CIÊNCIA DA PRIMEIRA INFÂNCIA
CONSELHO EDITORIAL
André Luiz V. da Costa e Silva
Cecilia Consolo
Dijon De Moraes
Jarbas Vargas Nascimento
Luís Augusto Barbosa Cortez
Marco Aurélio Cremasco
Rogerio Lerner
Open Access
CIÊNCIA DA PRIMEIRA INFÂNCIA
Naercio Menezes Filho
organizador
Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância
Ciência da primeira infância
© 2025 Naercio Menezes Filho (organizador)
Editora Edgard Blücher Ltda.
Publisher Edgard Blücher
Editor Eduardo Blücher
Coordenador editorial Rafael Fulanetti
Coordenadora de produção Ana Cristina Garcia
Produção editorial Andressa Lira
Preparação de texto Rodrigo Botelho
Diagramação Thaís Pereira
Revisão de texto Lígia Alves
Capa Laércio Flenic
Imagem da capa iStockphoto
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4o andar Ciência da primeira infância [livro eletrônico] / Naercio
04531-934 – São Paulo – SP – Brasil Menezes Filho (org.) ; Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à
Tel.: 55 11 3078-5366 Primeira Infância. -- São Paulo : Blucher, 2025.
[email protected] Bibliografia
www.blucher.com.br ISBN 978-65-5550-289-3 (PDF)
ISBN 978-65-5550-293-0 (Epub)
Segundo o Novo Acordo Ortográfico, conforme 6. ed.
1. Desenvolvimento infantil 2. Criança – Condições sociais – Brasil
do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
3. Nutrição infantil 4. Educação infantil 5. Políticas públicas –
Academia Brasileira de Letras, julho de 2021.
Brasil I. Menezes Filho, Naercio II. Centro Brasileiro de Pesquisa
Aplicada à Primeira Infância
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer
meios sem autorização escrita da editora. 25-1955 CDD 305.231
Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda. Índice para catálogo sistemático:
1. Desenvolvimento infantil
Agradecimentos
O Centro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância (CPAPI) é uma iniciativa do
Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), que reúne cinco instituições com o objetivo
de promover a melhoria da qualidade de vida na primeira infância: Insper, Funda-
ção Bernard van Leer, David Rockefeller Center for Latin American Studies da
Universidade de Harvard, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) e Por-
ticus América Latina.
A produção deste livro foi viabilizada pelos trabalhos desenvolvidos no CPAPI
(https://www.cpapi.org.br/) e no NCPI (https://ncpi.org.br/), financiados pela FMCSV
e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP; processo
2019/12553-0), que incentivaram os autores a disseminar a importância da primeira
infância e a produzir pesquisas na fronteira da ciência. Além disso, a publicação
contou com o cofinanciamento da FAPESP (processo 2024/16786-8) e do Insper,
possibilitando a concretização deste projeto.
Agradecemos a essas instituições e a todos que contribuíram para a realização
deste livro.
Conteúdo
Apresentação
A importância da primeira infância ........................................................................................ 9
Prefácio
A ciência como bússola para a proteção das múltiplas primeiras
infâncias brasileiras .................................................................................................................. 11
Mariana Luz
1. Desigualdade e pobreza na primeira infância ............................................................. 13
Bruno Kawaoka Komatsu e Naercio Menezes Filho
2. Plasticidade epigenética e desenvolvimento infantil ............................................... 35
Gisele Rodrigues Gouveia, Caroline Camilo e Helena Brentani
3. Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil ....................... 49
Juliana Araujo Teixeira e Sonia Isoyama Venancio
4. Sono e desenvolvimento infantil .................................................................................... 71
Rebeca Buest de Mesquita Silva, Vitor Lacerda , Adrielle Pykoc, Helena Schmidt,
Julia Fernandes da Silva, Gustavo Santos e Fernando Louzada
8 Conteúdo
5. Desenvolvimento infantil e parentalidade .................................................................. 83
Rogerio Lerner, Izabella Lopes de Arantes e Caroline Martins Dias
6. Experiências adversas na infância e suas consequências
para o desenvolvimento .................................................................................................. 99
Maria Beatriz Martins Linhares e Elisa Rachel Pisani Altafim
7. A importância da Puericultura para o desenvolvimento
na primeira infância ......................................................................................................... 113
Débora Falleiros de Mello, Lislaine Aparecida Fracolli e Maria de La Ó
Ramallo Veríssimo
8. Educação infantil ............................................................................................................ 129
Daniel Domingues dos Santos e Luiz Guilherme Scorzafave
9. Políticas públicas de primeira infância ....................................................................... 151
Claudia Cerqueira do Nascimento e Bruno Kawaoka Komatsu
Referências ............................................................................................................................... 173
Sobre os autores ..................................................................................................................... 213
Apresentação
A importância da primeira infância
O desenvolvimento humano pode ser definido como um processo de transformação
contínua, envolvendo mudanças quantitativas e qualitativas que ocorrem ao longo
do ciclo da vida e que depende de fatores genéticos e ambientais. Os marcos do
desenvolvimento nas suas etapas evolutivas seguem uma ordenação hierárquica, do
mais simples para o mais complexo, das habilidades nas diferentes áreas do desen-
volvimento. Cada etapa evolutiva tem a sua relevância para o pleno desenvolvimento
e desempenha o papel de preparar as pessoas para as etapas subsequentes.
A primeira infância é a fase que vai da gestação até os seis anos de idade. Este é
o período mais sensível na trajetória do desenvolvimento, pois é nele que as aquisi-
ções e domínios de habilidades ocorrem de forma mais rápida. A primeiríssima
infância, por sua vez, é o período dentro da primeira infância que vai da gestação
até os três primeiros anos de idade, que é especial pela importância das experiências
das fases pré-natal, perinatal e neonatal na vida das pessoas.
O desenvolvimento infantil também ocorre em etapas evolutivas, organizadas
em idades, que visam a aquisição e domínio de habilidades motoras, cognitivas, de
linguagem, emocionais e sociais. Nesta fase, o desenvolvimento cerebral apresenta
grande plasticidade, o que aumenta o potencial de aprendizagem e de mudanças
comportamentais. Portanto, deve-se cuidar da qualidade da estimulação ambiental
e das interações sociais para que elas sejam adequadas para promoção do desenvol-
vimento infantil. Nessa fase estabelecem-se os primeiros vínculos afetivos com o
cuidador, o reconhecimento de emoções alheias e das próprias emoções.
10 Apresentação
Por ser um período sensível, a primeira infância é uma janela de oportunidades
para que a criança possa se desenvolver plenamente, o que pode levá-la a obter um
maior aprendizado na escola, ser maior produtiva quando adulta e realizar seus
sonhos. Por outro lado, também é um período em que ela pode ser negativamente
afetada por fatores de risco, tais como pobreza, fome, violência doméstica e condi-
ções de moradia e saneamento básico inadequadas. Neste sentido, políticas públicas
são necessárias para bloquear ou ao menos atenuar a ação destes fatores de risco.
Neste livro, fazemos um resumo sobre as evidências científicas recentes sobre a
primeira infância. No primeiro capítulo, Naercio Menezes Filho e Bruno Kawaoka
Komatsu resumem o que sabemos sobre as desigualdades na primeira infância,
mostrando como elas impedem que a sociedade brasileira tenha mais igualdade de
oportunidades, para que as nossas crianças possam realizar seus sonhos indepen-
dentemente da sua origem social. Em seguida, Gisele Rodrigues Gouveia, Caroline
Perez Camilo, Helena Brentani explicam o fenômeno de plasticidade epigenética e
o desenvolvimento infantil, mostrando de modo muito interessante como a biologia
é importante para a primeira infância.
No terceiro capítulo, Sonia Venancio e Juliana Teixeira discutem os impactos da
nutrição no desenvolvimento infantil, um tema fundamental, especialmente tendo
em vista o aumento na proporção de crianças com insegurança alimentar que houve
recentemente no Brasil, durante a pandemia. Em seguida, Rebeca Buest, Vitor Lacerda,
Julia Fernandes da Silva, Helena Schmidt, Adrielle Pykocz, Gustavo Santos e Fernando
Louzada mostram como a qualidade do sono é importante para que a criança con-
siga evoluir satisfatoriamente pelos estágios de desenvolvimento.
No quinto capítulo, Rogério Lerner, Izabella Lopes de Arantes e Caroline Martins
Dias destacam a importância dos pais no processo de desenvolvimento, discutindo
as evidências trazidas por programas que buscam melhorar a parentalidade. Em
seguida, Maria Beatriz Martins Linhares e Elisa Rachel Pisani Altafim mostram
como experiências adversas na infância afetam o desenvolvimento na primeira
infância, analisando também o impacto de programas direcionados para reduzir a
sua ocorrência.
No sétimo capítulo, Débora Falleiros de Mello, Lislaine Aparecida Fracolli e,
Maria de La Ó Ramallo Veríssimo destacam a importância da Puericultura para o
desenvolvimento, mostrando a importância da prevenção e dos cuidados nos pri-
meiros anos de vida. Em seguida, Daniel Santos e Luiz Scorzafave discutem as di-
ferentes teorias e debates atuais sobre o papel da educação infantil, analisando
também as qualidades e deficiências da educação infantil no Brasil. Por fim, Claudia
Cerqueira do Nascimento e Bruno Kawaoka Komatsu fecham o livro trazendo evi-
dências sobre os impactos das políticas públicas voltadas à Primeira Infância no
Brasil nas últimas décadas.
Boa leitura!
Prefácio
A ciência como bússola para a proteção das
múltiplas primeiras infâncias brasileiras
Medir para melhorar, acertar, expandir. A máxima “não se pode melhorar o que não
se consegue medir” é um chavão do campo da avaliação e uma espécie de mantra
que adotamos na defesa da primeira infância, fase que vai da gestação aos 6 anos.
Esse recorte da vida da criança foi reconhecido como um período crítico ao desen-
volvimento humano graças à capacidade da ciência de medir o que ocorre nessa fase
e suas consequências ao longo da vida do indivíduo. Ciência e primeira infância têm
caminhado juntas, e os frutos dessa parceria têm possibilitado o avanço nos cuida-
dos das crianças e de suas famílias de forma exponencial. Nesse contexto se insere
a importância tanto do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância
(CPAPI) como desta publicação, que reúne assuntos tão atuais quanto críticos para
o aprimoramento dos programas e cuidados desde o começo da vida.
O saber construído pelas diversas áreas do conhecimento – como biologia, pe-
diatria, educação, neurociências, economia e psicologia – deve culminar no apri-
moramento de políticas públicas, na focalização de investimentos e no aumento dos
programas de prevenção e intervenção precoce. Um marco importantíssimo para a
proteção da infância foi o entendimento com base em evidências do efeito da pobreza
no desenvolvimento infantil. A pobreza tem um impacto muito maior nas crianças
do que nos demais membros de uma família por uma série de fatores que vão dos
12 Prefácio
mais tangíveis (como exposição a doenças por falta de infraestrutura básica e inse-
gurança alimentar) aos mais complexos (como a ausência de uma parentalidade
positiva, de interações que promovam a formação de vínculos, de educação de
qualidade ou de proteção física e emocional). O combate à pobreza se torna mais
eficiente quando há uma ação integrada, intersetorial e interfederativa que alcance
as crianças e suas famílias, considerando as diversas pressões e ameaças do dia a dia,
entre muitos outros aspectos, às quais estão expostas nos diferentes contextos.
Um dos resultados práticos dessa comprovação foi a criação de um benefício
extra, dentro do Programa Bolsa Família – a maior iniciativa de transferência de
renda do mundo –, para as famílias com crianças na primeira infância. A conscien-
tização sobre o impacto do atendimento escolar nessa fase, também baseado em
pesquisas, foi fundamental para inserir a creche como parte da educação básica e
como um direito assegurado a todas as famílias com crianças até 3 anos, e para con-
solidar a pré-escola como fase obrigatória para crianças de 4 e 5 anos. Esses são alguns
dos exemplos da potência da pesquisa de qualidade aplicada às políticas públicas.
A ciência produzida no Brasil, com base em dados e experiências daqui, ainda
que dialogue com experiências internacionais, é a bússola mais confiável para que
o país possa agir rapidamente e de forma assertiva na mitigação dos riscos que
ameaçam os direitos das crianças. Um país em que 1 em cada 4 domicílios ainda
sofre com o risco da fome não pode se permitir errar em seus investimentos ou
embicar na direção errada.
As próximas páginas mostram que os maiores riscos às múltiplas primeiras in-
fâncias do Brasil estão no radar dos especialistas. O conjunto de artigos a seguir não
só traz o mapeamento desses desafios, como apresenta também hipóteses e propo-
sições maduras para lidar com eles. Todas essas experiências foram ou estão sob a
mira de pesquisas robustas que buscam entender seus efeitos, suas possibilidades
de aplicabilidade em escala e as peculiaridades que precisam ser observadas. É com
entusiasmo, portanto, que celebramos esta publicação. Que ela sirva ao propósito
de compartilhar saberes, inspirar ações e construir pontes entre gestores públicos,
pesquisadores e toda a sociedade em prol da primeira infância.
Mariana Luz
CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Young Global Leader do Fórum
Econômico Mundial, Presidente do Conselho do Instituto Escolhas e membro
do Comitê Intersetorial de Primeira Infância e do Conselho
de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (Conselhão).
CAPÍTULO 1
Desigualdade e pobreza
na primeira infância
Bruno Kawaoka Komatsu
Naercio Menezes Filho
O objetivo deste capítulo é destacar como a desigualdade de oportunidades afeta o
desenvolvimento infantil, usando dados e estudos recentes que mostram como a
desigualdade de renda, a pobreza, o desemprego e a baixa mobilidade intergeracio-
nal podem afetar o pleno desenvolvimento das crianças no Brasil. Para fazê-lo, usa-
remos pesquisas domiciliares divulgadas recentemente e novas pesquisas acadêmicas
que têm sido desenvolvidas mensurando a mobilidade de renda no Brasil com dados
inéditos e relacionando o nascimentos de crianças e o desemprego com a crimina-
lidade. Também será enfatizado o papel das políticas públicas no sentido de atenuar
o efeito das adversidades no desenvolvimento.
Desigualdade de renda e pobreza na primeira infância no Brasil
O desenvolvimento infantil pode ser visto como um processo de interação entre os
genes e o ambiente, em que as relações sociais em que os bebês estão inseridos possuem
grande importância. As relações sociais que acontecem de forma permanente (por
exemplo, entre os bebês e seus pais ou cuidadores) são especiais, porque elas afetam
o processo de aprendizagem e desenvolvimento. Nessa fase, é fundamental que as
crianças tenham um ambiente familiar com cuidados de saúde e nutrição adequados,
14 Desigualdade e pobreza na primeira infância
segurança e proteção contra violência e discriminação, um cuidado responsivo pelas
mães e pais, com oportunidades de aprendizado e exploração[1].
A pobreza pode afetar o desenvolvimento infantil de várias formas. Ela é a “causa
das causas” dos fatores de risco ao desenvolvimento infantil[2], estando associada
de forma complexa a diversos outros fatores de risco, como a insegurança alimen-
tar e desnutrição, a exposição à violência e ao risco ambiental, a discriminação e
situações de estresse familiar[1]. Famílias pobres no geral também têm maior difi-
culdade de acessar serviços de saúde e educação de qualidade. Além disso, a pobreza
está associada à falta de informação de mães e pais sobre o quanto o investimento
na criança tem efeitos positivos sobre o seu desenvolvimento, e consequentemente,
os pais com menor nível econômico tendem a fazer menos atividades estimulantes
com suas crianças[3].
A pobreza no início da vida está associada a grandes diferenças de saúde e capi-
tal humano na vida adulta. Um estudo reuniu dados de pesquisas de países de baixa
e média renda – Filipinas (Cebu), Índia (Delhi), Brasil (Pelotas), Guatemala e África
do Sul (Soweto) – que acompanharam grupos de pessoas nascidas em períodos
semelhantes (coortes) ao longo da vida, desde a primeira infância[2]. Esse estudo
mostra que, entre homens e mulheres, menores níveis socioeconômicos no nasci-
mento se relacionam com menor crescimento aos 2 anos de idade, menor estatura
aos 4 anos de idade e menor habilidade cognitiva entre os 4 e os 8,5 anos de idade.
Há associações também com desfechos na vida adulta: as pessoas mais pobres no
nascimento tinham menor estatura, menos anos de escolaridade, menor quociente
de inteligência (QI), e entre as mulheres, mais maternidade durante a adolescência.
Alguns grupos socioeconômicos específicos são atingidos mais fortemente pela
pobreza, o que gera atrasos no desenvolvimento infantil de forma diferenciada e
pode manter ou ampliar as desigualdades entre as gerações[1]. As desigualdades
sociais na primeira infância podem ser ainda mais agravadas por comportamentos
discriminatórios, como o racismo, que interfere no desenvolvimento infantil no
momento em que as crianças pequenas estão formando suas identidades[4]. Mesmo
quando o racismo não gera violência física, ele pode afetar a aprendizagem e o de-
senvolvimento infantil criando situações em que a criança negra é atingida por
sofrimento em decorrência do seu pertencimento racial, em um momento em que
é importante que ela se sinta acolhida e valorizada. Por exemplo, o racismo pode se
apresentar em relações sociais em que a imagem do negro é criada a partir de refe-
rências negativas, como inferioridade intelectual ou com a negação de capacidades
intelectuais de negros. A exposição ao racismo pode levar crianças negras pequenas
a passar por estresse prolongado, o estrese tóxico, que interfere no desenvolvimento
Ciência da primeira infância 15
saudável do cérebro e do funcionamento do corpo e está associado ao desenvolvi-
mento de doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes na fase adulta[4].
Como está o Brasil atualmente em relação às desigualdades sociais e à pobreza
na primeira infância? O Brasil é hoje um dos países mais desiguais do mundo e com
uma taxa de pobreza extrema relativamente grande. Fazendo uma comparação
entre os países com dados recentes (entre 2019 e 2023), disponíveis e consolidados
pelo Banco Mundial[5], a América Latina e o Caribe formam a região do mundo com
a maior desigualdade de renda, seguida pela África Subsaariana.1 Em relação à
pobreza extrema, a região da América Latina e Caribe está em uma posição inter-
mediária: a situação é melhor do que a da África Subsaariana, do Sul da Ásia e do
Oriente Médio e Norte da África, porém pior do que da América do Norte, da
Europa e da Ásia Central e do Leste Asiático e Pacífico. Entre os países da América
Latina e Caribe, o Brasil é o terceiro com a maior taxa de pobreza extrema (atrás
da Colômbia e Honduras), e o 29º país com a maior taxa de pobreza no conjunto
total de países. Nesse conjunto, o Brasil é o segundo país mais desigual entre 17
países da América Latina e Caribe e também no conjunto total de 106 países (nos
dois casos, à frente somente da Colômbia).2
A situação é especialmente precária entre as crianças pequenas no Brasil. Além
de viverem sob um nível extremamente alto de desigualdade, as crianças pequenas
são o grupo etário com as maiores taxas de pobreza[6]. As crianças pequenas nas
famílias com menor renda sofrem maior exposição a fatores de risco ao seu pleno
desenvolvimento, como habitações inadequadas, exposição à poluição, calor extremo
e enchentes, exposição à violência, menor acesso à saúde, educação e alimentação
adequada. Elas estão mais sujeitas aos impactos imediatos e de longo prazo da pobreza
sobre o desenvolvimento infantil, incluindo maior risco de mortalidade, atrasos de
crescimento e de desenvolvimento, baixa escolaridade e gravidez na adolescência[1,2].
As grandes desigualdades sociais podem gerar experiências de discriminação por
raça ou cor da pele, gênero, local de moradia ou de origem e são um fator de risco
para o desenvolvimento infantil em si[4,7].
Apesar de a desigualdade no Brasil já ter sido maior no passado, recentemente
ela tem aumentado mais entre as pessoas em famílias com crianças pequenas do que
no total da população. Uma das formas mais comuns de se medir a desigualdade de
1 Para cada país, o Banco Mundial calcula o índice de Gini da renda domiciliar per capita (que é o total
das rendas de todas as fontes, dividido pelo total de pessoas em cada domicílio). Fizemos uma média
do Índice de Gini dos países para cada região, ponderada pela população.
2 Consideramos a classificação do Banco Mundial de regiões. Entre os países da América Latina e Ca-
ribe com dados disponíveis, além do Brasil, estão a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica,
República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, Jamaica, México, Panamá, Paraguai, Peru,
Suriname e Uruguai.
16 Desigualdade e pobreza na primeira infância
renda entre as pessoas de um país é o Índice de Gini, que pode ter valores entre 0 e
1, com a renda domiciliar per capita.3 Valores mais próximos de 0 indicam menor
desigualdade de renda, enquanto valores mais próximos de 1 representam maior
desigualdade. A Figura 1.1 mostra a evolução do Índice de Gini da renda domiciliar
per capita entre 2001 e 2023 no Brasil, calculado para o total da população e entre
as pessoas que vivem com crianças pequenas. O Índice para os dois grupos diminuiu
entre 2001 e 2014, a partir de quando começou a aumentar novamente, em conexão
com as recessões econômicas enfrentadas pelo Brasil nos últimos anos. Apesar de
o índice ter sido menor entre as pessoas que vivem com crianças pequenas nos
primeiros anos, mais recentemente a desigualdade aumentou mais nesse grupo, um
fato preocupante, uma vez que a desigualdade gera resultados indesejáveis sobre o
desenvolvimento infantil.
0,60
0,59
0,58
0,57
0,56
0,55
0,54
0,53
0,52
0,51
0,50
2001 2006 2011 2016 2021
Com crianças Total
Figura 1.1 Índice de Gini da renda domiciliar per capita entre todas as pessoas e entre pessoas de domicílios com
crianças de 0 a 6 anos de idade. Brasil, 2001-2023.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD
Contínua/IBGE). Elaboração própria. Nota: a figura mostra o Índice de Gini calculado para a renda domiciliar per capita entre todas as
pessoas e entre as pessoas em domicílios com crianças de 0 a 6 anos de idade.
As famílias com crianças pequenas também são mais sujeitas às situações de
pobreza e pobreza extrema no Brasil. A Figura 1.2 mostra a proporção de pessoas
pobres, considerando a linha de pobreza internacional do Banco Mundial, de US$
6,85 por dia (aproximadamente R$ 16,30 por dia ou R$ 489,00 por mês, a preços de
3 A renda domiciliar per capita de uma pessoa ou domicílio é a razão entre a soma da renda de todas as
fontes das pessoas do domicílio, dividida pelo número de pessoas residentes no mesmo domicílio.
Ciência da primeira infância 17
2023),4 que reflete o nível de renda mínimo por pessoa para se satisfazer as neces-
sidades básicas de alimentação, vestimenta e abrigo. A Figura mostra duas linhas,
uma para as pessoas que vivem com crianças pequenas e outra linha para as demais.
Observamos que a pobreza teve um período de redução contínua ao longo dos anos
2000, até 2014, e que ela foi sempre maior entre as pessoas que vivem com crianças
pequenas. Em 2023, a pobreza chegou a 30% entre as pessoas que vivem com crian-
ças pequenas, nível que o grupo das demais pessoas possuía no início dos anos 2000.
Esse grupo tinha uma proporção de 12% de pobres em 2023.
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
Com crianças Outros
Figura 1.2 Taxa de pobreza entre todas as pessoas e entre pessoas de domicílios com crianças de 0 a 6 anos de idade.
Brasil, 2001-2023.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua/
IBGE), Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Elaboração própria. Nota: a figura mostra a proporção de pessoas classificadas como
pobres, usando a linha de pobreza internacional do Banco Mundial, de US$ 6,85 (em Paridade de Poder de Compra de 2017), entre todas as
pessoas e entre as pessoas em domicílios com crianças entre 0 e 6 anos de idade.
Quando consideramos a pobreza extrema, as pessoas que vivem com crianças
pequenas também são mais afetadas. A pobreza extrema representa a situação em
que a pessoa vive com menos de US$ 2,15 por dia (aproximadamente R$ 5,12 por
dia ou R$ 153,47 por mês, a preços de 2023) e não possui renda que seria suficiente
para satisfazer as necessidades básicas nos países mais pobres do mundo. A Figura
1.3 mostra que a proporção de pessoas nessa situação diminuiu fortemente entre as
famílias com crianças pequenas entre 2001 e 2023, passando de 18% para 4%. No
grupo das pessoas nas demais famílias, essa taxa também diminuiu, passando de
4 O valor da linha internacional de pobreza é expresso em dólares em paridade de poder de compra de
2017, uma taxa de conversão que considera as variações de preços dos países.
18 Desigualdade e pobreza na primeira infância
6% para 2%. Apesar dessas tendências, as famílias com crianças ainda possuem o
dobro da proporção de pessoas extremamente pobres, e esse quadro é preocupante,
uma vez que a pobreza extrema é um grande fator de risco de atrasos no desenvol-
vimento infantil[1,3].
20%
18%
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
Com crianças Outros
Figura 1.3 Taxa de pobreza extrema entre todas as pessoas e entre pessoas de domicílios com crianças de 0 a 6 anos
de idade. Brasil, 2001-2023.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua/
IBGE), Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Elaboração própria. Nota: a figura mostra a proporção de pessoas classificadas como
extremamente pobres, usando a linha de pobreza internacional do Banco Mundial, de US$ 2,15 (em Paridade de Poder de Compra de 2017),
entre todas as pessoas e entre as pessoas em domicílios com crianças entre 0 e 6 anos de idade.
Cabem algumas observações sobre como a pobreza está sendo medida. Em
primeiro lugar, a pobreza pode ser considerada uma situação em que falta à pessoa
ou à família coisas que são consideradas minimamente necessárias pela sociedade,
e que podem ser de dimensões diversas. A medida da pobreza por meio de linhas
de pobreza é uma simplificação que possibilita contabilizar o número de pessoas
que estão em uma situação em que falta algum item minimamente necessário. Além
disso, apesar de a linha de pobreza extrema do Banco Mundial não considerar as
especificidades regionais do Brasil, ela permite comparações com outros países, e o
total de pessoas identificadas nessa situação no Brasil é semelhante ao daqueles que
se encontram em insegurança alimentar grave[8].
As tendências observadas nas Figuras 1.2 e 1.3 marcam uma continuidade da
tendência de longo prazo de redução da pobreza no Brasil. A implementação do
Plano Real em 1994 fez a inflação, à qual as pessoas com menor renda são mais
Ciência da primeira infância 19
vulneráveis, se estabilizar em níveis baixos. Além disso, apesar das baixas taxas de
crescimento da economia como um todo, houve um aumento da renda real dos mais
pobres na segunda metade dos anos 1990, devido à baixa inflação dos alimentos, o
crescimento mais acelerado dos rendimentos mais baixos no setor de serviços e
câmbio desvalorizado, que favorecia a remuneração das atividades de serviços. A
partir de 1996, a política de valorização do salário mínimo favoreceu o aumento
mais acelerado dos salários menores no mercado de trabalho – sem que houvesse
um aumento do desemprego ou da informalidade – e dos benefícios sociais consti-
tucionais: o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e as aposentadorias. Essas
mudanças também favoreceram a redução da desigualdade de renda, a partir de
1997[9].
Entre 2000 e 2014, que ocupam a primeira parte das Figuras 1.1 a 1.3, houve um
aumento, em todas as regiões brasileiras, da renda entre os mais pobres acima da
renda média da população[10], o que é explicado por três componentes principais.
Em primeiro lugar, houve uma expansão do mercado de trabalho e da formalização
no período, sustentada pelo crescimento da atividade econômica em níveis maiores
do que o da década anterior, e as taxas de desemprego e de inatividade reduziram
nesse período entre as pessoas com crianças pequenas no domicílio[9,7]. Com isso,
o rendimento do trabalho aumentou, especialmente entre aqueles com os menores
salários, com a manutenção da política de valorização do salário mínimo acima da
inflação[9]. Como os rendimentos do trabalho representam uma parte importante
da renda total dos domicílios[11], as dinâmicas do mercado de trabalho geram efeitos
sobre o nível de pobreza e desigualdade[7]. Além disso, o governo federal também
ampliou os benefícios sociais nesse período. Houve um aumento da quantidade e
do valor dos benefícios constitucionais e, efetivamente, a partir de 2004, o Programa
Bolsa Família foi instituído, alcançando grande parte das famílias com as menores
rendas[9,12–14]. Essas transformações contribuem para explicar como o período de
crescimento econômico da primeira década dos anos 2000 resultou em uma forte
redução da pobreza e da desigualdade.
O período de 2014 a 2019 introduziu uma mudança nas tendências de redução
da pobreza e da desigualdade. A recessão econômica ocorrida no início desse período
fez com que as condições do mercado de trabalho piorassem, de maneira que o
desemprego aumentou de forma geral e as políticas sociais não foram capazes de
conter o aumento da pobreza[7,12]. No mercado de trabalho, os rendimentos ficaram
mais concentrados[11].
Apesar de o emprego diminuir ainda mais quando a pandemia da Covid-19
chegou ao Brasil em 2020 e os governos locais impuseram medidas de isolamento
20 Desigualdade e pobreza na primeira infância
social com o objetivo de conter o espalhamento da doença, a taxa de pobreza e a
desigualdade diminuíram em conexão com a transferência de renda do Auxílio
Emergencial, transferência de renda para pessoas de baixa renda, sem trabalho formal,
e com valores relativamente altos[12,15]. A recessão econômica desse período fez com
que houvesse redução das ocupações com os menores rendimentos, como os traba-
lhadores informais e com jornada parcial, aumentando a concentração dos rendi-
mentos, especialmente entre os empregados e os autônomos[16,17]. Com a redução
dos valores desse benefício no final de 2020 e uma recuperação do mercado de
trabalho, principalmente com ocupações informais e valores de rendimentos rela-
tivamente baixos, a pobreza e a desigualdade aumentaram novamente em 2021,
porém reduziram a partir de 2022, com a recuperação da atividade econômica e do
mercado de trabalho.
Além dessas tendências mais gerais, há desigualdades importantes entre as famí-
lias com crianças pequenas. Na Figura 1.4, mostramos como a pobreza evoluiu entre
as pessoas que vivem com crianças pequenas por grupos de raça/cor da pessoa res-
ponsável pelo domicílio (painel 1.4a), pela escolaridade da pessoa responsável pelo
domicílio (painel 1.4b) e por região brasileira (painel 1.4c). As taxas de pobreza
evoluíram de forma aproximadamente paralela entre as famílias negras ou indígenas
e as famílias brancas ou amarelas no período, e foram maiores entre as primeiras em
cerca de 20 pontos percentuais. Em 2023, a taxa de pobreza era de 36% entre famílias
negras ou indígenas e de 17% entre as famílias brancas ou amarelas. No painel 1.4b,
observamos que a taxa de pobreza se manteve no mesmo patamar ao longo dos anos
entre as pessoas em domicílios mais escolarizados (variando entre 18% e pouco mais
de 20% na maior parte do período), enquanto entre as pessoas em domicílios menos
escolarizados, a pobreza diminuiu fortemente de cerca de 70% em 2001 para 44%
em 2023, um patamar ainda muito maior do que o do outro grupo.
a) Raça/Cor
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
Negros e Indígenas Brancos e Amarelos
Ciência da primeira infância 21
b) Escolaridade
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
EM Incompleto EM Completo
c) Região
100%
80%
60%
40%
20%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
N NE SE S CO
Figura 1.4 Taxas de pobreza entre pessoas de domicílios com crianças de 0 a 6 anos de idade. Brasil, 2001-2023.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua/
IBGE), Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Elaboração própria. Nota: a figura mostra a proporção de pessoas classificadas
como pobres, usando a linha internacional de pobreza do Banco Mundial, de US$ 6,85 (em Paridade de Poder de Compra de 2017), entre as
pessoas em domicílios com crianças entre 0 e 6 anos de idade. As séries foram divididas pela raça/cor da pessoa responsável pelo domicílio
(nos painéis a e b), pela escolaridade da pessoa responsável pelo domicílio (nos painéis c e d) e pela região.
O painel 1.4c mostra as diferenças regionais da incidência de pobreza, e podemos
separar as regiões em dois grupos, um deles com taxas mais baixas ao longo de todo
o período (com as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste) e o outro com as taxas mais
altas (com as regiões Norte e Nordeste). Considerando o período como um todo,
as taxas diminuem em todas as regiões, porém de forma menos acentuada na região
22 Desigualdade e pobreza na primeira infância
Norte. Em 2023, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste tinha percentuais de, res-
pectivamente, 19%, 14% e 17%, ao passo que as regiões Norte e Nordeste apresen-
taram taxas de, respectivamente, 40% e 50%.
Como no caso da pobreza, há também grandes diferenças de incidência da pobreza
extrema entre grupos socioeconômicos entre as pessoas que vivem com crianças
pequenas. A Figura 1.5 mostra a evolução da taxa de pobreza extrema entre as fa-
mílias com crianças pequenas por grupos definidos por raça/cor, escolaridade e
região, respectivamente nos painéis 1.5a, 1.5b, 1.5c. No painel 1.5a, a figura mostra
uma clara diferença por raça/cor, com percentuais entre famílias negra ou indígena
aproximadamente duas vezes maior que aqueles entre as famílias brancas ou ama-
relas em todo o período. Em 2023, 5% das pessoas em famílias negras ou indígenas
viviam em pobreza extrema, enquanto entre as pessoas em famílias brancas ou
amarelas, a incidência era de 2%.
As desigualdades por escolaridade diminuem ao longo do tempo. O painel 1.5b
mostra que o grupo com até o ensino médio incompleto apresenta a maior taxa ao
longo de todo o período, que diminui ao longo do tempo (passando de 21% em 2001
para 6% em 2023), enquanto o grupo com ensino médio completo mantém uma
taxa com menor variação (passando de 2,8% em 2001 para 2% em 2023, com um
pico de 5,3% em 2021). Essa taxa menor se manteve apesar do aumento da propor-
ção de pessoas em domicílios cuja pessoa responsável tinha ao menos o ensino
médio completo (de 18% em 2001 para 56% em 2023).
Por último, o painel 1.5c mostra que enquanto as taxas de pobreza extrema foram
semelhantes nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste no período como um todo, as
taxas das regiões Norte e Nordeste foram maiores, mas a diferença diminuiu. Em
2023, as taxas eram de 2,1%, 1,1% e 1,6%, respectivamente nas regiões Sudeste, Sul
e Centro-Oeste, e de 4,9% e 7,7%, respectivamente nas regiões Norte e Nordeste.
a) Raça/Cor
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
Negros e Indígenas Brancos e Amarelos
Ciência da primeira infância 23
b) Escolaridade
25%
20%
15%
10%
5%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
EM Incompleto EM Completo
c) Região
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
2001 2006 2011 2016 2021
N NE SE S CO
Figura 1.5 Taxas de pobreza extrema entre pessoas de domicílios com crianças de 0 a 6 anos de idade. Brasil, 2001-2023.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua/
IBGE), Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Elaboração própria. Nota: a figura mostra a proporção de pessoas classificadas
como extremamente pobres, usando a linha internacional de pobreza extrema do Banco Mundial, de US$ 2,15 (em Paridade de Poder de
Compra de 2017), entre as pessoas em domicílios com crianças entre 0 e 6 anos de idade. As séries foram divididas pela raça/cor da pessoa
responsável pelo domicílio (nos painéis a e b), pela escolaridade da pessoa responsável pelo domicílio (nos painéis c e d) e pela região.
No geral, os dados desta seção indicam que mesmo depois de um período de
diminuição das desigualdades de renda no Brasil, no período mais recente essas
taxas voltaram a aumentar com as recessões econômicas, a pandemia da Covid-19
e seus efeitos sobre o mercado de trabalho, especialmente entre as famílias com
crianças pequenas. A pobreza e a pobreza extrema entre as famílias com crianças
pequenas também apresentaram uma diminuição nos anos 2000 e aumento nos anos
mais recentes, enquanto as diferenças entre grupos de raça/cor e região em relação às
24 Desigualdade e pobreza na primeira infância
taxas de pobreza e de pobreza extrema das famílias com crianças pequenas se mantiveram
durante todo o período. Essas diferenças persistentes podem estar associadas a dife-
renças de desenvolvimento e à pequena mobilidade social que se tem no Brasil, como
veremos na próxima seção.
Novas evidências sobre mobilidade de renda, desemprego e crime no Brasil
Novos artigos que usam grandes bases integradas de registros administrativos bra-
sileiros (como informações do Cadastro de Pessoas Físicas, da Receita Federal do
Brasil, do Cadastro Único e do DataSUS) trazem evidências inéditas sobre desigual-
dades relacionadas a temas como mobilidade de renda, os impactos do desemprego
e de ter filhos. Esses estudos são importantes, porque possuem informações detalha-
das do comportamento das pessoas em áreas diversas, como saúde, educação, emprego
e renda, rastreando as mesmas pessoas em diversos registros e ao longo do tempo.
Com isso, é possível obter um quadro detalhado sobre como e quanto a renda dos
pais afeta a renda dos filhos, sobre como o custo econômico do nascimento de uma
criança gera efeitos sobre crimes em famílias com menor renda, e quais são os efeitos
de uma demissão sobre o ambiente familiar em que se cuida de uma criança.
Primeira infância e mobilidade de renda
As desigualdades observadas na seção anterior tendem a se perpetuar ao longo do
tempo, porque a mobilidade de renda no Brasil é baixa no geral e especialmente
pequena para alguns grupos específicos. Um artigo recente estima o quanto a renda
dos pais influencia na renda das pessoas nascidas no Brasil entre 1988 e 1990[18]. Os
autores usam grandes bases de registros administrativos de forma integrada, para
identificar as mães e pais de pessoas, locais de residência e os rendimentos formais
de cada um. Eles também treinam modelos de aprendizado de máquina com dados
de pesquisas domiciliares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
(a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – e os Censos Demográ-
ficos) para prever os rendimentos informais. Com essa riqueza de informações, os
autores classificam pais e filhos em rankings de renda com posições que variam de
1 a 100 (em que 1 é a menor renda e 100, a maior) e estimam que uma diferença
de 10 posições na renda dos pais está associada a uma diferença na renda dos filhos
de 5,5 posições. Essa associação é mais forte no Brasil do que nos Estados Unidos
(cuja estimativa é um avanço de 3,4 posições na renda dos filhos para uma diferença
de 10 posições na renda dos pais) e países desenvolvidos como Austrália, Canadá,
França, Itália e os países escandinavos (cujas estimativas ficam entre 1,9 e 2,4 posi-
ções). Isso significa que a mobilidade no Brasil é menor, porque aqui a renda dos
pais influencia mais a renda dos filhos.
Ciência da primeira infância 25
Visto de outra forma, o estudo mostra que, no Brasil, somente 2,5% das crianças
nascidas entre os 20% mais pobres da população chegam ao grupo dos 20% mais
ricos quando se tornam adultas, um percentual baixo em comparação aos Estados
Unidos, Itália e Suécia, cujos percentuais são de, respectivamente, 7,5%, 11,2% e
15,7%. Além disso, cerca de metade das pessoas nascidas entre os 20% mais ricos
ou entre os 20% mais pobres no Brasil se encontram nesses mesmos grupos quando
se tornam adultas. O estudo também encontra que a mobilidade de renda varia
amplamente de acordo com gênero, raça e áreas geográficas. A mobilidade ascendente
é menor entre as mulheres, em comparação aos homens, e entre os negros, em
comparação aos brancos. Por exemplo, entre os brancos que nasceram entre os 20%
mais pobres, 33,7% permanecem nesse grupo de renda quando se tornam adultos,
enquanto entre os negros, o percentual correspondente é de 52,8%.
O mesmo estudo mostra que as diferenças na renda dos pais também se refletem
em diferenças de desfechos de longo prazo dos filhos. Dividindo os pais em 20
grupos de renda de tamanhos semelhantes, filhos do grupo com menor renda
possuem uma probabilidade próxima a zero de ter entrado no ensino superior, uma
proporção que cresce até cerca de 80% no grupo com a maior renda. A proporção
de filhos que dependem do Programa Bolsa Família tem o padrão inverso, é de
pouco mais de 60% entre os filhos dos pais no menor grupo de renda e próximo a
zero entre os filhos de pais no maior grupo de renda. Os filhos de pais com maior
renda também tiveram menos gravidez na adolescência (especialmente as mulheres),
foram menos vítimas de crimes e possuem uma mortalidade menor (especialmente
os homens).
Esses resultados nos remetem à importância da primeira infância no combate às
desigualdades. Os efeitos negativos da pobreza podem fazer com que ela seja trans-
mitida para a geração seguinte, porque as famílias que vivem sob a pobreza extrema
normalmente estão mais sujeitas a adversidades e possuem maior dificuldade de
criar um ambiente propício ao desenvolvimento pleno das crianças, de modo que
há maior probabilidade de haver déficits de desenvolvimento entre elas[1]. Crianças
com maior déficit de desenvolvimento têm uma probabilidade menor de terem o
aprendizado adequado na escola e de obterem os maiores salários quando forem
adultos. Déficits como esses podem gerar uma perda de renda importante em rela-
ção ao que poderiam ganhar caso tivessem tido um desenvolvimento pleno[19].
Um aspecto adicional de como a renda dos pais pode afetar o desenvolvimento
e a renda dos filhos está relacionado à atividade criminal do pai. Há evidência recente
de que, no Brasil, o nascimento de uma criança aumenta a necessidade de renda no
domicílio e faz com que os pais aumentem atividades criminosas com motivação
econômica, mas não as mães[20]. Segundo esse estudo, o nascimento de um filho
26 Desigualdade e pobreza na primeira infância
aumenta a atividade criminosa do pai em 18% dois anos depois do nascimento, um
efeito que aumenta para cerca de 30% seis anos depois do nascimento. Os crimes
cometidos são por motivação econômica5 ou crimes violentos que podem ter mo-
tivação econômica,6 e não há efeitos sobre crimes sem motivação econômica clara.7
Os impactos são mais fortes entre os homens que não tinham emprego formal,
entre aqueles que tinham menores salários antes do nascimento da criança, entre
os mais jovens, que normalmente têm os menores salários e filhos de forma não
planejada, e entre aqueles que moravam com os pais ou outros parentes antes da
concepção do filho e que tiveram que constituir um novo domicílio com a chegada
da criança. Entre as mulheres, ter um filho reduz temporariamente as atividades
criminais, em torno do período do nascimento.
Além de crimes por motivação econômica, ter a chegada de uma criança também
aumenta a violência doméstica. A chegada de uma nova criança aumenta o tempo
de convivência entre os pais, devido à formação de novos domicílios, e dentro deles
também aumenta o estresse devido à divisão da renda com uma pessoa a mais. O
efeito do nascimento da criança é de aumentar o envolvimento do pai com violência
doméstica em 215% depois de dois anos[20].
Esses resultados indicam que ter um filho quando não há recursos ou dispositi-
vos de proteção para acomodar o impacto econômico da criança na família, aumenta
a chance de os pais incorrerem em atividades criminais e violência doméstica, que
podem afetar o desenvolvimento dos filhos. Em conjunto, eles mostram um meca-
nismo pelo qual a pobreza dos pais pode afetar o desenvolvimento infantil e ser
transmitida para a geração seguinte.
Entretanto, a política de assistência social Salário-Maternidade tem o efeito de
reduzir a atividade criminosa dos pais decorrente do nascimento de crianças. O
Salário-Maternidade faz transferências de renda durante 120 dias para a mulher que
é segurada do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e que se afastou do
trabalho devido ao nascimento do filho, aborto não criminoso, adoção ou guarda
judicial para fins de adoção. O estudo de Britto et al. (2024)[20] compara pais de baixa
renda em famílias com mães que receberam e que não receberam o benefício e estima
que a transferência reduz a atividade criminal em 37%. Esse resultado reforça o
argumento de que a motivação para o aumento da atividade criminosa é meramente
econômica, de forma que uma transferência de renda para auxílio da família em
torno do momento do nascimento faz uma diferença importante.
5 Incluindo tráfico de drogas, roubos, furtos, comércio de bens roubados, fraude, corrupção, sonegação
fiscal, extorsão.
6 Crimes como agressões, homicídios, sequestros e ameaças.
7 Crimes de trânsito, calúnia, posse ilegal de armas, posse de pequena quantidade de drogas, desobediência,
danos à propriedade, crime ambiental, conspiração, linchamento, racismo e discriminação.
Ciência da primeira infância 27
Embora o Brasil tenha baixa mobilidade de renda, há locais em que a mobilidade
de renda é alta. O estudo de Britto et al. (2022)[18] encontra que a mobilidade ascen-
dente é concentrada nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, não somente nas áreas
metropolitanas, mas também no interior dos estados. Há, além disso, uma concen-
tração de locais onde há maior mobilidade ascendente nos três estados da região
Sul. Em uma comparação mais sofisticada, o estudo também traz evidências de que
esses locais geram um efeito causal de convergência de renda que explica 57% das
diferenças de mobilidade positiva entre as regiões.
O estudo também mostra que entre vários fatores que se relacionam com a
mobilidade nas regiões, aqueles com maior poder explicativo para a mobilidade
ascendente são os relacionados à maior qualidade da educação daquelas regiões (por
exemplo, notas de matemática e português possuem relação positiva com a mobili-
dade, a taxa de abandono da escola tem uma relação negativa). Outros fatores
também se relacionam com a mobilidade de forma relevante, como aqueles relacio-
nados à estrutura familiar (por exemplo, as proporções de domicílios grandes ou de
domicílios de mães solteiras têm relação negativa com mobilidade), características
demográficas (por exemplo, proporções de domicílios em áreas rurais e a proporção
de pessoas negras no município têm relação negativa com mobilidade), assim como
as características dos domicílios (por exemplo, a proporção de domicílios em fave-
las tem uma relação negativa com mobilidade, enquanto a proporção de domicílios
com uma única família tem uma relação positiva) e a infraestrutura local (por
exemplo, o acesso à internet banda larga tem uma relação positiva com mobilidade).
Como discutimos na seção “Novas evidências sobre mobilidade de renda, de-
semprego e crime no Brasil”, as flutuações do mercado de trabalho afetam a pobreza
e a desigualdade de renda dos domicílios, o que pode ter efeitos negativos sobre o
desenvolvimento das crianças pequenas. Quando as mães e pais perdem o emprego,
a família pode enfrentar mais dificuldades de criar um ambiente adequado para as
crianças pequenas e, com isso, vários aspectos das suas vidas são impactados. Como
isso acontece?
A perda do emprego leva a uma redução relevante e duradoura da renda da fa-
mília. Um estudo mostra que a perda do emprego de um dos pais leva à redução dos
rendimentos do trabalho em 45%, em média, após um período de dois anos, uma
redução grande na comparação com países desenvolvidos[21]. Na Itália, Espanha e
Portugal, por exemplo, a perda de emprego leva a uma redução entre 30% e 40% na
renda dois anos após a demissão em comparação ao salário antes da demissão[22].
A redução da renda da família se desdobra em dois efeitos. Por um lado, as fa-
mílias recorrem a estratégias que envolvem os filhos, reduzindo as despesas com
educação e aumentando a oferta de tralhado dos filhos. Nesse sentido, a demissão
de um dos pais faz com que os filhos comecem a fazer trabalhos informais e, entre
28 Desigualdade e pobreza na primeira infância
os meninos, as atividades criminosas aumentam em 33% em relação ao período
antes da demissão, na tentativa de compensar pela perda de renda da família. Entre
as famílias mais ricas, a demissão de um dos pais leva à transferência dos filhos de
escolas particulares para escolas públicas. Por outro lado, o estresse no interior do
domicílio aumenta. A redução da renda faz com que os membros da família tenham
que diminuir seus gastos, aumentando os níveis de estresse e gerando conflitos[21].
Há uma série de consequências para esses efeitos.
Em primeiro lugar, com a redução da renda, a perda do emprego dos pais faz
com que os filhos piorem na escola. Dois anos depois da demissão, a taxa de aban-
dono aumenta 6% e a taxa de distorção idade-série aumenta em 18%. Esses efeitos
são mais fortes entre as famílias mais pobres e se acumulam ao longo do tempo: seis
anos depois da demissão, eles triplicam em relação ao tamanho que tinham dois
anos após a demissão. Os efeitos também variam conforme a idade das crianças.
Entre as mais jovens, o impacto sobre a distorção idade-série é mais intenso, enquanto
entre as mais velhas, o impacto sobre o abandono escolar é maior[21].
Uma segunda consequência é a piora da saúde dos homens que foram demitidos
e dos filhos, por causas relacionadas a comportamentos de risco. No primeiro ano
após a demissão, os homens têm 33% mais internações e 54% mais óbitos do que
homens muito semelhantes, mas que não foram demitidos. Esses efeitos são explica-
dos pelo aumento de comportamentos de risco, não criminais, que aumentam as
internações por doenças isquêmicas do coração, violência e ferimentos, e a mortali-
dade por causas relacionadas a uso de álcool, drogas e cigarros, ferimentos, acidentes
com veículos e violência. O estresse no interior do domicílio devido às demissões
também pode explicar o impacto delas no número de internações dos filhos de até
18 anos por causas externas em 186% no primeiro ano após a demissão[23].
Uma terceira consequência é o aumento da violência doméstica nos domicílios em
que há demissões de homens ou de mulheres. Esse resultado também é produto de
outro efeito intermediário da demissão, o aumento do tempo de contato entre a pos-
sível vítima e o possível agressor no interior dos domicílios. Comparando pessoas
semelhantes que perderam o emprego formal com pessoas que não o perderam, antes
e depois da demissão, um estudo encontra que no Brasil as demissões de homens e
mulheres causam aumentos de, respectivamente, 32% e 56% nas ocorrências de vio-
lência doméstica contra as mulheres. Esse efeito é pervasivo e ocorre em todas as
classes de renda, faixas etárias e renda do agressor e em todas as áreas geográficas[24].8
8 O capítulo 6 deste livro apresenta detalhadamente modelos teóricos sobre como experiências adversas
durante a primeira infância (como episódios de violência contra a criança) impactam negativamente o
desenvolvimento infantil.
Ciência da primeira infância 29
O desenvolvimento integral das crianças durante a primeira infância depende da
construção de um ambiente familiar seguro e estável, em que os pais mantêm um
cuidado responsivo aos filhos, geram oportunidades de exploração e aprendizado e
garantem uma boa nutrição. Quando a criança passa por situações de estresse con-
tinuado no ambiente familiar, a resposta biológica a esses estímulos pode interferir
no desenvolvimento da criança, gerando consequências negativas para toda a sua
vida. Os efeitos de demissões no ambiente familiar geram alguns dos grandes riscos
ao desenvolvimento infantil: falta de renda, que pode gerar situações de insegurança
alimentar, o aumento do estresse e da violência entre as pessoas do domicílio.
O seguro-desemprego, uma política pública desenhada para aliviar algumas das
consequências negativas das transições no mercado de trabalho, também acaba
atenuando alguns dos efeitos negativos das demissões sobre o ambiente familiar.
Entre os empregados formais, esse benefício realiza pagamentos mensais durante até
cinco meses após a demissão, com o valor médio dos três últimos salários anteriores
à demissão. Estudos recentes comparam empregados formais demitidos que eram
elegíveis àquele benefício com aqueles que não eram, devido a restrições de tempo
mínimo de pedido devido a pedidos anteriores, mas que eram muito semelhantes
aos primeiros.
O seguro-desemprego reduz os efeitos negativos das demissões dos pais sobre a
educação dos filhos, porém só parcialmente. Entre as crianças cujas mães ou pais
foram demitidos, o seguro-desemprego é capaz de aumentar a taxa de matrícula
entre as crianças mais velhas três anos após a demissão e de diminuir a atividade
criminal dos filhos nesse período, porém ele não afeta a distorção idade-série nem
a incidência de gravidez entre adolescentes. O seguro-desemprego também reduz o
efeito de os pais que foram demitidos tirarem os filhos de escolas privadas para
colocá-los em escolas públicas[18].
O seguro-desemprego também atenua os impactos negativos das demissões
sobre a saúde dos homens adultos um ano após a demissão. Fazendo uma compa-
ração entre os demitidos, aquele benefício reduz em 24% a mortalidade por causas
externas dos homens mais jovens (com menos de 35 anos de idade) que foram de-
mitidos e, entre os mais velhos que foram demitidos, reduz as internações e a
mortalidade por causas externas em, respectivamente, 60% e 24%[23].
Em relação à violência doméstica, no entanto, o seguro-desemprego tem um efeito
de aumentar a violência depois de alguns meses. Isso acontece porque, embora esse
benefício reduza o efeito intermediário de diminuição da renda, ele também aumenta
o tempo de desemprego e, com isso, o tempo em que os potenciais vítima e agressor
convivem no domicílio. Em consequência, no primeiro semestre depois da demissão, o
seguro-desemprego não tem nenhum efeito sobre a violência doméstica, mas no semestre
30 Desigualdade e pobreza na primeira infância
seguinte, aqueles que receberam o benefício têm uma probabilidade maior de estarem
envolvidos com violência doméstica do que aqueles que não o receberam[24].
Em contraste, a multa paga pela empresa quando o trabalhador é demitido sem
justa causa torna o efeito da demissão sobre a violência doméstica menor. Como a
multa é paga de uma só vez, ela provavelmente não estende o período de desemprego
e, por isso, só reduz o estresse da demissão devido à diminuição da renda. Há evi-
dência de que quanto maior é a multa paga pela empresa em decorrência da demis-
são, menor é a probabilidade de ocorrência de violência[24].
Políticas públicas para o desenvolvimento infantil: evidências internacionais
O papel de mães, pais e cuidadores é fundamental para o desenvolvimento infantil
(DI). O DI pode ser visto como um processo de obtenção de habilidades diversas
(motoras, de linguagem, cognitivas e socioemocionais), realizado em diversas fases
conforme a idade da criança. Esse processo depende, a cada etapa, de vários insumos –
por exemplo, alimentação adequada, abrigo adequado, tempo de interações com os
mães e pais, a forma como as interações são realizadas –, e mães, pais e cuidadores
possuem um papel fundamental, porque são eles quem escolhem os insumos e
constroem o ambiente em que as crianças terão acesso a eles. Uma revisão de lite-
ratura traz evidências de que o investimento dos pais no desenvolvimento dos filhos
de fato gera um aumento nas habilidades cognitivas e socioemocionais, saúde e
renda quando a criança se torna adulta[3].9
O investimento de recursos e tempo das mães e dos pais não somente determina
em grande parte o DI, mas também pode afetar desfechos de bem-estar, saúde,
educação e renda na vida da criança quando ela se torna adulta. Isso acontece por-
que as habilidades adquiridas em algumas idades servem como alicerce para a ob-
tenção de outras habilidades em idades maiores, o que pode acontecer entre tipos
diferentes de habilidades. Por exemplo, níveis mais altos de habilidades socioemo-
cionais (como autocontrole e a habilidades de estar focado em uma atividade) em
crianças pequenas permitem que elas explorem oportunidades educacionais e então
tenham maiores níveis de habilidades cognitivas em idades maiores[3].
Por conta dessa natureza escalonada da dinâmica do DI, programas de promoção
da parentalidade que alteram os investimentos dos pais quando os filhos são ainda
bebês geram efeitos sobre a escolaridade, renda e outros desfechos socioeconômicos
quando esses filhos chegam na fase adulta. Um ponto fundamental é que esses
programas não precisam necessariamente ter grandes quantidades de recursos fi-
9 Podemos diferenciar as práticas parentais entre positivas e negativas, dependendo da sua associação com
o DI. As práticas de parentalidade positiva atendem às necessidades da criança de afeto, apoio, cuidados
e sensibilidade. Veja o capítulo 5 deste livro para mais detalhes.
Ciência da primeira infância 31
nanceiros por criança para gerar bons resultados de desenvolvimento. Eles podem
ser implementados por pessoas não especialistas e que residem nas áreas em que o
programa será implementado, o que reduz o custo e facilita a escalabilidade[3].
Para ilustrar esses pontos de forma concreta, discutiremos o Reach Up Early Childhood
Parenting Program (vamos chamá-lo somente de Reach Up), um programa de pro-
moção da parentalidade que foi baseado no programa Jamaica Home Visit, elaborado
pela pesquisadora Sally Grantham-McGregor e implementado na Jamaica nos anos
1980.10 Desde então, o currículo desse programa foi adaptado e replicado em outros
países em desenvolvimento: Bangladesh, China, Colômbia, Guatemala, Índia e até
no Brasil. O programa foi desenhado para ser oferecido por pessoas não especialis-
tas, que periodicamente fazem visitas domiciliares ou encontros em centros comu-
nitários. Nessas sessões, as agentes do programa encorajam as mães a responder à
vocalização das crianças pequenas e ensinam atividades que elas podem realizar
com as crianças, que ajudam a promover o desenvolvimento infantil. As atividades
são realizadas com o uso de materiais diversos disponíveis no domicílio e de baixo
custo, como livros, brinquedos criados com garrafas de plástico e tecido. Elas tam-
bém estimulam as mães a comemorar as pequenas conquistas de desenvolvimento
dos filhos[3,25].
O Reach Up tem como princípios agir por meio dos pais, criando uma relação
positiva para apoiá-los a reforçar habilidades para promover o desenvolvimento
infantil; construir habilidades, promover a autoestima e a alegria das mães em ajudar
seus filhos a brincar e aprender; treinar o visitador para ouvir as mães, perguntar
sobre suas opiniões e sobre práticas com a criança, reconhecendo, encorajando e
elogiando essas práticas; usar um currículo de práticas adequadas para cada fase do
desenvolvimento; usar uma abordagem de demonstração e prática de atividades
para construir as habilidades parentais.
O programa implementado na Jamaica é aquele que acompanhou as crianças por
um período mais longo, até 20 anos depois da implementação. Nessa versão, o
programa teve uma duração de 2 anos (1986 e 1987), abrangia crianças com entre
9 meses e 2 anos de idade que tinham déficit de crescimento e, além do pacote de
promoção de parentalidade, o programa contava com uma suplementação nutricio-
nal. Avaliações desse programa encontraram efeitos positivos sobre habilidades
cognitivas, motoras, de linguagem e de comportamento no final do programa, e um
impacto positivo em habilidades motoras dois anos após o programa[26,27]. Além
disso, uma avaliação feita 20 anos depois do programa encontra que o programa
aumentou a renda dos participantes em 25%[19].
10 Para aqueles que têm interesse sobre o assunto, o capítulo 5 deste livro apresenta uma série de outros
programas voltados para a parentalidade.
32 Desigualdade e pobreza na primeira infância
Uma revisão da literatura compara os programas Reach Up implementados em
cinco países (Jamaica, Colômbia, Bangladesh – quatro cidades –, Índia – duas cida-
des – e China – dois períodos)[3]. Esse estudo indica que no geral os programas ti-
veram impactos positivos sobre o DI, mas até o momento há somente avaliações de
curto prazo sobre eles. Há uma grande diversidade nas magnitudes de impactos e
dos tipos de habilidade impactados, conforme o país em que ocorreu o programa,
e essas diferenças podem decorrer da forma como ocorreu a implementação dos
programas em cada contexto. Por exemplo, na Jamaica, o programa teve um impacto
três vezes maior sobre as habilidades cognitivas do que na Colômbia ou em Bangla-
desh, e na Colômbia só houve efeitos significantes sobre as habilidades cognitivas e
de compreensão de linguagem, mas não sobre habilidades motoras. As diferenças
entre a implementação do programa nos países incluem:
●
População-alvo: crianças desnutridas ou gravemente desnutridas na Jamaica e
Bangladesh, crianças de famílias de baixa renda na Colômbia, Índia e China.
●
Forma de entrega: em alguns locais, as sessões foram feitas em visitas domici-
liares (Colômbia, uma das cidades da Índia, duas das cidades de Bangladesh) e
em outros, em sessões em grupo ou em sessões em centros comunitários.
●
Agentes do programa: em cada local, a escolha das agentes foi feita conforme a
sustentabilidade e escalabilidade do programa no contexto local. Por exemplo,
na Jamaica, foram paraprofissionais de saúde, na Colômbia, líderes comunitá-
rias locais, e em Bangladesh, mulheres que residiam na comunidade.
Entre essas diferenças, a característica que parece ser mais relevante é a da po-
pulação-alvo. Nos locais onde as crianças atendidas tinham déficits de crescimento,
os efeitos foram maiores. Por exemplo, em uma das cidades da Índia, a comparação
entre os efeitos entre crianças com déficits e outras crianças de famílias de baixa
renda mostra que os efeitos sobre as primeiras foram o dobro em comparação às
últimas. Outra característica que parece ser relevante para os efeitos é a educação
das mães, porque mães mais educadas têm uma probabilidade maior de adaptar suas
práticas parentais àquelas do programa[3].
Além disso, há evidência de que o programa parece agir principalmente por meio
do aumento do investimento dos pais, em termos de tempo passado juntos, fazendo
atividades adequadas para o desenvolvimento. Há uma mudança sobre o quanto os
pais acreditam que o investimento nos filhos faz diferença em relação ao DI. Com
a participação no programa, os pais passam a achar que aqueles investimentos fazem
mais diferença e, com isso, melhoram o ambiente familiar, tornando-o mais propí-
cio ao DI[3].
Ciência da primeira infância 33
No Brasil, o currículo do Reach Up foi adaptado ao contexto brasileiro por uma
pesquisa no município de São Paulo (SP) em 2015, e essa adaptação foi escalada no
município de Boa Vista (RR) desde 2017, complementando o Programa Criança
Feliz. O estudo de São Paulo comparou crianças bebês com entre 9 e 17 meses de
idade nascidas em um hospital público cujos pais receberam com aqueles cujos pais
não receberam o programa. Nessa edição, o programa foi entregue por meio de
visitas domiciliares a cada duas semanas, de forma diferenciada para famílias aten-
didas ou não pela Estratégia Saúde da Família (ESF). As famílias cadastradas na ESF
receberam visitas de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da própria ESF, enquanto
as demais famílias receberam visitas de agentes de desenvolvimento infantil (ADI)
contratados para o estudo. Essa pesquisa encontra um efeito relevante do programa
no sentido de melhorar habilidades cognitivas e de linguagem das crianças atendi-
das pelos ADI[28]. Em Boa Vista, apesar de a implementação do programa indicar
que pode haver efeitos sobre o DI[29], ainda não há estudos de impacto publicados.
As evidências sobre o programa Reach Up, especialmente no Brasil, mostram que
programas que procuram aprimorar as habilidades parentais podem beneficiar as
crianças pequenas e contribuir com o seu desenvolvimento. Iniciativas como essa
são de relativo baixo custo e podem fazer uma grande diferença ao longo da vida
das crianças beneficiadas.
Considerações finais
As desigualdades sociais no Brasil são grandes e os desafios parecem ainda maiores
para as famílias com crianças pequenas. O período mais sensível e com maior retorno
ao investimento no capital humano das crianças é durante a primeira infância e,
apesar disso, as famílias com crianças pequenas são aquelas com a maior incidência
de pobreza e pobreza extrema no Brasil. Entre essas famílias, ainda há grupos que
passam por maiores privações, como as famílias cujas pessoas responsáveis têm baixa
escolaridade ou são negros ou indígenas, e as famílias das regiões Norte e Nordeste.
O Brasil tem baixos níveis de mobilidade de renda, que se refletem na perpetua-
ção das desigualdades ao longo do tempo. Atrasos de desenvolvimento infantil
também contribuem para a manutenção das desigualdades. Apesar dessas dificul-
dades, em alguns locais no Brasil condições como maiores níveis de educação estão
associadas a maior mobilidade de renda. Além disso, há programas e intervenções
que foram efetivos no sentido de reduzir atrasos de desenvolvimento. Com custo
relativamente baixo, versões do Reach Up foram implementadas em múltiplos con-
textos e países em desenvolvimento e tiveram sucesso em melhorar as habilidades
das crianças, mesmo sem intervir na renda das famílias. Uma combinação de pro-
gramas, além disso, pode potencializar esses efeitos.
34 Desigualdade e pobreza na primeira infância
Há algumas evidências de que programas de promoção da parentalidade com-
binados com transferências de renda têm impactos positivos sobre as práticas pa-
rentais e sobre o desenvolvimento infantil[30]. As transferências de renda possuem
um impacto sobre a família como um todo, aliviando as restrições orçamentárias,
de forma que a família pode investir para melhorar as condições de vida (como ter
acesso a saneamento, eletricidade ou alimentos), os adultos podem passar mais
tempo brincando e interagindo com as crianças, ou podem investir mais na saúde,
educação e nutrição da criança. Elas também atuam como uma proteção contra
oscilações da renda da família, porque representam um fluxo contínuo, e contra a
pobreza extrema[31].
As demissões e choques negativos de renda também podem ter efeitos negativos
sobre o ambiente familiar e, com isso, sobre o desenvolvimento dos filhos. Medidas
para aliviar a redução imediata de renda, como o seguro-desemprego e a multa, em
casos de demissões de empregos formais sem justa causa, podem temporariamente
reduzir alguns desses efeitos negativos, especialmente sobre a saúde dos pais e sobre
o investimento na educação dos filhos. No entanto, é necessário ter atenção especial
quando se trata de violência doméstica, que pode ter efeitos extremamente negativos
sobre as crianças pequenas. Nesse sentido, um conjunto de estratégias de prevenção
de violência contra crianças lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
chamado INSPIRE, pode contribuir para evitar esse tipo de ocorrência. São sete
estratégias, cujas iniciais em inglês formam a sigla INSPIRE: implementação e
cumprimento de leis, normas e valores, ambientes seguros, apoio a pais e cuidado-
res, reforço econômico e de renda, serviços de apoio e resposta, educação e habili-
dades de vida. As estratégias são interdependentes e, em conjunto, promovem
prevenção primária e atuam sobre fatores de risco e de proteção, relacionados a
quatro dimensões (social, comunitária, das relações interpessoais e individuais)[32].
Apesar dos grandes e múltiplos desafios de um país em desenvolvimento, a primeira
infância no Brasil pode ser melhor para cada criança, menos desigual entre elas e
pode criar uma sociedade com disparidades menores no futuro. É preciso interrom-
per o ciclo de transmissão de pobreza e desigualdades investindo hoje nas crianças
que mais precisam e garantindo condições para que as famílias consigam criar o
melhor ambiente para que seus filhos atinjam o seu pleno desenvolvimento.
CAPÍTULO 2
Plasticidade epigenética e
desenvolvimento infantil
Gisele Rodrigues Gouveia
Caroline Camilo
Helena Brentani
Programação fetal e desenvolvimento infantil
A teoria denominada Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença (DOHaD)[33]
foi descrita pelo pesquisador David Barker, que observou que bebês de gestantes que
sofreram restrições alimentares, por exemplo, poderiam apresentar crescimento
inadequado e baixo peso ao nascer, que estão associados à maior probabilidade de
desenvolver doenças crônicas como distúrbios metabólicos, obesidade, câncer e
transtornos psiquiátricos na vida adulta[34]. O desenvolvimento infantil se refere às
mudanças físicas, sociais, psicológicas e emocionais da criança que marcam cada
etapa da vida. A primeira infância, que se inicia durante a gestação e vai até os 6 anos
de idade, é uma etapa crucial no desenvolvimento humano, especialmente os primei-
ros mil dias de vida, que compreendem a gravidez e os 2 primeiros anos de idade.
Inserido no contexto da DOHaD surge o conceito de programação fetal. Existe
uma plasticidade biológica dos organismos que tenta ajustar o seu fenótipo, ou seja,
as características observadas do indivíduo, ao seu ambiente a curto e longo prazo[35]
para maximizar sua adaptabilidade e sobrevivência. Assim podemos entender que
36 Plasticidade epigenética e desenvolvimento infantil
os primeiros mil dias representam duas janelas de vulnerabilidade para o neurode-
senvolvimento: (1) A gestação, pois é quando ocorre todo o processo de geração,
divisão e diferenciação celular, fundamental para o desenvolvimento do feto, sendo
o cérebro muito vulnerável dada sua velocidade de crescimento e grande complexi-
dade estrutural e funcional a ser atingida; (2) O início da vida extraútero também
é um momento de vulnerabilidade, pois muitos sistemas orgânicos como a conec-
tividade intra e entre áreas cerebrais vão se organizar, dependendo de exposições
ambientais. Além disso, o momento da gestação em que ocorre a exposição ao fator
ambiental, bem como a sua duração, podem se associar com desfechos diferentes
do desenvolvimento infantil[36]. Um estudo que seguiu gestantes durante a Fome
Holandesa, por exemplo, demonstrou que os bebês das gestantes que passaram por
alta restrição calórica no meio ou final da gestação tiveram menor peso ao nascer
e, na idade adulta, apresentaram tolerância reduzida à glicose. Já aqueles cujas mães
passaram pela fome no início da gestação tinham peso normal ao nascer e na idade
adulta apresentavam um perfil lipídico mais aterogênico e um índice de massa
corporal (IMC) mais elevado[37]. Também é importante ressaltar que o sexo do bebê
interfere com os diferentes desfechos do desenvolvimento, com possíveis respostas
diferentes ao expossoma gestacional[38]. Normalmente não pensamos na placenta
com sexo específico, mas ela vai ter o mesmo sexo que o feto, respondendo diferen-
temente ao estresse de acordo com seu sexo.
Além da fome e desnutrição, outras adversidades durante a gestação já foram
associadas a piores desfechos de saúde, incluindo exposição a glicocorticoides
(hormônios esteroides) e agentes químicos, baixa concentração de oxigênio, estresse,
inflamação, infecção, baixo status social, ansiedade e depressão (Figura 2.1). Foi
mostrado, por exemplo, que a exposição pré-natal à ansiedade, depressão ou estresse
materno influencia negativamente o desenvolvimento neurocomportamental da
prole[39]. Variações do ambiente externo podem levar a alterações metabólicas, do
eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e sistema inflamatório do corpo da mãe,
que são percebidas pelo feto e podem gerar alterações em seu funcionamento e
crescimento. Assim, as respostas do organismo fetal tentam “programar” o desen-
volvimento do feto para prepará-lo ao ambiente após o nascimento, ou seja, “pensando
que as adversidades continuem a acontecer”. Uma teoria importante nesse contexto
considera o “mismatch” do ambiente intrauterino com o extraútero, fator que pode
influenciar no aparecimento de doenças. Por exemplo, a resposta do feto à mãe que
passa fome é mudar seu crescimento e regular seu organismo para estar preparado
para um ambiente com pouca comida. Quando durante a vida ele não encontra
pouca comida, mas sim o que para ele é um excesso, seu corpo estaria menos pre-
parado para isso e ele pode acabar doente, ficando obeso.
Ciência da primeira infância 37
Figura 2.1 A exposição a diferentes adversidades durante a gestação e primeira infância pode aumentar o risco de
diferentes desfechos nos descendentes. Não apenas o tipo de adversidade, mas o momento em que ela ocorre e a
duração também estão relacionados com os resultados de saúde ao nascimento, infância e idade adulta.
Fonte: elaboração própria.
38 Plasticidade epigenética e desenvolvimento infantil
Epigenética
Após diversos estudos sobre a teoria DOHaD, os pesquisadores começaram a buscar
os mecanismos moleculares envolvidos nessa programação da saúde ao longo do
desenvolvimento infantil. Durante muito tempo acreditou-se que o desenvolvimento
era determinado apenas pela herança genética dos pais. Mas há alguns anos tem
sido discutido o quanto o ambiente ao qual a criança está exposta durante a gestação
e após o nascimento pode fornecer experiências que modificam quimicamente o
controle da expressão dos genes do seu genoma, definindo quando, o quanto e onde
eles serão expressos. O termo “epigenética” foi descrito pela primeira vez na década
de 1940 pelo pesquisador Conrad Waddington. Ele observou que os fenótipos po-
deriam ser estabelecidos permanentemente no pool genético da população, por ação
de fatores ambientais, ou seja, a variabilidade genética e o ambiente podiam intera-
gir e definir o destino de uma célula.
A epigenética é o campo da ciência que investiga os processos moleculares que
regulam o nível de atividade (controle da expressão) dos genes sem alterar a estru-
tura do DNA (sigla para ácido desoxirribonucleico)[40]. Dessa forma, enquanto a
genética está associada à sequência do DNA, a epigenética nos permite compreen-
der, por exemplo, como as células de diferentes tecidos, que possuem o mesmo DNA,
expressam genes e proteínas diferentes, resultando em morfologias e funções dife-
rentes (Figura 2.2).
Figura 2.2 Após a fecundação (junção do óvulo com o espermatozoide) ocorre a formação do zigoto. As células
formadas possuem sempre o mesmo DNA e, por meio de mecanismos epigenéticos, diferentes genes são expressos,
formando células com morfologias e funções diferentes.
Fonte: elaboração própria.
Os processos epigenéticos não são restritos a uma fase específica da vida, ou seja,
são modificações que ocorrem desde a formação dos gametas e continuam a acontecer
Ciência da primeira infância 39
durante a vida. Toda vez que uma célula do nosso corpo precisa tomar a decisão de
se ela vai se dividir dando origem a células iguais à original ou se ela vai se diferen-
ciar, ou seja, se tornar mais específica para uma atividade, existem mecanismos
epigenéticos associados. Assim, durante o desenvolvimento, o DNA acumula
marcas químicas que deixam uma assinatura epigenética única, conhecida como
epigenoma. Nem todas as assinaturas epigenéticas são permanentes. As experiências
vividas podem reorganizar essas marcas químicas, o que explica, por exemplo, por
que gêmeos idênticos podem mostrar comportamentos, habilidades e condições de
saúde diferentes[40].
Ainda que mais recentemente a ação de microRNAs também possa ser entendida
como um mecanismo epigenético, vamos nos concentrar nas modificações das
histonas e metilação do DNA. As modificações epigenéticas ocorrem principalmente
na estrutura conhecida como “cromatina”, que envolve o DNA, proteínas conhecidas
como “histonas” e outras proteínas, e está localizada no núcleo de todas as células.
O genoma humano contém mais de 3 milhões de pares de bases de DNA, por isso,
para estar no núcleo da célula, ele precisa estar compactado. Formam-se octâmeros
de histonas (conjuntos de oito histonas), e o DNA fica enrolado nelas, ou nucleos-
somos, por isso muitas vezes falamos que o DNA no núcleo parece um “colar de
pérolas”. Os nucleossomos também sofrem modificações para que o material gené-
tico fique compactado no núcleo. Assim, modificações químicas nas histonas são
responsáveis pela abertura e fechamento da cromatina. Na maioria das vezes, quando
a cromatina está fechada, ou compactada, ela é inativa, ou seja, não permite a ex-
pressão dos genes. Já em seu estado aberto, a cromatina está ativa e permite acesso
de toda uma maquinaria de regulação das células com o DNA, promovendo a ex-
pressão dos genes. Além das modificações das proteínas das histonas, a estrutura
da cromatina também é regulada por outro mecanismo, conhecido como “metilação
do DNA”. A metilação do DNA é a modificação epigenética mais conhecida e mais
bem estudada até o momento. Nela, ocorre uma reação química com a adição de
um grupo metil (CH3) em uma das bases que formam o DNA (citosina)[41] (Figura 2.3).
Assim como todo o epigenoma, a metilação do DNA é um processo dinâmico por
natureza, e seus padrões podem mudar em resposta a influências ambientais e fa-
tores de estilo de vida, tanto por experiências negativas, como exposição a toxinas,
falta de nutrientes ou circunstâncias estressoras, como por experiências positivas,
como relacionamentos de apoio e oportunidades de aprendizagem.
Voltando ao exemplo citado acima da criança cuja mãe passou fome na gestação,
alterações epigenéticas associadas a maquinaria de controle de expressão gênica
preparam as células do feto para funcionar no modo “pouca comida”; assim, genes
expressos quando há muita comida seriam programados para serem menos ativos.
40 Plasticidade epigenética e desenvolvimento infantil
Figura 2.3 Esquema da compactação do DNA até a formação dos cromossomos. O DNA se enrola em um conjunto
de proteínas histonas, formando a cromatina, que em seu estado aberto fica acessível permitindo o acesso ao DNA e a
expressão dos genes, e em seu estado fechado fica inativa, tornando o DNA inacessível e não permitindo a expressão
do gene. Em seu maior estado de empacotamento, a cromatina se compacta formando os cromossomos. As caudas na
cor laranja representam as caudas das histonas, que sofrem modificações químicas. Também em laranja podemos ver a
adição de um grupo metil (CH3) na base C da fita de DNA.
Fonte: traduzida e adaptada de Haarhaus et al. (2020).[42]
Períodos de programação epigenética ao longo do desenvolvimento
O epigenoma garante a plasticidade do nosso genoma ao longo da vida, mas também
é suscetível à desregulação ao longo da vida. No entanto, durante a embriogênese,
processo por meio do qual o embrião é formado e se desenvolve, ocorre uma remo-
delação epigenética muito importante, tornando a gestação um momento de grande
vulnerabilidade[43].
A reprogramação do epigenoma durante essa fase inicial do desenvolvimento
pode ser dividida em três etapas principais: a primeira começa com os espermato-
zoides do pai e óvulos da mãe por meio da gametogênese, processo de formação das
células reprodutivas (F0); a segunda ocorre após a fecundação (F1), em que padrões
de metilação do DNA provenientes do epigenoma dos pais são apagados, reprogra-
mados, para dar origem aos diferentes tecidos e órgãos do concepto. É importante
Ciência da primeira infância 41
notarmos que o processo de metilação das células que vão dar origem a células re-
produtivas no embrião (F2) é diferente, pois sua reprogramação começa intraútero
mas vai terminar após o nascimento, em idades diferentes para meninos e meninas
(Figura 2.4)[43].
Figura 2.4 Esquema ilustrando as três fases de programação epigenética no início da vida: em F0, ocorre a formação
das células reprodutivas do pai (espermatozoides) e da mãe (ovócitos); F1 é a segunda etapa, que ocorre após a
fecundação, em que padrões de metilação do DNA herdados dos pais são apagados e reprogramados; F2 é a fase em que
ocorre a manutenção da metilação e desenvolvimento de células reprodutivas no embrião.
Fonte: traduzida e adaptada de Perera e Herbstman (2011).[43]
Após a fecundação e antes da implantação (F1), momento que o embrião chega
até o útero e se fixa ao endométrio para dar início à gestação, os genomas de origem
paterna e materna são submetidos a um processo de reprogramação: após a forma-
ção do zigoto, célula formada após a união do espermatozoide com o óvulo, os
cromossomos de ambos os pais são desmetilados por um mecanismo que apaga a
maior parte das marcas de metilação, com exceção de um grupo de genes chamados
“genes imprintados”, que retêm o perfil de metilação da mãe ou do pai. A maioria
dos genes imprintados conhecidos são expressos na placenta e, embora representem
apenas 0,1% a 0,5% do genoma, eles têm um papel essencial no desenvolvimento
inicial. Como a placenta é a principal fonte de nutrientes para o crescimento do feto,
ao regular o crescimento da placenta e a transferência de nutrientes, os genes im-
printados podem influenciar a alocação de recursos materno-fetais e a resposta
adaptativa da placenta aos desafios ambientais que alteram a disponibilidade de
nutrientes no útero. Assim, a desregulação da expressão desses genes pode causar,
42 Plasticidade epigenética e desenvolvimento infantil
por exemplo, anormalidades de desenvolvimento da placenta ao atuar como senso-
res de nutrientes na regulação epigenética. Alterações no padrão de metilação
desses genes podem gerar o que chamamos de doenças de imprinting, normalmente
associadas com distúrbios de crescimento do feto e na programação do desenvolvi-
mento infantil[44,45].
No próximo estágio, chamado de blastocisto (quinto dia após a fecundação) e
antes da implantação na parede uterina (cerca de sete dias após a fecundação), os
padrões de metilação são iniciados[46,47]. Como dito anteriormente, toda vez que uma
célula decide se ela cresce ou se divide, existem mecanismos epigenéticos associados.
Assim, após a implantação, mecanismos epigenéticos são fundamentais para dife-
renciação dos tecidos e formação dos órgãos (organogênese). A manutenção das
marcas epigenéticas adquiridas é crucial para a manutenção da identidade celular,
desenvolvimento e crescimento do feto[47]. Erros no processo de reprogramação e/
ou manutenção das marcas epigenéticas podem ocorrer por exposições ambientais,
tendo diferentes impactos dependendo da fase do desenvolvimento fetal em que
ocorrem[48]. Além disso, mecanismos epigenéticos são importantes para modular os
mecanismos hormonais maternos, reduzindo comportamentos sexuais, aumentando
a ingestão de alimentos e começando a preparar o organismo materno para o parto,
a amamentação e os comportamentos de maternagem, que é o vínculo necessário
entre mãe e bebê para atender às necessidades físicas e psíquicas para um desenvol-
vimento emocional saudável.
Porém, a história da programação epigenética do desenvolvimento não termina
no nascimento, pois essa programação ainda pode ocorrer no período pós-natal por
eventos como alimentação, cuidados maternos e experiências nos primeiros anos
de vida, especialmente, durante a primeira infância. Muitas das diferenças epigené-
ticas que surgem durante o desenvolvimento podem contribuir para respostas ao
estresse ao longo da vida. Influências ambientais durante o início da vida pós-natal
podem se associar, por exemplo, a alterações na metilação do DNA nas regiões
promotoras dos receptores de glicocorticoides, um dos principais hormônios do
estresse[48]. Estudos em animais mostraram que filhotes cuidados por ratas que não
são suas mães biológicas (garantindo que esse não é um efeito exclusivamente ge-
nético), mas que apresentam comportamentos de cuidados maternos, como lamber,
tocar, amamentar e construir o ninho adequado, apresentam maior plasticidade nas
respostas fisiológicas a novos estressores, ou seja, menor vulnerabilidade ao estresse
ao longo da vida. O cuidado materno é importante fator de modulação epigenética
e tem sido considerado um importante determinante da resiliência ou vulnerabilidade
dos bebês e crianças a eventos estressores[49].
Ciência da primeira infância 43
Um estudo que avaliou ratos como modelo biológico de maus-tratos na infância
mostrou que, após o nascimento, filhotes recém-nascidos expostos a cuidadores
estressados exibiram comportamentos abusivos e várias diferenças de metilação em
genes relacionados ao estresse[48]. Estudos em humanos também relataram que o
abuso infantil ou a negligência na infância estão associados com alterações epige-
néticas, em genes importantes para o desenvolvimento e maturação da conectividade
cerebral, e efeitos potencialmente graves e deletérios a longo prazo no desenvolvimento
cognitivo, socioemocional e comportamental da criança[50]. Estima-se que 2 em cada
10 crianças sofram alguma forma de abuso durante a infância, incluindo maus-tratos,
abuso, violência, negligência e separação ou perda de um dos pais, por exemplo[51].
No Brasil, dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024) mostram um
aumento da violência na primeira infância entre os anos de 2022 e 2023, incluindo
maus-tratos (aumento de 25,1%), estupro (11,1%), abandono (34%) e agressões
(9,4%)[52].
Alterações do eixo HPA, sistema inflamatório e sistema ocitonérgico
fazem a mediação da exposição ao estresse e mecanismos celulares
epigenéticos, podendo alterar trajetórias do neurodesenvolvimento
Durante a gravidez, primeira infância e adolescência ocorrem o desenvolvimento e
a maturação do sistema nervoso central. Assim, por um período de tempo longo, a
plasticidade cerebral pode ser influenciada por exposições ambientais positivas e
negativas. A exposição a fatores adversos está associada com o maior risco de de-
senvolver transtornos mentais em etapas posteriores da vida[53]. O estresse materno,
por exemplo, é uma importante exposição ambiental, já que estudos demonstram
que cerca de 30% das mulheres grávidas relatam estresse social, emocional e de saúde
mental na sua vida quotidiana, incluindo tensão no trabalho e sintomas depressivos
ou de ansiedade[54].
O estresse pode causar desde alterações benéficas ou inofensivas até consequên-
cias prejudiciais, dependendo de muitos fatores, como duração e intensidade do
estresse, tipo de estresse e diferenças genéticas individuais. O cortisol é um hormô-
nio muito importante para a regulação metabólica dos indivíduos, tendo também
um papel fisiológico na gestação. Assim, existe naturalmente um aumento de cor-
tisol no fim da gestação, que é muito importante para, por exemplo, preparar o
pulmão do bebê para respirar quando ele nasce e não tem mais um cordão umbili-
cal. Diante de uma situação de estresse, o corpo libera mais cortisol do que o normal
para promover uma reorganização metabólica, física e psíquica do indivíduo, ga-
rantindo que ele possa ter uma resposta à exposição ambiental para, por exemplo,
44 Plasticidade epigenética e desenvolvimento infantil
se proteger de situações de perigo. No entanto, uma desregulação da liberação de
cortisol pode fazer com que após o estresse o corpo não consiga voltar ao seu estado
basal, e consequentemente pode sofrer alterações.
O aumento desse hormônio pode levar ao desenvolvimento de várias condições
adversas, como maior risco de parto prematuro, aumento do risco de desenvolvimento
de transtornos mentais como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH) ou ansiedade desde a infância até a adolescência, além de reduções peque-
nas, mas significativas, nas pontuações do quociente de inteligência (QI), desenvol-
vimento menos avançado da linguagem aos 5 anos de idade, bem como maior
probabilidade de traços autistas em crianças em idade escolar[48,54].
Transtornos psiquiátricos maternos, além de contribuírem para uma suscetibi-
lidade genética, também podem afetar a saúde mental dos filhos, por vias de pro-
gramação comportamental e/ou hormonal. A ansiedade e depressão maternas, por
exemplo, já foram associadas a anormalidades comportamentais em crianças de 6
a 7 anos e sintomas depressivos em adolescentes de 14 e 15 anos[48]. Um estudo
observou uma associação entre traumas maternos na infância, ansiedade e depres-
são com os níveis de cortisol da mãe durante a gestação. A ansiedade materna e os
níveis de cortisol durante a gestação também estavam relacionados com o cortisol
infantil e a metilação do DNA de genes de resposta ao estresse nos filhos aos 12
meses de idade[55].
Durante a gravidez, a resposta do feto ao estresse é imatura e depende fortemente
de informações do organismo materno e da placenta. Apenas no final da gestação
o feto torna-se capaz de produzir hormônios em resposta ao estresse[56]. Um com-
ponente importante da resposta ao estresse é o eixo HPA, um mecanismo neuroen-
dócrino (constituído por uma porção do sistema nervoso e uma porção do sistema
endócrino) que regula diversos processos fisiológicos, como metabolismo, resposta
imune e sistema nervoso autônomo. O eixo HPA começa a se desenvolver já na vida
fetal. Porém, quando ocorre a exposição precoce do feto ao excesso de hormônios
de resposta ao estresse, podem ocorrer alterações no desenvolvimento adequado do
eixo HPA, o que pode ser prejudicial para o feto mais tarde na vida, pois leva a al-
terações fisiológicas anormais, aumentando assim o risco de doenças[56].
A placenta possui um mecanismo de barreira para controlar a passagem desse
aumento de cortisol da mãe para o bebê, protegendo o feto de uma superexposição
durante o desenvolvimento inicial e permitindo uma regulação rigorosa da transfe-
rência de cortisol materno-fetal[57]. Mas, diante de situações estressoras como diabe-
tes gestacional, pré-eclâmpsia e HIV, essa barreira pode ficar comprometida, o que
pode causar, por exemplo, prejuízos ao desenvolvimento do cérebro dos bebês, com
risco aumentado para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos e dificuldades
Ciência da primeira infância 45
cognitivas[58–60]. O estresse materno durante a gravidez também pode alterar perma-
nentemente a sensibilidade e a resposta ao estresse ao longo da vida, por meio de
efeitos na metilação do DNA de genes relacionados à plasticidade cerebral e regula-
ção endócrina[48].
Diversos estudos demonstraram que gestantes submetidas ao estresse crônico
apresentaram elevação de marcadores inflamatórios sanguíneos, que, em conjunto
com a regulação do eixo HPA, contribuem para aumento da vulnerabilidade do
sistema nervoso central do feto em desenvolvimento. Seja intraútero ou nos primei-
ros anos de vida, a desregulação do eixo HPA ou de citocinas inflamatórias que
ocorrem em função do estresse podem exercer efeitos tóxicos no desenvolvimento
da conectividade em diferentes áreas cerebrais. O hipocampo, que desempenha um
papel crítico no condicionamento do medo, possui uma alta densidade de recepto-
res de glicocorticoides e é, portanto, particularmente vulnerável aos efeitos preju-
diciais do estresse. Já o córtex pré-frontal, que regula o comportamento direcionado
a objetivos e está envolvido na inibição de impulsos e na regulação emocional,
apresenta-se reduzido em crianças que foram expostas a estresse ou maus-tratos.
Alterações também foram observadas na amígdala, região do cérebro que desem-
penha um papel crítico no condicionamento do medo, processamento emocional e
na memória para eventos emocionais. É importante considerar que o desenvolvimento
e a maturação das conexões entre e intra-áreas cerebrais também é muito dinâmico.
Mais uma vez o tipo e quando ocorre a exposição a estressores vai afetar de forma
diferente áreas ou circuitos cerebrais mais ou menos vulneráveis, de acordo com seu
estágio de desenvolvimento[51].
Outro fator importante no desenvolvimento cerebral é o hormônio ocitocina,
envolvido na regulação e no estabelecimento do importante vínculo entre mãe e
bebê citado anteriormente, além de comportamentos sociais positivos como confiança
e empatia. Estímulos físicos, táteis e olfativos, essenciais no vínculo materno-infan-
til, atuam na programação epigenética do sistema ocitonérgico, e seus efeitos no
cérebro[50]. Assim, a programação do sistema ocitonérgico no início da vida estará
relacionado com a variabilidade das nossas respostas sociais.
Relógios epigenéticos
A metilação do DNA também tem sido utilizada como uma importante ferramenta
para determinar a “idade biológica” (ou “idade epigenética”) dos indivíduos. Dife-
rentemente da idade cronológica, medida desde o nascimento, a idade epigenética
reflete o impacto de fatores ambientais no processo de envelhecimento biológico. O
“relógio epigenético”, que permite estimar essa idade epigenética com base nos níveis
de metilação do DNA, fornece informações sobre como influências ambientais e
46 Plasticidade epigenética e desenvolvimento infantil
fatores de estilo de vida podem influenciar no envelhecimento epigenético. À dife-
rença entre a idade cronológica e a idade epigenética damos o nome de “aceleração
de idade epigenética”, capaz de predizer com mais precisão resultados prospectivos
de saúde, fatores de risco de envelhecimento, doenças relacionadas à idade na vida
adulta e morbidade/mortalidade[61].
Relógios epigenéticos também foram desenvolvidos para estimar com precisão
a idade gestacional, medida usada como um indicador fundamental do desenvolvi-
mento neonatal, e a aceleração da idade gestacional, buscando avaliar o desenvol-
vimento fisiológico do feto e todo o ambiente perinatal, desde a gestação até o período
pós-parto. As características pré-natais e do nascimento podem afetar a aceleração
da idade gestacional dos recém-nascidos[62]. Características maternas como tabagismo
na gravidez, peso, índice de massa corporal (IMC) e nível de colesterol podem estar
associadas com alterações na aceleração da idade epigenética do feto ao nascimento,
podendo ter efeitos até a adolescência, por exemplo na maturação sexual[62–68]. É
importante notar que enquanto alguns estudos relatam a aceleração da idade epi-
genética, outros relatam uma desaceleração desta, considerando diferentes exposi-
tores, assim como diferenças entre sexos. Recentemente, usando os níveis de
metilação de diferentes genes de forma agregada, foram criados índices de exposição
materna à inflamação e cortisol durante a gestação. Esses índices foram associados
à aceleração da idade epigenética do feto, com efeitos diferentes entre os sexos, ou
seja, a aceleração da idade metilômica ao nascimento ou sua desaceleração podem
indicar respostas diferentes entre os sexos, maximizando ou não sua adaptabilidade
frente à exposição a estressores[61].
A exposição a adversidades na primeira infância também foi associada a altera-
ções da aceleração da idade epigenética. Crianças expostas à violência, por exemplo,
apresentaram aceleração de idade epigenética, que por sua vez estava associada com
o desenvolvimento precoce da puberdade e maiores sintomas depressivos[69]. Maior
aceleração da idade epigenética também foi observada em crianças expostas ao
bullying, abuso e negligência emocional, abuso físico, abuso sexual e problemas re-
lacionados aos pais[70]. Outro estudo observou não só o aumento da aceleração da
idade epigenética em crianças expostas a abuso físico, abuso sexual e negligência
como também uma associação entre esse aumento da aceleração da idade com
sintomas graves de depressão e ansiedade[71].
Implicações práticas e desafios científicos
Como discutido ao longo deste capítulo, a literatura atual nos mostra a importância
da união entre a genética e o ambiente no desenvolvimento infantil. As suscetibili-
dades genéticas têm um papel importante mesmo nas respostas epigenéticas. As
Ciência da primeira infância 47
alterações epigenéticas fornecem uma “memória” das respostas adaptativas do de-
senvolvimento, tanto na vida intrauterina como nos primeiros anos de vida, e são
fundamentais para as diferentes trajetórias do desenvolvimento infantil.
Essas pesquisas sobre estudos epigenéticos são essenciais na busca de marcadores
biológicos de resultados de saúde a longo prazo, como o risco de piores resultados de
neurodesenvolvimento e desenvolvimento de doenças crônicas. Além disso, como
essas alterações genéticas não são modificações definitivas, esses conhecimentos são
essenciais para estudos de intervenções precoces, que podem ser importantes para
reverter os riscos de piores resultados de saúde e melhorar o desenvolvimento infantil[72].
Por fim, na prática clínica, as alterações epigenéticas, especialmente a metilação
do DNA, têm sido sugeridas como potenciais marcadores pré-sintomáticos precoces
de risco do neurodesenvolvimento. Em distúrbios neurocomportamentais que se
manifestam na primeira infância, como o transtorno do espectro autista (TEA) e o
transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), intervenções precoces
são importantes para melhorar a saúde mental a longo prazo. O estudo sobre a
metilação do DNA pode oferecer novas possibilidades para rastrear o estado da
doença e a saúde ao longo do tempo, o que pode ser útil para a detecção precoce de
riscos, estratificação dos pacientes e resposta ao tratamento[73,74]. No entanto, alguns
pontos como tamanho da amostra, técnicas específicas, definição do que é e como
medir estresse, inclusão de diferentes ancestralidades e modelos matemáticos para
avaliar a interação da genética com o ambiente ainda são desafios científicos impor-
tantes. Espera-se que os avanços de conhecimento na pesquisa epigenética revolu-
cionem cada vez mais a prática clínica, proporcionando, além de novas ferramentas
de diagnóstico e tratamento, a prevenção por meio da adoção de intervenções
precoces e da implementação de programas de saúde pública.
CAPÍTULO 3
Impactos da alimentação e nutrição
no desenvolvimento infantil
Juliana Araujo Teixeira
Sonia Isoyama Venancio
Este capítulo aborda a alimentação e nutrição como aspectos essenciais para a saúde
e desenvolvimento infantil, destacando a alimentação saudável como direito humano
e como um dos componentes dos cuidados integrais propostos pela OMS, UNICEF
e Grupo Banco Mundial (Nurturing Care Framework). O conceito dos primeiros
1.000 dias de vida é explorado, com ênfase na importância da nutrição desde o
período pré-gestacional até os primeiros anos da infância.
A seção sobre nutrição materna aborda os períodos pré-gestacional e gestacional,
ressaltando a importância de uma alimentação saudável para mães e pais antes e
durante a gravidez. Em relação à nutrição infantil, o capítulo discute o papel da
amamentação e da introdução de alimentos complementares saudáveis na garantia
da nutrição adequada na primeira infância.
O texto também examina as desigualdades sociais e os desafios para a promoção
do aleitamento materno e da alimentação complementar saudável no Brasil. Inse-
gurança alimentar, desvios nutricionais em gestantes e crianças, bem como impac-
tos no desenvolvimento infantil, são analisados à luz de dados científicos. A
influência da indústria de alimentos e de práticas de marketing também é abordada.
50 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
Além disso, o capítulo explora estratégias de promoção, proteção e apoio ao
aleitamento materno e à alimentação complementar saudável no Brasil. Isso inclui
ações como a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, os bancos de leite humano, a
Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, a Norma Brasileira de Comercialização de
Alimentos para Lactentes (NBCAL), as Salas de Apoio à Amamentação e as legis-
lações trabalhistas favoráveis à maternidade.
Em resumo, o capítulo oferece uma visão abrangente dos aspectos essenciais da
nutrição infantil, bem como os desafios e estratégias para promover uma alimenta-
ção saudável e o desenvolvimento infantil no Brasil.
Introdução
O desenvolvimento na primeira infância (DPI), que abrange o período desde o
nascimento até os 6 anos de idade, é fundamental para estabelecer as bases de uma
vida saudável. As crianças que atingem seu pleno potencial de desenvolvimento
nesse estágio apresentam melhores indicadores de saúde física e mental, além de
um desempenho escolar superior. Na vida adulta, são mais produtivas no trabalho
e experienciam um maior bem-estar social[1]. Durante esses primeiros anos de vida,
o crescimento físico e cerebral ocorre de maneira intensa e acelerada. Cerca de 90%
do crescimento cerebral acontece até os 5 anos de idade, com a formação de bilhões
de novas conexões neurais. Além disso, é nesse período que as crianças começam a
se relacionar com as pessoas e aprendem rapidamente explorando o mundo ao seu
redor. Porém, infelizmente, algumas crianças não têm a oportunidade de se desen-
volver plenamente. Nos países de baixa e média renda, 43% das crianças com menos
de 5 anos estão em risco de ter seu desenvolvimento em atraso[75].
A Organização das Nações Unidas (ONU) propôs, em 2015, os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esse documento representa uma agenda
global ambiciosa que visa promover, até 2030, o equilíbrio entre os três pilares do
desenvolvimento sustentável: social, econômico e ambiental. Considerando a im-
portância do desenvolvimento infantil, um dos 17 ODS é “assegurar a educação
inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todos”. Uma das metas desse objetivo é “garantir, até 2030, que
todos os meninos e meninas tenham acesso a um desenvolvimento de qualidade na
primeira infância”.
Para garantir que a meta dos ODS relacionada ao desenvolvimento infantil seja
atingida, é essencial compreender os fatores que influenciam esse processo. O Nur-
turing Care Framework, ou Modelo de Cuidados Integrais, lançado em 2018 pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF) e Banco Mundial, oferece um guia abrangente para apoiar o desenvolvi-
mento infantil desde o nascimento até os 5 anos de idade(3). Esse modelo promove
Ciência da primeira infância 51
a criação de um ambiente familiar que atenda às necessidades nutricionais e de saúde
das crianças, seja receptivo e emocionalmente acolhedor, protegido de violências e
adversidades, que forneça estímulos adequados ao desenvolvimento, além de opor-
tunidades para brincar e explorar. O objetivo é ajudar as crianças a sobreviverem e
prosperarem, transformando, assim, a saúde e o potencial humanos. Os cuidados
integrais consistem em cinco componentes essenciais para o desenvolvimento in-
fantil: boa saúde, nutrição adequada, segurança e proteção, oportunidades de
aprendizado desde o início da vida e cuidados responsivos.
A nutrição adequada é um dos pilares fundamentais do Modelo de Cuidados
Integrais. A nutrição dos pais antes da gravidez e da mãe durante a gravidez afetam
a saúde e bem-estar de ambos, bem como a nutrição e o crescimento da criança em
desenvolvimento. Quando as mulheres grávidas apresentam deficiência de micro-
nutrientes, elas precisam de suplementos, incluindo ferro. Crianças pequenas
prosperam com amamentação exclusiva – desde imediatamente após o nascimento
até os 6 meses de idade – juntamente com o contato pele a pele. A partir dos 6
meses de idade, as crianças pequenas necessitam de alimentos complementares que
sejam diversos e em quantidade suficiente, e que contenham os micronutrientes
necessários para o rápido crescimento do corpo e do cérebro, juntamente com o
leite materno, que deve ser continuado pelo menos até os 2 anos. A alimentação de
uma criança pequena deve ser oferecida de uma maneira que acomode a interação
social e emocional envolvida nesse processo, o que chamamos de alimentação res-
ponsiva, que também é um dos pilares fundamentais do Modelo de Cuidados Inte-
grais dentro dos cuidados responsivos. Além disso, a segurança alimentar das
famílias é essencial para uma nutrição infantil adequada[76].
Alimentação e nutrição dos pais
Quando se pensa na concepção de um bebê, vários fatores de risco individuais e am-
bientais podem contribuir para resultados adversos, tanto na mãe como na criança.
Esses fatores de risco incluem saúde mental dos pais comprometida, uso de substâncias
(como álcool e tabaco), ausência de imunização, toxinas ambientais, condições genéti-
cas desfavoráveis, infecções (como HIV e infecções sexualmente transmissíveis), infer-
tilidade, pouco espaçamento entre filhos, violência (tanto dentro quanto fora de casa)
e nutrição (como deficiências de micronutrientes, desnutrição e excesso de peso)[77].
O estado nutricional das mulheres no período periconcepcional, ou seja, logo
antes da concepção e/ou durante o início da gravidez (< 12 semanas de gestação),
quando as mulheres geralmente ainda não sabem que estão grávidas, pode influen-
ciar processos críticos de desenvolvimento[78]. Durante esse período ocorrem mu-
danças significativas na forma do embrião, modificações epigenéticas e mudanças
no metabolismo (ajuste dos reguladores para o crescimento e fornecimento de
52 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
energia). A qualidade da dieta materna, a desnutrição e outros aspectos fisiológicos
como hiperglicemia ou hiperlipidemia podem afetar o potencial do embrião e au-
mentar o risco de doenças crônicas na prole, como doenças cardiometabólicas,
imunológicas e neurológicas[79]. Deficiências nutricionais antes da concepção e
durante a gravidez podem resultar em distúrbios do tubo neural, baixo peso e
comprimento ao nascer e atrasos no desenvolvimento ao longo da vida[1,80].
O aumento global da obesidade materna está ligado à redução da fertilidade
feminina e a um maior risco de obesidade na prole. Dados do ENANI 2019 regis-
traram uma prevalência de obesidade de 26,3% entre as mães de crianças de 0 a 5
anos de idade, sendo que a região Norte apresentou a menor prevalência (19,0%),
estatisticamente diferente da região Nordeste (25,0%). Altos índices de massa cor-
poral (IMC) maternos elevam as concentrações de glicose e insulina, promovendo
crescimento fetal e adiposidade, resultando em maior peso ao nascer e na infância.
Isso também pode aumentar o risco de condições alérgicas e atópicas na prole[79]. A
má nutrição no útero e o baixo peso ao nascer, prevalentes em países de baixa e
média renda, estão associados a riscos aumentados de doenças crônicas na vida
adulta, especialmente se seguidos por ganho de peso acelerado na infância. Expo-
sições à fome, como na Fome Holandesa de 1944-45 e na Grande Fome Chinesa de
1959-61, também resultaram em consequências cardiometabólicas e neurológicas
adversas nas crianças, com maior risco de hipertensão na idade adulta quando a
exposição à fome ocorreu no primeiro trimestre da gestação[79].
Embora a conexão entre a dieta da mãe e a saúde a longo prazo de sua prole
tenha sido estudada detalhadamente, o entendimento de como a dieta do pai afeta
as crianças permanece limitado. No entanto, estão surgindo conexões entre o estilo
de vida paterno, a qualidade do esperma e a saúde da prole. Tanto em humanos
quanto em roedores, pais com excesso de peso demonstraram ter espermatozoides
com menor motilidade e mais anormalidades. Uma dieta ocidental, rica em açúcar
e gordura, também mostrou reduzir a motilidade do esperma em homens, e dietas
densas em energia reduzem a motilidade, a morfologia e a integridade do DNA
espermático. A redução da integridade do DNA espermático, presente na obesidade
e no diabetes, está ligada a taxas de gravidez reduzidas em humanos[79].
A ideia de se preparar nutricionalmente para a gravidez é crucial, incluindo um
estado nutricional adequado, atividade física e alimentação saudável para ambos os
pais, reduzindo o risco de doenças crônicas na criança[79].
As respostas endócrinas e metabólicas maternas que ocorrem no início da gra-
videz, por sua vez, influenciam o fornecimento e a utilização dos nutrientes dispo-
níveis para o feto em rápido crescimento mais tarde na gravidez[78]. Todos os
nutrientes desempenham um papel importante no desenvolvimento e funcionamento
Ciência da primeira infância 53
do cérebro, mas alguns têm um impacto particularmente significativo durante os
estágios iniciais do desenvolvimento cerebral. Isso inclui macronutrientes como
proteínas e ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, além de micronutrientes
como ferro, zinco, iodo e vitamina B12.
A importância da ingestão de proteínas durante os estágios iniciais da vida foi
destacada em um estudo conduzido por Pollitt et al. (1995)[81], que descobriu que
crianças cujas mães consumiram uma bebida rica em proteínas e alto teor energético
durante a gravidez e continuaram a consumi-la até os 2 anos de idade apresentaram
melhorias em diversas habilidades intelectuais, incluindo processamento de infor-
mações, aptidões numéricas e vocabulário, em comparação com crianças expostas
a uma bebida sem proteínas[81].
Os efeitos da suplementação de ácidos graxos de cadeia longa no desenvolvimento
infantil têm sido extensivamente estudados. Embora algumas metanálises não tenham
encontrado benefícios significativos em termos de cognição e atenção, estudos
menores sugerem que há benefícios em tarefas mais específicas, avaliadas em crian-
ças mais velhas[82–84].
A deficiência de ferro é uma das deficiências nutricionais mais comuns no mundo
e uma das principais causas de perda de potencial de desenvolvimento em crianças
de países de baixa e média renda, sendo mais prevalente durante a gravidez e a
primeira infância, períodos em que há uma alta demanda de ferro para o desenvol-
vimento cerebral fetal e infantil[84–86].
A deficiência de iodo é a principal causa evitável de comprometimento da função
mental em todo o mundo, afetando cerca de dois bilhões de pessoas. O impacto
prejudicial da deficiência grave de iodo no desenvolvimento cerebral é bem estabe-
lecido, com crianças nascidas de mães residentes em áreas com alta prevalência dessa
deficiência frequentemente apresentando cretinismo, uma forma grave de deficiên-
cia intelectual[86,87].
Uma metanálise sobre os efeitos da suplementação de zinco em crianças meno-
res de 5 anos não encontrou um impacto significativo nos resultados cognitivos e
motores da criança[88], mas evidências sugerem que fetos de mães com deficiência
de zinco apresentam alterações no desenvolvimento fetal[84].
Por fim, a vitamina B12 é crucial para o desenvolvimento neuronal e a mielini-
zação. Estudos sobre a suplementação materna de B12 mostraram resultados mistos
em relação ao desenvolvimento cognitivo das crianças, destacando a importância
de manter níveis adequados de B12 durante a gravidez[84].
É importante ressaltar que o impacto das deficiências de macro e micronutrien-
tes é mais significativo durante o período fetal e pós-natal inicial, devido às altas
demandas metabólicas do cérebro nessa fase[84]. Portanto, é essencial garantir uma
54 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
ingestão adequada de nutrientes durante a gravidez e fornecer um adequado suporte
nutricional para as crianças, especialmente nos primeiros dois anos de vida.
Amamentação
A importância do aleitamento materno e das práticas de alimentação complementar
é amplamente reconhecida. O leite materno contém nutrientes essenciais que são
fundamentais para o crescimento e desenvolvimento cerebral. Além disso, a ama-
mentação promove o vínculo emocional entre mãe e filho e oferece proteção contra
doenças, o que também pode beneficiar o desenvolvimento infantil. O Guia Ali-
mentar das Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos, ratificando as recomenda-
ções internacionais, destaca a relevância de iniciar a amamentação logo após o
nascimento, manter a amamentação exclusiva até os 6 meses e continuar amamen-
tando até os 2 anos ou mais[89].
A partir da década de 1980, as evidências científicas sobre a importância da ama-
mentação aumentaram significativamente. A revista The Lancet publicou, em 2016,
uma série sobre amamentação e, em um de seus artigos, Victora et al. (2016)[90] reu-
niram informações sobre a associação entre amamentação e desfechos em crianças
ou mães a partir de 28 revisões sistemáticas e metanálises[90]. Como impactos de
curto prazo, os autores identificaram que práticas adequadas de amamentação
previnem a morbidade infantil devido a diarreias, infecções respiratórias e otite
média: cerca de metade das diarreias e um terço das infecções respiratórias poderiam
ser evitadas pela amamentação[91]. Onde doenças infecciosas são causas comuns de
morte, a amamentação oferece proteção significativa, mas mesmo em populações
de alta renda, ela reduz a mortalidade por causas como enterocolite necrosante e
síndrome da morte súbita infantil. Em países de baixa e média renda, crianças
menores de 6 meses que não eram amamentadas tinham entre 3,5 e 4,1 vezes mais
chance de morrer do que as amamentadas[92]. Mesmo em países de alta renda, o fato
de estarem sendo amamentadas esteve associado com uma redução de 36% (IC 95%
19-49) nas mortes súbitas[93]. A ampliação das práticas de amamentação a níveis
quase universais é estimada para prevenir 823 mil mortes anuais, ou 13,8% de todas
as mortes de crianças com menos de 24 meses nos 75 países do Countdown to 2015.
A revisão ainda sugere que há uma proteção contra otite média em crianças
menores de 2 anos, principalmente em países de alta renda, e contra maloclusões
dentais em países de baixa e média renda: amamentação se associou a uma redução
de 68% (IC 95% 60-75) das maloclusões[94]. Evidências crescentes também sugerem
que a amamentação pode proteger contra o sobrepeso e o diabetes mais tarde na
vida: períodos mais longos de amamentação estiveram associados a 26% de redução
na chance de sobrepeso ou obesidade[90–95].
Ciência da primeira infância 55
A amamentação esteve consistentemente associada a um melhor desempenho
em testes de inteligência em crianças e adolescentes, com um aumento médio de 3,4
pontos de quociente de inteligência (QI) (IC 95% 2,3-4,6), com base nos resultados
de 16 estudos observacionais que controlaram vários fatores de confusão, incluindo
a estimulação em casa[96]. As evidências disponíveis mostram que, ao aumentar a
inteligência, a amamentação aprimora o capital humano. Um estudo realizado no
Brasil, com trinta anos de acompanhamento, sugeriu um efeito da amamentação na
inteligência, escolaridade alcançada e renda na idade adulta, sendo que 72% do efeito
da amamentação sobre a renda foi explicado pelo aumento no QI[97].
Além dos benefícios à saúde das crianças proporcionados pela amamentação, há
evidências sugerindo que eventos cruciais de impressão genética ocorrem durante a
amamentação, influenciando a saúde e o desenvolvimento a longo prazo. Esses
eventos podem ser mediados pelo impacto da amamentação no microbioma infantil.
Bebês amamentados mantêm diferenças microbianas persistentes, independentemente
do modo de parto, devido aos oligossacarídeos do leite humano (HMOs). O leite
humano contém uma variedade muito maior de açúcares que outros leites de mamí-
feros, atuando como prebióticos para o crescimento de bactérias específicas. Além
disso, o leite materno transfere elementos do microbioma e respostas imunológicas
da mãe e fornece prebióticos que promovem o crescimento de bactérias benéficas. A
interação específica entre o leite materno e o microbioma infantil provoca efeitos
distintos no metabolismo e na imunidade do bebê. Assim, o leite materno é não
apenas um suprimento nutricional ideal, mas também uma forma de medicina
personalizada, fornecida em um momento crucial para a regulação da expressão
gênica. Essa oportunidade de impressão de saúde não deve ser desperdiçada[90].
Apesar dos benefícios da amamentação, infelizmente, em alguns casos, ela não é
recomendada, como em situações de mães infectadas pelo vírus da imunodeficiência
humana e vírus-T linfotrópico humano do tipo 1 e do tipo 2 (HIV, HTLV1 e HTLV2,
respectivamente), em uso de medicamentos incompatíveis com amamentação ou uso
regular de álcool ou drogas ilícitas[89]. Mulheres com hepatite A, B e C podem ama-
mentar, exceto com mamilos machucados no caso de hepatite C. Em situações como
algumas infecções, consumo eventual de álcool/drogas, vacinação contra febre
amarela (em mães de crianças menores de 6 meses) ou exames com radiofármacos,
é necessária a programação da interrupção temporária da amamentação, preferen-
cialmente com orientação profissional. A amamentação da criança por outra mulher
que não seja a mãe (amamentação cruzada) é contraindicada devido ao risco de
transmissão de doenças.
56 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
Alimentação complementar
A partir dos 6 meses de idade, o bebê entra em uma fase em que sua dieta se expande
para além do leite materno. Nesse momento, a introdução de uma variedade de
alimentos é importante para suprir as crescentes necessidades nutricionais da criança.
Mesmo sem dentes, muitos bebês demonstram habilidades de mastigação e interesse
em explorar diferentes sabores, texturas, cheiros e cores dos alimentos, muitas vezes
participando das refeições familiares. O Guia Alimentar para Crianças Menores de
2 Anos[89] propõe doze passos para uma alimentação complementar saudável:
1. Amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somente o leite materno até 6
meses;
2. Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite
materno, a partir dos 6 meses;
3. Oferecer água própria para o consumo à criança em vez de sucos, refrige-
rantes e outras bebidas açucaradas;
4. Oferecer a comida amassada quando a criança começar a comer outros ali-
mentos além do leite materno;
5. Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contenham açúcar à
criança de até 2 anos de idade;
6. Não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança;
7. Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família;
8. Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de expe-
riências positivas, aprendizado e afeto junto da família;
9. Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com
ela durante a refeição;
10. Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família;
11. Oferecer à criança alimentação adequada e saudável também fora de casa;
12. Proteger a criança da publicidade de alimentos.
A alimentação da criança e de toda a família deve ser baseada em alimentos in
natura ou minimamente processados, ou seja, a maior parte dos alimentos consu-
midos deve pertencer a esse grupo. Alimentos in natura são obtidos diretamente de
fontes vegetais ou animais e não passam por alterações após serem colhidos ou
obtidos da natureza. Já os alimentos minimamente processados sofrem pequenas
modificações, como limpeza, remoção de partes indesejadas, corte, moagem, seca-
gem, fermentação, pasteurização, refrigeração ou congelamento, sem adição de sal,
açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias.
Evitar alimentos ultraprocessados e açúcares é fundamental, pois seu consumo
pode contribuir para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, afetando nega-
Ciência da primeira infância 57
tivamente a saúde física e emocional das crianças, bem como seu desempenho
acadêmico e qualidade de vida[98]. Exemplos de alimentos ultraprocessados incluem
refrigerantes, bebidas adoçadas, salgadinhos de pacote, sorvetes, chocolates, balas,
pães doces, biscoitos, bolos, cereais matinais, achocolatados, farinhas de cereais instan-
tâneas com açúcar, iogurtes com sabores, queijos processados, temperos instantâneos,
produtos congelados prontos para aquecer e empanados de carne, frango ou peixe.
A alimentação complementar não é apenas sobre nutrição, mas também desem-
penha um papel vital no desenvolvimento da identidade da criança, proporcionando-
-lhe experiências sensoriais e educativas importantes. As práticas alimentares
dentro da família – o que é oferecido, como é oferecido e quando – têm um impacto
significativo na formação de hábitos alimentares saudáveis que podem perdurar por
toda a vida. O conceito de alimentação responsiva embasou os passos 8 e 9 do Guia
Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos[89]. A alimentação responsiva refere-se
a uma abordagem de alimentação infantil em que os cuidadores respondem de
maneira adequada, atenta e consistente aos sinais de fome e saciedade das crianças.
Esse conceito enfatiza a importância da interação positiva entre o cuidador e a criança
durante as refeições. Os elementos chave dessa abordagem são: (i) a capacidade de
reconhecer quando a criança está com fome, quando está satisfeita e quando precisa
de uma pausa; (ii) responder de maneira apropriada e oportuna a esses sinais, ou
seja, oferecer alimentos quando a criança mostra sinais de fome e parar de alimen-
tar quando a criança indica que está satisfeita; (iii) criar um ambiente tranquilo e
encorajador durante as refeições – os cuidadores devem interagir de maneira posi-
tiva, sem forçar a criança a comer ou usar métodos coercitivos; (iv) encorajar a
criança a explorar diferentes alimentos e texturas, promovendo a autoalimentação
conforme a criança desenvolve habilidades motoras[99]. Portanto, é importante
considerar que o modo como a criança é alimentada e os exemplos observados em
casa influenciarão diretamente sua relação com a comida no futuro.
Intervenções que integram as diferentes dimensões do desenvolvimento infantil,
como as que incorporam estimulação (interação entre cuidadores e crianças, que
está relacionada ao desenvolvimento cerebral) e nutrição, são particularmente
bem-sucedidas[100], especialmente entre aqueles que são mais vulneráveis e desfavo-
recidos[101]. Em um estudo de intervenção conduzido na Jamaica, o desenvolvimento
mental de crianças com baixa estatura para a idade que receberam tanto suplemen-
tação alimentar como estimulação psicossocial foi praticamente igual ao das crian-
ças sem atraso de crescimento (Figura 3.1)[26,102,103]. Embora várias intervenções de
saúde e nutrição tenham demonstrado eficácia na redução da morbidade e no estí-
mulo ao crescimento infantil, poucos estudos abordaram diretamente o impacto
dessas intervenções no desenvolvimento das crianças[104].
58 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
Figura 3.1 Efeitos da combinação entre suplementação nutricional e estimulação psicossocial em crianças com déficit
de crescimento (controle) em um estudo de intervenção de 2 anos na Jamaica.
Fonte: Comission on Social Determinants of Health, & World Health Organization (2008)[105].
Amamentação e alimentação complementar no Brasil: desafios
Além de ser uma prática biológica, o aleitamento materno é influenciado por diver-
sos fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. De 1940 a 1980, o Brasil ob-
servou um declínio significativo na prática da amamentação. Em 1974-75, a duração
mediana da amamentação atingiu seu ponto mais baixo, de apenas 2,5 meses. Esse
declínio pode ser atribuído ao aumento da renda, urbanização, maior participação
das mulheres no mercado de trabalho, uso crescente de chupetas, medicalização da
gravidez e do parto e intensificação das práticas de marketing pela indústria de ali-
mentos para bebês[106].
No entanto, o fortalecimento do compromisso com políticas e programas para
promover o aleitamento materno, tanto internacionalmente como no Brasil, levou
a um ressurgimento dessa prática. A duração mediana da amamentação aumentou
para 6,8 meses em 1986, 9,9 meses em 1999 e 14 meses em 2006-07. Estratégias
políticas importantes incluem a adoção da Norma Brasileira de Comercialização de
Alimentos para Lactentes (NBCAL) e a inclusão, na Constituição Brasileira, do
direito de todas as mulheres a 120 dias de licença-maternidade[106].
A partir de meados dos anos 2000, os avanços na amamentação no Brasil come-
çaram a desacelerar. O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI),
realizado em 2019, foi um inquérito populacional de base domiciliar que contou
com uma amostra probabilística de crianças menores de 5 anos distribuídas em 123
municípios dos 26 estados e no Distrito Federal. O ENANI revelou que quase todas
as crianças brasileiras foram amamentadas em algum momento (96,2%) e metade
Ciência da primeira infância 59
delas mamou por pelo menos 15,9 meses. No entanto, as taxas de aleitamento materno
exclusivo (AME) (45,8%) e de aleitamento materno continuado no primeiro ano de
vida (43,6% entre crianças de 12 a 23 meses), embora significativas, ainda estão
abaixo do recomendado pela OMS. Além disso, uma grande proporção de crianças
menores de 2 anos usava chupeta (43,9%) ou recebia alimentos por mamadeiras
(52,1%), o que pode comprometer a continuidade do aleitamento materno[107].
Esse período de desaceleração da expansão da amamentação no Brasil coincide
com um aumento expressivo nas vendas de fórmulas lácteas comerciais (FLC), que
cresceram 750% entre 2006 e 2020. Essas fórmulas incluem produtos padrão para
crianças de 0 a 6 meses, produtos de transição para crianças de 7 a 12 meses, fór-
mulas para crianças pequenas de 13 a 36 meses e fórmulas especializadas ou “leites
terapêuticos”. A categoria de fórmulas especializadas cresceu 23 vezes nesse período,
de R$ 14 milhões para R$ 307 milhões[106]. Com a regulamentação mais rigorosa, a
indústria passou a promover agressivamente as FLC para crianças mais velhas e
jovens, além das fórmulas especializadas.
Uma estratégia de venda é a promoção cruzada entre fórmulas infantis e compos-
tos lácteos. As fórmulas infantis são destinadas a substituir total ou parcialmente o
leite materno ou humano em situações específicas e devem ser prescritas por profis-
sionais de saúde. A venda dessas fórmulas é regulamentada pela NBCAL, que proíbe
a promoção de fórmulas para crianças de 0 a 12 meses e restringe a promoção para
crianças de até 6 anos. Por outro lado, os compostos lácteos são alimentos ultrapro-
cessados, maléficos à saúde, que devem conter pelo menos 51% de ingredientes
lácteos, com os demais 49% podendo incluir óleos vegetais, açúcar e aditivos alimen-
tares. A venda desses compostos é regulamentada pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), e o Ministério da Saúde contraindica seu uso
para crianças menores de 2 anos devido à presença de açúcar e aditivos. A indústria
mantém semelhanças nas embalagens de fórmulas infantis e compostos lácteos,
causando confusão entre os consumidores[108]. Características como cores, formato
das embalagens, tipo de fonte e nomes similares são usados para provocar engano,
especialmente entre pais e cuidadores. Esses produtos são frequentemente colocados
estrategicamente juntos nas prateleiras das lojas e podem ser alvo de promoções. O
Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) ressalta que a semelhança nos rótulos de
fórmulas infantis e compostos lácteos visa associar esses produtos distintos para
incentivar os consumidores a trocar um pelo outro[108]. Essa prática, no entanto, viola
o Código de Defesa do Consumidor, caracterizando-se como publicidade enganosa
e abusiva, além de desrespeitar o direito à informação adequada. Também infringe
leis de proteção à maternidade e desrespeita a Constituição Federal[108].
A indústria de alimentos para bebês, fortalecida por associações com grupos
industriais poderosos e lobistas influentes, utiliza o marketing e a atividade política
60 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
para promover e sustentar os mercados de FLC, em detrimento da amamentação.
Isso justifica a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa da indústria por parte
dos reguladores[106].
De acordo com dados do ENANI 2019, aproximadamente 86,3% das crianças
brasileiras começam a receber alimentação complementar entre os 6 e 8 meses de
idade[109]. Entretanto, as práticas alimentares para uma parcela significativa da po-
pulação de crianças brasileiras menores de 5 anos estão distantes das recomendações
estabelecidas: a frequência alimentar mínima foi de 39,2%; a diversidade alimentar
mínima foi de 57,1% (6 a 23 meses) e 54,8% (24 a 59 meses); o consumo de alimen-
tos fonte de ferro foi de 84,6% (6 a 23 meses) e 94,9% (24 a 59 meses); o consumo
de alimentos fonte de vitamina A foi de 38,6% (6 a 23 meses) e 29,7% (24 a 59
meses); o consumo de ovos e/ou carnes foi de 71,4% (6 a 23 meses) e 88,9% (24 a
59 meses); o consumo de alimentos ultraprocessados foi de 80,5% (6 a 23 meses) e
93,0% (24 a 59 meses); o não consumo de frutas e hortaliças foi de 22,2% (6 a 23
meses) e 27,4% (24 a 59 meses) e o consumo de bebidas adoçadas foi de 24,5% (6 a
23 meses) e 50,3 (24 a 59 meses). Indicadores mais preocupantes foram observados
para a faixa etária de 6 a 11 meses, ou seja, logo no início da alimentação comple-
mentar, nas regiões Norte e Nordeste, domicílios rurais e entre famílias em posição
socioeconômica mais desfavorável[109].
As taxas de aleitamento materno e as práticas alimentares entre crianças meno-
res de 5 anos se refletem em seu estado nutricional. Corroborando os dados sobre
alimentação complementar, as prevalências de deficiências de micronutrientes em
crianças brasileiras entre 6 e 59 meses variam segundo macrorregião, faixa etária ou
posição socioeconômica. A prevalência de anemia foi de 10,0%, sendo esse agravo
mais prevalente na região Norte (17,0%), entre crianças de 6 a 23 meses de idade
(19,0%) e entre aquelas em posição socioeconômica mais desfavorável (13,1%)[110].
A prevalência de crianças com baixo peso e estatura para idade foi de 2,9% e 7,0%,
respectivamente[111]. A baixa estatura para a idade, ou stunting, é um dos principais
preditores de atrasos no desenvolvimento e vem sendo utilizado, juntamente com
a informação sobre pobreza, para obter estimativas globais de problemas no desen-
volvimento. Nos países de baixa e média renda, aproximadamente uma a cada duas
crianças com menos de 5 anos está em risco de ter seu desenvolvimento em atraso,
segundo essas medidas[75]. Dados do ENANI também mostram que a prevalência
de risco de sobrepeso (1 < Z IMC/I ≤ 2) foi de 18,3%, sendo maior nas regiões Sul
(22,2%) e Sudeste (18,4), em comparação à região Centro-Oeste (14,5%); e em
domicílios situados em áreas urbanas (18,6%) em comparação aos situados em área
rural (11,8%). A prevalência de sobrepeso (2 < Z IMC/I ≤ 3) foi de 7,0% e de obe-
sidade (Z IMC/I > 3) foi de 3,0%[111]. Os dados do ENANI 2019 revelam um cenário
Ciência da primeira infância 61
preocupante de desigualdade e comprometimento nutricional entre as crianças
brasileiras, evidenciando tanto baixa estatura como excesso de peso.
As instabilidades socioeconômicas geradas pelas crises política e econômica vi-
vidas principalmente a partir de 2016 no Brasil agravaram-se com a pandemia da
Covid-19, acentuando as desigualdades alimentares entre uma parcela da população
brasileira, sobretudo quanto ao acesso a alimentos de forma regular e em quantidade
e qualidade satisfatórias, resultando no aumento da insegurança alimentar e do
consumo de alimentos ultraprocessados. Segundo o art. 3º da Lei Orgânica de Segu-
rança Alimentar e Nutricional, “a Segurança Alimentar e Nutricional consiste na
realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade,
em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais,
tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversi-
dade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”.
Entretanto, o Relatório das Nações Unidas intitulado “O Estado da Segurança Ali-
mentar e Nutricional no Mundo”, lançado em 2022, revelou que aproximadamente
duas em cada três crianças não conseguem alcançar a diversidade mínima na dieta[112].
Alarmantemente, 45 milhões de crianças com menos de 5 anos sofriam de desnutri-
ção grave, enquanto 149 milhões enfrentavam atrasos no desenvolvimento e 39
milhões apresentavam excesso de peso. Esses números destacam um quadro sombrio,
sugerindo impactos negativos significativos no futuro desta geração.
“A fome faz cessar o amor”
(Eurípedes, V a.C.)
O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da pandemia
da Covid-19 no Brasil expõe uma realidade alarmante: apenas 4 em cada 10 famílias
têm acesso pleno à alimentação[113]. Em um curto período entre 2021 e 2022, cerca
de 14 milhões de brasileiros foram adicionados à triste estatística da fome. Aproxi-
madamente 58,7% da população brasileira enfrenta algum nível de insegurança
alimentar, números que remetem aos índices da década de 1990. Em contrapartida,
em 2020, os dados apontavam para um retrocesso aos níveis de 2004. Contudo, a
persistência do desmantelamento das políticas públicas, o cenário econômico adverso
e a crescente desigualdade social, aliados ao segundo ano de pandemia, exacerbaram
ainda mais a crise no Brasil. Desde 2018, houve um aumento de 60% no número de
pessoas afetadas pela insegurança alimentar. A impossibilidade de comprar alimen-
tos básicos, como arroz, feijão, vegetais e frutas, está diretamente ligada à insegurança
alimentar moderada ou grave. Uma nova geografia da fome emerge, em que a fome
se tornou uma questão nacional, não relacionada apenas à seca, mas também à alta
ingestão de alimentos ultraprocessados[113].
62 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
O estudo empregou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), com-
posta de oito perguntas, abrangendo desde aqueles que temem não ter alimentos no
futuro até os que enfrentam a fome atualmente. As regiões Norte (72%) e Nordeste
(68%) foram as mais impactadas, com uma média nacional de 59%. A fome afeta
26% e 21% das populações dessas regiões, respectivamente, enquanto a média na-
cional é de 15%, e no Sul, de 10%. Os habitantes das áreas rurais são os mais afeta-
dos, com 60% sofrendo de insegurança alimentar e 18,6% enfrentando fome. A fome
tem uma clara dimensão racial, com 65% dos lares chefiados por pessoas pretas ou
pardas enfrentando insegurança alimentar, um salto significativo de 10,4% para
18,1% entre 2020 e 2022. Da mesma forma, a fome tem uma dimensão de gênero,
com lares chefiados por mulheres enfrentando uma taxa de fome de 19,3%, em
comparação com 11,9% nos lares liderados por homens. A presença de crianças
agrava a situação, com um aumento significativo da fome em famílias com crianças
menores de 10 anos, passando de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Quando há
três ou mais pessoas menores de 18 anos na família, a taxa de fome atinge 25,7%[41].
Os desafios descritos, em que há uma desaceleração da expansão da prática do
aleitamento materno, o crescente consumo de fórmulas infantis e a inadequação de
alguns aspectos da alimentação complementar, impactam diretamente o estado
nutricional das crianças e não podem ser ignorados. Em um contexto de insegurança
alimentar agravada pelas desigualdades, torna-se evidente a necessidade de ações
concretas para promover e proteger tanto o aleitamento materno como uma alimen-
tação complementar saudável. Essas medidas não apenas garantirão o desenvolvimento
adequado das crianças, mas também contribuirão para a construção de uma socie-
dade mais justa e equitativa.
Proteção, promoção e apoio à alimentação infantil adequada
e saudável no Brasil
O Brasil tem diversas legislações, portarias e regulamentações destinadas a proteger
a saúde, alimentação e nutrição das crianças. Entre os marcos gerais estão a Cons-
tituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Política Nacional
de Alimentação e Nutrição (PNAN), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Criança (PNAISC) e o Marco Legal da Primeira Infância. Desde a década de
1980, o país demonstra um compromisso significativo com a promoção, proteção e
apoio à alimentação infantil adequada e saudável, reconhecendo sua importância
para a saúde e o desenvolvimento infantis.
O modelo conceitual proposto por Rollins et al. (2016) sugere intervenções de
proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno[114]. No Brasil, as ações de prote-
ção incluem a NBCAL e a legislação trabalhista (Consolidação das Leis Trabalhistas –
Ciência da primeira infância 63
CLT e Programa Empresa Cidadã). As ações de promoção incluem campanhas de
doação de leite humano, o Agosto Dourado e a Semana Mundial da Amamentação
(SMAM). As ações de apoio abrangem a Iniciativa Hospital Amigo da Criança
(IHAC), o Método Canguru, os Bancos de Leite Humano, a Estratégia Amamenta
e Alimenta Brasil (EAAB) e as Salas de Apoio à Amamentação, que serão descritas
a seguir.
Ações de proteção ao aleitamento materno
A Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de
Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL) é uma adaptação do
Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno, adotado
pela Assembleia Mundial da Saúde em 1981. Implementada no Brasil em 1988, a
NBCAL regula a comercialização de alimentos para lactentes e crianças pequenas,
abordando promoção, publicidade, rotulagem e distribuição. Seu objetivo é proteger
o aleitamento materno e garantir a segurança dos alimentos complementares. Entre
suas diretrizes estão a proibição de publicidade desses produtos, regulamentação de
rotulagem, restrições à distribuição de amostras e brindes e a regulamentação da
venda de mamadeiras e chupetas.
Outra ação de proteção ao aleitamento materno é a legislação trabalhista brasileira,
que assegura direitos importantes para mães e pais, incluindo licença-maternidade
de 120 dias (prorrogável por duas semanas ou estendida a seis meses pelo Programa
Empresa Cidadã) e licença-paternidade de cinco dias (ou vinte dias pelo mesmo
programa). Em um estudo transversal com dados da II Pesquisa Nacional de Pre-
valência do Aleitamento Materno de 2008, foi constatado que 63,4% das mães no
Brasil não trabalhavam fora de casa. Entre as que trabalhavam, 69,8% usufruíam de
licença-maternidade. A ausência de licença-maternidade aumentou em 23% a chance
de interrupção do aleitamento materno exclusivo[115]. Ao retornar ao trabalho, as
mães têm direito a duas pausas de 30 minutos para amamentar ou sair uma hora
mais cedo nos primeiros seis meses de vida de seu filho. Estabelecimentos com mais
de trinta mulheres devem fornecer local adequado para cuidados infantis.
Já as mulheres que se encontram em situação informal de trabalho não podem
contar com esses direitos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNADc) do IBGE, as trabalhadoras informais representam 37,5% da
população de mulheres ocupada. Muitas dessas trabalhadoras retornam ao trabalho
mais cedo por não terem direito à licença-maternidade. A informalidade, caracteri-
zada pela falta de carteira assinada e ausência de contribuições previdenciárias,
64 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
contribui para o desmame precoce devido à separação entre mãe e filho, agravada
em cidades maiores pelos grandes deslocamentos entre local de trabalho e residência.
As mulheres privadas de liberdade constituem outra população que deve ter
especial atenção para a garantia de direitos. A Lei n. 11.942/2009 exige que estabe-
lecimentos penais femininos possuam berçários e creches, permitindo que mães
privadas de liberdade cuidem e amamentem seus filhos até, no mínimo, 6 meses de
vida. Apesar de o Brasil possuir a quarta maior população carcerária feminina do
mundo, o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de 2018
revelou que apenas 16% das penitenciárias femininas tinham celas para gestantes e
14% contavam com berçários. Em 2017, um censo realizado pela FIOCRUZ mostrou
que, entre as 241 mães entrevistadas, 26% não haviam amamentado seus bebês nas
últimas 24 horas, indicando que muitos bebês estavam sendo desmamados preco-
cemente[116].
Políticas públicas inclusivas são essenciais para proteger o aleitamento materno
e garantir direitos a todas as mulheres.
Ações de promoção ao aleitamento materno
Desde a década de 1990, o Brasil tem implementado diversas ações de promoção
do aleitamento materno. Campanhas de doação de leite humano vêm sendo imple-
mentadas no Brasil para incentivar mães a doarem leite excedente para bancos de
leite. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em 2020, os bancos
de leite humano no Brasil coletaram mais de 227 mil litros de leite, beneficiando
mais de 160 mil recém-nascidos.
Outra ação de destaque é a Semana Mundial da Amamentação (SMAM), celebrada
anualmente na primeira semana de agosto. A SMAM mobiliza governos, organiza-
ções e a sociedade para promover a amamentação, aumentando a conscientização
sobre seus benefícios e a importância do apoio às mães que amamentam. Durante
essa semana, diversas atividades são realizadas, como palestras, oficinas e campanhas
publicitárias, todas focadas em criar um ambiente favorável ao aleitamento materno.
Complementando a SMAM, o Agosto Dourado foi instituído para reforçar a cons-
cientização ao longo do mês de agosto, simbolizando a luta pelo aleitamento materno.
O “dourado” faz referência ao padrão ouro de qualidade do leite materno. Em 2021,
a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reportou que o Agosto Dourado incluiu
mais de 500 eventos em todo o país, abrangendo seminários, caminhadas e eventos
comunitários, todos promovendo a importância do aleitamento materno exclusivo
nos primeiros 6 meses de vida e continuado até os 2 anos ou mais.
Ciência da primeira infância 65
Essas iniciativas são essenciais para fortalecer a cultura do aleitamento materno
no Brasil, promovendo um ambiente que apoia e facilita essa prática, além de edu-
car a população sobre os benefícios a longo prazo para a saúde infantil.
Ações de apoio ao aleitamento materno e alimentação complementar
adequada e saudável
Iniciativa Hospital Amigo da Criança
A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) é um programa global lançado pela
OMS e UNICEF em 1991 para promover o aleitamento materno e melhorar os
cuidados neonatais nas maternidades[117]. Para obter o título de “Hospital Amigo da
Criança”, os hospitais devem cumprir critérios de cuidado humanizado, incluindo
o cuidado amigo da mulher, o livre acesso dos pais ao recém-nascido internado e
cumprimento da NBCAL. A iniciativa é composta de dez passos:
1. Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja rotineiramente trans-
mitida a toda equipe de cuidados de saúde;
2. Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práticas necessárias na
implementar esta política.
3. Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o manejo do aleitamento
materno.
4. Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno primeira meia hora após o
nascimento, conforme nova interpretação, e colocar os bebês em contato pele
a pele com suas mães, imediatamente após o parto, por pelo menos uma hora
e orientar a mãe a identificar se o bebê mostra sinais que está querendo ser
amamentado, oferecendo ajuda se necessário.
5. Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação mesmo se vierem
a ser separadas dos filhos.
6. Não oferecer a recém-nascidos bebida ou alimento que não seja o leite ma-
terno, a não ser que haja indicação médica.
7. Praticar o alojamento conjunto - permitir que mães e recém-nascidos per-
maneçam juntos 24 horas por dia.
8. Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda.
9. Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas.
10. Promover a formação de grupos de apoio à amamentação e encaminhar as
mães a esses grupos após a alta da maternidade.
Os Hospitais Amigos da Criança (HAC) aumentam as taxas de aleitamento
materno e contribuem para a saúde infantil. Bebês nascidos em HAC são menos
66 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
sujeitos a intervenções desnecessárias e têm maior contato pele a pele com as mães,
amamentação precoce e alojamento conjunto. A duração média do aleitamento
materno exclusivo até os seis meses é maior em HAC (60,2 dias) em comparação
com outras maternidades (48,1 dias). Além disso, nascer em um HAC aumenta em
9% a probabilidade de amamentação na primeira hora de vida[118]. No Brasil, a
iniciativa HAC foi amplamente adotada, desempenhando um papel crucial na
promoção do aleitamento materno em hospitais e maternidades.
Método Canguru
O Método Canguru é uma prática de cuidado neonatal voltada para bebês prema-
turos ou de baixo peso ao nascer, que tem demonstrado ser uma eficaz ação de apoio
ao aleitamento materno. Esse método encoraja o contato pele a pele entre a mãe (ou
outro cuidador próximo) e o bebê, frequentemente iniciado logo após o nascimento
e continuado pelo maior tempo possível durante a internação e após a alta hospita-
lar. Essa prática tem múltiplos benefícios para a promoção e sustentação do aleita-
mento materno por sua relação com o estímulo à produção de leite, estímulo à
sucção e deglutição (habilidades de amamentação mais eficazes), fortalecimento do
vínculo afetivo entre mãe e bebê e redução de infecções e complicações. Um estudo
de revisão integrativa da literatura incluindo 21 estudos realizados no Brasil entre
os anos de 2000 e 2017 concluiu que o Método Canguru impacta positivamente o
aleitamento materno e o estabelecimento de vínculo entre mãe-filho[119].
Bancos de leite humano (BLH)
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) é uma estratégia crucial
de apoio ao aleitamento materno, abrangendo a coleta, processamento e distribuição
de leite humano para bebês prematuros ou de baixo peso que não podem ser ama-
mentados por suas mães. Além disso, oferece atendimento e orientação para pro-
mover o aleitamento. O Brasil possui a maior e mais avançada rBLH do mundo,
reconhecida internacionalmente pela eficiência e tecnologia de baixo custo. Com
233 BLH em todos os estados e 240 postos de coleta, a rede é amplamente acessível.
O BLH mais próximo do domicílio pode ser identificado ligando para 136 ou con-
sultando a localização dos BLH por meio do website: https://rblh.fiocruz.br/locali-
zacao-dos-blhs.
As atividades dos BLH têm impacto positivo na saúde materno-infantil, espe-
cialmente nas orientações oferecidas para sustentar o aleitamento durante a inter-
nação de prematuros. Estudos mostram ganho de peso significativo em bebês
prematuros que recebem leite humano. Os BLH também promovem e apoiam o
aleitamento materno, influenciando a decisão das mães de doar leite humano para
Ciência da primeira infância 67
essas instituições[120]. De acordo com o ENANI 2019, 4,8% das mães de crianças me-
nores de 2 anos no Brasil fizeram doações para BLH, enquanto 3,6% das crianças nessa
faixa etária receberam leite humano ordenhado e pasteurizado desses bancos[107].
Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil
Resultado da integração da Rede Amamenta Brasil e da Estratégia Nacional para a
Alimentação Complementar Saudável (ENPACS), a Estratégia Amamenta e Alimenta
Brasil (EAAB), do Ministério da Saúde, tem como compromisso formar mais re-
cursos humanos na atenção básica, promovendo educação permanente em saúde
por meio de atividades teóricas e práticas, leituras e discussões de texto, troca de
experiências, dinâmicas de grupo, conhecimento da realidade local, sínteses e planos
de ação. A formação de tutores visa qualificar profissionais de referência que serão
responsáveis por disseminar a estratégia e realizar oficinas de trabalho nas suas
respectivas Unidades Básicas de Saúde (UBS). As oficinas de trabalho nas UBS têm
o propósito de discutir a prática do aleitamento materno e alimentação complemen-
tar saudável com os profissionais da UBS e planejar ações de incentivo à alimentação
saudável na infância, de acordo com a realidade local. As oficinas são essenciais para
disseminar a estratégia e planejar ações específicas de incentivo à alimentação sau-
dável na infância, adaptadas à realidade local, com enfoque no aleitamento materno
e na alimentação complementar saudável.
Existem poucos estudos sobre o impacto da EAAB, algumas pesquisas demostram
melhora dos índices de aleitamento materno, outras não encontram aumento da
prevalência em unidades que aderiram à Rede Amamenta Brasil, hoje denominada
Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil. Esses resultados aparentemente contradi-
tórios podem ter relação com as diferenças no grau de implementação da EAAB[121].
Ação Mulher Trabalhadora que Amamenta
A Ação Mulher Trabalhadora que Amamenta (MTA) visa promover a saúde materno-
-infantil no ambiente de trabalho, oferecendo suporte e orientação às mulheres que
retornam ao trabalho após a licença-maternidade. A MTA inclui iniciativas como
horários flexíveis, capacitação de empregadores e colegas sobre a importância do
aleitamento materno e sobre como apoiar a amamentação no ambiente profissional
e salas de apoio à amamentação.
Um estudo realizado em Taiwan investigou o impacto de um ambiente de traba-
lho favorável à amamentação sobre a intenção de mães trabalhadoras de uma fábrica
de eletrônicos em continuar amamentando. Os autores encontraram que uma esco-
laridade mais alta (razão de chances [OR] = 2,66), 8 horas de trabalho por dia,
comparado a mais horas (OR = 2,66), salas de apoio à amamentação (OR = 2,38),
68 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
uso de pausas para extração de leite (OR = 61,6) e encorajamento de colegas (OR =
2,78) e supervisores (OR = 2,44) para usar as pausas para extração de leite foram
preditores significativos da continuidade da amamentação por mais de seis meses
após o retorno ao trabalho[122]. Um estudo brasileiro que analisou o perfil das salas
de apoio à amamentação nos estados do Sul do Brasil identificou que apenas 17%
das mulheres que tiveram licença-maternidade no ano anterior ao estudo utilizaram
essas salas. Os principais desafios das salas de apoio à amamentação dizem respeito
à padronização dos processos internos e sua utilização pouco frequente, enquanto
seus benefícios incluem o incentivo ao aleitamento materno e a valorização das mães
trabalhadoras[123].
Ações envolvendo outros setores
Programa Nacional de Alimentação Escolar
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), criado pela Lei n. 11.947,
de 16 de junho de 2009, é o programa socioeducacional brasileiro com a mais longa
história no campo de segurança alimentar e nutricional. O objetivo do PNAE é
contribuir para o crescimento e desenvolvimento biopsicossocial dos alunos, além
de promover práticas alimentares saudáveis. Segundo a Resolução n. 6/2020, o car-
dápio deve atender às necessidades nutricionais por faixa etária, cobrindo 20% a
70% das necessidades nutricionais diárias, conforme o período escolar. A oferta
inclui frutas, verduras, legumes, promove variedade e diversidade. Pelo menos 30%
dos recursos do PNAE devem ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios
da agricultura familiar, priorizando assentamentos da reforma agrária, comunidades
indígenas e quilombolas. Ainda, o PNAE limita produtos processados e proíbe
gorduras trans industrializadas e ultraprocessados para crianças até 3 anos de idade.
A participação da sociedade civil é incentivada por meio dos Conselhos de Ali-
mentação Escolar, que fiscalizam a execução do programa, garantindo a qualidade e
a sustentabilidade da alimentação escolar. O CAE desempenha um papel fundamen-
tal no acompanhamento e avaliação das refeições, assegurando o cumprimento das
diretrizes do PNAE. Para saber mais, acesse: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-
-a-informacao/acoes-e-programas/programas/pnae/controle-social-cae/sobre-cae.
Cesta básica de alimentos
A cesta básica alimentar busca garantir o direito humano à alimentação adequada,
saudável e acessível, considerando aspectos biológicos, culturais, de gênero, raça e
etnia. Deve ser composta de alimentos que atendam às necessidades nutricionais e
sejam acessíveis financeiramente, equilibrados e prazerosos.
Ciência da primeira infância 69
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à
Fome (MDS) propôs mudanças na cesta básica, priorizando alimentos in natura ou
minimamente processados para reduzir a ingestão de ultraprocessados, contribuindo
para a saúde pública e a proteção ambiental. Baseada no Guia Alimentar para a
População Brasileira, a proposta visa criar sistemas alimentares saudáveis e susten-
táveis, promover a geração de renda para pequenos produtores rurais e priorizar
alimentos agroecológicos e regionais. A nova composição inclui feijões, cereais,
raízes, legumes, frutas, oleaginosas, carnes, ovos, laticínios, açúcares, sal, óleos, café,
chá e especiarias, com exceções específicas.
Programa Bolsa Família
O Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda do Brasil, reconhecido
internacionalmente pelo seu papel no combate à fome. O atual modelo de benefício
considera o tamanho e as características familiares, em que famílias maiores recebem
um valor maior do que famílias menores. Para ter direito ao Bolsa Família, a renda
de cada pessoa da família deve ser, no máximo, de R$ 218 por mês. A manutenção
da família como beneficiária no programa depende do cumprimento de algumas
condicionalidades: realização de pré-natal, cumprimento do calendário nacional de
vacinação, acompanhamento do estado nutricional para beneficiários de até 7 anos
de idade e frequência escolar mínima de 60% para beneficiários de 4 a 6 anos de
idade. Além disso, o programa inclui benefícios específicos para lactantes e crianças
na primeira infância, como estratégias importantes para garantir a segurança ali-
mentar e nutricional das crianças de 0 a 6 anos.
Um estudo avaliou o impacto do Bolsa Família nas compras de alimentos de
famílias de baixa renda no Brasil, utilizando dados da Pesquisa de Orçamentos Fa-
miliares de 2008-2009 com uma amostra de 55.970 domicílios. Dos 11.282 domicílios
elegíveis, 48,5% eram beneficiários do Bolsa Família. Comparando-se domicílios
beneficiários e não beneficiários com renda per capita mensal de até R$ 210,00, veri-
ficou-se que os beneficiários apresentaram despesa 6% maior com alimentos e dis-
ponibilidade total de energia 9,4% maior. Também houve despesa 7,3% maior com
alimentos in natura ou minimamente processados e despesa 10,4% maior com ingre-
dientes culinários. Não foram observadas diferenças significativas nas despesas e
disponibilidades de alimentos processados e ultraprocessados. Entre os alimentos in
natura ou minimamente processados, os beneficiários do Bolsa Família gastaram
mais e tiveram maior disponibilidade de carne, tubérculos e vegetais. O programa
resultou em maior despesa com alimentos, maior disponibilidade de alimentos fres-
cos e ingredientes culinários, melhorando a qualidade e a diversidade da dieta[124].
70 Impactos da alimentação e nutrição no desenvolvimento infantil
Considerações finais
O direito à alimentação adequada, consagrado em diversos tratados internacionais,
exige uma ação conjunta de governos, comunidades e famílias para garantir que
todas as crianças tenham acesso a alimentos nutritivos e seguros. Os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 e 3 destacam essa necessidade, reconhecendo
que a nutrição adequada é essencial para o crescimento físico, cognitivo e emocio-
nal das crianças, e para o desenvolvimento sustentável das sociedades.
O leite materno é parte vital do primeiro sistema alimentar e a forma mais sus-
tentável de alimentação infantil. Apoiar a amamentação e reconhecer o leite materno
como parte fundamental desse sistema traz benefícios tanto para as crianças como
para a sociedade, contribuindo para a redução das mudanças climáticas devido à
sua pegada ecológica menor em comparação com substitutos do leite materno.
Compreendendo a importância da alimentação saudável e das intervenções nutri-
cionais adequadas, podemos trabalhar em conjunto para promover o desenvolvimento
infantil e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assegurando um
futuro melhor para todas as crianças.
CAPÍTULO 4
Sono e desenvolvimento infantil
Rebeca Buest de Mesquita Silva
Vitor Lacerda
Adrielle Pykoc
Helena Schmidt
Julia Fernandes da Silva
Gustavo Santos
Fernando Louzada
Apresentação
Abordar o tema sono não é uma tarefa difícil, pois temos a certeza de que você,
leitora ou leitor, sabe do que estamos falando. Você dorme, bem ou mal, mais ou
menos, mais cedo ou mais tarde. Uma criança recém-nascida passa aproximadamente
2/3 de seu tempo dormindo. No adulto esse tempo é reduzido para cerca de 1/3,
número ainda nada desprezível. Não só nós, seres humanos, dormimos. Todos os
animais dormem. Isso sugere que o sono seja essencial para a sobrevivência, e pes-
quisas das últimas décadas confirmam essa suposição. Atualmente sabemos que o
sono é importante para a manutenção da integridade do sistema imunológico, para
a regulação do metabolismo energético, para a neuroproteção, para a cognição e
para a regulação emocional. Em crianças, existem inúmeras evidências da associa-
ção entre sono insuficiente e prejuízos no desempenho cognitivo. Diante dessas
evidências, temos como objetivos mostrar a importância do sono para o desenvol-
vimento, descrever as modificações do ciclo sono/vigília ao longo dos primeiros anos
72 Sono e desenvolvimento infantil
de vida, apresentar alternativas para avaliação do sono infantil e discutir as impli-
cações para a organização de creches e escolas de educação infantil, procurando
fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas na área.
A importância do sono na infância
Na infância, a manutenção dos hábitos de sono é fundamental para que ocorra um
desenvolvimento físico e mental saudável. Um sono de má qualidade pode ter im-
pacto no desenvolvimento, aprendizagem, no comportamento e na saúde geral da
criança, incluindo seu bem-estar físico e mental[125]. Dificuldades de concentração,
irritabilidade, prejuízo no crescimento, função imunológica comprometida, ansiedade
e depressão têm sido associados a alterações de sono na criança[126].
Estudos recentes têm mostrado que a diminuição da duração de sono durante a
infância pode ocasionar problemas de sono na adolescência[127]. Dessa maneira, é
essencial que hábitos adequados de sono sejam estabelecidos desde os primeiros
anos de vida, a fim de preservar a saúde na infância e consolidar hábitos saudáveis
que se mantenham nos anos seguintes.
Padrões de sono alterados na primeira infância, principalmente nos dois primei-
ros anos de vida – por exemplo, redução da duração total de sono e/ou proporção
de sono diurno aumentada em relação ao sono noturno – estão associados a menor
desempenho em diversos testes de avaliação cognitiva realizados ao final da primeira
infância ou mesmo mais tardiamente[128]. Problemas de sono relatados pelos pais na
primeira infância foram associados a prejuízos em dimensões das funções executi-
vas, como a memória de trabalho e o controle inibitório. A menor duração de sono
durante o início da infância foi associada com notas menores que a média nos anos
escolares do ensino fundamental[129].
Essas associações descritas anteriormente, entre alterações de sono e desfechos
cognitivos desfavoráveis, podem sugerir que a primeira infância é uma fase mais
vulnerável, na qual problemas de sono podem afetar negativamente o desenvolvi-
mento. Entretanto, essas associações não significam necessariamente uma relação
de causa e efeito, ou seja, que as alterações de sono desencadeariam prejuízos cog-
nitivos. Outra possibilidade é que as alterações de sono identificadas nos primeiros
anos de vida seriam manifestações precoces de possíveis problemas no neurodesen-
volvimento, que se manifestariam de maneira mais evidente após o ingresso da
criança no ensino regular. De qualquer maneira, esses resultados chamam a atenção
para a necessidade de mais estudos longitudinais que sejam comparáveis e indicam
que a avaliação do sono pode fornecer subsídios importantes para o acompanhamento
do desenvolvimento infantil.
Ciência da primeira infância 73
Além da relação com o desempenho cognitivo e com a regulação emocional[130],
a menor duração de sono tem sido associada com um risco maior de desenvolvimento
de obesidade na infância e na adolescência, ressaltando a íntima relação entre o
ciclo sono/vigília e a regulação do metabolismo energético.
O sono nos primeiros anos de vida
Os principais parâmetros utilizados para descrição do sono, tanto na infância como
na idade adulta, são a sua duração (quantidade), sua qualidade e os horários dos
episódios de sono. O número e a duração dos despertares noturnos em geral são
utilizados para mensuração da qualidade de sono.
Um bebê recém-nascido dorme entre 14 e 17 horas diárias. Aos 6 anos de idade,
espera-se que a criança durma entre 10 e 12 horas por dia[131]. Além disso, ao nascer,
um bebê apresenta um padrão polifásico de sono, ocorrem vários episódios de sono
e vigília distribuídos ao longo das 24 horas[132–134]. A trajetória em direção ao padrão
monofásico, ou seja, um episódio de sono noturno, presente na vida adulta, é mar-
cada por uma diminuição gradual dos episódios de sono diurno, redução que ocorre
de maneira muito variável entre as crianças e dependente de inúmeros fatores, ge-
néticos e ambientais. Essa redução do número e duração dos episódios de sono
diurno ocorre paralelamente à consolidação do sono noturno – o número e a dura-
ção dos despertares noturnos diminui ao longo dos primeiros anos de vida[135]. Em
geral, inicialmente desaparece o episódio de sono da parte da manhã e posteriormente
o episódio de sono da tarde, conhecido como sesta.
A idade de desaparecimento da sesta é muito variável, podendo ocorrer já no
segundo ano de vida ou apenas após os 6 anos de idade. Na verdade, discute-se se
a ocorrência da sesta não seria uma característica da espécie humana e seu total
desaparecimento teria influências culturais, já que esse hábito é preservado na vida
adulta em diferentes países. De qualquer forma, a necessidade da sesta na primeira
infância deve ser considerada na organização espacial e temporal de creches e esco-
las de educação infantil.
Os horários preferenciais de sono podem variar entre as crianças nos primeiros
anos de vida. Algumas crianças têm mais facilidade para iniciar o sono mais cedo,
outras têm preferência por horários mais tardios de dormir e acordar, caracterizando
o chamado cronotipo. Aquelas que dormem e acordam mais cedo são chamadas de
matutinas e aquelas com hábitos de sono mais tardios são chamadas de vespertinas.
Apesar de esses horários serem influenciados por fatores ambientais relacionados à
rotina da criança, fatores genéticos também influenciam o cronotipo. Por esse motivo,
algumas crianças podem apresentar dificuldade persistente em iniciar o sono mais
cedo, mesmo quando o ambiente e a rotina são favoráveis para que esse comporta-
mento ocorra.
74 Sono e desenvolvimento infantil
Figura 4.1 Padrão polifásico do ciclo sono/vigília versus padrão monofásico do ciclo sono/vigília.
Fonte: produzida pelos autores.
Diante das enormes diferenças individuais na duração total de sono, duração de
sono diurno, duração de sono noturno, idade de desaparecimento da sesta e horários
preferenciais de início do sono noturno, é importante ressaltar que os valores médios
devem ser usados como parâmetros, mas jamais como referências de normalidade.
Essa enorme variabilidade pode ser observada na Figura 4.3. Por esse motivo, é
fundamental a observação de possíveis manifestações da restrição crônica de sono
que, quando presentes, devem ser motivo de investigação por profissionais da área
médica. Algumas delas são: alterações comportamentais como maior agressividade
e irritabilidade, aumento da sonolência diurna e maior suscetibilidade a doenças
infecciosas como gripes e outras viroses.
Figura 4.2 Necessidades de sono da infância à vida adulta.
Fonte: produzida pela Revista Neuroeducação em artigo de nossa autoria; uso autorizado pela editora.
Ciência da primeira infância 75
Figura 4.3 Variação da duração de sono total (A), do sono noturno (B) e do sono diurno (C) nos primeiros seis anos de
vida. A linha representa a média, e a faixa sombreada, a variabilidade presente no processo.
Fonte: produzida pelos autores.
Regulação do sono e da vigília
Ao contrário do que se pensava antigamente – na verdade até hoje muitos acreditam
nisso –, durante o sono o cérebro não está desligado, mas funcionando de uma forma
diferente. Ele continua ativo e essa atividade está a serviço da consolidação de nos-
sas experiências. Atualmente já conhecemos os circuitos neurais que nos mantêm
acordados e quais são aqueles responsáveis por mudar a atividade desses circuitos
e promover o sono. Um conhecimento um pouco mais recente na história da ciên-
cia do sono é de como esses circuitos são temporizados e nos permitem sincronizar
nosso ritmo sono/vigília com o dia e a noite. Essa temporização é fruto da atividade
de um conjunto de estruturas que formam o sistema de temporização circadiana,
mais conhecido como relógio biológico. O relógio biológico não controla apenas os
horários de dormir e acordar, mas a secreção de hormônios e o funcionamento de
todos os órgãos. A manutenção de uma organização temporal entre os diferentes
sistemas do organismo e sua sincronização com o ciclo claro/escuro do ambiente é
essencial para a manutenção da saúde.
Uma das principais estruturas do sistema de temporização circadiana está loca-
lizada no hipotálamo. A sincronização dos nossos ritmos ao ciclo claro/escuro é
possível pois o hipotálamo recebe informações da retina sobre a presença ou ausên-
cia da luz e as transmite para todo o organismo de diversas maneiras. A mais im-
portante é por meio do controle da secreção de um hormônio, a melatonina, pela
glândula pineal. Na presença da luz, a secreção de melatonina é inibida, sinalizando
ao corpo que é dia. Na ausência da luz, a pineal passa a secretar melatonina, criando
a chamada “noite biológica”, desencadeando alterações em todo o organismo. No
caso da espécie humana e de todos os outros mamíferos diurnos, a noite biológica
coincide com o sono noturno. O advento da luz artificial, à qual estamos expostos
diariamente após o anoitecer, faz com que a secreção de melatonina seja inibida,
atrasando o horário de início do sono. A compreensão do funcionamento do sistema
76 Sono e desenvolvimento infantil
de temporização nos permite compreender o papel da luz na regulação do sono e
de como a modificação da exposição à luz é capaz de alterar os padrões de sono.
Assim como ocorre com outros sistemas do organismo, o sistema de temporiza-
ção circadiana ainda não está maduro ao nascimento. Ao longo dos primeiros
meses de vida, por meio da interação com as pistas ambientais – a mais importante
é o ciclo claro/escuro –, ocorre a consolidação do ritmo sono/vigília e sua sincroni-
zação com os outros ritmos do organismo. O aumento da duração do sono noturno
e a redução do sono diurno, como já descrito anteriormente, reflete a consolidação
da ritmicidade circadiana. Por esse motivo, é essencial que a criança seja exposta a
pistas regulares, seja nos horários de exposição à luz, seja nas interações sociais,
incluindo as refeições. Isso não significa que pequenas mudanças no horário de uma
refeição, meia hora, por exemplo, seja prejudicial, mas é importante ter em mente
que a regularidade das pistas ambientais contribui para o amadurecimento do sistema
de temporização e, consequentemente, para uma maior regularidade do ciclo sono/
vigília, o que é desejável para uma melhor saúde física e mental.
Fatores associados à qualidade de sono
A obtenção de um sono infantil de qualidade vem com seus desafios, pois muitos
fatores podem interferir na qualidade de sono. Situações nas quais os recursos são
mais escassos podem representar desafios adicionais, tais como a exposição a ruídos
excessivos ou a falta de um espaço apropriado para o descanso. Contudo, é vital
reconhecer que tais adversidades não são determinantes intransponíveis. É neces-
sário, de qualquer forma, procurar a criação de rotinas e espaços que favoreçam o
sono reparador.
Existem muitos fatores que podem influenciar a duração de sono infantil, alguns
deles relacionados ao uso de tecnologias, como o uso de telas. Aspectos culturais tam-
bém imprimem sua influência[136]. Por exemplo, crianças uruguaias apresentam horá-
rios tardios de dormir e crianças mais vespertinas são prevalentes nessa população.
O compartilhamento da cama, uma prática cada vez mais debatida, é um fator
que merece atenção[137]. Comum em diversas culturas e frequentemente associada
à facilitação da amamentação e ao fortalecimento dos laços afetivos, essa prática
carrega consigo também preocupações quanto à segurança do bebê durante o sono,
bem como pode afetar a independência do sono da criança a longo prazo[138]. Os
riscos aumentam diante de certas condições, como o consumo de álcool ou drogas
pelos pais, o tabagismo, o uso de superfícies de sono excessivamente macias, além
da presença de roupas de cama soltas. Além dos riscos físicos, a interação noturna
pode, paradoxalmente, perturbar o sono tanto das crianças como dos adultos, devido
às diferenças nos padrões de sono[139].
Ciência da primeira infância 77
A amamentação noturna também desempenha um papel crucial, tanto na saúde
geral das crianças como em seu padrão de sono, especialmente nos primeiros meses
de vida[140]. Por um lado, há estudos que apontam para o potencial benefício da
amamentação para o sono dos bebês. Por outro lado, a amamentação noturna pode,
por vezes, levar a despertares mais frequentes, levantando questões sobre seus
possíveis impactos negativos, tópico que permanece aberto à pesquisa e ao debate,
com muitos defendendo que esses despertares são normais e parte integrante do
desenvolvimento infantil[141].
Por fim, não se pode negligenciar a importância do ambiente emocional e do
contexto familiar no sono das crianças. Ambientes familiares harmoniosos, rotinas
previsíveis e um cuidado responsivo e sensível às necessidades do bebê tendem a fa-
vorecer um sono mais tranquilo, enquanto situações de conflito familiar, instabilidade
ou negligência podem perturbar o sono infantil. Um lar harmonioso, que pratica
rotinas consistentes e responde de forma empática às necessidades dos pequenos, é
fundamental para criar uma atmosfera de segurança e serenidade. Em contrapartida,
a presença de tensões ou negligência pode semear insegurança e agitação, prejudi-
cando significativamente a qualidade do sono.
Além dos fatores já apresentados, a contaminação ambiental também pode in-
fluenciar a qualidade do sono. Ela ocorre quando substâncias poluentes atingem
níveis que causam efeitos nocivos na saúde humana. Nesse caso, são conhecidos os
efeitos causados no sono pela contaminação com metais pesados, pela poluição do
ar e também pela exposição à fumaça de tabaco. Em relação à exposição aos metais
pesados, estudos demonstram que a exposição precoce ao chumbo na infância está
relacionada a problemas posteriores de sono e sonolência diurna na pré-adolescên-
cia. Além disso, a exposição a esse metal foi associada de forma consistente à insô-
nia e à duração mais curta do sono. O mercúrio está associado a distúrbios no sono
e perturbação do ciclo sono/vigília, além de estar associado a uma duração mais
curta do sono, já que essa substância pode se acumular na glândula pineal.
Tratando-se dos efeitos relacionados à poluição do ar, foram avaliados poluentes
como dióxido de nitrogênio, ozônio, dióxido de enxofre e produtos da combustão,
que foram associados com uma curta duração e má qualidade do sono, além de
distúrbios respiratórios do sono. Em relação à exposição à fumaça do tabaco, ela
pode influenciar o sono, principalmente na população pediátrica, sendo relacionada
com insônia, pior qualidade do sono, curta duração do sono, bruxismo do sono,
pesadelos e sonambulismo. Além disso, a exposição pré-natal à fumaça do tabaco
por meio do tabagismo materno durante a gravidez está associada ao aumento da
apneia do sono e ronco em recém-nascidos.
78 Sono e desenvolvimento infantil
Avaliação do sono na infância
A polissonografia é o método padrão ouro de avaliação do sono, sendo considerado
o mais completo para a análise de seus parâmetros. Por envolver registro de atividade
muscular e movimentação dos olhos, é capaz de diferenciar as duas principais fases
do sono, o sono REM (do inglês Rapid Eyes Movement) e o sono nREM (do inglês
non Rapid Eyes Movement), assim como a identificação de diversos distúrbios de
sono. Contudo, apesar de ser um método eficiente na análise do sono, seu uso é
oneroso e se restringe predominantemente ao contexto laboratorial. O uso do po-
lissonígrafo depende do correto manuseio de múltiplos eletrodos que são acoplados
ao corpo do indivíduo – destacando-se as monitorizações por meio do eletroence-
falograma, do eletromiograma e do eletro-oculograma, dentre outros. Isso implica,
invariavelmente, a retirada da criança de seu ambiente habitual de sono, além de
limitar o número total de noites analisadas. Ou seja, ao lidarmos com o público
infantil, essa pode não ser a melhor ferramenta de análise de sono – seja por causar
desconforto para as crianças, seja por dificultar o aceite dos pais e/ou responsáveis
para a participação de seus filhos nas coletas ou ainda por não fornecer informações
a respeito dos padrões de sono no cotidiano.
Assim, uma das ferramentas mais utilizadas dentro das pesquisas com crianças
e bebês são os questionários – ou diários – do sono, em que os pais e/ou responsáveis
podem preencher diariamente os dados percebidos sobre o sono diurno e noturno
dos filhos por alguns dias[142]. Entretanto, diversos fatores contribuem para que essa
também seja uma ferramenta de análise que apresenta limitações. Os principais
questionários de sono utilizados atualmente são Children’s Sleep Habits Questionnaire
(CSHQ), Infant Sleep Questionnaire (ISQ) e Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ).
Existem ainda outros questionários presentes na literatura, como Children’s chronotype
questionnaire (CCTQ), Children’s report of sleep patterns (CRSP), Adapted of Avon
longitudinal study of parents and children (ALSPAC) questionnaire, Sleep timing ques-
tionnaire (STQ), Pediatric sleep questionnaire (PSQ)[143]. Desses questionários, o CSHQ
(4 a 10 anos), BISQ e PSQ (2 a 18 anos) são validados em língua portuguesa, sendo
utilizados em pesquisas nacionais[144–146]. Outros estudos utilizam questionários
próprios desenvolvidos diretamente pelos pesquisadores e compostos de perguntas
direcionadas ao foco do estudo em questão.
Os componentes principais de um questionário de sono são estimativas de ho-
rário do início do sono noturno, final do sono noturno, momento em que a criança
deitou na cama para dormir e levantou ao acordar, número de despertares ao longo
da noite e sua duração e número de cochilos diurnos, entre outras variáveis. Essa
abordagem proporciona uma avaliação durante dias, de forma não invasiva e sem
interferir na rotina de sono das crianças. Uma das principais limitações desse método
Ciência da primeira infância 79
é a percepção sobre o sono da criança depender da presença dos pais nesses mo-
mentos. Por exemplo, um bebê que acorda durante a noite por alguns segundos e
não chora antes de voltar a dormir provavelmente não teria esse despertar percebido
pelos pais. Outro ponto importante é a memória sobre esses eventos e o registro de
tempo exato, podendo interferir na precisão dos dados obtidos.
Outra ferramenta atualmente disponível para a análise do sono infantil é o uso
de acelerômetros. No caso de estudos de sono, os acelerômetros são chamados de
actígrafos ou actímetros. A actigrafia é uma ferramenta objetiva, que possibilita uma
avaliação longitudinal e não invasiva de coleta de dados de atividade e repouso de
seus usuários. O actígrafo é um dispositivo de aparência semelhante a um relógio
de punho que apresenta, em seu interior, um acelerômetro responsável por registrar
movimentos, além de sensores de luz e temperatura, devendo ser alocado no punho
não dominante de seus usuários. No caso de bebês e crianças pequenas, pode ser
colocado no tornozelo.
Para que os dados de atividade e repouso coletados pela actigrafia sejam corre-
tamente traduzidos em dados de sono e vigília, é necessário um algoritmo. Atualmente,
existe uma grande variedade de algoritmos disponíveis comercialmente, por exem-
plo, os algoritmos de Cole-Kripke e de Sadeh[147–149]. Entretanto, é importante men-
cionar que a maior parte dessas ferramentas foi desenvolvida e validada com base
na interpretação de dados de indivíduos adultos, sem considerar as particularidades
de movimentação de cada faixa etária – o que denota um grande viés para a análise
do sono infantil. Nesse contexto, uma alternativa para avaliação da ritmicidade
circadiana de crianças se dá por meio da análise direta dos dados de atividade e
repouso coletados pelo actígrafo, sem haver a necessidade do uso de um algoritmo
para conversão dos dados. É possível estudar essas informações por meio da acti-
grafia, que permite a estimativa da atividade noturna, a atividade diurna e a ampli-
tude relativa entre elas – fornecendo, assim, informações sobre a consolidação dos
ritmos circadianos na criança.
Com isso, a escolha dos instrumentos utilizados para avaliação do sono infantil
depende dos objetivos estabelecidos. A polissonografia, por exemplo, é muito útil
para detecção de síndromes clínicas, enquanto a actigrafia permite a análise de
ritmicidade de forma longitudinal e não invasiva. Cabe a cada profissional, portanto,
ponderar quais informações devem ter prioridade em sua avaliação, dentro dos
parâmetros desejados.
Problemas de sono na infância
Nos primeiros anos de vida, estima-se que entre 15% e 30% das crianças apresentam
problemas de sono que resultam num sono insuficiente e/ou de má qualidade. Di-
ficuldade de iniciar o sono e despertares noturnos são queixas bastante frequentes.
80 Sono e desenvolvimento infantil
A dificuldade de iniciar o sono pode vir acompanhada de comportamentos como
choro ou birra, sair da cama, solicitar bebida ou comida, agarrar-se ao cuidador, os
quais podem atrasar ainda mais o início do sono.
A Fundação Nacional de Sono, dos EUA, estabelece alguns parâmetros para
identificação de problemas de sono. Após os primeiros meses de vida, espera-se que
a criança inicie o sono em menos de 30 minutos após ir para a cama e permaneça
ao menos 85% do tempo dormindo até o final do sono na noite seguinte e que não
tenha mais do que um despertar prolongado durante a noite.
A insônia, dificuldade de iniciar e/ou manter o sono noturno, ou ainda desper-
tar antes do desejado mesmo que tenha oportunidades adequadas para dormir, pode
estar presente na criança e o quadro deve ser avaliado pelo(a) pediatra, já que seu
diagnóstico é clínico.
Distúrbios respiratórios do sono, caracterizados por irregularidades na respira-
ção durante o sono, respiração laboriosa e/ou presença de roncos e pausas respira-
tórias também merecem atenção por parte do(a) pediatra.
Algumas parassonias – fenômenos ou experiências que ocorrem ao adormecer,
durante o sono ou ao despertar – são bastante frequentes durante os primeiros anos
de vida. São raras as crianças que não apresentam nenhum tipo de parassonia em
algum momento da vida, e na maioria dos casos são eventos temporários. Sonam-
bulismo, terror noturno, pesadelos e sonilóquio (falar dormindo) são exemplos de
parassonias que ocorrem na infância. Parassonias persistentes (com duração de
anos) podem ser um indicativo de algum sofrimento emocional, como a ansiedade.
Esses quadros merecem maior atenção do(a) pediatra, notadamente se estiverem
afetando o funcionamento diurno da criança.
Os episódios de terror noturno, caracterizados por despertares acompanhados
de choro, gritos e ativação simpática – aumento da frequência cardíaca e respirató-
ria – diferem dos pesadelos pois terminam subitamente, a criança apresenta maior
resistência a ser consolada e ocorrem em geral no início da noite. Nos pesadelos, na
maioria das vezes a criança desperta completamente. Ao despertar, a criança é capaz
de se lembrar de um pesadelo, mas não tem lembrança dos episódios de terror
noturno e de sonambulismo.
O diagnóstico de enurese, eliminação involuntária de urina durante o sono, é
realizado após os 5 anos de idade, no caso de a criança ainda molhar a cama ao
menos duas vezes na semana.
Recomendações para a organização familiar
Sono, alimentação e atividade física adequados são pilares do desenvolvimento e
devem ser tratados com a mesma prioridade. Assim como soa absurdo uma criança
Ciência da primeira infância 81
passar o dia na escola sem se alimentar, deveria soar tão absurdo quanto o fato de
ela não dormir ou não realizar atividade física durante sua permanência na creche
ou na escola.
Para a família, podem ser feitas algumas recomendações gerais. O sono deve ser
tratado com a mesma importância da alimentação. O dia e a noite devem ser bem
sinalizados, ou seja, durante a dia é desejável a maior exposição possível à luz – não
é recomendável escurecer o ambiente para que a criança durma a sesta – e durante
a noite a menor exposição à luz, com a redução da intensidade luminosa.
A criança deve ir acordada para a cama, para que ela adquira autonomia relacio-
nada ao sono. Procedimentos como fazer a criança dormir no carrinho – em muitas
situações a criança é levada direto do carro para a cama – devem ser evitados.
A hora de dormir não pode ser um momento estressante, pois o estresse aumenta
a atividade cerebral, dificultando o início do sono. Brincadeiras que envolvam atividade
física mais intensa, essenciais para a manutenção do desenvolvimento saudável,
devem ser feitas durante o dia. Após o anoitecer sugere-se atividades mais tranquilas,
como leitura e contação de histórias.
O consumo de substâncias estimulantes, como chás, café e refrigerantes, deve
ser evitado, principalmente nas horas que antecedem o horário de dormir.
É fundamental que sejam estabelecidas rotinas relacionadas ao horário de acor-
dar, horário das refeições e horários de dormir – respeitando-se as necessidades de
cada criança. Há várias propostas que fornecem subsídios para a construção de uma
rotina de sono e que podem trazer benefícios para o sono da criança.
Uma rotina de sono bem estruturada pode reduzir a latência de sono – o tempo
que a criança demora para dormir –, reduzir o número de despertares noturnos e
ainda aumentar a segurança emocional da criança, contribuindo para que ela adquira
autonomia em relação ao sono. Entende-se por rotina de sono um conjunto consis-
tente de atividades previsíveis antes do apagar das luzes. Uma das abordagens propõe
que a rotina possua quatro componentes. O primeiro, a alimentação, que pode ser
o jantar, um lanche, a mamadeira, o que se adequar melhor aos hábitos da família
e à idade da criança. O segundo componente é o momento da higiene, que envolve
o banho e a escovação dos dentes. O terceiro seria a comunicação, no qual se conta
uma história, se lê um livro, canta-se uma canção de ninar, preferencialmente sem
o uso de telas. O quarto componente envolve o contato físico, que pode ser uma
massagem, um abraço, um cafuné.
Finalmente, um dos maiores desafios: seguir as recomendações dos pediatras
associadas ao uso de dispositivos eletrônicos. Crianças de até 2 anos não devem usar
em nenhuma situação. Crianças de até 5 anos de idade devem usar no máximo uma
82 Sono e desenvolvimento infantil
hora por dia. A partir dos 5 anos, no máximo duas horas por dia, sempre com a
supervisão de uma pessoa adulta.
Figura 4.4 Componentes de uma rotina de sono estruturada.
Fonte: produzida pelos autores.
Implicações para a organização escolar e para as políticas públicas
Diante das necessidades de sono na primeira infância que foram apresentadas, é fun-
damental que creches e escolas de educação infantil tenham um espaço dedicado ao
sono. Como a redução dos episódios de sono diurno é muito variável, algumas crian-
ças têm necessidade da soneca após o almoço até 5 ou 6 anos de idade, enquanto
outras já deixam de dormir aos 2 ou 3 anos; o ideal é que existam dois espaços – aquele
dedicado ao sono e outro para atividades de leitura ou brincadeiras para crianças que
permanecem acordadas durante a sesta. O planejamento do espaço físico da creche
deve prever a existência desses espaços, assim como a aquisição de insumos como
colchonetes e travesseiros.
O acesso a informações a respeito da importância do sono, as necessidades na
primeira infância e de medidas que favorecem um sono de qualidade devem estar
disponíveis para as famílias e para profissionais que trabalham em creches e insti-
tuições de educação infantil.
Deve-se incluir, em documentos oficiais como a caderneta da criança, informa-
ções sobre a importância do sono, assim como dados sobre as necessidades de sono
para cada faixa etária e orientações que auxiliem os responsáveis a construir uma
rotina de sono adequada.
CAPÍTULO 5
Desenvolvimento infantil e parentalidade
Rogerio Lerner
Izabella Lopes de Arantes
Caroline Martins Dias
Desenvolvimento infantil
A primeira infância compreende desde a gestação até os 6 anos de idade e é um
período bastante sensível para o desenvolvimento humano, pois o que é estimulado
positiva ou negativamente durante essa etapa poderá ter impactos que se refletirão
ao longo da vida. É nessa etapa inicial que são construídas bases fundamentais para
a aquisição de futuras habilidades em diversos âmbitos da vida, por exemplo, a ca-
pacidade de aprender (cognitivo) e de lidar com relações e sentimentos (socioemo-
cional), saúde física (somático), entre outros[150].
As conquistas da criança não se refletem apenas nas mudanças perceptíveis na
sua aparência física e no crescimento, mas também em diversas outras habilidades
que, embora possam parecer mais sutis, merecem toda a nossa atenção. Transfor-
mações importantes que ocorrem de maneira discreta se expressam na forma de
comunicação da criança, nas experiências emocionais e suas manifestações, na sua
maneira de movimentar-se e brincar, no manuseio de coisas do cotidiano e na sua
interação com as pessoas do seu meio[150].
O desenvolvimento do cérebro e de todo o sistema nervoso começa antes do
nascimento e pode sofrer com condições vivenciadas nessa etapa, como saúde física
84 Desenvolvimento infantil e parentalidade
e mental da mãe e do pai, ingestão de drogas e álcool por parte deles, exposição à
violência no ambiente, com consequências importantes para a evolução cerebral do
bebê.
A exposição intensa aos chamados fatores de risco, frequente e duradoura, sem
apoio e proteção adequados, pode desencadear um tipo tóxico de estresse, afetando
negativamente o cérebro e com prejuízos para o desenvolvimento. São considerados
fatores de risco preconceito, exposição a violência e drogas, negligência, abusos
psicológicos, abusos físicos, pobreza, cuidadores que apresentam transtornos
mentais[151].
Nos anos iniciais, o cérebro humano passa por grande plasticidade. Isso significa
que as experiências da criança nos vínculos com quem cuida dela têm impacto na
sua estrutura e funcionamento, formando-se inúmeras novas conexões entre os
neurônios (células que formam o sistema nervoso), que são chamadas de sinapses.
O processo de parentalidade envolve a construção que mulheres e homens fazem
da sua identidade como mães e pais de bebês antes mesmo que estes venham ao
mundo. Esses papéis parentais começam a ser construídos ainda na infância a partir
das brincadeiras e das experiências dessas pessoas nas suas famílias, sendo trans-
formados até a vida adulta, quando passam a exercer suas funções parentais com suas
próprias filhas e filhos[152].
É a partir da família, mais precisamente de mães e pais ou quem exerce tais
funções, que a criança poderá se estruturar psiquicamente e se desenvolver. O de-
senvolvimento infantil está associado ao ambiente parental em que a criança está
inserida, com suas características positivas e negativas[153]. É importante ressaltar
que o ambiente em que a parentalidade é exercida é influenciado pela história e pela
cultura tanto em sentido amplo, ao pensarmos em nossa sociedade com seus valo-
res e regras que influenciam nossas ações, como por questões individuais e cons-
truídas a partir das vivências de cada pessoa[154].
Para promover o desenvolvimento saudável, precisamos considerar a integralidade
do cuidado: é necessário que haja alimentação adequada, ambiente que ofereça se-
gurança e afeto, estímulos favoráveis, relações de apoio e educação com qualidade.
Por isso, família, sistema de saúde, creches, escolas de educação infantil e a sociedade
como um todo devem trabalhar em conjunto para garantir que a infância seja um
período saudável e seguro.
Investimentos que promovem melhorias de parentalidade e das condições de
vida na primeira infância são essenciais para atuar sobre a pobreza, enfrentando
desigualdades injustas na distribuição dos recursos de saúde, educação, trabalho
entre diferentes grupos populacionais, decorrentes das condições sociais em que as
pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem[155]. Possibilitam cresci-
Ciência da primeira infância 85
mento e desenvolvimento saudáveis a fim de construir um futuro mais sustentável
como sociedade. Afinal, em algumas décadas, as crianças que hoje vivenciam a
primeira infância estarão à frente da economia, assumindo postos de trabalho,
ocupando as universidades e cuidando de outras crianças.
Pesquisas científicas com evidências sobre parentalidade e primeira infância
devem ser utilizadas para embasar políticas públicas que busquem democratizar
oportunidades para um bom desenvolvimento infantil.
Aprofundando a compreensão sobre parentalidade
A parentalidade envolve um conjunto de atitudes ligado a crenças, sentimentos e
hábitos das pessoas que são cuidadoras principais da criança, não se restringindo a
mães e pais biológicos, dado que a família pode ser considerada uma organização
que existe a partir dos afetos e cuidados entre as pessoas que fazem parte dela sem
necessariamente envolver laços consanguíneos[156]. Existem diversos tipos de famílias:
biparentais (com pai e mãe), monoparentais (com apenas um cuidador), famílias com
mães e pais separados, reconstituídas, com casais homoafetivos, com filhos adotivos,
entre outras.
Práticas de parentalidade positiva estão associadas ao melhor desenvolvimento
infantil, e devemos percebê-las como uma parte da promoção da saúde e como uma
forma de prevenção de problemas futuros que as crianças poderão enfrentar.
A parentalidade positiva atende às necessidades da criança com afeto, apoio,
cuidado e sensibilidade[153]. Um ambiente afetuoso, em que a criança é apoiada e
incentivada a desenvolver suas habilidades, está ligado a manifestações mais fre-
quentes de comportamentos cooperativos e exploratórios das crianças. Contudo, a
parentalidade negativa, com comportamentos violentos e punitivos e falta de sensi-
bilidade para os sentimentos das crianças, está associada a uma frequência e inten-
sidade maiores de comportamentos agressivos e inibidos por parte delas.
A formação do vínculo seguro entre bebês, mães e pais inicia-se ainda durante a
gestação. Enquanto o feto está em desenvolvimento, pai e mãe começam a atribuir
significados às sensações provocadas antes mesmo de sentirem os movimentos dentro
do útero. Nesse momento, ele já começa a ser pensado e sentido como uma pessoa a
partir das falas e interações dos integrantes da família. Após o nascimento, a aproxi-
mação afetiva entre eles gera sentimentos de pertencimento e empoderamento materno
e paterno nos cuidadores. Esse sentimento é crucial para o estabelecimento de confiança
e, posteriormente, de vinculação entre eles e o bebê. Olhares, falas e toques afetuosos
e responsivos dirigidos ao bebê e seu corpo durante a amamentação, no banho, nas
brincadeiras e em outros momentos são muito importantes nessa etapa[152].
As primeiras experiências do bebê após o nascimento são fundamentais para o
estabelecimento da confiança que é essencial para a formação dos seus vínculos. A
86 Desenvolvimento infantil e parentalidade
criança precisa desenvolver um senso de confiança tanto nas pessoas que a rodeiam
como nos objetos do seu cotidiano, de maneira equilibrada, permitindo a formação
de vínculos íntimos e de proteção[157]. Confiança surge a partir da educação sensível,
responsiva, coerente e consistente entre a criança e sua família.
O ambiente familiar na primeira infância pode influenciar a qualidade da esti-
mulação da criança, o que é muito importante no seu processo de aprendizagem.
Muitos aspectos do ambiente influenciam o desenvolvimento cognitivo e psicosso-
cial: incentivo à exploração do ambiente; supervisão do desenvolvimento de habi-
lidades cognitivas e sociais; elogios às realizações; orientação para a prática de
habilidades; proteção contra preconceitos, provocações e punições; enriquecimento
da comunicação e responsividade; e orientação e limitação do comportamento[157].
Nos anos 1960, teóricos já discutiam sobre os modelos parentais e qual seria o
mais benéfico para a criação de uma criança[158]. O Fundo das Nações Unidas para
a Infância (UNICEF)[159] ressalta que as práticas parentais podem ser divididas em
quatro tipos de estilos segundo suas características:
1. Pais permissivos: há pouca comunicação de regras e prevalece uma tolerân-
cia exagerada com comportamentos inadequados dos filhos. Por acreditarem
que a criança já sabe do que necessita, acabam por não a orientar nem criam
formas positivas de disciplina.
2. Pais ausentes: caracteriza-se por uma tendência de os pais voltarem-se a si
mesmos, levando mais em consideração suas próprias necessidades em
comparação com as da criança, seus desejos e vontades. Pode haver maior
negligência e descuido, pouca demonstração de afeto e dificuldades em
compreender as necessidades básicas da criança, como a importância do
afeto, amor e apego.
3. Pais autoritários: tendem a ter uma postura mais rígida e controladora
quanto aos comportamentos da criança, com pouca demonstração de afeto
e forte uso da punição para controle do comportamento. Este estilo é opos-
to ao permissivo, com pais que acreditam saber o que é melhor, mantendo
uma relação unilateral, com pouco respeito à personalidade da criança e uso
de medo, castigo e força para controle.
4. Pais participativos ou autoritativos: este é considerado o estilo mais desejável
de parentalidade. Leva em consideração os sentimentos e ideias da criança,
valoriza seus esforços e comportamentos positivos e promove uma comuni-
cação aberta e empática. Há uma conciliação entre o reconhecimento da in-
dividualidade da criança e a percepção da responsabilidade de quem cuida em
educar e orientar, estabelecer regras e limites condizentes às necessidades da
criança e incentivando sua criatividade, curiosidade e independência.
Ciência da primeira infância 87
Desde a gestação e até mesmo antes dela, as crenças, valores e sentimentos paren-
tais alimentam suas expectativas sobre o estilo de cuidado que adotarão e sobre as
características físicas e psicológicas da criança[152]. No entanto, após o nascimento, é
importante que o casal desenvolva a percepção de que o bebê tem características di-
ferentes das imaginadas durante a gestação e desenvolva a aceitação de como ele é.
Adaptar-se a partir da interação com o bebê, protegê-lo, compreendê-lo e reconhecê-
-lo como filha ou filho são aspectos fundamentais para um vínculo saudável[160].
Depressão e parentalidade
Cerca de 3,8% da população mundial apresenta sinais depressivos, sendo mais comum
em mulheres do que em homens. A depressão é um transtorno multifatorial que
envolve fatores sociais, psicológicos e biológicos, como violência, desemprego, luto,
histórico familiar e condições físicas limitantes[161]. A depressão se apresenta por um
conjunto de sinais, entre eles a perda de prazer pelas atividades, estado geral depri-
mido, sensação de inutilidade, culpa e desvalia, cansaço constante, dificuldade na
concentração, entre outros[162]. Alguns comportamentos de pessoas com depressão
podem não ser percebidos como sua manifestação e levarem a uma culpabilização
indevida de quem está em sofrimento e precisa de ajuda. A melhora do quadro está
associada ao acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, mas também à iden-
tificação de fatores ambientais que podem afetar as pessoas em sofrimento.
A depressão perinatal pode acontecer desde a gestação até os 12 meses após o
parto e é um problema de Saúde Pública muito importante no nosso país. A cada
quatro mulheres, pelo menos uma demonstra sinais depressivos, totalizando cerca
de 26,3%[163]. A chance de sua ocorrência é maior na população negra, em classes
econômicas desfavorecidas, pessoas com histórico de transtorno mental, episódios
de gravidez não planejada, multiparidade (mulheres que já possuem três filhos ou
mais), rede de apoio reduzida, eventos estressores e mães solo[163,164]. Seus sinais são
semelhantes aos da depressão comum, com mais intensidade e frequência de irri-
tabilidade, desinteresse sexual e choro[165,166]. Muitos dos casos possuem intensidade
moderada, permanecendo mascarados pelo cansaço ou dificuldades para dormir
típicos da maternidade, passando despercebidos pelos familiares próximos e pro-
fissionais de saúde[163].
A depressão perinatal está associada a diversas questões relacionadas à própria
saúde da mulher e ao desenvolvimento da criança, como risco de nascimento pre-
maturo e/ou baixo peso ao nascer, prejuízos no desenvolvimento global, dificulda-
des cognitivas, comportamentais e motoras, baixa autoestima e problemas de
comportamento[164,166,167]. Pode afetar diretamente os cuidados voltados à criança,
como a qualidade de vínculo mãe-bebê, sentimentos de incompetência por parte
88 Desenvolvimento infantil e parentalidade
da mãe e dificuldade na compreensão dos sinais emitidos pelo bebê, dificultando
assim a constituição da parentalidade[166–168].
Apesar da possível associação com a depressão perinatal, dificuldades no desen-
volvimento infantil devem ser vistas de maneira singular pela rede de apoio e pelos
profissionais de saúde envolvidos. Seu trabalho, com o diagnóstico correto, auxílio
quanto a dúvidas relativas à maternagem segura e a própria saúde da mulher, são
fundamentais para que se favoreça a construção dos cuidados com o filho[168].
Assim como a depressão materna, o estresse parental também é um fator de risco,
podendo afetar a parentalidade em construção e os laços com a criança. Esse tipo
de estresse está relacionado às dificuldades que permeiam o exercício da parentali-
dade e que estão presentes no dia a dia da família. A mulher, durante o período ges-
tacional, passa por uma série de mudanças fisiológicas e corporais que podem
acarretar situações estressoras se não tiver um ambiente familiar acolhedor e que
propicie uma gestação a mais tranquila, segura e saudável possível. Estresse aumen-
tado na gestação pode afetar diretamente a vinculação da mãe com seu bebê, difi-
cultando a parentalidade positiva[169].
O estresse gestacional está relacionado ao estresse parental, ou seja, mulheres que
tiveram uma gestação conflituosa por razões emocionais, sociais ou financeiras, tais
como ambiente familiar violento, psicopatologia na família, desemprego, criminalidade,
abuso de álcool e outras drogas, possuem maior probabilidade de continuar com
sintomas de estresse no período pós-parto e no primeiro mês de vida do bebê[169].
Burnout parental
A sobrecarga resultante do excesso de tarefas durante os cuidados parentais pode levar
a um tipo de esgotamento emocional denominado burnout parental. Mães, pais ou
mães solo, mães e pais de crianças pequenas, mães e pais com mais de um filho, mães
e pais de crianças com deficiências ou doenças, mães e pais que sofrem de depressão
ou excessivamente perfeccionistas podem ser mais suscetíveis a sofrer burnout.
Senso de autoeficácia e boa autorregulação emocional, bom relacionamento
conjugal, relacionamentos interpessoais satisfatórios e rede de apoio também podem
proteger mães e pais contra o burnout parental[170].
Entrevistas clínicas, sobretudo em um contexto de psicoterapia, podem servir
para diagnosticar e para possibilitar um espaço de elaboração do burnout paren-
tal[170,171].
O Inventário de Burnout Parental (Parental Burnout Assesment) considera três
sintomas principais: exaustão relacionada às tarefas como mãe ou pai, distância
emocional em relação aos filhos e ineficiência no exercício da parentalidade. Para
Ciência da primeira infância 89
ser utilizado com a população brasileira, houve um processo de tradução e retradu-
ção, adaptação para o contexto brasileiro e culturalização, além de estudos com
amostras brasileiras[172].
A Avaliação de Burnout Parental consiste em um questionário de 23 itens com 4
subescalas voltadas a avaliar exaustão emocional, sentimentos negativos em relação
ao convívio com os filhos, diferenças entre a forma como os pais se sentiam antes
de ter filhos e como se sentem agora e afastamento emocional em relação aos filhos.
As consequências do burnout parental podem ser bastante prejudiciais tanto para
mães e pais quanto para as crianças. Acometidos pelo esgotamento, podem buscar
meios de escapar do exercício da parentalidade pelo distanciamento psicológico,
alcoolismo ou, em casos extremos, pensamentos ou tentativas de suicídio. Na rela-
ção com os filhos, podem ter dificuldade em dar suporte emocional e acolhimento,
tornando-se impacientes e menos tolerantes às necessidades das crianças, chegando
até a negligenciar os cuidados e adotar comportamentos mais violentos[171].
As crianças podem vir a se sentir mais desamparadas, ansiosas e inseguras ante
à indisponibilidade emocional de seus pais. Afetando a qualidade das interações
entre mães, pais e filhos, o burnout parental tem potencial para alterar negativamente
toda a dinâmica familiar[173].
Uma vez que o quadro de burnout esteja instalado, é importante buscar tratamento
para cuidar de seus sintomas e restabelecer o bem-estar e a qualidade de vida. Psi-
coterapia individual, psicoterapia familiar e acompanhamento psiquiátrico são al-
gumas estratégias de cuidados em saúde mental. Atividades que reduzam o estresse,
como a prática de exercícios físicos, atos de autocuidado, prática de hobbies e inte-
ração social também são importantes aliados na luta contra o burnout parental. A
participação em grupos sobre parentalidade e fortalecimento de rede de apoio,
formada por pessoas próximas, são iniciativas importantes[174].
Parentalidade, regulação emocional e funções executivas
Os estímulos recebidos na primeira infância estão diretamente ligados à aquisição
de habilidades mais complexas que serão cruciais para o futuro da criança. Entre
essas habilidades, estão as funções executivas que, quando apresentam bom funcio-
namento, permitem que a pessoa seja capaz de perceber suas emoções, lidar melhor
com os próprios impulsos, pensar a respeito de um mesmo assunto por diferentes
pontos de vista, conseguir refletir antes de adotar uma ação, manter a atenção e lidar
com desafios.
Funções executivas e regulação emocional estão interligadas, uma vez que podem
se influenciar mutuamente. Por exemplo, uma emoção desregulada pode afetar de
90 Desenvolvimento infantil e parentalidade
maneira negativa a possibilidade de tomar decisões, enquanto habilidades bem
desenvolvidas de controle inibitório podem contribuir na regulação de uma resposta
emocional e evitar que esta aconteça de forma exacerbada ou inadequada. Um bom
funcionamento executivo pode favorecer habilidades necessárias para regulação
emocional ao permitir que uma pessoa reflita, pense considerando diversos pontos
e, dessa forma, consiga lidar melhor com situações emocionalmente desafiadoras
em que precisa se autorregular. Em suma, regulação emocional e funções executivas
são cruciais para uma vida adulta funcional no cotidiano[175].
O controle inibitório, uma das habilidades que compõem as funções executivas,
é fundamental para que uma pessoa consiga ter comportamentos socialmente ade-
quados, orientados a objetivos e com capacidade de adaptação, tornando-se mais
apta para uma vida autônoma[176]. A ausência ou o déficit no controle inibitório re-
sultam em impulsividade, respostas e comportamentos potencialmente inadequados.
Na vida cotidiana, o controle inibitório pode ser requerido para emitir respostas
adequadas em situações diversas, por exemplo: na tomada de decisões que necessi-
tam de racionalidade e até mesmo na renúncia a impulsos momentâneos a fim de
evitar consequências negativas futuras; na regulação das próprias emoções diante
de situações muito estressantes e desafiadoras; na capacidade de ter foco em tarefas
e projetos, resistindo a distrações e conseguindo manter-se na atividade, o que pode
privilegiar ações favoráveis ao rendimento acadêmico, profissional e também nos
compromissos diários; nas relações com outras pessoas, favorecendo interações mais
bem adaptadas às necessidades de cada situação com posturas mais harmoniosas e
menos reativas[177].
No que diz respeito à parentalidade, o controle inibitório pode auxiliar mães e
pais na gestão das próprias emoções e na forma como reagem diante dos desafios
apresentados por suas crianças. A regulação das emoções permite a percepção de
sentimentos de raiva, estresse e frustração, que auxilia a recobrar o equilíbrio e favo-
rece comportamentos mais assertivos, mesmo perante situações bastante desafiado-
ras. A capacidade de mães e pais de manterem-se estáveis pode propiciar um ambiente
emocionalmente seguro e com previsibilidade às crianças, que não serão surpreen-
didas por reações parentais agressivas, descontroladas ou abruptas[178], educando de
maneira positiva, sem punições causadas por impulsividade, raiva e descontrole[179].
Sendo capazes de ter mais autocontrole, foco e atenção, mães e pais conseguem
gerir melhor as próprias tarefas e conciliar diversas responsabilidades concernentes
à parentalidade e a outras áreas da vida, melhorando sentimentos de autoeficácia e
autoestima. Esses comportamentos parentais assertivos e apropriados às situações,
mesmo àquelas mais difíceis, podem, além de promover um ambiente seguro e
protetor para o desenvolvimento saudável das crianças, servir de estímulos para elas
Ciência da primeira infância 91
terem comportamentos futuros apropriados. Tendo mães e pais como exemplos,
poderão aprender a gerir melhor as próprias emoções e apresentar ações mais positivas.
Em outras palavras, a parentalidade positiva tende a favorecer o bom desenvolvimento
de funções executivas e regulação emocional das crianças, ao passo que a parentali-
dade negativa pode representar obstáculos significativos para isso.
Instrumentos para avaliar a qualidade da interação entre mães e bebês
e práticas de parentalidade
Alguns instrumentos se destinam a avaliar a qualidade da interação entre mães e
bebês e práticas de parentalidade. Esses instrumentos reúnem diretrizes importan-
tes para avaliar condições que podem favorecer aspectos saudáveis para o desenvol-
vimento na primeira infância.
O Coding Interactive Behavior (CIB), desenvolvido por Feldman em 1998, avalia
a qualidade da interação mãe-bebê observando seu registro em vídeo ao longo de
cinco minutos. Durante esse período, são identificados e registrados os diferentes
tipos de comportamentos observados. A observação é direcionada por uma série
de itens relevantes para o desenvolvimento da relação parental, tais como: o dire-
cionamento do olhar materno para a criança; a expressão do afeto e sua manifesta-
ção; a vocalização materna e seu tom, que pode ser afetuoso, sem modulação vocal
ou caracterizado pelo silêncio; o modo como o toque é aplicado no corpo do bebê
em situações cotidianas, como a troca de fraldas ou o ato de acalentar; e o posicio-
namento da criança no colo da mãe ou se ela permanece por longos períodos sem
ser segurada[180].
O Parenting and Family Adjustment Scales (PAFAS) é uma ferramenta concebida
para avaliar as práticas parentais e a qualidade da dinâmica familiar. Dentro das suas
dimensões, destaca-se a relevância do relacionamento entre pais e filhos, abrangendo
o apoio, incentivo e afeto oferecidos à criança. Além disso, avalia-se o nível de sa-
tisfação dos pais com suas vidas e as responsabilidades parentais, aspectos que in-
fluenciam diretamente na promoção de uma parentalidade saudável. Não menos
importante é a análise da qualidade da rede de apoio familiar disponível para esses
pais, entre outros aspectos[181].
Piccolo (Parenting Interactions with Children: Checklist of Observations Linked to
Outcomes) é uma ferramenta utilizada para avaliar interações parentais. São consi-
deradas as seguintes dimensões: estimulação (como as interações parentais estimu-
lam aprendizagem), responsividade (respostas dos pais a necessidades das crianças),
afeto (demonstrações afetuosas e contato físico) e encorajamento (estímulo à auto-
nomia e suporte)[182].
92 Desenvolvimento infantil e parentalidade
Um estilo de criação orientado por práticas positivas de parentalidade deve con-
siderar a afeição entre pais e crianças, que engloba contato físico positivo, expressões
positivas demonstradas à criança e manifestações emocionais calorosas; a responsi-
vidade dos pais em relação a emoções, comportamentos e interesses da criança; uma
postura de encorajamento à criança, com apoio para que possa explorar, conhecer,
ter iniciativa, ser criativa e brincar; e o ensino, que deve abranger interações, brinca-
deiras, estímulos e perguntas que favoreçam as aprendizagens da criança[182].
Programas voltados para a parentalidade
A violência vivenciada, seja diretamente sofrida e/ou presenciada pela criança, pode
estimulá-la a agir de forma semelhante aos comportamentos violentos dos adultos.
As diferentes violências que ocorrem durante a infância podem gerar impactos
profundos ao longo de toda a vida, já que a violência é potencialmente ameaçadora
ao pleno desenvolvimento[150]. A exposição repetida e prolongada à violência, sem
o apoio e proteção genuínos de uma pessoa adulta, pode produzir estresse tóxico,
que tende a desencadear agravos à memória, aprendizagem, imunidade, entre outros.
Prevenir a ocorrência de danos à infância é a maneira mais eficaz de combater a
violência contra crianças[183].
São consideradas formas de violência contra crianças: agressões físicas, que
consistem em causar sofrimento físico à criança; abuso sexual, que consiste em
praticar atos sexuais com a criança ou fazê-la presenciar a realização destes; violên-
cia psicológica, que equivale a humilhações, constrangimento, depreciação, discri-
minação; negligência, isto é, não ofertar cuidados, proteção e se omitir diante das
necessidades de proteção e zelo[183].
O que afeta negativamente e de forma substancial a infância afeta também toda
a sociedade. Falar sobre o potencial do desenvolvimento humano não significa
classificar nem tampouco segregar crianças com dificuldades para seu desenvolvi-
mento. Trata-se, na verdade, de alertar profissionais, gestores de políticas públicas,
famílias e sociedade para a importância de que todos reúnam esforços para zelar e
prover às crianças uma infância saudável a fim de que cada uma, de acordo com
suas próprias características, possa alcançar seu potencial de desenvolvimento o
mais plenamente possível, o que fica ameaçado pelos estilos de parentalidade con-
siderados negativos[184].
Nos últimos anos, a prevenção de práticas parentais negativas e a promoção de
positivas têm ocorrido em vários países a partir de diferentes propostas.
O programa ACT (palavra do inglês que, em português, significa Ação), desen-
volvido pela American Psychological Association (APA), é destinado ao fortalecimento
da parentalidade positiva e prevenção de violências contra crianças de 0 a 8 anos.
Ciência da primeira infância 93
Há uma versão traduzida para o português com a finalidade de alcançar o público
brasileiro intitulada Programa ACT – Para Educar Crianças em Ambientes Seguros[185].
O ACT consiste em um treinamento para mães e pais para prevenção de ocorrências
de parentalidade negativa e aumento das de parentalidade positiva transmitindo
informações sobre desenvolvimento infantil, fatores de risco e proteção, oferecendo
orientações para a melhora de habilidades sociais, construção de comunicação mais
assertiva e para que lidem com situações de conflito sem fazer uso de violência. São
desenvolvidas estratégias para administrar a raiva dos pais ou das crianças, entender
o comportamento da criança, resolver conflitos e aplicar disciplina positiva.
Por meio da promoção de práticas de parentalidade positiva, o ACT é um pro-
grama eficaz para melhorar os níveis de estresse parental[186]. No Brasil, o trabalho
com o ACT teve início em 2012 com etapas de adaptação, validação e pesquisas
demonstrando sua eficácia[187].
Fortalecendo Laços[188,189] é um programa criado no Laboratório de Pesquisa em
Prevenção de Problemas de Desenvolvimento e Comportamento da Criança – FMRP
USP (LAPREDES) a fim de incentivar o desenvolvimento saudável na infância
aprimorando as relações entre mães e crianças com idades entre 2 e 6 anos. Tem
uma etapa presencial que consiste em observação e sessão em grupo e, posterior-
mente, outra com formato remoto por meio de vídeos compartilhados via smartphone.
Os conceitos que fundamentam o programa são responsividade – que entende a
importância de haver cuidado, amor, presença e disponibilidade de mães e pais em
relação às crianças; reciprocidade – compartilhamento de momentos, ideias e auxí-
lio às crianças de maneira colaborativa que favorecem que tenham modelos positi-
vos influenciando seu comportamento; diretividade – estimular a criança para que
possa aprender e construir sua autonomia.
No Brasil, alguns programas são voltados a intervenções envolvendo a família,
com destaque para o manejo de situações conflituosas e a prevenção de comporta-
mentos negativos, sendo conduzidos de maneira bilateral[190]. O Programa de
Treinamento de Pais promove práticas educacionais positivas, habilidades de comu-
nicação e enfrentamento ao estresse[191], enquanto o Trabalho de Intervenção com
Foco em Práticas de Socialização é direcionado para os problemas internalizantes
na infância[192].
O Programa Criança Feliz, instituído a partir do Decreto n. 8.869, de 5 de outu-
bro de 2016, propõe a promoção do desenvolvimento integral de crianças na primeira
infância (de 0 a 6 anos). É uma iniciativa governamental, intersetorial e uma política
do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)[193], que está em consonância com o
Marco Legal da Primeira Infância (Lei n. 13.257/2016), que traz a relevância das
94 Desenvolvimento infantil e parentalidade
formulações de diretrizes e implementações de políticas públicas voltadas ao desen-
volvimento infantil nos seus primeiros anos de vida[194].
A participação no programa é ofertada pela inscrição e atualização dos dados no
Cadastro Único, e as famílias cadastradas recebem visitas domiciliares realizadas
pelas equipes de profissionais de saúde de seu território com a finalidade de receber
o acompanhamento necessário e as orientações de forma a fortalecer o vínculo
entre a família e a comunidade[194]. O programa possui como principais objetivos a
promoção do desenvolvimento infantil integral, apoio à gestante e sua família durante
o período anterior ao nascimento do bebê, cuidado com crianças em situação de
vulnerabilidade, fortalecimento do vínculo e papel da família no desenvolvimento
global da criança, estímulo da prática de atividades lúdicas e facilidade de acesso às
políticas e serviços de que necessitam[194].
Segundo dados coletados pelo governo de São Paulo, essa política alcançou, até
o mês de maio de 2023, 219 dos 645 municípios do estado, totalizando cerca de
22.815 pessoas beneficiadas, o que evidencia que a iniciativa ainda necessita de
muitos avanços na sua expansão[195].
No Brasil, foi sancionada recentemente a Lei n. 14.826/2024, que defende a pa-
rentalidade positiva e o direito de brincar como formas de prevenção à violência
contra crianças. A lei destaca que não só a família, mas o Estado e a sociedade como
um todo devem prezar pela segurança e boas condições para que a infância seja
vivida com qualidade. Entre as estratégias e práticas para parentalidade positiva, a
lei institui a promoção de: ações de prevenção e manutenção da vida da criança,
resguardando saúde física e mental, garantindo direitos e protegendo da exposição
à violência; suporte emocional à criança a fim de proteger o desenvolvimento psi-
cológico; práticas educacionais não violentas, que sejam refletidas em relações
saudáveis entre pais e crianças; estímulos à construção da autonomia respeitando
as fases do desenvolvimento infantil; entre outras[196].
A importância da Caderneta da Criança como instrumento de
fortalecimento à parentalidade positiva
A Caderneta da Criança (CC) é um instrumento importante de vigilância para
acompanhamento e registro de informações sobre a saúde das crianças de 0 a 9 anos,
preenchido pelos profissionais envolvidos, que destaca que é assegurado a toda
criança o direito a uma infância com segurança e proteção e fornece diretrizes para
o exercício de uma parentalidade adequada[150]. Todos os bebês nascidos no Brasil
em maternidades públicas ou privadas têm direito ao seu recebimento gratuito.
A CC[150] recomenda ações práticas que podem ser adotadas por mães e pais ao
longo de cada fase do desenvolvimento da criança para ofertar um tipo de cuidado
consistente e afetuoso desde seu nascimento: evitar gritos e outros tipos de violência;
Ciência da primeira infância 95
expressar carinho e afetividade ao lidar com sua filha ou filho; atentar-se às neces-
sidades de cuidado da criança; conversar e interagir de acordo com a idade da criança.
Além disso, orienta os adultos a não praticarem atitudes agressivas na presença de
crianças, evitando, assim, influenciá-las a reproduzir comportamentos violentos
presenciados ou vividos.
Os marcos do desenvolvimento encontrados na CC são um conhecimento im-
portante para que profissionais, mães e pais compreendam melhor a criança em
cada fase. Seu desconhecimento pode trazer riscos porque dificuldades ou atrasos
podem não ser percebidos, ao passo que, caso fossem identificados precocemente,
receberiam intervenções de profissionais da saúde que minimizam eventuais danos.
A atenção aos marcos do desenvolvimento da infância presentes na CC também é
uma forma de cuidado.
Se há alguma suspeita, por parte das pessoas que cuidam da criança, de que ela
não está atingindo algum dos marcos do desenvolvimento esperados para sua faixa
etária, é necessário que a equipe de saúde seja informada. Profissionais da saúde que
têm especialização em infância têm capacitação adequada para realizar uma avalia-
ção minuciosa e, se necessário, intervir para cuidar.
A CC é produzida pelo Ministério da Saúde como uma fonte de informações sobre
desenvolvimento infantil segura, qualificada e confiável, que ganha ainda mais impor-
tância no momento atual, em que notícias falsas prejudiciais estão tão disseminadas.
Os registros contidos na CC são detalhados e documentam a trajetória de cui-
dados de saúde ofertados durante a infância. Os dados sobre cada fase do desenvol-
vimento são baseados em evidências científicas sobre crescimento e saúde da criança
atualizadas de acordo com as diretrizes dos órgãos de saúde.
As notícias falsas, conhecidas como fake news, propagam inverdades que podem
gerar grandes danos às pessoas que abandonam comportamentos benéficos ou
adotam novos hábitos danosos à própria saúde ou à de quem cuidam por terem
acreditado em boatos sem fundamentos científicos. Quando se pensa em fake news
ligadas ao desenvolvimento infantil, a situação tende a ser ainda mais grave, pois
podem influenciar negativamente os estilos de cuidado parental e até mesmo a oferta
de prevenção e promoção de saúde a crianças. Um exemplo recente desse problema
é a disseminação massiva de notícias falsas espalhando desinformação sobre as
vacinas, influenciando negativamente sua procura mesmo nos períodos de campa-
nhas largamente anunciadas. Ressalte-se sempre que vacinas salvam vidas e impedem
a disseminação de doenças.
Se notícias falsas podem gerar agravos significativos à saúde, orientações pauta-
das pela ciência como as existentes na CC podem auxiliar na construção de uma
infância mais segura.
96 Desenvolvimento infantil e parentalidade
Então, o que vimos até aqui?
●
O desenvolvimento do cérebro do bebê começa antes do nascimento e é
influenciado pela saúde materna. A primeira infância é um período crucial
para o desenvolvimento humano com impactos duradouros. Durante essa
fase, são construídas as bases fundamentais para habilidades cognitivas, fí-
sicas e emocionais. São fatores de risco para o desenvolvimento infantil o
preconceito, a violência e a pobreza, que podem causar estresse tóxico,
prejudicando o desenvolvimento cerebral.
●
O desenvolvimento infantil também é influenciado por fatores sociais, his-
tóricos e culturais. A integralidade do cuidado é essencial, incluindo alimen-
tação adequada, segurança, afeto, estímulos favoráveis, apoio e educação de
qualidade. Famílias (biparentais, monoparentais, reconstituídas e homoafe-
tivas), sistemas de saúde, creches, escolas e a sociedade devem trabalhar em
conjunto para garantir um desenvolvimento saudável.
●
A formação de vínculos seguros começa na gestação e se fortalece com ex-
periências afetivas pós-nascimento. A confiança e a vinculação são essenciais
para o desenvolvimento, sendo influenciadas por uma educação sensível e
responsiva. A estimulação no ambiente familiar é primordial para o desen-
volvimento cognitivo e psicossocial.
●
O processo de parentalidade começa antes do nascimento, com os papéis
parentais sendo influenciados pela estrutura familiar e pela sociedade. O
desenvolvimento da criança é influenciado por mães, pais e cuidadores, com
o ambiente familiar desempenhando um papel importante. Práticas de pa-
rentalidade positiva, caracterizadas por afeto, apoio, cuidado e sensibilidade,
estão associadas ao melhor desenvolvimento infantil e à prevenção de difi-
culdades futuras.
●
O ambiente familiar deve evitar práticas negativas que aumentam o risco de
comportamentos desafiadores.
●
Investir na parentalidade é fundamental para o enfrentamento de iniquida-
des e promoção do desenvolvimento saudável. Nesse sentido, as evidências
científicas embasam as políticas públicas como forma de democratização de
oportunidades em prol do bom desenvolvimento infantil.
●
A depressão materna pode afetar negativamente o desenvolvimento infantil,
destacando a necessidade de apoio profissional.
●
O estresse parental é um fator de risco significativo, podendo continuar no
pós-parto. Já o burnout parental resulta do excesso de tarefas. Ambos têm
consequências prejudiciais tanto para cuidadores como para crianças, pois
Ciência da primeira infância 97
afetam as relações, e podem ser prevenidos com autoconfiança, boa rede de
apoio e cuidado com as emoções.
●
Instrumentos de avaliação podem ser utilizados para identificar e tratar o
burnout parental.
●
As funções executivas auxiliam os pais na gestão das emoções e reações aos
desafios da parentalidade. O controle inibitório, quando bem desenvolvido,
pode influenciar positivamente na regulação de alguns sentimentos, como
raiva, estresse e frustração, promovendo, assim, comportamentos assertivos
e um ambiente emocionalmente seguro e previsível para as crianças.
●
Programas de prevenção de parentalidade negativa e promoção da positiva
são benéficos para a família e para o desenvolvimento infantil.
●
A regulação emocional e funções executivas se influenciam mutuamente.
Emoções desreguladas podem afetar negativamente a tomada de decisões.
Já as habilidades bem desenvolvidas de controle inibitório ajudam na regu-
lação emocional e são importantes para uma vida adulta funcional no coti-
diano por permitirem a possibilidade de reflexão e melhor manejo frente a
situações desafiadoras.
●
A Caderneta da Criança (CC) é um documento oficial e seguro contra a
desinformação por ser baseada em evidências científicas e conter atualizações
de saúde. Serve como um guia prático para a parentalidade a partir de reco-
mendações como a relevância do carinho e atenção frente às necessidades da
criança, interações de acordo com a faixa etária, os malefícios de gritos e
violência, entre outros. Ressalta a importância dos marcos do desenvolvimento,
evitando que atrasos e dificuldades passem sem ser percebidos e cuidados.
Dessa maneira, mães, pais e cuidadores têm o direito de ter acesso à CC para
cuidar do desenvolvimento junto com profissionais de saúde envolvidos.
CAPÍTULO 6
Experiências adversas na infância e suas
consequências para o desenvolvimento
Maria Beatriz Martins Linhares
Elisa Rachel Pisani Altafim
O presente capítulo aborda o tema das experiências adversas na infância, que amea-
çam a trajetória de desenvolvimento sadia e plena. Com o objetivo de compreender
as “experiências adversas na infância” (Adverse Childhood Experiences – ACEs),
primeiramente, apresenta-se uma fundamentação teórica e conceitual sobre desen-
volvimento infantil e seus diferentes contextos. Em segundo lugar, encontram-se
uma síntese dos achados de estudos empíricos e revisões da literatura demonstrando
os efeitos negativos das adversidades na infância (maus-tratos e disfunções familia-
res) no desenvolvimento e na saúde, que podem ser consideradas “estressores tóxi-
cos” em “contextos caóticos”. Finalmente, são apresentadas algumas estratégias
protetoras por meio do fortalecimento da parentalidade, que possibilitam quebrar
o ciclo intergeracional das violências e promover processos de resiliência nas traje-
tórias de desenvolvimento.
Desenvolvimento da criança e importância dos contextos sociais
O desenvolvimento humano é definido como um processo de transformação, en-
volvendo mudanças, tanto quantitativas como qualitativas, que ocorrem ao longo
do ciclo vital[157]. O desenvolvimento depende de fatores biológicos, da maturação
100 Experiências adversas na infância e suas consequências para o desenvolvimento
e da aprendizagem e encontra-se organizado em fases que têm seus respectivos
marcos do desenvolvimento em diferentes áreas (motora, cognitiva, linguagem,
emocional e social). As etapas incluem tarefas evolutivas, com aquisições e domínio
de competências organizadas hierarquicamente, que se desenvolvem do nível mais
simples para o mais complexo de forma ordenada e integrada. A trajetória do ciclo
vital deve ser concebida dentro de um processo histórico, em que as fases vão se or-
ganizando e oferecendo a base estruturante e funcional para as etapas seguintes, e
dos contextos sociais.
O estudo do desenvolvimento humano inclui diferentes abordagens teórico-con-
ceituais, e no presente capítulo serão destacados três modelos teóricos que contribuem
sobremaneira para a compreensão do desenvolvimento e a importância dos contex-
tos ambientais em que as crianças vivem. Primeiramente, o Modelo Transacional do
Desenvolvimento preconiza uma integração dialética no desenvolvimento humano
entre nature (natureza/aspectos biológicos e maturacionais) e nurture (estimulação/
aspectos ambientais), incluindo os seguintes componentes: a pessoa, o contexto, a
regulação e a representação[197]. A pessoa inclui a progressão de competências sensório-
-motoras, cognitivas, afetivas e sociais, e os desempenhos nessas áreas nas suas
formas mais simples para as mais complexas. O contexto, por sua vez, integra as
influências bidirecionais entre a pessoa e os seus diversos contextos ambientais de
desenvolvimento, desde o mais próximo ao mais distal. Os processos de regulação,
que são organizadores que visam atingir a autorregulação, por meio da mediação
social e da corregulação dos outros, principalmente dos cuidadores principais das
crianças. Finalmente, a representação envolve o esquema cognitivo-abstrato formado
a partir das experiências vividas, que permite que a pessoa possa interpretar novas
experiências e criar expectativas em relação ao mundo circundante, cumprindo uma
função adaptativa relevante[197].
Em segundo lugar, a Teoria Biossocioecológica de Bronfenbrenner concebe o de-
senvolvimento humano em meio a diferentes sistemas interrelacionados, que incluem
desde o microcontexto até o macrocontexto[198]. Nessa teoria há um foco e detalha-
mento das influências ambientais no desenvolvimento. O microssistema se refere às
relações proximais realizadas face a face, em geral observadas na família, creches e
escolas, sendo essas influências reconhecidas como bidirecionais. O mesossistema
envolve a interação entre dois ou mais microssistemas nos quais a criança participa
ativamente, podendo ser ampliado sempre que novos contextos sejam experimen-
tados, por exemplo, as relações entre a família e a escola. No exossistema, a criança
pode não ter relação direta com determinado contexto, mas eventos que ocorram
nesse ambiente podem afetar indiretamente seu desenvolvimento, por exemplo as
Ciência da primeira infância 101
condições de trabalho dos pais. O macrossistema representa a abrangência de siste-
mas culturais, crenças, valores, ideologias e funcionamentos político e econômico
do país em que a pessoa vive. Finalmente, o cronossistema consiste no sistema mais
amplo por incluir a dimensão temporal que influencia nas mudanças (ou constância)
a que a pessoa e o ambiente estão sujeitos, a exemplo de mudanças familiares estru-
turais, troca de residência, mudança de emprego, períodos econômicos do país e
ocorrências adversas no contexto maior[198].
Em terceiro lugar, a Teoria do Caos e sua influência no desenvolvimento trata de
uma releitura da teoria do Bronfenbrenner analisando os eventos negativos que
ameaçam o desenvolvimento humano, por exemplo, altos níveis de barulho, excesso
de pessoas, instabilidade temporal e estrutural dos ambientes em que a criança vive,
instabilidade nas relações e pobreza[199]. Os contextos caóticos podem estar locali-
zados desde o microcontexto até o macrocontexto[199,200]. Os ambientes caóticos
impactam negativamente nos aspectos biológicos e psicossociais do desenvolvimento
das crianças, assim como podem afetar a qualidade dos cuidados parentais, levando
a maior irritabilidade, ansiedade e depressão. Considerando-se a dinâmica do caos
nas famílias e sua relação com o bem-estar socioemocional das crianças, o caos no
microssistema pode operar em diferentes níveis[201], a saber: construção do tempo
familiar, frequência e disrupção das atividades de rotina e irregularidades das ativi-
dades no cotidiano. No macrossistema, componentes do caos associam-se com a
condição de pobreza e baixo nível socioeconômico[202]. A perspectiva do desenvol-
vimento em contextos caóticos examina o efeito do caos em idades específicas, assim
como o efeito em cascata nas etapas subsequentes do desenvolvimento[197]. Além
disso, oferece fundamentação e subsídios para intervenções de proteção ao desen-
volvimento considerando-se a perspectiva do ecossistema, que focaliza do micros-
sistema ao macrossistema.
Portanto, verifica-se que essas três abordagens apresentam um caráter comple-
mentar, tendo como um eixo comum norteador a importância dos contextos sociais
no desenvolvimento das crianças. O microcontexto familiar representa um fator
importante no desenvolvimento na primeira infância, na medida em que nesse
contexto ocorrem as interações face a face entre pais e crianças e as oportunidades
de aprendizagens fundamentais, que contribuem para as regulações emocionais e
comportamentais das crianças, assim como para seu processo de socialização[203].
No contexto familiar, os pais (ou outros cuidadores principais com a função
parental) desempenham um papel fundamental na construção da personalidade das
crianças. Define-se como parentalidade (parenting) os comportamentos dos pais
baseados no melhor interesse da criança, que asseguram a satisfação de suas prin-
cipais necessidades e sua capacitação; envolve cuidar, proteger e guiar a criança para
102 Experiências adversas na infância e suas consequências para o desenvolvimento
a trajetória até a maturidade, com investimento e compromisso[203–206]. A parentali-
dade envolve um processo contínuo de promoção e suporte ao desenvolvimento
integral e à socialização da criança[187]. Para promover o desenvolvimento integral
das crianças, é crucial que os pais e cuidadores foquem em três aspectos: satisfazer
as necessidades básicas da criança e garantir sua saúde e bem-estar; manter uma
conexão emocional, demonstrando atenção e receptividade e ser referência de se-
gurança, sendo estáveis e consistentes na vida da criança[187].
No entanto, a parentalidade pode envolver práticas parentais negativas com di-
ficuldades no estabelecimento de vínculos e interações adequadas, levando ao apego
inseguro, com práticas parentais coercitivas e maus-tratos, e a consequências nega-
tivas no desenvolvimento e comportamento das crianças[207–209,187]. Na parentalidade,
a regulação emocional e comportamental materna é um fator crucial para o enga-
jamento e suporte parental, enquanto a desregulação emocional materna constitui-
-se em um fator de risco para maus-tratos e disciplina rígida e punitiva, levando a
comportamentos agressivos das crianças e adolescentes[203,179].
Os estudos na área da parentalidade contribuem para entender os processos de
interação pais-criança, práticas e estilos parentais e sentimentos, crenças e atitudes
parentais[203]. Os programas de parentalidade oferecem suporte aos pais para forta-
lecer seus conhecimentos e habilidades ou para melhorar aspectos da parentalidade,
a fim de promover o desenvolvimento saudável das crianças[187,207–209].
As experiências adversas na infância e impactos no desenvolvimento
Considerando-se a importância de prevenir as práticas parentais negativas, torna-se
importante compreender o histórico das adversidades na infância dos pais. No
desenvolvimento humano é importante atentar para os “ciclos intergeracionais de
adversidades”, tais como os ciclos da pobreza e da violência contra crianças, pois
constituem-se em fatores de risco à integridade física e psicológica do indivíduo.
Ambas as condições adversas da pobreza e da violência caracterizam como um
“ambiente caótico” no desenvolvimento das crianças[199]. Nesse ambiente, o indivíduo
tem experiências de eventos estressores tóxicos, em que o percebe como potencial-
mente ameaçador, desencadeando determinadas reações de estresse nos níveis fi-
siológico e psicológico, o que causa danos à saúde quanto mais intensas e crônicas
forem as adversidades[210,211]. O estresse tóxico pode ocorrer na presença de eventos
adversos, sem a devida proteção para neutralizar seus efeitos negativos, ajudar no
enfrentamento das adversidades e mudar o curso da história desenvolvimental. No
caso da violência contra crianças, a parentalidade negativa é um potencial estressor
tóxico, com consequências deletérias ao desenvolvimento a curto, médio e longo
prazo[203,212,213].
Ciência da primeira infância 103
A violência contra crianças é um grave problema mundial, que impacta negati-
vamente o desenvolvimento das crianças e precisa ter respostas de enfrentamento
efetivas e urgentes[32,214]. Destaca-se que um recente e relevante estudo discute sobre
o que as agências globais podem fazer para solucionar o problema das violências
interpessoais contra as crianças, que incluem: violência doméstica, violência na
comunidade (bullying e punição corporal nas escolas, trabalho infantil e violência
institucional) e violência coletiva (conflitos armados, práticas baseadas em tradições,
religiões e superstições e violência de gênero)[215]. Focalizando especificamente as
violências interpessoais no contexto intrafamiliar, os dados no Brasil são alarmantes
quando se analisam as denúncias do Disque 100 e os registros do Anuário de Segu-
rança Pública, que foram apresentados no working paper do Núcleo de Ciência pela
Infância[183]. Os dados mostram que 84% dos casos de violência contra crianças na
primeira infância envolvem os próprios cuidadores familiares. Portanto, as violências
contra as crianças no microssistema familiar consistem em uma grave violação de
direitos, sendo que na realidade as crianças precisam de garantias dos direitos para
uma infância protegida e segura.
Com o objetivo de prevenir as violências contra as crianças com respostas efetivas,
diversas organizações internacionais e grupos de trabalho apresentaram modelos e
estratégias para acabar com a violência. Pode-se destacar algumas estratégias: a) for-
talecimento das capacidades individuais das crianças, por meio de os cuidadores mane-
jarem agressão e resolução de conflitos, reduzirem estresse e garantirem cuidado com
segurança e proteção; b) prevenção da violência de forma integrada em serviços e insti-
tuições que atendem crianças e mulheres (por exemplo, escolas, hospitais); c) eliminar
a raiz da causa do problema da violência, especialmente em comunidades de maior
risco, promovendo normas sociais positivas não violentas; espaços públicos seguros[215].
Em 2016, a Organização Mundial da Saúde, associada à Parceria Prevenção de Vio-
lência contra Crianças, lançou o INSPIRE, com as sete estratégias para acabar com a
violência contra crianças globalmente[32]. O INSPIRE é um acrônimo que significa: I
de implementação e reforço da lei; N de normas e valores; S de segurança; P de pais e
cuidadores garantindo suporte; I de income, fortalecimento de renda e economia; R
de resposta e suporte dos serviços; E de educação e habilidades de vida.
As consequências das violências mostram efeitos deletérios no desenvolvimento
humano, que deixam atrasos no desenvolvimento e necessitam de tratamento e
prevenção[216]. A parentalidade negativa, tais como punições corporais, gritos,
ameaças, humilhações, abusos sexuais, tem efeitos negativos para o desenvolvimento
e comportamento das crianças[212,217]. As práticas de palmadas e punição corporal
provocam problemas de comportamento externalizantes (por exemplo: agressividade
104 Experiências adversas na infância e suas consequências para o desenvolvimento
e dificuldades de atenção) e internalizantes (por exemplo: sintomas de ansiedade,
retraimento e depressivos)[212] e alteram o funcionamento cerebral[213,218].
O problema da parentalidade negativa se agrava quando ocorre a transmissão
intergeracional das violências na família. As experiências adversas na infância formam
um ciclo vicioso de violências, impactando as práticas parentais e a interação mãe-
-criança futuras, as quais, por sua vez, provocam problemas de comportamento nas
crianças[184, 212,219,220]. Os problemas de comportamento das crianças se expressam no
âmbito familiar, assim como no contexto escolar, interferindo negativamente nos
relacionamentos com pares e habilidades sociais e estimulando o bullying na fase
escolar. Portanto, deve-se considerar que os efeitos negativos das violências contra
crianças podem ser identificados nos âmbitos pessoal, familiar e comunitário.
As experiências de adversidades na infância são geralmente avaliadas por ques-
tionários de autorrelato sobre a memória dos eventos que ocorreram até os 18 anos
de idade, porém podem ser avaliadas também por eventos notificados e confirma-
dos de maus-tratos na infância. Os questionários Adverse Childhood Experiences
Questionnaire (ACE-Q), Child Abuse and Trauma Scale, Child Trauma Questionnaire,
Conflict Tactiles Scale, Traumatic Experience Checklist e Childhood Experiences Scales
podem ser utilizados para avaliar as experiências de adversidades na infância. O
ACE-Q[221] é amplamente usado e mostra uma forte “dose resposta”, na medida em
que diferentes ACES mostram relação com mais problemas de comportamento e
saúde[222]. O ACE-Q inclui dois componentes, a saber: um contra o indivíduo (maus-
-tratos) e outro voltado para o funcionamento familiar (ambiente disfuncional). Nos
maus-tratos incluem-se os abusos emocionais, físicos e sexuais e as negligências
emocional e física; no ambiente familiar disfuncional, encontram-se a exposição a
abuso de substâncias, transtorno mental, tentativa de suicídio, violência doméstica,
divórcio/separação parental e comportamento criminoso/prisão por parte de adulto
que morasse na mesma casa. Importante destacar que as experiências adversas no
desenvolvimento inicial vão moldando como as crianças interagem e percebem seu
ambiente e as pessoas circundantes. Importante lembrar que, na perspectiva do
estresse traumático, o conceito de ACE pode ser considerado expandido, incluindo
outras adversidades do tipo: ser testemunha de violência, sentimento subjetivo de
discriminação, vizinhança, viver em abrigos, guerras, desastres naturais, entre ou-
tros[223]. O Adverse Childhood Experiences International Questionnaire (ACE-IQ)
avançou como um instrumento padronizado para a avaliação e vigilância interna-
cional das experiências adversas, permitindo formular programas e políticas públi-
cas de prevenção de maus-tratos na infância no âmbito mundial[224]. Destaca-se que
nessa versão houve um avanço pela inclusão de itens sobre violência comunitária,
violência coletiva e bullying e conta com uma versão brasileira[225]. Importante ob-
Ciência da primeira infância 105
servar que os questionários lidam com a lembrança de eventos adversos no histórico
de vida até 18 anos e, portanto, o processo de rememoração pode estar sujeito a um
viés de memória.
Os ACEs são considerados estressores tóxicos, na medida em que há um desen-
cadeamento de reatividade intensa e prolongada frente a adversidades, prejudicando
a capacidade de respostas do organismo ao estresse, com consequências prejudiciais
ao desenvolvimento e saúde, especialmente na ausência de suporte de relações
positivas dos cuidadores[210,211]. As experiências de adversidades na infância têm
consequências relacionadas a problemas de saúde física (obesidade, doenças imunes,
gastrointestinais, pulmonares e cardiovasculares, câncer) e saúde mental (sintomas
depressivos, comportamento agressivo, estresse pós-traumático, abusos de substân-
cias nicotina, álcool e outras drogas ilícitas, suicídio), que estão amplamente docu-
mentadas em um estudo de revisão da literatura[222].
A presença de ACEs na infância é considerada um dos mais potentes fatores de
risco para psicopatologias ao longo do ciclo vital[226,227]. Os maus-tratos aumentaram
o risco de indivíduos terem diminuição da responsividade a recompensas e apre-
sentarem déficits no reconhecimento e compreensão das emoções[226]. A exposição
a ACEs pode levar a piores desfechos em múltiplas áreas do desenvolvimento, in-
cluindo dificuldades na resolução de problemas, comunicação, habilidades pessoal-
-sociais e habilidades motoras no desenvolvimento inicial até 24 meses[228], assim
como problemas de desempenho escolar, pobre qualidade do sono, problemas
emocionais e comportamentais nas crianças e adolescentes[229]. Crianças que tinham
mães que sofreram maus-tratos na infância apresentaram um risco 3,55 vezes maior
de sofrer punição física do que crianças que tinham mães sem histórico de ACEs,
sendo o risco ainda mais elevado quando as mães haviam sofrido abusos graves na
infância[230]. Estudos de revisão da literatura destacam que a exposição a ACEs au-
menta significativamente o risco de comportamentos parentais negativos em gera-
ções posteriores, nas práticas parentais[203] e nas interações mãe-criança[220].
A quantidade de ACEs importa, a presença de três ou mais ACEs (versus < 3
ACEs) associou-se com maior risco de suspeita de atraso no desenvolvimento das
crianças em diversas áreas[228]. O histórico de quatro ou mais ACEs associa-se com
maior risco para apresentar baixo nível de escolaridade, problemas de saúde e cri-
minalidade; os efeitos negativos se intensificam na presença da pobreza e do gênero
masculino[231]. O estudo de Dong et al. (2004)[232] mostrou a coocorrência de múlti-
plas adversidades, na medida em que 81% de 8.629 respondentes que relataram
experimentar um tipo de maus-tratos tinha mais de um tipo associados.
Os achados ressaltam a importância de reconhecer e interromper o ciclo de
transmissão intergeracional de comportamentos parentais abusivos e violentos. No
106 Experiências adversas na infância e suas consequências para o desenvolvimento
entanto, deve-se considerar que existem continuidades e descontinuidades da trans-
missão intergeracional da violência. Como exemplo, um estudo longitudinal de longo
prazo investigou a relação das ACEs com psicopatologias nos filhos na fase adulta
jovem, comparando grupos de filhos com experiências de maus-tratos (com pais
que quebraram o ciclo ou pais que mantiveram, respectivamente) e sem experiências
de maus-tratos (controle)[233]. Os resultados mostraram que aqueles que romperam
o ciclo da violência apresentaram menos psicopatologias do que os que mantiveram
os padrões de violência nas práticas parentais, sendo em nível semelhante ao do
grupo controle. Esses achados demonstram que as práticas parentais positivas podem
atuar como fator de proteção à saúde mental dos filhos, diminuindo os riscos para
o desenvolvimento de psicopatologias encontrado até mesmo no início da vida adulta.
Em outro estudo, o comportamento interativo materno observado em situação lúdica
com crianças na fase da primeira infância mostrou aspectos positivos de afetividade,
engajamento, responsividade e estimulação, independentemente da presença das
experiências adversas na infância materna[234]. De modo interessante, as mães desse
estudo apresentavam um fator protetor do bom senso de competência parental.
Portanto, deve-se atentar para a possibilidade de descontinuidades do ciclo de vio-
lência, compreendendo que existe um balanço entre fatores de risco e mecanismos
de proteção nas trajetórias de desenvolvimento, que podem explicar processos de
resiliência de superação de impactos negativos de adversidades.
Diante da literatura apresentada verifica-se que as experiências adversas na in-
fância, como abuso, negligência e outras formas de violência têm um impacto ne-
gativo no desenvolvimento das crianças. Essas experiências, conhecidas como estresse
tóxico, podem prejudicar significativamente o desenvolvimento de uma criança nas
suas diferentes áreas, como a física, socioemocional e cognitiva. Quando uma criança
está exposta a níveis elevados e persistentes de estresse, sem o apoio de um adulto
cuidador, isso pode resultar em alterações no cérebro e outros órgãos, afetando
negativamente a saúde física e mental ao longo da vida.
Intervenções centradas na parentalidade como estratégia de proteção
ao desenvolvimento e prevenção da violência
O suporte aos pais na forma de intervenções parentais é uma estratégia importante
e eficaz para reduzir a violência contra as crianças e promover a quebra do ciclo
intergeracional das violências[235]. O INSPIRE recomenda sete estratégias para aca-
bar com a violência contra as crianças, sendo uma delas as intervenções centradas
na parentalidade[32,236]. Além disso, destaca que os programas de parentalidade re-
lacionados aos de transferência de renda são recomendáveis devido ao efeito sinér-
gico positivo para o desenvolvimento das crianças em condições de vulnerabilidade
psicossocial[31,32,236]. As intervenções podem ocorrer no nível de prevenção primária
Ciência da primeira infância 107
ou universal, que é dirigida à população em geral, no nível de prevenção secundária
ou seletiva, orientada para famílias em condição de riscos identificados (por exem-
plo, famílias em risco de abuso infantil, enfrentando pobreza, comunidades econo-
micamente desfavorecidas) e no nível de intervenção terciária ou indicada, quando
as famílias têm os problemas instalados (por exemplo, maus-tratos contra as crian-
ças na família) que vão requerer intervenções individualizadas e terapêuticas[237]. Os
programas de parentalidade na modalidade de intervenção preventiva universal
contribuem para oferecer orientações aos pais para fortalecimento da parentalidade
positiva e redução de violências contra crianças, mesmo em famílias com experiên-
cias de adversidades no ambiente.
Estudos de revisão demonstram que os programas de parentalidade constituem-
-se em um fator de proteção ao desenvolvimento ao reduzir práticas negativas de
maus-tratos e incrementar as práticas de cuidado positivo ao desempenhar a função
parental[207-209]. Destaca-se que os programas de parentalidade efetivos são os estru-
turados em sessões, manualizados com currículo e procedimentos definidos com
um conjunto de atividades organizadas, em que os pais aprendem a aplicar estraté-
gias no seu contexto familiar com as crianças. Além de fortalecimento da parenta-
lidade, os programas contribuem para melhorar a saúde mental dos cuidadores,
reduzindo sintomas de depressão, ansiedade e estresse parental[238]. Intervenções
centradas na parentalidade foram efetivas em reduzir a violência contra crianças
mesmo em ambientes que até mesmo enfrentavam graves de crises humanitárias
(guerras, desastres naturais ou industriais, refugiados) em países de baixa e média
renda[238]. Nessa revisão da literatura, foi verificada a efetividade de 19 programas
de parentalidade que visavam reduzir a violência contra crianças, mudando as
crenças negativas, atitudes e comportamentos relacionados à violência, discussão
sobre poder, redução da disciplina física, perigos da punição física, estratégias al-
ternativas de manejo do comportamento sem violência e promoção da resiliência
familiar frente a adversidades.
De acordo com a UNICEF[239], os programas de parentalidade visam as informa-
ções sobre interações positivas pais-crianças, uso de encorajamento positivo, técni-
cas de disciplina não violenta, resolução de problemas, suporte socioemocional e
supervisão responsiva. Os principais componentes da parentalidade envolvem as
interações, relacionamentos e vínculos afetivos entre pais e filhos, as práticas de
disciplina e afetos e os estilos parentais e sistema de sentimentos e crenças relativos
ao papel parental[203]. Em geral, os programas de parentalidade focalizam a paren-
talidade positiva, que engloba os seguintes aspectos: vínculos afetivos positivos
estabelecendo o apego e a base segura ao desenvolvimento; interações positivas com
sincronia, sensibilidade, responsividade e estímulo à autonomia e aprendizagens da
108 Experiências adversas na infância e suas consequências para o desenvolvimento
criança; práticas parentais de disciplina positiva no estabelecimento de limites em
equilíbrio com afeto; regulação emocional e comportamental com controle inibitó-
rio de impulsos; bom senso de competência parental e autoeficácia; prazer no de-
sempenho das funções parentais. As modalidades de entrega dos programas de
parentalidade podem ser presenciais ou remotas, com estratégias de grupo ou indi-
viduais, aplicadas em serviços de saúde ou assistência social, centros comunitários,
escolas ou por meio de visita domiciliar e aplicadas por profissionais de diferentes
áreas relacionadas a desenvolvimento infantil e atendimento familiar.
Portanto, os programas de parentalidade com evidências científicas são reco-
mendados para a implementação em larga escala em políticas públicas orientadas
para a família. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em países de baixa
e média renda, intervenções parentais baseadas em evidências devem ser disponi-
bilizadas de forma acessível a todos os pais ou outros cuidadores principais de
crianças de até 17 anos, em formatos de grupo ou individualizados, realizadas por
meio de organizações governamentais das áreas da Saúde, Educação ou Proteção
Social, assim como de organizações não governamentais[235]. Quando os programas
demonstram eficácia, resultados obtidos por meio de estudos randomizados e con-
trolados, e efetividade, resultados obtidos por meio de estudos aplicados no contexto
do “mundo real”, significa que estão validados e recomendados para a implementa-
ção em larga escala. O INSPIRE destaca que a implementação dos programas em
larga escala é o grande desafio, na medida em que precisa manter os efeitos encon-
trados em estudos com amostras menores de participantes em condições mais
controladas pelos pesquisadores.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde[235], a adaptação cultural dos
programas de parentalidade pode ser necessária para garantir alta relevância cultu-
ral e altos níveis de engajamento e satisfação dos participantes. Cada cultura possui
valores, práticas e crenças específicas que influenciam a dinâmica familiar e a pa-
rentalidade. A adaptação de programas pode incluir vários passos, conforme delineado
no INSPIRE, sendo fundamental identificar os componentes essenciais do programa
(core components), suas características de melhores práticas, que envolvem uma
revisão cuidadosa da literatura científica relevante. As adaptações recomendadas
incluem a tradução de materiais para os idiomas locais e a alteração do vocabulário,
modificação de imagens para que crianças e adultos se assemelhem ao público-alvo,
substituição de referências culturais; alteração de aspectos das atividades, como o
contato físico, para estarem em conformidade com as normas locais e adição de
conteúdo local baseado em evidências para aumentar a relevância para os partici-
pantes[235]. Por outro lado, adaptações arriscadas e não recomendadas incluem: re-
duzir o tempo de envolvimento dos participantes no programa, cortando o número
Ciência da primeira infância 109
das sessões; eliminar mensagens-chave ou habilidades que devem ser aprendidas;
remover tópicos importantes; alterar a abordagem teórica; tentar implementar o
programa com profissionais ou voluntários inadequadamente treinados[235]. Além
disso, adaptar culturalmente não significa aceitar ou concordar com práticas paren-
tais negativas, como as que envolvem a violência contra as crianças. As consequências
do uso da violência em determinada cultura devem ser abordadas de maneira sen-
sível e educativa, focando na proteção e direitos das crianças e não na culpabilização
dos cuidadores. Essa abordagem respeitosa e inclusiva pode aumentar a confiança e
a cooperação entre os facilitadores do programa e as comunidades atendidas, facili-
tando a adoção de novas estratégias parentais e a sustentabilidade das intervenções
a longo prazo.
Os programas de parentalidade para prevenção de violência não devem julgar
ou estigmatizar os pais, e sim engajá-los em estratégias que vão ajudá-los a lidar
com os comportamentos dos filhos, fortalecendo a parentalidade positiva. Muitos
pais ou outros cuidadores principais participam dos programas de parentalidade
visando romper o ciclo intergeracional de violência que vivenciaram na infância.
Um estudo demonstrou que 81% das mães participantes do programa de parenta-
lidade ACT para Educar Crianças em Ambientes Seguros relataram ter vivenciado um
ou mais atos violentos na infância, principalmente cometidos por membros da fa-
mília[240]. Após a participação no programa, as mães melhoraram suas práticas pa-
rentais, independentemente de seu histórico de violência na infância. Dentre essas
mães, 63% experimentaram mais de um tipo de violência, sendo as combinações
mais comuns a violência física com exposição à violência familiar e a violência física
com a violência psicológica. O abuso físico foi o tipo de violência mais frequente
(por exemplo, puxões de orelha e de cabelo, palmadas, beliscões e socos), muitas
vezes envolvendo o uso de objetos (por exemplo, vara, cinto e chinelo), resultando
em severos maus-tratos. A exposição à violência familiar, especialmente brigas
entre pais, também foi prevalente. Esses achados destacam a necessidade de que
programas de parentalidade incluam facilitadores capacitados para lidar com as
complexas demandas emocionais dos participantes, muitas vezes resultantes de
experiências adversas na infância. Isso é essencial para oferecer suporte adequado
e eficaz durante as intervenções, promovendo um ambiente seguro e acolhedor para
as famílias. Um programa de prevenção universal tem a vantagem de engajar pais
com históricos de violência e riscos para práticas parentais negativas, sem precon-
ceitos ou estigmatização.
O programa ACT – Raising Safe Kids (para Educar Crianças em Ambientes Se-
guros) encontra-se entre os programas de parentalidade centrados na prevenção de
violência recomendado pelo INSPIRE[32,215] e encontrado em revisões da literatura
110 Experiências adversas na infância e suas consequências para o desenvolvimento
como um programa de prevenção universal de parentalidade[207,208]. Caracteriza-se
por ser um programa com evidências científicas e tem uma versão em português
do Brasil (ACT – para Educar Crianças em Ambientes Seguros; American Psycho-
logical Association). O ACT foi validado para o Brasil e reúne diversos estudos em
uma trajetória de onze anos de pesquisa[187]. O ACT é um programa estruturado que
inclui oito sessões de intervenção altamente interativas e dinâmicas, com evidências
de fortalecimento da parentalidade positiva, prevenção de violências contra crianças
e redução de problemas de comportamento em crianças de 0 a 8 anos de idade[187].
Os conteúdos do programa abordam os temas sobre o desenvolvimento infantil,
práticas e estilos parentais, como lidar com a raiva e comportamentos desafiadores
e monitoramento de mídias, com o grande diferencial de abordar os tipos e conse-
quências no desenvolvimento das violências contra as crianças. O Programa ACT
tem um custo baixo, pois envolve apenas o investimento no treino e certificação de
profissionais, porém sem custo para as famílias, facilitando sua implementação em
países de média e baixa rendas.
As pesquisas com o Programa ACT no Brasil demonstraram a eficácia e efetivi-
dade do programa para promover os seguintes aspectos: o fortalecimento da paren-
talidade positiva (disciplina positiva, regulação emocional e comportamental e
comunicação positiva) e da estimulação parental no ambiente familiar; a redução
de práticas parentais negativas coercitivas e de inconsistência parental; e a redução
de problemas de comportamento externalizantes e internalizantes das crianças na
primeira infância[159,241].
Após o alcance de evidências científicas da efetividade do programa nos âmbitos
internacional e nacional, o programa ACT foi implementado em larga escala de
forma integrada a políticas públicas no Brasil, a saber: a) no município de Pelotas
(RS) na área de Educação a partir de 2019[242]; b) no Estado do Ceará em 18 muni-
cípios na área de Proteção Social ou combinada de forma intersetorial com Educa-
ção e Saúde[241] a partir de 2020; c) no município de Osasco (SP) na Secretaria da
Família em parceria com a Secretaria de Educação a partir de 2023. No estado do
Ceará, o planejamento estratégico tinha um dos componentes centrado no enfren-
tamento das violências, o que levou a um projeto desenvolvido no âmbito de uma
coalizão entre o Governo do Estado e fundações do terceiro setor. O projeto apre-
sentou um modelo inovador de prevenção de violências contra crianças incluindo
seis componentes: a) sensibilização e articulação com gestores e tomadores de de-
cisão; b) formação qualificada em programa de parentalidade com evidências
científicas (Programa ACT); c) nucleação de equipes de profissionais; d) implemen-
tação com as famílias; e) pesquisa de avaliação de impacto com as famílias, de for-
mação profissional e implementação nos municípios; f) sustentabilidade[186,241]. A
Ciência da primeira infância 111
implementação do ACT foi realizada com famílias em condição de vulnerabilidade
social de muito baixa renda mensal (menos de R$ 1.000,00) e beneficiárias de pro-
gramas de transferência de renda (Bolsa Família e/ou Cartão Mais Infância Ceará).
As evidências científicas, obtidas por meio de um estudo randomizado e controlado
com grupo controle de lista de espera realizado com 1.310 cuidadores participantes
e seus filhos de até 6 anos de idade, mostraram os seguintes resultados: alta taxa de
retenção dos cuidadores ao programa ACT; mudanças significativas após a realiza-
ção do programa, revelando um aumento da parentalidade positiva e a redução das
práticas negativas coercitivas e de inconsistência parental; redução dos problemas
emocionais e comportamentais externalizantes e internalizantes das crianças[241].
Portanto, por meio de programa de parentalidade aplicado em larga escala pode-se
contribuir para a quebra do ciclo intergeracional de violências nas famílias ao trazer
padrões mais adaptativos de cuidados às crianças que viviam em condições de
vulnerabilidade psicossocial.
Em conclusão...
Pode-se verificar a gravidade do problema das adversidades na infância relativas a
maus-tratos e disfunções familiares, que impactam na parentalidade e, consequen-
temente, no desenvolvimento e comportamento das crianças. No sentido de quebrar
o ciclo intergeracional da violência, recomenda-se como prioridade políticas públi-
cas intersetoriais em diferentes níveis para contribuir efetivamente para enfrentar
o problema da violência contra crianças[32,215]. O estudo de revisão de Rakotomalala
et al. (2023)[214] realizou um mapeamento das políticas de suporte à parentalidade
para acabar com a violência contra crianças, no contexto de 194 países, e encontrou
a necessidade de ter mais claramente definida a relação entre políticas e práticas
assim como as modalidades de implementação dos programas. Apesar das leis e
responsabilidades governamentais, um levantamento realizado em 2018-2019 com
155 países mostrou que as intervenções para prevenir violência contra crianças ainda
têm grande dificuldade de alcançar a larga escala[236]. Portanto, no âmbito de polí-
ticas públicas, deve-se ter uma abordagem ecossistêmica e intergeracional do problema
da violência, a fim de assegurar estratégias em diferentes níveis e contextos (família,
escola, comunidade) com uma integração de diferentes áreas (Saúde, Educação,
Proteção Social e Justiça) integrando planos, ações e protocolos. Investimento em
programas de parentalidade, com foco na prevenção universal da violência contra
crianças e com evidências científicas de impacto nas famílias e nas crianças, apre-
sentam poder significativo de modificabilidade sem estigmatizar as famílias, ao
fortalecerem a parentalidade positiva, reduzirem as práticas parentais negativas e,
consequentemente, protegerem a saúde física e mental das crianças e dos pais/cui-
dadores principais.
CAPÍTULO 7
A importância da Puericultura para o
desenvolvimento na primeira infância
Débora Falleiros de Mello
Lislaine Aparecida Fracolli
Maria de La Ó Ramallo Veríssimo
Introdução
As preocupações com a sobrevivência e a boa saúde das crianças levaram à criação
de um conjunto de ações que foi chamado de Puericultura. O termo “Puericultura”
surgiu no século XIX, na França, refere-se aos cuidados de criação das crianças e
vem das palavras em latim puer (criança) e cultur (criação). Naquela época, a inten-
ção era introduzir na sociedade hábitos de cuidado considerados mais seguros,
propostos a partir dos conhecimentos científicos existentes.
Inicialmente, a Puericultura caracterizou-se como um movimento de médicos
pediatras, ligado às preocupações com as precárias condições de vida, urbanização
crescente, altos índices de natalidade e mortalidade infantil[243]. Naquele momento,
constituiu-se como uma nova abordagem nas consultas pediátricas, com foco nos
cuidados diários para manter e promover a saúde infantil, para além da atenção em
situações de doença.
Esse movimento foi difundido em vários países, com implicações nas áreas da
Saúde e da Educação. No Brasil, o movimento da Puericultura começou seguindo
o modelo da França e Europa e foi se construindo com características próprias em
114 A importância da Puericultura para o desenvolvimento na primeira infância
função dos aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos do país. Assim, passou
a compor as ações básicas de saúde da criança, especialmente na primeira infância,
isto é, nos primeiros 6 anos de vida.
Nas últimas décadas, a Puericultura tem sido reiterada como um importante
pilar da atenção à saúde da criança, dado que a preocupação com o desenvolvimento
infantil passou a ter mais destaque.
Os saberes construídos em vários campos do conhecimento, como a psicologia,
neurociências, pediatria, sociologia, educação, entre outros, mostraram a impor-
tância dos primeiros anos para o desenvolvimento das capacidades humanas e para
a saúde da pessoa por toda a vida. Também foi comprovado que os incrementos
para a saúde, bem-estar e desenvolvimento na primeira infância são interdependen-
tes de políticas públicas com investimentos em programas de qualidade[1], com di-
retrizes informadas cientificamente a favor da prevenção de agravos, da promoção
da saúde e do desenvolvimento, e da garantia dos direitos das crianças.
Assim, este capítulo apresenta o papel da Puericultura na garantia de direitos das
crianças no Brasil, dado que compõe uma política pública que abrange estratégias
sistemáticas voltadas à promoção da saúde, desenvolvimento integral e prevenção
de agravos, bem como prevê atenção a todas as crianças, com incrementos de ações
às mais vulnerabilizadas.
Puericultura e recomendações de organismos internacionais e nacionais
A Agenda 2030, composta de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
inclui objetivos direcionados à promoção do desenvolvimento da criança, saúde e
erradicação da pobreza, colocando a garantia do acesso universal aos serviços de
saúde como primordial para o desenvolvimento infantil e para a proteção e cuidados
com a infância[244]. O acesso universal ao desenvolvimento e cuidados de qualidade
na primeira infância é uma parte fundamental para o alcance dos ODS. Nesse sen-
tido, a prática da Puericultura tem muito a contribuir para atingir os ODS vincula-
dos à primeira infância saudável.
Nos primeiros anos de vida, a busca pelos ODS está interligada à garantia de
cuidados adequados, organizados no modelo do Nurturing Care – Modelo de Cui-
dados Integrais – para as crianças, nos domínios da boa saúde, nutrição adequada,
cuidados responsivos, aprendizagem desde o início da vida, proteção e segurança[104,245].
Nessa abordagem, é enfatizada a responsabilidade do setor de Saúde, entre outros
setores, com importante papel para apoiar os cuidados de criação oferecidos pelas
famílias para o desenvolvimento da criança na primeira infância. Portanto, confi-
gura-se como uma diretriz de recomendações às famílias, aos profissionais de saúde
e outros trabalhadores, e aos formuladores de políticas, particularmente importan-
tes para a prática da Puericultura na Atenção Primária à Saúde (APS).
Ciência da primeira infância 115
No Brasil, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) –
Portaria n. 1.130, de 5 de agosto de 2015 – tem o objetivo de promover e proteger a
saúde da criança, abrangendo os cuidados da gestação aos 9 anos de idade, com
especial atenção à primeira infância e aos grupos de maior vulnerabilidade. Trata-se
de política pública com a finalidade de orientar e qualificar as ações e serviços de
saúde da criança no território nacional, considerando os determinantes sociais e
condicionantes para garantir o direito à vida e à saúde[246].
Os preceitos da PNAISC precisam estar interligados ao Marco Legal da Primeira
Infância[247], que estabelece princípios e diretrizes para a formulação e a implemen-
tação de políticas públicas para a primeira infância em atenção à especificidade e à
relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil. Cabe destacar
também que foi instituído o Mês da Primeira Infância, agosto, por meio da Lei n.
14.617, de 10 de julho de 2023, para a promoção de ações com sensibilização sobre
a importância da atenção integral às gestantes e às crianças de até 6 anos de idade e
suas famílias[248].
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) teve sua primeira edição em 2006,
e posteriormente teve atualizações. A PNAB é um mecanismo de fortalecimento da
APS, e tem o papel de manter, em funcionamento ordenado, o acesso prioritário ao
Sistema Único de Saúde (SUS). A APS é responsável por prestar assistência e resol-
ver de 80% a 90% dos problemas de saúde das pessoas ao longo da vida. A PNAB,
apesar das várias alterações que tem sofrido, ainda constitui uma base bastante fa-
vorável para a sustentabilidade da PNAISC, com diretrizes que envolvem a adscrição
de usuários e famílias, a busca pela construção de vínculos de cuidado e a respon-
sabilização da equipe de saúde[249].
Os princípios que orientam o SUS afirmam a garantia do direito à vida e à saúde,
o acesso universal de todas as crianças à saúde, equidade, integralidade do cuidado,
humanização da atenção e gestão participativa. A PNAISC, no intuito de orientar
os gestores sobre as ações e serviços de saúde da criança no território, a partir dos
determinantes sociais e condicionantes, propõe a organização das redes de atenção
à saúde (RAS), em busca de garantir a efetivação de medidas que permitam a inte-
gralidade da atenção e o pleno desenvolvimento das crianças. As RAS se conformam
como redes temáticas e têm a APS como ordenadora e coordenadora das ações e do
cuidado no território. Na operacionalização da RAS Materno-infantil, foi inserida
a Linha de Cuidado em Puericultura, que preconiza o atendimento às crianças por
meio de um conjunto de ações, procedimentos e processos de trabalho centrado na
criança e suas famílias.
Na Puericultura, a compreensão do cuidado longitudinal, pela continuidade da
relação clínica, permite verificar os efeitos das intervenções oferecidas e monitorar
116 A importância da Puericultura para o desenvolvimento na primeira infância
a saúde e outras condições presentes na vida das famílias e principalmente das
crianças. Dessa forma, o acompanhamento do desenvolvimento e do crescimento
na Puericultura, com vistas ao cuidado integral da criança, tem total alinhamento
com a APS, na qual a promoção da saúde, a prevenção de agravos e as intervenções
em saúde da criança possibilitam acesso e cobertura universais com cuidados de
saúde abrangentes[250,251].
Puericultura: acompanhamento e promoção da saúde e do
desenvolvimento da criança
Ações realizadas na Puericultura
A Puericultura compõe as práticas das unidades básicas de saúde, que são a porta
de entrada do sistema de saúde. É operacionalizada em consultas realizadas por
médicos(as) e enfermeiros(as), atendimentos em grupos e visitas domiciliares, nos
quais podem ser incluídos outros profissionais dessas unidades.
A finalidade da atenção em Puericultura é o acompanhamento contínuo e global
do crescimento e do desenvolvimento da criança. O processo contínuo de observa-
ção, registro e interpretação de dados e informações sobre o crescimento e desen-
volvimento infantil é o eixo do acompanhamento da saúde da criança[246]. Mediante
procedimentos de avaliação do crescimento e do desenvolvimento, os profissionais
podem avaliar o desempenho das crianças ao longo do tempo e tomar decisões
sobre intervenções para promover e manter a boa saúde, prevenir os agravos, rea-
lizar diagnósticos precocemente, estabelecer medidas terapêuticas e melhor recu-
peração da saúde, cumprindo seu compromisso com o bem-estar da criança e seu
cuidado integral.
A Puericultura é operacionalizada em ações, que incluem:
●
Acompanhamento articulado do processo de crescimento e desenvolvimento
da criança;
●
Vigilância do desenvolvimento da criança, em especial na primeira infância;
●
Apoio, promoção e avaliação do aleitamento materno e alimentação com-
plementar saudável;
●
Avaliação e atualização da vacinação;
●
Atenção integral a crianças com agravos prevalentes, como infecções respi-
ratórias agudas e outras doenças infecciosas;
●
Ações de educação em saúde voltadas às necessidades de crescimento e de-
senvolvimento da criança.
Tais ações devem ocorrer em todos os atendimentos às crianças. Elas compõem,
principalmente, a APS, oferecida nas unidades básicas de saúde, ambulatórios, ou
Ciência da primeira infância 117
nos consultórios pediátricos. O cenário da APS é o mais propício porque é o con-
texto primordial da promoção da saúde e prevenção de agravos, as principais
metas da Puericultura.
Assim, nos atendimentos de Puericultura, o profissional levanta dados impor-
tantes relacionados à saúde infantil, conversando com os familiares sobre a compo-
sição e funcionamento da família, suas condições de vida e sua rede de suporte, e
sobre o histórico de saúde da criança e hábitos diários; faz o exame clínico, verifica
peso, comprimento, perímetro cefálico, condições da pele, higiene corporal, higiene
bucal, funcionamento dos sistemas corporais, sinais de doenças ou agravos de saúde;
verifica as vacinas realizadas; e faz a avaliação do desenvolvimento motor, cognitivo
e socioemocional. Os atendimentos podem incluir, ainda, a solicitação e avaliação
de exames laboratoriais, geralmente de sangue, relacionados aos agravos de saúde
mais comuns nos primeiros anos de vida. Aspectos de saúde mental também com-
põem a atenção na Puericultura.
A partir de todos os dados levantados, o profissional analisa as condições físicas,
mentais, sociais e culturais da criança e da sua família, e identifica focos de cuidado
que ele deve fornecer e intervir, bem como intensificar as ações de educação em
saúde e, caso necessário, realizar o encaminhamento a especialistas ou outros ser-
viços. Isso se refere tanto a questões específicas da criança, como a identificação de
provável atraso no desenvolvimento, como às situações do contexto familiar poten-
cialmente vulneráveis para o desenvolvimento da criança, como a depressão materna,
ou determinantes socioeconômicos.
Nesse movimento, as ações profissionais na Puericultura apoiam as famílias a:
ofertar cuidados que favorecem o desenvolvimento integral da criança e previnem
maus-tratos/violência; manter ações de prevenção de acidentes; ofertar aleitamento
materno e alimentação saudável, prevenindo desnutrição, anemia, sobrepeso e
obesidade infantil; manter as imunizações atualizadas; manter cuidados de saúde
bucal; e contribuir para o fortalecimento e ampliação das competências familiares
para o cuidado da criança. Ainda, possibilita a detecção precoce, prevenção e trata-
mento dos agravos prevalentes, com destaque para as infecções respiratórias e outras
doenças infecciosas, e atenção à criança com deficiência.
Todas essas ações apoiam muito as famílias para o cuidado da criança, tendo em
vista as mudanças significativas que ocorrem nos primeiros anos de vida. A detec-
ção oportuna de problemas e a identificação e análise das potencialidades ao desen-
volvimento saudável são elegíveis para serviços de cuidados primários de saúde.
A Puericultura tem um papel importante para contribuir com as ações do Nurtu-
ring Care para efetivar o cuidado integral da criança no contexto da família e comu-
nidade.
118 A importância da Puericultura para o desenvolvimento na primeira infância
Calendário de atendimentos da criança em unidades básicas de saúde
O Ministério da Saúde brasileiro preconiza um calendário mínimo de atendimentos
da criança em unidades de saúde, que compõem a Puericultura: primeira semana de
vida da criança, 1 mês, 2 meses, 4 meses, 6 meses, 9 meses, 12 meses, 18 meses, 24
meses de idade, e, a partir dessa idade, as consultas devem ser, no mínimo, anuais[246].
No processo de acompanhar as crianças, além de um número mínimo de aten-
dimentos, é importante ter atenção aos fatores que podem expor e aumentar as
vulnerabilidades na infância, envolvendo: residentes em áreas vulneráveis; baixo
peso ao nascer (< 2.500 g); prematuros (< 37 semanas gestacionais); asfixia grave
(APGAR < 7 no quinto minuto vida); crianças egressas de UTI neonatal; mãe/cui-
dadores adolescentes (< 18 anos idade); mãe/cuidadores com baixa instrução (< 8
anos de estudo); cuidados especiais de saúde; e história na família de mortes de
crianças menores de 5 anos.
Outras situações que demandam atenção especial, e que podem ser identificadas
no decorrer dos atendimentos, são: crianças que não tiveram atendimento de saúde
na primeira semana de vida; que não fizeram o teste do pezinho; menores de 1 ano
sem acompanhamento; menores de 6 meses que não mamam no peito; desnutridos
ou crianças com ganho de peso insuficiente, ou com perda de peso recente sem
acompanhamento; egressos hospitalares (prioridade para o menor de 5 anos);
crianças com atendimento frequente em serviços de urgências; crianças com asma
sem acompanhamento; crianças com vacinas em atraso; crianças vítimas de violên-
cia doméstica; crianças explicitamente indesejadas; crianças com diarreia persistente
ou recorrente, anemia ou sinais de hipovitaminose A; história de desnutrição em
outras crianças da família; crianças com sobrepeso/obesidade; mães sem suporte
familiar; famílias sem renda; mãe/pai/cuidador com problemas psiquiátricos ou com
deficiência que impossibilite o cuidado da criança; mãe/pai/cuidador em dependên-
cia de álcool/drogas.
Tais situações prioritárias são as que envolvem fatores comprovados que aumen-
tam a chance de prejuízos no desenvolvimento e no crescimento, bem como a
ocorrência de doenças e até a morte. Por essa razão, devem ser investigados em
todos os atendimentos da criança na Puericultura. É importante destacar que efeitos
cumulativos de várias adversidades combinadas são sempre mais danosos.
As situações apontadas são cruciais para atender necessidades e diminuir vulne-
rabilidades na primeira infância, e a organização da Puericultura pode contribuir
sobremaneira para o cuidado integral da criança.
Ciência da primeira infância 119
A Caderneta da Criança
A Caderneta da Criança é um documento elaborado pelo Ministério da Saúde, cujos
conteúdos abrangem todas as ações de Puericultura para a criança de 0 a 9 anos de
idade[150,252].
A PNAISC enfatiza a importância de garantir o uso da Caderneta da Criança
como o principal instrumento para a vigilância do crescimento e desenvolvimento
saudáveis e, para tanto, ela deve ser entregue à família após o nascimento da criança,
na maternidade.
A caderneta surgiu como caderneta de saúde, para ser utilizada somente pelos
profissionais de saúde, nas consultas na APS. Com a perspectiva ampliada sobre os
fatores envolvidos na saúde e desenvolvimento infantil, ela passou a ser intersetorial
desde 2019, contemplando sua utilização também pelos profissionais da educação
e do desenvolvimento social.
A Caderneta da Criança é composta de duas partes:
●
A primeira parte apresenta informações e orientações que podem auxiliar
os cuidadores parentais e familiares para o cuidado e bem-estar da criança,
como direitos da criança, amamentação e alimentação saudável, vacinação,
crescimento, desenvolvimento, sinais de perigo de doenças graves, prevenção
de violências e de acidentes.
●
A segunda parte é destinada à avaliação da criança e ao registro das infor-
mações pelos profissionais, como o preenchimento da ficha de vigilância do
desenvolvimento, dos gráficos de crescimento, controle das vacinas, atendi-
mentos realizados e das ações articuladas com os setores de educação e
proteção social.
A recomendação do uso de uma caderneta da criança como um instrumento de
registro de informações de saúde e orientações às famílias vem de longa data, em
muitos países. A Organização Mundial da Saúde recomenda sua implementação,
com vistas a fortalecer a saúde neonatal e infantil[253]. O registro de saúde infantil
mantido e utilizado por mães e/ou pais é considerado uma intervenção de saúde
pública para promover o acesso a serviços de saúde[254].
Em países de baixa e média renda, mães e/ou pais que informaram utilizar a
caderneta tiveram, aproximadamente, duas vezes mais probabilidade de utilizar os
cuidados pré-natais, aderir à vacinação infantil e ter melhores práticas de amamen-
tação[254].
Especificamente quanto ao acompanhamento e promoção do desenvolvimento
da criança, a caderneta traz várias recomendações sobre estimulação de acordo com
a idade, nas atividades cotidianas, e aborda a importância das relações afetivas, bem
120 A importância da Puericultura para o desenvolvimento na primeira infância
como inclui a ficha de acompanhamento do desenvolvimento da criança, um ins-
trumento de vigilância que sistematiza a avaliação, observação e classificação da
criança quanto ao desenvolvimento. A ficha de acompanhamento do desenvolvimento
da criança possibilita aos profissionais realizarem uma avaliação breve, que considera
desde os fatores de risco até as habilidades da criança por faixa etária, mediante um.
Nos atendimentos de Puericultura é essencial valorizar o diálogo com a família,
perguntar sua percepção do desenvolvimento da criança, realizando observação e
avaliação. Com base nessa avaliação, pode-se classificar a situação como provável
atraso no desenvolvimento, alerta para o desenvolvimento ou desenvolvimento
adequado para a idade, e seguir as recomendações de intervenções para cada clas-
sificação (manter e fortalecer o cuidado, ou encaminhar para avaliação especializada),
também incluídas na ficha. Portanto, enfermeira(os) e médica(os) atuantes em
unidades de cuidados primários de saúde necessitam incrementar as ações de vigi-
lância do desenvolvimento infantil a partir da avaliação apropriada das crianças.
Por tudo isso, é fundamental que os profissionais utilizem a Caderneta e incen-
tivem seu uso pelas famílias como fonte de leitura e busca de informações confiáveis
sobre o cuidado da criança, como abordado no Capítulo 5, demonstrando seus
conteúdos nos atendimentos de Puericultura.
Puericultura e cuidado longitudinal na APS
O acompanhamento contínuo da saúde da criança proposto pela Puericultura pos-
sibilita identificar demandas de atenção diferenciada, como um menor espaçamento
dos atendimentos de rotina, a busca ativa para atendimento da criança e família, o
acompanhamento com profissionais ou serviços especializados, a busca de parceiros
na rede social de suporte da família e a organização de ações intersetoriais.
A Puericultura, tradicionalmente realizada nas consultas de acompanhamento
de saúde, por médicos ou enfermeiros, é potencializada quando se agregam às
consultas, os atendimentos por meio de visita domiciliar (VD) e/ou de grupos
educativos. A inclusão dessas estratégias de abordagem e acompanhamento da
criança trazem, adicionalmente, à gestão do cuidado, uma análise aprofundada e
ampliada das informações sobre a criança, e uma consolidação das intervenções de
saúde e intersetoriais, mediante uma discussão multiprofissional dos condicionan-
tes e determinantes da saúde da criança e seu contexto familiar e social.
A organização da Puericultura com base em ações de cuidado diversificadas e
na articulação intersetorial torna-se fundamental para o cuidado integral da criança,
para atender a necessidades e diminuir vulnerabilidades na primeira infância e para
compor de maneira eficaz as redes de atenção à saúde (RAS).
Intervenções com base na VD focadas no desenvolvimento infantil têm sido
utilizadas com muito sucesso na APS. As VD podem ser entendidas não meramente
Ciência da primeira infância 121
como uma técnica de intervenção, mas como uma maneira de se aproximar do
contexto familiar, ecologicamente falando. A VD, quando estruturada a partir de
objetivos bem delineados, pode ser muito eficaz para agir em situações complexas,
que impactam o desenvolvimento e o crescimento infantil e não são alcançadas pela
atenção usual nas unidades de saúde, muitas vezes limitada à assistência médica e/
ou curativa.
Há alguns anos, o ambiente, em geral, e o ambiente domiciliar, especificamente,
ocupam posições de destaque nos estudos sobre desenvolvimento infantil. Consi-
derando como ambiente “tudo o que cerca a criança, inclusive as relações familiares
e sociais”, a organização do ambiente físico (elementos que compõem a casa, como
cômodos, móveis, objetos) e social (onde se desenvolvem as relações, como diálogos,
momentos juntos, períodos de recreação) e a interação entre cuidador principal e
criança interferem no desenvolvimento infantil, tornando-se um importante deter-
minante de saúde e do processo de desenvolver[255,256].
O ambiente em que a criança e seus cuidadores estão inseridos revela compo-
nentes essenciais para a existência de um padrão positivo de desenvolvimento in-
fantil. Quando uma pessoa se interessa pela outra e demonstra esse interesse
realizando uma atividade conjunta, tem-se não apenas condições especialmente
favoráveis para a aprendizagem, mas também proporciona-se a busca e o aprimo-
ramento da relação. Sendo assim, ambiente física e socialmente empobrecido, somado
à ausência de estimulação e brincadeiras, limita as oportunidades da criança de
interagir com o meio em que vive[257].
Por outro lado, há fatores que são protetores e podem minimizar o efeito dos
fatores de risco, tais como a resiliência da criança e da família, o amor/afeto familiar,
a coesão comunitária e o acesso a serviços e profissionais qualificados conforme
necessário[246]. Assim, na Puericultura, é importante os profissionais considerarem
os fatores de proteção como aspectos que devem ser estimulados e fortalecidos.
Abordagens com base em VD bem conduzidas apresentam resultados positivos
em diferentes dimensões do cuidado, como na alimentação saudável, vínculo afetivo,
higiene, brincadeiras, disciplina positiva e a saúde. A VD bem utilizada dentro de
um acompanhamento de Puericultura pode produzir benefícios tanto para os cui-
dadores como para as crianças, ajudando no estabelecimento de confiança, encora-
jamento e suporte às mães, pais e cuidadores, e impactar positivamente no
desenvolvimento socioemocional, na aprendizagem e ganho de peso e estatura das
crianças. A finalidade de uma VD na Puericultura distancia-se do “ensinar as famí-
lias a cuidarem de suas crianças”, mas trabalha na perspectiva de compreendê-las e
empoderá-las em relação às necessidades singulares de cada faixa etária, favorecendo
especialmente as famílias socialmente vulneráveis[258].
122 A importância da Puericultura para o desenvolvimento na primeira infância
A estratégia de grupos educativos como uma ação dentro da atenção em Pueri-
cultura pode ser muito eficaz, considerando que a longitudinalidade do cuidado
busca favorecer a construção de ambientes familiares protetores e ricos em estimu-
lação adequada e afetiva, o que, muitas vezes, é um desafio. As abordagens em
grupos educativos podem ser utilizadas de maneira complementar às consultas e às
VD. As estratégias de grupo educativos realizadas no interior da unidade de saúde
ou em espaços da comunidade são importantes para o diálogo e as trocas de expe-
riências entre pares (mães, pais e cuidadores). A educação em saúde configura um
mecanismo potente para alcançar melhores resultados em saúde na APS, com o
propósito de educação emancipatória, para busca de uma relação de troca de sabe-
res; o que, na perspectiva da Puericultura e da saúde infantil, contribui para forta-
lecer o vínculo da população com os profissionais de saúde, sendo importante
enquanto ação de promoção da saúde para apoio aos cuidados saudáveis[259].
Outra característica importante de uma Puericultura bem-sucedida é a interse-
torialidade. A intersetorialidade abrange os mecanismos de gestão e integração de
ações, saberes e esforços de diferentes setores, com o objetivo de construir objetos
comuns de intervenção, para o enfrentamento mais articulado dos problemas sociais.
A intersetorialidade envolve os profissionais das diversas áreas que compõem os
serviços disponíveis no território, com o objetivo de estabelecer contato direto com
a população no seu dia a dia, trabalhar pelo empoderamento das famílias, princi-
palmente nos casos em que há vulnerabilidades, e promover o desenvolvimento in-
tegral das crianças, particularmente na primeira infância, considerando suas famílias
e seu contexto de vida.
A intersetorialidade é necessária porque parte do entendimento de que a pessoa
que acessa o serviço de saúde para si ou para suas crianças é a mesma que acessa a
creche ou a pré-escola na comunidade, o campo de esportes, o serviço social e os
demais equipamentos disponíveis no território. Portanto, a atenção integral e integrada
favorece a garantia dos direitos fundamentais, sendo essencial envolver políticas
sociais que dialoguem entre si, com ações coordenadas e articuladas entre diferentes
profissionais e setores convivendo com a visão do todo[260]. Desse modo, as diversas
áreas de políticas setoriais devem trabalhar alinhadas e de forma complementar.
A intersetorialidade requer uma nova cultura de desenvolvimento das políticas
sociais e públicas, com diálogo frequente e contínuo, uma prática constante de re-
flexão e decisão conjunta, compreendendo as potencialidades de cada área e as
habilidades de cada equipamento e suas equipes. Por isso, torna-se ainda mais ne-
cessária a articulação de redes eficazes e capazes de proteger as crianças e garantir
que tenham acesso aos recursos disponíveis para um desenvolvimento sadio e para
a construção de um futuro melhor.
Ciência da primeira infância 123
A educação permanente em saúde também é muito importante para atualização
contínua e reflexão das práticas, contribuindo para incrementar e valorizar as me-
lhorias nos processos da equipe[261]. Estudo que avaliou a atuação de agentes comu-
nitários de saúde como membros da equipe de cuidados infantis identificou maior
número de mães e pais que tiveram preocupações com o desenvolvimento e com-
portamentais suscitadas e abordadas, maior frequência às consultas de Puericultura
e mais experiências parentais na utilidade dos cuidados recebidos[262].
As intervenções nos primeiros anos de vida para prevenir resultados adversos e
a eficaz integração dos serviços, uma vez identificados os problemas, podem redu-
zir a prevalência e a gravidade de certos resultados, contribuindo também para uma
utilização eficiente e eficaz dos recursos de saúde[263].
A Puericultura e o desenvolvimento integral da criança
Nas últimas décadas, as políticas e serviços para a primeira infância vêm mostrando
que os resultados de desenvolvimento podem ser melhorados com intervenções que,
em grande parte, compõem as ações de Puericultura.
Um primeiro elemento de destaque é que a Puericultura se define como um
processo de acompanhamento regular, com atendimentos planejados. A continuidade
garante a vigilância do desenvolvimento e o maior apoio às famílias com orientações
e reforços dos cuidados promotores do desenvolvimento integral da criança.
Especificamente quanto ao desenvolvimento da criança, a vigilância é amplamente
recomendada, caracterizando-se como um processo longitudinal, flexível, contínuo
e cumulativo de observação, coleta, registro e interpretação de informações pelos
profissionais ao longo do tempo, incluindo a tomada de decisão com os cuidadores[264].
A triagem do desenvolvimento permite a detecção de problemas de desenvolvimento
e encaminhamento para diagnósticos específicos, serviços terapêuticos e suporte,
sendo fundamental um sistema coeso para melhorar a triagem e otimizar os resul-
tados de saúde para as crianças[261]. Essas duas ações juntas – vigilância (developmen-
tal surveillance) e triagem do desenvolvimento (developmental screening) – apresentaram
maior probabilidade de as crianças receberem intervenções oportunamente, destacando
a relevância de estratégias que se complementam para melhorar a identificação de
problemas desenvolvimentais em crianças pequenas[265].
Considerando as ações de vigilância e triagem, a Puericultura é, ainda, uma es-
tratégia valiosa para o acompanhamento de saúde de crianças com deficiência.
Existem variados tipos de deficiência, como mental, física, auditiva ou visual; defi-
ciência múltipla; transtorno global do desenvolvimento; dificuldades de aprendiza-
gem. O acompanhamento possibilita identificar as alterações em tempo propício
para encaminhamentos a serviços especializados e adequação do plano de cuidado
no seguimento de saúde. Cabe lembrar que quando se trata de desenvolvimento
124 A importância da Puericultura para o desenvolvimento na primeira infância
infantil quase sempre teremos intervenções compartilhadas com outros setores e
profissionais além do setor de Saúde, por isso a importância de redes intersetoriais
como complemento imprescindível a Puericultura.
Estudos científicos sobre os cuidados primários de saúde, ressaltando o papel da
Puericultura, apresentaram resultados importantes na avaliação do desenvolvimento
infantil, do crescimento e da saúde socioemocional, com aumento das taxas de
rastreio, registro e identificação de riscos para a saúde infantil[266], bem como na
prevenção de lesões não intencionais, triagem de atraso de linguagem e triagem do
transtorno do espectro autista (TEA)[267]. Intervenções dos profissionais de saúde
nos atendimentos de Puericultura contribuíram para melhorar os resultados cog-
nitivos em crianças de 0 a 36 meses de idade[268].
Por outro lado, há evidências de que crianças que apenas comparecem ao serviço
de saúde em visitas não programadas, geralmente por motivo de doenças, apresen-
taram menores escores de desenvolvimento do que as acompanhadas rotineiramente
na Puericultura[269].
No Brasil, a continuidade do cuidado teve um importante reforço com a implan-
tação da Estratégia Saúde da Família (ESF), a qual ampliou muito a oferta de ações
da Puericultura no país. Comparando unidades tradicionais de atenção básica à
saúde e unidades com ESF, a oferta das ações de Puericultura ocorreu intensamente
nas unidades de saúde da família no Sul (97%) e no Nordeste (95%), enquanto nas
unidades tradicionais essa oferta foi muito menor tanto no Sul (67%) como no
Nordeste (79%)[270].
A maior oferta de ações contínuas de Puericultura resultou em efeitos positivos,
como a ampliação do acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento das
crianças[271], redução da mortalidade infantil[272], e redução das internações por
condições sensíveis à APS em crianças menores de 1 ano de idade[273].
As intervenções em Puericultura são importantes ao oferecer uma abordagem
promissora para melhorar as práticas parentais essenciais para a promoção do desen-
volvimento nos primeiros anos de vida[274,275], bem como um espaço para aprendizagem
e apoio às competências maternas, especialmente para mães pela primeira vez[276].
Intervenções centradas em famílias com crianças pequenas necessitam abordar de
modo aprofundado as questões sobre a qualidade das práticas parentais e do relacio-
namento adulto-criança[277]. Tais aspectos podem contribuir para reduzir disparidades
e mediar o impacto das dificuldades e incertezas no desenvolvimento infantil.
Desafios para a efetividade da Puericultura
Atualmente, ainda há várias questões que se constituem como desafios que dificul-
tam a implantação efetiva da Puericultura e todo o seu alcance potencial.
Ciência da primeira infância 125
Sabe-se que há necessidade de muitos avanços, já que estudos têm encontrado
poucas ações e atenção à aprendizagem desde tenra idade, cuidados responsivos,
segurança e proteção das crianças[278,279]. A maioria das crianças em países de baixa
e média renda não recebe cuidados de criação minimamente adequados durante os
primeiros mil dias de vida, sendo necessários mais investimentos na medição de
indicadores, especialmente para as populações vulneráveis e nos domínios dos
cuidados responsivos, da aprendizagem precoce, segurança e proteção[280].
Um aspecto importante a ponderar é sobre o modelo conceitual que sustenta a
Puericultura. Como foi inicialmente ancorada no modelo higienista, suas ações
caracterizavam-na como um projeto que visava à regulamentação da vida, sobretudo
das pessoas de classes trabalhadoras, objetivando a imposição de regras de higiene,
comportamentos e hábitos[281]. Embora hoje seja possível dizer que a Puericultura
está sustentada na perspectiva dos direitos humanos, traços da visão higienista
persistem nas concepções dos profissionais, cujas práticas prescritivas, ao invés de
serem dialogais, prejudicam a construção de relações de confiança e de parceria,
sendo desfavoráveis à adesão das famílias. Assim, esforços são necessários para
práticas profícuas junto aos cuidadores parentais, para superar essa perspectiva e
realizar práticas responsivas no cuidado integral à criança e sua família.
Cuidadores de crianças entre menores de 2 anos de idade apreciaram o apoio
que receberam dos profissionais de saúde, mas expressaram o desejo de que esse
apoio fosse mais específico, prático e adequado às suas necessidades, desejos, pre-
ferências pessoais e culturais[275]. Também se verificou a importância de os profis-
sionais de saúde abordarem tópicos específicos sobre promoção de estilo de vida
saudável das crianças pequenas com mais detalhes e fornecer aconselhamento di-
recionado[282].
Isso mostra a relevância de os profissionais de saúde reconhecerem as experiên-
cias e demonstrarem interesse pelas considerações das famílias, abordar as necessi-
dades parentais e prestar apoio, criando relações de confiança[275].
As ações de Puericultura na atualidade precisam também extrapolar os “muros”
das unidades básicas de saúde e dialogar inclusive com creches e pré-escolas. Nesses
espaços, as crianças têm sido inseridas bem precocemente, o que faz assumirem
(os espaços) um papel importante na vigilância e oferta de cuidados infantis.
Nesse sentido, o desafio é a educação permanente dos profissionais: a melhoria
da qualidade das intervenções profissionais sobre o processo de rastreio e a utiliza-
ção de ferramenta padronizada, sendo apontada a relevância de ciclos para planejar-
-fazer-estudar-agir, incentivando e avaliando as práticas e análise de dados relativos
à vigilância do desenvolvimento infantil[261].
126 A importância da Puericultura para o desenvolvimento na primeira infância
Quanto ao uso da Caderneta da Criança, também se observam fragilidades
significativas. Estudos, tanto internacionais como nacionais, sobre livreto ou cader-
neta de registros de dados da criança, têm apontado as barreiras para o seu uso. A
utilização ideal da caderneta (quando leram todas as seções e registraram comen-
tários) foi associada à idade de mães e pais mais velhos, com escolaridade superior,
bom nível de conhecimentos sobre saúde geral das crianças e entre aquelas que
deram à luz em hospitais públicos[283]. Outro aspecto a destacar é a quase inexistên-
cia de registros sobre a vigilância do desenvolvimento infantil e detecção precoce
de distúrbios neurodesenvolvimentais, sendo apontadas barreiras acerca da escassez
de tempo e disponibilidade de profissionais para a sua implementação[284].
Um estudo encontrou que as mães, em geral, ficaram satisfeitas com a utilização
da caderneta, mas o seu envolvimento dependia da forma como os registros eram
comunicados e utilizados pelos profissionais de saúde[285]. Outro estudo encontrou
que visitadores sanitários, enfermeiras e parteiras eram mais propensos a utilizar o
livreto ou caderneta para registros[254]. Isso sugere que a satisfação com os serviços
de saúde é influenciada pelos compromissos dos profissionais de saúde na utilização
da caderneta e com a efetiva comunicação com as famílias.
No Brasil, apesar de o Ministério da Saúde ter formalizado a vigilância do de-
senvolvimento infantil desde 1984, os registros da vigilância na Caderneta da Criança
vêm se mostrando insuficientes e irregulares[286,287]. Os estudos mostram que nem
todas as famílias levam a Caderneta da Criança aos atendimentos da criança nas
unidades de saúde, há fragilidades no preenchimento de todos os itens dela, os
dados mais anotados são relativos à vacinação, mostrando baixas taxas de utilização
e uma manutenção insatisfatória de registros[287,288]. Esses resultados reforçam a
necessidade de incrementar a sensibilização dos profissionais para a caderneta da
criança como um instrumento eficaz para promoção da saúde e prevenção de agra-
vos, particularmente na primeira infância.
A prevalência baixa da utilização da caderneta de saúde infantil sugere a neces-
sidade de melhorar os conhecimentos das famílias sobre esse material e sobre a saúde
geral da criança, especialmente entre mães e pais mais jovens, com níveis educacio-
nais mais baixos[283].
Outro fator que pode influenciar a baixa adesão das famílias às ações de Pueri-
cultura são as concepções dos cuidadores que expressam pouca compreensão sobre
o desenvolvimento infantil e incerteza sobre as práticas cotidianas de cuidado para
estímulos adequados à criança, bem como seus efeitos sobre o desenvolvimento do
cérebro[289].
Ainda como desafios são as ações intersetoriais integradas, para buscar satisfazer
necessidades complexas de promover o desenvolvimento da primeira infância e
Ciência da primeira infância 127
abordar os determinantes e as desigualdades da saúde, visto que nos municípios
brasileiros foram identificadas fragilidades da colaboração intersetorial e na forma-
ção de redes, praticamente inexistentes, sobre o desenvolvimento infantil, com
potencial local ignorado ou subutilizado[260]. A abordagem do desenvolvimento na
primeira infância não é analisada de forma sistemática e tem ficado atrás de outros
esforços na área da saúde infantil[290].
Diante desses desafios, cabe reforçar que o acesso sistematizado das crianças aos
cuidados de saúde em Puericultura, com apoio, avaliação e intervenção no desen-
volvimento infantil, é de suma importância.
Considerações finais
A Puericultura possibilita ofertar o cuidado integral à saúde, que é vital para o de-
senvolvimento saudável, um direito fundamental de todas as crianças. A integralidade
e a longitudinalidade da atenção são imprescindíveis para garantir as melhores opor-
tunidades na construção da boa saúde, pois individualiza o cuidado com intervenções
em tempo oportuno. Dada a importância dos primeiros anos no processo de saúde
e desenvolvimento, os efeitos de um bom acompanhamento de Puericultura reper-
cutem diretamente na primeira infância, bem como impactam ao longo da vida.
Os esforços para aprimoramento das ações a favor da promoção do desenvolvi-
mento nos primeiros anos de vida são necessários em diversos âmbitos. Na saúde,
é preciso superar práticas fragmentadas com foco no crescimento, vacinação ou na
atenção somente quando a criança está doente e fisicamente vulnerável. Nos demais
setores, é iminente incluir a pauta da promoção do desenvolvimento infantil integral,
como preconiza o Marco Legal da Primeira Infância. Para tanto, os profissionais
devem assumir sua corresponsabilidade na atuação com as famílias e no cuidado
interprofissional e intersetorial, tal como previsto na Atenção Primária à Saúde. Os
gestores públicos precisam priorizar na agenda política propostas e diretrizes que
privilegiem as práticas com foco na primeira infância, como estratégia de constru-
ção de uma sociedade com valores solidários e elevado capital humano.
CAPÍTULO 8
Educação infantil
Daniel Domingues dos Santos
Luiz Guilherme Scorzafave
Introdução
No mundo contemporâneo, a Educação Infantil (EI) representa cada vez mais uma
das principais apostas para a promoção do Desenvolvimento Infantil (DI), em
termos de políticas públicas. O objetivo deste capítulo é mostrar como se estrutura
a política de EI no Brasil e no mundo, e a partir disso discutir que tipo de conse-
quência se espera que tenha sobre as trajetórias de crianças e jovens em termos de
seus desenvolvimentos.
A crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, juntamente com
a abundante evidência de que o acesso à educação infantil, em particular pré-escolas
de qualidade, tem grande potencial para proporcionar uma melhora nas trajetórias
de desenvolvimento infantil e reduzir desigualdades na primeira infância, impeliram
governos de todo o mundo a expandir o acesso à educação infantil, incentivar o
ingresso de crianças cada vez mais cedo em instituições educacionais e, em muitos
casos, aumentar a duração média das jornadas letivas nessas instituições. Em nível
mundial, por exemplo, a proporção de crianças matriculadas na pré-escola cresceu
quase 50% nos últimos dez anos, passando de 46% em 2010 para 61% em 2020,
130 Educação infantil
número apontado como ainda insuficiente para uma população na qual ao menos
um quarto das crianças está sob suspeita de precisar de apoio para atingir sua tra-
jetória de pleno potencial de desenvolvimento[291].
O caso brasileiro é emblemático e reflete bem os dilemas do cenário contempo-
râneo. Por aqui, a taxa bruta de matrícula na pré-escola cresceu de 81,5% para 99,4%
no mesmo intervalo considerado pela Unesco, em grande parte devido ao fato de
que, nesse período, a matrícula na pré-escola passou a ser obrigatória no Brasil.
Também nesse período, o Plano Nacional de Educação de 2014 (Meta 1) estipulou
uma meta de 50% de matrícula para crianças entre 0 e 3 anos de idade, ampliando o
alcance da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação (arts. 4º e 30) e da Consti-
tuição Federal (art. 208), que estabeleciam a matrícula nessa faixa etária como um
direito das famílias e um dever do Estado. Esse regramento seguramente coloca o
Brasil como um dos campeões mundiais de políticas de acesso à EI no âmbito nor-
mativo. Se, por um lado, a obrigatoriedade da pré-escola ainda não é realidade na
maioria dos países, no caso das metas e responsabilidades do Estado para o atendi-
mento a creches nossa situação é praticamente única. Nossa taxa de matrícula nesse
segmento, que, em 2005, era de 10%, superou pela primeira vez os 40% em 2023.
Figura 8.1 Evolução da taxa bruta de matrícula na pré-escola (%).
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial. A série histórica do Brasil possui quebras devido à alteração de 2007, quando
o último ano da pré-escola passou a ser considerado o primeiro ano do ensino fundamental.
Tanto em nosso país como no resto do mundo, a expansão da EI atende a duas
demandas sociais importantes: i) a necessidade de os pais compartilharem com o
Estado responsabilidades ao longo da criação dos filhos, na maioria das vezes devido
Ciência da primeira infância 131
à conciliação com seus horários de trabalho; ii) o apoio ao desenvolvimento infantil,
por meio da provisão de oportunidades de aprendizagem, vivências e convivências
propostas por profissionais especializados em um ambiente propício para que a
criança se desenvolva.
Nesse ponto, é preciso destacar que apesar de nossa espécie, tal como a conhece-
mos, ter algumas centenas de milhares de anos, foi apenas nos últimos dois séculos
que a educação de massa de fato se estabeleceu, e apenas nas últimas quatro décadas
que a EI de fato foi reconhecida na maioria dos países como um direito de famílias
e crianças e com objetivo explicitamente educacional. Essa constatação indica, por-
tanto, que a partilha entre Estado e famílias nas responsabilidades pelo cuidado e
desenvolvimento das crianças ocorre em um contexto histórico e social único. Cada
sociedade, e em cada momento, molda seu sistema educacional para atender às suas
necessidades específicas em um particular modelo de compartilhamento de respon-
sabilidades. É, desse modo, crucial para nossa análise reconhecer que os efeitos da
EI sobre DI, tanto na magnitude e perenidade como nas dimensões onde ocorre, deve
variar em consonância com as escolhas sociais e culturais que ditam a função social
da EI em cada território. Ao mesmo tempo em que é útil revisar a literatura interna-
cional a respeito de tais efeitos, cabe sempre colocar a limitação intrínseca em se
transpor tais expectativas para o contexto da sociedade brasileira do século XXI. Dito
isso, vamos discutir um pouco sobre as origens e evolução de nosso sistema de EI, e
dessa forma especular sobre qual a sua função social no contexto atual e expectativas
de como deveria influenciar o desenvolvimento infantil.
No caso das creches, sua origem no Brasil e no mundo é eminentemente associada
a objetivos assistencialistas, seja por conta da necessidade de as mães trabalharem
(especialmente após a intensificação da industrialização), seja como forma de com-
bater a mortalidade infantil e subnutrição[292]. A partir dos anos 1970, começam a
surgir no Brasil reivindicações de acesso a creches também para fins de socialização
da criança, especialmente por parte de pais que não dispunham no contexto domés-
tico de oportunidades para tal. Ao longo dos anos seguintes, uma abundância de
novas evidências indicando a efetividade da EI como forma de promover o desen-
volvimento infantil culminaram na mudança do marco legal em 1996, quando a
LDB definitivamente indicou que as creches seriam parte do sistema educacional
brasileiro e com finalidades eminentemente voltadas ao desenvolvimento e apren-
dizagem das crianças pequenas e muito pequenas. Apesar disso, foi apenas em 2006
que o prazo de implementação da mudança se concluiu, e ainda hoje é razoável
considerar nossa situação como a de um modelo em transição, visto que tanto a
infraestrutura como a composição das equipes escolares ainda são influenciadas por
decisões relacionadas a finalidades anteriores à LDB.
132 Educação infantil
Já no caso da pré-escola, o surgimento e ampliação iniciais estão muito relacio-
nados à demanda de algumas famílias, em geral abastadas, pela antecipação do
processo de escolarização formal da criança, especialmente a alfabetização. Em
muitos casos, as primeiras turmas de pré-escola estavam inclusive inseridas em
escolas criadas para atender ao ensino fundamental. Após a Constituição Federal
de 1988, fortemente influenciada pela demanda para ampliação do direito à escola
e por uma visão da criança como também um sujeito de direitos[293], começa a se
formar no Brasil um novo consenso sociointeracionista e que influencia bastante a
aceleração da expansão do acesso que ocorre desde então. Ainda hoje convivem na
maioria das redes de ensino turmas de pré-escolas inseridas em escolas de ensino
fundamental com outras pertencentes a escolas exclusivamente destinadas à EI.
Também no âmbito curricular, disputam o espaço posições educacionais mais
voltadas à alfabetização (por exemplo, expressas na Política Nacional de Alfabeti-
zação de 2019) e outras inspiradas em conceitos sociointeracionistas (tal como a
Base Nacional Comum Curricular – BNCC, de 2018).
A partir da BNCC, torna-se ainda mais explícito um esforço que se consolida a
partir da LDB de conciliar os objetivos da creche e pré-escola em um mesmo percurso
formativo da criança, mas muitas vezes ainda contendo modelos de atendimento
diferentes. Em muitas escolas a creche é ofertada em tempo integral, mas sem a
presença de um professor diplomado em pedagogia acompanhando as crianças
durante toda a rotina. Já na pré-escola o modelo predominante é de tempo parcial,
e quase sempre liderado por professores formados em pedagogia.
Como a discussão sobre os efeitos da creche e pré-escola está
organizada na literatura?
Há bem mais produção a respeito dos impactos da pré-escola sobre desfechos pos-
teriores do que para creches (ou outras intervenções em idades menores). Duas
razões podem ser apontadas para isso. Primeiro, porque a função social da escola
na pré-escola é mais bem estabelecida e semelhante entre países e sociedades. Se-
gundo, porque para muitos analistas a pré-escola deveria ter como principal conse-
quência a prontidão para a aprendizagem no ensino fundamental.
Assim sendo, também é fato que muito dessa produção utiliza como desfechos
relevantes os resultados de proficiência em níveis posteriores de ensino, instrumen-
tos de prontidão para a aprendizagem e alfabetização e, em menor quantidade,
medidas de inteligência e resultados amplos de desenvolvimento infantil. Em uma
perspectiva mais moderna, hoje se reconhece: i) que a pré-escola pode ter influên-
cia muito mais ampla do que impulsionar a proficiência, ii) que é inclusive discutí-
vel se a antecipação da escolarização da criança tem benefícios de longo prazo, e iii)
que a qualidade das experiências vividas pela criança é tanto um meio para atingir
Ciência da primeira infância 133
objetivos mais amplos de desenvolvimento como fim em si mesma, na medida em
que também desperta a vontade de aprender e amplia a consciência da criança sobre
a própria utilidade da aprendizagem em sua trajetória.
Exemplos dessa tradição mais antiga que sumariza o impacto da EI sobre notas
e testes de inteligência incluem estudos do tipo metanálise[293–305]. Um curto mas
influente artigo também resume essa literatura[306]. Tipicamente, esses estudos
concordam em apontar que a passagem pela pré-escola gera um ganho médio em
desempenho escolar entre 0,2 e 0,35 desvio padrão. Uma limitação desses resultados
se deve ao fato de que a composição dos grupos de controle (ou seja, daqueles que
não frequentaram pré-escola) varia substancialmente entre os estudos disponíveis,
dificultando a análise conjunta dos impactos, mesmo quando o foco se restringe a
ensaios aleatorizados. Assim, estudos em que a amostra é composta de indivíduos
mais vulneráveis tendem a exibir impactos maiores, pois o grupo de controle apre-
senta indicadores, em geral, piores. A Figura 8.2 traz alguns desses resultados inter-
nacionais e os compara com estudos brasileiros, indicando que em nosso país o
impacto da pré-escola tende a ser similar ao observado no restante do mundo.
Figura 8.2 Impacto da pré-escola sobre o aprendizado durante o ensino fundamental (d.p.).
Fonte: Santos (2016)[308]. As barras à esquerda, em verde , mostram resultados de estudos brasileiros. A barra vermelha vem de metanálise
apenas de estudos para os Estados Unidos, ao passo que as demais contêm resultados de todo o mundo. * Refere-se ao efeito médio dos
84 estudos analisados por Duncan e Magnuson (2013)[304], sem levar em consideração o desvio padrão das estimativas (que reflete o fato de
que cada estudo tem diferentes tamanhos de amostra) no cálculo da média do efeito.
Algumas considerações são importantes ao ler esses resultados. Primeiramente,
as metanálises costumam priorizar ensaios aleatorizados (RCT) e por isso têm forte
predominância de estudos de intervenções-modelo, para as quais foi feito um esforço
134 Educação infantil
de garantir a qualidade (validade interna) do estudo. A predominância desse tipo
de estudo se deve, em parte, ao fato de que gestores de escolas-modelo têm incen-
tivos para provar que suas instituições são boas e com frequência não precisam
prestar satisfações a terceiros caso decidam aleatorizar o acesso a suas escolas. Por
outro lado, os gestores de programas de larga escala têm dificuldade em convencer
a população ou seus representantes a aleatorizar o acesso aos equipamentos, ao
mesmo tempo em que nem sempre estão dispostos a correr o risco de descobrir que
suas intervenções não funcionam de forma apropriada[306]. Como resultado, vários
autores de metanálises ressaltam que, possivelmente, a literatura baseia-se, predo-
minantemente, em intervenções de qualidade acima da média e que, portanto, os
impactos podem estar superestimados ao se tentar extrapolá-los para programas
em larga escala.
De fato, as pesquisas com dados observacionais para políticas públicas em larga
escala geralmente encontram resultados inferiores aos dos estudos incluídos nas
metanálises. Porém, não fica claro se as diferenças nos impactos se devem ao uso
de metodologias de estimação distintas ou ao fato de que as intervenções-modelo
investigadas por meio de RCT são melhores do que a média das pré-escolas efeti-
vamente ofertadas à população.
Em relação a esse ponto, uma metanálise[308] focando apenas em políticas públi-
cas de larga escala mostra que os efeitos desse tipo de política são heterogêneos
entre si. Embora focados apenas em países desenvolvidos, os resultados indicam
algumas características de programas universais que estão associados a melhores
resultados: a qualidade da oferta de EI importa, programas em tempo integral têm
resultados melhores do que em tempo parcial e o benefício da EI é maior para
crianças mais pobres. Também encontram maiores efeitos em habilidades cognitivas
do que em habilidades socioemocionais e não encontram decaimento do efeito da
EI ao longo do tempo. Já Evans, Jakiela e Acosta (2024)[309] realizam revisão siste-
mática focada em países em desenvolvimento. Alguns dos resultados se assemelham
aos de van Huizen e Plantenga (2018)[308], como o fato de que o efeito no desenvol-
vimento da criança não está associado à idade de ingresso na EI. Por outro lado,
encontram que meninas se beneficiam mais do que meninos, mas não encontram
maior benefício para as crianças mais pobres.
Também é importante dizer que, ao longo do tempo, o gasto médio por estudante
em programas pré-escolares avaliados por RCT aumentou substancialmente. Não
obstante, o impacto médio desse tipo de programa sobre os beneficiários tem con-
sistentemente declinado ao longo do tempo, e esse fato constitui um dos principais
puzzles da literatura atual sobre o tema, resumido na Figura 8.3.
Ciência da primeira infância 135
A: Duncan e Magnuson (2013)
B: Huizen e Plantenga (2018)
Figura 8.3 Impacto médio (em desvio padrão) de programas desenvolvidos na primeira infância ao final do tratamento.
Nota: a Figura 8.3A mostra a distribuição de 84 tamanhos de efeito médio de tratamento de programas para indicadores cognitivos e para
resultados de realização, medido no fim do período de tratamento de cada programa, por ano em que o programa começou. Refletindo suas
contribuições aproximadas aos resultados ponderados, as bolas azuis têm tamanhos proporcionais ao inverso do quadrado do erro padrão
do impacto estimado no programa. Há uma linha de regressão linear ponderada do tamanho do efeito por ano. Análise similar é feita na
Figura 8.3B, mas note que os trabalhos avaliados nesta figura diferenciam as avaliações a partir dos anos 1990.
Fonte: Duncan, Magnuson (2013)[304] e Huizen, Plantenga (2018)[308].
Em estudos mais recentes em diferentes estados norte-americanos[310–312] são
inclusive frequentes as situações de que o grupo de comparação acaba por superar
136 Educação infantil
o grupo de tratamento em termos de desempenho escolar no longo prazo. Um
exemplo característico desse fenômeno são as sucessivas avaliações do programa
Head Start, que é o programa americano de mais ampla cobertura e que vem sendo
sucessivamente avaliado praticamente desde suas primeiras gerações, nos anos 1960.
A despeito do crescente gasto por estudante, os impactos positivos e estatisticamente
significantes encontrados para as gerações que participaram até o final do século
passado já não são verificados para as gerações mais recentes[313–315].
Nesse sentido, alguns motivos poderiam explicar esse menor efeito nas gerações
mais recentes: fatores como melhor qualidade da análise estatística nos estudos mais
recentes, bem como problemas psicométricos relacionados à confiabilidade das
escalas de avaliação da qualidade da EI (tanto em termos de poder de discriminação
de boas práticas, quando elas não são muito boas ou muito ruins, como em termos
da variabilidade da avaliação da qualidade das práticas na EI quando realizadas por
diferentes observadores) são duas potenciais explicações para a redução do efeito
da EI nas gerações mais recentes[316].
Outro aspecto discutido na literatura é o declínio do impacto da passagem pela
pré-escola sobre a aprendizagem subsequente. Já de longa data se verifica que, para
grande parte das intervenções educacionais, os impactos decaem conforme o instante
em que a intervenção terminou se distancia no passado. Esse fenômeno, chamado
de fading out (desaparecimento) é relativamente bem documentado na literatura.
Um dos programas mais estudados, o norte-americano Perry School, apresenta
impacto sobre quociente de inteligência (QI) logo após o término do programa,
mas, alguns anos mais tarde, já não havia tal efeito (a despeito de os elevados im-
pactos em diversas outras dimensões de bem-estar dos indivíduos perdurarem no
longo prazo)[317]. Da mesma forma, outros programas como o Head Start, Carolina
Abecedarian e tantos outros que foram rigorosamente avaliados no longo prazo
sugerem que elevados ganhos em medidas cognitivas (QI, proficiência, notas do
boletim) no curto prazo tendem a declinar, muitas vezes desaparecendo completa-
mente antes do final da educação básica.
Explicações para isso incluem uma atitude compensatória de professores em
direção ao grupo menos favorecido (que serviu de grupo de controle), efeitos mo-
tivacionais que fazem com que os recém-tratados estejam particularmente mais
engajados do que seus pares de controle em realizar as testagens logo após o término
da intervenção, complementaridades dinâmicas (boas experiências precisam ser
seguidas de outras boas experiências para seus efeitos perdurarem) e efeitos estatís-
ticos decorrentes da mudança na composição da amostra (se, por exemplo, a pré-
-escola induzir indivíduos que de outro modo desistiriam de estudar, devido a
dificuldades cognitivas, a persistir nos estudos)[318]. Nesse caso, o grupo de controle
tem seus resultados de longo prazo artificialmente inflados devido ao desaparecimento
Ciência da primeira infância 137
da cauda inferior de proficiência do cômputo de suas médias). A Figura 8.4 mostra
o efeito fading out tipicamente encontrado na literatura, e como a curva que associa
efeitos de curto, médio e longo prazos tem evoluído ao longo do tempo, mostrando
que o fenômeno existe mesmo para os estudos mais antigos (que apresentam im-
pactos em geral mais elevados), e que hoje acaba por tornar os impactos de médio
prazo de programas pré-escolares bem menores do que foram no passado.
Figura 8.4 Evolução dos efeitos médios de tratamento de programas pré-escolares ao longo do tempo.
A figura exibe os impactos médios do tratamento ao seu final e nas avaliações de follow-up para alfabetização/linguagem, matemática,
cognição geral e resultados socioemocionais para intervenções educacionais na primeira infância. Linhas laranjas representam trajetórias
para intervenções que começaram entre 1960-1999. Linhas azuis representam trajetórias para intervenções que começaram entre 2000-
2011. O eixo x apresenta o tempo médio decorrido desde o final do tratamento para cada intervalo (por exemplo, o tempo médio desde
o pós-teste para uma avaliação de acompanhamento superior a 2 anos foi de 76 meses. O eixo x é escalado de acordo). As porcentagens
refletem a porcentagem do efeito médio do pós-teste observado em cada onda de acompanhamento.
Fonte: Whitaker et al. (2023)[319].
Algumas explicações têm sido aventadas para racionalizar esses fatos. Primeira-
mente, muitos desses estudos vêm de países desenvolvidos e que experimentaram
significativa melhora nas condições em que crianças se desenvolvem ao longo da
segunda metade do século XX, fazendo com que os resultados do grupo de compa-
ração subissem e que a margem de ganhos para intervenções pré-escolares diminuísse.
Essa explicação é coerente com a constatação de que metanálises para países em
desenvolvimento tendem a mostrar impactos maiores do que para países desenvol-
vidos[306,319]. Relacionada a essa explicação, pesquisadores apontam que a expansão
do acesso à pré-escola faz com que muitas crianças do grupo de comparação na
138 Educação infantil
verdade acabem tendo outros tipos de atendimento, que podem até ser melhores do
que o tratamento proposto[320] ou estarem expostas a bons programas de fortaleci-
mento pedagógico da parentalidade[321].
Em segundo lugar, alguns autores apontam que os programas mais recentes têm
foco excessivo em alfabetização e conhecimentos acadêmicos, e acabam sendo re-
dundantes com oportunidades que tipicamente ocorrem posteriormente, ao passo
que os programas mais antigos focavam no desenvolvimento integral e em dimen-
sões mais relacionadas à socialização, autonomia e autocuidado[316,322,323]. Agrava esse
quadro o fato de que, mesmo os conteúdos acadêmicos deixaram de ser trabalhados
em formatos em que a criança se envolvia de forma mais ativa para outro em que o
professor ensina e a criança aprende passivamente e em turmas maiores[324,325]. Aqui
se misturam defensores de que na pré-escola deveriam ser trabalhadas competências
menos trabalhadas posteriormente[314], com outros que argumentam que competên-
cias básicas como a autonomia, autocontrole e raciocínio têm consequências mais
duradouras do que matemática e alfabetização[326].
No Brasil, um dos únicos estudos longitudinais em larga escala (N = 3.600) que
se dispõe a comparar egressos e não egressos da EI, ainda que de forma correlacio-
nal, verifica que as diferenças de desempenho entre egressos e não egressos declina,
mas se mantém estatisticamente significante ao final da 3ª série do ensino funda-
mental[327]. Curi e Menezes-Filho (2009)[328] utilizam dados da avaliação externa do
governo federal (SAEB) em corte transversal para mostrar que as diferenças de
desempenho entre egressos e não egressos da EI são maiores no início da educação
básica e praticamente desaparecem ao final do ensino médio. Porém, essa metodo-
logia é criticada por Fonseca (2015)[329], que, a partir de resultados do estudo longi-
tudinal de Sertãozinho, mostra que há importante mudança na composição da
amostra por conta de distorções de fluxo escolar, o que provavelmente infla os re-
sultados médios ao longo do tempo dos que não frequentaram EI. Ao levar em
consideração essa mudança na composição, Fonseca (2015)[329] sugere que os pos-
síveis efeitos da pré-escola se mantêm (ao menos ao longo do ensino fundamental),
ou seja, não há decaimento do efeito da EI.
Conforme já mencionado, e a grosso modo, é possível dividir os estudos dispo-
níveis sobre impactos da pré-escola em dois grandes blocos que abrigam a quase
totalidade das pesquisas disponíveis. Em um primeiro conjunto, agrupam-se estudos
de intervenções-modelo implementadas para um grupo pequeno de indivíduos,
com elevadas qualidade e gasto por aluno, muitas vezes focalizadas em grupos ex-ante
vulneráveis, e que passam por um desenho avaliativo bastante rigoroso, em geral
ensaios aleatorizados (do inglês randomized controlled trial – RCT). Um segundo
grupo contém estudos de intervenções em escala, que quase sempre avaliam popu-
lações mais amplas e heterogêneas, contam com menor investimento por criança e
Ciência da primeira infância 139
funções mais restritas às típicas da escola, e que muitas vezes são avaliadas por
desenhos quase experimentais ou mesmo correlacionais. O primeiro grupo é so-
brerrepresentado nas metanálises científicas, que valorizam especialmente o rigor
metodológico, e encontra impactos substancialmente maiores do que o segundo
grupo. Com tantas diferenças entre os estudos, é difícil precisar onde está a princi-
pal fonte de diferenças, mas os estudos mais rigorosos certamente inspiraram o
redesenho das políticas públicas em direção a um aumento da qualidade, focalização,
e acompanhadas de avaliações mais rigorosas.
No que diz respeito à focalização, a maioria dos estudos se divide entre não en-
contrar impactos distintos para pessoas de diferentes origens socioeconômicas,1
raça/etnia e outros marcadores associados à vulnerabilidade; ou em encontrar im-
pactos maiores para os menos favorecidos. Por exemplo, a avaliação sistemática da
literatura voltada a países em desenvolvimento encontra que metade dos trabalhos
têm efeitos maiores para os mais vulneráveis, enquanto a outra metade não encon-
tra efeitos diferentes da EI por nível socioeconômico[309]. Por outro lado, o mesmo
estudo encontra efeitos maiores para meninas do que para meninos.
Já a qualidade da EI parece ser de fato um moderador importante dos efeitos da
educação infantil sobre o desenvolvimento e resultados futuros. Entre os próprios
estudos com intervenções-modelo, já se percebe que programas mais bem desenhados,
multidimensionais e que utilizam currículos e paradigmas pedagógicos alinhados às
melhores práticas apresentam melhores resultados[308]. Ao tentar isolar quais seriam
esses elementos de qualidade que fariam maior diferença, os estudos em geral mostram
que bons processos (interações pedagógicas e afetivas; organização dos tempos e es-
paços pedagógicos na rotina escolar) importam mais do que insumos (infraestrutura,
qualificação dos professores). Bons insumos estão associados a melhores resultados
de aprendizagem, mas parecem só ter impactos substanciais sobre o desenvolvimento
da criança se mediados pela concomitante melhoria de processos.2
Aprofundando o entendimento de quais seriam processos particularmente as-
sociados a melhores resultados na EI, vale destacar:
●
Aprendizagem baseada no brincar. Brincar no sentido pedagógico se rela-
ciona a uma proposta mediada pelo professor em que a criança se engaja
voluntariamente em uma atividade de seu interesse. Esse tipo de oportuni-
1 Beneficiários de programas de transferência, riqueza ou educação da mãe. Ruhm e Waldfogel (2012)[330]
fazem uma revisão de literatura e encontram maiores benefícios para crianças vulneráveis, chamando
a atenção para o fato de que os efeitos só são substanciais se os programas tiverem padrões mínimos
de qualidade.
2 Aqui é preciso notar a exceção da razão professor-aluno, que parece ter um efeito direto sobre a apren-
dizagem para além daquele mediado pela melhoria das interações.
140 Educação infantil
dade de aprendizagem já parte de um elemento motivacional em que a criança,
por ver um significado, se envolve de forma concentrada e engajada. Se bem
planejada, essa estratégia permite a mobilização e o desenvolvimento de
diversas habilidades, tais como imaginação e criatividade, resolução de
problemas, capacidades interpessoais (tais como assertividade, respeito pelo
outro e empatia), talentos físicos relacionados às coordenações motoras ampla
e fina, entre outras.
●
Adequação das oportunidades ao estágio de desenvolvimento da criança.
Na escola infantil, tanto a infraestrutura como as oportunidades de apren-
dizagem precisam estar adequadas ao estágio de desenvolvimento da criança,
não oferecendo riscos e desconfortos, e com nível de dificuldade apropriado
(nem tão difícil, que frustre ou desencoraje; nem tão simples, que cause de-
sinteresse). As propostas também devem ser contextualizadas, como forma
de aumentar o significado e engajamento. Os espaços devem comportar
cantinhos semiestruturados, que facilitam a interação criança-criança, e é
preciso haver cuidado com os tempos e transições, evitando que algumas
crianças fiquem excluídas por se desinteressarem de algo que lhes foi suge-
rido ou por terminar uma atividade mais cedo.
●
Individualização. Crianças aprendem em ritmos diferentes, e nessa idade o
desenvolvimento muitas vezes dá saltos em espaço curto de tempo. O pro-
fessor precisa estar atento aos ritmos e aos momentos em que, com sua
mediação (andaime), pode facilitar descobertas e saltos no desenvolvimento
e aprendizagem.
●
Criança no centro do processo de aprendizagem. Interações dialógicas, em
que o adulto fala e escuta a criança, potencializam o desenvolvimento. Esse
tipo de interação muitas vezes é particularmente marcado pelo uso de per-
guntas abertas nas interações verbais, que são aquelas sem resposta prede-
terminada (ou certa). Interações dialógicas estimulam a criança a refletir sobre
a resposta e criam laços afetivos. Relacionada também ao protagonismo in-
fantil estão as possibilidades de escolha durante as oportunidades oferecidas,
tais como o material usado para desenhar, a personagem que se quer inter-
pretar em uma peça de teatro ou o jogo que se quer disputar.
Dentre insumos que podem facilitar bons processos, o destaque vai para a esco-
lha dos materiais pedagógicos, que devem preferencialmente ser disponibilizados
para a criança durante todo o tempo em que esteja na escola; e a qualificação dos
Ciência da primeira infância 141
professores como proxy para seu repertório no planejamento e execução pedagógica
dos planos de aula, e manejo do comportamento de sua turma.3
A importância da qualidade como moderadora dos impactos que a EI tem sobre
a criança levou diversos governos a experimentarem o escalonamento de interven-
ções-modelo ou a propor políticas em larga escala inspiradas nelas. Exemplos
bem-sucedidos nos Estados Unidos incluem o Chicago Child-Parent Care Center
(CPC) e, especialmente, o programa Head Start. Em ambos os casos houve rigorosas
avaliações experimentais e quase experimentais que demonstraram substanciais
impactos de curto prazo. Contudo, para o único caso em que houve seguimento de
longo prazo (Head Start), o declínio do impacto é nítido. Estudos[332-334] concluíram
que a persistência do impacto parece estar relacionada à qualidade das escolas fre-
quentadas posteriormente à EI, corroborando a hipótese de complementaridades
dinâmicas[335]. Segundo esse raciocínio, de nada adianta frequentar uma escola de
qualidade por apenas um curto período da educação básica e em seguida ir para
uma escola ruim. No longo prazo prevalece o nível mais baixo, indicando que in-
vestimentos educacionais precisam ser constantes ao longo do tempo.
De um modo geral, programas pré-escolares em larga escala passaram a receber
mais investimento ao longo do tempo, mas não ao ponto de replicar os valores das
melhores intervenções-modelo. Também ficaram cada vez mais comuns avaliações
desses programas por RCT, dentre os quais se destacam os casos de Boston, Tennessee,
Carolina do Norte e Geórgia. Essas avaliações replicaram os resultados mais baixos
encontrados em estudos correlacionais, e, no caso do Tennessee, diversos dos desfe-
chos investigados demonstraram inclusive efeitos negativos da participação na pré-
-escola (especialmente em dimensões comportamentais e aprendizagem no médio
prazo)[336]. Já o caso de Boston[337] encontra efeitos de longo prazo em conclusão do
ensino médio, matrícula no ensino superior e redução de problemas de indisciplina
ao longo do ensino médio. Na mesma linha, a metanálise de McCoy et al. (2016)[338]
encontra efeito da EI no aumento da taxa de conclusão do ensino médio e redução
da repetência escolar.
Se por um lado grande parte da literatura sobre impactos da EI foca em resulta-
dos acadêmicos da pré-escola, especialmente durante o ensino fundamental, por
outro é importante considerar que a função social dessa etapa de ensino tem sido
3 Barnett e Frede (2010)[331] aprofundam essa discussão e trazem referências que substanciam essa análise.
Os autores acrescentam como elemento de qualidade o estabelecimento e monitoramento de metas claras
de aprendizagem, inclusive como forma de não subestimar as enormes capacidades de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças nessa faixa etária. Esse tema, contudo, encontra pouca adesão no Brasil,
especialmente pelo receio de estigmatização da criança e pressão exagerada pelo alcance de algumas
metas selecionadas, o que pode comprometer um desenvolvimento integral.
142 Educação infantil
transformada ao longo do tempo, e entre diferentes culturas. É nítida a expansão do
acesso e extensão do dia letivo e, em diversas localidades, a incorporação de serviços
não estritamente educacionais no ambiente escolar, fazendo com que o papel da
escola não se restrinja à promoção do desenvolvimento acadêmico-cognitivo. Por
outro lado, também é verdade que a pré-escola surge em muitos países como forma
de antecipação da escolarização formal das crianças e que, ao longo do tempo, sofreu
pressão por currículos mais acadêmicos como forma de reagir à sensação de que as
exigências contemporâneas são maiores. Em muitos casos as avaliações de impacto
da EI, acompanhando essa diversidade, levaram em conta desfechos de desenvolvi-
mento socioemocional, comportamento e saúde mental.
No que diz respeito aos impactos da EI sobre o desenvolvimento socioemocional
dos indivíduos, em geral, as metanálises apontam para um impacto médio positivo,
mas de menor magnitude (0,16 desvio padrão para estudos americanos[302] e 0,27
desvio padrão para estudos internacionais[339]) sobre diversos construtos psicológi-
cos, porém com durabilidade maior (impactos socioemocionais apresentam menos
decaimento ao longo do ciclo educacional). Entre os construtos mais frequentemente
investigados e sobre os quais há evidência de impactos positivos do ensino infantil,
incluem-se autoestima, estabilidade emocional (comportamentos internalizantes e
externalizantes), depressão, hiperatividade e ansiedade, extroversão e sociabilidade
e lócus de controle (tendência a crer que eventos ocorridos consigo são fruto de suas
próprias ações versus acreditar que são fruto de sorte ou outras causas externas)[301].
Também no caso do impacto da EI sobre o desenvolvimento socioemocional há
divergências na literatura relacionadas à dicotomia entre metanálises baseadas
apenas em estudos de elevado rigor metodológico versus estudos observacionais de
programas de larga escala. Enquanto as metanálises sugerem impacto positivo da
EI no desenvolvimento socioemocional, nos estudos observacionais, são encontra-
dos efeitos bem menores ou até adversos (especialmente, sobre a agressividade). Em
uma série de pesquisas lideradas pelo National Institute of Child Health and Human
Development (NICHD), com apoio da National Institutes of Health (EUA), foi
constatado que a passagem pelo ensino infantil, especialmente aos 2 e 3 anos, está
associada a problemas de comportamento nas séries subsequentes. Esses resultados
corroboram outros documentados desde o início dos anos 1970[340-342], mas que são
criticados por não controlarem pela seletividade (famílias que matriculam os filhos
no ensino infantil são, em média, mais vulneráveis e convivem em ambientes fami-
liares mais conturbados)[343]. Pesquisas mais rigorosas conduzidas nos anos 1990
confirmam essas conclusões, porém mostram que a matrícula precoce está associada
ao emprego materno e a um menor grau de atenção à criança; por conseguinte, os
efeitos adversos não seriam, necessariamente, fruto da EI[344,345].
Ciência da primeira infância 143
Os estudos do NICHD ressaltam ainda que as conclusões obtidas não são particu-
lares do contexto americano, uma vez que foram também obtidas na Suécia[346], Itália[347],
Noruega[348] e nos próprios EUA[349,350]. Por outro lado, outros pesquisadores[301] reba-
tem, dizendo que tais resultados socioemocionais adversos não são confirmados por
estudos experimentais com algumas intervenções em larga escala, sugerindo que de
fato esses resultados seriam fruto apenas de deficiências metodológicas.
É importante destacar que creches americanas e canadenses típicas têm pequeno
efeito negativo sobre desenvolvimento socioemocional e comportamental[318,351,352].
Centros de alta qualidade (medida pela qualidade do envolvimento do cuidador com
a criança – acolhimento, estimulação de linguagem e cuidado responsável – impul-
sionam ainda mais o aprendizado e o desenvolvimento socioemocional[352-355]. Inter-
venções compensatórias tais como o Carolina Abecedarian e Head Start (este em larga
escala) também não apresentam efeitos socioemocionais adversos. Finalmente, mesmo
nos poucos estudos mais rigorosos em que parece haver efeito socioemocional adverso,
este apresenta forte decaimento e, eventualmente, tende a desaparecer ao longo do
ciclo educacional[301].
Ainda descrevendo possíveis impactos de curto prazo da EI que podem benefi-
ciar a criança, Cascio e Schanzenbach (2013)[356] exploram a forte expansão do acesso
à pré-escola que segue a iniciativa Preschool for All, do presidente Barack Obama,
para verificar que o convívio familiar foi fortemente afetado na ocasião com o tempo
que pais e filhos gastam em atividades educativas, tais como a leitura e investigação,
crescendo substancialmente.
O caso do programa Perry School tem sido exaustivamente analisado para veri-
ficar impactos sobre resultados de desenvolvimentos cognitivos e socioemocionais,
bem como sobre resultados de bem-estar na vida adulta e até nas gerações seguintes
às dos beneficiários. Apesar de contar com uma amostra relativamente pequena, de
pouco mais de 100 indivíduos em cada um dos grupos de tratamento e controle, o
programa ganhou destaque graças a seu desenho experimental (RCT) e longitudinal,
em que os membros dos grupos de tratamento e controle vêm sendo acompanhados
desde 1962 com taxas relativamente baixas de atrito.
Heckman, Pinto e Savelyev (2013)[317], por exemplo, mostram que os impactos
do programa sobre QI desaparecem após sete anos da intervenção, mas os impactos
sobre o desenvolvimento social e comportamento pessoal perduram, sendo este
último o mecanismo responsável por impressionantes resultados dessa intervenção
sobre salários, saúde, envolvimento com violência e formação de família. Recente-
mente, inclusive, García, Heckman e Ronda (2023)[357] detectaram a presença de
efeitos intergeracionais, com os filhos dos participantes do programa apresentando
resultados significativamente melhores de escolaridade e emprego do que os filhos
144 Educação infantil
dos não participantes, configurando um mecanismo concreto de ruptura do processo
de transmissão intergeracional da pobreza.4
Em análise de mediação, Heckman, Pinto e Savelyev (2013)[317] também mostram
que grande parte dos benefícios de longo prazo são mediados pelos efeitos que o
programa teve no desenvolvimento socioemocional dos participantes. A Tabela 8.1
abaixo resume os principais resultados de longo prazo e transbordamentos que o
programa teve para filhos e irmãos dos participantes. Na tabela, percebe-se nítido
impacto positivo da participação no programa sobre a saúde dos homens, escolari-
dade das mulheres, e sobre a inserção econômica de ambos os gêneros.
Tabela 8.1 Impactos de longo prazo do programa Perry School
Homens Mulheres
Idade
Eixo Variável 19 27 40 19 27 40
Tabagismo* (-) (-)
Saúde Alcoolismo* (-) (-)
Atividade física* (+)
Emprego** (+) (+) (+) (+) (+)
Renda** (+)
Atividade econômica
Poupança** (+) (+)
Auxílio governamental** (-) (-) (-) (-) (-)
Escolaridade** (+)
Educação Proficiência** (+)
Diagnóstico de atraso cognitivo** (-)
(-) (-) (-) (-)
Aprisionamento**
Estabilidade conjugal*** (+) (+)
Outros Transbordamento Filhos Irmãos Filhos Irmãos
Terminou ensino médio*** (+) (+)
Suspensão ou aprisionamento*** (-) (-) (-)
Emprego*** (+) (+) (+)
Fonte: (*) Conti, Heckman, Pinto (2016)[358]; (**) Heckman et al. (2010)[359]; (***) García, Heckman, Ronda (2023)[357].
Já impactos sobre resultados de saúde e violência são raramente investigados,
mas vale dizer que outros programas além do Perry School apresentam esse tipo de
4 Aqui é importante lembrar que o Perry School foi um programa pré-escolar implementado em um pe-
queno município de Michigan (EUA), de maioria negra e economicamente vulnerável, e onde à época
se verificava prevalência surpreendentemente elevada de crianças com diagnóstico de atraso cognitivo.
Ciência da primeira infância 145
desfecho.5 Por exemplo, García, Heckman e Ziff (2019)[362] encontram efeito do ABC/
CARE na redução de crimes, sendo o efeito maior entre meninas do que meninos
e para crianças em pior situação socioeconômica na infância.
Finalmente, o último grande tema deste capítulo investiga se o tempo que a
criança passa na EI (dosagem) apresenta impactos moderadores importantes. Pri-
meiramente, tanto a literatura internacional como a nacional são inconclusivas a
respeito do assunto, e mesmo quando encontram um efeito adicional associado ao
fato de a criança passar um ano adicional na EI, este é modesto se comparado ao
efeito de ter alguma passagem por esse tipo de equipamento.6
Examinando a idade de ingresso e separando esse efeito da duração do programa,
metanálise de Li et al. (2020)[365] concluiu que programas que começam aos 3 anos
de idade têm impactos maiores do que aqueles que começam em idades posteriores.
Os estudos sobre efeitos de programas em idades menores são de difícil interpreta-
ção, pois quanto mais novas as crianças, mais heterogêneos são o foco e prioridades,
alternando entre educar e cuidar, além de muitas vezes conterem componentes
únicos contemplando aspectos nutricionais e de parentalidade.
No Brasil, poucos estudos encontram efeitos significativos de frequentar creche,
para além do efeito estimado para a pré-escola. Exceções são Pinto, Santos e Guimarães
(2017)[366], que estimam efeitos positivos porém heterogêneos da passagem pela
creche sobre aprendizagem de matemática ao final dos anos iniciais do ensino
fundamental em um desenho quase experimental, e Attanasio et al. (2022)[367], que
fazem uso de uma loteria de acesso ocorrida no Rio de Janeiro em 2007 para cons-
tatar que crianças que conseguiram acesso à creche tiveram importantes ganhos
nutricionais, além de ganhos cognitivos de curto prazo.
Considerações finais
Este capítulo tem como objetivo sintetizar o conhecimento científico a respeito dos
potenciais impactos que a EI pode ter sobre a vida dos indivíduos, relacionando
5 Campbell et al. (2014) e Englund et al. (2014)[360,361] mensuram esses impactos para o programa ABC –
Carolina Abecedarian, ao passo que o último estende a análise para o programa Chicago Child-Parent
Care Center (CPC). Deming (2009)[313] encontra resultados semelhantes para o programa Head Start.
6 Yoshikawa et al. (2013)[363] encontram efeitos positivos associados à permanência na EI por mais de
um ano, se comparado àqueles que ficam apenas um ano, mas ressalvam que essa conclusão vale para
programas focalizados em crianças vulneráveis. Zaslow et al. (2016)[364] confirmam o estudo anterior no
que se refere à margem extensiva da dosagem, e acrescentam a essa conclusão que a margem intensiva
também importa, ou seja, crianças que faltam pouco ou que frequentam escolas em tempo integral
percebem maiores ganhos em linguagem e matemática do que as que atendem parcialmente a EI. Re-
cente metanálise de Li et al. (2020)[365] encontra o resultado oposto: programas mais curtos parecem ter
benefícios de curto prazo maiores do que programas mais longos.
146 Educação infantil
essas descobertas ao desenho da EI enquanto política pública, em especial no con-
texto brasileiro.
●
Qualquer revisão sistemática ou metanálise da literatura deve ser feita e lida
com ressalvas. A função social da EI varia em cada cultura e contexto social
e histórico, fazendo com que os objetivos dessa política (e consequentemente
seu desenho e desfechos esperados) sejam heterogêneos. Em primeiro lugar,
a motivação para criar e expandir a EI é em geral relacionada à necessidade
de as mães terem onde deixar seus filhos durante o dia para poder trabalhar
e/ou à demanda de algumas famílias, em geral escolarizadas, por antecipar
o processo de escolarização formal de seus filhos. É justo dizer, contudo,
que existe maior homogeneidade no segmento voltado às crianças de 4 e 5
anos, que costumamos chamar de pré-escola, para as quais, na maioria dos
lugares, a finalidade é educacional, e por isso focamos nossa discussão nessa
etapa educacional.
●
Por se tratar de um segmento com finalidade eminentemente educacional,
é natural que a maioria dos estudos de impacto tenha como desfechos me-
didos as aprendizagens em áreas como linguagem e matemática, ainda que
haja substancial literatura, especialmente a partir de meados dos anos 1990,
considerando também a função executiva, desenvolvimento motor e so-
cioemocional.
●
Mesmo considerando apenas a pré-escola, é relevante dizer que, com as
primeiras avaliações de impacto realizadas de forma um pouco mais rigorosa,
bem como outros estudos mostrando forte relação entre a participação nessa
etapa e a melhoria do desempenho educacional futuro, houve um forte re-
direcionamento no foco desse tipo de política na direção da alfabetização
precoce entre meados dos anos 1970 e fins dos anos 1990 nos Estados Uni-
dos, país que mais fornece estudos acadêmicos com elevado rigor científico.
A análise em perspectiva dessa literatura deve, portanto, considerar um tipo
de intervenção que, além de ter como prioridade a escolarização precoce,
passou por uma transição para um ambiente muito mais estruturado em
certa época, com prováveis reflexos nos efeitos encontrados em estudos de
impacto ao longo do tempo.
●
Em termos do principal foco da literatura, que explora o impacto da partici-
pação na pré-escola sobre medidas de aprendizagem em etapas subsequentes,
a principal mensagem é a de que há um aumento importante em resultados
de proficiência no início do ensino fundamental, mas que muitas vezes se
dissipa com a progressão educacional, eventualmente desaparecendo (ou seja,
com o grupo de comparação alcançando o grupo de tratamento) ao final dessa
Ciência da primeira infância 147
etapa de ensino. Esse fenômeno também é encontrado no Brasil[328], mas con-
testado por Fonseca (2015)[329]. Metanálises recentes também documentam
que o benefício da pré-escola em termos de aprendizagem é bem menor para
as gerações mais novas, fenômeno intrigante, uma vez que o investimento por
criança parece ter em média aumentado com o passar do tempo.
●
É importante notar que os estudos mais citados em geral priorizam meto-
dologias rigorosas, especialmente ensaios aleatorizados caso-controle (RCT).
Nesses estudos, contudo, quase sempre a intervenção em questão é um
programa pré-escolar modelo, que trabalha outras dimensões além da pu-
ramente educacional (tais como parentalidade, saúde e nutrição), e muitas
vezes focalizado em populações vulneráveis. Pesquisas que têm como foco
políticas de EI em larga escala na maioria das vezes encontram impactos
significativamente menores do que os documentados nas metanálises que
priorizam RCT, mas não é claro se tais diferenças derivam do público-alvo
(na maioria das vezes toda a população em idade pré-escolar), da metodo-
logia, ou do desenho dos programas. De todo modo, mesmo estes, em geral,
contêm resultados positivos e significativos sobre a aprendizagem.
●
Devido à abundância de evidências de que a EI pode impulsionar a apren-
dizagem, entre outros desfechos, percebe-se, ao longo do tempo, uma ace-
lerada expansão no acesso, redução nas idades obrigatórias de ingresso no
ensino formal e aumento substancial nos investimentos públicos na EI. No
caso brasileiro esses três fenômenos estão bastante presentes, caracterizando
parte das transformações observadas nos últimos 25 anos.
●
Paralelamente, e com o simultâneo aumento na participação da mulher no
mercado de trabalho, a EI passou a assumir responsabilidades mais amplas,
anteriormente atribuídas à família, e tem ganhado força o discurso de que
sua missão é promover o desenvolvimento integral da criança. Esse discurso
avança concomitantemente à disseminação de estudos mostrando que a EI
produz impactos relevantes sobre outras dimensões do desenvolvimento
humano que não a proficiência escolar em etapas posteriores. Dentre estas,
a mais evidente é o desenvolvimento socioemocional. Nesse sentido, a lite-
ratura mostra que bons programas pré-escolares não apenas produzem
impactos sobre características relacionadas à autorregulação, desenvolvimento
social, função executiva e regulação emocional como também que o impacto
sobre essas dimensões não parece declinar com o passar dos anos. Em ao
menos um estudo influente[317], importantes impactos de longo prazo de um
programa pré-escolar sobre envolvimento com violência e criminalidade,
uso de álcool e tabaco, estabilidade familiar e salários são predominantemente
mediados por mecanismos socioemocionais. Já os estudos que investigam
148 Educação infantil
políticas em larga escala são bem menos conclusivos sobre eventuais bene-
fícios da EI sobre o desenvolvimento socioemocional.
●
No Brasil ainda não temos estudos rigorosos que documentem impactos de
médio e longo prazos da EI sobre o desenvolvimento socioemocional, mas
Barros et al. (2011)[368] e Santos (2016)[307] trazem indícios de que tais bene-
fícios podem estar presentes a partir de abordagens correlacionais. Attanasio
et al. (2022)[367] trazem evidências a partir de um RCT de potenciais impac-
tos de curto prazo da creche sobre regulação emocional de crianças. Quanto
a eventuais consequências de longo prazo, Curi e Menezes-Filho (2009)[328]
trazem evidências de que a participação na pré-escola está associada a re-
sultados melhores na vida adulta, tais como aumento na probabilidade de
conclusão do ensino médio e salários.
●
A discussão brasileira sobre EI nos últimos trinta anos espelha movimentos
percebidos no resto do mundo. Por aqui também se nota uma tendência
crescente de escolha das famílias por compartilhar com o Estado o cuidado
de seus filhos pequenos, bem como iniciativas da política pública de expan-
dir o acesso e torná-lo obrigatório como forma de garantir o direito à apren-
dizagem e à igualdade de oportunidades. As discussões identitárias acerca
da função social da EI também são profundas e envolvem grupos engajados
e que nem sempre concordam. Primeiramente, no Brasil é também verdade
que as creches surgiram como política de assistência e cuidado, visando dar
às mães a oportunidade de trabalhar e deixar a criança em ambiente seguro
e protegido. Foi apenas em 2006, no bojo do processo de implementação das
diretrizes previstas na LDB, que as creches passaram a ser de responsabilidade
do sistema educacional e ter, portanto, objetivos explicitamente relacionados
à aprendizagem e desenvolvimento infantis. No entanto, a pressão política
e a demanda da sociedade por esse tipo de serviço ainda são predominan-
temente impulsionadas por pais que precisam trabalhar, e existe carência de
referenciais e normas de qualidade para garantir que os direitos das crianças
sejam efetivados. A qualidade dos serviços ofertados nem sempre é boa, e
mesmo crianças menores de 1 ano são matriculadas (muitas vezes em tempo
integral) sem que haja nenhum tipo de avaliação sobre riscos à construção
de vínculos com os pais ou necessidades de atenção especial devido à sua
precocidade. Ou seja, ainda que no regramento geral pareça se tratar de um
serviço primordialmente destinado a garantir direitos das crianças, na prá-
tica parece ser entendido como direito preponderantemente das famílias e
com identidade educacional ainda em construção.
Ciência da primeira infância 149
●
No caso das pré-escolas, os debates são de cunho distinto, com um polo da
sociedade advogando para a escolarização precoce das crianças, aceitando
inclusive ambientes mais estruturados, presença de materiais didáticos e
tarefas para fazer em casa; e outro polo se recusando até mesmo a discutir
a possibilidade de iniciar o processo de alfabetização nessa faixa etária, de-
fendendo que a prioridade é a brincadeira espontânea. No meio do caminho,
e ocupando posição atualmente majoritária e refletida principalmente na
Base Nacional Comum Curricular, estão aqueles que creem que as especifi-
cidades da faixa etária precisam ser respeitadas, que as principais aprendi-
zagens são transversais e devem ser preferencialmente trabalhadas por meio
do brincar mediado pelo professor. Em 2019, o Governo Federal decretou o
lançamento da Política Nacional de Alfabetização, prevendo forte envolvi-
mento da EI. No ano seguinte, o Programa Nacional do Livro Didático abre
a possibilidade de utilização de livros didáticos para crianças da pré-escola.
Ambas as iniciativas foram controversas e acabaram revogadas quando o
governo foi substituído em 2023, mas os movimentos ilustram o quanto a
identidade da pré-escola ainda não está consolidada e como nossas expec-
tativas quanto aos resultados esperados da EI podem mudar nos próximos
anos. Dessas discussões depende também o futuro da integração entre as
creches e pré-escolas em um único segmento educacional, ou um distancia-
mento com potenciais consequências adversas sobre o desenvolvimento da
criança, uma vez que esse processo é contínuo e deve ser promovido de forma
coerente e harmônica.
●
Finalmente, existe um debate importante e efervescente em grande parte do
mundo, mas com pouca repercussão no Brasil que diz respeito a políticas
educacionais compensatórias. É sabido que a EI tende a exigir um custo por
estudante maior do que os demais segmentos educacionais, especialmente
por requerer turmas relativamente pequenas para que o serviço seja ofertado
com qualidade e, no caso das crianças muito pequenas, que mais de um
adulto esteja na sala de referência para conseguir mediar oportunidades com
muitas crianças. Adicionalmente, muitas das intervenções bem-sucedidas
ao redor do mundo em reduzir hiatos de desenvolvimento e aprendizagem
de crianças muito vulneráveis reconheciam que essas vulnerabilidades eram,
na maioria das vezes, multidimensionais, e requeriam ações que envolvessem
também aspectos de nutrição, saúde, parentalidade e acompanhamento
domiciliar do progresso das crianças. Oferecer a essas crianças o mesmo que
uma criança com família estruturada (recursos materiais, proteção e afeto)
é, muitas vezes, insuficiente para permitir a superação da pobreza e outras
150 Educação infantil
vulnerabilidades. Tudo isso evidentemente envolve maior investimento em
quem mais precisa e o reconhecimento de que precisamos tratar desigual-
mente os desiguais. Porém, esse argumento muitas vezes enfrenta resistência
em um país onde, quando se permitiu tratar pessoas desigualmente, acabou
por beneficiar os ricos e delegar aos menos favorecidos serviços de baixa
qualidade. Em países como os Estados Unidos, por exemplo, de tradição
familiarista, o acesso à pré-escola não é necessariamente um direito de
crianças e famílias, mas para camadas vulneráveis existe o Head Start, amplo
programa educacional com componentes de saúde, nutrição e parentalidade
e que apresenta resultados significativamente importantes na redução de
desigualdades com relação às crianças de famílias não vulneráveis[294,332].
Ainda assim, Barnett (2011)[306] chama a atenção para o fato de que compo-
nentes educacionais de qualidade podem beneficiar a todos, ainda que se
reconheça que crianças em desvantagem possam precisar de complementos
para aproveitar plenamente tais oportunidades. Berčnik e Rožman Krivec
(2023)[369] oferecem uma ampla e recente revisão sobre os resultados de
programas pré-escolares focalizados em crianças vulneráveis.
●
Em termos de perspectivas para o futuro próximo, o Brasil enfrenta uma
série de desafios na EI. Precisamos consolidar os marcos legais que garantam
um padrão mínimo de qualidade da Educação Infantil e que esses marcos
sejam aceitos e incorporados pelos profissionais da EI em suas práticas.
Também é fundamental que se garanta uma formação continuada de quali-
dade e contextualizada dos profissionais da EI, que assegure a oferta de
qualidade e que dê conta das múltiplas realidades vivenciadas pelas crianças
em nosso território (quilombolas, indígenas, ribeirinhas, áreas rurais, áreas
urbanas de pequenas cidades, áreas periféricas de médias e grandes cidades
etc.). Também é importante que se criem mecanismos governamentais que
incentivem a oferta de uma EI de qualidade, indo muito além do objetivo
de zerar a fila de vagas. Nesse sentido, frente ao impulsionamento que a EI
em tempo integral vem tendo nos últimos anos, esses desafios se tornam
ainda mais importantes. Se nos preocuparmos simplesmente em resolver a
oferta de vagas, sem um olhar focado na qualidade da EI, corremos o risco
de continuarmos não oferecendo oportunidade para o pleno desenvolvimento
das crianças em uma fase tão importante do seu ciclo de vida.
CAPÍTULO 9
Políticas públicas de primeira infância
Claudia Cerqueira do Nascimento
Bruno Kawaoka Komatsu
Introdução
“Políticas públicas” são ações realizadas com finalidade de resolver um problema
público – é o que diz uma das definições possíveis para esse termo[370]. Considerando
o papel do Estado e as demandas cada vez mais complexas de diferentes grupos da
sociedade, podemos entender que políticas públicas são ferramentas de gestão dos
governos para respostas às demandas diversas da sociedade como um todo. As polí-
ticas públicas podem ser propulsoras de transformações sociais e econômicas, visando,
por exemplo, a promoção do desenvolvimento humano e social, proporcionando
igualdade de oportunidades, inclusão e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
A primeira infância, que vai do nascimento até os 6 anos de idade, é considerada
uma “janela de oportunidades” pois é nesse momento que ocorre o mais importante
processo de desenvolvimento de nossas vidas. Porém, crianças que enfrentam adver-
sidades ao longo desse período (como pobreza extrema, desnutrição, falta de acesso
a serviços de saúde, violência, discriminação, desastres ambientais) podem ter seu
desenvolvimento, sua saúde física e mental e seu bem-estar afetados por esses fatores,
como é discutido no capítulo 6 deste livro. Como consequência, seu presente e seu
futuro, além do futuro das sociedades em que vivem, podem ser comprometidos.
152 Políticas públicas de primeira infância
Por isso, investir na primeira infância é essencial não apenas para construir bases
sólidas para o futuro das crianças, mas também para garantir um presente saudável
e enriquecedor. As políticas públicas desempenham um papel crucial nesse processo,
promovendo de forma abrangente o desenvolvimento integral das crianças. Ao as-
segurar as condições adequadas hoje, contribuímos também para que elas sejam
cidadãs saudáveis, ativas, produtivas e participativas na sociedade, tanto agora como
no futuro.
O objetivo deste capítulo é discutir as principais políticas públicas de primeira
infância no Brasil, a partir de seus arranjos institucionais e formas de atuação, para
pensar como podemos avançar nessa agenda tão importante para o país. Para tanto,
organizamos este capítulo da seguinte forma: além desta introdução, a segunda
seção argumenta sobre a necessidade de políticas públicas específicas para a primeira
infância; a terceira seção aborda os marcos legais existentes, enquanto a quarta
apresenta aspectos institucionais e formas de atuação das principais políticas brasi-
leiras voltadas para as crianças. A quinta seção destaca o que aprendemos com essas
políticas a partir do conhecimento científico produzido sobre elas, e a sexta seção
discute, à luz desse conhecimento adquirido, como ainda podemos avançar. A última
seção traz as considerações finais.
Por que são necessárias políticas de primeira infância?
A primeira infância se constitui em um alicerce importante para o desenvolvimento
humano. Isso porque o cérebro, cuja construção começa antes do nascimento e
segue em um processo contínuo ao longo da vida adulta, tem um pico de prolifera-
ção de neurônios justamente nos primeiros anos de vida. Os bilhões de conexões
entre neurônios (as chamadas sinapses) em diferentes áreas do cérebro permitem
uma comunicação extremamente rápida entre neurônios especializados em diferen-
tes tipos de funções cerebrais. As ligações formadas nesse período mais ativo cons-
tituem uma base forte ou fraca para as conexões futuras e o desenvolvimento da
aprendizagem, saúde e comportamento ao longo da vida[371].
A formação do cérebro humano não é reflexo apenas de processos biológicos,
mas também fruto da interação entre os genes, que modulam a formação dos cir-
cuitos cerebrais e as experiências do indivíduo, ajudando a moldar o cérebro em
formação. Por isso, as emoções, as interações, o contexto e o ambiente experiencia-
dos nesse período são muito importantes, uma espécie de “tijolos e argamassa” para
a configuração da arquitetura cerebral[372]. O estresse é também imprescindível para o
desenvolvimento saudável, já que toda vez que as crianças pequenas passam por
situações de estresse, seu organismo produz uma ampla gama de reações fisiológicas
que preparam o corpo para lidar com uma ameaça.
Ciência da primeira infância 153
No entanto, quando a criança é exposta ao estresse por muito tempo (também
conhecido como “estresse tóxico”), mesmo quando ainda está na barriga da mãe,
isso implica alterações genéticas que alteram a formação do cérebro (conforme
abordado no capítulo 2), gerando efeitos fisiológicos e psicológicos, compromete
seu desenvolvimento saudável e afeta de forma permanente a aprendizagem, o
comportamento e a saúde física e mental. O estresse tóxico está relacionado com as
adversidades vividas, tais como problemas familiares, saúde mental dos pais e cui-
dadores, abuso, ou negligência infantil, insegurança alimentar, viver em locais
vulneráveis, exposição à violência, ao racismo e à pobreza[1,373–377].
Mais do que qualquer outro grupo, as crianças formam uma população vulne-
rável em maior desvantagem, expostas ao risco desde muito cedo na vida – espe-
cialmente em países de baixa e média rendas, como é o caso do Brasil. Relatório do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) sobre desenvolvimento na
primeira infância mostrou que 36,8% das crianças de 3 a 4 anos de idade em 35
países de baixa e média rendas não apresentam habilidades cognitivas e sociais
básicas, como seguir direções e inibir agressões[338].
Ainda não temos, no Brasil, indicadores que permitem aferir e acompanhar, de
forma sistemática, os níveis de desenvolvimento infantil e sua evolução ao longo do
tempo, mas sabemos que a situação da primeira infância é precária: as crianças são
desproporcionalmente as mais afetadas pela pobreza entre todas as faixas etárias:
cerca de 3,7 milhões das crianças de 0 a 4 anos (ou 25% do total) estavam em situa-
ção de pobreza no país[378]. Essa condição atinge mais profundamente alguns grupos
(crianças negras, crianças cujos pais possuem baixa escolaridade e aquelas que vivem
nas regiões Norte e Nordeste) do que outros, aprofundando a desigualdade no de-
senvolvimento infantil entre grupos populacionais e gerando disparidades regionais
e sociais que precisam ser consideradas na elaboração de políticas para mitigação
desses problemas[7].
Para as crianças, a pobreza significa o agravamento da sua condição de vulnera-
bilidade, restringindo ainda mais as possibilidades de alcançar seu pleno desenvol-
vimento. Isso porque a condição da pobreza quase sempre vem acompanhada de
outras adversidades, como a fome (produzindo insegurança alimentar nos lares das
crianças mais pobres), o estresse nos pais (causado pela constante restrição, que
repercute na qualidade da parentalidade), o domicílio em bairros com mais violên-
cia, menos infraestrutura (como uma rede deficiente ou ausente de saneamento
básico) e menor oferta de serviços públicos. O capítulo 1 aborda de forma ampla as
consequências da pobreza para o desenvolvimento das crianças. Vale ainda destacar
mais uma faceta da pobreza no Brasil: ela tem cor. Em 2023, a proporção de domi-
cílios pobres com crianças pequenas e cujo responsável era negro ou indígena
154 Políticas públicas de primeira infância
chegou a 32% – o dobro da proporção entre domicílios cuja pessoa responsável era
branca ou amarela.1 A confluência entre tantas adversidades pode contribuir para
um ciclo de pobreza difícil de romper, impactando negativamente a qualidade de
vida e limitando o acesso a oportunidades de ascensão social – o chamado “ciclo
intergeracional da pobreza”[10,379].2
Com relação à oferta e acesso a serviços públicos, merecem destaque as áreas da
Saúde e da Educação, que, embora sejam direitos garantidos pela Constituição Fe-
deral de 1988 (CF/88), nem sempre chegam da mesma forma a todas as camadas da
população. O acompanhamento pré-natal e a Puericultura, vacinação infantil e os
programas contra a desnutrição, por exemplo, são atendimentos disponíveis na Rede
Primária de Atenção à Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) e grandes aliados
no combate à mortalidade das mães, dos bebês e das crianças de até 5 anos[380].
Contudo, quando as mães não conseguem atendimentos básicos como esses na rede
pública, isso põe em risco a vida e a saúde de seus filhos, evidenciando que as difi-
culdades no acesso aos serviços de saúde podem resultar em condições de saúde
mais precárias tanto da mãe como das crianças pequenas.
A educação infantil, que abrange tanto as creches (para atendimento de crianças
de 0 a 3 anos) como a pré-escola (para atendimento de crianças entre 4 e 5 anos),
pode afetar o desenvolvimento infantil, na medida em que, além de atividades
educativas, também pode construir ambiente com segurança, cuidado, acesso à
cultura, alimentação adequada[381]. O número de creches, no entanto, é insuficiente
em relação à demanda das famílias, e essa escassez de vagas na educação infantil
pode impossibilitar que as mães, que são as principais cuidadoras, entrem em pos-
tos de trabalho formais, com maior restrição de horários[382]. Em 2018, havia uma
parcela de 16% das crianças de 0 a 3 anos que necessitavam de vagas em creches,
mas não eram atendidas[383]. Apesar dessa demanda por vagas em creches, o Brasil
é um caso particular no mundo em relação ao crescimento da taxa de escolarização
bruta na pré-escola, impulsionado por políticas de educação infantil. Para uma
discussão aprofundada sobre as políticas de educação infantil no Brasil, sugerimos
a leitura do capítulo 8 deste livro.
Mitigar as adversidades e seus efeitos, oferecendo condições favoráveis ao pleno
desenvolvimento durante a primeira infância, é crucial para garantir que todas as
crianças tenham oportunidades iguais desde o início de suas vidas – produzindo,
1 Calculamos esses percentuais usando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
de divulgação anual, da primeira entrevista de 2023. Para a classificação de pobres, utilizamos as linhas
de pobreza regionais, elaboradas por Rocha, Franco e IETS (s.d.) e ajustamos seus valores para preços
de 2023 usando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
2 O capítulo 1 deste livro descreve em detalhes as desigualdades de pobreza e pobreza extrema entre as
famílias com crianças pequenas.
Ciência da primeira infância 155
em última instância, uma sociedade melhor e socialmente menos desigual. Mas a
formulação de políticas de primeira infância para a promoção do desenvolvimento
é uma tarefa complexa, que deveria: i) abranger as cinco dimensões interrelaciona-
das do cuidado integral proposto pelo Nurturing Care Framework (ou Modelo do
Cuidado Integral)[104,377]: saúde, nutrição, cuidado responsivo, proteção e segurança,
e aprendizagem desde os primeiros anos de vida, ou seja, proporcionar ambientes
estimulantes, protegidos contra violência, discriminação e racismo, com oportuni-
dades para a criança brincar e explorar; e ii) oferecer condições estruturais mais
amplas, que afetam as famílias das crianças, como medidas de proteção social para
situações de alta vulnerabilidade, por exemplo, ou programas de promoção da saúde
e de habitação adequada.
As políticas públicas são as ferramentas mais adequadas para lidar com a complexa
tarefa de promover o desenvolvimento infantil. Isso porque, considerando o caráter
multifatorial do desenvolvimento na primeira infância, a necessidade de ações se-
toriais conjugadas (em consonância com o modelo do cuidado integral) e o contexto
brasileiro frente às condições de suas crianças, as políticas públicas são o meio pelo
qual as ações podem ser oferecidas de forma sistêmica e universal, por meio das
áreas já abarcadas pela atuação, cooperação e expertise do Estado, garantindo que
todas as crianças e suas famílias tenham acesso a serviços essenciais (como saúde,
educação, nutrição, proteção social e apoio psicossocial) que promovam seu desen-
volvimento integral – reduzindo a chance serem deixadas para trás.
A importância dos marcos legais para a agenda da primeira infância
O cenário descrito na seção anterior dá a dimensão do desafio a ser enfrentado pelo
Brasil. Ainda que nos últimos trinta anos tenhamos avançado muito na provisão e
ampliação de políticas de proteção social, saúde e educação, o campo da primeira
infância não acompanhou essa evolução. O tema, contudo, vem ganhando força por
meio de um crescente reconhecimento da importância dos primeiros anos de vida
para toda a nossa trajetória. Foi ao longo da última década que muitas ações proli-
feraram pelo país, traduzidas em leis, programas e políticas federais, estaduais e
municipais, que culminaram no Decreto n. 12.083, assinado em 2024 para criação
da Política Nacional Integrada para a Primeira Infância (PNIPI).
Em uma breve incursão pelo arcabouço legal, destacamos os principais disposi-
tivos que passaram a incorporar a perspectiva da primeira infância no âmbito fede-
ral. Há um motivo para destacar a regulamentação antes de chegar nas políticas
públicas: é que aquela confere respaldo legal para os grupos protegidos por um
determinado conjunto de leis. E o motivo pelo qual priorizamos o âmbito federal é
que a legislação nesse nível tem um papel de indução ao conferir diretrizes gerais
para os outros entes subnacionais (estados e municípios), além de ter um caráter de
156 Políticas públicas de primeira infância
sinalização do que é importante para a nação em termos de agenda e provisão de
políticas públicas.
O primeiro deles, a CF/88, reconhece as crianças pequenas como sujeitos de
direitos e deixa clara a responsabilidade do Estado, da família e da sociedade pela
garantia de seus direitos, tais como direito à vida, saúde, alimentação, educação,
dignidade, respeito, entre outros. A partir da CF/88, várias reformas no campo das
políticas sociais contemplaram a primeira infância para a garantia dos direitos
previstos. No campo da educação, podemos citar o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA), de 1990, a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), de 1993, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, e a inclusão da educação
infantil no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), de 2006. Políticas do SUS
também ampliaram as ações da atenção básica para gestantes, mães e crianças nos
primeiros anos de vida.
Esses movimentos de ampliação das políticas sociais ajudaram a colocar a primeira
infância pela primeira vez na agenda governamental, e isso reforçou a criação e
atuação de entidades da sociedade civil em prol dessa temática: dentre elas surge,
em 2006, a Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), que conseguiu aprovar o Plano
Nacional pela Primeira Infância (PNPI) em 2010 junto ao Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) do então Ministério do Desen-
volvimento Social e Combate à Fome[384]. O PNPI é um documento orientador para
a construção de uma política nacional para a primeira infância, que contém dire-
trizes, propostas de ações, financiamento e monitoramento dessas ações, e que
orientou a construção de planos municipais e estaduais de primeira infância[385].
A repercussão desse plano reverberou em novas conquistas para essa agenda,
tais como a alteração da LDB para inclusão da obrigatoriedade da pré-escola (crian-
ças de 4 a 5 anos) na educação básica em 2013, a Política Nacional de Atenção In-
tegral à Saúde da Criança (PNAISC), de 2015, que promove a Puericultura no
âmbito da Atenção Primária à Saúde com intuito de promover e garantir a saúde da
criança e o aleitamento materno (conforme apresentado no capítulo 7), e o Plano
Nacional de Educação (PNE), de 2014, com intuito de ampliar a cobertura escolar
da educação infantil.3 Além disso, foi ainda instituída uma série de leis relacionadas
com a prevenção e a proteção à violência contra a criança[183], como a Lei do Menino
Bernardo (2014), a Lei da Escuta Protegida (2017), a Lei Henri Borel (2021) e a Lei
da Parentalidade Positiva (2024).
3 O capítulo 8 deste livro mostra como metas de matrículas na educação infantil colocam o Brasil na
fronteira mundial em relação ao regramento sobre o acesso à educação infantil.
Ciência da primeira infância 157
O Brasil assinou, em 2015, com outros 192 países, a Agenda 2030 da Organização
das Nações Unidas (ONU), que estabelece os 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS). Entre esses objetivos, há 48 indicadores diretamente relaciona-
dos às crianças. A participação do Brasil nesse acordo internacional destaca a im-
portância de investir na primeira infância como uma estratégia essencial para
alcançar um desenvolvimento sustentável a longo prazo.
O Marco Legal da Primeira Infância, sancionado em 2016, trouxe consigo uma
abordagem mais detalhada e específica sobre os princípios e diretrizes para a for-
mulação e a implementação de políticas, priorizando ações que garantem o direito
ao desenvolvimento saudável e pleno. As políticas de saúde, educação, assistência
social, cultura e lazer passaram a ser vistas de maneira integrada, reconhecendo a
importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento humano.
Fundamentado pelo relatório “Recomendações para a construção da Política
Nacional Integrada para a Primeira Infância”, que foi formulado por especialistas e
organizações da sociedade civil e tem como base os domínios previstos pelo modelo
do cuidado integral[386], o Governo Federal decretou, em junho de 2024, a Política
Nacional Integrada para a Primeira Infância (PNIPI), que prevê as diretrizes para a
implementação dos dispositivos previstos no Marco Legal e a criação de um comitê
intersetorial – ao qual caberá, entre suas principais atribuições, elaborar o plano de
ações, estabelecer indicadores e estratégias de monitoramento e avaliação do PNIPI.
Leis são importantes instrumentos para regulamentação, garantia de direitos e
prática institucional para estruturação de políticas. Algumas vezes, contudo, uma
lei pode extrapolar seu caráter meramente regulador e induzir ações práticas. Esse
parece estar sendo o caso do Marco Legal da Primeira Infância: quando olhamos
para os programas estaduais criados por meio de dispositivos legais ao longo das
duas últimas décadas no Brasil, é possível observar que há um salto no número de
políticas nos últimos anos. Para ilustrar: até 2000, foram criados seis programas de
primeira infância nos estados brasileiros; entre 2001 e 2010, dez novos programas
estaduais surgiram; e, finalmente, entre 2011 e 2022, chegamos à marca de 84
programas – sendo 38 só no ano de 2021[387]. Resta saber, nesse caso, se toda a le-
gislação foi realmente capaz de traduzir a matéria jurídica em ação, programa ou
política pública destinada à primeira infância – o que requer esforços de pesquisa
e gestão pública em prol do tema.
O que sabemos sobre as políticas de primeira infância no Brasil
Antes de entrar no campo das “ações”, ou seja, o que está sendo feito em termos
de políticas públicas para crianças no país, vale uma distinção: é comum que polí-
ticas públicas, como o Bolsa Família, por exemplo, levem a nomenclatura de “Pro-
grama”, gerando confusão entre os conceitos. As políticas são, grosso modo,
158 Políticas públicas de primeira infância
diretrizes; além disso, assumem um caráter mais perene, sendo fruto de articulação
entre atores do Executivo e Legislativo, e dispõem de regulamentação. Programas,
por outro lado, são modos de operacionalizar uma política, por meio de ações e
intervenções de curto ou médio prazo com vistas a providenciar melhorias ao longo
da sequência de desafios a serem enfrentados.
No Brasil, as políticas públicas podem ser federais, estaduais ou municipais. O
desenho federalista brasileiro permite que cada um dos níveis da federação tenha
autonomia para criar suas próprias políticas, mas, também decorrente desse desenho,
é muito provável que haja necessidade de cooperação entre os entes subnacionais
para implementação das políticas – as chamadas “políticas multinível”. Ou seja: uma
política federal precisará de apoio dos municípios, por exemplo, para que as ações
aconteçam em nível local. Além disso, as políticas podem ser setoriais (cada órgão
cuida de políticas relacionadas à sua área de atuação), multissetoriais (um conjunto
de órgãos elabora um conjunto de ações de suas respectivas áreas para integrarem
uma mesma política) ou intersetoriais (um conjunto de ações coordenadas entre
múltiplos órgãos e atores estatais e não estatais para solucionar problemas comple-
xos da sociedade).
Considerando o cenário brasileiro atual, faz sentido pensar em dois níveis de
relação de políticas públicas com a primeira infância: o primeiro deles consistiria
em políticas sensíveis à primeira infância – cujas ações procuram transformar
condições que afetam problemas mais amplos, como a pobreza e a fome, mas que
geram impactos positivos para a promoção do desenvolvimento infantil – e o segundo,
em políticas voltadas para a primeira infância, com ações especificamente direcio-
nadas aos determinantes do desenvolvimento infantil.
No âmbito das políticas sensíveis à primeira infância, é importante destacar duas
ações setoriais que, embora não sejam voltadas especificamente para as crianças
pequenas, têm se mostrado políticas valiosas na tentativa de mitigar a pobreza, suas
consequências para as famílias e a desigualdade: o Programa Bolsa Família e a Es-
tratégia Saúde da Família. Sem essas ações de saúde e proteção social, as famílias
mais vulneráveis não teriam condições de proporcionar um ambiente minimamente
adequado e seguro para o desenvolvimento de suas crianças.
O Programa Bolsa Família, um dos maiores programas de transferência de renda
do mundo, é uma política federal de transferência de renda condicionada ao acom-
panhamento de saúde e frequência escolar das crianças, e que visa garantir uma
renda mínima às famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Atualmente,
o programa conta também com um benefício variável específico para cada criança
Ciência da primeira infância 159
de 0 a 6 anos de idade. O primeiro e o mais importante feito do programa foi a re-
dução da pobreza[388–390]. Além desse, outros resultados, como melhorias na saúde
das crianças, redução da mortalidade infantil (de bebês de menos de 1 ano) e de
crianças de menos de 5 anos, especialmente por diarreia ou desnutrição, foram al-
cançados[391–395]. O PBF também melhorou a saúde das mães e reduziu o número de
grávidas que não vão a nenhuma consulta pré-natal[395,396].
A Estratégia Saúde da Família é um programa de atenção primária à saúde (o
nível mais simples dos cuidados médicos), parte integrante do SUS, que consiste na
realização de visitas aos domicílios das famílias cadastradas por uma equipe de
agentes comunitários. Parte da estratégia desse programa consiste justamente no
acompanhamento das famílias pelo mesmo grupo de agentes, construindo um laço
de confiança entre eles. A ESF melhorou o acesso da população aos serviços públi-
cos de saúde no geral e, em particular, das gestantes e bebês, reduzindo considera-
velmente a mortalidade infantil, com o aumento de comparecimentos às consultas
pré-natal, especialmente entre famílias e regiões com renda mais baixa[397–399].
A combinação dessas políticas assegura um suporte essencial para as famílias,
contribuindo para que estas tenham a mínima condição de ter um ambiente propí-
cio ao crescimento saudável e ao desenvolvimento integral das crianças. A continui-
dade e o fortalecimento de programas como o Bolsa Família e a Estratégia Saúde da
Família são fundamentais para garantir que as políticas de primeira infância alcan-
cem seus objetivos de forma eficaz e sustentável.
Construído esse alicerce para garantia de condições mínimas para as famílias, o
segundo nível consiste em políticas especificamente voltadas para o desenvolvimento
da primeira infância. Existem, no Brasil, diversos programas e políticas públicas já
implementados e estabelecidos[385–387]. Vale ressaltar que, além de políticas multi- ou
intersetoriais, há políticas setoriais voltadas para a primeira infância. Um exemplo
de uma política extremamente importante desse tipo é a Caderneta da Criança, que
funciona tanto como fonte de informação e orientação para as famílias quanto como
instrumento de avaliação da saúde e do desenvolvimento infantil. Os capítulos 5 e
7 discutem em detalhes essa política.
Contudo, neste capítulo abordaremos políticas públicas que: i) tenham como pú-
blico-alvo as crianças pequenas (de 0 a 6 anos); ii) tenham ações multi- ou interseto-
riais, pressupondo atendimento integral para as crianças e suas famílias; e iii) que
estejam devidamente documentadas em literatura científica especializada e documen-
tos oficiais governamentais. Essa delimitação resultou no seguinte conjunto de polí-
ticas: Brasil Carinhoso (Governo Federal, 2012-2015), Programa Criança Feliz (PCF;
Governo Federal, 2016-vigente), Primeira Infância Melhor (PIM; Rio Grande do Sul,
160 Políticas públicas de primeira infância
2003), Mais Infância Ceará (Ceará, 2015-vigente), Mãe Coruja Pernambucana (Per-
nambuco, 2008-vigente), Família Que Acolhe (FQA; Boa Vista/RR, 2013-vigente) e
São Paulo Carinhosa (município de São Paulo/SP, 2013-2016) – analisadas com rela-
ção aos seus arranjos institucionais e aos modelos de atuação adotados.
Arranjos institucionais
Os arranjos institucionais são a forma como as regras, mecanismos, processos e
coordenação dos atores envolvidos são organizados para a implementação de uma
política pública. Olhar para esses arranjos permite compreender como questões
como intersetorialidade, relações federativas e de coordenação influenciam na im-
plementação e nos resultados das políticas.
Devido ao caráter complexo do tema da primeira infância, as políticas voltadas
para esse público demandam ações de múltiplos setores. Assim, o modelo de gestão
adotado pelas políticas selecionadas é baseado na coordenação dos programas por
uma secretaria (ou ministério), cujas ações são articuladas entre pelo menos três
áreas: Saúde, Educação e Assistência Social. Políticas como Brasil Carinhoso, São
Paulo Carinhosa e Mais Infância Ceará instituíram uma camada extra de governança
com um comitê intersetorial como instância deliberativa entre todos os atores en-
volvidos. Mas o que se observa, na maioria dos casos, é que mesmo a atuação
conjunta de órgãos de diferentes áreas não resultou na intersetorialidade das polí-
ticas: a falta de clareza sobre os papéis dos atores envolvidos nos programas reverbera
em falta de comprometimento, confusão e sobreposição de ações[400–403], evidenciando
dificuldades de coordenação e da adoção de um modelo efetivo de governança.
Políticas federais e estaduais dependem de instâncias subnacionais para imple-
mentação das ações, como já mencionado. Nesse caso, instâncias decisórias e deli-
berativas são hierarquizadas por nível territorial, ou seja: é preciso ter estruturas
institucionais em cada um dos níveis nos quais a política vai operar – como ocorre
com o PCF, PIM, Mais Infância Ceará e Mãe Coruja Pernambucana, e como ocorreu
com o Brasil Carinhoso, que foi descontinuado. Esforços de coordenação tendem a
ser proporcionalmente maiores conforme o número de entes federativos envolvidos
na política, e isso se deve principalmente aos seguintes fatores: i) dificuldades de
coordenação por parte dos responsáveis pela política reverberam na qualidade da
implementação[402–404]; ii) as disparidades regionais e heterogeneidades nos territórios,
que implicam, por vezes, ter desenhos diferentes para implementação das políti-
cas[400,403,405,406]; e iii) as limitações em termos de capacidade estatal do estado ou
município, o que pode comprometer a implementação, o andamento das ações e,
consequentemente, o alcance dos objetivos previstos. O PCF, maior programa de
visitas domiciliares do mundo, é um caso emblemático: embora abranja cerca de
Ciência da primeira infância 161
55% dos municípios brasileiros, uma avaliação de impacto mostrou que o programa
ainda não conseguiu ter o efeito esperado no desenvolvimento infantil; em grande
medida, o comprometimento dos resultados esperados foi ocasionado pelos proble-
mas de implementação, tais como problemas de coordenação e falta de apoio aos
municípios e equipes de atendimento[402,403,407].
Outro aspecto de destaque nas relações federativas é a adesão voluntária dos
entes (de estados e municípios, no caso das políticas federais; e municípios, no caso
das políticas estaduais) a uma determinada política, que aparece como uma estra-
tégia comum entre os casos selecionados. Isso assegura que apenas os entes interes-
sados em participar adiram por meio de um termo de compromisso/colaboração
que explicita os deveres do ente nessa parceria – garantindo maior empenho e
comprometimento na implementação e maior chance de execução dessas políticas
públicas. Nesse sentido, chama a atenção a capacidade de coordenação e indução
do estado do Ceará, no qual todos os 184 municípios têm seu próprio plano de
políticas para a primeira infância, o que denota grande engajamento dos entes no
âmbito da política estadual Mais Infância Ceará.
Modelo de atuação
Em alguma medida, a maioria dessas políticas foram baseadas em evidências cien-
tíficas e experiências de outros programas. Mesmo o PIM, programa pioneiro que
inspirou muitos modelos de atuação de outras políticas de primeira infância no
Brasil, teve como modelo inspirador o Educa a tu Hijo, de Cuba, e o PCF teve como
exemplo o programa Família Que Acolhe, que incorporou elementos do programa
Reach Up Early Childhood Parenting Programme. O Reach Up foi implementado em
diversos países em desenvolvimento, e é discutido com mais detalhes no capítulo 1
deste livro, no contexto de programas de parentalidade que possuem efeitos positi-
vos sobre o desenvolvimento infantil. Isso significa que há muitas similaridades
entre as diretrizes gerais das políticas analisadas neste capítulo.
A mais comum entre elas é a realização de visitas domiciliares às famílias cadas-
tradas nos respectivos programas. Visitas domiciliares consistem em idas periódicas
de profissionais responsáveis até a residência das famílias beneficiadas. Em linhas
gerais, durante essas visitas, os profissionais avaliam as condições de vida, monito-
ram o cumprimento das condições do programa, fornecem orientações e apoio
necessário, além de identificarem necessidades adicionais que possam surgir. As
ações realizadas, orientações e apoios devem estar em linha com o tipo de interven-
ção prevista no programa (por exemplo: ações de promoção de parentalidade, com
apresentação de formas de identificar os sinais das crianças e de atividades educa-
tivas, atividades para promoção e vigilância do desenvolvimento infantil, ações de
162 Políticas públicas de primeira infância
apoio às gestantes – entre outros). Esse contato direto é essencial para garantir a
eficácia dos programas, promover a confiança mútua e assegurar que os benefícios
estejam realmente chegando às famílias que mais precisam[408].
A estruturação de um modelo de visitas domiciliares requer esforços financeiros
e em recursos humanos. É necessário investir na capacitação de profissionais espe-
cializados, como assistentes sociais, enfermeiros, agentes comunitários, psicólogos
e outros, que realizarão as visitas. Além disso, é preciso garantir a alocação de re-
cursos para transporte e materiais de apoio. A implementação de um sistema eficiente
de registro e acompanhamento das visitas também é fundamental, para assegurar
que todas as informações relevantes sejam coletadas e analisadas adequadamente.
Esses esforços são essenciais para criar um programa sustentável e capaz de atender
de maneira efetiva às necessidades das famílias beneficiadas.
Outra modalidade de interação entre os profissionais dos programas e as bene-
ficiárias são os grupos de apoio – geralmente combinados com as visitas domicilia-
res, como ocorre no PCF, a partir de três modalidades: i) crianças de 0 a 3 anos
recebem visitas domiciliares semanais; ii) crianças de 4 a 6 anos recebem visitas
domiciliares periódicas, que podem ocorrer semanal, quinzenal ou mensalmente; e
iii) gestantes participam de reuniões quinzenais organizadas pelos visitadores para,
entre outros, aconselhamento sobre cuidados pré-natais adequados[409].
Cuidados integrais requerem políticas multi- ou intersetoriais; por isso, ações de
saúde, educação, proteção social (pelo menos) devem ser combinadas. Nesse sentido,
políticas setoriais – novas ou já existentes – podem ser conectadas com a política
de primeira infância instituída. Um exemplo é o programa Brasil Carinhoso, cuja
atuação previa ações de diferentes setores: no âmbito da Assistência Social, o Pro-
grama Bolsa Família foi reformulado para que famílias com crianças de até 6 anos
recebessem um benefício mínimo per capita. Adicionalmente, a observação da
vulnerabilidade social como critério para focalização do público-alvo, característica
comum entre as políticas selecionadas, demanda, muitas vezes, que políticas de
primeira infância sejam associadas a programas de proteção social, como o Bolsa
Família, ou criem benefícios no âmbito estadual por meio da utilização do CadÚnico[387],
como realizou o Mais Infância Ceará devido à pandemia da Covid-19.
Nos campos da Saúde e Nutrição, o Programa da Saúde na Escola (PSE) foi co-
nectado ao Brasil Carinhoso e ampliado a fim de atender crianças da educação in-
fantil, e incluída a distribuição do NutriSUS para prevenir e controlar deficiências
nutricionais, além do fornecimento de vitamina A, sulfato ferroso e medicamentos
para asma na rede de atenção básica de saúde. Por fim, na área da Educação, con-
jugada ao financiamento para construção de novas creches, houve o estímulo finan-
ceiro aos municípios para incentivar a ampliação da quantidade de vagas em creches
públicas ou conveniadas para crianças com até 4 anos[410,411].
Ciência da primeira infância 163
A educação infantil tem um importante papel nas políticas de primeira infância.
Parte dessa importância pode ser explicada pela previsão legal da provisão de edu-
cação de qualidade para crianças de 4 a 5 anos no Brasil, como já mencionamos. A
outra parte diz respeito à possibilidade de alcançar e acompanhar crianças pequenas
(3-6 anos), concentrando serviços e ações na própria escola (ou creche). Pensando
nisso, além do Brasil Carinhoso[410–412], o Mais Infância Ceará e o São Paulo Carinhosa
também investiram na educação infantil como um dos pilares dos respectivos pro-
gramas, buscando universalizar o acesso à educação ampliando a oferta de pré-escola
e a disponibilidade de creches[401,413], e reforçando e ampliando serviços inerentes ao
âmbito da educação, como a alimentação escolar, e acoplando nas escolas e creches
programas setoriais, como o de saúde infantil (como o Programa Saúde na Escola
(PSE)), e na assistência social, a criação da “fila social”, que priorizava crianças em
situação de maior vulnerabilidade na fila para acessar creches[401,414].
O que não se pode perder de vista, contudo, é que todo desenho de política
pública, incluindo suas diretrizes, ações previstas, conexão entre diferentes setores
para atuação conjunta, deve ser baseado, além de experiências e evidências cientí-
ficas, em diagnósticos. Esses diagnósticos devem partir do levantamento de dados
e informações sobre o público-alvo pretendido, seu território, além de considerar
as particularidades culturais, sociais e econômicas das comunidades atendidas,
permitindo assim a formulação de estratégias que sejam verdadeiramente eficazes
e adaptadas às necessidades específicas da população. Somente com uma compreen-
são aprofundada e contextualizada é possível desenvolver políticas públicas que
promovam mudanças significativas e duradouras.
O que aprendemos com as políticas públicas de primeira infância do Brasil
A produção e disseminação de conhecimento e evidências sobre as políticas públi-
cas é um passo essencial para a formulação de outras políticas, e até de reformulação
da própria política pública. Esse conhecimento, gerado por meio da produção e
divulgação de documentação oficial e pesquisas científicas, fornece uma base sólida
para a tomada de decisões dos gestores públicos, permitindo ajustes e melhorias
contínuas nas políticas implementadas.
Com relação aos documentos oficiais, é possível dizer que o Brasil tem produzido
informações a respeito de suas políticas de primeira infância. Algumas iniciativas
mais estruturadas, geralmente federais e estaduais, dispõem de website, cartilhas e
relatórios sobre os programas. Municípios maiores, provavelmente devido à sua
maior capacidade estatal, conseguem disponibilizar material semelhante. Municípios
menores, por sua vez, nem sempre conseguem publicizar suas políticas – inviabili-
zando o conhecimento sobre possíveis iniciativas locais.
164 Políticas públicas de primeira infância
A disponibilidade de informações oficiais nem sempre coincide com uma maior
disponibilidade de dados sobre a sua população-alvo. Isso se deve, em parte, à falta de
sistematização e integração dos dados coletados, além de possíveis lacunas na abran-
gência e na precisão das informações. A ausência de dados detalhados e com possibi-
lidade de desagregação territorial impede uma análise aprofundada das necessidades
e das condições específicas dos grupos atendidos, dificultando o avanço das políticas
públicas e das condições de vida e de desenvolvimento das crianças pequenas.
O avanço na compreensão sobre as políticas e seus efeitos pressupõe também a
realização de avaliações de impacto. Ainda que tenha sido cada vez mais frequente
a discussão sobre a importância da realização desse tipo de estudo no Brasil, é pe-
queno o número de políticas avaliadas. Dentre as políticas selecionadas para este
capítulo, apenas o PIM, o PCF e o FQA dispõem de avaliações de impacto. O Programa
de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (Padin), parte integrante de um dos eixos do
Programa Mais Infância Ceará, por exemplo, parece ter sido objeto de uma avalia-
ção desse tipo – mas cujo resultado nunca foi divulgado[415]. Sem saber os efeitos das
políticas, é possível que muitas ações sem eficácia estejam sendo disseminadas e
“copiadas”, gerando um desperdício de recursos e de tempo, valiosos na corrida para
o alcance do desenvolvimento de nossas crianças.
Ao longo dessas duas décadas de operação, o PIM passou por avaliações para
entender seus efeitos no desenvolvimento infantil, e estudos mais recentes indicam
que o programa teve um impacto positivo sobre o desenvolvimento infantil e prá-
ticas parentais dos beneficiários, especialmente entre os bebês cujas mães começa-
ram a participar do programa durante a gravidez[416–418] ou cujas famílias eram de
baixa renda[409]. Também houve resultados positivos quanto ao acesso aos serviços
públicos[418], a redução da mortalidade infantil[419] e em aspectos da vida escolar do
beneficiário[420,421]. Ponto comum entre as avaliações realizadas e que merece ser
destacado é que quanto mais cedo a mãe gestante ingressa no programa, maior
parece ser a probabilidade de haver efeitos positivos nos resultados almejados.
Por ser uma política intersetorial de larga escala em operação no “mundo real”,
o PCF é um importante estudo de caso para a produção de evidências para outras
políticas públicas. A maioria dos trabalhos que trataram do PCF abordou avaliações
qualitativas quanto às dimensões do modelo do cuidado integral e fatores de risco
associados ao desenvolvimento infantil[407,422,423]: elementos como a baixa escolaridade
da mãe, depressão materna e a prematuridade aparecem como os principais fatores
de risco. Um estudo realizado com beneficiários do Mais Infância Ceará[424] identi-
ficou também que a alta escolaridade das mães é um fator de proteção contra
atrasos de desenvolvimento, mesmo entre famílias que vivem em situação de pobreza.
Ciência da primeira infância 165
A única avaliação de impacto realizada sobre o PCF até o momento, conduzida
utilizando um método experimental em 30 municípios, mostra que não houve efeito
no desenvolvimento infantil das crianças beneficiárias[47]. Por conta da falta de
evidências quanto ao impacto positivo do programa, pesquisadores se debruçaram
sobre elementos da política que poderiam comprometer seus resultados. Vale res-
saltar que o PCF nasceu em 2016 e, com apenas quatro anos de existência, passou
pela pandemia da Covid-19, deflagrada em 2020. Estruturado em forma de visitas
domiciliares, a implementação e execução do PCF foram fortemente comprometidas
pelas restrições sanitárias impostas pela pandemia, reduzindo e alterando o escopo
das visitas, o que impediu que avaliações precisas sobre os efeitos do programa
fossem realizadas.
Nos estudos levantados[402,403,407,409,423], foram identificados problemas relacionados
às ações intersetoriais que, na prática, não se materializaram; à atuação dos visita-
dores, entendida como um ponto crítico tanto nas análises do PCF como do PIM,
e até da São Paulo Carinhosa[401,414]; e os desafios inerentes à alta vulnerabilidade
social dos beneficiários, que demandam combinações com outros programas de
proteção social.
Isso revela dois problemas no que tange à execução das políticas públicas: um
está relacionado com seu planejamento, e o outro com sua implementação. A ques-
tão da intersetorialidade, inserida no âmbito do planejamento, destaca a necessidade
de uma coordenação eficiente entre diferentes setores e órgãos governamentais e
não governamentais, além de um comitê de governança intersetorial para interlo-
cução entre os atores[425]. A falta de integração e comunicação entre os diferentes
níveis de governo e áreas envolvidas pode resultar em políticas fragmentadas e
menos eficazes, incapazes de abordar de forma abrangente e integral os problemas
a serem enfrentados no campo da primeira infância.
Ainda sobre o planejamento das políticas, a partir do levantamento realizado, foi
possível observar que heterogeneidades territoriais representam um desafio signifi-
cativo para a implementação de ações eficazes na primeira infância. Essas diferenças
(que podem ser estaduais, regionais ou até mesmo intramunicipais, considerando
dicotomias como urbano e rural, territórios indígenas ou de grupos específicos, ou
até bairros que abarcam distintas classes sociais) exigem abordagens específicas e
adaptadas às particularidades de cada localidade, levando em consideração fatores
como infraestrutura, acesso a serviços essenciais e características socioculturais. Dessa
forma, é fundamental que as políticas públicas sejam flexíveis e sensíveis às realida-
des locais, garantindo que todas as crianças, independentemente de onde vivam,
possam se beneficiar de iniciativas voltadas para o seu desenvolvimento integral.
166 Políticas públicas de primeira infância
Chama a atenção a pouca relevância e debate sobre o papel dos municípios, suas
capacidades estatais para execução das políticas e, principalmente, sobre o orçamento
disponível para tal. Sendo detentor dos equipamentos por meio dos quais se viabi-
lizam as ações (por exemplo, escolas, unidades básicas de saúde – UBSs, centros de
referência de assistência social – CRASs, entre outros), o município tem um papel
fundamental de executor local, embora nem sempre sua estrutura administrativa e
orçamentária permita que sua participação seja plenamente eficaz. A descentrali-
zação das políticas públicas para os municípios muitas vezes não é acompanhada
de um repasse adequado de recursos financeiros e capacitação administrativa. Isso
pode resultar em disparidades significativas na mesma política executada em dife-
rentes territórios.
Já a implementação, que tem um papel primordial, mas muitas vezes relegado
no ciclo das políticas públicas, demanda atenção contínua para que problemas e
intercorrências ocorridos nessa fase não acarretem uma “saída dos trilhos” rumo
ao resultado esperado. As chances de esse descarrilamento ocorrer aumentam ex-
ponencialmente quando os programas são expandidos para abarcar um maior número
de beneficiários ou territórios atendidos. Como os estudos sobre o PCF mostram,
diretrizes, mesmo que muito bem elaboradas e ancoradas em evidências, não são
suficientes para manter um programa de qualidade – é preciso acompanhamento
contínuo e muito suporte para que este tenha o andamento esperado. A implemen-
tação pode ser também um momento de mudanças de rumos, cujos sinais vão
aparecendo conforme a execução ocorre – é importante estar atento para que o rumo
da política seja corrigido a tempo de não inviabilizar suas ações ou resultados.
Como ainda podemos avançar
Ao longo das seções anteriores, argumentamos como o Brasil vem construindo, por
pelo menos duas décadas, um ambiente institucional-legal mais sólido para o tema
da primeira infância. Temos leis robustas em diversas áreas e matérias de interesse
(como Saúde, Educação, Segurança e Proteção) e temos políticas públicas consoli-
dadas, que contemplam ações multissetoriais, reconhecendo a importância de uma
abordagem abrangente para alcançar o pleno desenvolvimento das crianças. No
decorrer de sua operação, essas políticas vêm nos mostrando que ainda enfrentam
desafios significativos de implementação e, também por isso, por vezes os resultados
esperados não são atingidos. As dificuldades advêm de fatores como a necessidade
de maior capacitação dos profissionais envolvidos e a insuficiente articulação entre
os diferentes setores e níveis de governo, evidenciando a importância de um moni-
toramento contínuo e de ajustes constantes para que as políticas possam, de fato,
cumprir seu papel. Mas já temos um ponto de partida.
Ciência da primeira infância 167
O decreto assinado em junho de 2024 para a criação da PNIPI foi um grande
passo para o avanço da agenda, e o relatório organizado pelo Todos pela Educação
e pela Fundação Maria Cecília Vidigal[386] contendo sugestões de ações será uma
base para a elaboração dos programas setoriais que comporão essa política. As su-
gestões contidas no relatório foram fruto do esforço prospectivo de diversos pes-
quisadores, instituições e até da participação de crianças, e partem de uma estrutura
geral para orientar a construção da política e, consequentemente, a integração de
esforços e recursos a partir de três eixos: 1) a criação de um sistema de informação
integrado da primeira infância; 2) a prestação de serviços setoriais fortalecidos e
integrados nas áreas da Saúde, Assistência Social, Educação e Proteção e Justiça; e
3) a comunicação com as famílias e cuidadores. Uma política nacional integral
enfrentará desafios, os quais podem ser mitigados a partir do conhecimento adqui-
rido a partir das experiências prévias. Dois desses desafios merecem destaque: a
intersetorialidade e a implementação.
A intersetorialidade é um conhecido desafio enfrentado pelas principais políticas
de primeira infância em curso no país. Como esta depende de esforços de coorde-
nação e cooperação entre os atores, temos como resultado programas com ações
multissetoriais, mas que não chegam a desenvolver a intersetorialidade. Para tanto,
é recomendada a criação e manutenção de instâncias decisórias e deliberativas, como
comitês intersetoriais e governança colaborativa[425], que devem ser instituídos desde
o planejamento da política até sua execução, além da criação e utilização de um
sistema de metas compartilhadas pelos órgãos envolvidos, a fim de gerar um senso
de responsabilidade coletiva e uma visão integrada sobre a política e seus resultados.
Outro gargalo das políticas de primeira infância é a implementação. Esse momento
é crítico pois é quando o planejamento sai do papel e é posto em prática; nem tudo o
que foi planejado pode ou consegue ser executado como tal, exigindo flexibilidade
para ajustes conforme necessário. A falta de supervisão adequada e de mecanismos
para resolver problemas rapidamente pode comprometer o andamento da política,
desperdiçando recursos e deixando de atender adequadamente a população-alvo, e
por isso a implementação requer acompanhamento ao longo de todo o processo de
execução. Um bom processo de implementação depende de dois fatores: monitoramento
das atividades e alinhamento constante. O monitoramento pode ser realizado por
meio de avaliações periódicas da própria implementação, que consistem na análise do
conteúdo da formulação, do contexto e processo de implementação, do acompanha-
mento dos recursos (humanos e financeiros), atores sociais envolvidos e alcance das
ações. E o alinhamento, por sua vez, está relacionado com uma comunicação clara e
constante entre todos os atores envolvidos, treinamento dos agentes, disponibilização
de instâncias de apoio para as equipes – tanto as técnicas como as operacionais.
168 Políticas públicas de primeira infância
Há meios pelos quais ainda podemos avançar, mas ainda são pouco explorados.
Destacamos cinco deles aqui: o papel dos municípios, a incorporação de ações es-
pecíficas para promoção da diversidade, a discussão sobre o orçamento, a criação
de um sistema integrado de dados que permite acompanhar e avaliar as políticas e
a comunicação com a sociedade.
Papel dos municípios: o município tem um papel fundamental na formulação e
na implementação, visto que é o responsável pela execução das políticas na ponta e
também é o detentor dos principais equipamentos utilizados na viabilização das
atividades (como as escolas e as unidades básicas de saúde). Mas os municípios,
cerca de 69% com menos de 20 mil habitantes[378], esbarram no problema da baixa
capacidade administrativa e gerencial para realizar essas tarefas[426]. Planos munici-
pais de primeira infância são instrumentos que podem (e devem) ser utilizados para
orientar as ações locais e estabelecer diretrizes específicas para a promoção da saúde,
educação e proteção infantil. Com isso, os municípios seriam capazes de adaptar
políticas públicas de outras esferas de governo às necessidades, capacidades e reali-
dades locais. Um exemplo é o regime de colaboração na área de Educação no Ceará,
um estado reconhecidamente difusor de políticas interinstitucionais (do estado para
os municípios). Esse modelo facilita a integração de esforços entre estado, municí-
pios e outras instituições envolvidas na política, promovendo uma gestão mais
eficiente por meio do estabelecimento dos objetivos comuns, compartilhamento de
responsabilidades e troca de experiências, resultando em iniciativas mais coorde-
nadas e adaptadas (contribuindo também para o processo de implementação). Ao
fortalecer os municípios, não apenas se melhora a qualidade e a efetividade das
políticas públicas, mas também se promove uma maior justiça social e igualdade de
oportunidades para todas as comunidades.
Promoção da diversidade: a promoção da diversidade nas políticas públicas de
primeira infância no Brasil deve incorporar um compromisso explícito com o an-
tirracismo e a valorização das diferentes etnias e culturas que compõem a sociedade
brasileira. Essas políticas devem combater não apenas as desigualdades econômicas,
mas também as disparidades de ordem social e cultural que afetam as crianças desde
os primeiros anos de vida. Iniciativas de primeira infância que sejam desenhadas
para enfrentar o racismo estrutural, promovendo a inclusão e o respeito às identi-
dades culturais diversas, devem incluir ações concretas, por exemplo, em espaços
institucionais como as escolas[4]. As escolas podem ser espaços que valorizam e re-
forçam a diversidade da sociedade, incorporando práticas antirracistas e materiais
didáticos que representem de forma justa e inclusiva as diferentes culturas e etnias.
Além disso, é fundamental capacitar professores e funcionários para reconhecer e
combater o racismo em todas as suas formas, promovendo um ambiente de apren-
Ciência da primeira infância 169
dizagem no qual todas as crianças se sintam respeitadas, valorizadas e seguras. Ao
abordar essas questões, o Brasil pode estabelecer um contexto em que todas as
crianças, independentemente de cor, origem ou cultura, tenham iguais oportunidades
de crescimento e desenvolvimento, ajudando na construção de uma sociedade mais
justa e equitativa.
Importância do orçamento: orçamentos são assuntos “espinhosos” mas que pre-
cisam ser abordados. É durante o planejamento de uma política pública que são
previstos os recursos financeiro-orçamentários necessários para sua realização. Isso
inclui a necessidade de discussões sobre linhas orçamentárias próprias para o finan-
ciamento das políticas de primeira infância, como uma forma de assumir um
compromisso e garantir que esses recursos não sejam absorvidos por outras ações –
já que muitas políticas associam, por exemplo, crianças e adolescentes, ou têm as
crianças contidas em um grande guarda-chuva de ações, como geralmente ocorre
em políticas de saúde. Instrumentos de planejamento e orçamento, o Plano Pluria-
nual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei de Orçamento Anual
(LOA) devem ser utilizados como parte dos planos de primeira infância, a fim de
estabelecer a forma da alocação dos recursos para os programas.
Sistema integrado de dados e criação de uma cultura de evidências: a terceira dire-
ção em que podemos avançar é a construção de um sistema nacional integrado de
informações sobre primeira infância – ação proposta no relatório do PNIPI[386] e
reforçada devido à sua grande importância. Uma boa política nasce de um bom
diagnóstico, das evidências científicas e experiências de outras políticas similares,
de um planejamento robusto e participativo e do acompanhamento dos resultados
obtidos pelas ações propostas. Um diagnóstico detalhado e preciso fornece as bases
para entender os problemas a serem enfrentados, identificando suas causas e as
melhores formas de intervenção, enquanto o acompanhamento de indicadores
permite aferir o desempenho das políticas públicas. Se não temos dados sobre o
desenvolvimento das crianças no país, como podemos estabelecer onde queremos
chegar? O Brasil tem boas experiências na elaboração de sistemas integrados, tal
como o portal Gov.br, o que denota expertise para a criação de mais um – agora
voltado para as crianças. Essa plataforma seria parte integrante de um ambiente
de produção sistemática e periódica de evidências, o qual permitiria a realização de
monitoramento, avaliação das políticas e produção de estudos rigorosos a fim
de avaliar o impacto das políticas implementadas. Nesse sentido, parcerias com
universidades e centros de pesquisa poderiam ser realizadas. Ao colaborar com
esses parceiros, os órgãos públicos não apenas enriqueceriam suas análises com uma
perspectiva acadêmica e científica robusta e imparcial, mas também aumentariam
a credibilidade e a confiança nos resultados obtidos. Por outro lado, a realização
170 Políticas públicas de primeira infância
desse trabalho ampliaria o impacto social das instituições de ensino e pesquisa, re-
forçando seu compromisso com a sociedade.
Comunicação com a sociedade: por fim, e de forma complementar ao relatório de
recomendações do PNIPI, o engajamento e mobilização de atores relevantes (como
famílias e empresas, pesquisadores e acadêmicos, lideranças políticas e gestores pú-
blicos, veículos de comunicação e organizações da sociedade civil) é imprescindível
para que a agenda da primeira infância tenha notoriedade, legitimidade e a devida
relevância, fazendo com que esta seja um compromisso de toda a sociedade com as
crianças e permita um ambiente de apoio e conscientização. A pauta da primeira
infância já dispõe de instituições da sociedade civil relevantes e reconhecidas a seu
favor, como é o caso da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, da Rede Nacional pela
Primeira Infância, do Todos Pela Educação, entre outras, mas ainda podemos avan-
çar na pauta da comunicação massiva e para diferentes públicos – tal como vem
realizando o estado do Ceará, que considera que a promoção do desenvolvimento
infantil demanda bem mais esforços do que apenas os empregados junto às famílias:
é preciso mobilizar toda a sociedade e instâncias políticas para que haja pactuação e
adesão dos múltiplos atores envolvidos (mais na linha do que prega a CF/88).
Considerações finais
Políticas públicas voltadas para a primeira infância enfrentam muitos desafios. De
um lado, o desenvolvimento integral da criança tem uma natureza multifacetada,
porque um ambiente saudável, seguro, adequado e estimulante em que a criança
possa se desenvolver de forma plena depende de múltiplos determinantes, que po-
dem ser mais próximos do ambiente familiar (como as práticas parentais, de saúde
e higiene, as condições dos domicílios) ou mais estruturais (como a disponibilidade
de serviços de saúde, creches, ou programas sociais). Por outro lado, os fatores de
risco que provocam atrasos de desenvolvimento também podem ocorrer em múl-
tiplas dimensões e tendem a se acumular. Um exemplo é a situação de pobreza ex-
trema das famílias, que pode ocorrer simultaneamente com situações de insegurança
alimentar e desnutrição das crianças, condições inadequadas de moradia, discrimi-
nação e comunidades inseguras em relação à violência e a riscos ambientais.
É notório que a agenda da primeira infância tem avançado nos últimos anos,
mas ainda há muito o que construir – e uma série de ações pode ajudar a alcançar
um cenário no qual todas as crianças consigam atingir seu pleno desenvolvimento.
Já temos, no Brasil, políticas públicas consolidadas que nos ajudam dando pistas
sobre como podemos avançar. Esse conhecimento acumulado leva a identificar que
elementos como intersetorialidade, comunicação com as partes interessadas, o papel
dos municípios, promoção da diversidade, o planejamento de orçamento específico
Ciência da primeira infância 171
para ações de primeira infância e a construção de um ecossistema de produção sis-
temática e periódica de evidências são fundamentais para o sucesso de políticas pú-
blicas voltadas para a primeira infância.
Para garantir a eficácia das políticas públicas de primeira infância, é crítico que
estas sejam acompanhadas por avaliações periódicas de impacto e de implementa-
ção. Essas avaliações devem ocorrer de forma paralela, assegurando que as estraté-
gias sejam ajustadas conforme necessário e que os resultados desejados sejam
alcançados. Além disso, ao expandir uma política para uma maior escala, a avaliação
de implementação torna-se ainda mais imprescindível para identificar e corrigir
possíveis desafios antes que se tornem generalizados.
O caminho é árduo, mas possível, e começa com o reconhecimento da precarie-
dade da situação atual das crianças pequenas no Brasil, da urgência da necessidade
de ação e da importância da primeira infância para uma sociedade mais saudável,
com maior aprendizado, mais produtiva e inovadora.
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422. Munhoz, T. N., Santos, I. S., Blumenberg, C., Barcelos, R. S., Bortolotto, C. C., Matija-
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Sobre os autores
Adrielle Holler Pykocz. Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e aluna de Iniciação Científica no Laboratório de Cronobiologia
Humana da UFPR.
Bruno Kawaoka Komatsu. Pesquisador na Cátedra Ruth Cardoso e professor no
Programa Avançado em Gestão Pública do Insper. Participa do Centro Brasileiro
de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância (CPAPI) e contribui com o Núcleo Ciên-
cia pela Infância (NCPI). Doutor e mestre em Teoria Econômica (2019 e 2013) pela
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo (FEA-USP), possui graduação em Ciências Sociais (2006) pela Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP).
Caroline Camilo. Biomédica. Mestre e Doutora em Ciências (Área: Psiquiatria) pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Atualmente é pós-
-doutoranda na FMUSP (FAPESP) com foco em marcadores biológicos de exposição
ao estresse gestacional e transtornos do neurodesenvolvimento e pós-graduanda em
gestão em saúde pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).
Pesquisadora colaboradora do Laboratório de Psicopatologia e Terapêutica Psiquiátrica
do Hospital das Clínicas da FMUSP (LIM/23 HCFMUSP) na área de Genética e Bio-
logia molecular, com ênfase em Genética Psiquiátrica.
214 Sobre os autores
Caroline Martins Dias. Psicóloga pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Especialista em Neonatologia pelo Programa de Residência Multiprofissional da
Universidade Federal do Maranhão. Doutoranda em Psicologia Escolar e do Desen-
volvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
(PSA-IP-USP). Bolsista pela CAPES.
Claudia Cerqueira do Nascimento. Economista e doutora em Administração Pública
e Governo pela Fundação Getulio Varga (EAESP). É gestora executiva do Centro
Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância (CPAPI).
Daniel Domingues dos Santos. Graduado em Ciências Econômicas pela Universi-
dade de São Paulo (USP). Mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Cató-
lica do Rio de Janeiro (PUC). Doutor em Economia pela Universidade de Chicago.
Atualmente é professor associado em Economia da Universidade de São Paulo –
Campus Ribeirão Preto e coordena o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Educa-
ção e Economia Social (LEPES). É membro do Núcleo Ciência pela Infancia (NCPI)
e da Rede Ciência pela Educação (Rede CpE[1] ).
Débora Falleiros de Mello. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titu-
lar da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP. Membro do Grupo de
Pesquisa Enfermagem no Cuidado da Criança e Adolescente, do Núcleo Ciência
Pela Infância e do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância.
Elisa Rachel Pisani Altafim. Psicóloga. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento
e da Aprendizagem pela UNESP (Bauru). Doutorado em Saúde Mental na Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), com
Doutorado Sanduíche na School of Education da Harvard University (FAPESP).
Pós-doutorado na FMRP-USP com foco na primeira Infância e parentalidade.
Atualmente, é pesquisadora colaboradora da FMRP-USP, docente do Programa de
Pós-Graduação em Saúde Mental da FMRP-USP, supervisora de pós-doutorado em
parceria com o Brazil Office do David Rockefeller Center for Latin American Studies
da Harvard University. Membro do Instituto para Valorização da Educação e da
Pesquisa no Estado de São Paulo (IVEPESP). Consultora de Treinamento, Desen-
volvimento e Pesquisa na área de desenvolvimento da primeira infância e parenta-
lidade e prevenção de violência contra crianças.
Fernando Louzada. Mestre e doutor em Neurociências pelo Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor pela Harvard Medical School,
Ciência da primeira infância 215
EUA. Atualmente é professor titular do Departamento de Fisiologia da Universidade
Federal do Paraná (UFPR) onde coordena o Laboratório de Cronobiologia Humana.
É também coordenador adjunto da rede Ciência pela Educação (CpE).
Gisele Rodrigues Gouveia. Bióloga. Doutora em Ciências Médicas pela Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Gerente do Laboratório de
Patologia Clínica e do Biobanco do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da FMUSP (HC-FMUSP) e responsável técnica pelo Núcleo Multiusuário de Servi-
ços Especializados de Biorrepositório para Investigação em Psiquiatria, Neurologia
e Neurodesenvolvimento (BIOB-04) na FMUSP. Pesquisadora colaboradora no
Centro de Matemática Computação e Cognição da Universidade Federal do ABC
Paulista (CMCC - UFABC) na área de genética, epigenética, biomarcadores dos trans-
tornos psiquiátricos e marcadores biológicos de exposição ao estresse gestacional e
transtornos do neurodesenvolvimento.
Gustavo Santos. Graduado em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUC-PR). Mestre em Fisiologia pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Atualmente é doutorando em Fisiologia pela UFPR e professor
auxiliar do curso de medicina da PUC-PR.
Helena Brentani. Psiquiatra. Mestre em Psiquiatria e Psicologia Médica pela Uni-
versidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Doutora em Psiquiatria pela Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Professora Doutora do De-
partamento de Psiquiatria da FMUSP; Orientadora do Programa Interunidades de
Pós-Graduação em Bioinformática da USP; Pesquisadora Bolsista de Produtividade –
Nível 2 do CNPq; Coordenadora de pesquisa do Programa de Transtornos do Es-
pectro Autista (PROTEA) e do Biobanco do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da FMUSP (IPq HCFMUSP); Coordenadora do Laboratório de Genética
Psiquiátrica e Bioinformática (PsysBio - IPq HCFMUSP); Co-responsável pelo La-
boratório de Psicopatologia e Terapêutica Psiquiátrica do HCFMUSP (LIM/23);
Membro do conselho do Departamento de Psiquiatria e da Comissão de Pesquisa
da FMUSP; Membro do Conselho Científico da associação Autismo e Realidade;
Pesquisadora associada do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira In-
fância (CPAPI- FAPESP/FMCSV).
Helena Schmidt. Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e aluna de Iniciação Científica no Laboratório de Cronobiologia Humana
da UFPR.
216 Sobre os autores
Izabella Lopes de Arantes. Graduada em Psicologia e Comunicação Social, com
mestrado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente,
é doutoranda no programa de pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvol-
vimento Humano da USP. Bolsista pela CAPES.
Julia Fernandes da Silva. Graduanda em Biomedicina pela Universidade Federal do
Paraná e aluna de Iniciação Científica no Laboratório de Cronobiologia Humana
da UFPR.
Juliana Araujo Teixeira. Nutricionista. Doutora em Saúde Pública pela Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Sua trajetória acadêmica inclui
estágio de pesquisa no exterior na School of Population Health, The University of Auckland,
na Nova Zelândia, além de ter recebido bolsas de estudo da FAPESP e do David Rocke-
feller Center for Latin American Studies, Harvard University. Atuou como nutricionista
em equipe multiprofissional na Atenção Primária à Saúde e como coordenadora de
nutrição e equipes no Programa SP Educação com Saúde. Atualmente, é pesquisadora
pós-doutoranda no Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância
(CPAPI-Insper), docente colaboradora do Programa de Mestrado Profissional em
Saúde Coletiva do Instituto de Saúde e consultora da Fundação Maria Cecília Souto
Vidigal em cooperação técnica com o Ministério da Saúde, apoiando o IBGE na
elaboração do suplemento sobre desenvolvimento infantil da PNAD contínua 2022.
Sua expertise concentra-se em Saúde Coletiva, com foco em epidemiologia nutricio-
nal, avaliação do consumo alimentar, alimentação materna e saúde materno-infantil,
primeira infância e atenção primária à saúde.
Lislaine Aparecida Fracolli. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titu-
lar da Escola de Enfermagem da USP. Lider do Grupo de Pesquisa Modelos Tecnoas-
sistenciais e a promoção da saúde. Membro do Núcleo Ciência Pela Infância e do
Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes.
Luiz Guilherme Scorzafave. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade
de São Paulo (1997). Mestre em Teoria Econômica pela USP (2001) e doutor em
Economia pela USP (2004). Atualmente é professor associado da Universidade de
São Paulo, no Campus de Ribeirão Preto. Possui mais de quinze anos de pesquisa em
Economia da Educação e em avaliação de impacto de políticas públicas. Coordena
o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Educação e Economia Social. É membro do
Núcleo Ciência pela Infancia (NCPI) e da Rede Ciência pela Educação (Rede CpE).
Ciência da primeira infância 217
Maria Beatriz Martins Linhares. Psicóloga. Especialista certificada em Psicologia
Clínica Infantil e Psicologia Hospitalar. Mestre em Educação Especial pela UFSCar.
Doutora em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da USP. Pós-dou-
torado junto à University of British Columbia. Livre-docente na FMRP-USP. Pro-
fessora Associada Sênior da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo (Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento).
Coordenadora do LAPREDES/FMRPUSP – Laboratório de Pesquisa em Problemas
de Desenvolvimento e Comportamento da Criança. Pesquisadora do CNPq nível
Sênior. Pesquisadora principal do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira
Infância (CPAPI – FAPESP/FMCSV). Membro do Instituto para Valorização da
Educação e da Pesquisa no Estado de São Paulo (IVEPESP). Consultora de Treina-
mento, Desenvolvimento e Pesquisa na área de desenvolvimento da primeira infân-
cia, parentalidade e prevenção de violência contra crianças (MBMLinhares).
Maria De La Ó Ramallo Veríssimo. Enfermeira. Mestre em Enfermagem Pediátrica
e Doutora em Enfermagem. Professora Associada 3 da Escola de Enfermagem da
USP. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado em Saúde e Promoção do Desenvolvi-
mento Infantil.
Naercio Menezes Filho. Professor Titular da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, Pro-
fessor Associado da FEA-USP, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências
e da Ordem Nacional do Mérito Científico, Diretor do Centro Brasileiro de Pesquisa
Aplicada à Primeira-Infância e Colunista do Valor Econômico. Naercio é PhD em
Economia pela Universidade de Londres e desenvolve pesquisas nas áreas de edu-
cação, primeira-infância, mercado de trabalho, distribuição de renda, produtividade
e comércio internacional.
Rebeca Buest de Mesquita Silva. Bacharel em Biomedicina pela Universidade Po-
sitivo. Especialista em Engenharia Genética pela Universidade Positivo. Mestre em
Fisiologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutoranda em Fisiologia
pela UFPR.
Rogerio Lerner. Professor Associado Livre-docente do Instituto de Psicologia e
Professor subsidiário do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
USP. Investigador principal do Centro Brasileiro para o Desenvolvimento da Primeira
Infância. Membro do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância (INSPER/
FMCSV/HARVARD), Membro do Comitê Científico da Associação Psicanalítica
Internacional (IPA), Co-chair do Research Training Programme da Associação
218 Sobre os autores
Internacional de Psicanálise e da Joseph Sandler Psychoanalytic Research Conference,
ex Membro do Comitê Científico da Federação Psicanalítica Latinoamericana (FE-
PAL), Editor Associado da Revista Psicologia USP e membro do editorial board do
Psychoanalytic Quarterly. Prêmios recebidos: Prêmio Comunidade e Cultura da
Federação Psicanalítica da América Latina (2012); Terceiro lugar no Prêmio César
Ades do Conselho Federal de Psicologia (2013); Prêmio Contribuição Excepcional
na Investigação Psicanalítica da IPA (2019). Membro Associado da Sociedade Bra-
sileira de Psicanálise de São Paulo.
Sonia Isoyama Venancio. Médica pediatra. Doutora em Saúde Pública pela Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Desde 1994, atua como
Pesquisadora Científica no Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo (IS-SES-SP), onde alcançou a posição de Pesquisadora Científica VI.
Durante sua trajetória, exerceu funções de liderança como Vice-Diretora e Coorde-
nadora do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva do IS-SES-SP.
Coordenou vários projetos de pesquisa, com financiamento do CNPq, FAPESP,
OPAS, JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão) e Ministério da Saúde.
Atualmente, é docente permanente no Programa de Pós-Graduação em Nutrição
em Saúde Pública da FSP-USP. De 2007 a 2022, atuou como consultora do Ministé-
rio da Saúde na área de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Atualmente, ocupa
o cargo de Coordenadora-Geral de Atenção à Saúde das Crianças, Adolescentes e
Jovens (CGCRIAJ) no Ministério da Saúde. Sua produção científica e acadêmica
foca em Saúde Coletiva, com ênfase em saúde da criança, aleitamento materno,
alimentação complementar, desenvolvimento infantil, avaliação em saúde e políticas
informadas por evidências.
Vitor Lacerda. Psicólogo formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Mestrando em Fisiologia pela UFPR.