DIREITO DA UNIÃO I SEBENTA (Eduardo Figueiredo)
DIREITO DA UNIÃO I SEBENTA (Eduardo Figueiredo)
Eduardo Figueiredo
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(Fontes e princípios- casos práticos)
Tratado de Lisboa
● PRÉ-HISTÓRIA
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● FASE DAS COMUNIDADES (1952-1992 - até ao maastricht)
(durante a Guerra Fria- como podemos evitar a reanimação da violência? vamos meter os
países a cooperar em matéria econômica e na gestão conjunta de duas matérias primas
muito utilizadas para a guerra)
Criada para assegurar a paz, promover a economia e criar um mercado comum para
o carvão e o aço.
(! estrutura institucional) A CECA tem uma estrutura institucional (constituída pela Alta
Autoridade, Assembleia e o Conselho e ainda um tribunal comunitário) e o Tratado de Paris
(fundador) estabeleceu um “prazo de validade”- ao fim de 50 anos caducava- significa que
a CECA hoje não existe (caducou em 2002) e as atividades e recursos foram absorvidos
pela CE, hoje, UE.
A sua criação foi um sucesso e pensou-se em alargar o âmbito da integração europeia, por
isso pensou-se criar outras comunidades noutros planos: comunidade europeia da defesa,
política,etc., mas começou-se a perceber que a cooperação em domínios não econômicos
era muito mais complexa.
PERCEBE-SE QUE É ESSENCIALMENTE PELA VIA ECONÔMICA QUE SE PODE DAR
INÍCIO AO PROGRESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEU.
IMPORTANTE PARA A ORAL: Portugal não aderiu à UE mas sim à CEE, em 1986-» ou
seja, é um dos países fundadores da união. Quais são os tratados fundadores-» paris, roma
e ÀS VEZES maastricht -» fundou a UE (porque paris e roma são os fundamentais)
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FASE DA TRANSFORMAÇÃO (1992-)
Inicia-se com a criação formal da UE, a par das Comunidades, e culmina na refundação
para-constituinte da Europa operada pelo Tratado de Lisboa.
ATO ÚNICO EUROPEU (1986): não traz alterações estruturais mas sim, essencialmente,
aperfeiçoamento do que já existia. Um aspeto muito importante é que ele começa a
evidenciar que as comunidades não têm prioridades só econômicas, é importante falar da
democracia, dos direitos fundamentais, do estado de direito -» começa aqui um processo de
humanização das comunidades.
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Mais, até aqui só tínhamos o Conselho (o conselho das comunidades europeias) hoje
corresponde ao Conselho/Conselho de Ministros/Conselho da UE, mas continua a existir o
conselho europeu. De onde é que ele aparece? Durante muitos anos funcionou como uma
instância informal. Estas reuniões começaram a ter mais importância, consagrando-se
formalmente com o Ato único Europeu do Conselho Europeu. Mas de notar que ainda não é
uma instituição (como o parlamento, o conselho,etc), ele é apenas um órgão, mas um órgão
que já é reconhecido, os tratados já reconhecem a sua existência e importância.
Com o Ato Único Europeu houve também uma reforma do sistema institucional
comunitário.
ACORDOS SCHENGEN (1986)- são CI que determinam a abolição integral dos controlos
transfronteiriços. Aqui sim há uma livre circulação.
Inicialmente foram assinados pela Bélgica, Luxemburgo, Holanda, França e Alemanha
(1985), mas era um acordo meramente programático, ou seja, apelava aos estados que
adotassem medidas para progressivamente eliminar os controlos transfronteiriços.
Em 1990, estes acordos inicialmente celebrados, passam a constar de uma convenção-
CONVENÇÃO DE APLICAÇÃO DO ACORDO SCHENGEN- e ela vai mais longe, ele impõe
que os estados adotem medidas harmonizadas com vista à abolição dos controlos
transfronteiriços. Mas nem todos os países da comunidade aderiram a estes acordos, como
o Reino Unido, e houve países que não participam nas comunidades mas que aderiram,
como a Suíça.
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CONSELHO. E eram decisões tomadas por unanimidade, ou seja, todos tinham de
concordar com tais decisões.
NOTA: Ainda hoje a PESC continua a seguir a lógica intergovernamental, apesar das outras
já se terem democratizadas, a PESC não, continua a seguir a lógica que são os estados
que decidem praticamente tudo nestas matérias e, em regra, continua a aplicar-se a regra
da unanimidade.
NACIONALIDADE: é o vínculo jurídico que liga a pessoa ao estado (são critérios decididos
pelo estados);
CIDADANIA: é um complexo de direitos, ou seja, o conjunto de direitos que derivam do
facto da pessoa ter uma certa nacionalidade, um vínculo com um certo estado.
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- Imposição do respeito pelas identidades nacionais e da cultura dos Estados e
introdução do princípio da subsidiariedade;
- a unificação, desenvolvimento e aperfeiçoamento das várias políticas relativas ao
ambiente, consumidores e no âmbito da investigação e desenvolvimento.
A principal, é o facto do Parlamento Europeu viu serem-lhe concedidos, pela primeira vez,
poderes de natureza legislativa:
- PROCEDIMENTO DE CODECISÃO, que significa que, em regra, a partir deste
tratado o PE passa a participar ativamente no processo legislativo (até aqui era
denominado pelo conselho), e, em regra, os atos só podem ser adotados se existir
um acordo entre PE e conselho -» decisão conjunta entre as duas instituições.
É um tratado de acabamento.
DOCUMENTO DA CARTA DOS DF DA UE, criada em 2000, ela tem uma particularidade
relativamente a outros documentos que protegem DF e DH, ela vincula a própria UE e não
os estados em si- as próprias instituições têm de respeitar os DF. Foi a primeira vez na
história que uma OI cria um documento e que se obriga ela própria a respeitá-lo.
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- etc.
Isto dá-nos a entender que este projeto queria aproximar-se de toda a lógica estadual, esta
“Constituição da UE” ia buscar às constituições nacionais muita inspiração. Isto claramente
assustou os estados porque desde o momento que se começou a pensar as comunidades
existiam duas grandes linhas que ainda se mantém:
- uns autores, os unionistas, são autores que defendem que a UE deve ser uma
organização internacional sui generis, porque tem muitas particularidades relativas
às restantes;
- outros autores, os federalistas, dizem que a UE não pode ser só uma OI, tem de ser
um estado federal.
Uma das prioridades deste projeto era afirmar o princípio do primado do direito
comunitário (!!), isto diz-nos que todo o direito comunitário prevalece sobre o direito
nacional, inclusive sob as próprias constituições.
Porém, a França e a Holanda não aceitaram esta proposta (é necessário
unanimidade logo este projeto não segue para a frente).
Segue-se um período de desânimo, porque não se sabia qual o próximo passo a dar.
FASE DA UNIÃO:
No entanto, acaba por ser uma “constituição disfarçada” porque apesar de tudo os
elementos essenciais mantiveram-se: ou inalterados, ou foram mudados os nomes:
- não há comunidades, mas sim uma UE una.
ATENÇÃO OS PILARES FORAM ABOLIDOS FORMALMENTE MAS NÃO NA PRÁTICA
(Gorjão-Henriques) continuamos a encontrar normas muito distintas por exemplo para a
PESC, elas são essencialmente levadas a cabo numa lógica intergovernamental.
- o ministro dos negócios estrangeiros (TCE) é agora o Alto Representante para os
Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (ARUNEPS);
- foram alargadas as competências da união;
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Fazer: Tabela com os nomes de tratados e para cada um fazer um esquema em que
contexto surgiu, políticas introduzidas, COMPETÊNCIAS alargamento, etc. alterações
institucionais.
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Há várias classificações doutrinais para as organizações internacionais:
1. Quanto à base geográfica:
- gerais - ONU;
- regionais- UE;
- locais.
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De notar que há outras propostas doutrinais:
NOTA: os autores ligados à ideia de que o estado têm um exército próprio, afirmam que a
UE não pode ser considerada estado por isso mesmo, uma vez que não dispõe de exército
próprio.
Uma confederação é uma associação de estados que vão criar órgãos coletivos para
exercerem determinadas atribuições.
A confederação de estados têm apresenta algumas semelhanças com a UE: a UE é
também uma associação de estados, também tem um conjunto de órgãos próprios que
visam a prossecução de atribuições comuns. No entanto, as atribuições da UE são mais
vastas do que aquelas que são conferidas, em regra, nas confederações. Nas
confederações esses órgãos comuns são de gestão, realizam a gestão de determinados
aspectos políticos, administrativos, etc. mas não tem a amplitude de competências que a
UE tem. E, ainda, os órgãos da UE são muito mais complexos.
Logo, a UE não é uma confederação, já foi mais longe.
Eles dizem que a UE hoje, na verdade, já é um estado federal atípico ou imperfeito, ou seja,
que estamos a caminho de um estado federal mas ainda não chegamos lá.
Mas, então, quais são os traços federais da UE?
- Desde logo, trata-se de uma união de entidades políticas autônomas, os estados
membros, estados membros estes que são estados soberanos, mas que abrem
parte da sua soberania e transferem-na para uma entidade supranacional. O mesmo
acontece com os estados federados que transferem parte da sua soberania para o
estado federal;
- O facto da UE ter um “governo de dois níveis" tal como acontece num estado federal
(o nível do estado federal, que tem órgãos e leis específicas, e depois os estados
federados). De dois níveis porque temos órgãos próprios nos dois planos, mas o
federal está num plano superior. O mesmo acontece com a UE, os estados membros
têm os órgãos próprios, mas a própria UE tem órgãos que impõe um conjunto de
regulamentações aos estados - os regulamentos.
- A liberdade de circulação e a ausência de fronteiras internas;
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- a aplicabilidade direta dos regulamentos;
- a questão do primado da UE;
- entre outros.
Mas a UE ainda não chegou a este nível, A UE NÃO TEM A COMPETÊNCIA DAS
COMPETÊNCIAS.
Ainda existem matérias em que a vontade dos estados continua a prevalecer sobre
a vontade da UE - PESC.
A UE não tem recursos financeiros endógenos, ao contrário do que acontece no
sistema federalista.
De notar o art.50º TUE, num estado federal não se prevê a possibilidade de saída.
Ainda o princípio do primado do DUE, que não está em nenhum tratado, mas que é
um princípio que só será respeitado pelos estados enquanto eles pretenderem. Em última
instância só será respeitado se os estados quiserem. Num estado federal é obrigatório.
Direito europeu -» direito de todas as OI 's de natureza europeia (UE, OCDE, Conselho da
Europa, etc).
Inicialmente era mais correto falar de direito comunitário porque praticamente toda a
legislação era emanada pelas comunidades, especialmente pela CEE que passou a CE -» o
1º pilar, o mais amplo.
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Desde o TL referimo-nos ao DUE, porque é a UE que adota os atos, ela prossegue todos os
pilares, esta união é una.
PODEMOS DIZER QUE EXISTE UMA RELAÇÃO HIERÁRQUICA, AINDA QUE SEJA
APENAS UMA HIPÓTESE DESEJÁVEL:
Mas há muitos estados que comprometem esta estrutura, afirmando que a constituição
nacional prevalece sobre o Direito europeu.
Como vimos, a ideia de primado do DUE, ela não foi aceite de forma leve por todos
os estados (por exemplo, o caso alemão).
Quanto à CRP, ART.8º/4 CRP, este diz-nos que a CRP reconhece o princípio do primado da
UE, mas verdadeiramente não abriu as suas portas a este princípio, uma vez que criou um
mecanismo de segurança:
- exige-se que a União esteja a exercer competências próprias (se estiver a invadir as
competências dos estados já não há este respeito);
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- exige-se que o ato respeite os princípios fundamentais do Estado de direito
democrática, ou seja, exige-se que respeite o núcleo essencial ou irredutível da
constituição.
Apesar de tudo, o TC, acórdão nº422/2020 do TC, demonstra que o TC tem uma posição
muita aberta a este princípio; e ,no fundo, se algum dia surgem dúvidas se um ato da UE
viola ou não um dos princípios fundamentais do Estado de direito democrático, nos
comprometemo-nos a colocar a questão diretamente ao TJUE, ou seja, o TC não deverá
avançar para um juízo de desconformidade “constitucional” de normas da UE, sem antes
submeter a questão da “interpretação” ou até mesmo da “validade” (válida à luz do DUE) -»
reenvio prejudicial. ABRE-SE A PORTA AO DIÁLOGO.
De notar que a UE é uma construção tão profunda que os próprios princípios fundamentais
de um estado de direito democrático também são protegidos pelos tratados.
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- plano político, os estados devem ficar vinculados pelas decisões que sejam tomadas
pela união, nomeadamente pelo Conselho.
OU SEJA, os estados devem respeitar a construção jurídica que é a UE e não devem
atentar contra a sua essência.
Este princípio pode ser retirado do art.1º ao art.3º do TUE.
Porém, a aplicação cega do DUE também pode prejudicar os estados,
nomeadamente aquilo que chamamos de “identidade nacional”. Leva-nos à construção de
outro princípio.
2. A união pode ter competências, mas é preciso saber se a União pode EXERCER
ESSAS COMPETÊNCIAS, porque em regra a competência é dos estados. A união
só vai poder atuar se provar que a sua atuação é lícita à luz do PRINCÍPIO DA
SUBSIDIARIEDADE e à luz do PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.
3. Uma vez que haja competência e que o seu exercício seja lícito, é preciso saber
QUEM DENTRO DA UNIÃO EXERCE A COMPETÊNCIA. Aqui falamos do
PRINCÍPIO DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS (ou princípio da competência
orgânica limitada ou do equilíbrio).
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E onde vão estar definidas estas competências? NOS TRATADOS. Menos as competências
exclusivas dos Estados, porque, à partida, todas as competências são exclusivas dos
estados. Podemos dizer que estas competências são residuais, porque as que não forem
exclusivas da UE, partilhadas, paralelas ou de coordenação e complementação serão
competências dos estados.
NOTA: estas competências estão bem densificadas nos tratados, art.5ºTUE e arts.2º a 6º do
TFUE.
1. DELIMITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Determina quais as competências da UE, uma vez que esta só terá as competências
que lhe forem atribuídas, ou seja, aqueles que resultarem da especificação da delegação
dos poderes soberanos dos estados que a compõem (os estados têm a "competência das
competências" e eles abrem mão de parte dessas competências em detrimento da UE, para
que esta possa atuar em determinadas matérias). OU SEJA, todas as competências que
não forem atribuídas à União serão competências dos estados.
- à partida, a UE não pode criar novas competências;
- as competências não podem ser presumidas (têm se ser atribuídas de forma
expressa pelos tratados);
- a UE não pode extravasar os limites das competências que lhe foram atribuídas, sob
pena de ser um ato inválido (porque não tinha competência para atuar naquela
matéria).
*BASE JURÍDICA= norma jurídica consagrada nos Tratados e que autoriza a UE a agir.
São aquelas competência onde só a UE pode legislar. Mas, será que os Estados nunca
poderão legislar sobre estas matérias de competência exclusiva? Podem, em caso de
inoperância radical por parte das instituições europeias. Na prática não acontece.
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Não impede, porém, que os estados possam ser autorizados pela União a intervir
nestes domínios de competência exclusiva. Implica, naturalmente, que os estados
respeitem todos os limites definidos pelas próprias instituições no exercício desta
autorização.
Se não existir uma inoperância radical das instituições da UE e se não existir uma
autorização para os estados legislarem naquela matéria, à partida só as instituições é que
legislam. E, aos Estados, caberá apenas uma competência executiva, ou seja, os estados
só as aplicam; trata-se de uma função complementar, prevista no art.2º/1 in fine TFUE.
Como mencionado anteriormente as competências que não sejam atribuídas à União pelos
Tratados pertencem aos Estados-Membros de forma EXCLUSIVA- natureza residual:
- nacionalidade
- fiscalidade direta
- defesa da ordem pública
- segurança nacional
Claro que os estados, embora tenham competência para exercer exclusivamente estas
competências, têm de o fazer de acordo com o princípio da cooperação leal, respeitando o
DUE.
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Isto acontece porquê? PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE + PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE.
Ou seja, os estados vão ficar vinculados pelo princípio da preempção, são os
estados que ficam obrigados a não intervir na esfera de competências que passou a
ser da UE.
(!!) Quais os limites da UE nesta competência? O art.2º/5 TFUE faz uma referência
expressa a estas competências- “não podem…”, ou seja, a união pode coordenar e
complementar, mas não pode obrigar os estados a harmonizar a sua legislação na matéria,
porque essa harmonização cabe aos estados se estes entenderem fazê-lo.
COMPLEMENTAR NÃO É HARMONIZAR.
Importante, desde já, referir que este princípio se aplica a todas as competências salvo as
competências exclusivas da UE e as competências exclusivas dos estados. E, vincula todas
as instituições europeias, inclusive as jurisdicionais.
(insere-se no exercício das atribuições, onde o estado têm a competência regra)
Este princípio determina que, à partida, quem atua são os estados, ou seja, a UE só
vai poder atuar em respeito do princípio da subsidiariedade, verificados dois requisitos
cumulativos:
- Falta de eficiência da atuação dos Estados-Membros, ou seja, quando os
estados não estão a ser eficientes na prossecução daquela competência;
- A UE, ao intervir, tem de acarretar um valor acrescentado, isto significa que se a
UE intervir e se a sua eficiência for a mesma que os estados, então quem atua são
os estados e não a UE. Mas se a UE provar que consegue ser mais eficiente que os
estados, então ela pode atuar.
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- Controlo EX ANTE, trata-se de um controlo político, antes da UE atuar, e cabe aos
Parlamentos nacionais.
Quando a UE pretende legislar sobre determinada matéria envia uma notificação
aos parlamentos nacionais onde diz que pretende intervir naquela matéria
específica. Em resposta a esta notificação, os parlamentos nacionais vão emitir um
parecer, para no fundo avaliarem se os argumentos que a UE utiliza de facto
cumprem (ou não) os requisitos necessários para poder intervir.
Se ⅓ dos Parlamentos nacionais se pronunciar num sentido de entender que a UE
não cumpre um dos requisitos, a UE tem de analisar este projeto, ou seja, tem de
parar e reforçar os argumentos.
Primeiro é preciso esclarecer que a UE só tem competências nas matérias que lhe sejam
conferidas pelos estados através dos tratados -» princípio das atribuições.
Será que a UE tem competência para intervir nesta matéria?
Vamos procurar a norma que atribui à UE a competência -BASE JURÍDICA- TFUE.
Neste caso devemos estar numa competência em matéria de energias. Será que a UE
tem competências em matéria de energia?
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Vamos ter de ir aos primeiros artigos do TFUE, estes têm inúmeras matérias, algumas de
competência exclusiva, outras de competência partilhada -» art.4º/2/1, ou seja, no tratado
vamos ter um título relativo à energia (ir ao índice), art.194º/1/c -» esta é a nossa base
jurídica, ou seja, a UE para intervir tem de referir LOGO a base jurídica em que se
fundamenta.
Mas será que a UE pode exercer ou não? Que tipo de competência é esta?
Vamos ver os primeiros artigos do TFUE, neste caso o art.4º/2 fala-nos das competências
partilhadas, logo é partilhada entre estados e união, logo ,em princípio são os estados
que vão atuar. Logo só vai atuar se: proporcionalidade (adequada, necessária e
proporcional em sentido estrito -» será que era necessário a aplicação de um
regulamento? ou a diretiva, que é menos intrusiva, podia ser suficiente?) e
subsidiariedade (a atuação dos estados não pode ser suficientemente eficiente e a
atuação da UE tem de acarretar o valor acrescentado, art.5º/3 TUE).
ART.2º/2 TFUE-» princípio da preempção, é importante referir porque é uma competência
partilhada.
OU SEJA:
1- ENCONTRAR A BASE JURÍDICA
2- SABER DE QUE TIPO DE COMPETÊNCIA FALAMOS
3- DESENVOLVER OUTROS PRINCÍPIOS RELEVANTES, COMO SUBSIDIARIEDADE,
PROPORCIONALIDADE, SE VALE OU NÃO O PRINCÍPIO DA PREEMPÇÃO
Através deste princípio a integração europeia passa a ser levada a cabo de forma flexível,
admitindo-se soluções jurídicas diferenciadas. E porquê?
Os estados-membros que compõem a UE andam a velocidades diferentes, ou seja, temos
países que têm uma grande capacidade econômica, política, industrial, etc. e, outros que
têm uma capacidade mais modesta.
Por esta razão, os tratados previam a necessidade de criar mecanismos de cooperação
diferenciada, ou seja, alguns mecanismos em que um conjunto de estados se reúnem para
cooperar de forma mais profunda em determinada de matéria; e, um conjunto de
mecanismos, que permitem aos estados de se afastarem de uma política que, à partida
deveria ser comum, mas o estado vai decidir afastar essa política por entender que aquela
política não lhe é favorável; que politicamente não lhe interessa naquele momento; ou,
ainda, que naquele momento não tem capacidade para a prosseguir.
Este divide-se em dois domínios:
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Importante referir que esta cooperação reforçada é uma cooperação entre
determinados estados, pode-se falar de um mecanismo “opting-in”.
Para que se crie uma cooperação reforçado é necessário um mínimo de 9 estados
(art.20ºTUE), ou seja, ⅓ ; que depois será adotada pelo Conselho, ou seja, é o
conselho que adota a cooperação reforçada, uma vez que existem esse mínimo
para dar início a essa cooperação.
3. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
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- Princípio da COMPETÊNCIA ORGÂNICA LIMITADA
Ou seja, a UE tem a competência, pode exercer essa competência, mas vai ter de atuar
segundo determinadas indicações presentes nas bases jurídicas (norma que atribui
competência, mas define também como é que deve ser exercida), ART.13º/2 TUE.
1. PODER LEGISLATIVO:
- Comissão
- Conselho
- Parlamento Europeu
2. PODER EXECUTIVO:
- Comissão
- Conselho
- Conselho Europeu
- Estados-Membros
3. PODER JUDICIAL:
- Tribunal de Justiça
- Tribunal Geral
- Tribunal de Contas
O DUE, tal como todos os ordenamentos jurídicos, também tem lacunas, por vezes
existem situações onde existe um vazio jurídico, mas é preciso resolver essas questões.
Existem 3 meios de integração de lacunas:
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- Princípio dos PODERES IMPLÍCITOS
A maior parte das competências são expressamente atribuídas à União,ou seja, não se
presume competências à partida (a regra geral).
Mas não excluímos a possibilidade de se considerar poderes implícitos, ou seja, não
podemos entender esta regra de forma rígida, uma vez que podemos estar a comprometer
a prossecução dos objetivos dos tratados.
Este princípio foi sendo desenvolvido pela doutrina, e que no fundo permite que a UE atue
em matérias que lhe são muito próximos dos seus domínios de atuação, isto é, ela tem
competência expressa para atuar sobre determinadas matérias, mas ela precisa, para
prosseguir aquela competência, de atuar em domínios que são as zonas circundantes.
Continuamos a ter vários tratados, mas de alguma forma eles complementam-se. Não quer,
porém, isto dizer que não possam existir lacunas, ou seja, que olhemos para um
determinado tratado e cheguemos à conclusão que não está regulamentada uma matéria
que devia.
Qual a solução?
Podemos procurar a unidade de sentido dos tratados, ou seja, vamos fazer uma leitura
sistemática dos tratados e perceber quais seriam as soluções consagradas, tendo em conta
a lógica comum associada a estes vários tratados.
De notar que pode-se fazer uma aplicação analógica do disposto num determinado tratado.
Mas, hoje em dia, este mecanismo de integração de lacunas não é praticamente utilizado,
porque:
- o Tratado de Paris (CECA) já não está em vigor, logo já não se pode utilizar;
- com o TL temos a fusão da CE com a UE, passando a ter o TFUE e o TUE, que são
tratados complementares e não existem muitas lacunas de um dos tratados que
possam ser resolvidas com o auxílio do outro;
- e, ainda, o Tratado da CEEA está desatualizado.
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- CLÁUSULA DE FLEXIBILIDADE (ART.352ºTFUE)
Mas, NOTA, se é ativada esta cláusula de flexibilidade é porque não foram atribuídos
poderes expressa ou IMPLICITAMENTE, quer isto dizer que já se tentou mobilizar a ideia
de poderes implícitos.
Ou seja, é um mecanismo poderoso.
(orais) é um meio que nos permite alargar os poderes da UE sem que estes sejam
expressos ou se quer implícitos. Qual é que seria o meio natural para o alargamento dos
poderes da UE? Seria necessário os Estados-Membros atribuem essas competências
através de uma revisão dos tratados. Esta seria a maneira lógica. Mas, esta cláusula,
permite alargar as competências sem a revisão dos tratados e, é por isso, que este
mecanismo é extremamente poderoso, porque estamos, sem tocar nos tratados, a alargar
poderes da UE.
É por esta razão que é um procedimento bastante exigente:
1. Esta cláusula tem de ser ativada pela Comissão, ou seja, a Comissão alerta os
parlamentos nacionais para a necessidade de prosseguir o tal objetivo e que os
tratados não lhe conferem o poder necessário;
2. Os Parlamentos nacionais vão controlar se o princípio da subsidiariedade está a ser
respeitado, ou seja, vão analisar a competência e perceber que tipo de competência
é aquela, e depois analisar se realmente a UE possa exercer aquela competência
(têm de estar cumpridos os 2 requisitos);
3. É necessário que haja a aprovação desta proposta da Comissão pelo Parlamento
Europeu;
4. Por fim, o Conselho adotou por unanimidade, as medidas necessárias, ou seja,
todos têm de estar de acordo (porque a partir deste momento a união passa a ter
mais poderes, poderes estes que vão vincular os EM 's, que os vão deixar de ter).
Em oral, é preciso dizer que todos os interesses estão fundamentados e tem de existir uma
convergência clara entre estes.
HÁ UMA EXCEÇÃO, este art.352º TFUE, não pode ser usado em matéria de política
externa e segurança comum (porque continua a ser uma matéria que funciona segundo
uma lógica intergovernamental).
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- respeito pelo princípio das atribuições, ou seja, é certo que os Tratados não
consagraram poderes para a UE nesta matéria, mas se eles têm de ter consagrado
o OBJETIVO, se a UE não tiver que prosseguir este fim a cláusula não pode ser
ativada. E porquê? A cláusula serve para alargar poderes e NÃO ÁREAS DE
INTERVENÇÃO.
- os princípios básicos/fundamentais da UE têm de ser respeitados;
- o princípio da subsidiariedade tem de ser respeitado;
- e, por fim, pode-se recorrer a esta cláusula para se dar SALTOS QUANTITATIVOS,
mas não qualitativos, ou seja, podemos utilizá-la para dar mais poderes à UE, mas
não podemos utilizá-la para dar mais áreas de intervenção -» os objetivos já estão
fixados e não se podem alterar.
● PARLAMENTO EUROPEU
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estados-membros, o que significa que aqui ainda não existia eleições para o PE, era
através das eleições para os deputados nacionais que eram escolhidos alguns que iam
integrar a Assembleia Parlamentar das comunidades.
O Parlamento Europeu, assim designado, nasce da fusão das Assembleias das 3
comunidades (Tratado de Fusão, 1957). Passando-se a designar como “PE” em 1962.
Em 1975, com o Tratado de Bruxelas, passou a ter o direito de escrutinar as contas da UE
no final de cada exercício e de avaliar a aplicação criteriosa e correta do orçamento
comunitário por parte da Comissão.
As primeiras eleições só vão ter lugar em 1979, apesar de em 1976 passamos a ter
o sufrágio direto e universal.
Em 1986, com o Ato Único Europeu, o PE passa a estar obrigado a aprovar as novas
adesões à UE.
Em 1997, com o Tratado de Amesterdão, vê a sua posição a ser reforçada no processo de
co-decisão com o Conselho, numa série de áreas reguladas pelo direito comunitário.
Em 2009, com o Tratado de Lisboa, vê os seus poderes a serem aumentados enquanto
co-legislador plenamente reconhecido e com poderes orçamentais reforçados. O TL
confere-lhe ainda um papel fundamental na eleição do Presidente da Comissão Europeia.
A partir daqui, o PE foi vendo os seus poderes a serem reforçados, sendo hoje uma
instituição central, quer no controlo da atividade de outras instituições, quer na própria
construção do próprio OJ europeu, a questão dos poderes legislativos.
O PE é hoje o rosto da democracia na Europa, uma vez que as outras instituições só têm
uma legitimidade democrática indireta. Mais, encontramos no PE uma representação
daquilo que são os povos europeus:
- representa os povos europeus (dimensão democrática)
- esta representação tem correspondência com a realidade demográfico dos EM’s
(dimensão demográfica)
- esta representação reflete as várias posições político-ideológicas europeias
(dimensão política)
- a representação é baseada no multilinguismo do funcionamento e na expressão de
identidades nacionais (dimensão cultural)
Para além da função representação tem, também, uma função de integração, sendo o PE
um fórum de discussão e deliberação em torno dos vários problemas europeus.
- A ELEIÇÃO
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- idade mínima de 18 anos (16 para a Áustria)
- mandatos de 5 anos que podem ser renováveis
- incompatibilidade com o exercício de outros cargos
- a data de escrutínio está a cargo dos estados-membros *
- igualdade entre homens e mulheres
NOTA: Apesar de ser este o processo eleitoral desde 1976, as primeiras eleições foram em
1979.
*é o PR que, ouvido o Governo, procede à marcação das datas das eleições, sendo as
listas de candidatos apresentadas ao TC.
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CONFERÊNCIA DE PRESIDENTES
É o órgão político do PE, que vai abarcar o presidente do PE e os presidentes dos grupos
políticos, que criam um pequeno comité onde vão definir determinados aspetos que depois
devem ser definidos pelo plenário. Tem um escopo organizatório.
A MESA
AS COMISSÕES
AS DELEGAÇÕES
A diferença para as comissões é que estas atuam essencialmente num plano externo (as
comissões atuam num plano interno). Estas estabelecem a ponte entre o PE e outros
parlamentos. Isto permite que o PE não seja apenas uma instituição com um âmbito interno,
ela tem um escopo externo, prossegue finalidades externamente, como a promoção da paz.
Trata-se de uma forma de promover os valores da UE fora desta.
(não esquecer que a maioria do trabalho do PE é feita nas comissões e não em plenário)
De notar que, em cada legislatura, o PE aprova por maioria o seu regimento, nos termos do
art.232ºTFUE.
A maior parte dos atos emanados do PE são publicados no JOUE.
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MODO DE DELIBERAÇÃO DO PARLAMENTO EUROPEU
É preciso distinguir quórum constitutivo (quorum necessário para que o órgão colegial possa
funcionar) de quórum deliberativo (o número mínimo de deputados que têm de estar
presentes para que possam ser tomadas decisões).
NOTA: só vamos ter um ato legislativo ou o orçamento aprovado se existir um acordo entre
as duas instituições. Quando não há um acordo- COMITÉ DE CONCILIAÇÃO.
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4. Tem também uma competência eletiva e de nomeação, ou seja, o PE elege, de
entre os seus membros, o seu presidente e a mesa (art.14º/4 TUE). Participa na
eleição do Provedor de Justiça da UE (art.228º/2 TFUE). E, muito importante, elege
o Presidente da Comissão e tem de aprovar o colégio de comissários (conjunto de
comissários que elegem a comissão) - voto de confiança. Assim se cria outro vínculo
entre PE e Comissão- DEPENDÊNCIA GENÉTICA entre Comissão e PE . Sem PE
não há Comissão.
5. Competências de fiscalização e de controlo, tem poderes de supervisão e de
controlo de outras instituições europeias, da utilização do orçamento e da correta
aplicação da legislação comunitária:
- dever de informação ao PE
- interpelação e audições
- apreciação das petições dos cidadãos (art.20º/2/d TFUE + art.227º TFUE)
- publicidade da atividade parlamentar (art.232º, 233º, 234ºTFUE)
- PODER DE INQUÉRITO: o PE pode constituir comissões de inquérito para
investigar uma determinada situação. Têm como objetivo controlar alegadas
infrações ou má gestão administrativa na União. Mas, não substituem a
atividade dos tribunais.
São interesses porque, à partida, um órgão legislativo não tem competências
de fiscalização.
- MOÇÕES DE CENSURA: o PE pode aprovar moções de censura à atividade
da Comissão (art.234º TFUE).
É possível que o PE aprove uma moção de censura (⅔ dos deputados sendo
que têm de estar presentes a maioria dos deputados em efectividade de
funções). Moção esta que vai conduzir à demissão em bloco da Comissão.
Ou seja, não podemos usar uma moção de censura para demitir um
comissário, mas sim em bloco. Demonstra a DEPENDÊNCIA EXTINTIVA
entre Comissão-PE.
● CONSELHO EUROPEU
É uma instituição de direção política, ela está no vértice da própria união, uma vez que é ela
que define as prioridades políticas da UE e participa na gestão da UEM (art.15º/1 TUE).
Constituído por 30 membros, sendo eles:
- Presidente do Conselho europeu
- Presidente da Comissão
- Chefe de estado OU chefe de governo dos estados-membros (cada estado define
consoante a legislação interna)
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- ARUNEPS (de notar que também é vice presidente da comissão) que participa
apenas como observador, ele não pode votar
- A HISTÓRIA DO CONSELHO EUROPEU (!)
Esta não é uma instituição como as outras relativamente à sua história. No primórdio das
comunidades não havia um Conselho Europeu.
Inicialmente era um conjunto de reuniões informais que eram feitas pelos vários chefes de
estado ou de governo onde se discutiam essas questões políticas, ou seja, onde se
discutiam as prioridades das comunidades.
Em 1973, na Cimeira de Copenhaga, definiu-se que estas cimeiras deviam ser realizadas
mais frequentemente. Tendo-se, um ano depois, na Cimeira de Paris, criado o Conselho
Europeu, com o objetivo de estabelecer uma instância informal de debate entre chefes de
estado ou de governo.
Porém, foi apenas com o Ato Único Europeu, em 1987, que o Conselho Europeu foi
mencionado pela primeira vez. Mas, ainda não era uma instituição, apenas existia a menção
num ato de direito originário.
Com o Tratado de Maastricht (1992), o Conselho Europeu adquire o seu estatuto formal de
órgão.
Só será elevado a instituição com a aprovação do Tratado de Lisboa (2009). A partir daqui o
Conselho Europeu viu os seus poderes a aumentar de forma progressiva.
De notar que houve críticas a esta elevação, uma vez que considerava-se que já existia
uma instituição que representava os interesses dos estados- o conselho. Será que é
reforçar demasiado os poderes que os estados têm dentro da união?
Houve muitos autores que concordaram com o facto de ser um reforço dos poderes dos
estados, todavia confirmam a importância do conselho europeu ao nível do processo de
integração europeia (uma vez que foram discutidas muitas das vezes questões
fundamentais nas cimeiras).
Foi também com o Tratado de Lisboa que se criou a figura do presidente do CE. Criado com
o objetivo primordial de ser a imagem da UE no exterior.
Porém, esta função não pode ser considerada a principal função, uma vez que é ele
substituído na representação externa da união por outros membros.
Temos de distinguir duas matérias:
- PESC, o representante externo da União é o ARUNEPS (também criado pelo TL e é
um vice-presidente da comissão).
- Em todas as outras matérias, quem representa é o Presidente da Comissão.
A doutrina tem afirmado que, na prática, os poderes não são do Presidente do CE, ele é
uma figura simbólica.
No entanto, não significa que ele não tenha funções importantes (ver art.15ºTUE).
Importante referir a importância do art.15º/6/c - função de desbloqueio- é importante
porque o modo de deliberação regra do CE é o consenso, ou seja, para se poder adotar
uma decisão dentro CE, normalmente é preciso que exista um consenso. Na procura desse
consenso é normal surgirem tensões; e, o papel do presidente, como moderador que é,
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deve procurar desbloquear a discussão e garantir a existência de condições favoráveis para
que se possa formar um consenso.
De notar, que ele não tem direito de voto no CE, uma das outras características que
demonstra que ele é apenas uma figura simbólica, pois não têm poderes efetivos.
- ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
Reúne 2 vezes por semestre por convocação do Presidente, o qual é assistido por um
Secretário-Geral (art.235º/4 TFUE). E os membros podem ser assistidos por um ministro
(chefes de estado ou chefe de governo; no caso do Presidente da comissão pode ser
assistido por um comissário (art.15º/3 TUE).
O modo de deliberação é, em regra, por consenso (unanimidade é diferente de
consenso).
O consenso exige um processo de diálogo entre as partes; é um processo que, muitas
vezes, pressupõe cedências mútuas -» ou seja, os tratados quando exigem a tomada de
decisões por consenso, estão a exigir a comunicação entre os estados.
Porém, os Tratados, nas bases jurídicas, podem prever a possibilidade de votação
(art.15º/4 TUE). Nesse caso aplicam-se as regras previstas para o Conselho (art.16º/4 TUE
e arts. 235º e 236º do TFUE) e, tanto o presidente do conselho como a da comissão não
vão votar:
- decisão por unanimidade (onde a abstenção não prejudica a tomada de decisão, a
abstenção é tida como um voto a favor)
- decisão por maioria qualificada
- decisão por maioria simples
Os atos do CE são atos de natureza essencialmente política, ou seja, não tem um valor
verdadeiramente jurídico: declarações, orientações, resoluções,etc. Porém, não quer dizer
que não tenham um valor importante, porque têm (não esquecer que o CE define as
prioridades políticas).
Em princípio não estão sujeitas ao princípio da publicidade.
Todavia, estes atos podem ter efeitos jurídicos relativamente a terceiros, podendo ser
alguns destes atos impugnados junto do TJUE.
- COMPETÊNCIAS
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Assim como o CE, o Conselho também representa os interesses dos estados. Mas neste
caso é composto por ministros.
É uma instituição muito particular, porque funciona com base em formações (10).
Todas elas dividem-se por áreas sendo, cada uma, designada por conselho, por exemplo,
conselho do ambiente. São os próprios tratados que definem que conselhos existem.
- ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
São mais de 150 grupos de trabalho que auxiliam o Conselho -”instâncias preparatórias”.
Eles debatem as propostas que vão chegando ao Conselho, analisando-as ponto por ponto.
Ou seja, fazem uma primeira análise. Sendo os resultados dos debates apresentados ao
COREPER (Comité dos Representantes Permanentes dos Governos dos Estados),
art.16º/7 TUE e 240º/1 TFUE.
Trata-se de um comité que está permanentemente a trabalhar ao lado do Conselho para
preparar os trabalhos do Conselho, ou seja, trata-se de um órgão de auxílio que vai definir
desde logo os assuntos a discutir em cada uma das reuniões.
Ou seja, temos os grupos de trabalho, depois descartam algumas e outras enviam para o
COREPER. O COREPER vai analisar essas propostas e vai dividi-las por 2 pontos da sua
ordem de trabalhos:
- Ponto I da ordem de trabalhos vai introduzir as matérias relativamente às quais foi
possível chegar a um acordo sem debate (ou seja, um consenso);
- Ponto II estão as matérias relativamente às quais não existe um consenso. E, a
partir daqui o COREPER terá 3 possibilidades:
1. tentar discutir essas questões e chegar ele próprio a um acordo;
2. enviar essas propostas de volta para os grupos de trabalho para que estes
as voltem a analisar e introduzem eventuais alterações;
3. ou, remetem a questão para o Conselho.
Definindo assim a ordem de trabalhos do Conselho, que podem ser matérias do:
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- Ponto A, aquelas matérias onde existe um consenso e só falta aprovar formalmente
a medida;
- Ponto B, inclui as matérias que o COREPER não conseguiu chegar a um consenso
e, portanto, o Conselho vai ter de as debater.
Por sua vez, o Conselho dos Assuntos Gerais tem uma função importante: assegurar a
coerência na atuação das 10 formações do Conselho (art.16º/6 TUE).
- MODO DE DELIBERAÇÃO
No entanto, as regras de votação nem sempre são estas. Existem duas grandes exceções:
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um alargamento especificamente ao Reino Unido, tendo chegado a abandonar as
reuniões do Conselho.
Como se resolveu esta crise? Criando-se um acordo. No fundo, os “Acordos de
Luxemburgo”, de 1966, dizem-nos que, em regra, a votação é feita por maioria
qualificada, mas se um Estado invocar interesses vitais, pedindo que a decisão
passe a ser tomada por unanimidade.
Estes acordos, segundo a doutrina, seriam os “responsáveis pela paralisia do
Conselho nas duas décadas seguintes”.
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- nomeação de representantes da UE para matérias específicas (art.33ºTUE).
Mesmo nos casos em que a maioria é suficiente, os Estados podem opor-se a que aquela
decisão em concreto seja votada por maioria, ou seja, pode pedir que se aplique a regra.
Em situações de tensão nada impede que se remete a questão para o CE (cláusulas de
travagem de emergência).
- COMPETÊNCIAS DO CONSELHO
● COMISSÃO EUROPEIA
- PRESIDENTE DA COMISSÃO
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Não tem nenhuma pasta, tendo grandes responsabilidades no âmbito da orientação política
da Comissão; coordena os trabalhos; e, representa externamente a UE.
É a primeira pessoa a ser eleita. O nome do presidente é indicado pelo CE, desde 2014,
passou a estar obrigado a ter em conta os resultados das eleições para o PE (art.17º/7
TUE) -» é do grupo político com mais votos que vai sair o presidente da Comissão.
De alguma forma, reforça a legitimidade democrática, ainda que indireta, da Comissão.
O PE, vai ter de eleger, tendo em conta a proposta do CE, um presidente por maioria dos
membros que o compõem (art.17º/7 TUE).
Goza de uma posição de destaque no sentido em que define as orientações no
âmbito onde a Comissão exerce; compete-lhe assegurar que a ação levada a cabo pela
Comissão é coerente, eficiente e cumpre o princípio da colegialidade.
Nomeia os vice-presidentes da Comissão (com exceção do ARUNEPS, que é eleito para
ser alto representante e, por inerência, torna-se vice-presidente) e pode pedir a demissão
de algum dos membros da Comissão.
- ARUNEPS
É uma figura criada pelo TL, que visa conferir maior visibilidade e unidade à
representação externa da União nos assuntos da PESC, tendo por isso um papel
fundamental (PESC tem sempre como imagem central o ARUNEPS, outras políticas é a
presidente da comissão).
Esta unidade é assegurada de maneira muito efetiva, porque o Alto representante pode ser
ouvido pelo PE; sendo ele a figura principal cara externa em matéria de PESC vai ter uma
presença muito mais notória nas instituições que decidem sobre PESC, ou seja, no CE e no
Conselho, tendo em conta que a PESC continua a seguir uma lógica intergovernamental,
decisões por unanimidade -» ele tem lugar no CE como observador (não tem direito a voto)
e participa nas reuniões do Conselho (dos negócios estrangeiros), sendo o presidente
definitivo deste conselho (não funciona a regra da rotatividade).
OU SEJA, ele assegura a unidade porque está em todas as instituições que decidem sobre
esta matéria -» garante que as decisões sejam tomadas no mesmo sentido.
Tem essencialmente competências em matéria de PESC:
- conduz a política externa e de segurança comum da UE;
- contribui para a definição desta política (art.18º/2 e 15º/2 TUE);
- executa a PESC, em conjunto com os estados-membros.
Exerce a função de vice-presidente (Art.17º/4 e 18º/4 TUE). A sua nomeação é feita pelo
CE, por maioria qualificada (que não é a regra do CE, que é o consenso), de acordo com o
Presidente da Comissão (Art.18º/1 TUE), ou seja, debatem os dois o nome de quem vai ser
o Alto Representante. Estando sujeito, assim como os demais membros da Comissão, a
voto de aprovação do PE (art.17º/7 TUE).
- COLÉGIO DE COMISSÁRIOS
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fundo, a existência de 27 membros pode constituir um entrave. Mas, nem todos os estados
teriam um membro na Comissão naquele mandato. Não seria problemático, no entanto,
porque a Comissão representa os interesses da União e não dos estados. Mas pode-se
sempre referir que, apesar dos Comissários não representarem os Estados, sendo a
Comissão a guardiã dos Tratados; e, tendo poderes para aplicar sanções aos estados,
estes aceitaram melhor as decisões da Comissão caso soubessem que tinham lá um
membro (este foi o argumento do CE).
Como são nomeados?
O Presidente da Comissão entrega uma lista de candidatos a comissários ao
Conselho, que vai adotar essa lista. Quem pode fazer parte dessa lista? ART.17º/3/7 TUE.
(o empenhamento europeu é fundamental porque a Comissão representa a União)
Esta lista está sujeita a voto de aprovação por parte do PE. Depois deste voto, o CE nomeia
os membros da Comissão, por maioria qualificada, art.17º/7 TUE.
OU SEJA:
- Conselho e Presidente da Comissão adota lista
- PE aprova lista
- CE nomeia os membros da Comissão
COLETIVA INDIVIDUAIS
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- MODO DE FUNCIONAMENTO DA COMISSÃO EUROPEIA
- COMPETÊNCIAS DA COMISSÃO
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5. Função de vinculação internacional: ART.218º/3 TFUE
6. Função de representação externa: a comissão, através do presidente, representa
a UE em todas as matérias externamente, com exceção da PESC, que será o Alto
Representante (art.17º/1 TUE).
7. Função de representação dos EM’s: ART.335ºTFUE
8. Função de supervisão económica e orçamental: ART.126ºTFUE
9. Função de controlo (“guardiã dos Tratados”):
- representa diretamente os interesses da UE
- dispõe de poderes de recolha de informações e verificações
- controla as infrações às regras sobre auxílios de Estado ou disparidades dos
EM’s falseadores da concorrência
- dever de investigar queixas apresentadas pelos particulares (ação por
incumprimento)
- dever de controlar a utilização de fundos pelos estados
- poder de intentar ações de incumprimento do DUE contra os EM’s (art.258º a
260º TFUE).
(!) A quem telefona o Presidente dos EUA, se quiser falar com a UE? À partida deve ser o
presidente do CE que foi criado com este objetivo. Mas, na prática, será o presidente da
comissão ou o Alto Representante.
● TRIBUNAL DE JUSTIÇA
É uma das principais instituições europeias, tendo como função primordial a garantia de
interpretação e aplicação correta do DUE.
O TJUE em sentido amplo reparte-se em:
- TJ em sentido estrito (tribunal supremo no quadro da UE)
- Tribunal Geral (tribunal de primeira instância*)
- Tribunal Especializado
*criado porque o TJ estava a ficar cheio com processos, era necessário libertar o TJ,
criando-se assim o Tribunal Geral. Levando a que o TJ possa exercer a sua função de
forma mais célere e eficiente -» interpretação e aplicação do DUE.
- A JURISDIÇÃO DO TJUE
De notar que, todos os tribunais são, em certa medida, tribunais da UE; porque embora a
última palavra cabe ao TJ a verdade é que todos os tribunais estão encarregues de aplicar
o DUE.
Não há uma hierarquia formal entre tribunais nacionais e TJUE. Sem prejuízo que em
matéria de DUE o TJUE tem sempre a última palavra.
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- COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO
- TRIBUNAL GERAL
- TRIBUNAL NACIONAL
Estes também se afirmam como tribunais comunitários sempre que aplicam e interpretam
qualquer norma de DUE.
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Como se garante a uniformidade na interpretação e aplicação do mesmo? Através do
mecanismo de reenvio prejudicial.
NOTA: o reenvio prejudicial não serve para aferir a validade de uma norma de um tratado (é
como se fosse pedir ao TC que aferisse a constitucionalidade de uma norma constante da
constituição).
● TRIBUNAL DE CONTAS
Instituição da UE que tem essencialmente uma função de fiscalização das contas da UE. É
independente e composto por um nacional de cada Estado-Membro.
- O PROVEDOR DE JUSTIÇA
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Depois de realizada a investigação, o provedor de justiça não tem poderes condenatórios.
Mas, emana uma recomendação, que é enviada à instituição/órgão/organismo em causa e,
depois, também será enviada para o PE (o provedor de justiça que é eleito pelo PE
responde perante ele).
Ou seja, apesar de não ter poderes significativos, tem uma autoridade simbólica que lhe é
atribuída.
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● FONTES DE DUE
A sua principal característica é o facto de ser criado pelos EM 's, que o criam através dos
tratados internacionais. Assume o topo da hierarquia das normas, ou seja, assume uma
posição de supremacia na hierarquia das normas do DUE.
Manifesta-se na prática, desde logo, pelo facto de:
- a UE, por via do princípio das atribuições, só pode intervir nas matérias para a qual
tenha competência, que lhe é atribuída por via dos tratados;
- nenhum dos atos das instituições ou órgãos da UE pode deixar de mencionar a base
jurídica ao abrigo da qual está a intervir/legislar, sob pena de invalidade (art.296º
TFUE);
- o direito primário afirma-se como parâmetro de validade de todo o direito derivado;
- o direito primário não pode ser considerado invalido pelo TJUE (uma mesma norma
não pode ser, ao mesmo tempo, parâmetro de validade e objeto de controlo + é o
direito de primário que cria as instituições).
Todas estas normas formam um todo unitário, que deve ser considerado como um
conjunto, não exigindo uma hierarquia entre as várias disposições normativas de direito
originário. Em caso de conflito normativo, devem as mesmas ser objeto de
compatibilização, de acordo com os critérios gerais aplicáveis às regras com idêntico valor
jurídico:
- a norma posterior prevalece sobre a norma anterior;
- as disposições normativas específicas prevalecem sobre as disposições gerais.
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- TFUE, corresponde a Roma com as alterações introduzidas por Lisboa;
- Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que passou a ter valor jurídico
vinculativo com o Tratado de Lisboa.
Estes documentos têm efeito direto, que tanto pode ser um efeito direto vertical como pode
ser horizontal. Quer isto dizer que as normas dos tratados tanto poderão ser invocadas por
um indivíduo relativamente ao estado ou às instituições da UE; como relativamente aos
próprios particulares. Sendo, porém necessário, que essas normas tenham um conteúdo
claro, preciso e incondicional, ou seja, têm de ser self-executing. Ou seja, vamos excluir do
efeito direito as normas que são de conteúdo meramente programático, genérico ou
processual.
O efeito direito visa prosseguir a efetiva integração e aplicação uniforme do DUE nos
diversos EM 's.
As normas dos tratados de adesão têm o mesmo valor jurídico que os demais instrumentos
de direito primário. Tendo, porém, uma importante função no que toca à possibilidade de
derrogar normas de Tratados.
Regras são diferentes de princípios. As regras são extremamente rígidas, seguem uma
lógica de tudo ou nada. Os princípios são mais flexíveis, têm um maior grau de
generalidade e abstração; podem ser considerados formulações genéricas que serão
desenvolvidos a partir de um exercício de interpretação.
Falamos de um conjunto de princípios que são princípios gerais de direito, que de alguma
forma fazem parte de um ordenamento jurídico natural, não podendo, hoje, existir um OJ
que não se rege por estes:
- princípio da segurança jurídica
- princípio da igualdade
- entre outros.
A juntar a estes teremos os PG de DI (reconhecidos pela comunidade internacional e vão
ser adotados pela UE); PG de DC (aqueles princípios comuns às constituições dos vários
EM 's).
Para além destes, vamos ter ainda princípios específicos do DUE. Ou seja, aqueles que
surgem no âmbito do OJ da UE e que demonstram a sua autonomia relativamente aos
outros ordenamentos jurídicos, como:
- princípio do primado do DUE;
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- princípio do efeito direto;
- princípio da interpretação conforme;
- entre outros.
São estes princípios que hoje nos permitem tratar a UE como uma verdadeira comunidade
de valores e de direito, como uma OJ comunitária, fundada em valores e que respeita
aqueles que são os princípios básicos, art.2º TUE.
Estes, quando são mobilizados e aplicados pela UE, têm de ser aplicados dentro daquela
que é a esfera de competências da UE, ou seja, a UE estará sempre vinculada ao princípio
das atribuições; e,só poderá proceder à mobilização destes princípios no âmbito dessa
mesma esfera de competências.
Mais, a identificação de princípios gerais de direito nas OJ nacionais encontra o seu limite
na prossecução dos objetivos da UE.
Este será constituído pelas normas criadas pelas instituições estabelecidas pelo direito
primário, ou seja, quem o cria são as instituições da união de acordo com os próprios
tratados, uma vez que a validade das normas de direito secundário depende da
conformidade com o direito primário.
As fontes de direito secundário estão previstas no art.288º TFUE (!), ou seja, vale um
princípio da tipicidade:
- regulamentos
- diretivas
- decisões
- recomendações
- pareceres
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Quanto à delegação de competências, só os atos legislativos podem delegar na
Comissão o poder de emanar atos não legislativos, que têm como função alterar ou
completar aspectos não essenciais do ato delegante.
ATO DELEGANTE É SEMPRE UM ATO LEGISLATIVO, E O ATO DELEGADO É
SEMPRE UM ATO NÃO LEGISLATIVO, isto porque não é criado segundo um
processo legislativo.
Os atos não legislativos têm um caráter heterogêneo (há atos de alcance geral
mas também atos individuais) e residual (porque abrange todos os atos que não
são adotados por via de um processo legislativo, art.289º/3 TFUE). Ou seja, serão
atos não legislativos todos aqueles que não forem legislativos.
Foi o TL que criou este processo e que lhe atribuiu este nome.
Funciona através de uma triangulação básica: temos a Comissão, o PE e o Conselho. Esta
não existe por acaso, pois todos eles representam interesses diferentes, ou seja, levam-nos
a dizer que todos os atos de direito derivado aprovados através deste processo têm de
resultar diretamente da confluência dos diversos interesses.
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Após a apresentação de proposta existe aquilo a que se chama a PRIMEIRA LEITURA,
que será feita pelo Conselho (através de grupos de trabalho ou pelo COREPER) e pelo PE
(que será feita em comissões parlamentares especializadas em razão da matéria). A partir
daqui haverá tomada de posições:
- o PE (é ele o primeiro a tomar conhecimento da proposta) envia a sua posição ao
Conselho e, se efetivamente, o Conselho aprovar a posição do PE, o processo
legislativo termina e o ato pode ser adotado (raramente acontece).
- Quando não exista acordo, o PE vai ser informado das razões que levaram o
Conselho a não ter a mesma posição, e será também informada a própria Comissão
sendo que também se pode manifestar relativamente ao desacordo (art.294º/3 a
294º/6 TFUE).
TERCEIRA LEITURA: Se existir conciliação o ato pode ser adotado, se não existir então
não pode ser adotado(art.294º/13/14 TFUE).
Se o ato for adotado, tem de existir uma dupla assinatura, uma pelo presidente do PE e
outra pelo presidente do Conselho; será publicada no JOUE; e a entrada em vigor do
ato, que será ou na data fixada ou no 20º dia seguinte à sua publicação.
O que retiramos daqui? Nenhum ato vai ser aprovado se não existir um acordo entre as
duas instituições.
Ocasionalmente podemos encontrar desvios à regra mas estes desvios vão estar nas
bases jurídicas.
Este processo atribui poderes muito significativos ao PE e ao Conselho, reduzindo o
protagonismo da Comissão (que inicialmente tinha mais protagonismo).
É um processo muito demorado (já durou 900 dias), hoje a duração média é de 9 meses.
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2. PROCESSOS LEGISLATIVOS ESPECIAIS
Algumas normas dos Tratados estabelecem a adoção de um ato legislativo por um processo
legislativo especial.
A principal diferença é que os processos legislativos especiais têm o seu protagonismo
num único órgão. Ou seja, vamos ter na mesma as duas instituições (Conselho e PE) a
auxiliarem-se, mas uma vai ter um papel mais relevante.
- CONSELHO
Anteriormente chamado "procedimento comum de decisão”, hoje apenas processo
legislativo especial, caracteriza-se por:
- continuamos a ter uma proposta da Comissão, mas esta aqui vai ter mais poderes,
uma vez que pode a todo o momento alterar ou retirar a sua proposta; proposta esta
que vai ser apresentada ao Conselho;
- Consoante a base jurídica pode o Conselho ter que, antes de decidir, pedir um
parecer ao Comité Económico e Social, ao Comité das Regiões, ou ao BCE;
- o Conselho recebe a proposta, se for preciso pede o parecer, e depois remete a
proposta para o PE e, aqui, também dependo da base jurídica, o PE pode passar a
ter o poder de emitir um parecer não vinculativo (procedimento de consulta); ou,
pode-lhe ser reconhecido o poder de aprovar previamente esse mesmo ato
(procedimento de consentimento), reconhece-se ao PE um direito de veto sobre
aquele diploma;
- Se o PE propuser alterações, estas são enviadas para a Comissão para que esta
pondere sobre as mesmas (mas não as precisa de introduzir);
- Mas, é sempre o Conselho que, em última instância, decide sobre a adoção do ato,
por maioria qualificada (que é a regra, salvo disposição em contrário nas bases
jurídicas);
- É o Conselho que decide, em última instância, se o ato vai ou não ser adotado; e, o
mesmo,só será assinado pelo Presidente do Conselho (ao contrário do que
acontece no ordinário onde existe uma dupla assinatura).
Ou seja, temos aqui um alargamentos dos poderes da Comissão; o Conselho pode ter de
consultar um conjunto de entidades; o Conselho vai ter de remeter a proposta ao PE que vai
ser consultado ou que vai ter de emitir uma aprovação prévia; se o PE propuser alterações
estas vão ser consideradas pela Comissão; por fim, é o Conselho que adota ou não o ato,
sendo o único a assinar.
- PARLAMENTO
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- PROCESSOS DE VINCULAÇÃO INTERNACIONAL
Não esquecer nunca que não basta o cumprimento do procedimento legislativo para que o
ato seja válido:
- É necessário que tenha sido aprovado por um órgão competente (art.297º/1
TFUE)
- É preciso que seja um ato fundamentado, ou seja, tem de fazer referência à base
jurídica e a todos os pareceres que tenham sido obtidos durante o próprio processo
legislativo (art.296º/2 TFUE).
Isto é muito importante porque quando a base jurídica estabelece que é necessário
recorrer a pareceres esses pareceres não são vinculativos, mas eles têm sempre de
ser mencionadas. Se não forem, o ato é inválido.
Mais, o ato tem de ser publicitado, que não é um requisito validade, mas enquanto não for
publicado o ato não será eficaz (condição de eficácia), uma vez que não produzirá efeitos
jurídicos, nos termos do art.297º TFUE.
- A PESC
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➔ REGULAMENTOS
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NOTA: A APLICABILIDADE DIRETA É DIFERENTE DE EFEITO DIRETO.
➔ DIRETIVAS
ART.288º TFUE
As diretivas têm como destinatários os Estados (todos ou alguns dos EM 's), ficando estes
obrigados a atingir um objetivo fixado nelas podendo, porém, escolher a forma e os meios
para a sua implementação. Ou seja, desde que respeitem o resultado previsto, os
destinatários gozam de uma certa liberdade, podendo adaptar o texto da diretiva à realidade
jurídica, económica e social do seu Estado.
Não gozam de aplicabilidade direta, uma vez que pressupõem uma mediação estadual na
escolha dos meios e da forma para prosseguir os fins estabelecidos. Ou seja, as diretivas
vão ser objeto de medidas de execução. Não valem por si só.
Necessitam de ser transpostas para a OJ interna, uma vez que não têm aplicabilidade
direta. O dever de transposição de uma diretiva resulta do princípio da cooperação leal
(ART.4º/3 TFUE).
Como é que deve ser feita a transposição?
- deve ser sempre feita de forma correta, completa e com a especificidade,
exatidão e clareza requeridas para que seja satisfeita a exigência de segurança
jurídica e para que seja assegurado o efeito útil da diretiva.
- a transposição deve ser feita dentro de prazo, que geralmente é de dois anos, mas
ele pode variar consoante a própria diretiva.
- o DUE faz a exigência de ser transposta a directiva através de uma lei em sentido
material, ou seja, deve ser feita através de um ato com força de lei que vincule a
administração, os tribunais e os particulares.
A CRP, no art.112º/8, determina que a transposição obedeça à forma de lei,
decreto-lei ou decreto legislativo regional. Ou seja, em Portugal, a transposição
deverá ser feita através de uma lei simultaneamente formal e material.
Se for transposto através de uma portaria vai ser válido à luz do DUE, mas porque
se está a violar a CRP essa portaria será inconstitucional, mas apenas se verifica no
plano interno.
- Se o objetivo da diretiva já estiver cumprido, não é necessário a adoção de novos
atos legislativos; apenas terá que informar a Comissão que já tem legislação que vai
ao encontro dos objetivos da diretiva.
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- Não é possível a transposição por remissão porque a maior parte das diretivas
não são publicadas no JOUE.
- De referir que há casos em que as diretivas são bastante detalhadas, dificilmente se
distingue de alguns regulamentos, deixando aos estados uma margem de
discricionariedade mais baixa.
Uma vez transposta a directiva prevalece sobre o direito interno, mas só se verifica
após a diretiva ser transposta. Até aí não se pode invocar o princípio do primado da UE
(mas não significa que não existam outros meios para efetivar essa diretiva).
A diretiva produz pré-efeitos jurídicos (momento em que a diretiva já está em vigor mas
ainda não foi transposta).
O Acórdão de Wallonie, DEVER DE STAND STILL, diz-nos que o estado não pode, durante
o período de transposição de uma diretiva, aprovar legislação que vá contra o estabelecido
na própria diretiva. Se o fizer estará a violar o dever de stand still, que está fundado na
própria ideia de cooperação leal.
NOTA: o TJUE tem entendido que não viola o dever de stand still, a aprovação de
legislação que signifique uma aproximação dos objetivos da diretiva durante o período de
transposição, mas não o seu cumprimento. Porque entende-se que o estado está a
adequar, progressivamente, a sua legislação à diretiva.
Se no fim do prazo o Estado tiver transposto a diretiva ela vale na OJ interna e vincula o
Estado.
Porém, se o Estado não transpôs a diretiva ele entrará em incumprimento.
E, nestes casos em que o Estado não transpôs a diretiva (ou transpôs de forma incorreta) o
DUE diz-nos que pode ser invocado o EFEITO DIRETO das diretivas, ou seja, podem ser
invocadas nos tribunais pelos cidadãos e empresas contra o Estado (apenas contra os
estados) -» admite-se apenas o efeito direto vertical (particular contra estado), porque
entende-se que o estado não pode beneficiar do incumprimento do seu incumprimento
(princípio do estoppel).
Quanto ao efeito direto horizontal (entre particulares) o TJUE tem entendido que não pode
haver efeito direto horizontal, pelo facto de os particulares não terem qualquer culpa no
incumprimento do estado ao não transpor a diretiva.
De notar que neste aspecto a jurisprudência não é completamente uniforme (Ac. Mangold).
52
Mas o que é considerado Estado neste caso (efeito direto)?
Adota-se uma conceção ampla de estado: “Todos os organismos ou entidades que estejam
sujeitas à autoridade ou controlo do Estado ou que disponham de poderes exorbitantes face
aos que resultam das normas aplicáveis nas relações entre particulares”. Ou seja,
Ministérios, AP, todo o tipo entidades públicas ou entidades privadas com participação
pública, etc.
Mas, não podem ser invocadas todas as normas da diretiva. Só serão invocadas as normas
da diretiva que forem:
- claras
- precisas
- incondicionais
➔ DECISÕES
As decisões são atos jurídicos que se dirigem aos Estados ou aos particulares;
sendo por isso, em regra, atos concretos e individuais (embora possam ser gerais).
Podem ser atos de direito secundário (quando forem aprovados por um ato legislativo), ou
atos de direito terciário (decisões de execução).
À semelhança dos regulamentos, as decisões são obrigatórias em todos os seus
elementos, ou seja, esgotam toda a matéria que tem de ser regulada, não necessitando a
intervenção do estado para a densificação do seu conteúdo, bastando ao estado executar
essa decisão.
Naturalmente só serão vinculativas para os seus destinatários. E esta identificação
do destinatário pode ser:
- expressa, quando devem ser notificadas aos respectivos destinatários e
produzem efeitos mediante essa notificação (art.297º/2 TFUE). A partir daqui
é-lhes reconhecido efeito direto e são diretamente aplicáveis.
53
- implícita, neste caso os destinatários não estão discriminados, mas a própria
decisão apresenta um conteúdo de critérios que podem ser utilizados para se
determinarem os destinatários (pode trazer problemas no que toca a saber o
momento a partir do qual começa a produzir efeitos jurídicos, uma vez que é
só a partir do momento em que a identidade tem conhecimento.
- no âmbito da PESC, é possível a emanação de decisões sem destinatários,
sendo que estas definem a estratégia da União no âmbito da política externa,
e só vinculam a própria UE (ART.25º TUE).
➔ RECOMENDAÇÕES E PARECERES
Ao contrário dos atos vistos anteriormente, as recomendações e os pareceres não têm força
vinculativa, sendo apenas atos de soft law. No entanto, não significa que estes atos sejam
totalmente irrelevantes, uma vez que, são pressupostos na produção de atos normativos (
quer em processo ordinário quer em processo especial), sendo uma condição de validade
do próprio ato.
Podem ser emanadas por iniciativa do seu autor (art.97º TFUE); ou, serem solicitadas por
terceiros.
Estas são publicadas no JOUE.
54
3. DIREITO TERCIÁRIO
As fontes de direito terciário distinguem-se das fontes de direito secundário porque, para
além de terem de respeitar o direito primário, terão de respeitar o direito secundário.
Aqui encontramos fontes não legislativas, o que significa que a criação destes atos não
segue qualquer processo legislativo.
De notar que, quer os regulamentos, diretivas e decisões, podem ser atos de delegação ou
execução, integrando assim o "direito terciário”.
Estes atos não legislativos de direito terciário podem ter uma natureza:
- geral e abstrata, não indicando destinatários, apenas necessitando de assinatura
do(s) presidente(s) da(s) instituição(ões) que o aprovaram; e, ainda, a sua
publicação no JOUE.
- individual e concreto, indicando destinatários, sendo necessário a assinatura do
presidente da instituição que os adotou e sua notificação aos destinatários,
produzindo efeitos jurídicos a partir dessa data (art.297º/2 TFUE).
- ATOS DELEGADOS
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NÃO CONFUNDIR AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA COM DELEGAÇÃO LEGISLATIVA
- ATOS DE EXECUÇÃO
Eles visam essencialmente garantir que sejam tomadas todas as medidas necessárias à
execução dos atos juridicamente vinculativos da UE (art.291º/1 TFUE).
A execução do DUE cabe às instituições, órgãos e organismos da União, principalmente à
Comissão, mas por fora do princípio da administração indireta do DUE, e do dever de
cooperação leal, cabe também aos Estados.
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- PROCEDIMENTO DE EXAME, em matérias muito específicas (ART.2º/2/5/6 TFUE).
O parecer do Comité que reúne os EM 's e a Comissão determina a adoção ou não
do ato.
- ATOS ATÍPICOS
São aqueles atos que estão previstos nos Tratados, mas não se encontram elencados no
art.288º TFUE:
- Regulamentos internos
- Resoluções
- Conclusões
- Comunicações
- Cartas administrativas de arquivamento de processos
- Códigos de conduta
- Atos de administração interna dos órgãos da União
- Acordos inter-institucionais
Importante referir que a atipicidade destes atos (o facto de não estarem elencados no
art.288º TFUE) não significa que esses atos não tenham valor jurídico.
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PRINCÍPIOS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
● PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE
Os EM’s devem garantir a plena aplicação do DUE, quer adequando as suas legislações
ao mesmo, quer adoptando disposições jurídicas suscetíveis de criar uma situação
suficientemente precisa, clara e transparente, que permita aos particulares conhecer todos
os seus direitos e invocá-los perante os órgãos administrativos ou jurídicas.
Ou seja, o DUE deve ter um conjunto de mecanismos que lhe permitem a sua efetiva
aplicação.
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- PRINCÍPIO DO EFEITO DIRETO
Significa que, as normas da UE, verificadas determinadas condições, podem ser invocadas
em juízo pelos particulares perante os órgãos jurisdicionais nacionais, quer contra o Estado
(efeito direto vertical), quer contra outros particulares (efeito direto horizontal).
Há duas categorias de normas com efeito direito e é preciso distinguir:
O efeito direto é uma criação do TJUE, Ac. Van Gend & Loos, é este acordo que vem
estabelecer o efeito direto das normas dos tratados sempre que elas fossem:
- Claras, ou seja, que não suscitam dúvidas quanto ao seu sentido;
- Precisas, ou seja, não necessita de um ato de concretização, apresenta-se como
sendo suficientemente densa para que de-la possamos extrair um direito ou uma
obrigação;
- Incondicionais, ou seja, normas que não admitem qualquer exceção ou desvios
(não deixam para o Estado qualquer margem de discricionariedade).
O que significa que as normas dos tratados podem ser invocadas em juízo sempre que
tenham estas características.
No entanto, o efeito direto não se limita apenas às normas de direito originário,
estendendo-se também às normas de direito derivado.
No que toca ao direito originário há vários tipos de normas que produzem efeito direto
(claras, precisas, incondicionais):
- aquelas que se dirigem direta e imediatamente aos particulares (art.101º e 102º
TFUE);
- aquelas que impõem aos EM’S um dever de abstenção (art.30º e 34º TFUE);
- aquelas que impõem aos EM 's uma obrigação de facere (art.110º TFUE).
Os regulamentos têm sempre efeito direto porque estes são obrigatórios em todos os
seus elementos e diretamente aplicáveis (art.288º TFUE). E será um efeito direto horizontal
e vertical (aqui serão todas as normas que têm efeito direto).
Quanto às diretivas, podem produzir efeito direto VERTICAL* (não horizontal) quando:
- a diretiva não tenha sido transposta ou transposta incorretamente;
- a norma tem de ser clara, precisa e incondicionada.
*invocação do particular contra o estado (em sentido amplo), nunca o inverso (a favor do
estado).
59
Não é reconhecido o efeito direto horizontal, Ac.Marshall, porque:
- o reconhecimento do efeito direto horizontal colocaria em causa a figura da diretiva e
a sua distinção face aos regulamentos;
- a solução justifica-se por razões de segurança jurídica já que, a maior parte das
diretivas não são publicadas, mas apenas modificadas;
- e, assim, evita-se também a imiscuição abusiva do DUE em relações
jurídico-privadas (as diretivas só se destinam aos estados).
Ainda que as diretivas, de acordo com a jurisprudência do TJ, não possam ter efeitos
diretos horizontais, elas podem vir a beneficiar de efeitos próximos:
- Responsabilidade civil extracontratual dos Estados por violação do DUE:
permite ao particular, ainda que não possa invocar a norma da directiva contra outro
particular, pedir uma indemnização pelos danos que lhe foram causados pela não
transposição da diretiva.
Ac. Francovich e Ac.Brasserie du Pêcheur
1. Violação do DUE (no caso das diretivas, é a não transposição da diretiva)
2. Nexo de imputação da conduta ao Estado
3. Dano
4. Nexo de causalidade entre a violação e o dano
As decisões também podem ter efeito direto naqueles casos em que estabeleçam um
conjunto de obrigações que sejam claras, precisas e incondicionadas; ou seja, vamos ter de
fazer uma análise concreta a cada uma das normas da decisão.
Quando dirigidas a Estados, as decisões podem carecer da necessária precisão, exigindo
medidas de execução por parte dos mesmos (salvo as decisões proibitivas, que serão
quase sempre obrigações claras, precisas e incondicionadas, produzindo efeito direto).
E será um efeito direto vertical e horizontal.
60
Os pareceres e recomendações, por não terem força jurídica vinculativa, não têm efeito
direto.
Este é um princípio muito importante no que toca à efetividade do DUE, uma vez que se
não existisse a ideia de primado do DUE sobre o direito nacional, isso acabaria por fazer
com que o DUE fosse um mero direito orientador, sem verdadeira força jurídica vinculativa.
Os EM 's podiam facilmente manipular o DUE, respeitando as normas que lhe fossem
favoráveis e de alguma forma contornando as que não o fossem.
Trata-se de um princípio afirmado jurisprudencialmente, Ac. Costa c.Enel, que
estabelece aos órgãos nacionais a necessidade de garantir a plena eficácia do direito
europeu (sempre que estejam em conflito normas de direito interno e normas de direito
comunitário), ainda que tal implique a desaplicação de normas nacionais, qualquer que
seja a sua dignidade formal.
É um princípio fundado com base no princípio da cooperação leal.
O juiz nacional, encarregado de aplicar as disposições do direito comunitário, tem a
obrigação de assegurar o pleno efeito dessas normas, desaplicando toda a disposição
nacional contrária.
De notar que a aceitação deste princípio não foi igual em todos os países.
NOTA: a norma nacional mantém-se em vigor. Não está em causa a validade, mas apenas
a prevalência na aplicação (Gorjão-Henriques -» Prevalência da aplicação do DUE), ou
seja, o juiz apenas não a vai aplicar, ela continua válida no OJ nacional.
ART.8º/4 CRP
Este princípio baseia-se no Ac.Marleasing, onde se afirma que o juiz nacional deve,
entre os métodos permitidos pelo seu sistema jurídico (*1), dar prioridade ao método
61
interpretativo que lhe permita dar à disposição de direito nacional em causa uma
interpretação compatível com a norma de DUE (*2).
Quando é que o direito nacional deve ser interpretado em conformidade com o DUE?
Quando o padrão de conformidade do direito nacional seja constituído por princípios de
direito comunitário ou por normas juridicamente vinculativas da União dotadas de efeito
direto e aplicabilidade direta (é o caso de normas dos tratados, regulamentos e diretivas
quando já tenha decorrido o prazo de transposição).
O DUE deverá aplicar-se da mesma forma e com o mesmo sentido em qualquer EM 's,
ainda que as realidades jurídicas e econômicas nacionais se revelem diversas.
Este princípio afirma-se através do mecanismo do REENVIO PREJUDICIAL (art.267º
TFUE):
- Institui uma relação de colaboração entre os órgãos jurisdicionais nacionais e o
TJUE, nos termos da qual aqueles podem pedir a este que se pronuncie sobre a
interpretação de uma QUALQUER norma da União; ou, sobre a validade de uma
norma da União de direito DERIVADO (nunca de direito originário, uma norma não
pode ser simultaneamente critério de validade e objeto de fiscalização). Ou seja,
podemos ter um reenvio de interpretação ou um reenvio de validade.
- Uma vez obtida a resposta, o juiz fica vinculado à resposta dada pelo TJ.
- A interpretação do TJUE não tem um efeito meramente prospectivo, ou seja, a
interpretação levada a cabo estabelece como devia ter sido entendida a norma
desde o momento da sua entrada em vigor.
- Haverá casos de reenvio obrigatório e casos de reenvio facultativo.
NOTA: o TJUE só se pronuncia sobre normas de DUE (é o objeto do pedido), não existe
reenvio prejudicial para normas de direito interno.
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A REVISÃO DOS TRATADOS
1. INICIATIVA
Têm poder de iniciativa os EM 's, o PE e a Comissão. Ou seja, são eles que apresentam
projetos de revisão dos tratados.
2. FASE INSTITUCIONAL
3. FASE CONVENCIONAL
Em caso de decisão favorável, a aprovação das alterações vai ser realizada através de uma
Convenção, onde os estados se vão reunir para analisar os projetos de revisão, onde vão,
por consenso, decidir convocar a Conferência de Representantes dos Governos dos
Estados-Membros. Esta conferência é quem estará verdadeiramente incumbida de aprovar
as revisões. E, portanto, há uma primeira fase em que se aprovam as várias propostas pela
Convenção, mas depois é a Conferência que tem a palavra final quanto às alterações que
se vão realizar ou não.
4. FASE ESTADUAL
As alterações que forem aprovadas pela Conferência serão depois ratificadas pelos
Estados-Membros, de acordo com as normas constitucionais internas. E, só depois de
todos os estados terem ratificado as alterações é que elas entraram em vigor.
Se, 2 anos após a assinatura do tratado de revisão, ⅘ dos EM’s já os tiverem ratificado, mas
ainda assim não esteja em vigor, porque ainda falta ⅕ dos EM’s ratificarem, o CE é chamado
a intervir para tentar desbloquear o processo de ratificação dos tratados, para garantir que o
Tratado entra efetivamente em vigor.
63
e ações internas). Quanto a estas normas é possível que o CE, por unanimidade, proceda à
alteração, sem que seja necessário convocar uma Convenção ou uma Conferência.
No segundo caso, art.48º/7, por decisão unânime do CE, uma matéria constante do TFUE
ou do título V do TUE, que até aí requeria a unanimidade do Conselho, passa a bastar-se
com a maioria qualificada dessa instituição. O CE, por unanimidade, pode proceder à
realização das alterações.
A 1ª coisa que temos de fazer é uma linha cronológica. Janeiro de 2015 é adotada a lei
nacional.
Em 2ª lugar temos de fazer um enquadramento teórico consoante o tipo de fonte em
causa, neste caso está em causa uma diretiva, e explicar as características fundamentais
das diretivas:
- os principais destinatários são os EM’s, logo não são gerais como os
regulamentos;
- elas fixam os fins que devem ser prosseguidos, deixando aos EM’s uma margem
de liberdade para definir os meios que vão utilizar na prossecução desses
mesmos fins;
- as diretivas não gozam de aplicabilidade direta, o que significa que elas têm de
ser transpostas para a OJ interna para que possam produzir os seus feitos,
trata-se de um ato de incorporação que, segundo o art.112º CRP, terá de ser
através de uma lei em sentido formal.
Neste caso, não temos nenhum problema relativo à transcrição, foi através de uma lei e
dentro do prazo estabelecido.
Mas é necessário analisar o conteúdo das normas nacionais e ver se estas violam ou não
o conteúdo do DUE, porque embora o estado tenha total liberdade para transpor a
diretiva, ele está vinculado pelo DEVER DE STAND STILL, segundo o Ac. Wallonie, que
fundado no dever de cooperação leal, vem dizer que durante o período de transposição, o
estado não pode aprovar legislação que ponha em causa a prossecução dos fins da
diretiva:
- o nº1 da nossa lei não há qualquer problema à luz da jurisprudência Wallonie, esta
disposição vai ao encontro do estabelecido na diretiva;
64
- Quanto ao nº2, esta já é mais problemática, isto é comprometer claramente o fim
da diretiva, temos uma violação do dever de stand still que é reconhecido pelo Ac.
Wallonie.
A primeira questão é saber que norma dos tratados poderia ser invocada: ART.18º TFUE,
que estabelece que à luz do DUE ninguém pode ser discriminado pela sua nacionalidade.
Quando falamos em “invocar alguma norma dos Tratados junto de um tribunal nacional”
isto remete-nos para o princípio do efeito direto. As normas dos tratados podem produzir
efeito direto, logo que sejam claras, precisas e incondicionais.
Estão reunidas as condições para que se possa invocar em juízo as normas dos
tratados?
Nesta matéria é importante referir o Ac.Van Gend & Loos, que nos diz que é possível
invocar uma norma de um tratado quer contra o estado (vertical) quer contra os
particulares (horizontal) quando a norma é clara, precisa e incondicionada.
A partir daqui temos de saber se este art.18º cumpre os nosso requisitos?
A norma é clara e precisa, mas será incondicional?
Porque o artigo em questão diz-nos “sem prejuízo das suas disposições especiais”. Como
devemos interpretar a incondicionalidade? (!) Significa que a norma não permite desvios
nem exceções, mas essencialmente aponta para a margem de liberdade do estado para
criar esses desvios ou exceções, ou seja, NÃO pode nem se quer admitir que o estado
tenha liberdade para criar desvios. As exceções que esta norma estabelece são exceções
que os próprios tratados estabelecem, e não os estados. Logo, não sendo os estados a
ter margem de conformação para criar exceções ao principio da não discriminação em
razão da nacionalidade, a norma é efetivamente incondicionada.
Logo, Pablo pode invocar esta norma a do art.18º TFUE junto de um tribunal nacional,
devido ao efeito direto.
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prever 50 horas é porque a diretiva não foi transposta. Se não foi transposta pode,
eventualmente, a norma da diretiva ser invocada contra o empregador, para que este seja
obrigado a respeitar as 48h.
Sendo, neste caso, o empregador um hospital público estamos perante um caso de efeito
direto vertical (estado em sentido amplo).
Para existir efeito direto nas diretivas, o Ac. Van Duyn, vem dizer que têm de estar
verificados alguns requisitos:
- a diretiva não tenha sido transposta ou tenha sido incorretamente transposta (está
verificado)
- a norma da diretiva em causa tem de ser clara, precisa e incondicionada (está
cumprido)
Verificando-se estes requisitos poderá haver invocação da normativa contra o estado e
Pablo irá trabalhar apenas as 48h semanais, embora o direito espanhol continue a prever
as 50.
c) Em 2015, Maria, enfermeira num hospital privado francês, pretende trabalhar
no máximo 48 horas semanais. No entanto, o direito francês prevê um limite
máximo de horário laboral entre 46 e 50 horas, a definir pela entidade
empregadora. Terá sucesso na sua pretensão?
Sendo um hospital privado trata-se de um particular, ou seja, estamos numa relação entre
dois particulares. E, o TJUE, já veio dizer que não há efeito direto horizontal nas diretivas,
ou seja, o particular não pode invocar uma diretiva contra outro particular, mesmo que já
tenha passado o prazo de transposição e mesmo que a norma seja clara, precisa e
incondicionada.
No entanto, há algumas alternativas para se contornar o facto de não existir efeito direto
horizontal:
- efeito triangular (não se aplica aqui, porque esta relação jurídica não é
intermediada por nenhuma entidade pública);
- responsabilidade civil extracontratual do estado por violação do DUE (é possível,
mas a Maria aqui iria receber uma indemnização, porém a Maria não quer receber
uma indemnização, ela pretende trabalhar apenas 48h semanais);
- resta-nos a tentativa de interpretar esta norma nacional à luz do due (PRINCÍPIO
DA INTERPRETAÇÃO CONFORME ou EFEITO INDIRETO):
- à luz do DUE, e não violando os limites que este procedimento exige,
podíamos interpretar a norma nacional da seguinte forma: o limite máximo
de horário laboral devia ser entre 46 e 48, a definir pela entidade
empregadora. Ou seja, exige que o empregador define o número de horas
semanais entre as 46 e as 48. As 50h desaparecem e passa-se a cumprir
a diretiva.
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