EXÉRCICIOS DE
INTERPRETAÇÃO DE
TEXTO
TEXTO 1 b) 3 - 1 - 4 - 2
c) 3 - 2 - 1 - 4
Divagação sobre as ilhas d) 2 - 3 - 4 – 1
Carlos Drumnond de Andrade
02 – Leia o texto a seguir.
Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de “Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá
um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não muito longe do tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei (...) /(...)
litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também que de lá Aqui eu não sou feliz / Lá a existência é uma aventura (...)”
possa eu aspirar a fumaça e a graxa do porto. Minha ilha (e só de (Manuel Bandeira)
a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto
de latitude e longitude, que, pondo-me a coberto de ventos, se- I- Em ambos os textos, o autor demonstra o desejo de fugir da
reias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me realidade concreta e adentrar uma realidade idealizada.
obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, II- Pode-se afirmar que o autor de “Divagação sobre as ilhas” se
direi, a arte do bem-viver; uma fuga relativa, e uma não muito opõe ao mundo real, pois afirma “aqui eu não sou feliz”.
estouvada confraternização. III- Pasárgada pode ser considerada um local perfeito para se
De há muito sonho esta ilha, se é que não a sonhei viver.
sempre. (...) IV- O recurso da antítese está presente na crônica “Divagação
E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra sobre as ilhas”.
e luz, o esmalte das relvas, a cristalinidade dos regatos – tudo
isso existe fora das ilhas, não é privilégio dela. A mesma solidão Está correto o que se afirma em
existe, com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclu- a) I e II.
sive os de população densa, em terra firme e longa. Resta ainda b) I e III.
o argumento da felicidade – “aqui eu não sou feliz”, declara o c) II e IV.
poeta, para enaltecer, pelo contraste, a sua pasárgada: mas será d) III e IV.
que se procura realmente nas ilhas uma ocasião de ser feliz ou
modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole extrema- 03 – Na crônica o autor
mente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em a) vivia uma realidade opressora e por isso desejava fugir para
terra comum? uma ilha distante.
Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma des- b) promove uma reflexão existencial tratando dos temas: amor,
sas excelências me seduz mais que as outras, nem todas juntas solidão e paixão pela vida.
constituem a razão de meu desejo. (...) c) desejava comprar uma ilha próxima ao litoral, pois assim po-
A ilha me satisfaz por ser uma porção curta de terra deria aspirar a fumaça e a graxa do porto.
(falo de ilhas individuais, não me tentam aventuras marajoaras), d) deseja, ao comprar uma ilha, ainda ter contato com as pesso-
um resumo prático, substantivo, dos estirões deste vasto mun- as, desde que esse contato não seja prolongado.
do, sem os inconvenientes dele, e com a vantagem de ser quase
ficção sem deixar de constituir uma realidade. 04 – A ideia principal do 5º parágrafo é a de que a ilha
Presença da Literatura Brasileira. Modernismo. 5a. edição.
a) agrada porque existe apenas na ficção.
b) satisfaz por ser uma realidade repleta de aventuras.
As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima. c) é uma representação desejada e reduzida do mundo.
d) apresenta aspectos idênticos aos existentes em terra firme.
01 – Considerando ilha versus cronista nos trechos, relacione as
colunas e, em seguida, assinale a alternativa com a sequência TEXTO 2
correta. Duelo
1 – “Quando me acontecer Eduardo Cajueiro
alguma pecúnia, passante
de um milhão de Razão e emoção: grande duelo.
cruzeiros, compro uma A qual das duas eu recorro mais?
ilha;” E qual das duas por certo me traz
2 – “(e só de a imaginar já me A estabilidade por que zelo?
considero seu habitante)” “Tens que ser forte”, diz-me a tal razão.
3 – “De há muito sonho esta “Foge das picuinhas do amor.”
ilha, se é que não a Mas como ter da vida algum sabor,
sonhei sempre.” Se uma andorinha só não faz verão?
4 – “E por que nos seduz a E ouço a ladainha entrementes:
ilha?” “Afasta-te do amor que logo sentes,
Pr’o teu juízo não retroceder.”
( ) É habitante do seu imaginário. Mas vem o coração pra decretar:
( ) É sua propriedade em potencial. “O amor que faz a gente se encontrar
( ) É seu objeto de atração e de fascínio. É o mesmo pelo qual se quer perder.”
( ) É sua residência.
a) 1 - 2 - 4 - 3
As questões de 01 a 03 referem-se ao texto acima. cipe porque estava apaixonada por um pastor louro de cabelos
cacheados que, todas as tardes, costumava aparecer na clareira
01 – Considerando o que se diz sobre o amor e suas na floresta. A ele, dera seu coração e somente a ele amaria.
características nos dois últimos versos, assinale a alternativa Não sei se inventei ou se li em algum canto essa história
que contém interpretação incorreta. cheia de lugares-comuns. Não importa. Não sou jovem nem pas-
a) Leva as pessoas à perdição. tor, não tenho cabelos louros e cacheados. Mas, todas as tardes,
b) É essencialmente contraditório. continuo indo à floresta para ver se me acontece alguma coisa.
O harém das bananeiras – Editora Objetiva – 1999
c) Conduz ao autoconhecimento e à loucura.
d) Propicia poucos encontros e muitos desencontros. As questões de 01 a 03 referem-se ao texto acima.
02 – Os questionamentos feitos pelo eu lírico apresentam seu 01 – Por que as expressões “lugar-comum” e “lugares-comuns”
desejo de aparecem, respectivamente, no primeiro e no último parágrafos
I- ser guiado somente pela razão. do texto?
II- obter equilíbrio e ser feliz acompanhado. a) Porque, nos contos de fada, não é comum os personagens
III- encontrar a felicidade por meio de um relacionamento serem loiros de cabelos cacheados.
amoroso. b) Porque a história é marcada por modelos e ideias muito co-
IV- ser auxiliado pela razão ou pela emoção e sentir prazer muns nos contos de fada.
pela vida. c) Porque o autor se justifica, afirmando que se inspirou em uma
história que já existe.
Está correto o que se afirma em d) Porque florestas e castelos são cenários comuns em todas as
a) I e IV. histórias antigas.
b) I, II e III.
c) II, III e IV. 02 – O pastor pediu para a fada transformá-lo em um príncipe
d) II e III apenas. para ele poder entrar no castelo porque
a) ele era muito pobre e queria enriquecer.
03 – O duelo presente no soneto evidencia-se por meio b) achava um absurdo ser um pobre pastor.
a) de um debate interno, cujo vencedor é o coração. c) apaixonou-se pela princesa e queria se aproximar dela.
b) de ordens dadas pela razão ao coração, que levam o eu d) queria se infiltrar no castelo e se transformar em um homem
lírico a resignar-se. nobre.
c) de um conflito do eu lírico, acostumado a recorrer à razão em
momentos difíceis. 03 – Assinale a alternativa que justifica o fato de a princesa ter
d) da personificação dos opostos razão e emoção, mas que dia- se recusado a beijar o jovem príncipe.
logam de maneira conciliável. a) Ela se apaixonou por um homem, e não pelo que ele poderia
representar.
TEXTO 3 b) O pai dela impôs-lhe um casamento por interesse com o prín-
cipe; e ela, por rebeldia, não aceitou.
O pastor e a princesa c) Quando percebeu que o pastor estava vestido como um prín-
Carlos Heitor Cony
cipe, ela descobriu que ele era um mau-caráter.
Um jovem pastor, de cabelos louros e cacheados (faça- d) Ela aceitou o pedido de casamento do pastor, por isso não
mos uma homenagem ao lugar-comum), andava pela floresta poderia assumir compromisso com outro homem.
quando, de repente, ao atravessar uma clareira, viu enorme e
formoso castelo. TEXTO 4
E, na torre mais alta, uma linda princesa de tranças
também louras e olhar sonhador. Os dois se olharam e, a partir Os filhos do quarto!
daquele momento, todas as tardes, o pastor ia à clareira e ficava Cassiana Tardivo – Psicopedagoga (Texto adaptado)
olhando a princesa, que também olhava pra ele.
Ele suspirava, sabendo que jamais poderia entrar no Antes perdíamos filhos nos rios, nos matos, nos mares;
castelo e ver de perto a princesa. Eis que, um dia, encontrou hoje os temos perdido dentro do quarto! Quando brincavam
uma velha na floresta carregando pesado feixe de lenha. O jo- nos quintais, ouvíamos suas vozes, escutávamos suas fantasias
vem pastor a ajudou, e a velha logo se transformou numa fada e e, ao ouvi-los, mesmo a distância, sabíamos o que se passava
disse que realizaria qualquer pedido dele. em suas mentes. Quando entravam em casa, não existia uma
“Quero ser um príncipe para entrar naquele castelo!”, TV em cada quarto, nem dispositivos eletrônicos em suas mãos.
pediu o pastor. A fada advertiu-o de que realizaria o seu desejo, Hoje não escutamos suas vozes, não ouvimos seus pensamen-
mas que ele jamais poderia voltar a ser o que era. O jovem foi tos e fantasias; as crianças estão ali, dentro de seus quartos, e
em frente. Seria um absurdo voltar a ser pastor. por isso pensamos estarem em segurança. Quanta imaturidade
Logo as fanfarras do castelo soaram para o príncipe a nossa!
que se aproximava. A corte recebeu o visitante com banquetes, Agora ficam com seus fones de ouvido, trancados em
desfiles, torneios e todas as homenagens. O rei gostou tanto do seus mundos, construindo seus saberes sem que saibamos o
príncipe que lhe ofereceu a mão de sua filha. que é… Perdem literalmente a vida, ainda vivos em corpos, mas
Louco de alegria, o jovem aceitou e quis beijar a prince- mortos em seus relacionamentos com seus pais, fechados num
sa. Ela recusou o beijo. Disse que não poderia casar com o prín- mundo global de tanta informação e estímulos, de modismos
passageiros, que em nada contribuem para a formação de crian- trônicos e persuadi-los a eliminá-los das mãos dos filhos, solu-
ças seguras e fortes para tomarem decisões moralmente cor- cionando de vez os problemas advindos do seu uso.
retas e de acordo com seus valores familiares. Dentro de seus d) mostrar aos pais, a partir do confronto de argumentos favo-
quartos, perdemos os filhos, pois não sabem nem mais quem ráveis e contrários, o quanto foi importante a substituição da
são ou o que pensam suas famílias, já estão mortos de sua iden- insegurança das ruas pelo ambiente tranquilo do lar, agora sem
tidade familiar… Tornam-se uma mistura de tudo aquilo pelo que os filhos corram riscos.
qual eles têm sido influenciados, e pais nem sempre já sabem o
que seus filhos são. (...) 04 – De acordo com o texto, “os filhos do quarto” estão em pe-
(...) tenho visto tantas famílias doentes com filhos rigo porque
mortos dentro do quarto. (...) Convido você a tirar seu filho do a) o mundo virtual que invade as casas e as famílias por meio de
quarto, do tablet, do celular (...), a comprar jogos de mesa, ta- aparelhos eletrônicos coloca em conflito pais e filhos, visto que
buleiros e ter filhos na sala, ao seu lado por, no mínimo, dois ambos mergulham num processo insano de busca por estímulo
dias estabelecidos na sua semana à noite (...). E jogue, divirta-se e informação.
com eles, escute as vozes, as falas, os pensamentos e tenha a b) o mundo global de informações e estímulos, em si mesmo,
grande oportunidade de tê-los vivos, “dando trabalho”, e que não é o que destrói a identidade familiar, mas a incapacidade
eles aprendam a viver em família, sintam-se pertencentes no lar dos pais de se adaptarem a esses novos elementos e realidades
para que não precisem se aventurar nessas brincadeiras malu- que interferem no natural conflito de gerações.
cas para se sentirem alguém ou terem um pouco de adrenalina, c) a formação de identidade perde a sintonia com valores fami-
que antes tinham com as brincadeiras no quintal! liares moralmente sedimentados, ainda que estejam conecta-
https://www.docelimao.com.br/site/especialkids/educacao/3049-os-filhosdo-quarto.html
dos e tenham à sua disposição amplo e contínuo conjunto de in-
formações e realidades paralelas com as quais possam interagir.
As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima. d) a necessidade de adrenalina de que necessitam para seus
corpos físicos em atividades praticadas ao ar livre ou em conta-
01 – Leia: to com família e amigos conflita com a consciência que têm do
I- “Nenhuma criança nasce folgada, ela aprende a ser.” (Içami muito tempo despendido nas intensas atividades que envolvem
Tiba) apenas suas mentes em informações, estímulos e modismos.
II- “O grande mito de nosso tempo é que tecnologia é comuni-
cação.” (Libby Larsen) TEXTO 5
III- “Torna-se aparentemente óbvio que nossa tecnologia exce-
deu nossa humanidade.” (Albert Einstein) O excesso e a memória
IV- “O problema da internet é que ela produz muito ruído, pois
há muita gente a falar ao mesmo tempo.” (Umberto Eco) Um estudo publicado recentemente no periódico cien-
tífico The Quarterly Journal of Experimental Psychology reve-
Assinale a alternativa que contém os pensamentos que podem lou que pessoas com sobrepeso (IMC acima de 25) tiveram um
ser associados ao conteúdo do texto. desempenho pior em testes de memória. Para chegar a essa
a) I e II conclusão, pesquisadores da Universidade de Cambridge, na
b) II e III Grã-Bretanha, realizaram um experimento com 50 participan-
c) I, II e IV tes com idade entre 18 e 35 anos e índice de massa corporal
d) I, III e IV (IMC) entre 18 (normal) e 51 (obesos). Os voluntários foram
submetidos a um teste de memória que consistia em um jogo
02 – Observando-se o paralelo estabelecido, no início do texto, de computador no qual eles precisavam esconder diferentes ob-
entre o “antes” e o “hoje”, referente ao comportamento dos fi- jetos em um cenário complexo, como um deserto com palmei-
lhos, pode-se afirmar que ras, durante dois dias. Após esse período, eles precisavam dizer
a) os pais têm-se sentido fracassados diante do novo comporta- aos cientistas quais objetos tinham sido escondidos e em qual
mento de crianças e jovens. lugar. Os resultados mostraram que as pessoas com sobrepeso
b) a presença constante dos filhos em casa é motivo de reprova- (IMC entre 25 e 30) e obesas (IMC maior que 30) tiveram pior
ção por parte dos pais; melhor seria tê-los nas ruas. desempenho no teste de memória do que aquelas com um ín-
c) há ingenuidade por parte dos pais quanto ao bem-estar dos dice de massa corporal considerado normal (entre 18 e 24,99).
filhos, os quais trocaram as aventuras fora de casa pelo novo Eles concluíram também que o rendimento caía conforme o IMC
mundo criado no quarto. aumentava.
d) a mudança de comportamento dos filhos deu tranquilidade De acordo com os autores, esses resultados indicam
aos pais de hoje, uma vez que estão agora sob seus olhares pro- que o aumento do IMC pode levar a mudanças estruturais e fun-
tetores e longe dos perigos das ruas. cionais no cérebro que reduzem a capacidade de formar e recor-
dar memórias episódicas. Uma explicação para isso pode estar
03 – O texto tenciona no efeito da gordura sobre a insulina. Segundo Lucy Cheke, líder
a) listar as várias falhas dos pais na educação dos filhos hoje em do estudo, o excesso de gordura causa picos descontrolados de
dia e apresentar-lhes um novo e eficaz método de ensino para insulina no sangue, o que, por sua vez, atrapalha a sinalização
educar crianças e jovens. entre os neurônios e, consequentemente, há uma redução no
b) propiciar uma reflexão aos adultos acerca da atual realidade desempenho cognitivo. Além disso, a redução da memória epi-
familiar e incitá-los a uma nova postura no estabelecimento de sódica — como resultado do aumento do IMC — pode contri-
uma diferente rotina para os filhos. buir para o aumento de peso, já que, muitas vezes, pessoas com
c) alertar os adultos quanto ao mal causado pelos aparelhos ele- memória ruim não se lembram do que comeram e tendem a
comer mais. TEXTO 6
“Nós não estamos dizendo que as pessoas com excesso
de peso são necessariamente mais esquecidas. Nossa desco- Insônia infeliz e feliz
berta pode significar que as pessoas com sobrepeso são menos Clarice Lispector
capazes de reviver vividamente detalhes de eventos passados.
Isso, por sua vez, pode prejudicar a sua capacidade de usar a De repente os olhos bem abertos. E a escuridão toda escura.
memória para regular o consumo de alimentos”, disse Lucy. Deve ser noite alta. Acendo a luz da cabeceira e para o meu de-
Uma dica da autora é prestar atenção no que se come e evitar sespero são duas horas da noite. E a cabeça clara e lúcida. Ainda
fazer refeições com distrações, como assistir à TV. arranjarei alguém igual a quem eu possa telefonar às duas da
Para os autores, embora esse estudo seja pequeno, os noite e que não me maldiga. Quem? Quem sofre de insônia? E
resultados mostram a necessidade de realizar mais pesquisas as horas não passam. Saio da cama, tomo café. E ainda por cima
sobre os fatores psicológicos que podem levar à obesidade. [...] com um desses horríveis substitutos do açúcar porque Dr. José
Revista Veja, 2016.
Carlos Cabral de Almeida, dietista, acha que preciso perder os
quatro quilos que aumentei com a superalimentação depois do
As questões de 01 a 03 referem-se ao texto acima. incêndio. E o que se passa na luz acesa da sala? Pensa-se uma
escuridão clara. Não, não se pensa. Sente-se. Sente-se uma coi-
01 – Pode-se afirmar sobre o texto que sa que só tem um nome: solidão. Ler? Jamais. Escrever? Jamais.
a) as pesquisas foram definitivas para solucionar o problema da Passa-se um tempo, olha-se o relógio, quem sabe são cinco ho-
pouca memória nos obesos. ras. Nem quatro chegaram. Quem estará acordado agora?
b) novas pesquisas precisam ser realizadas para se obterem E nem posso pedir que me telefonem no meio da noite pois pos-
mais resultados acerca da relação entre memória e obesidade. so estar dormindo e não perdoar. Tomar uma pílula para dor-
c) a pesquisa realizada em Cambridge foi apenas mais uma entre mir? Mas e o vício que nos espreita? Ninguém me perdoaria o
as tantas que já se fizeram sobre o assunto memória X obesida- vício. Então fico sentada na sala, sentindo. Sentindo o quê? O
de. nada. E o telefone à mão.
d) os resultados da pesquisa não sinalizaram uma significativa Mas quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no
influência do IMC sobre a capacidade de memorização dos par- meio da noite e ter essa coisa rara: solidão. Quase nenhum ru-
ticipantes. ído. Só o das ondas do mar batendo na praia. E tomo café com
gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada.
02 – Segundo o texto, os pesquisadores chegaram à conclusão É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem
de que aquele toque súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo.
a) o esquecimento é próprio dos obesos. As nuvens se clareando sob um sol às vezes pálido como uma
b) a diminuição da capacidade de memorização tem como lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou talvez a primeira
principal causa a distração durante as refeições. do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é meu,
c) é típico apenas dos não obesos a baixa capacidade de reviver, a terra é minha. E sinto-me feliz por nada, por tudo. Até que,
com riqueza de detalhes, eventos já ocorridos. como o sol subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com
d) a regulação do consumo de alimentos pelo obeso pode ser meus filhos sonolentos.
prejudicada pela falta de capacidade de usar a memória episó- Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
dica.
As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima.
03 – Com relação aos resultados da pesquisa, marque V para as
afirmativas verdadeiras e F para as falsas. Em seguida, assinale a 01 – Leia: “Até que, como o sol subindo, a casa vai acordando”.
alternativa com a sequência correta. No trecho acima, “a casa vai acordando” é uma
( ) Pessoas com sobrepeso (com IMC entre 25 e 30) têm menor a) hipérbole.
capacidade de memorização do que as que têm IMC normal. b) metonímia.
( ) Quanto maior for o IMC, maior será o rendimento e a c) antítese.
amplitude da memória episódica. d) ironia.
( ) Pessoas com sobrepeso têm desempenho, em testes de me-
mória, superior às que têm IMC entre 18 e 24,99. 02 – Por que o segundo parágrafo do texto inicia-se com a con-
( ) O alto índice de IMC está diretamente relacionado ao baixo junção “mas”?
desempenho cognitivo, o que tem reflexo na diminuição da me- a) Porque são acrescentadas novas informações que confirmam
mória episódica. a sensação de prazer provocada pela insônia.
b) Porque são acrescentadas novas informações que confirmam
a) V - F - F - V a sensação de incômodo provocada pela insônia.
b) V - V - F - V c) Porque, no primeiro parágrafo, são apresentadas as sensa-
c) F - V - V - F ções ruins causadas pela insônia; e, no segundo parágrafo, ex-
d) F - F - V – F põem se os benefícios de se estar acordado quando todos estão
dormindo.
d) Porque, no primeiro parágrafo, há informações que apresen-
tam os benefícios da insônia; e, no segundo parágrafo, expõem-
-se as sensações desagradáveis de se estar acordado quando a
maioria das pessoas está dormindo.
03 – Leia: “O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha”.
Essa sensação de posse deve-se ao fato de ela As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima.
a) contemplar a imagem do amanhecer sozinha e em silêncio,
antes de a cidade ser invadida pelas pessoas que vão povoar 01 – Considerando a afirmação vistam-se como os campos, pro-
essa cena que ela está admirando sem interrupções. ferida pelo mestre aos seus discípulos, pode-se afirmar que
b) ter uma liberdade momentânea, pois, quando os filhos acor- a) os jovens estudiosos seguiram com exatidão o conselho do
darem, será impossível contemplar essa imagem do terraço. sábio, pois se inspiraram apenas no luxo da natureza para con-
c) morar em um lugar próximo ao mar, o que lhe permite ter feccionar suas roupas.
uma visão exclusiva da paisagem. b) a maioria dos discípulos não interpretou corretamente o con-
d) ser financeiramente privilegiada, o que lhe permite comprar selho do mestre recriando a natureza com vestes luxuosas.
tudo o que quiser. c) o mestre ficou feliz porque seus discípulos se inspiraram na
natureza para criar suas vestes.
04 – Qual dos trechos abaixo justifica o título do texto “Insônia d) o sábio aprovou a atitude dos discípulos, pois nada disse
infeliz e feliz”? quando viu as roupas luxuosas.
a) “Acendo a luz da cabeceira e, para o meu desespero, são duas
horas da noite”. 02 – Qual das afirmações abaixo resume a ideia principal do tex-
b) “Sente-se uma coisa que só tem um nome: solidão”. to, a moral da história?
c) “É um nada a um tempo vazio e rico”. a) O verdadeiro sábio é humilde.
d) “E as horas não passam”. b) Só é possível ser criativo com poucos recursos.
c) Apenas a natureza nos proporciona tudo o que precisamos.
d) Não se devem imitar as atitudes da maioria das pessoas.
TEXTO 7
Como os campos 03 – Em qual alternativa há um trecho do texto que confirma
Marina Colasanti
que o jovem pequenino realmente vestiu-se como os campos,
conforme aconselhou o velho sábio?
Preparavam-se aqueles jovens estudiosos para a vida a) “E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na
adulta, acompanhando um sábio e ouvindo seus ensinamentos. terra para receber a primavera, um pássaro o confundiu com o
Porém, como fizesse cada dia mais frio com o adiantar-se do campo e veio pousar no seu ombro”.
outono, dele se aproximaram e perguntaram: b) “A roupa do jovem pequenino era de tantos pedaços, que nin-
– Senhor, como devemos vestir-nos? guém poderia dizer como havia começado”.
– Vistam-se como os campos - respondeu o sábio. c) “O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, cos-
Os jovens então subiram a uma colina e durante dias turou remendos onde o pano cedia”.
olharam para os campos. Depois dirigiram-se à cidade, onde d) “A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato”.
compraram tecidos de muitas cores e fios de muitas fibras. Le-
vando cestas carregadas, voltaram para junto do sábio. 04 – Por que o jovem pequenino foi o último discípulo a
Sob o seu olhar, abriram os rolos das sedas, desdobra- confeccionar sua roupa?
ram as peças de damasco e cortaram quadrados de veludo, e os a) Porque não deu importância ao conselho do mestre e
emendaram com retângulos de cetim. Aos poucos, foram crian- confeccionou uma roupa simples com o algodão que colheu no
do, em longas vestes, os campos arados, o vivo verde dos cam- campo.
pos em primavera, o pintalgado da germinação. E entremearam b) Porque se sentia inseguro em relação à roupa que deveria
fios de ouro no amarelo dos trigais, fios de prata no alagado das usar e criou uma veste simples com o algodão que colheu no
chuvas, até chegarem ao branco brilhante da neve. As vestes campo.
suntuosas estendiam-se como mantos. O sábio nada disse. c) Porque estava esperando os outros jovens terminarem de cos-
Só um jovem pequenino não havia feito sua roupa. Es- turar as suas vestes para criar uma roupa melhor que as deles.
perava que o algodão estivesse em flor, para colhê-lo. E quando d) Porque entendeu o conselho do sábio e esperou o momento
teve os tufos, os fiou. E quando teve os fios, os teceu. Depois oportuno para colher a matéria-prima dos campos e confeccio-
vestiu sua roupa branca e foi para o campo trabalhar. nar sua roupa.
Arou e plantou. Muitas e muitas vezes sujou-se de ter-
ra. E manchou-se do sumo das frutas e da seiva das plantas. A TEXTO 8
roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato. Plantou Solo de Clarineta
e colheu. A roupa rasgou-se, o tecido puiu-se. O jovem peque-
nino emendou os rasgões com fios de lã, costurou remendos Às vezes, tarde da noite, homens batiam à porta da
onde o pano cedia. E quando a neve veio, prendeu em sua roupa farmácia ou da nossa residência, trazendo nos braços, ferido
mangas mais grossas para se aquecer. e sangrando, algumas vítimas da brutalidade dos capangas do
Agora a roupa do jovem pequeno era de tantos peda- chefe político local ou alguém que fora “lastimado” numa briga
ços, que ninguém poderia dizer como havia começado. E estan- na Capoeira ou no Barro Preto. Lembro-me que certa noite – eu
do ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de
receber a primavera, um pássaro o confundiu com o campo e segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de opera-
veio pousar no seu ombro. Ciscou de leve entre os fios, sacudiu ções, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num po-
as penas. Depois levantou a cabeça e começou a cantar. bre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”.
Ao longe, o sábio, que tudo olhava, sorriu. Eu terminara de jantar e o que vi no relance inicial me deixou de
Colasanti, M. Mais de 100 histórias maravilhosas - 1.ed. – São
Paulo: Global, 2015. estômago embrulhado. A primeira coisa que me chamou aten-
ção foi o polegar decepado, que se mantinha pendurado à mão contexto em que se inserem:
esquerda da vítima apenas por um tendão. [...]. Apesar do hor- “lastimado” (linha 4) - atrocidades (linha 22)
ror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando a despeito (linha 26) - desertamos (linha 29)
assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por
que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar a) magoado - desigualdades / com desprezo - desistimos
o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? Por incrível b) machucado - crueldades / apesar - abandonamos
que pareça, o homem sobreviveu. c) ferido - singularidades / por causa - enfrentamos
D esde que, adulto, comecei a escrever romances, tem- d) zombado - desumanidades / em vista – fugimos
-me animado até hoje a ideia de que o menos que um escritor
pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nos- TEXTO 9
sa, é acender a sua lâmpada, trazer luz sobre a realidade de seu
mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos O pavão
Rubem Braga
ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada,
a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpa-
da elétrica, acendamos nosso toco de vela ou, em último caso, Eu considerei a glória de um pavão ostentando o es-
risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não plendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo li-
desertamos nosso posto. vros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena
Érico Veríssimo - Solo de Clarineta (trecho) - Volume I do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas
d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão
As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima. é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atin-
01 – O texto vale-se da metáfora da lâmpada para mostrar ao gir o máximo de matizes com um mínimo de elementos. De água
leitor que o escritor — e assim também a literatura — tem por e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
tarefa Considerei, por fim, que assim é o amor, oh minha amada; de
a) permitir a fantasia de que, por menos que se possa fazer com tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim
palavras, há que se subjugar ladrões, assassinos e tiranos. existem apenas meus olhos recebendo a luz do teu olhar. Ele me
b) oferecer conhecimento, denunciar, lançar luz, de todas as for- cobre de glórias e me faz magnífico.
(Crônicas Escolhidas)
mas, sobre a realidade de atrocidades e injustiças.
c) criar uma rota de fuga da escuridão, do medo, do ataque dos
que investem contra a vida. As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima.
d) fazer sonhar, a despeito das atrocidades e injustiças da vida.
01 – Avalie as informações abaixo acerca do texto.
02 – Quanto à experiência vivida pelo autor do texto, quando I- O texto tem como objetivo desconstruir o conceito já estabe-
por volta de seus catorze anos, pode-se afirmar que lecido sobre a pigmentação das penas do pavão.
a) permitiu-lhe fazer uma boa ação, embora tenha despertado II- As metáforas construídas para o pavão encaminham o texto
nele o ‘homem-macho’, que, com dureza, enfrenta a escuridão, para as conclusões pessoais do autor sobre o sentimento amo-
os ladrões, os assassinos e os tiranos. roso.
b) serviu-lhe para iniciá-lo na capacidade de resistência, III- O emprego da linguagem figurada, no primeiro parágrafo,
superação e altruísmo, valores, infelizmente, vencidos pelo hor- objetiva reforçar a necessidade de se exaltar a simplicidade e a
ror e pela náusea. criatividade do grande artista.
c) foi-lhe traumatizante; tanto assim que se remete a injustiças IV- O uso das expressões “máximo de matizes” e “mínimas
e atrocidades desde que, adulto, começou a escrever romances. bolhas” coloca em evidência o contraste entre a pequenez de
d) fê-lo forte de alma, permitindo-lhe estender para a sua vida quem ama e a grandiosidade da pessoa amada.
de escritor a capacidade de reação à realidade de seu mundo.
Está correto o que se afirma em
03 – Qual das alternativas abaixo faz uma afirmação correta a) II somente.
acerca do texto? b) IV somente.
a) É predominantemente dissertativo, uma vez que o autor de- c) I, II e III.
fende um ponto de vista a respeito da violência urbana e se uti- d) I, III e IV.
liza de uma definição metafórica para fundamentá-lo.
b) É essencialmente descritivo, pois tem como principal objetivo 02 – Quanto às ideias presentes no primeiro parágrafo, pode-se
fazer uma rica caracterização do estado físico e psicológico do depreender que
caboclo que chegou à casa do narrador-personagem. a) a glória de um pavão tem relação somente com o fenômeno
c) Tem a composição de uma notícia, já que contém elementos que acontece no arco-íris.
caracterizadores desse tipo de texto, quais sejam: o quê?, quan- b) as cores esplendorosas do pavão é algo inquestionável devido
do?, onde?, com quem?, por quê?. à beleza que ele proporciona.
d) Utiliza-se da narração de um episódio da vida do narrador- c) a relação estabelecida entre o pavão e o arco-íris tem como
-personagem como pretexto para as reflexões do autor sobre o objetivo explicar que não existe o fenômeno da fragmentação
papel social do escritor. da luz.
d) o luxo imperial do pavão, na verdade, não existe, pois a ocor-
04 – Assinale a alternativa que traz a correta e respectiva subs- rência de cores de sua pena é similar ao fenômeno que acontece
tituição dos termos abaixo, retirados do texto, considerando o em um prisma.
03 – Assinale a alternativa que contém os respectivos sinônimos Não sabemos quando, nem onde, nem por que o homem resol-
para as formas verbais destacadas no trecho abaixo, conside- veu pedir emancipação. (...)
Vox Clamantis in Deserto: A voz daquele que clama num deserto - GRAFIST, Lorena - SP, 2006.
rando o texto.
“... de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em
mim existem apenas meus olhos recebendo a luz do teu olhar.” As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima.
a) estimula - cintila - treme - exala
b) susta - expele - vibra - enlouquece 01 – A frase Não sabemos quando, nem onde, nem por que o
c) instiga - brilha - esmorece - definha homem resolveu pedir emancipação leva à seguinte conclusão a
d) desperta - resplandece - abala - alucina respeito da relação homem e Natureza:
a) Há uma misteriosa causa para a percepção de que a existência
04 – Leia: humana pode prescindir de sua dependência para com a Natu-
“Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o má- reza.
ximo de matizes com um número mínimo de elementos”. b) O ser humano emancipou-se da Natureza; o tempo, o lugar e
a explicação para essa sua atitude ainda hão de ser descobertos.
Sobre esse trecho, pode-se afirmar que c) A espécie humana sofrerá consequências inimagináveis por
a) o exímio artista carece de muitos e variados elementos para não ter buscado as verdadeiras causas de suas más ações.
produzir uma arte luxuosa. d) O homem resolveu clamar por liberdade, pois considera a Na-
b) o auge da combinação de cores alcançado pelo grande artista tureza inferior a ele.
está na utilização que ele faz de um ínfimo de elementos.
c) a maestria do grande artista está na sua capacidade de gerar 02 – Animais, vegetais e minerais, segundo o autor, conhecem,
cores perfeitas a partir de uma variação de elementos simples. memorizam, elaboram e comunicam.
d) para o autor, o luxo do grande artista se mostra somente na
capacidade deste de atingir o auge da combinação de cores. Essa constatação indica que
a) a Natureza é mais inteligente que o homem.
TEXTO 10 b) a inteligência pode ser entendida como processo inerente aos
reinos naturais.
Uma visão inteligente da Natureza c) a inteligência é uma faculdade menor, se comum a homens e
Artur Diniz Neto a animais, vegetais e minerais.
d) a inteligência dos demais elementos dos reinos naturais é
Sob vários aspectos, parece-me pouco inteligente en- destituída da capacidade de sentir, o que torna o homem supe-
carecer que o homem deveria olhar mais a Natureza e sobretu- rior à Natureza.
do tratá-la de forma adequada, já que ele faz parte dela. De fato,
quando a encaramos atentamente, percebemos que ela se por- 03 – Em relação à ideia de que o homem deveria olhar mais para
ta de forma tão inteligente que deveríamos, antes, perguntar se a Natureza e sobretudo tratá-la de forma mais
o homem não precisaria observar o comportamento equilibrado adequada, o autor
da Natureza, reaprendendo, com ela, a agir de forma a não des- a) retira dela seu apreço, constatando que, de fato, quem olha
truí-la, como vem fazendo. (...) pelo homem é a Natureza.
É de se perguntar se os graves males que afligem a hu- b) revela a contradição nela contida porque o fato de o
manidade não residiriam no fato de o homem ter-se distinguido homem olhar para a Natureza mostra que dela faz parte.
da Natureza, tendo construído uma outra, totalmente artificial, c) aponta-a como uma frase pouco inteligente, apesar de
quando deveria integrar-se com inteligência nos processos e amplamente encarecida e crível como senso comum.
no equilíbrio perfeitos, que seus olhos, ofuscados pela extrema d) considera-a digna de enaltecimento, ou de ser encarecida,
pretensão e pelo interesse desmedido, não conseguem pene- por focar o cuidado e a diligência do homem para com a natu-
trar. reza.
Talvez a Natureza olhe para ele com mais inteligência
e paciência, pois, se não o fizesse, já o teria aniquilado. “Pare- 04 – A visão inteligente da Natureza a respeito do homem
ce que a Natureza” — pondera Eugene Conseliet — “como boa evidencia-se no trecho:
mãe, procura acomodar-se da melhor forma à impertinência do a) “Talvez a Natureza olhe para ele com mais inteligência e paci-
homem e consertar pacientemente tudo o que ele danifica”. (...) ência, pois, se não o fizesse, já o teria aniquilado.”
Mas, afinal, o que é inteligência? A palavra originária b) “...deveria integrar-se com inteligência nos processos e no
do latim “inter” e “legere”, que significam escolher entre, discer- equilíbrio perfeitos...”
nir, entender, conhecer, compreender. É a faculdade de conhe- c) “Animais, vegetais e minerais conhecem, porque vivem em
cer as ideias e as relações que existem entre elas. É, em suma, contato com o meio ambiente;...”
ver as coisas não em sua forma exterior, mas penetrar em sua d) “É a faculdade de conhecer as ideias e as relações que exis-
essência, em seu “númeno”. Filosoficamente, a inteligência se tem entre elas.”
manifesta por meio de quatro processos, que são: conhecer, ar-
mazenar (memória), elaborar, comunicar (expressar). Animais,
vegetais e minerais conhecem, porque vivem em contato com
o meio ambiente; memorizam, porque gravam tudo o que lhes
é útil ou nocivo; elaboram, porque criam constantemente me-
canismos e atitudes novos; comunicam-se, porque se inter-rela-
cionam equilibradamente.
TEXTO 11 b) A irremediável Covid-19 afetou grande parte da população.
c) O brilhante caso das pessoas que se recuperaram.
O pulo do gato d) Governo propõe retomada das atividades.
Mauro Santayana
TEXTO 12
O grande perigo do jornalista que começa é o de cair Poesia do Tempo
na presunção sociológica. É claro que, tratando da sociedade,
o jornalismo é também um pouco de sociologia — mas a so- O equívoco entre poesia e povo já é demasiadamente
ciologia deve ir para o lugar próprio, os artigos elaborados com sabido para que valha a pena insistir nele. Denunciemos antes o
mais tempo, os editoriais e tópicos e, bem digerida em um texto equívoco entre poesia e poetas. A poesia não se “dá”, é hermé-
fluido, a reportagem. tica ou inumana, queixam-se por aí. Ora, eu creio que os poetas
Jornalismo é razão e emoção. O texto apenas racional poderiam demonstrar o contrário ao público. De que maneira?
é frio, e só comunica aos que se encontrem diretamente inte- Abandonando a ideia de que poesia é evasão.
ressados no assunto. O texto deve saber dosar emoção e razão, E aceitando alegremente a ideia de que poesia é parti-
e é nesse equilíbrio que está o chamado “pulo do gato”. Muitos cipação. Não basta dizer que já não há torres de marfim; a torre
jornalistas acreditam que o adjetivo emociona. desmoronou-se pelo ridículo, porém muitos poetas continuam
Enganam-se. Quanto mais despida uma frase, mais cor- vendo na poesia um instrumento de fuga da realidade ou de
tante o seu efeito. correção do que essa realidade ofereça de monstruoso e de er-
“E amolou o machado, preparou um toco para servir de rado. Desenvolve-se então entre eles a linguagem cifrada, que
cepo, chamou o menino, amarrou-lhe as mãos, fez-lhe um sinal nenhum leigo entende, e que suscita o equívoco já célebre entre
para que ficasse calado, e rachou o seu corpo em sete pedaços. poesia e povo.
O menino P., de cinco anos, não era seu filho e F. descobrira isso Participação na vida, identificação com os ideais do
poucos minutos antes, quando discutia com a mulher.” Leads tempo (e esses ideais existem sempre, mesmo sob as mais sór-
como esse são sempre possíveis na reportagem de polícia: não didas aparências de decomposição), curiosidade e interesse pe-
necessitam de adjetivos. As tragédias, como os cantores famo- los outros homens, apetite sempre renovado em face das coisas,
sos, dispensam apresentações. desconfiança da própria e excessiva riqueza interior, eis aí algu-
FIORIN, José Luiz. SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender vo texto: mas indicações que permitirão talvez ao poeta deixar de ser um
Leitura e Redação. São Paulo: Editora Ática, 1999. bicho esquisito para voltar a ser, simplesmente, um homem.
(Carlos Drummond de Andrade)
As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima.
01 – A expressão “pulo do gato” no título faz referência a quê? As questões de 01 a 04 referem-se ao texto acima.
a) Ao uso correto de palavras que só a experiência proporciona. 01 – De acordo com o texto, parte do equívoco que existe entre
b) À diferenciação entre jornalismo e psicologia. poesia e povo se dá
c) À distinção entre razão e emoção. a) porque o povo, que carece de facilidade para ler poesias,
d) Ao uso de adjetivos. compreende a poesia como evasão, fuga da realidade.
b) porque a poesia é um instrumento de aceitação da realidade,
02 – No terceiro parágrafo, o autor narra um episódio fictício. podendo ser considerada, também, como correção do que essa
Pode-se depreender que sua intenção, com isso, é realidade oferece de monstruoso e de errado.
a) denunciar crimes bárbaros que acontecem sem que a popu- c) por conta da crença, de alguns autores, de que poesia é eva-
lação saiba. são, possibilitando assim a criação de linguagem cifrada, que o
b) mostrar que não é necessário usar adjetivos para emocionar. povo não entende.
c) exemplificar o pulo do gato, numa referência ao título. d) por conta de serem os poetas pessoas voltadas ao povo em
d) mostrar que um texto pode ser racional e frio. suas maneiras de escrever e de pensar, conceito que populariza
a poesia durante gerações.
03 – O autor do texto afirma que jornalismo é equilíbrio entre
razão e emoção — o que resulta no chamado “pulo do gato”. 02 – Leia:
Essa ideia equivale a dizer que “ A poesia não se “dá”, é hermética ou inumana.”
a) a redação de uma frase despida e cortante nada tem que ver De acordo com o fragmento do texto, qual é o significado da
com estilo e com capacidade de articulação linguística. palavra “inumana”?
b) o texto jornalístico não pode ser feito sem uso de linguagem a) Inatingível para os homens, superior à condição humana.
literária, que possibilita muitos usos para além da adjetivação. b) Compreensível para os homens, inferior à capacidade huma-
c) tudo tem de ser usado no texto com parcimônia: a sociologia, na.
a literariedade e a objetividade, principalmente em se tratando c) Acessível a todos, equilibrada à linguagem humana.
de reportagem. d) Incompreensível para o povo, elucidativa a todos.
d) o uso consciente e racional do recurso linguístico é o que
pode estar no texto jornalístico em si; a emoção esperada segue 03 – Assinale a alternativa que apresenta, de acordo com o au-
implícita, como jogo entre escritor e leitor. tor, indicações que permitirão ao poeta deixar de ser “um bicho
esquisito”.
04 – Considerando as manchetes fictícias apresentadas abaixo, a) Linguagem hermética; participação na vida; interesse pelos
sobre a pandemia de 2020, assinale aquela que está de acordo outros homens.
com o que o texto defende. b) Identificação com os ideais do tempo; linguagem cifrada;
a) Desleixadas campanhas não conseguiram conter a pandemia. aceitação de que a poesia seja “participação”.
c) Desconfiança da própria e excessiva riqueza interior; lingua- TEXTO 12
gem inumana, curiosidade e interesse pelos outros homens. 1C 2A 3D 4B
d) Percepção social; atenção aos fatos de seu tempo; e descon-
fiança de suas próprias riquezas interiores.
04 – Coloque (V) para verdadeiro e (F) para falso, em seguida
assinale a alternativa com a sequência correta.
No texto Poesia do Tempo, Carlos Drummond de Andrade se
opõe
( ) à facilidade de leitura do povo.
( ) à clareza da linguagem poética.
( ) à expressão de alguns poetas de linguagem cifrada.
( ) ao hermetismo provocado pelo distanciamento entre poesia
e povo.
a) V – V – F – V
b) F – F – V – V
c) F – V – F – F
d) V – F – V – V
GABARITO
TEXTO 1
1B 2D 3D 4C
TEXTO 2
1D 2C 3A
TEXTO 3
1B 2C 3A
TEXTO 4
1B 2C 3B 4C
TEXTO 5
1B 2D 3A
TEXTO 6
1B 2C 3A 4C
TEXTO 7
1B 2A 3A 4D
TEXTO 8
1B 2D 3D 4B
TEXTO 9
1A 2D 3D 4B
TEXTO 10
1A 2B 3C 4A
TEXTO 11
1A 2B 3D 4D