AO EXMO. SR. DR.
JUIZ DE DIREITO DA VARA DA AUDITORIA MILITAR DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
Processo nº: 0002340-16.2018.8.08.0024
A parte Apelada Gessiel, já qualificado nos autos em epígrafe, vem, tempestivamente,
apresentar
CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO
interposto pela parte Apelante Ministério Público, também já qualificada nos autos em
epígrafe, requerendo, desde logo, na forma das razões em anexo, a remessa dos autos ao
Egrégio Tribunal de Justiça com objetivo de obter o não provimento do recurso de Apelação.
Nos termos em que pede deferimento.
[CIDADE], [DATA]
[Nome do Advogado]
[OAB]
AO EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR RELATOR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO
APELADO: GESSIEL
PROCESSO DE ORIGEM nº: 0002340-16.2018.8.08.0024
I - DA TEMPESTIVIDADE
Tendo em vista que a sentença foi proferida na primeira instância no dia 22/06/2022 e o
recurso de apelação interposto no dia [DATA], as presentes contrarrazões, apresentadas
hoje, dia [DATA], [Nº de dias - até 15 dias úteis] após o [TERMO INICIAL], são tempestivas,
com base no artigo 1.010 § 1º do Código de Processo Civil.
II - DOS FATOS
No presente caso, trata-se de ação penal militar movida pelo Ministério Público Militar
Estadual em desfavor de Gessiel dos Santos Souza, cabo da Polícia Militar do Estado do
Espírito Santo, acusado de constrangimento ilegal, conduta tipificada no artigo 216-A do
Código Penal Brasileiro. A denúncia foi oferecida com base nos relatos de duas estagiárias,
Layla Leppa Fachetti e Rhayza Pereira Vilarinho Pancini, que alegaram ter sido vítimas de
assédio sexual durante o período em que desempenharam suas atividades na Diretoria de
Finanças do Quartel do Comando Geral da PMES, entre março e agosto de 2014.
Conforme narrado na denúncia, as estagiárias relataram que, ao longo de sua convivência
profissional com o acusado, este teria adotado comportamentos considerados inadequados e
invasivos. Inicialmente, o denunciado teria cumprimentado as vítimas com beijos e abraços,
mas, posteriormente, essas interações evoluíram para contatos físicos mais graves, como o
ato de tocar as nádegas e passar a mão sobre os seios de uma delas. Além disso, o acusado
teria proferido ameaças às vítimas, afirmando que, por serem estagiárias, ninguém
acreditaria em suas denúncias caso decidissem relatar os fatos. Esses relatos, segundo o
Ministério Público, foram a base para a formulação da denúncia.
No curso da instrução processual, foram colhidos depoimentos e realizadas diligências para
apuração dos fatos. A defesa do acusado optou por arrolar apenas uma testemunha, Sandro
Magueno Viana, que declarou não ter conhecimento de condutas desabonadoras por parte
do réu e destacou sua competência profissional. Contudo, o depoimento foi limitado, uma vez
que a testemunha não trabalhava diretamente com o acusado e tinha contato esporádico
com ele, restringindo a relevância de suas declarações para o caso em análise.
Ademais, foi realizada uma tentativa de extração de dados do celular do acusado, um
modelo Nokia C6, com o objetivo de obter informações que pudessem corroborar ou refutar
as acusações. No entanto, o dispositivo estava defeituoso, impossibilitando a coleta de
dados. Apesar disso, o cartão de memória do aparelho foi conectado a um computador, mas
não foram encontrados arquivos que pudessem confirmar as alegações de assédio.
O Ministério Público, no decorrer da instrução, solicitou a oitiva de testemunhas adicionais,
mas o pedido foi indeferido pelo juízo de primeira instância, que considerou a solicitação
extemporânea e entendeu que tal medida não era imprescindível para o deslinde do caso.
Após o encerramento da instrução, as partes apresentaram suas alegações finais, com a
defesa requerendo a absolvição do réu, subsidiariamente pleiteando a aplicação da pena no
patamar mínimo legal.
O juiz, ao proferir a sentença, absolveu Gessiel dos Santos Souza com base no artigo 386,
inciso VII, do Código de Processo Penal, por entender que não havia provas suficientes para
sustentar uma condenação. A decisão foi fundamentada na ausência de elementos robustos
que comprovassem a materialidade e a autoria delitiva, considerando que as declarações
das vítimas, embora relevantes, não encontraram respaldo em provas materiais ou
testemunhais adicionais que pudessem corroborá-las. Assim, o magistrado julgou
improcedente a denúncia, encerrando a fase de julgamento do processo.
Inconformado com a sentença absolutória, o Ministério Público interpôs recurso de apelação,
alegando, em síntese, que a ausência de alegações finais por parte da acusação configuraria
nulidade absoluta do processo, comprometendo os princípios constitucionais do contraditório
e da ampla defesa. O Parquet também sustentou que o juízo de primeira instância deveria ter
permitido a oitiva de testemunhas e solicitado nova manifestação do Ministério Público antes
de encerrar a instrução processual. Por tais razões, requereu a anulação da sentença e o
retorno dos autos para a continuidade da fase instrutória.
O recurso de Apelação não merece prosperar pelos fundamentos jurídicos que serão
expostos a seguir.
III - DO MÉRITO
I - DA MANUTENÇÃO DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS
A manutenção da sentença absolutória é medida que se impõe, diante da manifesta
insuficiência de provas que sustentem a condenação do apelado. O cerne da questão reside
na aplicação irrestrita do princípio da presunção de inocência, pilar fundamental do Estado
Democrático de Direito, consagrado em nossa Constituição Federal. A sentença proferida
pelo juízo a quo encontra respaldo no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal,
que determina a absolvição do réu quando não houver prova suficiente para a condenação.
No caso em tela, a acusação se baseia em relatos das supostas vítimas, que, embora
tenham apresentado suas versões dos fatos, não foram corroboradas por elementos
probatórios concretos e irrefutáveis. A ausência de provas materiais, como mensagens, fotos
ou testemunhas presenciais, fragiliza a tese acusatória. A tentativa de extração de dados do
celular do apelado restou infrutífera, demonstrando a inexistência de elementos que
pudessem confirmar as alegações.
A defesa, por sua vez, apresentou argumentos sólidos e convincentes, demonstrando a
fragilidade das acusações e a possibilidade de motivações diversas por trás dos relatos das
estagiárias. A ausência de relatos contemporâneos dos fatos à chefia imediata, somada à
falta de provas materiais, lança uma sombra de dúvida sobre a veracidade das alegações.
O ônus da prova recai sobre a acusação, que deve demonstrar, de forma clara e inequívoca,
a materialidade e a autoria do delito. Diante da insuficiência de provas, a dúvida deve sempre
favorecer o réu, em respeito ao princípio da presunção de inocência. A condenação, em um
caso como este, sem provas robustas, seria um atentado à justiça e um desrespeito aos
direitos fundamentais do apelado. A manutenção da sentença absolutória é, portanto, a única
solução que se coaduna com os princípios do direito penal e processual penal brasileiro.
II - DA AUSÊNCIA DE NULIDADE POR ALEGADA FALTA DE ALEGAÇÕES FINAIS
A alegação de nulidade da sentença, fundamentada na suposta ausência de alegações
finais, não merece prosperar. O cerne da questão reside na análise do prejuízo processual,
conforme preceitua o artigo 563 do Código de Processo Penal. A legislação processual penal
brasileira adota o princípio da instrumentalidade das formas, segundo o qual a declaração de
nulidade de um ato processual exige a demonstração de prejuízo. Em outras palavras, a
mera irregularidade formal, por si só, não é suficiente para invalidar um ato; é imprescindível
que a parte demonstre que a falha processual lhe causou efetivo dano.
No caso em apreço, o Ministério Público alega que a ausência de alegações finais resultou
em prejuízo. Contudo, não apresenta qualquer elemento concreto que demonstre de que
forma essa omissão processual teria prejudicado a sua atuação. A ausência de alegações
finais, por si só, não implica, necessariamente, em prejuízo. O que importa é verificar se a
parte teve a oportunidade de exercer o contraditório e a ampla defesa, princípios basilares do
processo penal.
No presente caso, a defesa do apelado apresentou suas alegações finais, exercendo
plenamente o direito de se manifestar sobre os fatos e as provas produzidas. A defesa expôs
suas teses, apresentou argumentos e requereu a absolvição do acusado. Portanto, o
contraditório e a ampla defesa foram assegurados. A ausência de alegações finais por parte
do Ministério Público, portanto, não cerceou o direito de defesa do apelado, nem impediu que
o juiz formasse sua convicção com base nas provas dos autos.
Ademais, a decisão judicial foi fundamentada na análise das provas produzidas, conforme
demonstrado na sentença. O juiz analisou os depoimentos das testemunhas, as provas
documentais e demais elementos constantes nos autos, para formar sua convicção. A
ausência de alegações finais por parte do Ministério Público não impediu o juiz de analisar as
provas e proferir uma decisão justa. A sentença, portanto, não padece de qualquer vício que
justifique a sua anulação. A manutenção da sentença, portanto, é medida que se impõe, em
respeito ao princípio da instrumentalidade das formas e à ausência de demonstração de
prejuízo.
III - DA DESNECESSIDADE DE OITIVA DE TESTEMUNHAS NA FASE RECURSAL
A alegação do Apelante de que a oitiva de testemunhas é imprescindível e que a ausência
desta fase processual acarreta nulidade da sentença não se sustenta. A legislação
processual penal militar, em seu artigo 51, estabelece que a produção de provas em
segunda instância é uma medida excepcional, reservada para situações em que a prova seja
crucial para o esclarecimento da controvérsia e não tenha sido possível produzi-la na fase
instrutória. No caso em tela, a defesa do Apelado demonstra que a produção de provas
testemunhais não é essencial para o deslinde do caso, uma vez que a sentença de
absolvição foi fundamentada na ausência de provas robustas que comprovassem a autoria e
a materialidade delitiva, conforme exigido para a sustentação de uma sentença condenatória.
A defesa do Apelado ressalta que a acusação teve a oportunidade de arrolar e ouvir as
testemunhas durante a instrução processual, mas optou por não fazê-lo. A decisão de não
produzir essa prova em momento oportuno não pode agora justificar a reabertura da
instrução em sede recursal. Permitir a produção de provas em segunda instância, sem que
haja justificativa plausível para a impossibilidade de fazê-lo na fase instrutória, abriria um
precedente perigoso, que violaria o princípio do devido processo legal, previsto na
Constituição Federal.
A busca pela verdade real, embora importante, não pode se sobrepor aos princípios que
garantem a segurança jurídica e a celeridade processual. A reabertura da instrução
processual em segunda instância, sem que haja demonstração da imprescindibilidade da
prova e da impossibilidade de sua produção em momento oportuno, representaria uma
indevida supressão de instância. O juízo de primeiro grau analisou as provas existentes,
incluindo os depoimentos das testemunhas ouvidas e a ausência de provas materiais, e
formou sua convicção. A pretensão do Apelante de reverter essa decisão, com base na oitiva
de testemunhas que poderiam ter sido ouvidas em momento anterior, não encontra respaldo
na legislação processual penal militar e, portanto, deve ser rejeitada. A decisão do juiz de
primeiro grau foi fundamentada na análise das provas apresentadas e na legislação
pertinente ao caso, não havendo qualquer vício que justifique a anulação da sentença.
IV - DA VALIDADE DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA PROFERIDA COM BASE NO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO
A sentença absolutória proferida pelo juízo a quo deve ser mantida, pois se baseia no
princípio do livre convencimento motivado, pilar fundamental do sistema processual penal
brasileiro. O magistrado, ao analisar as provas produzidas durante a instrução processual,
exerceu a prerrogativa de formar sua convicção de maneira livre, porém, fundamentada. A
Constituição Federal, em seu artigo 93, inciso IX, exige que todas as decisões judiciais sejam
motivadas, ou seja, que o juiz apresente os fundamentos de fato e de direito que o levaram a
decidir de determinada forma. No caso em tela, a sentença demonstra, de forma clara e
precisa, as razões pelas quais o juiz entendeu não haver provas suficientes para a
condenação do apelado.
A alegação do apelante de que a sentença é nula por ausência de alegações finais não se
sustenta. A decisão de absolvição foi proferida com base na análise das provas existentes
nos autos, e não na ausência de manifestação da acusação. O juiz, ao constatar a
insuficiência probatória, agiu em conformidade com o princípio in dubio pro reo, que impõe a
absolvição do réu quando não há certeza sobre a autoria e a materialidade do delito. A
ausência de alegações finais, por si só, não invalida a sentença, especialmente quando a
decisão se baseia na análise das provas produzidas e na ausência de elementos que
comprovassem a prática do crime.
A discordância do apelante com o entendimento do juiz não é suficiente para justificar a
anulação da sentença. O sistema processual penal brasileiro não exige que o juiz decida de
acordo com a tese da acusação. O magistrado tem o dever de analisar as provas de forma
crítica e imparcial, e de decidir de acordo com sua convicção, desde que devidamente
fundamentada. No caso em questão, o juiz demonstrou, de forma clara e coerente, os
motivos que o levaram a absolver o apelado, com base na insuficiência de provas. A
sentença, portanto, deve ser mantida, pois reflete a aplicação correta do direito e o respeito
ao princípio do livre convencimento motivado. A tentativa de desconstituir a sentença com
base em supostas nulidades processuais, sem demonstrar qualquer vício na análise das
provas, não pode prosperar.
V - DA IMPOSSIBILIDADE DE REFORMA DA SENTENÇA PARA CONDENAR SEM
PROVAS ROBUSTAS
A pretensão do Ministério Público em reformar a sentença absolutória para condenar o
Apelado, Gessiel dos Santos Souza, esbarra em um obstáculo intransponível: a ausência de
provas robustas e inequívocas da autoria e da materialidade delitiva. A condenação criminal,
no sistema jurídico brasileiro, exige um juízo de certeza, e não de mera probabilidade ou
suspeita. O princípio da presunção de inocência, consagrado na Constituição Federal, impõe
que ninguém seja considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.
A sentença absolutória proferida pelo juízo de primeiro grau, fundamentada na ausência de
provas suficientes para a condenação, encontra respaldo no artigo 386, inciso VII, do Código
de Processo Penal. Este dispositivo legal estabelece que o juiz deverá absolver o réu quando
não existir prova suficiente para a condenação. No caso em tela, a análise das provas
produzidas durante a instrução processual revela a fragilidade dos elementos probatórios
apresentados pela acusação. Os depoimentos das supostas vítimas, embora relevantes, não
foram corroborados por outras provas, como testemunhas presenciais ou evidências
materiais.
A defesa, por sua vez, apresentou elementos que lançam dúvidas sobre a veracidade das
acusações, como a ausência de relatos contemporâneos dos fatos e a existência de
contradições nos depoimentos das vítimas. A tentativa de extração de dados do celular do
acusado, que poderia ter fornecido elementos importantes para a investigação, restou
frustrada devido a problemas técnicos no aparelho. A ausência de provas contundentes,
aliada às contradições e fragilidades nos depoimentos, impede a formação de um juízo de
certeza sobre a prática do crime de constrangimento ilegal.
A reforma da sentença para condenar o Apelado, com base em provas frágeis e
insuficientes, representaria uma flagrante violação aos princípios constitucionais da
presunção de inocência, do devido processo legal e da segurança jurídica. A condenação,
nesse contexto, seria arbitrária e injusta, pois se basearia em meras conjecturas e
suposições, em vez de provas concretas e irrefutáveis. A manutenção da sentença
absolutória, portanto, é a única medida que se coaduna com os princípios e as normas que
regem o processo penal brasileiro, garantindo a proteção dos direitos fundamentais do
Apelado e a preservação da justiça.
IV - DOS REQUERIMENTOS
Diante do acima exposto, e dos documentos acostados, são requeridos os seguintes pleitos
na presente peça:
O recebimento das contrarrazões de apelação.
O não provimento do recurso de apelação interposto.
A manutenção da sentença de absolvição proferida em favor de Gessiel dos Santos
Souza, com base na ausência de provas robustas da autoria e materialidade delitiva.
Nestes termos
Pede deferimento
[Cidade/UF]
[Advogado/OAB]