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Comentario Ao CCE

O documento é uma edição brasileira do 'Catecismo da Igreja Católica', organizada por Rino Fisichella e traduzida por Enio Paulo Giachini, Gabriel Frade e Orlando Soares Moreira. Ele contém comentários teológicos e pastorais sobre a doutrina católica, abordando a história, estrutura e a importância do catecismo na renovação da catequese. A obra inclui contribuições de diversos especialistas em teologia e é publicada pela Editora Loyola em 2024.

Enviado por

guimaraes.paz
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O documento é uma edição brasileira do 'Catecismo da Igreja Católica', organizada por Rino Fisichella e traduzida por Enio Paulo Giachini, Gabriel Frade e Orlando Soares Moreira. Ele contém comentários teológicos e pastorais sobre a doutrina católica, abordando a história, estrutura e a importância do catecismo na renovação da catequese. A obra inclui contribuições de diversos especialistas em teologia e é publicada pela Editora Loyola em 2024.

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ComentáRIO

TeoLóG1co-PastoRaL

ÜRGan1zaoo POR

DOM RINO FISICHELLA


TRaDUZIDO POR
ENIO PAULO GIACHINI
GABRIEL FRADE
ORLANDO SOARES .MOREIRA

fd/çõe1 Loyola
Titulo original:
Carechismo dei/a Chicsa Ca trolica. Testo integra/e.
Nt1ovo commenro reologico-pastorale di Rino Fisichella
O Amministrazionc dei Patrimonio della Santa Sede Apostolica
e e l ibreria Ed1tricc Vaticann. Città dei Vaticano, 2017.
All rights rescrvcd lnternational Copyright handled
by libreda Ed1tr ice Vatica11a. C1ttà dei Vaticano.
ISBN 978-88-92-2 1/5 1·0

A presc1Hc edição brasileira está baseada na edição italiana


publicada originalmente pela LEV - L1breria Editrice Vaticana
e conta com a devida autorização.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasile ira d o Livro, SP. Brasil)

Comentãno Teoló gico-Pastoral - Catecismo da Igreja Católica/


organização Rino Fis1chella : tradução En io Paulo Giachini,
Gabriel dos $;1ntos Frade, Orlando Soares Moreira. -- São Paulo:
Edições l oyola, 2024. - (Catequese)
Título original: Catechismo della Chiesa Cattol1ca ; testo
intcgrale . nuovo commento teologico-pastoralc di Rino Fis1chella
ISBN 978-65-SS04-224-5
1. Catequese 2. Catequese · Igreja Católica 3. Doutrina cristã
Fisichella, Rino. li. Série.
24-206501 CDD-268 82

lndices para catálogo sistemático:


1. Catequese . Igreja Católica 268.82
Eliane de Freitas Leite - Bibliote cária· CRB 8/8415

Capa e diagramação: Ronald o Hideo lnoue


Na primeira orelha. papas São J oão Paulo li (1978-2005),
Bento XVI (2005-2013) e Francisco (2013-), fotos do© Vatican
Media. ( ~As d atas entre p arênteses se referem aos anos
d o papado.} Na segunda orelha, Dom Rino Fisichella (org.),
foto de © Riccardo Rossi, C Wikimedia Commons.

(d.çr.,&!. Loyola Jesuítas


f' "'º 11.:/) n 3il 1 lp1rilr19a
'A/1 1,, (//")!:;.,o f'uultJ, SP
T •,,r, 11 j ~..,~ b'.IJJl8'JJ1 706J 47/5
,.d11r... r1ol l•;I "''" ''''" l.o11
"''"'r.du~ -"'' >'';to t.~ n. 1 1
;,;;;; 1...,, ...1. ,,.,.,., l,;f

''" ...
ll •••,.r 1 •
( !

AUTORES

RINO FISICHELLA
Direção e coordenação

BATTAGLIA, VINCENZO
Cristologia,
Pontificia Università Antonianum - Roma
IUANCARDI, GIUSEPPE
Catecismo,
Pontificia Università Salesiana, Facoltà Teologica - Torino
BIANCHI , ENZO
Fundador da Comunidade Monástica de Bose
BOSELLI, GOFFREDO
Liturg.ia,
monge de Bose
CABRA, PIER GIORDANO
Ex-Presidente da
Conferência das Ordens Religiosas Italianas (CISM)
e das Ordens Religiosas Europeias (UCESM)
CÀNOPI, ANNA MARIA
Abadessa da Abadia Beneditina "Mater Ecdesiae",
Isola San Giulio - Orca
CARBAJO NÚNEZ, MARTÍN
Teologia moral,
Pontificia Università Antonianum - Roma
CARVAJAL BLANCO, JUAN CARLOS
Teologia da Evangelização e Catequese,
Universidad Eclesiástica San Dámaso - Madrid
COZZOLI, MAURO
Teologia moral,
Pontificia Università Lateranense - Roma
DE SIMONE, CAETANO
Doutrina Social da Igreja,
Pontificia Università Lateranense - Roma
DOTOtO, CARMf:l.O
Teologia das religiões,
Ponrificia Unlversltà Urbaniana - Roma
FARí:\', CA ROl.INli
Diretora de csuados.
School of An111111cla1 lon, l)uckf.as1 Ahht" )' - l)\'von
fll)ICI llll .l. A, R l Nll
Prc1Jldc111e do 1'0111 lfklo Cons~llhl
para a Promoção da Nova l~vilnMcllzaçilo
2

f:UM/\G/\LU, /\IUSTIOe
Teologia moral,
Facoh:\ Teologlca dell'Jtalla Setcntrlonale - Milão
C/\LVAN. JOSf! M .
Teologia moral,
Pontificia Univers ità della Santa Croce - Roma
GER/\ROJ, RENZO
Teologia moral,
Pontificia Università La teranense - Roma
GOYRET, PHILIP
Eclesiologia,
Pontificia Università della Santa Croce - Roma
JIMÉNEZ R., MANUEL JOSÉ
Teologia pastoral,
Centro de Formación para Ja Nueva Evangelizadon
y Catequesis (CEFNEC) - Bogotá
LADARIA. LUIS F.
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
LUCAS, RAMÓN LUCAS
Antropologia filosófica e bioética,
Pontificia Università Gregoriana - Roma
MAJORANO, SABATINO
Teologia moral sistemática,
Accademia Alfonsiana - Roma
MARTINELLI, RAFFAELLO
Bispo de Frascari,
ex-secretário da Comissão para a preparação do CCE
MASPERO. GIULIO
Teologia dogmática,
Pontificia Università deUa Santa Croce - Roma
Mc NAMARA. EDWARD
Liturgia,
Ateneo Ponrificio Regina Apostolorum - Roma
MILITELLO, CETTINA
Eclesiologia e Mariologia,
professora emé rira d a Pontifícia Facolrà Teologica Marianum - Roma
MJRALl.ES, ANTONIO
Teo logia sacramenrária,
professor emérí1 0 na Pomificia Univershà della Sa nta Croce - Rom.i

MOUNAIUO, JOEL
Teolo gia pnhica,
d ir~ r or d o Jni.1i1u1 Supé rie ur de Pastnrale Catéchétique - P.aris

O ' CA 1.1.At: 11 A N, l•All 1.


A1111 opuloHia h·nló~ka ,
1'1mli lu i._i U11iv1·1:.i1 ,\ i1,~Jh1 Sa m.a C nKt" H.<1m.i
1'11 1 NINt rr. S.\l .\'AllOI\
frnl o~ í .1 fu11d.1nw111.tl.
I •" 1111.u d l· frl) lu~ 1 .1 de C .atJluny.t UM <.·luna
P1m 11i1u .1 U111\' «1 ~lt ,\ •H'Nurl.an.t n.um.i
3

POTTlRlL ll~" .\C[ O \


(~'4 .Cl6 . 1914- 1 l.09.200J)
Biblista.
Pomificio lstituto Bíblico
RODRIGLl EZ Ll' ~O. .\~GEL
Teololitia moral.
Pomifü:ia Università della S.ima Croce - Roma
SCH~EIDER. ~llCH.\EL
Teologia dogmática e Liturgia.
Uai"\-ersitât St. Georgen - Frankfurt aro Ma.ia
SCHÕl"BOR~. CHRISTOPH
Arcebispo de Viena
Sl\'IGLL'\... I~_-\
Antropologia teológica.
Facoltà Teologica di Sicilia - Palermo
TRE.\ IBL\Y. RÉ..:\.L
Teologia moral.
professor emérito na Accademia Alfonsiana - Roma
\'.-\~~I. LiGO
Exegese do Novo Testamento,
professor emérito da Ponrificia Università Gregoriana - Roma
\\HITE. THO~L-\S JOSEPH
Teologia sistemática.
Pontifical Faculty of the lmmaculate Conception, Washington DC
\\ICKS. ):\RED
História da Teologi~
jesuic School of Theology- Chicago
WlLLI. REGI~.-\
Teologia e::.-piritual.
lnsrirut für Hisrorische Theologie - Vãeru
L"-'tBO~I. STEF.\.~O
Teologfa moral.
Accademia Alfonsil.n~ - R~

Zl'CC.\RO. C..\T.-\LDO
Tc!'Ologi~ manl.
Pomificii Un~~it.i Urhini.uu - R~
..
r ' •.
' '

SUMÁRIO

Aprcscntaçáo do PAPA FRANCISCO • xiii


Introdução de DOM RINO FISICHELLA • XV

Aurores • 1
Siglas • s

QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

O Catecismo da Igreja Católica na história dos catecismos • 9


Giuseppe Biancardi
História e estrutura do Catecismo • 29
Raffaello Martinelli
O Catecismo da Igreja Católica na dinâmica da renovação da catequese • 33
Joel Molinario
O Catecismo da Igreja Católica nas Igrejas particulares • 39
Christoph Sclionborn
Recepção do Catecismo da Igreja Católica • 49
Caroline Farey

Primeira Parte
A PROFISSÃO DE FÉ

Primeira Seção
"EU CREIO" - "NÓS CREMOS"

C APÍTULO J: O homem imago Dei é rn/"u Dei • 61


/lamó11 /.ucas /.ucas
C APÍ T Ut.O JJ
Are igo J: A revelação de Deus • 69
llfou Fisicl1ella
))
Artigo 2: A transmissão da revelação divina 83
]ared Wicks
Artigo 3: A Sagrada Escritura 89
lgnace de la Potterie
CAPÍTULO Ili: A resposta do homem a Deus
))
95
Rino Fisichclla

Segunda Seção
A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

,. 117
Os símbolos da fé
}arcd Wicks
CAPÍTULO 1: Creio em Deus Pai » 119
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 1: Creio em Deus
)) 121
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 2: O Pai » 133
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 3: O Todo-poderoso )) 145
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 4: O Criador )) 149
Luis F. Ladaria
Artigo l, Parágrafo 5: O céu e a terra » 157
Paul O'Callaghan
Artigo 1, Parágrafo 6: O homem J> 165
Luis F. Ladaria
Artigo 1, Parágrafo 7: A queda J> 171
Luis F. Ladaria
CAPÍTULO li: Creio em jesus Cristo, Filho único de Deus » 179
Vincenzo Battaglia
Artigo 2: "E em jesus Cristo, seu Filho único, nosso Senhor" D 183
Vincenzo Battaglia
Artigo 3: "j esus Cristo foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria" • 185
Vincenzo Battaglia
Artigo 4 : "jes us Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado,
mono e sepultado"
Vi11ce11zo Battaglia
• 193

A nigo 5: "j esus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mon.os
no wrceiro dia" 197
Vincmzo flo ttaglia

A nig() 6: "Jc·b us subiu aos Cé us, csrá seniado à dircira de
Dc- us P<J i 'forfo-pmlc·roso" • 199
Ví11cn1 zo /111f 1;,g/la

__J
" 201
Artigo 7: "Donde vir~ julgar os vivos e os mortos"
Vincrnzo Batragl1a

CAPÍTULO Ili
.. 203
Artigo 8: "Creio no Espírito Santo"
Giulio Maspcro
., 215
Artigo 9: "Creio na santa Igreja católica"
Manuel josé ]iménez R.
Arrigo 9, Parágrafo 4/1-11: Os fiéis de Cristo: hierarquia, leigos,
• 23)
vida consagrada
Salvador Pié-Ninot
Artigo 9, Parágrafo 4/111: A vida consagrada
.. 245
Pier Giordano Cabra
Artigo 9, Parágrafo 5: A comunhão dos santos # 2SS
Salvador Pié-Ninot
Artigo 9, Parágrafo 6: Maria - Mãe de Cristo, Mãe da Igreja • 259
Regina Willi
Artigo 10: "Creio no perdão dos pecados" • 269
Antonio Miralles
Artigo 11: "Creio na ressurreição da carne" • 271
Luís F. Ladaria
Artigo 12: "Creio na vida eterna" • 277
Luis F. Ladaria
"Amém" • 285
Rino Fisichella

Segunda Parte
A CELEBRAÇÃO DO MlSTÉRIO CRISTÃO

Primeira Seção
A ECONOMIA SACRAMENTAL

CAPÍTULO I: O mistério pascal no tempo da Igreja • 291


Maria dei Pilar Rio Garcfa
CAPÍTULO II: A celebração sacramental do mistério pascal • 303
Goffredo Boselli

Segunda Seção
OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

Os scLc sacramenros da Igreja • llS


J>hil1/1 Goyret
CAPÍTULO 1
Arrigo l: Os sacramcnros da iniciação crisrã - O s.lcnummto do batismo • 317
Juan Carlos Carvajal Bla1l(O
Artigo 7: "Donde virá julgar os vivos e os mortos" » 201
Vincenzo Battaglia

CAPÍTULO Ili
Artigo 8: "Creio no Espírito Santo" lt 203
Giulio Maspero
Artigo 9: "Creio na santa Igreja católica" lt 215
Manuel josé ]iménez R.
Artigo 9, Parágrafo 4/ 1-11: Os fiéis de Cristo: hierarquia, leigos,
vida consagrada • 231
Salvador Pié-Ninot
Arrigo 9, Parágrafo 4/ 111: A vida consagrada • 245
Pier Giordano Cabra
Artigo 9, Parágrafo 5: A comunhão dos santos • 255
Salvador Pié-Ninot
Artigo 9, Parágrafo 6: Maria - Mãe de Cristo, Mãe da Igreja • 259
Regina Willi
Artigo 10: "Creio no perdão dos pecados" • 269
Antonio Miralles
Artigo 11: "Creio na ressurreição da carne" • 271
Luis F. Ladaria
Artigo 12: "Creio na vida eterna" • 277
Luis F. Ladaria

"Amém" • 285
Rino Fisichella

Segunda Parte
A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO

Primeira Seção
A ECONOMIA SACRAMENTAL

CAPÍTULO 1: O mistério pascal no tempo da Igreja • 291


Maria dei Pilar Rio García

CAPÍTULO II: A celebração sacramental do mistério pascal • 303


Goffredo Boselli

Segunda Seção
OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

Os sete sacramenros da Igreja • 315


Plii/ip Goyret
CAPÍTULO J
Artigo 1: Os sacramentos da iniciação cris1ã - O sacramento do baaismo .. 317
Juan Carlos Carvajal Blat1co
Artigo 2: O sacramento da confirmação
)rum Carlos Carvajal Blcmco
• 325

Artigo 3: O sacramento da eucaristia


)rum Ca,.fos Carvajal Blanco " 331

CAPÍTULO li
Arcigo 4: Os sacramentos de cura - O sacramento da penitência
e da reconciliação • 34)
Antonio Miralles
Artigo 5: A unção dos enfermos • 351
Antonio Miralles
CAPÍTULO III
Artigo 6: Os sacramentos do serviço da comunhão - O sacramento da ordem • 357
Philip Goyret
Artigo 7: O sacramento do matrimônio • 373
Ina Siviglia

CAPÍTULO IV: As outras celebrações litúrgicas • 381


Edward McNamara

Terceira Parte
A VIDA EM CRISTO

Primeira Seção
A VOCAÇÃO DO HOMEM: A VIDA NO ESPÍRITO

A vocação do homem: a vida no Espírito • 397


Renz.o Gerardi

CAPÍTULO l: A dignidade da pessoa humana • 409


Ángel Rodríguez luno
CAPÍTULO li: A comunidade humana
GQJ'tano Dt> Simone
• -421

CA PÍTUt~o Ili: A sa lvação de Deus: a lei e a graça


Aristidr Fumagalli • .f29

Segunda Seção
o s nr;z AIANDAAIENros
1 • 1111111.Jdllll IJfU )
•,(, f,11,lJ /.IH/, Ili

lA l l l lJ l•>I

A1 llpJ 1 () 1•1i111t lrn l1Hu 1i lu 11 u ·1110


1. 1.il.lvZ: " ·"'' • 449
A 1' 'b'> J CJ :.1t•u11.Jc, 11 i;rnd<trnt•1110
} t•f., M G. '11111
• 461
Arl igo 3: O 1crcciro mandamcrllo
,. 467
Ccttina Milite/lo
CAPÍTULO li
Artigo 4: O quarto mandamcnlo .. 473
Carmrlo Dotolo
Arai 5: O quimo mandamento • 479
Srcfano Zamboni
Artigo 6: O sexto mandamento • 487
Aristide F11magalli
Artigo 7: O sétimo mandamento • 497
Sabatino Majorano
Artigo 8: O oitavo mandamento • SUi
Réal Tremblay
Artigo 9: O nono mandamento • Sll
Martín Carbajo Núnez
Artigo 10: O décimo mandamento .. 519
Mauro Cozzoli

Quarta Parte
A ORAÇÃO CRISTÃ

Primeira Seção
A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ

CAPÍTULO 1: A revelação da oração • 531


Enzo Bianchi
CAPÍTULO li: A tradição da oração • S41
Anna Maria Cànopi
CAPÍTULO III: A vida de oração • SSl
Michael Schneider

Segunda Seção
A ORAÇÃO DO SENHOR: "PAl-NOSso·

A oração do Senhor: "Pai-nosso" • 559


Ugo Vanni

Tradutores da Edição llra ilcira • 585


Tradutores da EdJção haliana • 587
X lll

APRESENTAÇÃO

O Catecismo da Igreja Católica se apresenta como um caminho que, por meio de quatro
etapas, permite perceber a dinâmica da fé. Abre-se com o desejo de todo ser humano que
traz em si o anseio por Deus e conclui-se com a oração, enquanto expressão de um en~
contra em que o ser humano e Deus se contemplam, falam e escutam. A vida da gra~
expressa particularmente nos sete sacramentos, e o estilo de vida do fiel como uma vo-
cação a ser vivida segundo o Espírito são as outras duas etapas necessárias para com-
preender em plenitude a identidade do fiel como disápulô missionário de jesus Cristo.
Na ocorrência do XXV aniversário da Constituição Apostólica Fülei depositum - com
a qual se entregava aos fiéis o Catecismo da Igreja Católica-, assinada simbolicamente
por São João Paulo II no dia 11 de outubro de 1992, no trigésimo aniversário do início
do Concílio Ecumênico Vaticano II, a publicação desta nova edição [...] se apresenta
como um comentário teológico-pastoral e é de grande ajuda para entrar sempre mais na
compreensão do mistério da fé.
Deste modo, o Catecismo da Igreja Católica se torna uma mediação adicional por meio
da quaJ promover e sustentar as Igrejas particulares em todo o mundo na tarefa da evan-
gelização como instrumento eficaz para a formação principalmente dos sacerdotes e ca-
tequistas. Faço votos que possa ser conhecido e utilizado para valorizar ao máximo o
grande patrimônio de fé destes dois mil anos da nossa história.
XV

1NTR<JDUÇÀCJ
Um C:crtcri.~ mo />ara o 11m1.ço '""'/'º

A c~ucquese é um capítulo fundamental para a vida da Igreja. De faco, é anúncio da no-


,·idade cristã por sua própria natureza e, com sua obra de formação, torna sempre mai5
firme a profissão de fé por meio do compromisso de testemunhá-la com coerfncia no
mundo. Em um nlomento como o nosso, em que a Igreja redescobriu a exigblcia de
renovar sua obra de evangelização para que possa emergir sempre mais uma •non ak-
gria na fé e uma fecundidade evangelizadora" (EG 11), a catequese se apresenta como
um momento decisivo para a vida dos cristãos.
No transcorrer das décadas, afasta-se cronologicamente cada vez mais o nento do
Concílio Vaticano II (1962-1965) e cresce de modo exponenciaJ a urgência de manta
vivo esse ensinamento. O que emergiu das quatro constituições: Dei Verbum, Lumm Gm-
tium, Sacrosanctum Concilium e Gaudium et spes continua a alimentar a vida do povo de
Deus na escuta da Palavra de Deus, na sua celebração litúrgica e na responsabilidade
de oferecer a própria contribuição ao mundo de hoje.
O Catecismo da Igreja Católica permanece como um fruto do concílio. Recarda-
va-o São João Paulo II quando escrevia: "Este Catecismo trará um contributo muito
importante àquela obra de renovação da vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo
Concílio Vaticano II [...]. Vejo-o como um instrumento váJido e legítimo a serviço da
comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé" (FD). A essa voz é
necessário adicionar a voz mais recente do Papa Francisco, que atualizou seu signifi-
cado: "O Catecismo da Igreja Católica, instrumento fundamental para aquele ato unitá-
rio com que a Igreja comunica o conteúdo inteiro da fé, 'tudo aquilo que ela é e nado
quanto acredita"' (LF 46).
Para se introduzir com coerência no estudo do Catecismo da lgnja Católica. podeR
ser ú1il fazer referência ao logo que o caracteriza e em que se encootram algWJS ele--
menLos peculiares: o bom Pastor com um cajado na mão no ato de tocar ajlowta; a...-..
jumo dele à escuta da sua música e ambos à sombra da árvore da vida.
A me[áfora do bom Pastor é capaz de sintetizar em si dois aspectos que aplftllle-
mtnLe poderiam ser contrastanres: o da autoridade e o da amizade. O pastor dne ser
fv1Le pa ra defender seu rebanho; ao mesmo ten1po, de todo modo. é aapu de • .,.,
com Lt:rnura . Fiel à imagem das Escrituras antigas, tambémjesus faz rtfeftnciaM>pu-
t01 para indicar o cuidado de que ele dispõe en1 relação aos seus disdpulol e dt ~
0 qudt~ que nele crerem . Os Sinóticos n1os1ram Jesus e1n sua conscifnc . , sido
Lnv1•do às "ovtJha s perdidas" (Mt 15,24); ele reún~ seus ~lisdpukll como wn ~
td.>d11h</ (Lc J2,32) e o d fende de quen1, disfarçado d~ cllrdei«\
1
diNuW-lo (Mt
7, J~) . r ~c:~E.~ IHC~lflC) horizome, o 3UIOr da C.an .Uh t lt>bi UI o CMn de •o pande
pa~Lor d & o vc·Jha•" Ofh J1,20) e Pt•d10, dt• "o p.& Slrn ' "l" n\O" (lN S.•). Enlretanto.
&~rá JCJão 4uc no• fí ~ua•uu&ir .a iulJK.: 1u IUJÍ) üM.•h ' ll&6' Jo bom or, apftlenlando
Jé~u s corno o J alho que- n as vt: • h ~ ,10 pJSh>• h '\d.& o .unor do Pai (cf. Jo 10). Ele se
lorna urna unid dt:. ho•n J' ~ '°' · pon.l pd.& qu.il ~~ .~~ •n&rv no ndiL cordeiro que
xv i l:l ll\ tl!N l'A IUll Tl.1 ll.llt; l t:0 -1'/\ ~ l'O ll /\ 1. C /\'11.<.l 'i MO 1J/\ l<;Jl, 1.1/\ <:l\'f (lf
.1c:..,

se oferece. Con1 base nessa sua mlloridade, ele é também o único capaz de confiar se
cuidado pastoral a quen1 ele escolheu para ser pastor: Pedro, os Doze e seus sucesso~
res (cf.Jo 21,15; Ef 4,IJ; JPd 5,1).
No logo pro~osto, n~ta-se que o pasto~ está sentado e segura cm sua mão 0 cajatkJ.
T;unbérn dessa s1n1bolog1a emerge um ensinamento que merece ser explicitado. Estar
semado é sinal de autoridade, pois indica o mestre que ensina. Para o pastor nômade
o cajado é sinal do caminho. Esses particulares ajudam a perceber a finaJidade do úi:
trcismo da igreja Católica. O ensinamento que é oferecido não é outra coisa senão a fé da
lgreja, assim como se desenvolveu ao longo dos séculos, e que possui sua fonte primária
na Palavra de Deus vivida pela comunidade cristã e interpretada autenticamente pelos
seus Pastores. Em todo caso, há um caminho que deve ser percorrido e que ainda não
está terminado. O cajado do pastor indica propriamente isso: a longa estrada que ainda
deve ser percorrida. E o futuro que está diante de nós, cheio de expectativas e esperan-
ças; futuro no qual o "compromisso da fé" (lTs 1,3) exigirá a necessidade de crescer na
verdade completa (cf. jo 16,13), para vivê-Ia coerentemente na participação a uma res-
ponsabilidade comum da qual ninguém pode se eximir. A Igreja, nessa peregrinação,
está acompanhada pela multidão de homens e mulheres que por milênios professam a
fé. Das grandes figuras bíblicas de Abraão, Moisés, Elias, Davi, os profetas, os apósto-
los, os discípulos ... até os mais desconhecidos fiéis do quais, em todo caso, permanece
viva a fé ainda que seus nomes não tenham permanecido; todos se colocaram a cami-
nho com um empenho que exigiu força, coragem, paixão e amor.
O bom pastor, sentado com o cajado na mão, está tocando uma flauta. A música é
sinal da melodia e da beleza do ensinamento do pastor. O longo caminho tem neces-
sidade de uma pausa. É o tempo para recuperar as forças e fazer o balanço d~ situa-
ção. A ovelha está sentada junto ao pastor; ela o vê e o escuta com confiança. E esta a
atitude fundamental que se deve ter em relação à "música" do mestre: a disponibili-
dade à escuta, pois ele não quer e não pode enganar. A imagem se aplica facilmente
ao Catecismo da Igreja Católica: este se insere naquele constante ensinamento ..ordiná-
rio" dos Pastores da Igreja; por esse motivo o povo de Deus o acolhe com confiança e
disponibilidade na escuta atenta e no estudo sistemático.
Além disso, 0 logo está envolvido, como ~e fosse uma moldura, pela árvore da vida.
É a árvore colocada no centro do jardim do Eden (cf. Gn 2,8}; é a mesma árvore qlW'.
renovada pelo sangue do Cordeiro, se encontra novamente no Apocalipse. Uma âr-
vore que "dá doze colheitas e produz frutos todos os meses, as folhas da árvore ser-
ve m para curar as nações" (Ap 22,2). A som~ra dessa árvore da vida, os fiéis e~\)0-
tram refúgio e oriencan1 seu olhar para o caminho subsequente, que permalle\.-e> a1n.à
a s r percorrido.
Por fim, não se deve esquecer que esse logo foi recuperado a panir de un1 l"'l)iN
Cf ur· !>e e nconcra nas rawcumlms em uma pedrn st>pulcml. Aan~os os .lSl~'°"' pt"f11\i1en1
ad1c1<.1ndr l ~o mais na inie rprc ração. P;ua a fé crislã, .1s n1Mcumlt.1s .ill o sinal qU&" re-
11 1 te ciO pe d odo m que a fé linha ncrcssí ladl! dt! ser sush•1u.1da ,~an st'u cestt'fnu.nbo
fJú lA1u). A ft: conlwn ·u 1110111c111os d · ohs urid.ult". d,~ nwtl,l, dt• m.utirio. P\x nlUico
te rnp<J ~ cH l- o~ W >~bCH1 cJi.is, •' Ili dil1•h'llh' S p.Hh'~ do mundtl '' fahl \~ ser M-1' ainJ.i
u 111J billJ..ição d1• a 1J c urnl>J l'. 111 1odn r.1:.0 , ' t•si;,, f~ 'Ili'' susl\'nl.t .1 nossa. que muitas
,.,.n ~ be 1o fl1 J l'll ~111\0\J , . 1111 ·•P·ª' d1: :.&' ~,." mlir do tlllO P·"•' Pªº"°'ªr a conversão.
{ J >'"'Í''º e 1)101JdD n J 1>i·d1 ,, M·1u1h 1,11 • .h> 1nt·Mno 1t·11tpo s in.ll d,• u1na expectaliva e
d\· u 111t<1111p ..u1 ilh..i r. 1..1 1111>1: 111 o lu ma p.hlor .1 ,,Jlu.·u t' \' i\'t'U .l exp,•rit'1lCã.i do ..s.lbado
, , 1 ll.\ )l\l ' ·' ' ) xvii

sJnto". Sobre ele? pedra sepulcral foi rolada pensando que o caso de Jesus de Nazaré
pudesse ser dcfinJ11vamcn~e fechado. Não foi assim. A pedra, embora pesada para as
débeis forças humanas, foi encontrada rolada e Cristo retornado para sempre à vida.
o anú1~cio do ~njo às. mulheres:_"Não est~ aqui" (Me 16,6) permanece também para
nós o smal mais convincente. Nao é no reino dos mortos que se deve procurar Cristo,
mas no reino dos vivos. O sepulcro é sinal de expectativa e de esperança de que o Se-
nhor, fiel à sua promessa, permitirá também à nós ressurgfr para a vida nova com ele.
Esta é a novidade radical da fé cristã.

Na expectativa desse encontro, a fé compromete todos com o anúncio. Em todo caso,


para que a evangelização possa ser fecunda, é solicitado a todo batizado seu cresd--
mento à escuta da Palavra de Deus, na celebração dos sagrados mistérios, na vivência
do seguimento do Senhor e no fazer da oração o pão cotidiano. O Catecismo da Igreja
Católica é um instrumento que ajuda a entrar progressivamente nesse compromisso
de vida. Testemunha disso é o interesse constante presente na comunidade cristã, que
permitiu chegar até hoje a sua tradução em mais de sessenta línguas. Segundo as pa-
lavras de São João Paulo II, este Catecismo exprime "a 'sinfonia' da fé"; sua realização
"reflete a natureza colegial do episcopado e testemunha a catolicidade da Igreja,. (FD);
sua acolhida se transforma em um sinal de "comunhão" (FD).
O Catecismo da Igreja Católica se apresenta também como um instrumento necessário
para a nova evangelização na medida em que permite sublinhar a unidade que intercorre
entre o ato pelo qual se crê e os conteúdos da fé. Uma tendência muito difundida em
nossos dias quer justificar o fato do ser cristãos independentemente do conhecimento
de seus conteúdos. Nada mais perigoso do que uma tendência como essa. De fato, o ato
pelo qual se crê se justifica justamente pelo conhecimento do mistério a que se dá o pró-
prio consentimento. Graças a esse conhecimento, crer se toma um ato livre da pessoa e
não um gesto desgastado de pertença a algumas tradições. Uma referência importante.
neste contexto, deve ser feita à Exortação apostólica de Paulo VI, a Ewingdii nuntiandi
(1975), que representa um ponto sem volta para verificar o forte liame que mantém unida
a catequese com a missão evangelizadora da Igreja. Com o olhar profético e clarividente
que caracterizou seu magistério, o Papa colocava em evidência o quão determinante i>i
a catequese para o processo de evangelização. A Exortação apostólica antevia a nettssi-
dade de uma nova linguagem e de uma nova metodologia para fazer da catequese uma
companheira decisiva na estrada para uma evangelização renovada (cf. EN 44).
O Catecismo da Igreja Católica pode ajudar a nova evangelização a superar uma difi-
cu Idade presente em várias Igrejas, que frequentemente limitam a catequese apenas à
pi c:paração para os sacramentos. Essa configuração hoje mostra seus limites. Se a cate-
<~u<:sc: está endereçada à recepção dos sacramentos, parece evidente q~. ao se terminar o
J.1f·rcurso rela1 ivo aos sacramentos da iniciação cristã, a formação post~rkll' cone o risco
d e- urn a d(·riva. É tempo de retomar com convicção a possibilidade de uma formação
U.11 1 ~1a111c, dirigida a rodos os fiéis, respeitando os diferentes est"ágios e metodologias.
1
11d~ vcJhada a oferecer a co1nprcensão do n1is1ério cristão ~m vista de uma existfncia
t c,)(:'renu: c.0111 1udo aquilo que se crê. Não~ um nr.•so que vol&•, aempre mais úequente,
uma bolicitação e1n relação à e xigêncl:• de un1 rntt'fu11u••hll\I que torne evidente a escolha
da í(: por u1na pcrmaneme Jnrcli~ênrid e testt~muuho d.a vida cristl.
Um ponto decisivo ncs1c monacnto his1ó1 iro d.l ~vangelila(lo é sa~r dar uma ra-
zão do porquê de crer. A insistência sohre os comc(ulos da fé (fidts 9...at) cenamente é
x vii i

decisiva. E, não obstante, é urgente que o cristão saiba responder ao porquê de el


alguém
1 que crê. Em outras palavras, ele deve ser capaz de dar a si mesmo, em pri,:,..~r
1. -
ugar, uma exp 1caça~ convincente o seu ato e crer e de querer se confiar a Deus, que
• d d ••ni;IJO

se revela em Jesus Cristo. Este momento (/ides qua) não pode ser esquecido, como oeor.
reu nas últimas décadas. As consequências negativas desse esquecimento estão diante
de nossos olhos. Dentre essas tantas consequências, pode-se fazer referência à priva.
tização d~ fé devido ao esquecimento de se tratar de um ato pessoal, mas igualmente
eclesial. E possível conhecer os conteúdos da fé como se fossem algumas f6rmulaJ
químicas, sem ser capaz de entrar nestes com a força da convicção que provém apenas
de uma escolha realizada. Escolher crer permite compreender a própria vida como um
chamado à liberdade. Em um período como o nosso, em que a liberdade assume uma
imponância tão qualificante e decisiva, ainda que frequentemente equivocada, não é
nada secundário dar as razões da escolha de fé como um ato pessoal em que o fiel ex-
prime da melhor maneira seu desejo de liberdade e sua força para exercê-la.
Um aspecto adicional a ser considerado é o uso do Catecismo da Igreja Católica na
pastoral. Em um tempo como o nosso, que se confronta cada vez mais com o progresso
cienúfico não deveria faltar o conhecimento de poder conjugar de modo coereme o
patrimônÍo da cultura que se tem com as perguntas que inevitávei~
a partir da sur~em
ciência. O analfabetismo religioso se embate com a preparaçao profiss1onaJ que cada
um busca a fim de dar densidade à própria atividade de trabalho. Dai surge a neces-
sidade, pa,ra que a personalidade dos fiéis não sofr~ um desequiliôrio injusto que, efe-
tivaniente, enfraqueça o próprio testemunho de fe .. ~ess.e contexto, emerge de ~~o
preponderante a via pulchritudinis como expressão pnvileg1ada para sustentar o anunao
da fé e sua relevância cultural.
Portanto é bom que a praxe cultural recupere o momento da cate~u~se co~o um
estudo siste.;,ático da fé_".rienta?a par:i~t::!~~c~~s~ ~~;,~~~':~:>,.';:e;~':::,':::;
conhecimento fragmentano ~: fe, mas te , dos d~ fé a hierarquia das verdades e as
a relação coerente entre os ~1 erenteJ cân ~a tem. E~ síntese, não se deve ter medo
várias fases que o ?es~nvoJvimbeénto
0
ºj e que apenas uma catequese genuína fa-
de afirmar que a fe exige tam m. o e~tu 0
vorece uma obra eficaz de evanT~l.iza~~º~elhor maneira onde ela é vivida como m<>-
Por fim. a catequese se exp ic1ta tilhamento da mesma fé, os fiéis se ajudam uns
m enta co munitário e onde, no comh:~I onde são chamados todos os dias, na tàmal ãa t
aos outros a viver de.la e ª test;:iiu~e o~sa parecer, também o estudo en1 pri,. do J.a, ti
no trabaJho. Por maas p~rad.o A q t!da eclesiali<lade pertence por s ua rrÕllria n.uur~~
é sempre um ~Lo oomunaáno. ººcatequese permita vive r diretan1~nh.' .l t"XJ''n~nc.a
à catequese. É sempre bo'!1 .qu~: catequese é a con1unidadc cri st.l, pvis l al~-.s.e x-nt-
comunitá ria. De fa tcJ, o ~UJ~ttod r A- da '''rt~)a Nesse Sl'ntido •l ,lh ., ,l.l l'\ ang"·h~w
d ua nsn1ass~o a •e ~i.&
umaa~ ~ se rv~ç: o 'l ue a con1unidadc . l 1. .
pre de um
torna u1..en11co
a · • '
Sl' lllC n laun h 'Sf"' " .1b1 1H. "'K' (lf,,... .
. da 1c n1 o int\riao J c come r rnu u•"h'11 h 1r it• lil•/,>s•' " ·l"'btonil
A edição aqui ªJ?r~c~~~ ,. p ou co .i pou 0 l'Xpli llJ 0 ~,·us collh'lH.lôs, in ~nndo-'.
Catecismo da
0 mlgr~J" fiª.' iàca que esc n. às clivei bas l."XfU l!S!tÕt'S d.i vi,l.i ecl"·s i;ll. ~nw 1'0 "'
u~ a ~·''' .a~~ ~"
a is a c1Lo ca1cq u · "' l ç ·u MO, ("'fR
em _umd a- o fo i fe i1 a qua se que cun1 c mpo ra ncanac m e n un 1 1 .......e W-
meara e ·IÇ lhida com e musaasrno,• • I· •• 1 .- • h !SU.'lllUllrwrn k!U -
n1ini~cé1
e as re pe li< a. h::t' ' '
1 nhilt
1993. aFloa
Após acos décad as• h a1·a vis ta o
guma io que o Pap.i m e charnou a desempe
, R''"l, \,' _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ __ x_ix
_
1 1

rl.lpromoção d:i nova evangelização, que comporta a responsabilidade sobre a catequese,


con ·idcrci que era necessário retomar esse instrumento tão útil, principalmente para os
sacerdotes e os catequistas. Dessa constatação surgiu uma edição completamente nova,
com o cnvolvin1ento de quarenta especialistas em várias áreas. A composição interna-
cional tesre1nunha que o Catecismo da Igreja Católica é um verdadeiro serviço às Igrejas
p.irciculares e sua utilização é apoiada pela reflexão teológica e pastoral de teólogos e
c.irequetas de todo o mundo. Foi conservado o ensaio escrito pelo saudoso padre lgnace
de la Potrerie como testemunho de afeto e estima por este mestre da exegese que en-
sinou de maneira coerente a Palavra de Deus. Na medida em que agradeço de coração
a todos os autores que ofereceram suas contribuições tão qualificadas, não posso dei-
xar de exprimir a minha gratidão pessoal pela edição italiana do Grupo Editorial San
Paolo nas pessoas do padre Simone Bruno, Enrico Maria Beraudo e Pino Occhidipinti
Um agradecimento especial vai aos meus colaboradores, o padre monsenhor Francesco
Spinelli e o doutor Ricardo Piacci pela sua paciência e assistência cotidiana.
Espero que este trabalho, para usar as palavras de Bento XVI, possa "dar um novo
impulso à evangelização e à catequese, de que dependem 'não apenas a expansão geo-
gráfica e ao crescimento numérico, mas também, e muito mais ainda, o crescimento
interior da Igreja e sua conformidade com o desígnio divino"'.

ffi DOM RINO FISICHELLA


Presidente do Pontificio Conselho para
a Promoção da Nova Evangelização
2 15

C J\ Pi TU LO 111
ARTI GO 9
..CREIO NA SANTA IGREJA CATÓLICA"

MANU EL JOSÉ JIM ÉNEZ R.

ocsde os ten1pos do Concílio se fala de "Igreja da Trindade". Apoiada pelas sagradas


Escrituras e pela patrística, a eclesiologia trinitária do Vaticano II, que é a expressa pelo
ccE, dá destaque a uma relação da Igreja com a Trinidade em três frentes principais:
(a) a origem trinitária da Igreja; (b) a forma trinitária da Igreja; (c) o objetivo ou odes-
tino trinitário da Igreja. Marcada com o selo da Trindade, a Igreja tem a sua origem, o
seu modelo e o seu fim no Deus Uno e Trino.
Quando o cardeal Schõnborn - na época Secretário da Comissão para a redação
- apresentou o CCE, disse que "o mistério trinitário é o seu fio condutor". E para ex-
plicá-lo remeteu ao se~ n. 234: "O mistério da santíssima Trindade é o mistério central
da fé e da vida cristã. E o mistério de Deus em si mesmo. É, portanto, a fonte de todos
os outros mistérios da fé; é a luz que os ilumina. É o ensinamento fundamental e essen-
àal na 'hierarquia das verdades' de fé".
O CCE, no artigo sobre Deus, deixa clara desde o início a marca da Trindade também
na Igreja: "Toda a economia divina é obra comum das três Pessoas divinas. Com efeito.
a Trindade, assim como tem uma só e mesma natureza, tem uma só e mesma operação..
(n. 258). "Toda a economia divina, obra comum e, ao mesmo tempo, pessoal, dá a co-
nhecer tanto a propriedade das Pessoas divinas, quanto sua única natureza" (n. 259).
Essa orientação trinitária inspira a estrutura do comentário que apresentamos. Se-
rá feito uso de expressões tiradas do CCE, do art. 9 do cap. 3: "A Igreja é una, santa.
católica e apostólica" (nn. 811-870). Apresentado desse modo, o comentário assume a
fórmula do Símbolo Niceno-Constantinopolitano como princípio articulador de toda
a reflexão. Está presente também nessa reflexão um princípio de eclesiologia trinitária
tirado do mesmo CCE: "Para investigar o mistério da Igreja, é necessário considerar
primeiramente sua origem no desígnio da Santíssima Trindade e sua realização pro-
gressiva no curso da história" (n. 758).
Desse modo, põe-se em relação outro princípio teológico trinitário do CCE~ "Crer
que a Igreja é 'santa' e 'católica' e que é 'una' e 'apostólica' (como acrescenta o Slmbolo
Niceno-Constantinopolitano)" (n. 750). , . . , . _
Por motivos de espaço e de limitações propnas. deste upo de c?mentano. nao é pos-
sível aprofundar cada um desses atributos da Igre~a. Vamos reun1-.lo~ t~os sob o atri-
buto: a Igreja é una. E a partir dessa premissa serao postos em ev1denc1a e em·relação
todos os outros conteúdos referentes à Igreja.

Crdo na sant~\ lgrcj:' c:lullic:\


A pri m ira parte do CCB é uma clara referência à dimens~o trinh ri
nn · 74 -7 9 , poe-se
-
em eva'd cnc
~ ia a ação das trê s Pessoas chvinas n l
l E (· s
comu n1caçao
· - q ue o p a1. ,aez d e sl rnesmo 11or seu Ver lO nn p rno nto
,\l'llt lll \ ' Cllll l i 1 l'Rl lll \\J\ t>fil\ I(
.! l ' '-Rh r,\

·ttll '\llt, 11 .\ 1,, 1.c1·.,,, (n 79). Esse assunto rclorna no arr. 8. "O arti'uo d
prl"Sl'IHC e • • • o • · . . o e fé
s hr, ,, lgrcj<\ depende intcinuncntc dos ?rllgos conccrnc~tcs a Cristo Jesus" (n. 748)
~ ''c.kpcndc tarnbéin intcira1ncnte do a rugo sobre o Espf rito, que ~ pr~ccde" (n. 749)
D c~,'", 111 do 0 CCE r ünc o que é con1un1 nos símbolos dos primeiros séculos d ·
..x ' · d fi - d a
l~rcja: a Igreja passa a fazer parte do Credo nos artigos a pro ssao e fé no Espírito
"':ullo. bcin conto passa a fazer parte do Sf mbolo crer no perdão dos pecados, na res.
surreiçâo da carne e na vida eterna. . , . .
A } lreja das origens descobria no Sf mbolo o ,m•steri~ d~ Tnndade. em função da
vida cristã. Portanto, o Símbolo proclama a sua fe no Pai criador, no Filho salvador e
no Espírito Santo, que dá a vida e que opera principalmente na Igreja e por meio dela.
Quando o Credo nos faz dizer: "Creio na Igreja", não introduz uma quarta proposta
con1plen1entar às três proposições trinitárias. A Igreja é, nesse caso, a primeira obra do
Espírito Santo, cuja presença ativa no coração das pessoas se acabou de professar.
O CCE assume tudo isso e introduz os artigos do "creio na Igreja católica" (nn. 748-
975), "creio no perdão dos pecados" (nn. 976-987), "creio na ressurreição da carne"
(nn. 988-1019) e "creio na vida eterna" (nn. 1020-1065), dentro dos artigos do "creio
no Espírito Santo" (nn. 633-1065). Esses artigos são: o art. 8 (creio no Espírito Santo);
o art. 9 (creio na santa Igreja católica); o art. 10 (creio no perdão dos pecados); o art. 11
(creio na ressurreição da carne) e o art. 12 (creio na vida eterna).
Isso torna necessário compreender adequadamente o significado de "crer na Igre-
ja". Para o fazer mostramos dois modos presentes no CCE. Em primeiro lugar, não
dizemos crer "na" Igreja como dizemos crer "em" Deus, porque se crê somente em
Deus, mas cremos que a Igreja existe por vontade ou desígnio de Deus. Ela tem a sua
origem no mistério do Deus uno e trino, no seu desígnio de salvação para a humani·
dade, chamando-a à comunhão de vida com ele, por mediação do seu Filho e no Espí·
rito Santo. O objeto da fé é Deus, a revelação de Deus que encontramos na Igreja por
meio da fé da Igreja. Consequentemente, a Igreja não é, antes de tudo, objeto, fim ou
conteúdo da fé, mas uma dimensão intrínseca da fé. A Igreja não faz parte da fé como
um objeto qualquer, mas como princípio e órgão de discernimento daquilo em que te·
mos de crer. A importância da Igreja reside na sua participação como mediadora em
Cristo e, portanto, torna-se o caminho para chegar a Deus. O papel da Igreja é ser
mediadora e contexto comunitário da fé. O CCE refere-se a esse primeiro significado
de "Creio na Igreja" quando afirma: "Crer que a Igreja é 'santa' e 'católica' e que é ela
'un~' e 'apo~tólica' (como. ac~escenta º,s.ímbolo Niceno-Constantinopolitano) é ins~
paravel da fe em Deus P?1, Filho e Esp1nto Santo. No Símbolo dos Apóstolos, profe~·
samos crer em uma Igreja Santa (Credo Ecclesiam), e não na Igreja para não confundir
Deus co~ as suas obra~ e para atribuir claramente à bondade de' Deus todos os dons
que ele pos em sua Igreja" (n. 750).
Em segundo lugar, "Creio na Igreja" significa que a Igreja não faz parte do cenrro
d~ fl.: ou que é o seu fim, inas é o lugar e o contexto correto de fé sendo uma con1u-
rnd;~e ~ac_ran1cntal. Assi~ 1nanifesta o fato de ser coniunidade p'rópria da profisslO
d 1c cn sra, como cxprcssao cclcsiást' d fé dt
ser comunid de convkfadíl ou cJ ica e e~i Deus. Exprin1e tan1bém o fato .
munid ad . qu • o uv(_• . )ff> Iam lamL da e co1n11n1dadc que convoca e chan1a. Ou CO
r ·vd ação criM ã é u ·' . r:,.;oª; ~.0;~1 º CSlll~lClecl~lo na Constituição DV. Par rec btf
ou lug r d • r<:v J rão e ,. ei na fgi l'ja ' Isso soh dois ns1lectos· como esr85°
, " "' li <j li a 111 o a f 011 r J' ·a . , I · dj a
, t_. qu · profi · s mos. 1> •11 8, 1 . fo'. ' _ P·lrl "o obj 10 dn fé. É a Igreja que
e · ·• t: ªº n is iao 111t•dia111p ál Igreja. A fé não é uma in~n·
1 · 11. 11 ' ' '1 l \11.l ·_,,_· - - - - - - - - - - - - - - - -- - - -- _ _2_1
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1 pois se recebe e se vive na cornunidade da Igreja. O aspecto eclesial da fé


<5º 1cssoade do sujeito claan1ado a crer na Igreja, mas da revelação divina. Quanto à
njo dc1:cn a anissão da Igreja é a de guardá-la e transmiti-la. Sob esse ponto de vista, a
re\'c~açao~omprecnde na vontade de Deus de se comunicar. A existência da Igreja de-
tgrcdJª ~ctciramente da ação reveladora de Deus. Segundo César lzquierdo, crer na Igreja
Pcn cin dizer encontrar ne ta Jesus C.
nsto. E' recon h ecer que a Igreja é lugar de fé, porque
quer b"'lll ela crente. Assim, somos crentes à medida que se partilha da fé da Igreja.
é ta n1 t: • e• • ,
. como já dissemos anteriormente, ter 1e na Igreja não está no mesmo n1vel que ter
\
~ ·~~~1 Deus, n1as sim uma fé numa relação com Deus dependente dele. A fé na Igreja
k fé na ação de Deus na Igreja. Crer na Igreja, portanto, significa reconhecer a sua re-
~ação essendal com a revelação e a vontade de Deus de se comunicar.
Em certo sentido, a Igreja pode ser chamada de "a grande fiel"; é onde cada fiel se
reúne com os outros numa só fé, que é a fé da Igreja. Da Igreja cada fiel recebe os con-
teúdos e como crer. Ao se apropriar da fé da Igreja, cada fiel se torna Igreja; ele a cons-
trói e contribui para o nascimento de novos crentes. Ao transmitir a revelação, a Igreja
convida os cristãos a fazer própria a sua fé "pela sua mediação", mas também a setor-
nar um só todo "junto com a Igreja e na Igreja". O credo da fé de cada fiel é o credo da
fé da Igreja. A fé da Igreja exprime-se e existe no ato de fé dos que vivem a fé em comu-
nhão com ela. O crente é objeto de fé, na medida em que faz parte da comunhão dos
fiéis, e não separadamente como autônomo em relação a ela. O que foi dito não está
em contradição com a necessária personalização da fé, porque somente em comunhão
com a Igreja é que a personalização da fé é autêntica e madura. De outro modo, seria
subjetivização, mais do que personalização da fé. Crer na Igreja é, em última análise,
crer de maneira eclesial. A Igreja é o âmbito comunitário e sacramental onde a fé cristã
é professada, celebrada e testemunhada.
Esse segundo significado de "crer na Igreja" aparece também no CCE quando, na
primeira parte, explica o significado da'fé: "A fé é um ato pessoal: a resposta livre do
homem à iniciativa de Deus que se revela. Ela não é, porém, um ato isolado. [...] Nin-
guém deu a fé a si mesmo[...]. O crente recebeu a fé de outros, deve transmiti-la a ou-
tros.[.. .] Cada fiel é como um elo na grande corrente dos fiéis. Não posso crer sem ser
carregado pela fé dos outros e, pela minha fé, contribuo para carregar a fé dos outros.
(...]'Eu creio': é também a Igreja, nossa Mãe, q~e responde a Deus com sua fé e que
nos ensina a dizer: 'eu creio', 'nós cremos'. l-:·1 E ~t~s de tudo a Igreja que crê e que,
desta forma carrega alimenta e sustenta minha fe. E antes de tudo a Igreja que, em
toda parte, ~onfessa ~Senhor[...]. A sal~ação v~m exclus~vamente de Deus; mas, por
recebermos a vida de fé por meio da lgr~J.~· ela e nossa mae [...].Por ser nossa mãe, a
Igreja é também a educadora de nossa fe (nn. 166-168).

A Igreja é una, santa, católica e apostólica


No q ue diz respeito à Igreja, fala-se no Sím~ol~ dos apóstolos s.omente da ..santa Igreja
católica" en uanto no Credo Niceno se diz: Cremos na lgr~Ja una. santa, católica e
apostól. , ,, ~ o Concílio de Constantinopla, essas quatro d1n1ensões ou quatro at~
JCa • ~ra _ . 1de sua autenticidade. Nessa n1esn1a direção pr-onunc·
butos da lgreJa sao o sina d' d · · lOU.s
() oncí lio Vaticano li: "Cristo, único me iaidord c~ns~~tu1lu sobre a terra e i .......,.._..._..n.
1 . santa comun a e e ac, e e espcran\a e d kl
l ·m ~nt sus.t cnta ~ s,uª, g~:~i,antc o 'qual difunde para todos a\' nla\i~ e se ' ( 1ª
como o rga ni smo vis vc , n • • ••
1\ l'RU I ISI\ 1>I 1 L 1 l'l~ PI I S\Ao 1>!\ ~ ( < k

---
l)
2 1~ 1 1

Ess.i é a única 1 reja de Cristo, que no Shnl>olo proícssarno~ c:orno una, santa, católica
e a~ st61ica e que 0 no so Salvador, depois da sua ressurrc1çao, deu a Pedro para que
t; sse apascentada (cf. jo 21, 17), confiando a ele e aos outros apóstolos a difusão e guia
dela (cf. ~1t 28, 18 s~.). e constituiu para sempre como coluna e suporte da verdade (cf.
lThl 3, 15). Essa tgrcja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste
na tgrcja cat61i a, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com
ele, cn1bora fora do seu organismo se encontrem muitos elementos de santificação e
de verdade que, pertencendo propriamente por dom de Deus à Igreja de Cristo, levam
à unidade católica" (LG 8).
E nessa n1esn1a linha vai o CCE: "Esses quatro atributos, inseparavelmente liga-
dos entre si [cf. OS 2888], indicam traços essenciais da Igreja e de sua missão. A Igreja
não os tem de si mesma; é Cristo que, pelo Espírito Santo, dá à sua Igreja o ser una,
santa, católica e apostólica, e é também ele que a convida a realizar cada uma dessas
características. Só a fé pode reconhecer que a Igreja recebe estas propriedades de sua
fonte divina. Suas manifestações históricas constituem sinais que falam também com
clareza à razão humana" (nn. 811-812).
Avery Dulles, em relação a esses quatro atributos, enfoca as diferenças no modo de
interpretá-las em função dos diversos modelos eclesiológicos. Para a finalidade do pre-
sente texto, mostramos o sentido que assumem no modelo institucional antes do Vati-
cano II e nos modelos comunitários e sacramentais próprios do Vaticano II. No modelo
·'institucional" da Igreja, ela é vista de modo estático, como uma sociedade que teve al-
guns atributos específicos que foram dados de modo definitivo por Cristo. A instituição
era necessariamente considerada no sentido de que o homem era obrigado a pertencer
a ela, para ter alguma esperança de salvar a sua alma. Consequentemente, era questão
de vida ou de morte para o povo ser capaz de reconhecer a verdadeira Igreja. Os quatro
atributos foram entendidos como notas distintivas de uma sociedade visível. Portanto,
a unidade, por exemplo, era concebida como "a subordinação de todos os crentes a
uma só e única jurisdição espiritual e a um só Magistério". A conotação de catolicidade
é secundária, porque está fortemente vinculada à unidade. Na teoria institucional foi
entendida também como altamente visível e mensurável em termos geográficos e es-
tati sticos. Em relação à unidade, a catolicidade significa que uma Igreja que brota em
todo o mundo deve ter o mesmo credo, o mesmo culto e o mesmo sistema jurfdico. O
enorme desenvolvimento da Igreja e a multidão de seus seguidores foram consid~ra­
dos como un1 motivo particular do seu esplendor, da sua coesão e da sua disdph~·
A L -rcei ra nota, a santidade, foi interpretada como característica da Igreja como soe•~
dád visível. Portanto, não estava ligada principalmente à união interior dos crenl~
U .Jm D -us, mas, antes, com a sua santidade visível. Muitos apologetas desse per~
pr -~ tarn at -nção in primis à sacralidadc dos meios, en1 particular dos que fahant en·
~rt.- ~ s ~d- -rsários. A úhio1a nota, apostolicidade, foi interpretada con10 pertenc nl
1r,st •.tu çao ~ nqu . nto meio d~ salvação. foi dada grande in1portãncia à manu1er
dt.-p<.J.,ll<J ªfjf..1stl,1J1c.o da dournna, dos sacramentos e do n1inistério. Para fins pr 1 :'\
pri0ridrad · fi.1i d d o governo ou ao oficio. Por ofícios se entendia e· -k
J.>úd ·r d· d · 1 rar 4u 1 (•ra a verdad ~ira doutrina e quais os venladelr r n "'
P r ·ss · J,OJ()g ·1 s, posroli idade tinha, poi , o iKnifk.ulo d 1 \K
do P storé . ~ prov ç o doi. p.1 101r1i r vi .. 1a nunn vind., d Ru1n .
. ~o ~nod. · lo ·· C.J1nuuiláliu" da lgu:j , o au ihuto n o • o n•.ais in& r1"
s1 n IS Yl iveas de u1n r. ífi oci ·d.ufo, IH.tlj, Ull·~. º'"º.as l)U UJ
\ IU li l · \ " \ r-; t \ 1\ : Il i 1,\ 1 •\ H ) 1 11 , \ . 219

nmnidadc viva . Conscquc111cmcntc, a Igreja é descrita cm categorias dinâmicas, vita-


lisras e com uma pcrspc~1.iva ~e continuo crcscimenro para a consecução da perfeição.
Desse modo, a sua par11c1paçao nos atributos que a definem será apenas parcial e de
,,ricnla\âO até o fim dos tempos. Os ai ributos são vistos como uma missão a ser cum-
priJ.1 1~or pane de ca~a uma das c~mu~1idades c~istãs, mais do que como propriedade
l'~ lus1v.1 de uma. soc1eda~c. A asp1raçao da Igreja é se tornar plenamente una, santa,
r.ttólica ('apostólica. A urudade a que se faz referência não é a unidade externa de uma
s,xicd._1dc 01_-ganizada; a~1tcs, a unid~de interior da caridade recíproca é que constrói
lllll.l comunidade de an11gos. A santidade não é tanto a santidade de meios de santi-
tic.ição ou uma santidade externa susceptível de ser estatisticamente medida, mas se
refere em primeiro lugar a uma vida santa, uma comunicação interior com Deus que
eleva a comunhão com o pr6~imo. A catolicidade fundamental para essa eclesiologja
não é tanto o fato de ter muitos membros esparsos em diversas latitudes; é, mais, o
dinamisn10 católico de um amor que tudo procura e nada exclui. Essa caridade •ca-
tólica" faz a Igreja se tornar, na terminologia de Bergson, uma "sociedade aberta". A
apostolicidade que conta nessa teologia não é tanto a sucessão legal dos prelados de-
vidamente ordenados; é, antes, a duradoura magnanimidade do Espírito Santo, que
imbuiu a Igreja apostólica desde a origem no dia de Pentecostes.
No terceiro modelo, a Igreja como "sacramento", os quatro atributos tradicionais
são utilizados, às vezes, como critérios fundantes da verdadeira Igreja, mas a perspec-
tiva é muito diferente da perspectiva dos dois modelos anteriores. A categoria opera-
tiva será o sinal sacramental. Cristo é o sinal por excelência do fim redentor de Deus.
A Igreja existe para tornar Cristo realmente presente como sinal do amor redentor de
Deus que se estende a toda a humanidade. Isso implica a existência de uma comuni-
dade que tem certos atributos definidos. Em primeiro lugar, o sinal de Cristo deveria
se estender no tempo, de modo a se tornar definitivo envolvendo tudo, ou, com uma
terminologia mais técnica, deve ser escatológico. Com o objetivo de perpetuar o sinal
de Cristo até o fim dos tempos, a Igreja de cada momento histórico deve permanecer
em evidente continuidade com Cristo e com a Igreja apostólica, ou, em outras pala-
vras, deve ter apostolicidade. Em segundo lugar, o sinal de Cristo deveria se expandir
no espaço para manifestar e tornar atual a vontade salvífica de Deus para com todas as
regiões e para com todas as diversidades culturais e étnicas. Em outros termos, deveria
exprimir a resposta de todos os povos à graça divina. Isso significa que a Igreja deve
ser católica; ou seja, expandir-se por todo o mundo e não soment~ ~undo a -~tura
da Europa ocidental. Como diz 0 Concílio Vaticano II, com referenaa à catohc1dade:
"E_sse caráter de universalidade que adorna e disti,n~e o povo de Deus é dom do ~ró­
pno Senhor. E com ele a Igreja católica, com eficac1a e _sem pausas, ten<I~ a recapan.-
lar toda a humanidade com todos os seus bens, em Cristo, cabeça na unidade do seu
Espírito. Em virtude d~ssa catolicidade, cada uma das panes leva os pró_prios dons às
~utras partes e a toda a Igreja" (LG 13). Enfim, a Igre~a deve se c_aractenzar pela san-
~e; de outro modo não poderia ser um sinal de Cristo. A lgreJa, enquanto ~erft~
~ ~erá jamais ser completamente santa. Todavia, em virtude dos seus pnnc.i
40
<>rrna,s e sob a guia do Espírito Santo a Igreja trabalha constant~me~te ra ~6c~
"'hQrnfm dos seus pecados e para o 1nduzar.' · à conve rsão e à ~natfncaa.
r
A consc nc
lut os membros têm de não serem dignos da sua alta vocação e de conwtd m.
~a cad d' id d erente com naturi r . o
,,.,4 .1,J ª 'ª
é un1 1es1en1unho de sanl a e co u import n-
~a ram<•nr 1, poraanto, as quatro notas ou atrlbut
t\ l'l~Ol I S~AO l>I. l't 1 /\ l'ROl I SI\,\
220 . o"" r. (1
~
. _ odeio con1unitário. Devem ser as qualidades visíveis da 1 .
eia cn1 rclaçao 1ªº n1 contrariarnente, a Igreja não será um sacramento de Crisgtre1a na
sua forma atua , ou, . · r . b d h o, urn
_ . í 1da sua graça inv1sfve 1 que trtunaa so re o peca o umano e b a
e.xpressao vis vc . d 1 • • • so re a
. - A · 'bi'lidadc é necessárta, como no mo e o 1nst1tuc1onal, mas é p .
ahenaçao. v1s1 . . d - • reciso
ressaltar urna diferença significativ~. O pnme1ro ímol de 1o propío~ uma visibilidade ma .
.,
n11esta aos o lhos de todos • n1ensuravel e suscept
_ ve , .e estat st1cas,
. e pode ser ex po.
1
rado de ntodo racional numa argumentaçao apologeuca. O terceiro modelo, todavia
propõe unt rnodelo especia~ de ~isi~il!dade adequada para um sacramento, vale dizer:
a expressão física de um m1sténo d1v1no. .
Quando 0 CCE fala dos atributos, põe em evidência neles quer a dimensão do dom
e da realidade para a qual a Igreja tende, quer a sua dimensão de concreta realidade his.
tórica nos modelos que, segundo o modo de entender de Dulles, são o modelo de co.
n1unhão e o modelo sacramental. Um claro exemplo é o modo como o CCE se refere à
santidade da Igreja: '"Já na terra a Igreja está ornada de verdadeira santidade, embora
imperfeita.' Em seus membros, a santidade perfeita ainda é algo a adquirir" (n. 825). O
CCE põe, assim, em evidência que a Igreja é, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual
e visível: "A Igreja está na história, mas, ao mesmo tempo, a transcende" (n. 770).

A IGREJA É UNA

O Vaticano II não fala apenas de unidade. No Decreto sobre o ecumenismo usa os ter-
mos "unidade e unicidade da Igreja" (UR 2). Desse modo, afirma-se que Cristo fundou
uma só Igreja e que a queria perfeitamente unida. O plano divino de unidade manifes-
tou-se nas ações de Cristo durante a sua vida terrena e atingiu o seu ápice depois da
glorificação de jesus, com a vinda do Espírito Santo, princípio divino de unidade daqu~·
les que creem em Cristo. A unidade é uma conotação específica da Igreja de Cristo. "E,
ponanto, da própria essência da Igreja" (CCE n. 813). Como disse o Papa joão Paulo 11.
"De fato, essa unidade dada pelo Espírito Santo não consiste simplesmente numa con-
fluência de pessoas que se somam umas às outras. É uma unidade constituída por vín-
culos da profissão de fé, dos sacramentos e da comunhão hierárquica. Os fiéis são ~a
só coisa, porque, no Espírito, eles estão na comunhão do Filho e, nele, na sua comunhao
com o Pai: 'A nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho jesus Cristo' (ljo l,~)­
Portanto, para a Igreja católica, a comunhão dos cristãos não é senão a manifestaçao
nele~ da gra~a por meio da qual Deus os torna partícipes da sua própria comunh~O,
que e~ su~ ~1~a e,t erna. _As palavras de Cristo 'que todos sejam uma só coisa' são, Po15•
ª oraçao d1n~1da ao Pai para que o seu desígnio se realize plenamente, de modo que
respla ndeça aos olhos de todos como a realização do mistério mantido oculto desde
sempre nele.' o Criador do universo' (Ef 3,9). Crer em Cristo significa querer a unida~e;
· 'fiica querer a Igreja;
querer a una d ª d e sign1 · querer a Igreja significa querer a con1un hãO
~<: graç~ que co~resp?nde ao desígnio do Pai desde toda eternidade. Eis o significada
ª oraç 4 ? d _Cn sto: Ut unum sint'" (UUS 10) .
.. _ D dcu a~ao ~ ·ssalta? csrrurura trinitária da unidade na Igreja. O CCE aprofu~
agr o mi tl:n o d a urndad da Jg · " ~ · · •A 1$ 0

ja {: una r ~u 3· ~ .•. , reja nessa pcrspect ava claran1cntc t rinitán~•· pa


1
Trind d. d J>(: o ntc:J; ~> ~?<lélo s uprc n10 e o princípio d est e 111istério ~ a unid ~
11

d dor ': 'd. c~ to s >1;·1'1 aa . hlho no E pfrilo s, mo' (Ull 2) . A ll'h~J·a un.t .,,,,r s u fUW
a O l àO C: ll UI llado Í ) · o (Olll
D · us, 1<: mi ·l · ·nd< • ._ • · · · por "·' ru z n.• rouclliou rodos os ho1nenj .&
' ª un1ao '• · lo dos· •11l uan She. p wo e Pan una ó n1rpo' (GS... 78•3)· "
221

Igreja é un~ 'por s~a alnla': 'o ~spfrito Santo que habita nos crentes, que plcnifica e rege
tod a a Igreja, realiza .esta .admirável
. comunhão dos fiéis e os u ne t-ao intimamente
· · em
Cristo, que ele é o pnndpto da unidade da Igreja.' (UR 2)" (CCE n. BIJ)

1\ lgrt•jc1 J "una,, por sua origem


A eclesiologia trinitária do CCE assun1e a categoria de "mistério" do Vaticano li como
referên~ia ~uc guia a sua r~flexão: "Para investigar o mistério da Igreja, convé~ me-
ditar pnme1ro sobre sua ongem no desígnio da Santíssima Trindade e sobre sua reali-
z.i ~o ~rogres~iva no curs~ da hist~~.ia" (n. 758). E afirma, a seguir, que a Igreja é "um
deslgmo nascido no coraçao do Pa1 . Desde o prólogo, o CCE assume essa estrutura
de mistério trinitário da Igreja. O texto começa contemplando Deus na eternidade,
s zando de perfeição e de felicidade infinitas. Ao Pai são atribuídas todas as ações
a favor dos seres humanos. O Pai as realiza "por mediação do Filho [...] no Espírito
Santo". Por isso, proclama desde o início: "O Símbolo da fé resume os dons que Deus.
como Autor de todo bem, como Redentor, como Santificador, outorga ao homem, e os
articula em torno dos 'três capítulos' de nosso Batismo - a fé em um só Deus: o Pai
Todo-Poderoso, o Criador; Jesus Cristo, seu Filho, nosso Senhor e Salvador, e Espírito
Santo, na Santa Igreja" (n. 14).
Na seção dedicada a Deus Pai, o CCE confirma que Deus é a fonte e a origem de
tudo, também da Igreja, uma vez que os artigos da Igreja dependem dos artigos sobre
Deus Pai. Deus é o início e o fim de tudo. "'Creio em Deus': esta primeira afirmação
da profissão de fé é também a mais fundamental. [...] Os artigos do Credo dependem
todos do primeiro[...]. Os demais artigos nos fazem conhecer melhor a Deus tal como
se revelou progressivamente aos homens" (n. 199).
No que se refere à Igreja, ao abordar a origem, a fundação e a sua missão, o CCE
afirma que ela é um plano presente no coração de Deus desde a origem dos tempos,
presente no seu coração antes da criação do mundo. Como diz Bruno Forte, "as origens
da Igreja estão ocultas na profundidade do mistério de Deus. A Igreja é do Pai, amada
desde a origem dos tempos. Sempre existiu no coração de Deus. Se a Igreja é a esposa
de Cristo jesus, está preparada para ele desde antes da criação do mundo (Ef 1.3-6). A
Igreja é do Pai; amada por ele desde toda a eternidade em virtude do seu amor, existe
no seu coração como comunidade de salvação. A Igreja querida pelo Pai é, portanto.
obra do Filho (obra da Palavra de Deus), animada pelo Es~í~it~ ~anto: é, realment~• . ª
obra da Trindade". A Igreja não é iniciativa hu~an~, mas a 1n1c1auv~ de Deus. _Uma uu-
ciat iva que m antém relação profunda com a cnaçao de todas as coisas e a cnação dos
seres humanos (CCE n. 759). Desde os pri~eiro.s .tem~os, ª. ~ontade de Deus é a de
elevar os seres humanos à participação da vida d.1V1n~: A gloria de Deus ~ste em
qu ~se reali zem esta manifestação e esta comumcaçao de sua bondade, em vas das
quais o mundo foi criado. 'Ele nos predestinou à adoção como filhos. por obra J s
Crislo, para o louvor de sua graça gloriosa' (Ef I.5-6) [...]" (n. 294).
É da vontade de De us salvar os seres humanos convoca~do ~nl p<>\'O. Os
en·sto, d e os q uJ·s convocar na santa JgreJ·a (n · 759) · A Igreja
. existe por
. ~-
tad . divina como in 1rumcnto d e salvação para a humanrdad int a
Cristo e com C ri sto. A Igreja deve ser entendida na sm:\ nauarez.a fnlin
rnanifi ·sl ção da vomadc salvffica universal de Deu · A lgaeja Unl UC':IWl
' 0 d o P 1.
rã · E' uma von1 de que se r a li za e e foz Jlll'Sl'llh.ª UJ hi l
2 22 1\ l' l~ Ol l ~~A o f ) f; H 1 A l 'KOrt 'iSAo l>A 1 f. .-
. ' · ll tv1A

'"Todos os que creen1 en1 Cristo, o Pai quis chamá-los a formarem a santa Igreja'. E
'família de Deus' se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da hist~~a
hun1ana, segundo as disposições do Pai: ·~csd~ a origem do mundo a Igreja foi prefig:
rada. Foi adn1iravchnente preparad~ na h~stóna do povo d: Israel e n? antiga aliança.
Foi fundada nos últin1os ten1pos. Foi mamfestada pela efusao do Espírito. E no fim dos
teanpos será gloriosa111ente consumada' (LG 2)." (n. 759).
O CCE, nos subtítulos, dá a entender o que é chamado de "realização progressiva
(da lgreja] no curso da história": "A Igreja - um projeto nascido no coração do Pai"·
"A Igreja - prefigurada desde a origem do mundo"; "A Igreja - preparada na anti~
aliança"; "A Igreja - instituída por Cristo jesus; "A Igreja - manifestada pelo Espí-
rito Santo"; e "A Igreja - Consumada na glória" (nn. 751-769).
Na parte dedicada ao "crer no Espírito Santo", retoma a progressiva realização da
Igreja nos séculos. E o faz pondo em evidência a pessoa divina do Espírito Santo, que
age e se manifesta em toda a história da salvação em três grandes momentos: "O Espí-
rito e a Palavra de Deus no tempo das promessas" (nn. 702-716), "O Espírito de Cristo
na plenitude do tempo" (nn. 717-730) e "O Espírito e a Igreja nos últimos tempos"
(nn. 731-741).
O CCE fala de uma preparação remota da reunião do povo de Deus, que começa
com a vocação de Abraão e a preparação imediata com a eleição de Israel como povo de
Deus e com o anúncio de uma aliança nova e eterna (n. 762). Desse modo, afirma-se
que a Igreja pode ser compreendida somente em íntima relação com Israel e com a pri-
meira ou antiga aliança. Para exprimir essa relação, a reflexão teológica recorre a três
categorias: a continuidade, a complementariedade e a novidade entre a Igreja e Israel.
Com respeito à continuidade, evidencia-se a condição do ser "povo de Deus" (n. 781).
Na atual reflexão teológica, a consideração da Igreja como povo de Deus é característica
relevante, complementar a outras, como "Corpo de Cristo" e "sacramento de salvação".
Segundo Antonio María Calero, a categoria "povo de Deus" é central e fundante para
a eclesiologia do Vaticano II, porque joga luz sobre as seguintes dimensões da vida da
Igreja; a dimensão histórica da Igreja, a categoria bíblica da aliança, a continuidade e
descontinuidade da Igreja em relação a Israel, a relação entre batizados dentro da comu-
nidade eclesial, a fundamental igualdade e a dignidade de todos eles como batizados.
a distinção entre Igreja e Reino de Deus, a natureza escatológica da Igreja e um modo
novo de compreender a relação entre a Igreja e o mundo.
O CCE não é estranho a esse assunto. Como já foi dito, a categoria povo de Deus
é fundamental, dado como o CCE apresenta a Igreja. Cita o Concílio, em par~icu~ar:
LG 9: "Em todo tempo e em toda nação, quem quer que o tema e pratique a JUStl~
acolhido por ele (cf. At 10,35). Todavia, Deus quis santificar e salvar os homens nao
individualmente e sem nenhuma ligação entre eles, mas quis fazer deles um povo. que
o reconhecesse segundo a verdade e que o servisse na santidade. Escolheu, pois. para
si o povo israelita, estabeleceu com ele uma aliança e o forn1ou lentamente, m.a~
tando na sua história a si mesmo e os seus desígnios e o santificando para SJ. . i
isso, porém, ocorreu em preparação e como figura da nova e perfeita aliança a ser fe•~
e m Cri sto, bem como da mais completa revelação a ser realizada por n1eio do própt
Ver bo de De us que se fez hon1em". "
Exprf'.ssão dessa continuidade é o uso das in1agens para falar de Israel como pO~~
de Dt us da a miga aliança e da Igreja con10 povo de Deus na nova aliança. 6ntre '' ~l
ta s, o utiliza as se8uimcs imagens: o redH, o rebanho, n herdade ou ca1npo de DtUS.
223

edifício de Deus, casa de Deus, família de Deus, templo santo (nn. 753-757). Todavia
a continuidade mostrada, .baseada nessas imagens, dá destaque, além disso, a uma no-
vidade: "Na Sagrada Escritura, encontramos grande quantidade de imagens e figuras
interligadas, pelas quais a Revelação fala do mistério inesgotável da Igreja. As ima-
gens encontradas no Antigo Testamento constituem variações de uma ideia de fundo,
a de 'povo de Deus'. No Novo Testamento (cf. Ef 1,22; CI 1,18), todas essas imagens
encontram novo centro pelo fato de Cristo tornar-se a 'Cabeça' deste povo, (cf. LG 9)
que é, então, seu corpo. Em torno deste centro, agruparam-se imagens 'tiradas ou da
vida pastoril ou da vida dos campos, ou do trabalho de construção ou da família e do
casamento' (LG 6)" (n. 753).
O CCE mostra também a novidade na continuidade da Igreja como povo de Deus,
quando faz notar algumas características próprias da Igreja povo de Deus, pondo-as
em evidência com fonte itálica: "A pessoa torna-se 'membro' deste povo não pelo nas-
cimento físico, mas pelo 'nascimento do alto', 'da água e do Espírito' Oo 3,3-5), isto é,
pela fé em Cristo e pelo batismo. Este povo tem por 'chefe' [cabeça] Jesus Cristo [un-
gido, Messias], porque, da mesma Unção, o Espírito Santo, ele flui da Cabeça para o
corpo, este é o 'povo messiânico'. A condição deste povo é a dignidade da liberdade dos
filhos de Deus: nos corações deles, como em um templo, reside o Espírito Santo (LG 9).
'Sua lei é o mandamento novo de amar como Cristo mesmo nos amou' (cf. jo 13,34).
É a lei 'nova' do Espírito Santo (Rm 8,2; Gl 5,25). Sua missão é ser o sal da terra e a
luz do mundo (cf. Mt 5,13-16). 'Ele constitui para todo o gênero humano a mais forte
semente de unidade, esperança e salvação' (LG 9). Sua meta é 'o Reino de Deus, ini-
ciado na terra por Deus mesmo, reino a ser estendido mais e mais, até que, no fim dos
tempos, seja consumado pelo próprio Deus' (LG 9)" (n. 782). A novidade fundamental
é dada pelo acontecimento de Cristo e pela fé da Igreja nele como Messias, Salvador
e Filho de Deus (nn. 422-682). A complementariedade se explica mediante o íntimo
vínculo entre as duas alianças e o significado religioso de Israel (nn. 839-840).

A Igreja é "una" por seu fundador


Ao abordar a questão, o CCE utiliza diversas expressões: "Cristo fundou a Igreja..; ..A
Igreja instituída por jesus Cristo"; "O Senhor jesus deu início à sua Igreja" e "A Igreja
nasceu principalmente do dom total de Cristo". Desse modo, afirma-se que a Igreja é
o~ra de Jesus Cristo, o Verbo feito carne; ou seja, como já dito antes, que é obra tam-
bem do Pai e do Espírito Santo. A sua origem trinitária apresenta-se ao descrever a
economia da salvação. Resumindo, o CCE mostra, de diversas formas e com diversi-
dade d~ palavras, que a Igreja é obra da Trirydade: é a vontade do Pai, realizada por je-
sus Cnsto, com a força do Espírito Santo. E o resultado de um projeto e da iniciati
do Pai e das missões do Filho e do Espírito Santo. É essa a abordagem do Vaticano li
na esLeira da Ecclesin de Trinitnte, de Cipriano (cf. LG 2-4). '
Como enLender, então, que a Igreja é instituída ou fundada por Jesus Cristo? A
esse propósito, pronuncia-se Antonio Maria Calero: "Pode-se, portanto. afirmar que
Jesus fundou a Igreja, mas esclarecendo e especificando corrctnn\ente essa expressão,
no sentido de que o que é feito por Jesus é feito, de '"'' hldo, segundo o plano eterno
do l> 1, para salvar 1ocla a humanidade mediante um instnunento que existia antes de
~ri >, graç.a s à rcalidad · e à insthulção ela amiga all~n\.a; .alén\. d.isso. se desenvolve
u te a vida 1crr ·na cl • Cristo, graças à sua mt'diaçao untca e tntgualável: e, depois
l 'll l ll l\l>AO () 1, 1 r 1 /\ l ' ll lll 1 ~ \Ao , ,,.., 1 t
------...:......:.~..'..'._
, ~t.111.1 ·., A

de Crisco, ~desenvolvida pelo povo da nova e definitiva aliança. E1n outro sentido
sus institui a Igreja, conscruindo ~s fundnrncntos: a c~nsthuição de um grupo ao ·~:­
confiou a rnissão que ele rnesrno t 1nha recebido do Pai e ao qual confere os elemeq 1
nC'C~ssários par..1 que a salvação, por sun mediação, não caia no vazio [...] . Portan~tos
rcsposra ;.\pergunta feita .antes r~ão só vai al~m de urna visão co~ple~amente isola~~~
nisca da Igreja corno rcahdade ligada exclusivamente ao Jesus histórico, mas impli
cons~ucntcnlcntc, a presença e a açao
- d as tres pessoas dº1v1nas.
A . A re Jação da lgre·
ca,
con1 a pessoa uc •J Cnsro
• é muito
· n1a1s
· pormenonza · d a h OJe
· em d 1a
· e se encontra numJa
perspc.."'Cl ivd rcologican1ente muito mais rica (a Trindade) e historicamente muito mai:
dinâ111ica con10 urna realidade que se constitui gradualmente até atingir o seu cum-
pritncnto histórico a partir de Pentecostes".
A Con1issão Teológica Internacional (1985), na mesma Linha do Vaticano 11, rela-
ciona deste modo o processo de fundação da Igreja: (a) as promessas veterotestamen-
t árias referentes ao povo de Deus; (b) o amplo convite dirigido a todos os homens por
parte de Jesus para se converterem e crerem nele; (c) o chamado e a instituição dos
doze; (d) a imposição do nome a Simão Pedro; (e) a rejeição de Jesus por parte de Israel
e a distância entre o povo hebraico e os discípulos de Jesus; (f) a instituição da ceia e a
paixão e morte; (g) a ressurreição; (h) o envio do Espírito Santo em Pentecostes; (i) a
mfasão dos discípulos em meio aos pagãos; 0) a definitiva ruptura entre o "verdadeiro
Israel" e o judaísmo. Como conclusão, afirma-se que "nenhuma dessas etapas, toma-
das isoladamente, pode constituir o todo, mas, unidas todas entre si, mostram com
evidência que a fundação da Igreja deve ser entendida como um processo histórico, ou
seja, como o futuro da Igreja dentro da história da revelação. Nesse mesmo desenvol-
vimento constitui-se a estrutura fundamental permanente e definitiva da Igreja".
Salvador Pié-Ninot conclui a esse propósito: "Fundação, origem e fundamento são
os três termos específicos e complementares sobre a compreensão da Igreja radicada
em Jesus cm chave sacramental: (a) a fundação da Igreja por Jesus se manifesta na
eclesiologia implícita e processual que atesta que, mesmo antes da Páscoa, Jesus ini-
ciou um movimento de restauração de todo o povo de Deus; (b) a origem da Igreja está
em Jesus, porque, depois da Páscoa, o movimento iniciado durante o seu ministério
foi reconstruído e ampliado com vigor; (c) os fundamentos da Igreja encontram-se em
Jesus Cristo, pois ele age e está ainda presente na Palavra de Deus, nos sacramentos,
na comunidade eclesial e na vida dos crentes".
O que foi clito é importante na estrutura do CCE. Embora seja verdade que ded~ca
um só número à Igreja instituída por Jesus Cristo (n. 763), ele deveria ser lido e _i~­
terpretado à luz do segundo ponto do art. 9 (,..Origem, fundação e missão da Igreja '
nn. 758-769). E, melhor ainda, à luz de toda a segunda seção do CCE. Em ambos os
casos, o CCE fala da origem da Igreja e da sua fundação no contexto da história da ~l­
vação e das suas diversas fases . Com esse objetivo, é suficiente lembrar uma declaraçao
- princípio teológico e estrutural do CCE: "o Concílio mostra que o artigo de fé sobre
a Igreja depende inteiramente dos artigos concernentes a Cristo jesus" (n. 748).

J\ Igreja é "una" por sua alma: o Espírito Santo


"A Igreja é o tempJo do Espírito Santo"; é esse um dos títulos que dá o C~E à lgre~~~
''O J:.spíri Lo 1:. con10 a alma do corpo místico, princípio da sua vida, da unidade na, .•
vers idadt: e da riqueza dos seus dons e carismas" (n. 809). Na sua concepção crinit ra
• \' \ 1," 1•\ 1\ : IU 1 \ ' . •\ 1' 1 h •\ •
~l "' N · - - -- -----------------------2~2~5
1 rcj·l é claro no CCE que "o artigo sobre a Igreja d d
,f.l tti~~ sobre o Espf rito, que o precede. 'Com efeito e~e~ e também inteiramente
'!' 'rito Santo é . ,_ fonte e o doador de toda santidade , p fi s termos mostrado que o
t:s1:'n dotou a Igreja de Santidade'. Segundo a exprcssã~º~ cs~admos agora ~ue foi Ele
qlll' 11 . ' sce o Espfrito"' (n. 749) os a rcs, a Igreja é o lugar
, ,nd' OI C •
' ú tão evidente essa depend~ncia que o fim do terceiro capítulo do CCE ("C .
110 Espírit~ S~nto") fala da. lgre1a do ~spfrito Santo, ao ressaltar a promessa de 1::~~
.l, s seus d~sc~pu!csi~ envt~ oEEspf~ito Santo no dia de Pentecostes. "A partir dessa
Hora~ a m1ssao _e nsto e 0 ~pinto passa a ser a missão da Igreja" (n. 730). "Por
sua vtn?ª· que _nao_ cessa, ~ Espírito ~anto faz o mundo nos 'últimos tempos', o tempo
da tgre1a, o Reino Já recebido, mas ainda não consumado" (n. 732). Assim se "a mis-
são de Cristo e?º Espí_rito Santo re~l_iza-se na Igreja" (n. 737), "a missão d~ Igreja não
é acrescentada a de Cristo e do Espirito Santo, senão que é seu sacramento: com todo
o seu ser e com todos os seus membros, a Igreja é enviada a anunciar e testemunhar.
atualizar e difundir o mistério da comunhão da Santíssima Trindade" (n. 738). É pre-
cisamente disso, segundo o CCE, que trata todo o art. 9.
O cardeal W. Kasper, num dos seus últimos escritos, aprofunda as características
fundamentais de uma eclesiologia de comunhão ou as características de uma eclesio-
logia católica. Um desses escritos é dedicado à Igreja como templo do Espírito Santo e
outro à Igreja como sacramento do Espírito Santo. Consequentemente, como indicado
no Símbolo, a eclesiologia·se enquadra no contexto da pneumatologia, a doutrina so-
bre o Espírito Santo. Segundo o testemunho dos Atos dos Apóstolos, a Igreja, no dia
de Pentecostes, aparece pela primeira vez em público como obra do Espírito Santo.
O resto do caminho da Igreja foi percorrido à luz e sob a guia do Espírito Santo. Para
explicar a relação entre Espírito e Igreja, o CCE chama a atenção para uma frase de
Ireneu de Lyon: "lá onde está a Igreja, ali também está o Espírito de Deus, e lá onde
está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda graça" (n. 797).
Dissemos que é difícil demonstrar a fundação explícita da Igreja com relação aje-
sus, mas pode-se dar, como faz o CCE, uma importância especial ao acontecimento de
Pentecostes na primeira manifestação pública da Igreja: '"Terminada a obra que o Pai
havia confiado ao Filho para realizar na terra, no dia de Pentecostes o Espírito Santo
foi enviado 'para santificar continuamente a Igreja' (LG 2). Foi então que 'a Igreja se
manifestou publicamente diante da multidão e começou a difusão do Evangelho com
a pregação' (AG 4)" (n. 767). "A partir dessa Hora, a missão de Cristo e do Espirito
P~ssa a ser a missão da Igreja" (n. 730). A esse propósito pronuncia-~e o cardeal Ka~.
dizendo que "a Igreja é, por sua origem, obra de j~s~s e seu cumpr~mento no .B~~to
Santo. Nasceu quando os discípulos de jesus dec1d~ran1, no Espinto Santo. U~ICaar
congregação escatológica de todas as nações, anun~1ando a morte e a r~~sur .
J·sus e o envio do Espírito Santo, reevocando esse u~i~o even.to no Espanto med1ant
pr<:gação e a celebração dos sacramentos". Isso justifica, mais .uma z. s v
d0 rd ·al Ka sp r, ent ender a Igreja como sacramento do E~p(nto. Confir
1 ·I . Ç o m diação do Espfrito Santo que se consegue atuahz~~r ~ CNl\prtt f •
lg,r ·Ja hoj 01110 a Igreja de j esu s, presente de mod~ re .ll e e · 1stc~ld· l na comunn.uil'IÇ
Ob r ·nl 'b. A Igreja d ·vc ser e ntendida pela sua nussão: "'A l~r J 1 rin • por su
nalur ·za, l: mi siouária"' (cf. nn . 849 -856). ,. . .
E rc: mete 111 mória da fé todas as rk)l,l('zas d,, l~scruura, dos Pl dres d: ~~Ja,
d M a •i l ·rio • d te logia do Esp(rito Santo. E omum a '°'las ssas fontes dangar·se
/, /\1'11.lWfo,,SAO IJl: l í. j /\ l'K.Of
~~
22 ~·~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~--.:......:...:...:...:.::::~·l~S~SAo uA n
~
írito Santo con10 ahna da Igreja. Ser alma significa que ele é aqueJ
aO Esp . 1 . I l' e que r,._
trói conserva, vivifica, faz crescer e guia a grcJa. sso exp 1ca por que 0 CCE ""Vl15•
unl~ persiJectiva trinit~ria da missão e da.natureza missionária da lgre1·a. Em as~gu,~
lugar fJela sua origen1: "O man dato m1ss1on · · áno · do Sen hor tem a sua fonte úlPrime·
. iro
31110
'r eterno da santfss1111a
· · Tran· dade: 'A l greJa· peregrina
· · é , por sua natureza . .no
tuna
· · d a m) 1·ssafio
nária, pois ela se on~:na - d ~IF'lh d · - d E l · 'rnissro.
"~ o de a r:n1~sao _ oé sp rito Santo, segundoo
desígnio do Deus Pai (AG 2 . 0 m u tamo a m1ssao nao outro senão faze
rnens participarem d a comun h ao - que existe. r os ho.
entre o Pai. e o P'i lho em seu Espfr·
an1or" (n. 850). ~m terceiro . 1ugar, pe1os. motivos
. da mtssao:
. - "O amor de Deus por no dt
todos
os hon1ens [.. .]. Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
dade' (1Tn1 2,4)" (n. 851). E, em quarto lugar, pelos caminhos da missão: '"O Esp:
Santo é o protagonista de toda a missão eclesial' (Redemptoris missio 21). É ele que COn-
duz a Igreja pelos caminhos da missão. 'Esta missão, no decurso da história, continua
e desdobra a missão do próprio Cristo, enviado a evangelizar os pobres. Eis por que a
Igreja, impelida pelo Espírito de Cristo, deve trilhar a mesma estrada de Cristo, isroé,
os caminhos da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação de si até a mone, da
qual Ele saiu vencedor por sua ressurreição' (AG 5)" (n. 852).
A esta altura, é claro que, para o CCE, a vida trinitária de Deus é a fonte e a origem
da missão da Igreja. É um dado de fato nas Escrituras, em particular no Evangelho de
João. Para o evangelista João a missão é o resultado da iniciativa do Pai pela media-
ção de Cristo e a ação do Espírito Santo Oo 16,7; 16,13-15; 14,25-26). Às perguntas: de
onde se iniciou a missão da Igreja? Qual é a sua única verdadeira fonte? Antonio Maria
Calero responde: "Tendo presente que a missão da Igreja é a continuação da missão de
Cristo na história e que a missão de Cristo é recebida do Pai e é levada adiante pelos
séculos com a força do Espírito Santo (Lc 4, 14), é necessário responder às questões
levantadas que a Trindade toda é que está na origem da missão da Igreja". Portanto,ª
missão da Igreja não deve ser entendida como um acréscimo à missão de Cristo e do
Espírito Santo, mas é seu sacramento. A Igreja, "com todo o seu ser e com tod~s ~s
seus membros, [...] é enviada a anunciar e testemunhar, atualizar e difundir o IDJste-
rio da comunhão da Santíssima Trindade" (n. 738).

A Igreja é "una" na diversidade


"Contudo, desde a origem, esta Igreja una se apresenta com grande dive~si~a~e, ª ~
provém, ao mesmo tempo, da variedade dos dons de Deus e da mulupl~c1da?eades
pessoas que os recebem. Na unidade do Povo de Deus congregam-se as d1versad
dos povos e das culturas. Entre os membros da Igreja existe uma diversidade de.~ons.
de encargos, de condições, de modos de vida; 'na comunhão eclesiástica há, Je~aum;
mente, Igrejas particulares gozando de tradições próprias' (LG 13). A grande nqued~
desta diversidade não se opõe à unidade da Igreja. No entanto, o pecado e 0 ~:,O
suas consequências ameaçam, sem cessar, o dom da unidade" (n. 814). Esse nusenta
d? CCE pode ser definido como uma ótima síntese, uma vez que reúne e apre g.
d iversos e lcmentos d a essencia ~ · da lgre1a - d o n.-.esn10
· presentes en1 outras seçoes _ do va-
arr.
r~o pa no d e fundo dessa visão do ser e da n1issão da Igreja, h á unia concepçao___,à1"1-
11r e1no l1 nu · d . $' .J eXlnlOI'"
- 1 e: compreen e a lgrc1a con10 mistério reafirn1ada pelo 1ncxao · 1• -i.:l"
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, , :-, 11, 11 .1U I \ 1\1\l ll \ t\ "
'\ "' ''' ,,' . 227
. \ •·• revelação do 1nistério de Deus e do seu dcsf gn10
t •rl'J·
· para sal ·
~ ·s l C) todo os hon1cns no decurso da história até 0 fi d var, cm Cnsto e por
"· · •m os tempos A f · é
tx1n o lugar cm que esse d~sfgnio de salvação se consuma se d . . ~rCJª. ta~-
d.• s.•lv.lçáo de Deus c1n Cnsto. °
' n rcalazaçao histórica
A natureza trinitária "
do mistério da lgreJ'a deve ser e t d'd d d .
d' · n en 1 a e ois modos· (a) a
IMl'j.1 é obra d as tres pessoas 1v1nas; (b) a lgre1 ·a é uma man
V 1. ó . d . , . d ies t açao,
1·c. - uma epifania
. · . a
l
lrc cnça na 11st . na eo m1steno e Deus Uno e Trino A respe't
A • •
d . .
1 o o pnmeuo aspecto
'
fizeram-se munas1 re1erenc1as · é h ao longo deste .comentário . do CCE · 5 o b re o segundo,
ª
rc~s~ltc.-sc que gr~Jª c amada a ser na h1st6na manifestação visível do mistério
mnuáno. C~nvém dizer, antes, de tudo, que, como a Trindade é comunhão de vida e
de. amor,
. . assim deve . ser tambem a Igre1·a · Portanto, tudo na IgreJ·a - as pessoas, os
m1mstén~s, os carismas, as estruturas em todos os níveis (Igreja universal e local), na
sua rclaçao com o mundo e na sua relação com os não crentes e com os outros cren-
~cs - deveria ser r~conhecido no seu caráter de comunhão, de diálogo e de serviço,
a sem~ll~ança da !n~dade . Bru?o Forte afirma a esse propósito: "Fica entendido que
a l~re1a ~ ~o~n~1m110, 1cone ~a T~1ndade, estruturada à imagem e semelhança da comu-
nhao tnmtana: una na d1vers1dade das pessoas, numa relação de troca fecunda. A
Igreja, estruturada como ícone da Trindade: deverá ficar longe quer de uma uniformi-
dade que esmaga e leva à morte a riqueza e a originalidade dos dons do Espírito, quer
de qualquer contraposição massacrante. A Igreja é comunhão articulada de carismas
e de ministérios na unidade local e na comunhão católica das Igrejas particulares na
unidade da Igreja universal, a qual está presente nelas e vive nelas, reunidas em torno
do bispo de Roma, que preside no amor".
Diversos números do CCE contidos no art. 9 devem ser lidos na perspectiva de o
ícone da Trindade ser unidade na diversidade, comunhão e participação: a Igreja é "um
povo sacerdotal, profético e régio" (nn. 783-786), "toda Igreja particular é 'católica'"
(nn. 832-835), "a Igreja - Corpo de Cristo", com diversidade de membros (nn. 787-
795) e "a Igreja é apostólica" (nn. 857-865). Os primeiros números lembram a comum
dignidade de todos os batizados em Cristo, o sacerdócio comum dos fiéis. Para Bruno
Forte e outros, o Vaticano II supera assim a concepção clerical (ou hierárquica) da con-
cepção da Igreja, que vê a realidade eclesial articulada na separação de dois tipos de
cristãos (clero e leigos), um ativo e o outro, passivo. Com esse modo de falar, o Vatica-
no 11 descreve a unidade de batismo do povo de Deus, rica de carismas e de vários mi-
ni stérios, como base que antecede qualquer articulação particular.
Com relação ao segundo, seria possível citar o que refere o CCE a esse propósito:
"A unidade do corpo não acaba com a diversidade d~s membr?~: 'Na ed.ificação ?º
corpo de Cristo há diversidade de membros e de funçoes. Um so e o Espínto que dis-
tribui dons va ri~dos para 0 bem da Igreja, segundo suas riquezas e as necessidades dos
ministérios"' (n. 791) .
O n. 9, que segue 0 Sfmbolo dos apóstolos e no ~uai se faz .profi.ssão da apostolic!-
th1<l <la Igreja, põe cm evidência 0 ministério apostólico na Igreja e, mtcrn~n1ente, eva-
d<·n i, o papa os bispos como sucessores dos ~póstol~s. O CC~ dá especial atenção à
u111<la<l • 11 diversidade e à compreensão das lgre1as paruc.ularcs: Devei.nos,."º entanto.
1 ·v 11 M C<>n c·h ·r a lgrcj. universal como sendo o somatório, o~a, por assun < hzcr, \ fed -
' ·,t\· '>, cl.- l ~~n·ja s pan iClalarcs. A Igreja é universal por vocaçao e por m isslo; 10 l.\nçar
1

·, 1J .1'l 1.Jb,t·'> na v. rit·dad(• dos t(•rrcnos cuhurais, socl.1is e humanos, S\' l"\'\'\'Sl\'. "''" eula
p.H 11· d<> 1111 11 1do, d(.· ah p e aos ,. dt• ,•x pn·ssíw s ox h•ri<U l'S dlVl' l'S.\s" ( n . N.\ S).
.\ PR('lf l ~,.\O O E f[ 1 ;\ l'Rll f 1 l
228 ~s 'l' n, 'e
~
Salvador Pié-Ninot enfatiza que o Concílio Vaticano 11 tratou de modo es .
realidade das Igrejas particulares, e fornece uma adequada compreensão d 1 J>e_c~al a
· '1· d d 1 · e as. Se·
g undo 0 Vaticano II, a Igreja cato ica nasce e um up o movimento concomita
cíproco: de um lado, nelas esta, concretamente, na med 1.d a em que ela existe nas"'''" .·
1gre13.,
.d d h. , . 1 . 1
locais· de outro, fez-se real1 a e concreta e 1stonca nas greJas ocais. E assim 1 ~
' · l · ' .
católica, que se realiza nas lgre1as oca1s, e a mesma que se constnui a partir das 1 ,..
• a grei.li
· ~u~·bus et ~x qui·b
jas locais; assim, a ~ór~u l~ ' n~ las ' e 'de 1as ' (rn .. us.) trad uz 0 mistériogr,.
da
Igreja na sua essência 1nstt.tueton~I segund,º.ª log1~a de 1ma.?enc1a recíproca da dimen.
são local-particular na un1versahdade catohca e vice-versa .

Rumo aunidade
Em relação ao adjetivo "católica" na LG 8, Salvador Pié-Ninot diz: "Observemos que 0
adjeti,·o 'católica' assume duas diferentes conotações: uma qualitativa e a outra, con~
fessional . Inicialmente, é útil para definir qualitativamente a única Igreja de Crisro
como católica, como professa o Símbolo [...].De outra parte, essa expressão é usada
em sentido confessional, para indicar a Igreja católica roma.rya concreta, governada pelo
sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele. E óbvio que a ligação entre
as duas conotações está na significativa fórmula 'subsiste na' (subsistit in), que deixa
bem claro que a única Igreja católica está presente na Igreja católica romana, embora
haja elementos de catolicidade fora da sua estrutura visível, que, como dons próprios
da Igreja de Cristo, levam à unidade católica. Assim, o Cona'lio exprime também a fe-
rida na plenitude da catolicidade por pane da Igreja de Roma, uma vez que a falta de
unidade entre os cristãos é uma ferida; não no sentido de que está privada de unidade,
mas enquanto obstáculo à plena realização da sua universalidade [. ..]. Desse modo,
alude-se ao déficit presente na Igreja católica romana; o que significa que existe, por-
tanTo. um dever por pane da Igreja católica romana, ou seja, como quem não faz o su-
ficiente para atingir a unidade". .
A expressão "subsiste na" substitui a palavra "está" com cuja utilização se neg~ia
a existência de elementos da Igreja fora da Igreja católica. Para Pié-Ninot, "subs1 s~e
na" deve ser entendido como "estar presente" ou "continua a estar presente" na Igre1a
católica a plenitude dos instrumentos de salvação (UR 3), a plenitude da verdade r:ve-
larla (UR 4) e os elementos essenciais da Igreja de Cristo (LG 8). Desse modo, di~-se
que a Igreja católica não é uma entre as muitas Igrejas. Afirma-se que a Igreja de ~r~s~o
tem o seu lugar concreto na Igreja católica romana e que existe, portanto, na históflª
e nela se tom a visível. ·
. Embora o CCE explique claramente que "a Igreja é una, santa, católica e apasto-
h~ em sua identidade profunda e última" (n. 865), reconhece também que denc;:'
6:. igreja _na s ua forma histórica existem "feridas da unidade". "As rupturas que (d
r'=:m •unidade do corpo de Cristo", que não ocorrem sem os pecados dos homens
n . eJ7J. Daí a importância e o lugar relevante que ocupa na apresentação do cCE:.
e.1pr1;ss~o "!,ubsiste na" (n . 816) e em outros assuntos correlatos, como "Quem ~-o
Lénrf: 4 fgH!'>ª ca tlJlica". a frase "fora da Igreja não há salvação" e o diálogo ecunlenK
<nn. ~J l -S;22, ~ 36 - ~ 4 8) .
1 n ~f"' 1"J drJ prim ·iro, o CCE se refere a formas diferences de pencncimentO. ~~=
rJ.r !.~altc; 'J ·1-11r.J r.o 11 . O Concf lio, nas 11a lavras de Pi~-Ninol, confirn1a uma l~"!l~'
c1 rcul 4 r'• rr,.n,_,.· ,,, ri·c- d'Ja CJ>munhão í'clcsial. As modalidades con1 as quaas
· 0 Cl""ª
229

se re"ere
1~
a essa matéria
d d. 6falam também da gradualidade·
. · plena , fn tegra, nao
- p1ena, nao
-
perfeita, gradual, e 1 erentes modos. Tudo as~o favorece uma visão comunial e pro-
cessual, con10 se ~eduz do fato de ~ue o Condito não utiliza o termo "membro". Essa
expressão é _substat~fda no Condho por adjetivos como: a comunhão plena, íntegra,
não plena, ~ao perfeita ~LG l~; UR ~.3.~.14.17; Orientalium ecclesiarum 4, 30); bem como
as expressoes: ordenaçao, onentaçao, incorporação, pertencimento (LG 13.14.16; UR
3.22). O CCE assume essa abordagem processual e gradual nos dois números dedicados
a esse assunto. Não s?mente não utiliza a expressão "membro", mas em cada um de-
les exprime a gradualidade. No n. 836, em linha com a LG, diz: "Todos os homens são
chamados a essa católica unid~?e do ,P?vo de Deus, à qual, de vários modos, pertencem
ou estão ordenados quer os ~eis catohcos, quer os outros crentes em Cristo, quer, en-
fim, todos os homens, que sao chamados à salvação pela graça de Deus". E no número
seguinte (837), mais uma vez em linha com os ensinamentos do Concílio, o CCE se
refere à "plena incorporação na sociedade da Igreja", pondo em evidência os três vín-
culos visíveis que a formam: a profissão de fé, os sacramentos e o governo eclesiástico
da comunhão (n. 837). Segundo Pié-Ninot, a respeito desses três vínculos é necessário
haver discernimento, porquanto têm um papel diferente na constituição da Igreja. Os
primeiros dois (profissão de fé e sacramentos), constituem, fundam e causam a Igreja.
O terceiro, com base no ministério hierárquico e ordenado, deve ser entendido como
um serviço ao que Deus deu e dispôs. O ministério não é causa ou fundamento, mas o
testemunho, condição, serviço da profissão de fé e dos sacramentos. Eis por que a tra-
dição teológica indica a Igreja como a serviço "do objeto da fé" e, portanto, como uma
condição e não como uma causa de consentimento. Sobre os outros assuntos, o CCE
põe em evidência o convite à unidade: "O desejo de reencontrar a unidade de todos os
cristãos é um dom de Cristo e um convite do Espírito Santo" (n. 820). Isso requer, por
parte de todos, uma contínua renovação, a conversão do coração, a oração comum, o
fraterno reconhecimento recíproco, o diálogo entre teólogos e a colaboração entre cris-
tãos nos diversos campos de serviço à humanidade (cf. n. 821).

A Igreja plenamente realizada na glória


Foi devidamente demonstrado neste comentário que, segundo o CCE, "para investigar
o mistério da Igreja, convém meditar primeiro sobre sua origem no desígnio da San-
tíssima Trindade e sobre sua realização progressiva no curso da história" (n. 758). O
CCE estrutura essa abordagem deste modo: "Um projeto nascido no coração do Pai"
(n. 759); "A Igreja prefigurada desde a origem do mundo" (n. 760); "A Igreja preparada
na antiga aliança" (nn. 761-762); "A Igreja - instituída por jesus Cristo" (nn. 763-
766); "A Igreja manifestada pelo Espírito Santo" (nn. 767-768); e "A Igreja - Consu-
mada na glória" (n. 769).
Com essa estrutura, o CCE evidencia o que foi dito no início deste comentário
com as palavras de Bruno Forte: (a) a origem trinitária da Igreja; (b) a forma trinitária
da I?reja; (c) 0 objetivo ou 0 destino trinitário da Igr~~ª· Sob.re o destino trinit~rio da
lgre1a, são significativas as palavras do mesmo autor: A Igre1a. que n~sce da Trindade
e é feita à imagem d a comunhão trinitária, não tern a sua c?nsumaçao neste mundo.
mas se move pa ra a Trindade no ca minho do, tempo. A lgre1a aponta para o alt~ para
~-h ga.r ao d ia escatológico 110 qua l Deus sera. tudo em to?os: O te.n1po da Igreja é o
l lllf'ri m ' nt re 0 dom recebido e a pro messa a anda a ser atmg1cia. Eis por que tudo no
1 () /\ l'llOI l \\A \l 111. 1 r. 1 /\ l'ROl l\\A 0
l>A ff e ..
~
ser e nas obras do povo de Deus está marcado pelo 'j~' e o 'ainda não'. Assim
dimensão escatológica irnprcgna a vida toda da Igreja. Indole escatológica que 't<>da a
à lgreJa · recon h ecer o seu status d e instrumento,
· peregnna · d e estar a serviço permite
d _
.1dent1' fi caçao
- con1 o R e1no
. d e D eus " . ' e nao
A natureza escatológica permite-nos concluir este comentário sobre 0 art 9
CCE con1 uma esp éc1e . d e S'1m b o 1o "ao avesso", no senti'do de que se pane do. do .
. d - d E ' . S 1 ·
rério d e Cnsto e a açao o sp1nto anto na greJa para retornar ao Pai, fim úlf mis.
de todas as coisas. Mais uma vez com as palavras de Bruno Forte: "A Igreja
por Cristo no Espírito Santo caminha em direção ao Pai mediante o Filho no ún~ ª
ge:7
, . d a v1ºd a,,.
Esp1nto co

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