Guia Prático para Cálculo Luminotécnico
e Definição de Parâmetros
Com base nas informações dos manuais e do ebook de luminotécnica analisados,
preparei este guia para auxiliar na elaboração de cálculos luminotécnicos e na definição
de parâmetros essenciais para um projeto de iluminação, atendendo às suas
solicitações.
1. Passo a Passo para Cálculo Luminotécnico (Método
das Eficiências/Lumens)
Este método é amplamente utilizado para calcular a quantidade de luminárias
necessárias para atingir um nível de iluminância médio desejado em um ambiente
(iluminação geral). O objetivo é garantir entre 150 a 200 lux, minimizando zonas de
sombra (o que se relaciona diretamente com a uniformidade, abordada mais adiante).
Passo 1: Coleta de Dados do Ambiente e Requisitos
• Dimensões do Ambiente: Comprimento (a), Largura (b) e Pé-direito total (H).
• Altura do Plano de Trabalho (h_pt): Altura onde a iluminância desejada é
necessária (ex: 0,75m para mesas de escritório, 0,00m para o piso).
• Altura de Montagem das Luminárias: Definir se serão embutidas, sobrepostas ou
pendentes. Calcular a altura do pendente (h_pend), se aplicável.
• Pé-direito Útil (h): Distância vertical entre as luminárias e o plano de trabalho. h =
H - h_pt - h_pend.
• Refletâncias das Superfícies: Estimar ou medir os coeficientes de reflexão do teto
(ρ_teto), paredes (ρ_parede) e piso (ρ_piso). Valores típicos são encontrados em
tabelas (como o Anexo 2 de um dos manuais). Cores claras refletem mais (ex: teto
branco ≈ 70-80%), cores escuras menos (ex: parede escura ≈ 10-30%).
• Nível de Iluminância Média Desejado (Em): No seu caso, definir um valor alvo
dentro da faixa de 150 a 200 lux (ex: 180 lux).
• Manutenção: Avaliar as condições de limpeza do ambiente e o cronograma de
manutenção para definir o Fator de Depreciação.
Passo 2: Escolha da Lâmpada e Luminária
• Selecionar o tipo de lâmpada (LED, fluorescente, etc.) e a luminária com base nos
requisitos da aplicação (eficiência energética, IRC, temperatura de cor, estética,
tipo de distribuição luminosa - direta, indireta, etc., e o Índice de Proteção - IP,
como veremos adiante).
• Obter dados do fabricante para a luminária escolhida:
◦ Fluxo Luminoso Nominal da(s) Lâmpada(s) (Φ_lâmpada): Quantidade de
lúmens emitida por cada lâmpada dentro da luminária.
◦ Tabela do Fator de Utilização (Fu): Fornecida pelo fabricante da luminária,
relaciona o Índice do Recinto (K) e as refletâncias (ρ_teto, ρ_parede, ρ_piso)
com o fator de utilização.
◦ Curva de Distribuição Luminosa (CDL): Para entender como a luz é
distribuída e auxiliar na definição do espaçamento.
Passo 3: Cálculo do Índice do Recinto (K)
• O Índice do Recinto relaciona as dimensões do ambiente. A fórmula mais comum é:
K = (a * b) / (h * (a + b))
◦ Onde 'a' é o comprimento, 'b' é a largura e 'h' é o pé-direito útil.
Passo 4: Determinação do Fator de Utilização (Fu)
• Usando o valor de K calculado e as refletâncias (ρ_teto, ρ_parede, ρ_piso),
consulte a tabela do Fator de Utilização fornecida pelo fabricante da luminária
escolhida. Interpole os valores se necessário.
Passo 5: Definição do Fator de Depreciação (Fd) ou Manutenção (Fm)
• Este fator considera a redução do fluxo luminoso ao longo do tempo devido ao
envelhecimento da lâmpada, acúmulo de poeira na luminária e depreciação das
superfícies do ambiente. Varia conforme o tipo de lâmpada, luminária, ambiente
(limpo, sujo) e frequência de manutenção.
• Valores típicos podem variar (ex: 0,65 para ambientes sujos com pouca
manutenção, 0,80 para ambientes limpos com boa manutenção). Alguns preferem
usar o inverso, o Fator de Manutenção (Fm = 1/Fd), que multiplica o resultado final.
• Para simplificar, usaremos Fd no denominador da fórmula principal. Um valor
comum para ambientes comerciais/escritórios com manutenção razoável é Fd ≈
0.7 a 0.8.
Passo 6: Cálculo do Número de Luminárias (N)
• Utilize a fórmula do Método das Eficiências: N = (Em * a * b) / (n * Φ_lâmpada * Fu
* Fd)
◦ Onde:
▪ Em = Iluminância Média Desejada (lux)
▪ a = Comprimento do ambiente (m)
▪ b = Largura do ambiente (m)
▪ n = Número de lâmpadas por luminária
▪ Φ_lâmpada = Fluxo luminoso de uma lâmpada (lm)
▪ Fu = Fator de Utilização (adimensional, obtido na tabela)
▪ Fd = Fator de Depreciação (adimensional)
• O resultado 'N' será o número total de luminárias necessárias. Arredonde sempre
para o número inteiro superior mais próximo que permita uma distribuição
geométrica uniforme.
Passo 7: Distribuição das Luminárias e Verificação da Uniformidade
• Distribua as 'N' luminárias de forma geométrica e simétrica no teto do ambiente. O
objetivo é obter uma cobertura luminosa o mais homogênea possível,
minimizando zonas de sombra.
• Espaçamento (S): Consulte as recomendações do fabricante da luminária sobre o
espaçamento máximo entre luminárias (S_max), geralmente expresso em relação
à altura de montagem útil (h). Por exemplo, S_max = 1.5 * h. Manter o espaçamento
(S) dentro do recomendado ajuda a garantir a uniformidade.
• Distância da Parede: Geralmente, a distância da primeira fileira de luminárias até
a parede é metade do espaçamento entre elas (S/2).
• Verificação da Uniformidade (Uo): A uniformidade (Uo = Emin / Eavg) é crucial
para evitar sombras. O método das eficiências calcula a iluminância média (Eavg ≈
Em). Garantir Uo ≥ 0,4 exige que a iluminância mínima (Emin) seja pelo menos
40% da média. Isso é fortemente influenciado pelo espaçamento, pela CDL da
luminária e pelas refletâncias. Uma distribuição regular dentro do espaçamento
recomendado geralmente atende a esse critério para iluminação geral. Cálculos
precisos de Emin exigiriam métodos ponto a ponto ou software de simulação.
2. Exemplo de Cálculo Luminotécnico
Vamos aplicar os passos a um escritório:
• Passo 1: Dados
◦ Dimensões: a = 10m, b = 8m, H = 3.0m
◦ Plano de Trabalho: h_pt = 0.75m (mesas)
◦ Montagem: Luminárias sobrepostas (h_pend = 0)
◦ Pé-direito Útil: h = 3.0 - 0.75 - 0 = 2.25m
◦ Refletâncias: ρ_teto = 70% (0.7), ρ_parede = 50% (0.5), ρ_piso = 20% (0.2)
◦ Iluminância Desejada: Em = 180 lux
◦ Fator de Depreciação: Fd = 0.75 (ambiente limpo, manutenção anual)
• Passo 2: Lâmpada e Luminária
◦ Escolha: Luminária LED de sobrepor 2x18W (similar a uma fluorescente
2x36W antiga), adequada para escritórios.
◦ Dados (hipotéticos do fabricante):
▪ Número de lâmpadas/módulos por luminária: n = 1 (módulo integrado)
▪ Fluxo Luminoso do módulo: Φ_lâmpada = 4000 lm
▪ Tabela Fu: (Consultaríamos a tabela do fabricante)
• Passo 3: Índice do Recinto (K)
◦ K = (10 * 8) / (2.25 * (10 + 8))
◦ K = 80 / (2.25 * 18)
◦ K = 80 / 40.5 ≈ 1.98 (Podemos arredondar para 2.0 para usar a tabela)
• Passo 4: Fator de Utilização (Fu)
◦ Consultando uma tabela hipotética do fabricante para K=2.0, ρ_teto=0.7,
ρ_parede=0.5, ρ_piso=0.2, encontramos Fu = 0.60 (Este valor é apenas um
exemplo).
• Passo 5: Fator de Depreciação (Fd)
◦ Definido como Fd = 0.75.
• Passo 6: Número de Luminárias (N)
◦ N = (180 * 10 * 8) / (1 * 4000 * 0.60 * 0.75)
◦ N = 14400 / (4000 * 0.45)
◦ N = 14400 / 1800
◦ N=8
◦ Serão necessárias 8 luminárias.
• Passo 7: Distribuição e Uniformidade
◦ Com N=8, podemos arranjar as luminárias em 2 fileiras de 4.
◦ Espaçamento na direção 'a' (10m): 10m / 4 = 2.5m entre centros.
◦ Espaçamento na direção 'b' (8m): 8m / 2 = 4.0m entre centros.
◦ Distância da parede 'a': 2.5m / 2 = 1.25m
◦ Distância da parede 'b': 4.0m / 2 = 2.0m
◦ Verificar recomendação do fabricante: Se S_max recomendado for, por
exemplo, 1.5 * h = 1.5 * 2.25 = 3.375m. O espaçamento de 2.5m está OK, mas o
de 4.0m excede. Precisaríamos ajustar a distribuição (talvez 3 fileiras?) ou
escolher outra luminária. Se ajustarmos para 3 fileiras, N precisaria ser 9
(3x3). Recalculando N para 9: Eavg = (9 * 1 * 4000 * 0.60 * 0.75) / (10 * 8) =
16200 / 80 = 202.5 lux (ainda dentro ou muito próximo da faixa desejada).
Com 9 luminárias (3x3): Espaçamento 'a' = 10/3 ≈ 3.33m; Espaçamento 'b' =
8/3 ≈ 2.67m. Ambos estariam dentro do S_max hipotético de 3.375m,
promovendo melhor uniformidade (Uo ≥ 0.4 seria mais provável).
3. Definição de Abertura de Facho e Índice de Proteção
(IP)
• Índice de Proteção (IP): Conforme detalhado no Ebook, o IP classifica a proteção
contra sólidos e líquidos. IP66 significa:
◦ 6 (primeiro dígito): Totalmente protegido contra poeira.
◦ 6 (segundo dígito): Protegido contra jatos potentes de água de qualquer
direção.
◦ Conclusão: Uma luminária IP66 é adequada para a maioria das aplicações
externas (chuva, lavagens) e ambientes internos com muita poeira ou que
necessitem de limpeza com jatos d'água (indústrias, cozinhas industriais,
etc.). Para imersão, seria necessário IP67 ou IP68.
• Abertura de Facho (Ângulo de Abertura):
◦ Refere-se a como a luz é distribuída pela luminária (concentrada ou
espalhada). É visualizado na Curva de Distribuição Luminosa (CDL).
◦ Facho Fechado/Concentrado (ex: < 30°): Usado para iluminação de
destaque (spot), iluminar objetos específicos ou locais com pé-direito muito
alto.
◦ Facho Médio (ex: 30°- 60°): Iluminação geral em locais com pé-direito médio
a alto, ou iluminação de áreas específicas.
◦ Facho Aberto/Difuso (ex: > 60°, ou > 90°): Iluminação geral em áreas amplas
com pé-direito baixo a médio, buscando maior uniformidade.
◦ Facho Assimétrico: Direciona a luz predominantemente para um lado, útil
para iluminação de fachadas a partir da base (wall washer), iluminação de
quadras esportivas a partir das laterais, ou iluminação pública para
direcionar a luz para a via e não para as casas.
◦ Escolha: A escolha depende da aplicação, da altura de montagem e do
espaçamento desejado. Para iluminação geral uniforme (como no exemplo
do escritório), um facho mais aberto (ex: 90° a 120°) costuma ser adequado
para luminárias de sobrepor/embutir em pé-direito padrão. Para projetores
externos, a escolha varia muito com a distância e a área a ser coberta.
4. Garantia de Uniformidade (Uo ≥ 0,4) e Exemplo
• Uniformidade (Uo): É a relação entre a iluminância mínima (Emin) e a iluminância
média (Eavg) em uma área ou plano de trabalho: Uo = Emin / Eavg .
• Importância: Uma boa uniformidade (Uo mais próximo de 1) significa que a luz
está distribuída de forma homogênea, sem grandes variações entre pontos mais
claros e mais escuros (zonas de sombra). Isso é crucial para conforto visual e
segurança.
• Garantia de Uo ≥ 0,4: Este é um requisito comum para iluminação geral em
muitas normas (incluindo a NBR 5101 para vias públicas, dependendo da classe).
Para alcançá-lo:
◦ Espaçamento Adequado: Seguir as recomendações de espaçamento
máximo (S_max) do fabricante da luminária em relação à altura de
montagem (h) é fundamental. Exceder o S_max geralmente leva a uma queda
na iluminância entre as luminárias, reduzindo Emin e, consequentemente,
Uo.
◦ Distribuição Geométrica: Posicionar as luminárias de forma regular e
simétrica.
◦ Escolha da Luminária: Luminárias com CDL mais aberta (distribuição difusa)
tendem a proporcionar melhor uniformidade em iluminação geral do que as
de facho muito concentrado, quando usadas no espaçamento correto.
◦ Refletâncias: Ambientes com superfícies mais claras (maior refletância)
ajudam a melhorar a uniformidade, pois a luz refletida contribui para
iluminar áreas entre as luminárias.
• Exemplo de Verificação (Conceitual):
◦ No exemplo do escritório com 9 luminárias (3x3), calculamos Eavg ≈ 202 lux.
Para garantir Uo ≥ 0.4, precisaríamos que a Emin (iluminância no ponto mais
escuro do plano de trabalho, geralmente nos cantos ou entre luminárias mais
afastadas) fosse de pelo menos 0.4 * 202 = 80.8 lux .
◦ Confirmar isso exigiria um cálculo ponto a ponto (usando a lei do cosseno
inverso e a CDL) para vários pontos críticos da sala ou, mais praticamente,
usar um software de simulação luminotécnica (como DIALux - gratuito, Relux)
que calcula Eavg, Emin, Emax e Uo com base no layout, luminárias e suas
fotometrias (arquivos IES/LDT fornecidos pelos fabricantes).
◦ Se a simulação mostrasse Uo < 0.4, seria necessário ajustar o projeto: reduzir
o espaçamento (adicionando mais luminárias), escolher uma luminária com
distribuição mais adequada, ou aumentar a refletância das superfícies.
Espero que este guia detalhado e os exemplos ajudem a esclarecer o processo de cálculo
e definição de parâmetros em luminotécnica!