LITERATURA INFANTIL NA ALFABETIZAÇÃO: O QUE, POR QUÊ?
Gabriela Fiorin Rigotti e Maria Jussara Zamarian (orientação)*
Simone Rezende S. Vicente, Marcela Mendes Monteiro,
Rute Gomes N. da Silva e Jaqueline Maria de Oliveira.
Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu-SP).
A literatura infantil encontra suas origens na Novelística Popular
Medieval, a qual tem seus primeiros registros na Índia. No entanto, a literatura
infantil apenas constitui-se como gênero durante o século XVII, época em que as
mudanças na estrutura social desencadearam repercussões também no âmbito
artístico.
Quanto ao Brasil, segundo Nelly Novaes Coelho (1983), devemos tomar
a obra de José Bento Monteiro Lobato como um marco da literatura infantil
nacional.
Como a literatura infantil prescinde do imaginário das crianças, sua
importância se dá a partir do momento em que elas tomam contato oralmente
com as histórias, e não somente quando se tornam leitores. Desde muito cedo,
então, a literatura torna-se uma ponte entre histórias e imaginação, já que “é
ouvindo histórias que se pode sentir... e enxergar com os olhos do imaginário...
abrir as portas à compreensão do mundo”. (ABRAMOVICH,1995, p.17).
Justamente por isso o uso da literatura infantil como parte integrante do
processo de alfabetização é muito importante, e tal importância e uso são
crescentes na educação formal brasileira. Isso porque a educação
contemporânea prevê que, unindo-se literatura e alfabetização, a criança
entraria em contato com o mundo letrado não só ampliando seu vocabulário e
proporcionando maior conhecimento da formação de textos, mas também
exercitando o poder de sua imaginação.
No entanto, nem sempre se atribui à literatura infantil a importância
merecida. Muitas vezes, ela é apenas utilizada como pretexto educativo para o
ensino da língua portuguesa e de suas normas. Ou, ao contrário, muitas vezes
não se explora a literatura enquanto produto letrado, dando a ela apenas o
brilho do lúdico e da brincadeira.
A impressão que se tem é que a literatura é tomada, quando em relação
com a alfabetização, apenas como mote para a aprendizagem da leitura,
esquecendo-se que também a escrita faz parte deste processo e pode, e deve,
ser incitada pelas histórias infantis.
Segundo Maria Solange Millis Romani, pedagoga da UFSC, não haveria
aspectos negativos na utilização da literatura infantil no período da
alfabetização. Ao contrário, esta deveria ser tomada como mais um instrumento
facilitador da aprendizagem, mesmo antes da criança aprender a ler. Ouvir
histórias e manusear os livros seria, assim, muito importante para o aprendizado
da criança e para o exercício de suas competências imaginativas.
Ainda, segundo Magda Soares (apud Evagenlista, 2001), as relações
existentes entre o processo de escolarização e a literatura infantil podem ser
interpretadas em duas perspectivas: em uma primeira perspectiva, tais relações
estariam na apropriação, pela escola, da literatura infantil; ou seja, haveria uma
literatura que seria destinada à escolarização, ou da qual a escola lança mão
*
Gabriela Fiorin Rigotti é pedagoga, mestre em Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte pela
UNICAMP e Professora das Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu-SP).
Maria Jussara Zamarian é pedagoga, Coordenadora Pedagógica da Escola estadual “Conjunto
Habitacional Campinas F1”, Formadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores-
PROFA e Professora das Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu-SP)
para incorporá-la às suas atividades de ensino e aprendizagem, fazendo dela
uma literatura escolarizada.
Numa outra perspectiva, a conjugação entre literatura infantil e
alfabetização é interpretada como sendo a produção, para a escola, de uma
literatura destinada às crianças; ou seja, abrangeria não só a leitura, mas
também o processo pelo qual a literatura é produzida para escola, para os
objetivos da escola, para ser consumida na escola, pela clientela escolar,
buscando literalizar a escolarização infantil.
No entanto, nenhuma destas duas perspectivas leva em consideração o
fato de também as crianças produzirem textos, também elas serem escritores
incitados pelo que lêem; produtores, enfim, de histórias. Devemos, pois, pensar
na relação entre alfabetização e literatura como algo mais amplo e abrangente,
já que nesta afinidade, ambas, literatura e alfabetização, são modificadas e
recriadas.
Observando a obra “A Psicogênese da Língua Escrita” (1999), de Emília
Ferreiro e Ana Teberosky, vemos que não há indicações precisas de como
produzir o ensino para a alfabetização, já que esta metodologia é estruturada
em torno dos princípios que organizam a prática do professor. Porém, um desses
princípios é o fato de a criança aprender a ler e escrever lendo e escrevendo,
mesmo sem saber ainda exatamente como tais processos se realizam e se
encaminham.
Com isso, poderíamos prever que, quando usamos a literatura para
ensinar a escrever, além de tornarmos o processo mais lúdico e significativo,
também fazemos os alunos produzirem textos e, assim, melhoramos a própria
produção de histórias. Isso porque a literatura, quando usada como suporte
pedagógico para a alfabetização, a engrandece e é engrandecida por ela.
Conclui-se que esta relação entre literatura e alfabetização está cada
vez mais próxima e deve melhorar! Para tanto, devemos atentar para o fato de
que a literatura infantil não deve ser usada somente com a intenção pedagógica
e didática ou para incentivar o hábito de leitura, apesar de estes serem motivos
justificáveis.
Mais que isso, a literatura deve dar espaço para o imaginário e a
fantasia da criança, não só no ato da leitura, mas também no da escrita. Ou
seja, a literatura infantil deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo,
em sua ambigüidade e pluralidade.
A intencionalidade da atuação de um professor com o intuito de
promover a alfabetização no ambiente escolar, usufruindo da literatura infantil,
deveria ser de agir de forma a disponibilizar o lúdico e o significativo para os
alunos através da literatura. Isto sem, no entanto, usa-la como artifício ou
simples pretexto para ensinar ortografia ou gramática.
Para que os educandos vejam a escola como um local agradável, alegre
e prazeroso, deve-se oferecer a literatura infantil como instrumento para a
sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade e interesse de
analisar o mundo. Assim, mesmo antes da criança aprender a ler, deve-se incita-
la a ouvir histórias e manusear livros.
Além disso, deve-se propor possibilidades de escrita aos alunos, pois
assim estaremos formando não só leitores, mas também escritos!
“A linguagem escrita não é exclusivamente
literatura - por isso, é preciso trabalhar outros textos -
mas a boa literatura é a culminação da linguagem escrita.
Ela é uma parte fundamental da boa cultura que a escola
deve pôr ao alcance das crianças”. (Curto, 2000).
Enfim, a alfabetização, em conjunto com a literatura, tem o potencial de
tornar-se mais acessível e lúdica, enquanto a literatura, em conjunto com a
alfabetização, poderia se compor como forma de expressão para os alunos -
uma dualidade não só interessante, mas também necessária ao nosso país
sempre carente de (in)formação!
BIBLIOGRAFIA
ABRAMOVICH, Fani. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo;
Scipione, 1995.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil
Brasileira. São Paulo: Quíron, 1983.
CURTO, Lluís Novaes, MORILLO, Maribel Ministral, TEIXIDÓ, Manuel Miralles.
Escrever e Ler – Materiais e recursos para a sala de aula. Porto Alegre: Artmed,
2000.
EVANGELISTA, Aracy Alves Martins, BRANDÃO, Maria Brina, MACHADO, Maria
Zélia Versani (orgs). A Escolarização da Leitura Literária – O jogo do livro infantil
e juvenil. Belo horizonte: Autêntica, 2001.
FERRERO, Emília e TEBEROSKY, ANA. Psicogênese da Língua Escrita. Porto
Alegre; Artmed, 1999.
STEFANI, Rosaly. Leitura: que espaço é esse? Uma conversa com educadores.
São Paulo: Paulus, 1997.