PSICOLOGIAS
SOCIAIS:
CIENTIFICISTA E
CRÍTICA
Prof. Bárbara Sena
Diversos autores falam de ao menos duas versões da
Psicologia social: uma anterior e outra posterior à crise de
referência dessa área do conhecimento na década de 70.
A primeira tinha uma base positivista, já
a segunda se caracterizava por defender
uma ciência comprometida com a
transformação social.
A CRISE SE INICIA PRIMEIRAMENTE NA EUROPA NA
DÉCADA DE 60:
Com o declínio do impulso modernizante do pós-guerra: a guerra e o
autoritarismo levaram ao enfraquecimento da fé na igualdade de
oportunidades e ao esgotamento das garantias de coesão social pelo
simples crescimento econômico, fazendo com que instituições – como a
escola, a prisão e a fábrica – fossem questionadas, favorecendo, com
isso, o fortalecimento das correntes neomarxistas.
Nesse mesmo período, a eficácia da Psicologia social norteamericana
começou a ser problematizada pelos europeus.
Essa crise de referência começou a fortalecer-se no Brasil e em outros
países da América Latina com uma década de atraso (1970).
Os principais motivos de insatisfação foram:
a dependência teórico-metodológica,
principalmente dos Estados Unidos, a
descontextualização dos temas abordados, a
superficialidade e a simplificação das
análises desses temas, a individualização do
social e a ausência de preocupação política.
A Psicologia Social anterior a crise de referência, se tinha no Brasil:
uma hegemonia da Psicologia social norte-
americana, tinha uma base positivista e
Aroldo Rodrigues era seu principal
representante brasileiro.
Posteriormente, com a crise, uma segunda
versão da Psicologia Social se caracterizava
por fazer uma severa crítica ao modelo
biologicista e, principalmente, por defender
uma ciência comprometida com a
transformação social.
ESSAS INSATISFAÇÕES LEVARAM AO DESENVOLVIMENTO E/OU À
ADOÇÃO DE DIFERENTES TEORIAS E METODOLOGIAS:
um grupo de pesquisadores, liderado por Ângela Arruda e Celso Sá,
começou a realizar trabalhos a partir de teorias europeias,
especialmente a das representações sociais; outro grupo, liderado
por Lapassade, Saidón e Barenblit, desenvolveu a análise
institucional; já Silvia Lane (uma das principais opositoras de Aroldo
Rodrigues) coordenou o grupo que estabeleceu os fundamentos do
que mais tarde viria a ser conhecido como a escola socio-histórica
da PUC-SP
A PSICOLOGIA SOCIAL DE AROLDO RODRIGUES
Consiste em realizar um estudo científico do processo
de interação humana, ou seja, é uma ciência básica
cuja única forma de intervenção é indireta: ela fornece
dados objetivos para que tecnólogos sociais possam
resolver problemas sociais.
A essa Psicologia social caberia o papel de estudar,
através do método científico, a interação humana e
suas consequências cognitivas e comportamentais,
enquanto a tecnologia social seria responsável por
usar esse conhecimento para transformar a realidade.
Nessa Psicologia social, estudar um determinado fato a partir do método
científico significa orientar-se pelo seguinte esquema:
parte-se de uma teoria para levantar hipóteses
testam-se as hipóteses levantadas e analisam-se os dados colhidos
confirmam-se ou rejeitam-se as hipóteses iniciais (Rodrigues, 1972).
A PSICOLOGIA SOCIAL DE SILVIA LANE
Critica a defesa da neutralidade da ciência e da
objetividade dos fatos.
Silvia Tatiana Maurer
Lane, (1933-2006), é
considerada uma das
mais importantes Com ampla visibilidade nacional
teóricas da Psicologia e internacional, o seu conjunto
Social Brasileira. teórico é conhecido como "A
Escola Crítica de São Paulo".
Seus textos são obrigatórios na
maioria dos cursos de
Psicologia dos países de língua
portuguesa e espanhola. De
1980 a 1983, atuou como
presidente da ABRAPSO
(Associação Brasileira de
Psicologia Social), além de ser
um dos membros fundadores
da mesma.
PRINCIPAIS IDEIAS E CONTRIBUIÇÕES
Psicologia Social Crítica: Lane foi uma das principais
defensoras de uma psicologia social crítica, que não se
limita a descrever os fenômenos sociais, mas busca
compreendê-los a partir de uma perspectiva histórica e
dialética. Para ela, a psicologia social deve estar a serviço
da emancipação humana, contribuindo para a construção
de uma sociedade mais justa e igualitária.
Sujeito histórico: Lane concebia o ser humano como um
sujeito histórico e social, ou seja, como um indivíduo que
se constitui nas relações sociais e que é capaz de
transformar a realidade. Essa perspectiva contrapõe-se a
visões mais individualistas e ahistóricas do ser humano.
PRINCIPAIS IDEIAS E CONTRIBUIÇÕES
Vínculo com a realidade brasileira: Lane sempre
defendeu a importância de uma psicologia social que
estivesse conectada com a realidade brasileira, levando
em consideração as especificidades históricas, culturais e
sociais do nosso país. Seus estudos e pesquisas se
concentraram em temas como desigualdade social,
exclusão, violência, e questões relacionadas à identidade e
à cultura.
Compromisso social: A professora Lane defendia que a
psicologia social não pode ser neutra, mas deve assumir
um compromisso social e político. Para ela, a pesquisa e a
prática da psicologia devem contribuir para a
transformação das condições de vida das pessoas e para a
construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Sua trajetória acadêmica e intelectual foi marcada por uma busca incessante
por uma psicologia que dialogasse com as realidades brasileiras e latino-
americanas, questionando os modelos teóricos importados e buscando
construir um conhecimento mais relevante e transformador.
https://compromissosocial.org.br
EM OUTRAS PALAVRAS, IMPLICA QUE O CONHECIMENTO SEJA
COMPREENDIDO, ANTES DE TUDO, COMO PRÁXIS.
Considerar a Psicologia social como práxis
significa, segundo Lane, abrir mão da busca
pela neutralidade científica.
Em sua ciência, tanto o pesquisador quanto
o pesquisado são, ao mesmo tempo,
produtos e agentes histórico-culturais, e
definem-se por meio de relações sociais que
tanto podem reproduzir as condições sociais
em que ambos estão inseridos quanto
podem transformá-las.
Para Aroldo Rodrigues, essa ênfase na práxis e no compromisso social
do(a) pesquisador(a) foi o principal desencadeador da crise que atingiu a
Psicologia social em meados da década de 70. Segundo ele, a gravidade
dos problemas sociais da época gerou certo sentimento de culpa nos
psicólogos sociais, o que fez com que abandonassem o paradigma clássico
e buscassem outra orientação teórico-metodológica, passando, assim, da
ciência básica para um movimento articulado de ação social.
segundo Aroldo, essa crise só ocorreu devido à ignorância da distinção
entre ciência e tecnologia. Para ele, psicólogos sociais não são os
responsáveis por mudar a realidade social. Seu papel é o de produzir
conhecimento, sendo que a aplicação desse conhecimento e a resolução
de problemas concretos são tarefas dos tecnólogos sociais.
Outra importante diferença entre essas psicologias sociais refere-se ao
posicionamento em relação à universalidade da ciência. Para Lane,
Já Rodrigues discorda dessa
ênfase na geração de teorias e
métodos próprios a um país ou
região. Apesar de não ser contra a
produção de teorias e métodos
novos na América Latina, o autor
critica a ênfase dada à busca de
idiossincrasias quando, a seu ver,
a ciência deve procurar universais.