AFECÇÕES DOS PRÉ-ESTÔMAGOS E
ESTÔMAGO DE BOVINOS
[ESTUDAR JUNTO COM O RESUMO DA JÚLIA]
• INTRODUÇÃO AO EXAME DO SISTEMA DIGESTÓRIO
• Ruminantes possuem especificidades, principalmente no trato digestório (herbívoros
poligástricos ruminantes), o que os tornam susceptíveis as falhas de manejo alimentar
• Antes principalmente chegavam animais com deslocamento de abomaso e timpanismo
• Atualmente a casuística nos hospitais têm diminuído, mas não dentro das fazendas (é o
que mais dá problema nas fazendas, por medidas de manejo inadequadas)
• Acidose ruminal subclínica (SARA) tem em praticamente todas as propriedades
• O ideal é que o diagnóstico é o tratamento sejam realizados na própria propriedade, para
evitar que o animal tenha que ser deslocado a um hospital
• ANAMNESE
• Qual a base da dieta (ração)? Qual o volumoso? Qual o estado da dieta fornecida
(apodrecida, etc)? Qual a composição nutricional da dieta? A dieta está suprindo as
exigências daquela categoria animal? Qual a quantidade fornecida? Quantas vezes a
dieta é fornecida por dia?
• Conferir visualmente como está a qualidade do alimento
• AVALIAÇÃO EXTERNA E INSPEÇÃO DO ANIMAL
• Avaliar se o animal tem alguma modificação na conformação anatômica
(principalmente silhueta do abdômen)
• Os ruminantes são levemente côncavos nas fossas paralombares (silhueta de pêra
bem discreta)
• Diferenças em silhueta podem ser altamente indicativas da doença que está
acometendo os estômagos do animal
• Síndrome de roflund: do lado direito fica pêra e do lado esquerdo fica maçã
• Timpanismo gasoso: o gás saí da digesta e sobe; faz protrusão somente da parte
superior (pois o gás se acumula na parede superior do abdômen)
• Timpanismo espumoso (primário): as bolhas se mantém misturadas na ingesta e não
coalescem; ocorre distensão de todo o hemiabdômen do lado esquerdo em área de
rúmen
• Avaliar o interesse do animal pelo alimento (vaca que não se interessa por capim
verde é porque tem algo errado); oferecer capim verde e concentrado
• Animal pode ficar com apetite caprichoso (como na retículo pericardite traumática)
• Se ele estiver com retículo pericardite traumática, o animal prefere o concentrado
(pois o volumoso vai exigir onda A que se inicia pelo retículo e vai doer)
• No deslocamento de abomaso, o animal prefere o volumoso (pois o concentrado vai
para o abomaso e dói)
• Bovino passa a língua pelo capim e puxa, mastiga 2 ou 3 vezes e deglute; quando o
rúmen estiver com certa repleção, aí o animal começa a ruminar
• Avaliar como o animal está apreendendo o volumoso, quantas vezes está
mastigando
• No botulismo, o animal apreende o alimento e fica mastigando por um bom tempo
(porque não tem atividade muscular suficiente) e acumula alimento nas bochechas
• SEMIOTÉCNICA
• Começar pela cavidade oral (abre boca em forma de cunha, posiciona no fundo da
arcada dentária)
• Enfia a mão na boca do animal até a orofaringe
• Avaliar mucosa (perfusão, coloração, umidade)
• Avaliar a dentição (se tiver problema nos dentes o animal pode parar de comer)
• Esôfago está dorsal a traqueia, se desloca mais para o lado esquerdo
• Avaliar o esôfago (verificar a presença de corpo estranho, passar sonda)
• Depois do esôfago, avaliar os compartimentos gástricos e intestinos
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• Rúmen, retículo e omaso = pré estômagos
• Abomaso = estômago verdadeiro
• Saber a localização topográfica, seu formato, saber como acessá-lo, como avaliá-lo e
como o órgão funciona (que tipo de atividade ele tem e como ele trabalha) = saber
anato e fisiologia
• Rúmen e retículo são órgãos separados mas trabalham juntos
• Pasto velho com alto teor de lignina tem baixíssima digestibilidade, e “embucha” o
animal (fica alojado nos pré estômagos e não progride no TGI)
• Muito capim e baixa digestibilidade = deve ter alta atividade ruminoreticular (próximo
ao limite superior)
• Muito volumoso e alta digestibilidade = deve ter baixa atividade ruminoreticular
(próximo ao limite inferior)
• Taxa de passagem: tempo que o alimento fica nos pré estômagos antes de ser
digerido (se tem taxa de passagem baixa ele demora mais para sair)
• ONDAS ESPECIALIZADAS DO RETÍCULO-RÚMEN
• São o fator que diferencia os ruminantes dos herbívoros monogástricos
• Onda do fechamento da goteira esofágica
• Ocorre nos bezerros em amamentação
• O leite cai direto no abomaso
• Depois que o animal é desaleitado essa onda desaparece
• Já no animal adulto, a água livre que o animal bebe cai no rúmen, estimulando o
consumo de concentrado e a formação da microbiota ruminal
• Onda primária (onda A)
• Onda da estratificação
• A onda A serve para estratificar o conteúdo do rúmen (cada uma das camadas deve
estar no local correto para que o processo digestivo ocorra com sucesso)
• O gás fica em cima, o met (pasta alimentar, feito de partículas mais grosseiras e de
maior tamanho) fica no meio e embaixo fica o líquido/lago ruminal (composto por
metabólitos solúveis em água e partículas mais finas)
• O gás fica em cima para ser eructado
• Clearence: liberação do conteúdo; relação com a produção dos ácidos graxos voláteis
do rúmen
• O principal mecanismo de depuração dos metabólitos é a absorção pelas papilas
ruminais
• A onda A é sistemática, ocorre continuamente (se ela não ocorrer, o conteúdo não é
estratificado)
• Na auscultação em 5 minutos, ocorrem 1 a 2 ondas A por minuto (auscultam-se 5 a 10
ondas A em 5 minutos)
• A onda A diminui drasticamente na retículo pericardite, a onda B é a que diminui no
timpanismo
• Auscultar se a onda A tem duração completa ou se está interrompida, e qual o vigor
dela
• A onda A é longa, continua e vem num crescente (parece um trovão que vem das
profundezas do rúmen); ruído áspero, longo e continuo
• A onda A começa com 2 contrações do retículo (contrações reticulares bifásicas, mas
não dá para auscultar a diferença entre as contrações, elas aparecem ser a mesma
coisa) depois vem percorrendo o saco dorsal do rúmen e no final o saco ventral
• A primeira contração do retículo é mais rápida e menos vigorosa, que joga o conteúdo
para cima e para trás
• A segunda contração do retículo é mais intensa e mais duradoura, para fazer o
conteúdo sair do retículo e ser introduzido no saco dorsal do rúmen
• A onda A percorre no sentido ventro dorsal e crânio caudal
• Ausculta na fossa paralombar esquerda
• Quando a onda A está passando pelo saco dorsal, a mão afunda (pois o saco
ventral vai estar relaxado e grande, e o saco dorsal vai estar contraindo para
expulsar o conteúdo em direção ao saco ventral)
• Quando a onda A está passando pelo saco ventral, a mão(posicionado na fossa
paralombar) é empurrada para fora (pois o saco ventral vai estar comprimindo e o
saco dorsal vai estar relaxado)
• Onda secundária (onda B)
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• Onda da eructação
• A onda B serve para expulsar o gás pela eructação
• A onda B não é sistemática nem continuada
• A onda A tem ruído mais áspero e grosseiro, enquanto a onda B tem ruído de
borborigmo e metálico, de duração curta
• 1 a 2 ondas B para cada 2 ondas A
• A onda B só ocorre quando houver acúmulo de gás que estimule essa onda para
poder eructar
• Se posiciona do lado esquerdo, estende os dedos e vai palpando no sentido dorso
ventral
• A tensão da pele na palpação deve ser levemente elástica na região dorsal (2 a 3
dedos abaixo dos processsos transversos, correspondente ao gás) e deve ser
pastosa na região ventral (fica como um sinal de Godê, fica a marca dos dedos,
correspondente à pasta alimentar no rúmen)
• Para palpar a região de lago ruminal, fecha o punho e faz movimento de gancho; a
consistência é flutuante
• No timpanismo a tensão dorsal é forte, não dá para afundar o dedo
• O gás acumulado no teto do rúmen estimula os receptores de baixo limiar de tensão,
e essa mensagem de arco reflexo desencadeia a onda B
• A onda B ocorre em sentido inverso à onda A (caudo cranial e ventro dorsal), envolve
somente o saco dorsal e a parte cranial do saco ventral
• Primeiro libera o cárdia (tira o net dali), o gás passa (sai de forma passiva pelo
esôfago, não precisa de motilidade esofágica) e o animal eructa
• Substância surfactante (mucina) quebra a tensão superficial das pequenas bolhas
formadas no lago ruminal, fazendo com que elas se coalesçam, subam e formem o
gás livre
• Nesse processo de subida das bolhas elas empurram as partículas mais grosserias
que compõem o net, permitindo a organização dos materiais finamente moídos do
material grosseiro
• Onda terciária / primária modificada (onda C)
• Onda da ruminação
• Onda C chama primária modificada pois é uma modificação da onda A
• Ocorre primeiro uma contração fortíssima do retículo (antes das 2 contrações
reticulares da onda A), para empurrar todo o conteúdo do retículo e cranial do saco
ventral para abarrotar o cárdia com net (contrário da onda B), entupir o cárdia com
partículas grosseiras e grandes (joga o conteúdo para cima e para frente)
• O animal inspira profundamente com a cárdia fechada, a cárdia abre e por diferença
de pressão (pressão negativa dentro do esôfago) o net é sugado para dentro do
esôfago e o peristaltismo retrógrado do esôfago empurra esse material para a boca
para ser ruminado
• A onda C não é avaliada rotineiramente pois o animal para de ruminar durante o
exame físico (tem que estar relaxado para estar ruminando)
• RUMINAÇÃO
• 27 a 30% de FDN (2/3 dele tem que vir da forragem) na dieta
• 50 a 55% de carboidrato não fibroso na dieta
• As melhores vacas produtivas passam muito tempo deitadas e ruminando (12 a 14 horas)
• Os períodos de ruminação duram de 30 minutos a 1 hora e meia
• Quanto mais tempo ruminando melhor
• Percussão com martelo e plessímetro
• Na porção dorsal, tem som subtimpânico pela presença do gás no teto do rúmen (é
um som abaixo do timpânico patológico mas é um som acima do som claro do
pulmão)
• Conforme vai percutindo ventral a macicez vai aumentando (pois a quantidade de
pasta alimentar vai aumentando e a quantidade de gás vai diminuindo)
• OBS: a macicez nunca vai ser completa pois sempre vai ter um pouquinho de gás
• TIPOS DE AFECÇÕES DIGESTÓRIAS
• Primárias
• Incidem diretamente sobre algum órgão do sistema digestivo
• Alterações motoras
• Alterações microbiano-bioquímicas
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• Secundárias
• Cursam com sinais clínicos de alteração digestiva, mas afecção primária ocorre em
outro órgão/tecido
• Insuficiência motora retículo-rumenal
• Insuficiência microbiano-bioquímica simples da ingesta rumenal
• Hiperacidez clorídrica da ingesta rumenal
• Indigestões: afecções que acometem os pré estômagos
• INSUFICIÊNCIA MICROBIANO-BÍQUIMA SIMPLES
• Etiologia
• “Embuchamento”, “empanzinamento”
• Costumava ocorrer com maior frequência, hoje nem tanto (devido à tecnificação das
propriedades)
• Animal recebendo dieta de baixa qualidade (pobre em proteína, energia e minerais) e
rica em fibra de baixa digestibilidade (grande quantidade de FDN e lignina)
• A quantidade de bactérias e protozoários vai reduzindo devido à falta de substrato;
dessa forma a síntese e degradação de proteína microbiana vai reduzindo
praticamente a zero (resultando em inatividade simples da microbiota numenal)
• Essa inatividade reduz a produção de AGV e de proteína microbiana
• Resultando em desnutrição
• Ocorre principalmente na época da seca em propriedades que não há
suplementação, nem cana com ureia e nem planejamento de silagem para a época
da seca
• Quadro crônico
• Sinais clínicos da cronicidade
• Emagrecimento progressivo
• Pêlos opacos e quebradiços
• Baixa produtividade
• Depravação do apetite (começa a comer pedra, terra, cerca, osso)
• Timpanismo moderado (não devido a produção de gás, pois ela esta baixa, mas
devido à estase ruminal) e recidivante
• Rúmen cheio e sem estratificação
• Lado direito inchado de cima a baixo
• Rúmen todo tomado pelo met e de consistência firme (praticamente não tem
presença de gás nem de lago ruminal)
• Estase fecal
• Fezes muito ressecadas, com alta quantidade de fibras pouco digeridas
• Fezes altas, volumosas e pontiagudas
• Podem estar cobertas de muco (o intestino secreta muco para proteger da lesão
da mucosa pelas fezes excessivamente ressecadas)
• Diagnóstico
• Histórico (o que comeu, quanto ele comeu e há quanto tempo ele comeu)
• Sinais clínicos
• Exame do fluído rumenal
• Colhe com sonda furada de 2,5m (nasogástrica ou orogástrica)
• Infusórios (pequenos, medios e grandes)
• pH (deve estar entre 5,4 e 7,0)
• Redução do azul-de-metileno
• Taxa de sedimentação e flutuação
• Entre 3 a 6 minutos deve ser formado um tampão de partículas grosseiras no
topo, e as partículas finas devem decantar no fundo do tubo (com líquido entre
essas camadas)
• Nesse caso, o exame do fluído ruminal:
• Coloração fica cinza-parda
• Pouca flutuação (não tem gás)
• Queda na quantidade de infusórios (primeiro somem os grandes), e de baixa
atividade
• Consistência aquosa
• Rápida sedimentação (o pouco gás produzido não é capaz de suspender as
partículas grandes, então elas ficam sedimentadas no fundo do tubo com as
partículas finas)
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• pH fica alcalino
• Queda no potencial redox
• Tratamento
• Remoção da causa sempre deve ser a primeira medida de tratamento!
• Nesse caso, deve-se primeiro corrigir a falha nutricional que ocorreu (que é a
causa do problema)
• Introduzir dieta balanceada de modo progressivo (permitindo adaptação)
• Evacuação da ampola retal
• Produzir uma diarreia no animal
• De modo a resolver a estase
• Aumentar a pressão osmótica intraruminal para que haja um influxo de água que
permita que o conteúdo continue passando pelo trato digestivo
• Diarreia produzida por meio de Sulfato de Mg (de 300 a 500g) via sonda
• OBS: fazer fluidoterapia juntamente (pois a diarreia vai desidratar o animal)
• Transfusão de fluido rumenal
• Feita pois o animal não tem mais microbiota ruminal (não vai adiantar voltar a
fornecer dieta boa se o animal não tiver como digerir corretamente)
• 3 a 5L de líquido ruminal via sonda
• Toda fazenda deveria ter uma vaca saudável fistulada (para servir de fonte de
líquido ruminal para transfusão quando necessário)
• Rumenotomia
• Abrir o rúmen e esvaziar manualmente
• Feito nos casos em que o esvaziamento da ampola retal e a indução à diarreia
não resolveram o quadro
• Prevenção
• Dieta balanceada
• Introdução progressiva para dar tempo de adaptação
• SÍNDROME DA RETÍCULO-PERITONITE TRAUMÁTICA (RTP)
• Trata-se de uma síndrome pois é causada variadas e sintomas variados em função de
onde o corpo estranho se alojou e perfurou
• O bovino tem baixa seletividade alimentar; pequenos ruminantes são muito mais seletivos
do que bovino (caprino > ovino > bovino)
• Etiopatogenia
• Acidental
• Relacionado à oportunidade do animal de acesso a corpos estranhos
• Final da gestação ou pós-parto
• Muito comum sintomas dessa afecção ocorrerem um pouco antes ou um pouco
depois do parto
• O útero gravídico comprime o rúmen no final da gestação (por estar muito
grande) ou as contrações uterinas para expulsar do feto
• Direções possíveis para movimentação do corpo estranho e órgãos acometidos
• Crânio-dorsal
• Perfura a região do cardia onde assa o ramo ventral do nervo vago
• Causa síndrome de Hoflund (indigestão vagal)
• Cranial
• Ele perfura o diafragma e atinge o saco pericárdico
• Causa retículo-pericardite traumatica
• Lateral
• Perfura o baço
• Causa abcessos
• Medial
• Perfura o fígado e/ou pulmão
• Pode causar peritonite difusa (prognóstico extremamente desfavorável quando
ocorre peritonite); faz eutanásia e manda para necrópsia
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• Não necessariamente os corpos estranhos serão metálicos (podem ser feitos de material
orgânico ou inorgânico, que podem inclusive se desfazer com o tempo), mas devem ser
pontiagudos
• Sinais clínicos
• Fase aguda com dor intensa
• Início repentino e dor visceral intensa na fase aguda
• Alterações típicas de cólica e sinais clássicos de dor abdominal
• Normalmente a fase aguda passa batido pelo produtor devido à grande
quantidade de animais (quando o veterinário é chamado já esta muito avançado o
quadro)
• Inapetência
• Deixa de comer principalmente o volumoso (dá preferencia ao concentrado)
• Nas fazendas com dieta total misturada, o animal refuga qualquer alimento
• Queda na produção
• Dorso arqueado e abdução do cotovelo
• Para descomprimir a região acometida
• Desce rampa em zigue-zague
• Para reduzir a pressão dos órgãos abdominais no retículo
• Pode acabar ficando com os membros torácicos apoiados em superfícies mais
altas e olhando para cima (para descomprimir os pré-estômagos)
• Relutância para se mover (marcha rígida)
• Reluta em se deitar (tende a ficar mais em pé)
• Hipotonia ruminal que evolui para atonia
• Redução drástica da frequência de ondas A e C retículo-ruminais (pois as ondas
se iniciam no retículo, que está acometido)
• Se não ocorrem essas ondas primárias, também não vai ocorrer onda B
• Timpanismo moderado
• Diarréia ou redução da produção fecal
• Devido à redução do consumo de alimentos e da motilidade dos pré-estômagos
• Prova de dor xifóide positiva
• Avaliada pela prova do beliscamento da cernelha: belisca na região da cernelha
enquanto o animal estiver inspirando; o animal positivo mantém a coluna reta
(quando no teste negativo o animal deveria fazer lordose)
• Também pode-se fazer pela prova do martelo (dá uma pancada na área do
xifóide o animal vocaliza e geme) e pela prova do bastão
• Pode ser avaliada também pela prova do martelo: dá uma pancada na área do
xifóide (entre a 6ª e 8ª costela, logo depois da área cardíaca), o animal positivo
vocaliza e geme
• Ocorre somente em 50% dos casos e somente na FASE AGUDA (quando
cronifica e as pleuras não roçam mais entre si, a prova fica negativa)
• Atenção: prova de dor xifóide positiva NÃO é patognomônica para síndrome de
retículo-peritonite traumática (quadros de pneumonia tromboembólica metastática
e broncopneumonia por manhemiose com aderência de pleuras também têm dor
xifóide positiva)
• Pericardite e sinais de ICC
• Repleção da jugular
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• Hipofonese de bulhas cardíacas
• Aumento da FC
• Prova de estase positiva: faz um garrote na jugular, o sangue abaixo do dedo
deveria sumir e ela deveria colabar (para cima do garrote faz a jugular estase e
distende); na prova de estase positiva, a jugular abaixo do garrote não colaba
• Se tiver pulso venoso positivo associado a frêmito, é prognóstico extremamente
desfavorável
• Edema ventral
• Febre, sinais de toxemia e septicemia
• Mau sinal prognóstico (significa que já teve extravasamento do conteúdo
digestivo para a cavidade abdominal)
• TPC aumentado, vasos da esclera ejetados, mucosas congestas, extremidades
frias) pela peritonite difusa
• Óbito
• Diagnóstico (do menos invasivo ao mais invasivo)
• Histórico (não costuma ser muito eficiente)
• Conjunto de sinais clínicos
• Hematologia
• Avalia a gravidade da lesão
• Doença bacteriana (extravasa conteúdo ruminal), então ocorre leucocitose
intensa (20.000 a 30.000 leucócitos) e neutrofilia (com neutrófilos degenerados)
• Aumento de fibrinogênio (porém na hiperfibrinogenemia só ocorre na fase aguda,
para tentar sequestrar o derrame); na fase crônica ele pode estar normal ou
diminuído
• Eletroforese de proteínas: aumento de gama-globulinas (pela producao de
anticorpos)
• Paracentese abdominal
• Punciona com agulha na região de 3 dedos para trás da cicatriz umbilical e para o
lado direito
• Avalia o líquido abdominal puncionado
• Esse exame é fundamental, porém nos ruminantes é complicado pois ocorrem
loculações (sequestro do líquido contaminado, e não necessariamente você vai
estar batendo a agulha no exato local das loculações); diferentemente dos
equinos
• Laparotomia exploratória
• Tratamento
• Conservador
• Imobilização do animal (confinamento, se possível com a parte superior elevada)
• Redução pela metade da quantidade de volumoso
• Dieta de boa digestibilidade
• Antimicrobiano: dose alta de penicilina + estreptomicina (uso maciço por 5 a 10
dias) ou sulfametazina (150mg/kg por 7 dias) no objetivo de evitar a peritonite se
difundir
• Anti-inflamatórios: flumexina meglumina (cuidado com úlcera de abomaso)
• Colocação de imã via sonda: por ser pesado ele fica depositado no retículo-
rúmen
• Laparotomia / rumenotomia
• Ocorre recuperação de 50% dos casos (nos quais a peritonite estiver discreta ou
localizada)
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• Prevenção
• Evitar corpos estranhos
• Cuidado com os cochos e alimento fornecido
• Manutenção correta de instalações
• Administrar imã via sonda: é uma medida tanto de tratamento quanto de prevenção
• INDIGESTÃO VAGAL (“SÍNDROME DE HOFLUND”)
• É relativamente frequente
• Ocorre secundariamente a doenças comuns de ocorrerem (linfadenite caseosa,
tuberculose, reticuloperitonite)
• Anatomia dos nervos
• Nervo vago se divide em ramo direito e esquerdo (no tórax)
• Na altura do hiato esofágico (a partir do abdômen), esses ramos se fundem e se
dividem em ramo dorsal e ramo ventral
• O ramo dorsal enerva o rúmen
• O nervo ventral enerva retículo, omaso, abomaso, fígado e diafragma
• No coração, o nervo vago é parasimpatolítico
• No TGI o vago é parassimpatomimético
• Etiopatogenia
• Lesão do nervo vago ventral
• Estenose funcional retículo-omasal (anterior)
• É mais frequente, ocorrendo em 85% dos casos
• Motilidade fica aumentada (para compensar; difícil ser percebida) ou normal
• Estenose funcional do piloro (posterior)
• Diminuição da motilidade retículo-rúmen recidivante (intermitente)
• Com o tempo fica permanente
• Em ambos os casos ocorre atonia do retículo-rúmen
• O orifício retículo-omasal não fica estreitado, mas sim dilatado pois perdeu a
inervação do vago
• Perde completamente a estratificação (pela palpação percebe-se a consistência
fluida de todo o material compondo os pré-estômagos)
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• Sinais clínicos
• Estenose funcional anterior
• Curso longo (desenvolvimento crônico)
• Bradicardia: estimulação vagal no coração é inibitória (reduz a frequência
cardíaca); a inflamação (mesmo ocorrendo na altura do abdômen) tende fazer
uma estimulação retrógrada do vago (como ele inibe o coração, a estimulação
dele causa bradicardia)
• Inapetência
• Emagrecimento
• Desidratação
• Timpanismo moderado/crônico/recidivante: no começo tem timpanismo
gasoso, mas com avançar da doença fica espumoso pela diminuição das ondas A
(ondas A ficam com ruído semelhante a borborigmos, fica difícil diferenciar as
ondas A das ondas B)
• Diminuição da consistência das fezes/pastosas: omaso funciona como uma
bomba de sucção, sugando alimento do retículo e rúmen e quando cai no omaso,
é comprimido, tirando a água; se omaso não está funciona, fezes ficam pastosas
• Movimentos rumenais com tônus diminuído (ondas diminuídas)
• Exame retal: rúmen dilatado (rúmen adquire formato de L) e saco ventral
localizado no lado direito
• Conteúdo rumenal totalmente liquefeito, espumoso e escurecido (quando
passa a sonda nem precisa fazer sucção, pois o líquido sai aos montes
facilmente)
• Silhueta abdominal em forma de maçã do lado esquerdo (todo distendido de
cima a baixo) e pêra do lado direito (dilatado somente na parte ventral direita)
• Estenose funcional posterior
• Dilatação do abomaso por conteúdo duro (água sai mas a matéria seca fica presa
no abomaso)
• A estenose e a lesão vão evoluindo, passando a ter também uma estenose
anterior
• Laparotomia: dilatação retrógrada do retículo-rúmen (o abomaso vai virando
uma concreção, e começa a retornar conteúdo para dentro do rúmen)
• OBS: o termo estenose é incorreto (deveria ser “insuficiência”); pela denervação, o orifício
na verdade fica muito aberto (enquanto o nome “estenose” significa um fechamento, na2o
abertura); o orifício fica disfuncional porém não estenosado
• Diagnóstico
• Histórico e sinais clínicos compatíveis com a doença primária
• Prova da atropina
• Injeção SC de 30 mg de atropina e espera 15 minutos
• Depois de 15 minutos ocorre aumento de 16% da FC
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• Se aumentar a frequência após a administração do medicamento, significa que a
prova foi positiva (bloqueou estímulo retrógrado do vago sobre o coração)
• Trata-se de uma prova diagnóstica, porém só funciona para os pacientes que
tenham bradicardia por estimulação retrógrada do vago (e nem todos os
pacientes têm)
• Laparotomia exploratória para descobrir a causa primária da doença
• Prognóstico
• O prognóstico é sempre reservado a desfavorável (pois quando a síndrome de
Holfund se manifesta é quando a doença primaria já está muito avançada, crônica e
normalmente não tem tratamento mais)
• Depende da causa primária e do estado de evolução da doença
• Sinais de prognóstico ruim
• Retículo e rúmen dilatados
• Omaso e abomaso vazios e sem motilidade
• Diminuição do tônus e dilatação do orifício retículo-omasal (muito aberto)
• Diagnósticos diferenciais
• Ascite: o líquido está livre na cavidade abdominal; forma abaulamento ventral de
ambos os lados do abdômen
• Gestação avançada: normalmente gemelar
• Hidropsia das membranas fetais: excesso da produção de líquido alantoidiano
• DAE e DAD (deslocamento de abomaso a esquerda e a direita)
• Dilatação cecal
• Tratamento
• OBS: não deve ser feito quando a doença primária exigir descarte de carcaça (ex.
tuberculose)
• Laparotomia
• Eliminação da causa (retirar corpos estranhos, drenagem de abscessos)
• Aliviar o rúmen (retirar o conteúdo liquefeito que estiver preenchendo o retículo-
rúmen)
• Preencher o rúmen com alimento de boa qualidade e fluído ruminal
• Transfusão de fluido rumenal: estimular alimentação
• Vitaminas do complexo B: pois elas são produzidas pelas bactérias da microbiota
ruminal, então estarão diminuídas
• Gluconato de Ca: estimular motilidade
• Antimicrobianos
• Corticoides
• TIMPANISMOS
• A maioria dos casos agudos são emergências (envolvem risco eminente de morte)
• A primeira coisa é determinar qual o tipo de timpanismo (pois dependendo do tipo existem
medidas específicas a serem tomadas para cada um)
• Timpanismo: acúmulo excessivo de gás dentro do rúmen
• Espumoso (primário)
• Ocorre falha na fisiologia de formação e desprendimento do gás
• Material da ingesta fica misturado com o gás (formando uma espuma)
• Dieta com leguminosas (proteína)
• Dietas com alto teor de proteínas (que tem alta digestibilidade)
• Leguminosas (ex. trevo), azevenho, aveia, forrageiras de inverno possuem
grande quantidade de proteína e altíssima digestibilidade
• A terminação 18-S das proteínas confere a característica de alta digestibilidade
da leguminosa e aumenta a tensão superficial das bolhas de gás, reduzindo a
ação dos surfactantes (mucina)
• Forma-se uma espuma misturada junto com a ingesta
• Dieta de grãos (carboidratos solúveis)
• Provenientes de dieta rica em grãos
• Aumenta os AGV (butirato e propionato)
• pH do rúmen diminui (leva o animal a SARA — acidose ruminal subclínica)
• O pH baixo é desfavorável para as bactérias produtoras de mucina (que é o
surfactante do rúmen), e favorável para bactérias mucinolíticas (que degradam
tanto a mucina produzida no rúmen quanto a que vem pela saliva)
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• Além disso, grãos induzem menos a ruminação, então a salivação diminui
(reduzindo ainda mais a chegada de mucina no rúmen)
• Saliva é rica em mucina
• Se tem baixa salivação, tem baixa produção de mucina
• Essa mucina irá fazer falta para diminuir a tensão superficial das bolhas de gás =
formação de espuma
• OBS: o problema não é a alta produção de gás e sim a incapacidade dele se
desprender da digesta
• Gasoso (secundário)
• Ocorre secundariamente a algum impedimento fisico, mecânico ou motor da
eructação (o gás está corretamente livre dentro do rúmen, mas o animal não
consegue produzir onda B eficiente para eliminar o gás)
• Normalmente decorre de obstrução do esôfago, cárdia
• Etiologias
• Consumo excessivo de samambaia caraguatá (causa carcinomas na glote e
cárdia)
• Obstrução de esôfago e cárdia por corpo estranho, tumor, abscessos, papilomas)
• Disfunção motora (indigestão vagal, hipocalcemia, resulta em menos ondas)
• Disfunção bioquímica (acidose, alcalose): aumenta produção de gás e diminui
motilidade retículo-rúmen (diminuindo a eliminação de gás)
• Sinais clínicos
• Aparecimento súbito
• Dor abdominal aguda e sinais de cólica
• Dispneia (pois quanto mais enche de gás, mais compressão do diafragma e pulmão)
• Aumento da FC
• Óbito por parada cardio-respiratória
• Distensão abdominal
• Timpanismo espumoso: hemi-abdômen esquerdo; distendido de cima a baixo
• Timpanismo gasoso: fossa paralombar convexa; muito mais distendido na parte
dorsal
• Hipertonia (aumento de movimentos)
• Hipermotilidade por aumento de onda B
• Conforme ficar muito distendido por gás, ocorre atonia ruminal (diminuição das
ondas)
• Sons da percussão
• Timpanismo gasoso: som timpânico
• Timpanismo espumoso: som com menor macicez; subtimpânico ou timpânico
• Diagnóstico
• Silhueta do animal + percussão = diagnóstico
• Histórico da dieta
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• Exame físico
• Exame clínico (endoscopia)
• Laparotomia exploratória com rumenotomia
• Necrópsia
• Tratamento
• Emergência clínica
• O que tira o animal do risco de óbito é a descompressão imediata do rúmen
• Sonda esofágica
• No timpanismo gasoso (não vai adiantar nada se o timpanismo for espumoso)
• A própria sonda é diagnóstica (se posicionou ela no rúmen e não aliviou o gás,
significa que é do tipo espumoso)
• Trocaterização rumenal
• No timpanismo gasoso (não vai adiantar nada se o timpanismo for espumoso)
• Só indica se não conseguir progredir a sonda
• Cuidado com vazamento de conteúdo digestório e causar uma peritonite
iatrogênica (dose cavalar de penicilina para tentar resolver possíveis peritonites)
• Antiespumante (surfactante)
• Fazer no timpanismo espumoso
• Injeta no rúmen solução de blotrol (30-50ml) e óleo mineral (500ml)
• Coloca o animal para deambular depois de administrar o surfactante, para
misturar o surfactante com a ingesta e possibilitar a eructação
• Aumento da secreção salivar
• Rumenotomia
• Definir e tratar causa primária
• Tira o gás e o conteúdo
• Transfusão de fluido rumenal
• Gluconato de Ca: aumenta a motilidade
• Dieta balanceada (evitar acidose/alcalose)
• Evitar corpos estranhos
• Prevenção
• Dieta balanceada: proteína, energia e fibra fisicamente efetivas
• Evitar corpos estranhos
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