O espaço do "Mapeador de Ausências" de Mia Couto é a cidade da Beira, em
Moçambique, antes e depois do ciclone que a arrasou em 2019, com foco no
regresso do personagem Diogo Santiago à sua terra natal. A história explora
a sua infância e juventude, a presença dos colonos portugueses, e os
impactos da violência colonial e da luta pela independência na sua vida e na
da cidade. O livro também se concentra nos fantasmas e memórias dos
mortos, como o régulo Capitine, que vê uma mulher a voar.
Elaboração:
O romance explora a memória e a identidade de um personagem que
regressa à cidade onde nasceu, a Beira, para ser homenageado. A Beira,
tanto antes como depois do ciclone, serve como um palco para as reflexões
de Diogo sobre o seu passado e a sua relação com Moçambique.
O espaço é multifacetado:
A Beira colonial:
Diogo recorda a sua infância e juventude, quando Moçambique era uma
colónia portuguesa, com a sua família, os seus amigos e os seus inimigos.
O espaço da violência colonial:
As lembranças do pai, jornalista e poeta, que foi perseguido e preso pela
PIDE, são importantes para entender a história de Moçambique.
O espaço do pós-ciclone:
O regresso de Diogo é um momento de reflexão sobre a cidade e o seu povo,
que enfrentam a devastação do ciclone.
O espaço da memória e do imaginário:
O livro também explora os fantasmas e memórias dos mortos, como o régulo
Capitine, que vê uma mulher a voar.
O espaço do "Mapeador de Ausências" é, portanto, um espaço complexo e
multifacetado, que se encontra na interseção do real e do imaginário, do
passado e do presente, da violência e da esperança.
romance "O Mapeador de Ausências", de Mia Couto, explora a ideia de
tempo de forma complexa e não linear. Não há um tempo objetivo ou
cronológico, mas sim uma mistura de passado, presente e futuro, que se
entrelaçam e se influenciam mutuamente. O tempo é subjetivo, ligado à
memória, à esperança e à ausência, como no caso do personagem principal
que se dedica a mapear a ausência dos outros.
Exploração do Tempo na Obra:
Tempo como Memória:
A memória desempenha um papel crucial no romance, moldando a
percepção do tempo e as experiências dos personagens.
Tempo como Esperança:
A esperança de encontrar ou reencontrar algo perdido também afeta a forma
como o tempo é vivido.
Tempo como Ausência:
A ausência é um elemento central, representando a falta de alguém ou algo,
e a forma como a ausência molda o tempo.
Tempo Não Linear:
O tempo não segue uma sequência lógica, mas sim um fluxo constante de
memórias, esperanças e ausências.
Tempo Subjetivo:
Cada personagem experimenta o tempo de forma particular, com base em
suas experiências e emoções.
O Mapeador de Ausências como Metáfora:
O personagem que se dedica a mapear a ausência pode ser visto como uma
metáfora para a busca por sentido no tempo e na vida. Ao tentar mapear a
ausência, ele também está tentando entender o tempo e a sua própria
existência.
Em resumo, "O Mapeador de Ausências" de Mia Couto utiliza o tempo como
um elemento central da narrativa, explorando-o de forma não linear e
subjetiva, com a memória, a esperança e a ausência como forças
moldadoras da experiência humana.
Em "O Mapeador de Ausências", de Mia Couto, a narrativa explora momentos
distintos e interligados, centrados na memória e na experiência do narrador-
protagonista, um escritor que retorna à sua cidade natal, a Beira, antes da
devastação do ciclone Idai. A trama oscila entre o presente (março de 2019)
e o passado (1973), permitindo uma reflexão sobre a história de
Moçambique e a experiência da família do narrador. O romance também
explora a relação do narrador com seu pai, um jornalista português que se
apaixonou pela cultura moçambicana e que deixou uma marca significativa
na vida do filho.
Momentos-chave da narrativa:
Retorno à Beira:
A viagem do narrador à Beira é o ponto de partida da narrativa, marcando
seu encontro com a cidade natal e com a memória da família.
Memória familiar:
A narrativa é permeada pelas memórias da família, em particular a figura do
pai, que influenciou a visão do narrador sobre a história e a cultura
moçambicana.
Contraponto entre o presente e o passado:
A alternância entre o presente (o ciclo de 2019) e o passado (1973, época da
luta pela independência) permite uma reflexão sobre a mudança e a
continuidade em Moçambique.
A homenagem:
O narrador é homenageado em Beira por seus conterrâneos, o que reforça a
ligação entre ele e a cidade e a importância de sua obra para a cultura
moçambicana.
A importância da memória:
A narrativa enfatiza a importância da memória na construção da identidade
e na compreensão do passado, permitindo que o narrador reflita sobre sua
própria história e sobre a história de Moçambique.
Em suma, "O Mapeador de Ausências" é um romance que se destaca por sua
capacidade de explorar a memória, a história e a identidade, utilizando a
experiência do narrador-protagonista como ponto de partida para uma
reflexão mais ampla sobre a cultura moçambicana.
Patrocinado pelo Moza Banco, Mia Couto classificou o seu novo romance
como uma homenagem à cidade da Beira, onde nasceu e viveu até aos 17
anos.
O acto acontece depois do primeiro lançamento, na cidade da Beira, no
passado dia 28 de Outubro.
"É uma homenagem à cidade da Beira e não seria justo que eu começasse
por lançar este livro fora da cidade que é a mãe desta história", disse
Mia Couto, Prémio literário Camões 2013, diz que este cruzamento entre os
locais da sua vida e do lançamento da obra, têm muito a ver com o facto de
o livro falar um pouco da sua história.
"É uma história que se desenvolve a partir da minha memória sobre a minha
cidade", explicou, ao realçar a importância da urbe: "aqui me transformei
num contador de histórias".
A obra é feita em forma de prosa e nela, o autor resgata e reinventa
memórias, episódios que marcaram a sua vida e os “empresta” ao
protagonista do romance, o poeta Diogo Santiago, que fala da sua infância e
juventude.
No livro "O Mapeador de Ausências", o poeta desloca-se pela primeira vez
em muitos anos à terra natal, nas vésperas do ciclone que a arrasou em
2019 - numa alusão ao Idai, que provocou 603 mortos e afectou a vida, até
hoje, de dezenas de milhares de pessoas.
"Há um poeta que vem à procura da sua infância" e que "vai começar a
perceber que aquilo que é presente para ele no sentido temporal, nasce da
ausência de alguém", descreveu.
Na obra, Mia Couto recorda o pai - o jornalista e poeta Fernando Leite Couto -
entre outras figuras que, apesar de ausentes, permanecem vivas nas suas
memórias.
O autor diz que lança a obra numa altura em que o país é palco de outros
confrontos armados, no centro e norte, apelando a que as histórias das
vítimas não fiquem por contar.
"Acho importante que a informação", através dos órgãos de comunicação
social, "transmita não só relatórios sobre as agressões, os ataques feitos por
terroristas, mas construa a história das pessoas que estão a ser
assassinadas", disse.
Autor de mais de 30 livros, Prémio Camões em 2013, Mia Couto regressa ao
romance depois de ter publicado em 2019 a colectânea de textos de
intervenção cívica "O Universo num Grão de Areia" e "O Terrorista Elegante",
três novelas curtas escritas em parceria com o escritor angolano José
Eduardo Agualusa.
"O Mapeador de Ausências" será publicado em Portugal em Novembro
próximo, pela Editorial Caminho. (RM)