Alunos:
Fabio Baia Dutra - 04092700
Emerson Augusto Quadros da Cunha – 04108076
Trabalho Extra de Direito Eleitoral (1,0 pt)
AÇÕES ELEITORAIS: AIME, AIJE E RCED
Introdução:
A democracia brasileira tem como fundamentos fundamentais a liberdade de
expressão da vontade popular e a transparência do processo eleitoral. A
Constituição Federal de 1988 e as leis complementares criaram um sistema
complexo de proteção à legitimidade das eleições, dentre os quais três
instrumentos fundamentais são a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo
(AIME), a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) e o Recurso Contra
Expedição de Diploma (RCED)
Essas ações têm um papel fundamental na proteção da moralidade, da
legalidade e da igualdade de oportunidades no processo eleitoral. O presente
trabalho tem como objetivo apresentar uma análise aprofundada de cada uma
dessas ações, destacando seus fundamentos jurídicos, hipóteses de
cabimento, legitimidade ativa, prazos e procedimentos, de acordo com a
doutrina, jurisprudência atualizada e exemplos práticos. O objetivo é fornecer
uma compreensão técnica, crítica e humanizada dos principais mecanismos
judiciais de controle da legitimidade do mandato eletivo.
1. Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo (AIME)
1.1 Conceito e fundamento legal
A Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo é prevista no art. 14, § 10, da
Constituição Federal:
"O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de
quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude."
Trata-se de uma ação constitucional com natureza jurídica civil e efeitos
políticos, voltada à proteção da legitimidade do mandato eletivo, cuja origem
tenha se dado por meio de práticas ilícitas que comprometam a soberania
popular. A doutrina majoritária, representada por autores como José Jairo
Gomes, reconhece a AIME como um instrumento de tutela da moralidade e da
normalidade das eleições.
1.2 Cabimento e legitimidade ativa
A AIME é cabível nas hipóteses de:
Abuso do poder econômico;
Corrupção eleitoral;
Fraude no processo eleitoral.
É imprescindível que tais práticas estejam demonstradas com razoável grau de
evidência já na petição inicial, em consonância com o princípio da causa de
pedir delimitada.
São legitimados ativos:
Partido político, coligação ou candidato adversário;
Ministério Público Eleitoral.
Exemplo prático: em decisão recente, o TSE cassou o mandato de um prefeito
eleito em Sergipe (2021), após comprovação de compra massiva de votos
mediante distribuição de cestas básicas.
1.3 Prazos e procedimento
O período para apresentar a ação é de 15 dias a partir da cerimônia de
diplomação. O processo ocorre no Tribunal apropriado e permite a
apresentação de provas, assegurando o direito ao contraditório e à defesa
ampla. No final, a decisão pode levar à perda do mandato e à declaração de
inelegibilidade.
A deliberação pode ser contestada no TSE, respeitando os prazos
estabelecidos pelo Código Eleitoral.
2. Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE)
2.1 Conceito e fundamento legal
A AIJE é regida pelo art. 22 da Lei Complementar nº 64/1990. É uma ação
judicial eleitoral que busca apurar:
• Abuso de poder econômico;
• Abuso de poder político;
• Uso indevido dos meios de comunicação;
• Condutas proibidas a agentes públicos.
José Jairo Gomes afirma que a AIJE é "o instrumento judicial adequado para
reprimir práticas ilícitas que afetam a igualdade de oportunidades nas
eleições."
2.2 Cabimento e legitimidade ativa
Pode ser ajuizada durante o período eleitoral e até a diplomação, desde que os
fatos tenham ocorrido na campanha e se relacionem ao pleito. Abrange
condutas que podem desequilibrar o resultado eleitoral.
São legitimados:
• Ministério Público Eleitoral;
• Partido político, coligação;
• Candidato adversário.
Exemplo: AIJE proposta em 2022 contra governador eleito no Centro-Oeste por
abuso de poder midiático, utilizando programa institucional para autopromoção
em período vedado. A ação resultou na cassação do diploma e declaração de
inelegibilidade.
2.3 Prazos e procedimento
A AIJE deve ser ajuizada até a diplomação do candidato. O procedimento é
sumaríssimo, com produção de provas rápida, respeitando o contraditório. A
sentença pode resultar em:
• Cassação do diploma;
• Inelegibilidade por 8 anos (art. 1º, I, d, da LC 64/90).
Cabe recurso ao TSE. A condenação em AIJE pode afetar a esfera penal ou
cível por atos conexos.
3. Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED)
3.1 Conceito e fundamento legal
O RCED é mencionado no artigo 262 do Código Eleitoral. Trata-se de um
recurso destinado a contestar o ato formal de diplomação de um candidato
escolhido, quando este apresenta ilegalidades.
De acordo com o TSE, o RCED visa contestar questões referentes à
elegibilidade, inelegibilidade ou condições legais do registro da candidatura que
não foram adequadamente abordadas antes da diplomação.
3.2 Admissibilidade e legitimidade ativa
A ação é válida nas seguintes situações:
• Inelegibilidade não declarada durante a fase de registro;
• Falta de condição de elegibilidade;
• Descumprimento de requisitos constitucionais ou legais.
Os legitimados para interpô-la são:
• Ministério Público Eleitoral;
• Candidato concorrente;
• Partido político ou coligação.
Um exemplo prático: RCED apresentado em 2022 contra um deputado federal
eleito no Acre devido à falta de quitação eleitoral, em função da rejeição de
prestação de contas. O diploma foi anulado e a vaga foi redistribuída.
3.3 Prazos e procedimentos
O RCED deve ser protocolado no prazo de 3 dias após a diplomação, junto ao
Tribunal responsável pela emissão do diploma. Após a notificação do
diplomado, há um prazo de 3 dias para apresentação da defesa. O julgamento
é realizado em colegiado, com possibilidade de recurso ao TSE, conforme a
legislação vigente.
Considerações finais:
As ações eleitorais AIME, AIJE e RCED representam manifestações concretas
do compromisso do sistema jurídico com a ética, a transparência e a justiça no
âmbito democrático. Ao assegurar que apenas candidatos legítimos, que
respeitam as normas do processo eleitoral, possam ocupar cargos públicos,
essas ações salvaguardam não apenas a legalidade, mas também a confiança
da sociedade na democracia.
Entretanto, é fundamental que tais instrumentos sejam utilizados com
responsabilidade. O uso excessivo ou com fins meramente estratégicos dessas
ações pode pôr em risco a própria estabilidade do sistema representativo.
Assim, cabe aos profissionais do Direito Eleitoral — juízes, promotores,
advogados e servidores — atuarem com equilíbrio, conhecimento técnico e
sensibilidade.
Humanizar a Justiça Eleitoral implica reconhecer que cada processo envolve
não apenas aspectos jurídicos, mas também vidas, expectativas e
comunidades inteiras. Proteger a integridade das eleições é defender a
esperança coletiva por um país mais justo e democrático.