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Parte Vi: Quilombolas Alto Trombetas II

O documento aborda as contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade no Brasil, destacando a importância de suas práticas e conhecimentos. A obra é resultado de um esforço colaborativo de mais de duzentos pesquisadores e enfatiza a necessidade de políticas públicas que respeitem e integrem essas comunidades. A seção específica sobre os quilombolas do Alto Trombetas II apresenta um diagnóstico elaborado pelos próprios membros da comunidade, evidenciando sua relação com o território e a agrobiodiversidade.

Enviado por

Marcio Costa
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Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Parte Vi: Quilombolas Alto Trombetas II

O documento aborda as contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade no Brasil, destacando a importância de suas práticas e conhecimentos. A obra é resultado de um esforço colaborativo de mais de duzentos pesquisadores e enfatiza a necessidade de políticas públicas que respeitem e integrem essas comunidades. A seção específica sobre os quilombolas do Alto Trombetas II apresenta um diagnóstico elaborado pelos próprios membros da comunidade, evidenciando sua relação com o território e a agrobiodiversidade.

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Organizadoras:

Manuela Carneiro da Cunha


Sônia Barbosa Magalhães
Cristina Adams

PARTE VI

Seção 17
Quilombolas
Alto Trombetas II

Povos Tradicionais e
Biodiversidade no Brasil
Contribuições dos povos indígenas,
quilombolas e comunidades tradicionais
para a biodiversidade, políticas e ameaças
Organizadoras:
Manuela Carneiro da Cunha
Sônia Barbosa Magalhães
Cristina Adams

Povos Tradicionais
e Biodiversidade
no Brasil
Contribuições dos povos
indígenas, quilombolas
e comunidades tradicionais
para a biodiversidade,
políticas e ameaças

PARTE VI

Seção 17
Quilombolas
Alto Trombetas II

Povos Tradicionais e
Biodiversidade no Brasil
Contribuições dos povos indígenas,
quilombolas e comunidades tradicionais
para a biodiversidade, políticas e ameaças

São Paulo/2022
SBPC
Publicado pela
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC
Rua Maria Antonia, 294 - 4º andar - Vila Buarque - 01222-010 São Paulo - SP - Brasil
Tel.: (11) 3259.2766 - http://portal.sbpcnet.org.br

O presente trabalho foi realizado com apoio de

Projeto gráfico original


Carlos Bravo

Editoração eletrônica e infográficos


Felipe Horst

Revisão e normalização
Vera Carvalho

Apoio técnico
Léa Gomes de Oliveira
Este trabalho é dedicado aos povos indígenas,
quilombolas e comunidades tradicionais.

Apresentação
Como os povos tradicionais contribuem para a biodiversidade do Brasil? Em que me-
dida as políticas públicas afetam esses povos e suas contribuições? São esses os temas que
esta obra aborda. Mais de duzentos pesquisadores entre acadêmicos, indígenas, quilombolas,
membros de comunidades tradicionais e técnicos de instituições públicas, procuraram reunir,
durante quatro anos (2018-2021), o que até hoje se sabe para fundamentar as respostas.

Esses temas, em si, não são novos. A Convenção da Diversidade Biológica, de 1992, pôs
em relevo a importância dos povos indígenas e comunidades locais para a biodiversidade. A
Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, a IPBES,
desde sua criação em 2012, se propôs a inclusão do conhecimento, práticas e inovações dos
povos indígenas e comunidades locais nos seus relatórios continentais ou globais.

O que é novo, portanto, não são os temas e as fontes a que recorremos, e sim o âmbito e
a especial atenção dada a povos indígenas, quilombolas e às muitas comunidades tradicionais,
que representam a megadiversa população tradicional que vive e atua em um país biologica-
mente também megadiverso. O Brasil, por essas duas características, tem uma responsabili-
dade ímpar no desenho de políticas públicas sociais e ambientais. O que a Costa Rica repre-
sentou em políticas de biodiversidade, o Brasil pode vir a se tornar nas de sociobiodiversidade.

Seguimos nesta pesquisa a inspiração dos relatórios da Plataforma IPBES. Os seus des-
tinatários primários são os tomadores de decisão, o que não lhe diminui o valor documental e
de análise para especialistas diversos, entre eles os próprios povos tradicionais e os historia-
dores das gerações futuras. Na linha do IPBES, trata-se de um grande levantamento de dados
e informações secundárias, compilados e analisados para trazer elementos de respostas às
perguntas propostas pelo projeto. Alguns capítulos, entretanto, trazem informações primá-
rias, incluindo mapas, produzidas especificamente para este fim.

A Amazônia é o bioma sobre o qual se conseguiu reunir mais documentação, assim como
há maior volume de informações sobre povos indígenas. Esse viés é atribuível à diferença no vo-
lume de fontes e de pesquisas. Por enquanto, são menos abundantes as fontes disponíveis sobre
quilombolas e comunidades tradicionais. Basta lembrar que a população quilombola iria figurar,
pela primeira vez, apenas no censo populacional que estava previsto para 2020. Mas começam a
se avolumar dados sobre a importância das contribuições de povos tradicionais e de quilombo-
las para a biodiversidade, e a pesquisa deverá prosseguir com novos pesquisadores.
A obra se agigantou ao longo do percurso. São seis partes, contendo 17 seções, cada
uma composta por vários capítulos. A última parte, trazendo três seções, é dedicada a pesqui-
sas interculturais realizadas especificamente para este projeto, a fim de evidenciar a fecundi-
dade da colaboração entre regimes distintos de conhecimentos sobre o ambiente, as vidas e
o funcionamento do mundo. Pareceu-nos mais razoável repartir a publicação em volumes no
portal da SBPC. Cada volume corresponde a uma seção temática, e não seguirá no portal a or-
dem do plano geral da obra, que consta abaixo. Ao final, todos os volumes serão juntados em
uma única edição, acrescida de uma introdução geral.

São Paulo e Belém, 28 de março de 2021.

Manuela Carneiro da Cunha, Sônia Barbosa Magalhães e Cristina Adams

Povos Tradicionais
e Biodiversidade
no Brasil
Contribuições dos povos
indígenas, quilombolas
e comunidades tradicionais
para a biodiversidade,
políticas e ameaças
PLANO GERAL DA OBRA

POVOS TRADICIONAIS E
BIODIVERSIDADE NO BRASIL
Contribuições dos povos indígenas,
quilombolas e comunidades tradicionais para
a biodiversidade, políticas e ameaças

PARTE I. TERRITÓRIOS E DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS, QUILOMBOLAS E


COMUNIDADES TRADICIONAIS

• SEÇÃO 1. QUEM SÃO, QUANTOS SÃO


• SEÇÃO 2. TERRITÓRIOS (ONDE ESTÃO?)
• SEÇÃO 3. DIFICULDADES NA EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS TERRITORIAIS
• SEÇÃO 4. ALGUNS DIREITOS ESPECÍFICOS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

PARTE II. CONTRIBUIÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS, QUILOMBOLAS E


COMUNIDADES TRADICIONAIS À BIODIVERSIDADE

• SEÇÃO 5. OS TERRITÓRIOS INDÍGENAS E TRADICIONAIS


PROTEGEM A BIODIVERSIDADE?
• SEÇÃO 6. BIODIVERSIDADE E AGROBIODIVERSIDADE
COMO LEGADOS DE POVOS INDÍGENAS
• SEÇÃO 7. GERAR, CUIDAR E MANTER A DIVERSIDADE BIOLÓGICA
• SEÇÃO 8. CONHECIMENTOS ASSOCIADOS À BIODIVERSIDADE

PARTE III. POLÍTICAS PÚBLICAS DIRECIONADAS AOS POVOS INDÍGENAS,


QUILOMBOLAS E COMUNIDADES TRADICIONAIS

• SEÇÃO 9. INCENTIVOS AO USO DA TERRA E PRODUÇÃO


• SEÇÃO 10. POLÍTICAS EDUCACIONAIS, DE SAÚDE E DE PROTEÇÃO SOCIAL
PARTE IV. POLÍTICAS PÚBLICAS QUE AMEAÇAM OS POVOS INDÍGENAS,
QUILOMBOLAS E COMUNIDADES TRADICIONAIS

• SEÇÃO 11. PROJETOS ECONÔMICOS E DE INFRAESTRUTURA


• SEÇÃO 12. POLÍTICAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS: CONFLITOS
• SEÇÃO 13. AMEAÇAS

PARTE V. AVALIAÇÕES INTERNACIONAIS

• SEÇÃO 14. AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DE


METAS SUBSCRITAS PELO BRASIL

PARTE VI. PESQUISAS INTERCULTURAIS

• SEÇÃO 15. POVOS INDÍGENAS


• SEÇÃO 16. COMUNIDADES TRADICIONAIS
• SEÇÃO 17. QUILOMBOLAS. ALTO TROMBETAS II
Agradecimentos
O contexto: em 2011, o MCTI acolheu e colocou no plano plurianual a proposta de tes-
tar um programa inovador. Tratava-se de apoiar pesquisas interculturais, reunindo cientistas
e membros de povos indígenas, quilombolas e comunidades locais tradicionais em torno de
temas de interesse mútuo, bem como fortalecer pesquisas independentes empreendidas por
povos tradicionais. Com esse propósito, o MCTI encomendou e repassou ao CNPq as verbas
para dois projetos. O primeiro projeto se propôs estabelecer as bases de um tal programa e
realizar experiências-piloto. O segundo projeto, inspirado nos relatórios da Plataforma IPBES,
criado em 2012, foi o que deu origem ao trabalho que agora apresentamos.

São muitas as instituições e pessoas a que devemos agradecimentos:

ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) que encomendou a pesquisa;


ao CNPq que a viabilizou (Processo CNPQ 421752/2017-3); ao generoso doador que quer fi-
car anônimo e à Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES)
que fizeram aportes suplementares ao orçamento do projeto; à Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), que acolheu o projeto desde o início e o publica em seu portal;
à Biblioteca Guita e José Mindlin da Universidade de São Paulo (USP), que se dispôs a receber,
conservar e abrir para consulta o conjunto da obra e o acervo documental que o acompanha;
ao Instituto Socioambiental (ISA), grande fonte de documentação e informações; à Universi-
dade Federal do Pará e à Universidade de São Paulo que acolheram a proposta em sua plata-
forma de projetos;

a Aline Santos Lopes, Aloizio Mercadante, Andréa Dias Victor, Bruno Marangoni Mar-
tinelli, Eunice Fernandes Personini, Fábio Scarano, Helena Nader, Ildeu de Castro Moreira, Léa
Gomes de Oliveira, Mercedes Bustamante;

e a todos os autores que colaboraram voluntariamente com este gigantesco


levantamento!
PARTE VI.
PESQUISAS INTERCULTURAIS

Seção 17
Quilombolas
Alto Trombetas II
Autores:

Elielma de Jesus Pires; José Adeã Castro dos Santos; Luciana Gonçalves de Carvalho
Sumário
INTRODUÇÃO  10
Manuela Carneiro da Cunha, Sônia Barbosa Magalhães e Cristina Adams

17.1. O TERRITÓRIO QUILOMBOLA ALTO TROMBETAS II  12

Elielma de Jesus Pires, José Adeã Castro dos Santos, Luciana Gonçalves de Carvalho
17.1.2. Histórico de ocupação e luta pelo território  16
17.1.3. A vida no território  24
17.1.4. A agrobiodiversidade no território: recursos e usos  38
17.1.4.1. Curuçá  39
17.1.4.2. Jamari  50
17.1.4.3. Juquiri Grande  61
17.1.4.4. Juquirizinho  70
17.1.4.5. Moura  81
17.1.4.6. Nova Esperança  85
17.1.4.7. Palhal  95
17.1.4.8. Último Quilombo  99
17.1.5. Diagnóstico  106

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  121

ANEXO - RELATÓRIO DA EXPERIÊNCIA QUILOMBOLA DO ALTO TROMBETAS II  123


SEÇÃO 17

Quilombolas
Alto Trombetas II

Introdução

Manuela Carneiro da Cunha, Sônia Barbosa Magalhães e Cristina Adams

Este volume encerra a coleção Povos Tradicionais e Biodiversidade no Brasil. Integra


a Parte VI – Pesquisas Interculturais, trazendo a experiência de quilombolas do território do
Alto Trombetas II na elaboração de seu próprio diagnóstico. Como mencionamos na Seção 16,
o propósito das Pesquisas Interculturais é evidenciar o modo como comunidades tradicionais
se relacionam com diversos biomas no Brasil, e chamar a atenção para a riqueza e pluralidade
dos conhecimentos por elas detidos e produzidos; as variadas formas de organização social e
de uso do ambiente; as práticas e sistemas de produção que resultam em contribuições para
a biodiversidade; assim como as políticas públicas e a legislação ambiental que ameaçam a re-
produção dessas sociedades e a conservação de seus territórios.

Dessa perspectiva, este volume se destaca dos demais por sua metodologia e autoria
e contribui para a pluralidade de tipos de pesquisas e metodologias que suportam os resulta-
dos apresentados nesta coleção.

Trata-se do diagnóstico realizado por quilombolas do Alto Trombetas II, de acordo com
o próprio Protocolo de Consulta Prévia, Livre e Informada, onde são claras as condições de
aceitabilidade de demandas externas. Em relação a este diagnóstico a Associação das Comu-
nidades Remanescentes de Quilombo do Alto Trombetas II (ACRQAT) o submeteu à discussão
interna, tanto a pertinência quanto a metodologia e a possibilidade de sua execução. Os dados
apresentados foram produzidos em diálogos entre membros e diretores da associação.

Escrito com exclusividade para este volume, os autores se apropriam dos dados e in-
formações que têm sido produzidos sobre a sua sociedade e os alargam, seja por acréscimo
tout court, seja por lhes imprimir um novo ordenamento e uma outra lógica discursiva. Assim,
combinam resultados obtidos por metodologias tradicionais em sua própria comunidade e
os interpretam de modo a torná-los inteligíveis a partir do ponto de vista deles. E também
combinam trabalhos de campo realizados por eles e por outsiders. O texto foi escrito por qui-
lombolas em interlocução com a pesquisadora Luciana Carvalho que desenvolve trabalhos de
pesquisa no território há uma década. Os detalhes referentes à metodologia encontram-se
no Anexo – Relatório da experiência quilombola do Alto Trombetas II.

PARTE VI - SEÇÃO 17 10
Ao longo do volume são apresentados: uma caracterização geral do território, uma
breve história de sua ocupação e reconhecimento, bem como a resistência para aí permanecer
num contexto de restrições advindas da redefinição de sua ocupação e uso, com a criação de
Unidades de Conservação – a Reserva Biológica do Rio Trombetas e a Floresta Nacional Sara-
cá-Taquera; além da implantação da indústria de exploração de bauxita pela Mineração Rio do
Norte. A seguir é apresentado o detalhamento da agrobiodiversidade e de seu uso no territó-
rio, considerando as oito comunidades que o compõem.

Para maiores elementos, sobre o contexto no qual está inserido o território quilombola
Alto Trombetas II, sugerimos aos leitores uma consulta à Seção 11 - Projetos Econômicos e de
Infraestrutura; e à Seção 12 - Políticas Agrárias e Ambientais: Conflitos, nesta coleção.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 11


17.1. O TERRITÓRIO QUILOMBOLA
ALTO TROMBETAS II
Elielma de Jesus Pires1, José Adeã Castro dos Santos2,
Luciana Gonçalves de Carvalho3

17.1.1. Visão geral do território

O Território Quilombola (TQ) Alto Trombetas II fica no município de Oriximiná, no no-


roeste do Pará, entre outros dois territórios quilombolas: a montante do Rio Trombetas, o
TQ Alto Trombetas I; e, a jusante, o TQ Boa Vista. Seus limites são: ao norte com a Reserva
Biológica do Rio Trombetas; ao sul com a Floresta Nacional de Saracá-Taquera; ao leste com
o Território Quilombola Boa Vista, Distrito de Porto Trombetas (Mineração Rio do Norte,
MRN), Rio Trombetas, Floresta Nacional de Saracá-Taquera, Reserva Biológica do Rio Trom-
betas, Lagoa do Caruara; a oeste com Rio Trombetas, Território Quilombola Alto Trombetas
I, Lago Erepecu, Igarapé do Estreito, Lagoa Redonda, Reserva Biológica do Rio Trombetas e
Floresta Nacional de Saracá-Taquera (v. Figura 1).

Figura 1. Localização do Território Alto Trombetas II.

1 Quilombola da comunidade Moura, professora, coordenadora de Mulheres da ACRQAT.


2 Quilombola da comunidade Palhal, atual vice-coordenador de Cultura da ACRQAT.
3 Antropóloga, professora da Ufopa, atuando junto à ACRQAT desde 2012.

PARTE VI - SEÇÃO 17 12
O TQ é composto por oito comunidades sediadas nas duas margens do Rio Trombetas.
Na margem esquerda ficam: Último Quilombo, Nova Esperança, Juquiri Grande e Juquirizinho;
na margem direita estão: Moura, Palhal e Curuçá; e, com ocupações em ambas as margens, o
Jamari. O acesso a elas é realizado exclusivamente por via fluvial, a partir da cidade de Oriximi-
ná ou de Porto Trombetas, company town da Mineração Rio do Norte, que explora bauxita na
região desde a década de 1970.

Em toda a área ocupada pelos quilombolas há sobreposição com Unidades de Conser-


vação (UC) federais, sendo uma de proteção integral, a Reserva Biológica do Rio Trombetas,
na margem esquerda do rio, e uma de Uso Sustentável, a Floresta Nacional de Saracá-Taquera,
na margem direita. Nos limites desta última, o território quilombola Alto Trombetas enfrenta,
ainda, sobreposição com zonas de mineração.

As sobreposições territoriais são expressões de sobreposições de interesses e direi-


tos que entram em choque. Elas constituem, frequentemente, motivos de conflito entre as
comunidades quilombolas, o Estado e a empresa mineradora, os quais serão abordados mais
adiante. No entanto, elas constituem, também, especialmente no que se refere às Unidades de
Conservação, um potente indicador da biodiversidade existente no ambiente vivido pelos qui-
lombolas do Alto Trombetas. Uma extensa malha hidrográfica e florestas ricas em espécies
vegetais e animais servem aos moradores do território em diversas atividades laborais, práti-
cas culturais e momentos de lazer. Já o subsolo, rico em minério, é visado pela empresa MRN.
A Figura 2 representa o atual zoneamento das duas áreas protegidas incidentes no território.

No que tange à Reserva Biológica (Rebio), é notória a concentração de castanhais no


entorno do Lago Erepecu, onde se delineia uma zona de uso conflitante, devido à presença das
comunidades quilombolas e ao uso econômico que fazem da castanha como um dos principais
recursos explorados no território, entre muitos outros que incluem o breu, o açaí, uma varie-
dade de palhas, pescados, quelônios e caças.

Já em relação à Flona, destaca-se a extensão da zona de mineração, que ocupa uma


parcela significativa do território quilombola e do seu entorno. Ademais, vale notar a existên-
cia de Unidades de Manejo Florestal (UMF) destinadas à exploração madeireira, realizada sob
gestão do Serviço Florestal Brasileiro. Embora não se sobreponham ao TQ Alto Trombetas II,
as UMF localizam-se nas suas bordas, como demonstra a Figura 3.

Perante os atores externos que representam pressões e ameaças à biodiversidade e


ao modo de vida local, as comunidades quilombolas têm elaborado formas de resistência em
defesa da vida, do território e dos recursos naturais aos quais suas práticas estão intrinse-
camente ligadas. Nas formas de organização comunitária traduzem-se processos históricos
que remontam à formação dos mocambos como espaços de enfrentamento da opressão e da
privação de direitos, não só durante o período escravista, mas ao longo de décadas de expro-
priações pós-Abolição.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 13


Figura 2. Zoneamento da Rebio e da Flona. Fonte: ICMBio.

PARTE VI - SEÇÃO 17 14
Figura 3. Concessões florestais na Flona Saracá-Taquera. Fonte: ICMBio.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 15


17.1.2. Histórico de ocupação e luta pelo território

A história de ocupação do TQ Alto Trombetas II remete ao século XIX, quando a fuga


de africanos escravizados nas fazendas do Baixo Amazonas deu origem a povoações negras
acima das cachoeiras do Rio Trombetas, então chamadas mocambos (ACEVEDO; CASTRO,
1993; FUNES, 2000; SALLES, 2005). Com a abolição da escravidão, a população dos mocam-
bos desceu o rio, vindo a fixar-se em locais de mais fácil acesso e mais próximos dos principais
núcleos urbanos da região: Oriximiná e Óbidos.

Unidos por laços de parentesco, tradições comuns e memórias compartilhadas desde o


tempo dos mocambos, os grupos negros se organizaram politicamente em bases comunitárias
a partir da década de 1980, reagindo a uma série de ameaças trazidas por pessoas, empresas e
governos que viriam a alterar profundamente os territórios até então ocupados. Em resumo,
importantes fatos ocorridos entre 1976 e 2012 concorreram para as situações que afetam a
biodiversidade local.

Primeiramente, os anos 1970 e 1980 correspondem à instauração de uma nova dinâ-


mica territorial nos domínios das comunidades atualmente representadas pela ACRQAT. Um
marco da mudança é a chegada da empresa Mineração Rio do Norte , que se instalou nas ime-
diações das comunidades, criando a já mencionada company town de Porto Trombetas, em
1976, ano do primeiro embarque de bauxita para exportação.

Figura 4. Vista da entrada de Porto Trombetas. Fonte: Cumbuca Norte (2017).

PARTE VI - SEÇÃO 17 16
Construída para abrigar os funcionários da empresa, a cidade ou vila da mineração,
como é chamada, se distinguiu absolutamente das comunidades do entorno por possuir sis-
temas de fornecimento de energia elétrica, abastecimento de água e saneamento, além de
edificações como escola, hospital, supermercado, clube, bancos e escritórios. Ademais, em se
tratando de uma área particular, Porto Trombetas erigiu-se como uma cidade fechada onde
os antigos ocupantes da região foram impedidos de entrar e transitar. Atualmente, o marco
físico do cercamento da área é uma guarita, onde agentes de segurança privada controlam a
passagem de pedestres e veículos. O acesso à cidade só é liberado para os portadores de um
documento (crachá ou carteirinha) concedido pela MRN aos seus convidados ou visitantes au-
torizados.

Logo após a instalação da MRN na região, o governo federal criou a Reserva Biológica
do Rio Trombetas (RBRT) em sobreposição a áreas previamente ocupadas pelas comunidades
quilombolas. No ano de criação da Rebio, 1979, os quilombolas foram surpreendidos por uma
série de restrições de acesso a lagos, florestas, igarapés e tabuleiros de desova de tartarugas
compreendidos na nova UC. Por conseguinte, ficaram impedidos de usar recursos dos quais
dependiam, destacadamente os castanhais em torno do Lago Erepecu (Figura 2). Na entrada
do lago, uma base fluvial de fiscalização do ICMBio obriga a parada de todas as embarcações
para vistoria de passageiros e cargas (Figura 5).

Figura 5. Base do ICMBio na entrada do Lago Erepecu. Fonte: Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC)
Quilombos de Oriximiná.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 17


A ação dos fiscais é controversa. Por um lado, os quilombolas entendem que ela é impor-
tante para proteção dos recursos naturais na Rebio, pois inibe o uso desenfreado e a entrada de
invasores. Por outro lado, eles chamam atenção para a necessidade de se estabelecer uma rela-
ção de mais diálogo e parceria entre o órgão ambiental e as comunidades, entendendo que a lei
deve ser adequada à realidade dos moradores da área, que estão ali há gerações: “Olha, vamos
procurar aqui no lago desse onde nós moramos. Isso aí bem dizer é nosso, não é verdade? Na ver-
dade, a gente não pode tirar um peixe que eles tomam e vão dar o peixe lá na frente” (CUMBUCA
NORTE, 2017, p. 254). Os quilombolas clamam por aplicações mais justas da lei:

Porque o Ibama diz que é proibido pescar, é proibido tirar açaí para vender... É o jeito
a gente passar como ladrão, a gente roubar o que é da gente. Porque a gente tem
que se sustentar, tem que sustentar os filhos da gente. A não ser que eles abrissem
uma porta para gente, dessem uma opção. Aí tinha como a gente não fazer coisa
errada porque, nós, seres humanos, a gente sabe o que é coisa errada. Tem que obe-
decer à lei, mas a lei tem que abrir uma porta para gente. A gente acaba prejudicado
pela mineração, pelo Ibama. É bom ter o Ibama aqui, é bom porque tem muito inva-
sor mesmo, mas muitos fazem pela sua sobrevivência porque não têm outra opção
(CUMBUCA NORTE, 2017, p. 254).

A relação com o órgão ambiental é tensionada por experiências passadas que se fixa-
ram na memória coletiva e são revividas em muitas narrativas biográficas. No passado, devido
à ação abusiva de fiscais da Rebio, muitos descendentes dos antigos mocambos foram com-
pulsoriamente deslocados das terras em que viviam, inclusive sem indenização. Outros foram
presos, surrados e mortos por agentes do próprio órgão ambiental, que, à época, era o IBDF
(futuro Ibama). Uma declaração citada no Estudo do Componente Quilombola (ECQ) (CUM-
BUCA NORTE, 2017, p. 389-390) é emblemática do que se passou no período em questão:

[...] foi em 1979 que chegou o Ibama para cá. A gente vivia aqui uma vida mais tran-
quila. Meu pai nasceu aqui, mas eles sempre diziam: “Nada é de vocês”, “não pode
tocar aí”, “isso é nosso”. Mas a gente sempre insistiu em viver porque a gente nas-
ceu aqui, né? Aí a gente ia sempre conversando com eles, eles não deixavam a gente
muito à vontade mas a gente insistia. Resistimos aos patrões, resistimos ao Ibama,
ao IBDF, na época, em 79 eles chegaram aqui. Tratavam mal a gente aqui, aí a gente
obedecia um pouco a eles para não entrar muito no conflito, mas resistimos e a gen-
te não saiu. Foi criada a reserva em 1979 em cima de nós aqui. Os [nossos] pais, os
avós já estavam tudo aqui. Não chegaram a cobrar para gente sair, agora humilha-
ram muito a gente, oprimiram muito a gente, que a gente chegava assim na casa da
gente e estava cozinhando tracajá ou uma caça e eles pegavam a panela e jogavam
a comida fora. Era uma pressão muito forte para gente. Castanha, eles tomavam a
castanha da gente, prendiam a castanha da gente. Aí começamos a sobreviver aqui,
como é que a gente ia sobreviver que eles tomavam a castanha, tomavam tudo. Mas
aí a gente resistiu a essa força. A gente se humilhava para eles, mas a gente não saiu.
A gente se humilhava para eles dizia [para o IBDF] “dá a castanha para gente comer,
a gente não tem o que comer”, aí eles [os regatões] traziam a despesa, o rancho,

PARTE VI - SEÇÃO 17 18
para a gente comprar e trocava com castanha. É açúcar, café, a gente chama rancho.
A gente comprava e trocava com castanha. Era isso, a gente comprava e insistia em
ficar por que daqui a gente ia para onde?

A proximidade dos marcos de instalação da MRN e de criação da Rebio faz com que, até
hoje, muitos quilombolas entendam-nas como um só evento, ou, ainda, vejam a UC como uma
medida da mineradora: “Desde o início, a mineração já está trazendo impacto. Nós já estamos
sofrendo impacto há anos. O primeiro impacto foi que foi criada a Rebio [...]. Acabou com a liber-
dade da gente essa mineração” (CUMBUCA NORTE, 2016, p. 144). De fato, tanto a mineração
quanto a reserva implicaram expulsões, proibições de acesso a porções do território historica-
mente ocupado e restrições ao uso de recursos tradicionalmente explorados pelas comunida-
des. Assim, como está exposto no ECQ (CUMBUCA NORTE, 2017, p. 144), muitas pessoas asso-
ciam indistintamente os agentes causadores de conflitos em torno do uso do território.

Bom, nós vamos começar pelo conflito que, se está hoje, foi causado pela minera-
ção: são as UCs, as Unidades de Conservação. As Unidades de Conservação, elas
vieram acontecer na região por uma questão da Mineração Rio do Norte, que pre-
tendia ter em mãos – e o governo também – esse espaço, território. Foi uma forma
de intimidar a população e conservar para mineração. Hoje é um conflito aqui, nos-
so, causado pela mineração. Toda essa área é cercada de bauxita. Tem conflito com
restrições, criação de regras aqui para a comunidade, e essas regras causam confli-
tos porque muitos não atendem.

As reações aos impactos negativos gerados pela Rebio e pela MRN foram organiza-
das a partir dos anos 1980, com apoio de membros da Igreja Católica que fomentaram práti-
cas associativas como estratégia para a fundação de comunidades politicamente unificadas
sobre uma base territorial compartilhada. A organização dessas unidades políticas ganhou
força após a promulgação da Constituição Federal de 1988, que, no Ato de Disposições Cons-
titucionais Transitórias, reconheceu às comunidades remanescentes de quilombo o direito à
propriedade definitiva das terras tradicionalmente ocupadas. Em 1989 ocorreu a fundação
da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Município de Oriximiná
(ARQMO), organização que abarcou representantes de cerca de 30 localidades (Figura 6).

A despeito da mobilização coletiva em função dos direitos reconhecidos na Constitui-


ção Federal, até então carentes de regulamentação, em 1989 o governo federal criou outra
UC abrangendo áreas previamente ocupadas pelos quilombolas do TQ Alto Trombetas II: a
Floresta Nacional de Saracá-Taquera (FNST). Apesar de ser uma UC de Uso Sustentável, ela
trouxe mais restrições de acesso e uso do território historicamente ocupado pelas comunida-
des quilombolas. No ECQ, um morador do TQ Alto Trombetas I, vizinho ao Alto Trombetas II,
resumiu bem o sentimento coletivo após a criação da Flona:

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 19


A gente tem de um lado o ICMBio [Rebio], que a gente não pode passar para lá,
não pode fazer nada lá. Do lado de lá não pode pescar, só se for peixe miudinho,
só para comer; roçado para o lado de lá a gente não faz, só do lado daqui. Do lado
daqui a gente faz, mas é pequeno. Logo passando aí, tem a parte da Flona, que é
uma parte também. Praticamente, a gente está cercado, a gente está no meio.
Você não pode passar nem muito para um lado, nem muito para outro (CUMBU-
CA NORTE, 2017, p. 529-530).

Contraditoriamente, a FNST, apesar de impor restrições às comunidades, acolheu em


seu ato de criação a continuidade da atividade minerária, criando um paradoxo quanto às suas
finalidades de conservação da natureza.

• Instalação da Mineração Rio do Norte na região do Alto Trombetas.


1976 • Criação da company town de Porto Trombetas.

• Criação da Reserva Biológica do Rio Trombetas, abrangendo áreas


ocupadas pelas comunidades.
1979

• Constituição Federal, no ADCT 68, reconhece o direito das comunidades remanescentes


1988 de quilombo à propriedade definitiva das terras historicamente ocupadas.

• Criação da floresta Nacional Sacará-Taquera, abrangendo áreas ocupadas pelas comunidades.


• Fundação da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Município de
1989 Oriximiná (ARQMO).

Figura 6. Marcos históricos (1970-1980). Fonte: Pesquisa bibliográfica e trabalho de campo.

As décadas de 1990 e 2000 corresponderam a uma fase de intensificação da mobiliza-


ção das comunidades remanescentes de quilombo para a defesa de seus territórios. Apoiada
na Carta Magna, a ARQMO priorizou a abertura de processos de titulação territorial e a cria-
ção de novas associações quilombolas em Oriximiná e adjacências. A partir de 1995 ocorreram
as primeiras titulações no município, iniciando-se pelo TQ Boa Vista, que é vizinho do Alto
Trombetas II. Em 2003, o território Alto Trombetas I foi parcialmente titulado, garantindo a
propriedade de terras até então pertencentes ao Estado do Pará. Em 2004, as comunidades
atualmente integrantes do TQ Alto Trombetas II abriram dois processos de titulação no Ins-
tituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), responsabilizado pela titulação de
terras quilombolas por força do Decreto nº 4.887/2003.

Em 2004, as comunidades visavam à titulação de dois territórios: Moura e Jamari-Últi-


mo Quilombo. O primeiro, correspondendo à comunidade de mesmo nome, apresentava so-
breposição com a Flona. O segundo, composto por sete comunidades — Jamari, Curuçá, Palhal,
Juquiri Grande, Juquirizinho, Nova Esperança e Último Quilombo — ocupava terras delimitadas
pela Flona e pela Rebio. A tramitação de ambos os processos foi postergada durante mui-
tos anos, em parte, devido à sobreposição pelas Unidades de Conservação (UC) geridas pelo
ICMBio. Nesse ínterim, os líderes comunitários organizaram-se em uma associação comum, a
ACRQAT, que veio a ser fundada em 2011.

PARTE VI - SEÇÃO 17 20
No ano seguinte, 2012, tiveram início os estudos necessários para instrução dos referi-
dos processos de titulação, a começar pelos Relatórios Antropológicos de Moura e Jamari-Úl-
timo Quilombo. Os trabalhos estenderam-se até 2013, originando dois Relatórios Técnicos
de Identificação e Delimitação Territorial (RTID). Ao fim desses estudos, as oito comunidades
decidiram pela unificação dos pretensos territórios no TQ Alto Trombetas II, dando origem
a um novo processo de titulação, instaurado em 2014 com a juntada dos estudos até então
realizados e da documentação referente à decisão das comunidades (Figura 7).

• Vizinho ao TQ Alto Trombetas II a jusante do rio Trombetas, o TQ Boa Vista é o primeiro


a ser titulado na região.
1995
• Decreto 4.887 regulamenta o processo de titulação de terras em favor de comunidades
remanescentes de quilombo.
2003 • Também vizinho ao TQ Alto Trombetas II a montante do rio Trombetas, o TQ Alto
Trombetas I é parcialmente titulado (no que se refere a gleba do Estado).

• As comunidades do TQ Alto Trombetas II abrem dois processos de titulação junto ao


2004 Incra, referentes aos TQ Moura e Jamari-Último Quilombo.

• Fundação da ACRQAT.
2011

• Elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação Territorial de Moura e


2012/ Jamari-Último Quilombo (2012-2013).
2013
• Instauração do processo de titulação do TQ AltoTrombetas II, que unifica os pretensos
TQ Moura e Jamari-Último Quilombo.
2014

Figura 7. Marcos históricos (1990-2010). Fonte: Pesquisa bibliográfica e trabalho de campo.

Devido à falta de acordo, no governo federal, quanto à sobreposição territorial entre


o TQ e as duas UCs, e diante do choque de interesses no âmbito do próprio Estado (por in-
termédio do Incra, responsável pela titulação do TQ, e do ICMBio, responsável pelas UCs), o
processo de regularização fundiária do TQ Alto Trombetas II foi paralisado. Embora seu RTID
tenha sido finalizado em 2013, ele só veio a ser publicado quatro anos mais tarde. Na verdade,
a publicação do documento ocorreu, em 14 de fevereiro de 2017, em obediência à sentença
que, em 2015, condenou a União, o Incra e o ICMBio a concluírem em até dois anos o procedi-
mento administrativo de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação
das terras ocupadas pelas comunidades de remanescentes de quilombo TQ Alto Trombetas II.

De 2017 a 2019 houve várias reuniões entre a ACRQAT e órgãos do governo para
debater soluções para o impasse (Figura 8). Na impossibilidade de titulação da área sobre-
posta pelas UCs, delineou-se um acordo para assinatura de um Contrato de Concessão de
Direito Real de Uso (CCDRU) da porção do TQ localizada na FNST e de um Termo de Com-
promisso de Usos Múltiplos relativo às áreas da RBRT. Ambos os documentos estão ainda
em discussão, mas o acordo possibilitou a emissão da Portaria nº 1.172, de 17 de julho de
2018, que reconhece e declara como terras do Território Quilombola Alto Trombetas II uma
área de 189.657,8147 ha (cento e oitenta e nove mil, seiscentos e cinquenta e sete hectares,
oitenta e um ares, e quarenta e sete centiares).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 21


Figura 8. Reunião no Incra. Fonte: Arquivo pessoal de Luciana Carvalho.

Em paralelo ao trâmite do processo de titulação, as comunidades do TQ Alto Trombe-


tas II vêm participando, desde 2012, de processos relacionados ao licenciamento ambiental
de projetos da MRN. Com efeito, diversos platôs de bauxita incidem no TQ e no seu entorno,
como se pode visualizar na Figura 9.

A lavra de minério iniciou-se, nos anos 1970, a partir dos platôs situados a leste do ter-
ritório, fora dos seus limites. Os processos de licenciamento da mineração, até recentemente,
eram realizados sem qualquer tipo de consulta ou negociação de acordos com as comunida-
des, apoiados no entendimento de que não se tratava de um território quilombola reconheci-
do, mas sim de uma Floresta Nacional franqueada a atividades minerárias.

A situação começou a se modificar em 2012, quando as comunidades dos TQ Alto


Trombetas I e Alto Trombetas II foram surpreendidas pelo projeto de abertura de minas em
áreas por elas reivindicadas junto ao Incra. Em reação a movimentações da empresa na área,
as comunidades denunciaram-na ao Ministério Público Federal (MPF) em Santarém, que abriu
Inquérito Civil Público (ICP) para apurar o caso. Além de recomendar a suspensão de licenças
e autorizações da mineradora –– o que foi acatado pelos órgãos federais responsáveis ––, o
MPF determinou obediência à Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) e aplicação da consulta prévia, livre e informada aos quilombolas acerca do projeto en-
tão chamado Zona Central e Oeste.

PARTE VI - SEÇÃO 17 22
Figura 9. Mapa do TQ com indicação dos platôs destinados à mineração. Fonte: ACRQAT (2016).

Figura 10. Área de mineração no entorno do TQ Alto Trombetas II. Fonte: INRC Quilombos de Oriximiná.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 23


A realização dessa consulta estendeu-se até 2014, mas os eventos que a constituíram
foram marcados por uma série de controvérsias e dissensões entre as comunidades. Após uma
conclusão do processo de consulta favorável à mineração, estudos técnicos para o processo de
licenciamento ambiental do projeto chegaram a ser realizados em 2016 e 2017, mas não che-
garam a termo. Por fim, o projeto Zona Central e Oeste acabou sendo arquivado e, mais tarde,
foi substituído pelo Projeto Novas Minas, com foco exclusivamente no TQ Alto Trombetas II.

Depois da experiência de consulta vivenciada no âmbito do inquérito civil, a ACRQAT


desejou criar regras internas visando a organizar e aprimorar futuros processos de consulta.
Assim, entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018, a associação elabo-
rou seu Protocolo de Consulta e Consentimento com apoio de pesquisadores-extensionistas
da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) (Figura 11).

Nesse mesmo período, por força da publicação do RTID (em 2017) e da Portaria de Re-
conhecimento do TQ Alto Trombetas II (em 2018), o licenciamento dos platôs Teófilo e Cipó
teve de contemplar a consulta prévia às comunida-
des do território, que ficam na zona de impacto indi-
reto do empreendimento. No decorrer do processo
de consulta, a ACRQAT teve oportunidade de rene-
gociar com a MRN algumas medidas mitigatórias e
compensatórias decorrentes do seu projeto, levan-
do à revisão de condicionantes ambientais.

Atualmente, estão em andamento os estudos


ambientais exigidos para a renovação da licença de
operação do platô Monte Branco, integralmente si-
tuado dentro do TQ Alto Trombetas II, e para con-
cessão da licença prévia do Projeto Novas Minas,
que abrange platôs situados no território (Rebolado,
Cruz Alta Leste e Cruz Alta) e no seu entorno (Baro-
ne, Jamari e Escalante). A realização desses estudos
vem sendo acompanhada pela Fundação Cultural
Palmares, e observa o Protocolo de Consulta e Con-
Figura 11. Capa do protocolo. Fonte: ACRQAT sentimento da ACRQAT.
(2018).

17.1.3. A vida no território

Os dados que se seguem foram obtidos no mapeamento socioeconômico realizado


pela ACRQAT com apoio da Ufopa, em 2017. A iniciativa desse trabalho partiu da própria as-
sociação, que, frequentemente confrontada com cadastros elaborados por órgãos públicos
como o Incra e o ICMBio, sentiu a necessidade de possuir dados próprios e controlados sobre
a população do território. Cientes de que dados socioeconômicos baseiam a tomada de deci-
sões e a implementação de políticas públicas na área, os diretores da ACRQAT empenharam-se

PARTE VI - SEÇÃO 17 24
pessoalmente nos trabalhos do mapeamento, acompanhando a equipe da universidade desde
o trabalho de campo em cada residência até a validação dos dados obtidos.

Localmente designado “Censo Territorial”, o mapeamento ouviu os/as responsáveis


por 240 unidades familiares a fim de elaborar uma caracterização geral das condições e dos
modos de vida no território. Um formulário foi preenchido para cada unidade familiar pes-
quisada, abarcando dados referentes a: educação, saúde, moradia, organização sociopolítica,
trabalho e renda, além da identificação dos/das respondentes.

Considerando que a população total do território é estimada em aproximadamente


300 famílias, ou 1.500 pessoas, o referido levantamento corresponde a uma amostra de 80%
das famílias residentes, assim distribuídas: 23 famílias no Curuçá, 17 no Jamari, 5 no Juquiri
Grande, 19 no Juquirizinho, 120 no Moura, 14 na Nova Esperança, 10 no Palhal e 29 no Último
Quilombo.

Em relação às/aos participantes da pesquisa, as mulheres compuseram 55% do grupo,


porque estavam mais frequentemente presentes e disponíveis, quando as casas foram visita-
das para efeitos do mapeamento. Quanto à idade, apenas 6% dos/das respondentes tinham
menos de 20 anos, e 66% das pessoas entrevistadas tinham de 20 a 49 anos.

Gráfico 1. Sexo

Feminino (55%) Masculino (45%)

Gráfico 2. Idade

70 anos ou mais (6%)


Menos de 20 anos (6%)

30 a 39 anos (36%) 60 a 69 anos (9%)

40 a 49 anos (13%)

50 a 59 anos (13%)
20 a 29 anos (17%)

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 25


Em relação ao critério de cor, 67% das pessoas entrevistadas atribuíram-se a cor preta,
16% a cor parda e 7% disseram-se morenas. Brancos e brancas correspondem a apenas 3%
das pessoas entrevistadas. Indagadas sobre seu pertencimento étnico, 96,64% das pessoas
declararam-se quilombolas.

Gráfico 3. Cor

Branca (3%)
Morena (7%)

Outra (7%)

Parda (17%)

Preta (66%)

Quanto ao estado civil dos/das participantes do levantamento, a união estável, seguida


do casamento, foi indicada por 57% do grupo.

Gráfico 4. Estado civil

Viúvo (4%)

Solteiro (17%)

União estável (57%)


Casado (22%)

Em relação à religião, 87% das pessoas entrevistadas declararam-se adeptas do cato-


licismo, enquanto o restante (13%) corresponde ao grupo de evangélicos, que, ultimamente,
vem crescendo no território, sobretudo nas comunidades Nova Esperança, Último Quilombo
e Moura (Figuras 12 e 13).

PARTE VI - SEÇÃO 17 26
Gráfico 5. Religião

Evangélica (13%)

Católica (87%)

Figura 12. Casa de oração em construção, em Nova Figura 13. Capela de Santo Antônio, padroeiro do
Esperança. Fonte: Trabalho de campo. Jamari. Fonte: Trabalho de campo.

A maioria dos/das entrevistados/as tem níveis baixos de escolaridade, sendo que 15%
deles não têm estudo, 15% foram apenas alfabetizados e 60% têm o ensino fundamental
incompleto. A propósito, o acesso à escola é relativamente recente nas comunidades. Duas
escolas, uma situada no Jamari e outra no Moura, atendem às crianças e aos jovens de todo
o território.

Gráfico 6. Escolaridade

Médio incompleto (10%)

Não possui (15%)

Fundamental
incompleto (60%) Alfabetizado (15%)

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 27


Pouco mais de um quarto do total de participantes da pesquisa informou que alguém
de sua família, ou o próprio, realizou ou está realizando cursos de formação profissionalizante.

Gráfico 7. Recebeu formação profissional

72,29%

24,68%

2,60%
0,43%

Sim, e conclui o curso Sim, mas largou o curso Sim, está cursando Não

Em 82,61% das unidades familiares pesquisadas há interesse declarado de ter acesso a


cursos de formação profissional, destacadamente aos cursos de mecânica e máquinas pesa-
das, e de informática, indicados por 24,26% e 23,67% dos/das respondentes, respectivamen-
te. Deles espera-se capacitação para atuar, principalmente, na Mineração Rio do Norte, seja
nas minas, seja em serviços de escritório.

Gráfico 8. Cursos profissionais visados

23,67% 24,26%

13,61%

8,28% 7,69%
7,10%

2,36% 2,96% 1,78%


1,77% 1,78% 1,78% 1,18% 0,59% 0,59% 1,77%
0,59%
Motorista
Administração

Artesanato

Corte e costura

Informática

Educação/Pedagogia

Educação alimentar

Elétrica

Soldador
Carpintaria

Cerâmica

Outros
Saúde e Enfermagem

Manejo/Engenharia

Mecânica/Máquinas

Operador de máquina
Atendente de farmácia

Apesar das expectativas de emprego na mineradora, a principal ocupação declarada por


65% dos/das respondentes é a agricultura, que supera consideravelmente atividades extrativis-
tas (5%), trabalhos em cooperativas de prestação de serviços (4%), funções públicas e outras.

PARTE VI - SEÇÃO 17 28
Gráfico 9. Ocupação

Outro (4%)

Cooperativo (4%)
Extrativista (5%)

Barqueiro (9%)

Aposentado (13%)
Agricultor (65%)

Na avaliação dos próprios quilombolas, expressada durante a fase de validação dos


dados obtidos no mapeamento, o percentual atingido pela agricultura nas respostas está
enviesado e deve-se, provavelmente, a três fatores. Primeiro, ao fato de que as lavouras são
mantidas, sobretudo, por mulheres, e elas constituíram a maioria de respondentes. Segundo,
à polivalência dos moradores do território, que quase sempre conciliam trabalhos agrícolas
com outras atividades produtivas como o extrativismo e a criação de animais, principalmente
galinhas, que é praticada por 40% das famílias pesquisadas. Terceiro, deve-se ao fato de que a
agricultura tem uma importância central na provisão de alimentos para as famílias e é dotada
de alta significação simbólica.

Com efeito, 62% dos/das informantes da pesquisa declararam fazer roça para con-
sumo próprio. Entre os cultivos destacam-se a mandioca, a macaxeira e a banana, além de
hortaliças variadas (Figuras 14 e 15). O principal destino da mandioca cultivada, assim como o
da macaxeira, é a produção de farinha e seus derivados, que ocorre em 63,75% das casas, seja
para consumo próprio, seja para venda.

Gráfico 10. Principais produtos agrícolas

55,41%

27,08%
20%

Mandioca Macaxeira Banana

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 29


A agricultura foi declarada a principal fonte de renda para 33,91% das famílias do terri-
tório. Em seguida estão os trabalhos desempenhados na mineração, quer se trate de serviços
prestados via cooperativas (20,17%) e empresas terceirizadas (1,72%) ou diretamente à MRN
(3,86%), que ocupam 25,75% do universo pesquisado. A cooperativa local é a Coopermoura,
criada em 2002 para facilitar o acesso de moradores aos postos de trabalho na MRN, que se tor-
nam tanto mais atraentes quanto maiores são os impactos gerados pela própria mineração no
ambiente local, cujo uso já é afetado pelas restrições impostas pelas Unidades de Conservação.

Gráfico 11. Principal fonte de renda

33,91%

20,17%

7,73% 9,44%

5,15% 2,15%
3,86% 3,86% 3,00% 2,58% 1,72% 2,58%
1,72% 0,43% 1,29%
0,43%
Extrativismo

Serviços domésticos

Aposentadoria
Agricultura

Pesca

Serviços em Cooperativas

Construção Civil

Serviço Público

Comércio

Serviços temporários

Serviços ligados a
educação ou saúde

Outro
Serviços em outras empresas

Fretes/linhas de barco
Emprego direto na MRN

Benefícios do governo

Figura 14. Roça de mandioca no Jamari. Figura 15. Horta no Moura.


Fonte: Cumbuca Norte (2017). Fonte: Cumbuca Norte (2017).

A renda familiar de 75% dos/das respondentes é de até um salário-mínimo. Em contra-


partida, 7,92% indicaram não possuir renda alguma.

PARTE VI - SEÇÃO 17 30
Gráfico 12. Renda familiar

75%

16,25%
7,92%
0,42%

Nenhuma renda Até 1 1a3 3a6

Salários-mínimos

As três principais despesas regulares das famílias referem-se a: alimentação, mencio-


nada em 80,14% das respostas; saúde, mencionada em 34,79% das respostas; e, por fim, com-
bustível para transporte, citado em 18,66% das respostas.

Gráfico 13. Principais despesas das famílias

80,14%

34,79%

18,66%

Alimentação Remédios/saúde Transporte

Em relação à moradia, mais de 90% das casas no território são próprias, e mais da me-
tade foi construída ou reformada nos últimos cinco anos no âmbito de programas governa-
mentais de crédito para habitação, que atenderam a 43,48% dos moradores do território.

Gráfico 14. Tipo e tempo de construção da casa

91,3%

30,43% 26,09%
21,74% 17,39%

4,35% 4,35%

Própria Alugada Outra Menos 1a5 6 a 10 11 a 20


de um

Condição Tempo de construção (anos)

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 31


A respeito das casas em que vivem, 77,35% dos/das entrevistados/as declararam-se
satisfeitos/as, e 4,7% muito satisfeitos/as.

Gráfico 15. Grau de satisfação com a casa

77,35%

11,54%
5,13% 4,70%
1,28%

Muito Insatisfeito Indiferente Satisfeito Muito


insatisfeito satisfeito

O padrão mais comum das casas é baseado na construção com paredes de madeira
(65,22%), cobertura de amianto (60,87%) e piso de madeira (65,22%) (Figura 16). Contudo
ainda há casas com paredes e cobertura feitas de palha de ubim, que é retirada principalmen-
te da Rebio Trombetas. As casas de alvenaria têm aumentado em proporção nos últimos dez
anos, devido aos programas de habitação do governo.

Gráfico 16. Características da residência

65,22% 65,22%
60,87%

21,74% 21,74%
17,39%

13,04%
8,7% 8,7% 8,7%
4,35% 4,35%
Outro
Palha

Madeira

Outro
Madeira

Laje

Telha de barro

Amianto

Alvenaria

Cimento
Alvenaria

Madeira e alvenaria

Paredes Cobertura Piso

PARTE VI - SEÇÃO 17 32
Figura 16. Tipologia das casas. Fonte: Trabalho de campo.

A área interna das casas, em geral, é dividida em quatro cômodos: uma sala, dois quar-
tos e uma cozinha, que, em regra, é equipada com fogão e botijão de gás. Todavia uma cozinha
externa aparece na maioria (65,22%) das residências.

Gráfico 17. Cômodos da casa

86,96% 86,96%

78,26%

65,22%

43,48%

34,78%
26,09%

21,74%
17,39%
13,04%
8,7%
4,35% 4,35% 4,35%

0 1 2 0 1 2 3 4 0 1 0 1 0 1

Sala Quarto Cozinha Cozinha Banheiro


interna externa

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 33


A cozinha externa é instalada em uma construção rústica, erigida com estacas de ma-
deira que suportam uma cobertura de palha, normalmente desprovida de paredes. Essa cozi-
nha, do lado de fora da edificação principal, é muito apreciada nas comunidades por ser mais
ventilada e confortável que a cozinha interna. Nela costuma haver um fogão à lenha e um jirau
para o preparo de alimentos (Figura 17).

Figura 17. Cozinha no Juquiri Grande. Fonte: Trabalho de campo.

Nenhuma residência possui banheiro no interior da edificação principal, mas a maio-


ria delas (87%) conta com um compartimento sanitário no quintal, relativamente afastado da
moradia. Algumas famílias, porém, não o possuem e fazem suas necessidades a céu aberto.
Outras têm, além desse compartimento, uma área cercada de madeira, palha, plástico ou teci-
do para tomar banho. Em quase 90% casos, o sanitário, como é chamado, apresenta-se como
uma pequena construção de madeira ou palha que tem um buraco ou vala ao centro para os
dejetos humanos. Em algumas comunidades, faz-se uso compartilhado de um ou mais sanitá-
rios comunitários.

Gráfico 18. Tipo de sanitário

89,24%

7,17%
1,79% 0,90%

Fossa Vala A céu aberto Outro

Para mais de 94%, o abastecimento das casas, as fontes de água são o Rio Trombetas,
seus igarapés e lagos.

PARTE VI - SEÇÃO 17 34
Gráfico 19. Fonte de água

50%
44,92%

4,66%
0,42%

Rio/igarapé Lago Poço Outra

Apenas 13,75% das residências são servidas por sistemas comunitários de captação e
distribuição de água, enquanto 16,25% delas utilizam bombas particulares para esse objetivo.
No entanto, a maioria das famílias (65,41%) tem de buscar água diretamente na fonte, usando
baldes e barris.

Gráfico 20. Acesso à água

65,41%

16,25%
13,75%

2,90%

Busca direta Bomba Microssistema Outro


própria comunitário

A água para consumo humano é tratada com hipoclorito por 84,94% das famílias, mas
9,62% das casas não lhe dão nenhum tratamento.

Gráfico 21. Tratamento da água para consumo humano

84,94%

9,62%
1,67% 3,35%

Não recebe Fervida Filtrada Hipoclorito


algum
tratamento

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 35


O hipoclorito é fornecido pelo município de Oriximiná, por intermédio de Agentes Co-
munitários de Saúde (ACS), que atendem a 56,67% das famílias do território, e pelo Projeto
Quilombo. Este último é uma ação da MRN que, em cumprimento de condicionantes ambien-
tais da exploração de bauxita na região, oferece atendimentos mensais de saúde em duas co-
munidades do território, que servem de polos para onde se deslocam os moradores das de-
mais comunidades.

Na área da saúde, a dependência das comunidades em relação à mineradora é extrema-


mente sensível. A absoluta maioria das famílias procura atendimento médico e laboratorial nas
unidades de saúde mantidas pela MRN em Porto Trombetas: o Hospital de Porto Trombetas,
acessível apenas para usuários pré-cadastrados ou para emergências médicas, e o respectivo
ambulatório, que é mais conhecido como Posto da Feirinha, por estar localizado em frente à
feira na área portuária da cidade da mineração, aonde o acesso de visitantes é liberado.

Quando indagados/as sobre onde costumam, preferencialmente, buscar serviços de


saúde, apenas 8,16% dos/das respondentes declararam dirigir-se ao Hospital Municipal de
Oriximiná, abaixo ainda do Projeto Quilombo, que foi mencionado em 10,99% dos casos. Em
contrapartida, 52,48% das pessoas disseram recorrer diretamente ao Hospital de Porto Trom-
betas, e o Posto da Feirinha foi citado por 46,16% dos/das entrevistados/as.

Gráfico 22. Locais preferenciais de atendimento de saúde

52,48%
47,16%

10,99%
8,16%

0,35% 1,06%

Posto da Hospital da Hospital de Hospital de Projeto Outro


feirinha mineiração Oriximiná Santarém Quilombo

O uso de remédios caseiros é um traço distintivo das práticas de saúde no território,


ocorrendo em 90,41% das famílias pesquisadas. Os remédios são produzidos em casa pelos
próprios usuários e/ou obtidos com parentes e vizinhos. Uma variedade de folhas, cascas, ra-
ízes, sementes, sumos, banhas e partes de animais é conhecida e utilizada para a produção de
chás, infusões, xaropes, pomadas, banhos e defumações. O conhecimento declarado sobre o
assunto é baixo (36,67%) ou nenhum (4,5%) para menos da metade dos/das entrevistados/as.
No entanto, 44,5% deles/delas informam ter conhecimento razoável sobre remédios caseiros,
e para 11,67% do universo de informantes esse valor é alto (9,17%) ou muito alto (2,5%).

PARTE VI - SEÇÃO 17 36
Gráfico 23. Nível de conhecimento sobre remédios caseiros

44,5%

36,67%

9,17%

4,5%
2,5% 2,5%

Nenhum Baixo Razoável Alto Muito alto NS/NR

NS/NR: Não sabe/Não respondeu

Especialistas locais são frequentemente procurados para tratar enfermidades classi-


ficadas como físicas ou espirituais. O puxador, que, na linguagem local, puxa e conserta des-
mentiduras, é acionado por 80,41% das famílias pesquisadas. Pajés e curadores, outrora muito
considerados, são menos numerosos na atualidade, mas ainda são visitados por 15% das famí-
lias pesquisadas. Benzedores e rezadores atraem 28,33% do grupo.

Gráfico 24. Procura de especialistas locais em saúde

80,41%

28,33%

15,00%

Pajé/curador Benzedor/rezador Puxador

Por fim, em relação à organização sociopolítica dos moradores do território Alto Trom-
betas II, a ACRQAT é a entidade que reúne maior número de membros: atualmente, há entre
160 e 170 sócios em dia com a associação. Em seguida, vem a ARQMO, na qual há associados
oriundos de 49,98% das famílias locais. A Coopermoura, cooperativa de prestação de serviços
da comunidade do Moura, tem associados de 20,92% das famílias do território. O sindicato de
trabalhadores rurais, por sua vez, reúne membros de 10,03% das famílias pesquisadas.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 37


Gráfico 25. Entidades de que os moradores participam

49,98%

20,92%

5,32% 10,03%
1,41% 1,70% 0,35% 0,35%
ARQMO

CEQMO

Coopermoura

Cooperboa

Colônia de
pescadores

Conselho
Conselho Rebio

Municipal

Sindicato
Desde 2017, os dirigentes da ACRQAT vêm trabalhando para fortalecer e melhor orga-
nizar a entidade. Recentemente, finalizaram a confecção de fichas e carteirinhas com dados
pessoais de todos os sócios, atualizaram os pagamentos de anuidades que se encontravam
atrasados, regularizaram os documentos fiscais e bancários da associação e expandiram as
relações com instituições parceiras e/ou consultores contratados para aprimorar os fluxos
de gestão internos e apoiar as comunidades na produção de informações sobre si mesmas.

O próprio mapeamento utilizado como fonte dos dados que compõem este diagnósti-
co é uma expressão das recentes iniciativas da associação. Embora o Estado tenha elaborado
mapeamentos semelhantes, a ACRQAT assume que a produção de dados próprios trará mais
segurança para debater políticas públicas e condicionantes à exploração de minério no inte-
rior e no entorno de seu território.

17.1.4. A agrobiodiversidade no território: recursos e usos

Embora o conjunto de famílias quilombolas do TQ Alto Trombetas II faça usos seme-


lhantes dos recursos da agrobiodiversidade, variações locais ocorrem em cada comunidade, seja
devido à distribuição de determinadas espécies no território, seja em função das restrições de
acesso a certas áreas impostas pelas Unidades de Conservação e pela mineração. Variações sa-
zonais também são identificadas no que se refere à procura ou ao interesse pelos recursos exis-
tentes no território. Por exemplo, a caça e a pesca ganham ênfases diferenciadas no inverno,
quando predomina o interesse pela primeira, e no verão, quando a segunda é mais visada.

A fim de contemplar a relação dos moradores com a agrobiodiversidade, quadros e


mapas mentais elaborados para cada comunidade foram extraídos do Estudo do Componen-
te Quilombola realizado no TQ em 2016-2017 (CUMBUCA NORTE, 2017). Os mapas repre-
sentam graficamente os principais espaços frequentados por moradores de cada comunidade
do território, bem como os usos que fazem deles, inclusive as áreas de moradia. Os quadros,
tematizando caça, pesca, cultivos agrícolas e extrativismo, indicam períodos e locais nos quais
os recursos da agrobiodiversidade são preferencialmente acessados.

PARTE VI - SEÇÃO 17 38
17.1.4.1. Curuçá

Figura 18. Mapa da área de


moradia de Curuçá. Fonte:
Cumbuca Norte (2017).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 39


Figura 19. Mapa das áreas de
uso de Curuçá. Fonte: Cumbuca
Norte (2017).

PARTE VI - SEÇÃO 17 40
Caças mais visadas na comunidade Curuçá

Quadro 1

Bichos de pata

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Anta Baixa e igarapé

Caititu Floresta

Cotia Cotiuaia Roças, beiras de rios e igarapés

Cupido Várzea

Caiarara Floresta

Cuxiú Floresta

Quatá Floresta
Macaco
Guariba Igapó

Prego Floresta

Chuim Floresta

Maracajá Floresta, beiras de rios e igarapés

Onça Igarapé

Beira de rio, igarapés, cabeceira e


Paca
ponta de rio.

Peixe-boi Margens de rio e lagos

Queixada Floresta

Tatu Beira de rio, igarapé e cabeceiras

Branco Próximo a árvores frutíferas

Veado Roxo Próximo a árvores frutíferas

Vermelho Próximo a árvores frutíferas

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 41


Quadro 2

Bichos de pena

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Aracuã Capoeira

Arara Árvores frutíferas

Carará Beira de rio

Cigana Igapó e beiras de lago

Coroca Igapó e beiras de lago

Corocão Igapó e beiras de lago

Cujubim Cabeceiras

Garça Beira de lagos

Gavião Nas áreas de moradia

Jacamim Nas árvores frutíferas do inverno

Na mata, no meio do açaizeiro. Nas


Jacu
frutas de bacabeira

Juruti Capoeira

Marreca Beira de rios e lagos

Mauari Beira de rio

Miuá (mergulhão) Rio

Beira de água (rio, igarapés e


Mutum
cabeceiras)

Beira de água (rio, igarapés e


Nambu
cabeceiras)

Pato-do-mato Lago

Rolinha Terreiro

Socó Beira de lago

Qualquer árvore frutífera, tanto de


Tucano
igapó quanto de terra firme.

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

PARTE VI - SEÇÃO 17 42
Quadro 3

Bichos de casco

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Cabeçudo Igarapé, lago

Jaboti Mato

Jacaré-tinga Cabeceiras

Machado Igarapé

Perema Igarapé

Pitiú Rio, lago

Tartaruga Igapó

Tracajá Igapó

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Pescados mais visados na comunidade Curuçá

Quadro 4

Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Acari Lagos

Anujá (peixe-
Brocas nas beiras de igarapés
onça)

Apapá Lagos

Aracu Igapó

Arari Rio, lago, igarapé

Arauanã Lagos

Arumará Boca de lago

Barbado Rio e lagos

Baruca Lagos

Branquinha

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 43


Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Camunani Cachoeira

Canamorco Lagos

Cará-tinga ou cará-
Lagos
moló
Cará
Preta Lagos

Carauaçu Lagos

Charuto Lagos

Cujuba Lagos

Beiras de rio e cachoeiras (fora do


Curimatá
território)

Dourada Rio

Filhote

Jacundá Lagos e igarapés

Jaraqui Lago

Mafurá Lago

Mandubé Rio, igapó e lago

Mapará Lagos

Matal Cachoeiras

Matrinxã Igarapé e igapó

Pacu-anhanga Lago, rio e igapó

Pacu Pacu-azeite Igapó

Pacuraurau Beiras de rio e de igapó

Peixe-agulha Igarapé, rio e boca de lago

Peixe-cana

Peixe-cachorro
(cangoia)

Pescada Beira do rio, lago e igarapés

PARTE VI - SEÇÃO 17 44
Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Branca Igapó e lago

Piranha Caju Igapó e lago

Preta Igapó e lago

Piraíba Rio

Piracatinga Rio

Pirapitinga

Pirarara

Pirarucu Lagos, passagens dos lagos e rios

Sardinha Lagos

Saranha (peixe-
Lagos
cachorro)

Saúna Rio e lago

Surubim Lagos e rio

Tambaqui Igapós e lagos

Tamuatá Poços

Traíra Lagos

Trairão Igarapé Central

Tucunaré Igapós e lagos

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Produtos vegetais mais visados na comunidade Curuçá

Quadro 5

Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Acapurana Lenha Igapó

Acari Terra firme

Arapari Lenha Igapó

Aroeira Construção de casa (parede, tábua, cerca) Terra firme

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 45


Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Caramuri (cramuri) Lenha Igapó

Carvalheiro Lenha Igapó

Construção de casa (flechal, caibro, tábua),


Cedro Terra firme
mobiliário

Cedro-urana Mobiliário Terra firme

Cupiúba

Envira Lenha Igapó

Construção de casa (esteio, tábua) e


Itaúba Terra firme
embarcações

Jará Cerca, estacas

Jutaí Terra firme

Jutairana

Lacre Capoeira

Louro Terra firme

Maçaranduba Terra firme

Marupá Construção de casa (parede)

Muiracatiara Mobiliário Terra firme

Muracandeia Lenha Igapó

Muraúba Construção de casa (flechal, travessa) Terra firme

Pau-de-isca Terra firme

Pau-rosa

Periquiteira Lenha Igapó

Ritangueira Lenha Igapó

Sucena Construção de casa (flechal, travessa) Terra firme

Sucupira Terra firme

Construção de casa (esteio, tábua) e


Sucuruba Terra firme
embarcações

Tento-da-mata Construção de casa (assoalho) Terra firme

Tento-do-igapó Construção de casa (assoalho) Igapó

PARTE VI - SEÇÃO 17 46
Quadro 6

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Arumã Artesanato Várzea

Buçu Cobertura de casa

Cipó-ambé Artesanato

Artesanato, mobiliário, amarração de cerca e


Cipó-titica Terra firme
cobertura de casa

Inajá Construção de casa (paredes)

Jacitara Artesanato Cabeceiras

Jauari Artesanato Igapó, várzea

Pinaiuquira (palha
Acabamento de casa Terra firme
branca)

Saratudo Platôs

Timbó

Ubim (grande) Cobertura de casa Rebio (uso restrito)

Ubinzinho Cobertura de casa Flona

Quadro 7

Sementes, resinas, cascas, óleos

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Amapá Uso medicinal Terra firme

Andiroba Uso medicinal Igapó

Breu Uso medicinal Terra firme

Breu-branco Terra firme

Carapanaúba Uso medicinal Terra firme

Caripé Artesanato de barro e carvão Terra firme

Copaíba Uso medicinal Terra firme

Jutaicica Artesanato de barro Terra firme

Sucuba Uso medicinal Terra firme

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 47


Quadro 8

Frutos

Espécies Ambiente de extração

Abiu Terra firme

Açaí Várzea

Araçá Beira de lago

Bacaba Terra firme

Bacuri Várzea e terra firme

Breu Terra firme

Buruti Baixa e beira de igarapé

Cacau-da-várzea Várzea

Cacau-do-mato Terra firme

Caju-açu Terra firme

Caranã Terra firme

Castanha Terra firme

Castanha-sapucaia Várzea e terra firme

Colhão-de-guariba Igapó

Cumaru Terra firme

Dendê Terra firme

Ingá Terra firme

Ituá Igapó

Jará-do-mato Terra firme

Mari-mari Várzea

Mucajá Terra firme

Muruci Terra firme

Pariri Terra firme

Patauá Várzea

Pepino-do-mato Terra firme

Piquiá Terra firme

Pororoca Terra firme

Puruí

Sorva Terra firme

PARTE VI - SEÇÃO 17 48
Frutos

Espécies Ambiente de extração

Taperebá Várzea

Tucumã Terra firme

Uxi-coroa Terra firme

Uxi-liso Terra firme

Principais cultivos agrícolas na comunidade Curuçá

Quadro 9

Cultivos

Abacaxi

Abóbora

Açaí

Acerola

Banana

Batata-doce

Cacau

Cana

Cará (branco e roxo)

Cupuaçu

Jerimum

Laranja

Mamão

Mandioca

Mangarataia

Maxixe

Melancia

Melão

Milho

Pimenta-de-cheiro

Pimenta

Pimentão

Tangerina

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 49


17.1.4.2. Jamari

Figura 20. Mapa da área de


moradia de Jamari. Fonte:
Cumbuca Norte (2017).

PARTE VI - SEÇÃO 17 50
Figura 21. Mapa das áreas de
uso do Jamari. Fonte: Cumbuca
Norte (2017).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 51


Caças mais visadas na comunidade Jamari

Quadro 10

Bichos de pata

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Anta Floresta

Caititu Caititu-mambé Terra firme, beira de rio, roça

Capivara Várzea

Cotia Roça e beira de rio, terreiro de casa

Cotiuaia Terra firme

Irara Igapó

Cuamba Terra firme

Cuxiú Igapó
Macaco
Guariba Igapó

Macaco-prego Igapó

Onça Várzea

Paca Floresta

Porco-espinho Floresta

Quati Terra firme

Queixada Terra firme

Tatu-bola Terra firme

Tatu-canastra Terra firme


Tatu
Tatu-de-quinze-
Terra firme
quilos

Veado-branco Roça e várzea

Veado Veado-roxo Roça e várzea

Veado-vermelho Roça e várzea

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

PARTE VI - SEÇÃO 17 52
Quadro 11

Bichos de pena

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Aracuã

Arara

Jacamim

Jacu

Marreca

Mutum

Nambu

Pato

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Quadro 12

Bichos de casco

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Cabeçudo Igarapé

Caprega

Capitão-totó

Jaboti Jabotiuno Igapó

Jacaré Igapó

Perema Mata e igarapé

Pitiú Igapó

Tartaruga Igapó

Tracajá Beira do rio

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 53


Pescados mais visados na comunidade Jamari

Quadro 13

Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Acari (bodó) Lago (lama)

Apapá Lago

Aracu-branco ou
Igapó
cabeça gorda

Aracu-bari Igapó
Aracu
Aracu-pau-de-negro Igapó

Aracu-pintado Igapó

Aramaçã Lago

Arari Igarapé, igapó

Arauanã Lago

Baiacu Lago

Baruca Lago

Bocó Igarapé

Boto Rio

Branquinha (ou
Cabeceira e lago
mocinha)

Canamorco Lago

Cará-tinga Lago

Cará-preto Lago

Cará-disco Lago

Cará Cará-buceta Lago

Cará-bandeira Lago

Cará-tucunaré Lago

Cará-moló Lago

Charuto Lago

Cujuba Lago (lama)

PARTE VI - SEÇÃO 17 54
Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Curimatá Igapó

Dourada Rio

Filhote Rio

Jacundá Lago e igarapé

Jaraqui Lago

Jaú Rio

Mafurá Lago

Mandi Lago e rio

Mandubé Rio

Mapará Lago

Matupiri

Matrinxã Igarapé e igapó

Mondrongo

Mossinga Rio e lago

Pacu-anhanga Lago, rio e igapó

Pacu-azeite Igapó

Pacu Pacu-brebe Beira de rio e de igapó

Pacu-branco Rio

Pacu-índio Rio

Peixe-agulha Lago e rio

Peixe-boi Rio

Peixe-cachorro Lago

Pescada Rio e lago

Branca Igapó e lago

Piranha Caju Igapó e lago

Preta Igapó e lago

Piracatinga Rio

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 55


Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Pirapitinga Rio

Pirarara Rio

Pirarucu Lago

Sarapó Igarapé

Sardinha Lago

Saranha Lago

Saúna Rio e lago

Surubim Lago e rio

Tambaqui Igapó e lago

Tamuatá Poço

Traíra Lago

Tucunaré-açu Lago
Tucunaré
Tucunaré-pinima Lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Produtos vegetais mais visados na comunidade Jamari

Quadro 14

Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Acari Produção de esteio Terra firme

Acariquara Produção de esteio Terra firme

Angelim Construção de casas e mobiliário Terra firme

Alijianzeiro Lenha Terra firme

Arapari Construção de casas (parede, caibro) Várzea

Aroeira Produção de tábuas e confecção de móveis Terra firme

Azeitoneira Lenha Várzea

Bacuri Construção de casas Terra firme e igapó

PARTE VI - SEÇÃO 17 56
Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Breu Construção de embarcações Terra firme

Carvalho Lenha Igapó e terra firme

Castanheira Lenha, tábuas e assoalhos Terra firme

Cedro Construção de casas e mobiliário Terra firme

Cuiaraneira Lenha Igapó

Fava Construção de casas Igapó

Itaúba (itaúba-abacate) Embarcações Terra firme

Itaubarana Construção de barcos e esteios Igapó

Jacareúba Igapó

Jutaí Produção de tábuas e pernas mancas. Terra firme

Lacre Construção de casa Terra firme

Louro (tipos: merda,


Construção de embarcações e casas Terra firme
roda, imbaúba e itaúba)

Maçaranduba Construção de casas e mobiliário Terra firme

Maçarandubinha-do-
Construção de casas Igapó
igapó

Manciará

Mandioqueira Confecção de móveis Terra firme

Matamatá Construção civil Terra firme

Confecção de móveis, construção de casas


Muiracatiara Terra firme
(tábua assoalho, caibro)

Marupá Construção de casa Terra firme

Munguba Várzea

Muruci-da-mata Lenha Terra firme

Murapiranga Produção de esteio Terra firme

Paxiubinha Produção de ripas Terra firme

Piquiá Construção de embarcações Terra firme

Pau-d’arco (amarelo e
Produção de esteio Terra firme
roxo)

Ritangueira Lenha Igapó

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 57


Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Randeira

Samaumeira Várzea

Sapucaia Construção de casas e cercas Várzea

Seringueira Várzea

Sucupira Produção de batelão Terra firme

Sucuruba Construção de casas e mobiliário Terra firme

Taquarizeira Lenha Várzea

Taubarana-do-igapó Produção de esteio Igapó

Taxi (vermelho, merda e


Lenha Terra firme
branco)

Tento-da-várzea Vende para MRN (Reflorestamento) Várzea

Tento-da-terra-firme Produção de tábuas de assoalhos Terra firme

Umarizeiro Lenha Várzea

Uxirana Lenha Igapó

Virola Várzea

Quadro 15

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Cipó-abiurana

Cipó-ambé Artesanato Igapó

Cipó-cravo Uso medicinal

Cipó-fogo Fornece água em expedições

Escada-de-jaboti Ornamentos Terra firme

Janari Terra firme

Jacitara Artesanato Cabeceira

Saratudo Uso medicinal Platô

PARTE VI - SEÇÃO 17 58
Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Artesanato, vassoura, paneiros, amarrar


Timbó-açu Terra firme
palha.

Mobiliário, amarração de cerca e


Timbó-titica Terra firme
cobertura de casa

Tucumaí Terra firme

Tucumã Terra firme

Tucumã-açu Terra firme

Principais cultivos agrícolas na comunidade Jamari

Quadro 16

Cultivos

Abacate

Abacaxi

Abóbora

Açaí

Bacaba

Banana

Batata

Caju

Cana

Cará

Cebolinha

Chicória

Cupuaçu

Feijão

Jerimum

Laranja

Limão

Macaxeira

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 59


Cultivos

Mandioca

Manga

Mangarataia

Maxixe

Melancia

Milho

Muruci

Tangerina

PARTE VI - SEÇÃO 17 60
17.1.4.3. Juquiri
Grande

Figura 22. Mapa das áreas de


moradia e uso de Juquiri Grande.
Fonte: Cumbuca Norte (2017).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 61


Caças mais visadas na comunidade Juquiri Grande

Quadro 17

Bichos de pata

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Anta Beira de rio

Caititu Terra firme, beira de rio, roça

Capivara

Cotia Roça e beira de rio, terreiro de casa

Caiarara Terra firme, várzea, igapó

Cuamba Terra firme, várzea, igapó

Cuxiú

Macaco Guariba

Macaco-prego

Chuim

Macaco-da-noite

Paca Terra firme

Porco-espinho Terra firme, igapó

Queixada Raramente aparece

Tatu-bola Terra firme


Tatu
Tatu-canastra Terra firme

Veado Floresta e beira de rio

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

PARTE VI - SEÇÃO 17 62
Quadro 18

Bichos de pena

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Aracuã Mata e capoeira

Arara vermelha Castanhal e igapó

Cujubim Terra firme

Jacamim Terra firme

Jacu Terra firme

Marreca Várzea

Mutum Terra firme

Nambu Terra firme

Papagaio Terra firme e igapó

Pato Igapó

Saracura Terra firme

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Quadro 19

Bichos de casco

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Cabeçudo Igarapé e lago

Jaboti Igapó

Jacaré Igapó

Pitiú Igapó

Tartaruga Igapó

Tracajá Lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 63


Pescados mais visados na comunidade Juquiri Grande

Quadro 20

Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Apapá Lago

Aracu-branco Lago

Aracu-cabeça-
Lago
gorda
Aracu
Aracu-pintado Lago

Aracu-vareto Lago

Arauanã Lago

Branquinha Lago

Cará-bandeira Lago

Cará-baruca Lago

Carauau Lago
Cará
Cará- moló Lago

Cará-preto Lago

Cará-brebe Lago

Cará-galhudo Lago

Cara-de-gato Lago

Charuto Lago

Cujuba Várzea

Dourada Lago (fundo)

Filhote Lago

Fura-calça Lago

Jaraqui Lago

Mafurá Lago e cabeceira

Mandi Lago

Mapará Lago

Pacu Lago

PARTE VI - SEÇÃO 17 64
Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Peixe-boi Lago, Igapó

Peixe-cachorro Lago

Pescada Lago

Branca Lago

Piranha Caju Lago

Preta Lago

Pirarara Lago

Pirarucu Igapó

Saranha Lago

Sardinha Lago

Tambaqui Igapó

Tucunaré-pinima Lago

Tucunaré Tucunaré-totoca Lago

Tucunaré-açu Lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Produtos vegetais mais visados na comunidade Juquiri Grande

Quadro 21

Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Acari Produção de esteio Terra firme

Açaizeiro Tira a casca Igapó

Angelim Construção de casas e mobiliário Terra firme

Arapari Construção de casas (parede, caibro) Igapó

Aroeira Produção de tábua Terra firme

Bacuri Construção de casas Terra firme

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 65


Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Cedro Construção de casas e mobiliário Terra firme

Fava

Itaúba Construção de casas e embarcações Terra firme

Jutaí (jatobá) Produção de tábuas Terra Firme

Louro e Louro-itaúba Construção de embarcações Terra firme

Maçaranduba Construção de casas e mobiliário Terra firme

Construção de casas (tábua, assoalho,


Muiracatiara Igapó
caibro) e mobiliário

Manaiareira Lenha Igapó

Mandioqueira Construção de casa Terra firme

Marupá Construção de casa Terra firme

Paxiubinha Produção de ripas Terra firme

Piquiá Construção de casa, batelão Terra firme

Piranheira Construção de casa Igapó

Sucuruba Construção de casas e mobiliário Terra firme

Tento Construção de casas e mobiliário Terra firme

Uxi Construção de casa Terra firme e igapó

Quadro 22

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Arumã Artesanato Várzea

Buçu Cobertura de casa Terra firme

Cipó-açu Artesanato Terra firme

Cipó-ambé Artesanato Terra firme

Artesanato, mobiliário, amarração de


Cipó-titica Terra firme
cerca e cobertura de casa

Inajá Construção de casa (paredes) Terra firme

Jacitara Artesanato Cabeceira

PARTE VI - SEÇÃO 17 66
Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Saratudo Uso medicinal Platô

Ubim Cobertura de casa Rebio (uso restrito)

Quadro 23

Sementes, resinas, cascas, óleos

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Açaizeiro Casca Igapó

Amapá Leite para uso medicinal Terra firme

Andiroba Óleo para uso medicinal Igapó

Breu Calafetagem Terra firme

Carapanaúba Casca para uso medicinal Terra firme

Crajiru Na alimentação Quintal

Cumaru Semente para uso medicinal Terra firme

Envirataia Uso medicinal e defumação

Grajió Uso medicinal

Jutaí Seiva para uso medicinal Terra firme

Pau-rosa Uso medicinal Terra firme

Preciosa Produção de esteio Terra firme

Piquiá Óleo Terra firme

Quebra-pedra Uso medicinal Terra firme

Sacaca Uso medicinal Terra firme

Salva-de-marajó Uso medicinal Terra firme

Sândalo Uso medicinal Terra firme

Sapucaia Construção de casa Terra firme

Saracura-mirá Uso medicinal Terra firme

Sucuba Leite para uso medicinal Terra firme

Trevo-roxo Uso medicinal Terra firme

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 67


Quadro 24

Frutos

Espécies Ambiente de extração

Açaí Várzea

Bacaba Terra firme

Bacuri Várzea, igapó

Caju-açu Terra firme

Castanha Terra firme

Copaíba Terra firme

Cupuaçu Terra firme

Inajá Terra firme

Jutaí Terra firme

Mamorana Terra firme

Maracujá-do-mato Terra firme

Pariri Terra firme

Patauá Terra firme

Pitomba Terra firme

Taperebá Várzea

Tucumã Terra firme

Uxi-coroa Terra firme

Uxi-liso Terra firme

Uxirana Terra firme

Principais cultivos agrícolas na comunidade Juquiri Grande

Quadro 25

Cultivos

Abacate

Abacaxi

Abóbora

Açaí

Bacaba

PARTE VI - SEÇÃO 17 68
Cultivos

Banana

Batata

Caju

Cana

Cará

Cebolinha

Chicória

Cupuaçu

Feijão

Jambu

Jerimum

Laranja

Limão

Macaxeira

Mandioca

Manga

Mangarataia

Maxixe

Melancia

Milho

Muruci

Pimentão

Pimenta-de-cheiro

Pimenta-malagueta

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 69


17.1.4.4. Juquirizinho

Figura 23. Mapa da área de


moradia de Juquirizinho. Fonte:
Cumbuca Norte (2017).

PARTE VI - SEÇÃO 17 70
Figura 24. Mapa das áreas de
uso de Juquirizinho. Fonte:
Cumbuca Norte (2017).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 71


Caças mais visadas na comunidade Juquirizinho

Quadro 26

Bichos de pata

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Anta Mata, beira de rio

Caititu Mata grande

Capivara Beira do rio

Caranguejo Igapó

Capivara Beira do rio

Cotia Beira do lago

Coroca Beira do lago

Corocão Beira do lago

Cupido Beira de rio e barranco

Jacaré

Jucuraru (lagarto) Mata

Guariba Igapó

Quatá Mata fechada

Cuamba Mata fechada

Caiarara Igapó
Macaco
Cuxiú Igapó

Paranacu Igapó

Prego Mata fechada

Chuim Igapó

Onça Mata

Paca Beirada de rio

Pato Beirada de rio

Porco-espinho Mata

Queixada Beira de rio

PARTE VI - SEÇÃO 17 72
Bichos de pata

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Quati Mata

Tatu Mata

Veado Ilha e beirada de rio

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Quadro 27

Bichos de pena

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Arara Igapó

Cigana Beira de rio

Jacamim Mata grande

Jacu Mata grande

Marreca Lago

Mauari Beira de rio

Mutum Mata grande

Nambu Mata grande

Papagaio Capoeira

Pato Lago

Saracura Várzea

Tucano Mata grande

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 73


Quadro 28

Bichos de casco

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Jaboti Mata

Jacaré Rio e lago

Pitiú Rio e lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Pescados mais visados na comunidade Juquirizinho

Quadro 29

Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Acari Lago, igapó

Apapá Lago

Aracu Branco Rio

Aracu Cabeça-gorda Rio

Aracu Pintado Rio

Aramaçã Rio e lago

Arari Rio e lago

Arraia Rio e lago

Arauanã Lago

Branquinha Rio e lago

Camaça Rio e lago

Canamorco Lago e rio

Canamu Rio e lago

Cará Igarapé e lago

Charuto Rio e lago

Cujuba Lago

PARTE VI - SEÇÃO 17 74
Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Curimatá Rio e lago

Dauá Rio e lago

Dourada Lago

Filhote Rio e lago

Jatuara Rio e lago

Jatuarana Rio e lago

Jaú Rio e lago

Mafurá Rio e lago

Mafurá da escama
Rio e lago
fina

Mandi Rio e lago

Mandubé Rio e lago

Mapará Lago

Matrinxã Rio e lago

Mereré Lago e igapó

Mocinha Rio e lago

Azeite Lago e igapó

Brebe Lago e igapó

Pacu Índio Lago e igapó

Pedra Lago e igapó

Pacuraurau Lago e igapó

Peixe-boi Lago e rio

Peixe-cachorro Rio e lago

Pescada Rio e lago

Piraíba Lago

Branca Rio e lago


Piranha
Preta Rio e lago

Pirapitinga Rio e lago

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 75


Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Pirarara Lago e rio

Pirarucu Lago e rio

Saranha Rio e lago

Sardinha Rio e lago

Saúna Rio e lago

Surubim Lago e rio

Tambaqui Rio e lago

Tamoatá Rio e lago

Traíra Lago e rio

Trairão Cachoeira

Tucunaré Lago e rio

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Produtos vegetais mais visados na comunidade Juquirizinho

Quadro 30

Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Arapari Lenha Terra firme

Aroeira Construção de casas (parede)

Carvalheiro Lenha Igapó e várzea

Cedro Construção de mobiliário

Castanheira Uso medicinal Terra firme

Cumaru Uso medicinal Terra firme

Copaíba Uso medicinal Igarapé e terra firme

Cupiúba-amarela Construção de casas (parede e assoalho)

Cupiúba-branca Construção de casas (parede e assoalho)

PARTE VI - SEÇÃO 17 76
Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Cupungo do ouriço da
Construção de casas e embarcações
castanha

Guarijuba Construção de mobiliário

Itaúba Construção de casa Terra firme, Flona e Rebio

Jacarandá Construção de mobiliário

Jacareúba Construção de mobiliário Igapó e igarapé

Louro-rosa Cobertura de casa

Louro-imbaúba Cobertura de casa

Louro-itaúba Cobertura de casa

Louro-taxi Cobertura de casa

Maçaranduba Construção de casas Terra firme

Manaiara

Mandioqueira Construção de casas (parede e assoalho)

Marupá Construção de casas (forro) e embarcações

Muracandeia Igapó

Muiracatiara Construção de mobiliário

Pau-rosa Uso medicinal

Piquiá Uso medicinal

Ritangueira Lenha

Tento-da-mata Construção de canoa

Tento-do-igapó Construção de canoa Igapó, igarapé

Quadro 31

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Arumã Produção de tipiti Rebio e Flona

Buçu Cobertura de casa Terra firme, Rebio e Flona

Cipó-ambé Produção de vassoura e abano. Rebio e Flona

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 77


Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Jacitara Produção de vassoura, abano e tipiti Rebio e Flona

Mumbaca Produção de cesto para carregar caça Terra firme

Murumuru Produção de cesto para carregar caça Terra firme

Palha branca Cobertura de casa Terra firme, Rebio e Flona

Panacu Produção de cesto para carregar caça

Patauá Produção de cesto para carregar caça Terra firme

Pinaiuquira Cobertura e parede de casa Terra firme, Rebio e Flona

Pinaxin Produção de cesto para carregar caça

Timbó-açu Produção de vassoura, abano

Timbó-titica Produção de vassoura, abano Rebio e Flona

Grotas e beiras de igarapés na


Ubim Cobertura de casa
Rebio e na Flona

Quadro 32

Frutos

Espécies Ambiente de extração

Açaí Baixada

Buriti Terra firme

Cacau Igapó

Castanha Terra firme

Ingá Terra firme

Inajá Terra firme

Jutaí Terra firme

Mamorana (fruta-pão) Igapó

Maracujá-do-mato Terra firme

Mari Terra firme

Mari-mari Terra firme

Tucumã Terra firme

Uxi-coroa Terra firme

PARTE VI - SEÇÃO 17 78
Frutos

Espécies Ambiente de extração

Uxi-liso Terra firme

Uxirana Terra firme

Quadro 33

Sementes, resinas, cascas, óleos

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Amapá Uso medicinal Terra firme

Andiroba Uso medicinal Terra firme

Barbatimão Uso medicinal Terra firme e várzea

Breu Uso medicinal Terra firme

Copaíba Uso medicinal Beira de baixada, igarapé e terra firme

Cumaru Uso medicinal Terra firme

Jutaicica Uso medicinal Terra firme

Piquiá Uso medicinal Terra firme

Saracura Uso medicinal Terra firme e várzea

Principais cultivos agrícolas na comunidade Juquirizinho

Quadro 34

Cultivos

Abacaxi

Areiá

Banana

Batata

Batata-doce

Cana

Cará

Cebolinha

Chicória

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 79


Cultivos

Cominho

Feijão

Jerimum

Macaxeira

Mamão

Mandioca

Manga

Mangarataia

Maxixe

Melancia

Milho

Pimenta-de-cheiro

Tangerina

Tomate

PARTE VI - SEÇÃO 17 80
17.1.4.5. Moura

Figura 25. Mapa das áreas de


moradia e uso do Moura. Fonte:
Cumbuca Norte (2017).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 81


Caças mais visadas na comunidade Moura

Quadro 35

Caça

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Cotia Roça, beira de rio e terreiros de casa

Macaco Terra firme e igapó

Paca Terra firme

Queixada Terra firme

Veado Floresta e beira de rio

Tartaruga Rio

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Pescados mais visitados na comunidade Moura

Quadro 36

Pescado

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Apapá Rio e lago

Cará-moló Rio e lago

Mapará Rio e lago

Pacu Rio e lago

Tucunaré Rio e lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

PARTE VI - SEÇÃO 17 82
Produtos vegetais mais visados na comunidade Moura

Quadro 37

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidades Ambiente de extração

Arumã Artesanato Várzea

Bacaba Artesanato Terra firme

Cipó-ambé Artesanato Terra firme e igapó

Artesanato, mobiliário, amarração de cerca e


Cipó-titica Terra firme
cobertura de casa

Inajá Construção de casa (paredes) Terra firme

Palha-branca Construção de casa Terra firme

Palha-preta Construção de casa Terra firme

Ubim Cobertura de casa Terra firme

Quadro 38

Sementes, resinas, cascas, óleos

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Andiroba Óleo para uso medicinal Igapó

Breu Calafetagem Terra firme

Caripé (ou cariapé) Produção de cerâmica Terra firme

Copaíba Óleo para uso medicinal Terra firme

Cumaru Uso medicinal Terra firme

Jutaicica Produção de cerâmica Terra firme

Quadro 39

Frutos

Espécies Ambiente de extração

Açaí Várzea

Bacaba Terra firme

Bacuri Terra firme e igapó

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 83


Frutos

Espécies Ambiente de extração

Buriti Terra firme

Caju-açu Terra firme

Castanha Terra firme

Mangaba Terra firme

Pariri Terra firme

Patauá Terra firme

Piquiá Terra firme

Puruí Terra firme e igapó

Uxi Terra firme

Principais cultivos agrícolas na comunidade Moura

Quadro 40

Cultivos

Abacaxi

Abóbora

Cupuaçu

Banana

Feijão

Goiaba

Hortaliças

Jerimum

Laranja

Limão

Mandioca

Maracujá

Melancia

Milho

PARTE VI - SEÇÃO 17 84
17.1.4.6. Nova
Esperança

Figura 26. Mapa das áreas


de moradia e uso de Nova
Esperança. Fonte: Cumbuca
Norte (2017).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 85


Caças mais visadas na comunidade Nova Esperança

Quadro 41

Bichos de pata

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Anta Beira de rio

Caititu Floresta

Capivara Beira de rio

Cotia Roça, beira de rio e terreiro de casa

Cupido Beira de rio

Caiarara Floresta

Cuamba Floresta

Chuim Floresta

Churuim Floresta
Macaco
Coatá Floresta

Cuxiú Floresta

Guariba Floresta

Macaco-prego Floresta

Paca Cabeceira

Queixada Floresta

Tatu Floresta

Veado Floresta e beira de rio

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

PARTE VI - SEÇÃO 17 86
Quadro 42

Bichos de pena

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Arara Árvores frutíferas, floresta

Cigana Igapó e beira de lago

Cujubim Cabeceira

Jacamim Árvores frutíferas

Jacu Árvores frutíferas e floresta

Mauari Beira de rio

Mergulhão
(carará)

Miuá

Beira de água (rio, igarapé e


Mutum
cabeceira)

Beira de água (rio, igarapé e


Nambu
cabeceira)

Pato-do-mato Beira de rio e lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Quadro 43

Bichos de casco

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Cabeçudo

Jaboti

Tracajá

Pitiú

Tartaruga

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 87


Pescados mais visados na comunidade Nova Esperança

Quadro 44

Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Acari Lago

Apapá Lago

Aracu-cabeça-
Lago
gorda
Aracu
Aracu-baré Lago

Aracu-flamengo Lago

Arari Lago

Arauanã Lago

Arumará Lago

Baruca Lago

Barbado Lago

Branquinha Lago

Canamorco Lago

Cará-branco Lago

Cará-disco Lago

Cará-preto Lago

Cará-açu Lago

Cará-prata Lago
Cará
Cará-cascudo Lago

Cará-tucunaré Lago

Cará-tilápia Lago

Cará-moló Lago

Cará-tinga Lago

Charutinho Lago

Cujuba Lago

Filhote Lago

PARTE VI - SEÇÃO 17 88
Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Fura-calça Lago

Jacundá Lago

Jandiá Lago

Jaraqui Lago

Jatuarana
Lago
(matrinxã)

Jiju Lago

Mafurá Lago

Mandubé Lago

Mapará Lago

Pacu-galhudo Lago

Pacu-anhanga Lago

Pacu Pacu-azeite Lago

Pacu-brebe Lago

Pacu-branco Lago

Peixe-boi Lago

Peixe-cachorro Lago

Peixe-moela Lago

Pescada Lago

Piracatinga Lago

Piranha-preta Lago

Piranha Piranha-caju Lago

Piranha-branca Lago

Pirarara Lago

Pirarucu Lago

Saranha Lago

Surubim Lago

Tambaqui Lago

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 89


Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Tamuatá Lago

Traíra Lago

Tucunaré-açu Lago

Tucunaré Tucunaré-pinima Lago

Tucunaré-pitanga Lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Produtos vegetais mais visados na comunidade Nova Esperança

Quadro 45

Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Acapu Construção de casas e embarcações Terra firme

Angelim (amarelo e pedra) Construção de casas e mobiliário Terra firme

Araracanga Construção de casas e mobiliário Terra firme

Aroeira Construção de casas (forro, parede) Terra firme

Castanheira Terra firme

Cumaru Terra firme

Envira Lenha Igapó

Itaúba Construção de casas e embarcações Terra firme

Louro Construção de embarcações Terra firme

Maçaranduba Construção de casas e mobiliário Terra firme

Marupá Marcenaria em geral Terra firme

Muiracatiara Construção de casas (tábua, assoalho, caibro) Terra firme

Artesanato
Mungubeira Igapó

Murapiranga Construções em geral Terra firme

Pau-amarelo Marcenaria em geral Terra firme

Peito-de-moça

PARTE VI - SEÇÃO 17 90
Madeiras

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Sucupira Terra firme

Sumaumeira Terra firme

Tento Construção de casa (assoalho) Igapó

Virola Mobiliário Igapó

Quadro 46

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Arumã Artesanato Várzea

Bacaba Artesanato

Buriti Artesanato

Cipó-ambé Artesanato Terra firme

Inajá Construção de casa (paredes)

Jacitara Artesanato Cabeceiras

Jauari Artesanato Igapó e várzea

Sororoca Artesanato Terra firme

Timbó-açu Artesanato Terra firme

Artesanato, mobiliário, amarração de cerca e


Timbó-titica Terra firme
cobertura de casa

Ubim Cobertura de casa Terra firme

Quadro 47

Frutos

Espécies Ambiente de extração

Açaí Várzea

Bacaba (bacaba-grande e bacabi) Terra firme

Caju-açu Terra firme

Castanha Terra firme

Castanha-sapucaia Terra firme

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 91


Frutos

Espécies Ambiente de extração

Jenipapo Terra firme

Mangaba Terra firme

Maracujá-do-mato Terra firme

Mari-mari Igapó

Marigapó Igapó

Pajurá Terra firme

Pariri Terra firme

Patauá Terra firme

Piquiá Terra firme

Puruí Terra firme

Uxi-coroa Terra firme

Uxi-liso Terra firme

Quadro 48

Sementes, resinas, cascas, óleos

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Amapá (amargo e doce) Leite para uso medicinal Terra firme

Breu Calafetagem e uso medicinal Terra firme

Breu-branco Uso medicinal Terra firme

Copaíba Óleo para uso medicinal Terra firme

Cumaru Sementes para uso medicinal Terra firme

Jutaicica Produção de cerâmica Terra firme

Murumuru Leite para uso medicinal Terra firme

Sucuba Leite para uso medicinal Terra firme

PARTE VI - SEÇÃO 17 92
Principais cultivos agrícolas na comunidade Nova Esperança

Quadro 49

Cultivos

Abacate

Abacaxi

Abóbora

Araçá

Banana

Caju

Coco

Cupuaçu

Feijão

Goiaba

Graviola

Hortaliças

Ingá

Jerimum

Laranja

Limão

Macaxeira

Mamão

Mandioca

Manga

Maracujá

Melancia

Milho

Muruci

Pitomba

Pupunha

Tamarindo

Tangerina

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 93


17.1.4.7. Palhal

Figura 27. Mapa das áreas de


moradia e uso do Palhal. Fonte:
Cumbuca Norte (2017).

PARTE VI - SEÇÃO 17 94
Caças mais visadas na comunidade Palhal

Quadro 50

Caça

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Cotia Roça, beira de rio, terreiro de casa

Macaco Floresta

Paca Cabeceira

Veado Floresta e beira de rio

Tartaruga Lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Pescados mais visados na comunidade Palhal

Quadro 51

Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Aracu Lago

Cará Lago

Cujuba Lago

Mafurá Lago

Pacu Lago

Pescada Lago e rio

Pirarara Rio

Surubim Lago

Tambaqui Lago

Tucunaré Lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 95


Produtos vegetais mais visados na comunidade Palhal

Quadro 52

Frutos

Espécies Ambiente de extração

Açaí Várzea

Bacaba Terra firme

Castanha Terra firme

Patauá Terra firme

Piquiá Terra firme

Tucumã Terra firme

Uxi (uxi-liso e uxi-coroa) Terra firme

Quadro 53

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Cipó-ambé Artesanato Terra firme

Artesanato, mobiliário, amarração de cerca e


Cipó-titica Terra firme
cobertura de casa

Palha-branca Construção de casa Terra firme

Palha-preta Construção de casa Terra firme

Ubim Cobertura de casa Terra firme

Quadro 54

Sementes, resinas, cascas, óleos

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Andiroba Óleo para uso medicinal Igapó

Breu Calafetagem e uso medicinal Terra firme

Copaíba Óleo para uso medicinal Terra firme

PARTE VI - SEÇÃO 17 96
Principais cultivos agrícolas na comunidade Palhal

Quadro 55

Cultivos

Abacaxi

Banana

Batata-doce

Caju

Cará

Cupuaçu

Feijão

Jerimum

Laranja

Limão

Macaxeira

Mandioca

Mangarataia

Maracujá

Melancia

Milho

Muruci

Pimenta

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 97


17.1.4.8. Último
Quilombo

Figura 28. Mapa das áreas


de moradia e uso do Último
Quilombo. Fonte: Cumbuca
Norte (2017).

PARTE VI - SEÇÃO 17 98
Caças mais visadas na comunidade Último Quilombo

Quadro 56

Bichos de pata

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Anta Baixa e igarapé

Capivara Várzea

Caititu Floresta

Cotia Roça e beira de rio e igarapé

Cuxiú Floresta

Cuamba Floresta
Macaco
Guariba Igapó

Prego Floresta

Beira de rio, igarapé, cabeceira e


Paca
ponta de rio

Porco-espinho Floresta

Peixe-boi Margem de rio e lago

Queixada Floresta

Tatu Beira de rio, igarapé e cabeceira

Veado Próximo a árvores frutíferas

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Quadro 57

Bichos de pena

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Arapuã

Arara Árvores frutíferas

Cigana Igapó e beira de lago

Cujubim Cabeceira

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 99


Bichos de pena

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Jacamim Nas árvores frutíferas do inverno

Na mata, no meio do açaizeiro, nas


Jacu
frutas de bacabeira

Marreca Beira de rio e lago

Mauari Beira de rio

Beira de água (rio, igarapé e


Mutum
cabeceira)

Nambu

Pato-do-mato

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

Quadro 58

Bichos de casco

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Cabeçudo Igarapé

Jaboti

Jacaré Cabeceira

Pitiú Praia

Tartaruga Praia

Tracajá Praia

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

PARTE VI - SEÇÃO 17 100


Pescados mais visados na comunidade Último Quilombo

Quadro 59

Pescados

Período
Animais Qualidades Ambiente de captura
Vazante Enchente

Acari Lago

Arauanã Lago

Arraia Praia

Apapá Lago

Canamorco Lago

Caratinga Lago

Cujuba Lago

Mafurá Lago

Mandi Lago

Mapará Lago

Pacu Lago

Pescada Lago

Piranha preta Lago

Pirarucu Lago

Surubim Lago

Tamuatá Lago

Tucunaré Lago

Traíra Lago

Legenda: Vermelho – pouco interesse; Amarelo – médio interesse; Verde – muito interesse.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 101


Produtos vegetais mais visados na comunidade Último Quilombo

Quadro 60

Palhas, talas e cipós

Espécies Finalidades Ambiente de extração

Cipó-timbó Vassoura Terra firme

Cipó-ambé Artesanato utilitário Terra firme

Cipó-titica Vassoura, cesta Terra firme

Inajá Casca usada para fins medicinais Terra firme

Ubim Cobertura de casa Terra firme

Quadro 61

Madeiras

Espécies Finalidades Ambiente de extração

Amarelão Construção de casas e canoas Terra firme

Aroeira Construção de casas (paredes e forro) Terra firme

Castanheira Construção de casas (paredes e forro) Terra firme

Cedro Terra firme

Fava amarela Construção de casas (paredes) Terra firme

Itaúba Construção de casas (paredes e forro) Terra firme

Lombrigueira (dará-uxi) Construção de casas (paredes) Terra firme

Louro Construção de casas e canoas Terra firme

Maçaranduba Construção de casas (paredes e forro) Terra firme

Construção de casas (paredes), tábuas e


Mandioqueira Terra firme
canoas

Marupá Construção de casas (paredes) e móveis Terra firme

Taubarana Construção de casas (paredes) e canoas Várzea

Tento Construção de canoas Várzea

PARTE VI - SEÇÃO 17 102


Quadro 62

Sementes, resinas, cascas, óleos

Espécies Finalidade Ambiente de extração

Andiroba Óleo para uso medicinal Igapó

Breu Calafetagem Terra firme

Copaíba Óleo para uso medicinal Terra firme

Jutaicica Acabamento em cerâmica Terra firme

Murumuru Terra firme

Principais cultivos agrícolas na comunidade Último Quilombo

Quadro 63

Cultivos

Abacaxi

Abóbora

Banana

Batata

Café

Caju

Cará

Carambola

Cheiro-verde

Cupuaçu

Goiaba

Graviola

Jerimum

Limão

Macaxeira

Mamão

Mandioca

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 103


Cultivos

Manga

Maxixe

Melancia

Milho

Muruci

Pimenta

Pupunha

Tangerina

Urucum

Do exposto depreende-se que, a despeito de haver uma grande variedade de recursos


naturais no TQ Alto Trombetas II, o seu uso varia consideravelmente de comunidade para co-
munidade. Essa variação é condizente com a natureza das duas Unidades de Conservação so-
brepostas ao território e com as restrições que ambas impõem aos moradores. Chama aten-
ção, porém, a limitada variedade de recursos mencionados na comunidade do Moura, onde
os impactos da mineração são mais sentidos nas formas de ocupação dos moradores, em
grande parte prestadores de serviços remunerados na Coopermoura. Limitação semelhante
é percebida na comunidade Palhal, que foi formada principalmente por famílias agricultoras
oriundas da região do Lago Grande, em Santarém, menos afeitas às práticas extrativistas.

17.1.5. Diagnóstico

Considerando as características do território, depreendidas das fontes consultadas e


da vivência dos quilombolas envolvidos neste projeto, elaborou-se um diagnóstico da agro-
biodiversidade local, contendo 15 itens ou aspectos por eles considerados fundamentais:

1. Conhecimentos tradicionais associados a recursos naturais para uso na saúde (re-


médios caseiros);

2. Cultivos agrícolas;

3. Extrativismo vegetal;

4. Coleta de castanha;

PARTE VI - SEÇÃO 17 104


5. Extração de óleo de copaíba;

6. Pesca;

7. Caça;

8. Artesanatos;

9. Histórias de encantados;

10. Lugares e paisagens;

11. Clima, regime de chuvas e rios;

12. Biodiversidade em conexão com manifestações culturais;

13. Recursos hídricos;

14. Técnicas construtivas tradicionais; e

15. Alimentação.

Para cada um deles foram identificados pontos positivos/potenciais e pontos negati-


vos/ameaças (Quadro 64).

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 105


Quadro 64. Diagnóstico da agrobiodiversidade no território

DIAGNÓSTICO DA AGROBIODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO

Nº Item/Aspecto Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• Uso cada vez maior dos medicamentos industrializados (exemplo:


Conhecimentos tradicionais • Riqueza e variedade de recursos disponíveis na floresta para extração. Projeto Quilombo, que distribui remédios para males que podem ser
associados a recursos naturais para • Além do extrativismo, muitas famílias cultivam as ervas medicinais. tratados com remédios caseiros).
1
uso na saúde (remédios caseiros) • 90% das famílias usam remédios caseiros, 64% preparam os remédios em • Impactos ambientais nas florestas diminuem a disponibilidade de
casa, 60% declaram ter grau de conhecimento razoável a muito alto. recursos naturais.

• Solo da área do Erepecu não é bom para plantio de mandioca.


• Solo fértil na maioria das comunidades. • Proibição de fazer roça na Rebio (mas há roçados com cerca de meia
• Presença de terra preta e terra entremeada (mista de terra preta e barro). quadra, no máximo).
• Conhecimentos dos moradores sobre as variedades agrícolas. • Limitação das áreas para roçado na Flona a três hectares por família.
2 Cultivos agrícolas
• O trabalho na roça e na casa de farinha envolve todos os membros das • Não trocam mais sementes e manivas como antes, trocas que
famílias, sem distinção de sexo. enriqueciam e melhoravam a produção (se não davam certo em um
• Ver lista de cultivos agrícolas. lugar, davam no outro).
• Pessoas se dedicam mais a outros trabalhos, ultimamente.

• Muitos produtos não tiveram seu potencial devidamente explorado.


• A maior parte das atividades extrativistas pode ser feita o ano todo.
• Conhecimento dos ciclos/safras dos diferentes produtos não estão
• Conhecimento dos ciclos/safras dos diferentes produtos acumulados por
sendo adquiridos pelos mais jovens.
diversas gerações.
• Proibição de uso da Rebio para a extração de recursos que
• Grande variedade de recursos naturais para o extrativismo.
tradicionalmente eram usados, levando à decadência ou paralisação do
3 Extrativismo vegetal • Grande variedade de usos dados aos recursos extraídos, seja para
extrativismo.
subsistência ou comércio.
• Desmatamento causado pela mineração na Flona elimina diversos
• Importância econômica da extração e comercialização de produtos como
recursos.
castanha e copaíba.
• Concessões florestais nas bordas do território.
• Ver lista de extrativismo vegetal.
• Invasão de madeireiros clandestinos e motosserreiros.

• Ofício muito antigo que respondeu, em grande medida, pela própria


presença e sobrevivência das comunidades quilombolas até o presente.
• A comercialização da castanha ainda é a principal fonte de renda de muitas • Restrições de acesso aos castanhais da Rebio.
4 Coleta de castanha
famílias. • Nos últimos anos, a safra da castanha vem oscilando.
• A coleta da castanha, por tradição, envolve toda a unidade doméstica na
atividade.

PARTE VI - SEÇÃO 17 106


DIAGNÓSTICO DA AGROBIODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO

Nº Item/Aspecto Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• Atividade tradicional realizada por todas as comunidades.


• O manejo da copaíba envolve um saber passado através das gerações. • Corte de copaibeiras no platô Monte Branco, para a mineração de
5 Extração de óleo de copaíba • Importância econômica para as comunidades. bauxita.
• A facilidade de acesso aos copaibais mais fartos e a existência de projetos
que apoiam o manejo e o escoamento do óleo favorecem a atividade.

• Abundância e variedade de pescados. • Proibição da pesca da Rebio dificulta a subsistência das famílias.
• Principal fonte de proteína para as famílias. • Proibição de fazer uso comercial da pesca.
• Facilidade da atividade mesmo para crianças. • Impactos gerados pelo trânsito de embarcações de grande porte
• Conhecimentos acumulados há gerações são transmitidos continuamente (navios Panamax que abastecem na MRN).
aos mais jovens. • Pressão de invasores (vindos de Oriximiná e outras comunidades),
6 Pesca
• Conhecimento do comportamento dos peixes, lugares que frequentam, tanto na Flona quanto na Rebio, apesar da presença de bases de
horários bons para pescar cada espécie (cóio). fiscalização do ICMBio.
• Disponibilidade de recursos naturais da floresta para fabricação de • Crescente uso de apetrechos para pesca de grande porte (arrastões,
instrumentos simples como caniço. malhadeiras, equipamentos de pesca de mergulho, inclusive arma de ar
• Ver lista de pescados. comprimido, e arpões, que são usados para pegar pirarucu e peixe-boi).

• Relativa abundância e variedade de espécies de caças.


• Fonte de proteína importante para as famílias.
• Variedade de pratos preparados com caças.
• Conhecimento do comportamento dos animais, lugares que frequentam • Afugentamento das caças causado pelas atividades de mineração
(associação com plantas que lhes servem de alimento), horários bons para • Uso de cachorros para caça afasta caças
7 Caça
caçar cada espécie (cóio): “Cada animal tem um “tempo certo” para ser • O conhecimento tradicional sobre os animais está se perdendo, devido
caçado”. às restrições à caça
• Disponibilidade de recursos naturais para a fabricação de instrumentos de
caça (lambador feito de vara, laço de cipó).
• Ver lista de caças.

• Variedade de recursos naturais que podem ser usados na confecção de


produtos artesanais. • Falta de incentivos e oportunidades para repasse dos saberes
• Potencial econômico para geração de renda. artesanais.
8 Artesanatos • A confecção de produtos artesanais tradicionais ajuda na preservação da • Preferência por produtos industrializados.
história e da cultura das comunidades. • Muita dificuldade de escoamento do artesanato para venda.
• Artesanato de cerâmica e biojoias recebem apoio a projetos (PEAP) • As peças têm baixo valor comercial.
desenvolvidos como condicionantes da mineração.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 107


DIAGNÓSTICO DA AGROBIODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO

Nº Item/Aspecto Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• São ensinamentos para a preservação das caças, dos peixes e dos lugares da • Apenas os mais velhos mantêm o respeito pelos ensinamentos dessas
natureza. histórias.
9 Histórias de encantados • Servem como limites para o uso desregrado do meio ambiente. • Os mais jovens não se importam com as histórias.
• Transmitem valores como respeito para com elementos da natureza e • A crença nos seres encantados diminuiu, e também o poder desses
outros seres, humanos e não humanos. seres de impor respeito aos elementos da natureza.

• Diversos nichos ecológicos com características de paisagem distintas, desde


áreas de floresta preservada até áreas antropizadas (zonas habitadas e • Paisagens alteradas pelas estruturas e operações da mineração
cultivadas e centros comunitários). • Erosão nas margens do Rio Trombetas, devido ao fluxo de grandes
10 Lugares e Paisagens • Lagos, cabeceiras e igarapés de alta piscosidade. embarcações.
• Furos são referências de acesso aos lugares de trabalho e moradia. • Concessões florestais nas bordas do território.
• Pontos de castanhais onde as famílias costumam ficar, por tradição e • Invasão de madeireiros clandestinos e motosserreiros.
reconhecimento, os quais são respeitados pelos demais.

• O volume de chuvas tem variado ano a ano, e isso dificulta o


planejamento das atividades da agricultura.
• Enchentes grandes e secas intensas.
• As estações eram bem marcadas, bem definidas, e isso permitia o • Mudanças climáticas intervêm na produtividade da roça.
11 Clima, regime de chuvas e rios planejamento das atividades de agricultura, pesca e preparação de provisões • O calor aumentou, da mesma forma que a seca de igarapés e lagos; o
de alimentos (peixe salgado) para o inverno. período chuvoso estaria cada vez mais curto, bem como seria inferior
ao passado o volume das precipitações.
• Com a seca mais intensa, as fontes de água ficam escassas e as caças se
afastam; os peixes morrem com a seca.

• Tradicionalidade de manifestações culturais realizadas com objetos


produzidos com recursos naturais (exemplo: música de pau e corda).
Biodiversidade em conexão com • Produção de músicas sobre a natureza, a história da ocupação quilombola e
12
manifestações culturais os ofícios tradicionais como o de castanheiro.
• Manifestações religiosas que utilizam recursos naturais para confecção e
ornamentação de mastros, barquinhas de círios.

• Alteração da qualidade da água associada a fatores como: aumento do


número de embarcações transitando no Rio Trombetas, poluição pelos
• O território conta com muitos cursos d’água (rios, lagos, igarapés,
13 Recursos hídricos navios da mineração.
cabeceiras, furos) para abastecimento, pesca, navegação.
• Fatores naturais ou antrópicos estão provocando a seca de cabeceiras
e igarapés.

PARTE VI - SEÇÃO 17 108


DIAGNÓSTICO DA AGROBIODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO

Nº Item/Aspecto Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• As restrições de uso e exploração de recursos das Unidades de


Conservação comprometem a reprodução dos conhecimentos e
• O território detém um amplo repertório de conhecimentos e técnicas de
técnicas.
14 Técnicas construtivas tradicionais construção de habitações e embarcações (e instrumentos associados como
• Os mesmos materiais que poderiam ser obtidos nas Unidades de
remos) com elementos da natureza (madeiras, palhas, cipós).
Conservação passaram a ter que ser comprados na cidade depois da
criação delas.

• Os recursos naturais, bem como as espécies agrícolas cultivadas, dão origem


a uma variedade de pratos. • Nas escolas hábitos alimentares e de consumo de produtos
• O mesmo recurso é aproveitado de várias formas e para vários fins extrativistas e agrícolas, e preparados no próprio território, estão
(exemplo.: da castanha se aproveita o fruto para fazer beiju, farinha, leite, sendo substituídos pelo uso de alimentos industrializados e em
doces em geral, e do ouriço se faz remédio, artesanato). conserva.
15 Alimentação
• A variedade de produtos existentes no território tem potencial para suprir o • A merenda escolar não inclui hortaliças e temperos.
abastecimento das escolas (merenda escolar), desde que haja planejamento • Há dificuldade entre os produtores de se habilitar (obter a DAP –
e organização da produção, do armazenamento e da distribuição. Declaração de Aptidão ao Pronaf) para o fornecimento de itens para a
• Um projeto recente tem incentivado a produção e a comercialização de merenda escolar.
produtos agrícolas para a merenda escolar.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 109


Políticas públicas e instrumentos legislativos e administrativos foram avaliados em
relação a suas implicações sobre a biodiversidade no território. Dez instrumentos foram
elencados:

1. a Constituição Federal de 1988;

2. o Decreto nº 4.887/2003;

3. o Decreto nº 84.018 de 21 de setembro de 1979;

4. o Decreto nº 98.704 de 27 de dezembro de 1989;

5. o Acordo da Castanha;

6. a Ação Civil Pública (ACP) movida em 2013, requerendo a conclusão do processo


de titulação do território;

7. a sentença judicial de 24 de fevereiro de 2015, em favor das comunidades;

8. a Portaria nº 1.172, de 17 de julho de 2018, que reconhece o TQ;

9. Termo de Compromisso de Usos Múltiplos da Rebio; e

10. o Contrato de Concessão do Direito Real de Uso da Flona.

Os dois últimos estão em fase de elaboração.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 110


Quadro 65. Diagnóstico dos instrumentos legislativos e administrativos

INSTRUMENTOS APLICADOS PELO ESTADO

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• No caso do território Alto Trombetas II, a efetivação dos direitos territoriais


• ADCT nº 68 assegura às comunidades remanescentes de quilombo o dos quilombolas entra em choque com a legislação ambiental, já que ocorre
direito de propriedade das terras por elas ocupadas historicamente e sobreposição com duas Unidades de Conservação.
Constituição Federal de determina ao Estado a titulação das terras. • A missão constitucional do Estado, de conservar o meio ambiente inclusive por
1
1988 • Assegura direitos culturais das comunidades remanescentes de quilombo. meio da criação/manutenção de áreas protegidas, tem prioridade sobre sua
• No que diz respeito ao meio ambiente, estabelece o direito de todos ao missão, igualmente constitucional, de conferir títulos de propriedade às terras
meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado. tradicionalmente ocupadas por comunidades remanescentes de quilombos.
• O choque de direitos é motivo de conflitos frequentes.

• Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento,


delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por • Não tem plena aplicação na área, devido à supracitada sobreposição com Unidades
2 Decreto nº 4.887/2003
remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do de Conservação.
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

• Histórico de deslocamento compulsório, violência, humilhações e coação de


moradores.
• A sobreposição impede a titulação da área como TQ, ou seja, impede a
concretização de um direito territorial que afeta outros direitos (ambientais,
culturais, econômicos).
• A subsistência e a convivência dos moradores são abaladas em função da
constante vigilância nas bases de fiscalização do ICMBio. Os quilombolas
Decretonº 84.018 de 21 de • Contribui para a preservação de recursos naturais.
denunciam a seletividade da fiscalização feita nas bases, onde alegam ser
3 setembro de 1979 cria a • Evita a entrada de pessoas estranhas na área, como invasores e praticantes
constrangidos, enquanto que “pessoas de fora” circulam diariamente pelo rio.
Rebio Trombetas de pesca predatória.
• O uso de recursos pode causar a aplicação de multas, confisco de materiais,
embarcações, motores e do próprio alimento.
• Enquanto a presença das comunidades quilombolas é reconhecida, controlada,
fiscalizada e implica limitações quanto à construção de casas, escolas, etc., a
comunidade do Ajudante, em frente a Porto Trombetas, não para de crescer, com
casas sendo construídas e até mesmo alugadas para pessoas que trabalham na
mineração e em atividades de suporte a ela.

• Criada em 1989, desconsiderou o ADCT n. 68 da Constituição Federal de 1988.


Decreto nº 98.704 de 27 • Sobreposição impede a titulação do território, ou seja, a concretização de um
4 de dezembro de 1989 cria a • Não há ponto positivo para as comunidades quilombolas. direito territorial que afeta outros direitos (ambientais, culturais, econômicos).
Flona Saracá-Taquera • Permite a mineração, em contradição com as restrições que impõe às
comunidades.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 111


INSTRUMENTOS APLICADOS PELO ESTADO

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• Implica inconvenientes à permanência na floresta em função das restrições à


pesca e à caça, que, tradicionalmente, fornecem alimentação durante a estada no
castanhal.
• É burocrático, obrigando à criação de listas de coletores autorizados e ao
preenchimento de papeletas de controle da produção para entrega ao ICMBio.
• O Acordo original incluiu, além de associações quilombolas, a Associação dos
• Acordo firmado com o ICMBio para possibilitar a entrada nos castanhais Extrativistas Tradicionais de Oriximiná (AETMO), que não fazem parte dos
5 Acordo da Castanha da Rebio durante as safras. territórios quilombolas sobrepostos pela UC.
• Permite a coleta de castanha aos moradores. • Em 2017, tendo já o RTID publicado, as associações quilombolas demandaram a
retirada dos não quilombolas do Acordo, quando da sua renovação.
• Em 2018, o ICMBio atendeu ao pleito, excluindo a AETMO do instrumento que
autoriza a coleta de castanha no interior da Rebio.
• A entidade, contudo, moveu Ação Pública cujo julgamento decidiu pela
permanência da AETMO no Acordo, permitindo a entrada de membros externos
às comunidades em áreas do TQ.

• Trata-se de ação civil pública referente ao processo nº 0004405-


91.2013.4.01.3902, proposta pelo Ministério Público Federal em face
Ação Civil Pública de 2013, da União, do Incra, do Instituto Chico Mendes de Conservação da
6 requerendo a conclusão do Biodiversidade (ICMBio) e da Fundação Cultural Palmares (FCP), na qual, • Não se aplica.
processo de titulação em síntese, requer a conclusão de processo de titulação de comunidades
remanescentes de quilombos situadas na Floresta Nacional Saracá-
Taquera e na Reserva Biológica Trombetas.

• Julgando a referida ACP, o juiz decide:


• a) CONDENAR OS RÉUS UNIÃO, Incra e ICMBio a concluírem, no raio
de suas respectivas competências, no prazo de dois anos, a contar da
intimação desta sentença, o procedimento administrativo de identificação,
Sentença judicial de 24 de reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas • Apesar da sentença favorável às comunidades quilombolas, exarada em 2015, até o
7
fevereiro de 2015 pelas comunidades de remanescentes de Quilombos descritas nos autos; momento os processos em tela não foram concluídos.
• b) CONDENAR OS RÉUS UNIÃO, Incra e ICMBio ao pagamento de
indenização por danos morais coletivos, no valor de R$90.000,00
(noventa mil reais), a ser rateado em parcelas iguais, em favor do Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos.

PARTE VI - SEÇÃO 17 112


INSTRUMENTOS APLICADOS PELO ESTADO

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• Considerando os autos do Processo Administrativo Incra/SR-30/STM nº


54501.001765/2014-59, esta portaria reconhece e declara como terras do
Território Quilombola Alto Trombetas 2 a área de 189.657,8147 ha cujos
limites são: ao norte com a Reserva Biológica do Rio Trombetas; ao sul com
a Floresta Nacional de Saracá-Taquera; ao leste com Território Quilombola
Boa Vista, Distrito de Porto Trombetas (MRN), Rio Trombetas, Floresta
Nacional de Saracá-Taquera, Reserva Biológica do Rio Trombetas, Lagoa
do Caruara; a oeste com Rio Trombetas, Território Quilombola Alto
Trombetas 1, Lago Erepecu, Igarapé do Estreito, Lagoa Redonda, Reserva
Biológica do Rio Trombetas e Floresta Nacional de Saracá-Taquera. • Apesar da emissão da portaria, o contrato de concessão de direito real de uso
• A portaria é fruto de acordo entre o Incra, o ICMBio e a ACRQAT. ainda não foi formalizado.
Portaria nº 1.172, de 17 de
8 • A portaria determina que a regularização fundiária do território será • Diante das sucessivas mudanças feitas pelo atual governo no Incra e no ICMBio, há
julho de 2018
realizada, neste momento, via contrato de concessão de direito real de insegurança e incerteza sobre o cumprimento, por parte da administração federal,
uso a ser emitido pelo ICMBio, sendo Incra e Fundação Cultural Palmares do acordo firmado entre as partes.
intervenientes, da área de 93.794,1973 ha, que corresponde à porção do
Território Quilombola sobreposto à Floresta Nacional de Saracá-Taquera.
• No Art. 3º é exposto que: “A publicação desta Portaria de Reconhecimento
não encerra as tratativas referentes à definição final da área a ser
regularizada do Território Quilombola Alto Trombetas 2 sobreposta à
Reserva Biológica do Rio Trombetas, considerando-se a sobreposição de
interesses do Estado”.
• No Art. 4º, tem-se que: “A publicação da presente Portaria não implica
renúncia ao direito de futura emissão de título de domínio”.

• O termo eliminará ou minimizará os entraves e restrições usualmente • A elaboração do termo é lenta, a discussão de suas cláusulas demanda muitas
impostas à população quilombola da Rebio. reuniões nas comunidades, e a compreensão de suas disposições nem sempre é
Termo de Compromisso de
9 • É uma solução paliativa para os conflitos decorrentes da sobreposição com plena.
Usos Múltiplos da Rebio
a Rebio, e sua assinatura não implica desistência ao direito de titulação da • A solução fica muito aquém do projeto de gestão territorial que desejam os
área como TQ. quilombolas.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 113


INSTRUMENTOS APLICADOS PELO ESTADO

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• A elaboração do CCDRU requer muitas reuniões nas comunidades e com os órgãos


• O CCDRU assegura os direitos de permanência dos quilombolas na Flona. de governo.
• É uma solução paliativa para os conflitos decorrentes da sobreposição com • A compreensão de suas disposições nem sempre é plena.
a Flona, e sua assinatura não implica desistência ao direito de titulação da • Há cláusulas capciosas e omissões na minuta do contrato, que demandam o
área como TQ. enfrentamento da questão do direito das comunidades à PRL, colocada pela
Contrato de Concessão • Há expectativa de que o CCDRU permita às comunidades o recebimento prerrogativa do PAE-Juruti Velho. Por um lado, os órgãos atêm-se à previsão
10 do Direito Real de Uso da de recursos a título de Participação nos Resultados de Lavras (PRL) legal de que a PRL é devida ao proprietário, nesse caso a União, posto que a área
Flona do empreendimento minerário da MRN na área. Essa expectativa é continua sendo uma UC sob gestão do IMCBio. Por outro, reconhecem que,
alimentada pela prerrogativa aberta nas comunidades do Projeto não fosse a sobreposição com as UCs, os quilombolas seriam efetivamente
Agroextrativista (PAE) Juruti Velho, que, sem serem proprietárias do solo e proprietários do território, com seu título assegurado, e então fariam jus ao direito
na condição de superficiários, tiveram esse direito assegurado pelo CCDRU de receber a PRL.
do assentamento. • A solução do CCDRU muito aquém do projeto de gestão territorial que desejam os
quilombolas.

PARTE VI - SEÇÃO 17 114


As formas e os instrumentos particulares de organização política dos quilombolas tam-
bém foram avaliados, focando sua vida em comunidade e associação, bem como o seu relacio-
namento com agentes externos.

Primeiramente, no que diz respeito às formas próprias de organização, foram contem-


plados seis itens, aspectos ou iniciativas:

1. A relação entre mulheres e biodiversidade, e a importância das primeiras para a


conservação da segunda;

2. a organização política da associação;

3. a organização política das comunidades;

4. as cooperativas de trabalho criadas por iniciativa dos quilombolas;

5. o Protocolo de Consulta e Consentimento da ACRQAT, feito por iniciativa da asso-


ciação; e

6. o “Censo Territorial”, devidamente referenciado neste diagnóstico.

Em seguida, foram elencados cinco projetos relativos à biodiversidade que envolvem


moradores do TQ Alto Trombetas II:

1. Educação Ambiental nas Escolas;

2. Projeto Quelônios da Amazônia;

3. Unidade de Beneficiamento de Alimentos;

4. Manejo de Copaíba; e

5. Inventário das Copaibeiras.

Para concluir, dois acordos estabelecidos com a Mineração Rio do Norte no âmbito de
processos de licenciamento ambiental foram incluídos na análise.

Em relação a cada um dos itens contemplados na avaliação feita pelos quilombolas en-
volvidos no projeto, foram destacados pontos positivos e negativos.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 115


Quadro 66. Diagnóstico da organização quilombola

FORMAS E INSTRUMENTOS DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA QUILOMBOLA

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• Mulher intermediando várias relações com todos os membros da família.


Mulheres e • Conhecimentos agregados nas diferentes relações.
• Machismo nas relações.
1 biodiversidade • Os quintais são domínios femininos, que favorecem a extensão e o reforço
• Pouca participação nos movimentos sociais e nas decisões políticas.
dos laços da vida doméstica e coletiva, bem como a preservação do
patrimônio cultural da comunidade.

• Dificuldade de conciliação de interesses e pontos de vistas de


• Os costumes locais, especialmente as práticas de solidariedade (puxirum, moradores de oito comunidades diferentes.
compartilhamento de casas de farinha, troca e doação de produtos da roça, • Dificuldade de estabelecimento de acordos comuns entre comunidades
da pesca e da caça), favorecem a organização política das comunidades para submetidas a regras diferentes quanto ao uso dos recursos naturais do
a busca de direitos e melhorias para a coletividade. território (em função das UCs).
• A ACRQAT foi fundada em 28 de novembro de 2011 com a missão de • Carência de recursos financeiros e recursos humanos qualificados
organizar coletivamente as comunidades Curuçá, Jamari, Juquiri Grande, para estruturação administrativa da entidade (exemplo: funções de
Juquirizinho, Moura, Nova Esperança, Palhal e Último Quilombo, e de secretariado, contabilidade, assessoria jurídica) a fim de suprir as
Organização política
2 representar seus interesses dentro e fora do Território Quilombola Alto diversas demandas de interlocução com o Estado e com a iniciativa
da associação
Trombetas II. Atualmente, a ACRQAT tem oito diretores e sete vice- privada.
diretores, além de 15 conselheiros, eleitos a cada dois anos. A última eleição • Carência de estrutura física adequada (instalações, equipamentos,
ocorreu em 8 de junho de 2019. acesso a telefone e internet) ao desenvolvimento de atividades técnicas
• A associação se mantém com as anuidades pagas pelos sócios e, para e administrativas da entidade.
projetos específicos, pode receber auxílio de apoiadores e parceiros. • A mobilização dos diretores e sócios da entidade para reuniões
• A associação é registrada em cartório, tem CNPJ e conta bancária em implica expressivos custos de logística, sobretudo com transporte e
processo de abertura. alimentação.

• O modelo de organização das comunidades foi inaugurado nos


anos 1980, por força do apoio da Igreja Católica em atividades de
• Cada comunidade tem um coordenador e um vice-coordenador, eleitos conscientização e grupalização. Nele, o coordenador da comunidade
internamente. costuma acumular funções de coordenação política, mas também
Organização política • A coordenação é responsável pela articulação dos moradores para lidar com religiosa (católica), com implicações na vida sociocultural da
3
das comunidades temas locais. comunidade (festas de santo, celebrações, etc.). Com o recente
• Por intermédio dos coordenadores, as comunidades fazem chegar suas crescimento das igrejas evangélicas no território, os moradores de
deliberações à diretoria da ACRQAT e ao restante do território. comunidades onde essa filiação predomina têm reagido a esse modelo,
buscando a separação entre a função de coordenação política e a gestão
da vida religiosa das comunidades.

PARTE VI - SEÇÃO 17 116


FORMAS E INSTRUMENTOS DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA QUILOMBOLA

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• As atividades econômicas tradicionais, as atividades religiosas,


• Criação da Coopermoura, em 2002, favorece a inclusão de moradores em as relações comunitárias e a participação política na vida coletiva
vagas de trabalho na mineração, contribuindo para geração de renda. envolvem um número cada vez menor de moradores que trabalham na
• A criação dessa entidade respondeu, em grande medida, aos impactos cooperativa.
gerados pela degradação ambiental causada pela própria mineração na • Alteração dos hábitos dos moradores em relação aos trabalhos
localidade e às restrições imputadas pela legislação ambiental. Como tradicionais de agricultura, extrativismo e caça.
as atividades agroextrativistas tradicionais (caça, pesca, agricultura, • Os quilombolas, estando empregados no mercado formal ou
Cooperativas de coleta de recursos naturais dentro da floresta) ficaram progressivamente informal, direto ou indireto, na cidade da mineradora, modificam
4
trabalho comprometidas por esses dois fatores de intervenção no território significativamente seus hábitos. Deixam de realizar ofícios tradicionais,
quilombola, ao findar o século XX os moradores viram significativamente por falta de tempo, e afastam-se da vida comunitária e até mesmo da
reduzidas suas alternativas econômicas e, foram, então, obrigados a buscar participação na gestão das cooperativas por intermédio das quais são
outros tipos de trabalhos para o sustento das famílias. Nesse cenário, a empregados. Dessa forma, as percepções das famílias quilombolas
perspectiva de assalariamento em Porto Trombetas passou a atrair um em relação ao trabalho na MRN são ambivalentes. Se a perspectiva de
número cada vez maior de homens e mulheres, que foram buscar empregos assalariamento, por um lado, traz esperanças de uma vida financeira
na cidade da mineradora. melhor, por outro, ela se reveste de um risco, considerado alto, de
afastamento da vida e dos valores comunitários.

• Lançado em 2018, apresenta as diretrizes para realização de Consulta


Prévia, Livre e Informada nos moldes da Convenção nº 169/OIT e para a
aprovação de consentimento a pesquisas e projetos.
• A divulgação do protocolo ainda é insuficiente.
Protocolo de consulta • O protocolo já tem sido utilizado na lida com órgãos de governo, empresas
5 • A despeito do documento publicado, alguns setores teimam em
e consentimento privadas, organizações não governamentais, instituições de ensino e
retardar e tentar evitar a aplicação das diretrizes que ele aponta.
pesquisa, pesquisadores e outros sujeitos que, frequentemente, procuram
as comunidades para apresentar propostas de trabalho, projetos,
programas, acordos e outros.

• É um mapeamento do perfil de moradores do TQ Alto Trombetas II,


realizado em 2017 por iniciativa e demanda da ACRQAT, em parceria com a
Ufopa. • A finalização dos relatórios do censo foi comprometida pela falta de
6 Censo Territorial • Envolveu a aplicação de formulários compostos por questões abertas recursos para mobilização de pessoal capacitado para fazer a análise e
e fechadas junto a, aproximadamente, 80% das famílias residentes, sistematização dos dados colhidos.
contemplando dados sobre a população local: religião, ocupação, saúde,
trabalho e renda, educação, moradia, organização política e outros.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 117


Quadro 67. Situação dos projetos relacionados à agrobiodiversidade no território

PROJETOS RELACIONADOS COM A AGROBIODIVERSIDADE

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

Educação Ambiental nas • Respeito à Lei no 10.639, trabalhando com hortas e ervas medicinais nas
1 • Não há.
Escolas escolas.

• Contribui para a preservação e o aumento da população dos quelônios.


• É uma iniciativa da comunidade que passou a ser conduzida pelo
ICMBio, recebendo apoio da MRN.
Projeto Quelônios da • A infraestrutura oferecida aos moradores é imprópria, insuficiente.
2 • Os próprios moradores atuam na fiscalização das praias de desova e na
Amazônia • Os moradores fiscais correm riscos de agressões de invasores.
coleta dos ovos para botar em chocadeira. Para isso, passam cerca de
quatro meses morando nas praias, em barracas temporárias, em troca
de cestas básicas.

• Em sua criação, o projeto foi concebido para atender todo o território,


Unidade de • Incentiva a agricultura familiar. mas, no seu funcionamento participa apenas uma comunidade.
3 Beneficiamento de • Gera renda para os produtores e os manipuladores que beneficiam os • A ONG que implantou o projeto o direciona a grupos de pessoas e não
Alimentos alimentos. trata com a associação gestora do território.
• A renda obtida fica abaixo do esperado.

• Integra o projeto Florestas de Valor, coordenado pelo Instituto


de Manejo e Certificação Florestal Agrícola (Imaflora). Atua na
• As formas de atuação do Imaflora tendem a privilegiar determinados
4 Manejo de Copaíba organização das comunidades para unificação do processo de coleta,
indivíduos e desconhecer práticas de organização e decisão coletiva.
armazenamento, transporte e venda a empresas cosméticas e
farmacêuticas.

• Desde 2011, compõe o Programa de Educação Socioeconômico e


Ambiental da MRN, uma condicionante que faz parte do Plano Básico
Ambiental da mina Monte Branco. Além de promover atividades de • Segundo os quilombolas, o inventário não cobre 100% da população de
capacitação para o plantio de mudas de copaíba em áreas de uso copaibeiras.
5 Inventário das Copaibeiras
comunitário, envolve extrativistas das comunidades Jamari e Curuçá • As ações do projeto não evitam a derrubada das copaibeiras existentes
Mirim no trabalho de inventariar as populações naturais de copaibeiras no platô Monte Branco, cuja perda é irreparável para os extrativistas.
no Monte Branco. A partir do inventário, pretende estruturar um
método sustentável para a extração de óleo de copaíba.

PARTE VI - SEÇÃO 17 118


Quadro 68. Diagnóstico dos acordos com a MRN

ACORDOS COM A MINERAÇÃO NO ÂMBITO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Nº Itens do diagnóstico Pontos positivos/Potenciais Pontos negativos/Ameaças

• Compra de 10 mil mudas da comunidade para serem usadas no


reflorestamento de áreas exploradas.
• Não houve, considerando que a ACRQAT nem sequer supunha que seria
• Venda de cítricos.
1 Acordo Teófilo e Cipó contemplada na discussão das licenças ambientais da mineração nesses
• Criação de sistemas agroflorestais.
platôs, situados fora do território.
• Primeiro licenciamento ambiental utilizando o Protocolo de Consulta e
Consentimento da ACRQAT.

Acordo Monte • Em negociação, prevê a oferta de compensações às comunidades, pela


2 • Os critérios que orientam as negociações não são claros.
Branco exploração do platô Monte Branco.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 119


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEVEDO, R.; CASTRO, E. (1993). Negros do Trombetas. Guardiães de Matas e Rios. Belém:
Editora Cejup, UFPA, NAEA, 234 p.

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TROMBETAS II (ACRQAT). (2018). Protocolo de consulta e consentimento da ACRQAT.
Oriximiná: ACRQAT.

BRASIL. Decreto nº 98.704, de 27 de dezembro de 1989. Cria a Floresta Nacional de Saracá-


Taquera. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 dez. 1989. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D98704.htm. Acesso em: 10 out. 2015.

BRASIL. Lei Ordinária nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I,
II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 jul. 2000. Disponível
em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.HTM. Acesso em: 10 abr. 2015.

CUMBUCA NORTE. (2016). Estudo do componente quilombola das comunidades localizadas


no entorno da Mineração Rio do Norte. Santarém: Cumbuca Norte, 2016.

CUMBUCA NORTE. (2017). Estudo do componente quilombola das comunidades localizadas


no entorno da Mineração Rio do Norte. Relatório geral. Santarém, 2017. Disponível em: http://
cpisp.org.br/wp-content/uploads/2015/06/EstudoComponenteQuilombola.pdf. Acesso em:
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FUNES, E. (2000). Comunidades remanescentes dos mocambos do Alto Trombetas. Fortaleza:


Projeto Manejo dos Territórios Quilombolas.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). (2019).


Minuta de Contrato de Concessão de Direito Real de Uso. Outorgante concedente: ICMBio;
outorgada concessionária: Associações Quilombolas das TQ Alto Trombetas I e Alto
Trombetas II. Brasília.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). (2018).


Roteiro metodológico para elaboração e revisão de planos de manejo das unidades de conser-
vação federais. Brasília.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). (2014a).


Plano de Manejo da Floresta Nacional de Saracá-Taquera. Volume 1 – Diagnóstico. Brasília.

PARTE VI - SEÇÃO 17 120


INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). (2011).
Relatório das reuniões participativas realizadas nas comunidades da Floresta Nacional
Saracá-Taquera, de 23 a 28 de novembro de 2011. Sobre a revisão do Plano de Manejo desta
unidade de conservação.

MENDES, R. S. (2022). Entre diálogos e conflitos: o processo de regularização fundiária do


Território Quilombola Alto Trombetas II. 2022. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-
Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Pará, Belém.

SALLES, V. (2005). O negro no Pará: sob o regime da escravidão. Belém: Instituto de Artes do
Pará.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 121


ANEXO

RELATÓRIO DA EXPERIÊNCIA
QUILOMBOLA DO ALTO TROMBETAS II

Este relatório sintetiza os resultados da experiência realizada no Território Quilombola


(TQ) Alto Trombetas II, em Oriximiná, Pará, visando à produção de um diagnóstico participati-
vo sobre a biodiversidade local e os fatores que a afetam, positiva e negativamente. Elaborado
no âmbito de diálogos continuados com membros da Associação das Comunidades Remanes-
centes de Quilombo do Alto Trombetas II (ACRQAT), principalmente diretores da entidade,
ele abrange informações gerais do TQ, extraídas de fontes secundárias rastreáveis, avaliadas
e complementadas pela equipe diretamente responsável pelo diagnóstico.

A equipe executora dos trabalhos foi composta por:

• Elielma de Jesus Pires – quilombola da comunidade Moura, licenciada em Pedago-


gia pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), professora, atual Coorde-
nadora de Mulheres da ACRQAT;

• José Adeã Castro dos Santos – quilombola da comunidade Palhal, atual vice-coor-
denador de Cultura da ACRQAT;

• Soliane dos Santos Vieira – estudante de graduação em Antropologia na Ufopa;

• Luciana Gonçalves de Carvalho – antropóloga, professora da Ufopa, atuando jun-


to à ACRQAT desde 2012.

Ressalta-se que a atuação da antropóloga junto às comunidades do TQ Alto Trombe-


tas II e à sua associação representativa foi uma condição para realização desta experiência de
diagnóstico.

A relação entre a pesquisadora e o grupo teve início em 2012, quando da implementa-


ção dos estudos técnicos para elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimita-
ção Territorial (RTID) daquelas comunidades. Na ocasião, a antropóloga coordenou a equipe
responsável pela produção do Relatório Antropológico que integra o RTID, uma peça técnica
complexa que exige, além das pesquisas de campo, processos de mediação interinstitucional
que acabam por favorecer o entendimento das formas de organização locais. Em 2013 e 2014,
novas fases de trabalho de campo e mediação interinstitucional, no escopo do Inventário Na-
cional de Referências Culturais (INRC) dos Quilombos de Oriximiná, realizado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), contribuíram para o aprofundamento
dos conhecimentos antropológicos sobre as comunidades e das ligações da antropóloga com

PARTE VI - SEÇÃO 17 122


os membros da mesma, especialmente com Elielma de Jesus Pires, quilombola que atuou como
pesquisadora no referido inventário e é coautora deste diagnóstico. De 2015 a 2019 a atuação
da antropóloga Luciana Gonçalves de Carvalho junto às comunidades do TQ Alto Trombetas
II ganhou novos contornos, com sua participação como colaboradora em negociações com o
governo federal acerca dos processos de regularização fundiária e licenciamento ambiental
então correntes no território. Por fim, entre 2017 e 2018, a antropóloga auxiliou a ACRQAT na
produção de um Protocolo de Consulta Prévia, Livre e Informada.

Diante desse histórico de interações pessoais e profissionais, a proposição da presente


experiência de diagnóstico, embora causasse estranhamento pela sua novidade (não era exa-
tamente uma pesquisa de campo, nem uma ação extensionista, nem um projeto de desenvol-
vimento local, com os quais estão acostumados), foi recebida sem maiores constrangimentos
pelas comunidades do TQ Alto Trombetas II e por outros profissionais, de diferentes áreas de
conhecimento, que as apoiam. As principais preocupações e incômodos das comunidades re-
feriam-se às demandas que o projeto imputaria, sobretudo em um contexto atravessado por
múltiplos processos jurídico-administrativos que já lhes consumiam muito tempo e empenho.

Assim, no que tange à participação da comunidade local, os membros da equipe foram


designados pela diretoria da ACRQAT, em fevereiro de 2019, para atuar em conjunto com as
pesquisadoras vinculadas ao Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedades Amazôni-
cas, Cultura e Ambiente (Sacaca), da Universidade Federal do Oeste do Pará – na época, coor-
denado pela antropóloga Luciana Gonçalves de Carvalho. Esse pequeno grupo foi incumbido,
pela ACRQAT, da produção da versão preliminar do diagnóstico que, quando concluída, viria a
ser submetida à apreciação da diretoria da associação e das comunidades que integram o TQ
Alto Trombetas II. Essa designação, que concentrou a maior parte das discussões em um grupo
restrito, foi baseada em diversos fatores que determinam as condições objetivas de realização
de processos e projetos participativos no território.

Em primeiro lugar, há os fatores logísticos que desafiam a organização de atividades en-


volvendo grande número de pessoas. Trata-se de um território de 189.657,8147 ha localizado
nas margens do Rio Trombetas, onde cerca de 300 famílias (aproximadamente 1.500 pessoas)
vivem em oito comunidades: Curuçá-Mirim, Jamari, Juquiri Grande, Juquirizinho, Moura, Nova
Esperança, Palhal e Último Quilombo. Os deslocamentos internos no território são feitos por
via fluvial, em pequenos barcos ou canoas movidas a motor do tipo rabeta. Em suma, os deslo-
camentos são lentos e custosos, posto que envolvem, obrigatoriamente, despesas com com-
bustível e alimentação em qualquer atividade que reúna moradores de todas as comunidades.

Em segundo lugar, há as características organizacionais próprias do território. En-


quanto a ACRQAT é entidade representativa do TQ, cada comunidade tem uma coordenação
composta por um titular e um vice-coordenador, cujas atribuições incluem assuntos locais e
cotidianos, além daqueles que afetam o território como um todo. Isso significa que há uma
série de responsabilidades a serem assumidas pelos líderes quilombolas, correspondendo a
uma intensa demanda de participação em diferentes instâncias consultivas e deliberativas,
que sobrecarrega as comunidades em geral e os líderes locais, principalmente.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 123


O terceiro fator, diretamente associado ao anterior, é a simultaneidade de dois pro-
cessos extremamente complexos em curso no território. Um deles visa à titulação das áreas
ocupadas pelas comunidades e vem sendo postergado e dificultado, desde 2004, devido à so-
breposição de duas Unidades de Conservação federais que, juntas, abrangem todo o territó-
rio reivindicado. Outro refere-se ao licenciamento ambiental de um projeto de exploração de
bauxita em porções do território em processo de titulação. Esses dois processos desdobram-
-se em uma série de ações e etapas que exigem dos quilombolas a participação em inúmeras
reuniões, assembleias, consultas, oficinas e viagens várias vezes ao mês.

Em relação ao último fator apontado, o Protocolo de Consulta Prévia, Livre e Infor-


mada da ACRQAT é claro ao determinar que, quanto ao envolvimento em projetos e ações
propostos por agentes externos, as comunidades têm as próprias prioridades, que devem ser
respeitadas. Em relação a este diagnóstico, particularmente, a associação ponderou sobre a
(in)disponibilidade dos moradores e a (im)pertinência de inserir mais um projeto participativo
na agenda das comunidades. Além disso, a ACRQAT ponderou que vários projetos, estudos e
pesquisas vêm sendo desenvolvidos no território nos últimos anos, em grande parte motiva-
dos pelos processos mencionados, e que a frequente presença de pesquisadores e técnicos na
área chega a ser um incômodo para os moradores.

Em contrapartida, existe um significativo volume de dados produzidos sobre o TQ


Alto Trombetas II, inclusive os estudos técnicos executados entre 2012 e 2018 para os pro-
cessos de licenciamento e regularização fundiária. Logo, a equipe executora do projeto e a as-
sociação quilombola vislumbraram nesta experiência uma oportunidade de melhor conhecer
e utilizar o que já há produzido (escrito, gravado, filmado) sobre o território e, dessa maneira,
contribuir com o diagnóstico ora proposto. Os diretores da associação avaliaram que, embo-
ra tenham ciência de diversas iniciativas de pesquisa recém-concluídas ou em andamento no
território, é preciso se inteirar melhor dos seus resultados e produtos, bem como sistemati-
zá-los em linguagens e versões mais acessíveis e resumidas. Nesse sentido, participar desta
experiência mostrou-se uma chance singular.

As sucessivas ponderações sobre participar ou não da presente proposta de diagnós-


tico conduziram à decisão final, tomada em reunião ordinária da diretoria da ACRQAT em fe-
vereiro de 2019: a experiência deveria ser adaptada à realidade e às prioridades comunitárias
no contexto atual. Em outras palavras, além de testar a aplicação de diretriz propostas pela
coordenação do Projeto Povos Tradicionais e Biodiversidade no Brasil, esta experiência de
diagnóstico deveria, sem requerer a mobilização das comunidades para a produção/discus-
são de dados, sintetizar de maneira acessível os estudos técnicos e científicos preexistentes,
considerando seus aportes de conhecimentos sobre a biodiversidade e as políticas públicas
que a afetam positiva e negativamente no território. Propôs-se, então, refletir sobre os co-
nhecimentos até então produzidos por diversos agentes acerca do TQ Alto Trombetas II.

O resultado imediato da experiência foi a geração e a sistematização de conteúdos vi-


sando à melhor apropriação, por parte dos quilombolas, das informações constantes nos es-
tudos produzidos sobre o TQ, os quais tendem a ser pouco conhecidos, criticados e utilizados

PARTE VI - SEÇÃO 17 124


pelas próprias comunidades, ainda que reúnam informações importantes para embasar seus
pleitos cotidianos, quer sejam de natureza histórica, antropológica, demográfica, cartográ-
fica ou outra. Espera-se, ainda, que o melhor conhecimento quanto ao que vem sendo pro-
duzido em projetos, estudos e pesquisas dos quais as comunidades participam de diferentes
maneiras, resulte em melhores condições de reflexão, crítica e atuação política sobre o ter-
ritório em que vivem.

Metodologia

Uma vez definida a disponibilidade da ACRQAT de participar da experiência, e desig-


nados seus representantes para composição da equipe executora, o primeiro passo foi sele-
cionar as fontes que seriam consultadas e analisadas neste trabalho. Os critérios de seleção
das fontes foram:

a) a existência de informações sobre a biodiversidade no território quilombola e as


políticas públicas pertinentes;

b) a publicidade dos dados, considerando que as fontes devem ser rastreáveis;

c) a atualidade das fontes, considerando o recorte temporal do diagnóstico;

d) o conhecimento prévio das fontes por parte dos quilombolas, ainda que limitado;

e) a inteligibilidade das informações, considerando tratar-se de um empreendimento


conjunto que alia conhecimentos científicos e locais;

f) a variedade dos suportes (textual, imagético, cartográfico) das informações dispo-


níveis, considerando diferentes modos de apreensão de linguagens.

Em decorrência dos critérios aplicados, cinco estudos foram selecionados como bases
para o diagnóstico. Todos são públicos, atuais (produzidos entre 2012 e 2018), contêm infor-
mações sobre a biodiversidade e/ou as políticas que a afetam no território, e foram realizados
com a ciência e a participação (em diferentes momentos e papéis) dos quilombolas e da sua
associação representativa. A inteligibilidade dos conteúdos (textual, imagético, cartográfico)
varia entre os estudos e no interior de cada um deles, de acordo com os tipos de requisitos aos
quais atendem, mas todos contêm conjuntos de informações acessíveis a todos os membros
da equipe. São eles, por ordem cronológica de publicação:

a) Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do TQ Alto Trombetas II

Peça técnica obrigatória do processo de regularização fundiária, conforme a Cons-


tituição Federal de 1988, o Decreto nº 4.887/2003, a Instrução normativa (IN) do Incra nº
57/2009 e a legislação federal pertinente à identificação, delimitação e titulação de territó-
rios quilombolas. Foi elaborado no período de 2012-2013, contendo cadastros, levantamentos

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 125


cartográficos e informações ambientais, históricas, fundiárias, econômicas, socioculturais e
outras que caracterizam o território e o modo de vida dos moradores.

b) Inventário Nacional de Referências Culturais dos Quilombos de Oriximiná

O Inventário Nacional de Referências Culturais é uma metodologia de pesquisa desen-


volvida pelo Iphan para produzir conhecimento sobre os domínios da vida social aos quais são
atribuídos sentidos e valores e que, portanto, constituem marcos e referências de identidade
para determinado grupo social. É uma peça técnica importante nos processos de identifica-
ção, documentação e registro do patrimônio cultural constituído por bens culturais de natu-
reza imaterial. O INRC dos Quilombos de Oriximiná foi realizado pelo Iphan-PA no período
de 2013-2014, entre outros motivos, por recomendação exarada no âmbito de um processo
administrativo cujo objeto é o tombamento dos quilombos do município.

c) Estudo do Componente Quilombola das comunidades localizadas no entorno da


Mineração Rio do Norte

O referido ECQ constitui peça técnica obrigatória no âmbito do processo de licencia-


mento ambiental do projeto da empresa Mineração Rio do Norte, que prevê a lavra de bauxita
nos platôs da Zona Central Oeste (ZCO), parcialmente sobrepostos ao Território Quilombo-
las Alto Trombetas II. Tal processo foi aberto junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2012, e, por incidir em áreas ocupadas pelas
comunidades quilombolas, teve de se adequar à cartilha Sistemática do Processo de Licencia-
mento Ambiental elaborada pela Fundação Cultural Palmares (FCP), que resume o fluxo e os
procedimentos do licenciamento de atividades e empreendimentos com ocorrência direta ou
reflexa em terras quilombolas. Assim, o referido processo exigiu a realização do ECQ como
peça complementar ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA), em cumprimento da Portaria In-
terministerial nº 60, de 24 de março de 2015, relativa à análise de estudos e manifestações
sobre medidas de mitigação e controle de impactos socioambientais decorrentes de empre-
endimentos e atividades na abrangência de territórios quilombolas.

d) Mapeamento do perfil de moradores do TQ Alto Trombetas II

Por iniciativa e demanda da ACRQAT, esse mapeamento foi realizado em dezembro de


2017 nas oito comunidades do TQ Alto Trombetas II, em parceria com a Ufopa. Por meio de
trabalho de campo realizado conjuntamente por pesquisadores da universidade e líderes lo-
cais, a aplicação de formulários compostos por questões abertas e fechadas permitiu levantar
dados de aproximadamente 80% das famílias residentes no território. O mapeamento, cha-
mado pelas comunidades de “Censo Territorial”, visa a facilitar a atuação da associação em
questões que envolvem demandas de políticas públicas e em negociações com a mineradora
que atua no território. Embora outros estudos tenham produzido mapeamentos semelhan-
tes — a cargo de órgãos de Estado como o Incra e o ICMBio, por exemplo —, a associação qui-
lombola entende que possuir dados próprios, coletados por pesquisadores de sua confiança

PARTE VI - SEÇÃO 17 126


e com participação direta de seus dirigentes, lhe dará mais segurança nas frentes de diálogo
com os gestores públicos e com a mineradora.

e) Protocolo de Consulta e Consentimento do TQ Alto Trombetas II

Por iniciativa e demanda da ACRQAT, esse protocolo foi elaborado em parceria com
a Ufopa. Finalizado em 2018, tem por objetivo apoiar a associação e os moradores do TQ na
condução de processos de consulta prévia, livre e informada, nos termos da Convenção nº
169/OIT, e em projetos que envolvem o consentimento da realização de ações de pesquisas e
intervenção no território.

Em relação às fontes delimitadas como objeto principal de consulta e análise neste


diagnóstico, assinala-se que os três primeiros documentos foram elaborados no âmbito de
processos jurídico-administrativos (de regularização fundiária, identificação de patrimônio
cultural e licenciamento ambiental), enquanto os outros dois decorrem de iniciativas da pró-
pria ACRQAT. Logo, trata-se de produtos que envolveram, em diferentes medidas e de dis-
tintas maneiras, expectativas e contribuições individuais e coletivas dos quilombolas, cujos
interesses afetam diretamente.

Ainda a respeito da delimitação das principais fontes para o diagnóstico, ressalta-se


que trabalhos acadêmicos foram evitados, muito embora haja uma série de monografias de
graduação, dissertações de mestrado, teses de doutorado, livros e artigos produzidos e em
produção sobre questões relativas ao TQ Alto Trombetas II, nas mais diversas áreas de co-
nhecimento. Todavia tais trabalhos, independentemente de sua qualidade científica, tendem
a privilegiar extensas discussões teóricas e linguagens pouco acessíveis, e, com frequência, de-
pois de prontos, não são trazidos ao conhecimento das comunidades junto às quais tenham
sido elaborados. Essa, inclusive, é uma queixa comum entre as comunidades da região, que fez
a ACRQAT adotar procedimentos mais rígidos para a autorização e o acompanhamento de
pesquisas acadêmicas desenvolvidas no TQ Alto Trombetas II.

Selecionadas as fontes, a equipe executora separou, em cada uma delas, apenas os con-
teúdos relativos ao tema central do diagnóstico: a biodiversidade e as políticas públicas que a
afetam, positiva ou negativamente no território quilombola.

Do RTID do TQ Alto Trombetas II foram utilizados dois Relatórios Antropológicos ela-


borados na primeira fase dos estudos técnicos para titulação, em 2012-2013. Nessa época,
as oito comunidades que hoje integram o TQ Alto Trombetas II organizavam-se em dois con-
juntos distintos, refletidos em dois processos de titulação abertos em 2004: o do território
Moura, incluindo essa comunidade; e o do território Jamari-Último Quilombo, que abrangia
as duas comunidades que o nomearam mais Nova Esperança, Palhal, Curuçá, Juquiri Grande
e Juquirizinho. A unificação das oito comunidades no TQ Alto Trombetas II só veio a ocorrer
após a elaboração dos estudos antropológicos, por decisão dos próprios quilombolas.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 127


Considerando, então, os Relatórios Antropológicos do Moura e do Jamari-Último Qui-
lombo, a equipe responsável pelo diagnóstico recortou os capítulos descritivos do ambiente
e das atividades produtivas desenvolvidas pelas comunidades, com foco na biodiversidade.
Os mapas anexados a esses relatórios foram descartados, posto que a delimitação territorial
se alterou decisivamente com a integração das comunidades em um só TQ.

Do Inventário de Referências Culturais dos Quilombos de Oriximiná foram utilizadas


as Fichas de Identificação (essa é a terminologia empregada no INRC) do Moura e do Jamari-
-Último Quilombo, pelo mesmo motivo supracitado. Das Fichas, foram retiradas informações
relativas a: paisagem, meio ambiente, lugares e ofícios, principalmente. Embora o inventário
não foque especificamente a biodiversidade, permite conhecer os sentidos práticos e simbó-
licos que seus elementos assumem na ótica local e na vivência cotidiana dos quilombolas, por
exemplo, nos trabalhos que realizam, nas histórias que narram e nos conhecimentos tradicio-
nais que transmitem no dia a dia.

Encerrando o conjunto de estudos elaborados no âmbito de processos jurídico-adminis-


trativos, o Estudo do Componente Quilombola foi a fonte de dados mais rica e proveitosa para
o presente diagnóstico, na medida em que contém informações específicas sobre elementos
da biodiversidade no território e práticas que os mobilizam, assim como sobre os impactos que
sofrem, decorrentes da ação antrópica em diferentes escalas – desde o uso pelas comunidades
até a exploração pela mineradora que atua na região. Diversos recursos naturais são identifica-
dos no ECQ, de acordo com as atividades em que são mobilizados nos principais domínios da
vida local, ou seja, na caça, na pesca, na agricultura e no extrativismo. Ameaças e pressões sobre
eles também são apontadas no estudo, constituindo um sugestivo roteiro para o diagnóstico.

Do mapeamento do perfil de moradores do TQ Alto Trombetas II, este diagnóstico


aproveitou apenas alguns dados para fornecer uma caracterização geral das comunidades.
O estudo mapeia diversos domínios da vida local (origem das famílias, composição familiar,
religião, educação, saúde, trabalho e renda, organização sociopolítica e outros), mas apenas
alguns foram considerados pela equipe executora do diagnóstico, considerando que seu foco
principal recai na biodiversidade e nas políticas que a afetam no território.

Por fim, o Protocolo de Consulta e Consentimento da ACRQAT serviu de parâmetro


para orientar a relação da equipe executora com a entidade representativa das comunidades
que integram o território. O documento não foi utilizado como fonte de dados passíveis de se-
rem incorporados neste diagnóstico, mas como um conjunto de diretrizes a serem respeitadas
no decorrer do trabalho.

Diante dos itens selecionados em cada estudo, a equipe executora deste projeto ini-
ciou uma sequência de reuniões para debatê-los e, a partir de então, elaborar seu próprio
diagnóstico, que poderia reiterar, criticar, refutar ou complementar conclusões obtidas nas
fontes tomadas como ponto de partida. As reuniões aconteceram no segundo semestre de
2019, na sede da Ufopa, em Santarém, e na vila de Porto Trombetas, onde o grupo pôde con-
tar com acesso regular à energia elétrica e à internet, fatores que facilitaram o trabalho.

PARTE VI - SEÇÃO 17 128


Os debates em equipe foram mediados pela antropóloga Luciana Gonçalves de Carva-
lho, mas os representantes quilombolas tiveram prioridade para expressar suas opiniões, e poder
para decidir o que entraria ou não no diagnóstico. A fim de organizar o fluxo de ideias, o grupo op-
tou pela elaboração de dois quadros: um composto pelos itens relativos à biodiversidade, e outro
contendo menções aos principais instrumentos acionados nas formas de organização e repre-
sentação local, bem como projetos, políticas públicas e legislação aplicada à gestão do território.
Em cada quadro, para cada item elencado foram identificados pontos positivos e negativos.

Os resultados do trabalho, na forma de quadros, foram apresentados em uma reunião


realizada na Escola Perpétuo Socorro, na comunidade Moura, em 19 de dezembro de 2019, na
presença da diretoria da ACRQAT e de assessores contratados pela associação para apoiá-la
em uma série de processos locais. Na ocasião, os membros da diretoria e seus assessores ti-
raram dúvidas a respeito do diagnóstico e da IPBES, e sugeriram a complementação do qua-
dro relativo à gestão do território com instrumentos que foram recentemente expedidos ou
estão em fase de elaboração. Com a aprovação e o aval da diretoria, a antropóloga da equipe
executora do diagnóstico ficou incumbida da elaboração da versão final do relatório, conten-
do os quadros e textos explicativos.

O presente relatório, portanto, é resultado de ações executadas em diferentes fases e


por diferentes sujeitos, ora em grupo, ora individualmente, como resume a Figura A.

Para a melhor exposição dos resultados, os quadros produzidos pela equipe estão
acrescidos de fotografias, mapas e outros quadros extraídos das fontes consultadas e adap-
tados neste texto final, a título de complementação, aprofundamento e/ou ilustração dos
itens do diagnóstico.

1º • Aprovação do projeto pela ACRQAT e designação da equipe executora.


Passo

2º • Seleção de fontes para o diagnóstico, em equipe.


Passo
• Exame individual das fontes para futura selação de trechos e
3º conteúdos a serem usados no diagnóstico.
Passo
• Decisão coletiva sobre os itens do diagnóstico, com base nas fontes
4º analisadas pela equipe.
Passo
• Reuniões de equipe para discussão dos itens do diagnóstico;
5º • Elaboração de quadros contendo identificação de pontos positivos e negativos
Passo de cada idem diagnosticado.

• Apresentação dos quadros consolidados para ACRQAT e seus assessores,


6º seguida de complementação e aprovação dos resultados obtidos.
Passo

7º • Elaboração do texto final do relatório


Passo

Figura A. Passo a passo do projeto. Fonte: Projeto Experiência Quilombola do Alto Trombetas II.

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 129


Povos Tradicionais e
Biodiversidade no Brasil
Contribuições dos povos indígenas,
quilombolas e comunidades tradicionais
para a biodiversidade, políticas e ameaças

POVOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE NO BRASIL 130

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