais força.

Á
— NÃO, NÃO MÃE, EU NÃO POSSO DEIXÁ-LO! — Justin grita
me apertando.
— Deixe ir, Jus, vamos levá-lo, os Egorov estão com uma
ambulância à espera. — Tio Filippo diz com firmeza. — Vamos, Enzo
e Lucca! — Meu tio diz, e com isso sinto o meu corpo ser erguido
com cautela.
— Viktor, você tem que ficar bem! Você disse que me amava,
cumpra suas palavras! Mamma! — Justin diz e eu sinto a dor na sua
voz.
Eu adoraria poder dizer a ele que vou ficar bem, mas a minha
consciência está indo aos poucos. E quando dou por mim tudo se
foi, e meu último pensamento foi que eu deveria ter pedido o
homem que amo em casamento.
Se eu voltar a acordar será a primeira coisa que irei fazer,
porque merecemos isso… merecemos ser felizes juntos!
CAPÍTULO 39

Desde o instante em que Viktor foi arrastado pelos Yegorov,


algo dentro de mim quebrou. Um medo bruto, paralisante, cravou
suas garras no meu peito e se recusou a soltar. Mesmo com a
adrenalina queimando nas minhas veias, mesmo cercado pelos
membros da família e com a espada latejando entre meus dedos,
cada golpe que eu dava parecia inútil diante do verdadeiro terror
que me consumia por dentro. Eu atravessei corpos, sangue e gritos,
mas nada me preparou para o que senti ao cruzar aquela maldita
porta. O ar ficou denso, pesado, irrespirável. E então eu senti. O
cheiro. Aquele odor metálico, cruel, inconfundível. Sangue. O sangue
do homem que eu amo. Não sei nomear todos os sentimentos que
explodiram dentro de mim naquele momento, mas o medo... o medo
era um monstro vivo. Medo de ser tarde demais. Medo de nunca
mais ouvi-lo respirar, ou o som forte e saudável dos seus batimentos
cardíacos. Medo de que esse cheiro ficasse preso em mim para
sempre, como uma sentença.
Meu Deus! Tudo o que mais queria naquele momento era me
deitar naquele chão e me encolher em posição fetal. No entanto, eu
tinha um grande trabalho para executar, era meu dever livrar Viktor
daquela situação. Por isso que engoli todo o medo, todo ou qualquer
sentimento que me impedisse de continuar avançando. Com a ajuda
de Samantha e Mikhail eu consegui chegar até Viktor sem nenhum
problema, mas meu coração realmente não estava preparado para
confrontar com a situação tão delicada que ele se encontrava. Ter
Vik no meu colo enquanto seu corpo desfalecia pouco a pouco, e
percebendo sua luta para agradecer a todos os presentes me
quebrou ainda mais. Eu não queria largá-lo, desejei deixá-lo
protegido em meus braços, acalentar o seu corpo e sua alma,
reafirmar a ele que eu estava presente e que cuidaria dele com tudo
de mim.
Entretanto, eu não podia deixá-lo preso ao meu desejo
egoísta de mantê-lo comigo. Graças ao meu tio Filippo, que foi mais
sensato do que todos ali, um comando direto bastou para que minha
mãe me afastasse de Viktor — eles precisavam salvar sua vida, que
estava por um fio. Depois disso não consigo me lembrar de muita
coisa, mas ainda consigo ouvir o som do meu próprio grito de
desespero. Não sei dizer ao certo o que aconteceu de verdade
depois que Viktor foi levado para ser socorrido. Só sei que mamma,
Sam e Duda estavam firmemente ao meu lado. Os outros membros
da minha família e alguns membros da família Egorov que ficaram
naquele galpão em New Jersey. Era necessário finalizar o que
começamos, e deixar virar cinzas tudo o que aqueles desgraçados
dos Yegorov construíram. Essa maldita família deve sumir, esse
nome nunca mais deverá ser dito novamente.
Se eu pudesse voltar no tempo, eu adoraria poder fincar
minha espada nos seus peitos. Cerro os punhos com meu
pensamento, mas entendo que esse desejo é impossível e que não
poderia ter pessoas melhores para eliminar Oleg e Vasily do que
meus tios Andrea e Enzo. Era esse o desejo maior de Viktor, e assim
foi feito!
— Jus, querido! — Ouço a voz leve e baixa do tio Andrea
chamar por mim.
— O senhor está aí, tio! — Digo após acordar completamente
dos meus pensamentos.
— Faz um tempo que estou aqui, ragazzo, mas você estava
tão longe em seus pensamentos que nem sequer notou minha
presença. — Meu tio diz e eu abaixo minha cabeça.
— Sinto muito! — Digo baixinho e ele solta um riso triste.
— Por que você está se desculpando, Jus? — Meu tio
pergunta e eu sinto um toque leve alcançar minha cabeça.
— Se não fosse para evitar que algo acontecesse comigo, o
Viktor não… o Viktor não estaria nessa situação! — Respondo em
desespero sentindo as lágrimas molharem meu rosto.
Sinto minha consciência gritar assim que essas palavras saem
da minha boca, porque é justamente isso que eu sinto. Continuo a
castigar minha cabeça pensando que Viktor só está nessa situação
porque ele fez de tudo para evitar que algo de ruim acontecesse
comigo. Ele preferiu se colocar na porra de uma bandeja de prata, e
servir para os Yegorov em troca deles esquecerem a minha
existência. Ninguém precisou me dizer isso com palavras exatas,
mas no fundo eu sei que é isso que aconteceu. Por isso me culpo,
culpo a minha fraqueza, culpo minha deficiência visual, culpo até
mesmo o universo inteiro por saber o estado em que o homem que
mais amo nessa vida está agora.
— Justin, não faça isso! — A voz firme de meu tio me tirou da
autopiedade. — Não se culpe por algo que você não tem culpa, meu
filho fez a escolha dele. Ele escolheu se sacrificar para poder, enfim,
finalizar algo que corroia o seu peito, curar um trauma que o
persegue desde muito jovem. — Ele fez uma pausa. — Viktor vai sair
dessa, eu confio no meu filho, então confie nele também, querido.
— Meu tio disse e um soluço doloroso saiu tanto dele quanto de
mim.
— Eu o amo tanto, tio Andrea! — Declaro com dor e meu tio
me abraça com força.
— Sim, meu lindo sobrinho, eu sei disso! — Sua voz sai
abafada e eu agarro sua roupa com força.
— Ele passou por tantas cirurgias, e agora… agora está em
coma, mas eu sei que ele vai sair dessa! — Digo com fervor.
— Claro que vai, é do Viktor que estamos falando, certo? —
Meu tio pergunta tentando nos animar e eu concordo.
— Isso mesmo, ele vai ficar bem! Ele vai voltar para nós! —
Reafirmo com confiança.
Assim que Viktor foi resgatado ele foi enviado para um
hospital particular muito renomado. Esse hospital tem uma parceria
comercial com a família Egorov, e por causa dos seus pedidos e a
ligação de Vik com essa família, uma equipe médica esperando a
sua chegada, e com isso o seu tratamento começou no mesmo
instante. A situação de Viktor era muito grave, ele estava com um
pneumotórax devido a uma das suas costelas quebradas, que havia
perfurado um dos seus pulmões. Sem falar do inchaço no cérebro
que causou também uma pressão intracraniana severa, punhos
fraturados, lacerações na pele, desidratação pela falta de sangue.
Ele já teve que passar por uma cirurgia delicada, mas no momento
estão averiguando se ele também precisará passar por uma cirurgia
neurológica, para assim aliviar a pressão no seu cérebro.
A esperança é que ele responda aos medicamentos enquanto
foi induzido ao coma. Se o corpo dele corresponder bem, e a
pressão no seu cérebro for aliviada com esses medicamentos, Viktor
não precisará passar por mais nenhuma cirurgia. Nossa família
Aandreozzi já entrou em uma forte corrente de oração em prol da
saúde de Viktor. E eu espero do fundo do meu coração que ele saia
dessa o mais rápido possível. E eu ficarei aqui o tempo todo
esperando para ouvir sua voz ressoar nos meus ouvidos novamente.
Porque, para mim, é doloroso saber que seu corpo precisa de
máquinas para continuar respirando. No entanto, vamos passar por
isso! Eu sei disso — só preciso continuar mantendo minha fé.
— Vá para casa, Jus, sua mãe está te aguardando para te
levar. — Tio Andrea diz e eu fico rígido no mesmo momento.
— Não.. não, eu vou ficar! — Nego com a cabeça
rapidamente e ouço o seu suspiro.
— Você está nesse hospital há três dias, Jus, você precisa
comer e dormir um pouco. — Fala e eu cerrei meus punhos.
— Mas e se ele acordar e eu não estiver ao seu lado? —
Questiono e sinto sua mão alisar a lateral do meu rosto.
— Viktor está em coma induzido querido, ele não vai acordar
agora. — Meu tio diz e suas palavras são como uma faca cravada no
meu peito. — Vá para casa, Jus, Enzo e eu ficaremos aqui. Sem falar
que até mesmo nós estaremos trocando turnos com a família, então
não tem com o que se preocupar. Qualquer novidade vamos te
avisar, tudo bem? — Meu tio foi tão doce, mesmo em meio a dor,
então não tive como negar isso a ele.
— Tudo bem, eu vou! — Digo e nesse momento ouço os
passos de mamma.
— Venha com sua mãe, abóbora, deixe a mamma cuidar de
você um pouco, sim? — Mamma pede com uma grande tristeza na
sua voz.
— Mamma! — Chamo por ela, erguendo minha mão para
encontrar com sua.
— Sim, meu amor, venha aqui! — Mamma diz passando seus
braços em volta de mim. — Vai ficar tudo bem, minha pequena
abóbora! — Ela beija minha testa com carinho. — Deixe a gente
assumir agora, meu lindo filho. — diz ela com tanto carinho que não
tem como não derramar algumas lágrimas.
— Cuide dele, Luna, ele precisa descansar um pouco. — Tio
Enzo diz com a voz rouca e pesada.
— Tenho certeza que logo Vik estará saindo dessa, nós
estamos aqui e não vamos embora até vê-lo sair desse hospital. —
Mamma diz aos meus tios.
— Sabemos disso, e nem preciso dizer o quanto somos
gratos. — Tio Andrea diz e minha mãe faz um som de confirmação.
— Somos a família Aandreozzi, e estamos juntos sempre! —
Mamma diz e eu sei que ela deve estar sorrindo agora, mesmo que
um pouco. — Vamos, Jus, sua nonna chegou e trouxe uma sopa
para deixar sua barriga quentinha. — Mamma diz tentando me
animar e eu dou um curto sorriso.
— É bom! — Respondo simplesmente e com isso seguimos
juntos.
Saí do hospital acompanhado por minha mãe Luna, e tio
Luigi, que se prontificou a nos levar para casa. Ele teve um papel
importante ao trazer Viktor de helicóptero para o hospital assim que
conseguimos sair daquele lugar. Para ser bem sincero, todos que
estavam naquele momento tiveram um papel importante no resgate
de Viktor. Se não fosse por isso, só Deus sabe que tragédia poderia
ter acontecido. E por essas e outras que sou grato por pertencer a
uma família tão incrível quanto a minha. Todos os dias eu vejo o
quão privilegiado eu sou, agora só falta que o meu amor fique bem
para que eu continue embolsando os meus privilégios divinos.
Não faço ideia quanto tempo durou a viagem até a casa de
Viktor, mas agora estamos aqui subindo o elevador. Assim que a
porta abre eu sou confrontado com um misto de emoções sem
precedentes. E um cheiro passeia pelo meu nariz, esse cheiro me
traz uma paz tão grande que me faz chorar. Esse é o cheiro de
minha mãe Laila, ela está aqui! No instante em que dou um passo
para frente eu sou levado por uma abraço forte, repleto de carinho,
amor e compreensão. Um soluço alto escapa da minha garganta e
meus joelhos cedem como se fossem transformados em gelatina. Eu
não sabia que precisava de mommy aqui até esse momento, até ser
abraçado por ela.
— O Vik, mommy! — Falo entre soluços sofridos.
— Pronto, abóbora, vai passar! Pode chorar, mommy e
mamma estão aqui por você! — Mommy diz colocando minha
cabeça no seu colo.
— Mommy, por que dói tanto? Mommy, mamma, faz parar! —
Peço apertando meu peito com força.
— Chore, meu amor, pode chorar que estamos aqui! —
Mamma diz enquanto alisava minhas costas.
E assim fiz, deixei as emoções fluírem livremente por que eu
sabia que tinha minhas mães ao meu lado. Com elas aqui eu posso
ser o mesmo garotinho de antes, eu posso chorar e posso me
lamentar em posição fetal. Por que eu sei que no momento que me
levantar, eu tenho que ser forte por Vik. Tenho que estar inteiro para
poder recebê-lo de braços abertos, pois ele não faria diferente se
fosse o contrário. Chorei por um tempo na companhia mais que bem
vinda das minhas mães. E no instante que me recuperei fui
agraciado com a presença e o calor de minha nonna Ariana e nonno
Donatello que estavam tão preocupados com o Vik quanto estão
comigo. Meus tios Filippo e Luti, junto com os meus tio Lucca e Luigi
me deixam palavras, de conforto e força, necessárias para poder me
erguer e ir tomar a sopa deliciosa que nonna havia feito
pessoalmente para mim.
Não tive condições psicológicas e físicas de ficar com a
família. Sendo assim, fui tomar banho para tentar dormir um pouco,
como haviam me dito para fazer. Só que no instante em que cheguei
ao quarto, cheio da presença marcante do cheiro de bergamota que
tanto sou loucamente apaixonado, uma forte depressão surgiu no
meu peito. É aqui que eu durmo com Viktor, é nessa cama onde
fazemos amor, brincamos e conversamos por horas até pegar no
sono. Não posso ficar aqui sem ele, não sei se consigo! Mesmo com
essa dor presente no meu peito eu me forcei a ir tomar um banho. E
quando terminei de vestir uma roupa ouço batidas na porta, antes
que eu pudesse caminhar até a porta ela é aberta.
— É aqui que precisam de um pacote exclusivo de aconchego
de primos preocupados? — A voz divertida e leve de Sam chega aos
meus ouvidos.
— Para que essa introdução toda, Sam? — Otto pergunta de
modo tranquilo e confuso.
— Deixe a pobre Sam, ela não sabe lidar com sentimentos
complexos. — Duda diz casualmente.
— Quero só ver quando ela se apaixonar tão profundamente
quanto nossos primos. — Pietro diz, causando um rosnado em nossa
prima.
— Me deixem em paz! — Sam resmunga e eu saio do closet
com a ajuda da minha bengala.
— Pessoal, o que fazem aqui? — Questiono assim que me
aproximo deles, sem esconder minha confusão.
— O que mais seria, viemos dormir com você, abóbora! —
Sam diz e sinto seus braços rodearem minha cintura.
— Como? — Pergunto sem esconder minha confusão.
— Essa cama é grande o suficiente para caber nós cinco? —
Duda fala caminhando pelo quarto.
— Eu acho que sim! — Otto diz caminhando na direção onde
Duda estava.
— Mas… — Tento falar, mas sou impedido por Sam e Pê.
— Vamos estar contigo e não abrimos mão disso, Jus! — Pê
diz e faz uma pausa. — Trouxemos até nossos travesseiros! — Fala
como se isso dissesse muita coisa.
— Abóbora, não podemos e nem queremos deixá-lo sozinho
nesse momento tão difícil, somos seus irmãos e estaremos aqui
sempre que precisar de nosso amor. — Sam diz segurando os dois
lados do meu rosto. — Não chore mais, sabemos a fortaleza que Vik
é, e sabemos que tudo isso é fichinha para ele. — Sam diz e sinto
suas mãos limparem as lágrimas na minha bochecha.
— Obrigado por tudo, irmãos! — Agradeço sentindo um calor
gostoso preencher meu peito.
— Amamos você e Vik, então não precisa desses
agradecimentos conosco, certo pessoal? — Duda pergunta.
— Claro que sim! — Sam, Pê e Otto respondem em uníssono.
— Se é assim, vamos, vamos dormir! — Digo dando um curto
sorriso.
— Ótimo, se é assim então eu já vou dizer que vou ficar
agarrada na minha abóbora chorona, hein! — Sam grita correndo
pelo quarto.
— Tão expansiva! — Duda e Pê resmungam deixando Sam
bufar.
Abraço o meu corpo ouvindo os passos e risos dos meus
primos no meu quarto. Agradecendo por existirem na minha vida, e
serem a melhor rede de apoio de todo o mundo. Agora é só esperar
meu amor se recuperar, para que minha felicidade esteja totalmente
completa.
Se recupere logo amor, eu estou aqui à sua espera!
Duas semanas se passaram desde o momento que Viktor
precisou ficar em coma induzido para poder se recuperar. E para
minha felicidade e de toda a família ele respondeu muito bem a
todos os medicamentos. Tão bem que os médicos resolveram que já
era o momento certo para irem aliviando a sedação de seu corpo.
Não consigo conter o nível de animação que sinto, por que agora eu
sei com toda certeza que meu amor logo pode estar acordando.
Durante esse tempo que passou eu fiz questão de estar ao seu lado
sempre que possível. Era meu desejo poder conversar com ele,
Viktor precisava saber as atualizações desses dias, tenho absoluta
certeza que ficará surpreso com tudo o que tenho a lhe contar.
O primeiro de tudo é que Aleksandr foi expulso por tio Andrea
do hospital quando veio vê-lo. Essa cena seria bem engraçada se Vik
não estivesse nas condições delicadas que estava. Por que ver meu
baixinho tio Andrea, com rosto angelical, expulsar o chefe da Bratva
com palavras nada delicadas, é algo que nem todo mundo é capaz
de fazer. Tenho certeza que Aleksandr seria totalmente retaliado se
não fosse salvo por Tio Enzo e por Vsevolod Egorov, que por incrível
que pareça se tornou uma figura bastante presente nesse momento
de dificuldade. Mas voltando, Aleksandr ficou um tempo em Nova
York para demonstrar sua solidariedade ao seu herdeiro, no entanto
ele foi tão ignorado que voltou para Rússia e ninguém ficaria
sabendo se Vsevolod não tivesse informado. Aleksandr na Rússia ou
não, não fará muita diferença, porque o foco sempre foi a
recuperação completa de Vik e nada mais.
Também fiquei sabendo que meu Nonno Donatello e tio Enzo
estavam à procura de um bom imóvel para que Viktor e eu
pudéssemos nos mudar. Eles dizem que será nosso presente de
casamento, me deixando muito envergonhado. Tentei dizer a eles
que era cedo para pensar nisso, mas eles só riram e disseram para
ficar tranquilo porque eles resolvem tudo. Nem tive mais palavras
para poder fazê-los entrar na realidade, longe de mim, eu sou o
mais novo aqui. No entanto, tenho a impressão que Viktor terá uma
bela surpresa. Deixando de lado a dominação forte dos Aandreozzi,
eu resolvi pedir a minhas mães que me ajudassem a cancelar a
minha matrícula na universidade lá em Madri. Meu interesse maior é
ajudar Viktor de agora em diante, mas obviamente eu não desistirei
da minha profissão e dos meus planos para o futuro.
Existem ótimas universidades e cursos aqui em Nova York
também, então não estarei deixando meus estudos de lado. Minha
mães ficaram um pouco tristes de saber que não estarei em casa
sempre, só que são tão maravilhosas que compreenderam muito
bem. E com alguns poucos telefonemas para seus advogados,
mamma conseguiu finalizar todos os trâmites sem nenhum
problema. Agora é só procurar o melhor lugar para dar continuidade
aos meus estudos, só que espero fazer isso com Viktor ao meu lado.
Ah! Outra novidade é que Dominick, Natska e Reyes se recuperaram
muito bem de todos os ferimentos. Czar ainda disse que eles
precisarão passar por fisioterapia, mas fora isso está tudo bem.
Falando em Reyes, Mika e Dom, eu estou com uma forte
suspeita de que algo está rolando entre eles, mas ainda não é nada
que eu possa dizer com toda certeza. Agora é esperar para saber se
há uma verdade em minhas suspeitas.
Tento deixar todos esses pensamentos de lado e seguro na
mão de Viktor que está descansado na lateral do seu corpo
adormecido. Ignoro os sons constantes das máquinas, mesmo que
elas me tragam um certo desconforto por causa de minha audição
um tanto apurada.
— Será que vai demorar muito para ele acordar? — Pergunto
ansioso aos meus tios, minhas mães e avós que estão presentes, à
espera, tanto quanto eu..
— Os médicos disseram que poderia demorar horas até ele
recobrar a consciência. — Tio Enzo diz sem esconder sua ansiedade.
— Por que não tiraram esses canos de sua boca ainda? — Tio
Andrea indagou.
— Acho que ainda não podem, anjo! — Tio Enzo diz, mas
sinto sua dúvida.
—Ainda bem que… — Começo a dizer, mas sinto um leve
movimento dos seus dedos na minha mão. — Viktor! Viktor, amor,
estamos aqui! — Falo rapidamente assim que sinto o seu singelo
movimento.
— O que? Você sentiu algo, Jus? — Tio Andrea pergunta
cheio de ansiedade.
— Sim, seus dedos… eles se movimentaram! — Digo nervoso
quanto sinto novamente. — Amor, tente não mover muito a mão,
seus punhos ainda estão em recuperação. — Aviso nervoso. — Tio,
olha se seus olhos estão se abrindo! — Peço cheio de preocupação.
— Oh Dio, sim! Meu filho, você está despertando! — Tio
Andrea exclama com a voz carregada de felicidade.
—Temos que chamar o médico, eles avisaram para chamá-los
assim que notarmos algum movimento. — Tio Filippo diz e começa a
se movimentar para chamar os médicos.
— È sveglio! Grazie, mio ​Dio! (Ele está acordado! Obrigada,
meu Deus!) — Nonna Arianna exclama cheia de emoção.
— Certo, mio ​nipote è un uomo forte, sapevo che si sarebbe
ripreso il prima possibile. Tutte queste novene ne sono valse la pena!
(Claro que sim, meu bisneto é um homem forte, eu sabia que ele se
recuperaria o mais rápido possível. Todas essas novenas valeram a
pena!) — Bisnonna Francesca diz fazendo todos rirem.
— Não meu filho, não tente tirar esses tubos! — Tio Enzo fala
e eu percebo a agitação de Vik.
— Os médicos estão chegando, espere um pouco, amor! —
Aviso e noto seu corpo agitado se acalmar.
— Vamos sair um pouco pessoal para que os médicos possam
trabalhar! — Tio Luigi diz assim que ouço vários passos rápidos.
— Filho, vamos! — Mommy chama, e quando estou pronto
para me levantar, Tio Andrea toma a palavra.
— Não, Lai, deixe-o ficar! Tenho certeza que meu filho vai
querer ele perto, eles precisam disso! — Meu tio disse e eu respirei
aliviado, pois eu também não queria me afastar de Vik.
— Tudo bem, vamos então minha lua! — Mamma diz e ouço
seus passos se afastando logo em seguida.
Me levantei do lugar que estava para poder dar espaço aos
médicos, fiquei ao lado de meu tio, sentindo o olhar fixo de Viktor
em mim. Sorrio tentando tranquilizá-lo, mas mesmo assim podia
sentir seus olhos em mim. Continuei onde estava, que era ao lado
do meu tio Andrea por que daqui eu podia ouvir todos os
movimentos feitos pelos médicos. Esperei o tempo que foi
necessário até que todas as avaliações fossem finalizadas, tentando
não deixar a ansiedade me correr por dentro. Meu coração estava
em chamas, eu tinha uma necessidade de ouvir a voz de Viktor. Por
que só assim que saberia com certeza que ele estava bem de
verdade. Só Deus sabe o quanto eu esperei pelo momento em que
ele acordasse. Foram dias tomados pelo medo e pela insegurança de
que esse dia talvez nunca chegasse.
Só que no instante em que uma voz rouca, arranhada e muito
baixa chegou aos meus ouvidos, eu percebi que não estava
realmente preparado para a emoção enlouquecida que senti.
— M… malêch ! — Viktor me chamou, fazendo meu coração
bater em um ritmo acelerado.
— Vik… Vik, você! — Chamo nervoso, sentindo uma onda de
alívio tomar conta de todo o meu corpo.
— Malêch , v… vem! — Viktor chama e eu avanço sem pensar
duas vezes.
— Aqui, Jus, venha por aqui! — Ouço o sorriso amoroso na
voz de meu tio Andrea.
Meu braço é segurado por meu tio, e em poucos instantes a
minha mão alcança a mão de Viktor. Evito agarrá-la com muita
força, mas ela estava firme em minha mão para que ele entendesse
que eu jamais iria soltá-lo.
— Amor, por favor, não faça mais uma coisa dessas outra vez!
Todos nós ficamos muito preocupados pensando que nunca mais
veríamos você acordado novamente, eu estava enlouquecendo dia a
dia, Viktor! — Fiz uma pausa e colei os nós dos seus dedos na minha
testa. — Eu te imploro, meu amor, não faça mais isso! — Peço cheio
de dor e medo.
— Sin… sinto muito, malêch ! — Vik diz e eu ergo minha
cabeça lhe mostrando um sorriso.
— Você está desculpado por ter voltado inteiro para mim! —
Respondo, querendo muito beijar seus lábios.
— Me… me beije, malêch ! — Pede Vik e é como se ele lesse
minha mente.
Com todo cuidado para não magoá-lo em nenhum lugar, eu
tateei seu corpo até ir de encontro com seu rosto. E sem esperar
mais, deixo um doce beijo nos teus lábios, que estão rachados e
ressecados, com gosto de medicamentos, mas nada disso importa.
Beijar o meu homem, o meu Viktor é tudo o que mais quero, porque
só Deus sabe o quanto esperei para poder fazer isso.
— Eu te amo tanto, obrigado por voltar para mim! — Digo
com nossos lábios grudados e sinto seu sorriso.
— YA tozhe lyublyu tebya, moye prekrasnoye siyayushcheye
solnyshko! (Eu também te amo, meu lindo sol brilhante!) — Viktor
diz muito devagar, com muita dificuldade na voz, mas eu pude
compreender cada uma das suas palavras.
— Será que esse casal apaixonado vai dar espaço aos
integrantes da família para poder ver o estado desse ragazzo que
nos deu uma bela dor de cabeça? — Nonno Donatello diz e só assim
eu noto a presença de todos no quarto de Vik.
— Oh, desculpe! — Falo sentindo minha bochecha ficar
quente.
— Não, bambino, não se desculpe! Todos os casais nesse
quarto entendem muito bem o sentimento que vocês dois estão
sentindo. — Nonna Arianna fala com um sorriso amoroso na voz.
— Isso com certeza, mamma! — Tia Giovanna responde e
ouço o som de confirmação de todos.
— Se é assim… eu quero agradecer a todos vocês e me
desculpar por toda a preocupação que causei. — Viktor diz ainda
com dificuldade.
— Somos uma família, Viktor, sua recuperação é o melhor
agradecimento que você poderia nos dar. — Tio Filippo diz com toda
sua seriedade, mas com um toque de afeto na voz.
— Obrigado! — Vik diz e logo sinto seu olhos novamente em
mim. — malêch , eu estava planejando fazer esse pedido muito mais
elaborado, mas quero aproveitar a presença de todos os membros
da nossa família e principalmente nossos pais, para fazer um pedido.
— Viktor faz uma pausa, tentando recuperar seu fôlego, meu tio lhe
oferece um pouco de gelo para ele poder umedecer os lábios. —
Obrigado, Otets! — Agradece ele e logo volta a falar. — Jus… — ele
começa, mas eu o impeço.
— Amor, podemos falar depois, você ainda não está bem! —
Peço em tom nervoso, mas ele aperta minha mão na sua.
— É por isso mesmo que eu tenho que continuar, Jus! — Diz
ele com um sorriso na voz. — Depois de tudo o que passamos,
depois de todo o tempo que perdemos, eu decidi que não quero
mais esperar, meu amor. — Vik diz e sinto o toque suave de seus
dedos em meu rosto. — Justin, eu te amo desde o primeiro
momento em que coloquei meu olhos em você. Primeiro era só
proteção, mas com o tempo, com o avançar de nossas idade eu
percebi que meus sentimentos vão além disso. Eu sou louco por
você, eu fui capturado pela sua grandeza desde de sempre. — Viktor
faz outra pausa para regular sua respiração. — Meu amor, meu
bebê, meu sol, me dê a honra de ser seu marido! Justin Allen
Aandreozzi, você aceita casar comigo? — Viktor pede e eu fico
parado sem conseguir encontrar minha voz.
— Ô Vik, é óbvio que eu aceito me casar com você! Casar
com você é como um sonho se tornando realidade, não se engane,
por que eu fui tão capturado por você quanto você foi por mim.
Construir uma família ao seu lado é tudo o que sempre quis! Eu te
amo, meu mafioso, meu guardião e meu grande amor! — Declaro
com todo o amor que sinto por esse homem.
Voltei a beijar os lábios de Viktor, mas dessa vez o beijo
demorou mais do que eu estava planejando. Porque o meu noivo
não queria me largar de jeito nenhum. E sim, meu noivo! Eu agora
estou noivo!
— Espera, como é que eles ficam noivos sem aliança? — Tio
Lucca fala como se lembrasse de algo.
— Alianças? — Pergunto sem entender, porque ainda estou
em êxtase.
— Duda, você as tem? — Viktor pergunta a nossa prima e eu
franzo o cenho.
— Claro, elas estão comigo desde o momento que você me
pediu para levá-las! — Minha prima diz e eu ouço o grito eufórico
dos meus primos no quarto. — Aqui, Jus, estenda a mão! — Duda
pede e logo sinto algo pequeno e aveludado ser colocado no centro
da minha palma.
— Posso abrir? — Questiono nervoso e ouço o riso de Vik.
— Claro, malêch ! — Manda ele e eu abro sem mais
cerimônia.
Dentro da caixinha há duas alianças, que sou informado
serem feitas de platina. Tiro as alianças e ao passar meus dedos
nelas, noto a diferença de tamanho logo, me deixando saber que a
maior com certeza pertence a Viktor. Com esse detalhe exposto eu
levo a menor em minhas mãos, e quanto continuo a passar os dedos
noto que ali tem algo escrito em braile. Quando leio com calma me
sinto completamente surpreendido e mais ainda apaixonado por
Viktor. Na minha aliança está escrito: Capturado pelo destino, guiado
até você, malêch .
— É tão lindo, é tudo tão precioso! — Digo com meus olhos
nadando em lágrimas emocionadas.
— Que bom que gostou amor, quando eu me recuperar usarei
a minha! — Vik diz e eu sorrio.
— Claro que sim, você nem é louco de não usar, senhor! —
Ameaço de brincadeira e ouço o riso de nossa família.
— É óbvio, malêch ! — Vik diz e eu deixo um beijo doce nos
seus lábios.
— Parabéns! — A nossa família saúdam juntos e eu sorrio
feliz com o coração cheio de felicidade.
Sou abraçado por cada membro presente nesse quarto, e eles
expõem o quanto estão felizes por mim e por Viktor. E eu? Bem, eu
não poderia estar mais feliz e realizado! O homem que amo está
finalmente de volta para mim, estou noivo e temos um apoio
incondicional de toda a nossa familia.
Tudo o que mais quero agora é continuar sendo feliz. Porque
uma coisa eu sei, é que minha história de amor com o Viktor está
apenas começando!
FIM!
EPÍLOGO

Alguns anos depois

O perfume delicado dos arranjos florais ainda pairava no ar da


capela da nossa família, como se o tempo se recusasse a seguir
adiante. Fechei os olhos por um instante, e o mundo ao meu redor
se desfez em silêncio. Estava de volta ali, sob o céu dourado do fim
da tarde, onde o sol beijava as nuvens com tons de ouro, e as vozes
emocionadas de nossos entes queridos ainda ecoavam como um
sussurro no coração.
Justin sorria, parado a poucos passos de mim, vestindo
aquele terno claro feito sob medida pelo melhor alfaiate da Itália.
Nunca o vi tão bonito. O tecido realçava ainda mais o brilho dos seus
olhos, olhos que sempre me fizeram acreditar que, apesar de tudo,
havia esperança. Naquele instante, o mundo simplesmente
desapareceu. Não havia mais dor, nem lembranças sombrias, nem
fantasmas do passado. Apenas ele, apenas nós. E aquele sorriso
largo, genuíno, que parecia iluminar todo o meu ser.
Lembro da forma como ele ajeitava a gravata com as mãos
trêmulas, instantes antes da música começar. “Se eu tropeçar, você
finge que faz parte da dança,” ele murmurou com um sorriso
travesso, estendendo a mão para mim. E eu ri, ri de verdade, aquela
risada que ele sempre despertou em mim, a que só existe por causa
dele, do homem maravilhoso que tenho a sorte de amar.
Não sabia o quanto havia desejado esse momento até ele
finalmente acontecer. E, quando chegou, fui tomado por uma
ansiedade que nunca imaginei sentir. Casar com Justin, diante dos
nossos familiares e poucos amigos, os mais próximos, foi como tocar
um sonho com as próprias mãos. Eu talvez não seja o homem mais
virtuoso ou devoto, mas naquele dia eu quis acreditar, quis que
algum Deus, em algum lugar, abençoasse essa união que significa
tudo para mim. Porque foi por ele que me tornei o homem que
sempre desejei ser.
Tudo o que sou hoje, toda a força e posição que conquistei
como a segunda liderança mais poderosa da Bratva, dedico a ele.
Por ele. Por nós.
Lembro do dia em que deixei o hospital. Fiz uma promessa
silenciosa que cuidaria da minha família e de Justin com todo o meu
ser. Que nunca mais permitiria que sofressem por minha causa. E
que oficializaria nosso amor no momento certo. Esse momento
finalmente chegou. E hoje, posso dizer sem hesitar: sou o homem
mais completo, mais grato e mais feliz deste mundo tão complicado.
— Amor, em que você está pensando? — A voz doce de Justin
me alcança, suave como um afago. Sorrio, sentindo meu coração se
aquecer mais uma vez.
— Estou pensando no quão lindo você estava no nosso
casamento. — Digo amorosamente, sem tirar meus olhos dele.
— Como pode ser tão fofo, senhor mafioso? — Brinca Jus e
eu deixo um beijo doce nos seus lábios.
— Não sei se existe alguém que poderia me classificar como
fofo tirando você, malêch. — Falo com o cenho franzido e ele joga a
cabeça para trás e ri.
— Isso é bem verdade! — Conclui ele ainda rindo.
— Tem certeza que não ficará chateado por não termos uma
lua de mel, querido? — Questiono alisando as alianças de noivado e
casamento juntas no seu dedo, sentindo uma grande onda de posse
tomar conta de mim.
— Claro, é sempre bom você ficar me devendo algo! —
Aponta ele com um tom provocador.
— E como será que devo pagar essa grande dívida contigo?
— Questiono sentindo minha voz assumir um tom mais rouco.
— Hum… teremos toda a noite e o resto do final de semana
na fazenda, então eu vou poder pensar com carinho. — Justin diz
entrelaçando seus braços na minha nuca.
Sem conseguir me conter, abaixo minha cabeça para poder
alcançar seus deliciosos lábios rosados. Beijar Justin nunca é
cansativo, porque seus beijos sempre fazem o meu corpo gritar de
desejo. A cada vez que nossos lábios estão unidos é como se
choques prazerosos circulassem por todo o meu corpo. Sempre
quero poder ter mais e mais dele, mas infelizmente estamos presos
no helicóptero no momento. Não vejo a hora de poder colocá-lo em
cima de uma superfície lisa e fodê-lo como se não houvesse
amanhã. Quando nosso beijo magnífico acaba, Justin descansa sua
cabeça contra a curva do meu pescoço e fecha suas pálpebras.
— Foi uma pena termos fugido da festa do nosso casamento!
— Justin exclama com pesar e eu aliso seus cabelos.
— Tem certeza que queria ficar sendo importunado por
Arthur, Pietro, e tio Lucca, tio Beto e Mikhail bêbados daquele jeito?
— Questiono horrorizado e vejo o corpo de Jus ficar rígido no
mesmo momento.
— Hum… acho que não! — Responde ele e eu suspiro
aliviado.
— Vou descontar do salário daquele infeliz do Mikhail, por ele
ter feito aquele discurso sem sentido. — Resmungo cerrando meus
punhos com a lembrança.
— Ah, não seja tão duro, até que foi engraçado! — Justin diz
rindo, e eu reviro os olhos.
— Engraçado? Aquele infeliz ficou te chamando de pequeno
chefe fodão, que você é o Pakhan dele no coração? E que sempre
juraria lealdade ao seu pequeno chefe das espadas! Odioso, quando
nos encontrarmos com ele eu vou matá-lo! — Digo com os dentes
cerrados em tom repleto de perigo, mas isso só faz Justin cair na
gargalhada.
— Duvido muito que Dominick e Reyes não tenham chamado
a atenção de Mika, amor, então pode relaxar. — Justin diz alisando
meu peito. — Natska jogou a toalha e parou de tentar disciplinar seu
irmão cabeçudo, mas aqueles dois homens sabem o deixar na linha.
— O tom de Jus é cheio de graça e eu nego com a cabeça.
— Vamos deixar de falar sobre esse idiota! — Digo
carrancudo.
— Tudo para por mim! — Meu marido fala erguendo a cabeça
e fazendo biquinho para que pudesse beijá-lo. — O que meu marido
quer fofocar então? — Pergunta e eu nego com a cabeça.
— Fofocar? Eu lá sou homem de fofocar, malêch? — Indago e
Jus nega rapidamente.
— Claro que não, óbvio que não! — Nega ele cheio de
fingimento.
— Mas voltando… — Paro soltando um pigarro na garganta.
— Por que Samantha estava tão emburrada? Será que aconteceu
algo? — Pergunto seriamente e Jus solta um suspiro longo.
— Isso era porque ela não podia beber, ela pensou que iria
poder encher a cara no meu casamento. Só que tanto ela quanto
Duda estavam impedidas! — Jus diz dando um sorriso cheio de
alegria.
— Será que… — Começo a expor meus pensamentos, mas
Jus coloca o dedo nos meus lábios me impedindo de continuar.
— Vamos aguardar, quem sabe em breve não ficaremos
sabendo, não é? — Justin diz dando um sorriso de lado e eu
concordo.
— Como sempre você está coberto de razão, malêch. — Falo
beijando seu dedo anelar com as alianças descansando ali.
— Essa é a magia de ter um maridinho doce como eu! —
Justin fala dando um sorriso malicioso e eu não aguento.
— Porra, como eu quero que esse helicóptero chegue logo! —
Falo segurando os dois lados do seu rosto para distribuir beijos e
mais beijos.
— Não vamos esperar tanto, pois já chegamos! — Declara
Justin e eu franzo o cenho.
— Mas como… — Começo a falar, mas ao olhar pela janela do
helicóptero vejo o enorme vinhedo da família se aproximando. — Eu
sempre me surpreendo com você, malêch! — Digo em forma de
sussurro e ele dá uma risadinha.
— O que posso fazer se sou muito bem treinado? —
Questiona ele e eu respiro fundo.
E Justin não está falando isso da boca pra fora, porque ele é
realmente muito bem treinado. A alguns anos atrás, mais
precisamente um ano depois do que aconteceu comigo e com
aquela família que hoje reside no inferno, Otto colocou na sua
cabeça que precisava de um treinador. Sendo assim, meus pais
pesquisaram bastante e encontraram um treinador especializado em
armas brancas e arco. Esse treinamento foi de grande importância,
porque além do Otto ele também ajudou Justin e o restante dos
meus primos com algumas trocas de aprendizagem. Com isso meu
marido, que já era um homem incrivelmente talentoso, ficou ainda
mais confiante ao usar suas artes marciais.
O importante é que todos estão indo muito bem, não vou
dizer que coisas ruins não continuam a acontecer com os membros
da nossa família. No entanto, estamos evoluindo cada dia mais para
que com isso possamos passar por todo e qualquer obstáculo que
cruze os nossos caminhos. Solto um longo suspiro e deixo os meus
pensamentos de lado quando noto que o helicóptero começou a
aterrizar. No instante em que estava em terra firme, ajudei Justin a
segurar sua bengala com uma das mãos, para que eu pudesse
segurar sua outra mão quando saímos.
— É uma pena que Tom e Sasha não estejam aqui com a
gente, tenho certeza que eles iriam adorar correr por todo esse
lugar. — Justin lamenta no instante que chegamos na porta da
enorme casa.
— Não se preocupe, eles ficaram bem, e estaremos levando
eles para Moscou com a gente depois da nossa noite de núpcias. —
Conto e ele assente com a cabeça.
— Isso é bom já que vamos ter que ficar lá por algum tempo.
— Diz Jus e eu faço um som de confirmação. — Vik! — Chama Jus
de repente.
— O que foi, malêch? — Indago depois de dar algumas
recomendações aos meus homens, que vieram fazer nossa
segurança.
— Será que o Aleksandr ficou chateado por não ser convidado
para o nosso casamento? — Jus pergunta com curiosidade e eu faço
uma careta.
—Quem se importa com que esse velho asqueroso pensa? —
Indago infeliz e Jus negou com a cabeça.
— Não seja assim, o clima ruim entre vocês já melhorou
muito depois de todo esse tempo que eu sei. Sem falar que ele me
trata muito bem, e ficou ao nosso favor quando você anunciou nosso
noivado para as famílias da Bratva. — Justin lembra e eu reviro os
olhos.
— Aleksandr não fez mais do que a obrigação, já que sou seu
herdeiro. — Resmungo friamente e Jus ri. — Falando nisso, ainda
não entendo porque vocês dois estão tão próximos assim. —
Reclamo minha infelicidade.
— Sei lá, também não sei explicar, só sinto que o velho é
muito solitário, só isso. — Jus deu de ombro e eu observo ele andar
pela casa.
Não é por que Justin é meu marido, mas se existe uma
criatura mais especial que ele eu desconheço. Por mais que eu não
goste dessa aproximação dos dois, eu consigo entender muito bem.
Isso porque Justin tem algo nele que encanta as pessoas, e ele
conquistou Aleksandr no mesmo instante em que o levei comigo
para Rússia. No entanto, isso é coisa sem importância no momento,
eu tenho que aproveitar a minha noite de núpcias com o meu
homem. Eu esperei muito por isso!
— VIKTOR! — Justin grita no instante em que o carrego nos
meus braços.
— Sim, sou eu, seu marido! — Falo com a voz adquirindo
uma rouquidão.
— Me coloque no chão! — Manda ele, mas eu me faço de
surdo e ando apressado até o andar de cima.
— Impossível, eu preciso muito te foder agora, meu amor! —
Digo sem nenhum pudor e vejo Justin engolir em seco.
— Tudo bem, por que eu também quero muito ser fodido por
você agora! — Responde Justin e isso aumenta ainda mais o meu
tesão.
Ao chegar na frente do nosso quarto peço para que Justin
abra a porta. Assim que a porta é aberta sou surpreendido com a
arrumação romântica do ambiente. Conto para Justin que a nossa
cama tem pétalas de rosas, velas aromáticas e um bela bandeja com
champanhe e algumas frutas à nossa disposição. No entanto Justin
não estava muito interessado em saber as descrições de nada,
porque ele avançou e começou a me beijar enquanto tirava o meu
blazer. O coloco no chão deixando com que ele tire minhas roupas
com prazer. Mordo os lábios enquanto sinto suas mãos tatearem o
meu corpo, explorando para o seu total desejo. Observo ele sorrir de
um jeito muito sexy enquanto se ajoelha diante de mim, abrindo o
zíper da minha calça, para que logo depois possa expor livremente o
meu pau, que já está duro feito pedra.
— Jus você… ah, porra! — Tento falar, mas um gemido
escapa da minha boca assim que ele abocanha meu pau com gosto.
Seguro sua cabeça enquanto fecho os meus olhos com força,
totalmente embriagado com o prazer imensurável que estou
sentindo agora. Justin alisa minha coxa com suas mãos enquanto
continuava a chupar o meu pau com força. Não consigo conter o
gemido da minha garganta, a sensação que estou sentindo é algo
que nem mesmo consigo explicar. Tudo o que sei é que preciso
afundar o meu pau nele com força. Novamente, esse sentimento de
estar libertando a fera incontrolável dentro de mim surgiu
novamente. Eu o quero, eu preciso gozar, mas mesmo assim me
forço a não fazer isso, pois não seria a mesma coisa do que gozar
bem profundamente dentro do seu cuzinho apertado.
— Foda-se, eu não aguento mais! — Digo entre dentes e sem
esperar por mais nada, eu puxei Justin para ficar de pé novamente.
— Mas, Vik, eu quero… quero que você goze na minha boca!
— Justin diz cheio de insatisfação.
— Malêch, ainda temos todo tempo do mundo, mas agora eu
necessito me afundar completamente em você! — Falo cada palavra
enquanto minha boca estava colada na sua.
— S-sim! — Gagueja ele, e eu enfio a minha língua dentro da
sua boca.
Gemo ao sentir o meu sabor quando chupo sua língua, e não
perco mais tempo em livrá-lo completamente da roupa que estava
usando. Assim que nós dois estávamos completamente nus, foi a
minha vez de lamber e mordiscar cada extensão do seu corpo
atlético e perfeito para mim. Tateio a cama, satisfeito por encontrar
um lubrificante o mais perto possível. Enquanto a minha boca lambia
o pescoço alongado do meu Justin, eu usei os dedos cheio de
lubrificante para invadir a sua bunda de uma vez. O grito alto de
surpresa e satisfação escapou da garganta do meu homem
impecável, e isso foi o suficiente para aumentar o tesão, que estava
gritando por libertação, dentro de mim. Continuei a folgar Justin o
máximo possível, porque não quero que ele se machuque.
Espero que esses poucos dias em que vamos estar sozinhos
aqui, possamos aproveitar o máximo que esse lugar pode nos
oferecer, porque foi aqui onde tudo começou, e temos memórias
incríveis aqui. Nada mais justo de que seja aqui o melhor lugar e o
mais aconchegante para nossa noite de núpcias.
— Vik… afunde seu pau em mim, querido, por favor! — Pede
Justin e eu mordo o maxilar com força.
— Você pedindo desse jeito tão manhoso, fica difícil recusar,
meu amor. — Falo baixinho no seu ouvido e ele solta um gemido.
— Vik! — Justin chama meu nome quando eu tiro meus
dedos e afundo o meu pau completamente dentro dele.
— Oh porra, que gostoso! Tão apertado, meu Jus! — Minha
voz sai em forma de rosnado.
— Aaaahhhh… me foda! — Justin pede cravando suas unhas
nas minhas costas.
Ao ouvir o seu comando embriagado de desejo, eu não pude
mais conter os meus quadris e continuei a enfiar no seu cuzinho em
um ritmo constante e forte. Os gemidos de Justin estavam tomando
todo o espaço do quarto, e isso foi fazendo com o que o meu
próprio desejo aumentasse além do limite. É tudo tão gostoso, tão
inebriante, é surpreendente demais como é assim todas as vezes.
Nunca vou me cansar do que temos, nunca vou poder me afastar
desse homem. Nesse porra de vida, Justin foi feito para ser meu! Só
meu e de mais ninguém! Eu o possuo por inteiro, eu o capturei para
mim, assim como ele também me capturou.
— Eu vou gozar! Merda, eu vou gozar! — Falo entre gemidos
roucos saídos involuntariamente da minha garganta.
— Eu… eu também! — Jus diz com a voz entrecortada.
Minha mente explodiu assim que cheguei ao orgasmo, em
poucos instantes em que eu consegui a minha libertação, Justin veio
logo em seguida. Nossos orgasmos vieram de forma sincronizada, e
foi tão intenso que quando dei por mim estava desmoronando sob o
seu corpo, tão lavado pelo suor quanto o meu. Fiquei com receio de
machucá-lo então sai de dentro de Jus, e fui no banheiro para
umedecer uma toalha. Limpei seu corpo com cautela, e depois usei
a mesma toalha para me limpar também. Joguei a toalha em
qualquer canto do quarto e deitei novamente ao lado de Jus, e
assim que arrasto seu corpo ao meu noto um sorriso fofo brincar nos
seus lábios.
— O que há com esse sorriso fofo? — Pergunto alisando meus
dedos na sua bochecha avermelhada.
— Só estou me sentindo um homem muito sortudo por ter
conseguido um marido tão cuidadoso. — Justin diz deixando um
beijo no meu peitoral.
— Não, malêch, o sortudo aqui sou eu! — Ressalto e seu
sorriso aumenta.
— Nós dois somos sortudos, está bom assim? — Indaga e eu
aperto meus braços ao seu redor.
— Obrigado por aceitar ser meu marido, meu companheiro e
amor da minha vida inteira, meu Justin! — Declaro com o coração
cheio de gratidão e amor.
— Não tem o que agradecer, pois fomos feitos um para o
outro, meu amor, meu Viktor! — Responde Justin minha declaração
com a mesma intensidade.
— Eu te amo, malêch! — Digo em forma de sussurro colando
nossas testas juntas.
— Eu também te amo, querido! — Meu coração acelerou ao
ouvir suas palavras.
É sempre assim… porque só ele tem o dom de fazer meu
coração disparar, como se fosse a primeira vez. Porque ele é o meu
amor, o meu sol em dias nublados, a certeza mais doce que a vida
me deu.
Sim, Justin Aandreozzi é meu pra sempre… meu eterno.
VEM AÍ
Um novo capítulo está prestes a começar…

O próximo herdeiro Aandreozzi está chegando para conquistar


corações, despertar emoções e incendiar novas paixões! Preparem-
se para viver aventuras inesquecíveis e se deixar Domar por esse
casal que promete estremecer o mundo Aandreozzi.
Vocês estão prontos para sentir na pele o poder de um
amor indomável?

Não é fácil viver a vida sendo herdeiro de uma grande família,


e Pietro Aandreozzi sabe bem como é. Aos 19 anos recém-
completados, ele se dedica com afinco ao primeiro ano do curso de
Medicina. Mesmo focado nos estudos, o jovem leva uma vida
tranquila ao lado dos pais amorosos, da irmã e dos primos, todos
muito unidos. Mas tudo muda quando Pietro conhece ele… Ian
Lancastre, um veterano em sua faculdade, conhecido por
transformar a vida dos outros em um verdadeiro inferno. O que
ninguém sabe é que Ian carrega uma raiva silenciosa, que o corrói a
cada dia. E agora, um reencontro inesperado entre esses dois
herdeiros despertará sentimentos desconhecidos, perturbando suas
mentes e corações. Envolvidos em um romance intenso, sombrio e
profundamente apaixonante, eles se verão presos em algo muito
maior do que imaginavam.
Dois herdeiros completamente diferentes, ligados da forma
mais improvável possível. O que será que o destino reserva para
esses dois?
Mas uma coisa é certa: depois de ser DOMADO, não há mais
volta.
Aguardem!
AGRADECIMENTOS
A quem me acompanha há tanto tempo, sabe: minha trajetória com a
literatura nunca foi fácil. Sempre foi amor — um amor profundo, visceral —
mas como todo amor verdadeiro, também foi marcado por dores, por batalhas
silenciosas e por momentos em que quase desisti. Houve um tempo em que
esse amor quase foi sufocado por forças que fugiram completamente ao meu
controle. E é justamente por ter superado esses momentos que hoje, com o
coração transbordando de gratidão, escrevo estas palavras.
Agradeço, do fundo da alma, às pessoas que não me deixaram cair. Que
seguraram minha mão quando eu já não via mais saída. Que acreditaram por
mim quando eu já não conseguia acreditar. Em especial, meu eterno amor,
meu marido, e minha amiga de todas as horas, Rosália, obrigada pelos puxões
de orelha, pelas palavras duras na hora certa, e por não permitirem que eu
abandonasse aquilo que nasceu comigo: o sonho.
E hoje eu entendo… não tem como desistir dos Aandreozzi. Eles são parte de
mim. Eles me reconstruíram. Eles me mostraram quem eu sou. E por isso,
jamais deixarei de escrever.
OUTRAS OBRAS
De um lado, Luiz Otávio Santos, um jovem de origem humilde que perdeu os
pais aos treze anos e hoje, aos dezenove, nutre o simples sonho de cursar
uma faculdade enquanto trabalha como garçom em um restaurante nobre
frequentado pela alta sociedade paulistana. Do outro, Filippo Aandreozzi, dono
da Aandreozzi SPA e um renomado empresário italiano do ramo de construção
civil, que está no auge de seus 29 anos e saiu de Milão para abrir uma filial da
sua empresa no Brasil. Ganhando rápida notoriedade em solo brasileiro e se
tornando invejado por muitos, propriamente conhecido por ser alguém frio,
enigmático e calculista.Duas pessoas opostas que o destino brincalhão se
encarregará de aproximar através de algo impossível de se resistir, ou deixar
passar, assim virando suas vidas de cabeça para baixo de uma hora para
outra.
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Lucca Aandreozzi, o jovem CEO da Aandreozzi SPA em Chicago, o terceiro filho
de uma família Italiana nada comum, um grande orgulho para seus pais e
irmãos, possuidor de uma vida mais agitada e amante de uma boa dose de
ação diária. Luigi Pierri, o COO da mesma empresa no Brasil, filho de uma
família Italiana tradicional que preza por antigos costumes, com total aversão
por relacionamentos e um farrista nato, mas prestes a se casar por conta de
uma gravidez indesejada. Dois homens lindos e diferentes, ligados somente
pela proximidades de seus cargos e o país em que nasceram, mas que a vida
vai fazer questão de unir através de um beijo totalmente inesperado. Pois, o
amor adora surgir de onde menos se espera, sempre flechando corações
desprevenidos.
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Expulso de casa aos dezesseis anos por causa de preferência sexual, Andrea
Giardino saiu de uma pequena comuna na Itália e partiu para Rússia com a
promessa de um bom emprego. Algo que lhe rendeu dez anos de um
sofrimento que só conseguiu se livrar agora, ao escapar e voltar para seu país,
conhecendo a doce senhora que traz para sua vida Enzo Aandreozzi, seu neto
e o notório CEO da matriz da Aandreozzi SPA em Milão. Um homem descrente
do amor, que terá suas convicções jogadas ao vento ao se ver ligado a outro
marcado pela dor, através de sua Nonna Francesca e o pedido dela para
protegê-lo.
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Luna Aandreozzi é a filha mais nova de Donatello e Arianna Aandreozzi,
recém-formada na Espanha e apaixonada pela velocidade, porém, com a
responsabilidade de ser CEO da rede de perfumaria Charms Roses,
anteriormente comandada por sua mãe. Já Laila Allen é a secretária de um de
seus irmãos, uma jovem que foi humilhada pela família por ter engravidado
aos dezessete anos, enfrentando dificuldades para terminar seus estudos e
hoje lutando sozinha para cuidar de pequeno Justin, que nasceu com Atrofia
no Nervo Óptico. A pessoa responsável por fazer o coração da doce e feroz
italiana bater mais forte, mas que desapareceu sem deixar rastros.
Duas mulheres protagonizando histórias diferentes e separadas pelos acasos,
ambas possuindo em suas mãos o poder de decidir se irão seguir por
caminhos separados ou irão para à mesma direção, como o destino realmente
planejou.

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