Damas Ousadas 10 Cavalgando Com O Cavaleiro Emma v. Leech
Damas Ousadas 10 Cavalgando Com O Cavaleiro Emma v. Leech
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LADY PRUNELLA ADOLPHUS, DUQUESA DE BEDWIN – membro fundador das Senhoritas Peculiares
e, secretamente, Miss Terry, autora de “A História Sombria de um Duque Maldito”.
SRA. ALICE HUNT (NASCIDA DOWDING) – não tão tímida como antes; casada recentemente
com o notório Nathanial Hunt, proprietário do exclusivo clube de apostas Hunters,
e irmão de Matilda.
LADY AASHINI CAVENDISH (LUCIA DE FERIA) – uma beldade estrangeira; recentemente, feliz e
escandalosamente, casada com Silas Anson, visconde Cavendish.
SRA. KITTY BAXTER (NASCIDA CONNOLLY) – quieta e vigilante, até que não esteja.
Recentemente fugiu com seu amor de infância, Sr. Luke Baxter.
LADY HARRIET ST. CLAIR (NASCIDA STANHOPE) - Condessa St. Clair – séria, estudiosa,
inteligente, puritana e usa óculos. Finalmente casada com o Conde St. Clair.
BONNIE CARDOGAN – (NASCIDA CAMPBELL) ainda muito franca e sempre em apuros ao lado de
seu marido, Jerome Cadogan.
RUTH ANDERSON – (NASCIDA STONE) herdeira, filha de um rico comerciante, vivendo
pacificamente na Escócia, depois de ter domado um selvagem Highlander.
MINERVA DE BEAUVOIR – (NASCIDA BUTLER prima da Prue. Inteligente e engenhosa, loucamente
apaixonada por seu genial marido.
LADY JEMIMA ROTHBORN (NASCIDA FERNSIDE) felizmente instalada no Priorado, gerenciando
habilmente os criados e os aldeões e desesperadamente orgulhosa de seu marido
heroico.
LADY HELENA ADOLPHUS – vivaz, controladora, surpreendente.
MATILDA HUNT– loira, linda, e arruinada por um escândalo, do qual não teve culpa.
1
Minha querida Srta. Hunt,
Estou tão feliz que a senhorita virá
ficar comigo. Gostaria que meu tio
estivesse aqui também, mas ele tem um
trabalho maçante para fazer na cidade. Ele
está fingindo que não se importa, mas está
muito zangado, porque gostaria de estar
aqui para a sua visita, também. Regras
sobre decoro são excepcionalmente
estúpidas. Não vou segui-las quando
crescer. Meu tio acabou de ler isso por
cima do meu ombro e disse que irá se jogar
no lago agora, antes que seja tarde demais.
Mal posso esperar para conhecer
Lady Helena, todos dizem que ela é muito
bonita. Não acredito que ela seja mais
bonita do que a senhorita. Perguntei ao tio
Monty e ele disse que não posso escrever
isso por causa dessa bobagem de
propriedade. Ele diz que a senhorita sabe,
de qualquer maneira.
—Trecho de uma carta da Srta.
Phoebe Barrington para a Srta. Matilda
Hunt.
Gabe deixou a carta que estava guardando de lado, com impaciência, quando
descobriu que outra de suas empresas estava indo muito melhor do que o esperado.
Não sabia o que estava errado com ele. Era só que tudo parecia tão enfadonho.
Todos os negócios dele estavam indo excepcionalmente bem. Tinha sido
meticuloso em encontrar homens inteligentes e eficientes para gerenciar e controlar
todos os seus interesses, agora estava colhendo os benefícios, enquanto o vasto
aparelho das empresas interligadas, que compunham seu império, corria como uma
máquina suavemente lubrificada. Ele se tornou mais ou menos redundante. O único
ponto brilhante no horizonte era o investimento ferroviário, mas, mesmo com a
melhor vontade do mundo, se ele conseguisse que Bedwin participasse e tudo saísse
como planejado, poderia levar anos, até mesmo uma década ou mais, até que a
maldita coisa se concretizasse. Gabe não era um homem paciente, precisava estar
ocupado constantemente ou ficava insatisfeito, foi quando começou a se comportar
mal. Estranhamente, seu pior comportamento quase sempre coincidia com períodos
de maior sucesso. A excitação que ele sentia ao alcançar o que mais desejava era
quase sempre acompanhada por uma complacência imediata, enquanto se
perguntava, bem, e agora?
Como era, seu nome estava sendo falado em todos os salões de Londres, e não
pelas razões certas. Sabia que era um idiota por se envolver com a Condessa
Culpepper. Uma mulher de trinta e poucos anos, sabia o que queria e deixou isto
bem claro. O conde era um sujeito monótono e grosseiro, muitos anos mais velho
que ela e, obviamente, pouco se importava com sua esposa, pois passava a maior
parte de seu tempo no campo, assassinando a vida selvagem.
Gabe estava entediado e a senhora foi uma diversão, o marido havia retornado
inesperadamente. Não que o conde se importasse com isso, Gabe suspeitava, se não
estivesse na companhia de Lorde Hewitt, o maior fofoqueiro de toda a Inglaterra.
Incapaz de silenciar o demônio, o conde pediu o divórcio e denunciou Gabe, sob o
pretexto de conduta criminosa. Seus advogados estavam fazendo tudo o que
podiam para silenciar o conde, comprando-o. Embora fosse demais dizer que o
homem não tinha um tostão em seu nome, seu estilo de vida era luxuoso. A soma
que Gabe estava oferecendo seria irresistível. Isso lhe custaria uma pequena
fortuna, mas valia a pena evitar que seu nome, já manchado, fosse arrastado pela
sujeira, por semanas. A fofoca já estava rodando, no entanto, e estava nas páginas
de escândalo daquela manhã, o que não ajudou nem um pouco seu temperamento.
Além disso, Montagu estava descontente, ter Montagu descontente era
semelhante a escorregar lentamente em direção à ponta de uma espada. Mais cedo
ou mais tarde, doeria como o diabo e seria ruim para a saúde. Gabe franziu a testa,
irritado. Ele não era um garoto do Montagu para ordenar por aí à vontade, longe
disso. Tinham vários interesses comerciais e convinha a cada um deles fazer uso do
outro, ocasionalmente, um quid pro quo que funcionava admiravelmente.
Atualmente, no entanto, Gabe estava em dívida com Montagu, pois concordou em
ajudar a remover um certo caráter desagradável das áreas costeiras da Inglaterra,
com a devida pressa. Como Gabe achava o homem moralmente repreensível, ficou
feliz em ajudar, mas o diabo provou ser um personagem mais difícil do que ele
havia considerado, o infeliz, até agora, escapara de seus homens. O Sr. Burton
havia se tornado uma pedra no seu sapato e Montagu estava ficando impaciente
para que ele desaparecesse. Um desejo com o qual Gabe estava totalmente de
acordo.
Levantou-se de sua mesa, um enorme móvel de carvalho, coberto de
correspondência. Normalmente, gostava dessa parte do dia, levantando-se cedo
para olhar as correspondências em paz, com uma xícara de café. Caminhou até as
largas janelas e olhou para as ruas de Londres, já repletas de pessoas cuidando de
seus afazeres, mesmo naquela hora ímpia.
Gabe se virou com uma batida na porta.
— Entre.
O jovem, que tinha a tarefa invejável de seguir Gabe e certificar-se de que ele
estava no compromisso certo, no momento certo, correu e entregou-lhe um bilhete
selado — Acabou de chegar, Sr. Knight.
— Obrigado, Francis. — Gabe pegou-o e o assistente recuou da mesma
maneira rápida, deixando-o sozinho. Observando a caligrafia familiar, Gabe
quebrou o selo e desdobrou a carta — Mas que diabos!
Maldito Burton, os havia iludido novamente. Pior ainda, ele parecia estar indo
em direção a Kent, agora, um movimento que só poderia significar problemas para
Montagu.
— Francis! — berrou. A porta se abriu antes que ele pudesse alcançá-la e o
jovem o encarou com expectativa. — Prepare minha carruagem imediatamente e
peça a Harris que reúna todos os homens disponíveis. Vamos para Dern.
Este não era o tipo de notícia que Montagu apreciaria receber em uma nota. Se
o Sr. Burton tivesse acesso a uma fração de seus consideráveis fundos, ele teria
mais do que dinheiro suficiente para contratar seus próprios homens e causar
problemas. Gabe pegou seu chapéu e fez uma careta, enquanto saía de seu
escritório. Parece que o Sr. Burton era um problema maior do que esperavam.
2
Querida Helena,
Espero que esteja gostando da paz e
do sossego agora que se livrou de nós. Dê o
nosso melhor amor ao tio Charles, tenho
certeza de que ele a tem cuidado
admiravelmente. Pergunto-me como
conseguirá lidar com seu desafio com ele
observando-a. É um homem astuto e muito
perspicaz. Não posso deixar de me
preocupar com isso. Sei que não será
excessivamente imprudente, mas tenha
cuidado. Se for envolvida em um escândalo
horrível, a culpa será minha e nunca me
perdoarei. Além disso, Robert ficaria
irritado comigo por não a ter impedido.
Mas como eu poderia impedi-la se foi um
desafio bobo que nos uniu? Mas tome
cuidado, querida irmã. Estarei sentada
sobre espinhos até saber que você
completou o desafio sem nenhum resultado
terrível.
Esperamos permanecer em Hampshire
por um tempo ainda, portanto, pode ficar
tranquila quanto a isso. Embora a ala oeste
esteja em ordem o suficiente para que
possamos nos sentir confortáveis, o resto
do lugar está em um estado chocante. Será
necessária uma quantia considerável para
que tudo volte a ser o que deveria ser.
Robert mencionou uma oportunidade
apresentada pelo Sr. Knight. O tio Charles
parece ser totalmente a favor, mas Robert
está inquieto. Não gosta, nem confia no Sr.
Knight, mas quanto mais analisa, mais
parece ser um bom investimento. Espero
que não esteja correndo nenhum risco bobo
com ele, Helena. Entendo como deve
parecer empolgante, mas Robert nunca
aprovará esse casamento. Cuide-se.
—Trecho de uma carta de Prunella
Adolphus, Duquesa de Bedwin para Lady
Helena Adolphus.
Matilda sorriu, divertida com a energia ilimitada de Helena. Era uma criatura
inquieta, sempre querendo descobrir mais, infinitamente curiosa e ansiosa de
entusiasmo. Era um traço que escondia impiedosamente quando estava em
sociedade, tendo sido educada fortemente para entender que a inquietação e a
maravilha do mundo eram impróprias para a filha de um duque. Foi preciso tanto
esforço de vontade, que Helena, muitas vezes, parecia distante e firme. Esta aura,
quando combinada com uma língua, que poderia bater com tanta precisão, a ponto
de arrancar as asas de uma mosca quando despertada, fazia as pessoas desconfiarem
dela. Era ferozmente leal àqueles com quem se importava, recusando-se a ouvir
uma palavra de censura contra eles e parecia não se importar nem um pouco com o
que as pessoas pensavam dela. Matilda suspeitava que isso estava longe de ser
verdade, mas uma mulher da posição social de Helena teria sido treinada desde
criança para nunca demonstrar seus verdadeiros sentimentos. Com suas amigas e
familiares, no entanto, todas essas restrições sumiam, revelando a privada Lady
Helena, que estava há quilômetros de distância da faceta pública que mostrava.
Matilda estava feliz que elas teriam esses poucos dias juntas. Foi adorável conhecê-
la melhor e compartilhar esta visita. Parecia para Matilda uma pausa da realidade,
sabendo como ela se saía muito bem e que o mundo real se intrometeria muito em
breve.
Para a ira da garotinha, no meio da tarde, a Srta. Barrington havia sido levada
para assistir à aula de francês, apenas aliviada pela promessa de que a veriam
novamente, assim que terminasse. Matilda se arrependeu de sua ausência. Phoebe
teria impedido que seus pensamentos se transformassem nesses círculos
intermináveis e indefesos. Agora, tendo visto cômodo após cômodo de
magnificência opulenta, Matilda estava desgastada. Dern estava em uma escala que
a intimidava e a desconcertava e, embora se maravilhasse com tudo o que tinham
visto, isso a deixara desanimada e comovida.
O grande salão de azulejos de mármore havia roubado seu fôlego, exatamente
como o designer Tudor pretendia. Retratos de gerações de Barringtons olhavam das
paredes, pintados por Van Dyke e Reynolds. Quando Helena perguntou,
engenhosamente, onde o retrato de Montagu poderia ser encontrado, a Sra. Frant as
levou para a longa galeria, onde uma desconcertante variedade de retratos dos
séculos XVI e XVII parecia um tratado histórico sobre a nobreza britânica através
dos tempos. À medida que avançavam na sala, intrinsecamente revestida, os
retratos se tornaram mais recentes, Matilda sentiu seu coração dar um baque
irregular, quando a governanta parou diante de um grande retrato de três meninos
de pé, sob os galhos de um antigo carvalho.
— Este é Lorde Montagu com seus irmãos, que suas almas descansem em paz.
— disse a Sra. Frant, suas feições, bastante severas, suavizando — Foi concluído
depois que seus pais e Lorde Philip morreram. Acho que é por isso que é tão
comovente. Parece que foi a última vez que estiveram juntos.
— Oh, meu Deus! — disse Helena, pegando o braço de Matilda — Aquele é
realmente o Lorde Montagu? Como ele parece feliz.
— Ele era muito próximo de seus irmãos. — disse a Sra. Frant, calmamente —
Não acredito que ele tenha encerrado o luto pela perda deles.
Matilda olhou, piscando com força, enquanto o retrato borrava um pouco. O
mais velho dos meninos, Lorde Philip, tinha, talvez, catorze ou quinze anos na
época e parecia ser cerca de quatro anos mais velho que Montagu. Ele tinha sido
um rapaz grande e robusto, com cabelos dourados e olhos cinzas escuros, tinha o
olhar confiante e seguro de um menino que conhecia seu lugar no mundo. Ao lado
dele, Montagu, a criança do meio, era magro e requintado, seu cabelo um loiro
muito mais pálido, seus olhos cinzentos, um tom mais claro, mais próximo do prata,
contornado de preto. Ele tinha o tipo de beleza inocente, que fazia seu peito doer ao
olhar para ele, ainda mais neste retrato, enquanto sorria. Seus olhos continham um
brilho travesso, o olhar de uma criança versada em problemas. Segurando sua mão
com força e olhando para ele, como se procurasse segurança, estava outro menino
de talvez cinco anos, em um terno azul. O pintor tinha feito um trabalho magistral
de capturar cada menino neste exato momento de sua infância. As feições rosadas
da bochecha do irmão mais novo ainda não haviam perdido a suavidade infantil,
que fazia com que se desejasse pressionar o rosto em seu pescoço e respirar o
cheiro maravilhoso de uma criança pequena e quente. Era um lindo conjunto e fez a
respiração de Matilda travar.
— Lindo dia, não é? — a Sra. Frant continuou — Uma semelhança
maravilhosa dos três. Eram meninos tão doces.
— Como ele era naquela época? — Matilda perguntou, incapaz de conter a
pergunta.
A Sra. Frant riu, um som surpreendente vindo de uma mulher tão severa.
— Muito travesso. — disse, parecendo bastante melancólica — Ele era uma
criança tão engraçada e inteligente. Nunca teve a intenção de se meter em
problemas, mas, na maioria das vezes, os problemas o encontravam, embora Lorde
Philip, o mais velho, o protegesse ferozmente do pior e, muitas vezes, assumisse a
culpa por ele. Ambos eram devotados um ao outro. O mais novo é o pai da Srta.
Barrington, é claro. Embora ela tenha os olhos de seu pai, mais azuis do que
cinzentos, ela favorece seu tio em temperamento. O pequeno Lorde Thomas era
uma alma tão quieta. Ele preferia sentar-se com um livro e não gostava de nenhum
tipo de brincadeira selvagem e barulho. — seu rosto escureceu, calando-se, como se
ela acreditasse que tinha falado demais, assim as apressou para o próximo retrato
— E aqui está Lorde Montagu nos dias de hoje. Foi pintado ano passado, pelo Sr.
Lawrence.
Matilda sentiu um arrepio de consciência quando encontrou o olhar
intransigente da pintura sobre ela. O que aconteceu com aquele garotinho
sorridente? Não tinha sinal dele nesse retrato. O homem que a olhava era
indiscutivelmente poderoso, implacável e mais frio que gelo. Estava usando um
casaco cinza, que realçava aqueles olhos estranhos. Ainda havia um brilho neles,
embora não fosse mais de travessura, mais como o brilho da luz, que brilhava na
borda de uma lâmina bem afiada. Usava a grande estrela ornamentada da Ordem da
Jarreteira, os diamantes brilhando tão friamente quanto seus olhos. Lawrence o
pintou contra um fundo preto, seu cabelo brilhava quase branco em contraste. Com
a prata de seu casaco e olhos e os diamantes brilhantes, na estrela da jarreteira,
parecia sobrenatural, bonito demais para ser real. Era um retrato surpreendente e
que a fazia estremecer de apreensão.
Sei o que deve pensar, quão infiel deve acreditar que eu seja, mas a verdade é
que tenho medo do meu sobrinho, do que ele é capaz.
As palavras ecoaram na cabeça de Matilda e, olhando para esse retrato, não foi
tão fácil descartar as palavras de seu tio.
— Senhorita Hunt! Lady Helena!
Elas se viraram quando Phoebe correu em direção às duas, puxando a mão de
sua preceptora, que estava tentando o seu melhor, para fazer a garota andar e não
correr… com resultados pífios.
— Eu terminei minha lição de francês. — disse, sorrindo para elas.
— Estávamos vendo o retrato do seu tio. — disse Helena — A senhorita acha
que há uma boa semelhança?
Phoebe franziu a testa, estudando o retrato — Suponho que sim, quando algo o
desagrada. Ele ficou do mesmo jeito, todo feroz e frio, quando ouviu como Lady
Jane me empurrou e me fez cair, dizendo que não gostava de mim.
— Oh, querida, que garota horrível ela parece ser. — disse Matilda, pegando a
mão de Phoebe — O que fez?
— Eu a chutei nas canelas. — disse Phoebe alegremente — Ela chorou o
caminho inteiro para casa.
— Senhorita Barrington! — sua preceptora exclamou consternada.
— Ótimo trabalho! — Helena disse, com aprovação óbvia — Eu teria feito o
mesmo.
A preceptora lançou a Helena um olhar reprovador, antes de repreender sua
tutelada.
— Bem, é verdade, Srta. Peabody. Até a senhorita mesmo, disse o quão
repugnante ela era. Eu a chutei e o tio não se importou nem um pouco. — Phoebe
retrucou — E a senhorita sabe o quão importante ele diz que a verdade é. Quando
contei a ele sobre Lady Jane, seu terrível irmão Rupert, a Srta. Kendall e a Srta.
Smythe juraram que ela não havia feito nada disso, mas ele acreditou em mim, de
qualquer maneira. Ele sempre acredita em mim, não importa o que aconteça e eu
nunca lhe contaria uma mentira. Nem umazinha.
Embora ela não tenha dito isso em voz alta, houve um ressoar no final desse
discurso apaixonado e sua preceptora suspirou.
— Temos tempo para um passeio no jardim antes do jantar. — disse Phoebe,
levando as mãos de Matilda e Helena nas dela — Venham, quero mostrar meu
pônei.
— Meu Deus, meus pés doem. Devemos ter andado quilômetros, hoje. —
exclamou Helena, enquanto desciam as escadas para jantar. Phoebe estava
esperando por elas no pé da escada. A garota estava vestida com um bonito vestido
azul naquela noite, com uma faixa de cetim branca grossa. Uma fita azul fina tinha
sido tecida dentro e fora de seus cachos loiros e ela parecia totalmente adorável. A
semelhança entre essa criança e os garotos da pintura era marcante, Helena se
perguntou o que Matilda tinha achado disso e da maneira como a governanta havia
falado do mestre da casa. Helena ficou intrigada e não tinha nenhum interesse
romântico no homem. Quando o pensamento se instalou em sua cabeça, o
mordomo avançou para atender uma nova chegada à porta. Helena sentiu o fôlego
deixando-a com pressa, quando o Sr. Knight apareceu.
Era como se nada ao seu redor existisse, desde o momento em que ele
apareceu, sua imagem dominando todo o resto. Parecia magnífico, alto e de ombros
largos, com aquele olhar perverso, quase diabólico, que lhe fazia ter certeza de que
ele não estava fazendo nada de bom.
— Senhor Knight! — exclamou Phoebe, surpreendendo Helena ainda mais,
quando percebeu que a garota não estava surpresa em vê-lo em Dern — Receio que
meu tio não esteja aqui. Ele foi para a cidade.
— Senhorita Barrington, um prazer como sempre. Lady Helena, Srta. Hunt. —
o Sr. Knight respondeu gravemente, um brilho nos olhos que fez Helena sorrir,
antes de se curvar para ela e Matilda, depois voltou sua atenção para a garotinha —
Bem, quão tolo isso me faz sentir, já que saí de Londres para, expressamente, falar
com ele.
— Minha nossa — ela deu uma risada leve — Isso é uma bobagem. O senhor
desperdiçou a sua jornada.
— Oh, não inteiramente. — respondeu o Sr. Knight, afável — Eu tinha outros
assuntos a tratar na área, mas diga-me, quando Lorde Montagu voltará?
— Amanhã à noite.
— Excelente. Então vou ficar em um quarto no White Hart e voltarei amanhã,
se puder avisá-lo que estive aqui.
— Decerto que sim. O senhor já jantou, Sr. Knight? Gostaríamos muito que se
juntasse a nós.
— Senhorita Barrington, não se convida cavalheiros para jantar, tenho certeza
de que o Sr. Knight já tem outros planos. — repreendeu a preceptora.
A Srta. Barrington soltou um suspiro de frustração.
— Tem outros planos, Sr. Knight? — Helena perguntou, ciente de que ele,
provavelmente, preferiria enfiar alfinetes nos olhos do que passar uma noite de
conversa fiada com uma garotinha e duas damas solteiras e suas acompanhantes.
— Eu tenho. — disse ele com muita velocidade — Se me derem licença, mas
agradeço o gentil convite.
— Oh! — respondeu a Srta. Barrington, cabisbaixa — Então não pode ao
menos vir para o chá, amanhã à tarde? Lady Helena e a Srta. Hunt partirão depois
disso e será tão bom ter amigos para o chá. Gostariam que o Sr. Knight viesse, não
é? — perguntou, virando um olhar cheio de súplica para as duas.
— Decerto que sim. — respondeu Helena, imediatamente, encontrando os
olhos do Sr. Knight e o desafiando silenciosamente — Acho que gostaríamos muito
disso.
— Pronto. — exclamou a Srta. Barrington, contente — Eu avisei. Agora deve
vir.
O Sr. Knight estreitou os olhos para Helena, apenas o suficiente para prometer
retribuição por ajudar uma garotinha a manipulá-lo — Claro, estarei aqui. —
respondeu educadamente — Eu não perderia isso por nada no mundo.
— Garota terrível. — Matilda sussurrou, uma vez que o Sr. Knight as deixou e
foram para a mesa de jantar.
— Eu ou a Srta. Barrington? — Helena perguntou com sua expressão mais
inocente.
Matilda bufou — Você, mas temo que ela não deva ficar muito tempo em sua
companhia. Certamente, são farinha do mesmo saco.
— É por isso que gosta tanto dela. — disse Helena com uma fungada digna —
Nós duas somos encantadoras.
Matilda riu, incapaz de refutar o comentário, pegando o braço de Helena,
enquanto iam jantar.
3
Querida Bonnie,
Eu tenho uma surpresa para lhe fazer.
Estarei em Londres a partir do dia 12 de
março, por dez dias, antes de retornar a
Wildsyde. Estou muito ansiosa para rever
todas as minhas amigas, sinto que vou
explodir! Por favor, avise a todas as
Senhoritas Peculiares, para que possam me
visitar em Upper Walpole Street. Será como
nos velhos tempos! Escrevi para a
cozinheira para dizer que precisamos de
uma grande variedade de bolos com creme.
— Trecho de uma carta da Sra. Ruth
Anderson para a Sra. Bonnie Cadogan.
O Sr. Gabriel Knight não parecia nem um pouco confortável, pensou Helena
divertida. Observando-o saborear seu chá, em uma bela xícara de porcelana pintada
com rosas delicadas e bordada em ouro, ela foi forçosamente lembrada do urso
empalhado, no escritório de St. Clair, na Casa Holbrooke. A pobre criatura tinha
sido vestida com roupas de festa por Kitty e Harriet. Era o desafio de Kitty, na
verdade, mas olhando para o apreensivo Sr. Knight, se comportando tão
adequadamente, os resultados eram semelhantes. Helena sentiu uma pontada de
simpatia pelo urso quando o viu. Parecia desrespeitoso tratá-lo assim, quando, em
vida, poderia ter arrancado seu pescoço com facilidade. Observando o Sr. Knight
tomar chá com elas, sentindo a energia reprimida e a força de caráter mantidas
firmemente sob controle, remetia-lhe ao mesmo sentimento.
Quando ele olhou para cima e seus olhos se encontraram, notou neles um
pouco de brilho, mas também de ira, que ele direcionou para ela. Incomodada, ela
sorriu um pouco, tentando enviar-lhe um pedido de desculpas silencioso. Para sua
surpresa, ele pareceu entender e aceitar e seus ombros rígidos relaxaram um pouco.
— Conhece bem Lorde Montagu, Sr. Knight?
Helena ficou aliviada por Matilda ter perguntado, pois estava curiosa para
descobrir o que ele estava fazendo em Dern, mas não ousou, julgando que a
paciência dele tinha limite.
O Sr. Knight soltou um som divertido — Não sei ao certo se posso fazer essa
afirmação, Srta. Hunt. Nossos caminhos se cruzam de vez em quando, é tudo que
posso dizer.
— Para tratar de negócios? — Matilda pressionou, surpreendendo Helena com
sua tenacidade.
O Sr. Knight olhou para ela com firmeza, antes de responder — Lorde
Montagu é um cavalheiro, ele não mancha as mãos com negócios.
Havia uma pontada definitiva na resposta, advertindo que ele não responderia
mais sobre o assunto. Bem, era muito curioso.
— O Sr. Knight está zangado, porque meu tio não investe em seu projeto
ferroviário. — disse a Srta. Barrington, servindo-se alegremente de um terceiro
biscoito doce.
— Senhorita Barrington! — repreendeu sua preceptora, lançando um olhar de
pânico para o Sr. Knight — Não cabe a senhorita comentar sobre os assuntos dos
cavalheiros. Não é assunto nosso.
A Srta. Barrington revirou os olhos e deu uma mordida desafiadora no
biscoito, mastigando ruidosamente.
O Sr. Knight sufocou uma risada e, rapidamente, pousou sua xícara de chá.
Helena o olhou, certa de que ele estava rindo.
— Isso é verdade, Sr. Knight? — não resistiu em perguntar — O senhor está
planejando investir em um projeto ferroviário? Meu tio Charles me levou para ver o
Catch Me Who Can, que o Sr. Trevithick exibiu. Tivemos que esperar muito tempo
para andar nele, pois houve uma quebra nos trilhos, mas foi maravilhoso. A
experiência mais emocionante da minha vida. Eu queria voltar, mas meu tio não
permitiu. O senhor se propõe a criar algo dessa natureza?
Ela o surpreendeu, logo percebeu, enquanto a encarava por um longo
momento, antes de responder.
— Tenho sim. Uma linha que transportaria mercadorias e passageiros.
Acredito que todo o país poderia estar conectado dessa maneira. Isso tornaria as
viagens mais rápidas e fáceis, o movimento de mercadorias e informações seria um
grande benefício para as empresas, em todo o Reino Unido.
Helena sentiu sua boca abrir-se em um sorriso. Ela não estava exagerando. Seu
passeio no Catch Me Who Can estava vivo em sua memória, desde então. A ideia
de uma enorme máquina de ferro ser capaz de transportar pessoas, a velocidades
selvagens, talvez de um extremo do país para o outro, era surpreendente. Ela sentiu
uma onda de excitação e nenhum temor na escala do que ele estava propondo, e não
menos importante para o homem que estava determinado a torná-lo realidade.
— Que maravilhoso! — disse com a voz sussurrada, olhando para ele com
aprovação, não inteiramente certa se estava elogiando sua ideia ou a ele.
Matilda parecia saber, enquanto pigarreava e cutucava Helena discretamente
com o cotovelo. Helena corou, afastando os olhos do Sr. Knight e ocupando-se em
pegar um biscoito, enquanto se recompunha, mais uma vez.
— E este é o projeto sobre o qual o senhor está ansioso para discutir com meu
irmão?
Ela olhou para cima e o encontrou olhando-a, corou com a intensidade de seu
escrutínio.
— É, sim.
Helena assentiu, segurando o olhar dele — Então farei tudo ao meu alcance
para encorajar Bedwin a concordar com isso.
Ele inclinou a cabeça, em uma demonstração silenciosa de gratidão, seus olhos
nunca deixando os dela.
— Bem, — disse Matilda, amenizando a atmosfera repentinamente carregada
— é um fato triste, mas nossa visita está no fim.
— A senhorita tem mesmo que ir? — a Srta. Barrington lamentou, movendo-
se para se sentar ao lado de Matilda e agarrando-se a seu braço — Por favor, fique
mais um pouco. Só mais algumas horas, para que possa ver meu tio. Sei que ele
ficaria feliz em vê-la e ninguém saberia. Só mais um pouquinho, por favor, Srta.
Hunt?
A Srta. Peabody interveio, antes que Matilda pudesse responder — Agora,
meu cordeiro, a Srta. Hunt, sem dúvida, precisa voltar para sua família. A visita foi
muito adorável, então não vamos permitir que elas acreditem que a senhorita é uma
garota mimada e ingrata pelo tratamento que lhe deram.
A Srta. Barrington suspirou, parecendo tão abatida, que o coração de Helena
sentiu por ela.
— Estou grata pela senhorita ter vindo. — disse ela, olhando para Matilda com
olhos tristes — Eu apenas queria que pudesse ficar um pouco mais.
Matilda estendeu a mão e acariciou o rosto da garota.
— Eu também. — disse gentilmente — Mas nem sempre podemos ter o que
queremos.
Helena sentiu seu coração doer pelas duas, enquanto a criança se inclinava
para ela, descansando a cabeça no seu ombro.
— Eu também deveria ir embora. — disse o Sr. Knight, conseguindo a atenção
de Helena para ele.
Helena se levantou, decidindo aproveitar a situação — Então tomarei a
liberdade de acompanhá-lo até a porta, Sr. Knight. — disse, ciente das expressões
gêmeas de horror escandalizado de sua criada e da companheira de Matilda. Helena
as ignorou — Gostaria de falar com o senhor sobre o interesse de Bedwin em seu
projeto. — acrescentou com alguma força, antes de sair com o Sr. Knight da sala.
— E então? — ele exigiu, a curiosidade brilhando em seus olhos, no momento
em que a porta se fechou atrás deles.
— O senhor está em dívida comigo. — disse Helena, sem preâmbulo.
O Sr. Knight bufou — Não posso deixar de pensar que já paguei essa dívida na
íntegra. Por Deus, tomei chá com uma criança. Se alguém descobrir, serei motivo
de chacota.
— A Srta. Barrington foi responsável por isso. — respondeu Helena — Não é
minha culpa se o implacável Sr. Knight descobriu que não pode dizer não a uma
garotinha com cachos.
— A senhorita ajudou. — ele resmungou, Helena não pôde deixar de rir.
— Sim, foi uma oportunidade deliciosa demais para perder, mas o senhor se
saiu admiravelmente bem, devo dizer. Fiquei impressionada.
Ele lançou um olhar penetrante, avaliando se ela estava ou não zombando
dele. Não estava, ele pareceu perceber isso.
— Muito bem. — disse ele, com o tom de um homem que sentia que se
arrependeria de suas próximas palavras — E o que a senhorita quer de mim?
— Eu preciso de uma testemunha. — disse Helena, imaginando como ele
aceitaria sua exigência.
— Testemunha para quê? — ele perguntou, as sobrancelhas escuras franzindo.
— Está planejando cometer um crime, Lady Helena?
— Eu dificilmente iria querer uma testemunha, se tivesse isso em mente.
— Devo ser seu álibi, então? — ele perguntou, um brilho provocador em seus
olhos.
— Não. — Helena sentiu seus batimentos acelerarem, enquanto ele olhava
para ela. Era uma sensação estranha ser o foco de sua atenção. Era, de fato,
semelhante à sensação de montar o Catch Me Who Can: alegria com uma pontada
de medo, a consciência de fazer algo descontroladamente emocionante, que poderia
ser perigoso — Sem dúvida, o senhor vai acreditar que é tolice, mas tenho um
desafio para completar.
— Um desafio? — ele repetiu, parecendo não ter entendido a palavra,
certamente não no contexto, pelo menos.
— Sim, Sr. Knight, um desafio. Um desafio que aceitei e do qual não posso
recuar. Devo passar em frente ao White’s e acenar para os cavalheiros.
Ele a olhou — A senhorita enlouqueceu.
Helena suspirou — Não enlouqueci. Quase todas as minhas amigas
completaram seus desafios. Eu sou uma das últimas e não vou recuar. No entanto,
gostaria que o senhor testemunhasse a ação e relatasse às minhas amigas que
completei o desafio.
— Mesmo a filha de um duque não é imune a escândalos. — disse ele,
observando-a com um olhar tão feroz, que Helena quase deu um passo para trás.
— Eu estou ciente. — retrucou — No entanto, terei minha criada por decoro e
um tigre na plataforma. Então não é tão chocante, e sempre posso dizer que tomei o
caminho errado.
— Eu diria que a senhorita tomará o caminho errado se persistir nessa loucura.
O que pretende dirigir, afinal?
— Pegarei o cabriolé de Bedwin emprestado. Tenho meus próprios cavalos,
mas será mais fácil manobrar o cabriolé no trânsito do que o meu phaeton, acredito.
— A senhorita irá se matar. — disse ele, cruzando os braços.
— Certamente que não. — Helena corou de indignação com o deslize —
Bedwin é membro do Four Horse Club e ele próprio me ensinou a pilotar. Ouso
dizer que sou melhor do que o senhor.
O Sr. Knight arqueou uma sobrancelha e Helena teve que reprimir o desejo de
chutá-lo nas canelas, parecia tão arrogante. Honestamente, os homens eram animais
tão vaidosos. Eles nunca poderiam imaginar uma mulher os superando em nada.
— Muito bem, Lady Helena. Se está tão interessada que eu a veja fazendo
papel de boba, estarei lá.
— E o senhor visitará minhas amigas e fará um relatório completo? — exigiu,
sentindo uma pequena onda de triunfo, apesar da atitude dele. Iria mostrar-lhe quem
era a boba.
Ele soltou um suspiro sofrido, mas acenou em concordância — Eu irei. A
senhorita pode enviar uma nota para meus escritórios, em Piccadilly, com o dia e
horário. No entanto, ficarei em Kent por, pelo menos, mais alguns dias.
Helena ergueu o queixo, ciente de que estava usando sua personalidade
pública, desesperada para colocá-lo em seu lugar, o diabo irritante — Pois bem,
então. Avise-se do seu retorno à cidade. Completarei meu desafio no dia seguinte.
Houve um som abafado de diversão, mas então sua expressão ficou séria —
Não há vergonha em desistir de algo que possa causar constrangimento ou lesão,
milady.
Cada vez mais indignada por ter suas habilidades e sua honra questionadas,
Helena endureceu — Eu nunca volto atrás.
Olhou para ele ao falar, virou-se e voltou para a sala de estar.
A primeira hora foi sem problemas, com Helena voando com tanta velocidade
que não pôde deixar de sorrir como uma lunática por todo o caminho. O Sr. Knight
estava viajando bem atrás dela, essa situação a agradou ainda mais, o pobre sujeito
tendo sido retido por um momento em Clapham Common, por um cachorro
assediando seus cavalos e mordendo suas pernas. As pobres bestas ficaram muito
desconcertadas, mas Helena teve que admitir que ele lidou com elas de forma
surpreendente. No entanto, não tinha escrúpulos ao passar por ele e deixá-lo lidar
com a situação. Ficou imensamente satisfeita ao imaginá-lo rangendo os dentes.
Até Tilly, que havia abordado essa aventura maluca com todo o estoicismo
entusiástico de um prisioneiro subindo os degraus para o seu enforcamento, parecia
estar se divertindo.
Fizeram a primeira troca de cavalos no The Cock Inn, em Cock Crossroads, ao
longo da Sutton High Street. Este excelente estabelecimento teve a glória de ser
propriedade de Gentleman Jackson, o renomado pugilista. Helena estava um pouco
desconcertada por ter que continuar com cavalos que não eram dela. Nunca tendo
empreendido uma longa jornada antes, pois não havia sido necessário, mas fez
questão de dar uma boa gorjeta ao estribeiro e falar com ele gentilmente, esperando
que trouxesse seu melhor animal para ela e com toda a pressa. Esta, ao que parecia,
era uma excelente estratégia, pois as duas baias combinavam uniformemente e
eram boas, Helena deixou o pátio e continuou, enquanto o Sr. Knight ainda estava
esperando seus cavalos.
De fato, por alguns quilômetros, não viram nem a visão nem o som do Sr.
Knight, e apreciaram a vista do campo se abrindo ao redor delas, na luz dourada de
uma manhã adorável. No momento em que chegaram ao pedágio Tadworth, ainda
não havia sinal dele, e Helena deu um grito de triunfo ao ver que o porteiro havia
marcado sua aproximação e estava pronto. O pedágio era anexado a um baixo
edifício caiado de branco e parecia tão limpo quanto um alfinete novo.
— Seis moedas. — exigiu o guardião, seus lábios mal se movendo de sua
posição, apertados em torno de um cano de barro.
Tilly quase jogou o dinheiro no pobre sujeito, na pressa de entregá-lo, mas ele
não pareceu se importar quando as moedas estavam na mão e Helena tremeu em
seu assento com impaciência, quando o sujeito abriu o portão. As belas baias
correram e ganharam velocidade, quando um grito atrás delas fez Tilly olhar em
volta para ver qual era a comoção.
— Um guinéu se mantiver o portão aberto! O Sr. Knight berrou para o
guardião, a moeda que Gabe segurava no alto, com a mão enluvada, reluzia ao sol.
Jogou-a no ar, brilhando o ouro, enquanto navegava em direção ao guardião, que a
pegou com uma mão hábil.
— Ele não fechou o portão! — Tilly gritou de consternação.
— Ora, o canalha! — Helena exclamou em fúria, insistindo para que seus
cavalos continuassem, mas o Sr. Knight não havia sido forçado a desacelerar, muito
menos parar, e, um momento depois, Helena foi tratada com uma onda de poeira,
quando a ultrapassou com as rodas nuas a centímetros de distância, enquanto tirava
o chapéu para ela de passagem.
— Oh, seu…— Helena começou, apenas para fechar a boca, pois nem era o
suficiente pronunciar as palavras em seus lábios. O grito de riso, provocador, do
diabo só a deixou ainda mais furiosa e determinada.
— Pronto, pronto, milady. — disse Tilly, sua voz calmante — Haverá muitas
oportunidades para proferir uma palavra ou outra, e ainda há um bom caminho a
percorrer.
— De fato, sim. — disse Helena, tentando não ranger os dentes — E ele não
vai se safar.
6
Matilda,
A senhorita não pode ser tão cruel,
nem estar tão iludida, a ponto de acreditar
que isso entre nós acabou.
M.
—Trecho de uma carta do Mais
Honorável, Lucian Barrington, Marquês
de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.
Elas passaram pela rodovia Crawley e pelo pedágio de Hand Cross, sem
nenhum sinal do Sr. Knight segurando um guinéu para o porteiro. A chuva já estava
caindo uniformemente, fria e brutal. Elas se amontoaram em um silêncio estoico,
enquanto Helena amaldiçoava os cavalos relutantes, que estavam agitados e
infelizes por estarem correndo em um clima como aquele. Não que ela pudesse
culpá-los, no mínimo. Estremeceu sob o peso do material úmido. Por que agiu de
forma tão precipitada, por que era tão estupidamente teimosa e tola? Estava
congelada e fora de si, e bem-feito por ser tão tola. Ela provavelmente se arruinou e
para quê? Para que o homem, que ela queria desesperadamente que gostasse dela,
pensasse que era pior do que certamente já achava? E o pior, não era a única pessoa
que estava sofrendo por sua arrogância. Olhou para Tilly, perseverando no que
havia se tornado um trabalho árduo, com paciência.
— Sinto muito, Tilly. — desculpou-se, sentindo-se miserável, enquanto olhava
para sua criada, toda encharcada.
O chapéu da pobre moça estava encharcado, a aba já começando a perder um
pouco de forma e seus cabelos escuros pingavam em cachos molhados, em volta do
pescoço. No entanto, quando se virou para Helena, seus olhos estavam brilhantes e
felizes.
— Não se atreva a se desculpar, milady. Estou tendo uma aventura. Pense na
história que poderei contar aos meus filhos, quando os tiver, sobre a época em que
ganhei uma corrida, de Londres a Brighton, com Lady Helena Adolphus. Eles
nunca vão acreditar que fiz uma coisa dessas. Eu mesma mal posso acreditar, mas
aqui estou, e não estaria em nenhum outro lugar, por dinheiro algum.
— Oh, Tilly, é maravilhosa! — Helena disse, seus olhos esquentando contra o
frio de todo o resto de seu corpo.
— Eu sou, não sou? — Tilly disse com um sorriso malicioso — Agora, vamos
em frente, milady. Não há tempo a perder.
Envergonhada de seu próprio mergulho na melancolia, Helena se recompôs.
Afinal de contas, era apenas um pouco de frio e chuva, ela não era uma dama frágil,
que desmaiaria a cada oportunidade. Ganharia essa maldita corrida e isso era tudo.
Se o Sr. Knight a desprezasse por isso… bem, então, era problema dele.
— Estamos quase lá! — Tilly exclamou.
— Eu sei, eu sei! — Helena nunca tinha sentido tanto frio e desconforto em
toda a sua vida, mas os cavalos, eram um par cinza, perfeitamente combinados,
animais lindos e fortes, que valiam à fortuna paga por eles e a ousadia da decisão na
última troca.
Na verdade, foi um risco, pois ela poderia ter administrado esse último trecho
com o par anterior e correu o risco de perder toda a distância que conseguiu abrir,
entre ela e o Sr. Knight, ao parar para a troca, sabia que ele apareceria a qualquer
momento e essas belezas estavam cheias de energia. Seus instintos estavam certos,
e elas o avistaram, cinco minutos antes, quando chegaram ao topo da colina,
aproximando-se delas, em um ritmo incrível. No entanto, a vitória estava ao seu
alcance e agora não perderia por causa de cavalos cansados. Tinham a sorte ao seu
lado. As estradas estavam cheias de lama, sulcadas e traiçoeiras, à medida que o
tempo piorava, mas ela não tinha dúvidas de que o peso leve entre ela e Tilly, em
comparação com o Sr. Knight e o Sr. de Beauvoir, tinha contribuído para que
passassem pelos piores trechos, relativamente sem problemas. Agora, enquanto
desciam a colina para Brighton, o mar, um sinistro verde acinzentado e orlado por
cavalos brancos, enquanto as ondas violentas quebravam, seu ânimo se elevou. Elas
podiam fazer isso. Realmente poderiam fazer isso.
Felizmente, o trecho neste dia cinzento de março estava totalmente deserto.
Não havia outro idiota louco o suficiente para andar nesta chuva terrível. A chuva
estava caindo em lençóis agora, então Helena teve que limpá-la dos olhos, para ter
alguma chance de ver a estrada à frente. Mesmo com o manto grosso sobre ela,
estava congelada até os ossos, suas roupas encharcadas.
— Ele está se aproximando de nós! — Tilly lamentou, pendurando-se ao lado
da carruagem, Helena soltou o chicote para que pudesse agarrá-la, evitando que as
derrubasse.
— Sente-se e segure firme. — disse Helena, segurando a alça do chicote de
volta em seus dedos dormentes, com dificuldade — Vamos! — gritou, sacudindo o
chicote para incitar os cavalos a irem mais rápido.
Essa última troca de cavalos foi um grande risco, mas foi para isso, para, neste
momento, ter cavalos descansados, acelerando em direção à linha de chegada. Mais
rápido, mais rápido ela implorou aos animais, seus casacos encharcados de chuva,
vapor subindo de seus corpos. A água estava levantando como em uma fonte,
saindo das rodas de cada lado, enquanto a rua inundada corria como um rio.
— Ali! Olhe!
Helena fez o possível para se concentrar através do borrão cinza à sua frente,
enquanto Tilly agarrava seu braço, sua voz rouca de tanto gritar.
— Olhe! — disse Tilly novamente, apontando mais para baixo, na estrada
inundada.
Ao longe, Helena distinguiu um amontoado de figuras sob guarda-chuvas.
Uma delas estava pulando para cima e para baixo e acenando. Elas estavam quase
lá. Antes que ela pudesse começar a pensar em comemorar, uma forma escura
oscilou no canto do olho e Helena virou a cabeça.
Não!
O Sr. Knight estava quase na mesma linha, seus cavalos se esforçando para
compensar a diferença entre eles e passá-la. Com o coração na boca, Helena
desejou ter seus próprios cavalos arreados, mas isso era inútil. Essas adoráveis
éguas podiam fazer isso, ela sabia que podiam.
— Vamos, minhas lindas! — gritou, incitando-as ainda mais, o chicote
piscando sobre seus lombos, tocando-as levemente, o suficiente para acelerá-las —
Vamos, meninas, não deixem que ele nos vença agora!
Como se tivessem um ataque de solidariedade feminina, as duas éguas
levantaram as orelhas aos comandos de Helena e então deram uma última explosão
de velocidade.
Tilly estava fora de si, agarrada na lateral da carruagem com uma mão e
segurando seu chapéu encharcado com a outra, gritando encorajamento.
— Vamos meninas, vamos, estamos quase lá. Vocês conseguem!
Os ouvidos de Helena zumbiam por causa do frio e do barulho, dos gritos de
Tilly, do tilintar das ferraduras e da chuva, que caía cada vez mais forte, o vento
ardia em suas bochechas, queimando sua pele congelada e fazendo seus olhos
lacrimejarem, enquanto os cavalos as puxavam a uma velocidade vertiginosa.
Ainda assim, o Sr. Knight as estava alcançando, logo em frente estava St. Clair e
Harriet, e o irmão de Harriet, Henry. Podia vê-los. Cada pedaço de seu corpo doía
de frio e fadiga, seus braços doíam, seus dedos latejavam. Mas nada existia além
disso, além de fazer os cavalos ultrapassarem a linha de chegada, antes do Sr.
Knight. Tão perto, estavam tão perto…
— Vamos, por favor, por favor. — implorou, seus dedos entrelaçados nas
rédeas e no chicote — Vamos, meninas!
Olhou de soslaio, o Sr. Knight estava quase no mesmo nível dela, quase,
quase, mas…
— Conseguimos! — Tilly gritou e Helena se virou, perplexa.
— O que?
— Conseguimos, conseguimos! — a garota exclamou, suas bochechas e nariz
brilhando, avermelhados por causa do frio.
Como se estivesse atordoada, Helena percebeu que elas haviam passado pelo
conde e continuavam indo.
— Ganhamos por uma cabeça! — disse Tilly, agarrando o braço de Helena e
sacudindo — Nós ganhamos!
Helena deu uma risada assustada e conteve-se, diminuindo a velocidade dos
cavalos, deixando-os relaxar em seus passos, permitindo que parassem de respirar
fundo, suas laterais arfando, ela os parou, ali, no meio do calçadão.
— Conseguimos, milady. — disse Tilly, sorrindo para ela, antes de abraçá-la
forte.
Helena deu uma risada exausta, incapaz de fazer mais do que aquilo. Sua mão
esquerda ainda segurava as rédeas, a direita segurava o chicote e seus dedos
pareciam não querer se mover. Tremia toda, embora não pudesse dizer se era de
nervosismo e euforia ou simplesmente de frio.
— Minha senhora, está tremendo. Deus do céu, vamos sair deste tempo. Estou
congelada até os ossos e a senhorita deve estar exausta.
— S-sim. — Helena concordou, seus dentes batendo, mas ela não parecia ser
capaz de se mover.
— Helena! — pulou um pouco, ao som de seu nome falado tão bruscamente, o
tom masculino de comando captou sua atenção completa — Helena, sua garota
impossível e irritante, está tudo bem?
Helena se virou e viu o Sr. Knight olhando para ela. Ele estava imundo, sujo
de lama, havia água caindo de seu chapéu e sobre as capas de seu sobretudo, mas
ele não pareceu se importar. Helena achou que ele estava perfeitamente
maravilhoso.
— Ela está bem, senhor. — disse Tilly, firme — Apenas com frio e um pouco
exausta. Precisamos levá-la para um lugar quente.
— É claro que ela precisa se aquecer, então por que ainda estão sentadas aí?
— ele exigiu, furiosamente — Senhor Stanhope, pegue a carruagem, eu cuidarei
das senhoritas.
— Muito bem! — disse Henry facilmente.
— Ah, c-certifique-se de que os cavalos s-sejam cuidados, Henry. — Helena
pediu — Elas são g-garotas muito i-inteligentes e c-corajosas.
— Vou me certificar de que elas recebam uma boa massagem e um alimento
quente, assim que se acomodarem. — Henry prometeu, subindo no lado de Tilly,
para sair do pior da chuva e esperando que Helena desocupasse seu lugar — Mas
acho que também precisa de algo semelhante, Lady Helena, então, se apresse.
— Helena, Helena, conseguiu! Estou tão orgulhosa. — Harriet disse, correndo
até a carruagem e quase pulando para cima e para baixo, de uma maneira nada
parecida com Harriet.
— Venha para dentro, amor. — seu marido insistiu — Poderá parabenizá-la
quando estiverem todos aquecidos e secos.
— Sim, vamos, vamos. — disse o Sr. Knight, gesticulando impacientemente
para que Helena se movesse, mas ela apenas o encarou, incapaz de se mover, de
mexer suas pernas, depois de tantas horas sentada na mesma posição.
— Eu g-ganhei. — disse, dando um sorriso presunçoso.
O Sr. Knight suspirou — Sim, ganhou. Parabéns, agora irá pegar uma
pneumonia. Então, vai entrar ou vou ter que carregá-la?
A ideia de ser carregada para qualquer lugar pelo Sr. Knight era tão
avassaladora, que Helena se forçou a ficar de pé, mas seus joelhos cederam
imediatamente e ela se sentou novamente.
— Talvez seja melhor eu e-esperar aqui, um p-pouco.
— Absolutamente não. — murmurou o Sr. Knight, antes de levantá-la do
assento.
Helena gritou, forçada a jogar os braços em volta do pescoço dele para se
firmar. Ele atravessou a rua com ela, dirigindo-se para The Ship Inn com o conde
correndo à frente deles, com Harriet.
— Solte-me, senhor. — ela exigiu, embora tivesse quase certeza de que se ele
o fizesse, acabaria sentada em uma poça. Ainda assim, parecia o tipo de coisa que
se deveria dizer, dadas as circunstâncias.
Ele a carregou pela porta e o ar quente do lado de dentro tomou conta dela, o
que, de alguma forma, só a fez estremecer ainda mais. Depois de uma ordem
concisa de St. Clair, um lacaio assumiu, movendo-se à frente deles e guiando-os
diretamente pelas escadas, com Tilly correndo atrás dele, lançando olhares ansiosos
para Helena.
— Realmente, acho melhor o senhor me colocar no chão. — disse Helena,
preocupada que um dos outros convidados os visse e a reconhecesse, fazendo um
espetáculo de si mesma — Ora, coloque-me no chão!
Deu-lhe um olhar furioso — Me obrigue.
— O-obrigá-lo? — Helena deu uma risada incrédula — Eu n-não posso
obrigá-lo a fazer nada. — disse tristemente, soprando a pena amarela encharcada
que havia caído sobre seu olho.
— Oh, não! — disse ele sucintamente — A senhorita apenas consegue me
fazer tomar chá com crianças, esperá-la em St. James e passar a manhã inteira com
o coração na garganta, correndo atrás da senhorita, até a maldita Brighton.
— Sim. — admitiu, sentindo a exaustão cair sobre ela, como uma onda forte
— Mas, realmente, só queria que o senhor gostasse de mim.
Ele parou no meio do caminho, congelado, no meio da escada, Helena olhou
para cima, para ver por que havia parado.
— Maldição! — ele murmurou, não parecendo muito feliz, então a beijou.
A pressão de sua boca foi ligeira e firme, seus lábios eram tão frios quanto os
dela, e, ainda assim, o calor irrompeu dentro de Helena, no instante em que suas
bocas se encontraram. Para sua decepção, durou apenas um segundo e então ele se
afastou, sua expressão sombria.
— Oh! — disse ela em uma respiração prolongada, piscando para ele — Faça
de novo.
Ele murmurou algo que ela não entendeu, mas que não parecia elogioso, antes
de correr atrás de Tilly e do lacaio que havia desaparecido.
— Eu quero que me beije de novo. — exigiu, de repente, muito mais alerta do
que estava, alguns momentos atrás.
O terrível cansaço que rolou sobre ela havia desaparecido, substituído por uma
tensão fervente.
— Não. — ele rangeu.
— Por favor.
— Mas, que maldição, a senhorita ganhou a maldita corrida. Eu admito que
pode conduzir tão bem quanto qualquer homem. A senhorita me superou hoje. Não
pode simplesmente se dar por satisfeita?
— Não. — ela disse, desejando não estar usando luvas, pois queria afundar
seus dedos congelados em seu cabelo.
Estava completamente molhado e ela ficou intrigada ao descobrir que tinha
tendência a enrolar. Sua mandíbula estava rígida, ela podia sentir a tensão cantando
em seus ombros largos. Ela pressionou mais perto contra ele e, embora suas roupas
estivessem encharcadas, podia sentir o calor dele, irradiando através do tecido
saturado.
— Pare com isso. — ele retrucou, parecendo sem fôlego e não menos
exasperado.
— Parar com o quê?
— O que exatamente está querendo, Lady Helena? — perguntou, sua voz
baixa, quase um rosnado, que retumbou em seu peito.
Ainda estava zangado com ela, mas não parecia se importar por ter perdido a
corrida.
— Quero que o senhor me note. Pronto, entendeu. O senhor também estava
certo, então, não há necessidade de ficar tão zangado. Quero a sua atenção.
Houve uma risada repentina, mas soou apenas um pouco histérica.
— Oh, a senhorita tem a minha atenção. — disse ele, ela viu a intensidade
queimando em seus olhos escuros.
— Aqui, Sr. Knight. — a voz de Tilly ecoou pelo corredor.
Helena sabia que o que quer que Tilly quisesse no futuro, faria o possível para
dar a ela, depois da devoção que demonstrou hoje, mas, naquele momento, poderia
ter chorado de frustração e desejado que a pobre garota estivesse em outro lugar. Se
eles estivessem sozinhos, a teria beijado novamente, tinha certeza. Em vez disso,
ele fechou a boca, carregou Helena para o quarto indicado por Tilly, jogou-a na
cama e depois deu meia-volta e saiu.
7
Querida Prue,
Eu consegui. O desafio de passar com
a carruagem em frente ao White’s ocorreu
sem problemas, então pode respirar fundo
agora. Tio Charles me deu a mais terrível
bronca, e todos estão escandalizados, é
claro, mas nada que cause danos
duradouros. É agora, porém, que devo
confessar ter feito algo bem pior. Por
enquanto, não há motivo para alarme, pois
acredito que mantivemos as coisas por
baixo dos panos, mas sinto que devo
prepará-la para lidar com meu irmão, caso
a história se espalhe.
O Sr. Knight é tão irritante, e sabe
como fico imprudente quando alguém me
deixa zangada. Bom…
―Trecho de uma carta de Lady
Helena Adolphus para sua cunhada, Sua
Graça, a Duquesa de Bedwin.
Após um banho quente e uma tigela de sopa, Helena sentiu-se muito mais ela
mesma. Estava cansada até os ossos, mas a alegria de ter feito o que se propôs a
impulsionou e, por enquanto, foi o suficiente para manter suas preocupações com
as consequências subsequentes distantes. Além disso, o Sr. Knight a beijou.
Reconhecidamente, não parecia feliz com isso, como se tivesse feito algo contra
sua vontade, de fato, mas fez mesmo assim.
Harriet trouxera a bagagem de Helena com ela, tendo viajado muito mais
tranquilamente no dia anterior. Foi com alívio que Helena se vestiu para jantar, com
roupas limpas e secas, aquecidas pelo fogo da lareira. Dera a Tilly o resto do dia de
folga, para se recuperar, mas a doce menina insistira em voltar para arrumar o
cabelo de Helena, determinada a impedir que qualquer outra pessoa fizesse uma
bagunça no penteado de sua senhora. Trouxe consigo uma xícara de chocolate
quente, com uma forte dose de conhaque, que Helena bebeu com um suspiro de
satisfação, enquanto Tilly dava os retoques finais em seu penteado.
— Então, quem está aqui, milady?
— Bem, St. Clair e Harriet, é claro, e seu irmão. Recebi uma mensagem de
felicitações de Lorde Cavendish e Aashini, que chegaram há algumas horas. Bonnie
e seu marido trouxeram Minerva com eles. Ruth não pôde vir porque está visitando
sua tia, mas acredito que Jemima e Lorde Rothborn também estejam aqui.
— Um grupo muito alegre, então. — disse Tilly, dando-lhe um olhar que fez
Helena franzir a testa.
— O que?
— E quando iria me contar que o Sr. Knight a beijou?
Helena corou e seu queixo caiu.
— Ora, não pareça tão apavorada. Ninguém mais viu. Apenas me virei para
ver se estavam me seguindo e vi que a senhorita estava bastante ocupada. — Tilly
sorriu para ela — E como foi?
— Os dedos dos meus pés formigaram. — disse Helena, com um suspiro —
Pedi para que me beijasse novamente, mas ele não quis.
— Certamente que não. — disse Tilly, indignada com a ideia — Um sujeito
não pode sair por aí beijando damas finas nas escadas. Por Deus, não. Além do
mais, a senhorita não deve persegui-lo, só vai lhe trazer problemas. Sabe muito bem
que Sua Graça nunca permitirá essa união. O Sr. Knight não é respeitável, não
importa sua fortuna. Ele é um patife perverso.
Este último, longe de ser um comentário desaprovador, foi proferido com um
suspiro melancólico, que sugeria que Tilly poderia muito bem entender a atração.
Helena não disse nada. Ela sabia que Tilly estava certa. Se tivesse o mínimo de
bom senso, tiraria o Sr. Knight da cabeça. Se fosse apenas a falta de berço, pensou
que talvez seu irmão pudesse ser persuadido, se estivesse convencido de que era um
casamento por amor, mas, para começar, o Sr. Knight nem parecia gostar muito
dela. Somado a isso, não era apenas um plebeu, mas um bastardo, nascido em um
albergue e criado em um orfanato. Além disso, tinha uma péssima reputação de
vida selvagem, jogos de azar e mulheres, de dançarinas de ópera a damas casadas
da ton. Ele poderia ser um dos homens mais ricos do país, mas, assim como ela
abriria portas para ele, havia, sem dúvida, alguns que se fechariam sobre ela, ao se
rebaixar tão profundamente. Não, como possível pretendente, não era aquele a
quem seu irmão jamais concederia favoritismo. Na verdade, Helena não sabia se
queria casar-se com ele, de qualquer maneira. Tudo o que sabia era que o único
homem que mantinha seu interesse, era Gabriel Knight. O único homem que fazia
seu coração bater mais rápido, no momento em que entrava no mesmo ambiente, o
único homem que a deixava tão perdida e fora da razão, que se comportava como
uma lunática, apenas para chamar sua atenção.
Bem, isso, pelo menos, teria que parar. Só Deus sabia o que faria a seguir, se
permitisse que ele a incitasse a perder a paciência novamente.
Então, foi uma Helena aparentemente serena que desceu as escadas para
jantar, determinada a ser graciosa na vitória e não fazer nada para levar o
provocador Sr. Knight a retaliar na mesma moeda.
Ele tentou, ao máximo, manter seu olhar longe dela, mas era impossível.
Gabe sentia a fome o corroendo e, não importava quantos pratos apetitosos
iam e vinham, sabia que não havia nada que pudesse comer ou beber que o
saciasse. Ela estava sendo boa esta noite. Toda aquela vitalidade e força mantidas
sob controle, o enfureceram. Lady Helena não era uma criaturinha boa, bem-
comportada e cerimoniosa, destinada a enfeitar o braço de algum idiota com título e
concordar com cada palavra que ele dissesse. Era um problema em um pacote
delicioso, inteligente e desafiadora. Provavelmente levaria qualquer homem a uma
dança, que deixaria seu cabelo grisalho, causaria ataques cardíacos diários e faria
com que nunca se arrependesse de um único momento passado em sua presença.
Deus, como ele a queria. A desejou desde o início, por esta razão, foi tão
malditamente rude com ela, certo de que só queria adicioná-lo à sua lista de
pretendentes, os pobres tolos que a seguiam como cachorrinhos devotados,
escrevendo poemas nauseantes para sua beleza e seus olhos esmeralda.
Estava determinado a não ser adicionado às suas fileiras, e, ainda assim, aqui
estava ele, sofrendo com o desejo de tê-la para si. Não queria apenas ir para a cama
com ela, arruiná-la. Ele, simplesmente, desejava mais, mais dela, mais daquele
humor afiado, o brilho malicioso em seus olhos, o calor que aquecia o verde frio
quando olhava para ele. Queria fazer aquela corrida de novo, mas com ela ao seu
lado, rindo de alegria e compartilhando uma aventura, os dois imprudentes juntos,
sem ninguém para detê-los e fazê-los se comportar bem.
O tédio que havia corroído seus ossos por tanto tempo, tornando-o letárgico e
rebelde, havia sido esquecido nos últimos dias. Não havia nada em sua cabeça além
de pensamentos sobre ela. É certo que a maioria deles era composto por ele
amaldiçoando o dia em que a conheceu, mas não ficou entediado, nem por um
segundo. De forma alguma.
Apesar de seus melhores esforços, seu olhar voltou para ela. Seu vestido era
verde novamente, esta noite, um tom profundo de floresta, que o fez lembrar de
duendes e fadas travessas, com a intenção de enganar os homens para que
permanecessem em seu mundo com eles. Estava dividido entre o desgosto e a
irritação, ao perceber que ela não precisava se esforçar para trapacear, ele iria de
bom grado. Era uma situação que detestava. Queria se casar com uma dama da ton,
para deixar sua marca entre aquele grupo de elite que adorava rejeitá-lo, e garantir
que não pudessem mais ignorá-lo. Não dava a mínima se gostavam dele ou não, e
não dava a mínima se o aceitassem como um deles, mas não seriam capazes de
excluí-lo, nunca mais.
Pretendia deslumbrar alguma garota nobre de uma família empobrecida dos
mais altos escalões da ton. Descobrir-se escravizado por uma herdeira, um dos
maiores prêmios no mercado matrimonial, a mulher que todo cavalheiro nobre
estava competindo para desposar, o deixou enojado. Em tais circunstâncias, ele não
tinha chance. Por que o escolheria, quando poderia escolher um conde, ou mesmo
um marquês ou um duque? Montagu estava procurando uma noiva, ele sabia.
Certamente, um homem como aquele, com riqueza, poder e uma linhagem
impecável, precisava apenas estalar os dedos. Foi tomado por um ciúme e precisou
respirar fundo para forçar suas mãos a relaxarem, pois estava com os punhos
cerrados.
Gabe não era tolo. Sabia que Helena o queria, mas também sabia que não era o
tipo de homem com quem se casaria, mesmo que, por algum milagre, ela decidisse
que queria. A noção emocionante e impossível de que ela poderia querer, se ele
tivesse a chance de cortejá-la, fez seu coração dar um baque irregular em seu peito.
Se ela quisesse muito, dada sua natureza imprudente… ele poderia ter uma chance.
Uma pequena chance. Apostou com risco, para seu futuro, em probabilidades
piores, uma ou duas vezes, com nada além de um sentimento em suas entranhas,
que lhe dizia que sairia por cima.
Bem, o sentimento em seu interior dizia que tinha que ter Lady Helena, tinha
que torná-la sua, ou passaria o resto de seus dias lamentando esse fato.
Helena vagou pela sobremesa, fazendo-a durar o maior tempo possível. Tinha
sido maravilhoso comemorar com as amigas, mas não era por isso que relutava em
ir para a cama, apesar de estar esgotada. Ficou especialmente tocada por Jemima e
Lorde Rothborn terem vindo apoiá-la, já que eram recém-casados, não esperava que
quisessem deixar a privacidade de sua casa. Era bastante óbvio que estavam
desesperados para sair e se aconchegar em seu quarto, levando em conta os olhares
cada vez mais quentes que trocavam. Helena suspirou. Se estivesse casada com
Gabe, duvidava que pudesse ter sido tentada a sair do quarto por muito tempo. A
ideia fez suas bochechas esquentarem e estudou sua sobremesa com mais
intensidade. Ele era a razão pela qual demorou, determinada a manter os olhos
abertos, apesar do cansaço e da excitação do dia.
Deitar-se em uma cama confortável e descansar os membros doloridos era um
prazer, mas não queria deixar a companhia de Gabe. Não sabia quando poderia vê-
lo novamente, então o bebeu como um bom champanhe, consumido muito rápido e
com muita facilidade, até ficar tonta e boba.
Era impossível não olhar para ele. Não era um cavalheiro, esse fato era
perceptível nele, apesar do casaco primorosamente feito, de suas maneiras bem
eruditas e do tom de voz cuidadosamente cultivado. Não que tenha feito ou dito
algo errado, nada disso. Ele aprendera a desempenhar o papel de um cavalheiro,
com a mesma dedicação obstinada que empenhava para acumular uma fortuna tão
vasta, em um período tão curto. Isso não disfarçava a verdade sobre ele, no entanto,
não diminuía a fome em seus olhos, que dizia ao mundo que nem tinha começado.
Na verdade, ela adorava aquele brilho em seu olhar misterioso, aquele que
desafiava a subestimá-lo, que avisava a sociedade que o ignoravam por sua conta e
risco. Havia uma sensação de poder sob controle, de impaciência com todas aquelas
regras e bobagens educadas, que ele aprendera tão bem, Helena reconhecia algo de
si nisso. Foi criada no outro extremo do espectro, a filha de um duque, com todos
os privilégios, com todos os luxos e o peso das expectativas, fruto de seu dever à
família. Helena havia aprendido suas lições, que haviam começado no dia em que
nasceu, e se irritava com elas. Queria mais. Queria olhar o mundo nos olhos e dizer,
olhem para mim, isso é o que posso fazer, e não tinha permissão. Em vez disso,
devia se casar bem e segurar a língua, contentar-se em administrar as várias
propriedades de seu marido, envolver-se em obras de caridade e não fazer nada para
levantar uma sobrancelha ou envergonhar seu esposo. Queria gritar com a mera
ideia.
Não haveria mais aventuras imprudentes, nem desafios, nem corridas na chuva
torrencial, pescoço a pescoço com um homem que a fazia sentir-se realmente viva.
Uma sensação fria e desolada se instalou em seu peito, fazendo-a sentir-se
vazia e com medo, ousou outro olhar, querendo um último vislumbre de Gabe,
antes de se forçar a deixar sua companhia. Gabe também a olhava. Havia uma
intensidade em seu olhar, que fazia crescer aquela sensação de vazio e medo, como
se ela fosse se despedaçar, se não evitasse o destino, para o qual caminhava desde o
momento de seu nascimento. Não queria acabar com a aventura e a emoção, não
queria ser uma jovem respeitável, que sempre fazia e dizia a coisa certa. Ela o
queria e toda a loucura imprópria e perigosa que tal ligação lhe traria. Não
importando as consequências.
Sustentou seu olhar, esperando que ele pudesse ver a resposta para o que quer
que estivesse procurando, enquanto fitava seu rosto. Não era como se soubesse o
que ele estava perguntando com aquele brilho feroz em seus olhos, mas sua
resposta era uma só, não importava a pergunta.
Sim.
Sim.
O que quer que seja… sim.
BEVERWYCK.
20 DE MARÇO DE 1815.
O baile dos Cavendish era um evento esplêndido para o qual Gabe havia sido
convidado. Lorde Silas Cavendish era um sujeito incomum, um lorde incomum. Ele
fugiu de um pai abusivo quando criança e viveu nas ruas, deixando para trás sua
herança e trilhando seu próprio caminho, acumulando uma fortuna nesse ínterim.
Gabe não tinha problema em admirar um homem assim e os dois haviam feito
negócios muito lucrativos no passado. Claro, Silas também não era totalmente
respeitável e era tolerado, em vez de bem aceito pelos altos defensores da ton,
apesar de sua linhagem impecável. Seu recente casamento com a filha ilegítima,
meio-indiana, do Conde de Ulceby, causou bastante furor, não que Gabe pudesse
culpar sua escolha. Lady Aashini Cavendish era, sem dúvida, uma das mulheres
mais bonitas que já tinha visto, e Silas estava obviamente obcecado.
Os dois homens estavam juntos, agora, Silas mantendo um olhar atento em sua
esposa, enquanto dançava com outro cavalheiro.
— O senhor foi queimado no caso Burton? — Gabe perguntou, observando
Silas animado.
Silas encolheu os ombros, o rosto escurecendo, mais do que já estava — Não
financeira, apenas moralmente. Pensei que Burton era um homem decente, um
homem que conquistou as coisas sozinho, como nós, que saiu da lama com
trabalho. Não fazia ideia de que ele tinha conquistado tanto, usando as pessoas no
meio do caminho.
— Então não estava envolvido nas usinas?
— Não, graças a Deus. Nunca investiria sem uma investigação completa. Eu
mesmo poderia ter tropeçado na situação, há alguns anos. Sabe quem é esse
misterioso benfeitor que comprou os moinhos, e está colocando todos em ordem?
Gabe nada disse, pois não sabia o que dizer. Suspeitava que Montagu não iria
querer que o boato se espalhasse, mesmo que isso o colocasse em bons lençóis.
Nunca conheceu um homem que guardasse sua privacidade com tanto apreço.
— Sim, sabe. — disse Silas, estreitando os olhos — Ou, pelo menos, acredita
que sabe.
— Talvez, mas não cabe a mim dizer, e não, não sou eu, antes que me
pergunte, embora desejasse que tivesse sido. Nunca gostei de Burton. Encontrei-o
algumas vezes em vários lugares e sempre achei que parecia ser bom demais,
sincero demais. Ninguém é tão decente assim, o tempo todo.
Silas bufou de diversão — Tem razão, embora ele tenha me enganado, e isso é
irritante, para dizer o mínimo.
Gabe franziu a testa, estudando o copo vazio em sua mão — É um homem
com um coração decente, Silas. Fica difícil identificar um sujeito assim.
— Ah, e por acaso, não é?
Um sorriso torcido se curvou sobre sua boca, enquanto olhava para Silas —
Eu tenho momentos de decência, mas vivi na sujeira por muito tempo, para que ela
ainda esteja presente na minha alma. Faria coisas com as quais nunca sonharia, sem
pestanejar ou me arrepender, e essa é a diferença entre nós.
Silas o olhou por um longo momento, seu escrutínio um pouco enervante.
Ocorreu a Gabe, então, que Silas era um homem muito perspicaz, e podia muito
bem entender por que o lorde estava tão enojado por não ver além do Sr. Burton.
Era como Gabe disse: era preciso uma cobra para reconhecer outra. Nunca pisaria
sobre os pobres e infelizes, mas qualquer outra pessoa, era um jogo justo.
— Acredito que esteja querendo dizer isso a si mesmo. — disse Silas por fim.
— O que? — Gabe perguntou, tendo perdido o fio da conversa.
— Que é completamente perverso e impenitente. O problema é que, se
realmente fosse, estou certo de que não admitiria isso, tão prontamente.
— Ser tão feliz no casamento faz com que veja arco-íris e unicórnios onde há
apenas serpentes e sujeira. — Gabe retrucou, com desgosto.
— Talvez. — concordou Silas amigavelmente, voltando sua atenção para sua
esposa e seu parceiro de dança.
Seu rosto torceu imediatamente, em descontentamento.
— Pare com esse olhar assassino. — disse Gabe, balançando a cabeça —
Pobre Sr. Cooper, vai se molhar todo.
— Ele está se divertindo demais. — resmungou Silas, pegando uma bebida de
um lacaio que passava.
— É bastante óbvio que sua esposa só tem olhos para você, então, pare de agir
como um cachorro com um osso.
Silas bufou e voltou seu olhar aguçado para Gabe, o que foi um pouco
inquietante — Então não vai ranger os dentes quando o Sr. Richards tirar Lady
Helena para dançar, mais tarde?
Apesar de saber que estava sendo provocado, Gabe firmou a mandíbula. O Sr.
Richards era rico, bonito e herdeiro de um condado. Helena parecia gostar do
sujeito também, a julgar pela maneira como estava sorrindo para ele, enquanto este
se afastava dela, para cumprimentar outra pessoa. Gabe queria esmagar algo. Ele
podia senti-la escapando de seus dedos, antes que o caso deles tivesse começado.
Esteve preocupado com ela nos últimos dias, apesar de Francis interrogar Tilly
todas as manhãs e ter certeza de que havia se recuperado bem. Matou-o que não
tenha podido ir até ela, uma situação que deveria remediar, o mais rápido possível.
— Sim, foi o que pensei. — Silas murmurou, com um sorriso malicioso.
Gabe levantou os olhos confuso, até perceber que estava fitando o infeliz Sr.
Richards, do outro lado da pista de dança, e não respondeu à pergunta de Silas.
— Bedwin não permitirá que eu me aproxime dela, não é?
Silas encolheu os ombros — O lado ruim de ter uma reputação horrível é que é
muito divertido ganhá-la, mas um maldito incômodo, quando se percebe que há
mais na vida do que prazeres fugazes e emoções imprudentes. Embora, suponha
que as circunstâncias do seu nascimento não tenham sido tão agradáveis, se divertiu
bastante nos últimos anos, para passar despercebido pelos céticos. O mau
comportamento pode ser negligenciado em um lorde, mas não será rapidamente
esquecido em alguém como você.
Gabe fez uma careta, não gostando de quanta verdade havia em suas palavras,
mas Silas ainda não havia terminado com ele.
— Bedwin estará perfeitamente ciente de todos os rumores escandalosos
relacionados a sua pessoa e provavelmente mais alguns, que certamente achou
terem sido silenciados. Não será fácil persuadi-lo de que é digno de ganhar um
prêmio, como sua amada irmã. Ainda assim, não é o primeiro e nem será o último
homem a crescer e perceber que é hora de se estabilizar, Bedwin incluído. Ele é um
bom sujeito, que se preocupa com a felicidade de sua irmã. Se realmente a ama, e
puder provar que a fará feliz, estou certo de que irá ganhá-lo.
Gabe pensou em refutar o fato de que a amava, mas, em primeiro lugar, não
achava que Silas falaria bem dele para Bedwin, precisava de toda a ajuda que
pudesse obter e, em segundo lugar, não tinha certeza absoluta de que não era
verdade. Talvez ainda não fosse verdade, mas não era tolo o suficiente para não
reconhecer que estava caindo forte e rápido, o resultado era inevitável.
— Isso pode levar anos. — disse ele, uma sensação de pânico, da qual não
gostava nem um pouco, subindo por seu estômago.
— Poderia. — concordou Silas, seu tom de simpatia.
Gabe firmou o queixo, querendo fazer algum comentário irreverente, para
sugerir que não se importava, mas não conseguiu fazê-lo. Além disso, Silas já havia
percebido, não fazendo sentido fingir indiferença, quando ele perdera a capacidade
de dissimular, sempre que Lady Helena estava envolvida.
— Poderia perdê-la para outra pessoa, alguém como o elegível Sr. Richards,
maldito seja, supondo que eu não perca a cabeça antes disso, de qualquer maneira.
— odiava a maneira como as palavras expunham seu coração, expunham o fato de
que estava em um limbo aqui, agarrando-se à vida.
Silas deu um tapinha nas costas dele — Coragem, Romeu. Do jeito que Lady
Helena continua olhando nessa direção, certamente, chamou sua atenção.
Descobrirá o resto com o tempo. Todos nós passamos por isso, de uma forma ou de
outra.
Gabe bufou. Isso quando se é um visconde e seu casamento com uma mulher
de origem humilde, elevou a posição social da esposa. Outra bem diferente, era
saber que arrastaria Helena para baixo com ele, manchando-a com seu passado sujo
e sua bastardia. Estava muito ciente de sua posição, naquele maldito salão de baile,
ciente do espaço ao seu redor, da distância que os outros convidados mantinham
dele, como se pudesse manchá-los, apenas por se aproximar. Sem mencionar os
olhares de certas senhoras casadas, que o observavam, provavelmente, se
perguntando se ainda poderia ser comprado, para o entretenimento de uma noite.
Gabe ergueu os olhos quando Lorde St. Clair se aproximou e um pouco de seu
ressentimento diminuiu, quando o homem sorriu e apertou sua mão.
— Senhor Knight, é um prazer vê-lo novamente. Espero que tenha se
recuperado de suas recentes aventuras. Nada como ser vencido por uma mulher,
para colocar as coisas em perspectiva, não é?
— Fale baixo. — murmurou Silas, embora houvesse risos em suas palavras.
Gabe bufou.
—Não foi uma surpresa descobrir que ela é melhor do que eu. — em
todos os sentidos foi o que faltou dizer, mas suspeitava que ambos entendiam tão
bem quanto ele — Eu, simplesmente, não consigo deixar de irritá-la. É irresistível.
— Oh, entendo isso, acredite em mim. — disse St. Clair, sorrindo — É melhor
que estejam furiosas do que o ignorando. Tenho vivido por essa regra por anos. —
fez uma pausa, seguindo a linha de visão de Gabe até Helena, que falava com sua
esposa — Tenho que dizer que elas me mandaram aqui, como mensageiro, se quiser
saber, daqueles de nós, que se importam com Lady Helena.
— Ah, sim? — Gabe respondeu, seu tom misterioso. Ele sabia onde isso
estava indo.
St. Clair sorriu, tão à vontade, que Gabe teve que sufocar uma pontada de
inveja.
— Eu gosto de você, Sr. Knight, e não concordo com aqueles que o ignoram,
mas direi isso por mim, e por todos aqueles de quem Helena sempre pode depender.
Helena é uma amiga querida, se suas intenções em relação a ela não são honrosas…
bem, vamos apenas dizer que Holbrooke é uma vasta propriedade, tem muito lugar
para enterrar um corpo.
Com isso, ergueu o copo para Gabe e piscou, antes de sair novamente.
Gabe o observou partir, retornando a um grupo que incluía a Condessa St.
Clair e Bonnie Cadogan. As duas mulheres estavam observando Gabe de perto,
considerando suas expressões.
Silas riu baixinho — Irá descobrir que as Senhoritas Peculiares são uma força
a ser considerada, Sr. Knight. Eu odiaria estar do lado errado delas, ou de seus
esposos.
— Considere-me avisado. — disse Gabe, secamente.
— Irá convidá-la para dançar, então?
Gabe se mexeu inquieto. Ele queria, mas…
— Sabe dançar, eu suponho?
— É claro que sei dançar. — retrucou, irritado.
Ele gastou um tempo precioso refinando seu sotaque, aprendendo qual maldito
talher usar, as regras para uma conversação civilizada, assim como, para aprender a
dançar, embora tenha sido uma experiência mortificante, para começar. Tentou um
mestre de dança, no início, mas o sujeito olhou Gabe tão de cima, que era
impossível relaxar e aprender qualquer coisa. No final, uma das prostitutas de uma
das casas que preferia visitar, lhe ensinou o básico. Então, várias senhoras da ton
tiveram a gentileza de refinar sua técnica, tanto dentro, quanto fora de seus
aposentos.
Lembrando seu passado e todas as coisas que fez para chegar aonde estava,
sentia-se sujo e desconfortável, embora suas roupas fossem impecavelmente feitas
e, provavelmente, fosse o homem mais rico presente ali. Helena tinha ouvido as
histórias sobre ele? Afinal, as mulheres conversavam, mesmo que não fosse de
conhecimento comum. Pensaria menos dele, por tudo o que fez? Mesmo que
Helena não o fizesse, ele iria sujá-la se casasse com ela, manchá-la, diminuí-la para
sempre, aos olhos da sociedade, ainda assim, não queria que ela se afastasse. Deus,
era um maldito filho da mãe.
Ela se virou então, chamando sua atenção e sorrindo. Foi como ser atingido
por um raio. Cada pedaço dele ganhou vida, de modo que estava excessivamente
consciente de seu corpo, de seus batimentos cardíacos e de como era difícil respirar.
— Boa sorte. — Silas murmurou, enquanto Gabe o deixava sozinho.
Largou o copo vazio, desejando ter bebido conhaque em vez de champanhe,
enquanto sentia o peso do olhar e do julgamento da multidão cair sobre ele. Apesar
de saber que muitos dos homens aqui viviam luxuosamente, apesar de saber que
valia centenas de milhares de libras a mais do que a maioria dos convidados ali
presentes, se sentia como um maltrapilho esfarrapado. Enfureceu-o que essas
pessoas tivessem o poder de perturbá-lo, de fazê-lo sentir-se menos do que era, mas
isso não o tornava menos verdadeiro. Consciente agora, reuniu sua coragem e
atravessou o salão de baile. Isso o deixou furioso, ao perceber o quão nervoso
estava. Nos negócios, ele era implacável, quando necessário. Nada o abalava, nunca
estava incerto de si mesmo, mas essa não era sua esfera. Ele sabia que se infiltrava
sem dificuldade nos eventos para os quais havia recebido convites no passado,
então, não havia razão para isso.
Uma coisa era nunca ser aceito, mas outra era deixá-los ver que se importava,
permitir que eles encontrassem falhas em seus modos. Isso, ele nunca permitiria.
Levou muito tempo aprendendo a passar entre essas pessoas, para não fazer isso
com facilidade. No entanto, agora, todas essas lições podiam muito bem nunca
terem acontecido. O chão sob seus pés parecia estar se mexendo, ele era um
miserável inútil, nascido na sarjeta, diante da filha de um duque, sentindo-se uma
fraude. Seu coração bateu forte em seu peito.
— Senhor Knight. — cumprimentou Helena, o prazer de vê-lo fazia seus olhos
brilharem e isto o aqueceu até os ossos. O olhar de Helena fez com que os poucos
segundos em que se sentiu como um tolo, diante dessas pessoas, se dissipasse, em
um instante.
Ela o queria aqui. O queria.
— Lady Helena. — curvou-se para ela e levou sua mão enluvada até os lábios,
enquanto vários dos cavalheiros que estavam perto dela lhe enviavam olhares
desaprovadores. Que se danem — Espero que tenha se recuperado da recente
enfermidade.
— Recuperei-me, de fato, embora deva creditar minha rápida recuperação às
gloriosas flores que o senhor me enviou. Como encontrou tantas flores exóticas
nesta época do ano, é surpreendente.
— Não há uma estufa no país que eu não tenha destrinchado. — admitiu,
imaginando o que ela diria se soubesse exatamente quanto essas flores haviam
custado. Não que se importasse, só queria enviar algo bonito para ela.
Ela se aproximou dele e baixou a voz — Acredito que felicitações estejam na
ordem do dia. Meu irmão olhou favoravelmente para o seu projeto, creio.
Gabe assentiu, imaginando o quanto isso parecia uma preocupação trivial,
agora. Passou meses tentando tirar o projeto do papel e quando parecia estar
finalmente se concretizando, tudo em que conseguia pensar, era Helena.
— Está certa. — disse ele, sorrindo para ela, não querendo que pensasse que
não era grato a seu irmão — É uma oportunidade maravilhosa, estou muito
agradecido, embora espere muito provar que é um bom investimento, também.
— Tenho certeza de que pode fazer qualquer coisa que decidir, Sr. Knight. —
havia uma pontada secreta e ligeiramente paqueradora nas palavras, que faziam sua
respiração prender.
— Nem mesmo o diabo conseguiria me impedir. — respondeu, segurando o
olhar dela. Sua pele corou em um tom delicado de rosa e o desejo de tocá-la era tão
feroz, que teve que colocar as mãos atrás das costas, antes de cair em tentação —
Conceda-me a honra da próxima dança?
Ele viu o arrependimento colorir sua expressão de uma só vez e seu coração
despencou até o chão. Então, ela não era tão imprudente e corajosa quanto ele
imaginava. Não dançaria com ele em público.
— Receio que a próxima dança seja do Sr. Richards. — disse ela, e o ciúme de
Gabe foi aliviado pelo olhar frustrado em seus olhos. Ela se inclinou um pouco
mais, baixando a voz e olhando para ele, sob os cílios — Mas guardei uma valsa
para o senhor.
E assim, ela fez tudo perfeito.
— Guardou? — não conseguia manter a surpresa longe de sua voz, nem o
prazer, e então, o desejo de provocá-la um pouco o fez acrescentar — O que a fez
ter tanta certeza de que eu pediria uma dança?
— Estava começando a pensar que não pediria. — ela retrucou, ele adorou a
indignação que ouviu.
— Eu não ia. — admitiu, sem explicar o motivo e lamentando ao ver um
vislumbre de dúvida em seus olhos.
Ela ergueu o queixo, a filha do duque em evidência, em reação às palavras
dele. — Bem, esteja avisado. Se quiser dançar comigo no futuro, Sr. Knight, deve
vir me perguntar no início da noite. Meu cartão de dança se enche com uma
velocidade bastante surpreendente, garanto. — havia desafio em suas palavras, e
ele se perguntou o quão desesperadamente queria tomá-la em seus braços e acalmar
todo aquele orgulho ferido.
— Devo? — ele rebateu, embora suas palavras fossem suaves — Por que,
quando sei que irá guardar uma dança de qualquer maneira, para mim?
— Porque, da próxima vez, talvez não guarde. — ela respondeu, um pouco
irritada.
Gabe sorriu, adorando o brilho teimoso que viu em seus olhos verdes. O que
havia nela que o encantava tanto?
— Ora, mas estou certo de que irá.
Olhou-o de soslaio, antes de desviar o olhar, mas não negou — A senhorita é
muito segura de si mesma.
Havia uma nota de incerteza nas palavras, quase de tristeza, e, de repente, quis
dizer a verdade.
— Eu estava inseguro, milady. Esperei até agora porque… porque demorei
algum tempo, para reunir coragem suficiente para perguntar-lhe.
O olhar dela se voltou para o dele tão rápido, deixando claro que não esperava
tais palavras — O senhor? Inseguro? — repetiu, parecendo totalmente perplexa —
Por que, diachos…?
— A senhorita é uma lady, filha de um duque, Helena. — disse, sussurrando
agora, para que ninguém pudesse ouvi-los — Não queria ser rejeitado na frente de
toda a ton.
Ela o encarou — O senhor pensou que eu diria não?
O espanto de Helena acalmou seu ego, quando percebeu que nunca havia
ocorrido tal hipótese a ela.
— Por que não? Uma coisa é me conhecer nas sombras, outra bem diferente é
fazê-lo sob o escrutínio público.
Houve um lampejo surpreendente de raiva em sua expressão — O senhor me
acha uma criatura de mente fraca, Sr. Knight? Uma pessoa que o usaria e depois o
jogaria de lado? Agradeço o elogio.
Começou a se afastar dele, mas Gabe agarrou seu braço, segurando-a —
Espere.
Helena ofegou e um murmúrio de indignação se levantou ao redor deles. Gabe
soltou-a, imediatamente, amaldiçoando-se. Cristo, ele sabia melhor do que
ninguém. Deveria ter lembrado que essa interação não era de forma alguma
privada.
— Perdoe-me, milady. — disse, esperando que ela pudesse ver que também
estava sendo sincero, não apenas por tê-la tocado — Muitas vezes fui tratado com
desdém, com escárnio, mas… mas eu deveria saber melhor. Peço perdão.
Ela o olhou por um longo momento, antes de balançar a cabeça — Não.
Perdoe-me. Eu exagerei. O senhor não me conhece. Não tem razão para confiar em
mim. Eu não deveria ter esperado isso.
Gabe balançou a cabeça — Eu a conheço sim. Eu confio na senhorita, só
que… é difícil. Ainda mais aqui.
Ela sorriu então, uma suavidade aquecendo seus olhos, que fez o peito de
Gabe doer, com a percepção de que esteve esperando por toda a sua vida por um
olhar como esse, que era para ele, unicamente.
— Sim, é. — ela concordou.
Observou-a olhar para longe e suspirar, só então vendo o Sr. Richards
retornando, para reivindicar sua dança.
— Tenho que ir. — disse, com pesar — Mas não se esqueça da sua valsa.
Ele riu, do absurdo de esquecer qualquer coisa, por menor que fosse,
relacionado a ela, muito menos a oportunidade de segurá-la em seus braços.
— Não vou esquecer.
10
Montagu,
Estive aguardando uma decisão sobre
sua noiva nos últimos cinco anos e esta
situação está se tornando insustentável.
Deu-me sua palavra de que uma escolha
seria feita até o final de abril e ainda não
ouvi nenhuma menção sobre o marquês
cortejando qualquer uma das damas que
escolhi. Na verdade, dificilmente ouço dizer
que esteja na sociedade e o único nome que
encontro ligado ao seu é o da Srta. Hunt.
Ela não é uma noiva adequada, como tenho
certeza de que está ciente. Tome-a como
sua amante, se for preciso, mas preste
atenção ao título. Na sua idade, seu pai já
tinha três filhos. Apesar de seus esforços,
nossa posição é além de precária e não
cumpriu seu dever. É a única pessoa, ou
melhor, tudo o que existe entre nós e a
ruína total. Não permitirei que essa paixão
ridícula nos coloque em risco por mais
tempo. Se continuar dessa maneira, será
motivo de chacota, por comer nas mãos de
uma mulher inútil. Centenas de anos de
labuta e sacrifício poderiam ser em vão, se
morrer antes de ter seu herdeiro.
Escolha uma noiva ou eu farei isso.
―Trecho de uma carta da viúva
condessa Astley, Marguerite de Warenne,
(tia-avó) ao Mais Honorável Lucian
Barrington, Marquês de Montagu.
DERN, KENT.
21 DE MARÇO DE 1815.
Phoebe olhou ao redor da porta, para o escritório de seu tio. Sabia que não
deveria estar aqui, tinha ido para a cama, horas atrás, mas algo a acordou e não
conseguia voltar a dormir. Embora a Srta. Peabody a repreendesse, foi gentil
demais para puni-la adequadamente e, portanto, valia a pena o risco. O tio não se
importaria, de qualquer maneira. Ele estava parado ao lado do fogo, um braço
apoiado na lareira e uma carta na outra mão. Murmurou algo que ela não conseguiu
entender, mas suspeitou ser uma palavra ruim, antes de amassar a carta e jogá-la no
fogo. Podia dizer que estava bravo, por causa da rigidez de seus ombros. Enquanto
o observava, ele inclinou a testa contra o braço apoiado na lareira. Parecia triste e
solitário, mas, na verdade, sempre estava assim. Resolvida a animá-lo, se afastou da
porta e correu para as cozinhas. Abraçou as sombras dos enormes cômodos e
corredores pelos quais passava, ocasionalmente se escondendo atrás de uma
armadura ou se movendo sob a mobília, se ouvisse passos avisando que um criado
estava por perto. Não foi difícil evitar ser notada em um lugar daquele tamanho.
Phoebe era adepta de se esconder e, se não quisesse ser encontrada, ninguém a
encontraria, exceto, talvez, seu tio. Foi o tio Monty que lhe mostrou todos os
esconderijos. O antigo casarão estava repleto de passagens secretas e quartos
escondidos, e eles passaram muitas tardes úmidas investigando-os.
Abraçando um xale com força em volta do seu corpo, correu para as cozinhas,
ignorando o chão frio sob seus pés descalços. Ainda havia atividade ali, como sabia
que haveria, mas Pippin não a repreenderia. Apenas beliscaria sua bochecha e a
mandaria para a cama, com um prato dos biscoitos que procurava.
— Senhorita Barrington! — a cozinheira exclamou ao vê-la — O que faz aqui,
a esta hora?
Phoebe correu em direção a ela e abraçou a mulher. Adorava Pippin, era
macia, fofa, gentil, e sempre cheirava a pão fresco e canela.
A Sra. Appleton riu e a abraçou de volta, acariciando os cachos emaranhados
de Phoebe em torno de seu rosto — Ah, sim, e o que a senhorita está procurando
então, rastejando a estas horas, como um fantasma?
— Alguns daqueles biscoitos que o tio Monty gosta. Os temperados.
— Não me diga que seu tio a mandou buscar biscoitos para ele, pois não
acreditarei na senhorita.
— Claro que não. — disse Phoebe, revirando os olhos — Fui vê-lo, porque
pensei que ele poderia ler para mim, mas quando o vi em seu escritório, parecia
estar com raiva. Acho que recebeu uma carta da tia-avó Marguerite.
— Oh, isso irá servir. — disse a Sra. Appleton, com um suspiro de irritação —
Aquela mulher não vai deixá-lo em paz.
— Não gosto dela. — Phoebe confidenciou, enquanto a cozinheira arrumava
uma bandeja — Ela quer que ele se case com as mulheres mais enfadonhas e está
sempre zangada e tem um cheiro estranho.
Os lábios da Sra. Appleton se contraíram, como sempre faziam quando Phoebe
dizia algo impertinente, com o qual concordava secretamente — Não fale assim
sobre os mais velhos, mocinha. Não é respeitoso.
— A senhora acha que ela irá obrigá-lo a se casar?
O rosto da Sra. Appleton escureceu — Sim. Ela vai, se puder. Seu tio é uma
pessoa teimosa, Deus o abençoe, mas dever é dever, e ele conhece o dele muito
bem.
Phoebe deslizou para uma cadeira, observando a cozinheira preparar um prato
de biscoitos.
— Eu gostaria que ele se casasse com a Srta. Hunt. — disse, calmamente.
A Sra. Appleton fez uma pausa, por um momento, antes de estender a mão
para acariciar o cabelo de Phoebe — Gostaria que ele fizesse algo que o deixasse
feliz, pela primeira vez, seja o que for. Esta casa tem visto muita tristeza. Se não
fosse pela senhorita, sua danadinha, acredito que todos nós chafurdaríamos nela.
Graças a Deus, ele a tem, no entanto. A senhorita é um pequeno raio de sol, é o que
é, por toda a sua travessura.
A cozinheira apertou o nariz de Phoebe, que sorriu de volta, enquanto ela ria e
entregava-lhe um biscoito.
— A senhorita é uma bênção para ele, criança, e ele a ama muito.
Phoebe assentiu, segura de que era verdade. Desejava que sua mãe e seu pai
não tivessem morrido, mas sabia que tinha muita sorte. Mais sorte do que a maioria,
e era por isso que queria tanto que seu tio fosse feliz também. Observou, comendo
o delicioso biscoito, enquanto a Sra. Appleton pegava leite do resfriador e
despejava um pouco em um jarro, adicionando dois copos à bandeja.
— Venha, então. Vamos ver se podemos animá-lo, eh?
Phoebe se levantou e seguiu atrás da figura generosa da cozinheira, enquanto
voltava pelo caminho por onde viera, embora não se incomodasse em se esconder
atrás ou embaixo das coisas, quando outro criado se aproximou, o que era uma
pena, pois teria sido engraçado ver. Ela não achava que o traseiro grande de Pippin
caberia atrás de uma armadura.
Quando chegaram à porta do escritório, a Sra. Appleton bateu e esperou.
Houve uma longa pausa, antes que seu tio respondesse — Entre.
Estava sentado atrás de sua mesa, e Phoebe sorriu, quando ele olhou surpreso
ao ver a Sra. Appleton.
— Perdoe-nos por incomodá-lo, milorde, mas a Srta. Barrington parece pensar
que o senhor precisava urgentemente de leite e biscoitos.
Uma sobrancelha elegante se curvou um pouco, enquanto ele olhava da Sra.
Appleton para a sobrinha.
— De fato. — disse — Como sabia, criança?
— Adivinhei. — disse ela, satisfeita por ele entrar na brincadeira — O senhor
recebeu uma carta de Marguerite Bolorenta, então, eu sabia que estaria zangado.
— Phoebe! — ele a repreendeu, engasgando-se um pouco, e Phoebe teve
certeza de que estava tentando não rir — Isso não é maneira de falar da condessa
viúva Astley.
— É melhor do que a forma como o senhor a chama. — a Sra. Appleton
murmurou.
Phoebe mordeu o lábio, fingindo não ouvir, para não colocar Pippin em
apuros.
O tio dela pigarreou e se levantou, depois sobressaltou-se quando viu os pés
descalços de Phoebe.
— Quantas vezes eu já lhe disse? Irá ficar doente, se continuar vagando por aí
descalça.
Ele a pegou, a carregou para perto do fogo, colocou em uma cadeira, virando-a
para que pudesse aquecer os dedos frios.
— Precisa de mais alguma coisa, milorde? — A Sra. Appleton perguntou,
depois de organizar o leite e os biscoitos para eles.
— Isso é tudo.
— Muito bem. — disse a Sra. Appleton, então, fez uma pausa para dar um
longo olhar ao tio Monty, seu olhar ficando suave — Embora sempre haja mais de
onde esses vieram.
Phoebe observou, intrigada, como o tio Monty sorriu, um sorriso que alcançou
seus olhos.
— Eu me lembro, Pippin. Obrigado.
Ela assentiu, lançou um olhar afetuoso a Phoebe e depois os deixou a sós.
— Marguerite Bolorenta. — ele repetiu, antes de fazer um som de
desaprovação e balançar a cabeça.
— Combina com ela, o senhor sabe que sim. — Phoebe persistiu.
— Sim. — ele admitiu, sentando-se na cadeira ao lado dela, e pegando um
biscoito do prato. Girou-o em seus longos dedos por um momento, antes de olhar
para ela — Mas a proíbo de dizer isso a qualquer pessoa, apenas para mim.
Phoebe suspirou e revirou os olhos — Tudo bem.
Ela serviu um copo de leite para si e outro para o tio, antes de pegar um
biscoito e mergulhá-lo no leite. Sentindo os olhos do tio sobre ela, o encontrou
olhando-a com desgosto.
— É melhor assim. — disse ela, defensivamente.
— Não parece ser melhor assim. — disse ele, com uma expressão de dor —
Sua preceptora não lhe ensina nada?
— Ela tenta. — disse Phoebe, encolhendo os ombros e comendo o biscoito,
antes de mergulhá-lo no leite novamente — Hmm…
— Onde foi que eu errei? — ele perguntou, tristemente.
Phoebe bufou, bem ciente de que ele não quis dizer aquilo — O senhor pode
tentar.
— Não. — parecia revoltado.
— Sim, continue. Como saberá se o sabor é melhor se não experimentar?
Phoebe olhou para ele, então cruzou os braços e o fitou um pouco mais.
Houve um suspiro sofrido. Curvando um pouco os lábios, seu meticuloso tio
mergulhou o biscoito no leite e deu uma mordida relutante.
— E então? — Phoebe exigiu, enquanto ele mastigava, pensativo.
Ela se remexeu, impaciente, enquanto ele levantava um dedo, indicando que
deveria esperar e repetiu o processo mais uma vez. Mastigou, engoliu e se virou
para ela, sua expressão grave.
— A senhorita ganhou. — disse — Delicioso.
Phoebe deu uma gargalhada e pulou da cadeira direto no colo do tio, com tanta
força que ele gemeu.
— Oh, sua criatura perversa. Como abusa de mim.
Ela riu e se aconchegou nele — O senhor não se importa.
— Não. — admitiu, quando ela ficou confortável — Não me importo.
Eles ficaram em silêncio por um bom tempo e Phoebe começou a sentir sono
novamente.
— Tio Monty? — indagou, ousando fazer uma pergunta que a vinha
incomodando há algum tempo — Eu terei que me casar com um homem do qual
não gosto, quando crescer?
Ele enrijeceu um pouco, ela olhou para cima, para encontrar seu olhar cheio de
preocupação — Porque está me perguntando isso, criança?
— Porque não quer se casar com nenhuma das damas que deveria escolher,
mas o senhor disse que precisa. Se alguém tão poderoso quanto o senhor pode ser
obrigado a fazer algo que não quer, então, provavelmente, eu também terei que
fazer, e… e se ele não for bom ou gentil comigo?
— Não! — disse ele imediatamente, sua voz firme e um pouco irritada —
Nunca. Irá se casar com um homem bom e gentil. Alguém de quem goste muito, o
suficiente para que não suporte a ideia de não estar casado com ele. Caso contrário,
não poderei deixá-la ir.
— O senhor promete? — ela perguntou em voz baixa.
Ele segurou o olhar dela — Eu prometo. Eu prometo, Phoebe. Não precisa
mais se preocupar com isso. — disse, e Phoebe relaxou.
Esse era o problema do tio dela. Nunca dizia que ela estava sendo boba ou
descartava as suas ideias. Sempre a levava a sério e, se prometia alguma coisa,
nunca voltava atrás ou mudava de ideia. Ele a fazia se sentir segura, sempre foi
assim. Contente agora, ela deu um suspiro, recostou a cabeça sobre seu ombro e
dormiu.
BEVERWYCK, LONDRES.
28 DE MARÇO DE 1815.
— Oh, seu lindo diabrete, roubou meu coração. Sabe disso, não sabe? —
Matilda disse com um suspiro.
Alice riu quando Matilda deu um beijo doce no nariz do bebê. Oh, ele cheirava
tão bem, inocente, quente, leitoso e simplesmente… perfeito. Ele gorgolejou e
chutou, olhando para ela com os grandes olhos azuis de um recém-nascido e algo
profundo dentro dela se contraiu com desejo.
— Ele roubará mais alguns quando for um homenzinho, se for algo parecido
com o pai. — Alice disse, estendendo os braços para Matilda.
— Não. — disse Matilda, balançando a cabeça — Não vou devolvê-lo. Vou
ficar com ele. Vamos fugir juntos, não vamos, Leo? Sim, sim, vamos. —
cantarolou, rindo, enquanto o bebê dava um grito que soava como afirmação —
Está vendo? — disse, triunfante.
— Já está ensinando meu filho a fazer travessuras, Tilda? — Nate disse
quando entrou na sala e, habilmente, arrancou Leo de seus braços, olhando para seu
filho como se não pudesse acreditar que ele era real.
— Ora, era minha vez de segurar. — Matilda protestou.
— Que pena. — disse Nate, sorrindo — Nós vamos ter uma conversa de
homem para homem, mulheres não são permitidas.
Com isso, se afastou, carregando o bebê com ele e fechando a porta da sala.
— Bem! — exclamou Alice — Eu fiz todo esse trabalho duro, e mal tenho um
minuto a sós com ele.
— Sinto muito, Alice. — disse Matilda, imediatamente, mortificada —
Quando Leo estiver dormindo, sairei para uma volta e lhe darei um pouco de
privacidade.
— Eu quis dizer com Leo! — Alice se opôs, e então começou a rir do olhar no
rosto de Matilda — Embora, também seja bom ter um momento com Nate. —
acrescentou, um pouco arrependida.
Matilda bufou — Muito bem, irei desaparecer.
— Oh, não há necessidade disso. — disse Alice, balançando a cabeça — É
uma casa grande e temos privacidade suficiente, eu garanto. Não quero que se sinta
desconfortável aqui, nunca.
— Como eu poderia me sentir desconfortável? — Matilda exigiu, rindo — Os
dois me fazem sentir muito bem-vinda, estarão com problemas se eu nunca mais
quiser ir embora.
— Ficaríamos mais do que felizes se resolvesse ficar. — Alice disse com toda
a seriedade — Embora espere vê-la felizmente casada, um dia, Tilda, e não
conseguirá isso se enterrando no campo. Tenho sido muito grata por tê-la aqui, mas
não devo ser egoísta. Sei que deve retornar à sociedade em breve e encontrar um
cavalheiro a sua altura.
— Sim, sim, claro que devo. — disse Matilda, dando a Alice um sorriso
reconfortante, que ela estava longe de sentir.
Não queria voltar à sociedade, estava cansada de ir a bailes e não encontrar
ninguém com quem pudesse sequer considerar passar a vida. Além disso, quase não
confiava mais em seu próprio julgamento, não depois do Sr. Burton, nem depois…
— Bem, — disse, levantando-se — tenho algumas cartas para escrever, então
vou deixá-la em paz, para ler seu livro. Ainda está lendo Castelo Rackrent? —
Matilda lançou à cunhada um olhar inquisitivo e brincalhão, ao qual Alice
respondeu, estendendo a língua.
— Não brinque. — protestou Alice — Sabe muito bem que vou tirar uma
soneca. Vou terminar esse maldito livro no Dia do Juízo Final, a esse ritmo.
— Pode cochilar o quanto quiser. — disse Matilda — Merece isso.
Sorrindo, ela deixou Alice sozinha, subiu as escadas para seu próprio quarto e
sentou-se à escrivaninha, colocando uma folha de papel limpa diante dela.
Involuntariamente, seus olhos se voltaram para a orquídea sobre a sua penteadeira.
Não havia flores agora e, de fato, parecia uma coisa feia e comum, sem as flores
exóticas que tanto a cativaram, mas floresceria novamente, se ela cuidasse com
esmero. Era absurdo o cuidado que ela dispensava à coisa ridícula, mas ela é que
era ridícula, sempre querendo o que não podia ter, sempre esperando por sonhos
fantásticos que não estavam ao seu alcance. Sua realidade era exatamente como as
flores da orquídea, uma felicidade tão fugaz e adorável, quanto as flores perfeitas,
deixando algo muito menos bonito para trás, quando acaba. Apesar de si mesma,
levantou a tampa de uma caixa lacada e retirou um pequeno pacote de cartas,
amarradas com uma fita prateada. Abriu-a e pegou a carta que estava por cima.
Matilda,
A senhorita não pode ser tão cruel,
nem estar tão iludida, a ponto de acreditar
que isso acabou.
M.
Ele nunca tinha usado o nome dela em correspondência antes. Sempre era a
Srta. Hunt. O que a mudança significava, se perguntou? Provavelmente, que perdeu
um pouco mais de respeito por Matilda e acreditava que era seu direito se dirigir a
ela, tão intimamente. A amargura de seus pensamentos a assustou, não podia
acreditar que essa era a razão, embora devesse, sem dúvida. Olhou para a escrita,
elegantemente inclinada, para o M florescente, traçou o dedo sobre a tinta,
lembrando-se daquele encontro no Castelo de Hever. Ele estava diferente naquele
dia, ela viu algo nele… algo que chamou sua atenção. Tinha havido um breve
vislumbre de incerteza, de uma necessidade desesperada nele que…
— Tola. — amaldiçoou em voz alta, dando uma risada amarga.
Não havia nada incerto sobre Lucian Barrington, nenhum traço de
vulnerabilidade, ele, certamente, não precisava dela. Não precisava de ninguém,
isso estava claro. Com uma súbita explosão de certeza, levou a carta para a lareira e
a jogou nas chamas.
Gabe olhou para a carta que Tilly lhe dera e seu estômago se amarrou em um
nó.
— Como ela está? — perguntou, incapaz de olhar a criada nos olhos.
— Como o senhor acha? — Tilly retrucou. Estava de pé com os braços
cruzados, fervendo de raiva. Ele podia sentir isso do outro lado da sala.
— Ela… Ela chora? — não sabia por que perguntou, para se punir, talvez. A
ideia rasgava seu coração, ou talvez para saber se havia uma chance de que os
sentimentos de Helena combinassem com os seus, o que parecia estar fora de
controle, de todo modo.
— Ah, sim, o senhor gostaria disso, sem dúvida, saber que ela está com o
coração partido por sua causa.
Gabe olhou de volta para Tilly, sabendo que estava zangada porque se
importava com Helena e temia por ela — A senhorita não gosta muito de mim, não
é?
— Não me cabe dizer isso, tenho certeza, sou uma criada. — disse ela,
levantando o queixo.
Gabe a admirava por seu espírito.
— Certamente que sim. Somos iguais, não somos? Sou um bastardo, nascido
no Dials, criado em um orfanato. Estou certo de que é melhor do que eu. Imagino
que saiba quem foram seus pais, pelo menos.
Houve um breve silêncio, enquanto Tilly o observava, procurando seu olhar.
— Eu não me importo com isso. Só me importo que minha senhora seja amada
e tratada como merece. Tudo o que sei sobre o senhor me faz acreditar que é o
diabo em pessoa. Todo mundo sabe que quer uma esposa requintada, para que seja
aceito na ton, e também quer que o irmão dela aumente seus investimentos. O
senhor é do tipo que usa as pessoas, e não vou deixá-lo usar minha Helena.
Gabe assentiu, sem esperar nada diferente.
— A senhorita tem razão. Tudo o que disse é verdade, não vou negar, mas o
problema é que… é que eu a amo. — riu, percebendo que era verdade, enquanto
dizia aquelas palavras em voz alta, pela primeira vez — Eu a amo. — repetiu,
suavemente agora, para si mesmo.
Nunca acreditou que se apaixonaria, não se achava capaz disso, ainda assim,
sua ambição ultrapassou a marca, desta vez. Ele se apaixonou por uma mulher
longe de seu alcance, era muito mais fácil alcançar a lua.
— E então?
Gabe franziu a testa, olhando em volta e descobrindo que Tilly ainda o
estudava.
— Então o quê?
— O que fará a respeito?
Olhou para a criada em silêncio, imaginando o que ela esperava dele.
— Acredito que queira ser um cavalheiro de verdade, não é? — ela exigiu,
aproximando-se dele — Bem, um cavalheiro adequado pediria permissão ao irmão
para cortejá-la, ele a visitaria e levaria flores, presentes, escreveria poesias para ela,
pelo amor de Deus, mas não desistiria, se realmente a amasse.
— Eu nunca disse que estava desistindo. — retrucou Gabe, irritado — Mas a
senhorita acha que Bedwin permitirá que eu me aproxime dela agora?
— Bem, é isso que o senhor ganha por fazer as coisas escondido. Talvez, se
tivesse se aproximado dele primeiro…
Gabe bufou, um profundo escárnio em suas palavras — Não consegui marcar
nem ao menos um horário com Sua Graça para discutir negócios. Que chance eu
teria se ele acreditasse que queria cortejar sua irmã? Além disso, eu nem sequer me
conhecia até… até que fosse tarde demais.
Passou a mão pelos cabelos, afastando-se da jovem, desconfortável com o
quanto de si mesmo estava sendo revelado.
— O senhor a ama mesmo? — ela perguntou.
Ele podia ouvir a preocupação em sua voz, a incerteza, e não podia culpá-la
por isso.
Gabe se virou, olhou Tilly nos olhos e, pela primeira vez em sua vida, falou
sem se esconder, sem esconder nada, nem disfarçar a verdade, para se adequar às
circunstâncias.
— Eu a amo. — disse, esperando que ela pudesse ouvir a sinceridade em sua
voz — Com todo o meu coração.
Tilly olhou para ele por um longo momento e depois soltou um suspiro.
— Bem, então está tudo certo.
Acenou rapidamente e pegou o guarda-chuva, antes de ir para a porta, virando-
se para ele, com a mão na maçaneta:
— O esperarei em Beverwyck, então, para que fale com o irmão dela. Bom
dia, Sr. Knight.
BEVERWYCK, LONDRES.
29 DE MARÇO DE 1815.
BEVERWYCK, LONDRES.
9 DE ABRIL DE 1815.
Gabe olhou para a multidão de pessoas, procurando o único rosto que queria
ver. Deus, como estava lotado, a última coisa que queria era estar aqui, entre todos
aqueles que o dispensaram, como o duque havia feito. Normalmente, tal situação o
teria feito cada vez mais determinado em provar a si mesmo e destruir todos
aqueles que estavam em seu caminho, mas, desta vez, as coisas eram bem
diferentes e isso o deixou incerto. Não sabia como reagir. Seu instinto tinha sido
atacar Bedwin, cortá-lo do projeto ferroviário e encontrar outro caminho, por mais
difícil que fosse. Queria descobrir uma fraqueza, minar o duque financeiramente,
até que ele tivesse que implorar a Gabriel por ajuda, para dar à mão de Helena, em
troca de não falir.
Gabe nunca duvidou que poderia fazer isso a tempo. Poderia levar um bom
tempo, mas ele poderia fazê-lo. Pensamentos sobre Helena haviam temperado suas
ações. Amava seu irmão, seria doloroso para ela vê-lo sendo atacado. Além disso,
quando Gabriel conseguisse, Helena pertenceria a outro, estaria perdida para ele,
para sempre. Então, estava impotente para fazer qualquer coisa, isso o deixou
furioso e fez seu coração doer, pior do que qualquer dor que já sentira. Afundado na
miséria, desejou nunca ter posto os olhos em Helena, nunca ter se atrevido a sonhar
com a única coisa que sempre estaria fora de seu alcance, então recebeu seu bilhete.
Levou pouco menos de um ato de Deus para obter um convite para este baile.
Bem, isso e uma grande quantia em dinheiro. Teve que concordar em dar a Lorde
March termos muito generosos em um investimento, que Gabe lhe havia negado
anteriormente, tudo por um maldito convite. Não que se importasse. Se ganhasse
alguns minutos com Helena, pagaria qualquer preço, embora se perguntasse o que
ela estava fazendo.
Sabia que Bedwin estava aqui com a esposa e se visse Gabe com Helena, não
duvidava que haveria um inferno a pagar. Então se manteve nas laterais do salão de
baile, procurando o rosto que faria seu coração saltar, como um cordeiro recém-
nascido.
— Gabriel.
Gabe deu um pulo quando sentiu um puxão em sua manga, se virou para
encontrar Helena de pé, atrás dele. Perdeu a respiração, enquanto olhava para ela.
Deus, era linda, tão adorável, que neste momento podia entender a razão da
negativa de Bedwin. Gabe achou difícil acreditar que houvesse um homem aqui,
verdadeiramente, digno dela.
— Venha. — disse ela, impaciente, enquanto o puxava pelo braço.
Gabriel a seguiu, lançando olhares discretos sobre o salão de baile, até que eles
estavam na sala de refrescos, que estava um pouco menos lotada no momento, já
que a noite estava apenas começando.
— O baile de máscaras é amanhã. — disse, mantendo a voz baixa — Vou
encontrá-lo na Hanover Square, às onze. Não vou conseguir escapar antes disso.
Ficou boquiaberto com ela, imaginando se tinha ouvido corretamente — A
senhorita ainda virá comigo? Desafiaria seu irmão?
Com algo parecido a temor, ele viu o queixo de Helena se elevar, um olhar
determinado em seus olhos, que reconhecia muito bem agora. Era o mesmo olhar
que tinha, antes de passar de carruagem em frente ao White’s e antes de desafiá-lo a
uma corrida, de Londres a Brighton.
— Não vou permitir que eles nos separem. Meu futuro deve ser decisão
minha, e quero estar ao seu lado, Gabe, não importa o quê.
Gabe soltou um suspiro, mal ousando acreditar — Eles a estão protegendo,
amor. A senhorita não me conhece muito bem. Seu irmão tem boas razões para ser
cauteloso.
Helena olhou para ele com o tipo de olhar direto e intransigente, que Gabe
esperava dela — O senhor está interessado em mim ou em meu título? Ou por
causa do meu irmão?
— Não! — a palavra era veemente, ele segurou o olhar dela, querendo que
visse a verdade em seus olhos — Era minha intenção me casar bem, Helena. Sabe
disso, mas nunca… eu nunca imaginei…
— O que? — ela perguntou, franzindo a testa para ele.
— Você. — disse, impotente, rindo um pouco — Acabou com todos os meus
planos. Tudo o que pensava que queria, agora parece ser de pouca importância.
Sempre usei minha cabeça, nunca meu coração. Minhas decisões sempre eram
tomadas por boas razões lógicas, até que a conheci, agora, não me importo com
mais nada. Não me importo com o que faz sentido e o que não faz. Quero apenas
ficar ao seu lado.
O sorriso que iluminou o rosto de Helena valia cada pedacinho da ansiedade
que tal admissão lhe dera… até que Gabe pensou no risco que ela correria.
— Será arruinada se formos descobertos, Helena. Vão dizer que fiz isso para
forçar a mão do seu irmão. Mesmo que somente seu irmão descubra, ele a mandará
embora, ao saber do que fez.
Ela assentiu, um leve sorriso nos lábios — E se ele mandar, virá me encontrar?
— Sim. — disse simplesmente. Gabe a seguiria para onde fosse, se ela assim
quisesse — Helena, eu…
Helena olhou ao redor e depois de volta para ele, balançando a cabeça.
— Espere pelo baile de máscaras. — insistiu, estendendo a mão e pegando a
mão dele, dando aos dedos de Gabe um aperto rápido antes de soltar — Tenho
muito a lhe dizer também, mas não podemos arriscar. Não aqui.
— Eu estarei lá. — prometeu.
Olhou-o por um momento, a felicidade brilhando em seus olhos, tão
vividamente, que era muito difícil não dizer as palavras que tomavam sua mente e
seu coração.
— Adeus. — ela sussurrou, e desapareceu de volta à multidão.
Gabe a observou partir com pesar, mas com a promessa de uma noite em sua
companhia, para mantê-lo vivo. Estava arriscando tanto por ele, que se sentiu
humilhado por isso. Ela o queria, queria estar com ele, saber disso o fazia tremer,
tornando o mundo, de repente, mais brilhante. Mas o quanto o queria? Quanto ela
arriscaria? Seu coração recomeçou a acelerar em seu peito.
Havia uma maneira, uma maneira de estarem juntos. Bedwin e toda a maldita
ton não seriam capazes de fazer nada sobre isso, se eles conseguissem. A ideia
tomou forma, forçando todo o resto a se afastar, enquanto Gabe a considerava. Não
era como queria as coisas entre eles, mas Gabe podia ser implacável, quando
precisava ser.
Ele também viu essa mesma determinação em Helena. Reconheceu uma alma
gêmea na chama de seus olhos. Será que confiaria nele o suficiente, para jogar a
cautela ao vento, e cortejar o maior escândalo que a ton tinha visto em uma década?
Só havia uma maneira de descobrir.
15
Minha querida irmã,
Estou em South Audley Street e não
posso deixar de desejar estar aí. Sinto falta
de meu abraço matinal em meu querido
sobrinho e devo insistir para que lhe dê um
beijo em nome de sua tia favorita. Reparou
que não lamento tê-la deixado ou a meu
irmão? Estou provocando-a, é claro. Como
gostaria que estivessem todos aqui na
cidade, mas não posso culpá-los por
preferirem ficar e desfrutar de um pouco de
paz e sossego, quando Leo permite, é claro.
Estou certa de que lhe alegrará saber
que minha lareira está cheia de convites,
graças ao querido Nate, por usar sua
influência, como sempre. Suponho que devo
me jogar de volta no fogo, embora confesse
que tenho pouco entusiasmo para isso.
Acredito que esta será a minha última
temporada. Não, não tente me convencer
do contrário, eu imploro. Se Napoleão for
derrotado para sempre e o mundo estiver
em paz, acho que talvez viaje. Sempre quis
conhecer a França e a Itália, e, nunca se
sabe, posso chamar à atenção de um conde
estrangeiro, diabolicamente bem
apessoado. Isso não colocaria fogo na
língua das pessoas? Bem, isso é tudo por
enquanto. Envio-lhe todo o meu maior
amor, como sempre.
—Trecho de uma carta da Srta.
Matilda Hunt para sua cunhada, a Sra.
Alice Hunt.
Helena agarrou seu manto sobre ela, enquanto corria pela Hanover Square.
Não teve tempo de arrumar um traje melhor e, portanto, usou o de Eva, novamente,
como no baile anterior, apenas tirando a cobra de seda e adicionando mais folhas ao
vestido. Ela tinha uma máscara enfiada no bolso, com mais folhas a adornando e
esperava que desse a impressão de uma ninfa de madeira ou algo assim. Foi o
melhor que pôde fazer. Deu um suspiro de alívio ao ver a carruagem de Gabe a
esperando. Virando-se para Tilly, deu um abraço na criada.
— Agora, corra para casa, a vejo mais tarde. Não se esqueça de garantir que a
porta dos fundos esteja destrancada.
— Sim, eu vou. — Tilly assentiu — A senhorita se divirta, milady, mas…
bem, ora, tenha cuidado.
— Eu terei. — prometeu Helena, depois correu, para ver Gabe abrindo a porta
da carruagem.
Ele estendeu a mão, ajudando-a a entrar e fechando a porta atrás dele, rápido.
— Alguém a viu? — ele perguntou, seu rosto tinha uma expressão dura
gravada com ansiedade à luz do luar que iluminava a carruagem.
— Eu fui cuidadosa. — disse Helena, sentando-se ao lado dele e recostando-se
contra as almofadas, para recuperar o fôlego — Embora, quase morresse de medo.
Nunca soube o quão barulhento Beverwyck era até esta noite, quando tive que me
esgueirar sem ser vista ou ouvida. Graças a Deus, meu irmão e Prue foram para a
cama, mais cedo do que de costume, caso contrário, teria que esperar uma
eternidade.
Gabe estendeu a mão para ela, que a pegou — Garota corajosa. — disse,
sorrindo — Teria esperado para sempre, se fosse necessário. Não tenho certeza se
mereço tais esforços, mas vou tentar o meu melhor, Helena.
— Oh, Gabe, sinto muito pela forma como Robert o tratou. Estou tão zangada
com ele, que eu…
Gabe a acalmou, puxando-a para seus braços e pressionando os lábios nos
dela.
— Está tudo bem. — murmurou, contra a boca de Helena — Não é sua culpa,
por mais irritado que isso tenha me deixado, sei que a está protegendo. Suponho
que não posso culpá-lo por querer mantê-la longe de tal canalha.
Ele recuou e seu rosto ficou tão sério, que Helena sentiu um choque de alarme.
— O que foi?
Ele respirou fundo e soltou o ar lentamente — Precisamos conversar, Helena.
— Isso não parece muito romântico. — disse ela, uma sensação desconfortável
em seu peito — E por que a carruagem não está se movendo? Deveríamos ir ao
baile de máscaras, lembra?
— Eu me lembro, amor. — disse, pegando a mão dela novamente e levando-a
aos lábios — Se ainda quiser ir comigo, depois que conversarmos, ficarei honrado
em levá-la.
Helena ouviu a nota grave em sua voz, viu seus olhos escuros, pesados, nas
sombras e percebeu que Gabe não tinha certeza do que ela iria decidir, depois que
dissesse o que estava em sua mente.
— Muito bem. — disse ela, rezando para que Gabe não estivesse prestes a
partir seu coração.
Ele desviou o olhar dela, fitando as mãos unidas — Quando falei com seu
irmão, ele… ele tinha ouvido falar a meu respeito. Fofocas, embora tema que seja
verdade. Ele me perguntou se a senhorita sabia, eu disse que não tinha lhe dito, mas
que faria antes… antes que considerasse pedir-lhe para… para se tornar minha
esposa.
Helena sentiu sua respiração prender e Gabe olhou para ela, antes de se virar
novamente.
— Devo lhe contar isso, Helena. Não quero, mas não admito segredos entre
nós. Se quisermos ficar juntos, quero que venha até mim sabendo tudo o que sou,
tudo o que fui, para o bem ou para o mal. Consegue me entender?
— Começar do zero. — disse ela, acenando, embora seu coração estivesse
cheio de dúvidas.
— Começar do zero.
— Muito bem, Gabriel. Estou aqui e vou ouvir tudo o que tiver a dizer.
Ele sorriu para ela e apertou seus dedos — É tudo que peço.
A carruagem parecia muito escura, totalmente imóvel, Helena percebeu que
estava prendendo a respiração.
— Eu nasci em Seven Dials. Minha mãe morreu no parto, então fui criado em
um lar de enjeitados. Considerando como esses lugares são, esse não era tão
horrível assim. Havia comida e abrigo, pelo menos, e tinha um amigo lá.
— O senhor de Beauvoir?
Gabe assentiu — Sempre fui esperto, bom com números, bom em ver uma
oportunidade. Sempre podia ver o que as pessoas queriam, e se pudesse me apossar
disso, eu faria. Não importava o que fosse - comida, informação, gin - eu poderia
trocar. Comecei com pouco mais do que uma fatia de pão, trocando por um pouco
de queijo. Então, descobri que um dos guardas estava roubando das cozinhas e o
forcei a me dar uma pequena quantidade, para me manter quieto. Ficou mais fácil
depois disso. Quando saí daquele lugar, tive um pedido para fornecer pão para eles,
pois havia encontrado um negócio melhor e, dentro de um ano, substituí a maioria
de seus fornecedores habituais.
— Isso é incrível, Gabriel. — disse Helena, falando sério — É surpreendente
pensar o quão longe chegou.
Ele sorriu um pouco, mas não desviou o olhar de suas mãos atadas — Assim
foi a minha vida, Helena. Descobrir o que as pessoas queriam e negociar por isso.
Gabriel ficou em silêncio e Helena esperou, sabendo que tudo o que o
perturbava estava prestes a ser revelado.
— Eu não tenho orgulho de tudo o que fiz, Helena, mas estava determinado a
fazer algo por mim mesmo, e não me importava muito em como faria. Nunca me
aproveitei de ninguém que não pudesse pagar, mas com os ricos, sua estirpe… bem,
isso era diferente. Nem sempre fui tão honesto quanto poderia ter sido, há alguns
que se lembram disso.
Ela assentiu em compreensão.
— Comecei a subir na vida, ganhando dinheiro decente, me vestindo bem, e…
e atraí a atenção de mulheres, de uma classe bem acima da minha. Aquelas que…
que queriam um homem que fosse diferente, menos… refinado. Consegue me
entender?
Helena hesitou, considerando suas palavras — Elas o queriam como amante?
A ideia a fez sentir-se doente de ciúmes, mas essa tinha sido a vida de Gabe,
antes que se conhecessem. Não havia nada que ela pudesse dizer sobre isso.
— Amante. — ele disse a palavra, como se estivesse considerando-a,
julgando-a — Depende de qual sentido quer dar a palavra, Helena. Não havia amor
envolvido, eu garanto. Elas queriam algo de mim, e eu queria algo delas.
Helena engoliu em seco, imaginando se ousaria perguntar, mas Gabriel tinha
sido sincero, prometera contar tudo a ela — O que queria delas?
Ele encolheu os ombros, ainda sem olhar para ela.
— Na maioria das vezes, dinheiro. Elas me pagavam bem pelos meus serviços,
mais do que eu poderia ganhar, fazendo qualquer outra coisa nesse espaço de
tempo. — disse ele, ironicamente — Naquela época, de qualquer maneira. Mas, às
vezes, era uma troca. Elas me ensinaram a ser um cavalheiro, Helena. Minhas
primeiras lições sobre como conversar corretamente, que garfo usar, até mesmo
aulas de dança… Aprendi muito com essas mulheres. Algumas delas eram boas,
gentis, até… outras, nem tanto. Algumas delas nunca revelariam que estivemos
juntos, outras… bem, se a senhorita se casar comigo, há uma chance de elas
esfregarem o meu passado no seu nariz, por assim dizer. Seria divertido para elas,
que soubesse que pagaram por mim.
O silêncio desceu, enchendo a carruagem, Helena não sabia o que dizer. Ficar
envergonhada dessa maneira não era algo que pudesse esperar com um senso de
equanimidade. No entanto, Gabe se tornou um dos homens mais bem sucedidos de
sua época. Ele se reinventou, de uma criança nascida na pobreza para o homem que
via diante dela, agora. Seria surpreendente se tal homem não tivesse coisas que
preferia que sua esposa não soubesse, e ainda assim, aqui estava ele, contando tudo
a ela, expondo o que considerava ser o pior de si mesmo, dando-lhe a chance de se
afastar.
— Eu a enojei? — sua voz era indistinta, suspeitava que ele acreditasse que
tinha feito exatamente isso.
— Não. — disse ela, com cuidado — Estaria mentindo se dissesse que não
estou um pouco chocada, não posso fingir que gosto da ideia de que esteve… com
outras mulheres, ou que elas possam gostar de se gabar, mas…, mas fico feliz que
tenha me contado, Gabe.
Ele bufou, algo que poderia ter sido uma risada, se não tivesse soado tão
amargo.
— Escapou com sorte. — murmurou, soltando a mão dela.
Helena a pegou de volta — Não é nada disso. Não irá se afastar de mim tão
facilmente, Gabriel Knight.
Ele virou a cabeça, olhando para ela, seus olhos escuros brilhando ao luar —
Não pode estar falando sério.
— Não posso? — ela retrucou — Isso é um desafio?
— Santo Deus, não. — ele exclamou, e então riu, puxando-a para mais perto
de seus braços — Ainda me quer, Helena?
— Mais do que nunca. — sussurrou na escuridão — Contou-me a verdade,
mesmo que não quisesse, mesmo que acreditasse que eu o odiaria por isso. O
admiro mais do que nunca, seu tolo. Escapei com sorte, pois sim! — ela zombou,
Gabriel soltou um suspiro de alívio, antes de beijá-la novamente.
Helena suspirou, inclinando-se para ele, quando a soltou, ela acariciou seu
rosto.
— Sem dúvida, é o senhor que esperava o fim desse caso. Deve ter percebido
que sou uma responsabilidade e tanto, que vou transformar sua vida em um caos e
esperava se livrar de mim.
— Irá tornar minha vida um caos, Helena. Sei que nunca terei um momento de
paz e mal posso esperar. Eu a quero comigo, sempre. Só gostaria de ter feito isso
corretamente, que pudesse tê-la cortejado, lhe dado mais tempo…
— Ora, eis o momento das bobagens. — disse Helena, acenando — Eu sabia
que era você, desde o momento em que o vi. Consegue se lembrar? Levou flores
para Bonnie, mal olhou para mim, nunca havia me sentido como um móvel, em
toda a minha vida.
Gabriel riu de sua indignação e depois balançou a cabeça — Garota tola. Não
tem a menor ideia de como foi impossível ignorá-la? Tive que trabalhar duro nisso,
garanto-lhe. Sabia que, se lhe cedesse um centímetro, estaria perdido, e também,
porque não era tão tolo, a ponto de acreditar que poderia chegar tão alto.
— De verdade? — ela perguntou, querendo ouvir mais — Pensei que não
suportava a minha presença.
— E não suportava. — ele admitiu — Eu a odiava por estar sempre lá e por
ser a mulher mais bela do ambiente. Isso me deixou doente de inveja, pois sabia
que nunca poderia tê-la. Saber que pretendia que eu a quisesse, só piorou as coisas.
Helena o olhou com remorso — Sinto muito por isso, por provocá-lo. Não foi
bem-feito da minha parte, apenas não suportava mais que me ignorasse.
— Meu doce amor, não há homem vivo nesse mundo, que possa ignorá-la.
Ele a puxou para perto e a beijou novamente, e Helena se derreteu nele. Sua
boca estava quente e urgente e suas mãos se moviam sobre ela, deslizando para
cima e para baixo, em suas costas, acalmando e estimulando, tudo de uma vez.
— Devemos ir ao baile de máscaras? — ela perguntou, um pouco atordoada
quando a soltou.
— Não. — disse, a voz rouca — Não, se não quiser.
— Quero ficar aqui contigo.
Ele assentiu.
— Sim. — aquela única palavra soou sem fôlego, cheia de antecipação —
Helena, realmente quer ficar comigo, sabendo de tudo que sabe agora, sabendo o
que seu irmão pensa de mim, que ele a proibiu de me ver novamente?
— Quero.
Foi fácil responder a essa pergunta. Por um momento, Helena se perguntou se
deveria ser tão fácil. Eles se conheciam há tão pouco tempo, mas quis, realmente,
dizer o que disse. Mais tempo não teria mudado sua mente. Teria sido bom ser
cortejada, ter feito as coisas com tempo, mas teriam o resto de suas vidas para se
conhecerem.
— Irei arrastá-la comigo. — avisou-a — As portas se fecharão para você. As
pessoas que uma vez iam atrás da sua companhia, que a procuravam, vão zombar,
rir pelas suas costas. Tem certeza de que é isso que quer?
Helena riu — Por Deus, Gabe. Estou começando a pensar que eu estava certa.
Realmente está tentando me afastar.
— Não! — sua voz era dura, séria — Não brinque com isso, Helena. Preciso
saber que pensou em tudo, que considerou tudo o que perderia.
Ela olhou para ele e sorriu, contente — Considerei, juro. Tudo o que vou
perder e tudo o que vou ganhar.
Ele pareceu adoravelmente aliviado, mais ainda, quando respirou fundo,
preparando-se para as palavras que falou a seguir — Nesse caso, Lady Helena, me
daria a grande honra de se tornar minha esposa?
Helena ficou boquiaberta com ele. Mesmo depois de tudo o que disse, ela não
esperava uma proposta, não esta noite. Olhou-o, reparando nas feições fortes que se
tornaram tão amadas, a dúvida brilhava em seus olhos escuros. Não havia outro
homem como ele. Helena tinha muitos pretendentes que a cercavam, solícitos e
armados com elogios prontos, que saíam de suas bocas com facilidade, mas
ninguém a fazia se sentir como ele. Ninguém a desafiou e fez seu coração trovejar
em seu peito, como Gabriel fez.
A vida com Gabriel Knight nunca seria monótona.
— Sim. — disse, encantada. Gabriel soltou um suspiro áspero, como se não
tivesse ousado respirar, enquanto ela considerava sua resposta.
— Graças a Deus!
— Ah, mas Gabe, como? Onde?
— Só há um lugar para onde podemos ir, Helena, e será um escândalo enorme.
Tem certeza de que está preparada para isso? Seu irmão pode nunca a perdoar.
— Gretna Green. — sussurrou, consternada. Claro, essa seria a única opção
deles. Uma viagem para a fronteira, sem dúvida, com seu irmão perseguindo-os.
— Sim. Esse é o único jeito. Quando nos casarmos, ninguém poderá nos
separar.
Helena assentiu e então enviou-lhe um sorriso, levemente torto — Bem. — ela
disse — A nossa corrida de Londres a Brighton foi muito divertida, mas essa será
ainda melhor, uma aventura.
Gabe riu, colocando a mão na bochecha dela — Cada segundo na sua
companhia é uma aventura, amor. Isso eu posso garantir.
Helena suspirou, tudo, dentro dela, derretendo com as palavras de Gabriel.
Agora, aquilo era um elogio.
— Quando? — ela exigiu, uma excitação emocionante correndo em suas
veias.
— Depois de amanhã. — disse Gabe, com a voz cheia de euforia, tanto quanto
Helena também sentia — E vamos precisar da ajuda de Tilly.
16
Minha querida irmã,
Quando estiver lendo isso, estarei a
caminho de Gretna Green. Por favor,
imploro, não culpe Tilly por me ajudar. Ela
é terrivelmente leal, e a obriguei a fazer
isso, contra à sua vontade. Sei que meu
irmão ficará furioso comigo,
especialmente, porque dei minha palavra
de que não veria o Sr. Knight novamente,
mas algumas coisas são muito mais
importantes do que, até mesmo, uma
promessa. Essa promessa foi obtida sob
coação, então, tal condição deve contar
para alguma coisa.
Prue, eu o amo, e sei que ele me ama.
Gabriel me contou tudo, tudo sobre seu
passado perverso e as coisas que fez,
entendo por que Robert tentou me proteger,
mas, a verdade é que ele está errado. Ele
está errado sobre Gabriel, da mesma forma
que todos estavam errados sobre Robert.
Gabriel mudou, nunca conheci um homem
que pudesse me enfrentar com tanta
facilidade, e, ainda assim, não me
intimidar ou me fazer sentir que me
comportei mal.
Consegue ver, estou completamente
apaixonada, simplesmente não há cura
para isso, mas acho que já sabe disso, não
é, minha querida Prue? Por favor, tente
fazer com que Robert enxergue isso. Sei
que estou pedindo muito, mas, mesmo
assim, o faço.
Quando a vir de novo, serei Lady
Helena Knight. Mal posso esperar!
Fique feliz por mim!
―Trecho de uma carta de Lady
Helena Adolphus para sua cunhada, Sua
Graça, a Duquesa de Bedwin.
BEVERWYCK, LONDRES.
12 DE ABRIL DE 1815.
— Tem certeza de que sabe o que fazer? — Helena perguntou pela quinta vez.
Tilly revirou os olhos — Não é tão complicado. — disse, exasperada, mas,
obedientemente, repetiu as instruções de Helena, mais uma vez — Como foi para a
cama cedo esta noite e não terminou o jantar, não ficarão surpresos pela senhorita
permanecer mais tempo na cama. Devo dizer que a senhorita tem uma dor de
cabeça e só quer dormir, vou evitar que entrem no quarto para vê-la. À noite, trarei
seu jantar, mas o levarei de volta e direi que a senhorita está dormindo. Na manhã
seguinte, vou inventar uma desculpa para buscar um remédio para dor de cabeça e
sugerir que eles chamem um médico, pois ainda está se sentindo mal. Então levarei
a mala que fiz e vou diretamente para os escritórios do Sr. Knight, em Piccadilly,
onde o Sr. Francis Chapel me levará para o quarto fornecido a mim, onde esperarei
que a senhorita retorne.
Helena soltou um suspiro, aliviada — Lembre-se, se algo der errado, vá ao Sr.
Chapel, imediatamente. Ele garantirá que fique em segurança, até que voltemos.
Tilly bufou — Oh, aposto que vai. — murmurou.
Os lábios de Helena se curvaram. O Sr. Chapel tinha sido o jovem atrevido
que entregara as flores de Gabe, e a visitara diariamente, para perguntar como
estava se recuperando. Não pôde deixar de pensar que Tilly estava radiante com a
possibilidade de vê-lo novamente.
— Oh, Tilly, — disse ela, sem fôlego, uma combinação de nervos e excitação
a deixando nervosa e chorosa — não sei o que faria se não estivesse comigo.
— A senhorita estaria mais segura, se não se importar com essa observação.
— Tilly respondeu, com um suspiro pesado.
— E muito menos feliz. — acrescentou Helena, sua voz firme.
Helena a puxou para um abraço feroz e Tilly a apertou com força em troca.
— Boa sorte, milady. — sussurrou Tilly — Espero que da próxima vez que a
veja, a senhorita tenha se tornado Lady Helena Knight.
— E assim será. — disse Helena, sorrindo, como se fosse a primeira vez que
ouvisse seu novo nome em voz alta. Olhou para o relógio para ver que já eram onze
horas — Chegou a hora. Prue já deve estar na cama. Gabriel esperará na esquina,
então, não há necessidade de me acompanhar, desta vez. Apenas faça o seu melhor,
para manter todos longe da escada dos fundos, enquanto saio furtivamente.
— Eu irei. Não se preocupe. Não vou decepcioná-la.
— Eu sei disso, Tilly, e agradeço muito. — sussurrou Helena, antes de abrir a
porta e rastejar para o corredor escuro.
Gabe fez o possível para permanecer nas sombras, invisível, quando estava tão
cheio de tensão, que sentiu a necessidade de arrancar os cabelos. Esta era a parte
mais preocupante do plano, no que lhe dizia respeito, pois havia feito tudo o que
podia para ajudar. Se Helena não conseguisse sair de casa sem ser vista, Bedwin
saberia o que planejavam e perderiam qualquer possibilidade de Helena escapulir
novamente. Seria vigiada constantemente, e Gabriel não teria chance de chegar
perto dela. Deslizou a mão para o bolso e tirou o relógio, para verificar o horário, à
luz do luar. Eram quase onze e cinco. Ela já deveria estar aqui.
Ele se forçou a respirar, a encher os pulmões e expelir o ar, em respirações
tranquilas e firmes, então seu coração pulou em seu peito, quando viu uma figura
esguia emergir da escuridão, carregando uma bolsa.
— Helena! — chamou-a, se adiantando rápido — Graças a Deus. Estava
enlouquecendo, esperando-a.
— Estou aqui. — disse, sorrindo para ele.
— Não há tempo a perder. — embora quisesse puxá-la para seus braços e
beijá-la, não se atreveu e, em vez disso, a apressou pela estrada, até onde sua
carruagem estava esperando. Assim que entraram, a carruagem sacudiu e,
finalmente, estavam a caminho.
— Tilly sabe o que fazer? — exigiu, virando-se para encará-la, mal ousando
acreditar que Helena lançara a cautela ao vento, para fugir com ele.
— De cor e salteado. — respondeu Helena.
— E ninguém a viu sair, ninguém suspeita?
Helena sacudiu a cabeça — Estou certa disso. Foi muito mais fácil do que eu
esperava, mas nunca menti para meu irmão antes, então, suponho que ele não esteja
esperando por isso.
— Sinto muito. — Gabe sentiu uma onda de culpa e remorso, sabendo o quão
irritado Bedwin ficaria com ela.
Não se importava com o que o irmão de Helena pensava dele - bem, não
muito. Mas ter Helena em desacordo com o irmão, que tão claramente amava, o
deixava profundamente desconfortável.
Helena balançou a cabeça e se inclinou para ele — Eu não sinto. Robert vai
mudar de ideia quando vir que estamos felizes, e suspeito que Prue já se arrepende
do que aconteceu. Ela continua lançando olhares culpados na minha direção. Acho
que talvez ela acredite que realmente gosta de mim.
— Sim. — disse ele, suavemente.
Helena sorriu para ele — Bem, isso é um alívio… nas circunstâncias.
Gabriel a puxou para perto, ainda achando difícil acreditar que isso estava
realmente acontecendo.
— Usaremos minha carruagem para sair de Londres. Mandei meu cabriolé na
frente, assim que concordou em se casar comigo, já que estava tão interessada na
ideia. Então, faremos parte da jornada nessa carruagem, para ganhar algum tempo,
viajaremos um pouco desconfortáveis por alguns dias, mas vamos contratar uma
carruagem melhor, mais confortável, assim que estivermos cheios dessa aventura.
— Perfeito. — ela suspirou, Gabriel não conseguiu resistir à tentação de se
inclinar e roubar um beijo. Ele estava resignado a se comportar durante a viagem e
a esperar por sua noite de núpcias, mas era de carne e osso e seus lábios eram muito
doces, muito tentadores para resistir.
— Descanse um pouco, agora. — disse, afastando a boca, antes que pudesse
apreciar o gosto dela um pouco a mais, e desgastar todas as suas boas intenções, de
uma só vez — Temos muitos dias pela frente, então, é melhor dormir enquanto
pode.
Ela aproximou seu rosto para ele e sorriu, beijando seu nariz.
— Comporte-se. Descanse um pouco. Estará cansada e mal-humorada, de
outra forma, posso mudar de ideia sobre me casar contigo.
Helena bufou e lhe lançou um olhar de indignação exagerada.
— Miserável! Acha que está brincando. Apenas espere. Ainda assim, estou
cansada, depois de todo o nervosismo de hoje, embora esteja muito animada para
dormir. — reclamou, mas desamarrou o gorro e jogou-o no assento oposto, antes de
se acomodar com a cabeça no colo de Gabe, como se fosse a coisa mais natural do
mundo.
Gabe lutou contra a onda de emoção que o atingiu, surpreso com a força
daquilo. Soltando um suspiro irregular, acariciou seu cabelo sedoso e observou,
enquanto ela fechava os olhos e gradualmente adormecia.
Trocaram de cavalo em Barnet, mas Helena não se mexeu. Mudaram
novamente em Dunstable, onde ela piscou um pouco, olhando para ele, sonolenta,
até que a tranquilizou, dizendo que tudo estava bem, então Helena fechou os olhos
novamente.
Alcançaram Saracen’s Head em Towcester na manhã seguinte e saíram para
esticar as pernas e se refrescar. Gabe alugou um quarto para Helena com esse
propósito e, pouco tempo depois, ela desceu para tomar café da manhã com ele,
parecendo fresca e adorável e não como se tivesse fugido de casa e dormido em
uma carruagem. Ainda bem, pois estavam chamando atenção o suficiente. Ou, pelo
menos, Helena. Gabe sabia o quanto era bonita, mas aqui, em ambientes menos
opulentos do que normalmente a via, ela brilhava como um diamante.
— Estou faminta. — exclamou, pegando um pão fresco e rasgando-o ao meio,
antes de aplicar manteiga e geleia — Hummm.
Seu sincero murmúrio de prazer fez com que cada centímetro de pele de Gabe
formigasse. Maldição, mal podia esperar a noite de núpcias. Helena olhou para
cima, então, e deve ter percebido a natureza de seus pensamentos refletidos em seus
olhos, enquanto corava, sua pele clara florescendo de cor.
— Adorável. — disse ele, o mesmo calor infundido em sua voz.
Ele levou a xícara de café aos lábios.
— Será que vou gostar de ir para a cama com você?
Gabe se engasgou.
— Oh, Gabe, está bem? — Helena se levantou, movendo-se ao redor da mesa
para acariciá-lo suavemente nas costas — Pobrezinho. — cantarolou, mas quando
Gabe olhou para cima, viu o diabo brilhando em seus olhos.
— Bem, me fez corar. — disse ela, provocativa.
Gabe bufou — Sua diabinha! Não deve dizer essas coisas para mim, não até
que estejamos casados, pelo menos. Está brincando com fogo.
— Eu sei. — disse ela, sentando-se novamente e arrancando um pedaço de seu
pão, antes de colocá-lo na boca. Mastigou pensativamente e depois acrescentou: —
É isso que torna tudo tão divertido.
Observou-a por um momento, antes de estender a mão sobre a mesa. Deslizou
o polegar contra a palma da mão dela, em um círculo gentil e provocador — E para
responder à sua pergunta, — disse Gabe, mantendo a voz baixa e íntima, nunca
tirando os olhos dela — sim, vai gostar muito.
As palavras suaves de Gabe ecoaram na mente de Helena por horas e não pôde
deixar de olhar para ele com curiosidade crescente, enquanto a carruagem os levava
para mais longe de Londres. Gabe a repreendeu por isso, seus beijos se tornando
um pouco mais profundos e persistentes, cada vez que ela o persuadia. Sabia que
ele estava determinado a ser um cavalheiro e esperar até a noite de núpcias, não
tinha nenhum problema real com isso, mas provocá-lo era muito delicioso. Afinal,
ele realmente mereceu, depois daquele comentário, projetado para incendiá-la e
funcionando admiravelmente.
— Onde gostaria de morar quando estivermos casados?
Olhou-o, satisfeita com a pergunta — Não sei, tem propriedades agora?
Ele assentiu, o que não foi surpresa — Eu tenho, embora tenham sido compras
de negócios, nada mais. Mas pode escolher entre elas e, se nenhuma lhe agradar,
encontraremos outra coisa, ou construirei uma casa do seu gosto.
Os olhos de Helena se arregalaram — De verdade?
— Por que não? — disse, sorrindo — Será exatamente como desejar que seja.
Tenho um pedaço de terra pronto na Grosvenor Square, que seria adequado. Isso
significaria estar perto de seu irmão e de suas amigas, durante a temporada. Não é
enorme, mas acho que pode ser uma casa elegante, se assim quiser.
— Isso parece maravilhoso, Gabe. — disse, tocada por ele, ainda, considerar a
proximidade de seu irmão, mesmo depois de tudo — E no campo?
— Bem, tenho uma propriedade de pedra bastante antiga, que acho que possa
gostar. Em Sussex. Não há dúvida de que seja cheia de correntes de ar e fantasmas,
mas se acostumará com isso, suponho.
Helena riu e assentiu — Ah, sim. Todos os inconvenientes de uma propriedade
imponente. Mas ela é bonita?
Gabriel franziu os lábios, considerando — Bela em vez de bonita, talvez, mas
é muito agradável, romântica. — acrescentou, levando a mão dela aos lábios e
beijando gentilmente seus dedos.
— Parece maravilhoso, quando podemos vê-la? —
Deu de ombros — Quando quiser, embora tenhamos que voltar diretamente
para Londres e enfrentar primeiro o escândalo. Sabe disso, não sabe? — Gabe ficou
quieto quando a viu acenando — Supondo que seu irmão não tenha atirado em
mim, até lá.
— Não. — disse, estremecendo — Não é tão selvagem, garanto.
Gabe não parecia convencido — Acho que pode se surpreender, quando se
trata da virtude da própria irmã.
— Minha virtude está bastante segura, infelizmente. — lamentou, e ficou
satisfeita com o sorriso que tirou dele — O homem perverso com quem fugi não é
tão perverso quanto eu esperava. Acho que fui enganada e ele é realmente um
cavalheiro de coração.
— Jamais. — respondeu Gabe, rindo — Nego tudo e vou provar isso em
breve.
Helena deu um suspiro melancólico — Mal posso esperar.
Mudaram de cavalos em Market Harborough, aproveitando o tempo, embora
Helena não pudesse deixar de se preocupar, enquanto se perguntava como Tilly
estava se saindo. A garota foi capaz de convencer a todos que Helena estava
passando o dia na cama? Ou seu irmão estava, neste instante, os perseguindo? A
ideia a deixou ansiosa e Gabe a distraiu, contando-lhe histórias de suas aventuras
com Inigo na casa dos enjeitados. Embora os contos fossem claramente destinados
a diverti-la, e fossem engraçados, também revelaram uma imagem de privação e
fome, que ela só podia imaginar.
— Ainda fornece bens para a casa? — perguntou, surpresa quando ele ficou
em silêncio.
Ele assentiu e um tom de cor tocou suas bochechas.
— Não cobra deles, não é? — perguntou, encantada.
Ele limpou a garganta e se mexeu no assento.
— Gabriel Knight, é um filantropo. Oh, toda aquela perversidade era uma
mentira! — lastimou-se — Um cavalheiro e um benfeitor! Como fui enganada.
— Vou mostrar o quanto foi enganada. — rosnou e a puxou para seus braços,
beijando-a completamente.
Helena suspirou e se derreteu nele, enquanto Gabe aprofundava o beijo, uma
mão deslizando pelo lado dela e se movendo sobre a curva do peito, onde
permaneceu.
— Esta é a parte em que deveria protestar e me dizer que não é esse tipo de
garota.
— Ah, sim? — Helena respondeu, um tom sonhador em sua voz — Mas não
vou.
— Ótimo. — observou Gabe e a beijou novamente.
17
Matilda,
Voltamos para St. James. Jurei a mim
mesmo que não escreveria para a
senhorita, que não a perseguiria dessa
maneira desesperada, mas parece que sou
impotente para resistir. Há uma exposição
de aquarelas na Old Bond Street, da
Society of Painters in Watercolours. Posso
esperar encontrá-la lá na tarde do dia 14?
Não levarei Phoebe, nem lhe direi nada
sobre isso. Não a usaria de tal maneira
para ganhar sua atenção, embora me
pergunte, se tenho decência suficiente para
sempre resistir à tentação. A senhorita me
atormenta.
Venha até mim.
Por favor.
M.
—Trecho de uma carta de O Mais
Honorável, Lucian Barrington, Marquês
de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.
A pousada era decente e não estava muito cheia, o que era uma bênção. Gabe
garantiu um quarto privado para o jantar e, para seu pesar, dois quartos separados -
um para sua irmã.
Assinou o registro como Sr. Brown, ideia de última hora, quando o livro de
registro foi posto à sua frente e tudo que viu foi a madeira marrom sobre a qual o
livro foi colocado. Nada original, mas duvidava que alguém acreditasse que Helena
era sua irmã. É verdade que ambos tinham modos refinados, mas ela brilhava com
uma luz invisível, que parecia proclamá-la como uma pessoa de qualidade. Gabe
não tinha ilusões de que, mesmo depois de todas as suas tentativas de se polir, mal
conseguia se passar por um cavalheiro.
O jantar foi simples, bom e abundante. Um bife com torta de rim e ervilhas,
um cheddar picante e quebradiço e pão fresco, e maçãs fritas para sobremesa. Eles
se sentaram e comeram na sala privada, saboreando o tempo juntos, sem o choque e
o balanço da carruagem. Para o espanto de Gabe, sempre tinham sobre o que
conversar, e falavam de qualquer coisa. Helena era altamente educada, muito mais
do que ele, mas sempre se sentiu igual a ela, nunca sentiu que Helena o
desprezasse. Eles falaram sobre livros, embora Gabe tenha lido poucos até o
momento, não tendo este hábito como lazer. Helena recomendou vários que
acreditava que iria lhe agradar. Contou-lhe sobre seu desejo de ir à França, quando
a guerra terminasse, para visitar os vinhedos, com o objetivo de importar as
melhores safras de vinho. Helena aprovou de todo o coração. Ela falava francês
fluentemente - Gabe não - estava ansiosa para ajudá-lo com seus planos. Isso levou
a uma discussão sobre quando esse encrenqueiro, Boney, seria derrotado, de uma
vez por todas. Tendo se mudado recentemente para o Élysée Palace, parecia que
suas maquinações ainda não haviam terminado. Helena falou de suas amigas, ele de
seus negócios, e, antes que ele pudesse se dar conta, a hora tinha passado, já era
muito tarde.
— Venha. — disse-lhe com pesar — É melhor subirmos. Se quisermos ter uma
chance de ficar à frente de seu irmão, precisaremos sair o mais cedo possível.
Helena assentiu, sufocando um bocejo — Sim, suponho que sim, mas a noite
foi tão adorável. Não quero que termine.
Gabe sorriu, aproveitando a sala privada para puxá-la para os braços — Não
falta muito tempo, amor, e então poderemos ficar juntos, sempre.
O sorriso dela era doce demais para não provar, ele a beijou, enquanto os
braços dela se enrolavam em seu pescoço.
— Pare. — consternado, estendeu a mão e a tirou, libertando-se — Não me
encoraje, quando estou tentando ser bom. Não vem naturalmente, eu garanto.
— Mas para mim também não. — disse ela, fazendo beicinho — Então, pode
dificilmente esperar por isso.
Gabe colocou as mãos em seus ombros e a virou para encarar a porta, incapaz
de resistir à tentação de dar um tapa suave em seu traseiro — Comporte-se, sua
garota terrível.
Helena gritou e depois deu-lhe um olhar atrevido por cima de um ombro,
mostrando a língua para ele, antes de correr para a porta. Gabe correu atrás dela,
rindo, sabendo que qualquer um que os visse não ficaria nem um pouco convencido
de que eram parentes. Não que isso importasse, desde que chegassem a Gretna
Green a tempo. A ansiedade aumentou em seu estômago, mas ele a reprimiu. Não
adiantava se preocupar com o que não poderia mudar. Lidaria com o que quer que
acontecesse se e quando, mas, por enquanto, estava feliz. Helena era tudo e mais,
do que nem ousara sonhar, e queria ser sua esposa.
A vida não poderia ficar melhor do que isso.
BEVERWYCK.
14 DE ABRIL DE 1815.
Prue olhou para a cama, para as cobertas cheias de travesseiros, e sentiu seu
coração dar um sobressalto ansioso em seu peito. Em circunstâncias normais, Prue
não teria visto Tilly saindo de casa tão cedo, mas o bebê estava inquieto em seu
ventre, assim, ficava muito desconfortável dormir por mais tempo. Teve a estranha
sensação de que algo estava errado, quando Tilly explicou que sairia para comprar
remédio para dor de cabeça. Normalmente, mantinham um excelente estoque de
suprimentos médicos na casa. Prue foi verificar e descobriu que estava longe de
estar vazio, assim soube. Há quanto tempo Helena havia saído? Teria sido na noite
anterior ou na noite antes disso? Há quanto tempo Tilly estava cobrindo sua
senhora?
— Oh, Helena. — sussurrou, para o quarto vazio — Oh, querida, o que fez?
Ela se virou em círculo, não muito surpresa ao descobrir uma carta sobre a
lareira. Suas suspeitas se confirmaram, tirou um momento para se sentar na beira da
cama e ler as palavras de Helena, enquanto acariciava o proeminente inchaço de
sua barriga, em busca de conforto.
Consegue ver, estou completamente apaixonada, simplesmente não há cura
para isso, mas acho que já sabe disso, não é, minha querida Prue? Por favor, tente
fazer com que Robert enxergue isso. Eu sei que estou pedindo muito, mas eu faço.
— Bem, — disse ela, para seu filho ainda não nascido — sua tia, certamente,
jogou o gato para os pombos.
Deu um suspiro pesado, não querendo pensar muito sobre como Robert
reagiria, mas incapaz de sentir que eles eram irrepreensíveis nisso. Entendia como
Robert se sentia, sabia o quão profundamente temia que Helena cometesse um erro
do tipo que ele cometera, e era tão terrivelmente jovem. Helena tinha sido protegida
toda a sua vida, escolhas fáceis para um homem sem escrúpulos, com intenções
nefastas. No entanto, Prue tinha visto o olhar do Sr. Knight e a profundidade da
emoção ali. Sua reputação era terrível, ele rebaixaria Helena na sociedade, e, ainda
assim… se era o homem que ela amava, e ele devolvia seus sentimentos, então, foi
errado mantê-los separados.
Cansada, se levantou e voltou para seu quarto, para acordar seu marido. De
alguma forma, tinha que impedi-lo de matar seu futuro cunhado.
Matilda fez o seu melhor para ficar para trás, enquanto o Sr. Richards e vários
amigos riam e conversavam animadamente, ganhando alguns olhares de reprovação
dos outros visitantes da exposição. Era um grupo alegre, incluindo três damas -
nenhuma com mais de vinte anos - uma acompanhante e três cavalheiros, dois dos
quais, certamente, poderiam ser descritos como dândis. Bonnie havia apresentado
todos, embora Matilda, agora, estivesse lutando para lembrar seus nomes e rezando
para que não precisasse se dirigir a nenhum deles diretamente. Não parecia
provável. As jovens estavam flertando e rindo com os cavalheiros, que estavam se
envaidecendo, ninguém parecia estar prestando a menor atenção às pinturas.
— Eles não são encantadores? — Louisa disse, olhando para o grupo animado,
com um sorriso indulgente.
— Encantadores. — concordou Matilda, desejando que eles estivessem do
outro lado da galeria, sentindo-se excêntrica e bastante velha em sua presença.
— Gosto de estar com os jovens, eles são tão revigorantes. — Louisa riu,
correndo atrás deles, enquanto passavam alegremente por uma bela pintura de
Joseph Turner.
Matilda parou onde estava, determinada a olhar para as pinturas e não
examinar os visitantes, em busca de um certo marquês.
— Receio que eles não sejam amantes da arte.
Matilda olhou para trás, surpresa ao descobrir que um dos jovens, aquele que
não aspirava ao dandismo, havia voltado para falar com ela.
— Nunca teria imaginado. — respondeu secamente, ganhando uma risada
alegre.
— Eles não são tão frívolos quanto parecem, mas gostam de entreter as jovens.
— disse o sujeito, com um toque de desculpa.
Ele corou, obviamente percebendo que Matilda não havia sido incluída nessa
descrição.
Matilda riu tristemente, descobrindo que não poderia ficar ofendida com a
falta de gracejo dele. Era tão terrivelmente jovem, era um doce e o olhar de
admiração óbvia que lhe lançava, não era indesejável, nas circunstâncias.
— São muito jovens e tolos e riem facilmente, foi tudo o que quis dizer. —
falou parecendo um pouco mortificado e claramente não se incluindo na descrição.
— Entendi muito bem, fique tranquilo. — disse Matilda, aliviando seu
desconforto.
— Meu nome é William Smythe, se a senhorita não se lembrar da introdução
anterior. Foi um pouco rápida demais.
Matilda assentiu, aliviada por ter um nome — Prazer em conhecê-lo, Sr.
Smythe. Sou Matilda Hunt.
— Eu sei. — disse ele, um tom reverente aparecendo em sua voz.
As sobrancelhas de Matilda se arquearam por vontade própria e ele corou
novamente.
— Digo… Conheço seu irmão, o Sr. Hunt. Sou membro do seu clube. — o
sujeito continuou apressado — Não quis dizer que ouvi falar da senhorita, quero
dizer, ouvi falar…
Era a vez de Matilda corar agora, pois sabia muito bem o que ele tinha ouvido.
— Não acreditei em nada. — continuou ele, forte demais — Acredito no que
seu irmão me disse, não que eu precisasse ouvir. Todos nós sabemos que Montagu é
um demônio, um demônio vil, sem compaixão, sem sentimentos. Ele a arruinou
porque podia e… e se eu estivesse lá…
Matilda abriu a boca para protestar, descobrindo que queria defender Lucian,
por mais estranho que parecesse — Senhor Smythe, realmente não é…
— O que teria feito?
A voz fria cortou as palavras acaloradas do Sr. Smythe, como uma lâmina bem
afiada, o jovem ficou com um tom horrível de branco.
Matilda se virou e viu Lucian parado atrás do Sr. Smythe, seu rosto, uma
máscara.
O Sr. Smythe olhou para o marquês, parecendo querer vomitar.
— Teria me casado com ela. — disse ele, com firmeza, depois se virou e foi
embora.
Matilda estava ciente demais de seu coração batendo forte, enquanto Lucian
observava o jovem se afastar.
— Ele a abandonou ao seu destino, Srta. Hunt. — Montagu observou,
voltando-se para ela, com sua expressão fria habitual, firmemente no lugar.
Matilda sorriu, apesar disso — Estava tentando o seu melhor para ser galante.
Foi terrivelmente corajoso da parte dele, na verdade.
— A senhorita poderia encorajá-lo. — disse, seu olhar sobre ela era tudo de
que sentia falta e ansiava, desde a última vez que o vira.
Essa intensidade de sentimento, a maneira como sua presença a fazia tão
apaixonadamente viva, fazia o resto de seus dias parecer maçante e triste em sua
ausência.
— Encorajá-lo a quê? — perguntou, confusa, tentando participar da conversa,
em vez de simplesmente observá-lo como uma tola.
Era impossível, porém, quando ele fazia todos os outros homens parecerem
uma pálida imitação do que era, com muita facilidade. Os dândis pareciam
garotinhos muito bem-vestidos, e nenhum dos outros homens poderia rivalizar com
a pura beleza masculina de Montagu, não importando a elegância de suas
vestimentas.
— Aquilo foi uma proposta de casamento, não foi?
Matilda deu uma risada assustada — Não acredito nem por um momento que
falasse a sério, eu não deveria entretê-lo, mesmo que estivesse sendo sério. Não
estou tão desesperada, a ponto de agarrar toda e qualquer oportunidade.
— William Smythe é um homem decente. — disse ele, e embora seu tom não
tivesse emoção, Matilda suspeitava que estivesse irritado — O pai dele é um
visconde. São uma boa perspectiva como família. Ele é gentil e obviamente a
admira. Não é isso o que a senhorita quer?
— O que eu quero é não discutir essa ideia ridícula com o senhor por mais um
minuto. — retrucou, voltando sua atenção para a pintura — Ele é muito jovem para
mim e admiração não é amor. Nunca o prenderia a um casamento assim, e
agradeceria se o senhor pudesse parar de imaginar que eu faria algo do gênero.
Ele ficou ao lado dela, em silêncio, por um bom momento, enquanto Matilda
fervia. Isso foi o que ganhou por ser tola o suficiente para vir aqui.
— Perdoe-me.
As palavras foram ditas tão suavemente, que ela quase não as ouviu.
— Por quê? — exigiu, olhando para ele.
Ele não respondeu, apenas olhou em sua direção, segurando seu olhar por um
momento, antes de se afastar novamente. Tudo, disseram seus olhos, mas Matilda
foi tola em pensar nisso.
Ainda assim, esperou por alguma explicação.
— Ciúme é uma emoção vil. — disse ele, e Matilda não pôde deixar de
reconhecer um pouco de prazer, ao saber que Lucian sentia ciúmes da atenção de
Smythe, mesmo que ele não tivesse direito.
Matilda o observou, enquanto ele voltava o olhar para a pintura, embora
pensasse que realmente não a estivesse vendo.
— Não deveria tê-la convidado para vir aqui. — parecia zangado, agora —
Não sei por que vim. Quando a senhorita não me respondeu, achei que não estaria
aqui, esta noite.
— Eu não viria. — admitiu Matilda — Lady St. Clair e a Sra. Cadogan
chegaram inesperadamente e insistiram muito que me juntasse ao grupo. Não
consegui me desvencilhar. Esperava que o senhor não estivesse aqui.
Ele assentiu — A senhorita estava certa. Qualquer amizade entre nós só pode
nos trazer sofrimento. Eu deveria ir. — ele disse, virando-se e Matilda sentiu um
choque de pânico.
— Não, espere. — amaldiçoou- se, quando ele parou. Deveria tê-lo deixado ir
embora, tinha acabado de concordar em deixá-la em paz, que não tinham futuro —
Não vá.
As palavras saíram de seus lábios sem que ela pensasse, ditas de seu coração,
sem se importar com as consequências.
— Por quê? — ele perguntou, sua voz baixa, a pergunta brilhando em seus
olhos prateados — A senhorita não quer nada do que ofereço, não viria à
exposição, disse também que esperava que eu não estivesse aqui. Sempre foi seu
desejo que eu parasse de persegui-la, todos esses meses, tinha certeza de que ficaria
feliz em se livrar de mim.
— Lucian. — sussurrou, seu nome era uma súplica, embora não soubesse se
para ir embora ou ficar…
Oh, como isso era impossível.
— Matilda. — ele se aproximou, o seu olhar fez o coração dela pular. Havia
algo esperançoso, vulnerável até.
— Meu Senhor Montagu.
Ele enrijeceu ao som de uma voz de mulher, virando-se, encontrou uma das
jovens do grupo de amigos de Bonnie. A recém-chegada cumprimentou Lucian. Ela
era linda, com cabelos escuros e olhos castanhos vivos, tão jovem e fresca quanto
sua companheira.
— Lady Constance. — Lucian respondeu, fazendo uma ligeira reverência.
— Recebi uma carta de Lady Astley, convidando mamãe e eu para Dern, na
próxima semana. Ela nos prometeu fielmente que o senhor estaria lá, para nos
mostrar a propriedade. Espero que não tenha a intenção de ficar na cidade.
Matilda viu imediatamente que Lucian estava bastante correto sobre sua tia-
avó, sobre a determinação de Lady Astley para vê-lo casado, e logo. Que ele não
sabia sobre esse arranjo, ficou claro para Matilda, ante a tensão repentina em sua
postura, embora fosse óbvio apenas para ela. Sua expressão era plácida, serena, e
Lady Constance não parecia assustada. Embora nunca a tivesse visto de perto,
Matilda conhecia Lady Constance Rivenhall, filha do duque de Sefton. Esta foi sua
primeira temporada e tinha dezenove anos. Ninguém esperava que precisasse de
muito tempo, antes de conseguir o maior prêmio da ton. Matilda percebeu que tinha
sido tola, de fato, por não ter considerado que seus olhos pudessem estar voltados
para Lucian.
— Eu tenho negócios na cidade, no momento. — ele respondeu,
educadamente, mas controlado — Se me permitir, ficaria encantado, naturalmente.
Lady Constance sorriu para ele, antes que seu olhar flutuasse para o lado e
encontrasse Matilda. Todo o calor drenou de sua expressão, em um instante, e ela se
voltou para sua companheira — Vamos, Letty. Mamãe vai se perguntar onde estou.
Matilda as observou se afastarem. Esse era o futuro de Lucian, disse a si
mesma, severamente. Uma criatura jovem, bela, impecavelmente criada, fresca e
fértil o suficiente, para lhe dar os herdeiros de que precisava. Se houvesse a menor
dúvida em sua mente, sobre a possibilidade de ser sua amante, enquanto ele se
casava com outra, foi destruída naquele momento. Nunca. Nunca. Nunca.
— Matilda.
Seu nome foi dito com urgência, mas não se virou, não reagiu. Precisava ir
embora, agora.
— Matilda, não organizei isso. Eu não sabia nada sobre isso…
— Eu sei. — disse, aliviada que sua voz permaneceu calma. Estava ficando
melhor em esconder sua dor, pelo menos. Isso já era alguma coisa — Vou para
casa, agora. Por um momento tinha esquecido, mas… Sim. Isso só nos trará
sofrimento.
— Matilda. — uma voz diferente desta vez e Matilda se virou, em desespero,
para descobrir Bonnie atrás dela — Está tudo bem? — ela perguntou, olhando para
o marquês, ansiosa.
— Sim, muito bem. — disse Matilda, brilhantemente.
Ela se virou para Lucian, com a intenção de se despedir dele, quando uma voz
familiar chamou seu nome. Ora, não conseguiriam nenhum momento sem
interrupções? Ele olhou para cima e, se Matilda não o estivesse observando tão de
perto, poderia não ter visto o choque em seus olhos. Choque e o que parecia, por
um momento, como terror cego.
— Lucian, meu querido menino. Bem, isso é o destino, eu acredito. Como é
maravilhoso vê-lo depois de todos esses anos. Ah, faz bem ao meu velho coração
vê-lo novamente.
A cabeça de Matilda se virou e viu Theodore Barrington, tio de Lucian,
aproximando-se deles, com Lady St. Clair no braço. Estava radiante olhando para
Lucian, uma expressão de prazer em seu rosto jovial. Ele soltou o braço de Lady St.
Clair e estendeu as mãos para Lucian, em um gesto de calor e saudação, enquanto
se aproximava do sobrinho.
Matilda sentiu uma sensação doentia rastejar sobre ela, quando notou Lucian
dar um passo para trás. Ele ficou rígido, sua pele pálida como alabastro, drenada de
toda cor.
— Ah, meu garoto. — disse o Sr. Barrington, com o rosto cheio de tristeza —
Não queria me deparar contigo tão inesperadamente. Sei que deve estar surpreso,
mas não podemos deixar o passado para trás? Desejei tanto vê-lo novamente, para
recuperar o que perdemos. Só restam nós dois agora, afinal. Os últimos dos
Barringtons, salvo a querida Marguerite e a pequena Phoebe.
Lucian parecia estar congelado, olhando para o tio como se tivesse visto um
fantasma. Matilda ansiava por alcançá-lo, pegar sua mão. Não entendia o que havia
entre os dois homens, mas que isso afligia Lucian, era claro o suficiente para ela.
Sem dúvida, todos os outros que olhavam, viam o altivo e gelado marquês em
evidência, a julgar apenas por sua postura rígida, mas Matilda tinha presenciado sua
reação, reconhecidamente uma que nunca teria acreditado, se não tivesse
testemunhado com seus próprios olhos.
Para seu horror, a situação só piorou, quando o Sr. Barrington se virou para ela
e disse com uma expressão aliviada — Ah, mas aqui está a Srta. Hunt. Que bom vê-
la, mais uma vez. Talvez eu possa prevalecer sobre a senhorita novamente, para
persuadir meu sobrinho a suavizar seu coração em relação ao seu velho tio, e deixar
o passado para trás?
Os olhos de Lucian se voltaram para os dela, seu olhar expressando a total
traição sofrida, colorindo a prata, por um breve momento, antes que se virasse e
fosse embora.
Houve suspiros de choque de todos que assistiram, enquanto ele ignorava o tio
e se afastava, sem olhar para trás.
— Ah, bem! — disse o Sr. Barrington, com um suspiro pesado — Não deveria
ter esperado o contrário, mas… — pegou um lenço e enxugou os olhos, antes de
dar a Lady St. Clair um sorriso triste, sua voz tremendo um pouco, enquanto dizia:
— Perdoe um velho tolo, milady.
— Bobagem. — disse Lady St. Clair, acariciando seu braço — É uma pena
terrível. Sinto muito, Sr. Barrington.
Houve murmúrios de concordância do restante do grupo, que presenciou a
recepção gelada que ele recebeu. Todos confortaram o pobre Sr. Barrington,
assegurando-lhe que sabiam que Montagu era um demônio sem coração, e que ele
não era culpado. O marquês era orgulhoso demais, frio demais, para agir como um
ser humano decente.
Matilda ficou observando o Sr. Barrington, e foi incapaz de se livrar da
expressão de Lucian, quando viu seu tio pela primeira vez, assim como, da
expressão em seus olhos, que dizia acreditar que ela o havia traído de alguma
forma. E ela tinha. O Sr. Barrington era desonesto. Viu isso agora, muito
claramente. Nunca pediu para que intercedesse em seu nome junto a Montagu,
apenas a alertou. Embora não tivesse a intenção, nem pretendesse, foi forçada a
manter um segredo que não queria e agora…
Ah, meu Deus. Mas o que foi que aconteceu?
19
Querida Minerva,
Estamos de volta à cidade, para a
temporada. Podem jantar conosco em
breve? Jasper está ausente no momento -
explicarei tudo quando estivermos reunidos
- mas ficaria muito feliz em vê-los quando
voltar. Jasper promete se comportar e
talvez consiga extrair uma promessa
semelhante do seu marido. Além disso,
tenho algumas boas notícias. Queria
esperar até vê-la, mas vou explodir se não
der uma pista, pelo menos. A razão pela
qual voltamos a Holbrooke, foi para visitar
o médico da família. Suspeito que possa
imaginar o motivo…
Espero que tenham gostado dos livros
que enviei. Por favor, mostre Óptica de
Isaac Newton para Inigo, pois sei que ele
vai gostar. É uma edição muito rara, então,
receio que irei apenas emprestá-la, mas
acredito que vão achar interessante.
—Trecho de uma carta de Harriet
Cadogan, Condessa St. Clair, para a Sra.
Minerva de Beauvoir.
Matilda olhou pela janela da frente, vigiando a rua, em vão. Estava ficando
tarde e ainda não havia sinal de Lucian. Não viria. Seu coração apertou. Embora
soubesse que nada de bom poderia resultar dos dois juntos, não podia deixar as
coisas terminarem daquela maneira. Não podia deixá-lo acreditar que havia
escolhido ficar do lado de seu tio. Não sabia qual era a causa da animosidade entre
os dois, agora até duvidava que o que viu nos olhos de Lucian fosse medo. Era mais
provável que fosse apenas choque, ao ver alguém que acreditava estar do outro lado
do mundo. Lembrou-se do tio de Montagu dizendo que temia Lucian, pois havia
tentado matá-lo, mas cumprimentou seu sobrinho em público, como se estivesse
esperando por uma reconciliação. Não fazia sentido. Tudo o que sabia, era que
devia falar com Lucian, explicar as circunstâncias de seu encontro com o Sr.
Barrington e afirma-lhe que não confiava nem um pouco no sujeito.
Ele pareceu tão caloroso, genuíno e gentil, ainda assim, as coisas que disse a
uma estranha sobre um de seus parentes mais próximos, eram mais do que desleais,
eram prejudiciais. Suas ações do dia anterior também causaram danos, não
duvidava que a ton estivesse atiçada com fofocas, com todos difamando o
orgulhoso marquês, por rejeitar seu pobre e afetuoso tio. E o pior, Lucian havia
criado situações nas quais as pessoas poderiam acreditar, que tudo sobre ele era
realmente verdade. Mantinha-se afastado da sociedade e tratava com pouca
civilidade qualquer um que ousasse lhe dirigir a palavra. Exercia um poder
indescritível e não era avesso a usá-lo. Sem dúvida, era um homem com inimigos,
mas sem nenhum amigo. Quem o defenderia agora?
Ninguém.
Matilda mordeu o lábio, incapaz de decidir o que fazer para o melhor. Tudo o
que podia fazer agora era escrever para ele novamente, talvez se explicasse na
carta.
Olhou para cima ao ouvir uma batida na porta da sala e prendeu a respiração,
quando seu mordomo apareceu. Ficou consternada com a profundidade de sua
própria decepção ao perceber que este estava sozinho.
— Isso chegou para a senhorita. — disse ele, segurando uma bandeja de prata,
com uma carta em cima.
— Obrigada. — Matilda arrancou a carta da bandeja e esperou até que o
mordomo saísse, antes de quebrar o selo.
Querida Srta. Hunt,
Alguma coisa está terrivelmente errada. Estamos voltando para Dern, às
pressas. Não entendo o que aconteceu, já que iríamos ficar na cidade para a
temporada, mas o tio está muito inquieto. Algo o aborreceu profundamente, eu sei,
mas não posso ajudar ou fazer qualquer outra coisa. Ele me diz que não há nada a
temer e que não devo me preocupar, mas estou preocupada. Não está me dizendo a
verdade, então, deve ser algo muito ruim, porque nunca mente para mim, mesmo
quando não é bom. Não sei o que fazer. Por favor, Srta. Hunt, sei que não deveria
pedir, mas a senhorita poderia vir?
Sua amiga,
Phoebe Barrington.
Matilda ficou fitando a carta. Era pior do que imaginava. Pobre Phoebe. A
angústia da criança saltava da folha, a escrita quase ilegível. Mas… ir até ele… até
sua casa. Se alguém a visse…
A carta que segurava tremia em suas mãos e sabia que tinha que tomar uma
decisão. Phoebe precisava dela. A menina estava com medo por seu tio e precisava
de uma amiga. Lucian também necessitava de uma amiga. Se uma das Senhoritas
Peculiares estivesse em apuros, teria ido até ela sem hesitação, não importava o
motivo. Havia oferecido a Lucian sua amizade, e não a retiraria agora. Não poderia
haver futuro para eles, mas não o abandonaria, se precisasse dela. Movendo-se
rapidamente, guardou a carta e pediu que sua carruagem fosse preparada
imediatamente. No momento em que chegou à sua porta, o veículo já estava
esperando. Matilda desceu apressadamente os degraus, dando instruções ao
cocheiro para que a levasse até St. James, o mais rápido possível.
Apenas dez minutos depois, Matilda estava em frente ao casarão e subiu o
capuz, antes de descer da carruagem e correr para as escadas.
Foi recebida por um mordomo, rígido e formal, que lhe informou que Lorde
Montagu e a Srta. Barrington tinham partido para o campo. Não chegou a tempo.
Deviam ter saído momentos antes, Phoebe deve ter rabiscado aquele bilhete na
esperança de que com isto pudesse atrasá-los, o tempo suficiente até que Matilda
chegasse. A pequena esperou em vão. Desesperadamente desapontada, Matilda
voltou para sua carruagem e foi para casa.
Helena olhou, através da mesa, para Gabe, na sala privada do The String of
Horses. Seu rosto estava frio, sua expressão sombria, ela sentia o quão preocupado
estava.
— Vamos sair ao amanhecer. — disse Helena, tentando soar encorajadora —
Disseram que podemos chegar a Gretna Green em algumas horas, foi muito bom da
parte deles conseguirem alguém para arrumar a roda tão rápido.
Gabe assentiu — Foi. — disse, mas ela podia ouvir a tensão em sua voz.
— Gabe, — pegou a mão dele, entrelaçando os dedos — não vou permitir que
eles nos separem, não importa o que aconteça.
Gabe deu uma risada infeliz e se virou para olhar para ela, uma expressão de
amor e tristeza em seus olhos, que fez seu coração doer — Não terá escolha, meu
amor, sabe disso. Seu irmão é seu guardião e, como se não bastasse, um duque. Vai
levá-la embora e não poderei me aproximar, nunca mais.
— Não. — tranquilizou-o, balançando a cabeça — Não, não faria isso. Robert
não é um monstro, Gabe. Quando vir que estou decidida, cederá. Ele me ama. Só se
opôs porque temia por mim. Só sabe das coisas que falam a seu respeito, mas não o
conhece de verdade. Quando o conhecer melhor, irá entender e nos deixará ficar
juntos.
A mão de Gabe apertou a dela e a levou aos lábios, beijando seus dedos.
— Quero que saiba que estes últimos dias foram os mais felizes, os mais
maravilhosos e alegres de toda a minha vida. Não importa o que aconteça, nunca
me arrependerei disso, e rezo para que nunca tenha motivo para se arrepender
também. Eu a amo, Helena, muito.
Os olhos de Helena ficaram quentes, enquanto o olhava, lágrimas borrando seu
rosto bonito, enquanto piscava com força.
— Também o amo, mas não fale assim. Ainda não acabou. Não vamos desistir.
— Não. — ele disse, sorrindo — Certamente não vamos.
— Poderia… — ela começou, sentindo seu rosto ficar quente, mas
continuando, de qualquer maneira — Poderia me levar para a cama. Se… Se eu for
comprometida, se houver a chance de um bebê, Robert teria…
— Não.
Seu rosto endureceu, a palavra tão definitiva, Helena sabia que não havia
como mudar sua mente.
— Já a desonrei o suficiente quando fugimos, não vou agravar ainda mais as
coisas. Não darei ao seu irmão mais provas do tipo de homem que acredita que eu
seja.
Helena se inclinou para ele, dividida entre frustração e orgulho — Além do
meu irmão, é o homem mais honrado que já conheci, Gabe. Robert verá isso, mais
cedo ou mais tarde. Farei com que veja.
Gabe deu uma risada suave e inclinou a cabeça para descansar sobre a dela por
um momento — Se alguém pode fazer isso, é você.
— Sim. — disse, levantando a cabeça para que ele a beijasse.
Gabe a beijou, um breve toque de seus lábios, que falava de saudade e
esperança. E de todos os medos que ainda teriam que perder. Não, não seriam
afastados, não se dependesse dela. Além disso, não havia necessidade de se
preocupar. Se casariam pela manhã e, quando Robert os encontrasse, seria tarde
demais. Tinha que ser.
A infame ferraria em Gretna Green nada mais era do que uma pequena cabana
caiada, parecia um lugar bastante modesto para ter se tornado sinônimo de romance
e escândalo. Não que se importasse muito. Se o homem pudesse fazer a escritura e
casá-los, ela se casaria em um estábulo, ou num galinheiro. Havia, pelo menos,
muitas pousadas e estalagens na aldeia, pois o lugar aproveitava ao máximo a
notoriedade de sua localização. Poderiam até ter comprado suas alianças ali,
embora Gabe já tivesse cuidado desse detalhe. O ferreiro se apresentou como Bispo
Lang e vestia trajes clericais, Helena achou que o bispo estava levando as coisas um
pouco longe demais, mas era jovial e amigável, portanto, concordou com isso
alegremente.
A grande mão de Gabe se agarrou à dela e, neste momento, ele parecia ainda
mais ansioso do que ela. Ficou tenso e silencioso durante todo o percurso final,
dirigindo tão rápido quanto ousou possível, concentrando-se em nada além da
estrada e na maneira mais eficaz de chegar ao destino. Helena apertou seus dedos,
enquanto estavam diante da bigorna, prontos para recitar seus votos, e Gabe a fitava
com uma expressão intensa e um pouco desesperada.
— Aceita esta mulher como sua esposa, renunciando a todas as outras,
mantendo-se apenas para ela, enquanto os dois viverem?
O coração de Helena deu um baque repentino e doloroso em seu peito, uma
mistura de excitação e trepidação. Estava se casando, aqui, agora, com o homem
que amava. Ela sorriu para ele, tão feliz que estavam fazendo isso, mas havia
tristeza também. Teria sido maravilhoso ter se casado diante de suas amigas e
familiares, ter seu irmão levando-a para o altar e dando-lhes a sua bênção. Não era
para ser assim, disse a si mesma, não perderia seu tempo lamentando, quando
estava se casando com o homem de sua escolha.
— Sim! — a voz de Gabe a atraiu de volta para o momento, e seu sorriso se
alargou quando Lang se virou ao lado dela.
— Pare o casamento!
Helena quase pulou de susto quando a voz estrondosa de seu irmão explodiu
na pequena sala. Ela se virou, a mão ainda agarrando a de Gabe, enquanto seu
irmão caminhava em direção a eles. Parecia um lunático. Estava coberto de lama,
da cabeça aos pés, suas roupas estavam uma bagunça, muito amassadas e não se
barbeava há dias. A barba escura cobria sua mandíbula e lhe dava um ar de pirata e
má reputação.
— Seu desgraçado! — ele berrou, Helena soltou um grito, jogando-se na
frente de Gabe.
— Deixe-o em paz! — ela gritou, mas Robert não a ouviu.
Helena não tinha certeza de que Robert a tinha visto, tal era o olhar assassino
em seus olhos. Desesperada, olhou para a porta e viu o Conde de St. Clair correndo
atrás dele.
— Robert! — chamou, avançando para agarrar o braço de seu irmão, antes que
pudesse dar um golpe em Gabe — Não aqui, pelo amor de Deus. Vamos para algum
lugar tranquilo, conversar sobre isso.
— Conversar? — Robert repetiu incrédulo — De forma alguma farei isso! Eu
vou castrá-lo!
Demorou algum tempo para persuadir Bedwin a não matar Gabe ali mesmo,
apenas alguém tão calmo e de boa índole quanto o Conde de St. Clair poderia ter
conseguido. Agora estavam do lado de fora, parados em um pomar, um pouco
afastado de qualquer comércio, escondidos da estrada por uma cerca viva, e o
duque andava de um lado para o outro, como um leão enjaulado.
— Maldita seja, Helena. — disse, e, embora Gabe quisesse odiá-lo por tudo o
que havia arruinado, podia ver a angústia nos olhos do homem, ao lado da fúria —
Como pôde? Como pôde fugir assim? Estive no inferno várias vezes nos últimos
dias, preocupado…
— Bem, isso é tudo culpa sua. — retrucou Helena, cruzando os braços — Se
tivesse se dignado a ouvir Gabe por um minuto ou - Deus me livre - a mim, em vez
de tratá-lo como um pária e a mim como uma criança, que não conhece minha
própria mente, não teria que recorrer a tais medidas.
— Não o conhece! — Bedwin jogou de volta para ela — Não sabe do que ele
é capaz.
Helena lançou ao irmão um olhar de total desgosto — Eu o conheço, e se não
era assim antes, certamente o é agora, depois de passar os últimos dias a sós com
ele.
O duque deu um grito de fúria, obviamente interpretando mal as palavras
bastante imprudentes de Helena. Correu para Gabe e segurou-o pelas lapelas de sua
jaqueta.
— O que fez, seu desgraçado?
Gabe segurou a língua, julgando não haver uma boa resposta para essa
pergunta. Helena precisava dele para provar o tipo de homem que era e, embora
estivesse furioso e aterrorizado com a ideia de perdê-la, não podia bater em seu
irmão e esperar obter o resultado que queria. Então cerrou os dentes e olhou para
Bedwin, mas não tentou se defender.
— Deixe-o em paz! — Helena gritou furiosa e chutou o irmão na canela.
— Maldição, Helena! — Bedwin gritou, olhando para ela, soltando Gabe e
estendendo a mão para esfregar a perna — Isso doeu, muito!
— Ótimo!
Gabe notou um olhar de determinação no semblante de Helena, que lhe dizia
que nunca recuaria. Se Gabe conseguisse se casar com ela, tomaria cuidado para
não a encurralar em algum canto, de onde Helena teria que sair lutando. Parecia
perigoso.
— Robert! — disse St. Clair, parecendo tão desgastado e sujo quanto Bedwin
— Isso não está nos levando a lugar nenhum. Acho que todo mundo precisa se
acalmar e discutir corretamente. Até onde sabemos, ninguém está ciente da fuga de
Helena, então, não há danos graves a serem reparados.
— Não há danos? — o duque repetiu, sua voz fria e incrédula.
— Oh, pelo amor de Deus, Robert! — disse Helena, levantando as mãos —
Ainda sou virgem, se é com isso que se preocupa. Gabe foi um perfeito cavalheiro,
o que é uma pena, pois não consegui persuadi-lo a se aproveitar da vantagem.
Apesar dos meus melhores esforços, devo acrescentar.
Saint Clair pigarreou, parecendo profundamente desconfortável, mas o duque
apenas olhou indignado para sua irmã, cuja compostura se desfez, após sua
explosão de fúria. Os olhos de Helena se encheram e seu lábio tremeu, o coração de
Gabe se partiu.
— Helena! — disse seu irmão, sua expressão se suavizando, mas ela se
afastou dele e correu para Gabe, que a segurou perto, sabendo que, provavelmente,
seria a última vez.
Sem dúvida, Bedwin iria matá-lo por isso, mas, naquele momento, não se
importava muito.
— Gabe! — ela soluçou em seu peito.
— Sinto muito! — disse, com a voz embargada, apesar de seus melhores
esforços — Perdoe-me meu amor. Nunca deveria tê-la arrastado para cá.
— Disse que nunca se arrependeria. — ela retrucou, um fio zangado na voz e
nas palavras, enquanto levantava a cabeça e olhava para ele.
Seus belos olhos verdes estavam manchados de lágrimas, os cílios molhados, e
Gabe se perguntou como viveria sem ver seu belo rosto novamente.
Segurou a bochecha dela na mão, acariciando seu rosto com o polegar.
— Nunca. — sussurrou — Não da minha parte, mas não quero que se
machuque, Helena. Seu irmão a ama e o ama também, e… e não posso lutar contra
ele, querida. Não posso arriscar fazer um escândalo maior. Se ele se decidiu, não há
nada que eu possa fazer.
Helena explodiu em lágrimas então, soluços altos e feios desta vez, o som
suficiente para fazer Gabe sentir que seu coração estava sendo rasgado em pedaços.
Gabe olhou para cima e viu que seu irmão estava fitando-os com a testa franzida, e
o conde tinha uma mão emaranhada em seus cabelos, gesticulando
descontroladamente para eles com a outra.
— Cristo, Robert, tem certeza de que é isso que quer? — St. Clair exigiu. Os
olhos do homem pareciam muito brilhantes — Não consegue ver que os dois se
amam?
Bedwin olhou com raiva para o conde.
— Maldito seja, Jasper! Deveria estar do meu lado. Sabia que não deveria ter
concordado em trazê-lo. É muito romântico. Agora que penso nisso, deveria ter
lembrado que ajudou Kitty a fugir com Luke Baxter! — acrescentou com
indignação — De todos os homens para resolver essa maldita bagunça.
O conde parecia ofendido com isso — Eu? Não escrevi aquela maldita história
para Prue e a publiquei para o mundo inteiro ver! E eu sou o romântico?
O duque corou, a cor manchando seu pescoço, sob sua gravata amassada.
— O ponto é — Bedwin gritou — que ele só precisa de Helena para seus
malditos projetos, para abrir portas para ele que, de outra forma, permanecerão
fechadas. Tudo o que fará em troca é diminuí-la perante a sociedade.
— Robert! — Helena exclamou, tentando se desvencilhar dos braços de Gabe
e pretendendo causar mais danos ao irmão.
Gabe a segurou e balançou a cabeça.
— Ora, por favor! Pode ver que o pobre homem está louco por ela, e diabos,
por acaso se importa com a sociedade? — o conde exigiu.
— Não. — respondeu Bedwin — Mas não quero que falem e futriquem sobre
minha irmã. Ela não sabe como é.
Gabe não teve escolha a não ser soltar Helena, enquanto se arrancava de seus
braços.
— Não sei como é? — ela repetiu, sua voz perigosamente calma — Realmente
disse isso?
Caminhou em direção ao irmão que, com todo o seu tamanho, parecia querer
muito, se mover na direção oposta.
— Durante anos suportei todas aquelas maldosas fofocas, enquanto o maldito
duque era o assunto da cidade. Como acha que foi saber que todos acreditavam que
matou Lavínia? Chegando a isso, como acha que foi viver com Lavínia, quando
aquela mulher odiosa não gostou de mim, desde a primeira vez que nos
conhecemos e se ressentia muito da irmã do marido?
Bedwin pareceu um pouco doente ao ouvir esta demanda, mas manteve-se
firme — Consegue ver que é por isso que estou tão desesperado para que não
cometa os mesmos erros que eu, Helena? Mal conhece esse homem.
Helena bufou de desgosto, cruzando os braços — E não me permitiu a chance
de conhecê-lo melhor, então, o que devo fazer, Robert? Deixar o homem que
acredito ser o amor da minha vida ir embora, ou agarrar minha única chance de
estar com ele?
Robert murmurou baixinho antes de falar novamente, encarando-a — Eu devia
ter imaginado. Era tão obcecada pelos vilões nas histórias de Prue. Deveria ter
previsto isso e…
— E o quê? Mandar me trancar em um convento? — zombou. Helena se
aproximou do irmão e o cutucou no peito, em busca de ênfase, enquanto falava —
Gabe, não é um vilão. — cutucão — É um bom homem, com um coração gentil.
— cutucão — Começou do nada e sem ninguém, trabalhou toda a sua vida para
alcançar o que tem. — cutucão — Gabriel me disse tudo o que fez para chegar
onde está, e saiba, que muito mais envergonhado do que eu. — cutucão — Eu o
amo, Robert, e se me impedir de me casar com ele, nunca vou perdoá-lo. Não
enquanto viver.
O último cutucão foi um golpe duro com a palma da mão, pois a frustração de
Helena havia extravasado por completo. Sua voz quebrou quando chegou ao fim
daquela pequena diatribe e ela se dissolveu em lágrimas, de novo.
— Helena, — protestou seu irmão, parecendo tão estranho quanto qualquer
homem, diante de uma mulher chorando copiosamente — Helena, não… Oh,
maldição.
O duque puxou a irmã para perto e a abraçou.
— Eu o amo, R-Robert. — ela gaguejou entre as lágrimas.
Bedwin fez uma cara feia para Gabe, parecendo não menos assassino, mas
possivelmente um pouco mais resignado ao seu destino. Gabe pigarreou. Julgando
ser este o momento de tentar a sorte e convencer esse homem de que ele não era o
diabo que veio roubar sua irmãzinha por meios nefastos, respirou fundo:
— Sua Graça, — disse, sentindo seu coração batendo em seu peito muito forte
e muito rápido, tão doente de ansiedade que nem se incomodou em se sentir
ressentido por ter que usar o título ridículo — eu não o culpo por querer proteger
Helena.
— Que bom de sua parte. — o duque retrucou, secamente.
Gabe continuou, ignorando o comentário — Eu a amo. — disse, esperando
que o homem pudesse ver algo de seus sentimentos em seus olhos — Sei que não a
mereço. Sei de todas as razões pelas quais sou uma escolha terrível para ela, mas
ainda sou melhor do que algum idiota com títulos, que nunca vai apreciar tudo o
que ela é. Conhece sua irmã, Bedwin. Como acha que ela seria com um marido
adequado para a sociedade, que esperaria que se sentasse em casa e não fizesse
nada mais desafiador do que bordar, enquanto tivesse bebês, em intervalos
regulares? Um marido que nunca esperaria que abrisse a boca e dissesse algo
ultrajante, ou que não se metesse em problemas, não sei quantas vezes no espaço de
um dia?
O duque ainda estava olhando para ele, mas havia interesse em seus olhos
agora, então Gabe continuou:
— Helena é cheia de aventura e coragem, e um homem adequado não terá a
menor ideia do que fazer com ela. Maldição, que outra mulher teria me desafiado a
uma corrida de Londres a Brighton, e me enlouquecido tanto, que tive que aceitar?
Não apenas isso, ela ainda me venceu! Foi tão teimosa, não parou, não importando
o clima nem qualquer outra coisa, ela precisa de mim, Bedwin. — disse Gabe,
ciente de que havia muita emoção em sua voz, mas não se importou. Sem dúvida,
sua graça pensou em uma demonstração desesperada de sentimentos, pois bem,
Gabe estava desesperado, e essa era sua única chance — Ela precisa de mim,
porque não sou adequado e amo as coisas terríveis que Helena diz e faz, sei muito
bem que ela vai me deixar de cabelos brancos, muito antes de eu alcançar a velha
idade, e mal posso esperar. Eu a amo com todo o meu coração, e se não a fizer feliz,
tem minha permissão para atirar em mim. Vou merecer, por certo.
— Oh, Gabe! — Helena se afastou de seu irmão e se jogou nos braços de
Gabe mais uma vez e ele a segurou, rezando para que tivesse dito o suficiente para
convencer o homem a dar-lhes uma chance.
Robert olhou para ele. O ódio havia passado, substituído por uma carranca de
concentração. Gabe rezou para que fosse um sinal positivo. O duque olhou em volta
para encontrar o olhar do conde, que estava sorrateiramente enxugando os olhos na
manga, e deu um suspiro enojado. Parecia uma derrota!
— Por favor, Robert. — disse Helena, suavemente — Por favor, deixe-nos
voltar para dentro e nos casar.
Seu irmão olhou para ela por mais um longo momento, antes de balançar a
cabeça.
— Não, Helena. Perdoe-me.
O coração de Gabe caiu quando Helena endureceu com fúria em seus braços.
— Robert. — ela começou, mas Bedwin ergueu a mão, silenciando-a.
— É filha de um duque e minha maldita irmã - Deus me ajude - e estou
amaldiçoado se permitir que se case em um lugar qualquer na Escócia. Não haverá
fuga. Todo esse caso miserável será abafado e enterrado, e nunca mais falaremos
nisso. Vai se casar em Beverwyck, com sua família e suas amigas do seu lado e
ponto final.
Gabe olhou para o duque com espanto. Ele tinha acabado de… ele disse…?
Helena, obviamente, entendeu a essência, antes de Gabe, enquanto voava de
volta para o irmão e jogava os braços ao redor de seu pescoço, beijando sua
bochecha.
— Oh, Robert, obrigada, obrigada!
— Ugh — protestou o duque, fazendo uma careta — Sim. Pronto, pronto,
conseguiu tudo do jeito que queria, como de costume, sua garota diabólica.
Assim que Helena parou de atacá-lo, ele voltou sua atenção para Gabe e
apontou um dedo intransigente, sua expressão feroz.
— Estou de olho. — disse — De perto. E não pense que não vou arrastá-lo
para um duelo, caso seja necessário.
— Oh, eu não faria isso. Nem por um momento. — respondeu Gabe, ainda
achando difícil acreditar no que estava acontecendo. Ele ia se casar com Helena, e o
duque lhes daria sua bênção — Obrigado. — disse, sinceramente, ousando se
aproximar e estender a mão.
Bedwin suspirou, depois estendeu a sua, dando-lhe um aperto de mão firme.
— Bem-vindo à família. — disse, com um sorriso torcido — Depois não
reclame que não pediu por isso.
— Parabéns!
Gabe se virou e encontrou o conde sorrindo para ele e oferecendo a mão, ficou
um pouco assustado ao ser puxado para um abraço.
— Nossa, foi difícil por um momento, mas tudo está bem quando acaba bem.
Gabe riu, encorajado pelo prazer do homem com seu sucesso. Ele era
realmente um romântico — Obrigado, Lorde St. Clair. E obrigado por nos ajudar.
Não esquecerei.
O conde dispensou o comentário — Sempre gosto de ver um final feliz, mas
não estrague tudo. E me chame de Jasper. Agora, há alguma chance de comermos
um jantar? Estou faminto.
22
Matilda,
A senhorita não tem nada pelo que se
censurar. Como sempre, a culpa é toda
minha. Nunca iria entender o que
significou ter vindo até mim, que desejasse
ser minha amiga, mesmo depois de tudo o
que fiz. Seu julgamento sobre mim tem sido
impecável, desde o início. Só posso
agradecê-la, minha querida amiga.
Acredite em mim quando lhe digo,
conseguiu escapar de mim, isso é muita
sorte.
Devo implorar que fique longe do meu
tio. Ele é mais perigoso do que possa
imaginar e esse rosto gentil e amigável que
mostra ao mundo é uma máscara vil. Não
tente arranjar desculpas por mim diante de
ninguém, muito menos a si mesma. Sei que
seu coração é generoso e corajoso o
suficiente para fazê-lo, mas isso só vai lhe
causar mais problemas e eu já causei
danos suficientes.
Eu desejo… desejo coisas impossíveis.
Encontre um cavalheiro digno da
senhorita, se é que tal criatura existe.
Perdoe-me.
M
—Trecho de uma carta de O Mais Honorável Lucian Barrington, Marquês
de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.
LONDRES.
21 DE ABRIL DE 1815.
A viagem de volta não foi nem metade divertida quanto Helena antecipava.
Robert contratou uma mulher para atuar como acompanhante e criada para ela, e
arranjou duas carruagens para transportá-los todos. Tendo decidido que não tinha
vontade de viajar todo o caminho de volta para Londres no seu cabriolé, Gabe o
vendeu, por um preço ridículo, para um jovem rapaz local, que estava fora de si
com sua boa sorte. Prometeu a Helena que compraria outro, e que iriam aonde ela
desejasse, assim que seus corpos se recuperassem dessa aventura.
Helena viajou com seu irmão e sua nova acompanhante na primeira
carruagem, e Jasper e Gabe seguiram atrás. Sem Gabe para acompanhá-la, e Robert
roncando durante a maior parte da jornada, as horas se arrastaram
interminavelmente. Não que Helena fosse reclamar. Se casaria com Gabe, tudo
seria feito corretamente, sem ser às pressas e sem escândalo. Robert iria apoiar a
união, e tinha o poder de livrar Gabe de sua antiga reputação, inteiramente, mesmo
que o casal tivesse que percorrer um longo caminho para ganhar a aceitação entre a
ton. Alguns poderiam zombar deles. Helena, os olharia de nariz empinado, mas
não se importava com essas pessoas, verdadeiramente. Eram as mesmas pessoas
que falaram de seu irmão pelas costas e o condenaram, e não ligava se nunca mais
falasse com elas, pelo resto de seus dias. Teria Gabe, sua família e as Senhoritas
Peculiares, que sempre ficariam ao seu lado, não importando o que acontecesse,
isso era tudo o que importava.
Para a frustração de Helena, não foi autorizada a se despedir adequadamente
de Gabe. Na verdade, não tiveram um momento sozinhos durante toda a jornada,
mas não se atreveu a protestar. Robert informou Gabe que seria notificado da data e
hora do casamento no devido tempo, momento em que poderia se apresentar em
Beverwyck. Até então, deveria ficar ausente, enquanto Robert se acalmava e
esperançosamente se sentia com menos vontade de matá-lo. Seu irmão não disse
exatamente isso, mas a implicação estava lá. Então Helena simplesmente aceitou o
sorriso triste nos olhos de Gabe, e a promessa que viu neles, de que compensaria
tudo o que passaram, no momento em que se casassem.
Enquanto Helena subia os degraus até a imponente entrada de Beverwyck, viu
a porta se abrir e Prue voar para fora.
— Helena! — gritou, correndo em sua direção, com os braços abertos.
Helena deu um pequeno grito de alívio ao ver a mulher que se tornara tão
querida para ela quanto uma irmã de verdade e apressou-se nos passos finais e caiu
em seu abraço.
— Oh, Helena, querida, estávamos tão preocupados, está bem? Estão
casados? — exigiu, segurando-a à distância de um braço e estudando-a com olhos
arregalados e preocupados.
— Vamos entrar primeiro, Prue? — Helena disse, rindo um pouco — Acho
que gostaria de me sentar em algo que não se mexa e tomar uma xícara de chá, por
favor.
— Concordo com esse pedido. — Robert resmungou, movendo-se para pegar
Prue em seus braços — Minhas costas nunca mais serão as mesmas.
Prue riu, obviamente aliviada por ter sua família em casa e em segurança
novamente, e, a julgar pelo comentário conciso de Robert, avaliou que tudo estava
bem o suficiente.
Uma vez que Prue colocou todos para dentro e os alimentou com chá e bolo,
exigiu toda a história. Então, Helena contou tudo, com algumas pequenas omissões
que acreditava que seu irmão não deveria ouvir. Deliberadamente, não contou a
Robert muito do que havia acontecido, querendo ter a resposta de Prue e seu
animado senso de humor, para apreciar a história e manter Robert na mão, quando
ficasse indignado.
No momento em que contou todas as suas aventuras, Prue estava radiante,
tendo enxugado lágrimas de riso de seus olhos, em vários pontos da história.
— Oh, Helena, só você. O pobre homem, é de se espantar que ele não tenha
corrido, gritando com o indulto.
Helena riu e assentiu.
— Eu sei. — disse, observando então o olhar sombrio no rosto de seu irmão,
em resposta ao comentário de Prue.
— Oh, Robert, pare de ser tão estrondoso. Acho que o Sr. Knight provou ser
digno da mão da sua irmã. Pensei que tínhamos feito um desserviço a ele, e agora
vejo que estava certa. Fomos muito precipitados, Helena, e devo implorar que nos
perdoe por agirmos tão duramente. Só espero que saiba que isso foi feito por amor
e, portanto, possa aceitar nossas desculpas.
Helena sorriu, mas se virou para olhar para o irmão, para ver se estava de
acordo com o sentimento de sua esposa. Houve um bufo cansado de resignação.
— Sim. — disse ele, roucamente — Sim, acho que talvez seja verdade. Não
estou dizendo que gosto dele. — acrescentou, como se quisesse deixar claro, mais
uma vez — Mas… Suponho que seja possível que ele não seja o demônio que o
pintei.
— Que nobre da sua parte dizer isso. — disse Helena, ironicamente,
levantando uma sobrancelha.
— Não abuse da sua sorte. — ele murmurou, levantando-se — Isso é o mais
caloroso e amigável que posso sentir em relação ao infeliz, neste momento.
Envelheci dez anos em dez dias e, até que eu tenha dormido na minha própria cama
e endireitado as dobras na minha coluna, sugiro que não pressione por mais. Depois
disso… vamos ver. — beijou Prue e depois beijou a bochecha de Helena — Estou
feliz que esteja em casa.
Suas palavras ainda eram duras, mas Helena conhecia seu irmão e sabia que
amoleceria e tudo ficaria bem.
— Estou feliz por estar em casa. Obrigada por ter vindo atrás de mim. Estou
grata por ter feito isso.
Ele assentiu e depois saiu rigidamente da sala, chamando seu valete para que
preparasse um banho quente, imediatamente.
Helena se virou para Prue, que sorriu e estendeu a mão para ela.
— Muito bem, então. — disse Prue, apertando as mãos de Helena — Temos
um casamento para organizar.
LONDRES.
24 DE ABRIL DE 1815.
Gabe mal podia acreditar, mas o dia finalmente havia chegado. Hoje se casaria
com Lady Helena Adolphus e a faria Lady Helena Knight. Viu-se sorrindo como
um tolo, até mesmo rindo em voz alta, em momentos estranhos do dia, enquanto
tentava se concentrar em seu trabalho, para a diversão de Francis, que parecia estar
no mesmo estado de espírito, em razão de Tilly. Mesmo a notícia de que o
desprezível Sr. Burton havia desaparecido da face da terra, não poderia diminuir
sua felicidade, embora suspeitasse que a nota de advertência lamentável que
enviara a Montagu não agradaria nem um pouco ao marquês. Não conseguia se
importar agora.
Os dias se arrastaram interminavelmente e então se ocupou o melhor que pôde
com seu trabalho, mas, na maioria das vezes, acabava lembrando de Helena ao lado
dele, no cabriolé, gemendo de prazer no palheiro, sonolenta e confusa em seus
braços, enquanto a carregava para a cama. Tão tortuosamente lento quanto os
últimos dias, tão impaciente quanto estava para vê-la novamente, também,
estranhamente, sentia-se grato por estes dias. Deram-lhe a chance de apreciar tudo
o que lhe foi dado e a esperar que estes novos tempos viessem com a quantidade
certa de gratidão e esperança, para o futuro deles.
Virou-se para seus companheiros.
— Obrigado aos dois por virem comigo, hoje. — disse Gabe, enquanto olhava
para o outro lado da carruagem, para a figura imaculada do Conde de St. Clair, ou
Jasper, como ele se tornara, e seu amigo mais próximo, Inigo.
Inigo apenas riu, já tendo provocado Gabe, sem piedade, sobre finalmente ter
sido fisgado. Jasper sorriu para ele — É um prazer.
Surpreendeu e agradou a Gabe perceber que ele se tornara amigo de Jasper,
durante a tediosa jornada de volta da Escócia. Jogaram cartas e conversaram,
descobriram várias coisas em comum, e tão surpreendente quanto isso, era
considerar a disparidade em seus antecedentes. Jasper até pressionou por detalhes
do projeto ferroviário, parecia que estava ansioso para se tornar parte dele. Gabe
mal podia acreditar em sua boa sorte.
Havia um sentimento de ansiedade em seu peito, que lhe dizia que não poderia
ser verdade, mas sabia que era. De alguma forma, a bela e proibida criatura de
quem tanto se esforçara para se manter afastado, para não se apoderar de seu
coração, roubara-o, inteiramente. Helena não usou e abusou dele como temia, no
entanto. Não, Helena deu a ele o seu coração em troca, e, com isso, muito mais do
que Gabe poderia ter ousado esperar. Ela era corajosa, ousada e surpreendente, e
tão diferente do que imaginava.
Mesmo Bedwin não era o maior bastardo arrogante que Gabe supôs que fosse.
Visitou-o para trazer os detalhes do dia do casamento e, embora as coisas não
estivessem exatamente boas entre eles, Gabe acreditou que a visita foi como o
oferecimento de um ramo de oliveira. Poderia levar algum tempo, mas, se fizesse
Helena feliz, Bedwin o aceitaria. E Gabe tinha toda a intenção de fazer Helena
feliz. Não só teria Helena, como seria parte de sua família. Teria pessoas que
ficariam ao seu lado, que falariam por ele. Foi só agora, ao se dar conta do que
estava sendo oferecido a ele, que Gabe percebeu o quanto queria isso, aquele
sentimento de pertencer a algum lugar e a alguém.
— Está nervoso? — Jasper perguntou, um brilho divertido em seus olhos
verde azulados.
— Está aterrorizado. — respondeu Inigo, fazendo Gabe franzir a testa.
— Estou um… um pouco nervoso. — admitiu Gabe, não vendo sentido em
dissimular.
— Não se preocupe. Tudo vai passar rápido e, antes que perceba, estará casado
e poderá relaxar. — Jasper disse, com um sorriso alegre.
Gabe assentiu, embora, em particular, não achasse que seria capaz de relaxar,
até depois da noite de núpcias. Era totalmente ridículo nas circunstâncias - ele
dificilmente era um noivo virginal, afinal - mas estava doente de nervos. Limpando
a garganta, ousou fitar Jasper e encontrou seu olhar curioso ainda sobre ele. Bem,
não havia mal nenhum em perguntar.
— Sobre a… a noite de núpcias… — começou, sentindo uma sensação quente
rastejar pela parte de trás do pescoço.
— Precisa de conselhos? — Jasper arriscou, obviamente se divertindo.
— Poderia lhe desenhar um diagrama. — ofereceu Inigo, com uma expressão
grave.
Gabe respirou fundo — Sim. — retrucou, ansioso demais para morder a isca
— Não o diagrama — acrescentou, apressadamente — mas, preciso de conselhos.
A questão é que nunca…
Inigo riu e Gabe pigarreou novamente, tentando ignorar o olhar de prazer de
Jasper.
— Com uma virgem. — esclareceu, sucintamente, antes que o homem pudesse
fazer algum comentário ridículo.
— Bem, se essa informação se espalhar, sua reputação perversa será
prejudicada. — disse Inigo, parecendo estar gostando demais da situação.
Jasper riu, estendendo a mão para dar um tapinha reconfortante no ombro de
Gabe — Não se preocupe muito. Basta levar as coisas devagar e deixar… er… a
natureza seguir seu curso. Será mais fácil do que pode imaginar. Não haverá gritos
e litros de sangue, prometo.
Gabe bufou aliviado e cruzou os braços, sentindo-se melhor pela confirmação.
Finalmente, estavam em Beverwyck, o enorme edifício que se erguia sobre
eles. A última vez que esteve aqui, o duque praticamente o expulsou por ter a
ousadia de pedir a mão de Helena em casamento. Bem, estava de volta e para se
casar.
Meu Deus, quem teria pensado isso?
BEVERWYCK, LONDRES.
24 DE ABRIL DE 1815.
— Acho que devemos desafiar Minerva e Inigo, Harriet e Jasper a fazer uma
corrida de Londres para Brighton.
— Parece divertido, mas não tenho certeza se Jasper deixará Harriet fazer isso,
amor. — disse Gabe.
Estavam sentados na cama, apoiados nos travesseiros, Helena deitada contra o
peito de Gabe. Ela inclinou a cabeça para ele — Por que não?
Ela sentiu Gabe dar de ombros — Pelo jeito que ele a está tratando, diria que
ela está grávida.
Helena se virou em seus braços para olhá-lo no rosto.
— Não! — ela exclamou, com os olhos arregalados — Ela não pode estar!
Gabe riu, um pouco surpreso. — Não acredita que Jasper esteja pronto?
Helena bufou — Não é isso, acho que ela teria me contado. Teria contado a
nós, as Senhoritas Peculiares, quero dizer.
Gabe brincou com um de seus cachos e deu um sorriso irônico — Acredito
que teria feito isso, se não tivesse roubado seu momento, fugindo e depois se
casando. Suspeito que ela segurou o segredo, esperando, até que todo esse
burburinho tivesse diminuído.
— Oh! — disse Helena, sentindo-se miserável — Oh, não. Que horrível. Oh…
— Não se martirize, amor. — disse Gabe, acalmando-a e puxando-a de volta
contra o peito dele — Não tinha como saber, e duvido que ela se importe. Harriet
estava tão feliz por você, hoje, não acha?
Helena assentiu, tranquilizada — Sim, ela estava. Bem, vou fazer muito caso
quando fizer o anúncio. Amo ver todo mundo começando suas famílias. Primeiro
Alice e Nate com o pequeno Leo, Robert e Prue em breve, e agora Harriet e Jasper.
Ela deu um suspiro feliz.
— Está ansiosa para ter filhos, minha querida? — ele perguntou, uma nota
hesitante na voz.
— Certamente estou! — exclamou, virando-se e depois sentindo uma pontada
de alarme, enquanto se perguntava se talvez Gabe não estivesse — E você?
Para seu alívio, seus olhos ficaram calmos e quentes e ele assentiu — Nunca
tive pais, nunca soube o que era ter uma família, mas… gostaria muito de aprender.
— Isso parece adorável. — disse Helena, sorrindo — Vou ajudá-lo a
compensar todas as coisas que perdeu. Tem a minha palavra sobre isso, Gabe.
Ele se inclinou para frente e apertou um beijo no nariz dela — Já está
compensando, meu amor. Vamos construir uma família grande, talvez não
imediatamente, porque ainda temos muitas coisas para fazer.
— Nós temos, não é? — disse ela, sorrindo para o marido.
Ele assentiu — Tantas aventuras e tantos escândalos para eu resgatá-la.
— Como é? Posso me resgatar sozinha, sabe bem.
Ele riu e assentiu gravemente — Ah, eu sei. Vai me vencer em qualquer jogo
que decidir que devemos jogar e depois acalmar meu pobre ego, compensando-me
de outras maneiras. Certo?
— Certamente.
— Posso viver com isso.
— Bem, Sr. Knight, acho que precisamos planejar nossa próxima corrida.
— Nós, Lady Helena?
— Sim.
— Muito bem, amor, mas esta será uma corrida lenta.
Helena olhou para ele com uma carranca — Não existe nada disso.
— Oh, mas existe. — disse Gabe, sua voz baixa — Quer uma demonstração?
Helena sentiu um pequeno puxão de excitação dentro dela, enquanto seu
coração acelerava — Quero.
Ele a virou de costas e pairou sobre ela, um brilho perverso em seus olhos —
Vamos ver quanto tempo consegue aguentar, meu amor. O primeiro a ceder, perde a
corrida.
— Mas disse antes que não era uma corrida. — comentou, sorrindo.
Ele se inclinou e puxou suavemente o mamilo dela com os dentes, fazendo
com que a respiração de Helena ficasse presa na garganta — Bem, desta vez é, mas
uma corrida lenta.
— E o que ganho se vencer? — Helena perguntou, as palavras um pouco
fracas.
— Meu amor e gratidão eternos.
— Já tenho isso. — apontou.
— Certamente que sim. — Gabe murmurou e Helena decidiu que - por uma
vez - não se importava muito em ganhar ou não.
Damas Ousadas - Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de
uma leoa, uma pessoa apaixonada, disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se
puder encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Doze garotas. Doze desafios em um chapéu. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Em seguida, na série, o tão aguardado
Damas Ousadas, Livro 11
BEVERWYCK, LONDRES.
24 DE ABRIL DE 1815.
Para meu marido Pat e minha família… Por sempre se orgulharem de mim.
9786599019845
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
DESAFIANDO UM DUQUE
Sonhos de amor verdadeiro e felizes para sempre.
Sonhos de amor são todos muito bons, mas tudo o que Prunella Chuffington-
Smythe quer é publicar seu romance. O casamento a custo de sua independência é
algo que ela não considerará. Experimentou o sucesso escrevendo sob um nome
falso na revista semanal The Ladies, onde seu álter ego está alcançando notoriedade
e fama, a qual Prue gosta bastante.
Um dever que tem que ser suportado…
Robert Adolphus, o duque de Bedwin, não tem pressa em se casar, ele já fez
isso uma vez e repetir esse desastre é a última coisa que deseja. No entanto, um
herdeiro é um mal necessário para um duque e não pode se esquivar disso. Uma
reputação sombria o precede, visto que sua primeira esposa pode ter morrido
jovem, mas os escândalos que a bela, vivaz e rancorosa criatura forneceu à
sociedade não a acompanharam. Devia encontrar uma esposa. Uma esposa que não
seria nem bonita nem vivaz, mas doce e sem graça, e que com certeza ficasse longe
de problemas.
Desafia a fazer algo drástico
O súbito interesse de um certo duque desprezível é tão desconcertante quanto
indesejável. Ela não vai jogar suas ambições de lado para se casar com um canalha
assim como seus planos de autossuficiência e liberdade estão se concretizando. Se
mostrar claramente ao homem que ela não é a florzinha que ele procura, será
suficiente para dar fim às suas intenções? Quando Prue é desafiada por suas amigas
a fazer algo drástico, isso parece ser a oportunidade perfeita para matar dois
pássaros.
No entanto, Prue não pode deixar de ficar intrigada com o ladino que inspirou
muitos de seus romances. Normalmente, ele desempenhava o papel de bonito
libertino, destinado a destruir sua corajosa heroína. Mas será realmente o vilão da
trama desta vez, ou poderia ser o herói?
Descobrir será perigoso, mas poderá inspirar sua melhor história até o hoje.
9786588382103
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
ROUBANDO UM BEIJO
O desejo de arriscar e arrebatar a felicidade.
Ser ousada e beijar um homem ao luar é uma boa ideia, mas os homens e o
luar não caem do céu à vontade.
Até aconteça.
Sob instruções de uma amiga, a monótona Alice Dowding permanece sozinha
numa varanda iluminada pelo luar. Não é o curso de ação mais sensato para uma
jovem geralmente sensata. No entanto, sendo sensata, Alice ganhou um lugar entre
as isoladas e sua única chance provável de se casar, é com um homem que acha
repulsivo.
Tinha que fazer algo.
Uma consciência culpada e um homem mau.
Quando a irmã de Nathaniel Hunt implora por um favor, ele dificilmente pode
recusar. Nathaniel, coproprietário de uma das mais escandalosas casas de apostas
em Londres, é responsável pela reputação destroçada de Matilda, e ela sabe que ele
não está em posição de lhe negar nada.
Ela implora para que ele beije sua amiga tímida em uma noite de luar. No
entanto, uma série de eventos aos quais nenhum deles poderia ter previsto é
desencadeada.
Quando um pequeno favor incendeia um inferno.
Incendiada por um beijo que lhe rouba a alma, a tímida, sensível e enfadonha
Alice, está soltando faíscas por onde quer que seus pés passem, e tudo o que
Nathaniel pode fazer é rezar para que ele não se queime.
9786588382295
DAMAS OUSADAS - LIVRO 3
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
QUEBRANDO AS REGRAS
Um enigma irresistível…
A Srta. Lucia de Feria é possivelmente a mulher mais bonita do mundo e, sem
dúvida, a mais bonita que o visconde de Cavendish já viu.
No entanto, essa beleza misteriosa está tramando algo, algo que convenceu
Cavendish de que seus motivos são menos do que puros.
O visconde não precisa de mais motivação para passar seu tempo na
companhia adorável de Lucia, mas desejo e intriga criam tentações profanas.
Um amante perigoso…
Lucia não é tudo o que parece ser. Ela tem segredos… segredos pelos quais
um homem a mataria.
Agora, com a vingança em seu coração e uma fortuna em jogo, ela está perto
de ter tudo ou perder a vida.
Mas, em cada curva, o Visconde Cavendish está lá, com o seu sorriso de pirata
e aqueles olhos azuis perversos.
Um círculo ousado de amigos…
Quando um incomum clube do livro traz para sua vida damas peculiares,
Lucia fica encantada e atraída por sentir, pela primeira vez, que pertence a algo.
Entre suas novas amigas e um homem pelo qual corre o risco de se apaixonar, seus
planos começam a dar errado.
Essa linda Srta. passou a vida inteira desejando vingança, mas nunca esperou
encontrar ao longo do caminho, algo com o qual se importaria mais.
Lucia não poderia se permitir distrações, amigos ou um nobre desconfiado. No
entanto, de repente, ela tinha os três.
Talvez fosse a hora de quebrar suas próprias regras.
9786588382486
DAMAS OUSADAS - LIVRO 4
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
SEGUINDO SEU CORAÇÃO
Um amor perdido …
Kitty Connolly passou toda a última temporada assegurando que seu tio tem
tentado encontrar um marido, mas há um problema que ele desconhece.
Ela já tem um.
É verdade que tinha apenas onze anos quando a cerimônia foi realizada na
presença do cão de sua família, e seu noivo tinha apenas treze anos. No entanto, os
votos foram trocados e, no que diz respeito a Kitty, uma promessa é uma promessa.
Luke Baxter prometeu amá-la até que a morte o separasse e ele não vai escapar
disso.
Os problemas não param por aí, no entanto, pois Luke desapareceu de sua vida
apenas semanas após seu casamento secreto, e Kitty nunca mais o viu.
Até agora.
As esperanças reacenderam …
Quando Luke aparece do nada na festa na casa de verão do Conde de St. Clair
e anuncia seu noivado com a bela herdeira, Lady Francis Grantham, Kitty fica
atordoada …
… e a honra deve mencionar o problema.
Um coração determinado …
Todo caos se instala quando Kitty ameaça processar por quebra de promessa e
ela tem uma questão de dias para convencer Luke de que sua namorada de infância
vale mais do que a fortuna da Srta. Grantham.
Mas este Luke não é o menino despreocupado de sua infância, e lembrá-lo do
que significa viver por amor, pode significar arriscar mais do que apenas seu
coração.
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DAMAS OUSADAS - LIVRO 5
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
APOSTANDO UM AMOR
Gato escaldado…
Harriet Stanhope é inteligente e séria, o tipo de moça que lê Platão e gosta de
longas caminhadas na chuva. Não é adequada para salões de baile e flerte e acha a
temporada uma horrível perda de tempo. No entanto, certa vez se apaixonou,
confiou seu coração a um homem que a beijou e sussurrou doces palavras… e
depois riu com um amigo sobre ter feito isso.
Com o coração partido e humilhada, Harriet jurou que usaria seu cérebro no
futuro e nunca mais confiaria em seu coração estúpido.
Uma paixão não correspondida…
Jasper Cadogan, O Conde de St Clare, está irremediavelmente apaixonado, por
uma mulher que o odeia.
O amável Jasper é bonito, charmoso, simpático e amado pela Ton, o homem
mais elegível no mercado de casamentos, mas não consegue corrigir o problema
com sua amiga de infância Harriet Stanhope. Embora já tenham sido próximos,
Jasper sabe que há alguns anos fez algo que endureceu o coração de Harriet contra
ele, mas, pela sua vida, não consegue se lembrar do que foi.
Jasper sabe que Harriet acredita que é, na melhor das hipóteses, um idiota
frívolo, e, deslumbrado com seu cérebro superior, Jasper está lutando para provar o
contrário. Determinado a descobrir o que foi que afastou Harriet dele, usará de
meios honestos, ou desonestos, para chegar à verdade.
Uma aposta que arriscará seus corações.
A Dama peculiar Harriet ousa apostar algo que não quer perder e quando sua
amiga de boca grande, Kitty, conta a Jasper, ela reconhece que está em apuros.
Teimosa demais para recuar, Harriet aceita a chocante aposta de Jasper e
mergulha ambos em um escândalo que arriscará tudo, inclusive a dois corações.
9786580754267
DAMAS OUSADAS - LIVRO 6
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
DANÇANDO COM UM DIABO
Uma jovem desesperada para escapar de seu destino.
O tempo de Bonnie Campbell está quase acabando. À luz de ofertas melhores,
seu tutor, o conde de Morven, a está forçando a se casar com seu primo, Gordon
Anderson. A vivaz Bonnie não terá outra opção a não ser obedecer, condenando-se
a passar o resto de sua vida na selva das Highlands escocesas, longe de seus amigos
e de qualquer possibilidade de diversão. Durante suas últimas semanas de
liberdade, no entanto, ela viverá como se estes fossem seus últimos dias na terra e
encontrará a coragem de mostrar ao homem que ama de verdade, como se sente.
Um jovem determinado a provar que seu irmão mais velho estava errado.
Jerome Cadogan, irmão mais novo do conde de St. Clair, é um canalha jovial.
Sua aparência, com belos cabelos loiros e olhos azuis, não é minimamente
prejudicada por seu nariz quebrado, sua reputação de encrenqueiro, nem sua
predileção por se apaixonar por mulheres inadequadas. Recuperando-se de um
sermão doloroso proferido por seu irmão, o conde, Jerome corre o risco de ter sua
mesada cortada se não ceder e mudar seus modos. Determinado a provar que pode
ser tão maduro e sensato quanto St. Clair, Jerome promete parar de beber e se
embriagar e não se meter em mais em encrencas.
Um escândalo em busca de um lugar para acontecer.
Infelizmente, sua querida amiga Bonnie tinha outras ideias. Cambaleando de
um desastre para o próximo, Jerome estava arrancando seus cabelos e sabia que
devia terminar sua amizade, antes que seu irmão acabasse com ela.
No entanto, a montanha de um homem aparece para reivindicar Bonnie, e
Jerome, que deveria respirar aliviado pelo livramento, acaba descobrindo algo
imperdoável: seu maldito coração se apaixonou pela mulher mais inadequada de
todas.
9786580754267
DAMAS OUSADAS, LIVRO 7
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Onze mulheres - onze desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
INVERNO EM WILDSYDE
Um desafio que mudaria a sua vida…
A Srta. Ruth Stone, uma herdeira rica, está lutando para realizar o sonho de
seu pai de se casar dentro da nobreza, apesar de seu grande dote. Ousada, pelas
Senhoritas Peculiares, a “dizer algo ultrajante a um homem bonito”, Ruth se supera
e propõe casamento ao herdeiro de um condado.
Uma decisão da qual ela poderia se arrepender.
Antes que pudesse pensar melhor e retirar a proposta, seu belo e desajeitado
futuro marido a empurrou para dentro de uma carruagem e a carregou para seu
castelo remoto e em ruínas, lugar onde ele pretendia dar um bom uso ao dote dela.
Um casamento ou um negócio…
Ruth não tem ilusões. É uma mulher forte, sensata e não uma donzela frágil e
tem total conhecimento de que seu marido nunca se apaixonará perdidamente por
ela, pois seu casamento é de conveniência; seus filhos herdarão o título e a
legitimidade entre a ton, e ela terá sua própria propriedade para cuidar, assim como
sempre sonhou. No entanto, seu marido, cabeça-dura e obstinado, desperta seu
temperamento e suas paixões como ninguém jamais antes.
Seu primeiro inverno em Wildsyde está prestes a incendiar o velho castelo.
9786554440394
DAMAS OUSADAS, LIVRO 8
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Onze mulheres - onze desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
EXPERIMENTANDO O DESEJO
Uma atração que ela não pode ignorar…
Minerva Butler está cansada da ambição de sua mãe, de vê-la casada com um
duque, seguindo os passos de sua inteligente prima Prue. Linda, loira e com um
dote admirável, graças à generosidade de sua prima, parece que Minerva pode,
finalmente, escolher entre os cavalheiros elegíveis da ton. Então, naturalmente, é
este o momento em que ela fica apaixonada pelo brilhante e pobre filósofo natural,
Inigo de Beauvoir.
Uma mulher que ameaça sua paz de espírito…
Inigo de Beauvoir é um homem motivado, consumido por seu trabalho, em
detrimento de todo o resto, até mesmo da sua própria saúde, até que uma bela dama
da alta sociedade começa uma guerra sedutora contra sua crença de que o amor não
é nada mais do que luxúria com um anel em seu dedo.
Uma ligação perigosa…
Aparentemente, a Srta. Butler é a única que tem tudo a perder, mas Inigo logo
percebe que experimentar o desejo representará uma ameaça real para seu coração.
9786554440899
DAMAS OUSADAS, LIVRO 9
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Onze mulheres - onze desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
EXPERIMENTANDO O DESEJO
Uma mulher jovem desesperada…
Jemima Fernside é a epítome de uma dama bem-comportada, criada para se
casar com um cavalheiro e fazer o papel da esposa perfeita. Até que se encontra
sozinha no mundo sem um centavo em seu nome. Com poucas opções disponíveis,
Jemima tem pouca escolha a não ser aceitar uma proposta escandalosa de se tornar
a companheira paga de um homem que ela nunca sequer conheceu.
Um homem desesperadamente solitário…
Salomão ‘Solo’ Weston, o Barão Rothborn, está farto da sociedade e das
pessoas em geral que o deixam irritável e impaciente. Como Tenente-Coronel do
15º Dragões do Rei, depois que uma bala o deixou coxo, ficou inválido fora do
exército. Assombrado pela culpa, por companheiros mortos e um amor perdido,
está se tornando cada vez mais recluso, encontrando fuga através de seus amados
livros.
E uma paixão que nenhum dos dois esperava encontrar.
Quando levado a buscar conforto de sua existência sombria, Solo acredita que
tem pouco a oferecer além de segurança financeira em troca da virtude de uma
dama. Mas Jemima não é o tipo de mulher que deixará os fantasmas adormecidos, e
logo o passado e o futuro não parecerão nada do que Solo imaginava.
A LENDA FRANCESA DOS VAMPIROS LIVRO 1
9786580754854
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Caçando o Caçador
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Caçando o Caçador
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