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Quebre o Silencio - M2A3

O documento aborda a importância do rastreamento e prevenção do (trans)feminicídio e das violências de gênero contra a população LGBTQIAPN+ no contexto da atenção psicossocial. Através de um estudo de caso, destaca as barreiras enfrentadas por pessoas trans no acesso aos serviços de saúde e a necessidade de uma abordagem acolhedora por parte dos profissionais. O texto também menciona a aplicação da Lei Maria da Penha para mulheres trans e a urgência de reconhecer e respeitar a identidade de gênero nos atendimentos.

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Camila Morselli
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Quebre o Silencio - M2A3

O documento aborda a importância do rastreamento e prevenção do (trans)feminicídio e das violências de gênero contra a população LGBTQIAPN+ no contexto da atenção psicossocial. Através de um estudo de caso, destaca as barreiras enfrentadas por pessoas trans no acesso aos serviços de saúde e a necessidade de uma abordagem acolhedora por parte dos profissionais. O texto também menciona a aplicação da Lei Maria da Penha para mulheres trans e a urgência de reconhecer e respeitar a identidade de gênero nos atendimentos.

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SUMÁRIO

Introdução .................................................................................. 03
Objetivo da Aula........................................................................... 04
3.1 Rastreamento de violências contra pessoas LGBTQIAPN+
usuárias da RAPS................................................................... 05
3.2 (Trans) feminicídio e outras violências imputadas a pessoas
trans: implicações para o cuidado na RAPS ................................ 07
3.3 Alguma(s) narrativa(s) de violências de gênero na RAPS......... 10
Encerramento .............................................................................. 21
Referências................................................................................. 22
Glossário.................................................................................... 23
Ficha Técnica............................................................................... 24
MÓDULO 02 AULA 03
DIVERSIDADES, (TRANS) PREVENÇÃO DO
FEMINICÍDIO E COMBATE A (TRANS) FEMINICÍDIO
LGBTFOBI A NO CAMPO DA E RASTREAMENTO DAS
ATENÇÃO PSICOSSOCI AL VIOLÊNCI AS DE GÊNERO QUE
PODE SOFRER A POPUL AÇÃO
LGBTQI APN+: A CLÍNICA
“DIVERSA” N A ATENÇÃO
PSICOSSOCI AL

INTRODUÇÃO
Em 2021, Marciele, Agente Comunitária de Saúde (ACS) de uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) do interior da Bahia, após ter participado de uma capacitação promovida pela Secretaria
Municipal de Saúde, deu-se conta da necessidade do mapeamento de pessoas trans de seu
território e, por conseguinte, da urgência da realização de busca ativa.
Sabe-se que pessoas trans não conseguem chegar até os serviços por inúmeras barreiras de
acesso, como a falta de respeito ao nome social e aos pronomes e, também, pela alegação de
que os profissionais não se sentem capacitados para atender pessoas trans, configurando-se
em transfobia institucional (Cortes et al., 2021).
A ACS Marciele lembrou-se de Verena, uma travesti afro-indígena de 18 anos, moradora da
periferia, empobrecida, que tinha sido atendida na UBS há cerca de ano ano e 8 meses e nunca
mais tinha buscado a UBS. Ao chegar no pé do Morro da Piedade, onde Verena morava com
sua mãe e seu pai, a ACS a encontrou vendendo acarajé numa pequena barraca improvisada na
frente de sua casa, bastante desanimada, emagrecida, com hematomas no rosto disfarçados
com maquiagem e óculos de sombra, e apresentando algumas lesões superficiais do tipo
ranhuras no antebraço direito. Seu pai a vigiava sentado numa cadeira a poucos metros de
distância, bastante atento à conversa da ACS com Verena. Diante dessa situação, a ACS
Marciele conseguiu combinar que ela fosse a uma consulta no mesmo dia com a enfermeira da
UBS sob a justificativa da necessidade também de atualização de sua situação vacinal.
Durante o atendimento na UBS, a enfermeira restringiu-se à atualização da situação vacinal
de Verena e à limpeza das ranhuras no antebraço e, ao questionar sobre o porquê de não ter
ido mais à UBS, apenas escutou Verena dizer que seu pai não permite que ela saia de casa por
“ser uma pecadora” e que precisava passar por rituais religiosos de purificação para “se curar”
e “deixar de ser trans”. Nesse momento, a enfermeira apenas ouviu a narrativa de Verena e fez a
evolução de seu prontuário, colocando o nome de registro de Verena e a liberou sem nenhuma
outra intervenção (narrativa construída com base em atendimentos realizados na RAPS no
interior da Bahia de 2017 a 2021).
O caso Verena ilustra um ciclo de violências com pessoas trans que, muitas vezes, começa
em casa e é perpetuado nos serviços de saúde com um desfecho não raro de sofrimento
psíquico e/ou transfeminicídio.
Para o rastreamento e a intervenção de possíveis casos de violência, os profissionais de
saúde precisam assumir uma postura acolhedora e perspicaz, validando as respostas da
pessoa usuária do serviço e investigando as suas narrativas nas entrelinhas e o sofrimento
psíquico que se apresenta no momento do atendimento.

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Desde 2022, de acordo com o Supremo Tribunal de Justiça, a Lei


Maria da Penha é aplicável aos casos de violência doméstica ou familiar
também a mulheres trans e travestis. Saiba mais no site do órgão:

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/05042022-Lei-Maria-da-Penha-e-aplicavel-a-violencia-
contra-mulher-trans--decide-Sexta-Turma.aspx.

OBJETIVO DA AULA
Refletir sobre a prevenção do (trans)feminicídio e o rastreamento das violências de gênero
que pode sofrer a população LGBTQIAPN+, a partir de uma proposta de compreensão da clínica
“diversa” na atenção psicossocial.

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3.1 RASTREAMENTO DE VIOLÊNCIAS CONTRA PESSOAS LGBTQIAPN+


USUÁRIAS DA RAPS
Teixeira et al. (2021) chamam a atenção para o fato de que muitos
dos problemas de saúde enfrentados por pessoas LGBTQIAPN+
podem ser desencadeados pelo sofrimento psíquico decorrente
das violências cotidianas. Especialmente mulheres lésbicas,
bissexuais, travestis e transexuais são vítimas cotidianas de um
(trans)feminicídio que tanto pode ser simbólico quanto concreto,
como vimos na Aula 2 do Módulo 2.
Não raro, além das múltiplas violências a que as pessoas
LGBTQIAPN+ já estão expostas diariamente, os serviços de saúde
têm dado continuidade a esse ciclo de violações de direitos
humanos, e um dos exemplos disso diz respeito ao não uso do
nome social.
Uma das mortes simbólicas mais cruéis para a população trans é a negação de suas
identidades por meio da violação de seus marcadores de gênero, como seus nomes e pronomes
nos serviços de saúde, sob a justificativa de “mal-entendidos”. Desrespeitar uma pessoa trans
por meio desses “equívocos”, chamando-a pelo nome morto ou trocando seus pronomes,
invalida suas trajetórias no processo de reconstrução do gênero, além de se configurar em
transfobia institucional (Rafael et al., 2023).

Tem dúvidas de como se dirigir a qualquer pessoa em relação a seu nome ou ao


pronome? Basta perguntar a ela: “Olá! Como eu devo lhe chamar?”. Se ainda assim
você tiver dúvidas em relação ao pronome, você deve perguntar: “Qual pronome
devo utilizar?”.
Outra possibilidade é já se apresentar mencionando os seus próprios pronomes
e perguntar os da outra pessoa, assim: “Olá! Meu nome é Helena, enfermeira do
CAPSi, e meus pronomes são ela/dela, e o seu?”.

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Assista ao vídeo produzido pela UNA-SUS (UERJ) Nome Social: Cidadania


e Respeito, inspirado em casos ocorridos em Unidades Básicas de Saúde
sobre as repercussões dos “equívocos e mal-entendidos” em relação ao nome
social para pessoas trans. Acesse no link: https://www.youtube.com/
watch?v=f4aphXF4Sn8.

As violências de gênero e as vulnerabilidades enfrentadas pelas pessoas da comunidade


LGBTQIAPN+ carregam especificidades e, talvez, outra das mais marcantes diga respeito à
rede de apoio escassa, sendo que, muitas vezes, especialmente para pessoas trans e travestis,
os serviços de saúde se configuram quase como única opção de rede de apoio.
Cabe aos profissionais atuantes na RAPS ficarem atentos a
alguns possíveis indicativos de que pessoas LGBTQIAPN+ possam
estar sendo vítimas das mais diversas formas de violência e, além
de validarem os sentimentos desvelados, possam pensar em
estratégias de fortalecimento da rede de apoio dessas pessoas.
Segundo Teixeira et al. (2021), alguns possíveis indicativos de que a
pessoa possa estar sendo vítima de violência podem ser expressos
na clínica por:
- Dores somáticas recorrentes;
- Sofrimento psíquico de difícil contextualização;
- Automutilação e pensamentos de morte;
- Prática de cutting (cortar-se, ferir-se, queimar-se, beliscar-se etc.);
- Lesões físicas incompatíveis com a queixa clínica ou com o relato/histórico;
- Uso abusivo de álcool e outras drogas;
- Falta de autonomia na decisão sobre seus direitos sexuais ou reprodutivos.
Em qualquer tipo de violência, cabe ao profissional de saúde mental
acolher, identificar o tipo (patrimonial, psicológica, sexual, física,
moral) e construir o projeto terapêutico singular (PTS) conjuntamente
com a pessoa LGBTQIAPN+, na perspectiva de que ela decida os
melhores caminhos a serem seguidos. Em casos de violência contra
pessoas LGBTQIAPN+, o profissional de saúde deve notificar o agravo
via Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

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Nessa linha de raciocínio, Pinto et al. (2020) refletem sobre o avanço e a necessidade de se
preencher corretamente os campos inerentes à orientação sexual e à identidade de gênero
dos usuários. Nesse sentido, os autores destacam ainda que os serviços de saúde são locais
estratégicos para a identificação e o acolhimento das situações de violência, sendo essencial
que saibam reconhecer e preencher adequadamente os marcadores de gênero, raça/cor, etnia
e orientação sexual para o correto enfrentamento de iniquidades (Pinto et al., 2020).

Tem dúvidas em relação ao preenchimento da ficha do SINAN no que se


refere aos marcadores de raça/etnia, orientação sexual e identidade de gênero?
Pergunte para a pessoa usuária cada um dos marcadores separadamente, na
perspectiva de saber como ela se identifica!

Você já parou para pensar que, em muitos casos, o rompimento da relação pode
não ser a melhor opção e cabe ao profissional de saúde mental acolher a decisão
da pessoa, sem julgamentos, apoiando os caminhos que ela entender como mais
adequados naquele momento?

3.2 (TRANS)FEMINICÍDIO E OUTRAS VIOLÊNCIAS IMPUTADAS A PESSOAS


TRANS: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO NA RAPS
O movimento transfeminista tem imprimido, na esteira das discussões de gênero e
sexualidades hegemônicas, as desestabilizações de conceitos normativos, ampliando
fronteiras epistemológicas e políticas numa perspectiva interseccional que atravessa todas as
possíveis mulheridades (Ramos, 2022).
Letícia Carolina Nascimento (2021), escritora transfeminista brasileira, destaca que interessa
ao transfeminismo pensar no assassinato de pessoas trans aliado ao feminismo numa lógica
interseccional que compreenda as mulheres trans e travestis nas suas múltiplas formas de
mulheridades e atravessamentos, a saber, algumas delas: indígenas, pobres, pardas e pretas,
gordas, portadoras de deficiências, empobrecidas, moradoras de áreas rurais e também
urbanas, quilombolas, ciganas, bissexuais, lésbicas, intersexuais.

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Saiba mais sobre o transfeminismo ouvindo o podcast


da Professora Letícia Nascimento no Guilhotina/Le Monde
Diplomatique Brasil, episódio #118 - Transfeminismo com Letícia
Nascimento, no link do Spotify: https://open.spotify.com/
episode/5tyBai1D60foZuRf3jd35Y?si=4VWJieyZRZOwm9HLk2RHIQ

A transfobia, que se caracteriza pela ojeriza, medo, ódio e repulsa à identidade de gênero de
pessoas trans, é a força motriz da morte de dezenas de pessoas trans, especialmente mulheres
trans e travestis, anualmente no Brasil, descambando, não raras as vezes, em trans(feminicídio).
Como vimos na Aula 2 do Módulo 2 (“2. Panorama de transfobia no cenário nacional”), os dados
de mortes de travestis e mulheres trans no Brasil têm aumentado ano a ano e são alarmantes,
o que não é diferente do restante do mundo.

O relatório Trans Murder Monitoring


da Transgender Europe (TGEU, 2023)
revelou que, mesmo dentro da população
trans, há atravessamentos com muitas
camadas, ou seja, as pessoas trans que
mais são impactadas são aquelas que
são mulheres trans, profissionais do
sexo, pretas e pardas, mulheres trans
imigrantes e refugiadas, corroborando
com a perspectiva do transfeminismo
interseccional de Nascimento (2021).
Esses atravessamentos interseccionais,
em 2023, ficaram materializados nos seguintes dados da Transgender Europe (2023): 320
pessoas trans foram assassinadas globalmente; dessas, 94% eram mulheres, quase 48%
eram profissionais do sexo, 45% eram imigrantes, 73% de todos os assassinatos ocorreram
na América Latina e no Caribe, e quase um terço (31%) do total ocorreu no Brasil. Há que se
considerar que, na América Latina e no Caribe, há um monitoramento importante realizado
pelos movimentos sociais LGBTQIAPN+.

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Países como Brasil, Vietnã e Quênia estão mapeando a saúde mental das minorias
sexuais e de gênero de forma colaborativa. Ficou curiosa/o/e para saber mais?
Conheça o Estudo Smile Brasil no link https://brasil.smilestudy.org/.

Quase metade dos assassinatos ocorreram por armas de fogo, sendo que 28% das
mortes ocorreram na rua e em torno de 26% dos casos se deram na casa das vítimas. Os
dados monitorados pela TGEU revelaram tendências preocupantes quando se verifica
interseccionalmente mortes por misoginia, racismo e xenofobia (TGEU, 2023).

O monitoramento das mortes e violências contra mulheres trans/travestis


e demais pessoas LGBTQIAPN+ na América Latina e no mundo é realizado por
algumas entidades:
• Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA): https://antrabrasil.
org/assassinatos/.
• Grupo Gay da Bahia (GGB): https://grupogaydabahia.com.br/.
• Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil: https://
observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/.
• Rede Nacional de Pessoas Trans Brasil (Rede Trans Brasil): https://
redetransbrasil.org.br/.
• Transgender Europe (TGEU): https://tgeu.org/.
• Transrespect vs. Transphobia Worldwide (TvT): https://transrespect.org/
en/.

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3.3 ALGUMA(S) NARRATIVA(S) DE VIOLÊNCIAS DE GÊNERO NA RAPS...


A narrativa apresentada a seguir é baseada em várias experiências reais de atendimentos
em alguns CAPS da região sul do país.
João Ricardo, 16 anos, chega ao CAPS infantojuvenil acompanhado
de uma profissional de um lar localizado numa capital do sul do país.
João Ricardo entrou para o atendimento com um boné na cabeça, olhar
perdido e sem fazer contato verbal. Durante a consulta, a profissional do
lar abrigado apresentou um relatório de atendimento de um hospital geral
em que consta um procedimento cirúrgico ginecológico para estancar
uma hemorragia provocada por violência sexual.
João Ricardo foi expulso de casa pelo pai biológico dizendo que “não
tinha criado filhos para isso [transicionar no gênero]” e que assim que foi parar na rua, seu
tio-avô disse que “iria lhe ajudar a se curar”. João Ricardo contou que foi levado pelo tio-avô,
68 anos, a uma casa abandonada e foi violentado sexualmente por 8 horas, quando desmaiou
após sangrar significativamente. Por pensar que João Ricardo teria falecido, o tio-avô chamou
o SAMU, que foi levado até um pronto atendimento.
João Ricardo é uma pessoa transmasculina e relatou que esse tio-avô, desde muito cedo,
dizia que “ele precisava experimentar um homem para deixar dessa
bobagem de se dizer ser um homem trans e que era falta de homem no
corpo que ele tinha”. Após o estupro corretivo ocorrido há 1 ano, João
Ricardo desenvolveu tricotilomania, e tem queimado o corpo (cutting)
para “aliviar a dor emocional”, tem dificuldade de interação social e não
consegue ir à escola, além de ter pensamentos de morte frequentes.
York, Oliveira e Benevides (2020, p. 4, grifo nosso), no artigo
Manifestações textuais (insubmissas) travesti, alertam que:
Diante de violências, em um primeiro momento somos levadas a crer
que nestes casos seria necessária uma denúncia. Mas para a população travesti, onde falar
não é permitido e reivindicar um direito lhe é negado, a denúncia
não é uma opção capaz de ser ouvida ou levada a sério por parte de
muitos agentes que ocupam instâncias públicas de atendimento. Se
faz recorrente uma leitura subsequente que termina por ser nomeada
de coitadismo e seu praticante o vitimista. Não se trata apenas de
apontar o problema (denúncia), mas abri-lo como um chamado de
ajuda e construção de uma resposta […]. A violência de gênero com
pessoas trans envolve muitas camadas e guarda especificidade,
como abordamos. Nesse sentido, mulheres trans e travestis, como

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também já vimos, são assassinadas por terem uma identidade feminina. Homens trans/
pessoas transmasculinas têm sofrido o chamado estupro corretivo, como é o caso de João
Ricardo. Mulheres lésbicas e bissexuais também tem sofrido o estupro corretivo. Portanto,
esse é o contexto que tem demandado intervenções dos profissionais da RAPS no sentido de
reconhecerem e assumirem tal realidade, que tem chegado com frequência aos serviços de
saúde.
Os serviços de saúde da RAPS enfrentam outros desafios no cuidado a muitas crianças e
adolescentes vítimas do (trans)feminicídio. Entretanto
as crianças e os adolescentes trans, em grande parte
dos casos, são vítimas de uma “orfandade de pais
vivos”, ao serem expulsos de casa muito cedo ao
assumirem a travestilidade/transgeneridade.
Além da expulsão de casa, muitas crianças trans e
travestis têm roubado o seu direito de (simplesmente)
serem crianças e adolescentes:

Enquanto travestis, dormimos


crianças e (raramente) adolescentes (sendo que a adultização de nossos
corpos, muitas vezes, nos impede de acessar a adolescência) e em um passe
de mágica, ao dizermos algo que relacione o desejo físico ao corpo, até então
lido como homoerótico, em questão de segundos, nos tornamos adultas
maliciosas. Pervertidas (York; Oliveira; Benevides, 2020, p. 4)

Um estudo indiano destacou o reconhecimento das pessoas trans participantes sobre a


falta de apoio e entendimento de pais e professores sobre
a transgeneridade e a variabilidade de gênero em seus
processos de identificação. Desse modo, a pesquisa chama
a atenção para a necessidade de se construir, de forma
ativa, com pais e professores, estratégias de intervenção e
acolhimento para famílias com crianças e jovens trans e com
variabilidade de gênero, num processo que evite a expulsão
de casa e o sofrimento psíquico (Sunny; Deb, 2021).
Acreditamos que uma das formas possíveis de prevenção
dessa “orfandade de pais vivos” possa ser o acolhimento
dessas mães e pais em relação à transgeneridade e variabilidade de gênero na infância, num
primeiro momento. Uma possibilidade desse acolhimento e também da instrumentalização
dessas mães e pais de crianças LGBTQIAPN+ pode ser a técnica descrita na Aula 1 do Módulo

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2 (Acolhimento do luto identitário familiar na transição de gênero).


Também a experiência de troca entre pares pode ser fundamental neste processo e, neste
sentido, há alguns grupos formados por mães e pais de pessoas LGBTQIAPN+ que se apoiam
mutuamente, como é o caso da Associação Mães pela Diversidade, que acolhe mães e pais de
crianças, adolescentes e também adultos LGBTQIAPN+.

A troca entre pares pode ser uma estratégia potente para mães, pais e
cuidadores de crianças e adolescentes trans ou com variabilidade de gênero.
Conheça o trabalho da Organização Não Governamental Mães pela Diversidade
no link https://maespeladiversidade.org.br/.

Cabe chamar a atenção para o fato de que, não raro, somente mães (tias, avós, irmãs e outras
formas de parentalidade) têm assumido o cuidado de crianças e adolescentes LGBTQIAPN+
quando saem do armário. Dessa forma, o gênero tem sido um marcador problematizado por
autoras clássicas do campo da atenção psicossocial. Kantorski et al. (2019), por exemplo,
destacam a necessidade de se desnaturalizar a figura da mulher enquanto cuidadora em saúde
mental no contexto dos serviços envolvendo os demais membros da rede das pessoas usuárias
da RAPS.
A professora Sônia Barros, diretora do Departamento de
Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde,
nomeada em 2023, tem provocado a discussão de gênero de
forma racializada na história do cuidado em saúde mental. No
podcast #3 PODSIN conversa com Sônia Barros sobre saúde
mental e questões de raça e gênero, é possível compreender
essa dimensão interseccional do cuidado. Ouça em: https://
www.youtube.com/watch?v=v7lwPS0MvUE&t=766s.

Na perspectiva de prevenção de crimes de ódio contra pessoas trans, a Associação Nacional


de Mulheres Trans e Travestis (2024, p.107-109) recomenda algumas ações que podem nos
dar pistas para pensarmos em TRANS-FORMAÇÕES no contexto da RAPS no enfrentamento às
violências de gênero e LGBTfobia, vejamos:

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Tabela 1: Quadro com recomendações de ações da ANTRA no enfrentamento às violências


de (trans)gênero e proposição de algumas possibilidades de trans-ações no contexto da RAPS:

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Fonte: a autora adaptado de ANTRA (2024).

*Dadas as especificidades das pessoas trans e travestis que são cotidianamente (des)
cuidadas nos serviços de saúde, faz-se necessário que a busca ativa seja uma tônica rotineira
dos equipamentos da RAPS como um todo. Independentemente de as pessoas trans e travestis
terem alguma necessidade de saúde mental, a busca ativa precisa ser “obrigatória” na rotina dos
serviços para essa população, tanto na UBS como nos CAPS. Destaca-se, fundamentalmente, a
atuação dos ACS, que são os trabalhadores-chave nesse processo de busca das pessoas trans
que enfrentam inúmeras barreiras para chegarem até a UBS.

Você já pensou em conversar com os líderes comunitários e/ou dos


movimentos sociais sobre as pessoas trans e travestis do território do seu
serviço?

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** Essa situação temporária de abrigo e ou acolhida para pessoas trans e travestis precisa
ser construída entre os municípios e as próprias pessoas em questão. Pergunte-se: O que pode
ser possível no meu município? De que forma eu posso privilegiar a equidade neste momento?
Talvez algumas pessoas trans e travestis entendam ser melhor estarem abrigadas em espaços
coletivos entre pessoas trans e pessoas cis, por exemplo. Talvez outras pessoas trans e travestis
sintam-se mais à vontade em um espaço voltado especificamente à comunidade LGBTQIAPN+.
Cabe destacar que, quando consideramos as pessoas trans e travestis, estamos falando de
identidades e não de “meras características” de algumas pessoas. Essas identidades podem
estar mais fragilizadas por um “CIStema” que as oprime, violenta e as assassina cotidianamente
e, num momento de maior fragilidade/vulnerabilidade, um espaço trans específico pode ser
mais interessante para a potencialização e o fortalecimento da diversidade como produtora da
diferença, de riqueza subjetiva e de vida.

Você já ouviu falar na CASA NEM? Trata-se de um centro de acolhimento para


a população LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade social, localizado na
cidade do Rio de Janeiro. Visite a rede social da CASA NEM em: https://www.
instagram.com/casanem_/.

Como essas recomendações da ANTRA poderiam ser traduzidas de outras


formas na RAPS, no contexto do seu serviço, para a extirpação da transfobia e
para a prevenção das demais violências de gênero contra pessoas LGBTQIAPN+?

Nessa lógica de intervenções possíveis no enfrentamento às violências de gênero imputadas


à população LGBTQIAPN+, convém retomarmos o conceito de cirurgia social. Mulheres trans,
travestis e demais pessoas trans em seus processos de (re)construção podem acessar múltiplas
tecnologias de cuidado para adequar o corpo ao gênero. Essas tecnologias de cuidado podem
envolver a hormonização e alguns processos cirúrgicos para aquelas pessoas trans que possam
ter esse desejo. Além das repercussões físicas, outras dimensões da vida de mulheres trans,
travestis e demais pessoas trans são afetadas, como as implicações psicossociais, familiares

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LGBTQI APN+: A CLÍNICA
“DIVERSA” N A ATENÇÃO
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e jurídico-legais significativas. Cortes (2018, p. 2) tem problematizado como iniciamos a


desenvolver na Aula 1 do Módulo 2, o conceito de “cirurgia social” que pessoas trans e travestis
operam no tecido social cotidianamente:

[...] certamente, a maior cirurgia que perpassa a vida cotidiana de uma pessoa
transgênera não diz respeito ao cardápio de cirurgias plásticas que ela possa
submeter-se, mas sim, refere-se àquela que ela está implicada a realizar no
Outro, no tecido social, nos enfrentamentos cotidianos, na ruptura diária de
discriminações e preconceitos, nas reivindicações pelos direitos subtraídos
pelo próprio Estado, sendo o que denomino de “cirurgia social”.

A cirurgia social que pessoas trans precisam realizar diariamente pode ser traduzida no
enfrentamento das dificuldades de acesso aos serviços de saúde, permeadas por transfobia
institucional, na patologização da transgeneridade, nas altas taxas de evasão escolar causadas
pelo bullying, nas dificuldades de aceitação familiar, nos entraves burocráticos para a retificação
do nome civil e do gênero nos documentos, sendo todos esses fatores impactantes na saúde
mental das pessoas transgêneras. Essa luta diária contra (trans)violências, transfeminicídios e
na busca por manterem-se vivas demanda de pessoas transgêneras verdadeiros “procedimentos
cirúrgicos sociais” em suas vidas cotidianas (Cortes, 2018, p. 2).
O campo da saúde costuma ser
pragmático, inclusive o da saúde mental
coletiva, pois precisa dar alguma resposta
à necessidade de quem se apresenta na
RAPS. Todavia, a ideia da “cirurgia social”
no campo da atenção psicossocial propõe
apontar caminhos, dar algumas pistas e
possibilidades de acolhimento e resoluções
numa lógica de acolhimento da diversidade,
compreendendo-a como potência de cuidado.
Tais possibilidades aproximam-se de Favero
(2023) em “Como atender travestis e pessoas
trans?”: (des)cisgenerizando o cuidado em saúde mental, no sentido de que as problematizações
em relação a (trans)gênero e sexualidades são certamente mais importantes do que as duras
certezas impostas pela cisgeneridade.

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Quer aprender mais sobre o conceito de “cirurgia social”? Assista à


live Cirurgia nos tecidos sociais: rompendo a bolha da invisibilidade das
pessoas transgêneros no link a seguir: https://www.youtube.com/
watch?v=T2V32eyjS6E&t=43s.

Cabe aos profissionais de saúde que atuam na RAPS aliarem-se a pessoas trans na
operacionalização dessa cirurgia social, que pode ser traduzida no cotidiano dos serviços
com outras ações concretas além das descritas no “Quadro com recomendações de ações da
ANTRA no enfrentamento às violências de (trans)gênero e algumas possibilidades de trans-
ações no contexto dos serviços da RAPS”.
Tal aliança dos profissionais atuantes na RAPS ao processo de cirurgia social pode ser
materializada também num PTS que contemple essencialmente: 1) o empréstimo do poder
contratual a essas pessoas usuárias que, por vezes, chegam extremamente fragilizadas e “sem
voz” no serviço, vítimas de diversas formas de violência; e 2) no fortalecimento das redes de
apoio que, muitas vezes, se limitam apenas aos serviços de saúde.

A partir dessa discussão do rastreamento de violências contra pessoas


LGBTQIAPN+ e das implicações para a RAPS no enfrentamento ao
transfeminicídio e às demais violências de gênero contra pessoas trans, quais
“cirurgias sociais” você pode implementar em seu processo de trabalho no
serviço onde atua?

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ENCERRAMENTO
Nesta aula, problematizamos as possibilidades de rastreamento de violências contra
pessoas LGBTQIAPN+ usuárias da RAPS no contexto da prática clínica e refletimos sobre o
(trans)feminicídio e outras violências imputadas a pessoas trans. Também apontamos, sem a
pretensão de “dar uma receita” de forma pronta e/ou estática, possibilidades de intervenção
por meio do que denominamos “cirurgia social” no cuidado em saúde mental coletiva na RAPS.
Os profissionais atuantes na RAPS precisam assumir as dimensões que envolvem a
diversidade humana e o que as violências demandam de intervenções na rede, construindo
com os demais operadores de saúde (mental) o (re)conhecimento das formas de violações
de direitos humanos nesse contexto e suas repercussões na saúde mental de pessoas
LGBTQIAPN+, com proposições de cuidados práticos de forma integral e intersetorial.
Propuseram-se algumas possibilidades de (trans)cuidados em saúde mental, desde um nível
singular no contexto da construção do PTS com a pessoa usuária, perpassando por um nível
particular, que exige articulação na estrutura do serviço, até um nível estrutural, que impacte
necessariamente as políticas públicas de atenção à saúde mental.
Obviamente que se compreende que todas essas dimensões requerem tempo e investimento
dos profissionais para sua execução. Entretanto, cabe propor que as equipes reflitam sobre o
que é possível para este momento, num cuidado em saúde mental que tenha a diversidade como
eixo norteador, e não somente como forma de intervenção quando direitos forem violados.

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REFERÊNCIAS
CORTES, Helena Moraes et al. O (des) acesso de pessoas transgêneras aos serviços de saúde
no recôncavo baiano. Cadernos de Gênero e Diversidade, v. 6, n. 4, p. 159-180, 2020.

CORTES, Helena Moraes. A transgeneridade feminina e os processos de mudanças corporais.


Journal of Nursing and Health, v. 8, n. 2, p. 159-180, 2020.

FAVERO, Sofia. “Como atender travestis e pessoas trans?”: (des)cisgenerizando o cuidado em


saúde mental. Cadernos Pagu, n. 66, p. e226613, 2022.

NASCIMENTO, Letícia Carolina. Transfeminismo. São Paulo: Editora Jandaíra, 2021.

YORK, S. W.; OLIVEIRA, M. R. G.; BENEVIDES, B. Manifestações textuais (insubmissas)


travesti. Revista Estudos Feministas, v. 28, n. 3, p. e75614, 2020.

KANTORSKI, Luciane Prado et al. Gênero como marcador das relações de cuidado informal
em saúde mental. Cadernos Saúde Coletiva, v. 27, n. 1, p. 60–66, jan. 2019.

PINTO, Isabella Vitral et al. Perfil das notificações de violências em lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação,
Brasil, 2015 a 2017. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, Suppl 1 , p. e200006, 2020.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720200006.supl.1.

RAFAEL, R. DE M. R. et al. Inclusão ou ilusão da identidade de gênero no país com o maior


número de assassinatos de transgêneros: um ensaio crítico brasileiro. Escola Anna Nery, v.
27, p. e20230117, 2023.

SUNNY, Aleena Maria; DEB, Sibnath. Parent–Teacher Non-Acceptance to Early Gender-Diverse


Behaviours of Transgender Children. International Journal on Child Maltreatment: Research,
Policy and Practice, v. 4, n. 4, p. 493-515, 2021.

TEIXEIRA, Débora Silva; VIEIRA, Renata Carneiro; BARBOSA JÚNIOR, Mauro; BORRET,
Rita Helena; MOURA, Regina. Abordagem da violência na prática clínica. In: CIASCA,
S. V.; HERCOWITZ, A., LOPES JUNIOR, A. (org.). Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidado
transdisciplinar. Santana de Parnaíba: Manole, p. 60-72, 2021.

TRANSGENDER EUROPE – TGEU. Trans Murder Monitoring 2023 Global Update. Berlin, 2023.
Disponível em: https://tgeu.org/trans-murder-monitoring-2023.

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GLOSSÁRIO
Glossário é um recurso que permite concentrar alguns termos e seus respectivos
significados ou definições. No quadro a seguir, indicar as palavras que deseja que tenha seu
significado apresentado durante a aula.

Verbete Palavras associadas Definição / Significado

Comportamento/prática
de queimar-se, cortar-se,
fincar-se algo, beliscar-se ou
Automutilação; autolesão; interferir no próprio processo
Cutting
Self cutting de cicatrização cutânea,
com o intuito de deslocar
a dor emocional para a dor
corporal.

Mulheres cis, mulheres


Nomenclatura relativa
trans, travestis. Mulheres de
à identidade feminina;
Mulheridades todas as orientações afetivo-
opõe-se a uma perspectiva
sexuais: lésbicas, bissexuais,
essencialista de ser mulher.
pansexuais, assexuais.

Neologismo utilizado
para se referir ao sistema
CIStema Sistema
cisheteronormativo,
patriarcal e machista.

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© 2025. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz.
Escola de Governo Fiocruz Brasília. Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução,
disseminação e utilização desta obra, desde que citada a fonte. É vedada a utilização para
fins comerciais. Curso Quebre o silêncio: enfrentando a violência de gênero e o feminicídio.
Coordenação Geral do Projeto Fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial no Sistema
Único de Saúde: gestão, formação e pesquisa: André Vinicius Pires Guerrero; Sônia Barros.
Brasília: [Curso na modalidade à distância]. Escola de Governo Fiocruz Brasília, 2025.

Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção Especializada à Saúde
Adriano Massuda - Secretário

Departamento de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas


Sonia Barros - Diretora

Fundação Oswaldo Cruz


Mario Santos Moreira - Presidente

Fiocruz Brasília – GEREB


Maria Fabiana Damásio Passos - Diretora

Escola de Governo Fiocruz Brasília (EGF)


​Luciana Sepúlveda Köptche​ - Diretora Executiva​

Créditos
Coordenação-Geral do Projeto Fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial no
Sistema Único de Saúde: gestão, formação e pesquisa.
André Vinicius Pires Guerrero
Sonia Barros

Coordenação-Geral
Olga Maria Pimentel Jacobina de Souza
Daiana Silva de Brito
Márcia Aparecida Ferreira de Souza
Taia Mota Duarte

Coordenação Pedagógica
Olga Maria Pimentel Jacobina de Souza
Daiana Silva de Brito
Revisão Técnico-Científica
Márcia Aparecida Ferreira de Souza
Taia Mota Duarte
Joana Thiesen
Luiz Felipe Zago
June Scafuto Borges

Autoras/Conteudistas

Módulo I – aulas 1, 2 e 3

Rachel Gouveia Passos

Módulo II – aulas 1, 2 e 3
Helena Moraes Cortes

Módulo III – aulas 1, 2 e 3


Vanessa Crumial Herdy de Andrade

Módulo IV – aulas 1, 2 e 3
Melissa de Oliveira Pereira

Produção
Núcleo de Educação a Distância da EGF – Fiocruz Brasília

Coordenação
Samuel Leandro Pereira Dourado

Designer Instrucional
Sarah Saraiva Silva Resende

Revisor de Texto
Erick Pessoa Guilhon
Lohana Alves Gregorim

Produtor Multimídia
Márlon Cavalcanti Lima

Designer Gráfico
Eduardo Calazans
Isla Fonseca
Thalisson de Araújo Cruz
Produtor Audiovisual
Arthur Boás da Silva Gonzaga
Thiago Barreto de Souza e Silva

Editor AVA
Rafael Cotrim Henriques
Trevor Furtado Souza

Desenvolvedor
Bruno Cardozo Cotrim da Costa
Douglas Fernandes Brito de Faria
Gabriel Ferreira do Nascimento
Joana D’Angeles Costa Ribeiro
Thiago Xavier da Silva
Vando Carvalho Rodrigues Pinto

Supervisão de Oferta
Meirirene Moslaves Meira

Apoio Técnico
Caio Cardoso Cotrim Henriques
Dionete de Souza Gonçalves Sabate
Poliana dos Santos Silva

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