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O Filho Do Magnata Que Me Enganou

O livro narra a história de James Lamberti, um magnata hoteleiro frio e calculista, que se disfarça para adquirir uma confeitaria em Galway, impedindo a expansão de seu império. Patrícia Ricci, a proprietária da confeitaria, é uma confeiteira apaixonada que luta para manter seu legado familiar. A trama envolve sedução e desafios emocionais, à medida que James descobre sentimentos inesperados ao se envolver com Patrícia.

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O Filho Do Magnata Que Me Enganou

O livro narra a história de James Lamberti, um magnata hoteleiro frio e calculista, que se disfarça para adquirir uma confeitaria em Galway, impedindo a expansão de seu império. Patrícia Ricci, a proprietária da confeitaria, é uma confeiteira apaixonada que luta para manter seu legado familiar. A trama envolve sedução e desafios emocionais, à medida que James descobre sentimentos inesperados ao se envolver com Patrícia.

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Todos os direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por
parte do autor.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio,
eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito da editora.

ISBN-13: 9781234567890
ISBN-10 1477123456

Revisão e diagramação: Kal Santos


Betagem: Kal Santos, Adri Luna e Samanta Marinho.
Capa: Maya Bellini (@maya_designer_editorial).
Dedicatória
ste livro é dedicado a todas as mulheres que enfrentaram a necessidade de recomeçar após
E relacionamentos que, de alguma forma, as deixaram inseguras e receosas em relação ao
amor.

O amor pode chegar quando menos esperamos, de maneira avassaladora derrubando


todas as nossas barreiras e curando feridas profundas. Que possamos compreender a força e a
resiliência do amor, bem como a importância do perdão.

Para minha querida amiga Patrícia Antonia, essa é uma singela homenagem para você,
aproveite o James Lambertti sem moderação.

A dedicação se estende também às minhas amadas leitoras que suspiram, surtam, se


emocionam e se apaixonam com cada história que compartilho. Desejo a todas vocês que
encontrem um amor que seja perfeitamente imperfeito.
Sinopse
ames Lamberti é um homem frio, calculista, que não se importa com ninguém e coloca os
J seus objetivos acima de qualquer pessoa.
Como magnata do maior grupo hoteleiro do mundo, James vê em uma pacata cidade
turística a oportunidade de abrir mais um dos seus hotéis, porém nenhum dos seus advogados
conseguem comprar a pequena confeitaria, que é o único empecilho para aumentar o seu
império.
James acredita que se quer algo bem-feito ele mesmo tem que fazer, com esse
pensamento ele resolve ir a pacata cidade de Galway escondendo a sua verdadeira identidade,
para alcançar seus ambiciosos objetivos.
Patrícia Ricci, chama a atenção não apenas por sua beleza, mas também por sua doçura e
determinação. Desde jovem, trabalhou para realizar o sonho de se tornar uma confeiteira. Após
terminar a faculdade, assumiu a loja que foi da família por gerações, deixando os moradores da
cidade, apaixonados pelos seus cupcakes e bolos, mostrando que o talento era uma herança
familiar.
Um jogo sujo, envolvendo sedução, com o único objetivo de construir um hotel.
James usará o coração da Patrícia, sem fazer ideia de que uma consequência ainda mais
avassaladora, será gerada em seu ventre.
Vamos descobrir juntos do que é capaz um homem frio, quando descobre sentimentos
desconhecidos que vão muito além do desejo, nos braços de uma doce tentação.
Prólogo
James Lamberti

aro diante das amplas janelas do meu escritório e encaro as ruas movimentadas de New
P York. Estamos em dezembro, um mês que particularmente odeio, não apenas pelo inverno,
mas por todo ritual ridículo de Natal e principalmente por toda falsidade que acompanha
essa data puramente comercial. As recordações da casa cheia e das ceias luxuosas, com os piores
e mais detestáveis empresários, as fotos com sorrisos falsos de uma família perfeita que nunca
existiu é uma lembrança nada agradável, que me recordo em detalhes.
Sou conhecido por ser rabugento, mal-humorado e até cretino. Embora não me importe
com a “boa” reputação que tenho, odeio a forma que me bajulam, por saber exatamente o que
pensam ao meu respeito.
Não confraternizo, não converso e sou direto.
Um homem de poucas palavras é o que escuto.
Diria que é uma qualidade atrativa, mas há controvérsias.
Minha secretária, Mirtes, é competente e discreta, o que facilita a nossa convivência. Sou
péssimo em conversas.
Encaro o quadro pendurado na parede do meu escritório, com um provérbio, uma herança
que o meu pai deixou, quando se aposentou, “Não há ônus sem bônus”. Cinco palavras pequenas
que resumem a minha vida. Tudo tem um preço e se não estiver disposto a pagar, não entre no
jogo.
Me aproximo da minha mesa, desabotoo o terno e me sento. Começo a analisar alguns
contratos concentrado, quando sou interrompido com batidas sutis na porta. Mirtes entra, deixa o
relatório solicitado em minha mesa, me direciona um pequeno sorriso e sai.
Não mudo a minha expressão, detesto interrupções, e Mirtes está ciente disso. Ao revisar
o relatório, sinalizo os pequenos erros que ela insiste em cometer. Amasso, jogo fora o relatório e
envio um e-mail para Mirtes com o título em letras maiúsculas: REFAÇA.
Poderia ignorar facilmente os pequenos erros dela, mas aí, não seria eu. Retorno à análise
dos contratos e, mais uma vez, sou interrompido.
Esse dia só melhora.
Sou avisado de que o Liam está na empresa e permito sua entrada. Ele é o oposto de mim,
um otário, que por sinal é o meu único amigo e embora o considere meu irmão, nunca vou falar
isso em voz alta.
Liam entra na minha sala, com um sorriso cínico, que ele afirma ser parte do seu charme.
— O que quer? — Indago, observando-o estreitar os olhos em minha direção e espero
impaciente, ele abrir a boca.
— Tem que ser tão desagradável, logo pela manhã? — Ele replica, mantendo o seu
sorriso cínico e arqueio uma sobrancelha, o olhando curioso.
— Seja direto, Liam! — Odeio rodeios e sei ele tem algo importante para falar, ou não
estaria aqui.
— O Caio não conseguiu comprar a confeitaria. — Me enfureço, essa compra da
confeitaria está sendo mais irritante do que esperava. Levanto e caminho de um lado para o
outro. Liam permanece com a expressão calma e se senta aguardando que eu responda.
— Irei pessoalmente à Irlanda! — Anúncio decidido, percebendo a sua expressão
mudar. Ele parece preocupado, mas ignoro. A verdade é que sou exigente e acredito que se quero
algo bem-feito eu mesmo tenho que fazer. — Não há motivos para divagar com algo tão
simples, como a compra de uma pequena e insignificante confeitaria.
— James, a confeitaria está na família da Patrícia há gerações. Ela não cederá
facilmente. — Ele contesta a minha decisão, contudo, imagino que ele saiba que não irei mudar
de ideia.
Ligo para a Mirtes e mando preparar tudo para viagem, sob o olhar preocupado de Liam.
— Não me importa o que seja necessário fazer. Vou construir o meu hotel em Galway,
Liam!
Ele argumenta, pedindo uma chance de ir pessoalmente resolver essa questão, mas estou
decidido, mesmo não tendo a menor vontade de ir para a pacata Galway. Detesto chuva e a
música alta dos irlandeses, mas, acima de tudo, gosto de desafios, principalmente, porque não
entro em um jogo para perder.
01
Patricia Ricci

esperto e percebo, através da janela do meu quarto, que o céu ainda está escuro. Me
D movimento lentamente, me espreguiçando na cama antes do meu despertador tocar. Dentro
de poucos minutos, os primeiros raios de sol invadem meu quarto, me sento e me levanto
sonolenta, tendo a sensação que quanto mais durmo mais exausta fico. Me troco e saio para fazer
a minha caminhada matinal, contemplando a deslumbrante paisagem e a arquitetura de Galway.
— Bom dia senhora Caroline. — Aceno para ela, que me direciona um sorriso terno.
Contudo, seu semblante muda ao avistar o senhor Dylan, com quem foi casada. Ela entra em
casa, batendo forte a porta e eu acho graça, com certeza atrás de tanto ódio ainda tem amor.
— Minhas costas estão me matando. — Resmunga Dylan, encarando a sujeira deixada
pelo pequeno Ted.
— Certo, senhor Dylan, já entendi. — Sorrio pegando uma sacola da guia do gato que se
esfrega em minhas pernas em busca de carinho. — Prontinho, sujeira recolhida.
Ele resmunga algo sobre a Caroline e, em seguida, afirma que deveria ser ele a entrar,
pois não suporta vê-la pela manhã.
— Obrigada, minha filha. — Diz passando a mão no meu cabelo da mesma forma que faz
com o gato, que estranhamente passeia na coleira.
— Por nada, senhor Dylan. Tenha um ótimo dia! — Respondo, descartando a sacola no
lixo mais próximo.
— Não deveria sair. Vi um corvo sobrevoando a sua casa, minha filha. Isso é um péssimo
sinal.
— Não se preocupe senhor Dylan, vou ficar bem. — Falo caminhando até a casa dos
meus pais no final da rua.
Dylan é supersticioso e nada na vizinhança passa despercebido por ele. Brinco que ele é
daqueles modelos antigos de câmeras de vigilância, sempre atento da janela, movendo a cabeça
para um lado e para o outro.
Apresso meu passo até a casa dos meus pais e bato sutilmente na porta algumas vezes.
Não quero acordá-los. Opto por usar as minhas chaves que eles nunca aceitaram de volta, desde
que saí de casa, mantendo a esperança que volte a morar com eles. Apesar de ter vivido os
melhores anos da minha vida aqui, senti a necessidade de ter a minha própria casa.
Como suspeitava, os roncos altos do meu pai denunciam que ainda estão dormindo, me
pergunto como minha mãe pode ter um sono tão profundo. Decido deixar o café pronto para eles
com um recado amoroso, para quando despertarem. Coloco o bilhete na cafeteira depois de
terminar o café e saio em direção a minha casa.
Entro em casa apressada, tirando as roupas no caminho até o quarto e tomo um banho
quente e rápido. Encaro o guarda-roupa por um instante, coloco uma calça jeans clara, uma
camiseta branca com a logomarca da confeitaria e prendo os meus cabelos loiros em um rabo de
cavalo. Passo uma maquiagem leve que realça meus olhos azuis e pego um casaco. Calcei uma
sapatilha preta confortável, faço uma panqueca e saio de casa comendo.
Caminho pelas ruas cumprimentando os vizinhos, moro perto da confeitaria e logo chego
à porta da loja. Termino de comer a panqueca para pegar as minhas chaves na bolsa. Comer
andando é um péssimo hábito que tenho, que me deixa com as mãos constantemente ocupadas
quando preciso delas livres.
Chego a confeitaria antes de Julie, minha melhor amiga e colega de trabalho. Em
Galway, as oportunidades de emprego são limitadas, e ter ela ao meu lado tem sido conveniente.
Entro na confeitaria ligando as luzes, verificando se está tudo no lugar antes de começar a
produção do dia. Geralmente, chego antes da abertura para garantir que os clientes tenham
muitas opções de bolos e cupcakes ao chegarem,
Observo os balcões decorados com detalhes natalinos, paguei para decorar a loja e não
poderia ter tomado uma decisão mais sensata, não faria nada sequer parecido. A decoração está
linda, toda em dourado e vermelho. Ajeito o papai noel pendurado na escada perto da porta e
dirijo-me à cozinha.
Inicio a produção com cuidado, namorando cada cupcake finalizado. Adiciono os
confeitos e concluo algumas decorações no clima natalino. Um sorriso bobo brota em meu rosto
vendo como ficaram lindos e começo a colocar nos balcões refrigerados. Dou a volta no balcão
para ver o resultado e gosto muito.
Volto a preparar os bolos e logo o meu celular desperta sinalizando a hora de abrir a
confeitaria. Lavo as mãos preocupada, pois Julie ainda não chegou e ela raramente se atrasa.
Giro a placa, deixando o lado que indica “aberto” virado para a rua. Verifico
discretamente se Julie está a caminho antes de entrar na loja. Pego meu bloco de pedidos, coloco
um avental e começo a atender os clientes.
O movimento está tranquilo, e conheço todos os clientes que entram na confeitaria. Os
deixo à vontade para fazerem seus pedidos enquanto preparo o café. Me distraio de costas para o
balcão fazendo o café, quando alguém entra na confeitaria e escuto a voz do Kevin atrás de mim.
— Você está linda, Pati. — Respiro fundo, me viro e encaro o Kevin.
— Dispenso o elogio, Kevin. O que você quer? — Falo de maneira direta, fixando meus
olhos nos deles.
— Todos estão interessados em fechar a venda da confeitaria. Poderia facilitar para mim?
Esse dinheiro vai salvar a minha corretora de imóveis. — Ele fala em tom de súplica, mas sei que
está se fazendo de vítima.
— Não tenho interesse em vender, Kevin. Você sabe o quanto a confeitaria é importante
para mim.
— Diz que ama tanto a cidade, mas só pensa em você! — Ele cospe as palavras me
olhando com desdém e eu o encaro com frieza.
— Parece que cada um está visando os próprios interesses, não é mesmo?
— Já pensou nos empregos e em como essa venda vai ajudar todos em Galway? A cidade
terá mais turistas e todos os negócios terão mais retorno. — Me afasto irritada, porque Kevin
sabe exatamente onde me dói para me afetar.
— A resposta ainda é a mesma, Kevin. — Ele invade o balcão sem permissão e me puxa
bruscamente pelo braço, para longe dos clientes.
— Me solta Kevin, ou vou gritar! — Falo, tentando controlar minha irritação, para não
prejudicar a imagem da confeitaria.
— Acha que alguém aqui vai te ajudar? Está sendo mimada e egoísta. Acorda ou vai
acabar se dando mal! — Sua voz toma um tom ameaçador, e percebo raiva em seus olhos, que
escurecem ao me olhar.
— Você está me ameaçando?
— Estou te avisando. — Ele responde de forma direta e rápida, solta meu braço e sai
irritado da confeitaria.
Respiro aliviada, passo a mão pelo braço e retorno ao atendimento, ponderando sobre
como lidar com o comportamento do Kevin. Hoje, ele ultrapassou todos os limites. Me concentro
nos clientes e atendo cada um dando o meu melhor.
02
James Lamberti

esperto com o som do despertador, observo que o céu está escuro, ainda é o começo da
D madrugada em New York, me levanto, me troco, pego o que preciso e sigo até a pista de
pouso. Mirtes, cuidou para que tudo estivesse pronto, atendendo cada uma das minhas
exigências. Entro no jatinho particular e começo a ler o relatório minucioso que solicitei sobre a
confeiteira. Não imagino que ela vai ceder fácil e começo a calcular os passos que darei. Às
dezesseis horas de voo até a Irlanda é longa e exaustiva.
Finalmente, desembarquei em Dublin, onde um carro particular, aguarda minha chegada.
O motorista segue as recomendações, falando comigo apenas o necessário. Vou direto ao hotel
Park House, tomar um banho decente e descansar, antes de resolver o meu “pequeno problema”.
Opto por me identificar como Aiden, meu segundo nome, não quero ser reconhecido até
concluir o meu propósito. Dedico o restante do dia a resolver algumas pendências em meu quarto
de hotel, repousando tarde e despertando cedo, renovado. Após, me trocar deixo o hotel e
caminho pelas ruas da pacata Galway, impressionado pela arquitetura da cidade.
Entro na confeitaria Ricci e observo atentamente os movimentos da Patrícia. Ela parece
conhecer cada cliente pelo nome e distribui sorrisos, atrás do balcão. Ela nota a minha presença,
pega o que parece ser um bloco de pedidos e se aproxima.
— Boa tarde, posso anotar o seu pedido? — A sua voz é doce, assim como o seu sorriso,
que terei prazer em tirar do seu rosto angelical.
— Um café, por favor. — Abuso de uma simpatia que não tenho, para ganhar a sua
atenção.
— Está aqui a trabalho ou a passeio?
— Como? — Indago, curioso. Ela não deve conhecer todos na cidade e certamente
chamei a sua atenção por algo.
— Nunca o vi por aqui... — Ela volta sua atenção ao bloco de pedidos antiquado em sua
mão e continua. — Desculpe se fui inconveniente.
— Não se desculpe, está certa. Não moro em Galway e vim a passeio pela arquitetura da
cidade.
— A arquitetura é linda, uma das coisas que eu mais gosto aqui. — Ela observa pela
janela de vidro da confeitaria. No seu olhar tem admiração, e fica claro que ela realmente deve
gostar desse fim de mundo.
— Falando em arquitetura, conhece um guia ou alguém que possa me mostrar a cidade?
— Observo ela colocar a mão no avental e em seguida me entregar um cartão.
— Conheço alguns, todos são ótimos. Tenho certeza de que, ao final do passeio,
terá dificuldade em ir embora.
— Disso duvido.
— Desculpe, não entendi. — Ela me olha confusa, falei baixo o suficiente para que não
ouvisse, mas não tão baixo a ponto de não despertar sua curiosidade.
— Não é nada importante.
— Deus, o seu café. Peço desculpas, vou providenciar agora mesmo. — Ela sai
apressada e começa a preparar o café, enquanto confere o seu bloco de pedidos. Uma mulher
entra na confeitaria apressada, pegando um avental e colocando, enquanto cumprimenta a
Patrícia, visivelmente ofegante.
— Desculpa, o meu pai não estava bem.
— Por que veio, Julie? O movimento está tranquilo, fica com o Robert. — Observo
atentamente tudo à minha volta, ela para o que está fazendo e volta a sua atenção à funcionária.
— Você é um anjo, sabia? Não se preocupe Pati, a minha mãe voltou mais cedo e está
com ele. Obrigada. — A funcionária se explica e é impossível não ouvir a conversa delas pela
distância que estou do balcão.
— Tudo bem, se precisar de qualquer coisa me avisa.
— Pode deixar Pati, muito obrigada. Este café, é para qual mesa?
Julie serve meu café, e eu tomo enquanto observo a concentração e entusiasmo com que
a Patrícia confeita os bolos. Ela se desliga do mundo e faz tudo com atenção, se preocupando
com cada detalhe de algo que será destruído, com uma mordida.
— Quer algo para acompanhar o café, senhor? — A funcionária ou amiga da Patrícia
pelo nível de intimidade, fica por perto. Resolvo ir embora, já sei exatamente o que farei para
chamar a atenção da Patrícia no final do dia.
— Não, quero a conta, por favor. — Efetuo o pagamento e deixo uma generosa gorjeta.
Patrícia acena quando estou saindo e forço um sorriso em sua direção.
Encaro a rua onde a confeitaria Ricci está situada, avaliando a movimentação,
imaginando como será quando o meu hotel estiver finalizado. Ligo para o meu arquiteto e
solicito algumas alterações no projeto do hotel. A confeiteira, irritantemente simpática, me faz
desejar apressar as coisas para ir embora o mais rápido possível.
Retorno ao hotel para revisar meu projeto, identificando pequenos detalhes que desejo
alterar, enquanto avaliava a movimentação. Fico atento ao relógio, aguardando o horário de
fechamento da confeitaria para o encontro do “destino”, que planejei para esta noite. Embora eu
não acredite em destino, a pequena confeiteira cheia de sonhos, provavelmente ainda acredita em
contos de fadas. Serei o lobo em pele de cordeiro, mostrando a ela que o mundo é um lugar cruel,
onde os mais fortes sobrevivem.
Concluo as alterações do projeto e retorno a rua da confeitaria, mantendo uma certa
distância. A funcionária que chegou aparentemente atrasada, sai tão apressada, quanto entrou.
Patrícia desliga tudo com calma, gira a placa na porta, mudando de aberto para fechado e
confere tudo antes de sair. Ela está distraída com uma rosquinha de chocolate na boca, a bolsa
em uma mão e as chaves em outra. Me aproximo, assim que a pessoa que contratei para
surpreendê-la vira a esquina, fechando a blusa de frio e colocando um capuz preto na cabeça.
03
Patricia Ricci

bservo um homem alto, com uma postura séria, que nunca vi antes entrar na confeitaria.
O Ele escolhe uma mesa próxima ao balcão e é impossível não notar sua presença imponente
e seu olhar intenso. Encaro ele, pego um bloco de pedidos e caminho em sua direção.
Ele me encara com indiferença e foco no bloco de pedidos. No impulso faço uma
pergunta pessoal, me desculpo, mas observo que ele não se incomodou. Ele fala da arquitetura da
cidade e é impossível não suspirar, vendo através das janelas da confeitaria, como Galway é
bonita. Recordo do café e retorno apressada ao balcão após me desculpar.
Julie chega, pedindo desculpas, e eu a tranquilizo. Compreendo o quão difícil tem sido
para ela lidar com a situação de seu pai. Ela começa a atender, depois de um tempo, aceno para
o turista gentil, observando-o sair da confeitaria.
— Que sorriso foi esse? — Julie parece ter me pego no flagra.
— Sorriso? Que sorriso? Quer dizer o que dou a todos os clientes?
— Não! Quero dizer o que ainda não saiu dos seus lábios. Gostou do bonitão? —
Desfaço o sorriso, voltando ao trabalho, fingindo não entender.
— Que bonitão?
— O do cabelo perfeitamente alinhado de quem você acabou de se despedir com cara de
boba! — Ela sorri ao notar o meu rubor.
— Você é terrível, sabia?
— Só quero que uma de nós duas tenha uma vida! — Ela fala me olhando com um
sorriso cheio de esperança, como se o destino da humanidade dependesse de uma nós se
apaixonar.
— Que seja você então, estou ótima sozinha. — Afirmo, desviando o olhar.
— Não posso, mas você pode e vai. Meu pai precisa de mim, e não tenho tempo para
nada, mas você... — A interrompo.
— Eu tenho um negócio para cuidar, e já tive experiências românticas terríveis o
suficiente para uma vida toda.
— Ryan não conta, ele é um idiota. Mas o bonitão estava de olho em você e já passou da
hora de tentar conhecer alguém, merece ser feliz Pati.
Me distraio por um momento, relembrando os terríveis anos que namorei o Ryan, ele me
deixou com a autoestima péssima e me machucou. Respiro fundo, tentando afastar as memórias
que me invadem e volto a me concentrar nos bolos, Julie parece entender que não quero
conversar sobre o assunto.
Nunca contei a ninguém as coisas que ele me disse e também as coisas que me fez passar.
Quando entendi o que era um relacionamento tóxico e abusivo, coloquei um fim a nossa relação
e não voltei atrás.
O restante do dia é tranquilo, libero a Julie, que sai apressada e fecho a confeitaria
sozinha. Desligo tudo, giro a placa para “fechado”, pego a minha bolsa e volto para cozinha,
escutando minha barriga roncar. Recordo que não comi direito hoje, pego uma rosquinha,
observo ao redor mais uma vez, para garantir que tudo esteja em ordem, apago as luzes e mordo
a rosquinha antes de trancar a porta.
Assim que me viro de frente para rua, sou surpreendida com um homem encapuzado,
tentando roubar minha bolsa. Tudo ocorre rapidamente, reajo dando um soco de punho fechado
nele, técnica que meu pai me ensinou desde a infância. Ele pisa em falso na calçada, perde o
equilíbrio e cai para trás, ainda segurando a minha bolsa. Do nada, surge alguém que nem
percebi de onde veio, o ladrão se assusta, solta minha bolsa, levanta apressadamente e sai
correndo.
— Pega ele! — Grito para o desconhecido perseguir o ladrão. Ele me encara com
surpresa, pega minha bolsa do chão, enquanto eu me concentro na respiração, sentindo a
adrenalina diminuir.
— Ele te machucou? — Observo o ladrão sumir da minha vista frustrada.
— Não, mas não deveria tê-lo deixado fugir! — Encaro o homem e percebo que é o
cliente da confeitaria que esteve aqui mais cedo.
— Aiden, é um prazer. — Ele estende a mão, e eu cumprimento-o constrangida.
— Patrícia, é um prazer também, Aiden. Desculpe pelo grito.
— Está certa, deveria tê-lo impedido de fugir, só fiquei preocupado com você. Ele te
machucou?
— Não. — Observo-o encarar a minha mão e balanço-a sutilmente, tentando aliviar o
incômodo. — Não é nada demais, gelo resolve.
— Quer ir ao hospital?
— O que? Pela mão? Não precisa, obrigada. — Afirmo, respirando mais aliviada.
— Mora aqui perto?
— Literalmente muito perto, não se preocupe. — Tento tranquilizá-lo, vendo que parece
realmente preocupado.
— Se não se importar, posso te acompanhar, para caso o ladrão volte, já que o deixei
escapar.
— Nossa, você me ajudou, não fez nada errado. A caminhada é curta Aiden, mas posso te
mostrar Galway no caminho.
— Seria ótimo, já que não tenho um guia ainda. — Ele fala frustrado.
— Posso te mostrar a cidade. Se quiser, claro!
— Seria ótimo. — Observo seu desconforto, me arrependo na hora, mas como ele
concorda, fico sem saída.
— Tudo bem, amanhã é domingo e não vou abrir a confeitaria. Se estiver livre, podemos
nos encontrar.
— Por mim tudo bem, não tenho nenhum compromisso. — Mostro algumas coisas para o
Aiden no caminho. Ele parece interessado e presta atenção ao que falo.
— Chegamos, eu moro aqui. Obrigada. E sobre amanhã, podemos nos encontrar às oito
horas da manhã na porta da confeitaria?
— Por mim está ótimo, obrigado Patrícia.
Me despeço constrangida, não sei o que me deu para propor algo tão impulsivo. Entro
em casa, pego um pacote de ervilhas congeladas no congelador e coloco na mão. Fico pensando
nas palavras de Julie e em como fui impulsiva agora. Alívio o incomodo na mão, tomo um
analgesico e um banho rápido. Me visto e deito, pensando sobre o olhar intenso do Aiden.
04
James Lamberti

atrícia é uma daquelas mulheres que eu procuro manter distância, ela é irritantemente
P alegre, sorridente e vê o mundo de maneira totalmente oposta à realidade. Hoje, ela me
surpreendeu com um gancho de direita perfeito, agindo rapidamente em uma situação de
emergência e confesso que não esperava essa atitude dela.
Me aproximar, foi mais fácil do que imaginei, pois a pequena confeiteira não percebe a
maldade e muito menos consegue ler as pessoas. Volto ao hotel ainda pensando em como vou
finalizar essa questão da confeitaria.
Durmo tarde e acordo com os primeiros raios de sol invadindo o quarto. Me troco e
desço para correr pela cidade. Avisto Patrícia caminhando de longe, cumprimentando várias
pessoas no caminho. Observo ela ajudar um senhor a levar o lixo para rua, com um sorriso terno.
— Quem realmente é você, Patricia Ricci? — Me pergunto, tentando entender quem é a
mulher atrás dessa pose de boa moça.
Volto ao hotel, tomo banho, me visto, tomo café da manhã e sigo até a confeitaria a pé.
Não é longe, chego e a placa indica que está fechada, mas as luzes estão acesas. Bato na porta e a
Patrícia sai apressada da cozinha com açúcar de confeiteiro até nos cabelos. Ela me olha de cima
a baixo e passa as mãos alinhando os cabelos envergonhada.
— Bom dia, chegou cedo. — Ela tira rapidamente o avental e caminha na minha direção
limpando a roupa com as mãos.
— Sou sempre adiantado, oito são sete e meia, pra mim.
— Vou me lembrar nos próximos encontros... — Ela fica vermelha percebendo que falou
a palavra “encontro”. — Digo, o próximo dia que for te mostrar a cidade, se tiver um próximo
dia...
A interrompo percebendo como ela fica ainda mais constrangida se explicando.
— Eu entendi, e se não for problema e tiver outro dia livre, acredito que pode continuar
me mostrando Galway.
— Seria impossível te mostrar a cidade toda em um dia. Embora não seja grande, disse
que gosta da arquitetura e nesse caso tem muito para ver. — Ela fala empolgada.
— Ótimo. Podemos ir? — Indago, sentindo minha boca salivar com o cheiro bom que
invade a confeitaria.
— Estou terminando uma fornada de cupcake, pode esperar um pouquinho?
— Posso, sem problemas.
— Vem comigo. — Ela fecha a porta, caminha na minha frente e não posso negar que ela
tem um corpo lindo. Encaro o jeans apertado que ela usa destacando, suas coxas e a sua bunda
empinada, sentindo a minha respiração ficar mais densa.
Ela se abaixa para tirar os cupcakes do forno e afrouxo minha gravata. Seu jeito inocente
a deixa terrivelmente sensual. A observo colocar os bolinhos na bancada e emitir em seguida um
chiado baixo de dor, a verdade é que nada passa despercebido por mim.
— Se queimou? — Ele me olha, soprando o dedo e me aproximo tocando sua mão e
analisando a queimadura.
— Não foi nada de mais. — Sua voz soa como um sussurro, a pequena confeiteira é mais
corajosa e menos frágil do que aparenta.
— Melhor colocar debaixo da água corrente. — Coloco sua mão na pia com cuidado e
ela abre a torneira com a mão livre, me encarando com um sorriso tímido pela nossa
aproximação.
É impossível não me prender na imensidão dos seus olhos incrivelmente azuis. Sua pele
branca somada aos seus cabelos loiros a fazem parecer um anjo. Ela fica vermelha e desvia o
olhar.
— Acho que já está bom. Os cupcakes estão prontos e podemos ir.
— Posso provar um? — Não gosto de bolos e doces, mas o cheiro dos cupcakes está tão
bom, que faço uma pergunta inusitada até para mim.
— Claro. — Ela pega um, desenforma e serve em um prato. Seus olhos são como o de
uma criança em busca de aprovação, enquanto provo o cupcake.
— Está muito bom Patrícia. — Ela dá pulinhos de alegria e acabo sorrindo sem me dar
conta.
— Que bom que gostou! — Observo ela levar um bolinho à boca e deixar escapar um
tímido e baixo gemido. — Hum… É uma receita nova, acho que vai ser sucesso.
— Pensei que os confeiteiros não comiam seus próprios doces.
— Minha mãe diz que sou uma formiguinha com açúcar. Se não fosse a genética, não sei
o que seria de mim. Você gosta de doces?
— É estranho o que vou dizer agora, mas não. Não costumo comer nada doce.
— Que honra ter provado o meu cupcake e ter, principalmente, gostado. — Me
aproximo, ela prende a respiração e limpo com o polegar o canto da sua boca. — O.obrigada.
Patrícia agradece e se afasta, ela guarda os bolinhos desconcertada, evitando me olhar nos
olhos. Observo atentamente os seus movimentos e as suas expressões, é impossível negar a
tensão que existe entre nós dois a menor aproximação.
Sempre gostei desse instinto de caça que tenho, porque gosto do jogo, principalmente
quando há desafios. Minha sina é depois, depois que ganho o jogo, a adrenalina passa e
simplesmente perco o interesse.
Quanto mais difícil é a conquista, mais trabalho tenho e maior é a decepção quando
consigo. Não beijo e não me importo com o prazer de nenhuma das minhas parceiras, é sexo e
depois, nada mais.
05
Patricia Ricci

iden se aproxima e seu polegar desliza pelo canto da minha boca. Seu toque queima na
A minha pele assim como o seu olhar intenso. Nunca senti nada assim na vida, é desejo, mas
um desejo que me faz prender a respiração.
Me afasto e guardo os cupcakes apressada e desajeitada. Não olho o Aiden, não
conseguiria encará-lo nesse momento que sinto a minha face queimar. Nenhum homem me
deixou dessa forma e tento entender o efeito que ele tem sobre mim, me recusando a acreditar
que posso ter qualquer interesse em um completo desconhecido.
— Tudo pronto. — Caminho na frente e fecho a confeitaria respirando fundo, com
pensamentos confusos.
— Está tudo bem? — Ele indaga, olhando para mim como se pudesse ver a resposta nos
meus olhos.
Ele é um homem intenso, de um jeito que nunca vi. Isso me intriga e me instiga a querer
desvendar mais dele. Queria ler seus pensamentos, entender como alguém que te olha como se
pudesse ler a sua alma pensa.
— Está tudo bem, só fiquei intrigada com você.
— Comigo? — Ele se faz de desentendido, mas sei que me entendeu.
— É um homem misterioso, Aiden, observa tudo, pergunta muito e parece ler as pessoas.
A questão é que não parece ser alguém que fala muito sobre você mesmo.
Posso ver a surpresa nos olhos de Aiden. Estava analisando e vi o quanto foi difícil para
ele falar algo simples, como, por exemplo, que não gosta de doces. É como se não tivesse o
hábito de conversar e isso é algo que é fácil para mim e não passou despercebido.
— Está certa, não falo muito e estou me esforçando para conversar com você.
— Por quê?
— É diferente, Patrícia.
— Isso é ruim?
— Não sei te dizer ainda. Por certo é diferente de todas as mulheres que já conheci, algo
no seu jeito leve, me deixa mais a vontade do que gostaria. — Acabo deixando um sorriso bobo
escapar pelos meus lábios e desvio o olhar para disfarçar.
— Espero que descubra antes de ir embora, forasteiro. — Falo com um sorriso travesso
tentando disfarçar como a resposta do Aiden me deixou.
— Forasteiro?
— Sim! Embora a cidade pareça pacata e tranquila, temos bons bares, pubs, galerias de
arte, museu e muito mais. Espero ter tempo para te mostrar tudo. Agora, está pronto para uma
viagem de duas horas?
— Viagem? — Ele não esconde a surpresa na sua expressão.
— Disse que gosta de arquitetura, então o melhor lugar para começarmos é Cliffs of
Moher.
— Vou chamar o meu motorista.
— Não precisa, eu vou dirigir. — Repondo animada.
— Sabe dirigir?
— A baby, sim! — Falo me aproximando do meu carro.
— O que é baby? — Queria filmar a cara dele olhando para a baby.
— O quê? É um Renault 4L, um clássico Aidan!
— Não vou entrar nisso! — Ele afirma com convicção, me fazendo franzir a testa.
— Por quê? — Olho para a baby e encaro o Aidan séria.
— Não pode estar falando sério.
— Tirei o dia para te levar a um passeio turístico, não pode ser mais gentil? — Ele hesita,
mas tenta abrir a porta da baby, a maçaneta fica na mão dele e mordo os lábios, segurando o riso.
— Espera um instante.
Entro no carro e abro a porta do passageiro por dentro, Aiden entra contrariado e se
senta aparentemente irritado. Ele me entrega a maçaneta com a testa levemente franzida e
ofereço um sorriso a ele.
Seguimos viagem, observo como ele fica desconfortável no carro,. Coloco uma música
para distrair, mas ele desliga o som.
— Não gosta de música?
— Quero te conhecer melhor.
— O que quer saber? — Indago sem tirar a atenção da estrada. É inverno na Irlanda e
com o tempo mudando tão rápido, dirijo com cuidado.
— Por que confeiteira?
— Desde que me entendo por gente, sou ajudante da minha mãe na cozinha. Ela é a
melhor confeiteira que conheço e herdou o talento da minha avó. Além disso, amo cozinhar e
confeitar.
— Então, a confeitaria é algo de família?
— Sim, minha avó era brasileira, veio a passeio a Dublin e nunca mais foi embora. Ela
começou a confeitaria e passou para minha mãe, que passou para mim. E você, trabalha com o
quê?
— Sou um CEO.
— CEO é um diretor-executivo, certo?
— Isso mesmo.
— Gosta do que faz?
— Sim.
— É um homem de poucas palavras.
— Ficaria surpresa com quantas vezes já ouvi essa frase.
— Acredite, poucas coisas me surpreendem. — Ele muda de assunto sempre que faço
uma pergunta pessoal. Suas respostas são curtas e objetivas, enquanto as minhas são longas.
Ainda assim, ele parece prestar atenção a tudo que falo, dando importância a todas as
respostas sem exceção. São duas horas de viagem que ao seu lado se tornaram estranhamente
agradáveis.
Chegamos a Cliffs of Moher, estaciono o carro e caminhamos em direção ao conjunto de
penhascos que chegam a 200 metros de altura e se estendem por oito quilômetros pela costa
atlântica.
O som das ondas batendo contra as falésias através das encostas é único. Respiro o ar
fresco e salgado, misturado a brisa, observando as gaivotas circulando pelos penhascos.
— É de tirar o fôlego, não é? — Seus olhos varrem todas as falésias com atenção. Ele não
mentiu quando disse que a arquitetura era o que o atraiu, posso ver como ele está fascinado
apreciando a vastidão do oceano que se estende até o horizonte.
Estamos no inverno na Irlanda e o vento frio chega sem aviso nessa época do ano.
Enquanto caminhamos em silêncio, apenas contemplando a vista espetacular, sinto o vento
gelado movimentar de leve os meus cabelos e arrepiar cada pelo do meu corpo. Me encolho e
sou inesperadamente envolvida com o sobretudo do Aiden, me confirmando que nada passa
despercebido por ele.
06
James Lamberti

atrícia evita me olhar quando saímos da confeitaria, conversamos no caminho e é


P surpreendente como é fácil falar com ela. Durante a nossa conversa, ela menciona uma
viagem e meu lado mal-humorado recém adormecido desperta.
Pisco rapidamente, tentando entender se é real a proposta dela de entrar em uma caixa de
fósforo azul. O pior é que ela está falando sério e realmente espera que entre nessa lata velha e
permaneça nela por duas horas.
Descubro que ela parece ter um poder sobre mim que já odeio. Seu semblante triste me
faz tomar a decisão insana de entrar no seu carro, na verdade, não sei se devo chamar essa coisa
de carro. Tento abrir a porta e não me surpreende a maçaneta ficar na minha mão. Surpreso
mesmo, vou ficar se isso funcionar.
O seu sorriso travesso me convence a embarcar nessa loucura com ela. Entro no carro,
me ajeito como posso e ela coloca uma música. O que posso dizer é que aí, é demais. Desligo a
música, alegando que prefiro conversar e faço algumas perguntas para disfarçar.
Suas respostas são sempre longas e detalhadas, enquanto as minhas são específicas e
curtas. Chegamos ao Cliffs of Moher, encaro as falésias surpreso. A vista é surreal. Patrícia diz
que é de tirar o fôlego e concordo. Observo com atenção tudo à nossa volta.
O vento frio chega sem aviso e percebo a Patrícia se encolher. Tiro o meu sobretudo e o
coloco sobre seus ombros. Ela suspira aliviada, enquanto eu a envolvo em meus braços.
— Esfriou, obrigada. — Ela fala me encarando com um sorriso lindo.
— É o mínimo, por ter me trazido até aqui. — Afirmo, continuando a caminhar.
Eu não a solto. Seu perfume de flores, levemente adocicado me embriaga e fico preso
nos seus lábios rosados. Voltamos ao carro depois de um tempo e seguro as mãos dela entre as
minhas tentando aquecê-las.
— Deveria ter me prevenido, nessa época do ano o frio chega sem aviso. — Ela fala,
segura as minhas mãos e assopra com carinho. — Como suas mãos estão frias.
— Não se preocupe, gosto do frio.
— Isso soou cruel, mas cruel consigo mesmo. — Ela fala me olhando preocupada.
— Por quê? — Indago curioso, como o frio pode ser cruel?
— Porque o frio dói. Suas mãos estão tão geladas e ainda assim, parece estar acostumado.
— Sinto seus lábios macios beijando com cuidado cada uma das minhas mãos e por um instante
me pergunto o sabor deles.
— Só não sinto como se o frio fosse uma tortura. Mas, sendo honesto, não sinto dor e
muito menos gosto de sentir dor.
— Ah, que bom — ela fala como se realmente estivesse aliviada.
O carro leva um tempo para aquecer e seguimos viagem. A volta é tão tranquila quanto
foi a ida, Patrícia é uma ótima motorista e a lata velha parece se entender bem com ela. Ela me
deixa no hotel e tenta me devolver o meu sobretudo.
— Fica com ele, está frio.
— Devolvo depois, então. — Me despeço e entro no hotel irritado comigo mesmo. Não
avancei em nada com a questão da confeitaria e me recuso a ficar nesse lugar mais um dia que
não seja absolutamente necessário.
Tomo um banho rápido, me visto e me deito. O meu telefone toca, e ignoro mais uma
chamada do Liam e ele continua insistindo. Desligo o meu telefone e, apesar da placa de “não
incomodar” que coloquei ao entrar, ouço batidas na porta do quarto de hotel.
Me levanto e vou até a porta irritado. Abro-a com o semblante sério, vendo o Liam
escorado na porta com as mãos nos bolsos e um olhar preocupado. Não me surpreende vê-lo
aqui.
— Se tivesse me atendido, eu estaria deitado na minha cama agora. — Liam fala, deixo a
porta aberta e vou em direção à poltrona.
— O que quer?
— Conversar.
— Pode voltar de onde veio. — Afirmo em tom firme.
— Precisa mudar de ideia James. Não sou a droga de um amigo que vai te ver fazer uma
merda sem pelo menos tentar te alertar antes. — Ele fala irritado.
— Sendo assim, já me alertou. Vou continuar com o plano e já pode ir embora!
— Não é possível que esteja se ouvindo. Até onde está disposto a ir para conseguir a
confeitaria? — Pergunta com a voz alguns tons acima.
Me sento na poltrona e sirvo uma dose generosa de whisky. Liam é um bom amigo,
daqueles que te resgata do abismo quando você não espera mais nada de ninguém. Entendo a
preocupação dele, mas vou manter o meu plano.
— Sabe que não vou mudar de ideia. Não entendo por que veio até Galway.
— Porque sou o seu melhor amigo e estou preocupado de verdade que cometa um erro. O
vi chegar ao hotel com a Patrícia. O James que conheço jamais entraria em um carro como
aquele. — Sua voz soa com deboche e ele retira o copo de bebida da minha mão, me olhando
como se buscasse uma resposta, antes de continuar. — Ou está realmente decidido a destruir
aquela mulher, tirando que é mais importante para ela ou algo mudou desde que a conheceu.
— Nada mudou e quero a confeitaria a qualquer custo!
— Vai se arrepender James e dessa vez, farei questão de te lembrar que eu te avisei.
Liam, toma toda minha bebida e sai do quarto batendo a porta. Me pergunto o porquê ele
está tão interessado em proteger a Patrícia. Será que ele se interessou por ela? Me deito irritado e
demoro a pegar no sono criando várias teorias.
07
Patricia Ricci

Sigo para casa suspirando, há muito tempo não saio para apreciar as belezas de Galway e
mesmo ficando desconfortável em certos momentos, foi simplesmente incrível. A forma intensa
que ele me olhou, um simples toque e até mesmo seu gesto em me aquecer, me deixou muito
confusa e mexeu comigo, bagunçando a minha cabeça.
Estaciono o carro na frente da minha casa e entro rapidamente. Me pego envolvendo os
meus braços no meu próprio corpo, como se sentisse aqueles braços fortes me envolvendo e me
embriagando com aquele cheiro amadeirado maravilhoso.
— Que homem cheiroso — murmuro me jogando na cama envolvida em seu sobretudo.
Conhecer ele está sendo um conflito de emoções. Me sento na cama com milhões de
pensamentos bombardeando minha mente. Foram meses de terapia, trabalhando no estrago que
Ryan fez na minha cabeça. Mesmo assim, escuto ele dizendo que ninguém nunca seria capaz de
amar, que era apenas um brinquedo quebrado e sem valor.
Suspiro com força, balançando a cabeça para espantar esses pensamentos que luto para
esquecer, ainda acariciando o sobretudo do Aidan, eu o tiro colocando-o em um cabide arrumado
no guarda-roupa.
— Não se iluda com um turista, não seja boba. Em breve, esse cheiro maravilhoso vai se
dissipar no ar, só restando as lembranças de breves momentos bons. — Murmuro para mim,
tentando manter os pés no chão.
Posso ter me fortalecido ao longo dos anos, mas não me sinto pronta para sofrer
novamente. Me deito na minha cama, abraço um travesseiro e após algum tempo consigo pegar
no sono com dificuldade.
Acordo assustada, sendo envolvida em braços fortes. O cheiro que ainda me causa
náuseas invade meu quarto e tento me soltar do Ryan.
— Me solta, Ryan!
— Calma meu amor, estou aqui. Está tudo bem!
— Me solta... — Minha voz ecoa embargada, e sinto meus olhos queimarem. Não
consigo me libertar dos braços do Ryan e a sua risada diabólica ecoa pelo meu quarto.
— Você é minha Patrícia e nunca deixará de ser o meu brinquedo quebrado favorito!
Grito, me sento ofegante e abro os olhos muito assustada. Levo um tempo para entender
que o dia está amanhecendo e que foi um pesadelo. Foi tão real, que ainda posso ouvir a voz do
Ryan, ecoando na minha cabeça.
Me levanto, tiro a roupa e entro debaixo do chuveiro tentando aliviar como me sinto com
esse pesadelo. Lavo o rosto e o cabelo, saio do banho mais tranquila e me recuso a deixar esse
pesadelo me abater.
Me visto, faço a minha caminhada matinal e volto para casa. Tomo outro banho, porque
suei na caminhada. Após o banho escolhi uma calça jeans escura, uma camiseta preta e uma
sapatilha para usar hoje. Desço e tomo café da manhã na cozinha tentando me animar. Escuto
batidas sutis na porta e caminho até ela.
Ouço a voz suave da minha mãe, abro a porta e sou envolvida nos seus braços com
ternura. Era desse abraço que precisava nesse momento. Ela segura meu rosto e me olha
preocupada.
— Que carinha é essa bebê? — Ela me conhece como ninguém e tento mudar o foco.
— Bebê, dona Lisa? — Falo levando as mãos à cintura.
— Será sempre a minha bebê, meu amor. O que aconteceu? — Sua voz não esconde sua
preocupação.
— Tive um pesadelo, mas passou. — Falo suspirando, ela me conhece e sabe que estou
sendo sincera.
— Ah, quer falar sobre o pesadelo?
— Não mãe, entra. — Minha mãe entra comigo e nos sentamos no sofá da sala.
— Como foi o seu encontro? — Encaro a minha mãe sem acreditar na pergunta dela.
— Encontro?
— Sim, estão todos comentando do bonitão. — Bonitão foi como a Julie chamou o
Aidan.
— Julie?
— Ah meu bebê, gostamos tanto de saber que está se abrindo para o amor outra vez, não
brigue com a Julie. Sabe que estamos sonhando com os nossos netos.
— Por Deus mãe! Não foi um encontro, não tenho nada com Aidan e nada de bebês!
— Não? — Ela pergunta frustrada.
— Mãe!
— Comprei ontem lã branca para tricotar os sapatinhos, Julie estava tão convicta. —
Arregalo os olhos, totalmente surpresa.
— Mãe, eu não quero namorar e o Aidan é só um turista que logo vai embora. Não foi
um encontro.
— Sua avó também era só uma turista e nunca mais foi embora. Dê uma chance a você e
só deixe acontecer naturalmente, sem pensar demais no futuro.
— Enquanto tricota sapatinhos para um futuro que não devo pensar?
— Minha idade me permite essas travessuras. — Acabo sorrindo.
— Não sei o que faço com vocês. Mas agora tenho que ir mãezinha.
— Claro, meu bebê, só queria passar te desejar um ótimo dia antes que saísse para o
trabalho. — Um sorriso brota em meus lábios.
— Precisava desse bom dia mais do que imagina. — Falo e abraço apertado à minha mãe.
Saímos da minha casa, nos despedimos e sigo para a confeitaria com o sobretudo do
Aidan na mão. Caminho distraída, refletindo e esbarro em um homem.
— Desculpa! — Encaro o homem, forte, com os cabelos castanhos claros, da mesma cor
dos seus olhos. Ele abre um pequeno sorriso.
— Imagina, eu que me desculpo. — Sua voz é grossa, mas o tom é amigável.
— Estava distraída. — Me justifico envergonhada, realmente não prestei atenção.
— Também estava, a cidade é linda e confesso que não estava olhando para onde deveria.
— Galway é realmente linda, nisso nós pensamos igual.
— Me chamo Liam, como se chama? — Liam estende a mão e o comprimento.
— Me chamo Patrícia, é um prazer Liam. Preciso ir.
— Claro, o prazer foi meu. — Ele afirma descendo o olhar até o sobretudo do Aidan na
minha mão.
Liam dá um passo para o lado, forço um sorriso e vou até a confeitaria. Entro, ligo as
luzes cantarolando e ajeito as mesas. Sigo para a cozinha, passo as mãos pelo sobretudo do
James, inalo seu cheiro e o guardo com cuidado. Começo a produção dos bolos animada.
08
James Lamberti

esperto cedo, tomo café da manhã no quarto e resolvo as questões pendentes da empresa,
D enquanto aguardo uma reunião online. Após um banho, me troco e inicio a
videoconferência.
Concluo um projeto de um hotel à beira-mar, satisfeito com o resultado. Terminadas as
tarefas, deixo o hotel e sigo até a confeitaria a pé. Ao entrar na loja, não avisto Patrícia. Me
sento e Julie vem me atender.
— Ela está na cozinha. — Ela fala, me encarando de maneira séria.
— Posso falar com ela?
— Poder, até pode, mas antes quero que saiba de uma coisa. — A interrompo.
— Seja direta, Julie.
— Se magoar ela, eu te mato! — Ela fala em tom firme.
— Recado dado. — Me levanto sob o olhar atento de Julie, ela é dessas amigas
intrometidas que não medem palavras. Não me importo, meu objetivo é outro e não tenho
interesse em fazer amizade.
Ela aponta para frente e cruza os braços, mantendo o olhar fixo nos meus. Caminho até a
cozinha e ouço a voz da Patrícia, que canta uma música desconhecida, sua voz é doce e suave
preenchendo o ambiente.
A canção segue baixo ao fundo, provavelmente reproduzida em seu celular. Escoro na
parede da cozinha, esperando que ela termine de cantar, para ouvi-la por mais um momento.
Patricia se movimenta lentamente seguindo o ritmo da música, enquanto observa o bolo recém
decorado. É uma mulher perfeccionista e posso ver isso pela forma que se preocupa com os
detalhes.
Ela se afasta e junta as mãos suspirando, como se estivesse orgulhosa do próprio
trabalho. Assim que ela se vira em minha direção, sua expressão muda completamente e posso
ver como ela se assustou, levando a mão ao peito.
— Meu Deus, que susto! — Ela murmura baixo.
— Desculpa.
— Tudo bem, está aí há muito tempo? — É possível ver como ela está constrangida pela
forma envergonhada que me olha.
— Te ouvi cantar. — Afirmo e ela cora.
— Minha nossa. — Observo ela levar as mãos para trás do corpo envergonhada.
— Sua voz é linda Patrícia. — Ela sorri e me aproximo sem ter certeza do que fazer.
— Obrigada! O que faz aqui Aidan?
— Vim te ver e a Julie gentilmente me deixou vir até a cozinha. — Falo com deboche.
— Gentilmente? — Ela franze levemente as sobrancelhas.
— Conhece bem a sua amiga? — Indago de modo descontraído.
— Ela é como uma irmã e eu a conheço o suficiente para saber que esse “gentilmente” é
uma forma educada de falar. Ela te ameaçou, não foi?
— Ela sabe desaparecer com um corpo? — Patrícia morde os lábios, tentando segurar o
riso.
— Prometi que se ela matasse alguém, ajudaria a arrastar o corpo.
— Nesse caso é melhor não te magoar.
— Desculpe por isso. — Ela responde, corrigindo a postura e retirando a touca da cabeça.
— Não se preocupe. A propósito, de quem é a música que você estava cantando?
— Chantal Kreviazuk, é “Feel Like Home”.
— Combina perfeitamente com a sua voz. — Afirmo, olhando em seus olhos.
— É da trilha sonora do filme “Como Perder Um Homem em 10 Dias”. Já assistiu?
— Não assisto filmes.
— Ah, esse é bom. Talvez goste, é antigo, uma comédia romântica. — Observo
atentamente ela umedecer os lábios.
— Gosta de comédias românticas? — Pergunto por curiosidade, mesmo sem nunca ter
assistido um filme antes.
— Gosto dos mais antigos, os filmes eram tão bons. — Ela fala e posso ver como gosta,
pela empolgação. É assustadoramente fácil falar sobre qualquer assunto com ela, mas fico
perdido sobre como prosseguir com a conversa.
— Não sou muito de conversar, então às vezes fico sem saber sobre o que falar.
— Em vez de só falar, que tal aprender a fazer cupcake?
— Sou um desastre na cozinha, prefiro contratos e projetos.
— Ah, Aidan, vamos lá, é só um cupcake. — Ela se empolga com a possibilidade de eu
aceitar sua proposta.
— Tudo bem! — concordo sem acreditar nas malditas palavras que saem da minha boca.
— Sério? — Posso ver um brilho surgindo nos seus olhos, enquanto ela abre um sorriso.
— Inacreditavelmente, sim. — Ela coloca a touca em si e pega uma igual para mim.
— Posso? — Pergunta se aproximando.
— Claro. — Ela coloca a touca no meu cabelo com cuidado, ficando a poucos
centímetros da minha boca, nas pontas dos pés. Sinto sua respiração no meu rosto e observo seus
lábios. Ela se afasta e pega um avental rosa para mim.
— Só tem rosa, se importa?
— Não. — Pego o avental e coloco me sentindo deslocado na cozinha.
— Primeiro vamos separar os ingredientes. — Ela pega três ovos, essência de baunilha,
farinha de trigo, açúcar, leite e fermento. Vou lendo os nomes para me familiarizar com tudo.
— E agora? — Pergunto sem acreditar no que estou prestes a fazer.
— Vamos separar os ovos, das claras.
— O quê? — Indago confuso.
— Vou te mostrar. — Patrícia quebra um ovo e joga de um lado para o outro na casca,
deixando apenas a parte amarela na casca. — Quer tentar?
— De nenhuma forma isso daria certo.
— Tenta... — Encaro ela, respiro fundo e pego dois ovos, bato um no outro tentando
imitar o que ela fez e quebro os dois fazendo com que até as cascas caiam na tigela.
Ela dá um sorriso travesso, descarta os ovos da tigela, coloca a tigela novamente na
bancada e para atrás de mim, segurando as minhas mãos. Pegamos mais dois ovos e ela me guia,
inacreditavelmente quebro um dos ovos com ela guiando as minhas mãos.
— Não é força, é jeito. — Sua voz é calma.
— Definitivamente, não levo jeito para fazer cupcakes. — Ela termina de separar as
claras da gema e vai me pedindo os ingredientes, vou descobrindo o que é cada coisa e ajudo ela
como consigo.
Descobri que sou terrível na cozinha, mas estar aqui me fez pensar em uma coisa. A
cozinha é extremamente limpa e duvido que não passe em uma inspeção. No entanto, posso dar
um jeito para não passar por outra razão, observo a fiação antiga e a falta de manutenção chama a
minha atenção.
09
Patricia Ricci

idan se distrai por um instante, parece distante e pensativo. Chamo sua atenção para
A colocar os cupcakes nas formas e ele me encara com um olhar carregado de culpa, me
deixando intrigada.
— Está tudo bem? — Questiono, tentando entender o que se passa.
— Está tudo ótimo. Como faz para colocar na forma? — Seu cenho franzido revelava
uma mistura de curiosidade e desaprovação, como se ele estivesse tentando decifrar um enigma.
Pego um medidor segurando o riso e explico como untar as formas. Ele realmente não
leva jeito na cozinha e me tira boas risadas.
— E agora? — Ele me olha preocupado, como se antecipasse o que vem a seguir.
— Faremos mais cupcakes, agora de chocolate.
— Não! — Ele fala em tom firme.
— Sim! — Afirmo com um largo sorriso, tirando um suspiro pesado dele. — Agora vai
ser mais fácil.
— Por que não consigo acreditar em você? — Seu tom é mais descontraído.
— Não sei responder a essa pergunta, afinal sou sempre muito sincera, pois não gosto de
mentiras. — Ele me encara como se tivesse algo para me dizer e volta sua atenção a bancada.
— Fiz uma bagunça aqui.
— Você fez. — Afirmo, sorrindo. Pego um pano e jogo para o Aidan que pega no ar, ele
é bom.
Limpamos juntos a bancada, esbarro no ombro dele de propósito e iniciamos a produção
dos cupcakes de chocolate. Ele não resiste e entra na brincadeira, jogando farinha no meu
cabelo. Pego um punhado de farinha e tento revidar, mas sou péssima de mira e não o acerto.
Caio na gargalhada quando ele joga um punhado de farinha em meu rosto. Ao me
aproximar para revidar, sou imobilizada com as mãos para trás. Ficando face à face com ele.
Nossas respirações se misturam e meus olhos encontram os seus lábios.
Ele se aproxima, deixo meus lábios entreabertos, tentando dizer algo, ele espera, mas
não sou capaz de impedi-lo, no fundo, desejo esse beijo. Me aproximo um pouco mais e ele
avança, fecho os olhos e sinto os seus lábios macios tocarem os meus.
— Minha nossa! — Me afasto bruscamente, ouvindo a voz da Julie ecoar na cozinha. —
Desculpa, e.eu... Enfim, só continuem. — Ela fala e sai apressada. Encaro Aidan com muita
vergonha.
— Não sei o que dizer... — Minha voz soa baixo, estou envergonhada.
— Queria o beijo? — Aidan pergunta e mordo os lábios.
— Sim, eu... — Ele se aproxima, passa a mão pela minha cintura e cola nossos corpos
novamente, me fazendo estremecer.
Não tenho tempo de falar ou pensar, sua boca toca a minha, enquanto sua mão desliza do
meu pescoço até a nuca, adentrando os meus cabelos. Sua língua invade o interior da minha
boca, dando voltas deliciosas, e o meu corpo fica febril com sua intensidade.
Ele segura firme meu cabelo, aproximando nossos corpos, entramos em um ritmo
perfeito, lutando para respirar. Ao me afastar, ofegante, não abro os olhos, ainda sentindo o gosto
delicioso dos lábios dele.
Quando finalmente abro os olhos, Aidan me encara com uma expressão de
arrependimento.
— Vai dizer que foi um erro?
Ele se afasta em silêncio, abre a boca, mas as palavras não saem. Não me movo, não
entendo como um beijo tão bom pode gerar qualquer arrependimento.
— Sei que vai embora em breve. Entendo se estiver com receio de me magoar, mas não
vai. Estou ciente que é um turista e foi apenas um beijo, Aidan.
— Essa é e também não é a questão Patricia. Não entenderia, porque nem eu estou
entendendo.
— É comprometido Aidan? — Fico confusa e pergunto preocupada.
— Não. — Respiro aliviada.
— Podemos esquecer esse beijo. — Ele me olha como se não acreditasse nas minhas
palavras, me deixando ainda mais confusa.
— Não podemos! — Ele afirma me envolvendo em seus braços outra vez, me beijando
com urgência.
Dessa vez seu beijo é mais urgente, sem delicadeza e carregado de desejo. Suas mãos
percorrem meu corpo de forma firme. Mesmo confusa com a reação dele, não consigo ser
racional, presa em seus braços fortes e me entrego a tudo. Ele desperta cada parte do meu corpo e
rouba o ar dos meus pulmões.
Ao me afastar um pouco, luto para respirar, totalmente desnorteada. Posso ver o desejo
queimando nos olhos de Aidan. Ele desliza o polegar pelos meus lábios e se afasta, me deixando
com uma sensação de vazio.
— Está me deixando muito confusa.
— Está tudo errado! — Ele afirma, balançando sutilmente a cabeça em sinal de negação.
— Patrícia, a senhora Amelie veio buscar o bolo, desculpe interromper. — Julie entra na
cozinha e respiro fundo, tentando me recompor.
— Não interrompe, estava de saída. — Encaro Aidan sem acreditar nas suas palavras.
— De saída? — Pergunto, vendo-o tirar a touca.
— Conversamos depois.
— Aidan... — Falo vendo-o tirar o avental. Julie chama a minha atenção para o bolo e
respiro fundo.
— Conversamos depois, tudo bem? — Ele fala e apenas confirmo com a cabeça. O vejo
sair e volto minha atenção para o bolo.
Pego o bolo e Julie me ajuda a levá-lo até o balcão. Entrego a Amelie, que elogia sem
parar, mas não consigo prestar atenção. Agradeço, me despeço e volto a cozinha frustrada, ainda
desnorteada com tudo que aconteceu aqui com o Aidan.
10
James Lambertti

eixo a confeitaria, irritado comigo mesmo. A cada passo que me afasto da Patrícia, reflito
D sobre cada palavra dita, mas especialmente sobre o momento em que a segurei em meus
braços e, sem pensar em nada, a beijei. Questiono minha própria capacidade de lidar com
essa situação. Sinto que tudo saiu do meu controle.
Apresso o passo, enquanto as primeiras gotas de chuva começam a cair. Galway é
imprevisível quando se trata do clima nessa época do ano e lamento não ter vindo com meu
motorista.
As primeiras gotas leves e espaçadas da chuva tocam o meu rosto, trazendo uma sensação
refrescante que nunca havia sentido. Um banho de chuva não é tão desagradável como
imaginava. Ao chegar ao hotel, entrei no meu quarto e me servi uma dose generosa de whisky. O
aroma penetrante preenche o ambiente e cada gole parece ser uma busca desesperada por
respostas.
Enquanto a bebida desce pela garganta, observo atentamente cada detalhe do quarto
sentindo o gosto amargo. O quarto, iluminado por uma luz suave, era o isolamento que eu
precisava nesse momento para retomar ao meu plano inicial, esquecendo qualquer que fosse o
sentimento que tomou conta de mim ao ter a Patrícia em meus braços.
— Não posso me desviar do meu plano inicial. Foco James Lambertti! — Murmuro para
mim mesmo.
Meu telefone toca, o som ecoa pelo quarto e me apresso em levantar da cadeira, olhando
a tela do celular, vendo o nome do meu pai. Atendo sem qualquer ânimo, ouvindo gritar que
perdi a minha capacidade de resolver os problemas.
Afasto o telefone do ouvido e o deixo gritar, assim que ele para de falar, explico que
ainda não encontrei uma forma legal de comprar a confeitaria. Falo sobre as minhas impressões
do lugar e das mudanças que fiz no projeto.
Desligo o telefone, encarando o relatório financeiro dos pais da Patrícia. Eles possuem
uma dívida significativa, que posso comprar e obrigá-los a pagar. Aciono uma de minhas
empresas e mando os advogados resolverem tudo o mais rápido possível.
Pressionar as pontas dos dedos nas têmporas, irritado, sentindo minha cabeça latejar.
Sou alertado sobre uma reunião em New York que não posso ignorar e solicito a Mirtes
que prepare tudo para viagem. Após um banho eu vou até a confeitaria encerrar a conversa com a
Patrícia e pôr um fim ao que jamais deveria ter começado. A observo à distância, seus cabelos
loiros se movendo suavemente com o vento frio, enquanto ela tenta, de maneira desajeitada,
trancar a porta da confeitaria com o meu sobretudo dobrado em seu antebraço.
— Precisa de ajuda? — Ela se vira na minha direção, com um sorriso doce.
— Sim, por favor. Obrigada, Aidan. — Tranco a porta e entrego as chaves em suas mãos.
Ela me entrega meu sobretudo e fecha o seu casaco.
— Posso acompanhá-la até em casa? — Ela confirma com a cabeça, é visível como a
deixei confusa.
— O que está realmente acontecendo, Aidan? — Sua pergunta soa baixa, quase
inaudível.
Procuro as palavras certas, enquanto caminhamos lado a lado pelas ruas de
paralelepípedos, ainda molhadas pela chuva. Paro em frente à casa dela e a encaro.
— Filha! — Uma senhora, baixa, com cabelos loiros, incrivelmente parecida com a
Patrícia, se aproxima. Não há dúvidas que é a sua mãe, o sorriso e o olhar doce são exatamente
iguais aos da filha.
— Mãe, aconteceu alguma coisa? — Patrícia pergunta preocupada.
— Seu pai está tentando trocar uma torneira, mas inundou a cozinha. Vim ver se tem
algumas ferramentas.
— Tenho sim, mãe. Vou levar lá. Esse é o Aidan, um amigo. — Ela gagueja ao
mencionar a palavra “amigo”, deixando sua mãe assustadoramente animada.
— Não quero atrapalhar, mas se o seu “amigo” puder ajudar o seu pai, agradeço. — Ela
volta sua atenção para mim. — Sou a Lisa.
— É um prazer, Lisa. Temo não poder ajudar, não saberia por onde começar. — A mãe
da Lisa me direciona um sorriso, se aproxima e toca o meu rosto com ternura.
— A companhia já basta, meu filho. — As palavras “meu filho” saíram com tanto
carinho que me apresso em me afastar da Lisa.
Patrícia parece perceber o quanto toda essa demonstração de afeto me deixou
desconfortável. Ela se despede da mãe, que me envolve de forma calma e suave em seus braços,
me pegando de surpresa e me deixando sem reação.
Sinto suas mãos dando voltas suaves em círculos no meio das minhas costas. O abraço
não dura muito, mas a sensação não é familiar e me transporta diretamente para minha infância.
Deveria ter quatro ou cinco anos quando caí da escada, me assustei e tentei abraçar a minha mãe,
ela me repreendeu, porque não queria amassar o vestido. Volto a atenção a Patrícia e a mãe, me
despedindo sem dar maiores explicações, só preciso sair daqui o quanto antes.
— Aidan... — Patrícia se afasta da mãe e se aproxima, sem entender a minha reação.
— Tenho uma reunião de trabalho. Quando retornar, conversamos. — Ela concorda, não
pede nenhuma explicação e se despede gentilmente.
Inspiro profundamente, buscando entender que merda está acontecendo comigo. Ao
chegar à entrada do hotel, encontro meu motorista aguardando. Recolho minhas malas e vou
direto para a pista de pouso. A decisão de passar alguns dias em New York será suficiente para
colocar minha cabeça no lugar.
11
Patricia Ricci

idan sai rapidamente me deixando preocupada, mas deixo ele ir, sem fazer perguntas.
A Auxílio os meus pais, sem conseguir prestar atenção em muitas coisas. Meu pai fez uma
bagunça e precisei chamar um vizinho para nos ajudar.
— Está distraída meu bebê. — Minha mãe me tira dos meus pensamentos e percebo que
estava mexendo na xícara vazia de café.
— Ah mãe, estou preocupada com o Aidan, não achou estranha a maneira como ele
reagiu ao abraço? — Pergunto tentando entender se apenas eu observei como ele mudou a
expressão depois que a minha mãe o abraçou.
— Será que o assustei? Oh, meu Deus, não era minha intenção! — Ela exclama,
visivelmente preocupada.
— Não acredito que ele se assuste facilmente. Parecia mais que ele não soube reagir
diante de um abraço. — Explico, colocando café na xícara, suspirando frustrada por não entender
o que aconteceu.
— Minha filha, você está preocupada, eu entendo. Mas não pense demais. Às vezes ele
só é um homem reservado, e além disso, confesso que eu me empolguei. — Minha mãe fala com
um sorriso travesso.
— Dona Lisa, o que faço com a senhora? — Pergunto abraçando minha mãe por trás e
beijando seu ombro com carinho.
— Exatamente isso, me dê muito carinho e me presenteie com netos minha filha, uma
dúzia deles. — Solto uma gargalhada alta.
— Misericórdia mãezinha. — Meu pai entra sem jeito na cozinha, minha mãe o
repreende com um olhar e ele entende que deveria ter chamado alguém para resolver o pequeno
vazamento na pia que se tornou um buraco na parede.
— Pai, não fica assim, o senhor só tentou ajudar. — Ele olha minha mãe com um olhar
triste e ela abraça e beija. — Prefiro assim.
— Merecia dormir no sofá, Osmar! — Minha mãe fala com firmeza.
— Por Deus querida, tenha piedade! Não sei dormir sem você. — Meu pai suplica e
minha mãe pisca para mim.
— Malvada. — Sussurro com um sorriso nos lábios.
— Tudo resolvido, agora vou descansar, hoje foi muito corrido. Amo vocês, e durmam
juntinhos, por favor.
— Pode deixar meu amor, sua mãe não me deixaria no sofá. — Ele olha para minha mãe.
— Não é mesmo meu amor?
— Tem sorte que eu te amo Osmar. — Desejo boa noite e me despeço dos meus pais.
Volto para casa e permaneço um tempo no sofá lendo para passar o tempo.
— Aidan? — Abro os olhos confusa, sentindo o Aidan deitando sobre mim, apoiando seu
peso nos cotovelos.
Estamos no meu quarto, mas não entendo como chegamos aqui. Ele beija meu pescoço e
a sua mão desliza pela minha coxa. Beijo sua boca, mas algo não parece certo.
— Como chegou aqui? Quando? — Minha pergunta é silenciada com um beijo mais
urgente, e ele retira minhas roupas com pressa.
Tento tocá-lo e não consigo, beijo com mais intensidade, buscando mais, ansiando por
mais. Fecho os olhos, sentindo suas mãos tocando meus seios.
— Ah, Aidan...
Desperto no sofá, com o livro aberto em cima de mim. Me sento ofegante, passando as
mãos pelo meu corpo, ainda sentindo os toques firmes do Aidan.
— Um sonho... erótico? — Murmuro, assustada comigo mesma.
A pior parte foi a frustração, estava tão bom e tem tanto tempo que não sou tocada, que
poderia ter acordado depois do ápice. Respiro fundo e tento voltar a dormir, sem sucesso.
— Não acredito que acordei na melhor parte e perdi o sono. — Resmungo alto,
caminhando até o meu quarto.
Tomo um banho, coloco um pijama fresco e me deito na cama. O dia amanhece diante
dos meus olhos, mas não consigo levantar. Desligo o despertador e fico olhando para o teto.
Sinto tanto sono agora que não posso mais dormir e tenho dificuldade para acreditar que isso está
acontecendo.
Me troco, decido não caminhar e escolho um vestido confortável, florido, colado da
cintura para cima. Amarro os cabelos em um nó e capricho na maquiagem, na expectativa de que
ninguém perceba minha noite mal dormida.
Olho no espelho e fico satisfeita com o que vejo, se o Aidan voltar hoje de viagem,
estarei apresentável. Balanço a cabeça sutilmente sem acreditar que estou pensando no que
Aidan acharia do meu visual.
— Inacreditável Patrícia! — Murmuro baixinho deixando a minha casa e caminhando até
a confeitaria a pé.
Tento seguir minha rotina, mas as horas passam e é como se estivesse virada do avesso,
nada sai como gostaria.
— Vai me contar o que está acontecendo? — A confeitaria fica vazia e a Julie me olha
desconfiada.
— Não dormi essa noite. — Afirmo, enquanto termino de decorar um cupcake.
— Por isso está colocado chantilly na tampa da embalagem, ao invés de colocar no
cupcake? — Ela aponta para o bolinho no balcão e eu vejo a embalagem com chantilly,
balançando a cabeça e levando a mão à boca.
— Não! Sim! Talvez... — Repondo frustrava. — Tive um sonho quente, o primeiro da
minha vida, mas esfriou tão rápido quanto aqueceu.
— Não brinca! Teve um sonho erótico? Me conta direito essa história, por favor. — Julie
se empolga, segurando meus ombros e me olhando nos olhos.
— Não foi nada demais, teve beijos, teve mãos para todos os lados e acordei. — Ela me
olha com a boca aberta e um grande “o”.
— Foi com o bonitão? — Ela indaga com um sorriso travesso.
— Não vou falar.
— Não tem essa opção. Fala, por favor. — Me sento com ela e conto tudo em detalhes,
desde os beijos na cozinha, até o sonho no sofá. Ela escuta tudo com atenção, muito empolgada.
— Minha nossa, o bonitão abalou suas estruturas. — Ela comenta, segurando minhas
mãos. — Não se priva, viva esse amor de verão.
— Estamos no inverno.
— Modo de dizer, um amor passageiro de inverno para aquecer seu coração. — Julie se
levanta suspirando.
Encaro ela girando com um sorriso doce nos lábios e dou um sorriso. O resto do dia foi
tranquilo e conversamos bastante. Aidan não apareceu na confeitaria e voltei para casa exausta
no final do expediente. Tão exausta, que dormi cedo sem perceber.
12
James Lambertti

ermaneço em New York por três dias, decido convidar Madison para uma visita. Atendo o
P telefone, autorizo a sua entrada e aguardo-a de pé, diante das grandes janelas do meu
escritório.
Madison é uma das acompanhantes de luxo que costumo contratar para aliviar o estresse.
Ao entrar na sala, ela fecha a porta e tira o sobretudo preto, revelando uma pequena lingerie de
renda branca que destaca perfeitamente suas curvas.
Ela se aproxima e toca o cós da minha calça, deixo ela livre, pois já sabe exatamente o
que fazer. Madison me olha com intensidade, enquanto desliza a mão pelo meu abdômen por
dentro da camiseta.
— Senti saudades. — Sua voz ecoa na sala e me incomoda o fato do meu pau ainda não
ter dado sinal de vida.
Me lembro do beijo da Patrícia e me afasto bruscamente da Madison, a deixando confusa.
Nem fodendo vou deixá-la perceber que meu pau está mole nas calças.
— Fiz algo errado? — Me aproximo da minha mesa, faço uma translação para conta da
Madison e encaro ela.
— Pode ir, não estou com cabeça. — Ela olha surpresa ao receber a notificação do
pagamento em seu celular.
— Certeza? — Pergunta um pouco desnorteada.
— Fora Madison! — Falo um pouco mais ríspido do que gostaria, ela engole seco e veste
o sobretudo apressadamente.
— Desculpa. — Sua voz é baixa e ela sai apressada da minha sala. Me sento na cadeira
irritado, apoio os cotovelos na mesa de vidro, fecho os olhos e levo as mãos às têmporas.
— Droga! — Praguejo alto abrindo os olhos e erguendo o olhar para encarar o teto.
“Sempre objetivo”, era a qualidade que meu pai dizia que um homem deveria ter. Escutei
a mesma frase, repetidas vezes desde que comecei a treinar para assumir o seu posto. Trabalhei
duro, incansavelmente para ter a sua aprovação e qualquer pouco que fosse da sua atenção.
Não o via muito na minha infância, pois tinha uma rotina rígida de estudos e não podia
ficar com ele ou com a minha mãe. Segundo ele, era uma pequena distração que iria tirar o foco
dos negócios. Minha mãe dizia que eu era o “futuro” e que manteria a nossa fortuna. Só os via
em eventos e precisava adotar uma postura exemplar, digna de um Lambertti.
São muitas lembranças, e algumas prefiro evitar, pois não são agradáveis. Não gosto de
datas comemorativas, elas sempre me levam a jantares comerciais, quando implorava por
atenção e ouvia que chorar era para os fracos e perdedores.
Ficava horas sentado na cadeira, quando meus pés nem tocavam o chão, ouvindo meu pai
se gabar de ser o melhor, afinal, ganhar nunca foi uma opção, pois nunca perdemos. Respiro
fundo e me levanto, pensando se tudo valeu a pena.
Pego minhas coisas e deixo meu escritório, aviso a Mirtes que não vou voltar e mando
preparar o jatinho. Preciso entender por que as coisas estão saindo do controle e acredito que as
respostas estão em Galway. Talvez precise finalizar o meu hotel para tudo isso acabar.
Nunca me senti assim, e é sufocante não estar no controle. Liam tinha razão, não deveria
ter ido à Irlanda. Isso não importa, pois estou em um caminho sem volta e preciso pôr fim a essa
agonia.
Encaro meus e-mails, vendo que a dívida dos pais da Patrícia já foi cobrada. Não consigo
explicar o sentimento ruim que sinto pela primeira vez. Penso no abraço de sua mãe e na forma
carinhosa como ela tocou meu rosto.
— Estou enlouquecendo, não há outra explicação! — Afirmo para mim mesmo irritado
com toda essa merda.
Pego apenas o essencial, pois não tenho interesse em prolongar minha estadia em
Galway. Pretendo resolver as questões pendentes, partir e pôr fim a esse sentimento terrível que
tem perturbado meu sono.
Sigo até o hangar e, após um breve período de espera pela liberação, o jatinho decola.
Não consigo dormir durante as horas entediantes de voo e aproveito o tempo para responder a
alguns e-mails.
Ao chegar em Dublin, meu motorista já me aguarda. Sigo diretamente para a confeitaria.
Ao encontrar a loja fechada, decido descansar antes de reencontrá-la. Liam permanece na cidade,
e resolvo procurá-lo.
Realizo o check-in no hotel, confirmo o quarto do Liam e sigo até ele, enquanto minhas
malas são levadas para o meu quarto. Bato duas vezes na porta.
— Já está de volta? — Liam fala, completamente surpreso.
— Acabei de chegar. Por que ainda está em Galway? — Pergunto, arqueando uma
sobrancelha.
— Gostei da cidade! — Não sinto verdade nas suas palavras.
— Gosta da Patrícia? — Indago, olhando nos seus olhos.
— Não, claro que não. Isso é ciúmes, James? — Um sorriso cínico surge no seu rosto, me
deixando ainda mais irritado. Certamente, a privação de sono não está permitindo que eu
raciocine como deveria.
— Boa noite Liam! — Digo, caminhando pelo corredor, ignorando as perguntas do Liam,
pois pouco me importa o que ele pensa.
Por um instante, ele esqueceu com quem está falando. Essa conversa foi a mais estranha
que já tive com o Liam. Não faço ideia do porquê ele fez uma pergunta tão idiota.
Tomo um banho frio, peço um analgésico e tento dormir. São horas deitado na cama,
mudando de posição até adormecer, vencido pelo cansaço.
13
Patrícia Ricci

Se passam alguns dias sem que eu veja o Aidan, e finalmente consigo retomar minha
rotina. Embora tenha pensado no nosso beijo e principalmente no sonho que tive com ele,
consegui me distrair criando receitas novas.
eus pais parecem estranhos, mas se recusam a me dizer o que está acontecendo. Fico
M preocupada, mas decidi confiar que vão me contar na hora certa, o que está incomodando
tanto os dois.
Chego cedo à confeitaria, e ao ouvir batidas na porta, saio da cozinha desconfiada e um
tanto apreensiva pelo horário. Vejo Aidan do lado de fora, através do vidro e me apresso em
abrir a porta para recebê-lo.
Me encho de coragem entendendo que o fato dele estar de volta a cidade, quer dizer que
não fui a única a sentir a sua falta. O abraço com saudades e ele não corresponde de imediato,
mas logo me envolve nos seus braços.
Me embriago do seu cheiro amadeirado e me afasto um pouco, ficando a poucos
centímetros dos seus lábios. Ele me encara, hesitando em se aproximar e seguro o ar. Seus olhos
são intensos, ora são azuis como o oceano, ora acinzentados, carregando uma tempestade dentro
deles, me deixando tensa.
Os lábios de Aidan tocam os meus, e fecho os olhos sentindo a sensação de mil
borboletas no estômago. Sua mão repousa no meu rosto e ele me beija com calma, explorando
cada centímetro da minha boca.
Aidan morde meu lábio inferior e volta me beijar, nossas línguas entram em uma
sincronia perfeita, carregada de desejo e saudade. Me afasto encarando-o com a face queimando
pensando no sonho que tive.
— Senti sua falta. — Falo sem pensar, mas não me arrependo.
— O que está fazendo com a minha cabeça, Patricia? — Ele responde e abro um sorriso.
— O mesmo que está fazendo com a minha. Prometo dizer quando descobrir o que é! —
Asseguro, deslizando as mãos pelo seu pescoço até seus cabelos perfeitamente alinhados,
bagunçando-o.
— Por que fez isso? — Ele questiona, confuso.
— Porque é ridiculamente lindo e pelo menos o cabelo precisa estar bagunçado, ou não
vou conseguir te deixar ir embora.
— Vou embora, Patrícia. — Ele afirma com firmeza.
— Eu sei. — Tento esconder que esse pensamento me incomoda, mesmo sabendo que
sua partida será inevitável. — Mas, não impede de aproveitarmos enquanto está aqui.
— Patrícia... — Coloco meu dedo nos seus lábios, ouvindo-o falar meu nome em tom de
advertência.
— Não somos crianças, não é nada sério e ambos sabemos que tem sua empresa em
algum lugar do mundo para cuidar. — Afirmo com um pequeno sorriso. — A vida é curta Aidan,
não me parece um homem que viveu muito além do trabalho. Aproveite essa oportunidade para
conhecer algo novo.
Ele ainda me observa confuso, sua expressão preocupada é um sinal de alerta. Contudo,
não posso evitar. Tudo nele me atrai e me prende, me fazendo sentir vontade de desvendar os
seus mistérios e mergulhar em sua tempestade.
— É sempre tão positiva? — Ele pergunta, colando nossos corpos, arqueando uma
sobrancelha e mergulhando em meus olhos, como se quisesse ter certeza de que vou dizer a
verdade.
— Não. Às vezes choro compulsivamente, como chocolate como se fosse pipoca e grito
alto quando topo meu dedinho. Não queria saber como fico sentimental na TPM.
— O que é isso? — Seu olhar surpreso me faz sorrir.
— Tensão pré-menstrual, terrível, acredite! — Afirmo entrelaçando minhas mãos as
deles, sentindo como estão geladas. — Quer entrar e tomar um chocolate quente comigo?
— Não seria uma má ideia. — Ele fica mais leve e entramos na confeitaria. Fecho a porta
e seguimos até a cozinha. — Prefiro café.
— Me lembro que disse que não gosta de doces. Já provou chocolate quente? —
Pergunto enquanto pego os ingredientes e os utensílios que vou usar.
— Não provei.
— Quer provar? — Indago, vendo sua expressão mudar. Ele parece distante e triste. Não
sei explicar como o Aidan é um homem imponente e, ao mesmo tempo, lembra uma criança que
precisa de um abraço.
— Talvez. — Ele observa atentamente cada ingrediente que pego.
— Vou fazer, e se gostar, sirvo um para você. — Ele afirma com a cabeça e pisco para
ele.
Sinto o olhar do Aidan queimando em minha pele enquanto preparo o chocolate quente.
Poderia dizer que esse calor é do fogão, mas a verdade é que não consigo esquecer o sonho que
tive e estar sozinha tão perto dele não está ajudando.
— Como foi a viagem? — Tento mudar o foco até mesmo dos meus pensamentos que
nunca foram tão “ousados”, para dizer o mínimo.
— Tumultuada. — Sua voz parece aborrecida.
— Algum contratempo?
— Tive uma falha inesperada. — Termino o chocolate quente e sirvo em duas canecas.
Me sento na cadeira de frente para Aidan e coloco as duas xícaras na bancada de
mármore. Finalizo com raspas de chocolate meio amargo e mini marshmallows por cima. Dou
um gole e fico maravilhada com o sabor.
— Hum, está delicioso. Prova. — Ele desce o olhar até meus lábios me deixando sem
jeito.
— Está suja, sua boca. — Faço menção a pegar um papel toalha e Aidan segura meu
queixo com uma mão. — Deixa, quero provar o chocolate quente nos seus lábios primeiro,
Patrícia.
Meu coração dispara no peito com sua aproximação. Ele passa a língua pelos meus lábios
e invade minha boca, deslizando sua mão até o meu cabelo, segurando firme, guiando nosso
beijo.
14
James Lambertti

ui à confeitaria para falar com Patrícia, revelar que vim comprar a loja e encerrar de vez
F essa merda. Bato na porta e quando vejo sorrindo na minha direção perco o foco. Ela me
abraça me pegando de surpresa, a envolvo nos meus braços sem pensar em nada.
Selo nossos lábios sentindo uma sensação estranha. Pela primeira vez, posso afirmar que
senti falta de algo que não sei explicar, mas encontrei com a Patrícia nos meus braços. Entro
com ela na confeitaria e tudo flui de forma natural, ela é leve e fico mais a vontade do que
gostaria.
Observo atentamente enquanto ela prepara o chocolate quente, tentando controlar meus
pensamentos. Descobri com o nosso beijo que meu único problema com a Madison é que ela não
é a Patrícia.
A pequena confeiteira me fez quebrar as minhas regras sem perceber. Após provar o
cupcake dela, entendi que dizer que não gosto de doces é apenas mais uma das lembranças que
evito da minha infância. Era algo proibido em casa, considerado “infantil” e prejudicial ao
desenvolvimento do cérebro. Mesmo meu peso não podia ser um problema e desde sempre segui
uma dieta rígida.
Tento afastar esses pensamentos. Patrícia parece perceber tudo que acontece e não vou
falar sobre a minha infância fodida para ela. Tudo nessa cozinha é convidativo e o cheiro me faz
querer provar.
Ela prova o chocolate quente, e seu gemido baixo e contido, me faz imaginar ela
gemendo comigo enterrado em meio as suas pernas. A beijo e descubro não apenas que gosto de
chocolate quente, mas gosto dele nos lábios dela.
Puxo-a para o meu colo e desço meus beijos para o seu pescoço, sentindo sua pele
cheirosa e macia. Mordo provocando-a, deixando sua pele completamente arrepiada. Deslizo a
língua até o seu pescoço e sussurro no seu ouvido com a voz rouca, carregada de desejo.
— Chocolate combina perfeitamente com o gosto dos seus lábios. — Encaixo-a no meu
colo e volto a beijar a sua boca com luxúria. O despertador da Patrícia ecoa pela cozinha e sinto
suas pequenas mãos tocarem o meu ombro. Me enterro em seu pescoço, e ela suspira.
— Tenho que abrir a confeitaria e logo a Julie chega. — Sua voz é baixa, ergo meu olhar
e ela sorri com a face vermelha.
— Posso te deixar em casa no fim do expediente? — Ela coloca a testa na minha e me dá
um selinho rápido.
— Sim. Isso quer dizer que vamos nos conhecer melhor pelo tempo que ficar em
Galway? — Deslizo o polegar pela sua bochecha rosada e embora saiba que não deveria,
respondo sem pensar demais na situação.
— Sim, pelo tempo que ficar. — Ela sorri e me abraça. Me levanto com ela nos meus
braços e ela desce animada, me oferecendo a xícara com chocolate quente.
Bebo tudo enquanto a ajudo a finalizar a decoração de alguns cupcakes, ela não perdoa e
não é do tipo que amansa o ego de ninguém. Pelo contrário, é sincera até demais.
— Deveria comer este?
— Por quê? — Encaro o bolinho sem entender por quê.
— Porque estamos no Natal e sinceramente parece estar no clima de Halloween. — Ela ri
alto e a puxo pela fivela do cinto.
— Cruel você, não é? — Digo, e ela morde os lábios.
— Continua tentando, a prática leva a perfeição, bonitão. — Seu tom brincalhão combina
com seu sorriso travesso.
— Me acha bonitão? — Pergunto e ela desvia o olhar.
— Julie acha, não eu!
— Julie?
— Sim, eu te acho ridiculamente bonitão. — Ela levanta seu pequeno nariz e fala de
modo firme, como se falasse algo realmente sério.
— Ah, sim. Ridiculamente bonitão, e não bonitão. — Questiono, fazendo ela perder a sua
pose de durona.
— Isso. — Ela fala bagunçando meu cabelo com as mãos sujas de farinha.
— O que tem contra o meu cabelo?
— Nada, só acho que precisa de um defeito, pode ser o cabelo bagunçado, assim posso
dizer quando for embora, “Ele nem era tão perfeito, o cabelo era terrível!” — Acabo sorrindo
sem me dar conta.
— Seu sorriso é lindo Aidan. — Ela afirma antes de se afastar e morder o meu cupcake
de Halloween.
— Não ia mesmo exibi-lo? — Pergunto em tom de brincadeira.
— De jeito nenhum, mas está delicioso, o que nos prova que não devemos julgar um livro
pela capa. — Mordo o cupcake em sua mão e comprovo sua teoria, realmente não estava bonito,
mas estava bom.
Entendi essa lição nos negócios. Vi empresas que eram como icebergs, com uma pequena
ponta para fora, mas afundadas em problemas e dívidas que ninguém percebia. Me surpreendi
com hotéis que construí em lugares que inicialmente pensei que seriam apenas para expandir na
área, mas que acabaram se tornando meus imóveis mais lucrativos.
Agora, parado diante da Patrícia, me pergunto quem ela realmente é. Será que é alguém
doce e gentil, ou conheci dela apenas o que quis mostrar? Ela ajeita tudo nas bandejas e a Julie
entra na cozinha de maneira desconfiada.
Ela espera Patrícia se distrair e me avisa com dois dedos que está de olho em mim,
mirando nos olhos dela e depois nos meus. Sua expressão é séria, me fazendo questionar por que
ela protegeria a amiga dessa forma.
Ao revisar o relatório pessoal da Patrícia, percebi que ela teve um período sendo
acompanhada por uma equipe de saúde mental. No entanto, não tive acesso aos registros devido
ao sigilo médico e paciente. Decido investigar mais a fundo, com a frase dela ecoando na minha
mente “Às vezes choro compulsivamente”. Meu instinto nunca falha e sinto que há uma história
por trás desses pequenos detalhes.
15
Patrícia Ricci

— Preciso ir — Aidan fala, observando o bolo que estou decorando. — O que é isso?
— Um bumbum. — Ele inclina a cabeça levemente para o lado e franze o cenho. — É
para um chá de fraldas. Ainda preciso colocar uma fralda e terminar a modelagem do corpo.
— Tira uma foto quando terminar. Ainda não consigo entender como isso se transformará
em um bebê. — Ele fala, sem desviar os olhos do bolo. Faltam as pernas, os braços e a cabeça,
seria difícil para ele visualizar. Retiro as luvas e passo os braços ao redor de sua cintura, ficando
nas pontas dos pés para beijá-lo.
— Até mais tarde, bonitão. — Um sorriso convencido surge em seus lábios.
— Ridiculamente bonitão! — Ele afirma antes de me beijar até faltar o ar.
Aidan se retira, e eu pego um copo de água. Poderia virá-lo na minha cabeça e isso não
aliviaria o calor que esse beijo causou em meu corpo. Respiro profundamente, sentindo minha
calcinha úmida. Certamente, esse homem será a minha perdição.
Volto minha atenção ao bolo, mas meus pensamentos permanecem na manhã que passei
com o Aidan na confeitaria. Julie, sempre que pode vem à cozinha, me olhando desconfiada. Ela
volta assim que o último cliente sai e se senta ao meu lado.
— Conte tudo... — Ela fala animada. Me levanto, pego uma fatia de bolo, duas colheres
e retorno para me sentar ao seu lado.
— Acho que nunca beijei tanto. Meus lábios estão ardendo e eu quero mais. — Ela
arregala os olhos e abre a boca.
— E o beijo é bom? — Ela pergunta, fazendo um gesto circular com as mãos para que eu
responda logo.
— Foram os melhores beijos da minha vida. Senti borboletas no estômago, milhões,
causando a melhor agonia que já senti. — Suspiro, levando uma colher cheia de bolo à boca.
— Vai com calma, está comendo suas emoções! — Ela sorri.
— Sabe o que é pior? — Como outra colher cheia enquanto a Julie aguarda ansiosa. —
Disse a ele, olhando nos olhos, que somos dois adultos que sabemos que não é nada sério. Não
posso ter me apegado a uma turista, posso?
— É tão linda a vulnerabilidade do amor, uma paixão avassaladora é como uma
tempestade sem aviso. Amiga, não dá para se abrigar a tempo de se proteger. Só espero que ele
também se sinta assim, mas se não, estarei aqui para você.
— Você é tão maravilhosa Julie, merece alguém incrível. Como está seu pai? — Seus
olhos se enchem de lágrimas, e a vejo respirar fundo, segurando a emoção.
— Não está bem. Os tremores aumentaram e ele está muito debilitado. — Abraço-a com
força.
Robson foi diagnosticado com mal de Parkinson, Julie e a mãe vivem por ele, mas a
doença avançou muito. Pago uma enfermeira e ajudo com os remédios, são muitos custos para as
duas lidarem sozinhas. A mãe dela tem problemas crônicos e precisou deixar o emprego, não é
fácil a vida que levam. No entanto, eles têm uma filha maravilhosa, disposta a tudo pelos dois.
Somos amigas de infância, crescemos uma na casa das outra. Robson era um pai
presente, ativo, forte e muito amoroso. A vida é imprevisível e jamais imaginei vê-lo nessa
situação. Visito-o sempre, sua companhia é agradável, e amo conversar sobre qualquer assunto
com ele.
Dessa vez, Julie come uma colher cheia de bolo. Fazemos isso desde sempre,
compartilhamos um bolo e desabafamos uma com a outra. Esqueço Aidan, dedicando total
atenção a Julie. Ela me conta sobre a última noite, e percebo como está cansada.
— Vou contratar uma enfermeira para as noites.
— Já faz muito por nós, Pati. — Ela responde com seriedade.
— Queria fazer mais. Amo seu pai como se ele fosse o meu. Posso arcar com os custos, e
encontraremos alguém de confiança para ficar três vezes na semana, assim você e sua mãe
descansam. Se não descansarem, não poderão cuidar dele.
— Não, vamos pensar em outra solução.
— Por favor, me deixe ajudar. Você está exausta, Julie. — Falo passando a mão pelo
rosto dela, vendo-a suspirar.
— Não estou pronta para perdê-lo, Pati, e está piorando tão rápido. — Sua voz
embargada me doeu na alma.
— Infelizmente, perdemos as pessoas que amamos, sem dia ou hora marcada elas partem
levando parte de nós, nos obrigando a viver com a dor e o vazio da sua partida prematura. Não se
apegue à morte Julie, mas sim à vida. Ele está com vocês e é isso que importa. O mundo é tão
imprevisível e cruel que poderia ser eu, ou qualquer um de nós, saudáveis, partindo sem aviso.
— Está certa, ele está vivo. — Ele afirma, tentando convencer a si mesma.
Julie é uma mulher forte e vou lembrá-la disso para que continue lutando, mesmo quando
tudo parecer difícil. Ela seca as lágrimas, respira fundo, coloca seus longos cabelos castanhos
escuros para trás das orelhas, forçando um sorriso e ajeitando a postura.
— Eu te amo. — Digo, olhando em seus olhos castanhos tão escuros quanto seus cabelos.
— Eu também te amo. Sabe que é a minha pessoa, não é mesmo? — Ela fala segurando
minha mão.
— Sempre!
Terminamos o bolo conversando sobre coisas aleatórias. Ela se despede e vai embora.
Julie raramente fica depois do expediente, está sempre ocupada, mas hoje senti que ela precisava
conversar e foi bom.
Aidan não chegou e me pergunto se ele virá. Arrumo tudo, lavo a louça e limpo as
bancadas. Meu celular apita e vejo uma mensagem do Kevin que me preocupa.
“A oportunidade de vender a confeitaria pelo melhor preço é agora. Me ajuda que te
ajudo a salvar a casa dos seus pais. K.M”
Leio mais de uma vez a mensagem sem entender completamente o que ele quis dizer com
“salvar a casa dos seus pais”.
— Deus, será que é por isso que estão estranhos? — Murmuro baixinho, olhando o visor
do celular, enquanto pego a minha bolsa e as chaves da confeitaria.
16
James Lambertti

hego ao hotel e vou direto ao quarto do Liam. Embora não conversemos muito sobre
C assuntos pessoais, ele é a única pessoa com quem converso. Os pais do Liam mantinham
relações comerciais com os meus, e embora os nossos pais fossem muito diferentes, não
perdemos o contato. Bato à porta e ele abre sonolento.
— Onde é o incêndio? — Ele fala olhando o pulso e notando apenas a marca do relógio.
— Vai me contar o que aconteceu? — Ele entra e o sigo. Nos sentamos perto da varanda
e ele parece tentar lembrar por que está de ressaca. — Mia?
— Sonhei com ela, fui a um pub e não lembro o resto. — Liam era o homem mais
positivo e alegre que conheci. Se casou cedo e perdeu a esposa em um trágico acidente.
Ele nunca se perdoou, e levou alguns anos para retomar a sua vida social. Agora ele está
focado no trabalho. Estranhei ele estar aqui, mas agora acredito que tem a ver com a Mia. Eles
foram felizes pelos anos que viveram juntos e ele cuida dos seus pais dela.
— Por que ainda está aqui? — Pergunto vendo a tristeza em seus olhos.
— Não sei. Na verdade, falamos sobre lugares que visitaríamos juntos e Dublin estava na
lista. Ela ficaria fascinada por Galway. — Ele fala encarando a varanda.
— Sim, ficaria. — Mia se aproximou de mim aos poucos, ela e o Liam eram meus
melhores amigos na faculdade.
Não me incomodava a companhia dela, ela era simples, educada e respeitava o fato de eu
ser reservado. A notícia de sua morte foi um golpe, Liam ficou em coma e desejou a morte
quando acordou meses depois.
Cuidei de todos os detalhes, do funeral da Mia, dos pais e de toda burocracia. Os pais do
Liam partiram anos depois com um curto intervalo de tempo, eles não puderam ver o filho se
recuperar.
— Por que veio aqui? — Ele me pergunta confuso.
— Por nada, só queria saber se ainda estava na cidade. Perdeu o relógio? — Ele olha em
volta e franze o cenho.
— Talvez tenha esquecido, talvez tenha perdido, não sei ao certo.
— Deveria ter me ligado.
— Iria beber em um pub comigo? — Ele fala com um tom de deboche.
— Não. Iria te trazer em segurança ao hotel.
— Estou com meu motorista. — Liam se levanta, liga para a recepção do hotel e pede
remédio para dor de cabeça.
— Fui contar a verdade para Patrícia. Queria acabar com essa merda e ir embora, mas
não consegui. — Falo logo de uma vez e Liam desliga o telefone, sem finalizar a ligação.
— É agora que eu digo, “eu avisei”? — Ele responde e tenho vontade de socá-lo.
— Cala boca Liam. Não sei por que ainda tento conversar com você. — Me levanto e
caminho até a porta.
— Qual é James, volta aqui! — Saio e bato a porta, arrependido de ter vindo falar com
ele.
Entro no meu quarto e resolvo com a Mirtes algumas pendências da empresa, focando no
hotel à beira-mar, que será iniciado em breve. Meu pai está empolgado com o empreendimento,
será o nosso maior investimento e eu irei pessoalmente resolver todos os detalhes.
Perco a noção do tempo, tomo um banho rápido, me visto e praticamente corro até a
confeitaria. Ao chegar, encontro Patrícia saindo, sem blusa de frio e visivelmente distraída.
— Patrícia. — A chamo, e ela ergue o olhar, abrindo um sorriso fraco. Me aproximo, tiro
meu casaco e o coloco sobre seus ombros.
— Não precisa Aidan. Vai ficar com frio. — Ela fala se aninhado sob meu braço.
— Claro que precisa!
— É um homem à moda antiga, um cavalheiro?
— Não Patrícia, sou um homem reservado, conhecido por ser mal-humorado, entre outras
características nada atrativas.
— Comigo não é. — A voz da Patrícia é doce e não esconde que fica contente saber que
com ela sou diferente.
Isso é algo que nem eu compreendo. A puxo para mais perto, passando a mão pelos seus
braço para aquecê-la.
— Com você tudo é diferente. — Afirmo, encarando as ruas.
— Sempre usa o termo “diferente”. Espero que descubra que diferente também é bom. —
Paro de andar, algo no tom de voz da Patrícia me incomoda. Seguro seu queixo e ela tenta
desviar o olhar, confirmando que não estou errado.
— Por que não seria? — Pergunto vendo-a morder os lábios, um hábito de quando está
nervosa.
— É só uma insegurança. Chamou minha atenção usar essa palavra mais de uma vez. Às
vezes, me sinto diferente e não sei se isso é bom. — Ela fala, forçando um sorriso.
— Nesse caso, serei específico. Não quero que crie teorias. — Volto a caminhar com a
Patrícia. — É diferente porque tira o melhor de mim.
Ela não fala nada, mas me fez bem vê-la sorrir com os olhos. Chegamos à porta da casa
dela e paramos. Ela tira meu casaco e me entrega.
— Obrigada.
— Por nada. — Respondo enquanto ele abre a porta.
— Vai fazer o que no Natal?
— Tem um amigo na cidade. Farei companhia a ele. — Falo, lembrando que em dois dias
já é Natal.
— Janta comigo e com a minha família. Não se assuste, mas fazemos uma ceia com
amigos de longa data e é legal. Pode trazer seu amigo. — Penso que pode ser bom para o Liam,
costuma ser um dia difícil para ele pelas perdas.
— Tudo bem, é só um jantar?
— Prometo que não vou te pedir em casamento. — Patrícia fala em tom de brincadeira.
— Engraçadinha. — Ela me beija e se despede. Espero ela entrar e sigo para o hotel, mais
confuso do que quando cheguei aqui.
17
Patrícia Ricci

ntro em casa, apanho um casaco e sigo para casa dos meus pais. Bato à porta e minha mãe
E abre a porta me olhando sem entender por que estou ali.
— Entra minha bebê, está frio. — Ela coloca suavemente a mão em minhas costas e
me conduz para dentro da casa.
— Boa noite mãezinha. O que está acontecendo? — Beijo a bochecha dela e pergunto
olhando em seus olhos.
— Boa noite. Filha, seu pai está deitado com dor de cabeça, podemos conversar depois?
— Encaro-a temendo a razão do adiamento dessa conversa.
— Mãe me fala, por favor. — Falo em tom de súplica, muito preocupada.
— Seu pai e eu fizemos um empréstimo para ajudar o Robson assim que ele adoeceu.
Acabamos esquecendo algumas prestações, na época nem era falta de dinheiro, mas de
organização. Quando nos demos conta, o valor que já era alto, triplicou e acabamos não
conseguindo pagar. Agora a dívida foi comprada e temos que pagar, mas não temos tanto
dinheiro.
— Por que não me falaram nada? — Pergunto chateada por terem escondido algo tão
grave.
— Porque a sua vida é se sacrificar por todos. Sabíamos que iria querer resolver tudo e
queríamos arcar com nossa responsabilidade. — Minha mãe fala com muita tristeza, parece
envergonhada e a abraço.
— Depois do Natal, volto a morar aqui.
— Filha... — Interrompo minha mãe.
— Vou vender minha casa, pagar a dívida e depois compro outra. Aqui tenho minhas
melhores lembranças, não podemos vender. — Enxugo as lágrimas da minha mãe e beijo seu
rosto com carinho. — Eu te amo mãe, e sei que faria o mesmo por mim. Além do mais, não me
queria de volta?
— Não nessas condições. — Ela suspira.
— Ah, dona Lisa, imprevistos podem acontecer com todos. Já pode tirar a esteira que
nem usam do meu antigo quarto, essa semana começo a trazer algumas coisas para colocar a casa
à venda. — Abro um sorriso e posso ver que pelo menos a notícia de voltar para casa a deixou
animada.
Não sou apegada a bens materiais, a confeitaria é algo que tem valor sentimental. Minha
avó era uma mulher extraordinária e tenho tantas lembranças vendo ela e a minha mãe
trabalhando juntas, que quero muito poder preservar o lugar que ela e o meu avô construíram
juntos.
Desde que o Robson adoeceu, as despesas com remédios, médicos e a enfermeira me
deixaram com o orçamento muito apertado. Sei que seria impossível pagar a dívida dos meus
pais sem vender a confeitaria ou a minha casa. Opto pela minha casa, sentindo um aperto no
peito só de pensar em vender a loja.
Alguns moradores da cidade estão chateados comigo, porque querem muito o hotel do
grupo Lambertti na cidade. Alguns lojistas cederam a proposta financeira que o grupo fez pela
loja, mas outros, assim como eu, estão resistentes. Espero não ser a única a não vender.
Fico um pouco com a minha mãe, ela me passa tudo sobre a dívida e aviso que vou
resolver essa questão pela manhã. Mesmo o Kevin sendo grosseiro e ultrapassando os limites,
gosto dos pais dele e resolvi colocar a minha casa à venda pela imobiliária deles.
Foram dois dias resolvendo tudo e poucas horas antes do Natal minha casa foi vendida,
me fazendo finalmente respirar aliviada. Aidan, foi à confeitaria nos dois dias, não falei nada
sobre a dívida a ele e tivemos momentos intensos. Tenho suspirado por esse homem e não nego o
quanto ele é atraente.
Inicio os preparativos para o jantar de Natal, vestindo um elegante vestido vermelho, sem
mangas, com um discreto decote em V. A peça é colada ao corpo, o cumprimento é até um
pouco abaixo dos joelhos e desenha meu corpo perfeitamente. Aplico uma maquiagem leve,
calço um salto alto preto e deixo meus cabelos soltos.
— Minha nossa, que gata! — Julie entra no meu quarto com um vestido dourado, longo e
de alças finas, com uma fenda até o meio da coxa e um decote transpassado. Seus cabelos estão
soltos e sua maquiagem leve destaca a delicadeza do seu rosto.
— Uau Julie, você está deslumbrante! — Ela sorri e pega o celular para tirar uma foto
nossa.
— Parece ansiosa. — Ela fala me vendo ajeitar a roupa mais uma vez no espelho.
— Convidei o Aidan e espero que ele venha.
— Está explicada a ansiedade. Se ele vier, vai ficar boquiaberto ao te ver. Está linda, Pati.
— Ela fala pegando minha mão e me tirando da frente do espelho.
— Consegui vender a casa! — Digo tentando mudar o foco.
— Ótima notícia, Pati. Você está feliz? — Observo meu antigo quarto que voltará a ser
meu oficialmente e abro um pequeno sorriso.
— Gosto do meu espaço e foi maravilhoso ter a minha casa. No entanto, não será ruim
voltar para casa dos meus pais. Eles são incríveis e sentia a falta deles.
— Logo terá seu espaço novamente! — Julie afirma e concordo.
Desço com ela e ajudamos nossas mães a colocar a mesa, observo o meu pai ajudando o
Robson e noto o quanto ele está debilitado. Lembranças deles bebendo cerveja enquanto
colocávamos a mesa animadas me vem à mente. Julie e Amélia estão tentando se animar para o
jantar, mas é visível que estão se esforçando para sorrir.
A campainha toca e me apresso em atender, abro a porta e vejo o Aidan e Liam.
Reconheço ele, pois nos esbarramos na rua, e ele se apresentou.
— Aidan, que bom que veio. Liam, que mundo pequeno. — Falo colocando uma mecha
do meu cabelo para trás da orelha.
— Você conhece o Liam? — Aidan pergunta mudando sua expressão. Ele fica sério,
aguardando uma resposta.
— Nos esbarramos, enquanto eu conhecia a cidade. — Aidan parece incomodado. Se ele
não tivesse afirmado com tanta certeza que iria embora, poderia jurar que isso é ciúmes. Afasto
esse pensamento para não alimentar expectativas com relação a ele.
— Isso, depois não nos vimos mais. — Aidan se aproxima e fico constrangida com a
forma que ele me olha.
— Está perfeita Patrícia. — É inevitável não sorrir. Liam tenta disfarçar, mas a situação
está constrangedora, especialmente com Aidan segurando minha mão.
18
James Lambertti

etorno ao hotel sem saber exatamente como abordar a questão do jantar de Natal com o
R Liam. Por sorte, encontro ele saindo do Hotel e não preciso ir ao quarto dele novamente.
— Liam... — Ele guarda o celular e caminha em minha direção.
— James, quer ir ao pub? — Encaro Liam com sérias dúvidas. Nem me reconheço, e não
dizer um não em alto e bom tom agora, já prova que a pequena confeiteira está bagunçando
minha vida.
— Tenho reunião cedo amanhã, então, se não demorar muito, sim! — Afirmo e ele
parece surpreso.
Caminhamos juntos até o pub, um estabelecimento um tanto sujo e barulhento. Tento
ignorar o lugar e focar no motivo de estar aqui. Sei que qualquer data comemorativa perdeu o
significado para Liam, principalmente o Natal, que era o preferido da Mia.
Ela era escandalosa no Natal, do tipo que decorava a casa inteira por dentro e por fora.
Enquanto fazemos o pedido, tento encontrar as palavras para começar essa conversa. Minha falta
de habilidade social é quase assustadora.
— Vamos jantar fora no Natal. — Falo, dando um gole na cerveja artesanal que o garçom
serve em nossa mesa.
— Um encontro? Que romântico, James! — Liam debocha.
— Vai me chamar de Aidan e será na casa da Patrícia com a família dela. — Afirmo e ele
muda a expressão.
— Nem fodendo vai me incluir nessa merda! — Ele fala sério.
— Liam, preciso de ajuda. Sei que não concorda com o plano e entendo. Eu não sei o que
estou fazendo, e a prova disso é ir a um jantar de Natal. — Ele arqueia uma sobrancelha e respira
fundo, me olhando com raiva.
— Irei a esse maldito jantar porque desconfio que a Patrícia pode te tirar desse inferno
em que vive. Mas saiba James, que não vou mentir e muito menos vou te ajudar a acabar com
ela.
— Não precisa mentir, só me chama de Aidan. — Liam bebe toda a cerveja e coloca o
copo na mesa com raiva.
— Só não faz mais merda do que já fez James. Se tornou amargurado e eu entendo. Sei
pelo que passou porque conheço bem os dois narcisistas que te criaram. Ainda assim, você é
muito melhor que aqueles dois juntos. — Ele afirma e termino minha bebida. Apesar de precisar
da sua ajuda, esse não é um assunto sobre o qual quero conversar.
— Preciso ir, o jantar é em dois dias. Eu sei que o Natal não é fácil para você e agradeço
por ir comigo. Meu motorista estará esperando por você. — Ele apenas concorda com a cabeça,
sinalizando ao garçom que deseja outra bebida. — Fale o que quiser de mim, mas quando se trata
de inferno, estamos na mesma merda.
Deixo o pub e retorno diretamente ao hotel. Ao chegar, tomo banho e me deito pensando
nos meus pais. Recordo-me de como minha mãe fingia não perceber as escapadas do meu pai,
que trazia acompanhantes de luxo para casa.
Sem saber o que era uma relação sexual, fui obrigado a vê-lo transar com uma delas,
segundo meu pai, para saber como um homem de verdade fode. Vi nos seus olhos a
desaprovação com o meu espanto.
As expressões de dor da mulher eram visíveis, e a forma que ele batia no rosto dela era
cruel e me fez entender por que minha mãe aceitava que ele tivesse amantes. Nunca a vi
machucada, acredito que ele prezava muito pela imagem da esposa perfeita e jamais permitiria
marcas em seu rosto.
Tamara era nossa empregada, e chamou a minha atenção. Apesar de mais velha, era
gentil, educada e demonstrou interesse. Transamos e descobri que ela foi paga pelo meu pai para
“me tornar um homem”, um “ritual de família”, conforme suas palavras.
Não quis mais olhar na cara dela e, desde então, me limitei a acompanhantes de luxo,
evitando me aproximar de qualquer mulher, porque entendi que elas não eram confiáveis.
Dois dias se passaram tranquilos, aproveitei o tempo em que Patrícia estava ocupada com
encomendas de final de ano para finalizar alguns projetos e contratos. Depois de me preparar
para o jantar, encontrei Liam na entrada do hotel.
— Meu motorista está chegando. — Ele afirma com as mãos nos bolsos, observando ao
redor.
— É perto, podemos ir a pé! — Liam pega o celular, dispensa o motorista e caminhamos
até a casa de Patrícia.
— Está diferente, James.
— Não mudei. Quando voltar a New York, tudo voltará ao normal. Como estão os pais
da Mia?
— Viajando, estão com a família no Brasil. — Ele fala chutando uma pedra no caminho.
Chegamos à casa da Patrícia e ela nos recebeu animada. Me incomodou que ela
reconhecesse Liam, sem que ele tivesse me falado sobre o encontro deles. Essa situação me irrita
mais do que gostaria de admitir.
Patrícia está impecável e acabo elogiando-a em voz alta, sem perceber. Ela sorri em
resposta ao elogio e eu me apresso em segurar a sua mão vendo o Liam levantando a mão dele
para cumprimentá-la.
Entramos, e Patrícia nos apresenta à sua família e amigos. Liam é gentil com todos, e eu
observo atentamente o ambiente. Consigo interagir um pouco, mas me incomoda a forma que se
tratam. Sinto um terrível aperto no peito ao pensar em como tudo era diferente na minha casa.
Patrícia segura firmemente minha mão por debaixo da mesa. Ela me olha nos olhos como
se tentasse entender o que está acontecendo, mas não consigo falar nada.
19
Patrícia Ricci

idan está agindo de maneira estranha, ele afrouxa a gravata, me deixando preocupada.
A Jantamos em um clima agradável. Liam, embora carregue uma tristeza profunda nos olhos,
é uma pessoa educada, tratando todos com gentileza. A conversa com ele flui bem.
Percebo que o desconforto do Aidan aumenta, mas ele se esforça para responder
educadamente ao meu pai.
— Aidan, pode me ajudar a pegar as sobremesas? — Me levanto e ele se levanta em
seguida me acompanhando até a cozinha. Ao entrar, ligo a luz e sou surpreendida com um beijo
do Aidan.
Ele me pressiona contra a parede, desliza as mãos até minha cintura, segura firme e
aprofunda o beijo me deixando desnorteada. Seu beijo é intenso, bruto e delicioso na mesma
medida.
— Aidan... — Falo ofegante entre nossos beijos, levando as mãos aos seus ombros,
lutando para afastá-lo.
— Desculpa, preciso te sentir, Patrícia. — Ele fala, segurando meu rosto e mordendo meu
lábio inferior.
Me afasto me ajeitando e limpando os lábios. Pego um guardanapo e entrego a ele ainda
tentando normalizar a respiração. Meu coração bate rápido e forte. Respiro fundo e volto minha
atenção para Aidan.
— O que está acontecendo? — Ele limpa os lábios, tirando o batom borrado e faz o
mesmo com os meus.
— Nada. — Suspiro frustrada.
— Nada que queira me contar? — Pergunto, colocando as sobremesas na ilha.
— Exatamente Patrícia. — Ele responde em um tom sério.
Não digo mais nada. Após esse beijo, imaginei que ele me responderia, mas a resposta
que recebo é ríspida. Tenho certeza de que ele não confia em mim, mas a verdade é que estou
preocupada com a maneira como ele está. Parece distante, e seus olhos assumiram uma escuridão
que me deixa incomodada.
Levamos as sobremesas à mesa em silêncio. Meu pai tenta conversar com Aidan, mas ele
fica ainda mais sério respondendo apenas o necessário. Ele chama o Liam para ir embora e fico
sem entender o que aconteceu.
Todos se despedem surpresos e levo os dois até a porta. Liam se despede e se afasta um
pouco, esperando pelo Aidan na calçada.
— Está cedo, não quer ficar mais e provar as sobremesas? — Entrelaço minhas mãos as
do Aidan e ele as solta.
— Melhor eu ir, serei uma péssima companhia esta noite. — Ele afirma se afastando.
Antes que eu possa falar qualquer coisa, caminha na direção do Liam. — Boa noite Patrícia.
Fico parada na porta sem entender como a noite terminou assim, o que incomodou tanto
Aidan? Entro em casa distraída, mal presto atenção nas conversas ao meu redor.
Encaro minha mãe com sérias dúvidas, sem entender se estou fazendo o certo ou não,
mas preciso saber como o Aidan está e por que parecia tão abatido. Ela parece entender que algo
está errado e se aproxima.
— Preciso ver como ele está, mãezinha. — Falo antes que ela tenha a chance de dizer
qualquer coisa.
— Está tudo bem meu bebê, vá. — Abro um pequeno sorriso e beijo sua bochecha. Julie
se aproxima e eu aviso ela que vou sair.
— Vá lá amiga.
— O que achou do Liam? — Pergunto enquanto pego minha bolsa.
— Ele mal falou comigo, foi apenas educado. — Ela fala enquanto prende os cabelos em
um nó.
— Parece ser um homem muito sério e respeitador. Tratou todos bem, mas sem qualquer
intimidade.
— Sim, talvez ele te ajude com o Aidan. Deu o número dele para a minha mãe, disse que
conhece um bom hospital em New York que está tendo avanços com o Parkinson. Ele tem uma
lista de espera para testes e talvez meu pai se qualifique.
— Sério? Que legal! — Ela fala animada, essa possibilidade deu a ela esperança e trouxe
um sorriso aos seus olhos.
— Sei que ainda não há cura, mas tem tratamentos que melhoram a qualidade de vida do
paciente. Pode dar certo.
— Vai dar certo minha amiga. — Pego o número de telefone do Liam, me despeço de
todos e sigo até o hotel.
Ao chegar no hotel, ligo para o Liam, ele me pede para esperar na recepção e fico
aguardando ele chegar. O vejo saindo do elevador, aceno, e ele caminha na minha direção
liberando minha entrada.
— Por que veio? — Ele pergunta curioso.
— Ele não estava bem, fiquei preocupada.
— Aidan é complicado Patrícia... — Ele para de falar, mas sinto que havia mais.
— Tem algo para me dizer?
— Não é minha história para contar. — Ele fala franzindo o cenho, me deixando ainda
mais curiosa.
— Tudo bem, ainda assim, obrigado por me ajudar a entrar no hotel e principalmente
pela indicação do hospital. — Ele coloca as mãos nos bolsos, me olha e força um pequeno
sorriso.
— Não foi nada. — Sua resposta é sincera, posso ver que não tem noção da diferença que
fez indicando o hospital. Foi muito mais do que uma indicação, foi a esperança que ele deu à
Julie e sua mãe.
— Não tem ideia da luta daquela família. Vi a Julie sorrir com os olhos pela primeira vez
hoje Liam, fez muito. — O deixo pensativo, embora pareça meio aéreo, acredito que entendeu
por que agradeci.
Ele me passa o número do quarto do Aidan e sigo até o elevador, o hotel é lindo e
representa bem a beleza da cidade, embora não seja tão moderno. Não entendo por que querem
outro hotel, uma boa reforma e algumas melhorias já seria suficiente para deixá-lo bem
receptivo.
Saio do elevador e caminho até o quarto do Aidan insegura. Talvez ele não queira me ver
ou talvez passe a ideia errada estar aqui. Paro diante do quarto de hotel dele sem saber se bato ou
não.
20
James Lambertti

aio da casa da Patrícia me sentindo sufocado. Ao retornar ao hotel, me certifico que o Liam
S está bem e volto ao meu quarto. Decido ligar para os meus pais, não faço ideia do porquê,
talvez pelo Natal.
Jaqueline, a secretária da minha mãe, informa que ela está em um jantar beneficente e não
atenderá nenhuma ligação. Irritado, peço a ela para dizer quem está ligando e escuto a resposta.
“Avise ao James que estamos em um jantar beneficente, Jaqueline. Ele sabe que é
deselegante atender telefone em eventos. Mande-o vir agora, precisamos dele para tirar uma
foto em família.”
Sem esperar Jaqueline passar o recado, desligo o telefone e caminho até a varanda
refletindo nas últimas palavras da minha mãe “precisamos dele para tirar uma foto em família”.
As imagens dos pais da Patrícia disputando por ela em um abraço, seus sorrisos e o orgulho que
demonstraram por ela, foram um golpe.
Observei as fotos espalhadas pela casa, o jeito que tinham carinho e respeito uns pelos
outros. Nós, eu e Liam, dois estranhos, fomos acolhidos como parte da família. O pior é saber
que eu não merecia entrar na casa deles.
Alguém bate à porta, levo as mãos às têmporas, relutante em falar com alguém,
presumindo que seja Liam. Caminho até a porta respirando fundo, e me surpreendo ao abri-la.
Encaro Patrícia, sem entender o que ela faz aqui.
— O que faz aqui? — Pergunto, percebendo sua expressão envergonhada.
— Você não parecia bem, fiquei preocupada. — Sua voz é suave, e me arrependo da
pergunta idiota.
— Entra. — Ela hesita, me olhando confusa.
— Aidan, está bem? Me quer aqui? — Deslizo o polegar pela sua bochecha e selo seus
lábios com um beijo, encontrando a sensação de paz que necessitava.
— Nesse momento, você é tudo que preciso. Quer entrar? — Patrícia segura firme minha
mão e a conduzo para dentro do quarto. Fecho a porta enquanto ela observa o interior do quarto.
— É tão organizado. — Ela fala, e os seus olhos se encontram com os meus.
— É um quarto de hotel, Patrícia.
— Já viajei, não imagina como ficava meu quarto de hotel. — A vejo colocar
delicadamente o cabelo atrás da orelha abrindo um sorriso travesso.
Me aproximo, e observo ela prender a respiração quando fico a poucos centímetros dos
seus lábios rosados.
— Dorme comigo essa noite? — Me dou conta das palavras assim que saem da minha
boca, desejo Patrícia, não apenas por algumas horas. A queria por inteiro em meus braços,
provando cada parte do seu corpo.
— Dormir aqui? — Ela pergunta olhando ao redor. Seguro seu queixo, encarando seus
olhos.
— Dorme comigo, Patrícia. — Um pequeno sorriso em seus lábios se abre com minha
afirmação e ela passa os braços ao redor do meu pescoço.
— Sou espaçosa. — Observo-a como ela fica tímida, parece insegura, mas tenta passar
confiança.
— Não me importo, quero você. É o que quer também? — Patrícia se vira, colocando os
cabelos de lado, girando a cabeça em minha direção e descendo o olhar até as minhas mãos.
— Pode me ajudar com o vestido? — Essa pequena confeiteira vai foder com o meu
psicológico.
Desço o zíper do vestido dela, deslizando a mão pela sua pele macia. A observo arrepiar e
deposito um beijo no seu ombro enquanto o vestido desliza pelo seu corpo até embolar em seus
pés. Patrícia sai de dentro do vestido de salto alto.
Praguejo, vendo os detalhes da sua pequena lingerie vermelha de renda, contrastando
com a sua pele branca e destacando cada curva de seu corpo. Ela caminha até a varanda, e desço
meu olhar até a sua bunda redonda, louco para acertar alguns tapas pela sua ousadia.
Patrícia fecha as cortinas e puta que pariu, tudo nessa mulher beira o erotismo. Ela
caminha novamente na minha direção me deixando hipnotizado, suas delicadas mãos
desabotoando minha camisa, um botão de cada vez, mantendo o contato visual.
— Você é lindo Aidan. — Ela fala deslizando as mãos pelos meus ombros, tirando minha
camisa por completo.
Queria parar, falar para ela quem sou e o que vim fazer em Galway, mas me sinto o mais
desgraçado dos homens por não querer acabar com tudo. Por fim ela vai me odiar, mas não hoje.
Deslizo as mãos pela sua cintura até alcançar o fecho do sutiã, me livro da peça deixando
seus seios expostos. Seguro-os firmemente e levo um à minha boca, círculo ele com a língua e
chupo, arrancando dela um gemido contido. Enquanto massageio um, sugo o outro com desejo.
Deito-a na cama com cuidado, beijando cada parte do seu corpo macio e cheiroso. Desço
meus beijos até a sua barriga e deslizo a mão por dentro da sua pequena calcinha de renda.
— Quente e ensopada. — Patrícia arqueia as costas e fecho os olhos enquanto massageio
a sua boceta em movimentos circulares com as pontas dos dedos. Tiro sua calcinha com os
dentes, arrancando um sorriso malicioso dela.
Umedeço os lábios vendo sua boceta rosada babando, me levanto, tiro toda minha roupa
sob o seu olhar atento, ela cora quando tiro a cueca, expondo meu pau.
Me ajoelho entre suas pernas, me pondo em reverência pela primeira vez na vida diante
de uma mulher. Seguro firme suas coxas e deslizo a língua pela sua boceta a fazendo agarrar os
lençóis.
Círculo a língua pelo seu clitóris antes de penetrar um dedo, seguido de outro. Ela tenta
fechar as pernas, pressionando minha cabeça e a chupo sem pudor.
— Ah, Aidan... — Fala meu nome entre gemidos deliciosos e sinto meu pau doer, duro
feito pedra, com a cabeça melada, louco para me afundar dentro dela.
Sinto os espasmos de sua boceta apertada, esmagando meus dedos e penetro com a língua
enquanto massageio em um movimento circular seu ponto de prazer, até ela gozar, chamando
meu nome. Prolongo seu prazer, chupando seu gozo, encarando suas expressões.
— Que delícia Aidan... — Ela fala, tentando normalizar a respiração com a face
ruborizada.
21
Patrícia Ricci

ncaro o Aidan com a face queimando, sentindo ondas de calor percorrerem todo o meu
E corpo. Mal controlo minha respiração que está mais rápida e profunda. Ele fica em pé e
observo seu corpo com desejo.
Nunca me senti tão atraída por um homem, e nunca tinha tido um orgasmo. Li sobre,
tentei me conhecer sozinha, mas nada se compara ao que Aidan me proporcionou.
— Nunca tinha tido um orgasmo Aidan, foi incrível. — Ele franze o cenho e me olha
com atenção.
— É virgem? — Posso ver como a pergunta o deixa descontável pela forma que ele me
encara.
— Não, mas nunca fui tocada assim — Mordo os lábios nervosa, com receio de que ele
perca interesse pela minha falta de experiência.
A verdade é que a forma como o Aidan me olha e me toca é única. As sensações que só
provei nos seus braços são deliciosas. Com Ryan, senti dor, desconforto, e só queria que ele
acabasse o mais rápido possível. Demorei a entender que ele não tinha respeito e cuidado por
mim, e só agora confirmei que meu prazer nunca importou para ele.
— Quer continuar? — Afirmo com a cabeça, e Aidan se posiciona em cima de mim.
Fecho os olhos sentindo seus lábios tocarem os meus, sem pressa. O beijo é calmo e me faz
esquecer todos os pensamentos que me invadiram.
— Não sei quais são os seus medos e inseguranças, Patrícia, mas vou afastar todos eles,
amando cada parte do seu corpo como deveria ter sido feito desde a primeira vez que foi tocada.
Você é perfeita e não merece menos do te darei essa noite! — Ele afirma olhando nos meus
olhos e me sinto segura nos seus braços, uma sensação nova que traz calma ao meu coração.
Aidan beija meu pescoço, deslizando a mão pela minha coxa. Seus toques são intensos,
mas não me causam dor. Ele desce os lábios pelo meu pescoço até os meus seios, deixando
chupões e mordidas pelo caminho.
A forma faminta com que ele toma meus seios me deixa ansiosa, e meus gemidos são
como combustível para ele. Sinto seu membro tocar a minha intimidade e me retraio.
— Não vou te machucar. — Ele sela meus lábios com um beijo carregado de desejo e
desliza sua mão até a minha intimidade acariciando meu ponto de prazer enquanto sou moldada
ao seu tamanho e grossura. Mesmo sem ter relações há alguns anos, não sinto dor.
Aidan é grande, mas me deixa pronta para recebê-lo. Sinto ele todo dentro de mim e
fecho os olhos sentindo um arrepio de excitação percorrer todo o meu corpo, fico completamente
relaxada, quando ele começa a se movimentar.
— Está tudo bem? — Abro os olhos, ouvindo sua voz embargada de preocupação.
— Não para Aidan... — Tenho dificuldade de falar, com cada parte do meu corpo
implorando por ele.
Passo minhas pernas pelo seu quadril, buscando por mais. Seguro seu rosto e o beijo
completamente entregue, desejando-o com uma intensidade surreal. Aidan entrelaça as mãos dele
às minhas e entra cada vez mais rápido e forte me preenchendo por completo.
— Geme para mim, Patrícia. — Ele fala em tom firme, sem desviar o olhar. Não me
contenho mais e deixo meus gemidos ecoarem pelo quarto.
Aidan segura meu quadril e aumenta suas estocadas me fazendo delirar. Ele geme com a
voz rouca, que o deixa terrivelmente sexy. Beijo seu pescoço e passo a língua até o seu ouvido.
— Ah, Aidan... eu vou... — Minha voz falha, ele sai de dentro de mim, me fazendo
suspirar frustrada.
Sou virada de bruços em um movimento rápido e preciso. Aidan empina minha bunda e
sinto um tapa dele queimar na minha pele. Não me assusta, muito pelo contrário, me deixa ainda
mais excitada.
Sinto seus lábios tocarem minha intimidade, chupando em seguida sem pudor, rebolo no
seu rosto, com sensações desconhecidas me invadindo. É como se meu corpo pertencesse a ele,
agindo involuntariamente a cada toque.
Aidan para outra vez quando estou perto de gozar, sou preenchida de uma vez e nossos
gemidos se misturam e ecoam pelas quatro paredes do quarto. Suas estocadas duras e ritmadas,
aceleram as batidas do meu coração. Fico ofegante como se tivesse corrido uma maratona e
gozamos juntos.
Sinto seus jatos quentes me preenchendo e ele não para, com as mãos cravadas em meu
quadril. Esse orgasmo foi mais intenso, fazendo cada músculo do meu corpo relaxar.
— Caralho, Patrícia. — Ele pragueja alto. Não o imaginei falando palavrões, mas a
verdade é que tudo nele é sexy e não me incomoda.
Ele se deita ao meu lado, tirando algumas mechas de cabelo do meu rosto, selando meus
lábios com cuidado. Me aninho ao peito dele e sou envolvida em seus braços. Estamos suados e
ele parece não se importar com nada.
— Te machuquei? — Ele pergunta olhando com atenção meu corpo.
— Não. — É só o que consigo falar. Escondo o rosto no seu peito, não queria que ele
percebesse o quanto essa pergunta significou.
Ele segura meu queixo, me fazendo olhar nos seus olhos, e desliza o polegar pela minha
bochecha.
— Sua primeira vez, foi consensual? — Respiro fundo antes de responder, procurando as
palavras certas.
— Foi consensual. Mas nunca teve gentileza, fui tratada por alguém que confiei mais do
que apenas o meu corpo como uma prostituta. Temia nossos momentos íntimos, era xingada,
humilhada e meu prazer não importava. Só queria que acabasse e fazia tudo que me era imposto
para durar o mínimo.
— Por que aceitou ser tratada dessa forma? — Posso ver os olhos do Aidan escurecerem,
mas a raiva que ele sente não é de mim. Sinto isso nos seus toques cuidadosos e na forma que ele
me envolve nos seus braços, me passando segurança para falar de algo que só contei à minha
terapeuta.
22
James Lambertti

— Conheci Ryan durante a adolescência, ele parecia legal e me conquistou com flores e
chocolates. Aceitei namorar com ele e no começo era gentil e paciente. Ele esperou meu tempo
para ter qualquer intimidade... — Patrícia respira fundo se aninhando ao meu peito.
— Não precisa continuar. — Afirmo entendendo que o pior está por vir, tudo que
precisava saber é o nome do covarde e agora, eu sei.
— Na nossa primeira vez, fiquei dias com dor. Ele disse que o fiz esperar demais,
afirmando que jamais teve a intenção de me machucar, me culpou por não estar totalmente
entregue. Eu acreditei nele, pois nunca tinha tido contato íntimo e por timidez nunca conversei
sobre o assunto. Contudo, nunca melhorou, os xingamentos, os tapas no rosto eram cada vez
mais humilhantes. — Ela se senta desabafando visivelmente angustiada, enquanto a abraço por
trás.
— Ele é um filho da puta covarde. — Cuspo as palavras sentindo ódio.
— Era sempre assim, ele afirmava que ninguém iria me querer, que era sem graça, que
meu corpo não era atraente e que era sonsa na cama. Comecei a acreditar em tudo, não tinha
autoestima e sentia que ninguém nunca iria querer um “brinquedo quebrado”. Quando finalmente
percebi que isso era um relacionamento tóxico e abusivo, por meio da leitura de um livro,
terminei com ele e ameacei denunciá-lo se me procurasse outra vez. Embora tenha feito terapia
por anos, nunca tive coragem de contar a ninguém, com vergonha de mim mesma, por ter me
submetido a tudo isso. — Ouço tudo com atenção, sem soltar a Patrícia.
— Você não teve culpa alguma. — Pego ela e a sento de frente para mim, no meu colo.
— É uma mulher linda, atraente e, diabos, veja como fico ao te ter nua em meus braços.
Ela cora e esconde o rosto em meu pescoço. Agora entendo por que ela esperava que
descobrisse “que ser diferente era algo bom”, ela estava insegura. A forma que ela caminhou de
lingerie até a cortina, sem qualquer noção do quanto é sexy faz todo sentido agora.
— Obrigada Aidan. — Sua voz soa baixo.
— Essa foi a melhor gozada da minha vida, Patrícia. — Afirmo, fazendo ela sorrir
timidamente.
Carrego-a em meus braços até o banheiro, onde encho a banheira e ela entra. Me sento
atrás dela e lavo seu corpo com cuidado.
— Me ama outra vez Aidan. Quero sentir todas essas sensações novamente. — Ela pede,
virando o rosto na minha direção, nossos olhares se encontram e entendo que sou incapaz de
dizer não.
Deslizo uma mão até sua intimidade acariciando, enquanto com a outra massageio seu
seio. Sussurro em seu ouvido o quanto ela é linda e gostosa, deixando-a entregue nos meus
braços.
Giro Patrícia, colocando-a de frente para mim quando percebo que ela está pronta para
me acomodar outra vez. Ela se senta lentamente no meu pau, me fazendo gemer rouco em seu
ouvido. Posiciono suas mãos nas bordas da banheira, uma de cada lado, e selo seus lábios com
urgência enquanto ela começa a se movimentar, pegando o ritmo.
Entramos em um ritmo delicioso e levo seus seios à minha boca, fazendo ela gemer alto.
O telefone do quarto toca, mas ignoro. Deslizo as mãos firmemente por seu corpo, observando
suas expressões.
— Aidan... — Sua voz soa baixo, carregada de prazer. Sua boca busca pela minha,
enquanto ela arranha minhas costas. Cravo minhas mãos em seus quadris, ajudando-a a se
movimentar, fascinado por como ela fica linda excitada. Ela fecha os olhos e inclina a cabeça
para trás.
— Olha para mim, Patrícia. Quero ver seus olhos quando estiver gozando. — Exijo e ela
me olha nos olhos.
— Porra! — Gozo com ela e percebo o quanto estou fodido, enquanto preencho sua
boceta com meu gozo.
Patrícia descansa a cabeça no meu ombro. Fecho os olhos com força me dando conta de
que, pela primeira vez na minha vida, transei sem camisinha. Respiro fundo e não a deixo
perceber minha irritação.
Preciso encontrar uma maneira de contar a verdade a ela, mas agora sinto que ela nunca
vai me perdoar, não depois de tudo que passou com Ryan. Tomamos um banho juntos no
chuveiro, peço algo para comer no quarto e a trato como uma prioridade absoluta.
A ligação era devido a reclamações dos hóspedes sobre o barulho. Ignoro, pois não me
importa se eles se incomodaram. Comemos na varanda, enquanto Patrícia me conta sobre os
livros, filmes e músicas que ela gosta.
O assunto não me importa, percebo que gosto de ouvi-la e a deixo falar, sem me importar
com as horas passando, apenas prestando atenção nela. Fecho o seu roupão, com a temperatura
caindo.
— Vamos entrar?
— Está esfriando, vamos. — Ela levanta do meu colo e me estende a mão. Pego sua mão
e caminhamos de mãos dadas até o quarto. Ela se deita apenas de lingerie na minha cama e fecho
as portas da varanda e as cortinas. Deito de cueca boxer preta e a puxo para os meus braços
cobrindo-a.
— Não nos prevenimos. — Ela ergue a cabeça, mordendo os lábios, pensativa.
— Amanhã posso comprar uma pílula do dia seguinte. Só tive um parceiro e fiz exames
depois. — Ela fala constrangida. A verdade é que nem pensei nisso, embora seja uma
preocupação válida.
— Nunca tive relações sem camisinha. Quanto à pílula, acho uma excelente ideia. — Ela
repousa a cabeça no meu peito e a abraço.
— Boa noite Aidan. — Sua voz está embargada de sono.
— Boa noite Patrícia. — Ela adormece e faço o mesmo sem perceber, a segurando
firmemente em meus braços.
23
Patrícia Ricci

esperto com dificuldade, sentindo as mãos do Aidan me envolvendo. Um sorriso bobo


D escapa pelos meus lábios, que logo desfaço tentando voltar à realidade. Ao tentar sair dos
seus braços ele abre os olhos lentamente e beija minha testa.
— Assim fica difícil. — Murmuro mais alto do que gostaria, atraindo sua atenção. A
maneira que ele está me tratando, não ajuda.
— Bom dia, não compreendi.
— Bom dia. Quero dizer que assim fica difícil sair da cama.
— Não saia. — Ele fala com a voz rouca, beijando meu pescoço e tento me afastar.
— Meus pais devem estar preocupados. — Suspiro com seus toques.
— Eles irão à sua casa?
— Voltei a morar com eles, e não avisei que passaria a noite fora.
— Quando? — Aidan franze a sobrancelha e inclina a cabeça levemente.
— É uma longa história, depois explico melhor, pois agora bonitão, preciso mesmo ir ou
abrirão um boletim de ocorrência. — Sinto seus lábios tocarem os meus, ele me imobiliza sob
seu corpo e segura meus pulsos acima da minha cabeça com uma mão.
— Valerá a pena ser preso por sequestro. — Aidan sussurra no meu ouvido me deixando
completamente desorientada. Sinto minha calcinha úmida e ondas de calor me invadem,
enquanto suas mãos percorrem firmemente cada parte do meu corpo.
— Aidan... — Seu nome quase não sai e estremeço quando sinto sua mão deslizar por
dentro do fino tecido da minha calcinha.
— Não quer? — Ele pergunta, me olhando de forma tão intensa que não consigo
raciocinar.
— Não para. — Falo, me movimentando em sua mão.
— Geme para mim, delícia. — Aidan exige, me penetrando com dois dedos. Não tenho
controle sobre meu corpo, não consigo raciocinar e muito menos responder.
— Por Deus Aidan... — Suplico enquanto ele continua o ritmo intenso dos dedos, sem
soltar meus pulsos, mordiscando meu pescoço.
— Tira o sutiã! — Seu tom é firme, e obedeço prontamente, ansiando por sua boca em
meus seios rígidos. Ele os chupa intensamente, e percebo o quão sensíveis estão.
Tenho um orgasmo tão intenso que travo minhas pernas em sua mão, trêmula e ofegante.
Ele me observa com um sorriso presunçoso, enquanto tento controlar todas as sensações que ele
desperta em meu corpo.
— Quer ir embora? — Nego de forma firme, preciso senti-lo e sequer me lembro porque
queria ir embora.
Dou um grito contido de susto com ele segurando as laterais da minha calcinha e
puxando-a com força. Nunca imaginei que algo assim seria excitante e tenho a certeza de que é
com ele que vou aprender tudo sobre prazer.
Ajudo Aidan a se livrar da cueca e peço que inverta as posições. Coloco minhas mãos no
seu peito e me sento no seu membro lentamente, sinto um arrepio percorrer todo meu corpo
enquanto sou preenchida por ele.
— Ah, Aidan... — Ele segura meu quadril e se movimenta debaixo de mim, rebolo e
sento, provocando um gemido dele que ressoa como um rosnado.
— Ah, caralho! — Ele estapeia minha bunda e segura meus seios com firmeza,
pressionando os bicos com as pontas dos dedos. Intensifico o ritmo cavalgando em seu membro,
nossos gemidos se misturam preenchendo o quarto.
— Não colocamos proteção... — Falo ofegante, sem cessar os movimentos.
— Não quero nada entre a gente Patrícia. Preciso sentir essa boceta quente como o
inferno, esmagando meu pau. — O beijo completamente entregue em seus braços, ele muda a
nossa posição, se deita sobre meu corpo de bruços, apoia a mão na cama e me invade sem aviso.
Empino a bunda e não controlo meus gemidos, ele coloca meu cabelo de lado e morde o
lóbulo da minha orelha. Nos movimentamos juntos, entrando em um ritmo intenso.
Gozamos, exaustos e suados. Não consigo me mover e Aidan cai ao meu lado me
observando com atenção, como se quisesse ter certeza de que estou bem. Deixo um sorriso de
satisfação escapar pelos meus lábios e ele suspira aliviado.
— Estou bem até demais. Apenas faminta depois desse exercício intenso. — Afirmo,
tirando um pequeno sorriso dos lábios de Aidan.
Permanecemos um tempo na cama, trocando carícias, antes de seguirmos juntos para um
banho, onde não resistimos aos toques um do outro e nos entregamos outra vez. Sinto cada parte
do meu corpo sensível e tomo um relaxante muscular que por sorte trago em minha bolsa.
Tomamos café da manhã em um clima agradável e Aidan me deixa em casa. Me sinto
uma adolescente outra vez me despedindo dele na porta.
— É o último. — Afirmo sentindo meus lábios castigados pela sua intensidade, antes de
beijá-lo outra vez. — Isso porque não é cavalheiro e romântico, imagina se não fosse mal-
humorado.
— Sou minha melhor versão apenas com você. — Fico sem palavras pela primeira vez,
sentindo como cada palavra faz meu coração bater em ritmo descompassado.
Passo as mãos pelo pescoço dele, sentindo a sensação de mil borboletas no estômago e
abro um sorriso nos seus lábios. Nos despedimos com dificuldade e entro em casa animada.
Meus pais me olham preocupados e me desculpo, sem dar detalhes sobre o motivo de não ter
retornado para casa.
Subo para o meu quarto, me troco e vou à confeitaria, organizar a loja para reabrir
amanhã cedo. Levo mais tempo que o de costume, distraída, pensando na noite quente que com o
Aidan.
24
James Lambertti

o chegar no hotel, entro em contato com a empresa e finalizo todas as pendências. O


A advogado me informa que a dívida dos pais da Patrícia foi quitada, explicando o motivo de
sua volta à casa dos pais.
Sigo até varanda para respirar um pouco, me sentindo péssimo por executar essa dívida.
Meu pai, em um telefonema exaltado, questiona por que ainda não resolvi a questão da vistoria
na confeitaria. Crio uma desculpa, que por ora, ele aceita.
Ele me manda resolver as questões do hotel à beira-mar no Brasil. Decido ir, é um projeto
que pessoalmente vou cuidar e assim terei tempo para resolver o problema envolvendo a Patrícia.
Decido verificar como o Liam está e descubro que ele não retornou ao hotel. Preocupado,
vou em todos os pubs da cidade atrás dele, mas sem sucesso em minha busca. Descubro que ele
foi expulso de um pub por se envolver em uma briga, e em seguida, vou aos hospitais próximos.
Meu motorista consegue uma informação sobre o último local que Liam foi visto e o
encontro desacordado em um beco. Observo que foi roubado, encontrando sua carteira vazia
próxima a ele com os documentos espalhados pelo chão.
— Liam, acorda... — Ele abre os olhos com dificuldade, o supercílio está cortado e o
rosto machucado. — Merda Liam, por que dispensou o motorista?
— James? — Sua voz é fraca, ele parece confuso e o ajudo a levantar. Liam geme de dor
e o levo até o hospital mais próximo, percebendo que ele não está completamente lúcido.
Chego ao hospital, ele é levado para fazer triagem. Eu permaneço na recepção, andando
de um lado para o outro. O médico chama pelo acompanhe de Liam e informa que ele sofreu
uma concussão leve e recomenda algumas horas de observação e repouso. Sou direcionado ao
seu quarto e não me afasto dele, me sentindo culpado por tê-lo deixado sozinho.
— James, o que aconteceu? — Liam finalmente acorda e parece consciente.
— Você exagerou na bebida e brigou em um pub. Por que não me ligou, Liam? — Ele
me olha confuso.
— Não é a minha babá, James! — Ele responde irritado, com as mãos nas têmporas. O
médico havia me alertado sobre a dor de cabeça e acredito que além da concussão a ressaca terá
um preço alto.
— Não sou sua babá, sou seu amigo. Entendo que deve ser difícil lidar com a perda da
Mia, especialmente no final do ano... — Ele me interrompe, irritado.
— Não entende porra nenhuma, nunca perdeu ninguém, James! — Liam respira pesado,
com raiva.
— Perdi Liam. Eram o que tinha mais próximo de uma família. Deixei a Mia entrar na
minha vida e ela era como uma irmã, pode não ser a mesma coisa, era a sua esposa, mas doeu a
partida dela, principalmente porque parte de você se foi com ela.
Liam balança a cabeça em sinal de negação e o silêncio se instaura. Ele tem dias bons,
mas as datas comemorativas muitas vezes o levam a recaídas com a bebida. Sinceramente, pensei
que este ano seria diferente, parecia bem, mas me enganei.
As horas passam e ele recebe alta. Retornamos ao hotel e ele me manda sair do seu
quarto. Me sento na poltrona ignorando sua fúria em silêncio. As horas passam se arrastando,
tento lhe entregar o remédio e ele arremessa o copo com água na parede. O barulho do copo
quebrando ecoa alto e respiro pesado para manter a paciência com ele.
— Acha que a Mia queria ir embora? O que acha que ela não daria para estar aqui, agora
ao seu lado? Infelizmente Liam, ela morreu, mas você está vivo e deveria dar mais valor à vida.
— Ele me ignora. — Você vive falando que tenho que viver, que preciso mudar e não segue seus
próprios conselhos, é um hipócrita!
— Cala a boca, James. Você está nesta cidade, escondendo a porra da sua identidade para
enganar e tirar tudo de uma pessoa que nunca te fez mal, e me falando de hipocrisia? Vá se
foder!
— Sou um filho da puta, egoísta e nunca escondi isso de você. Posso ter chegado a essa
maldita cidade com essa intenção, e se quer saber, não me sinto bem por isso. Mas não estou
usando a Patrícia. — Afirmo com firmeza, ganhando sua atenção.
— Vai dizer que vai morar em Galway, desistir do seu hotel e virar confeiteiro? — Ele
fala em tom de deboche.
— Eu não sei o que vou fazer. Sabe que mesmo meu pai tendo me passado a presidência,
ainda se intromete nas decisões. Este hotel é um projeto que chamou a atenção dele e tenho
certeza de que não vai desistir.
— É um idiota! — Liam afirma, voltando a atenção aos cacos de vidro no chão.
— Atira um copo de vidro na parede e eu sou um idiota? — Ele me olha e fecha os olhos.
— Vendo o quanto está fodido, minha raiva passou e agora preciso do remédio para dor.
— Jogo um travesseiro na cara do Liam e ligo pedindo para alguém limpar a bagunça que ele
fez.
— Está melhor, imbecil? — Pergunto e vejo um pequeno sorriso surgir no rosto dele
antes de falar.
— Então sou como um irmão? O mais próximo que tem de família? — Ele franze o
cenho e me levanto para sair do quarto.
— Se voltou a ser um otário é porque está melhor. Nesse caso, me ligue se precisar de
algo. — Afirmo, caminhando até a porta.
— Está sério assim a ponto de não conseguir ficar algumas horas longe dela? — Saio do
quarto sem responder à pergunta do Liam.
Encaro o meu relógio e vejo que está tarde. Tento ligar para Patrícia e a chamada vai
direto para a caixa de mensagem. Deixo para falar com ela amanhã pela manhã e vou dormir.
25
Patrícia Ricci

Dediquei o dia inteiro à confeitaria e ao final do dia sou surpreendida por uma vistoria.
Mario, que é um amigo da nossa família, acompanha a vistoria com um olhar preocupado. Fico
em silêncio, deixando-os à vontade e apenas observando tudo à distância.
Pensava que teria mais tempo para resolver algumas pendências que sabia estarem em
aberto. Com os últimos gastos relacionados à enfermeira, acabei me descuidando de algumas
coisas.
— Essas vistorias costumavam ser mais rápidas Pati. — Julie afirma, visivelmente
preocupada.
— Vá para casa, pode deixar que eu resolvo tudo por aqui. Não se preocupe. — Digo,
sem acreditar totalmente em minhas próprias palavras.
— Tenho que ir, mas me liga e me conta tudo. — Ela beija minha bochecha e sai
apressada, acabou ficando além de seu horário hoje.
Observo o fiscal anotar diversas informações em sua prancheta, e minha preocupação
aumenta. Mario me olha constantemente, sem esconder sua apreensão. Eles terminam e respiro
fundo ao me aproximar, temendo o que vão me comunicar.
O fiscal de identifica como Benjamin e me entrega um documento de aviso. Pego-o com
as mãos trêmulas, lendo a ordem para fechar a confeitaria.
— Fechar? — As palavras quase não saem.
— Precisa refazer toda a parte elétrica da confeitaria. O risco de um incêndio causado por
um curto-circuito aqui é alto, e você não poderá reabrir até resolver tudo que listamos. — Olho
novamente o documento sem acreditar, é impossível arcar com todos os custos.
Engulo seco diante de suas palavras, e eles se despedem, colocando o aviso de interdição
na porta. Abro minha conta, percebendo que utilizei até minhas economias para quitar a dívida
dos meus pais.
Me recuso a chorar e começo a pensar em uma solução. Decido ir embora, amanhã terei
que acordar cedo para ir atrás de alguns orçamentos e tentar um empréstimo do banco.
Aidan desapareceu, e tento afastar minhas inseguranças. Meu telefone descarrega e o
deixo carregando, desligado. Passo a noite praticamente em claro e desperto cedo para resolver
as minhas pendências.
Recebo uma mensagem do Aidan, informando que fará uma viagem ao Brasil e que logo
estará de volta. Os orçamentos que obtenho me assustam, mas não permito que o desânimo me
abata. Julie me acompanha aos bancos e sem entender por que, todos negam meu empréstimo.
— Por que estão negando? — Julie pergunta tão confusa quanto eu. O desespero
aumenta, pois ela depende desse emprego e se não puder reabrir a confeitaria tudo vai se
complicar.
— Calma, vamos a Dublin, há outros bancos. — Encaro a baby, embora ame esse carro,
ele será útil para ajudar nos remédios do Robert.
— Não posso ir, minha mãe não está bem. — Ela fala com a voz embargada de
preocupação.
— Cuide do seu pai, vou resolver essa situação. — Afirmo, me despedindo da Julie.
Vou a Dublin, mas as respostas dos bancos são as mesmas. Dois dias se passam e com
muita tristeza me desfaço da baby. Gael é o melhor mecânico da cidade, ele sempre foi fascinado
por ela, e já tinha feito várias propostas que eu recusei. Ele me paga um valor razoável pelo
carro, mas nada que resolva meus problemas com a confeitaria.
Compro os remédios do Robert e acerto com Julie, mesmo ela resistindo em aceitar, eu a
obriguei, pois sabia que ela precisava. Meus pais permanecem ao meu lado e Kevin insiste na
proposta de comprar da loja.
Aidan simplesmente desapareceu, e com tantos problemas, não consigo ir atrás de
informações sobre seu paradeiro. Fico na confeitaria sentada no balcão pensando em uma
solução.
Um homem alto, de cabelos grisalhos e imponente, bate à porta. Caminho em sua direção
insegura, incerta sobre abrir ou não a porta. Ele tem um olhar frio, que me causa arrepios. Abro a
porta desconfiada e ao invés de deixá-lo entrar, por medo, saio para entender suas razões para
estar aqui.
— Posso ajudá-lo?
— Me chamo Brandon Lambertti. — Ele estende a mão e não o cumprimento. — Vejo
que não tem bons modos senhorita Patrícia.
— Se veio com outra proposta para comprar a confeitaria, pode voltar a New York,
senhor Brandon!
— Pequena, mas corajosa. James conduziu muito bem a situação, senhorita Patrícia, e
assim como eu, sabe que não tem outra alternativa. Essa é a minha última proposta com um valor
razoável.
— James? — Pergunto sem entender quem é James. Que me lembre, o fiscal de chamava
Benjamin e se ele tiver algo com a vistoria como imagino, não faz sentido o nome que citou.
— James Aidan Lambertti é meu filho. — O encaro, sem conseguir disfarçar a minha
surpresa e decepção.
— Não pode ser. — Murmuro mais alto do que gostaria.
— James veio com a missão de conseguir a confeitaria a qualquer custo. Embora acredite
que ele se aproveitou um pouco da situação, não posso negar o orgulho que tenho do meu filho.
— Suas palavras embrulham meu estômago e engulo seco, tentando controlar a ânsia que sinto.
— Está mentindo!
— Veja você mesma se não estou falando a verdade. — Na pasta que ele me estende, tem
reportagens com a foto do Aidan, e-mails que comprovam a compra da dívida dos meus pais e a
necessidade de uma vistoria na loja.
26
Patrícia Ricci

ngulo o choro, me lembrando do Aidan observando cada detalhe na confeitaria, inclusive a


E fiação. Pego meu celular e pesquiso pelo seu nome, na esperança de que tudo seja mentira.
Tem várias reportagens e matérias dele com os pais, destacando-o como o dono do maior
grupo hoteleiro do mundo.
Leio novamente o arquivo percebendo que até a tentativa de assalto que sofri na porta da
confeitaria foi armada por ele. Nada foi real, tudo fez parte de um jogo sujo e eu fui apenas um
brinquedo em suas mãos.
— Tudo isso para construir um hotel? — Falo, segurando tão firme o papel que amassa
em minha mão.
— Não entramos em um jogo para perder, Patrícia. — Um sorriso presunçoso surge em
seus lábios o deixando ainda mais assustador.
— Perderão a decência jogando sujo, isso é nojento!
— Não vou dizer que sinto muito, porque não sinto. Era a única loja que não tinha
comprado, um pequeno empecilho para meus planos. — Olho em volta, percebendo que todas as
lojas estão fechadas. — Fechei a última ontem.
— É um homem detestável, Brandon. Acha que está acima de todos por ter muito
dinheiro, mas é mais pobre do que o dinheiro não pode comprar. Pode derrubar a loja e construir
o seu hotel, mas jamais vai apagar as memórias que tenho desse lugar! — Falo, entrando na loja.
Ao tentar fechar a porta, ele coloca o pé me impedindo.
— Devo chamar a polícia? — Digo firmemente.
— Tem até amanhã para tomar uma decisão. Pense bem, Patrícia. Se mudar minha oferta,
as pessoas que dependem de você vão sentir o peso da sua escolha. Não estou brincando e minha
próxima proposta será metade desse valor! — Brandon deixa um envelope nas minhas mãos.
Ao abrir, me sento sentindo as lágrimas que segurei rolando pela minha face. Vejo um
relatório minucioso sobre a minha vida solicitado por James. As despesas que tenho com o
Robert estão destacadas e a nova proposta de compra é com um valor muito abaixo do que o
imóvel vale.
Como todos venderam e a loja está com problemas, o corretor reavaliou o imóvel. Aviso
aos meus pais que não volto hoje para casa, preciso de um tempo para colocar toda angústia que
estou sentindo pra fora.
Choro por horas, compulsivamente, até chegar à exaustão. Paro com o dia amanhecendo
e lavo meu rosto, prometendo a mim mesma que não vou mais chorar. Vou até o Kevin e explico
tudo a ele. Embora ele tenha sido um babaca, fica revoltado com o grupo Lambertti e resolve me
ajudar.
Ele consegue contatar o maior rival do James e vendemos a loja para ele. Posso até não
ter outra opção além de vender a loja, mas decido não agir no impulso e resolvo tudo de modo
racional.
Consegui um valor mais alto, até mesmo do que a loja valeria nas condições atuais e
Kevin foi extraordinário negociando. Pego o documento da venda e sigo com o ele até o hotel
onde o Brandon está hospedado. Ele caminha na minha direção com toda sua arrogância e um
sorriso vitorioso.
— Vejo que assinou o contrato de venda! — Sua voz é calma, e não esconde a satisfação
por acreditar que me venceu.
— Sim, assinei e vim pessoalmente agradecer o incentivo. Graças à sua arrogância e
prepotência, consegui vender a confeitaria por um valor muito acima do que esperava.
— Como? — Ele pergunta, elevando seu tom de voz grosseiramente.
— “Vejo que não tem bons modos, senhor Brandon”. — Repito as palavras que ele usou
comigo, vendo seus olhos escurecerem.
Entrego em suas mãos uma cópia do contrato da venda da loja e ele rasga o papel irritado,
cerrando os punhos com força. Kevin fecha a cara e fica entre nós.
— Cuidado Brandon. Vejo que preza pela sua imagem e não cairia bem a notícia de que
se exaltou, por ter perdido o jogo para pequena confeiteira. Passar bem! — O deixo bufando na
recepção do hotel e solto o ar que estava segurando.
— O velho vai morrer de infarto. Tenho certeza de que vão atrasar a construção do hotel
apenas para prejudicá-los. Será um duelo de titãs, Pati.
— Obrigada por me ajudar Kevin. Preciso ir para casa. — Ele me olha com culpa.
— Desculpa Patrícia. Sei que não justifica, mas estávamos passando por dificuldades.
— Passou e agora está tudo resolvido. — Ele se despede e vai embora.
Chego em casa e sem contar detalhes, informo aos meus pais da venda. Julie me ajuda
com algumas caixas e seguimos para a confeitaria. Pego tudo pessoalmente, segurando as
lágrimas que prometi a mim mesma que não deixaria mais rolar pela minha face.
Julie é o tipo de amiga que torna o meu silêncio confortável, ela sabe como está sendo
difícil e apenas mostra que está aqui, para o que precisar. Acabo sorrindo ao lembrar de detalhes
da minha infância aqui.
Passo as pontas dos dedos nos pequenos riscos no canto da parede marcando minha altura
e recordo do meu avô dizendo que não crescia porque comia pouco fermento. Ainda posso ouvir
as risadas da minha avó ecoando pela cozinha.
Termino tudo angustiada, com um misto de sentimentos. Fechamos a última caixa e
saímos da confeitaria. Me viro e vejo James se aproximando.
— Julie, obrigada. Preciso de um tempo para falar com o James. — Ela suspira frustrada
e acena com a cabeça.
— Queria só um dos mafiosos dos livros que estou lendo para levá-lo ao galpão nesse
momento. Não seja boazinha e acerta um gancho de direita nele, nada de tapa. Aliás, ele merece
mesmo é um belo chute no saco. — É impossível não rir da Julie.
Ela sai e James abre um pequeno sorriso ao se aproximar de mim, ele só pode ser doido.
27
James Lambertti

— James Aidan Lambertti. — Desfaço o sorriso, paralisando diante da Patrícia. — Disse


algo errado?
— Patrícia... — Ela me interrompe.
— Confiei em você, “Aidan”. Como pode me usar em um jogo sujo? — Ela fala, se vira
e caminha rapidamente. Me apresso em alcançá-la e seguro sua mão.
— Eu não te usei... — Sou interrompido mais uma vez.
— Então, está dizendo que não veio a Galway disposto a tudo para comprar a confeitaria?
— Pergunta com raiva.
— Sim, mas... — Patrícia solta minha mão bruscamente e volta a caminhar.
— Usou seu segundo nome, contratou uma pessoa para simular um assalto, executou a
dívida dos meus pais e pediu uma vistoria à confeitaria. Acha mesmo que quero te ouvir
justificar tudo isso? Tenho nojo de homens como você e o seu pai!
Engulo seco as palavras da Patrícia, ela me olha com desprezo e sinto um nó se formar na
garganta me impedindo de responder. A vejo se afastar, caminhando em passos rápidos,
refletindo sobre cada palavra.
Não pedi a vistoria e se tudo foi feito tão rápido, no período em que fiquei fora, tenho
certeza de que meu pai está por trás disso. Ligo para o Liam que me informa que o desgraçado
esteve na cidade e retornou mais cedo para New York.
Preciso conversar com a Patrícia, mas antes, tenho que resolver a bagunça que fiz. Só
agora me dei conta de que o meu pai fez tudo de caso pensado. Cheguei a dormir sem perceber,
atolado em papéis e problemas.
Liam me deixa a par de tudo, me lembrando que me avisou como disse que faria. Por
mais raiva que sinta agora, ele está certo e quando pensei que estava manipulando a situação,
mais uma vez estava sendo manipulado pelo homem que decidiu meus passos a vida toda.
— O que vai fazer? — Liam pergunta preocupado.
— Resolver a bagunça que fiz. — Ele cerra o cenho e se levanta agitado.
— Vai contra uma decisão do Brandon? — Me levanto, pego meu celular e mando a
Mirtes resolver tudo para que eu retorne a New York o quanto antes.
— Já passou da hora. — Repondo o Liam sem medo, encarando as ruas de Galway.
— Ele não vai hesitar em te destruir, James. É um homem sujo, sem escrúpulos e você
sabe disso.
— Ele me criou para pensar como ele, Liam. O que não contava é que me viraria contra
ele. Vou limpar a minha bagunça e volto para conversar com a Patrícia. — Coloco as mãos nos
bolsos, sentindo a culpa me corroer.
— Ela está te odiando James, e com razão.
— Não mais do que me odeio nesse momento. Dizem que uma consciência limpa é a
melhor sensação que podemos ter. Começo a acreditar, porque a maldita culpa é dolorosa. —
Falo com uma sensação terrível de aperto no peito.
— Gosta mesmo da Patrícia?
— Estava aqui com ela. Não percebi por que estávamos juntos vivendo tudo tão
intensamente que não compreendia o que significava. O tempo que passei longe dela foi
essencial para me fazer entender muitas coisas. Nunca senti nada parecido, Liam. Não entendia o
que era, mas agora, eu sei o que significa o desespero por perder algo valioso.
Volto minha atenção à varanda, relembrando o sorriso da Patrícia falando sobre suas
músicas, filmes e livros preferidos. Sua voz, que trazia uma calma que nunca senti na vida, hoje
é responsável por uma dor insuportável em meu peito.
— Foi muito burro e não vou amaciar o seu ego. Agora, conserta isso ou a amargura vai
acabar com você. — Liam fala tocando meu ombro. Ele sai do quarto e eu fico na varanda a
noite toda, vendo o dia amanhecer diante dos meus olhos, decidindo meus próximos passos.
Não vou te perder, Patrícia. — Murmuro para mim mesmo.
Me levanto, tomo um banho e sigo até a pista de pouso. Aguardo meu jatinho ser liberado
e adormeço sem perceber durante do voo. Sou acordado por uma das aeromoças e me dou conta
que apaguei por horas.
Chego a New York e vou direto para casa dos meus pais, minha entrada é liberada e
encontro os dois na sala. Meu pai não solta o jornal e a minha mãe continua lendo uma revista.
Não os vejo a mais de um mês e sequer olham na minha cara.
— Estou deixando a presidência do grupo Lambertti. — Minha mãe se engasga com o
chá e os dois me olham espantados.
— O que disse, James? — Minha mãe fala.
— Não existe essa possibilidade, Gabriella. — Meu pai afirma e o encaro sem mudar a
minha expressão.
— Ou passa às ações legalmente para o meu nome me deixando realmente à frente das
empresas, ou irei agora mesmo anunciar publicamente que estou fora!
— Vai continuar seguindo meus passos? — Ele fala, me direcionando um olhar frio, sei
que ele gosta de manter o controle, mas, no fundo posso ver que ele esperou essa atitude, porque
queria que agisse como ele.
— Claro, por que não? — Ele afirma com a cabeça e seguimos para o escritório.
— Demorou a querer assumir o seu lugar. Tomei essa decisão quase uma década antes de
você e só dei motivos para o meu pai se orgulhar de mim. Espero que não me decepcione James.
— Ele fala me entregando os documentos oficiais para assinar.
Estava tudo pronto e consigo odiá-lo ainda mais, por me manipular todos esses anos para
terminar fazendo exatamente o que ele esperava. Respiro fundo e não transpareço a raiva que
sinto nesse momento. Sei que ele precisa oficializar tudo legalmente e publicamente primeiro.
Assino tudo e saio da mansão irritado. Tento ligar para Patrícia e percebo que fui
bloqueado. Queria tranquilizá-la, afirmar que vai ficar tudo bem, e principalmente precisava
ouvir a sua voz. Levarei no mínimo um mês para ter a posse de tudo e não sei se esse tempo vai
piorar tudo.
28
Patrícia Ricci

aminho apressada, com raiva de mim mesmo, me perguntando como não percebi o óbvio.
C No fundo, esperava que o James tivesse sido usado como eu, mas não, ele é tão sujo quanto
pai, ou até mais.
Abraço meu próprio corpo, em busca de qualquer sensação de consolo, entro em casa e
sou acolhida pela minha mãe. Conto tudo a ela, recebo todo carinho que precisava nesse
momento.
Posso ver como ela ficou magoada com o James. Só de pensar em como ele foi baixo,
entrando na minha casa mesmo depois de ter comprado e executado a dívida dos meus pais
apenas para nos prejudicar, me sinto ainda pior.
— Mãe, sinto tanto pela confeitaria. Confiou em mim... — Me encolho nos braços da
minha mãe, com a cabeça em suas pernas e ela me faz um cafuné.
— Estou triste pela confeitaria, era um lugar especial, minha filha. Mas, se pararmos para
pensar bem, ficamos com a casa e aqui tenho as melhores recordações da minha infância. Foi
aqui que a minha mãe começou a fazer os bolos e doces. Nessa casa ela criou as primeiras
receitas e ganhou a confiança dos nossos primeiros clientes. — Escuto minha mãe com atenção
me lembrando da minha avó contando a história de como tudo começou.
— Mãe, me deixa recomeçar aqui? — Ela inclina a cabeça e abre um pequeno sorriso.
— Claro que pode. — Me sento e pego meu notebook, Julie me incentivou a abrir uma
página na internet para postar fotos e vídeos dos bolos. Percebo que temos vários seguidores,
praticamente todos da confeitaria nos seguem nas redes sociais.
— Mãe, preciso ir à Julie. Não sei mexer nas redes sociais e preciso avisar nossos clientes
que agora estaremos funcionando online com pronta entrega e encomendas! — Afirmo sem
medo, pegando minha agenda e a minha bolsa. Beijo a bochecha da minha mãe e ela me encara
preocupada.
— Filha, estarei ao seu lado.
— Ah mãe, força e resiliência correm no sangue das mulheres dessa família. Vou
recomeçar e ficaremos bem. — Ela suspira e me despeço, indo apressada à casa da Julie.
Sou recebida de braços abertos e passamos horas criando o marketing para amanhã fazer
o anúncio nas redes sociais. Aprendo tudo sobre como postar, aplicativos que devo usar para
criar as mensagens e a Julie direciona todas as mensagens de encomenda para o celular dela.
— Foi bom você aprender como mexer. Não sei quando eu vou faltar. Quero que saiba,
que vou cuidar da loja online com o mesmo carinho que cuidei da loja confeitaria. Vai dar certo,
minha amiga.
— Vai sim, agradeço por sempre acreditar em mim e me apoiar em tudo. Eu te amo. —
Falo a encarando, com um sentimento de gratidão preenchendo meu peito.
— Já chega, choramos o que tínhamos de chorar e está pegando pesado. Eu também te
amo minha pessoa e se começar a agradecer por tudo que fez e faz por mim, o choro será
inevitável. — Abraço ela e me despeço, amanhã começaremos uma nova jornada e preciso
descansar.
Chorei toda minha angústia, me permitindo sentir raiva, medo e até arrependimento.
Tomo um longo banho, preparo um chá, faço uma oração e me lembro de um salmo que minha
avó lia para mim quando tinha pesadelos.
“6 Não fique ansiosos por causa de coisa alguma, mas em tudo, por orações e súplicas,
junto com agradecimentos, tornem conhecidos a Deus. 7 e a paz de Deus, que está além de toda
compreensão, guardará o seu coração e a sua mente por meio de Cristo Jesus”. Filipenses 4:
6,7
Seco as lágrimas com os punhos, sentindo uma paz inexplicável invadindo meu coração.
De olhos fechados pude ouvir a voz da minha avó e relembrar o seu sorriso doce. Respiro
aliviada e durmo sem perceber a noite toda, como há muito tempo não fazia.
Quarenta e cinco dias depois…
Um mês se passou e decidi começar apenas com doces e cupcakes pronta entrega.
Entendo o ritmo e me adapto à nova rotina. A cozinha ficou pequena para produção, mas por
hora, é suficiente.
Não tive notícias de James, e não busquei nada dele. Uma semana depois de tudo, me
lembrei que esqueci de comprar a pílula do dia seguinte. Não tinha mais o que ser feito e esperei
pelo meu período antes de me preocupar.
Estou a mais de quinze dias atrasada e ainda não tive coragem de fazer o teste que
comprei. O medo me deixa tensa a ponto de errar a receita do cupcake. Estou distraída, com sono
e meus seios estão mais sensíveis. Embora sejam sintomas sutis, me deixam ainda mais tensa.
— Patrícia! — Encaro a Julie assustada com a forma que ela me chama. — Desculpa, te
chamei três vezes.
— Posso estar grávida. — Afirmo em pânico, sentindo uma forte náusea com o cheiro da
compota de morango invadindo a cozinha.
— Calma, o que disse? — Ele pergunta, deixando a sobremesa cair das mãos.
— Estou enjoada com o cheiro da compota de morango, nunca enjoei assim. Além disso,
meus seios estão sensíveis e tenho tido dificuldade para acordar pela manhã, porque estou
sentindo um sono absurdo. Não nos prevenimos Julie, e no dia seguinte com a vistoria, esqueci
de comprar a pílula.
— Precisa fazer um teste! — Ela afirma com um sorriso bobo nos lábios. — Ah meu
Deus, meu primeiro sobrinho, ou sobrinha, é claro.
— Estou em pânico. — Falo respirando com dificuldade, percebendo que ainda não tinha
falado em voz alta sobre a gravidez.
29
Patrícia Ricci

— Calma, respira e vamos confirmar se está grávida primeiro para depois surtar. Tudo
bem? — Nego com a cabeça, não está tudo bem.
Julie desliga a compota de morango, segura a minha mão e olha nos meus olhos,
respirando e inspirando com calma. Estava tão nervosa, tão ansiosa que levei um tempo para
normalizar a minha respiração.
Caminhamos juntas até o meu quarto, pego o teste no meu criado mudo e caminho com
as mãos trêmulas até o banheiro, parando na porta.
— E se der positivo?
— Esse bebê terá sorte por ter uma mãe incrível. — Ela afirma com um sorriso doce.
Entro no banheiro e fico alguns minutos tão nervosa no vaso que não consigo fazer xixi. Quando
finalmente termino o teste, viro ao contrário na pia e abro a porta.
— E então? — Julie pergunta e nego com a cabeça. — Negativo?
— Não tive coragem de ver o resultado.
— Pati, não vai mudar o resultado se não olhar. — Pego o teste com as mãos trêmulas e
viro. Encaro as duas listras rosas com o coração batendo rápido e forte no peito.
Meus olhos ardem, e o som do meu coração ecoa nos meus ouvidos. Julie me abraça e
seguro o teste tão firme na minha mão que chega a doer. Lágrimas rolam pelo meu rosto sem que
eu consiga controlar.
— Eu estou grávida. — As palavras saem, tornando tudo real. Sinto frio na barriga
pensando nas circunstâncias em que o meu bebê foi gerado, ele ou ela fez tudo ganhar um novo
significado e por sua causa, não me arrependo de nada.
— Está e eu fui promovida a titia. Parabéns, Pati. — Ela me olha com um sorriso enorme
estampado em seu rosto. Coloco o teste no balcão da pia, levo as mãos à barriga e a Julie coloca
as mãos dela acima da minha.
— Está com medo?
— Apavorada, mas ao mesmo tempo, sem entender como é possível, completamente
apaixonada pelo meu bebê. — Olho o meu reflexo no espelho, vendo minha barriga lisa, sem
qualquer sinal claro de que não ando mais sozinha e não entendo como pode surgir um amor tão
puro em meio a tantas incertezas e medo.
— Entendo o pavor, mas uma coisa é certa Pati, amor não vai faltar para vocês dois. —
Suspiro emocionada.
— Eu sei. — Afirmo, pegando o teste e olhando outra vez o resultado.
— Vai contar ao James? — Mantenho os olhos fixos no teste.
— É direito dele como pai saber, no entanto, estou apavorada com a possibilidade dele
usar a influência e o dinheiro que tem à disposição para tirar o meu bebê de mim. — Minha voz
falha e Julie me encara pensativa.
— Não conta, está certa. Ele é um homem sujo e desonesto.
— Preciso pensar. — Mesmo sendo o que gostaria, a verdade sempre vem à tona, mais
cedo ou mais tarde, e para mim mentira ou omissão são a mesma coisa.
— Independente do James ter jogado sujo comigo, eu não sou igual a ele e não vou
justificar um erro com outro. Ele é o pai e embora esteja magoada, não posso privá-lo desse
direito. — A preocupação em seus olhos é visível e me faz temer estar tomando a decisão errada.
— Estarei ao seu lado independente da decisão que tomar.
— Bom, preciso de ajuda com passagens aéreas, tenho que ir a New York. — Falo sem
qualquer ânimo.
— Leva sua mãe Pati, não posso viajar e ficar dias fora, mas não confio que vá sozinha.
— Meu pai não sabe sobreviver sem a minha mãe, não se preocupe. Vou comprar
passagens de ida e volta no mesmo dia. Quero apenas contar ao James sobre a gestação e isso é
algo que preciso enfrentar sozinha. — Digo enquanto saímos do banheiro.
— Tudo bem, não desisti da ideia de enterrá-lo vivo e espero que com essa ida a New
York não mude de ideia e resolva dar uma de Dexter e torturá-lo antes. — A repreendo com um
olhar, embora o James tenha cometido um erro grave, que revelou sua falta de caráter, sou muito
mais pacífica do que ele merece.
Dou a notícia aos meus pais que literalmente comemoram e saem contando a todos os
vizinhos, animados que serão avós. Termino os doces e cupcakes e a Julie separa os pedidos
enquanto compro as passagens.
Meu pai não concordou que eu fosse, mas respeitou minha decisão. Minha mãe me
apoiou, acha certo contar ao James, ela não escondeu que espera que o bebê o ajude a ser uma
pessoa melhor. Não posso negar que compartilho desse pensamento.
Embora não o queira mais na minha vida, ele é o pai e nosso bebê merece o melhor de
nós dois. Kevin me avisa que a confeitaria está sendo derrubada e corro até a rua da loja.
Sinto um misto de sentimentos vendo tudo ser demolido como se não fosse nada. Kevin
diz que o grupo Lambertti conseguiu o acordo e começou a demolir todas as lojas para iniciar a
construção do hotel.
— Vem minha filha, vamos para casa. — Meu pai fala com a voz embargada.
— Acabou pai, destruíram tudo. — Falo com o choro preso na garganta.
— Não fica assim meu amor, o bebê sente tudo. — Minha mãe fala e caminho de volta
para casa entre meus pais, sentindo uma angústia terrível.
30
James Lambertti

enho vivido um mês conturbado, descubro uma cláusula no contrato do meu pai, na qual
T tenho um prazo de um ano para me casar ou perco definitivamente a presidência. Enquanto
lido com essa imposição de um maldito casamento por contrato, concentro meus esforços
em recuperar a confeitaria.
Ao encarar o calendário, percebo que se passaram quase dois meses sem ver a Patrícia ou
ouvir a sua voz e sinto o peso das minhas escolhas. Liam voltou a New York e tem me ajudado.
Finalmente recupero a confeitaria e respiro aliviado sendo nomeado oficialmente o presidente e
maior acionista do Grupo Lambertti.
Mirtes entra na minha sala, com uma expressão preocupada, gaguejando, sem conseguir
articular uma frase coerente. Irritado, pego a agenda eletrônica de suas mãos e leio o último
pedido do meu pai antes de me tornar oficialmente responsável pelas decisões finais.
— Foi executado? — Pergunto e Mirtes estremece antes de responder.
— Esta manhã. — Jogo a agenda eletrônica na parede, furioso, a fazendo se encolher em
seu próprio corpo com o barulho dela se quebrando.
— Que droga, Mirtes! Como deixou isso acontecer? — Sou mais ríspido do que gostaria
e me afasto dela, com receio que tenha um infarto pelo pavor em seus olhos.
— Seu pai tem pessoas aqui que o servem lealmente, tudo foi feito de modo que não
ficasse sabendo até a execução. — Ela corrige a postura e fala com firmeza.
— Quero a lista de todos que ainda não entenderam quem manda aqui. Providencie
também as cartas de demissão de cada um deles. — Seus olhos se arregalam e vejo abrir e fechar
a boca mais de uma vez.
— Isso envolve metade da empresa, senhor James. — Sua voz falha e percebo o susto
causado por minhas palavras.
— Prefiro ter metade da equipe e confiar, do que trabalhar com pessoas que vão me
apunhalar na primeira oportunidade. Aprenda Mirtes, não se trabalha com quem não se confia.
— Certo, senhor. Queria que soubesse que estou ao seu lado. — Ela afirma e volto minha
atenção ao computador.
— Se não tivesse certeza disso, jamais seria minha secretária, Mirtes. — Ela abre um
pequeno sorriso que desfaz quando a encaro sério.
— Desculpa, vou demitir metade dos funcionários. Quer dizer, o senhor vai demitir e não
eu, obviamente. — Arqueio uma sobrancelha e ela arregala os olhos. — Estou nervosa, mas vou
fazer agora mesmo o que pediu.
Mirtes me encaminha por e-mail a lista tão rapidamente que vou até a mesa dela
intrigado.
— Já tinha essa lista? — Ela pula da cadeira, levando a mão ao peito e me encara
ajeitando a postura.
— Não seria uma boa secretária se não soubesse em quem poderia confiar, senhor James.
— Ela ajeita os óculos me encarando com um sorriso contido.
— Bom trabalho, agora peça a alguém de confiança para organizar a demissão de todos
em silêncio. Quero todos fora das empresas de uma vez.
Afirmo e retorno a minha sala, me pondo de pé diante das amplas janelas atrás da minha
mesa, encarando a vista espetacular da cidade. Coloco as mãos nos bolsos refletindo sobre a
minha decisão.
Dei mais de uma oportunidade para todos aqui escolherem um lado. Não posso ter ao
meu lado pessoas nas quais não posso confiar. Estou recomeçando, tentando ser melhor e não
farei isso sob o controle do meu pai.
Queria tanto a sua aprovação que usei ao longo dos anos táticas questionáveis para
alcançar meus objetivos, sem se importar com nada e nem ninguém. Patrícia me mostrou um
lado diferente da vida, e enxerguei a beleza do mundo através dos seus olhos.
Ela é doce e gentil com todos, sempre olhando o lado positivo das piores situações.
Descobri que ela vendeu não apenas a sua casa e a confeitaria, mas também precisou se desfazer
da “baby”. Ainda não entendo a relação dela com aquela lata velha, mas confesso que me peguei
sorrindo de mim mesmo, por ter embarcado com ela naquela loucura.
Ela me fez quebrar todas minhas regras sem que eu percebesse. Me deixou viciado em
seus lábios, obcecado por seu corpo e fodidamente apaixonado, a ponto de não me imaginar sem
ela.
Queria ter me dado conta de tudo isso antes de ter cometido uma série de erros que não
posso corrigir. A loja foi demolida e nem imagino como foi difícil para ela ver tudo sendo
destruído.
Não sei se algum dia ela vai me perdoar, nem mesmo acredito que seja possível. Ainda
assim, não vou desistir e por essa razão estou tentando melhorar, buscando merecer a redenção.
Deixo a empresa tarde, durmo mal mais uma noite e enfrento dois dias intensos de muito
trabalho na empresa. Mirtes me informa que está tudo certo para demissão em massa e reforço a
segurança na empresa, a fim de evitar problemas ao notificar os funcionários.
— Senhor James, Dora, que é da nossa confiança, afirmou que Patrícia Ricce se
identificou na recepção. Uma das recepcionistas, com ordens deixadas por seu pai, mandou
chamar a segurança para colocá-la para fora. — Me levanto abruptamente da cadeira e passo
apressado por Mirtes.
Caminho até o elevador privado, que por sorte abre as portas. Aviso Mirtes para ela ligar
na recepção dando ordens minhas para que não toquem em Patrícia e aguardo nervoso o elevador
chegar à recepção.
Meu coração bate tão rápido que temo ter um infarto. Ando de um lado para outro
olhando fixamente para os números dos andares. Respiro pesado, pensando no que dizer a ela,
não faço ideia de como começar a me desculpar.
31
Patrícia Ricci

s dias passam e a minha ansiedade cresce à medida que a data da viagem a New York se
O aproxima. Trabalho concentrada, tentando mudar o foco das minhas preocupações e
finalizo tudo a tempo. Faço uma breve parada no laboratório, para pegar o resultado do
exame que confirma minha gestação, antes de seguir para o aeroporto.
Meus pais se despedem com inúmeras recomendações e fico angustiada com a forma que
me olham. Deixo claro que logo estarei de volta e sigo em direção aos portões de embarque.
Durante o voo passo mal e assim que desembarco, pego um táxi até a empresa do Grupo
Lambertti.
Fico completamente fascinada pela cidade, embora seja diferente de Galway, é
deslumbrante. Ao chegar à empresa, pago pela corrida do táxi e fico um tempo parada na porta,
ainda sentindo mal-estar.
Entro na empresa e me identifico na recepção com meus documentos, me pedem que
aguarde e observo os detalhes internos da empresa. É linda e não posso negar que embora sejam
desonestos, eles têm bom gosto. Dois seguranças se aproximam em passos firmes e sou apontada
pela recepcionista que fala alto e em bom tom:
— Temos ordens do senhor Lambertti para retirar a senhorita Patrícia escoltada. — Meus
olhos se arregalam e dou um passo para trás, levando a mão à barriga em sinal de proteção.
— Não será necessário... — Nem completo a frase, sou agarrada com brutalidade por um
dos homens e arrastada até a porta. — Solta meu braço. Está me machucando. — Minhas
palavras são ignoradas como se eu fosse insignificante.
— Solta ela agora! — A voz do James ressoa pela recepção, alto e claro, me causando
calafrios pelo tom ríspido. O segurança me solta imediatamente, e massageio o braço tentando
aliviar a dor do aperto.
James olha furioso para o segurança, seus olhos têm mais do que raiva. Não compreendo
por que mandou me retirar e agora simplesmente mudou de ideia. Ele agarra o segurança pela
camisa se controlando e o manda direto para o RH.
Engulo seco pela forma com que todos me olham, e ergo meu olhar em direção ao James.
Ele ordena que todos voltem ao trabalho entre dentes.
— Estejam todos avisados que a entrada da Patrícia é liberada na minha empresa. — Ele
se aproxima, suavizando sua expressão quando nossos olhares se encontram. Sem se importar
com a pequena plateia, toca meu braço encarando a marca vermelha.
— Desculpa por isso, aliás, não só por isso. Nunca mais vai se repetir, eu garanto. —
Respiro pesado com sua aproximação e me afasto.
— James, eu precisava entregar isso a você. É seu direito seu saber, mas quero que
entenda que não muda nada entre nós. — Entrego o resultado do exame de gravidez nas suas
mãos.
— O que é isso? — Ele pergunta, fazendo menção de abrir o envelope, mas eu o impeço.
Toco sua mão e sinto uma pequena corrente elétrica percorrendo meu corpo.
— Será melhor abrir quando tiver um pouco de privacidade. — Digo, olhando ao redor.
— Me acompanha até o meu escritório?
— Não estou me sentindo bem. Acabei de chegar à cidade e passei mal durante o voo.
Preciso descansar, James. Podemos falar sobre o conteúdo do envelope, amanhã pela manhã,
antes de pegar o voo de volta a Dublin. — Ele passa a mão pelo cabelo e me olha com uma
expressão preocupada.
— Não quer ir ao médico? — Balanço a cabeça negativamente. — Me acompanha se
senta na minha sala, conversamos e quando estiver melhor, eu a levarei até onde está hospedada.
— Não. Vou enviar a localização do hotel e tem até amanhã para me procurar antes de
voltar para casa. — Eu me viro e ele segura meu pulso sem grosseria.
— O que tem no envelope? — Respiro fundo e viro na direção dele, mordendo os lábios,
sem saber como contar que estou grávida no meio da recepção da sua empresa.
— Podemos ir para um local mais reservado? Não quero ir à sua sala, James! — Afirmo,
não para ele, mas para mim mesma. Seria difícil ficar no mesmo ambiente que ele e ainda não
me sinto pronta para ter uma conversa sobre tudo que aconteceu.
Ele segura minha mão firmemente e me guia até próximo do elevador privado. Paro de
frente para ele, notando sua hesitação em abrir o envelope, mas permaneço em silêncio. Ele me
encara e abre o envelope olhando confuso o exame. Sua expressão muda, e me assusta o medo
em seus olhos, ele parece apavorado e fico sem entender a sua reação.
— Está com câncer? — Abro a boca e solto o ar que nem notei que segurei.
— Não! Não viria a New York te dizer que estou com câncer, James! — Ele respira
aliviado, ficando com uma expressão confusa.
— Então, me entregou o envelope errado?
— Não, James. Estou grávida. — Afirmo, vendo-o pegar novamente o resultado do
exame do envelope.
— Grávida? — Ele indaga, com a voz baixa, relendo o resultado com atenção.
— Engravidou a confeiteira? — A voz do Brandon ecoa atrás de mim e me viro na sua
direção.
— O que faz aqui? — James fala entre dentes com o pai e dou um passo para trás.
— Golpista! — Sou surpreendida com um tapa tão forte no meu rosto que sinto o gosto
do sangue e perco o equilíbrio, sendo amparada pelo James, que se aproxima rapidamente. Não
previ esse tapa e não tive tempo de reação.
Sinto meus olhos arderem e um nó se forma em minha garganta. Levo a mão ao rosto,
sentindo a ardência do tapa que levei. James me ajuda a ficar de pé, o pai dele levanta a mão na
minha direção outra vez e tento me proteger.
James é mais rápido, segurando seu pulso com força, o fazendo gemer de dor. Ele acerta
um soco de punho fechado no pai e todos se aproximam, espantados. Brandon revida e saio
apressada e desnorteada da empresa. Aguardo o sinal de trânsito fechar, e atravesso a rua, na
faixa de pedestre.
Tudo acontece muito rápido. Um carro avança o sinal vermelho e sinto um forte impacto
que lança meu corpo com força contra o chão. Perco os sentidos lentamente vendo uma pequena
multidão se formando em volta de mim.
32
James Lambertti

e enfureço com a forma que a Patrícia é tratada dentro da minha empresa. Mesmo
M sabendo que esse inferno de ter pessoas desleais acaba hoje, deixo claro que ninguém a
desrespeitará aqui.
Apesar de ter plena consciência de que ela não veio sem motivo, tenho dificuldade de me
concentrar revendo-a depois de tanto tempo. Sua voz é exatamente como me lembrava e sinto a
sensação de paz que tanto ansiava escutando-a falar.
Vejo o resultado do exame e sinto um aperto no peito, o valor é bem mais alto do que o
mínimo indicado e a palavra “câncer” sai com dificuldade da minha boca. Ela nega e finalmente,
respiro aliviado.
Embora fique sem entender o porquê do exame, é um alívio saber que não é um
diagnóstico terminal. Ela fala como se não fosse nada mais, as palavras “estou gravida”. Engulo
seco me apressando em abrir o envelope novamente. Concluo que os números são algo que
indica gravidez e me questiono quantos bebês para ser tão alto.
Fico paralisado, tentando assimilar a informação. Nesse momento, meu pai chega e
agride Patrícia. Sem tempo para reagir, não consegui impedir o covarde de atingi-la com força.
Ajudo ela a ficar em pé, sentindo seu corpo trêmulo.
O desgraçado faz menção de agredir ela novamente, e dessa vez o impeço, devolvendo o
ato covarde sem piedade. Ele desmaia após o segundo golpe, quando tenta revidar. Percebo que
Patrícia não está mais na recepção e olho em volta nervoso, procurando-a.
Uma das recepcionistas me avisa que ela saiu e peço que levem o covarde do meu pai
para o pronto socorro, pois vai precisar de alguns pontos. Me apresso em ir atrás dela e escuto
algo que faz meu coração errar cada batida em um ritmo cruel.
— Uma moça foi atropelada, chamaram a ambulância. — Olho ao redor e vejo uma
pequena multidão. Me aproximo com dificuldade e vejo a Patrícia desacordada no chão.
Desespero não descreve a profundidade do que sinto. Me ajoelho e mal consigo enxergá-
la, com lágrimas rolando pelo meu rosto. Não a toco com medo de que ela tenha sofrido alguma
fratura.
— Chamem uma ambulância pelo amor de Deus. — Grito desesperado.
— Senhor se afasta, sou socorrista. — Alguém toca meu ombro, mas eu ignoro.
— Ela está grávida, precisam pedir ajuda. — Imploro, tirando uma mecha de cabelo do
rosto dela.
— Patrícia, acorde, pelo amor de Deus, abre os olhos. — Peço desesperadamente,
enxugando as lágrimas que dificultam minha visão com os punhos.
— Senhor, precisa se afastar, os paramédicos estão chegando. — Alguém fala, e escuto o
som da sirene.
Aguardo a ambulância estacionar, e eu me afasto. Me sento no chão, completamente
desesperado, enquanto eles prestam os primeiros socorros a ela, que permanece desacordada.
Falam comigo, mas não compreendo nada. Escuto um zumbido terrível e fecho os olhos
com força, implorando para que tudo isso seja apenas um pesadelo. Ao abrir os olhos, observo a
polícia chegar e os paramédicos a levam até a ambulância.
Outra ambulância chega, e observo o motorista do veículo que atingiu a Patrícia
desacordado, com um corte profundo na testa. O paramédico se aproxima e se abaixa na minha
direção.
— Conhece a paciente? — Ele fala alto e entendo que não é a primeira vez que faz a
pergunta.
— Ela está grávida, meu filho está bem? — As palavras saem com dificuldade.
— Foi atingido senhor? — Nego com a cabeça.
— Consegue nos acompanhar? — Ele pergunta e eu apenas afirmo com a cabeça, me
levanto sentindo as pernas pesadas, caminhando com dificuldade.
Entro na ambulância e seguro a mão da Patrícia vendo-a sendo conectada a aparelhos de
monitoramento.
— De quantas semanas ela está grávida? — Entrego o envelope nas mãos do paramédico,
incapaz de dizer uma palavra.
— É uma gestação recente e o impacto foi forte, o senhor precisa se preparar. — Ele fala
com pesar e faço algo que nunca fiz na minha vida, suplico a Deus por uma misericórdia que não
mereço.
Nunca antes havia falado com Deus, e em certo momento, duvidei da sua existência. Mas
agora preciso acreditar em algo para não enlouquecer com a culpa e a dor que esmagam meu
peito. Luto para respirar e não solto a mão da Patrícia sequer por um minuto.
Ao chegar no hospital, os médicos já a aguardam na porta e o paramédico entrega o
exame de gravidez, informando tudo sobre o acidente e sobre o tempo de gestação. Não entendo
nada, mas permaneço atento a cada detalhe.
Eles a levam me deixado à beira de um abismo, sem notícias e em pânico na recepção.
Me apoio na parede, deslizando lentamente até o chão. Recolho as pernas para junto do corpo e
abraço, buscando consolo.
Não paro de implorar a Deus, suplicando que não me tire nenhum dos dois. Ainda não me
desculpei, não disse a ela o quanto a amo e não aceito a ideia de perdê-la dessa maneira.
Prometi a mim mesmo que passaria o resto da minha vida compensando-a por meus erros
e ainda não comecei a provar que mereço o seu perdão. Nunca tive nada de verdadeiro valor, que
realmente importasse e me recuso a perder a melhor coisa que já me aconteceu.
33
James Lambertti

ão consigo me mover. Queria gritar, exigir informações, mas não consigo sair do lugar. Os
N minutos se arrastam sem qualquer informação dela e respiro com dificuldade, buscando
algum resquício de controle. Escuto a voz do Liam e ergo meu olhar na sua direção,
completamente desorientado.
— James... — Ele se senta ao meu lado e não consigo dizer nada.
Um dos meus seguranças me entrega a bolsa da Patrícia e Liam pega o documento dela e
entrega na recepção. Tenho a sensação de que tudo está em câmera lenta, as palavras do
paramédico “O impacto foi forte, precisa se preparar”, ecoam na minha mente, me causando um
misto de revolta e impotência.
— Era para ter sido eu, Liam... — Minha voz falha e percebo que minhas lágrimas
continuam rolando pelo rosto sem que eu consiga contê-las.
— Não era para ter sido nenhum dos dois. Ela vai ficar bem, James. — Ele afirma
tocando meu ombro.
— Patrícia está grávida Liam! Vou ser pai e não posso perder nenhum dos dois! — Liam
me olha surpreso.
— Grávida!?
— Nunca tive nada Liam, nada pelo que lutar, nada de bom que pudesse me orgulhar.
Tudo que tenho está em uma conta e não vale nada, é inútil. — Falo sentindo o gosto amargo de
cada palavra.
— Acompanhante de Patrícia Ricci... — Um médico chama na recepção e me levanto tão
rápido que fico tonto. — Está tudo bem, senhor?
— Como ela está? E nosso bebê, está bem? — Falo atropelando as palavras.
— Ela está consciente, com dor e sendo medicada. Não fraturou nenhum osso e vai ficar
em observação essa noite no hospital, com repouso absoluto essa semana. Não vamos descartar o
risco de aborto, pois, sendo a primeira gestação, o impacto foi um grande trauma para o corpo.
— Aborto? Ela pode perder o bebê, é isso? — Pergunto sentindo um aperto no peito.
— Não podemos descartar o risco ainda — Ele fala as recomendações, e confuso, peço
para repetir mais de uma vez, garantindo que seguirei rigorosamente cada uma delas. Liam me
pede calma, só então percebo como estou apavorado.
Uma enfermeira me pede para acompanhá-la até o quarto da Patrícia e hesito para entrar.
Respiro fundo, me acalmo e bato na porta, antes de abri-la.
Patrícia me olha, seus olhos estão vermelhos, denunciando que chorou. Encaro com
vergonha a marca da mão em seu rosto, suas mãos repousam na barriga e eu me aproximo
respirando pesado.
— Me perdoa... — Fico em pé próximo da cama, sem saber se posso me aproximar,
segurando a vontade que tenho de abraçá-la.
— Não foi culpa sua, James. Eu atravessei a rua sem esperar que todos os carros
parassem primeiro. Um deles avançou no sinal vermelho e tudo aconteceu muito rápido. — A
sua voz é baixa, carregada de culpa.
— Não estaria aqui se tivesse sido agredida pelo meu pai. — Ela morde os lábios e fecha
os olhos, posso ver como falar sobre isso é doloroso.
— Seu pai tem culpa por me agredir, o motorista do carro que me atropelou tem culpa
por passar no sinal vermelho e esses são os fatos. Não podemos mudar nada disso. — Ela desvia
o olhar, eu sento na cama e faço menção a tocar a sua barriga. Ela não me impede, segura minha
mão e repousa em sua barriga com cuidado. Abaixo a cabeça completamente derrotado, disposto
a dar tudo que tenho para garantir que nosso bebê se desenvolva de forma saudável.
— Me deixa ficar e cuidar de vocês. — Suplico encarando seus olhos tristes. Ela suspira
e fica em silêncio. — Errei muito Patrícia, mas te imploro que me deixe te ajudar. Não tem
ninguém aqui e não pode embarcar em um voo de volta à Irlanda.
— Não tenho para onde ir depois da alta e não posso ficar sozinha por causa da
recomendação de repouso. Ainda assim, não quero o seu pai perto de mim.
— Não moro com meus pais e vou respeitar os seus limites. — Mantenho minha mão em
sua barriga, louco para levantar a sua camisola e beijá-la.
— Pode parecer que não tenho outra opção, mas se ultrapassar os limites, darei um jeito
de sumir da sua vida, James.
— Não vai precisar. — Ela retira minha mão de sua barriga e vira na direção oposta à
minha. — Pode fazer isso?
— O quê? — Ela inclina a cabeça na minha direção e franze o cenho, me olhando com
curiosidade.
— Se mover assim, tão rápido. — Observo ela revirar os olhos, sem entender. — Não
sei como agir Patrícia.
— Se eu precisar de algo, vou te falar. Imagine como se sentia quando estava internado,
com alguém controlando seus movimentos e vai entender.
— Nunca tive um acompanhante no hospital, Patrícia. — Ela se vira na minha direção e
pensativa.
— Nunca ficou doente e precisou ficar internado? — Respiro fundo e me levanto da
cama.
— Quando criança, eu adoecia com frequência, tinha uma dieta restrita e minha
imunidade não era boa, mas sempre ficava sozinho.
— Sozinho em um hospital, sendo criança?
— Isso não importa.
— Mas deveria, James. Se foi deixado em um hospital sozinho, não consigo imaginar o
que passou na sua infância para se tornar um homem tão cruel. — Ela fecha os olhos e abre
rapidamente, suspirando frustrada. — Desculpa pela palavra “cruel”, não pensei antes de falar.
34
Patrícia Ricci

s palavras escapam e me arrependo de falar no instante que as pronuncio, James me encara


A e posso ver como pensar nisso o afetou. Me sinto péssima, principalmente lembrando
como ele entrou no quarto. Estava visivelmente preocupado e arrependido.
— Não precisa se desculpar. Sou o único aqui com razões para isso. — Sua voz é
carregada de tristeza e seu olhar é como o de uma criança se culpando.
— Não te acho cruel, mas achei a sua atitude cruel. — Ele não fala nada e percebo que
chorou. — Pode chamar uma enfermeira?
— Está tudo bem? — Seu olhar recai sobre a minha barriga e se não estivesse tão
magoada, poderia achar fofa a forma que ele se preocupa com o nosso bebê.
— O remédio acabou, ela pediu para avisar. — Ele encara o remédio e fecha ao ver o
sangue, próximo ao acesso. Assim que ele sai, solto o ar que estava segurando. Uma enfermeira
entra antes do James voltar e imagino que tenham se desencontrado.
— Seu marido nos deixou preocupadas, é lindo com ele te ama. — Escuto atenta,
enquanto ela troca o medicamento por soro. Marido?
— Como? — Pergunto sem entender.
— Ele não ouvia ninguém, ficou encolhido no chão da recepção desesperado por notícias.
— Fico em silêncio, assimilando as palavras dela. James retorna com uma enfermeira e as duas
saem.
— Chegou aqui comigo? — Pergunto enquanto bebo a água que a enfermeira me deu.
— Assim que percebi que tinha saído, fui atrás de você. Te encontrei desacordada na rua
e vim com a ambulância. — Ele fala e observo atentamente suas expressões, vendo que
realmente foi difícil para ele.
— Graças a Deus foi apenas um susto, por sorte não me machuquei e não vou me
apavorar. Precisamos acreditar que o nosso bebê vai ficar bem.
— Não suportaria perder nenhum de vocês dois. Por mais errado que eu seja, foram as
melhores coisas que me aconteceram na vida. — Ele respira fundo, me olhando de forma tão
intensa que desvio o olhar.
— Não vai, veremos o nosso filho crescer.
— Vou dar o meu melhor para o nosso bebê, Patrícia. Não tenho nenhuma referência e só
te imploro que me ajude a ser um bom pai. — Ele se senta ao meu lado com lágrimas rolando
pela face, suas palavras são carregadas de dor e medo.
James repousa a cabeça sobre a minha barriga, fico sem reação o vendo tão vulnerável e
coloco a minha mão em sua cabeça, adentrando seus cabelos com calma, sentindo suas lágrimas
molharem a camisola.
Liam bate na porta e entra. Encaro ele que olha preocupado para o James.
— Oi... — Ele diz constrangido.
— Oi Liam. — James senta e ajeita a postura.
— Como se sente, Patrícia? — Ele indaga e James me olha com atenção, aguardando
uma resposta.
— O remédio fez efeito e estou sem dor. — Afirmo, e Liam coloca as mãos no bolso sem
jeito.
— Passei para devolver a sua bolsa e queria saber como estava. Precisam de algo? —
James nega e repondo que não também. Liam se despede e se retira do quarto.
Pego meu celular na bolsa e aviso aos meus pais que vou ficar em New York sem
mencionar o acidente. Minha mãe se anima pensando que é para resolver a situação com o James
e a deixo pensar assim para ficar tranquila.
— Por que mentiu?
— Não adiantaria nada saberem que estou em um hospital. Meu pai não consegue entrar
em um avião e ficariam desesperados. — Ele fica estranhamente quieto na poltrona e muito
constrangida chamo a sua atenção. — Pode me ajudar?
— Claro, do que precisa? — Olho na direção do banheiro e o encaro com a face
queimando.
— Preciso ir ao banheiro. — James se aproxima, sem falar nada e me pega nos braços.
Ele me leva até o banheiro e me olha sem saber o que fazer.
— Precisa de ajuda... — Tiro os braços do pescoço dele e nego antes que ele complete a
frase.
— Só me coloca perto do vaso e pode sair, eu aviso quando terminar. — Ele faz o que
pedi, concorda com a cabeça e sai em silêncio.
Me sento no vaso e até o barulho do xixi ecoando é constrangedor. Fecho os olhos,
levando as mãos à barriga.
— Me ajuda, ficando bem e seguro para que possamos voltar para nossa casa, meu amor.
— Sussurro, termino e chamo o James.
Ele entra no banheiro, espera que termine de secar as mãos e me pega em seus braços.
Repouso minha cabeça no seu pescoço e fecho os olhos sentindo seu cheiro amadeirado
delicioso.
É um cheiro único que combina perfeitamente com a sua pele. Não posso negar que senti
falta de tudo nele. Abro os olhos e o James está parado diante da cama me olhando tão
intensamente que fico desnorteada.
Não faço ideia de quanto tempo estamos assim, são minutos que parecem horas,
carregados de saudades e mágoa. Ele me coloca na cama e me cobre com cuidado. Fico
angustiada com as horas passando, com o choro preso na garganta, lutando para continuar
confiando que tudo vai ficar bem.
35
James Lambertti

atrícia se encolhe, abatida, e sem pedir sua permissão me deito ao seu lado, a puxando para
P o meu peito. Ela tenta me afastar, mas não permito.
— Sei que está tentando pensar positivo e admiro a sua forma de lidar com a
situação. Ainda assim, sei que a preocupação é inevitável. É do nosso filho que estamos falando
e quero que saiba que estou com você. — Ela para de tentar se afastar e se aninha ao meu peito,
pegando no sono em poucos minutos.
Respiro aliviado vendo-a finalmente descansar. O médico disse que precisa evitar
estresse. Foi assustador vê-la caída no chão e principalmente ficar sem notícias. Precisei de um
tempo, mas agora quero cuidar dela e do nosso bebê. Mesmo sendo o principal causador do seu
sofrimento, a amo demais para manter qualquer distância dela.
Aproveito seu sono para pesquisar sobre gravidez. São tantas informações nos sites que
anoto tudo que acho importante. Levo um tempo para entender a tabela de semanas e trimestre,
mas sou ótimo com gráficos e consigo montar uma tabela para entender cada fase com mais
facilidade.
Fecho os olhos por um instante, imaginando a Patrícia com a barriga crescendo e tenho
certeza de que ela vai ficar linda. Pego no sono com esses pensamentos sentindo uma paz que só
sinto com ela nos meus braços.
Dormimos relativamente bem. A cada três horas uma enfermeira entra no quarto, para
aferir, medir pressão, oximetria ou aplicar alguma medicação. Despertamos cedo e tomamos café
da manhã juntos em silêncio.
Ajudo a Patrícia a ir ao banheiro e uma enfermeira auxilia ela no banho, pois a
recomendação é que seja sentada e rápida. Ela passa o dia bem e no final da tarde o médico
assina a alta com um receituário e recomendações de repouso absoluto por uma semana.
A levo para minha casa, e Brigite, minha governanta, é quem nos recebe e a trata com
respeito. Patrícia fica tímida, quando a apresento aos funcionários. Tenho poucos funcionários
que moram na mansão, mas confio em cada um deles e sei que a tratarão conforme orientei.
Levo Patrícia até o meu quarto nos braços. Ela olha tudo com curiosidade, mas não
pergunta nada. Deito ela na minha cama e pego uma coberta no closet.
— É o seu quarto? — Ela faz a primeira pergunta, me olhando desconfiada.
— É... — Repondo enquanto a cubro.
— Traz suas parceiras aqui? — Me surpreendo com a sua pergunta. Me sento ao seu lado
e seguro sua mão.
— Apenas a mãe do meu filho entrou na minha casa e se deitou na minha cama! — Falo
em tom firme, encarando seus intensos olhos azuis.
— Me usou? — Ela pergunta sem desviar o olhar e é visível que não é raiva que ela
sente, mas sim, mágoa.
— Sai de New York com raiva porque estavam demorando com a compra da confeitaria.
A verdade é que raiva era tudo que tinha dentro de mim e apenas fui com o intuito de conseguir o
que queria a qualquer custo, encarando como um jogo. — Ela vira o rosto e seguro seu queixo,
vendo lágrimas se formando no canto dos seus olhos.
— Já entendi... — Sua voz é baixa e embargada pelas lágrimas que ela luta para segurar.
— Te vi na confeitaria alegre e sorridente e algo mudou dentro de mim. Não entendia,
pensei que era raiva que queimava no peito, mas não era. Me aproximei com as piores intenções
e você arrancou de mim o melhor, um lado que eu nem conhecia. Comecei a me sentir mal, mas
não consegui te falar a verdade. Eu tentei, eu juro que mais de uma vez estava determinado a te
falar.
— E por que não falou?
— Porque foi a melhor coisa que me aconteceu. Sequer sabia o que era felicidade até me
pegar sorrindo naquela cozinha com você pela primeira vez. Tive medo de perder a única coisa
boa que tive na vida.
— Foi covarde, mentiu e fez coisas tão sujas, James.
— Fui covarde pela primeira vez na vida. Nunca tive medo de perder nada, nos negócios
era arriscado, mas era apenas dinheiro e não faria falta alguns milhões comparado ao que
ganharia se desse certo. Mas você me ensinou o que era medo, porque tive pavor de te perder.
— Não justifica. — Ela se afasta e encara o teto.
— Eu sei, não quero justificar meus erros. Quero que entenda como me senti para que
possa me dar uma chance de provar em ações que mudei e que posso sim merecer o seu amor.
— Não sei se tem concerto para isso James.
— Nem eu, mas preciso tentar, porque não vou aceitar te perder, não sem antes tentar
consertar as coisas.
— Pode me dar água, por favor?
— Vou pedir a Brigite para trazer a água e anotar as suas preferências. Peça o que quiser,
tudo aqui é seu. Preciso ir à empresa, com tudo que aconteceu e com as demissões que pedi
ontem pela manhã, algumas coisas tenho que resolver pessoalmente. Não tenha medo, todos aqui
são de confiança e irão te tratar com respeito. Volto o mais rápido possível.
Levo a Patrícia ao banheiro, me despeço dela, deixo todos avisados sobre como tratá-la e
peço a Brigite para fazer companhia a ela no quarto até eu retornar.
36
Patrícia Ricci

rigite entra no quarto, anota minhas preferências e me trata muito bem. Ela me traz água e
B um lanche delicioso.
— Deseja mais alguma coisa, senhora Patrícia? — Ela pergunta com um sorriso
gentil.
— Não, e pode me chamar de Pati.
— O senhor James, pediu que todos a chamassem de senhora Patrícia.
— Entendo, bom a casa é dele, então é melhor seguir as orientações que ele deu. —
Coloco o cabelo atrás na nuca e encaro o ar-condicionado do quarto.
— Ele disse que a casa é da senhora, deixou instruções claras para tratá-la como a
senhora da casa. — Fico sem palavras, como assim senhora da casa? James está louco. — Quer
que regule o ar?
— Está frio, se puder mudar um pouco a temperatura eu agradeço. Sobre ser a senhora da
casa, eu nem sei o que dizer, James só queria que eu me sentisse confortável, eu acho.
— Senhora da casa? — Uma mulher, morena, alta, muito bem-vestida entra no quarto
sem bater na porta, com um olhar de desprezo na minha direção. — Foi a responsável pela
primeira briga do meu marido e filho?
— Não, o seu marido foi o responsável pela briga e como pode ver, tenho a marca da sua
mão no meu rosto para provar que ele passou de todos os limites.
— É o tipo de mulher que Brandon dá esse tratamento. — Ela afirma se aproximando de
mim com um olhar de nojo.
— Como é que é? — Pergunto sem acreditar nas palavras da mãe do James. Fica cada
vez mais claro porque ele é tão traumatizado.
— Prostitutas, querida. Quanto quer para tirar esse bastardo e sumir da vida do James? —
Brigite arregala os olhos e se levanta da poltrona ficando entre mim e a mãe do James.
— Não é bem-vinda aqui, senhora Gabriella. — Ela fala em tom firme apontando para a
porta.
— Quem você pensa que é? Ficou louca? Essa é a casa do meu filho.
— Minha lealdade é a senhora Patrícia e tudo aqui pertence a ela, então se retire ou vou
chamar os seguranças.
— Ouviu a Brigite, saia! — Ela me olha e dá uma gargalhada.
— Não é mulher para um homem como James e logo ele também vai perceber isso. —
Não abaixo a cabeça e não desvio o olhar.
— Até ele perceber, a casa é minha. — Devolvo o olhar de desdém — A partir de hoje,
não pise mais nesta propriedade! — Finalizo encarando-a com o mesmo nojo, sequer acredito
nas minhas palavras, mas preciso proteger o meu filho. Se essa mulher for tão inescrupulosa
como o marido é, sem o James aqui, sinto que corro perigo.
Ela sai como entrou, com a cabeça erguida, exibindo uma pose impecável. Brigite a leva
até a porta com receio, e prefiro assim. Caminho em passos cuidadosos até o banheiro e vomito
pensando nas palavras da Gabriella.
Dou descarga e me sento no chão ainda com o coração disparado, tenho que sair dessa
casa, preciso manter distância dessa família ou o pior vai acabar acontecendo.
— Senhora Patrícia, está se sentindo mal? — Brigite entra no banheiro preocupada e me
ajuda a ir até a cama.
— Quem são os pais do James, Brigite? — Ela se afasta e não me responde. — Ele disse
que poderia fazer o que eu pedisse, então quero que me conte, pode ser um resumo. Estou
assustada e com medo pelo meu bebê, por favor Brigite.
— São dois demônios e eu iria embora se fosse a senhora. O senhor James acha que é
como eles, mas nunca foi. O menino foi criado sem amor, atenção ou carinho. Não podia abraçar
os pais e só via os dois em eventos onde tinham que fazer fotos em família. Eles diziam que ele
era uma pequena distração e que isso era para torná-lo forte. Ninguém podia falar com ele ou dar
atenção, porque o foco era estudar e se preparar para assumir o lugar do pai. São dois narcisistas
que chamavam ele de “futuro”. Tem muito mais, esse menino foi torturado psicologicamente
desde que nasceu, chorava até dormir e ninguém podia pegar, isso é tudo que eu vou te contar,
mas saiba que se for embora, torço para levá-lo com a senhora e tirá-lo desse inferno.
— São mesmo os pais biológicos dele? — Minha voz soa baixa e embargada, não
consigo digerir as palavras da Brigite.
— Vi ele sendo gerado e acompanhei o parto senhora.
— Deus, que cruel. — Murmuro refletindo cada palavra que ouvi, ainda sem acreditar.
— Por favor, não diga que lhe contei nada, o senhor James não gosta de fuxico e a
confiança dele só se perde uma vez. Não falei nada por mal, queria que entendesse as ações dele.
— Tem minha palavra, obrigada pela confiança Brigite.
Tomo um remédio para enjoo e fico sonolenta. Luto contra o sono, ainda assustada com a
visita da Gabriella. Minha mente grita para correr daqui, fugir sem olhar para trás, mas não
consigo não pensar em como o James ficaria.
As palavras da Brigite invadem minha mente e lembro do pedido do James para ajudá-lo
a ser um bom pai, falando que não tinha referências. Agora entendo por que ele tem medo, mas
ainda assim, sem perceber, ele já é um pai maravilhoso.
37
James Lambertti

evo mais tempo do que gostaria na empresa e retorno para casa o mais rápido possível.
L Brigite está preparando algo na cozinha, ela tenta falar comigo, mas nesse momento minha
prioridade é ver como a Patrícia está.
Entro no quarto e a encontro agitada. Me apresso vendo que ela está tendo um pesadelo.
Chamo pelo seu nome baixo, com receio de assustá-la ainda mais. Ela finalmente acorda e me
abraça apertado com o corpo tremendo.
— Está tudo bem, estou aqui. — Afirmo, sem soltá-la, aos poucos ela entende que teve
um pesadelo e se acalma. — Quer falar sobre o pesadelo?
— Gabriella, veio aqui. Costumo ter pesadelos e a forma que ela falou comigo foi
assustadora, James.
— O que ela disse? — Não a solto e tento não a deixar perceber a raiva que sinto ouvindo
que ela veio intimidar Patrícia.
— Me ofereceu dinheiro para ir embora e tirar o nosso bebê, chamando-o de “bastardo”.
Eu fiquei com medo e a coloquei para fora usando o argumento que a casa era minha, estava
desesperada, com pavor que ela fizesse mal ao nosso filho. Não quero nada seu James, não é por
essa razão que estou aqui.
— Calma, fez bem, eu sei disso. Está tudo bem. Vou reforçar a segurança apenas com
pessoas da minha confiança e proibir a entrada dos meus pais na propriedade, tudo bem? —
Ouvir as palavras da Patrícia foi mais um golpe, não deixo transparecer a revolta que sinto ao
ouvir que a minha própria mãe propôs que tirasse o nosso filho, chamando-o de bastardo.
— Obrigada James. — Desfaço o abraço apenas quando está calma, preocupado com o
que medico disse sobre não se estressar.
Estamos em um momento delicado onde a vida do nosso filho corre perigo, e por essa
razão decidi me afastar da empresa e trabalhar do escritório em casa, até que ela esteja totalmente
fora de perigo.
Ela janta e dorme abraçada a um travesseiro. Não consigo dormir e resolvo falar com o
Liam, começando a organizar meus próximos passos.
Durante a semana, peço aos meus advogados uma medida protetiva para Patrícia,
anexando imagens da câmera de segurança da empresa e o laudo médico que detalha a lesão em
seu rosto.
Envio tudo por e-mail ao meu pai que me liga furioso. Aviso que tornarei tudo público se
ele sequer esbarrar com a Patrícia em um restaurante. Ele tenta argumentar, mas me mantenho
firme.
Defino uma porcentagem do lucro das empresas, que é o suficiente para manter o padrão
de vida dos dois e faço um acordo sigiloso, onde eles nunca mais poderão ter qualquer contato
comigo, com a Patrícia ou com o nosso filho.
Saio um pouco de casa para respirar ar fresco. Eles em nenhum momento tentaram fazer
parte da vida do neto, o trocaram por dinheiro sem hesitar, como se não tivesse importância.
Encaro o céu, prometendo a mim mesmo que meu filho sentirá orgulho de mim. Prometo que ele
será amado incondicionalmente com a minha vida, e que serei para ele tudo que meus pais não
foram para mim.
Permaneço um tempo caminhando pela propriedade, pensando nos meus próximos
passos. Agora, preciso recuperar a mãe do meu filho. Ao retornar ao quarto, tomo um banho
rápido, me acomodo na poltrona e espero o dia amanhecer para acordar a Patrícia com café da
manhã.
Brigite me ajuda com a bandeja e subo determinado a deixar o meu passado para trás e
recomeçar. Ao entrar no quarto, um pequeno sorriso escapou dos meus lábios ao ver Patrícia
acordar com o cheiro do café, sorrindo com os olhos ainda fechados.
— Bom dia. — Falo e observo ela abrir os olhos lentamente se esticando na cama.
— Bom dia, James. — Ela respira profundamente, inclinando a cabeça na direção da
bandeja. — É para mim?
— Para vocês. — Ela morde os lábios, tentando esconder o sorriso bobo que surge.
Coloco a bandeja na cama e ela se senta, olhando tudo com atenção, antes de começar a
comer sem pressa, provando tudo que chama sua atenção.
— Não vai comer? — Ela levanta o olhar na minha direção.
— Estou sem fome.
— Você dormiu, James? — Nego com a cabeça e ela pega um pedaço de panqueca e
coloca na minha frente. Abro a boca para dizer que não quero e ela simplesmente enfia na minha
boca. — Teremos um bebê dentro de alguns meses, que provavelmente não vai nos deixar
dormir, precisamos nos preparar. Vai comer e depois, deitar aqui ao meu lado e dormir um
pouco.
— Tenho que trabalhar... — Ela enfia outro pedaço de panqueca na minha boca.
— Trabalha depois que acordar! — Me pergunto se ela sempre foi mandona, ou se
acordou assim.
Como em silêncio, desço com a bandeja, aviso ao Lima que vou ficar a manhã “ocupado”
e me deito na cama contrariado. Ela se deita e fica de frente para mim. Toco sua bochecha e ela
fecha os olhos, me aproximo dos seus lábios e ela abaixa o rosto.
— Não consigo, James. — Suspiro frustrado, fecho os olhos e me afasto.
Sinto sua mão adentrar meus cabelos, deslizando pela minha cabeça lentamente e o sono
vai ficando cada vez mais intenso. Tento abrir os olhos, mas sinto como se estivessem pesados e
sem perceber, adormeço.
38
Patrícia Ricci

Seis dias depois...


ames cuidou de mim como uma prioridade absoluta, trabalhando do notebook ao meu lado.
J Compartilhamos a cama, e fizemos todas as refeições juntos. Ele sempre fugia das minhas
perguntas, e me assegurou com muita tristeza que os pais não seriam mais um problema.
Saber que ele os denunciou, e pediu uma medida protetiva foi algo que me deixou sem
palavras, pois, mesmo com todos os problemas, eles ainda são os pais dele. Ao falar sobre o
acordo, senti que no fundo ele tinha esperança que os dois mudassem.
O encaro, enquanto ele escreve um e-mail, e mordo os lábios, insegura sobre a pergunta
que quero fazer. Ele fecha o notebook e me olha, acredito que percebeu que eu o observava.
— Quer me falar algo? — Ele franze o cenho, e se senta ao meu lado.
— Na verdade, quero fazer uma pergunta. — Sinto sua mão repousar sobre minha perna
que nem tinha percebido que estava tremendo.
— Pode fazer qualquer pergunta.
— Por que foi embora no Natal? — Falo rápido com receio que ele fique chateado.
— Sempre “comemoramos” o Natal na minha família, era nessas datas comerciais que
podia ver os meus pais, embora não pudesse interagir com eles. Só podia estar presente para as
fotos que seriam publicadas. Enfim, mais tarde, Liam sempre tentou me convencer a ir a um
Natal na casa dele, mas eu odiava a data e pensava que era igual para todos até ver como era com
a sua família, ou como deveria ser. Foi difícil lidar.
— Sinto muito. — Falo com sinceridade, é visível como essas lembranças o golpeiam. —
Sinto mais ainda pelo que vou falar.
— Não quero sua pena, o que tiver de falar, não meça palavras!
— Ótimo, aqueles dois narcisistas não merecem esse título honrado de pais, são seus
progenitores e você, James, não é como eles. Fez bem em se afastar. Sem que perceba, eles
continuam te fazendo mal, porque são tóxicos em um nível que palavras não descrevem. Você
será um pai maravilhoso e não tenha dúvidas disso. Se libertar deles, foi o primeiro passo para
isso. Desculpe a intromissão, e as palavras duras, mas não dava para não falar nada.
— Não precisa se desculpar, te pedi para não medir palavras. — No impulso o abraço
apertado. Sinto que ele está sendo mais forte do que de fato é.
— Pronto para conhecer o nosso pedacinho de esperança? — Ele me olha sem entender.
— A ecografia é hoje, logo a médica chega para fazer.
— Será que vamos ver algo? Li que nessa fase ele tem o tamanho de uma uva. — Fico
surpresa e inclino levemente a cabeça, encarando-o.
— Leu sobre gestação? — Ele abre um pequeno sorriso, como o de uma criança que é
pega no flagra, coçando a cabeça.
— Sou bom com a parte teórica, gosto de pesquisar e como não sabia nada de gestação,
aproveitei a internet para sanar algumas dúvidas.
— Perfeito. Não imagina como fico feliz por saber que quer fazer parte da gestação. —
Falo com uma sensação tão boa preenchendo meu peito.
— Quero participar de tudo Patrícia, da vida do nosso filho e da sua.
— É complicado James. — Falo prendendo os cabelos em um nó com ele me olhando
atentamente.
— Descomplica, o que preciso fazer para conseguir o seu perdão? É só falar, peça
qualquer coisa, só não se afasta, Patrícia.
— Queria que fosse assim, mas não é. A mágoa é um sentimento e preciso de tempo.
— Tudo bem, mas não vou desistir de você. — Desliza o polegar pela minha bochecha,
encarando meus lábios.
— Saiu de Galway por causa da vistoria que pediu?
— Não, tive imprevistos no Brasil, que foram arquitetados pelo Brandon. Fiquei tão
atolado no trabalho que tive que dormir sobre os contratos e projetos. Estava tentando consertar
as coisas, queria acabar com o projeto do hotel e não tinha ideia de que ele sabia o que estava
acontecendo.
— Ia acabar com o projeto?
— No Brasil eu entendi o que sentia. Era tudo novo, tive dificuldade de entender no
começo, mas a saudade e a distância foram suficientes. Não teve um dia Patrícia, um dia desde
que saí de Galway, que não pensei em você.
Penso em responder, falar que a distância foi difícil, dizer que também me senti da
mesma forma, mas não faço. Fico em silêncio me odiando por dar a ele o tratamento que teve a
vida toda.
Ainda preciso de tempo para digerir tudo que aconteceu desde que nos conhecemos.
Embora essa conversa tenha sido essencial, tenho medos e inseguras com os quais preciso lidar
antes de me abrir novamente.
Peço licença ao James, tomo um banho rápido, me troco e fico aguardando ansiosa a
médica para realizar a ultrassonografia. Ele avisa que chegaram e entram no quarto ligando todos
os aparelhos para começar o exame.
39
James Lambertti

ico ao lado da Patrícia observando tudo atentamente. A médica explica tudo sobre o exame
F e não falo nada. O silêncio dela é doloroso, mas aprendi desde cedo que tudo tem
consequências e estou disposto a enfrentar as minhas.
Nunca fugi de um problema e não pretendo desistir agora. Tomei a decisão de entrar em
contato com a Julie, ela gritou por pelo menos dez longos e dolorosos minutos antes de me ouvir.
Tenho certeza de que é a responsável pela minha dor de cabeça, no entanto, valeu a pena porque
agora eu sei a loucura que preciso fazer para provar a Patrícia que a amo.
Adiei a viagem dela em três dias, é o tempo que preciso para passar uma vergonha
pública que pode resultar na maior humilhação da minha vida, tudo porque dei ouvidos a uma
maluca que parece conhecer bem a sua “pessoa”, como ela deixou claro várias vezes.
Conversei com os pais da Patrícia, seu pai parece irritado comigo, enquanto sua mãe, me
deu a certeza de que será uma grande aliada. A equipe que contratei me irritou com sua
empolgação e descobri que meu bom humor é limitado apenas à Patrícia.
O exame começa e seguro a sua mão com firmeza. Acho estranho como é feito, mas me
calo para não piorar a minha situação. A médica começa a falar e sinceramente se ela falasse em
finlandês, eu entenderia melhor.
Patrícia se emociona assim que ela mostra um borrão preto e branco e balanço sutilmente
a cabeça como se estivesse entendendo tudo, embora acredite que preciso de óculos com
urgência.
— Prontos para ouvir o coração? — A doutora pergunta e respiro fundo, ansioso por esse
momento.
Assim que ela libera o som do coração rápido e forte do nosso filho, o meu coração
dispara no peito e sinto como se estivesse tendo um infarto. Respiro fundo tentando em vão
controlar as lágrimas que rolam pela minha face. Seco rapidamente com os punhos, sentindo o
som do coração do nosso bebê preencher cada espaço vazio do meu peito.
A cada dia desde que a Patrícia cruzou o meu caminho com toda sua doçura, sinto que
tenho milhões de razões para agradecer a um Deus que por toda minha vida sequer acreditava na
existência.
Beijo a mão da Patrícia e seco suas lágrimas. Ela abre um sorriso lindo apontando para o
monitor e me pego sorrindo com ela, feliz de verdade, como nunca antes. Beijo sua testa e
sussurro um “obrigado”.
O exame é finalizado e a médica nos deixa a sós, deito na barriga da Patrícia, colocando
os ouvidos nela e não escuto nada, mas me lembro com riqueza de detalhes o som que ecoou
pelo quarto.
— Desculpe o silêncio mais cedo, precisava pensar. — Ela fala, passando a mão com
carinho pelos meus cabelos.
— Entendi que precisava de espaço. — Falo me enfiando dentro da sua blusa.
— Estou liberada e com a viagem de volta marcada. Não sei como vamos fazer para que
possa participar das consultas e exames. — Ela levanta a blusa e me olha, me repreendendo com
um olhar.
— Não se preocupe, estou cuidando dos detalhes para que possa acompanhar cada etapa
da gestação. — Afirmo, e ela força um sorriso.
Me dá um pouco de esperança ver que ir embora também está sendo algo difícil para ela.
Pensei que ela quisesse partir, mas percebi que, mesmo não confiando em mim, ainda tem
sentimentos. Ela sequer imagina o que estou fazendo e espero que prove o quanto a amo e a faça
querer me dar uma chance.
— Estou ansioso pelo primeiro chute. — Falo passando as pontas dos dedos pela barriga
lisa dela.
— Eu também. — Ela afirma repousando a mão sobre a minha. — Quero um doce.
— Desejo? — Ela dá de ombros com um sorriso travesso.
— Se disser que sim, tenho mais chances de conseguir?
— Pode pedir o que quiser, enquanto eu viver vou atender cada desejo seu e do nosso
filho. — Observo ela umedecer os lábios desejando senti-los outra vez.
— Quero fazer um cupcake de chocolate com chantilly. — Ela fala tentando mudar o
foco.
— Vem. — Estendo a mão e saímos juntos do quarto. Ela já está liberada, graças a Deus
nosso filho está saudável e fora de perigo. Mesmo assim, a pego em meus braços na escada. Ela
não reclama, apenas repousa a cabeça no meu peito.
— Gosto dessa sensação. — Ela sussurra.
— De ser carregada?
— De estar segura em seus braços. — Sento ela na cadeira próxima do balcão da cozinha
sob o olhar curioso dos funcionários.
Ignoro e pego os ingredientes que me lembro para ela fazer o cupcake, esqueço os ovos
de pego por último. Ela faz a massa e coloco para assar, observando atentamente a sua alegria em
fazer o recheio e a cobertura.
Ela tinha pedido os ingredientes a Brigite e esperou ser liberada para fazer. Ficamos na
cozinha até finalizar tudo esperando os bolinhos esfriarem para colocar a cobertura. Realmente
ela parece uma “formiguinha”, e experimenta tudo mais de uma vez.
— Vai passar mal assim.
— Vou com calma, estava com muita vontade. — Ela fala que vai com calma, levando
uma colher de sopa cheia de chantilly à boca. Balanço a cabeça sutilmente em sinal de negação,
afastando tigela da sua frente. Ela pega de volta, fechando a cara em seguida e abraçando ela.
Não demora para ela ir ao banheiro vomitar. Fico ao seu lado e cuido dela. O remédio a
deixa sonolenta e ela dorme. Aproveito para resolver os detalhes da insanidade que tenho que
fazer, questionando minha sanidade mental.
40
Patrícia Ricci

ive dois dias estranhos com o James. Ele ficou ausente, parecia cansado e senti falta dele.
T Arrumo minhas coisas para ir embora e não separo as roupas que ele mandou comprar para
mim. Ele sequer veio para me levar ao aeroporto e fico sem entender por que está agindo
assim.
Sigo com o motorista até o aeroporto com uma sensação ruim, tento ligar para James, só
queria entender por que ele não quis se despedir. Ele não atende e o guarda-costas que ele
contratou, me acompanha até o local para fazer o check-in.
— Pare senhora Patrícia. — Miller fala e eu paraliso, olho em volta preocupada e o
encaro em busca de uma resposta.
Duas pessoas com caixas de som enormes param próximas de onde estamos e a música
Marry You do Bruno Mars começa a preencher o ambiente. Observo várias pessoas segurando
rosas vermelhas, tentando entender se é mera coincidência.
Acredito que não, já que todos começam a dançar igual e cada refrão da música mais
pessoas se juntam a eles. Fico no meio do que acredito ser um flashmob. Abro a boca em um
grande O, vendo o James Aidan Lambertti se juntando aos dançarinos.
Levo a mão na boca, vendo-o dançar desajeitado. Lágrimas se formam vendo Liam e
Julie entrando na dança. Na parte da música que fala “eu quero me casar com você” todos
apontam na minha direção e fico extasiada.
Levo as duas mãos a boca deixando uma risada alta escapar, repleta de felicidade e
emoção. A música chega ao fim e meus pais aparecem com um cartaz gigante escrito “Patrícia,
casa comigo?”.
James se aproxima, Julie entrega um microfone nas mãos dele e posso ver como ele fica
nervoso. Respiro fundo com intensidade que ele me olha nos olhos, se ajoelhando diante de mim.
Ele pega uma pequena caixinha de veludo preta no bolso e abre, revelando um anel solitário,
com um grande diamante no centro. Enquanto enxugo as lágrimas que rolam pela minha face, ele
começa a falar.
— Patrícia, sei que começamos errado, que eu comecei errado e sinto muito pelos erros
que cometi. Demorei a entender o que sentia e precisei te perder para perceber que não quero
uma vida sem você, porque eu te amo. Você é a mãe do meu filho e o meu único amor. Quero
passar o resto da minha vida provando que mereço o seu amor, te compensando por cada erro
que cometi. Casa comigo?
Me ajoelho com ele e sem hesitar selo seus lábios com um beijo repleto de saudade. Me
afasto e seguro seu rosto entre as mãos com um sorriso enorme no rosto, tentando controlar a
euforia que sinto.
— Eu te amo! E sim, mil vezes sim! Eu me caso com você James Aidan Lambertti. —
Sou envolvida nos seus braços, as pessoas ao nosso redor gritam e aplaudem, e eu escondo meu
rosto em seu pescoço, sentindo uma mistura de felicidade e vergonha.
Ele me ajuda a levantar e beija minha barriga antes de selar meus lábios com o beijo
apaixonado. Abro um sorriso em seus lábios e me afasto com as mãos no rosto. Agradeço a todos
e sou envolvida em um abraço caloroso dos meus pais e da Julie.
— Sabiam de tudo isso?
— James ligou, se desculpou e pediu ajuda. — Julie responde, pela calma dela imagino
que o deixou surdo.
— Pai, entrou em um avião?
— Para nunca mais, pelo visto terei que morar em New York. — Minha mãe segura o
riso.
— Quase fico viúva. — Ela fala e ele balança sutilmente a cabeça em sinal de negação,
para não continuar.
— Vim pelo meu neto, mas aquele negócio é terrível. — Ele fala ajeitando a gravata
borboleta.
— Ele desmaiou, filha. — Arregalo os olhos preocupada.
— Graças a Deus, James deixou um médico no jatinho, foi só pânico mesmo. — Encaro
o James falando com os dançarinos com uma sensação tão boa.
— Só pânico? — Ele confirma com a cabeça.
— O lado bom é que na próxima, serei sedado. — Julie não disfarça o riso e abraço meu
pai ainda sem acreditar.
Sou envolvida por trás nos braços do James, suas mãos deslizam pela minha barriga me
causando um friozinho muito bom.
— Parece que não vou voltar para Galway hoje. — James deposita um beijo no meu
ombro.
— Não, precisamos falar sobre esse assunto antes, tudo bem? — Afirmo que sim com a
cabeça.
Agradeço mais uma vez os dançarinos que me entregam as rosas e eles se despedem.
Seguimos para a casa do James e ele fala que meus pais concordaram em ficar hospedados na
mansão até conversamos sobre o casamento e todos os detalhes.
Ficamos todos na sala, Julie explica que voltará pra casa hoje a noite, porque não pode
ficar muito tempo longe dos pais e entendo ela. Aproveito as horas para contar tudo que
aconteceu a ela que fica revoltada com os pais do James.
— Se eu encontrar a vassoura elegante, queimo os cabelos dela!
— Julie! Está tudo resolvido, eles não fazem mais parte de nossas vidas.
Julie me fala sobre um possível relacionamento. Ela conheceu um cliente da confeitaria
fazendo a entrega e os dois têm trocado mensagens desde então. Fico animada com a
possibilidade dela finalmente conhecer alguém e peço os detalhes.
As horas passam, meus pais se recolhem para descansar e levamos Julie até a pista de
pouso particular. Aguardamos sua decolagem e voltamos para casa trocando beijos e carícias.
41
James Lambertti

ntramos em casa ainda com os lábios selados, e nesse momento, sou incapaz de desgrudar
E nossos corpos. Patrícia me olha com dúvidas e volta me beijar. Retiro seu casaco, o
deixando cair no chão e a pressionando contra a parede da sala.
— Temos que conversar. — Fala entre os beijos e me afasto relutante.
— Agora? — Patrícia nega com a cabeça. Ergo ela pela bunda, suas pernas se entrelaçam
em meu quadril e retiro meu casaco. Subo com ela em meus braços, beijando seu pescoço,
sentindo sua pele macia e perfumada. — Porra, que saudade que estava, minha doce tentação!
Assim que entramos no quarto, coloco-a no chão e tiramos a roupa com presa. Encaro a
lingerie vermelha que ela veste, suspiro pesado e desço meu olhar até os seus seios.
— Estão maiores! — Afirmo, umedecendo os lábios.
— E mais sensíveis. — Ela fala se livrando do sutiã. Me apresso em tirar a cueca boxer
branca, fixando meu olhar nos bicos rígidos dos seus seios.
Deito Patrícia na cama, ficando sobre ela. A seguro firme e inverto nossa posição
encaixando-a em meu membro. Ela suspira, sentindo apenas o fino tecido da sua calcinha entre
nós.
Seguro firme seus seios, massageando um e levando o outro à minha boca, observando
atentamente suas expressões. Ela se movimenta em meu membro e sinto sua calcinha úmida.
Mordo levemente um de seus seios e ela geme, levando a mão à boca.
— O quarto possui abafador de sons, geme para mim, minha doce tentação. — Seus
olhos queimam de desejo e volto a dar atenção aos seus seios, circulando lentamente a língua na
auréola, passando os dentes e prendendo o bico nos meus lábios, estapeando sua bunda.
Ela rebola, geme com a boca entreaberta e ofegante, enquanto chupo intensamente seus
seios, deixando-os marcados.
— James, que delícia. — Geme meu nome, gozando inquieta sobre mim.
Um sorriso satisfeito surge em meus lábios, vendo sua face ruborizada e a sua respiração
irregular. Ela morde os lábios e me encara colocando os cabelos que caíram no seu rosto atrás da
orelha. Deslizo as mãos até a sua bunda, pressionando sua boceta contra o meu pau e sem aviso,
seguro firme as laterais da sua calcinha, rasgando a peça.
— Vou precisar de um estoque de calcinhas.
— Não será um problema, minha doce tentação, colocarei o mundo aos seus pés.
— Vou ficar mal-acostumada, James. — Sua voz doce não combina com as
perversidades que passam na minha mente, ao tê-la nua em meus braços.
— É a intenção. Agora, me deixe matar a saudade que estava dessa boceta doce. —
Coloco a Patrícia sob mim e encaro sua boceta rosada e depilada. — Tinha que ser tão linda!
— Por Deus, James! — Ela fala, escondendo o rosto com as mãos, envergonhada. Dou
uma gargalhada alta, e ela me encara com um sorriso perfeito que quero guardar em detalhes. —
Sorriu com os olhos, foi perfeito.
— Você me faz feliz. — Deslizo as mãos pelas suas coxas e seguro, abrindo bem as suas
pernas, sinto a cabeça do meu pau melada, ficando duro feito pedra, louco de desejo de me
enterrar fundo dentro dela.
Deslizo a língua por ela em um movimento circular, chupo sem pudor em seguida.
Patrícia geme alto, delirando, enquanto se movimenta. Fodo ela com minha língua, acariciando
seu ponto de prazer com o polegar, ouvindo seus gemidos me enlouquecendo.
Ela goza e eu prolongo seu prazer ao máximo, chupando cada gota do seu gozo. A coloco
de quatro na cama, deslizando minha mão pela sua bunda antes de acertar o primeiro tapa.
— Podemos experimentar algo novo? — Ela me olha e abre um pequeno sorriso
malicioso.
— Confio em você! Pego o que restou da sua pequena calcinha, coloco seus braços para
trás e prendo os seus pulsos, observo sua respiração irregular e beijo suas costas. Ela me olha
com os olhos curiosos e pisco para ela.
Abro suas pernas e fico de joelhos na cama. Dou outro tapa na sua bunda deixando a
marca da minha mão. Segurando seus pulsos, me posiciono e entro sem aviso, fundo e forte na
sua boceta, tirando um gemido delicioso dos seus lábios.
Seguro firme seus pulsos, e começo a entrar e sair, cada vez mais forte e rápido. Ela
delira chamando meu nome e nossos gemidos ecoam pelo quarto.
— Quero morrer te fodendo. — Afirmo, me segurando para não gozar feito um
desesperado, sentindo sua boceta quente, tragando meu pau.
Deslizo a mão pela sua barriga, subindo entre os seus seios. Sem cessar os movimentos,
ergo seu corpo, virando seu rosto na minha direção. Seguro firme seu pescoço tomando cuidado
para não machucar e tomo seus lábios com um beijo intenso, engolindo seus gemidos.
Repouso seu corpo sobre a cama, ela empina a bunda e volto a me movimentar segurando
firme. Sinto os espasmos da sua boceta e gozamos justos. Paro quando sinto seu corpo relaxar,
liberando meu último jato de porra nela, encarando a bagunça deliciosa que fizemos.
Solto seus pulsos, me deito ao seu lado e a puxo para o meu peito. Estamos suados e
ofegantes, mas a quero em meus braços com uma necessidade absurda.
— Eu te amo minha doce tentação. — Declaro, e ela passa as pontas dos dedos
contornando meu nariz.
— Não mais do que eu te amo. — Seus lábios encontram os meus e a beijo com devoção.
Seguimos para um banho juntos e mesmo querendo mais dela, entendo que ela quer conversar
antes.
42
∞∞∞
Patrícia Ricci

inalizamos o banho, faço a troca da roupa de cama com o James e nos deitamos juntos.
F Coloco as mãos entrelaçadas em seu peito e apoio meu queixo, pensando em como iniciar a
conversa que preciso ter com ele.
— Aceitei o pedido de casamento porque é o que quero, mas moramos em lados opostos.
Não sei como essa dinâmica funcionaria, especialmente porque sua empresa é aqui. — Desabafo,
temendo o que o James pode pensar. Não quero que ele deixe tudo por mim, mas ao mesmo
tempo, só de pensar em sair de Galway, meu coração se aperta.
— Tenho hotéis espalhados pelo mundo, viajo com frequência e por isso o jatinho
particular. Embora goste de New York, não amo esse lugar. Posso estabelecer uma filial na
Irlanda. — Escuto o James com medo de que ele tome essa decisão apenas para se ressentir mais
tarde.
— Se mudar implicaria em tantos problemas, que o meu medo é que, com o tempo, você
possa se arrepender e ficar ressentido comigo. — Decido falar abertamente o que sinto e o James
continua tranquilo, deslizando a mão pelo meu braço.
— Pensei em como nossos filhos cresceriam nas duas cidades. New York é linda, uma
cidade com escolas e universidades excelentes, mas Galway é uma cidade calma, familiar, onde
todos se conhecem e ao final da tarde, as ruas têm famílias inteiras vendo seus filhos andarem de
bicicleta e jogarem bola. É assim que nos vejo no futuro. — James fala e consigo nos imaginar
na porta de casa com nossos “filhos”. Abraço ele apertado e sou envolvida por seus braços.
— James, isso é maravilhoso! Você quer mais filhos? — Ele acaricia minhas costas com
cuidado.
— Pelo menos mais um, no entanto, é uma decisão que tomaremos juntos. Nosso
primeiro filho é a prova de que nem sempre a decisão final está em nossas mãos.
— Foi um descuido, não nos prevenirmos, e acabei esquecendo de passar na farmácia
após organizar a confeitaria. Com a vistoria, não me lembrei de tomar a pílula.
— Posso afirmar que foi o melhor descuido das nossas vidas.
— Meu maior medo era você rejeitar o nosso bebê, ou pensar que estava tentando dar um
golpe em você.
— O James babaca que conheceu na confeitaria pela primeira vez, talvez, não nego, era
egoísta e mau caráter. Mas, eu mudei, vi o mundo pelos seus olhos e revi todas as minhas
escolhas. Você me fez querer ser melhor, não apenas para te merecer, mas para ter orgulho das
minhas escolhas.
— Tenho muito orgulho de você, James. — Escuto as batidas do coração dele, lutando
contra o sono.
— Refiz o projeto do hotel, mas não vou continuar sem o seu consentimento.
— A construção vai gerar empregos, e atrair mais turistas, será bom para a cidade. Além
disso, a loja foi demolida, seria terrível se tivesse sido em vão.
— Então darei continuidade ao projeto. E quanto às viagens? — A voz do James
denuncia que não sou a única com sono.
— Confio em você, James. Estarei ao seu lado sempre que possível, e quando não estiver,
encontraremos um jeito de matar a saudade.
— Temos muitas coisas para acertar, mas podemos começar os planos amanhã. — Abro
um pequeno sorriso sem abrir os olhos, ouvindo ele ser vencido pelo sono.
— Sim. — É a última coisa que me lembro de falar antes de adormecer.
Tivemos uma semana agitada. James nomeou Liam diretor da empresa em New York e
Mirtes aceitou vir conosco para Galway. Tudo foi providenciado para ela e sua família.
Não abri mão da Brigite e a cada dia estávamos mais próximas. Compramos um terreno
relativamente perto dos meus pais e James fez o projeto da mansão que seria construída, sempre
pedindo minha opinião e levando em conta meus desejos.
Fiquei mais emotiva e completamente emocionada ao ver James providenciando tudo
para o tratamento do pai da Julie. Ele o levou para um hospital referência com tratamentos
inovadores e medicações que jamais teríamos acesso. Mesmo com sintomas claros, a qualidade
de vida do Robert melhorou muito e foi incrível ver o progresso dentro do quadro dele.
Os preparativos do casamento estavam a todo vapor, e minha barriga começou a crescer.
Embora muito discreta, meu noivo conversa todas as noites com o nosso bebê e cada dia me
sinto mais apaixonada por ele.
James tem enfrentado muito estresse com o projeto hotel. Fez algumas mudanças que não
entendo bem e as coisas não estão saindo como ele planejou. No trabalho ele ainda é o homem
frio que todos temem. Observo ele falando no telefone em um tom grosseiro, pensando em como
ele consegue ser tão incrível comigo.
43
James Lambertti

ncerro a ligação ainda irritado, mas assim que meus olhos se encontram com os da Patrícia,
E sinto a paz que tanto preciso. Estamos morando em Galway, em uma casa provisória, até a
nossa finalizar. A deixei definir a decoração, e ficou ótima. Reflito olhando minha noiva,
como sensação de ter para quem voltar em dias estressantes, é maravilhosa.
— Está tudo bem? — Indago, tentando compreender o motivo de sua expressão
pensativa.
— Não se preocupe, estou aqui pensando em milhões de coisas. Quero voltar a fazer os
bolos. — Entrelaço minha mão a dela.
— Se gosta e é o que quer, terá todo o meu apoio. — Ela sorri, parece feliz com o apoio,
mas perdida. — Quero te mostrar algo.
Levo ela até o sofá da sala, me sento e a faço sentar no meu colo. Abro o notebook e
procuro pelo projeto 3D do hotel. Coloco seu cabelo de lado enquanto o vídeo carrega, me
embriago com o seu perfume e beijo seu ombro.
— Queria te mostrar quando estivesse pronto, mas o hotel levará pelo menos dois anos
para ser concluído.
— Que suspense. — Ela fala sem desviar os olhos da tela do notebook.
O vídeo inicia, e deslizo as mãos pela barriga dela, ansioso para sentir nosso bebê
começar a chutar. A barriga começou a crescer e tenho acompanhado toda gestação, cada etapa
descobrindo junto com ela, tudo dessa fase perfeita.
— Ah, meu Deus. — Ela me olha surpresa e volta a atenção ao vídeo. — É a confeitaria
Ricci?
— Sei que não será a mesma, mas seus avós registaram ao longo dos anos a construção e
as mudanças. Por sorte sua mãe continuou e guardou todos os registros. Pedi que fosse incluída
no projeto a confeitaria, na área em que teremos algumas lojas.
— Amei, ficou tão incrível, perfeito. Obrigada! — Ela fala voltando o vídeo, feliz e
emocionada.
— Que bom que gostou.
— Gostei? Amei! Agora, tenho tempo. Posso pensar em tudo, planejar com calma e
aproveitar essa fase da gestação. — Ela fala voltando o vídeo pela terceira vez seguida.
— Terá uma equipe que vai te auxiliar em tudo.
— Minha nossa! Depois do Ryan, não pensei que eu poderia ser tão feliz. Obrigada, não
pela confeitaria ou pela equipe, mas por cuidar tão bem de mim, por me priorizar e me fazer tão
feliz. — Ela fala visivelmente emocionada.
Procurei pelo Ryan e descobri ele foi assassinado, após uma discussão em uma festa.
Embora tivesse planos para ele, foi melhor assim. Patrícia se sentiu mal pelo alívio que sentiu,
embora ainda tivesse medo de reencontrar ele, nunca desejou o seu mal. No dia de sua morte, ele
estava com a namorada, ele a beliscou e esse foi o pivô da briga.
Ela se abriu com os pais e a melhor amiga, contou pelo que passou e foi acolhida. Julie,
sendo ela mesma, ficou chateada primeiro por não ter ficado sabendo a tempo de matá-lo antes
de morrer e depois se sentiu culpada por não ter percebido nada. As duas se entenderam já era
madrugada e dormi no sofá, revoltado.
As mudanças e a gravidez anteciparam alguns cabelos brancos em minha cabeça.
Descobrimos que o motorista que atropelou Patrícia avançou o sinal vermelho devido a um
infarto. Ela pagou as contas médicas dele e o conserto do carro. Embora tenha sentido ódio,
entendi que não foi irresponsabilidade da parte dele.
Ela possui muito mais bondade e humanidade em um braço do que eu tenho no corpo
inteiro e estou aprendendo diariamente com ela como ser uma pessoa melhor, certo de que não
poderia ter alguém melhor ao meu lado.
Deixar os pais dela entrar em minha vida foi uma escolha certa. Eles me tratam como
filho e por mais difícil e desafiador que tenha sido no início, é maravilhoso saber como é ser
amado. Mesmo dizendo que não gosto de “gente”, essa família é minha e farei o impossível para
proteger e cuidar de todos, até mesmo da Julie.
— A praga da Julie está brigando com o Miller. — Falo e Patrícia me olha sem entender.
— Como assim? — Aponto para câmera de segurança da entrada e é possível ver Julie
com a mão na cintura e apontando o dedo para Miller.
— Por que não deixa a entrada dela liberada?
— Nunca! Ela dormiu na minha cama, é espaçosa e fica com esse negócio de que é “a
sua pessoa”. — Nem termino de fala e ela invade a sala. — É disso que estou falando, faz isso
sem estar liberada.
— É importante. — Vejo seus olhos vermelhos e entendo que algo aconteceu.
— O Robert está bem? — A voz da Patrícia chega a falhar.
— Sim, mas quase não passo na porta. — Inclino a cabeça e não entendo o que a Julie
quer dizer.
— Tenho certeza de que tenho um chifre enorme enfeitando minha cabeça. Três amantes
e eu era uma delas. Tem noção que namorei um homem casado e não percebi!? — Observo a
marca em seu rosto e sinto uma fúria tomar conta de mim.
— Ele te agrediu?
— Não, a esposa dele me bateu e me chamou de vagabunda. Foi tão humilhante. — Julie
se senta no sofá com lágrimas rolando pelo rosto e a Patrícia se senta ao seu lado passando a mão
com carinho pelas suas costas. — Com toda correria com meu pai, não percebi nada. Quase não
tinha tempo e confiei demais nele.
Patrícia abraça e entendo que agora precisa da amiga, me retiro em silêncio da sala.
Mando investigarem o “namorado” dela. Sei o nome e sei mora na cidade vizinha. Darei a ele
uma pequena lição, que ele merece pela covardia.
44
Patrícia Ricci

— Me sinto uma idiota, como não percebi? Nunca mais quero me envolver com
ninguém! — Julie desabafa entre soluços e a deixo colocar para fora.
— Ele que foi covarde e mentiroso, amiga. Você vai conhecer alguém que mereça seu
coração. — Afirmo, secando suas lágrimas.
— Me recuso. Vou morrer sozinha e feliz. — Abraço ela passando as mãos pelas suas
costas com carinho. — O pior é que ele foi o meu primeiro amor. Não tinha tempo para namorar
e ele foi tão compreensível.
— Vocês? — Ela olha em volta, acredito que procurando pelo James, antes de responder.
— Não! Mas rolou amassos e juro que foi apenas por falta de privacidade que a minha
burrada não foi maior. Ele é tão bonito, mas não vale nada e agora odeio gostar dele. — Ela
cruza os braços e volta a chorar de raiva.
— Oh, amiga, sinto muito.
— Sabe, a esposa dele é linda, uma idiota por bater em mim e não nele. Ainda assim,
queria entender como pode trair a mulher com quem dorme todas as noites. — Julie desabafa,
chora, briga e se acalma.
— Deu a ele o que merecia? — Finalmente, vejo um pequeno sorriso surgir nos seus
lábios.
— Nunca mais terá filhos. Posso garantir que fiz uma omelete no meio das suas pernas.
— Ela seca as lágrimas, arruma a roupa e se levanta. — Já chega, ele não merece uma lágrima
sequer. Precisava chorar e desabafar, mas acabou. Não quero mais pensar naquele canalha!
— Isso aí, amiga. Se permita sentir, mas não se esqueça da sua força. Sei que não pensa
assim agora, mas vai encontrar alguém que vai derrubar essas barreiras que está erguendo ao
redor do seu coração e descobrir o que é amor de verdade.
Ela nega firmemente, está se fazendo de durona, mas consigo imaginar como seu coração
está. Preparo uma sobremesa e comemos juntas na cozinha. Me despeço dela com um aperto no
peito, vendo como ela está abatida. Julie é dura, já enfrentou muitas dificuldades e ainda sim se
recusa a cair.
Subo até o meu quarto e encontro meu noivo dormindo. Tiro toda a minha roupa e
engatinho na cama tirando a única peça que ele veste, uma cueca box cinza. Ele abre os olhos
com dificuldade, sem acreditar no que estou prestes a fazer.
Deslizo a língua por toda extensão do seu membro, que fica rígido nas minhas mãos.
Beijo de língua a cabeça fazendo ele despertar completamente, deixando um gemido rouco
escapar pela sua garganta.
— Puta que pariu. — Ele pragueja e me olha mais uma vez, parece querer ter certeza que
é real.
Coloco seu membro na minha boca e vou o mais fundo que consigo, testando meus
limites. Sinto uma leve ânsia à medida que me aproximo da garganta, mas logo pego o ritmo,
segurando firme com a mão, massageando e chupando.
James inclina a cabeça para trás e fecha os olhos. Não paro, sentindo seu membro pulsar
em minha mão. Aumento os movimentos com a mão e vou mais fundo.
— Amor, vou gozar... — Ele anuncia, me dando a oportunidade de parar, embora tenha
medo de não gostar. Continuo.
Vou mais fundo, sentindo os jatos quentes do seu gozo. Engulo a ânsia de vômito e paro
apenas quando ele termina. James senta, segura firme em meus cabelos e beija minha boca sem
se importar com o seu próprio gosto. Ele me coloca sentada em seu colo e leva meus seios à
boca.
Fico excitada com a forma intensa que ele chupa meus seios e fecho os olhos, gemendo,
implorando por mais dele. Sinto seu membro ficar rígido e posiciono ele com a mão na minha
intimidade.
Me sento lentamente, sendo preenchida sem pressa. Dobro os joelhos, ele passa uma mão
nas minhas costas me ajudando a me movimentar, desliza a outra mão até o meu pescoço, me
beijando.
— James, quero mais. — Sussurro, sentindo ondas de prazer invadindo meu corpo.
Aumento os movimentos e ele segura firme minha bunda. Passo as mãos em volta do seu
pescoço, lanço a cabeça para trás e fecho os olhos. Ele beija, morde e chupa meu pescoço,
subindo até o meu ouvido.
— Que boceta apertada. — Ele murmura no meu ouvido com a voz rouca, mordendo o
lóbulo da minha orelha.
James me beija com intensidade, mordendo meu lábio inferior e me deixando ainda mais
desnorteada. Estremeço sentido ondas de calor invadirem meu corpo. Minha respiração fica
descompassada e tenho um orgasmo que me causa sensações deliciosas em todo o corpo.
— Ah porra! — James goza em seguida praguejando alto. Repouso minha cabeça no seu
ombro, olhando para ele com malícia. — Pode me acordar sempre que quiser.
— Gostou? — Pergunto com ele deslizando o polegar pelos meus lábios.
— Gozei feito um desesperado, foi delicioso. — Ele afirma, me deixando mais confiante.
Seguimos juntos para um banho, trocando carícias e beijos. James é cuidadoso e
carinhoso comigo, não resisto aos seus toques e nos amamos outra vez embaixo do chuveiro.
45
James Lambertti

s semanas passaram rapidamente. Em algumas viagens Patrícia me acompanhou, mas


A quando são poucos dias ela prefere não vir, porque passa mal nos voos. Nos falamos em
todas as oportunidades quando ela não me acompanha e embora em alguns países tivesse
fuso horários diferentes, sempre encontrávamos uma maneira de nos comunicar.
A barriga dela cresce a cada dia, e estamos ansiosos pela chegada do Calebe, o nome fui
eu quem escolheu. Em um dos dias mais assustadores da minha vida, encontrei consolo em Deus
e foi assim que escolhi o nome do meu filho. Calebe, é um nome bíblico que está relacionado a
coragem, lealdade e determinação.
Nosso pequeno milagre enfrentou sua primeira batalha com poucas semanas de vida, e
em breve o teremos em nossos braços, completando nossa família. Patrícia dormiu na casa da
mãe para a despedida de solteira e tive uma péssima noite sem ela ao meu lado.
Me levanto apressado com os primeiros raios de sol invadindo meu quarto, ansioso para
me torná-la oficialmente minha mulher. Robert, Osmar e Liam vem se arrumar em minha casa.
Conversamos, nos vestimos e tomamos uma cerveja comendo alguns petiscos falando sobre
jogos e assuntos aleatórios.
Sou alertado pela minha equipe de segurança de que os meus pais chegaram ao local da
cerimônia e vou irritado até eles. Os vejo conversando com os convidados, como se nada tivesse
acontecido. Fico furioso e chamo os dois para conversar em particular. Jamais permitiria que
estragassem o dia do meu casamento.
— Saiam da minha propriedade antes que a segurança os escolte para fora.
— James, é o seu casamento. Você sabe que será divulgado uma nota e fotos. — Minha
mãe fala sorrindo, olhando para os convidados próximos.
— Não vou repetir! — Aumento meu tom de voz, ganhando a atenção da minha mãe, que
me olha com espanto.
— Está falando assim com a sua mãe por causa de uma... — Interrompo meu pai.
— Melhor não continuar se quiser sair daqui acordado. — Meu pai dá um passo para trás
e toca o braço da minha mãe.
— É melhor irmos embora. Não somos bem-vindos aqui, Gabriella.
Caminho em direção à segurança com um nó na garganta, me viro e vejo meus pais
saindo da propriedade sem olhar para trás. Eles não mudaram, não vieram com a intenção de
consertar seus erros, mas sim para manter a aparência da família tradicional que tanto prezam.
Minha sogra se aproxima com um olhar carregado de preocupação.
— Está tudo bem? — Ela me olha com atenção e eu forço um sorriso.
— Tudo ótimo. Pode ficar com a Patrícia. — Toco seu rosto e beijo o topo da sua cabeça.
— Patrícia está bem, tendo um momento com a amiga. Soube dos seus pais e vim ver
como estava. — Abraço a Lisa.
— Obrigada Lisa, estou bem.
— Volto logo, meu filho. Me espera, vamos caminhar juntos até o altar. — Ela fala em
tom firme, segurando minha mão. Apenas concordo com a cabeça, seria complicado falar
qualquer coisa nesse momento.
Fico com os padrinhos, ansioso com a demora da Patrícia. Afrouxo a gravata sem
entender por que ela está demorando tanto assim.
— Melhor ir ver como ela está. — Falo e o Liam entra na minha frente.
— De jeito nenhum. A maluca da amiga dela me pediu para não te deixar sair daqui.
— Liam ela está demorando, pode ter acontecido algo.
— Se tivesse acontecido algo, alguém já teria vindo te avisar. Não estraga tudo, sabe que
casamento tem tradições. — Ele fala e chuto uma pedra que estava no chão, que por azar acerta o
juiz de paz que geme de dor enquanto Liam dá uma gargalhada.
Peco desculpas ao Dylan, ainda mais nervoso, querendo apagar o idiota do Liam. O pior é
que o Juiz de paz é um senhor rabugento. Tenho certeza de que ele vai ficar com perna roxa e me
sinto péssimo.
— Se matar o Juiz de paz, não haverá casamento, James. — Fico sério e meu sogro tenta
ajudar o Dylan.
— Cala a boca Liam, se não quiser que eu mate você! — A cerimonialista avisa que a
Patrícia está pronta e que o casamento vai começar.
Meu coração dispara ao ver o Osmar caminhando para buscar a minha mulher, enquanto
a Lisa vem para entrar comigo. Os dois se cumprimentam, Osmar elogia a esposa, que fica
tímida e acho muito bonito como se tratam mesmo após tantos anos juntos.
Os convidados ocupam seus lugares, entro com a minha sogra e nos posicionamos no
altar. Não preciso dizer nada, ela me entende com um olhar. Cheguei a pensar que os meus pais
iriam atrapalhar o dia, mas a verdade é que hoje pude perceber que finalmente me libertei do
meu passado. Eles não mudaram em nada no meu dia, muito pelo contrário, me mostraram o
quanto foi necessário me afastar completamente dos dois.
Liam entra com a Julie, os dois não se dão muito bem. Julie acha Liam chato, ele acha
que ela é maluca, o que em parte, é verdade. Apesar de ser uma praga e jamais vou assumir, ela
faz parte da minha família e essa foi a razão de ter esmagado sem piedade o covarde que a
enganou.
46
Patrícia Ricci

enho um dia digno de uma princesa, regado a emoções. Recebi café da manhã e flores do
T James. Ele é perfeitamente imperfeito e consegue fazer meu coração bater em ritmo
descompassado, mesmo longe.
Fico pronta depois de fazer massagem, cabelo e maquiagem. Minha mãe fecha o último
botão do meu vestido e encaro ele no espelho. Escolhi um vestido longo, branco, com renda no
corpete e um decote discreto. Passo a mão pela minha barriga olhando de lado o meu reflexo no
espelho.
— Está perfeita, filha. — Minha mãe fala, e eu inclino levemente a cabeça para cima
respirando fundo para conter as lágrimas.
— A maquiagem, mãe, por favor. — Falo em tom de súplica e ela sorri com a Julie.
Encaro minha mãe, a Julie e a Amélia muito feliz, agradecendo-as por estarem ao meu
lado em um dos dias mais felizes da minha vida.
— Você está tão linda, amiga. — Seguro as mãos da Julie, desejando de coração que ela
tenha um dia assim e possa sentir essa alegria.
— Obrigada amiga.
— Vocês três estão perfeitas. — Olho para as meninas e abro um sorriso enorme.
Para o casamento, escolhi uma paleta de rosa antigo. Julie usa um vestido longo com
alças finas, e uma fenda na perna. Minha mãe e Amélia optaram por vestidos longos, discretos e
soltos da cintura para baixo.
Peço para avisarem que estou pronta e seguimos até a nossa propriedade com o meu
guarda costas. Faltam poucos detalhes para finalizar a parte interna da casa, mas toda área
externa foi finalizada para o nosso grande dia.
Quis me casar na nossa propriedade, e James não mediu esforços para atender a mais um
dos meus pedidos. Ele triplicou a equipe para que tudo ficasse exatamente como imaginei.
Meu pai caminha na minha direção com um terno cinza e uma gravata borboleta rosa
antigo. Ele se emociona ao me ver dar o seu lenço para secar com cuidado minhas lágrimas,
antes que estrague a maquiagem.
Poderia escolher qualquer música para esse dia, mas escolhi a Marry You do Bruno Mars
instrumental. Contratamos uma orquestra para tocar e assim que a música começa me emociono,
caminhando em passos lentos.
— Pai, não me deixe cair. — Murmuro baixo com as mãos trêmulas.
— Não deixarei, filha. — Apenas concordo com a cabeça, sentindo meu coração disparar
no peito.
Ergo meu olhar, e assim que encontro o do James, não consigo mais segurar a emoção.
Minha mãe entrega um lenço nas mãos do meu futuro marido e fico completamente emocionada
com a forma apaixonada que ele me olha, me sentindo a mulher mais sortuda do mundo por me
casar com ele.
James vem na minha direção, se ajoelha e beija minha barriga, antes de depositar um
beijo casto na minha mão. Ele cumprimenta meu pai, sussurra que estou linda e caminhamos até
o altar. Olho ao redor me sentindo em um sonho. O altar está adornado com as flores que escolhi
e o sol começa a se pôr lentamente.
Trocamos olhares durante toda cerimônia e Dylan parece incomodado, encarando James
com um olhar severo. Chega a hora dos votos e decido começar.
— James Aidan Lambertti, você chegou na minha vida virando meu mundo de cabeça
para baixo. Seu olhar intenso me marcou profundamente e por vezes me tirou o sono. Nos
apaixonamos sem perceber e eu inocente, tentava manter os pés no chão, lutando para não
entregar o meu coração a um “forasteiro”. Nem preciso dizer que Deus tinha outros planos para
nós. — Falo tocando a barriga. — Você é o meu porto seguro, um companheiro leal e o grande
amor da minha vida. Muito obrigada por não desistir de nós. Eu te amo e quero passar o resto
dos meus dias ao seu lado.
Ele seca minhas lágrimas com cuidado e sussurra que me ama antes de começar a ler os
seus votos.
— Patrícia, minha doce tentação. Você deu cor ao meu mundo, me mostrou o que era
amor e me tornou o homem mais feliz do mundo. Não me orgulho de quem eu fui, mas me
orgulho de quem me tornei ao seu lado. Foi a minha redenção e me fez sentir a sensação do
coração batendo no peito. — Segura a minha mão, colocando-a sobre o seu peito — Ele bate por
vocês e será assim até o meu último suspiro, porque uma vida inteira ao seu lado não será
suficiente meu amor. Eu te amo.
Levo um tempo para me recompor, trocamos as alianças e somos declarados marido e
mulher. James me puxa pela cintura e me dá um beijo de tirar o fôlego. Dylan coça a garganta
grosseiramente e me afasto do James envergonhada.
— É assim que se começa um casamento! — Disfarço meu sorriso sem desprender os
olhos dos do meu marido.
Dylan chega a rosnar para o James me dando a certeza de que ele tem algo contra meu
marido. Caminhamos até o local da festa, fico maravilhada como tudo está lindo em tom de
branco, rosa antigo e dourado. Foi colocado uma tenda para nos proteger caso chovesse e
confesso que fiquei com receio de não dar tempo de montar a estrutura. Um medo bobo, vendo
que tudo ficou muito melhor do que imaginei.
— Ficou perfeito, obrigada por se preocupar com cada detalhe e atender a todos os meus
pedidos. É muito mais do que sonhei.
— Te disse que colocaria o mundo aos seus pés senhora Lambertti, e vou cumprir minha
promessa.
47
Patrícia Ricci

festa foi maravilhosa. Foi pequena e contamos apenas com os nossos amigos e familiares.
A Fizemos algumas fotos para guardar detalhes desse momento e James me contou que
acertou a perna do Dylan com uma pedra, porque fiquei preocupada vendo-o pôr gelo nela.
Fez sentido ele estar tão bravo e de certa forma ajudou ele, já que a Caroline é quem
coloca o gelo cuidadosamente na sua perna. Os dois finalmente assumiram que ainda se amam e
depois de quase uma década divorciados, estão dando uma segunda chance ao amor.
James me conduz até a pista de dança, entrelaçando uma mão à minha e deslizando a
outra ao meio das minhas costas, me segurando firme. Ele sorri ao sentir o Calebe mexer e
dançamos com os rostos colados, trocamos carícias e declarações durante a dança, sorrindo, sem
esconder a nossa felicidade.
Conversamos com nossos convidados, cortamos o bolo e peço para me sentar um pouco.
James tira meus saltos, escondo os pés debaixo da mesa e respiro aliviada. Ele vai ver como o
Liam está e a Julie se senta ao meu lado.
— Tudo bem, Pati? — Pergunta Julie, visivelmente preocupada.
— Estou muito bem amiga. Eram só os sapatos que estavam me incomodando. São os
famosos “bonitos, mas ordinários”. — Sorrio, e ela acaba rindo comigo. — Por que não convida
o Liam para dançar?
— Ele bebeu um pouco, fui ver como estava e o encontrei engolindo uma das garçonetes.
— Hoje é um dia difícil para ele. Está tentando pelo James, mas ele ainda vive o luto
intensamente. — Falo, procurando pelo James.
— Por isso fui ver como ele estava. Ele é fechado e conversamos pouco. Me colocando
no lugar dele, eu surtaria. Imagina, encontrar o grande amor da sua vida, viver uma história linda
e intensa de amor e simplesmente a pessoa partir? — Encaro a Julie com lágrimas começando a
se formar em meus olhos só de pensar nessa possibilidade. — Misericórdia, sou uma péssima
amiga, me perdoa. James é terrível e vaso ruim não quebra. Nossa, não foi bem isso que quis
dizer. Só respira e nada vai acontecer a vocês, porque hoje começa o seu felizes para sempre.
Fico tensa aguardando o James voltar. Ele volta sozinho e avisa que o segurança levou o
Liam para nossa casa, pois ele acabou bebendo mais do que deveria e achou melhor dormir. A
festa foi maravilhosa, e aproveitamos muito.
Nos despedimos de todos, troquei de roupa, e seguimos até a pista de pouso particular.
Mesmo receosa por passar mal durante os voos, não abri mão de viajar na nossa lua de mel.
James optou por uma ilha particular no Brasil e fiquei animada para conhecer a praia.
Como imaginei, passei mal durante o voo. Tomei um remédio para enjoo e dormi boa
parte do trajeto. Quando finalmente chegamos ao Rio de Janeiro, respirei aliviada e aos poucos a
náusea foi melhorando. Em seguida, partimos de helicóptero para a ilha e fiquei maravilhada
com vista do lugar.
— Ficaremos sozinhos aqui? — Encaro o lugar com a boca entreaberta.
— Alguns funcionários virão fazer a limpeza e cuidar das refeições, mas a ilha é
exclusivamente nossa. — Ele fala como se não fosse nada demais, enquanto eu fico sem reação.
— Estou maravilhada, extasiada e completamente apaixonada. — Falo sentindo o vento
movimentando meus cabelos, enquanto encaro o mar de águas cristalinas ao som dos pássaros e
das ondas se quebrando. — É perfeito!
— A sua maneira de ver o mundo é incrível, senhora Lambertti! — Volto a minha
atenção ao meu marido, encarando seus olhos intensos que mudam de cor de acordo com a luz,
sempre me deixando surpresa com a tonalidade que assumem.
— Seus olhos são intensos, refletem o mar agora, tão azuis quanto a água. — Ele me
envolve nos seus braços e me beija sem pressa, explorando toda a minha boca com calma.
— Quer entrar no mar? — Suspiro, sorrindo animada.
— Sim! — Respondo pegando sua mão e caminhando até o interior da casa para trocar de
roupa.
James veste uma sunga preta, enquanto opto por um biquíni vermelho que comprei,
sabendo que ele ama como o vermelho contrasta com minha pele. Encaro meu reflexo no espelho
me sentindo tão bem com todas as mudanças da gravidez. Deslizo a mão pela minha barriga e
caminho confiante para sala.
James coloca o copo na mesa de jantar e me olha com desejo e luxúria, me fazendo
prender a respiração. Esse olhar dele, me faz ter certeza de que escolhi a pessoa certa para dividir
a minha vida.
— Quer me matar? — Ele fala se aproximando em passos firmes.
— De jeito nenhum. — Me apresso em responder entrelaçando minhas mãos às dele.
— Já te disse hoje o quanto você é linda? — Pergunta passando a mão com cuidado pelo
meu rosto.
— Já, mas pode repetir quantas vezes sentir vontade. — Ele sorri e caminhamos de mãos
dadas até a praia, suspirando ao sentir o toque suave da areia. As ondas tocam meus pés pela
primeira vez e é impossível não sorrir.
James segura firmemente a minha mão me encorajando a entrar no mar. Não hesito e
entro com ele. O mar está calmo e sei nadar. Mergulhamos e brincamos na água. Foi um
momento único que ele conseguiu tornar ainda mais incrível.
48
James Lambertti

braço a Patrícia por trás e beijo seu pescoço, ela inclina a cabeça levemente para o lado, e
A sussurro em seu ouvido.
— Quero te foder aqui, senhora Lambertti. — Deslizo as mãos pelo seu corpo e
seguro firme seus seios.
— Não é arriscado alguém nos ver?
— Dei ordens para os seguranças não passarem por aqui. — Afirmo, descendo a mão até
sua boceta. Ela geme manhoso, enquanto circulo com as pontas dos dedos o seu clitóris.
— James, ah! — Introduzo um dedo em sua boceta, e ela geme meu nome. Coloco outro
dedo, pressionando o bico do seu seio, e mordo o lóbulo da sua orelha.
Continuo até ela gozar, ficando relaxada em meus braços. Retiro meu pau para fora da
sunga, afasto a parte inferior do seu biquíni e deslizo ele pela sua boceta.
— Caralho, que delícia, minha doce tentação. — Praguejo alto, aumentando a intensidade
das minhas investidas.
Entramos em um ritmo delicioso, acompanhando o balanço das ondas do mar. Sinto os
espasmos da sua boceta massageando meu pau, e gozamos juntos. Saímos da água, e a pego em
meus braços.
— Estou pesada, amor.
— Enquanto tiver forças, irei carregá-la em meus braços. — Minha esposa me oferece
seu sorriso mais doce e repousa a cabeça em meu peito. A levo até o banheiro, trocamos carícias
e a conduzo até a cama.
Deito-a de lado, a posição que ela acha mais confortável com a barriga crescendo.
Deslizo minhas mãos pela sua pele macia e perfumada sem pressa, aproveitando cada toque e
cada sensação que só sinto com ela nos meus braços.
Tive mais mulheres para aliviar a tensão que posso contar, mas nenhuma foi capaz de
despertar o que sinto por Patrícia. Com ela, é como se pela primeira vez na vida estivesse
completo. Embora sinta que não a mereço, a amo com a minha vida e sou incapaz de manter
qualquer distância entre nós.
Ela rebola no meu pau, e acerto um tapa em sua bunda. Seguro firme seus cabelos, chupo
e mordisco seu pescoço.
— James, não me torture. — Ela murmura.
— O que quer, meu amor? — Sussurro com a voz rouca em seu ouvido.
— Quero você, preciso senti-lo. — Sua voz falha, quando pincelo meu pau em sua
boceta. — Por favor...
— Seu pedido é uma ordem! — Afirmo entrando de uma vez em sua boceta quente e
apertada. — Ah, caralho!
Continuo estimulando seu clitóris em círculos, ouvindo seus gemidos que me tiram a
pouca sanidade que tenho.
— Não para, James. — Seguro firme seu quadril e intensifico minhas investidas, fazendo
o som dos nossos corpos se chocando ecoar pelo quarto.
— Vou morrer te fodendo. — Digo, sentindo sua boceta aveludada apertando meu pau.
Ela repousa a mão na minha bunda, e entramos em um ritmo intenso. Enlouqueço com a
entrega da minha mulher, seus gemidos me deixam ainda mais excitado e gozamos juntos.
Não paro até liberar o último jato de porra em sua boceta, fazendo uma bagunça deliciosa
na cama. A levo até a banheira, troco o forro da cama e faço uma massagem em seu corpo com
óleo.
Patrícia relaxa nos meus braços, e eu a levo para descansar. Ela adormece serena, coberta
apenas por um lençol leve. Encaro minha esposa com admiração, devoção, e uma sensação de
gratidão.
Um sorriso desenha meus lábios enquanto observo os movimentos do Calebe em sua
barriga, que parece estar se tornando pequena para acomodá-lo. Patrícia se mexe, buscando uma
posição mais confortável, mas permanece tranquila, sem despertar.
Decido descer para pedir algo para ela comer e encontro duas empregadas que contratei.
Peço o lanche para minha esposa, sem dar abertura a nenhuma delas, e me sento com meu
notebook para resolver algumas pendências da empresa.
Fico distraído lendo alguns contratos, quando uma das empregadas se abaixa à minha
frente, me dando uma visão que não desejava da sua calcinha, enquanto inclina a cabeça na
minha direção, mordendo os lábios. Patrícia entra na sala, e pela sua expressão, fico sem saber o
que ela entendeu dessa situação.
— Pega suas coisas e vá embora! — A voz firme da minha esposa ecoa pela sala, me
deixando orgulhoso.
— Como? — A empregada tenta agir como se não a entendesse.
— Você acha que não vi a forma como encarou o meu marido ao se abaixar?
— Senhora... — A interrompo grosseiramente, poderia deixar a Patrícia resolver, mas
não quero que ela se estresse nessa fase da gestação.
— Não ouviu a minha mulher? Saia! — A vejo se encolher em seu próprio corpo
assustada com a rispidez que falo.
— Não tem como sair da ilha agora, senhor.
— Agora lembrou que somos os seus chefes? Vá nadando se não tiver um barco!
— Sinto muito, eu... eu, estou de saída. — A empregada responde nervosa, se afastando
em direção à cozinha.
— Está tudo bem? — Volto minha atenção para minha esposa, que está tão irritada que
seu rosto está completamente rubro.
— Você olhou! — Ela exclama, caminhando para fora de casa, e eu me apresso em
alcançá-la.
— Amor... — Tento acalmá-la, mas ela para, cruzando os braços.
— James, acompanhei seus olhos.
— Não vou negar que olhei, mas não foi com más intenções. Estava distraído, vi de
relance a sombra dela se abaixando, olhei sem acreditar no que estava acontecendo. Quando
percebi, você chegou.
— O que viu? — Ela pergunta, fazendo um bico que a deixa terrivelmente fofa, somado à
ponta do seu nariz vermelho.
— Uma visão do inferno, se quer saber. Não reparei em nada.
— Não quero que ela esteja aqui durante a nossa lua de mel.
— Vou pedir alguém para substituí-la, minha onça.
Patrícia fica séria, e a envolvo em meus braços, selando seus lábios com um beijo calmo.
O resto do dia é tranquilo, e não permitimos que o incidente atrapalhe nossa lua de mel.
49
Patrícia Ricci

ossa lua de mel foi um sonho, repleto de momentos quentes e intensos, com noites que, por
N vezes, levaram meu corpo à exaustão. Voltamos para Galway, nossa casa ficou pronta e
nos mudamos.
James se envolveu ativamente em todos os detalhes do quarto do nosso filho. Escolhemos
o tema realeza, e o resultado foi perfeito. Cheguei a quarenta e uma semanas de gestação e
comecei a sentir algumas contrações.
A dificuldade em encontrar uma posição confortável para dormir me levou a usar meu
marido como travesseiro. Ele demonstrou ainda mais paciência e começou a trabalhar de casa.
Após um banho, visto um vestido solto e desço para comer algo. Paro no meio da escada,
sendo surpreendida por uma forte contração. James deixa o notebook no sofá e se aproxima
rapidamente.
— Por que não me chamou? — Ele questiona sério, pois não me deixa descer as escadas
sozinha. Embora não consiga ver meus pés, acho um exagero. Minha bolsa estoura, e uma
pequena poça de água se forma em meus pés. — Fez xixi?
Encaro o James sem acreditar na pergunta dele, não é possível que ele realmente acredite
que fiz xixi.
— Não! O Calebe amor.
— Ele fez xixi? — Ele me olha com o cenho franzido.
— Por Deus, James, o Calebe está nascendo, minha bolsa estourou. — Sua expressão
muda totalmente.
— O que eu faço?
— Me ajuda a descer com cuidado, porque nossos pés estão molhados. Pegue as bolsas
que separamos para a maternidade e avise a obstetra que estamos a caminho. — Ele me olha
visivelmente confuso e eu o repreendo. — James!
— Desculpa. Sofá, bolsa, médica e maternidade. — Apenas confirmo com a cabeça.
Ele me guia até o sofá e sobe as escadas correndo, pulando os degraus. Fico preocupada e
antes que possa pedir para ele parar de correr, ele escorrega. Por sorte, segura no corrimão da
escada e não se machuca.
Seguimos para o carro, e peço que o motorista nos leve à maternidade, percebendo que
meu marido está mais nervoso do que eu e seria incapaz de nos levar em segurança.
— O que faço agora? — Ele pergunta apavorado.
— Concorde com tudo que eu disser quando estiver com dor. Não solte a minha mão,
mesmo que eu peça, e lembre-se de que, se gritar com você, é a dor falando, não eu.
— Posso fazer isso.
Ele acaricia minhas costas e avisa meus pais e nossos amigos que estamos a caminho da
maternidade.
— Calma meu amor. — Ele sela meus lábios com um beijo calmo e segura minha mão.
— Eu deveria estar dizendo isso. Não sei como não está em pânico agora.
— Estou nervosa e muito ansiosa, mas sei que a dor vai piorar muito, então estou
tentando manter a calma. — Mal completo a frase e sinto uma contração intensa.
Ao chegar à maternidade, contra a vontade do meu marido, dou uma volta pelo
quarteirão, li que é bom e que ajuda. Nesse momento, estou aceitando qualquer ajuda. As
contrações ficam com o intervalo menor e finalmente damos entrada na recepção.
Minha obstetra já nos aguardava e conseguimos ficar na sala de parto humanizado.
Experimento diferentes posições, sentada, caminhando, dançando, deitada, até mesmo entro na
banheira, mas nada parece aliviar a dor, que fica inexplicavelmente forte e se intensifica a cada
minuto.
— Chamam isso de parto normal? — Indago nos poucos minutos que tenho entre uma
contração e outra.
— Parece mais um parto anormal. Eu tenho uma filha de dois anos e te entendo
perfeitamente. — Uma das enfermeiras me responde.
A obstetra realiza outro toque, e tenho certeza de que vi estrelas. Lágrimas rolam pelo
meu rosto e James às seca com os polegares.
— Eu não consigo mais. — Afirmo, olhando o relógio, já se passaram mais de quatro
horas sofrendo com as dores.
— Você consegue mãezinha, O Calebe está chegando. Está com dilatação total. —
Mordo os lábios para não gritar durante outra contração, esmagando a mão do James.
— Vai conseguir, amor, nosso filho está chegando. — Ele afirma, olhando nos meus
olhos, e eu concordo apertando ainda mais sua mão.
— Quando eu pedir, você faz força. Tudo bem? — Apenas concordo com a cabeça.
Tudo se intensifica e quando penso que cheguei ao limite, outra contração invade meu
corpo, me deixando desnorteada. James permanece ao meu lado, me dizendo que consigo, me
mostrando a força que tenho.
A obstetra continua repetindo que é só mais uma e mesmo exausta não desisto. Ela insiste
“só mais uma mãezinha”. Mordo os lábios com tanta força que sinto o gosto do sangue na boca.
Lágrimas rolam pelo rosto sem que consiga controlar, ao ouvir o chorinho do meu filho ecoar
pelas quatro paredes da sala.
James chora comigo, completamente emocionado. Ele olha nosso filho e depois me olha
com um sorriso largo, secando as lágrimas com os punhos.
— Ele é perfeito. — A voz do James chega a falhar.
A obstetra me deixa vê-lo antes de entregá-lo ao pediatra. Percebo a mão de Deus em
cada detalhe desse dia. Terminam os procedimentos comigo e com o Calebe e uma enfermeira
me ajuda a colocá-lo no seio para mamar.
Sinto um leve desconforto, nada insuportável nesse primeiro momento. Calebe é forte e
suga com força. Somos levados para o quarto e uma médica do banco de leite me orienta sobre a
importância da pega correta.
Prestamos atenção em tudo, e logo meus pais, Liam e Julie entram no quarto. Temos
certeza de que o nosso filho será muito amado e mimado. A emoção e a alegria das pessoas que
amamos conhecendo nosso filho aquece o coração.
Meu marido fez questão de ficar ao nosso lado, mesmo minha mãe pedindo para cuidar
de mim, ele não abriu mão de ser ele a me ajudar no banho. Tivemos duas noites difíceis, eu tive
cólicas, cheguei a sujar a cama com um fluxo intenso.
Contudo, a cada dia tenho certeza de que escolhi o homem certo para dividir a vida.
Damos o primeiro banho do Calebe com a ajuda de uma das enfermeiras do hospital e na hora da
alta fiquei muito assustada. Agora seríamos apenas nós dois, sem as enfermeiras e médicos para
nos auxiliar, e não nego que me sinto insegura.
50
James Lambertti

o chegarmos em casa, percebemos que o nosso desafio estava apenas começando na


A maternidade. Calebe troca o dia pela noite, nos deixando completamente exaustos. A casa
sempre cheia e a privação de sono se tornaram nosso maior desafio.
Apesar de eu auxiliar em tudo que podia, a amamentação exige muito da Patrícia, e ela
fez questão de amamentar em livre demanda. Seus seios chegaram a ferir, mas nada a fez
desistir.
Os dias foram passando lentamente, e Calebe teve cólicas terríveis. Seguimos todas as
orientações do pediatra, mas o choro do nosso filho era doloroso de ouvir. Tudo foi se
encaixando, ele começou a dormir a noite, as cólicas e as visitas diminuíram, e aprendemos a
descansar quando ele dormia.
Estabelecemos uma rotina e retomei meu trabalho em casa, buscando ser o mais presente
possível. Liam começou a se afastar, o sonho da Mia era ter um filho e eles tentaram por um ano,
até descobrir que ele não poderia ser pai. A chegada do Calebe despertou esses sentimentos
adormecidos e ele teve dificuldade em lidar.
Meses se passaram, Julie e Liam se aproximaram. Não soubemos o que aconteceu entre
os dois até Julie deixar o país, ela se mudou com os pais, para tentar um tratamento experimental
para Robert.
— Liam acha que ela se enganou.
— Ele a chamou de golpista. Ele é um idiota! — Patrícia fala nervosa.
— Ele é estéril, amor. O que deveria pensar quando ela anunciou uma gravidez?
— Ela era virgem quando começou a se relacionar com ele.
— Mas não tinham um compromisso sério.
— Ele é seu amigo, ótimo, a Julie é minha amiga. Ela não sairia se deitando com vários
homens depois de ter se guardado tanto tempo.
— Não vamos mais falar sobre isso. Está nervosa, e eu não fiz nada.
— Tudo bem. Julie está sozinha e grávida, como mãe não tem como não pensar e me
preocupar. Além disso, ela é como uma irmã e vê-la tão fragilizada em um momento que deveria
estar feliz foi doloroso. Poxa, que pai rejeita o filho antes de tentar entender a situação? —
Abraço a Patrícia por trás, tentando entender todos os lados.
— É complicado.
— Se tivesse rejeitado nosso filho, não o perdoaria. Deveria falar com ele, antes que seja
tarde.
— Liam voltou a New York, ele não conversa mais comigo como antes, se fechou
novamente.
— Deveria interná-lo, obrigá-lo a se tratar. Sei que o luto é difícil, mas ele não tenta se
reerguer, e agora passou dos limites.
— Sei que está chateada pela Julie, mas é melhor para ela seguir em frente. Ele não vai
voltar atrás, e depois, tem mais coisa nessa história.
— Se falar outra vez que o Liam é estéril, quem vai ficar impossibilitado de ter filhos
aqui é você! — Não falo mais nada, embora tenha certeza de que a não Julie é uma golpista. Não
sei o que pensar já que Liam chegou a fazer exames que comprovam que é estéril.
Mudamos de assunto e não falamos mais sobre Liam e Julie. Patrícia, mesmo distante,
acompanha toda a gestação da Julie. Elas se falam diariamente, enquanto eu perdi totalmente o
contato com Liam. Ele não me atende mais, não me recebeu quando fui à sua casa e assumiu as
empresas dos pais na filial do Brasil.
Liam trabalhava comigo apenas para não ter que lidar com a própria vida. Desde a morte
dos pais, deixou a empresa nas mãos de pessoas da confiança dele, que infelizmente o deixaram
à beira da falência. Ele não quis minha ajuda e levou quase dois anos para se reerguer
trabalhando incansavelmente.
Durante esse período, eu trabalhei muito e finalmente, após dois anos, vamos inaugurar o
hotel e a confeitaria. Calebe é uma criança amorosa como a mãe, mas tem muito da minha
personalidade. Ele nos desafia e ensina todos os dias.
Julie não virá à inauguração. Infelizmente, chegamos a poucos dias da Flórida, após o
funeral do Robert. Melissa foi o que não a deixou sucumbir com a morte do pai. Agora, ela vive
pela mãe e pela filha.
— Vai ficar tudo bem. — Falo beijando o ombro da minha esposa.
— Estou feliz com a inauguração, mas Robert era como um pai para mim. Além disso, o
luto da Julie está me machucando. Desde que assumi a confeitaria, ela estava comigo, e agora
nem a reconheço. A vida sempre foi tão cruel com ela, me sinto mal por sentir felicidade nesse
momento. — Patrícia desabafa entre soluços. Permaneço ao seu lado, a ouvindo com atenção e a
deixando pôr para fora.
— Vamos cuidar delas, meu amor.
— Ela não vai voltar, não quer ver o Liam nem por acidente e eu entendo.
— Continuaremos indo até ela sempre que possível. Agora, precisamos ir.
Patrícia respira fundo, troca de roupa e retoca a maquiagem. Enquanto ela termina de se
vestir, acordo o Calebe e o troco. Saímos de casa atrasados, mas a inauguração é um grande
sucesso.
Calebe conquista a atenção de todos, anima Patrícia e temos um bom dia. Fico na
confeitaria, observando a Patrícia. Me lembro da primeira vez que a vi, sem entender o porquê,
seu sorriso para os clientes chamou minha atenção.
Ao longo dos anos ela não mudou, continua ajudando os vizinhos e mantendo seu sorriso
doce. Meus pais nunca me procuraram, sequer quiseram conhecer o Calebe. De certa forma
preferimos assim.
Com a chegada do Calebe, perdi meu maior medo. Patrícia diz que sou paciente, mas não
apenas admiro minha esposa, mas me espelho nela. Trabalho meus defeitos diariamente,
buscando ser melhor pela minha família.
Meus sogros se mudaram para a mansão, espaço não falta e eles não abriram mão de
cuidar do neto, permitindo que Patrícia voltasse ao trabalho na confeitaria. Este trabalho é uma
das paixões da minha esposa, e ela tem meu total apoio para seguir fazendo o que ama.
Seu talento é inegável e toda cidade comemora o seu retorno. Ela volta com receitas
novas, tenho o privilégio de ser o primeiro a prová-las, percebendo o quanto ela é perfeccionista.
Enquanto caminhamos para casa, contamos a nossa história ao nosso filho, mostrando as
belezas de Galway. Patrícia me alertou que depois que conhecesse a cidade não iria mais querer
ir embora, eu zombei dela, estava tão certo que só queria a confeitaria que não contava que iria
descobrir o amor com a confeiteira.
Nem tudo são flores e o “meu jeito difícil”, como diz minha amada esposa, não colabora.
Contudo, o amor sempre fala mais alto em nosso relacionamento, que construímos sobre uma
base sólida.
Nunca me esqueci dos erros que cometi com a Patrícia, eles são o que me lembram
porque tenho que ser melhor. Eu, um homem que sempre teve tudo que o dinheiro pode comprar,
descobri nos braços de uma doce tentação que não tinha nada e encontrei a verdadeira felicidade.
Epílogo
Patrícia Ricci

Quatro anos depois...


esperto com os primeiros raios de sol invadindo o quarto, com um sono absurdo. Me sento
D e James abre os olhos sonolento.
— Continue dormindo, amor. Preciso ir ao banheiro. — Falo baixo tentando não
despertá-lo.
A gravidez intensificou minhas idas ao banheiro. Ao retornar, encontro meu marido
sentado na cama.
— Como está se sentindo?
— Estou bem, apenas um pouco sonolenta. — Descobrimos que estamos à espera da
Emely. Ela veio para completar a nossa família e Calebe está ansioso para o nascimento da irmã.
Escuto batidas sutis na porta e James abre com um pequeno sorriso nos lábios.
— Tive um pesadelo, papai. — Calebe fala com a voz embargada e os olhinhos
marejados. James o pega nos braços e aninha ao seu peito. Ele o deita entre nós, e eu beijo o topo
de sua cabecinha.
— Foi apenas um pesadelo, meu amor. — James diz, secando as lágrimas do rostinho do
nosso pequeno.
— Eu estava solto no espaço. — Ele suspira e faz um bico.
— Nunca vai ficar solto no espaço, o super papai vai te proteger, filho. — Afirmo vendo
como o pesadelo o assustou.
— Igual ao Buzz Lightyear? — Calebe indaga curioso.
— Sim, meu filho. — James confirma, e Calebe o abraça apertado.
— Papai, você precisa de um uniforme. — Calebe sussurra e seguro o riso.
— Papai vai providenciar, prometo. Eu te amo filho. Durma bem. — Calebe suspira,
enquanto faço um carinho em seus cabelos, e todos voltamos a dormir.
Desperto novamente sozinha, com o Calebe aninhado em meus braços. Pego o celular
com cuidado para não acordar meu filho e leio a mensagem do James.
“Bom dia. Tive que sair mais cedo para uma reunião, meu amor. Volto mais cedo hoje,
eu te amo.”
Coloco o celular na cabeceira e fico com o Calebe na cama até ele despertar, seguindo
nossa rotina de sábado. Com a gravidez chegando à reta final, meus pés começaram a inchar, e
optei por não trabalhar nos finais de semana.
Ligo para Julie, Calebe se anima ao ver Melissa e ficamos quase uma hora na chamada
vídeo. Encerramos a ligação e somos surpreendidos pela entrada de James em casa, fantasiado de
Buzz Lightyear.
Calebe vibra ao ver o pai como um super-herói, e acho incrível a ideia que ele teve para
afastar o medo do nosso filho. Tiro fotos dos dois, sentindo meu coração sendo preenchido por
um sentimento bom que aquece a alma.
Passamos a tarde brincando na propriedade, e confesso que James continua a me
surpreender a cada dia que passamos juntos. Ele é um marido e pai maravilhoso, e sem saber que
era possível, o amo cada dia mais.
Calebe não o deixa tirar a fantasia, e ele o coloca para dormir vestido de Buzz Lightyear.
Ele demora a dormir, empolgado, pedindo só mais uma história várias vezes. Com cuidado
deixamos o quarto, assim que ele finalmente adormece.
— Isso está quente. Me ajuda a tirar essa fantasia pelo amor de Deus. — Ajudo a tirar a
fantasia e ele suspira aliviado.
— Sabe que amanhã terá que usá-la novamente, não é mesmo? — Ele faz uma careta, e
selo seus lábios com um beijo calmo. — Sua idéia foi maravilhosa, nosso filho amou.
— Pelo menos isso, usar essa fantasia é uma verdadeira tortura. — Terminamos sorrindo
jutos.
Caminhamos até o banheiro e não resisto aos toques e carícias do meu marido, me
entregando a todas as sensações que apenas ele desperta no meu corpo. Terminamos nos amando
na cama exaustos e satisfeitos.
Seguimos para o banheiro, e após outro banho, nos deitamos. Entrelaço minhas mãos as
dele, sinto seus lábios macios e quentes tocando meu ombro, enquanto sou envolvida em seus
braços.
— Eu te amo, boa noite meu amor. — Sussurro exausta.
— Eu também te amo, senhora Lambertti. Boa noite. — James murmura com a voz
embargada de sono.
Mesmo após anos nada mudou, seu toque ainda me causa arrepios, seu abraço é o meu
porto seguro e sua voz sussurrando perto do meu ouvido ainda provoca a sensação de mil
borboletas no meu estômago.
Ele não é apenas o pai dos meus filhos, James Lambertti é o amor da minha vida, o
homem por quem meu coração bate em um ritmo acelerado. Quando reflito sobre tudo que
passamos, é impossível não me emocionar.
Ele se tornou um grande homem e não imagino minha vida sem ele. Apesar de não ter
recebido amor dos pais, se tornou um homem amoroso que não mede esforços para nos ver
sorrindo.
Sua redenção é uma lição de vida e me trouxe muitas reflexões, ele pensa que aprende
com conosco, mas a verdade, é que ele nos ensinou muito, ao dar o que não teve e escolher a
felicidade quando nem mesmo se achava digno dela,
O amor não é apenas um sentimento, é uma escolha e escolhemos fazer o nosso
casamento dar certo, lutando por ele diariamente. Perdida em pensamentos, grata por todas as
bênçãos de Deus em minha vida, adormeço, me sentindo segura nos braços do meu marido.
FIM
Agradecimentos
enho muito pelo agradecer e por essa razão farei em partes, vou começar agradecendo as
T minhas amadas leitoras, que sempre me apoiaram e tornaram possível escrever meu
primeiro livro na Amazon. Não nego que tive medo, mas vocês são a razão para continuar
escrevendo. Obrigada meus amores pelo apoio incondicional e pelo carinho.

Não poderia deixar de agradecer à autora Hinik, que é uma grande amiga. Ainda me
lembro dela me chamar no privado e dizer “Nós vamos para Amazon”, confesso eu ri, de
nervoso, pensando, eu? Ela não me deixou desistir e continuou me incentivando diariamente.
Obrigada Hinik, por não desistir de mim, por me incentivar e me colocar para cima nos dias que
me senti mais insegura.

As autoras Adri Luna e Samanta Marinho, sou imensamente grata por tudo que fizeram
por mim. Não apenas me mostraram esse mundo novo, mas me guiaram por ele, me
aconselhando e respondendo prontamente às minhas várias dúvidas. Nunca vou me esquecer da
ajuda que me deram, vocês são incríveis como autoras, e como pessoa só posso afirmar que sou
grata por ter tido a coragem de chamá-las no privado. Muito obrigada!

Muito obrigada a todas que leram o livro até o final. Não deixem de me seguir no
Instagram, para acompanhar a data de lançamento do livro do Liam e da Julie.

Instagram: @Jessica_escritora
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