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Fake News e Seus Efeitos No Estado Democratico de Direito

Este trabalho analisa a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no combate às fake news e seus efeitos sobre o Estado Democrático de Direito, destacando a desinformação digital como uma ameaça às instituições democráticas. A pesquisa examina o Inquérito das Fake News e discute a necessidade de equilibrar a luta contra a desinformação com a liberdade de expressão, propondo a importância de mecanismos de controle democrático e educação midiática. Conclui-se que a atuação do STF deve ser acompanhada por esforços colaborativos entre os Poderes para fortalecer a confiança pública e a democracia no Brasil.

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Fake News e Seus Efeitos No Estado Democratico de Direito

Este trabalho analisa a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no combate às fake news e seus efeitos sobre o Estado Democrático de Direito, destacando a desinformação digital como uma ameaça às instituições democráticas. A pesquisa examina o Inquérito das Fake News e discute a necessidade de equilibrar a luta contra a desinformação com a liberdade de expressão, propondo a importância de mecanismos de controle democrático e educação midiática. Conclui-se que a atuação do STF deve ser acompanhada por esforços colaborativos entre os Poderes para fortalecer a confiança pública e a democracia no Brasil.

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1

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MIGUEL MOFARREJ CENTRO


UNIVERSITÁRIO DE OURINHOS
GRADUAÇÃO EM DIREITO

CAMILA ANANIAS PEDRON

FAKE NEWS E SEUS EFEITOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE


DIREITO: A ATUAÇÃO DO STF COMO GUARDIÃO DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

OURINHOS-SP
2025
2

CAMILA ANANIAS PEDRON

FAKE NEWS E SEUS EFEITOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE


DIREITO: A ATUAÇÃO DO STF COMO GUARDIÃO DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Monografia apresentado ao curso de direito do Centro


Universitário de Ourinhos, como pré-requisito para
obtenção do título de bacharel em Direito.
Orientador: Dr. João Victor Nardo Andreassa

OURINHOS-SP
2025
3

PEDRON, Camila Ananias.

Fake news e os seus efeitos no Estado Democratico de Direitos: a atuação do STF


como guardião da Constituição Federal. 42 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de
Curso em Direito) – Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO, Ourinhos-SP, 2025.

Orientadora: Prof. Me. João Victor Nardo Andreassa.

Palavras-chave: fake news; confiança institucional; democracia; Supremo Tribunal


Federal; Constituição Federal.

DEDICATÓRIA
4

Dedico este trabalho a todas aquelas que


vieram antes de mim, para que, hoje eu
pudesse escrever com liberdade e
tranquilidade. Aquelas que derramaram
sangue e abdicaram suas vidas lutando
por uma sociedade mais justa e
igualitária.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, ao meu pai


Olavo por todo apoio e força, à minha mãe
Ivanilda por sempre acreditar em meu
potencial e segurar a barra comigo nos dias
mais difíceis, ao meu irmão Pedro, por além
de acreditar me fazer acreditar também que
tudo seria possível, a minha filha Maria Júlia
que foi a maior responsável e inspiração
para que eu voltasse ao curso de Direito e
lutasse contra qualquer obstáculo nesta
jornada por nós duas. Agradeço também aos
meus professores que cooperaram para
conclusão deste trabalho e por todo
empenho a transmissão de conhecimento.
6

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no combate à
disseminação de fake news e os reflexos dessa atuação sobre a preservação do Estado Democrático
de Direito. A pesquisa parte da constatação de que a desinformação digital, amplificada pelas redes
sociais, tornou-se uma ameaça concreta à estabilidade das instituições democráticas, exigindo
respostas contundentes por parte do Judiciário. Para tanto, examina-se o Inquérito das Fake News
(Inq. 4.781/DF), suas fundamentações jurídicas e os limites constitucionais da atuação do STF.
Discute-se também os desafios impostos à liberdade de expressão e a necessidade de se equilibrar o
enfrentamento da desinformação com os princípios do devido processo legal. Além disso, o estudo
propõe a importância do restabelecimento do equilíbrio entre os Três Poderes como condição
essencial para a legitimidade das ações institucionais. Conclui-se que, embora a atuação do STF seja
relevante no combate à desinformação, ela deve ser acompanhada por mecanismos de controle
democrático, educação midiática e cooperação entre os Poderes, como forma de fortalecer a
confiança pública e a democracia brasileira.

Palavras-chave: fake news; confiança institucional; democracia; Supremo Tribunal Federal;


Constituição Federal.
7

ABSTRACT

This paper aims to analyze the actions of the Brazilian Supreme Court (STF) in combating the spread
of fake news and the impact of these actions on the preservation of the Democratic Rule of Law. The
research is based on the observation that digital disinformation, amplified by social media, has
become a concrete threat to the stability of democratic institutions, requiring forceful responses from
the Judiciary. To this end, the Fake News Inquiry (Inq. 4.781/DF) is examined, as well as its legal
grounds and the constitutional limits of the STF's actions. It also discusses the challenges imposed on
freedom of expression and the need to balance the fight against disinformation with the principles of
due process. In addition, the study proposes the importance of reestablishing the balance between the
Three Powers as an essential condition for the legitimacy of institutional actions. It is concluded that,
although the STF's actions are relevant in combating disinformation, they must be accompanied by
mechanisms of democratic control, media education and cooperation between the Powers, as a way
of strengthening public trust and Brazilian democracy.

Keywords: fake news; institutional trust; democracy; Supreme Federal Court; Brazil.
8

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO
2. CAPÍTULO 1 – FAKE NEWS E DEMOCRACIA: CONCEITOS E IMPACTOS
2.1. O CONCEITO DE FAKE NEWS
2.2. O IMPACTO DAS FAKE NEWS NA SOCIEDADE
2.3. FAKE NEWS E RISCOS A DEMOCRACIA
3. CAPÍTULO 2 – A CRISE DE CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES
DEMOCRÁTICAS
3.1. INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E SEU PAPEL
3.2. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A CRISE DE CONFIANÇA
3.3. CASOS RELEVANTES NO BRASIL
4. CAPÍTULO 3 – O PAPEL DO STF COMO GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO
4.1. O STF E SUA FUNÇÃO INSTITUCIONAL
4.2. A ATUAÇÃO DO STF NO COMBATE ÀS FAKE NEWS
4.3. 4.3.LIMITES, DESAFIOS E CAMINHOS PARA O FORTALECIMENTO
DEMOCRÁTICO
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
9

1. INTRODUÇÃO

A era digital e a popularização das redes sociais transformaram de forma


alarmante os meios de produção, disseminação e consumo de informação,
reconfigurando as dinâmicas de exercício da liberdade de expressão e de formação
da opinião pública. Se, por um lado, essas plataformas democratizaram o acesso à
informação e fortaleceram conexões sociais, por outro, tornaram-se ferramentas de
disseminação em massa de desinformação, com graves implicações para a
estabilidade democrática no Brasil. As chamadas fake News(informações falsas ou
distorcidas criadas e compartilhadas intencionalmente para manipular percepções)
emergem como um fenômeno complexo, capaz de distorcer a realidade, fragilizar o
senso crítico coletivo e minar a credibilidade das instituições do Estado Democrático
de Direito.
Este trabalho tem como objetivo central analisar o impacto da desinformação
na sociedade brasileira, enfatizando suas consequências políticas, jurídicas e
institucionais, bem como na atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) como
guardião da Constituição Federal no enfrentamento desse desafio. Partindo da ideia
que a informação verídica é fundamento essencial para o exercício da cidadania e o
funcionamento da democracia, busca-se compreender de que maneira a
manipulação deliberada de narrativas mentirosas tem contribuído para a crise de
confiança nas instituições do Estado, a intensificação da polarização política e o
surgimento de crises constitucionais.
Estabelecem-se os seguintes objetivos específicos: (1) conceituar fake
news, distinguindo-as de outras formas de desinformação e contextualizando seu
papel na sociedade contemporânea; (2) investigar os efeitos da desinformação na
confiança pública e na legitimidade das instituições democráticas; (3) examinar a
atuação do STF no combate às fake news, considerando seus instrumentos
jurídicos, decisões emblemáticas e os limites de sua intervenção; e (4) discutir
possíveis medidas – legislativas, judiciais e educacionais – para mitigar os efeitos da
desinformação e preservar o equilíbrio institucional entre os três poderes.
Metodologicamente, adota-se uma abordagem qualitativa, de caráter teórico-
descritivo, baseada em pesquisa bibliográfica. A análise inclui doutrinas jurídicas,
10

legislações nacionais, jurisprudência do STF, e artigos acadêmicos. Examinando


casos concretos que abordam a atuação do Judiciário e os desafios enfrentados no
combate à desinformação.
A estrutura do trabalho divide-se em três capítulos. O primeiro dedica-se à
conceituação de fake news, explorando suas características, mecanismos de
propagação, impactos sociais e políticos. O segundo capítulo analisa a crise de
confiança nas instituições democráticas, destacando o papel dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário nesse cenário. O terceiro capítulo focaliza o STF, discutindo
suas competências constitucionais, decisões relevantes e os dilemas entre liberdade
de expressão e controle da desinformação. Por fim, as considerações finais
sintetizam as conclusões do estudo, apontando caminhos para fortalecer a
resiliência democrática frente a esse fenômeno.
Esse estudo visa contribuir para o debate sobre os riscos da desinformação
e a necessária articulação entre direito, tecnologia e democracia, reafirmando o
papel do Estado e da sociedade na defesa da verdade factual e da integridade das
instituições.

2. FAKE NEWS E DEMOCRACIA: CONCEITOS E IMPACTOS

Esse capitulo aborda o conceito de fake News, de que forma as informações


falsas são disseminadas com grande rapidez e abrangência, também se faz uma
analise de como isso afeta vários setores de uma sociedade, enfatizando a
importância da informação sendo essencial para posicionamentos conscientes e
para a evolução da sociedade. Sintetiza-se a democracia no Brasil, sua importância
11

e como as Fake News têm implantado em grande parte da população pensamentos


ideológicos inconstitucionais e o efeito negativo ao Estado Democrático de Direito.

2.1. O CONCEITO DE FAKE NEWS NO CONTEXTO DA DESINFORMAÇÃO

O termo fake news, traduzido literalmente para o português como "notícias


falsas", embora tenha ganhado notoriedade recentemente, não representa um
fenômeno social novo. A disseminação de informações falsas ou enganosas é um
problema histórico que acompanha a evolução das sociedades, manifestando-se em
diferentes contextos por meio de boatos, rumores e narrativas distorcidas. Contudo,
o conceito contemporâneo de fake news transcende a mera veiculação de mentiras
isoladas, configurando-se como um instrumento sistêmico de desinformação com
objetivos específicos: manipulação da opinião pública, intensificação da polarização
social e enfraquecimento das estruturas democráticas.
No âmbito deste trabalho, adota-se uma definição jurídico-social de fake news
como informações intencionalmente falsas ou distorcidas, produzidas e
disseminadas em larga escala com fins políticos, econômicos ou ideológicos, cujos
efeitos comprometem não apenas o direito individual à informação, mas também os
princípios constitucionais que sustentam o Estado Democrático de Direito. Esse
fenômeno colide diretamente com o disposto no artigo 5º, inciso XXXIII, da
Constituição Federal de 1988, que assegura o direito de acesso a informações
públicas de interesse coletivo, ao mesmo tempo que legitima restrições ao sigilo
quando este ameaça a segurança societal ou estatal.
A gravidade das fake news reside em sua capacidade de distorcer a realidade
de forma organizada, utilizando-se de estratégias de viralização digital para minar a
credibilidade de instituições, influenciar processos eleitorais e fomentar conflitos
sociais. Diferentemente de equívocos jornalísticos ou boatos espontâneos, essas
narrativas são caracterizadas por três elementos centrais: intencionalidade,
potencial de dano coletivo e apropriação de aparatos tecnológicos para maximizar
seu alcance.
Essa conceituação destaca a necessidade de diferenciar a desinformação
ocasional de campanhas estruturadas de fake news, que representam um desafio
singular às democracias contemporâneas, exigindo respostas institucionais
12

proporcionalmente sofisticadas para preservar tanto a liberdade de expressão


quanto a integridade do espaço público democrático.

Fake News não são apenas notícias falsas. São componentes de


estratégias comunicacionais bastante sofisticadas e que envolvem
desde a produção de conteúdo deliberadamente fraudulento, falso,
distorcido, enviesado ideologicamente, além da sua distribuição e
impulsionamento pela Internet. É mais adequado, portanto,
considerar as Fake News relacionadas à política como
desinformação, ou seja, conteúdo criado com o propósito
deliberado de enganar ou confundir os destinatários e é, ainda,
comumente disseminado e reforçado nas redes.
(BARRETO,2022,P.10)

O termo Fake News refere-se a conteúdos deliberadamente falsos, criados e


divulgados com o intuito de enganar, manipular ou gerar lucro por meio da
desinformação. Segundo Patrícia Campos Mello (2020), jornalista e pesquisadora
brasileira, “as fake news não são apenas mentiras: são estratégias sofisticadas de
guerra política e psicológica que usam a tecnologia para manipular as emoções das
pessoas e criar realidades alternativas”.
A desinformação sob uma perspectiva histórica observa-se que sua utilização
como mecanismo de controle social remonta a períodos anteriores à era digital.
Governantes, elites políticas e lideranças religiosas frequentemente valeram-se de
narrativas falsas ou distorcidas como estratégia de dominação, visando orientar o
pensamento coletivo, influenciar escolhas políticas e consolidar estruturas de poder.

Igreja e governantes estiveram à frente da distribuição estratégica de


informações falseadas, entre mentiras e boatos, com o objetivo de unificar
narrativas sobre acontecimentos públicos, especialmente em tempos de
instabilidade ou calamidade social. A invenção da prensa móvel, contudo,
abriu espaço para folhetins partidários e ampliou a participação da
sociedade civil no processo de construção da opinião pública,
principalmente com a profissionalização da imprensa. (Dourado,2020, p19)

Embora a disseminação de informações falsas seja um fenômeno


historicamente recorrente, as limitações dos meios de comunicação tradicionais
caracterizados por fluxos unidirecionais e baixa velocidade de propagação atuavam
como barreiras naturais à difusão em massa de conteúdos enganosos. O advento
das plataformas digitais, contudo, revolucionou esse paradigma, criando um
ecossistema informacional no qual uma única publicação pode alcançar milhões de
usuários em questão de minutos, independentemente de sua veracidade.
13

Diferentemente dos contextos históricos, onde a desinformação possuía


alcance geográfica e temporalmente limitado, o momento presente enfrenta um
cenário no qual a correção de fatos se mostra frequentemente ineficaz diante da
velocidade e abrangência da disseminação de mentiras.

2.2. A IMPORTANCIA DA INFORMAÇÃO E OS IMPACTOS DA FAKE NEWS

A informação constitui-se como elemento fundamental para o


desenvolvimento societário, desempenhando papel central nos processos de
construção do conhecimento, formação de identidades coletivas e evolução histórica
das civilizações. Como bem salienta Barreto (1994), a informação opera como
mecanismo de sintonia entre o indivíduo e o mundo, assumindo caráter
transformador que transcende a mera transmissão de dados. A competência
informacional, proposta pelo referido autor, manifesta-se como habilidade dinâmica
que se desenvolve na interação entre sujeito, espaço e temporalidade, permitindo ao
indivíduo não apenas receber, mas processar e ressignificar os fluxos informacionais
que permeiam sua existência. Esse processo contínuo de assimilação e
transformação da informação constitui a base para o progresso individual e coletivo.
O período pós-industrial, estendendo-se até a contemporaneidade, consolida
a informação como elemento estruturante das relações sociais, políticas e culturais,
elevando-a à condição de recurso estratégico para a compreensão e transformação
da realidade. Nesse contexto, intensificam-se os debates epistemológicos acerca de
sua natureza, conceituação e função social, destacando-se seu papel como
mediadora entre o indivíduo e o mundo que o circunda. A informação não apenas
possibilita a construção de conhecimento, mas também fundamenta a organização
da vida em sociedade, servindo como alicerce para a formação de instituições, a
consolidação de normas e a perpetuação de valores coletivos.

Aqui a informação é qualificada como um instrumento modificador da


consciência do homem e de seu grupo. Deixa de ser uma medida de
organização para ser a organização em si; é o conhecimento, que só se
realiza se a informação é percebida e aceita como tal e coloca o indivíduo
em um estágio melhor de convivência consigo mesmo e dentro do mundo
em que sua historia individual se desenrola. (Barreto,1994 p.3-8.)
14

Barreto (1994) postula que a informação, quando adequadamente


contextualizada, transforma-se em conhecimento, modificando o repertório cognitivo
do indivíduo e enriquecendo seu universo de significados. Esse processo não se
restringe à esfera individual, mas estende-se à coletividade, uma vez que a
informação qualifica-se como um conjunto de estruturas significantes capazes de
gerar conhecimento tanto para o sujeito quanto para o grupo social ao qual ele
pertence. Ao longo da história, os indivíduos assumem um papel dual no processo
informacional: são receptores e disseminadores de conhecimentos, que circulam por
meio de experiências pessoais, estudos científicos, tradições orais, práticas culturais
e registros históricos. Essa dinâmica permite a construção de identidades, valores e
visões de mundo compartilhadas, fundamentando escolhas, posicionamentos e
ideologias que orientam a ação humana no tecido social.
No entanto, o advento das fake news introduz uma ruptura nesse processo,
ameaçando a formação de um pensamento crítico e consciente. A distorção
sistemática da realidade compromete aquilo que se pode denominar de liberdade
epistêmica – a capacidade de tomar decisões autônomas com base em informações
verídicas e contextualizadas. Quando o indivíduo é exposto a conteúdos falsos ou
manipulados, sua liberdade de escolha é corroída, uma vez que o exercício do livre
arbítrio pressupõe acesso a dados confiáveis que permitam análises
fundamentadas. A desinformação, portanto, não apenas falseia a realidade, mas
também subtrai do sujeito a possibilidade de avaliar fatos com base em suas
próprias convicções e percepções, minando a autonomia que define a personalidade
e a agência moral.
Esse fenômeno assume contornos ainda mais graves em sociedades
democráticas, onde a qualidade do debate público e a legitimidade das escolhas
coletivas dependem da integridade do fluxo informacional. Se a informação bem
estruturada é o alicerce do conhecimento e da ação reflexiva, as fake news
representam seu antípoda: um instrumento de manipulação que fragiliza tanto a
cognição individual quanto os pilares da convivência social.

Se aflora a desinformação, contribuindo para a ausência de equilíbrio e da


racionalidade no debate público. O ódio entre os opostos politicamente se
intensifica. O vínculos emocionais com as notícias são cada vez mais
intensos e as opiniões e crenças pessoais prevalecem sobre os fatos.
Isoladas em seus grupos partidários e pelo filtro de suas bolhas, uma
15

considerável parcela da sociedade perde a habilidade de se relacionar com


a pluralidade de ideias e se torna sectária.(ALMEIDA,2023.p-33)

Nesse sentido, combater a desinformação torna-se imperativo não apenas


para preservar a liberdade de pensamento, mas também para garantir que as
escolhas individuais e coletivas emergentes de um processo genuíno de reflexão
crítica, alinhado à busca pela verdade e ao respeito pela diversidade de
perspectivas.

A forma como o mundo conectado permitiu que a internet e as redes sociais


fossem exploradas para viralizar informações que sejam do seu próprio
interesse, independentemente de serem verdadeiras ou não, denota que a
busca pela desinformação foi além de denegrir o caráter das pessoas -
situação resguardada pelos crimes contra a honra (injúria, difamação e
calúnia) -e passou a ter a capacidade de incentivar conflitos e fomentar
uma polarização social presente no mundo todo.(Ferreira,Ferreira,2020p
158)

Durante a crise sanitária da COVID-19, o Brasil enfrentou não apenas a


disseminação do vírus, mas também a rápida propagação de fake news que
minaram os esforços de combate à pandemia. Enquanto milhares de pessoas
perdiam suas vidas diariamente, famílias sofriam com a dor de enterrar entes
queridos, e profissionais de saúde trabalhavam exaustivamente, informações falsas
eram compartilhadas em larga escala, desacreditando as recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS). A OMS e as autoridades sanitárias
alertavam que o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das
mãos eram medidas essenciais para reduzir a transmissão do vírus. No entanto,
circulavam teorias conspiratórias que questionavam a eficácia desses métodos,
além de narrativas falsas que acusavam hospitais de inventar mortes ou manipular
estatísticas, inclusive com alegações infundadas sobre caixões fechados sendo
usados para esconder supostas fraudes.

As fake news disseminadas pelos meios digitais relacionadas à COVID-19


tem o potencial de influenciar o comportamento da população, prejudicando
sua adesão aos cuidados comprovados pela ciência. Em um cenário
pandêmico, os efeitos são ainda mais devastadores, uma vez que
pesquisas apontam que 110 milhões de cidadãos brasileiros (mais de 50%
da população do país) acreditam em notícias falsas sobre a COVID-19 (18).
As fake news na categoria de epidemiologia e estatística se caracterizam
por afirmações falsas sobre o número de casos e óbitos e sobre mortes por
outras causas sendo computadas como sendo de COVID-19, bem como por
afirmações que comparam a COVID-19 a uma “gripezinha” que dispensa o
isolamento social. Essa categoria também engloba outras afirmações que
16

permeiam o negacionismo e o que veio a ser chamado de necropolítica no


país.

Essa onda de desinformação agravou ainda mais a situação do país, que já


enfrentava um estado de calamidade pública. Além de lidar com a sobrecarga do
sistema de saúde e o luto coletivo, o governo e instituições precisaram adotar
medidas para combater as Fake news, como campanhas de conscientização e
ações judiciais contra disseminadores de mentiras. A desinformação não apenas
atrasou a adesão às medidas preventivas, mas também alimentou a desconfiança
na ciência e nas autoridades sanitárias, dificultando o controle da pandemia e
colocando ainda mais vidas em risco.

Além disso, observou-se a propagação de comportamentos


negacionistas contra a ciência e de atos de desinformação, como
o compartilhamento de notícias falsas nas redes sociais e que iam de
encontro às recomendações feitas pela
OMS(CARVALHO,GUIMARAES,2020-p.2)

Esse caso exemplifica como as Fake news, em momentos críticos, podem


ter consequências devastadoras, indo além do debate político e afetando
diretamente a saúde e a segurança da população. A pandemia deixou claro que, em
situações de emergência, a informação correta salva vidas – e a desinformação
pode custá-las.

Logo, as fake news produzem nos indivíduos pensamentos errôneos


sobre determinado assunto, causam difamação, guerra de opiniões,
polarização de ideias, acirramentos ideológicos, violência, intolerância
e sobretudo desinformação.( GROSSI,2021)

Os prejuízos causados pelas fake news à sociedade são profundos e


diversificados. Elas alimentam conflitos ideológicos, aumentam a intolerância e
reforçam preconceitos, criando um ambiente social polarizado e hostil. Além disso,
atacam princípios básicos da democracia, como o direito à informação verdadeira e
a liberdade de escolha consciente. Minorias sociais e grupos vulneráveis
frequentemente se tornam alvos de discursos de ódio impulsionados por
desinformação, enquanto instituições essenciais - como o Judiciário, o Congresso e
o sistema eleitoral - sofrem ataques sistemáticos que enfraquecem sua credibilidade.
17

No Brasil, esse problema ganhou proporções alarmantes quando a própria


democracia foi colocada em risco. As fake news políticas espalharam dúvidas
infundadas sobre as urnas eletrônicas e o processo eleitoral, ameaçando a
estabilidade institucional. Diante desse cenário, o Supremo Tribunal Federal (STF)
precisou intervir com medidas urgentes para conter a desinformação e proteger as
estruturas democráticas do país. Essas ações foram necessárias porque, quando
mentiras são disseminadas em larga escala com objetivos políticos, elas não apenas
distorcem debates, mas podem colocar em risco o próprio funcionamento do Estado
Democrático de Direito.
O grande desafio está em equilibrar o combate à desinformação com a
preservação das liberdades fundamentais. As fake news não são meras opiniões
divergentes - são armas poderosas que, quando usadas de forma organizada, têm o
potencial de desestabilizar sociedades inteiras. Por isso, entender seus mecanismos
e criar formas de proteger a democracia contra esses ataques tornou-se uma das
questões mais urgentes do nosso tempo.

Um dos efeitos danosos da propagação de desinformação decorre da


poluição e distorção do ambiente político advindas das Fake News. A rápida
velocidade e amplitude do espalhamento das Fake News pode causar
diversos impactos negativos nas pessoas e na sociedade, pois podem
quebrar o equilíbrio de autenticidade do ecossistema de notícias, convencer
intencionalmente os usuários de ferramentas comunicacionais sobre
crenças falsas ou polarizadas e ainda transformam a forma como as
pessoas respondem e interpretam as informações verdadeiras.
(BARRETO,2022,P.10)

2.3. FAKE NEWS E RISCOS A DEMOCRACIA

A democracia é um sistema político em que o poder de governar vem do


povo, que o exerce de forma direta ou por meio de representantes eleitos. Em sua
essência, esse sistema valoriza a participação dos cidadãos nas decisões públicas e
garante a liberdade de expressão, permitindo que as pessoas manifestem suas
opiniões e influenciem o rumo da sociedade. A soberania, ou seja, a autoridade
máxima, pertence ao povo, e as decisões são tomadas com base na vontade da
maioria, sempre respeitando os direitos humanos e protegendo as minorias. Dessa
forma, a democracia busca equilibrar o governo da maioria com a defesa das
18

liberdades individuais, garantindo que todos tenham voz e sejam tratados com
justiça.

“Democracia constitucional é uma engenhosidade institucional tão


importante quanto complexa. Articula-se com suporte em dois eixos
essenciais: autogoverno dos povos e direitos fundamentais, que se
pressupõem reciprocamente. Trata-se de uma delicada e difícil conquista
civilizatória da humanidade, em permanente (re)constituição.” (LINHARES,
2016, p8).

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu a democracia no Brasil como um


regime político fundamentado na soberania popular, nos direitos fundamentais e na
separação dos poderes. Embora cada instituição – Executivo, Legislativo e Judiciário
– tenha sua autonomia, tem sido frequente observar desequilíbrios entre elas,
reflexo da polarização política e da escolha, muitas vezes pouco consciente, de
representantes pela população.
Nos últimos anos, o Estado Democrático de Direito no Brasil tem enfrentado
ameaças impulsionadas pela disseminação em massa de fake news, principalmente
em redes sociais como Facebook, X (antigo Twitter), Telegram e WhatsApp. Durante
as eleições presidenciais mais recentes, por exemplo, circularam inúmeras
informações falsas questionando a segurança das urnas eletrônicas, colocando em
dúvida a credibilidade do sistema eleitoral. Diante disso, o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) precisou agir para conter a propagação dessas mentiras, que ganharam
enorme alcance e influência.
Após as eleições, grupos radicais, alimentados por discursos de ódio e teorias
conspiratórias sobre fraude eleitoral, organizaram protestos violentos contra o
governo democraticamente eleito. Esses atos culminaram em invasões e destruição
de prédios públicos, como o ataque à Praça dos Três Poderes em Brasília,
resultando em diversas prisões por crimes contra as instituições democráticas.
Além disso, políticos e apoiadores envolvidos nesses movimentos têm sido
investigados pelo Judiciário por espalhar desinformação com fins de manipulação.
Esses grupos usam temas sensíveis – como corrupção, religião e moralidade – para
criar narrativas falsas, associando seus adversários a ideias negativas e
incentivando a população a votar com base em mentiras, e não em propostas
concretas.
19

Diante desse cenário, a desinformação tem se tornado uma ferramenta


perigosa, minando a confiança nas instituições e distorcendo o processo
democrático. Quando os cidadãos são levados a tomar decisões com base em
falsidades, a democracia se enfraquece, colocando em risco a estabilidade política e
social do país.

3. – A CRISE DE CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

Neste capítulo, abordaremos de forma objetiva a estrutura e a função dos três


poderes no Brasil – Executivo, Legislativo e Judiciário –, destacando a importância
de cada um para o funcionamento da democracia. Também discutiremos as
consequências quando essas instituições falham em cumprir seus papéis ou quando
há desequilíbrio entre elas, prejudicando a sociedade. Por fim, refletiremos sobre a
crise de confiança nas instituições e os riscos que isso representa para a
estabilidade política e social.

3.1. AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E SEU PAPEL

A Constituição Federal de 1988 estabelece que o Brasil adota o princípio da


separação dos poderes, conforme o artigo 2º, que define os Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário como independentes e harmônicos entre si (BRASIL, 1988).
Essa divisão é fundamental para o Estado Democrático de Direito, pois evita a
concentração excessiva de poder e garante que cada instituição atue dentro de seus
limites, protegendo a sociedade contra possíveis abusos de autoridade.
O Poder Executivo é responsável pela administração pública e pelo
implemento de políticas governamentais. Sua função principal é governar, colocando
em prática as leis aprovadas pelo Legislativo. Conforme José Afonso da Silva (2012,
p. 120), o Executivo deve conduzir as ações do governo, promovendo o bem-estar
social dentro dos limites legais. No nível federal, esse poder é exercido pelo
Presidente da República; nos estados, pelos governadores; e nos municípios, pelos
prefeitos.
Já o Poder Legislativo tem como principais atribuições criar leis, fiscalizar os
atos do Executivo e representar os interesses da população. Como explica
20

Alexandre de Moraes (2019, p. 93), esse poder é essencial para a elaboração de


normas e para o controle político das demais esferas de governo. No plano federal,
ele é representado pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados
e pelo Senado. Nos estados e municípios, essa função cabe às Assembleias
Legislativas e às Câmaras de Vereadores, respectivamente.
Por sua vez, o Poder Judiciário atua como guardião da Constituição,
interpretando e aplicando as leis para resolver conflitos e garantir a justiça. Segundo
Luís Roberto Barroso (2017, p. 45), sua missão é assegurar os direitos
fundamentais, controlar a legalidade dos atos do Estado e manter a ordem jurídica.
O Judiciário é estruturado em tribunais em todo o país, com o Supremo Tribunal
Federal (STF) no topo da hierarquia, responsável por decisões que afetam toda a
nação.
Para que a democracia funcione de maneira estável, é essencial que esses
três poderes mantenham um equilíbrio harmonioso. Quando um deles tenta se
sobrepor aos outros, surgem riscos de desequilíbrio institucional, ameaçando as
liberdades democráticas. Esse equilíbrio é garantido por mecanismos como a
fiscalização do Legislativo sobre o Executivo, o controle de constitucionalidade
exercido pelo Judiciário e a possibilidade de veto presidencial a leis aprovadas pelo
Congresso.
Quando os poderes funcionam de forma coordenada e respeitam suas
atribuições constitucionais, fortalecem não apenas a legalidade, mas também a
legitimidade do Estado. Isso contribui para a proteção dos direitos dos cidadãos e
para a promoção da justiça social. Por outro lado, quando esse equilíbrio é rompido,
a confiança da população nas instituições diminui, abrindo espaço para crises
políticas e até mesmo para ameaças ao regime democrático. Por isso, é
fundamental que os três poderes atuem sempre em sintonia, priorizando o interesse
público e o fortalecimento da democracia.

3.2. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A CRISE DE CONFIANÇA

A confiança nas instituições democráticas é um dos fatores fundamentais


para a estabilidade política e o funcionamento equilibrado do Estado. No entanto, no
Brasil, observa-se um grande avanço de insegurança por parte da população a
órgãos como o Congresso Nacional, o Judiciário e o Executivo. Os principais fatores
21

que contribuem para esse fato são os escândalos ligados a corrupção, ineficiência
administrativa, polarização política e crises econômicas. A confiança nas instituições
trás segurança perante a sociedade e satisfação do povo.
Em um estudo recente, MENEGUELLO, Rachel(2021) abordam que a
desconfiança nas instituições democráticas atingiu níveis sem precedentes. Sendo
um fator crucial, a desconfiança política pode gerar suspeição e ceticismo em
relação às instituições, o que prejudica a governança democrática e pode
comprometer a disposição dos indivíduos de se submeterem voluntariamente a
ações de coordenação e cooperação social regulamentadas pelo Estado.

A forte tendência de insatisfação com a democracia, observada tanto em


países com regimes democráticos consolidados quanto em países com
democracias em consolidação, como resultado do mau funcionamento
das instituições democráticas, que não conseguem manter o Estado
de direito de forma satisfatória, assim como não mostram capacidade
de resposta às preocupações do público, como a garantia da
segurança econômica e a elevação do padrão de vida para a grande
maioria da sociedade.(MENEGUELLO, Rachel.2021,p-84)

Esse cenário de falta de efetividade do Estado contribui diretamente para a


desconfiança da sociedade em relação à representatividade política. Quando as
instituições deixam de cumprir seu papel, o cidadão passa a questionar a
legitimidade do sistema, perdendo a fé na Justiça e no Estado como garantidor da
ordem e dos direitos fundamentais.
Como destaca Baquero (2013), a democracia representativa se baseia em um
"contrato social" em que os cidadãos elegem seus governantes com a expectativa
de que estes defendam seus interesses e promovam o bem comum. No entanto,
quando há corrupção, má gestão e falhas na prestação de serviços essenciais –
como saúde, educação e redução das desigualdades –, a população se vê traída em
suas expectativas. A sensação de abandono gera frustração e revolta, alimentando
um ciclo de descrença nas instituições.
A corrupção, por exemplo, tem sido um dos principais fatores de
deslegitimação do Estado brasileiro. Os recorrentes escândalos envolvendo desvios
de recursos públicos reforçam a percepção de que o governo não está
comprometido com políticas sociais, mas sim com interesses privados. Embora o
Poder Judiciário atue para punir esses crimes, a lentidão dos processos – muitas
22

vezes decorrente da complexidade das investigações e do excesso de formalidades


cria na população a sensação de impunidade.
Além disso, como apontam Albuquerque e Barros (2019), quando o cidadão
não se sente representado ou ouvido, ele tende a se afastar da participação política.
A falta de transparência e a ineficiência do Estado em garantir direitos básicos, como
dignidade e segurança, contrastam com as obrigações impostas à população –
como o pagamento de impostos e o cumprimento rigoroso das leis. Essa assimetria
alimenta narrativas de injustiça e descontentamento.
O resultado é um crescente descrédito nas instituições democráticas. Se os
Poderes não funcionam em harmonia e o Estado falha em suas obrigações, a
sociedade passa a exigir mudanças radicais, muitas vezes baseadas em discursos
populistas ou antissistemas. Para reconstruir a confiança, é essencial que o governo
demonstre eficiência, transparência e compromisso com o interesse público.

3.3- CASOS RELEVANTES NO BRASIL NAS ULTIMAS DÉCADAS

O Brasil tem enfrentado recorrentes crises institucionais que evidenciam tensões


entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de uma progressiva
erosão da confiança da população nas instituições democráticas. Esses episódios
não apenas expõem fragilidades no sistema de freios e contrapesos, mas também
refletem a judicialização da política, o ativismo judicial e a instrumentalização do
Legislativo em detrimento da estabilidade democrática. A seguir, analisam-se cinco
casos emblemáticos que ilustram essas dinâmicas.

1. O Impeachment de Fernando Collor (1992): Judicialização da Política e


Intervenção do Legislativo
O processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello representou
um marco na história política brasileira, sendo o primeiro caso de destituição de um
chefe de governo eleito democraticamente após a redemocratização. Collor foi
acusado de corrupção e tráfico de influência em um esquema liderado por seu
tesoureiro, Paulo César Farias. A crise ganhou proporções irreversíveis com a
eclosão dos movimentos dos "Caras-Pintadas", que levaram milhões de jovens às
ruas exigindo seu afastamento. O Congresso Nacional, pressionado pela opinião
pública e por setores da mídia, votou pelo impeachment, consolidando uma
23

intervenção direta do Legislativo sobre o Executivo (SANTOS, 1993). Esse episódio


evidenciou a judicialização da política, na medida em que o processo foi conduzido
em meio a um ambiente altamente midiatizado e polarizado, com o Judiciário
atuando como árbitro de uma disputa essencialmente política.

2. O Escândalo do Mensalão (2005-2012): Corrupção Sistêmica e Politização do


Judiciário
O caso do Mensalão, revelado em 2005, expôs um sofisticado esquema de compra
de apoio político no Congresso Nacional, no qual parlamentares recebiam
mensalidades em troca de votos favoráveis ao governo Lula. O escândalo atingiu
figuras-chave do Partido dos Trabalhadores (PT) e de partidos aliados, levando a um
longo e complexo julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). O processo, que
se estendeu até 2012, foi marcado pela morosidade judicial e por críticas quanto à
seletividade das punições, já que nem todos os envolvidos foram condenados
(WEBER, 2013). Além disso, a politização do Judiciário ficou evidente, com ministros
do STF sendo alvos de acusações de parcialidade. O caso reforçou a percepção de
que o sistema político brasileiro opera sob uma lógica de troca de favores, minando
a credibilidade das instituições.

3. O Impeachment de Dilma Rousseff (2016): Polarização e Fragilização do


Processo Democrático
A destituição da presidente Dilma Rousseff em 2016, com base em acusações de
"pedaladas fiscais", foi um dos episódios mais controversos da política recente. Seus
defensores argumentaram que se tratou de um processo constitucional, enquanto
críticos denunciaram um "golpe parlamentar", uma vez que as irregularidades
alegadas não configuraram crime de responsabilidade de forma inequívoca. A crise
foi agravada pela profunda polarização política, com o Legislativo atuando de forma
claramente partidarizada e o Judiciário assumindo um papel ambíguo (AVRITZER,
2016). O impeachment consolidou uma ruptura no pacto democrático, aumentando a
desconfiança em relação ao Congresso e ao STF, visto por muitos como conivente
com o processo.

4. A Operação Lava Jato (2014-2021): Ativismo Judicial e Questionamentos à


Imparcialidade
24

A Lava Jato, iniciada em 2014, tornou-se a maior investigação de corrupção da


história do Brasil, expondo um vasto esquema de desvio de recursos envolvendo
políticos, empresários e estatais. A operação, liderada pelo juiz Sérgio Moro e pelo
Ministério Público Federal, resultou na prisão de figuras como Lula, cuja condenação
foi posteriormente anulada pelo STF devido a suspeitas de parcialidade do juiz. O
caso levantou debates sobre os limites da atuação judicial, com críticos apontando
um excesso de poder do Judiciário e uma abordagem seletiva, que teria privilegiado
alvos políticos específicos (ARANTES, 2018). A queda de credibilidade da Lava
Jato, após vazamentos que sugeriam colaboração entre Moro e promotores,
aprofundou a crise de confiança nas instituições de controle.

5. As Tensões Institucionais no Governo Bolsonaro (2019-2022): Ameaças à


Democracia e Erosão da Confiança
O governo de Jair Bolsonaro foi marcado por confrontos abertos com o STF,
ataques às urnas eletrônicas e uma narrativa de deslegitimação sistemática das
instituições. Bolsonaro frequentemente questionou decisões judiciais, ameaçou
decretar estado de sítio e promoveu manifestações que pediam o fechamento do
Congresso e do STF. Além disso, a politização das Forças Armadas e a postura
dúbia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diante das fake elections aumentaram os
temores de uma ruptura democrática (MIGUEL, 2021). Esse período evidenciou os
riscos de um Executivo autoritário em choque com outros Poderes, agravando a
descrença popular no sistema político.

4. O PAPEL DO STF COMO GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO

O Supremo Tribunal Federal é o tribunal mais antigo em funcionamento no


Brasil, sua origem se deu com a reorganização institucional do país após a
independência. “O Supremo Tribunal Federal teve como antecessor o Supremo
Tribunal de Justiça do Império, criado pela Constituição de 1824, mas que somente
se instalou a partir de 1828”. (VELLOSO, 1993, p.2) Velloso afirma que o Supremo
Tribunal Federal surge como uma instituição de poder com a República, proclamada
no ano de 1889.
25

O Decreto nº 510, de 22 de junho de 1890, significou o primeiro passo para


a instituição do Supremo Tribunal Federal nos moldes da Suprema Corte
norte-americana. O Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890, transformou
o Supremo Tribunal de Justiça no Supremo Tribunal Federal. Promulgada a
Constituição republicana, a 24 de fevereiro de 1891, instalou-se o Supremo
Tribunal Federal, no dia 28 de fevereiro de 1891, com quinze ministros, a
maioria deles vinda do Supremo Tribunal de Justiça. (VELLOSO,1993,p 2)

A obra de Velloso retrata que em 1987/1988, a Assembleia Nacional


Constituinte debatia com profundidade o tema relacionado sobre as cortes
constitucionais, a defesa da Constituição e o controle de constitucionalidade. A
efetivação do ajuste da constituição formal à constituição substancial, real, fez parte
das cogitações dos constituintes. E em decorrência a experiência e o controle de
constitucionalidade que vinha sendo exercido pelo Supremo Tribunal Federal, que
desenvolveu em termos de controle jurisdicional da constitucionalidade das leis, uma
doutrina brasileira, o constituinte consagraram, então, o Supremo Tribunal Federal
como Corte Constitucional, estabelecendo competir-lhe, precipuamente, a guarda da
Constituição. Então a partir de 1988 o Supremo Tribunal Federal se tornou a Corte
Constitucional do Brasil, e para que sua missão fosse realizada criou a Constituição
de 1988 o Superior Tribunal de Justiça, passando a exercer a competência do
Supremo Tribunal aos litígios de direito federal comum, e como guardião maior da
Constituição, instituindo a Corte responsabilidade pela integridade, pela autoridade e
pela uniformidade de interpretação do direito federal comum. Para que isto
ocorresse, em toda a sua extensão, foi preciso retirar do Supremo Tribunal e passar
para o Superior Tribunal de Justiça certas competências que não condiziam com a
sua condição de Corte Constitucional.
Ao Supremo Tribunal Federal a Constituição confere outras competências,
além da competência maior de guardá-la e defendê-la.

4.1. O STF E SUA FUNÇÃO INSTITUCIONAL

O Supremo Tribunal Federal (STF) exerce funções fundamentais dentro do


Estado Democrático de Direito, a Constituição Federal de 1988 trás em seus artigos
101 a 103 o texto de lei que trata da composição, nomeação, competências e
legitimidade para provocar o Supremo Tribunal Federal (STF), consolidando a
26

estrutura e o funcionamento da mais alta instância do Poder Judiciário brasileiro. .


Sua institucionalidade se fundamenta no papel de guardião da Constituição (art. 102
da CF/88), sendo o órgão de cúpula do Poder Judiciário nacional, com competências
que asseguram a supremacia da Constituição, a separação dos poderes e a
proteção dos direitos fundamentais.
O Supremo Tribunal Federal é composto por 11 ministros, que são escolhidos
pelo Presidente da República com aprovação do Senado Federal, os requisitos para
ser nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal são, que os nomeados sejam
brasileiros natos, que tenham mais de 35 anos e menos que 70 anos, que possua
notável saber jurídico e que tenha reputação ilibada.
A competência primordial do Supremo Tribunal Federal é proteger a
Constituição Federal, mas, além disso, também tem competência para julgar causas
de alta relevância jurídica e politica, especialmente aquelas que envolvam
autoridades e direitos fundamentais da pessoa humana.
O Supremo Tribunal Federal (STF) também atua como a última instância de
proteção dos direitos e garantias fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro,
desempenhando uma função primordial na garantia das prerrogativas individuais e
coletivas fixadas na Constituição Federal de 1988. Essa Corte Constitucional pode
ser acionada por meio de ações processuais, tais como o Habeas Corpus (para
proteger a liberdade de locomoção em casos de informações pessoais ou a
retificação de registros em bancos de dados públicos ou de caráter público) e as
Ações Diretas de Inconstitucionalidade por Omissão (ADOs), que buscam combater
a inércia do Poder Público na concretização de normas constitucionais dependentes
de regulamentação. Essa função jurisdicional do STF está integralmente ligada ao
princípio da dignidade da pessoa humana, que é um dos pilares do Estado
Democrático de Direito (artigo 1º, III, CF/88), e à realização efetiva dos direitos que
estão descritos na constituição. Ao garantir a aplicação direta das regras
constitucionais, o STF não só resolve disputas legais, mas também promove a
concretização dos valores democráticos e dos direitos fundamentais, evitando que
eles se tornem apenas enunciados sem efeito. Assim, o Tribunal desempenha um
papel duplo: assegura a supremacia da Constituição e protege os cidadãos contra
abusos praticados tanto pelo Estado quanto por indivíduos, sempre respeitando os
princípios da igualdade, liberdade e justiça social.
27

A Corte também desempenha um papel crucial na resolução de disputas


institucionais, servindo como juiz em conflitos entre os Poderes da República
(Executivo, Legislativo e Judiciário). Em períodos de crise política ou institucional, a
Corte é frequentemente convocada para resolver desavenças que colocam em risco
o equilíbrio democrático, garantindo o funcionamento adequado do Estado e a
manutenção da ordem constitucional.
Essa função se torna de grande importância em sistemas presidenciais, como
o do Brasil, onde a separação entre os Poderes é rigorosa, mas as tensões entre
eles podem resultar em impasses que bloqueiam decisões vitais para a sociedade.
O STF, ao interpretar a Constituição e estabelecer os limites das ações de cada
Poder, prevenindo abusos e excessos, assegurando que nenhum Poder invada as
atribuições dos outros ou infrinja princípios constitucionais.

4.2. A ATUAÇÃO DO STF NO COMBATE ÀS FAKE NEWS

A onda de Fake News representa um dos maiores desafios atuais ao Estado


Democrático de Direito, essas noticias espalhadas em grande proporção e de forma
rápida tem gerado uma tensão constante entre dois princípios fundamentais
estabelecidos pela Constituição Federal de 1988: por um lado, a liberdade de
expressão (art. 5º, IV), e por outro, o direito à informação verdadeira (art. 5º, XIV).
Essa aparente contradição jurídica requer uma análise detalhada à luz dos princípios
constitucionais e da teoria dos direitos fundamentais.
De acordo com a doutrina sobre a Constituição Federal, Alexandre de
Moraes:

Os direitos humanos fundamentais, dentre eles os direitos e garantias


individuais e coletivos consagrados no art. 5º da Constituição Federal, não
podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de
atividades ilícitas, tampouco como argumento para afastamento ou
diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena
de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito.
( MORAES, 2023, p. 42)
28

Presente nesta mesma doutrina, Moraes enfatiza que a proteção


constitucional da exposição de pensamentos e opiniões não significa a
impossibilidade de análise e responsabilização posterior de indivíduos que venha
expor informações injuriosas, difamantes, mentirosas, e em relação a eventuais
danos materiais e morais, pois os direitos à honra, intimidade, vida privada e à
própria imagem formam a proteção constitucional à dignidade da pessoa humana.
A Constituição Federal proíbe a propagação de discurso de ódio, ideias
contrárias à ordem constitucional e ao Estado Democrático (CF, art. 5º, XLIV, e art.
34, III e IV), e principalmente a realização de manifestações nas redes sociais ou
através de entrevistas públicas visando ao rompimento do Estado de Direito, com a
extinção das cláusulas pétreas constitucionais – Separação de Poderes (CF, art. 60,
§ 4º), com a consequente instalação do arbítrio.
A Constituição Federal consagra o binômio “LIBERDADE e
RESPONSABILIDADE”; não permitindo de maneira irresponsável a efetivação de
abuso no exercício de um direito constitucionalmente consagrado; não permitindo a
utilização da “liberdade de expressão” como escudo protetivo para a prática de
discursos de ódio, antidemocráticos, ameaças, agressões, infrações penais e toda a
sorte de atividade ilícita.

Nesse cenário, a livre circulação de pensamentos, opiniões e críticas visa a


fortalecer o Estado Democrático de Direito e à democratização do debate,
devendo ser coibidas e responsabilizadas as práticas abusivas ou
divulgação de notícias falsas e fraudulentas, de modo a proteger o regime
democrático, a integridade das Instituições e a honra e dignidade das
pessoas.Os excessos que a Constituição Federal autoriza responsabilizar,
sem qualquer restrição ao lícito exercício da liberdade de expressão, dizem
respeito aos seguintes elementos: a vedação ao discurso de ódio e
discriminatório; atentados contra a Democracia e o Estado de Direito; a
divulgação de notícias sabidamente inverídicas; a veiculação de mensagens

difamatórias, caluniosas ou injuriosas.(MORAES,2023,P.65)

A citação de Alexandre de Moraes contribui de forma importante para o


debate jurídico contemporâneo sobre os limites da liberdade de expressão em um
regime democrático, especialmente diante do crescimento das fake news e da
radicalização do discurso público. O trecho reflete o entendimento constitucional
29

limitado de liberdade de expressão, que, embora seja um dos direitos fundamentais


da sociedade democrática, não é um direito absoluto, devendo ser exercido em
harmonia com outros direitos igualmente protegidos pela Constituição, como a
dignidade da pessoa humana, a honra, a imagem e a segurança das instituições.
Como uma forma de desinformação deliberada, as notícias falsas
representam um sério risco não apenas aos princípios constitucionais essenciais,
como a liberdade de expressão responsável, a dignidade humana e o direito à
informação precisa, mas também ao próprio Estado de Direito Democrático. A
disseminação contínua de informações incorretas compromete a formação de uma
opinião pública informada e livre, distorce o processo eleitoral e alimenta discursos
de ódio, minando a credibilidade de instituições públicas legítimas, como o Judiciário
e o sistema eleitoral. Em um ambiente digital extremamente polarizado, tais ações
são utilizadas como instrumentos de manipulação política, promovendo
desintegrações institucionais e ameaçando a estabilidade democrática. O Supremo
Tribunal Federal, ciente da seriedade deste problema, tem ressaltado que a luta
contra a desinformação não é censura, mas sim uma defesa constitucional legítima
contra abusos que infringem direitos e ameaçam o regime democrático. Nesse
contexto, a luta contra as notícias falsas é também uma maneira de proteger o pacto
constitucional, assegurando que a liberdade não seja usada como um pretexto para
práticas que destrói a democracia.
Diante do crescimento da desinformação sistemática e dos ataques à ordem
constitucional realizados através das mídias digitais, o Supremo Tribunal Federal
implementou uma série de medidas judiciais e institucionais visando proteger o
Estado Democrático de Direito, a integridade das instituições e os direitos
fundamentais. A medida mais significativa entre elas foi a criação do Inquérito nº
4.781/DF, conhecido como Inquérito das Fake News, em março de 2019, a pedido
do então presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, com supervisão do ministro
Alexandre de Moraes (BRASIL, 2019).
Este inquérito teve como base o artigo 43 do Regimento Interno do STF, que
permite investigar crimes que ameaçam a Corte e seus integrantes. Desde sua
implementação, diversas decisões cautelares foram tomadas, incluindo a quebra de
sigilos bancários e telemáticos, a suspensão de contas em redes sociais, ordens de
busca e apreensão, e detenções preventivas, todas fundamentadas em provas que
evidenciavam a existência de organizações criminosas digitais dedicadas à
30

propagação de fake news, ataques ao STF e fomento a ações antidemocráticas


(MORAES, 2023).
Além do inquérito, o STF também colaborou com o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) no combate à desinformação durante as eleições. Em processos de
controle concentrado e decisões com repercussão geral, a Corte estabeleceu teses
sobre a responsabilidade das plataformas digitais, reconhecendo que estas podem
ser responsabilizadas pela manutenção e disseminação de conteúdos claramente
falsos, especialmente quando ignoram alertas oficiais .
Outra ação significativa foi a defesa feita pelos ministros da Corte em apoio
à regulação das redes sociais e ao processo penal contra pessoas e grupos que
utilizam a internet para espalhar informações enganosas, incitar violência e
promover discursos antidemocráticos. Essa atuação é vista como uma resposta
institucional robusta às novas ameaças digitais à democracia.
O STF também emitiu decisões relevantes em ações diretas de
inconstitucionalidade (ADIs), reafirmando que a liberdade de expressão não abrange
abusos, como a disseminação de dados falsos com o intuito de causar danos
públicos ou institucionais (BARROSO, 2025). Dessa forma, o STF busca balancear a
proteção à liberdade de manifestação com a preservação de um ambiente
democrático e saudável de informação.

4.3. LIMITES, DESAFIOS E CAMINHOS PARA O FORTALECIMENTO


DEMOCRÁTICO.

A atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no Inquérito nº 4.781,


conhecido como "Inquérito das Fake News", tem suscitado intensos debates no meio
jurídico sobre sua conformidade com princípios constitucionais fundamentais.
Embora o combate à desinformação seja crucial para a preservação da democracia,
questiona-se se a condução direta do caso pelo STF - em vez de juízes de primeira
instância - respeita plenamente as garantias do juiz natural, do sistema acusatório e
da separação de poderes.
Como explica Azevedo Filho (2024), os regimentos internos são instrumentos
importantes para a organização do Poder Judiciário, permitindo que cada órgão
estabeleça suas normas de funcionamento. No entanto, essa autonomia
31

regulamentar não é absoluta - deve sempre observar os limites constitucionais e não


pode violar direitos fundamentais ou princípios processuais básicos.
O inquérito, instaurado em 2019 para investigar a disseminação de notícias
falsas, ataques a instituições democráticas e ameaças a ministros do tribunal,
colocou em evidência essa tensão entre a necessidade de proteção do sistema
democrático e a preservação de garantias processuais. Muitos juristas argumentam
que, ao assumir diretamente a investigação, o STF teria ultrapassado sua função
típica de corte constitucional, assumindo atribuições que caberiam originalmente à
primeira instância.
Essa discussão reflete um dilema mais amplo: como equilibrar a eficácia no
combate a ameaças contemporâneas à democracia com a preservação rigorosa das
garantias individuais e do equilíbrio institucional? Enquanto alguns defendem a
medida como necessária diante da gravidade dos fatos, outros alertam para os
riscos de um eventual desvio das funções constitucionais de cada poder e instância
judiciária.
Considerando a regra de recepção constitucional de normas anteriores à
promulgação da Constituição de 88, a questão da não recepção
constitucional de dispositivos do regimento interno do Supremo Tribunal
Federal (STF) se relaciona diretamente com a estrutura e os princípios do
sistema acusatório adotado pela Constituição Federal de 1988. Esse
sistema exige uma clara separação entre as funções de acusar, defender e
julgar, e qualquer desvio dessa estrutura pode comprometer os princípios de
legalidade, imparcialidade e devido processo legal.(Azevedo Filho, 2023, p.
62).

O artigo 5º, LIII, da Constituição Federal garante que "ninguém será


processado nem sentenciado senão pela autoridade competente", um princípio que
se conhece como juiz natural. A questão principal é se o STF, ao atuar tanto como
investigador quanto como julgador, estaria infringindo este princípio, já que a própria
Corte dita as diretrizes do inquérito sem a inclusão de um órgão acusatório
independente.
Embora a luta contra a desinformação seja válida, a maneira pela qual o STF
tem levado a investigação requer uma análise crítica. A adesão rigorosa aos
princípios da constituição, como a do juiz competente, sistema de acusação e
divisão de poderes é fundamental para prevenir que ações judiciais se tornem
32

ferramentas de autoritarismo ou perseguição política. A discussão acerca dos limites


da intervenção judicial continua em andamento, necessitando de um equilíbrio entre
a proteção legal e os direitos fundamentais.
O percurso necessário para que o Estado Democrático de Direito seja
devidamente respeitado, é imprescindível reforçar as ferramentas legais e
institucionais que regulam as plataformas digitais, além de aumentar a
responsabilidade dos envolvidos na criação e espalhamento de informações falsas.
Paralelamente, é vital apoiar a educação sobre mídia, promover a clareza nos
algoritmos e estabelecer um controle social democrático sobre as grandes empresas
de tecnologia, visando a construção de um ecossistema de informação mais
saudável e menos suscetível à manipulação.
O combate às fake news deve estar em conformidade com a defesa da
liberdade de expressão dentro de limites constitucionais, sem que esse direito sirva
como pretexto para ações criminosas, caluniosas ou que comprometam a
democracia. O Supremo Tribunal Federal, ao assumir a investigação, atuou como
protetor da Constituição, mas suas iniciativas devem ser acompanhadas de
mecanismos que garantam controle, transparência e previsibilidade jurídica, para
prevenir a perda da legitimidade institucional.
Dentro desse cenário, é igualmente vital restaurar o equilíbrio entre os Três
Poderes, conforme estabelecido pelo artigo 2º da Constituição Federal. O
fortalecimento da democracia requer que o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário
operem de maneira harmoniosa e independente, com responsabilidade e
colaboração, especialmente diante de desafios complexos, como a regulamentação
da internet e a proteção do espaço público digital.
Além disso, a luta contra as fake news exige ações coordenadas não só na
esfera pública, mas também na privada, educação midiática para a população,
monitoramento ativo por parte dos órgãos de controle e um compromisso com a
veracidade por parte de líderes políticos e sociais. O foco não é apenas a repressão,
mas sim a prevenção e a conscientização, construindo as bases para um
ecossistema informativo mais íntegro, diverso e democrático.
Assim, proteger a democracia contra a ameaça da desinformação envolve
não só ações institucionais firmes, mas também um amplo pacto republicano e
democrático, capaz de restaurar a confiança do público, recuperar a credibilidade
das instituições e assegurar a saúde do debate público.
33

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia teve como objetivo analisar os efeitos das fake news no
Estado Democrático de Direito, com enfoque na atuação do Supremo Tribunal
Federal (STF) como guardião da Constituição Federal de 1988. A pesquisa
evidenciou que a desinformação, amplificada pelas redes sociais, representa uma
ameaça significativa à estabilidade democrática, corroendo a confiança nas
instituições e distorcendo o debate público.
O estudo demonstrou que as fake news não são meras informações
equivocadas, mas estratégias organizadas de manipulação, com potencial para
influenciar processos eleitorais, incitar violência e minar a credibilidade de órgãos
essenciais, como o Judiciário e o sistema eleitoral. Durante a pandemia de COVID-
19 e nas eleições presidenciais recentes, observou-se como a desinformação pode
ter consequências devastadoras, desde a perda de vidas até ataques às estruturas
democráticas.
A atuação do STF no combate às fake news, especialmente por meio do
Inquérito nº 4.781/DF ("Inquérito das Fake News"), revelou-se necessária para
proteger a ordem constitucional. No entanto, essa intervenção também suscitou
debates sobre os limites da atuação judicial, especialmente em relação aos
princípios do juiz natural, do sistema acusatório e da separação de poderes. A
análise crítica destacou a importância de equilibrar a eficácia no combate à
34

desinformação com a preservação das garantias processuais e dos direitos


fundamentais.
Para fortalecer a democracia, é essencial adotar medidas multifacetadas:
Fortalecimento institucional: Garantir que os Três Poderes atuem de forma
harmônica e independente, respeitando suas competências constitucionais.
Regulação das plataformas digitais: Estabelecer normas claras para
responsabilizar agentes públicos e privados pela disseminação de desinformação,
sem ferir a liberdade de expressão.
Educação midiática: Promover programas de alfabetização digital e pensamento
crítico para capacitar os cidadãos a discernir informações confiáveis.
Transparência e controle democrático: Assegurar que ações judiciais e
legislativas contra fake news sejam acompanhadas de mecanismos de fiscalização e
participação social.
Conclui-se que, embora o STF tenha um papel crucial na defesa da democracia,
sua atuação deve ser complementada por políticas públicas, cooperação entre os
Poderes e engajamento da sociedade. A luta contra a desinformação não é apenas
uma questão jurídica, mas um desafio civilizatório que exige compromisso com a
verdade, a ética e os valores democráticos.
35

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Dayane Maia de. Desinformação eleitoral na era digital: um olhar sobre a
manipulação de dados e estratégias abusivas. 2023. 71 f. TCC (Graduação em
Direito) - Faculdade de Direito, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2023.
http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/76660

Azevedo Filho, José Antônio Moura de. "A (i) legitimidade do ativismo judicial no
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