LET460 – Fundamentos Metodológicos do ensino de Português: prática do
ensino de análise linguística
Prof.ª Dr.ª Larissa Giacometti Paris
ATIVIDADES LINGUÍSTICAS,
EPILINGUÍSTICAS E
METALINGUÍSTICAS
Texto de Carlos Franchi (1991)
Contexto histórico da obra
01 02 03 04
Material Material Público-alvo: Primeira edição
publicado denominado professores de LP publicada em
pelo governo “Criatividade da educação 1987
do estado de e gramática” básica (formação
São Paulo continuada)
Críticas ao ensino Gramática não estava
01. relacionada à leitura e à
tradicional de produção de textos
gramática
02. Inadequação dos métodos
de ensino da gramática
Consequências:
rejeição do estudo gramatical;
realização da prática
03. “envergonhada” dos mesmos
exercícios de gramática sob
outras roupagens
Objetivos do texto
• Indicar possibilidades de
renovação do ensino gramatical
• Apontar estratégias possíveis
para o desenvolvimento da
linguagem que incidem sobre as
estruturas gramaticais
Duas tendências históricas para o ensino da gramática
Perspectiva prescritiva Perspectiva descritiva:
(normativa): descrever a língua em
prescrever o uso uso a partir de
correto da língua determinados critérios
Exemplo prescritivo (normativo):
definição de sujeito
Definição 1: sujeito é o
Definição 2: sujeito é o
elemento que pratica a
elemento de que se fala
ação expressa por um
na oração
verbo na forma ativa
• Os garotos quebraram a vidraça. [foco no agente]
• A vidraça foi quebrada pelos garotos. [foco no paciente]
• A pedrada quebrou a vidraça. [foco na causa]
• Quebraram a vidraça para poder fazer passar o armário.
[Sujeito indeterminado = agente implícito]
Análise das frases
Nas definições 1 e 2, toma-se a
oração ativa, em que as posições de
sujeito e objeto correspondem ao
agente e ao paciente, como sendo
uma construção prototípica do
Português.
A escolha de diferentes pontos de
vista sobre o evento a ser descrito e
de diferentes pontos de partida para
a construção sintática vai fazendo
variar o que chamamos de sujeito.
Análise das frases
Interessa pouco descobrir a melhor
definição de sujeito ou do que quer
que seja.
Mas interessa, e muito, levar os
alunos a operar sobre a linguagem,
rever e transformar seus textos,
perceber nesse trabalho a riqueza
das formas linguísticas disponíveis
para suas mais diversas opções.
Atividades
metalinguísticas
Metalinguagem: linguagem
usada para descrever algo sobre
a própria linguagem.
No ensino tradicional, quase
todos os exercícios gramaticais
se situam ao nível da
metalinguagem, exclusivamente.
Fonte: M. C. Escher: Mãos Desenhando (1948). Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/282977144_Um_olhar_sociotecnico_s
obre_o_projeto_de_arquitetura.
Atividades
metalinguísticas
Objetivo nas aulas de gramática:
adquirir um sistema de noções e uma
nomenclatura para poder falar de
certos aspectos da linguagem.
No exercício escolar puramente
classificatório, distancia-se o aspecto
fundamental da atividade de caráter
gramatical que consistiria em
compreender os diferentes processos
pelos quais o sujeito atua
Disponível em: https://pt-br.facebook.com/memesacessiveis/photos/chargedois- linguisticamente.
homens-est%C3%A3o-dentro-de-um-ambiente-fechado-com-gravuras-lapidadas-
nas/555423995147112/
Atividades metalinguísticas
Exemplo:
Resumem-se a exercícios
analíticos e classificatórios
com pequena relação com
os processos de construção
e transformação das
expressões, com a
propriedade e adequação
do texto às intenções
significativas, com a
exploração da variedade dos
recursos expressivos para o
controle do estilo.
Somente se aprende a gramática, quando
relacionada a uma vivência rica da língua
materna, quando construída pelo aluno como
resultado de seu próprio modo de operar com
as expressões e sobre as expressões, quando
os fatos da língua são fatos de um trabalho
efetivo e não exemplos descolados da vida
(Franchi, 1991, p. 24, grifos meus).
Problemas no ensino tradicional da gramática
Viés normativo que não se Enquanto sistema descritivo, a
limita a levar os alunos ao gramática escolar esconde
domínio da modalidade culta intuições interessantes sobre
e escrita, mas que constitui a linguagem, sob uma capa
um fator importante de de definições e um conjunto
discriminação e repressão de critérios que não dão conta
linguísticas dos fatos das línguas
Enquanto prática escolar, Em nenhum dos casos se
o ensino gramatical se busca responder à questão
reduz ao exercício de relevante para qualquer
técnicas insatisfatórias de estudo gramatical da
descoberta e de linguagem: por que as
classificação de expressões significam aquilo
segmentos de orações que significam
Exemplo
Mais um exemplo
Sombra – sombreado – sombrio
Mais importante é explorar com o aluno,
pelas condições de uso em um texto,
conotações como as que distinguem
"sombreado" de "sombrio".
Menos importante é trabalhar de forma
metalinguística os processos de formação de
palavras, em que o aluno precisa memorizar
os tipos de derivação (prefixal, sufixal, etc.).
Então, como
ensinar gramática
na escola?
Ensinar gramática implica
em levar o aluno a realizar
uma intensa e rica ação
sobre seu próprio texto
Então, como ensinar
gramática na escola?
Antes de saber o que é um
substantivo, um adjetivo, um advérbio,
é preciso ter-se servido efetivamente
dessas distinções gramaticais no
trabalho de construção e
reconstrução das expressões. Antes
de aprender uma classificação das
orações subordinadas, é preciso ter
participado longo tempo do jogo de
integrá-las umas nas outras, pelos
mais diferentes procedimentos
Então, como
ensinar gramática
na escola?
O aluno deve estudar a
variedade dos recursos
sintáticos expressivos,
colocados à disposição
do falante ou do escritor,
para a construção do
sentido
Então, como ensinar
gramática na escola?
Atividades Atividades
Atividades
epilinguísticas metalinguísticas
linguísticas
Atividade linguística:
produção oral/escrita
É o exercício pleno, Somente pode reproduzir-se, na
circunstanciado, escola, se esta se tornar um espaço
intencionado e com de rica interação social que, mais
intenções significativas da do que mera simulação de
própria linguagem ambientes de comunicação,
pressuponha o diálogo, a conversa,
a permuta, a contradição, o apoio
recíproco, a constituição como
interlocutores reais do professor e
seus alunos e dos alunos entre si
Atividade epilinguística:
reflexão/análise
Prática que opera sobre a Não se pode ainda falar
própria linguagem, de "gramática" no
compara as expressões, sentido de um sistema de
transforma-as, noções descritivas, nem
experimenta novos de uma metalinguagem
modos de construção representativa como uma
canônicos ou não, brinca nomenclatura
com a linguagem, investe gramatical. Não se dão
as formas linguísticas de nomes aos bois nem aos
novas significações boiadeiros
Atividade epilinguística:
reflexão/análise
Trata-se de levar o aluno desde cedo a
diversificar os recursos expressivos
com que fala e escreve e a operar
sobre sua própria linguagem,
praticando a diversidade dos fatos
gramaticais de sua língua
Atividade metalinguística:
sistematização
Por um lado, a atividade Por outro lado, a atividade
epilinguística se liga à epilinguística abre as portas para um
atividade linguística (de trabalho inteligente de
produção) porque opera sistematização gramatical, porque é
sobre enunciados já somente sobre fatos relevantes de
produzidos sua língua que o aluno pode fazer
hipóteses sobre o caráter
sistemático das construções
Assim se dá a atividade linguísticas
metalinguística, de
sistematização e
classificação
Para discutir...
Em sua opinião, por qual motivo ainda prevalece, no contexto escolar, a
proposição de atividades metalinguísticas?
Em sua vivência escolar, de que forma as atividades metalinguísticas eram
realizadas? Como eram os exercícios, as avaliações, etc.?
Você, como aluno ou professor, já teve contato com algum tipo de
atividade epilinguística na escola? Se sim, conte-nos sobre a experiência.
Em sua visão, por que atividades epilinguísticas são preteridas nas aulas de
Língua Portuguesa?
De que forma a concepção de ensino de gramática baseada em
atividades linguísticas, epilinguísticas e metalinguísticas dialoga com a
concepção de ensino de LP teorizada por Geraldi?
REFERÊNCIA
FRANCHI, C. Criatividade e gramática. São Paulo:
SE/CENP, 1991.
OBRIGADA!
ATÉ A PRÓXIMA
AULA!