GUIA PARA
PREVENÇÃO E
DETECÇÃO
PRECOCE DO
CÂNCER DE BOCA
NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À
SAÚDE
Produto do
PRMESF
AUTORES
Márcio Vinicius de Gouveia Affonso
Cirurgião-Dentista. Especialista em Estratégia Saúde da Família pela
Universidade do Estado do Pará (UEPA). Mestrando do Programa de Pós-
Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Belém (PA), Brasil.
Priscila Teixeira da Silva
Cirurgiã-Dentista. Especialista em Estratégia Saúde da Família pela
Universidade do Estado do Pará (UEPA). Belém (PA), Brasil.
Thais de Moraes Souza
Cirurgiã-Dentista. Residente em Estratégia Saúde da Família pela
Universidade do Estado do Pará (UEPA). Belém (PA), Brasil.
Raimundo Sales de Oliveira Neto
Cirurgião-Dentista. Especialista em Atenção à Clínica Integrada pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém (PA), Brasil.
Russell Santiago Correa
Cirurgião-Dentista. Especialista em Estratégia Saúde da Família pela
Universidade do Estado do Pará (UEPA). Mestrando do Programa de Pós-
Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Belém (PA), Brasil.
Diandra Costa Arantes
Cirurgiã-Dentista. Doutora em Odontologia pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Departamento de Saúde Coletiva da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Belém (PA), Brasil.
Hélder Antônio Rebelo Pontes
Cirurgião-Dentista. Doutor em Odontologia pela Universidade de São Paulo
(USP). Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do
Pará (UFPA). Belém (PA), Brasil.
Flávia Sirotheau Correa Pontes
Cirurgiã-Dentista. Doutora em Odontologia pela Universidade de São Paulo
(USP). Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do
Pará (UFPA). Belém (PA), Brasil.
Liliane Silva do Nascimento
Cirurgiã-Dentista. Doutora em Enfermagem em Saúde Pública pela
Universidade de São Paulo (USP). Departamento de Saúde Coletiva da
Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém (PA), Brasil.
Belém
2020
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos à Unidade de Saúde Bucal do Hospital
Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), referência
no Estado do Pará para casos de patologia bucal, e à
equipe do Projeto de Extensão “Prevenção ao Câncer de
Boca: de Ponto a Ponto, de Vila em Vila na Amazônia”, da
Universidade Federal do Pará, que gentilmente
contribuíram com fotografias aqui utilizadas.
Um agradecimento especial ao Programa de Residência
Multiprofissional em Estratégia Saúde da Família da
Universidade do Estado do Pará, que viabilizou a
construção deste material de importância significativa
para atuação multiprofissional na Atenção Primária à
Saúde.
Belém
2020
APRESENTAÇÃO
Este guia educativo, elaborado como produto pelo
Programa de Residência Multiprofissional em Estratégia
Saúde da Família da Universidade do Estado do Pará, em
parceria com a Unidade de Saúde Bucal do Hospital
Universitário João de Barros Barreto da Universidade
Federal do Pará, busca sintetizar as informações
referentes ao câncer de boca para incentivar e viabilizar a
atuação multiprofissional dos profissionais da Atenção
Primária à Saúde no enfrentamento ao câncer de boca,
garantindo a condução mais adequada do usuário na
Rede de Atenção à Saúde.
Belém
2020
SUMÁRIO
O que é o câncer de boca? 05
Quais são os fatores de risco? 06
Quais são os grupos de maior incidência? 08
Como o câncer de boca pode se apresentar? 10
Prevenção e detecção precoce na APS 13
O que é o autoexame da boca? 14
O que é o câncer de boca?
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de
boca é um tumor maligno que pode afetar lábios, gengivas,
bochechas, céu da boca, língua (principalmente as bordas) e a
região embaixo da língua. Mais de 90% das malignidades orais são
identificadas como carcinomas de células escamosas, que possuem
uma etiologia multifatorial relacionada à interação de fatores
extrínsecos e intrínsecos ao indivíduo.
As altas taxas de incidência, mortalidade e letalidade, assim como o
impacto negativo na qualidade de vida das pessoas, são alguns dos
fatores que apontam o câncer de boca como um problema de saúde
pública no mundo.
Estimativas do GLOBOCAN 2018 indicam
que até o ano de 2040, haverá um
aumento de 79,4% na incidência de
casos de câncer de boca no Brasil,
passando de 10.457 para 18.195 novos
casos.
Quanto à taxa de mortalidade, estima-se
que em 2040, no Brasil, 7.953 pessoas
irão morrer por complicações do câncer
de boca, o que representa um aumento de
94,1% no número de mortes ao longo de
duas décadas.
Frente a este panorama, a prevenção e
a detecção precoce do câncer de
boca configuram-se fatores importantes
para a redução da morbimortalidade
causada por esta neoplasia.
A multiprofissionalidade existente
na Atenção Primária à Saúde
representa uma ferramenta para
diminuição destas preocupantes taxas.
NEVILLE, B. W. et al. Patologia Oral & Maxilofacial. 4a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016; BRAY F, et al. Global Cancer Statistics 2018: GLOBOCAN
Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA Cancer J Clin, 2018; 68: 394-424; CANCER TOMORROW.
International Agency for Research on Cancer, 2020; TORRES-PEREIRA CC, et al. Abordagem do câncer da boca: uma estratégia para os níveis primário e
secundário de atenção em saúde. Cad. Saúde Pública, 2012; 28 Sup: S30-9.
Quais são os fatores de risco?
Tabagismo
O fumo é apontado como o
principal fator de risco para o
câncer de boca: possui
aproximadamente 5 mil
elementos químicos, mais de 67
substâncias cancerígenas,
resseca a mucosa oral, que
provoca um aumento na
camada de queratina e
facilita a ação de
outros elementos
carcinogênicos.
Etilismo
O álcool age como um solvente
na membrana celular, expondo
a inúmeros fatores
carcinogênicos, diminui a
velocidade da reação do
organismo e provoca injúria
celular. Quando associado ao
tabaco, atuam com grande
sinergismo, podendo aumentar
o risco do câncer de boca de 15
a 20 vezes.
NEVILLE, B.W. et al. Patologia: Oral & Maxilofacial. 2ª Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004; TORRES-PEREIRA CC, et al. Abordagem do câncer da
boca: uma estratégia para os níveis primário e secundário de atenção em saúde. Cad. Saúde Pública, 2012; 28 Sup: S30-9; PRADO BN, PASSARELLI DHC.
Uma nova visão sobre prevenção do câncer bucal no consultório odontológico. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, 2009;
21(1): 79-85.
Quais são os fatores de risco?
Exposição
solar
A exposição aos raios
ultravioleta (UV), seja por
motivos profissionais ou estilo
de vida, causa sérios danos
celulares e a excessiva
exposição dos raios em contato
direto com o lábio inferior
aumenta o risco de desenvolver
uma lesão de câncer de boca
nesta região. Esses indivíduos
devem sempre utilizar
protetores solares, protetores
labiais, chapéus e óculos de sol.
Deficiência
nutricional
A dieta deve ser rica em frutas,
verduras, legumes e cereais
ricos em vitaminas A, C, E e
fibras.
Estes alimentos possuem
efeitos protetores que
diminuem o risco de
desenvolver o câncer de boca.
As carnes brancas e vermelhas
devem ser ingeridas
preferencialmente grelhadas ou
cozidas, evitando-se frituras.
NEVILLE, B.W. et al. Patologia: Oral & Maxilofacial. 2ª Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004; TORRES-PEREIRA CC, et al. Abordagem do câncer da
boca: uma estratégia para os níveis primário e secundário de atenção em saúde. Cad. Saúde Pública, 2012; 28 Sup: S30-9; PRADO BN, PASSARELLI DHC.
Uma nova visão sobre prevenção do câncer bucal no consultório odontológico. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, 2009;
21(1): 79-85.
Quais são os grupos de maior
incidência?
Os grupos de maior incidência para o câncer de boca são
compostos por aqueles indivíduos que, geralmente, estão
mais expostos aos fatores de risco, são eles:
Homens, acima dos 40 anos de idade, tabagistas e etilistas
crônicos são identificados como os grupos com maior taxa
de incidência para o câncer de boca.
Os trabalhadores rurais ou aqueles que necessitam ficar
diariamente expostos ao sol também precisam de atenção
quanto aos cuidados preventivos para minimizar os danos
causados pela radiação ultravioleta, não só no lábio, mas
também na pele. É indicada a utilização de protetor solar,
boné ou chapéu e roupas adequadas para a proteção da pele.
TORRES-PEREIRA CC, et al. Abordagem do câncer da boca: uma estratégia para os níveis primário e secundário de atenção em saúde. Cad. Saúde
Pública, 2012; 28 Sup: S30-9; PRADO BN, PASSARELLI DHC. Uma nova visão sobre prevenção do câncer bucal no consultório odontológico. Revista de
Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, 2009; 21(1): 79-85; BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Instituto Nacional
de Câncer. INCA, Falando Sobre Câncer da Boca. Rio de Janeiro: INCA, 2002.
Quais são os grupos de maior
incidência?
ATENÇÃO
O aumento no número de novos casos em mulheres mostra
a necessidade de também trabalhar a prevenção com este
grupo. Mudanças no estilo de vida da população mundial
podem estar relacionados com esta nova distribuição da
incidência desta neoplasia.
O grupo populacional mais jovem não pode ficar de fora das
atividades de prevenção, uma vez que hábitos como o
tabagismo e etilismo podem ser evitados desde idade mais
tenra.
A população idosa, geralmente com ausência total ou parcial
de dentes, por vezes, considera irrelevante o cuidado com a
saúde bucal e também as visitas regulares ao cirurgião-
dentista. É necessário, portanto, busca ativa e atenção a este
grupo populacional que pode frequentar as unidades de
saúde para outros fins, como acompanhamento com
enfermeiro e médico.
PRADO BN, PASSARELLI DHC. Uma nova visão sobre prevenção do câncer bucal no consultório odontológico. Revista de Odontologia da Universidade
Cidade de São Paulo, 2009; 21(1): 79-85;
Como o câncer de boca pode se
apresentar?
LEUCOPLASIA
Nesta imagem é possível observar uma alteração pré-maligna na
comissura do lábio, especificamente no lado esquerdo do paciente,
onde está localizada uma placa esbranquiçada, não removível por
raspagem.
Fonte: Acervo da Unidade de Saúde Bucal do Hospital Universitário João de Barros Barreto.
Como o câncer de boca pode se
apresentar?
ERITROPLASIA
Nesta imagem é possível observar uma alteração pré-maligna na
região esquerda do palato duro, especificamente no lado esquerdo
do paciente, onde estão localizadas placas de cor vermelho escuro.
Fonte: Acervo da Unidade de Saúde Bucal do Hospital Universitário João de Barros Barreto.
Como o câncer de boca pode se
apresentar?
LESÃO DE LÁBIO
INFERIOR
Nesta imagem é possível observar uma alteração pré-maligna no
vermelhão do lábio inferior, especificamente no lado direito, onde
está localizada uma lesão com crosta.
Fonte: Acervo da Unidade de Saúde Bucal do Hospital Universitário João de Barros Barreto.
Como trabalhar a prevenção e a
detecção precoce na APS?
Identificar usuários expostos a Inserir informações sobre o
fatores de risco e encaminhá- consumo de carcinogênicos
los para atividades coletivas (tabaco e álcool,
como grupos de convivência principalmente) relacionados
nas Estratégias de Saúde da ao câncer de boca e demais
Família sobre álcool, tabaco e cânceres nas ações de
outras drogas, e se necessário, educação em saúde e nas
encaminhá-los aos Centro de visitas domiciliares.
Atenção Psicossocial Álcool e
Drogas (CAPS AD).
Realizar exame cuidadoso, Realizar atividades do
quando possível, da cavidade Programa Saúde na Escola que
bucal e escuta qualificada de abordem a prevenção do uso
queixas sugestivas, como de álcool, tabaco e outras
dificuldade para engolir e drogas junto aos escolares.
mastigar, em consultas médicas
e de enfermagem.
Implantar a clínica ampliada Programar reuniões regulares
para estabelecer uma para debater a temática do
interconsulta com o cirurgião- câncer de boca e outros
dentista. aspectos da saúde bucal para
que a atenção da equipe
multiprofissional alcance a
interdisciplinaridade.
Estabelecer uma estratégia
junto à Equipe de Saúde Bucal
da unidade de saúde para
priorizar o atendimento
àqueles usuários que possuam
lesões suspeitas e, se possível,
inserir os usuários dos grupos
de risco na classificação de
risco para priorizar o
atendimento regular destes.
O que é o autoexame da boca?
É uma técnica simples em que a própria pessoa pode identificar
lesões precursoras do câncer de boca. Basta estar em um ambiente
iluminado e ter um espelho.
O que procurar? Qualquer alteração que fuja da normalidade, como
por exemplo: feridas que não desaparecem em 15 dias, manchas
brancas ou avermelhadas, endurecimentos, caroços, sangramentos,
inchaços e áreas dormentes.
O usuário deve ser orientado a buscar ajuda profissional quando
identificada alguma dessas alterações. Dor ao falar ou desconforto
na mastigação também são fatores de alerta.
Como ensinar a fazer o autoexame? O usuário deve ser orientado a
realizar os seguintes passos:
Passo 1. Em frente ao espelho, lavar bem a boca e remover as
próteses dentárias ou aparelhos removíveis, se for o caso.
Passo 2. Com o dedo indicador e o dedo polegar, em forma de pinça,
puxar com os dedos o lábio inferior para baixo, expondo a sua parte
interna (mucosa). Em seguida, palpar todo o lábio. Realizar o mesmo
processo com o lábio superior, puxando-o para cima.
Fonte: Acervo do Projeto de Extensão “Prevenção ao Câncer de Boca: de Ponto a Ponto, de Vila em Vila na Amazônia”.
O que é o autoexame da boca?
Passo 3. Com a boca aberta e com a ponta do dedo indicador,
afastar a bochecha para examinar a parte interna da mesma.
Realizar o mesmo processo nos dois lados.
Passo 4. Com a ponta de um dedo indicador, percorrer toda a
gengiva superior e inferior.
Passo 5. Inclinar a cabeça para trás, e abrir a boca o máximo
possível para visualizar o céu da boca. Com o dedo indicador,
percorrer todo o céu da boca.
Fonte: Acervo do Projeto de Extensão “Prevenção ao Câncer de Boca: de Ponto a Ponto, de Vila em Vila na Amazônia”.
O que é o autoexame da boca?
Passo 6. Em seguida falar ÁÁÁÁ... e observar o fundo da garganta.
Passo 7. Com a língua para fora, observar a sua parte de cima.
Repetir a observação com a língua levantada até o céu da boca. Em
seguida, puxar a língua para os lados e observar as bordas laterais.
Fonte: Acervo do Projeto de Extensão “Prevenção ao Câncer de Boca: de Ponto a Ponto, de Vila em Vila na Amazônia”.
Bibliografia
1. PINHEIRO SMS, et al. Conhecimentos e Diagnóstico em Câncer
Bucal entre Profissionais de Odontologia de Jequié, Bahia.
Revista Brasileira de Cancerologia, 2010; 56(2): 195-205.
2. PRADO BN, PASSARELLI DHC. Uma nova visão sobre prevenção
do câncer bucal no consultório odontológico. Revista de
Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, 2009; 21(1):
79-85.
3. NEVILLE, BW et al. Patologia Oral & Maxilofacial. 4a ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2016. .
4. TORRES-PEREIRA CC, et al. Abordagem do câncer da boca: uma
estratégia para os níveis primário e secundário de atenção em
saúde. Cad. Saúde Pública, 2012; 28 Sup: S30-9.
5. BRAY F, et al. Global Cancer Statistics 2018: GLOBOCAN Estimates
of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185
Countries.
6. CA Cancer J Clin, 2018; 68: 394-424; CANCER TOMORROW.
International Agency for Research on Cancer, 2020.
7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde.
Instituto Nacional de Câncer. INCA, Falando Sobre Câncer da
Boca. Rio de Janeiro: INCA, 2002.