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TCC Mariana PDF

Este trabalho analisa as ações intersetoriais do Programa Saúde na Escola (PSE), focando na relação com a assistência social e destacando a importância da intersetorialidade para a promoção da saúde de crianças e jovens. A pesquisa revela desafios na efetivação da intersetorialidade e a necessidade de articulação entre saúde, educação e assistência social para garantir direitos e superar vulnerabilidades. O estudo utiliza revisão integrativa e entrevistas semi-estruturadas para investigar as dificuldades enfrentadas pelos profissionais envolvidos no PSE.

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Este trabalho analisa as ações intersetoriais do Programa Saúde na Escola (PSE), focando na relação com a assistência social e destacando a importância da intersetorialidade para a promoção da saúde de crianças e jovens. A pesquisa revela desafios na efetivação da intersetorialidade e a necessidade de articulação entre saúde, educação e assistência social para garantir direitos e superar vulnerabilidades. O estudo utiliza revisão integrativa e entrevistas semi-estruturadas para investigar as dificuldades enfrentadas pelos profissionais envolvidos no PSE.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CAMPUS BAIXADA SANTISTA


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

MARIANA SANTANA DOS SANTOS

INTERSETORIALIDADE: SAÚDE, EDUCAÇÃO E O SERVIÇO SOCIAL,


UMA PERSPECTIVA CRÍTICA DO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Universidade Federal de São Paulo para obtenção do
título de bacharel em serviço social.

SANTOS-SP
2023
MARIANA SANTANA DOS SANTOS

INTERSETORIALIDADE: SAÚDE, EDUCAÇÃO E O SERVIÇO SOCIAL,


UMA PERSPECTIVA CRÍTICA DO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Universidade Federal de São Paulo para obtenção do
título de bacharel em serviço social.

Orientador: Prof. Dr. Helton Saragor de Souza

SANTOS-SP
2023

2
MARIANA SANTANA DOS SANTOS

INTERSETORIALIDADE: SAÚDE, EDUCAÇÃO E O SERVIÇO SOCIAL,


UMA PERSPECTIVA CRÍTICA DO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Universidade Federal de São Paulo para obtenção do
título de bacharel em serviço social.

Data de aprovação:

Banca examinadora:

Professora Doutora Natalia Pontes Bueno Guerra

3
A todos que cruzaram meu caminho até aqui.

4
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, aos meus pais que tornaram esse
momento possível e me proporcionaram, na medida do possível, um tempo valioso de
tranquilidade para concluir a graduação. Isso é por vocês. Ao meu irmão, que me alegrou
nos dias difíceis e foi incentivo para que eu pudesse carregar esperança para que esse
espaço também seja possível a ele. Aos meus avós, em especial, em memória de minha
avó Maria do Carmo, ou, carinhosamente chamada Carminha, que vibrou com meu
ingresso na universidade. Ao meu avô Herivaldo, que sem saber ler e escrever, me
incentivou desde pequena a estudar e que todas as manhãs aparece na minha janela e me
admira estudando por alguns minutos antes de soltar palavras de incentivo. À minha tia
Jaqueline, primeira da família a concluir o ensino superior e grande encorajadora. E a
todos da minha família que de alguma forma me acalentaram durante todos esses anos.

Ao Caio, meu noivo, que presenciou minhas angustias durante o período de


vestibular, presenciou meu choro após a prova, esteve presente quando li meu nome na
lista de aprovados, e compartilhou comigo todos os novos aprendizados. Obrigada por
acreditar em mim mais do que eu mesma.

Às três excelentes profissionais que tive o prazer de partilhar o dia a dia do estágio,
Tânia, Livia e Adriana.

Aos meus colegas de turma e amigos.

A todo corpo docente da UNIFESP, professores e professoras do curso de Serviço


Social e do Eixo Trabalho em Saúde que tanto me ensinaram e ensinam.

À professora Natalia, por aceitar o convite de ser leitora do TCC, principalmente


por ser uma profissional excepcional e por dividir suas experiências durante um ano e
meio, período do estágio supervisionado, sua presença fez diferença em minha trajetória.

E por último, e não menos importante, a pessoa que sem ao menos me conhecer,
no meio da pandemia, aceitou através de um e-mail, ser meu orientador de iniciação
científica e TCC, me viu dar os primeiros passos no universo da pesquisa, pegou na minha
mão e me ensinou a caminhar. Professor Helton, sem você isso não seria possível,
obrigada por toda ternura.

5
RESUMO

O presente trabalho aborda as ações intersetoriais do Programa Saúde na Escola (PSE),


em especial a relação do programa com o setor da assistência social, por meio da técnica
de revisão integrativa e da pesquisa exploratória em um território da zona três do
município de Praia Grande-SP. O pressuposto deste estudo é que as ações intersetoriais
amplas mobilizadoras da assistência social são indispensáveis para a promoção da saúde
e a garantia dos direitos das crianças e dos jovens. Dessa forma, exploramos ações que
pretendem superar a fragmentação desde o planejamento até a execução das atividades,
investigando as dificuldades para a efetivação da intersetorialidade e os desgastes da sua
ausência a partir dos achados na revisão integrativa na bases de dados dos portais da
Scielo, da BVS e de Periódicos Capes e da pesquisa de campo composta por relatos das
profissionais dos três setores: saúde, educação e assistência, a partir de roteiro semi-
estruturado. O levantamento bibliográfico aponta que as articulações intersetoriais no
PSE enfrentam dificuldades complexas ligadas às grandes vulnerabilidades expressas nos
territórios. Já os achados das entrevistas semi-estruturadas com as profissionais revelam
a ausência de perspectiva dos trabalhadores sobre a complexidade que envolve o cuidado
em saúde e que outros setores, para além do setor saúde, também são capazes de
promover, prevenir e intervir nas condições de saúde dos sujeitos em desenvolvimento.

Palavras-chave: Intersetorialidade. Promoção da Saúde Escolar. Assistência Social.


Direitos da Infância e Juventude

6
ABSTRACT

The present work addresses the intersectoral actions of the Health at School Program
(PSE), in particular the program's relationship with the social assistance sector, through
the technique of integrative review and exploratory research in a territory of zone three
of the municipality of Praia Grande-SP. The assumption of this study is that broad
intersectoral actions that mobilize social assistance are indispensable for promoting health
and guaranteeing the rights of children and young people. In this way, we explore actions
that intend to overcome fragmentation from the planning to the execution of the activities,
investigating the difficulties for the effectiveness of the intersectoriality and the wear of
its absence from the findings in the integrative review in the databases of the portals of
Scielo, the BVS and Periódicos Capes and field research composed of reports by
professionals from the three sectors: health, education and assistance, based on a semi-
structured script. The bibliographic survey points out that the intersectoral articulations
in the PSE face complex difficulties linked to the great vulnerabilities expressed in the
territories. The findings of the semi-structured interviews with the professionals reveal
the workers' lack of perspective on the complexity that involves health care and that other
sectors, in addition to the health sector, are also capable of promoting, preventing and
intervening in the conditions of health of developing subjects.

Keywords: Intersectoriality. School Health Promotion. Social assistance. Children and


Youth Rights

7
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Estratégia de busca em cada plataforma


Quadro 2: Identificação dos estudos

8
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Fluxograma dos processos de afunilamento dos estudos

9
LISTA DE ABREVIATURAS

BVS Biblioteca Virtual em Saúde


CAPS Centro de Atendimento Psicossocial
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CF 88 Constituição Federal de 1988
CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CMDCA Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
ECA Estatuto da Criança e do adolescente
ESF Estratégia Saúde da Família
IC Iniciação Científica
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social
MC Ministério da Saúde
MEC Ministério da Educação
PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
PNPS Política Nacional de Promoção à Saúde
PSE Programa Saúde na Escola
RAS Rede de Atenção à Saúde
SCIELO Scientific Electronic Library Online
SEDUC Secretaria de Educação
SUS Sistema Único de Saúde
UBS Unidade Básica de Saúde
USAFA Unidade de Saúde da Família
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

10
SUMÁRIO

1 Introdução............................................................................................................12
2 Metodologia.........................................................................................................16
3 A Intersetorialidade..............................................................................................20
4 Proteção social de crianças e jovens....................................................................26
5 O lugar do ECA no Brasil....................................................................................30
6 O impacto social das escolas no país....................................................................33
7 O Programa Saúde na Escola................................................................................35
8 Revisão sistemática e seus resultados...................................................................40
9 Pesquisa exploratória e seus resultados................................................................46
10 Análise dos dados coletados.................................................................................51
11 Considerações finais.............................................................................................59
12 Referências bibliográficas.....................................................................................62
13 Apêndices..............................................................................................................70

11
1. Introdução

O presente Trabalho de Conclusão de Curso1 analisa as relações intersetoriais entre


a política de assistência, saúde e educação a partir do PSE. Há pouco mais de dezesseis
anos foi criado o Programa de Saúde na Escola (PSE), iniciativa do Ministério da Saúde
(MS) em parceria com o Ministério da Educação (MEC). Com base no decreto nº 6.286
de 5 de dezembro de 2007. O programa passou por diversos avanços na interface saúde-
educação, visando garantir suas propostas articuladas com a finalidade de promover
saúde, insere-se na Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS) que objetiva no seu
artigo 2º:
A PNPS traz em sua base o conceito ampliado de saúde e o referencial teórico
da promoção da saúde como um conjunto de estratégias e formas de produzir
saúde, no âmbito individual e coletivo, caracterizando-se pela articulação e
cooperação intra e intersetorial, pela formação da Rede de Atenção à Saúde
(RAS), buscando articular suas ações com as demais redes de proteção social,
com ampla participação e controle social. (BRASIL,2014)

Antecedendo nossas reflexões acerca dos movimentos entre o programa e suas


funcionalidades, destacamos as escolas como possíveis promotoras de saúde, ou
reprodutoras da sua violação, por motivos que ultrapassam o cotidiano do ensino-
aprendizagem entre educadores e educandos. Nos dias atuais 47.668.401 alunos estão
matriculados em instituições de ensino brasileiras, sendo 27.515.601 no ensino
fundamental, e 7.770.557 no ensino médio (INEP, 2022), ainda segundo a pesquisa,
2.190.943 professores estão com vínculo trabalhista ativo em todo o país para o ensino
da população escolar. A criança e o adolescente permanecem em média dez anos no ciclo
de educação, de vinte a trinta horas semanais dentro das escolas. Por isso as questões em
saúde dessa população devem ser assistidas e articuladas também dentro do núcleo
escolar, pois é ali que acontecem os primeiros indícios de sociabilidade e aprendizagem.
Assim, a escola torna-se um espaço privilegiado por ter maior alcance em lidar com as
questões que cercam os estudantes, pois frequentam uma parte significativa de suas vidas
dentro do ambiente escolar, todavia é irrealizável este alcance com a instituição atuando
por si própria, a mesma necessita dos demais equipamentos da rede de proteção para que
o cumprimendo real dos direitos das crianças e adolescentes seja capaz de ser
concretizado em um ambiente produtor de bem-estar e não corra o risco de ser um espaço

1
Fruto da pesquisa de iniciação científica, financiada pelo CNPQ/PIBIC
12
reprodutor de violações. Veremos mais à frente neste trabalho o impacto social das
escolas no Brasil.

Assim, o programa propõe promover saúde nos espaços educacionais, organiza-


se em sua proposta uma atuação de forma integrada e articulada, visando atender as
demandas diversas juntamente com o apoio pedagógico das escolas presentes na mesma
delimitação territorial. Para romper paradigmas estruturais dentro das políticas, sejam elas
setoriais ou intersetoriais, criam-se programas para que a regionalização acentue-se
trazendo aspectos territoriais, para que assim existam ações direcionadas a fim de maior
efetivação (Monnerat e Souza, 2014).

É firmado que o PSE busca diretrizes de promoção à saúde, dentre outros objetivos
como articulação das ações do Sistema Único de Saúde (SUS), e o enfrentamento das
vulnerabilidades comprometedoras do desenvolvimento escolar das crianças e
adolescentes. Assim o programa passou por avanços na interface saúde-educação visando
garantir as propostas articuladas com a finalidade de promover saúde através da
cooperação intra-intersetorial na Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS), que traz
em seus princípios um conjunto de estratégias para produzir saúde na rede de atenção
primária, e desta forma articulando as ações com as demais redes de proteção e
participação social. Deste modo, programas intersetoriais passam a ser ainda mais
necessários à medida em que não se obtém eficácia nas ações de promoção de maneira
isolada nos setores.

Este trabalho, sobretudo, objetiva refletir sobre a proteção social de crianças e


jovens2 na sociedade brasileira e para isso, ancoramos a discussão sob a perspectiva da
proteção social “como direito de todos, associada às necessidades humanas” (POTYARA,
2013, p. 283) entretanto, considerando sua gênese conflitante. Ainda segundo a autora:

2
No decorrer do texto trabalharemos com duas terminologias para tratar dos sujeitos entre doze e
dezoito anos atendidos pelo PSE, são eles ‘adolescentes’ e ‘jovens’. Todavia, o termo jovem aparecerá
com maior frequência, visto que discussões presentes em estudos que focaram na "adolescência" tendem
a uma visão de caráter biológico, enquanto os estudos que se debruçam sobre a categoria "jovem" tendem
a fazer pesquisas que mobilizam de alguma forma o social. Alguns desses estudos são: Soares CB. Mais
que uma etapa no ciclo vital: a adolescência como um construto social. In: Enfermagem e a saúde do
adolescente na atenção básica. Barueri: Manole; 2009; BOCK Ana. A perspectiva sócio-histórica de
Leontiev e a crítica à naturalização da formação do ser humano: a adolescência em questão ; e
BOCK Ana. A adolescência como construção social: estudo sobre livros destinados a pais e educadores.
2007.
13
Como visto, nas fases mais avançadas do capitalismo o Estado constituiu o
grande suporte da proteção social devido à crescente necessidade de regulação
das relações sociais e econômicas, que se tornaram mais complexas, e à
intensificação dos conflitos de classe. Mesmo na atual fase capitalista, de
franca internacionalização imperialista, a proteção social joga um papel
importante, que extrapola a tradicional regulação de conflitos: ela constitui
também uma força produtiva, à medida que diminui os custos da carga
improdutiva do Estado com criminalidade, pobreza extrema, doenças
generalizadas e melhora a competitividade entre nações (POTYARA, 2013, p.
284)

Desse modo, ao refletirmos sobre o PSE, observamos como os vínculos de


proteção social estão formados em torno das famílias atendidas pelo programa, e quais os
níveis de envolvimento intersetorial entre eles, em suas normativas, competências e
prerrogativas estimuladoras dessas ações e vinculações intersetoriais (BRASIL, 2007,
decreto nº 6.286. Art. 3). Além disso, os equipamentos buscam articular as dimensões de
vida para que não ocorra a desproteção social nos serviços de atendimento às crianças e
adolescentes. O conjunto da seguridade social, seus princípios, segmentos e
responsabilidades não são exercidos apenas com uma normativa ou única diretriz, mas
com um conjunto de elementos e direitos integrados nas três dimensões [saúde,
assistência e previdência], compondo ações e planejamentos nas gestões públicas para
que não ocorra riscos da desarticulação do sistema de garantia de direitos, tornando os
programas um recurso de atribuição e potencialidade para organizar os atendimentos,
limites, funções e organizações das questões sociais presentes no cotidiano.

Apesar de o campo teórico e legislativo ser preciso quanto à articulação


intersetorial entre os setores, a prática se mantém distinta apesar do tempo de adaptação
do programa de mais de uma década. Dificuldades externas e internas ao programa são
enfrentadas cotidianamente por profissionais e suas gestões.

Desse modo, este trabalho traz dois diferentes métodos de pesquisa que se
completam em análise, a revisão sistemática e a pesquisa exploratória, que objetivam,
juntas, analisar as abordagens sobre intersetorialidade das políticas sociais que aspiram o
cuidado em saúde de crianças e jovens. Assim, é possível a investigação do programa
com os setores da saúde, assistência e educação a fim de promover e cuidar da saúde das
crianças e jovens. Cabe ressaltar o problema de pesquisa aqui explorado sobre o PSE,
contudo, a reflexão necessariamente abrange a relação de saúde das crianças e jovens na
escola para além da presença - ou não- do programa no território.

14
O estudo está dividido em três partes: o embasamento teórico e a historicidade do
contexto anterior ao PSE enquanto programa de atenção à saúde, considerando a
influência da intersetorialidade nas políticas públicas; a proteção social de crianças e
jovens; o lugar do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no Brasil hoje; e por
último, o impacto social das escolas no país, chegando ao Programa Saúde na Escola.

Posteriormente, abordaremos a produção bibliográfica sobre o Programa Saúde


na Escola, intersetorialidade e assistência social por meio da revisão integrativa. Em
seguida, desenvolvemos a pesquisa de campo e seus resultados, realizada por entrevistas
com profissionais da educação, da assistência social e da saúde no último capítulo.
Convido você a imergir no universo dos cuidados em saúde das crianças e jovens e seus
entrelaçamentos, tecendo assim, possibilidades de um melhor cuidado.

15
2. METODOLOGIA

A metodologia desenvolveu-se em três momentos: o primeiro, a revisão


bibliográfica da principais temáticas relacionadas ao Programa Saúde na Escola (A
Intersetorialidade; Proteção social de crianças e jovens; Estatuto da Criança e Adolescente
e o impacto social das escolas no país); o segundo, a partir da revisão sistemática da
literatura, sobre as ações intersetoriais do programa. E o terceiro fundamentado pela
pesquisa exploratória (PIOVESAN e TEMPORINI, 1995) [CAAE:
54117421.7.0000.5505]3, com perguntas semi-estruturadas e análise das respostas, em
um bairro na zona três do município de Praia Grande-SP. Desse modo, a metodologia
ocorreu para viabilizar o embasamento teórico do que é discutido na literatura sobre o
tema e o que pensam os profissionais, os que exercem cotidianamente na rede de proteção.

O processo do estudo teórico em eixos temáticos representa um importante


momento da pesquisa qualitativa. A escolha dos temas perpassa por caminho coeso, a
pesquisa bibliográfica iniciou-se com a identificação dos principais estudos presentes no
atual estado da arte em cada um dos eixos, ademais, os textos bibliográficos que os
embasam em suas referências. Após leitura e fichamento integral, foi realizado o
desdobramento da ideia central para o problema-pesquisa deste trabalho. Dessa forma,
subsidiando o debate.

A revisão integrativa apresenta reputação na prática baseada em evidências e,


segundo Soares et al. (2014), é uma técnica que permite aos revisores realizar sínteses
que extrapolam a análise dos resultados dos estudos primários, por isso tem a
potencialidade de identificar novos problemas de pesquisa, como é o caso da
intersetorialidade com a assistência social no PSE.

Os critérios de inclusão e exclusão selecionaram textos publicados entre 2007 e


2021, disponíveis na íntegra de forma online, nos idiomas português, espanhol e inglês e
em forma de artigos científicos. Optamos pela delimitação dos artigos a partir de 2007,
porque é o ano de criação do PSE. Para essa revisão, duas questões norteadoras foram
definidas: Como a intersetorialidade no PSE é planejada? É citado a importância da
assistência social na intersetorialidade do PSE?

3
Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) em: 02 de maio de 2022
16
Os artigos científicos foram buscados, em novembro de 2021, nas bases de dados
da Scientific Electronic Library Online (Scielo); Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); e
Periódicos Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A
seleção dos artigos foi realizada a partir de um conjunto de descritores e de termos de
busca, conforme o Quadro 1.

Quadro 1. Estratégias de busca em cada plataforma.

PLATAFORMAS ESTRATÉGIAS DE BUSCA RESULTADO

Scielo (Intersetorialidade) AND (Programa Saúde na 18


Escola) OR (Serviço de Saúde Escolar)) AND
(Assistência Social) AND (Estatuto da Criança e
do Adolescente)

BVS ((Intersetorialidade) AND (Programa Saúde na 37


Escola) OR (Serviço de Saúde Escolar)) AND
(Assistência Social) AND (Estatuto da Criança e
do Adolescente)

Periódicos Capes ((Intersetorialidade) AND (Programa Saúde na 1.706


Escola) OR (Serviço de Saúde Escolar)) AND
(Assistência Social) AND (Estatuto da Criança e
do Adolescente)

TOTAL 1.761

Fonte: elaboração própria.

A seleção dos artigos foi realizada a partir da leitura dos títulos e dos resumos,
quando restaram 18 (dezoito) artigos selecionados, já excluindo os repetidos, como consta
a Figura 1.

17
Figura 1: Fluxograma dos processos de afunilamento dos estudos.

Fonte: elaboração própria.

Os estudos excluídos, trazem em suas análises discussões educacionais em geral,


ou seja, a não abordagem do PSE em seu desenvolvimento ou da intersetorialidade como
estratégia de promover saúde. Por esse motivo, não foram inseridos no conjunto da
revisão, pois não enquadraram-se nos objetivos da pesquisa.

Após a leitura completa dos artigos selecionados foram destacadas as informações


relevantes para a análise de cada documento, tais como: ano de publicação; região da
publicação; e se atribuíam ou não a discussão proposta da assistência social como setor
relevante para maior alcance dos objetivos do programa. Por conseguinte, foi organizado
em um único quadro, os estudos e suas contribuições centrais para a problemática da
pesquisa. Dessa forma, o quadro auxiliou na síntese de evidências.

Ao optar pela abordagem qualitativa, com objetivo o desvendamento do fenômeno


superando o que está no imediato. Utiliza-se para este fim a mediação da realidade
abstrata para chegar à realidade concreta, utilizando o instrumento da pesquisa de campo,
segundo Gonçalves (2001, p.67):

A pesquisa de campo é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação


diretamente com a população pesquisada. Ela exige do pesquisador um
18
encontro mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço onde o
fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto de informações a serem
documentadas [...].

Acerca da pesquisa de campo, no seu projeto inicial, contemplava cinco


entrevistas, uma com a gestora da unidade básica de saúde, outra com a assistente social
do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e mais três com diretoras ou
coordenadoras das unidades escolares, buscando analisando as ações intersetoriais em
saúde que acompanhasse o desenvolvimento dos alunos, ou seja, entrevistar profissionais
que atendesse crianças na primeira infância com a educação infantil I na primeira escola,
educação infantil II na segunda, e ensino fundamental e médio na terceira unidade,
obrigatoriamente, equipamentos localizados na mesma região, para que houvesse o
princípio da territorialidade como direcionador.
Todavia, esse planejamento foi interferido por não conseguirmos, por inúmeras
tentativas, a autorização da Secretaria de Educação (SEDUC) para dar seguimento às
entrevistas nas escolas municipais. Por esse motivo, foram realizadas três das cinco
entrevistas previstas, a primeira com a assistente social do CRAS, a segunda com a
coordenadora da unidade escolar estadual (ensino fundamental e médio) e a gestora da
unidade básica de saúde, todas as entrevistas foram realizadas de maneira individual em
um ambiente privado nos respectivos serviços da atuação de cada profissional.

A pesquisa contou com roteiro previamente elaborado com nove perguntas, para
que os objetivos do estudo pudessem ser alcançados, contudo, foi esclarecido aos
participantes que, caso não se sentisse confortável ao responder uma das perguntas, não
necessitava. Inicialmente, os objetivos, esclarecimentos e apresentação do trabalho foram
explicados para os entrevistados e lido com cautela o termo de consentimento livre e
esclarecido e o parecer positivo do comitê de ética em pesquisa. A dinâmica do processo
de entrevista aconteceu na seguinte abordagem: a pesquisadora lia a primeira pergunta e
esperava a resposta do entrevistado e comentários, caso houvesse e assim,
sucessivamente.

Após o fim das entrevistas, as mesmas foram transcritas e após todos os diálogos
foram realizadas análises à medida que as respostas conciliam ou divergiam entre si, para
que houvesse a oportunidade de investigação íntegra. Isso posto, foi iniciado o processo
de diagnóstico.

19
3. A INTERSETORIALIDADE NO BRASIL

As problemáticas da realidade social brasileira e as expressões de sua questão


social desde a colônia até os dias atuais são complexas, demandam um conjunto de ações
executadas por atores distintos para sua intervenção. É necessário reconhecer que
vivemos em um mundo dinâmico onde as mediações devem contemplar o que nos afeta
hoje e suas determinações, assim, projetando ultrapassar limites mecanicistas para uma
intervenção sistêmica do todo.
A concepção de intersetorialidade na gestão das políticas públicas é relativamente
nova, introduzida a partir da Constituição Federal de 1988, sendo parte do processo de
descentralização. Junqueira (2000, p. 36) discorre que, o sistema deve ser visto como
soma das partes, pois nenhuma das partes possui o todo e assim, a partir dessas relações
surgem novas potencialidades. Entretanto, faz-se importante reconhecer as
responsabilidades de cada segmento e sua historicidade para iniciar o debate intersetorial.
Nessa perspectiva é fundamental compreender as necessidades concretas dos
(as) usuários (as) de maneira que não as fragmente e não o (a) veja como ser fracionado
(a). Apesar dessa importância, as políticas setoriais nascem compondo desenhos
institucionais setorizados, ou seja, a estrutura da forma organizativa do Estado para essas
políticas são divididas em setores, ou, metaforicamente, em caixas distintas. Pois, foram
estruturadas para agirem de maneira isolada, segundo Ferreira (2016) os “planejamentos,
orçamentos, normatizações técnicas, recursos humanos, enfim, todo o modelo de gestão
é pensado, via de regra, em função do grau de especialização e profissionalização de cada
área”.
A proposta intersetorial nas políticas públicas é um pensamento transversal,
todavia, a realidade setorial deve ser analisada com cautela para que tal proposta seja
eficaz. É preciso perceber quais características separam e diferenciam os setores, algumas
perguntas devem ser feitas, por exemplo, possuem o mesmo tamanho? A mesma força?
ou, tamanhos orçamentários proporcionais ao tamanho das pastas? Dentre outras
questões.
É imprescindível, entendermos o lugar que a política pública se encontra na
discussão da política do estado capitalista, para a análise crítica do planejamento
intersetorial, a exemplo dessa análise, Faleiros (2009) discorre que, "as políticas sociais
seriam somente uma resposta simbólica aos problemas reais”, logo, é necessário articular

20
os desafios encontrados pela gestão setorial e intersetorial com o modelo econômico,
logo, suas limitações cíclicas.
A constituição dos setores não é produzida no mesmo período de tempo, com os
mesmos propósitos, horizontes e a mesma força política. Reforçar um discurso que os
setores têm as mesmas possibilidades de construir uma política intersetorial é, sem
dúvidas, equivocado, o que pode potencializar uma hierarquia setorial já existente. Por
esse motivo, construir uma teia de relações entre as distintas “caixas” requer
transcendência e compreendimento das peculiaridades envolvidas, para que
compreendam a realidade institucional de cada um e haja bons planejamentos entre eles.
A valorização do contexto e o processo de entrelaçamento entre as políticas é um
potencializador nas dinâmicas da organização social, apesar das gêneses de cada um dos
setores, dessa forma, a construção de vínculos entre os atores oportuniza uma
compreensão concreta e ampla da realidade social, fomentando o planejamento, execução
e avaliação das ações com maiores chances de êxitos.
Por outro lado, esmiuçamos a afirmativa de Sposati:
A intersetorialidade não pode ser considerada antagônica ou substitutiva da
setorialidade. A sabedoria reside em combinar setorialidade com
intersetorialidade, não contrapô-las no processo de gestão. (2006, p. 134)

É valioso que cada “caixa” das políticas públicas e suas respectivas


responsabilidades estejam fortalecidas, com profissionais em educação continuada, boas
condições de trabalho, compreensão dos diferentes segmentos de cada política e distintas
formas de abordagem e estratégias presentes no cotidiano do setor. Assim, o manejo de
formular ações e políticas intersetoriais fomentam alcances que o setor não tem
oportunidade de alcançar por si só. Contudo, a base setorial deve estar consolidada.
Aqui vale uma reflexão importante, as ações e políticas intersetoriais possuem
limites em planejamentos e execuções, por esse motivo, não é válido projetar a
implementação da intersetorialidade na rotina institucional como supridora de todas as
demandas de maneira íntegra, motivada pela expectativa de resolver qualquer situação.
A potencialidade da articulação intersetorial está na possibilidade de planejar,
formular, avaliar e modificar, se necessário, as ações através dos saberes
multidisciplinares, das diferentes narrativas de vida dos profissionais, distintas vivências
no cotidiano institucional e desiguais atuações em territórios heterogêneos.
Todavia, a intersetorialidade deve ser acompanhada por objetivos concretos,
quando há escolha da sua implantação, além de ser claro quais as motivações que levaram

21
para o modelo de gestão intersetorial, tornando-se um mecanismo racionalizador da ação
(SPOSATI, 2006, p.137) e não como estratégia para otimizar recursos. Intersetorialização
requer reorganizações no interior dos setores e não uma junção de profissionais e saberes
descoordenados, ou sobrecarga dos técnicos envolvidos no serviço das políticas públicas,
a soma de atividades e responsabilidades em ações intersetoriais desalinhadas podem
resultar em grandes falhas.
Produzir políticas transversais vinculadas às múltiplas determinações presentes
nas demandas dos usuários são valorosas, afinal, as disciplinas são incapazes
isoladamente de captar da tessitura conjunta (INOJOSA e JUNQUEIRA, 1997, p.9).
Dessa forma, a depender das políticas envolvidas a ação pode contemplar promoção,
prevenção e intervenção, de acordo com os objetivos.
Para maior alcance dos direitos sociais, é comum encontrar ações intersetoriais
entre as políticas, a fim de superar a fragmentação encontrada no setorial. Como dito
anteriormente, os setores respondem sob suas responsabilidades e competências de sua
“caixa”, nasceram com esse propósito, superar essa gênese requer um longo processo,
segundo Junqueira (2000, p. 43) “esse processo ganha consistência quando as
necessidades dos grupos populacionais em um território levam-nos a se articular em busca
de soluções intersetoriais”.
Nesse movimento, a política de saúde a partir da criação do Sistema Único de
Saúde (SUS), estabelece em seu artigo 12 da Lei Federal 8.080 de 1990, a
intersetorialidade, veja:
Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacional,
subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos Ministérios e
órgãos competentes e por entidades representativas da sociedade civil.
Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade de articular
políticas e programas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas
não compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). (BRASIL,
1990)

É notório nos dias atuais as relações sinérgicas entre o setor saúde nas diferentes
atenções. Entretanto, nem sempre foi assim, meados do século XIX o modelo ainda
predominante foi o modelo biomédico, caracterizado pela explicação unicausal, apenas
da presença ou ausência da doença, individualista, curativo, centralizado na figura
médica, fragmentado e hospitalocêntrico (PAIM, s.d ). Com um longo processo de
superação desse modelo, o setor parte para um modelo que considera o processo saúde-
doença, ganhando avanços. A saúde começa a ser pensada a partir dos seus determinantes

22
sociais, e esses, não podem ser compreendidos apenas por um único segmento (CNDS,
2006).
Anteriormente ascendem políticas e programas de prevenção e intervenção,
existem agravos em saúde os territórios, cenário que, em geral se delineia em
comunidades carecidas de políticas sociais eficazes, elemento analisado pelos estudos de
Monnerat e Souza, quando evidenciam o programa saúde da família:

O programa está sendo implementado nas áreas mais periféricas, onde a


pobreza e suas multicausalidades apresentam sua face mais aguda, tornando
óbvias as incompletudes do setor saúde para impactar os indicadores locais
com intervenções isoladas. (2014, p. 4)

É necessário compreender o cuidado em saúde a partir da noção coletiva, ou seja,


as relações sociais, políticas e as narrativas presentes dentro dos territórios, pois são
produtoras e reprodutoras das formas de adoecimento quanto de vitalidade (GARBOIS et
al. 2017) entendendo como fenômeno coletivo. Assim, a política de saúde através de
estudos e dos movimentos sociais, como a reforma sanitária, passa a debater com mais
centralidade as relações entre a saúde e a sociedade, assim explorado em:

As discussões reaparecem sob a chancela de ‘determinantes sociais da saúde’


(DSS), no sentido de fomentar um intenso debate cujo foco principal de análise
incide sobre o tema ‘desigualdades’, por meio da constatação de importantes
disparidades nas condições de vida e de trabalho, no acesso diferenciado a
serviços assistenciais, na distribuição desigual de recursos de saúde e nas suas
repercussões sobre a morbidade e mortalidade entre os diferentes grupos
sociais. (GARBOIS et al. 2017).

Dessa forma, os debates intersetoriais ganham relevância, de acordo com


Nascimento (2010, p.96) “a intersetorialidade das políticas públicas passou a ser uma
dimensão valorizada à medida que não se observava a eficiência, a efetividade e a
eficácia." Ou seja, trazem qualidade permitindo ultrapassar os limites que ocorreriam em
uma abordagem somente setorial. Conforme o entendimento de Oliveira (s.d, p.6 ):

Isso pode ser considerado como potencialidade, porque há demandas


sociais percebidas cujo atendimento extrapola a capacidade resolutiva
das instituições. Assim, torna-se necessária a articulação entre as
diversas vias institucionais para o atendimento de tais necessidades.
[grifo nosso]

Além da saúde, as demais políticas sociais também utilizam ações intersetoriais em


seu cotidiano e particularidades, algumas com um pouco mais de facilidade, outras nem
23
tanto. A política de educação no Brasil, prevê o desenvolvimento integral das crianças e
jovens articulado com as instituições da tríade do país.
É o diálogo entre esses diversos setores que permite construir um conjunto de
ações integradas, capazes de responder com maior eficiência aos desafios
propostos pela Educação Integral. Para que territórios, escolas e instituições
educativas respondam a esse desafio, é necessário que se forme uma rede
intersetorial (com habilidades e expertises diversas) capaz de olhar para as
múltiplas dimensões de um indivíduo: física, intelectual, social, afetiva e
simbólica. (DOCUMENTO ORIENTADOR DE SÃO PAULO, 2011, p. 37).

A educação era vista no país como uma política exclusivamente setorial, aos
poucos essa concepção fragmentada foi modificada a partir dos debates e implementação
da educação integral (GOMES et al. 2016). Ainda segundo os autores, quando se
considera o sujeito educando em sua integralidade, revela-se a necessidade de formação
nas diversas dimensões de vida. Desse modo, o setor da educação também articula ações
sinérgicas em seu desenvolvimento, imprescindível para o papel da escola na sociedade,
o que discutiremos mais à frente neste trabalho.

Já a intersetorialidade do serviço social executada na política de assistência, surge


do contexto de luta pós ditadura civil-militar no Brasil, com a consolidação da
Constituição Federal de 1988 e com o Movimento de Reconceituação da profissão, que
propõe a ruptura das práticas tradicionais e conservadoras do serviço social (VIANA, et
al. 2015). Resultando, quase duas décadas depois, o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS). Inaugurando o direito social com o reconhecimento da assistência como direito
de quem dela necessitar e dever do Estado, integrando o sistema da seguridade social,
logo, necessitando da articulação com os demais setores

Todavia, sua regulamentação, antecede o sistema único de assistência, ocorreu em


1993, com a promulgação da Lei 8.742, Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, que
dispõe sobre a organização da política em todo território nacional (BRASIL, 1993).
Apesar da intersetorialidade está presente nos eixos da política desde sua criação, o setor
enfrenta desafios, como explorado por Pereira e Teixeira:

a política de assistência e as demais políticas sociais de caráter integral


passaram a enfrentar os obstáculos de um ambiente historicamente setorial,
fruto das influências do modelo cartesiano na intervenção estatal, fato esse
agravado ainda mais pela cultura política nacional, marcada por ações de
caráter clientelista, paternalista e assistencialista. Sendo assim, o SUAS
enfrenta uma série de barreiras que dificultam a consolidação da ação em rede
e da intersetorialidade na esfera prática. (2013, p. 122).

Para compreender a intersetorialidade -ou sua ausência- na política de assistência


é necessário revisitar os elementos caracterizadores dessa “caixa”. A assistência nasce a
24
partir do processo contraditório entre as classes, assim, concretiza-se um desafio para os
direitos de cidadania onde a ordem societária vigente é o capitalismo. Dessa forma, o
setor carrega desafios, à exemplo, uma responsabilização exclusiva e equivocada de parte
da população, a população vulnerável. Na verdade, todos os setores lidam de alguma
forma com aspectos da responsabilização exclusiva, entretanto, quando analisamos a
política de assistência, essa é caracterizada pelo processo contraditório, essa condição,
segundo Pereira et al (2013, p. 123) inviabiliza sua eficácia enquanto política pública.

Ademais, a população marginalizada, característica majoritária do perfil atendido


pela assistência, é um importante marcador social da diferença, o marcador de classe.
Sendo assim, deve ser considerada não só nessa política, mas em todas, com suas
especificidades e determinações.

Dessa forma, analisar as relações intersetoriais entre as três políticas e suas gestões
demandam análise crítica, é necessário compreender seus componentes e como atuam no
cotidiano institucional.

25
4. PROTEÇÃO SOCIAL DE CRIANÇAS E JOVENS NA REALIDADE
BRASILEIRA

A proteção social de crianças e jovens tal como conhecemos hoje, advém de um


longo processo de reconhecimento dos direitos dos sujeitos que estão em
desenvolvimento biológico e psicossocial. Retomaremos a historicidade dessa proteção,
quando crianças e jovens passam a ser vistos como sujeitos em desenvolvimento peculiar
e precisam de uma atenção maior aos demais e passam a ter seus direitos reconhecidos.

A partir do recorte brasileiro que carrega consigo expressões da colonização até


os dias atuais, é necessário recordar como os portugueses trouxeram a cultura da
exploração das crianças e adolescentes, segundo Miceli a expectativa de vida das crianças
portuguesas, entre os séculos XIV e XVIII rodava os quatorze anos, enquanto metade dos
nascidos vivos morriam antes de completar sete anos (1994, p. 49). Além disso, crianças
eram vistas como membros das tripulações dos navios portugueses, em determinados
períodos, constituíam o grosso da tripulação, ademais, crianças escravizadas retiradas de
seus países também sofriam com a colonização, além dos povos originários, sendo todos
escravizados, constituindo a população jovem brasileira na violência colonial.

Crianças eram encarregadas de exercerem os trabalhos mais arriscados, bem como


explorados, sofrendo violências sexuais, maus tratos e vivendo com condições de saúde
precárias, tradição que se perpetuava em terras brasileiras. Essas e outras violências na
trajetória da colonização contra as crianças e os adolescentes carregam marcas indeléveis
na constituição da sociedade.

O direito da criança e do adolescente não dá os seus primeiros passos no Brasil


colônia com a lei do ventre livre em 1871, após lutas dos sujeitos escravizados, a lei
carregava breves suspiros de esperança, todavia, carregada de contradições, veja:

O filho livre da mãe escrava, que acabou sendo definido como “ingênuo”, ou
seja, o filho de ventre livre não adquire liberdade jurídica e, por isso, estava
impedido de frequentar a escola e participar da vida política do país. Pela Lei
do Ventre Livre, o senhor que ficava com a criança liberta não era obrigado a
oferecer instrução primária, o que provocou a situação do abandono de
milhares e milhares de crianças. (SANTOS, 2008, p. 16) 4

Observamos, que apesar do falso ideário de liberdade o ‘direito’ da criança ainda


não é alcançável. Com a lei, intensifica-se o abandono de crianças nos famosos sistemas

4
Indicamos a leitura íntegra do artigo para análise da intersecção do marcador social da diferença de
raça
26
de rodas dos expostos “cilindro giratório localizado na parede das instituições, onde as
pessoas abandonavam as crianças chamadas ilegítimas” (SANTOS, 2008, p. 15).

Ao decorrer da relação do Estado com as crianças e jovens, institui-se uma


vinculação primordial da época, a punição, cultura firmada desde a colonização. Como
afirmado também pelos estudos de Santos (2008, p. 15):

O Código Criminal de 1830 estabelecia a primeira preocupação legal com os


chamados “menores”. O artigo 10 deste Código Penal diz: “Também não se
julgarão criminosos os menores de quatorze anos. Se provar que os menores
de quatorze anos tiverem cometido crimes e que fizeram com discernimento,
então, deverão ser recolhidos à Casa de Correção… (SANTOS, 2008, p.15)

A cultura da punição também avança no período republicano, associando infância


e delinquência, estabelecendo leis e decretos ao longo do tempo que controlam e
reprimem as infâncias. Avançando um pouco mais, em 1927, é promulgado o primeiro
código de menores (BRASIL, 1927). Crianças e jovens marginalizados são vistos como
possíveis riscos à sociedade, em suma, para trazer proteção aos infantes -terminologia
utilizada no código- tratando-os como delinquentes, ou ainda, “passíveis de intervenção
assistência, jurídica e policial” (BOTALHO, 1993, p.13). Silveira destaca que:

Com a mudança do regime de governo, os novos governantes, influenciados


pelas doutrinas do positivismo científico então em voga, passaram a defender
mecanismos específicos de intervenção do Estado na infância pobre, através
da concepção de instituições específicas voltadas para o governo desse setor
da população.(SILVEIRA, 2019, p 61)

Ademais, Bezerra discorre:

Tratava-se apenas da assistência, proteção e vigilância aos que ainda não


tinham atingido a idade de 18 anos. Aplicava-se, portanto, exclusivamente,
àquele menor que se encontrasse em situação irregular, assim considerado
quando fosse abandonado por seus pais ou responsável, mesmo que
eventualmente, proveniente de família carente, vítima de crime, em desvio de
conduta ou, por fim, quando autor de infração penal. (2006, p. 17)

As marcas da exploração e da violência exercida contra os sujeitos são expressivas


durante os diferentes períodos da história das crianças e adolescentes no Brasil. A
naturalização da violência contra a criança e o adolescente até meados do século passado
era comum, principalmente violências contra as infâncias empobrecidas. Com o decorrer
do tempo, o país inicia seu processo para independência, legislações são criadas e as
formas de violências modificadas. Historicamente no Brasil, crianças foram adultizadas,
violentadas e passíveis de punição. Para reconhecermos a proteção integral que hoje é
exercida mesmo com restrições, existiram diversas movimentações da sociedade.

27
Segundo Silveira (2019, p.62) durante os anos de 1980 ocorreu um amplo movimento de
problematização da menoridade no âmbito da abertura democrática que antecedeu o fim
da ditadura civil-militar. A participação social e acadêmica foram importantes para o
pleno reconhecimento e desenvolvimento das crianças, adolescentes e seus direitos, tais
debates resultaram posteriormente em avanços nas legislações.

A promulgação da Constituição Federal de 1988 instaurou-se na sociedade a partir


da oposição à ditadura militar e a valorização do estado de direito. Assim, abrindo espaços
democráticos que fortalecem e constroem direitos sociais não só para toda população
brasileira mas em especial para crianças e adolescentes que passam a ser prioridade na
legislação. Como dito em:

Da mesma forma que o Código de 1927, o Estatuto de 1990 foi justificado


pelos valores da civilização, mas, enquanto o primeiro dizia respeito à figura
jurídica do Menor, o último regulamenta os direitos da Criança e do
Adolescente instituídos pela Carta de 1988 (BOTELHO, 1993, p.9).

Quando analisamos as constituições que antecedem a CF 88, ou seja, as


constituições brasileiras de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, e de 1967 encontramos de
maneira redigida a realidade da época, com “consignações genéricas” como cita Moreira
e Sales (2015, p. 177). Apesar da Constituição ser um documento inovador e com
perspectivas de cidadania dentro dos moldes da sociedade capitalista, se comparada com
as anteriores, todavia, apresenta falhas, contamos com os autores para a discussão:

Parece-nos possível apontar algumas fragilidades da Constituição de 1988, no


que concerne à concretização dos direitos relativos à infância e à adolescência:
a) diversos direitos são outorgados a crianças e adolescentes, porém, não são
estipuladas as condições materiais necessárias ao efetivo oferecimento de cada
um deles; b) o dever de assegurar os direitos previstos é atribuído a três
instâncias distintas (família, sociedade e Estado), que deverão fazê-lo com
prioridade absoluta, contudo, não há um detalhamento sobre a
responsabilidade de cada uma delas, tampouco uma definição precisa do termo
prioridade absoluta. Consequentemente, retomando a expressão de Florestan
Fernandes, o artigo em tela se mostra inacabado: é avançado, à primeira vista,
enquanto declaração formal, mas carece de uma pormenorização que facilite a
transposição dos direitos do papel para a realidade. (MOREIRA E SALES,
2015, p. 182)

Dessa maneira, para suprir os fragmentos da constituição, é necessário outras


movimentações da sociedade e do poder público, visto a concretização eficiente e
garantidora dos direitos, o que aos poucos caminhou-se para a lei diretriz dos direitos das
crianças e adolescentes, o que veremos adiante neste trabalho.

Com o processo de violações e reconhecimentos dos direitos durante a história, a


partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, a proteção social das crianças e
28
adolescentes passa a ser desenvolvida e formulada com prioridade nas políticas públicas,
sejam elas na área da educação, saúde, assistência, dentre outros setores. Assim, a
proteção social que conhecemos hoje é recente na realidade brasileira e tem como objeto
os primeiros momentos de vida dos sujeitos5.

Seguindo, a proteção social de crianças e jovens direcionam e norteiam todas as


políticas. Entender as peculiaridades e características que envolvem a infância e
adolescência nos aspectos biológicos, fisiológicos, psicológicos e sociais demandam
vasto conhecimento, acompanhada de vasta apropriação dos direitos, por isso, é tão
importante a presença da proteção, em especial para os sujeitos em desenvolvimento, com
isso, é firmado um documento de garantias à proteção integral e a extinção da violência
para toda sociedade e baseie as formulações das políticas.

5
Por esse motivo, a ideia inicial da presente pesquisa seria acompanhar o PSE desde a educação infantil,
da primeira infância até o ensino médio. Para que houvesse o acompanhamento das ações intersetoriais em
saúde que considerassem as mudanças de faixa etária e consequentemente, as necessidades diversas.
Infelizmente, por motivações externas, não foi possível realizar essa sequência nos espaços escolares por
falta de autorização da Secretária de Educação (SEDUC).
29
5. O LUGAR DO ECA NOS DIAS ATUAIS

Passados trinta e três anos de sua vigência, o Estatuto da Criança e do Adolescente


segue sendo o maior documento brasileiro sobre a infância e juventude, resultado de um
amplo debate democratico, à frente, movimentos e articulações sociais constituem o
Estatuto, onde é legitimado os direitos das crianças e jovens. Sendo eles de
responsabilidade da família, da sociedade em geral e do poder público, como cita o artigo
227 da Constituição Federal:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. (BRASIL,1988).

Assim, são considerados formalmente através do poder legislativo de qualquer


forma de violência, exploração e negligência. Iniciando a constituição da proteção social
contra todas as formas de opressão sofridas ao longo da história e desenhando as novas
diretrizes para que os planejamentos, formulações de políticas e programas tenham o
documento como diretriz.

O Estatuto assegura o direito à cidadania para o desenvolvimento de vida


fundamental, com corresponsabilidade à toda sociedade nos diversos aspectos que
rodeiam a vida do sujeito, sejam eles na perspectiva da nutrição, segurança pública, lazer,
à moradia, dentre outros, diferente do primeiro documento publicado para “proteção”
como foi o código de menores. Todavia, Bezerra (2006, p.18) cita:

Embora com o advento dessa lei, prevenir a ameaça ou violação dos direitos
infanto-juvenis passou a ser dever de cada um e da sociedade de modo geral,
há uma privilegiada posição ocupada por algumas categorias profissionais
(da educação e da saúde, notadamente), em razão da sua proximidade com
essa população, elemento facilitador na identificação das diversas
modalidades de atos violentos praticados contra eles [crianças e jovens].

Essa citação é afirmada recorrentemente nas relações quanto à cobrança do


cumprimento dos direitos por parte de ambos setores, educação e saúde. Argumentamos
que apesar de serem dois grandes campos do cotidiano das crianças e dos jovens em suas
vidas, não são suficientes para que, sozinhos, garantam à prevenção, ameaça ou violação,
por isso, a interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e intersetorialidade são necessárias
para as intersecções envolvidas. As exigências práticas para a execução das políticas de

30
maneira coerente com o processo de democratização e reconhecimento dos direitos das
crianças e jovens são objeto de problematização Silveira (2014, p. 40).

Desse modo, políticas, programas, conselhos profissionais, conselhos de direitos,


regionais e federais e demais órgãos, a maioria com participação social, buscam a garantia
de proteção, passam a tomar formas e são fortalecidos com conteúdos e horizontes às
novas formas de gestão das políticas sociais e seus objetivos, sobretudo, de maneira
descentralizada mas agora, com um documento norteador para buscar o cumprimento dos
direitos infantojuvenis.

O ECA na política de saúde, por exemplo, traz diretrizes dos direitos


fundamentais, em seu artigo 7º recorre que:

A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a


efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
(BRASIL, 1990)

Logo, reconhecemos a necessidade da população infanto-juvenil de ações para o


seu desenvolvimento, suas necessidades em saúde de maneira coletiva, mas também
subjetiva. Fazendo-se necessário adaptações nos serviços, programas e ações da saúde
para atender essa população. Em relação à educação, o ECA dispõe o capítulo IV, que
cita em seu artigo 53 “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania…” (BRASIL,
1990). Dessa forma, o Estatuto almeja o direito à educação, suas normas e orientações.
O ECA objetiva suprir lacunas ao que tange a vida das crianças e adolescentes na
legislação brasileira, Como exposto:

Dentre os seis direitos relativos à educação, estipulados pelo artigo 53 do


ECA, cinco representam novidades face à Constituição Federal de 1988: a) o
direito de ser respeitado por seus educadores; b) o direito de contestar critérios
avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; c) o direito de
organização e participação em entidades estudantis; d) o direito ao acesso à
escola pública e gratuita próxima à residência; e) o direito a ter ciência do
processo pedagógico e participar da definição das propostas educacionais.
(MOREIRA E SALES, 2015, p.184)

O setor da educação, de maneira processual, se modificou para cobrir as


necessidades da comunidade escolar. Entretanto, ainda não suficientes, pois seu acesso
ainda é dificultado por questões externas ao cotidiano escolar, reflexões6.

6
trataremos no próximo capítulo deste trabalho nomeado “O impacto social das escolas no país”
31
Agora, no terceiro setor, o documento do ECA traz aspectos não só da política da
assistência social, mas do trabalho do serviço social, a profissão é imprescindível, seja na
baixa ou alta complexidade das políticas e serviços da infância e juventude. Em todos os
capítulos do Estatuto o assistente social está inserido, de maneira a atuar cotidianamente
na defesa e garantia dos direitos, contribuindo para efetiva implantação e sua aplicação,
na perspectiva da defesa da vida e do pleno desenvolvimento com proteção e cuidado.
Destacamos que isso ocorre indiferente da política de atuação do profissional, mas como
característica da profissão dentro do estatuto, como uma profissão atuante no campo da
defesa e acesso aos direitos fundamentais dos sujeitos.

Inevitavelmente ao observarmos as mudanças legislativas, torna-se


imprescindível observar também os aspectos históricos das relações entre adultos,
crianças e adolescentes, ademais, sobre toda sociedade no relacionamento com os sujeitos
em desenvolvimento. Não consigo, enquanto autora deste trabalho, caracterizar e
distinguir qual aspecto levou ao outro. Se, aspectos relacionais modificaram-se a partir
de documentos legislativos ou, se houveram mudanças nas visões legais a partir de
relacionamentos entre sociedade-criança-adolescente.

Entretanto, cabe refletir que apesar das mudanças legislativas estabelecerem um


importante marco de delimitação da formalidade do Estado de direito, existem conflitos
postos entre a intersecção desigual de raça-classe-gênero-idade, sobretudo, nesta análise,
a idade, na busca de acesso aos direitos. O adultocentrismo, determinado socialmente que
as crianças e adolescentes têm menos direito, menos conhecimento e menos espaço que
os adultos, é um exemplo claro dessa relação. Quando reduzimos a autonomia e
protagonismo de crianças e jovens em todas as esferas de suas vidas, como ocorre na
saúde, nas decisões cabíveis no que tange à educação, ou ainda, como sujeito de voz em
trabalhos da política de assistência, em matriciamentos.

Uma das formas de visar a efetivação do ECA ocorre através das diversas
políticas, estratégias, programas e no cotidiano da sociedade quando horizonta-se o
cuidado integral, todavia, quando atuado dentro dos seus aspectos legais, relacionais e
históricos, entendendo a criança eo adolescente como sujeitos de direito, com a
necessidade de emancipação e nas suas intersecções.

32
6. O IMPACTO DAS ESCOLAS NO PAÍS

A escola no Brasil é também traçada pelas características de um país colonial,


como exposto:

A catequese assegurou a conversão da população indígena à fé católica e sua


passividade aos senhores brancos.A educação elementar foi inicialmente
formada para os curumins, mais tarde estendeu-se aos filhos dos colonos.
Havia também os núcleos missionários no interior das nações indígenas. A
educação média era totalmente voltada para os homens da classe dominante,
exceto as mulheres e os filhos primogênitos, já que estes últimos cuidariam dos
negócios do pai (RIBEIRO, 1993)7

Com sua historicidade de caráter elitista, a educação percorreu um caminho


extenso à educação dos dias atuais. Em 1930, o primeiro Ministério da educação,
partilhado juntamente com a saúde pública; em 1932 é lançado o Manifesto dos Pioneiros
da Educação Nova propõe um sistema escolar público, gratuito, obrigatório e leigo para
todos os brasileiros até os 18 anos, documento defendia a “reconstrução do sistema
educacional menos elitista e aberto à interpenetração das classes sociais com vistas às
necessidades de um Brasil que se industrializava” (MEC, s.d).

Após o período ditatorial, a CF 88 atribuiu um capítulo à educação, sendo essa,


direito de todos e dever do Estado, entretanto, voltamos à problemática pelos autores
Moreira e Sales (2015), na qual “pontos contraditórios, em que as diretrizes estabelecidas
"ficam no papel", já que diversas interpretações [da constituição] podem ser feitas de um
determinado artigo, devido à falta de clareza e objetividade” (RIBEIRO, 1993).

Assim, o sistema educacional brasileiro foi aperfeiçoando-se e passou por


diversas reestruturações, cabe ressaltar o papel dos movimentos sociais no processo de
democratização do ensino. Dessa forma, a educação sempre foi vista com importância,
todavia, carregava traços e vínculos do contexto histórico. Moldá-las de acordo com as
relações sociais do atual contexto histórico, com lutas, reivindicações e oposições. Cabe
ainda, retomar a necessidade da territorialização para que tais diretrizes sejam cabíveis à
realidade e possa realizar as abordagens da educação de maneira singular.

7
Indicamos a leitura completa do artigo “ História da educação escolar no Brasil: notas para uma
reflexão”para maior compreensão da historicidade da educação no Brasil colônia.
33
No seio da sociedade, a escola apresenta grandes impactos de maneira extensa e
profunda, impacta a formação dos sujeitos, combate à pobreza, diminui à violência,
fortalece direitos e acesso, com impactos na economia, saúde, meio ambientes dentre
tantas outras repercussões.

A educação, ou melhor, o setor que a representa é aqui representada pela


instituição de ensino escolar, onde crianças e jovens passam a maior parte da sua vida, a
depender da modalidade ensino, de 4 a 8 horas diárias durante, no mínimo, treze anos. A
escola, ainda, segundos os autores é o espaço

Onde crianças e jovens despendem a maior parte do seu tempo. É um contexto


privilegiado, pois alberga uma grande faixa etária diversificada a nível
económico, social e cultural, sendo por isso ideal para desenvolver ações que
promovam uma vida ativa saudável a médio e longo prazo (SOUZA E
TRINDADE, 2013, p.104).

Nesse cenário, a escola é passível de muitas abordagens para além dos conteúdos
e da sala de aula, mas no ensino da vida e nas relações sociais envolvidas, dessa forma,
sendo capaz de ser promotora de saúde e, na mesma escala, violadora.

É necessário pensar e trabalhar as instituições de ensino com o objetivo de criar


condições adequadas para o desenvolvimento de maneira individual, mas também
coletiva. Nessa perspectiva, o Programa Saúde na Escola aproveita o acesso que a escola
tem aos seus alunos, aproveitando os saberes entre os dois setores, objetivando promover,
prevenir e interferir nas questões em saúde, aproveitando da condição especial que a
instituição têm na vida dos sujeitos.

34
7. O PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA

O PSE foi criado no ano de 2007 pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e pelos ministros de educação e saúde Fernando Haddad e José Gomes. E teve como
objetivo:

contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de ações de


promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das
vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e
jovens da rede pública de ensino. (MEC, s.d)

Em seu decreto nº 6.286/2007 é apresentado os objetivos propostos para o


programa, diretrizes, planejamentos, ações em saúde previstas, dentre outras atribuições.
Observar tal documento é relevante para questionar ações fragmentadas, por isso,
esmiuçamos as categorias analisadas no decorrer do texto legislativo.

I - promover a saúde e a cultura da paz, reforçando a prevenção de agravos à


saúde, bem como fortalecer a relação entre as redes públicas de saúde e de
educação;II - articular as ações do Sistema Único de Saúde - SUS às ações das
redes de educação básica pública, de forma a ampliar o alcance e o impacto de
suas ações relativas aos estudantes e suas famílias, otimizando a utilização dos
espaços, equipamentos e recursos disponíveis; III - contribuir para a
constituição de condições para a formação integral de educandos; IV -
contribuir para a construção de sistema de atenção social, com foco na
promoção da cidadania e nos direitos humanos; V - fortalecer o enfrentamento
das vulnerabilidades, no campo da saúde, que possam comprometer o pleno
desenvolvimento escolar; VI - promover a comunicação entre escolas e
unidades de saúde, assegurando a troca de informações sobre as condições de
saúde dos estudantes; e VII - fortalecer a participação comunitária nas políticas
de educação básica e saúde, nos três níveis de governo. (BRASIL, 2007)

Ao que compete os objetivos previstos no Art 2º, a promoção em saúde e a


prevenção de seus agravos está em gradativa prioridade, como um horizonte a ser seguido
aos demais objetivos. Ademais, pontuamos que a articulação do SUS com as escolas deve
ser realizado independente da presença do PSE na região, no quadro de adesão do
programa, o percentual de aderência não é unânime entre as regiões do país, ou ainda,
entre as microrregiões8.

No tópico três, a saúde de fato contribui para as constituições das condições de


vida, voltando aos aspectos da determinação social da saúde, por exemplo, com
saneamento básico, controle de epidemias e endemias, dentre outros. Ademais, a

8
Fonte de informação “Quadro de adesão do PSE - Ministério da saúde” encontra-se desatualizada,
visto manutenção no site oficial.
35
necessidade do fomento à autonomia dos educandos com as questões em saúde desde o
início do seu desenvolvimento.

Seguindo, a contribuição para construir um sistema de atenção integral requer


outros atores sociais, como, conselhos municipais, órgãos de defesa e serviços de proteção
das infâncias e juventudes. De acordo com o texto, depreendemos que é essencial que
programas e ações intersetoriais promovam em seus objetivos o fortalecimento do sistema
de atenção aos sujeitos em desenvolvimento, todavia, deve ser dotado de alianças e
articulações com os demais segmentos da sociedade.

O item cinco merece destaque, visto que, fortalecer o enfrentamento das


vulnerabilidades que comprometem o desenvolvimento escolar exige outro setor aqui
imprescindível para o trabalho com as expressões da questão social, o assistente social,
que, segundo Iamamoto:

O desafio é re-descobrir alternativas e possibilidades para o trabalho


profissional no cenário atual; traçar horizontes para formulação de propostas
que façam frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida
daqueles que a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam
pela preservação e conquista da sua vida, da sua humanidade. (IAMAMOTO,
2012, p.75)

Por esse motivo, a intersetorialidade para além da saúde e educação faz-se


necessária, pois elaborado nos objetivos do programa nos deparamos com limitações que
apenas essa abordagem dupla, bisetorial, como chamaremos à frente, não dará conta por
envolver complexidades que extrapolam os saberes profissionais de ambos setores.

O sexto objetivo diz respeito à necessidade de integração entre os serviços, uma


vez que a criança, o adolescente e sua família convivem em outros espaços, como, a UBS,
escola, CRAS, centros poliesportivos, e outros espaços socioculturais. Dessa forma, a não
fragmentação dessa família (diretriz valorosa no Sistema Único de Assistência Social) é
indispensável para que ao traçar estratégias de promoção, prevenção ou intervenção
possamos pensar abordagens a partir das referências dos demais equipamentos que
compõem a rede de proteção, sejam equipamentos de cunho público ou não.

O sétimo objetivo aqui tem a orientação da participação social, onde as diferenças


entre forças sociais, movimentos, líderes comunitários e usuários desenvolvem com o
intuito de influenciar a formação, execução, fiscalização e avaliação das políticas sociais.
Exercício que pode aperfeiçoar também o PSE.

36
Em seu Art 3º o documento trata sobre as estratégias e diretrizes previstas para o
alcance dos objetivos expostos acima.

I - descentralização e respeito à autonomia federativa; II - integração e


articulação das redes públicas de ensino e de saúde; III - territorialidade; IV -
interdisciplinaridade e intersetorialidade; V - integralidade; VI - cuidado ao
longo do tempo; VII - controle social; e VIII - monitoramento e avaliação
permanentes. (BRASIL, 2007)

Ambas diretrizes orientam os profissionais a exercerem e formularem as ações a


partir do que cada uma traz em sua gênese, a combinação de ambas diretrizes é facilitador
para uma abordagem em saúde íntegra, contudo, reforçamos a inserção concreta no
cotidiano do planejamento legislativo de outros setores.

Para a implementação do PSE, é necessário, segundo o decreto, formalizar por


meio do termo de compromisso, onde deve-se considerar: “I - o contexto escolar e social;
II - o diagnóstico local em saúde do escolar; e III - a capacidade operativa em saúde do
escolar.” (BRASIL,2007).

Planejamentos devem ser executados para implementar o programa na região,


entender quais serviços estão articulados e quais dificuldades a região encontra para o
acesso à saúde das crianças e jovens. Ao traçar esse mapeamento, é possível entender o
contexto escolar e social, quais demandas em saúde são mais evidentes no território e
também a capacidade operativa não exclusiva da escola, mas de todos os serviços
disponíveis atualmente.

Ao que tange às ações previstas do decreto, contamos com tais direcionamentos:

I - avaliação clínica; II - avaliação nutricional; III - promoção da alimentação


saudável; IV - avaliação oftalmológica; V - avaliação da saúde e higiene bucal;
VI - avaliação auditiva; VII - avaliação psicossocial; VIII - atualização e
controle do calendário vacinal; IX - redução da morbimortalidade por
acidentes e violências; X - prevenção e redução do consumo do álcool; XI -
prevenção do uso de drogas; XII - promoção da saúde sexual e da saúde
reprodutiva; XIII - controle do tabagismo e outros fatores de risco de câncer;
XIV - educação permanente em saúde; XV - atividade física e saúde; XVI -
promoção da cultura da prevenção no âmbito escolar; e XVII - inclusão das
temáticas de educação em saúde no projeto político pedagógico das escolas.
(BRASIL, 2007)

Tais ações, apesar de serem pontuais, são necessárias para definirem o


cuidado com a saúde física e mental das crianças e jovens de maneira específica,
todavia, prender-se à essas ações sem uma análise crítica do que cabe no território
de atuação pode tornar-se ineficaz. A combinação entre elas também é necessária,
deverá haver cautela ao exercer uma das ações previstas e afirmar que o PSE é

37
integral na saúde do público alvo, uma ação fragmentada e a falta de percepção
desta é ainda mais preocupante do que a percepção que as ações são falhas e podem
melhorar, logo, com maior entendimento que apenas uma ação não cobre toda a
complexidade de um cuidado em saúde.

Ademais, no parágrafo único do decreto é dito:

Parágrafo único. As equipes de saúde da família realizarão visitas periódicas e


permanentes às escolas participantes do PSE para avaliar as condições de saúde
dos educandos, bem como para proporcionar o atendimento à saúde ao longo
do ano letivo, de acordo com as necessidades locais de saúde identificadas.
(BRASIL, 2007)

Sabemos que, visto o desmonte dos serviços públicos e da onda neoliberal


que afeta precisamente equipamentos das políticas sociais, resultando em
infraestruturas inadequadas, escassez de profissionais, agenda intersetoriais que não
se encaixam devido à sobrecarga dentre outras questões (BEHRING, 2018),
inviabilizam um acompanhamento ao longo do ano letivo de maneira adequada ao
parágrafo.

Por fim, o documento explicita o que compete aos setores da educação e


saúde, em conjunto:

I - promover, respeitadas as competências próprias de cada Ministério, a


articulação entre as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e o SUS;
II - subsidiar o planejamento integrado das ações do PSE nos Municípios entre
o SUS e o sistema de ensino público, no nível da educação básica; III -
subsidiar a formulação das propostas de formação dos profissionais de saúde e
da educação básica para implementação das ações do PSE; IV - apoiar os
gestores estaduais e municipais na articulação, planejamento e implementação
das ações do PSE; V - estabelecer, em parceria com as entidades e associações
representativas dos Secretários Estaduais e Municipais de Saúde e de Educação
os indicadores de avaliação do PSE; e VI - definir as prioridades e metas de
atendimento do PSE. (BRASIL, 2017)

Como pode-se analisar, a legislação apesar de apresentar lacunas, estabelece um


caminho importante para o programa seguir a partir do trabalho multiprofissional.
Todavia, é necessário atentar-se com os limites que a ação intersetorial têm, como dito
anteriormente. Ademais, não tratá-la apenas como otimização de recursos e com a ilusão
de cumprimento de tudo o que o decreto estabelece, pois isso, diga-se de passagem, é
difícil visto a atuação de apenas dois grandes setores, necessita-se de todo o aparato das
demais políticas públicas.

Ao que tange seu orçamento, o artigo 7º traz:

38
Art. 7º Ocorrerão à conta das dotações orçamentárias destinadas à sua
cobertura, consignadas distintamente aos Ministérios da Saúde e da Educação,
as despesas de cada qual para a execução dos respectivos encargos no PSE.
(BRASIL, 2007)

Ademais, o PSE é adotado, preferencialmente, em serviços de saúde com a


Estratégia Saúde da Família (ESF), por esse motivo, incluem os eventuais gastos do
programa a partir dos recursos financeiros da adesão ESF. Uma outra problemática, a
restrição orçamentária (ROSSI e DWECK, 2016)9.

Por fim, uma lacuna é observada no decorrer do documento, notamos a ausência


do documento julgado o mais importante, como visto anteriormente, para os direitos das
crianças e adolescentes, o Estatuto da Criança e Adolescente. A falta do estatuto
representa uma falha para todos os componentes expostos aqui, objetivos, diretrizes, e
ações previstas. Assim chamando nossa atenção para um programa pensado para sujeitos
em desenvolvimento que ausenta um documento importante para reger seu cumprimento.

9
Para maior compreensão do cenário brasileiro frente às despesas primárias do Governo Federal com
duração para 20 anos por meio da Proposta de Emenda Constitucional 241/2016 (PEC 241) e seu impacto
macroeconômico, indicamos a leitura na íntegra do artigo: “Impactos do novo regime fiscal na saúde e
educação”
39
8. REVISÃO SISTEMÁTICA E SEUS RESULTADOS

Para o estudo, dezoito artigos atenderam aos critérios estabelecidos na


metodologia, dentre eles, um é do ano de 2011, três do ano de 2014, dois do ano de 2016,
quatro do ano de 2017, três do ano de 2018, quatro do ano de 2019, e um do ano de 2021.
Acerca do recorte temporal, observamos aumento significativo na elaboração dos estudos
e análises do PSE na última década, de acordo com o aumento da sua adesão nos últimos
anos (SISAPS, 2022).

Os artigos analisados foram produzidos nas diversas regiões do Brasil, a exceção


é a Região Norte, com 6,32% de aderência (SISAPS, 2022) em relação às demais áreas,
o que mostra representatividade dos resultados. Encontramos pluralidade das abordagens
e instrumentalidades na metodologia dos estudos, tais como: análise documental;
pesquisa exploratória; estudo de caso; estudos avaliativos; entre outros. Ao agrupar todos
os artigos dentro de um único quadro, compilamos10 as informações necessárias para
observação e análise do leitor. Veja:

Quadro 2: Identificação dos estudos

Código identificador Titulo Autores


Cartografia da KUTSPEZA, Daiane; KLEBA, Maria;
Implantação e MAGRO,Márcia.
Execução do
Programa Saúde na
A1
Escola:
Implicações para o
processo de
desmedicalização
A Generificação SILVEIRA, Catharina; MEYER,
da Dagmar; FÉLIX,Jeane.
Intersetorialidade
A2
no Programa
Saúde da Escola

10
Parte da pesquisa da revisão sistemática e seus resultados foram submetidos para a Revista Serviço
Social e Saúde, construído juntamente com mais dois autores, Helton Saragor e Heitor Pasquim.
40
Intersetorialidade VIEIRA, Lidiane; BELISÁRIO, Soraya.
na Promoção da
Saúde escolar:um
A3
Estudo do
Programa Saúde na
Escola
Rede Intersetorial CHIARI, Antonio; FERREIRA, Raquel;
do Programa Saúde AKERMAN, Marco; AMARAL, João;
A4 na Escola: Sujeitos, MACHADO, KECYANNE; SENNA,
Percepções e Maria.
Práticas
A SOUZA, Marta; ESPERIDÃO, Monique;
Intersetorialidade MEDINA, Marina.
no Programa Saúde
na Escola:
A5 Avaliação do
processo político-
gerencial e das
práticas de
trabalho.
Análise da FARIAS, Isabelle; SÁ, Ronice;
Intersetorialidade FIGUEIREDO, Nilcema; FILHO, Abel.
A6
no Programa Saúde
na Escola
Diplomas FERREIRA,Izabel; VOSGERAU,
Normativos do Dilmeire; MOYSÉS,Samuel; MOYSÉS,
Programa Saúde na Simone.
Escola: Análise de
A7
conteúdo associada
à ferramenta
ATLAS TI.

Programa Saúde na JUNIOR, Aristides.


Escola: Limites e
A8
possibilidades
intersetoriais.
Percepções de FERREIRA, Izabel; MOYSÉS,Samuel;
Gestores Locais FRANÇA,Beatriz; CARVALHO,Marx;
Sobre a MOYSÉS,Simone.
A9
Intersetorialidade
no Programa Saúde
na Escola.

41
Relato de SANTOS,Ana; GASPARIM,Caroline;
Experiência: MONTEIRO,Gabriella; BRITO,Murilo;
Construção e SILVA,Vanessa.
Desenvolvimento
do Programa de
A10
Saúde na Escola
(PSE) sob a
perspectiva da
Sexualidade na
Adolescência
Promoção da saúde GONÇALVES, Eysle; BRASIL, Maia;
de adolescentes e SILVA, Raimunda; SILVA, Maria;
Programa Saúde na RODRIGUES, Dafne; QUEIROZ, Maria.
A11 Escola:
Complexidade na
articulação saúde e
educação.
Proposta de plano BATISTA, Mariangela.
de ação, no âmbito
do Programa Saúde
na Escola, para
prevenção e
A12
controle da
obesidade infantil
em um município
da grande São
Paulo-SP
A importância da koptche, Luciana; PADRÃO, Maria;
formação PEREIRA, Felipe.
continuada para a
A13
gestão intersetorial
no Programa Saúde
na Escola
Desafios da DIAS, Patricia; HENRIQUES, Patricia;
intersetorialidade MENDONÇA, Daniele; BARBOSA,
nas políticas Roseane; SOARES, Daniele; LUQUEZ,
públicas: o dilema Tatiane FEISÃO, Mariana;
entre a BURLANDY, Luciene.
A14 suplementação
nutricional e a
promoção da
alimentação
saudável em
escolas

42
Avaliação do grau MEDEIROS, Eliabe; TANAKA,
da implantação do Oswaldo; SOUZA, Nilba; SANTOS,
Programa Saúde na Paula; PINTO, Erika.
A15
Escola em
municipio do
nordeste brasileiro
Ações executadas MEDEIROS, Eliabe; SOARES,
no Programa Saúde Manoelle; ROBOUÇAS, Danielle;
A16
na Escola e seus NETA, Maria; SILVA, Sandy; PINTOS,
fatores associados Erika.
A17 Organização do A.L.GOMES, M.F.VIEGAS
trabalho e
formação dos
trabalhadores numa
microárea do
Programa Saúde na
Escola
Avaliação do grau MEDEIROS, Eliabe.
da implantação do
A18 programa saúde na
escola no
municípal de natal
Fonte: Elaboração própria

Os artigos selecionados apontam que as ações articuladas no PSE privilegiam o


âmbito bisetorial tradicional, a saber: educação e saúde. Essa bisetorialidade pode assumir
diferentes formas para responder às demandas e às necessidades presentes nos territórios,
como a saúde bucal (A1; A4; A3), a saúde ocular (A1 e A4) e a saúde nutricional (A4 e
A14). Contudo, elas são, repetidamente, descritas como ações de caráter clínico e
recortadas ao nível dos núcleos profissionais. Outros estudos não abordam
especificamente as ações intersetoriais, mas questões pertinentes, como a falta de
capacitação para ela (A4; A6; A7 ).

Observamos na revisão alguns desafios da intersetorialidade no programa, e das


ações que o programa propõe, dentre esses: a falta de agenda intersetorial compatível
entre os setores (A4; A14), a falta de profissionais, acarretando sobrecargas no trabalho e
consequentemente limitando as ações do programa (A2; A14). A insuficiência da
estrutura e de recursos foram obstáculos lembrados (A4; A8; A9; A3; A5). Além disso, a
restrição de conhecimentos técnicos focados em dois setores para atender demandas
complexas que perpassam os saberes dos profissionais, com esse conjunto de obstáculos,
a existência de agravos no desenvolvimento escolar a partir da saúde motivada pela
43
dificuldade da execução do exercício intersetorial entre os profissionais e as gestões
sociais, por este motivo, abordagens das ausências das capacitações técnicas intersetoriais
para a rede protetiva são expostas nos estudos (A4; A6; A7; A13; A17 ).

A falta da educação continuada sob a perspectiva da intersetorialidade é pontuada


em parte dos estudos (A3; A4; A10; A13), os quais trazem debates sobre a ideia distorcida
da estratégia, com um olhar de junção de profissionais, otimização do tempo e de
recursos, e ainda o ideário da intersetorialidade como uma mobilização voluntária (A2) e
não como prática integrada, planejada e articulada com os setores que compõem a rede
de cuidado de toda a população adscrita.

Outra reflexão persistente nos artigos diz respeito à diretriz do programa referente
à gestão: a descentralização nos planejamentos e execuções. Todavia, em parte dos artigos
(A1; A3; A5; A6; A8) as discussões dos autores ligados à percepção do saber vinculado
ao setor saúde enquanto saber predominantemente é notória.

Dessa forma, a integração do trabalho coletivo é resultante dos desafios presentes


no cotidiano do trabalho nos setores, expressos através da falta de estrutura operacional
para o exercício da intersetorialidade (A2; A8), ou as divergências das gestões setoriais
(A9; A8).

No exercício reflexivo, identificamos a não abordagem do setor da assistência


social, consequentemente, a proteção social das crianças e dos jovens na previsão
constitucional de atuação conjunta e articulada das políticas, programas e serviços
formando uma rede de proteção integral aos seus direitos e atenção às necessidades
básicas e especiais.

Nas análises, o setor da assistência é raramente citado e seus acessos pela


população tampouco, as passagens incipientes partem do pressuposto de parcerias em
situações específicas, em eventualidades nas demandas dos usuários (A9), e não de
cumprimento de direitos a partir da cobertura e abrangência prevista pelo setor. Embora
o PSE trabalhe na perspectiva dos direitos das crianças e jovens, não localizamos na
revisão o diálogo explícito com as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente e
seus instrumentos, ou seja, duas lacunas merecem atenção.

44
Ao refletirmos sobre o PSE, observamos como os vínculos de proteção social
estão formados em torno das famílias atendidas pelo programa, e quais os níveis de
envolvimento intersetorial entre eles, em suas normativas e competências existem
prerrogativas que estimulam essas ações e vinculações intersetoriais (BRASIL, 2007).
Além disso, os equipamentos buscam articular as dimensões de vida para que não ocorra
a desproteção social nos serviços de atendimento às crianças e aos adolescentes. O
conjunto da seguridade social, seus princípios, segmentos e responsabilidades, não são
exercidos apenas com uma normativa ou uma única diretriz, mas com um conjunto de
elementos e direitos que integram cada uma das três dimensões [saúde, assistência e
previdência], compondo ações e planejamentos nas gestões públicas para que não ocorra
riscos da desarticulação do sistema de garantia de direitos, tornando os programas um
recurso de atribuição e potencialidade para organizar os atendimentos, limites, funções e
organizações das questões sociais presentes no cotidiano.

Todavia, existem dificuldades para exercer o programa de forma integrada


motivados por diversos aspectos, sejam eles a dificuldade de conciliar as agendas
setoriais; a falta de recursos orçamentários; a ausência da estrutura de equipamentos de
execução das políticas de educação, saúde e sociais no território, ou ainda, a limitação do
conhecimento pelo foco setorial, ou mesmo da intersetorialidade entre dois setores
quando a realidade exige maior amplitude.

45
9. PESQUISA EXPLORATÓRIA E SEUS RESULTADOS

A pesquisa se fundamentou nas entrevistas com três profissionais envolvidos nas


relações trabalhadas pelos PSE: a gestora da unidade básica de saúde, a coordenadora
escolar da instituição de nível fundamental e médio e a assistente social do CRAS da
região. As profissionais serão identificadas como: Gestora, coordenadora escolar e
assistente social. As entrevistas foram realizadas entre setembro de 2022 e fevereiro de
2023, a depender do tempo de respostas das respectivas secretarias para a autorização.

Abordaremos três categorias analíticas para as respostas das entrevistas. Sendo a


primeira: O conhecimento e reconhecimento do PSE, vinculada às três primeiras
questões: 1- Você sabe o que é o Programa Saúde na Escola? 2- Se sim, o Programa Saúde
na Escola é exercido no território em que o seu setor está localizado? 3- O que você
entende por intersetorialidade?

A segunda categoria analítica trata da saúde na promoção, prevenção e


intervenção, com as seguintes perguntas: 4- Quais são as maiores demandas em saúde
que o seu setor percebe continuamente na vida das crianças e dos adolescentes do
território? 5- Existe alguma outra ação de promoção e prevenção em saúde que relaciona
o setor da saúde, educação e assistência? Se sim, qual? 6- Para você, quais seriam os
benefícios dessa ação intersetorial se exercida de maneira íntegra no território? 7- Para
você, quais são as dificuldades encontradas para exercer uma ação intersetorial voltada
para as crianças e adolescentes no território? E por fim, 8- Comente sobre as articulações
intersetoriais que você conhece, ou ainda, as que você gostaria de exercer em seu setor
para promover saúde.

E na terceira categoria, recorremos à análise da ausência do ECA nos documentos


institucionais, por esse motivo, perguntamos: 9- Na instituição na qual você faz parte é
reconhecido e trabalhado de maneira exposta às crianças e jovens o ECA? Dessa forma,
consideramos os conjuntos de análise nesta etapa.

Os relatos aqui apresentados, a partir das respostas das entrevistas semi-


estruturadas, foram cautelosamente modificados, à depender da necessidade, visto a
melhor compreensão do leitor, todavia, buscamos escrever o mais autêntico possível,
retirando apenas vícios de linguagens e realizando a coesão e coerência em algumas
orações.

46
A primeira entrevista realizada foi no CRAS, serviço localizado em um território
vulnerável, apesar de atender a região da escola e UBS, localiza-se no bairro vizinho,
marcado por altos índices de violência, segundo a profissional. O equipamento encontra-
se bem localizado, conta com um espaço relativamente grande, onde atende bem as
demandas expostas. Além disso, é um dos serviços mais procurados pela população, visto
o alto número de famílias na pobreza e demandam diferentes inserções em programas de
transferência de renda, segundo a assistente social entrevistada.

A entrevista foi realizada de maneira presencial, visto que no serviço a assistente


social não disponibiliza de internet para uso externo, o que notamos ser uma falha na
infraestrutura do serviço.

A entrevistada preferiu ler todas as perguntas presentes no roteiro e depois discutir


de maneira corrida por elas. Ao que envolve a primeira categoria de análise, sobre o
conhecimento e reconhecimento do PSE e as nuances da intersetorialidade no serviço e
na região, a assistente social respondeu, quando questionada pelas três primeiras
perguntas:

- Não, não temos, o Programa Saúde na Escola não, o que teve


aqui parecido com a saúde foi o serviço de convivência com
crianças e adolescentes, então tivemos a USAFA vindo aqui fazer
uma palestra de saúde bucal, uma coisa mais pontual, e a gente
[equipe do CRAS] que pediu.
(...)
A saúde não é só saúde do território, ela é muito mais abrangente,
tem as especialidades então a gente acaba também tendo o
contato, com os outros serviços como o CAPS infantil.
(Assistente social)
Ademais, remeteu-se à intersetorialidade e à saúde, como:

- Em relação à saúde em si, eu acredito que não posso te


responder porque não vejo tanta relação, aqui somos um serviço
de assistência. Então, o que o CRAS faz aqui no território? O que
eu vejo é, a gente tem a reunião de território, com todos os
serviços, há cada dois meses [essa reunião não era realizada
desde o começo da pandemia de covid-19] então, o que a gente
fez no começo foi, nas duas primeiras vezes a gente expôs o
trabalho do CRAS e depois cada serviço expôs o seu trabalho, o
que foi muito rico, por que você imagina que um serviço faz tal
coisa mas na verdade o serviço não faz.
(Assistente social)
47
Seguindo, respondeu à segunda categoria de análise sobre promoção, prevenção
e intervenção saúde :

- Sobre a demanda em saúde, se a gente percebe alguma


coisa, encaminhamos direto pra saúde, ou já vem encaminhado
da saúde para algum benefício, mas acho que sobre saúde
mental, encaminhamos muito para o CAPS infantil. Não há
outras ações envolvendo os três setores não, quando a gente
precisa ou eles entram em contato, mas são coisas pontuais.
Então, em relação à saúde em si, eu acredito que não posso te
responder por que não vejo tanta relação, aqui somos um serviço
de assistência… mas o contato com esses serviços fora daqui do
território também é muito importante. Acho que sobre as
dificuldades, não temos, se acontece alguma coisa a gente [os
serviços, respectivamente os setores] conversa.
(Assistente social)
A segunda profissional entrevistada foi a coordenadora da unidade escolar de
ensino fundamental II e ensino médio. A entrevistada atua há seis anos na instituição,
localizada no território de abrangência do CRAS. A entrevistada respondeu às questões
de maneira separada. No que se refere a primeira categoria de perguntas, disse:

- Não conheço, até você falar, o Programa Saúde na Escola


não, a gente tem o programa psicologia na escola, que é o do
psicólogo, agora o do programa saúde na escola não. Então, eu
não sei se é exercido no território por aqui, mas se a gente tem
que fazer alguma indicação de algum aluno aqui na escola, a
gente faz.
A saúde já veio até a escola, na semana do setembro amarelo,
veio dois enfermeiros aqui dá palestra, mas foi antes da
pandemia, e solicitado por nós aqui da coordenação. Não tem um
programa deles virem até a escola.
O que eu entendo por intersetorialidade é... eu entendo por essa
palavra o seguinte: é quando eles estão juntos, vários setores
para poder se unir e conversar dentro de todos o que eles têm em
comum e o que um pode ajudar o outro.
(coordenadora)
Ademais, no que concerne ao segundo conjunto de resultados, a entrevistada
respondeu:

- Sobre as demandas, depois da pandemia o que a gente está


vendo é que tá precisando muito, muito mesmo de um
acompanhamento psicológico, a gente tem recebido muitos
alunos que estão voltando e eles estão assim, a gente pode ver

48
que o psicológico tá bem abalado, com síndrome do
distanciamento social. Então o que a gente está observando é
isso, muitos alunos assim, quietinhos que não querem participar
e nem queriam ter voltado, queriam ter ficado na aula online, e
isso é preocupante. Acho que essas ações intersetoriais
ajudariam muito, pois até mesmo o psicólogo que atende na
escola é online, então assim, a nossa psicóloga nem é daqui, é de
outro estado, e ela trabalha para a rede estadual de São Paulo.
É o único programa que eu conheço.
Ao que relaciona a assistência, os assistentes sociais entram em
contato com a gente para falar quando tem algum aluno que foi
acolhido pelo abrigo, então não tem outra demanda, eles
mandam um relatório, às vezes tem irmãos acolhidos, então eles
falam “ah, esse aluno está sob responsabilidade do abrigo tal”,
mas só isso.
Os benefícios dessas ações seriam maravilhosos, imagina se
conseguirmos unir todos! Até tinha uma reunião de território
antes da pandemia, eu até participei, e nessas reuniões de
território iam vários setores mesmo, saúde, educação, tanto
escolas da prefeitura quanto a estadual. Eu acho que era o
momento nessas reuniões que a gente conseguia trocar ideias,
para saber o que um tem a oferecer e o outro pode tá recebendo,
era bem bacana.
Uma vez, contatei o diretor do postinho, eu convidei ele para
participar das reuniões, dos nossos projetos, foi uma ligação que
a gente fez durante o período da pandemia, às vezes ele precisa
de alguma coisa, ele fala comigo, as vezes eu falo com ele, nada
que seja para promover a saúde. Na época foi para cumprir
tabela, cumprir protocolos, porque na pandemia precisava ter o
protocolo de segurança. Nunca fizeram nem ações pontuais na
escola.
Sobre as dificuldades, as demandas são muito grandes e a gente
tem pouco tempo e pouca mão de obra, aqui na escola mesmo, a
gente tem muitos serviços e nem sempre eu consigo fazer o meu
trabalho por que eu tenho que cobrir o papel de outro que tá
faltando, então se eu tiver que entrar em contato por exemplo com
a assistente social eu não consigo, se eu tiver que entrar em
contato com algum departamento como o CRAS eu não consigo,
porque o meu tempo é curto para poder suprir todas as
demandas.
(coordenadora)
A terceira e última entrevistada foi a gestora da UBS, serviço localizado a 300
metros da escola e localizado na região de atendimento do CRAS. Ainda, o serviço conta
com a Estratégia Saúde da Família, chamada de Unidade Saúde da Família (USAFA). A

49
entrevistada respondeu às perguntas de maneira separada. Sobre o conhecimento do PSE,
a primeira categoria de análise, disse:

- Sim, eu conheço o programa, é um conjunto, com a escola


e os agentes comunitários para informações, onde atuamos em
parceria com a diretora. E sim, é exercido aqui no território. O
que eu entendo por intersetorialidade é que é um serviço muito
válido, porque todas as vezes que a gente precisa de ajuda para
ter contato com alguma criança que é acompanhada aqui na
USAFA a gente pede ajuda para os diretores ou as pedagogas
comunitárias e fazemos uma parceria grande.
(gestora)
Em relação à promoção da saúde, segunda categoria, a profissional discorre:

- Sobre as demandas, hoje em dia a maioria são crianças


diagnosticadas com autismo, a escola encaminha bastante pra
nós também com suspeita e nós encaminhamos ao CAPS.
Sobre outras ações, existe, tenho uma boa parceria com as
escolas, por exemplo, às vezes a gente vai às escolas dar
palestras sobre piolho, saúde bucal e gripe, para as tias da
escola. E os benefícios é que nós temos bons resultados, pois
conseguimos neutralizar questões de saúde aparentes.
Já sobre as dificuldades, não vejo que temos dificuldades, temos
uma boa parceria com a escola, mas com o CRAS, não temos
muito contato não, salvo quando ligamos para ter informação
sobre o bolsa família. Mas acho que deveria ter essa articulação
entre os três sim, eu já tive situações em outros serviços de
violência contra uma criança e quando houve reunião de rede
com os três foi muito bom.
(gestora)
Por fim, perguntamos sobre o trabalho com o ECA e seu reconhecimento nos
serviços e ações do programa para as entrevistadas, uma não soube responder, outra disse
que o Estatuto não é exposto e trabalhado com as crianças e jovens e outra profissional
disse que sim, é exercido.

50
10. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Analisamos os resultados de ambas pesquisas, a fim de relacionar os achados da


revisão sistemática com a pesquisa exploratória. A partir da diversidade da abordagem de
pesquisa acerca do Programa Saúde na Escola e suas atribuições para o exercício
profissional e interprofissional.

A questão norteadora para esse trabalho foi compreender a intersetorialidade entre


os setores para o cuidado em saúde das crianças e jovens, ademais, a questão chave –
Qual deveria ser o lugar da assistência social na intersetorialidade na saúde da criança e
do jovem hoje?

Ao que concerne os achados bibliográficos e a pesquisa empírica com os


profissionais, elaboramos três categorias empíricas relevantes, tanto na presença na
revisão: 1- A predominância exclusiva de uma forma de articulação bisetorial11 entre
saúde e educação, que denominamos, para fins explicativos enquanto “tradicional no
PSE”; 2- A articulação intersetorial exercida de maneira subsumida ao setor saúde e não
de maneira horizontal como proposto nas normativas; e por fim: 3- a ausência, ou
incipiência, de forma fragmentada do setor da assistência social na intersetorialidade
característica do PSE.

A articulação bisetorial tradicional entre saúde e educação está entrelaçada à


posição binária das ações, a predominância exclusiva de articulação entre dois grandes
setores, indubitavelmente prioritários, responsáveis por promover saúde nos espaços
educacionais. Todavia, a "bisetorialidade tradicional” no enfrentamento de situações
complexas da realidade social dos estudantes pode resultar em ações fragmentadas à
medida que os dois setores não abrangem a totalidade das problemáticas de vida de
crianças e jovens.

Chama a atenção nas entrevistas das profissionais, quando a assistência não é vista
como possível promotora de saúde, ou ainda, quando a intersetorialidade só é vista com
uma ida ao espaço do outro, uma junção, ou uma conversa entre “as tias das escolas e os
agentes comunitários” (gestora da UBS)

11
O desenvolvimento dessa formulação ocorreu no manuscrito do artigo “Intersetorialidade ou
bisetorialidade no Programa Saúde na Escola: o peso da ausência do serviço social” para a revista
Serviço Social e Saúde. Formulação específica proposta pelo Profº Dr. Heitor Pasquim, co-autor.
51
Da articulação bisetorial tradicional do PSE desdobramos a intersetorialidade
subsumida ao setor saúde, segundo os achados da literatura. Desse modo, a agenda
prioritária dos programas em saúde resulta em ações determinadas, por exemplo, a saúde
bucal e nutricional. Não reduzimos a importância dessas ações, todavia as ações deveriam
ser exercidas intersetorialmente, diferentes dos achados na revisão e na pesquisa de
campo. Ações pontuais, quando requisitadas pela educação e assistência, acontecem com
hierarquia de saberes, não de maneira horizontal e construída coletivamente, ademais, tais
ações aconteceram quando solicitados na pesquisa de campo, conforme observação, de
forma dissonante às ações esperadas no documento legislativo.

Ainda, a saúde bucal está vinculada ao baixo grau de instrução dos indivíduos
vulnerabilizados, pois encontram dificuldades nos acessos às informações (DIAS et al,
2021, p.67). É importante não delimitar a questão em saúde bucal apenas como a ausência
de doenças, mas à valorização de ações que resultam em qualidade na vida da população
(DIAS et al, 2021, p.67). A saúde nutricional deriva também da violação ao direito da
alimentação, determinadas pelo preço dos alimentos, do desemprego, dentre outros
rompimentos com os direitos das crianças, dos jovens e de suas famílias atendidas pelo
programa que cabe reflexões maiores para além de ações pinçadas entre duas únicas
esferas. Ou ainda, a escola pode e deve ser capaz de promover mais saúde do que apenas
“falar sobre os piolhos”, como dito pela gestora quando perguntada sobre as ações
exercidas no serviço. Aqui nos cabe uma breve reflexão, sobre o higienismo presente,
ainda nos dias atuais, sob a população mais vulnerável, uma “necessidade de garantir às
classes mais pobres não somente a saúde, mas também uma educação higiênica”
(SOARES, 1994).

Ademais, as articulações apresentadas não acontecem de forma horizontal entre o


setor saúde em relação à escola, de modo que a descentralização do saber não ocorre
conforme previsão legal. A integração do trabalho coletivo é um obstáculo em muitos
segmentos da proteção social, no setor da saúde isso é ainda mais notório visto que por
muitos anos prevaleceu o modelo biologicista nas questões de saúde da população. A
consequência da falta de horizontalidade no programa se materializa em ações limitadas,
para as quais os profissionais da Unidade Básica de Saúde vão até as escolas e oferecem
palestras, resultando em intervenções fragmentadas, diferente do que é proposto nas
normativas (BRASIL, 2007). A atuação do setor deve ser exercida intersetorialmente para

52
constituir interdisciplinaridade, articulação e integração com os demais setores como
previsto nos critérios da portaria.

Ainda, é importante ressaltar as falas das entrevistadas, visto que a gestora da UBS
reconhece o trabalho do PSE exercido nas escolas, todavia, a coordenadora da escola que
encontra-se a 300 metros do serviço nunca havia ouvido falar do programa.

Essa relação de soberania da saúde aos demais setores geram potenciais desgastes
à proteção social das crianças e dos jovens, visto que os conflitos de saberes e de atuações
surgem com o propósito de domínio sobre a demanda, ou ainda, a não valorização que
outros profissionais podem ter tal domínio, entretanto, é necessário desmistificar a
responsabilização da saúde somente para os serviços de saúde sobretudo, analisar o
processo histórico-social de saúde-doença e suas determinações e como prosseguir com
a intervenção e promoção com a participação coletiva das áreas de conhecimento,
democratizando o planejamento e a atuação do programa.

A terceira categoria elaborada dos achados, é a ausência, ou incipiência, de forma


fragmentada do setor da assistência social na intersetorialidade, característica do PSE,
reflete o entendimento da assistência social pelas políticas e serviços de educação e saúde
dos marcos e propósito dos programas específicos. É pouco apreendido nas redes de
cuidado, a assistência social como setor promotor de saúde como os demais, em suma, o
setor é contatado quando existem demandas específicas e não como agente concreto nos
planejamentos. Notamos ainda, a perspectiva das profissionais da saúde e da educação de
enxergar o assistente social com o estereótipo de apenas resolutividade sobre programas
sociais de transferência de renda e não como um profissional atuante na educação e saúde
e, sobretudo, no fortalecimento de vínculos da família.

As relações de vulnerabilidade dos alunos estão presente de forma não


desenvolvida nos artigos analisados na revisão sistemática, mas perceptíveis, todavia
poucas vezes é trabalhada para além da territorialidade, pois não adianta apenas saber que
o território é vulnerável, mas quais condições de vulnerabilidade são existentes, quais são
seus agravantes e suas manifestações no espaço escolar. Essa incipiência da perspectiva
integral do programa colabora para as ações fragmentadas. A intersetorialidade é
estratégica para reorganização das respostas aos problemas e demandas sociais, como
expressam Teixeira e Paim (2004). À vista disso, os autores apontam a necessidade dos

53
estudos contínuos para que as gestões e os profissionais ressignifique os princípios da
estratégia intersetorial, assim novas abordagens possam ser realizadas e instrumentos
sejam renovados para as soluções adequadas a realidade dinâmica da saúde das crianças
e jovens, diferente da lógica bisetorial. Ainda que a proteção social possa ser
desenvolvida por outros profissionais (isto é, não é uma prática privativa de uma
profissão, senão um campo interdisciplinar), a ausência do assistente social levanta a
hipótese de que esse tipo de repertório de cuidado não está em primeiro plano. Este texto
não tem a pretensão de tratar a assistência social como a atuação técnico-operativa
messiânica (IAMAMOTO, 2004), capaz de chegar em qualquer espaço sócio-
ocupacional para sanar todos os problemas, tampouco de forma exclusiva, mas uma esfera
para mediar, sistematizar e criar estratégias coletivamente, pois é a área que em sua
atuação atende as particularidades das expressões da questão social, com uma
corresponsabilidade de participação para as ações concretas das demais atuações que
envolvem o conjunto da proteção social.

Todavia, a área do serviço social é pautada na perspectiva de totalidade onde a


questão social torna-se base para a intervenção e estruturação do atendimento
(BEZERRA, 2018), embora a dinâmica dos serviços conviva com as pressões de
demandas e precariedades.

A promoção dos direitos sociais no campo da saúde também é uma das


competências do setor, a assistência social trabalha com as violações dos direitos,
buscando estratégias para transformação da realidade a partir das particularidades de
observação. Ademais, interpreta as condições de vida do indivíduo com certa
competência que foge daquelas apresentadas pelos profissionais da área da saúde, posto
as áreas de atuação e formação de cada profissão. No cotidiano do PSE, considerando as
propostas, o assistente social pode contribuir com as ações educativas, levar a
comunidade a refletir e identificar questões em saúde nos espaços que frequentam, como
as escolas, e ainda, mobilizar articulações entre os diversos setores. Já na esfera setorial,
a assistência social pode contribuir com o atendimento individual e coletivo, por meio de
planos de atendimentos para promover saúde nos espaços educacionais considerando o
perfil sociocultural, político e econômico das crianças, dos jovens e de suas famílias.

Ademais, a matricialidade é uma das características do trabalho da assistência,


com o sujeito e sua família no seio dos planejamentos, execução e avaliação das ações
54
intersetoriais em saúde. A construção coletiva com representantes da comunidade ou as
famílias das crianças e jovens é muito importante, assim a centralidade da família efetiva
os serviços de acordo com suas demandas e especificidades, uma das diversas diferenças
que o setor da assistência poderia realizar, caso fosse presente de maneira concreta e não
incipiente.

Programas como o PSE são implantados necessariamente em comunidades


marginalizadas, onde as expressões da questão social apresentam sua face mais aguda
(MONNERAT E SOUZA, 2014). De fato, ao longo dos processos de reprodução das
desigualdades no país, as políticas e programas direcionam-se à proteção das famílias
pobres (MAGALHAES E BODSTEIN, 2009), visto que estão inseridas no seio das
violações de direitos cotidianamente. Assim, o atendimento aos direitos da criança e do
jovem deveriam ser exercidos por meio de um conjunto articulado de ações (BRASIL,
1990), para cobrir uma parte das necessidades dessa população.

Há ainda riscos de que a criança, o jovem e sua família estejam passando por
situações de violações de direitos sem nenhuma proteção social e percepção dos
profissionais, através de alguns indícios que podem vir a aparecer para os setores, como
a evasão escolar, questões em saúde agravadas (como expostos na pesquisa de campo,
questões de saúde mental são as maiores demandas hoje em todo o território), vínculos
familiares fragilizados, dentre outras manifestações, demandando atendimento urgente e
emergente aos três setores pode resultar na intervenção adequada e necessária. Nessa
direção, as condições de vida influenciam não só a saúde biológica das crianças e dos
jovens, mas também as perspectivas de vida e muitas vezes motivações para se colocarem
em situações de risco, ou seja, sem considerar a saúde como um assunto ligado à própria
pessoa e seus meios (DEJOURS, 1986). Em uma sociedade organizada pelas relações de
poder, as crianças e os jovens podem ser vistos como sujeitos menores em relação aos
seus direitos, por isso torna-se tão imprescindível pensar essas interconexões no
desenvolvimento e nas ações do PSE, pois os mesmos podem estar em situações de
vulnerabilidade refletindo em sua saúde física, psíquica e social, reproduzindo
sofrimento, enquanto outros serviços que compõem a rede de proteção básica não
conseguem identificar ou lidar com tais violações por falta de diálogos intersetoriais e por
ações fragmentadas.

55
Ao ter contato com a questão de saúde de maneira singular, é necessário
desenvolvê-la de maneira geral para uma intervenção e promoção que envolva a
totalidade do problema, além de pensar formas para atuar não somente nas emergências,
mas no cotidiano escolar e no cotidiano da vida fora da escola do estudante, dessa forma
a atuação profissional no PSE deve ser apreendida pelos profissionais dos três setores
(saúde, educação e assistência social). Diversas vezes, quando a atuação profissional é
direcionalmente setorizada encontra dificuldades para relacionar os meios que envolvem
uma questão em saúde, essas dificuldades são potencializadas pela sobrecarga, a falta de
uma estrutura de atendimento e pela falta de um ensino continuado que envolvem as
dinâmicas em saúde.

É necessário refletir ainda como as crianças e os jovens têm acesso aos seus
direitos de proteção social nesse contexto da saúde escolar, pensar se as ações que têm
sido planejadas de formas que os enxergue dentro de relações sociais de vulnerabilidade,
utilizando atores sociais para suprir as demandas presentes não só momentaneamente,
mas a fim de promovê-las, atendendo os alunos e suas famílias sem perder de vista as
singularidades desses sujeitos. É necessário que tenhamos programas preparados para
lidar com a realidade da violação dos direitos e não programas que exercem ações
desprendidas do contexto social do aluno, cuidadosamente para não se tornar- um
programa paternalista, mas que exerça a preocupação pública para que possam atender as
demandas com a preparação exigida para o atendimento.

Na perspectiva das violações, cabe refletir que o Estatuto da Criança e do


Adolescente, não é citado em nenhum dos artigos analisados, tampouco nas falas das
profissionais, caso fosse reconhecido e trabalhado nas normativas do programa,
reconheceria a criança e ao jovem como sujeito de direitos de forma integral. Advogamos
ser uma lacuna nos documentos constitutivos do PSE a ausência de um documento da
dimensão do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo um programa criado para
atendê-los. Essa dimensão também é incipiente nos achados bibliográficos e de campo, o
limite no desenho institucional do programa colabora para os fracionamentos nas práticas
e estruturas que visam a proteção integral. O ECA não é só um documento histórico da
defesa de direitos, mas é a política mais importante para os marcos legais da infância e
adolescência até os dias atuais. É necessário pensar o ECA nos termos da

56
intersetorialidade, abrangendo todas as diretrizes expostas no documento a fim de mediar
a intervenção na saúde da criança e do jovem de maneira interseccional

Utilizaremos uma imagem simbólica nas discussões sobre intersetorialidade para


proteção social de crianças e jovens, uma representação gráfica do sistema de garantia
dos direitos, veja:

Imagem 1: Sistema de garantias

Fonte: Site oficial do Ministério Público do Paraná

Essa imagem foi elaborada pelo Juiz de direito Murillo, atuante na vara da infância
e juventude. Os órgãos, entidades, programas e serviços presentes sob a forma de
engrenagem de uma “grande máquina” deixam explícitas a necessidade que todos os
setores têm para a proteção integral, todavia, se atuantes através de ações articuladas e
horizontais, sem hierarquias entre si.

É notória que as engrenagens do maquinário são todas do mesmo tamanho,


igualmente importantes para alcançar a proteção social e como presente ao longo do texto,
o cuidado em saúde. Ademais, para o funcionamento do sistema é necessário recursos

57
públicos para que os serviços e programas possam assegurar seus atendimentos, um
desafio presente nos resultados dessa pesquisa, pois a falta de profissionais no campo
público acarreta sobrecargas e outras questões discutidas, pois como trazido pela
Constituição Federal de 1988, políticas e ações voltadas para as infâncias e juventudes
devem prioridade absoluta (Artº 227).

Nessa perspectiva, o programa deveria ter a preocupação de disseminar os


paradigmas do estatuto, valorizando como cidadãos detentores de direitos e de atenção
nos segmentos adversos de proteção, desde à saúde até os direitos às infrações
administrativas. Ter essa visão de direitos centrada na normativa do programa é afirmar,
para além da margem da saúde, a totalidade que envolve a população. Ademais, as
articulações intersetoriais podem ser trabalhadas a partir da percepção e preparação dos
profissionais de identificar uma demanda e, com a presença do ECA na normativa,
conduzir a intervenção dentro do que compete a cada esfera.

58
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intersetorialidade na política de saúde, educação e sobretudo, da assistência


social são estratégias fundamentais para o cumprimento dos direitos sociais. Programas
como o PSE são valorizados, pois envolvem setores inseridos no cotidiano da população.
Todavia, é necessário buscar melhorias constantemente para potencializar as ações
desenvolvidas em torno da saúde dos indivíduos das classes trabalhadoras e populações
em geral, a fim de superar a gênese da setorialidade, como posto na introdução deste
trabalho.

O predomínio de uma única forma de articulação dentro do programa resulta em


uma bisetorialidade tradicional no Programa que fragmenta as necessidades resolutivas
das demandas oriundas do ambiente escolar e do cotidiano dos estudantes, com uma
ilusão da cobertura resolutiva na intervenção, mas que na verdade gera limitações e
insuficiências. Além da ausência de perspectiva das profissionais que outros setores
também são capazes de promover, prevenir e intervir nas condições em saúde, ademais,
a intersetorialidade que ultrapasse a “junção” ou “conversa” entre os trabalhadores, mas
seja uma ação ordenada.

A verticalização das ações do PSE a partir da hierarquização do setor saúde


infringe suas próprias normativas de descentralizar os saberes, sendo a horizontalidade
incipiente. Desse modo, a comunicação e a articulação são dificuldades encontradas
resultantes no cotidiano. A dependência de promover saúde apenas com um profissional
de saúde presente na escola reforça esse tipo de hierarquização, a ausência de pensar o
que de fato é a intersetorialidade e encontrar dificuldades dentro do próprio setor e das
gestões promove a verticalização e a fragmentação das ações no programa.

Ademais, maior alcance das ações do PSE, defendemos a inserção concreta da


assistência social nos planejamentos e exercícios de promoção à saúde e de intervenção,
visto que a partir das análises do atual estado da arte não foi encontrado a atuação do setor
como setor fundamental para pensar a totalidade de vida, tampouco nas falas das
profissionais.

59
A ausência de perspectiva da própria profissional do serviço social chama atenção,
quando é dito: “em relação à saúde em si, eu acredito que não posso te responder porque
não vejo tanta relação, aqui somos um serviço de assistência” (sic). Pensar a assistência
afunilada apenas na política de assistência é uma questão estreita, o serviço social pode e
deve agir para além da urgência e emergência, mas na promoção e prevenção.

Observamos ainda, na fala da assistente social, a ausência da intersetorialidade


como perspectiva profissional. A ausência da perspectiva dos setores de que, as ações em
saúde podem e devem ser pensadas pelos demais serviços do sistema de garantia de
direitos das crianças e jovens implica em ações fragmentadas, visto que apesar de ser um
programa pensado para levar à saúde até a escola outros segmentos também são
necessários para efetivação da ação, como a presença da política de assistência, para
pensar as especificidades dos determinantes sociais da saúde que ultrapassem a
incipiência na urgência e emergência e ultrapassem limites que ocorrem na abordagem
bisetorial precária.

O serviço social em sua atuação técnico-operativa, ético-política e sócio-


ocupacional tem a atribuição de pensar as diversas facetas das expressões da questão
social, por este motivo, problematizamos que a intersetorialidade do PSE deve ser
pensada para além dos dois segmentos centrais [saúde e educação], mas desenvolver
através da assistência social um vínculo fortificado para além das relações de “parcerias”
em demandas pontuais, mas na elaboração, diagnóstico, planejamento, execução,
monitoramento, avaliação e com os recursos humanos necessários, defendendo o cuidado
integral possibilitado pela intersetorialidade.

Sendo assim, as metodologias de pesquisa adotadas possibilitaram reflexões


pertinentes a fim de viabilizar discussões para melhorias no programa, considerando os
espaços escolares, a dinâmica territorial e também a característica da população a ser
atendida. É necessário ajustar as atuações do programa de acordo com as possibilidades
da região e dos limites dos equipamentos de proteção social, portanto, não propomos um
modelo universal de intersecção operacional, mas uma abrangência necessária para os
avanços em saúde.

Noutra abordagem, a defesa da implantação do Estatuto da Criança e do


Adolescente não meramente para o campo de melhorias das ações do programa, mas

60
como legislação fundamental para qualquer ação destinada às crianças e aos jovens para
garantir a proteção integral em todos os âmbitos do cumprimento do direito, dessa forma,
essa lacuna é imprescindível que seja adotada nos segmentos e normativas do PSE,
formalizando uma das finalidades da pesquisa.

A escola tem um espaço na vida das crianças e dos jovens vulnerabilizados


diferente, é nesse espaço que passam boa parte de suas vidas, e é nesse espaço que
encontram acolhimento e olhares de sujeitos detentores de direitos ou não, ou seja, na
escola encontram-se potencialidades para impulsionar a proteção social, por esse motivo,
cabe ao Programa Saúde na Escola está presente na totalidade da vida do estudante,
construindo redes de cuidado maiores e com o alcance de garantir o acesso aos direitos.

Tecer uma rede de proteção nos diversos segmentos da sociedade requer nuances
complexas mas não impossíveis, cuidar da saúde das crianças e adolescentes exige
entrelaçamentos fortes e adaptáveis à realidade social, por esse motivo a intersetorialidade
nos serviços e programas, especialmente no Programa Saúde na Escola, deve ser exercido
sem fragmentações e com maior articulação entre os setores.

61
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VIANA Beatriz, Carneiro Kássia, GONÇALVES Claudenora. O movimento de
reconceituação do serviço social e seu reflexo no exercício profissional na
contemporaneidade. Seminário nacional de serviço social, trabalho de política social.
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>http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n2.8492< [acessado em 1 mai de 202];

69
APÊNDICES

1. Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa. O título da pesquisa é


“Intersetorialidade: Saúde, educação e o Serviço social, uma perspectiva crítica do
Programa Saúde na Escola – PSE”. O objetivo desta pesquisa é: entender os limites
presentes dentro de um território para a execução do programa, para além disso, analisar
através do acervo bibliográfico consultado e das narrativas e relatos de experiências os
benefícios desta ação intersetorial e como aprimorá-la, avistando a integralidade do
cumprimento dos direitos sociais das crianças e adolescentes que estudam nas escolas do
território, são usuárias da unidade básica de saúde e são possíveis usuários da unidade de
assistência ou já são atendidas pela secretaria. O (a) pesquisador(a) responsável por essa
pesquisa é Helton Saragor de Souza, ele é Professor, do Departamento de Políticas
Públicas e Saúde Coletiva, da Universidade Federal de São Paulo. Você receberá todos
os esclarecimentos necessários antes, durante e após a finalização da pesquisa, e lhe
asseguro que o seu nome não será divulgado, sendo mantido o mais rigoroso sigilo
mediante a omissão total de informações que permitam identificá-lo/a. As informações
serão obtidas da seguinte forma, as entrevistas ocorrerão remotamente, devido a atual
situação pandêmica, com o auxílio de softwares que realizem chamadas de vídeo (Zoom
ou Google Meet). Visando a futura transcrição das entrevistas, as chamadas serão
gravadas em formato de vídeo e áudio, a partir da autorização do participante, após a
coleta de dados e análises das entrevistas o material será transferido para um HD externo
e guardado sob responsabilidade do pesquisador. Individualmente, os participantes
responderão a um questionário semiestruturado, desenvolvido pelos pesquisadores, com
duração prevista de um encontro de no máximo 1h00min. (uma hora). O foco das
perguntas será entender as percepções que os entrevistados têm sobre a ação intersetorial,

70
se conhecem o PSE e se ele é exercido dentro das atividades e se sim, como é seu
funcionamento. Para além disso, buscamos compreender quais são as maiores demandas
de saúde encontradas na delimitação territorial em que os serviços se encontram e como
os profissionais percebem as relações sinérgicas para combater essas demandas, além
disso, escutar quais são as dificuldades encontradas para exercer de maneira íntegra os
princípios do programa. Objetiva-se entrevistar até 5 participantes, sendo no máximo três
coordenadores escolares, dois de escolas municipais e o terceiro da escola estadual, além
do gestor da unidade de saúde e um assistente social que atende no Centro de Referência
de Assistência Social -CRAS da região. As entrevistas serão analisadas com o objetivo
de gerar resultados qualitativos. Sua participação envolve os seguintes riscos mínimos:
invasão de privacidade; responder a questões sensíveis, tais como sobre saúde; perda de
autocontrole ao revelar pensamentos e sentimentos nunca revelados; discriminação e
estigmatização, por terceiros, a partir do conteúdo revelado; divulgação de dados
confidenciais. Sua participação pode ajudar os pesquisadores a entender melhor a
necessidade da revisão do planejamento do Programa Saúde na Escola e entender suas
limitações postas a partir da realidade social de cada território, e caso o programa não seja
uma realidade dos setores, poderá servir como idealizador e um trabalho contributivo para
o planejamento da inserção do programa, entendo desde já suas limitações e seus
benefícios. Assim, você está sendo consultado sobre seu interesse e disponibilidade de
participar dessa pesquisa. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu
consentimento ou interromper sua participação a qualquer momento. A recusa em
participar não acarretará nenhuma penalidade. Você não receberá pagamentos por ser
voluntário(a). Todas as informações obtidas por meio de sua participação serão de uso
exclusivo para esta pesquisa e ficarão sob a guarda do/da pesquisador/a responsável. Caso
a pesquisa resulte em dano pessoal, o ressarcimento e indenizações previstos em lei
poderão ser requeridos pelo participante. Os pesquisadores poderão contar para você os
resultados da pesquisa quando ela terminar, se você quiser saber. Se você tiver qualquer
dúvida em relação à pesquisa, você pode entrar em contato com o pesquisador através
do(s) telefone(s) (11) 95914-1136 ou (13) 99714-9743, pelo e-mail [email protected],
e endereço: Rua Silva Jardim, 136 – Vila Matias, Santos-SP. Este estudo foi analisado
por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). O CEP é responsável pela avaliação e
acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos,
visando garantir a dignidade, os direitos e a segurança de voluntários de pesquisa. Caso
você tenha dúvidas e/ou perguntas sobre seus direitos como participante deste estudo, ou
71
se estiver insatisfeito com a maneira como o estudo está sendo realizado, entre em contato
com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo, situado
na Rua Botucatu, 740, CEP 04023-900 – Vila Clementino, São Paulo/SP, telefones (11)
5571-1062 ou (11) 5539-7162, às segundas, terças, quintas e sextas, das 09:00 às 12:00hs
ou pelo e-mail: [email protected]. No caso de aceitar fazer parte como voluntário(a),
pedimos que guarde este documento, que terá cópia enviada por e-mail, em seus arquivos.
Ao assinalar a seguir, você declara que entendeu como é a pesquisa, que tirou as dúvidas
com o(a) pesquisador(a) e aceita participar, sabendo que pode desistir em qualquer
momento, durante e depois de participar. Você autoriza a divulgação dos dados obtidos
neste estudo, mantendo em sigilo sua identidade. Pedimos que salve em seus arquivos
este documento, e informamos que enviaremos uma via deste Registro de Consentimento
para o seu e-mail. No caso de aceitar fazer parte como participante, você e o pesquisador
devem rubricar todas as páginas e também assinar as duas vias desse documento. Uma
via é sua. A outra via ficará com o(a) pesquisador(a).

Consentimento do participante

Eu, abaixo assinado, entendi como é a pesquisa, tirei dúvidas com o(a)
pesquisador(a) e aceito participar, sabendo que posso desistir em qualquer momento,
durante e depois de participar. Autorizo a divulgação dos dados obtidos neste estudo
mantendo em sigilo minha identidade. Informo que recebi uma via deste documento com
todas as páginas rubricadas e assinadas por mim e pelo Pesquisador Responsável.

Nome do(a) participante:_______________________________ Assinatura:


__________________________ local e data:________________________

Declaração do pesquisador

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária, o Consentimento Livre e


Esclarecido deste participante (ou representante legal) para a participação neste estudo.
Declaro ainda que me comprometo a cumprir todos os termos aqui descritos.

Nome do Pesquisador: ________________________Assinatura:


Local/data:________________________

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2. Roteiro de entrevista

1- Você sabe o que é o Programa Saúde na Escola?

2- Se sim, o Programa Saúde na Escola é exercido no território em que o seu setor está
localizado?

3- O que você entende por intersetorialidade?

4- Quais são as maiores demandas em saúde que o seu setor percebe continuamente na
vida das crianças e dos adolescentes do território?

5- Há alguma outra ação de promoção e prevenção em saúde que envolve o setor da


saúde, educação e assistência? Se sim, qual?

6- Para você quais seriam os benefícios da ação intersetorial se exercida de maneira


íntegra no território?

7- Para você, quais são as dificuldades encontradas para exercer uma ação intersetorial
voltada para a saúde das crianças e jovens do território?

8- Comente sobre as articulações intersetoriais que você conhece, ou ainda, as que você
gostaria de exercer em seu setor para promover saúde.

9- Na instituição na qual você trabalha, é reconhecido e trabalhado, de maneira exposta,


o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)?

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