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Damas Ousadas 10 Cavalgando Com O Cavaleiro Emma v. Leech

O livro 'To Ride with the Knight' apresenta personagens femininas fortes e suas interações em um contexto social da Grã-Bretanha do século XIX. A história gira em torno das emoções e dilemas amorosos de Helena e Matilda, enquanto elas exploram suas relações e as expectativas da sociedade. O cenário é um palácio imponente que simboliza a riqueza e o status, refletindo as pressões sociais enfrentadas pelas protagonistas.

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Damas Ousadas 10 Cavalgando Com O Cavaleiro Emma v. Leech

O livro 'To Ride with the Knight' apresenta personagens femininas fortes e suas interações em um contexto social da Grã-Bretanha do século XIX. A história gira em torno das emoções e dilemas amorosos de Helena e Matilda, enquanto elas exploram suas relações e as expectativas da sociedade. O cenário é um palácio imponente que simboliza a riqueza e o status, refletindo as pressões sociais enfrentadas pelas protagonistas.

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Título original: To Ride with the Knight

Girls Who Dare Livro 10


Copyright © Emma V. Leech, 2020
Copyright da tradução©2023 Leabhar Books Editora Ltda.

Tradução: Hamireths Costa


Revisão: Isabel Vasconcellos e D. Marquezi
Diagramação e Capa: Labellaluna Web®

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes
sem autorização por escrito do proprietário dos direitos autorais.

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LADY PRUNELLA ADOLPHUS, DUQUESA DE BEDWIN – membro fundador das Senhoritas Peculiares
e, secretamente, Miss Terry, autora de “A História Sombria de um Duque Maldito”.
SRA. ALICE HUNT (NASCIDA DOWDING) – não tão tímida como antes; casada recentemente
com o notório Nathanial Hunt, proprietário do exclusivo clube de apostas Hunters,
e irmão de Matilda.
LADY AASHINI CAVENDISH (LUCIA DE FERIA) – uma beldade estrangeira; recentemente, feliz e
escandalosamente, casada com Silas Anson, visconde Cavendish.
SRA. KITTY BAXTER (NASCIDA CONNOLLY) – quieta e vigilante, até que não esteja.
Recentemente fugiu com seu amor de infância, Sr. Luke Baxter.
LADY HARRIET ST. CLAIR (NASCIDA STANHOPE) - Condessa St. Clair – séria, estudiosa,
inteligente, puritana e usa óculos. Finalmente casada com o Conde St. Clair.
BONNIE CARDOGAN – (NASCIDA CAMPBELL) ainda muito franca e sempre em apuros ao lado de
seu marido, Jerome Cadogan.
RUTH ANDERSON – (NASCIDA STONE) herdeira, filha de um rico comerciante, vivendo
pacificamente na Escócia, depois de ter domado um selvagem Highlander.
MINERVA DE BEAUVOIR – (NASCIDA BUTLER prima da Prue. Inteligente e engenhosa, loucamente
apaixonada por seu genial marido.
LADY JEMIMA ROTHBORN (NASCIDA FERNSIDE) felizmente instalada no Priorado, gerenciando
habilmente os criados e os aldeões e desesperadamente orgulhosa de seu marido
heroico.
LADY HELENA ADOLPHUS – vivaz, controladora, surpreendente.
MATILDA HUNT– loira, linda, e arruinada por um escândalo, do qual não teve culpa.
1
Minha querida Srta. Hunt,
Estou tão feliz que a senhorita virá
ficar comigo. Gostaria que meu tio
estivesse aqui também, mas ele tem um
trabalho maçante para fazer na cidade. Ele
está fingindo que não se importa, mas está
muito zangado, porque gostaria de estar
aqui para a sua visita, também. Regras
sobre decoro são excepcionalmente
estúpidas. Não vou segui-las quando
crescer. Meu tio acabou de ler isso por
cima do meu ombro e disse que irá se jogar
no lago agora, antes que seja tarde demais.
Mal posso esperar para conhecer
Lady Helena, todos dizem que ela é muito
bonita. Não acredito que ela seja mais
bonita do que a senhorita. Perguntei ao tio
Monty e ele disse que não posso escrever
isso por causa dessa bobagem de
propriedade. Ele diz que a senhorita sabe,
de qualquer maneira.
—Trecho de uma carta da Srta.
Phoebe Barrington para a Srta. Matilda
Hunt.

ESTRADA PARA DERN, SEVENOAKS, KENT.


7 DE MARÇO DE 1815.

— Está animada? — Helena perguntou.


Ela sentia muita vontade de pular em seu assento, impaciente que estava. Em
contraste, Matilda estava sentada ao seu lado, requintada, em um vestido de
carruagem azul cerúleo, com as mãos entrelaçadas recatadamente em seu colo. A
imagem de uma jovem elegante.
— Como consegue simplesmente ficar sentada, tão calma? Esta é a casa de
Montagu. Não está curiosa para descobrir mais sobre ela, sobre ele?
— Viemos visitar a Srta. Barrington. — disse Matilda, mas o montante de cor
em suas bochechas a denunciou.
— Ah, sim, e não tem interesse em mais nada. — disse Helena, bufando —
Por Deus, não estou apaixonada por ele e estou morrendo de vontade de saber mais.
O homem é um enigma.
— Eu não… — Matilda respondeu, o rubor aumentando, mas suas palavras
foram cortadas quando a carruagem atingiu um buraco na estrada e as duas foram
forçadas a agarrar a alça de mão, antes de serem lançadas no chão.
— Homessa! — Helena deu-lhe um olhar exasperado, enquanto se ajeitava no
assento de couro bem acolchoado — Acredito que devamos ser brutalmente
honestas uma com a outra, a partir de agora. Somos amigas, não somos? Boas
amigas devem compartilhar seus problemas e seus segredos e nunca os trair, mas
levá-los para suas sepulturas. De qualquer forma, preciso de alguém com quem
falar e terá que me ouvir, quer retribua ou não o favor. Então pronto.
Matilda deu uma leve risada — Muito bem, Helena, mas devemos ser brutais
sobre isso? Não estou certa de que tenho resistência para tanto.
Helena acenou, insistindo nesse ponto, depois deu um grito exasperado — Oh,
Matilda, estou apaixonada por Gabriel Knight. Não consigo parar de pensar nele. É
tão bonito e interessante, ninguém mais se compara a ele, mas o miserável não
presta atenção em mim. O que devo fazer?
— Conte suas estrelas da sorte? — Matilda sugeriu com a peculiaridade de
uma sobrancelha pálida elegante, erguida.
Helena bufou e mostrou-lhe a língua — Que bela amiga é! Deveria lamentar
meu infortúnio e me dizer que ele é um tolo e que, secretamente, deve estar
desesperadamente apaixonado por mim.
— Bem, ele é um tolo se não consegue ver o quão esplêndida é, Helena. Mas,
sinceramente, acho que é mais provável que ele seja sensato e não deseje começar
um flerte, que só pode trazer sofrimento para ambos. Seu irmão nunca permitiria o
matrimônio, sabe bem disso. É filha de um duque e ele é um bastardo de berço
inferior. Não, não fique brava comigo, não estou dizendo que concordo com isso.
Os certos e errados da opinião da sociedade ou porque nunca funcionaria, não
importa nem um pouco. São uma má combinação e sabem disso.
Helena sentiu uma onda de raiva com as palavras, não porque Matilda
estivesse sendo de alguma forma cruel, mas porque elas eram terrivelmente
precisas. Cruzou os braços, fez uma careta e olhou pela janela — O Sr. Knight,
provavelmente, poderia comprar meu irmão, dez vezes mais. É um dos homens
mais ricos do país.
— E nós sabemos que isso não significa nada, quando ele não vem de berço.
Havia uma certa amargura nas palavras de Matilda, Helena respirou fundo.
— Certamente não acredita que tal acusação pode ser-lhe direcionada? Seu
avô era um visconde.
Matilda retribuiu com um sorriso distorcido — Isso não importa muito, uma
vez que a reputação de alguém tenha sido questionada.
— Odeia-o por isso? Por arruiná-la? — Helena perguntou, questionando-se
sobre o que atraía Matilda para Montagu com tanta força. Era apenas desejo? Ele
era, afinal, um homem muito bonito. Era isso que ela sentia pelo Sr. Knight,
simplesmente um desejo de tocar em algo tão perfeito, como passar a mão sobre
uma obra de arte?
— Não. — Matilda balançou a cabeça — Não mais. Ele não poderia ter feito o
contrário. Eu sei disso agora. Se ele tivesse falado por mim, teria apimentado mais
as coisas. Todo mundo teria pensado que estava tentando me proteger e, vindo dele,
isso implicaria uma intimidade que todos teriam assumido que significava que
éramos amantes. Sua indiferença era minha única proteção e demonstrava a
veracidade da situação. Além disso, eu não deveria ter estado lá.
Ela ficou em silêncio por um bom momento, antes de dar um suspiro pesado
— Nate e eu somos culpados e nosso pai. Perdoei papai e Nate, há muito tempo, e
não podemos culpar Montagu por uma situação que não foi culpa dele. Eu
dificilmente poderia esperar que ele se casasse com uma mulher que nem conhecia,
certamente não alguém que não traria nada para o casamento, além de escárnio.
Principalmente quando se entende como Montagu foi criado. Gerações de sua
linhagem, cada um se esforçando para trazer à família mais poder, mais prestígio. É
uma parte dele. Imagino que a ideia tenha sido martelada na cabeça dele desde que
era criança, o papel que deve desempenhar na história, na preservação da honra da
família. É trágico, na verdade. Nunca lhe ocorreria casar-se por amor. Tem que
cumprir seu dever e a honra não permitirá que ele busque conforto ou felicidade.
Ela se afastou de Helena para olhar pela janela.
— Eu entendo isso. — disse Helena, lembrando-se da pressão que seu pai
havia colocado em seu irmão, para fazer um bom casamento — E estou tão feliz
que Robert seguiu seu coração com Prue, após o desastre com Lavínia. Quero dizer,
sei que não foi por isso que ele a escolheu, mas se casou por amor, no final.
— A linhagem de Prue é irrepreensível. — apontou Matilda.
— A sua também. — insistiu Helena.
Matilda fechou os olhos por um momento e Helena pensou em como estava
cansada. Fazia seu peito doer ao pensar em sua amiga sendo tão infeliz. Era a isso
que ela estava se resignando, se perseguisse o Sr. Knight? No entanto, como
poderia simplesmente esquecê-lo? Não podia, esse era o problema, e agora entendia
como Matilda se sentia.
— Sabe com quem Montagu pretende se casar? — Helena perguntou,
lamentando suas palavras, quando viu Matilda se encolher.
— Não, e não quero saber. Suspeito que ele considerará fortunas,
propriedades, influência e, acima de tudo, linhagens. É como escolher qual égua
colocar com um garanhão premiado.
Helena se assustou com a amargura por trás das palavras — Eu sei que é assim
que funciona. Afinal, sou uma das éguas, mas soa tão repugnante quando se
colocam as coisas assim.
O rosto de Matilda ficou pálido.
— Oh, não! — Helena disse apressadamente, estendendo a mão, como se
pudesse arrebatar a ideia do nada e deixá-la de lado — Não eu! Ele nunca se
aproximaria de mim. Meu irmão não o tolera e nunca concordaria com o
matrimônio, Montagu sabe disso. Além disso, ele me assusta. Por Deus, não!
Matilda soltou um suspiro e Helena viu imediatamente o quanto sua amiga
estava com problemas.
— Bem, isso não importa, não é? — Matilda deu de ombros, o que não
enganou nem um pouco Helena — Será alguma dama que não eu. Acho que
deveria invejá-la. Ela terá o título, poder e riqueza, será a inveja de todas as suas
amigas, mas também terá um marido que não se importará com ela. Eu não poderia
viver assim.
— Eu também não. — disse Helena, tremendo ao considerar a ideia — Nunca
vou concordar com um casamento assim. Casarei por amor ou não me casarei.
Montagu é um tolo em pensar que poderia conseguir alguém melhor.
— Sim, concordo. — Matilda sorriu, forçando um tom leve em sua voz, o que
não era totalmente crível — Ele terá anos e anos para se arrepender de me perder e
se sentir solitário, mas esse é um problema dele, não meu.
Helena deu um suspiro sincero. Os sentimentos de Matilda eram muito
evidentes em seus olhos azuis e pela maneira melancólica como falava do homem
— Está realmente apaixonada por ele.
Ela observou enquanto Matilda franzia a testa, suas sobrancelhas pálidas se
juntando. Pareceu perplexa com a ideia e balançou a cabeça.
— Eu não posso estar. Não o conheço o suficiente para amá-lo. Não é amor,
é… Não é possível. É desejo e luxúria, é querer algo que sabe que não deve desejar
e que não pode ter. É… — interrompeu com um gesto frustrado — O que quer que
seja, não importa. Nunca poderá ser, é melhor esquecer tudo isso.
O coração de Helena doía. Ouviu muito bem a dúvida por trás de tudo o que
Matilda acabara de dizer. Perguntou-se se poderia esquecer o Sr. Knight. Helena
poderia fingir que ele não existia e tentar se concentrar em um dos muitos
cavalheiros elegíveis que a perseguiam onde quer que fosse? Parecia impossível,
quando ela achava todos aqueles homens insípidos e maçantes em comparação.
— Consegue deixar de lado, Matilda, seja lá o que for? Consegue esquecer?
Matilda riu, atônita, Helena seguiu o olhar da amiga, até onde havia se
concentrado: seu primeiro vislumbre de Dern.
— No momento, não. — respondeu Matilda, uma mão se acomodando sobre
seu coração — Não, enquanto estivermos aqui. Olhe.
Helena seguiu para onde Matilda apontou e ofegou. Olhou para o palácio,
maravilhada, era um palácio de fato. Estendido a partir de uma casa senhorial
existente, ainda mais antiga, foi extremamente remodelado e aumentado, ao longo
dos séculos, tornando-se um palácio arquiepiscopal no início do século XV.
Tornou-se uma possessão real durante o reinado de Henrique VIII, após o que, foi
presenteado à família Barrington, por serviços à coroa. Eles acrescentaram ainda
mais, assim o fazendo com a única intenção de impressionar e exibir a riqueza e o
status da família. Fizeram um trabalho admirável.
— É uma das maiores casas de toda a Grã-Bretanha. — disse Helena
admirada, tendo lido bastante sobre a propriedade, antes de sua visita — O edifício
sozinho cobre quatro acres e está cercado por bem mais de mil acres de parque. Foi
construído como uma casa de calendário, com trezentos e sessenta e cinco quartos,
cinquenta e duas escadas, doze entradas e sete pátios.
— Céus! — disse Matilda, enquanto Helena sorria com seu espanto —
Ficaremos terrivelmente perdidas.
— Talvez ainda esteja aqui quando Montagu voltar, ele terá que resgatá-la,
como uma princesa em uma torre?
Matilda revirou os olhos para os céus — E eu aqui pensando que a Srta.
Barrington era a única cujos voos de fantasia precisam ser administrados.
Helena riu, olhando pela janela, enquanto a carruagem roncava pela grandeza
da primeira portaria, em um grande e impressionante pátio, e, depois, através de
uma segunda portaria, ladeada por duas grandes galerias, o que levava a mais um
pátio. Aqui a carruagem parou, Helena e Matilda foram retiradas de sua carruagem
por um lacaio uniformizado de preto e prata. Helena se virou em círculo,
impressionada e encantada. Como filha de um duque, não ficava de forma alguma
perplexa por grandes edifícios, tendo vivido em lugares assim a sua vida toda, mas
havia um ar de mistério ao redor de Dern, que ela sempre desejou ver. No entanto,
não havia animosidade entre os Barringtons e a família Adolphus, porém, nenhum
convite jamais havia sido feito. Portanto, essa oportunidade era muito interessante
para não ser aproveitada ao máximo.
Atrás delas havia uma certa movimentação, eis que a carruagem com a
companheira de Matilda, Sra. Bradford e a criada de Helena, Tilly, chegaram, junto
com suas bagagens. Helena levantou os olhos e viu a governanta e o mordomo
avançando para cumprimentá-las, mas antes que pudessem abrir a boca, um grito
estridente perfurou o ar.
— Senhorita Hunt!
Uma garotinha desceu os degraus correndo, passando os criados. Ela usava um
vestido de musselina branca, com uma fita de cetim azul abaixo da linha do busto,
seu cabelo loiro, uma queda de cachos escapando de seus alfinetes.
— Senhorita Barrington! Lembre-se de seus modos, criança. — uma
preceptora irritada correu atrás da garota e suas palavras pareciam cair em ouvidos
surdos, quando a Srta. Barrington envolveu os braços em torno da Srta. Hunt e a
abraçou forte.
— A Srta. Hunt não se importa. Se importa, Srta. Hunt? — perguntou, seus
olhos cinza-azulados sérios, enquanto olhava para Matilda.
Matilda riu e se agachou para abraçá-la — Nem um pouco, mas a senhorita
deve obedecer a sua preceptora, mesmo assim. Ela está trabalhando duro para
transformá-la em uma jovem dama.
A Srta. Barrington fez uma careta, parecendo profundamente impressionada
com essa ideia — Eu não quero ser uma dama. Parece terrivelmente chato.
— Eu concordo, Srta. Barrington. — disse Helena, sorrindo quando a garota
se virou para ela com prazer.
— Mesmo? — ela perguntou, seus olhos se arregalando em seu lindo rosto.
— Sim. — Helena deu um aceno grave — É mortalmente chato ser boa o
tempo todo, mas há maneiras de se divertir, se for inteligente.
— Oh, eu sou. — disse a Srta. Barrington, imediatamente — Tio Monty diz
que sou muito inteligente, para o meu próprio bem.
— Nunca nada tão verdadeiro foi dito. — a preceptora murmurou baixinho.
Tio Monty?
Helena reprimiu um bufo de diversão, com o marquês austero e aterrorizante
sendo referido de tal maneira. Olhou para a preceptora com interesse. Quando teve
preceptora, era fria e distante, e Helena nunca gostou muito dela. Esta mulher tinha,
talvez, trinta e cinco anos, com um semblante doce e uma voz gentil. Suavemente
arredondada e maternal, pareceu lançar um olhar indulgente sobre sua tutorada,
para o desespero da preceptora, se Helena pudesse julgar pelo olhar nos olhos da
mulher, enquanto se aproximava. O mordomo foi o primeiro a cumprimentá-las, no
entanto.
— Lady Helena, Srta. Hunt, permitam-me dar-lhes as boas-vindas ao Palácio
de Dern. — disse a figura alta e impressionante. Tinha uma leve e agradável
inclinação galesa em sua voz — Eu sou Denton e, se me permitem, apresento nossa
governanta, Sra. Frant. Tenham certeza de que estamos à sua disposição e
desejamos tornar as suas estadias o mais agradável possível. Não hesitem se houver
algo que possamos fazer para as duas.
— Obrigada, Denton. — disse Helena, impressionada com o homem, que
parecia transmitir exatamente a mistura certa de orgulho e calor sincero, que o
mordomo de uma propriedade tão vasta deveria ter em cumprimentar os convidados
— Duvido que queiramos deixar um lugar tão bonito como Dern, Sra. Frant, devo
avisá-la de que estamos ambas empolgadas para começar nossa visita ao palácio,
embora eu acredite que precisaríamos de dois anos, em vez de dois dias, para
concluir a tarefa satisfatoriamente.
A expressão um tanto severa da Sra. Frant suavizou uma fração, enquanto ela
concordava com a cabeça — Isso é verdade, milady, mas posso lhe mostrar alguns
dos destaques, se me permitir.
— Maravilhoso. — disse Helena, imaginando se poderiam começar de uma
vez.
— Talvez um pouco de chá primeiro? — a Sra. Frant sugeriu — E depois,
quando quiserem, podemos começar.
Helena bateu palmas, percebendo que estava faminta, tendo apenas tomado
uma xícara de chocolate antes da partida, cedo — Isso parece maravilhoso. O que
diz, Srta. Barrington?
A menina assentiu — Pippin fez bolos e biscoitos e há geleia de morango e
creme. — entusiasmou-se, puxando urgentemente a mão de Matilda.
— Pippin? — Matilda perguntou, sorrindo para ela.
— Sra. Appleton, nossa cozinheira. — disse a Sra. Frant, um vislumbre de
diversão em seus olhos afiados.
— Ah, mas todo mundo a chama de Pippin. — protestou a Srta. Barrington —
Até o Tio Monty. Ela está aqui desde sempre, desde quando ele era um menino. Ela
é antiga. — acrescentou, com a crença óbvia de que qualquer um que fosse adulto
quando seu tio era um menino, deveria ser tão velho quanto Matusalém — Embora
Denton e a Sra. Frant também estivessem aqui e fossem igualmente velhos, mas
não têm apelidos. Por que não têm apelidos? — exigiu deles.
A Sra. Frant pareceu desaprovar, mais uma vez, mas os lábios de Denton se
contraíram.
— Já chega, minha querida. Pare de tagarelar. — repreendeu a preceptora,
balançando o dedo para a garota — A senhorita me prometeu que se comportaria
como uma jovem dama para a visita.
A Srta. Barrington bufou, mas fechou a boca e pegou a mão de Helena
também, andando recatadamente para dentro, com Matilda do lado esquerdo. Uma
vez fora de alcance, ela sussurrou: — Não prometi, ela apenas disse que eu
precisava.
Helena chamou a atenção de Matilda e as duas sorriram.

KNIGHT ENTERPRISES, PICCADILLY, LONDRES.


7 DE MARÇO DE 1815, ESCRITÓRIOS DA

Gabe deixou a carta que estava guardando de lado, com impaciência, quando
descobriu que outra de suas empresas estava indo muito melhor do que o esperado.
Não sabia o que estava errado com ele. Era só que tudo parecia tão enfadonho.
Todos os negócios dele estavam indo excepcionalmente bem. Tinha sido
meticuloso em encontrar homens inteligentes e eficientes para gerenciar e controlar
todos os seus interesses, agora estava colhendo os benefícios, enquanto o vasto
aparelho das empresas interligadas, que compunham seu império, corria como uma
máquina suavemente lubrificada. Ele se tornou mais ou menos redundante. O único
ponto brilhante no horizonte era o investimento ferroviário, mas, mesmo com a
melhor vontade do mundo, se ele conseguisse que Bedwin participasse e tudo saísse
como planejado, poderia levar anos, até mesmo uma década ou mais, até que a
maldita coisa se concretizasse. Gabe não era um homem paciente, precisava estar
ocupado constantemente ou ficava insatisfeito, foi quando começou a se comportar
mal. Estranhamente, seu pior comportamento quase sempre coincidia com períodos
de maior sucesso. A excitação que ele sentia ao alcançar o que mais desejava era
quase sempre acompanhada por uma complacência imediata, enquanto se
perguntava, bem, e agora?
Como era, seu nome estava sendo falado em todos os salões de Londres, e não
pelas razões certas. Sabia que era um idiota por se envolver com a Condessa
Culpepper. Uma mulher de trinta e poucos anos, sabia o que queria e deixou isto
bem claro. O conde era um sujeito monótono e grosseiro, muitos anos mais velho
que ela e, obviamente, pouco se importava com sua esposa, pois passava a maior
parte de seu tempo no campo, assassinando a vida selvagem.
Gabe estava entediado e a senhora foi uma diversão, o marido havia retornado
inesperadamente. Não que o conde se importasse com isso, Gabe suspeitava, se não
estivesse na companhia de Lorde Hewitt, o maior fofoqueiro de toda a Inglaterra.
Incapaz de silenciar o demônio, o conde pediu o divórcio e denunciou Gabe, sob o
pretexto de conduta criminosa. Seus advogados estavam fazendo tudo o que
podiam para silenciar o conde, comprando-o. Embora fosse demais dizer que o
homem não tinha um tostão em seu nome, seu estilo de vida era luxuoso. A soma
que Gabe estava oferecendo seria irresistível. Isso lhe custaria uma pequena
fortuna, mas valia a pena evitar que seu nome, já manchado, fosse arrastado pela
sujeira, por semanas. A fofoca já estava rodando, no entanto, e estava nas páginas
de escândalo daquela manhã, o que não ajudou nem um pouco seu temperamento.
Além disso, Montagu estava descontente, ter Montagu descontente era
semelhante a escorregar lentamente em direção à ponta de uma espada. Mais cedo
ou mais tarde, doeria como o diabo e seria ruim para a saúde. Gabe franziu a testa,
irritado. Ele não era um garoto do Montagu para ordenar por aí à vontade, longe
disso. Tinham vários interesses comerciais e convinha a cada um deles fazer uso do
outro, ocasionalmente, um quid pro quo que funcionava admiravelmente.
Atualmente, no entanto, Gabe estava em dívida com Montagu, pois concordou em
ajudar a remover um certo caráter desagradável das áreas costeiras da Inglaterra,
com a devida pressa. Como Gabe achava o homem moralmente repreensível, ficou
feliz em ajudar, mas o diabo provou ser um personagem mais difícil do que ele
havia considerado, o infeliz, até agora, escapara de seus homens. O Sr. Burton
havia se tornado uma pedra no seu sapato e Montagu estava ficando impaciente
para que ele desaparecesse. Um desejo com o qual Gabe estava totalmente de
acordo.
Levantou-se de sua mesa, um enorme móvel de carvalho, coberto de
correspondência. Normalmente, gostava dessa parte do dia, levantando-se cedo
para olhar as correspondências em paz, com uma xícara de café. Caminhou até as
largas janelas e olhou para as ruas de Londres, já repletas de pessoas cuidando de
seus afazeres, mesmo naquela hora ímpia.
Gabe se virou com uma batida na porta.
— Entre.
O jovem, que tinha a tarefa invejável de seguir Gabe e certificar-se de que ele
estava no compromisso certo, no momento certo, correu e entregou-lhe um bilhete
selado — Acabou de chegar, Sr. Knight.
— Obrigado, Francis. — Gabe pegou-o e o assistente recuou da mesma
maneira rápida, deixando-o sozinho. Observando a caligrafia familiar, Gabe
quebrou o selo e desdobrou a carta — Mas que diabos!
Maldito Burton, os havia iludido novamente. Pior ainda, ele parecia estar indo
em direção a Kent, agora, um movimento que só poderia significar problemas para
Montagu.
— Francis! — berrou. A porta se abriu antes que ele pudesse alcançá-la e o
jovem o encarou com expectativa. — Prepare minha carruagem imediatamente e
peça a Harris que reúna todos os homens disponíveis. Vamos para Dern.
Este não era o tipo de notícia que Montagu apreciaria receber em uma nota. Se
o Sr. Burton tivesse acesso a uma fração de seus consideráveis fundos, ele teria
mais do que dinheiro suficiente para contratar seus próprios homens e causar
problemas. Gabe pegou seu chapéu e fez uma careta, enquanto saía de seu
escritório. Parece que o Sr. Burton era um problema maior do que esperavam.
2
Querida Helena,
Espero que esteja gostando da paz e
do sossego agora que se livrou de nós. Dê o
nosso melhor amor ao tio Charles, tenho
certeza de que ele a tem cuidado
admiravelmente. Pergunto-me como
conseguirá lidar com seu desafio com ele
observando-a. É um homem astuto e muito
perspicaz. Não posso deixar de me
preocupar com isso. Sei que não será
excessivamente imprudente, mas tenha
cuidado. Se for envolvida em um escândalo
horrível, a culpa será minha e nunca me
perdoarei. Além disso, Robert ficaria
irritado comigo por não a ter impedido.
Mas como eu poderia impedi-la se foi um
desafio bobo que nos uniu? Mas tome
cuidado, querida irmã. Estarei sentada
sobre espinhos até saber que você
completou o desafio sem nenhum resultado
terrível.
Esperamos permanecer em Hampshire
por um tempo ainda, portanto, pode ficar
tranquila quanto a isso. Embora a ala oeste
esteja em ordem o suficiente para que
possamos nos sentir confortáveis, o resto
do lugar está em um estado chocante. Será
necessária uma quantia considerável para
que tudo volte a ser o que deveria ser.
Robert mencionou uma oportunidade
apresentada pelo Sr. Knight. O tio Charles
parece ser totalmente a favor, mas Robert
está inquieto. Não gosta, nem confia no Sr.
Knight, mas quanto mais analisa, mais
parece ser um bom investimento. Espero
que não esteja correndo nenhum risco bobo
com ele, Helena. Entendo como deve
parecer empolgante, mas Robert nunca
aprovará esse casamento. Cuide-se.
—Trecho de uma carta de Prunella
Adolphus, Duquesa de Bedwin para Lady
Helena Adolphus.

DERN, SEVENOAKS, KENT.


7 DE MARÇO DE 1815.

Matilda sorriu, divertida com a energia ilimitada de Helena. Era uma criatura
inquieta, sempre querendo descobrir mais, infinitamente curiosa e ansiosa de
entusiasmo. Era um traço que escondia impiedosamente quando estava em
sociedade, tendo sido educada fortemente para entender que a inquietação e a
maravilha do mundo eram impróprias para a filha de um duque. Foi preciso tanto
esforço de vontade, que Helena, muitas vezes, parecia distante e firme. Esta aura,
quando combinada com uma língua, que poderia bater com tanta precisão, a ponto
de arrancar as asas de uma mosca quando despertada, fazia as pessoas desconfiarem
dela. Era ferozmente leal àqueles com quem se importava, recusando-se a ouvir
uma palavra de censura contra eles e parecia não se importar nem um pouco com o
que as pessoas pensavam dela. Matilda suspeitava que isso estava longe de ser
verdade, mas uma mulher da posição social de Helena teria sido treinada desde
criança para nunca demonstrar seus verdadeiros sentimentos. Com suas amigas e
familiares, no entanto, todas essas restrições sumiam, revelando a privada Lady
Helena, que estava há quilômetros de distância da faceta pública que mostrava.
Matilda estava feliz que elas teriam esses poucos dias juntas. Foi adorável conhecê-
la melhor e compartilhar esta visita. Parecia para Matilda uma pausa da realidade,
sabendo como ela se saía muito bem e que o mundo real se intrometeria muito em
breve.
Para a ira da garotinha, no meio da tarde, a Srta. Barrington havia sido levada
para assistir à aula de francês, apenas aliviada pela promessa de que a veriam
novamente, assim que terminasse. Matilda se arrependeu de sua ausência. Phoebe
teria impedido que seus pensamentos se transformassem nesses círculos
intermináveis e indefesos. Agora, tendo visto cômodo após cômodo de
magnificência opulenta, Matilda estava desgastada. Dern estava em uma escala que
a intimidava e a desconcertava e, embora se maravilhasse com tudo o que tinham
visto, isso a deixara desanimada e comovida.
O grande salão de azulejos de mármore havia roubado seu fôlego, exatamente
como o designer Tudor pretendia. Retratos de gerações de Barringtons olhavam das
paredes, pintados por Van Dyke e Reynolds. Quando Helena perguntou,
engenhosamente, onde o retrato de Montagu poderia ser encontrado, a Sra. Frant as
levou para a longa galeria, onde uma desconcertante variedade de retratos dos
séculos XVI e XVII parecia um tratado histórico sobre a nobreza britânica através
dos tempos. À medida que avançavam na sala, intrinsecamente revestida, os
retratos se tornaram mais recentes, Matilda sentiu seu coração dar um baque
irregular, quando a governanta parou diante de um grande retrato de três meninos
de pé, sob os galhos de um antigo carvalho.
— Este é Lorde Montagu com seus irmãos, que suas almas descansem em paz.
— disse a Sra. Frant, suas feições, bastante severas, suavizando — Foi concluído
depois que seus pais e Lorde Philip morreram. Acho que é por isso que é tão
comovente. Parece que foi a última vez que estiveram juntos.
— Oh, meu Deus! — disse Helena, pegando o braço de Matilda — Aquele é
realmente o Lorde Montagu? Como ele parece feliz.
— Ele era muito próximo de seus irmãos. — disse a Sra. Frant, calmamente —
Não acredito que ele tenha encerrado o luto pela perda deles.
Matilda olhou, piscando com força, enquanto o retrato borrava um pouco. O
mais velho dos meninos, Lorde Philip, tinha, talvez, catorze ou quinze anos na
época e parecia ser cerca de quatro anos mais velho que Montagu. Ele tinha sido
um rapaz grande e robusto, com cabelos dourados e olhos cinzas escuros, tinha o
olhar confiante e seguro de um menino que conhecia seu lugar no mundo. Ao lado
dele, Montagu, a criança do meio, era magro e requintado, seu cabelo um loiro
muito mais pálido, seus olhos cinzentos, um tom mais claro, mais próximo do prata,
contornado de preto. Ele tinha o tipo de beleza inocente, que fazia seu peito doer ao
olhar para ele, ainda mais neste retrato, enquanto sorria. Seus olhos continham um
brilho travesso, o olhar de uma criança versada em problemas. Segurando sua mão
com força e olhando para ele, como se procurasse segurança, estava outro menino
de talvez cinco anos, em um terno azul. O pintor tinha feito um trabalho magistral
de capturar cada menino neste exato momento de sua infância. As feições rosadas
da bochecha do irmão mais novo ainda não haviam perdido a suavidade infantil,
que fazia com que se desejasse pressionar o rosto em seu pescoço e respirar o
cheiro maravilhoso de uma criança pequena e quente. Era um lindo conjunto e fez a
respiração de Matilda travar.
— Lindo dia, não é? — a Sra. Frant continuou — Uma semelhança
maravilhosa dos três. Eram meninos tão doces.
— Como ele era naquela época? — Matilda perguntou, incapaz de conter a
pergunta.
A Sra. Frant riu, um som surpreendente vindo de uma mulher tão severa.
— Muito travesso. — disse, parecendo bastante melancólica — Ele era uma
criança tão engraçada e inteligente. Nunca teve a intenção de se meter em
problemas, mas, na maioria das vezes, os problemas o encontravam, embora Lorde
Philip, o mais velho, o protegesse ferozmente do pior e, muitas vezes, assumisse a
culpa por ele. Ambos eram devotados um ao outro. O mais novo é o pai da Srta.
Barrington, é claro. Embora ela tenha os olhos de seu pai, mais azuis do que
cinzentos, ela favorece seu tio em temperamento. O pequeno Lorde Thomas era
uma alma tão quieta. Ele preferia sentar-se com um livro e não gostava de nenhum
tipo de brincadeira selvagem e barulho. — seu rosto escureceu, calando-se, como se
ela acreditasse que tinha falado demais, assim as apressou para o próximo retrato
— E aqui está Lorde Montagu nos dias de hoje. Foi pintado ano passado, pelo Sr.
Lawrence.
Matilda sentiu um arrepio de consciência quando encontrou o olhar
intransigente da pintura sobre ela. O que aconteceu com aquele garotinho
sorridente? Não tinha sinal dele nesse retrato. O homem que a olhava era
indiscutivelmente poderoso, implacável e mais frio que gelo. Estava usando um
casaco cinza, que realçava aqueles olhos estranhos. Ainda havia um brilho neles,
embora não fosse mais de travessura, mais como o brilho da luz, que brilhava na
borda de uma lâmina bem afiada. Usava a grande estrela ornamentada da Ordem da
Jarreteira, os diamantes brilhando tão friamente quanto seus olhos. Lawrence o
pintou contra um fundo preto, seu cabelo brilhava quase branco em contraste. Com
a prata de seu casaco e olhos e os diamantes brilhantes, na estrela da jarreteira,
parecia sobrenatural, bonito demais para ser real. Era um retrato surpreendente e
que a fazia estremecer de apreensão.
Sei o que deve pensar, quão infiel deve acreditar que eu seja, mas a verdade é
que tenho medo do meu sobrinho, do que ele é capaz.
As palavras ecoaram na cabeça de Matilda e, olhando para esse retrato, não foi
tão fácil descartar as palavras de seu tio.
— Senhorita Hunt! Lady Helena!
Elas se viraram quando Phoebe correu em direção às duas, puxando a mão de
sua preceptora, que estava tentando o seu melhor, para fazer a garota andar e não
correr… com resultados pífios.
— Eu terminei minha lição de francês. — disse, sorrindo para elas.
— Estávamos vendo o retrato do seu tio. — disse Helena — A senhorita acha
que há uma boa semelhança?
Phoebe franziu a testa, estudando o retrato — Suponho que sim, quando algo o
desagrada. Ele ficou do mesmo jeito, todo feroz e frio, quando ouviu como Lady
Jane me empurrou e me fez cair, dizendo que não gostava de mim.
— Oh, querida, que garota horrível ela parece ser. — disse Matilda, pegando a
mão de Phoebe — O que fez?
— Eu a chutei nas canelas. — disse Phoebe alegremente — Ela chorou o
caminho inteiro para casa.
— Senhorita Barrington! — sua preceptora exclamou consternada.
— Ótimo trabalho! — Helena disse, com aprovação óbvia — Eu teria feito o
mesmo.
A preceptora lançou a Helena um olhar reprovador, antes de repreender sua
tutelada.
— Bem, é verdade, Srta. Peabody. Até a senhorita mesmo, disse o quão
repugnante ela era. Eu a chutei e o tio não se importou nem um pouco. — Phoebe
retrucou — E a senhorita sabe o quão importante ele diz que a verdade é. Quando
contei a ele sobre Lady Jane, seu terrível irmão Rupert, a Srta. Kendall e a Srta.
Smythe juraram que ela não havia feito nada disso, mas ele acreditou em mim, de
qualquer maneira. Ele sempre acredita em mim, não importa o que aconteça e eu
nunca lhe contaria uma mentira. Nem umazinha.
Embora ela não tenha dito isso em voz alta, houve um ressoar no final desse
discurso apaixonado e sua preceptora suspirou.
— Temos tempo para um passeio no jardim antes do jantar. — disse Phoebe,
levando as mãos de Matilda e Helena nas dela — Venham, quero mostrar meu
pônei.

— Meu Deus, meus pés doem. Devemos ter andado quilômetros, hoje. —
exclamou Helena, enquanto desciam as escadas para jantar. Phoebe estava
esperando por elas no pé da escada. A garota estava vestida com um bonito vestido
azul naquela noite, com uma faixa de cetim branca grossa. Uma fita azul fina tinha
sido tecida dentro e fora de seus cachos loiros e ela parecia totalmente adorável. A
semelhança entre essa criança e os garotos da pintura era marcante, Helena se
perguntou o que Matilda tinha achado disso e da maneira como a governanta havia
falado do mestre da casa. Helena ficou intrigada e não tinha nenhum interesse
romântico no homem. Quando o pensamento se instalou em sua cabeça, o
mordomo avançou para atender uma nova chegada à porta. Helena sentiu o fôlego
deixando-a com pressa, quando o Sr. Knight apareceu.
Era como se nada ao seu redor existisse, desde o momento em que ele
apareceu, sua imagem dominando todo o resto. Parecia magnífico, alto e de ombros
largos, com aquele olhar perverso, quase diabólico, que lhe fazia ter certeza de que
ele não estava fazendo nada de bom.
— Senhor Knight! — exclamou Phoebe, surpreendendo Helena ainda mais,
quando percebeu que a garota não estava surpresa em vê-lo em Dern — Receio que
meu tio não esteja aqui. Ele foi para a cidade.
— Senhorita Barrington, um prazer como sempre. Lady Helena, Srta. Hunt. —
o Sr. Knight respondeu gravemente, um brilho nos olhos que fez Helena sorrir,
antes de se curvar para ela e Matilda, depois voltou sua atenção para a garotinha —
Bem, quão tolo isso me faz sentir, já que saí de Londres para, expressamente, falar
com ele.
— Minha nossa — ela deu uma risada leve — Isso é uma bobagem. O senhor
desperdiçou a sua jornada.
— Oh, não inteiramente. — respondeu o Sr. Knight, afável — Eu tinha outros
assuntos a tratar na área, mas diga-me, quando Lorde Montagu voltará?
— Amanhã à noite.
— Excelente. Então vou ficar em um quarto no White Hart e voltarei amanhã,
se puder avisá-lo que estive aqui.
— Decerto que sim. O senhor já jantou, Sr. Knight? Gostaríamos muito que se
juntasse a nós.
— Senhorita Barrington, não se convida cavalheiros para jantar, tenho certeza
de que o Sr. Knight já tem outros planos. — repreendeu a preceptora.
A Srta. Barrington soltou um suspiro de frustração.
— Tem outros planos, Sr. Knight? — Helena perguntou, ciente de que ele,
provavelmente, preferiria enfiar alfinetes nos olhos do que passar uma noite de
conversa fiada com uma garotinha e duas damas solteiras e suas acompanhantes.
— Eu tenho. — disse ele com muita velocidade — Se me derem licença, mas
agradeço o gentil convite.
— Oh! — respondeu a Srta. Barrington, cabisbaixa — Então não pode ao
menos vir para o chá, amanhã à tarde? Lady Helena e a Srta. Hunt partirão depois
disso e será tão bom ter amigos para o chá. Gostariam que o Sr. Knight viesse, não
é? — perguntou, virando um olhar cheio de súplica para as duas.
— Decerto que sim. — respondeu Helena, imediatamente, encontrando os
olhos do Sr. Knight e o desafiando silenciosamente — Acho que gostaríamos muito
disso.
— Pronto. — exclamou a Srta. Barrington, contente — Eu avisei. Agora deve
vir.
O Sr. Knight estreitou os olhos para Helena, apenas o suficiente para prometer
retribuição por ajudar uma garotinha a manipulá-lo — Claro, estarei aqui. —
respondeu educadamente — Eu não perderia isso por nada no mundo.
— Garota terrível. — Matilda sussurrou, uma vez que o Sr. Knight as deixou e
foram para a mesa de jantar.
— Eu ou a Srta. Barrington? — Helena perguntou com sua expressão mais
inocente.
Matilda bufou — Você, mas temo que ela não deva ficar muito tempo em sua
companhia. Certamente, são farinha do mesmo saco.
— É por isso que gosta tanto dela. — disse Helena com uma fungada digna —
Nós duas somos encantadoras.
Matilda riu, incapaz de refutar o comentário, pegando o braço de Helena,
enquanto iam jantar.
3
Querida Bonnie,
Eu tenho uma surpresa para lhe fazer.
Estarei em Londres a partir do dia 12 de
março, por dez dias, antes de retornar a
Wildsyde. Estou muito ansiosa para rever
todas as minhas amigas, sinto que vou
explodir! Por favor, avise a todas as
Senhoritas Peculiares, para que possam me
visitar em Upper Walpole Street. Será como
nos velhos tempos! Escrevi para a
cozinheira para dizer que precisamos de
uma grande variedade de bolos com creme.
— Trecho de uma carta da Sra. Ruth
Anderson para a Sra. Bonnie Cadogan.

DERN, SEVENOAKS, KENT.


8 DE MARÇO DE 1815.

O Sr. Gabriel Knight não parecia nem um pouco confortável, pensou Helena
divertida. Observando-o saborear seu chá, em uma bela xícara de porcelana pintada
com rosas delicadas e bordada em ouro, ela foi forçosamente lembrada do urso
empalhado, no escritório de St. Clair, na Casa Holbrooke. A pobre criatura tinha
sido vestida com roupas de festa por Kitty e Harriet. Era o desafio de Kitty, na
verdade, mas olhando para o apreensivo Sr. Knight, se comportando tão
adequadamente, os resultados eram semelhantes. Helena sentiu uma pontada de
simpatia pelo urso quando o viu. Parecia desrespeitoso tratá-lo assim, quando, em
vida, poderia ter arrancado seu pescoço com facilidade. Observando o Sr. Knight
tomar chá com elas, sentindo a energia reprimida e a força de caráter mantidas
firmemente sob controle, remetia-lhe ao mesmo sentimento.
Quando ele olhou para cima e seus olhos se encontraram, notou neles um
pouco de brilho, mas também de ira, que ele direcionou para ela. Incomodada, ela
sorriu um pouco, tentando enviar-lhe um pedido de desculpas silencioso. Para sua
surpresa, ele pareceu entender e aceitar e seus ombros rígidos relaxaram um pouco.
— Conhece bem Lorde Montagu, Sr. Knight?
Helena ficou aliviada por Matilda ter perguntado, pois estava curiosa para
descobrir o que ele estava fazendo em Dern, mas não ousou, julgando que a
paciência dele tinha limite.
O Sr. Knight soltou um som divertido — Não sei ao certo se posso fazer essa
afirmação, Srta. Hunt. Nossos caminhos se cruzam de vez em quando, é tudo que
posso dizer.
— Para tratar de negócios? — Matilda pressionou, surpreendendo Helena com
sua tenacidade.
O Sr. Knight olhou para ela com firmeza, antes de responder — Lorde
Montagu é um cavalheiro, ele não mancha as mãos com negócios.
Havia uma pontada definitiva na resposta, advertindo que ele não responderia
mais sobre o assunto. Bem, era muito curioso.
— O Sr. Knight está zangado, porque meu tio não investe em seu projeto
ferroviário. — disse a Srta. Barrington, servindo-se alegremente de um terceiro
biscoito doce.
— Senhorita Barrington! — repreendeu sua preceptora, lançando um olhar de
pânico para o Sr. Knight — Não cabe a senhorita comentar sobre os assuntos dos
cavalheiros. Não é assunto nosso.
A Srta. Barrington revirou os olhos e deu uma mordida desafiadora no
biscoito, mastigando ruidosamente.
O Sr. Knight sufocou uma risada e, rapidamente, pousou sua xícara de chá.
Helena o olhou, certa de que ele estava rindo.
— Isso é verdade, Sr. Knight? — não resistiu em perguntar — O senhor está
planejando investir em um projeto ferroviário? Meu tio Charles me levou para ver o
Catch Me Who Can, que o Sr. Trevithick exibiu. Tivemos que esperar muito tempo
para andar nele, pois houve uma quebra nos trilhos, mas foi maravilhoso. A
experiência mais emocionante da minha vida. Eu queria voltar, mas meu tio não
permitiu. O senhor se propõe a criar algo dessa natureza?
Ela o surpreendeu, logo percebeu, enquanto a encarava por um longo
momento, antes de responder.
— Tenho sim. Uma linha que transportaria mercadorias e passageiros.
Acredito que todo o país poderia estar conectado dessa maneira. Isso tornaria as
viagens mais rápidas e fáceis, o movimento de mercadorias e informações seria um
grande benefício para as empresas, em todo o Reino Unido.
Helena sentiu sua boca abrir-se em um sorriso. Ela não estava exagerando. Seu
passeio no Catch Me Who Can estava vivo em sua memória, desde então. A ideia
de uma enorme máquina de ferro ser capaz de transportar pessoas, a velocidades
selvagens, talvez de um extremo do país para o outro, era surpreendente. Ela sentiu
uma onda de excitação e nenhum temor na escala do que ele estava propondo, e não
menos importante para o homem que estava determinado a torná-lo realidade.
— Que maravilhoso! — disse com a voz sussurrada, olhando para ele com
aprovação, não inteiramente certa se estava elogiando sua ideia ou a ele.
Matilda parecia saber, enquanto pigarreava e cutucava Helena discretamente
com o cotovelo. Helena corou, afastando os olhos do Sr. Knight e ocupando-se em
pegar um biscoito, enquanto se recompunha, mais uma vez.
— E este é o projeto sobre o qual o senhor está ansioso para discutir com meu
irmão?
Ela olhou para cima e o encontrou olhando-a, corou com a intensidade de seu
escrutínio.
— É, sim.
Helena assentiu, segurando o olhar dele — Então farei tudo ao meu alcance
para encorajar Bedwin a concordar com isso.
Ele inclinou a cabeça, em uma demonstração silenciosa de gratidão, seus olhos
nunca deixando os dela.
— Bem, — disse Matilda, amenizando a atmosfera repentinamente carregada
— é um fato triste, mas nossa visita está no fim.
— A senhorita tem mesmo que ir? — a Srta. Barrington lamentou, movendo-
se para se sentar ao lado de Matilda e agarrando-se a seu braço — Por favor, fique
mais um pouco. Só mais algumas horas, para que possa ver meu tio. Sei que ele
ficaria feliz em vê-la e ninguém saberia. Só mais um pouquinho, por favor, Srta.
Hunt?
A Srta. Peabody interveio, antes que Matilda pudesse responder — Agora,
meu cordeiro, a Srta. Hunt, sem dúvida, precisa voltar para sua família. A visita foi
muito adorável, então não vamos permitir que elas acreditem que a senhorita é uma
garota mimada e ingrata pelo tratamento que lhe deram.
A Srta. Barrington suspirou, parecendo tão abatida, que o coração de Helena
sentiu por ela.
— Estou grata pela senhorita ter vindo. — disse ela, olhando para Matilda com
olhos tristes — Eu apenas queria que pudesse ficar um pouco mais.
Matilda estendeu a mão e acariciou o rosto da garota.
— Eu também. — disse gentilmente — Mas nem sempre podemos ter o que
queremos.
Helena sentiu seu coração doer pelas duas, enquanto a criança se inclinava
para ela, descansando a cabeça no seu ombro.
— Eu também deveria ir embora. — disse o Sr. Knight, conseguindo a atenção
de Helena para ele.
Helena se levantou, decidindo aproveitar a situação — Então tomarei a
liberdade de acompanhá-lo até a porta, Sr. Knight. — disse, ciente das expressões
gêmeas de horror escandalizado de sua criada e da companheira de Matilda. Helena
as ignorou — Gostaria de falar com o senhor sobre o interesse de Bedwin em seu
projeto. — acrescentou com alguma força, antes de sair com o Sr. Knight da sala.
— E então? — ele exigiu, a curiosidade brilhando em seus olhos, no momento
em que a porta se fechou atrás deles.
— O senhor está em dívida comigo. — disse Helena, sem preâmbulo.
O Sr. Knight bufou — Não posso deixar de pensar que já paguei essa dívida na
íntegra. Por Deus, tomei chá com uma criança. Se alguém descobrir, serei motivo
de chacota.
— A Srta. Barrington foi responsável por isso. — respondeu Helena — Não é
minha culpa se o implacável Sr. Knight descobriu que não pode dizer não a uma
garotinha com cachos.
— A senhorita ajudou. — ele resmungou, Helena não pôde deixar de rir.
— Sim, foi uma oportunidade deliciosa demais para perder, mas o senhor se
saiu admiravelmente bem, devo dizer. Fiquei impressionada.
Ele lançou um olhar penetrante, avaliando se ela estava ou não zombando
dele. Não estava, ele pareceu perceber isso.
— Muito bem. — disse ele, com o tom de um homem que sentia que se
arrependeria de suas próximas palavras — E o que a senhorita quer de mim?
— Eu preciso de uma testemunha. — disse Helena, imaginando como ele
aceitaria sua exigência.
— Testemunha para quê? — ele perguntou, as sobrancelhas escuras franzindo.
— Está planejando cometer um crime, Lady Helena?
— Eu dificilmente iria querer uma testemunha, se tivesse isso em mente.
— Devo ser seu álibi, então? — ele perguntou, um brilho provocador em seus
olhos.
— Não. — Helena sentiu seus batimentos acelerarem, enquanto ele olhava
para ela. Era uma sensação estranha ser o foco de sua atenção. Era, de fato,
semelhante à sensação de montar o Catch Me Who Can: alegria com uma pontada
de medo, a consciência de fazer algo descontroladamente emocionante, que poderia
ser perigoso — Sem dúvida, o senhor vai acreditar que é tolice, mas tenho um
desafio para completar.
— Um desafio? — ele repetiu, parecendo não ter entendido a palavra,
certamente não no contexto, pelo menos.
— Sim, Sr. Knight, um desafio. Um desafio que aceitei e do qual não posso
recuar. Devo passar em frente ao White’s e acenar para os cavalheiros.
Ele a olhou — A senhorita enlouqueceu.
Helena suspirou — Não enlouqueci. Quase todas as minhas amigas
completaram seus desafios. Eu sou uma das últimas e não vou recuar. No entanto,
gostaria que o senhor testemunhasse a ação e relatasse às minhas amigas que
completei o desafio.
— Mesmo a filha de um duque não é imune a escândalos. — disse ele,
observando-a com um olhar tão feroz, que Helena quase deu um passo para trás.
— Eu estou ciente. — retrucou — No entanto, terei minha criada por decoro e
um tigre na plataforma. Então não é tão chocante, e sempre posso dizer que tomei o
caminho errado.
— Eu diria que a senhorita tomará o caminho errado se persistir nessa loucura.
O que pretende dirigir, afinal?
— Pegarei o cabriolé de Bedwin emprestado. Tenho meus próprios cavalos,
mas será mais fácil manobrar o cabriolé no trânsito do que o meu phaeton, acredito.
— A senhorita irá se matar. — disse ele, cruzando os braços.
— Certamente que não. — Helena corou de indignação com o deslize —
Bedwin é membro do Four Horse Club e ele próprio me ensinou a pilotar. Ouso
dizer que sou melhor do que o senhor.
O Sr. Knight arqueou uma sobrancelha e Helena teve que reprimir o desejo de
chutá-lo nas canelas, parecia tão arrogante. Honestamente, os homens eram animais
tão vaidosos. Eles nunca poderiam imaginar uma mulher os superando em nada.
— Muito bem, Lady Helena. Se está tão interessada que eu a veja fazendo
papel de boba, estarei lá.
— E o senhor visitará minhas amigas e fará um relatório completo? — exigiu,
sentindo uma pequena onda de triunfo, apesar da atitude dele. Iria mostrar-lhe quem
era a boba.
Ele soltou um suspiro sofrido, mas acenou em concordância — Eu irei. A
senhorita pode enviar uma nota para meus escritórios, em Piccadilly, com o dia e
horário. No entanto, ficarei em Kent por, pelo menos, mais alguns dias.
Helena ergueu o queixo, ciente de que estava usando sua personalidade
pública, desesperada para colocá-lo em seu lugar, o diabo irritante — Pois bem,
então. Avise-se do seu retorno à cidade. Completarei meu desafio no dia seguinte.
Houve um som abafado de diversão, mas então sua expressão ficou séria —
Não há vergonha em desistir de algo que possa causar constrangimento ou lesão,
milady.
Cada vez mais indignada por ter suas habilidades e sua honra questionadas,
Helena endureceu — Eu nunca volto atrás.
Olhou para ele ao falar, virou-se e voltou para a sala de estar.

WHITE ‘S, ST. JAMES, LONDRES.


12 DE MARÇO DE 1815.

Gabe fitava o relógio enquanto esperava do lado de fora do White’s. Enviou


uma nota a Beverwyck informando a Lady Helena que havia retornado à cidade no
dia anterior pela manhã. Não conseguia entender. A idiota provavelmente se
mataria. Na melhor das hipóteses, causaria um alvoroço, e porque ele tinha que
permanecer ali para ver, não sabia. No entanto, havia dado sua palavra e isso era o
que importava. Não ficou surpreso ao receber o aviso, informando-o de que ela
completaria seu circuito de St. James às cinco da tarde do dia seguinte. Então, aqui
estava ele, andando de um lado para o outro, do lado de fora do White’s como um
tolo. Apesar de seu sucesso e do fato de que, provavelmente, poderia comprar o
maldito lugar se quisesse, Gabe não poderia entrar no clube exclusivo. E não por
falta de tentativa. Tinha sido apresentado para a adesão por alguém que lhe devia
um favor, os outros membros, no entanto, tinham que votar a sua aceitação por
meio de uma cédula, escolhendo entre uma bola branca ou preta. Uma bola preta
era suficiente para barrar a adesão e Gabe tinha recebido mais do que uma. Isso o
irritou mais do que deveria. Não que quisesse especialmente a filiação, andar
ombro a ombro com o tipo de cavalheiros que frequentavam o lugar provavelmente
o levaria às lágrimas, mas era o princípio que contava. Tinha poder e riqueza, ainda
assim, era um bastardo, inútil aos olhos da ton. Deus, os odiava por isso.
Com um suspiro impaciente, Gabe pegou o relógio e o abriu. Eram cinco e
dois. Decidindo que daria a ela até às cinco em ponto, e nem um segundo a mais,
Gabe começou a deslizar o relógio de volta para o bolso do colete, e quando estava
quase o colocando lá, olhou para cima e viu a visão magnífica de Lady Helena
Adolphus dirigindo um cabriolé amarelo, em uma velocidade estonteante pela St.
James’ Street. Estava vestida de verde-esmeralda, seu cabelo escuro tombando em
cachos em torno de seu rosto adorável, uma pluma alegre e verde, de penas de
avestruz, combinando, esvoaçava em seu chapéu. Dois cavalos frísios pretos, cujas
crinas grossas fluíam como seda, puxavam o veículo leve, suas cabeças elegantes
erguidas, como se conscientes de seu próprio pedigree e da dama empunhando o
chicote, com uma habilidade óbvia. Gabe ficou ciente de homens parando em seu
caminho, um pobre tolo quase dando de cara com o poste de luz, tal era sua
distração com a visão. Helena se virou em direção ao White’s e, quando nivelou,
Gabe pôde ver a criada com o rosto branco e aterrorizado, antes de olhar de volta
para sua senhora composta. Seus olhos se encontraram e Helena sorriu triunfante,
levantando o cabo do chicote, para tocar a aba do chapéu, em uma saudação a ele e
ao público, que rapidamente se aglomerou na calçada.
Para seu choque e consternação, o coração de Gabe deu duas batidas rápidas e
sem ritmo, como se a coisa idiota estivesse se atirando contra sua caixa torácica.
Oh, Deus, pensou e tentou ignorar a forma como a coisa estúpida batia forte, em
seguida, começou a acelerar, mas… Maldição, ela era magnífica.
Os cavalheiros presentes gritaram, aplaudiram e assobiaram. Gabe cerrou os
dentes, desejando ter um maldito chicote para que pudesse colocá-los em seus
devidos lugares. Mal ousando respirar, observou Helena navegar habilmente em
torno de uma carruagem de quatro cavalos que se aproximava, errou um tolo
bêbado que havia atravessado a estrada naquele exato momento e, em seguida,
executando uma curva limpa, guiou seus cavalos habilmente pela curva. Um
momento depois, ela se foi.
Com a excitação terminada, os cavalheiros se dispersaram de volta para seus
vários entretenimentos, armados com uma nova e excitante história para
compartilhar com seus comparsas e Gabe liberou um suspiro irregular. Porque
tinha que testemunhar para as suas amigas, não conseguia entender, estaria por toda
Londres, antes do café da manhã.
Por alguma razão, que ele não entendeu nem desejou considerar, Gabe ficou
paralisado no mesmo lugar por um bom momento, depois que Helena desapareceu
de vista. Não pôde evitar a sensação desconfortável de que havia se enraizado
dentro dele, uma sensação que lhe dizia que algo tangível havia mudado. Não seja
um idiota, alertou-se, irritado, antes de ir para um clube que o deixaria passar pela
porta, para tomar uma bebida. Precisava de uma.
4
Querida Srta. Hunt,
Agradeço a gentileza de visitar minha
sobrinha. Não ouvi nada além do seu nome
nos lábios dela, desde o momento em que
voltei para casa, agora que se dignou a
falar comigo novamente. Tudo o que fala é
o que a Srta. Hunt fez e disse e como ela é
adorável, gentil e bonita. Parece que estou
perdoado, e ainda assim, continua me
punindo, embora ela não perceba isso.
Então, agora, não posso escapar da
senhorita, nem mesmo aqui. Está me
assombrando, Srta. Hunt, me impedindo de
dormir. Todas as vezes que entro em algum
cômodo, me pergunto se a Srta. Hunt
esteve aqui, se a Srta. Hunt viu isso, o que
ela achou daquilo? Não posso me impedir
de imaginá-la aqui, na minha casa. Estou
doente de ciúmes, desejando que tivesse
sido eu quem houvesse mostrado à
senhorita, em vez de minha governanta.
Consegue ver o quão forte caí, invejando
os meus próprios criados, por estar em sua
companhia? Às vezes acredito que posso
detectar o aroma de flor de laranjeira que
ficou no ar. Talvez eu esteja simplesmente
perdendo a cabeça nas garras dessa
obsessão. É isso que é? Apenas uma
obsessão? A senhorita sente, pelo menos,
um pouco dessa loucura também? A
senhorita se tornou um tormento para a
minha alma. Alegra-a saber disso?
Suponho que ache que mereço. Talvez eu
mereça.
Deus, sinto sua falta.
—Trecho de uma carta de O Mais
Honorável, Lucian Barrington, Marquês
de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.
ENCONTRO DAS SENHORITAS PECULIARES, UPPER WALPOLE STREET, LONDRES.
13 DE MARÇO DE 1815.

Demorou um pouco mais de uma hora, antes que os gritos e as risadas


diminuíssem o suficiente, para tornar possível uma conversa sensata. Não que
alguém se importasse. Fazia muito tempo desde que Ruth viu todas as amigas e
estava tão radiante de felicidade, que todas queriam saber tudo.
— Não posso acreditar que está feliz, casada com aquele bruto. — disse
Bonnie, com um brilho travesso em seus olhos — Estou certa de que o domou,
quero saber como fez isso.
— Eu não fiz nada disso. — respondeu Ruth, rindo — Ele não é nem um
pouco bruto, sua garota terrível. Na verdade, é um grande gatinho fofo, debaixo de
toda aquela fanfarronice.
— Um gatinho? — Bonnie repetiu, seu rosto confuso, entre chocado e atônito
— Estamos falando do mesmo sujeito, um enorme Highlander, aquele que a
sequestrou para a Escócia, todos aqueles meses atrás? O que ele lhe fez?
Ruth riu, aceitando as provocações de Bonnie com bom coração — Ele me fez
incrivelmente feliz. Admito que tivemos um começo conturbado e alguns mal-
entendidos, mas toda aquela bravura e mau humor, eram apenas aparência. Ele é
um amor por baixo de tudo aquilo.
— Bem, beeeeem por baixo. — disse Bonnie, sorrindo.
— Miserável! — Ruth riu, balançando a cabeça, sem rancor.
— Ele está aqui! — Minerva disse, de perto da janela.
Ela se levantou com uma enxurrada de saias e voltou a se sentar ao lado de
Harriet e Helena. Helena pousou a xícara de chá, ciente de que suas mãos não
estavam firmes o suficiente para segurá-la, sem que chacoalhasse no pires. Não
conseguia entender por que estava tão nervosa. O dia anterior tinha sido exatamente
como esperava que fosse. Pilotou perigosamente e sabia disso, ele não seria capaz
de negar que era verdade. Embora houvesse conversas e olhares de desaprovação
das matronas da ton, e que seu irmão ficaria furioso, nenhum dano real havia sido
feito. Sem dúvida, alguns de seus pretendentes - aqueles que procuravam uma
esposa tranquila e dócil, que nunca lhes causaria um momento de preocupação - se
afastariam dela, horrorizados, contava isso como uma vitória. O Sr. Knight pensava
como aqueles homens? Desaprovou o desafio, por que pensou que ela se arruinaria
ou sofreria um acidente? O que ele pensaria, agora que nenhum de seus resultados
previstos havia acontecido?
Ela não tinha mais tempo para compor-se ou ponderar a questão, quando o
mordomo o anunciou. Hesitou por um momento, na porta, enquanto os olhos das
Senhoritas Peculiares pousavam sobre ele. Helena sorriu, entendendo que ele
poderia se sentir um pouco assustado com a perspectiva de tomar chá com elas.
Embora estivessem em maior número, as damas presentes eram todas mulheres a
serem consideradas, e cada uma delas tinha os melhores interesses de Helena no
coração. Aashini, a condessa Cavendish e Harriet, a condessa St. Clair, olhavam
para ele de cima a baixo, com interesse. Ruth Anderson, que havia se transformado
em uma mulher confiante e franca, e em cuja casa estavam, sendo essa de seus pais,
cercada de opulência, olhou para ele com um olhar atento, que faria qualquer
homem se contorcer. Minerva, casada com seu melhor amigo, deu-lhe um aceno
amigável, mas sua expressão diminuiu, quando seu olhar caiu sobre Bonnie. Helena
segurou uma pontada de ciúme quando ele foi na sua direção.
— Senhora Cadogan. — cumprimentou com um sorriso quente e obviamente
genuíno — É muito bom vê-la parecendo tão bem.
Bonnie sorriu para ele, tão inconsciente e totalmente ela mesma, como sempre
fora. Helena a invejava por aquela efervescência natural e não pôde deixar de se
perguntar se o Sr. Knight achava que ela parecia enfadonha e frágil, em comparação
— Estou em boa forma, Sr. Knight, e muito feliz em vê-lo, pois finalmente posso
agradecê-lo, pessoalmente, pelas lindas flores que me enviou, durante minha
convalescença. Elas levantaram meu ânimo durante um momento difícil da minha
vida, e sou profundamente grata.
Helena observou, enquanto via sua expressão mudar para uma de tristeza e
culpa.
— Não, Sr. Knight. — disse Bonnie, balançando a cabeça antes que ele
pudesse expressar o que quer que tivesse roubado a cor de seu rosto — Não quero
que o senhor se sinta culpado por algo que não foi sua culpa, de forma alguma.
— Mas… — ele começou, Helena ficou impressionada com a verdadeira
tristeza em seus olhos — Mas a senhora perdeu a criança, e…
Bonnie se endireitou, a voz firme — E isso não foi culpa de ninguém. Foi um
acidente. Se o senhor se sente culpado, então também devo me sentir, por ter caído
do meio-fio, e em seu caminho.
— Mas a senhora foi empurrada…
— E o senhor me salvou. Se não fosse por sua habilidade com os cavalos, eu
teria sido morta e não estaríamos tendo essa conversa tola. Não é culpa sua, Sr.
Knight. — Bonnie disse novamente, mais feroz do que Helena já tinha visto — O
senhor estava no lugar errado, na hora errada, agradeço a Deus por isso, pois outro
homem não teria agido tão rapidamente quanto o senhor. Pronto. Bem feito para o
senhor, pois me fez repreendê-lo, então, assunto encerrado.
A sala ficou em silêncio e Helena observou, enquanto os ombros do Sr. Knight
se aliviavam. Percebeu que ele carregava o peso de sua culpa, desde aquele dia
horrível. Pobre homem. Bonnie havia perdido seu bebê e ele vinha se culpando por
isso, desde então.
— Obrigado. — ele disse, mais calmo.
Bonnie assentiu e estendeu a mão para ele, chocando Helena, enquanto
apertava os dedos dele, antes de soltá-los — Agora, então, Sr. Knight. Conte-nos
tudo!
Seus olhos brilhavam com humor e travessura, como os olhos de Bonnie
sempre eram e Helena viu o Sr. Knight reagir ao calor deles. O sorriso que se
curvava sobre sua boca era genuíno.
— Contarei após ter um pouco desses bolinhos.
Houve exclamações e risadas, enquanto o Sr. Knight foi direcionado para uma
cadeira e servido de chá e bolos. Helena se recostou na cadeira, estranha, agora que
ele relaxava e suas amigas o atraíram para uma conversa. Ele não se curvou e
permaneceu, bem-humorado e disposto a agradar, ignorando-a completamente. Ela
disse a si mesma que estava sendo uma tola, sabia que ele não gostava dela desde o
início, então, era tolice supor que pudesse olhá-la com admiração, simplesmente
porque fez um espetáculo de si mesma. Ainda assim, estava magoada e furiosa
consigo mesma, por estar magoada, pois era sua culpa. Esperava que ele caísse a
seus pés, apenas porque poderia conduzir um cabriolé, ou porque não era tão
enfadonha, a ponto de recuar de um desafio, ou mesmo por que tinha honra
suficiente para manter sua palavra?
Sim, ela percebeu com o coração afundando. Sim, ela esperava.
— Bem, Sr. Knight, o senhor tomou seu chá e comeu bolinhos. Agora, pode
nos contar o que o senhor viu, ontem? — Ruth exigiu com um sorriso.
— Eu estava aguardando na rua St. James, na hora marcada, — começou
Knight — batendo o pé impaciente e determinado a não dar à Lady Helena mais de
cinco minutos após o horário marcado para fazer sua aparição.
Helena olhou para a xícara de chá, imaginando se ele estava prestes a fazê-la
soar como uma tola e desejando que nunca o tivesse incomodado em estar aqui.
Não foi necessário. Ela sabia que seria tudo o que as pessoas estariam falando
depois. Não havia necessidade de ele vir aqui e confirmar tudo. Aquilo era uma
desculpa para vê-lo novamente, para passar um pouco mais de tempo em sua
companhia, nada mais, e ele devia saber disso. Humilhação queimou em seu peito,
tentou reprimir. Por que ela deveria se sentir envergonhada? Ela disse que o achava
fascinante, ele sabia que ela o queria. Nada havia mudado. Não havia vergonha
nisso, não agiria como se houvesse. Se ele não pudesse encontrar nada nela para
gostar, então…
— Quando, da esquina, um cabriolé amarelo apareceu, sendo puxado por dois
magníficos cavalos pretos, e conduzido por uma deusa. Por Deus, deviam tê-la
visto. Era como se Boadiceia tivesse se levantado para queimar Londres, mais uma
vez. Ela parou toda a praça. Um pobre idiota até deu de cara contra um poste de
luz, de tão atordoado ao vê-la. Eu não poderia culpá-lo.
Helena ergueu os olhos, surpresa, e sentiu a cor subir em suas bochechas,
quando encontrou os olhos dele. Ela não conseguia ler o que via ali. Era um olhar
bastante duro, possivelmente um pouco irritado, e ainda… e ainda…
Ela prendeu a respiração.
— Ela dirigiu perigosamente. — continuou o Sr. Knight, tirando os olhos dela
— Melhor do que a maioria dos homens que conheço. Quando me disse que o
duque a havia ensinado e que era membro do Four Horse Club, admito que fiquei
cético. Eu assumi que seu irmão a havia condescendido, a elogiado mais do que sua
habilidade. Eu estava errado.
Helena sorriu, enquanto suas amigas exclamavam e a parabenizaram. Bonnie
se levantou e lhe deu um abraço forte.
— Obrigada. — disse ao Sr. Knight, assim que a excitação diminuiu, mais
uma vez — Não há muitos homens que admitem que uma mulher poderia fazer
algo melhor do que eles, então, isso significa muito para mim.
O Sr. Knight ergueu um dedo em um gesto de alerta — Oh, não, eu não disse
nada disso. Disse que a senhorita dirigia melhor do que muitos homens que
conheço, mas, na verdade, muitos dos homens que conheço nunca deveriam ser
encarregados de cavalos. Mostrou uma habilidade considerável, Lady Helena, mas
eu não disse que era melhor do que eu.
A criatura insuportável que ela queria chutar nas canelas em Dern, estava mais
uma vez visível. Helena reagiu, abrindo a boca, antes que seu cérebro a alcançasse
e aproveitasse a oportunidade para amordaçá-la.
— Mas eu sou melhor do que o senhor. — disse, olhando para ele — Além do
mais, suspeito que já saiba disso. Na verdade, vou provar isso. Eu o desafio, Sr.
Knight. Eu o desafio a provar que pode me superar em uma corrida.
— Helena! — Minerva gritou, quase largando a xícara de chá — Bedwin irá
matá-la.
— Meu irmão não está aqui. — retrucou Helena, levantando-se, nunca tirando
os olhos do Sr. Knight, que a estava olhando também, sua expressão tão ilegível
quanto antes — E então, Sr. Knight? — ela pressionou, provocando-o — O senhor
aceita ou tem medo de ser superado por uma mera mulher?
— É a senhorita que está em risco, Lady Helena. — disse ele, sua voz fria e
dura — A senhorita vai jurar como Letty Lade e cavalgar escarranchada, eu me
pergunto? Parece determinada a se arruinar e tudo para ganhar a minha atenção.
Houve um silêncio espetacular e Helena ficou satisfeita ao sentir a tensão na
sala mudar, cada uma delas olhava o Sr. Knight furiosamente. Sem dizer uma
palavra, suas amigas, incluindo Bonnie, se levantaram e se moveram para o lado de
Helena.
O Sr. Knight também se levantou, como um cavalheiro deve fazer quando uma
dama se levanta. Ele não parecia satisfeito com a mudança dos acontecimentos, no
entanto.
— Uma luva foi jogada no chão. — disse Aashini, seus belos olhos escuros
brilhando de raiva. Ela também havia sido subestimada por um homem antes, e ele
se arrependeu muito, Helena pensou com um sorriso, enquanto a mulher,
surpreendentemente adorável, incitava o Sr. Knight — Eu me pergunto se o senhor
é homem o suficiente para pegá-la?
— A senhora não se importa com a reputação dela? — exigiu saber — Ou
pelo menos pela sua segurança?
— Helena, o que tem em mente? — Harriet perguntou, sempre prática —
Precisamos ter regras, um começo e um fim definidos e juízes para garantir o jogo
justo. Claro, todos os envolvidos devem jurar sigilo. Quanto menos pessoas
souberem, melhor.
— Vou deixar isso em suas mãos, Harry, querida. — respondeu Helena,
bastante surpresa ao descobrir que sua voz estava fria e firme, enquanto suas
palmas suavam e ela estava a ponto de passar mal — Mas eu sugiro Londres a
Brighton.
— Isso está fora de questão. — o Sr. Knight explodiu.
As mulheres pularam, um pouco assustadas com a explosão repentina, mas
nenhuma delas mostrou qualquer outra reação.
— A senhorita irá se matar. — disse ele categoricamente.
Helena franziu os lábios — Decerto que não irei. Nunca colocaria meus
cavalos em perigo e, portanto, não tenho intenção de me colocar em risco. O senhor
viu que sou uma cavaleira proficiente, Sr. Knight. O senhor mesmo disse isso e não
pode negar, então… irá aceitar ou está com medo?
Ela sabia que estava arriscando, empurrando-o além do que ele toleraria, mas
algum demônio dentro dela estava pulando, para cima e para baixo, exigindo que
ele a enxergasse, visse quem realmente era, não a filha e irmã de um duque, não
uma herdeira para se casar e exibir como um troféu. Ele estava certo, Helena tinha
que reconhecer isso. Estava fazendo isso para ganhar a atenção dele. Queria que
esse homem percebesse que era Helena, não Lady Helena, mas ela mesma. No
entanto, era pior do que isso, porque, acima de tudo, queria que ele gostasse dela.
— Maldita seja! — ele amaldiçoou, talvez pensando que iriam suspirar e
desmaiar ao ouvir aquilo, mas ninguém sequer piscou. Ele apontou para elas, seus
olhos se estreitaram e sua expressão ficou cheia de fúria — Faça como quiser, sua
moçoila estúpida e mimada, mas todas serão responsáveis, se ela acabar
esborrachada no chão. Não vou levar a culpa por ela quebrar seu maldito pescoço.
Com isso, deixou a sala e bateu a porta atrás dele.
— Nossa! — disse Aashini, levantando uma sobrancelha escura — Acredito
que o cavalheiro ficou um pouco nervoso.
— Pobre Sr. Knight. — disse Minerva com um suspiro — Ele não sabia no
que estava se metendo, quando a insultou naquele baile, sabia?
Os lábios de Helena se curvaram e, embora seu coração ainda estivesse
martelando rápido demais, não pôde deixar de rir.
— Não. — disse, enquanto olhava em volta, para os rostos de algumas de suas
amigas mais queridas — Não, temo que ele realmente não soubesse.
5
Meu Lorde Marquês,
Lady Helena e eu desfrutamos de uma
esplêndida visita em Dern. É uma
construção magnífica e intrigante e nós
duas lamentamos não ter tido tempo para
ver mais dela. No entanto, não consigo
imaginar quanto tempo seria necessário
para descobrir todos os seus segredos, pelo
menos uma vida inteira. Eu me pergunto,
de fato, se o senhor já visitou todos os
cômodos e sabe tudo o que há para saber.
Suponho que se alguém pudesse, seria o
senhor. O senhor é obstinado, não é?
A Srta. Barrington foi uma anfitriã
adorável e encantou Lady Helena e a mim.
O senhor deve estar imensamente
orgulhoso dela. É uma criança feliz e
espirituosa e se tornará uma bela jovem.
Está claro que o adora. Acredito que possa
deixar suas preocupações com ela de lado.
O senhor está fazendo um trabalho
maravilhoso e ela será um grande sucesso.
Não voltarei a vê-lo, milorde. Acredito
que também seja de interesse mútuo que o
senhor pare de me escrever. Eu não tenho
nenhum desejo de causar-lhe um momento
de angústia e, a partir de suas palavras,
fica claro que nossa amizade só trará
insatisfação a nós dois.
Envio-lhe e a Srta. Barrington meus
melhores cumprimentos, e obrigada por me
permitirem visitar sua casa.
—Trecho de uma carta da Srta.
Matilda Hunt para O Mais Honorável,
Lucian Barrington, Marquês de Montagu.

16 DE MARÇO DE 1815. ESTRADA PARA A PONTE DE WESTMINSTER.


Demorou alguns dias para que os detalhes de seu desafio fossem acordados
entre os dois. Iriam reunir-se às seis e quinze da manhã, logo após o amanhecer,
para evitar o alerta de muitos olhares curiosos e manter as fofocas ao mínimo. O
ponto de partida era a Ponte de Westminster. Ambos tinham a permissão de levar
um passageiro, caso surgissem dificuldades, para pagar os pedágios e por decoro,
no caso de Helena, embora esse fosse um ponto discutível, tendo em mente o
escândalo a que estava se submetendo com essa aventura perigosa. Um grupo das
Senhoritas Peculiares esperaria no calçadão, em Brighton, para assistir sua chegada.
Sua posição, perto do The Ship Inn, marcaria a linha de chegada. Eles haviam
reservado quartos na pousada para o conforto de todos os que estavam presentes.
Agora, guiando o cabriolé pelas ruas escuras da manhã de Londres, o coração
de Helena estava dançando uma quadrilha nervosa em seu peito. Realmente não
importava qual era a causa específica, havia razão suficiente para dar ao pobre
órgão motivo de alarme. Na vanguarda de sua mente estava saber que seu irmão
provavelmente a mandaria para um convento - se não Bedlam - quando descobrisse
o que estava fazendo em sua ausência. A repreensão que havia recebido de seu tio
Charles, por seu pequeno passeio na St. James, tinha sido suficiente para fazê-la
temer o que estava reservado para ela quando este outro pequeno passeio fosse
descoberto. Também não havia como esconder isso de seu tio, pois ela,
dificilmente, tinha o hábito de sair de casa ao amanhecer, de maneira usual. Havia
deixado um bilhete explicando que estava indo à Brighton para encontrar suas
amigas e voltaria no dia seguinte e que ele não precisaria se preocupar, mas seria
obrigado a arrancar a verdade dela… supondo que não fosse uma manchete nas
primeiras páginas de escândalo, até então.
Só podia esperar que valesse a pena.
Estaria mentindo, no entanto, se insistisse que essa era a única razão para seu
coração agir de maneira tão errática. A corrida em si não a intimidava. Embora
fosse verdade que nunca havia percorrido um caminho tão longo, e, certamente, não
na velocidade necessária para chegar perto de superar o Sr. Knight, ela não tinha
escrúpulos sobre sua própria habilidade. O problema era que queria muito vencê-lo
e, no entanto, temia que ele gostasse ainda menos dela depois deste dia. Ela se
amaldiçoou por forçá-lo a entrar nessa situação ridícula. Os homens não gostavam
de ser humilhados. Quando a mulher fazia algo melhor do que eles, gostavam ainda
menos. Ele, provavelmente, a desprezaria se ganhasse, e ainda assim, seu orgulho
não permitiria que ela recuasse. Se ele ganhasse, seria insuportável.
Não tinha talento para cuidar da própria língua e fingir ser quieta e dócil, mas
agora que já havia sido apresentada na sociedade, tornou-se muito, muito mais
difícil. Saber o que se esperava dela e se irritar com as restrições impostas pelo bom
comportamento a estava deixando louca. Sentiu como se fosse uma garrafa de
champanhe que alguém sacudiu forte, algo dentro dela estava borbulhando com
tanta força que provavelmente explodiria. Sempre que ela chegava perto do Sr.
Knight, a sensação de estar presa e contida se tornava cada vez pior e sua
necessidade de se libertar ficava mais forte do que nunca. Então, aqui estava ela,
caminhando em direção à Ponte de Westminster, com sua leal criada, Tilly, nervosa,
mas determinada ao seu lado.
— Está bem, Tilly? — perguntou, tocada e culpada por arrastar a pobre
criatura para essa escapada ridícula.
— Estou muito bem, milady. — respondeu Tilly com firmeza, levantando o
queixo.
Tilly era sua criada há quatro anos e, durante aquele tempo, Helena começou a
amá-la e admirá-la. Bedwin havia dispensado sua última criada quando descobriu
que ela havia vendido intimidades e informações sobre a família. Aquilo doeu. Esta
também não foi a primeira vez. Era difícil confiar nas pessoas quando se
perguntava se só era querida por interesse, fosse um pedaço suculento para vender
às páginas de escândalo, uma chance de se aproximar do duque ou como uma
herdeira bonita para encher seus cofres e suas camas.
Tilly era diferente e se mostrou confiável, através de muitas provas de
devoção, desde as menores até segurar a língua, quando Helena estava ajudando
Minerva a encontrar seu amado Inigo em segredo. Por tudo isso e mais uma centena
de outras razões, Helena a adorava. O sentimento era mútuo. Embora tivesse feito
tudo ao seu alcance para convencer Helena a sair desse atual lapso de julgamento,
uma vez que ficou claro que a tarefa estava além dela, Tilly estava totalmente
comprometida com a causa e determinada a ajudá-la a vencer.
Descobrindo que não tinha palavras para expressar apreço por sua firmeza,
Helena estendeu a mão e pegou a de Tilly, apertando-a.
Tilly olhou para ela, seus grandes olhos castanhos arregalados e abriu um
sorriso, apesar de sua óbvia ansiedade — Não se preocupe com nada, vamos dar ao
diabo uma corrida pelo seu dinheiro.
— É o que faremos. — concordou Helena, sentindo uma onda de alegria.
Isso seria divertido, não importando as consequências.
— É verdade que tem pessoas apostando dinheiro no resultado?
Helena assentiu — Apenas entre minhas amigas e seus maridos, mas sim. Na
verdade, ele atirou o gato entre os pombos, pois o Sr. Cadogan apoiou o Sr. Knight,
mas Bonnie apostou uma grande quantia em mim. Este tem sido o modelo repetido
em todas as casas, pois muitos de seus maridos sabem que ele é um excelente
cavaleiro, mas minhas amigas são leais, e algumas delas sabem que tenho muito
mais habilidade do que a maioria.
— Sim, e modéstia também. — Tilly murmurou, ganhando uma gargalhada de
Helena.
— Oh, certamente não. — retrucou, navegando em torno de uma carruagem
em movimento lento — Sabe muito bem que não aprovo esconder a luz debaixo de
um alqueire.
— Minha senhora, — disse Tilly com a voz grave — ninguém jamais poderia
acusá-la disso.

Se Gabe tivesse mantido um pingo de esperança de que Lady Helena


recuperasse o juízo antes que essa farsa começasse, ficaria desapontado.
Ela apareceu entre as brumas de uma manhã gelada de março, parecendo uma
maldita pintura de moda, vestida toda de amarelo canário, combinando com o
maldito cabriolé. Tanto para passar despercebido. Só esperava que ela não se
importasse em sair em todos os climas e em temperaturas que poderiam parecer
muito mais frias quando se estava molhada até os ossos. Embora a manhã estivesse
clara e os últimos dias tivessem sido agradáveis e primaveris, os caprichos do clima
inglês não deveriam ser descartados. Ele mesmo estava bem-vestido, com um
grande casaco e vários pares de luvas postos de lado. Não havia nada mais
desagradável do que ter as mãos congeladas envoltas em luvas encharcadas sobre
os chicotes. Como havia empreendido tais viagens com frequência, e mais longas e
muito mais tediosas, tinha o benefício da experiência para recorrer. Sendo esse o
caso, não pôde deixar de dar um suspiro de exasperação ao ver as penas amarelas e
alegres aparando o chapéu da terrível criatura.
Apesar de seu aborrecimento com ela, sua irritação por ser arrastado de sua
cama em uma hora horrível da manhã e o fato de que essa ideia dela era susceptível
de arruiná-la… apesar disso… seu coração deu um baque desigual em seu peito ao
vê-la. Não melhorou o humor dele. Agora que a conhecia um pouco melhor e a
admirava contra a sua vontade, sabia que Lady Helena não era o tipo de mulher que
poderia tomar como amante, e seu irmão, provavelmente, o encontraria em outra
hora tão ímpia, com pistolas, antes que ele aceitasse um casamento.
Portanto, ela estava fora dos limites.
Maldição.
Havia dito a si mesmo que, quando a viu conduzindo perigosamente em frente
ao White’s, seu coração se alojou firmemente em sua garganta. Ele disse a si
mesmo que quando a garota terrível o desafiou para essa corrida maldita, seus olhos
verdes brilharam com fúria e indignação. Não adiantou. Era magnífica, e ele a
queria, e o que Gabe queria, Gabe conseguia, mais cedo ou mais tarde. Pelo menos
até agora. Sua incapacidade de fazer qualquer coisa sobre isso o irritou muito mais
do que sua incapacidade de obter acesso ao White’s. White’s simbolizava suas
limitações, o fato de que ele não podia se tornar um cavalheiro, porque não
conseguia deixar de ser um bastardo, nascido na sarjeta, com nada além de sua pele
e o nome de sua mãe para chamar de seu.
Helena… Helena era diferente. Não era uma conquista que queria, para
mostrar ao mundo que era tão bom quanto o resto dos malditos almofadinhas. Ele
apenas… a queria, porque ela o incendiou, porque estava tão vibrantemente viva e,
sim, porque não podia tê-la.
Cerrou os dentes quando Helena puxou o cabriolé ordenadamente ao lado
dele. Ela tinha os belos frísios pretos que havia usado no White’s novamente. O
mais próximo a ele balançou a cabeça, olhando-o com tanto desdém quanto
qualquer membro da ton.
— Bom dia para o senhor. — Helena o cumprimentou do outro lado do espaço
entre eles — É uma bela manhã para uma corrida.
Gabe bufou e engoliu um comentário feio, contentando-se com um sarcástico.
— Sua roupa certamente nos faria acreditar que teremos sol e arco-íris. —
disse, dando-lhe um sorriso duro.
— Nunca julgue um livro pela capa, Sr. Knight. — respondeu a menina
miserável, azeda como uma maçã verde.
— Espero que, pelo menos, tenha providenciado coisas para a sua criada, para
que a pobre criatura não congele até a morte, se o tempo mudar.
Gabe reprimiu um sorriso com o lampejo de indignação que aquele comentário
trouxe aos olhos dela.
— Eu cuido dos meus, senhor. — retrucou, antes de se afastar dele, os ombros
rígidos, sinalizando que a conversa tinha acabado.
Bom. Quanto mais cedo aquilo acabasse, e a maldita garota colocada em seu
lugar, melhor.
O cabriolé balançou, Gabe olhou e viu Inigo subir a bordo, sua expressão
descontente, irritada.
— Como permiti que me convencesse a isso, quando poderia estar em minha
cama quente, com minha esposa calorosa, está totalmente além de mim. —
resmungou, acomodando-se no assento.
Gabe bufou — Não fiz isso. Sua esposa insistiu que viesse para garantir que eu
jogasse limpo, então, não me culpe. Dei a Lady Helena ampla oportunidade de
desistir, mas ela é muito teimosa para admitir que cometeu um erro de julgamento.
Inigo olhou para ele, incrédulo — Se incitar uma mulher a uma situação como
essa, pode ter certeza de que ela preferirá morrer a recuar.
— Isso — disse Gabe com uma contração em sua mandíbula — é
precisamente o que me preocupa. Acha que ela adicionou um contrapeso, já que
não vai levar um cavalariço nos fundos?
— Pergunte a ela. — sugeriu Inigo, seus olhos brilhando de alegria —
Adoraria ver o olhar de Lady Helena se sugerir que ela não sabe o que está fazendo.
— Maldito seja. — murmurou Gabe, embora tenha lançado um olhar de
soslaio para o cabriolé, julgando se havia sido ponderado.
Ele olhou em volta, ao som de outra voz masculina, e acenou para Lorde Silas
Cavendish, que estava falando com Inigo.
— Sim, sim, já perguntei e quase tive minha cabeça arrancada, devido a minha
preocupação. — disse Sua Senhoria, amigavelmente — Minha esposa me alertou
que Lady Helena jamais deveria ser levada na brincadeira, mas nunca aprendi a
lição de não cutucar tigres adormecidos. Nunca sugira que uma mulher não saiba o
que está fazendo, quando está disposta a fazer alguma coisa, Sr. Knight, é ruim para
a saúde. Pois bem, está pronto?
— Estou. — disse Gabe, incapaz de resistir a insultar Lady Helena mais uma
vez — Última chance de recuperar o juízo, milady. Não há necessidade de arriscar
seu pescoço e sua reputação, só para ganhar minha atenção. Garanto-lhe, a
senhorita já a tem.
— Oh, maldição. — Inigo murmurou ao lado dele.
— Pronta quando estiver, milorde. — disse Helena gelada, e sua atenção se
concentrou apenas em Lorde Cavendish.
Cavendish assentiu e puxou um lenço vermelho do bolso, segurando-o no alto.
— Pois bem, então. Ao meu sinal, preparem-se, vão!

A primeira hora foi sem problemas, com Helena voando com tanta velocidade
que não pôde deixar de sorrir como uma lunática por todo o caminho. O Sr. Knight
estava viajando bem atrás dela, essa situação a agradou ainda mais, o pobre sujeito
tendo sido retido por um momento em Clapham Common, por um cachorro
assediando seus cavalos e mordendo suas pernas. As pobres bestas ficaram muito
desconcertadas, mas Helena teve que admitir que ele lidou com elas de forma
surpreendente. No entanto, não tinha escrúpulos ao passar por ele e deixá-lo lidar
com a situação. Ficou imensamente satisfeita ao imaginá-lo rangendo os dentes.
Até Tilly, que havia abordado essa aventura maluca com todo o estoicismo
entusiástico de um prisioneiro subindo os degraus para o seu enforcamento, parecia
estar se divertindo.
Fizeram a primeira troca de cavalos no The Cock Inn, em Cock Crossroads, ao
longo da Sutton High Street. Este excelente estabelecimento teve a glória de ser
propriedade de Gentleman Jackson, o renomado pugilista. Helena estava um pouco
desconcertada por ter que continuar com cavalos que não eram dela. Nunca tendo
empreendido uma longa jornada antes, pois não havia sido necessário, mas fez
questão de dar uma boa gorjeta ao estribeiro e falar com ele gentilmente, esperando
que trouxesse seu melhor animal para ela e com toda a pressa. Esta, ao que parecia,
era uma excelente estratégia, pois as duas baias combinavam uniformemente e
eram boas, Helena deixou o pátio e continuou, enquanto o Sr. Knight ainda estava
esperando seus cavalos.
De fato, por alguns quilômetros, não viram nem a visão nem o som do Sr.
Knight, e apreciaram a vista do campo se abrindo ao redor delas, na luz dourada de
uma manhã adorável. No momento em que chegaram ao pedágio Tadworth, ainda
não havia sinal dele, e Helena deu um grito de triunfo ao ver que o porteiro havia
marcado sua aproximação e estava pronto. O pedágio era anexado a um baixo
edifício caiado de branco e parecia tão limpo quanto um alfinete novo.
— Seis moedas. — exigiu o guardião, seus lábios mal se movendo de sua
posição, apertados em torno de um cano de barro.
Tilly quase jogou o dinheiro no pobre sujeito, na pressa de entregá-lo, mas ele
não pareceu se importar quando as moedas estavam na mão e Helena tremeu em
seu assento com impaciência, quando o sujeito abriu o portão. As belas baias
correram e ganharam velocidade, quando um grito atrás delas fez Tilly olhar em
volta para ver qual era a comoção.
— Um guinéu se mantiver o portão aberto! O Sr. Knight berrou para o
guardião, a moeda que Gabe segurava no alto, com a mão enluvada, reluzia ao sol.
Jogou-a no ar, brilhando o ouro, enquanto navegava em direção ao guardião, que a
pegou com uma mão hábil.
— Ele não fechou o portão! — Tilly gritou de consternação.
— Ora, o canalha! — Helena exclamou em fúria, insistindo para que seus
cavalos continuassem, mas o Sr. Knight não havia sido forçado a desacelerar, muito
menos parar, e, um momento depois, Helena foi tratada com uma onda de poeira,
quando a ultrapassou com as rodas nuas a centímetros de distância, enquanto tirava
o chapéu para ela de passagem.
— Oh, seu…— Helena começou, apenas para fechar a boca, pois nem era o
suficiente pronunciar as palavras em seus lábios. O grito de riso, provocador, do
diabo só a deixou ainda mais furiosa e determinada.
— Pronto, pronto, milady. — disse Tilly, sua voz calmante — Haverá muitas
oportunidades para proferir uma palavra ou outra, e ainda há um bom caminho a
percorrer.
— De fato, sim. — disse Helena, tentando não ranger os dentes — E ele não
vai se safar.
6
Matilda,
A senhorita não pode ser tão cruel,
nem estar tão iludida, a ponto de acreditar
que isso entre nós acabou.
M.
—Trecho de uma carta do Mais
Honorável, Lucian Barrington, Marquês
de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.

ESTRADA DE LONDRES PARA BRIGHTON.


16 DE MARÇO DE 1815.

Atravessaram o pedágio Walton Heath, sem vislumbrar o Sr. Knight à frente.


Perderam-no de vista, não muito depois do incidente em Tadworth, e Helena estava
doente de indignação.
— O miserável. — murmurou furiosamente — Ele não conseguiria me vencer
de forma justa, então recorreu a meios sujos.
— Tudo o que o homem semear, também colherá, milady. — disse Tilly
gravemente, abrindo um saco de papel com pastéis doces, retirado do pequeno
cesto que ela havia preparado e embalado, entregando um a Helena — Agora coma
isso e pare de se preocupar. A senhorita vai precisar de toda a sua força hoje, sei
que não comeu nada ainda.
Helena obedeceu e comeu dois pastéis e tomou alguns goles de licor de
sabugueiro. Admitindo que se sentia muito melhor agora, continuaram e precisaram
trocar de cavalos mais uma vez, em Reigate. Helena notou o aparecimento de
algumas nuvens escuras no horizonte, com receio, esperando que a tempestade
estivesse longe o suficiente para não as incomodar, antes de chegarem ao destino.
No entanto, ela tirou um momento para colocar o capuz e desempacotar as capas
grossas que haviam escondido em cima dos contrapesos na caixa, para tal
eventualidade.
— Pelo menos, eles amaciam mais nosso assento. — disse Tilly com um
sorriso, enquanto decidiam se sentar sobre as capas, até que se tornassem
necessárias.
Estavam admirando a esplêndida paisagem ao seu redor e de excelente humor,
quando se aproximaram do portão de pedágio de Woodhatch. Aqui, viram o Sr.
Knight à frente, já esperando no portão.
Helena deu um pequeno gemido de excitação — Tilly, Tilly, pegue minha
bolsa de moedas e encontre uma moeda. Dois podem jogar esse jogo, Sr. Knight.
O portão foi aberto e o Sr. Knight moveu seus cavalos, incitando-os a um trote
rápido.
— Segure o portão, senhor! — Helena gritou para o porteiro — Um guinéu se
segurar o portão.
O porteiro lhes lançou um olhar desconfiado, mas Tilly acenou com o guinéu
para ele, segurando-o entre o indicador e o polegar, e o sujeito recuou.
— Obrigada, gentil senhor! — Tilly gritou, rindo, enquanto jogava o guinéu
para o desnorteado porteiro.
— Há! — Helena disse, triunfante, enquanto incitava seus cavalos, sem
diminuir a velocidade.
A estrada era estreita, Tilly gritou de alarme quando Helena forçou a passagem
pelo Sr. Knight.
— A senhorita enlouqueceu? — o Sr. Knight berrou, assim que elas passaram
por ele.
— Não, Sr. Knight, estou ganhando. — Helena gritou de volta.
Tilly riu sem parar, quicando em seu assento — Oh! Oh, meu Senhor. Oh, eu
não fiz isso. — disse, recostando-se ofegante — Que extraordinário.
Atravessaram a Ponte Kennersley sobre o Mole River com o Sr. Knight nos
calcanhares, com o taco tilintando e o som dos cascos dos cavalos batendo na
pedra. Sobre Hookwood Common e Horse Hill, Helena verificou sua velocidade,
mas eles passaram trovejando pelo The Black Horse, construído para o próprio
Prinny, pois ele viajava para Brighton com frequência.
— Ele parou para trocar de cavalo. — gritou Tilly, inclinando-se insegura na
lateral do cabriolé, para olhar para trás.
— Talvez possamos nos afastar mais dele. — disse Helena, tentando ignorar o
fato de que seu traseiro estava machucado e dolorido, cada osso sacudia e
chacoalhava, depois de viajar tantos quilômetros em tal velocidade. Na verdade,
seus braços doíam e sentia frio, enquanto um vento frio soprava e as nuvens
estavam se aproximando mais rápido do que ela gostaria de imaginar. Também
estavam empoeiradas e sujas de lama, não queria pensar na sua aparência ao chegar
em Brighton. Helena olhou para Tilly, imaginando como ela estava se saindo, pois a
querida criatura não havia proferido uma única palavra de protesto ou censura.
— Como está, Tilly? Me odeia por arrastá-la para isso? O Sr. Knight está
certo, estou louca.
Tilly bufou e devolveu um olhar de reprovação — Minha senhora, não poderei
me sentar direito por, pelo menos, uma semana, pois meu traseiro deve estar preto e
azul, mas não perderia isso por nada no mundo. Meu coração está batendo como
um tambor e eu nunca senti tanta emoção. Agora devemos vencer. Nós
simplesmente devemos!
Helena riu, suas dores e hematomas esquecidos, à luz de tanto entusiasmo.
— Nós vamos vencer! — exclamou e incitou os cavalos.
— Vamos ter uma tempestade.
— Eu sei. — Gabe olhou para o horizonte, apreensivo — Acha que aquela
garota tola tem algo adequado para impedir que as duas congelem até a morte?
— Espero que sim, pois eu estou congelado, e as estradas ao longo deste
trecho já estão um pântano. Ficarão intransitáveis quando a chuva começar. Nós
nunca vamos alcançá-la neste ritmo.
— Obrigado, Cassandra. — Gabe murmurou, tentando fazer com que as duas
lesmas que estavam puxando a carruagem acelerassem o maldito ritmo.
Eles perderam muito tempo na última troca de cavalos, discutindo com o
cavalariço beligerante, que Gabe reconheceu estar de ressaca de uma noite de
dissipação. A qualidade dos cavalos não era grande e estes eram os melhores que
puderam obter, o que não dizia muito, na sua opinião. Deveriam ter trocado mais
cedo, mas o par anterior tinha sido bom, animais saudáveis, e não queria perder
mais tempo. Tiveram uma série de pequenos incidentes, desde ficar presos em um
sulco lamacento, até serem detidos por um fazendeiro que transportava ovelhas
entre os campos, há muito, havia perdido Lady Helena de vista. Gabe estava louco
de frustração.
— E aqui vem ela. — disse Inigo, sentando-se o mais longe possível em seu
assento, enquanto os céus se abriam e gotas de chuva gelada caíam em uma torrente
implacável.
Embora tivessem colocado o capuz, a velocidade da viagem e o vento frio e
cortante levaram a chuva a cair na direção deles. Os dois homens, encolhidos em
seus sobretudos, irritados e silenciosos, enquanto a água gelada pingava
continuamente das abas de seus chapéus.
— Aqui. — disse Inigo, oferecendo a Gabe um pequeno frasco de prata —
Para afastar o frio.
Gabe aceitou e bebeu vários grandes goles, grato pelo calor deslizar em suas
veias, enquanto o mau tempo aumentava.
— Maldição, nunca deveria tê-la irritado. — explodiu, furioso consigo mesmo
— Sabia muito bem o que estava provocando. Deveria saber que a estava
impulsionando para algo ainda mais ridículo. Deveria ter dito que era maravilhosa e
acabado logo com isso.
— Ah, bem, a retrospectiva é uma coisa maravilhosa. Não adianta se
preocupar agora.
— E se ela sofrer um acidente? — Gabe se perguntou, ignorando o conselho
sábio de Inigo, atingido pelas imagens de Helena jogada na estrada. toda quebrada e
sangrando, que sobrecarregavam sua mente — E se…?
— Pare imediatamente com isso. — disse Inigo com um suspiro — Ela é uma
cavaleira brilhante, isso é óbvio até para mim. Mas o que vai acabar conseguindo é
congelar até os ossos. Agora, pelo amor de Deus, leve-nos a Brighton. Quero uma
refeição próxima ao fogo e longe deste maldito tempo.
Gabe fechou a boca, sentindo que Inigo estava ficando irritado e não o culpou
nem um pouco. O céu tinha escurecido e estava da cor de um pano sujo, e, se
preocupar com Lady Helena, não acabaria com essa palhaçada mais cedo. A única
coisa que poderia fazer era rezar para que ela saísse ilesa, pois nunca se perdoaria
se ela se machucasse. Cerrando a mandíbula, Gabe voltou sua atenção para o
trabalho em mãos, e eles continuaram.

Elas passaram pela rodovia Crawley e pelo pedágio de Hand Cross, sem
nenhum sinal do Sr. Knight segurando um guinéu para o porteiro. A chuva já estava
caindo uniformemente, fria e brutal. Elas se amontoaram em um silêncio estoico,
enquanto Helena amaldiçoava os cavalos relutantes, que estavam agitados e
infelizes por estarem correndo em um clima como aquele. Não que ela pudesse
culpá-los, no mínimo. Estremeceu sob o peso do material úmido. Por que agiu de
forma tão precipitada, por que era tão estupidamente teimosa e tola? Estava
congelada e fora de si, e bem-feito por ser tão tola. Ela provavelmente se arruinou e
para quê? Para que o homem, que ela queria desesperadamente que gostasse dela,
pensasse que era pior do que certamente já achava? E o pior, não era a única pessoa
que estava sofrendo por sua arrogância. Olhou para Tilly, perseverando no que
havia se tornado um trabalho árduo, com paciência.
— Sinto muito, Tilly. — desculpou-se, sentindo-se miserável, enquanto olhava
para sua criada, toda encharcada.
O chapéu da pobre moça estava encharcado, a aba já começando a perder um
pouco de forma e seus cabelos escuros pingavam em cachos molhados, em volta do
pescoço. No entanto, quando se virou para Helena, seus olhos estavam brilhantes e
felizes.
— Não se atreva a se desculpar, milady. Estou tendo uma aventura. Pense na
história que poderei contar aos meus filhos, quando os tiver, sobre a época em que
ganhei uma corrida, de Londres a Brighton, com Lady Helena Adolphus. Eles
nunca vão acreditar que fiz uma coisa dessas. Eu mesma mal posso acreditar, mas
aqui estou, e não estaria em nenhum outro lugar, por dinheiro algum.
— Oh, Tilly, é maravilhosa! — Helena disse, seus olhos esquentando contra o
frio de todo o resto de seu corpo.
— Eu sou, não sou? — Tilly disse com um sorriso malicioso — Agora, vamos
em frente, milady. Não há tempo a perder.
Envergonhada de seu próprio mergulho na melancolia, Helena se recompôs.
Afinal de contas, era apenas um pouco de frio e chuva, ela não era uma dama frágil,
que desmaiaria a cada oportunidade. Ganharia essa maldita corrida e isso era tudo.
Se o Sr. Knight a desprezasse por isso… bem, então, era problema dele.
— Estamos quase lá! — Tilly exclamou.
— Eu sei, eu sei! — Helena nunca tinha sentido tanto frio e desconforto em
toda a sua vida, mas os cavalos, eram um par cinza, perfeitamente combinados,
animais lindos e fortes, que valiam à fortuna paga por eles e a ousadia da decisão na
última troca.
Na verdade, foi um risco, pois ela poderia ter administrado esse último trecho
com o par anterior e correu o risco de perder toda a distância que conseguiu abrir,
entre ela e o Sr. Knight, ao parar para a troca, sabia que ele apareceria a qualquer
momento e essas belezas estavam cheias de energia. Seus instintos estavam certos,
e elas o avistaram, cinco minutos antes, quando chegaram ao topo da colina,
aproximando-se delas, em um ritmo incrível. No entanto, a vitória estava ao seu
alcance e agora não perderia por causa de cavalos cansados. Tinham a sorte ao seu
lado. As estradas estavam cheias de lama, sulcadas e traiçoeiras, à medida que o
tempo piorava, mas ela não tinha dúvidas de que o peso leve entre ela e Tilly, em
comparação com o Sr. Knight e o Sr. de Beauvoir, tinha contribuído para que
passassem pelos piores trechos, relativamente sem problemas. Agora, enquanto
desciam a colina para Brighton, o mar, um sinistro verde acinzentado e orlado por
cavalos brancos, enquanto as ondas violentas quebravam, seu ânimo se elevou. Elas
podiam fazer isso. Realmente poderiam fazer isso.
Felizmente, o trecho neste dia cinzento de março estava totalmente deserto.
Não havia outro idiota louco o suficiente para andar nesta chuva terrível. A chuva
estava caindo em lençóis agora, então Helena teve que limpá-la dos olhos, para ter
alguma chance de ver a estrada à frente. Mesmo com o manto grosso sobre ela,
estava congelada até os ossos, suas roupas encharcadas.
— Ele está se aproximando de nós! — Tilly lamentou, pendurando-se ao lado
da carruagem, Helena soltou o chicote para que pudesse agarrá-la, evitando que as
derrubasse.
— Sente-se e segure firme. — disse Helena, segurando a alça do chicote de
volta em seus dedos dormentes, com dificuldade — Vamos! — gritou, sacudindo o
chicote para incitar os cavalos a irem mais rápido.
Essa última troca de cavalos foi um grande risco, mas foi para isso, para, neste
momento, ter cavalos descansados, acelerando em direção à linha de chegada. Mais
rápido, mais rápido ela implorou aos animais, seus casacos encharcados de chuva,
vapor subindo de seus corpos. A água estava levantando como em uma fonte,
saindo das rodas de cada lado, enquanto a rua inundada corria como um rio.
— Ali! Olhe!
Helena fez o possível para se concentrar através do borrão cinza à sua frente,
enquanto Tilly agarrava seu braço, sua voz rouca de tanto gritar.
— Olhe! — disse Tilly novamente, apontando mais para baixo, na estrada
inundada.
Ao longe, Helena distinguiu um amontoado de figuras sob guarda-chuvas.
Uma delas estava pulando para cima e para baixo e acenando. Elas estavam quase
lá. Antes que ela pudesse começar a pensar em comemorar, uma forma escura
oscilou no canto do olho e Helena virou a cabeça.
Não!
O Sr. Knight estava quase na mesma linha, seus cavalos se esforçando para
compensar a diferença entre eles e passá-la. Com o coração na boca, Helena
desejou ter seus próprios cavalos arreados, mas isso era inútil. Essas adoráveis
éguas podiam fazer isso, ela sabia que podiam.
— Vamos, minhas lindas! — gritou, incitando-as ainda mais, o chicote
piscando sobre seus lombos, tocando-as levemente, o suficiente para acelerá-las —
Vamos, meninas, não deixem que ele nos vença agora!
Como se tivessem um ataque de solidariedade feminina, as duas éguas
levantaram as orelhas aos comandos de Helena e então deram uma última explosão
de velocidade.
Tilly estava fora de si, agarrada na lateral da carruagem com uma mão e
segurando seu chapéu encharcado com a outra, gritando encorajamento.
— Vamos meninas, vamos, estamos quase lá. Vocês conseguem!
Os ouvidos de Helena zumbiam por causa do frio e do barulho, dos gritos de
Tilly, do tilintar das ferraduras e da chuva, que caía cada vez mais forte, o vento
ardia em suas bochechas, queimando sua pele congelada e fazendo seus olhos
lacrimejarem, enquanto os cavalos as puxavam a uma velocidade vertiginosa.
Ainda assim, o Sr. Knight as estava alcançando, logo em frente estava St. Clair e
Harriet, e o irmão de Harriet, Henry. Podia vê-los. Cada pedaço de seu corpo doía
de frio e fadiga, seus braços doíam, seus dedos latejavam. Mas nada existia além
disso, além de fazer os cavalos ultrapassarem a linha de chegada, antes do Sr.
Knight. Tão perto, estavam tão perto…
— Vamos, por favor, por favor. — implorou, seus dedos entrelaçados nas
rédeas e no chicote — Vamos, meninas!
Olhou de soslaio, o Sr. Knight estava quase no mesmo nível dela, quase,
quase, mas…
— Conseguimos! — Tilly gritou e Helena se virou, perplexa.
— O que?
— Conseguimos, conseguimos! — a garota exclamou, suas bochechas e nariz
brilhando, avermelhados por causa do frio.
Como se estivesse atordoada, Helena percebeu que elas haviam passado pelo
conde e continuavam indo.
— Ganhamos por uma cabeça! — disse Tilly, agarrando o braço de Helena e
sacudindo — Nós ganhamos!
Helena deu uma risada assustada e conteve-se, diminuindo a velocidade dos
cavalos, deixando-os relaxar em seus passos, permitindo que parassem de respirar
fundo, suas laterais arfando, ela os parou, ali, no meio do calçadão.
— Conseguimos, milady. — disse Tilly, sorrindo para ela, antes de abraçá-la
forte.
Helena deu uma risada exausta, incapaz de fazer mais do que aquilo. Sua mão
esquerda ainda segurava as rédeas, a direita segurava o chicote e seus dedos
pareciam não querer se mover. Tremia toda, embora não pudesse dizer se era de
nervosismo e euforia ou simplesmente de frio.
— Minha senhora, está tremendo. Deus do céu, vamos sair deste tempo. Estou
congelada até os ossos e a senhorita deve estar exausta.
— S-sim. — Helena concordou, seus dentes batendo, mas ela não parecia ser
capaz de se mover.
— Helena! — pulou um pouco, ao som de seu nome falado tão bruscamente, o
tom masculino de comando captou sua atenção completa — Helena, sua garota
impossível e irritante, está tudo bem?
Helena se virou e viu o Sr. Knight olhando para ela. Ele estava imundo, sujo
de lama, havia água caindo de seu chapéu e sobre as capas de seu sobretudo, mas
ele não pareceu se importar. Helena achou que ele estava perfeitamente
maravilhoso.
— Ela está bem, senhor. — disse Tilly, firme — Apenas com frio e um pouco
exausta. Precisamos levá-la para um lugar quente.
— É claro que ela precisa se aquecer, então por que ainda estão sentadas aí?
— ele exigiu, furiosamente — Senhor Stanhope, pegue a carruagem, eu cuidarei
das senhoritas.
— Muito bem! — disse Henry facilmente.
— Ah, c-certifique-se de que os cavalos s-sejam cuidados, Henry. — Helena
pediu — Elas são g-garotas muito i-inteligentes e c-corajosas.
— Vou me certificar de que elas recebam uma boa massagem e um alimento
quente, assim que se acomodarem. — Henry prometeu, subindo no lado de Tilly,
para sair do pior da chuva e esperando que Helena desocupasse seu lugar — Mas
acho que também precisa de algo semelhante, Lady Helena, então, se apresse.
— Helena, Helena, conseguiu! Estou tão orgulhosa. — Harriet disse, correndo
até a carruagem e quase pulando para cima e para baixo, de uma maneira nada
parecida com Harriet.
— Venha para dentro, amor. — seu marido insistiu — Poderá parabenizá-la
quando estiverem todos aquecidos e secos.
— Sim, vamos, vamos. — disse o Sr. Knight, gesticulando impacientemente
para que Helena se movesse, mas ela apenas o encarou, incapaz de se mover, de
mexer suas pernas, depois de tantas horas sentada na mesma posição.
— Eu g-ganhei. — disse, dando um sorriso presunçoso.
O Sr. Knight suspirou — Sim, ganhou. Parabéns, agora irá pegar uma
pneumonia. Então, vai entrar ou vou ter que carregá-la?
A ideia de ser carregada para qualquer lugar pelo Sr. Knight era tão
avassaladora, que Helena se forçou a ficar de pé, mas seus joelhos cederam
imediatamente e ela se sentou novamente.
— Talvez seja melhor eu e-esperar aqui, um p-pouco.
— Absolutamente não. — murmurou o Sr. Knight, antes de levantá-la do
assento.
Helena gritou, forçada a jogar os braços em volta do pescoço dele para se
firmar. Ele atravessou a rua com ela, dirigindo-se para The Ship Inn com o conde
correndo à frente deles, com Harriet.
— Solte-me, senhor. — ela exigiu, embora tivesse quase certeza de que se ele
o fizesse, acabaria sentada em uma poça. Ainda assim, parecia o tipo de coisa que
se deveria dizer, dadas as circunstâncias.
Ele a carregou pela porta e o ar quente do lado de dentro tomou conta dela, o
que, de alguma forma, só a fez estremecer ainda mais. Depois de uma ordem
concisa de St. Clair, um lacaio assumiu, movendo-se à frente deles e guiando-os
diretamente pelas escadas, com Tilly correndo atrás dele, lançando olhares ansiosos
para Helena.
— Realmente, acho melhor o senhor me colocar no chão. — disse Helena,
preocupada que um dos outros convidados os visse e a reconhecesse, fazendo um
espetáculo de si mesma — Ora, coloque-me no chão!
Deu-lhe um olhar furioso — Me obrigue.
— O-obrigá-lo? — Helena deu uma risada incrédula — Eu n-não posso
obrigá-lo a fazer nada. — disse tristemente, soprando a pena amarela encharcada
que havia caído sobre seu olho.
— Oh, não! — disse ele sucintamente — A senhorita apenas consegue me
fazer tomar chá com crianças, esperá-la em St. James e passar a manhã inteira com
o coração na garganta, correndo atrás da senhorita, até a maldita Brighton.
— Sim. — admitiu, sentindo a exaustão cair sobre ela, como uma onda forte
— Mas, realmente, só queria que o senhor gostasse de mim.
Ele parou no meio do caminho, congelado, no meio da escada, Helena olhou
para cima, para ver por que havia parado.
— Maldição! — ele murmurou, não parecendo muito feliz, então a beijou.
A pressão de sua boca foi ligeira e firme, seus lábios eram tão frios quanto os
dela, e, ainda assim, o calor irrompeu dentro de Helena, no instante em que suas
bocas se encontraram. Para sua decepção, durou apenas um segundo e então ele se
afastou, sua expressão sombria.
— Oh! — disse ela em uma respiração prolongada, piscando para ele — Faça
de novo.
Ele murmurou algo que ela não entendeu, mas que não parecia elogioso, antes
de correr atrás de Tilly e do lacaio que havia desaparecido.
— Eu quero que me beije de novo. — exigiu, de repente, muito mais alerta do
que estava, alguns momentos atrás.
O terrível cansaço que rolou sobre ela havia desaparecido, substituído por uma
tensão fervente.
— Não. — ele rangeu.
— Por favor.
— Mas, que maldição, a senhorita ganhou a maldita corrida. Eu admito que
pode conduzir tão bem quanto qualquer homem. A senhorita me superou hoje. Não
pode simplesmente se dar por satisfeita?
— Não. — ela disse, desejando não estar usando luvas, pois queria afundar
seus dedos congelados em seu cabelo.
Estava completamente molhado e ela ficou intrigada ao descobrir que tinha
tendência a enrolar. Sua mandíbula estava rígida, ela podia sentir a tensão cantando
em seus ombros largos. Ela pressionou mais perto contra ele e, embora suas roupas
estivessem encharcadas, podia sentir o calor dele, irradiando através do tecido
saturado.
— Pare com isso. — ele retrucou, parecendo sem fôlego e não menos
exasperado.
— Parar com o quê?
— O que exatamente está querendo, Lady Helena? — perguntou, sua voz
baixa, quase um rosnado, que retumbou em seu peito.
Ainda estava zangado com ela, mas não parecia se importar por ter perdido a
corrida.
— Quero que o senhor me note. Pronto, entendeu. O senhor também estava
certo, então, não há necessidade de ficar tão zangado. Quero a sua atenção.
Houve uma risada repentina, mas soou apenas um pouco histérica.
— Oh, a senhorita tem a minha atenção. — disse ele, ela viu a intensidade
queimando em seus olhos escuros.
— Aqui, Sr. Knight. — a voz de Tilly ecoou pelo corredor.
Helena sabia que o que quer que Tilly quisesse no futuro, faria o possível para
dar a ela, depois da devoção que demonstrou hoje, mas, naquele momento, poderia
ter chorado de frustração e desejado que a pobre garota estivesse em outro lugar. Se
eles estivessem sozinhos, a teria beijado novamente, tinha certeza. Em vez disso,
ele fechou a boca, carregou Helena para o quarto indicado por Tilly, jogou-a na
cama e depois deu meia-volta e saiu.
7
Querida Prue,
Eu consegui. O desafio de passar com
a carruagem em frente ao White’s ocorreu
sem problemas, então pode respirar fundo
agora. Tio Charles me deu a mais terrível
bronca, e todos estão escandalizados, é
claro, mas nada que cause danos
duradouros. É agora, porém, que devo
confessar ter feito algo bem pior. Por
enquanto, não há motivo para alarme, pois
acredito que mantivemos as coisas por
baixo dos panos, mas sinto que devo
prepará-la para lidar com meu irmão, caso
a história se espalhe.
O Sr. Knight é tão irritante, e sabe
como fico imprudente quando alguém me
deixa zangada. Bom…
―Trecho de uma carta de Lady
Helena Adolphus para sua cunhada, Sua
Graça, a Duquesa de Bedwin.

THE SHIP INN, BRIGHTON.


16 DE MARÇO DE 1815.

Após um banho quente e uma tigela de sopa, Helena sentiu-se muito mais ela
mesma. Estava cansada até os ossos, mas a alegria de ter feito o que se propôs a
impulsionou e, por enquanto, foi o suficiente para manter suas preocupações com
as consequências subsequentes distantes. Além disso, o Sr. Knight a beijou.
Reconhecidamente, não parecia feliz com isso, como se tivesse feito algo contra
sua vontade, de fato, mas fez mesmo assim.
Harriet trouxera a bagagem de Helena com ela, tendo viajado muito mais
tranquilamente no dia anterior. Foi com alívio que Helena se vestiu para jantar, com
roupas limpas e secas, aquecidas pelo fogo da lareira. Dera a Tilly o resto do dia de
folga, para se recuperar, mas a doce menina insistira em voltar para arrumar o
cabelo de Helena, determinada a impedir que qualquer outra pessoa fizesse uma
bagunça no penteado de sua senhora. Trouxe consigo uma xícara de chocolate
quente, com uma forte dose de conhaque, que Helena bebeu com um suspiro de
satisfação, enquanto Tilly dava os retoques finais em seu penteado.
— Então, quem está aqui, milady?
— Bem, St. Clair e Harriet, é claro, e seu irmão. Recebi uma mensagem de
felicitações de Lorde Cavendish e Aashini, que chegaram há algumas horas. Bonnie
e seu marido trouxeram Minerva com eles. Ruth não pôde vir porque está visitando
sua tia, mas acredito que Jemima e Lorde Rothborn também estejam aqui.
— Um grupo muito alegre, então. — disse Tilly, dando-lhe um olhar que fez
Helena franzir a testa.
— O que?
— E quando iria me contar que o Sr. Knight a beijou?
Helena corou e seu queixo caiu.
— Ora, não pareça tão apavorada. Ninguém mais viu. Apenas me virei para
ver se estavam me seguindo e vi que a senhorita estava bastante ocupada. — Tilly
sorriu para ela — E como foi?
— Os dedos dos meus pés formigaram. — disse Helena, com um suspiro —
Pedi para que me beijasse novamente, mas ele não quis.
— Certamente que não. — disse Tilly, indignada com a ideia — Um sujeito
não pode sair por aí beijando damas finas nas escadas. Por Deus, não. Além do
mais, a senhorita não deve persegui-lo, só vai lhe trazer problemas. Sabe muito bem
que Sua Graça nunca permitirá essa união. O Sr. Knight não é respeitável, não
importa sua fortuna. Ele é um patife perverso.
Este último, longe de ser um comentário desaprovador, foi proferido com um
suspiro melancólico, que sugeria que Tilly poderia muito bem entender a atração.
Helena não disse nada. Ela sabia que Tilly estava certa. Se tivesse o mínimo de
bom senso, tiraria o Sr. Knight da cabeça. Se fosse apenas a falta de berço, pensou
que talvez seu irmão pudesse ser persuadido, se estivesse convencido de que era um
casamento por amor, mas, para começar, o Sr. Knight nem parecia gostar muito
dela. Somado a isso, não era apenas um plebeu, mas um bastardo, nascido em um
albergue e criado em um orfanato. Além disso, tinha uma péssima reputação de
vida selvagem, jogos de azar e mulheres, de dançarinas de ópera a damas casadas
da ton. Ele poderia ser um dos homens mais ricos do país, mas, assim como ela
abriria portas para ele, havia, sem dúvida, alguns que se fechariam sobre ela, ao se
rebaixar tão profundamente. Não, como possível pretendente, não era aquele a
quem seu irmão jamais concederia favoritismo. Na verdade, Helena não sabia se
queria casar-se com ele, de qualquer maneira. Tudo o que sabia era que o único
homem que mantinha seu interesse, era Gabriel Knight. O único homem que fazia
seu coração bater mais rápido, no momento em que entrava no mesmo ambiente, o
único homem que a deixava tão perdida e fora da razão, que se comportava como
uma lunática, apenas para chamar sua atenção.
Bem, isso, pelo menos, teria que parar. Só Deus sabia o que faria a seguir, se
permitisse que ele a incitasse a perder a paciência novamente.
Então, foi uma Helena aparentemente serena que desceu as escadas para
jantar, determinada a ser graciosa na vitória e não fazer nada para levar o
provocador Sr. Knight a retaliar na mesma moeda.

Ele tentou, ao máximo, manter seu olhar longe dela, mas era impossível.
Gabe sentia a fome o corroendo e, não importava quantos pratos apetitosos
iam e vinham, sabia que não havia nada que pudesse comer ou beber que o
saciasse. Ela estava sendo boa esta noite. Toda aquela vitalidade e força mantidas
sob controle, o enfureceram. Lady Helena não era uma criaturinha boa, bem-
comportada e cerimoniosa, destinada a enfeitar o braço de algum idiota com título e
concordar com cada palavra que ele dissesse. Era um problema em um pacote
delicioso, inteligente e desafiadora. Provavelmente levaria qualquer homem a uma
dança, que deixaria seu cabelo grisalho, causaria ataques cardíacos diários e faria
com que nunca se arrependesse de um único momento passado em sua presença.
Deus, como ele a queria. A desejou desde o início, por esta razão, foi tão
malditamente rude com ela, certo de que só queria adicioná-lo à sua lista de
pretendentes, os pobres tolos que a seguiam como cachorrinhos devotados,
escrevendo poemas nauseantes para sua beleza e seus olhos esmeralda.
Estava determinado a não ser adicionado às suas fileiras, e, ainda assim, aqui
estava ele, sofrendo com o desejo de tê-la para si. Não queria apenas ir para a cama
com ela, arruiná-la. Ele, simplesmente, desejava mais, mais dela, mais daquele
humor afiado, o brilho malicioso em seus olhos, o calor que aquecia o verde frio
quando olhava para ele. Queria fazer aquela corrida de novo, mas com ela ao seu
lado, rindo de alegria e compartilhando uma aventura, os dois imprudentes juntos,
sem ninguém para detê-los e fazê-los se comportar bem.
O tédio que havia corroído seus ossos por tanto tempo, tornando-o letárgico e
rebelde, havia sido esquecido nos últimos dias. Não havia nada em sua cabeça além
de pensamentos sobre ela. É certo que a maioria deles era composto por ele
amaldiçoando o dia em que a conheceu, mas não ficou entediado, nem por um
segundo. De forma alguma.
Apesar de seus melhores esforços, seu olhar voltou para ela. Seu vestido era
verde novamente, esta noite, um tom profundo de floresta, que o fez lembrar de
duendes e fadas travessas, com a intenção de enganar os homens para que
permanecessem em seu mundo com eles. Estava dividido entre o desgosto e a
irritação, ao perceber que ela não precisava se esforçar para trapacear, ele iria de
bom grado. Era uma situação que detestava. Queria se casar com uma dama da ton,
para deixar sua marca entre aquele grupo de elite que adorava rejeitá-lo, e garantir
que não pudessem mais ignorá-lo. Não dava a mínima se gostavam dele ou não, e
não dava a mínima se o aceitassem como um deles, mas não seriam capazes de
excluí-lo, nunca mais.
Pretendia deslumbrar alguma garota nobre de uma família empobrecida dos
mais altos escalões da ton. Descobrir-se escravizado por uma herdeira, um dos
maiores prêmios no mercado matrimonial, a mulher que todo cavalheiro nobre
estava competindo para desposar, o deixou enojado. Em tais circunstâncias, ele não
tinha chance. Por que o escolheria, quando poderia escolher um conde, ou mesmo
um marquês ou um duque? Montagu estava procurando uma noiva, ele sabia.
Certamente, um homem como aquele, com riqueza, poder e uma linhagem
impecável, precisava apenas estalar os dedos. Foi tomado por um ciúme e precisou
respirar fundo para forçar suas mãos a relaxarem, pois estava com os punhos
cerrados.
Gabe não era tolo. Sabia que Helena o queria, mas também sabia que não era o
tipo de homem com quem se casaria, mesmo que, por algum milagre, ela decidisse
que queria. A noção emocionante e impossível de que ela poderia querer, se ele
tivesse a chance de cortejá-la, fez seu coração dar um baque irregular em seu peito.
Se ela quisesse muito, dada sua natureza imprudente… ele poderia ter uma chance.
Uma pequena chance. Apostou com risco, para seu futuro, em probabilidades
piores, uma ou duas vezes, com nada além de um sentimento em suas entranhas,
que lhe dizia que sairia por cima.
Bem, o sentimento em seu interior dizia que tinha que ter Lady Helena, tinha
que torná-la sua, ou passaria o resto de seus dias lamentando esse fato.

Helena vagou pela sobremesa, fazendo-a durar o maior tempo possível. Tinha
sido maravilhoso comemorar com as amigas, mas não era por isso que relutava em
ir para a cama, apesar de estar esgotada. Ficou especialmente tocada por Jemima e
Lorde Rothborn terem vindo apoiá-la, já que eram recém-casados, não esperava que
quisessem deixar a privacidade de sua casa. Era bastante óbvio que estavam
desesperados para sair e se aconchegar em seu quarto, levando em conta os olhares
cada vez mais quentes que trocavam. Helena suspirou. Se estivesse casada com
Gabe, duvidava que pudesse ter sido tentada a sair do quarto por muito tempo. A
ideia fez suas bochechas esquentarem e estudou sua sobremesa com mais
intensidade. Ele era a razão pela qual demorou, determinada a manter os olhos
abertos, apesar do cansaço e da excitação do dia.
Deitar-se em uma cama confortável e descansar os membros doloridos era um
prazer, mas não queria deixar a companhia de Gabe. Não sabia quando poderia vê-
lo novamente, então o bebeu como um bom champanhe, consumido muito rápido e
com muita facilidade, até ficar tonta e boba.
Era impossível não olhar para ele. Não era um cavalheiro, esse fato era
perceptível nele, apesar do casaco primorosamente feito, de suas maneiras bem
eruditas e do tom de voz cuidadosamente cultivado. Não que tenha feito ou dito
algo errado, nada disso. Ele aprendera a desempenhar o papel de um cavalheiro,
com a mesma dedicação obstinada que empenhava para acumular uma fortuna tão
vasta, em um período tão curto. Isso não disfarçava a verdade sobre ele, no entanto,
não diminuía a fome em seus olhos, que dizia ao mundo que nem tinha começado.
Na verdade, ela adorava aquele brilho em seu olhar misterioso, aquele que
desafiava a subestimá-lo, que avisava a sociedade que o ignoravam por sua conta e
risco. Havia uma sensação de poder sob controle, de impaciência com todas aquelas
regras e bobagens educadas, que ele aprendera tão bem, Helena reconhecia algo de
si nisso. Foi criada no outro extremo do espectro, a filha de um duque, com todos
os privilégios, com todos os luxos e o peso das expectativas, fruto de seu dever à
família. Helena havia aprendido suas lições, que haviam começado no dia em que
nasceu, e se irritava com elas. Queria mais. Queria olhar o mundo nos olhos e dizer,
olhem para mim, isso é o que posso fazer, e não tinha permissão. Em vez disso,
devia se casar bem e segurar a língua, contentar-se em administrar as várias
propriedades de seu marido, envolver-se em obras de caridade e não fazer nada para
levantar uma sobrancelha ou envergonhar seu esposo. Queria gritar com a mera
ideia.
Não haveria mais aventuras imprudentes, nem desafios, nem corridas na chuva
torrencial, pescoço a pescoço com um homem que a fazia sentir-se realmente viva.
Uma sensação fria e desolada se instalou em seu peito, fazendo-a sentir-se
vazia e com medo, ousou outro olhar, querendo um último vislumbre de Gabe,
antes de se forçar a deixar sua companhia. Gabe também a olhava. Havia uma
intensidade em seu olhar, que fazia crescer aquela sensação de vazio e medo, como
se ela fosse se despedaçar, se não evitasse o destino, para o qual caminhava desde o
momento de seu nascimento. Não queria acabar com a aventura e a emoção, não
queria ser uma jovem respeitável, que sempre fazia e dizia a coisa certa. Ela o
queria e toda a loucura imprópria e perigosa que tal ligação lhe traria. Não
importando as consequências.
Sustentou seu olhar, esperando que ele pudesse ver a resposta para o que quer
que estivesse procurando, enquanto fitava seu rosto. Não era como se soubesse o
que ele estava perguntando com aquele brilho feroz em seus olhos, mas sua
resposta era uma só, não importava a pergunta.
Sim.
Sim.
O que quer que seja… sim.

Ele estava fora de si.


Foi a única explicação que Gabe encontrou para permanecer em uma alcova
escura ao longo do corredor, que levava ao quarto de Helena. Disse boa noite cedo,
antes dela, com a única intenção de ficar a sós com Helena, não importando o que
tivesse que fazer para conseguir isso. Era tudo culpa dela. Poderia ter interpretado
mal suas intenções uma vez, mas não havia ambiguidade no olhar dela, esta noite.
Talvez fosse apenas curiosidade, desejo, a emoção de flertar com um homem que
ela pensava estar abaixo dela. Havia um apelo perigoso nisso, teve muitos casos
baseados apenas em tais impulsos, as finas damas da ton, cansadas de seus homens
tão cavalheirescos, querendo algo mais rude, algo menos refinado.
Era isso que Helena também queria?
A ideia o deixou desconfortável, revelando algo incômodo e vulnerável dentro
dele, que nunca havia notado antes. Colocou a ideia de lado. Ela não era como
aquelas mulheres, entediadas com seus maridos e querendo a excitação de um
encontro clandestino. Helena gostava dele e queria que gostasse dela, também.
Cristo, se tivesse a menor ideia do quanto ele gostava dela, estaria perdido. Que
Helena tivesse tanto poder sobre ele, era terrível, mas não iria deixá-la saber o quão
longe ele caiu.
Enrijeceu ao ouvir vozes, pressionando-se de volta na escuridão. A voz culta
de St. Clair era suave ao desejar boa noite a Helena, ele e Harriet se demoraram,
enquanto ela caminhava até a porta.
— Boa noite, Harry querida, boa noite, Jasper. Obrigada a todos pela presença
aqui, hoje.
— Não teríamos perdido isso por nada no mundo. — disse Harriet, rindo —
Agora, é melhor descansar um pouco. Deve estar exausta. Durma bem, Helena.
Gabe sufocou um lampejo de culpa, por mantê-la longe de sua cama, quando
devia estar realmente exausta, permaneceu nas sombras, ouvindo St. Clair e sua
esposa se afastarem, seus passos ficando cada vez mais fracos. Observou Helena se
virar para a porta e enrolar os dedos na maçaneta da porta.
— Espere.
Ela pulou, quando o comando sussurrado saiu da escuridão atrás dela, sua
cabeça girando, procurando pelo corredor vazio.
— Eles se foram? — ele perguntou, ainda mantendo a voz baixa.
Ela hesitou, ele se perguntou se estava pensando em correr para dentro do
quarto e trancar a porta atrás de si, ou se esperava que o conde e sua esposa saíssem
de vista, virando a esquina em direção a seus próprios aposentos. Teve sua resposta
quando Helena se virou para a alcova escura.
— Eles foram embora.
Ele avançou um passo, apenas o suficiente para que ela pudesse ver seu rosto.
— Ainda quer minha atenção, Lady Helena?
Sua pele ficou um tom de rosa delicado, visível sob a luz da vela que ardia em
sua porta, Gabe sentiu como se estivesse prendendo a respiração, como se sua
capacidade de respirar outra vez dependesse inteiramente de sua resposta.
Ela assentiu, um movimento quase inexistente, que expôs seus nervos, e fez
uma onda inesperada de ternura florescer em seu peito. Esta não era uma senhora
casada, se preparando para trair o marido. Esta era uma jovem com tudo a perder,
se fosse descoberta sozinha com ele. De repente, protegê-la era fundamental.
— Eu sei que não deveria ter vindo, — disse ele, constrangido agora — A
senhorita não deveria…
Antes que ele pudesse terminar a frase, ela diminuiu a distância entre eles e se
jogou em seus braços. A força desse gesto o fez cambalear para trás contra a parede
da alcova, seu corpo esguio rente ao dele.
— Por Deus, a senhorita realmente enlouqueceu, não é? — ele disse,
encontrando sua voz cheia de calor e riso, mesmo enquanto seus braços a
envolviam, puxando-a ainda mais para perto.
— Sim. — ela sussurrou, seus olhos verdes arregalados, cravados nele — Sim.
Não havia mais nada a ser feito, nenhum outro resultado possível agora. Então
Gabe fez a única coisa que podia e queria fazer, ele a beijou.
8
Querida Kitty,
Alice me pediu para escrever-lhe e dar
essa notícia maravilhosa. Eu tenho um
sobrinho! Ele será batizado de Leonard,
mas todos já concordaram em chamá-lo de
Leo, nosso bravo e ensolarado leãozinho.
Mãe e filho estão maravilhosamente bem e
ambos estão extremamente satisfeitos um
com o outro, com boas razões. Ele é um
menino bom e saudável, com um par de
pulmões robustos, e tenho certeza de que
herdou a obstinação dos Hunt, pois não
descansará até que toda a casa esteja sob
seu feitiço. Na verdade, isso aconteceu
imediatamente e ele é adorado por todos.
Alice está de excelente humor e o médico
declarou que ela está bem. Meu irmão,
como era de se esperar, está se pavoneando
como um galo orgulhoso. Como se ele
tivesse feito algo notável! Ainda assim, é
preciso fazer concessões, pois ele está tão
obviamente apaixonado por sua nova
família, que até sua irmã cínica foi levada
às lágrimas, ao ver pai e filho se
conhecerem.
Não é maravilhoso, Kitty? Uma nova
geração começou. Eu me pergunto quem
seguirá Alice e Prue e aumentará suas
famílias a seguir? Devo ser impertinente e
perguntar se tem alguma novidade para
compartilhar, minha amiga? Que grandes
coisas eles farão e verão. Serei a tia mais
amada e indulgente que o mundo já
conheceu e não perderei um momento
disso.
—Trecho de uma carta da Srta.
Matilda Hunt para a Sra. Kitty Baxter.
EM UMA ALCOVA ESCURA NO THE SHIP INN, BRIGHTON.
16 DE MARÇO DE 1815.

A inocência fragrante de Lírio do Vale encheu os sentidos de Gabe e ele se


perguntou como um perfume tão docemente inofensivo poderia inflamar uma
resposta tão provocativa nele. Os lábios de Helena estavam quentes agora, não mais
gelados, por horas no clima cruel, com o qual foram açoitados. No entanto, mesmo
quando estavam tingidos de azul com o frio, o marcaram como um ferro quente. A
propriedade de Lady Helena Adolphus foi queimada em sua carne. Visível ou não,
sentiu a marca que ela deixou, sabia que estava lá e sempre estaria. Não sabia ao
certo quando isso havia acontecido. Teria sido quando Helena riu de sua suposição
de que queria que dormisse com ela, naquele momento em que St. James a
observava em toda a sua glória, ou quando viu fúria em seus olhos ao ousar sugerir
que ele era um cavaleiro melhor do que ela? Talvez tivesse acontecido em algum
lugar ao longo da estrada entre Londres e Brighton. Qual era a importância? Não
mudou nada. Ele havia mudado, irrevogavelmente, e seu caminho estava diante
dele, aquela excitação ardendo em seu estômago, todos os seus instintos gritando
que essa mulher era a escolhida. Ela seria seu maior desafio e sua maior fonte de
orgulho, se pudesse conquistá-la. De alguma forma, tinha que fazer com que o
escolhesse entre todos os outros que a roubariam dele. Ocorreu-lhe, um tanto
tardiamente, que não conseguiria isso, seduzindo-a em uma alcova.
Ainda assim, ela era doce demais para resistir, seus lábios tão suaves e
convidativos. Passou a língua pelo lábio inferior e ela estremeceu, abrindo a boca
para ele. O desejo foi uma explosão de sensações e de calor, que dispararam
diretamente para sua virilha, mas se conteve, determinado a não se comportar como
um canalha. Bem, mais do que já tinha. Isso exigiu um esforço considerável, no
entanto, pois a distância cuidadosa que ele deixou entre eles desapareceu, quando
Helena pressionou seu corpo contra o dele.
Gabe soltou um gemido baixo quando a suavidade dela empurrou contra ele e
suas mãos caíram para os quadris dela, antes que pudesse pensar sensatamente,
puxando-a contra sua excitação, desesperado por mais contato. Helena ofegou e ele
a olhou, desejando poder ver melhor seu rosto, seus olhos, mas não encontrando
nada além de brilho neles.
— Tem toda a minha atenção, milady. — murmurou ele, consciente de que sua
voz estava baixa, rouca de desejo.
— Helena. — disse ela, com um pequeno aceno de cabeça — Meu nome é
Helena.
— Encrenqueira combina mais com a senhorita, acredito. — ela enrijeceu um
pouco em seus braços e Gabe percebeu que a havia ofendido. Ergueu a mão para o
rosto dela, segurando sua bochecha — Não foi um insulto. Eu a acho
extraordinária. Me enlouquece, mas não consigo parar de pensar na senhorita.
Metade do tempo, não sei se a mato ou se a beijo. Nunca conheci uma mulher
assim, antes.
Mesmo na escuridão, Gabe sabia que ela estava sorrindo. Podia sentir o calor
dela, como estar ao sol.
— Da próxima vez, temo que sentirá vontade de me matar. — disse ela,
falando com a boca perto da dele — Em vez disso, me beije. Será o suficiente para
me calar, garanto-lhe.
— Oh, Cristo. —- beijou-a, saqueando sua boca, segurando-a com tanta força,
que devia estar tirando o fôlego dela, mas não conseguia chegar perto o suficiente.
Ele queria mais, tudo dela, mas não podia trazer sua desgraça. Iria matá-lo vê-la
envergonhada diante de sua própria estirpe — Helena. — sussurrou, beijando um
caminho abaixo de seu pescoço — Helena.
— Gabriel. — seu nome foi dito em um suspiro e ele se acalmou, nunca tendo
ouvido falar com tal tom, como se significasse algo.
— É melhor que vá para a cama. — as palavras foram arrancadas dele com
pesar, não querendo deixá-la ir, não querendo perder esse sentimento inebriante
correndo por suas veias.
— Eu não quero deixá-lo. — ela sussurrou, estendendo a mão e puxando seu
pescoço, puxando sua cabeça para outro beijo, e outro.
Quando se afastou, sem fôlego e acalorada, ele enterrou o rosto em seu cabelo,
com um gemido abafado.
— Vá para a cama, Helena, antes que me comporte ainda pior do que já me
comportei.
— Quando posso vê-lo de novo? — demandou ela.
Ele embalou o rosto dela entre as mãos, desesperado para ver sua expressão,
através da escuridão — Seu irmão irá matá-la e depois vai me matar.
— Vou arriscar, se quiser.
Sua respiração prendeu, uma explosão involuntária de riso o sacudiu — Eu
arriscaria o diabo em pessoa, para vê-la novamente.
Ganhou outro beijo por esse comentário, e demorou um longo momento, antes
que pudesse dizer uma palavra.
— Irá voltar para a cidade pela manhã?
— Sim. — ela respondeu — Vou voltar com Harriet. Vou mandar alguém
trazer a carruagem de volta, quando o tempo estiver melhor.
— Sua criada é confiável?
— Ah, sim. Tilly é a garota mais maravilhosa. Confiaria minha vida a ela.
— Ela, certamente, confiou a dela à senhorita. — disse ele, incapaz de resistir
ao comentário. Esperava uma resposta furiosa, mas, em vez disso, ela assentiu.
— Sim. Não sei o que fiz para merecer tanta lealdade, mas tenho sido
maravilhosamente afortunada.
— Eu sei o que a senhorita fez. — ele disse, acariciando suas bochechas com
os polegares, incapaz de resistir a beijar sua testa, sua têmpora, seu nariz — A
senhorita foi autêntica o tempo inteiro, e ela viu o quão raro e especial isso é.
Ele ouviu sua respiração rápida, viu o brilho em seus olhos e, um momento
depois, sentiu o calor úmido de uma lágrima sob seu polegar.
— Obrigada. — ela disse, sua voz instável.
O peito de Gabe doía com a doçura do momento, nunca querendo que
terminasse, como sabia que deveria — Vou enviar uma mensagem para o senhor,
via Tilly, assim poderá entrar em contato comigo, aqui. — ele tirou a caixa de
cartões do casaco e se atrapalhou ao retirar um na escuridão.
— Agora, é melhor ir para a cama, antes que a arruíne aqui nesta alcova. Estou
certo de que esteja exausta.
— Estava. — ela admitiu — Mas, de repente, estou bem acordada.
— Isso é maldade da senhorita. É o mais potente, nas horas mais escuras da
noite. — beijou-a novamente, mergulhando no delicioso calor de sua boca e
guardando o gosto dela em sua memória, até a próxima vez que pudesse prová-la.
Haveria uma próxima vez. Tinha de haver — Boa noite, Helena. Tenha bons
sonhos.
Com a maior relutância, a deixou ir e saiu da alcova, andando calmamente
pelo corredor, se afastando dela.

— Atchim! — Helena gemeu e virou a cabeça no travesseiro, procurando uma


mancha fria no linho, sob a bochecha.
Tilly colocou a mão fria na testa de Helena e rosnou com desaprovação —
Deus a abençoe, está queimando de febre, milady.
— Minha garganta está doendo. — reclamou, sabendo que soava patética, mas
sentindo-se totalmente miserável.
— Bem, a senhorita pegou um belo de um resfriado, isso é fato. Não é de
admirar, depois de se sentar em roupas molhadas por tanto tempo, na chuva gelada.
— Não está doente. — Helena apontou com irritação.
— Oh, eu nunca fico doente. — Tilly respondeu alegremente — Tenho a
constituição de um boi, como minha mãe. Bem, não se preocupe com nada. Vou
buscar um pano frio para sua cabeça e um pouco de chá de casca de salgueiro.
— Mas precisamos ir para casa. — reclamou Helena — Tio Charles ficará
ainda mais furioso se não voltarmos hoje, então, nunca serei capaz de persuadi-lo a
não contar a Robert. Vão me mandar para um convento. — lamentou.
— Agora, não adianta ficar chateada e toda agitada. Não está bem, milady,
está doente demais para viajar e ponto final. Quer que esse resfriado se transforme
em uma pneumonia, por que não quer passar um dia na cama e se cuidar?
Helena fez um som de fúria, mas, na verdade, sair da cama parecia tão atraente
quanto dar um mergulho no mar gelado. O tempo lá fora não havia melhorado,
rajadas de vento faziam a chuva bater contra sua janela, com muito ruído. Lá fora,
ela não podia ver nada além do céu cinzento. Ficar parada, parecia ser não apenas a
melhor ideia, mas a única possível. Estava cansada e infeliz, sua cabeça doía, os
deliciosos momentos com o Sr. Knight - Gabriel - na alcova, em frente à porta de
seu quarto, pareciam nada mais que um sonho nebuloso.
Cochilou irregularmente, acordando quando Tilly voltou com uma compressa
fria e o chá de casca de salgueiro. Tilly ajudou Helena a se sentar, arrumando os
travesseiros atrás dela, antes de lhe entregar a xícara.
— Agora, beba isso. Coloquei uma boa colher de mel, para aliviar sua
garganta. Depois pode tirar um bom cochilo e se sentirá muito mais animada.
— Obrigada, Tilly. — Helena murmurou, fazendo o que ela disse.
— É para isso que estou aqui. — disse Tilly, com seu jeito prático — Veja
bem, tenho um acordo com o Sr. Knight. Ele queria mandar chamar um médico.
Ficou extremamente furioso, isso sim, me dizendo o que deveria fazer. Como se
precisasse de um médico, por causa de uma gripezinha. Fui direta com ele, conheço
minha senhora e sei do meu trabalho. Um dia de descanso, em uma cama
quentinha, e amanhã estará novinha em folha. Mas tive que prometer que mandaria
chamar o maldito charlatão, se a senhorita não melhorasse. Acho que ele estava
pronto para torcer meu pescoço. Ele é um doce com a senhorita, se me permitir o
comentário.
Helena sorriu. Apesar de se sentir miserável, essa notícia a alegrou
imensamente.
— Eu não me importo. — disse.
Tilly lançou um olhar de exasperação afetuosa — Eu não deveria ter lhe
contado isso. Deus sabe que a senhorita não precisa de encorajamento, está pedindo
por problemas e, acredite em mim, um sujeito como este está disposto a conceder-
lhe um, junto com uma reputação arruinada e um bebê em sua barriga, para
finalizar o negócio.
— Oh, Tilly!
— Não pareça espantada. Sei que sou apenas sua criada, mas a amo como se
tivéssemos o mesmo sangue e isso quebraria meu coração se… — interrompeu-se
e respirou fundo — Sinto muito, milady, às vezes esqueço meu lugar. Veja bem, a
culpa é sua, por me permitir essas liberdades.
Helena sorriu e estendeu a mão para Tilly, que veio e a pegou — Eu valorizo
sua opinião, tanto quanto a de todas as minhas amigas, Tilly, e certamente já
percebeu que não é apenas minha criada. Sei que tem razão sobre o Sr. Knight.
Sem dúvida, sou para ele apenas um meio para um fim. Todo mundo sabe que quer
se casar com alguém da ton, então, talvez, me peça em casamento.
Com uma pontada de dor, Helena se perguntou se suportaria dizer não a tal
oferta, mesmo sabendo que eram apenas suas conexões que queria e não a ela. Ele
parecia querê-la bem o suficiente, na noite passada, mas na luz fria do dia, teve que
reconhecer que era conhecido por ser um libertino e esses homens queriam
mulheres atraentes, não é? Não significava que se importasse com ela. Certamente
não foi uma declaração de amor. Embora, ele realmente tenha se preocupado com
ela, esta manhã…
Tilly ainda estava resmungando sobre homens bonitos diabólicos e seus modos
perversos, mas os pensamentos de Helena estavam à deriva. As coisas que ele disse
na noite passada a deixaram dolorida e abriram a parte dela, que se manteve
fortemente contida. Seu irmão não era como seus pais. Não insistiria que se
casasse, apenas para aumentar a importância da família. Ela teria permissão para se
casar por amor, mas isso não significava que a deixaria se casar com um canalha
como Gabriel Knight.
Ontem à noite, ela se permitiu ter sonhos tolos, e agora era tarde demais para
fingir que não. Ele tinha sido a personificação de cada uma dessas fantasias naquela
alcova escura e, como a caixa de Pandora, elas escaparam para o mundo mais
amplo e não podiam ser guardadas novamente. Essas ideias tolas se tornaram
esperanças para o futuro, ela, provavelmente, era a maior idiota da cristandade, por
se apaixonar por tal homem, pois, ou a arruinaria, como disse Tilly, ou se casaria
com ela, pelo que pudesse lhe trazer, ficaria ligada para o resto da vida a um
homem que não dava a mínima para ela.
Eu arriscaria o próprio diabo para vê-la novamente.
Ele disse isso e Helena sabia que teria que arriscar o diabo também, para
descobrir se Gabe quis dizer alguma das coisas bonitas que disse a ela,
sinceramente.
Quando acordou novamente, algumas horas depois, foi para ver Tilly entrar na
sala com um enorme buquê de flores de estufa e uma expressão de desgosto.
— Não vou dizer mais nada, milady, mas não vá se deixar levar por um gesto
bonito.
— Certamente está dizendo alguma coisa. — disse Helena, agarrando
ansiosamente o cartão da mão de Tilly e ignorando o revirar dos olhos da criada.
Lady Helena, com os meus votos de rápidas melhoras, Sr. Knight.
Ela franziu o cenho para o cartão, um pouco desapontada, mas não era um
comportamento aceitável, para Gabe, escrever cartas de amor para ela. Não que ele
parecesse se importar muito com o comportamento aceitável na noite passada,
quando a beijou, até que ela tremesse. Ora, bem. As flores eram lindas e ele tinha
pensado nela, então, não seria ingrata e desejaria mais.
Bem, tentaria não ser ingrata e desejar mais, de qualquer maneira. Era um
começo.
9
Minha querida irmã,
Parece que o seu Sr. Knight
impressionou muito o tio Charles. Charles
e Robert têm se correspondido quase
diariamente e parece que o Sr. Knight terá
a aprovação do duque e o investimento que
estava tão desesperado para obter.
— Trecho de uma carta de sua graça,
A Duquesa de Bedwin, para Lady Helena
Adolphus.

BEVERWYCK.
20 DE MARÇO DE 1815.

Helena estava sentada na cama, tomando uma xícara de chocolate e passando


pelas correspondências. A estimativa de Tilly estava um pouco distante do alvo, e
ela foi forçada a ficar no The Ship Inn por dois dias, até ficar bem o suficiente para
viajar. Esta manhã, foi a primeira vez que acordou sentindo-se um pouco como seu
eu habitual, sem a garganta parecendo como se tivesse sido lavada com uma escova
de arame. Seu quarto estava enfeitado de cores, pois o Sr. Knight continuava a
enviar-lhe um buquê fresco todos os dias, cada um mais luxuoso do que o anterior.
Ele não havia escrito para ela novamente, embora Francis Chapel - o jovem que
entregava as flores - questionasse Tilly diariamente, quanto à saúde e ao bem-estar
de sua dama.
— Um diabo atrevido ele é. — disse Tilly, estalando a língua — Assim como
seu mestre, eu acho. Piscou para mim, esta manhã, e colocou uma flor no meu
cabelo. Seria muito bom também, eu disse, se não tivesse pegado do buquê da
minha senhora! — no entanto, havia um tom rosa nas bochechas de Tilly, quando
trouxe as flores e Helena podia entender bem a atração — Irá comparecer ao baile
dos Cavendish amanhã, milady?
Helena assentiu — Acho que sim, se meu nariz não estiver vermelho, pelo
menos.
— Oh, nada que um toque de pó não disfarce. Acredito que seja uma boa ideia
a senhorita sair um pouco, além disso, tem aquele lindo vestido novo, que precisa
ser exibido também.
— Sim, irei usá-lo, junto com as esmeraldas que Robert me deu no Natal.
— Excelente.
— Oh, Tilly, escute. Recebi uma carta de Prue. Robert vai investir no projeto
ferroviário de Gabriel! — exclamou, sua excitação com a notícia fazendo-a
esquecer de si mesma, até que Tilly cruzou os braços e lançou um olhar cheio de
preocupação para ela.
— Bem, isso é uma boa notícia para o Sr. Knight. — disse — E, se ele quiser
manter sua boa sorte, faria bem em não brincar com a irmã de Sua Graça. Agora,
soube do Sr. Richards? Uma tragédia terrível, mas houve duas mortes na família e,
de repente, seu pai se tornou o Conde de Wakefield. Bem, aparentemente, o pobre
diabo não ficará muito tempo nesse mundo também. Então, o jovem Sr. Richards,
como seu filho mais velho, tornou-se um solteiro elegível, da noite para o dia.
Ele também era um dos admiradores mais devotos de Helena. Houve um breve
período em que ficou deslumbrado com a beleza de Aashini e Helena assistiu sua
deserção com diversão, incapaz de culpar seu gosto. Ultimamente, no entanto, tinha
sido mais ardente em suas atenções. Era bonito, de uma maneira doce e infantil,
embora tivesse pelo menos vinte e seis anos. Também era rico, otimista e de boa
índole, um tipo que era impossível não gostar. Infelizmente, embora Helena
gostasse muito dele, era mais o bom humor afetuoso que se sentia por um amigo, e
não o tipo de sentimento que desejava ter pelo homem com quem se casaria. Nada
como a excitação vertiginosa e a magia que ela experimentou nos braços de Gabe.
— Então, ele é uma boa perspectiva, que o duque aprovaria. Também gosto
dele, confesso. Um menino querido e doce.
— Ele é um menino doce. — concordou Helena.
Um menino, não um homem. Não era muito mais jovem do que Gabe, mas
suas experiências de vida eram perceptíveis em seus olhos e em suas
personalidades. O Sr. Richards nunca teve que trabalhar ou lutar por nada. Sua
família era bem aceita, assim como ele, e assim passou a vida, com uma atitude
bem conhecida para com todas e quaisquer situações. Helena não poderia culpá-lo
por isso. Nasceu em uma vida sem mais voz do que Gabriel, e, ainda assim… Gabe
era quem fazia seu coração acelerar. O Sr. Richards nunca faria isso.

CAVENDISH HOUSE, THE STRAND, LONDRES.


21 DE MARÇO DE 1815.

O baile dos Cavendish era um evento esplêndido para o qual Gabe havia sido
convidado. Lorde Silas Cavendish era um sujeito incomum, um lorde incomum. Ele
fugiu de um pai abusivo quando criança e viveu nas ruas, deixando para trás sua
herança e trilhando seu próprio caminho, acumulando uma fortuna nesse ínterim.
Gabe não tinha problema em admirar um homem assim e os dois haviam feito
negócios muito lucrativos no passado. Claro, Silas também não era totalmente
respeitável e era tolerado, em vez de bem aceito pelos altos defensores da ton,
apesar de sua linhagem impecável. Seu recente casamento com a filha ilegítima,
meio-indiana, do Conde de Ulceby, causou bastante furor, não que Gabe pudesse
culpar sua escolha. Lady Aashini Cavendish era, sem dúvida, uma das mulheres
mais bonitas que já tinha visto, e Silas estava obviamente obcecado.
Os dois homens estavam juntos, agora, Silas mantendo um olhar atento em sua
esposa, enquanto dançava com outro cavalheiro.
— O senhor foi queimado no caso Burton? — Gabe perguntou, observando
Silas animado.
Silas encolheu os ombros, o rosto escurecendo, mais do que já estava — Não
financeira, apenas moralmente. Pensei que Burton era um homem decente, um
homem que conquistou as coisas sozinho, como nós, que saiu da lama com
trabalho. Não fazia ideia de que ele tinha conquistado tanto, usando as pessoas no
meio do caminho.
— Então não estava envolvido nas usinas?
— Não, graças a Deus. Nunca investiria sem uma investigação completa. Eu
mesmo poderia ter tropeçado na situação, há alguns anos. Sabe quem é esse
misterioso benfeitor que comprou os moinhos, e está colocando todos em ordem?
Gabe nada disse, pois não sabia o que dizer. Suspeitava que Montagu não iria
querer que o boato se espalhasse, mesmo que isso o colocasse em bons lençóis.
Nunca conheceu um homem que guardasse sua privacidade com tanto apreço.
— Sim, sabe. — disse Silas, estreitando os olhos — Ou, pelo menos, acredita
que sabe.
— Talvez, mas não cabe a mim dizer, e não, não sou eu, antes que me
pergunte, embora desejasse que tivesse sido. Nunca gostei de Burton. Encontrei-o
algumas vezes em vários lugares e sempre achei que parecia ser bom demais,
sincero demais. Ninguém é tão decente assim, o tempo todo.
Silas bufou de diversão — Tem razão, embora ele tenha me enganado, e isso é
irritante, para dizer o mínimo.
Gabe franziu a testa, estudando o copo vazio em sua mão — É um homem
com um coração decente, Silas. Fica difícil identificar um sujeito assim.
— Ah, e por acaso, não é?
Um sorriso torcido se curvou sobre sua boca, enquanto olhava para Silas —
Eu tenho momentos de decência, mas vivi na sujeira por muito tempo, para que ela
ainda esteja presente na minha alma. Faria coisas com as quais nunca sonharia, sem
pestanejar ou me arrepender, e essa é a diferença entre nós.
Silas o olhou por um longo momento, seu escrutínio um pouco enervante.
Ocorreu a Gabe, então, que Silas era um homem muito perspicaz, e podia muito
bem entender por que o lorde estava tão enojado por não ver além do Sr. Burton.
Era como Gabe disse: era preciso uma cobra para reconhecer outra. Nunca pisaria
sobre os pobres e infelizes, mas qualquer outra pessoa, era um jogo justo.
— Acredito que esteja querendo dizer isso a si mesmo. — disse Silas por fim.
— O que? — Gabe perguntou, tendo perdido o fio da conversa.
— Que é completamente perverso e impenitente. O problema é que, se
realmente fosse, estou certo de que não admitiria isso, tão prontamente.
— Ser tão feliz no casamento faz com que veja arco-íris e unicórnios onde há
apenas serpentes e sujeira. — Gabe retrucou, com desgosto.
— Talvez. — concordou Silas amigavelmente, voltando sua atenção para sua
esposa e seu parceiro de dança.
Seu rosto torceu imediatamente, em descontentamento.
— Pare com esse olhar assassino. — disse Gabe, balançando a cabeça —
Pobre Sr. Cooper, vai se molhar todo.
— Ele está se divertindo demais. — resmungou Silas, pegando uma bebida de
um lacaio que passava.
— É bastante óbvio que sua esposa só tem olhos para você, então, pare de agir
como um cachorro com um osso.
Silas bufou e voltou seu olhar aguçado para Gabe, o que foi um pouco
inquietante — Então não vai ranger os dentes quando o Sr. Richards tirar Lady
Helena para dançar, mais tarde?
Apesar de saber que estava sendo provocado, Gabe firmou a mandíbula. O Sr.
Richards era rico, bonito e herdeiro de um condado. Helena parecia gostar do
sujeito também, a julgar pela maneira como estava sorrindo para ele, enquanto este
se afastava dela, para cumprimentar outra pessoa. Gabe queria esmagar algo. Ele
podia senti-la escapando de seus dedos, antes que o caso deles tivesse começado.
Esteve preocupado com ela nos últimos dias, apesar de Francis interrogar Tilly
todas as manhãs e ter certeza de que havia se recuperado bem. Matou-o que não
tenha podido ir até ela, uma situação que deveria remediar, o mais rápido possível.
— Sim, foi o que pensei. — Silas murmurou, com um sorriso malicioso.
Gabe levantou os olhos confuso, até perceber que estava fitando o infeliz Sr.
Richards, do outro lado da pista de dança, e não respondeu à pergunta de Silas.
— Bedwin não permitirá que eu me aproxime dela, não é?
Silas encolheu os ombros — O lado ruim de ter uma reputação horrível é que é
muito divertido ganhá-la, mas um maldito incômodo, quando se percebe que há
mais na vida do que prazeres fugazes e emoções imprudentes. Embora, suponha
que as circunstâncias do seu nascimento não tenham sido tão agradáveis, se divertiu
bastante nos últimos anos, para passar despercebido pelos céticos. O mau
comportamento pode ser negligenciado em um lorde, mas não será rapidamente
esquecido em alguém como você.
Gabe fez uma careta, não gostando de quanta verdade havia em suas palavras,
mas Silas ainda não havia terminado com ele.
— Bedwin estará perfeitamente ciente de todos os rumores escandalosos
relacionados a sua pessoa e provavelmente mais alguns, que certamente achou
terem sido silenciados. Não será fácil persuadi-lo de que é digno de ganhar um
prêmio, como sua amada irmã. Ainda assim, não é o primeiro e nem será o último
homem a crescer e perceber que é hora de se estabilizar, Bedwin incluído. Ele é um
bom sujeito, que se preocupa com a felicidade de sua irmã. Se realmente a ama, e
puder provar que a fará feliz, estou certo de que irá ganhá-lo.
Gabe pensou em refutar o fato de que a amava, mas, em primeiro lugar, não
achava que Silas falaria bem dele para Bedwin, precisava de toda a ajuda que
pudesse obter e, em segundo lugar, não tinha certeza absoluta de que não era
verdade. Talvez ainda não fosse verdade, mas não era tolo o suficiente para não
reconhecer que estava caindo forte e rápido, o resultado era inevitável.
— Isso pode levar anos. — disse ele, uma sensação de pânico, da qual não
gostava nem um pouco, subindo por seu estômago.
— Poderia. — concordou Silas, seu tom de simpatia.
Gabe firmou o queixo, querendo fazer algum comentário irreverente, para
sugerir que não se importava, mas não conseguiu fazê-lo. Além disso, Silas já havia
percebido, não fazendo sentido fingir indiferença, quando ele perdera a capacidade
de dissimular, sempre que Lady Helena estava envolvida.
— Poderia perdê-la para outra pessoa, alguém como o elegível Sr. Richards,
maldito seja, supondo que eu não perca a cabeça antes disso, de qualquer maneira.
— odiava a maneira como as palavras expunham seu coração, expunham o fato de
que estava em um limbo aqui, agarrando-se à vida.
Silas deu um tapinha nas costas dele — Coragem, Romeu. Do jeito que Lady
Helena continua olhando nessa direção, certamente, chamou sua atenção.
Descobrirá o resto com o tempo. Todos nós passamos por isso, de uma forma ou de
outra.
Gabe bufou. Isso quando se é um visconde e seu casamento com uma mulher
de origem humilde, elevou a posição social da esposa. Outra bem diferente, era
saber que arrastaria Helena para baixo com ele, manchando-a com seu passado sujo
e sua bastardia. Estava muito ciente de sua posição, naquele maldito salão de baile,
ciente do espaço ao seu redor, da distância que os outros convidados mantinham
dele, como se pudesse manchá-los, apenas por se aproximar. Sem mencionar os
olhares de certas senhoras casadas, que o observavam, provavelmente, se
perguntando se ainda poderia ser comprado, para o entretenimento de uma noite.
Gabe ergueu os olhos quando Lorde St. Clair se aproximou e um pouco de seu
ressentimento diminuiu, quando o homem sorriu e apertou sua mão.
— Senhor Knight, é um prazer vê-lo novamente. Espero que tenha se
recuperado de suas recentes aventuras. Nada como ser vencido por uma mulher,
para colocar as coisas em perspectiva, não é?
— Fale baixo. — murmurou Silas, embora houvesse risos em suas palavras.
Gabe bufou.
—Não foi uma surpresa descobrir que ela é melhor do que eu. — em
todos os sentidos foi o que faltou dizer, mas suspeitava que ambos entendiam tão
bem quanto ele — Eu, simplesmente, não consigo deixar de irritá-la. É irresistível.
— Oh, entendo isso, acredite em mim. — disse St. Clair, sorrindo — É melhor
que estejam furiosas do que o ignorando. Tenho vivido por essa regra por anos. —
fez uma pausa, seguindo a linha de visão de Gabe até Helena, que falava com sua
esposa — Tenho que dizer que elas me mandaram aqui, como mensageiro, se quiser
saber, daqueles de nós, que se importam com Lady Helena.
— Ah, sim? — Gabe respondeu, seu tom misterioso. Ele sabia onde isso
estava indo.
St. Clair sorriu, tão à vontade, que Gabe teve que sufocar uma pontada de
inveja.
— Eu gosto de você, Sr. Knight, e não concordo com aqueles que o ignoram,
mas direi isso por mim, e por todos aqueles de quem Helena sempre pode depender.
Helena é uma amiga querida, se suas intenções em relação a ela não são honrosas…
bem, vamos apenas dizer que Holbrooke é uma vasta propriedade, tem muito lugar
para enterrar um corpo.
Com isso, ergueu o copo para Gabe e piscou, antes de sair novamente.
Gabe o observou partir, retornando a um grupo que incluía a Condessa St.
Clair e Bonnie Cadogan. As duas mulheres estavam observando Gabe de perto,
considerando suas expressões.
Silas riu baixinho — Irá descobrir que as Senhoritas Peculiares são uma força
a ser considerada, Sr. Knight. Eu odiaria estar do lado errado delas, ou de seus
esposos.
— Considere-me avisado. — disse Gabe, secamente.
— Irá convidá-la para dançar, então?
Gabe se mexeu inquieto. Ele queria, mas…
— Sabe dançar, eu suponho?
— É claro que sei dançar. — retrucou, irritado.
Ele gastou um tempo precioso refinando seu sotaque, aprendendo qual maldito
talher usar, as regras para uma conversação civilizada, assim como, para aprender a
dançar, embora tenha sido uma experiência mortificante, para começar. Tentou um
mestre de dança, no início, mas o sujeito olhou Gabe tão de cima, que era
impossível relaxar e aprender qualquer coisa. No final, uma das prostitutas de uma
das casas que preferia visitar, lhe ensinou o básico. Então, várias senhoras da ton
tiveram a gentileza de refinar sua técnica, tanto dentro, quanto fora de seus
aposentos.
Lembrando seu passado e todas as coisas que fez para chegar aonde estava,
sentia-se sujo e desconfortável, embora suas roupas fossem impecavelmente feitas
e, provavelmente, fosse o homem mais rico presente ali. Helena tinha ouvido as
histórias sobre ele? Afinal, as mulheres conversavam, mesmo que não fosse de
conhecimento comum. Pensaria menos dele, por tudo o que fez? Mesmo que
Helena não o fizesse, ele iria sujá-la se casasse com ela, manchá-la, diminuí-la para
sempre, aos olhos da sociedade, ainda assim, não queria que ela se afastasse. Deus,
era um maldito filho da mãe.
Ela se virou então, chamando sua atenção e sorrindo. Foi como ser atingido
por um raio. Cada pedaço dele ganhou vida, de modo que estava excessivamente
consciente de seu corpo, de seus batimentos cardíacos e de como era difícil respirar.
— Boa sorte. — Silas murmurou, enquanto Gabe o deixava sozinho.
Largou o copo vazio, desejando ter bebido conhaque em vez de champanhe,
enquanto sentia o peso do olhar e do julgamento da multidão cair sobre ele. Apesar
de saber que muitos dos homens aqui viviam luxuosamente, apesar de saber que
valia centenas de milhares de libras a mais do que a maioria dos convidados ali
presentes, se sentia como um maltrapilho esfarrapado. Enfureceu-o que essas
pessoas tivessem o poder de perturbá-lo, de fazê-lo sentir-se menos do que era, mas
isso não o tornava menos verdadeiro. Consciente agora, reuniu sua coragem e
atravessou o salão de baile. Isso o deixou furioso, ao perceber o quão nervoso
estava. Nos negócios, ele era implacável, quando necessário. Nada o abalava, nunca
estava incerto de si mesmo, mas essa não era sua esfera. Ele sabia que se infiltrava
sem dificuldade nos eventos para os quais havia recebido convites no passado,
então, não havia razão para isso.
Uma coisa era nunca ser aceito, mas outra era deixá-los ver que se importava,
permitir que eles encontrassem falhas em seus modos. Isso, ele nunca permitiria.
Levou muito tempo aprendendo a passar entre essas pessoas, para não fazer isso
com facilidade. No entanto, agora, todas essas lições podiam muito bem nunca
terem acontecido. O chão sob seus pés parecia estar se mexendo, ele era um
miserável inútil, nascido na sarjeta, diante da filha de um duque, sentindo-se uma
fraude. Seu coração bateu forte em seu peito.
— Senhor Knight. — cumprimentou Helena, o prazer de vê-lo fazia seus olhos
brilharem e isto o aqueceu até os ossos. O olhar de Helena fez com que os poucos
segundos em que se sentiu como um tolo, diante dessas pessoas, se dissipasse, em
um instante.
Ela o queria aqui. O queria.
— Lady Helena. — curvou-se para ela e levou sua mão enluvada até os lábios,
enquanto vários dos cavalheiros que estavam perto dela lhe enviavam olhares
desaprovadores. Que se danem — Espero que tenha se recuperado da recente
enfermidade.
— Recuperei-me, de fato, embora deva creditar minha rápida recuperação às
gloriosas flores que o senhor me enviou. Como encontrou tantas flores exóticas
nesta época do ano, é surpreendente.
— Não há uma estufa no país que eu não tenha destrinchado. — admitiu,
imaginando o que ela diria se soubesse exatamente quanto essas flores haviam
custado. Não que se importasse, só queria enviar algo bonito para ela.
Ela se aproximou dele e baixou a voz — Acredito que felicitações estejam na
ordem do dia. Meu irmão olhou favoravelmente para o seu projeto, creio.
Gabe assentiu, imaginando o quanto isso parecia uma preocupação trivial,
agora. Passou meses tentando tirar o projeto do papel e quando parecia estar
finalmente se concretizando, tudo em que conseguia pensar, era Helena.
— Está certa. — disse ele, sorrindo para ela, não querendo que pensasse que
não era grato a seu irmão — É uma oportunidade maravilhosa, estou muito
agradecido, embora espere muito provar que é um bom investimento, também.
— Tenho certeza de que pode fazer qualquer coisa que decidir, Sr. Knight. —
havia uma pontada secreta e ligeiramente paqueradora nas palavras, que faziam sua
respiração prender.
— Nem mesmo o diabo conseguiria me impedir. — respondeu, segurando o
olhar dela. Sua pele corou em um tom delicado de rosa e o desejo de tocá-la era tão
feroz, que teve que colocar as mãos atrás das costas, antes de cair em tentação —
Conceda-me a honra da próxima dança?
Ele viu o arrependimento colorir sua expressão de uma só vez e seu coração
despencou até o chão. Então, ela não era tão imprudente e corajosa quanto ele
imaginava. Não dançaria com ele em público.
— Receio que a próxima dança seja do Sr. Richards. — disse ela, e o ciúme de
Gabe foi aliviado pelo olhar frustrado em seus olhos. Ela se inclinou um pouco
mais, baixando a voz e olhando para ele, sob os cílios — Mas guardei uma valsa
para o senhor.
E assim, ela fez tudo perfeito.
— Guardou? — não conseguia manter a surpresa longe de sua voz, nem o
prazer, e então, o desejo de provocá-la um pouco o fez acrescentar — O que a fez
ter tanta certeza de que eu pediria uma dança?
— Estava começando a pensar que não pediria. — ela retrucou, ele adorou a
indignação que ouviu.
— Eu não ia. — admitiu, sem explicar o motivo e lamentando ao ver um
vislumbre de dúvida em seus olhos.
Ela ergueu o queixo, a filha do duque em evidência, em reação às palavras
dele. — Bem, esteja avisado. Se quiser dançar comigo no futuro, Sr. Knight, deve
vir me perguntar no início da noite. Meu cartão de dança se enche com uma
velocidade bastante surpreendente, garanto. — havia desafio em suas palavras, e
ele se perguntou o quão desesperadamente queria tomá-la em seus braços e acalmar
todo aquele orgulho ferido.
— Devo? — ele rebateu, embora suas palavras fossem suaves — Por que,
quando sei que irá guardar uma dança de qualquer maneira, para mim?
— Porque, da próxima vez, talvez não guarde. — ela respondeu, um pouco
irritada.
Gabe sorriu, adorando o brilho teimoso que viu em seus olhos verdes. O que
havia nela que o encantava tanto?
— Ora, mas estou certo de que irá.
Olhou-o de soslaio, antes de desviar o olhar, mas não negou — A senhorita é
muito segura de si mesma.
Havia uma nota de incerteza nas palavras, quase de tristeza, e, de repente, quis
dizer a verdade.
— Eu estava inseguro, milady. Esperei até agora porque… porque demorei
algum tempo, para reunir coragem suficiente para perguntar-lhe.
O olhar dela se voltou para o dele tão rápido, deixando claro que não esperava
tais palavras — O senhor? Inseguro? — repetiu, parecendo totalmente perplexa —
Por que, diachos…?
— A senhorita é uma lady, filha de um duque, Helena. — disse, sussurrando
agora, para que ninguém pudesse ouvi-los — Não queria ser rejeitado na frente de
toda a ton.
Ela o encarou — O senhor pensou que eu diria não?
O espanto de Helena acalmou seu ego, quando percebeu que nunca havia
ocorrido tal hipótese a ela.
— Por que não? Uma coisa é me conhecer nas sombras, outra bem diferente é
fazê-lo sob o escrutínio público.
Houve um lampejo surpreendente de raiva em sua expressão — O senhor me
acha uma criatura de mente fraca, Sr. Knight? Uma pessoa que o usaria e depois o
jogaria de lado? Agradeço o elogio.
Começou a se afastar dele, mas Gabe agarrou seu braço, segurando-a —
Espere.
Helena ofegou e um murmúrio de indignação se levantou ao redor deles. Gabe
soltou-a, imediatamente, amaldiçoando-se. Cristo, ele sabia melhor do que
ninguém. Deveria ter lembrado que essa interação não era de forma alguma
privada.
— Perdoe-me, milady. — disse, esperando que ela pudesse ver que também
estava sendo sincero, não apenas por tê-la tocado — Muitas vezes fui tratado com
desdém, com escárnio, mas… mas eu deveria saber melhor. Peço perdão.
Ela o olhou por um longo momento, antes de balançar a cabeça — Não.
Perdoe-me. Eu exagerei. O senhor não me conhece. Não tem razão para confiar em
mim. Eu não deveria ter esperado isso.
Gabe balançou a cabeça — Eu a conheço sim. Eu confio na senhorita, só
que… é difícil. Ainda mais aqui.
Ela sorriu então, uma suavidade aquecendo seus olhos, que fez o peito de
Gabe doer, com a percepção de que esteve esperando por toda a sua vida por um
olhar como esse, que era para ele, unicamente.
— Sim, é. — ela concordou.
Observou-a olhar para longe e suspirar, só então vendo o Sr. Richards
retornando, para reivindicar sua dança.
— Tenho que ir. — disse, com pesar — Mas não se esqueça da sua valsa.
Ele riu, do absurdo de esquecer qualquer coisa, por menor que fosse,
relacionado a ela, muito menos a oportunidade de segurá-la em seus braços.
— Não vou esquecer.
10
Montagu,
Estive aguardando uma decisão sobre
sua noiva nos últimos cinco anos e esta
situação está se tornando insustentável.
Deu-me sua palavra de que uma escolha
seria feita até o final de abril e ainda não
ouvi nenhuma menção sobre o marquês
cortejando qualquer uma das damas que
escolhi. Na verdade, dificilmente ouço dizer
que esteja na sociedade e o único nome que
encontro ligado ao seu é o da Srta. Hunt.
Ela não é uma noiva adequada, como tenho
certeza de que está ciente. Tome-a como
sua amante, se for preciso, mas preste
atenção ao título. Na sua idade, seu pai já
tinha três filhos. Apesar de seus esforços,
nossa posição é além de precária e não
cumpriu seu dever. É a única pessoa, ou
melhor, tudo o que existe entre nós e a
ruína total. Não permitirei que essa paixão
ridícula nos coloque em risco por mais
tempo. Se continuar dessa maneira, será
motivo de chacota, por comer nas mãos de
uma mulher inútil. Centenas de anos de
labuta e sacrifício poderiam ser em vão, se
morrer antes de ter seu herdeiro.
Escolha uma noiva ou eu farei isso.
―Trecho de uma carta da viúva
condessa Astley, Marguerite de Warenne,
(tia-avó) ao Mais Honorável Lucian
Barrington, Marquês de Montagu.

DERN, KENT.
21 DE MARÇO DE 1815.

Phoebe olhou ao redor da porta, para o escritório de seu tio. Sabia que não
deveria estar aqui, tinha ido para a cama, horas atrás, mas algo a acordou e não
conseguia voltar a dormir. Embora a Srta. Peabody a repreendesse, foi gentil
demais para puni-la adequadamente e, portanto, valia a pena o risco. O tio não se
importaria, de qualquer maneira. Ele estava parado ao lado do fogo, um braço
apoiado na lareira e uma carta na outra mão. Murmurou algo que ela não conseguiu
entender, mas suspeitou ser uma palavra ruim, antes de amassar a carta e jogá-la no
fogo. Podia dizer que estava bravo, por causa da rigidez de seus ombros. Enquanto
o observava, ele inclinou a testa contra o braço apoiado na lareira. Parecia triste e
solitário, mas, na verdade, sempre estava assim. Resolvida a animá-lo, se afastou da
porta e correu para as cozinhas. Abraçou as sombras dos enormes cômodos e
corredores pelos quais passava, ocasionalmente se escondendo atrás de uma
armadura ou se movendo sob a mobília, se ouvisse passos avisando que um criado
estava por perto. Não foi difícil evitar ser notada em um lugar daquele tamanho.
Phoebe era adepta de se esconder e, se não quisesse ser encontrada, ninguém a
encontraria, exceto, talvez, seu tio. Foi o tio Monty que lhe mostrou todos os
esconderijos. O antigo casarão estava repleto de passagens secretas e quartos
escondidos, e eles passaram muitas tardes úmidas investigando-os.
Abraçando um xale com força em volta do seu corpo, correu para as cozinhas,
ignorando o chão frio sob seus pés descalços. Ainda havia atividade ali, como sabia
que haveria, mas Pippin não a repreenderia. Apenas beliscaria sua bochecha e a
mandaria para a cama, com um prato dos biscoitos que procurava.
— Senhorita Barrington! — a cozinheira exclamou ao vê-la — O que faz aqui,
a esta hora?
Phoebe correu em direção a ela e abraçou a mulher. Adorava Pippin, era
macia, fofa, gentil, e sempre cheirava a pão fresco e canela.
A Sra. Appleton riu e a abraçou de volta, acariciando os cachos emaranhados
de Phoebe em torno de seu rosto — Ah, sim, e o que a senhorita está procurando
então, rastejando a estas horas, como um fantasma?
— Alguns daqueles biscoitos que o tio Monty gosta. Os temperados.
— Não me diga que seu tio a mandou buscar biscoitos para ele, pois não
acreditarei na senhorita.
— Claro que não. — disse Phoebe, revirando os olhos — Fui vê-lo, porque
pensei que ele poderia ler para mim, mas quando o vi em seu escritório, parecia
estar com raiva. Acho que recebeu uma carta da tia-avó Marguerite.
— Oh, isso irá servir. — disse a Sra. Appleton, com um suspiro de irritação —
Aquela mulher não vai deixá-lo em paz.
— Não gosto dela. — Phoebe confidenciou, enquanto a cozinheira arrumava
uma bandeja — Ela quer que ele se case com as mulheres mais enfadonhas e está
sempre zangada e tem um cheiro estranho.
Os lábios da Sra. Appleton se contraíram, como sempre faziam quando Phoebe
dizia algo impertinente, com o qual concordava secretamente — Não fale assim
sobre os mais velhos, mocinha. Não é respeitoso.
— A senhora acha que ela irá obrigá-lo a se casar?
O rosto da Sra. Appleton escureceu — Sim. Ela vai, se puder. Seu tio é uma
pessoa teimosa, Deus o abençoe, mas dever é dever, e ele conhece o dele muito
bem.
Phoebe deslizou para uma cadeira, observando a cozinheira preparar um prato
de biscoitos.
— Eu gostaria que ele se casasse com a Srta. Hunt. — disse, calmamente.
A Sra. Appleton fez uma pausa, por um momento, antes de estender a mão
para acariciar o cabelo de Phoebe — Gostaria que ele fizesse algo que o deixasse
feliz, pela primeira vez, seja o que for. Esta casa tem visto muita tristeza. Se não
fosse pela senhorita, sua danadinha, acredito que todos nós chafurdaríamos nela.
Graças a Deus, ele a tem, no entanto. A senhorita é um pequeno raio de sol, é o que
é, por toda a sua travessura.
A cozinheira apertou o nariz de Phoebe, que sorriu de volta, enquanto ela ria e
entregava-lhe um biscoito.
— A senhorita é uma bênção para ele, criança, e ele a ama muito.
Phoebe assentiu, segura de que era verdade. Desejava que sua mãe e seu pai
não tivessem morrido, mas sabia que tinha muita sorte. Mais sorte do que a maioria,
e era por isso que queria tanto que seu tio fosse feliz também. Observou, comendo
o delicioso biscoito, enquanto a Sra. Appleton pegava leite do resfriador e
despejava um pouco em um jarro, adicionando dois copos à bandeja.
— Venha, então. Vamos ver se podemos animá-lo, eh?
Phoebe se levantou e seguiu atrás da figura generosa da cozinheira, enquanto
voltava pelo caminho por onde viera, embora não se incomodasse em se esconder
atrás ou embaixo das coisas, quando outro criado se aproximou, o que era uma
pena, pois teria sido engraçado ver. Ela não achava que o traseiro grande de Pippin
caberia atrás de uma armadura.
Quando chegaram à porta do escritório, a Sra. Appleton bateu e esperou.
Houve uma longa pausa, antes que seu tio respondesse — Entre.
Estava sentado atrás de sua mesa, e Phoebe sorriu, quando ele olhou surpreso
ao ver a Sra. Appleton.
— Perdoe-nos por incomodá-lo, milorde, mas a Srta. Barrington parece pensar
que o senhor precisava urgentemente de leite e biscoitos.
Uma sobrancelha elegante se curvou um pouco, enquanto ele olhava da Sra.
Appleton para a sobrinha.
— De fato. — disse — Como sabia, criança?
— Adivinhei. — disse ela, satisfeita por ele entrar na brincadeira — O senhor
recebeu uma carta de Marguerite Bolorenta, então, eu sabia que estaria zangado.
— Phoebe! — ele a repreendeu, engasgando-se um pouco, e Phoebe teve
certeza de que estava tentando não rir — Isso não é maneira de falar da condessa
viúva Astley.
— É melhor do que a forma como o senhor a chama. — a Sra. Appleton
murmurou.
Phoebe mordeu o lábio, fingindo não ouvir, para não colocar Pippin em
apuros.
O tio dela pigarreou e se levantou, depois sobressaltou-se quando viu os pés
descalços de Phoebe.
— Quantas vezes eu já lhe disse? Irá ficar doente, se continuar vagando por aí
descalça.
Ele a pegou, a carregou para perto do fogo, colocou em uma cadeira, virando-a
para que pudesse aquecer os dedos frios.
— Precisa de mais alguma coisa, milorde? — A Sra. Appleton perguntou,
depois de organizar o leite e os biscoitos para eles.
— Isso é tudo.
— Muito bem. — disse a Sra. Appleton, então, fez uma pausa para dar um
longo olhar ao tio Monty, seu olhar ficando suave — Embora sempre haja mais de
onde esses vieram.
Phoebe observou, intrigada, como o tio Monty sorriu, um sorriso que alcançou
seus olhos.
— Eu me lembro, Pippin. Obrigado.
Ela assentiu, lançou um olhar afetuoso a Phoebe e depois os deixou a sós.
— Marguerite Bolorenta. — ele repetiu, antes de fazer um som de
desaprovação e balançar a cabeça.
— Combina com ela, o senhor sabe que sim. — Phoebe persistiu.
— Sim. — ele admitiu, sentando-se na cadeira ao lado dela, e pegando um
biscoito do prato. Girou-o em seus longos dedos por um momento, antes de olhar
para ela — Mas a proíbo de dizer isso a qualquer pessoa, apenas para mim.
Phoebe suspirou e revirou os olhos — Tudo bem.
Ela serviu um copo de leite para si e outro para o tio, antes de pegar um
biscoito e mergulhá-lo no leite. Sentindo os olhos do tio sobre ela, o encontrou
olhando-a com desgosto.
— É melhor assim. — disse ela, defensivamente.
— Não parece ser melhor assim. — disse ele, com uma expressão de dor —
Sua preceptora não lhe ensina nada?
— Ela tenta. — disse Phoebe, encolhendo os ombros e comendo o biscoito,
antes de mergulhá-lo no leite novamente — Hmm…
— Onde foi que eu errei? — ele perguntou, tristemente.
Phoebe bufou, bem ciente de que ele não quis dizer aquilo — O senhor pode
tentar.
— Não. — parecia revoltado.
— Sim, continue. Como saberá se o sabor é melhor se não experimentar?
Phoebe olhou para ele, então cruzou os braços e o fitou um pouco mais.
Houve um suspiro sofrido. Curvando um pouco os lábios, seu meticuloso tio
mergulhou o biscoito no leite e deu uma mordida relutante.
— E então? — Phoebe exigiu, enquanto ele mastigava, pensativo.
Ela se remexeu, impaciente, enquanto ele levantava um dedo, indicando que
deveria esperar e repetiu o processo mais uma vez. Mastigou, engoliu e se virou
para ela, sua expressão grave.
— A senhorita ganhou. — disse — Delicioso.
Phoebe deu uma gargalhada e pulou da cadeira direto no colo do tio, com tanta
força que ele gemeu.
— Oh, sua criatura perversa. Como abusa de mim.
Ela riu e se aconchegou nele — O senhor não se importa.
— Não. — admitiu, quando ela ficou confortável — Não me importo.
Eles ficaram em silêncio por um bom tempo e Phoebe começou a sentir sono
novamente.
— Tio Monty? — indagou, ousando fazer uma pergunta que a vinha
incomodando há algum tempo — Eu terei que me casar com um homem do qual
não gosto, quando crescer?
Ele enrijeceu um pouco, ela olhou para cima, para encontrar seu olhar cheio de
preocupação — Porque está me perguntando isso, criança?
— Porque não quer se casar com nenhuma das damas que deveria escolher,
mas o senhor disse que precisa. Se alguém tão poderoso quanto o senhor pode ser
obrigado a fazer algo que não quer, então, provavelmente, eu também terei que
fazer, e… e se ele não for bom ou gentil comigo?
— Não! — disse ele imediatamente, sua voz firme e um pouco irritada —
Nunca. Irá se casar com um homem bom e gentil. Alguém de quem goste muito, o
suficiente para que não suporte a ideia de não estar casado com ele. Caso contrário,
não poderei deixá-la ir.
— O senhor promete? — ela perguntou em voz baixa.
Ele segurou o olhar dela — Eu prometo. Eu prometo, Phoebe. Não precisa
mais se preocupar com isso. — disse, e Phoebe relaxou.
Esse era o problema do tio dela. Nunca dizia que ela estava sendo boba ou
descartava as suas ideias. Sempre a levava a sério e, se prometia alguma coisa,
nunca voltava atrás ou mudava de ideia. Ele a fazia se sentir segura, sempre foi
assim. Contente agora, ela deu um suspiro, recostou a cabeça sobre seu ombro e
dormiu.

AINDA NO DIA 21 DE MARÇO DE 1815. CAVENDISH HOUSE, THE STRAND, LONDRES.


Helena estava tão nervosa quando Gabe a levou para a pista de dança, que não
conseguia falar. Era tudo o que ela podia fazer para se lembrar dos passos, enquanto
ele a guiava pelo salão. Era como voar, sua excitação por estar em seus braços, tão
esmagadora que estava tonta com isso. Não ficou surpresa ao descobrir que ele era
um excelente dançarino. Era um homem que não deixava nada ao acaso, suspeitava,
e nunca permitiria que as pessoas que se consideravam seus superiores, tivessem
motivo para criticá-lo. A música aumentou ao redor deles, o redemoinho colorido
dos vestidos das damas, um borrão de movimentos, mas tudo o que ela podia ver
era Gabe. Ele olhou para ela, sua expressão intensa, e Helena se gloriou em sua
atenção. Era tão inebriante. Ele a guiou para uma curva rápida, ela riu em voz alta,
tão feliz, que o som explodiu ao redor de ambos. Ele sorriu então, presunçoso e
satisfeito consigo mesmo. Ela queria abraçá-lo com força, envolver-se em torno
dele e nunca o deixar ir. Infelizmente, esse tipo de comportamento seria
desaprovado em um salão de baile e, quando a dança terminou, Helena agradeceu
educadamente e pegou seu braço, enquanto Gabe a levava em direção a Harriet e
Bonnie.
— Quando posso vê-la de novo? — ele perguntou.
Helena olhou para cima, um frisson de alegria tremendo sobre ela, com o tom
de voz desesperado dele.
— Não sei.
— A senhorita poderia me encontrar em algum lugar?
Helena considerou aquilo por um momento — Hyde Park, talvez. As pessoas
se encontram por acidente o tempo todo no parque.
Ele franziu a testa — Não é muito privado, mas terá que servir. Por enquanto.
Amanhã? Às três, antes do horário mais movimentado. Vou esperar junto ao
Serpentine, o lado mais próximo do anel.
Ela assentiu, não confiando em si mesma para falar, por medo de deixar
escapar que não poderia esperar tanto tempo. Ele a olhou e Helena sentiu suas
bochechas se aquecerem sob a força daquele olhar.
— Até amanhã, milady.
— Até amanhã.
Helena observou, sem fôlego, enquanto ele se virava e se afastava.

REGENT’S PARK, LONDRES.


27 DE MARÇO DE 1815.

Eles se encontraram no dia seguinte no Hyde Park como combinado, com a


criada de Helena vociferando desaprovação e preocupação, enquanto seguia atrás
deles. Nos primeiros minutos, ambos estavam com a língua presa, e então Gabe riu
do quão ridículos estavam sendo, e, de repente, ficou tão natural quanto respirar.
Eles conversaram e conversaram, e o tempo passou muito rápido. Gabe perguntou-
lhe sobre suas amigas, pois sabia que esse era um assunto sobre o qual Helena
falaria alegremente, e se contentou em aproveitar o brilho de sua companhia. Se viu
seduzido pelas histórias que ela contou sobre as Senhoritas Peculiares e a profunda
amizade que havia crescido entre o grupo de meninas. Ficou satisfeito ao descobrir
que Helena era próxima de Bonnie, o que achava que falava bem dela. Bonnie não
era considerada uma boa pessoa, muito solta e terrivelmente franca, e Helena não se
importava nem um pouco. Ela era uma mulher de opiniões e sentimentos fortes e
ferozmente leal, Gabe a admirava mais a cada segundo que passava. Quaisquer
medos que tivesse de colocar seu coração em perigo, Gabe deixou de lado. Mas já
era tarde demais.
Gabe caminhou com ela pelo tempo que ousou, não querendo que as línguas
começassem a falar, tendo de se forçar a deixá-la, embora isso o matasse. No dia
seguinte, eles se encontraram em St. James e, mais uma vez, os momentos em sua
companhia foram muito fugazes. Fizeram tantas coisas naquele breve interlúdio,
discutiram sobre tudo, desde sua família até seu trabalho e conhecidos em comum,
embora houvesse poucos deles. Green Park veio e passou, e depois voltaram para o
Hyde Park, novamente. Cada encontro foi como se fosse uma vida inteira e, no
entanto, muito breve, público e desesperadamente frustrante. Quanto mais a via,
menos conseguia pensar em qualquer outra coisa. Ela ocupava todos os seus
pensamentos e invadia seus sonhos, sabia que estava em apuros, mas não podia
fazer nada para impedir. Sempre soube que era perigosa para ele, desde o início, e
foi por isso que tentou mantê-la longe. Agora, não podia suportar deixá-la. A
separação tornou-se cada vez mais dolorosa, suas despedidas se estendendo, já que
nenhum deles queria ir embora. Ele ansiava por segurá-la em seus braços, beijá-la,
e sentiu que enlouqueceria, se isso não acontecesse logo.
Hoje era o Regent’s Park, e Gabe sentiu seu coração acelerar quando a viu
caminhar em sua direção. Ela estava vestida de verde floresta, uma pelisse de
veludo abraçando sua figura esbelta, seu rosto adorável emoldurado por cachos
escuros, sob um gorro aparado com o mesmo veludo verde e uma fita vermelha
exuberante.
— Ora, Sr. Knight, que coincidência vê-lo aqui. — disse ela, com um sorriso
atrevido nos lábios.
— Hmmm! — respondeu Gabe, sabendo que eles não conseguiriam continuar
com isso. Eventualmente, alguém notaria. Ela pegou em seu braço e ele a olhou
com saudade — Deus, a senhorita está uma delícia.
Ela corou, rindo e parecendo um pouco confusa, o que o agradou.
— Se eu não puder beijá-la hoje, não serei responsável pelas consequências.
Houve uma pausa, e ele se perguntou se a havia chocado, mas ela estava
olhando-o com uma carranca pensativa.
— Mas o senhor seria responsável pelas consequências, se me beijasse? — ela
perguntou.
Ele parou, virando-se para encará-la.
— O que quer dizer?
Ela sorriu e balançou a cabeça, evitando o olhar dele — Não importa, esqueça
que eu disse isso.
— Não. — estendeu a mão e pegou as mãos dela, quando estava se afastando
— Está perguntando o que eu faria se fôssemos descobertos? Certamente sabe que
não iria embora. Eu me casaria com a senhorita. Helena, eu…
Gabe fechou a boca, antes que pudesse falar demais. O desejo de fazer a
pergunta, agora, era forte, mais do que havia percebido. Se ela fosse sua esposa,
poderia dispensar tudo isso, poderia tê-la com ele sempre, ao seu lado, em sua
cama. Uma vontade muito forte o atingiu, inesperada e enervante. Gabe respirou
fundo, tremeu e depois os guiou em direção a um monte de árvores. Quase não
havia ninguém, hoje. Era muito cedo, e o dia estava escuro e cinza, com um amargo
vento do norte. Foi irresponsável de sua parte arrastá-la para um clima horrível
como esse, mas, de que outra forma poderia vê-la?
— Milady. — a voz de Tilly estava cheia de ansiedade, pois deve ter entendido
a intenção dele.
Ela seria uma tola se não tivesse entendido.
— Fique onde está, Tilly. Por favor. — implorou Helena, seguindo Gabe.
Ele a puxou para trás do tronco de um enorme carvalho e em seus braços.
Ela suspirou quando suas bocas se encontraram e Gabe sentiu o prazer daquele
som rolar sobre ele, através dele, instalando-se em seu coração. Não sabia o que
Helena sentia por ele, por que arriscaria tanto para estar com ele, mas, nesse
instante, bastava que estivesse aqui. Nas horas escuras da noite, se preocuparia com
cada palavra, cada olhar, imaginando se era apenas a emoção de estar com um
homem com quem não deveria se relacionar, que a trouxe até ele. Sabia que ela o
achava fascinante, que era diferente de qualquer outro que Helena conhecia, mas
isso não significava que desejasse se casar com ele. Isso não significava que
poderia amá-lo.
Seus medos evaporaram no momento em que ela veio para seus braços.
Helena estava tão ansiosa e disposta, e a correção disso afugentou todos os outros
pensamentos. Certamente não poderia beijá-lo assim, se ele não fosse nada além de
um flerte. Gabe nunca sentiu isso com ninguém antes, a força da paixão, do querer.
Parecia inconcebível que ela também não sentisse isso.
Gabe aprofundou o beijo, sabendo que deveria parar. Eles estavam em um
lugar público, pelo amor de Deus. Só porque estava louco o suficiente com luxúria
para levá-la contra uma árvore, não significava que pudesse. Helena merecia mais
do que isso. Ele recuou, respirando com dificuldade, satisfeito em ver que parecia
irritada, suas bochechas coradas e seus lábios rosados.
— Oh, Deus, Helena, não me olhe assim, ou ainda estaremos aqui daqui a uma
hora, e sua pobre criada já quer me matar.
Helena sorriu e assentiu — Eu sei. A querida Tilly está terrivelmente
preocupada comigo. Tivemos problemas para sair, hoje, por isso prometi que só
daríamos uma curta caminhada. Acho que é melhor eu ir ou nós dois estaremos
com problemas. Além disso, a pobrezinha deve estar congelada. Ela não tem um
grande urso para mantê-la aquecida. — disse, brincalhona.
— Um urso, é? — perguntou, sorrindo.
— Sim. — disse ela, com um brilho malicioso nos olhos — Foi o que pensei
quando o senhor se sentou tão tranquilamente para tomar chá com a Srta.
Barrington. Eu me senti miserável por fazê-lo se comportar. Prefiro muito mais
quando não se comporta.
— Estou vendo. — disse ele, fazendo um som de rosnado e inclinando-se para
morder suavemente a garganta dela.
Helena deu um pequeno grito de riso, que fez seu coração parecer leve. Essa
mulher o fez se sentir como o rei do mundo, como se ele pudesse fazer qualquer
coisa. Olhou-a, imaginando se Helena poderia ver o quão apaixonado estava.
— Beije-me novamente. — ela sussurrou.
Ele, é claro, não podia negar nada a ela.
— Quando? — exigiu saber — Preciso pensar em alguma coisa. Preciso de
mais do que alguns momentos arrebatados, em um lugar público.
Gabe viu a dúvida em seus olhos, o medo e se amaldiçoou. Não deveria
pressioná-la, não era uma de suas damas casadas, ou uma viúva com quem ele
estava organizando um encontro. Ela era uma jovem gentilmente criada, que ficaria
totalmente arruinada, se o caso deles fosse descoberto, mas ele se sentia fora de
controle, querendo mais, precisando de mais.
— Haverá um baile de máscaras no Panteão, no fim de semana que vem. —
disse ela, com a voz um pouco hesitante.
Estava nervosa com a ideia, ele podia ver, mas Gabe se agarrou a ela, mesmo
assim. Uma noite inteira em sua companhia, sem ninguém mais sabendo de suas
identidades, sob os trajes. Poderia dançar, beijar Helena e ninguém saberia.
— Garota inteligente. — disse ele, ouvindo o calor de aprovação em sua voz,
vendo o prazer em seus olhos, enquanto ela reagia a isso.
Seu irmão teria uma apoplexia se soubesse o que estavam planejando. Um
baile de máscaras público, era um evento popular, com todos os níveis da ton, e
reunia uma multidão heterogênea, desde a nobreza até os batedores de carteira e
todos os outros. Poderia ser perigoso, mas nunca permitiria que nada acontecesse
com Helena.
— Nos encontraremos no Hyde Park, mais uma vez, para organizar os
detalhes, quando eu descobrir mais.
Helena assentiu — Não posso vê-lo até a próxima semana, e não antes de
quinta-feira, embora eu vá ao baile da condessa de March. — disse ela, como não
havia sido convidado para aquele seleto evento, ficou aliviado com o
arrependimento que viu nos olhos da dama — Tenho tantas visitas que negligenciei
e tio Charles está ficando desconfiado do meu amor repentino por caminhar. Tilly
disse a ele que eu ainda estava sofrendo um pouco com o resfriado que peguei, e
que caminhadas ao ar livre me faziam bem, mas me sinto miserável por ela ter que
mentir por mim. Especialmente quando ela desaprova isso. Eu não quero que Tilly
se meta em problemas por minha causa.
Gabe assentiu, entendendo, embora odiasse ter que esperar dias para vê-la
novamente.
— Ela me desaprova, é o que quer dizer. — disse ele, defensivo.
Por que deveria se importar com o que a maldita criada pensava dele? Era uma
pergunta que não podia responder, mas descobriu que se importava muito. Não
queria ser o segredo obscuro de Helena, algo vergonhoso, que ela nunca deveria
admitir, mas, de alguma forma, era isso que ele se tornou.
Helena estendeu a delicada mão enluvada, segurando sua bochecha — Ela não
o conhece, Gabe. Não como eu. Tem medo de que o senhor esteja me usando, que
irá se divertir e depois me deixar.
— Eu não faria isso. — objetou, negando ferozmente uma coisa tão vil.
— Sei disso. — disse, acalmando-o como uma criança frágil — Eu acredito no
senhor.
No entanto, havia algo em seus olhos. Helena não estava mentindo, mas havia
dúvida neles, incerteza, e Gabe era muito covarde para perguntar no que ela estava
pensando.
— Muito bem, minha querida. A vejo no baile dos March, se conseguir
convencer o conde a me convidar. Sua esposa não vai gostar, mas ele está
desesperado para investir comigo, então, deve adoçar o negócio com um convite.
Certifique-se de me guardar uma valsa.
— Claro. — disse ela, rindo.
Sorriu para ela e depois suspirou, imaginando como passaria a próxima
semana. O baile dos March seria grandioso, assim, com todos os olhos postos neles,
teriam que ter muito cuidado e nada de beijos roubados, não até o disfarce.
— Então, até quinta-feira. — disse ele com pesar — Embora não saiba como
vou sobreviver por tanto tempo.
— Eu também não. — disse ela, estendendo-se nas pontas dos pés — Um
último beijo, antes de eu ir embora. Por favor, Gabriel?
Bem, como diabos ele poderia recusar?
11
Minha querida irmã,
Estou escrevendo às pressas, na
esperança de que esta carta chegue antes
de nós. Robert está fora de si e não quer
me dizer o que aconteceu, mas algo está
errado. Eu sei que ele quer evitar que me
preocupe, mas posso dizer que está
chateado e furioso e quando insistiu que
deveríamos retornar a Londres,
imediatamente, tive a mais terrível
premonição de que descobriu o que fez.
Espero fervorosamente que, quando
chegarmos, possa nos garantir que isto foi
o pior e que não foi indiscreta. Creio que
chegaremos no dia vinte e oito de março.
Rezo para que esta carta chegue antes,
para lhe dar tempo de se preparar.
— Trecho de uma carta de sua graça,
A Duquesa de Bedwin, para Lady Helena
Adolphus.

BEVERWYCK, LONDRES.
28 DE MARÇO DE 1815.

Helena deu um grito de alarme e jogou a carta de lado.


— Tilly! — gritou, enroscando-se nos lençóis, com pressa para sair da cama e
caindo no chão, com um baque pesado — Tilly! — gritou novamente,
amaldiçoando os joelhos doloridos, se levantando.
Tilly irrompeu do vestíbulo, brandindo um castiçal prateado no alto — O quê?
O que é? Onde ele está?
Helena ficou boquiaberta — Ele quem?
Tilly olhou pelo quarto, respirando com dificuldade e depois abaixou o
castiçal.
— Eu pensei que a senhorita estava sendo assassinada! — gritou indignada,
pressionando a mão no peito — Oh, meu pobre coração.
— Não seja boba. — respondeu Helena.
— Bem, por que todos esses gritos? — exigiu, largando o castiçal.
— Isto! — Helena acenou com a carta para ela — Um assassinato é iminente,
eu garanto. Leia.
Ela enfiou o papel amassado sob o nariz de Tilly e a criada o leu, tão
lentamente que Helena pensou que poderia gritar, mas segurou a língua.
— Oh, milady! — Tilly olhou para ela, com os olhos arregalados — O que
devemos fazer?
— Não há nós! — disse Helena, com firmeza — Não sei o que Robert
descobriu, mas se for apenas a corrida, direi que a intimidei e que não teve escolha,
a não ser fazer o que mandei. Se, no entanto… — seu estômago teve um
sobressalto que a fez sentir náuseas — Se ele descobriu que estou me encontrando
com Gabriel, então… então não sabe nada sobre isso, Tilly. Eu saía sozinha, está
me ouvindo?
Tilly se eriçou, cruzando os braços — Não, milady. Não quero que seu irmão
acredite que a senhorita foi comprometida. Pode ser uma situação escandalosa, mas
não precisa ser ruinosa. Não quando estive com a senhorita.
— Mas, Tilly. — Helena objetou, com medo de que Robert pudesse demiti-la
sem uma carta de recomendação, mas, certamente não. Além disso, Prue nunca
permitiria isso, mas ainda parecia ser muita coisa para Tilly arriscar por ela.
— Não. — Tilly se manteve firme — A senhorita pode dizer a verdade, pois
eu estava com a senhorita. Ponto final.
Helena correu até ela e a abraçou forte — Eu contarei a verdade,
principalmente o quanto tentou me manter longe de problemas. Não tenha medo,
Tilly. Não deixarei que ele a castigue por minha perversidade.
— Oh, mas, milady, o que irá fazer? O duque ficará furioso quando descobrir
o que andou fazendo.
Helena estremeceu um pouco, sabendo que isso não era um eufemismo. Sem
mencionar que o tio Charles também ficaria furioso. Mentiu para ele, algo que
nunca tinha feito antes. Quando ambos soubessem por quem estava mentindo…
Uma sensação horrível de frio percorreu suas costas quando percebeu que não seria
apenas ela que Robert iria querer punir.
Bem, não conseguia pensar nisso agora. Tinha que se preparar para enfrentar
seu irmão, e não faria isso usando apenas sua camisola.
— Preciso me vestir, Tilly. Agradeça aos céus por Prue me avisar que estão
voltando.
Estaria prevenida de antemão, mas tinha que se manter firme. Robert não iria
querer enxergar isso, mas ela tinha que fazê-lo entender que Gabriel tinha sido
duramente julgado.
De alguma forma, tinha que convencer o irmão.

— Uma corrida de carruagem, no meu cabriolé, maldita seja! Tenho em mente


enviá-la para sua tia Hermione, na Irlanda, até o resto do ano, para que recupere os
seus sentidos. Se alguém como Bingo Harris a tivesse visto, estaria arruinada, está
me ouvindo? Meu Deus, poderia ter morrido!
Pelo lado positivo, Robert não tinha ouvido falar sobre seus encontros secretos
com Gabriel. O que não fazia diferença, pois queria matá-la, de qualquer forma.
Andou de um lado para o outro, na biblioteca, furioso e corado de raiva, seu cabelo
em desordem, onde já havia passado às mãos uma dúzia de vezes.
— Não seja dramático, Robert. — disse Helena, indignada. Suportaria uma
bronca se precisasse, mas, honestamente, Robert tinha ciência de sua habilidade
com as rédeas — Sabe muito bem que sou excelente com o chicote.
— Sim, mas na cidade! — ele concordou, virando-se contra ela — Não
correndo a uma velocidade absurda, nessas malditas estradas horrorosas, entre aqui
e Brighton, e, como se não bastasse, debaixo d’água! Vou matar Gabriel Knight.
Em que diabos ele estava pensando? Bem, ele pode dizer adeus a qualquer
investimento meu, isso é certo.
— Oh, Robert, não! — Helena disse horrorizada.
Sabia muito bem o quão importante esse projeto era para Gabriel. Se ele
perdesse agora, por causa dela, ficaria devastado, e Helena nunca se perdoaria.
— Não se atreva a me questionar, mocinha. — rugiu — Está claro para mim
que não é confiável. Só Deus sabe o que mais tem feito na minha ausência, mas eu
lhe digo, isso para agora. Vou ficar de olho na senhorita, e não sairá desta casa
novamente, a menos que esteja devidamente acompanhada.
— Robert! — ela exclamou, chocada — Não pode estar falando sério, não sou
uma criança.
— E é exatamente isso que quero dizer. — ele rugiu — Por Deus, é uma
herdeira, filha de um duque. Sabe quantos homens sem escrúpulos há lá fora, que
gostariam de arruiná-la, para forçar a aprovação, por mim, de casamento vantajoso?
E, de todos eles, Gabriel maldito Knight é provavelmente o pior. Devia ter
imaginado. Eu deveria ter imaginado.
— Não sabe nada sobre ele, Robert!
— Ele não presta, Helena. Um apostador, um libertino…
— Que eu saiba, também era! — Helena devolveu, igualmente furiosa — Até
que se apaixonou por Prue.
Robert paralisou, a cor deixando seu rosto, Helena se perguntou, por um
momento, se talvez suas palavras o tivessem atingido, mas então se aproximou dela
e a fitou:
— Meu Deus! — disse ele com a voz mais calma — Não é apenas a corrida,
é? Apaixonou-se por ele.
Para sua intensa mortificação, Helena corou escarlate, o que era uma resposta
tão eloquente quanto a que poderia ter dado.
— Eu vou matá-lo. — gritou, afastando-se dela, antes de se virar com a
mesma rapidez — Ele a tocou? — exigiu, uma raiva tão grande em seus olhos que
Helena deu um passo para trás.
— N-não! — conseguiu dizer, seu coração batendo desigualmente.
— Jure.
Helena engoliu em seco, nervosa com a intensidade que viu no olhar do irmão,
só percebendo agora os esforços que faria para protegê-la.
— Eu juro. Ele n-não é assim, Robert, tem que acreditar em mim, ele se
importa comigo…
Houve uma risada amarga — Ah, aposto que sim. Por Deus, Helena,
certamente sabe que ele está desesperado para se casar bem, com o fim de ingressar
na ton? É apenas um meio para um fim, não se importa contigo.
— Não sabe! — Helena gritou, as palavras doendo ainda mais, porque não
sabia se o irmão estava certo ou não.
— Nunca mais irá vê-lo.
— Mas, Robert! — ela gritou, incapaz de impedir que as lágrimas caíssem
agora — Por favor, por favor, não faça isso. E se ele me cortejasse formalmente, e
se o conhecesse primeiro? Não poderia dar-lhe uma chance?
— O quê? O homem que estava tão desesperado por minha ajuda com seu
projeto ferroviário, que pensou em comprometer minha única irmã, caso seu plano
não funcionasse como queria? Meu Deus, como é tola. Todo mundo sabe que ele
nos odeia, imagina o quão satisfatório seria conseguir a esposa que precisava,
enquanto forçava minha mão?
Helena cambaleou para trás, como se ele a tivesse atingido. Balançou a
cabeça.
— Não! — disse ela, soluçando e abraçando-se — Não, ele não faria isso.
— Helena, — disse Robert, sua voz gentil agora, abrindo os braços para ela —
Helena, meu amor, sinto muito, mas, por Deus, aprenda com os meus erros. Eu
quase arruinei minha vida, casando-me com uma alpinista social, não vou deixar
isso lhe acontecer também.
Moveu-se em direção a ela para abraçá-la, mas Helena recuou, balançando a
cabeça.
— Está errado. — disse, não conseguindo segurar as lágrimas — Está errado,
ele se importa comigo.
— Sinto muito, Helena. Não acredito nisso e não vou permitir que o veja
novamente.
Helena o olhou incrédula, pois tudo havia dado terrivelmente errado. Ela
perderia Gabriel e não havia nada que pudesse fazer para evitar isso. Seu irmão
nunca mais lhe daria a liberdade que tinha, até então, nunca mais confiaria nela,
não, até que estivesse casada com alguém que ele aprovasse. Não conseguia pensar
nisso, não agora, mas devia tentar resgatar algo dessa bagunça, por causa de
Gabriel.
— Robert, não deve se retirar do projeto, será um enorme sucesso, sei que
será. Tio Charles está animado com as perspectivas, sabe como ele é astuto. Pelo
menos seja sensato sobre isso. Não corte o nariz para irritar o rosto.
Ele a olhou, então ficou em silêncio por um longo tempo, sabia que o irmão
estava decidindo a melhor forma de negociar com ela. Tio Charles não era o único
que era astuto em assuntos de negócios.
— Muito bem. Vou trocar umas palavrinhas com o seu Sr. Knight e,
dependendo de suas respostas, desde que possa me conter de matá-lo, o que não é,
de forma alguma, fácil, não retirarei meu apoio… sob uma condição. Tem que me
dar a sua palavra de que nunca mais irá vê-lo, Helena.
Helena fechou os olhos. Sabia, sabia que ele negociaria dessa maneira, mas
tinha que salvar o projeto para Gabriel.
— Sua palavra, Helena, ou vou me afastar do projeto para sempre, não
importa o quão bem-sucedido seja.
Helena assentiu, embora isso tenha partido seu coração.
— Eu prometo. — disse, as palavras quase inaudíveis, então se virou e fugiu.
12
Querido,
Fomos descobertos. Meu irmão está
furioso e me proibiu de vê-lo. Tive que dar
minha palavra, ou ele teria retirado o
apoio ao seu projeto ferroviário, e sei o
quanto isso significa para você.
Não pode imaginar o quão miserável
estou me sentindo. Sinto muito a sua falta.
Estou sendo vigiada, dia e noite, não sei
quando terei a chance de escapar de novo.
Por favor, perdoe-me pelo que vou
fazer, mas não poderei cumprimentá-lo, se
nos encontrarmos em público, então, peço
que não se aproxime de mim. Isso partiria
o meu coração.
Sinto que nunca mais serei feliz.
—Trecho de uma carta de Lady
Helena Adolphus ao Sr. Gabriel Knight.

MANSÃO LINGFIELD, EDENBRIDGE, KENT.


29 DE MARÇO DE 1815.

— Oh, seu lindo diabrete, roubou meu coração. Sabe disso, não sabe? —
Matilda disse com um suspiro.
Alice riu quando Matilda deu um beijo doce no nariz do bebê. Oh, ele cheirava
tão bem, inocente, quente, leitoso e simplesmente… perfeito. Ele gorgolejou e
chutou, olhando para ela com os grandes olhos azuis de um recém-nascido e algo
profundo dentro dela se contraiu com desejo.
— Ele roubará mais alguns quando for um homenzinho, se for algo parecido
com o pai. — Alice disse, estendendo os braços para Matilda.
— Não. — disse Matilda, balançando a cabeça — Não vou devolvê-lo. Vou
ficar com ele. Vamos fugir juntos, não vamos, Leo? Sim, sim, vamos. —
cantarolou, rindo, enquanto o bebê dava um grito que soava como afirmação —
Está vendo? — disse, triunfante.
— Já está ensinando meu filho a fazer travessuras, Tilda? — Nate disse
quando entrou na sala e, habilmente, arrancou Leo de seus braços, olhando para seu
filho como se não pudesse acreditar que ele era real.
— Ora, era minha vez de segurar. — Matilda protestou.
— Que pena. — disse Nate, sorrindo — Nós vamos ter uma conversa de
homem para homem, mulheres não são permitidas.
Com isso, se afastou, carregando o bebê com ele e fechando a porta da sala.
— Bem! — exclamou Alice — Eu fiz todo esse trabalho duro, e mal tenho um
minuto a sós com ele.
— Sinto muito, Alice. — disse Matilda, imediatamente, mortificada —
Quando Leo estiver dormindo, sairei para uma volta e lhe darei um pouco de
privacidade.
— Eu quis dizer com Leo! — Alice se opôs, e então começou a rir do olhar no
rosto de Matilda — Embora, também seja bom ter um momento com Nate. —
acrescentou, um pouco arrependida.
Matilda bufou — Muito bem, irei desaparecer.
— Oh, não há necessidade disso. — disse Alice, balançando a cabeça — É
uma casa grande e temos privacidade suficiente, eu garanto. Não quero que se sinta
desconfortável aqui, nunca.
— Como eu poderia me sentir desconfortável? — Matilda exigiu, rindo — Os
dois me fazem sentir muito bem-vinda, estarão com problemas se eu nunca mais
quiser ir embora.
— Ficaríamos mais do que felizes se resolvesse ficar. — Alice disse com toda
a seriedade — Embora espere vê-la felizmente casada, um dia, Tilda, e não
conseguirá isso se enterrando no campo. Tenho sido muito grata por tê-la aqui, mas
não devo ser egoísta. Sei que deve retornar à sociedade em breve e encontrar um
cavalheiro a sua altura.
— Sim, sim, claro que devo. — disse Matilda, dando a Alice um sorriso
reconfortante, que ela estava longe de sentir.
Não queria voltar à sociedade, estava cansada de ir a bailes e não encontrar
ninguém com quem pudesse sequer considerar passar a vida. Além disso, quase não
confiava mais em seu próprio julgamento, não depois do Sr. Burton, nem depois…
— Bem, — disse, levantando-se — tenho algumas cartas para escrever, então
vou deixá-la em paz, para ler seu livro. Ainda está lendo Castelo Rackrent? —
Matilda lançou à cunhada um olhar inquisitivo e brincalhão, ao qual Alice
respondeu, estendendo a língua.
— Não brinque. — protestou Alice — Sabe muito bem que vou tirar uma
soneca. Vou terminar esse maldito livro no Dia do Juízo Final, a esse ritmo.
— Pode cochilar o quanto quiser. — disse Matilda — Merece isso.
Sorrindo, ela deixou Alice sozinha, subiu as escadas para seu próprio quarto e
sentou-se à escrivaninha, colocando uma folha de papel limpa diante dela.
Involuntariamente, seus olhos se voltaram para a orquídea sobre a sua penteadeira.
Não havia flores agora e, de fato, parecia uma coisa feia e comum, sem as flores
exóticas que tanto a cativaram, mas floresceria novamente, se ela cuidasse com
esmero. Era absurdo o cuidado que ela dispensava à coisa ridícula, mas ela é que
era ridícula, sempre querendo o que não podia ter, sempre esperando por sonhos
fantásticos que não estavam ao seu alcance. Sua realidade era exatamente como as
flores da orquídea, uma felicidade tão fugaz e adorável, quanto as flores perfeitas,
deixando algo muito menos bonito para trás, quando acaba. Apesar de si mesma,
levantou a tampa de uma caixa lacada e retirou um pequeno pacote de cartas,
amarradas com uma fita prateada. Abriu-a e pegou a carta que estava por cima.
Matilda,
A senhorita não pode ser tão cruel,
nem estar tão iludida, a ponto de acreditar
que isso acabou.
M.
Ele nunca tinha usado o nome dela em correspondência antes. Sempre era a
Srta. Hunt. O que a mudança significava, se perguntou? Provavelmente, que perdeu
um pouco mais de respeito por Matilda e acreditava que era seu direito se dirigir a
ela, tão intimamente. A amargura de seus pensamentos a assustou, não podia
acreditar que essa era a razão, embora devesse, sem dúvida. Olhou para a escrita,
elegantemente inclinada, para o M florescente, traçou o dedo sobre a tinta,
lembrando-se daquele encontro no Castelo de Hever. Ele estava diferente naquele
dia, ela viu algo nele… algo que chamou sua atenção. Tinha havido um breve
vislumbre de incerteza, de uma necessidade desesperada nele que…
— Tola. — amaldiçoou em voz alta, dando uma risada amarga.
Não havia nada incerto sobre Lucian Barrington, nenhum traço de
vulnerabilidade, ele, certamente, não precisava dela. Não precisava de ninguém,
isso estava claro. Com uma súbita explosão de certeza, levou a carta para a lareira e
a jogou nas chamas.

ESCRITÓRIOS DA KNIGHT ENTERPRISES, PICCADILLY, LONDRES.


29 DE MARÇO DE 1815.

Gabe olhou para a carta que Tilly lhe dera e seu estômago se amarrou em um
nó.
— Como ela está? — perguntou, incapaz de olhar a criada nos olhos.
— Como o senhor acha? — Tilly retrucou. Estava de pé com os braços
cruzados, fervendo de raiva. Ele podia sentir isso do outro lado da sala.
— Ela… Ela chora? — não sabia por que perguntou, para se punir, talvez. A
ideia rasgava seu coração, ou talvez para saber se havia uma chance de que os
sentimentos de Helena combinassem com os seus, o que parecia estar fora de
controle, de todo modo.
— Ah, sim, o senhor gostaria disso, sem dúvida, saber que ela está com o
coração partido por sua causa.
Gabe olhou de volta para Tilly, sabendo que estava zangada porque se
importava com Helena e temia por ela — A senhorita não gosta muito de mim, não
é?
— Não me cabe dizer isso, tenho certeza, sou uma criada. — disse ela,
levantando o queixo.
Gabe a admirava por seu espírito.
— Certamente que sim. Somos iguais, não somos? Sou um bastardo, nascido
no Dials, criado em um orfanato. Estou certo de que é melhor do que eu. Imagino
que saiba quem foram seus pais, pelo menos.
Houve um breve silêncio, enquanto Tilly o observava, procurando seu olhar.
— Eu não me importo com isso. Só me importo que minha senhora seja amada
e tratada como merece. Tudo o que sei sobre o senhor me faz acreditar que é o
diabo em pessoa. Todo mundo sabe que quer uma esposa requintada, para que seja
aceito na ton, e também quer que o irmão dela aumente seus investimentos. O
senhor é do tipo que usa as pessoas, e não vou deixá-lo usar minha Helena.
Gabe assentiu, sem esperar nada diferente.
— A senhorita tem razão. Tudo o que disse é verdade, não vou negar, mas o
problema é que… é que eu a amo. — riu, percebendo que era verdade, enquanto
dizia aquelas palavras em voz alta, pela primeira vez — Eu a amo. — repetiu,
suavemente agora, para si mesmo.
Nunca acreditou que se apaixonaria, não se achava capaz disso, ainda assim,
sua ambição ultrapassou a marca, desta vez. Ele se apaixonou por uma mulher
longe de seu alcance, era muito mais fácil alcançar a lua.
— E então?
Gabe franziu a testa, olhando em volta e descobrindo que Tilly ainda o
estudava.
— Então o quê?
— O que fará a respeito?
Olhou para a criada em silêncio, imaginando o que ela esperava dele.
— Acredito que queira ser um cavalheiro de verdade, não é? — ela exigiu,
aproximando-se dele — Bem, um cavalheiro adequado pediria permissão ao irmão
para cortejá-la, ele a visitaria e levaria flores, presentes, escreveria poesias para ela,
pelo amor de Deus, mas não desistiria, se realmente a amasse.
— Eu nunca disse que estava desistindo. — retrucou Gabe, irritado — Mas a
senhorita acha que Bedwin permitirá que eu me aproxime dela agora?
— Bem, é isso que o senhor ganha por fazer as coisas escondido. Talvez, se
tivesse se aproximado dele primeiro…
Gabe bufou, um profundo escárnio em suas palavras — Não consegui marcar
nem ao menos um horário com Sua Graça para discutir negócios. Que chance eu
teria se ele acreditasse que queria cortejar sua irmã? Além disso, eu nem sequer me
conhecia até… até que fosse tarde demais.
Passou a mão pelos cabelos, afastando-se da jovem, desconfortável com o
quanto de si mesmo estava sendo revelado.
— O senhor a ama mesmo? — ela perguntou.
Ele podia ouvir a preocupação em sua voz, a incerteza, e não podia culpá-la
por isso.
Gabe se virou, olhou Tilly nos olhos e, pela primeira vez em sua vida, falou
sem se esconder, sem esconder nada, nem disfarçar a verdade, para se adequar às
circunstâncias.
— Eu a amo. — disse, esperando que ela pudesse ouvir a sinceridade em sua
voz — Com todo o meu coração.
Tilly olhou para ele por um longo momento e depois soltou um suspiro.
— Bem, então está tudo certo.
Acenou rapidamente e pegou o guarda-chuva, antes de ir para a porta, virando-
se para ele, com a mão na maçaneta:
— O esperarei em Beverwyck, então, para que fale com o irmão dela. Bom
dia, Sr. Knight.

BEVERWYCK, LONDRES.
29 DE MARÇO DE 1815.

Prue fechou a porta do quarto de Helena, com o coração partido. Maldito


Gabriel Knight, e maldita seja ela também. Sabia do interesse de Helena pelo
homem, sabia que ele era o tipo de tentação perversa que Helena não seria capaz de
resistir, mas Prue não interveio e não a aconselhou. Achava que Charles era capaz
de ficar de olho nela, na ausência deles. Nunca tinha ocorrido a ela que Helena o
enganaria, mas, agora, tinha plena consciência disso. Helena confessou tudo a
Prue… em confiança.
Robert não sabia, embora tivesse adivinhado o bastante. Prue não tinha
percebido o quão imprudente Helena poderia ser. Uma coisa era ser um pouco
teimosa, um pouco franca, mas fazer uma corrida assim, com um homem, de
Londres a Brighton, e depois encontrá-lo em segredo. Não tinha percebido que
Helena era capaz disso. Tinha sido estupidamente ingênua em confiar em Helena,
agora, a pobre garota chorava por um homem, que não merecia suas lágrimas. Não
que Prue o estivesse julgando apenas por sua reputação, ela aprendeu sua lição,
bem o suficiente. Fofocas e boatos não eram confiáveis, mas as ações falavam
muito. Não só o homem participou daquela corrida imprudente, mas persuadiu
Helena a encontrá-lo em segredo, sabendo o que ela arriscaria ao fazê-lo. Nenhum
cavalheiro que cuidasse de uma dama agiria assim, não é?
Oh, se ela pudesse ficar no mesmo ambiente que ele, por alguns minutos, Prue
teria falado ao Sr. Knight umas poucas e boas, que nunca mais esqueceria.
Ainda fervendo, desceu as escadas e encontrou Robert na biblioteca, olhando
para um copo de conhaque, como se pudesse encontrar algumas respostas no
líquido acastanhado. Ele se levantou quando ela entrou, deixando o copo de lado.
— Como ela está?
— Miseravelmente infeliz.
— Brava comigo, suponho. — disse ele, amargamente.
— Ela está sofrendo, Robert. Uma vez que diminuir, vai perceber que está
agindo para o seu bem, que a está protegendo. Não apenas irá perdoá-lo, mas
também agradecê-lo.
Robert bufou — Não vou esperar sentado.
Ambos olharam para cima, quando ouviram uma batida na porta e seu
mordomo, Jenkins, apareceu.
— Há um Sr. Knight para o senhor, milorde. — disse ele, solenemente — Eu
disse que Sua Graça não estava recebendo, mas ele foi muito insistente. Disse que
ficará sentado à porta a noite toda, se não o receber.
— Mas que ousado! — Robert exclamou, virando-se para ela — Consegue ver
como ele é descarado?
Prue franziu a testa, imaginando a mesma coisa — Bem, certamente deve ter
sido preciso muita coragem para vir aqui, Robert. Talvez… Talvez devêssemos
recebê-lo.
— Não faremos nada disso. — disse, balançando a cabeça — Não quero
chateá-la, as palavras que trocarei com o Sr. Knight não são para seus ouvidos.
— Ora, pare de agir como se eu fosse quebrar. — Prue protestou, com um
toque impaciente — Ficarei mais chateada e agitada se me deixar sentada sozinha,
imaginando o que está sendo dito, sabe muito bem disso. Eu não sou feita de vidro,
Robert, como mencionei mais de uma vez, sabe tão bem quanto eu que minha
linguagem é pior que a sua, quando estou de mau humor.
Robert bufou, mas não pôde se opor, pois sabia que era verdade. Prue se virou
para o sempre paciente Jenkins e sorriu — Traga o Sr. Knight, por favor.
— Muito bem, Sua Graça.
— Isso é loucura. — Robert murmurou, cruzando os braços no peito — Se ele
for um pouco insolente, não serei responsável, eu aviso.
— Eu sei. — disse Prue, dando um tapinha reconfortante em seu ombro —
Mas estou curiosa para saber o que ele quer.
Ficaram lado a lado, uma frente unida, quando o Sr. Knight foi apresentado.
Houve um silêncio tenso e Prue o observou de perto. Ela não podia ver nenhuma
emoção em sua expressão, que estava fechada, mas ele parecia pálido.
Ele se curvou respeitosamente. Prue se perguntou, o que lhe custou vir aqui, a
esse homem que dizia desprezar tanto a aristocracia, mas queria ser aceito por ela.
— Agradeço por me ver. Posso imaginar que não sou um convidado bem-
vindo.
— Tivemos pouca escolha, considerando que o senhor ameaçou dormir na
nossa porta, mas é assim que sempre consegue o que quer, não é? Nunca aceita um
não como resposta? — a voz de Robert era dura e irritada, e Prue pensou que nunca
o tinha visto usar a autoridade que seu título lhe dava, tão descaradamente. Para seu
crédito, o Sr. Knight não reagiu às suas palavras.
— Eu sei o que pensa de mim, Sua Graça. Gostaria de poder lhe dizer que está
enganado, que todos os rumores sobre mim são tão falsos quanto os que
costumavam circular sobre o senhor, mas não posso. Não tenho berço para
impressioná-lo. Eu ganhei o que tenho hoje, através de muito trabalho duro e
qualquer meio que considerasse necessário. Sou implacável nos negócios e nunca
sou enganado, mas vim aqui para lhe dizer a verdade, se me der uma chance de
falar.
— Nós vamos. — disse Prue, antes que Robert pudesse responder — O senhor
pode nos dizer, em primeiro lugar, quais assuntos tinha, ao se encontrar com
Helena, em segredo? Vou esquecer a impropriedade da corrida, pois parece que
muitos dos meus amigos estavam envolvidos nessa fuga em particular, mas o
senhor a encontrou em público. Se realmente se importa, como pôde arriscar a
reputação dela?
Colocou a mão no braço de Robert, restringindo-o, ao perceber que as
suspeitas do marido, agora estavam claras. Sua mandíbula apertou, mas não disse
nada, por enquanto. Houve um longo silêncio, enquanto esperavam que o Sr.
Knight falasse.
— Nós nos encontramos algumas vezes.
Prue podia ver o quão desconfortável ele estava em ter que se explicar. Ela
conseguia imaginar como deveria ser irritante para um homem como ele, que era
apenas um dos mais ricos da Inglaterra.
— Sempre em parques, aparentemente por acidente. Nós andamos de braços
dados algumas vezes, e depois eu ia embora. Esse foi o auge de nossa
impropriedade. — disse, rigidamente.
Robert bufou de desgosto — Nunca desviaram o caminho pelas árvores ou
arbustos, para roubar um beijo?
Um tom de cor manchou as bochechas do Sr. Knight, mas ele manteve o olhar
de Robert.
— Apenas uma vez. — disse — Ninguém nos viu.
— E por quanto tempo teria continuado? Quanto tempo, antes que as
caminhadas no parque não fossem mais suficientes, e o senhor quisesse mais dela?
— Robert exigiu.
Era óbvio, pelo desconforto do homem, que essa era uma pergunta adequada, e
Robert fez um som de desgosto, afastando-se dele, como se não pudesse suportar
olhar para Gabriel por mais um momento.
— O que queria que eu fizesse? — o Sr. Knight explodiu, então — Maldito
seja, o senhor nunca me receberia para discutir sobre negócios e sabe tão bem
quanto eu que é a chance de uma vida. Se eu tivesse vindo aqui e lhe pedido,
respeitosamente, para me dar uma chance, que me permitisse cortejá-la, está me
dizendo que teria me dado o benefício da dúvida?
— Bem, nunca saberemos agora, não é? — Robert disse furioso — Como não
fez isso, vou agradecer-lhe se mantiver a língua dentro da boca, na frente da minha
esposa.
— Por favor, — disse o Sr. Knight — estou perguntando-lhe agora. Por favor,
me dê uma chance de provar que posso ser digno dela. Farei o que me pedir, apenas
diga o que quer.
Prue sentiu uma pontada de remorso pelo escárnio de Robert. Sabia como ele
estava aterrorizado que sua irmã se encontrasse em uma união tão destrutiva e
miserável quanto seu primeiro casamento. Ela também sabia, por experiência
própria, o quão pior essa escolha poderia ser – até mesmo perigosa - para uma
mulher que se tornaria propriedade de seu marido.
Mas, ainda assim, se perguntou se eles não estavam sendo muito duros.
— Sei muita coisa a seu respeito, Sr. Knight. Sei de muitas coisas que evitou
que fossem de conhecimento público, como o fato de que se vendeu como um
prostituto para as senhoras entediadas da aristocracia. Pagavam bem por essas
aventuras, ou as chantageava depois de prestar seus serviços, para aumentar sua
vasta fortuna? Será que Helena sabe disso, me pergunto? O que mais pode estar
escondendo dela, de todos nós?
— Eu não chantageei ou machuquei ninguém. — ele exclamou, Prue podia ver
a mortificação em sua expressão, ao ser julgado e exposto tão completamente —
Quando se nasce na sarjeta, faz qualquer coisa para sair dela, Sua Graça, foi o que
fiz. Não tenho orgulho de tudo o que fiz, mas fiz o que tinha que fazer. E é claro
que não disse isso à sua irmã. Não é uma conversa que eu gostaria de ter com uma
jovem inocente, mas contaria tudo a ela, antes de nos casarmos, para que soubesse a
verdade. Não esconderia meu passado de Helena, se estivéssemos juntos. Não
poderia esperar que ela me amasse, se eu não fosse honesto.
— Se não fosse honesto. — Robert repetiu, o olhar frio dizendo tudo o que era
necessário, o que pensava de tudo, à luz do comportamento recente do Sr. Knight
— E este é o homem que procura se casar com Lady Helena Adolphus?
Prue observou, enquanto o Sr. Knight dava uma risada amarga, e então a fibra
pareceu exalar dele.
— Sim, este é ele, tentando fazer a coisa certa, pela primeira vez. Eu sabia que
era inútil vir aqui, fui um tolo por pensar o contrário. Sinto muito por tê-los
incomodado.
Ele se virou para sair, mas Prue sentiu uma súbita onda de ansiedade. Eles
seguravam o futuro de Helena em suas mãos. E se estivessem fazendo a escolha
errada?
— Por que veio aqui, Sr. Knight?
— Porque ele quer uma noiva aristocrata, é por isso. — disse Robert, com
desgosto.
O Sr. Knight se encolheu, mas não retaliou. Em vez disso, olhou para Prue e
segurou seu olhar.
— Porque eu a amo e tinha que tentar. Boa noite, Sua Graça.
— Maldita imprudência! — Robert explodiu, no momento em que a porta se
fechou, mas Prue ficou olhando para a porta fechada, imaginando se não haviam
cometido um erro terrível.

Gabe fechou a porta do gabinete do duque, doente de humilhação. Jurou nunca


mais se humilhar diante de ninguém, e, ainda assim, rastejou na frente deles, para
ter uma chance, e o que isso lhe rendeu? Precisamente o que esse comportamento
sempre lhe rendera, ser chutado de volta onde pertencia. Bem, malditos sejam.
Ele se virou, indo em direção à porta.
— Gabriel?
A voz suave e descrente o impediu. Olhou para trás e viu Helena na escada, o
desejo o atingiu como um chute no estômago. De repente, isso o acertou, tudo o
que nunca seria dele.
Não seria sua esposa. Ela se casaria com outro homem, aquele homem
acordaria e a encontraria ao lado dele, aquele homem teria o privilégio de amá-la e
protegê-la e, se ele tivesse algum sentido, passaria o resto de sua vida agradecendo
sua estrela da sorte por ela.
— Oh, Gabe!
Antes que ele pudesse falar ou reagir, Helena desceu correndo as escadas e se
jogou em seus braços, soluçando contra seu peito. Seus braços a rodearam
instintivamente e ele desejou poder protegê-la da dor. Odiava que a culpa fosse
dele. Fechou os olhos e enterrou o rosto nos cabelos dela, aspirando-a, sabendo que
seria a última vez. Lírio do Vale. Oh, Deus, nunca seria capaz de sentir esse cheiro
novamente, sem lamentar tudo o que nunca teria.
— Sinto muito, amor. — disse ele, sua voz instável — Sinto muito mesmo.
Ele depositou um beijo na testa dela e a soltou, virando-se, sem olhar para trás
e saindo para a noite, sozinho.
13
Querida Srta. Hunt,
Espero que esteja bem. Pedi a Pippin
que lhe fizesse uns biscoitos. Espero que
goste deles, são os favoritos do meu tio.
Eles são muito bons, mas ainda melhor
quando são mergulhados no leite. Até o tio
concorda que é verdade, embora diga que
eu não devo fazer isso em companhia. Ser
mulher é muito chato. Acho que é por isso
que Ana Bolena queria ser rainha. Ela
pensou que as pessoas parariam de lhe
dizer o que fazer, mas, se há um homem
mais poderoso, sempre haverá alguém para
dizer a uma lady o que fazer, então o rei
cortou sua cabeça. Estava preocupada com
isso, mas o tio disse que não me deixaria
casar com ninguém que não fosse gentil e
bom comigo. Não acho que alguém que me
mande fazer alguma coisa que eu não
queria seja gentil e bom. Além disso, todos
teriam medo do tio Monty, então, está bem.
Espero que goste dos biscoitos. Por
favor, escreva de volta em breve. Sinto a
sua falta.
—Trecho de uma carta da Srta.
Phoebe Barrington para a Srta. Matilda
Hunt.

MANSÃO LINGFIELD, EDENBRIDGE, KENT.


30 DE MARÇO DE 1815.

A escrita infantil embaçou um pouco os olhos de Matilda, que piscou forte e


respirou fundo. Abrir a tampa da caixa liberou uma nuvem macia de perfume,
canela e gengibre, doce e de dar água na boca, enquanto removia o papel de seda,
para revelar os biscoitos. Cada círculo perfeito tinha sido carimbado com o brasão
de Montagu, uma águia com asas estendidas e Matilda deu uma pequena
gargalhada, tocando o dedo na imagem. Ela levou um biscoito à boca e deu uma
pequena mordida. Os sabores explodiram em sua boca e ela suspirou, fechando os
olhos, enquanto os sabores exóticos das especiarias a aqueciam. Terminou um e
embalou o resto, desejando que Phoebe não tivesse escrito para ela. Era impossível
não escrever de volta, e sabia que haveria uma resposta em troca. Meu Deus, nunca
estaria livre de Montagu, pois sua sobrinha era um lembrete constante.
Seu peito ficou apertado e, de repente, seu quarto espaçoso e confortável
estava lhe confinando e precisava escapar. Não era um bom dia para um passeio,
tendo chovido toda a manhã. A tarde estava seca, pelo menos, mas não mais
atraente. Nuvens cinzentas desagradáveis ondulavam pelos céus, acompanhadas
pelo vento gelado do Norte, mas Matilda não podia ficar dentro de casa por mais
um momento.
Assim que saiu, caminhou rápido, respirando fundo, enquanto o vento atingia
suas roupas e puxava seu chapéu. Dirigiu-se para o Castelo Hever, dizendo a si
mesma que era simplesmente porque sempre o fez, quando, na verdade, sabia que
os pensamentos sobre ele seriam mais fortes naquele lugar, difíceis de banir. Não
havia carruagem fora do castelo, hoje, passou um momento olhando para a
estrutura antiga e lembrando da última vez que o vira, antes de se repreender por
estar agindo como uma tola. Tomando um caminho que a levaria pela floresta, em
uma rota tortuosa, acelerou o ritmo. Uma boa caminhada iria limpar sua cabeça,
dava-lhe alguma perspectiva, e então…
Ofegou, parando quando uma figura apareceu. Estava sentado em uma árvore
caída, sua expressão desoladora. Quando ele se virou para vê-la, não parecia menos
chocado do que ela se sentia. Montagu se levantou e todo o ar deixou seus pulmões
ao vê-lo ali.
— Matilda. — disse, falando o nome dela, como se não confiasse que fosse
real, que estava realmente de pé diante dele.
Matilda olhou para ele, tão surpresa, que não pode nem o repreender por usar
seu nome, quando nunca lhe dera permissão para fazê-lo. Foi uma eternidade, antes
que ela encontrasse inteligência suficiente para falar com ele, não que ele parecesse
ser capaz de oferecer qualquer coisa parecida com conversa também.
— Sua carruagem? — ela começou, franzindo a testa ao perceber que isso não
era realmente uma pergunta, embora ele parecesse entender.
— Há uma estalagem abaixo, na estrada. Dei permissão ao cocheiro que me
esperasse lá. Queria ficar sozinho, e o dia cinza como está combinava com o meu
humor. Vou encontrá-lo, quando estiver pronto.
— Isso foi… atencioso. — Matilda ofereceu, honestamente surpresa pelo fato
de o marquês ter notado sua criadagem, muito menos pensado em seu conforto.
Ele fez um som suave, um pouco como riso, mas havia uma amarga pontada
nele. Desviou o olhar dela, e Matilda o estudou, perplexa. O que ele estava fazendo
aqui?
— Deveria deixá-lo em sua solidão, então. — disse, recusando-se a parecer
arrependida, embora a decepção florescesse em seu peito, com a ideia de sair dali.
— Não. — disse ele, imediatamente — Não.
Matilda hesitou — Não há terra suficiente para caminhar em Dern e encontrar
solidão?
Ele ficou em silêncio por um longo tempo — A senhorita sabe que sim.
Matilda sentiu seu coração dar um baque desconfortável em seu peito. Veio
aqui por ela, mas certamente não esperava vê-la? Era muito mais tarde do que ela
costumava andar e o tempo estava horrível. Em circunstâncias normais, nunca teria
saído, só que… só que não conseguia parar de pensar nele. Ele veio aqui pelo
mesmo motivo?
— Como está Phoebe? — ela se aventurou, guiando-os para um local mais
seguro — Recebi um pacote adorável dela, esta manhã. Enviou-me alguns dos seus
biscoitos favoritos.
— É mesmo? — sua expressão suavizou — Phoebe está bem.
Segurou o olhar dela, e Matilda desejou que pudesse pensar em algo sensato
para dizer. Certamente eles poderiam ter uma conversa normal. Foi um alívio
quando Montagu ganhou dela.
— Ela fala da senhorita com frequência… constantemente. Às vezes acho que
ela faz isso de propósito, para mantê-la em meus pensamentos, como se a senhorita
já não estivesse lá, tempo suficiente.
Matilda corou, desejando que o comentário não a agradasse tanto. Não havia
nada que ela pudesse dizer com segurança em resposta, então, segurou a língua.
— Obrigado por visitá-la. Significou muito para nós dois. Temo que ela esteja
solitária.
Isso, pelo menos, ela poderia responder — Não tenho certeza sobre isso. Eu vi
uma criança feliz e alegre. Ela, certamente, tem os criados sob a palma da mão.
Ele sorriu um pouco com isso, apenas uma leve inclinação do lado da boca,
mas, ainda assim, a deixava com o peito apertado — Estou ciente.
— Tenho pena da pobre preceptora. — continuou, desesperada para manter
aquela conversa acontecendo — Gostei muito da Srta. Peabody, no entanto. Ela é
gentil e doce. Não como algumas preceptoras que conheci.
— A senhorita deu muito trabalho para a sua preceptora? — ele perguntou, o
peso de seu olhar prateado caindo sobre ela — Consigo imaginar a senhorita a
irritando até a morte.
Matilda franziu a testa, um pouco indignada — Por que o senhor acha isso?
— Porque a senhorita não é o tipo de pessoa que faz cegamente o que lhe é
dito ou o que se espera dela. Não consigo imaginar que tenha sido diferente quando
criança. Acredito que foi uma criança destemida, sempre querendo saber o porquê
das coisas e desafiando-a a cada passo, eu suspeito.
— Oh. — Matilda franziu os lábios, incerta se queria dizer isso como um
elogio, pois, certamente, não descrevia a jovem ideal. Mas a descreveu muito bem.
Suspirou — Sim, muito bem, isso foi terrivelmente preciso. Nunca fui nem um
pouco obediente. Eu odiava minha preceptora e tenho certeza de que o sentimento
era mútuo. Ela fez da minha vida um tormento, então, fiz o meu melhor para
retribuir o favor.
— Ela a machucava?
Matilda franziu os lábios, lembrando-se — Batia nas minhas palmas com uma
régua, com bastante regularidade, mas nada fora do comum. Era mais porque ela
era uma criatura que não sorria, era impossível de agradar, mas logo descobri que
não me importava muito em agradá-la, então nos dávamos bem o suficiente. Eu não
sou traumatizada, garanto. Ela foi embora quando eu tinha dez anos, a próxima foi
agradável o suficiente, embora um pouco tediosa.
Montagu se afastou dela, mostrando-lhe nada de sua expressão. Mesmo
sabendo que era uma ideia terrível, moveu-se para ficar ao lado dele e colocou uma
mão hesitante em seu braço.
— Milorde?
Ele se virou um pouco, estudando o rosto dela — Sinto muito que ela a tenha
machucado.
Matilda sorriu, tocada por ele se importar com uma coisa tão boba — Não foi
nada, não mais do que qualquer experiência infantil.
Ela o observou com interesse, enquanto ele balançava a cabeça.
— Ninguém nunca irá levantar a mão para Phoebe. As crianças devem estar a
salvo desse tipo de coisa em suas próprias casas. Nenhuma criança deveria…
Ele parou e respirou fundo, como se quisesse se acalmar. Era tão estranho vê-
lo menos do que rigidamente controlado, que Matilda olhou-o com fascínio.
— Meu nome é Lucian.
A mudança repentina de assunto foi inquietante e Matilda baixou a mão,
afastando-se dele — Não, isso não seria apropriado.
Ela viu o brilho de frustração iluminar seus olhos, por um momento.
— Não há ninguém aqui, Matilda.
Ela o olhou, guerreando consigo mesma, quando, na verdade, sabia que a
resposta era bastante simples. Corra. Corra agora, antes que essa situação se torne
mais difícil de se desvencilhar. Estavam sozinhos e a intimidade do momento era
muito fácil de acostumar-se, e ainda assim…
— Eu poderia chamá-lo pelo seu nome se… se fôssemos amigos. — ela
ofereceu, tentada demais pela oportunidade de conhecê-lo melhor, para negá-lo.
— Amigos. — ele falou a palavra como se estivesse testando o tamanho dela.
— Somos amigos?
Seu coração estava batendo muito rápido, deixando-a sem fôlego. Isso foi
estúpido, idiota — Poderíamos ser, se… se o senhor prometer…
— Se eu prometer o quê? — exigiu, com certa aspereza no tom de suas
palavras — Eu já disse que não vou tentar beijá-la ou seduzi-la. Não tenho desejo
pelo que a senhorita não queira dar livremente. Se me quer, a senhorita é quem
deve vir até mim. Então, consegue ver, está bastante segura. Não vou tocá-la, não
vou tentar persuadi-la para os meus braços.
Matilda engoliu em seco, ciente de que isso não diminuía o perigo para ela.
Ele cumpriria sua palavra, sabia disso. Não a tocaria, mas o desejo de tocá-lo fazia
sua pele doer, como se cada centímetro dela estivesse machucado e só pudesse ser
acalmado sob sua carícia. Seria muito fácil implorar para que a tocasse. Ele sabia
disso? Ela se perguntou. Ele sentiu isso também? Era uma maldita tola, mas queria
falar com ele, conhecê-lo melhor, e quantas outras chances haveria? Poderiam ser
amigos, por uma tarde, pelo menos.
Ela respirou fundo — O senhor gostaria de dar um passeio comigo… Lucian?
Para sua surpresa, um pouco da tensão que o mantinha tão rígido pareceu cair.
Ele estendeu o braço — Eu ficaria honrado.
Caminharam por algum tempo em silêncio e Matilda lançou olhares secretos
para o rosto dele, lembrando-se da criança sorridente que vira na pintura.
— Vi seu retrato com seus irmãos, é uma pintura linda. É óbvio que se
adoravam. Sua governanta certamente pensa que sim.
Ela pensou ter visto um sorriso tocar seus lábios — É uma boa semelhança.
Éramos felizes naquela época, é possível ver isso na pintura.
O que aconteceu? Queria perguntar, tão desesperadamente, que teve que cerrar
os dentes, sentindo que ele encerraria essa conversa antes que começasse, se
Matilda seguisse com esse tópico.
— Como eles eram?
Ele não respondeu no início, Matilda pensou que Montagu estava
considerando a pergunta.
— Philip era o mais parecido com meu pai. Tinham a mesma forma e a mesma
coloração, pensavam da mesma maneira. Eram muito diretos, contundentes. Philip
não conseguia guardar um segredo para salvar sua vida. Todos os seus pensamentos
estavam escritos em seu rosto. Papai era o mesmo. Ambos se destacaram nos
esportes e viveram para caçar. Adoravam passear em todos os climas, eles
desapareciam de manhã e não eram vistos novamente até o anoitecer. Os dois eram
muito próximos, com Phillip sendo o herdeiro, mas meu irmão era generoso e
nunca me deixava de fora das coisas, embora meu pai reclamasse amargamente,
pois eu não estava nem perto dos esportistas que ambos eram. Achava que eu
atrapalhava, mas Philip me arrastava para todos os lugares com eles, e - tenho
vergonha de dizer - nem sempre apreciei seus esforços para me incluir. Papai
certamente não apreciava. Não tinha muito tempo para mim ou para Thomas, nós
éramos apenas os sobressalentes.
Matilda reprimiu uma explosão de raiva em seu nome, mas manteve sua
opinião sobre seu pai para si, dizendo apenas: — Isso deve ter sido difícil.
Para sua surpresa, ele balançou a cabeça.
— Eu entendia como as coisas funcionavam. Todos nós entendíamos. Philip
era para ser Montagu, isso era tudo. Estava sendo preparado para o futuro, para um
papel para o qual nasceu. Era o melhor de nós, eu podia ver o orgulho que meu pai
tinha dele, e eu estava orgulhoso de meu irmão, também. Tentei o meu melhor para
ser como ele… com pouco sucesso. — deu um sorriso autodepreciativo e a olhou
de relance — Eu nunca fui tão bom quanto ele, em nada.
A admissão assustou Matilda. Ficou espantada com o quanto ele havia
revelado, sabendo de seu orgulho feroz e de que guardava sua privacidade com a
ferocidade de um cão raivoso.
— O senhor era muito jovem. Seriam iguais, com o tempo. Não tenho dúvidas
disso.
Ele balançou a cabeça com veemência — Não. Era o melhor homem para isso.
Era óbvio, mesmo naquela época. Meu pai certamente viu isso.
— Não acredito nisso, nem por um momento, e qualquer pai que favoreça uma
criança em detrimento da outra… — Matilda fechou a boca, forçando sua raiva a
diminuir, quando percebeu que não podia… não tinha o direito de comentar, mas a
injustiça disso queimava dentro dela.
Ele estava olhando para ela, um olhar confuso em seus olhos, como se não
pudesse entendê-la.
Matilda respirou fundo — E Lorde Thomas?
Ela nunca deveria ter começado essa conversa. A cada revelação, a imagem do
frio e intocável marquês se afastava um pouco mais, e revelava um homem de
verdade, um menino que, sem dúvida, ansiava pela aprovação de seu pai. Seu
coração doía por aquela criança.
— Ele era o favorito de minha mãe, o que irritava meu pai. Dizia que ela o
paparicava, mas ele foi um bebê doente e, na maioria das vezes, não estava bem de
saúde. Thomas era bastante frágil, quieto e dócil, ao contrário de mim.
— De quem o senhor era o favorito, então? — ela perguntou e depois quis
morder a língua.
Uma sombra cruzou seu rosto e ela sentiu os músculos sob sua mão apertarem
sob o tecido fino de seu casaco.
— Para que lado devemos ir? — ele perguntou, gesticulando à frente deles,
enquanto o caminho se dividia.
— Para a esquerda. — disse Matilda, antes que pudesse pensar muito sobre
sua resposta, tendo escolhido o caminho mais longo.
Caminharam em silêncio por um tempo, e Matilda tentou encontrar um
caminho de volta para a conversa.
— Sua governanta disse que o senhor foi uma criança muito arteira.
Ele fez um som divertido, olhando de soslaio para ela — Nada mudou, eu
garanto.
Matilda corou e pigarreou — Evidentemente.
Caminharam e foram forçados a parar, quando uma poça grande e lamacenta
bloqueou o caminho.
— Ah, não! — disse Matilda, frustrada — Teremos que voltar por onde
viemos.
— Bobagem. — disse ele, rapidamente — Se me permitir?
Olhou para ele, de repente percebendo sua intenção — Oh, não. Eu acho que
não…
Ele ergueu uma sobrancelha, desafiando-a silenciosamente, ela deu um bufo
de impaciência.
— Oh, muito bem, então.
Ele se moveu imediatamente, como se acreditasse que ela mudaria de ideia no
segundo seguinte, e Matilda deu um pequeno grito quando foi pega em seus braços.
Ele atravessou a poça, indiferente ao estado de suas botas, e ela agarrou seu
pescoço, mal conseguindo respirar, com sua proximidade repentina. Matilda não
teve tempo para apreciar, no entanto, pois, rapidamente, a colocou no chão, do
outro lado, com cuidado, sem sequer parar para abraçá-la.
Matilda experimentou um momento de forte decepção e se repreendeu por
isso.
— Obrigada. — murmurou, tentando não parecer tão nervosa quanto se sentia,
e, sem dúvida, falhando miseravelmente.
— O prazer foi meu, eu garanto.
Foi dito educadamente, sem nenhum sinal de flerte, e ainda assim, Matilda
sentiu isso em seus ossos. Ela pegou seu braço novamente, evitando seus olhos e
eles continuaram.
— Como está a Sra. Hunt? Bem, eu acredito?
Matilda sorriu e assentiu — Alice está muito bem. Deu à luz a um belo
menino, nosso querido Leo. Uma criança tão bonita e muito bem-humorada. Estou
totalmente apaixonada. A única dissidência na casa é a nossa constante disputa
sobre de quem é a vez de segurá-lo. Temo que guarde meu tempo com ele de forma
protetora e não gosto de compartilhar.
Matilda levantou os olhos e o encontrou a olhando, a expressão dele tão
intensa, que ela teve que desviar o olhar. Um pouco mais tarde, ousou olhar para ele
e descobriu que estava franzindo a testa, olhando à frente deles, como se pudesse
ver o futuro e não gostando do que via. Ele deve tê-la sentido fitando-o, pois se
virou para ela.
— Que estranho ter ciúmes de um bebê. — disse ele.
Foi um comentário descuidado, dito de forma leve - um pequeno flerte, que
um homem poderia compartilhar com uma dama - e, no entanto, Matilda ouviu
muito mais no singelo comentário do que, talvez, Montagu pretendesse, ou ela
talvez estivesse simplesmente perdendo a cabeça.
— Se eu voltasse aqui amanhã, a senhorita me encontraria?
— Não. — disse Matilda, imediatamente, antes que seu coração pudesse dar
outra resposta, aquela que queria dar, de fato.
Ele assentiu, claramente não esperando mais nada.
— Voltará para a cidade em breve?
— Sim, suponho que sim. — disse ela, incapaz de esconder seu desfavor pela
ideia.
— Mas preferiria não voltar?
— Parece que não faz mais sentido, é cansativo desfilar meus acessórios
diante de um público indiferente.
Ela sentiu, mais do que ouviu, o desejo dele de falar e lhe lançou um olhar
penetrante. Sua mandíbula estava firme, mas Montagu não disse nada, pelo que,
estava grata. A floresta se abriu para lhes dar uma vista encantadora do campo,
embora fosse mais dramática do que bonita, com nuvens baixas e ameaçadoras.
Matilda soltou o braço dele e estendeu a mão para tirar uma folha da bainha de sua
pelisse.
— E o senhor? — ela perguntou, enquanto se endireitava — Voltará em breve?
Ele assentiu, mas não parecia mais entusiasmado com a ideia do que ela.
— O senhor não gosta muito de socializar, não é?
— Não muito.
— E o senhor despreza conversas educadas.
— Desprezo. — olhou-a — Eu gosto de falar com a senhorita.
Ela riu disso.
— Sim, o senhor gosta de me deixar desconcertada, eu sei.
— Não. — pareceu surpreso com as palavras dela, mesmo um pouco perplexo
— Gosto que a senhorita não tenha medo de falar o que pensa. Prefiro ouvir-lhe
dizer a verdade, a ouvir palavras bonitas sem significado de outras pessoas, mesmo
que a senhorita esteja me condenando e acabando com meu orgulho.
— Por todo o bem que isso me faz. — ela retrucou, divertida.
Seu sorriso desapareceu com o olhar em seus olhos.
— A senhorita acha que não dou ouvidos às coisas que diz? Acha que não
sinto nada? — fez um som irritado e virou as costas para ela. A linha de seus
ombros estava, mais uma vez, rígida — Claro, Montagu, um miserável frio, com
menos sentimentos do que um bloco de gelo.
Matilda olhou para as costas dele, chocada e incerta sobre o que dizer.
— As pessoas são obrigadas a dizer essas coisas. É o rosto que o senhor
apresenta ao mundo.
— Sim. — disse ele, amargamente.
Houve um pequeno silêncio, que Matilda não sabia como quebrar. Ele se
afastou dela, com passadas duras, que traiam sua calma exterior. Parecia muito
solitário. Queria ir até ele e afugentar aquela solidão, abraçá-lo, mas não era tola o
suficiente para considerar isso uma ideia sábia. Ele permaneceu em silêncio e
Matilda o estudou, enquanto arrumava os punhos de suas mangas, primeiro uma,
depois a outra.
— Meu irmão Philip era bom com as pessoas. Todos o amavam, desde os
comuns até o rei. Essa foi a única coisa pela qual meu pai o repreendeu, por estar
muito à vontade com as ordens inferiores. Meu pai era um homem orgulhoso. A
senhoria acha que sou frio… meu Deus. — soltou uma gargalhada, seus olhos
mirando a distância, talvez o passado — Ele era um defensor da propriedade e de
sua própria consequência, devido ao título, ao nome da família. Fez tudo o que
podia para fazer Phillip tão frio e orgulhoso quanto ele, mas falhou. Era a única vez
que discutiam. Papai até escreveu um livro para servir de guia para Phillip, depois
que ele partisse. Assim, sua voz autocrática ainda guiaria a mão de seu filho, do
outro lado da vida. Ele não tinha ideia de que morreriam no mesmo dia, é claro.
— Lucian… — ela começou, sem saber o que queria dizer, desesperada para
alcançá-lo e acalmar a dor que podia sentir por trás das palavras.
— Não tenho a facilidade de maneiras do meu irmão, nem qualquer uma de
suas boas qualidades. Mas tenho esse maldito livro. — balançou a cabeça — Me
perdoe. Creio que me tornei piegas. Está frio. A senhorita vai pegar um resfriado.
Vamos.
Ele estendeu o braço para ela, sua expressão não revelando nada. Matilda
desejou poder fazer ou dizer algo, qualquer coisa para aliviar sua dor, mas não
havia palavras para suavizar suas expressões torturadas. Então, pegou seu braço,
observando-o com cuidado, e não vendo nada que Montagu não quisesse revelar.
Todas as emoções foram trancadas e guardadas com força. Ele perdeu seus pais e
um irmão, que claramente idolatrava, no mesmo dia, e então, não muito tempo
atrás, seu irmão mais novo também. Ela não conseguia se imaginar perdendo Nate,
a própria ideia a tocou no âmago.
— Quantos anos o senhor tinha quando eles morreram? — perguntou,
mantendo a voz suave, esperando que ele pudesse responder pelo menos a isso.
— Onze. Thomas tinha seis anos.
Ela não se atreveu a oferecer-lhe simpatia, ciente de que não aceitaria.
— E quem estava lá com o senhor? A família? Amigos? — Matilda notou a
maneira como sua mandíbula se contraiu, sentiu a tensão subindo, novamente.
— Meu tio veio.
Agora ela estava pisando em terreno perigoso, sabia disso, mas, ainda assim,
não pôde deixar de perguntar — Espero que ele tenha sido um conforto para o
senhor.
Ele soltou uma gargalhada, que não continha nem um pingo de calor — Ah,
ele foi. Meu pai não gostava, nem aprovava meu tio. Não falava com ele, nem o
recebia em casa, mas minha tia-avó Marguerite o amava mais e, sempre que a
víamos, tio Theodore estava lá. Todos nós, meninos, falávamos sobre vê-lo,
sabendo que papai ficaria furioso se soubesse. Ele era engraçado e charmoso e
sempre trazia presentes para nós. Naturalmente, nós o adorávamos. Depois que
nossos pais e Philip morreram, Thomas e eu ficamos pateticamente gratos por tê-lo
conosco.
Havia um pouco de acidez em suas palavras, que Matilda poderia não ter
percebido, se não fosse por sua própria conversa com seu tio. Comia-a agora, o
conhecimento de que ele estava aqui na Inglaterra e Lucian não sabia. Desejou não
ter dado ao homem sua palavra tão impensadamente, pois agora parecia uma
traição. O que quer que estivesse entre eles, obviamente era mais profundo.
Matilda ergueu os olhos, surpresa ao descobrir que estavam se aproximando
do castelo. Com pesar, percebeu que seu tempo com Montagu estava no fim. Tinha
passado muito rápido, ainda havia tanta coisa que ela gostaria de saber.
— Acho que é melhor eu deixá-la aqui. Não seria bom para nós sermos vistos
andando em público juntos, não é?
Matilda assentiu, mas parecia incapaz de fazer seus pés se afastarem dele. A
solidão que sentia nele antes era palpável agora, desejava poder ajudá-lo. Se ao
menos não houvesse essa pesada atração entre eles, poderiam realmente ter sido
amigos. Do jeito que estava, não podia fazer nada. Ele era perigoso para ela, para
seu futuro, a tentação que Montagu oferecia, era tão sedutora, que não ousava
permitir que ele se aproximasse. Poderia cair com tanta facilidade, que isto a
aterrorizava. No entanto, não conseguia se afastar, não podia arrancar os olhos dele.
Montagu a olhou.
Ele murmurou algo que parecia uma maldição, desviando o olhar do dela,
então pareceu se recompor. Quando falou, suas palavras foram rápidas:
— Minha tia-avó é uma espécie de força a ser considerada, Matilda. Ela
deixou a sociedade há muitos anos e, no entanto, exerce um poder considerável. Ela
está fazendo o seu melhor para forçar minha mão. Eu devo escolher uma noiva.
— Isso não é surpresa. — respondeu imediatamente, talvez rápido demais,
mas aliviada por sua voz estar firme e calma.
Não era uma surpresa, afinal. Falaram sobre isso muitas vezes. Sabia que ele
se casaria.
— O senhor deve ter cerca de trinta anos. — disse ela, seus lábios se
contorcendo. Acenou com um dedo para ele, disfarçando a dor que apunhalava seu
coração, com um verniz de leviandade — Ainda tem tempo para começar a montar
um berçário.
Ele estudou o rosto dela por um bom momento, tanto que Matilda se sentiu
exposta por seu escrutínio, como se estivesse procurando algo. Matilda lutou para
manter sua expressão cuidadosamente impassível, suas emoções escondidas.
— Parece que sim. — disse ele, por fim, e ela pensou ter ouvido derrota,
arrependimento até, nas palavras, mas, sem dúvida, era seu próprio coração tolo
procurando o que não estava lá.
— Adeus, Lucian. — disse, virando-se e andando rápido, não movendo a mão
para limpar a umidade em suas bochechas.
14
Minha querida Ruth,
Espero que esteja se divertindo com
suas amigas. Não, isso é uma mentira
perversa. Eu espero que não esteja se
divertindo. Espero que esteja infeliz e
sentindo minha falta, tão dolorosamente
quanto sinto a sua. De acordo com a Sra.
MacLeod, sou um grande inútil sem você e
não posso dizer que discordo. Minha cama
está fria e sou uma provação para todos
que encontro. Não ficarei nem um pouco
surpreso se receber uma carta de todos em
Wildside, implorando para que volte para
casa e dome o bruto mal-humorado que
ronda o castelo, mais uma vez.
Suponho que devo dar meus
cumprimentos à sua tia, e às suas amigas
também. Vou contar os minutos até voltar
para mim, mo leannan.
—Trecho de uma carta do Sr. Gordon
Anderson para sua esposa, a Sra. Ruth
Anderson.

BEVERWYCK, LONDRES.
9 DE ABRIL DE 1815.

Helena olhou, pela janela, para o terreno encharcado. Os jardins de Beverwyck


eram lindos e sempre um amontoado de cores na primavera. Essas cores se
destacavam agora, lutando para enfrentar a escuridão de outro dia chuvoso. A
primavera parecia ter se perdido, qualquer vislumbre de sol desapareceu sob um
cobertor de nuvens pesadas e ventos gelados, que haviam durado por algum tempo.
Não que ela se importasse. Combinava muito bem com o seu humor. Dias
ensolarados e brilhantes teriam parecido incongruentes, quando estava envolta em
uma bolha asfixiante de sofrimento.
Gabe tinha vindo. Veio e pediu ao seu irmão o direito de cortejá-la e foi
mandando embora. Ela sabia o que deveria ter custado a seu orgulho fazer isso, era
difícil também acreditar que ele tinha um. Embora soubesse que ele a desejava, não
acreditava ser tão importante para ele. Claro, Helena ainda não sabia quanto valor
Gabe atribuía à posição social dela. E quanto a ela, por si mesma, mas ele tinha
vindo. Isso tinha que significar alguma coisa. Gabriel pediu a chance de se provar
digno e Robert o negou. Sentiu uma onda de raiva em relação ao irmão. Ele não era
um esnobe, pelo menos, nunca acreditou que fosse. Nunca o vira agir como o alto e
poderoso duque antes, mas, quando Helena implorou para que mudasse de ideia,
Robert descartou o desejo de Gabriel de cortejá-la, como se ele fosse um inútil,
abaixo deles.
Helena sabia que era por causa de seu primeiro casamento desastroso. Robert
temia que ela cometesse o mesmo erro que cometeu e confundisse desejo com
amor, se casando com um alpinista social, que não se importaria nem um pouco
com ela. No entanto, como poderia descobrir a verdade, se eles não lhe deram a
chance de estar com Gabe? E se fosse amor? E se Gabe realmente se importasse
com ela? E Robert estivesse mantendo-os separados por algum senso equivocado
de dever, para proteger Helena?
— Eu trouxe uma xícara de chá e um pedaço de bolo, milady. — disse Tilly,
quando entrou no quarto.
Helena olhou em volta de sua posição, no assento da janela.

— Não estou com fome. — disse, cansada demais para se incomodar em


comer.
— A senhorita deveria comer alguma coisa. — repreendeu Tilly.
Helena ignorou as palavras de Tilly, não querendo contestar ou comer. Não
dormira novamente ontem à noite, as lembranças das últimas palavras de Gabriel
circulando em sua cabeça.
— Perdoe-me, amor. Sinto muito mesmo.
Se não tivesse mais nada para continuar, essas palavras eram suficientes para
lhe dar esperança de que o que Gabe sentia por ela era real, verdadeiro. Sua voz
estava cheia de emoção, arrependimento e tristeza. De repente, Helena se encheu de
raiva pela impotência de sua situação. Seu irmão, a quem sempre adorou e sabia
que a amava e queria o melhor para ela, não queria ouvir a razão. Estava
condenando Gabriel por ser humilde, quando não havia o que fazer sobre isso.
Gabe não era culpado por sua origem. Assim como não poderiam ser culpados por
serem filhos de um duque e uma duquesa. Robert estava ouvindo falácias e
assumindo que Gabriel não poderia mudar, quando essas mesmas fofocas o haviam
insultado, também. Fizeram seu irmão parecer um monstro que assassinou a esposa,
quando isso estava longe de ser verdade. Robert tinha afundado no vício, vivendo
em razão da sua reputação, ainda assim, conseguiu se libertar de tudo, por Prue,
porque a amava. Por que não podia acreditar que Gabriel poderia ser capaz de fazer
o mesmo?
— Isso não vai funcionar assim. — Helena murmurou, de repente, reanimada.
Nunca foi o tipo de mulher que ficava sentada tranquilamente, fazendo o que
lhe era dito, não estava prestes a começar agora. Significaria quebrar sua promessa
ao irmão, mas era uma promessa arrancada dela por meio de chantagem e sua
felicidade futura estava na balança. Robert a perdoaria, com o tempo, quando
percebesse que estava errado.
— Não. Isso não vai funcionar desse jeito.
Tilly ergueu os olhos da bandeja de chá, com ansiedade, reconhecendo o tom
de voz de sua senhora, como aquele que precedia problemas.
— Milady?
— Eu não vou deixar que façam isso conosco.
— Oh, meu Deus. — disse Tilly e sentou-se na cama. Parecia resignada em
vez de surpresa.
Helena andava de um lado para o outro do quarto. Se Robert não deixasse
Gabriel cortejá-la com honra, então teria que assumir as consequências. Deveriam
ir ao baile anual dos March, aquela noite. Na verdade, Prue tornou-se bastante
nostálgica, pois foi onde encontrou Robert pela primeira vez, há quase um ano. O
baile em si era um evento grandioso. Sem dúvida, estaria lotado, como de costume,
e, em tal multidão, Helena certamente poderia desaparecer por alguns minutos,
tempo suficiente para trocar algumas palavras com Gabriel, se ele estivesse lá.
Gabe disse que tentaria ganhar um convite, mas agora, provavelmente, não iria, a
menos que ela lhe pedisse. Helena se sentou e rabiscou uma pequena nota, antes de
dobrá-la e selá-la.
— Tilly, quero que leve isso aos escritórios do Sr. Knight. — disse, virando-se
no assento e estendendo-o para ela.
— Oh, milady. — Tilly se levantou, olhando para o bilhete e torcendo o
avental entre as mãos inquietas — A senhorita acha que é sensato?
— Eu devo fazer alguma coisa, Tilly. — disse Helena, implorando por sua
ajuda — Eu… eu acho que estou apaixonada por ele. E se for ele? E se ele for o
único homem por quem me sentirei assim? Não posso perdê-lo, Tilly, não dessa
forma. Não sei ao certo se ele se importa comigo, mas preciso descobrir, e se… se
ele se importa… não vou perdê-lo por causa do Robert.
Tilly mordeu o lábio, seu avental ficando cada vez mais amassado.
— O que? — Helena perguntou, imaginando sua agitação.
— Oh, milady. — disse Tilly, suspirando pesadamente — Ele se importa. Na
verdade…
Ela parou, Helena sentiu seu coração tremer de esperança e impaciência.
— Na verdade, o quê? — demandou.
Helena saltou, ficando de pé, movendo-se para ficar na frente de Tilly, que
corou. A criada suspirou, seus olhos ficando suaves.
— Ele a ama. — disse, sorrindo.
Helena ofegou e sentou-se novamente, quase perdendo o assento e caindo no
chão. Agarrou a borda da cadeira, sentando-se corretamente, nunca tirando os olhos
de Tilly.
— E-ele me ama?
Tilly assentiu — Quando fui vê-lo da última vez, ele me disse isso. —
encolheu os ombros e soltou um suspiro — E eu acreditei nele. Ele disse que a
amava de todo o coração, milady, e acreditei nele. Que Deus me leve, se eu estiver
errada. — acrescentou, ferozmente — Pois nunca vou me perdoar se a estiver
influenciando, mas não posso suportar vê-la tão infeliz e, se vocês se amam…
— Oh, Tilly! — Helena se levantou e jogou os braços em Tilly, abraçando-a
com força.
— Não me agradeça ainda. — disse Tilly, sua voz ácida — Estamos em uma
situação muito difícil e não tenho dúvidas de que a senhorita está prestes a torná-la
dez vezes pior.
Helena riu e assentiu — Irei, sinto muito, mas irei. Vai me ajudar, Tilly?
Tilly bufou, revirando os olhos — E o que a senhorita quer dizer, me fazendo
essa pergunta boba? Irei, de fato? Como se eu pudesse lhe negar qualquer coisa.
Helena a abraçou ainda mais forte — Obrigada, obrigada, minha querida Tilly.
Nunca vou esquecer isso, nem permitir que sofra, se tudo der errado. Tem a minha
palavra.
— Eu sei disso. — disse Tilly, acariciando suas costas suavemente, antes de
Helena deixá-la ir.
— Ele me ama. — disse Helena, sua voz cheia de admiração — Ele me ama!
Tilly riu e balançou a cabeça — Sim, milady, ele a ama, e acho que o mundo
está tremendo para ver o que a senhorita vai fazer sobre isso.

LONDRES. BAILE DO CONDE E DA CONDESSA MARCH.


9 DE ABRIL DE 1815.

Gabe olhou para a multidão de pessoas, procurando o único rosto que queria
ver. Deus, como estava lotado, a última coisa que queria era estar aqui, entre todos
aqueles que o dispensaram, como o duque havia feito. Normalmente, tal situação o
teria feito cada vez mais determinado em provar a si mesmo e destruir todos
aqueles que estavam em seu caminho, mas, desta vez, as coisas eram bem
diferentes e isso o deixou incerto. Não sabia como reagir. Seu instinto tinha sido
atacar Bedwin, cortá-lo do projeto ferroviário e encontrar outro caminho, por mais
difícil que fosse. Queria descobrir uma fraqueza, minar o duque financeiramente,
até que ele tivesse que implorar a Gabriel por ajuda, para dar à mão de Helena, em
troca de não falir.
Gabe nunca duvidou que poderia fazer isso a tempo. Poderia levar um bom
tempo, mas ele poderia fazê-lo. Pensamentos sobre Helena haviam temperado suas
ações. Amava seu irmão, seria doloroso para ela vê-lo sendo atacado. Além disso,
quando Gabriel conseguisse, Helena pertenceria a outro, estaria perdida para ele,
para sempre. Então, estava impotente para fazer qualquer coisa, isso o deixou
furioso e fez seu coração doer, pior do que qualquer dor que já sentira. Afundado na
miséria, desejou nunca ter posto os olhos em Helena, nunca ter se atrevido a sonhar
com a única coisa que sempre estaria fora de seu alcance, então recebeu seu bilhete.
Levou pouco menos de um ato de Deus para obter um convite para este baile.
Bem, isso e uma grande quantia em dinheiro. Teve que concordar em dar a Lorde
March termos muito generosos em um investimento, que Gabe lhe havia negado
anteriormente, tudo por um maldito convite. Não que se importasse. Se ganhasse
alguns minutos com Helena, pagaria qualquer preço, embora se perguntasse o que
ela estava fazendo.
Sabia que Bedwin estava aqui com a esposa e se visse Gabe com Helena, não
duvidava que haveria um inferno a pagar. Então se manteve nas laterais do salão de
baile, procurando o rosto que faria seu coração saltar, como um cordeiro recém-
nascido.
— Gabriel.
Gabe deu um pulo quando sentiu um puxão em sua manga, se virou para
encontrar Helena de pé, atrás dele. Perdeu a respiração, enquanto olhava para ela.
Deus, era linda, tão adorável, que neste momento podia entender a razão da
negativa de Bedwin. Gabe achou difícil acreditar que houvesse um homem aqui,
verdadeiramente, digno dela.
— Venha. — disse ela, impaciente, enquanto o puxava pelo braço.
Gabriel a seguiu, lançando olhares discretos sobre o salão de baile, até que eles
estavam na sala de refrescos, que estava um pouco menos lotada no momento, já
que a noite estava apenas começando.
— O baile de máscaras é amanhã. — disse, mantendo a voz baixa — Vou
encontrá-lo na Hanover Square, às onze. Não vou conseguir escapar antes disso.
Ficou boquiaberto com ela, imaginando se tinha ouvido corretamente — A
senhorita ainda virá comigo? Desafiaria seu irmão?
Com algo parecido a temor, ele viu o queixo de Helena se elevar, um olhar
determinado em seus olhos, que reconhecia muito bem agora. Era o mesmo olhar
que tinha, antes de passar de carruagem em frente ao White’s e antes de desafiá-lo a
uma corrida, de Londres a Brighton.
— Não vou permitir que eles nos separem. Meu futuro deve ser decisão
minha, e quero estar ao seu lado, Gabe, não importa o quê.
Gabe soltou um suspiro, mal ousando acreditar — Eles a estão protegendo,
amor. A senhorita não me conhece muito bem. Seu irmão tem boas razões para ser
cauteloso.
Helena olhou para ele com o tipo de olhar direto e intransigente, que Gabe
esperava dela — O senhor está interessado em mim ou em meu título? Ou por
causa do meu irmão?
— Não! — a palavra era veemente, ele segurou o olhar dela, querendo que
visse a verdade em seus olhos — Era minha intenção me casar bem, Helena. Sabe
disso, mas nunca… eu nunca imaginei…
— O que? — ela perguntou, franzindo a testa para ele.
— Você. — disse, impotente, rindo um pouco — Acabou com todos os meus
planos. Tudo o que pensava que queria, agora parece ser de pouca importância.
Sempre usei minha cabeça, nunca meu coração. Minhas decisões sempre eram
tomadas por boas razões lógicas, até que a conheci, agora, não me importo com
mais nada. Não me importo com o que faz sentido e o que não faz. Quero apenas
ficar ao seu lado.
O sorriso que iluminou o rosto de Helena valia cada pedacinho da ansiedade
que tal admissão lhe dera… até que Gabe pensou no risco que ela correria.
— Será arruinada se formos descobertos, Helena. Vão dizer que fiz isso para
forçar a mão do seu irmão. Mesmo que somente seu irmão descubra, ele a mandará
embora, ao saber do que fez.
Ela assentiu, um leve sorriso nos lábios — E se ele mandar, virá me encontrar?
— Sim. — disse simplesmente. Gabe a seguiria para onde fosse, se ela assim
quisesse — Helena, eu…
Helena olhou ao redor e depois de volta para ele, balançando a cabeça.
— Espere pelo baile de máscaras. — insistiu, estendendo a mão e pegando a
mão dele, dando aos dedos de Gabe um aperto rápido antes de soltar — Tenho
muito a lhe dizer também, mas não podemos arriscar. Não aqui.
— Eu estarei lá. — prometeu.
Olhou-o por um momento, a felicidade brilhando em seus olhos, tão
vividamente, que era muito difícil não dizer as palavras que tomavam sua mente e
seu coração.
— Adeus. — ela sussurrou, e desapareceu de volta à multidão.
Gabe a observou partir com pesar, mas com a promessa de uma noite em sua
companhia, para mantê-lo vivo. Estava arriscando tanto por ele, que se sentiu
humilhado por isso. Ela o queria, queria estar com ele, saber disso o fazia tremer,
tornando o mundo, de repente, mais brilhante. Mas o quanto o queria? Quanto ela
arriscaria? Seu coração recomeçou a acelerar em seu peito.
Havia uma maneira, uma maneira de estarem juntos. Bedwin e toda a maldita
ton não seriam capazes de fazer nada sobre isso, se eles conseguissem. A ideia
tomou forma, forçando todo o resto a se afastar, enquanto Gabe a considerava. Não
era como queria as coisas entre eles, mas Gabe podia ser implacável, quando
precisava ser.
Ele também viu essa mesma determinação em Helena. Reconheceu uma alma
gêmea na chama de seus olhos. Será que confiaria nele o suficiente, para jogar a
cautela ao vento, e cortejar o maior escândalo que a ton tinha visto em uma década?
Só havia uma maneira de descobrir.
15
Minha querida irmã,
Estou em South Audley Street e não
posso deixar de desejar estar aí. Sinto falta
de meu abraço matinal em meu querido
sobrinho e devo insistir para que lhe dê um
beijo em nome de sua tia favorita. Reparou
que não lamento tê-la deixado ou a meu
irmão? Estou provocando-a, é claro. Como
gostaria que estivessem todos aqui na
cidade, mas não posso culpá-los por
preferirem ficar e desfrutar de um pouco de
paz e sossego, quando Leo permite, é claro.
Estou certa de que lhe alegrará saber
que minha lareira está cheia de convites,
graças ao querido Nate, por usar sua
influência, como sempre. Suponho que devo
me jogar de volta no fogo, embora confesse
que tenho pouco entusiasmo para isso.
Acredito que esta será a minha última
temporada. Não, não tente me convencer
do contrário, eu imploro. Se Napoleão for
derrotado para sempre e o mundo estiver
em paz, acho que talvez viaje. Sempre quis
conhecer a França e a Itália, e, nunca se
sabe, posso chamar à atenção de um conde
estrangeiro, diabolicamente bem
apessoado. Isso não colocaria fogo na
língua das pessoas? Bem, isso é tudo por
enquanto. Envio-lhe todo o meu maior
amor, como sempre.
—Trecho de uma carta da Srta.
Matilda Hunt para sua cunhada, a Sra.
Alice Hunt.

HANOVER SQUARE, LONDRES.


10 DE ABRIL DE 1815.

Helena agarrou seu manto sobre ela, enquanto corria pela Hanover Square.
Não teve tempo de arrumar um traje melhor e, portanto, usou o de Eva, novamente,
como no baile anterior, apenas tirando a cobra de seda e adicionando mais folhas ao
vestido. Ela tinha uma máscara enfiada no bolso, com mais folhas a adornando e
esperava que desse a impressão de uma ninfa de madeira ou algo assim. Foi o
melhor que pôde fazer. Deu um suspiro de alívio ao ver a carruagem de Gabe a
esperando. Virando-se para Tilly, deu um abraço na criada.
— Agora, corra para casa, a vejo mais tarde. Não se esqueça de garantir que a
porta dos fundos esteja destrancada.
— Sim, eu vou. — Tilly assentiu — A senhorita se divirta, milady, mas…
bem, ora, tenha cuidado.
— Eu terei. — prometeu Helena, depois correu, para ver Gabe abrindo a porta
da carruagem.
Ele estendeu a mão, ajudando-a a entrar e fechando a porta atrás dele, rápido.
— Alguém a viu? — ele perguntou, seu rosto tinha uma expressão dura
gravada com ansiedade à luz do luar que iluminava a carruagem.
— Eu fui cuidadosa. — disse Helena, sentando-se ao lado dele e recostando-se
contra as almofadas, para recuperar o fôlego — Embora, quase morresse de medo.
Nunca soube o quão barulhento Beverwyck era até esta noite, quando tive que me
esgueirar sem ser vista ou ouvida. Graças a Deus, meu irmão e Prue foram para a
cama, mais cedo do que de costume, caso contrário, teria que esperar uma
eternidade.
Gabe estendeu a mão para ela, que a pegou — Garota corajosa. — disse,
sorrindo — Teria esperado para sempre, se fosse necessário. Não tenho certeza se
mereço tais esforços, mas vou tentar o meu melhor, Helena.
— Oh, Gabe, sinto muito pela forma como Robert o tratou. Estou tão zangada
com ele, que eu…
Gabe a acalmou, puxando-a para seus braços e pressionando os lábios nos
dela.
— Está tudo bem. — murmurou, contra a boca de Helena — Não é sua culpa,
por mais irritado que isso tenha me deixado, sei que a está protegendo. Suponho
que não posso culpá-lo por querer mantê-la longe de tal canalha.
Ele recuou e seu rosto ficou tão sério, que Helena sentiu um choque de alarme.
— O que foi?
Ele respirou fundo e soltou o ar lentamente — Precisamos conversar, Helena.
— Isso não parece muito romântico. — disse ela, uma sensação desconfortável
em seu peito — E por que a carruagem não está se movendo? Deveríamos ir ao
baile de máscaras, lembra?
— Eu me lembro, amor. — disse, pegando a mão dela novamente e levando-a
aos lábios — Se ainda quiser ir comigo, depois que conversarmos, ficarei honrado
em levá-la.
Helena ouviu a nota grave em sua voz, viu seus olhos escuros, pesados, nas
sombras e percebeu que Gabe não tinha certeza do que ela iria decidir, depois que
dissesse o que estava em sua mente.
— Muito bem. — disse ela, rezando para que Gabe não estivesse prestes a
partir seu coração.
Ele desviou o olhar dela, fitando as mãos unidas — Quando falei com seu
irmão, ele… ele tinha ouvido falar a meu respeito. Fofocas, embora tema que seja
verdade. Ele me perguntou se a senhorita sabia, eu disse que não tinha lhe dito, mas
que faria antes… antes que considerasse pedir-lhe para… para se tornar minha
esposa.
Helena sentiu sua respiração prender e Gabe olhou para ela, antes de se virar
novamente.
— Devo lhe contar isso, Helena. Não quero, mas não admito segredos entre
nós. Se quisermos ficar juntos, quero que venha até mim sabendo tudo o que sou,
tudo o que fui, para o bem ou para o mal. Consegue me entender?
— Começar do zero. — disse ela, acenando, embora seu coração estivesse
cheio de dúvidas.
— Começar do zero.
— Muito bem, Gabriel. Estou aqui e vou ouvir tudo o que tiver a dizer.
Ele sorriu para ela e apertou seus dedos — É tudo que peço.
A carruagem parecia muito escura, totalmente imóvel, Helena percebeu que
estava prendendo a respiração.
— Eu nasci em Seven Dials. Minha mãe morreu no parto, então fui criado em
um lar de enjeitados. Considerando como esses lugares são, esse não era tão
horrível assim. Havia comida e abrigo, pelo menos, e tinha um amigo lá.
— O senhor de Beauvoir?
Gabe assentiu — Sempre fui esperto, bom com números, bom em ver uma
oportunidade. Sempre podia ver o que as pessoas queriam, e se pudesse me apossar
disso, eu faria. Não importava o que fosse - comida, informação, gin - eu poderia
trocar. Comecei com pouco mais do que uma fatia de pão, trocando por um pouco
de queijo. Então, descobri que um dos guardas estava roubando das cozinhas e o
forcei a me dar uma pequena quantidade, para me manter quieto. Ficou mais fácil
depois disso. Quando saí daquele lugar, tive um pedido para fornecer pão para eles,
pois havia encontrado um negócio melhor e, dentro de um ano, substituí a maioria
de seus fornecedores habituais.
— Isso é incrível, Gabriel. — disse Helena, falando sério — É surpreendente
pensar o quão longe chegou.
Ele sorriu um pouco, mas não desviou o olhar de suas mãos atadas — Assim
foi a minha vida, Helena. Descobrir o que as pessoas queriam e negociar por isso.
Gabriel ficou em silêncio e Helena esperou, sabendo que tudo o que o
perturbava estava prestes a ser revelado.
— Eu não tenho orgulho de tudo o que fiz, Helena, mas estava determinado a
fazer algo por mim mesmo, e não me importava muito em como faria. Nunca me
aproveitei de ninguém que não pudesse pagar, mas com os ricos, sua estirpe… bem,
isso era diferente. Nem sempre fui tão honesto quanto poderia ter sido, há alguns
que se lembram disso.
Ela assentiu em compreensão.
— Comecei a subir na vida, ganhando dinheiro decente, me vestindo bem, e…
e atraí a atenção de mulheres, de uma classe bem acima da minha. Aquelas que…
que queriam um homem que fosse diferente, menos… refinado. Consegue me
entender?
Helena hesitou, considerando suas palavras — Elas o queriam como amante?
A ideia a fez sentir-se doente de ciúmes, mas essa tinha sido a vida de Gabe,
antes que se conhecessem. Não havia nada que ela pudesse dizer sobre isso.
— Amante. — ele disse a palavra, como se estivesse considerando-a,
julgando-a — Depende de qual sentido quer dar a palavra, Helena. Não havia amor
envolvido, eu garanto. Elas queriam algo de mim, e eu queria algo delas.
Helena engoliu em seco, imaginando se ousaria perguntar, mas Gabriel tinha
sido sincero, prometera contar tudo a ela — O que queria delas?
Ele encolheu os ombros, ainda sem olhar para ela.
— Na maioria das vezes, dinheiro. Elas me pagavam bem pelos meus serviços,
mais do que eu poderia ganhar, fazendo qualquer outra coisa nesse espaço de
tempo. — disse ele, ironicamente — Naquela época, de qualquer maneira. Mas, às
vezes, era uma troca. Elas me ensinaram a ser um cavalheiro, Helena. Minhas
primeiras lições sobre como conversar corretamente, que garfo usar, até mesmo
aulas de dança… Aprendi muito com essas mulheres. Algumas delas eram boas,
gentis, até… outras, nem tanto. Algumas delas nunca revelariam que estivemos
juntos, outras… bem, se a senhorita se casar comigo, há uma chance de elas
esfregarem o meu passado no seu nariz, por assim dizer. Seria divertido para elas,
que soubesse que pagaram por mim.
O silêncio desceu, enchendo a carruagem, Helena não sabia o que dizer. Ficar
envergonhada dessa maneira não era algo que pudesse esperar com um senso de
equanimidade. No entanto, Gabe se tornou um dos homens mais bem sucedidos de
sua época. Ele se reinventou, de uma criança nascida na pobreza para o homem que
via diante dela, agora. Seria surpreendente se tal homem não tivesse coisas que
preferia que sua esposa não soubesse, e ainda assim, aqui estava ele, contando tudo
a ela, expondo o que considerava ser o pior de si mesmo, dando-lhe a chance de se
afastar.
— Eu a enojei? — sua voz era indistinta, suspeitava que ele acreditasse que
tinha feito exatamente isso.
— Não. — disse ela, com cuidado — Estaria mentindo se dissesse que não
estou um pouco chocada, não posso fingir que gosto da ideia de que esteve… com
outras mulheres, ou que elas possam gostar de se gabar, mas…, mas fico feliz que
tenha me contado, Gabe.
Ele bufou, algo que poderia ter sido uma risada, se não tivesse soado tão
amargo.
— Escapou com sorte. — murmurou, soltando a mão dela.
Helena a pegou de volta — Não é nada disso. Não irá se afastar de mim tão
facilmente, Gabriel Knight.
Ele virou a cabeça, olhando para ela, seus olhos escuros brilhando ao luar —
Não pode estar falando sério.
— Não posso? — ela retrucou — Isso é um desafio?
— Santo Deus, não. — ele exclamou, e então riu, puxando-a para mais perto
de seus braços — Ainda me quer, Helena?
— Mais do que nunca. — sussurrou na escuridão — Contou-me a verdade,
mesmo que não quisesse, mesmo que acreditasse que eu o odiaria por isso. O
admiro mais do que nunca, seu tolo. Escapei com sorte, pois sim! — ela zombou,
Gabriel soltou um suspiro de alívio, antes de beijá-la novamente.
Helena suspirou, inclinando-se para ele, quando a soltou, ela acariciou seu
rosto.
— Sem dúvida, é o senhor que esperava o fim desse caso. Deve ter percebido
que sou uma responsabilidade e tanto, que vou transformar sua vida em um caos e
esperava se livrar de mim.
— Irá tornar minha vida um caos, Helena. Sei que nunca terei um momento de
paz e mal posso esperar. Eu a quero comigo, sempre. Só gostaria de ter feito isso
corretamente, que pudesse tê-la cortejado, lhe dado mais tempo…
— Ora, eis o momento das bobagens. — disse Helena, acenando — Eu sabia
que era você, desde o momento em que o vi. Consegue se lembrar? Levou flores
para Bonnie, mal olhou para mim, nunca havia me sentido como um móvel, em
toda a minha vida.
Gabriel riu de sua indignação e depois balançou a cabeça — Garota tola. Não
tem a menor ideia de como foi impossível ignorá-la? Tive que trabalhar duro nisso,
garanto-lhe. Sabia que, se lhe cedesse um centímetro, estaria perdido, e também,
porque não era tão tolo, a ponto de acreditar que poderia chegar tão alto.
— De verdade? — ela perguntou, querendo ouvir mais — Pensei que não
suportava a minha presença.
— E não suportava. — ele admitiu — Eu a odiava por estar sempre lá e por
ser a mulher mais bela do ambiente. Isso me deixou doente de inveja, pois sabia
que nunca poderia tê-la. Saber que pretendia que eu a quisesse, só piorou as coisas.
Helena o olhou com remorso — Sinto muito por isso, por provocá-lo. Não foi
bem-feito da minha parte, apenas não suportava mais que me ignorasse.
— Meu doce amor, não há homem vivo nesse mundo, que possa ignorá-la.
Ele a puxou para perto e a beijou novamente, e Helena se derreteu nele. Sua
boca estava quente e urgente e suas mãos se moviam sobre ela, deslizando para
cima e para baixo, em suas costas, acalmando e estimulando, tudo de uma vez.
— Devemos ir ao baile de máscaras? — ela perguntou, um pouco atordoada
quando a soltou.
— Não. — disse, a voz rouca — Não, se não quiser.
— Quero ficar aqui contigo.
Ele assentiu.
— Sim. — aquela única palavra soou sem fôlego, cheia de antecipação —
Helena, realmente quer ficar comigo, sabendo de tudo que sabe agora, sabendo o
que seu irmão pensa de mim, que ele a proibiu de me ver novamente?
— Quero.
Foi fácil responder a essa pergunta. Por um momento, Helena se perguntou se
deveria ser tão fácil. Eles se conheciam há tão pouco tempo, mas quis, realmente,
dizer o que disse. Mais tempo não teria mudado sua mente. Teria sido bom ser
cortejada, ter feito as coisas com tempo, mas teriam o resto de suas vidas para se
conhecerem.
— Irei arrastá-la comigo. — avisou-a — As portas se fecharão para você. As
pessoas que uma vez iam atrás da sua companhia, que a procuravam, vão zombar,
rir pelas suas costas. Tem certeza de que é isso que quer?
Helena riu — Por Deus, Gabe. Estou começando a pensar que eu estava certa.
Realmente está tentando me afastar.
— Não! — sua voz era dura, séria — Não brinque com isso, Helena. Preciso
saber que pensou em tudo, que considerou tudo o que perderia.
Ela olhou para ele e sorriu, contente — Considerei, juro. Tudo o que vou
perder e tudo o que vou ganhar.
Ele pareceu adoravelmente aliviado, mais ainda, quando respirou fundo,
preparando-se para as palavras que falou a seguir — Nesse caso, Lady Helena, me
daria a grande honra de se tornar minha esposa?
Helena ficou boquiaberta com ele. Mesmo depois de tudo o que disse, ela não
esperava uma proposta, não esta noite. Olhou-o, reparando nas feições fortes que se
tornaram tão amadas, a dúvida brilhava em seus olhos escuros. Não havia outro
homem como ele. Helena tinha muitos pretendentes que a cercavam, solícitos e
armados com elogios prontos, que saíam de suas bocas com facilidade, mas
ninguém a fazia se sentir como ele. Ninguém a desafiou e fez seu coração trovejar
em seu peito, como Gabriel fez.
A vida com Gabriel Knight nunca seria monótona.
— Sim. — disse, encantada. Gabriel soltou um suspiro áspero, como se não
tivesse ousado respirar, enquanto ela considerava sua resposta.
— Graças a Deus!
— Ah, mas Gabe, como? Onde?
— Só há um lugar para onde podemos ir, Helena, e será um escândalo enorme.
Tem certeza de que está preparada para isso? Seu irmão pode nunca a perdoar.
— Gretna Green. — sussurrou, consternada. Claro, essa seria a única opção
deles. Uma viagem para a fronteira, sem dúvida, com seu irmão perseguindo-os.
— Sim. Esse é o único jeito. Quando nos casarmos, ninguém poderá nos
separar.
Helena assentiu e então enviou-lhe um sorriso, levemente torto — Bem. — ela
disse — A nossa corrida de Londres a Brighton foi muito divertida, mas essa será
ainda melhor, uma aventura.
Gabe riu, colocando a mão na bochecha dela — Cada segundo na sua
companhia é uma aventura, amor. Isso eu posso garantir.
Helena suspirou, tudo, dentro dela, derretendo com as palavras de Gabriel.
Agora, aquilo era um elogio.
— Quando? — ela exigiu, uma excitação emocionante correndo em suas
veias.
— Depois de amanhã. — disse Gabe, com a voz cheia de euforia, tanto quanto
Helena também sentia — E vamos precisar da ajuda de Tilly.
16
Minha querida irmã,
Quando estiver lendo isso, estarei a
caminho de Gretna Green. Por favor,
imploro, não culpe Tilly por me ajudar. Ela
é terrivelmente leal, e a obriguei a fazer
isso, contra à sua vontade. Sei que meu
irmão ficará furioso comigo,
especialmente, porque dei minha palavra
de que não veria o Sr. Knight novamente,
mas algumas coisas são muito mais
importantes do que, até mesmo, uma
promessa. Essa promessa foi obtida sob
coação, então, tal condição deve contar
para alguma coisa.
Prue, eu o amo, e sei que ele me ama.
Gabriel me contou tudo, tudo sobre seu
passado perverso e as coisas que fez,
entendo por que Robert tentou me proteger,
mas, a verdade é que ele está errado. Ele
está errado sobre Gabriel, da mesma forma
que todos estavam errados sobre Robert.
Gabriel mudou, nunca conheci um homem
que pudesse me enfrentar com tanta
facilidade, e, ainda assim, não me
intimidar ou me fazer sentir que me
comportei mal.
Consegue ver, estou completamente
apaixonada, simplesmente não há cura
para isso, mas acho que já sabe disso, não
é, minha querida Prue? Por favor, tente
fazer com que Robert enxergue isso. Sei
que estou pedindo muito, mas, mesmo
assim, o faço.
Quando a vir de novo, serei Lady
Helena Knight. Mal posso esperar!
Fique feliz por mim!
―Trecho de uma carta de Lady
Helena Adolphus para sua cunhada, Sua
Graça, a Duquesa de Bedwin.

BEVERWYCK, LONDRES.
12 DE ABRIL DE 1815.

— Tem certeza de que sabe o que fazer? — Helena perguntou pela quinta vez.
Tilly revirou os olhos — Não é tão complicado. — disse, exasperada, mas,
obedientemente, repetiu as instruções de Helena, mais uma vez — Como foi para a
cama cedo esta noite e não terminou o jantar, não ficarão surpresos pela senhorita
permanecer mais tempo na cama. Devo dizer que a senhorita tem uma dor de
cabeça e só quer dormir, vou evitar que entrem no quarto para vê-la. À noite, trarei
seu jantar, mas o levarei de volta e direi que a senhorita está dormindo. Na manhã
seguinte, vou inventar uma desculpa para buscar um remédio para dor de cabeça e
sugerir que eles chamem um médico, pois ainda está se sentindo mal. Então levarei
a mala que fiz e vou diretamente para os escritórios do Sr. Knight, em Piccadilly,
onde o Sr. Francis Chapel me levará para o quarto fornecido a mim, onde esperarei
que a senhorita retorne.
Helena soltou um suspiro, aliviada — Lembre-se, se algo der errado, vá ao Sr.
Chapel, imediatamente. Ele garantirá que fique em segurança, até que voltemos.
Tilly bufou — Oh, aposto que vai. — murmurou.
Os lábios de Helena se curvaram. O Sr. Chapel tinha sido o jovem atrevido
que entregara as flores de Gabe, e a visitara diariamente, para perguntar como
estava se recuperando. Não pôde deixar de pensar que Tilly estava radiante com a
possibilidade de vê-lo novamente.
— Oh, Tilly, — disse ela, sem fôlego, uma combinação de nervos e excitação
a deixando nervosa e chorosa — não sei o que faria se não estivesse comigo.
— A senhorita estaria mais segura, se não se importar com essa observação.
— Tilly respondeu, com um suspiro pesado.
— E muito menos feliz. — acrescentou Helena, sua voz firme.
Helena a puxou para um abraço feroz e Tilly a apertou com força em troca.
— Boa sorte, milady. — sussurrou Tilly — Espero que da próxima vez que a
veja, a senhorita tenha se tornado Lady Helena Knight.
— E assim será. — disse Helena, sorrindo, como se fosse a primeira vez que
ouvisse seu novo nome em voz alta. Olhou para o relógio para ver que já eram onze
horas — Chegou a hora. Prue já deve estar na cama. Gabriel esperará na esquina,
então, não há necessidade de me acompanhar, desta vez. Apenas faça o seu melhor,
para manter todos longe da escada dos fundos, enquanto saio furtivamente.
— Eu irei. Não se preocupe. Não vou decepcioná-la.
— Eu sei disso, Tilly, e agradeço muito. — sussurrou Helena, antes de abrir a
porta e rastejar para o corredor escuro.
Gabe fez o possível para permanecer nas sombras, invisível, quando estava tão
cheio de tensão, que sentiu a necessidade de arrancar os cabelos. Esta era a parte
mais preocupante do plano, no que lhe dizia respeito, pois havia feito tudo o que
podia para ajudar. Se Helena não conseguisse sair de casa sem ser vista, Bedwin
saberia o que planejavam e perderiam qualquer possibilidade de Helena escapulir
novamente. Seria vigiada constantemente, e Gabriel não teria chance de chegar
perto dela. Deslizou a mão para o bolso e tirou o relógio, para verificar o horário, à
luz do luar. Eram quase onze e cinco. Ela já deveria estar aqui.
Ele se forçou a respirar, a encher os pulmões e expelir o ar, em respirações
tranquilas e firmes, então seu coração pulou em seu peito, quando viu uma figura
esguia emergir da escuridão, carregando uma bolsa.
— Helena! — chamou-a, se adiantando rápido — Graças a Deus. Estava
enlouquecendo, esperando-a.
— Estou aqui. — disse, sorrindo para ele.
— Não há tempo a perder. — embora quisesse puxá-la para seus braços e
beijá-la, não se atreveu e, em vez disso, a apressou pela estrada, até onde sua
carruagem estava esperando. Assim que entraram, a carruagem sacudiu e,
finalmente, estavam a caminho.
— Tilly sabe o que fazer? — exigiu, virando-se para encará-la, mal ousando
acreditar que Helena lançara a cautela ao vento, para fugir com ele.
— De cor e salteado. — respondeu Helena.
— E ninguém a viu sair, ninguém suspeita?
Helena sacudiu a cabeça — Estou certa disso. Foi muito mais fácil do que eu
esperava, mas nunca menti para meu irmão antes, então, suponho que ele não esteja
esperando por isso.
— Sinto muito. — Gabe sentiu uma onda de culpa e remorso, sabendo o quão
irritado Bedwin ficaria com ela.
Não se importava com o que o irmão de Helena pensava dele - bem, não
muito. Mas ter Helena em desacordo com o irmão, que tão claramente amava, o
deixava profundamente desconfortável.
Helena balançou a cabeça e se inclinou para ele — Eu não sinto. Robert vai
mudar de ideia quando vir que estamos felizes, e suspeito que Prue já se arrepende
do que aconteceu. Ela continua lançando olhares culpados na minha direção. Acho
que talvez ela acredite que realmente gosta de mim.
— Sim. — disse ele, suavemente.
Helena sorriu para ele — Bem, isso é um alívio… nas circunstâncias.
Gabriel a puxou para perto, ainda achando difícil acreditar que isso estava
realmente acontecendo.
— Usaremos minha carruagem para sair de Londres. Mandei meu cabriolé na
frente, assim que concordou em se casar comigo, já que estava tão interessada na
ideia. Então, faremos parte da jornada nessa carruagem, para ganhar algum tempo,
viajaremos um pouco desconfortáveis por alguns dias, mas vamos contratar uma
carruagem melhor, mais confortável, assim que estivermos cheios dessa aventura.
— Perfeito. — ela suspirou, Gabriel não conseguiu resistir à tentação de se
inclinar e roubar um beijo. Ele estava resignado a se comportar durante a viagem e
a esperar por sua noite de núpcias, mas era de carne e osso e seus lábios eram muito
doces, muito tentadores para resistir.
— Descanse um pouco, agora. — disse, afastando a boca, antes que pudesse
apreciar o gosto dela um pouco a mais, e desgastar todas as suas boas intenções, de
uma só vez — Temos muitos dias pela frente, então, é melhor dormir enquanto
pode.
Ela aproximou seu rosto para ele e sorriu, beijando seu nariz.
— Comporte-se. Descanse um pouco. Estará cansada e mal-humorada, de
outra forma, posso mudar de ideia sobre me casar contigo.
Helena bufou e lhe lançou um olhar de indignação exagerada.
— Miserável! Acha que está brincando. Apenas espere. Ainda assim, estou
cansada, depois de todo o nervosismo de hoje, embora esteja muito animada para
dormir. — reclamou, mas desamarrou o gorro e jogou-o no assento oposto, antes de
se acomodar com a cabeça no colo de Gabe, como se fosse a coisa mais natural do
mundo.
Gabe lutou contra a onda de emoção que o atingiu, surpreso com a força
daquilo. Soltando um suspiro irregular, acariciou seu cabelo sedoso e observou,
enquanto ela fechava os olhos e gradualmente adormecia.
Trocaram de cavalo em Barnet, mas Helena não se mexeu. Mudaram
novamente em Dunstable, onde ela piscou um pouco, olhando para ele, sonolenta,
até que a tranquilizou, dizendo que tudo estava bem, então Helena fechou os olhos
novamente.
Alcançaram Saracen’s Head em Towcester na manhã seguinte e saíram para
esticar as pernas e se refrescar. Gabe alugou um quarto para Helena com esse
propósito e, pouco tempo depois, ela desceu para tomar café da manhã com ele,
parecendo fresca e adorável e não como se tivesse fugido de casa e dormido em
uma carruagem. Ainda bem, pois estavam chamando atenção o suficiente. Ou, pelo
menos, Helena. Gabe sabia o quanto era bonita, mas aqui, em ambientes menos
opulentos do que normalmente a via, ela brilhava como um diamante.
— Estou faminta. — exclamou, pegando um pão fresco e rasgando-o ao meio,
antes de aplicar manteiga e geleia — Hummm.
Seu sincero murmúrio de prazer fez com que cada centímetro de pele de Gabe
formigasse. Maldição, mal podia esperar a noite de núpcias. Helena olhou para
cima, então, e deve ter percebido a natureza de seus pensamentos refletidos em seus
olhos, enquanto corava, sua pele clara florescendo de cor.
— Adorável. — disse ele, o mesmo calor infundido em sua voz.
Ele levou a xícara de café aos lábios.
— Será que vou gostar de ir para a cama com você?
Gabe se engasgou.
— Oh, Gabe, está bem? — Helena se levantou, movendo-se ao redor da mesa
para acariciá-lo suavemente nas costas — Pobrezinho. — cantarolou, mas quando
Gabe olhou para cima, viu o diabo brilhando em seus olhos.
— Bem, me fez corar. — disse ela, provocativa.
Gabe bufou — Sua diabinha! Não deve dizer essas coisas para mim, não até
que estejamos casados, pelo menos. Está brincando com fogo.
— Eu sei. — disse ela, sentando-se novamente e arrancando um pedaço de seu
pão, antes de colocá-lo na boca. Mastigou pensativamente e depois acrescentou: —
É isso que torna tudo tão divertido.
Observou-a por um momento, antes de estender a mão sobre a mesa. Deslizou
o polegar contra a palma da mão dela, em um círculo gentil e provocador — E para
responder à sua pergunta, — disse Gabe, mantendo a voz baixa e íntima, nunca
tirando os olhos dela — sim, vai gostar muito.

As palavras suaves de Gabe ecoaram na mente de Helena por horas e não pôde
deixar de olhar para ele com curiosidade crescente, enquanto a carruagem os levava
para mais longe de Londres. Gabe a repreendeu por isso, seus beijos se tornando
um pouco mais profundos e persistentes, cada vez que ela o persuadia. Sabia que
ele estava determinado a ser um cavalheiro e esperar até a noite de núpcias, não
tinha nenhum problema real com isso, mas provocá-lo era muito delicioso. Afinal,
ele realmente mereceu, depois daquele comentário, projetado para incendiá-la e
funcionando admiravelmente.
— Onde gostaria de morar quando estivermos casados?
Olhou-o, satisfeita com a pergunta — Não sei, tem propriedades agora?
Ele assentiu, o que não foi surpresa — Eu tenho, embora tenham sido compras
de negócios, nada mais. Mas pode escolher entre elas e, se nenhuma lhe agradar,
encontraremos outra coisa, ou construirei uma casa do seu gosto.
Os olhos de Helena se arregalaram — De verdade?
— Por que não? — disse, sorrindo — Será exatamente como desejar que seja.
Tenho um pedaço de terra pronto na Grosvenor Square, que seria adequado. Isso
significaria estar perto de seu irmão e de suas amigas, durante a temporada. Não é
enorme, mas acho que pode ser uma casa elegante, se assim quiser.
— Isso parece maravilhoso, Gabe. — disse, tocada por ele, ainda, considerar a
proximidade de seu irmão, mesmo depois de tudo — E no campo?
— Bem, tenho uma propriedade de pedra bastante antiga, que acho que possa
gostar. Em Sussex. Não há dúvida de que seja cheia de correntes de ar e fantasmas,
mas se acostumará com isso, suponho.
Helena riu e assentiu — Ah, sim. Todos os inconvenientes de uma propriedade
imponente. Mas ela é bonita?
Gabriel franziu os lábios, considerando — Bela em vez de bonita, talvez, mas
é muito agradável, romântica. — acrescentou, levando a mão dela aos lábios e
beijando gentilmente seus dedos.
— Parece maravilhoso, quando podemos vê-la? —
Deu de ombros — Quando quiser, embora tenhamos que voltar diretamente
para Londres e enfrentar primeiro o escândalo. Sabe disso, não sabe? — Gabe ficou
quieto quando a viu acenando — Supondo que seu irmão não tenha atirado em
mim, até lá.
— Não. — disse, estremecendo — Não é tão selvagem, garanto.
Gabe não parecia convencido — Acho que pode se surpreender, quando se
trata da virtude da própria irmã.
— Minha virtude está bastante segura, infelizmente. — lamentou, e ficou
satisfeita com o sorriso que tirou dele — O homem perverso com quem fugi não é
tão perverso quanto eu esperava. Acho que fui enganada e ele é realmente um
cavalheiro de coração.
— Jamais. — respondeu Gabe, rindo — Nego tudo e vou provar isso em
breve.
Helena deu um suspiro melancólico — Mal posso esperar.
Mudaram de cavalos em Market Harborough, aproveitando o tempo, embora
Helena não pudesse deixar de se preocupar, enquanto se perguntava como Tilly
estava se saindo. A garota foi capaz de convencer a todos que Helena estava
passando o dia na cama? Ou seu irmão estava, neste instante, os perseguindo? A
ideia a deixou ansiosa e Gabe a distraiu, contando-lhe histórias de suas aventuras
com Inigo na casa dos enjeitados. Embora os contos fossem claramente destinados
a diverti-la, e fossem engraçados, também revelaram uma imagem de privação e
fome, que ela só podia imaginar.
— Ainda fornece bens para a casa? — perguntou, surpresa quando ele ficou
em silêncio.
Ele assentiu e um tom de cor tocou suas bochechas.
— Não cobra deles, não é? — perguntou, encantada.
Ele limpou a garganta e se mexeu no assento.
— Gabriel Knight, é um filantropo. Oh, toda aquela perversidade era uma
mentira! — lastimou-se — Um cavalheiro e um benfeitor! Como fui enganada.
— Vou mostrar o quanto foi enganada. — rosnou e a puxou para seus braços,
beijando-a completamente.
Helena suspirou e se derreteu nele, enquanto Gabe aprofundava o beijo, uma
mão deslizando pelo lado dela e se movendo sobre a curva do peito, onde
permaneceu.
— Esta é a parte em que deveria protestar e me dizer que não é esse tipo de
garota.
— Ah, sim? — Helena respondeu, um tom sonhador em sua voz — Mas não
vou.
— Ótimo. — observou Gabe e a beijou novamente.
17
Matilda,
Voltamos para St. James. Jurei a mim
mesmo que não escreveria para a
senhorita, que não a perseguiria dessa
maneira desesperada, mas parece que sou
impotente para resistir. Há uma exposição
de aquarelas na Old Bond Street, da
Society of Painters in Watercolours. Posso
esperar encontrá-la lá na tarde do dia 14?
Não levarei Phoebe, nem lhe direi nada
sobre isso. Não a usaria de tal maneira
para ganhar sua atenção, embora me
pergunte, se tenho decência suficiente para
sempre resistir à tentação. A senhorita me
atormenta.
Venha até mim.
Por favor.
M.
—Trecho de uma carta de O Mais
Honorável, Lucian Barrington, Marquês
de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.

DERBY. ESTRADA PARA GRETNA GREEN.


13 DE ABRIL DE 1815.

A pousada era decente e não estava muito cheia, o que era uma bênção. Gabe
garantiu um quarto privado para o jantar e, para seu pesar, dois quartos separados -
um para sua irmã.
Assinou o registro como Sr. Brown, ideia de última hora, quando o livro de
registro foi posto à sua frente e tudo que viu foi a madeira marrom sobre a qual o
livro foi colocado. Nada original, mas duvidava que alguém acreditasse que Helena
era sua irmã. É verdade que ambos tinham modos refinados, mas ela brilhava com
uma luz invisível, que parecia proclamá-la como uma pessoa de qualidade. Gabe
não tinha ilusões de que, mesmo depois de todas as suas tentativas de se polir, mal
conseguia se passar por um cavalheiro.
O jantar foi simples, bom e abundante. Um bife com torta de rim e ervilhas,
um cheddar picante e quebradiço e pão fresco, e maçãs fritas para sobremesa. Eles
se sentaram e comeram na sala privada, saboreando o tempo juntos, sem o choque e
o balanço da carruagem. Para o espanto de Gabe, sempre tinham sobre o que
conversar, e falavam de qualquer coisa. Helena era altamente educada, muito mais
do que ele, mas sempre se sentiu igual a ela, nunca sentiu que Helena o
desprezasse. Eles falaram sobre livros, embora Gabe tenha lido poucos até o
momento, não tendo este hábito como lazer. Helena recomendou vários que
acreditava que iria lhe agradar. Contou-lhe sobre seu desejo de ir à França, quando
a guerra terminasse, para visitar os vinhedos, com o objetivo de importar as
melhores safras de vinho. Helena aprovou de todo o coração. Ela falava francês
fluentemente - Gabe não - estava ansiosa para ajudá-lo com seus planos. Isso levou
a uma discussão sobre quando esse encrenqueiro, Boney, seria derrotado, de uma
vez por todas. Tendo se mudado recentemente para o Élysée Palace, parecia que
suas maquinações ainda não haviam terminado. Helena falou de suas amigas, ele de
seus negócios, e, antes que ele pudesse se dar conta, a hora tinha passado, já era
muito tarde.
— Venha. — disse-lhe com pesar — É melhor subirmos. Se quisermos ter uma
chance de ficar à frente de seu irmão, precisaremos sair o mais cedo possível.
Helena assentiu, sufocando um bocejo — Sim, suponho que sim, mas a noite
foi tão adorável. Não quero que termine.
Gabe sorriu, aproveitando a sala privada para puxá-la para os braços — Não
falta muito tempo, amor, e então poderemos ficar juntos, sempre.
O sorriso dela era doce demais para não provar, ele a beijou, enquanto os
braços dela se enrolavam em seu pescoço.
— Pare. — consternado, estendeu a mão e a tirou, libertando-se — Não me
encoraje, quando estou tentando ser bom. Não vem naturalmente, eu garanto.
— Mas para mim também não. — disse ela, fazendo beicinho — Então, pode
dificilmente esperar por isso.
Gabe colocou as mãos em seus ombros e a virou para encarar a porta, incapaz
de resistir à tentação de dar um tapa suave em seu traseiro — Comporte-se, sua
garota terrível.
Helena gritou e depois deu-lhe um olhar atrevido por cima de um ombro,
mostrando a língua para ele, antes de correr para a porta. Gabe correu atrás dela,
rindo, sabendo que qualquer um que os visse não ficaria nem um pouco convencido
de que eram parentes. Não que isso importasse, desde que chegassem a Gretna
Green a tempo. A ansiedade aumentou em seu estômago, mas ele a reprimiu. Não
adiantava se preocupar com o que não poderia mudar. Lidaria com o que quer que
acontecesse se e quando, mas, por enquanto, estava feliz. Helena era tudo e mais,
do que nem ousara sonhar, e queria ser sua esposa.
A vida não poderia ficar melhor do que isso.

14 DE ABRIL DE 1815. DERBY. ESTRADA PARA GRETNA GREEN.


Na manhã seguinte, levantaram-se cedo e partiram no cabriolé de Gabe, que
havia enviado à frente. Para o alívio de Helena, era um belo dia, afinal, a primavera
decidira aparecer. O sol envolveu o campo e ela se sentiu puramente feliz. Havia
um piquenique a seus pés e o dia seria glorioso. Era tudo o que sonhava. Os cavalos
eram bons animais, o campo era lindo e Gabe estava ao lado dela. Estavam em uma
aventura, não apenas para o dia de hoje, mas para o futuro, e esse futuro se estendia
como uma terra estrangeira, inexplorada e cheia de surpresas.
Percebeu, naquele momento que, mais do que tudo, temia o tédio. A ideia de
se casar com um homem de sua classe, que esperaria que fosse a dama perfeita,
para entretê-lo, dar-lhe filhos e nunca fazer ou dizer nada inesperado, a encheu de
pavor. O casamento de seu irmão com Prue abriu seus olhos para o tipo de união
que era possível. Prue era franca e Robert a admirava por isso. Robert diferia da
maioria dos homens, por causa de seu primeiro casamento desastroso. Helena não
encontrou outros como ele, entre os homens que desejavam cortejá-la, que
pareciam não saber o que fazer com ela. Ou se sentiam intimidados por ela ou a
tratavam com indulgência. Parecia não haver meio termo. O Sr. Richards tinha sido
um homem realmente bom e gentil, mas…, mas isso não era suficiente para o tipo
de casamento que ela esperava.
— Está sorrindo.
Helena olhou em volta e encontrou os olhos de Gabe sobre ela, cheios de
calor, e suspirou — Eu estou.
— Está feliz?
Helena riu e se inclinou para ele — Maravilhosamente feliz, obrigada. Estava
pensando em como isso é extraordinário. Tudo o que poderia ter sonhado.
O coração de Gabe se expandiu com o olhar satisfeito que surgiu em seu rosto.
— Teremos uma grande aventura para contar aos nossos filhos, nos próximos
anos.
— Sim, acredito que sim.
— Quer pilotar?
Helena olhou para ele, surpresa. Embora soubesse que ele admirava sua
habilidade, presumiu que quereria dirigir. Saber que ela era bem capaz e permitir
que assumisse seu lugar, eram duas coisas diferentes. Afinal, era um homem.
— De verdade? Não se importaria?
Ele sorriu e balançou a cabeça — Me superou, lembra? Seria um tolo se
acreditasse que não estou em mãos capazes. Não sou tão orgulhoso para não a
deixar tomar as rédeas.
— Oh.
Helena engoliu em seco, quaisquer dúvidas persistentes de que havia sido
precipitada, ou não ter feito a escolha certa, foram esmagadas, de uma vez por
todas. Jogou os braços em volta do pescoço de Gabe e o beijou.
— Eu o amo. — disse, fervorosamente, falando com todo o seu coração.
A cabeça de Gabe girou para encará-la.
— Helena. — disse, sua voz baixa.
Ocorreu-lhe, então, que nunca haviam dito aquelas palavras um para o outro,
não tão claramente. Demonstraram, insinuaram, mas nunca falaram em voz alta, do
coração.
— Sim. — acrescentou, um pouco tímida agora.
— Eu a amo. — disse, com a voz áspera — Sei que Tilly deve ter lhe dito,
mas queria eu mesmo dizer. Eu a amo, Helena. Muito.
Helena riu, um som sufocado, e então exclamou — Gabe, cuidado!
Houve alguns momentos de confusão e ouviram um grito de indignação do
fazendeiro, cuja carruagem quase acertaram. Assim que conseguiram passar sem
nenhum problema, Gabe deu a Helena um sorriso triste e ofereceu-lhe as rédeas e o
chicote.
— Acredito que seja melhor que conduza, amor. Minha atenção parece um
pouco dispersa. Não consigo pensar o motivo.
Helena as pegou dele, rindo — Ah, e acha que a minha não está? Sem dúvida,
terminaremos em uma vala, antes da hora do jantar, mas farei o meu melhor.
Helena colocou os cavalos em um trote inteligente, muito consciente dos olhos
de Gabe sobre ela.
— Se continuar olhando para mim assim, estaremos em uma vala, antes do
final desta estrada. — avisou.
— Agora consegue ver o problema. Talvez devêssemos ter pegado a
carruagem, afinal?
— Oh, não. — exclamou Helena — Isso é maravilhoso.
— É maravilhosa.
— Eu sou. — concordou, piscando para ele e se aquecendo no calor de sua
risada.
Mudaram de cavalos em Ashbourne, na fronteira sul do Peak District, e
ficaram admirados com a paisagem circundante. As colinas suavemente ondulantes
do pico branco, dissecadas por vales, as florestas de Ash roubavam o fôlego, em um
dia de primavera perfeito. Rios de calcário claros brilhavam ao sol, não faltavam
escolhas de onde parar e fazer um piquenique.
Eventualmente, se estabeleceram, e Gabe cuidou dos cavalos, enquanto
Helena esticava um cobertor, perto de um riacho.
Não podiam parar por muito tempo, sabiam disso, muito conscientes de seu
irmão, como uma tempestade que se aproximava no horizonte, mas a beleza da
cena era grande demais para não aproveitarem. Deliciaram-se com frango assado e
fatias grossas de pão, e Helena tomou cerveja de uma garrafa, pela primeira vez.
Não que estivesse particularmente impressionada.
Gabe riu, enquanto ela torcia o nariz e balbuciava que beberia água do riacho,
muito obrigada.
Era tudo muito breve e, enquanto arrumava as coisas do almoço, mais uma
vez, se virou e descobriu os olhos de Gabe sobre ela. O calor subiu por suas
bochechas, ruborizando sua pele imediatamente, com a proximidade dele. Antes
que ela pudesse falar, ele estendeu a mão, deslizando-a pelo pescoço e puxando-a
para perto, beijando-a. Seus lábios eram suaves, persuasivos, não que ela precisasse
de encorajamento. Helena se deitou no cobertor, levando-o com ela, saboreando o
calor dele, o peso, enquanto Gabe pressionava-se contra ela. Os olhos de Helena se
arregalaram quando Gabe insinuou o joelho entre suas pernas, pedindo que se
separassem e abrissem espaço para ele. Respondeu à sua demanda silenciosa e ele
se acomodou sobre ela, seu peso apoiado em seus braços, enquanto continuava a
beijá-la, preguiçosamente, como se tivessem todo o tempo do mundo. Como ela
queria que ele fizesse. O sol da primavera os aqueceu, dourando os cabelos escuros
de Gabe, que brilhavam como bronze. Ele se moveu contra ela, sua excitação
pressionando contra sua carne íntima e, mesmo através de camadas de tecido,
enviando uma chuva de faíscas através de seu sangue. Helena ofegou e Gabe sorriu,
movendo-se várias vezes, enquanto roubava seu fôlego e sua razão.
— Gabe. — sussurrou, antes que ele tomasse suas palavras com outro beijo.
Agarrou-se a ele, atordoada de desejo, com a necessidade de mais, mais dele.
As roupas eram um incômodo, ela pensou, desesperada por estar mais perto, para
sentir a pele dele contra a sua.
— Eu a quero. — murmurou, contra a pele dela. Beijando seu pescoço,
deixando um rastro de fogo — Eu a quero tanto, que estou enlouquecendo.
— Sim. — ela murmurou, preparada para dar-lhe qualquer coisa que quisesse,
aqui e agora.
Gabe gemeu, se aquietou e depois rolou para longe dela, praguejando
baixinho.
— Resposta errada. — resmungou, puxando seu colete e encolhendo os
ombros em seu casaco novamente — Deveria ter dito, temos que esperar, Gabe.
Faltam apenas mais alguns dias. Se me amasse, não faria…
— Que bobagem. — disse, sentando-se — Nós vamos nos casar e eu o amo,
não queria parar. Ainda não quero. — acrescentou, fazendo beicinho.
Ele soltou um som torturado e saiu para preparar os cavalos.
— Bem, honestamente, — disse ela, com um bufo, chamando por ele — você
quem começou!
— Venha! — ele parecia um pouco irritado agora — Precisamos chegar a
Gretna Green, antes que eu perca a cabeça.

BEVERWYCK.
14 DE ABRIL DE 1815.

Prue olhou para a cama, para as cobertas cheias de travesseiros, e sentiu seu
coração dar um sobressalto ansioso em seu peito. Em circunstâncias normais, Prue
não teria visto Tilly saindo de casa tão cedo, mas o bebê estava inquieto em seu
ventre, assim, ficava muito desconfortável dormir por mais tempo. Teve a estranha
sensação de que algo estava errado, quando Tilly explicou que sairia para comprar
remédio para dor de cabeça. Normalmente, mantinham um excelente estoque de
suprimentos médicos na casa. Prue foi verificar e descobriu que estava longe de
estar vazio, assim soube. Há quanto tempo Helena havia saído? Teria sido na noite
anterior ou na noite antes disso? Há quanto tempo Tilly estava cobrindo sua
senhora?
— Oh, Helena. — sussurrou, para o quarto vazio — Oh, querida, o que fez?
Ela se virou em círculo, não muito surpresa ao descobrir uma carta sobre a
lareira. Suas suspeitas se confirmaram, tirou um momento para se sentar na beira da
cama e ler as palavras de Helena, enquanto acariciava o proeminente inchaço de
sua barriga, em busca de conforto.
Consegue ver, estou completamente apaixonada, simplesmente não há cura
para isso, mas acho que já sabe disso, não é, minha querida Prue? Por favor, tente
fazer com que Robert enxergue isso. Eu sei que estou pedindo muito, mas eu faço.
— Bem, — disse ela, para seu filho ainda não nascido — sua tia, certamente,
jogou o gato para os pombos.
Deu um suspiro pesado, não querendo pensar muito sobre como Robert
reagiria, mas incapaz de sentir que eles eram irrepreensíveis nisso. Entendia como
Robert se sentia, sabia o quão profundamente temia que Helena cometesse um erro
do tipo que ele cometera, e era tão terrivelmente jovem. Helena tinha sido protegida
toda a sua vida, escolhas fáceis para um homem sem escrúpulos, com intenções
nefastas. No entanto, Prue tinha visto o olhar do Sr. Knight e a profundidade da
emoção ali. Sua reputação era terrível, ele rebaixaria Helena na sociedade, e, ainda
assim… se era o homem que ela amava, e ele devolvia seus sentimentos, então, foi
errado mantê-los separados.
Cansada, se levantou e voltou para seu quarto, para acordar seu marido. De
alguma forma, tinha que impedi-lo de matar seu futuro cunhado.

Harriet chegou a Beverwyck cedo, na manhã seguinte, muito feliz em


compartilhar uma notícia importante com sua amiga, apenas para encontrar a casa
em um grande alvoroço.
— Qual é o problema? — perguntou, enquanto Prue se apressava em sua
direção, pegava sua mão e a arrastava para a sala, fechando a porta atrás dela.
— Onde está Jasper? — Prue exigiu, sem delongas.
— Está em casa. — respondeu Harriet — Por quê?
— Deve mandar chamá-lo imediatamente. Oh, Harry, querida, pode ficar sem
ele, por uma semana ou mais?
Harriet olhou fixamente para Prue, imaginando o que, diabos, estava
perguntando — Ficar sem ele?
Prue assentiu e depois começou a chorar.
— Ó céus! — Harriet colocou os braços em torno de Prue, o melhor que pôde,
em torno da barriga crescente de sua amiga.
Ela a abraçou com força, pressionou um lenço em sua mão e depois a guiou
até a cadeira mais próxima. Sentada ao seu lado, Harriet segurou sua mão livre,
enquanto Prue enxugava os olhos.
— Perdoe-me. — disse Prue, com a voz carregada.
— Não seja boba, apenas me diga o que está acontecendo e farei tudo o que
puder para ajudar.
— É Helena. — Prue parou para assoar o nariz, deixando Harriet ansiosa
enquanto esperava — Ela fugiu com o Sr. Knight. Eles, provavelmente, estão a
meio caminho de Gretna Green, agora.
— Minha nossa!
Prue assentiu, em concordância com o choque de Harriet. Robert está tão
furioso que, com certeza, irá matá-lo. Esperava que Jasper pudesse ir com ele, para
manter a paz.
— Sim, tenho certeza de que ele irá. — disse Harriet, apertando as mãos de
sua amiga — Quero que fique parada, vou escrever um bilhete dizendo a ele para
vir imediatamente e fazer a mala para uma viagem.
— Robert irá a cavalo, o caminho todo. — disse Prue, melancólica —
Provavelmente irá se matar, mas diz que não terá chance de alcançá-los, se não for
assim.
Harriet piscou com essa informação, antes de se sentar na escrivaninha, perto
da janela, para escrever uma nota urgente ao marido. Rezou para que ele a
perdoasse por enviá-lo em uma missão como essa.

SOUTH AUDLEY STREET, LONDRES.


14 DE ABRIL DE 1815.

Matilda se acomodou na ensolarada sala da frente com seu livro e virou


determinada a primeira página. Olhou para ela sem expressão, por um bom
momento, antes de respirar fundo e tentar novamente. Ficaria sentada ali e leria um
bom livro. Não pensaria em mais nada. Ela não iria sair e ponto final.
Leu duas páginas, mal compreendendo as palavras, mas comprometida em
manter sua mente ocupada. Seus olhos se voltaram para o relógio e praguejou,
forçando sua atenção a voltar para a história. Passou mais três páginas, embora não
pudesse dizer do que se tratava, e então ouviu alguém chegar à porta da frente.
Matilda levantou-se assim que seu mordomo apresentou Bonnie e sua sogra, a
condessa viúva St. Clair.
— Bonnie! — exclamou, encantada e aliviada, por ver sua amiga e ter pessoas
para mantê-la ocupada. Abraçou Bonnie com força, antes de se virar para a outra
convidada — Lady St. Clair, que bom vê-la.
— Oh, por favor, me chame de Louisa, querida, continuo lhe pedindo. Afinal,
somos velhas amigas, agora.
— Muito bem, Louisa. Devo pedir chá? — perguntou Matilda.
— Não, Tilda, não vamos ficar muito tempo, viemos apenas buscá-la. Vamos
encontrar alguns amigos em uma exposição de aquarelas, em uma galeria na Bond
Street, e queremos que venha conosco.
Matilda piscou, imaginando como explicar o rubor de cor que surgia sobre ela.
— Oh. Oh, não. — pigarreou e sentou-se novamente, um pouco forte demais
— Na verdade, tinha a intenção de ficar em casa, lendo um pouco. — acrescentou,
pegando o livro e acenando para elas, a título de ilustração — É um ótimo livro. —
disse, rezando para que não lhe perguntassem do que se tratava, pois não tinha a
menor ideia.
— Isso não vai funcionar, Matilda. — Lady St. Clair apontou um dedo para
ela. — Não deve deixar que o que aconteceu com aquele homem terrível a isole. O
Sr. Burton está no passado, e lá permanecerá. Agora, vamos conhecer alguns belos
jovens, hoje. — acrescentou, com um sorriso travesso — E aquele encantador Sr.
Richards estará lá. Ele é um bom partido, agora, e uma criatura muito querida.
Matilda suspirou — É dois anos mais novo do que eu e terá todas as mulheres
elegíveis da ton tropeçando umas nas outras para chegar até ele. Se não estava
interessado em mim, antes de se tornar herdeiro de um condado, dificilmente estará
agora.
— Ele pode, já que Helena está apaixonada pelo Sr. Knight. — disse Bonnie,
prosaicamente.
— Oh, que incentivo, ser a segunda opção. — Matilda retrucou, e então sentiu
uma explosão de remorso — Me perdoe. Sei que estão tentando ajudar, e agradeço,
mas estou bastante contente em ficar aqui sentada, lendo.
Por favor, não me pergunte novamente, implorou silenciosamente. Seu desejo
de se encontrar com Lucian de novo estava além de qualquer coisa, mas sabia que
era um erro. Era errado até mesmo pensar nele, como Lucian. Ele era o Marquês de
Montagu. Existia num mundo que nunca pertenceria a ela, e deveria ficar longe
dele. Vê-lo novamente, mesmo em um lugar público, tornaria as coisas piores, e ele
só pediria mais. Iria querer vê-la de novo, e de novo, e antes que percebesse, seria
sua amante, assim como ele sempre pretendera. A ideia estava se tornando
horrivelmente tentadora, enquanto uma vida inteira se estendia diante dela. Ficou
consternada ao perceber que, provavelmente, teria concordado com isso, se ele não
tivesse que se casar. Mas ela não o compartilharia. Isso a destruiria e tinha muito
orgulho para sequer considerar essa opção.
Matilda se preparou para o próximo ataque, quando Lady St. Clair - Louisa -
se sentou ao lado dela e pegou sua mão.
— Querida, uma criatura tão linda e vivaz como a senhorita não deveria se
enterrar em casa, em um dia tão lindo. Venha com a gente. Vamos olhar para
algumas belas pinturas e flertar com alguns jovens. Não estou pedindo para que se
case com algum deles, apenas venha e se divirta. Por favor, querida.
— Mas… — Matilda começou, entrando em desespero agora.
— Ora, vamos. — Bonnie choramingou — Diga que sim. Por favor.
— Por favor, Matilda. — Louisa ecoou, apertando os dedos.
Matilda olhou para suas amigas, imaginando se o destino estava fazendo isso
de propósito, para torturá-la. Seus rostos estavam tão cheios de esperança de que
ela fosse, que não viu como poderia recusar. Com um suspiro de derrota, assentiu,
tentando ignorar o pequeno salto de euforia que seu coração dava.
— Ora, muito bem, mas devem esperar que eu troque de roupa. — disse,
indelicada na derrota.
— Excelente! — Louisa disse, batendo palmas — Está tudo bem. Corra,
então, e certifique-se de usar algo bonito. — acrescentou, com um aceno
encorajador.
Matilda suspirou e se afastou. Pare com isso, se repreendeu, quando a
antecipação de estar com Lucian novamente a deixou inquieta. Talvez não fosse.
Ela, deliberadamente, ignorou a carta dele, recusando-se a respondê-la. Agora só
podia esperar que Lucien não fosse, acreditando que ela não estaria lá. Exceto que
não esperava nada disso, seria uma mentirosa se fingisse que sim. Oh, bom Deus.
Se esforçou tanto para fazer a coisa certa, e essa era sua recompensa.
— Estou condenada. — murmurou irritada e subiu as escadas.
18
Meu querido Gordy,
Estou me divertindo muito,
conversando com minhas amigas, e a tia
está muito melhor. Foi apenas um resfriado
forte, como ela disse, mas estou feliz por
ter visto, por mim mesma, que está bem e
tem tudo o que precisa. Ela te manda
lembranças, a propósito. Ficou
terrivelmente desapontada por não ter
vindo comigo. Expliquei tudo sobre o
trabalho em andamento em Wildsyde e que
não era um bom momento para que saísse,
mas não ficou impressionada. Receio ter
sido forçada a prometer que nós dois
voltaremos, assim que pudermos. Se
importaria muito de estar entre os
sassenachs novamente?
Claro que sinto sua falta, homem tolo.
Como poderia pensar o contrário? Minha
cama é muito mais fria e vazia que a sua,
garanto. Tenho acres de espaço disponíveis
e nenhum Highlander ocupando-o. Embora
seja adorável ver todo mundo, anseio por
estar de volta a Wildsyde contigo. Não
serão muitos dias, agora, porém, vou
compensá-lo por suportar minha ausência
tão bravamente. Prometo. Mande meu
amor e desculpas para a Sra. MacLeod e
Sheenagh e tente não os irritar.
—Trecho de uma carta da Sra. Ruth
Anderson para o Sr. Gordon Anderson.

STAFFORDSHIRE. ESTRADA PARA GRETNA GREEN.


14 DE ABRIL DE 1815.

Estavam a vários quilômetros de Leek, em Staffordshire, quando sua jornada


teve uma complicação.
— Por Deus! — disse Gabe, enquanto viam a cena caótica diante deles.
Houve um acidente que parecia envolver um jovem em um cabriolé, uma
carruagem sobrecarregada e um rebanho indignado de ovelhas. No centro de tudo
isso, o jovem de rosto vermelho estava debatendo calorosamente com o fazendeiro,
enquanto os dois passageiros da carruagem se revezavam para interpor suas
opiniões. A estrada estava totalmente bloqueada, e não parecia que pudessem
continuar, tão cedo.
— Teremos que encontrar outra maneira. — disse Helena, com um suspiro —
Eles parecem ter se acomodado em uma pequena e agradável discussão, e aquela
carruagem não irá a lugar algum. Está bloqueando a estrada e olhe para a maneira
como está inclinando para o lado.
Gabe assentiu, fazendo uma careta — O eixo, sem dúvida. Muito bem.
Helena observou com admiração, enquanto Gabe, com mãos de um
especialista, conduzia os cavalos até uma abertura no campo, onde os virou e os
colocou de volta no caminho por onde tinham vindo.
— Notei uma estrada aqui à esquerda, cerca de oitocentos metros atrás. Com
um pouco de sorte, podemos voltar à estrada em breve.
Ela assentiu, não se preocupando em expressar seu alarme por perder muito
tempo. Gabe estava tão ciente disso quanto ela, e falar sobre seus medos em voz
alta só os deixariam mais assustados. Assim que encontraram a estrada, que era
pouco mais do que um caminho lamacento, continuaram por vários quilômetros,
sem nenhum sinal de vida, Helena estava começando a se preocupar, quando viram
um homem andando pela estrada, com uma cesta de dentes-de-leão no braço.
— Oh, olhe, Gabe, vamos perguntar àquele sujeito.
Gabe balançou a cabeça — Não, está tudo bem, vamos continuar. Logo
alcançaremos algum povoado.
Helena bufou de frustração, quando Gabe apenas cumprimentou o sujeito e os
cavalos trotaram alegremente.
Mais três quilômetros de estrada vazia e nenhum sinal de civilização, Helena
começou a se preocupar e desejar que Gabe tivesse feito o que sugeriu.
— Oh, olhe. — disse ela, observando uma pequena nuvem de fumaça no
horizonte — Há uma casa de campo lá embaixo, naquela pequena trilha. Vamos
pedir informações para eles.
— Eu nunca vou conseguir levar os cavalos lá embaixo, é muito estreito. —
disse Gabe, balançando a cabeça.
— Bem, pare aqui e espere, vou descer e perguntar. — sugeriu.
Ele retornou um olhar incrédulo — Não vou enviá-la para esse deserto
sozinha. Só Deus sabe quais problemas poderá encontrar.
Helena revirou os olhos, impacientemente.
— Pelo amor de Deus, estamos em Staffordshire, não na selva africana. É
apenas uma pequena descida. — Helena gesticulou pelo caminho estreito, enquanto
o cabriolé passava por ele, enviando-lhe uma expressão suplicante que não o moveu
nem um pouco — Ora, muito bem. Vá e pergunta, eu fico com os cavalos.
Helena ficou em silêncio, enquanto a trilha desaparecia atrás deles. Cruzando
os braços, se virou para encará-lo — Gabriel Knight, se não parar e perguntar à
próxima pessoa onde estamos, eu vou…
— Vai fazer o quê? — ele perguntou, a diversão brilhando em seus olhos
escuros.
— Farei algo terrível. — ela retrucou.
Gabe riu — Sempre faz isso, de qualquer maneira.
— Oh! — Helena recostou-se, olhando diretamente à frente deles — Homens!
fumegou — Tudo o que tinha que fazer era perguntar onde, diabos, estamos, e qual
o caminho para Macclesfield.
— Eu sei onde estamos. — disse Gabe, perfeitamente plácido.
Helena fitou-lhe de olhos estreitos — Onde? — demandou.
— Aqui. — Gabe fez um gesto arrebatador, que abrangeu a vizinhança toda.
— Perdidos. — disse Helena, balançando a cabeça — É onde estamos.
Totalmente perdidos.
— Nós não estamos perdidos. — ele parecia indignado.
— Onde estamos?
— Nós estamos… — ele começou e depois pigarreou — temporariamente
desviados do caminho.
Helena bufou.
Um pouco mais adiante, na estrada, se depararam com um velho fazendeiro,
com um pônei e um carrinho, sua esposa sentada ao lado dele. A carroça estava
cheia de repolhos.
— Gabe! — Helena disse, desafiando-o a recusá-la, novamente. Antes que ele
pudesse decidir como responder, Helena saudou o casal que se aproximava — Boa
tarde!
Gabe murmurou de frustração, mas diminuiu a velocidade do cabriolé e parou
ao lado da carroça.
— Como vão? — disse o fazendeiro, considerando-os com pouco interesse.
Sua esposa acenou e pareceu prestar mais atenção à roupa elegante de Helena.
— Perdoe-me incomodá-los, mas gostaria de saber se poderiam nos ajudar. —
disse Helena, sorrindo docemente — Veja bem, estamos perdidos…
— Não estamos perdidos. — Gabe interrompeu, antes de explicar ao
fazendeiro com um ar de dignidade ofendida: — Tivemos que sair da estrada para
Macclesfield. Um acidente com uma carruagem bloqueou o caminho. Estamos no
rumo certo para retornar a ela?
— Deve ser o mais novo do Jebediah — murmurou a esposa, balançando a
cabeça — Sem dúvida, deve estar morto em uma vala.
Aquilo foi dito com pouca satisfação, Helena sentiu que precisava esclarecer o
assunto.
— Oh, ninguém ficou ferido. — disse, mas a esposa apenas suspirou.
— Disse a Jeb que o rapaz não se tornaria uma boa pessoa. O menino é um
tolo, correndo pela vizinhança, como se estivesse fugindo do próprio diabo.
— Sim. — disse o marido, que, então, cedeu ao silêncio, mais uma vez.
Helena olhou entre eles e hesitou. — Então, se puderem nos apontar a direção
certa?
Houve uma pausa prolongada, enquanto Helena olhava do fazendeiro para sua
esposa e voltava.
— Bem, — disse a mulher com um suspiro — eu não iria por aqui para
Macclesfield. — franziu os lábios, cruzando os braços com força sobre o peito
grande.
— Não. — disse o marido, aparentemente de acordo.
— Bem, não, nem nós teríamos, se a estrada não tivesse sido bloqueada. —
apontou Helena — Mas como estamos nessa estrada, para onde devemos ir agora?
A mulher encolheu os ombros — Continue em frente.
— Então este é o caminho certo? — Helena perguntou, aliviada.
— Não. — disse o marido.
— Não. — repetiu sua esposa — Mas está nela agora.
Helena ouviu um som sufocado de diversão ao lado dela e reprimiu o desejo
de dar uma cotovelada nas costelas de Gabe, o diabo. Respirou fundo.
— Sei disso, mas para onde devemos ir?
— Lá para cima. — disse a mulher, balançando a cabeça na direção de onde
vieram — Aquele é o caminho para Macclesfield.
— Eu sei, mas a estrada está bloqueada. — lembrou Helena.
— Sim. — disse o fazendeiro.
— Sim. — disse sua esposa com um encolher de ombros — Pena.
Helena olhou para eles com desconfiança, mas continuou, segurando sua
paciência — Então, se continuarmos nesse caminho, tendo em mente que queremos
alcançar a estrada para Macclesfield, do lado contrário ao acidente, para onde
vamos?
A mulher exalou um suspiro sofrido — Continue descendo a estrada.
Oitocentos metros depois do arroio, que fica após aquela fenda.
— Esse é o caminho para Macclesfield?
— Foi o que eu disse, não foi? — respondeu a mulher, impaciente agora.
Helena deu um sorriso incerto, sem ter certeza do que havia sido dito e
rezando para que pudessem descobrir — Muito bem, obrigada. Sinto muito por tê-
los incomodado.
— Por nada. — disse a mulher, acenando.
Gabe fez os cavalos se moverem novamente, quando Helena acenou para o
casal, se despedindo. O fazendeiro piscou para ela e inclinou o chapéu, rindo
suavemente enquanto saíam.
— Acho que estavam nos provocando. — disse Helena com reprovação,
recostando-se e virando-se para Gabe.
— Não me diga. — respondeu, seco como pó. Gabe olhou para o rosto
indignado dela e bufou — Amor, parece que acabou de sair de uma revista de
moda. Teria sido uma oportunidade muito boa para perder. Vão rir durante todo o
caminho para casa, não duvido.
Helena olhou para ele e cruzou os braços — Bem, pelo menos recebemos
algumas instruções.
Gabe assentiu, sua expressão plácida antes de perguntar: — O que é um
arroio?
Helena corou em resposta — Não tenho a menor ideia. — admitiu com
tristeza, e os dois começaram a rir.

Matilda fez o seu melhor para ficar para trás, enquanto o Sr. Richards e vários
amigos riam e conversavam animadamente, ganhando alguns olhares de reprovação
dos outros visitantes da exposição. Era um grupo alegre, incluindo três damas -
nenhuma com mais de vinte anos - uma acompanhante e três cavalheiros, dois dos
quais, certamente, poderiam ser descritos como dândis. Bonnie havia apresentado
todos, embora Matilda, agora, estivesse lutando para lembrar seus nomes e rezando
para que não precisasse se dirigir a nenhum deles diretamente. Não parecia
provável. As jovens estavam flertando e rindo com os cavalheiros, que estavam se
envaidecendo, ninguém parecia estar prestando a menor atenção às pinturas.
— Eles não são encantadores? — Louisa disse, olhando para o grupo animado,
com um sorriso indulgente.
— Encantadores. — concordou Matilda, desejando que eles estivessem do
outro lado da galeria, sentindo-se excêntrica e bastante velha em sua presença.
— Gosto de estar com os jovens, eles são tão revigorantes. — Louisa riu,
correndo atrás deles, enquanto passavam alegremente por uma bela pintura de
Joseph Turner.
Matilda parou onde estava, determinada a olhar para as pinturas e não
examinar os visitantes, em busca de um certo marquês.
— Receio que eles não sejam amantes da arte.
Matilda olhou para trás, surpresa ao descobrir que um dos jovens, aquele que
não aspirava ao dandismo, havia voltado para falar com ela.
— Nunca teria imaginado. — respondeu secamente, ganhando uma risada
alegre.
— Eles não são tão frívolos quanto parecem, mas gostam de entreter as jovens.
— disse o sujeito, com um toque de desculpa.
Ele corou, obviamente percebendo que Matilda não havia sido incluída nessa
descrição.
Matilda riu tristemente, descobrindo que não poderia ficar ofendida com a
falta de gracejo dele. Era tão terrivelmente jovem, era um doce e o olhar de
admiração óbvia que lhe lançava, não era indesejável, nas circunstâncias.
— São muito jovens e tolos e riem facilmente, foi tudo o que quis dizer. —
falou parecendo um pouco mortificado e claramente não se incluindo na descrição.
— Entendi muito bem, fique tranquilo. — disse Matilda, aliviando seu
desconforto.
— Meu nome é William Smythe, se a senhorita não se lembrar da introdução
anterior. Foi um pouco rápida demais.
Matilda assentiu, aliviada por ter um nome — Prazer em conhecê-lo, Sr.
Smythe. Sou Matilda Hunt.
— Eu sei. — disse ele, um tom reverente aparecendo em sua voz.
As sobrancelhas de Matilda se arquearam por vontade própria e ele corou
novamente.
— Digo… Conheço seu irmão, o Sr. Hunt. Sou membro do seu clube. — o
sujeito continuou apressado — Não quis dizer que ouvi falar da senhorita, quero
dizer, ouvi falar…
Era a vez de Matilda corar agora, pois sabia muito bem o que ele tinha ouvido.
— Não acreditei em nada. — continuou ele, forte demais — Acredito no que
seu irmão me disse, não que eu precisasse ouvir. Todos nós sabemos que Montagu é
um demônio, um demônio vil, sem compaixão, sem sentimentos. Ele a arruinou
porque podia e… e se eu estivesse lá…
Matilda abriu a boca para protestar, descobrindo que queria defender Lucian,
por mais estranho que parecesse — Senhor Smythe, realmente não é…
— O que teria feito?
A voz fria cortou as palavras acaloradas do Sr. Smythe, como uma lâmina bem
afiada, o jovem ficou com um tom horrível de branco.
Matilda se virou e viu Lucian parado atrás do Sr. Smythe, seu rosto, uma
máscara.
O Sr. Smythe olhou para o marquês, parecendo querer vomitar.
— Teria me casado com ela. — disse ele, com firmeza, depois se virou e foi
embora.
Matilda estava ciente demais de seu coração batendo forte, enquanto Lucian
observava o jovem se afastar.
— Ele a abandonou ao seu destino, Srta. Hunt. — Montagu observou,
voltando-se para ela, com sua expressão fria habitual, firmemente no lugar.
Matilda sorriu, apesar disso — Estava tentando o seu melhor para ser galante.
Foi terrivelmente corajoso da parte dele, na verdade.
— A senhorita poderia encorajá-lo. — disse, seu olhar sobre ela era tudo de
que sentia falta e ansiava, desde a última vez que o vira.
Essa intensidade de sentimento, a maneira como sua presença a fazia tão
apaixonadamente viva, fazia o resto de seus dias parecer maçante e triste em sua
ausência.
— Encorajá-lo a quê? — perguntou, confusa, tentando participar da conversa,
em vez de simplesmente observá-lo como uma tola.
Era impossível, porém, quando ele fazia todos os outros homens parecerem
uma pálida imitação do que era, com muita facilidade. Os dândis pareciam
garotinhos muito bem-vestidos, e nenhum dos outros homens poderia rivalizar com
a pura beleza masculina de Montagu, não importando a elegância de suas
vestimentas.
— Aquilo foi uma proposta de casamento, não foi?
Matilda deu uma risada assustada — Não acredito nem por um momento que
falasse a sério, eu não deveria entretê-lo, mesmo que estivesse sendo sério. Não
estou tão desesperada, a ponto de agarrar toda e qualquer oportunidade.
— William Smythe é um homem decente. — disse ele, e embora seu tom não
tivesse emoção, Matilda suspeitava que estivesse irritado — O pai dele é um
visconde. São uma boa perspectiva como família. Ele é gentil e obviamente a
admira. Não é isso o que a senhorita quer?
— O que eu quero é não discutir essa ideia ridícula com o senhor por mais um
minuto. — retrucou, voltando sua atenção para a pintura — Ele é muito jovem para
mim e admiração não é amor. Nunca o prenderia a um casamento assim, e
agradeceria se o senhor pudesse parar de imaginar que eu faria algo do gênero.
Ele ficou ao lado dela, em silêncio, por um bom momento, enquanto Matilda
fervia. Isso foi o que ganhou por ser tola o suficiente para vir aqui.
— Perdoe-me.
As palavras foram ditas tão suavemente, que ela quase não as ouviu.
— Por quê? — exigiu, olhando para ele.
Ele não respondeu, apenas olhou em sua direção, segurando seu olhar por um
momento, antes de se afastar novamente. Tudo, disseram seus olhos, mas Matilda
foi tola em pensar nisso.
Ainda assim, esperou por alguma explicação.
— Ciúme é uma emoção vil. — disse ele, e Matilda não pôde deixar de
reconhecer um pouco de prazer, ao saber que Lucian sentia ciúmes da atenção de
Smythe, mesmo que ele não tivesse direito.
Matilda o observou, enquanto ele voltava o olhar para a pintura, embora
pensasse que realmente não a estivesse vendo.
— Não deveria tê-la convidado para vir aqui. — parecia zangado, agora —
Não sei por que vim. Quando a senhorita não me respondeu, achei que não estaria
aqui, esta noite.
— Eu não viria. — admitiu Matilda — Lady St. Clair e a Sra. Cadogan
chegaram inesperadamente e insistiram muito que me juntasse ao grupo. Não
consegui me desvencilhar. Esperava que o senhor não estivesse aqui.
Ele assentiu — A senhorita estava certa. Qualquer amizade entre nós só pode
nos trazer sofrimento. Eu deveria ir. — ele disse, virando-se e Matilda sentiu um
choque de pânico.
— Não, espere. — amaldiçoou- se, quando ele parou. Deveria tê-lo deixado ir
embora, tinha acabado de concordar em deixá-la em paz, que não tinham futuro —
Não vá.
As palavras saíram de seus lábios sem que ela pensasse, ditas de seu coração,
sem se importar com as consequências.
— Por quê? — ele perguntou, sua voz baixa, a pergunta brilhando em seus
olhos prateados — A senhorita não quer nada do que ofereço, não viria à
exposição, disse também que esperava que eu não estivesse aqui. Sempre foi seu
desejo que eu parasse de persegui-la, todos esses meses, tinha certeza de que ficaria
feliz em se livrar de mim.
— Lucian. — sussurrou, seu nome era uma súplica, embora não soubesse se
para ir embora ou ficar…
Oh, como isso era impossível.
— Matilda. — ele se aproximou, o seu olhar fez o coração dela pular. Havia
algo esperançoso, vulnerável até.
— Meu Senhor Montagu.
Ele enrijeceu ao som de uma voz de mulher, virando-se, encontrou uma das
jovens do grupo de amigos de Bonnie. A recém-chegada cumprimentou Lucian. Ela
era linda, com cabelos escuros e olhos castanhos vivos, tão jovem e fresca quanto
sua companheira.
— Lady Constance. — Lucian respondeu, fazendo uma ligeira reverência.
— Recebi uma carta de Lady Astley, convidando mamãe e eu para Dern, na
próxima semana. Ela nos prometeu fielmente que o senhor estaria lá, para nos
mostrar a propriedade. Espero que não tenha a intenção de ficar na cidade.
Matilda viu imediatamente que Lucian estava bastante correto sobre sua tia-
avó, sobre a determinação de Lady Astley para vê-lo casado, e logo. Que ele não
sabia sobre esse arranjo, ficou claro para Matilda, ante a tensão repentina em sua
postura, embora fosse óbvio apenas para ela. Sua expressão era plácida, serena, e
Lady Constance não parecia assustada. Embora nunca a tivesse visto de perto,
Matilda conhecia Lady Constance Rivenhall, filha do duque de Sefton. Esta foi sua
primeira temporada e tinha dezenove anos. Ninguém esperava que precisasse de
muito tempo, antes de conseguir o maior prêmio da ton. Matilda percebeu que tinha
sido tola, de fato, por não ter considerado que seus olhos pudessem estar voltados
para Lucian.
— Eu tenho negócios na cidade, no momento. — ele respondeu,
educadamente, mas controlado — Se me permitir, ficaria encantado, naturalmente.
Lady Constance sorriu para ele, antes que seu olhar flutuasse para o lado e
encontrasse Matilda. Todo o calor drenou de sua expressão, em um instante, e ela se
voltou para sua companheira — Vamos, Letty. Mamãe vai se perguntar onde estou.
Matilda as observou se afastarem. Esse era o futuro de Lucian, disse a si
mesma, severamente. Uma criatura jovem, bela, impecavelmente criada, fresca e
fértil o suficiente, para lhe dar os herdeiros de que precisava. Se houvesse a menor
dúvida em sua mente, sobre a possibilidade de ser sua amante, enquanto ele se
casava com outra, foi destruída naquele momento. Nunca. Nunca. Nunca.
— Matilda.
Seu nome foi dito com urgência, mas não se virou, não reagiu. Precisava ir
embora, agora.
— Matilda, não organizei isso. Eu não sabia nada sobre isso…
— Eu sei. — disse, aliviada que sua voz permaneceu calma. Estava ficando
melhor em esconder sua dor, pelo menos. Isso já era alguma coisa — Vou para
casa, agora. Por um momento tinha esquecido, mas… Sim. Isso só nos trará
sofrimento.
— Matilda. — uma voz diferente desta vez e Matilda se virou, em desespero,
para descobrir Bonnie atrás dela — Está tudo bem? — ela perguntou, olhando para
o marquês, ansiosa.
— Sim, muito bem. — disse Matilda, brilhantemente.
Ela se virou para Lucian, com a intenção de se despedir dele, quando uma voz
familiar chamou seu nome. Ora, não conseguiriam nenhum momento sem
interrupções? Ele olhou para cima e, se Matilda não o estivesse observando tão de
perto, poderia não ter visto o choque em seus olhos. Choque e o que parecia, por
um momento, como terror cego.
— Lucian, meu querido menino. Bem, isso é o destino, eu acredito. Como é
maravilhoso vê-lo depois de todos esses anos. Ah, faz bem ao meu velho coração
vê-lo novamente.
A cabeça de Matilda se virou e viu Theodore Barrington, tio de Lucian,
aproximando-se deles, com Lady St. Clair no braço. Estava radiante olhando para
Lucian, uma expressão de prazer em seu rosto jovial. Ele soltou o braço de Lady St.
Clair e estendeu as mãos para Lucian, em um gesto de calor e saudação, enquanto
se aproximava do sobrinho.
Matilda sentiu uma sensação doentia rastejar sobre ela, quando notou Lucian
dar um passo para trás. Ele ficou rígido, sua pele pálida como alabastro, drenada de
toda cor.
— Ah, meu garoto. — disse o Sr. Barrington, com o rosto cheio de tristeza —
Não queria me deparar contigo tão inesperadamente. Sei que deve estar surpreso,
mas não podemos deixar o passado para trás? Desejei tanto vê-lo novamente, para
recuperar o que perdemos. Só restam nós dois agora, afinal. Os últimos dos
Barringtons, salvo a querida Marguerite e a pequena Phoebe.
Lucian parecia estar congelado, olhando para o tio como se tivesse visto um
fantasma. Matilda ansiava por alcançá-lo, pegar sua mão. Não entendia o que havia
entre os dois homens, mas que isso afligia Lucian, era claro o suficiente para ela.
Sem dúvida, todos os outros que olhavam, viam o altivo e gelado marquês em
evidência, a julgar apenas por sua postura rígida, mas Matilda tinha presenciado sua
reação, reconhecidamente uma que nunca teria acreditado, se não tivesse
testemunhado com seus próprios olhos.
Para seu horror, a situação só piorou, quando o Sr. Barrington se virou para ela
e disse com uma expressão aliviada — Ah, mas aqui está a Srta. Hunt. Que bom vê-
la, mais uma vez. Talvez eu possa prevalecer sobre a senhorita novamente, para
persuadir meu sobrinho a suavizar seu coração em relação ao seu velho tio, e deixar
o passado para trás?
Os olhos de Lucian se voltaram para os dela, seu olhar expressando a total
traição sofrida, colorindo a prata, por um breve momento, antes que se virasse e
fosse embora.
Houve suspiros de choque de todos que assistiram, enquanto ele ignorava o tio
e se afastava, sem olhar para trás.
— Ah, bem! — disse o Sr. Barrington, com um suspiro pesado — Não deveria
ter esperado o contrário, mas… — pegou um lenço e enxugou os olhos, antes de
dar a Lady St. Clair um sorriso triste, sua voz tremendo um pouco, enquanto dizia:
— Perdoe um velho tolo, milady.
— Bobagem. — disse Lady St. Clair, acariciando seu braço — É uma pena
terrível. Sinto muito, Sr. Barrington.
Houve murmúrios de concordância do restante do grupo, que presenciou a
recepção gelada que ele recebeu. Todos confortaram o pobre Sr. Barrington,
assegurando-lhe que sabiam que Montagu era um demônio sem coração, e que ele
não era culpado. O marquês era orgulhoso demais, frio demais, para agir como um
ser humano decente.
Matilda ficou observando o Sr. Barrington, e foi incapaz de se livrar da
expressão de Lucian, quando viu seu tio pela primeira vez, assim como, da
expressão em seus olhos, que dizia acreditar que ela o havia traído de alguma
forma. E ela tinha. O Sr. Barrington era desonesto. Viu isso agora, muito
claramente. Nunca pediu para que intercedesse em seu nome junto a Montagu,
apenas a alertou. Embora não tivesse a intenção, nem pretendesse, foi forçada a
manter um segredo que não queria e agora…
Ah, meu Deus. Mas o que foi que aconteceu?
19
Querida Minerva,
Estamos de volta à cidade, para a
temporada. Podem jantar conosco em
breve? Jasper está ausente no momento -
explicarei tudo quando estivermos reunidos
- mas ficaria muito feliz em vê-los quando
voltar. Jasper promete se comportar e
talvez consiga extrair uma promessa
semelhante do seu marido. Além disso,
tenho algumas boas notícias. Queria
esperar até vê-la, mas vou explodir se não
der uma pista, pelo menos. A razão pela
qual voltamos a Holbrooke, foi para visitar
o médico da família. Suspeito que possa
imaginar o motivo…
Espero que tenham gostado dos livros
que enviei. Por favor, mostre Óptica de
Isaac Newton para Inigo, pois sei que ele
vai gostar. É uma edição muito rara, então,
receio que irei apenas emprestá-la, mas
acredito que vão achar interessante.
—Trecho de uma carta de Harriet
Cadogan, Condessa St. Clair, para a Sra.
Minerva de Beauvoir.

STAFFORDSHIRE. ESTRADA PARA GRETNA GREEN.


14 DE ABRIL DE 1815.

Finalmente encontraram a estrada para Macclesfield, tendo deduzido que um


arroio era, provavelmente, um riacho, e a curva à direita foi encontrada pouco
depois. Perderam muito tempo, no entanto, e suas esperanças de chegar em
Manchester antes do anoitecer diminuíram rapidamente, à medida que as nuvens
escuras se aproximavam, com uma velocidade alarmante.
— Acho que nossa sorte com o clima está prestes a acabar. — disse Helena,
olhando para o céu, cada vez mais escuro, com receio.
— Maldição! — Gabe praguejou — De novo não. Por que não chove quando
estivermos próximos a uma maldita pousada? Não quero que fique encharcada de
novo. Vai pegar uma maldita pneumonia desta vez, não duvido.
— Não seja bobo! — disse Helena, tentando acalmá-lo e franzindo a testa,
enquanto ele guiava o cabriolé para fora da estrada, em direção ao campo. — Não
sou uma criatura tão frágil assim, mas… para onde está indo?
Gabe acenou para um velho celeiro — Vamos nos abrigar. Com sorte, a chuva
não vai demorar, podemos continuar, assim que parar.
Helena teve que elogiar seu julgamento, pois eles haviam acabado de ajeitar os
cavalos e tomar abrigo, quando os céus se abriram.
— Que lindo dia de primavera. — disse ela, com um suspiro, enquanto Gabe
fechava a porta do celeiro. Tremendo, um pouco, envolveu os braços em torno de si
mesma.
— Sinto muito, amor, está com frio? — Gabe veio até ela, tirou o casaco e
colocou sobre seus ombros — Não foi uma boa ideia pegar o cabriolé. Se eu tivesse
trazido a carruagem, não teríamos que parar e estaria quente e seca.
— Ainda estaríamos tendo essa discussão, é o que quer dizer. — ela voltou,
balançando a cabeça — Não se desculpe, Gabe. Estou me divertindo muito, de
verdade.
Gabe lhe deu um olhar duvidoso e ela riu, aproximou-se dele e colocou a
cabeça sobre seu peito — É romântico. — insistiu.
— Romântico? — ele franziu uma sobrancelha.
— É claro. Estamos fugindo, forçados a nos abrigar da tempestade em um
celeiro, no meio do nada, sozinhos.
Os lábios de Gabe se curvaram — Bem, quando se colocam as coisas assim…
Embora, acho que ficaria mais convencido, se seus dentes não estivessem batendo.
— Então é melhor me aquecer. — disse ela, rindo e olhando ao redor do
celeiro, em busca de um lugar para ficar confortável. Gesticulou em direção a uma
escada duvidosa que levava ao palheiro acima e sorriu — Ali, é perfeito.
Gabe gemeu de consternação, mas a ajudou a se levantar, antes de voltar-se
para a cesta de piquenique e o cobertor. Espalhou o cobertor sobre o feno, assim
como a cesta com as sobras do almoço, resignados com o fato de que o jantar,
estava parecendo cada vez mais improvável. Quando terminaram, a tempestade não
mostrava sinais de diminuir e o céu estava ficando ainda mais escuro.
— Mas que maldição, acho que vamos ficar presos aqui por uma noite. —
disse ele, com um tom de desculpa em sua voz.
Helena riu e se deitou no cobertor — Que terrível.
— Pare de tentar me seduzir. — resmungou Gabe, cruzando os braços e
desviando o olhar dela.
— Eu só disse ‘que terrível’. — Helena riu, colocando um braço atrás da
cabeça e admirando a vista das suas costas, seus ombros largos e os grossos cabelos
escuros, que caíam pouco antes de seu colarinho.
— Foi a maneira como disse, sua criatura provocadora. Sensual e convidativa.
Poderia muito bem ter dito oh, Gabe, venha aqui e me seduza. Eu não vou, espero
que saiba. Tenho mais força de vontade do que imagina. Ainda será virgem na sua
noite de núpcias, Helena, então colabore.
Helena mordeu o lábio, tentando não rir. Pobrezinho.
— Eu sei, Gabe. — disse, lutando para manter a voz firme — Está tudo bem,
eu entendo.
— Está rindo? — ele exigiu, virando para encará-la.
— N-não! — disse, tentando o seu melhor para manter uma cara séria — Oh,
não, Gabe, eu não…
Ele estreitou os olhos para ela, antes de se virar novamente, e Helena colocou
a mão sobre a boca. Não pretendia provocá-lo. Suas intenções eram admiráveis,
embora frustrantes, mas era tão lindo quando ficava irritado.
Ele soltou um suspiro irritado.
— Gabe. — disse, suavemente — deite-se. — com toda a seriedade — Estou
com frio.
Ela puxou sua pelisse, que havia tirado para usar como cobertor.
Ele se virou novamente, um brilho suspeito em seus olhos por um momento,
antes de se suavizarem — Certo, então. Não quero minha noiva com o nariz
vermelho na nossa noite de núpcias.
— Que galante! — disse ela, fazendo um movimento vibrante com a mão
sobre o coração.
— E não se esqueça disso. — rebateu, sorrindo.
Ainda assim, ela se aconchegou alegremente contra ele, relaxando em seu
calor.
— Acha que Tilly convenceu todo mundo que eu estava doente? — ela
perguntou, incapaz de não se preocupar, apesar de sua felicidade.
Gabe acariciou o cabelo dela, o que foi calmante e a fez querer ronronar como
um felino — Não há como saber, mas acredito que Tilly faria qualquer coisa para
ajudá-la, então, certamente, fez tudo que era necessário.
— E o Sr. Chapel, cuidará dela, se algo acontecer?
Ele riu — Ah, sim. Ele vai.
Helena se sentou — Gabriel Knight, o que quer dizer com isso?
— Nada. — protestou — Só que Francis está bastante distraído. Tive que
repreendê-lo várias vezes ultimamente por sonhar acordado, quando deveria estar
trabalhando, e não tenho dúvida de quem é a culpa.
— Ele disse alguma coisa? — demandou.
— Disse que gostava de uma mulher que conhecia sua própria mente, e a
maneira como os olhos da jovem brilharam, quando ela o repreendeu severamente.
Helena riu, encantada.
— Não seria adorável se eles se entendessem ao mesmo tempo que nós? Que
perfeito! — então seu sorriso desapareceu, enquanto considerava — Ele é honrado,
Gabe? Não é o tipo de homem que vai brincar com os sentimentos dela?
Gabe olhou para ela e assentiu — Sim, querida. Ele é um homem decente.
Acredito que suas intenções sejam honrosas e confio nele, mas prometo que o farei
se arrepender, se não forem.
Com isso, Helena ficou satisfeita, se deitou novamente e suspirou.
— O que foi? — ela balançou a cabeça e Gabe se inclinou para o lado,
olhando para ela — Conte-me.
— Só queria que já estivéssemos casados. — disse ela, com mais um suspiro
— Gostaria que Robert não ficasse tão bravo, que não tivéssemos que nos justificar,
que o mundo cuidasse de seus próprios negócios.
— Helena, nasceu com privilégios e pessoas que se importam muito. São duas
coisas maravilhosas, mas elas vêm com seus fardos.
— Sim. — disse, estendendo a mão para tocar seu rosto — Mas por que todos
devem julgá-lo tão duramente?
Ele riu um pouco — Sou culpado da metade disso. Ressenti-me das pessoas da
sua estirpe e nem sempre me preocupei em esconder isso. Nem sempre fui político
em minhas opiniões. Sei como me comportar bem o suficiente, mas, às vezes, não
consigo resistir em ser impetuoso e franco. Não sou nenhum anjo, amor. Sabe disso,
e embora me deixe furioso que Bedwin não me dê uma chance, não é como se eu
não soubesse que ele a estava protegendo.
— O que fará se ele retirar o apoio ao seu projeto? — Gabe deu de ombros.
— Encontrarei outra maneira, embora não me arrependa, se isso nunca
acontecer. — sorriu e se inclinou, beijando o nariz dela — Torná-la minha esposa,
foi, de longe, a melhor conquista que já tive.
— Obrigada.
— É verdade, mas não me preocuparia. Se conseguirmos, ele vai querer
restringir o escândalo. Não terá escolha a não ser me receber na família, pelo menos
em público.
Helena ficou quieta, franzindo a testa, Gabe colocou a mão sob o queixo dela,
inclinando seu rosto para o dele.
— Não vou me casar consigo pelo que seu título pode me trazer, Helena, nem
pelo apoio e influência de seu irmão. Juro, amor, pela minha vida. Se quiser que eu
prove, vou esquecer o projeto da ferrovia e nunca mais pensarei nisso.
Helena bufou e empurrou seu peito. — Não estava pensando nisso! —
exclamou, chateada que Gabe considerasse tal coisa — Não preciso que prove
nada. Quero apenas que Robert goste de você e que lhe dê uma chance. Acho que
se dariam bem, se ele tivesse tempo para conhecê-lo. Robert realmente não é tão
almofadinha e esnobe como pode ter aparentado. Como disse, meu irmão estava me
protegendo.
— Vou dar a ele a chance de provar isso para mim, não se preocupe. — disse,
com um sorriso irônico — Agora, é melhor dormir um pouco. Devemos partir à
primeira luz do dia, para ter uma chance de recuperar o tempo que perdemos com
essa tempestade.
Helena suspirou e olhou para ele, seu rosto sombreado na escuridão do celeiro.
— Não vou dormir, a menos que me dê um beijo de boa noite.
Houve uma breve hesitação, antes que Gabe baixasse a cabeça e desse um
beijo suave em sua boca e se afastasse.
— Somente isso? — Helena exigiu. Deslizou os braços em volta de seu
pescoço e o puxou de volta, para baixo — Não consegue fazer melhor?
— Claro que consigo! — disse, com um bufo — Simplesmente não me atrevo.
— Gabe. — disse, puxando seu pescoço novamente — Gabe.
Havia uma qualidade distintamente chorosa na voz de Helena, agora. Gabe riu,
inclinando-se e pressionando sua boca contra a dela, novamente. Desta vez a beijou
apropriada e profundamente, puxando-a para perto, até que seus corpos estivessem
colados e o calor subisse entre eles, então o danado a soltou.
— Gabe!
— Não! — disse ele, severo, embora houvesse uma nota tensa em sua voz —
Vá dormir.
— Mas…
— Não!
Helena bufou, mas assentiu.
— Não fique de mau humor, amor. — sussurrou, se acomodando atrás dela,
para que seu peito ficasse unido às costas de Helena — Vou mantê-la aquecida e, de
manhã, começaremos cedo. Prometo que, assim que nos casarmos, terá muito
trabalho para me manter longe. Se eu fosse você, aproveitaria o descanso e dormiria
um pouco.
Ligeiramente acalmada por suas palavras, Helena suspirou e se aconchegou de
volta, pressionando contra seu calor e fechando os olhos.

Gabe gemeu interiormente, enquanto o corpo macio de Helena pressionava


contra o dele. Fez o possível para pensar em seus investimentos, balanços e
qualquer outra coisa que pudesse esfriar seu ardor. Nada funcionou, então resignou-
se a uma noite em claro.
Em algum momento deve ter cochilado, pois vagou no sonho mais feliz. O
doce aroma de feno estava sobre ele, quente e confortável. Muito confortável,
percebeu, ao notar um volume suavemente arredondado, aninhado íntima e
comodamente contra sua excitação matinal. A palma de sua mão foi igualmente
abençoada, tendo encontrado o monte quente de um seio delicioso. Suspirou alegre,
muito satisfeito em sonhar com Helena, e pressionou-se ainda mais contra o
delicioso traseiro. Ela se contorceu convidativamente e Gabe gemeu, acordando e
descobrindo que estava dormindo em um palheiro, e que não estava sonhando com
Helena, mas envolvendo-a completamente. O desejo o atingiu com força e rapidez,
e rezou para que Helena estivesse dormindo, para que ele tivesse a chance de se
recompor, sem se comportar como um canalha. Quando a mão dela deslizou sobre a
dele, pressionando-a com mais força contra o seio, essas esperanças murcharam
totalmente.
— Helena. — disse, sua voz baixa e grave, e doendo com a necessidade, em
vez de se encher com a severa nota de reprovação que pretendia usar.
Ela suspirou em resposta, e Gabe sentiu o mamilo, sob a palma de sua mão,
apertar em um pequeno botão duro. Impossibilitado de lutar contra a crescente maré
de luxúria, ele apertou seu seio, acariciando o pequeno pico suavemente, satisfeito
com sua respiração aguda. Bem, apenas uma pequena amostra não faria mal,
certamente. Iriam se casar, afinal, e não precisava tomar a virtude de Helena ali,
naquele palheiro, mas poderia provar apenas um pouquinho…
Gabe puxou o decote do vestido soltando-o de um ombro, apenas o suficiente
para deixar o seio descoberto. Ela soltou um suspiro, quando a mão de Gabe
encontrou a seda quente de sua pele e a acariciou, apertando e massageando.
Virando-a de costas, capturou o broto doce com a boca, todo o seu corpo vivo, com
necessidade, ao ouvir o gemido suave de Helena. Ela enfiou as mãos no cabelo
dele, segurando-o. Não que ele precisasse de mais algum incentivo. A mão de Gabe
deslizou pela cintura de Helena, pela curva do quadril e da coxa, até que ele
pudesse agarrar o material de suas saias, puxando-as para cima e deslizando por
baixo. Dedos impacientes se moveram sobre suas meias, avançando, até chegarem
à liga e ao delicado calor de sua parte interna da coxa. A respiração de Gabe ficou
presa e ele se acalmou, enquanto procurava os cachos sedosos entre as pernas dela e
os roçava suavemente.
Helena ofegou e ele ergueu a cabeça, olhando-a. O celeiro estava escuro, com
os primeiros toques de luz do dia, e encontrou seus olhos verdes brilhantes e vivos
de curiosidade.
— Bom dia. — disse ela, um sorriso travesso brincando nos cantos da boca.
— A melhor manhã da minha vida, até agora. — ele corrigiu, abaixando a
cabeça para mordiscar sua pele.
Ela riu, um som que fez seu coração se sentir leve, que o fez se sentir o sujeito
mais sortudo do mundo inteiro, mesmo que estivesse longe de merecer. Gabe a
tocou novamente, procurando a pequena pérola de carne, escondida sob os cachos,
com um toque delicado. A respiração de Helena ficou presa, seus olhos se
arregalaram e ele sorriu. Isso, lhe daria prazer, seria seu presente para os dois, uma
promessa diante desta jornada interminável para Gretna Green. Não que ele não
estivesse saboreando cada momento em sua companhia. Era só que o medo o
perseguia, o medo de que pudesse falhar, Helena seria tirada dele, antes que
pudesse torná-la sua para sempre.
Ele a acariciou com cuidado, construindo lentamente o prazer, observando a
cor manchar suas bochechas, como o rubor de um nascer do sol em uma manhã de
verão.
— Gabe. — disse ela, sem fôlego agora, agarrando seus braços.
— Isso, assim minha bela menina. — ele murmurou, provocando-a com a
língua e os dentes, enquanto sua respiração se tornava cada vez mais irregular. Seu
corpo se apertou, tremendo, e então um prazer avassalador tomou conta dela. Os
sons suaves que ela fez foram quase o suficiente para enviá-lo ao limite e ele
prendeu a respiração, forçando seu corpo a se comportar e não a desonrar, mesmo
que estivesse sendo duramente testado.
Graças a Deus, ele pensou, ousando respirar novamente, enquanto Helena
estava dócil e saciada, os olhos fechados e um leve sorriso curvando sua boca,
fazendo-a parecer tão presunçosa quanto um gato exposto ao sol.
— Obrigado, querida. — ele sussurrou, tocando suavemente seus lábios nos
dela — Essa é uma memória que vou levar para o meu túmulo.
— Ah, mas Gabe… — ela protestou, os olhos se abrindo, um pouco
nebulosos, e focando nele — Não é justo. Não…
— Não! — ele disse, entrando em pânico, quando ela o alcançou — Não. —
repetiu, rindo agora, enquanto Helena avançava, agarrando-o e tentando puxá-lo
para baixo na palha.
Os dois gritaram e riram quando Helena começou a fazer cócegas nele, até que
o som de uma garganta pigarreando os fez congelar.
No momento em que perceberam que tinham audiência, Helena deu um grito e
Gabe agarrou sua pelisse, jogando-a sobre ela, virando-se para o sujeito corpulento,
parado no topo da escada, que olhava para eles com as sobrancelhas grisalhas e
grossas arqueadas.
— O que é isso tudo? — o homem exigiu, não sem razão, supondo que fosse
seu celeiro, embora Gabe achasse a resposta bastante óbvia.
Ele limpou a garganta — Perdão, senhor. Fomos pegos pela tempestade,
ontem à noite, e paramos aqui para nos abrigar. Estava muito escuro para continuar,
então dormimos aqui. Nós não pretendemos fazer mal e vou reembolsá-lo de bom
grado pelo abrigo da noite.
— Sim? — o sujeito olhou para eles, enxergando as roupas finas de Gabe, sem
dúvida, embora esperasse que o homem não pudesse ver muito de Helena.
— Sim, claro. Pagaria muito bem se o senhor incluísse um café da manhã
decente, também. — acrescentou Gabe, esperançoso.
O sujeito bufou e deu um aceno de cabeça — Tudo bem, então, mas quero
receber primeiro, obrigado.
Ele desceu a escada e Gabe deu um suspiro de alívio. Voltando-se para Helena,
a encontrou vermelha de mortificação.
— Acha que ele… que ele ouviu? — ela sussurrou — Sabe, antes…
Parecia tão nervosa, que Gabe não pode fazer nada, além de lhe dar um beijo
na testa e abraçá-la.
— Não, tenho certeza de que não. — disse, calmamente — Agora, arrume-se e
vamos tomar o café da manhã e seguir nosso caminho.
Gabe manteve sua palavra e pagou generosamente, pensando com pesar que
uma noite no Claridge’s não lhe custaria muito mais do que uma cama e o café da
manhã em um palheiro. Ainda assim, o fazendeiro, o Sr. Simcox, ficou satisfeito -
como bem poderia estar - os levou para sua casa com ele, e sua esposa os alimentou
com pratos transbordantes de ovos, bacon e fatias grossas de pão. O Sr. Simcox
também foi bom o suficiente para ver que os cavalos estavam bem cuidados,
enquanto Helena fazia uso do quarto da Sra. Simcox para se lavar e trocar, ficando
apresentável.
Gabe sentiu seu coração dar um sobressalto estranho quando Helena voltou
para a cozinha, parecendo tão fresca e adorável como sempre. Por um momento, ele
só pôde olhar para ela, lembrando daqueles momentos no celeiro, com Helena
esticada na palha, quando o prazer a alcançou.
— Gretna Green, não é?
A cabeça de Gabe se ergueu para encontrar a figura confortavelmente
arredondada da Sra. Simcox olhando para eles, com diversão.
— Sim, contamos com isso. — disse ela, rindo — Oh, não pareça tão
perturbado. Não diremos nada a ninguém. Nós fomos fugitivos uma vez, vê,
embora possa achar isso difícil de acreditar. Acontece que me lembro como era, e
posso ver que este vale a pena.
A Sra. Simcox assentiu na direção de Gabe, e ele sentiu seu pescoço ficar
quente.
— É muito gentil, Sra. Simcox, obrigada. — disse Helena, sorrindo — Receio
que meu irmão não aprove a união, mas…, mas não podemos deixar que ele nos
separe.
A Sra. Simcox deu um suspiro feliz e pressionou a mão em seu coração — Oh,
desejo que sejam felizes. Se a união for metade tão boa quanto a minha e de Alfred,
são realmente abençoados. Criamos cinco filhos, todos crescidos agora, mas nunca
nos arrependemos de nossa decisão, nem por um momento.
Helena olhou para Gabe e sorriu, seus olhos continham as mesmas emoções.
Gabe se perguntou o que ela viu. Sentiu como se seu coração tivesse sido removido
de seu peito e colocado diante dela, exposto e vulnerável.
Quando eles estavam prontos para irem embora, Gabe ficou comovido ao
descobrir que a boa senhora havia embalado uma cesta para eles, fez questão de
deixar um presente extra, em agradecimento, na mesa da cozinha, a senhora
protestou, afirmando que tinha sido um prazer e que não queria pagamento por isso.
Partiram novamente, impulsionados pelos bons desejos do casal para o seu
futuro e determinados a compensar o tempo perdido. Gabe ficou aliviado ao
descobrir que não estavam tão longe de Manchester quanto temiam e, com o dia
prometendo tempo seco, se não o lindo sol da manhã anterior, esperava que
continuassem sua jornada sem problemas.
20
Lucian,
Preciso falar com o senhor. Dê-me
uma chance para explicar. Pode me visitar
esta tarde?
—Trecho de uma carta da Srta.
Matilda Hunt para O Mais Honorável,
Lucian Barrington, Marquês de Montagu.

SOUTH AUDLEY STREET, LONDRES.


15 DE ABRIL DE 1815.

Matilda olhou pela janela da frente, vigiando a rua, em vão. Estava ficando
tarde e ainda não havia sinal de Lucian. Não viria. Seu coração apertou. Embora
soubesse que nada de bom poderia resultar dos dois juntos, não podia deixar as
coisas terminarem daquela maneira. Não podia deixá-lo acreditar que havia
escolhido ficar do lado de seu tio. Não sabia qual era a causa da animosidade entre
os dois, agora até duvidava que o que viu nos olhos de Lucian fosse medo. Era mais
provável que fosse apenas choque, ao ver alguém que acreditava estar do outro lado
do mundo. Lembrou-se do tio de Montagu dizendo que temia Lucian, pois havia
tentado matá-lo, mas cumprimentou seu sobrinho em público, como se estivesse
esperando por uma reconciliação. Não fazia sentido. Tudo o que sabia, era que
devia falar com Lucian, explicar as circunstâncias de seu encontro com o Sr.
Barrington e afirma-lhe que não confiava nem um pouco no sujeito.
Ele pareceu tão caloroso, genuíno e gentil, ainda assim, as coisas que disse a
uma estranha sobre um de seus parentes mais próximos, eram mais do que desleais,
eram prejudiciais. Suas ações do dia anterior também causaram danos, não
duvidava que a ton estivesse atiçada com fofocas, com todos difamando o
orgulhoso marquês, por rejeitar seu pobre e afetuoso tio. E o pior, Lucian havia
criado situações nas quais as pessoas poderiam acreditar, que tudo sobre ele era
realmente verdade. Mantinha-se afastado da sociedade e tratava com pouca
civilidade qualquer um que ousasse lhe dirigir a palavra. Exercia um poder
indescritível e não era avesso a usá-lo. Sem dúvida, era um homem com inimigos,
mas sem nenhum amigo. Quem o defenderia agora?
Ninguém.
Matilda mordeu o lábio, incapaz de decidir o que fazer para o melhor. Tudo o
que podia fazer agora era escrever para ele novamente, talvez se explicasse na
carta.
Olhou para cima ao ouvir uma batida na porta da sala e prendeu a respiração,
quando seu mordomo apareceu. Ficou consternada com a profundidade de sua
própria decepção ao perceber que este estava sozinho.
— Isso chegou para a senhorita. — disse ele, segurando uma bandeja de prata,
com uma carta em cima.
— Obrigada. — Matilda arrancou a carta da bandeja e esperou até que o
mordomo saísse, antes de quebrar o selo.
Querida Srta. Hunt,
Alguma coisa está terrivelmente errada. Estamos voltando para Dern, às
pressas. Não entendo o que aconteceu, já que iríamos ficar na cidade para a
temporada, mas o tio está muito inquieto. Algo o aborreceu profundamente, eu sei,
mas não posso ajudar ou fazer qualquer outra coisa. Ele me diz que não há nada a
temer e que não devo me preocupar, mas estou preocupada. Não está me dizendo a
verdade, então, deve ser algo muito ruim, porque nunca mente para mim, mesmo
quando não é bom. Não sei o que fazer. Por favor, Srta. Hunt, sei que não deveria
pedir, mas a senhorita poderia vir?
Sua amiga,
Phoebe Barrington.
Matilda ficou fitando a carta. Era pior do que imaginava. Pobre Phoebe. A
angústia da criança saltava da folha, a escrita quase ilegível. Mas… ir até ele… até
sua casa. Se alguém a visse…
A carta que segurava tremia em suas mãos e sabia que tinha que tomar uma
decisão. Phoebe precisava dela. A menina estava com medo por seu tio e precisava
de uma amiga. Lucian também necessitava de uma amiga. Se uma das Senhoritas
Peculiares estivesse em apuros, teria ido até ela sem hesitação, não importava o
motivo. Havia oferecido a Lucian sua amizade, e não a retiraria agora. Não poderia
haver futuro para eles, mas não o abandonaria, se precisasse dela. Movendo-se
rapidamente, guardou a carta e pediu que sua carruagem fosse preparada
imediatamente. No momento em que chegou à sua porta, o veículo já estava
esperando. Matilda desceu apressadamente os degraus, dando instruções ao
cocheiro para que a levasse até St. James, o mais rápido possível.
Apenas dez minutos depois, Matilda estava em frente ao casarão e subiu o
capuz, antes de descer da carruagem e correr para as escadas.
Foi recebida por um mordomo, rígido e formal, que lhe informou que Lorde
Montagu e a Srta. Barrington tinham partido para o campo. Não chegou a tempo.
Deviam ter saído momentos antes, Phoebe deve ter rabiscado aquele bilhete na
esperança de que com isto pudesse atrasá-los, o tempo suficiente até que Matilda
chegasse. A pequena esperou em vão. Desesperadamente desapontada, Matilda
voltou para sua carruagem e foi para casa.

16 DE ABRIL DE 1815. CUMBRIA. ESTRADA PARA GRETNA GREEN.


— Está certa disso? — Gabe perguntou, enquanto o estalajadeiro os guiava
pelas salas públicas, para a única mesa que restava.
Ainda estavam a quatro horas de Carlisle, esperava avançar e chegar a Gretna
Green ao anoitecer — Absolutamente certa, pare de se preocupar. — disse Helena,
inesgotável e alegre, apesar das dificuldades do dia.
Suas botas e saias elegantes estavam salpicadas de lama, e suas bochechas
estavam coradas de um dia passado fora, com um vento frio esfriando o sol fraco.
Gabe pensou que nunca parecera tão bonita. Era, no entanto, a filha de um duque, e
a estalagem não era a mais limpa em que já esteve e, certamente, não do tipo
frequentado pela ton. O estalajadeiro estava mostrando a ambos, neste momento, a
mesa que compartilhariam com dois trabalhadores agrícolas. Para seu alívio,
Helena parecia apenas intrigada, mas se Bedwin descobrisse, faria com que Gabe
tomasse uma surra, fosse esquartejado ou enforcado, sem mencionar baleado.
Os dois homens, um de cabelos e barba ruivas, os dentes segurando um
cachimbo de barro, e o outro careca como uma galinha d’água, olharam com
espanto, enquanto a imagem da beldade se sentava diante deles.
— Perdoe-me por invadir. — ela disse, cordata, concedendo um sorriso
deslumbrante ao par, o que fez com que ambos parecessem ter sido atingidos por
um objeto pesado e contundente. Gabe simpatizou com eles, pois sabia exatamente
como se sentiam afetados — Receio que esta seja a única mesa que resta e estou
faminta.
Os dois homens fizeram sons que pareciam acolhedores, olhando para ambos
com óbvia curiosidade, assim, Gabe relaxou. Depois de uma breve conversa,
parecia que os companheiros estavam esperando por sua própria refeição há algum
tempo, mas estavam resignados a fazê-lo, afinal, o serviço no local não era dos
melhores. Sendo esse o caso, o careca pegou um baralho de cartas e sugeriu um
jogo. Gabe recusou, educadamente, ciente da possibilidade de ser roubado por um
morador local e não ter força para se apoiar, se protestasse em seu território.
Helena, no entanto, aceitou, antes que ele pudesse impedi-la.
Quinze moedas, Helena sentia-se destemida, embora pudesse se dar ao luxo de
perder e seus novos amigos ficaram encantados com ela. O sujeito ruivo começou a
mostrar-lhe um truque de mágica, pegou uma moeda e a fez desaparecer. Em
particular, Gabe pensou que ele estava fazendo as moedas desaparecerem rápido o
suficiente, sem qualquer ajuda, mas estava muito entretido para protestar. Fascinada
pelo truque de mágica, Helena fez o possível para copiar os movimentos rápidos do
homem, mas a moeda continuou reaparecendo, com barulho, ao cair de sua manga,
no momento crucial.
— Maldição! — ela disse, bufando de aborrecimento, quando a moeda, mais
uma vez, caiu sobre a mesa — Caiu de novo.
— Sim. — disse o ruivo - John Mumberston - rindo e soprando nuvens de
fumaça.
— Ensine-me outra coisa. — disse ela, devolvendo-lhe a moeda — Pois
parece que não comeremos tão cedo.
— Vou ensinar a contar. — ele ofereceu, sorrindo.
Helena parecia perplexa, até que lhe foi explicado que tinham seu próprio
método de contar ovelhas. Intrigada, ela ouviu e repetiu, até que pudesse fazer
sozinha.
— Yan, tan, tethera, methera, chulo, sethera, lethera, hothera, dothera, dick!
Isso lhe rendeu uma salva de palmas e a atenção do resto da clientela da
pousada, que exigiu que ela repetisse. Gabe não podia fazer nada além de assistir,
ciente da estranha sensação de explosão em seu peito, ao observá-la rir e atuar, até
que a refeição finalmente chegasse.
Para alívio de Gabe, chegaram aos arredores de Carlisle à noite. Ficou muito
tentado a avançar para Gretna Green, mas Helena estava exausta, os dois estavam
bastante cansados, na verdade, após muitas horas chacoalhando por estradas ruins.
Seu plano fora alugar uma carruagem confortável, mas o destino não sorriu para
eles e não havia nada disponível, sem pelo menos algumas horas de antecedência.
Desconfortável por ter que esperar um pouco mais do que deveriam, Gabe foi
facilmente persuadido a continuar como estavam, agradecendo ao espírito
destemido de Helena. Qualquer outra mulher estaria reclamando de tudo, desde o
clima até a tarifa imprevisível nas pousadas. Não que as culpasse, ele mesmo estava
com vontade de reclamar aos gritos. Helena apenas considerou tudo como parte de
uma aventura, rindo de seu bife pouco comestível que - quando finalmente chegou -
se assemelhava mais a couro de sapato do que a carne, e simplesmente se
aconchegando ao seu lado, quando o tempo estava frio. Ela tomava as rédeas
alegremente, insistindo que ele deveria descansar um pouco, e até mesmo entrou na
lama, quando a roda ficou presa, e tiveram que empurrar para mover a coisa
miserável, novamente. Nunca conheceu ninguém como ela. Quando a viu pela
primeira vez, ficou impressionado com sua beleza, como qualquer homem ficaria.
Presumiu, no entanto, que fosse vaidosa, mimada, exigente e só o consideraria apto
a beijar seu sapato.
Quão errado estava, sentia vergonha agora, por tê-la considerado assim, pois
sabia, desde sempre, o que era ser julgado pela aparência. Helena era a mulher mais
excitante e surpreendente que ele conheceu em toda a sua vida. Não duvidava que
tivesse sido tratada com condescendência e carinho, desde o nascimento. Havia lhe
dito isso, mas não hesitou em dormir em um celeiro ou compartilhar uma mesa com
alguns trabalhadores. Helena aproveitava a vida ao máximo, não importando como
ela a tratava, isso era um presente para qualquer um que a conhecesse.
Gabe ergueu os olhos da refeição decente que acabavam de consumir no The
Strings of Horses, em Faugh, e descobriu que Helena havia adormecido à mesa,
encostada no banco acolchoado em que estavam sentados.
— Minha pobrezinha. — disse ele, levantando-a nos braços.
Registrou-os como marido e mulher desta vez, resignado em passar a noite em
uma cadeira, então não teve escrúpulos em carregá-la escada acima até o quarto.
Para seu alívio, o banho que havia ordenado estava pronto, despertou Helena
suavemente, acordando-a para que pudesse tomar banho primeiro.
— Helena, acorde, querida. Há um belo banho quente pronto e uma cama
confortável. Vamos.
Ele a sentou na cama, onde apenas bocejou e piscou para ele. Gabe riu e se
resignou a fazer o papel de criada pessoal, pois Helena parecia pouco inclinada a se
mover. Uma vez que todos os botões e fitas foram desfeitos, Gabe deu um passo
para trás.
— Acha que pode continuar sozinha daqui?
Ela soltou um murmúrio sonolento, que soou como um acordo.
— Voltarei em meia hora. — disse ele, inclinando-se para beijar seu nariz.
— Não. Fique. — ela protestou, puxando a manga dele.
Gabe balançou a cabeça, sem ilusões de que não era uma boa ideia — Amanhã
à noite estaremos casados, e não haverá poder na terra que me fará deixar nosso
quarto. Por enquanto, está por conta própria. Piscou para ela e puxou a manga de
seus dedos, ignorando o suspiro de frustração de Helena, quando deixou o quarto.
Mais de meia hora depois, tendo provado a cerveja no bar da estalagem, Gabe
julgou que era hora de voltar e esperava que Helena tivesse terminado o banho. Deu
uma batida suave na porta e, ao não ouvir nenhuma resposta, abriu-a. Para seu
alívio, Helena estava enrolada na cama, dormindo profundamente. Graças aos céus.
Soltou uma oração de agradecimento e mergulhou os dedos na água do banho, para
descobrir que ainda estava razoavelmente quente. Grato por isso, rapidamente tirou
as roupas e afundou na água morna. Tão silenciosamente quanto conseguiu, para
não perturbar Helena, lavou toda a sujeira do dia e passou alguns momentos
aliviando seus músculos cansados na água, que esfriava rapidamente. Por mais que
tentasse, não conseguia evitar que seus pensamentos se desviassem para o corpo
ágil sob as cobertas, a poucos metros de distância dele. Amanhã à noite, prometeu a
si mesmo, fazendo o possível para ignorar o aperto em sua virilha, enquanto se
permitia imaginar a perspectiva deliciosa de fazer de Helena sua esposa. Era um
bastardo egoísta e não a merecia, mas, amanhã à noite, ela seria dele, para o melhor
ou para o pior, e esse dia não chegava cedo o bastante.
Com um suspiro, disse ao seu corpo dolorido para se comportar e esperar, pois
a recompensa valeria a pena, e aliviou seus membros protestantes no banho. Ao se
levantar, parou um momento para tirar um pouco da água de seu corpo, antes de se
virar para pegar a toalha, foi quando descobriu que tinha uma audiência.

Helena estava cansada e a cama era quente e aconchegante, mas não


conseguiria dormir, até que Gabe voltasse para o quarto. Devia estar tão cansado
quanto ela, mais ainda, pois havia conduzido a carruagem por muito mais tempo do
que ela. Além disso, estava bastante esperançosa de que viria para a cama com ela e
a abraçaria, como fizera na noite passada. Acordar em seus braços tinha sido
maravilhoso, e as coisas deliciosas que fez com ela, depois de acordar, eram ainda
mais extraordinárias. Então cochilou um pouco, mas de ouvidos abertos, para
quando Gabe voltasse. Deve ter dormido um pouco, pois não o ouviu voltar para o
quarto, mas acordou um pouco depois, com os sons dele na água. Helena sentou-se
na cama e se viu completamente acordada para a visão apresentada diante de si.
Gabe estava na banheira, lavando-se, e Helena observou, em transe, enquanto
ensaboava seus poderosos braços e ombros. Pequenas gotas de sabão deslizaram
por suas costas e o coração de Helena acelerou em um ritmo errático, enquanto
observava os músculos pesados se deslocarem sob sua pele, seu corpo brilhando à
luz do fogo, como se ele tivesse sido fundido em bronze.
Helena se perguntou se deveria dizer alguma coisa, pigarrear e fazer sua
presença conhecida, pois não queria espioná-lo, mas…, mas não conseguia se
obrigar a fazê-lo. Tudo o que podia fazer era olhar para ele com admiração, aquele
homem que havia feito uma fortuna do zero. Este homem que cresceu sem família,
que nem sequer possuía as roupas que usava, e que passou de um faminto que
trocava restos de comida, para um próspero proprietário de fábricas, hotéis e
residências particulares, em toda a Londres. Estava prestes a investir no primeiro
projeto ferroviário do país. Era muito inteligente e tinha bastante força de vontade,
e, ainda assim, era muito doce. Não teve cuidados e carinho quando criança, foi
abandonado à mercê de uma casa de enjeitados e que, apesar de suas garantias de
que teve sorte, Helena tinha certeza de ter sido uma infância cruel e solitária.
Apesar de tudo isso, Gabriel sabia o que era amar, cuidar do outro e dar de si
mesmo, sem reservas.
Seu coração inchou de orgulho e amor. Durante toda essa jornada, essa
aventura que via como um prelúdio para sua vida juntos, Gabe tinha sido solícito,
engraçado e charmoso, também teimoso e frustrante, mas nunca perdeu a paciência
ou foi rude com ela. Era um bom homem, de coração aberto, que lhe mostrara o
pior de si mesmo, sem que lhe pressionasse. Sabia que Gabe esperava que ela o
rejeitasse naquela noite, na noite das confidências, acreditando que Helena não
poderia estar com ele, depois de tudo o que fez, mas contou-lhe tudo de qualquer
maneira, para que ela pudesse tomar sua decisão, tendo o conhecimento de seu
passado e suas circunstâncias. Gabe sempre faria isso, percebeu. Não esconderia
nada dela. Poderia sempre confiar nele, e isso valia muito mais do que qualquer
forma de criação ou título.
Enquanto observava, Gabe abaixou a cabeça sob a água, enxaguando o sabão
do cabelo e então levantou-se na banheira. Todo o ar deixou os pulmões de Helena,
quando foi presenteada com a visão de Poseidon emergindo das águas. A água caiu
em cascata pelo corpo de Gabriel e a boca dela se abriu, enquanto ele passava as
mãos por seus membros. Gabe se virou para a cama e ficou de frente para ela,
enquanto se movia para pegar uma toalha, e seus olhos se encontraram.
Helena não ignorava o que esperar do leito conjugal, graças, em parte, a uma
discussão franca com sua cunhada, Prue, que achava que as mulheres deveriam
estar preparadas para tais coisas com antecedência. E a Harriet, que havia fornecido
alguns livros muito interessantes sobre o assunto. Um deles tinha sido um texto
médico que, embora muito técnico para ser uma leitura interessante, tinha alguns
desenhos muito esclarecedores do sexo masculino, o que Helena, agora, achava
mais do que útil. Gabe estava olhando para ela, em choque, congelado no lugar, e
definitivamente excitado.
Helena o olhou fixamente, sem se desculpar, absorvendo-o com interesse
ávido, ciente de que sua respiração havia acelerado e se sentia quente e impaciente.
Helena deslizou os pés para fora da cama e Gabe agarrou a toalha, segurando-
a diante dele com uma mão e mantendo a outra estendida, como para afastá-la.
— Não. — sua voz soou severa, a mão aberta que estendeu para ela se
transformou em um dedo, apontando — Helena, volte para a cama agora mesmo.
— Não quero. — disse ela, franzindo a testa — Quero olhá-lo.
Gabe engoliu em seco e balançou a cabeça. Parecia corado, seus olhos
brilhantes, quase febris.
— Amanhã. — resmungou — Pode olhar o quanto quiser.
— Mas está aqui, agora. — ela apontou, dando um passo hesitante, chegando
mais perto.
— Não! — disse ele, novamente — Não. Esperei todo esse tempo. Mais uma
noite, Helena.
— Gabe. — disse ela, ciente de que parecia um pouco como uma criança
chorona, mas honestamente, se casariam no dia seguinte.
Certamente ela poderia olhar… e talvez apenas um pequeno toque…
— Helena. — disse ele, parecendo cada vez mais desesperado — Eu a arrastei
de um extremo do país a outro, estamos criando escândalo suficiente com essa fuga.
Pelo menos deixe-me fazer isso direito. Por favor, amor.
Helena suspirou, percebendo o quanto era importante para ele.
— Ora, muito bem. — então sorriu, franzindo os lábios — Vou direto para a
cama e não o incomodarei novamente, com uma condição.
Gabe voltou um olhar desconfiado — Que é?
— Deixe-me olhá-lo.
Ele gemeu, esfregando uma mão no rosto.
— Está querendo me matar. — ele resmungou, antes de jogar a toalha no chão.
Helena olhou, seus lábios se curvando em um sorriso satisfeito, enquanto o
estudava. Céus, mas ele era glorioso. A água escorria de seus cabelos, arrastando-se
sobre seu peito e deslizando por todo seu corpo. Quer fosse pelo frio ou pela
maneira como estava olhando para ele, a pele de Helena formigava e seus mamilos
ficaram tensos. O rastro escuro de pelos que ia de seu peito até abaixo, entre suas
pernas, atraiu o olhar curioso de Helena, aquela parte dele ganhou vida, enquanto
ela aproveitava. Fascinante.
— Já viu o bastante? — ele perguntou, sua voz baixa e ofegante, um som um
pouco desesperado.
— Nem de longe. — disse Helena, com um suspiro — Mas suponho que terei
que ser paciente. Boa noite, Gabe. Mal posso esperar pela nossa noite de núpcias.
— acrescentou, dando-lhe um sorriso diabólico, enquanto subia na cama.
Sua única resposta foi um gemido torturado quando ela subiu no colchão e se
deitou com um sorriso no rosto.
21
Lucian,
Por que não veio me ver? O senhor
me julgou culpada e fugiu para sempre?
Queria tanto me explicar pessoalmente,
mas o senhor fez com que isso fosse
impossível. Fui até St. James, mas o senhor
já tinha deixado Londres. Não poderia ter
me poupado alguns minutos, antes de ir?
Por mais estranho que seja escrever
isso, passei a pensar no senhor como um
amigo. Não podemos aprofundar essa
amizade por razões que ambos entendemos,
mas sinto que o senhor precisa muito de um
confidente neste momento e não vou
abandoná-lo, se me permitir essa honra.
Não sei que tipo de discordância há
entre o senhor e seu tio, mas, claramente, é
muito grave, e não vou julgá-lo, como
outros estão fazendo. Acredito que haja
uma boa razão para sua animosidade, eu
ajudaria se pudesse. Para esclarecer as
coisas, encontrei-me uma única vez com o
Sr. Barrington, em um jantar organizado
pelo Barão Fitzwalter. Foi apresentado a
mim como Sr. Brown, depois me chamou de
lado e explicou quem ele era. Disse-me as
coisas mais inapropriadas que se poderia
contar a um estranho, e, ainda assim, havia
um ar de honestidade sobre ele, não soube
o que fazer a respeito. Disse que tinha
medo do senhor e me pediu que jurasse não
dizer que o vi. Gostaria de não ter feito
isso, mas era uma situação impossível. Não
poderia lhe contar ou me envolver, mas
quando vi seu rosto naquele dia…
Oh, como gostaria de ter quebrado
aquela promessa.
—Trecho de uma carta da Srta.
Matilda Hunt para O Mais Honorável,
Lucian Barrington, Marquês de Montagu.

FAUGH, CARLISLE, CUMBRIA.


17 DE ABRIL DE 1815.

Um desastre os atingiu apenas um quilômetro após terem deixado a aldeia.


— Oh, Gabe, isso não parece nada bom.
Gabe sentiu suas entranhas agitarem-se de ansiedade, enquanto olhava para a
roda quebrada. As malditas estradas estavam horrorosas, e agora o prejuízo estava
feito.
— Nada bom mesmo. — disse, com a voz baixa.
Faugh era um lugar minúsculo, com poucas moradias, quase no meio do nada,
e as chances de encontrar um carretel de rodas eram escassas. Estavam a pouco
mais de vinte e quatro quilômetros da fronteira escocesa, e agora pareciam mil —
Teremos que voltar para a pousada e pedir que alguém venha buscar o cabriolé.
Talvez possamos contratar uma outra ou conseguir alguém para nos levar pelo resto
do caminho.
Helena pegou seu braço, olhando para ele — Tenho certeza de que vamos
conseguir fazer alguma coisa. Não se preocupe.
Gabe assentiu e forçou um sorriso nos lábios, antes de se inclinar e beijar sua
testa.
— Nós vamos. — ele prometeu, e esperou em Deus que estivesse certo.

Helena olhou, através da mesa, para Gabe, na sala privada do The String of
Horses. Seu rosto estava frio, sua expressão sombria, ela sentia o quão preocupado
estava.
— Vamos sair ao amanhecer. — disse Helena, tentando soar encorajadora —
Disseram que podemos chegar a Gretna Green em algumas horas, foi muito bom da
parte deles conseguirem alguém para arrumar a roda tão rápido.
Gabe assentiu — Foi. — disse, mas ela podia ouvir a tensão em sua voz.
— Gabe, — pegou a mão dele, entrelaçando os dedos — não vou permitir que
eles nos separem, não importa o que aconteça.
Gabe deu uma risada infeliz e se virou para olhar para ela, uma expressão de
amor e tristeza em seus olhos, que fez seu coração doer — Não terá escolha, meu
amor, sabe disso. Seu irmão é seu guardião e, como se não bastasse, um duque. Vai
levá-la embora e não poderei me aproximar, nunca mais.
— Não. — tranquilizou-o, balançando a cabeça — Não, não faria isso. Robert
não é um monstro, Gabe. Quando vir que estou decidida, cederá. Ele me ama. Só se
opôs porque temia por mim. Só sabe das coisas que falam a seu respeito, mas não o
conhece de verdade. Quando o conhecer melhor, irá entender e nos deixará ficar
juntos.
A mão de Gabe apertou a dela e a levou aos lábios, beijando seus dedos.
— Quero que saiba que estes últimos dias foram os mais felizes, os mais
maravilhosos e alegres de toda a minha vida. Não importa o que aconteça, nunca
me arrependerei disso, e rezo para que nunca tenha motivo para se arrepender
também. Eu a amo, Helena, muito.
Os olhos de Helena ficaram quentes, enquanto o olhava, lágrimas borrando seu
rosto bonito, enquanto piscava com força.
— Também o amo, mas não fale assim. Ainda não acabou. Não vamos desistir.
— Não. — ele disse, sorrindo — Certamente não vamos.
— Poderia… — ela começou, sentindo seu rosto ficar quente, mas
continuando, de qualquer maneira — Poderia me levar para a cama. Se… Se eu for
comprometida, se houver a chance de um bebê, Robert teria…
— Não.
Seu rosto endureceu, a palavra tão definitiva, Helena sabia que não havia
como mudar sua mente.
— Já a desonrei o suficiente quando fugimos, não vou agravar ainda mais as
coisas. Não darei ao seu irmão mais provas do tipo de homem que acredita que eu
seja.
Helena se inclinou para ele, dividida entre frustração e orgulho — Além do
meu irmão, é o homem mais honrado que já conheci, Gabe. Robert verá isso, mais
cedo ou mais tarde. Farei com que veja.
Gabe deu uma risada suave e inclinou a cabeça para descansar sobre a dela por
um momento — Se alguém pode fazer isso, é você.
— Sim. — disse, levantando a cabeça para que ele a beijasse.
Gabe a beijou, um breve toque de seus lábios, que falava de saudade e
esperança. E de todos os medos que ainda teriam que perder. Não, não seriam
afastados, não se dependesse dela. Além disso, não havia necessidade de se
preocupar. Se casariam pela manhã e, quando Robert os encontrasse, seria tarde
demais. Tinha que ser.

GRETNA GREEN, ESCÓCIA.


18 DE ABRIL DE 1815.

A infame ferraria em Gretna Green nada mais era do que uma pequena cabana
caiada, parecia um lugar bastante modesto para ter se tornado sinônimo de romance
e escândalo. Não que se importasse muito. Se o homem pudesse fazer a escritura e
casá-los, ela se casaria em um estábulo, ou num galinheiro. Havia, pelo menos,
muitas pousadas e estalagens na aldeia, pois o lugar aproveitava ao máximo a
notoriedade de sua localização. Poderiam até ter comprado suas alianças ali,
embora Gabe já tivesse cuidado desse detalhe. O ferreiro se apresentou como Bispo
Lang e vestia trajes clericais, Helena achou que o bispo estava levando as coisas um
pouco longe demais, mas era jovial e amigável, portanto, concordou com isso
alegremente.
A grande mão de Gabe se agarrou à dela e, neste momento, ele parecia ainda
mais ansioso do que ela. Ficou tenso e silencioso durante todo o percurso final,
dirigindo tão rápido quanto ousou possível, concentrando-se em nada além da
estrada e na maneira mais eficaz de chegar ao destino. Helena apertou seus dedos,
enquanto estavam diante da bigorna, prontos para recitar seus votos, e Gabe a fitava
com uma expressão intensa e um pouco desesperada.
— Aceita esta mulher como sua esposa, renunciando a todas as outras,
mantendo-se apenas para ela, enquanto os dois viverem?
O coração de Helena deu um baque repentino e doloroso em seu peito, uma
mistura de excitação e trepidação. Estava se casando, aqui, agora, com o homem
que amava. Ela sorriu para ele, tão feliz que estavam fazendo isso, mas havia
tristeza também. Teria sido maravilhoso ter se casado diante de suas amigas e
familiares, ter seu irmão levando-a para o altar e dando-lhes a sua bênção. Não era
para ser assim, disse a si mesma, não perderia seu tempo lamentando, quando
estava se casando com o homem de sua escolha.
— Sim! — a voz de Gabe a atraiu de volta para o momento, e seu sorriso se
alargou quando Lang se virou ao lado dela.
— Pare o casamento!
Helena quase pulou de susto quando a voz estrondosa de seu irmão explodiu
na pequena sala. Ela se virou, a mão ainda agarrando a de Gabe, enquanto seu
irmão caminhava em direção a eles. Parecia um lunático. Estava coberto de lama,
da cabeça aos pés, suas roupas estavam uma bagunça, muito amassadas e não se
barbeava há dias. A barba escura cobria sua mandíbula e lhe dava um ar de pirata e
má reputação.
— Seu desgraçado! — ele berrou, Helena soltou um grito, jogando-se na
frente de Gabe.
— Deixe-o em paz! — ela gritou, mas Robert não a ouviu.
Helena não tinha certeza de que Robert a tinha visto, tal era o olhar assassino
em seus olhos. Desesperada, olhou para a porta e viu o Conde de St. Clair correndo
atrás dele.
— Robert! — chamou, avançando para agarrar o braço de seu irmão, antes que
pudesse dar um golpe em Gabe — Não aqui, pelo amor de Deus. Vamos para algum
lugar tranquilo, conversar sobre isso.
— Conversar? — Robert repetiu incrédulo — De forma alguma farei isso! Eu
vou castrá-lo!
Demorou algum tempo para persuadir Bedwin a não matar Gabe ali mesmo,
apenas alguém tão calmo e de boa índole quanto o Conde de St. Clair poderia ter
conseguido. Agora estavam do lado de fora, parados em um pomar, um pouco
afastado de qualquer comércio, escondidos da estrada por uma cerca viva, e o
duque andava de um lado para o outro, como um leão enjaulado.
— Maldita seja, Helena. — disse, e, embora Gabe quisesse odiá-lo por tudo o
que havia arruinado, podia ver a angústia nos olhos do homem, ao lado da fúria —
Como pôde? Como pôde fugir assim? Estive no inferno várias vezes nos últimos
dias, preocupado…
— Bem, isso é tudo culpa sua. — retrucou Helena, cruzando os braços — Se
tivesse se dignado a ouvir Gabe por um minuto ou - Deus me livre - a mim, em vez
de tratá-lo como um pária e a mim como uma criança, que não conhece minha
própria mente, não teria que recorrer a tais medidas.
— Não o conhece! — Bedwin jogou de volta para ela — Não sabe do que ele
é capaz.
Helena lançou ao irmão um olhar de total desgosto — Eu o conheço, e se não
era assim antes, certamente o é agora, depois de passar os últimos dias a sós com
ele.
O duque deu um grito de fúria, obviamente interpretando mal as palavras
bastante imprudentes de Helena. Correu para Gabe e segurou-o pelas lapelas de sua
jaqueta.
— O que fez, seu desgraçado?
Gabe segurou a língua, julgando não haver uma boa resposta para essa
pergunta. Helena precisava dele para provar o tipo de homem que era e, embora
estivesse furioso e aterrorizado com a ideia de perdê-la, não podia bater em seu
irmão e esperar obter o resultado que queria. Então cerrou os dentes e olhou para
Bedwin, mas não tentou se defender.
— Deixe-o em paz! — Helena gritou furiosa e chutou o irmão na canela.
— Maldição, Helena! — Bedwin gritou, olhando para ela, soltando Gabe e
estendendo a mão para esfregar a perna — Isso doeu, muito!
— Ótimo!
Gabe notou um olhar de determinação no semblante de Helena, que lhe dizia
que nunca recuaria. Se Gabe conseguisse se casar com ela, tomaria cuidado para
não a encurralar em algum canto, de onde Helena teria que sair lutando. Parecia
perigoso.
— Robert! — disse St. Clair, parecendo tão desgastado e sujo quanto Bedwin
— Isso não está nos levando a lugar nenhum. Acho que todo mundo precisa se
acalmar e discutir corretamente. Até onde sabemos, ninguém está ciente da fuga de
Helena, então, não há danos graves a serem reparados.
— Não há danos? — o duque repetiu, sua voz fria e incrédula.
— Oh, pelo amor de Deus, Robert! — disse Helena, levantando as mãos —
Ainda sou virgem, se é com isso que se preocupa. Gabe foi um perfeito cavalheiro,
o que é uma pena, pois não consegui persuadi-lo a se aproveitar da vantagem.
Apesar dos meus melhores esforços, devo acrescentar.
Saint Clair pigarreou, parecendo profundamente desconfortável, mas o duque
apenas olhou indignado para sua irmã, cuja compostura se desfez, após sua
explosão de fúria. Os olhos de Helena se encheram e seu lábio tremeu, o coração de
Gabe se partiu.
— Helena! — disse seu irmão, sua expressão se suavizando, mas ela se
afastou dele e correu para Gabe, que a segurou perto, sabendo que, provavelmente,
seria a última vez.
Sem dúvida, Bedwin iria matá-lo por isso, mas, naquele momento, não se
importava muito.
— Gabe! — ela soluçou em seu peito.
— Sinto muito! — disse, com a voz embargada, apesar de seus melhores
esforços — Perdoe-me meu amor. Nunca deveria tê-la arrastado para cá.
— Disse que nunca se arrependeria. — ela retrucou, um fio zangado na voz e
nas palavras, enquanto levantava a cabeça e olhava para ele.
Seus belos olhos verdes estavam manchados de lágrimas, os cílios molhados, e
Gabe se perguntou como viveria sem ver seu belo rosto novamente.
Segurou a bochecha dela na mão, acariciando seu rosto com o polegar.
— Nunca. — sussurrou — Não da minha parte, mas não quero que se
machuque, Helena. Seu irmão a ama e o ama também, e… e não posso lutar contra
ele, querida. Não posso arriscar fazer um escândalo maior. Se ele se decidiu, não há
nada que eu possa fazer.
Helena explodiu em lágrimas então, soluços altos e feios desta vez, o som
suficiente para fazer Gabe sentir que seu coração estava sendo rasgado em pedaços.
Gabe olhou para cima e viu que seu irmão estava fitando-os com a testa franzida, e
o conde tinha uma mão emaranhada em seus cabelos, gesticulando
descontroladamente para eles com a outra.
— Cristo, Robert, tem certeza de que é isso que quer? — St. Clair exigiu. Os
olhos do homem pareciam muito brilhantes — Não consegue ver que os dois se
amam?
Bedwin olhou com raiva para o conde.
— Maldito seja, Jasper! Deveria estar do meu lado. Sabia que não deveria ter
concordado em trazê-lo. É muito romântico. Agora que penso nisso, deveria ter
lembrado que ajudou Kitty a fugir com Luke Baxter! — acrescentou com
indignação — De todos os homens para resolver essa maldita bagunça.
O conde parecia ofendido com isso — Eu? Não escrevi aquela maldita história
para Prue e a publiquei para o mundo inteiro ver! E eu sou o romântico?
O duque corou, a cor manchando seu pescoço, sob sua gravata amassada.
— O ponto é — Bedwin gritou — que ele só precisa de Helena para seus
malditos projetos, para abrir portas para ele que, de outra forma, permanecerão
fechadas. Tudo o que fará em troca é diminuí-la perante a sociedade.
— Robert! — Helena exclamou, tentando se desvencilhar dos braços de Gabe
e pretendendo causar mais danos ao irmão.
Gabe a segurou e balançou a cabeça.
— Ora, por favor! Pode ver que o pobre homem está louco por ela, e diabos,
por acaso se importa com a sociedade? — o conde exigiu.
— Não. — respondeu Bedwin — Mas não quero que falem e futriquem sobre
minha irmã. Ela não sabe como é.
Gabe não teve escolha a não ser soltar Helena, enquanto se arrancava de seus
braços.
— Não sei como é? — ela repetiu, sua voz perigosamente calma — Realmente
disse isso?
Caminhou em direção ao irmão que, com todo o seu tamanho, parecia querer
muito, se mover na direção oposta.
— Durante anos suportei todas aquelas maldosas fofocas, enquanto o maldito
duque era o assunto da cidade. Como acha que foi saber que todos acreditavam que
matou Lavínia? Chegando a isso, como acha que foi viver com Lavínia, quando
aquela mulher odiosa não gostou de mim, desde a primeira vez que nos
conhecemos e se ressentia muito da irmã do marido?
Bedwin pareceu um pouco doente ao ouvir esta demanda, mas manteve-se
firme — Consegue ver que é por isso que estou tão desesperado para que não
cometa os mesmos erros que eu, Helena? Mal conhece esse homem.
Helena bufou de desgosto, cruzando os braços — E não me permitiu a chance
de conhecê-lo melhor, então, o que devo fazer, Robert? Deixar o homem que
acredito ser o amor da minha vida ir embora, ou agarrar minha única chance de
estar com ele?
Robert murmurou baixinho antes de falar novamente, encarando-a — Eu devia
ter imaginado. Era tão obcecada pelos vilões nas histórias de Prue. Deveria ter
previsto isso e…
— E o quê? Mandar me trancar em um convento? — zombou. Helena se
aproximou do irmão e o cutucou no peito, em busca de ênfase, enquanto falava —
Gabe, não é um vilão. — cutucão — É um bom homem, com um coração gentil.
— cutucão — Começou do nada e sem ninguém, trabalhou toda a sua vida para
alcançar o que tem. — cutucão — Gabriel me disse tudo o que fez para chegar
onde está, e saiba, que muito mais envergonhado do que eu. — cutucão — Eu o
amo, Robert, e se me impedir de me casar com ele, nunca vou perdoá-lo. Não
enquanto viver.
O último cutucão foi um golpe duro com a palma da mão, pois a frustração de
Helena havia extravasado por completo. Sua voz quebrou quando chegou ao fim
daquela pequena diatribe e ela se dissolveu em lágrimas, de novo.
— Helena, — protestou seu irmão, parecendo tão estranho quanto qualquer
homem, diante de uma mulher chorando copiosamente — Helena, não… Oh,
maldição.
O duque puxou a irmã para perto e a abraçou.
— Eu o amo, R-Robert. — ela gaguejou entre as lágrimas.
Bedwin fez uma cara feia para Gabe, parecendo não menos assassino, mas
possivelmente um pouco mais resignado ao seu destino. Gabe pigarreou. Julgando
ser este o momento de tentar a sorte e convencer esse homem de que ele não era o
diabo que veio roubar sua irmãzinha por meios nefastos, respirou fundo:
— Sua Graça, — disse, sentindo seu coração batendo em seu peito muito forte
e muito rápido, tão doente de ansiedade que nem se incomodou em se sentir
ressentido por ter que usar o título ridículo — eu não o culpo por querer proteger
Helena.
— Que bom de sua parte. — o duque retrucou, secamente.
Gabe continuou, ignorando o comentário — Eu a amo. — disse, esperando
que o homem pudesse ver algo de seus sentimentos em seus olhos — Sei que não a
mereço. Sei de todas as razões pelas quais sou uma escolha terrível para ela, mas
ainda sou melhor do que algum idiota com títulos, que nunca vai apreciar tudo o
que ela é. Conhece sua irmã, Bedwin. Como acha que ela seria com um marido
adequado para a sociedade, que esperaria que se sentasse em casa e não fizesse
nada mais desafiador do que bordar, enquanto tivesse bebês, em intervalos
regulares? Um marido que nunca esperaria que abrisse a boca e dissesse algo
ultrajante, ou que não se metesse em problemas, não sei quantas vezes no espaço de
um dia?
O duque ainda estava olhando para ele, mas havia interesse em seus olhos
agora, então Gabe continuou:
— Helena é cheia de aventura e coragem, e um homem adequado não terá a
menor ideia do que fazer com ela. Maldição, que outra mulher teria me desafiado a
uma corrida de Londres a Brighton, e me enlouquecido tanto, que tive que aceitar?
Não apenas isso, ela ainda me venceu! Foi tão teimosa, não parou, não importando
o clima nem qualquer outra coisa, ela precisa de mim, Bedwin. — disse Gabe,
ciente de que havia muita emoção em sua voz, mas não se importou. Sem dúvida,
sua graça pensou em uma demonstração desesperada de sentimentos, pois bem,
Gabe estava desesperado, e essa era sua única chance — Ela precisa de mim,
porque não sou adequado e amo as coisas terríveis que Helena diz e faz, sei muito
bem que ela vai me deixar de cabelos brancos, muito antes de eu alcançar a velha
idade, e mal posso esperar. Eu a amo com todo o meu coração, e se não a fizer feliz,
tem minha permissão para atirar em mim. Vou merecer, por certo.
— Oh, Gabe! — Helena se afastou de seu irmão e se jogou nos braços de
Gabe mais uma vez e ele a segurou, rezando para que tivesse dito o suficiente para
convencer o homem a dar-lhes uma chance.
Robert olhou para ele. O ódio havia passado, substituído por uma carranca de
concentração. Gabe rezou para que fosse um sinal positivo. O duque olhou em volta
para encontrar o olhar do conde, que estava sorrateiramente enxugando os olhos na
manga, e deu um suspiro enojado. Parecia uma derrota!
— Por favor, Robert. — disse Helena, suavemente — Por favor, deixe-nos
voltar para dentro e nos casar.
Seu irmão olhou para ela por mais um longo momento, antes de balançar a
cabeça.
— Não, Helena. Perdoe-me.
O coração de Gabe caiu quando Helena endureceu com fúria em seus braços.
— Robert. — ela começou, mas Bedwin ergueu a mão, silenciando-a.
— É filha de um duque e minha maldita irmã - Deus me ajude - e estou
amaldiçoado se permitir que se case em um lugar qualquer na Escócia. Não haverá
fuga. Todo esse caso miserável será abafado e enterrado, e nunca mais falaremos
nisso. Vai se casar em Beverwyck, com sua família e suas amigas do seu lado e
ponto final.
Gabe olhou para o duque com espanto. Ele tinha acabado de… ele disse…?
Helena, obviamente, entendeu a essência, antes de Gabe, enquanto voava de
volta para o irmão e jogava os braços ao redor de seu pescoço, beijando sua
bochecha.
— Oh, Robert, obrigada, obrigada!
— Ugh — protestou o duque, fazendo uma careta — Sim. Pronto, pronto,
conseguiu tudo do jeito que queria, como de costume, sua garota diabólica.
Assim que Helena parou de atacá-lo, ele voltou sua atenção para Gabe e
apontou um dedo intransigente, sua expressão feroz.
— Estou de olho. — disse — De perto. E não pense que não vou arrastá-lo
para um duelo, caso seja necessário.
— Oh, eu não faria isso. Nem por um momento. — respondeu Gabe, ainda
achando difícil acreditar no que estava acontecendo. Ele ia se casar com Helena, e o
duque lhes daria sua bênção — Obrigado. — disse, sinceramente, ousando se
aproximar e estender a mão.
Bedwin suspirou, depois estendeu a sua, dando-lhe um aperto de mão firme.
— Bem-vindo à família. — disse, com um sorriso torcido — Depois não
reclame que não pediu por isso.
— Parabéns!
Gabe se virou e encontrou o conde sorrindo para ele e oferecendo a mão, ficou
um pouco assustado ao ser puxado para um abraço.
— Nossa, foi difícil por um momento, mas tudo está bem quando acaba bem.
Gabe riu, encorajado pelo prazer do homem com seu sucesso. Ele era
realmente um romântico — Obrigado, Lorde St. Clair. E obrigado por nos ajudar.
Não esquecerei.
O conde dispensou o comentário — Sempre gosto de ver um final feliz, mas
não estrague tudo. E me chame de Jasper. Agora, há alguma chance de comermos
um jantar? Estou faminto.
22
Matilda,
A senhorita não tem nada pelo que se
censurar. Como sempre, a culpa é toda
minha. Nunca iria entender o que
significou ter vindo até mim, que desejasse
ser minha amiga, mesmo depois de tudo o
que fiz. Seu julgamento sobre mim tem sido
impecável, desde o início. Só posso
agradecê-la, minha querida amiga.
Acredite em mim quando lhe digo,
conseguiu escapar de mim, isso é muita
sorte.
Devo implorar que fique longe do meu
tio. Ele é mais perigoso do que possa
imaginar e esse rosto gentil e amigável que
mostra ao mundo é uma máscara vil. Não
tente arranjar desculpas por mim diante de
ninguém, muito menos a si mesma. Sei que
seu coração é generoso e corajoso o
suficiente para fazê-lo, mas isso só vai lhe
causar mais problemas e eu já causei
danos suficientes.
Eu desejo… desejo coisas impossíveis.
Encontre um cavalheiro digno da
senhorita, se é que tal criatura existe.
Perdoe-me.
M
—Trecho de uma carta de O Mais Honorável Lucian Barrington, Marquês
de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.

LONDRES.
21 DE ABRIL DE 1815.

A viagem de volta não foi nem metade divertida quanto Helena antecipava.
Robert contratou uma mulher para atuar como acompanhante e criada para ela, e
arranjou duas carruagens para transportá-los todos. Tendo decidido que não tinha
vontade de viajar todo o caminho de volta para Londres no seu cabriolé, Gabe o
vendeu, por um preço ridículo, para um jovem rapaz local, que estava fora de si
com sua boa sorte. Prometeu a Helena que compraria outro, e que iriam aonde ela
desejasse, assim que seus corpos se recuperassem dessa aventura.
Helena viajou com seu irmão e sua nova acompanhante na primeira
carruagem, e Jasper e Gabe seguiram atrás. Sem Gabe para acompanhá-la, e Robert
roncando durante a maior parte da jornada, as horas se arrastaram
interminavelmente. Não que Helena fosse reclamar. Se casaria com Gabe, tudo
seria feito corretamente, sem ser às pressas e sem escândalo. Robert iria apoiar a
união, e tinha o poder de livrar Gabe de sua antiga reputação, inteiramente, mesmo
que o casal tivesse que percorrer um longo caminho para ganhar a aceitação entre a
ton. Alguns poderiam zombar deles. Helena, os olharia de nariz empinado, mas
não se importava com essas pessoas, verdadeiramente. Eram as mesmas pessoas
que falaram de seu irmão pelas costas e o condenaram, e não ligava se nunca mais
falasse com elas, pelo resto de seus dias. Teria Gabe, sua família e as Senhoritas
Peculiares, que sempre ficariam ao seu lado, não importando o que acontecesse,
isso era tudo o que importava.
Para a frustração de Helena, não foi autorizada a se despedir adequadamente
de Gabe. Na verdade, não tiveram um momento sozinhos durante toda a jornada,
mas não se atreveu a protestar. Robert informou Gabe que seria notificado da data e
hora do casamento no devido tempo, momento em que poderia se apresentar em
Beverwyck. Até então, deveria ficar ausente, enquanto Robert se acalmava e
esperançosamente se sentia com menos vontade de matá-lo. Seu irmão não disse
exatamente isso, mas a implicação estava lá. Então Helena simplesmente aceitou o
sorriso triste nos olhos de Gabe, e a promessa que viu neles, de que compensaria
tudo o que passaram, no momento em que se casassem.
Enquanto Helena subia os degraus até a imponente entrada de Beverwyck, viu
a porta se abrir e Prue voar para fora.
— Helena! — gritou, correndo em sua direção, com os braços abertos.
Helena deu um pequeno grito de alívio ao ver a mulher que se tornara tão
querida para ela quanto uma irmã de verdade e apressou-se nos passos finais e caiu
em seu abraço.
— Oh, Helena, querida, estávamos tão preocupados, está bem? Estão
casados? — exigiu, segurando-a à distância de um braço e estudando-a com olhos
arregalados e preocupados.
— Vamos entrar primeiro, Prue? — Helena disse, rindo um pouco — Acho
que gostaria de me sentar em algo que não se mexa e tomar uma xícara de chá, por
favor.
— Concordo com esse pedido. — Robert resmungou, movendo-se para pegar
Prue em seus braços — Minhas costas nunca mais serão as mesmas.
Prue riu, obviamente aliviada por ter sua família em casa e em segurança
novamente, e, a julgar pelo comentário conciso de Robert, avaliou que tudo estava
bem o suficiente.
Uma vez que Prue colocou todos para dentro e os alimentou com chá e bolo,
exigiu toda a história. Então, Helena contou tudo, com algumas pequenas omissões
que acreditava que seu irmão não deveria ouvir. Deliberadamente, não contou a
Robert muito do que havia acontecido, querendo ter a resposta de Prue e seu
animado senso de humor, para apreciar a história e manter Robert na mão, quando
ficasse indignado.
No momento em que contou todas as suas aventuras, Prue estava radiante,
tendo enxugado lágrimas de riso de seus olhos, em vários pontos da história.
— Oh, Helena, só você. O pobre homem, é de se espantar que ele não tenha
corrido, gritando com o indulto.
Helena riu e assentiu.
— Eu sei. — disse, observando então o olhar sombrio no rosto de seu irmão,
em resposta ao comentário de Prue.
— Oh, Robert, pare de ser tão estrondoso. Acho que o Sr. Knight provou ser
digno da mão da sua irmã. Pensei que tínhamos feito um desserviço a ele, e agora
vejo que estava certa. Fomos muito precipitados, Helena, e devo implorar que nos
perdoe por agirmos tão duramente. Só espero que saiba que isso foi feito por amor
e, portanto, possa aceitar nossas desculpas.
Helena sorriu, mas se virou para olhar para o irmão, para ver se estava de
acordo com o sentimento de sua esposa. Houve um bufo cansado de resignação.
— Sim. — disse ele, roucamente — Sim, acho que talvez seja verdade. Não
estou dizendo que gosto dele. — acrescentou, como se quisesse deixar claro, mais
uma vez — Mas… Suponho que seja possível que ele não seja o demônio que o
pintei.
— Que nobre da sua parte dizer isso. — disse Helena, ironicamente,
levantando uma sobrancelha.
— Não abuse da sua sorte. — ele murmurou, levantando-se — Isso é o mais
caloroso e amigável que posso sentir em relação ao infeliz, neste momento.
Envelheci dez anos em dez dias e, até que eu tenha dormido na minha própria cama
e endireitado as dobras na minha coluna, sugiro que não pressione por mais. Depois
disso… vamos ver. — beijou Prue e depois beijou a bochecha de Helena — Estou
feliz que esteja em casa.
Suas palavras ainda eram duras, mas Helena conhecia seu irmão e sabia que
amoleceria e tudo ficaria bem.
— Estou feliz por estar em casa. Obrigada por ter vindo atrás de mim. Estou
grata por ter feito isso.
Ele assentiu e depois saiu rigidamente da sala, chamando seu valete para que
preparasse um banho quente, imediatamente.
Helena se virou para Prue, que sorriu e estendeu a mão para ela.
— Muito bem, então. — disse Prue, apertando as mãos de Helena — Temos
um casamento para organizar.
LONDRES.
24 DE ABRIL DE 1815.

Gabe mal podia acreditar, mas o dia finalmente havia chegado. Hoje se casaria
com Lady Helena Adolphus e a faria Lady Helena Knight. Viu-se sorrindo como
um tolo, até mesmo rindo em voz alta, em momentos estranhos do dia, enquanto
tentava se concentrar em seu trabalho, para a diversão de Francis, que parecia estar
no mesmo estado de espírito, em razão de Tilly. Mesmo a notícia de que o
desprezível Sr. Burton havia desaparecido da face da terra, não poderia diminuir
sua felicidade, embora suspeitasse que a nota de advertência lamentável que
enviara a Montagu não agradaria nem um pouco ao marquês. Não conseguia se
importar agora.
Os dias se arrastaram interminavelmente e então se ocupou o melhor que pôde
com seu trabalho, mas, na maioria das vezes, acabava lembrando de Helena ao lado
dele, no cabriolé, gemendo de prazer no palheiro, sonolenta e confusa em seus
braços, enquanto a carregava para a cama. Tão tortuosamente lento quanto os
últimos dias, tão impaciente quanto estava para vê-la novamente, também,
estranhamente, sentia-se grato por estes dias. Deram-lhe a chance de apreciar tudo
o que lhe foi dado e a esperar que estes novos tempos viessem com a quantidade
certa de gratidão e esperança, para o futuro deles.
Virou-se para seus companheiros.
— Obrigado aos dois por virem comigo, hoje. — disse Gabe, enquanto olhava
para o outro lado da carruagem, para a figura imaculada do Conde de St. Clair, ou
Jasper, como ele se tornara, e seu amigo mais próximo, Inigo.
Inigo apenas riu, já tendo provocado Gabe, sem piedade, sobre finalmente ter
sido fisgado. Jasper sorriu para ele — É um prazer.
Surpreendeu e agradou a Gabe perceber que ele se tornara amigo de Jasper,
durante a tediosa jornada de volta da Escócia. Jogaram cartas e conversaram,
descobriram várias coisas em comum, e tão surpreendente quanto isso, era
considerar a disparidade em seus antecedentes. Jasper até pressionou por detalhes
do projeto ferroviário, parecia que estava ansioso para se tornar parte dele. Gabe
mal podia acreditar em sua boa sorte.
Havia um sentimento de ansiedade em seu peito, que lhe dizia que não poderia
ser verdade, mas sabia que era. De alguma forma, a bela e proibida criatura de
quem tanto se esforçara para se manter afastado, para não se apoderar de seu
coração, roubara-o, inteiramente. Helena não usou e abusou dele como temia, no
entanto. Não, Helena deu a ele o seu coração em troca, e, com isso, muito mais do
que Gabe poderia ter ousado esperar. Ela era corajosa, ousada e surpreendente, e
tão diferente do que imaginava.
Mesmo Bedwin não era o maior bastardo arrogante que Gabe supôs que fosse.
Visitou-o para trazer os detalhes do dia do casamento e, embora as coisas não
estivessem exatamente boas entre eles, Gabe acreditou que a visita foi como o
oferecimento de um ramo de oliveira. Poderia levar algum tempo, mas, se fizesse
Helena feliz, Bedwin o aceitaria. E Gabe tinha toda a intenção de fazer Helena
feliz. Não só teria Helena, como seria parte de sua família. Teria pessoas que
ficariam ao seu lado, que falariam por ele. Foi só agora, ao se dar conta do que
estava sendo oferecido a ele, que Gabe percebeu o quanto queria isso, aquele
sentimento de pertencer a algum lugar e a alguém.
— Está nervoso? — Jasper perguntou, um brilho divertido em seus olhos
verde azulados.
— Está aterrorizado. — respondeu Inigo, fazendo Gabe franzir a testa.
— Estou um… um pouco nervoso. — admitiu Gabe, não vendo sentido em
dissimular.
— Não se preocupe. Tudo vai passar rápido e, antes que perceba, estará casado
e poderá relaxar. — Jasper disse, com um sorriso alegre.
Gabe assentiu, embora, em particular, não achasse que seria capaz de relaxar,
até depois da noite de núpcias. Era totalmente ridículo nas circunstâncias - ele
dificilmente era um noivo virginal, afinal - mas estava doente de nervos. Limpando
a garganta, ousou fitar Jasper e encontrou seu olhar curioso ainda sobre ele. Bem,
não havia mal nenhum em perguntar.
— Sobre a… a noite de núpcias… — começou, sentindo uma sensação quente
rastejar pela parte de trás do pescoço.
— Precisa de conselhos? — Jasper arriscou, obviamente se divertindo.
— Poderia lhe desenhar um diagrama. — ofereceu Inigo, com uma expressão
grave.
Gabe respirou fundo — Sim. — retrucou, ansioso demais para morder a isca
— Não o diagrama — acrescentou, apressadamente — mas, preciso de conselhos.
A questão é que nunca…
Inigo riu e Gabe pigarreou novamente, tentando ignorar o olhar de prazer de
Jasper.
— Com uma virgem. — esclareceu, sucintamente, antes que o homem pudesse
fazer algum comentário ridículo.
— Bem, se essa informação se espalhar, sua reputação perversa será
prejudicada. — disse Inigo, parecendo estar gostando demais da situação.
Jasper riu, estendendo a mão para dar um tapinha reconfortante no ombro de
Gabe — Não se preocupe muito. Basta levar as coisas devagar e deixar… er… a
natureza seguir seu curso. Será mais fácil do que pode imaginar. Não haverá gritos
e litros de sangue, prometo.
Gabe bufou aliviado e cruzou os braços, sentindo-se melhor pela confirmação.
Finalmente, estavam em Beverwyck, o enorme edifício que se erguia sobre
eles. A última vez que esteve aqui, o duque praticamente o expulsou por ter a
ousadia de pedir a mão de Helena em casamento. Bem, estava de volta e para se
casar.
Meu Deus, quem teria pensado isso?

— Oh, Helena, está tão linda. — Matilda suspirou.


— Ele é um homem de sorte. — sussurrou Tilly em seu ouvido, antes de dar
os toques finais em seu cabelo.
Helena agradeceu a Tilly e se virou de sua posição diante do espelho, para
sorrir para suas amigas.
Matilda, Bonnie e Harriet estavam aqui, e Prue, é claro. Todo mundo estava
esperando lá embaixo, exceto Ruth e Kitty, que voltaram para casa no período em
que Helena fugiu e perderam toda a emoção.
— Jasper gosta muito do seu Sr. Knight, Helena. — disse Harriet, com a voz
calorosa — Eles se tornaram como carne e unha, nos últimos dias, então, nós nos
veremos muitas vezes.
— Estou tão feliz. — respondeu Helena, falando sério.
Gabe merecia ter amigos, pessoas que pudessem ver seu valor e todas as suas
boas qualidades, e não dar a mínima para seu nascimento menos nobre.
— Estou tão feliz que tenha escolhido esse tom específico de azul-esverdeado.
— disse Prue, dando-lhe um olhar crítico — Com esse detalhe turquesa e esse
maravilhoso conjunto de diamantes e esmeraldas que o Sr. Knight lhe deu, o efeito
é algo mágico sobre o verde dos seus olhos. Tão adorável. — disse, pegando o
lenço e limpando vigorosamente seu nariz — Esse bebê me transformou em uma
chorona. — reclamou, aceitando outro lenço limpo que Helena extraiu da gaveta da
penteadeira.
— Não se preocupe, Sua Graça. Tenho uma dúzia de lenços escondidos na
minha retícula, se precisar deles. — disse Tilly, com um sorriso plácido.
— Obrigada. — disse Prue, fungando — Precisarei de cada um deles, garanto,
então, é melhor se sentar perto de mim durante a cerimônia.
Tilly brilhou de prazer com a honra que Prue lhe estendia, e Helena sentiu
orgulho e felicidade por sua cunhada. Temia que Prue e Robert pudessem culpar
Tilly por ajudá-la a fugir, mas, pelo contrário, a devoção dela os tocou, e ficaram
felizes por Helena ter uma amiga tão dedicada em sua criada. O Sr. Chapel também
não perdeu tempo e cortejou Tilly a sério, desde o momento em que esta chegou à
porta do escritório de Gabe. Então, a mudança de vida de seus patrões acabaria
funcionando muito bem, pois Gabe já havia dito à Helena que Francis Chapel era
indispensável, e Helena havia dito o mesmo de Tilly.
— Como tudo isso é emocionante, agora só falta Matilda. — disse Bonnie,
com sua honestidade habitual — Então, podemos concentrar toda a nossa atenção
em encontrar um cavalheiro esplêndido para ela. Tenho certeza de que devemos
conhecer pelo menos um punhado de cavalheiros elegíveis entre nós, se nos
dedicarmos a isso.
Helena observou Matilda ficar branca. Estava quieta hoje, Helena tentou
chamá-la de lado e perguntar se algo estava errado, mas Matilda apenas riu e disse
que não, que estava muito feliz por estar participando do casamento e que não havia
nada errado. Helena não se convenceu, além disso, sabia por que Matilda ficara
horrorizada com suas amigas tentando arranjar-lhe casamento. Estava apaixonada
por Montagu, quer admitisse ou não, a alguém ou mesmo a si própria.
Houve uma batida suave na porta e Minerva irrompeu um momento depois,
segurando a cartola maltratada, com os desafios, no ar. Todas ficaram em silêncio e
olharam timidamente para Matilda. Se estava pálida antes, agora perdera toda a cor.
— Oh, não! — refutou, balançando a cabeça — Já disse, eu não…
— Sim. — todas disseram em uníssono.
— Matilda! — disse Bonnie, estendendo a mão e pegando a sua. É a última de
nós, e, provavelmente, a que mais merece um final feliz. Segurou nossas mãos e
secou nossas lágrimas, nos fez xícaras de chá e nos deu sermões, agora é a nossa
vez. Talvez o desafio não tenha um marido digno caindo a seus pés, mas tenho
certeza de que pode se divertir um pouco, uma distração talvez, até que apareça
alguém novo para sua vida. Esse é o negócio sobre esses desafios. Não importa se
ele alcança alguma coisa ou não. É mais sobre ter a confiança para fazer algo fora
do comum, do que o real objetivo do desafio.
— Por favor, Matilda. — disse Minerva, sorrindo para ela — Faça isso por
nós, pelas Senhoritas Peculiares.
Matilda soltou um suspiro incerto — Ora, são criaturas terríveis, como, diabos,
posso dizer não?
— Não pode. — disse Helena, batendo palmas com entusiasmo.
Matilda bufou e revirou os olhos, antes de se virar para encarar Minerva —
Bem, não fique aí parada. Dê-me o maldito chapéu!
23
Querida Srta. Hunt,
Queria que estivesse aqui conosco, as
coisas estão muito estranhas. Meu tio não
me deixa sumir de vista. Fiquei zangada
com ele, ontem, porque não me diz nada,
então o castiguei, me escondendo. Quando
me encontrou, me arrependi muito. Estava
tão frenético, que parecia que ficaria
doente. Não sei por que deixamos Londres
tão rápido ou por que o tio está tão quieto
e preocupado.
Sei que não devo pedir que venha. Tio
Monty me proibiu de fazer isso. Diz que a
senhorita não pode mais ser amiga dele. E
que, se todos pensassem que gosta dele,
seriam cruéis e nunca mais falariam com a
senhorita. Não entendo por que isso ou
porque existem regras tão estúpidas. Odeio
todas essas regras e as pessoas que nos
fazem obedecê-las. Quando crescer, não
obedecerei às regras, se não concordar
com elas, e não me importarei com o que as
pessoas falem sobre mim, por causa disso.
Queria lhe dizer que nós dois ainda
somos seus amigos, não importando o que
as pessoas estúpidas digam, mesmo que
não possamos mais vê-la.
Sinto a sua falta.
—Trecho de uma carta da Srta.
Phoebe Barrington para a Srta. Matilda
Hunt.

BEVERWYCK, LONDRES.
24 DE ABRIL DE 1815.

O casamento foi bem atendido, com todas as Senhoritas Peculiares presentes,


exceto Ruth e Kitty. Enquanto esperavam o momento de se juntar a todos para a
cerimônia, Helena se agarrou ao braço de seu irmão. Iria entregá-la e parecia
terrivelmente imponente e ducal, ela lhe sorriu, grata por muitas coisas, que não
sabia muito bem como expressar.
— O quê? — ele perguntou, olhando-a com um sorriso tolo e franzindo a
testa. Robert olhou para baixo, autoconsciente — Há algo errado ou tenho espinafre
entre os dentes? Por que está me olhando assim? Não vai passar mal, vai?
— Idiota. — disse Helena, balançando a cabeça para ele — Aqui estava eu,
pensando que irmão adorável tenho, e teve que abrir a boca e estragar tudo.
— Oh! — disse ele, iluminando-se — Bem, sim, é bastante afortunada,
obviamente. Quero dizer, não teria apontado isso antes, mas como abordou o
assunto…
— Oh, silêncio, antes que eu sinta a necessidade de chutá-lo novamente.
— Não se atreva! Ainda tenho um hematoma do último. Tenho pena do pobre
Gabriel, realmente tenho. Disse-lhe para vir até mim, caso começasse a abusar dele,
como sempre fez comigo.
Helena revirou os olhos — Oh, é o pobre Gabriel agora? Não demorou muito.
Não pense que Gabe vai ficar do seu lado na próxima vez que tivermos uma
discussão boba, ele é inteligente demais para isso.
Essa discussão foi encerrada quando um lacaio acenou para se juntarem ao
grupo de pessoas, e foi uma noiva elegante e seu irmão orgulhoso que caminharam
de braços dados, para se juntar ao clérigo e Gabriel na sala.
Helena sorriu ao ver Gabe esperando por ela. Meu Deus, estava lindo, com um
casaco azul escuro e calças castanhas. Um alfinete de esmeralda e diamante
brilhava em sua gravata, combinando perfeitamente com o conjunto de joias que
lhe dera, como presente de casamento. Helena se sentiu tonta de felicidade quando
Robert deu um passo à frente para cumprimentar Gabe, mal ouviu uma palavra da
cerimônia, embora tenha dado, de alguma forma, as respostas apropriadas, quando
necessário. Tudo o que podia fazer, era olhar para o homem glorioso diante dela e
se perguntar sobre sua própria sorte.
Ele parecia terrivelmente solene e sério, Helena sentiu o pequeno diabo dentro
dela, que amava um pouco de perversidade, se agitar com o desejo de fazê-lo rir.
Então, quando o clérigo finalmente terminou seus votos e disse a Gabe que poderia
beijar a noiva, ela aceitou sua casta pressão de lábios com um suspiro feliz, e então
se inclinou e sussurrou em seu ouvido.
— Podemos ir para a cama, agora?
Seus olhos se arregalaram, um tom de cor manchando suas bochechas, de tal
forma que qualquer um pensaria que ele era a noiva tímida.
— Miserável! — ele murmurou, embora houvesse riso em seus olhos —
Tenho me esforçado tanto para me comportar e pensar na santidade do casamento e
no peso do compromisso, e agora arruinou tudo.
— Oh, bom. — disse Helena, sorrindo para ele — Estava com um medo
terrível de que ficasse sério e cavalheiresco, quando a única coisa que quero no
momento é que me jogue por cima do ombro e me leve embora.
Ele soltou um som torturado, que a excitou na hora, mas depois foram
engolidos por amigos e familiares e conduzidos à luxuosa recepção do casamento,
onde foram brindados e festejados. O enorme bolo de casamento foi compartilhado
por todos, exceto pela pequena camada superior, que seria armazenada para ser
usada no batismo de seu primeiro filho.
— Quantos filhos teremos?
Helena olhou em volta e viu que Gabe estava observando, enquanto Matilda e
Bonnie brigavam de forma brincalhona, sobre quem pegaria Léo no colo, primeiro.
Alice observava a cena com orgulho e chamou a atenção de Helena, piscando para
ela de uma maneira que sugeria que sua hora chegaria em breve. Helena corou.
— Não sei, na verdade não pensei sobre isso.
Gabe arqueou uma sobrancelha e as bochechas de Helena ficaram mais
quentes.
— Sobre o número de filhos. — retrucou — Não sobre… obviamente, pensei
sobre…
— Sobre o quê?
— Não vou falar com você. — disse com dignidade, afastando-se dele, antes
que suas bochechas explodissem em chamas.
— Helena.
Sua voz era quente e suave, e quando se virou para ele, viu a adoração em seus
olhos escuros.
— O senhor, meu marido, é uma provocação terrível. — repreendeu-o
gentilmente.
— Vou parar. — prometeu — Apenas quero que tudo seja perfeito, quero que
seja feliz.
Helena riu disso e se inclinou para ele — Então pode se orgulhar, pois excedeu
e muito as expectativas.
Eles suportaram outra rodada de brindes e bons desejos, esperaram até que a
festa se enchesse com a fácil onda de conversas animadas. O salão foi inundado
com o ar descontraído que qualquer anfitrião espera quando os hóspedes são
amigáveis e bem à vontade, e descartaram muitas garrafas de champanhe.
— Oh, Gabe, certamente podemos sair agora? — Helena implorou — Todo
mundo está ocupado, ninguém vai notar se sumirmos.
— Não tenho certeza se devemos… — fez uma pausa, com o olhar impaciente
dela — Acalme-se.
Apenas Bonnie os notou saindo, e a garota terrível correu até eles, seus olhos
cheios de travessura.
— Divirtam-se. — sussurrou, antes de começar a rir e voltar para o marido,
sentando-se em seu colo.
Helena riu e depois se viu encantada com o fato de seu pobre marido estar
corando. Pegou a mão dele e o arrastou para fora do salão, descobrindo que a palma
da mão de Gabe estava úmida. Meu Deus, certamente não estava nervoso?
A ideia tomou forma, no entanto, quando a colocou na carruagem e se sentou
ao seu lado. Deveriam passar as primeiras noites de seu casamento no Claridge’s, já
que Gabe se recusara categoricamente a ter sua noite de núpcias em Beverwyck.
Disse que não importava o tamanho da casa, não defloraria sua esposa sob o mesmo
teto que seu irmão. Quando Helena o olhou, percebeu que estava terrivelmente
tenso. Entrelaçou os dedos com os dele e Gabe levou sua mão aos lábios, beijando
cada dedo por vez e fazendo seu interior tremer com mais força, a cada pressão de
sua boca.
Foi uma viagem curta e, antes que percebessem, estavam sendo recebidos no
suntuoso hotel. Gabe não poupara despesas e o aconchegante conjunto de quartos
estava tomado por flores, champanhe em um balde de gelo, tigelas de frutas e
pratos de doces, espalhados requintadamente.
Tendo dado uma gorjeta generosa ao criado, Gabe fechou a porta e se virou
para ela, e então Helena soube. Estava aterrorizado. Helena reprimiu um sorriso,
tocada por Gabe estar assim, tão preocupado. Não tinha dúvida que era devido ao
fato de ser virgem, que Gabe estava assim.
Bem, teria que fazer algo a respeito. Talvez Gabe tenha ficado muito surpreso
ao perceber que Helena não estava nem um pouco nervosa, apenas cheia de
antecipação, mas se continuasse muito nervoso, as coisas poderiam ficar
complicadas, então…
Helena lhe lançou um olhar tímido por baixo dos cílios.
— Podemos nos sentar juntos, por um momento? — Helena perguntou,
mantendo a voz hesitante, pois, certamente, se Gabe acreditasse que ela estava
nervosa, teria que tranquilizá-la e, ao fazê-lo, talvez se sentisse melhor.
— Certamente! — ele respondeu imediatamente, o alívio em seus olhos era
tão flagrante, que Helena teve que morder o lábio.
Gabe se moveu em direção ao sofá macio, mas Helena balançou a cabeça e o
guiou até uma cadeira, perto da lareira. Ele se sentou, dando-lhe um olhar confuso,
até que Helena se sentou em seu colo e se aconchegou nele.
— Pronto, assim está melhor. — disse ela, descansando a cabeça sobre o
ombro dele — Como isso é bom. Estamos sozinhos, sem nenhum irmão zangado
nos perseguindo. Não mais roubando alguns momentos em um corredor escuro e
sem medo de sermos descobertos.
— Sim. — Gabe concordou, e ela ouviu o sorriso em sua voz — No entanto,
gostei bastante daqueles momentos no corredor.
Helena riu e assentiu — Eu também, embora tenha gostado ainda mais dos que
aconteceram no palheiro.
— Gostou?
Helena o olhou — Está procurando elogios, Sr. Knight?
— Não. — disse, indignado, e então, timidamente: — Sim.
— Muito bem, então. Foi maravilhoso, amei o que fez, então, por favor, faça
de novo. — viu seus olhos escurecerem de desejo e sorriu, puxando seu pescoço —
Beije-me, Gabe, por favor.
Fez o que ela pediu, pequenos apertos suaves de seus lábios no início, que
rapidamente aqueceram quando sua boca se firmou na dela, sua língua buscando
entrada, o que ficou muito feliz em conceder. Os pequenos beijos ternos se
tornaram um longo e quente emaranhado de bocas e línguas, enquanto o calor subia
entre seus corpos e Helena se contorcia em seu colo. Cada vez mais impaciente,
pegou a mão dele e a guiou até seu seio, suspirando de prazer quando o marido o
apertou e acariciou.
— Toque-me. — ela implorou, procurando por ar, enquanto se afastava da sua
boca, por tempo suficiente para fazer a exigência — Faça o que fez comigo no
palheiro. Por favor, Gabe.
A respiração de Gabe acelerou, estendeu a mão e procurou a bainha do
vestido, nunca tirando os olhos dela, deslizando a mão sob as anáguas, e então
sobre suas pernas. O coração de Helena disparou, observando o rosto de Gabe,
enquanto abria as pernas para ele, encorajando-o a subir mais, intrigada pela
maneira como seus olhos se fecharam, pelo gemido baixo que escapou dele, quando
encontrou os cachos emplumados e arrastou os dedos por eles.
— Assim? — ele perguntou, baixinho.
Helena assentiu, além das palavras, puxando a cabeça de Gabe de volta para
beijá-lo. Ele a beijou lenta e sensualmente, enquanto um dedo circulava e
acariciava o local escondido sob suas saias. Helena sentiu sua respiração acelerar,
seu sangue fluindo mais rápido em suas veias, quase borbulhando, como se o
champanhe que havia bebido tivesse colocado bolhas correndo sob sua pele.
Helena soltou um pequeno protesto quando a mão de Gabe se afastou e ele se
levantou, erguendo-a e colocando-a de volta na cadeira.
— Gabe! — Helena implorou, uma nota de reprovação na voz ao dizer seu
nome, mas apenas sorriu para ela e a puxou para a borda do assento.
Os olhos de Helena se arregalaram quando Gabe afastou suas pernas e se
acomodou entre elas.
— O que? — ela começou, a pergunta morrendo em sua boca, enquanto ele
levantava suas saias, expondo suas pernas e depois puxando as saias ainda mais
para o alto. Ficou olhando o que havia revelado, os cachos macios que estava
explorando, mas nunca tinha visto.
— Confia em mim? — ele perguntou, com a voz rouca.
Bem, aquela pergunta era fácil.
— Claro! — ela respondeu, recostando-se na cadeira e olhando para ele com
interesse.
O olhar pesado de Gabe voltou para o lugar entre as coxas de Helena, ela
sentiu uma onda de calor, um latejar dolorido de desejo, como se ele a tivesse
tocado lá. Consciente da qualidade de seu olhar, ela se atreveu a levantar uma perna
e prendê-la ao lado da cadeira, dando-lhe espaço para fazer o que suspeitava viria a
seguir.
Gabe respirou fundo, colocando as mãos acima das ligas dela. Seus dedos
estavam quentes e firmes, enquanto acariciava a pele macia, pressionando
suavemente suas coxas, ainda mais. Helena se contorceu com antecipação,
excitação e nervosismo. As carícias peritas do marido acendendo fogos sob sua
pele, quando baixou a boca sobre ela, fazendo Helena gemer alto com a sensação e
inclinar a cabeça para trás, sua mente completamente vazia, todos os sentidos
consumidos pelo lugar onde a boca dele pressionava, quente, molhada e
pecaminosa.
Talvez fosse uma bênção Helena não ser propensa à timidez, ante os sons
decadentes que ela própria estava fazendo, a maneira desavergonhada como estava
se contorcendo e arqueando sob ele, caso contrário, poderia permanecer corada por
vários dias. Helena se regozijou ao perceber que tudo aquilo era dela: aquele
homem, aquele prazer, e todas as coisas maravilhosas que ainda tinham para
compartilhar.
— Cristo, Helena, meu amor… — Gabe deu beijos ávidos na parte interna de
suas coxas, fazendo Helena quase chorar de desejo.
— Não pare. — ela implorou, rindo calorosamente, antes que Gabe voltasse à
sua missão, deslizando a língua sobre seu sexo, fazendo-a se sentir amada,
desejada.
Gabe continuou a atormentá-la da mesma maneira deliciosa, repetidamente,
lambendo-a, até que seu corpo se rendeu, não aguentou mais, se desfazendo sob seu
toque. Helena percebeu, em meio à névoa do clímax, que Gabe a pegou pelos
braços, mas se sentia um peso morto, seu corpo formigando de prazer. Não
conseguia abrir nem mesmo os olhos, muito menos perguntar o que ele faria a
seguir.
— Fique de pé, querida. — ele murmurou, deslizando os pés dela no chão.
— Acho que não posso. — ela respondeu, agarrando-se às lapelas dele — Fez
algo com meus joelhos, não funcionam.
Gabe riu, enquanto a guiava para a cama — Apenas tente não cair, enquanto
tiro o vestido. — Por que está usando vestido? — ela perguntou, impressionada
com sua capacidade de fazer uma piada, quando mal conseguia falar.
— Haha. — ele riu e beliscou a orelha dela.
Ela voltou a si, cada vez mais consciente do puxão das fitas e do deslizamento
de botões, enquanto Gabe percorria as várias camadas que envolviam seu corpo. No
momento em que ficou apenas com sua chemise e suas meias, se mexeu,
perfeitamente acordada, mais uma vez, e acesa pelo desejo. Virou-se, recostando-se
no final da cama, observando, com interesse, enquanto Gabe se despia.
— É tão bonito. — disse, com um suspiro, enquanto ele jogava a camisa para
um lado, revelando um peitoral poderoso e braços fortes.
Gabe parou e franziu um pouco a testa — Acho que sou eu quem deveria lhe
dizer isso.
— Já me disse, várias vezes, agora é a minha vez, e estou falando a verdade. É
magnífico, mais impressionante do que os deuses gregos e romanos, que vemos
esculpidos em mármore. Especialmente… — ela pausou, olhando diretamente para
o objeto em questão, especialmente quando tirou as calças e ficou diante dela,
gloriosamente nu — Ali! — terminou, seus lábios se contorcendo em um sorriso,
que tinha certeza era realmente perverso.
— É mesmo? — ele perguntou, com a voz baixa, mas com divertimento — E
prestou atenção especial, não foi?
— Certamente! — disse, arrastando o olhar para o rosto dele — Todos agem
como se jovens damas fossem felizes por serem inocentes e totalmente desprovidas
de interesse em corpos masculinos ou no leito conjugal, quando, na verdade, somos
tão curiosas quanto qualquer pessoa. Por que não deveríamos? É terrivelmente
frustrante ser mantida na ignorância e fingir choque ao ver uma estátua nua. Vi uma
jovem desmaiar, uma vez, e havia até uma folha de figo cobrindo as partes cruciais.
Que idiota, pensei, mas então sou uma criatura terrível, como bem sabe.
Gabe balançou a cabeça, um sorriso curvando seus lábios — É maravilhosa.
Quero dizer, é terrível, obviamente, mas estou muito feliz com isso, Helena. Nunca
conheci ninguém como você na minha vida, e… e estou irremediavelmente
apaixonado, espero que saiba disso.
Helena sorriu, de repente, estranhamente tímida à luz daquelas palavras tão
adoráveis — Eu sei, e me considero a mais sortuda das mulheres. O sentimento é
mútuo, aliás. Estou totalmente arrebatada, foi assim desde o início, o que deve ter
percebido pela maneira como o persegui, exigindo sua atenção.
Sua expressão mudou, ficando séria novamente.
— Sinto muito. — disse ele, aproximando-se dela e tocando sua bochecha
com algo próximo à reverência — Pela maneira como a tratei, pelas coisas que
disse.
— Eu não sinto. — disse ela, simplesmente — Não me arrependo, nem por um
momento. Foi maravilhoso, cada segundo. O momento mais emocionante da minha
vida. Bem, — emendou, com um sorriso — até agora.
Gabe riu e se aproximou ainda mais, puxando-a para os braços e beijando-a —
Deixe-me ver o que posso fazer sobre isso. — ele murmurou, contra a pele dela.
Com um movimento rápido e econômico, Gabe a despojou de sua chemise e
depois se afastou, absorvendo-a. Helena sentiu a excitação se enrolar em sua
barriga, com a maneira como seus olhos escuros viajavam sobre ela. Parecia que
Gabe queria devorá-la de uma só vez. Era perfeitamente excitante.
— Deite-se na cama, amor.
Helena não hesitou e pulou na cama, com bastante entusiasmo e de forma nada
feminina. Não que se importasse, afinal sabia que Gabe não ligaria. Ele não tinha
interesse em sua timidez fingida de donzela. Gabe não queria que ela fingisse ser
nada além do que era, e Helena estava impaciente, vorazmente curiosa e ansiosa,
além das palavras, para colocar as mãos nele. Helena não perdeu tempo em fazê-lo,
depois que Gabe se deitou ao seu lado, tremendo de prazer, com a sensação de sua
pele quente contra a dela. Gabe era uma mistura deliciosa de pele sedosa e pelos
grossos, que se esfregavam nas partes mais sensíveis de seu corpo, da maneira mais
perturbadora.
Estava deitado com a metade do corpo sobre o dela, uma coxa pesada entre as
suas pernas, enquanto sua mão explorava preguiçosamente o corpo de Helena. Seus
beijos eram lentos e profundos, lânguidos e luxuosos, como se houvesse todo o
tempo no mundo e Helena não estivesse fervendo de impaciência. Helena
pressionou-se contra a coxa de Gabe, procurando alívio, e sentindo-se um pouco
ofendida quando ele riu.
— Não, não fique zangada. — a acalmou, interpretando corretamente seu bufo
de frustração — Não é uma corrida, querida. Será melhor se tomarmos o nosso
tempo. Eu prometo.
Molhada, ela tentou relaxar, mergulhar em seus beijos e apenas experimentar a
sensação maravilhosa que era estar perto dele, a indulgência decadente de tocá-lo
como quisesse. Ainda assim, aquela impaciência fervente incendiou seu corpo e, no
momento em que sua mão deslizou entre suas coxas, estava tão excitada, que levou
pouco mais do que um simples toque para fazê-la desmoronar novamente, gemendo
de surpresa, quando o êxtase tomou conta dela.
Antes mesmo dela recuperar o fôlego, Gabe se moveu, acomodando-se entre
suas pernas, e Helena gemeu com o deslizar de seu membro sobre sua carne
sensível. Ele a beijou, roubando o que restava do ar em seus pulmões, enquanto
abria ainda mais suas coxas. Helena ofegou novamente, as ondulações de seu
clímax ainda fazendo efeito sobre ela, aumentadas pela percepção do que Gabe
estava fazendo. A cabeça dela inclinou para trás, e Gabe levou o mamilo à boca,
chupando forte. Helena gemeu alto e Gabe entrou nela, com um gemido de prazer
tão profundo, que só a excitou ainda mais.
— Gabe! — disse, seu nome pouco mais do que sussurro, enquanto ele entrava
por inteiro em seu interior.
— Está tudo bem? — perguntou rouco, colocando o peso nos cotovelos e
olhando para ela, com preocupação nos olhos.
Helena não pôde evitar, riu. Estar bem, não descrevia o que estava sentindo.
— Maravilhosa, — respondeu, antes de acrescentar, com um toque de
impaciência — surpreendente. Não pare, pelo amor de Deus!
— Oh, Deus! — disse ele, seus ombros tremendo — Eu a amo, além de
qualquer coisa… Meu Deus.
Não havia mais risadas e nem mais palavras - nada coerente, pelo menos -
enquanto Gabe se movia, com concentração. Helena envolveu-se em torno dele,
perdida no prazer, na felicidade de ter encontrado esse homem extraordinário e
reivindicou-o para si. As costas de Gabe estavam molhadas pelo esforço, os sons
que fazia eram primitivos, Helena amou cada momento, e mais especialmente o
êxtase que a estava chamando de novo. Gabe tremeu, seu grito feroz de prazer, o
suficiente para fazer faíscas voarem atrás de suas pálpebras, enquanto Helena
agarrava-se aos seus ombros.
Após o êxtase compartilhado, ficaram imóveis e ofegantes, até que Gabe
soltou uma suave gargalhada.
— Todo dia ao seu lado é uma aventura, Helena. — disse, e desabou sobre ela.

— Acho que devemos desafiar Minerva e Inigo, Harriet e Jasper a fazer uma
corrida de Londres para Brighton.
— Parece divertido, mas não tenho certeza se Jasper deixará Harriet fazer isso,
amor. — disse Gabe.
Estavam sentados na cama, apoiados nos travesseiros, Helena deitada contra o
peito de Gabe. Ela inclinou a cabeça para ele — Por que não?
Ela sentiu Gabe dar de ombros — Pelo jeito que ele a está tratando, diria que
ela está grávida.
Helena se virou em seus braços para olhá-lo no rosto.
— Não! — ela exclamou, com os olhos arregalados — Ela não pode estar!
Gabe riu, um pouco surpreso. — Não acredita que Jasper esteja pronto?
Helena bufou — Não é isso, acho que ela teria me contado. Teria contado a
nós, as Senhoritas Peculiares, quero dizer.
Gabe brincou com um de seus cachos e deu um sorriso irônico — Acredito
que teria feito isso, se não tivesse roubado seu momento, fugindo e depois se
casando. Suspeito que ela segurou o segredo, esperando, até que todo esse
burburinho tivesse diminuído.
— Oh! — disse Helena, sentindo-se miserável — Oh, não. Que horrível. Oh…
— Não se martirize, amor. — disse Gabe, acalmando-a e puxando-a de volta
contra o peito dele — Não tinha como saber, e duvido que ela se importe. Harriet
estava tão feliz por você, hoje, não acha?
Helena assentiu, tranquilizada — Sim, ela estava. Bem, vou fazer muito caso
quando fizer o anúncio. Amo ver todo mundo começando suas famílias. Primeiro
Alice e Nate com o pequeno Leo, Robert e Prue em breve, e agora Harriet e Jasper.
Ela deu um suspiro feliz.
— Está ansiosa para ter filhos, minha querida? — ele perguntou, uma nota
hesitante na voz.
— Certamente estou! — exclamou, virando-se e depois sentindo uma pontada
de alarme, enquanto se perguntava se talvez Gabe não estivesse — E você?
Para seu alívio, seus olhos ficaram calmos e quentes e ele assentiu — Nunca
tive pais, nunca soube o que era ter uma família, mas… gostaria muito de aprender.
— Isso parece adorável. — disse Helena, sorrindo — Vou ajudá-lo a
compensar todas as coisas que perdeu. Tem a minha palavra sobre isso, Gabe.
Ele se inclinou para frente e apertou um beijo no nariz dela — Já está
compensando, meu amor. Vamos construir uma família grande, talvez não
imediatamente, porque ainda temos muitas coisas para fazer.
— Nós temos, não é? — disse ela, sorrindo para o marido.
Ele assentiu — Tantas aventuras e tantos escândalos para eu resgatá-la.
— Como é? Posso me resgatar sozinha, sabe bem.
Ele riu e assentiu gravemente — Ah, eu sei. Vai me vencer em qualquer jogo
que decidir que devemos jogar e depois acalmar meu pobre ego, compensando-me
de outras maneiras. Certo?
— Certamente.
— Posso viver com isso.
— Bem, Sr. Knight, acho que precisamos planejar nossa próxima corrida.
— Nós, Lady Helena?
— Sim.
— Muito bem, amor, mas esta será uma corrida lenta.
Helena olhou para ele com uma carranca — Não existe nada disso.
— Oh, mas existe. — disse Gabe, sua voz baixa — Quer uma demonstração?
Helena sentiu um pequeno puxão de excitação dentro dela, enquanto seu
coração acelerava — Quero.
Ele a virou de costas e pairou sobre ela, um brilho perverso em seus olhos —
Vamos ver quanto tempo consegue aguentar, meu amor. O primeiro a ceder, perde a
corrida.
— Mas disse antes que não era uma corrida. — comentou, sorrindo.
Ele se inclinou e puxou suavemente o mamilo dela com os dentes, fazendo
com que a respiração de Helena ficasse presa na garganta — Bem, desta vez é, mas
uma corrida lenta.
— E o que ganho se vencer? — Helena perguntou, as palavras um pouco
fracas.
— Meu amor e gratidão eternos.
— Já tenho isso. — apontou.
— Certamente que sim. — Gabe murmurou e Helena decidiu que - por uma
vez - não se importava muito em ganhar ou não.
Damas Ousadas - Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de
uma leoa, uma pessoa apaixonada, disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se
puder encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Doze garotas. Doze desafios em um chapéu. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Em seguida, na série, o tão aguardado
Damas Ousadas, Livro 11

Um caso de amor condenado…


Matilda Hunt sabe o que o Marquês de Montagu quer. Ele não fez segredo do
fato de que a deseja e a quer para sua amante. Apesar da força da atração que cresce
entre os dois, Matilda lutou para mantê-lo à distância e para negar o que estava se
tornando cada vez mais inevitável. Com a última esperança de um futuro
respeitável arrancada dela, um futuro de segurança, amor e uma família, o homem
que a arruinou, oferece-lhe a única chance de encontrar a felicidade, não importa
quão fugaz seja.
Um homem perigoso…
No entanto, após ceder à determinação em manter sua honra intacta, Matilda é
atraída para o mundo de Montagu e, ao fazê-lo, descobre um homem com segredos,
um homem que não é tudo o que ela gostaria que fosse. Esse mundo está
emaranhado em mentiras e traições e é muito mais perigoso do que poderia ter
imaginado, e não apenas para seu coração.
Um desafio que ela não pode recusar …
Para ter tudo o que quer, Matilda deve arriscar tudo por amor e arrancar a
verdade do homem de quem não consegue se afastar.
À medida que mais e mais pessoas a alertam sobre o implacável e cruel
marquês, Matilda se pergunta, se realmente é uma boba por não acreditar. Anjo,
demônio… ou um pouco dos dois?
Vire a página para uma prévia de To Hunt the Hunter…
1
Querida Srta. Hunt,
Queria que estivesse aqui conosco, as
coisas estão muito estranhas. Meu tio não
me deixa sumir de vista. Fiquei zangada
com ele ontem, porque não me diz nada,
então o castiguei me escondendo. Quando
me encontrou, me arrependi muito. Ele
estava tão frenético que parecia que ficaria
doente. Não sei por que deixamos Londres
tão rápido ou por que o tio está tão quieto
e preocupado.
Sei que não devo pedir que venha. Tio
Monty me proibiu de fazer isso. Ele diz que
a senhorita não pode mais ser amiga dele.
E que, se todos pensassem que gosta dele,
seriam cruéis e nunca mais falariam com a
senhorita. Não entendo por que isso ou por
que existem regras tão estúpidas. Odeio
todas essas regras e as pessoas que nos
fazem obedecê-las. Quando crescer, não
obedecerei às regras, se não concordar
com elas e não me importarei com o que as
pessoas falem sobre mim por causa disso.
Queria lhe dizer que nós dois ainda
somos seus amigos, não importa o que as
pessoas estúpidas digam, mesmo que não
possamos mais vê-la.
Sinto a sua falta.
—Trecho de uma carta da Srta.
Phoebe Barrington para a Srta. Matilda
Hunt.

BEVERWYCK, LONDRES.
24 DE ABRIL DE 1815.

Matilda observou, com emoções conflitantes, enquanto Helena escapava com


seu novo marido. Os dois estavam desesperados para ficarem sozinhos, ela não
pôde deixar de achar graça. Lady Helena foi a última de seus filhotes a se casar, e
garantir um futuro com segurança. Como Bonnie havia apontado, sobrou apenas
ela. Não disse aquilo com qualquer malícia, na verdade, Bonnie estava sendo gentil,
apenas queria vê-la tão feliz quanto as outras. De alguma forma, isso não a fez se
sentir melhor. Além disso, tinha coisas mais importantes para se preocupar do que
brincar com a ideia de que estava procurando um marido. Desistiu de fingir que
havia a menor chance de se apaixonar por outra pessoa, não quando Lucian
ocupava todos os seus pensamentos. Talvez um dia, ela se sentisse capaz de
enfrentar a perspectiva, provavelmente quando estivesse velha demais para
interessar a alguém…, mas, por enquanto, não podia negar o que seu coração estava
dizendo. Lucian estava com problemas, embora, de que tipo, Matilda não tivesse
ideia, mas Phoebe temia por ele. Os dois precisavam dela, e se havia algo que
Matilda queria, acima de tudo, era ser necessária.
Foi fácil escapar do grupo sem ser notada e, quando voltou para casa, ficou
aliviada ao descobrir que sua mala estava feita, como havia pedido. Ela se trocou
rapidamente, enquanto a bagagem era carregada na carruagem, e quando desceu as
escadas, encontrou sua criada pessoal, a Sra. Bradford, esperando por ela, seu rosto,
uma expressão em branco. Matilda se preparou, pronta para o que estava por vir.
— Isso não vai funcionar, Srta. Hunt. Eu sei tão bem quanto qualquer pessoa
que a senhorita é uma boa menina e que todos esses rumores perversos não eram
verdade, mas isso… isso é loucura e sabe disso.
— Sim. — disse Matilda, sorrindo para a mulher. Ela era atarracada, do tipo
que não falava coisas sem sentido, exatamente o tipo de acompanhante que
procurou, que não estava excessivamente preocupada com os deveres de
acompanhante, se tivesse uma taça de champanhe e um companheiro para
conversar — Senhora Bradford, sei que está certa e sinto muito se minha decisão
está lhe causando angústia.
— Bem, está, Srta. Hunt, isso é um fato. A senhorita tem a minha promessa de
que não vou dizer uma palavra dessa loucura, mas não farei parte dela. Isso é tudo o
que tenho a dizer.
Matilda assentiu, sentindo-se um pouco aliviada que a verdade fosse dita. Se
ela iria se queimar, preferiria não ter uma audiência para isso. Não que estivesse se
esforçando para se arruinar, se tudo corresse bem, ninguém saberia de nada, mas,
ainda assim, era uma loucura, não havia como fugir disso.
— Está tudo bem, Sra. Bradford. Irá para a casa de sua irmã?
— Sim, e como sei que a senhorita tem uma reputação a zelar, quando tudo
isso acabar, poderá me encontrar lá, no seu retorno.
— Obrigada. — Matilda disse, calorosamente, sabendo que era tudo o que
poderia pedir — E, pela sua discrição, eu agradeço.
— Ah, bem! — disse a Sra. Bradford — O mundo é um lugar cruel para uma
jovem dama, às vezes, e sei que tem um bom coração, bom demais, e esse é o
problema, mas deve fazer o que achar melhor. Tenha uma boa tarde Srta. Hunt,
desejo-lhe boa sorte e que Deus a abençoe.
Matilda observou a mulher sair e depois se virou para o som de passos nas
escadas.
— Bem, vá com Deus, eu que digo.
Matilda sorriu para a criada, enquanto descia as escadas correndo, pronta para
a viagem.
— Oh, Sarah, eu dificilmente posso culpar a pobre mulher. Gostaria de sentir
que perdi a cabeça, mas… bem, meu coração não vai me deixar descansar, até que
eu saiba o que está acontecendo.
— Eu acho que a senhorita e Montagu tem negócios inacabados e essa é a
verdade. — disse Sarah — E é o que as mulheres fazem, não é, seguem seus
corações? Mesmo quando isso as leva ao perigo. Estarei ao seu lado, senhorita, não
importa o que aconteça. Tem a minha palavra.
Matilda piscou para conter as lágrimas, tocada pelas palavras de Sarah. Ela era
uma garota doce e de bom coração, e sempre defendia firmemente qualquer decisão
que Matilda tomava, não importando o quão boba fosse. Suspeitava que Sarah era
muito romântica e, talvez, um pouco ambiciosa, esperando que, por baixo de tudo
aquilo, um dia fosse criada pessoal de uma marquesa. Bem, não havia esperança de
que isso acontecesse, e foi o que Matilda havia lhe dito, mas a verdade era que não
estava convencida de que suas palavras haviam feito efeito.
— Bem, então, é melhor irmos, ou não chegaremos antes do anoitecer. Está
pronta, minha querida?
— Pronta para qualquer coisa. — disse Sarah com um sorriso — Vou verificar
se todas as suas malas foram carregadas corretamente, volto em breve.
Matilda assentiu e foi se acomodar na carruagem. Enquanto aguardava, pegou
a carta que Phoebe lhe enviara e a leu, pela quinquagésima vez.
— Estou indo, Phoebe. — disse baixinho, antes de dobrá-la e guardá-la, mais
uma vez — Estou a caminho.

Bertha Appleton trabalhava em Dern desde menina. Começou como uma


criada de copa, até ganhar um lugar na cozinha, onde seu talento foi rapidamente
reconhecido pela cozinheira da época, a Sra. Drugget. Quando finalmente fora
persuadida a desfrutar de sua aposentadoria, cerca de quinze anos depois,
rapidamente recomendou Bertha para seu lugar. Um gesto que Bertha nunca
esqueceu e por isso sempre visitava a Sra. Drugget na pequena cabana, na
propriedade dos Barringtons. Uma coisa que se poderia dizer dos Barringtons, era
que sempre pagavam bem aos seus criados e cuidavam de suas necessidades.
Tinham que fazer isso, porque, muitas vezes, lealdade não era barata, e com uma
família com tantos segredos, seria difícil encontrar criados leais, e isso era um fato.
Bertha, ou Pippin, como se tornara conhecida pelas últimas crianças
Barrington, tinha visto três marqueses irem e virem, mas não havia dúvida de que o
presente Montagu era seu favorito. Quando criança, era brilhante, animado e
engraçado, e o rapaz mais inteligente que ela já conhecera. O pequeno Lucian, ah,
que sapeca era. Claro que isso foi antes dos dias sombrios, e nada foi o mesmo,
desde então. Ele, certamente, nunca mais tinha sido o mesmo. Tinha partido seu
coração ver a mudança nele, mas o que estava feito, estava feito e não havia sentido
chorar sobre o leite derramado, não importando o quanto isso a entristecesse. Ainda
assim, embora não fosse seu dever fazê-lo, cuidou do sujeito e de sua sobrinha, o
melhor que pôde, e, sem dúvida, ultrapassou a marca, uma ou duas vezes, para
fazê-lo.
Talvez fosse a preferida do mestre, mas ele sabia tão bem quanto ela, que isso
não a abalava e que muitas coisas eram apenas aparência. Era tão popular com eles,
quanto eles eram com ela, isso era muito bom. Então, foi com pouca surpresa que
ao levantar os olhos se deparou com a pequena Srta. Phoebe, que entrou
furtivamente nas cozinhas e estava ao seu lado, em segundos, puxando o avental.
— E o que posso fazer pela senhorita, minha pequena menina?
— Nada. — disse a garotinha, com um suspiro pesado — Estava me sentindo
triste e queria ficar com alguém alegre.
— Ora, não me diga que seu tio não guarda muitos sorrisos para a senhorita?
— Pippin perguntou, puxando uma cadeira na mesa da cozinha e servindo à garota
um copo de leite.
— Sim, ele guarda, é claro, mas não está sorrindo muito, no momento. Não é o
mesmo sorriso que coloca em seu rosto, quando está tentando se certificar de que
eu esteja feliz, para que não me preocupe com ele.
Pippin suspirou por dentro. O problema era que a garota e seu tio eram
farinhas do mesmo saco. Era perspicaz demais para sua idade ou para o seu próprio
bem.
— Sabe por que voltamos, Pippin?
— Como se Sua Senhoria confiasse seus negócios para mim! — Pippin
exclamou, com uma risada, embora soubesse muito bem por que, e a verdade disso
a deixara doente do estômago. Pobre Lucian, parecia mais velho e preocupado,
quando retornaram. Não culpava Phoebe por sua preocupação, ela mesma sentia o
mesmo. Sentiu a atmosfera baixar no casarão, no momento em que ele entrou pela
porta, o peso do passado tão tangível, que era possível cortá-lo com uma faca. O
maldito lugar estava cheio de segredos e Lucian carregava muitos deles, sozinho.
Ela tinha esperança, por um breve momento…, mas não, não havia sentido em
esperar por coisas que nunca aconteceriam. Dever. Deus, odiava essa palavra,
odiava a maneira como aqueles meninos haviam sido ensinados e intimidados a
acreditar que seu único propósito era servir ao nome da família, trazer honra, glória
e poder à grande casa de Barrington. Era seu dever solene alcançar mais do que
seus antepassados, seja através da política ou do casamento, não importava muito,
apenas que os Barringtons eram a maior família do país. Nunca houve qualquer
conversa sobre felicidade ou amor, esses eram conceitos que os filhos de um
Montagu não podiam ter. Coitadinhos.
— Bem, ele também não vai me dizer. — Phoebe disse, com um suspiro,
enquanto Pippin deslizava um prato de biscoitos na frente dela. Com um gesto
afiado, mandou as duas criadas da cozinha saírem, dizendo-lhes para encontrar
trabalho em outro lugar, por ora. Todos os criados eram leais a Montagu, mas não
fazia sentido dar-lhes motivos para tagarelar, se pudesse ser evitado.
— Estava ansiosa para ir ao Gunter’s e ao Astley’s e todos os outros lugares
que Tio Monty prometeu que iríamos, mas não posso reclamar, pois ele parece tão
miserável, que faz minha barriga doer.
Pippin sentiu seu coração apertar em seu peito. Não pela primeira vez, se
amaldiçoou por sua cegueira, todos aqueles anos passados, por não ter percebido
mais cedo o que estava acontecendo debaixo daquele telhado, debaixo de seus
narizes. Ela não era, de forma alguma, uma mulher que tolerasse a violência, em
sua opinião, havia pouco no mundo que não pudesse ser resolvido com um pouco
de honestidade e uma boa conversa, durante uma xícara de chá, mas, lembrar
daqueles dias, trouxe tudo de volta, e queria muito machucar os responsáveis. Mas
não era o lugar dela. Não tinha poder naquela época, muito menos agora. Fez o que
pôde, todos fizeram. Ela, o Sr. Denton e a Sra. Frant, mas os criados eram limitados
no que podiam alcançar, e arriscaram tudo o que ousaram. Agora fazia o que podia,
mais uma vez, por menor que parecesse ser. Puxando a cadeira ao lado de Phoebe,
se sentou.
— Os adultos, às vezes, têm que fazer coisas que não querem fazer, meu
cordeirinho, e pode não parecer fazer o menor sentido agora, mas seu tio está
cuidando da senhorita, da melhor maneira possível. Confia nele, não confia?
— Claro que sim. — disse Phoebe, com os olhos arregalados com a ideia de
que Pippin poderia pensar o contrário — O problema é que, às vezes, acho que ele
não confia nele mesmo. Está sempre lendo aquele livro horrível, depois fica tão
pálido e determinado, como se tivesse se convencido a comer uma lesma.
Apesar de tudo, Pippin sentiu seus lábios se contraírem. Phoebe tinha muita
imaginação e falava umas coisas, vez em quando. Ainda assim, sabia exatamente o
que a garota queria dizer e desejou, sinceramente, ter posto fogo no maldito livro,
quando teve a chance. Não ousou na época, pois sabia que o livro continha muitas
informações que o jovem marquês poderia precisar. Se ela soubesse, então, o que
mais continha, não teria hesitado. O pobre Lucian permitia que a voz de seu pai
ainda o intimidasse, mesmo do além-túmulo, mas agora era tarde demais. O mal
estava feito.
— A senhora acha que ele se casaria com a Srta. Hunt, se não fosse por esse
livro?
Pippin olhou para Phoebe, um pouco surpresa, embora o porquê, não tenha
ideia. Farinhas do mesmo saco, de fato. Não se conseguia passar nada por nenhum
deles.
— Isso realmente não importa, não é? — perguntou com delicadeza — Ele
nunca fará algo que o deixará feliz, se isso prejudicar o nome da família. Sabe
disso.
O rosto de Phoebe escureceu, uma tempestade familiar entrou em seus olhos,
sua mandíbula ficou apertada e, naquele momento, se parecia tanto com o garotinho
energético e vibrante que Pippin conhecera, que queria chorar. Phoebe se levantou,
tão rapidamente, que a cadeira em que estava sentada tombou para trás.
— Eu odeio isso! — gritou, suas mãos esbeltas fechadas em punhos — Odeio
esse nome horrível. Não quero ser uma Barrington. Eu preferiria ser uma Smith ou
uma Brown ou… ou qualquer outra coisa, se isso significasse que ele seria feliz
e… e… Oh, eu odeio isso! — com um soluço estrangulado, Phoebe se virou para
correr, mas Pippin se levantou e a pegou, puxando-a para um abraço forte e
segurando-a com força, enquanto a garotinha gritava toda a sua frustração, até ficar
exausta e se acalmar. Então Pippin sentou-se na cadeira, com Phoebe no colo, e
acariciou seu cabelo, lembrando-se de outra criança e de outra vez, muitos anos
atrás.
Obrigada, claro, à minha maravilhosa editora Kezia Cole.
Para Victoria Cooper, por todo o seu trabalho duro, obra de arte incrível e,
acima de tudo, a sua paciência interminável!!! Muito obrigada. Vocês são incríveis!
A minha melhor amiga, AP, líder de torcida pessoal e portadora de chocolate,
Varsi Appel, pelo apoio moral, aumento da confiança e pela leitura do meu
trabalho, mais vezes do que eu. Amo muito vocês!
Um enorme obrigado a todos os membros do Clube do Livro de Emma! Vocês
são os melhores!

Para meu marido Pat e minha família… Por sempre se orgulharem de mim.
9786599019845

DAMAS OUSADAS - LIVRO 1

Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
DESAFIANDO UM DUQUE
Sonhos de amor verdadeiro e felizes para sempre.
Sonhos de amor são todos muito bons, mas tudo o que Prunella Chuffington-
Smythe quer é publicar seu romance. O casamento a custo de sua independência é
algo que ela não considerará. Experimentou o sucesso escrevendo sob um nome
falso na revista semanal The Ladies, onde seu álter ego está alcançando notoriedade
e fama, a qual Prue gosta bastante.
Um dever que tem que ser suportado…
Robert Adolphus, o duque de Bedwin, não tem pressa em se casar, ele já fez
isso uma vez e repetir esse desastre é a última coisa que deseja. No entanto, um
herdeiro é um mal necessário para um duque e não pode se esquivar disso. Uma
reputação sombria o precede, visto que sua primeira esposa pode ter morrido
jovem, mas os escândalos que a bela, vivaz e rancorosa criatura forneceu à
sociedade não a acompanharam. Devia encontrar uma esposa. Uma esposa que não
seria nem bonita nem vivaz, mas doce e sem graça, e que com certeza ficasse longe
de problemas.
Desafia a fazer algo drástico
O súbito interesse de um certo duque desprezível é tão desconcertante quanto
indesejável. Ela não vai jogar suas ambições de lado para se casar com um canalha
assim como seus planos de autossuficiência e liberdade estão se concretizando. Se
mostrar claramente ao homem que ela não é a florzinha que ele procura, será
suficiente para dar fim às suas intenções? Quando Prue é desafiada por suas amigas
a fazer algo drástico, isso parece ser a oportunidade perfeita para matar dois
pássaros.
No entanto, Prue não pode deixar de ficar intrigada com o ladino que inspirou
muitos de seus romances. Normalmente, ele desempenhava o papel de bonito
libertino, destinado a destruir sua corajosa heroína. Mas será realmente o vilão da
trama desta vez, ou poderia ser o herói?
Descobrir será perigoso, mas poderá inspirar sua melhor história até o hoje.

9786588382103

DAMAS OUSADAS - LIVRO 2

Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
ROUBANDO UM BEIJO
O desejo de arriscar e arrebatar a felicidade.
Ser ousada e beijar um homem ao luar é uma boa ideia, mas os homens e o
luar não caem do céu à vontade.
Até aconteça.
Sob instruções de uma amiga, a monótona Alice Dowding permanece sozinha
numa varanda iluminada pelo luar. Não é o curso de ação mais sensato para uma
jovem geralmente sensata. No entanto, sendo sensata, Alice ganhou um lugar entre
as isoladas e sua única chance provável de se casar, é com um homem que acha
repulsivo.
Tinha que fazer algo.
Uma consciência culpada e um homem mau.
Quando a irmã de Nathaniel Hunt implora por um favor, ele dificilmente pode
recusar. Nathaniel, coproprietário de uma das mais escandalosas casas de apostas
em Londres, é responsável pela reputação destroçada de Matilda, e ela sabe que ele
não está em posição de lhe negar nada.
Ela implora para que ele beije sua amiga tímida em uma noite de luar. No
entanto, uma série de eventos aos quais nenhum deles poderia ter previsto é
desencadeada.
Quando um pequeno favor incendeia um inferno.
Incendiada por um beijo que lhe rouba a alma, a tímida, sensível e enfadonha
Alice, está soltando faíscas por onde quer que seus pés passem, e tudo o que
Nathaniel pode fazer é rezar para que ele não se queime.

9786588382295
DAMAS OUSADAS - LIVRO 3
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
QUEBRANDO AS REGRAS
Um enigma irresistível…
A Srta. Lucia de Feria é possivelmente a mulher mais bonita do mundo e, sem
dúvida, a mais bonita que o visconde de Cavendish já viu.
No entanto, essa beleza misteriosa está tramando algo, algo que convenceu
Cavendish de que seus motivos são menos do que puros.
O visconde não precisa de mais motivação para passar seu tempo na
companhia adorável de Lucia, mas desejo e intriga criam tentações profanas.
Um amante perigoso…
Lucia não é tudo o que parece ser. Ela tem segredos… segredos pelos quais
um homem a mataria.
Agora, com a vingança em seu coração e uma fortuna em jogo, ela está perto
de ter tudo ou perder a vida.
Mas, em cada curva, o Visconde Cavendish está lá, com o seu sorriso de pirata
e aqueles olhos azuis perversos.
Um círculo ousado de amigos…
Quando um incomum clube do livro traz para sua vida damas peculiares,
Lucia fica encantada e atraída por sentir, pela primeira vez, que pertence a algo.
Entre suas novas amigas e um homem pelo qual corre o risco de se apaixonar, seus
planos começam a dar errado.
Essa linda Srta. passou a vida inteira desejando vingança, mas nunca esperou
encontrar ao longo do caminho, algo com o qual se importaria mais.
Lucia não poderia se permitir distrações, amigos ou um nobre desconfiado. No
entanto, de repente, ela tinha os três.
Talvez fosse a hora de quebrar suas próprias regras.

9786588382486
DAMAS OUSADAS - LIVRO 4
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
SEGUINDO SEU CORAÇÃO
Um amor perdido …
Kitty Connolly passou toda a última temporada assegurando que seu tio tem
tentado encontrar um marido, mas há um problema que ele desconhece.
Ela já tem um.
É verdade que tinha apenas onze anos quando a cerimônia foi realizada na
presença do cão de sua família, e seu noivo tinha apenas treze anos. No entanto, os
votos foram trocados e, no que diz respeito a Kitty, uma promessa é uma promessa.
Luke Baxter prometeu amá-la até que a morte o separasse e ele não vai escapar
disso.
Os problemas não param por aí, no entanto, pois Luke desapareceu de sua vida
apenas semanas após seu casamento secreto, e Kitty nunca mais o viu.
Até agora.
As esperanças reacenderam …
Quando Luke aparece do nada na festa na casa de verão do Conde de St. Clair
e anuncia seu noivado com a bela herdeira, Lady Francis Grantham, Kitty fica
atordoada …
… e a honra deve mencionar o problema.
Um coração determinado …
Todo caos se instala quando Kitty ameaça processar por quebra de promessa e
ela tem uma questão de dias para convencer Luke de que sua namorada de infância
vale mais do que a fortuna da Srta. Grantham.
Mas este Luke não é o menino despreocupado de sua infância, e lembrá-lo do
que significa viver por amor, pode significar arriscar mais do que apenas seu
coração.

9786588382776
DAMAS OUSADAS - LIVRO 5
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
APOSTANDO UM AMOR
Gato escaldado…
Harriet Stanhope é inteligente e séria, o tipo de moça que lê Platão e gosta de
longas caminhadas na chuva. Não é adequada para salões de baile e flerte e acha a
temporada uma horrível perda de tempo. No entanto, certa vez se apaixonou,
confiou seu coração a um homem que a beijou e sussurrou doces palavras… e
depois riu com um amigo sobre ter feito isso.
Com o coração partido e humilhada, Harriet jurou que usaria seu cérebro no
futuro e nunca mais confiaria em seu coração estúpido.
Uma paixão não correspondida…
Jasper Cadogan, O Conde de St Clare, está irremediavelmente apaixonado, por
uma mulher que o odeia.
O amável Jasper é bonito, charmoso, simpático e amado pela Ton, o homem
mais elegível no mercado de casamentos, mas não consegue corrigir o problema
com sua amiga de infância Harriet Stanhope. Embora já tenham sido próximos,
Jasper sabe que há alguns anos fez algo que endureceu o coração de Harriet contra
ele, mas, pela sua vida, não consegue se lembrar do que foi.
Jasper sabe que Harriet acredita que é, na melhor das hipóteses, um idiota
frívolo, e, deslumbrado com seu cérebro superior, Jasper está lutando para provar o
contrário. Determinado a descobrir o que foi que afastou Harriet dele, usará de
meios honestos, ou desonestos, para chegar à verdade.
Uma aposta que arriscará seus corações.
A Dama peculiar Harriet ousa apostar algo que não quer perder e quando sua
amiga de boca grande, Kitty, conta a Jasper, ela reconhece que está em apuros.
Teimosa demais para recuar, Harriet aceita a chocante aposta de Jasper e
mergulha ambos em um escândalo que arriscará tudo, inclusive a dois corações.

9786580754267
DAMAS OUSADAS - LIVRO 6
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
DANÇANDO COM UM DIABO
Uma jovem desesperada para escapar de seu destino.
O tempo de Bonnie Campbell está quase acabando. À luz de ofertas melhores,
seu tutor, o conde de Morven, a está forçando a se casar com seu primo, Gordon
Anderson. A vivaz Bonnie não terá outra opção a não ser obedecer, condenando-se
a passar o resto de sua vida na selva das Highlands escocesas, longe de seus amigos
e de qualquer possibilidade de diversão. Durante suas últimas semanas de
liberdade, no entanto, ela viverá como se estes fossem seus últimos dias na terra e
encontrará a coragem de mostrar ao homem que ama de verdade, como se sente.
Um jovem determinado a provar que seu irmão mais velho estava errado.
Jerome Cadogan, irmão mais novo do conde de St. Clair, é um canalha jovial.
Sua aparência, com belos cabelos loiros e olhos azuis, não é minimamente
prejudicada por seu nariz quebrado, sua reputação de encrenqueiro, nem sua
predileção por se apaixonar por mulheres inadequadas. Recuperando-se de um
sermão doloroso proferido por seu irmão, o conde, Jerome corre o risco de ter sua
mesada cortada se não ceder e mudar seus modos. Determinado a provar que pode
ser tão maduro e sensato quanto St. Clair, Jerome promete parar de beber e se
embriagar e não se meter em mais em encrencas.
Um escândalo em busca de um lugar para acontecer.
Infelizmente, sua querida amiga Bonnie tinha outras ideias. Cambaleando de
um desastre para o próximo, Jerome estava arrancando seus cabelos e sabia que
devia terminar sua amizade, antes que seu irmão acabasse com ela.
No entanto, a montanha de um homem aparece para reivindicar Bonnie, e
Jerome, que deveria respirar aliviado pelo livramento, acaba descobrindo algo
imperdoável: seu maldito coração se apaixonou pela mulher mais inadequada de
todas.

9786580754267
DAMAS OUSADAS, LIVRO 7
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Onze mulheres - onze desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
INVERNO EM WILDSYDE
Um desafio que mudaria a sua vida…
A Srta. Ruth Stone, uma herdeira rica, está lutando para realizar o sonho de
seu pai de se casar dentro da nobreza, apesar de seu grande dote. Ousada, pelas
Senhoritas Peculiares, a “dizer algo ultrajante a um homem bonito”, Ruth se supera
e propõe casamento ao herdeiro de um condado.
Uma decisão da qual ela poderia se arrepender.
Antes que pudesse pensar melhor e retirar a proposta, seu belo e desajeitado
futuro marido a empurrou para dentro de uma carruagem e a carregou para seu
castelo remoto e em ruínas, lugar onde ele pretendia dar um bom uso ao dote dela.
Um casamento ou um negócio…
Ruth não tem ilusões. É uma mulher forte, sensata e não uma donzela frágil e
tem total conhecimento de que seu marido nunca se apaixonará perdidamente por
ela, pois seu casamento é de conveniência; seus filhos herdarão o título e a
legitimidade entre a ton, e ela terá sua própria propriedade para cuidar, assim como
sempre sonhou. No entanto, seu marido, cabeça-dura e obstinado, desperta seu
temperamento e suas paixões como ninguém jamais antes.
Seu primeiro inverno em Wildsyde está prestes a incendiar o velho castelo.

9786554440394
DAMAS OUSADAS, LIVRO 8
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Onze mulheres - onze desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
EXPERIMENTANDO O DESEJO
Uma atração que ela não pode ignorar…
Minerva Butler está cansada da ambição de sua mãe, de vê-la casada com um
duque, seguindo os passos de sua inteligente prima Prue. Linda, loira e com um
dote admirável, graças à generosidade de sua prima, parece que Minerva pode,
finalmente, escolher entre os cavalheiros elegíveis da ton. Então, naturalmente, é
este o momento em que ela fica apaixonada pelo brilhante e pobre filósofo natural,
Inigo de Beauvoir.
Uma mulher que ameaça sua paz de espírito…
Inigo de Beauvoir é um homem motivado, consumido por seu trabalho, em
detrimento de todo o resto, até mesmo da sua própria saúde, até que uma bela dama
da alta sociedade começa uma guerra sedutora contra sua crença de que o amor não
é nada mais do que luxúria com um anel em seu dedo.
Uma ligação perigosa…
Aparentemente, a Srta. Butler é a única que tem tudo a perder, mas Inigo logo
percebe que experimentar o desejo representará uma ameaça real para seu coração.

9786554440899
DAMAS OUSADAS, LIVRO 9
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa, uma
pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder encontrar a
coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem um pacto para
mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Onze mulheres - onze desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar tudo?
EXPERIMENTANDO O DESEJO
Uma mulher jovem desesperada…
Jemima Fernside é a epítome de uma dama bem-comportada, criada para se
casar com um cavalheiro e fazer o papel da esposa perfeita. Até que se encontra
sozinha no mundo sem um centavo em seu nome. Com poucas opções disponíveis,
Jemima tem pouca escolha a não ser aceitar uma proposta escandalosa de se tornar
a companheira paga de um homem que ela nunca sequer conheceu.
Um homem desesperadamente solitário…
Salomão ‘Solo’ Weston, o Barão Rothborn, está farto da sociedade e das
pessoas em geral que o deixam irritável e impaciente. Como Tenente-Coronel do
15º Dragões do Rei, depois que uma bala o deixou coxo, ficou inválido fora do
exército. Assombrado pela culpa, por companheiros mortos e um amor perdido,
está se tornando cada vez mais recluso, encontrando fuga através de seus amados
livros.
E uma paixão que nenhum dos dois esperava encontrar.
Quando levado a buscar conforto de sua existência sombria, Solo acredita que
tem pouco a oferecer além de segurança financeira em troca da virtude de uma
dama. Mas Jemima não é o tipo de mulher que deixará os fantasmas adormecidos, e
logo o passado e o futuro não parecerão nada do que Solo imaginava.
A LENDA FRANCESA DOS VAMPIROS LIVRO 1

9786580754854

A verdade pode te matar.


Tirada quando criança de uma vida onde vampiros, Faes e outras criaturas
míticas são reais e traiçoeiras, a bela jovem bruxa, Jéhenne Corbeaux, fica
totalmente despreparada, quando retorna à França rural, para viver com sua
excêntrica avó.
Jogada de cabeça em um mundo que ela não conhece, procura entender a
verdade sobre si mesma, descobrindo os segredos mais chocantes do que qualquer
coisa que ela poderia ter imaginado, além de, também, descobrir que não é, de
forma alguma, impotente para proteger aqueles que ama.
Apesar das terríveis advertências de sua avó, ela é inexoravelmente atraída
pela figura sombria e aterrorizante de Corvus, um antigo vampiro e mestre da vasta
família Albinus.
Jéhenne está prestes a encontrar suas respostas e descobrir que, não só Corvus
é muito mais perigoso do que ela poderia imaginar, mas que detém muito mais do
que a chave para o seu coração…

Confira a emocionante série de fantasia de Emma, elogiada por Kirkus “Uma


série de fantasia encantadora, com uma heroína agradável, intriga romântica e uma
narrativa inteligente que floresce.”

A LENDA FRANCESA DOS VAMPIROS LIVRO 2


9786580754854

Unidos por toda a eternidade. Mas ele nunca poderá perdoá-la.


Corvus, o vampiro antigo e poderoso mestre da família Albinus, está
começando a perder a paciência. Jéhenne Corbeaux já se foi há muitos séculos e
agora, seu tempo acabou.
Uma visão que ameaça destruir tudo o que ama, assombra Jéhenne. Forçada a
fazer o impensável, arrisca-se a perder tudo, mas finalmente se conforma com seus
próprios poderes incríveis.
Ainda de posse da chave do submundo, em débito com um anjo, perseguida
tanto pelo Príncipe de Alfheim quanto por um homem tão aterrorizante que não
consegue imaginar o que ele é, Jéhenne está enrolada até o pescoço…como sempre.
Sacrifícios terão que ser feitos, mas quem vai pagar o preço?

**** Advertência: Este livro contém temas sombrios e místicos entrelaçados


com cenas de sexo mágicas e suavemente gráficas. Estamos muito satisfeitos,
entretanto, que o livro - ou série - não se enquadre na categoria de erotismo. ****
PELA AUTORA:

Comecei essa incrível jornada em 2010 com A chave para o


Erebus, mas não tive coragem de publicá-lo até outubro de 2012. Para quem já
passou por isso sabe que publicar seu primeiro trabalho é uma coisa assustadora.
Ainda fico nervosa quando um novo trabalho é lançado, mas, agora esse terror
diminuiu um pouco. Hoje o meu pavor é quando minhas filhas tiverem idade o
suficiente para lê-los.
Que horror! (para ambas as partes, suponho)
2017 marcou o ano em que fiz minha primeira incursão em Romance
Histórico e no mundo do Romance da Era Regencial, e meu Deus, que ano! Fiquei
encantada com a resposta a esta série e mal posso esperar para adicionar mais
títulos
Sou muito influenciada pelo belo interior da França onde vivo. Apesar de ser
nascida e criada na Inglaterra, moro no sudoeste francês há vinte anos. Minhas três
filhas lindas são todas bilíngues e a mais nova, de apenas seis anos, está mostrando
sinais de seguir os meus passos após produzir The Lonely Princess totalmente
sozinha.
Um passarinho me disse que o livro dois estará disponível em breve…
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Direitos Autorais
Membros do Clube do Livro das Senhoritas Peculiares
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Caçando o Caçador
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Agradecimento
Mais Damas Ousadas
Lendas Francesas dos Vampiros
Sobre a Autora
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Caçando o Caçador
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