Quebre o Silencio - M2A3
Quebre o Silencio - M2A3
Introdução .................................................................................. 03
Objetivo da Aula........................................................................... 04
3.1 Rastreamento de violências contra pessoas LGBTQIAPN+
usuárias da RAPS................................................................... 05
3.2 (Trans) feminicídio e outras violências imputadas a pessoas
trans: implicações para o cuidado na RAPS ................................ 07
3.3 Alguma(s) narrativa(s) de violências de gênero na RAPS......... 10
Encerramento .............................................................................. 21
Referências................................................................................. 22
Glossário.................................................................................... 23
Ficha Técnica............................................................................... 24
MÓDULO 02 AULA 03
DIVERSIDADES, (TRANS) PREVENÇÃO DO
FEMINICÍDIO E COMBATE A (TRANS) FEMINICÍDIO
LGBTFOBI A NO CAMPO DA E RASTREAMENTO DAS
ATENÇÃO PSICOSSOCI AL VIOLÊNCI AS DE GÊNERO QUE
PODE SOFRER A POPUL AÇÃO
LGBTQI APN+: A CLÍNICA
“DIVERSA” N A ATENÇÃO
PSICOSSOCI AL
INTRODUÇÃO
Em 2021, Marciele, Agente Comunitária de Saúde (ACS) de uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) do interior da Bahia, após ter participado de uma capacitação promovida pela Secretaria
Municipal de Saúde, deu-se conta da necessidade do mapeamento de pessoas trans de seu
território e, por conseguinte, da urgência da realização de busca ativa.
Sabe-se que pessoas trans não conseguem chegar até os serviços por inúmeras barreiras de
acesso, como a falta de respeito ao nome social e aos pronomes e, também, pela alegação de
que os profissionais não se sentem capacitados para atender pessoas trans, configurando-se
em transfobia institucional (Cortes et al., 2021).
A ACS Marciele lembrou-se de Verena, uma travesti afro-indígena de 18 anos, moradora da
periferia, empobrecida, que tinha sido atendida na UBS há cerca de ano ano e 8 meses e nunca
mais tinha buscado a UBS. Ao chegar no pé do Morro da Piedade, onde Verena morava com
sua mãe e seu pai, a ACS a encontrou vendendo acarajé numa pequena barraca improvisada na
frente de sua casa, bastante desanimada, emagrecida, com hematomas no rosto disfarçados
com maquiagem e óculos de sombra, e apresentando algumas lesões superficiais do tipo
ranhuras no antebraço direito. Seu pai a vigiava sentado numa cadeira a poucos metros de
distância, bastante atento à conversa da ACS com Verena. Diante dessa situação, a ACS
Marciele conseguiu combinar que ela fosse a uma consulta no mesmo dia com a enfermeira da
UBS sob a justificativa da necessidade também de atualização de sua situação vacinal.
Durante o atendimento na UBS, a enfermeira restringiu-se à atualização da situação vacinal
de Verena e à limpeza das ranhuras no antebraço e, ao questionar sobre o porquê de não ter
ido mais à UBS, apenas escutou Verena dizer que seu pai não permite que ela saia de casa por
“ser uma pecadora” e que precisava passar por rituais religiosos de purificação para “se curar”
e “deixar de ser trans”. Nesse momento, a enfermeira apenas ouviu a narrativa de Verena e fez a
evolução de seu prontuário, colocando o nome de registro de Verena e a liberou sem nenhuma
outra intervenção (narrativa construída com base em atendimentos realizados na RAPS no
interior da Bahia de 2017 a 2021).
O caso Verena ilustra um ciclo de violências com pessoas trans que, muitas vezes, começa
em casa e é perpetuado nos serviços de saúde com um desfecho não raro de sofrimento
psíquico e/ou transfeminicídio.
Para o rastreamento e a intervenção de possíveis casos de violência, os profissionais de
saúde precisam assumir uma postura acolhedora e perspicaz, validando as respostas da
pessoa usuária do serviço e investigando as suas narrativas nas entrelinhas e o sofrimento
psíquico que se apresenta no momento do atendimento.
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https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/05042022-Lei-Maria-da-Penha-e-aplicavel-a-violencia-
contra-mulher-trans--decide-Sexta-Turma.aspx.
OBJETIVO DA AULA
Refletir sobre a prevenção do (trans)feminicídio e o rastreamento das violências de gênero
que pode sofrer a população LGBTQIAPN+, a partir de uma proposta de compreensão da clínica
“diversa” na atenção psicossocial.
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Nessa linha de raciocínio, Pinto et al. (2020) refletem sobre o avanço e a necessidade de se
preencher corretamente os campos inerentes à orientação sexual e à identidade de gênero
dos usuários. Nesse sentido, os autores destacam ainda que os serviços de saúde são locais
estratégicos para a identificação e o acolhimento das situações de violência, sendo essencial
que saibam reconhecer e preencher adequadamente os marcadores de gênero, raça/cor, etnia
e orientação sexual para o correto enfrentamento de iniquidades (Pinto et al., 2020).
Você já parou para pensar que, em muitos casos, o rompimento da relação pode
não ser a melhor opção e cabe ao profissional de saúde mental acolher a decisão
da pessoa, sem julgamentos, apoiando os caminhos que ela entender como mais
adequados naquele momento?
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A transfobia, que se caracteriza pela ojeriza, medo, ódio e repulsa à identidade de gênero de
pessoas trans, é a força motriz da morte de dezenas de pessoas trans, especialmente mulheres
trans e travestis, anualmente no Brasil, descambando, não raras as vezes, em trans(feminicídio).
Como vimos na Aula 2 do Módulo 2 (“2. Panorama de transfobia no cenário nacional”), os dados
de mortes de travestis e mulheres trans no Brasil têm aumentado ano a ano e são alarmantes,
o que não é diferente do restante do mundo.
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Países como Brasil, Vietnã e Quênia estão mapeando a saúde mental das minorias
sexuais e de gênero de forma colaborativa. Ficou curiosa/o/e para saber mais?
Conheça o Estudo Smile Brasil no link https://brasil.smilestudy.org/.
Quase metade dos assassinatos ocorreram por armas de fogo, sendo que 28% das
mortes ocorreram na rua e em torno de 26% dos casos se deram na casa das vítimas. Os
dados monitorados pela TGEU revelaram tendências preocupantes quando se verifica
interseccionalmente mortes por misoginia, racismo e xenofobia (TGEU, 2023).
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também já vimos, são assassinadas por terem uma identidade feminina. Homens trans/
pessoas transmasculinas têm sofrido o chamado estupro corretivo, como é o caso de João
Ricardo. Mulheres lésbicas e bissexuais também tem sofrido o estupro corretivo. Portanto,
esse é o contexto que tem demandado intervenções dos profissionais da RAPS no sentido de
reconhecerem e assumirem tal realidade, que tem chegado com frequência aos serviços de
saúde.
Os serviços de saúde da RAPS enfrentam outros desafios no cuidado a muitas crianças e
adolescentes vítimas do (trans)feminicídio. Entretanto
as crianças e os adolescentes trans, em grande parte
dos casos, são vítimas de uma “orfandade de pais
vivos”, ao serem expulsos de casa muito cedo ao
assumirem a travestilidade/transgeneridade.
Além da expulsão de casa, muitas crianças trans e
travestis têm roubado o seu direito de (simplesmente)
serem crianças e adolescentes:
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A troca entre pares pode ser uma estratégia potente para mães, pais e
cuidadores de crianças e adolescentes trans ou com variabilidade de gênero.
Conheça o trabalho da Organização Não Governamental Mães pela Diversidade
no link https://maespeladiversidade.org.br/.
Cabe chamar a atenção para o fato de que, não raro, somente mães (tias, avós, irmãs e outras
formas de parentalidade) têm assumido o cuidado de crianças e adolescentes LGBTQIAPN+
quando saem do armário. Dessa forma, o gênero tem sido um marcador problematizado por
autoras clássicas do campo da atenção psicossocial. Kantorski et al. (2019), por exemplo,
destacam a necessidade de se desnaturalizar a figura da mulher enquanto cuidadora em saúde
mental no contexto dos serviços envolvendo os demais membros da rede das pessoas usuárias
da RAPS.
A professora Sônia Barros, diretora do Departamento de
Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde,
nomeada em 2023, tem provocado a discussão de gênero de
forma racializada na história do cuidado em saúde mental. No
podcast #3 PODSIN conversa com Sônia Barros sobre saúde
mental e questões de raça e gênero, é possível compreender
essa dimensão interseccional do cuidado. Ouça em: https://
www.youtube.com/watch?v=v7lwPS0MvUE&t=766s.
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*Dadas as especificidades das pessoas trans e travestis que são cotidianamente (des)
cuidadas nos serviços de saúde, faz-se necessário que a busca ativa seja uma tônica rotineira
dos equipamentos da RAPS como um todo. Independentemente de as pessoas trans e travestis
terem alguma necessidade de saúde mental, a busca ativa precisa ser “obrigatória” na rotina dos
serviços para essa população, tanto na UBS como nos CAPS. Destaca-se, fundamentalmente, a
atuação dos ACS, que são os trabalhadores-chave nesse processo de busca das pessoas trans
que enfrentam inúmeras barreiras para chegarem até a UBS.
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** Essa situação temporária de abrigo e ou acolhida para pessoas trans e travestis precisa
ser construída entre os municípios e as próprias pessoas em questão. Pergunte-se: O que pode
ser possível no meu município? De que forma eu posso privilegiar a equidade neste momento?
Talvez algumas pessoas trans e travestis entendam ser melhor estarem abrigadas em espaços
coletivos entre pessoas trans e pessoas cis, por exemplo. Talvez outras pessoas trans e travestis
sintam-se mais à vontade em um espaço voltado especificamente à comunidade LGBTQIAPN+.
Cabe destacar que, quando consideramos as pessoas trans e travestis, estamos falando de
identidades e não de “meras características” de algumas pessoas. Essas identidades podem
estar mais fragilizadas por um “CIStema” que as oprime, violenta e as assassina cotidianamente
e, num momento de maior fragilidade/vulnerabilidade, um espaço trans específico pode ser
mais interessante para a potencialização e o fortalecimento da diversidade como produtora da
diferença, de riqueza subjetiva e de vida.
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[...] certamente, a maior cirurgia que perpassa a vida cotidiana de uma pessoa
transgênera não diz respeito ao cardápio de cirurgias plásticas que ela possa
submeter-se, mas sim, refere-se àquela que ela está implicada a realizar no
Outro, no tecido social, nos enfrentamentos cotidianos, na ruptura diária de
discriminações e preconceitos, nas reivindicações pelos direitos subtraídos
pelo próprio Estado, sendo o que denomino de “cirurgia social”.
A cirurgia social que pessoas trans precisam realizar diariamente pode ser traduzida no
enfrentamento das dificuldades de acesso aos serviços de saúde, permeadas por transfobia
institucional, na patologização da transgeneridade, nas altas taxas de evasão escolar causadas
pelo bullying, nas dificuldades de aceitação familiar, nos entraves burocráticos para a retificação
do nome civil e do gênero nos documentos, sendo todos esses fatores impactantes na saúde
mental das pessoas transgêneras. Essa luta diária contra (trans)violências, transfeminicídios e
na busca por manterem-se vivas demanda de pessoas transgêneras verdadeiros “procedimentos
cirúrgicos sociais” em suas vidas cotidianas (Cortes, 2018, p. 2).
O campo da saúde costuma ser
pragmático, inclusive o da saúde mental
coletiva, pois precisa dar alguma resposta
à necessidade de quem se apresenta na
RAPS. Todavia, a ideia da “cirurgia social”
no campo da atenção psicossocial propõe
apontar caminhos, dar algumas pistas e
possibilidades de acolhimento e resoluções
numa lógica de acolhimento da diversidade,
compreendendo-a como potência de cuidado.
Tais possibilidades aproximam-se de Favero
(2023) em “Como atender travestis e pessoas
trans?”: (des)cisgenerizando o cuidado em saúde mental, no sentido de que as problematizações
em relação a (trans)gênero e sexualidades são certamente mais importantes do que as duras
certezas impostas pela cisgeneridade.
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Cabe aos profissionais de saúde que atuam na RAPS aliarem-se a pessoas trans na
operacionalização dessa cirurgia social, que pode ser traduzida no cotidiano dos serviços
com outras ações concretas além das descritas no “Quadro com recomendações de ações da
ANTRA no enfrentamento às violências de (trans)gênero e algumas possibilidades de trans-
ações no contexto dos serviços da RAPS”.
Tal aliança dos profissionais atuantes na RAPS ao processo de cirurgia social pode ser
materializada também num PTS que contemple essencialmente: 1) o empréstimo do poder
contratual a essas pessoas usuárias que, por vezes, chegam extremamente fragilizadas e “sem
voz” no serviço, vítimas de diversas formas de violência; e 2) no fortalecimento das redes de
apoio que, muitas vezes, se limitam apenas aos serviços de saúde.
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ENCERRAMENTO
Nesta aula, problematizamos as possibilidades de rastreamento de violências contra
pessoas LGBTQIAPN+ usuárias da RAPS no contexto da prática clínica e refletimos sobre o
(trans)feminicídio e outras violências imputadas a pessoas trans. Também apontamos, sem a
pretensão de “dar uma receita” de forma pronta e/ou estática, possibilidades de intervenção
por meio do que denominamos “cirurgia social” no cuidado em saúde mental coletiva na RAPS.
Os profissionais atuantes na RAPS precisam assumir as dimensões que envolvem a
diversidade humana e o que as violências demandam de intervenções na rede, construindo
com os demais operadores de saúde (mental) o (re)conhecimento das formas de violações
de direitos humanos nesse contexto e suas repercussões na saúde mental de pessoas
LGBTQIAPN+, com proposições de cuidados práticos de forma integral e intersetorial.
Propuseram-se algumas possibilidades de (trans)cuidados em saúde mental, desde um nível
singular no contexto da construção do PTS com a pessoa usuária, perpassando por um nível
particular, que exige articulação na estrutura do serviço, até um nível estrutural, que impacte
necessariamente as políticas públicas de atenção à saúde mental.
Obviamente que se compreende que todas essas dimensões requerem tempo e investimento
dos profissionais para sua execução. Entretanto, cabe propor que as equipes reflitam sobre o
que é possível para este momento, num cuidado em saúde mental que tenha a diversidade como
eixo norteador, e não somente como forma de intervenção quando direitos forem violados.
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REFERÊNCIAS
CORTES, Helena Moraes et al. O (des) acesso de pessoas transgêneras aos serviços de saúde
no recôncavo baiano. Cadernos de Gênero e Diversidade, v. 6, n. 4, p. 159-180, 2020.
KANTORSKI, Luciane Prado et al. Gênero como marcador das relações de cuidado informal
em saúde mental. Cadernos Saúde Coletiva, v. 27, n. 1, p. 60–66, jan. 2019.
PINTO, Isabella Vitral et al. Perfil das notificações de violências em lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação,
Brasil, 2015 a 2017. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, Suppl 1 , p. e200006, 2020.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720200006.supl.1.
TEIXEIRA, Débora Silva; VIEIRA, Renata Carneiro; BARBOSA JÚNIOR, Mauro; BORRET,
Rita Helena; MOURA, Regina. Abordagem da violência na prática clínica. In: CIASCA,
S. V.; HERCOWITZ, A., LOPES JUNIOR, A. (org.). Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidado
transdisciplinar. Santana de Parnaíba: Manole, p. 60-72, 2021.
TRANSGENDER EUROPE – TGEU. Trans Murder Monitoring 2023 Global Update. Berlin, 2023.
Disponível em: https://tgeu.org/trans-murder-monitoring-2023.
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GLOSSÁRIO
Glossário é um recurso que permite concentrar alguns termos e seus respectivos
significados ou definições. No quadro a seguir, indicar as palavras que deseja que tenha seu
significado apresentado durante a aula.
Comportamento/prática
de queimar-se, cortar-se,
fincar-se algo, beliscar-se ou
Automutilação; autolesão; interferir no próprio processo
Cutting
Self cutting de cicatrização cutânea,
com o intuito de deslocar
a dor emocional para a dor
corporal.
Neologismo utilizado
para se referir ao sistema
CIStema Sistema
cisheteronormativo,
patriarcal e machista.
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© 2025. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz.
Escola de Governo Fiocruz Brasília. Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução,
disseminação e utilização desta obra, desde que citada a fonte. É vedada a utilização para
fins comerciais. Curso Quebre o silêncio: enfrentando a violência de gênero e o feminicídio.
Coordenação Geral do Projeto Fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial no Sistema
Único de Saúde: gestão, formação e pesquisa: André Vinicius Pires Guerrero; Sônia Barros.
Brasília: [Curso na modalidade à distância]. Escola de Governo Fiocruz Brasília, 2025.
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção Especializada à Saúde
Adriano Massuda - Secretário
Créditos
Coordenação-Geral do Projeto Fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial no
Sistema Único de Saúde: gestão, formação e pesquisa.
André Vinicius Pires Guerrero
Sonia Barros
Coordenação-Geral
Olga Maria Pimentel Jacobina de Souza
Daiana Silva de Brito
Márcia Aparecida Ferreira de Souza
Taia Mota Duarte
Coordenação Pedagógica
Olga Maria Pimentel Jacobina de Souza
Daiana Silva de Brito
Revisão Técnico-Científica
Márcia Aparecida Ferreira de Souza
Taia Mota Duarte
Joana Thiesen
Luiz Felipe Zago
June Scafuto Borges
Autoras/Conteudistas
Módulo I – aulas 1, 2 e 3
Módulo II – aulas 1, 2 e 3
Helena Moraes Cortes
Módulo IV – aulas 1, 2 e 3
Melissa de Oliveira Pereira
Produção
Núcleo de Educação a Distância da EGF – Fiocruz Brasília
Coordenação
Samuel Leandro Pereira Dourado
Designer Instrucional
Sarah Saraiva Silva Resende
Revisor de Texto
Erick Pessoa Guilhon
Lohana Alves Gregorim
Produtor Multimídia
Márlon Cavalcanti Lima
Designer Gráfico
Eduardo Calazans
Isla Fonseca
Thalisson de Araújo Cruz
Produtor Audiovisual
Arthur Boás da Silva Gonzaga
Thiago Barreto de Souza e Silva
Editor AVA
Rafael Cotrim Henriques
Trevor Furtado Souza
Desenvolvedor
Bruno Cardozo Cotrim da Costa
Douglas Fernandes Brito de Faria
Gabriel Ferreira do Nascimento
Joana D’Angeles Costa Ribeiro
Thiago Xavier da Silva
Vando Carvalho Rodrigues Pinto
Supervisão de Oferta
Meirirene Moslaves Meira
Apoio Técnico
Caio Cardoso Cotrim Henriques
Dionete de Souza Gonçalves Sabate
Poliana dos Santos Silva