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DIREITO DA UNIÃO I SEBENTA (Eduardo Figueiredo)

O documento aborda a história da integração europeia, desde a pré-história até a criação da União Europeia com o Tratado de Maastricht em 1992. Destaca a evolução das comunidades europeias, suas finalidades e a importância da cidadania europeia, além de mencionar tratados significativos como o Ato Único Europeu e o Tratado de Amsterdão. A obra também discute as competências da UE e as mudanças institucionais ao longo do tempo.

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DIREITO DA UNIÃO I SEBENTA (Eduardo Figueiredo)

O documento aborda a história da integração europeia, desde a pré-história até a criação da União Europeia com o Tratado de Maastricht em 1992. Destaca a evolução das comunidades europeias, suas finalidades e a importância da cidadania europeia, além de mencionar tratados significativos como o Ato Único Europeu e o Tratado de Amsterdão. A obra também discute as competências da UE e as mudanças institucionais ao longo do tempo.

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DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA I -PRÁTICAS

Eduardo Figueiredo
_________________________________________________________________________

13/10
(Fontes e princípios- casos práticos)
Tratado de Lisboa

-» ir ao site do parlamento europeu, tem lá informação

A HISTÓRIA DA INTEGRAÇÃO EUROPEIA

● PRÉ-HISTÓRIA

A ideia de criação de comunidades (UE só nasceu em 90) surgiu depois da 2GM, os


antecedentes da UE remontam ao pós 2GM, mas já antes existia uma ideia de uma europa
unida. Foi só depois da 2GM que foram dados os primeiros passos no sentido de integrar o
continente europeu, era preciso unir o continente europeu (que foi o epicentro de duas
guerras). Era necessário garantir a paz.
E, nessa medida, criaram-se várias OI nos vários planos (político, defesa, económico):

- A 1ª Benelux (org. de integração econômica, os estados pretendiam eliminar as


barreiras aduaneiras pois elas são um entrave às trocas)
- OECE (hoje tem um plano quase universal- a OCDE- liberalizar as trocas era o
primeiro objetivo, hoje tem um papel fundamental nos países em desenvolvimento,
fundada em 1948 como resultado do Plano Marshall)
- Tratado de Bruxelas (1948, no plano de defesa- que instituiu a União Ocidental -»
era um tratado de assistência mútua entre os estados- auxiliar reciprocamente caso
fossem atacados)
- NATO (1949, aliança militar com o Canadá e Estados Unidos-» plano internacional)
- Conselho da Europa:
NOTA FUNDAMENTAL: Conselho da europa, conselho europeu, conselho
da UE/conselho de ministros/conselho -» SÃO TODOS DIFERENTES
O europeu e o da UE são instituições da UE; o conselho da europa é uma OI que
surge depois da 2GM que tem como finalidade a promoção da democracia e dos
direitos humanos -» CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS HUMANOS (que é
diferente do tribunal de justiça da UE)
- União Europeia de pagamentos (1950, tratado comercial)
- CECA (criada em 1951 pelo Tratado de Paris, que é um dos 4 tratados
fundamentais, até aqui nós estamos na PRÉ-HISTÓRIA DO DUE, a partir daqui
passamos para a HISTÓRIA DO DUE, que se dá com a assinatura deste tratado
(1951). Este tratado foi assinado pela RFA, França, Itália e BENELUX.

1
● FASE DAS COMUNIDADES (1952-1992 - até ao maastricht)

1) CECA- Comunidade Europeia do Carvão e do Aço

(durante a Guerra Fria- como podemos evitar a reanimação da violência? vamos meter os
países a cooperar em matéria econômica e na gestão conjunta de duas matérias primas
muito utilizadas para a guerra)
Criada para assegurar a paz, promover a economia e criar um mercado comum para
o carvão e o aço.
(! estrutura institucional) A CECA tem uma estrutura institucional (constituída pela Alta
Autoridade, Assembleia e o Conselho e ainda um tribunal comunitário) e o Tratado de Paris
(fundador) estabeleceu um “prazo de validade”- ao fim de 50 anos caducava- significa que
a CECA hoje não existe (caducou em 2002) e as atividades e recursos foram absorvidos
pela CE, hoje, UE.
A sua criação foi um sucesso e pensou-se em alargar o âmbito da integração europeia, por
isso pensou-se criar outras comunidades noutros planos: comunidade europeia da defesa,
política,etc., mas começou-se a perceber que a cooperação em domínios não econômicos
era muito mais complexa.
PERCEBE-SE QUE É ESSENCIALMENTE PELA VIA ECONÔMICA QUE SE PODE DAR
INÍCIO AO PROGRESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEU.

2) Surgem 2 outras comunidades: a CEE e a EURATOM (Tratado de Roma-


fundador das duas restantes comunidades).

Passam a existir 3 comunidades que existem lado a lado:

CECA-» TRATADO DE PARIS 1951


CEE e EURATOM -» TRATADO DE ROMA 1957

Estes dois tratados são os tratados fundadores das comunidades (convenções


internacionais, onde inicialmente 6 estados, decidem celebrar CI com determinadas
finalidades, logo que está sujeito ao DIP e à CVDT).
Mas, cada comunidade tem as suas instituições:
CECA -» Conselho, Alta Autoridade, Assembleia Parlamentar e um Tribunal de Justiça
Quando foram criadas, em 1957, as duas últimas comunidades, CEE e EURATOM, a
Assembleia Parlamentar e o TJ passaram a ser comuns às três, mas os órgãos executivos
eram separados (separa-se o conselho e a comissão (que é a alta autoridade na CECA) -
órgão legislativo e judicial eram iguais.

Finalidades da CEE: criação de um mercado único-» mercado comum estabelece a


abolição das fronteiras aduaneiras e a livre circulação de fatores de produção: mercadorias,
pessoas, trabalhadores e serviços.
Finalidades da EURATOM: promoção da utilização da energia nuclear para fins pacíficos.

IMPORTANTE PARA A ORAL: Portugal não aderiu à UE mas sim à CEE, em 1986-» ou
seja, é um dos países fundadores da união. Quais são os tratados fundadores-» paris, roma
e ÀS VEZES maastricht -» fundou a UE (porque paris e roma são os fundamentais)

2
FASE DA TRANSFORMAÇÃO (1992-)

É O TRATADO DE MAASTRICHT (1992) QUE DÁ ORIGEM À UE.

Esta é uma fase de APROFUNDAMENTO. Já tínhamos as comunidades e a UE, mas era


preciso aperfeiçoar. Vão seguir-se um conjunto de tratados que vêm aprofundar as
competências da UE, as instituições -» TRATADOS DE APERFEIÇOAMENTO DAS
FUNDAÇÕES,

Inicia-se com a criação formal da UE, a par das Comunidades, e culmina na refundação
para-constituinte da Europa operada pelo Tratado de Lisboa.

(Oral) Quando surge o quadro institucional único? As comunidades tinham órgãos


executivos próprios, mas em 1965 temos o Tratado de Fusão que criou um estatuto único- o
Quadro Institucional Único. (nota- já não é assembleia parlamentar mas sim parlamento
europeu (1962).

Tratado de Fusão (8/04/1965)-» as 3 comunidades tinham órgãos executivos


próprios, mas este tratado procedeu à fusão de executivos, veio unificar os órgãos
executivos: COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS e CONSELHO DAS
COMUNIDADES EUROPEIAS -» QUADRO INSTITUCIONAL ÚNICO criou um estatuto
único para os funcionários e agentes da Comunidade, e estabeleceu o princípio da
unificação orçamental, com raras exceções.

A Cimeira da Haia de 1969 (importante os conceitos) -» simboliza uma mudança


significativa no sentido da história comunitária. Dá-se o lançamento de 3 objetivos
primordiais para o futuro, PRIORIDADES (!):

- alargamento (abrir o projeto de integração a novos países até aqui só tínhamos os


6 países fundadores da CEE- RFA, Itália, França, Países Baixos, Bélgica e
Luxemburgo -» o problema, alargamento ao Reino Unido, sim ou não? A França
oponha-se, e vai surgir uma crise no projeto de integração europeia-» Crise da
Cadeia Vazia)
- aprofundamento (até aqui a principal finalidade era a criação de um mercado
comum,, mas os países querem aprofundar a cooperação econômica, eles querem
harmonizar as políticas monetárias porque a oscilação da moeda também mexia nas
trocas comerciais, os vários países deviam comportar-se mais ou menos da mesmo
forma-» a última fase é a abolição da moeda nacional e criação de uma moeda
única, última fase da UEM (entra em circulação em 2002)
- acabamento (aperfeiçoamento daquilo que já existia), surge o Ato Único Europeu;

ATO ÚNICO EUROPEU (1986): não traz alterações estruturais mas sim, essencialmente,
aperfeiçoamento do que já existia. Um aspeto muito importante é que ele começa a
evidenciar que as comunidades não têm prioridades só econômicas, é importante falar da
democracia, dos direitos fundamentais, do estado de direito -» começa aqui um processo de
humanização das comunidades.

3
Mais, até aqui só tínhamos o Conselho (o conselho das comunidades europeias) hoje
corresponde ao Conselho/Conselho de Ministros/Conselho da UE, mas continua a existir o
conselho europeu. De onde é que ele aparece? Durante muitos anos funcionou como uma
instância informal. Estas reuniões começaram a ter mais importância, consagrando-se
formalmente com o Ato único Europeu do Conselho Europeu. Mas de notar que ainda não é
uma instituição (como o parlamento, o conselho,etc), ele é apenas um órgão, mas um órgão
que já é reconhecido, os tratados já reconhecem a sua existência e importância.
Com o Ato Único Europeu houve também uma reforma do sistema institucional
comunitário.

(!) PARTE HISTÓRICA IMPORTANTE E COMPETÊNCIAS AO LONGO DOS TRATADOS,


EM ORAIS.

ACORDOS SCHENGEN (1986)- são CI que determinam a abolição integral dos controlos
transfronteiriços. Aqui sim há uma livre circulação.
Inicialmente foram assinados pela Bélgica, Luxemburgo, Holanda, França e Alemanha
(1985), mas era um acordo meramente programático, ou seja, apelava aos estados que
adotassem medidas para progressivamente eliminar os controlos transfronteiriços.
Em 1990, estes acordos inicialmente celebrados, passam a constar de uma convenção-
CONVENÇÃO DE APLICAÇÃO DO ACORDO SCHENGEN- e ela vai mais longe, ele impõe
que os estados adotem medidas harmonizadas com vista à abolição dos controlos
transfronteiriços. Mas nem todos os países da comunidade aderiram a estes acordos, como
o Reino Unido, e houve países que não participam nas comunidades mas que aderiram,
como a Suíça.

★ TRATADO DE MAASTRICHT OU TRATADO DA UE(1992)

É um tratado estrutural, verdadeiramente de aprofundamento, ele cria a UE, ao lado das


comunidades passamos a ter a UE, é uma 4ª entidade que serve para a prossecução de
três pilares:
- 1º PILAR, as comunidades (especialmente à CEE, que se passa a designar aqui por
CE, a CEE já não tem só objetivos de natureza econômica) , o objetivo é a
consolidação de todo o edifício do mercado único e de preparativos de uma união
economica e monetaria:
1. é necessário que haja uma livre circulação de pessoas, serviços,
mercadorias e capitais;
2. tem de existir uma harmonização de políticas econômicas
3. têm de se estabelecer os primeiros passos para alcançar uma política
monetária única
- 2º PILAR, a PESC, coordenação da ação dos estados-membros no plano
internacional e no âmbito da política de defesa-» é a defesa entre UE e países
terceiros;
- 3º PILAR, JAI, cooperação para a justiça e assuntos internos; e, ainda, cooperação
judicial em matéria penal, civil e de polícia.

De notar que, a UE nesta altura funcionava na base de uma lógica intergovernamental, ou


seja, as decisões eram tomadas todas pelos estados, ou seja, eram tomadas pelo

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CONSELHO. E eram decisões tomadas por unanimidade, ou seja, todos tinham de
concordar com tais decisões.
NOTA: Ainda hoje a PESC continua a seguir a lógica intergovernamental, apesar das outras
já se terem democratizadas, a PESC não, continua a seguir a lógica que são os estados
que decidem praticamente tudo nestas matérias e, em regra, continua a aplicar-se a regra
da unanimidade.

UNIÃO ECONÓMICA E MONETÁRIA:


O PROCESSO de integração económica tem várias fases:
- a 1ª, 1957, com uma mera união aduaneira que pressupõe a livre circulação de
mercadorias entre Estados- Membros, eliminando-se os direitos aduaneiros e a
adoção de algumas políticas comuns;
- aos poucos, esta união aduaneira, vai-se tornando num mercado único que era o
objetivo do Tratado de Roma; este exige um alargamento da liberdade de circulação
às pessoas, serviços e capitais;
- objetivo final, a criação de uma união económica e monetária, pressupõe a adoção
de políticas monetárias e, em última instância, a adoção de uma moeda única.
Começa em 1990 com a livre circulação de capitais, passamos depois para o período de
convergências das políticas econômicas e monetárias; e, por fim, a criação de uma moeda
única.

FIGURA DA CIDADANIA EUROPEIA

(revela bem o facto de ser um tratado de aprofundamento e não apenas de acabamento)


Os estados começam a ter preocupações políticas e sociais e, portanto, cria-se a
cidadania da UE a todas as pessoas que sejam nacionais de um estado-membro.

NACIONALIDADE: é o vínculo jurídico que liga a pessoa ao estado (são critérios decididos
pelo estados);
CIDADANIA: é um complexo de direitos, ou seja, o conjunto de direitos que derivam do
facto da pessoa ter uma certa nacionalidade, um vínculo com um certo estado.

A cidadania europeia compreende:


- um direito de livre circulação e residência (Art.18ºCE);
- um direito de sufrágio ativo e passivo nas eleições municipais e nas eleições para o
PE (art.19ºCE)
- um direito à proteção diplomática fora da UE, por qualquer estado-membro
(art.20ºCE)
- um direito de petição e de queixa perante os órgãos da UE, como o PE ou o
Provedor de Justiça Europeu (Art.21ºCE)
De notar que a cidadania europeia fundamenta o estatuto de igualdade juridica assente no
princípio da não discriminação em razão da nacionalidade (art.12ºCE).

O TRATADO DE MAASTRICHT E A CONSOLIDAÇÃO DO ACERVO COMUNITÁRIO


- o alargamento das competências da UE (nos domínios da união económica e
monetária, da educação, da formação profissional, da cultura, da saúde pública, da
proteção dos consumidores, das redes transeuropeias e da política industrial);

5
- Imposição do respeito pelas identidades nacionais e da cultura dos Estados e
introdução do princípio da subsidiariedade;
- a unificação, desenvolvimento e aperfeiçoamento das várias políticas relativas ao
ambiente, consumidores e no âmbito da investigação e desenvolvimento.

E QUAIS AS NOVIDADES INTRODUZIDAS PELO TRATADO DE MAASTRICHT NO


PLANO INSTITUCIONAL?

A principal, é o facto do Parlamento Europeu viu serem-lhe concedidos, pela primeira vez,
poderes de natureza legislativa:
- PROCEDIMENTO DE CODECISÃO, que significa que, em regra, a partir deste
tratado o PE passa a participar ativamente no processo legislativo (até aqui era
denominado pelo conselho), e, em regra, os atos só podem ser adotados se existir
um acordo entre PE e conselho -» decisão conjunta entre as duas instituições.

★ TRATADO DE AMESTERDÃO (1997)

É um tratado de acabamento, ou seja, não está em causa um aprofundamento da união,


mas sim um aperfeiçoamento do que foi criado pelo tratado de Maastricht:
- reforça a cidadania europeia e a vinculação dos seus órgãos ao DF, especialmente
dos trabalhadores, porque começou-se a perceber que não poderia existir uma
verdadeira liberdade de circulação se não se reconhecesse devidamente os direitos
fundamentais dos trabalhadores;
- aperfeiçoam-se os 3 pilares cooperativos;
- alterações das competências e ao nível institucional (importante para oral).

★ TRATADO DE NICE (2000)

É um tratado de acabamento.
DOCUMENTO DA CARTA DOS DF DA UE, criada em 2000, ela tem uma particularidade
relativamente a outros documentos que protegem DF e DH, ela vincula a própria UE e não
os estados em si- as próprias instituições têm de respeitar os DF. Foi a primeira vez na
história que uma OI cria um documento e que se obriga ela própria a respeitá-lo.

PROJETO DE TRATADO CONSTITUCIONAL EUROPEU (2004)


O projeto de Tratado Constitucional Europeu ou de “Constituição Europeia” assinado
em 2004, representava uma evolução no enquadramento jurídico e político da integração
europeia, com reflexos nos próprios ordenamentos jurídico-constitucionais nacionais.
Faz-se um conjunto de sugestões:
- abolição da ideia dos pilares;
- A criação da UE como um polo subjetivo único, significa que as comunidades seriam
absorvidas pela união, logo não fazia sentido existir pilares, existiria um pilar único
alicerçado na UE, era uma proposta estrutural;
- Revolução no quadro das fontes do Direito da União;
- Alterações institucionais de relevo, como sendo o PE assumindo-se como legislador
pleno;
- Afirmação expressa do primado do direito comunitário sobre o direito nacional;
- Criação de símbolos próprios;

6
- etc.
Isto dá-nos a entender que este projeto queria aproximar-se de toda a lógica estadual, esta
“Constituição da UE” ia buscar às constituições nacionais muita inspiração. Isto claramente
assustou os estados porque desde o momento que se começou a pensar as comunidades
existiam duas grandes linhas que ainda se mantém:
- uns autores, os unionistas, são autores que defendem que a UE deve ser uma
organização internacional sui generis, porque tem muitas particularidades relativas
às restantes;
- outros autores, os federalistas, dizem que a UE não pode ser só uma OI, tem de ser
um estado federal.
Uma das prioridades deste projeto era afirmar o princípio do primado do direito
comunitário (!!), isto diz-nos que todo o direito comunitário prevalece sobre o direito
nacional, inclusive sob as próprias constituições.
Porém, a França e a Holanda não aceitaram esta proposta (é necessário
unanimidade logo este projeto não segue para a frente).

Segue-se um período de desânimo, porque não se sabia qual o próximo passo a dar.

FASE DA UNIÃO:

★ TRATADO DE LISBOA (2007)


Trata-se de um tratado de aprofundamento do edifício europeu.
Entra em vigor em 2009.
Apresenta algumas diferenças relativas ao projeto de TCE:
- ele não revoga os tratados anteriores (ORAL-» O TRATADO DE ROMA AINDA
ESTÁ EM VIGOR? SIM, PORQUE O TRATADO DE LISBOA NÃO REVOGA OS
ANTERIORES), logo o TUE (corresponde a Maastricht) e o TFUE (corresponde a
roma) AMBOS REFORMADOS POR LISBOA.
- Não se pretendeu estabelecer explicitamente uma “Constituição” em sentido
formal;
- Não se consagrou no Tratado de Lisboa o princípio do primado. Mas não existe
este princípio? Existe, mas não está escrito no TL (ORAIS: ONDE ESTÁ
CONSAGRADO ESTE PRINCÍPIO? NÃO ESTÁ, ELE VALE COMO UM PRINCÍPIO
AFIRMADO JURISPRUDENCIALMENTE)

No entanto, acaba por ser uma “constituição disfarçada” porque apesar de tudo os
elementos essenciais mantiveram-se: ou inalterados, ou foram mudados os nomes:
- não há comunidades, mas sim uma UE una.
ATENÇÃO OS PILARES FORAM ABOLIDOS FORMALMENTE MAS NÃO NA PRÁTICA
(Gorjão-Henriques) continuamos a encontrar normas muito distintas por exemplo para a
PESC, elas são essencialmente levadas a cabo numa lógica intergovernamental.
- o ministro dos negócios estrangeiros (TCE) é agora o Alto Representante para os
Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (ARUNEPS);
- foram alargadas as competências da união;

NOTA: As comunidades desaparecem no TL.

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Fazer: Tabela com os nomes de tratados e para cada um fazer um esquema em que
contexto surgiu, políticas introduzidas, COMPETÊNCIAS alargamento, etc. alterações
institucionais.

Quais os tratados atualmente em vigor?


- TUE (maastricht, com alterações feitas por lisboa)
- TFUE (roma, com alterações feitas por lisboa)
- Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atómica

20/10

QUAL A NATUREZA DA UE?

A UE é um sujeito de direito internacional, pela sua suscetibilidade de ser titular de


direitos e de obrigações. Ela foi criada com base em tratados, ou seja, convenções
internacionais que são atos jurídicos de direito internacional
Inicialmente a UE não tinha personalidade jurídica, ou seja, não podia ser titular de direitos
nem de obrigações Com o tempo, a UE começou a ver essa personalidade jurídica a ser
reconhecida- hoje, os próprios tratados indicam de forma expressa diz que tem
personalidade jurídica- direitos e obrigações nomeadamente no plano internacional.
A UE, apesar de ser uma OI, é diferente das outras; ela apresenta particularidades
que a afastam das OI clássicas.
Isto foi reforçado com o processo de integração europeia, ou seja, desde o TL onde os
pilares desapareceram, as comunidades desapareceram e tudo passou a estar concentrada
na tal figura na que é a UE, conseguimos perceber que a UE passa ter cada vez mais
influência na escala jurídica internacional.
A UE passa a ser um sujeito autônomo que se distingue dos estados que a compõem.
Isto, só é possível, porque a UE apresenta uma estrutura institucional autônoma,
própria e densa, que em certa medida assemelha-se à do Estado (temos os 3 poderes do
estado).
Segundo alguns autores, a UE é qualificada como uma OI, por duas razões:
- caráter de organização, apesar de terem havido alterações na estrutura da UE, a
verdade é que esta estrutura é relativamente estável, prolongada no tempo,
duradoura, e tem autonomia relativamente aos próprios estados;
- e, a natureza internacional, a UE foi criada por tratados que são atos de DI que
conferem à UE esta natureza no plano jurídico- internacional de sujeito internacional.

NOÇÃO DE ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL: são associações de sujeitos de direito


internacional, ou seja, associações de estados; de caráter permanente ou pelo menos
estável, constituídas por um ato jurídico internacional (paris e roma para as comunidades,
maastricht para a UE), dotadas de personalidade jurídica própria, que prosseguem objetivos
comuns aos seus membros, através de uma estrutura institucional própria e pela qual
manifesta a sua vontade.

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Há várias classificações doutrinais para as organizações internacionais:
1. Quanto à base geográfica:
- gerais - ONU;
- regionais- UE;
- locais.

2. Quanto à finalidade prosseguida:


- política
- econômica (FMI)
- militar (NATO)
- social ou humanitária (OMS)
- cultural, científica ou técnica (UNESCO)
NOTA: Quanto à finalidade da UE, se inicialmente podia ser incluída nas OI de
natureza econômica, hoje a UE prossegue muitas outras finalidades, na verdade até
as prossegue todas.

3. Quanto ao seu grau de abertura:


- abertas (a UE insere-se aqui, admite a entrada e saída dos estados, art.49º e
50º TUE);
- fechadas.

4. Quanto à estrutura jurídica (!)


- intergovernamentais ou de cooperação: nestas podemos dizer que a
figura dos estados-membros continua a prevalecer relativamente à figura da
OI - limitação de atribuições, estrutura institucional simples, no fundo, a OI é
apenas utilizada como instrumento pelos Estados para prosseguirem um
conjunto de fins que são comuns -» a vontade da OI é a vontade dos
estados;
- integração ou supranacionais: nestas a figura da OI vai adquirir
proeminência relativamente aos estados-membros; encontramos aqui
competências muito amplas e diversificadas (já abarcam um leque de
matérias muito superior); a estrutura institucional é mais complexa/densa; e,
muito importante, as decisões tomadas pelos estados, ou seja, a vontade dos
estados, não se sobrepõem de maneira absoluta à vontade da OI.
A UE tem uma vontade própria e distinta da vontade dos estados, verifica-se
na estrutura institucional temos instituições que representam, os interesses
dos estados (conselho europeu e conselho), os da união são representados
pela comissão.
Nestas organizações os estados limitam a sua soberania, delegando ou
transferindo poderes a favor da OI.

(!) É uma organização internacional de integração ou supranacional e distingue-se das


organizações internacionais intergovernamentais ou de cooperação.

9
De notar que há outras propostas doutrinais:

- Há quem diga que a UE é um estado, uma vez que apresenta características


estaduais (competências próprias, divisão tripartida dos poderes, cidadania própria,
eficácia direta do DUE,etc). Porém, é importante relembrar que a UE não tem
soberania originária, e este é um elemento essencial dos estados, as competências
da UE são atribuídas pelos estados, através dos tratados. Ou seja, a UE só vai ter
as competências que os estados lhe atribuírem através dos tratados. A UE não é um
estado porque não tem a competência das competências (característica dos
estados), a UE depende das competências que lhe foram atribuídas.
COMPETÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS- O estado pode determinar quais são as
próprias competências.

NOTA: os autores ligados à ideia de que o estado têm um exército próprio, afirmam que a
UE não pode ser considerada estado por isso mesmo, uma vez que não dispõe de exército
próprio.

- UE, um estado federal?

Uma confederação é uma associação de estados que vão criar órgãos coletivos para
exercerem determinadas atribuições.
A confederação de estados têm apresenta algumas semelhanças com a UE: a UE é
também uma associação de estados, também tem um conjunto de órgãos próprios que
visam a prossecução de atribuições comuns. No entanto, as atribuições da UE são mais
vastas do que aquelas que são conferidas, em regra, nas confederações. Nas
confederações esses órgãos comuns são de gestão, realizam a gestão de determinados
aspectos políticos, administrativos, etc. mas não tem a amplitude de competências que a
UE tem. E, ainda, os órgãos da UE são muito mais complexos.
Logo, a UE não é uma confederação, já foi mais longe.

- Existe ainda um 3ª posição, defendida por autores federalistas, a UE deve


avançar para um modelo de estado federal:

Eles dizem que a UE hoje, na verdade, já é um estado federal atípico ou imperfeito, ou seja,
que estamos a caminho de um estado federal mas ainda não chegamos lá.
Mas, então, quais são os traços federais da UE?
- Desde logo, trata-se de uma união de entidades políticas autônomas, os estados
membros, estados membros estes que são estados soberanos, mas que abrem
parte da sua soberania e transferem-na para uma entidade supranacional. O mesmo
acontece com os estados federados que transferem parte da sua soberania para o
estado federal;
- O facto da UE ter um “governo de dois níveis" tal como acontece num estado federal
(o nível do estado federal, que tem órgãos e leis específicas, e depois os estados
federados). De dois níveis porque temos órgãos próprios nos dois planos, mas o
federal está num plano superior. O mesmo acontece com a UE, os estados membros
têm os órgãos próprios, mas a própria UE tem órgãos que impõe um conjunto de
regulamentações aos estados - os regulamentos.
- A liberdade de circulação e a ausência de fronteiras internas;

10
- a aplicabilidade direta dos regulamentos;
- a questão do primado da UE;
- entre outros.

Mas a UE ainda não chegou a este nível, A UE NÃO TEM A COMPETÊNCIA DAS
COMPETÊNCIAS.
Ainda existem matérias em que a vontade dos estados continua a prevalecer sobre
a vontade da UE - PESC.
A UE não tem recursos financeiros endógenos, ao contrário do que acontece no
sistema federalista.
De notar o art.50º TUE, num estado federal não se prevê a possibilidade de saída.
Ainda o princípio do primado do DUE, que não está em nenhum tratado, mas que é
um princípio que só será respeitado pelos estados enquanto eles pretenderem. Em última
instância só será respeitado se os estados quiserem. Num estado federal é obrigatório.

A POSIÇÃO DO GORJÃO-HENRIQUES É QUE A UE É UMA ORGANIZAÇÃO


INTERNACIONAL DE INTEGRAÇÃO OU SUPRANACIONAL, na qual os Estados delegam
poderes, comprometendo-se a respeitar certas regras adotadas em conjunto. A imediação
típica deste tipo de organizações concretiza-se, na UE, pela ideia da aplicabilidade direta e
do efeito direto das suas normas.

A ORDEM JURÍDICA DA UE E AS SUAS CARACTERÍSTICAS:

- É uma ordem jurídica atípica, autônoma, uniforme e de integração.

Atípica e autônoma porque ela distingue-se da OJ internacional e da OI nacional.


Significa que o DUE é autônomo do DIP e do DC. Podemos falar de uma OJ intermédia,
que se distingue das duas. A autonomia fica evidente quando pensamos nas fontes da UE:
internamente falamos de leis, decretos-leis, regulamentos, etc. Um regulamento no plano
interno não significa o mesmo que o regulamento da união. Ou seja, a UE tem fontes
autônomas, processos legislativos autônomos, etc.
É uniforme e de integração porque: desde logo é uniforme porque o conteúdo das
normas de DUE é tendencialmente igual em todos os estados-membros, o que significa que
os estados não podem rejeitar a aplicação dos atos jurídicos europeus ou de lhes dar uma
interpretação (a questão do reenvio prejudicial) diferente sob pena de o direito europeu se
tornar ineficaz. De integração porque o DUE faz um esforço para se integrar com as ordens
jurídicas nacionais, o DUE procura ao máximo encontrar um equilíbrio entre a sua
autonomia, mas também de respeitar os valores fulcrais dos estados.

DIREITO DA UE VS. DIREITO EUROPEU

Direito europeu -» direito de todas as OI 's de natureza europeia (UE, OCDE, Conselho da
Europa, etc).
Inicialmente era mais correto falar de direito comunitário porque praticamente toda a
legislação era emanada pelas comunidades, especialmente pela CEE que passou a CE -» o
1º pilar, o mais amplo.

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Desde o TL referimo-nos ao DUE, porque é a UE que adota os atos, ela prossegue todos os
pilares, esta união é una.

DIREITO EUROPEU VS. DIREITO INTERNACIONAL

Há uma ligação íntima e de permanente interação entre estes dois ordenamentos:


- elaboração dos tratados estabelecidos;
- o DI como instrumento de integração de lacunas do DUE;
- disciplina a relação entre Estados-membros e a UE;
- Art.1º, 32º, 35º, 37º, 47º TUE

DIREITO DA UE VS. DIREITO NACIONAL

A UE vista internamente como uma organização internacional dotada de características


constitucionais:
- prevalência da aplicação do DUE face ao direito interno;
- impossibilidade geral de controlo da constitucionalidade das normas de DUE pelos
tribunais nacionais;
- previsão de instâncias e mecanismos de controlo jurisdicional, no seio da UE, da
validade dos atos de direito derivado.

PODEMOS DIZER QUE EXISTE UMA RELAÇÃO HIERÁRQUICA, AINDA QUE SEJA
APENAS UMA HIPÓTESE DESEJÁVEL:

- 1º, Direito Internacional


- 2º, Direito Europeu
- 3º, Constituição nacional

Mas há muitos estados que comprometem esta estrutura, afirmando que a constituição
nacional prevalece sobre o Direito europeu.

Qual a posição que o TC tem relativamente a esta questão?

Como vimos, a ideia de primado do DUE, ela não foi aceite de forma leve por todos
os estados (por exemplo, o caso alemão).

NOTA NOTA NOTA: quando falamos de primazia é relativa à constituição, porque


relativamente aos restantes atos faz todo o sentido que o DUE prevaleça sobre eles.

Quanto à CRP, ART.8º/4 CRP, este diz-nos que a CRP reconhece o princípio do primado da
UE, mas verdadeiramente não abriu as suas portas a este princípio, uma vez que criou um
mecanismo de segurança:
- exige-se que a União esteja a exercer competências próprias (se estiver a invadir as
competências dos estados já não há este respeito);

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- exige-se que o ato respeite os princípios fundamentais do Estado de direito
democrática, ou seja, exige-se que respeite o núcleo essencial ou irredutível da
constituição.
Apesar de tudo, o TC, acórdão nº422/2020 do TC, demonstra que o TC tem uma posição
muita aberta a este princípio; e ,no fundo, se algum dia surgem dúvidas se um ato da UE
viola ou não um dos princípios fundamentais do Estado de direito democrático, nos
comprometemo-nos a colocar a questão diretamente ao TJUE, ou seja, o TC não deverá
avançar para um juízo de desconformidade “constitucional” de normas da UE, sem antes
submeter a questão da “interpretação” ou até mesmo da “validade” (válida à luz do DUE) -»
reenvio prejudicial. ABRE-SE A PORTA AO DIÁLOGO.
De notar que a UE é uma construção tão profunda que os próprios princípios fundamentais
de um estado de direito democrático também são protegidos pelos tratados.

PRINCÍPIOS GERAIS DE RELACIONAMENTO DA UE COM OS ESTADOS-MEMBROS

- Princípio da COOPERAÇÃO LEAL, DA SOLIDARIEDADE OU DA LEALDADE

(na dúvida é este princípio)


Consagrado no art.4º/3 TUE,este diz-nos que a UE e os estados-membros devem cooperar
entre si na prossecução daqueles que são os fins essenciais/fundamentais de toda a
construção europeia e dos próprios tratados:
- cooperação entre a União e os Estados-membros;
- cooperação entre as instituições europeias entre si (art.13º/2 TFUE);
- cooperação entre os estados-membros.

Cooperação recíproca porque todos devem cooperar com todos.


Pode ser entendido como uma manifestação do princípio da boa-fé, procurando o
estabelecimento de relações baseadas na igualdade e na reciprocidade:
- conteúdo positivo: os estados, sempre que seja necessário, devem adotar as
medidas necessárias ao cumprimento dos fins estabelecidos nos tratados;
- conteúdo negativo: os estados e as instituições devem abster-se de praticar atos
que ponham em causa o que está definido nos tratados.

É um princípio fundamental porque está na base da ideia de primado do direito da UE ́


este, o princípio da cooperação leal: existe uma prevalência do DUE face ao direito nacional
porque os estados se comprometeram a cooperar para atingir os fins que constam dos
tratados.

- Princípio do ACERVO DA UNIÃO

O acervo é o adquirido pela comunidade, a UE já atingiu um certo nível de


profundidade política, social, econômica, democrática, etc.
O que se diz é que este nível de profundidade deve ser respeitado, ou seja, não se deve
adulterar a natureza da união europeia, como uma comunidade de valores e de direito.
Tem consequências em dois planos:
- plano jurídico, os estados devem respeitar a legislação da UE, sejam os tratados ou
os atos jurídicos de direito derivado;

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- plano político, os estados devem ficar vinculados pelas decisões que sejam tomadas
pela união, nomeadamente pelo Conselho.
OU SEJA, os estados devem respeitar a construção jurídica que é a UE e não devem
atentar contra a sua essência.
Este princípio pode ser retirado do art.1º ao art.3º do TUE.
Porém, a aplicação cega do DUE também pode prejudicar os estados,
nomeadamente aquilo que chamamos de “identidade nacional”. Leva-nos à construção de
outro princípio.

- Princípio do RESPEITO PELA IDENTIDADE NACIONAL

Constado no art.4º/2/4 TUE, o princípio da proteção/respeito das identidades nacionais


diz-nos que os estados, em certas matérias e verificadas determinadas condições, podem
afastar o DUE.
Afastar para proteger valores/interesses que são estritamente nacionais e fundamentais.
Claro que, a proteção destes valores, tem de ser feita de acordo com os princípios
fundamentais. Ou seja, temos de mobilizar o princípio da proporcionalidade, para se afastar
o DUE para se proteger interesses próprios temos de o fazer de forma adequada,
necessária e proporcional.

DELIMITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS, EXERCÍCIO DE COMPETÊNCIAS E A


REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

1. A DELIMITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS significa que se vai determinar quais as


competências atribuídas à UE. Os estados têm um determinado conjunto de
competências sendo que parte passam a ser atribuídas à união.
O PRINCÍPIO DAS ATRIBUIÇÕES visa definir qual o espectro de competências que
os estados atribuem à união.

2. A união pode ter competências, mas é preciso saber se a União pode EXERCER
ESSAS COMPETÊNCIAS, porque em regra a competência é dos estados. A união
só vai poder atuar se provar que a sua atuação é lícita à luz do PRINCÍPIO DA
SUBSIDIARIEDADE e à luz do PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.

3. Uma vez que haja competência e que o seu exercício seja lícito, é preciso saber
QUEM DENTRO DA UNIÃO EXERCE A COMPETÊNCIA. Aqui falamos do
PRINCÍPIO DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS (ou princípio da competência
orgânica limitada ou do equilíbrio).

Essencial é perceber quais os tipos de competências que existem:


- competência exclusiva da união
- competências partilhadas ou concorrentes
- competências paralelas
- competências de coordenação e complementação
- competências exclusivas dos estados-membros

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E onde vão estar definidas estas competências? NOS TRATADOS. Menos as competências
exclusivas dos Estados, porque, à partida, todas as competências são exclusivas dos
estados. Podemos dizer que estas competências são residuais, porque as que não forem
exclusivas da UE, partilhadas, paralelas ou de coordenação e complementação serão
competências dos estados.

NOTA: estas competências estão bem densificadas nos tratados, art.5ºTUE e arts.2º a 6º do
TFUE.

1. DELIMITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

- Princípio das ATRIBUIÇÕES LIMITADAS, ART.5º/1/2 TUE

Determina quais as competências da UE, uma vez que esta só terá as competências
que lhe forem atribuídas, ou seja, aqueles que resultarem da especificação da delegação
dos poderes soberanos dos estados que a compõem (os estados têm a "competência das
competências" e eles abrem mão de parte dessas competências em detrimento da UE, para
que esta possa atuar em determinadas matérias). OU SEJA, todas as competências que
não forem atribuídas à União serão competências dos estados.
- à partida, a UE não pode criar novas competências;
- as competências não podem ser presumidas (têm se ser atribuídas de forma
expressa pelos tratados);
- a UE não pode extravasar os limites das competências que lhe foram atribuídas, sob
pena de ser um ato inválido (porque não tinha competência para atuar naquela
matéria).

Ou seja, trata-se da aplicação do PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE, que delimita a


capacidade jurídica das organizações internacionais.

MAS ONDE PERCEBEMOS QUAIS SÃO AS COMPETÊNCIAS ATRIBUÍDAS À UNIÃO?


Vamos aos tratados. Mas as normas dos tratados que atribuem competência à
união em determinada matéria têm um nome específico - BASES JURÍDICAS*- estas são
as normas que estão nos tratados e que atribuem à união competência para legislar em
determinada matéria . A primeira coisa que um ato da união tem de fazer é REFERIR A
BASE JURÍDICA que concede à UE a competência para atuar, se não o fizer o ato será
INVÁLIDO MESMO QUE A UNIÃO TENHA COMPETÊNCIA.

*BASE JURÍDICA= norma jurídica consagrada nos Tratados e que autoriza a UE a agir.

1. COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS (ART.3ºTFUE)

São aquelas competência onde só a UE pode legislar. Mas, será que os Estados nunca
poderão legislar sobre estas matérias de competência exclusiva? Podem, em caso de
inoperância radical por parte das instituições europeias. Na prática não acontece.

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Não impede, porém, que os estados possam ser autorizados pela União a intervir
nestes domínios de competência exclusiva. Implica, naturalmente, que os estados
respeitem todos os limites definidos pelas próprias instituições no exercício desta
autorização.
Se não existir uma inoperância radical das instituições da UE e se não existir uma
autorização para os estados legislarem naquela matéria, à partida só as instituições é que
legislam. E, aos Estados, caberá apenas uma competência executiva, ou seja, os estados
só as aplicam; trata-se de uma função complementar, prevista no art.2º/1 in fine TFUE.

2. COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS DOS ESTADOS

Como mencionado anteriormente as competências que não sejam atribuídas à União pelos
Tratados pertencem aos Estados-Membros de forma EXCLUSIVA- natureza residual:
- nacionalidade
- fiscalidade direta
- defesa da ordem pública
- segurança nacional

Claro que os estados, embora tenham competência para exercer exclusivamente estas
competências, têm de o fazer de acordo com o princípio da cooperação leal, respeitando o
DUE.

NOTA: Podem contudo ser eventualmente complementadas pela ação da União.

3. COMPETÊNCIAS PARTILHADAS OU CONCORRENTES (ART.4º/2 TFUE)

São competências que abrangem as matérias sobre as quais tanto os estados-membros


como a UE podem legislar.
Porém, os estados têm a COMPETÊNCIA REGRA, ou seja, à partida são os estados que
exercem as competências partilhadas.
A UE só vai intervir (legislar) quando cumpra o princípio da subsidiariedade e o princípio
da proporcionalidade.
- Quer os estados quer a União têm de respeitar os fins estabelecidos pelos tratados,
tendo por isso a sua atuação vinculada aos princípios gerais de DUE - PRINCÍPIO
DA COOPERAÇÃO LEAL;
- PRINCÍPIO DA PREEMPÇÃO (que se junta ao da proporcionalidade e ao da
subsidiariedade): este significa que ao verificar-se os princípios da subsidiariedade e
o princípio da proporcionalidade, a UE vai começar a legislar naquelas matérias, a
partir do momento que a UE legislou funciona o PRINCÍPIO DA PREEMPÇÃO, ou
seja, nas matérias em que a UE interveio os estados deixam de poder intervir. Mais,
se a UE continuar a legislar nestas matérias, os estados vão ficar com um espaço de
intervenção cada vez mais limitado, justamente porque esta competência que era
inicialmente dos estados, vai passar a ser da UE por força do princípio da
preempção.
Os estados vão, gradualmente, perdendo a sua competência naquele aspeto que a
UE legislou, até que, em última instância, pode perder a competência total - ART.2º/2
TFUE.

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Isto acontece porquê? PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE + PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE.
Ou seja, os estados vão ficar vinculados pelo princípio da preempção, são os
estados que ficam obrigados a não intervir na esfera de competências que passou a
ser da UE.

4. COMPETÊNCIAS PARALELAS (ART.4º/3/4 TFUE)

Qual a diferença entre competências partilhadas e competências paralelas?


Nas competências partilhadas vale a ideia de preempção, nas paralelas não. Ou seja, não é
o facto da UE atuar que impede que os estados membros atuem também.
Serão paralelas quando se admite a atuação partidária entre instituições europeias e
instituições nacionais.

5. COMPETÊNCIAS DE COORDENAÇÃO E COMPLEMENTAÇÃO (ART.7ºTFUE)


O que está em causa é uma coordenação na atividade da união e dos estados; e, uma
complementação da atividade dos estados por parte da união em determinadas matérias.

(!!) Quais os limites da UE nesta competência? O art.2º/5 TFUE faz uma referência
expressa a estas competências- “não podem…”, ou seja, a união pode coordenar e
complementar, mas não pode obrigar os estados a harmonizar a sua legislação na matéria,
porque essa harmonização cabe aos estados se estes entenderem fazê-lo.
COMPLEMENTAR NÃO É HARMONIZAR.

2. EXERCÍCIO DAS COMPETÊNCIAS

- Princípio da SUBSIDIARIEDADE (ART.5º/3 TUE)

Importante, desde já, referir que este princípio se aplica a todas as competências salvo as
competências exclusivas da UE e as competências exclusivas dos estados. E, vincula todas
as instituições europeias, inclusive as jurisdicionais.
(insere-se no exercício das atribuições, onde o estado têm a competência regra)
Este princípio determina que, à partida, quem atua são os estados, ou seja, a UE só
vai poder atuar em respeito do princípio da subsidiariedade, verificados dois requisitos
cumulativos:
- Falta de eficiência da atuação dos Estados-Membros, ou seja, quando os
estados não estão a ser eficientes na prossecução daquela competência;
- A UE, ao intervir, tem de acarretar um valor acrescentado, isto significa que se a
UE intervir e se a sua eficiência for a mesma que os estados, então quem atua são
os estados e não a UE. Mas se a UE provar que consegue ser mais eficiente que os
estados, então ela pode atuar.

NOTA: O princípio da preempção vincula os estados. O princípio da subsidiariedade vincula


a UE.

(!) Como é feito o controlo do princípio da subsidiariedade?

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- Controlo EX ANTE, trata-se de um controlo político, antes da UE atuar, e cabe aos
Parlamentos nacionais.
Quando a UE pretende legislar sobre determinada matéria envia uma notificação
aos parlamentos nacionais onde diz que pretende intervir naquela matéria
específica. Em resposta a esta notificação, os parlamentos nacionais vão emitir um
parecer, para no fundo avaliarem se os argumentos que a UE utiliza de facto
cumprem (ou não) os requisitos necessários para poder intervir.
Se ⅓ dos Parlamentos nacionais se pronunciar num sentido de entender que a UE
não cumpre um dos requisitos, a UE tem de analisar este projeto, ou seja, tem de
parar e reforçar os argumentos.

- Controlo EX POST, neste caso a UE atuou, mas os Estados entendem que a UE


atua numa competência, onde verdadeiramente os Estados são suficientemente
eficientes, ou que a atuação da UE não acarretou o valor acrescentado. Neste caso,
devem, os estados-membros, dirigirem-se ao TJUE, e pedir a anulação daquele ato
invocando a violação do princípio da subsidiariedade.

- Princípio da PROPORCIONALIDADE (ART.5º/4 TUE)

Este vale em todas as competências e vincula todas as instituições da UE, assentando


numa análise de relação entre meios e fins exigindo:
- a adequação, a intervenção da UE através de um determinado ato jurídico tem de
ser apta para a prossecução do fim. Tem que se utilizar os meios aptos/idóneos para
se atingir o fim a que se propõem;
- a necessidade, este determina que a UE deve utilizar os meios menos restritivos ou
lesivos para a soberania dos estados (por exemplo, diretivas vs regulamentos -» à
luz deste princípio é preferível a utilização de diretivas);
- proporcionalidade em sentido estrito, tem de se fazer um juízo de ponderação
entre quais são os custos e quais são os benefícios, tendo como objetivo evitar
todas as medidas comunitárias que possam ter mais custos do que benefícios.

Recentemente, a UE adotou um regulamento que confere à Comissão Europeia


competência para proceder ao licenciamento de unidades industriais, exigindo
determinado nível de eficiência energética e a implementação crescente do uso de
energias renováveis. A Câmara Municipal de Lisboa entende que esta competência não
pode ser exercida pela União, mas sim pelas autoridades nacionais. Quid iuris?

Primeiro é preciso esclarecer que a UE só tem competências nas matérias que lhe sejam
conferidas pelos estados através dos tratados -» princípio das atribuições.
Será que a UE tem competência para intervir nesta matéria?
Vamos procurar a norma que atribui à UE a competência -BASE JURÍDICA- TFUE.
Neste caso devemos estar numa competência em matéria de energias. Será que a UE
tem competências em matéria de energia?

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Vamos ter de ir aos primeiros artigos do TFUE, estes têm inúmeras matérias, algumas de
competência exclusiva, outras de competência partilhada -» art.4º/2/1, ou seja, no tratado
vamos ter um título relativo à energia (ir ao índice), art.194º/1/c -» esta é a nossa base
jurídica, ou seja, a UE para intervir tem de referir LOGO a base jurídica em que se
fundamenta.
Mas será que a UE pode exercer ou não? Que tipo de competência é esta?
Vamos ver os primeiros artigos do TFUE, neste caso o art.4º/2 fala-nos das competências
partilhadas, logo é partilhada entre estados e união, logo ,em princípio são os estados
que vão atuar. Logo só vai atuar se: proporcionalidade (adequada, necessária e
proporcional em sentido estrito -» será que era necessário a aplicação de um
regulamento? ou a diretiva, que é menos intrusiva, podia ser suficiente?) e
subsidiariedade (a atuação dos estados não pode ser suficientemente eficiente e a
atuação da UE tem de acarretar o valor acrescentado, art.5º/3 TUE).
ART.2º/2 TFUE-» princípio da preempção, é importante referir porque é uma competência
partilhada.

OU SEJA:
1- ENCONTRAR A BASE JURÍDICA
2- SABER DE QUE TIPO DE COMPETÊNCIA FALAMOS
3- DESENVOLVER OUTROS PRINCÍPIOS RELEVANTES, COMO SUBSIDIARIEDADE,
PROPORCIONALIDADE, SE VALE OU NÃO O PRINCÍPIO DA PREEMPÇÃO

- Princípio da COOPERAÇÃO DIFERENCIADA

Através deste princípio a integração europeia passa a ser levada a cabo de forma flexível,
admitindo-se soluções jurídicas diferenciadas. E porquê?
Os estados-membros que compõem a UE andam a velocidades diferentes, ou seja, temos
países que têm uma grande capacidade econômica, política, industrial, etc. e, outros que
têm uma capacidade mais modesta.
Por esta razão, os tratados previam a necessidade de criar mecanismos de cooperação
diferenciada, ou seja, alguns mecanismos em que um conjunto de estados se reúnem para
cooperar de forma mais profunda em determinada de matéria; e, um conjunto de
mecanismos, que permitem aos estados de se afastarem de uma política que, à partida
deveria ser comum, mas o estado vai decidir afastar essa política por entender que aquela
política não lhe é favorável; que politicamente não lhe interessa naquele momento; ou,
ainda, que naquele momento não tem capacidade para a prosseguir.
Este divide-se em dois domínios:

1. Cláusulas de cooperação reforçada (aprofundamento da cooperação), esta foi


aprofundada pelo TL.
No fundo traduz-se na possibilidade de um conjunto de estados-membros iniciarem
uma cooperação mais profunda em determinada matéria. Eles reúnem-se, dentro
das condições estabelecidas pelos tratados, para aprofundar determinada política
para levar mais longe determinados objetivos fixados pelos importantes.

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Importante referir que esta cooperação reforçada é uma cooperação entre
determinados estados, pode-se falar de um mecanismo “opting-in”.
Para que se crie uma cooperação reforçado é necessário um mínimo de 9 estados
(art.20ºTUE), ou seja, ⅓ ; que depois será adotada pelo Conselho, ou seja, é o
conselho que adota a cooperação reforçada, uma vez que existem esse mínimo
para dar início a essa cooperação.

Há um conjunto de limites que têm de ser respeitados:


- MATERIAIS:
1. Não podem estar em causa competências exclusivas da União;
2. O princípio da atribuição deve ser respeitado e deve favorecer-se a
realização dos objetivos da UE e de integração;
3. Dever de respeitar os Tratados (ART.326º TFUE);
4. Dever de respeitar os direitos e obrigações dos estados-membros não
participantes na cooperação reforçada (ART.327ºTFUE);
5. Não pode constituir uma restrição ou discriminação ao comércio entre
Estados-Membros, nem distorcer a concorrência.

- FORMAIS E PROCEDIMENTAIS (ART.329ºTFUE)

2. Derrogações à aplicação de normas da UE (relaxamento da cooperação), são


normas emanadas no quadro da União, que deveriam valer para todos os estados,
mas há um ou vários estados que decidem manter-se à margem dessas mesmas
normas, ou seja, não aceitam aquele passo de integração - mecanismo de
opting-out.
(por exemplo, em política monetária)
Podem ser derrogações:
1. Voluntárias, ou seja, é o próprio estado que solicita a não aplicação de
determinados direitos e deveres, ou no momento em que adere à UE ou num
momento posterior.
2. Obrigatórias, ou seja, são aplicadas automaticamente, porque por vezes os
tratados identificam requisitos objetivos, que os estados têm de cumprir para
que aquelas normas lhe possam ser aplicadas.
3. Temporárias, porque o Estado pode num determinado momento não ter
interesse/capacidade para adotar aquela medida, então vai derrogar a
aplicação de normas temporariamente, porque existe um termo, o próprio
estado define o prazo no qual aquelas normas não se vão aplicar.
4. Permanentes, mas não quer dizer que são derrogações “para sempre”,
significa apenas que não têm um termo, ou seja, não há um prazo.

3. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Falamos aqui dos princípios de repartição de competências entre instituições e


órgãos da União (trata-se de competências da União -princípio das atribuições).
Determina quem, de que forma, e de acordo com que procedimento cada uma das
competências deve ser exercida.

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- Princípio da COMPETÊNCIA ORGÂNICA LIMITADA

Ou seja, a UE tem a competência, pode exercer essa competência, mas vai ter de atuar
segundo determinadas indicações presentes nas bases jurídicas (norma que atribui
competência, mas define também como é que deve ser exercida), ART.13º/2 TUE.

1. Princípio da TIPICIDADE ORGÂNICA, as instituições ou órgãos só podem atuar se


para isso estiverem habilitadas por uma norma de competência (BASES
JURÍDICAS), sob pena de invalidade do ato.
2. Princípio da TIPICIDADE DOS PROCEDIMENTOS, os tratados identificam que tipo
de procedimento tem de ser utilizado, ou seja, as normas tipificam as regras, sob
pena de ilegalidade procedimental do ato.
3. Princípio da TIPICIDADE DAS FORMAS, são os tratados que definem que tipo de
ato tem de ser adotado, sob pena de ilegalidade formal do ato.

Nota: Se a base jurídica nada disser segue-se os princípios gerais.

- Princípio do EQUILÍBRIO OU DA PARIDADE INSTITUCIONAL

Traduz a ideia de separação de poderes dentro do quadro institucional da UE. Porém,


fundamenta a ideia de que existe uma igual dignidade institucional, ou seja, todas as
instituições executam diretamente os Tratados e, portanto, nenhuma pode pretender
sobrepor-se às outras ou interferir no exercício das respectivas prerrogativas.
Existem ainda mecanismos de controlo recíproco -checks and balances.

1. PODER LEGISLATIVO:
- Comissão
- Conselho
- Parlamento Europeu
2. PODER EXECUTIVO:
- Comissão
- Conselho
- Conselho Europeu
- Estados-Membros
3. PODER JUDICIAL:
- Tribunal de Justiça
- Tribunal Geral
- Tribunal de Contas

A QUESTÃO DA INTEGRAÇÃO DE LACUNAS

O DUE, tal como todos os ordenamentos jurídicos, também tem lacunas, por vezes
existem situações onde existe um vazio jurídico, mas é preciso resolver essas questões.
Existem 3 meios de integração de lacunas:

21
- Princípio dos PODERES IMPLÍCITOS

A maior parte das competências são expressamente atribuídas à União,ou seja, não se
presume competências à partida (a regra geral).
Mas não excluímos a possibilidade de se considerar poderes implícitos, ou seja, não
podemos entender esta regra de forma rígida, uma vez que podemos estar a comprometer
a prossecução dos objetivos dos tratados.
Este princípio foi sendo desenvolvido pela doutrina, e que no fundo permite que a UE atue
em matérias que lhe são muito próximos dos seus domínios de atuação, isto é, ela tem
competência expressa para atuar sobre determinadas matérias, mas ela precisa, para
prosseguir aquela competência, de atuar em domínios que são as zonas circundantes.

PRINCÍPIO DO PARALELISMO DE COMPETÊNCIAS: para a UE prosseguir os objetivos


que foram fixados pelos tratados no plano interno, ela precisa de ter competências no plano
externo, logo essas competências são implícitas -» se não as tiver no plano externo não
consegue prosseguir os objetivos no plano interno. Se assim não fosse, a UE não
conseguiria alcançar os objetivos.

Se queremos garantir que a UE prossegue determinados objetivos é necessário que esta


tenha poderes para tal, mas estes podem não ter sido reconhecidos de forma expressa,
mas podemos extraí-los de forma implícita, quando seja necessário para a prossecução de
determinada competência, trata-se de uma questão de efetividade da atuação.

- UNIDADE DE SENTIDO DOS TRATADOS

Continuamos a ter vários tratados, mas de alguma forma eles complementam-se. Não quer,
porém, isto dizer que não possam existir lacunas, ou seja, que olhemos para um
determinado tratado e cheguemos à conclusão que não está regulamentada uma matéria
que devia.
Qual a solução?
Podemos procurar a unidade de sentido dos tratados, ou seja, vamos fazer uma leitura
sistemática dos tratados e perceber quais seriam as soluções consagradas, tendo em conta
a lógica comum associada a estes vários tratados.
De notar que pode-se fazer uma aplicação analógica do disposto num determinado tratado.
Mas, hoje em dia, este mecanismo de integração de lacunas não é praticamente utilizado,
porque:
- o Tratado de Paris (CECA) já não está em vigor, logo já não se pode utilizar;
- com o TL temos a fusão da CE com a UE, passando a ter o TFUE e o TUE, que são
tratados complementares e não existem muitas lacunas de um dos tratados que
possam ser resolvidas com o auxílio do outro;
- e, ainda, o Tratado da CEEA está desatualizado.

Todavia, é importante referir que foi um mecanismo fundamental de integração de lacunas


no início da integração europeia.

22
- CLÁUSULA DE FLEXIBILIDADE (ART.352ºTFUE)

(!!!) Para que esta possa ser ativada exige-se:


- tem que se considerar que a ação é necessária;
- necessário no quadro das políticas definidas pelos tratados;
- para atingir os objetivos que os tratados definem relativamente a essa política
(ART.3ºTUE);
- é necessário que o tratado não tenha expressamente atribuído à UE poderes para
que ela prossiga aqueles objetivos (se o tivesse feito não existiria lacuna).

Mas, NOTA, se é ativada esta cláusula de flexibilidade é porque não foram atribuídos
poderes expressa ou IMPLICITAMENTE, quer isto dizer que já se tentou mobilizar a ideia
de poderes implícitos.
Ou seja, é um mecanismo poderoso.

(orais) é um meio que nos permite alargar os poderes da UE sem que estes sejam
expressos ou se quer implícitos. Qual é que seria o meio natural para o alargamento dos
poderes da UE? Seria necessário os Estados-Membros atribuem essas competências
através de uma revisão dos tratados. Esta seria a maneira lógica. Mas, esta cláusula,
permite alargar as competências sem a revisão dos tratados e, é por isso, que este
mecanismo é extremamente poderoso, porque estamos, sem tocar nos tratados, a alargar
poderes da UE.
É por esta razão que é um procedimento bastante exigente:

1. Esta cláusula tem de ser ativada pela Comissão, ou seja, a Comissão alerta os
parlamentos nacionais para a necessidade de prosseguir o tal objetivo e que os
tratados não lhe conferem o poder necessário;
2. Os Parlamentos nacionais vão controlar se o princípio da subsidiariedade está a ser
respeitado, ou seja, vão analisar a competência e perceber que tipo de competência
é aquela, e depois analisar se realmente a UE possa exercer aquela competência
(têm de estar cumpridos os 2 requisitos);
3. É necessário que haja a aprovação desta proposta da Comissão pelo Parlamento
Europeu;
4. Por fim, o Conselho adotou por unanimidade, as medidas necessárias, ou seja,
todos têm de estar de acordo (porque a partir deste momento a união passa a ter
mais poderes, poderes estes que vão vincular os EM 's, que os vão deixar de ter).

Em oral, é preciso dizer que todos os interesses estão fundamentados e tem de existir uma
convergência clara entre estes.

HÁ UMA EXCEÇÃO, este art.352º TFUE, não pode ser usado em matéria de política
externa e segurança comum (porque continua a ser uma matéria que funciona segundo
uma lógica intergovernamental).

Esta cláusula de flexibilidade é muito poderosa e, portanto, os tratados e o TJUE,


vieram estabelecer limites à mobilização desta cláusula:

23
- respeito pelo princípio das atribuições, ou seja, é certo que os Tratados não
consagraram poderes para a UE nesta matéria, mas se eles têm de ter consagrado
o OBJETIVO, se a UE não tiver que prosseguir este fim a cláusula não pode ser
ativada. E porquê? A cláusula serve para alargar poderes e NÃO ÁREAS DE
INTERVENÇÃO.
- os princípios básicos/fundamentais da UE têm de ser respeitados;
- o princípio da subsidiariedade tem de ser respeitado;
- e, por fim, pode-se recorrer a esta cláusula para se dar SALTOS QUANTITATIVOS,
mas não qualitativos, ou seja, podemos utilizá-la para dar mais poderes à UE, mas
não podemos utilizá-la para dar mais áreas de intervenção -» os objetivos já estão
fixados e não se podem alterar.

INSTITUIÇÕES EUROPEIAS- O QUADRO INSTITUCIONAL


EUROPEU

INSTITUIÇÃO (ART.13ºTUE) VS ÓRGÃO

Gorjão-Henriques diz-nos que:


- as instituições são órgãos que têm uma especial dignidade atribuída pelos tratados,
de tal forma que foram elevados à categoria de instituições, ou seja, são os
principais órgãos das instituições. Estes são centrais porque têm grandes poderes
decisórios e resolvem contenciosamente litígios. São o sustento da UE.
- os órgãos, por sua vez, têm uma natureza auxiliar/complementar. Estão em segundo
plano, por vezes têm poderes decisórios (embora sejam limitados e/ou controlados
pelas instituições), outras vezes têm meros poderes consultivos.

● PARLAMENTO EUROPEU

É o órgão representativo dos cidadãos da UE. E, é o único órgão que é eleito


diretamente pelos cidadãos (órgão democrático-representativo dos cidadãos europeus).
Cidadãos da UE são os nacionais dos estados-membros.
Art.13º/1 TUE + 10º/1/2 TUE

- A HISTÓRIA DO PARLAMENTO EUROPEU

Sediado em Estrasburgo, embora algumas sessões se realizem em Bruxelas, e os


serviços e o secretariado-geral estejam no Luxemburgo; tem a base do seu regime jurídico
no art.14ºTUE e arts.223º e ss do TFUE.
Quando foram criadas as comunidades, cada uma delas tinha as suas próprias
instituições, apesar de tudo, a Assembleia Parlamentar e o Tribunal eram partilhadas. Ou
seja, o PE surge como “Assembleia Parlamentar” que já era partilhada pelas 3
comunidades. Era constituído por deputados escolhidos entre os deputados dos

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estados-membros, o que significa que aqui ainda não existia eleições para o PE, era
através das eleições para os deputados nacionais que eram escolhidos alguns que iam
integrar a Assembleia Parlamentar das comunidades.
O Parlamento Europeu, assim designado, nasce da fusão das Assembleias das 3
comunidades (Tratado de Fusão, 1957). Passando-se a designar como “PE” em 1962.
Em 1975, com o Tratado de Bruxelas, passou a ter o direito de escrutinar as contas da UE
no final de cada exercício e de avaliar a aplicação criteriosa e correta do orçamento
comunitário por parte da Comissão.
As primeiras eleições só vão ter lugar em 1979, apesar de em 1976 passamos a ter
o sufrágio direto e universal.
Em 1986, com o Ato Único Europeu, o PE passa a estar obrigado a aprovar as novas
adesões à UE.
Em 1997, com o Tratado de Amesterdão, vê a sua posição a ser reforçada no processo de
co-decisão com o Conselho, numa série de áreas reguladas pelo direito comunitário.
Em 2009, com o Tratado de Lisboa, vê os seus poderes a serem aumentados enquanto
co-legislador plenamente reconhecido e com poderes orçamentais reforçados. O TL
confere-lhe ainda um papel fundamental na eleição do Presidente da Comissão Europeia.
A partir daqui, o PE foi vendo os seus poderes a serem reforçados, sendo hoje uma
instituição central, quer no controlo da atividade de outras instituições, quer na própria
construção do próprio OJ europeu, a questão dos poderes legislativos.

- O SIGNIFICADO JURÍDICO-POLÍTICO DO PARLAMENTO EUROPEU

O PE é hoje o rosto da democracia na Europa, uma vez que as outras instituições só têm
uma legitimidade democrática indireta. Mais, encontramos no PE uma representação
daquilo que são os povos europeus:
- representa os povos europeus (dimensão democrática)
- esta representação tem correspondência com a realidade demográfico dos EM’s
(dimensão demográfica)
- esta representação reflete as várias posições político-ideológicas europeias
(dimensão política)
- a representação é baseada no multilinguismo do funcionamento e na expressão de
identidades nacionais (dimensão cultural)

Para além da função representação tem, também, uma função de integração, sendo o PE
um fórum de discussão e deliberação em torno dos vários problemas europeus.

- A ELEIÇÃO

O PE é composto pelos representantes dos cidadãos da UE, ou seja, é composto por


deputados que exercem os poderes que lhe são atribuídos pelos tratados. Sendo estes
totalmente independentes face aos Governos e Parlamentos nacionais.
Desde 1976, cada Estado-Membro estabelece o seu próprio processo eleitoral,
embora tenham que ser respeitadas por todos os estados-membros as regras
democráticas fundamentais:
- sufrágio universal, livre, secreto e direto
- representação proporcional

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- idade mínima de 18 anos (16 para a Áustria)
- mandatos de 5 anos que podem ser renováveis
- incompatibilidade com o exercício de outros cargos
- a data de escrutínio está a cargo dos estados-membros *
- igualdade entre homens e mulheres

NOTA: Apesar de ser este o processo eleitoral desde 1976, as primeiras eleições foram em
1979.

*é o PR que, ouvido o Governo, procede à marcação das datas das eleições, sendo as
listas de candidatos apresentadas ao TC.

- COMPOSIÇÃO DO PARLAMENTO EUROPEU

Existe uma mesa do PE que é composta por: 1 presidente, 14 vice-presidentes; e, 5


questores.
Quanto ao número de deputados são atualmente 705, repartidos por 7 grupos políticos,
que não são grupos nacionais, mas sim grupos criados com base na natureza política. Mais,
os grupos políticos europeus não correspondem, necessariamente, aos grupos políticos
nacionais.
Existe ainda uma conferência de presidentes; uma conferência dos presidentes das
comissões; e, ainda, uma conferência dos presidentes das delegações.

O presidente do PE, atualmente David-Maria Sassoli, ele gere e coordena todos os


trabalhos dentro do parlamento e representa o PE no exterior, garante o respeito pelo
regimento do PE, assina os atos legislativos juntamente com o Presidente do Conselho, etc.
É eleito por um período de 2,5 anos.
Os deputados são eleitos segundo uma lógica de proporcionalidade degressiva,
ou seja, cada estado vai ter um número de deputados no PE consoante o número de
cidadãos europeus.
Por exemplo, a Alemanha vai ter um número maior de deputados no PE do que Portugal.
Mas a distribuição dos lugares é feita segundo um limiar mínimo (6
deputados/Estado-Membro) e um limiar máximo (96 deputados/Estado-membro), para evitar
que um Estado grande possa ter um número de deputados que é completamente
desproporcional relativamente aos estados mais pequenos.
Permite que os estados mais populosos continuem a ter uma maior representação mas sem
sufocar os estados mais pequenos.
Os deputados não se agrupam por nacionalidades, mas sim em função das suas afinidades
políticas. Os grupos políticos são organizados tendo por base crenças de natureza política.
De notar, que existe a possibilidade de um deputado não pertencer a nenhum grupo político
passando a ser um deputado “não-inscrito”. E, ainda, cada grupo político tem a sua própria
organização interna, com um presidente, uma mesa e um secretariado.

NOTA: no plano da UE não há orientação de voto vinculativo.


Atualmente existem 7 grupos políticos.

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CONFERÊNCIA DE PRESIDENTES

É o órgão político do PE, que vai abarcar o presidente do PE e os presidentes dos grupos
políticos, que criam um pequeno comité onde vão definir determinados aspetos que depois
devem ser definidos pelo plenário. Tem um escopo organizatório.

A MESA

É o órgão diretivo regulamentar do PE, cabendo-lhe decidir sobre todas as questões


financeiras, administrativas, pessoais e de organização intraparlamentar.
Constituída pelo presidente, 14 vice-presidentes e 5 questores.
Nota: os questores são funcionários encarregues da gestão de tarefas administrativas e
financeiras.

AS COMISSÕES

A maior parte do trabalho no PE é desenvolvida nas comissões (compostas por 25 a 81


deputados), que são atualmente 20, sendo cada uma especializada num domínio
específico.
Vai existir um presidente, uma mesa da comissão e um secretariado.
A maior parte do trabalho é feito nas comissões porque os deputados dos PE têm
competências diversas, logo é por isso que o trabalho se inicia sempre numa comissão
especializada.
As comissões têm um papel significativo, por exemplo, ao nível da aprovação do orçamento
a primeira entidade do PE que olha para a proposta de orçamento apresentada pela
comissão, é a comissão dos orçamentos.

AS DELEGAÇÕES

A diferença para as comissões é que estas atuam essencialmente num plano externo (as
comissões atuam num plano interno). Estas estabelecem a ponte entre o PE e outros
parlamentos. Isto permite que o PE não seja apenas uma instituição com um âmbito interno,
ela tem um escopo externo, prossegue finalidades externamente, como a promoção da paz.
Trata-se de uma forma de promover os valores da UE fora desta.

MODO DE FUNCIONAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU

Desenvolve a sua atividade em Plenário e através das Comissões Parlamentares.


Realiza uma sessão anual pública (2ª terça-feira de março), art.229ºTFUE.
Podem ser realizadas sessões extraordinárias, a pedido da maioria dos deputados, do
Conselho ou da Comissão.

(não esquecer que a maioria do trabalho do PE é feita nas comissões e não em plenário)

De notar que, em cada legislatura, o PE aprova por maioria o seu regimento, nos termos do
art.232ºTFUE.
A maior parte dos atos emanados do PE são publicados no JOUE.

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MODO DE DELIBERAÇÃO DO PARLAMENTO EUROPEU

É preciso distinguir quórum constitutivo (quorum necessário para que o órgão colegial possa
funcionar) de quórum deliberativo (o número mínimo de deputados que têm de estar
presentes para que possam ser tomadas decisões).

O quórum constitutivo do PE é de ⅓ dos deputados, ou seja, têm de estar presentes 235


deputados.
O quórum deliberativo é a obtenção de uma maioria absoluta de votos expressos
(art.231ºTFUE).
Há várias maneiras de votação: mão no ar, voto eletrónico ou, em alguns casos, o escrutínio
secreto.
Por vezes, os tratados exigem uma “dupla maioria” que pode implicar:
- a maioria dos votos expressos com a maioria dos deputados eleitos;
- ⅔ dos votos expressos com a maioria dos deputados eleitos (aprovação de moção
de censura por exemplo, art.234º/2 TFUE)
- ⅗ dos votos expressos com a maioria dos deputados eleitos.

(!) COMPETÊNCIAS DO PARLAMENTO EUROPEU

1. A principal competência é a legislativa, exercida em conjunto com o Conselho


(art.14º/1 TUE). Além destas 2 instituições, a Comissão tem um papel fundamental
no processo legislativo, a Comissão tem a iniciativa. Mas há um conjunto de
entidades que podem pedir à Comissão que apresentem propostas: o Conselho,
cidadãos da UE (iniciativa de cidadania-» 1 milhão de cidadãos para que a proposta
possa ser considerada pela comissão), assim como pode o PE propor uma iniciativa
à Comissão.
Se o PE pedir à Comissão que apresente uma proposta, estará a Comissão
obrigada a fazê-lo? NÃO. Mas se rejeitar tem de justificar o porquê de não
apresentar a proposta.
Segundo o doutor Gorjão-Henriques isto demonstra a existência de um VÍNCULO
DE DEPENDÊNCIA FUNCIONAL entre a comissão e o parlamento (da comissão
relativamente ao parlamento).
2. Para além da competência legislativa, o PE tem também uma competência
consultiva. Ou seja, muitas das vezes o PE tem de ser consultado por outras
instituições antes que estas possam adotar determinados atos. E neste caso apenas
emana recomendações ou pareceres.
3. Tem ainda uma competência orçamental, que exerce juntamente com o Conselho.
A ambos cabe a elaboração e aprovação do orçamento anual da UE, deliberando de
acordo com o processo legislativo especial (art.314ºTFUE). Sendo a iniciativa de
proposta do Orçamento da Comissão.

NOTA: só vamos ter um ato legislativo ou o orçamento aprovado se existir um acordo entre
as duas instituições. Quando não há um acordo- COMITÉ DE CONCILIAÇÃO.

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4. Tem também uma competência eletiva e de nomeação, ou seja, o PE elege, de
entre os seus membros, o seu presidente e a mesa (art.14º/4 TUE). Participa na
eleição do Provedor de Justiça da UE (art.228º/2 TFUE). E, muito importante, elege
o Presidente da Comissão e tem de aprovar o colégio de comissários (conjunto de
comissários que elegem a comissão) - voto de confiança. Assim se cria outro vínculo
entre PE e Comissão- DEPENDÊNCIA GENÉTICA entre Comissão e PE . Sem PE
não há Comissão.
5. Competências de fiscalização e de controlo, tem poderes de supervisão e de
controlo de outras instituições europeias, da utilização do orçamento e da correta
aplicação da legislação comunitária:
- dever de informação ao PE
- interpelação e audições
- apreciação das petições dos cidadãos (art.20º/2/d TFUE + art.227º TFUE)
- publicidade da atividade parlamentar (art.232º, 233º, 234ºTFUE)
- PODER DE INQUÉRITO: o PE pode constituir comissões de inquérito para
investigar uma determinada situação. Têm como objetivo controlar alegadas
infrações ou má gestão administrativa na União. Mas, não substituem a
atividade dos tribunais.
São interesses porque, à partida, um órgão legislativo não tem competências
de fiscalização.
- MOÇÕES DE CENSURA: o PE pode aprovar moções de censura à atividade
da Comissão (art.234º TFUE).
É possível que o PE aprove uma moção de censura (⅔ dos deputados sendo
que têm de estar presentes a maioria dos deputados em efectividade de
funções). Moção esta que vai conduzir à demissão em bloco da Comissão.
Ou seja, não podemos usar uma moção de censura para demitir um
comissário, mas sim em bloco. Demonstra a DEPENDÊNCIA EXTINTIVA
entre Comissão-PE.

● CONSELHO EUROPEU

O Conselho Europeu representa os interesses dos estados-membros.

NOTA: Não confundir conselho europeu com conselho/conselho de ministros/conselho da


UE com conselho da europa (este último é uma organização internacional que nada tem a
ver com a UE).

É uma instituição de direção política, ela está no vértice da própria união, uma vez que é ela
que define as prioridades políticas da UE e participa na gestão da UEM (art.15º/1 TUE).
Constituído por 30 membros, sendo eles:
- Presidente do Conselho europeu
- Presidente da Comissão
- Chefe de estado OU chefe de governo dos estados-membros (cada estado define
consoante a legislação interna)

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- ARUNEPS (de notar que também é vice presidente da comissão) que participa
apenas como observador, ele não pode votar
- A HISTÓRIA DO CONSELHO EUROPEU (!)

Esta não é uma instituição como as outras relativamente à sua história. No primórdio das
comunidades não havia um Conselho Europeu.
Inicialmente era um conjunto de reuniões informais que eram feitas pelos vários chefes de
estado ou de governo onde se discutiam essas questões políticas, ou seja, onde se
discutiam as prioridades das comunidades.
Em 1973, na Cimeira de Copenhaga, definiu-se que estas cimeiras deviam ser realizadas
mais frequentemente. Tendo-se, um ano depois, na Cimeira de Paris, criado o Conselho
Europeu, com o objetivo de estabelecer uma instância informal de debate entre chefes de
estado ou de governo.
Porém, foi apenas com o Ato Único Europeu, em 1987, que o Conselho Europeu foi
mencionado pela primeira vez. Mas, ainda não era uma instituição, apenas existia a menção
num ato de direito originário.
Com o Tratado de Maastricht (1992), o Conselho Europeu adquire o seu estatuto formal de
órgão.
Só será elevado a instituição com a aprovação do Tratado de Lisboa (2009). A partir daqui o
Conselho Europeu viu os seus poderes a aumentar de forma progressiva.
De notar que houve críticas a esta elevação, uma vez que considerava-se que já existia
uma instituição que representava os interesses dos estados- o conselho. Será que é
reforçar demasiado os poderes que os estados têm dentro da união?
Houve muitos autores que concordaram com o facto de ser um reforço dos poderes dos
estados, todavia confirmam a importância do conselho europeu ao nível do processo de
integração europeia (uma vez que foram discutidas muitas das vezes questões
fundamentais nas cimeiras).

- O PRESIDENTE (ART.15º/5/6 TFUE)

Foi também com o Tratado de Lisboa que se criou a figura do presidente do CE. Criado com
o objetivo primordial de ser a imagem da UE no exterior.
Porém, esta função não pode ser considerada a principal função, uma vez que é ele
substituído na representação externa da união por outros membros.
Temos de distinguir duas matérias:
- PESC, o representante externo da União é o ARUNEPS (também criado pelo TL e é
um vice-presidente da comissão).
- Em todas as outras matérias, quem representa é o Presidente da Comissão.

A doutrina tem afirmado que, na prática, os poderes não são do Presidente do CE, ele é
uma figura simbólica.

No entanto, não significa que ele não tenha funções importantes (ver art.15ºTUE).
Importante referir a importância do art.15º/6/c - função de desbloqueio- é importante
porque o modo de deliberação regra do CE é o consenso, ou seja, para se poder adotar
uma decisão dentro CE, normalmente é preciso que exista um consenso. Na procura desse
consenso é normal surgirem tensões; e, o papel do presidente, como moderador que é,

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deve procurar desbloquear a discussão e garantir a existência de condições favoráveis para
que se possa formar um consenso.
De notar, que ele não tem direito de voto no CE, uma das outras características que
demonstra que ele é apenas uma figura simbólica, pois não têm poderes efetivos.

- ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Reúne 2 vezes por semestre por convocação do Presidente, o qual é assistido por um
Secretário-Geral (art.235º/4 TFUE). E os membros podem ser assistidos por um ministro
(chefes de estado ou chefe de governo; no caso do Presidente da comissão pode ser
assistido por um comissário (art.15º/3 TUE).
O modo de deliberação é, em regra, por consenso (unanimidade é diferente de
consenso).
O consenso exige um processo de diálogo entre as partes; é um processo que, muitas
vezes, pressupõe cedências mútuas -» ou seja, os tratados quando exigem a tomada de
decisões por consenso, estão a exigir a comunicação entre os estados.
Porém, os Tratados, nas bases jurídicas, podem prever a possibilidade de votação
(art.15º/4 TUE). Nesse caso aplicam-se as regras previstas para o Conselho (art.16º/4 TUE
e arts. 235º e 236º do TFUE) e, tanto o presidente do conselho como a da comissão não
vão votar:
- decisão por unanimidade (onde a abstenção não prejudica a tomada de decisão, a
abstenção é tida como um voto a favor)
- decisão por maioria qualificada
- decisão por maioria simples

Os atos do CE são atos de natureza essencialmente política, ou seja, não tem um valor
verdadeiramente jurídico: declarações, orientações, resoluções,etc. Porém, não quer dizer
que não tenham um valor importante, porque têm (não esquecer que o CE define as
prioridades políticas).
Em princípio não estão sujeitas ao princípio da publicidade.
Todavia, estes atos podem ter efeitos jurídicos relativamente a terceiros, podendo ser
alguns destes atos impugnados junto do TJUE.

- COMPETÊNCIAS

1. Função de direção política (ART.15º/1 TUE + ART.26º TUE)


2. Poder de decisão e emissão de orientações políticas gerais
3. Função de nomeação: nomeia e destitui o ARUNEPS (art.18º/1 TUE), bem como o
presidente, os vice-presidentes e os vogais da comissão executiva do BCE
(ART.283º TFUE)
4. Função de alteração dos Tratados: Art.48º/2/3 TUE e 48º/6 TUE

● CONSELHO/ CONSELHO DE MINISTROS/ CONSELHO DA UE

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Assim como o CE, o Conselho também representa os interesses dos estados. Mas neste
caso é composto por ministros.
É uma instituição muito particular, porque funciona com base em formações (10).
Todas elas dividem-se por áreas sendo, cada uma, designada por conselho, por exemplo,
conselho do ambiente. São os próprios tratados que definem que conselhos existem.

- ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Em regra, é composto por um representante de cada estado a nível ministerial


(art.16º/2 TUE). Porém, não se exclui a possibilidade de um secretário de estado ou até de
subsecretários de estado participar. O que os tratados exigem é que o membro que preside
ao Conselho seja dotado de poderes para vincular o Governo do respectivo estado e
exercer o seu direito de voto.
Reúne-se por convocação do Presidente, por iniciativa deste, de um dos seus
membros ou da Comissão, em diferentes formações em função das matérias e
conveniências políticas (as tais 10 formações).
A presidência das formações do Conselho é rotativa (art.16º/9 TUE; arts.236º e
237º TFUE), é o princípio da rotação igualitária (6 meses).
Excepcionam-se a FAC (negócios estrangeiros) que é presidida pelo ARUNEPS; e o
EUROGRUPO (que é uma subformação dos assuntos económicos e financeiros) que tem
um presidente fixo, eleito pelos ministros das finanças dos estados-membros que aderiram
ao euro.
NOTA: ECOFIN VS EUROGRUPO, o eurogrupo é composto pelos ministros dos estados
que aderiram ao euro.
As reuniões são públicas (arts.16º/8 TUE e 15º/2 TFUE).

São mais de 150 grupos de trabalho que auxiliam o Conselho -”instâncias preparatórias”.
Eles debatem as propostas que vão chegando ao Conselho, analisando-as ponto por ponto.
Ou seja, fazem uma primeira análise. Sendo os resultados dos debates apresentados ao
COREPER (Comité dos Representantes Permanentes dos Governos dos Estados),
art.16º/7 TUE e 240º/1 TFUE.
Trata-se de um comité que está permanentemente a trabalhar ao lado do Conselho para
preparar os trabalhos do Conselho, ou seja, trata-se de um órgão de auxílio que vai definir
desde logo os assuntos a discutir em cada uma das reuniões.
Ou seja, temos os grupos de trabalho, depois descartam algumas e outras enviam para o
COREPER. O COREPER vai analisar essas propostas e vai dividi-las por 2 pontos da sua
ordem de trabalhos:
- Ponto I da ordem de trabalhos vai introduzir as matérias relativamente às quais foi
possível chegar a um acordo sem debate (ou seja, um consenso);
- Ponto II estão as matérias relativamente às quais não existe um consenso. E, a
partir daqui o COREPER terá 3 possibilidades:
1. tentar discutir essas questões e chegar ele próprio a um acordo;
2. enviar essas propostas de volta para os grupos de trabalho para que estes
as voltem a analisar e introduzem eventuais alterações;
3. ou, remetem a questão para o Conselho.

Definindo assim a ordem de trabalhos do Conselho, que podem ser matérias do:

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- Ponto A, aquelas matérias onde existe um consenso e só falta aprovar formalmente
a medida;
- Ponto B, inclui as matérias que o COREPER não conseguiu chegar a um consenso
e, portanto, o Conselho vai ter de as debater.
Por sua vez, o Conselho dos Assuntos Gerais tem uma função importante: assegurar a
coerência na atuação das 10 formações do Conselho (art.16º/6 TUE).

- MODO DE DELIBERAÇÃO

Em regra, é a maioria qualificada*.


No entanto, a base jurídica pode definir outros critérios, como a unanimidade, onde todos os
estados têm de votar a favor (as abstenções não impedem a tomada de decisões por
unanimidade, art.238º/4 TFUE).
Noutros casos, basta a maioria simples (14 estados a votar a favor, art.238º/1 TFUE).
Associadas às bases jurídicas existem duas cláusulas importantes:
- cláusulas passerelle, elas permitem de alguma forma facilitar a adoção daquela
decisão, ou seja, uma determinada questão devia ser tomada por unanimidade mas
elas permitem que, em certas condições, seja tomada por maioria qualificada.
- cláusulas de travagem de emergência, estas são aplicadas naquelas situações
em que o ponto é tão sensível que a tomada de decisão está a ser dificultada, que o
Conselho vai suspender os seus trabalhos e remeter a questão para o CE (art.48º e
82º/3 TFUE).

*A questão da maioria qualificada:


Quando haja lugar a proposta da comissão ou do ARUNEPS, exige-se uma dupla
maioria:
Passa a ser adotada a regra 1 estado= 1 voto.
A maioria qualificada pressupõe que 55% dos membros do Conselho tenham votado a
favor (pelo menos 15 dos 27 membros), mas é preciso também que esses votos
correspondam a 65% da população da UE (art.16º/4 TUE) - esta cláusula demográfica
serve para garantir uma verdadeira representatividade dessa mesma decisão.
Estas regras prevêem a possibilidade de criar uma minoria de bloqueio, ou seja, uma
minoria que vai bloquear a tomada de decisão, que vai impedir que aquela decisão seja
tomada. E essa minoria tem de ser constituída no mínimo por 4 estados-membros,
representando pelo menos 35% da população europeia. É como se fosse um veto.
Se não estiverem presentes todos os estados-membros do Conselho temos de aplicar estas
regras considerando apenas os estados participantes.
Quando não haja lugar a essa proposta, fala-se de uma maioria qualificada
reforçada, que pressupõe que 72% dos membros do Conselho votem a favor (20 de 27) e
estes devem representar 65% da população da UE.
Neste caso, a abstenção por parte de um Estado-Membro conta como voto contra.

No entanto, as regras de votação nem sempre são estas. Existem duas grandes exceções:

- ACORDOS DE LUXEMBURGO: surgem no decurso da chamada “crise da cadeira


vazia” (1965). O que estava em causa, nesta altura, era saber se as comunidades se
deviam estender ao Reino Unido. A França sempre foi um grande opositor desta
entrada, tendo gerado grandes tensões no seio do Conselho. A França não queria

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um alargamento especificamente ao Reino Unido, tendo chegado a abandonar as
reuniões do Conselho.
Como se resolveu esta crise? Criando-se um acordo. No fundo, os “Acordos de
Luxemburgo”, de 1966, dizem-nos que, em regra, a votação é feita por maioria
qualificada, mas se um Estado invocar interesses vitais, pedindo que a decisão
passe a ser tomada por unanimidade.
Estes acordos, segundo a doutrina, seriam os “responsáveis pela paralisia do
Conselho nas duas décadas seguintes”.

- COMPROMISSO DE JOANNINA (1992): surgem no decurso do alargamento da UE.


Quando as comunidades eram compostas apenas por 12 estados, os estados
maiores (que tinham antes mais votos do que os outros) tinham um grande poder no
Conselho. O Reino Unido preocupou-se com o alargamento, porque esse
representava a necessidade de outro estado se juntar a ele (e a outros) para
bloquear a tomada de decisão (minoria de bloqueio).
Então, começou a vetar a adesão de novos estados à União, porque não queria
perder a possibilidade de criar uma minoria de bloqueio só com outro estado maior.
Como se resolveu esta situação?
Para garantir o alargamento, formaram-se estes compromissos. Estes no fundo vêm
dizer que, apesar de existir um alargamento da União, vamos continuar a admitir que
as minorias de bloqueio podem ser criadas por dois estados de grandes dimensões.
Este compromissO manteve-se durante algum tempo, tendo perdido a sua força
inicial, mas hoje tem dois afloramentos no TL (até aqui tanto os acordos do
Luxemburgo como o compromisso de joannina não custavam dos tratados):

- AFLORAMENTO INDIRETO, assegura que, até 2017, embora se devesse


aplicar as regras novas, os estados podiam pedir para ser aplicado o regime
anterior (quanto mais população mais votos os estados tinham).

- AFLORAMENTO DIRETO, depois de 2017, os tratados prevêem a


possibilidade de que 55% do número de estados ou da população necessária
para a formação de uma minoria de bloqueio (que neste caso seria 20%) , é
o quanto basta para se impedir a tomada de decisão.
Estabelece uma exceção à regra, porque até aqui era preciso 4 estados e
35% da população.

Graças ao PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA PESC (art.24ºTUE) estas regras não valem


para estas matérias.
A PESC continua a reger-se por uma lógica intergovernamental, ou seja, são os estados
que decidem, em regra, por unanimidade (art.31ºTUE). Sendo que a abstenção não impede
a tomada de decisão por unanimidade.
Mas há exceções à regra da unanimidade (art.31º/2 TUE):
- decisões do Conselho que executem determinações do CE;
- decisões tomadas sobre proposta do ARUNEPS e na sequência de um pedido do
CE;

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- nomeação de representantes da UE para matérias específicas (art.33ºTUE).
Mesmo nos casos em que a maioria é suficiente, os Estados podem opor-se a que aquela
decisão em concreto seja votada por maioria, ou seja, pode pedir que se aplique a regra.
Em situações de tensão nada impede que se remete a questão para o CE (cláusulas de
travagem de emergência).

- COMPETÊNCIAS DO CONSELHO

1. Função legislativa: exerce-a juntamente com o PE (art.16º/1 TUE). Ambos


assumem o papel principal na criação de direito secundário. O que pressupõe que
os atos tenham de ser adotados por acordo. Nenhum ato pode ser adotado sem
acordo no processo legislativo ordinário.
2. Função orçamental: exercida juntamente com o PE (art.16º/1 TUE), apreciando o
projeto proposto pela Comissão e, só existindo acordo com o PE é que se pode
considerar a proposta aprovada (art.314º/2/3 TFUE).
3. Função de coordenação: trata-se de uma função lógica, porque a principal função
do conselho é coordenar as políticas dos vários estados membros nas várias
matérias que são da competência da União (art.4º/3, 5º, 6º, 16º/1 TUE + art.20 TUE
e 329º TFUE)
4. Função de decisão em matérias de grande sensibilidade e centralidade
política: art.7º, 49º e 50º TUE.
5. Função de vinculação internacional da UE: o conselho tem competência para a
celebração de tratados internacionais, nos termos dos arts.216º e 218º TFUE. O
conselho tem essencialmente funções na fase de negociação.
6. Função de alteração dos Tratados: recebe as propostas no processo de revisão
ordinária e remete-as ao CE (Art.48º/2 TUE).
Nota: é natural que na alteração de tratados assumam uma importante relevância o
Conselho e o CE uma vez que os tratados são criados pelos estados.
7. Função de iniciativa: Art.241º TFUE
8. Função de controlo: Art.263º e 265º TFUE.
9. Função de recursos humanos: Art.243º e 336º TFUE.

Nota: o CE define as políticas, o Conselho coordena as políticas.

● COMISSÃO EUROPEIA

É a guardiã da ordem da União, promovendo a integração europeia. Ela protege os


interesses da própria União, uma vez que a UE tem interesses próprios que não se limitam
aos interesses dos estados, art.17º/1 TUE -» demonstra a natureza especial da UE.
Mandato de 5 anos com sede em Bruxelas (coincide com o mandato do PE).
Garante, em primeira linha, o desenvolvimento do mercado interno, numa posição de
independência institucional perante os EM’s e, tendo em conta sempre o interesse geral da
União, mas não quer dizer que não tenha de ter em conta as decisões tomadas pelas outras
instituições (a questão da moção de censura).

- PRESIDENTE DA COMISSÃO

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Não tem nenhuma pasta, tendo grandes responsabilidades no âmbito da orientação política
da Comissão; coordena os trabalhos; e, representa externamente a UE.
É a primeira pessoa a ser eleita. O nome do presidente é indicado pelo CE, desde 2014,
passou a estar obrigado a ter em conta os resultados das eleições para o PE (art.17º/7
TUE) -» é do grupo político com mais votos que vai sair o presidente da Comissão.
De alguma forma, reforça a legitimidade democrática, ainda que indireta, da Comissão.
O PE, vai ter de eleger, tendo em conta a proposta do CE, um presidente por maioria dos
membros que o compõem (art.17º/7 TUE).
Goza de uma posição de destaque no sentido em que define as orientações no
âmbito onde a Comissão exerce; compete-lhe assegurar que a ação levada a cabo pela
Comissão é coerente, eficiente e cumpre o princípio da colegialidade.
Nomeia os vice-presidentes da Comissão (com exceção do ARUNEPS, que é eleito para
ser alto representante e, por inerência, torna-se vice-presidente) e pode pedir a demissão
de algum dos membros da Comissão.

- ARUNEPS

É uma figura criada pelo TL, que visa conferir maior visibilidade e unidade à
representação externa da União nos assuntos da PESC, tendo por isso um papel
fundamental (PESC tem sempre como imagem central o ARUNEPS, outras políticas é a
presidente da comissão).
Esta unidade é assegurada de maneira muito efetiva, porque o Alto representante pode ser
ouvido pelo PE; sendo ele a figura principal cara externa em matéria de PESC vai ter uma
presença muito mais notória nas instituições que decidem sobre PESC, ou seja, no CE e no
Conselho, tendo em conta que a PESC continua a seguir uma lógica intergovernamental,
decisões por unanimidade -» ele tem lugar no CE como observador (não tem direito a voto)
e participa nas reuniões do Conselho (dos negócios estrangeiros), sendo o presidente
definitivo deste conselho (não funciona a regra da rotatividade).
OU SEJA, ele assegura a unidade porque está em todas as instituições que decidem sobre
esta matéria -» garante que as decisões sejam tomadas no mesmo sentido.
Tem essencialmente competências em matéria de PESC:
- conduz a política externa e de segurança comum da UE;
- contribui para a definição desta política (art.18º/2 e 15º/2 TUE);
- executa a PESC, em conjunto com os estados-membros.

Exerce a função de vice-presidente (Art.17º/4 e 18º/4 TUE). A sua nomeação é feita pelo
CE, por maioria qualificada (que não é a regra do CE, que é o consenso), de acordo com o
Presidente da Comissão (Art.18º/1 TUE), ou seja, debatem os dois o nome de quem vai ser
o Alto Representante. Estando sujeito, assim como os demais membros da Comissão, a
voto de aprovação do PE (art.17º/7 TUE).

- COLÉGIO DE COMISSÁRIOS

Composto por 27 membros, incluindo o Presidente e o Alto Representante, mas ISTO


NÃO É O QUE ESTÁ NOS TRATADOS, ART.17º/5 TUE -» é o “a menos que o CE…”. Os
tratados consagram esta solução porque entendem que 18 membros são suficientes para
que a Comissão consiga prosseguir as duas funções de maneira eficaz e eficiente. No

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fundo, a existência de 27 membros pode constituir um entrave. Mas, nem todos os estados
teriam um membro na Comissão naquele mandato. Não seria problemático, no entanto,
porque a Comissão representa os interesses da União e não dos estados. Mas pode-se
sempre referir que, apesar dos Comissários não representarem os Estados, sendo a
Comissão a guardiã dos Tratados; e, tendo poderes para aplicar sanções aos estados,
estes aceitaram melhor as decisões da Comissão caso soubessem que tinham lá um
membro (este foi o argumento do CE).
Como são nomeados?
O Presidente da Comissão entrega uma lista de candidatos a comissários ao
Conselho, que vai adotar essa lista. Quem pode fazer parte dessa lista? ART.17º/3/7 TUE.
(o empenhamento europeu é fundamental porque a Comissão representa a União)
Esta lista está sujeita a voto de aprovação por parte do PE. Depois deste voto, o CE nomeia
os membros da Comissão, por maioria qualificada, art.17º/7 TUE.
OU SEJA:
- Conselho e Presidente da Comissão adota lista
- PE aprova lista
- CE nomeia os membros da Comissão

Importante referir que a Comissão é totalmente independente face a qualquer governo,


instituição, órgão ou organismo. Isto exige que eles não possam exercer outras funções
para além da de Comissário (art.17º/3 TUE). Isto para evitar conflitos de interesse, evitar
situações que possam levar a fraude, corrupção, entre outros.
Estes deveres de independência são tão importantes que o comissário fica impedido de
exercer determinados cargos mesmo depois da cessação de funções. Mais, o TJUE, por
solicitação do Conselho ou da Comissão, procede ao controlo do cumprimento desses
deveres (art.245º e 247º TFUE).

- CESSAÇÃO DE FUNÇÕES DA COMISSÃO EUROPEIA (para além do término do


mandato)

COLETIVA INDIVIDUAIS

Quando existe a aprovação de uma moção Morte do Comissário.


de censura pelo PE (aprovadas por uma Demissão voluntária:
maioria de ⅔ dos deputados). - que pode ser em sentido próprio (o
comissário manifesta a vontade de
terminar o mandato)
- provocada pelo presidente (art.17º/6
TUE)
Demissão compulsiva: se o comissário
deixar de preencher os requisitos
necessários (Art.245º TFUE), o TJUE
demite-o a pedido do Conselho ou da
Comissão.

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- MODO DE FUNCIONAMENTO DA COMISSÃO EUROPEIA

Opera numa lógica colegial, dispondo de um direito de auto-organização. As decisões são,


em regra, tomadas por maioria do número dos seus membros.

- DIREÇÕES GERAIS, SERVIÇOS E ORGANISMOS

É importante destacar a relação entre a Comissão e os Estados-membros. A Comissão é a


principal instituição de competência executiva (administração direta da UE), mas não o faz
sozinha; fá-lo com o auxílio dos estados, que podem ser considerados a administração
indireta da UE. Mas na prática são os estados-membros que aplicam verdadeiramente o
DUE.
A Comissão funciona através de direções gerais, que são parecidas aos ministérios, ou
seja, cada direção geral será responsável por um domínio de intervenção, cabendo-lhes
desenvolver, executar e gerir as políticas, a legislação e os programas de financiamento da
UE.

- COMPETÊNCIAS DA COMISSÃO

1. Função de iniciativa: no processo legislativo existe uma tríade: a comissão


apresenta as propostas, sendo que estas vão ser discutidas pelo PE e pelo CE e só
serão aprovadas quando exista um consenso.
Mas nada impede que a Comissão possa ser convidada a apresentar propostas
(Conselho, PE ou até por um conjunto de cidadãos da UE- a iniciativa de cidadania),
ART.289º/4 TFUE. Porém, não fica vinculada a ter de apresentar uma proposta, mas
tem de o justificar.
ART.17º/1, 48º/2/6 TUE + 26º, 42º, 43º, 74º, 107º, 114º TFUE
ART.21º/3, 22º/2. 24º e 27º/3 TUE
As propostas são sempre apresentadas pela Comissão porque têm de refletir o
interesse da UE.
2. Função normativa: esta função emerge dos poderes executivos da comissão:
- PODERES NORMATIVOS PRÓPRIOS, atribuídos à comissão diretamente
pelos estados, através por exemplo dos tratados;
- PODERES NORMATIVOS DELEGADOS, trata-se de uma delegação de
competências normativas na comissão (art.290º TFUE), pelo Conselho e pelo
PE. Ou seja, quem devia exercer estas competências era o Conselho e o PE,
mas delegam na Comissão apenas para que esta complete ou altere
elementos não essenciais dos atos legislativos (que são fixados pelo
Conselho e pelo PE). Isto porque o primado legislativo está no Conselho e no
PE.
3. Função orçamental: é a Comissão que apresenta a proposta de Orçamento
(art.314ºTFUE)
4. Função executiva: é a comissão que aplica os tratados e as medidas adotadas
pelas instituições comunitárias (art.17º/1 TUE). Não esquecer que é em conjunto
com os estados.

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5. Função de vinculação internacional: ART.218º/3 TFUE
6. Função de representação externa: a comissão, através do presidente, representa
a UE em todas as matérias externamente, com exceção da PESC, que será o Alto
Representante (art.17º/1 TUE).
7. Função de representação dos EM’s: ART.335ºTFUE
8. Função de supervisão económica e orçamental: ART.126ºTFUE
9. Função de controlo (“guardiã dos Tratados”):
- representa diretamente os interesses da UE
- dispõe de poderes de recolha de informações e verificações
- controla as infrações às regras sobre auxílios de Estado ou disparidades dos
EM’s falseadores da concorrência
- dever de investigar queixas apresentadas pelos particulares (ação por
incumprimento)
- dever de controlar a utilização de fundos pelos estados
- poder de intentar ações de incumprimento do DUE contra os EM’s (art.258º a
260º TFUE).

(!) A quem telefona o Presidente dos EUA, se quiser falar com a UE? À partida deve ser o
presidente do CE que foi criado com este objetivo. Mas, na prática, será o presidente da
comissão ou o Alto Representante.

● TRIBUNAL DE JUSTIÇA

É uma das principais instituições europeias, tendo como função primordial a garantia de
interpretação e aplicação correta do DUE.
O TJUE em sentido amplo reparte-se em:
- TJ em sentido estrito (tribunal supremo no quadro da UE)
- Tribunal Geral (tribunal de primeira instância*)
- Tribunal Especializado

*criado porque o TJ estava a ficar cheio com processos, era necessário libertar o TJ,
criando-se assim o Tribunal Geral. Levando a que o TJ possa exercer a sua função de
forma mais célere e eficiente -» interpretação e aplicação do DUE.

- A JURISDIÇÃO DO TJUE

1. Obrigatória, a partir do momento da ratificação dos Tratados.


2. Tendencialmente completa, porque abrange todas as questões relativas ao DUE.
3. Exclusiva, as partes não podem recorrer a outros meios para resolver conflitos de
DUE.
4. Definitiva, uma vez que as decisões do TJ formam caso julgado.

De notar que, todos os tribunais são, em certa medida, tribunais da UE; porque embora a
última palavra cabe ao TJ a verdade é que todos os tribunais estão encarregues de aplicar
o DUE.
Não há uma hierarquia formal entre tribunais nacionais e TJUE. Sem prejuízo que em
matéria de DUE o TJUE tem sempre a última palavra.

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- COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO

Composto por um juiz de cada estado-membro, sendo assistido por advogados-gerais


(art.19º/2 TUE).
Pode funcionar por secções (3 a 5 juízos), na grande secção (15) ou, excepcionalmente,
como Tribunal Pleno (27).
O presidente é eleito pelos seus juízes pelo período de 3 anos, podendo ser eleito, art.253º
TFUE.
Integra um secretariado que auxilia os juízes no exercício das suas funções.
Os juízes são independentes, são nomeados pelos governos dos estados-membros
(art.225º).
Os advogados-gerais apresentam conclusões fundamentadas (art.252º TFUE) propondo ao
Tribunal a decisão num determinado sentido. Porém, o Tribunal não se encontra vinculado a
esta decisão preliminar, uma vez que posteriormente vai ser apreciada pelos juízes do
TJUE, que não estão vinculados.
Mas, então, quais as razões na base da existência do Advogado Geral?
- Dentro do TJUE há regras de funcionamento muito estritas, como por exemplo, não
existe dentro do TJUE a figura dos votos de vencido, ou seja, entende-se que o
TJUE deve emanar as suas decisões por unanimidade. O problema é que, na
verdade, nunca ficamos a saber quem votou a favor ou contra, o PRINCÍPIO DO
SEGREDO, art.2º ETJUE, quem assegura o contraditório? O advogado-geral, ele
serve de entidade que mostra uma outra visão daquele caso.
Nas reuniões do próprio do TJUE, na votação, nem os tradutores podem estar
presentes, isto demonstra o radical deste princípio. Porque a imagem que se quer
passar é a unanimidade.

- FUNÇÕES DO TUE (as principais)

1. Função de interpretação do DUE


2. Função de aplicação do DUE

- TRIBUNAL GERAL

Tribunal de 1ª instância, constituído por um mínimo de 1 juiz e máximo de 2 por cada


estado-membro. Não existe aqui a figura de advogados-gerais. ART.256ºTFUE.

Como sabemos em que tribunal intentar a ação: TJ ou TG?


- A regra é a de que a ação deve ser intentada no TG, cabendo recurso para o TJ;
- Exceções (Art.51ºETJUE), ações propostas por ou contra um EM e processos de
reenvio prejudicial.

- TRIBUNAL NACIONAL

Estes também se afirmam como tribunais comunitários sempre que aplicam e interpretam
qualquer norma de DUE.

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Como se garante a uniformidade na interpretação e aplicação do mesmo? Através do
mecanismo de reenvio prejudicial.
NOTA: o reenvio prejudicial não serve para aferir a validade de uma norma de um tratado (é
como se fosse pedir ao TC que aferisse a constitucionalidade de uma norma constante da
constituição).

● BANCO CENTRAL EUROPEU

Os seus poderes são diretamente atribuídos pelos Tratados. Promove a integração


económica, promove a estabilidade dos preços e conduz a política monetária na zona euro.
Composta pelo Conselho do BCE, pela Comissão Executiva e pelo Conselho Geral do BCE.

● TRIBUNAL DE CONTAS

Instituição da UE que tem essencialmente uma função de fiscalização das contas da UE. É
independente e composto por um nacional de cada Estado-Membro.

● ÓRGÃOS E ORGANISMOS DA UNIÃO

Os comités são órgãos que têm a função consultiva

- Comité Económico e Social (art.13º/4 TUE e 301º e ss TFUE): é uma instância


consultiva composta por representantes de organizações de trabalhadores e de
empregadores e de outros grupos de interesse.
Têm como objetivo velar por que a política e a legislação da UE atenda às condições
econômicas e sociais; promover uma UE participativa; e, defender os valores da
integração europeia.
- Comité das Regiões (art.13º/4 TUE e 305º TFUE): preocupa-se com a
representação dos interesses regionais e locais. Para emanar pareceres que devem
ser tidas em conta pelas demais instituições.
- Comité Político e de segurança (art.38ºTUE)
- Comité Económico e Financeiro (art.134º/2 TFUE)
- Comité da Proteção Social (art.160º TFUE)
- Comité do emprego (art.150ºTFUE)

- O PROVEDOR DE JUSTIÇA

É designado pelo PE (Art.228ºTFUE), atuando com independência e imparcialidade em


casos de salvaguarda de direitos fundamentais e do estado de direito, analisando a má
administração no seio da atuação europeia.
É a pessoa competente para receber queixas apresentadas por qualquer cidadão da União
ou qualquer pessoa singular ou colectiva com residência ou sede estatutária num EM.
Vai conduzir inquéritos junto daquela instituição para perceber se houve ou não uma
situação de má administração.

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Depois de realizada a investigação, o provedor de justiça não tem poderes condenatórios.
Mas, emana uma recomendação, que é enviada à instituição/órgão/organismo em causa e,
depois, também será enviada para o PE (o provedor de justiça que é eleito pelo PE
responde perante ele).
Ou seja, apesar de não ter poderes significativos, tem uma autoridade simbólica que lhe é
atribuída.

● REPRESENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA

A UE está vinculada ao princípio democrático (arts.2º e 10º TUE).


A maior parte das instituições não têm legitimidade democrática direta, só a tem o PE. Esta
questão tem levantado críticas. É por essa razão que a UE tem tentado reforçar, por
exemplo, os poderes do PE; os mecanismos de intervenção democrática (como a iniciativa
de cidadania).

ESTRUTURAS NORMATIVAS DA UNIÃO EUROPEIA

● O DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

É uma OJ autónoma que se distingue quer da OJ internacional, quer da OJ nacional. Nós


vamos encontrar fontes, princípios, procedimentos de criação normativa próprios que não
se confundem com as utilizadas no plano interno. E, estas especificidades são
fundamentais para que o DUE se possa consolidar e para que todo o processo de
integração europeia possa chegar a bom perto -» princípio da cooperação leal.
Apresenta direito escrito e não discreto, apresentando-se como sendo hierarquicamente
estruturado como: direito primário, secundário e terciário. Ou direito originário e direito
derivado.
A grande diferença entre direito primário e secundário é o facto do primário ser
criado pelos estados-membros através de tratados, constituindo o direito primário um
parâmetro de validade para todo o direito secundário e terciário- bloco de
constitucionalidade da UE. Significa isto que o direito primário ocupa o topo da hierarquia,
logo o secundário e o terciário terão de respeitar o primário.
O secundário e o terciário são criados pela própria UE. No caso do terciário referimo-nos a
um conjunto de atos que não só vão ter de respeitar o primário como o secundário, por
exemplo, a delegação de competências do PE na Comissão, o ato delegado (emanado pela
comissão) será um ato de direito terciário, uma vez que tem de respeitar o ato delegante,
que é direito secundário.

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● FONTES DE DUE

1. DIREITO PRIMÁRIO OU ORIGINÁRIO

A sua principal característica é o facto de ser criado pelos EM 's, que o criam através dos
tratados internacionais. Assume o topo da hierarquia das normas, ou seja, assume uma
posição de supremacia na hierarquia das normas do DUE.
Manifesta-se na prática, desde logo, pelo facto de:
- a UE, por via do princípio das atribuições, só pode intervir nas matérias para a qual
tenha competência, que lhe é atribuída por via dos tratados;
- nenhum dos atos das instituições ou órgãos da UE pode deixar de mencionar a base
jurídica ao abrigo da qual está a intervir/legislar, sob pena de invalidade (art.296º
TFUE);
- o direito primário afirma-se como parâmetro de validade de todo o direito derivado;
- o direito primário não pode ser considerado invalido pelo TJUE (uma mesma norma
não pode ser, ao mesmo tempo, parâmetro de validade e objeto de controlo + é o
direito de primário que cria as instituições).

Que documentos integram o direito originário?


- Tratados institutivos das Comunidades Europeias (Paris e Roma) e da UE
(Maastricht);
- Tratados de revisão dos tratados originários (AUE, Maastricht, Amesterdão, Nice e
Lisboa);
- Tratados que promovem modificações do ordenamento jurídico-institucional de base
das Comunidades (Tratado de Fusão- quadro institucional único) e da União;
- Convenção relativa a certas instituições comuns às três comunidades;
- Tratados de Adesão;
- Protocolos, anexos (art.51ºTUE);
- Ato de 20/09/1976 relativo à eleição do PE;
- Carta dos Direitos Fundamentais da UE (Art.6º TUE);
- Princípios gerais de direito comunitário
- entre outros.

Todas estas normas formam um todo unitário, que deve ser considerado como um
conjunto, não exigindo uma hierarquia entre as várias disposições normativas de direito
originário. Em caso de conflito normativo, devem as mesmas ser objeto de
compatibilização, de acordo com os critérios gerais aplicáveis às regras com idêntico valor
jurídico:
- a norma posterior prevalece sobre a norma anterior;
- as disposições normativas específicas prevalecem sobre as disposições gerais.

- TRATADOS INSTITUTIVOS E DE REVISÃO

Temos 3 tratados institutivos: Paris, Roma e Maastricht. Os restantes serão de revisão.


Atualmente os tratados que mais nos importam são:
- o TUE, corresponde a Maastricht com as alterações introduzidas por Lisboa;

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- TFUE, corresponde a Roma com as alterações introduzidas por Lisboa;
- Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que passou a ter valor jurídico
vinculativo com o Tratado de Lisboa.

Estes documentos têm efeito direto, que tanto pode ser um efeito direto vertical como pode
ser horizontal. Quer isto dizer que as normas dos tratados tanto poderão ser invocadas por
um indivíduo relativamente ao estado ou às instituições da UE; como relativamente aos
próprios particulares. Sendo, porém necessário, que essas normas tenham um conteúdo
claro, preciso e incondicional, ou seja, têm de ser self-executing. Ou seja, vamos excluir do
efeito direito as normas que são de conteúdo meramente programático, genérico ou
processual.
O efeito direito visa prosseguir a efetiva integração e aplicação uniforme do DUE nos
diversos EM 's.

- PROTOCOLOS ADICIONAIS, DECLARAÇÕES E ATOS COMPLEMENTARES

São um conjunto de declarações relativas a disposições dos tratados ou de protocolos


anexos aos mesmos.
Têm o mesmo valor que os próprios tratados, embora seja preciso referir que elas servem
essencialmente para interpretar e aplicar os Tratados, ou seja, quer dizer que são um
completo dos tratados (a função é que é diferente, o valor é o mesmo)
Encontram o seu fundamento no art.31º/2 CVDT.

- CONDIÇÕES DE ADMISSÃO E ATOS DE ADESÃO

As normas dos tratados de adesão têm o mesmo valor jurídico que os demais instrumentos
de direito primário. Tendo, porém, uma importante função no que toca à possibilidade de
derrogar normas de Tratados.

- PRINCÍPIOS GERAIS DE DUE

Regras são diferentes de princípios. As regras são extremamente rígidas, seguem uma
lógica de tudo ou nada. Os princípios são mais flexíveis, têm um maior grau de
generalidade e abstração; podem ser considerados formulações genéricas que serão
desenvolvidos a partir de um exercício de interpretação.
Falamos de um conjunto de princípios que são princípios gerais de direito, que de alguma
forma fazem parte de um ordenamento jurídico natural, não podendo, hoje, existir um OJ
que não se rege por estes:
- princípio da segurança jurídica
- princípio da igualdade
- entre outros.
A juntar a estes teremos os PG de DI (reconhecidos pela comunidade internacional e vão
ser adotados pela UE); PG de DC (aqueles princípios comuns às constituições dos vários
EM 's).
Para além destes, vamos ter ainda princípios específicos do DUE. Ou seja, aqueles que
surgem no âmbito do OJ da UE e que demonstram a sua autonomia relativamente aos
outros ordenamentos jurídicos, como:
- princípio do primado do DUE;

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- princípio do efeito direto;
- princípio da interpretação conforme;
- entre outros.

São estes princípios que hoje nos permitem tratar a UE como uma verdadeira comunidade
de valores e de direito, como uma OJ comunitária, fundada em valores e que respeita
aqueles que são os princípios básicos, art.2º TUE.
Estes, quando são mobilizados e aplicados pela UE, têm de ser aplicados dentro daquela
que é a esfera de competências da UE, ou seja, a UE estará sempre vinculada ao princípio
das atribuições; e,só poderá proceder à mobilização destes princípios no âmbito dessa
mesma esfera de competências.
Mais, a identificação de princípios gerais de direito nas OJ nacionais encontra o seu limite
na prossecução dos objetivos da UE.

2. DIREITO SECUNDÁRIO OU DERIVADO

Este será constituído pelas normas criadas pelas instituições estabelecidas pelo direito
primário, ou seja, quem o cria são as instituições da união de acordo com os próprios
tratados, uma vez que a validade das normas de direito secundário depende da
conformidade com o direito primário.
As fontes de direito secundário estão previstas no art.288º TFUE (!), ou seja, vale um
princípio da tipicidade:
- regulamentos
- diretivas
- decisões
- recomendações
- pareceres

Podemos dividir estas fontes em dois tipos:

1. ATOS JURÍDICOS VINCULATIVOS, que são os regulamentos, diretivas e decisões.


Estes atos podem ser considerados como atos legislativos ou atos não atos
legislativos; dependendo apenas da distinção o procedimento utilizado na sua
criação.
Se for um processo legislativo ordinário ou especial serão atos legislativos; se o
procedimento utilizado não foi um processo legislativo ordinário ou especial
chamamos a estes de atos jurídicos não legislativos.
É importante distinguir atos legislativos de atos não legislativos porque há
consequências diretas da qualificação de um ato como legislativo ou não legislativo:
se for legislativo vai ter um caráter superior ao ato não legislativo e, é por isso que
no âmbito do direito derivado temos de distinguir bem estes atos, isto porque, os
atos legislativos serão atos de direito secundário, os atos não legislativos
serão atos de direito terciário (estes vão ter de respeitar o direito primário e o
secundário).
Também no âmbito da UE existe um conceito de reserva de lei, ou seja, existem
matérias que só podem ser reguladas através de um processo legislativo.

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Quanto à delegação de competências, só os atos legislativos podem delegar na
Comissão o poder de emanar atos não legislativos, que têm como função alterar ou
completar aspectos não essenciais do ato delegante.
ATO DELEGANTE É SEMPRE UM ATO LEGISLATIVO, E O ATO DELEGADO É
SEMPRE UM ATO NÃO LEGISLATIVO, isto porque não é criado segundo um
processo legislativo.
Os atos não legislativos têm um caráter heterogêneo (há atos de alcance geral
mas também atos individuais) e residual (porque abrange todos os atos que não
são adotados por via de um processo legislativo, art.289º/3 TFUE). Ou seja, serão
atos não legislativos todos aqueles que não forem legislativos.

2. ATOS JURÍDICOS NÃO VINCULATIVOS, recomendações e pareceres.

- PROCESSOS DE PRODUÇÃO NORMATIVA

Existe um processo legislativo ordinário (art.294º TFUE) e processos legislativos especiais.


Deve ser seguido aquele que estiver previsto na respectiva base jurídica.

1. PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO, ART.289º e 294º TFUE

Foi o TL que criou este processo e que lhe atribuiu este nome.
Funciona através de uma triangulação básica: temos a Comissão, o PE e o Conselho. Esta
não existe por acaso, pois todos eles representam interesses diferentes, ou seja, levam-nos
a dizer que todos os atos de direito derivado aprovados através deste processo têm de
resultar diretamente da confluência dos diversos interesses.

Como se inicia este processo?


Através de uma proposta da Comissão ao PE e ao Conselho (art.294º/2 TFUE), ou seja, a
Comissão tem o poder de iniciativa e dirige esta proposta ao PE .
Este poder de iniciativa tem uma razão de ser, porque entende-se que não pode existir
nenhuma proposta legislativa que de alguma maneira possa pôr em causa aqueles que são
os interesses da UE.
De notar que esta proposta é feita mediante a esfera de competências da Comissão (base
jurídica que tem de ser invocada sob pena do ato ser inválido).
Este princípio da exclusividade da iniciativa legislativa pode ser mitigado pela possibilidade
de outras instituições apresentarem à Comissão pedidos de propostas, pedidos estes que
não serão vinculativos, mas será necessário apresentar justificação:
- Conselho
- PE
- Iniciativa de iniciativa (1 milhão de cidadãos)
- e, em casos excepcionais, a pedido dos EM 's, recomendações do BCE ou a pedido
do TJUE.

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Após a apresentação de proposta existe aquilo a que se chama a PRIMEIRA LEITURA,
que será feita pelo Conselho (através de grupos de trabalho ou pelo COREPER) e pelo PE
(que será feita em comissões parlamentares especializadas em razão da matéria). A partir
daqui haverá tomada de posições:
- o PE (é ele o primeiro a tomar conhecimento da proposta) envia a sua posição ao
Conselho e, se efetivamente, o Conselho aprovar a posição do PE, o processo
legislativo termina e o ato pode ser adotado (raramente acontece).
- Quando não exista acordo, o PE vai ser informado das razões que levaram o
Conselho a não ter a mesma posição, e será também informada a própria Comissão
sendo que também se pode manifestar relativamente ao desacordo (art.294º/3 a
294º/6 TFUE).

A partir daqui, existe um prazo de 3 meses para o PE acolher as razões de desacordo do


Conselho e fazer uma SEGUNDA LEITURA:
- se concordar com o Conselho, então o ato é adotado com a formulação criada pelo
Conselho.
- se o PE rejeitar a posição do Conselho o ato não pode ser adotado;
- o PE pode propor emendas à posição do Conselho que serão enviadas ao Conselho
e à Comissão, estamos perante uma situação de bloqueio, e pode-se convocar o
Comité de conciliação.
Este Comité serve para eliminar este tipo de bloqueios que surgem entre Conselho e
PE, reunindo o mesmo número de elementos do Conselho e do PE para que
discutam a proposta para que cheguem a um acordo. Este acordo deve ser
alcançado num prazo de 6 semanas, existindo a possibilidade de revogação por
mais duas semanas (ART.298º/7/8/9/14 TFUE)
Se existir conciliação o ato pode ser adotado. Se não se conseguir chegar a um
acordo terá de se iniciar o processo de novo, apresentando-se uma nova proposta.

TERCEIRA LEITURA: Se existir conciliação o ato pode ser adotado, se não existir então
não pode ser adotado(art.294º/13/14 TFUE).

Se o ato for adotado, tem de existir uma dupla assinatura, uma pelo presidente do PE e
outra pelo presidente do Conselho; será publicada no JOUE; e a entrada em vigor do
ato, que será ou na data fixada ou no 20º dia seguinte à sua publicação.

O que retiramos daqui? Nenhum ato vai ser aprovado se não existir um acordo entre as
duas instituições.

Ocasionalmente podemos encontrar desvios à regra mas estes desvios vão estar nas
bases jurídicas.
Este processo atribui poderes muito significativos ao PE e ao Conselho, reduzindo o
protagonismo da Comissão (que inicialmente tinha mais protagonismo).
É um processo muito demorado (já durou 900 dias), hoje a duração média é de 9 meses.

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2. PROCESSOS LEGISLATIVOS ESPECIAIS

Algumas normas dos Tratados estabelecem a adoção de um ato legislativo por um processo
legislativo especial.
A principal diferença é que os processos legislativos especiais têm o seu protagonismo
num único órgão. Ou seja, vamos ter na mesma as duas instituições (Conselho e PE) a
auxiliarem-se, mas uma vai ter um papel mais relevante.

- CONSELHO
Anteriormente chamado "procedimento comum de decisão”, hoje apenas processo
legislativo especial, caracteriza-se por:
- continuamos a ter uma proposta da Comissão, mas esta aqui vai ter mais poderes,
uma vez que pode a todo o momento alterar ou retirar a sua proposta; proposta esta
que vai ser apresentada ao Conselho;
- Consoante a base jurídica pode o Conselho ter que, antes de decidir, pedir um
parecer ao Comité Económico e Social, ao Comité das Regiões, ou ao BCE;
- o Conselho recebe a proposta, se for preciso pede o parecer, e depois remete a
proposta para o PE e, aqui, também dependo da base jurídica, o PE pode passar a
ter o poder de emitir um parecer não vinculativo (procedimento de consulta); ou,
pode-lhe ser reconhecido o poder de aprovar previamente esse mesmo ato
(procedimento de consentimento), reconhece-se ao PE um direito de veto sobre
aquele diploma;
- Se o PE propuser alterações, estas são enviadas para a Comissão para que esta
pondere sobre as mesmas (mas não as precisa de introduzir);
- Mas, é sempre o Conselho que, em última instância, decide sobre a adoção do ato,
por maioria qualificada (que é a regra, salvo disposição em contrário nas bases
jurídicas);
- É o Conselho que decide, em última instância, se o ato vai ou não ser adotado; e, o
mesmo,só será assinado pelo Presidente do Conselho (ao contrário do que
acontece no ordinário onde existe uma dupla assinatura).

Ou seja, temos aqui um alargamentos dos poderes da Comissão; o Conselho pode ter de
consultar um conjunto de entidades; o Conselho vai ter de remeter a proposta ao PE que vai
ser consultado ou que vai ter de emitir uma aprovação prévia; se o PE propuser alterações
estas vão ser consideradas pela Comissão; por fim, é o Conselho que adota ou não o ato,
sendo o único a assinar.

- PARLAMENTO

Há situações em que a decisão compete ao PE, com necessidade de aprovação do


Conselho:
- Estabelecimento das regras de exercício do direito de inquérito, sendo a decisão do
PE precedida pela aprovação da Comissão e do Conselho (art.226ºTFUE);
- No domínio do estatuto e condições gerais de exercício da função de Provedor de
Justiça Europeu (art.228º/4 TFUE), o PE decide por iniciativa própria, após parecer
da Comissão e aprovação do Conselho.
Ou seja, se é o Parlamento que adota esses atos, então só serão assinados pelo presidente
do PE, sem que seja necessária a assinatura do presidente do Conselho (art.297º/1 TFUE).

48
- PROCESSOS DE VINCULAÇÃO INTERNACIONAL

No domínio da ação externa, o poder de aprovação de normas internas ou com países


terceiros ou organizações internacionais, está no Conselho, sob proposta do Alto
Representante (em matérias de PESC) e da Comissão (nas restantes), art.22º/2 TUE.
A vinculação opera nos termos do art.218º TFUE, tratando-se de um procedimento
relativamente simples.

- REQUISITOS DA ENTRADA E VIGOR DOS ATOS DE DIREITO DERIVADO

Não esquecer nunca que não basta o cumprimento do procedimento legislativo para que o
ato seja válido:
- É necessário que tenha sido aprovado por um órgão competente (art.297º/1
TFUE)
- É preciso que seja um ato fundamentado, ou seja, tem de fazer referência à base
jurídica e a todos os pareceres que tenham sido obtidos durante o próprio processo
legislativo (art.296º/2 TFUE).
Isto é muito importante porque quando a base jurídica estabelece que é necessário
recorrer a pareceres esses pareceres não são vinculativos, mas eles têm sempre de
ser mencionadas. Se não forem, o ato é inválido.

Ou seja, o ATO TEM DE MENCIONAR SEMPRE, ou será inválido por falta de


fundamentação:
- BASE JURÍDICA, sob pena de ser inválido;
- PARECERES que eventualmente tenham sido perdidos durante o procedimento
legislativo.

Mais, o ato tem de ser publicitado, que não é um requisito validade, mas enquanto não for
publicado o ato não será eficaz (condição de eficácia), uma vez que não produzirá efeitos
jurídicos, nos termos do art.297º TFUE.

- A PESC

Em matéria da PESC aplica-se um regime especial devido à sensibilidade das questões.


No processo de tomada de decisão, devido à lógica intergovernamental, só estarão
presentes as instituições que representam os Estados, ou seja, o Conselho e o CE.
As decisões são tomadas por unanimidade, art.24º TUE. Se são atos apenas aprovados
pelo Conselho e pelo CE, não seguem nem um processo legislativo ordinário nem um
processo legislativo especial. Por isso, neste domínio, exclui-se a adoção de atos
legislativos. Logo, serão todos atos não legislativos.

49
➔ REGULAMENTOS

ART.288º TFUE, refere-nos as 3 características básicas do regulamento:

- GENERALIDADE: significa que todas as pessoas serão vinculadas pelo


regulamento:
- vincula todas as instituições, órgãos, organismos da União;
- vincula todos os EM 's;
- vincula todas as pessoas singulares e coletivas, públicas ou privadas da UE.

- OBRIGATORIEDADE DE TODOS OS SEUS ELEMENTOS: significa que, para os


regulamentos, vale uma presunção de autossuficiência normativa*, ou seja, ele
regula toda a matéria que visa disciplinar; sendo assim, se ele esgota toda a
matéria, os seus destinatários, nomeadamente os estados membros, não vão poder
adaptar o conteúdo e sentido do regulamento ao OJ interno. Limitam-se a aplicá-lo,
a executá-lo.
*À partida todos os regulamentos esgotam a matéria que visam disciplinar, mas há
exceções. Por exemplo, os REGULAMENTOS DE BASE, que são regulamentos que
apenas estabelecem as bases de um regime jurídico, e que deixam para outros
regulamentos (regulamentos delegados ou regulamentos de execução, isto é, direito
terciário) a regulação daqueles aspectos que não sejam considerados essenciais.

- APLICABILIDADE DIRETA: significa que os regulamentos para valerem na OJ


interna eles não precisam de nenhum ato de receção ou de incorporação no
ordenamento jurídico dos EM’s (art.8º/3 CRP + art.288º TFUE).
O que nos leva a dizer que a aplicabilidade direta só depende do preenchimento das
condições de validade e vigência que resultam das normas da UE:
- aprovado pelo órgão(s) competente(s), ART.288º TFUE;
- segundo o processo adequado (legislativo ou não legislativo);
- ato fundamentado (ART.296º TFUE);
- publicidade adequada (ART.297º TFUE);
- já produz efeitos jurídicos, ou seja, quando já tenha passado a vacatio legis
(ART.297º TFUE).

(A característica da aplicabilidade direta distingue desde já regulamentos de diretivas)

Os regulamentos, pelas suas características, são, em regra, atos legislativos (salvo


os regulamentos de execução e os delegados). Por serem atos legislativos vale o
PRINCÍPIO DA INDERROGABILIDADE SINGULAR, ou seja, só pode ser alterado nos
seus elementos essenciais por um ato normativo equivalente (ato legislativo).
Os regulamentos não se limitam a vincular os EM’s; eles também vinculam nos
EM’S, ou seja, eles produzem efeito direito quer vertical (estado-particular) e horizontais
(entre particulares) -» os regulamentos podem ser invocados quer pelo particular quer pelo
estado nos tribunais, é o EFEITO DIRETO.

50
NOTA: A APLICABILIDADE DIRETA É DIFERENTE DE EFEITO DIRETO.

Os regulamentos são extremamente importantes na medida que são o principal


instrumento de harmonização e de uniformização do regime jurídico na UE. Se
esgotam toda a matéria que visam regular, se são diretamente aplicáveis, vão determinar a
aplicação das mesmas e exatas normas para todos os EM 's.
Se existir uma colisão entre o direito nacional e um regulamento da UE, os tribunais
nacionais devem aplicar o regulamento e afastar a norma de direito nacional (princípio do
primado do DUE).

➔ DIRETIVAS

ART.288º TFUE

As diretivas têm como destinatários os Estados (todos ou alguns dos EM 's), ficando estes
obrigados a atingir um objetivo fixado nelas podendo, porém, escolher a forma e os meios
para a sua implementação. Ou seja, desde que respeitem o resultado previsto, os
destinatários gozam de uma certa liberdade, podendo adaptar o texto da diretiva à realidade
jurídica, económica e social do seu Estado.

Não gozam de aplicabilidade direta, uma vez que pressupõem uma mediação estadual na
escolha dos meios e da forma para prosseguir os fins estabelecidos. Ou seja, as diretivas
vão ser objeto de medidas de execução. Não valem por si só.

Necessitam de ser transpostas para a OJ interna, uma vez que não têm aplicabilidade
direta. O dever de transposição de uma diretiva resulta do princípio da cooperação leal
(ART.4º/3 TFUE).
Como é que deve ser feita a transposição?
- deve ser sempre feita de forma correta, completa e com a especificidade,
exatidão e clareza requeridas para que seja satisfeita a exigência de segurança
jurídica e para que seja assegurado o efeito útil da diretiva.
- a transposição deve ser feita dentro de prazo, que geralmente é de dois anos, mas
ele pode variar consoante a própria diretiva.
- o DUE faz a exigência de ser transposta a directiva através de uma lei em sentido
material, ou seja, deve ser feita através de um ato com força de lei que vincule a
administração, os tribunais e os particulares.
A CRP, no art.112º/8, determina que a transposição obedeça à forma de lei,
decreto-lei ou decreto legislativo regional. Ou seja, em Portugal, a transposição
deverá ser feita através de uma lei simultaneamente formal e material.
Se for transposto através de uma portaria vai ser válido à luz do DUE, mas porque
se está a violar a CRP essa portaria será inconstitucional, mas apenas se verifica no
plano interno.
- Se o objetivo da diretiva já estiver cumprido, não é necessário a adoção de novos
atos legislativos; apenas terá que informar a Comissão que já tem legislação que vai
ao encontro dos objetivos da diretiva.

51
- Não é possível a transposição por remissão porque a maior parte das diretivas
não são publicadas no JOUE.
- De referir que há casos em que as diretivas são bastante detalhadas, dificilmente se
distingue de alguns regulamentos, deixando aos estados uma margem de
discricionariedade mais baixa.

Uma vez transposta a directiva prevalece sobre o direito interno, mas só se verifica
após a diretiva ser transposta. Até aí não se pode invocar o princípio do primado da UE
(mas não significa que não existam outros meios para efetivar essa diretiva).

A diretiva produz pré-efeitos jurídicos (momento em que a diretiva já está em vigor mas
ainda não foi transposta).
O Acórdão de Wallonie, DEVER DE STAND STILL, diz-nos que o estado não pode, durante
o período de transposição de uma diretiva, aprovar legislação que vá contra o estabelecido
na própria diretiva. Se o fizer estará a violar o dever de stand still, que está fundado na
própria ideia de cooperação leal.

NOTA: o TJUE tem entendido que não viola o dever de stand still, a aprovação de
legislação que signifique uma aproximação dos objetivos da diretiva durante o período de
transposição, mas não o seu cumprimento. Porque entende-se que o estado está a
adequar, progressivamente, a sua legislação à diretiva.

Se no fim do prazo o Estado tiver transposto a diretiva ela vale na OJ interna e vincula o
Estado.
Porém, se o Estado não transpôs a diretiva ele entrará em incumprimento.
E, nestes casos em que o Estado não transpôs a diretiva (ou transpôs de forma incorreta) o
DUE diz-nos que pode ser invocado o EFEITO DIRETO das diretivas, ou seja, podem ser
invocadas nos tribunais pelos cidadãos e empresas contra o Estado (apenas contra os
estados) -» admite-se apenas o efeito direto vertical (particular contra estado), porque
entende-se que o estado não pode beneficiar do incumprimento do seu incumprimento
(princípio do estoppel).
Quanto ao efeito direto horizontal (entre particulares) o TJUE tem entendido que não pode
haver efeito direto horizontal, pelo facto de os particulares não terem qualquer culpa no
incumprimento do estado ao não transpor a diretiva.
De notar que neste aspecto a jurisprudência não é completamente uniforme (Ac. Mangold).

52
Mas o que é considerado Estado neste caso (efeito direto)?
Adota-se uma conceção ampla de estado: “Todos os organismos ou entidades que estejam
sujeitas à autoridade ou controlo do Estado ou que disponham de poderes exorbitantes face
aos que resultam das normas aplicáveis nas relações entre particulares”. Ou seja,
Ministérios, AP, todo o tipo entidades públicas ou entidades privadas com participação
pública, etc.

Mas, não podem ser invocadas todas as normas da diretiva. Só serão invocadas as normas
da diretiva que forem:
- claras
- precisas
- incondicionais

TODAVIA, o efeito direto é apenas uma das consequências da não transposição ou


transposição incorreta de uma diretiva:
- Efeito direto de algumas das disposições da diretiva (como visto supra);
- Constitui fundamento para a instauração de um processo de infração contra o
Estado (ação por incumprimento), a instaurar pela Comissão, nos termos dos
arts.258º e ss TFUE
- Responsabilidade do Estado, o Estado pode vir a ser condenado pelos danos
causados pela não transposição da diretiva em tempo (responsabilidade civil
extracontratual do estado).
Estas ações devem ser intentadas junto dos tribunais nacionais, assim que se prove
a violação de um direito da UE, um dano e nexo de causalidade entre a violação e o
próprio dano. O resultado desta ação será a fixação, pelos tribunais nacionais, de
uma indemnização que deve ser paga pelo Estado às identidades lesadas,
abarcando os danos emergentes e os lucros cessantes.

➔ DECISÕES

As decisões são atos jurídicos que se dirigem aos Estados ou aos particulares;
sendo por isso, em regra, atos concretos e individuais (embora possam ser gerais).
Podem ser atos de direito secundário (quando forem aprovados por um ato legislativo), ou
atos de direito terciário (decisões de execução).
À semelhança dos regulamentos, as decisões são obrigatórias em todos os seus
elementos, ou seja, esgotam toda a matéria que tem de ser regulada, não necessitando a
intervenção do estado para a densificação do seu conteúdo, bastando ao estado executar
essa decisão.
Naturalmente só serão vinculativas para os seus destinatários. E esta identificação
do destinatário pode ser:
- expressa, quando devem ser notificadas aos respectivos destinatários e
produzem efeitos mediante essa notificação (art.297º/2 TFUE). A partir daqui
é-lhes reconhecido efeito direto e são diretamente aplicáveis.

53
- implícita, neste caso os destinatários não estão discriminados, mas a própria
decisão apresenta um conteúdo de critérios que podem ser utilizados para se
determinarem os destinatários (pode trazer problemas no que toca a saber o
momento a partir do qual começa a produzir efeitos jurídicos, uma vez que é
só a partir do momento em que a identidade tem conhecimento.
- no âmbito da PESC, é possível a emanação de decisões sem destinatários,
sendo que estas definem a estratégia da União no âmbito da política externa,
e só vinculam a própria UE (ART.25º TUE).

➔ RECOMENDAÇÕES E PARECERES

Ao contrário dos atos vistos anteriormente, as recomendações e os pareceres não têm força
vinculativa, sendo apenas atos de soft law. No entanto, não significa que estes atos sejam
totalmente irrelevantes, uma vez que, são pressupostos na produção de atos normativos (
quer em processo ordinário quer em processo especial), sendo uma condição de validade
do próprio ato.
Podem ser emanadas por iniciativa do seu autor (art.97º TFUE); ou, serem solicitadas por
terceiros.
Estas são publicadas no JOUE.

Qual o regime aplicável?

As RECOMENDAÇÕES tendem a ser formuladas pela Comissão, mas podem ser


adotadas por outras instituições e órgãos, como o Conselho ou o BCE (art.292º TFUE).
Sendo que visam essencialmente produzir efeitos para o exterior da UE.
- Podem ser emitidas voluntariamente ou não;
- Podem ter como destinatários os EM 's, instituições e órgãos da UE; ou, até mesmo,
ainda que de forma indireta, os particulares;
- A emissão de recomendações pode depender de pareceres prévios;
- Podem ser públicas ou ter um caráter reservado.
- Estas têm um papel importante no âmbito da interpretação do DUE e do direito
nacional sempre que tenha ligação com o DUE.

Os PARECERES podem ser emanados por instituições, órgãos e organismos da UE


ou até pelos EM’s:
- Normalmente têm como destinatários as instituições e órgãos da UE, sendo que ao
contrário das recomendações, os pareceres não visam produzir efeitos para o
exterior;
- Podem ser voluntários (livre iniciativa) ou emanados por solicitação;
- Podem ser obrigatórios ou facultativos (consoante a obrigatoriedade da solicitação
que estará na base jurídica).

Segundo Gorjão-Henriques, as recomendações são da iniciativa do órgão que formula e


dirige-se para o exterior, ainda que não seja publicada. Os pareceres costumam ser
adotados no quadro do desenvolvimento das decisões, como sendo um ato interno e
preparatório.

54
3. DIREITO TERCIÁRIO

As fontes de direito terciário distinguem-se das fontes de direito secundário porque, para
além de terem de respeitar o direito primário, terão de respeitar o direito secundário.
Aqui encontramos fontes não legislativas, o que significa que a criação destes atos não
segue qualquer processo legislativo.
De notar que, quer os regulamentos, diretivas e decisões, podem ser atos de delegação ou
execução, integrando assim o "direito terciário”.

Estes atos não legislativos de direito terciário podem ter uma natureza:
- geral e abstrata, não indicando destinatários, apenas necessitando de assinatura
do(s) presidente(s) da(s) instituição(ões) que o aprovaram; e, ainda, a sua
publicação no JOUE.
- individual e concreto, indicando destinatários, sendo necessário a assinatura do
presidente da instituição que os adotou e sua notificação aos destinatários,
produzindo efeitos jurídicos a partir dessa data (art.297º/2 TFUE).

- ATOS DELEGADOS

ART.290º TFUE, Um ato delegado pressupõe a existência de um ato delegante, que é um


ato através do qual se procede à delegação de competências. Este ato é sempre um ato
legislativo, o que significa que é sempre um ato de direito secundário.
O ato delegante vai transferir para a Comissão o poder de exercer poderes legislativos.
A comissão passa assim a poder alterar ou completar os elementos não essenciais do ato
legislativo de delegação -» DELEGAÇÃO LEGISLATIVA.
O ato delegado deve também referir, de forma expressa, a sua natureza, sob pena de ser
inválido.
O ato delegante deve estabelecer um conjunto de dados - reserva material de ato
legislativo- deve estabelecer os objetivos, o conteúdo, o âmbito de aplicação e o período de
vigência da delegação de poderes.

LIMITES DO ATO DELEGADO:

1. Limites materiais: a delegação deve ser clara, precisa e circunstanciada.


2. Limites temporais: estabelecem o prazo dentro do qual o ato delegado pode ser
emanado.
3. Mecanismos de Controlo: o art.290º/2 TFUE identifica duas condições a que o
legislador pode submeter a delegação de poderes (que não precisam de ser
exercidos em simultâneo).
- Direito de revogação: que priva a Comissão de exercer os poderes
delegados;
- Direito de oposição: censura dirigida contra um ato delegado em concreto.
Se existir uma oposição do PE ou do Conselho o ato não pode entrar em
vigor, ou seja, vai-se vetar um ato delegado. De referir que neste caso a
Comissão não perde os poderes de emanar um outro ato delegado, desde
que cumprindo os limites materiais e temporais.

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NÃO CONFUNDIR AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA COM DELEGAÇÃO LEGISLATIVA

- ATOS DE EXECUÇÃO

Eles visam essencialmente garantir que sejam tomadas todas as medidas necessárias à
execução dos atos juridicamente vinculativos da UE (art.291º/1 TFUE).
A execução do DUE cabe às instituições, órgãos e organismos da União, principalmente à
Comissão, mas por fora do princípio da administração indireta do DUE, e do dever de
cooperação leal, cabe também aos Estados.

Em certas situações, o DUE, adota medidas que garantam condições uniformes de


execução dos atos jurídicos vinculativos europeus, os quais podem conceder
expressamente poderes executivos, normativos e de decisão à Comissão ou, em sede de
PESC, ao Conselho (art.24º e 26º TUE). Ou seja, vão ser diretamente atribuídos a uma
instituição.

NOTA: os atos de execução devem mencionar expressamente essa qualidade.

Qual a diferença entre atos delegados e atos de execução?


- Nos atos delegados a Comissão é autorizada a completar ou alterar o trabalho do
legislador, sendo a delegação facultativa;
- Nos atos de execução, existe uma verdadeira competência executiva da Comissão,
quando essa não deva ser realizada pelos EM 's.Ou seja, dão verdadeiros poderes à
Comissão.

O Regulamento (UE) nº182/2011, estabelece vários procedimentos para assegurar o


acompanhamento, pelos EM 's, do exercício da Comissão nas suas competências de
execução reconhecidas pelos Tratados. Ou seja, mesmo os estados não tendo de executar
uma determinada política, vão ter de acompanhar o trabalho da Comissão:

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- PROCEDIMENTO DE EXAME, em matérias muito específicas (ART.2º/2/5/6 TFUE).
O parecer do Comité que reúne os EM 's e a Comissão determina a adoção ou não
do ato.

- PROCEDIMENTO CONSULTIVO, nos restantes casos (ART.2º/3/4 TFUE).


O parecer do Comité que reúne os EM’s e a Comissão deve ser tido em conta, mas
a decisão final cabe à Comissão.

- ATOS ATÍPICOS

São aqueles atos que estão previstos nos Tratados, mas não se encontram elencados no
art.288º TFUE:
- Regulamentos internos
- Resoluções
- Conclusões
- Comunicações
- Cartas administrativas de arquivamento de processos
- Códigos de conduta
- Atos de administração interna dos órgãos da União
- Acordos inter-institucionais

Importante referir que a atipicidade destes atos (o facto de não estarem elencados no
art.288º TFUE) não significa que esses atos não tenham valor jurídico.

- REGRAS DE ORDENAÇÃO HIERÁRQUICA

1. Primazia do direito originário sobre o direito derivado;


2. Primazia dos princípios gerais de direito sobre o direito derivado, porque os PG
de direito estão incluídos dentro do direito originário;
3. Primazia dos acordos externos sobre o direito derivado;
4. Primazia do direito-quadro sobre o direito de execução, diz respeito à primazia
do ato delegante sobre o ato delegado, do ato de execução sobre o ato que executa;
5. Primazia do direito especial sobre o direito geral;
6. Primazia do direito europeu sobre o direito nacional, que nos remete para o
princípio do primado.

57
PRINCÍPIOS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

1. Princípios intrínsecos à ordem jurídica da União:

- Princípio da autonomia (distingue-se da ordem jurídica nacional e da internacional)


- Princípio das atribuições
- Princípio da União de Direito

2. Princípios que configuram o modo de ação específicos da União:

- Princípio do Equilíbrio Institucional


- Princípio da Subsidiariedade
- Princípio da Proporcionalidade
- Princípio da Preempção

3. Princípios de cariz material:

- Liberdade económica e pessoal


- Igualdade e não discriminação (arts. 2º, 3º TUE + 18º e 19º TFUE)
- Respeito pelos Direitos Fundamentais
- Princípios decorrentes da configuração da União como um espaço de liberdade,
segurança e justiça

● PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE

Os EM’s devem garantir a plena aplicação do DUE, quer adequando as suas legislações
ao mesmo, quer adoptando disposições jurídicas suscetíveis de criar uma situação
suficientemente precisa, clara e transparente, que permita aos particulares conhecer todos
os seus direitos e invocá-los perante os órgãos administrativos ou jurídicas.
Ou seja, o DUE deve ter um conjunto de mecanismos que lhe permitem a sua efetiva
aplicação.

Como se encara na prática este princípio?

- desaplicação de normas nacionais quando contrariem o DUE (princípio da


cooperação leal);
- limitação da autonomia do legislador nacional, na medida em que os EM’s atribuíram
à UE poderes normativos;
- o juiz nacional tem de aplicar as disposições do direito comunitário, assegurando o
seu pleno efeito.

Este princípio acaba por se desagregar noutros princípios:

58
- PRINCÍPIO DO EFEITO DIRETO

Significa que, as normas da UE, verificadas determinadas condições, podem ser invocadas
em juízo pelos particulares perante os órgãos jurisdicionais nacionais, quer contra o Estado
(efeito direto vertical), quer contra outros particulares (efeito direto horizontal).
Há duas categorias de normas com efeito direito e é preciso distinguir:

- EFEITO DIRETO MATERIAL: normas claras, precisas e incondicionadas.


- EFEITO DIRETO FORMAL: este não resulta propriamente das características das
normas, mas da expressa previsão desse mesmo efeito direito por um norma da
União.

O efeito direto é uma criação do TJUE, Ac. Van Gend & Loos, é este acordo que vem
estabelecer o efeito direto das normas dos tratados sempre que elas fossem:
- Claras, ou seja, que não suscitam dúvidas quanto ao seu sentido;
- Precisas, ou seja, não necessita de um ato de concretização, apresenta-se como
sendo suficientemente densa para que de-la possamos extrair um direito ou uma
obrigação;
- Incondicionais, ou seja, normas que não admitem qualquer exceção ou desvios
(não deixam para o Estado qualquer margem de discricionariedade).

O que significa que as normas dos tratados podem ser invocadas em juízo sempre que
tenham estas características.
No entanto, o efeito direto não se limita apenas às normas de direito originário,
estendendo-se também às normas de direito derivado.

No que toca ao direito originário há vários tipos de normas que produzem efeito direto
(claras, precisas, incondicionais):
- aquelas que se dirigem direta e imediatamente aos particulares (art.101º e 102º
TFUE);
- aquelas que impõem aos EM’S um dever de abstenção (art.30º e 34º TFUE);
- aquelas que impõem aos EM 's uma obrigação de facere (art.110º TFUE).

No caso do efeito direto relativamente ao direito derivado, ele afirma-se com os


regulamentos, diretivas e decisões.

Os regulamentos têm sempre efeito direto porque estes são obrigatórios em todos os
seus elementos e diretamente aplicáveis (art.288º TFUE). E será um efeito direto horizontal
e vertical (aqui serão todas as normas que têm efeito direto).

Quanto às diretivas, podem produzir efeito direto VERTICAL* (não horizontal) quando:
- a diretiva não tenha sido transposta ou transposta incorretamente;
- a norma tem de ser clara, precisa e incondicionada.

*invocação do particular contra o estado (em sentido amplo), nunca o inverso (a favor do
estado).

59
Não é reconhecido o efeito direto horizontal, Ac.Marshall, porque:
- o reconhecimento do efeito direto horizontal colocaria em causa a figura da diretiva e
a sua distinção face aos regulamentos;
- a solução justifica-se por razões de segurança jurídica já que, a maior parte das
diretivas não são publicadas, mas apenas modificadas;
- e, assim, evita-se também a imiscuição abusiva do DUE em relações
jurídico-privadas (as diretivas só se destinam aos estados).

Porém são apontadas críticas ao não reconhecimento do efeito direto horizontal:


- o princípio da não discriminação é violado;
- alguns autores dizem que o principio da não discriminação não afeta a natureza da
diretiva, porque o efeito direto horizontal apenas ia funcionar em situações muito
específicas;
- a eficácia e a harmonia do DUE saem prejudicadas.

Ainda que as diretivas, de acordo com a jurisprudência do TJ, não possam ter efeitos
diretos horizontais, elas podem vir a beneficiar de efeitos próximos:
- Responsabilidade civil extracontratual dos Estados por violação do DUE:
permite ao particular, ainda que não possa invocar a norma da directiva contra outro
particular, pedir uma indemnização pelos danos que lhe foram causados pela não
transposição da diretiva.
Ac. Francovich e Ac.Brasserie du Pêcheur
1. Violação do DUE (no caso das diretivas, é a não transposição da diretiva)
2. Nexo de imputação da conduta ao Estado
3. Dano
4. Nexo de causalidade entre a violação e o dano

Nota: estas ações serão intentadas nos tribunais nacionais.

- Efeito indireto das diretivas ou interpretação conforme ao DUE (*)


- Efeito incidental das Diretivas (ou efeito triangular): quando exista uma relação
entre dois privados que é mediada por uma entidade pública, embora não possamos
invocar o efeito direto contra o outro particular, vamos poder fazê-lo contra o ente
público, o que acaba por ter o mesmo efeito que o efeito direto horizontal (se estiver
uma entidade privada não o podemos fazer).

As decisões também podem ter efeito direto naqueles casos em que estabeleçam um
conjunto de obrigações que sejam claras, precisas e incondicionadas; ou seja, vamos ter de
fazer uma análise concreta a cada uma das normas da decisão.
Quando dirigidas a Estados, as decisões podem carecer da necessária precisão, exigindo
medidas de execução por parte dos mesmos (salvo as decisões proibitivas, que serão
quase sempre obrigações claras, precisas e incondicionadas, produzindo efeito direto).
E será um efeito direto vertical e horizontal.

Também a determinados acordos internacionais é reconhecido o efeito direto, segundo os


mesmos critérios (Ac. Van Gend en Loos e Ac.Demirel).

60
Os pareceres e recomendações, por não terem força jurídica vinculativa, não têm efeito
direto.

- PRINCÍPIO DO PRIMADO DO DUE

Este é um princípio muito importante no que toca à efetividade do DUE, uma vez que se
não existisse a ideia de primado do DUE sobre o direito nacional, isso acabaria por fazer
com que o DUE fosse um mero direito orientador, sem verdadeira força jurídica vinculativa.
Os EM 's podiam facilmente manipular o DUE, respeitando as normas que lhe fossem
favoráveis e de alguma forma contornando as que não o fossem.
Trata-se de um princípio afirmado jurisprudencialmente, Ac. Costa c.Enel, que
estabelece aos órgãos nacionais a necessidade de garantir a plena eficácia do direito
europeu (sempre que estejam em conflito normas de direito interno e normas de direito
comunitário), ainda que tal implique a desaplicação de normas nacionais, qualquer que
seja a sua dignidade formal.
É um princípio fundado com base no princípio da cooperação leal.
O juiz nacional, encarregado de aplicar as disposições do direito comunitário, tem a
obrigação de assegurar o pleno efeito dessas normas, desaplicando toda a disposição
nacional contrária.
De notar que a aceitação deste princípio não foi igual em todos os países.

NOTA: a norma nacional mantém-se em vigor. Não está em causa a validade, mas apenas
a prevalência na aplicação (Gorjão-Henriques -» Prevalência da aplicação do DUE), ou
seja, o juiz apenas não a vai aplicar, ela continua válida no OJ nacional.
ART.8º/4 CRP

- PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME (*)

Ele aplica-se em todas as situações, mas há um caso onde é especialmente importante, no


caso em que uma diretiva não foi transposta (ou incorretamente transposta); e, o particular
quer invocar uma norma da directiva contra outro particular (efeito direto horizontal, que no
caso das diretivas não é reconhecido).
Porém, como anteriormente referido, o particular tem ao seu dispor um conjunto de
expedientes que podem gerar efeitos próximos a esse efeito horizontal.
Uma delas é a INTERPRETAÇÃO CONFORME ou EFEITO INDIRETO.
Este princípio afirma que o juiz deverá, no momento de aplicar direito nacional,
atribuir a este uma interpretação que se apresenta conforme com o sentido das normas
europeias.

NOTA: as normas terão sempre que ser claras, precisas e incondicionadas.

Este princípio baseia-se no Ac.Marleasing, onde se afirma que o juiz nacional deve,
entre os métodos permitidos pelo seu sistema jurídico (*1), dar prioridade ao método

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interpretativo que lhe permita dar à disposição de direito nacional em causa uma
interpretação compatível com a norma de DUE (*2).

No entanto, este princípio encontra limites, reconhecidos pelo TJUE:


- A interpretação-hermenêutica não pode resultar numa interpretação contra legem.
- A interpretação em causa não pode conduzir à imposição a um particular de uma
obrigação prevista numa diretiva não transposta (não se pode criar mais obrigações
para o particular).
- Não podemos aplicar a interpretação conforme quando isso nos leva a determinar
ou a agravar, com base na diretiva ou na falta de uma lei adotada para a sua
aplicação, a responsabilidade penal daqueles que atuem em violação das suas
disposições (uma regra geral do direito).

Quando é que o direito nacional deve ser interpretado em conformidade com o DUE?
Quando o padrão de conformidade do direito nacional seja constituído por princípios de
direito comunitário ou por normas juridicamente vinculativas da União dotadas de efeito
direto e aplicabilidade direta (é o caso de normas dos tratados, regulamentos e diretivas
quando já tenha decorrido o prazo de transposição).

- PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE NA APLICAÇÃO

O DUE deverá aplicar-se da mesma forma e com o mesmo sentido em qualquer EM 's,
ainda que as realidades jurídicas e econômicas nacionais se revelem diversas.
Este princípio afirma-se através do mecanismo do REENVIO PREJUDICIAL (art.267º
TFUE):
- Institui uma relação de colaboração entre os órgãos jurisdicionais nacionais e o
TJUE, nos termos da qual aqueles podem pedir a este que se pronuncie sobre a
interpretação de uma QUALQUER norma da União; ou, sobre a validade de uma
norma da União de direito DERIVADO (nunca de direito originário, uma norma não
pode ser simultaneamente critério de validade e objeto de fiscalização). Ou seja,
podemos ter um reenvio de interpretação ou um reenvio de validade.
- Uma vez obtida a resposta, o juiz fica vinculado à resposta dada pelo TJ.
- A interpretação do TJUE não tem um efeito meramente prospectivo, ou seja, a
interpretação levada a cabo estabelece como devia ter sido entendida a norma
desde o momento da sua entrada em vigor.
- Haverá casos de reenvio obrigatório e casos de reenvio facultativo.

NOTA: o TJUE só se pronuncia sobre normas de DUE (é o objeto do pedido), não existe
reenvio prejudicial para normas de direito interno.

62
A REVISÃO DOS TRATADOS

O art.48º TUE consagra um processo de revisão ordinário e dois processos de revisão


simplificados. Este processo de revisão é um processo muito singular e afasta-se das
normas genéricas (CVDT) sobre o modo como se deve proceder à revisão de CI.

● PROCESSO ORDINÁRIO DE REVISÃO

1. INICIATIVA

Têm poder de iniciativa os EM 's, o PE e a Comissão. Ou seja, são eles que apresentam
projetos de revisão dos tratados.

2. FASE INSTITUCIONAL

Estes projetos de revisão são apresentados ao Conselho e ao CE e são notificados os


parlamentos nacionais.O Conselho e o CE vão analisar essas propostas, sendo que a
decisão final cabe ao CE depois de consultar o PE e a Comissão.

3. FASE CONVENCIONAL

Em caso de decisão favorável, a aprovação das alterações vai ser realizada através de uma
Convenção, onde os estados se vão reunir para analisar os projetos de revisão, onde vão,
por consenso, decidir convocar a Conferência de Representantes dos Governos dos
Estados-Membros. Esta conferência é quem estará verdadeiramente incumbida de aprovar
as revisões. E, portanto, há uma primeira fase em que se aprovam as várias propostas pela
Convenção, mas depois é a Conferência que tem a palavra final quanto às alterações que
se vão realizar ou não.

4. FASE ESTADUAL

As alterações que forem aprovadas pela Conferência serão depois ratificadas pelos
Estados-Membros, de acordo com as normas constitucionais internas. E, só depois de
todos os estados terem ratificado as alterações é que elas entraram em vigor.
Se, 2 anos após a assinatura do tratado de revisão, ⅘ dos EM’s já os tiverem ratificado, mas
ainda assim não esteja em vigor, porque ainda falta ⅕ dos EM’s ratificarem, o CE é chamado
a intervir para tentar desbloquear o processo de ratificação dos tratados, para garantir que o
Tratado entra efetivamente em vigor.

● PROCESSOS SIMPLIFICADOS DE REVISÃO (ART.48º/6/7 TUE)

No primeiro caso, art.48º/6, os Governos dos EM 's, o PE ou a Comissão, submetem ao CE


uma alteração total ou parcial das normas da Parte III do TFUE (que diz respeito às políticas

63
e ações internas). Quanto a estas normas é possível que o CE, por unanimidade, proceda à
alteração, sem que seja necessário convocar uma Convenção ou uma Conferência.

No segundo caso, art.48º/7, por decisão unânime do CE, uma matéria constante do TFUE
ou do título V do TUE, que até aí requeria a unanimidade do Conselho, passa a bastar-se
com a maioria qualificada dessa instituição. O CE, por unanimidade, pode proceder à
realização das alterações.

A 1/12/2014 foi publicada uma diretiva que estabelecia as condições de


licenciamento de unidades hoteleiras instaladas em zonas qualificadas como
“reservas naturais”. Nesse diploma, proibia-se expressamente o licenciamento de
unidades hoteleiras que tivessem mais de 20 camas. O prazo de transposição
termina a 1/01/2016.
Até 2015, a lei portuguesa apenas permitia o licenciamento em unidades com
menos de 15 camas. Entretanto, em janeiro de 2015, foi adotada uma nova lei, com
o seguinte conteúdo:

“1. É proibido o licenciamento de unidades hoteleiras situadas em zona de reserva


natural que tenham mais de 20 camas. Esta norma produz efeitos a partir de
1/01/2016.
2. Entre fevereiro e dezembro de 2015, será permitido o licenciamento de unidades
hoteleiras situadas em zona de reserva natural, com qualquer número de camas,
desde que cumpram os restantes requisitos legais.”

a) Analise a conformidade das presentes normas com o DUE.

A 1ª coisa que temos de fazer é uma linha cronológica. Janeiro de 2015 é adotada a lei
nacional.
Em 2ª lugar temos de fazer um enquadramento teórico consoante o tipo de fonte em
causa, neste caso está em causa uma diretiva, e explicar as características fundamentais
das diretivas:
- os principais destinatários são os EM’s, logo não são gerais como os
regulamentos;
- elas fixam os fins que devem ser prosseguidos, deixando aos EM’s uma margem
de liberdade para definir os meios que vão utilizar na prossecução desses
mesmos fins;
- as diretivas não gozam de aplicabilidade direta, o que significa que elas têm de
ser transpostas para a OJ interna para que possam produzir os seus feitos,
trata-se de um ato de incorporação que, segundo o art.112º CRP, terá de ser
através de uma lei em sentido formal.
Neste caso, não temos nenhum problema relativo à transcrição, foi através de uma lei e
dentro do prazo estabelecido.
Mas é necessário analisar o conteúdo das normas nacionais e ver se estas violam ou não
o conteúdo do DUE, porque embora o estado tenha total liberdade para transpor a
diretiva, ele está vinculado pelo DEVER DE STAND STILL, segundo o Ac. Wallonie, que
fundado no dever de cooperação leal, vem dizer que durante o período de transposição, o
estado não pode aprovar legislação que ponha em causa a prossecução dos fins da
diretiva:
- o nº1 da nossa lei não há qualquer problema à luz da jurisprudência Wallonie, esta
disposição vai ao encontro do estabelecido na diretiva;

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- Quanto ao nº2, esta já é mais problemática, isto é comprometer claramente o fim
da diretiva, temos uma violação do dever de stand still que é reconhecido pelo Ac.
Wallonie.

b) Em junho de 2016, Pablo concorreu a um concurso para exploração de uma


unidade hoteleira propriedade do Estado. Foi preterido porque, apesar de a
sua proposta econômica ser melhor, a lei portuguesa dava preferência aos
cidadãos nacionais no acesso a esta atividade econômica. Poderá Pablo
invocar alguma norma dos Tratados junto de um tribunal nacional,
impugnando esta decisão?

A primeira questão é saber que norma dos tratados poderia ser invocada: ART.18º TFUE,
que estabelece que à luz do DUE ninguém pode ser discriminado pela sua nacionalidade.
Quando falamos em “invocar alguma norma dos Tratados junto de um tribunal nacional”
isto remete-nos para o princípio do efeito direto. As normas dos tratados podem produzir
efeito direto, logo que sejam claras, precisas e incondicionais.
Estão reunidas as condições para que se possa invocar em juízo as normas dos
tratados?
Nesta matéria é importante referir o Ac.Van Gend & Loos, que nos diz que é possível
invocar uma norma de um tratado quer contra o estado (vertical) quer contra os
particulares (horizontal) quando a norma é clara, precisa e incondicionada.
A partir daqui temos de saber se este art.18º cumpre os nosso requisitos?
A norma é clara e precisa, mas será incondicional?
Porque o artigo em questão diz-nos “sem prejuízo das suas disposições especiais”. Como
devemos interpretar a incondicionalidade? (!) Significa que a norma não permite desvios
nem exceções, mas essencialmente aponta para a margem de liberdade do estado para
criar esses desvios ou exceções, ou seja, NÃO pode nem se quer admitir que o estado
tenha liberdade para criar desvios. As exceções que esta norma estabelece são exceções
que os próprios tratados estabelecem, e não os estados. Logo, não sendo os estados a
ter margem de conformação para criar exceções ao principio da não discriminação em
razão da nacionalidade, a norma é efetivamente incondicionada.
Logo, Pablo pode invocar esta norma a do art.18º TFUE junto de um tribunal nacional,
devido ao efeito direto.

Em 01/2010, foi adotada uma diretiva comunitária que impunha um horário de


trabalho semanal máximo de 48h para os prestadores de serviços de saúde. O
prazo de transposição foi fixado em 3 anos.
Considerando os dados apresentados, responda às seguintes questões:

a) Em 2011, em Portugal, foi aprovado um pacote legislativo que diminuía o


horário de trabalho máximo de 52 horas para 50 horas, Considera esta
aprovação legítima à luz do DUE?
Dever de stand still, não nos parece que houve uma violação deste, uma vez que houve
uma aproximação do direito nacional às disposições comunitárias (APROXIMAÇÃO
PROGRESSIVA). O que importa é que, quando o prazo de transcrição terminar, estejam
garantidas as 48h de trabalho semanal máximo.
b) Em 2014, Pablo, médico num hospital público na Catalunha, pretende
trabalhar no máximo 48 horas semanais, embora o direito espanhol continue
a prever 50 horas de trabalho semanais. Terá razão?
Remete-nos para a questão do efeito direto, porque se o direito espanhol continua a

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prever 50 horas é porque a diretiva não foi transposta. Se não foi transposta pode,
eventualmente, a norma da diretiva ser invocada contra o empregador, para que este seja
obrigado a respeitar as 48h.
Sendo, neste caso, o empregador um hospital público estamos perante um caso de efeito
direto vertical (estado em sentido amplo).
Para existir efeito direto nas diretivas, o Ac. Van Duyn, vem dizer que têm de estar
verificados alguns requisitos:
- a diretiva não tenha sido transposta ou tenha sido incorretamente transposta (está
verificado)
- a norma da diretiva em causa tem de ser clara, precisa e incondicionada (está
cumprido)
Verificando-se estes requisitos poderá haver invocação da normativa contra o estado e
Pablo irá trabalhar apenas as 48h semanais, embora o direito espanhol continue a prever
as 50.
c) Em 2015, Maria, enfermeira num hospital privado francês, pretende trabalhar
no máximo 48 horas semanais. No entanto, o direito francês prevê um limite
máximo de horário laboral entre 46 e 50 horas, a definir pela entidade
empregadora. Terá sucesso na sua pretensão?
Sendo um hospital privado trata-se de um particular, ou seja, estamos numa relação entre
dois particulares. E, o TJUE, já veio dizer que não há efeito direto horizontal nas diretivas,
ou seja, o particular não pode invocar uma diretiva contra outro particular, mesmo que já
tenha passado o prazo de transposição e mesmo que a norma seja clara, precisa e
incondicionada.
No entanto, há algumas alternativas para se contornar o facto de não existir efeito direto
horizontal:
- efeito triangular (não se aplica aqui, porque esta relação jurídica não é
intermediada por nenhuma entidade pública);
- responsabilidade civil extracontratual do estado por violação do DUE (é possível,
mas a Maria aqui iria receber uma indemnização, porém a Maria não quer receber
uma indemnização, ela pretende trabalhar apenas 48h semanais);
- resta-nos a tentativa de interpretar esta norma nacional à luz do due (PRINCÍPIO
DA INTERPRETAÇÃO CONFORME ou EFEITO INDIRETO):
- à luz do DUE, e não violando os limites que este procedimento exige,
podíamos interpretar a norma nacional da seguinte forma: o limite máximo
de horário laboral devia ser entre 46 e 48, a definir pela entidade
empregadora. Ou seja, exige que o empregador define o número de horas
semanais entre as 46 e as 48. As 50h desaparecem e passa-se a cumprir
a diretiva.

Nota: não esquecer de mencionar jurisprudência.

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