Uma Concepção Científica para o Campo Da EF - Go Tani
Uma Concepção Científica para o Campo Da EF - Go Tani
Todavia, apesar dessa situação favorável da Educação Física Educação Física não estava preparada para conviver num ambiente
Escolar em comparação a alguns anos atrás, um problema central de diversidade e pluralidade de conhecimentos, ideias e posições,
ainda persiste, visto que a proposição de diferentes abordagens não onde o conflito e debate académicos fossem estimulados, mas que,
foi acompanhada de uma análise rigorosa da relação entre a disciplina ao final, a força do argumento prevalecesse, mesmo que em caráter
clurTculãr de Educação Física e a sua respectiva área de conhecimento. provisório, visto ser essa uma característica inerente a qualquer
Se comparado â outras disciplinas curriculares, observa-se que a Física empreendimento científico.
existe independentemente do ensino da Física, da mesma forma a No bojo dessas discussões, não raro a ciência foi colocada
Química, a Matemática, a Biologia e assim por diante (Tani, 1991). como o vilão da história. Ressalte-se, entretanto, que, na maioria das
Neste sentido, cabe indagar: qual seria a área de conhecimento vezes, a ciência que se criticava era a chamada ciência clássica,
correspondente ao ensino da Educação Física? Qual seria o seu objeto caracterizada, entre outras coisas, pelo reducionismo, determinismo
de estudo, e que tipo de conhecimento estaria ela produzindo? Enfim, e linearidade, e não a ciência atual, onde questões como propriedades
qual seria o conteúdo do conhecimento a ser trabalhado na Educação emergentes, auto-organização, não-linearidade, ordem e desordem
Física Escolar?2 são alguns dos tópicos que compõem o centro das preocupações (por
Em síntese, esse conjunto de acontecimentos, nos últimos exemplo, Jantsch, 1980; Lewin, 1993; Prigogine & Stengers, 1984;
quinze anos, provocou, na Educação Física, uma ampla reflexão da Yates, 1987). Além disso, as diferenças e relações entre ciência,
sua própria identidade, dando origem a uma fase de turbulências em tecnologia e técnica (Bunge, 1981), e entrejjgsquisa aplicada e
que aspectos como preparação profissional, atuação profissional, pesquisa básica, foram frequentemente desconsiderã^sTÈlri^utl-ãs
identidade académica, pesquisa e pós-graduação foram questionados palavras, a ciência foi descontextualizada, tanto espacialmente como
e discutidos (veja, por exemplo, Moreira, 1992; Passos, 1988; SBDEF, temporalmente, e essa atitude fez revelar o quão necessário se faz
1992). Numa perspectiva Kuhniana (Kuhn, 1970), a Educação Física uma incursão mais profunda sobre a história da ciência, a filosofia da
mergulhou numa fase de crise, onde a necessidade de mudança ciência e a epistemologia em nosso meio. Lamentavelmente, ainda é
conceituai, estrutural e operacional foi reconhecida por uns, descartada comum rotular-se essa reflexão, sobre a macro-visão da ciência, como
por outros, e isto gerou choques entre o velho e o novo em uma viagem estratosférica desprovida de qualquer significado prático,
praticamente tudo que a envolve. isto é, um filosofar no sentido pejorativo (Manoel, 1995).
Como não poderia deixar de ser, o processo vivido pela Paralelamente às mudanças internas à área, têm ocorrido, nestes
Educação Física, nestes últimos anos, também refletiu o próprio últimos anos, mudanças significativas no plano social e profissional.
processo pelo qual passou a sociedade brasileira como um todo, ou Comparado a alguns anos atrás, existem sinais evidentes de que a
seja, de reflexão e questionamento de sua estrutura e organização consciência sobre a importância da atividade física para a qualidade
política, social, cultural e económica. O momento histórico favoreceu de vida ou bem estar geral das pessoas, tem melhorado
não apenas as discussões académicas sobre problemas específicos da gradativamente. Em termos concretos, há mais pessoas de diferentes
área, mas também questões mais amplas, particularmente aquelas idades, de diferentes camadas sociais e de ambos os sexos, praticando
relacionadas à matriz filosófica das diferentes visões de Educação atividade física regular, caminhando e correndo pelas ruas e parques
Física, de ciência e de universidade. Houve também uma da cidade. As reivindicações por espaços adequados à prática de
ideologização e politização das discussões e as disputas decorrentes atividades físicas no planejamento urbano e residencial têm crescido.
extrapolaram, muitas vezes, a esfera do académico, e provocaram Há maior número de pessoas frequentando as chamadas "academias
confrontos entre correntes com propostas de mudar a Educação Física, de ginástica". O número de pessoas com acesso a programas de
quando, na verdade, o oponente comum a ser combatido seria aquela atividades físicas orientadas nos próprios locais de trabalho tem
corrente estagnada avessa a qualquer tipo de mudança. Parecia que a aumentado significativamente. Há maior número de pacotes turísticos
12 Motus Corporis. Rio ae janeiro, v. 3, n. 2, p. 9-50. cfez. 7990 Motus Corporis. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50, dez. 1996 13
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Universidade Gama Filho
1992a; 1992b; 1995a; I995b; 1996; no prelo), para então apresentar
e de lazer que incluem programas de atividades físicas, e assim por uma proposta de estrutura académica para a área.
diante.
Infelizmente, parece que a universidade está novamente "a
reboque" dessas mudanças sociais, em vez de antecipá-las e orientá-
ESTABELECIMENTO DO PROBLEMA
las. Por exemplo, entre os muros da universidade, há muito tempo se
conhecia os efeitos benéficos da atividade física regular, sistemática
A preparação de professores para atuarem no ensino formal,
e orientada. Entretanto, tudo indica que a Educação Física não foi
entendida como a sua função precípua e específica, foi preocupação
eficiente na disseminação social desse conhecimento, seja através de central da Educação Física durante longo tempo. Os cursos de
seus cursos de preparação profissional, de suas pesquisas ou de seus preparação profissional caracterizavam-se, basicamente, por uma
cursos de extensão à comunidade. Neste particular, os meios de estrutura curricular composta de três grupos de disciplinas: (a)
comunicação de massa, não questionando aqui os seus objetivos d i s c i p l i n a s academicamente orientadas, que ofereciam os
tácitos ou subjacentes, têm tido influências muito mais decisivas para conhecimentos teóricos provenientes das chamadas ciências mães;
a formação dessa consciência sobre os benefícios da atividade física (b) disciplinas orientadas às atividades, que eram centradas em jogo,
(veja, por exemplo, Okuma, 1990). esporte, dança, ginástica e recreação; e (c) disciplinas de orientação
Essas mudanças sociais têm criado novas alternativas de pedagógica, que discutiam aspectos relacionados com o ensino no
emprego aos profissionais da área. Se há quinze anos, a maioria dos sentido amplo.
formandos se empregava no ensino formal, hoje são poucos os que Esta maneira de entender e desenvolver a Educação Física
seguem esse caminho (Mariz de Oliveira, 1988). É nítida a crescente prevaleceu por longo tempo, apesar de várias limitações a ela inerentes
redução de demanda por professores para atuarem nas escolas. O como, por exemplo, o caráter muito genérico das disciplinas de
mercado de trabalho está totalmente aberto para novas opções de orientação pedagógica, a falta de integração destas com as disciplinas
carreira. Se a Educação Física conseguirá ou não ocupar esse espaço orientadas às atividades, a simples reprodução de técnicas de
dependerá, fundamentalmente, da qualidade de serviços que os movimento nas disciplinas orientadas às atividades e a superficialidade
profissionais da área serão capazes de oferecer, e isto está diretamente dos conhecimentos teóricos desenvolvidos.
vinculado à qualidade da preparação profissional. Todavia, a Invariavelmente, os currículos de preparação profissional
privilegiavam as disciplinas orientadas às atividades que, a princípio,
preparação profissional depende, por sua vez, do suporte defuma.
lidariam com os conteúdos mais específicos da área (veja, por
área de conhecimento claramente definida e em constante
exemplo, Gallardo, 1988). Entretanto, na prática, elas limitavam-se
desenvolvimento (Tani, 1992b). a oferecer atividades e não conhecimentos estruturados acerca dessas
No meu entender, aí reside o grande desafio da Educação Física. atividades. O seu conteúdo consistia de procedimentos de ensino
Ela é uma área com curta Mstória académica e, em decorrência disso, relacionados às atividades anteriormente descritas, baseados em ,:
enfrentã~problemás que se entendem desde a definição clara de sua intuiçãpj!_experiência e senso comum, ou seja, às tão conhecidas
identitiade enquanto área de conhecimento, até a implantação e sequências pedagógicas preestabelecidas.
implementação de linlías de pesquisa devidamente delineadas, a Todavia, o problema maior, subjacente a todas essas limitações,
organização e sistematização dos conhecimentos produzidos e a era a ausência de um corpo de conhecimentos acadêmico-científicos
disseminação desses conhecimentos através dos seus cursos de próprios da Educação Física. Essencialmente, a Educação Física se
preparação profissional. Daí a pertinência do debate que a SBDEF apoiava numa muleta falsa, pois ela acreditava que os conhecimentos
ora promove. O objetivo desse trabalho é trazer uma contribuição à teóricos abrangentes e profundos de que necessitava vinham das
essa importante discussão, procurando sintetizar e ampliar algumas ciências mães, quando, na realidade, a Antropologia, a Sociologia, a
questões já abordadas em textos anteriores (Tani, 1988; 1989; 1991; Psicologia, a Fisiologia, entre outras, nunca se preocuparam em
produzi-los. A Educação Física não apenas acreditava que o seu trabalhos (Canfield, I993; Kokubun, 1995; Lima, 1994; Manoel,
conteúdo era constituído, na sua maior parte, de material tomado 1986; Mariz de Oliveira, 1988; Tani, 1988, 1989; Teixeira, 1993),
dessas disciplinas, como também que os seus princípios poderiam motivo pelo qual uma análise mais detalhada será aqui omitida.
ser formulados a partir dos conhecimentos bem estabelecidos em Mesmo assim, alguns aspectos dessa transformação da Educação
cada uma delas. Isso foi um grande equívoco. A Educação Física Física merecem ser abordados, pois tanto os seus pontos positivos
estava, de fato, esvaziada de conteúdo e dessa forma não justificava como negativos começam a influenciar profundamente a Educação
sequer a sua presença no ensino superior, como um curso de Física em nosso país.
preparação profissional academicamente orientado, muito menos na Duas possíveis estruturas foram propostas e discutidas para o
universidade, enquanto uma área de conhecimento (Tani, 1988; 1989). desenvolvimento de estudos em Educação Física, uma de caráter
Em suma, a visão da Educação Física, centrada na preparação interdisciplinareoutratransdisciplinar(crossdisciplinar). De acordo
profissional, e a consequente ênfase histórica à prestação de serviços com Brooks (l981), a estrutura interdisciplinar significa que a
ou ao aspecto profissional, inibiu a estruturação de um corpo de disciplina está baseada nos conhecimentos fornecidos por várias outras
conhecimentos que, além de proporcionar identidade académica à disciplinas. Estabelece-se, dessa forma, uma certa dependência da
área, pudesse fornecer sustentação teórica e científica à prática e à Educação Física em relação a disciplinas tradicionais como a
preparação profissional. Anatomia, a Fisiologia, a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia,
É demais conhecido que, embora preocupar-se em contribuir pois ela se caracterizaria pela aplicação dessas disciplinas a problemas
para as pessoas seja fundamental para uma profissão, o não específicos da área. A estrutura interdisciplinar ficou claramente
desenvolvimento de um corpo de conhecimentos capaz de dar uma evidenciada quandp.s&associou o nome de uma determinada disciplina
sustentação acadêmico-científica à prática profissional coloca em tradicional a um bbjeto específico da nossa área para a formação de
cheque não apenas a sua autenticidade, mas também a sua própria sub-áreas de investigação, como ocorreu, por exemplo, no caso da
sobrevivência (Lawson, 1984; Morford, 1972; Tani, 1988; 1989). Psicologia do Esporte, Sociologia do Esporte e.yistória do Esporte.
Além disso, dessa definição de identidade enquanto área de Entretanto, a estrutura interdisciplinar foi e tem sido objeto de
conhecimento e a consequente produção, organização e difusão de muitas críticas, porque, além do problema da dependência que poderia
conhecimentos depende, fundamentalmente, a justificativa da resultar, em última instância, em cooptação dessas sub-áreas pelas
permanência, ou não, da Educação Física no contexto de uma disciplinas mães, sem nenhuma contribuição efetiva para a
universidade. estruturação e desenvolvimento da Educação Física enquanto uma
No cenário internacional, um importante passo para transformar disciplina académica, ela implicava uma ausência de orientação no
essa estrutura tradicional da Educação Física deu-se em meados da sentido da integração horizontal ou temática do conhecimento
década de 60, quando nos EUA, se iniciou um amplo movimento (Lawson & Morford, 1979).
para a caracterização da Educação Física enquanto uma disciplina A dependência da Educação Física em relação às disciplinas
académica (Henry, 1964; 1978). No Brasil, os impactos desse mães não se manifestava apenas em termos da "importação" de
movimento começaram a ser sentidos apenas no início da década de conhecimentos, mas também de profissionais para desenvolverem
80, quando da implantação dos cursos de pós-graduação estrito senso. os seus conteúdos nos cursos de preparação profissional. Para esses
Mais recentemente, suas influências têm chegado também aos cursos profissionais, a estrutura interdisciplinar, obviamente, era mais prática
de graduação, através da implantação dos cursos de bacharelado. e conveniente, pois implicava apenas a aplicação das teorias e
Embora as discussões a respeito das características desse movimento metodologias de pesquisa próprias da sua área de formação académica
e de suas implicações ainda não sejam um lugar comum no nosso aos problemas da Educação Física.
meio, os seus desdobramentos têm sido documentados em vários Henry (l964; 1978), entretanto, propôs que a disciplina
16 Motus Corporis. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2, p. 9-50. dez. 1996 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50. dez. 1996 17
Universidade Gama Filho Revisla
de Divulgação gentílica do Mestrado e Doutorado cm Educação Física
académica de Educação Física teria uma estrutura transdisciplinar,
Aprendizagem Motora / Psicologia do Esporte, Sociologia e Educação
pois não consistia da aplicação das disciplinas tradicionais ao estudo
do Esporte, História e Filosofia da Educação Física e Teoria
da atividade física ou performance humana. Se assim fosse, ela não
Administrativa em Esporte e Educação Física (Park, 1989). Como se
seria uma disciplina académica, mas sim uma área técnica ou
pode observar, a emergência de sub-disciplinas não seguiu
profissional. Pelo contrário, a Educação Física seria constituída de
estritamente uma estrutura inter ou transdisciplinar, dificultando a
certas porções dessas disciplinas e cabia a ela integrá-las e ampliá-
visualização de uma estrutura coerente para a área.
las. O foco de atenção seria o estudo do movimento humano, no
Na ânsia de obter, o mais rápido possível, o status e a
sentido amplo, através de uma série de estudos organizados
respeitabilidade académicos, esse movimento deu muita ênfase à
horizontalmente, como também verticalmente, em profundidade.
pesquisa básica, estimulando e valorizando sobremaneira aquelas sub-
O pontapé inicial dado por Henry (l 964), cujas proposições se
disciplinas de investigação mais relacionadas às ciências naturais,
constituíram um verdadeiro paradigma para a Educação Física, foi
em detrimento de pesquisas relacionadas às ciências sociais e humanas
fundamental para a definição do seu conteúdo, mas vários outros
e, principalmente, de pesquisas aplicadas comprometidas com solução
estudos (por exemplo, Brown, 1967; Metheny, 1967;Nixon, 1967;
de problemas enfrentados na prática profissional. O resultado concreto
Phenix, 1967; Rarick, 1967; Steinhaus, 1967) contribuíram
desse investimento foi um inegável avanço acadêmico-científico,
significativamente para estabelecer a estrutura inicial da disciplina
evidenciado, entre outras coisas, pelo aumento significativo no volume
académica de Educação Física, que possibilitou o desenvolvimento
de estudos conduzidos, no número de periódicos especializados, na
de estudos e pesquisas devidamente identificados. Essa iniciativa foi
quantidade de eventos científicos realizados, no número de
imediatamente seguida por vários profissionais, particularmente por
publicações até mesmo em periódicos de reputação em áreas de maior
aqueles engajados em pesquisas nas universidades, caracterizando
tradição académica. Por outro lado, não foi possível observar um
aquilo que é comumente denominado de "movimento disciplinar"
impacto mais significativo dos conhecimentos produzidos na melhoria
da Educação Física. Para esses profissionais, a Educação Física
da prática profissional.
significava mais do que uma área cuja responsabilidade era a
Inicialmente, acreditou-se que as pesquisas desenvolvidas
preparação de professores para atuar nas escolas (Lawson, 1984).
nessas sub-disciplinas pudessem contribuir para a formação de um
Eles viam a Educação Física como uma área de estudo relacionada
corpo integrado de conhecimentos que desse identidade académica à
com a investigação da natureza e significado do movimento humano
área e sustentação teórica à prática e à preparação profissional.
em suas várias formas, e também com o estudo não só do como, mas
Entretanto, em função da influência do paradigma científico adotado
do porquê da atividade física (Kroll, 1982). Esse movimento trouxe
das ciências naturais, de característica eminentemente analítica,
profundas modificações na área não apenas em termos de pesquisa,
começaram a se desenvolver pesquisas que enfocavam aspectos cada
mas também de preparação profissional e pós-graduação.
vez mais específicos acerca do fenómeno movimento humano. A
Os anos que se seguiram foram caracterizados por um crescente
incorporação desse paradigma fez com que a integração horizontal e
interesse pela pesquisa, e a tendência observada foi a especialização
vertical dos conhecimentos produzidos se tornasse cada vez majs,-'
cada vez mais intensa dos temas investigados que, por sua vez, deu
difícil, caracterizando, desta forma, o processo de fragmentação do
origem à criação de várias sub-disciplinas, cada qual com seus
conhecimento (Hoffman, !985;Tani, 1988; Thomas, 1987).
objetivos e preocupações académicas próprias. Essas sub-disciplinas
É amplamente reconhecido que a integração horizontal e
se organizaram de tal maneira que criaram suas associações próprias,
vertical dos conhecimentos é fundamental para dar identidade
seus congressos específicos e seus veículos de publicação
académica a uma área de conhecimento. Embora haja dúvidas se a
especializados. As principais sub-disciplinas que emergiram
especialização das sub-disciplinas leva necessariamente à
inicialmente foram as de Fisiologia do Exercício, Biomecânica,
fragmentação do conhecimento (Greendorfer, 1987; Thomas, 1985
20 Motus Corporis. Rio de Janeiro, v. 3, n. 2. p. 9-50, dez. 1996 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50. dez. 1996 21
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específicos e difíceis de serem generalizados. Por outro lado, para Ao meu ver, ambos os conhecimentos - académicos e
pessoas de tendência mais profissional, os conhecimentos que os profissionais - são importantes e necessários para a atuação e,
profissionais necessitam são aplicados e não básicos. O argumento consequentemente, para a preparação profissional e, portanto, entendo
por elas apresentado é de que os conhecimentos básicos têm sido que a busca de autenticidade e respeitabilidade profissionais implica
produzidos de forma fragmentada e não existe uma correspondência a elaboração e desenvolvimento de um corpo de conhecimentos,
entre eles e a situação real de prática. académicos e profissionais, através de pesquisas e a sua utilização/
Basicamente, essa disputa em torno do corpo de conhecimentos para melhorar a qualidade da prática profissional (veja, por exemplo,
em que se fundamenta a prática profissional tem se desencadeado Park, 1991). Aos cursos de preparação profissional cabe a
tendo como critério único a sua utilidade prática. Neste particular, é responsabilidade de selecionar e organizar esses conhecimentos em
preciso enfatizar que a relevância do corpo de conhecimentos não função do perfil do profissional que se pretende formar, e de transmiti-
pode ser medida somente pela sua eficácia na solução de problemas los organizadamente através do conjunto de suas disciplinas
imediatos encontrados na prática (Tani, no prelo). Ele tem uma função curriculares. Neste sentido, o que se necessita é uma estrutura
muito mais ampla, pois a sua presença é, por exemplo, uma condição académica claramente articulada e aceitável que organize a produção
sine qua non para distinguir-se uma profissão de uma ocupação. A e sistematização de conhecimentos académicos e profissionais
principal diferença entre ocupação e profissão, segundo Lawson devidamente identificados e caracterizados.
(1984), é que numa ocupação as pessoas aceitam e deixam vários Essa proposição é reforçada quando se começa a detectar, no
trabalhos ou tarefas e o seu método de trabalho é dependente da Brasil, vários indicadores que evidenciam a ausência de uma estrutura
tradição ou tentativa e erro. Enquanto isso, numa profissão, as pessoas que oriente e integre num todo a produção de conhecimentos, a
estão comprometidas com uma carreira, em que a maneira de executar preparação profissional e a pós-graduação. A crescente subdivisão
o seu trabalho está baseada no conhecimento sobre a essência do da área com a criação de diferentes sub-áreas, cada qual com suas
serviço que oferecem e sobre a pessoa a quem prestam esse serviço. organizações próprias como a Biomecânica, a Historia da Educação
Além do mais, pelo fato do próprio conhecimento mudar com as Física e a Educação Física Adaptada já é uma realidade, e pode levar
transformações sociais, essas pessoas são capazes de adaptar ou alterar a uma maior fragmentação do conhecimento. Os programas de pós-
a sua maneira de trabalhar. graduação existentes refletem diferentes conceituações do corpo de
Ainda não há concordância sobre o núcleo básico de conhecimentos entre as universidades. As áreas de concentração e as
conhecimento teórico e académico que um profissional da área deve suas respectivas nomenclaturas, de tão variadas que são, dificilmente
possuir para ser claramente identificado como tal. Esse é um assunto fazem transparecer que pertencem a uma mesma área de
muito importante, pois ele define a estrutura e a organização das conhecimento. A diversificação dos programas de graduação começa
faculdades não só em termos de preparação profissional, como a criar uma confusão em relação a títulos de grau a ser outorgado. As
também em termos de produção de conhecimentos (Razor, 1988 ). denominações de departamentos mesclam nomenclaturas tradicionais
Embora cada instituição desenvolva um currículo consistente profissionalmente orientadas, com nomenclaturas mais recentes
com sua particular missão, em consonância com as particularidades academicamente orientadas.
e exigências locais, uma profissão é geralmente caracterizada pela Em 1981, Harris assim descreveu a Educação Física: Uma casa
aderência a certas concepções fundamentais sobre a natureza e dividida, com uma organização inadequada de ensino e pesquisa;
extensão de conhecimentos que os seus membros devem possuir (Park, com uma falha de interpretação de um corpo de conhecimentos
1991). Na realidade, os profissionais devem dominar não só apropriado; com uma disputa interna de poder; com uma redundância
conhecimentos teóricos mas também habilidades e sensibilidades de foco; e com um bando de organizações e sociedades representando
profissionais (Lawson, 1984). áreas especializadas que falharam em solucionar os problemas dela.
22 Motus Corporls. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50, dez. 1996 Motus Cor por is. Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 9-50. dez. 1996 23
Rev|
Universidade Gama Filho sta de Divulgação Cientifica do Mestrado e Doutorado em Educação Física
É para essa Educação Física que estamos caminhando ou queremos Ghiraldelli Júnior, 1995; Lovisolo, 1995; Santin, 1995b; Taffarel &
caminhar, seguindo os mesmos passos e os mesmos percalços? Se Escobar, 1994) no meio académico. Entretanto, a maioria desses
um dos atributos singulares do ser humano é a sua capacidade de estudos tem enfocado questões conceituais e não tem resultado na
aprender das experiências de outros, não poderia a nossa Educação proposição concreta de uma estrutura académica para a área.
Física evitar aquelas etapas problemáticas que os outros países Embora a discussão sobre a estrutura académica da área não
enfrentaram como a fragmentação do conhecimento, a disputa em seja ainda muito difundida em nosso meio, existe hoje uma visão
torno da caracterização da Educação Física como uma área académica bastante aceto de que há necessidade de uma areai de conhecimento
ou profissional, as divergências em relação a nomenclatura da área, que se preocupe em estudar o movimento humano de fornia abrangente
entre outras, e dar um salto qualitativo? efprõfunda, em múltiplos níveis de análise, desde o nível mais
Naturalmente, a definição de identidade académica e a sua microscópico (por exemplo, bioquímico) até o mais macroscópico
consolidação através de pesquisas abrangentes e profundas será um (por exemplo, antropológico). Há também uma compreensão de que,
empreendimento extremamente complexo e difícil por várias razões. em função dessas características, a denominação Educação Física
Em primeiro lugar, não será fácil definir um paradigma para a área torna-se muito restritiva e deixa de ser adequada para expressar toda
no momento em que a própria ciência, como um todo, passa por uma a abrangência dessa área de conhecimento (Renson, 1989). No
verdadeira metamorfose (Prigogine & Stengers, 1984), procurando contexto internacional, denominações como Cineantropologla
libertar-se de um paradigma caracterizado pelo reducionismo, (Renson, 1989), Motricidade Humana (Cunha, 1988; Oro, 1994;
determinismo e linearidade para assumir um paradigma em que Tojal, 1994), Ciência do Movimento Humano (Brooke & Whiting,
questões como propriedades emergentes, auto-organização, ordem e 1973), Cinesiologia (Arnold, 1993; Newell, 1989, 1990a; Roberts,
desordem compõem o centro das preocupações, como visto 1985; Wade, 1991), Ciência do Exercício (Katch, 1989,1990), Ciência
anteriormente. Em segundo lugar, definir o seu objeto de estudo e do Esporte (Thomas, 1987) e várias outras (mais de uma centena de
buscar metodologias de investigação adequadas, num momento em denominações, segundo Razor& Brassie, 1990) têm sido utilizadas
que as diferentes áreas do conhecimento têm procurado desenvolver para substituir a Educação Física, tanto como denominação de uma
pjsjiu^a^crescenternente temáticas, de característica mu Itid isc i p! i nar, área académica como também nome de departamentos e cursos de
coma utilização de tecnoíogias altamente sofisticadas, fruto do avanço preparação profissional. A mudança de nomenclatura tem sido
notável nas ciências da computação, constituir-se-ão outro grande defendida com base em diferentes argumentos como, por exemplo,
desafio para a área. Entretanto, tratando-se de um problema vital separar os aspectos disciplinares e académicos dos práticos numa
para a área, não é necessário maiores argumentos sobre a necessidade tentativa de obter respeitabilidade académica, uma maneira de os
e importância de se apresentar propostas, fomentar discussões e buscar académicos evitarem o estigma de serem vistos como professores
soluções. práticos e também como um esforço legítimo para redefinir a área
(Wade & Baker, 1990).
UMA PROPOSTA DE ESTRUTURA ACADÉMICA Na busca de uma melhor denominação que facilite a
identificação da identidade académica da área, tenho sugerido e
A discussão epistemológica sobre a identidade académica da adotado o termo Cinesiologia (Tani, 1989; 1995a; 1995b) que é o
Educação Física, no Brasil, teve um impulso inicial com as reflexões mais difundido entre eles e que significa, literalmente, estudo do
de Cunha (1988) que resultaram na proposição de uma Ciência da movimento (veja Newell, 1990a, para maiores detalhes). A
Motricidade Humana. Gradativamente, esse assunto vem se tornando Cinesiologia poderia ser definida como uma área do conhecimento
c ue te
um foco de forte atenção (por exemplo, Bracht, 1993; 1995a; Lovisolo, l J!LÇ9£05.SfcdetQ-,de.estud©: o movimento humano, com o seu
1992; Santin, 1995a) e certa "tensão" (Bracht, 1995b; Gaya, 1994; foco de preocupações centrado no estudo de movimentos genéricos
24 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50, dez. 1996 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 9-50, dez. 1996 25
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(postura, locomoção, manipulação) e específicos do esporte, exercício, A Biodinâmica do Movimento Humano englobaria a Bioquímica do
ginástica, jogo e dança. A delimitação do objeto de estudo, através Exercício, a F i s i o l o g i a do Exercício, a Biomecânica e a
do estabelecimento de um foco, não deve ser entendido como uma Cineantropometria. O Comportamento Motor Humano, por sua vez,
camisa de força, mas sim como uma forma de organizar e orientar a incorporaria o Controle Motor, a Aprendizagem Motora, o
produção e sistematização do conhecimento. Na realidade, nunca foi Desenvolvimento Motor e yfsicgiÕgjà^do Esporte. Finalmente, a
fácil, e está se tornando cada vez mais difícil estabelecer-se uma sub-área de Estudos Sócio-Culturais do Movimento Humano reuniria
"reserva de mercado" de um determinado objeto de estudo para uma a Sociologia, a História, a Antropologia, a Filosofia, a Ética e a
certa área, particularmente em termos de pesquisa básica. Estética do Movimento Humano/Esporte. Abordagens integradas no
A Cinesiologia teria a cjiractexísticâ~jie-UJnja^.áieáLjde estudo do movimento humano já são uma realidade em muitos centros
conhecimento, mais do que de uma^dJsdBjjnj.âÇâdJmjca.^Uma avançados. Por exemplo, o estudo da coordenação e controle de
disciplina académica é normalmente identificada por possuir: (a) um movimentos tem exigido cada vez mais a integração de
objeto de estudo próprio; (b) uma metodologia de estudo conhecimentos, metodologias e esforços de profissionais da
especializada, e (c) um paradigma próprio identificado por um Neurofisiologia, do Comportamento Motor e da Biomecânica
conjunto de teorias, que resulta num corpo de conhecimentos único (veja,por exemplo, Requin & Stelmach, 1991; Stelmach & Requin,
(Ross, 1978). Estes requisitos são normalmente preenchidos pelas 1992).
disciplinas tradicionais, verticalmente estruturadas, como no caso da A Cinesiologia estudaria não só os mecanismos e funções do
Anatomia, Fisiologia, Psicologia, Sociologia e Antropologia.
Entretanto, a Cinesiologia tem uma característica muito peculiar no
sentido de que ela abrange estudos desde os niveisTriais microscópicos
até os mais macroscópicos, transcendendo os limites das disciplinas
tradicionais. COMPORTAMENTO
ESTUDOS
SÓCIO-
Essa abrangência da Cinesiologia traz dificuldades em relação MOTOR HUMANO CULTURAIS
a sua identidade epistemológica e metodológica, pois a pluralidade DO
MOVIMENTO
se apresenta como uma característica inerente e como uma condição HUMANO
indispensável para o sucesso do empreendimento. Por outro lado, ela
tem o privilégio de ser uma das poucas áreas em que há uma
perspectiva concreta de integrar conhecimentos e descobertas de várias
disciplinas em torno de um mesmo objeto de estudo (Park, 1991).
A Cinesiologia teria uma estrutura transdisciplinar (Henry,
V-"- ^/
PEDAGOGIA f ADAF'TACÃO 1
DO DO
1978; Lawson & Morford, 1979; Renson, 1989; Rose, 1986) e seria MOVIMENTO MOV MENTO
constituída de três grandes sub-áreas de investigação, quais sejam, a ^ HUMANO J HU MANO J
movimento humano, mas também os processos de mudança que o onde os modos de descrição, embora irredutíveis, são vistos como
mesmo manifesta ao longo do seu ciclo de vida, seja como complementares (Pattee, 1978), acredita-se que o conjunto das
consequência do desenvolvimento ou da aprendizagem. Ela estudaria contribuições de estudos, dentro dessa visão do movimento humano,
também o significado bio-psico-sócio-cultural do movimento humano possa resultar num corpo de conhecimentos coerentemente
em suas diferentes formas de manifestação e, neste sentido, organizados, capaz de evidenciar uma identidade académica
necessitaria modificar a visão restrita de movimento de outrora, claramente definida. Nessa perspectiva, para que a Cinesiologia possa
passando a considerá-lo na relação dinâmica entre o ser humano e o ser bem sucedJda, é fundamental a compreensão de que, em cada
meio ambiente. É preciso ver o movimento como um sistema níyeí de jnálise; existem epistemologias e metodologias adequadas
organizado horizontalmente através da interação entre os elementos (veja, por exemplo, Arnold, 1993; Estes, 1994; Park, 1991), mesmo
que o compõem e estruturado verticalmente em múltiplos níveis, quejde forma provisória, característica essa inerente à ciência. Se,
assumindo característica do que é comumente denominado de por exemplo, a fenomenologia e a hermenêutica são consideradas
complexidade organizada. E, por ser complexo, ele deve ser merecedor abordagens epistemológicas e metodológicas apropriadas para se
de uma abordagem em diferentes níveis de análise. estudar fenómenos macroscópicos em nível sócio-cultural de análise,
Na realidade, com essas colocações, está-se enfatizando a a abordagem experimental tem mostrado sua eficácia nos estudos^.
relevância do paradigma sistémico para a estruturação dessa área de em níveis mais microscópicos. Certamente, a possibilidade de sucesso
conhecimento. O paradigma sistémico pode ser descrito de diferentes da abordagem hermenêutica é remota na Bioquímica do Exercício,
formas. Por exemplo, como uma visão sistémica (Laszlo, 1972), em assim como da abordagem experimental na Antropologia do Jogo.
que o todo não é visto como somatório de partes, mas sim como algo Além disso, apesar de intimamente relacionadas, é importante
que surge da interação das partes. A visão sistémica procura entender distinguir-se epistemologia reducionista e metodologia reducionista.
o todo não a partir das partes, mas sim a partir do todo identificar a A busca da relação causa-efeito simples, proposição básica do
função das partes e a relação que as partes mantêm entre si para que reducionismo, tem-se mostrado limitada no estudo de sistemas não-
o objetivo do todo seja alcançado. É uma visão do todo organizado lineares, o que remete à necessidade de uma mudança paradigmática
hierarquicamente, ou seja, em diferentes níveis em que a relação todo- nas pesquisas básicas. Entretanto, as limitações do reducionismo
parte não é absoluta, mas relativa. Em outras palavras, ela é enquanto metodologia têm sido também impostas pelo próprio estágio
holonômica (Koestler, 1967). O paradigma sistémico implica uma de desenvolvimento da ciência e tecnologia. Muitas vezes, a natureza
visão de sistemas abertos, isto é, sistemas que interagem com o meio do problema a ser investigado sugere prontamente uma epistemologia
ambiente através da troca de matéria/energia e informação e que estão mais adequada, mas não os detalhes metodológicos necessários para
em constante busca de estados mais complexos de organização via a operacionalização do estudo. Por exemplo, o problema da avaliação
adaptação. Sistemas abertos são sistemas em não equilíbrio que da veracidade de uma particular interpretação constitui-se uma das
mudam, evoluem e evitam o aumento de entropia previsto pela 2a lei grandes dificuldades em estudos sócio-culturais (Barris, 1981).
da termodinâmica (Bertalanffy, 1968). Recentes avanços do Naturalmente, a abordagem de um determinado objeto de
paradigma sistémico têm projetado uma visão de sistemas dinâmicos estudo exige constantes aperfeiçoamentos, não só metodológicos
não-lineares, em que a interação entre os componentes faz surgir como também conceituais e teóricos, e isso remete à necessidade de
uma ordem macroscópica emergente não previsível a partir do se manter sintonia com as discussões e evoluções do pensamento
conhecimento das partes, e esta ordem macroscópica é retroalimentada científico que são essencialmente dinâmicas. A Cinesiologia não pode
influenciando o comportamento das partes (Lewin, 1993). deixar de acompanhar as mudanças paradigmáticas da própria ciência.
Entendendo-se que fenómenos e eventos complexos podem, Muitos estudos conduzidos na área ainda têm como background o
dentro do paradigma sistémico, ser analisados em diferentes níveis, paradigma da ciência clássica, onde fenómenos são vistos como
28 Motus Corooris. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50. dez. 1996 Motus Corpor/s. Rio de Janeiro, v. 3, n. 2. p. 9-50, dez. 1996 29
Universidade Gama Filho Revista de Divulgpçao Científica do Mestrado e Doutorado em Educação Física
complexidades desorganizadas, e o pensamento analítico o único claramente delineadas (veja, por exemplo, Park, 1987, 1991).
aceito e valorizado (Bertalanffy, 1968). É fundamental reconhecer-se não só as potencial idades, como
Entretanto, os recentes avanços na ciência têm exigido dos também as limitações das diferentes abordagens frente à
pesquisadores da área reflexões profundas. Desordem tem sido; complexidade. Na troca de farpas entre duas abordagens vistas de
considerada fonte de ordem. Observa-se auto-organização no mundo! forma polarizada - positivismo de um lado e fenomenologia/
físico e o mesmo mecanismo começa a ser desvendado no mundo] hermenêutica/crítica de outro -, não raro, são ressaltadas apenas as
biológico e sociológico. Parecem existir princípios de organização potencial idades de uma em contraposição às limitações da outra, o
universais que se aplicam a todos os sistemas dinâmicos, conforme que pode induzir à "miopia" académica.
previa Bertalanffy (1968). A ciência dirige sua atenção ao comum, Acredito que é na qualidade dos estudos em diferentes níveis j
às semelhanças, à essência. Fala-se em nova síntese (Laszlo, 1994). de análise, segundo diferentes epistemologias e metodologias, que j
A teoria do caos deu o pontapé inicial e a teoria da complexidade .devemos dirigir nossos esfprçps^ãd basta adotar uma abordagem;
revela que descontinuidades ocorrem quando sistemas dinâmicos se é preciso praticá-la, testá-la, aperfeiçoá-la e isso se dá conduzindo-se
colocam no limite do caos, dando origem a um salto qualitativo pesquisas qualitativamente aceitáveis. Aí reside também a visão de
(Lewin, 1993). A transição de fase é observada não só no mundo ciência que cada pesquisador possui e o consequente critério de
físico (Haken, 1.977) como também no mundo biológico, por exemplo, cientificidade que adota para avaliar os estudos. Nesse universo, é
na coordenação de movimentos (Kelso, 1984). muito comum também o pesquisador estabelecer dois pólos
Deve-se esclarecer, entretanto, que não se está aqui propondo dicotomizados - racionalismo lógico ou relativismo céptico - e
simplisticamente que essas novas ideias, hipóteses e proposições das posicionar-se num deles, o que é muito cómodo mas igualmente
meta-teorias da ciência sejam imediatamente transferidas ao universo perigoso, pois descarta o esforço de síntese. Ao meu ver, não existem
da verificação empírica nas diferentes áreas, mas sim ressaltar que verdades absolutas, mas existem asserções baseadas em
cabe ao pesquisador estar em sintonia com esses avanços sob pena probabilidades e não em certezaque sobrevivem ao criticismo a partir
de ficar desatualizado e descontextualizado. de múltiplas perspectivas (Bain, 1990). Como coloca Chalmers
r" As sub-áreas de Biodinâmica e Comportamento Motor, onde (l990), não há métodos ou padrões universais, mas há padrões
j o método experimental é predominante, têm uma história mais longa historicamente contingentes implícitos em práticas bem sucedidas.
f de pesquisa. A sub-área de Estudos Sócio-Culturais, por outro lado, A ciência, dentro dessa perspectiva, pode ser vista como um processo
fé mais incipiente. Neste sentido, é urgente a necessidade de se contínuo de busca da verdade, verdade essa que poderá nunca ser
estimular e fomentar estudos nessa área, como por exemplo, pesquisas alcançada, mas que a busca em si deixa como resultado um rico
sobre o significado da atividade motora, sejam elas através da património a ser ainda mais explorado.
abordagem epistemológica e metodológica da fenomenologia, Normalmente, uma determinada abordagem traz implícito na
hermenêutica ou teoria crítica (veja, por exemplo, Bain, 1990; sua construção, nos seus argumentos e nas suas propostas, críticas a
Fahlberg& Fahlberg, 1994; Fahlberg, Fahlberg& Gates, 1992; Harris, outras abordagens. Neste sentido, é mais construtivo fazer essas
1981). Como a génese dessas abordagens está na crítica à abordagem diferenças transparecerem naturalmente nos estudos que se realizam
positivista, experimental e quantitativa, e grande parte das pesquisas dentro de uma abordagem do que continuar insistindo em apontar as
conduzidas em Biodinâmica e Comportamento Motor estão dentro diferenças, ou seja, fazer com que a qualidade do estudo evidencie
dessa abordagem, muitos pesquisadores da sub-área de Estudos Sócio- por si mesma o potencial de contribuição dessa abordagem.
Culturais fazem da crítica a essas duas sub-áreas o seu objeto de Estabelecer demarcações rígidas, mais do que estimular, inibe o
preocupações, e não têm apresentado perspectivas concretas de dinamismo do empreendimento acadêmico-científico.
pesquisa que enfoquem o fenómeno em si, ou seja, linhas de pesquisa Importante ressaltar que as pesquisas desenvolvidas em
30 Motus Corporls. Rio de Janeiro, v, 3. n. 2. p. 9-50. dez. 199o Motus Corporis. Rio do Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50. dez. 1996 31
Universidade Gama Filho Revista de Divulgação Científica do Mestrado u Doutorado em Educação Física
Cinesiologia seriam de natureza básica, ou seja, sem preocupação Treinamento Esportivo e Administração Esportiva (Figura 2). Essas
com a solução de problemas práticos. Os conhecimentos produzidos duas sub-áreas também já têm uma longa tradição em nosso meio,
pela Cinesiologia poderiam ser utilizados em pesquisas aplicadas não dispensando, portanto, maiores explicações.
apenas pela Educação Física, agora no sentido mais restrito, como
também por outras áreas aplicadas que necessitariam de p
E CINESIOLOGIA
conhecimentos acerca do movimento humano como a Fisioterapia e S
a Terapia Ocupacional, só para citar algumas delas. Q
U
A Educação Física, neste contexto, caracterizaria uma área de l BIODINÂMICA ESTUDOS
S DO COMPORTAMENTO
pesquisa eminentemente aplicada, de preocupação pedagógica e A
SÓCIO-
MOVIMENTO MOTOR HUMANO CULTURAIS
profissional, cujos conhecimentos serviriam de base para a elaboração HUMANO DO
B
e desenvolvimento de programas de Educação Física em nível formal Á MOVIMENTO
S HUMANO
(escolar) e não formal (Tani, 1989). Assim fica claramente l
caracterizada a distinção e as relações entre a Cinesiologia e a C
A
Educação Física. A Educação Física estudaria academicamente os
aspectos pedagógicos e profissionais a ela pertinentes através de
pesquisas aplicadas. Essas pesquisas implicariam em síntese de
conhecimentos produzidos pela Cinesiologia nas suas três sub-áreas
- Biodinâmica do Movimento Humano, Comportamento Motor TREINAMENTO ADMINISTRAÇÃO
Humano e Estudos Sócio-Culturais do Movimento Humano -, além ESPORTIVO ESPORTIVA
de uma interação com outras áreas, particularmente a Educação e a
Medicina, como tem ocorrido historicamente. A Educação Física seria
constituída de duas sub-áreas: Pedagogia do Movimento Humano e
Adaptação do Movimento Humano. A Pedagogia do Movimento
Humano já é uma sub-área tradicional que dispensa maiores
explicações. A Adaptação do Movimento Humano seria responsável ESPORTE
por estudos que procuram produzir conhecimentos que sirvam de Figura 2: Estrutura Académica de Cinesiologia e Esporte.
base para o desenvolvimento de programas de Educação Física a
populações especiais, não só de portadores de deficiências, mas Embora fuja um pouco do tema central desse trabalho, uma
também de gestantes, cardiopatas, asmáticos e assim por diante. consideração acerca da distinção e relação entre os conceitos de
Para uma melhor compreensão da relação entre Cinesiologia e Educação Física e Esporte se faz oportuna. As semelhanças e
outras áreas que tratam do movimento humano, e tomando o Esporte diferenças entre Educação Física e Esporte, enquanto fenómenos ou
como outro exemplo, é possível adotar o seguinte raciocínio: o esporte práticas sociais, têm sido objeto de inúmeros estudos. Uns têm
enquanto fenómeno constitui-se uma das formas de manifestação do destacado as semelhanças, outros as diferenças, mas no geral os
movimento humano e, como tal, seria objeto de estudo da argumentos apresentados têm sido suficientemente esclarecedores para
Cinesiologia. Por outro lado, o Esporte, enquanto uma área mostrar que se trata de dois fenómenos distintos, porém relacionados
profissionalizante, caracterizaria uma área de pesquisa aplicada, cuja (para uma análise mais detalhada veja, por exemplo, Betti, 1991).
preocupação seria de produzir conhecimentos capazes de solucionar O Esporte tem sido conceituado como uma ação social
problemas práticos da vida real, através de suas duas sub-áreas: institucionalizada, convencionalmente regrada, que se desenvolve com
32 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2. p. 9-50, dez. 1996 Mo/us Corporis, Rio de Janeiro, v. 3. n. 2, p. 9-50. dez. 1996 33
sidade Gama Filho Revista de Divulgação Científica do Mestrado e Doutorado em Educação Física
base lúdica, em forma de competição entre duas ou mais partes O esporte-rendimento caracteriza-se, entre outras coisas, pelos
oponentes ou contra a natureza, cujo objetivo é, através de uma seguintes aspectos: ele objetiva o máximo em termos de rendimento
comparação de desempenhos, designar o vencedor ou registrar o
pois visa a competição; ocupa-se com o talento e portanto preocupa-
recorde; seu resultado é determinado pela habilidade e estratégia do
se essencialmente com o potencial das pessoas; submete pessoas a
participante, e é para este gratificante tanto intrínseca como
treinamento com orientação para a especificidade, ou seja, uma
extrinsecamente (Betti, 1991:24). modalidade específica; enfatiza o produto e resulta em constante
Entretanto, em função da ênfase a determinados aspectos, o
inovação. O interesse principal do esporte-rendimento é a perpetuação
Esporte pode assumir características diferenciadas como, por exemplo,
do sistema ou a sua auto-preservação e o sistema só se perpetua com
o esporte-rendimento, em que a busca de resultados e recordes é o
recordes. Os motivos desse interesse podem ser culturais, económicos,
seu objetivo maior, e o Esporte enquanto conteúdo a ser desenvolvido
políticos e ideológicos.
na Educação Física, ou seja, habilidades e conhecimentos específicos
Numa perspectiva diferente, o Esporte pode ser visto como
que possibilitem o aluno a compreendê-lo como elemento que pode
um património cultural da humanidade e, como tal, um conteúdo a
contribuir para o seu bem estar geral e a praticá-lo ao longo de sua
ser transmitido através do processo educacional. Afinal, um dos
vida (Figura 3). grandes objetivos da Educação é a transmissão do património cultural
da humanidade. As crianças de hoje devem ter acesso a todo o
CONCEITO DE ESPORTE património cultural criado, aperfeiçoado, transformado e transmitido
de geração para geração. Isso implica duas atividades relacionadas,
ESPORTE/ ESPORTE/CONTEÚDO mas que necessitam ser diferenciadas: a aquisição dos conhecimentos
RENDIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
acerca do Esporte e a aquisição de habilidades motoras específicas
do Esporte.
Objetiva o MÁXIMO ÓTIMO Quando se discute se o Esporte, tal como se apresenta, é
compatível com objetivos educacionais e, portanto, pode constituir-
Visa a COMPETIÇÃO APRENDIZAGEM se ou não conteúdo a ser ensinado na Educação Física, a polémica
gira em torno da aquisição de habilidades motoras, sobretudo quando
Ocupa-se com TALENTO PESSOA COMUM
a ênfase é dada ao aspecto de competição com todas as suas
consequências físicas, psicológicas e sociais (Tani, Teixeira & Ferraz,
Preocupa-se com POTENCIAL POTENCIAL E
LIMITAÇÃO 1994). Se cabe à Educação Física projetar um sistema que possibilite
a todas as crianças explorar ao máximo suas potencialidades,
Submete a TREINAMENTO • PRÁTICA
especialmente motoras, respeitadas as suas características individuais
Orienta-se para ESPECIFICIDADE GENERALIDADE
e limitações (Tani, Manoel, Kokubun & Proença, 1988), a utilização
do Esporte como conteúdo a ser ensinado merece cuidados conceituais
Enfatiza o PRODUTO PROCESSO
.e metodológicos adequados (Betti, 1991; Mariz de Oliveira, 1988).
O Esporte como conteúdo da Educação Física tem as seguintes
Resulta em INOVAÇÃO DIFUSÃO
características: objetiva o ótimo de rendimento, respeitando as
características individuais, as expectativas e as aspirações das pessoas;
ocupa-se com a pessoa comum, preocupando-se não apenas com o
seu potencial mas também com a sua limitação; visa à aprendizagem
Figura 3: O Conceito de Esporte
e portanto submete pessoas à prática vista como um processo de
solução de problemas motores; orienta-se para a generalidade, dando sistematização dos mesmos e também contribua para a estruturação
oportunidades de acesso a diferentes modalidades; enfatiza o processo dos cursos de preparação profissional.
e não o produto em forma de rendimentos ou recordes, e essa A preparação profissional é um processo extremamente
orientação resulta na difusão do esporte como um património cultural. complexo. Ela implica, antes de mais nada, uma filosofia de
O importante é compreender que o Esporte enquanto fenómeno preparação profissional que defina claramente o perfil profissional
é objeto de preocupação académica da Cinesiologia. Os da pessoa que se quer formar. Esse perfil, por sua vez, está
conhecimentos produzidos pela Cinesiologia acerca do fenómeno intimamente relacionado às necessidades sociais e às características
Esporte, por exemplo, as Olimpíadas com todas as suas implicações, do mercado de trabalho, ambas de natureza muito dinâmica. A
podem fazer parte do conteúdo a ser trabalhado pela Educação Física preparação profissional exige, desta forma, reflexões amplas e
no ensino formal, desde que devidamente selecionados e organizados profundas e, portanto, não se constitui objetivo do presente trabalho
à luz dos seus objetivos específicos, para dar, aos escolares, o acesso discuti-la exaustivamente.
a conhecimentos sobre um importante património cultural da Todavia, o entendimento de que a existência de um corpo de
humanidade. Quando o Esporte é visto na perspectiva de conteúdo conhecimentos que dê suporte académico e científico à prática i
da Educação Física, ele se transforma em objeto de estudo a ser profissional é uma condição fundamental para a preparação
investigado, por exemplo, em termos de metodologia de ensino das profissional, foi um tema central desse estudo. Muito se discute sobre
habilidades, tanto pela sub-área de Pedagogia como Adaptação do qual seria o núcleo básico de conhecimentos de um curso de
Movimento Humano. Os conhecimentos assim produzidos poderão preparação profissional. Uns têm defendido conhecimentos
ser utilizados pela Educação Física, tanto no ensino formal como eminentemente profissionalizantes. Outros têm se colocado no
não formal, para auxiliar escolares e não escolares a adquirirem extremo oposto, defendendo conhecimentos essencialmente
habilidades motoras específicas do Esporte com o objetivo de melhorar académicos. Conforme foi colocado anteriormente, no meu entender,
a qualidade de suas vidas. ambos os conhecimentos são importantes. Há que se ter uma formação
Um aspecto fundamental da presente proposta é a distinção básica de conhecimentos académicos amplos e gerais sobre o objeto
clara de duas áreas, uma preocupada com aspectos académicos acerca de estudo - movimento humano -, assim como uma formação
do movimento humano (Cinesiologia), e a outra preocupada com específica de conhecimentos profissional izantes e aplicados, úteis na
aspectos profissionalizantes e aplicados do mesmo objeto de estudo solução de problemas que surgem na atuação profissional. A
(Educação Física e Esporte). A intenção é que ambas sejam preparação profissional não deve visar à formação de um mero
fortalecidas, cada qual dentro da sua especificidade, ou seja, com solucionadorde problemas práticos, mas sim de um profissional com
pesquisas devidamente caracterizadas e identificadas. Nos EUA, por conhecimentos amplos, capaz de refletir criticamente sobre os
exemplo, essas duas áreas não foram diferenciadas, ao contrário, problemas, analisando-os num contexto mais geral e colocando-os
colocadas sob uma mesma estrutura. No meu entender, muitas das numa perspectiva diferente, quando pertinente.
divergências e conflitos que se alastraram por longos anos em torno Cabe aos cursos de preparação profissional selecionar e
da questão "disciplina académica versus profissão" foram causados organizar esses conhecimentos em função do perfil do profissional
por essa não diferenciação. Atribuir à Cinesiologia pesquisas também que se quer formar, e disseminá-los de forma sequencial e organizada
aplicadas de cunho profissionalizante, simplesmente perpetua a através do conjunto de suas disciplinas curriculares, ou seja, de uma
ambiguidade e inibe o crescimento de ambas. grade curricular coerentemente estruturada. Uma vez definido o
Espera-se que a estrutura proposta, diferenciando as áreas conteúdo a ser trabalhado no curso de preparação profissional, existem
académica (Cinesiologia) e profissionalizante (Educação Física e várias alternativas sobre a maneira de disseminá-lo. Uma delas, que
Esporte), estimule a produção de conhecimentos, facilite a tem sido adotada com frequência, parte dos conhecimentos mais
36 Motus Corporis. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2, p. 9-50. dez. 1996 Motus Corporis. Pio de Janeiro, v. 3, n. 2. p. 9-50. dez. 1996 37
Universidade Gama Filho Revista de Divulgação Científica do Mestrado e Doutorado em Educação Física
Notas:
genéricos aos específicos, implicando o estudo dos conhecimentos
da Cinesiologia primeiro e então os conhecimentos da Educação Física
Professor da Universidade de São de Paulo.
ou Esporte, dependendo da área de formação escolhida.
A implantação do bacharelado foi um importante passo no Veja, por exemplo, Revista Paulista de Educação Física, vol.5, n" 1/2, 1991 e
sentido da concretização de uma proposta de preparação profissional suplemento n" l, 1995.
baseada em um corpo de conhecimentos. O objetivo precípuo de um
curso de bacharelado é formar profissionais com o domínio do corpo
específico de conhecimentos da área. Uma vez detentor desses REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
conhecimentos, cabe ao bacharel transformá-los em "instrumento"
de trabalho para solucionar problemas específicos que possam surgir ARNOLD, P.J. (1993). Kinesiology and the professional preparation
em diferentes segmentos de sua atuação profissional. ofthe movement teacher. Journal of Human Movement Studies.
Para concluir, a Figura 4 apresenta uma ideia de uma estrutura (25): 203-231.
administrativa capaz de abrigar, sob um mesmo teto, as áreas de
conhecimento que foram apresentadas e discutidas no presente BAIN, L.L. (1990). Visions and voices. Quest. (42): 1-12.
trabalho. Evidentemente, essa estrutura se aplica às universidades,
particularmente àquelas em que a Educação Física se constitui uma BERTALANFFY, L. V. (1968). General systems theory. New York:
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isoladas de ensino superior optar por uma estrutura mais restrita
centrada em uma ou mais áreas, dependendo da sua vocação BETTI, M. (1991). Educação física e sociedade. São Paulo:
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