INQUÉRITO POLICIAL
Análise dos Artigos do Código de Processo Penal
INQUÉRITO POLICIAL
O inquérito policial é um procedimento administrativo informativo,
destinado a apurar a existência de infração penal e sua autoria, a
fim de que o titular da ação penal disponha de elementos
suficientes para promovê-la.
O MINISTÉRIO PÚBLICO PODE INVESTIGAR?
O Ministério Público dispõe de competência para promover, por
autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza
penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,
observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva
constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de
que se acham investidos, em nosso país, os advogados (Lei 8.906/1994,
art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da
possibilidade — sempre presente no Estado Democrático de Direito — do
permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa
instituição.
[Tese definida no RE 593.727, rel. min. Cezar Peluso, red. p/ o ac. min.
Gilmar Mendes, P, j. 14-5-2015, DJE 175 de 8-9-2015, Tema 184.]
TÍTULO II
DO INQUÉRITO POLICIAL
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais
no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a
apuração das infrações penais e da sua autoria
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a
de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a
mesma função.
Súmula 397 do STF
O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende,
consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a
realização do inquérito.
INCONDICIONADA
PÚBLICA
CONDICIONADA
AÇÃO PENAL
PRIVADA
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
É possível a deflagração de investigação criminal com base em
matéria jornalística.
STJ. 6ª Turma. RHC 98056-CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 04/06/2019 (Info 652).
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
(...)
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá-lo.
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que
possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as
razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração,
ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e
residência.
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência
de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente
ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a
procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha
qualidade para intentá-la.
Denúncia anônima
As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si
sós, a propositura de ação penal ou mesmo, na fase de investigação
preliminar, o emprego de métodos invasivos de investigação, como
interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas
podem constituir fonte de informação e de provas que não podem
ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário.
Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de
“denúncia anônima”:
1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade
da “denúncia”;
2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência
mínima de procedência, instaura-se inquérito policial;
3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros
meios de prova que não a interceptação telefônica (esta é a ultima
ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a
interceptação se revelar imprescindível para provar o crime, poderá
ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado.
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
29/3/2016 (Info 819).
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a
autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do
fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do
disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe
tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de
delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo
datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e
estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de
eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela
pessoa presa.
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá
proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não
contrarie a moralidade ou a ordem pública.
Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto no
Capítulo II do Título IX deste Livro.
Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só
processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade.
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o
indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias,
quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido
apurado e enviará autos ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não
tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser
encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver
solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos,
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado
pelo juiz.
Obs.: possibilidade de prorrogação com o acusado preso.
Art. 3º-B (...)
§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá,
mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério
Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15
(quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for
concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa,
sempre que servir de base a uma ou outra.
Indiciamento
“O indiciamento é o ato resultante das investigações policiais por
meio do qual alguém é apontado como provável autor de um fato
delituoso.” (LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal).
Ato privativo do Delegado de Polícia
A Lei n.° 12.830/2013 previu no § 6º do art. 2º a seguinte regra:
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por
ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que
deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.
Sendo o ato de indiciamento privativo do Delegado de Polícia, é
equivocado e inadmissível que o juiz, o membro do Ministério
Público ou a CPI requisitem o indiciamento de qualquer suspeito.
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação
criminal. Isso porque o indiciamento constitui atribuição exclusiva da
autoridade policial.
É por meio do indiciamento que a autoridade policial aponta
determinada pessoa como a autora do ilícito em apuração. Por se tratar
de medida ínsita à fase investigatória, por meio da qual o delegado de
polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados,
não se admite que seja requerida ou determinada pelo magistrado, já
que tal procedimento obrigaria o presidente do inquérito à conclusão de
que determinado indivíduo seria o responsável pela prática criminosa,
em nítida violação ao sistema acusatório adotado pelo ordenamento
jurídico pátrio.
Nesse mesmo sentido é a inteligência do art. 2º, § 6º, da Lei
12.830/2013, que afirma que o indiciamento é ato inserto na esfera de
atribuições da polícia judiciária.
STJ. 5ª Turma. RHC 47984-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
4/11/2014 (Info 552).
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à
instrução e julgamento dos processos;
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério
Público;
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades
judiciárias;
IV - representar acerca da prisão preventiva.
Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º
do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei n° 8.069, de 13 de julho
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do
Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de
quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa
privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
Os crimes são: Sequestro e cárcere privado; Redução a condição
análoga à de escravo; Tráfico de Pessoas; Extorsão com restrição de
liberdade da vítima; Extorsão mediante sequestro; Envio de criança
ou adolescente para o exterior.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24
(vinte e quatro) horas, conterá:
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela
investigação.
Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes
relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público
ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização
judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações
e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios
técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que
permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em
curso.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da
estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer
natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto
em lei;
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular
por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única
vez, por igual período;
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será
necessária a apresentação de ordem judicial.
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá
ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas,
contado do registro da respectiva ocorrência policial.
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze)
horas, a autoridade competente requisitará às empresas
prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como
sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima
ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao
juiz.
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a
juízo da autoridade.
Súmula Vinculante 14 - STF
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Não ofende o princípio da ampla defesa a negativa de acesso ao
conteúdo de medidas investigativas em curso que ainda não foram
documentadas e cujo sigilo, no momento, é imprescindível à sua
efetividade.
STJ. 5ª Turma. RHC 136.624-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
13/04/2021.
Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições
dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as
situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir
defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado
deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório,
podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
horas a contar do recebimento da citação
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de
nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável
pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado
o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a
representação do investigado.
§ 3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do
§ 2º deste artigo, a defesa caberá preferencialmente à Defensoria
Pública, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a
Unidade da Federação correspondente à respectiva competência
territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar
profissional para acompanhamento e realização de todos os atos
relacionados à defesa administrativa do investigado.
§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo
deverá ser precedida de manifestação de que não existe defensor
público lotado na área territorial onde tramita o inquérito e com
atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado
profissional que não integre os quadros próprios da Administração.
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos
com o patrocínio dos interesses dos investigados nos
procedimentos de que trata este artigo correrão por conta do
orçamento próprio da instituição a que este esteja vinculado à
época da ocorrência dos fatos investigados.
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos
servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142
da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam
respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela
autoridade policial.
Obs.: hoje o maior de 18 anos é considerado plenamente capaz
(novo código civil); por isso, não existe mais razão para se nomear
um curador para quem completou essa idade.
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do
inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências,
imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de
inquérito.
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela
autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a
autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras
provas tiver notícia.
Súmula 524 - STF
Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento
do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.
PROCEDIMENTO DE ARQUIVAMENTO
JUIZ CONCORDA ARQUIVA!
MP pede
arquivamento
JUIZ DISCORDA
PRINCÍPIO DA
DEVOLUÇÃO
PGJ
INSISTE NO
OFERECE DENÚNCIA
ARQUIVAMENTO
DESIGNA OUTRO
ÓRGÃO DO MP
Art. 28 - Redação em Vigência
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a
denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as
razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao
procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
Por conta da concessão de liminar na ADI 6305/DF, pelo Ministro Luiz Fux,
está suspensa sine die a alteração constante da lei nº 13.964/2019, no
que tange o procedimento de arquivamento de inquérito policial.
NOVO PROCEDIMENTO NO CASO DE ARQUIVAMENTO
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério
Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e
encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de
homologação, na forma da lei.
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o
arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias
do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da
instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
respectiva lei orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da
União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito
policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua
representação judicial.
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do
inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a
iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão
entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem
solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer
anotações referentes a instauração de inquérito contra os
requerentes.
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de
despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse
da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três
dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a
requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério
Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89,
inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n.
4.215, de 27 de abril de 1963).
Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de
uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas
poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar diligências
em circunscrição de outra, independentemente de precatórias ou
requisições, e bem assim providenciará, até que compareça a
autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua
presença, noutra circunscrição.
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz
competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de
Identificação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o
juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração
penal e à pessoa do indiciado.
Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação
preliminar não tem o condão de nulificar o recebimento da denúncia
e a ação penal deflagrada, quando existam elementos autônomos
que sustentam a decisão impugnada. Ademais, cabe ressaltar que
eventuais vícios na fase extrajudicial não contaminam o processo
penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito
policial.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 22/09/2020.