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Transição Religiosa

O Brasil está passando por uma significativa transição religiosa, com uma queda na hegemonia católica e um aumento nas filiações evangélicas, refletindo mudanças sociais e demográficas. Dados censitários mostram que a proporção de católicos caiu de 97% em 1970 para 86,8% em 2010, e a previsão é que essa tendência continue, com evangélicos possivelmente superando católicos até 2040. O artigo analisa a distribuição espacial dessa transição, destacando a importância de entender as dinâmicas regionais e locais das filiações religiosas.

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Transição Religiosa

O Brasil está passando por uma significativa transição religiosa, com uma queda na hegemonia católica e um aumento nas filiações evangélicas, refletindo mudanças sociais e demográficas. Dados censitários mostram que a proporção de católicos caiu de 97% em 1970 para 86,8% em 2010, e a previsão é que essa tendência continue, com evangélicos possivelmente superando católicos até 2040. O artigo analisa a distribuição espacial dessa transição, destacando a importância de entender as dinâmicas regionais e locais das filiações religiosas.

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Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil1

José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi,


Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

Introdução

Os dados dos censos demográficos do ibge mostram que o Brasil está passando por
uma grande transformação na sua moldura de filiações religiosas. A aceleração das
mudanças econômicas, sociais e demográficas, passando de uma conformação rural-
-agrária para uma configuração urbano-industrial, provocou descontinuidades entre
uma época marcada pelo baixo ritmo de mudança e uma nova era, de ritmo acelerado,
em que o tempo e o espaço são mutáveis e constantemente desestabelecidos. Na se-
gunda modernidade, como mostrou Giddens (1991), a reflexividade passa a ser uma
característica fundamental das ações humanas, havendo diferentes “mecanismos de
desencaixe” que deslocam as relações sociais dos seus contextos locais de interação.
A ordem social tradicional tem sofrido sucessivos abalos e liberado forças reprimi-
das e concentradas que explodem em novas formas de relacionamento, gerando
uma dinâmica de ondas consecutivas de mudanças e inovações que se difundem
pelo território nacional, em diferentes ritmos, às vezes superpostas, mas ainda sem
encontrar uma nova acomodação. As novas gerações vivem em um mundo diferente
daquele dos seus antepassados e são mais sucetíveis à migração religiosa, às novas
formas de pertencimento e às diferentes experiências religiosas, não necessariamente
institucionalizadas.

1. Este artigo é resultado de pesquisa que contou com o apoio recebido do Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico (cnpq), Brasil, Edital Universal.
Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

Os quinhentos anos de hegemonia católica no Brasil não significaram exclusividade


e ausência de outras filiações religiosas e demais religiosidades. A população indígena,
que sofreu um genocídio nos primeiros séculos da colonização (Livi Bacci, 2002), não
deixou de praticar, a seu modo, as tradições religiosas ameríndias e a espiritualidade
dos povos da floresta, embora, numericamente, essas práticas estejam presentes em
uma fração pequena da população brasileira. No período colonial e na vigência da
escravidão houve uma consolidação das religiões africanas por meio de ressignificações
de crenças e ritos que passaram a fazer parte da cultura do país e dos processos de
interação étnica e racial (Bastide, 1971). Mas o número de pessoas que se declaram
adeptas das religiões afro-brasileiras nunca foi muito grande nos levantamentos censi-
tários. O fato é que, com a miscigenação e o sincretismo religioso, as terras brasileiras
tornaram-se palco do encontro de três grandes tradições culturais: a católica europeia,
a nativa das Américas e a africana, com clara hegemonia da primeira. Dessa forma,
no período colonial, prevaleceram a dominação portuguesa e o catolicismo como
religião oficial: “A religião do Estado era a católica e os súditos, isto é, os membros da
sociedade, deviam ser católicos” (Fausto, 1995, p. 60). Após a Independência (1822)
chegaram ao Brasil imigrantes ingleses anglicanos e imigrantes europeus luteranos,
especialmente em Nova Friburgo-rj, São Leopoldo-rs e na região serrana capixaba
(Mafra, 2001). Essa migração teve importância na formação de alguns municípios
brasileiros que já nasceram com maioria protestante. Porém, o Censo demográfico de
1890 apontava que os católicos representavam 99% da população brasileira.
A presença dos chamados “evangélicos de missão” aumentou ao longo do tempo,
mas o crescimento expressivo das filiações protestantes só adquiriu expressão de
ameaça à hegemonia católica após as sucessivas ondas de crescimento das deno-
minações pentecostais que ocorreram a partir do início do século xx. A primeira
onda, chamada de “pentecostalismo clássico”, teve início em 1910 com a fundação
da Congregação Cristã no Brasil e, em 1911, com a Assembleia de Deus. A segunda
onda teve início em 1950 com a fundação da Igreja do Evangelho Quadrangular
(ieq). A terceira onda – chamada neopentecostal – começou em 1970 e deu origem
à Igreja Universal do Reino de Deus, à Igreja Internacional da Graça de Deus, à Igreja
Renascer em Cristo, entre outras (Mariano, 1996).
Nota-se, portanto, que os cristãos (católicos apostólicos romanos + evangélicos
tradicionais e pentecostais) são o grupo religioso amplamente majoritário. Mas o
aumento da pluralidade religiosa fez o percentual de cristãos cair de 97% em 1970,
para 89,3% em 2000 e para 86,8% em 2010. Além disso, dentro desse grupo há um
movimento acelerado de queda dos católicos e de crescimento dos evangélicos.
Esse processo de transição religiosa não é exclusivo do Brasil, mas ocorre em
outros países da América Latina. O estudo “Religião na América Latina”, do Insti-

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José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

tuto de Pesquisas pew (2014), mostrou que o número de pessoas que se declaram
protestantes continua crescendo em todo o continente, enquanto aquelas criadas no
catolicismo vêm deixando a religião. No total da região, 69% dos latino-americanos
identificam-se como católicos, apesar de 84% afirmarem ter o catolicismo como reli-
gião de criação. No Brasil, uma em cada cinco pessoas é ex-católica. Ainda segundo
o Instituto pew, o Brasil, embora com a maior população católica do planeta, tinha
somente 61% dos habitantes declarando-se católicos (menos que no Censo 2010).
O instituto considera que até 2030 o Brasil não terá mais maioria católica.
Diversos estudos já apontavam para o processo de perda da hegemonia católica,
como os artigos de Sanchis (1997) e Decol (1999). Em seu título, o artigo de Birman
e Leite (2002) perguntava: “O que aconteceu com o antigo maior país católico do
mundo?” Com a divulgação do Censo demográfico 2010, do ibge, os estudos se
multiplicaram. No texto “Números e narrativas”, a pesquisadora Clara Mafra, que
agregou o grande conhecimento das abordagens teóricas com a prática empírica
de consultora externa do ibge para classificação das religiões, oferece uma visão
panorâmica da dinâmica religiosa com base nos dados do Censo 2010 e observa:
“Para desenvolver suas habilidades analíticas, os especialistas de religião deveriam
ter uma quantidade maior de números brutos de origem censitária para trabalhar”
(Mafra, 2013, p. 14). Steil, comentando o texto anterior, recomenda evitar tratar
“cada igreja ou grupo religioso num território fechado, ainda que poroso e marcado
por um trânsito intenso de fiéis, símbolos, ideias e objetos” (Steil, 2013, p. 29). Mariz
(2013) chama a atenção para a necessidade de se ampliar o conhecimento sobre a
metodologia de pesquisa do ibge e as mudanças ocorridas no campo religioso.
Evidentemente, não se deve “reduzir a pluralidade do campo religioso brasileiro
à mera polarização minorias x maiorias” como apontou Fernandes (2015, p. 305).
Mas sem desconsiderar as recomendações metodológicas e teóricas e as diferentes
possibilidades de análise, alguns artigos recentes concentram suas análises nos mo-
vimentos mais agregados da mudança religiosa brasileira e estimam que os católicos
podem perder a maioria populacional até 2030 e podem ser ultrapassados pelos
evangélicos até 2040 (Alves et al., 2012; Camurça, 2013; Coutinho e Golgher, 2014).
Considerando que a transição religiosa é um fenômeno que está em curso e precisa
ser mais bem quantificado, qualificado e compreendido, o objetivo deste artigo é
analisar o processo de mudança da hegemonia religiosa entre os dois maiores grupos
religiosos do Brasil: católicos e evangélicos. Não é foco deste texto analisar o quadro
da diversidade e da pluralidade religiosa que acompanha o processo de transição,
bem como as especificidades das diferentes denominações evangélicas em curso
e do grupo dos sem religião. Outros artigos já trabalharam e deram importantes
contribuições ao estudo da questão da distribuição espacial das filiações religiosas

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Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

e a “geografia das religiões” no Brasil, com um olhar mais quantitativo, particular-


mente os textos “Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil” ( Jacob et
al., 2003) e “Religião e território no Brasil: 1991/2010” (Idem, 2013). Contudo, a
novidade do presente artigo é trabalhar, de maneira específica, um indicador sintético
da transição religiosa que é a razão entre evangélicos e católicos (rec) para todos os
municípios brasileiros, o que permite realçar as principais especificidades ocorridas
nas grandes regiões brasileiras e nas Unidades da Federação. A importância desta
análise é também dar subsídios para entender a dinâmica das tendências locais e
regionais, com vista a uma melhor predição da evolução da transição religiosa e um
quadro mais provável no futuro próximo da distribuição das afiliações religiosas no
Brasil, uma vez que a razão entre evangélicos e católicos é considerada uma alavanca
para essa transição, culminando em um aumento tanto da pluralidade como do
segmento dos sem religião.

Abordagens sobre as transformações religiosas no Brasil

Existe um consenso na literatura dos estudos de religião de que a Igreja católica perdeu
sua antiga condição de monopólio e pilar da sociedade, deixando de ser “a religião dos
brasileiros” (Menezes, 2012, p. 10). Outro consenso é que, nas últimas décadas, há
uma “transformação do campo religioso no Brasil” (Sanchis, 2012, p. 5). De fato, o
declínio do catolicismo já vinha sendo objeto de estudo, pelo menos, desde a década
de 1970 (Camargo, 1971). Porém, não havia clareza e concordância sobre o ritmo e
o grau da queda da religião hegemônica. Não estava claro se era um movimento pen-
dular, de fluxo e refluxo, tipo conjuntural, ou de um processo de transição estrutural
das filiações religiosas no Brasil.
Analisando as transformações do campo religioso brasileiro com base nos dados
de uma pesquisa do final da década de 1990, Almeida e Montero (2001) constatam
que os católicos funcionam como uma espécie de “doador universal”, de onde todos os
segmentos arregimentam boa parte dos seus fiéis. Porém, consideram a possibilidade
de uma reversão da queda por meio de uma “readesão” a um catolicismo renovado
e reformado:

O quadro geral, portanto, é de perda de católicos, tendo como base os dados censitários de
1980 e 1991. Mantida esta tendência, muito provavelmente essa geração que se encontra en-
tre 26 e 40 anos produzirá, em alguns anos, uma população ainda menos católica, devido ao
crescimento vegetativo de outras religiões, além da sua capacidade de atração de novos adeptos.
Em contrapartida a esta projeção, a consolidação do movimento carismático pode inverter esse
comportamento ao promover a “readesão” ao catolicismo (Almeida e Montero, 2001, p. 93-94).

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José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

Os autores trabalham com a ideia de “trânsito religioso”2 e de circulação de pessoas


pelas diversas alternativas religiosas. Assim, o trânsito teria “mão dupla”, embora os
autores considerem que o fluxo principal ocorra principalmente das denominações
tradicionais para as pentecostais e “muito pouco no sentido inverso” (Idem, p. 100).
Em outro momento, perguntado se o Brasil terá uma maioria pentecostal, Almeida
(2008) não dá uma resposta conclusiva, mas considera pouco provável uma maioria
evangélica no Brasil. Em um texto mais recente, denominado “Transição religiosa
no Brasil”, Almeida e Barbosa (2015) consideram a transição mais do ponto de
vista do aumento da pluralidade do que da mudança de hegemonia entre católicos
e evangélicos.
Considerando a existência de uma transição católica e uma evangélica, Freston
(2010) acredita que a debilidade institucional levará forçosamente à perda do status
da Igreja católica e à diminuição de seu número de fiéis, mas a queda teria um piso
em torno de 40%. Ao mesmo tempo, o crescimento das filiações evangélicas teria
um teto (menos de 40%), já que, segundo o autor, o protestantismo recebe pouco
mais de uma em cada duas pessoas que abandonam o catolicismo no Brasil.
Em contraponto, o pesquisador Marcelo Neri (2007), no estudo Economia das
religiões, vislumbrou a interrupção da queda dos católicos no Brasil. Comparando
dados do Censo demográfico de 2000 com os dados da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (pof) de 2003/2004, concluiu que o processo de declínio dos católicos
havia estancado:

O trabalho atual demonstra, a partir do processamento de microdados de alta qualidade


estatística produzidos pelo ibge, que pela primeira vez em mais de um século a proporção de
católicos no Brasil parou de cair, mantendo-se surpreendentemte estável no primeiro quarto
de década, com 73,79% em 2003 (Neri, 2007, p. 4)3.

Todavia, outros estudos da época apontavam não somente para a continuidade


da queda dos católicos, mas também para a falta de dinamismo de outras religiões
tradicionais, como os evangélicos de missão, a umbanda e o candomblé. No artigo
“Bye bye, Brasil”, Pierucci chama a atenção para o processo de “pós-tradicionalização
religiosa acelerada”. Ele constata: “Três das principais religiões classificadas pela
sociologia como tradicionais, mesmo que cada qual seja tradicional à sua maneira,

2. Almeida (2008) pensa o trânsito religioso em três dimensões: (a) como mobilidade, pluralismo, diversida-
de, mercado; (b) como circulação de conteúdos simbólicos e práticas rituais por meio de cópias, oposições,
concorrência; (c) a terceira dimensão enfoca o indivíduo, em vez da análise do ponto de vista da instituição.
3. O coeficiente de variação do censo é muito diferente da pof, assim como o grau de cobertura e a metodo-
logia das duas pesquisas. O ibge não recomenda fazer comparações desse tipo, sem as devidas precauções.

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mostram hoje sérios sinais de cansaço, mais do que isso, de exaustão em sua capacidade
de reprodução ampliada” (2004, p. 17).
O Censo demográfico 2010 confirmou essas tendências. Segundo Teixeira (2012),
as estratégias realizadas no campo da Renovação Carismática Católica (rcc) não
surtiram os efeitos desejados para reverter o declínio da religião majoritária do Brasil.
Ele concorda com a estimativa feita por Alves, Barros e Cavengahi (2012) de que
os católicos terão um índice menor que 50% até 2030 e de que haverá um empate
com o grupo evangélico até 2040. Mas não chega a dizer que existe uma transição
religiosa em curso. Na apresentação do livro Religiões em movimento: o Censo de
2010, Teixeira constata que

[…] não há como negar a força do referencial cristão na sociedade brasileira. Mas já se começa
a perceber nele uma diversificação cada vez mais evidenciada. Junto com essa multiformidade
interna ao campo cristão, verifica-se também uma pluralização religiosa cada vez maior, com
visibilização crescente. (2013, p. 25).

Enquanto os católicos encolheram, os evangélicos cresceram no outro polo cris-


tão, como detalhado na análise de Mariz e Gracino Jr. (2013), com base nos dados
da primeira década do século xxi, que mostra uma estabilização dos evangélicos
tradicionais, um crescimento dos evangélicos pentecostais e neopentecostais e um
crescimento ainda maior dos “evangélicos não determinados”. Embora os autores
questionem até que ponto os dados dos “evangélicos genéricos” ou “evangélicos
sem igreja” sejam confiáveis, eles consideram que os “evangélicos que não declaram
sua denominação estão em um patamar intermediário entre os pentecostais e de
missão, sugerindo que esse grupo pode ser uma mistura desses dois outros” (Mariz
e Gracino Jr., 2013, p. 155).
Para entender a correlação de forças entre católicos e o conjunto dos evangélicos
(tradicionais, pentecostais e indeterminados), Camurça (2013) busca analisar as
tendências perguntando se haverá uma reversão, com os evangélicos superando os
católicos, ou se se trata simplesmente de um aumento da pluralidade, da diversifica-
ção e da secularização do campo religioso brasileiro. Ou seja, existe uma dúvida se o
Brasil vai passar por uma transição religiosa ou apenas um aumento da pluralidade
das crenças. O autor mostra que existem alguns intelectuais de extração católica ou
teólogos de igrejas protestantes que apoiam a visão da pluralidade, da diversidade
e do trânsito religioso. Por outro lado, existem acadêmicos que apontam para uma
mudança de hegemonia entre evangélicos e católicos.
Não há dúvida de que a mobilidade e o trânsito religioso são realidades cada
vez mais comuns no Brasil. Mas assim como há quem duvide da continuidade das

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José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

tendências de mudança de hegemonia, há também autores que consideram que o


Brasil esteja passando sim por uma transição religiosa dentro do campo cristão, com
tendência de os evangélicos (em todas as suas dimensões e diversidade) superarem
os católicos apostólicos romanos no território nacional nas duas ou três próximas
décadas (Alves e Novellino, 2006; Teixeira, 2013; Alves et al., 2014; Coutinho e
Golgher, 2014). Camurça, por exemplo, considera que:

Uma das explicações mais de fundo para o decréscimo católico é a sua grande dificuldade
para acompanhar as migrações internas que revolvem o Brasil contemporâneo. Onde os
católicos mais diminuíram e os pentecostais e sem religião mais cresceram, são as regiões
das periferias metropolitanas e as fronteiras de ocupação sem presença institucional cató-
lica. A estrutura eclesial católica centralizada e burocrática, centrada nas paróquias, não
consegue acompanhar a mobilidade dos deslocamentos populacionais como as ágeis redes
evangélicas (2013, p. 67).

Mas, independentemente do fato de haver reversão ou não da hegemonia deno-


minacional, a crônica da queda da Igreja católica tem sido abordada sob diferentes
ângulos, por diferentes autores. Para Camargo (1971), o declínio do catolicismo no
Brasil estava ligado, no plano mais geral, ao desraizamento da população rural e ao
processo de modernização do país: urbanização, industrialização e migração. Tudo
isso teria possibilitado, segundo Pierucci, uma dinamização da concorrência entre
os diferentes produtores e distribuidores religiosos em consequência da “desregula-
ção republicana da esfera religiosa” (2008, p. 14). Ainda em uma linha weberiana,
Novaes (2004) considera que o declínio do catolicismo tem relação com os ventos
secularizantes que têm soprado sobre a sociedade brasileira, atingindo principalmente
as parcelas mais jovens da população. Para Mariano, o declínio católico está ligado
não só ao processo de secularização mas principalmente à emergência e à expansão
do mercado religioso: “De modo que a desmonopolização e a destradicionalização
religiosas estão associadas à pluralização religiosa e à intensificação da concorrência
no e por mercado religioso, mas também à crescente opção individual de não filiar-se
ou de se afastar de instituições religiosas” (2013, p. 120). Menezes traz outros motivos
para esse declínio: “A Igreja Católica tem uma história milenar e uma estrutura que
é simultaneamente permeável à convivência com a heterodoxia em suas margens
internas, mas refratária a mudanças radicais que poderiam efetivamente colocá-la
em diálogo com a modernidade” (2012, p. 13).
No campo evangélico, as denominaçoes cresceram não só por meio da imigração,
mas também em decorrência do trabalho de missões conversionistas estrangeiras
e, posteriormente, em virtude da proliferação de igrejas nacionais independentes

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(Brandão, 1988). Segundo Jacob et al. (2003), o crescimento dos evangélicos de


missão foi menor que o dos pentecostais e a distribuição espacial desse grupo não
corresponde à repartição da população total do país. Os três principais núcleos com
forte presença dos evangélicos de missão estão ligados ao processo de colonização e
abarcam a região serrana do Espírito Santo, o nordeste de Santa Catarina e o norte
do Rio Grande do Sul. Os outros dois núcleos com forte presença são de migração
recente: a microrregião de Cacoal, em Rondônia, e a de Japurá, no noroeste do Ama-
zonas. Do ponto de vista demográfico, habitam mais as zonas urbanas, congregam
mais mulheres que homens e mais adultos que jovens, além de estarem mais repre-
sentados entre os brancos e os indígenas. Já a presença dos evangélicos pentecostais
corresponde à distribuição da população total, embora estejam particularmente
presentes nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Do ponto de vista demográ-
fico, os pentecostais habitam mais as zonas urbanas que as rurais, congregam mais
mulheres que homens, mais crianças e adolescentes que adultos e mais negros (pretos
e pardos) e indígenas que brancos.
Entre os grandes estados brasileiros, o Rio de Janeiro é a Unidade da Federação
mais avançada no processo de transição religiosa, sendo que a difusão das filiações
pentecostais tem um padrão muito peculiar (partindo da periferia da região me-
tropolitana para o restante do estado, seguindo a rota das grandes rodovias), con-
forme mostram Alves et al. (2014). Os autores trabalham com o refencial teórico
da inovação-difusão e mostram que o processo de “customização” e “fidelização”
encontrou terreno fértil entre os segmentos mais pobres da população, mas tende
a se expandir para as demais camadas sociodemográficas da sociedade brasileira.
Sem dúvida, o pentecostalismo cresce na base da pirâmide social, mas a pobreza
em si não explica sua expansão. Para Mariano (2001), a ideia de que o crescimento
pentecostal se dá com base na conquista do migrante desenraizado e vivendo em
situação de anomia no meio urbano tende a ser simplificadora. Também é pobre
a equação que relaciona catolicismo com sociedade tradicional, patrimonialismo e
sacralização e protestantismo com sociedade moderna, democrática e secular. O fato
é que a transição religiosa no Brasil é um processo complexo e não cabe no escopo
deste trabalho o aprofundamento de toda a discussão sociológica e antropológica
sobre a forma como se dá o crescimento das correntes evangélicas.
De maneira sintética, o panorama religoso no Brasil atual foi assim apresentado
por Pierucci: “secularização no plano jurídico-estatal => liberdade religiosa no plano
individual => agito religioso no plano cultural” (2008, p. 15). Vale a pena lembrar
as palavras de Prandi sobre a possibilidade de uma transição religiosa no Brasil e as
mudanças culturais decorrentes desse processo:

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José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

Suponhamos, por fim, que o crescimento das religiões evangélicas as leve a suplantar o ca-
tolicismo em número de seguidores. O evangelicalismo se tornaria a religião da maioria, o
catolicismo, de uma minoria. Se isso acontecesse, a cultura brasileira se tornaria evangélica?
Dificilmente. O evangelicalismo seria a religião de indivíduos convertidos, um a um, e não
a religião que funda uma nação e fornece elementos formadores de sua cultura. O processo
histórico dessa mudança seria diferente daquele que forjou a cultura católica na América.
Nesse futuro hipotético, cuja factibilidade não está aqui em discussão, a condição dada para
que o protestantismo superasse o catolicismo teria implicado, primeiro, a secularização do
Estado – já completada no presente –, e depois, a secularização da cultura – que se encontra
em andamento. Porque é com a secularização que os indivíduos tornam-se livres para escolher
uma religião diferente daquela em que nasceram (2008, p. 170).

Sem dúvida, as transformações estruturais da sociedade brasileira (urbanização,


industrialização, monetização, assalariamento, secularização etc.) tiveram uma in-
fluência na transição religiosa do país. Mas esse é apenas um lado da questão, pois as
transformações institucionais também afetaram a dinâmica religiosa. O Estado laico
e o sistema de proteção social e de direitos de cidadania, definidos na Constituição de
1988, favoreceram a pluralidade de opções religiosas. Nesse contexto, têm avançado
a transição religiosa e a mudança de hegemonia entre os dois grandes grupos cristãos,
cuja heterogeneidade e contornos espaciais serão tratados nas seções seguintes.

Tendências recentes e variações regionais

Existem diferentes maneiras de ver e interpretar o crescimento das correntes evangéli-


cas e o decrescimento do catolicismo no Brasil, assim como o aumento da pluralidade.
Qualquer que seja o ponto de vista, o fato é que a transição religiosa se acelerou no
período de 1991 a 2010, apresenta ritmos diferenciados entre as áreas urbanas e rurais
e tem claras discrepâncias regionais. Para a análise das mudanças do campo religioso,
utilizamos os microdados da amostra dos censos demográficos das últimas três décadas,
em que a pergunta sobre religião seguiu o mesmo procedimento, a partir de resposta
espontânea à questão: “Qual é a sua religião ou culto?”, com as respostas classificadas
a posteriori4. Além de distribuições em valores absolutos e relativos, utilizamos uma
comparação direta com base na razão entre o número de evangélicos e católicos (rec)5.

4. No Censo demográfico de 2010, com a inclusão do Dispositivo Móvil de Captura (dmc) de dados, foi
disponibilizada ao entrevistador uma lista previamente obtida na pof 2008/09, mas ainda se permitia
a inserção de denominações não existentes na lista.
5. Os indivíduos definidos como “católicos” neste artigo foram aqueles classificados no grupo 11 – “ca-
tólica apostólica romana” da respectiva variável nos censos. De forma análoga, foram definidos como

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Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

Constatamos que, na última década, pela primeira vez na história caiu o número
absoluto de católicos, como pode ser visto na Tabela 1. No meio urbano houve cres-
cimento absoluto mas redução relativa, enquanto no meio rural o declínio ocorreu
em termos absoluto e relativo. Já os evangélicos apresentaram crescimento absoluto e
relativo tanto nas áreas urbanas como rurais. Dessa forma, a razão entre evangélicos
e católicos no Brasil passou de 10,8% em 1991 para 21% em 2000 e 34,3% em 2010.

tabela 1
Número Absoluto de Católicos e Evangélicos, Taxa de Crescimento Anual e Razão entre Evangélicos
e Católicos (rec), por Situação de Domicílio, Brasil: 1991-2010
Anos Católicos Evangélicos
rec
Situação do Crescimento Crescimento
População População (%)
Domicílio médio anual médio anual
Total

1991 121  812  771 13  157  383 10,8

2000 124  980  132 0,29 26  184  941 7,95 21,0

2010 123  280  172 -0,14 42  275  440 4,91 34,3

Urbano

1991 89  153  202 10  674  013 12,0

2000 98  475  959 1,11 22  736  910 8,77 23,1

2010 100  055  896 0,16 37  824  089 5,22 37,8

Rural

1991 32  659  569 2  483  370 7,6

2000 26  504  174 -2,29 3  448  031 3,71 13,0

2010 23  224  277 -1,31 4  451  350 2,59 19,2

Fonte: ibge, Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Em 1991, a rec no meio urbano era de 12%, passou para 23,1% em 2000 e
chegou a 37,8% em 2010, quase o dobro do que apresentou o meio rural (19,2%)
neste último ano. Embora o crescimento dos evangélicos seja maior nas cidades,
houve também crescimento no meio rural. Como apontado nas tendências ocorridas
nos anos de 1990 e 2000, em outros estudos ( Jacob et al., 2003; Campos, 2008), a
transição religiosa é um fenômeno geral, e continua a ocorrer de forma mais intensa
e acelerada nas aglomerações urbanas, mas avança também no meio rural.

“evangélicos” aqueles classificados nos grupos de 21 a 49, que englobam tanto os evangélicos de matriz
tradicional como os pentecostais e os não determinados.

224 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

A Tabela 2 mostra que a transição religiosa avançou e que os católicos caíram em


termos relativos em todas as regiões, unidades da federação e em todos os períodos.
Caíram também, em valores absolutos, entre 2000 e 2010 nas regiões Sudeste e Sul.
Embora, em termos de volume, a região Sudeste tenha quase a metade de todos os evan-
gélicos brasileiros, a região Norte, como já demonstrado para o ano 2000 em Campos
(2008), é o território com maior crescimento relativo do grupo de evangélicos, pois
a rec passou de 13,7% em 1991 para 27,7% em 2000 e 47% em 2010. Em seguida
está a região Centro-Oeste com 45 evangélicos para cada cem católicos e, em terceiro
lugar, a região Sudeste com 41,3 evangélicos para cada cem católicos. As regiões com
menor relação entre evangélicos e católicos, em 2010, são o Sul (com rec de 28,8%)
e o Nordeste (com rec de 22,7%).
Os dois estados mais adiantados na transição religiosa são Rondônia, que tinha
uma rec de 29,3% em 1991, passou para 47,3% em 2000 e chegou a 71,1% em 2010,
e o Rio de Janeiro, onde a rec, nos três censos, foi, respectivamente, de 20%, 39,5%
e 64,1%. Ou seja, as maiores transformações na relação entre evangélicos e católicos
ocorreram em estados com características econômicas, sociais e demográficas muito
contrastantes, o que sugere cuidado com as explicações teóricas unidimensionais,
apontando para a complexidade e a diversidade das transformações religiosas em
curso no país.
Um pouco aquém de Rondônia e Rio de Janeiro, mas à frente da maioria dos
outros estados brasileiros, aparecem Acre, Espírito Santo, Roraima e Amazonas com
rec, em 2010, respectivamente, de 62,9%, 62,1%, 61,6% e 52,4%. Em todos esses
casos, os evangélicos já representam mais da metade do contingente de católicos.
Um dos motivos para o grande crescimento dos evangélicos nos estados da região
Norte, segundo Jacob et al. (2003), foram as frentes migratórias e o processo de
ocupação recente que não foi acompanhado por uma expansão das igrejas católicas.
Já o estado com a maior resiliência católica é o Piauí, que tinha uma rec de so-
mente 3,1% em 1991, passou para 6,7% em 2000 e estava em 11,4% em 2010. Sergipe
e Paraíba tinham recs de 15,4% e 19,7% em 2010. Da região Nordeste, o estado
mais adiantado na transição religiosa é Pernambuco (rec de 30,8% em 2010). Na
região Sudeste, o estado com menor alteração na rec é Minas Gerais (com 28,7% em
2010). Na região Centro-Oeste as unidades mais avançadas no processo são Goiás
(47,7% em 2010) e o Distrito Federal (47,5% em 2010), seguidos do Mato Grosso
do Sul e, por último, do Mato Grosso. Os três estados da região Sul tinham uma
rec entre um quarto e um terço, com a dianteira da transição cabendo ao Paraná.
Buscando um maior detalhamento geográfico, a Tabela 3, com dados para 2010,
mostra a população e as filiações de católicos e evangélicos nas doze maiores regiões
metropolitanas (rm) do Brasil (não inclui Brasília/df), separando as capitais, ou

agosto 2017 225


Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

tabela 2
Número Absoluto de Católicos e Evangélicos (por 1.000.000) e Razão entre Evangélicos
e Católicos (rec), por Região e ufs, Brasil: 1991-2010
Brasil 1991 2000 2010
Região Católico Evangélico rec Católico Evangélico rec Católico Evangélico rec
e uf % % %
Brasil 121,8 13,2 10,8 124,9 26,2 20,9 123,3 42,3 34,3
no 8,4 1,1 13,7 9,2 2,6 27,7 9,6 4,5 47,0
ro 0,8 0,2 29,3 0,8 0,4 47,3 0,7 0,5 71,1
ac 0,4 0,0 11,1 0,4 0,1 29,9 0,4 0,2 62,9
am 1,8 0,2 11,6 2,0 0,6 29,7 2,1 1,1 52,4
rr 0,2 0,0 12,7 0,2 0,1 33,8 0,2 0,1 61,6
pa 4,2 0,5 12,8 4,6 1,1 24,5 4,8 2,0 42,0
ap 0,2 0,0 12,9 0,3 0,1 25,5 0,4 0,2 44,0
to 0,8 0,1 9,3 0,9 0,2 20,7 0,9 0,3 33,8
ne 37,9 2,0 5,2 38,2 4,9 12,8 38,3 8,7 22,7
ma 4,5 0,3 6,9 4,6 0,6 14,0 4,9 1,1 23,1
pi 2,4 0,1 3,1 2,6 0,2 6,7 2,7 0,3 11,4
ce 5,9 0,3 4,3 6,4 0,6 9,5 6,7 1,2 18,6
rn 2,2 0,1 4,6 2,3 0,2 10,7 2,4 0,5 20,3
pb 3,0 0,1 3,9 2,9 0,3 10,4 2,9 0,6 19,7
pe 6,1 0,5 8,2 5,9 1,1 18,2 5,8 1,8 30,8
al 2,3 0,1 3,9 2,3 0,3 11,3 2,3 0,5 22,0
se 1,3 0,1 4,3 1,5 0,1 8,8 1,6 0,2 15,4
ba 10,2 0,7 6,7 9,7 1,5 15,1 9,2 2,4 26,7
sd 50,3 6,4 12,8 50,1 12,7 25,3 47,8 19,8 41,3
mg 13,7 1,2 8,9 14,1 2,4 17,3 13,8 4,0 28,7
es 1,9 0,5 23,4 2,0 0,8 39,6 1,9 1,2 62,1
rj 9,3 1,8 20,0 8,0 3,2 39,5 7,3 4,7 64,1
sp 25,4 2,9 11,5 26,0 6,3 24,2 24,8 9,9 40,1
su 18,4 2,6 14,0 19,4 3,8 19,8 19,2 5,5 28,8
pr 7,1 1,0 13,6 7,3 1,6 21,7 7,3 2,3 31,9
sc 3,9 0,5 13,5 4,3 0,8 18,6 4,6 1,3 27,4
rs 7,4 1,1 14,5 7,8 1,5 18,7 7,4 2,0 26,6
co 7,6 1,0 13,9 8,0 2,2 27,3 8,4 3,8 45,0
ms 1,4 0,2 13,3 1,4 0,4 26,2 1,5 0,6 44,6
mt 1,7 0,2 13,4 1,8 0,4 22,8 1,9 0,7 38,7
go 3,2 0,5 14,8 3,4 1,0 29,3 3,5 1,7 47,7
df 1,2 0,2 13,1 1,4 0,4 29,5 1,5 0,7 47,5

Fonte: ibge, Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010.

226 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

tabela 3
População (por 1.000) e Razão (em 100) entre Evangélicos e Católicos (rec) nas Doze Maiores Regiões Metropo-
litanas (rm), no Núcleo da rm e na Periferia da rm, 2010
Região Metropolitana Capital/Núcleo da rm Periferia da rm

Evangélico

Evangélico

Evangélico
Católico

Católico

Católico
(b/a) %

(b/a) %
Cidades/rm

(b/a)
rec

rec

rec
(B)
(a)

(a)

(a)
(b)

(b)

%
Total 35  552,1 16  597,6 46,7 20  195,5 8  316,4 41,2 15  356,6 8  281,2 53,9

São Paulo 11  120,0 4  856,9 43,7 6  549,8 2  487,8 38,0 4  570,2 2  369,1 51,8

Rio de Janeiro 5  293,2 3  381,0 63,9 3  229,2 1  477,0 45,7 2  064,1 1  904,0 92,2

Belo Horizonte 3  246,6 1  459,4 45,0 1  422,1 595,2 41,9 1  824,5 864,2 47,4

Porto Alegre 2  577,0 695,6 27,0 897,4 164,8 18,4 1  679,6 530,7 31,6

Fortaleza 2  478,3 772,4 31,2 1  664,5 523,5 31,4 813,8 248,9 30,6

Curitiba 1  988,6 80,4 40,4 1  088,3 424,6 39,0 900,3 379,5 42,2

Recife 1  856,2 1  057,6 57,0 835,3 384,3 46,0 1  020,9 673,3 66,0

Salvador 1  801,4 741,5 41,2 1  379,3 524,3 38,0 42,2 217,2 51,5

Campinas 1  660,5 745,6 44,9 636,7 273,8 43,0 1  023,8 471,8 46,1

Belém 1  268,4 632,1 49,8 863,1 397,8 46,1 40,5 234,3 57,8

Manaus 1  141,9 741,8 65,0 96,7 640,8 66,2 174,6 101,0 57,8

Goiânia 1  119,9 709,6 63,4 66,3 422,5 63,8 457,3 287,1 62,8

Fonte: ibge, Censo demográfico de 2010.

núcleos das regiões metropolitanas, e a periferia (região metropolitana menos a ca-


pital ou núcleo). Essas doze rm concentram 33,6% da população brasileira. Nota-se
que a transição religiosa nesses grandes aglomerados (com rec de 46,7%) está mais
avançada do que a média brasileira (34,3%) e a média das áreas urbanas (37,8%).
As maiores recs estavam nas regiões metropolitanas de Manaus (65%), Rio de
Janeiro (63,9%) e Goiânia (63,4%). As menores razões em Porto Alegre (27%) e

agosto 2017 227


Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

Fortaleza (31,2%). No núcleo das rms, as maiores recs estavam em Manaus (66,2%)
e Goiânia (63,8%) e as menores também em Porto Alegre (18,4%) e Fortaleza
(31,4%). Já nas periferias das regiões metropolitanas, o destaque cabe aos arredo-
res do Rio de Janeiro, com rec de 92,2%. Isso quer dizer que os evangélicos estão
quase ultrapassando o volume de católicos na periferia da “cidade maravilhosa”. Em
seguida, aparece a periferia da rm de Recife (com rec de 66%). Ou seja, o entorno
de Recife é a área mais avançada da transição religiosa no Nordeste, funcionando
como ponto de difusão da evangelização na região. As únicas periferias de rm que
possuem rec abaixo das respectivas capitais estavam em Manaus e Goiânia, exata-
mente as duas regiões metropolitanas, juntamente com a do Rio de Janeiro, mais
avançadas na transição.
Uma síntese das diversas escalas do território metropolitano do Brasil é apresentada
na Tabela 4. Fica ainda mais evidente que a transição religiosa que alcança um índice
de 34,3% no Brasil chega a 41,2% nas capitais, a 46,7% nas doze maiores regiões me-
tropolitanas do Brasil e alcança 53,9% nas periferias destas regiões. Esses resultados
corroboram com os achados de Jacob et al. (2003), em que os evangélicos, em geral,
e os pentencostais, em particular, marcam maior presença nas periferias das regiões
metropolitanas. Mas há de se registrar que a presença evangélica ocorre em rms de
diferentes estágios de desenvolvimento, como Rio de Janeiro, Manaus e Goiânia.

tabela 4
População e Razão entre Evangélicos e Católicos nas Doze Maiores Regiões Metropolitanas (rm),
no Núcleo da rm e na Periferia da rm, 2010
Categorias Total Católicos Evangélicos Razão %

Brasil 190  755  799 123  280  172 42  275  440 34,3

Total 12 rm 64  126  340 35  552  105 16  597  577 46,7

Total 12 capitais rm 35  353  430 20  195  536 8  316  374 41,2

Total 12 periferias rm 28  772  910 15  356  569 8  281  203 53,9

Fonte: ibge, Censo demográfico de 2010.

Confirmando os dados apresentados, especialmente quanto à distribuição dos


evangélicos e ao tamanho dos municípios (Tabela 5), observa-se que a rec é maior
para aqueles municípios de médio porte, com população entre 100 mil a 999 mil, os
quais, na maioria das vezes, compõem as regiões metropolitanas e suas periferias. A
razão ainda é pequena nos municípios menores – dos quais muitos estão localizados
em zonas rurais ou em regiões muito pobres –, que ainda possuem maioria católica.

228 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

Segundo Jacob et al. (2003), essa permanência elevada de católicos no meio rural
deve-se, em parte, à imobilidade social existente ali.

tabela 5
População (por 1.000) e Razão entre Evangélicos e Católicos (rec) Segundo Tamanho do Muni-
cípio, Brasil, 1991-2010
1991 2000 2010

Evangélico

Evangélico

Evangélico
rec (d/c) %
rec (b/a) %

rec (f/e) %
Católico

Católico

Católico
Tamanho
do município

(d)
(c)
(a)

(b)

(e)

(f)
Mais de 4 milhões 11  422,9 1  489,2 13,0 10  720,6 2  834,9 26,4 9  779,0 3  964,8 40,5

1 a 3,999 milhões 11  714,6 1  562,1 13,3 12  452,5 3  230,1 25,9 13  186,3 5  628,7 42,7

500 a 999 mil 6  463,7 905,5 14,0 8  331,2 2  530,7 30,4 8  939,3 4  124,9 46,1

100 a 499 mil 24  883,9 3  538,5 14,2 27  437,6 7  447,5 27,1 28  488,9 12  734,2 44,7

50 a 99 mil 15  939,2 1  831,3 11,5 15  914,4 3  214,6 20,2 15  077,2 4  789,1 31,8

20 a 49 mil 24  303,9 2  367,4 9,7 22  963,8 3  658,8 15,9 22  642,1 5  842,6 25,8

Menos de 20 mil 27  638,7 2  338,5 8,5 27  701,9 3  510,8 12,7 25  167,4 5  191,1 20,6

Fonte: ibge, Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010.

A Tabela 6 mostra que em 1991 havia apenas dezesseis municípios onde os evan-
gélicos superavam os católicos. Todos esses municípios foram formados a partir da
migração alemã e eram majoritariamente de filiação evangélica de missão, especial-
mente da igreja luterana: dois deles no estado do Espírito Santo (Laranja da Terra e
Santa Maria de Jetibá); um no Paraná (Nova Santa Rosa); cinco no estado de Santa
Catarina (Benedito Novo, Cunha Porã, Pomerode, Rancho Queimado e Schroeder);
oito no estado do Rio Grande do Sul (Condor, Imigrante, Nova Petrópolis, Panambi,
Paraíso do Sul, Quinze de Novembro, São Lourenço do Sul e Teutônia). A popula-
ção desses municípios com maioria evangélica (de missão) somava um montante de
213,4 mil habitantes em 1991. Nesses dezesseis casos, considera-se que não se trata de
transição, uma vez que eles já nasceram e desenvolveram-se com maioria evangélica.
No ano 2000, o número de cidades com maioria evangélica passou para 34 mu-
nicípios, somando uma população de 336,7 mil habitantes: dezenove estavam no
Rio Grande do Sul e tinham grande peso das igrejas luteranas. Mas surgiram muni-
cípios com forte presença pentecostal em outros estados, como Silva Jardim, único
fluminense da lista de 2000. A transição religiosa em diversos desses 34 municípios

agosto 2017 229


Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

já se completou, pois eles tinham maioria católica em 1991e passaram a ter maioria
evangélica em 2000.

tabela 6
População por Grupos Religiosos e Razão entre Evangélicos e Católicos (rec) Média nas Cidades
com Maioria Evangélica, Brasil: 1991, 2000 e 2010
Cidades com maioria População Católico Evangélico rec média
evangélica %
16 cidades em 1991 213  361 81  983 128  691 183,1

34 cidades em 2000 336  736 128  363 184  927 178,6

73 cidades em 2010 4  475  612 1  520  180 1  790  399 158,7

Fonte: ibge, Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Em 2010, o número de cidades com maioria evangélica passou para 73 municí-


pios, dando um grande salto no volume populacional que passou para 4,5 milhões de
habitantes. O Rio Grande do Sul continuou à frente no número de municípios com
maioria evangélica com uma quantidade de 22 cidades. Já o Rio de Janeiro passou a
liderar o processo de transição religiosa, pois atingiu vinte municípios com maioria
evangélica, em especial cidades grandes como Duque de Caxias, Nova Iguaçu e
Belford Roxo (os vinte municípios fluminenses com maioria evangélica tinham uma
população total de 3,5 milhões de habitantes em 2010). Em volume de população, o
estado do Rio de Janeiro, especialmente a periferia da região metropolitana, encontra-
-se na dianteira da transição religiosa. O Espírito Santo tinha sete municípios com
maioria evangélica em 2010 e os estados de São Paulo, Goiás e Pernambuco tinham
respectivamente cinco, três e dois municípios cada. A maioria dos estados brasileiros
passou a contar com pelo menos um município com maioria evangélica.

Distribuição espacial da transição religiosa nos municípios

Para melhor apreender a transição religiosa brasileira, esta seção está dedicada a uma
análise espacial da expansão dos evangélicos em nível municipal. Para isso, foram
selecionados os anos de 2000 e 2010, pois é quando essa expansão se dá com maior
intensidade. Os Mapas 1 e 2 mostram a rec (em percentual) para os municípios
brasileiros em 2000 e 2010, onde quanto mais clara a tonalidade de cinza, maior a
proporção de católicos, e quanto mais escura, maior é a proporção de evangélicos
no município.
Com base na comparação visual (Mapas 1 e 2), nota-se o crescimento da razão
entre evangélicos e católicos na maioria das localidades, mas em ritmos diferencia-

230 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

dos. As regiões Norte e Centro-Oeste, em termos percentuais, estão mais avançadas


na transição religiosa, seguidas pelo Sudeste. Mas nesta última região, a transição
está mais avançada em termos de volume populacional. A região Sul apresenta uma
transição religiosa mais lenta, comparada com as anteriores. A região Nordeste, por
outro lado, mostra maior capacidade de resistência dos católicos, embora os evangé-
licos apresentem avanços nos municípios próximos às capitais dos estados. A região
Sudeste, pelo fato de ser a região mais populosa, mais urbanizada e com municípios de
maior porte, está, em termos absolutos, na liderança do processo de transição religiosa,
principalmente nos grandes municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Uma análise mais detalhada mostra que, na região Norte, dois municípios
apresentavam razão de evangélicos sobre católicos acima de 100% em 2010, um
em Rondônia e o outro em Roraima. A população total desses dois municípios era
de 16,7 mil habitantes, sendo 6,2 mil católicos e 6,5 mil evangélicos. Já na região
Nordeste (Mapa 2), havia três municípios com superioridade da presença evangélica
sobre católicos (rec > 100), em 2010, sendo dois municípios em Pernambuco e um
no Maranhão. No total, o volume populacional dos três municípios dessa região, em
2010, era de 66,9 mil habitantes, sendo 22,8 mil católicos e 25,8 mil evangélicos.

mapa 1
Razão de Evangélicos sobre Católicos (por 100) para os Municípios Brasileiros, 2000

Fonte: ibge, Censo demográfico de 2000.

agosto 2017 231


Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

mapa 2
Razão de Evangélicos sobre Católicos (por 100) para os Municípios Brasileiros, 2010

Fonte: ibge, Censo demográfico de 2010.

No Sudeste havia 34 municípios com maioria evangélica comparada aos católi-


cos, em 2010 (Mapa 2): dois municípios em Minas Gerais, cinco em São Paulo, sete
municípios no Espírito Santo e vinte no Rio de Janeiro. O maior município onde já
houve a transição (rec > 100) foi Duque de Caxias, com uma população total de
855 mil habitantes (299,9 mil católicos e 314,5 mil evangélicos) em 2010, seguido de
Nova Iguaçu com 796 mil habitantes (263,5 mil católicos e 294,1 mil evangélicos).
Na região Sul, havia 31 municípios com rec maior do que cem em 2010 (Mapa
2). A grande maioria, 22 municípios, estava no Rio Grande do Sul, sete em Santa Ca-
tarina e dois no Paraná. O maior município onde houve a transição foi São Lourenço
do Sul/rs, com uma população de 43 mil habitantes em 2010 (19,2 mil católicos e
20,9 mil evangélicos). Ou seja, na região Sul, de modo geral, a transição ocorreu em
municípios pequenos, somando um volume de 224 mil habitantes em 2010 (90,9
mil católicos e 122,6 mil evangélicos). No Paraná, os municípios com transição
estavam ao redor de Curitiba e na divisa com São Paulo. Em Santa Catarina e no

232 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

Rio Grande do Sul os municípios estavam espalhados pelo território do estado. Por
fim, na região Centro-Oeste havia somente três municípios com maioria evangélica
sobre católicos em 2010, todos eles no estado de Goiás (Mapa 2). Os estados de Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul não tinham municípios com transição completa (rec
> 100), embora estejam avançados no processo. No Distrito Federal, os evangélicos
já representavam 47,5% dos católicos em 2010. No total, o volume populacional dos
três municípios onde os evangélicos superaram os católicos na região Centro-Oeste,
em 2010, era de 8,7 mil habitantes (sendo 3,4 mil católicos e 4 mil evangélicos).
Olhando para o Brasil como um todo, mas com uma lente mais detalhada, pode-
-se perceber que a transição está mais avançada nas grandes cidades e nas periferias
das grandes regiões metropolitanas. Mas existe uma faixa litorânea contínua que
vai da região metropolitana de Salvador até Itajaí em Santa Catarina, avançando
por todo o litoral, onde a transição está bastante adiantada, com destaque para a
região metropolitana fluminense. Em São Paulo há uma faixa avançada na transição
que ocupa quase todo o litoral e no sul do estado, em especial na microregião que
envolve o município de Registro. Portanto, os evangélicos estão conquistando áreas
crescentes do litoral.
Vale ainda destacar que no interior de São Paulo a transição vai da costa litorânea
para o interior na direção do estado de Mato Grosso do Sul. Já nas regiões Nordeste
e Norte e no nordeste de Minas Gerais há uma grande região (polígono da seca),
dominantemente rural, onde a presença católica é muito forte.

Análise espacial exploratória

As análises descritivas apresentadas nas seções anteriores já informam bastante


sobre o processo de transição religiosa no Brasil e sua distribuição geográfica. Nesta
seção serão apresentados os resultados da aplicação dos índices de Moran global e
local – Lisa (Anselin, 1995, 1996), para buscar significância estatística nas relações
observadas anteriormente. Esses índices permitem avaliar hipóteses de autocorrelação
espacial no processo de difusão e transição religiosa, em que os municípios vizinhos
tenderiam a ser mais parecidos com relação ao valor da rec. Para o índice de Moran
local, utilizamos a matriz de vizinhança como sendo aquela em que vizinhos são
municípios que compartilham fronteiras (primeira ordem).
Em primeiro lugar, é importante destacar que na análise do índice de Moran glo-
bal, que mede correlação para todo o país, foi detectado que a razão de evangélicos/
católicos apresentava uma autocorrelação espacial positiva significativa (p < 0,01)
de = 0,66 em 2000 e = 0,68 em 2010. Isto é, aponta que existe uma dependência
estatística significante no valor da rec dos municípios no país.

agosto 2017 233


Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

mapa 3
Agrupamentos de Municípios com Base na Razão Evangélicos/Católicos (Índice de Moran Local), Brasil, 2000
e 2010

painel a – 2000 painel b – 2010

Fonte: ibge, Censo demográfico de 2010.

A análise mais detalhada das correlações espaciais, realizada com Lisa, identificou
grupos de municípios com tipos de associações distintas e significativas em grande
parte do território (Mapa 3, Painel a para 2000 e b para 2010). Este método de
agrupamento utilizado (Lisa) informa sobre diferentes tipos de associações: alto-alto,
quando a rec em um município e em seu vizinho são altas; baixo-baixo, quando nos
dois municípios são baixas; e os casos que usualmente são denominados de outliers:
alto-baixo, quando a razão em um município é alta e em seus vizinhos é baixa, e
vice-versa para a categoria baixo-alto. Os demais municípios são classificados como
não significantes, ou seja, são municípios rodeados por outros com razões elevadas
e razões baixas simultaneamente, não apresentando uma tendência espacial clara.
Os resultados mostrados no Mapa 3 confirmam com significância estatística
algumas tendências encontradas nas análises descritivas anteriores, revelando con-
glomerados de municípios que, juntamente com seus vizinhos, apresentam baixo
percentual de evangélicos comparado aos católicos (baixo-baixo), especialmente
no interior do Nordeste, interior de Minas Gerais e partes da região Sul. Por outro
lado, é possível verificar grandes agrupamentos de municípios onde a participação
relativa dos evangélicos em relação aos católicos é alta (alto-alto), como em grande
parte da região Norte, em parte do litoral do Nordeste, em uma grande faixa ao
longo de litoral do Sudeste – desde o Espírito Santo até São Paulo, com destaque
para o estado do Rio de Janeiro, e em partes da região Sul.

234 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

tabela 7
Número de Municípios e Estatísticas Descritivas da Razão Evangélicos/Católicos (rec) por 100 por Tipo de
Agrupamentos (Lisa), Brasil, 2000 e 2010
Ano e estatísticas Tipo de agrupamentos
descritivas da rec Não Significante Alto-Alto Baixo-Baixo Baixo-Alto Alto-Baixo
2000
N. de municípios 3  257 1  087 1  145 42 31
Razão evangélicos/católicos (rec)
Média 14,88 36,1 4,6 8,7 16,3
P25 8,5 22,0 2,7 7,3 12,9
Mediana 12,9 29,3 4,1 9,5 14,1
P75 18,4 40,4 6,2 10,6 16,6
Mínimo 0,0 12,1 0,0 0,0 12,1
Máximo 664,3 382,0 11,8 11,9 38,8
2010
N. de municípios 3  143 1  150 1  180 42 47
Razão evangélicos/católicos (rec)
Média 23,8 52,0 8,8 16,1 26,4
P25 14,1 35,3 5,7 13,8 21,6
Mediana 20,5 45,6 8,3 17,5 22,9
P75 29,0 61,0 11,3 19,2 26,4
Mínimo 0,4 20,1 0,7 9,0 20,1
Máximo 1  104,8 368,7 20,0 19,8 82,3
Fonte: ibge, Censos demográficos de 2000 e 2010.

Adicionalmente, a comparação das áreas em 2000 e 2010 evidencia que os


agrupamentos já conformados em 2000, com o mesmo comportamento de alta
participação de evangélicos na vizinhança, se expandem em número de municípios
no agrupamento em 2010 (Mapa 3). Esse movimento é percebido principalmente
no oeste de São Paulo em direção a Mato Grosso, assim como uma expansão no
litoral, entre Espírito Santo e Bahia.
Para caracterizar melhor os movimentos de ampliação da participação relativa dos
evangélicos, a Tabela 7 apresenta algumas estatísticas descritivas em nível municipal
para a distribuição da rec estatisticamente significante, de municípios que se asse-
melham aos seus vizinhos ou se distanciam deles. O confronto dos dados de 2000 e
2010 corrobora uma possível transição da participação de evangélicos comparados
aos católicos, visto que na média (e em todas as demais estatísticas descritivas) a
rec tem um aumento expressivo em uma década para áreas que foram identificadas
como de “alta-alta”, passando de 50% em média em 2010 e chegando a 61% para o
último quartil da distribuição. De fato, para todos os grupos, tanto a média, quan-

agosto 2017 235


Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

to a mediana e o segundo e terceiro quartos da distribuição apresentam aumento


na década, mesmo que na média os agrupamentos ainda mostrem uma parcela de
católicos maior que a de evangélicos.
Interessante observar os casos de municípios que estão cercados por outros com
comportamento distinto com relação à variável rec. Aqueles nos grupos de baixa
rec perto de alta rec se mantêm em número de 42 municípios nos dois períodos.
Já aqueles com alta rec que são vizinhos rodeados por outros com baixa rec passam
de 31 para 47 municípios no período, mostrando que, mesmo onde há uma tendên-
cia à maior participação de católicos na população, os evangélicos têm crescido de
maneira importante (Tabela 7).

Considerações finais

A pós-modernidade – entendida como modernidade líquida ou tardia – tem pro-


movido fraturas na solidez das antigas relações sociais, o que tem trazido desafios
crescentes ao catolicismo no mundo e, particularmente, na América Latina. Depois
de quinhentos anos, o domínio católico no Brasil está sob risco. A compreensão do
mundo e as formas concretas da vida religiosa não são insensíveis às mudanças das
relações sociais e às transformações do modo de produção e consumo. O mundo
atual está colocando constantemente em xeque a aceitação simples da tradição, ao
mesmo tempo que introduz valores estranhos às perspectivas originais.
As práticas religiosas em uma estrutura social rígida, estática ou pouco dinâmica,
prevalecentes na sociedade agrária e rural, em geral, apresentam dificuldade de se
adaptarem às situações de fluidez, instantaneidade e mobilidade do presente: “ao
processo da aceleração do tempo na modernidade tardia parece corresponder a ênfase
em experiências instantâneas, e de plenitudes emocionalmente sentidas, como é o
caso de experiências extáticas em geral e do ‘batismo no Espírito Santo’ em especial”
(Renders, 2015, p. 428).
O Brasil passa por diversas transformações em suas múltiplas dimensões socio-
culturais que influenciam e são influenciadas pela transição religiosa. O objetivo
deste texto foi fornecer um panorama geral das mudanças na correlação de forças
entre católicos e evangélicos no Brasil, entre 1991 e 2010, focando na análise da
distribuição espacial desse processo na última década.
A análise descritiva mostrou que os evangélicos estão em processo de expansão
e os católicos de retração no Brasil. Dos 4  4926 municípios existentes em 1991, a
rec (indicador da transição entre os dois grandes grupos cristãos) aumentou em

6. Um total de 1  074 municípios foram criados depois de 1991.

236 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

4  415 municípios e diminuiu em apenas 77 municípios, no período compreendido


entre 1991 e 2010. Ou seja, os evangélicos aumentaram sua participação em 98,3%
das cidades e os católicos avançaram em apenas 1,7% dos municípios brasileiros.
O padrão espacial da transição religiosa tem sua parte mais avançada no arco
periférico das maiores regiões metropolitanas do país, seguindo os núcleos destas
mesmas regiões, avançando pelas cidades de maior porte populacional, seguindo para
as cidades menores e apresentando as menores recs nas áreas rurais, especialmente
na região Nordeste, no norte de Minas Gerais e na região Sul.
A unidade da federação mais adiantada na transição religiosa é Rondônia
(com uma rec de 71,1%); o estado do Rio de Janeiro vem em segundo lugar (com
rec de 64,1%). Mas em termos de volume populacional, pode-se afirmar que a
periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro (municípios da rm menos a
capital) está liderando o processo de transição religiosa no país. No total dos 34
municípios fluminenses, onde ocorreu reversão da maioria religiosa (rec > 100),
havia uma população de 4,2 milhões de habitantes, sendo 1,4 milhão de católicos,
1,6 milhão de evangélicos e 1,2 milhão de outras religiões e de pessoas que se
declararam sem religião.
Entre as cidades mais prováveis de completar a transição religiosa entre 2010 e
2020 (aquelas em que a rec, em 2010, estava com percentuais entre 75% e 100%),
havia 112 municípios que representavam uma população total de 7,6 milhões de
habitantes no último censo. Ou seja, a quantidade de municípios em que a rec
supera os 100% pode aumentar muito em 2020, acelerando o processo de transição
entre os dois maiores grupos religiosos do país. Além disso, a análise da estatística
espacial revelou a existência de agrupamentos municipais ao longo do território
nacional, ou seja, a distribuição da razão evangélicos/católicos em nível municipal
não é aleatória, pois municípios vizinhos7 tendem a ser consideravelmente mais
parecidos de forma significativa.
Apesar disso, não é possível prever se o crescimento dos evangélicos atingirá um
teto e se o decréscimo dos católicos terá um piso mínimo. Mas, independentemente
de completar-se ou não a reversão da hegemonia entre os dois maiores grupos reli-
giosos brasileiros, as mudanças na distribuição das filiações religiosas têm ocorrido
de forma acelerada, embora de maneira diferenciada no tempo e no espaço. O cres-
cimento evangélico é um fenômeno amplo e geral, mas é mais intenso nas periferias
das regiões metropolitanas e nas áreas de fronteira agrícola e de colonização recente,
particularmente na região Norte.

7. Nessa análise foram considerados como matriz de vizinhança os municípios contíguos que dividiam
fronteiras (vizinhos de primeira ordem), não importando a extensão territorial destes.

agosto 2017 237


Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, pp. 215-242

Uma pesquisa do Instituto Datafolha (2013), feita às vésperas da visita do papa


Francisco ao Brasil, mostra que, ao contrário dos evangélicos, os católicos estão se
tornando menos numerosos e menos fiéis (vão pouco às missas). Entre os católicos
brasileiros, 28% costumavam ir à missa uma vez por semana, 17% costumavam ir à
missa e a outros serviços religiosos mais de uma vez por semana, 21% disseram ir à
igreja uma vez por mês e 7% assumiram que não a frequentavam. Os números tam-
bém apontam que 34% do católicos tinham o hábito de contribuir financeiramente
com a Igreja, com um valor médio mensal de R$ 23,00. Porém, entre os evangélicos
pentecostais, 63% iam à igreja mais de uma vez por semana, 52% contribuíam finan-
ceiramente com um valor médio do dízimo de R$ 69,10 mensais. Entre os evangélicos
não pentecostais, 51% iam à igreja mais de uma vez por semana, 49% contribuíam
financeiramente com um valor médio de R$ 85,90 mensais. Nota-se, portanto, que
os evangélicos frequentam suas igrejas com mais intensidade e contribuem com um
valor monetário mais alto para as atividades religiosas. Uma nova pesquisa, divul-
gada no dia 25 de dezembro de 2016, reforça as tendências acima e indica, na série
histórica do Instituto Datafolha, que a transição religiosa se acelerou na atual década.
A combinação de ativismo religioso (maior evangelização) e expansão númerica
nos locais relativamente mais dinâmicos em termos socioeconômicos do país tende a
fortalecer o processo de transição religiosa, analisada pelo aumento da variável rec.
Evidentemente ninguém sabe com certeza como será o futuro, mas se as tendências
das últimas três décadas se repetirem, as três próximas décadas apontam para uma
mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos em um futuro não muito dis-
tante. Ou seja, os evangélicos podem ultrapassar os católicos na primeira metade
do século xxi, obtendo maioria simples e não necessariamente maioria absoluta da
população. Paralelamente à mudança de hegemonia entre os dois grupos cristãos
haverá também o aumento da pluralidade religiosa, em decorrência do crescimento
das demais religiões não cristãs e do aumento do grupo de pessoas sem religião.
O ano de 2017 marca os cinco séculos da Reforma Protestante. Na maior parte
desse tempo o catolicismo permaneceu forte na América Latina. Todavia, no século
xxi, o Brasil pode presenciar uma mudança de hegemonia entre os dois grandes
grupos cristãos e uma maior pluralidade religiosa. As causas e as consequências
desse fenômeno são complexas e o acompanhamento desse processo é fundamental
para o entendimento da nova configuração da sociedade brasileira. Considerando
o fortalecimento do Estado de Direito, a laicidade do Estado e a secularização da
sociedade, a livre competição entre as organizações religiosas – evitando o sectaris-
mo, os preconceitos e ampliando a oferta de serviços – pode contribuir para que o
Brasil se torne um país mais dinâmico culturalmente. Essa é uma das possibilidades
da transição religiosa no Brasil.

238 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2


José Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi, Luiz Felipe Barros e Angelita A. de Carvalho

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Resumo

Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil

A população brasileira vive uma grande transformação no perfil religioso. Por um lado, há um
aumento da pluralidade religiosa e, por outro, uma tendência de mudança de hegemonia entre
católicos e evangélicos. O objetivo deste artigo é focar nesse segundo aspecto do fenômeno tran-
sicional, fornecendo um panorama da transição religiosa brasileira entre 1991 e 2010, a partir
de um indicador sobre a razão entre evangélicos e católicos (rec). Além da análise descritiva
da distribuição geográfica nos níveis municipal e regional, apresentam-se mapas municipais da
rec em 2000 e 2010, mostrando as mudanças ocorridas no período, assim como uma análise de
autocorrelação espacial local. O artigo contribui para o entendimento da evolução espacial da
transição religiosa entre os dois grandes grupos cristãos no Brasil.
Palavras-chave: Transição religiosa; Católicos; Evangélicos; Brasil.

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Abstract

Spatial distribution of the Brazilian religious transition

A large transformation in the population religious profile in Brazil is under way. From one side
there is an increase of religious plurality and, from another, a tendency to a shift in the Catholics
hegemony over Evangelicals. The objective of this paper is to provide an overview of Brazilian
religious transition between 1991 and 2010, focusing on the ratio of Evangelicals over Catholics
(rec). Additionally to a spatial distribution descriptive analysis, at regional and municipal levels,
municipal maps of this ratio in 2000 and 2010 are presented, also including a local spatial auto-
correlation analysis. Results indicate how this process have been evolving spatially and indicates
the future pathway of the religious transition between these two large Christian groups in Brazil.
Keywords: Religious transition; Catholics; Evangelicals; Brazil.

Texto recebido em 11/3/2016 e aprovado em 3/8/2016. doi: 10.11606/0103-2070.ts.2017.1


12180.

josé eustáquio diniz alves é professor/pesquisador da Escola Nacional de Ciências Es-


tatísticas (Ence) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ibge). E-mail: jed_alves@
yahoo.com.br.
suzana marta cavenaghi é professora/pesquisadora da Escola Nacional de Ciências Estatís-
ticas (Ence) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ibge). E-mail: suzana_cavenaghi@
uol.com.br.
luiz felipe walter barros é doutorando do Programa de Pós-graduação População, Ter-
ritório e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (ibge). E-mail: [email protected].
angelita alves de carvalho é professora/pesquisadora da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas (Ence) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ibge). E-mail: litaacarva-
[email protected].

242 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2

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