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Origens Da Congada

O documento explora as origens da congada, destacando as diversas interpretações sobre suas raízes culturais ao longo do século XX. Pesquisadores de diferentes áreas oferecem visões que variam de convergências a discordâncias, refletindo um debate contínuo sobre a influência africana e a adaptação cultural no Brasil. A análise inclui a contribuição de figuras como Mário de Andrade, que argumenta que a congada é uma manifestação cultural criada pelos negros escravizados, em vez de uma imposição europeia.

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Origens Da Congada

O documento explora as origens da congada, destacando as diversas interpretações sobre suas raízes culturais ao longo do século XX. Pesquisadores de diferentes áreas oferecem visões que variam de convergências a discordâncias, refletindo um debate contínuo sobre a influência africana e a adaptação cultural no Brasil. A análise inclui a contribuição de figuras como Mário de Andrade, que argumenta que a congada é uma manifestação cultural criada pelos negros escravizados, em vez de uma imposição europeia.

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Origens da congada: controvérsias e convergências

Origins of congada: controversies and convergences

Rodrigo de Souza Ferreira*

Resumo: Ao longo do século XX, diversos autores se empenharam na tarefa de encontrar alguma explicação para a origem
das festas de coroação de rei do Congo. Várias foram as interpretações propostas nesse esforço, ora convergindo para uma
mesma direção, ora destoando radicalmente umas das outras. Sem ter a pretensão de esgotar o assunto (o que, de qualquer
forma, parece impossível), as linhas que se seguem pretendem destacar alguns dos caminhos trilhados por pesquisadores de
diversas áreas, evidenciando que o longo e infindo debate sugere sempre resultados parciais e possibilidades latentes.

Palavras-chaves: Congada; cultura afro-brasileira; escravização africana.

Abstract: Along the 20th century, several authors insisted on the task of finding some explanation for the origin of feasts like
kings of Congo coronation. There were several interpretations proposed in that effort, some times converging for the same
direction, other times radically discording from other ones. Having no pretension of draining the subject off (what, any way,
seems to be impossible), the written lines that follow intend to detach some of the paths trodden by researchers from several
areas, evidencing that a long and endless debate always suggests partial results and latent possibilities.

Word-key: Congada; Afro-Brazilian culture; African enslavement.

* Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa


e-mail: [email protected]

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Montes Claros, v.7, n.2 - jul./dez. 2005

O trabalho pioneiro dos folcloristas A contribuição de Mário de Andrade para os estudos


sobre o folclore brasileiro foi bastante ampla, seja
A partir do século XVIII, como conseqüência do pro- pelos trabalhos que realizou, sobretudo no que se
cesso de consolidação da unidade política de diver- refere às danças dramáticas brasileiras, seja pela in-
sos países europeus, a questão da identidade nacio- fluência que exerceu sobre uma ampla gama de
nal esteve em voga nos debates teóricos daquele folcloristas posteriores. Dentre as diversas configu-
continente. Nesse sentido, os intelectuais buscavam rações de danças dramáticas citadas e estudadas por
identificar elementos e práticas culturais próprias de ele, uma que merece especial destaque é o bailado
suas regiões, visando afirmar a originalidade de seu dos Congos. Recorrendo sempre aos escritos de je-
povo. Seguindo essa tendência, em fins do século suítas e viajantes, o autor busca identificar a origem
XIX e início do XX, intelectuais de países periféri- dessa forma de manifestação popular.
cos, como o Brasil, que acabavam de romper politi-
camente com as antigas metrópoles coloniais, pas- O jesuíta Antônio Pires dá notícia de que em
1552 os negros africanos de Pernambuco es-
saram também a se deter sobre tais questões. Con-
tavam reunidos numa confraria do Rosario, e
tudo, diferentemente das nações européias, que bus- se praticava na terra procissões exclusivamen-
cavam em sua ancestralidade cultural aspectos que te compostas de homens-de-côr. Não se refe-
pudessem definir a autenticidade de seus povos, no re ainda a reis negros aqui, mas a indicação é
Brasil, em função das especificidades de seu povoa- muito sintomatica. A eleição de reis negros
titulares, a coroação deles, e as festas que pro-
mento, a identidade nacional foi pensada
vinham disso, Congos, Congadas, sempre até
freqüentemente a partir da influência exercida pelos hoje se ligaram intimamente á festa, e mesmo
três grupos étnicos formadores: o europeu, o índio á confraria do Rosario. Inda mais: as procis-
e o africano. É nesse contexto que têm início as sões catolicas eram cortejos que relembravam
discussões sobre o folclore, pensado originalmente ao negro os seus cortejos reais da Africa. Nada
como um ramo de estudo capaz de recolher certas mais natural do que a identificação. (Andrade,
1935: 37)
“antigüidades populares” que armazenavam o cerne
da “alma nacional” (Reily, 1990).
Recusando terminantemente a possibilidade das
Logo no início de um artigo publicado em 1935, Má- congadas serem manifestações inspiradas na cultura
rio de Andrade, um dos expoentes do movimento européia, Andrade (1935) enfatiza que as mesmas de-
modernista brasileiro, deixa patente sua inquietação rivam do costume africano de se celebrar o
referente à definição da identidade nacional, buscan- coroamento dos reis emergentes. Dessa forma, as
do apresentar elementos que marcassem uma origi- congadas seriam antes uma manifestação cultural es-
nalidade brasileira, formada a partir da matriz multi- pontaneamente criada pelos negros escravizados do
étnica. que uma imposição do colonizador europeu. Para o
autor, o costume de se nomear reis de fachada foi
Uma das manifestações mais características, muito difundido entre os negros, tendo se iniciado
e se pode dizer mesmo que originais, da mú-
na própria África, quando o colonizador europeu pas-
sica popular brasileira são as nossas dansas-
dramaticas. Nisso o povo brasileiro sou a exercer o poder de fato, em detrimento dos
evolucionou enormemente sobre as raças que potentados nativos, que tiveram sua ação restringida
nos originaram. (...) sempre é comovente ve- a funções, cada vez mais, simbólicas.
rificar que apenas êsses tres fundos etnicos
são os que o nosso povo celebra secularmen- Contudo, ainda segundo Andrade (1935), a prática,
te em suas dansas-dramaticas . comum entre os negros, de se eleger seus reis foi
(Andrade,1935:36). não só aceita, mas até mesmo estimulada pelo colo

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Artigos –
Origens da Congada: controvérsias e convergências
FERREIRA, R. S.

nizador. Num momento em que os cativos supera- as ruas acompanhando o rei, ou quando pa-
rado diante das igrejas ou das casas de pesso-
vam numericamente os brancos e que, por isso mes-
as importantes, dansa com a assistencia do
mo, representavam uma constante ameaça de revol- rei, para o rei ver... É a parte mais livre, mais
ta, reconhecer suas lideranças naturais e manter com movel em que estão as canções de marcha, as
elas relações de cordialidade poderia contribuir para louvações religiosas-fetichistas, catolicas ou
camuflar a situação de exploração a que os escravos não, as dansas referentes a costumes e traba-
lhos tribais, e as coreografias puras. (...) O se-
estavam submetidos. Andrade (1935) sustenta que gundo elemento essencial dos Congos é a re-
esses reinados tinham como função social, propria- presentação duma embaixada, de paz ou guer-
mente, a legitimação desse sistema. Atuando, mui- ra, geralmente de guerra. Essa é a parte pro-
tas vezes, como intermediários entre o senhor e a priamente dramatica, com peças fixas, de
seriação prédeterminada e lógica. Andrade,
escravaria, os reis negros conduziam seus súditos
(1935:41)
segundo os desígnios do colonizador. “E os escra-
vos obedeciam ou imaginavam obedecer aos seus
reis congoleses que os mandavam trabalhar. Para os
Para Andrade (1935), a representação da embaixada
reizinhos brancos. Os reis de fumaça funcionavam
permite identificar uma série de elementos míticos
utilitariamente pros brancos” Andrade (1935:38).
relacionados à tradição de algumas tribos africanas.
Por outro lado, o autor enfatiza que a mesma está
Considerando o prestígio que os reis negros desfru- calcada em fatos históricos, referentes ao passado afri-
tavam entre seus pares escravos, é plausível pensar cano, pois o costume de enviar embaixadas a reinos
que um relacionamento cordial com essas lideranças aliados ou rivais teria sido bastante difundido naquele
poderia ser extremamente proveitoso para o senhor. continente. Visando legitimar essa teoria, Andrade
Endossando tal opinião, Cascudo (1972:280) destaca (1935) busca resgatar a história de alguns personagens
que “as autoridades prestigiavam a solenidade para bastante presentes nas representações que aconteciam
quietação e disciplina da escravaria, que se rejubilava pelo Brasil afora, como o rei do Congo, o príncipe
vendo o seu rei coroado”. Suena (seu filho) e, principalmente, a rainha Ginga.
Para o autor, esses fatos são evidências de que o
Segundo Andrade (1935), a duração dessas monar- bailado dos Congos nasceu a partir da iniciativa dos
quias variou muito, de acordo como os lugares e negros que migraram para a América.
épocas, havendo reinados temporários e vitalícios.
Para o autor, a prática, bastante difundida, de eleição Em consonância com o pensamento de Andrade
anual não decorre da tradição africana, mas advém (1935), Ramos (1954) salienta a importância da cultu-
das comodidades que o calendário católico propor- ra africana na moldagem dos autos populares dos
cionava, visto que durante os períodos festivos, os Congos, no entanto, esse autor busca afirmar o con-
cativos, comumente, tinham maior folga. Assim, es- teúdo eminentemente sincrético presente nos mes-
sas ocasiões se prestavam bem para a realização dos mos. De acordo com ele, os mitos africanos tiveram
“bailados de eleição do rei novo”. Outro aspecto que se adaptar à realidade cultural e social encontrada
enfatizado por Andrade (1935) refere-se à estrutura no Novo Mundo. Assim, diante de uma sociedade
que orienta o ritual. colonial opressora, dominada pela cultura branca e
católica, teria sido natural ocorrerem deformações
O bailado varia bastante de região pra região,
na matriz original, através de um processo que o au-
embora permaneçam em todas as variantes
os elementos mais essenciais. Esses elemen- tor chama de “lei da interpenetração cultural”.
tos dividem o bailado em duas partes bem
distintas. A primeira é o cortejo real, com que Quando intervém a interpenetração cultural, um
o rancho dos bailarinos percorre trabalho psicológico subterrâneo, de

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extraordinária importância, começa a se pro- diversos pontos da África, com tradições bastante
cessar. Acontece na psique coletiva o mesmo
que na psique individual. Os velhos elemen- diferentes entre si, como poderiam eles fundar uma
tos não desaparecem. São recalcados e forma de expressão cultural tão coesa e espalhá-la
incrustram-se no inconsciente coletivo. Tor- por tão longa extensão territorial? De acordo com
nam-se privados. E entremostram-se como so-
brevivências ou superstições. (Ramos, Araújo (1977), somente uma instituição sólida, como
1954:30) a Igreja Católica, que possui uma diretriz unificada,
Nesse sentido, Ramos (1954) é categórico ao afir- seria capaz de promover tal expansão.
mar que não havia, no Brasil, manifestações rituais
O que o autor não levou em consideração é que, a
ou dramáticas exclusivamente negras. No caso espe-
despeito da expulsão dos jesuítas do Reino portu-
cífico das congadas, o autor aponta elementos da
guês, articulada pelo marquês de Pombal, em 1759,
tradição africana nas representações e mesmo so-
as solenidades de coroação de Rei do Congo e as
brevivências históricas, mas não deixa de salientar a
festas realizadas em tais ocasiões continuaram acon-
influência ibérica na montagem das encenações pú-
tecendo na Colônia e talvez tenha sido justamente
blicas. Vale ressaltar, entretanto, que, apesar de
naquele período que elas alcançaram seu maior es-
hegemônica naquele contexto, a cultura européia teria
plendor. Além disso, é discutível o posicionamento
sido incorporada não segundo a imposição do colo-
do autor ao desconsiderar a presença legítima da
nizador, mas a partir de uma reelaboração mediatizada
tradição africana nas congadas, assim como ao suge-
pelo universo cultural dos negros escravizados. Se-
rir que elas comportavam uma unicidade ritual pelo
gundo o autor, essa mesma lógica se aplicaria à reli-
interior do Brasil. Embora haja elementos comuns
gião. Apesar de constrangido a aceitar a religião do
entre os diversos grupos de congada brasileiros, os
colonizador, o africano acabou adaptando a nova cren-
relatos feitos acerca de muitos desses grupos apon-
ça ao seu sistema simbólico ancestral e o que pode-
tam uma multiplicidade de formas de manifestação,
ria parecer uma conversão plena ao catolicismo, te-
forjadas a partir de contextos regionais específicos.
ria sido uma mera “ilusão de catequese”.
Outra divergência presente no trabalho de Araújo
Divergindo da opinião de Andrade (1935) e Ramos
(1977) se refere à inspiração dos autos representa-
(1954), no que se refere à origem da congada, Araú-
dos com a Embaixada. Para ele, a mesma “é uma
jo (1977) afirma que essa manifestação, assim como
reminiscência da Canção de Rolando”.
vários outros tipos de bailado popular, foi uma cria-
ção dos missionários jesuítas, utilizada estrategica-
O terno da Congada para representação da
mente para catequizar os negros que aportaram na Embaixada divide-se em dois grupos distin-
América. Valendo-se de alguns elementos da cultura tos: os Cristãos, chefiados na referta, no auto
africana, os clérigos pretendiam tornar os preceitos pelo imperador Carlos Magno ‘que era o pri-
católicos mais atrativos ao escravo e, a partir daí, meiro rei cristão’ – o ‘nosso Rei de Congo’
como dizem os congueiros, e os adversários,
levá-lo a aceitar a fé romana. “Então a congada não é
os Mouros, comandados por Ferrabrás, acom-
folclórica. Foram os eruditos que a escreveram. Tor- panhados dos ‘seus turcos’ onde se distingue
nou-se folclórica graças à aceitação, adoção e uso” pela capa vermelha e bizarra o embaixador .
(Araújo, 1977:42). (Araújo, 1977:44).

Para o autor, a larga difusão da congada pelo interior Aproximando-se um pouco da posição defendida por
do Brasil e a uniformidade dessa manifestação nas Araújo (1977), com relação à difusão das festas de co-
diversas regiões devem ser tomadas como indícios roação de reis do Congo, mas relativizando a ação do
de que a mesma era orientada pelos religiosos jesu- europeu e, sobretudo, do missionário, Carneiro (1965)
ítas. Considerando que os escravos provinham de afirma que é provável que as mesmas tenham

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Artigos –
Origens da Congada: controvérsias e convergências
FERREIRA, R. S.

sido instituídas pelo próprio colonizador, mas que, onde passaram a ser realizadas as solenidades dos
se tal não ocorreu, pelo menos foi um costume acei- Reisados, logo difundidas por todo o Brasil.
to e incentivado, pois o reconhecimento de realezas
de fachada permitia estabelecer formas dissimuladas Embora autores como Souza (2002) aceitem que
de controle social sobre a escravaria. Segundo o au- Chico-Rei possa, de fato, ter existido e que a lenda
tor, os reis eram, geralmente, homens idosos, “ben- associada a ele possa ter grande fundo de verdade –
quistos pelos senhores devido à sua subserviência”, uma vez que lideranças negras, em torno das quais
e “desempenhavam (...) a função pública de induzir se congregavam grandes grupos humanos, fosse cos-
ao trabalho os escravos e os negros em geral e de tume amplamente difundido entre os africanos na
contê-los quando, esgotada a sua capacidade de pa- América colonial – pensar que as festas dos Reisados
ciência, se revoltavam contra os senhores” (Carnei- e Congadas, difundidas por todo o Brasil, tenham
ro, 1965:38-39). tido uma origem comum, localizável no tempo e no
espaço, é um tanto precipitado, pois estas molda-
Embora o costume de se coroar solenemente seus ram-se em função de contextos históricos específi-
soberanos (ainda que seguindo moldes europeus) cos, o que fica evidenciado pela diversidade das for-
fosse amplamente difundido na África, Carneiro (1965) mas de manifestação que ocorrem pelo interior do
enfatiza que, na América, teria sido extremamente país. Além disso, estudos mais recentes demons-
conveniente ao português permitir que ele continu- tram que as primeiras festas dessa natureza aconte-
asse acontecendo, ou mesmo promovê-lo, dado o ceram ainda no início do século XVII, como atesta
benefício que o colonizador poderia extrair disso. Souza (2002), e não no século XVIII, como defendeu
Barbosa (1965). Salvo tais considerações, sabe-se que
Interpretação diversa para a origem da congada é a lenda de Chico-Rei ainda hoje é evocada por mui-
proposta por Barbosa (1965). Segundo esse autor, as tos grupos de congada para justificar e legitimar sua
festas da congada surgiram originalmente em Vila existência, atualizando, dessa forma, a crença em um
Rica, na primeira metade do século XVIII – época em mito fundador.
que foram criadas as primeiras irmandades de ne-
gros de Minas. Para ele, a origem da congada está Contrariando a opinião de certos autores, como
associada à lenda de Chico-Rei. Segundo a lenda, o Arthur Ramos, que defendem que o catolicismo é
escravo, batizado Francisco, teria sido rei de uma usado para camuflar práticas religiosas africanas, Bar-
nação africana, quando fora aprisionado, juntamente bosa (1965) afirma que a conversão do escravo ao
com um grupo de familiares e súditos. Sua mulher e catolicismo se dava de forma plena e sincera e, des-
seus filhos morreram em conseqüência das inclemên- sa forma, qualquer resquício dos cultos ou costu-
cias da travessia do Atlântico, com exceção de um. mes africanos presentes em suas manifestações de-
Na América, Chico conseguiu angariar fundos, traba- ver-se-ia “mais à ignorância religiosa” do que a uma
lhando nos momentos de folga dos labores servis, forma de resistência cultural inerente ao cativo. Exem-
para alforriar seu filho. “E trabalhando com afinco os plo dessa conversão, segundo o autor, poderia ser
dois, foram libertando os outros e, assim, sucessi- encontrado nos quilombos. “Temos documento de
vamente, se foram alforriando os demais súditos da que êsses negros convertidos, quando aquilombados,
sua nação. Constituiu novamente sua côrte, ficando procuravam criar os filhos na fé cristã. E isso em
êle apelidado Chico-Rei” (Barbosa, 1965:06). Assim, pleno mato, onde gozavam de completa liberdade
unidos por laços de solidariedade, esses negros pu- de ação” (Barbosa, 1965:08). Tal perspectiva será pos-
deram, de certa forma, recriar sua nação. Nela foram teriormente contestada por Roger Bastide, que, re-
instituídas as Irmandades do Rosário e de Santa tomando as teorias de Arthur Ramos, irá defender
Efigênia e construída sua igreja, no Alto da Cruz, que a aceitação do cristianismo pelos africanos esta-

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va associada à possibilidade, aberta pela ordem coloni- Antes de serem transladados para a América, negros
al, para que os negros se reunissem em confrarias pró- de diversas regiões e etnias eram agrupados conjunta-
prias e gozassem de certa autonomia. Contudo, essas mente nos portos africanos, onde aguardavam a che-
concentrações permitiam reviver costumes ancestrais gada dos navios e a disposição dos negociantes. Essa
e preservar crenças africanas, usando o cristianismo “mistura” impedia, quando na América, a identificação
como um disfarce para tais práticas. exata da etnia a que pertencia cada cativo. Daí ser co-
mum identificá-los segundo o porto de origem. Rom-
A contribuição de Roger Bastide pidos os laços étnicos que outrora uniam cada negro à
sua comunidade original, começava a surgir entre os
Roger Bastide foi um dos autores que maior influência cativos uma nova forma de solidariedade, estimulada
exerceu no campo dos estudos afro-brasileiros. Sua pelo sofrimento comum, (Bastide, 1971). De acordo
vasta produção acadêmica, em grande parte focalizan- com o autor, chegados na América e reagrupados nas
do a difusão de religiões africanas no Brasil, resultou unidades de trabalho, esses africanos encontraram na
num quadro interpretativo, que, ainda hoje, exerce religião um sustentáculo poderoso para que aquela
solidariedade pudesse persistir.
grande influência sobre os estudiosos do assunto.

Segundo Bastide (1971), embora oriundos de diversos Embora aceitando a escravidão do negro como legíti-
pontos da África, os negros trazidos para a América no ma naquele contexto de exploração colonial, a Igreja
período colonial, de um modo geral, fundavam suas Católica assumia como uma missão o dever de
crenças nas relações com a família, com o clã ou com a cristianizar o africano, defendendo a noção de que “se
natureza, sempre remetendo a ancestrais que atuavam lhe tomava o corpo, dava-lhe em troca uma alma”
como intermediários entre os homens e a divindade. (Bastide, 1971:77), pois de outra forma, a condenação
A imersão no Novo Mundo corrompeu a organização eterna era tida como inevitável. Dessa forma, a incor-
social, calcada nas relações familiares e tribais, uma poração dos negros em irmandades religiosas é, se-
vez que separava, inescrupulosamente, os africanos, gundo Bastide (1971), parte do projeto católico de
unidos por laços afetivos ou sangüíneos. Com isso, conversão do negro escravizado. Embora fundadas nos
um dos aportes das religiões africanas parecia estar moldes católicos, o autor defende que, dentro dessas
violado. Por outro lado, o escravo ainda sofreria a pres- confrarias, os cativos gozavam de certa autonomia e,
são cultural do colonizador, branco e católico. por isso, podiam reviver costumes religiosos africa-
nos, operando uma forma de sincretismo religioso.
Diante da impossibilidade de recriar sua antiga organi-
zação tribal, o que facilitaria a preservação de seu cul- Porém, Bastide (1971) afirma que as autoridades ecle-
to tradicional, o africano acabou por elaborar formas siásticas aceitavam somente aqueles costumes que se
originais de manifestações religiosas, através da ade- adequavam à prática do catolicismo. É por isso que o
quação de fragmentos de sua cultura antiga às estrutu- autor chama esse sincretismo de um “sincretismo
ras que lhe eram impostas, (Bastide, 1971). A tradição planejado”. O costume de se eleger ‘reis’ entre os ne-
africana acabava se renovando constantemente com a gros, por exemplo, seria aceito dentro das irmandades
chegada de novos cativos. Não raro estes eram mem- porque permitiria o estabelecimento de uma forma de
bros de famílias reais, sacerdotes, médicos-feiticeiros controle social sobre os negros, uma vez que esse ‘rei’
e contribuíam para reforçar as crenças justamente “quan- poderia ser estrategicamente manipulado e exercer o
do êstes valores tendiam a enfraquecer-se”. (Bastide, papel de intermediário entre os senhores e os escra-
1971:69) vos.

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Artigos –
Origens da Congada: controvérsias e convergências
FERREIRA, R. S.

Por outro lado, certos princípios cristãos podiam ser negra, moldada como conseqüência do processo de
reelaborados pelos negros e ganhar novos significa- colonização da América. Assim, partindo da análise
dos, mais aproximados da tradição africana. “A idéia do contato dos europeus com a África, Souza (2002)
de que os santos eram intercessores entre o homem busca demonstrar como tal relação forjou o costu-
e Deus, identificava-se em seu pensamento com a pró- me, tão difundido no Brasil, de se eleger reis ne-
pria idéia de que eram os ancestrais que estavam en- gros.
carregados de levar seus pedidos a Zumbi ou Zambi,
divindades do céu” (Bastide, 1971:88). Segundo a autora, o projeto expansionista portu-
guês pretendia, através da conquista dos mares, apro-
Dessa forma, para Bastide (1971), o catolicismo, e na- priar-se de novas terras e criar rotas comerciais que
turalmente o culto dos santos, deve ter sido imposto pudessem promover a canalização de recursos para
ao escravo para atuar como um instrumento de con- o Reino. Ainda no século XV, Portugal estabeleceu
trole social e afirmação da supremacia branca. Contu- os primeiros contatos com o continente africano,
do, o negro reagiu a essa estratégia dominadora, que dando início à formação de um imenso império co-
pretendia integrá-lo passivamente àquela sociedade, lonial, que se espalhou por grande parte do mundo.
dotando a religião de significado diverso daquele ten- A esse ideal mercantil sempre esteve associada a
cionado pelo colonizador. Assim, a religião foi assu- difusão da fé cristã. Nas expedições de além-mar,
mindo, cada vez mais, o caráter de aglutinador das geralmente eram enviados padres, no intuito de en-
populações escravizadas, direcionando reivindicações sinar os princípios do cristianismo às populações
sociais. nativas e, de certa forma, expandir a cultura euro-
péia para as regiões conquistadas. Esse projeto mis-
sionário, encabeçado pelos próprios reis portugue-
Da África à América: o tortuoso caminho da
ses, por um lado, garantia a ampliação do rebanho
Congada
de fiéis da Igreja Católica, mas, por outro, tinha por
objetivo facilitar o relacionamento e o diálogo en-
Sem romper terminantemente com os estudos de-
tre colonizador e colonizado.
senvolvidos nas décadas anteriores, pesquisas recen-
tes têm retomado a discussão acerca da origem das
Entretanto, o ideal português de expandir a fé cristã e,
festividades de coroação de Rei do Congo, propon-
simultaneamente, defender seus interesses mercan-
do geralmente um aprofundamento no estudo do
tis, consolidando o poderio do Império Lusitano, não
processo histórico que as constituiu. Marina de Mello
pode, em todos os casos, ser tomado como uma ten-
e Souza, em sua tese de doutoramento, publicada
dência unidirecional. Dada a centralização política do
posteriormente pela Editora UFMG, sob o título Reis
negros no Brasil escravista: história da festa de coroação Reino do Congo, entre outras peculiaridades, logo no
de Rei Congo, discute o contexto no qual tais soleni- início de seu avanço ultramarino, Portugal estabeleceu
dades surgiram, “privilegiando a perspectiva do en- contato com os governantes daquele Reino, os quais
contro de culturas diferentes, que, em dado contex- prontamente se batizaram e firmaram compromissos
to de dominação social, produziu manifestações cul- no sentido de difundir o cristianismo, (Souza, 2002).
turais mestiças” (Souza, 2002:20). Para a autora, a Recorrendo a Thornton1 , Souza (2002) afirma que a
origem dessas manifestações culturais está direta- conversão dos congoleses ao cristianismo foi facilita-
mente associada à formação de uma nova identidade da pelas especificidades de sua tradição

1
THORNTON, John. The development of na African Catholic Church in the Kingdom of Kongo, 1491-1750. Journal of
African History, 25, p.147-167, 1984.

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Montes Claros, v.7, n.2 - jul./dez. 2005

religiosa, que, em diversos aspectos, “combinavam Embora as festas de coroação de reis do Congo acon-
com a tradição cristã”. Nesse sentido, enquanto os tecessem no contexto da sociedade colonial e
europeus julgavam a conversão como um fato con- adotassem elementos da cultura portuguesa, elas re-
cretizado, os africanos acreditavam continuar metiam a um passado anterior à escravidão, em que a
vivenciando suas crenças ancestrais, acrescidas de expansão do catolicismo significava a glória de reis
alguns elementos novos. É por isso que alguns au- africanos. Dessa forma, aquelas representavam momen-
tores definem a expressão religiosa característica tos de afirmação da cultura e história negras, (Souza,
daquele contexto como “catolicismo africano”. 2001). Ainda que compelidos a adotarem práticas cató-
licas, os africanos buscavam preservar,
Além disso, segundo Brásio (1969), a ritualística pró- dissimuladamente, práticas de sua antiga tradição. Nes-
pria do cristianismo contribuía para realçar o poder se esforço, defendiam publicamente sua confissão cristã
dos soberanos africanos e, por isso, foi prontamen- e repeliam as acusações de que participavam de ritos
te incorporada aos cerimoniais de coroação dos reis pagãos e de feitiçaria, (Scarano, 1978).
do Congo. Não se tratava, portanto, de suplantar
práticas ancestrais por valores europeus, mas de Como a elite colonial percebia nessas manifestações
utilizar elementos novos para reforçar o conteúdo uma forma de devoção católica, ela as aceitava. Afinal,
das crenças tradicionais. parecia-lhe garantida a supremacia da cultura branca e
o princípio da escravidão, (Souza, 2001).
O cristianismo foi, portanto, introduzido na África cen-
tro-ocidental ainda no século XV, quando o reino por- As formações sociais e culturais fundadas no Novo
tuguês se encontrava em pleno processo de expansão Mundo são, portanto, resultado de um complexo pro-
marítima. A nova crença foi bem aceita pela elite rei- cesso histórico, no qual grupos de negros africanos
nante, sobretudo congolesa, e logo integrada aos cul- foram raptados de suas terras natais e inseridos den-
tos tradicionais. A partir de então, tornou-se praxe no tro de um brutal sistema de exploração escravista.
reino do Congo que os governantes fossem coroados Privados do convívio de suas comunidades originais,
por sacerdotes católicos. membros de etnias diversas tiveram que conviver
entre si e integrar-se num contexto social radical-
É bastante plausível pensar que muitos africanos apri- mente diferente, onde predominavam os valores do
sionados e escravizados tivessem tido contato com colonizador europeu, detentor do monopólio do
práticas da religião católica antes de chegarem ao Bra- poder, inclusive no campo do sagrado. A situação de
sil. Assim, ao aceitar o cristianismo e ingressar em dominação colonial não impediu, contudo, que os
confrarias de ‘homens pretos’, o africano, por um lado, cativos buscassem se organizar e criar instituições,
reforçava os vínculos paritários, supria necessidades onde sua cultura ancestral pudesse, de certa forma,
espirituais e criava momentos propícios para a soci- aflorar, assim como defender seus interesses frente
abilidade grupal, mas, por outro, remontava à sociedade abrangente. As irmandades religiosas,
com suas festividades de eleição de reis negros, são
miticamente a certos aspectos de sua história e pro-
um típico exemplo de formações sociais e culturais
curava, através de rituais, reafirmar alguns elementos
afro-americanas advinda desse encontro, (Souza,
relativos a ela. “A coroação de rei do Congo no âmbi-
2002).
to da celebração festiva do santo padroeiro, na qual o
grupo representava danças que dramatizavam episó-
dios da sua história, remetia a um passado africano, Para Martins (1997), a diáspora negra, imposta pelo
resgatado pela vivência do catolicismo” (Souza, 2001: processo de escravização, despiu o africano de sua pró-
pria condição de ser humano, à medida que violou
254).

108
Artigos –
Origens da Congada: controvérsias e convergências
FERREIRA, R. S.

a organização social e os códigos culturais que re- manifestação nacional, que merecia ser relatada e,
giam sua vida. Entretanto, a apropriação de seus logo, preservada em sua pureza para as gerações fu-
corpos, a travessia do Atlântico e o esforço para se turas. Muitas críticas são feitas atualmente a esses
impor aos cativos valores europeus, tidos como ci- trabalhos, sobretudo no que diz respeito a essa pre-
vilizados, não abafaram completamente a tradição tensão de se resguardar certas manifestações popu-
africana. Esta, pelo contrário, carregada pelos mi- lares contra qualquer forma de “corrupção” externa,
lhares de negros que desembarcaram no Novo Mun- sem levar em consideração a dinâmica das interações
do, reatualizou-se e, em confronto com as diversas sociais que envolvem qualquer manifestação cultu-
formas sócio-culturais e sistemas simbólicos en- ral.
contrados na América, transformou-se, compondo
e recompondo continuamente a identidade daque- Não obstante, os escritos de alguns folcloristas cons-
les que foram escravizados. tituíram o esforço primevo no sentido de se buscar
as possíveis origens da congada e, por isso, são cons-
Aceito e amplamente difundido na América portu- tantemente resgatados por estudiosos, seja para
guesa, o costume de se coroar reis negros no âmbi- apontar falhas e limitações, seja para aprofundar cer-
to de irmandades religiosas foi, muitas vezes, enca- tos aspectos. Enquanto Mário de Andrade empenhou-
rado pelo colonizador como um instrumento de con- se em demonstrar a origem eminentemente africa-
trole social sobre os escravos. Estes, por sua vez, na daquelas festividades, autores posteriores, como
encontravam nessa concessão – aberta justamente Alceu Maynard Araújo e Édison Carneiro, possivel-
por estar subordinada à religião católica – uma opor- mente influenciados pela teoria marxista, defende-
tunidade para se organizarem segundo códigos pró- ram que as mesmas foram criadas pelo próprio colo-
prios, reterritorializando “formas ancestrais de or- nizador, enfatizando o caráter de dominação embu-
ganização social e ritual” (Martins, 1997:36). tido naquelas representações, uma vez que serviam
para aplacar os ânimos dos escravos e torná-los mais
É inegável que o consentimento da elite colonial para submissos.
que as comunidades negras elegessem seus reis e
organizassem folguedos em tais ocasiões foi um fa- A teoria de Roger Bastide trouxe, inegavelmente,
tor de peso para a manutenção do costume, ainda grande contribuição para esse debate, ao defender o
que ela pudesse tentar tirar proveito dessas situa- caráter aglutinador da religião, que servia, antes de
ções, usando as lideranças para aplacar os ânimos mais nada, como um privilegiado espaço de sociabi-
dos demais. Contudo, segundo Souza (2002), foi o lidade para os negros escravizados. O autor afirma
poder simbólico exercido pelos líderes tribais na que a inserção do africano em confrarias religiosas
África que levou os escravos na América a se agrupa- permitia uma plena interação paritária, onde costu-
rem em torno de seus ‘reis’. mes ancestrais podiam ser revividos. Nesse senti-
do, a religião passa a ser identificada como um ins-
Debates infindos, possibilidades latentes trumento de resistência negra ante o dominador sis-
Os trabalhos dedicados às festividades de coroação de tema colonial.
rei do Congo e às congadas, a partir do século XIX e
até meados do século XX, foram realizados, em sua Retomando muitos desses pontos, os estudos atu-
maioria, pelos chamados folcloristas. Sem acompanhar ais promovem um aprofundamento da discussão. No
os rigores metodológicos hoje exigidos pela acade- aspecto histórico, a intensa pesquisa documental,
mia e por agências de pesquisa, esses autores busca- acompanhada das contribuições da antropologia, da
vam, antes de mais nada, descrever aqueles fenômenos lingüística, da arqueologia, entre outras, permite tra-
culturais, identificando-os a uma autêntica zer à tona novas questões.

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Montes Claros, v.7, n.2 - jul./dez. 2005

Nesse sentido, as festas de coroação de rei do Congo xos: estudos sobre a religião no Brasil. Campinas:
são, cada vez mais, pensadas a partir do confronto Editora da Unicamp; São Paulo: Ícone, 1987. cap. 6,
entre culturas radicalmente distintas: a européia e a p.191-234.
africana. A inserção dos cativos nas irmandades reli-
giosas, onde tais solenidades geralmente aconteci- BRÁSIO, Antônio. O problema da eleição e coroação
am, foi, sim, trabalhada pelo colonizador, que visava dos reis do Congo. Revista portuguesa de história,
introduzi-los na comunidade cristã e ampliar sua do- Coimbra, v. 12, n. 1, p. 351-381, 1969.
minação sobre eles, mas, por outro lado, permitia CARNEIRO, Edison. Dinâmica do folclore. Rio de Janei-
aos negros gozar de certa autonomia dentro da or- ro: Civilização Brasileira, p. 188, 1965.
dem colonial, reunindo-se, divertindo-se, defendendo
seus interesses comuns e revivendo costumes an- CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore
cestrais, reelaborados a partir da vivência no Novo brasileiro. 3. ed. rev. e aum. Brasília: Instituto Naci-
Mundo. onal do Livro, 1972. (Coleção dicionários
especializados, 3).
Dessa forma, a difusão dessas manifestações tende
FERNANDES, Florestan. Congadas e batuques em
a ser entendida como resultante de um processo de
Sorocaba. In: ______. O negro no mundo dos brancos.
formação de uma nova identidade, que, no entanto,
São Paulo: Difusão Européia do Livro, cap. XII, p.239-
não permaneceu estática, mas recriou-se e recria-se
255, 1972.
constantemente. Mitos antigos são reatualizados;
crenças e tradições rituais são reafirmadas anualmen- INTRODUÇÃO ao estudo do congado. Belo Horizonte:
te pela prática comunitária; novas formas de organi- Universidade Católica de Minas Gerais, p. 104, 1974.
zação surgem, dotando aqueles atos solenes de sig-
nificados renovados... Talvez seja isso, enfim, o pe- MARTINS, Leda Maria. Afrografias na memória: o Rei-
nhor de sua perenidade. nado do Rosário no Jatobá. São Paulo: Perspectiva;
Belo Horizonte: Mazza Edições, p. 194, 1997. (Cole-
ção Perspectiva).
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Artigos –
Origens da Congada: controvérsias e convergências
FERREIRA, R. S.

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