Caderno Digitado - Processo Civil 2
Caderno Digitado - Processo Civil 2
AULA 01 – 03/04/18
TEORIA DA COGNIÇÃO:
O que é cognição? A cognição é, antes de tudo, uma atividade intelectual, uma atividade
de examinar e decidir questões.
Conhecer, na linguagem processual, significa examinar e decidir questões.
O que é uma questão? É qualquer ponto de fato ou de direito sobre o qual haja alguma
controvérsia. Questão é aquilo que o juiz conhece. Conhecer significa examinar e
decidir. Nem todas as questões são decididas, mas todas devem ser examinadas. Há
questões que são apenas examinadas e não são decididas, bem como há outras que são
examinadas e decididas.
O objeto da cognição são as questões que estão postas no processo.
Todo processo, sem exceção, tem atividade cognitiva. Isto é, tem essa atividade
intelectual de examinar e decidir questões. A intensidade da cognição que pode variar
de um processo para o outro. Pode-se ter um processo só para conhecer, como é o caso
de um processo de conhecimento. O processo de conhecimento se notabiliza por ser um
processo para a cognição, para a investigação.
Por que o juiz tem que conhecer das questões? Para poder decidir, porque ele não pode
decidir sem investigar. Então, a cognição tem muito a ver com a ideia de investigação,
por isso que se diz que o processo judicial tem uma função epistêmica (função
investigativa, de busca pelo conhecimento). Todo processo serve para se obter
conhecimento sobre algo que se possa decidir a respeito depois. Se não houvesse
necessidade de uma investigação não haveria necessidade de processo.
A cognição é uma atividade intelectual, é uma atividade com função epistêmica, e é uma
atividade indissociável do processo judicial, mas cuja intensidade variará conforme o
tipo de processo. No caso específico do processo de conhecimento, a cognição é a sua
própria razão de ser. Este é um processo para conhecer.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
objeto da decisão. Porque o objeto da decisão está contido no objeto da cognição, mas
é só um pedaço dele, porque há questões que além de terem de ser avaliadas pelo juiz,
devem ser decididas pelo juiz.
O que significa dizer que o controle difuso é incidental? Significa que a questão
constitucionalidade de uma lei é posta para ser examinada incidentalmente, ou seja, ela
será examinada incidenter tantum.
O que é examinar incidenter tantum? É examinar sem decidir!
Qual é a diferença prática entre uma questão ser examinada incidentalmente e essa
mesma questão ser examinada como questão principal?
Falando-se do controle de constitucionalidade, a distinção prática é evidente. A questão
da constitucionalidade no controle difuso, como ela é incidental, não há coisa julgada
sobre ela. Quando a questão é principal há coisa julgada sobre ela.
Coisa julgada (res iudicata) – “caso julgado”, no português de Portugal -> O caso (seria a
questão principal do processo) é o problema que o juiz julga e se transforma no caso
julgado.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Qual é a coisa que foi julgada? Qual é a coisa que se julga? Qual é a coisa que em
determinado momento se considera julgada? A coisa que se julga e em determinado
momento se transforma na coisa julgada é exatamente a questão principal, ou seja, a
questão que é objeto da decisão.
O objeto da decisão é a coisa a ser julgada, ou no latim res iudicanda, e a partir de
determinado momento se transforma na res iudicata.
A expressão res iudicium deducta, traduzindo-se ao pé da letra significa “a coisa/caso
deduzido em juízo”, que é a questão principal.
Questão principal é a res iudicium deducta. Aquilo que foi deduzido para o juiz decidir.
O que o processo faz? O processo transforma a res iudicium deducta em res iudicata.
Questão principal é aquela que será objeto da decisão. Saber se uma questão é
examinada incidentalmente ou de forma principal é fundamental para poder
compreender coisa julgada.
Além disso, é preciso entender que uma mesma questão (como por exemplo, a da
constitucionalidade da lei), pode em um processo ser uma questão incidental e em
outro ser uma questão principal. Ou seja, não existe uma questão que seja
ontologicamente sempre incidental ou sempre principal. A questão será incidental ou
principal a depender do modo como ela está no processo. É o modo como ela está no
processo que vai definir se ela é uma questão incidental ou principal.
Ex: Investigação de paternidade para saber se o filho é ou não é do indivíduo, essa é a
questão principal, no caso da investigação de paternidade, mas numa ação de
alimentos, poderia essa mesma questão, a depender do modo como ela é colocada no
processo, ser incidental ou principal.
É preciso entender que não existem questões que sejam em sua essência sempre
incidentais ou sempre principais. As questões serão incidentais ou principais conforme o
modo elas entram no processo.
Para Fredie, processo é igual a procedimento. Todo processo é procedimento! Sem
exceção!! Para ele “processo” e “procedimento” são sinônimos. Todo processo envolve
cognição. Na cognição processual é preciso distinguir aquilo que se conhece
incidentalmente daquilo que se conhece principalmente. Assim, todo procedimento,
sem exceção, tem uma questão principal. Procedimento que não tem uma questão que
será objeto da decisão é um procedimento oco, que não serve pra nada. Porque a
definição de procedimento é exatamente a que diz ser um conjunto de atos organizados
para produção de um ato final, que é a decisão. Todo procedimento, na verdade é, uma
preparação para uma decisão. Portanto, todo procedimento tem que ter uma questão
que vai ser o objeto dessa decisão. Todo procedimento tem a sua questão principal.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Em resumo, podemos dizer que temos num processo, o procedimento principal e temos
procedimentos incidentais que vão acontecendo, como por exemplo, a arguição de
suspeição do juiz, um conflito de competência etc.
Fredie diz que o processo é um conjunto, um novelo de diversos procedimentos que se
entrelaçam em torno de um procedimento principal, cada um desses procedimentos,
seja o principal, seja o incidental, seja o recursal, tem a sua questão principal, que não
se confunde com a questão principal do outro. Ou seja, cada um desses procedimentos
vai ter a sua questão objeto da decisão.
Ex: Quando sai uma decisão e o advogado recorre dizendo que ela é nula porque o juiz
não fundamentou. Qual é a questão principal desta apelação? Saber se a sentença é
nula ou não. Porém esta não é a questão principal do procedimento principal, é apenas
a questão principal do recurso.
São lógicas completamente diferentes. O Tribunal quando for julgar a apelação, julgará a
apelação e não a petição inicial.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Todo procedimento tem uma questão a ser resolvida, que é o objeto da decisão. Todo
procedimento tem o conjunto de questões que deverão ser enfrentados para se decidir
aquilo que é o objeto da decisão. Todo procedimento seja ele, incidental, principal ou
recursal, leva o órgão julgador, aquele que vai ter que decidir sobre o objeto da decisão
a formular dois juízos, isto é, o procedimento dá ensejo a que o juiz formule dois juízos.
Primeiro é o juízo em que o juiz decide “eu posso examinar o que está sendo
postulado?”, se o juiz responder afirmativamente a essa primeira pergunta “sim, eu
posso examinar”, ele terá que responder uma segunda pergunta, se ele pode acolher
aquilo que foi pedido. São dois juízos que o órgão julgador, que é a quem compete
decidir aquilo que se postula, terá que formular. Sendo o primeiro o juízo sobre se ele
pode examinar o que se pede, depois se o primeiro for positivo, o juízo sobre se é
possível acolher o que se pede.
O primeiro desses juízos é chamado de juízo de admissibilidade (para saber se tem
legitimidade, para saber se foi no prazo, para saber se os documentos são corretos etc.,
por exemplo), e o segundo desses juízos é chamado de juízo de mérito. O primeiro
precede o segundo!
Ex: o juiz recebe a petição inicial, ele vai ter que decidir se é o caso de examinar o
pedido, se for, ele vai decidir se vai acolher ou não o pedido. Todo procedimento tem a
sua questão principal, a questão principal, é sempre o objeto de uma postulação, isto é,
tem uma postulação sobre ela, é um pedido que se faz para que o juiz decida aquilo. Em
todo procedimento o juiz vai ter que formular, primeiramente, um juízo de
admissibilidade (se a questão principal pode ou não ser examinada), e depois examinar,
se o primeiro juízo for positivo, se a postulação pode ser acolhida ou rejeitada. Ex: o
recurso tem o seu mérito, para que o Tribunal examine se o recurso tem que ser
acolhido ou não, ele tem que examinar, primeiramente, se o recurso é tempestivo. Essa
primeira reflexão não é sobre o mérito do recurso, é apenas se é possível ou não
examinar o mérito do recurso.
Todo procedimento, seja ele principal, incidental ou recursal, tem que passar por um
juízo de admissibilidade e um juízo de mérito. E o juízo de admissibilidade e o juízo de
mérito são decisões.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
São juízos distintos (cada qual com seu objeto), autônomos, e é por isso que nos
tribunais colhem-se votos separadamente para a admissibilidade do mérito. Não se
pode fazer uma só contagem de votos, tem que separá-los. “Vou conhecer do recurso”
colhe o voto; “Vou dar provimento” colhe-se de novo.
Todo procedimento tem a sua questão principal de mérito. Porque todo juízo tem a sua
questão principal, e todo procedimento tem no mínimo dois juízos (de admissibilidade e
de mérito).
Portanto, podemos dizer que o objeto da cognição é o conjunto das questões que o juiz
terá de examinar e avaliar. Se a cognição está dentro de um procedimento, e todo
procedimento passa por pelo menos dois juízos, pode-se dizer que no universo do
objeto da cognição há questões que são de admissibilidade e há questões que são de
mérito. Isso é uma divisão clássica que deve ser aprendida.
Há outra classificação que divide as chamadas questões prévias, que é toda questão que
deve ser examinada antes de outra. Pode ser chamada também de questão
subordinante. Sempre que se fala sobre questão prévia, se pressupõe a existência de ao
menos duas questões. Uma que prévia e a outra que é seguinte. Uma que subordina e
outra que é subordinada. Uma que antecede e a outra que sucede. Em todo processo há
questões prévias, que são aquelas que devem ser examinadas antes de outras! Basta ver
que as questões de admissibilidade são prévias às questões de mérito. A divisão das
questões prévias é mais complexa, porque elas se dividem em questões preliminares e
prejudiciais.
AULA 02 – 05/04/18
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Quando uma questão é preliminar a outra? Ela é preliminar quando o exame dela
determinar se a questão seguinte poderá ou não ser examinada, ou seja, o exame da
questão preliminar define se a questão seguinte pode ou não ser examinada. De modo
que a depender da solução que dê na preliminar, têm-se duas opções, são elas: ou nem
se avança para examinar a questão seguinte ou se avança para examinar a questão
seguinte.
Portanto, a preliminar funciona como se fosse um sinal de trânsito, já que ela pode dar o
“verde” ou o “vermelho”. Com o verde avança e com o vermelho não avança.
A preliminar tem o papel de avançar ou não avançar, no caso da prejudicial é diferente.
Quando uma questão é prejudicial, a questão seguinte sempre será examinada. Aqui
não se trata de saber se a questão seguinte será examinada ou não, porque a questão
prejudicial não impede o exame da questão seguinte. A sua função é dizer como vai ser
examinada a questão seguinte. A prejudicial estabelece a direção do exame da questão
seguinte. “A questão seguinte vai ser examinada, mas vai ser examinada em que
sentido?”. Quando há uma questão prejudicial, esse sentido é apontado. Então, a
prejudicial é uma questão prévia de cuja solução é possível identificar a solução da
questão seguinte.
Exemplo: Filiação e alimentos -> a filiação é prejudicial em relação aos alimentos porque
se não for filho, não deve alimentos.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
mérito, isto é, ela é examinada antes das outras defesas de mérito, e se for acolhida as
outras não são examinadas.
Imagine a prescrição, que é uma questão trazida pelo réu, e o pedido do autor, que é
uma questão trazida pelo autor. Tem duas questões ai: 1 – saber se o pedido vai ser
acolhido ou não (questão colocada pelo autor); 2 – saber se há prescrição ou não
(questão colocada pelo réu). Para o juiz saber se o pedido vai ser acolhido ou não, tem
que saber se há prescrição ou não? Sim! Para que o juiz saiba se o autor tem razão ou
não, já que o réu alegou prescrição, ele tem que examinar se há a prescrição mesmo.
Então, se o juiz tem que examinar a prescrição antes do pedido, a prescrição é prévia
em relação ao pedido. Se a prescrição é rejeitada, pode-se examinar o pedido; se a
prescrição é acolhida, o pedido será examinado ainda, para poder negá-lo, porque a
prescrição é uma defesa para não acolher o pedido e não para não-examinar o pedido.
“Não posso condenar o réu a pagar uma dívida, se esta dívida prescreveu.”
É importante saber a distinção entre o que é simplesmente não examinar e o que é
examinar para negar.
Não examinar: o juiz nem indaga se o sujeito tem razão ou não. Não discute se a
questão seguinte tem procedência ou não tem procedência. Não se debate, não se trata
sobre ela;
Examinar para negar: é quando o juiz enfrenta a questão e diz que ela não tem
procedência.
A prescrição em relação às outras defesas é preliminar, porque uma vez acolhida, o juiz
nem precisa examinar as outras defesas, pelo fato daquilo já resolver o problema. Mas a
prescrição em relação ao pedido, que é a outra questão, é prejudicial, porque o
acolhimento dela faz com que o pedido não seja acolhido. O juiz resolve a outra
questão. Ou seja, uma questão que é a prescrição no processo pode ser prejudicial ou
preliminar a depender da questão seguinte, o que nos mostra que uma questão pode
ser preliminar ou prejudicial a depender do modo como ela se relaciona com a questão
seguinte. Então, não há questões que sejam essencialmente preliminares ou
essencialmente prejudiciais, pois isso é algo relativo.
Exemplo: Na ação rescisória, que é a ação para desconstruir coisa julgada, pode-se
pedir duas coisas: para o tribunal rescindir a coisa julgada e rejulgar a causa.
Dois pedidos: pedido de rescisão e pedido de rejulgamento.
Pode-se obter o rejulgamento sem a rescisão? Não. Consequentemente, o pedido de
rescisão é prévio.
Se o tribunal não rescindir, ele não vai rejulgar, portanto é preliminar.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
MÉRITO:
Existem classicamente duas grandes teorias sobre o que é mérito. A primeira diz que
mérito é o pedido. O pedido é a questão principal de mérito do processo. MÉRITO =
PEDIDO. Essa é a concepção mais difundida, disseminada e tradicional. Para essa
concepção o réu só participa da formação do mérito se ele formular um pedido contra o
autor. E para que o réu formule um pedido para o autor só tem duas opções: ou por
reconvenção ou por pedido contraposto. Mas pra essa concepção o mérito do processo
é formado pelo autor, porque é ele quem faz o pedido. Para o réu ajudar na formação
do pedido, só se ele reconvier ou formular pedido contraposto, porque tanto a
reconvenção quanto o pedido contraposto são formas de o réu demandar o autor no
mesmo processo. Essa concepção é a que prevalece.
A segunda concepção que também é muito forte (e melhor que a primeira, para Fredie),
defende que mérito não é só pedido, mas sim o pedido e a sua respectiva causa de
pedir. O mérito seria um “combo”. PEDIDO + CAUDA DE PEDIR = MÉRITO. O mérito é o
pedido relacionado com a causa de pedir. Essa concepção é melhor no ponto de vista
prático, pois ela resolve bem os problemas, tanto que nos últimos anos ela ganhou uma
força muito grande. As gerações mais novas costumam adotá-la.
Contradireito: É um direito que uma pessoa pode ter em face de outra. Mas ele recebe
esse nome de contra direito porque ele tem alguma especialidade. O contradireito é um
direito que se exerce contra o exercício de um outro direito. Isto é, é um direito contra
outro direito!
- Aniquilar: Destruir.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Quem alega a exceção de contrato não cumprido nega que a outra parte tem direito à
prestação? Não! Ela supõe afirmando um direito que neutraliza até que a prestação seja
cumprida pelo demandante.
Ex. de contradireito: O autor cobra uma dívida, o réu em sua defesa diz que a dívida está
prescrita e por isso não vai pagar. A alegação de prescrição não nega o direito do autor.
Com a prescrição o autor não vai poder ser cobrado, mas o direito existe. A prescrição é
um direito do devedor de não pagar uma dívida que existe, por causa da demora de
cobrar do credor. É neutralizante!
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Ex: A pessoa cobra uma dívida, o réu na defesa diz “Tudo bem, eu te devo, mas você
também me deve. Vamos compensar.”, então, surge aí o direito de compensar, que é um
contradireito, portanto deve ser alegado na defesa. Quem alega a compensação não
nega o crédito, e sim o supõe para se fazer o encontro de contas. É extintivo! Porque a
compensação é uma das causas de extinção da obrigação. Aqui gera a extinção do
crédito. ELE DESAPARECE! Ele supõe o direito para aniquilá-lo.
Ex: Se alguém entra com uma ação reivindicatória querendo a coisa de volta, e o réu
alega em sua defesa usucapião. O usucapião não é um contradireito, pois ele nega que o
outro é proprietário da coisa!
O indivíduo entra com a ação reivindicatória de uma extensa área, mas nesse local está
sendo ocupada por pessoas por mais de 5 anos de forma ininterrupta, gerando riqueza
naquela área. De acordo com o §4º do referido artigo o proprietário será privado dessa
área. É uma perda forçada mediante pagamento. Tem gente que diz ser usucapião, mas
não existe usucapião pago. Isso na verdade, é um direito de aquisição forçada de uma
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
propriedade. É um direito de pessoas que estão ocupando um imóvel grande por tanto
tempo. Eles têm o direito de comprá-lo.
Depois de fazer todas essas explicações, Fredie volta a falar sobre a sua teoria sobre o
que é mérito. Para ele, o réu também ajuda na formação do mérito quando exerce
contradireitos. Contradireitos compõem o mérito da causa. Se o réu traz um
contradireito, ele acaba de agregar ao mérito uma outra questão principal, e aí o
processo passa a ter duas questões principais de mérito, são elas o pedido e o
contradireito do réu. O réu, na qualidade de réu, contestando amplia o mérito quando
exerce contradireitos. Porque se não for assim, nós teremos um tipo de direito, que são
os contradireitos, que jamais poderão ser mérito de um processo e, portanto sobre os
quais jamais poderá haver coisa julgada (já que a coisa julgada é o caso julgado). Com
essa concepção, Fredie, acha que dá pra resolver uma série de problemas.
Para que o réu contribua com o mérito, ou ele formula pedidos por reconvenção/pedido
contraposto (e aí a posição dele será semelhante a do autor) ou ele traz contradireitos
em sua contestação.
Não se pode pensar que existe um tipo de direito (contradireito) que sendo levado à
apreciação do Poder Judiciário e decidido, sobre ele não há coisa julgada. Porque
dizendo isso, no modo de ver do professor, está impedindo o direito de acesso à justiça.
Ou o que é pior, está se dizendo que esse direito só teria uma solução definitiva se fosse
acolhido, já se fosse rejeitado não teria.
AULA 03 – 10/04/18
Tipos de cognição:
A cognição costuma ser visualizada em duas dimensões, são elas: dimensão horizontal e
dimensão vertical.
Plena: Quando o juiz puder conhecer qualquer questão. Tudo pode ser levado à
apreciação do juiz. Isto é, não há restrição cognitiva alguma. Ex: “Na sua defesa você
pode citar o que quiser, você pode falar tudo que puder para convencer o juiz que você
tem razão”.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Aí, o legislador cria regras que restringem a cognição, restringe a possibilidade de você
citar qualquer assunto. Por exemplo: Numa ação de desapropriação, o réu da
desapropriação pode não querer discutir a validade do ato desapropriatório, ele pode
discutir o preço. Porque nesse caso o legislador restringe a cognição, restringe o debate
naquele momento. O legislador restringe a cognição com o objetivo de simplificar,
tornar o processo mais célere.
Dimensão vertical: Se examina a profundidade com a qual o juiz examinará aquilo que
ele pode conhecer. Ou seja, enfrentar/examinar de que modo o juiz vai conhecer aquilo
que ele pode conhecer.
Por que o legislador autoriza que o juiz em certas circunstâncias decida apenas pela
probabilidade e não com certeza? Pois há situações em que não se pode esperar uma
cognição exaustiva, são decisões que devem ser tomadas rapidamente para evitar o
perigo. Mas não só por isso! A cognição sumária costuma ser autorizada pela lei em
certas circunstâncias ora para resolver um problema do perigo e aí se cria a expressão
“tutela de urgência”, que é a tutela a provisória fundada em cognição sumária para
combater o perigo. Mas também, a lei às vezes autoriza a decisão fundada em cognição
sumária quando houver uma alta carga de probabilidade no direito do indivíduo
(chamada tutela provisória da evidência).
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
A cognição sumária, hoje, é amplamente aceita, tanto que temos uma parte do código
dedicada a ela, e vai do art. 294 ao art. 311 – disciplinam as decisões com base na
cognição sumária.
Uma decisão provisória, que é aquela que deve ser confirmada depois. É uma decisão
que se autoriza em determinadas circunstâncias e exatamente porque ela é provisória, a
cognição que lhe serve de lastro é uma cognição sumária.
Existe duas variações de cognição que são escritas em latim, são elas, cognição
exauriente “secundum eventum probationis”, às vezes o legislador diz o seguinte: a
cognição só será considerada exauriente se tiver havido o esgotamento da prova, caso
contrário, não poderá se considerar a cognição como exauriente. Significa dizer, que
quando isso acontece, ha improcedência de uma decisão de improcedência por falta de
provas, se o juiz no final das contas disser assim “Não acolho o seu pedido porque você
não provou”, essa decisão não poderá fazer coisa julgada, assim, será possível que você
volte a juízo com outras provas, para poder tentar provar aquilo que você alega. Isso é
excepcionalíssimo! Pois a regra é a cognição ser considerada exauriente sempre que o
juiz julgar o seu pedido, mas por variadas razões relacionadas à justiça, o legislador vem
dizendo que “só vai considerar a cognição como exauriente se o juiz concluir que você
não tem direito, porque você não tem direito mesmo, não é porque você não provou”. É
o que acontece com o processo coletivo no Brasil, que é um processo cuja cognição é
secundum eventum probationis, significa dizer que, se uma ação coletiva é ajuizada e o
juiz chega à conclusão que ela é improcedente por falta de provas, nada impede que
uma mesma ação seja reproposta com base em outras provas. Isso é uma técnica de
cognição, e se preocupa com a justiça da decisão. Mas é uma técnica especial!!!! A regra
é que uma decisão de mérito é de cognição exauriente de modo que ela tenha aptidão
para coisa julgada.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
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O processo é um conjunto de diversos atos, mas todo conjunto de atos tem o primeiro.
O ato 1, o ato inaugural, o ato que faz com que o processo surja, e esse ato se chama
demanda, que é o ato da postulação. O instrumento, ou seja, a forma pela qual a
demanda se apresenta se chama petição inicial.
O processo nasce com a demanda (ele é complexo, envolvendo outros atos e outras
pessoas), e a partir dali ele começa a se desenvolver. Mas já há processo desde que o
sujeito demandou e isso está muito claro no art. 312:
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
O art. 312 é uma arma a ser utilizada por advogados em vários momentos, mas é uma
arma que poucos se lembram. A litispendência que nasce com o protocolo, é uma
litispendência que até esse momento envolve o autor e o órgão jurisdicional, portanto a
litispendência só é eficaz para esses sujeitos.
A litispendência passa a ser eficaz para o réu com a sua citação! A citação faz com que a
litispendência que já existe passe a produzir efeitos para o réu. Ex: Uma empresa
compra a outra, como o Bradesco comprou o Citibank, com isso, o Bradesco incorpora a
empresa Citibank ao Brasil, fazendo isso, todos os processos de que façam parte o
Citibank do Brasil, passam a fazer parte do Bradesco.
Há o problema de quem compra o direito litigioso, sem saber que ele é litigioso. Surge
aqui a evicção.
Eu posso dizer que antes da citação do réu a litispendência existe, mas é ineficaz para o
réu? SIM!!!!!
V - o valor da causa;
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
A petição inicial, em regra, tem forma escrita e no papel. Embora, agora se difunde cada
vez mais a forma eletrônica (escrito + eletrônico). Há, porém, casos raros, mas que
existem, de demandas orais. Que no final das contas serão transformadas em demandas
escritas. É o que acontece, por exemplo, com as demandas propostas por mulheres que
se afirmam vítimas de violência doméstica. Em que ela vai a uma delegacia e demanda
oralmente uma medida de proteção para ela.
A lei de alimentos, do ano de 1968, prevê que a ação de alimentos pode ser feita
oralmente. O indivíduo chega e diz “eu quero propor uma ação de alimentos contra meu
pai”, e aí o escrivão vai converter para a forma escrita. A regra é se postular por escrito!
Segundo requisito: A petição inicial é um ato que deve ser subscrito por quem tem
capacidade postulatória, como regra, a capacidade postulatória é dos advogados,
Defensores Públicos e Ministério Público. Mas há casos em que a capacidade
postulatória é atribuída a leigos. São casos raros, mas existem. Os casos já mencionados
de postulação oral: alimentos, mulheres que se afirmam vítimas de violência doméstica,
juizados especiais, são casos que também se atribuem capacidade postulatória também
a leigos.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
A procuração é um documento que deve acompanhar a petição inicial porque ela prova
que o advogado é o representante judicial daquela pessoa. A procuração para o foro
não precisa ter a assinatura com reconhecimento de firma, mas a extrajudicial precisa.
Poderes gerais para o foro: São poderes que podem ser outorgados de forma ampla
e indeterminada. Que é o conjunto de tudo que o advogado precisa fazer para poder
defender no juízo.
Poderes especiais: É especial quando a lei exige que a outorga dele seja feita de
modo determinado, ou seja, o advogado só tem poder especial se esse poder
especial já estiver previsto expressamente na procuração. De modo que se a
procuração só tiver poderes gerais para o foro, o advogado pode tudo, menos aquilo
para o que se exija o poder especial. Estão previstos no art. 105 do CPC.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Para Fredie os poderes especiais devem ser usados com moderação! Para ele os
poderes especiais é uma dupla proteção, porque protege o cliente e o advogado.
Uma questão que surge é saber se esse rol do art. 105 é exaustivo de poderes especiais
de modo que tudo que não fosse isso ficaria na cláusula geral para o foro? Essa é uma
pergunta sobre a qual não há paz. Fredie entende que esse rol é exemplificativo, ou
seja, esse é um rol que traz uma série de tipos de atos, de modo que há semelhança
entre eles e também deve exigir poder especial. E um dele é o poder de arguir a
suspeição do juiz. Para Fredie, na prática, o poder de arguir suspeição deveria ser
especial, embora o STJ já tenha entendido que arguir suspeição no processo civil não
depende de poder especial, já no processo penal dependeria.
Vem o art. 104 e traz algumas situações que o advogado pode demandar sem
procuração, a fim de evitar que haja um prejuízo para o cliente. Evitar o perecimento do
direito.
Sem a procuração ratificando, seria como se ele não tivesse autorização para fazer o que
fez.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
O ato praticado por advogado sem procuração é um ato que existe, é válido, mas é
ineficaz ao suposto cliente que não o ratificou.
Esse dispositivo fez com que a Súmula 115, do STJ tenha sido revogada, no modo de ver
do professor.
AULA 04 – 12/04/18
É o que se faz, normalmente, na parte de cima das petições: “Ao Exmo. Sr. Dr. Juiz...”.
Obs 4: Justiça estadual se divide em comarca Ex: Juiz de direito da Vara Cível da
Comarca de Salvador. Ex 2: Juiz de direito da Vara Penal da Comarca de Cocos.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
2018.1
Se for juiz federal não é comarca!! Ou ele está numa subseção judiciária. Ex: Juizo
federal da subseção judiciária de Campo Formoso. Ou ele está na capital, aí se deve
chamá-lo Juízo federal da seção judiciária.
O distrito quase sempre tem nome de bairro, “quase sempre” porque algumas cidades
menores são distritos de comarcas maiores, sendo assim, temos, por exemplo: Distrito
de Tucano. É raro!!
Obs 1: Deve-se ter cuidado ao pegar um modelo pronto de petição, porque o da pessoa
natural vai vir como “casada” ou “solteira”, coisa que não acontece com a pessoa
jurídica;
Obs 2: Pessoa jurídica tem sede. Ex: “... com sede em tal lugar”;
Obs 3: A pessoa jurídica precisa vir representada por alguém, assim sendo, se deve
também referir ao representante da PJ na qualificação. A mesma coisa ocorre quando o
autor é incapaz, isto é, se deve qualificar o autor dizendo que ele é incapaz, bem como o
seu representante;
Obs 4: Ao se colocar o endereço, muitas vezes colocam “situado à...”, aqui NÃO TEM
CRASE!!!! O certo é “situado em” ou “situado na rua tal...”;
Obs 5: Também tem que ter cuidado quando for litisconsórcio, com vários autores,
devendo todos os verbos serem no plural. Ex: “vêm propor...”, “requerem a prova”;
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Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
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Obs 6: Outra questão importante diz respeito ao fato de quanto o nascituro for o autor,
já que ele não nasceu ainda e não tem nome. Para resolver isso, coloca-se: “... nascituro
de nome da mãe, brasileira...”;
Obs 7: Sabe-se que o autor deve qualificar o réu, mas muitas vezes não há informações
precisas sobre ele. Esse problema que existe é amenizado pelos parágrafos do art. 319:
São formas de minimizar a dificuldade de o autor propor a ação porque não sabe as
informações do réu. Ele pode pedir ajuda e fica claro que não há nulidade pela falta de
informação se o réu puder ser citado e também fica claro que se a dificuldade excessiva
existir, o autor não ficará obstaculizado pelo judiciário por causa disso.
Há casos que são mais raros em que não se sabe quem é o réu, o que é diferente de não
saber dados do réu. Quando o réu é incerto, ele não será qualificado evidentemente.
Mas ele terá que ser identificado de alguma maneira. Ex: Em Salvador existem muitos
terrenos foreiros, e quase todos eles são da Igreja, mas alguns não são (os donos seriam
sucessores de pessoas que compraram da Igreja há muitos anos), então, acontece com
alguma frequência de a pessoa que reside num terreno foreiro desses, querer vender
um terreno, e ter que pagar o laudêmio (prestação pela venda) e o foro (prestação
anual), e não sabe a quem pagar. Nesse caso, as pessoas que querem pagar entram com
consignação em pagamento contra credor incerto, só para deixar depositado. Aí o
advogado deve dizer o seguinte: “A ação é proposta contra o credor do laudêmio do
imóvel tal”. Assim, identifica-se o réu, mesmo não sabendo quem ele seja. Isso é
importante porque quando o réu é incerto a citação é por edital.
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prática esse problema foi resolvido, pois foi admitido que a ação fosse proposta
dizendo: “proponho uma ação contra todos aqueles que estão na fazenda tal”, temos
aqui uma ação proposta contra o conjunto das pessoas. E o mandado de citação vai
assim, ou seja, o oficial de justiça vai citar quem estiver lá. O réu é o ocupante do
imóvel.
No art. 554, § 1º, diz o seguinte: “§ 1o No caso de ação possessória em que figure no
polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes
que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se,
ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de
hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.”.
Este inciso cuida da causa de pedir! Refere-se ao fato jurídico (causa de pedir remota) e
fundamento jurídico (causa de pedir próxima) do pedido.
O que é o fundamento jurídico (causa de pedir próxima)? É o direito afirmado. Pode ser
ele, por exemplo, é o direito e crédito, o direito potestativo, direito de propriedade etc.
Deve-se dizer qual é o fato jurídico e o direito que a pessoa afirma ter! Ou seja, tenho
que dizer que aconteceu algo, e que esse algo me dá o direito contra o réu.
A causa de pedir é o fato jurídico e o direito afirmado. LEI NÃO É CAUSA DE PEDIR, A LEI
É NORMA QUE CABE AO CASO!
O art. 319 tem uma omissão relevante. Ele deveria se referir também à argumentação
jurídica. O elemento argumentativo deve existir também. A parte retórica, que é a parte
da argumentação jurídica, deve ser observada no inciso III! Essa parte é muito
importante, porque é com base nela que se demonstrará, por exemplo, que aquele fato
é jurídico, bem como para dizer que determinada norma se aplica ao caso. É uma lacuna
no código porque se verifica no inciso III que ele é uma mera afirmação Eu digo
sobre o fato jurídico e digo qual é meu direito afirmado, mas não basta eu apenas dizer,
também terei que argumentar juridicamente.
Esse inciso III é objeto de um grande debate atualmente, porque ele cuida de uma
espécie de uma fundamentação lato sensu da petição inicial. Então ele deve ser
entendido como uma exigência de que a petição seja fundamentada!
O CPC avançou muito no tema fundamentação da decisão, e para Fredie a petição inicial
é um projeto da futura sentença. O autor ao elaborar a sua petição inicial, ele meio que
minuta a sentença. É um esboço daquilo que se almeja que o juiz diga quando for julgar.
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A doutrina diz que a postulação tem que ser fundamentada tal como se exige a
fundamentação da decisão. Isto é, do mesmo modo que se exige que o juiz fundamente,
é o modo como se deve exigir que a parte fundamente. A consequência prática disso
está no § 1º do art. 489 do CPC, que diz:
Aqui se listam seis situações em que se considera que a decisão não é adequadamente
fundamentada. Uma delas, que está no inciso V, diz que se o juiz apenas cita uma
súmula, sem dizer como ela se aplica ao caso, essa decisão não será fundamentada.
Hoje se diz que uma petição inicial que se refira a uma súmula sem dizer como ela se
aplica ao seu caso, é uma petição inicial sem fundamentação devida. Mas aí, muda a
consequência, no caso da decisão não fundamentada, ela será nula, já uma petição que
não tenha uma fundamentação com argumento não fundamentado, faz com que esse
argumento não fundamentado seja ineficaz, isso significa que o juiz não será obrigado a
enfrentá-lo.
Essa ideia de espelhar o §1º do art. 489 no art. 319, III, pegou! Os tribunais estavam
esperando por isso, como por exemplo, o STJ já tem várias decisões encampando essa
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ideia. E ela é transformadora, porque a prática das postulações dos autores era de se
fazer petições iniciais muito vagas para dificultar a defesa e gerar uma incerteza no
processo sobre o que estava sendo debatido. De modo que quando o juiz julgava
procedente o pedido do autor, por exemplo, num dessas petições obscuras e vagas. Na
hora de executar, o autor queria tirar da sentença qualquer coisa em seu favor.
Isso pegou, porque de certo modo domestica e torna mais responsável as postulações.
Fredie acha algo muito bom. Assim, as postulações devem ser mais claras para que se
saiba realmente o que o autor está querendo. As litigâncias tornam-se mais
responsáveis.
O pedido é um núcleo da petição inicial. Pedido é o que o sujeito quer! Mas, isso que é
pretendido pode ser visualizado em duas dimensões.
Pedido imediato: O pedido de decisão. O sujeito quer que o juiz decida. Ex: Peço a
condenação do réu; Peço a homologação do divórcio etc.
É o pedido meio – é um pedido para que o juiz decida para lhe dar alguma coisa;
Pedido mediato: É o bem jurídico que o sujeito espera alcançar com o processo, e que
será alcançado uma vez o juiz decidindo ao seu favor. Ou seja, se o juiz decidir ao seu
favor isso vai lhe propiciar um determinado bem jurídico. O pedido mediato é o objeto
do seu pedido, é o que você, de fato, quer para si.
Certo: O pedido certo é aquele que foi formulado expressamente na petição inicial. Isso
significa que como o pedido tem que ser certo, portanto expresso, não se admite como
formulado pedido implícito. Às vezes a lei autoriza que o juiz considere como formulado
pedido que não foi expressamente formulado, são os chamados pedidos implícitos
autorizados por lei. É como se o legislador fizesse o pedido. É o que acontece, por
exemplo, com o pedido de condenação às verbas da sucumbência, em que o vencido
tem que pagar a sucumbência para o vencedor. Isso vai acontecer mesmo que o
vencedor não peça expressamente. Ex 2: Juros legais e correção monetária. Isso está
expressamente dito no §1º do art. 322, que prevê essas hipóteses de pedidos implícitos.
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Há exceções a isso! Existem casos que a lei autoriza a formulação do chamado pedido
genérico (ou pedido ilíquido), que é o pedido indeterminado.
O pedido genérico que é o pedido, em regra proibido, mas em alguns casos aceito. É
autorizado nas hipóteses do §1º do art. 324.
Coerente: Pedido que não resulta na causa de pedir é pedido inepto. Ou seja, é
incoerente com a causa de pedir.
A exigência de coerência e clareza como atributos do pedido fazem parte dos estudos da
inépcia.
Interpretação do pedido: Pedido mal interpretado gera uma sentença bizarra, bem
como uma contestação bizarra, pois pode-se acabar contestando o que não foi
pedido.
Para entender esse assunto temos que estabelecer uma série de diretrizes:
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a interpretação deve ser restritiva. E traz em seu lugar o §2º do art. 322, que diz: “A
interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da
boa-fé”. Ou seja, a interpretação do pedido traz aí duas grandes diretrizes.
Como as pessoas, em geral, não sabem se expressar bem, e há aqueles que até sabem
se expressar, mas não sabem Direito (a ciência do direito) e fazem petições
desconectadas da dogmática jurídica. Então, é preciso tentar salvar essas petições a
partir da interpretação do conjunto delas.
Há outras diretrizes, além dessas, que nos ajudam a compreender o pedido, como por
exemplo, uma delas é: ver como o réu interpretou o pedido, pois quando for contestar,
ele deve interpretar o pedido. Para Fredie a interpretação do réu é uma diretriz muito
importante, porque se não houver divergência entre as partes em torno da
interpretação do pedido, essa será a interpretação que deve prevalecer, e assim, o juiz
não pode dar uma interpretação diferente daquela dada pelas partes, porque senão ele
violaria o contraditório.
Cumulação de pedidos: Existe sempre que num mesmo processo houver mais de um
pedido formulado. Ela pode ser homogênea ou heterogênea:
Homogênea: Quando é feita pela mesma parte, ou seja, os diversos pedidos cumulados,
foram cumulados pelo mesmo sujeito. É a regra!
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Ulterior: Quando ela se forma ao longo do processo. Ela tende a ser restringida, porque
se fosse permitido que a todo momento pudesse ser feito um novo pedido no processo,
ele não andaria nunca.
Cumulação própria: Quando todos os pedidos cumulados puderem ser acolhidos. Ela é
propriamente uma cumulação porque o juiz pode acolher todos os pedidos. Ela se divide
em duas espécies: cumulação própria simples e a cumulação própria sucessiva.
A cumulação própria simples é aquela em que todos os pedidos podem ser acolhidos, e
o acolhimento de um é irrelevante ao acolhimento do outro. Isso quer dizer que há uma
autonomia entre os pedidos.
Cumulação imprópria: É regida pela partícula “ou”. Aqui, vários pedidos são cumulados,
mas só um pode ser acolhido. Divide-se em cumulação imprópria eventual ou
subsidiária e cumulação imprópria alternativa.
A cumulação imprópria eventual ou subsidiária (art. 326, caput) é quando o sujeito diz
que ele quer o pedido A, mas se não puder A, ele quer o pedido B. “Só quero B se não
puder A”. Estabelece-se uma ordem de preferência entre os pedidos cumulados. O
segundo pedido é feito para a eventualidade do primeiro não ser acolhido. Há uma
relação de subsidiariedade e hierarquia (o primeiro pedido é mais importante do que os
outros). Note que ao fazer isso o autor estabelece uma ordem que o juiz tem que
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observar. Ou seja, ele não pode examinar B sem ter examinado e rejeitado A
previamente. Se o juiz fizer isso, a sentença será omissa.
Obs: Mesmo que o autor ganhe B ao invés de A, ele ainda pode recorrer para que
prevaleça A (porque ele só vai querer B se não tiver jeito).
A cumulação imprópria alternativa (art. 326, parágrafo único) é aquela em que não há
hierarquia entre os pedidos. O sujeito quer A ou B ou C etc.
Ex 1: Mãe e filho vão a juízo. O filho pede uma investigação de paternidade e a mãe
pede o ressarcimento das despesas do parto, cada um dos dois formulou um pedido, e
cada um dos pedidos formulado por um autor, e os dois contra o mesmo réu. Essa
cumulação é própria, porque ambos os pedidos podem ser acolhidos. É heterogênea. É
sucessiva. Aqui vemos um litisconsórcio entre a mãe e o filho, e cada um formulou um
pedido, sendo que o pedido de um depende do pedido do outro. LITISCONSÓRCIO
SUCESSIVO.
Ex 2: O devedor tem dúvida sobre quem é o credor e entra com uma consignação em
pagamento contra várias pessoas dizendo que qualquer delas pode ser a credora, e ele
quer consignar para aquela que for a credora, porque para ele tanto faz. Surge aqui um
litisconsórcio passivo entre os possíveis credores. LITISCONSÓRCIO ALTERNATIVO.
Ex 3: O autor diz que Antônio deve pagá-lo determinada coisa. Mas, se por acaso se
entender que Antônio não é o responsável pelo pagamento dessa coisa, o autor pede
que condene Francisco. Aqui o autor formulou dois pedidos, um contra Antônio e outro
contra Francisco, então esses dois sujeitos tornam-se litisconsortes, em razão dessa
cumulação de pedidos feitos pelo autor – cumulação eventual, pois ele quer primeiro
contra Antônio e se não for possível contra ele, que seja contra Francisco.
LITISCONSÓRCIO EVENTUAL.
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uma obrigação que pode ser cumprida por mais de uma maneira). Quando o sujeito vai
ao judiciário e formula um pedido de cumprimento de uma obrigação alternativa, ele
está formulando um pedido alternativo. Ou seja, ele formula um pedido que se refere a
uma obrigação alternativa, podendo ser cumprida de mais de uma maneira, mas o
pedido é um só.
Competência: Como os pedidos vão tramitar num mesmo processo, que está nas mãos
de determinado juiz. É preciso que esse juiz seja competente para todos os pedidos. Só
pode haver cumulação de pedidos se o juízo for competente para todos eles;
Compatibilidade dos pedidos: Só pode cumular pedidos se eles forem compatíveis entre
si. Esse requisito não se aplica a qualquer tipo de cumulação. SOMENTE APLICA-SE NA
CUMULAÇÃO PRÓPRIA. (art. 327, §3º);
Se o sujeito cumula um pedido que ia para o procedimento comum e outro que ia para
o procedimento comum também NÃO HÁ PROBLEMA ALGUM NESSA CUMULAÇÃO, mas
se o sujeito cumula um pedido e procedimento comum com um pedido de
procedimento especial, como eles vão tramitar juntos, surge um problema histórico!!
Então, segundo o CPC-73, a solução do problema era de optar pelo procedimento
comum (que fazia com que o autor abrisse mão do procedimento especial que poderia
conter alguma técnica melhor ao seu favor).
Mas no CPC-15, no §2º do art. 327, temos que “quando, para cada pedido, corresponder
tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o
procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas
previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos
cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento
comum”. Permitiu-se, então, trazer as técnicas diferenciadas do procedimento especial
e levar ao procedimento comum.
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Há casos em que a incompatibilidade decorre por outra razão. Existem casos em que o
procedimento é especial para proteger o réu e não o autor, como por exemplo, a
interdição (não pode-se cumular interdição com outro pedido, porque teria que ser feito
pelo procedimento comum). Não se pode ir pelo procedimento comum porque assim
estará prejudicando aquele em cujo propósito foi criado o procedimento.
Por fim, Fredie defende livre tráfego das técnicas diferenciadas/especiais. Elas não
ficariam exclusivas de determinados procedimentos. É como se fosse uma zona sem
fronteira.
V - o valor da causa;
Obs 1: Toda petição inicial deve conter o valor da causa. Deve-se saber que toda causa
tem um valor em real! Isso significa que não é possível colocar o valor em dólar, nem em
saca de café, nem colocar valores, por exemplo, “atribui a causa um valor inestimável”
etc.
Obs 3: Para fins didáticos, podemos dizer que há dois tipos de valor da causa:
Valor da causa legal: A lei no art. 292, lista hipóteses de valor da causa. Se a causa se
encaixa em uma das hipóteses desse artigo, o valor da causa será aquele estipulado pela
lei. Cuja regra geral é: o valor da causa é o valor do pedido. É chamada de valor da causa
legal porque é a lei quem diz os critérios para se atribuir o valor da causa, cabendo ao
autor apenas aplicá-los;
Valor da causa por estimativa do autor: Se a causa não se encaixa em nenhuma das
hipóteses do art. 292, caberá ao autor estimar o valor da causa. Ex: Na guarda de filho é
o autor quem estima.
Quando o valor da causa é legal o controle é bem simples de se fazer, mas quando o
controle é por estimativa ele deve ser feito por razoabilidade e boa-fé. CONTROLE DE
EQUILÍBRIO.
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O controle de valor da causa pode se dar de ofício pelo juiz, aqui se ele perceber o erro
pode mandar corrigir, mas pode-se dar também por provocação do réu, onde ele
impugna o valor da causa e fará isso na sua contestação.
Obs 4: O valor da causa é um dado que produz várias consequências jurídicas, por
exemplo, ele interfere na competência, no procedimento, no valor das taxas judiciais,
serve como base de cálculo dos honorários. Então, ele tem múltipla função, e por isso
não se deve colocar na petição inicial o seguinte: “atribui a causa para fins meramente
fiscais o valor x”, para Fredie isso não existe (“para fins meramente fiscais”), a finalidade
do valor da causa não é meramente fiscal, é MÚLTIPLA! Os efeitos do valor da causa são
múltiplos!!!!
Obs 5: Uma das novidades do NCPC é o inciso V do art. 292: “O valor da causa na ação
indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, será o valor pretendido”. É novo
porque, a praxe das ações indenizatórias por dano moral era no sentido de não se
precisar dizer quanto se queria.
Obs 6: Não se pode confundir impugnação ao valor da causa, que é tão somente, uma
impugnação ao ato de atribuir o valor a causa com impugnação ao pedido, que é a
contestação.
AULA 05 – 17/04/18
Na petição inicial deve-se fazer o requerimento de produção de provas. É pra dizer quais
meios de prova que o autor vai se valer para provar o que está afirmando.
Normalmente, as pessoas fazem requerimentos genéricos de produção de provas. Ex:
“Vou me valer de todas as provas permitidas”. Porque haverá um momento específico
no futuro em que o juiz vai pedir que a parte delimite as provas.
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O outro tipo é aquele que se torna indispensável porque o autor faz referência a ele na
inicial. De todo modo, Fredie recomenda que quando formos elaborar a petição inicial
façamos uma lista de documentos para facilitar a consulta pelo órgão julgador.
Pode acontecer de o autor não ter esse documento indispensável, pois está na mão de
um terceiro ou do réu, por exemplo. Quando isso acontecer, o autor deve afirmar isso
na inicial, para tomar as providências possíveis. Uma delas é que na própria inicial o
autor formule um pedido de exibição do documento. E a exibição é um pedido! Uma
outra providência é o autor se valer do §1º do art. 319, aplicado por analogia, que é
aquele que diz que o juiz pode auxiliar o autor na obtenção de informações para
qualificar o réu. Aqui, com a analogia, permite-se que o juiz auxilie o autor para obter o
documento que é indispensável e que ele não possui.
Então, embora a prova documental deva vir, em regra, com a inicial. O art. 435 permite
juntada posterior do documento.
Agora no procedimento comum novo, o autor entra com a inicial e o réu é citado para
vir a uma audiência com tentativa de acordo (que se realiza antes da defesa do réu). E
aí, vem o legislador e diz que essa audiência não será realizada se ambas as partes
disserem antes que não querem ir para a audiência. Se o autor disser que não quer e o
réu quiser sim, TERÁ a audiência. Ou seja, o desejo do autor sozinho não impede a
realização da audiência.
Uma questão prática que ainda não se resolveu é sobre qual a consequência do
descumprimento do inciso VII. Ou seja, o juiz pega uma petição inicial e não tem essa
indicação do autor se ele quer audiência ou não.
O que o juiz vai fazer diante desse silêncio da petição inicial? O silêncio pode ser
presumido como uma não oposição à realização da audiência? Ou o juiz pode entender
como descumprimento do inciso VII e mandar o autor corrigir a petição? A uma grande
divergência na doutrina sobre essa questão. Mas para Fredie, o silêncio deve ser
tomado como não oposição, porque se o sujeito não quisesse a audiência ele teria dito.
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Significa corrigi-la. Ou seja, ela tem algum defeito, ou não observou algum dos seus
requisitos, então, deve ser corrigida. Exige um verdadeiro direito à emenda, que significa
dizer que a petição inicial não pode ser indeferida em razão de um defeito sem que o
juiz antes intime o autor para corrigir. E essa intimação para emendar, regulada no art.
321 do CPC, fala do prazo para emendar de 15 dias e fala também que o juiz deve dizer
nessa decisão qual é o defeito e como corrigi-lo. Se o juiz indeferir a petição inicial sem
mandar emendar antes, a decisão será NULA. Pois, o direito à emenda é um corolário do
princípio da cooperação.
Alterar a petição inicial significa trocar elementos da petição inicial. Por exemplo: trocar
o pedido ou a causa de pedir, trocar o réu etc.
Aditar a petição é acrescentar coisa a ela. Isto é, AMPLIÁ-LA! Fazer um pedido novo!
Emendar = Consertar
Alterar = Trocar/Mudar
Aditar = Acrescentar
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Diminuir a petição inicial. A redução da petição inicial pode-se dar de variadas maneiras:
Desistência parcial:
Renúncia parcial:
Acordo parcial:
Rejeitá-la liminarmente, isso significa dizer que é uma decisão que obsta, prejudica o
procedimento da petição inicial antes mesmo de o réu ser citado. O indeferimento é
uma decisão que tem duas grandes características:
Não é uma decisão de mérito: O juiz não examina o mérito. O indeferimento é uma
decisão de inadmissibilidade, ou seja, é um juízo de inadmissibilidade.
Importância prática: Se a petição é indeferida, logo, o réu não foi citado. Significa,
portanto, que não há advogado do réu. Como não há advogado, não há honorários
advocatícios. Aqui o réu ganha sem ter ido a juízo. -> Venceu na inadmissibilidade e não
no mérito.
Tudo aquilo que pode levar ao indeferimento da petição inicial pode ser trazido pelo réu
em sua defesa.
O indeferimento pode ser parcial, isto é, só metade da petição estará indeferida, a outra
não, por exemplo.
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Lis Nardes de Alcântara Cotrim
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Aqui surge uma questão importante: Como o indeferimento pode ser parcial, significa
que o indeferimento pode ou não extinguir o processo. Se o indeferimento é total ele
extingue o processo. Se o indeferimento é parcial não extingue o processo, aqui ele vai
prosseguir menor.
o Art. 331 do CPC: Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz,
no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se.
O juiz indeferiu a petição inicial, o advogado vai apelar perante o juiz. Esse juiz não pode
fazer o juízo de admissibilidade da apelação (ex: não pode dizer que a apelação é
intempestiva). O juízo de admissibilidade da apelação é o tribunal que tem que fazer. O
juiz apenas recebe a apelação, mas o juízo de admissibilidade dela é do tribunal. Isso é
uma novidade do CPC. Mas nesse caso, ele pode se retratar.
Se a apelação é intempestiva o juiz poderá se retratar? Não! Ele vai não se retratar “Não
vou me retratar porque a apelação é intempestiva. Suba apelação.”. Aqui a
intempestividade passa a ser motivo de não retratação. Mas não pode levar que o juiz
não admita a apelação. Essa solução já está pacificada na doutrina.
A intempestividade é incorrigível!
CAUSAS DE INDEFERIMENTO:
I - for inepta;
INÉPCIA:
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Ou seja, por exemplo: Se eu sou um devedor e vou a juízo para discutir o tamanho da
minha dívida (não é para discutir a existência da dívida). Na minha petição inicial eu
tenho que dizer quais são as parcelas da dívida que eu quero rever e quanto eu acho
que devo. Se eu não fizer isso a minha petição é inepta.
Isso vale para qualquer demanda que se discuta a quantidade da dívida (pedir revisão de
dívida)!!
AULA 06 – 19/04/18
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Não preencheu os requisitos > mandou emendar > se não emendar > será indeferida.
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Liminar vem de limiar (início), seria, portanto, “decisão do início”. Note que nesse ponto
se assemelha com o indeferimento, que também é liminar.
Só que tem uma diferença, aqui estamos diante de uma apelação contra decisão de
mérito, portanto, o mérito já foi julgado.
O CPC/73 não distinguia essas duas figuras, e colocava tudo sob a mesma rubrica –
indeferimento – com ou sem exame de mérito. O que acabava gerando uma série de
problemas práticos. E aí o CPC/15 organizou melhor e chama de indeferimento apenas o
que não é de mérito e dá outro nome às rejeições liminares de mérito (improcedência
liminar do pedido).
Uma premissa geral: só cabe improcedência liminar do pedido se a causa puder ser
julgada apenas com base em prova documental. Ou seja, improcedência liminar do
pedido é uma forma de julgamento com base em prova documental. Isso é um
pressuposto geral para improcedência liminar do pedido.
Estabelecido esse pressuposto geral, vem o CPC e cria duas grandes hipóteses de
improcedência liminar do pedido. São elas:
1ª) Improcedência liminar do pedido que contraria precedente obrigatório firmado por
tribunal: O sujeito formula um pedido e este pedido contraria um precedente
obrigatório que já existe no tribunal. Veja que se a situação é essa, por exemplo, o
sujeito tem um processo em que a causa só se resolve com documento, e autor formula
um pedido expressamente contrário aos precedentes dos tribunais. Então, o juiz vai logo
julgar improcedente. Mas nesse momento da faculdade, basta saber que se a petição
inicial contrariar um precedente obrigatório, cabe julgamento liminar de improcedência.
Essa primeira hipótese está prevista no caput do art. 332 do CPC. Que tem 4 incisos, e
cada um deles cuida de um precedente obrigatório. Mas é preciso compreender o art.
332 conjuntamente com o art. 927.
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Ex: Art 332, I se diz que cabe julgamento de improcedência liminar se o pedido
contrariar enunciado de súmula do STF ou do STJ. Ao se conciliar isso com o art. 927,
aprende-se que não é qualquer súmula do STF que autoriza liminar de improcedência,
pois tem que ser súmula do STF em matéria constitucional, que são as súmulas que
decorrem da sua competência.
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Obs: O autor que queira demandar contra um precedente obrigatório tem que faz uma
de duas coisas, ou argumentar no sentido de mostrar que o precedente tem que ser
superado ou pode demonstrar que o seu caso tem peculiaridades que afastam a
aplicação do precedente (mostrar que o seu caso é distinto).
Ela mostra como não vale a pena, pois o sistema desestimula que pessoas litiguem
contra os precedentes obrigatórios desnecessariamente, já que só vai gastar mais
dinheiro.
No caso da decadência, o CPC é claríssimo, quando diz que somente a decadência legal
pode ser conhecida de ofício, isto é, somente os prazos decadenciais previstos em lei
podem ser conhecidos de ofício pelo juiz. Consequentemente, decadência convencional
não pode ser conhecida de ofício (porque esta teria que ser alegada pelo réu).
Já em relação à prescrição, regulada no art. 210 e 211 do CPC, a coisa é bem diferente
porque o art. 487, II do CPC diz que o juiz pode de ofício conhecer da prescrição e para
por aí. Mas, numa interpretação literal, poderia se entender que o juiz pode julgar
liminarmente improcedente o pedido qualquer que fosse o caso de prescrição. Ocorre
que, prescrição e decadência são coisas muito diferentes (na decadência o direito
desaparece e na prescrição não desaparece, tanto que, por exemplo, o devedor pode
pagar a dívida prescrita). Então, a prescrição é um instituto eminentemente privado, no
sentido que interessa o devedor (é o direito que tem o devedor de não pagar uma dívida
prescrita, tanto é assim que o art. 191 do CPC, expressamente prevê a renúncia à
prescrição, inclusive até a renúncia tácita). É difícil defender uma justificativa
dogmaticamente aceitável, para que o juiz de ofício reconheça qualquer prescrição,
porque, lembrando que prescrição é um contradireito, permitir que o juiz conheça de
ofício de uma prescrição é permitir que o juiz exerça o direito de uma pessoa. Num
ponto de vista dogmático, isso é muito complicado para entender. Ex: o juiz conhecendo
de ofício uma prescrição em desfavor do consumidor (o fornecedor não alega
prescrição, mas o juiz sim), para Fredie isso é bizarro. Por isso, para ele parece que a
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Direito Processual Civil 2 – Fredie Didier
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Ele propõe a seguinte interpretação: o juiz só pode conhecer de ofício de prescrição que
seja indisponível (prescrição que não possa ser renunciada), por exemplo: prescrição em
favor de incapaz. Portanto, é uma interpretação que restringe muito a improcedência
liminar do pedido nos casos de prescrição.
Então, se tem uma interpretação literal, em que o juiz pode julgar liminarmente
improcedente o pedido nos casos de prescrição sempre, qualquer que seja o caso de
prescrição. E temos também, a interpretação proposta pelo professor que tenta
compatibilizar o instituto da prescrição com o conhecimento de ofício do juiz. E há ainda
uma terceira interpretação, que é oposta da primeira e é a mais radical, segundo a qual
o juiz poder conhecer de ofício a prescrição é inconstitucional - (o juiz poder exercer um
direito pela parte).
Há uma última questão sobre a improcedência liminar do pedido que é a mais polêmica
de todas, ainda não resolvida, que é a seguinte: pode o juiz julgar liminarmente
improcedente o pedido em situações atípicas, ou seja, fora dessas duas grandes
hipóteses?
Por exemplo: pode o juiz julgar liminarmente improcedente o pedido quando o pedido
for absurdo? Caso real -> uma moça entrou com uma ação popular contra a União para
que o juiz declarasse guerra aos EUA, porque eles invadiram o Afeganistão em 2003.
Isso não é contra precedente obrigatório, não é prescrição e nem decadência. Isso é
simplesmente uma demanda absurda (sem nem precisar ouvir o réu). Nesse caso, há
muitas divergências na doutrina, mas para Fredie o juiz pode sim julgar liminarmente
improcedente o pedido em caso de pedido absurdo.
AULA 07 – 26/04/18 – Está dentro do tópico que trata dos pedidos da petição inicial!
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01/05/18 – FERIADO
AULA 08 - 08/05/18
Essa audiência é realizada antes do réu apresentar sua resposta. Os estudiosos dizem
que é melhor tentar resolver o litígio antes da pessoa se defender, porque ao se
defender, fica mais difícil dela recuar. Essa audiência deve ser realizada nos chamados
centros judiciais de solução de conflitos, esses centros são públicos e vinculados ao
próprio tribunal.
Esses centros judiciais não precisam ser necessariamente do tribunal, pode ser de um
outro órgão público, como é o caso da Defensoria Pública, e até do Ministério Público,
ou entes privados sem trabalho lucrativo (ex: SAJU e OAB).
A audiência de mediação e conciliação devem ser sigilosas, tanto que não se pode nem
usar para fins probatórios os documentos obtidos durante as sessões de conciliação,
pois seria prova ilícita. Porque o objetivo é que as partes se sintam confortáveis para
poder negociar sem se vincular.
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Obs: Serve como filtro de litígios que não tinham necessidade de serem processados.
O CPC diz que cabe ao juiz receber a petição inicial e mandar citar o réu para
comparecer à audiência. A parte que não comparece a essa audiência (sem justificativa),
seja ela autor ou réu, vai ser multada por ato atentatório à atividade da jurisdição.
O art. 334, §8º trata do dever de comparecimento à audiência. Já nos Juizados se o réu
não comparece (revelia), e se o autor não comparece (extinção do processo).
Obs: No mandado de citação é preciso que conste essa advertência para o réu (precisa
falar da multa);
Obs 2: Fredie acredita que essa multa não se aplica caso o réu tenha sido citado por
edital;
Obs 3: A parte pode não comparecer pessoalmente, desde que ela se faça representada
por alguém com poder de negociar e transigir (art. 334, §10).
No §9 diz: “As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores
públicos”. O verbo “dever” não significa que se a pessoa não estiver acompanhada de
advogado ou defensor, não vai ter audiência. Se a parte não tiver advogado ou defensor
e o caso demonstrar que há um desequilíbrio na audiência, ela vai ser suspendida.
O CPC estabelece duas hipóteses em que essa audiência pode não ser marcada, e aí o
juiz já manda citar o réu para se defender e não para comparecer à audiência:
a) quando o caso não admitir solução por autocomposição: E aqui estamos diante de um
problema, porque é muito raro isso acontecer. Uma causa que não admite solução por
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autocomposição é muito rara. O problema mais grave gira em torno da fazenda pública,
pois, ela pode resolver os problemas por autocomposição, mas só estará permitida a
isso quando estiver de acordo com alguns critérios que a própria administração cria. Ou
seja, cabe a administração estabelecer os critérios para se fazer acordo.
Cabe a Fazenda Pública divulgar os casos e as regras para ela fazer acordo e
paralelamente o juiz está dispensado de marcar audiência do art. 334 nos casos que não
se encaixarem nessas possibilidades de autocomposição da fazenda pública;
Obs: O autor tem quer dizer na petição inicial que não quer audiência. Se essa
manifestação do autor que não quer se junta com uma do réu dizendo que não quer,
antes da audiência, faz com que a audiência seja cancelada.
AULA 09 – 10/05/18
RESPOSTA DO RÉU:
É uma designação genérica que abrange todas as possíveis condutas que o réu pode ter
diante da provocação do autor. Não se pode confundir resposta do réu com defesa,
porque nem toda resposta do réu é uma defesa. Ela é uma reação do réu a provocação
do autor, que pode ou não ser um contradireito (defesa).
Ela pode ser uma contestação, que é um instrumento de defesa. Mas também pode ser
resposta do réu, o reconhecimento da procedência do pedido, em que o réu responde
reconhecendo que o autor tem razão. Ficar calado também é uma resposta – o réu ser
revel. Uma outra modalidade de resposta do réu é a reconvenção, que é um contra
ataque do réu. A arguição de impedimento ou suspeição é, igualmente, resposta do
réu.
“Ação” está para o autor assim como “exceção” está para o réu. Mas as palavras ação e
exceção têm muitos sentidos.
A palavra exceção pode ser também, sinônimo de defesa. Toda defesa é uma exceção.
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Um terceiro sentido diz que a palavra exceção se refere a um especial tipo de defesa
que é a exceção substancial (contradireito). Os contradireitos também são chamados de
exceções substanciais. Exceção substancial é um termo de Direito Civil e se refere a uma
específica modalidade de defesa, que a defesa contradireito.
Fredie acha um boa hipótese dizer que o termo exceção ganhou essa conotação
processual como reação a partir das exceções substanciais.
Defesa de admissibilidade: É toda aquela defesa que o réu suscita, que tem como
propósito impedir o exame do mérito. Ex: decadência;
Defesa de mérito: Tudo que o réu alega e serve para impedir que o pedido seja acolhido.
Ex: pagamento, ex. 2: prescrição, ex. 3: exceção de contrato não cumprido.
Defesa direta: Acontece sempre que o réu se defende sem trazer ao processo nenhum
fato novo. Só existem duas possibilidades de o réu se defender diretamente, são elas: a)
o réu diz “tudo que o autor falou é mentira”, negando os fatos afirmados pelo autor; b)
quando o réu diz “tudo que o autor falou aconteceu, mas nada disso que ele falou gera
o direito que ele alega ter”, ou seja, o réu aceita os fatos, mas nega as consequências
jurídicas que o autor pretende extrair desse fato. Ex: servidores que nunca bateram
ponto e ao chegar um novo chefe que exigiu que batessem o ponto, entraram na justiça
pleiteando o direito adquirido a não bater ponto. É também chamada de confissão
qualificada.
A defesa direta faz com que o ônus da prova seja sempre do autor, porque foi ele quem
trouxe os fatos. E não haverá réplica (é a manifestação do autor sobre a contestação).
Defesa indireta: Toda defesa indireta traz fato novo, cujo ônus da prova é do réu.
E ainda pode surgir uma defesa indireta que é curiosa, mas muito comum. Em que o réu
diz “tudo que você falou é verdade, mas eu trago um fato novo que impede, modifica ou
extingue o que você pretende”. O réu aceita os fatos, mas traz fatos novos que
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Fato impeditivo: É sempre fato anterior à formação do direito que o autor afirma ter;
Fato modificativo: É sempre fato posterior aos direitos afirmados pelo autor. São fatos
que ou extinguem (pagamento, por exemplo) ou o transformam (fato superveniente
que impõe uma revisão do valor, por exemplo).
Exceção em sentido estrito: é uma defesa que o juiz não pode conhecer de ofício. CABE
AO RÉU ALEGAR.
Ex. 3: Prescrição é objeção, pelo código. Mas vimos anteriormente, que o juiz só pode
conhecer da prescrição se ela for uma prescrição indisponível.
Ex. 4: Pagamento é considerado uma objeção. Porque ele extingue o crédito, de modo
que se o juiz não conhecer do pagamento, estará condenando alguém a pagar uma
dívida que já foi paga. Seria uma decisão injusta. Mas, na prática isso é difícil de
acontecer, porque, normalmente, o réu alega o pagamento.
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Ex. 3: A inépcia é peremptória. O fato de ser passível de correção não muda a sua
natureza.
Ela deve ser interpretada, assim como é a petição inicial. E valem aqui as mesmas
diretrizes de interpretação sobre o pedido que já estudamos anteriormente.
Tem que ser apresentada no prazo de 15 dias (prazo geral). Vai ser contado de acordo
com o art. 335. Existem três situações para o sujeito contar o prazo de defesa:
1 – O réu é citado para apresentar a defesa. Então, o prazo vai ser contado a partir da
juntada do mandado de citação, que é o prazo comum, clássico;
3 – Ele é citado para audiência, mas aí antes da audiência, o réu pede pelo seu
cancelamento. Então, o prazo de defesa se conta na juntada do pedido de cancelamento
da audiência, que se junta com a negativa do autor e fazem o protocolo da petição em
que pedem o cancelamento da audiência e naquela data contam-se 15 dias para
apresentação da defesa.
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A boa-fé rege a alegação de defesas eventuais, que é garantida, mas deve guardar entre
si um liame lógico.
- Existem defesas que a própria lei impõe que alegue fora da contestação. Ex:
impedimento da suspeição;
- Existem defesas que a própria lei autoriza que sejam alegadas depois da contestação.
Ex: defesas previstas no art. 342 do CPC.
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