Aula 2
Aula 2
Durkheim aponta a existência da solida- entre os trabalhadores, o que dá origem à solidariedade orgânica.
riedade orgânica. A grande diversidade Na foto, trabalhadores costuram sacos para serem usados
de funções e de trabalhos produzidos na exportação de café na cidade de Manaus (AM, 2013).
nessas sociedades faz com que se fortaleça
a interdependência entre os integrantes. Nesse caso, a coesão social não é garantida
pela rigidez de uma consciência coletiva (coercitiva), mas baseia-se na exigência de
suprir as necessidades individuais tendo em mente o que é produzido pelos outros
membros do grupo.
Nesse caso, Durkheim interpreta as tensões sociais criadas pela exploração capita-
lista como um problema moral, isto é, se a divisão do trabalho não produz coesão social
é porque as relações entre os diversos setores da sociedade não estão adequadamente
Filme
regulamentadas pelas instituições sociais existentes, o que gera anomia.
Tempos modernos
reprodução
3 As experiências de racionalização
do trabalho
Com o crescimento da industrialização, o método de controle da produção de bens
materiais passou a ser um componente cada vez mais expressivo do antagonismo entre
os interesses de burgueses e os de proletários. A partir da segunda metade do século XIX,
desenvolveu-se uma área do conhecimento científico fundamentada em normas e fun-
ções que visavam organizar o espaço produtivo e aumentar a produtividade do trabalho.
Entre as diversas teorias que surgiram, ganhou destaque a do engenheiro estadunidense
Frederick W. Taylor, que propunha estratégias gerenciais fundamentadas em um rigoroso Estados Unidos, 1936.
controle de tempo e de movimentos, na especialização das atividades e na remuneração Direção: Charles Chaplin.
por desempenho. Duração: 87 min.
A principal característica desse método é a separação entre o planejamento e a execu- O filme retrata a dura rea-
ção das atividades. Esse sistema organizacional, chamado de taylorismo, busca a padroni- lidade vivida pelos traba-
zação de todas as atividades de produção, definidas pela administração e posteriormente lhadores no período da
Grande Depressão de 1929
repassadas aos trabalhadores. O objetivo do sistema é o aumento da produtividade por
e é uma crítica às relações
meio de mecanismos que permitam às administrações controlar e intensificar o ritmo e, e às condições de trabalho
assim, aumentar o lucro dos donos dos meios de produção. no sistema capitalista.
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Filme
Quem escreveu sobre isso
A classe operária vai
ao paraíso
aKg-images/alBum/laTinsToCK
Frederick Taylor
reprodução
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
italiano do período áureo
Proprietário da Ford Motor Company, em Detroit, Estados Unidos, Ford inovou o cenário
do fordismo, que se dedica
inteiramente à linha de industrial a partir de 1914, ao produzir veículos padronizados e em grandes quantidades –
produção até sofrer um o que barateava os custos de produção –, para alcançar o consumo em massa. Para isso,
acid ente e começar a foi criada uma linha de montagem em série, na qual os trabalhadores se fixavam em seus
questionar toda a estru- postos e os objetos de trabalho se deslocavam em trilhos ou esteiras. Cada trabalhador
tura da fábrica e o próprio deveria ser especializado em uma única tarefa, e o ritmo era ditado pela velocidade da
sistema capitalista.
linha de produção. Ao repetir movimentos iguais incessantemente, o operário atuava
como uma peça da máquina, alienado do conjunto de seu trabalho.
Os ganhos de produtividade – e a exploração da força de trabalho – foram bastante
significativos. A ênfase na separação entre a concepção (gerência) e a execução (trabalho)
ampliou a alienação do trabalho. Partia-se do princípio de que os trabalhadores eram
pagos para executar, não para pensar.
O modelo taylorista-fordista ocasionou alto índice de rotatividade, sobretudo nas
áreas mais próximas às linhas de produção, com baixo nível de qualificação educacional e
profissional dos operários, o que os tornava descartáveis. Esse sistema de organização do tra-
balho se expandiu para o mundo e passou
a ser amplamente utilizado no século XX,
Coleção partiCular
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4 Sistemas flexíveis de produção
O cenário de crise econômica global nos anos 1970 e 1980 desferiu um duro golpe
Customização em
nos investimentos produtivos industriais, concomitantemente à expansão das atividades massa
ligadas ao setor de serviços. Isso fez com que a indústria tivesse de se reorientar em rela- Produção em grande
ção a um mercado consumidor mais segmentado, que passou a exigir maior oferta, maior quantidade que
qualidade e menor preço. O modelo fordista, que tinha se desenvolvido para atender ao atende a demandas
mercado de massa com produtos padronizados e com pouca possibilidade de flexibiliza- específicas
ção, passou a sofrer críticas. individuais a custos
semelhantes aos dos
A crise que atingiu o capitalismo a partir da década de 1970 criou um ambiente favo- produtos fabricados
rável ao surgimento de mudanças que representam o afastamento radical dos princípios em massa.
fordistas, caracterizado como pós-fordismo. Nesse contexto, passa a se destacar um
sistema de organização do trabalho denominado toyotismo (ou ohnismo), desenvol-
vido pelo engenheiro Taiichi Ohno, da Toyota Motor Company. Apesar de a Toyota ter
adotado o modelo na década de 1950, só 20 anos mais tarde ele se tornaria paradigma
do sistema industrial mundial. Suas características básicas são: flexibilidade na produção,
com a capacidade de rápida alteração dos modelos a serem produzidos; organização da
produção e da entrega no momento e na quantidade exatos, de modo a torná-las mais
rápidas; importância da qualidade dos produtos; baixos preços com base na lógica de
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reprodução
de entrega de produtos ou matérias-primas para a produção, ou seja, um sistema de ter-
ceirização pelo qual não é preciso estocar produtos. Essa produção sob demanda permite
que a empresa venda o produto antes de comprar as matérias-primas necessárias para
fabricá-lo. Caso ocorra qualquer problema na entrega da matéria-prima, toda a produção
estará comprometida.
Esse modelo gerou ganhos para os consumidores e para a economia em geral. Pro-
porcionou também melhora significativa na organização capitalista do trabalho, princi-
palmente na descentralização, na aproximação dos níveis hierárquicos e na ampliação da
autonomia do trabalhador, mas manteve as relações de controle e poder. Enquanto no
sistema taylorista-fordista o trabalhador se tornava especialista em uma única, simples e
Reino Unido, 1997.
rotineira função, o toyotismo desenvolveu a figura do trabalhador “polivalente” ou “mul- Direção: Peter Cattaneo.
tifuncional”, que deveria aprender várias funções. Apesar de favorecer os aspectos ligados Duração: 92 min.
à criatividade do trabalhador, à produção em equipe, à qualificação, entre outros, esse
modelo ainda esbarra nos limites do trabalho alienado, ou seja, o trabalhador continua O filme conta a história
de alguns amigos desem-
a ser explorado e a não dominar todo o processo produtivo.
pregados que procuram
Dessa forma, se por um lado o toyotismo provocou grande aumento da produtividade uma alternativa incomum
do trabalho, por outro conservou o mesmo nível de controle sobre o trabalhador – e em e bem-humorada para
algumas situações o controle até aumentou. Um exemplo disso ocorre quando os empre- seus problemas financei-
ros, tendo como pano de
gados estão em situação de concorrência por aumento de produtividade. Ao contrário fundo as transformações
da verticalização do controle taylorista-fordista, com sua rígida hierarquia de comando, econômicas do final do
o trabalho em equipe do toyotismo gera uma horizontalização do controle, pois cada século XX, na Inglaterra.
operário fiscaliza o outro para o correto cumprimento das tarefas.
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Outro fenômeno que surgiu com o toyotismo foi o sindicalismo de empresa, no qual
o sindicato estabeleceu uma relação que favorece a aplicação de uma política sindical
propícia a alinhar-se com a estratégia de negócios da empresa, gerando uma conver-
gência de objetivos. Esse modelo passou a rivalizar com o sindicalismo combativo – de
confronto, de classe e de luta –, típico do sistema taylorista-fordista.
Em linhas gerais, pode-se dizer que as carac-
KaZuHiro NoGi/aFp
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Apesar dos novos modelos de gerenciamento de mão de obra e da o trabalho em rede e a possibilidade de cada um
ideologia do ambiente confortável de trabalho, a imensa maioria dos ser capaz de se reinventar o tempo todo.
trabalhadores está submetida a uma rotina massificante, marcada pela
O desafio atual apresentado ao trabalhador
competitividade e pela insegurança quanto à continuidade no emprego.
Operários em fábrica de automóveis, em foto de 2014, na província de é lidar com objetivos de longo prazo em uma
Aichi, no Japão. sociedade que enfatiza o curto prazo.
Saiba mais
Sindicalismo
Os sindicatos são organizações que têm como obje- res de serviços. Tome-se como exemplo uma escola em
tivos a organização da classe operária e a intermediação que os faxineiros, merendeiros, seguranças e secretários
da relação entre patrão e empregado. sejam terceirizados e parte dos professores ou outros
profissionais da educação trabalhe sob contrato tem-
O sindicalismo no sistema taylorista-fordista porário. Nesse cenário, observa-se que os trabalhadores
No sistema taylorista-fordista, a exploração do da escola estão vinculados a uma empresa. De um dia
operário na linha de produção intensificou a atuação para o outro, esses funcionários poderão ser transferi-
e a resistência sindical. Os sindicatos atuavam para dos para outro local determinado pela empresa. Sem
garantir melhores condições de trabalho e aumento vínculo direto com o local de trabalho, muitos traba-
de salários de acordo com a produtividade geral. Nos lhadores não se engajam na luta em prol da melhoria
Estados Unidos, o fordismo, associado ao estado de da escola. A atuação do sindicato fica comprometida
bem-estar social, visto no capítulo 6, possibilitou boas pela dificuldade de mobilização dos profissionais, que
condições de atuação aos sindicatos e a garantia de estão em constante rotatividade. Dados de 2008, da
direitos trabalhistas. Organização Internacional do Trabalho (OIT), indicam
que a taxa de sindicalização no Brasil é de 19,1%, um
O sindicalismo no toyotismo aumento pequeno em comparação ao de 1992 (18%)
A flexibilização produtiva e as novas formas de e ao de 1998 (16,7%). Em 2012, segundo o Instituto
trabalho modificaram a atuação e a importância dos Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de
sindicatos. A terceirização, os contratos temporários, sindicalização da população ocupada adulta era de 17%.
o trabalho informal e o doméstico fizeram com que As baixas taxas de sindicalização apontam para uma
muitos trabalhadores perdessem o vínculo com o local crise socioinstitucional dos sindicatos, que necessitam
de trabalho, uma vez que se tornaram apenas prestado- se adaptar às novas condições de trabalho e produção.
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5 Trabalho: cenário atual, avanços e retrocessos
Os processos de liberalização econômica (que possibilitaram maior participação do
capital, em especial do estrangeiro, em setores antes regulados pelo Estado), de incremen-
to tecnológico (como a introdução da robótica) e de renovação das relações de trabalho
(terceirização, trabalho temporário etc.), implantados a partir dos anos 1990, resultaram
no aumento do desemprego em relação às duas décadas anteriores, em diversas nações
industrializadas do mundo.
Mas não é tão simples analisar os impactos do desenvolvimento da tecnologia nos
processos e nas relações de trabalho. Se por um lado a automação (em bancos, escri-
tórios, telecomunicações etc.) eliminou empregos para trabalhadores qualificados, por
outro, propiciou aumento de postos de trabalho em setores da economia antes pouco
expressivos, como o de tecnologia da informação.
Os dois primeiros elementos, liberalização econômica e incremento tecnológico,
ocasionaram o fenômeno conhecido como desemprego estrutural. Essa modalidade de
desemprego é resultado de profundas transformações na estrutura do mercado laboral,
que o impedem de absorver a mão de obra disponível por longos períodos, fato que o
diferencia do desemprego conjuntural, provocado por fases pontuais de recessão do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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