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DATA: ___/____/___ ANÁLISE DE INTRODUÇÕES NOTA 1000
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Tema: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela
mulher no Brasil” (ENEM 2023)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 prevê a todos os direitos à
igualdade e à dignidade. Porém, na contemporaneidade brasileira, a concretização da garantia em
voga é dificultada pelos desafios relacionados ao enfrentamento da invisibilidade do trabalho de
cuidado realizado pela mulher. Tal cenário ocorre, em especial, devido à morosidade estatal e à
má formação sociocultural.
Um dos contos presentes no livro "Laços de Família", de Clarice Lispector, acompanha a
epifania da personagem Ana ao fugir de seus afazeres domésticos. Ela, que se via sentenciada a
cuidar da casa e dos filhos, assemelha-se a muitas mulheres brasileiras, que exercem essa e
outras tarefas diariamente, sem valorização e, até mesmo, sem remuneração. Nesse sentido, cabe
analisar as causas socioeconômicas da invisibilidade do trabalho de cuidado no Brasil
contemporâneo.
Na obra autobiográfica Eu Sou Malala, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai afirma
que as mulheres são as principais engrenagens por trás da máquina social, ou seja, apesar de
terem um papel fundamental para o funcionamento coletivo, não são devidamente valorizadas.
Diante dessa conjuntura, é possível relacionar a passagem da escritora com o cenário de
invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, o qual apresenta desafios
para o seu enfrentamento. Nesse sentido, é válido citar a formação cultural e a apatia social como
obstáculos para a resolução do problema citado.
Na Grécia Antiga, onde os homens se encarregavam da política, da filosofia e das artes,
consideradas áreas honradas, as mulheres desempenhavam o papel considerado inferior de cuidar
dos afazeres domésticos e, sobretudo, de cuidar das crianças e dos idosos da família. Atualmente,
no entanto, a conjuntura se assemelha ao momento histórico supracitado, visto que o trabalho
feminino que se resume à casa e aos cuidados da família ainda é desvalorizado na sociedade.
Dessa forma, é imprescindível combater a invisibilidade do trabalho de cuidado feito pela
mulher no Brasil, destacando a desigualdade de gênero e a displicência estatal como principais
entraves nesse objetivo.
O filme “Que horas ela volta?”, produzido pela “Globo”, retrata a história de Val, uma
mulher que durante toda a sua vida se dedicou a cuidar da família e da casa de seus
empregadores. Durante a trama, é revelada a maneira hostil como a personagem é tratada,
deixando de receber o pagamento pelo seu trabalho e a valorização pelo seu esforço. Fora do
espectro ficcional, a valorização do trabalho de cuidado realizado pela mulher ainda não ocorre
de forma eficaz, contribuindo para que a situação permaneça na invisibilidade. Sendo assim,
cabe analisar o óbice com foco na desvalorização histórica desse tipo de atividade e na omissão
governamental.
Na canção "Mulheres de Atenas", do músico Chico Buarque, retrata-se o cotidiano
subserviente da mulher ateniense em uma sociedade estruturada pelo patriarcado, de modo que a
sua existência é resumida à procriação e ao cuidado do lar. Analogamente à música aludida,
evidencia-se que tais papéis de gênero continuam presentes no Brasil. Assim, mimetiza-se a
invisibilização do ofício de cuidado realizado pela mulher em decorrência da lógica patriarcal e
da informalização do trabalho de cuidado.
Tema: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela
mulher no Brasil” (ENEM 2023)
A filósofa contemporânea Hannah Arendt constata, por meio do conceito denominado
"Banalidade do Mal", a tendência existente nas sociedades no que tange à naturalização das
mazelas presentes na coletividade. Nessa vertente, percebe-se que, na realidade brasileira atual, a
proposição teórica mencionada se torna evidente, sobretudo quando são considerados os entraves
para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. Com
efeito, hão de ser analisados os principais intensificadores da temática em questão: o machismo
estrutural e a omissão estatal.
Em sua famosa composição “Mulheres de Atenas”, Chico Buarque retrata, de maneira
subjetiva, as nuances socioculturais que permeiam o cotidiano das mulheres atenienses, que
vivem em estado de subserviência e são reduzidas à função de cuidar da casa e da família.
Embora seja de caráter literário, a referência da obra é perceptível na atual conjuntura brasileira,
na medida em que os obstáculos para o combate à invisibilidade do trabalho de cuidado feito por
mulheres no país são irrefutáveis. À vista de tal panorama, são evidentes os malefícios da
exploração do trabalho de cuidado como profissão e da manutenção das convenções de gênero.
A rigidez hierárquica da sociedade colonial brasileira, a qual pode ser designada como
um exemplo cruel de um sistema patriarcal, manteve as mulheres (sobretudo as escravizadas)
sob o domínio de sérios aparatos repressivos e impôs condições de trabalho bastante
desgastantes. Nesse sentido, ainda que essas estruturas tenham sido superadas, o legado histórico
é evidente, à medida que a precarização da mulher em trabalhos de cuidado edifica um quadro de
invisibilidade, reproduzindo o horror do passado. Esse cenário nefasto ocorre não só em razão da
prevalência do desamparo governamental, mas também em virtude da desvalorização humana.
Logo, é fundamental a discussão dessa problemática, a fim de propor itinerários para o seu
enfrentamento.
O filme “Como você consegue?” explora as transformações que envolvem a figura
feminina durante a chegada da maternidade e a organização das tarefas domésticas. Semelhante à
obra cinematográfica, no atual contexto social brasileiro, observam-se desafios para o
enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres, relacionados às
configurações de gênero historicamente construídas e à inadequação da legislação trabalhista do
país. Urge, então, a transformação de tal conjuntura, tendo em vista a necessidade de
acompanhar as mudanças sociais ocorridas nos últimos anos.
Como símbolo da discriminação feminina no Brasil, o papel social da mulher, originado e
consolidado na colonização portuguesa, é caracterizado pelo trabalho, exclusivamente,
doméstico, haja vista que a escravização de indígenas e de africanas restringiu as suas funções ao
labor do lar – como cozinheiras, faxineiras e até cuidadoras de crianças e dos senhores de
engenho. Nesse contexto, é válido ressaltar que, embora não seja um tópico de constante
discussão, os serviços das mulheres, especificamente o de cuidar de outras pessoas, é
inviabilizado pela desvalorização e pela invisibilidade recebidas da sociedade, sendo uma marca
do desafio enfrentado por essa minoria cotidianamente. Ademais, torna-se viável relacionar essa
complicação à perpetuação de valores preconceituosos e à precarização dessa atividade laboral.