[Resenha] Confiança Criativa: libere sua criatividade e
implemente suas ideias
Rodrigo Narcizo
Facilitador | Professor | Palestrante | Game Designer | Inovação | Gestão |
Estratégia | Cofundador da Rede Conexão Inovação Pública | Servidor Público
Federal
2 de março de 2019
Logo no início de “Confiança Criativa”, os autores — os irmãos David e Tom
Kelley — deixam claro sua intenção com o livro: “[ajudar] a desenvolver e
explorar o potencial criativo que todos nós já temos”. Ao longo de suas 264
páginas, o livro explora diversas formas de fomentar a criatividade — e por
consequência a inovação — sempre com o foco na aplicação dos princípios do
design thinking: empatia, colaboração e experimentação.
Os autores partem do princípio que todo mundo é criativo, mas que o potencial
criativo das pessoas é restringido por questões culturais, do modelo
educacional vigente e do ambiente de trabalho. Isto posto, a confiança criativa
nada mais é do que “convicção de que você é capaz de fazer qualquer coisa” e
que ela pode ser cultivada e treinada em qualquer pessoa, sendo o livro uma
ajuda neste sentido.
O uso do design thinking como motor da criatividade não é coincidência: David
Kelly é reconhecido pelo seu trabalho com a abordagem na criação da IDEO,
empresa da área de design e inovação, e da fundação da “d.school”, instituto
de design thinking da Universidade Stanford.
Ainda que o livro fale sobre o design thinking, “Confiança Criativa” não é um
livro indicado para se aprender a abordagem, já que não tem o intuito de ser
um livro didático ou um “guia de campo”. Seu foco está em mostrar como o
modelo mental da abordagem (baseado em empatia, experimentação e
colaboração) é capaz de impactar o processo criativo e a aquisição (ou melhor,
redescoberta) da confiança criativa. Esta característica também faz com que o
livro possa ser mais compreensível, em certos pontos, para aqueles que
conheçam, ao menos, os fundamentos do design thinking.
Para que as pessoas descubram — ou, melhor dizendo, redescubram — sua
criatividade, a adoção de práticas de design aplicado ao atendimento das
necessidades das pessoas é uma das principais fontes de inspiração e insights.
Neste sentido, a empatia e o espírito de conversar com as pessoas e saber
suas necessidades e dores são elementos fundamentais. Dois exemplos no
livro mostram a importância da empatia para a descoberta de insights que
levaram à soluções relativamente simples, mas muito efetivas: atender as
crianças que se submetiam a exames de ressonância magnética (cuja maioria
precisava ser sedada para fazer o exame) e salvar a vida de de recém-
nascidos prematuros.
Um outro aspecto bastante destacado no livro é a importância da
experimentação e do fazer como estímulo a criatividade e à inovação. Quanto
mais experimentações, protótipos e fracassos, maior a possibilidade de se
conseguir um sucesso. Neste ponto, também é destacada a importância de se
lidar com o fracasso como um elemento inerente ao processo criativo: os erros
devem ser assumidos e utilizados como parte do aprendizado.
Ainda que boa parte do livro seja dedicada ao desenvolvimento da confiança
criativa individual, os autores também abordam a questão da confiança
criativa no aspecto coletivo, com o desenvolvimento de equipes e o
desenvolvimento de uma cultura organizacional voltada para a colaboração,
criatividade e à inovação. Os autores reconhecem que a cultura não é algo que
se muda da noite para o dia e que ela requer uma liderança capaz de
promover a inovação nas pessoas e que outros aspectos com o espaço de
trabalho e a comunicação também desempenham um papel relevante na
cultura organizacional focada para a criatividade e inovação. O aspecto prático
do livro está no penúltimo capítulo que consiste em dez “desafios criativos”
que são exercícios simples e rápidos e podem ser usados como dinâmicas ou
ferramentas de forma avulsa ou integradas em oficinas (existem exercícios
individuais e em grupo).
"A criatividade não é um talento raro, mas sim uma parte natural do
pensamento e do comportamento humano”.
“Confiança Criativa” é um livro bastante interessante e cumpre a sua função
principal de ser uma fonte de inspiração para as pessoas retomarem a sua
confiança criativa. Ainda sobre este ponto, o leitor deve estar ciente que os
autores procuram inspirar com exemplos, princípios, orientações e atitudes,
nunca com checklists ou “receitas de bolo”, logo não espere por um manual ou
guia de como exercitar a criatividade (exceto pelos exercícios do penúltimo
capítulo) ou mesmo um “manual” sobre design thinking.
Destaca-se também que os autores enfatizam que a criatividade e o espírito
inovador são frutos tanto algo do aspecto individual, quanto de aspecto
coletivo, e também da cultura organizacional, sendo, portanto, uma leitura
relevante também para os gestores que realmente querem implementar a
inovação em suas organizações ou equipes.
Por fim, os próprios autores reconhecem as limitações inerentes a um livro que
fala sobre o fomento à criatividade: os próprios irmãos Kelley defendem a
importância do aspecto prático de se comunicar com as pessoas, de
compartilhar e de experimentar. Não é à toa que a última recomendação do
livro seja: “largue este livro ou desligue seu computador. Escolha um ou dois
experimentos para começar sabendo que nem todos serão terão sucesso, e
comece a projetar o design da sua nova vida”.
Título: Confiança Criativa: libere sua criatividade e implemente suas ideias.
Título original: Creative Confidence: unleashing the creative potential within us
all
Autores: Tom Kelley e David Kelley
Edição brasileira: Editora HSM do Brasil, 2014. 264 páginas.
Para aqueles que já leram o livro e querem utilizá-lo para um grupo de estudos
ou de debates criei algumas cartas para ajudar nas dinâmicas de grupo.
Acesse aqui: https://bit.ly/2TdUpGf
O Dusk, boletim sobre Design Thinking, também tem uma edição dedicada ao
Confiança Criativa: http://bit.ly/duskcria
Artigo originalmente publicado no Medium