PROTOCOLO COMUNITÁRIO-AUTÔNOMO-
BIODIVERSIDADE DE CONSULTA E
CONSENTIMENTO PRÉVIO, LIVRE,
INFORMADO, ADEQUADO, DE BOA-FÉ,
DE VETO E AUTODETERMINAÇÃO DO
TERRITÓRIO TRADICIONAL RIBEIRINHO
DO RIO XINGU/PAE SANTO AFONSO
PARÁ/AMAZÔNIA
ABAETETUBA/2024
FICHA TÉCNICA:
PROTOCOLO COMUNITÁRIO-AUTÔNOMO-BIODIVERISDADE
DE CONSULTA E CONSENTIMENTO PRÉVIO, LIVRE,
INFORMADO, DE BOA-FÉ, DE VETO E AUTODETERMINAÇÃO
DO TERRITÓRIO TRADICIONAL RIBEIRINHO DO RIO XINGU/
PAE SANTO AFONSO
Realização:
Assentamento Agroextrativista PAE Santo Afonso – Rio Xingu - Ilhas de
Abaetetuba Pará e Obras Sociais da Paróquia Nossa Senhora Rainha da
Paz.
Comissão organizadora do Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento
Prévio, Livre, Informado, Adequado, de Boa-Fé, de Veto e
Autodeterminação do Território Tradicional Ribeirinho da
Rio Xingu:
Amiraldo Costa Figueiredo; Raimunda de Jesus Amaral Baia; Ocléia Vieira
Soares; Manoel Santana Ferreira; Izaque Cavalheiro de Souza; Andreise
Araújo Cavalheiro; Leuda Costa Ferreira; Carla Tatiane Cavalheiro Amaral;
Andréia Araújo Cavalheiro; Orlandina da Silva Amaral; Márcia Cléia Araújo
Lobato; Rosa Souza Benício, Elias Lobato Carvalheiro, Renata da Silva,
Valdileno Souza Figueredo.
Apoiadores da Organização:
MORIVA – Movimento dos ribeirinhos e várzeas de Abaetetuba; CPT –
Comissão Pastoral da Terra; STTRA – Sindicato dos trabalhadores e
trabalhadoras rurais de Abaetetuba.
1 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
Facilitadores (a), ou Equipe Revisora:
Assessoria: Johny Fernandes Giffoni
Simy Corrêa / Fase Fundo (CIDHA/PPGD/ICJ/UFPA);
Dema, Osmana Dias Gonçalves- Girolamo Domenico Trecani
Articuladora (Cáritas Brasileira (CIDHA/PPGD/ICJ/UFPA);
Regional Norte II), Antônia Maria Flávio Bezerra Barros
Coutinho Botelho (Associação (INEAF/UFPA); Equipe
Cáritas Diocesana Dom Ângelo do “Projeto Consulta e
Frosi/Abaetetuba e Caritas da Consentimento na Prática”
Paróquia Rainha da Paz), Sebastião da CIDHA e INEAF.
Raimundo Santos de Carvalho
(Cáritas da Paróquia Rainha da Paz), Equipe Sistematizadora:
Alex de Souza Maciel - Articulador Olívia Gonçalves Cardoso, Rafaela
local (Assessoria Regional Cáritas Costa dos Santos, Antônia Maria
norte II), Jéssica Cristina da Silva Coutinho Botelho, Osmana Dias
Pereira (Coordenadora Cáritas Gonçalves e Marcos Cardoso
Comunitária Campompema), Cardoso, Andréia Araújo
Andrei Leal Ferreira (Pastoral da Cavalheiro, Orlandina da Silva
juventude- paroquia das Ilhas); Amaral, Andriele Fonseca Barbosa
Maria das Graças da Silva Pereira - e Alex de Souza Maciel - Assessor
Assessora Regional da Cáritas. da Cáritas.
Organizações Parceiras:
Cáritas Brasileira Regional Norte Comunicação:
II e Cáritas Alemanha, por meio do Marcos Melo
Programa Global das Comunidades Giullia Moreira
da Nossa América Latina; Paróquia Rebeka Botelho
Nossa Senhora Rainha da Paz;
Associação Cáritas Diocesana Dom Fotografias:
Ângelo Frosi; Cáritas da Paróquia Roberito Pacheco Santos e
Rainha da Paz; Fase Fundo Alex de Sousa Maciel - Arquivo
Dema; CPT – Comissão Pastoral Cáritas.
da Terra; MORIVA – Movimento
dos ribeirinhos e várzeas de Impressão:
Abaetetuba; “Projeto Consulta Gráfica Imprime Belém.
e Consentimento na Prática”
cooperação entre a Universidade Data de Aprovação:
Federal do Pará, Fundação de
20 de abril de 2024.
Amparo e Desenvolvimento de
Pesquisa, Clínica de Direitos
Humanos da Amazônia do Publicação:
Programa de Pós-Graduação em 13 de março de 2025.
Direito do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade Federal
do Pará (CIDHA/PPGD/ICJ/UFPA),
Instituto Amazônico de Agriculturas
Familiares da Universidade Federal
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 2
JUSTIFICATIVA E HISTÓRICO DO PROTOCOLO
1
COMUNITÁRIO-AUTÔNOMO-BIODIVERSIDADE
DE CONSULTA E CONSENTIMENTO PRÉVIO,
LIVRE, INFORMADO, ADEQUADO, DE BOA-FÉ, DE
VETO E AUTODETERMINAÇÃO DO TERRITÓRIO
TRADICIONAL RIBEIRINHO DO RIO XINGU
1.1 Tudo começa no dia 19/09/2019, embalados pelo mantra “Tudo
está interligado, como se fossemos um, tudo está interligado, nesta
casa comum” e motivados com a reflexão sobre o tripé ESPERANÇA,
RESISTÊNCIA E PROFECIA;
1.2 Com a colaboração da Educadora Social Simy Correa da Fase/
Fundo DEMA, passamos a conhecer que a Convenção n° 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), possui as seguintes
características:
I. Romper o Regime Tutelar e Integracionista;
II. Retirar da Invisibilidade de Direitos às Comunidades
Tradicionais que eram vistas como comunidades Rurais e
Homogêneas, reconhecendo o Direito à Diferença como um
componente do Direito à Igualdade;
III. Traz ainda no bojo o Direito Fundamental à Consulta e
Consentimento de forma Prévia, Livre e Informada, enquanto
instrumento de efetivação do Direito Fundamental à
Autodeterminação;
1.3 Durante o processo de construção deste instrumento,
entendemos a importância de traçar um PROCESSO de formação
continuada para elaboração do nosso Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade, pois as empresas não fazem e não
querem informar, eles querem nos enganar e este chão chamado
PAE Santo Afonso está ameaçado;
3 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
1.4 Depois de muitas intervenções favoráveis a comunidade
deliberou por unanimidade pela construção do Protocolo de
Consulta do Rio Xingu e no dia 19 de agosto de 2019, construímos
o “Plano de Ação para orientar o processo de construção do nosso
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade”;
1.5 Para executar o plano de ação para a construção do Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade a comunidade do Rio Xingu
reuniu no dia 17/10/2019 para estudar a Convenção n° 169 da OIT,
seguindo com a assessoria da Educadora Social Simy Correa da
Fase/Fundo DEMA;
1.6 Na oficina dobre a Convenção n° 169 da OIT, aprendemos que
de acordo com o decreto 6040/2007 em seu art. 3º, inciso I, ressalta
que “Povos e Comunidades Tradicionais: são grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e
recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,
social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos,
inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”;
1.7 O Direito Fundamental à Consulta e Consentimento leva ao Direito
à Autodeterminação fundamentada nos pilares da Convenção n°
169 da OIT a saber:
I. Autonomia: Esta está ligada ao conhecimento;
II. Boa fé e Consentimento: Deve ser de maneira apropriada, ou
seja, nossas regras deliberadas pelos integrantes do território e,
de forma livre, dão autorização para algo, permite dizendo sim
ou não, consentir ou não;
III. Autodeterminação: Programas e políticas voltadas para os
ribeirinhos a população deve saber estabelecer a participação
livre nas decisões;
IV. Autoidentidade: A consciência da sua identidade indígena
ou tribal deverá ser considerada como critério fundamental
para determinar os grupos aos que se aplicam as disposições
da presente convenção;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 4
1.8 Concluímos que “Sem o território, sentimo-nos sem identidade”;
1.9 Nosso entendimento é de que Direitos Humanos significa o
reconhecimento e respeito à pluralidade e à diversidade no marco
de uma concepção material e concreta da Dignidade Humana;
1.10 Nos dias 29 e 30 de novembro de 2019, foi agendada a oficina
de Linha do Tempo, entretanto não foi possível ocorrer na data
prevista e a Comunidade reuniu para estudar a linha do tempo no
dia 11/01/2020, mas como a participação foi reduzida, reagendamos
para reestudar a Linha do Tempo com a Comunidade toda e
tratamos sobre a Autodeterminação;
1.11 Por questão de sobrevivência paramos nossas atividades por
conta da Pandemia da COVID-19 entre os anos de 2020 e 2021;
1.12 Enquanto nós fomos obrigados a parar nossas atividades, as
empresas que nos ameaçam e o Estado continuaram executando
suas atividades, nos colocando em risco e utilizando do seu poder
econômico e da nossa vulnerabilidade, ampliada durante a Pandemia
de COVID-19, para tentar nos convencer a apoiar seus interesses
com a entrega de cestas básicas e trabalhos assistencialistas em
nossos territórios por meio de organizações da sociedade civil;
1.13 Retomamos para continuidade no dia 10 de março de 2023, já
sendo incluídos no Programa Global das Comunidades da Nossa
América Latina desenvolvido pela Cáritas Brasileira, por meio dos
Regionais Norte 2 (Pará e Amapá) e Nordeste 3 (Bahia e Sergipe)
e pelas Cáritas da Colômbia e Honduras com apoio da Cáritas
Alemã e do Ministério Alemão, o que demonstra que na nossa luta
não caminhamos só, tendo ainda contado com a apoio da Fase/
Fundo DEMA. e de outras organizações assim como de diversas
Universidades;
1.14 No dia 10 de março de 2023, retornamos ao estudo da Convenção
n° 169 da OIT, ao mesmo tempo que nos preparamos para a oitiva
com o Ministério Público Estadual e com a Defensoria Pública,
estudando juntos as ameaças e as nossas potencialidades;
1.15 Seguimos as Oficinas para a construção do Protocolo
5 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade com a Oficina da Linha do
Tempo, Oficina de Mapas de Ameaças e Potencialidades e Oficina
sobre o Passo a Passo para a Construção do Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade;
1.16 Somos impactados pelas mudanças climáticas causadas
pelo atual modelo de produção industrial, através da emissão de
gases poluentes, queima de combustíveis fosseis em automóveis
e desmatamento, tornando cada vez mais escasso a pesca e a
produção agroextrativista da nossa comunidade;
1.17 Para elaborar este Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade, analisamos a Convenção n° 169 da OIT e o Bloco
Normativo, além de documentos, manifestações, relatórios e
decisões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)
e da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH);
1.18 A elaboração do Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade foi realizada coletivamente;
1.19 Durante o processo de construção do Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade, houve muitas trocas de experiências,
encontros e reencontros de histórias, além de uma reafirmação dos
nossos direitos, dos Direitos da Natureza, da importância da nossa
Autodeterminação, Autoidentidade e Defesa Territorial;
1.20 As informações foram sistematizadas pela Comissão
Comunitária para a elaboração do Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade;
1.21 Todas as decisões tomadas durante este processo foram
submetidas a uma votação, onde participaram diversas pessoas,
de todos os gêneros e idades, pertencentes ao Território Tradicional
Ribeirinho do Rio Xingu/PAE Santo Afonso;
1.22 Este texto normativo traduzido a partir da oralidade para o meio
escrito, apresenta uma parte do conjunto normativo costumeiro
vivenciado pela nossa Comunidade do Rio Xingu/PAE Santo Afonso;
1.23 A Convenção n° 169 da OIT e o “Bloco Normativo Internacional
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 6
de Proteção aos Direitos à Autodeterminação dos Povos Indígenas
e Tribais”, nos garantem o “Direito Fundamental à Consulta e
Consentimento” todas as vezes que os governos Federal, Estadual e
Municipal vierem a planejar emitir um ato administrativo, legislação,
plano ou política pública que venha a impactar nosso modo de vida;
1.24 Antes de tudo, queremos ser informados, consultados, exercendo
o Direito a Autonomia, o Direito Fundamental a Autodeterminação
e Participação, para que possamos decidir o que queremos e o
que não queremos, perante toda e qualquer decisão a ser adotada
referente nosso território e nossas vidas;
1.25 Deverão os Governos Federal, Estadual e Municipal efetivarem
nosso “Direito Fundamental à Consulta e Consentimento” quando
pretenderem construir qualquer empreendimento, tomar medidas
legislativas ou administrativas que possam afetar, direta ou
indiretamente, nosso território e modo de vida;
1.26 Exigimos que nosso Direito de Autodeterminação seja
efetivado, ouvido, respeitado e garantido, conforme a presente
Convenção, o “Bloco Normativo” e as decisões internacionais que
nos dão o Direito de autorizar ou não qualquer “Ato Administrativo”
ou as “Legislações” do Governo Federal, Estadual e Municipal sobre
“Nossa Comunidade da Rio Xingu/PAE Santo Afonso”;
1.27 Queremos que o Processo Administrativo Especial de Consulta
e Consentimento seja realizada de forma Prévia, Livre, Informada,
de Boa-Fé, de Veto e Autodeterminação;
1.28 Queremos que nossas escolhas e decisões sempre sejam
respeitadas e consideradas;
1.29 No dia 29 de março de 2024 aconteceu a Oitiva com Promotora
de Justiça Agrária e a Defensoria Pública do Estado do Pará, sobre
todas as ameaças e problemas por nós vivenciados;
1.30 Vivemos na prática as reais dificuldades da implementação
do Processo Administrativo Especial de Consulta e Consentimento
de atos administrativos, projetos de lei, atividades, projetos
de desenvolvimento, dentre outros que impactem ou afetem
7 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
nosso modo de vida, bem como a necessidade de ter o nosso
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e
Consentimento aprovado e publicado;
2
BASE JURIDICA DO DIREITO FUNDAMENTAL À
CONSULTA E CONSENTIMENTO
2.1 O Direito Fundamental à Consulta e Consentimento está
garantido na Convenção n° 169 da OIT, sobre os Povos Indígenas
e Tribais que é lei no Brasil desde 2004 (Decreto Presidencial nº
5051/2004 e posteriormente consolidada pelo Decreto Presidencial
n° 10.088/2019);
2.2 A Convenção n° 169 da OIT, estabeleceu que: “Artigo 1. A presente
Convenção aplica-se a: a) povos tribais em países independentes
cujas condições sociais, culturais econômicas os distingam de outros
segmentos da comunidade nacional e cuja situação seja regida,
total ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou
por uma legislação ou regulações especiais”;
2.3 A Convenção n° 169 da OIT desperta um sentimento de pertença,
precisamos nos ver como moradores, amar o lugar, fazer com que a
comunidade cresça;
2.4 Dispõe o artigo 6º, §1°, “a” da Convenção n° 169 da OIT,
que: “na aplicação das disposições da presente Convenção, os
governos deverão: a) consultar os povos interessados, por meio de
procedimentos adequados e, em particular, de suas instituições
representativas, sempre que sejam previstas medidas legislativas
ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente”;
2.5 Desta forma, deve o Estado em se tratando de ato administrativo
ou legislação efetivar como sujeito passivo o “Direito Fundamental à
Consulta e Consentimento” com base na Convenção n° 169 da OIT e
nas demais normas do “Bloco Normativo Internacional”
2.6 Desta forma, deve o Estado ou terceiros interessados em
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 8
quaisquer hipóteses anteriormente a adentrar ou planejar ações
ou omissões que afetem, impactem, interfiram, modifiquem nosso
modo de vida e território, solicitar nosso pronunciamento para que
possamos informar se o procedimento de consulta e consentimento
se refere a Convenção n° 169 da OIT ou a outra normativa
internacional que integra o “Bloco Normativo Internacional”
especificamente;
2.7 Desta forma, nenhum diálogo com o Território Tradicional
Ribeirinho do Rio Xingu/PAE Santo Afonso será iniciado sem que
o interessado pessoa física ou jurídica declare expressamente ou
por escrito que concorda e reconhece todos os termos do “Nosso
Protocolo” ou de outras normas não escritas ou escritas em vigência
em nosso território;
2.8 Desta forma, nenhum diálogo com o Território Tradicional
Ribeirinho da Rio Xingu/PAE Santo Afonso será iniciado sem que
o interessado pessoa física ou jurídica proceda da mesma forma
e simultaneamente com o Território Ribeirinho do Rio Xingu e com
o Território Ribeirinho do Igarapé Vilar, que integram a totalidade
Projeto de Assentamento Agroextrativista/PAE Santo Afonso,
titulado desde 22 de novembro de 2005;
2.9 Desta forma, todos os diálogos a serem realizados com o
Território Tradicional Ribeirinho da Rio Xingu/PAE Santo Afonso,
com o Território Ribeirinho Igarapé São José e com o Território
Ribeirinho do Igarapé Vilar, que integram a totalidade do Projeto
de Assentamento Agroextrativista - PAE Santo Afonso devem levar
em conta os princípios e práticas ancestrais das comunidades que
vivem neste Território, observando ainda a integração, unidade e
totalidade do PAE Santo Afonso;
2.10 Desta forma, nossas normas ancestrais e tradicionais são a
expressão do nosso Direito Fundamental à Autodeterminação;
2.11 Desta forma, todos os diálogos a serem estabelecidos com o
Território Tradicional Ribeirinho da Rio Xingu/PAE Santo Afonso
devem observar as metodologias expressas em nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade ou de outras normas não
escritas ou escritas em vigência em nosso território e em diálogo
9 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
com as demais comunidades que integram o PAE Santo Afonso;
2.12 Desta forma, os diálogos que não observem a estrutura e o
modelo de tomada de decisão descritos nesta norma procedimental
não serão válidos;
2.13 Desta forma, entendemos que Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade fortalece o Território Ribeirinho do
Rio Xingu, o Território Ribeirinho Igarapé São José e o Território
Ribeirinho do Igarapé Vilar, que integram a totalidade Projeto de
Assentamento Agroextrativista - PAE Santo Afonso em sua luta pela
preservação de seus territórios e direitos;
2.14 Desta forma, entendemos que Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade ressalta a necessidade de ação coletiva
para fazer valer seus princípios e disposições;
2.15 Desta forma, entendemos que Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade não é apenas um documento, mas uma
expressão do poder e da determinação do Território Ribeirinho do
Rio Xingu, o Território Ribeirinho Igarapé São José e o Território
Ribeirinho do Igarapé Vilar, que integram a totalidade Projeto de
Assentamento Agroextrativista - PAE Santo Afonso em defender sua
autodeterminação e identidade;
2.16 Desta forma, afirmamos que o Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade do Território Ribeirinho do Rio Xingu
se constitui em um dos instrumentos jurídicos de natureza
escrita pelo qual buscamos exercer nosso Direito Fundamental à
Autodeterminação e Autonomia;
2.17 Desta forma, afirmamos que o Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade do Território Ribeirinho do Rio
Xingu, juntamente com os Protocolos Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade do Território Ribeirinho Igarapé São José e do
Território Ribeirinho do Igarapé Vilar, que integram a totalidade
Projeto de Assentamento Agroextrativista - PAE Santo Afonso
são norma procedimental que estabelece como desejamos ver
efetivado nosso “Direito Fundamental à Consulta e Consentimento”
pelo Estado/Governo nas hipóteses de atos administrativos ou
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 10
legislações Municipais, Estaduais ou Federais que venham a afetar,
impactar, interferir, modificar e/ou alterar “nosso território” ou modo
de vida;
2.18 Desta forma, pelas normas estabelecidas neste documento,
cabe ao Território Ribeirinho do Rio Xingu definir o nível e o tipo de
afetação;
2.19 Desta forma, afirmamos que o todas as nossas decisões são
tomadas de forma coletiva e em conformidade com este Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade ou com outras normativas
não escritas ou escritas por nós indicadas;
3
AUTOIDENTIDADE DO TERRITÓRIO TRADICIONAL
RIBEIRINHO DO RIO XINGU DO PAE SANTO AFONSO
DAS ILHAS DE ABAETETUBA
3.1 Somos ribeirinhos da Comunidade do Rio Xingu, habitamos este
território há mais de 180 anos;
I. Somos pescadores, extrativistas, artesãos e agricultores;
II. Vivemos e dependemos deste Território para a manutenção
do nosso modo de vida tradicional, que se baseia na vivência
harmoniosa com a Natureza;
III. Aqui vivem mais de 200 famílias que habitam as duas
margens do Rio Xingu, incluindo as áreas:
a) Área do Xinguzinho;
b) Área do Tauarí;
c) Área do Igarapé Samaúma;
d) Área do Jupatí; e
e) Área do Braço;
11 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
IV. Fazemos parte do Projeto de Assentamento Agroextrativista/
PAE Santo Afonso, titulado desde 22 de novembro de 2005,
composto também pelas Comunidades de Igarapé São José e
Igarapé Vilar.
3.2 Segundo relatos da senhora Raimunda Amaral, que ouvia
narrativas de seu pai Quintiliano Benicio do Amaral, o primeiro
morador da comunidade chamava-se Xingu e pertencia à etnia
indígena Tuxaua;
I. O Senhor Xingu chegou no território em meados de 1840,
fugindo do movimento popular que ficou conhecido como
“Revolta da Cabanagem” que aconteceu na Província do Grão-
Pará, entre os anos de 1835 e 1840;
II. O Senhor Xingu trouxe sua família, além de animais e objetos
que possuía, assim, foram se constituindo e por meio de seus
descendentes foram povoando o Rio, que ficou conhecido como
“Tribo Xinguara”, o qual mais tarde passaria a se chamar de
“Rio Xingu”;
III. Desse povoamento surgiram as seguintes famílias:
a) Ferreira;
b) Teixeira (vinda do Marajó);
c) Figueiredo;
d) Maués;
e) Castro;
f) Rocha;
g) Silva;
h) Cavalheiro;
i) Lobato;
j) Monteiro;
k) Costa;
l) Amaral;
m) Sarges;
n) Baia;
o) Vieira;
p) Gonçalves;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 12
q) Luz;
r) Cordeiro;
s) Sousa;
t) Camarão;
u) Souza;
v) Soares;
w) Paes;
x) Pessoa;
y) Passos;
IV. A “Família Ferreira” sempre foi conhecida como “Família
dos Coroca”, nome que se remete à uma espécie de pássaro
preto, que quando se encontra em bando, costuma fazer muito
barulho;
3.3 No ano de 1963 as terras que pertenciam ao Senhor Mercindo
Maués foram vendidas para o Senhor Plácido Monteiro Baia que
veio da comunidade de Tauerá de Beja, também localizada no
Município de Abaetetuba;
3.4 Um Senhor que se chamava Rochito já estava no terreno e se
negou a sair gerando uma certa divergência entre eles por conta
da posse do terreno, depois de muitos conflitos entre “Rochito e
Plácido”, “Rochito” desistiu e foi morar para a cidade de Abaetetuba;
3.5 Nesse tempo as famílias viviam das seguintes atividades:
Roça (produção de farinha e cana), extração da Seringa, colheita
de Ucuuba e Andiroba, onde nessa época a comercialização dos
produtos acontecia por meio da troca;
3.6 Na década de 70 a atividade mais realizada era a “cortação” da
lenha, cuja finalidade era vender e arrumar dinheiro para se manter,
como também, para comprar um pedaço de “fazenda” (tecido) e
fazer uma roupa para ir na festa;
3.7 Quase toda produção de lenha, coletas de sementes e outras
produções da comunidade eram vendidas para o Senhor Deca
Viana que tinha um comércio no rio Urubuéua Fátima. Mas, também
vendiam no próprio Xingu para um comerciante chamado de
Marcos da Luz.
13 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
4
NOSSA CULTURA, COSTUMES, ECONOMIA, SAÚDE
TRADICIONAL, COSMOLOGIA, RELIGIOSIDADE,
VIVÊNCIAS E MODO DE VIDA TRADICIONAL
4.1 Nas formações realizadas na comunidade passamos a conhecer
o “Bloco Normativo Internacional” e a entender que “Nossa Cultura
e Modo de Vida Tradicional” podem ser bens jurídicos materiais
e imateriais sendo protegidos pela Declaração Universal sobre
a Diversidade Cultural (2001), Convenção Sobre a Proteção e
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005) e pela
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (2015),
devendo o Estado ou qualquer pessoa física ou jurídica respeitá-los;
4.2 O respeito sempre foi uma das bases forte de nossa comunidade,
no entanto, antigamente o respeito era maior em tudo, os filhos
só faziam algo se fosse com a permissão do pai e da mãe, tinha
a tradição da benção pela manhã no horário do almoço e à noite,
assim quando fosse sair de casa;
I. Era pedido permissão em tudo, até para tomar banho e era a
mãe que escolhia a roupa para o filho vestir;
II. Quanto ao namoro, era bem diferente dos dias atuais,
geralmente acontecia nas festas e às escondidas, devido a
rigidez dos pais, os casais usavam bilhetes para se comunicar
e quando namoravam próximo dos pais, não tinha abraço, nem
beijo e eram muito vigiados;
III. Naquela época, as festas eram anunciadas por meio dos
foguetes, a direção do barulho indicava onde iria acontecer,
sendo uma forma de comunicação para as pessoas que
gostavam de participar;
IV. Tinha também as festas somente para quem fosse convidado,
nesse caso o convite era feito de casa em casa;
V. As meninas não podiam dançar por muito tempo só com
uma pessoa;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 14
VI. Nesse tempo, os idosos jantavam e dormiam cedo;
VII. O modelo da calcinha que as mulheres usavam tinha mais
de dez botões;
VIII. As casas eram feitas de paxiúba, emparedadas com miriti
e cobertas de palha;
IV. O transporte era de canoa a vela e a remo, onde a viagem
para a cidade era feita à remo, geralmente saiam por volta das
2 horas da madrugada e gastavam em torno de duas ou três
horas de tempo para chegar;
V. É memorável também que no dia 07 de setembro, as pessoas
apresentavam-se em desfiles em outras comunidades, porém,
hoje, essa tradição já não existe;
4.3 A primeira religião que existiu na comunidade foi a Católica,
segundo relatos orais dos moradores da comunidade, data-se por
volta de 1930, que cultuavam por meio das rezas antigas, como a
ladainha;
4.4 Festejavam na casa do Senhor Elói Cordeiro Figueredo a
imagem de Nossa Senhora de Nazaré;
4.5 A família Gonçalves festejava a imagem de São Pedro na
comunidade e São Miguel também era festejado, este era trazido de
Beja pelo Sr. Esperdião que morava no Xinguzinho;
4.6 A devoção por Santo Afonso como padroeiro da comunidade
católica iniciou-se através da vinda de um padre na comunidade,
chamado Afonso que era originário de Roma o qual disse que
mandaria um dinheiro para ajudar na construção da Igreja, todavia
não mandou o dinheiro, mas enviou uma pedra de mármore com
a escrita do nome “Santo Afonso”, assim, o Santo passou a ser o
padroeiro da Comunidade Católica;
4.7 No tempo do Padre Valeriano aconteceu uma missa na
comunidade, ele propôs a ideia de construção da Igreja Católica;
15 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
4.8 No dia 12 de março de 1970 foi realizada a primeira celebração
pelos moradores da Comunidade;
4.9 Por intermédio do Senhor Pedro Ribeiro de Araújo, começaram
a fazer os primeiros bingos, ele arrecadava materiais e articulava os
bingos com a ajuda da comunidade afim de angariar dinheiro para
a construção da Igreja;
4.10 A primeira catequista, foi a Senhora Raimunda Amaral, no
período do Padre Valeriano, esta recebeu uma carta convite do
então Padre Valeriano para participar de um curso para desenvolver
catequese na comunidade;
I. Ao retornar desse encontro, ela reuniu com algumas pessoas
e formaram a primeira coordenação da comunidade, composta
por: André Figueiredo, Benedita Costa, Sebastião Alfaia, Odete
Cavalheiro, Teodorico Cavalheiro, Luiza Figueiredo, Idalina
Figueiredo, Maria Gorete Vieira e como líder/coordenadora a
Dona Raimunda Amaral; André Figueredo;
II. A Comunidade Eclesial de Base também foi fundada na
comunidade;
4.11 A religião Evangélica Assembleia de Deus também se configurou
na comunidade, entre os anos de 1960 e 1970, tendo o Senhor Mestre
Afonso Ferreira e Zacarias como um dos fundadores;
I. Antes da construção da Igreja, os cultos eram realizados
na casa da Dona Cecília de Jesus Teixeira Amaral, por uma
comissão que vinha de Guajará de Beja;
II. A primeira Igreja Evangélica foi construída no terreno do
Senhor Afonso Ferreira, conhecido como “Fidoca” que era filho
do “Mestre Afonso”;
4.12 Também existiam os curandeiros, as benzedeiras, os pais e
mães de Santo e os pajés desde a década de 1975. São eles:
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 16
I. Pais, Mães de Santo e Pajés: Mercindo Silva (que vinha do
Urubuéua fazer os trabalhos), Sebastião de Alfaia (Sabá),
Angélica Gonçalves conhecida como Dona Giloca, o Senhor
Lázaro Gonçalves e Ervira Machado Rocha conhecida como
Neca (esta exerce essa função até os dias atuais);
II. As benzedeiras e benzedores: Antônio Sapucaia, Raimunda
Verde, Lázaro Gonçalves, Angélica Gonçalves (Giloca), Sebastião
Alfaia e Ervira Machado Rocha (Neca); Maria Amaral;
III. As parteiras: Raimunda Gonçalves (Dona Belica), Epolina
Cavalheiro (Lodica), Sofia Alfaia, Nilza da Luz (Dona Zazá),
Sebastiana Benício (Tia Sabá), Dona Leuda, Maria Carolina
Sarges e Dona Raimunda Almaral; Mariquinha Cordeiro;
4.13 Na comunidade, os partos eram realizados pelas parteiras,
mulheres com profundo conhecimento e experiências nos
nascimentos das crianças, considerados as “médicas da terra”,
Conhecedoras do Conhecimento Tradicionalmente Associado dos
Remédios de Ervas Tradicionais, mais conhecidos como “Remédios
Caseiros”, a primeira parteira na comunidade foi a dona “Belica”
que atualmente tem 100 anos e reside agora no Marajó;
4.14 A dona Raimunda Amaral, conhecida como “Raimundinha” ou
“Mundiquinha”, foi quem iniciou as atividades na área da saúde a
partir da década de 1970, mais especificamente em 1972;
I. Dona “Raimundinha” trabalhou durante oito anos sem
remuneração, atendendo de forma voluntária;
II. Em 1980 a comunidade construiu uma casa para Dona
“Raimundinha” realizar seus atendimentos;
III. Em 1990 foi construído pela prefeitura de Abaetetuba um
posto de saúde, sendo inaugurado em 16 de agosto do mesmo
17 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
ano pelo prefeito da época o Sr. João de Deus, só então que Dona
Raimunda Amaral, que já trabalhava de forma voluntária, foi
contratada para trabalhar no posto de saúde da comunidade;
4.15 Dessa forma, se configura a cultura religiosa em nosso Território;
4.16 Ao longo do tempo buscamos nos organizar e lutar pelos
nossos direitos, para por visibilidade à nossa existência, pelo apoio
dos governantes, por respeito à nossa história e tradição e pela
efetivação de nossos direitos;
4.17 Não é fácil lutar por direitos e dar visibilidade à nossa
existência, são muitos os desafios para que nossas necessidades
sejam alcançadas, contatamos ao longo do tempo que o acesso aos
direitos básicos é precário;
4.18 Por meio da organização comunitária e resistência, enquanto
elemento social, político, jurídico e cultural já alcançamos conquistas
para o território, fruto da união coletiva de nossos moradores, as
quais motivam a construção e a busca da efetivação das nossas
práticas descritas neste Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade de e em outros documentos por nós construídos ou
nas nossas práticas:
I. No ano de 1980, a Comunidade construiu uma casa e chamou
de “Posto de Saúde”, também nesse ano foi a construção do
primeiro prédio da Escola Santo Afonso, construído de madeira;
II. No ano de 1986, ocorre a fundação da AMIA (Associação
dos Moradores das Ilhas de Abaetetuba), tendo o Sr. Amiraldo
Figueiredo que já era professor na comunidade participado
da comissão fundadora da associação, transformando-se em
sócio fundador;
III. No ano de 1987, ocorreu a criação da Paróquia das Ilhas;
IV. No ano de 1990, foram realizados os primeiros cadastros dos
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 18
pescadores na Colônia Z-14, tendo como primeiro capataz o seu
Amantino Soares junto com a equipe que atuava nas atividades,
tendo ocorrido também o processo de assinatura do primeiro
seguro defeso na comunidade;
V. No ano de 1990, os professores da comunidade tiveram acesso
ao “Projeto Gavião”, sendo uma importante oportunidade
para se capacitarem na função que já vinham exercendo e de
concluírem seus estudos;
VI. No ano de 1990, a Prefeitura reconheceu a casa construída
pelos moradores da comunidade como sendo um posto de
saúde;
VII. No ano de 1993 foi implementado a educação Infantil na
comunidade pelo projeto Creche Manutenção realizado pela
AMIA;
VIII. No ano de 1999, houve a chegada dos “Projetos de Reforma
Agrária” na várzea;
IX. No ano de 1999, ocorreu primeira reunião para discutir o
Projeto de Assentamento Extrativista (PAE), mobilizações em
Brasília e Belém;
X. No ano de 2003, se deu o início do Sistema Modular de Ensino
(SOME) na comunidade;
XI. No ano de 2005, se deu a criação do PAE Santo Afonso, com a
chegada de fomento, recebimento de alimentação, projetos de
manejo de açaizal, recebimento de máquinas de açaí e costura,
recebimento de ferramentas de trabalho (enxada, machado,
bota, rede, terçado, canoas e rabudo) e houve a construção de
102 casas;
XII. No ano de 2005 a moradora Rosiana Amaral Baia ingressou
no curso Pedagogia das Águas e os jovens Izaque Cavalheiro,
Josiclelson Cavalheiro, Orlandino Amaral e Florisvaldo Amaral
19 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
no curso Técnico Agrícola.
XIII. No ano de 2012, iniciou a especulação de compra de terras
no PAE Santo Afonso pela Empresa Cargill;
XIV. No ano de 2016 a Empresa Cargill compra o terreno e passa
a perseguir o Território em que a comunidade está presente,
iniciando-se assim os conflitos com o Território;
XV. No ano de 2016, ocorreu a reunião na Paróquia das Ilhas
sobre a Convenção n° 169 da OIT, com diversas organizações
da sociedade civil e com parceiros como o Núcleo de Direitos
Humanos da Defensoria Pública do Estado do Pará;
XVI. No ano de 2019 houve o início da construção e elaboração
do Protocolo de Consulta e Consentimento;
XVII. No ano de 2020, teve o início da Pandemia da Covid-19;
XVIII. No ano de 2022, temos a construção e ampliação da nova
Igreja Católica;
4.19 A base econômica da comunidade se desenvolvia a partir da
atividade de coleta de sementes, como ucuuba e andiroba, bem
como se faziam roças, cortavam lenha para vender nos engenhos
e olarias, plantavam cana, coletavam leite de seringa (o látex,
matéria-prima para produção da borracha), além da criação de
pequenos animais como galinhas, pato e porco;
4.20 O primeiro marreteiro de Açaí foi o Sr. Vital Vieira, morador de
Belém que comprava o Açaí na comunidade durante a década de
1980 e levava para vender em Belém, sendo que além dele existiam
outros marreteiros como o Sr. João Vieira e Sr. João Gonçalves
conhecido como “Buiado” que eram moradores da comunidade;
4.21 A pesca era feita com “panagem” de rede de lancear, matapi,
pari, cacuri, linha de mão, caniço, espinhel, gapuia e tapagem;
4.22 Vale destacar que até a década de 1980 existia muita fartura,
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 20
muitas riquezas em recursos naturais, porém, tinha muita pobreza
devido à falta de políticas públicas, nessa época não se pegava no
dinheiro, tudo era feito à base de troca;
4.23 Hoje nossas principais fontes de renda são: o Açaí, Palmito,
Pescado, Farinha, Artesanato, Fibra, Roça, Cacau, Programas
Sociais, Calafates, Pintores, Funcionários Públicos, Aposentados,
Viajantes, Pedreiros, Peconheiros, Debulhadeiras de Açaí,
Carpinteiros, Mecânicos, Cabelereiro, Manicure, Soldador,
Costureira, Comerciantes, Festeiros, Decoradoras e Freteiros;
4.24 Aqui Plantamos, Colhemos, Pescamos e desenvolvemos nossas
atividades respeitando o ciclo da Natureza;
4.25 Na comunidade tem um grupo de mulheres que produzem
cuias no método tradicional de tingimento com o Cumatê, são elas:
Dona Maria das Graças, Dona Maria Silva, Dona Cleonice Cavalheiro
e Dona Maria Célia; Jacira Ferreira;
4.26 Temos momentos de programações proporcionados pela
escola e pela comunidade, como as festas em comemoração ao Dia
das Mães e dos Pais, com brindes, doces, comidas e muita dança;
4.27 Também temos a festividade do padroeiro Santo Afonso, cuja
tradição é realizada no mês de novembro;
4.28 Ainda é possível ter presente na comunidade a prática do
sistema de trocas, além dos mutirões para as roças e manejo do
açaizal;
4.29 Temos a Igreja Católica e a Evangélica (Assembleia de Deus),
realizamos rezas de tradições para São Pedro e Santo Antônio e
contamos com os dons das benzedeiras Ervira Rocha (Dona Neca);
4.30 Hoje possuímos um maior acesso à educação se compararmos
aos tempos antigos;
I. Agora contamos com os rabeteiros para transportar os alunos,
assim como uma merenda de boa qualidade e professores da
21 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
própria comunidade;
II. Mantemos a tradição do uso de plantas medicinais para
tratarmos diversos tipos de doenças;
III. Há uma tradição muito forte de solidariedade e partilha, é
comum uma família presentear a outra como forma de amizade
e esse ato geralmente acontece por meio de alimentos, frutas,
entre outras formas de produção que costumam compartilhar;
IV. Importante evidenciar que no decorrer dos anos, novas
famílias foram se constituindo, são elas: Camarão, Assunção,
Amaral e Sousa;
4.31 Nossas principais formas de lazer, são os jogos em arena
e campo de futebol, banho no rio e festas dançantes, porém,
ressaltamos a ausência de políticas públicas de apoio à cultura e
lazer;
4.32 A comunidade Evangélica também realiza suas atividades,
tais como os cultos nos dias de terça, sexta e domingo, a escola
Bíblica de Férias (EBF), que acontece com as crianças no mês de
julho, o Congresso Geral do Círculo de oração dos jovens no período
de setembro a novembro;
4.33 Destacamos o Art. 8º da Convenção 169 da OIT, ressalta que
“na aplicação da legislação nacional aos povos interessados, seus
costumes ou leis consuetudinárias deverão ser levados em devida
consideração”;
4.34 Destacamos que as práticas ancestrais e costumeiras aqui
dispostas e amparadas pelo “Bloco Normativo Internacional”,
devem ser observadas, respeitadas e sua inobservância, ameaça,
interferência ou impacto constitui-se para nós um dano emocional,
psicológico, material e imaterial, em especial quando praticados
por pessoas jurídicas de direito público ou privado, enquadrando-
se no disposto pelas normativas da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), consolidadas pelo Decreto Presidencial n° 10.088 de
2019;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 22
4.35 Destacamos que para qualquer tipo de diálogo com nossa
comunidade deve ser respeitados nossos costumes, estejam eles
descritos ou não, observando-se a proteção concedida a eles em
especial aos imateriais dispostos no “Bloco Normativo Internacional”;
4.36 Destacamos que para quaisquer tipos de diálogo com nossa
comunidade deve ser apresentas as ameaças e intervenções aos
recursos naturais que são utilizados para nosso trabalho, lazer,
descanso, sustento, convivência familiar, memória, religiosidade,
reprodução cultural, reprodução política, reprodução política e
reprodução social e ambiental;
4.37 Destacamos que para quaisquer tipos de diálogo com nossa
comunidade, será respeitado nossa forma de valoração de nosso
território tradicional, que será feita a partir do nosso modo de vida
ancestral e das nossas realidades e conceitos, as quais podem estar
nesse documento, nas nossas memórias e de nossos ancestrais, em
outros documentos ou nas nossas práticas;
4.38 Desta forma, quanto a nossa memória, tradição, ancestralidade,
organização social e política amparados na legislação nacional
e internacional não permitimos qualquer ação ou omissão que
possa afetar, impactar, interferir as conquistas e direitos de origem
material ou imaterial;
4.39 Desta forma, qualquer política pública ou interferência externa
deve se adequar e respeitar o direito ancestral e tradicional relatado,
que corresponde a uma pequena parcela da nossa ancestralidade,
dispostas nesse item;
4.40 Desta forma, entendemos que violará nosso modo de vida
toda ação ou omissão do Estado ou de outras pessoas ou empresas,
entidades com CNPJ ou não que afetem, modifiquem, restrinjam
ou ameacem de diminuir ou extinguir alguns dos bens jurídicos
materiais ou imateriais fruto da nossa história e ancestralidade;
4.41 Desta forma, exigimos que qualquer avaliação de impacto ou de
afetação de nosso território e do nosso modo de vida, leve em conta
nossos conhecimentos ancestrais, nossa forma de organização, e
que seja tudo feito contando com nossa participação e supervisão,
23 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
devendo todos os processos e etapas serem transparentes e que
sejamos informados e opinemos sobre tudo direitamente, na forma
descrita nesta norma e nas que nós indicarmos;
4.42 Nosso modo de vida vincula-se diretamente com a Natureza,
devendo ser respeitado e observado, onde as normas aqui descritas
precisam ser interpretadas em conjunto com as formas como o
“Processo Administrativo Especial de Consulta e Consentimento”
ou outras formas de “Procedimento de efetivação do Direito
Fundamental à Consulta e Consentimento” deve ser realizada,
também descritas nesse “Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade”;
5 DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL À NOSSA
IDENTIDADE CULTURAL E COSTUMES ANCESTRAIS
5.1 Qualquer intervenção, medida administrativa ou legislação que
venha a impactar, afetar ou interferir em nosso modo de vida deverá
estar em conformidade com o “Bloco Normativo Internacional” em
especial com a “Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural
(2001)”, “Convenção Sobre a Proteção e Promoção da Diversidade
das Expressões Culturais (2005)” e com a “Convenção n° 169 da OIT
(1989);
5.2 Possuímos muitas potencialidades culturais e mantemos os
hábitos, costumes, saberes e tradições que herdamos dos nossos
antepassados e que constituem nossa identidade, onde a cultura
local é rica em tradições religiosas e festivas, enraizadas nas
famílias da comunidade:
I. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material as Novenas nas famílias;
II. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material a Festividade de padroeiro;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 24
III. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material o Círio mirim saindo da escola
Santo Afonso;
IV. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material os festejos nas famílias, festividade
de São Pedro; Santo Antônio; São João;
V. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material as Festinhas juninas, quadrilhas
das crianças;
VI. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material as Festas dançantes, festas das
mães e dos pais em datas comemorativas;
VII. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material os jogos de futebol, os aniversários;
VIII. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material a EBF dos Evangélicos e as festas
do círculo de oração;
IX. Constitui-se “Nosso Costume Ancestral” enquanto bem
jurídico imaterial e material a Festa do Boi-Bumbá, comidas
(açaí, peixe, frango, camarão, farinha, mucura, tatu, cutia), a
caça, o lanço, a pesca (peixe e camarão);
X. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral” enquanto
bem jurídico imaterial e material o assobiador, encantado,
curupira, caçador, matinta perera, lobisomen, boto, uiara,
homem do casco, rasga mortalha, cobra grande;
XI. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral” enquanto
bem jurídico imaterial e material quando falece alguém, a
comunidade católica reza o terço na família;
25 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
XII. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material o miritizeiro em pé
no rio é sinal que alguém vai morrer;
XIII. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material as famílias guardam
o luto de oito dias sem tocar nas plantas, sabão e material de
limpeza;
XIV. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material o grito da coruja
anuncia a morte de alguém da comunidade;
XV. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material quando falece
alguém na comunidade as famílias se reúnem a noite toda na
casa do falecido;
XVI. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material o boto costuma
perseguir as mulheres quando ficam sozinhas;
XVII. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material as famílias
costumam fazer mutirão e troca de trabalho;
XVIII. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material quando as mulheres
estão menstruadas, não tomam banho no rio;
XIX. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material costumam
emprestar dos vizinhos algo que estão precisando;
XX. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material a mãe natureza tem
a sua proteção;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 26
XXI. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material as famílias se
reúnem para ajudar alguém doente com cesta básica e com
dinheiro;
XXII. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material costumam fazer
chá para cuidar dos doentes, usando plantas medicinais da
comunidade;
XXIII. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material quando falece
alguém que frequenta a assembleia de Deus, os evangélicos
oram e leem a palavra;
XXIV. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material tem o costume de
mandar benzer a criança;
XXV. Constitui-se “Nosso Costume e Preceito Ancestral”
enquanto bem jurídico imaterial e material compartilham
comida com os vizinhos;
5.3 Desta forma, exigimos que qualquer avaliação de impacto ou de
afetação de nosso território e do nosso modo de vida, leve em conta
nossos conhecimentos ancestrais, nossa forma de organização, e
que seja tudo feito contando com nossa participação e supervisão,
devendo todos os processos e etapas serem transparentes e que
sejamos informados e opinemos sobre tudo direitamente, na forma
descrita nesta norma e nas que nós indicarmos;
5.4 Desta forma, exigimos respeito às nossas orientações e a
forma que nos relacionamos com nosso território e com os seres
que conosco habitam e que temos relação, não cabendo qualquer
interpretação que não seja a nossa sobre o nosso modo de ser e existir!
27 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
5.5 Destacamos que para qualquer tipo de diálogo com nossa
comunidade deve ser respeitados nossos costumes, estejam eles
descritos ou não, observando-se a proteção concedida a eles em
especial aos imateriais dispostos no “Bloco Normativo Internacional”;
5.6 Destacamos que para quaisquer tipos de diálogo com nossa
comunidade deve ser apresentas as ameaças e intervenções aos
recursos naturais que são utilizados para nosso trabalho, lazer,
descanso, sustento, convivência familiar, memória, religiosidade,
reprodução cultural, reprodução política, reprodução política e
reprodução social e ambiental;
5.7 Destacamos que para quaisquer tipos de diálogo com nossa
comunidade, será respeitado nossa forma de valoração de nosso
território tradicional, que será feita a partir do nosso modo de vida
ancestral e das nossas realidades e conceitos, as quais podem estar
nesse documento, nas nossas memórias e de nossos ancestrais, em
outros documentos ou nas nossas práticas;
5.8 Nosso modo de vida vincula-se diretamente com a Natureza,
devendo ser respeitado e observado, onde as normas aqui descritas
precisam ser interpretadas em conjunto com as formas como o
“Processo Administrativo Especial de Consulta e Consentimento”
ou outras formas de “Procedimento de efetivação do Direito
Fundamental à Consulta e Consentimento” deve ser realizada,
também descritas nesse “Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade”;
6
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUAS AFETAÇÕES PARA
A COMUNIDADE TRADICIONAL RIBEIRINHA DO RIO
XINGU
6.1 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que as
Mudanças Climáticas são alterações no clima a temperatura vem
aumentando cada vez mais, já não costuma chover muito no inverno
e mesmo quando chove o calor continua intenso;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 28
6.2 Devido a elevação da temperatura, está sendo difícil pescar no
Lago do Pirí durante o dia, é preferível realizar a noite ou no final da
tarde;
6.3 Outro causador dessas mudanças é o aumento do uso de
motores a diesel e gasolina que provocam muito barulho nas águas
e erosão das margens, afugentando os peixes e o camarão de
dentro do rio por conta da “tipitinga”;
6.4 Atualmente os frutos estão secando nas árvores como o Açaí;
6.5 Além da redução do peixe e camarão e o desaparecimento de
algumas espécies como o bacu, este quando encontrado, percebe-
se que diminuiu de tamanho;
6.6 Também tem as pragas nas roças que vem causando um
desiquilíbrio ambiental, como a lagarta que no período de dezembro
de 2023 a janeiro de 2024 comeu uma quantidade de 10 braças da
roça, causando grande prejuízo;
6.7 Nosso Protocolo Comunitário-Autônomo-, deve ser aplicado
também às situações que envolverem como bens jurídicos os
dispostos na Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento
(1986), na Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB (1992), na
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima
(1992), Protocolo de Kyoto (vigor 2005), no Protocolo de Nagoya
sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição Justa e Equitativa
de Benefícios derivados de sua Utilização (2010) e no Acordo de
Paris (2015 – COP 21), dentre outros;
6.8 O Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade,
essencialmente, funciona como um advogado de defesa para nosso
território, fortalecendo sua capacidade de preservar o que têm e de
se fazerem ouvir diante das autoridades;
29 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
7
NOSSO DIREITO FUNDAMENTAL A EDUCAÇÃO
FORMAL E INTERCULTURAL COM RESPEITO
AO NOSSO MODO DE VIDA E A NOSSA
ANCESTRALIDADE
7.1 A Educação Cultural Local se desenvolve por meio da nossa
oralidade e ancestralidade juntamente com práticas educativas
com apoio do poder público, a primeira professora na comunidade
foi a Dona Nermita Ferreira que era paga pelo Município no final dos
anos 1950 e início dos anos 1960;
I. Depois da Dona Nermita o próximo a lecionar foi o Sr.
Nazeozeno Ferreira conhecido como “Dedé”;
II. Em seguida, foram as professoras Benedita Figueiredo
(Beloca) e Ermelita Amaral;
III. A partir da década de 1980, foram: Samaritana Figueiredo,
Ermelinda Amaral Monteiro, Marizete Amaral, Maria Rosinete
Baia, Romana Figueiredo e Amiraldo Figueiredo, esses foram
os professores da escola mista do Rio Xingu, que em algum
momento também se chamou de “Pátria Gentil”;
IV. Nesse tempo as escolas não tinham nome, não existia
prédio escolar as aulas aconteciam na casa das professoras
Ermelita Amaral e Benedita Figueiredo e a partir da criação
da comunidade Católica a escola passou a se chamar Santo
Afonso;
7.2 No ano de 2005 foi construída a primeira escola em alvenaria
denominada de Nossa Senhora da Conceição;
I. A partir dos estudos nessas escolas os pais dos alunos
apostaram na educação, os filhos são mandados a estudar na
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
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cidade para avançarem nos estudos, se aperfeiçoarem e depois
voltarem para contribuir com a comunidade;da comunidade
Católica a escola passou a se chamar Santo Afonso;
II. Logo no início os professores que lecionavam não tinham
formação, nem mesmo possuíam o ensino médio;
7.3 Na década de 1990 veio o “Projeto Gavião”, que foi uma
oportunidade de formação para os professores;
7.4 Ainda na década de 1990, foi implantado um projeto voltado
para a educação infantil chamado “Minha escola, minha casa”,
mantido pela Prefeitura de Abaetetuba, o qual atendia 45 crianças
e contava com as professoras Rosinete Baia e Marizete Gonçalves;
7.5 Em 1993 a professora Rosinete Baia passou a lecionar no Projeto
Creche Manutenção, mantido pela Associação dos Moradores das
Ilhas de Abaetetuba (AMIA);
7.6 Na década dos anos 2000 chega na comunidade o Sistema
Modular de Ensino (SOME), que também atendia os estudantes do
Igarapé São José e Tauari;
7.7 Nesse deslocamento, enfrentam muitos obstáculos, pois
diariamente precisam lidar com a dinâmica da natureza como
maresia, vento, chuva, tamanho da maré, dentre outras, o que obriga
a comunidade continuar lutando pela educação de qualidade em
nosso Território que é um direito nosso;
7.8 Destacamos que antes de qualquer intervenção, ato
administrativo, legislação que coloque em risco nosso modo de vida
em nosso Território, para iniciarmos qualquer diálogo deve
previamente o Poder Público Municipal, Estadual e Federal
implementar as políticas públicas básicas de Educação, Saúde e
Assistência;
7.9 Desta forma, em qualquer tipo de procedimento de efetivação
31 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
do Direito Fundamental à Consulta e Consentimento os entes
governamentais competentes devem adequar seus documentos e
instrumentos a serem consultados aos conceitos, categorias, signos
e significantes compreensíveis pelo modo de vida e pela cultura do
nosso Território;
7.10 Desta forma, em qualquer tipo de procedimento de efetivação
do direito fundamental à consulta e consentimento os entes
governamentais competentes devem realizar procedimentos
adequados em especial as crianças, adolescentes e juventudes;
7.11 Desta forma, em qualquer tipo de procedimento de efetivação
do direito fundamental à consulta e consentimento os entes
governamentais competentes devem adequar suas ações às
normativas exaradas pelo Conselho Nacional dos Direitos das
Crianças e do Adolescentes (CONANDA) e de outros conselhos de
direitos no tocante ao direito de crianças e adolescentes de Povos e
Comunidades Tradicionais;
7.12 Desta forma, em qualquer tipo de procedimento de efetivação
do direito fundamental à consulta e consentimento os entes
governamentais competentes devem garantir que os processos
ocorram nas Escolas, devendo garantir que a construção de quaisquer
documentos pela comunidade escolar seja realizada de forma
LIVRE, PRÉVIO, INFORMADO e ADEQUADO PEDAGOGICAMENTE;
8
PRINCIPAIS AMEAÇAS E AFETAÇÕES E
POTENCIALIDADES VIVENCIADAS QUE AMEAÇAM
NOSSO MODO DE VIDA E A NATUREZA
8.1 No decorrer do tempo muita coisa tem mudado em nosso
território em decorrência das consequências causadas pelos
grandes empreendimentos, sobretudo pelo crescimento
desenfreado do agronegócio que vem alterando o clima no planeta
e consequentemente influenciando e prejudicando o nosso modo
de vida;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 32
8.2 A fala do Professor Amiraldo Figueiredo, morador da comunidade
representa uma parcela do nosso pronunciamento coletivo, que ecoa
e se enraíza neste documento, devendo ser levado em consideração
para o diálogo com nosso Território: Nós ribeirinhos temos algo
em comum, nossas vivências, nossos trabalhos, nossas formas
de acolher e receber as pessoas. Mas hoje nós temos ameaças,
preocupações, que os nossos antepassados não tiveram”;
8.3 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
principal ameaça que temos no momento é a Empresa Cargill,
que mesmo não estando instalada vem causando adoecimento
psicológico nas pessoas;
8.4 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que as
Empresas de Barcarena ameaçam os rios, peixes, camarão, causam
doenças como coceiras, diarreia, perda da visão;
8.5 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que boias,
balsas e barcaças ameaçam os territórios pesqueiros, trazem em
suas barcaças uma espécie invasora identificado como “mexilhão
dourado”, este que vem se reproduzindo na nossa região ocasionando
extinção de espécies locais, danificado nossas embarcações e
prejudicando nossas matas ciliares;
8.6 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
Empresa Bertolini ameaça nosso Território;
8.7 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que as
mudanças climáticas provocadas pelas queimadas, empresas,
fazendas de gado são ameaças ao nosso território;
8.8 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que Rio
secando é uma ameaça para nosso Território e nosso modo de vida
tradicional;
33 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
8.9 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que
queimadas que afugentam as caças e colocam em extinção
algumas espécies como a preguiça rial e a guariba que viviam nas
árvores de grande porte, são uma ameaça para nosso Território e
nosso modo de vida tradicional;
8.10 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que está
diminuindo a quantidade de camarão e peixe, sendo uma ameaça
ao nosso Território e nosso modo de vida tradicional;
8.11 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a “boca
do rio” que era bem estreita, hoje está ficando muito larga e seca,
dificultando a saída de embarcações com a maré baixa, sendo uma
ameaça ao nosso Território e nosso modo de vida tradicional;
8.12 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que drogas
são uma ameaça ao nosso Território e nosso modo de vida
tradicional;
8.13 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que bebidas
alcóolicas e brigas em festas são ameaças para nosso Território e
para o nosso modo de vida tradicional;
8.14 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que
governos que não representam e nem atendem os anseios do povo
se constituem em ameaça para nosso Território e para o nosso
modo de vida tradicional;
8.15 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
ausência de políticas públicas de qualidade constitui em ameaça
para nosso Território e para o nosso modo de vida tradicional;
8.16 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 34
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
entidade da Colônia dos pescadores que não está na luta conosco,
apenas o secretário da comunidade que se faz presente nos
momentos de discussões constitui em ameaça para nosso Território
e para o nosso modo de vida tradicional;
8.17 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
poluição causada pelas empresas de Vila do Conde (Albrás/Hidro
Alunorte) constitui em ameaça para nosso Território e para nosso
modo de vida tradicional;
8.18 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
lavagem de roupa na beira do rio e o uso de produtos na lavagem
constitui em ameaça para nosso Território e para nosso modo de
vida tradicional;
8.19 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que o
desmatamento e a derrubada das árvores constituem em ameaça
para nosso Território e para nosso modo de vida tradicional;
8.20 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
queima do lixo e o descarte no rio constituem em ameaça para
nosso Território e para nosso modo de vida tradicional;
8.21 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que
desmatamento ocasionado pela Empresa Cargill que provocou
a expulsão dos animais de seus habitats, como os macacos que
estão descendo para a beira do rio, destruindo nossos frutos como
a bacaba, açaí e milho constituem em ameaça para nosso Território
e para nosso modo de vida tradicional;
8.22 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a
EMPRESA CARGILL é uma ameaça ao Lago do Pirí, e para nosso
modo de vida tradicional, que sempre foi um espaço de uso coletivo
35 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
da comunidade, hoje somos até proibidos de entrar, além da
presença de cerca que nos impede de adentrar.
8.23 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a falta de
médico na comunidade constitui em ameaça para nosso Território e
para nosso modo de vida tradicional;
8.24 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que a perda
de alguns aspectos culturais (costumes, “putirão”, histórias orais) – o
“putirão” significava o mesmo que mutirão constituem em ameaça
para nosso Território e para nosso modo de vida tradicional;
8.25 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que outra
ameaça é a pirataria e consequentemente a falta de segurança
pública constituem em ameaça para nosso Território e para nosso
modo de vida tradicional;
8.26 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que há
relatos de moradores que já viram uma lancha entrando à noite no
rio – entra devagar por volta das 00:00 hs, ninguém sabe quem é,
constituindo em ameaça para nosso Território e para nosso modo
de vida tradicional;
8.27 Durante as oficinas de construção do nosso Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade identificamos que outra
ameaça é o aumento do fluxo de rabudo dentro do rio que espanta
o camarão e o peixe constituem em ameaça para nosso Território e
para nosso modo de vida tradicional;
8.28 Reivindicamos a presença de médicos mensalmente na
comunidade, exames especializados, uma enfermeira no posto
local, construção de praças e cursos profissionalizantes;
8.29 Reivindicamos uma presença mais efetiva do Conselho Tutelar
Rural, fazer o enfrentamento contra o abuso e exploração e violência
sexual, combater a venda de bebida alcoólica para menores de
idade;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 36
8.30 Reivindicamos ter a presença da segurança pública e
assistência aos idosos;
8.31 Reivindicamos projeto para coleta e reciclagem do lixo, bem
como mais sistemas de tratamento de água potável;
8.32 TAMBÉM QUEREMOS O NOSSO TERRITÓRIO LIVRES DE
AMEAÇAS, não iniciaremos nenhum diálogo ou procedimento de
efetivação do Direito Fundamental à Consulta e Consentimento,
sem que antes as políticas públicas descritas neste item sejam
efetivadas ou que os órgãos estatais responsáveis declarem
compromisso de assumirem com suas responsabilidades legais;
9
BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS PELO PROTOCOLO
COMUNITÁRIO-AUTÔNOMO-BIODIVERSIDADE DE
CONSULTA E CONSENTIMENTO DO TERRITÓRIO
RIBEIRINHO RIO XINGU/PAE SANTO AFONSO
9.1 Nosso Território possui uma imensa riqueza em recursos naturais
que contribuem para a nossa existência, à essa riqueza de recursos
naturais entendemos enquanto bens jurídicos essenciais para
a manutenção do ecossistema que estamos inseridos e ao nosso
modo de vida ancestral e cultural;
9.2 Nossa vida é associada à dinâmica da Natureza, por isso,
respeitamos, cuidamos e defendemos tudo o que existe em nosso
Território, dessa forma, buscamos preservar todas as formas de
vida, para o Bem Viver coletivo e para as próximas gerações;
9.3 O nosso Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade,
além de assegurar nossos direitos, valoriza nossa cultura, garantido
o respeito a nossa identidade, ele garante o respeito ao nosso modo
de vida, aos nossos costumes, nossas tradições, serve para a defesa
de nossos territórios nossos recursos naturais, nossa biodiversidade,
sociobiodiversidade;
9.4 Queremos valorizar nossa história, que através do nosso
37 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade os governos e os
governantes, a sociedade e as empresas respeitem nossa opinião,
pois entendemos que o nosso Protocolo é a expressão prática do
nosso Direito Fundamental à Autodeterminação;
9.5 O Território Ribeirinho Rio Xingu/PAE Santo Afonso entende
como sendo “Bens Jurídicos Importantes para o Viver Bem” e que
merecem serem protegidos, respeitados e entendidos a partir
do nosso modo de vida o que denominamos de “Bens Jurídicos
Materiais e Imateriais Coletivos”;
9.6 Os “Bens Jurídicos Materiais e Imateriais Coletivos” abrangem
tudo o que é vital para a coletividade viver bem em nossa comunidade,
como nossas culturas, costumes, tradições e conhecimentos
tradicionais e ancestrais que nos capacitam a viver em equilíbrio
com a Natureza, reconhecida como sujeito de direitos, é imperativo
proteger, preservar e respeitar esses elementos, tanto por parte
dos governos quanto por aqueles que vêm de fora e podem não
compreender nossas realidades e formas de vida, que devem ser
protegidos, cuidados e respeitados, pelos governos e pessoas que
vem de fora, que não conhecem nossas realidades e modos de vida;
9.7 Apresenta-se sobre os Bens Jurídicos do Território Ribeirinho
do Rio Xingu/PAE Santo Afonso no qual considerando a importância
dos recursos naturais e culturais para a subsistência, qualidade de
vida e desenvolvimento das comunidades, bem como a necessidade
de proteção do meio ambiente para as gerações presentes e
futuras, destaca-se em nosso Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade que se pretende estabelecer a proteção dos Bens
materiais e imateriais da nossa Comunidade;
9.8 Considerando promover a proteção dos bens materiais
e imateriais da comunidade, seres humanos e não humanos
que se relacionam à “nossa forma de vida” e com elas vivemos
uma relação de “Harmonia, Interdependência, Reciprocidade,
Complementaridade e Comum” garantindo sua preservação para
as presentes e futuras gerações, lista-se os seguintes:
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 38
I. Matapi: Bem material e imaterial cultural, que contribui para
existência física, qualidade de vida, desenvolvimento e bem
coletivo da comunidade;
II. Espinhel: Bem material feito de nylon e anzóis utilizado para
pesca que contribui para a existência física, qualidade de vida,
desenvolvimento e bem coletivo sendo este um bem material e
imaterial cultural da comunidade;
III. Canoa, montaria, casco: Transporte de pequeno porte
utilizado por várias gerações na comunidade para deslocamento
em seu cotidiano, sendo este um bem material e imaterial
cultural da comunidade;
IV. Remo: Bem material utilizado para a locomoção das canoas,
montarias e casco;
V. Lago do Pirí: Bem coletivo (material e imaterial) pertencentes
ao PAE Santo Afonso, que contribui para a existência física,
qualidade de vida e desenvolvimento econômico das
comunidades, que abriga uma imensa socio biodiversidade e
encantados, como os “caçadores” que protegem a natureza,
que nós reconhecemos como sujeito de direito;
VI. Açaí: Bem coletivo, de uso comum, que contribui para
a existência física, qualidade de vida e desenvolvimento
econômico da comunidade, “Nosso ouro preto!” “O patrão da
comunidade”;
VII. Rio da foz à cabeceira, todos os Igarapés e seus braços
e baixas: Bem coletivo, de uso comum, que contribui para
a existência física, qualidade de vida, deslocamento e
desenvolvimento da comunidade;
VIII. Paneiros: Bem material e imaterial cultural, que contribui
para existência física, qualidade de vida, desenvolvimento e bem
coletivo da comunidade. Usado para armazenar e transportar,
peixes, camarão e açaí, mandioca e outras frutas;
39 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
IX. Poço de água: Bem material e cultural, que contribui
para existência física, qualidade de vida, e bem coletivo da
comunidade na busca de água potável;
X. Poço do igarapé: Bem material e cultural, que contribui
para existência física, qualidade de vida e bem coletivo da
comunidade usado para finalidade de pesca dentro do igarapé,
“Leito de procriação” de peixes, camarão e outras espécies;
XI. Árvores frutíferas e outras espécies: bens coletivos, de uso
comum, que contribui para a existência física, qualidade de
vida e bem viver da comunidade e harmonia com a natureza;
XII. Os diversos xerimbabos: Bem material, que contribui para
a existência física e qualidade de vida da comunidade. São os
animais criados no quintal aos redores da casa;
XIII. Os pedrais: Bem coletivo, da natureza, que protege as
comunidades das maresias, bem que contribui para a existência
física, qualidade de vida e desenvolvimento das comunidades,
pois abriga várias espécies de peixes e de reprodução, que nós
reconhecemos como sujeito de direito. São também “viveiros
ecológicos” e “territórios pesqueiros”. Cada pedral tem seu
nome e possuem espécies diferentes de peixe;
XIV. As praias: Bem imaterial, que contribui para a existência
física e qualidade de vida da comunidade. São também
territórios pesqueiros de peixes e mariscos;
XV. Os animais: devem ser preservados, pois contribuem para
a existência física e qualidade de vida da comunidade, além de
fazerem parte da cultura da comunidade;
XVI. Plantas medicinais: Bem cultural e coletivo, de natureza
material e imaterial, contribui para a existência física e
qualidade de vida da comunidade;
XVII. Campo de futebol: Bem cultural e coletivo, de natureza
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 40
material, contribui para a existência física e qualidade de vida
da comunidade;
XVIII. As visagens e os encantados: Bem cultural imaterial, que
protegem as florestas, que nós reconhecemos como sujeito de
direito;
XIX. O conhecimento tradicional: Bem imaterial, importante
para qualidade de vida e existência física da comunidade;
culturas, tradições e costumes;
XX. As Igrejas: Bem cultural e coletivo, de natureza material
e imaterial, contribui para qualidade de vida, Bem Viver e
religiosidade da comunidade;
XXI. As escolas: Bem coletivo, que contribui para a existência
física e qualidade de vida da comunidade;
XXII. Os peixes: Bem coletivo material, que contribui para
a existência física, qualidade de vida e desenvolvimento da
comunidade;
XXIII. Viveiro de camarão: Bem cultural e coletivo, de natureza
material, contribui para qualidade de vida da comunidade;
XXIV. Rasa: Bem coletivo (material e imaterial), instrumento
usado para colocar açaí, camarão e outras frutas, que
contribuem para a existência física e qualidade de vida da
comunidade;
XXV. Fogão a lenha: Bem cultural e coletivo (material e imaterial),
usado para fazer comida e contribui para a existência física e
qualidade de vida da comunidade;
XXVI. Lamparina: Bem cultural e coletivo (material), usado
para iluminação da casa. Funciona com óleo e querosene;
XXVII. Peneiras de amassar açaí e aguidar: Bem cultural e
41 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
coletivo (material e imaterial), usado para fazer o açaí e contribui
para a existência física e qualidade de vida da comunidade;
XXVIII. Rabeta e rabudos: Bem material, usado como transpor
para trabalhar e deslocamento da comunidade nos rios,
igarapés e baias, contribui também para a existência física e
qualidade de vida da comunidade;
XXIX. Baldes e cuias: Bem material e imaterial usado para
transportar, coletar água;
XXX. Os habitantes da comunidade: Sujeitos de direito que
cuidam, protegem, utilizam e usam o território como forma
de subsistência para sua existência física, qualidade de vida,
como reprodução cultural, econômica e de forma coletiva, que
reconhecemos nesse Protocolo a natureza como sujeito de
direito;
XXXI. Os territórios pesqueiros (praia, pedrais, igarapés e
baixas): Bem coletivo, material imaterial: Ponta da Pedra, Araru,
Bico da Pedra ou Ponta do São José, Três Paus, Cruinha, Siriúba,
o Baixo, Siripana, Entre-meio, Berço, Rodrigues, Furo do Capim,
Crua do Xingu, Pateta, Jabuti, Brandão, Poção, Tamborinho,
Boca do Igarapé Grande, Pirí, Jupati, Urucuri, Beirada da Praia,
Beirada, os Igarapés, os Pedras;
XXXII. Cabana ou Congar: Bem material e imaterial, lugar onde
a experiente benze as crianças;
XXXIII. Pajé: Bem material e imaterial, pessoa que possui um
dom sobrenatural e que benze as pessoas da comunidade;
XXXIX. Potes, bilhas e tinas: Bem material e imaterial usados
para depositar e armazenar água potável;
XXXX. Cuias: Bem cultural material e imaterial, utilizadas como
utensílios domésticos;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 42
XXXXI. Baldes de cuia: Bem material e imaterial utilizado para
transportar e armazenar água;
XXXXII. Casa de forno: Bem coletivo material e imaterial,
onde realizam a produção de farinha de mandioca e goma de
tapioca;
9.10 Todos os Pesqueiros do Maretório do PAE Santo Afonso são
bens coletivos, comuns, material e imaterial que contribuem para a
existência física, economia, cultural, espiritual e a qualidade de vida
da comunidade;
9.11 Aqui possuímos muitas espécies e formas de vida, como peixes
existentes no Lago Pirí, nos Igarapés, no Rio, e na Baía do Capim,
onde destacamos todas as espécies de peixes e demais espécies
que encontramos em cada um desses lugares:
I. No Lago do Pirí habitam seres não humanos dotados de direitos
pelos princípios descritos e por nós observados e de importância
para nosso território e maretório, aos quais se relacionam com
à “nossa forma de vida ancestral e tradicional” e com eles
vivemos em uma relação de “Harmonia, Interdependência,
Reciprocidade, Complementariedade e Comum”, assim os
denominamos partindo das nossas Normas Jurídicas, nossa
Cultura e Cosmologia Ancestral, sendo eles: Acará, Jiju, Traíra,
Sarapó, Cachorro de Padre, Pratinha (só existe no Pirí, porque
ela só se reproduz em água parada), Poraquê, Jacaré, Cobras,
Raposa, Aracu, Jacundá, Tucunaré, Tracajá, Jandiá, Tamuatá
(na região de Abaetetuba o Tamuatá só existe no Lago Pirí), no
Lago do Pirí é possível encontrar várias espécies de pássaros
como o Pato do Mato, Cigana e Garça, havendo também uma
espécie de palmeira nessa região chamada Caranã que só
existe no Pirí;
II. No Rio é onde encontramos muitas espécies de peixes,
habitam seres não humanos dotados de direitos pelos
43 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
princípios descritos e por nós observados e de importância
para nosso território e maretório, aos quais se relacionam com
à “nossa forma de vida ancestral e tradicional” e com eles
vivemos em uma relação de “Harmonia, Interdependência,
Reciprocidade, Complementariedade e Comum”, assim os
denominamos partindo das nossas Normas Jurídicas, nossa
Cultura e Cosmologia Ancestral, sendo eles: Acaratinga,
Tucunaré, Jacundá, Mapará, Mandubé, Mandií, Acari, Arraia,
Intuí, Pescada, Pirarara, Acaratipioca, Carataí, Bacu, Camarão,
Caramujo, Caracol, Turu, Jabuti, Ostra, Tralhoto, Baiacu, Amuré,
Maramassar, Jandiá, Araru, Peixe Agulha, Pirarucu, Aruanã,
Tambaqui, Boto, Jacaré, Lontra, Camarão;
III. Na Baía do Capim onde encontramos muitas espécies de
peixes, habitam seres não humanos dotados de direitos pelos
princípios descritos e por nós observados e de importância
para nosso território e maretório, aos quais se relacionam com
à “nossa forma de vida ancestral e tradicional” e com eles
vivemos em uma relação de “Harmonia, Interdependência,
Reciprocidade, Complementariedade e Comum”, assim os
denominamos partindo das nossas Normas Jurídicas, nossa
Cultura e Cosmologia Ancestral, sendo eles: Ostra, Filhote,
Dourada, Piaba, Mapará, Tainha, Arraia, Piraíba, Pescada,
Piramambú, Arapaia, Boto, Sarda, Mandube etc.
9.12 “Animais” seres não humanos dotados de direitos pelos
princípios descritos e por nós observados e de importância para
nosso território e maretório encontram-se ameaçados, habitam as
“Terras e Águas” se relacionam à “nossa forma de vida ancestral
e tradicional” e com eles vivemos uma relação de “Harmonia,
Interdependência, Reciprocidade, Complementaridade e Comum”,
assim as denominamos e descrevemos, a partir das nossas Normas
Jurídicas, nossa Cultura e Cosmologia Ancestral, sendo eles:
Mucura, Cutia, Veado, Paca, Soiá, Preguiça, Macaco, Tatu, Jacuraru,
Camaleão, Tamanduá, Guaxinim, Cigana, Gavião, Guariba,
Saracura, Quandu, Porco Espinho, Pato Do Mato, Raposa, Jacuruxi,
Jacarerana, Arancuã, Xinquã, Rolinha, Socó, Juruti, Papagaio, Jacu,
Pombo, Maracanã, Tucano, Sururina, Nambu, Cereja, Araçari;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 44
9.13 “Árvores/Floresta em Pé e Frutos do Mato”, seres não humanos
dotados direitos pelos princípios descritos e por nós observados e
de importância para nosso território que se encontram ameaçados,
habitam a “Natureza” se relacionam à “nossa forma de vida”, com
elas vivemos em uma relação de “Harmonia, Interdependência,
Reciprocidade, Complementaridade e Comum”, sendo elas: Piquiá,
Inajá, Tucumã, Sucupira, Andiroba, Angelim, Cedro, Loro, Pau D’arco,
Jacareúba, Marupá, Sorva, Pau Roxo, Pau Amarelo, Matamatá,
Quaruba, Mandioqueira, Jutaí, Ipê, Jatobá, Paxiúba, Arara, Fava,
Ucuuba, Seringueira, Magno, Cupiuba, Pau Mulato, Maúba, Parínari,
Quariquara, Preguiceira, Paroba, Chuá, Guajará Mirí, Massaranduba,
Siriúba, Mangueiro, Ananim, Amapá, Sucuúba, Miritizeiro, Ingá,
Tanã, Xurúzeiro, Cerú, Caranã, Castanheira, Sapucaia, Cumarú,
Mangueira, Goiabeira, Açaizeiro, Bacurizeiro, Jambeiro;
9.14 “Plantas Medicinais” seres não humanos dotados de direitos
pelos princípios descritos e por nós observados e de importância
para nosso território e maretório encontram-se ameaçados, fonte de
biodiversidade e de saber ancestral, habitam à “Terra e o Território”
se relacionam à “nossa forma de vida ancestral e tradicional” e
com elas vivemos uma relação de “Harmonia, Interdependência,
Reciprocidade, Complementaridade e Comum” utilizadas sob
esses princípios com a “medicina formal e acadêmica”, assim
as denominamos e descrevemos, a partir da nossa Cultura e
Cosmologia Ancestral, devendo este conhecimento ser respeitado
e protegido em conformidade com as leis nacionais e com o Bloco
Normativo Internacional, sendo elas: Arruda, Catinga De Mulata,
Hortelã, Pluma, Malva Rosa, Verônica, Sete Dores, Cebolinha, Babosa,
Anador, Coramina, Óleo Elétrico, Cana Ficha, Borboleta, Pariri,
Ourisa, Erva Cidreira, Canela, Capim Santo, Casca De Mamona,
Sucuuba, Amapá, Gengibre, Mel De Abelha, Japãna, Manjericão,
Pirarucu, Ortiga, Malvarisco, Boldo, Chicória, Fava, Quebra Pedra,
Jucá, Noni, Laranja Da Terra, Algodão, Pião (Roxo e Branco), Saúva,
Mucura Caá, Picão, Amoxilina, Lágrima De Nossa Senhora, Cipó
Alho, Escada De Jabuti, Manjerona Carmelitana, Sacai De Lua,
Barbatimão, Amor-Crescido e Favaca;
9.15 “Quintais Produtivos” tecnologia social e tradicional, bem
jurídico material e imaterial, associado aos conhecimentos
tradicionais e ancestrais, que habita à “Terra e Território” se
relacionam à “nossa forma de vida ancestral e tradicional” e
45 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
com eles vivemos uma relação de “Harmonia, Interdependência,
Reciprocidade, Complementaridade e Comum”, assim as
denominamos e descrevemos, a partir das nossas Normas Jurídicas,
nossa Cultura e Cosmologia Ancestral, sendo eles: Porco, Galinha,
Picote, Peru, Pato, Banana, Coco, Cupuaçu, Cacau, Bacaba, Limão,
Urucum, Ingá, Pupunha, Manga, Jerimum, Mamão, Goiaba, Acerola,
Laranja, Jaca, Tangerina, Caju, Biribá, Taperebá, Muruci, Maracujá,
Mandioca, Batata, Milho, Acará, Tomate, Cheiro Verde, Caruru,
Jambu, Carambola, Araçá, Fruta Pão, Avapão, Pimenta, Couve,
Pepino, Melão, Café, Cana, Jerimum, Maxixe, Quiabo, Limão Caiana,
Limão Da Cina E Baia, Melancia, Toranja, Jaca, Ginja, Jenipapo,
Batata-Doce, Graviola, Jutaí, Ajuru, Castanha, Abacate, Bacuri Pari,
Bacuri Açú, Piquiá;
9.16 Em razão de nosso conhecimento tradicional, de nossas
práticas tradicionais, culturais e econômicas destacamos que
nosso modelo de desenvolvimento se baseia no cultivo, plantação,
manejo, colheita, desenvolvimento e tratamento dos recursos e
bens naturais, materiais e imateriais, decorrentes do conhecimento
socioambiental e da sociobiodiversidade encontrado em
nosso território, madeireiro e não madeireiro a partir dos bens
elencados como sendo nossas potencialidades econômicas: Açaí,
Pesca, Roça, Carvão, Artesanato (Produção de Matapi, Peneiras,
Paneiros, Abanos, Tipiti, Aturá), Roçador, Peconheiro, Debulhadeira,
Funcionários Públicos, Carpinteiro, Calafate, Pedreiro, Freteiro,
Porco, Pato, Galinha, Manga, Costureira, Artesanato em Crochê,
Mulheres Produtoras de Cuia, Tapioca, Tucupi, Maniva-Maniçoba,
Macaxeira, Maxixe, Cana de Açúcar, Melancia, Plantas Medicinais,
Leite de Sucuuba, Leite De Amapá, Tucumã, Andiroba, Mel de
Abelha, Urucum, Bacaba, Serrador, Arena, Barracões De Festas,
Mecânico, Bacuri, Cacau, Acerola, Limão, Coco, Pupunha, Cupuaçu,
Marreteiros, Geleiros, Benefícios Sociais, Seguro Defeso, Mercearias,
Aposentados, Manicure, Cabelereiro, Venda de Ovo, Consertador de
Rede, Mecânico;
9.17 Além das frutas que consumimos, que comercializamos e dos
materiais que utilizamos na fabricação de artesanatos (paneiro,
rasa, aturá, tipiti, peneira), também criamos alguns animais como
galinha, picote, peru, porco e pato que contribuem para a nossa
própria alimentação, como em nossa renda familiar;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 46
9.18 Nosso território é habitado por diversos seres, os quais coabitam
e se relacionam com a Natureza a partir das nossas ancestralidades,
cosmologias e cultura, os quais entendemos a partir do estudo do
“Bloco Normativo Internacional” no caso do Brasil, como sendo
“Bens Jurídicos Imateriais” que devem ser protegidos e respeitados;
9.19 Cada um dos seres não humanos, visíveis ou não visíveis
descritos possuem seu espaço ou espaços dentro da Natureza e
do Território, devendo os agentes públicos ou privados observarem
as normativas expressas neste documento ou em outros por nós
elaborados, tais como pelo conteúdo normativo oral guardando em
nossa comunidade, que somente a nós caberá definir e traduzir;
9.20 Os danos cumulativos devem ser observados em qualquer
tipo de relação que os agentes públicos ou privados pretendam
formular, implementar ou operar cujo desenvolvimento possa afetar
nosso modo de vida tradicional;
9.21 Os danos cumulativos nunca são considerados, os crimes
socioambientais praticados no Complexo Industrial de Barcarena,
comprova que qualquer desastre ambiental (transbordamento
das bacias de rejeitos de minério, óleo e resíduos de agrotóxico, de
minério oriundo da lavagem dos porões dos navios ou das águas
de lastro, entre outros) que ocorra em Barcarena (nos complexo
industrial e Portos), atingindo as águas é passível de chegar até o
nosso Território pelos Rios, afetando a qualidade das águas que
boa parte de nossa população ainda utiliza para as atividades
domesticas e banho;
9.22 Exigimos que seja observado o “Bloco Normativo Internacional”
e as decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte
IDH) e dos relatórios da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH);
47 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
10
NORMAS JURÍDICAS CONSUETUDINÁRIAS FRUTO
DE NOSSA GESTÃO NO AMBIENTE INTERNO DA
COMUNIDADE DO RIO XINGU/PAE SANTO AFONSO
10.1 São regras na caça respeitar o tamanho e a quantidade a ser
adquirida;
10.2 Deve-se respeitar os terrenos individuais das famílias;
10.3 Deve-se respeito ao Território/Bem-Viver se alguém precisar
cortar uma árvore, deve plantar outra;
10.4 Deve-se buscar a reutilização das áreas de roças;
10.5 Deve-se respeitar o período de defeso (malhas e tamanho de
peixes);
10.6 Deve-se respeitar as nossas culturas, temos como visão “NÃO
À MONOCULTURA”!
10.7 Diminuir a velocidade das embarcações dentro do rio
(condução permitida somente acima dos 15 anos);
10.8 Deve-se Respeitar o momento de descanso das famílias
(poluição sonora, músicas altas, horário de funcionamento dos
bares e casa de festas);
10.9 Não tirar a descarga dos motores rabudos;
10.10 Não permitimos que pessoas de fora se apropriem da caça e
da pesca na comunidade;
10.11 Devemos padronizar a altura da linha de transmissão de
energia que atravessa os Rios e a Floresta;
10.12 É obrigação de todos respeitar, zelar e proteger os Lagos
dos Pirís como bem coletivo (material e imaterial) pertencentes ao
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 48
PAE Santo Afonso, que contribui para a existência física, qualidade
de vida e desenvolvimento econômico das comunidades, que
abriga uma imensa sociobiodiversidade e encantados, como os
“caçadores” que protegem a natureza, que nós reconhecemos
como sujeito de direito, bem como fica proibido neste protocolo a
queimada de qualquer espécie nos Lagos do Pirí.
11
PASSO A PASSO PARA O PROCESSO
ADMINISTRATIVO ESPECIAL DE CONSULTA E
CONSENTIMENTO
11.1 A jurisdição deste Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade atinge a “Família” de ambos os lados, direito e
esquerdo do Rio Xingu, abrangendo os dois assentamentos, PAE
Santo Afonso e PAE Nossa Senhora de Nazaré-Ilha Caripetuba
incluindo os Afluentes, os Igarapés e Braços, (Samauma, Igarapé
Braço, Igarapé Jupati e Costa Tauari) e o Xinguzinho;
11.2 Sujeitos do Direito Fundamental à Consulta e Consentimento
do Território Tradicional Ribeirinho do Rio Xingu – PAE Santo
Afonso, são toda a comunidade: Crianças, idosos, adolescentes,
jovens, adultos, parteiras, pescadores, mulheres, lavradores, ACSs,
técnico do posto de saúde, mulheres produtoras de cuia, todas
as religiões da comunidade, os clubes de futebol, carpinteiros,
calafates, comerciantes, freteiros, benzedeira, professores e demais
funcionários das escolas;
11.3 O Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade deve
proteger toda a biodiversidade, seja as terras, a água, o ar, as
nascentes, as famílias, os animais, o Pirí, o poder econômico e de
subsistência da comunidade, a cultura e a história do lugar, bem
como o modo de vida, a organização comunitária e a população em
geral do Rio Xingu;
11.4 Rito do Processo Administrativo Especial de Consulta e
Consentimento de Ato Administrativo e Legislação pelos órgãos
competentes:
49 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
a. A consulta deve ser realizada na comunidade;
b. Quando houver um ato administrativo ou legislativos que
venha afetar as culturas, costumes, tradições e conhecimentos
tradicionais escritos neste Protocolo, os governos devem nos
avisar antecipadamente a comunidade;
c. Apenas o órgão competente do governo deve realizar o
procedimento de efetivação do Direito Fundamental à Consulta
e Consentimento, nunca poderá ser efetuado por empresas ou
terceiros interessados que não sejam entes governamentais,
devendo ser observado a nossa interpretação e dos órgãos
competentes à respeito do da aplicação do “Bloco Normativo
Internacional”;
d. As informações sobre o ato administrativo ou legislativos
devem chegar por meio documento escrito em português,
vídeos, imagens e áudios, de forma bem visível, para toda a
comunidade ter acesso e compreender;
e. As informações devem ser enviadas previamente para a
coordenação do Protocolo, da igreja católica local e instituições
parceiras que a comunidade indicar viável receber;
f. Devem ser convidadas e chamadas a participar por grupos,
sendo eles: crianças, idosos, adolescentes, jovens, adultos,
parteiras, pescadores, mulheres, lavradores, ACSs, técnico do
posto de saúde, mulheres produtoras de cuia, todas as religiões
da comunidade, os clubes de futebol, carpinteiros, calafates,
comerciantes, freteiros, benzedeira, professores e demais
funcionários das escolas;
g. A coordenação do Protocolo de Consulta da comunidade
deve ser informada por meio de ofício, junto de documentos
com linguagem acessível e esclarecedora dos reais objetivos
da consulta, para que toda a comunidade possa compreender
e ficar totalmente por dentro do que se trata;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 50
h. Serão realizadas quantas reuniões forem necessárias, com
ou sem presença do governo, conforme a comunidade achar
necessário, até não restar mais nenhuma dúvida;
i. Nunca ter presença de empresas durante o processo
administrativo especial de consulta e consentimento, que
efetiva o Direito Fundamental à Consulta e Consentimento
Prévio, Livre e Informada;
j. As Assembleias de decisão devem ter pelo menos 70% do
quantitativo de famílias que residem na comunidade;
k. Deve o processo administrativo especial de consulta e
consentimento, que efetiva o Direito Fundamental à Consulta
e Consentimento Prévio, Livre e Informada respeitar o art.
6 da Convenção n° 169 da OIT: “O governo deverá consultar
a comunidade mediante procedimentos apropriados e,
particularmente, através de instituição representativas
suscetíveis de afetá-lo diretamente”;
l. O processo administrativo especial de consulta e
consentimento, que efetiva o Direito Fundamental à Consulta e
Consentimento deve observar os requisitos e elementos do ato
administrativo, da legislação e do projeto, qual seja serem: Livres,
Prévia, Informada, de boa-fé, podendo ser emitido vontade de
veto, concordância ou proposta de acordo, respeitando o tempo
da comunidade;
m. Somente a comunidade fará registros de fotos e vídeos,
pessoas de fora só farão se forem autorizadas.
n. A comunidade não tomará nenhuma decisão caso venha ser
pressionada pelo governo ou empresas.
11.5 Como nos organizamos e tomamos nossas decisões:
a. Nos organizamos de forma coletiva respeitando o tempo
51 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
individual de todos e o tempo da natureza (da maré, da lua, da
chuva);
b. Tomamos nossas decisões de forma coletiva e em assembleia
geral, através do diálogo com as famílias da comunidade e
respeitando a opinião de cada um;
c. Realizamos convites para todos os moradores, para estes
estarem ciente do que vai ser discutido;
d. Vamos na casa de cada morador convidando para participar
dos momentos formativos e informativos;
e. Avisamos e informamos previamente;
11.6 O que esperamos do Processo Administrativo Especial de
Consulta e Consentimento, que efetiva o Direito Fundamental à
Consulta e Consentimento:
a. Que o Processo Administrativo Especial de Consulta e
Consentimento, que efetiva o Direito Fundamental à Consulta e
Consentimento aconteça no tempo da comunidade;
b. Que o Processo Administrativo Especial de Consulta e
Consentimento, que efetiva o Direito Fundamental à Consulta
e Consentimento leve em consideração os anseios da
comunidade;
c. Que o Processo Administrativo Especial de Consulta e
Consentimento, que efetiva o Direito Fundamental à Consulta e
Consentimento, ao terminar o órgão solicitante deve respeitar a
decisão final da comunidade;
d. Que no Processo Administrativo Especial de Consulta e
Consentimento, que efetiva o Direito Fundamental à Consulta e
Consentimento todas as famílias sejam consultadas, incluindo
(crianças, idosos, adultos, adolescentes, jovens, homens e
mulheres);
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 52
11.7 A Coordenação Comunitária do Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade do Rio Xingu/PAE Santo Afonso,
organiza e coordena as reuniões, sendo formada pelas seguintes
representações:
a. Coordenação da comunidade Católica do Rio Xingu;
b. Representantes da igreja evangélica Assembleia de Deus;
c. Secretaria local da colônia dos pescadores Z-14;
d. Delegado (a) local do Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais;
e. Representação local do assentamento PAE Santo Afonso;
f. Representante de ACS (Agente Comunitário de Saúde);
g. Representante de professores (as) da localidade.
11.8 Quem paga os custos de todo processo de consulta de acordo
com o artigo 6º da Convenção n° 169 da OIT é o governo, que deve
fornecer todos os recursos necessários para a efetivação do Direito
Fundamental à Consulta e Consentimento;
11.9 O melhor período para acontecer a consulta será aos sábados,
desde que não seja em datas comemorativas ou momento cultural
da comunidade e que seja realizada no período de recesso, entre
janeiro e fevereiro para atingir o máximo de pessoas;
53 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
12 DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS
12.1 Ressaltamos que todas as reuniões serão realizadas na
comunidade, obedecendo a disponibilidade de seus moradores;
12.2 Não queremos que realizem nenhuma reunião, nem processo
de efetivação do Direito Fundamental à Consulta e Consentimento
no período da festividade de Santo Afonso, que acontece
tradicionalmente no mês de novembro, bem como não deve ocorrer
aos domingos e nos dias de cultos evangélicos (terça, sexta e
domingo);
12.3 Nenhuma decisão pode ser tomada de forma individual ou em
grupos, somente em Assembleia de forma coletiva;
12.4 Caso as decisões não estejam sendo respeitadas a comunidade
poderá suspender a qualquer momento os efeitos da decisão, até
que as demandas da comunidade sejam completamente atendidas;
12.5 Agentes da segurança pública e privada, polícia militar, civil e
federal, parlamentares de qualquer esfera ou partido político, outras
autoridades públicas só poderão participar das reuniões, rodas
de conversa e assembleias mediante solicitação da comunidade,
através de ofício encaminhado pela coordenação do Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade;
12.6 As imagens, filmagens e áudios só serão realizados mediante
autorização da comunidade. Ficando expressamente proibidos se
não pedirem autorização e a comunidade não permitir. Bem como,
é proibida qualquer tipo de publicação sem que a comunidade
autorize;
12.7 Só permitiremos a participação de parceiros se a comunidade
confiar, sentir que não trará nenhuma insatisfação e for autorizado;
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 54
12.8 Entendemos que Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade fortalece o Território Ribeirinho do Rio Xingu/PAE
Santo Afonso, o Território Ribeirinho do Igarapé Vilar e o Território
Ribeirinho Igarapé São José, que integram a totalidade Projeto de
Assentamento Agroextrativista/PAE Santo Afonso em sua luta pela
preservação de seus territórios e direitos;
12.9 Entendemos que Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade ressalta a necessidade de ação coletiva para fazer
valer seus princípios e disposições;
12.10 Entendemos que Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade não é apenas um documento, mas uma expressão do
poder e da determinação do Território Ribeirinho do Rio Xingu/PAE
Santo Afonso, o Território Ribeirinho do Igarapé Vilar e o Território
Ribeirinho Igarapé São José, que integram a totalidade Projeto de
Assentamento Agroextrativista/PAE Santo Afonso em defender sua
autodeterminação e identidade;
12.11 Afirmamos que o Protocolo Comunitário-Autônomo-
Biodiversidade do Território Ribeirinho do Rio Xingu/PAE Santo
Afonso constitui-se em um dos instrumentos jurídicos de natureza
escrita pelo qual buscamos exercer nosso Direito Fundamental à
Autodeterminação e Autonomia;
12.12 Pelas normas estabelecidas neste documento, cabe ao
Território Ribeirinho do Rio Xingu/PAE Santo Afonso definir o nível e
o tipo de afetação;
12.13 Afirmamos que o todas as nossas decisões são tomadas de
forma coletiva e em conformidade com este Protocolo Comunitário-
Autônomo-Biodiversidade ou com outras normativas não escritas
ou escritas por nós indicadas;
12.14 A decisão final sobre o ato administrativo, legislação, projeto
ou atividade objeto do procedimento administrativo especial
de consulta e consentimento, bem como todo o procedimento
realizado será informado à autoridade do governo solicitante a
respeito do objeto do procedimento de consulta e consentimento,
em conformidade com o que fora estabelecido no plano de consulta;
55 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
12.15 Este Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade admite
a utilização das normativas e preceitos previstos no Protocolo
Comunitário-Autônomo-Biodiversidade do Igarapé São José e do
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade do Igarapé Vilar;
Abaetetuba, 20 de abril de 2024
Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso 56
TERRA QUERIDA
Situado nas Ilhas de Abaetetuba
Está meu Rio Xingu
Privilegiado pelo nascer do Sol e, sua foz
Com o barulho das maresias em sua praia, parece ter voz
Rico por natureza, rico por sua beleza
Igual meu rio, outro não há
Formado por um povo simples, típico do lugar
Rio de gente acolhedora e trabalhadora
Seu passado nos leva ao presente
Preservar aquilo que é da gente
Aqui no meu Xingu, existe riquezas naturais
Temos o lindo lago do pirí e nossos açaizais
Também nossas caças e nossos animais
Te descrevo meu Xingu
Como paraíso natural
Rio como tu, não há outro igual
É como diz nosso ditado “Quem bebe de nossa água, fica
encantado”
Vou terminar dizendo, quem vem pra cá, logo quer voltar
Porque o Rio Xingu é um dos encantos de nosso Pará
Eu que sou morador daqui, sou suspeito pra falar
Mas você que vem nos visitar, pode muito bem avaliar
Se é ou não é lindo o nosso lugar?
AMIRALDO FIGUEIREDO
57 Protocolo Comunitário-Autônomo-Biodiversidade de Consulta e Consentimento Prévio, Livre,
Informado, Adequado, de Boa-Fé e de Veto do Rio Xingu/PAE Santo Afonso
REALIZAÇÃO
Comunidade Ribeirinha Rio Xingu
(PAE Santo Afonso)
ORGANIZAÇÃO
APOIO
PARCERIA