Comentario Ao CCE
Comentario Ao CCE
TeoLóG1co-PastoRaL
ÜRGan1zaoo POR
fd/çõe1 Loyola
Titulo original:
Carechismo dei/a Chicsa Ca trolica. Testo integra/e.
Nt1ovo commenro reologico-pastorale di Rino Fisichella
O Amministrazionc dei Patrimonio della Santa Sede Apostolica
e e l ibreria Ed1tricc Vaticann. Città dei Vaticano, 2017.
All rights rescrvcd lnternational Copyright handled
by libreda Ed1tr ice Vatica11a. C1ttà dei Vaticano.
ISBN 978-88-92-2 1/5 1·0
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AUTORES
RINO FISICHELLA
Direção e coordenação
BATTAGLIA, VINCENZO
Cristologia,
Pontificia Università Antonianum - Roma
IUANCARDI, GIUSEPPE
Catecismo,
Pontificia Università Salesiana, Facoltà Teologica - Torino
BIANCHI , ENZO
Fundador da Comunidade Monástica de Bose
BOSELLI, GOFFREDO
Liturg.ia,
monge de Bose
CABRA, PIER GIORDANO
Ex-Presidente da
Conferência das Ordens Religiosas Italianas (CISM)
e das Ordens Religiosas Europeias (UCESM)
CÀNOPI, ANNA MARIA
Abadessa da Abadia Beneditina "Mater Ecdesiae",
Isola San Giulio - Orca
CARBAJO NÚNEZ, MARTÍN
Teologia moral,
Pontificia Università Antonianum - Roma
CARVAJAL BLANCO, JUAN CARLOS
Teologia da Evangelização e Catequese,
Universidad Eclesiástica San Dámaso - Madrid
COZZOLI, MAURO
Teologia moral,
Pontificia Università Lateranense - Roma
DE SIMONE, CAETANO
Doutrina Social da Igreja,
Pontificia Università Lateranense - Roma
DOTOtO, CARMf:l.O
Teologia das religiões,
Ponrificia Unlversltà Urbaniana - Roma
FARí:\', CA ROl.INli
Diretora de csuados.
School of An111111cla1 lon, l)uckf.as1 Ahht" )' - l)\'von
fll)ICI llll .l. A, R l Nll
Prc1Jldc111e do 1'0111 lfklo Cons~llhl
para a Promoção da Nova l~vilnMcllzaçilo
2
f:UM/\G/\LU, /\IUSTIOe
Teologia moral,
Facoh:\ Teologlca dell'Jtalla Setcntrlonale - Milão
C/\LVAN. JOSf! M .
Teologia moral,
Pontificia Univers ità della Santa Croce - Roma
GER/\ROJ, RENZO
Teologia moral,
Pontificia Università La teranense - Roma
GOYRET, PHILIP
Eclesiologia,
Pontificia Università della Santa Croce - Roma
JIMÉNEZ R., MANUEL JOSÉ
Teologia pastoral,
Centro de Formación para Ja Nueva Evangelizadon
y Catequesis (CEFNEC) - Bogotá
LADARIA. LUIS F.
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
LUCAS, RAMÓN LUCAS
Antropologia filosófica e bioética,
Pontificia Università Gregoriana - Roma
MAJORANO, SABATINO
Teologia moral sistemática,
Accademia Alfonsiana - Roma
MARTINELLI, RAFFAELLO
Bispo de Frascari,
ex-secretário da Comissão para a preparação do CCE
MASPERO. GIULIO
Teologia dogmática,
Pontificia Università deUa Santa Croce - Roma
Mc NAMARA. EDWARD
Liturgia,
Ateneo Ponrificio Regina Apostolorum - Roma
MILITELLO, CETTINA
Eclesiologia e Mariologia,
professora emé rira d a Pontifícia Facolrà Teologica Marianum - Roma
MJRALl.ES, ANTONIO
Teo logia sacramenrária,
professor emérí1 0 na Pomificia Univershà della Sa nta Croce - Rom.i
MOUNAIUO, JOEL
Teolo gia pnhica,
d ir~ r or d o Jni.1i1u1 Supé rie ur de Pastnrale Catéchétique - P.aris
Zl'CC.\RO. C..\T.-\LDO
Tc!'Ologi~ manl.
Pomificii Un~~it.i Urhini.uu - R~
..
r ' •.
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SUMÁRIO
Aurores • 1
Siglas • s
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
Primeira Parte
A PROFISSÃO DE FÉ
Primeira Seção
"EU CREIO" - "NÓS CREMOS"
Segunda Seção
A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
,. 117
Os símbolos da fé
}arcd Wicks
CAPÍTULO 1: Creio em Deus Pai » 119
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 1: Creio em Deus
)) 121
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 2: O Pai » 133
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 3: O Todo-poderoso )) 145
Thomas Joseph White
Artigo 1, Parágrafo 4: O Criador )) 149
Luis F. Ladaria
Artigo l, Parágrafo 5: O céu e a terra » 157
Paul O'Callaghan
Artigo 1, Parágrafo 6: O homem J> 165
Luis F. Ladaria
Artigo 1, Parágrafo 7: A queda J> 171
Luis F. Ladaria
CAPÍTULO li: Creio em jesus Cristo, Filho único de Deus » 179
Vincenzo Battaglia
Artigo 2: "E em jesus Cristo, seu Filho único, nosso Senhor" D 183
Vincenzo Battaglia
Artigo 3: "j esus Cristo foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria" • 185
Vincenzo Battaglia
Artigo 4 : "jes us Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado,
mono e sepultado"
Vi11ce11zo Battaglia
• 193
A nigo 5: "j esus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mon.os
no wrceiro dia" 197
Vincmzo flo ttaglia
•
A nig() 6: "Jc·b us subiu aos Cé us, csrá seniado à dircira de
Dc- us P<J i 'forfo-pmlc·roso" • 199
Ví11cn1 zo /111f 1;,g/la
__J
" 201
Artigo 7: "Donde vir~ julgar os vivos e os mortos"
Vincrnzo Batragl1a
CAPÍTULO Ili
.. 203
Artigo 8: "Creio no Espírito Santo"
Giulio Maspcro
., 215
Artigo 9: "Creio na santa Igreja católica"
Manuel josé ]iménez R.
Arrigo 9, Parágrafo 4/1-11: Os fiéis de Cristo: hierarquia, leigos,
• 23)
vida consagrada
Salvador Pié-Ninot
Artigo 9, Parágrafo 4/111: A vida consagrada
.. 245
Pier Giordano Cabra
Artigo 9, Parágrafo 5: A comunhão dos santos # 2SS
Salvador Pié-Ninot
Artigo 9, Parágrafo 6: Maria - Mãe de Cristo, Mãe da Igreja • 259
Regina Willi
Artigo 10: "Creio no perdão dos pecados" • 269
Antonio Miralles
Artigo 11: "Creio na ressurreição da carne" • 271
Luís F. Ladaria
Artigo 12: "Creio na vida eterna" • 277
Luis F. Ladaria
"Amém" • 285
Rino Fisichella
Segunda Parte
A CELEBRAÇÃO DO MlSTÉRIO CRISTÃO
Primeira Seção
A ECONOMIA SACRAMENTAL
Segunda Seção
OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA
CAPÍTULO Ili
Artigo 8: "Creio no Espírito Santo" lt 203
Giulio Maspero
Artigo 9: "Creio na santa Igreja católica" lt 215
Manuel josé ]iménez R.
Artigo 9, Parágrafo 4/ 1-11: Os fiéis de Cristo: hierarquia, leigos,
vida consagrada • 231
Salvador Pié-Ninot
Arrigo 9, Parágrafo 4/ 111: A vida consagrada • 245
Pier Giordano Cabra
Artigo 9, Parágrafo 5: A comunhão dos santos • 255
Salvador Pié-Ninot
Artigo 9, Parágrafo 6: Maria - Mãe de Cristo, Mãe da Igreja • 259
Regina Willi
Artigo 10: "Creio no perdão dos pecados" • 269
Antonio Miralles
Artigo 11: "Creio na ressurreição da carne" • 271
Luis F. Ladaria
Artigo 12: "Creio na vida eterna" • 277
Luis F. Ladaria
"Amém" • 285
Rino Fisichella
Segunda Parte
A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO
Primeira Seção
A ECONOMIA SACRAMENTAL
Segunda Seção
OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA
CAPÍTULO li
Arcigo 4: Os sacramentos de cura - O sacramento da penitência
e da reconciliação • 34)
Antonio Miralles
Artigo 5: A unção dos enfermos • 351
Antonio Miralles
CAPÍTULO III
Artigo 6: Os sacramentos do serviço da comunhão - O sacramento da ordem • 357
Philip Goyret
Artigo 7: O sacramento do matrimônio • 373
Ina Siviglia
Terceira Parte
A VIDA EM CRISTO
Primeira Seção
A VOCAÇÃO DO HOMEM: A VIDA NO ESPÍRITO
Segunda Seção
o s nr;z AIANDAAIENros
1 • 1111111.Jdllll IJfU )
•,(, f,11,lJ /.IH/, Ili
lA l l l lJ l•>I
Quarta Parte
A ORAÇÃO CRISTÃ
Primeira Seção
A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ
Segunda Seção
A ORAÇÃO DO SENHOR: "PAl-NOSso·
APRESENTAÇÃO
O Catecismo da Igreja Católica se apresenta como um caminho que, por meio de quatro
etapas, permite perceber a dinâmica da fé. Abre-se com o desejo de todo ser humano que
traz em si o anseio por Deus e conclui-se com a oração, enquanto expressão de um en~
contra em que o ser humano e Deus se contemplam, falam e escutam. A vida da gra~
expressa particularmente nos sete sacramentos, e o estilo de vida do fiel como uma vo-
cação a ser vivida segundo o Espírito são as outras duas etapas necessárias para com-
preender em plenitude a identidade do fiel como disápulô missionário de jesus Cristo.
Na ocorrência do XXV aniversário da Constituição Apostólica Fülei depositum - com
a qual se entregava aos fiéis o Catecismo da Igreja Católica-, assinada simbolicamente
por São João Paulo II no dia 11 de outubro de 1992, no trigésimo aniversário do início
do Concílio Ecumênico Vaticano II, a publicação desta nova edição [...] se apresenta
como um comentário teológico-pastoral e é de grande ajuda para entrar sempre mais na
compreensão do mistério da fé.
Deste modo, o Catecismo da Igreja Católica se torna uma mediação adicional por meio
da quaJ promover e sustentar as Igrejas particulares em todo o mundo na tarefa da evan-
gelização como instrumento eficaz para a formação principalmente dos sacerdotes e ca-
tequistas. Faço votos que possa ser conhecido e utilizado para valorizar ao máximo o
grande patrimônio de fé destes dois mil anos da nossa história.
XV
1NTR<JDUÇÀCJ
Um C:crtcri.~ mo />ara o 11m1.ço '""'/'º
se oferece. Con1 base nessa sua mlloridade, ele é também o único capaz de confiar se
cuidado pastoral a quen1 ele escolheu para ser pastor: Pedro, os Doze e seus sucesso~
res (cf.Jo 21,15; Ef 4,IJ; JPd 5,1).
No logo pro~osto, n~ta-se que o pasto~ está sentado e segura cm sua mão 0 cajatkJ.
T;unbérn dessa s1n1bolog1a emerge um ensinamento que merece ser explicitado. Estar
semado é sinal de autoridade, pois indica o mestre que ensina. Para o pastor nômade
o cajado é sinal do caminho. Esses particulares ajudam a perceber a finaJidade do úi:
trcismo da igreja Católica. O ensinamento que é oferecido não é outra coisa senão a fé da
lgreja, assim como se desenvolveu ao longo dos séculos, e que possui sua fonte primária
na Palavra de Deus vivida pela comunidade cristã e interpretada autenticamente pelos
seus Pastores. Em todo caso, há um caminho que deve ser percorrido e que ainda não
está terminado. O cajado do pastor indica propriamente isso: a longa estrada que ainda
deve ser percorrida. E o futuro que está diante de nós, cheio de expectativas e esperan-
ças; futuro no qual o "compromisso da fé" (lTs 1,3) exigirá a necessidade de crescer na
verdade completa (cf. jo 16,13), para vivê-Ia coerentemente na participação a uma res-
ponsabilidade comum da qual ninguém pode se eximir. A Igreja, nessa peregrinação,
está acompanhada pela multidão de homens e mulheres que por milênios professam a
fé. Das grandes figuras bíblicas de Abraão, Moisés, Elias, Davi, os profetas, os apósto-
los, os discípulos ... até os mais desconhecidos fiéis do quais, em todo caso, permanece
viva a fé ainda que seus nomes não tenham permanecido; todos se colocaram a cami-
nho com um empenho que exigiu força, coragem, paixão e amor.
O bom pastor, sentado com o cajado na mão, está tocando uma flauta. A música é
sinal da melodia e da beleza do ensinamento do pastor. O longo caminho tem neces-
sidade de uma pausa. É o tempo para recuperar as forças e fazer o balanço d~ situa-
ção. A ovelha está sentada junto ao pastor; ela o vê e o escuta com confiança. E esta a
atitude fundamental que se deve ter em relação à "música" do mestre: a disponibili-
dade à escuta, pois ele não quer e não pode enganar. A imagem se aplica facilmente
ao Catecismo da Igreja Católica: este se insere naquele constante ensinamento ..ordiná-
rio" dos Pastores da Igreja; por esse motivo o povo de Deus o acolhe com confiança e
disponibilidade na escuta atenta e no estudo sistemático.
Além disso, 0 logo está envolvido, como ~e fosse uma moldura, pela árvore da vida.
É a árvore colocada no centro do jardim do Eden (cf. Gn 2,8}; é a mesma árvore qlW'.
renovada pelo sangue do Cordeiro, se encontra novamente no Apocalipse. Uma âr-
vore que "dá doze colheitas e produz frutos todos os meses, as folhas da árvore ser-
ve m para curar as nações" (Ap 22,2). A som~ra dessa árvore da vida, os fiéis e~\)0-
tram refúgio e oriencan1 seu olhar para o caminho subsequente, que permalle\.-e> a1n.à
a s r percorrido.
Por fim, não se deve esquecer que esse logo foi recuperado a panir de un1 l"'l)iN
Cf ur· !>e e nconcra nas rawcumlms em uma pedrn st>pulcml. Aan~os os .lSl~'°"' pt"f11\i1en1
ad1c1<.1ndr l ~o mais na inie rprc ração. P;ua a fé crislã, .1s n1Mcumlt.1s .ill o sinal qU&" re-
11 1 te ciO pe d odo m que a fé linha ncrcssí ladl! dt! ser sush•1u.1da ,~an st'u cestt'fnu.nbo
fJú lA1u). A ft: conlwn ·u 1110111c111os d · ohs urid.ult". d,~ nwtl,l, dt• m.utirio. P\x nlUico
te rnp<J ~ cH l- o~ W >~bCH1 cJi.is, •' Ili dil1•h'llh' S p.Hh'~ do mundtl '' fahl \~ ser M-1' ainJ.i
u 111J billJ..ição d1• a 1J c urnl>J l'. 111 1odn r.1:.0 , ' t•si;,, f~ 'Ili'' susl\'nl.t .1 nossa. que muitas
,.,.n ~ be 1o fl1 J l'll ~111\0\J , . 1111 ·•P·ª' d1: :.&' ~,." mlir do tlllO P·"•' Pªº"°'ªr a conversão.
{ J >'"'Í''º e 1)101JdD n J 1>i·d1 ,, M·1u1h 1,11 • .h> 1nt·Mno 1t·11tpo s in.ll d,• u1na expectaliva e
d\· u 111t<1111p ..u1 ilh..i r. 1..1 1111>1: 111 o lu ma p.hlor .1 ,,Jlu.·u t' \' i\'t'U .l exp,•rit'1lCã.i do ..s.lbado
, , 1 ll.\ )l\l ' ·' ' ) xvii
sJnto". Sobre ele? pedra sepulcral foi rolada pensando que o caso de Jesus de Nazaré
pudesse ser dcfinJ11vamcn~e fechado. Não foi assim. A pedra, embora pesada para as
débeis forças humanas, foi encontrada rolada e Cristo retornado para sempre à vida.
o anú1~cio do ~njo às. mulheres:_"Não est~ aqui" (Me 16,6) permanece também para
nós o smal mais convincente. Nao é no reino dos mortos que se deve procurar Cristo,
mas no reino dos vivos. O sepulcro é sinal de expectativa e de esperança de que o Se-
nhor, fiel à sua promessa, permitirá também à nós ressurgfr para a vida nova com ele.
Esta é a novidade radical da fé cristã.
se revela em Jesus Cristo. Este momento (/ides qua) não pode ser esquecido, como oeor.
reu nas últimas décadas. As consequências negativas desse esquecimento estão diante
de nossos olhos. Dentre essas tantas consequências, pode-se fazer referência à priva.
tização d~ fé devido ao esquecimento de se tratar de um ato pessoal, mas igualmente
eclesial. E possível conhecer os conteúdos da fé como se fossem algumas f6rmulaJ
químicas, sem ser capaz de entrar nestes com a força da convicção que provém apenas
de uma escolha realizada. Escolher crer permite compreender a própria vida como um
chamado à liberdade. Em um período como o nosso, em que a liberdade assume uma
imponância tão qualificante e decisiva, ainda que frequentemente equivocada, não é
nada secundário dar as razões da escolha de fé como um ato pessoal em que o fiel ex-
prime da melhor maneira seu desejo de liberdade e sua força para exercê-la.
Um aspecto adicional a ser considerado é o uso do Catecismo da Igreja Católica na
pastoral. Em um tempo como o nosso, que se confronta cada vez mais com o progresso
cienúfico não deveria faltar o conhecimento de poder conjugar de modo coereme o
patrimônÍo da cultura que se tem com as perguntas que inevitávei~
a partir da sur~em
ciência. O analfabetismo religioso se embate com a preparaçao profiss1onaJ que cada
um busca a fim de dar densidade à própria atividade de trabalho. Dai surge a neces-
sidade, pa,ra que a personalidade dos fiéis não sofr~ um desequiliôrio injusto que, efe-
tivaniente, enfraqueça o próprio testemunho de fe .. ~ess.e contexto, emerge de ~~o
preponderante a via pulchritudinis como expressão pnvileg1ada para sustentar o anunao
da fé e sua relevância cultural.
Portanto é bom que a praxe cultural recupere o momento da cate~u~se co~o um
estudo siste.;,ático da fé_".rienta?a par:i~t::!~~c~~s~ ~~;,~~~':~:>,.';:e;~':::,':::;
conhecimento fragmentano ~: fe, mas te , dos d~ fé a hierarquia das verdades e as
a relação coerente entre os ~1 erenteJ cân ~a tem. E~ síntese, não se deve ter medo
várias fases que o ?es~nvoJvimbeénto
0
ºj e que apenas uma catequese genuína fa-
de afirmar que a fe exige tam m. o e~tu 0
vorece uma obra eficaz de evanT~l.iza~~º~elhor maneira onde ela é vivida como m<>-
Por fim. a catequese se exp ic1ta tilhamento da mesma fé, os fiéis se ajudam uns
m enta co munitário e onde, no comh:~I onde são chamados todos os dias, na tàmal ãa t
aos outros a viver de.la e ª test;:iiu~e o~sa parecer, também o estudo en1 pri,. do J.a, ti
no trabaJho. Por maas p~rad.o A q t!da eclesiali<lade pertence por s ua rrÕllria n.uur~~
é sempre um ~Lo oomunaáno. ººcatequese permita vive r diretan1~nh.' .l t"XJ''n~nc.a
à catequese. É sempre bo'!1 .qu~: catequese é a con1unidadc cri st.l, pvis l al~-.s.e x-nt-
comunitá ria. De fa tcJ, o ~UJ~ttod r A- da '''rt~)a Nesse Sl'ntido •l ,lh ., ,l.l l'\ ang"·h~w
d ua nsn1ass~o a •e ~i.&
umaa~ ~ se rv~ç: o 'l ue a con1unidadc . l 1. .
pre de um
torna u1..en11co
a · • '
Sl' lllC n laun h 'Sf"' " .1b1 1H. "'K' (lf,,... .
. da 1c n1 o int\riao J c come r rnu u•"h'11 h 1r it• lil•/,>s•' " ·l"'btonil
A edição aqui ªJ?r~c~~~ ,. p ou co .i pou 0 l'Xpli llJ 0 ~,·us collh'lH.lôs, in ~nndo-'.
Catecismo da
0 mlgr~J" fiª.' iàca que esc n. às clivei bas l."XfU l!S!tÕt'S d.i vi,l.i ecl"·s i;ll. ~nw 1'0 "'
u~ a ~·''' .a~~ ~"
a is a c1Lo ca1cq u · "' l ç ·u MO, ("'fR
em _umd a- o fo i fe i1 a qua se que cun1 c mpo ra ncanac m e n un 1 1 .......e W-
meara e ·IÇ lhida com e musaasrno,• • I· •• 1 .- • h !SU.'lllUllrwrn k!U -
n1ini~cé1
e as re pe li< a. h::t' ' '
1 nhilt
1993. aFloa
Após acos décad as• h a1·a vis ta o
guma io que o Pap.i m e charnou a desempe
, R''"l, \,' _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ __ x_ix
_
1 1
C J\ Pi TU LO 111
ARTI GO 9
..CREIO NA SANTA IGREJA CATÓLICA"
·ttll '\llt, 11 .\ 1,, 1.c1·.,,, (n 79). Esse assunto rclorna no arr. 8. "O arti'uo d
prl"Sl'IHC e • • • o • · . . o e fé
s hr, ,, lgrcj<\ depende intcinuncntc dos ?rllgos conccrnc~tcs a Cristo Jesus" (n. 748)
~ ''c.kpcndc tarnbéin intcira1ncnte do a rugo sobre o Espf rito, que ~ pr~ccde" (n. 749)
D c~,'", 111 do 0 CCE r ünc o que é con1un1 nos símbolos dos primeiros séculos d ·
..x ' · d fi - d a
l~rcja: a Igreja passa a fazer parte do Credo nos artigos a pro ssao e fé no Espírito
"':ullo. bcin conto passa a fazer parte do Sf mbolo crer no perdão dos pecados, na res.
surreiçâo da carne e na vida eterna. . , . .
A } lreja das origens descobria no Sf mbolo o ,m•steri~ d~ Tnndade. em função da
vida cristã. Portanto, o Símbolo proclama a sua fe no Pai criador, no Filho salvador e
no Espírito Santo, que dá a vida e que opera principalmente na Igreja e por meio dela.
Quando o Credo nos faz dizer: "Creio na Igreja", não introduz uma quarta proposta
con1plen1entar às três proposições trinitárias. A Igreja é, nesse caso, a primeira obra do
Espírito Santo, cuja presença ativa no coração das pessoas se acabou de professar.
O CCE assume tudo isso e introduz os artigos do "creio na Igreja católica" (nn. 748-
975), "creio no perdão dos pecados" (nn. 976-987), "creio na ressurreição da carne"
(nn. 988-1019) e "creio na vida eterna" (nn. 1020-1065), dentro dos artigos do "creio
no Espírito Santo" (nn. 633-1065). Esses artigos são: o art. 8 (creio no Espírito Santo);
o art. 9 (creio na santa Igreja católica); o art. 10 (creio no perdão dos pecados); o art. 11
(creio na ressurreição da carne) e o art. 12 (creio na vida eterna).
Isso torna necessário compreender adequadamente o significado de "crer na Igre-
ja". Para o fazer mostramos dois modos presentes no CCE. Em primeiro lugar, não
dizemos crer "na" Igreja como dizemos crer "em" Deus, porque se crê somente em
Deus, mas cremos que a Igreja existe por vontade ou desígnio de Deus. Ela tem a sua
origem no mistério do Deus uno e trino, no seu desígnio de salvação para a humani·
dade, chamando-a à comunhão de vida com ele, por mediação do seu Filho e no Espí·
rito Santo. O objeto da fé é Deus, a revelação de Deus que encontramos na Igreja por
meio da fé da Igreja. Consequentemente, a Igreja não é, antes de tudo, objeto, fim ou
conteúdo da fé, mas uma dimensão intrínseca da fé. A Igreja não faz parte da fé como
um objeto qualquer, mas como princípio e órgão de discernimento daquilo em que te·
mos de crer. A importância da Igreja reside na sua participação como mediadora em
Cristo e, portanto, torna-se o caminho para chegar a Deus. O papel da Igreja é ser
mediadora e contexto comunitário da fé. O CCE refere-se a esse primeiro significado
de "Creio na Igreja" quando afirma: "Crer que a Igreja é 'santa' e 'católica' e que é ela
'un~' e 'apo~tólica' (como. ac~escenta º,s.ímbolo Niceno-Constantinopolitano) é ins~
paravel da fe em Deus P?1, Filho e Esp1nto Santo. No Símbolo dos Apóstolos, profe~·
samos crer em uma Igreja Santa (Credo Ecclesiam), e não na Igreja para não confundir
Deus co~ as suas obra~ e para atribuir claramente à bondade de' Deus todos os dons
que ele pos em sua Igreja" (n. 750).
Em segundo lugar, "Creio na Igreja" significa que a Igreja não faz parte do cenrro
d~ fl.: ou que é o seu fim, inas é o lugar e o contexto correto de fé sendo uma con1u-
rnd;~e ~ac_ran1cntal. Assi~ 1nanifesta o fato de ser coniunidade p'rópria da profisslO
d 1c cn sra, como cxprcssao cclcsiást' d fé dt
ser comunid de convkfadíl ou cJ ica e e~i Deus. Exprin1e tan1bém o fato .
munid ad . qu • o uv(_• . )ff> Iam lamL da e co1n11n1dadc que convoca e chan1a. Ou CO
r ·vd ação criM ã é u ·' . r:,.;oª; ~.0;~1 º CSlll~lClecl~lo na Constituição DV. Par rec btf
ou lug r d • r<:v J rão e ,. ei na fgi l'ja ' Isso soh dois ns1lectos· como esr85°
, " "' li <j li a 111 o a f 011 r J' ·a . , I · dj a
, t_. qu · profi · s mos. 1> •11 8, 1 . fo'. ' _ P·lrl "o obj 10 dn fé. É a Igreja que
e · ·• t: ªº n is iao 111t•dia111p ál Igreja. A fé não é uma in~n·
1 · 11. 11 ' ' '1 l \11.l ·_,,_· - - - - - - - - - - - - - - - -- - - -- _ _2_1
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l)
2 1~ 1 1
Ess.i é a única 1 reja de Cristo, que no Shnl>olo proícssarno~ c:orno una, santa, católica
e a~ st61ica e que 0 no so Salvador, depois da sua ressurrc1çao, deu a Pedro para que
t; sse apascentada (cf. jo 21, 17), confiando a ele e aos outros apóstolos a difusão e guia
dela (cf. ~1t 28, 18 s~.). e constituiu para sempre como coluna e suporte da verdade (cf.
lThl 3, 15). Essa tgrcja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste
na tgrcja cat61i a, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com
ele, cn1bora fora do seu organismo se encontrem muitos elementos de santificação e
de verdade que, pertencendo propriamente por dom de Deus à Igreja de Cristo, levam
à unidade católica" (LG 8).
E nessa n1esn1a linha vai o CCE: "Esses quatro atributos, inseparavelmente liga-
dos entre si [cf. OS 2888], indicam traços essenciais da Igreja e de sua missão. A Igreja
não os tem de si mesma; é Cristo que, pelo Espírito Santo, dá à sua Igreja o ser una,
santa, católica e apostólica, e é também ele que a convida a realizar cada uma dessas
características. Só a fé pode reconhecer que a Igreja recebe estas propriedades de sua
fonte divina. Suas manifestações históricas constituem sinais que falam também com
clareza à razão humana" (nn. 811-812).
Avery Dulles, em relação a esses quatro atributos, enfoca as diferenças no modo de
interpretá-las em função dos diversos modelos eclesiológicos. Para a finalidade do pre-
sente texto, mostramos o sentido que assumem no modelo institucional antes do Vati-
cano II e nos modelos comunitários e sacramentais próprios do Vaticano II. No modelo
·'institucional" da Igreja, ela é vista de modo estático, como uma sociedade que teve al-
guns atributos específicos que foram dados de modo definitivo por Cristo. A instituição
era necessariamente considerada no sentido de que o homem era obrigado a pertencer
a ela, para ter alguma esperança de salvar a sua alma. Consequentemente, era questão
de vida ou de morte para o povo ser capaz de reconhecer a verdadeira Igreja. Os quatro
atributos foram entendidos como notas distintivas de uma sociedade visível. Portanto,
a unidade, por exemplo, era concebida como "a subordinação de todos os crentes a
uma só e única jurisdição espiritual e a um só Magistério". A conotação de catolicidade
é secundária, porque está fortemente vinculada à unidade. Na teoria institucional foi
entendida também como altamente visível e mensurável em termos geográficos e es-
tati sticos. Em relação à unidade, a catolicidade significa que uma Igreja que brota em
todo o mundo deve ter o mesmo credo, o mesmo culto e o mesmo sistema jurfdico. O
enorme desenvolvimento da Igreja e a multidão de seus seguidores foram consid~ra
dos como un1 motivo particular do seu esplendor, da sua coesão e da sua disdph~·
A L -rcei ra nota, a santidade, foi interpretada como característica da Igreja como soe•~
dád visível. Portanto, não estava ligada principalmente à união interior dos crenl~
U .Jm D -us, mas, antes, com a sua santidade visível. Muitos apologetas desse per~
pr -~ tarn at -nção in primis à sacralidadc dos meios, en1 particular dos que fahant en·
~rt.- ~ s ~d- -rsários. A úhio1a nota, apostolicidade, foi interpretada con10 pertenc nl
1r,st •.tu çao ~ nqu . nto meio d~ salvação. foi dada grande in1portãncia à manu1er
dt.-p<.J.,ll<J ªfjf..1stl,1J1c.o da dournna, dos sacramentos e do n1inistério. Para fins pr 1 :'\
pri0ridrad · fi.1i d d o governo ou ao oficio. Por ofícios se entendia e· -k
J.>úd ·r d· d · 1 rar 4u 1 (•ra a verdad ~ira doutrina e quais os venladelr r n "'
P r ·ss · J,OJ()g ·1 s, posroli idade tinha, poi , o iKnifk.ulo d 1 \K
do P storé . ~ prov ç o doi. p.1 101r1i r vi .. 1a nunn vind., d Ru1n .
. ~o ~nod. · lo ·· C.J1nuuiláliu" da lgu:j , o au ihuto n o • o n•.ais in& r1"
s1 n IS Yl iveas de u1n r. ífi oci ·d.ufo, IH.tlj, Ull·~. º'"º.as l)U UJ
\ IU li l · \ " \ r-; t \ 1\ : Il i 1,\ 1 •\ H ) 1 11 , \ . 219
A IGREJA É UNA
O Vaticano II não fala apenas de unidade. No Decreto sobre o ecumenismo usa os ter-
mos "unidade e unicidade da Igreja" (UR 2). Desse modo, afirma-se que Cristo fundou
uma só Igreja e que a queria perfeitamente unida. O plano divino de unidade manifes-
tou-se nas ações de Cristo durante a sua vida terrena e atingiu o seu ápice depois da
glorificação de jesus, com a vinda do Espírito Santo, princípio divino de unidade daqu~·
les que creem em Cristo. A unidade é uma conotação específica da Igreja de Cristo. "E,
ponanto, da própria essência da Igreja" (CCE n. 813). Como disse o Papa joão Paulo 11.
"De fato, essa unidade dada pelo Espírito Santo não consiste simplesmente numa con-
fluência de pessoas que se somam umas às outras. É uma unidade constituída por vín-
culos da profissão de fé, dos sacramentos e da comunhão hierárquica. Os fiéis são ~a
só coisa, porque, no Espírito, eles estão na comunhão do Filho e, nele, na sua comunhao
com o Pai: 'A nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho jesus Cristo' (ljo l,~)
Portanto, para a Igreja católica, a comunhão dos cristãos não é senão a manifestaçao
nele~ da gra~a por meio da qual Deus os torna partícipes da sua própria comunh~O,
que e~ su~ ~1~a e,t erna. _As palavras de Cristo 'que todos sejam uma só coisa' são, Po15•
ª oraçao d1n~1da ao Pai para que o seu desígnio se realize plenamente, de modo que
respla ndeça aos olhos de todos como a realização do mistério mantido oculto desde
sempre nele.' o Criador do universo' (Ef 3,9). Crer em Cristo significa querer a unida~e;
· 'fiica querer a Igreja;
querer a una d ª d e sign1 · querer a Igreja significa querer a con1un hãO
~<: graç~ que co~resp?nde ao desígnio do Pai desde toda eternidade. Eis o significada
ª oraç 4 ? d _Cn sto: Ut unum sint'" (UUS 10) .
.. _ D dcu a~ao ~ ·ssalta? csrrurura trinitária da unidade na Igreja. O CCE aprofu~
agr o mi tl:n o d a urndad da Jg · " ~ · · •A 1$ 0
d dor ': 'd. c~ to s >1;·1'1 aa . hlho no E pfrilo s, mo' (Ull 2) . A ll'h~J·a un.t .,,,,r s u fUW
a O l àO C: ll UI llado Í ) · o (Olll
D · us, 1<: mi ·l · ·nd< • ._ • · · · por "·' ru z n.• rouclliou rodos os ho1nenj .&
' ª un1ao '• · lo dos· •11l uan She. p wo e Pan una ó n1rpo' (GS... 78•3)· "
221
Igreja é un~ 'por s~a alnla': 'o ~spfrito Santo que habita nos crentes, que plcnifica e rege
tod a a Igreja, realiza .esta .admirável
. comunhão dos fiéis e os u ne t-ao intimamente
· · em
Cristo, que ele é o pnndpto da unidade da Igreja.' (UR 2)" (CCE n. BIJ)
'"Todos os que creen1 en1 Cristo, o Pai quis chamá-los a formarem a santa Igreja'. E
'família de Deus' se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da hist~~a
hun1ana, segundo as disposições do Pai: ·~csd~ a origem do mundo a Igreja foi prefig:
rada. Foi adn1iravchnente preparad~ na h~stóna do povo d: Israel e n? antiga aliança.
Foi fundada nos últin1os ten1pos. Foi mamfestada pela efusao do Espírito. E no fim dos
teanpos será gloriosa111ente consumada' (LG 2)." (n. 759).
O CCE, nos subtítulos, dá a entender o que é chamado de "realização progressiva
(da lgreja] no curso da história": "A Igreja - um projeto nascido no coração do Pai"·
"A Igreja - prefigurada desde a origem do mundo"; "A Igreja - preparada na anti~
aliança"; "A Igreja - instituída por Cristo jesus; "A Igreja - manifestada pelo Espí-
rito Santo"; e "A Igreja - Consumada na glória" (nn. 751-769).
Na parte dedicada ao "crer no Espírito Santo", retoma a progressiva realização da
Igreja nos séculos. E o faz pondo em evidência a pessoa divina do Espírito Santo, que
age e se manifesta em toda a história da salvação em três grandes momentos: "O Espí-
rito e a Palavra de Deus no tempo das promessas" (nn. 702-716), "O Espírito de Cristo
na plenitude do tempo" (nn. 717-730) e "O Espírito e a Igreja nos últimos tempos"
(nn. 731-741).
O CCE fala de uma preparação remota da reunião do povo de Deus, que começa
com a vocação de Abraão e a preparação imediata com a eleição de Israel como povo de
Deus e com o anúncio de uma aliança nova e eterna (n. 762). Desse modo, afirma-se
que a Igreja pode ser compreendida somente em íntima relação com Israel e com a pri-
meira ou antiga aliança. Para exprimir essa relação, a reflexão teológica recorre a três
categorias: a continuidade, a complementariedade e a novidade entre a Igreja e Israel.
Com respeito à continuidade, evidencia-se a condição do ser "povo de Deus" (n. 781).
Na atual reflexão teológica, a consideração da Igreja como povo de Deus é característica
relevante, complementar a outras, como "Corpo de Cristo" e "sacramento de salvação".
Segundo Antonio María Calero, a categoria "povo de Deus" é central e fundante para
a eclesiologia do Vaticano II, porque joga luz sobre as seguintes dimensões da vida da
Igreja; a dimensão histórica da Igreja, a categoria bíblica da aliança, a continuidade e
descontinuidade da Igreja em relação a Israel, a relação entre batizados dentro da comu-
nidade eclesial, a fundamental igualdade e a dignidade de todos eles como batizados.
a distinção entre Igreja e Reino de Deus, a natureza escatológica da Igreja e um modo
novo de compreender a relação entre a Igreja e o mundo.
O CCE não é estranho a esse assunto. Como já foi dito, a categoria povo de Deus
é fundamental, dado como o CCE apresenta a Igreja. Cita o Concílio, em par~icu~ar:
LG 9: "Em todo tempo e em toda nação, quem quer que o tema e pratique a JUStl~
acolhido por ele (cf. At 10,35). Todavia, Deus quis santificar e salvar os homens nao
individualmente e sem nenhuma ligação entre eles, mas quis fazer deles um povo. que
o reconhecesse segundo a verdade e que o servisse na santidade. Escolheu, pois. para
si o povo israelita, estabeleceu com ele uma aliança e o forn1ou lentamente, m.a~
tando na sua história a si mesmo e os seus desígnios e o santificando para SJ. . i
isso, porém, ocorreu em preparação e como figura da nova e perfeita aliança a ser fe•~
e m Cri sto, bem como da mais completa revelação a ser realizada por n1eio do própt
Ver bo de De us que se fez hon1em". "
Exprf'.ssão dessa continuidade é o uso das in1agens para falar de Israel como pO~~
de Dt us da a miga aliança e da Igreja con10 povo de Deus na nova aliança. 6ntre '' ~l
ta s, o utiliza as se8uimcs imagens: o redH, o rebanho, n herdade ou ca1npo de DtUS.
223
edifício de Deus, casa de Deus, família de Deus, templo santo (nn. 753-757). Todavia
a continuidade mostrada, .baseada nessas imagens, dá destaque, além disso, a uma no-
vidade: "Na Sagrada Escritura, encontramos grande quantidade de imagens e figuras
interligadas, pelas quais a Revelação fala do mistério inesgotável da Igreja. As ima-
gens encontradas no Antigo Testamento constituem variações de uma ideia de fundo,
a de 'povo de Deus'. No Novo Testamento (cf. Ef 1,22; CI 1,18), todas essas imagens
encontram novo centro pelo fato de Cristo tornar-se a 'Cabeça' deste povo, (cf. LG 9)
que é, então, seu corpo. Em torno deste centro, agruparam-se imagens 'tiradas ou da
vida pastoril ou da vida dos campos, ou do trabalho de construção ou da família e do
casamento' (LG 6)" (n. 753).
O CCE mostra também a novidade na continuidade da Igreja como povo de Deus,
quando faz notar algumas características próprias da Igreja povo de Deus, pondo-as
em evidência com fonte itálica: "A pessoa torna-se 'membro' deste povo não pelo nas-
cimento físico, mas pelo 'nascimento do alto', 'da água e do Espírito' Oo 3,3-5), isto é,
pela fé em Cristo e pelo batismo. Este povo tem por 'chefe' [cabeça] Jesus Cristo [un-
gido, Messias], porque, da mesma Unção, o Espírito Santo, ele flui da Cabeça para o
corpo, este é o 'povo messiânico'. A condição deste povo é a dignidade da liberdade dos
filhos de Deus: nos corações deles, como em um templo, reside o Espírito Santo (LG 9).
'Sua lei é o mandamento novo de amar como Cristo mesmo nos amou' (cf. jo 13,34).
É a lei 'nova' do Espírito Santo (Rm 8,2; Gl 5,25). Sua missão é ser o sal da terra e a
luz do mundo (cf. Mt 5,13-16). 'Ele constitui para todo o gênero humano a mais forte
semente de unidade, esperança e salvação' (LG 9). Sua meta é 'o Reino de Deus, ini-
ciado na terra por Deus mesmo, reino a ser estendido mais e mais, até que, no fim dos
tempos, seja consumado pelo próprio Deus' (LG 9)" (n. 782). A novidade fundamental
é dada pelo acontecimento de Cristo e pela fé da Igreja nele como Messias, Salvador
e Filho de Deus (nn. 422-682). A complementariedade se explica mediante o íntimo
vínculo entre as duas alianças e o significado religioso de Israel (nn. 839-840).
de Crisco, ~desenvolvida pelo povo da nova e definitiva aliança. E1n outro sentido
sus institui a Igreja, conscruindo ~s fundnrncntos: a c~nsthuição de um grupo ao ·~:
confiou a rnissão que ele rnesrno t 1nha recebido do Pai e ao qual confere os elemeq 1
nC'C~ssários par..1 que a salvação, por sun mediação, não caia no vazio [...] . Portan~tos
rcsposra ;.\pergunta feita .antes r~ão só vai al~m de urna visão co~ple~amente isola~~~
nisca da Igreja corno rcahdade ligada exclusivamente ao Jesus histórico, mas impli
cons~ucntcnlcntc, a presença e a açao
- d as tres pessoas dº1v1nas.
A . A re Jação da lgre·
ca,
con1 a pessoa uc •J Cnsro
• é muito
· n1a1s
· pormenonza · d a h OJe
· em d 1a
· e se encontra numJa
perspc.."'Cl ivd rcologican1ente muito mais rica (a Trindade) e historicamente muito mai:
dinâ111ica con10 urna realidade que se constitui gradualmente até atingir o seu cum-
pritncnto histórico a partir de Pentecostes".
A Con1issão Teológica Internacional (1985), na mesma Linha do Vaticano 11, rela-
ciona deste modo o processo de fundação da Igreja: (a) as promessas veterotestamen-
t árias referentes ao povo de Deus; (b) o amplo convite dirigido a todos os homens por
parte de Jesus para se converterem e crerem nele; (c) o chamado e a instituição dos
doze; (d) a imposição do nome a Simão Pedro; (e) a rejeição de Jesus por parte de Israel
e a distância entre o povo hebraico e os discípulos de Jesus; (f) a instituição da ceia e a
paixão e morte; (g) a ressurreição; (h) o envio do Espírito Santo em Pentecostes; (i) a
mfasão dos discípulos em meio aos pagãos; 0) a definitiva ruptura entre o "verdadeiro
Israel" e o judaísmo. Como conclusão, afirma-se que "nenhuma dessas etapas, toma-
das isoladamente, pode constituir o todo, mas, unidas todas entre si, mostram com
evidência que a fundação da Igreja deve ser entendida como um processo histórico, ou
seja, como o futuro da Igreja dentro da história da revelação. Nesse mesmo desenvol-
vimento constitui-se a estrutura fundamental permanente e definitiva da Igreja".
Salvador Pié-Ninot conclui a esse propósito: "Fundação, origem e fundamento são
os três termos específicos e complementares sobre a compreensão da Igreja radicada
em Jesus cm chave sacramental: (a) a fundação da Igreja por Jesus se manifesta na
eclesiologia implícita e processual que atesta que, mesmo antes da Páscoa, Jesus ini-
ciou um movimento de restauração de todo o povo de Deus; (b) a origem da Igreja está
em Jesus, porque, depois da Páscoa, o movimento iniciado durante o seu ministério
foi reconstruído e ampliado com vigor; (c) os fundamentos da Igreja encontram-se em
Jesus Cristo, pois ele age e está ainda presente na Palavra de Deus, nos sacramentos,
na comunidade eclesial e na vida dos crentes".
O que foi clito é importante na estrutura do CCE. Embora seja verdade que ded~ca
um só número à Igreja instituída por Jesus Cristo (n. 763), ele deveria ser lido e _i~
terpretado à luz do segundo ponto do art. 9 (,..Origem, fundação e missão da Igreja '
nn. 758-769). E, melhor ainda, à luz de toda a segunda seção do CCE. Em ambos os
casos, o CCE fala da origem da Igreja e da sua fundação no contexto da história da ~l
vação e das suas diversas fases . Com esse objetivo, é suficiente lembrar uma declaraçao
- princípio teológico e estrutural do CCE: "o Concílio mostra que o artigo de fé sobre
a Igreja depende inteiramente dos artigos concernentes a Cristo jesus" (n. 748).
·, 1J .1'l 1.Jb,t·'> na v. rit·dad(• dos t(•rrcnos cuhurais, socl.1is e humanos, S\' l"\'\'\'Sl\'. "''" eula
p.H 11· d<> 1111 11 1do, d(.· ah p e aos ,. dt• ,•x pn·ssíw s ox h•ri<U l'S dlVl' l'S.\s" ( n . N.\ S).
.\ PR('lf l ~,.\O O E f[ 1 ;\ l'Rll f 1 l
228 ~s 'l' n, 'e
~
Salvador Pié-Ninot enfatiza que o Concílio Vaticano 11 tratou de modo es .
realidade das Igrejas particulares, e fornece uma adequada compreensão d 1 J>e_c~al a
· '1· d d 1 · e as. Se·
g undo 0 Vaticano II, a Igreja cato ica nasce e um up o movimento concomita
cíproco: de um lado, nelas esta, concretamente, na med 1.d a em que ela existe nas"'''" .·
1gre13.,
.d d h. , . 1 . 1
locais· de outro, fez-se real1 a e concreta e 1stonca nas greJas ocais. E assim 1 ~
' · l · ' .
católica, que se realiza nas lgre1as oca1s, e a mesma que se constnui a partir das 1 ,..
• a grei.li
· ~u~·bus et ~x qui·b
jas locais; assim, a ~ór~u l~ ' n~ las ' e 'de 1as ' (rn .. us.) trad uz 0 mistériogr,.
da
Igreja na sua essência 1nstt.tueton~I segund,º.ª log1~a de 1ma.?enc1a recíproca da dimen.
são local-particular na un1versahdade catohca e vice-versa .
Rumo aunidade
Em relação ao adjetivo "católica" na LG 8, Salvador Pié-Ninot diz: "Observemos que 0
adjeti,·o 'católica' assume duas diferentes conotações: uma qualitativa e a outra, con~
fessional . Inicialmente, é útil para definir qualitativamente a única Igreja de Crisro
como católica, como professa o Símbolo [...].De outra parte, essa expressão é usada
em sentido confessional, para indicar a Igreja católica roma.rya concreta, governada pelo
sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele. E óbvio que a ligação entre
as duas conotações está na significativa fórmula 'subsiste na' (subsistit in), que deixa
bem claro que a única Igreja católica está presente na Igreja católica romana, embora
haja elementos de catolicidade fora da sua estrutura visível, que, como dons próprios
da Igreja de Cristo, levam à unidade católica. Assim, o Cona'lio exprime também a fe-
rida na plenitude da catolicidade por pane da Igreja de Roma, uma vez que a falta de
unidade entre os cristãos é uma ferida; não no sentido de que está privada de unidade,
mas enquanto obstáculo à plena realização da sua universalidade [. ..]. Desse modo,
alude-se ao déficit presente na Igreja católica romana; o que significa que existe, por-
tanTo. um dever por pane da Igreja católica romana, ou seja, como quem não faz o su-
ficiente para atingir a unidade". .
A expressão "subsiste na" substitui a palavra "está" com cuja utilização se neg~ia
a existência de elementos da Igreja fora da Igreja católica. Para Pié-Ninot, "subs1 s~e
na" deve ser entendido como "estar presente" ou "continua a estar presente" na Igre1a
católica a plenitude dos instrumentos de salvação (UR 3), a plenitude da verdade r:ve-
larla (UR 4) e os elementos essenciais da Igreja de Cristo (LG 8). Desse modo, di~-se
que a Igreja católica não é uma entre as muitas Igrejas. Afirma-se que a Igreja de ~r~s~o
tem o seu lugar concreto na Igreja católica romana e que existe, portanto, na históflª
e nela se tom a visível. ·
. Embora o CCE explique claramente que "a Igreja é una, santa, católica e apasto-
h~ em sua identidade profunda e última" (n. 865), reconhece também que denc;:'
6:. igreja _na s ua forma histórica existem "feridas da unidade". "As rupturas que (d
r'=:m •unidade do corpo de Cristo", que não ocorrem sem os pecados dos homens
n . eJ7J. Daí a importância e o lugar relevante que ocupa na apresentação do cCE:.
e.1pr1;ss~o "!,ubsiste na" (n . 816) e em outros assuntos correlatos, como "Quem ~-o
Lénrf: 4 fgH!'>ª ca tlJlica". a frase "fora da Igreja não há salvação" e o diálogo ecunlenK
<nn. ~J l -S;22, ~ 36 - ~ 4 8) .
1 n ~f"' 1"J drJ prim ·iro, o CCE se refere a formas diferences de pencncimentO. ~~=
rJ.r !.~altc; 'J ·1-11r.J r.o 11 . O Concf lio, nas 11a lavras de Pi~-Ninol, confirn1a uma l~"!l~'
c1 rcul 4 r'• rr,.n,_,.· ,,, ri·c- d'Ja CJ>munhão í'clcsial. As modalidades con1 as quaas
· 0 Cl""ª
229
se re"ere
1~
a essa matéria
d d. 6falam também da gradualidade·
. · plena , fn tegra, nao
- p1ena, nao
-
perfeita, gradual, e 1 erentes modos. Tudo as~o favorece uma visão comunial e pro-
cessual, con10 se ~eduz do fato de ~ue o Condito não utiliza o termo "membro". Essa
expressão é _substat~fda no Condho por adjetivos como: a comunhão plena, íntegra,
não plena, ~ao perfeita ~LG l~; UR ~.3.~.14.17; Orientalium ecclesiarum 4, 30); bem como
as expressoes: ordenaçao, onentaçao, incorporação, pertencimento (LG 13.14.16; UR
3.22). O CCE assume essa abordagem processual e gradual nos dois números dedicados
a esse assunto. Não s?mente não utiliza a expressão "membro", mas em cada um de-
les exprime a gradualidade. No n. 836, em linha com a LG, diz: "Todos os homens são
chamados a essa católica unid~?e do ,P?vo de Deus, à qual, de vários modos, pertencem
ou estão ordenados quer os ~eis catohcos, quer os outros crentes em Cristo, quer, en-
fim, todos os homens, que sao chamados à salvação pela graça de Deus". E no número
seguinte (837), mais uma vez em linha com os ensinamentos do Concílio, o CCE se
refere à "plena incorporação na sociedade da Igreja", pondo em evidência os três vín-
culos visíveis que a formam: a profissão de fé, os sacramentos e o governo eclesiástico
da comunhão (n. 837). Segundo Pié-Ninot, a respeito desses três vínculos é necessário
haver discernimento, porquanto têm um papel diferente na constituição da Igreja. Os
primeiros dois (profissão de fé e sacramentos), constituem, fundam e causam a Igreja.
O terceiro, com base no ministério hierárquico e ordenado, deve ser entendido como
um serviço ao que Deus deu e dispôs. O ministério não é causa ou fundamento, mas o
testemunho, condição, serviço da profissão de fé e dos sacramentos. Eis por que a tra-
dição teológica indica a Igreja como a serviço "do objeto da fé" e, portanto, como uma
condição e não como uma causa de consentimento. Sobre os outros assuntos, o CCE
põe em evidência o convite à unidade: "O desejo de reencontrar a unidade de todos os
cristãos é um dom de Cristo e um convite do Espírito Santo" (n. 820). Isso requer, por
parte de todos, uma contínua renovação, a conversão do coração, a oração comum, o
fraterno reconhecimento recíproco, o diálogo entre teólogos e a colaboração entre cris-
tãos nos diversos campos de serviço à humanidade (cf. n. 821).