Revista ACL 2016
Revista ACL 2016
ACADEMIA
CEARENSE
DE LETRAS
Fortaleza, 2016
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1 - Adolfo Caminha
2 - Álvaro Martins
3 - Antônio Augusto
4 - Antônio Bezerra
5 - Papi Júnior
6 - Antônio Pompeu
7 - Clóvis Beviláqua
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10 - Padre Mororó
11 - Barão de Studart
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13 - D. Jerônimo Tomé
14 - João Brígido
15 - Capistrano de Abreu
16 - Franklin Távora
17 - Joaquim Catunda
Revista da
18 - Moura Brasil
19 - José Albano
20 - Liberato Barroso
Academia
21 - José de Alencar
22 - Justiniano de Serpa
23 - Juvenal Galeno
Cearense
24 - Lívio Barreto
25 - Oliveira Paiva
26 - Soares Bezerra
de Letras
27 - Soriano de Albuquerque
28 - Mário da Silveira
29 - Paulino Nogueira
30 - Rocha Lima
31 - Farias Brito
32 - Cônego Ulisses Pennaforte
33 - Rodolfo Teófilo
34 - Samuel Uchoa
35 - Tomás Pompeu Ano CXXI - v. 77
36 - Senador Pompeu 2016
37 - Tomás Lopes
38 - Tibúrcio Rodrigues
39 - Araripe Júnior
40 - Visconde de Sabóia
©2017 by Academia Cearense de Letras
Diretor Geral
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Editora Executiva
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Editor Adjunto
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Editor Assistente
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Editor de Design
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Editoração Eletrônica
Miqueias Mesquita
n.1- ; 1896-
2016, v. 121, n. 77
Colaboração
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Sede da ACL
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responsabilidade.
ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
122 ANOS (1894-2016)
Horácio Dídimo
FO
LE
RT I
I NIHI DIFFIC
L
1894
O TEMPO PASSA
O RIO CORRE
A VIDA É GRAÇA
A FÉ NÃO MORRE
A CHUVA CAI
O SOL DESCANSA
CADA ANO TRAZ
NOVA ESPERANÇA
UM VENTO BREVE
TOCA DE LEVE
EM CADA FLOR
1ª PARTE – Homenagem
O Lacre do Silêncio
Horácio Dídimo.......................................................................................15
Ao Meu Amigo – Poeta José Telles
Giselda Medeiros.....................................................................................16
Adeus meu Poeta
Leda Maria..............................................................................................17
Ideal Clube de Literatura................................................................................. 18
2ª PARTE – Estudos
“O Acampamento”, de Aricy Curvello. Jomar Moraes, grande pesquisador
Sânzio de Azevedo .................................................................................23
O Amor de trovador. Poetas singulares
Luciano Maia ..........................................................................................30
Sobre Teoria dos Afetos.
Giselda Medeiros ....................................................................................34
Lembranças de Moreira Campos
Dimas Macedo .......................................................................................36
Um aspecto do conto “O Búfalo” de Clarice Lispector.
Laéria Fontenele .....................................................................................38
Muito além da crônica
Vera Lucia de Oliveira .............................................................................51
3ª PARTE – Poesia
De Marly Vasconcelos: Esta Manhã..........................................................57
De Horácio Dídimo: Na Casa dos Oitenta. Sete poetas..............................58
De Luciano Maia: Poema de Natal............................................................60
De Pedro Henrique Saraiva Leão: Paráfrase de joão cabral. Para Ricardo
Guilherme. Quando nossas cinzas............................................................61
De Giselda Medeiros: Barros Pinho: Pássaro Poeta....................................64
De Ubiratan Aguiar: Vagão da Estrela. Canto da Vida. Amei.....................65
De Linhares Filho: Adsum – Aqui estou, Poesia. Canção da convivência.
Despedida a Rogério Bessa.......................................................................68
De Teoberto Landim: Ciúme. Sedução. Amada.........................................72
Haicais de Sânzio de Azevedo traduzidos por Terezinka Pereira:
Trem noturno. Passado............................................................................76
De Henrique Dídimo: Sonetio...................................................................77
De Wânia Cysne Dummar: Pós-tempo......................................................78
De Révia Herculano: Teogonia..................................................................80
5ª PARTE – Discursos
Linhares Filho, Príncipe dos Poetas Cearenses
Sânzio de Azevedo .................................................................................133
Agradecimento pelo Título de Luz
Linhares Filho...........................................................................................149
Apresentação do Livro de Contos Cãs, rugas e amor: rumo a uma cultura de
Direitos Humanos, de Ruth Villanueva Castilleja. Apresentação da Revista do
Instituto Brasileiro de Direitos Humanos (IBDH), nº 15
César Barros Leal......................................................................................155
122 anos da Academia Cearense de Letras
Mauro Benevides ....................................................................................164
O Silêncio da penteadeira. A Sereia de Ouro e o bom combate pela
construção do mundo com que sonhamos
Angela Gutiérrez .....................................................................................166
Palácio da Luz: Reduto da Cultural
Zenaide Braga Marçal .............................................................................181
Gomes de Sousa, um homem de ciência
Francisco Marialva Mont’Averne Frota......................................................185
Homenagens
Ao poeta José Telles da Silva
(Bitupitá (PI) 1943 – Fortaleza (Ce) 2016)
O Lacre do Silêncio1
Para José Telles
Horácio Dídimo
Quando auroras
Se repetem
No sudário
Das palavras
Quando o frêmito
Já se espalha
Nos espelhos
Das palavras
Vem a tosse
Invencível
Das palavras
E o poeta
Rompe o lacre
Do silêncio.
15
Ao meu Amigo – Poeta José Telles
(in memoriam)
Giselda Medeiros
2/6/2016
16
Adeus meu Poeta2
Leda Maria3
17
Ideal Clube de Literatura4
Evento tradicional no Ceará
Troféu
Já o primeiro lugar receberá em mãos, além da quantia no valor
de R$ 5 mil, o troféu Barros Pinho, nome dado em homenagem ao
grande poeta que frequentava o Ideal.
Na ocasião, estarão presentes importantes representantes da
cultura no Estado, como por exemplo o Presidente da Academia Ce-
arense de Letras (ACL), José Augusto Bezerra; o ex-Ministro do Tribu-
nal de Contas da União e advogado cearense Ubiratan Diniz Aguiar,
membro da ACL; e os presidentes do Ideal Clube, Alcimor Rocha e
Amarilho Cavalcante.
Aberto ao público e com coquetel liberado, o evento, que se
iniciará com o canto da Hino Nacional Brasileiro, terá ambientação
sonora comandada pelo pianista da instituição e, como mestre de ce-
rimônia, a jornalista e apresentadora Carla Soraya.
18
Seleção
Mais de 300 pessoas se inscreveram para participar do XVIII Prê-
mio Estadual Ideal Clube de Literatura nesta última edição, cujo gêne-
ro contemplado foi poesia. A comissão julgadora, presidida, presidida
pelo poeta, ensaísta e jornalista Carlos Augusto Viana, levou com se-
riedade a proposta de escolher os mais bem escritos poemas cearenses
compostos durante o ano de 2015.
“A análise dos textos é um processo rigoroso, que acontece em
sigilo absoluto e com absoluta seriedade. Tanto é que só sabemos
quem é o grande vencedor horas antes da cerimônia de premiação.”,
conta o presidente de Cultura e Artedo Ideal Clube, José Telles. Mais
especifica, contemplando apenas escritores cearenses, a maioria da
produção deste ano foi composta por jovens, conforme informa José
Telles. Em suas palavras, isso só revela o quão forte está se tornando o
polo literário do Ceará.
“Já temos um público leitor e escritor consolidado, que, com
iniciativas como essa, só tende a crescer, tirando muitas pessoas boas,
que escrevem super bem, do anonimato. No ano passado, por exem-
plo, um dos melhores contos escolhidos foi o de uma garota de 14
anos, o que mostra o quão importantes são esses concursos para gerar
um maior acesso a cultura”.
Importância
Sede de duas agremiações literárias – a Academia de Médicos
Escritores e a Academia de Letras e Artes do Nordeste, o Ideal Clu-
be é um relevante polo de produção literária e cultural do Ceará,
atualmente contando com instalações e projetos que priorizam a
arte e o conhecimento.
Perguntado sobre a expectativa para a noite de hoje, José Telles
adianta: “No ano passado, colocamos 600 pessoas no Auditório Ed-
son Queiroz, neste ano, esperamos repetir a dose, garantindo visibili-
dade à literatura estadual”.
19
2ª Parte
Estudos
“O Acampamento”, de Aricy Curvello
Sânzio de Azevedo
23
Pouco adiante,
24
Não nomes, não rostos.
Não de nenhuma aparência, como cimento
e tijolos, chegavam um povo de morenos e peixes de seda,
a fruta-pupunha, o verniz de tartarugas como crianças.”
“Sementes
Só florescem
Se apodrecem.”
“A terra
verdesuja
na luz
limpíssima
daqueles dias
naqueles dias.”
25
Adiante, depois de falar em “pássaros-tucanos”, em “casta-
nheiras, a Jaquirana-boia, mungubas, samaúmas”, lança o poeta estes
belos versos:
“Roçar de asas,
colorados estandartes em bandos de voos se
levantavam. Não, não assassinar a luz. Não me disseram
a morte próxima da orquídea e do rato silvestre, aldeias
de ninhos. Abrem, rasgam, arrebentam a terra
para as florestas perecerem
sob as primeiras, primeiras estradas.”
“Era verde
e outras cores (queimadas) se acrescentaram.
Transitamos na opinião ilusória.
Acampados no provisório, sempre, sinais
imprestáveis e um tempo sem respostas, um tempo
em que se viaja sem bagagem. Para trás, apodrecer,
cadáveres.”
26
significados para as águas, relva pisada
em volta
das casas”.
27
Jomar Moraes, Grande Pesquisador
Sânzio de Azevedo
28
convite. Mas em 2014 recebi a 5ª edição dos Perfis Acadêmicos, onde
figuro (com retrato) como Membro Correspondente.
N’O Estado do Maranhão, de 19.10.2011 publicou ele um ar-
tigo intitulado “Hoje é dia de. Um trabalhador cultural”, talvez uma
série e desta vez falando de mim.
Falou da consolidação da nossa amizade, “periodicamente rea-
firmada pelas publicações que entre nós intercambiamos, sendo de
inteira justiça reconhecer (.) que Sânzio tem sido bem mais cuidadoso
em remeter-me seus trabalhos, do que eu, em remeter-lhe os meus”,,,
Graças a Mont’Alverne Frota, em 1979, centenário de nasci-
mento do poeta Maranhão Sobrinho, a revista da AML, da qual Jomar
era Secretário Geral, publicou um artigo meu sobre o poeta. E o último
livro que o historiador me enviou foi a Poesia Reunida desse poeta, nos
100 anos de sua morte.
Jomar da Silva Moraes nasceu em Guimarães, no dia 6 de maio
de 1940, e faleceu em 14 de agosto do ano de 2016, em São Luís.
É grande a importância dos estudos que escreveu sobre Sousân-
drade, e faço questão de destacar a bela biografia que publicou de
Gonçalves Dias em 1998.
Isso, sem falar nas inúmeras reedições, a que já aludi, com es-
tudos introdutórios como, além do livro de Antônio Lobo, de autores
como Teófilo Dias, Vespasiano Ramos, Graça Aranha e muitos outros.
A meu ver, ninguém poderá tentar escrever sobre a literatu-
ra do Maranhão sem compulsar as inúmeras obras organizadas por
esse operoso crítico. Nunca me abalancei a comentar nenhum es-
critor da terra de Gonçalves Dias sem recorrer aos Apontamentos
de Literatura Maranhense, de Jomar Moraes, cuja segunda edição,
aumentada, é de 1977. E esse livro traz abaixo do título este esclare-
cimento: “Uma abordagem contextual que leva em conta os fatores
políticos, sociais e econômicos.”
Perco um grande amigo e o Maranhão perde esse que talvez haja
sido seu maior historiador literário, cuja obra logrou penetração nacional.
29
Amor de Trovador
Luciano Maia
30
Na Divina Comédia aparecem versos em occitano, atribuídos a Arnautz
Daniel, segundo Dante, ilmegliofabbro a compor em romance (língua
românica). Então, amor e trovador, palavras prestigiosas em qualquer
língua têm, em francês, matriz trovadoresca. A história cobrando o seu
preço: toda a região da Occitânia (sul da França) só foi incorporada ao
império francês após a trama dos reis da dinastia dos capetos e do papa
Inocêncio III, para o aniquilamento dos cátaros de língua occitana.
31
Poetas Singulares
Luciano Maia
32
lavras / Gosto de brincar com elas. / Tenho preguiça de ser sério. Mais
esta: O menino sentenciou: / Se o Nada desaparecer a poesia acaba. /
E se internou na própria casaca / ao jeito que o jabuti se interna. Esta
última citação alude à “Dona Lógica da Razão” que, segundo este
singular poeta, “bosteia” contra a poesia.
Poetas singulares. Mais alguns há na literatura brasileira, certamen-
te, mormente se levarmos em conta os poetas populares do Nordeste.
É tema que, comportando muitas relativizações, merece ser estudado.
33
Sobre Teoria dos Afetos
Giselda Medeiros
34
Nossos parabéns, pois, à Neide Azevedo Lopes pela publicação
de mais esta primorosa obra. Obrigada, Poeta, por nos deleitar com
versos e expressões tão maravilhosos como: “A taciturna tarde tece
teias”; “Escorre a noite / lenta, gotejante, morna.”; “Do vão da porta,
passam sóis e sombras”; “Esgarçada lembrança”; “A porta emoldura-
-se em alegrias”; Na sutileza dos teus dedos, cristalizam-se ausências”;
“Teus indecifráveis olhos, sentinelas sutis dos meus espaços”; e mui-
tos, muitos outros que nos enternecem olhos, coração e vida.
A obra está, agora, em nossas mãos. Que possamos, pois, apre-
ciar os versos de Teoria dos Afetos, “tecendo sonhos”, ao sabor do
“vento acordando a areia”, sob o olhar da “lua, travesseiro de seda”,
vestindo-nos com as cores de um esplendente arco-íris, na rumorosa
tarde da Poesia.
35
Lembranças de Moreira Campos
Dimas Macedo
36
Sempre li e reli a sua ficção, deliciando-me com a sutilidade,
a precisão semântica e o achado estilístico com que recorta as suas
ironias e o tecido de todos os seus contos, entre os quais destaco: “O
Preso”, “Lamas e Folhas”, “A Gota Delirante”, “Os Doze Parafusos”
e “Irmã Cibele e a Menina”.
Moreira Campos, de forma induvidosa, é um dos melhores escrito-
res do Brasil. Não pertence somente ao Ceará ou ao Nordeste. É univer-
sal. A sua escritura literária tem o gosto da permanência e da concisão. É
sutil, libidinosa e envolvente. E esteticamente muito bem realizada.
Especialmente como contista, o autor de Contos Escolhidos
pode ser comparado a Machado de Assis, pertencendo, portanto, à
linhagem dos grandes arquitetos da estória curta, a exemplo de Rulfo,
Júlio Cortazar e Guy de Maupassant.
Vale a pena, portanto, relembrar a vida e a obra desse grande
contista cearense, assim como o fez o escritor Waldy Sombra, com o
seu imprescindível – Moreira Campos: Professor de Histórias e de Ami-
zade (Fortaleza: Premius 2011).
37
Um Aspecto do Conto “O Búfalo”
de Clarice Lispector
Laéria Fontenele1
Resumo
O artigo procura realizar uma leitura do conto “O Búfalo” de
Clarice Lispector, tendo por objetivo preciso a análise de como nele
se transmitem, a partir do referencial de sua personagem principal,
as possíveis relações entre o amor, o ódio e o olhar. Tal empreendi-
mento dar-se-á a partir de uma articulação da literatura com o cam-
po psicanalítico e leva em consideração, como parâmetro metodoló-
gico, os ensinamentos freudianos segundo os quais a literatura pode
ensinar acerca da experiência do sujeito para com o inconsciente.
Palavras chave: Literatura, Psicanálise, Clarice Lispector, Olhar
38
Aproximações de “O Búfalo” de Clarisse:
o olhar, o ódio e o amor
Já tivemos a oportunidade de desenvolver em outras ocasiões,
a tese de que a literatura tem para a psicanálise, e mais especifica-
mente para Freud, o valor de transmitir a experiência do sujeito para
com o inconsciente, sendo, o que aí se transmite, um saber marcado
pela falta, tendo ele a capacidade de nos conduzir à dimensão criati-
va revelada pelo efeito estético, dada sua potência de revelar a plas-
ticidade expressiva das mais diversas experiências humanas. Consi-
deramos fundamental pensar o fazer literário como uma prática da
letra. Há alguns anos atrás, ao realizarmos uma análise acerca da
escrita em seu vínculo com a pulsão, deparamo-nos, dentre outros
textos literários onde se evidenciava essa questão, com um conto
do livro Laços de família de autoria de Clarice Lispector, intitulado
“O Búfalo”, que nosinstigou a nele destacar o modo como se dá,
considerando-se a singularidade do estilo de Clarice, o emprego da
sintaxe, revelando a sua construção subversiva em sua textualidade,
como se vê logo ao princípio do conto que se inicia com uma frase
adversativa “Mas era primavera” (LISPECTOR, 1982, p. 149). Nessa
ocasião, buscávamos articular questões acerca da relação entre cor-
po e escrita, o que nos servia à crítica de um tipo de crítica literária
que procura estabelecer relações entre a escrita literária e o gênero
(FONTENELE, 2006). No contexto desse estudo, a escrita de Clarice,
tal como revelada nesse e em outros de seus textos, foi considerada
de forma sobremodo pontual . No entanto, determinados detalhes
presentes na construção de “O Búfalo”, mais especificamente o lu-
gar e o modo como nele se inscrevem o olhar da personagem e o
olhar dos animais, nos indicaram aspectos, no mínimo curiosos, que
nos fizeram suspeitar da presença de outros sentidos, ainda latentes
e não explorados por outros estudos dele realizados a que tivemos
acesso. Isso, então, nos motivou a retomarmos sua leitura, agora,
movidos por outra inquietação: a do que ele é capaz de transmitir
acerca das relações entre o amor, o ódio e o olhar. O olhar, enquanto
39
o que poderia mediar, para a personagem, a transformação do amor
em ódio é o aspecto que nele pinçamos para trabalharmos aqui.
É necessário e oportuno salientarmos que o referido recorte,
condutor da reflexão e análise que aqui faremos de “O Búfalo”, é
bastante pontual haja vista a polissemia de sentidos e a riqueza de
aspectos que podem ser considerados em sua tessitura narrativa que,
além de suas personagens, apresenta em sua textualidade elementos
centrais concernentes à sua significância e à sua literalidade. Tal pode
ser atestado pelas diversas análises e ensaios que já motivou no campo
da crítica literária e que, independente da relevância e pertinência de
que se revestem, não serão aqui repertoriadas devido ao foco preciso
que adotaremos para trabalhá-lo. Essa delimitação - as relações entre o
amor, o ódio e o olhar - não tem a pretensão de defini-lo como sendo
o sentido último da referida narrativa, uma vez que nos posicionamos
contrariamente a todo tipo de análise do texto literário que resulta na
produção de interpretações últimas, as quais acabam por reduzir a
significância de um texto a um sentido unívoco e, portanto, totalitário.
Antes de passarmos ao estudo a que nos propomos, considera-
mos ser necessário situar o leitor que o nosso interesse em tratar das
relações entre o olhar e a transformação do amor em ódio, não assume
o sentido usual dado a esses três elementos no imaginário de nossa
cultura. Em verdade, os tomamos, no sentido teórico que lhes é dado
pela psicanálise, em seu vínculo específico com a pulsão, essa sendo a
que faz torção entre o corpo e alma humana. Freud (1994.a) a define
precisamente como a medida de exigência que o corpo faz à alma no
sentido da busca de sua satisfação. Contrariamente ao que ocorre com
o instinto, que possui um objeto invariável que lhe serve à satisfação,
o objeto da pulsão é, nela, o que há de mais variável. A transforma-
ção do amor em ódio, ao lado dos demais modos de expressão da
dinâmica pulsional humana – reversão da pulsão em seu oposto, re-
calque e sublimação -, mereceram especial atenção de Freud (1994.a),
dada a sua relevância para a clínica psicanalítica, que, segundo ele,
teria como um dos seus propósitos o de restabelecer os prejuízos da
40
capacidade de amar ocasionado pelas neuroses. Freud, nesse mesmo
estudo sobre os destinos da pulsão, nos apresenta os destinos pulsio-
nais mais arcaicos presentes em nosso funcionamento anímico, dentre
eles ocupa-se da mudança de conteúdo da pulsão através do exemplo
da transformação de amor em ódio – que segundo ele é o único caso
em que se observa uma mudança dessa ordem e ressalta ser mais fre-
quente que a mescla entre amor e ódio seja dirigida a um mesmo ob-
jeto, manifestando-se dessa forma a ambivalência de sentimentos tão
presente nos laços que estabelecem os seres humanos entre si. Nesse
artigo, nos adverte para o fato de que o amor não admite apenas um
oposto – no caso, o ódio -, mas que também se opõe a ele o “ser ama-
do” e a indiferença, que também serve de oposto ao ódio. É vasta a
discussão em torno do amor em Freud, Lacan, e entre autores contem-
porâneos (FERREIRA, 2004, 2005), não apenas por que existem forma
diferentes na sua manifestação, mas sobretudo porque o conceito de
amor acha-se compreendido em toda a discussão psicanalítica acerca
da transferência, condição mesma dos laços humanos e igualmente
condição necessária ao início de um tratamento analítico e aquilo que
confere ao analista o seu poder na condução de uma cura. Não sendo
nosso propósito repertoriar as teorizações feitas sobre o amor no cam-
po, psicanalítico, mas precisamente situar o sentido em que tomamos
o olhar, o amor e ódio, resta-nos apenas lembrar a contribuição de
Lacan (1985;1998) a essa questão, tanto na sua discussão acerca das
origens do eu e da formação da imagem especular em sua relação
com o que Freud (1994.b) denominou de narcisismo. Na estruturação
de nosso psiquismo e no processo que leva à edificação de nosso eu,
Lacan (1998) destaca duas polaridades, uma imaginária e outra simbó-
lica que nos servem para fazer face à nossa precariedade original, tanto
do ponto de vista de nosso inacabamento orgânico original – a nossa
dependência do constitucional do outro para sobrevivermos - , quanto
face ao mundo de linguagem, essa sendo a polaridade que se refere
ao real como sem sentido. Para Lacan, o eixo imaginário é constituído
pela linha que serve de espelhamento entre o eu e o outro – e nela
41
ocupa um lugar especial a metáfora do espelho como o que condensa
o valor do olhar do outro na construção da imagem do corpo pró-
prio- , alteridade essa necessária e, ao mesmo tempo, aquilo que faz
obstáculo à alteridade simbólica, que seria a linha entre o Sujeito e o
Outro, a qual graças a esse obstáculo é interrompida, fazendo com que
o sujeito receba do Outro, a sua mensagem de forma invertida. Com
isso, queremos apenas destacar, que o eixo imaginário encontra-se em
consonância com a polaridade amor e ódio, sendo aquilo que marca o
modo como se dão as primeiras relações do eu com o objeto, campo
da ambivalência mais primitiva, mas não menos estranha e familiar a
cada representante da espécie humana, pois deixa cicatrizes, por certo
diferentes, na estrutura de cada eu. No eixo simbólico, a falta - meta-
forizada pela relação interrompida entre o Sujeito e o Outro – serviria
de limite à ambivalência entre amor e ódio, na medida em que deixa
espaço ao amor enquanto o que promove a produção de sentidos e
não de um sentido único para os enigmas do real.
42
no início do conto: “Mas era primavera. Até o leão lambeu a testa gla-
bra da leoa. Os dois animais louros. A mulher desviou os olhos da jaula,
onde só o cheiro quente lembrava a carnificina que ela viera buscar no
Jardim Zoológico.” (LISPECTOR, 1982, p.149). E mais adiante:
43
nuava a olhar para a frente. “Oh não, não isso”,
pensou. E enquanto fugia, disse: “Deus, me ensine
somente a odiar.”
“Eu te odeio”, disse ela para um homem cujo crime
único era o de não amá-la. “Eu te odeio”, disse mui-
to apressada. Mas não sabia sequer como se fazia.
Como cavar na terra até encontrar a água negra,
como abrir passagem na terra dura e chegar jamais
a si mesma? (LISPECTOR, 1982, p.151)
44
em que o objeto amado estaria confundido com o ideal do eu do
sujeito. Essa confusão tanto remete ao eixo imaginário, da ambivalên-
cia amor-ódio que se produz na identificação em espelho entre o eu
e o outro idealizado [ a – a’], como a ele enquanto entrecortando o
eixo simbólico, que vai do Sujeito ao Outro [(Es) S – A], ou seja para a
dimensão faltosa do Outro e que daria substrato para uma forma de
amor para além dos engodos do amor paixão. Dessa forma, se o amor
se passa no nível imaginário não o faz sem operar um efeito preciso
por sobre o simbólico, qual seja a de provocar uma perturbação da
função do ideal do eu. Amar é, portanto, ser feito enamorado. O que
pede essa mulher, qual é de fato a sua demanda ao Outro? Seria de
fato o encontro com o seu próprio ódio? Seria ser amada ou ser reco-
nhecida como amante?
Torna-se evidente, nesse primeiro tempo do conto, que o olhar
dos animais não devolve a essa mulher o brilho capaz de captá-la,
uma vez que:
45
No zoológico, não realizou, até então, o seu desejo de apreender o
ódio, só encontrou a paciência e a suavidade da primavera. Foi, então,
devolvida por esse obstáculo à sua própria solidão. Dar-se-á, então, a
cena em que ocorre a vacilação da fantasia dessa mulher, que faminta
de sonhos, desde o princípio, tem a vista escurecida pela fome e pelo
sono que abate seus olhos, despertando, como veremos a seguir, para
a sua dura realidade.
46
Seriam os seus olhos que estariam quebrados, ou sua quebra in-
dica a existência de algo que no espelho, constituído entre o Sujeito e
o Outro, obscurece a sua visão. Retomando o Esquema L, é importan-
te ressaltar o efeito que tem esse espelho na necessária transformação
da imagem do eu (a) em imagem d outro (a’) e da imagem do outro
(a’)na imagem do eu (a) (DARMON, 1994).
Seus olhos sofrem, após essa experiência, um dano maior do que
aquele do sono que, ao princípio do conto, escurecia a sua vista, impe-
dindo-a de ver. Agora quebrados, no entanto, estariam em condições
de ver a escuridão para além da primavera que ainda pôde surpreender,
em repetição, na jaula do quati, mas agora ela se sentiu olhada pelo
olhar do quati, um olhar que lhe parecia perguntar algo. Fugiu desse
olhar. Mas a fuga foi vã, o olhar inquiridor desse animal a fez entender
que a jaula estava do lado dela. Diz, então, a voz narrativa:
47
O encontro com o olhar do búfalo:
a confluência erógena do amor e do ódio
Eis então o terceiro tempo do conto, nele, um búfalo negro olha
para a mulher que, de longe, sente-se por ele olhada. Tal era a no-
vidade disso, que ao sentir a reafirmação desse olhar, os seus olhos
não mais escureceram, foram tocados pela intensa brancura da coisa
branca que espalhara-se dentro dela e que contrastava com “o corpo
enegrecido de tranquila raiva” do búfalo. Uma morte branca, da qual
o búfalo a desperta e que a conduz à veneração. Uma espécie de gozo
extático se produz.
Nesse desfecho, observa-se a contraposição do claro e do escu-
ro, do amor e do ódio, do abrir e do fechar de olhos e de seus efeitos
por sobre a personagem. Ela, agora, transforma-se em presa desnuda,
nesse momento, sua nudez não mais é ofensiva como aquela descor-
tinada pelo seu voo na montanha russa, não mais está escondida em
um corpo aprisionado por um casaco marrom:
48
longo das grades. Em tão lenta vertigem que antes
do corpo baquear macio a mulher viu o céu inteiro
e um búfalo. (LISPECTOR,1982, p. 155)
Bibliografia
ASSOUN, P. L. O olhar e a voz. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999.
DARMON, M. Ensaios sobre a topologia lacaniana. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1994.
FERREIRA, N.P. A teoria do amor na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2004.
49
FERREIRA, N.P. Amor, ódio & ignorância: literatura e psicanálise. Rio de
Janeiro: FAPERJ, Contra Capa Liv., Corpo Freudiano, 2005
FREUD, S. Pulsões e destinos da pulsão. In. Escritos sobre a Psicologia
do Inconsciente. Vol.1. Rio de Janeiro: Imago, 2004.a
_________. À guisa de introdução ao Narcisismo. In. . Escritos sobre a
Psicologia do Inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 2004.b. v.1
JORGE,M.A.C. Os fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
LACAN, J. O Seminário, Livro 2. O eu na teoria de Freud e na Técnica
Psicanalítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
__________. O estádio do espelho como formador da função do eu In:
______. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
LISPECTOR, C. O Búfalo. In: Laços de Família. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982.
NASIO, J-D. O olhar em Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
E-mail: [email protected]
50
Muito Além da Crônica
Vera Lúcia de Oliveira
51
poderíamos chamar de mística, pelo inusitado encontro com um padre
às altas horas e pela comunhão de almas no silêncio profundo numa
igreja deserta, onde quatro amigos puderam compartilhar o sagrado,
o que encantaria Jung. Em Quixadá, encontrou Rachel de Queiroz, a
“Senhora do Não me Deixes”, de quem guardou a impressão de uma
mulher simples, contadora de histórias, vestida de chita, culta, mas
sempre sertaneja de sua Macondo. Assim, de Recife a Nova York, de
Quixadá a Paris, de Fortaleza ao México, as viagens são muitas e ricas,
e as histórias também.
Mas o que mais chama a atenção no livro é a generosidade
do autor. Amigo de seus amigos, sempre osvê grandes e generosos;
na verdade, ele o é mais que todos, pois avalia autores e obras com
os olhos do coração. Quem fala dos outros fala muito e mais de si
mesmo. Caminha louva os artistas de sua admiração, seja pela exce-
lência do trabalho, seja pela honestidade e/ou caráter irrepreensível.
E também pela “grandeza humana”, expressão que lhe é cara. E que
vale para ele. Entrevistou os maiores nomes da cultura nacional, como
Drummond, de quem se tornaria amigo dileto e referência como es-
tudioso de sua obra; ainda Otto Lara Resende, Dorival Caymmi, João
Cabral, Gilberto Freyre, que o chamou de “colega”, etc. etc. etc. E não
poderiam faltar os nomes internacionais, a exemplo de John Dos Pas-
sos e do gigante do cinema americano e mundial Orson Welles, entre
muitos outros. Grande leitor, Caminha leu tudo e mais um pouco e
nos presenteia com suas impressões de jornalista atento e de humo-
rista que não perde a piada, que ri de si mesmo como no divertido
episódio de sua tenra infância. Conta-nos ainda do seu não namoro
com a Medicina, sonho que não era seu, por isso irrealizado. Pelo que
a Literatura e os leitores agradecem.
E Caminha fez muito: fez crônicas que são artigos, artigos que
são ensaios e crônicas ao mesmo tempo, ou seja, fundiu os gêneros
pela densidade que dá às primeiras e pela leveza e emoção e subjetivi-
dade que dá aos segundos, os quais, muitas vezes, em alguns autores,
se tornam aborrecidos pela pretensão crítica e reflexiva pedantes de
52
quem está preocupado em exibir a própria erudição e em escrever
mais para si mesmo que para os leitores. Não o nosso autor, que é um
ensaísta de fôlego e de delicadeza, e um cronista que vai além, muito
além da crônica, que, com certeza, deixaria honrado o “avozinho”
Pero Vaz de Caminha, nosso primeiro narrador, cronista da poética
Carta do descobrimento. E ancestral de todos os Caminhas, como o
tio-bisavô Adolfo Caminha, autor de A Normalista e Bom-crioulo, e
do artista Alcides Caminha, pseudônimo do impagável Carlos Zéfiro.
A maçã não cai longe do pé!
53
3ª Parte
Poesia1
Esta Manhã
57
De Horácio Dídimo
I II
É hora de bendizer Pela fé que nos sustenta
A Santíssima Trindade Pelo amor que não se cansa
De louvar, de agradecer Para a casa dos OITENTA
Sua infinita bondade. Levamos nossa esperança
58
De Horácio Dídimo
Sete Poetas
Em qualquer tom
Leio o Drummond
No frontispício
Leio o Vinícius
De popa a proa
Leio o Pessoa
Nos carrilhões
Leio o Camões
A vida inteira
Leio o Bandeira
59
De Luciano Maia
Poema de Natal
60
De Pedro henrique saraiva leão
a rua corta
a praça, ávi
da parte a vida
enquanto passa
, a pressa espreita na praça
onde os amantes
por amor ou mor
te se des
encontram e dobram
cantos
61
para Ricardo Guilherme
os móveis lá de casa
heram pessoas da família —
hoje cheiram a mofo
em gavetas onde cupins
trilham sonhos indormidos—
ouvia-se a asma do vovô
o ronco da vovó
o sussurro dos fantasmas
o uivo do vento e dos arma
dores onde embalei esperanças
e pendurei ilusões —
erotempo do sempre
quando aranhas teciam teias
nos cantos dos pássaros,
impermanentes
62
Quando nossas cinzas
63
De Giselda Medeiros
64
De Ubiratan Aguiar
Vagão da estrela
Minh’alma transcende
É algo que se acende
Diante de mim
Sem começo, sem fim
E meus olhos ao vê-la
Brilham tal qual a estrela
Sem começo, sem fim.
Da matéria se desprende
Fluido que não se estende
As entranhas donde vim
E se torna paz, assim
Que ao senti-la, percebê-la
Passeio no vagão da estrela
65
De Ubiratan Aguiar
Canto de Vida
Vou fazer
Um canto de vida em cada canto,
Em cada vida um poema,
Um verso escrito no chão do teu corpo
Falando de amores,
De emoções do ser e suas reações
66
De Ubiratan Aguiar
Amei
67
De Linhares Filho
68
De Linhares Filho
Canção da Convivência
69
por chão, mar, aonde se for,
como picos de emoção
e extremos de adoração,
muitas vezes repetidos,
os revezes compensando,
sem nos deixarem contidos
ante as dores vindo em bando.
Nossa saudosa maloca
transformada num navio
por dom, labor, desafio.
Tudo isso, o que nos toca,
fogo que arrefece o frio,
são coisas de que dispomos,
são as coisas com que somos,
as que dão prazer ou doem,
coisas, enfim, que constroem.
70
De Linhares Filho
71
De Teoberto Landim
Ciúme
O medo de te perder,
real ou irreal,
Invadiu minha
privacidade
com ameaças perceptíveis
de sonho amargo.
Sentimento descorado
reduziu a auto-estima,
já era obsessão.
Inesperadamente,
apareceram as dores no peito
cravadas
pela humilhação.
Atônito, vi crescerem
as fronteiras
entre imaginação e fantasia.
e senti raiva,
crença e certeza
embora vagas,
imprecisas.
72
De Teoberto Landim
Sedução
Sem pensar em conseqüência
eu me embalava
sem convicção da coisa certa.
Momento raro,
hoje em dia.
Mas com freqüência poderia,
sem medo de arriscar,
cruzar portões, romper algemas.
Senti plenitude
na leveza do ser,
uma liberdade no ar.
Em silêncio
as palavras têm poder.
e, com um gesto, apenas,
incensos derramaram-se
73
no salão,
e um vinho seco
adocicava a sedução.
74
De Teoberto Landim
Amada
Tu és o mar
que me arrasta
que me inunda,
mas me ancoras
no teu porto
oceano.
Na calmaria,
alçando as velas,
quebro as fronteiras
e sigo delirante
o cheiro do teu corpo
em maresia.
SuSSurrOs.
Exausta,
mas satisfeita,
em clima de maré
mansa,
declaras-me
morto o desejo.
E eu em balbucio,
silenciosamente,
és minha.
75
Haicais de Sânzio de Azevedo
Tradução de Terezinka Pereira2
2 Escritora brasileira, nascida em Minas Gerais, e residente nos Estados Unidos, onde preside a
InternationalWritersandArtistsAssociation (IWA)
76
Sonetio
Para meu tio Horácio Dídimo
Henrique Dídimo3
3 Poeta e Cineasta
77
Pós –Tempo
Wânia Cysne Dummar4
78
o perigo que uma ultrapassagem atemporal, possa colocar em risco
este sentimento pulsando no tempo presente.
79
Teogonia
Révia Herculano
80
4ª Parte
Prosa de Ficção
O Quebra-Quebra
Juarez Leitão
83
mento declarando que “As repúblicas americanas, em solidariedade
aos Estados Unidos, injustamente agredido, romperiam suas relações
diplomáticas com o Japão, Alemanha e Itália.”
A comunicação brasileira entregue aos embaixadores do Eixo na
Capital Federal, em 28 de janeiro de 1942, informando-lhes o rompi-
mento de nossas relações diplomáticas e comerciais com seus países
foi considerada por eles como uma espécie declaração de guerra.
Datam desse episódio o início efetivo de ações de represália,
exercidas principalmente pela Alemanha, contra o Brasil. Navios mer-
cantes brasileiros passaram a ser postos a pique em águas do Caribe
e na travessia do Atlântico. Em 18 de fevereiro, o navio Buarque e o
paquete Olinda são afundados a tiros de canhão por submarinos ger-
mânicos. E, a partir de agosto de 1942, o torpedeamento de nossos
navios passa a ser feito em nossas próprias águas territoriais.
84
A providência da Prefeitura de Fortaleza logo ganhou abrangên-
cia estadual. No final do mês de agosto, o racionamento foi nacional-
mente decretado pelo Governo Federal.
85
Por volta das nove horas já se formara uma aglomeração em
frente à Faculdade de Direito, na Praça da Bandeira. Dois dias antes
já houvera outra mobilização na faculdade, com falas acusatórias aos
nazistas que estavam atacando os navios brasileiros e também aos
“galinhas verdes” conterrâneos, integralistas brasileiros e cearenses
assim apelidados porque usavam uma farda verde em seus desfiles e
paradas. Os adeptos de Plínio Salgado eram declaradamente simpati-
zantes de Hitler e Mussolini, títeres fascistas.
Agora a aglomeração era maior. Eram estudantes daquela escola
e de outros estabelecimentos de ensino superior e secundário que, exal-
tados, ouviam discursos nacionalistas dos colegas exigindo do Governo
Federal a declaração formal e explícita de guerra aos países do Eixo.
86
Os comerciantes de origem estrangeira começaram a temer
o pior. Alguns fecharam as portas de seus estabelecimentos, o que,
como veremos, não adiantou muito.
87
O saque e o fogo eram as armas da multidão, disposta a varrer da
cidade a presença dos que pudessem ter o sangue, a nacionalidade ou al-
guma simpatia suposta ou verdadeira por alemães, italianos e japoneses.
As Lojas Pernambucanas, gerenciadas por alemães, a Casa Ve-
neza, sapataria de italianos, a Camisaria do Álvaro e a loja A Cruzeiro,
de partidários do Integralismo, foram sendo atingidas uma a uma. To-
das tiveram as portas arrebentadas e sofreram a ira brutal dos depre-
dadores. E até mercearias e sorveterias de pessoas que simplesmente
tinham sobrenomes estrangeiros também foram golpeadas pelo braço
nervoso do povo.
A polícia a tudo assistia com espantosa neutralidade. Nas fotos
batidas por Thomaz Pompeu Gomes de Matos, que hoje formam pre-
cioso documentário do terrível episódio, podemos ver a passividade
dos milicianos, alguns deles até sorrindo das cenas dantescas que tes-
temunhavam com complacente indiferença.
O interventor Menezes Pimentel, com todo o seu secretariado,
se encontrava ausente da capital em uma fazenda próxima, não se
sabe se em função de alguma estratégia política ou desculpa armaze-
nada para o dia seguinte.
Perto do meio dia o fogo já devorava várias lojas, de onde saíam
populares sobraçando os produtos do saque. O botim mais rendoso
era o das peças de pano das lojas Pernambucanas e os sapatos da
Casa Veneza.
88
Bolívia. Chegara nos anos 20, dera um duro danado em nossa terra
para sobreviver, mas, finalmente, estava, nos inícios dos anos 40, se
firmando como um horticultor próspero e conceituado.
Casara com uma cearense, se batizara na Igreja Católica e se
fizera aceito na comunidade, pois era um cidadão pacato e trabalha-
dor. Com a sua mulher gerou 14 filhos, embora apenas seis tenham
conseguido sobreviver.
89
Da casa, destelhada e vazia, ficaram só as paredes, cercadas de
desolação. Um cenário de Hiroshima.
O menino João Batista, que tinha seis anos, guardou para sem-
pre aquelas imagens de espanto e incompreensão. E é ele que relata,
hoje, capitão da reserva do exército brasileiro e empresário bem suce-
dido da construção civil:
“Chorei muito porque tinham levado minha roupinha de mari-
nheiro. Com aquela idade não entendia a amplitude do problema. Só
sei que minha mãe chorava muito.
A família que nos amparou teve uma solidariedade incomum.
Nos levaram para a casa deles, mesmo sem ser abastados. Nos prote-
geram, nos salvaram. Passamos vinte dias na casa dessa família.
Ninguém pode imaginar como seria se tivéssemos ficado em
nossa casa até a chegada dos atacantes. Teria sido uma coisa terrível.”
90
Nem da Terra Nem do Mar
Giselda Medeiros
91
Decide-se e, novamente, seus passos imprimem na areia outros
rastros, fundos, alinhados, esticando o caminho sem retorno. Os olhos
são gaivotas em voo raso. Nada veem senão o mundo azul, seu infinito
aberto para a liberdade.
Ninguém saberá dele (afinal, é apenas mais um dos muitos de-
sempregados). Quem saberá de suas angústias, de seus medos (pou-
cos, pois os vencia: aquela não lhe era uma prova?! aqueles passos
caminhando para a liberdade. não pareciam corajosos?!). Família não
tinha (não legaria a ninguém a sua infelicidade).
De repente, estanca em plena via-sacra. As pernas lhe são enor-
mes pesos a impedirem o movimento dos pés. Arreia, sobre a areia,
suando gelado, as pernas dobradas, genuflexas. Depois, todo o corpo
em languidez mórbida se horizontaliza. Quer levantar-se, ordenando
que se apresse, falta pouco, muito pouco. O mar está a poucos passos.
Vamos, falta pouco!
A noite vai chegando. a noite que o viu, faz pouco tempo, lá, no
cimo da torre, feito morcego, balançando ao vento. A noite, a mesma
que lhe viu os pulsos vermelhos, atados, recosturados à miséria da
vida. A noite, a mesma que o viu por entre as rodas da imensa carre-
ta, depois, no silêncio do quarto, entre outros moribundos, ligados a
uma engrenagem moderna. A noite, a mesma que lhe testemunhou
o encontro com a Palavra – a Bíblia – que lhe deram numa tentativa
de salvação e que não pôde ler. Era analfabeto. Sombras. apenas som-
bras. E nem sabia ler!
O céu plúmbeo, fechado, conspirava. A lua não apareceu. Tam-
pouco as estrelas. Tudo escuro. E ele nem sabia ler! Era um verme!
Bem que poderia deixar-se ficar, ali, na areia, misturado à inutilidade,
para continuar a ser pisado. Oh, não, isso não quereria mais! O mar
está ali, tão próximo. Falta pouco!
Arrastar-se até ele. E, por que não?! Não foi assim que sempre
vivera? Esforça-se, numa luta titânica (?). A roupa lhe pesa, os sapatos
impedem-lhe o movimento. Já não pode carregar a Bíblia. Precisa das
mãos livres para remar na areia. Também nem sabe ler. Resolve livrar-se
dos supérfluos. Inútil a peleja.
92
O mar, ali à sua frente, geme também as suas angústias e as
daquele homem, completamente nu, misto de gente e réptil, em seu
esforço para alcançá-lo. Está quase vencido. Vamos, falta pouco para
o nascimento!
As mãos pesadas agarram-se à areia, afundando-se nelas, como
raízes. Qual Tântalo, o homem sofre o desespero de ver o mar ao seu
alcance e não poder tocá-lo, juntar-se a ele, ser dele. As unhas, os
dedos, tudo são tentáculos encravando-se na carne branca das areias
anoitecentes. E suas lágrimas misturam-se às águas das poças que
refletem somente a escuridão do seu olhar.
E a noite vai crescendo. em sombras e desespero. desespero de um
grito, qual lâmina de aço, a cortar a quietude das areias para resvalar, em
seguida, até condensar-se e impregnar-se, na noite, feito tatuagem.
93
Zabelinha
Ser feliz sem motivo é a mais autêntica
forma de felicidade.
Carlos Drummond de Andrade
Regine Limaverde
94
- hoje tem veneno para o almoço? Foi nessa mercearia, também, onde
comprei meu primeiro cigarro (depois de roubar dinheiro do bolso do
meu pai) e pipers, um bombom de hortelã, que se usava para disfarçar
o cheiro horrível da boca depois de um forte cigarro BB.
Rio, rio das lembranças quando falo no pessoal que habitava
essa rua. Tinha uma oficina cujo dono (tadinho!) tinha varicocele. E
ficava sentado numa cadeira de balanço com aquele mondrongo en-
tre as pernas à mostra de quem passasse. Nessa oficina trabalhava o
Gipão, um bichão grande, cheio de músculos e que namorava a cozi-
nheira da minha casa. Quando precisava de operário para esvaziar a
fossa, o papai chamava o Gipão, que, atolado em fezes, tomava goles
e goles de cachaça para aguentar o mau cheiro exalante do terrível
trabalho. Mais adiante, tinha umas vitalinas enjoadas e uma delas,
talvez a mais chata, me preparou para a primeira comunhão. – Quem
é Deus? - É o Criador do céu e da terra. Ele está presente em todos os
lugares. E tome Ato de Contrição, Creio em Deus Padre, Salve Rainha.
Decorei tudo e fiz minha primeira comunhão na Igreja de São Benedi-
to com os cachos todos arriando do meu cabelo liso e que havia sido
colocado no Toni a noite toda. Toni era um fixador de cheiro horrível e
que deixava o cabelo todo enroladinho. Foi um festão nesse dia, com
direito à visita das minhas duas avós e um presente que ainda hoje
possuo, um certificado do feliz dia da minha primeira comunhão e que
meu pai mandou colocar em moldura.
Na época, duas coisas me alegravam: a posse de uma mala, da-
quelas de madeira e cobertura de papel encerado, comprada no Mer-
cado S. Sebastião, bem cafona, mas que tinha fechadura, e latas de
biscoitos sortidos que eu degustava encantada. Juntava toda a minha
mesada para ter esses dois tesouros. Na mala guardava provas do co-
légio, chocolates e bilas (tinha uma bolsa de cabeçulinha que ganhava
nos jogos com os meninos da rua). Eram de todas as cores: amarelas,
azuis, verdes, róseas. Essas bilas me fascinavam.
Aos domingos brincávamos de guisado. Comprava fogareiro de
barro e panela também no Mercado São Sebastião que ficava perto
95
e, assim, aprendi a fazer carne, feijão, arroz e outras comidas mais. A
mamãe morria de nojo de provar essas iguarias, mas foi uma maneira
sacrificada e brincalhona de eu aprender a cozinhar.
Mais adiante, havia uma família que tinha muitos filhos. Alguns
homens que levavam nomes de heróis brasileiros e mulheres mais ve-
lhas do que eu. Havia um, o mais novo, que tinha o apelido de “Rato”.
Os mais danados do quarteirão, quando queriam insultá-lo, jogavam
cascas de queijo no terraço da sua casa. Era um papoco!
Em frente à minha casa moravam os pais do Pintor Antônio
Bandeira. Minha avó era muito amiga da D. Maria. E quando diziam
para ela sobre as danações do Seu Sabino, seu marido, ela falava: -
quem comeu a carne, que roa os ossos.
Havia uma vizinha que morava com o marido cujo nome era Seu
Rolinha. Ela dizia assim: - só tomo banho quando meu corpo pede.
Havia uma que era a rainha da rua. Tinha três meninos dana-
díssimos!!! Eu adorava brigar de luta livre com o do meio. Às vezes,
eu perdia as lutas e ficava danada e saía atrás dele com uma corda na
mão. Nas lutas, quando o adversário gritava penico, penico era pra
gente sair de cima dele.
Vizinho à minha casa morava um casal muito decente que tinha
três filhos e uma filha. Eu era apaixonada pelo mais velho que usava
Fleur de Rocaille, o perfume da mãe. A mulherada do quarteirão ado-
tava um caderno com perguntas às quais todas nós respondíamos.
Seu nome era caderno de Disparate. Nele fazíamos todos os tipos de
perguntas para, dependendo das respostas dos meninos, sim, por-
que todos os adolescentes das redondezas assinavam o ponto nessa
brincadeira, sabíamos quem paquerava quem. Na primeira página, a
gente se identificava e tínhamos, então, um número. Através dele
sabíamos o perfil de todos os entrevistados. Meu galã era moreno dos
olhos verdes e, através da brincadeira, soube que ele também tinha
interesse por mim. Sua mãe possuía uma fábrica de soutiens. Naquele
tempo, os sustentadores de peitos eram acolchoados. E a minha pri-
meira providência, ao começar o namoro com o moreno, foi comprar
96
um soutien que eu, ao empurrar a mão sobre a peça, entrava toda.
Eu achava lindo desfilar na rua com uma roupa que eu mesma havia
costurado, usando meu soutien acolchoado. Cartei muito alto com
os peitos maiores do que na verdade eram. Depois que me mudei
para Aldeota e abandonei a Zabelinha, ainda recebi uma visita do meu
moreno dirigindo uma Rural Willis, mas cedo, troquei-o por outro.
Minhas exigências foram se refinando.
As pessoas da Zabelinha eram muito humildes e me ensinaram
muita coisa boa. Durante o tempo em que morei lá tive tristezas, co-
nheci a morte, a vida, despertei para o sexo, entrei para adolescência,
menstruei aos 12 anos depois de ser beijada na bochecha pelo meu
primeiro namorado, despertei para poesia, para a leitura (li Os sertões
aos 13 anos de idade), estudei muito, e fui feliz colecionadora de cha-
pas de políticos, de lápis pretos, de cadernos com misses Ceará, Brasil
e Universo e organizadora de álbuns de artistas. Meus preferidos eram
Rock Hudson e Elizabeth Taylor. Foi lá que soube como um nenê era
feito, fato que me impressionou. Foi lá que consegui o primeiro lugar
no Exame de Admissão, depois de estudar e rezar um rosário todos os
dias. Foi lá que previ meu futuro de viajante, gostando de malas. Foi lá
que aprendi a ser gente. Tenho saudades da Zabelinha.
97
A Execução
“Quanto menos sabedoria, maior a felicidade”
(Erasmus de Rotterdam)
Flávio Leitão
98
Mesmo diante da justíssima sugestão de Santo Agostinho, o Bis-
po de Hipona, de que a lei deva tratar diferentemente os socialmente
desiguais, havia um grande fosso cultural separando as duas partes,
dificultando, sobremaneira, o trabalho de Obede.
De um lado,as matreirices de alguns patrões, tudo contribuindo
para anular a aparente benesse da lei e, consequentemente, tornar ár-
duo o trabalho de Obede; do outro lado, o operário bobo, analfabeto,
desconhecedor de seu valor intrínseco.
Com o passar do tempo, entretanto, primando por se comportar
como intransigente defensor do operariado nas frequentes contendas
entre patrão e operário, tornou-se Obede conhecido e próspero ad-
vogado, detentor de famosa banca advocatícia, mesmo tendo optado
pelo lado mais fraco da contenda.
Recusara, em várias ocasiões quando ainda jovem, tentadoras
ofertas para engajar-se em escritórios de grandes empresas, que o
compensariam com substancial e invejável salário.
A todo canto de sereia recusou-se ouvi-lo, sem desdém, mas
com determinismo, mantendo-se fiel aos ditames de seu foro íntimo,
que o impelia ao devotamento total aos pertencentes ao lumpem pro-
letariado, no dizer do jargão marxista.
Certa tarde, reaparece-lhe no escritório, fim de expediente, um
cliente operário, praticamente analfabeto, muito cioso da religião que
abraçara - o pentecostalismo.
Era desses que se julgam arautos da fé cristã, passando ao exer-
cício intempestivo e enfadonho da citação automática de alguns dísti-
cos bíblicos, que logo identificam os seguidores de Lutero, terminando
pelo “Deus seja louvado!”.Terminada a litania, indaga ao Dr. Obede
pelo seu processo.
Verificadas as fichas cadastrais de todos os constituintes ini-
ciados pela letra J, finalmente chega-se à do senhor José Ataliba da
Silva Beraldo.
O Dr. Obede faz uma leitura dinâmica da ficha e abre-se em
um agradável sorriso, afirmando: seu Beraldo, o juiz deu-nos ganho
99
de causa. Infelizmente, seu ex-patrão recusou-se a pagar, razão por-
que vou ter que executá-lo.
Seu Beraldo demonstrou certo grau de alegria, mas depois, en-
tre constrangido pelo inusitado da proposta que acabara de ouvir de
seu advogado e, ao mesmo tempo, querendo um mínimo de justiça,
replicou: Doutor, eu sou da religião Pentecostal, assim, não concordo
em executar o ex-patrão, muito embora ele o mereça.
Prefiro, portanto, por causa dessa santa religião, que o senhor
mande apenas dar uma boa pisa no homem.
100
Café du Départ
Américo Guerreiro de Sousa
101
me pareceu quase incompreensível. É certo que você não se sentia
muito confortável com o calor que fazia essa tarde, já se irritara com
o empregado por se ter enganado na bebida que lhe pedira, enfim,
não estava nos seus melhores dias. Você morava na Rua Cujas, mas
era neste café-restaurante que nos encontrávamos a maioria das ve-
zes. A si convinha-lhe o sítio por não ser longe da sua casa; a mim o
local do encontro não fazia grande diferença, apesar do preço exor-
bitante que estes exploradores de turistas cobram pelo chocolate
quente. Mas este café tinha a vantagem de, sendo perto do Sena,
permitir uma volta pelos bouquinistes ou ir ver passar as barcaças,
se do nosso encontro mais não resultava do que o amuo frequente
de dois jovens, pouco mais do que adolescentes, que começavam a
apaixonar-se um pelo outro, sabendo antecipadamente, porque até
aí chegara a nossa intuição, que esta seria uma história sem futuro.
Tínhamos backgrounds, feitios e tendências muito diversos, e por-
tanto estávamos sujeitos a discussões frequentes.
Eis-nos nesse dia à beira de um desses arrufos que nos estraga-
riam pelo menos a tarde. Para espairecer a irritação que me provocara
um qualquer dos seus ditos, olhei a praça, cheirei um sopro do rio que
me chegou envolto no odor abafado das viaturas. Procurei refugiar-me
em pensamentos de largo e ative-me àquilo que estava mais perto, o
Sena.Gostava muito dos barcos do Sena, mas talvez gostasse mais ain-
da dos seus belos nomes: os bateaux-mouches, as péniches, os esprits
yachts como aquele, todo envidraçado, climatizado e equipado com
um pont soleil onde um dia você, lisonjeada pelo meu fascínio da água
descendo, quis à viva força oferecer-me o aperitivo, apesar de a sua
bolsa, nesse outono em que decidira prescindir da ajuda dos seus pais,
não estar muito mais abonada do que a minha. Não mais esqueci esse
seu gesto encantador, querer pagar-me um Martini seco na .como se
chamava ela? Ah sim, Péniche Evasion, ora aí está, bela memória tem
você ainda, Madeleine. E que nomes tão sugestivos para um horizon-
te que todo se abria em flor, refiro-me tanto ao seu nome proustiano
como ao nome do barco, que é real. Mas onde ía eu?
102
De modo que quando você me perguntou por que me queria
exilar de Portugal se não gostava da França, havia despeito e um certo
rancor na sua voz. Era uma pergunta inesperada para quem acabara
de se declarar há pouco “une femme de gauche”, sabendo decerto
que qualquer Português que fizesse vinte anos e não fugisse depressi-
nha do país corria o risco de ir parar com os ossos a África. Por outro
lado, e não querendo aprofundar muito o assunto, Paris não é o mes-
mo que a França, e nunca lhe dissera que não amava o seu país, nem
muito menos a sua capital, embora, a esse respeito, eu nunca tivesse
sido de grandes efusões. Não bastava já abrir os pulmões com deleite
aos eflúvios do rio, pelas manhãs frescas, e saudar os pores-do-sol do
alto de Montmartre como se fossem os últimos das nossas vidas, e fi-
car depois, calado, imerso na imensa nostalgia que me dava o grande
horizonte visto da sua casa, sobre os telhados sujos do imenso casario?
Que mais era preciso para render homenagem à sua cidade sem par?
Oriunda de Bezançon, patriota ao modo único dos franceses, incapa-
zes de conceberem não ser o seu país um modelo de civilização para
todos os outros (nunca conheci nenhum seu compatriota que, sobre-
tudo viajando no estrangeiro, não pronuncie a palavra França menos
de três vezes por minuto), você não concebia que um Portuguesito de
Lisboa não idolatrasse Paris acima de todas as coisas, essa cidade de
que você era tão orgulhosa e que me soube mostrar tão bem. Recen-
te professora de Geografia num lycée não muito longe deste café, a
sua ambição desse tempo era, imagine-se, tornar-se guia de turistas.
Cinco anos mais novo do que você, eu aparentava ser para si uma boa
cobaia nesse seu intuito profissional, tanto mais que, fora dos meus
maus momentos, que também os tinha, eu era de temperamento as-
saz submisso, ao contrário de si, toda fogo e revolta. Anarquista de
data recente, não me perdoava que zombasse ao recordar como o ge-
neral De Gaulle, só com o seu ar de velha águia teimosa e um discurso
duro na televisão, pôs fim, de um dia para o outro, ao grande espírito
revolucionário desse famoso mês de Maio. E desculpe se ainda hoje
eu arrisco entornar a água do copo por cima da sua bela blusa de seda
103
lilás, assim a abaná-lo tanto com as convulsões do meu riso, mas aqui-
lo foi tão cómico, ver na manhã seguinte ao discurso entre paternal e
ameaçador do Presidente todo o francês e toda a francesa tomando o
metro disciplinadamente para o emprego, com aquele ar embaraçado
de colegial apanhado em falta, greves terminadas, acabou a festa,
meninos e meninas, daqui a uns anos a gente, isto é, os nossos netos
repetirão a façanha, e farão uma revoluçãozinha semelhante, nada
como uma boa festa nas ruas.
Ah, falava-lhe das razões da minha admiração pela sua animo-
sidade, na sua voz e no seu olhar claro de criança mimada — a única
nota duma certa pureza infantil que conservou através dos anos - pois
era isso e não outra coisa o seu despeito por eu, já nesse tempo, iro-
nizar muito por acreditar em tão pouco. Em maio de 1968, quando
nos conhecemos, eu tinha apenas, como lhe disse, dezoito anos. Mas,
amante de leituras, nascido já com um grosso volume de História na
cabeça, sabia antecipadamente no que costumam dar as movimen-
tações de rua sem controlo majestático, digamos assim. Além disso
era realmente um pequeno burguês na minha formação ideológica-
burguês, palavra de que ao tempo se abusava, tão céptico das vossas
revoluções como das nossas e das outras todas. No fundo, eu via e
previa um paralelismo fatal entre o vosso Maio célebre e o nosso 25
de Abril a haver, se me permite a mistura de tempos, agora que me é
possível pôr ambos os eventos no mesmo saco e efabular um pouco
sobre as minhas intuições da época: ambos teriam de fracassar.
Dizia você que, com estas admiráveis qualidades, mais a in-
suspeitada capacidade de adivinhar, me deveria sentir bem no país
de onde vinha, o país dos milagres de Fátima, das procissões para
fazer chuva, “o país de Salazar”. Esta frase tinha na sua boca dois
séculos de revolução francesa mal contados e não sei quantos anos
de menoscabo por Portugal, provinciana colónia cultural do seu país
durante muito tempo, depois da dependência política sob a pata na-
poleónica, coartada embora pelos esforços dos nossos amigos ingle-
ses, que também acabaram por comer uma bela fatia desse torrão “à
104
beira mar plantado”, o único Camões que você sabia citar, na sua en-
graçada pronúncia. Claro que não me sentia bem no país de Salazar
e não seria apenas pelo peso da ditadura. Muito do meu desconforto
tinha a ver comigo e resultava tão só do descontentamento de mim
mesmo, do meu umbigo. Mas a parte política existia, mesmo assim, e
sempre foi a mais fácil de explicar. Quanto à razão para o exílio mais
óbvia, a fuga ao serviço militar, não era a que mais me preocupava:
ainda faltava algum tempo para correr esse risco e, por outro lado, o
desejo de mudar de ares tornara-se tão premente, tão obsessivo, que
mesmo a África me pareceria mal menor, comparado com o sufoco
da vida em Portugal.
Expliquei-lhe portanto, nesse dia, o que era o Portugal de en-
tão. Disse-lho com acrimónia, com raiva até, embora lhe tivesse fa-
lado também das minhas incríveis saudades do Castelo de São Jorge
e do bairro circundante onde nasci e brinquei, ali nas espaldas do
Castelo Mágico. Afiancei-lhe que na realidade eu não detestava nem
Paris nem a França, não detestava nada. Sentia-me apenas demasia-
do cansado, a despeito da minha tenra idade, para sentimentos fortes
em relação a tudo o que não fosse eu, o meu umbigo, o tal umbigo
que agora ando a ver se decifro com a sua ajuda. Derradeira crise da
adolescência, diz você? Não lhe chamaria derradeira, mas aceito o
diagnóstico. Estava num período de depressão, uma depressãozinha
feita de tédio e desamor por tudo. Tinha acabado de entrar na Uni-
versidade, a tirar Germânicas, e aquele curso de Letras parecia-me
uma enorme perda de tempo. Tempo para quê não o sabia, e essa
ignorância do meu objectivo na vida era o que mais me oprimia. De
modo que encontrar o seu sorriso no oceano do meu desafeto geral,
começou por ser bem refrescante. Posso garantir-lhe que gostei de si
logo à primeira vista, um desejo físico, a vontade imediata de sabore-
ar um gelado apetitoso em dia de calor.
Vá lá, não se ofenda com a comparação, sabe que eu adoro ge-
lados, na realidade o símile pretende ser lisonjeiro, que há de melhor
do que um bom gelado quando se tem sede? E você era um belo ge-
105
lado, acredite. Aceito no entanto que compará-la a um gelado é talvez
algo fescenino, aliás pouco rigoroso, pois lá ardente é você, mas como
fugir a essas frases simples sem as tornar banais e ridículas? Eu gostava
de si mais de que alguma vez ousei confessar-lhe, e gostando de si,
uma bela mulher loira, bem francesa, superficial mas com pretensões
a filósofa, snob aspirando à simplicidade cruel e no entanto capaz da
maior solidariedade com os povos oprimidos, as raças abandonadas,
os pobres. Natural que, amando-a como a amava, também tivesse um
fraco pelo seu país, pois assim é o homem: uma bela mulher valoriza
muito o seu entorno. Até a pátria, conceito cujo valor já nesse tempo
me parecia um tanto caduco e hoje me começa a parecer francamen-
te duvidoso, quando penso no papel das fronteiras no sofrimento de
tantos deserdados da terra à procura de um local para trabalhar e
viver, longe dos seus horríveis lugares de origem onde só existe fome,
doença e morte, até uma pátria, coisa abstracta e bastante ilusória
se não inteiramente irreal, adquire um peso específico, um vulto, um
certo encanto quando se ama alguém seu natural.
Sendo assim, como explicar as nossas frequentes discussões, os
nossos arrufos, a vontade de tudo acabar? As discussões começavam,
muitas vezes, por resultar da graça que me dava considerar-se você uma
anarquista devota, em perfeito contraste com a sua aparência de me-
nina bem vestida e bem tratada, confortável num meio que lhe dava
tudo o que é preciso para viver contente, e você vivia contente, como
atestava o tom dourado da sua pele bem cuidada, no princípio desse
outono ventoso e frio. Aposto que tinha passado o verão em Saint Tro-
pez, com os pais ricos a sustentá-la, despedindo-se em beleza de uma
vida de menina bem, antes de entrar no mercado de trabalho, onde
aspirava de facto à independência. Já não me lembro é se Saint Tropez
ainda estaria por essa altura na moda, depois da associação à Françoise
Sagan do Bonjour Tristesse e seus escândalos, mais imaginários do que
reais, diga-se de passagem, sobretudo se vistos com os olhos de hoje.
Mas dinheiro e snobismo realmente não lhe faltavam, quando
a conheci nesse Maio de 68. Estava você prestes a iniciar a sua futura
106
actividade de professora do liceu, mas dir-se-ia que o seu futuro seria,
antes, embaixatriz ou pelo menos uma jornalista de revista de luxo,
tal era o seu aspecto de fina parisiense vestida à lapage. A revolução
surgira-lhe na vida como o condimento emotivo para o seu tédio an-
cestral, uma forma de espanejar o espírito. Do que bem me lembro
é de que você desapareceu sem aviso nem notícias durante três se-
manas, no início de Agosto, e quando finalmente nos encontrámos
de novo vinha bem bronzeada e com um halo tão sedutor que me
deu vontade de lhe fugir, porque me senti tão pálido, tão magro, tão
olheirento, uma verdadeira insignificância a seu lado. Era isso tudo
e mais o meu ciúme por achar que quem você adorava era o Cohen
Bendit, o Santo Bendito, como eu lhe chamava com mal disfarçado
rancor ciumento. Não? É muito gentil em protestar, mas se o que digo
não fosse verdade já você teria, durante estes anos que nos separam
do Maio de 68, ido a Portugal dezenas de vezes, uma no verão e
outra na Páscoa de cada ano, pelo menos, e conheceria o Castelo
de São Jorge e as ruelas estreitas e íngremes do bairro onde nasci, e
toda a história, arquitetura e geografia de Portugal tão bem como eu.
Não foi a Portugal mas foi à Turquia, foi à Grécia, adorou Malta, e foi
à Polónia, ao Paquistão e até a Goa, ver se aquilo se tinha realmente
transformado na terra prometida dos hippies, como constava. Mas
que eu saiba, nunca foi de facto a Portugal, o que, se quer que lhe
diga, fez você muito bem: essa inesperada lacuna numa professora
de Geografia e numa mulher tão amiga de viajar talvez lhe tivesse
sido benéfica ao conservar-lhe intacta a boa imagem que, pelos vistos
e apesar de tudo, conserva ainda do meu país, impressão que lhe
ficou pela forma magnífica como fizémos a Revolução de Abril.
A Revolução de Abril foi um hino à liberdade? Diz bem, um
hino à liberdade e à vida, à poesia da vida sem polícia política nem di-
tadura. A Revolução dos Cravos, que maravilha! Quando me exaspe-
ro com os meus compatriotas mais lerdos busco sempre na memória
esse admirável evento e a forma sublime como ensinámos ao mundo
a técnica de fazer uma revolução moderna a preceito, sem guilho-
107
tina, sem execuções, quase sem violência, ainda que com algumas
prisões e vários exílios. Se visitasse o meu país, antes do 25 de Abril,
você deixaria de me admirar o garbo, não há quadro que resista a um
caixilho barato, e desculpe a imodéstia do belo perfil, mas não, não
é vaidade idiota, é simples ironia.
Dizia-lhe eu que quando, uns anos antes do famoso Abril, no
outono de 1968, você me perguntou por que tinha fugido de Por-
tugal, eu respondi-lhe, sério para variar, que detestava buracos, e
Portugal era isso, um buraco sujo com cheiro a creolina. As pessoas
moviam-se numa lentidão exasperante, com uma espécie de falta
de ar ou de vontade de o respirar. As crianças aprendiam a doutrina
do céu, purgatório ou inferno para quem nesta vida não se portas-
se bem, e Portugal era grande, maior talvez do que a Europa toda
junta, se se reunissem num mesmo mapa as colónias portuguesas
espalhadas por esse mundo vasto. Disse colónias mas chamavam-
-se províncias, lapsus lingua e perdoável a quem conviveu durante
tantos anos com jóias linguísticas desse quilate. A alienação foi tão
grande que até a língua se me dobrou ao pronunciar palavra tão feia.
Colónia, que horror. Éramos tão grandes como dois ou três desertos
do Sara, só nos faltava o petróleo. Estava toda a gente morta e os
que detinham o poder fingiam-se apressados e muito ocupados e
estavam sempre em reunião, mania nacional que ainda perdura, mas
há realmente que manter um certo ar de importância. Alguns jovens
deixavam crescer o cabelo para que os vizinhos se rissem alvarmente
e parecessem apenas animais idiotas e não descendentes encartados
dos velhos inquisidores. Eu próprio andei de trunfa durante alguns
anos, mas hoje vejo que isso era apenas o meu velho horror de ir ao
barbeiro. Portugal era de facto um buraco escuro e pestífero com
muito tipo de moscas alimentando-se em toda a espécie de mon-
turos e alguns zângãos ricos que viviam bem, ainda que cheios de
tédio. Metiam-se nos carros de luxo e lá passavam o tempo. Quando
algum deles calcava a rua buzinando claretim sentia-se nitidamente
o cheiro a refogado e a dormidas espapaçadas em noites quentes.
108
Porque os zângãos raramente largavam o Mercedes, fazia parte da
pose deles. Aí cozinhavam discursos e mais besuntadelas e do tubo
de escape dos mais bonitos saíam, às vezes, rosas para todos, como
no caso exemplar da Rainha Isabel, que qualquer criança portugue-
sa, por mais inculta, conhece. Os sans-cullotes precipitavam-se então
para apanhar as rosas e, se um ou outro ficava esborrachado nas
rodas das viaturas dos zângãos, isso não tinha importância, significa-
va um sans-culotte a menos, como em tantos países da Africa ainda
hoje, tem toda a razão. Eu dizia que significava uma culotte a menos
para um sans-cullote e tudo vogava às mil maravilhas.
País vendido aos turistas. De dia ainda havia o sol, apregoado
em posters pela Empresa dos Caça-Papa1vos — que o Abril é bonito
em Portugal (tem dias.), e os mortos lá se iam distraindo apanhando
borboletas. Mas à noite, oh, à noite, as casas fechavam-se sobre o
nosso cadáver, as paredes estreitavam-se até ao grito e sentia-se nas
ruas o cheiro das gargantas sufocadas, e por vezes das janelas saía
música, as crianças choravam longamente, os pais sentiam-se pais
até morrerem de pura paternidade, as mulheres abriam as pernas
para se distraírem com os seus homens naqueles dias sem fim nem
princípio, tão iguais como a face eterna do Deus que nos regia im-
placável por cima das nuvens, pintado pelas mãos desses zângãos
de que lhe falei, tão tristes como uma criança solitária sentada nos
degraus duma velha igreja vazia, tão desesperantes como eu estar
para aqui a falar ainda e a frio desse mundo já tão longínquo donde
toda a vida fugira.
Mas agora calo-me porque quero beber esta bica em silêncio,
saborear o meu copo de água vendo lá ao fundo aquela barcaça cheia
de turistas passeando no Sena. Talvez eu descubra a Arte de Cavalgar
Toda a Sela, primeira edição, num daqueles bouquinistes de que você
tanto fala e gosta de ouvir falar, sem que no entanto, segundo diz,
consiga descobrir o que há de importante num livro velho, porque
você mudou, passou a ser despudoradamente cartesiana, anti-saudo-
sista, tão racional como uma lapa movendo-se a horas certas na área
109
restrita da pedra que lhe pertence. Calo-me porque reconheço agora
que, depois desta conversa toda, não lhe disse nada daquilo que era
verdadeiramente importante para mim e que me fazia tanta falta e eu
não podia encontrar em Portugal, como também não encontrei em
França e, mesmo que não me tivesse cansado de viajar, certamente
não encontraria em qualquer parte do mundo, essa coisa importante
e indescritível, ou talvez eu não a conheça exactamente e seja prefe-
rível calar-me. E calo-me porque há em mim uma espécie de pudor
que me levava nessa altura a ocultar dos outros e de mim próprio o
motivo do meu descontentamento e que era a principal razão por
que viajava tanto. Agora calmamente, embora com aquela imprecisão
das palavras humanas, digo-lhe: no fundo eu estava-me nas tintas
para o salazarismo, sempre pensei que, se fosse pobre, assaltaria um
banco ou esfolaria um rico, e que não há regime político que possa
realmente explicar a infelicidade das pessoas. Simples desculpa para a
incapacidade, um regime político. O crime é uma virtude e um valor
nos países em que não haja liberdade. Quer isto dizer que estou a ser
contraditório, que estou prestes a defender um certo terrorismo, que
no fundo sou um revolucionário autêntico como dantes se definia, isto
é, um homem que sabe que um homem não é apenas uma barriga e
uma necessidade de segurança, mas um bem e sobretudo uma neces-
sidade de liberdade sem fim, mesmo que esta seja conquistada graças
ao extermínio das códigos. Mas não pense que para mim justiça é a di-
tada pelos homens. Eu acredito numa justiça que derive do indivíduo,
e que não possa ser coartada pelas leis, acredito na liberdade plena,
seja lá isso o que for. Eu sou um caso perdido, agrada-me dizer, para
compensar que o mundo é demasiado pequeno para o meu feitio, e
desagrada-me até às lágrimas dizer-lhe que toda a vida tenho tentado
lutar contra este instinto de conservação, de adaptação, que faz de
mim — mas eu ainda confio no futuro — um ser bem comportado
excepto quando não posso mais.
Nesse tempo houve um dia em que não pude mais com a prisão
sufocante que era Portugal. Que não tivesse encontrado em França,
110
onde havia uma revolução no ar, mais liberdade ou mais esperança do
que no meu país onde o salazarismo ia aliás morrendo, ao contrário
do seu onde a democracia se tornava uma mulher adulta, é o meu
problema inexplicável, mas isso também não me interessaria agora
explicar-lho, desculpe-me a franqueza.
Mas voltemos ao 25 de Abril, aquilo que ainda hoje mais nos in-
teressa recordar. Ah, o 25 de Abril. Não alterou grandemente a rotina
quotidiana da maioria das pessoas, sobretudo das mais humildes, em-
bora tivesse afetado, e não pouco, as vidas de uma minoria possiden-
te, a que teve de se exilar, por exemplo. Alguns dos meus compatriotas
nem se aperceberam muito das mudanças que aí vinham. Pergunte
a um pastor das montanhas de Trás-os-Montes o que lhe disse o 25
de Abril. Nada, absolutamente nada. E muitos outros houve que não
se dignaram prestar muita atenção aos acontecimentos que
diariamente iam enchendo os jornais com notícias frescas, por vezes
escaldantes: o discurso de demissão do Spínola, a sua fuga posterior,
em Março de 1975, para o Brasil, as sucessivas quedas de ministérios,
a cada vez maior ameaça de subversão de forças demasiado obscu-
ras para que fossem tomadas simplesmente como manifestações de
esquerdas demasiado juvenis, demasiado exaltadas no seu súbito des-
pertar para a liberdade e a vida para poderem ser tomadas a sério
pela maioria prudente e conservadora da Nação. E no entanto, que
festa! Eu estava lá por acaso, semi-clandestino, de qualquer modo
incógnito, para não ser preso como refractário pois, como sabe, no
verão de 1968 escapara-me do serviço militar e viera refugiar-me no
seu belo país, diria mesmo, debaixo das suas saias, e desde aí a minha
vida era um permanente viajar por esse mundo. O 25 de Abril deu-se
no intervalo de uma das minhas dezenas de viagens, numa altura em
que, mais uma vez uma boa amiga, me dera o favor do refúgio da
sua casa e, por assim dizer, do seu seio. Eu estava lá e vi - a frase mais
dramática, solene e repetida que pronunciaram as bocas dos homens
e mulheres meus contemporâneos. E vi desde a primeira hora do pri-
111
meiro dia até que o cansaço e a desilusão me fizeram deixar de ver,
primeiro, e voltar mesmo as costas e ignorar, quando a descrença se
instalou definitivamente.
Formavam-se grupos de curiosos, no Rossio, no Carmo, em fren-
te ao quartel da Guarda Nacional Republicana, um pouco por todo o
lado onde surdiam militares de barba por fazer e cara de quem não
tinha tomado o pequeno almoço, e assistiam meio divertidos, meio
incrédulos ao desfilar ensonado dos pesados tanques pelo empedra-
do das ruas estreitas. Houvera um assomo de golpe anterior, poucos
dias antes, ninguém acreditava em revoluções em Portugal. Se aqueles
militares a fizeram foi, não há que negá-lo, porque estavam fartos de
andar com a casa às costas, da Metrópole para o Ultramar e vice-versa,
fartos de serem corneados pelas mulheres, quando estavam longe de-
las, e o mesmo se diga quando voltavam a estar juntos, que a vida
de guerrilha, sobretudo enquanto se espera ou se está colocado em
centros urbanos, dá para muito tédio e muita aventura, entre jovens,
homens ou mulheres. Havia também a questão das promoções, claro,
miliciano passar à frente de homem do quadro, que desaforo, a isso,
no entanto, obrigava a carência de pessoal formado na Academia Mi-
litar. É o aspecto menos nobre da coisa, mas não se pode escondê-lo,
nada se deve ocultar na História, pois só a verdade é revolucionária,
frase muito repetida na época.
Mais bonito do que o 25 de Abril foi o Io de Maio. Eu contei—
lhe, escrevi—lhe uma longa carta emocionada que terminei em pran-
to, embora nunca lhe revelasse esse pequeno detalhe. Porque em Por-
tugal um homem só chora escondido na retrete e mesmo escondido
tem vergonha dessa fraqueza. O 1º de Maio foi de facto uma grande
festa, e não vale a pena a comparação com a vossa Libération,cada
povo tem os seus Natais incomparáveis. O português tem alguma ten-
dência para a melancolia, e quando a vidinha é inundada por alguma
inesperada e rara alegria não existe espectáculo mais lindo no mundo.
Saí de manhã, ainda céptico com aquela história do golpe dos
militares, mas logo vi que o povo se apossara da rua, apesar dos apelos
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repetidos para que ficasse em casa, e concluí que o movimento era
irreversível. Tive mesmo a ilusão de que o povo pudesse tomar conta
da situação, esquecido de que o povo é apenas um chavão usado
para uso dos caça—moscas, tanto da direita como da esquerda, duas
designações que hoje perderam todo o sentido, quero crer. Mas deixe-
-me recordar-lhe o que lhe escrevi nessa altura, porque aquilo só visto,
a alegria das multidões, a cortesia dos polícias de cravo na lapela, o
júbilo de toda a gente porque julgávamos que tínhamos recuperado a
liberdade, a única palavra deste mundo que ainda hoje me faz supor-
tar todos os inconvenientes e me alegra e me condena à solidão. Eu
acreditei, como muitos, que se tudo corresse bem, em pouco tempo
Portugal saltaria o fosso que o separava dos países mais desenvolvidos
da Europa. Como era ingénuo! Mas quando pensava isso, eu não pen-
sava no fosso económico, pensava no fosso da dignidade, o único fos-
so verdadeiramente importante, porque a pobreza não tem de ser um
defeito, e entre uma criança pobre do Bairro do Castelo e uma criança
rica dos Champs Elisées, talvez seja melhor perguntar-lhes quem é
que foi mais feliz, para ter a certeza. Nada pode superar a alegria dos
convívios e dos jogos na rua quando se é menino saudável, dou-lhe eu
essa achega para o debate.
Mas foi de facto uma Revolução única, feita com uma organi-
zação impecável e como sabe com flores nos canos das espingardas.
Não foi preciso disparar muitos tiros, e aqueles que se dispararam
saíram naturalmente da culatra e foram imediatamente perdoados
e esquecidos. A vontade, a serenidade e autoconfiança das forças
armadas e do povo destruíram em poucas horas a organização apo-
drecida daquilo a que chamávamos, um tanto exageradamente, o
fascismo,que não o era exactamente, sendo contudo suficientemente
mau para não precisar de labéus menos rigorosos, e viram—se minis-
tros a fugir por buracos na parede, Marcelo e Tomás colocados num
avião e enviados para a Madeira, a Pide destruída e quase linchada
pelo Povo. Só visto, realmente. Eu vi e ainda sonho com isso. Eu cho-
rei nas ruas, eu gritei os mais incríveis slogans porque toda a gente
113
os gritava, uma grande alegria inundou—me o peito, e posso—lhe
dizer isto, eu senti, pela primeira e única vez na vida, que agora va-
lia a pena viver, que a vida tinha um sentido. Não era exaltação de
momento, ilusão romântica. Era a descoberta de que o sentido único
da existência de um homem é trabalhar para a colectividade, como
o sabem as formigas, é reconstruir constantemente o mundo. Acre-
ditei que a respiração colectiva era possível e que a vida tinha um
sentido geral. Acreditei no Povo, nesse maravilhoso povo que fazia
uma Revolução distribuindo flores e uma grande, uma enorme sere-
nidade, uma calma impressionantes — como alguém que dormiu o
suficiente e acordou repousado e pronto para o trabalho. Tudo me
parecia modificado naquele país e nada parecia poder voltar atrás.
Ninguém poderia vencer este povo que, pelo menos durante uma
semana, viveu como sobre uma nuvem de júbilo, que conheceu a
liberdade a nascer da casca, que acreditou nela como uma galinha
acredita no seu pinto. Eu conheci essa ideia enorme da liberdade,
e conheci a gentileza do povo mais melancólico da Europa (a frase
les portugais sont toujours gaisé das menos verdadeiras), conheci o
significado da expressão amor do próximo, solidariedade. Engraça-
do como as grandes movimentações de massas trazem agregadas
a si palavras e frases: a mais célebre em Portugal foi o Povo Unido
Jamais Será Vencido, importada talvez do Chile de Salvador Allende,
e como não recordar as russas Perestroika e Glasnost, ou a polaca
Soiidarnoć. Claro que a mais famosa foi a Liberté, Égalité, Fraternité
da vossa famosa revolução, a mãe de todas as revoluções, frase esta
que nos transporta para uma das personagens históricas da nossa
contemporaneidade, o triste, famigerado e infeliz Sadam Hussein,
com a sua célebre saída da Mãe de Todas as Guerras. Liberdade,
gentileza e amor pelo semelhante, eram essas as palavras que baila-
vam em todos os corações. E a Revolução de 25 de Abril de 1974 foi
a primeira revolução hippie do mundo, no que o ideal hippie desses
anos em que eu não perdera de vista a adolescência teve para mim
de fascínio: a liberdade, a inconvenção, o cabelo comprido.
114
O pior foi depois, o roubo da alegria pelas habituais monstruo-
sidades. As reuniões estrategicamente controladas para obterem de-
terminados efeitos por indivíduos que se diziam revolucionários mas
eram apenas manipuladores de massas e batoteiros, os discursos ocos,
a argumentação sem fundamentos, o comportamento irresponsável,
a ignorância impante. Como dizia um patrão que eu tive, o mais im-
portante não são as rosas, e a forma improvisada e irresponsável como
foram tomadas decisões de enormes consequências para a economia
e a vida do país tornaram a imagem dos cravos nos canos das espin-
gardas, a banalização dessas adoráveis flores singelas e do seu símbo-
lo insuportáveis aos espíritos mais críticos. A liberdade pode ser uma
masmorra tão odiosa quanto a tirania, quando é abusada. Apenas
no sentido exacto das proporções reside o caminho para melhorar os
humanos destinos, mas nesse tempo a famosa liberdade era apenas
uma música tonitruante e embriagada de ruídos infernais, inundadas
as rádios e as televisões de um parlapatar, um filosofar, um psicologar
entontecido e impune, e viram-se belos seres humanos de cravos na
lapela que tinham desistido da sua independência de juízo, silenciados
pela pressão intolerável de uma opinião sectária que perdera o norte e
o critério. Exalto-me ao recordar o pior desse tempo, tem razão, volte
a cabeça, feche os olhos para não ver a minha máscara de raiva. Mas
deixe-me falar, dizer tudo aquilo que nunca ousei dizer por respei-
to humano e cobardia social ou política. Não faça caso se deliro um
pouco, sempre fui de extremos quando a minha apatia se dissipa. O
homem é e sempre será um ser imprevisível, um ser tecnocratizado,
um ser pantragicado por sucessivos escalonamentos de ideias em devir
permanente. Seja como for, do mal o menos e da combustão a que
fizer menos fumo. Saiba—se viver até ao fim e conserve—se o ar de
quem ainda espera e acredita. Compreendeu este bocadinho? Não.
Tenha paciência. Mas era assim que se discutia e concluía em certos
meios, sobretudo nas esquerdas mais finamente culturais.
Diz você que decerto exagero, e diz bem. Mas tudo aquilo foi
delirante. Houve um período, no verão de 1975, em que possuído
115
do maior proselitismo, eu almoçava às cinco horas da tarde um breve
sanduíche e de longe dizia um adeus subtilíssimo a tudo aquilo que
me afastasse dos meus deveres de alfabetizador público, porque tam-
bém eu, imagine, também eu me metera a revolucionário e educador
das massas. Sempre apressado, cheio da importância da minha nobre
missão, convicto do meu papel, nunca me senti mais orgulhoso e útil.
Compreendia a importância de estar ali. Tanta gente à minha volta,
como podia sentir-me tão sozinho? Eu queixara—me do mundo mor-
to e do choro das crianças com fome, mas que fizera para alterar a
situação? E foi essa a única altura em que pensei em si, no seu entu-
siasmo revolucionário do Maio de 68, e compreendi—a tão bem, olhe,
julgo que a amei verdadeiramente à distância, sem você saber nada
disto, amei a recordação de si como anarquista que fora, já que a rea-
lidade contemporânea da sua pessoa me dizia antes que não passava
de uma burguesa rica bem intencionada como tantas “femmes de
gauche” desse tempo. Sim, como adolescente eu limitara-me a encai-
xotar as fraldas e ala, que aí vai ele, à procura dum raio de sol na água
dum copo e, nesse refrigério, safar-me à tropa e sobretudo à África,
à guerra possível.Tanta inocência, tanta alma junta, tanta lágrima ao
canto do olho, tanta chuva na alma, e tudo por causa do meu umbigo,
da minha autopiedade, tudo por causa de mim, homem só por gosto
e por desgosto, ainda hoje não consigo distinguir, um homem sem
importância e ainda por cima curto de vistas, silenciado pela força dos
exércitos e das polícias, e da sua própria incapacidade para falar. Re-
voltado esbofeteei—me e aproveitei com ambas as mãos a magnífica
revolução que passava.
Era o tempo em que as ruas de Lisboa e de outras cidades se
esvaziavam e um milhão de pessoas que saía para fora, ia simples-
mente de férias de verão. Reinava assim um silêncio que, como todos
os totalitarismos, roçava pelo magnífico. De vozes só o tonitruar de
metralhadoras lá longe na floresta estrangeira. Mas às vezes, no cair
da tarde, quando a alma fica presa à cabeça unicamente por um cor-
del, no silêncio da rua do Madrigal eu ouvia o som dulcíssimo da voz
116
de alguém que já não chama. Era a sua voz, a sua voz que deixara de
me falar. Levada para o ignoto de um casamento há muito anunciado
mas que eu sempre me recusara a acreditar, de tal modo me parecia
o matrimónio incompatível com a sua alma de anarquista convencio-
nal. Na maré confusa da vida, a sua pessoa desligara-se subitamente
da minha existência. Soube-o por um telegrama seu em que havia
três erros de ortografia numa curta frase de menos de dez palavras.
Marriage dimange le sair je pense bises a toi.Desculpo com a pressa
de quem precisa de ir tratar das mil coisas urgentes e graves do ca-
samento o dimange e o sair, será talvez soir, mas ao à de toi nunca
você lhe pôs o acento, estivesse ou não apressada. E aí está como uma
mulher culta uma “femme de gauche” do mais erudito, com diploma
de professora de geografia e tudo, comete destas faltas capazes de
diminuírem a estatura à mais sublime das personagens. Quanto ao
convencionalismo e ao lirismo lusitano de que me acusa,com esse seu
ar de Cassandra irónica, diziam—me as palavras que me ensinaram
ao entendimento que me deram que este meu lirismo lusitano há de
sempre ouvir canções nos locais mais remotos do universo. Mas não
eram canções, nem era lusitanismo essa sua despedida em forma de
luto.Telegrama para mim, como para muitos portugueses, sempre es-
teve associado a anúncio de morte e enterro, embora também pu-
desse ser a aniversário ou a coisa desse jaez. Aquele seu telegrama
representava para mim outra coisa,claro, muito mais confusa e diáfana
e subtil. Mas era também um toque a finados, o toque a silêncio, a
separação definitiva, a ausência para sempre. E era também, vá-se lá
saber porquê, o toque-toque do burrinho duma qualquer aldeia lon-
gínqua, daquela que nunca tive, pois, como sabe, nasci em Lisboa. Era
uma mistura de imagens e ideias de inenarrável solidão. Pela primeira
vez, eu compreendia, e isto no meio de uma ardente revolução cujos
ideais eu comungava com o maior fervor, compreendia que o único
drama que profundamente pode atingir um homem não é a glória ou
a desgraça de um movimento de massas mais ou menos heróico, mas
a grande dor, a autêntica tragédia é uma semi-analfabeta incapaz de
117
escrever dimanche correctamente anunciar a um homem que, a partir
daquela tarde não poderão mais ver-se, tocar-se, insultar-se, porque
haverá sempre pendente sobre as cabeças recíprocas o labéu de uma
palavra em letras garrafais, a palavra TRAIÇÃO. Sim, porque você aca-
bara de me anunciar que me atraiçoara, e me atraiçoara para sempre.
Traíra-me no que mais sagrado eu tinha de mim: a imagem de um ser
estampado a ferrete indelével no seu espírito. Afinal o ferrete indelével
não tinha sequer a consistência de uma casca de banana que se des-
pega do fruto. Bises à toi, que desplante! Amarfanhado embebedei-
-me nessa noite como já não o fazia há muito tempo, uma bebedeira
aparentemente alegre e jocosa no meio de alguns amigos de ocasião
com quem me juntara ao sair para comer camarões e lagostas. E feliz
na minha bebedeira, consegui jamais apagar de mim a sua imagem
de elegante noiva numa igrejinha de França, sem chorar nem morrer.
Apenas alegre de vinho, de uísque, mais tarde, pela noite fora, e de-
pois enjoado, quando em um quarto de hora eu vomitei dez anos da
minha primeira juventude, antes de cair na cama, levado aos ombros
pelos meus camaradas de revolução, que, nem por momentos, soube-
ram ter a seu lado um homem que morrera e parecia feliz.
Você teve a decência de, dois ou três dias depois do telegrama,
me ter escrito uma carta com os pormenores dos preparativos do seu
casamento, e, pasme-se, convidando-me amavelmente para o even-
to. Era um convite implícito para continuarmos amigos, mas naquele
momento eu não podia apreciar devidamente a graça de ter escolhido
uma péniche para o cocktail pós-cerimónia. A coisa passaria desperce-
bida se eu não me lembrasse do aperitivo que você me oferecera no
pont soleil da Evasion, numa admirável tarde quente de outubro de
1968, ainda os ecos revolucionários do maio desse ano não se tinham
dissipado inteiramente. Isso marcara o início da nossa relação e você
queria agora frisar que a mesma teria agora de terminar, e com a mes-
ma beleza circundante, a mesma Torre Eiffel a presidir aos nossos des-
tinos, empoleirada lá do alto esguio dos seus ferros, a mesma Notre
Dame a abençoar-nos a solidão em braços distintos, você nos de um
118
simpático jornalista italiano com bigode e patilhas, tão revolucionário
como eu fora nos meus dias, mas mais prático nas relações humanas;
eu cingido nos meus próprios braços, como aliás estive na vida a maior
parte do tempo. Era também, provavelmente, uma homenagem, tal-
vez um pouco cínica, ao meu gosto pelos barcos do Sena, quem o
poderia julgar? A sua mistura de candura, sinceridade, boa vontade
e estupidez roçava por vezes o incrível. Para um espírito liberal como
eu me julgava então, tudo isto podia passar por brincadeiras mais ou
menos afectuosas, mas eu estava apaixonado, e tudo o que não fosse
trazer de volta a sua horrível pessoa me fazia sofrer terrivelmente.
Claro que não fui ao seu casamento, mas no dia do evento pas-
sei o dia e a noite a imaginar-lhe todos os pormenores. Não é que o
desejasse, mas era-me impossível evitar as imagens do que se estaria
passando a uns três mil quilómetros do meu pequeno apartamento
ao Castelo de São Jorge. Vi-a portanto ajoelhar-se nos degraus do
altar de uma pequena e anódina igrejinha algures perto do Sena, jurar
amor eterno ao seu italiano, e depois virem todos, noivos, padrinhos e
convidados num cortejo alegre até ao cais de Javel Bas, junto à ponte
de Mirabeau, onde o Bateau Albatros os esperava para o alegre e in-
formal cocktail.Sempre pensei que, com o seu incrível humor, escolhe-
ria a Péniche L’Equité para a sua despedida de solteira e boa rapariga,
a igualdade sendo um dos seus ícones de “femme de gauche”. Mas
não, teria de ser o Albatros, teria de me mergulhar, nem que fos-
se à distância, no espírito líquido e sagrado, profundamente místico,
do meu poema favorito de Coleridge. Quantas vezes lhe recitara essa
obra-prima da culpa sem remissão e do remorso sem culpa formada,
o poema Rime of the Ancient Mariner, nos poentes alvacentos do só-
tão da Rua Cujas onde, se não tínhamos discutido muito essa tarde,
fazíamos amor, vigiados por uma fresta da clarabóia pelo céu cinzento
desse outono mágico. Perdê-la significou para mim perder para sem-
pre o mundo mágico da adolescência. Foi perder Paris que afinal eu
amava, e todos os seus ícones: a música do belga Jacques Brel e do
bem francês George Brassens, como a da Piaf, naturalmente , da Piaf
119
que no entanto nunca consegui igualar à da nossa Amália Rodrigues
(de novo comparar duas incomparáveis) haveriam de suavizar-lhe a
perda, em instantes de nostalgia mais aguda, mas o brilho do encan-
tamento puro não voltaria mais. Que eu já tivesse idade para ser pai,
guerreiro, marido e revolucionário de barba cerrada e cenho franzido
e duro, quando afinal verificava com horror não passar de um adoles-
cente serôdio era coisa que nunca me afligiu nem envergonhou. Nem
a minha inteligência conseguia decifrar o enigma da sua menoridade,
de modo que caí numa grave e severa melancolia, seguida de uma
verdadeira depressão.
No meu delirium tremens eu até via os cimos das montanhas
que se avistam para os lados de Sintra coloridas de anil e espuma. Eu
via a presença do Adamastor enorme desenhar—se no céu estrangei-
ro que cobria a sua cabeça velada de renda e pensava na água e no
raio de sol que jamais nos banhariam juntos. E compreendi que afinal
o que eu procurava tão ansiosamente no coração duma revolução não
era mais nada senão o placebo para as minhas frustrações de homem
e não era nela nem em nada que não fosse a minha própria vida que
residia o segredo daquilo que eu buscava e que era nem mais nem me-
nos a felicidade impossível.Desiludido com a banalidade das minhas
angústias revolucionárias, entrei em mim mesmo, fechei-me em casa,
cerrei as janelas e deitei—me a dormir profundamente. A Revolução
para mim tinha terminado. Eu era apenas o burguesinho que você
sempre tinha adivinhado em mim, nada tinha de heroico nem revolu-
cionário, uma vez que que para mim a felicidade nunca poderia estar
numa revolução, mas apenas em mim mesmo, se é que alguma vez eu
poderia atingir essa plenitude, se é que alguma vez eu mereceria essa
paz. Seguiram-se meses de mais procura, uma procura febril, mas essa
febre era apenas a ilusão de uma mente doente de amor traído.
Um dia cansado de tanta procura em vão, de tanto ruído de
viaturas inútil, de tanta gente hostil, de tanta casa erguendo—se de-
safiadora para um céu chocho e sem brilho nenhum, subi os dezasseis
andares de um hotel, disposto a dali lançar-me abaixo. O motorista
120
de taxi bem que me avisou da poluição da atmosfera, poluídos an-
dávamos nós e o tempo estava cada vez mais cinza. Meti-me pois no
elevador daquele hotel de luxo, que era enorme e muito frio, e no
espelho lá estava o meu carão medonho olhando tristemente para
mim dizendo-me coisas que já não conseguia ouvir. O que eu via era o
tempo, o tal tempo sem significado, que não anda nem desanda, pre-
so às folhas da minha infância mas desligado pelo acontecer posterior,
pela guerra e pela morte, pela estupidificação consentida e provocada
pelas aulas na universidade (a que assistira de lenço no nariz,que o
cheiro a tédio sufocava, o tempo angélico dos seus suspiros agora
que, em vez de falar a fornico, ou a fornico falando, falando, perdoe-
-me, querida amiga, mas deixe-me que fale fornicando, assim, olhos
nos olhos, presos através do escuro no não sei quê. Obrigado, muito
gentil da sua parte. Não, não costumo lavar-me imediatamente a se-
guir ao coito, detesto a vista das toalhinhas pequenas, prefiro tomar
banho quando me for embora.
Falava-lhe há pouco do meu suicídio frustrado do alto de um
hotel de luxo. Pois ali estava eu, dezasseis andares acima do solo, es-
taca de ossos, sem sangue no abdômen, sem cor no rosto que um
espelho indiferente e frio reflectia por entre as folhas artificiais de um
enorme vaso de magnólias de pano encerado que alguém se lembrara
de colocar numa coluna de ferro verde a um canto do elevador, presu-
mivelmente para decoração dúbia do recinto escurecido, subindo num
maquinismo que um botão pusera em marcha a meu comando. Ía-me
matar porque me voltara a doença da descrença e a horrível depressão
que a acompanha, eu que me perdera de novo, eu a procura vã da
razão para uma existência sem objectivo aparente, eu triste e até com
alguma fome. Maquinalmente as mãos do meu cadáver um pouco
atrasado enfiaram-se nos bolsos das calças do cadáver ambulante em
que me tornara a depressão, desta máscara acinzentada em que me
tinha refugiado, e as mãos tornaram-se dentes afiados que me arra-
nharam a pele com desespero. Eu, o eu que importa, insignificante
no alto daquele prédio gigantesco, ia dar cabo de mim sem nunca ter
121
feito nada, nem sequer um grande pecado, ou mesmo um pequeno
crime, eu inocente e no fundo assustado de tão grande altura e,agora
debruçado no parapeito do terraço, cheio de vertigens. O que eu de-
sejava, compreendi—o então, não era o aniquilamento mas apenas
uma vida com mais horizonte. Não. O que eu deveria fazer era saltar
para a rua, sim, mas não de forma brutal como antecipara, mas de
mansinho, como quem respira. Iria andar de barco no rio, dormir a
sesta à sombra das árvores no campo, ouvir música em todo o lado,
amar todas mulheres possíveis e de preferência ao mesmo tempo para
não perder oportunidades nenhumas, embriagar—me na noite, rir até
partir as cordas vocais, escrever um poema com letras sangrentas, e
sobretudo dormir tanto que, se alguma vez acordasse, tudo estaria
alterado à minha volta. Só assim daria razão do tempo que me fora
destinado, só assim seria justo que o meu coração batesse, só assim
haveria motivo razoável para a angústia perdoável, só assim eu aca-
baria por justificar os meus olhos outrora tão puros de adolescente
ingénuo contemplando as cores maravilhosas dum ocaso sobre o mar.
Enfim, bebamos o nosso chocolate, que há multo arrefece nas
chávenas. Este café-restaurante não se chama então exactamente
Café Du Départ? Há mesmo quem não lhe ponha acentos nenhuns,
como você fez ao à toi do horrível telegrama com que anunciou o seu
primeiro casamento, aquele que se realizou a um dimange. De facto
a tabuleta original e o toldo vermelho o que rezam é um Le Depart
Saint-Michel com muito menos graça do que a minha inocente cor-
ruptela. Não tão inocente como isso? Aí está você, como sempre a
chercher Le midi à catorze heures. Quem não adora a sua velha língua
francesa? Brindo realmente à vossa saúde, à sua e à da nossa querida
França, o país donde veio o pai Henrique, o Conde que deu origem
ao nosso querido Portugal. Que vivam ambos enquanto existem. Mas
faz-se tarde, se ainda quer mostrar-me como preservou devidamente
encaixilhada essa bela fotografia do tanque apinhado de rapaziada
festejando o regresso à alegria da primavera. Enviei-lha juntamente
com um cravo nesse já tão longínquo Abril de 1974. Fico feliz por
122
julgar ter-me reconhecido no moço gadelhudo da camisola amarela
com enormes olheiras. Eu de facto pouco ou nada dormi no dia em
que essa foto foi tirada mas, agora que a analiso com toda a atenção,
verifico que afinal ouve aí uma troca qualquer, pois o rapaz na foto-
grafia não sou eu, nem sequer alguma vez eu vestiria uma camisola
amarela de gola alta em pleno mês de Abril. Desculpe se a desapontei,
mas mais culpa teve você em concluir que só lhe poderia mandar uma
foto se eu nela estivesse. Por quem me julga? Um narcisista? Nada
disso, minha querida amiga. Juro-lhe que o cravo, o cravo, sim, esse é
verdadeiro. Que ternura da sua parte em ter-lhe preservado a corola.
E aqui está, minha amiga, a razão por que me vê deitado de
novo a seu lado, no aniversário desse dia bendito da Revolução dos
Cravos, quarenta e um anos contados dia a dia, quarenta e um anos
em que tudo foi envelhecendo, até nós, até a primavera. Hoje ainda
mais descrente e desiludido do que dantes, mas resignado. E sabe,
descobri que a resignação pode ser também uma espécie de esperan-
ça, uma esperança adulta, rejuvenescida. É pelo menos uma atitude
de maturidade, como compreender que se cresceu e não é mais per-
mitido acreditar no Pai Natal. Todas as revoluções humanas falham,
mas têm que ser feitas.
Espero que o prazer que me deu tenha sido recíproco, queri-
da amiga.
123
A Segunda Guerra Mundial em Viçosa do Ceará
Mário Miranda Filho1
1 Mário Miranda Filho é Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Ceará, exer-
cendo as suas funções em Fortaleza.
124
Não obstante, precederam à declaração de guerra, durante a
discussão da matéria, inflamados discursos com tons nacionalista, re-
gionalista e municipalista, o que chamou a atenção de toda a popula-
ção que queria adentrar o recinto da Câmara sem espaço suficiente,
o que motivou o presidente da casa a exigir a urgente participação da
Guarda Municipal para impor a ordem.
Em um dos muitos pronunciamentos que proferiu, o vereador
Amílcar Sampaio relembrou e enalteceu a glória de Viçosa do Ceará
na Guerra do Paraguai e nos momentos cruciais da Monarquia, na
pessoa de seus filhos ilustres, os generais Tibúrcio e Sampaio, tendo
assegurado, de forma enfática, que a terra dos generais não poderia
calar, ficar impassível diante da política escravocrata e imperialista do
ditador Adolfo Hitler, esquecendo, no frigir dos ovos, que cá no Brasil
vivia-se, igualmente, em um regime ditatorial. Contudo, o edil, depois
de pronunciar o seu discurso desculpou-se da falha junto a alguns
companheiros que reclamaram do seu esquecimento.
Por sua vez o vereador Tarcísio Calado, ilustre representante do
Distrito de Passagem da Onça, famoso por querer aprovar na Câmara
o dia da cachaça, com a intenção de apressar os trabalhos disse de
forma enfática, ao ocupar a tribuna que “não tardará muito, talvez
nem o tempo necessário para que eu finalize meu solene e patriótico
pronunciamento e as tropas de Hitler já terão desembarcado em Ca-
mocim e tomado o rumo de Granja para atingir a bela e verdejante
Viçosa do Ceará, berço de Clovis Beviláqua, em questão de poucas
horas, para nos escravizar a todos e roubar nossas riquezas”. Uma
senhora de meia idade que possuía dois filhos militares, que a tudo
assistia com redobrada atenção, antes de sofrer um desmaio e ser con-
duzida para fora do recinto, “para pegar ar frio”, segundo disse uma
das mulheres que ajudaram a conduzi-la, gritou: “Valha-nos Nossa
Senhora da Conceição, é o fim do mundo!”
Muito afoito, o vereador Chiquinho Nogueira que do mundo só
conhecia Viçosa e Granja e a distância que as separa, por conduzir tro-
pas de burros, antes de assumir a vereança, discorreu que“seria melhor
125
e mais acertado não esperar o inimigo, mas massacrá-lo no seu próprio
território, e para o total êxito da empreitada, o Governo de Viçosa, por
intermédio de seus vários órgãos, formaria e treinaria uma tropa de
elite em curto espaço de tempo. Foi aí que a sessão pegou fogo. O tri-
buno foi aplaudido de pé, efusivamente e a partir de então ocorrera um
verdadeiro pandemônio; ninguém mais se entendia, o povo participava
e interferia nos debates, todo mundo ao mesmo tempo, até que o pre-
sidente da Câmara que então presidia a histórica sessão teve a sensatez
de pedir ordem na casa, sob pena de ordenar a retirada dos recalcitran-
tes. Nesse momento fora reintroduzida no recinto a mãe dos militares
que havia desmaiado, e passou a gritar, repetidas vezes, “guerra não”,
mas logo parou e ficou atenta ao que dizia o presidente da Câmara.
Os trabalhos tiveram prosseguimento e o presidente da Câmara
teve mais uma vez a sensatez de solicitar ao excelentíssimo colega
Chiquinho, que informasse à Câmara e ao povo de Viçosa com que
tropas invadiriam a Alemanha ou como se defenderiam caso Viçosa
fosse invadida. O vereador, que desconhecia quase tudo desse imenso
mundo, nunca tendo ido sequer à Capital do Estado, informou que já
contava como certa na chefia das tropas o brioso e valente Sargento
da Polícia Militar Teodoro Facundo, viçosense ilustre, chefe da invicta
Guarda Municipal, que no seu entender já havia dado demonstrações
inequívocas da sua coragem e bravura, quando efetuou a prisão, usan-
do de sua própria força e disposição,do valentão, forte e alto, ladrão
do cofre da igreja matriz, pelo que por ocasião da prisão do malfeitor,
de que todos tinham medo, fora efusivamente saudado pelo padre,
beatas, comerciantes que se viram a salvo de perigoso marginal “dos
lados de Camocim”, assegurou o orador.
Excelência, fale-nos das tropas, interrompeu o presidente da
mesa, já impaciente.
- Sim, as tropas!!! Secundaram-no algumas pessoa da galeria.
Aqui chegou a hora de colocar o chocalho no gato.
- As tropas, disse o orador, serão formadas por desocupados,
presidiários e filhos de agricultores pobres que se engrandecerão ao
126
retornarem da guerra como heróis. E quando falou em presidiários fez
uma leve pausa e prosseguiu:
- Principalmente ladrões, estupradores, homicidas e prostitutas.
O presidente da Câmara o interrompeu para proferir:
- Dessa forma o nosso município estará muito bem representa-
do!!! Houve risos e gargalhadas gerais.
O vereador Itamar Conde pediu um aparte, o qual lhe fora con-
cedido, ocasião em que assegurou que na Cadeia Pública só havia
cumprindo pena dois presidiários e as prostitutas que existiam “eram
incubadas e poucas” e os agricultores eram a grande maioria da popu-
lação. Desse modo somente os agricultores pegariam em armas. Isso é
injusto; irão servir de bucha de canhão!!!
Ocorreu nesse momento um alvoroço geral. O presidente voltou
a pedir ordem. Uma pessoa do povo, do meio da plateia perguntou
ao presidente se poderia fazer uso da palavra, por breve instante. A
palavra lhe fora concedida.
- Obrigado, senhor presidente. Mas acho que se aprovada a for-
mação das tropas o nosso município ficará marcado, de forma indelé-
vel e eternamente, por promover a violência e o preconceito e a dis-
criminação contra as categorias nomeadas pelo vereador Chiquinho.
- Muito bem, aprovado!!! Gritaram algumas pessoas. Outra
pessoa do povo levantou-se e pediu a palavra. O presidente, sempre o
mais sensato e educado, por força do cargo que ocupava a concedeu
mais uma vez. O rapaz que pediu a palavra era filho de um planta-
dor de amendoim dos lados do Quatiguaba que já tinha concluído
seus estudos secundários em Sobral e tempos depois brilharia como
advogado na Capital. Não era nada mais nada menos que o futuro
Dr.Frutuoso Correia, que assim se expressou naquela oportunidade:
- Senhor presidente. Eu como Viçosense estou disposto a inte-
grar as tropas – no que fora demoradamente aplaudido. E continuou:
Agora eu gostaria de perguntar aos senhores vereadores quais os que
também integrariam as tropas, ou somente irão à guerra os filhos dos
agricultores pobres, para servirem de bucha de canhão?
127
Neste momento ocorreu um silencio perturbador, de causar im-
paciência. Os nobres vereadores se entreolharam e o presidente di-
rigiu o olhar para cada um deles, como querendo ver a resposta no
rosto. Alguns baixaram a cabeça e outros baixaram cabeça e ombro
como a quererem se esconder. O presidente então proferiu: vamos
dar continuidade aos trabalhos ouvindo cada um dos excelentíssimos
senhores vereadores, pois o momento é de desprendimento, de en-
trega do egoísmo e de interesses particulares em favor da Pátria, tão
necessitada do auxílio de todos os seus filhos, independentemente
de classe social, religião, cor, profissão. Inicialmente pergunto ao no-
bre vereador Amílcar Sampaio, bravo filhodo sítio Passagem da Onça,
deste Município, se gostaria de integrar as tropas. Logo se ouviu a
resposta contundente:
- Eu não posso ingressar nas hostes viçosenses porque a minha
mãe está doente e precisa da minha presença e auxílio o dia todo,
tendo dito a mim o seu médico que o seu processo de cura é muito
longo e requer redobrados cuidados. Sinto muito não poder mostrar
ao canalha do Adolfo Hitler do que sou capaz para defender a Pátria
e a Democracia no campo de guerra. Em seguida o presidente fez a
mesma pergunta ao vereador Tarcísio Calado, que respondeu cate-
górico: Não posso porque não tem quem cuide do meu sítio que é o
sustentáculo da família, não podendo ser abandonado assim, de uma
hora para outra.
Vereador Chiquinho Nogueira, por favor, tenha a bondade de se
pronunciar, o senhor que tanto tem se manifestado em defesa da Pátria
e de suas instituições democráticas, desde quando assumiu a vereança.
- Muito agradecido, senhor presidente. Não posso porque sou
arrimo de família.Enfim, todos os vereadores se esquivaram.
A sessão fora encerrada depois de grande alvoroço e confusão
visto que todos os vereadores queriam interferir na redação final da
ata que finalizou com insultos violentíssimos contra a Alemanha e o
ditador Hitler, constando a declaração de guerra à Alemanha, por
parte do Município de Viçosa do Ceará, por intermédio da Câmara
128
de Vereadores, e do povo de Viçosa, constando, ademais, que não
enviaria tropas, por enquanto. Durante o encerramento dos traba-
lhos o Sr. Presidente determinou que fossem extraídas cópias da de-
claração de guerra e enviadas aos órgãos competentes, inclusive ao
Ministério das Relações Exteriores e ao Itamaraty, ou o que os corres-
pondia à época, para as providências legais.
A sessão começou às 09 horas da manhã e terminou às 11
horas da noite, com ligeiro intervalo para almoço. Resta saber se Hi-
tler tomou conhecimento dessa decisão estapafúrdia e o que seria da
ordeira e pacata população de Viçosa do Ceará se o General Romel
invadisse o Brasil por Camocim. Um ébrio contumaz que perambulava
pela praça em frente à Câmara, falava, falseando a voz: se declararem
guerra eu mato ou morro. Ou corro pro mato ou fujo pro morro.
Contudo, devo acrescentar, por dever de Justiça que não só a
Câmara de Vereadores de Viçosa do Ceará declarou guerra à Alema-
nha, neste Ceará bravio. Outras mais seguiram-na no encalço. Ubajara
também o fizera. Ibiapina seguiu o exemplo. O resto é folclore.
129
5ª Parte
Discursos
Linhares Filho, Príncipe dos Poetas Cearenses
Sânzio de Azevedo
133
Elevar-me do pó do contingente
e aos cimos ir do subterrâneo andaime,
tal como girassol que a luz pressente.”
134
Um poeta serias. Com tal fim,
Mediterrâneo e luso buscas ser.
135
Anoto, de passagem, um exemplo de intertextualidade, nos dois
últimos versos reproduzidos, pois há alusão a uma valsa brejeira de
Capiba, intitulada “Lá na Serra”, e gravada no selo Continental por
Dilu Melo em 1948, com lançamento no ano seguinte.
Além dos versos para Ceiça, Mônica, Catarina e Isabel (filhas
do poeta e de Mariazinha), quero fazer uma menção especial ao poe-
ma “A Machado de Assis Sesquicentenário”, cujo título seria mudado
para “A Machado de Assis, Morto Vivo”, no livro Itinerário (Quarenta
e Cinco Anos de Poesia), de 2015. A última estrofe diz:
136
retira do coração
andanças e marinhagens.
Marinhagens, marinhagens,
que são tantas as paragens
no mistério da poesia!”
137
“Trago comigo ainda o mugido dos bois.
Andorinhas, porém, levaram a primavera,
e triste aqui fiquei em longa e absorta espera,
sem poder transformar no antes o depois.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
138
Para a celebração das nossas bodas,
sirvo-te do melhor vinho da Terra
e me serves amêndoa com avelãs.
139
sou homem por também amar
a beleza da vida
como a de um peixe assim.
A morte do meu peixe carmesim
mais do que a indesejável falta dele
dá-me saudades de mim.”
140
e conhecimento, recusa da alienação provocada pela massificação da
vida cotidiana, indicando firme desejo de desvendamento de um pro-
cesso de busca e de apreensão do Ser”, cuja totalidade, segundo ela,
“jamais se revelará a nós, em sua plenitude”.
Ao longo de seus livros, o poeta celebrou escritores vivos e mortos.
A lista contém muitos nomes, mas sempre cito Machado de Assis, Castro
Alves, Bilac, Cruz e Sousa, Jáder de Carvalho, Antônio Girão Barroso,
Mário Quintana, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Moraes, Miguel
Torga, Martins Filho, Artur Eduardo Benevides, Moreira Campos, Otacílio
Colares, Drummond, Braga Montenegro, Lêdo Ivo, Gilberto Mendon-
ça Teles, Ivan Junqueira, Dias da Silva, Dimas Macedo, Carlos Augusto
Viana, Barros Pinho, José Alves Fernandes, Horácio Dídimo, Pedro Paulo
Montenegro e entre outros o pintor e poeta Otacílio de Azevedo, o que
me comoveu. É tão grande porém a generosidade de Linhares Filho que
encontrou meios de homenagear em verso o menor dos companheiros,
este eterno aprendiz das Letras que neste momento vos fala.
Drummond escreveu: “Tempo de Colheita está aqui, a fazer-me
companhia poética. Que belo poema (para citar um entre tantos ou-
tros) ‘O Trajeto da Criação’.”
Esse poema, destacado pelo autor de Boitempo, termina com
estes belos versos:
141
D. Zezé, esposa do contista maior, havia sido aluna de pintura
de D. Maria da Conceição Esteves Linhares, mãe do poeta, e aprovei-
to o ensejo para ler justamente a parte do discurso em que Moreira
Campos fala do poema, dirigindo-se ao autor usando o tratamento
acadêmico:
“É precisamente a essa mãe privilegiada que dedicastes um dos
vossos mais belos poemas, pela essência e pelo valor dos símbolos,
trabalho inserto no livro Sumos do Tempo, sob o título ‘A Minha Mãe,
Habitante da Morte’, cuja leitura me permito, pelo menos em alguns
trechos”. E transcreve estes versos:
. . . . . . . . . . . . . . .
142
Diz ainda o contista: “Alcançastes pela elegia particular o uni-
versal, que é a grande lição da arte: é que aí estão eternizadas todas
as grandes mães”, conclui.
Ao comentar esse poema na minha Literatura Cearense, há exa-
tos 40 anos, lembrei que o poeta se serve de dois vocábulos diferentes,
“santa” e “elmo”, para evocá-los dentro de um terceiro, “santelmo”,
num artifício de verdadeiro artista.
Antônio Girão Barroso sentenciou: “pode-se dizer (.) que Linha-
res Filho é um dos nossos melhores poetas, ocupando por esse e por
outros motivos uma posição de destaque na literatura cearense”.
E José Alcides Pinto disse ser ele “Um dos mais autênticos inte-
lectuais de sua geração”. E acrescentou: “Sua obra fala por si mesma,
por sua expressividade, seus valores estéticos.”
Para Edigar de Alencar, “Seu Tempo de Colheita (belo título)
impressiona pelo alto e harmonioso nível poético. Uniforme na alta
dimensão que você lhe deu de ponta a ponta.”
Caetano Ximenes Aragão escreveu: “Sua poesia, como um rio
de águas benfazejas, chega até nós e nos basta.”
Alves de Aquino celebra a obra do poeta na “Décima para Li-
nhares Filho”, que diz: “Na rebusca de alinhares / O canto à noite de
trégua, / Itinerário de léguas / De invernos e limiares / Notícias: quem,
Linhares, / Para remexer o húmus / Do tempo com seus desrumos?/
Quem antes, durante, após / Ouve das coisas a voz?/ Tu, só, e teu
Verbo: Sumos.”
No citado livro Junto à Lareira Invisível, há um poema em versos
octossílabos, no qual o autor fala de Lavras da Mangabeira, sua cidade
natal. Dedicado aos escritores Dias da Silva e Batista de Lima, intitula-
-se “Falta de Lavras”:
143
Revisitando-te em meu sonho,
passeio pelas tuas ruas,
miro-te o céu, piso o teu solo
como quem, ansioso e tristonho,
quer ressentir delícias tuas
e reencontrar antigo colo.
As amenidades de outrora
ficaram, represas, contigo.
Dá-me, ao menos, de minha aurora
Os reflexos que não consigo.”
144
Giselda Medeiros diz ser o poeta “vigoroso e lírico, telúrico e
filosófico, elegante e erudito na exteriorização de sua arte, a qual não
define nem classifica os objetos, os seres, antes os sente, para trans-
formá-los em beleza diante dos nossos olhos”.
E Aíla Sampaio, ao lembrar que No Limiar do Inverno é um can-
to da maturidade, completa: “O próprio título alude a um marco e é
sugestivo de um momento de transição, quando o poeta se assume
homem maduro, senhor de suas emoções; e poeta afinado com seu
instrumento: a palavra e sua expressividade.”
Penso que foi a extensão da obra poética de Linhares Filho que
levou Pedro Henrique Saraiva Leão, num micropoema, a dizer nas pri-
meiras linhas:
145
Sobre Itinerário, Gilberto Mendonça Teles disse tratar-se de um
“livro que não só enriquece a literatura cearense, como também dá
dignidade ao trabalho intelectual de Linhares Filho e conecta a poesia
do Ceará ao melhor da poesia brasileira e da latino-americana”.
Escreveu Adriano Espínola: “Linhares Filho retoma a dicção gra-
ve da geração de 45. Quero dizer com isso que o poeta encara com a
maior seriedade os graves problemas do homem, em termos existen-
ciais, sociais e metafísicos.”
Dirigindo-se ao poeta, Angela Gutiérrez diz: “Você me fez mer-
gulhar em mares e rios de belas palavras, ao enviar-me (.) seus dois
livros de poesia: Cantos de fuga e ancoragem e o sumo dos sumos,
Notícias de bordo.”
Em longo artigo no Diário do Nordeste, Lourdinha Leite Barbosa
assinala, entre outras coisas: “Em inúmeros poemas de Linhares Filho,
eu lírico, vida e mundo se interligam num emaranhado cujos limites
se esfumam. A causa disso não é somenteo uso da primeira pessoa
do discurso, é toda a expressão poética: vida e palavras pulsando em
uníssono.”
Segundo Pedro Lyra, “a poesia de Linhares Filho guarda, ao nível
da expressão, o equilíbrio estilístico que o identifica: um poeta tribu-
tário da tradição do nosso lirismo, seduzido pelo prestígio do eterno e
beneficiado por um firme domínio da linguagem”.
Dias da Silva escreveu: “Itinerário é um caminho que vai dar no
universal. Mesmo nos momentos mais reservados e confessionais (há
sempre uma zona de privacidade em cada ser humano) há sempre o
sentimento do mundo e do todo. A dor toda do mundo. Lembran-
ça de todo mundo. Tons religiosos de todos. Angústia existencial do
mundo inteiro.”
“Andanças e Marinhagens é título precioso de um livro de poe-
mas preciosos, que li de uma só vez”, escreveu Abgar Renault.
E o saudoso Nilto Maciel disse ao poeta: “seus melhores mo-
mentos, para mim, são aqueles em que você se volta para o ser em si,
o existencial, o mais profundo do ser”.
146
Nunca esquecerei meus encontros com Linhares Filho quando,
dos anos 70 para os anos 80 do século passado, cursamos nosso Dou-
torado em Letras na UFRJ, ele, em Literatura Portuguesa, sendo sua
orientadora acadêmica a professora Cleonice Berardinelli, e eu, em
Literatura Brasileira, sob a orientação do professor Afrânio Coutinho.
“Por fim, quem é Linhares Filho?” Foi esta a pergunta com que
Rodrigo Marques encerrou a entrevista que fez com o poeta, e que
está nas páginas finais de Cantos de Fuga e Ancoragem. E esta é a
resposta de Linhares Filho:
“Embora sem prejuízo da suprarrealidade, mas considerando que
minha poesia é bastante confessional, minha biografia coincide muito
com o eu lírico que se apresenta em meus versos. Escolheria o ‘Poema
algo cômico de minha essência’ para através dele dizer quem eu sou.
Ali está o homem laborioso, sonhador, detentor de alguns equívocos,
ansioso do sublime, consciente de sua pequenez, integrado na dor hu-
mana, fiel à crença religiosa, celebrador da vida, enfim o que pode dizer:
Vai longa a minha fala, mas peço licença ainda para dizer pelo
menos os tercetos do belo soneto “Bodas de Ouro”, em que o poeta
fala a Mariazinha:
147
E nesse momento, em que Linhares Filho assume o Principado
da Poesia Cearense, é justo que seja lido o soneto com que ele se
despediu daquele que foi seu antecessor. Leiamos “Despedida a Artur
Eduardo Benevides”:
148
Agradecimento pelo Título de Luz
Linhares Filho
149
E o Magnificat de minha alma agradecida e enlevada quero can-
tar, valendo-me dos criativos versos do poema “sol”, de Horácio Dí-
dimo, numa prova de fraternal apreço e real admiração ao poeta: um
sol maior/ sorriu de leve/ no meu enfim// mais do que nunca / mil vezes
mil/ sinto que sim// festejemos/ eu festejemos/ eu somos dois// morreu
o antes/ e agora é verde/ como um depois
Naturalmente, esse dois em um, conforme a sugestão dos ver-
sos, desejo que aluda, no meu caso, a mim e à Musa Mariazinha, que,
além de inspirar-me e doar-se de modo absoluto a este seu amador, foi
a principal entusiasta da ideia de atribuir-se o título em foco ao seu po-
eta. Seguiram a Mãe no entusiasmo as filhas, que aqui se encontram,
aplaudindo-me com os meus netos e os meus genros: Ceiça, Mônica,
Catarina e Isabel.
A vossa benevolência, meus confrades e confreiras, representan-
do a da intelectualidade da Terra alencarina, inseriu-me, de maneira
definitiva, entre os poetas, consagrando-me como um desses. Poeta -,
(já que assim acho que nasci), eis o título que busquei desde o convívio
com os livros da biblioteca de meu Pai, sob a orientação dele e o apoio
de minha Mãe, no limiar da adolescência, em Lavras da Mangabeira,
passando depois pelo incentivo sério e lacônico do meu professor de
Português no Seminário São José do Crato, Mons. Pedro Rocha de
Oliveira, diante das redações que eu lhe apresentava, e que recebiam,
invariavelmente, a nota máxima. É que eu vinha alicerçando, com o
domínio da langue (língua), a conquista da parole (linguagem da cria-
ção). Todavia nunca pensei na nobreza que me adicionais ao título de
poeta, fazendo-me iludir-me com a presunção de não ser um simples
cultor da Poesia.
Quero dizer-vos que vossa é que é a verdadeira nobreza, a par-
tir do gesto desprendido do amigo-irmão Horácio Dídimo, e nunca
ambicionei um alcândor literário superior ao do embevecimento da
estesia ou da libertação e fascínio próprios da catarse poética. Vós,
porém, em vossa generosidade fraterna, me ofereceis muito mais: a
inserção histórica do meu nome numa sucessão iluminada de glória,
150
que se compõe destes que são, sim, incontestavelmente, os Príncipes
da Poesia Cearense: Pe. Antônio Tomás, Cruz Filho, Jáder de Carvalho
e Artur Eduardo Benevides.
Celebrei em versos a personalidade e a poesia de três desses
autores, e recebi do último, pelos meus poemas, as mais elogiosas
opiniões críticas. Por ser Benevides, no meu entender, um dos maiores
poetas brasileiros de todos os tempos, não será substituído, apenas
sucedido por quem vos fala. Dediquei-lhe quatro metapoemas, focali-
zando-lhe a poesia e a figura humana de cantor do mar, das viagens,
da solidão, da morte, do sentimento telúrico, das coisas belas e su-
blimes da vida, sobretudo do amor, sob cujas bênçãos foi um eterno
seresteiro. E propus ao Departamento de Literatura da Universidade
Federal do Ceará a indicação do seu nome para Professor Emérito,
título pelo qual o saudei em memorável solenidade, após haver sido
ali seu enlevado aluno.
A Terra da Luz pode gloriar-se de ser uma produtora extraordi-
nária de poetas e poetisas, que o confirme a reveladora pesquisa de
José Murilo Martins, intitulada Poetas da Academia Cearense de Letras
(1894-2009), livro pelo qual se conclui que muitos cultores da Poesia,
no passado e no presente, mereceram ou merecem a honraria que
o vosso favor me atribui. E não devemos desprezar poetas não per-
tencentes à Academia, como não podemos deixar de lembrar, nesta
ocasião, o luminoso nome de nossa colega Giselda Medeiros, deten-
tora do merecido título de Princesa da Poesia Cearense. A ela, minha
homenagem.
Quantos poetas possuem, atualmente, no Ceará, em verdade,
pela sua obra, perfil principesco como estes, que já partiram: José Al-
bano, Francisco Carvalho, Filgueiras Lima, Carlos Gondim, Antônio Sa-
les, Otacílio de Azevedo, Júlio Maciel, Mário Linhares, Otacílio Colares,
Antônio Girão Barroso, Gerardo Melo Mourão!
Meus colegas, escolhestes acertadamente o representante vos-
so para saudar-me, de modo consabido, o maior crítico e historiador
da Literatura Cearense, com repercussão nacional, o grande poeta,
151
ensaísta e esticólogo Sânzio de Azevedo. Não só por seus méritos,
por mim exaltados em prosa e verso, mas ainda pela amizade fraterna
que nos aproxima há muito tempo, acertastes na escolha do ilustre
acadêmico como vosso representante. A ele fico eternamente grato
pelo autorizado pronunciamento, apesar de generoso, sobre minha
poesia, depois dos que sobre esta escreveu.
Muitos amigos integrantes de nossa Academia e de outras insti-
tuições hipotecaram-me seu apoio antes da reunião acadêmica do dia
24 de junho, aos quais agradeço comovido.
A Deus, que não se cansa de iluminar-me com o seu Espírito e
de valer-me com a sua misericórdia, agradeço profundamente, por
proporcionar-me a ajuda de eu me sentir, com a presente láurea, mais
motivado a viver a existência que me concedeu, e peço-lhe que me
faça sempre colocar o transcendente acima das coisas passageiras des-
te mundo como o próprio recebimento da honraria em estima.
Ao Presidente José Augusto Bezerra, grande tirocínio de admi-
nistrador, meu admirativo respeito pela isenção, correção e sabedoria
na condução do processo, que me outorga o elevado título que rece-
bo. A ele, também, o meu cordialíssimo reconhe- cimento, bem como
a vós todos, que viestes cumprimentar-me.
Minha fervorosa gratidão ao confrade Mons. Manfredo Ramos
pelo presente de valor infinito que me ofereceu, junto a palavras co-
moventes, uma Santa Missa gratulatória, e agradeço com admiração
a homenagem que me prestou o confrade Cid Carvalho, aproximando
dos meus os seus objetivos culturais, adotados há anos, e que remon-
tam à nossa juventude de liceístas.
Confesso-me penhorado ainda com a acolhida do Ideal Clube,
o qual se representa pelas pessoas do ilustre Presidente Amarílio Ca-
valcante e do Diretor Cultural, o dileto amigo e grande poeta Carlos
Augusto Viana, sucessor do saudoso poeta José Telles.
Tenho consciência da responsabilidade, que me pesa aos om-
bros, diante do que me ofertais em nome da intelectualidade cearen-
se, e sinto mesmo que em nome da própria Terra de Sol e Mar. Cons-
152
cientizo também, como machadiano, a possibilidade de pessoas e
setores visualizarem como ridícula a obtenção do título em causa, mas
confio muito mais, romanticamente, na sinceridade dos sentimentos
fraternos dos meus confrades. Certo é que, em matéria de poesia, se
minha mente inclina-se mais para uma atitude realista, a alma e o co-
ração buscam uma posição mais neorromântica e/ou neossimbolista,
seguindo eu, assim, a intelectualização da sensação de um Fernando
Pessoa, que escreveu: O que em mim sente ‘stá pensando.
Procurarei esforçar-me para dignificar, cada vez mais, a comen-
da de que agora sou detentor. Espero que a Poesia jamais me aban-
done com as qualidades com que a entendo -, o belo, o elevado, o
comovente e o criativo, enquanto desejo ser sempre fiel a ela dentro
de minha concepção estética de professar um sincretismo de concilia-
ção entre o clássico e o moderno.
Meus amigos, imagino estar aqui, comigo, participando desse
galardão, além da Academia Cearense de Letras, o grupo Sin de Lite-
ratura; comigo, minha Terra natal, Lavras da Mangabeira, com o seu
Boqueirão e o seu Rio Salgado; comigo, o Departamento de Literatura
da UFC; comigo, a Academia de Letras e Artes do Nordeste; comigo,
a Associação dos Ex-alunos do Seminário São José do Crato; comigo,
a Associação Brasileira de Bibliófilos.
Estava em Lisboa, em 1987, quando recebi a notícia de que mi-
nha Terra me concedia, através da Secretaria de Cultura e Desporto, o
Prêmio Estado do Ceará, de Poesia, daquele ano, pela publicação do
meu livro Tempo de Colheita. Emocionado, não me contive e enviei
ao Ceará esta mensagem, sob o título de “Carinho Telúrico”, a qual,
na solenidade de entrega dos prêmios, foi lida por minha filha Ceiça:
153
Acaso minha Terra me pressente
a saudade no solo de Cabral.
Grata a quem lhe ofertou o peito e a mente,
manda-me eterna flor de um seu rosal.
154
Apresentação do Livro de Contos Cãs, rugas
e amor: rumo a uma cultura de Direitos
Humanos1, de Ruth Villanueva Castilleja
César Barros Leal
1 No original: Entre canas, arrugas y amor: rumbo a una cultura de Derechos Humanos.
155
UNAM, integrante da Academia Mexicana de Ciências e do Conselho
Consultivo do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos, de cujas obras,
principalmente na área do direito do menor – terminologia que por lá
ainda se adota –, sempre fora um leitor assíduo. No decurso dos anos
seguintes nossos caminhos voltariam a se cruzar com frequência.
A amizade com a Dra. Ruth se alargou e se consolidou com o
fluir do tempo. Em 2005, convidei-a para uma preleção em Fortaleza
sobre Menores Infratores e Direitos Humanos, no Fórum Permanente
dos Direitos Humanos Prof. Dr. Antonio Augusto Cançado Trindade.
Naquela oportunidade, visitou, com sua filha Magda, a Creche Ama-
deu Barros Leal (http://www.crecheamadeubarrosleal.org.br), que fun-
damos há 15 anos e se destina preferencialmente a filhos de presos.
Hoje, uma das mais festejadas juristas mexicanas, doutora em
Direito e Ciências Penais, Ruth é uma de minhas duas orientado-
ras no pós-doutorado que realizo no Centro de Estudos Latino-
-americanos da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da UNAM.
Em sua companhia tenho visitado, em diferentes regiões de seu
país, centrais de monitoramento eletrônico à distância, tema da
pesquisa que agora desenvolvo. Esses contatos, que me permitiram
conhecê-la melhor e dimensionar a trajetória de sua vida – integral-
mente dedicada à causa da criança desvalida, do adolescente infra-
tor – me fizeram admirá-la ainda mais pela grandeza de sua obra,
que não se circunscreve à profusão de livros e artigos publicados
em revistas especializadas, senão também ao ensino superior, às
conferências proferidas no México e em outros países, à organiza-
ção de congressos anuais, de caráter nacional e internacional, e à
direção de um centro universitário de excelência.
Faço estas digressões com o objetivo de contextualizar nossa
amizade - que encaro com enorme desvanecimento - bem como a
produção intelectual da humanista Ruth Villanueva Castilleja, na qual
se incluem inumeráveis livros sobre temas vinculados ao menor, com
ênfase sobre seus direitos constitucionais e a imperiosidade de sua
tutela, de sua proteção integral.
156
De sua obra, vasta e predominantemente jurídica, centro-me em
duas que representam a incursão da versátil autora por outras áreas da
literatura. Refiro-me, em primeiro lugar, ao Teatro Penitenciario, pu-
blicado em 2008 pela Editora Porrúa, e que reúne quatro peças de
inexcedível primor (Pedro; Fuga para três, Liberdade para uma; Sem
Liberdade; e Em Prisão), em cujas páginas se evidencia sua enorme ex-
periência nesta seara, haurida durante o largo período em que dirigiu
uma prisão feminina e exerceu as funções de Diretora de Supervisão
Penitenciaria da Comissão Nacional de Direitos Humanos. O livro - uma
edição melhorada da Pequeña Muestra de Teatro Penitenciario - re-
trata, de modo contundente, sem rebuços, o drama essencialmente
humano das mulheres encarceradas, o que a autora faz como “parte
do processo educativo dentro do sistema presidial”, buscando provo-
car, nos leitores e nos eventuais assistentes de suas apresentações, uma
reflexão sobre o locus iníquo dos seres humanos privados de liberdade,
sujeitos, na cotidianidade do cárcere, a toda sorte de mazelas. Confes-
sando expressamente a influência de Paulo Freire (Pedagogia do Opri-
mido) e Augusto Boal (Teatro do Oprimido), reitera sua proposta de
conscientização dos problemas que afligem os seres humanos, máxime
aqueles que, desfavorecidos da fortuna, considerados cidadãos de se-
gunda categoria, povoam esquecidos e humilhados, o mais das vezes à
espera de julgamento, os subterrâneos da justiça criminal.
A ideia subjacente nas peças - onde o argot tempera a lingua-
gem prisional, o que concede mais realismo e dramaticidade à ence-
nação intramuros, ainda mais porque os personagens costumam ser
interpretados pelas próprias presas -, é a de apresentar comportamen-
tos de desesperança, situações-limite, que ensejam a identificação das
mulheres com o espaço carcerário, permeado de violência, aporias,
inconformismos, sonhos e desilusões.
Poucas pessoas no país de Diego Rivera estão aptas a escrever,
com tanta densidade e verossimilhança, composições teatrais que
se centrem no universo dos cativos, uma ressalva assinalando-se a
seu favor: as peças têm uma proposta intrínseca, tal como anota a
157
própria Ruth em sua apresentação: “propiciar o debate e a reflexão,
promovendo assim a prevenção de condutas antissociais; promover
na população carcerária reconhecimento de situações de risco; criar
situações para a análise de diferentes condutas antissociais e as con-
sequências destas; possibilitar a convivência sob um critério de res-
peito e tolerância”.
A segunda obra é esta que traduzi ao português e agora tenho
o orgulho de apresentar ao público. Sob o título sugestivo Entre cãs,
rugas e amor: rumo a uma cultura de Direitos Humanos (no origi-
nal: Entre canas, arrugas y amor: rumbo a una cultura de Derechos
Humanos), aqui se enfeixam dez contos singelos, sem pretensões de
inovação, cujo pano de fundo é o intento – louvável e característico da
autora – de representar uma ferramenta pedagógica (“um apoio”), di-
rigida ao fomento da educação e da cultura e ancorada no acendrado
respeito aos direitos humanos (particularmente da instituição sagrada
da família, da figura dos pais, do avô, do idoso), a partir dos primeiros
anos de vida, em que se molda a personalidade e se sedimentam os
valores essenciais de cada ser humano e que norteiam toda sua exis-
tência no plano familiar e social.
Altruísmo, confiança, atenção e afeto são algumas das palavras
chaves, que emergem com pujança das páginas de cada um desses
pequeninos e despretensiosos contos, aos quais se segue sempre uma
gama de atividades e interrogações que poderão servir ao educador
como instrumentos capazes de reforçar seu labor educativo, na defini-
ção de valores, direitos e deveres.
Mediante leituras eminentemente vivenciais, no sentido da des-
coberta do novo, do saudável, do lúdico, persegue-se a descoberta
- por parte da criança - de conceitos e noções que lhe assegurem uma
educação de qualidade, uma consciência de seu papel no seio da famí-
lia, da importância de sua atitude em relação ao outro, ao semelhante,
o que vem a ser um ponto de partida e equilíbrio para seu bem-estar.
Emblemática a inclusão, no final, dos dez princípios que com-
põem a Declaração Universal dos Direitos da Criança, a afiançar o pro-
158
pósito da contista de fazer deste opúsculo algo maior do que uma
mera coletânea de contos. Contos que, afinal, breves, concisos, de
enredo enxuto, frases e diálogos curtos, com poucos personagens,
haverão de transmitir uma mensagem educativa a quantas crianças
tenham a chance de lê-los e se entretenham com um gênero que, em
palavras de Maupassant, é muito mais complexo do que o romance
em sua criação.
Um tributo se impõe à Dra. Ruth Villanueva Castilleja por um
gesto magnânimo: a doação parcial dos lucros da venda do presente
livro à Creche Amadeu Barros Leal. Um ato generoso e cativante que
expressa o caráter e a nobreza de quem escolheu como apanágio de
sua vida o ideário da retidão e da solidariedade.
Obrigado, estimada amiga, em nome de centenas de crianças,
carentes de uma mão amiga, que desde sua fundação nos têm inspi-
rado, com seu sorriso, seu crescimento individual, a dar o melhor de
nosso esforço para garantir sua inclusão num mundo que se pretende
seja menos cruel, mais humano, atento à materialização de seus direi-
tos fundamentais.
159
Apresentação da Revista do Instituto Brasileiro
de Direitos Humanos (Ibdh), nº. 15
César Barros Leal *
160
indemonstráveis como a das “gerações de direitos”, que têm
prestado um desserviço à evolução da matéria, ao projetar uma
visão fragmentada ou atomizada no tempo dos direitos protegi-
dos. Todos os direitos para todos é o único caminho seguro. Não
há como postergar para um amanhã indefinido a realização de
determinados direitos humanos.
Para lograr a eficácia das normas de proteção, cumpre partir da
realidade do quotidiano e reconhecer a necessidade da contextuali-
zação dessas normas em cada sociedade humana. Os avanços nesta
área têm-se logrado graças, em grande parte, sobretudo, às pressões
da sociedade civil contra todo tipo de poder arbitrário, somadas ao
diálogo com as instituições públicas. A cada meio social está reservada
uma parcela da obra de construção de uma cultura universal de obser-
vância dos direitos humanos.
Os textos, em vários idiomas, que compõem este décimo-quinto
número da Revista do IBDH, a exemplo das edições anteriores, enfei-
xam uma variedade de tópicos de alta relevância atinentes à temática
dos direitos humanos. O presente número antecede a realização em
Fortaleza do V Curso Brasileiro Interdisciplinar em Direitos Humanos:
Igualdade e não Discriminação, no período de 5 a 14 de setembro de
2016, uma iniciativa conjunta do IBDH e do Instituto Interamericano
de Direitos Humanos (IIDH), contando com a parceria e o apoio de
numerosas instituições.
Este Curso anual, que reúne uma centena de participantes na-
cionais e estrangeiros, representa um divisor de águas na trajetória do
IBDH, abrindo-lhe portas para alianças estratégicas com instituições
públicas e privadas.
No presente domínio de proteção impõem-se maior rigor e pre-
cisão conceituais, de modo a sustentar a vindicação dos direitos hu-
manos em sua totalidade, e a superar o hiato existente entre o ideário
contido na Constituição Federal e nos tratados em que o Brasil é Parte
e nossa realidade social. Essa dicotomia entre “falar e agir” provoca
um considerável desgaste e uma descrença generalizada. Isso é deplo-
161
rável, na medida em que devemos não apenas conhecer nossos direi-
tos, mas também saber defendê-los e exigir sua proteção por parte do
poder público, reduzindo assim o espaço ocupado pela injustiça, pela
violência e pela arbitrariedade.
Proclamações de direitos não são suficientes, como já alerta-
va há décadas o lúcido pensador Jacques Maritain, para quem não
é admissível perverter a função da linguagem, a serviço dos que nos
roubam a fé na efetivação dos direitos humanos, inerentes aos seres
humanos e à sua condição de dignidade. Aos direitos proclamados
se acrescem os meios de implementá-los, inclusive diante das arbitra-
riedades e mentiras dos detentores do poder. Entende o IBDH que o
direito internacional e o direito interno se encontram em constante
interação, em benefício de todos os seres humanos.
Assim sendo, o IBDH persiste em manifestar sua estranheza ante
o fato da não aplicação cabal do art. 5º, § 2º, da Constituição Fede-
ral Brasileira vigente, de 1988, o que acarreta responsabilidade por
omissão. A juízo do IBDH, por força do art. 5º, § 2º, da Carta Magna,
os direitos consagrados nos tratados de direitos humanos em que o
Brasil é Parte se incorporam ao rol dos direitos constitucionalmente
consagrados. Impõe-se tratá-los dessa forma, como preceitua nossa
Constituição, a fim de alcançar uma vida melhor para todos quantos
vivam em nosso país.
Nesse sentido, o IBDH volta a repudiar as alterações introduzi-
das pelo posterior art. 5º, § 3º, da Emenda Constitucional nº 45 (pro-
mulgada em 08.12.2004), o qual revela inteiro desconhecimento da
matéria, na perspectiva do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
dando ensejo a todo tipo de incongruências — inclusive em relação a
tratados de direitos humanos anteriores à referida Emenda — ao su-
jeitar o status constitucional de novos tratados de direitos humanos à
forma de aprovação parlamentar dos mesmos. Esta bisonha novidade,
sem precedentes e sem paralelos, leva o IBDH a reafirmar, com ainda
maior veemência, a autossuficiência e autoaplicabilidade do art. 5º, §
2º, da Constituição Federal brasileira.
162
Na mesma linha de pensamento, o IBDH também repudia as
críticas de determinados detentores do poder a decisões de órgãos
internacionais de supervisão dos direitos humanos, pelo simples fato
de serem tais decisões desfavoráveis ao Estado brasileiro. Algumas crí-
ticas, reveladoras de ignorância, chegam ao extremo de proporem re-
presálias a órgãos internacionais que estão cumprindo o seu dever, em
defesa dos justiciáveis. A esse respeito, nunca é demais recordar que
os Estados Partes na Convenção Americana dos Direitos Humanos,
que reconheceram a competência compulsória da Corte Interameri-
cana de Direitos Humanos, assumiram o compromisso de dar plena
execução às Sentenças da Corte Interamericana. Isto se impõe bona
fides, em razão do princípio geral do direito pacta sunt servanda. A
nenhum Estado Parte é dado evadir-se do fiel cumprimento de suas
obrigações convencionais.
Reiteramos, enfim, que a Revista do IBDH, como repositório de
pensamento independente e de análise e discussão pluralistas sobre os
direitos humanos, persegue o desenvolvimento do ensino e da pesqui-
sa sobre a matéria no Brasil. Desse modo, na tarefa de consolidação de
um paradigma de observância dos direitos humanos em nosso meio
social, espera o IBDH dar uma permanente contribuição.
163
122 Anos da Academia Cearense de Letras
Mauro Benevides2
Senhor Presidente
Senhoras e Senhores Deputados:
164
eternizaram pelo talento fulgurante, expressado em apreciável biblio-
grafia, divulgada a partir de 1950.
Certa vez, como jornalista iniciante, entrevistei alguns dos com-
ponentes do Grupo Clã, deles ouvindo preleções que os tornavam
identificados com a renovação modernista que o Grupo Clã encarnaria
fulgurantemente.
Ao falecer, aos 91 anos de idade, Artur Eduardo Benevides dei-
xou um número expressivo de trabalhos literários, principiado pelo
NAVIO DA NOITE, que assinalou a sua estreia nas letras cearenses.
O evento de amanhã terá esse significado rememorativo, ora
recordado com um misto de saudade e de renovada admiração ao
último deles, por razões de todos conhecidas, sobretudo o afeto a
quem, na sua última publicação, indagava enfaticamente: “Será que
fiz TANTO e, diremos nós, pela literatura?”
Obviamente, sim. Artur foi um dos mais brilhantes de sua gera-
ção e a obra tornar-se-á imperecível.
165
O Silêncio da penteadeira1
Angela Gutiérrez
166
memória dos traços que diferentes gerações deixaram em nossa arqui-
tetura e geografia urbana. E, embora assistamos ao tímido nascer da
conscientização sobre a importância de resguardar os bens patrimo-
niais da cidade, como memória de sua gente, precisamos alardear aos
quatro ventos e comemorar com efusivo júbilo a bela restauração de
nossa sede, capitaneada com esforço tenaz pelo Presidente da Aca-
demia Cearense de Letras, Bibliófilo José Augusto Bezerra, com apoio
e parceria de pessoas, entidades e instituições beneméritas. Além de
comemorar a restauração do Palácio da Luz, devemos mesmo ressaltar
essa ação cultural como bom exemplo de cuidado patrimonial. Ao
restaurar este palácio repleto de memória do nosso povo – daqueles
que ergueram suas paredes, dos que o habitaram com responsabili-
dade de dirigir os destinos do Ceará, dos que, enfim, deram vida ao
Palácio da Luz – pois bem, restaura-se, também, o respeito aos que
nos precederam e aos que nos sucederão como herdeiros da Cidade
Amada, usando aqui a poética expressão com que Artur Eduardo
Benevides sempre se referia a Fortaleza.
Não me alongarei, porém, em revelar-lhes mais detalhes do tra-
balho aqui realizado – ressaltemos -, em tempos mundialmente con-
siderados como áridos, secos, enfim, difíceis para semeaduras pro-
missoras e boas colheitas. O próprio Presidente da Casa de Thomaz
Pompeu o fará, com maior pertinência e conhecimento, na reabertura
oficial deste Palácio, em fins deste ano de 2016.
Retornemos, então, ao lançamento d’O silêncio da penteadeira.
Agradeço à madrinha do livro, Fernanda Coutinho, que me instigou
a publicar esse texto, guardado há alguns anos, e para ele escreveu
um encantador posfácio, que, tenho certeza, vocês lerão com prazer;
agradeço, também, à brilhante colega e amiga, a apresentação do
livro nesta sessão de lançamento, com um texto em que revela, como
sempre, e sei que os presentes concordarão comigo, sua competência
crítica aliada a uma escrita delicada e generosa. Obrigada, Fernanda.
Atrasemos o calendário e voltemos a 2011. Isso porque, como
todas as vezes em que sou convidada a falar sobre algum de meus livros,
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sempre me pedem para começar do começo, ou seja, de como nasceu
o livro, que semente lhe deu vida. Assim, já aprendi a lição e começarei
do começo, pelo instante de criação d’O silêncio da penteadeira.
Pois bem, no ano de 2011, lia em meu quarto, quando, ao
levantar os olhos do livro, vi minha imagem refletida no espelho da
penteadeira, que já vem há muitos anos na família. Tendo sido da
casa de campo de minha bisavó Angela, passou para minha avó Laís,
depois para minha mãe, Angela Laís e – finalmente -, para mim, An-
gela Maria. Sou grata a minha mãe, por essa penteadeira do sítio de
Mondubim, que me inspirou um livro, mas, sobretudo por outras for-
tes contribuições suas à minha carreira como escritora. Aprendi com
Mamãe a contar histórias, (embora nunca com sua inimitável graça!),
encantei-me com suas relembranças de família e da cidade de For-
taleza, aprendi a amar seu avô, meu bisavô, Thomaz Pompeu, tão
presente em sua infância e em sua memória. Aqui, no Palácio da Luz,
como primeiro Presidente da ACL, patrono da Cadeira 35 e membro
de outras entidades culturais, Thomaz Pompeu está representado em
vários retratos a óleo e – surpresa! – estará representado em outra arte
na reabertura do Palácio, não é, Descartes?
Voltemos à Penteadeira! Depois de algum tempo, percebi que,
ao me olhar no espelho, na verdade, não me via, mas imaginava quan-
tas histórias essa penteadeira refletira em seu espelho, quantas cenas
de vida guardara. Porém, como já maturava a ideia de escrever sobre
temas e ambientes que não me fossem familiares, não queria que mi-
nha voz narrativa fosse a de uma escritora doublé de professora, nem
desejava, naquele instante, recriar a memória familiar. Queria sair de
Fortaleza e ir para o sertão. Assim fiquei um tempinho olhando, olhan-
do para o espelho e fabulando. Logo em seguida, sentei-me diante
do espelho – espelho? , quero dizer da tela, tela do computador, e
escrevi muitas páginas, tal como vocês as lerão. Por alguns dias, voltei
a escrever com certa urgência em ver como os fios da narrativa se en-
trançariam e se desentrançariam e, de repente, o texto estava pronto.
Alerto: ao dizer pronto não digo que todos os fios foram desenleados.
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Acredito que é preciso deixarmos alguns fios à espera que a mão do
leitor deslinde pouco a pouco o que embaralhamos.
Ao me deslocar para o sertão, outras histórias foram surgindo
e resultaram nos contos curtos e entrelaçados da coletânea Os sinos
de Encarnação, publicada em 2012. Enquanto isso, O silêncio ficou
guardado. Não se enquadrava na moldura e na tela da coletânea. Os
contos de Os sinos de Encarnação são curtos e cada um é, ao mesmo
tempo, autônomo e parte de um mosaico maior - a coletânea. As
tramas de cada conto se mesclam umas às outras por uma Sherazade
das minhas terras de dentro, chamada Encarnação, que vai, ao longo
do tempo e no ziguezague de seus passos, contando e entrelaçando
as duas dezenas de histórias da coletânea.
Já a estrutura d’ O silêncio da penteadeira é bem diferente. Não
há histórias marginais e, sim, um eixo narrativo que roda sobre si mes-
mo, em constante retorno ao começo. Fernanda Coutinho, aliás, lem-
bra a litania ou ladainha a propósito da reiteração das perguntas de
Pequena, que se centram em buscar-se nas outras mulheres da família
que, aliás, não conheceu. Como futura herdeira da penteadeira em
que se miraram sua bisavó, sua avó, sua mãe, Pequena procura em seu
espelho as respostas que ninguém lhe quer ou pode dar. Em um de
seus monólogos, ou diálogos fracassados com o espelho, diz: “Só tu
podes me dizer quem elas foram e quem vou ser.” [Que escritor pode
fugir ao tema do espelho? Aquela lâmina que nos mostra o rosto que
nunca veremos diretamente com o olhar – o nosso, e quando o vemos
espelhado, enxergamos tudo ao contrário, o que está à direita vemos
à esquerda e vice-versa. Atravessaríamos a noite no Palácio se come-
çássemos a recordar agora o tema do espelho na literatura!].
Diferentemente de meus romances – O mundo de Flora e Lu-
zes de Paris e o fogo de Canudos -, que, na tentativa de ampliar e
diversificar o universo ficcional, lançam mão de grande número e tipo
de materiais narrativos, como cartas, diários, bilhetes, cartões postais,
documentos, estórias marginais, fotos, desenhos, narrativas orais, di-
álogos dramáticos, reproduções de telas e desenhos, notícias de jor-
169
nal, e muitos mais; O silêncio da penteadeira atém-se ao essencial, o
drama de Pequena em busca de si mesma manifesta-se em três tipos
de linguagem que pede de empréstimo ao teatro: o monólogo de
Pequena diante do espelho (em itálico, no livro), seus diálogos com as
outras personagens (em redondo), e o que eu imagino como um coro
de tragédia (em negrito) ou um narrador que não é personagem, pois
está fora da trama, que não é onisciente, mas tanto pode ver as ações
da protagonista, como enxergar seus pensamentos e sentimentos.
Embora a ação desse, digamos, conto dramático não contenha,
pelo menos, aparentemente, quase nada de dados autobiográficos,
Descartes Gadelha diz que o livro é muito parecido comigo. Pois é aqui
que Descartes entra na história do livro.
Mais um salto no tempo, e chegaremos no ano passado, em
2015, quando, por conta dos 25 anos de publicação da primeira edição
d’O mundo de Flora, algumas amigas, professoras universitárias e escri-
toras, citadas aqui em ordem alfabética – Cleudene Aragão, Fernanda
Coutinho, Inês Pinheiro Cardoso, Vania Vasconcelos e Vera Lúcia Albu-
querque de Moraes, criaram, generosamente, um calendário de encon-
tros em torno de meu primeiro livro e insistiram, gentilmente, que eu
publicasse O silêncio da penteadeira, para que seu lançamento fizesse
parte dessa rememoração. [Só há poucos dias, descobri que O mundo
de Flora também foi lançado em um 30 de agosto, um dia como hoje!]
Analisado e aprovado para publicação pela Editora da UFC, que
é conduzida com eficiência e simpatia pelo Prof. Claudio Guimarães,
e iniciada a editoração do livro pelo talentoso programador visual e
capista da Editora, Val Macedo, encontro-me, casualmente, com Des-
cartes Gadelha. Usando seus poderes de mago, o artista adivinha que
estou editando um livro. Enuncio o título - O silêncio da penteadeira
– e Descartes, imediatamente, o considera muito sugestivo. Pergunto
se faria uma ilustração para a capa do livro; responde-me com outra
pergunta: quando vou ler os manuscritos? No dia seguinte, entrego
os manuscritos a Descartes. Dias depois, o caro amigo chega em mi-
nha casa com vários rolos de papel que pareciam papiros. Eram 26
170
desenhos. E Descartes criou, assim, um outro silêncio da penteadei-
ra, nascido de sua leitura singular e de seu traço inconfundível. Não
nego que chorei ao ver suas ilustrações. Na hora em que as vi, lembrei
que eu ficara maravilhada com os desenhos de Descartes para contos
do inesquecível Moreira Campos publicados, em 2014, pela Confraria
dos Bibliófilos do Brasil: Moreira Campos Centenário; Vinte e um con-
tos selecionados. E agora eu teria também um livro todo ilustrado por
Descartes?! Muito para meu pequeno Silêncio! Assim, o artista mu-
dou o rumo do livro, pois, com a riqueza de ilustrações, novo formato
era preciso! E outro tipo de papel, capa dura, sobrecapa. Penteadeira
começa outra vida.
- Ah, quase todos meus livros têm apelido: O mundo de Flora é,
simplesmente, Flora; Luzes de Paris e o fogo de Canudos atende pelo
nome de Luzes; e assim por diante. O silêncio da penteadeira ganhou
dois, às vezes é Silêncio e, às vezes, Penteadeira.
Pois bem, continuemos. Dessa forma, para bem abrigar os dois
silêncios, o de Descartes e o meu, Val Macedo refez, comigo ao lado,
na própria editora, em um diálogo muito produtivo, toda a programa-
ção e paginação do livro. Intercalamos, com minuciosa distribuição de
espaço, o desenho e o texto, o Silêncio que se lê e o Silêncio que se vê.
“E o resto é o silêncio?” Não. O resto é alegria. O presidente
desta Casa me convida para lançar o Silêncio aqui, no Palácio. Aceito
encantada. Com o livro na mão, espero que o Palácio fique luzindo de
beleza. Aproveito para preparar o convite, claro, em parceria com Val
Macedo, dessa vez, via e-mail, pois a Editora estava em obras. Clau-
dia Queiroz, eficiente secretária da Academia e gentil amiga, me dá
uma mão na distribuição dos convites y en muchas otras cositas más.
Madalena Figueiredo, bibliotecária da Academia e amiga, também co-
labora. E aí está o livrinho que, enriquecido pelo talento generoso de
Descartes, chega a vocês. Tomara que os leitores gostem dele como
minha mãe gostou. Aliás, gostou tanto que já o ouviu muitas vezes,
a primeira vez, lido por mim de um corrido, e Mamãe só me deixou ir
para casa quando cheguei ao ponto final. Tomara que vocês gostem
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do livro como o Descartes, que escreveu, enquanto lia os manuscritos:
“Não consigo parar de ler, nem de desenhar.”
Como se aproxima o fim dessa singela conversa, preciso dizer
que este livro, como todos que já escrevi ou virei a escrever, pertence
a meu pai, meu guia na biblioteca da vida, Luciano Cavalcante Mota,
habitante de minha saudade, e a meu marido, Oswaldo Augusto Gu-
tiérrez Adrianzén, habitante de meu amor. Amado, amante, amigo!
Precioso dom que Deus me deu!
E aqui encerro minha fala com palavras de um encantador per-
sonagem criado pelo inesquecível e querido Ariano Suassuna, n’ O
Auto da Compadecida, obra tão merecidamente amada pelos brasi-
leiros. Refiro-me às palavras com que, invariavelmente, Chicó respon-
dia ao espanto de João Grilo diante das narrativas de suas aventuras
cheias de estripulias fantasiosas que o amigo lhe contava: “Não sei,
só sei que foi assim.”
172
A Sereia de Ouro e o Bom Combate pela
Construção do Mundo com que Sonhamos
Angela Gutiérrez2
2 Discurso pronunciado pela Acadêmica Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, como ora-
dora dos agraciados, na Solenidade de Entrega do Trofeu Sereia de Ouro, concedido pelo
Sistema Verdes Mares, no dia 30 de setembro de 2016, no Theatro José de Alencar.
173
para a dramatização artística e o deleite do público, de que o Theatro
José de Alencar, que nos abriga nesta noite, é herdeiro.
Assim como as praças eram, e ainda o são, palco para a arte
teatral, os edifícios construídos para o espetáculo dramático cons-
tituem-se também como espaços para outras manifestações de vida
social. Desse modo, importantes acontecimentos históricos aconte-
ceram e acontecem no palco do TJA, e entre eles, ressalto a instala-
ção da Universidade Federal do Ceará, em 1955, em sessão presidi-
da pelo reitor-fundador, Prof. Antônio Martins Filho, que, para maior
honra de todos os agraciados por essa comenda, recebe o Troféu
Sereia de Ouro, em 1974.
O teatro oficial do Ceará, idealizado desde meados do século
XIX, e erguido somente no início do século XX, é considerado como
uma das mais belas obras da arquitetura de ferro no país. Recebeu o
nome do cearense que dignificou e consolidou as letras brasileiras,
ao pintar, na ficção narrativa e na dramaturgia, um amplo afresco de
nossa história, dos costumes das várias regiões do vasto país e do Rio
de Janeiro de seu tempo, o Segundo Império.
Inaugurado em 1910, o Theatro José de Alencar registra, em
sua memória centenária, espetáculos de variadas artes, da encenação
dramática à música erudita, com orquestras sinfônicas; ao shows de
Bossa-Nova, com um banquinho e um violão; às manifestações tradi-
cionais - bumba-meu-boi, maracatu -, à dança e ao balé clássico, ao
canto, às comédias, às operetas. Após a grande reforma e recupera-
ção deste teatro, sua reinauguração, em 1991, foi comemorada com
belo espetáculo, Narração da Viagem à Província do Ceará, que conta
nossa história a partir de poetas e prosadores da terra, com roteiro e
direção de Aderbal Freire-Filho, ilustre dramaturgo cearense, posterior-
mente laureado com a Sereia de Ouro.
Aqui estamos, neste espaço de arte e memória, para escrever
mais uma página da vida cearense. Dando continuidade à tradição ini-
ciada em 1971, o Sistema Verdes Mares promove hoje a quadragésima
sexta edição da cerimônia em que entrega o Troféu Sereia de Ouro a
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quatro cearenses. Relata Dona Yolanda Vidal Queiroz, em seu livro de
memórias, Momentos, publicado em 2015, que a criação do troféu
surgiu da intenção de seu marido e fundador do grupo empresarial
que leva seu nome, Edson Queiroz, de agraciar quatro personalidades
de relevo à época. Conta-nos Dona Yolanda que, no ano anterior, Ed-
son Queiroz, em conversa com Mino, artista a quem encomendara o
desenho de um ícone para representar a TV Verdes Mares, explicitara
que essa emissora deveria ser reconhecida por um símbolo marítimo.
Nas palavras da memorialista: “Mino argumentou que a sereia estava
nos mares e encantava, o que tinha relação com a atração que a TV
iria exercer sobre as pessoas” (p.153). Aceita a sereia e a partir de sua
imagem, foi, também, posteriormente, elaborado o troféu, em prata
de lei, recoberta de ouro.
Dona Yolanda era a alma mater das cerimônias da Sereia de
Ouro, que preparava e presidia. A solenidade de hoje é a primeira sem
a presença de quem aportou significação social, histórica e cultural a
esse acontecimento. Ao lamentar sua ausência, nesta noite, sei que
minha voz representa não só a dos agraciados de 2016 e dos anos an-
teriores, como a da Família Queiroz e dos convidados. Durante quase
cinco décadas, Dona Yolanda dignificou a entrega do Troféu Sereia de
Ouro com a fortaleza dos cearenses que enfrentam a vida de cabeça
erguida e a gentileza dos filhos de nossa terra acolhedora.
Não é novidade a constatação de que a galeria dos premiados
em 46 edições do Troféu Sereia de Ouro apresenta amplo painel dos
cearenses que se distinguem em diferentes áreas de conhecimento,
ação e cultura, desde dignatários religiosos, cito o notável Carde-
al Aloísio Lorscheider, a industriais, menciono o inesquecível amigo
e respeitado empresário Ivens Dias Branco (representado nesta sole-
nidade por Dona Consuelo Dias Branco e família), a artistas, lembro
Aldemir Martins, Estrigas, e Heloísa Juaçaba, a médicos, recordo Fer-
nando Pompeu e Dr. Haroldo Juaçaba, a poetas e romancistas, cito,
com prazer, Artur Eduardo Benevides, Patativa do Assaré e Rachel de
Queiroz, primeira escritora a ser laureada com a Sereia. Saliento que
175
aqui destaquei apenas alguns agraciados que já não se encontram na
vida terrena, mas povoam nossa memória.
Nas grandes áreas a que os quatro premiados deste ano per-
tencemos: Medicina, Direito, Cinema e Literatura, há, na galeria de
sereiados (eis um neologismo já perfeitamente integrado à fala e es-
crita cearense!) nomes admiráveis que nos antecederam e enobrecem
a comenda que nos é outorgada. Considerando que os currículos dos
agraciados de hoje já foram lidos no protocolo desta cerimônia, res-
saltarei apenas as linhas mestras que orientam as realizações das per-
sonalidades cearenses que, por terem honrado o Ceará em suas áreas
de atuação e avançado o amanhã, recebem o Troféu Sereia de Ouro,
tão respeitado em nosso estado e no país.
Nascido em Coreaú, cidade que floresceu em sesmarias férteis
à margem do rio de mesmo nome indígena que significa “bebedouro,
água ou viveiro de curiás”, o médico Anastácio Queiroz Sousa, des-
de o início de sua carreira, demonstra interesse pela saúde em nossa
região, quando se especializa em Medicina Tropical e em Doenças In-
fecciosas, nos Estados Unidos, e passa a dedicar-se a essas áreas. Na
brilhante carreira acadêmica que vem construindo na Faculdade de
Medicina da UFC, como professor na graduação e em dois programas
de pós-graduação stricto sensu, como pesquisador e coordenador do
Núcleo de Medicina Tropical, Dr. Anastácio contribui para o adianta-
mento da ciência, no país e no mundo, no âmbito de suas especiali-
dades médicas. No percurso de sua atuação em saúde pública, des-
taca-se nos cuidados com as populações mais vulneráveis a doenças
infecciosas e tropicais que atende no Hospital São José e na excelência
de sua gestão como Secretário de Saúde do Estado do Ceará, quando
instaura projetos para melhoria do sistema de saúde, em que sobressai
o grande sucesso do programa de redução da mortalidade infantil. Dr.
Anastácio credita-se, assim, ao justo reconhecimento de seus pares e
da sociedade, manifestado por prêmios e títulos e por sua participação
em respeitáveis entidades como a Sociedade Americana de Medicina
Tropical e a Academia Cearense de Medicina.
176
Na cidade que se distingue por sua aura mística em torno da
figura do Padre Cícero Romão, nasceu o Desembargador Teodoro
Silva Santos, que se declara fervoroso devoto do religioso que, há
mais de um século, atrai a Juazeiro do Norte romeiros da região nor-
destina. Criança do sertão, com dezessete irmãos, o menino Teodoro
cedo compreende a recomendação de sua mãe, Sra. Alaíde Silva San-
tos, para dedicar-se aos estudos. Desloca-se para a capital e aqui cur-
sa Ciências Jurídicas e Sociais. Ao encaminhar-se para Pós-Graduação
em Processo Penal e Mestrado em Direito Constitucional, desenha sua
área de atuação no magistério que vem a exercer na Unifor, na Escola
Superior do Ministério Público do Ceará e na Escola Superior da Ma-
gistratura. Seus conhecimentos acadêmicos, registrados em artigos
que publica em periódicos nacionais e estrangeiros e em livros, com
destaque para sua tese de mestrado e para a obra intitulada Princípio
do direito ao silêncio e de não produzir provas contra si, que proxima-
mente apresentará ao público, aliam-se à experiência como Promotor
e Procurador de Justiça do Estado do Ceará e no atual desempenho
como Desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará, para a consoli-
dação de sua vitoriosa carreira jurídica, que o fez merecedor de honro-
sas comendas, entre elas, o título de Cidadão Fortalezense e o Mérito
Judiciário do Trabalho Comenda da Ordem Alencarina.
“Minha casa é sempre Fortaleza”, declara em reportagem pu-
blicada ontem pelo Diário do Nordeste Karim Ainouz, conterrâneo
que honra nossa cidade e leva o nome do Brasil além, muito além de
nossas fronteiras. Logo após sua graduação universitária em Arqui-
tetura e mestrado em Cinema, Karim Ainouz define-se como rotei-
rista e diretor, na área de vídeo e cinema, em 16 e 35 mm, curtas e
longas, documentário e ficção e como artista visual, participando de
instalações e exposições em importantes museus de arte. Ao parti-
cipar, mundo afora, de cursos, workshops, residências e tutorias (e
aqui ressalto sua atuação em Fortaleza, na Escola Porto Iracema das
Artes), em que expande sua experiência e gera novos conhecimen-
tos para os integrantes desses programas, Karim exerce a função
177
de mestre, considerando-se a sábia definição de Rosa pela voz de
Riobaldo, que aprecio como um lema: “Mestre é quem, de repente,
aprende”. Seu longa de estreia, Madame Satã, de 2002, já marca
o tom de destemor e originalidade da filmografia de Karim Ainouz,
hoje respeitado nacional e internacionalmente por haver merecido
importantes prêmios, mas, sobretudo, pela entusiástica recepção
crítica e de público, que o consagra como um dos mais relevantes
cineastas da contemporaneidade.
Como dizem os franceses: - Chapeau, Senhores! É com honor
que recebo em tão digna companhia a comenda que o Sistema Verdes
Mares nos atribuiu!
Nasci em Fortaleza, bem perto deste teatro, na casa de meu
bisavô, Thomaz Pompeu. Com minha mãe, aqui presente, na beleza
e sabedoria de seus quase 100 anos, Angela Laís Pompeu Rossas
Mota, exímia contadora de histórias e guardiã da memória da família
e da cidade, aprendi a arte de entrançar histórias, e com meu pai,
Luciano Cavalcante Mota, habitante de minha saudade, meu mestre
e guia, a de amar a literatura e o dom da vida. De leitora apaixonada
tornei-me estudante e professora de Literatura na UFC, dedicando-
-me sempre a temas literários que me apaixonam. Na gestão uni-
versitária, agindo em conjunto com colegas, alunos e funcionários,
plantamos as sementes do Mestrado em Letras, do Instituto de Cul-
tura e Arte - ICA e recuperamos a dignidade da Casa de José de
Alencar. No Doutorado e no Pós-Doutorado, na UFMG, busquei as
faces de Antônio Conselheiro na Literatura e na História. No convívio
permanente com a literatura, descobri-me escritora. Se meu livro de
estreia, O mundo de Flora, comemora 25 anos, e a ele vários outros
se seguiram, acaba de nascer o caçula, O silêncio da penteadeira. es-
critos todos enquanto me dedicava à UFC, cuidava de Oswaldo Filho,
Daniel e Angela Laís, atuava na Academia Cearense de Letras e no
Instituto do Ceará, acolhia Priscila, Sunny e Davi, dividindo sempre
a vida e o amor com meu marido Oswaldo, com quem aconchego
nossos oito netos que nos trazem a alegria da renovação.
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Assim somos nós, os agraciados de hoje, seres humanos com
suas lutas e esperanças. Nos tempos sombrios que vivemos, em
que, todos os dias, assistimos ao desespero de irmãos que tentam
atravessar o mare nostrum e outras paragens, fugindo a guerras e
perseguições políticas, religiosas, étnicas e de gênero, em busca da
liberdade e do direito de viver; em que sabemos do desamparo da-
queles que, em pleno século XXI, morrem de fome, sede e por falta
de acesso a tratamentos de saúde. A luta pelo direito desses irmãos
e irmãs e a esperança de um mundo mais justo nos movem. Reco-
nhecendo os avanços sociais e o desenvolvimento de Fortaleza, do
Ceará e do Brasil, nos últimos anos, cultivamos, no entanto, a espe-
rança de muito mais para nossa capital, nosso estado e nosso país.
Aspiramos a uma Fortaleza mais atenta às necessidades e anseios
de seus cidadãos, que se esforce para reverter o futuro inscrito na
testa de tantas crianças que perambulam pela vida. Queremos um
Ceará que resolva seus seculares problemas de convivência com o
semiárido, sobretudo em episódios de seca, que, aliás, encobrem
enfermidades sociais gravíssimas. Lutamos por um Brasil que res-
peite e aperfeiçoe seu regime democrático, em que os três poderes
republicanos representem dignamente os interesses da nação e os
direitos de nossa gente, mantendo o estado de direito, praticando
a honestidade transparente e combatendo, com o devido respeito a
nossa Carta Magna, a corrupção que degrada o país desde o Brasil-
-Colônia. Sonhamos com um mundo em que todos tenham direito
a comida, moradia, trabalho, educação, saúde, cultura, respeito e
paz. O mesmo mundo que Francesco, na pequena cidade medieval
de Assis, sonhou! O mesmo mundo a que se referia Martin Luther
King, ao bradar: “I have a dream!” Um mundo que mantenha,
como o mestre carpina de João Cabral, a esperança no “espetáculo
da vida. mesmo quando é a explosão de uma vida Severina”. No
fio dessa esperança, lembramos a canção Imagine, de John Lennon,
por ser uma utopia do presente, ao propor que o mundo contem-
porâneo constitua uma grande irmandade.
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Enfim, agradecemos ao Sistema Verdes Mares e à Família de
Edson e Yolanda Queiroz, a concessão do Troféu Sereia de Ouro, que
tanto nos honra e que nos impulsiona a continuarmos o bom combate
pela construção do mundo com que sonhamos.
180
Palácio da Luz: Reduto da Cultura3
Zenaide Braga Marçal4
181
Por isto repito que esta casa é uma casa feliz. Atualmente, está
sob a responsabilidade da entidade cultural maior que ela abriga, a
Academia Cearense de Letras, a mais antiga do nosso País. Os seus di-
rigentes são contagiados pela magia acolhedora desta casa centenária
e abrem suas portas imensas, diga-se de passagem, a várias instituições
literárias e culturais, tais como: Academia Cearense da Língua Portu-
guesa, Academia Fortalezense de Letras, Academia Feminina de Letras
do Ceará, Academia Cearense de Retórica, Academia de Letras dos Mu-
nicípios do Estado do Ceará, Associação de Jornalistas e Escritoras do
Brasil, União Brasileira de Trovadores, Sociedade Cearense de Geografia
e História, Movimento Cultural Terça-Feira em Prosa e Verso e outras.
Tudo nesta Casa respira tradição e Cultura. Num tempo em que
reinam a violência, a desonestidade e o descaso pela cultura, ela bem
poderia ser definida como um oásis, pois aqui bebemos conhecimen-
to e saber, no sentido maior destas palavras, e matamos a sede que
possamos ter de crescimento intelectual, através da convivência, não
só com os mestres do fazer literário, mas com pessoas que têm em
comum conosco o amor às Letras e às Artes.
Parece-nos, às vezes, terem alma os inanimados. – Muitos dirão
que isto é coisa de poeta. No entanto, não é raro sentirmos algo pare-
cido em relação a algum objeto de nossa particular estima. Penso que
isso se deve ao fato de colocarmos nesse objeto um pouco do nosso
amor, um pouco da nossa alma.
Sabemos que, muitas vezes, uma casa guarda em si vibrações de
fatos nela acontecidos. Diz-nos Saint-Exupéry no seu livro Terre des Hom-
mes que “o admirável de uma casa não é apenas que ela nos abrigue
ou nos aqueça ou, ainda, que nos pertençam suas paredes. Mas que ela
tenha lentamente despertado em nós esse sentimento de ternura”.
No Palácio da Luz sentimos isto. Esta Casa parece abraçar-nos
quando aqui chegamos, sejamos veteranos ou estejamos ainda en-
saiando os primeiros passos na vida literária. E a todos nós que aqui
comparecemos, regular e frequentemente, ela abre seu coração, suas
entranhas, e acabamos por dedicar-lhe verdadeira afeição.
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Embora conscientes do respeito que ela nos inspira, sentimo-nos
aqui bem à vontade e, com o tempo, chegamos mesmo a ter a sensa-
ção de que ela é um pouco nossa, tal é a energia positiva que vibra no
espaço desta Casa centenária.
Acredito que isso se deve ao teor dos assuntos aqui tratados, vol-
tados para o estudo, seja da literatura com um todo, seja do nosso ama-
do idioma no qual Camões cantou sua pátria e seus amores e nosso
insigne poeta José Albano, na sua “Ode à Língua Portuguesa”, disse:
“Nenhuma se conhece que traslade, / afora tu sòmente, / do
coração doente – a saüdade”.5
Nesta Casa, uns se expressam em prosa; outros, em verso; ou-
tros, ainda, em música ou canto. Pelas suas dependências circulam
escritores, poetas, retores, músicos e cantores, em reuniões regulares
ou em datas festivas, quando a Casa se engalana, parecendo sorrir
feliz e se mostrando em todo o seu esplendor!
Reflexões
(a partir da leitura de – Palácio da Luz- Reduto da Cultura)
Somente quem costuma frequentar reuniões no Palácio da Luz
pode aquilatar a importância de tudo o que foi feito na reforma aí
empreendida pelo então presidente da Academia Cearense de Letras
-José Augusto Bezerra.
Apenas uma alma empreendedora e sensível seria capaz de ima-
ginar as mudanças que foram efetuadas no corpo dessa Casa, bené-
ficas nos seus mínimos detalhes, desde a estrutura até o acabamento
final, na decoração digna de um palácio, no caso, o nosso querido
Palácio da Luz. Tudo feito com esmero e bom gosto, com vistas ao
conforto e bem-estar dos Acadêmicos e dos visitantes.
Fico a pensar o que sentiria o saudoso historiador Raimundo
Girão, já “encantado”, se viesse ao nosso Palácio. Ele que adotou e
183
amou Fortaleza como se seu filho fosse e que disse: “Cidade que não
era minha e que eu fiz minha [.] e onde construí a vida, gerei os filhos,
cansei dos meus labores, descansei nos meus lazeres, fruindo a ventu-
ra dos que podem ser felizes”. – In: Cidade de Mathias Beck: aspectos
da Fortaleza de sempre.
Imagino a beleza das expressões que ele usaria, dirigindo mere-
cidos elogios ao responsável por essa transformação.
Como sócia efetiva da AJEB, cujas reuniões acontecem nessa
Casa, tenho a felicidade de aí estar mensalmente. Assim, não poderia
deixar de louvar a valorosa iniciativado estimado Acadêmico, Escritor e
Bibliófilo José Augusto Bezerra.
Parabéns, amigo!
184
Gomes de Sousa, Um Homem de Ciência
Francisco Marialva Mont’ Alverne Frota6
185
governante, ao gestor, que o aprimoramento do homem maranhense.
A libertação do povo maranhense será promovida pela implantação
do humanismo universitário. É à Universidade Estadual do Maranhão
que incumbe promover esta revolução cultural para que o maranhense
seja feliz e ganhe a plenitude da cidadania. Guardo a compreensão
ético-cristã que o homem é maior que o Estado. E mais: que o Estado
existe para promover o homem. Só assim o homem será o agente do
desenvolvimento econômico e social do Estado.
A UEMA alcança neste dezembro 30 anos. É uma universidade
promissora com o alargamento da graduação presencial e à distância,
da pós-graduação stricto sensu e lato sensu, da pesquisa, do ensino
e da extensão, com o reconhecimento ou renovação dos cursos pelo
Conselho Estadual de Educação e pela avaliação institucional. Ainda
destaco o fortalecimento do Núcleo de Tecnologias para a Educação
da UEMA - UEMANET e o Núcleo Geoambiental, este com o Laborató-
rio de Geoprocessamento, Laboratório de Meteorologia e Laboratório
de Recursos Hídricos. É um alento: 66 professores estão em programas
de Doutorado Institucional e 29 em diversos programas fora da UEMA;
no Mestrado Institucional participam 43 professores e em cursos fora
do Estado 19 professores. É um mundo novo!
Decano dos professores do Curso de Administração, célula ma-
tricial da Universidade Estadual do Maranhão, participo desta sessão
solene do Conselho Universitário que outorga a Medalha Gomes de
Sousa de Mérito Universitário a vários professores da Casa. Cresce
minha emoção por ser um dos distinguidos com essa honraria. Aqui
expresso, em nome deles e no meu, os agradecimentos à UEMA. A
honraria nos deixa orgulhosos.
A Medalha Gomes de Sousa de Mérito Universitário tem, tal
como refere o art. 1º, da Resolução nº 376/2003,CONSUN/UEMA, de
18.09.2003, “a finalidade de galardoar personalidades, de dentro ou
de fora do território maranhense, merecedoras de particular reconhe-
cimento por suas realizações nas áreas da Educação, da Cultura, da
Ciência, das Artes e da Tecnologia”.
186
Quem é Gomes de Sousa, cuja insígnia honorífica exorna nosso
peito? É maranhense. Nasceu na Fazenda Conceição, no município de
Itapecuru-Mirim, a 15 de fevereiro de 1829 e faleceu em Londres, em
1º de junho de 1863. Vida curta com percurso iluminado. Aos 12 anos
foi para Olinda, mas logo retornou pelo falecimento do irmão José,
estudante de Direito naquela cidade. Em 1843, para atender à von-
tade paterna, se matriculou na Escola Militar. Já em 1845 ingressou
na Faculdade de Medicina. Abandonou o curso médico e, em 1847,
retornou à Escola Militar e requereu os exames vagos de todas as dis-
ciplinas da grade curricular do curso de Engenharia. Foi-lhe negada a
pretensão. Não desanimou. Fez alguns exames, em 1848, com o que
obteve o grau de bacharel em Ciências Matemática e Física e, em se-
guida, o de doutor em Matemática, com a Dissertação sobre o modo
de indagar novos astros sem auxílio das observações diretas, publicada
no Rio de Janeiro na Tipografia Teixeira & Cia. Por concurso se tornou
professor substituto da Escola Militar com 19 anos. Retomou os estu-
dos médicos. Nessa porfia desmedida se esgotou e, em 1849, voltou à
fazenda Conceição, em Itapecuru, onde se refez e, sem perda de tem-
po, estudou Direito Constitucional, Economia Política e Filosofia. Não
parou. Nessa azáfama chegou à Corte em 1850 e, levado por Gon-
çalves Dias, passou a escrever na Revista Guanabara. Temperamento
exasperado, ardeu uma polêmica sobre seus trabalhos a respeito da
Exposição Sucinta de um Método de Integrar Equações Diferenciais
Parciais por Integrais Definidas e Resolução das Equações Numéricas.
O contendor era da Escola Militar, Joaquim José de Oliveira.
Seguiu para a Europa em 1854, a pedido de Pedro II, para estu-
dar o problema da reforma do sistema carcerário brasileiro. Em Paris,
em 56, se tornou doutor em Medicina, após completar os estudos que
realizou no Rio. Na Alemanha, reencontrou Gonçalves Dias em Dres-
de. Nesse ano, o físico George Gabriel Stokes fez uma comunicação
à Royal Society of London com o resumo da Memória sobre a deter-
minação das funções incógnitas que entram sob o sinal de integral
definida, de Gomes de Sousa, já apresentada pelo autor, em 1855, à
187
Académie des Sciences de Paris. Publicou a Coleção de memórias de
análise e física matemática. Algumas delas foram levadas ao exame da
Academia de Ciências de Paris.
Em Leipzig, em 1859, publicou a Anthologie Universelle. Choix
des meilleures poésies lyriques de diverses nations dans les langues ori-
ginales.Casou-se em Londres e, em seguida, retornou ao Brasil. Tinha
sido eleito deputado pelo Maranhão. Exerceria a atividade parlamen-
tar de 1861 a 1867, destacando-se, nesse exercício, seu discurso sobre
o assoreamento do Porto de São Luís e que, anos depois, serviu como
um dos argumentos para a construção do porto do Itaqui.
Depois de exercer atividade multifária como emérito pesquisador,
Gomes de Sousa retornou à Europa, em 1857, e da Inglaterra aportou
no Maranhão na companhia de Rosa Edith, sua mulher. E fez, mal che-
gou à Província natal, exaustiva viagem pela hinterlândia do seu Estado.
Esclarece Antônio Henriques Leal no Panthéon maranhense:
188
mais de um ano e todos longe dos amigos e da pá-
tria, e sem acharem até hoje – três deles – sepultura
na terra natal! João Lisboa, na capital do reino de
Portugal, a 26 de abril de 1863, Gomes de Sousa
em 1º de junho do mesmo ano. Odorico Mendes
a 18 de agosto de 1864 em Londres, e por último
Gonçalves Dias, a 3 de novembro desse mesmo
ano, tendo o oceano por sudário!
189
A Anthologie Universelle, organizada por Gomes de Sousa, foi
antecedida pelo Florilégio da poesia brasileira, de F. A. Varnhagen
(1850) e Harmonias brasileiras, de Antonio Joaquim de Macedo Soares
(1859), ambas de feição nacionalista, ao contrário da última, que tinha
característica cosmopolita. Essa constatação se comprova com a inclu-
são de poesias líricas de dezessete idiomas: alemão, inglês, francês,
italiano, português, espanhol, russo, polonês, sérvio, boêmio, húnga-
ro, holandês, dinamarquês, sueco, grego moderno, latim e grego.
Do Préface da Anthologie transcrevo o tópico em que o organi-
zador dá as razões da escolha dos poemas líricos reunidos:
190
sés guider par une inclination particulière, mais par
la pensée bien naturelle de donner plus d’é¬tendue
à celles qui sont les plus connues.
Nous nous sommes donné une certaine liberté
dans l’ordre suivi pour les langues, telle que le
comportait un ouvrage qui présente une collection
de poésies lyriques de diverses peuples, de même
que pour l’ordre des auteurs et de leurs oeuvres,
n’ayant , en faisant notre travail, comme nous
l’avons dit, d’autre point de vue que celui d’offrir
au public une Anthologie Universelle. [Fizemos a
seleção destes poemas líricos guiados apenas pelo
ponto de vista estético naquilo que as diversas lite-
raturas nos apresentaram de mais perfeito. A im-
possibilidade de apreciar por nós mesmos, com a
devida lucidez, todas as línguas que gostaríamos
de ver representadas em nossa obra levou-nos a
solicitar a assistência de pessoas competentes com
ampla visão de mundo. Essa ajuda nos era dupla-
mente necessária, porque semelhante escolha,
empreendida por quem quer que fosse, guardaria
sempre marca de caráter individual, impossível de
satisfazer o gosto de leitores em geral. Sem pro-
curar justificação para nós mesmos e para amigos
que tão gentilmente nos auxiliaram, e sem que-
rer dar ao nosso trabalho autoridade de código de
bom gosto literário, esperamos todavia reconhe-
çam que o nosso plano tem apenas um objetivo:
satisfazer o gosto geral.
Quanto ao espaço que demos às diversas literaturas
não nos deixamos guiar por inclinação particular,
mas pela intenção de dar maior amplitude às que
são mais conhecidas.
191
Agimos com liberdade na ordem de apresentar as
línguas, considerando nossa obra como uma expo-
sição de poesias líricas de diversos povos, e de igual
modo quanto à ordem de autores e obras, não ten-
do, como já ficou dito, outra meta além desta: ofe-
recer ao público uma Antologia Universal.
Wilson Martins, na História da inteligência brasileira (v. 3, 1855
1877), acentua:
192
Folha de rosto da Anthologie Universelle de Joaquim Gomes de
Souza, do exemplar doado pelo acadêmico Mont’Alverne Frota.
193
6ª Parte
O Livro da Academia
A Silhueta das Areias
ou A Face Granulada do Inefável
Carlos Augusto Viana
197
parelhas os títulos que encimam a bela rapsódia e
os valores estéticos de sua própria oficina, de resto
inconfundível (TUFIC, 2014, s/p).
198
Estou ilhado de mortos
o Adolfo quase 100 anos
a Lana um câncer de mama.
O André amputou o pé
a Elvira um tumor de ovário
o Sérgio é nonagenário
a Helena nunca mais fez um poema.
O Jonas enlouqueceu
ninguém sabe que fim levou a Darília
e nem notícias do Romeu
o Rui foi morar em Brasília ao lado do aeroporto.
(TELLES, 2014, p. 123).
199
Na última estrofe, a vida, com sua sucessão de perdas, substitui
a imponderabilidade da morte; é o momento em que o eu lírico depara
o grotesco, incrustando em si a consciência de que, no mundo, nem as
coisas nem os seres estão em plena harmonia: a loucura tomou conta
de “Jonas” (v. 8); não existem notícias de “Darília” (v. 9), tampouco
de “Romeu” (v. 10); e o “Rui” (v. 11), indo “morar em Brasília” (v. 11),
optou pela fuga espacial, como perspectiva de mudança, mas, “ao
lado do aeroporto” (v. 11), continua entregue às “lições de partir”.1
A fusão das temáticas do amor, suas vicissitudes, e das múltiplas
faces do erotismo, é recorrente na escritura poética de José Telles – o
que se constata, sem muito esforço, na leitura cronológica de seus
livros. Em A silhueta das areias, o poema de abertura, sob o título “In-
timidade”, já surge como constatação de tudo isso:
Para protegê-la,
visto seu corpo com o meu corpo (p. 43).
1 Tal leitura , posta nesta última expressão entre aspas, foi motivada por um poema de Manuel
Bandeira, sob o título “Lua Nova”, no qual o eu lírico assim traduz o seu estado emocional:
“Meu novo quarto/ Virado para o nascente:/ Meu quarto, de novo a cavaleiro de entrada
da barra./// Depois de 10 anos de pátio/ Volto a tomar conhecimento da aurora./ Volto a
banhar meus olhos no mênstruo incruento das madrugadas. /// Todas as manhãs o aeropor-
to em frente me dá lições de partir:/ Hei de aprender com ele/ A partir de uma vez/ – Sem
medo,/ Sem saudade / sem remorso.” Disponível em: <http://poemasdebandeira.blogspot.
com.br/2011/01/lua-nova.html>. Acesso em: 05 jan. 2016.
200
Em seu estudo sobre o erotismo, Georges Bataille o compreende
como inerente, de modo singular, à natureza humana, pois, em vez
de ligar-se absolutamente à reprodução da espécie, como acontece
no reino animal, a isto transcende, convertendo--se em algo lúdico.
A partir disso, anuncia-se uma série de tensões: a descontinuidade –
cada ser é um território único; e a solidão, um fim inexorável de todos;
em contrapartida, a continuidade, pois cada um dos seres humanos se
alimenta da ilusão de completude a ser encontrada no outro (BATAIL-
LE, 2004). O ser humano seria, portanto, como as ondas do mar, que
se alteiam e se fragmentam incessantemente.
Neste poema, José Telles tece, através da plasticidade de me-
táforas, o estado da continuidade: as “intimidades” (v. 2) dizem dos
“segredos” (v. 2), despindo, de modo pleno, outra nudez: a da pas-
tosa subjetividade dos seres, daí a afirmação: “Nunca começo a amar
pela nudez” (v. 1). Ocultado pelo “silêncio” (v. 3), o “diálogo” (v. 3)
advém não mais das palavras, mas dos “gestos”, inaugurando uma
linguagem outra, fundindo elementos eróticos e estéticos: “a nudez
se alonga em sua pele” (v. 6), daí a conversão do umbigo em “louça
de seu ventre” (v. 7). Na última estrofe, o eu lírico aspira proteger e
a si mesmo e à amada dos perigos da descontinuidade, singrando as
águas da fusão absoluta: “visto o seu corpo com o meu corpo” (v. 10).
Em duas estrofes simétricas, com versos livres e rimas predomi-
nantemente toantes, “Poema para ninar aeromoça” é de um lirismo
delicado e terno, todo alicerçado em jogos especulativos:
201
para ter sempre aquele amor de despedida
beijar-lhe a boca cheia de saudade
sem hora de chegada ou de partida
e quão mais exultasse sua vaidade
mimoseando seu corpo apaixonado
deitá-la-ia soberana entre meus braços
a fruir e amar dois corações amados (TELLES, 2014, p. 44).
202
Precisamos de algum tempo
para ouvir um piano
– aquele piano complacente com as coisas proibidas.
Aonde você
Nesse deserto de silêncios?
A palavra ainda existe
nem que seja para revelar o segredo dos mortos
203
a culpa é desse jeito de amar
que você guarda em seu corpo
A seu abraço
quem há de resistir?
Toda minha espera
rendeu-se ao seu silêncio
sou pura solidão (p. 47).
204
Que nunca desafiaram o rio em sua paz
que nunca tiveram a ilusão de ser saudade
que nunca mentiram entre juras e jamais
205
mister tirar do “rio” (v. 7) a “paz” (v. 7), da mesma forma como é preciso,
de quando em vez, iludir-se a si mesmo, bem como servir-se também das
máscaras sociais: “nunca mentiram entre juras e jamais” (v. 9).
Um tom de ironia, quase deboche, toma conta da quarta estro-
fe: “que nunca foram sagrados virtuosos coroinhas” (v. 12). Antes, o
sujeito da escrita lamenta a punição indelével de uma “infância apres-
sada” (v. 10), pois esta condena o ser à perda da fruição; e, por outro
lado, ressalta a inutilidade de um mergulho profundo no “vazio das
lembranças” (v. 11).
Na última estrofe, a nota transgressora reaparece com “o es-
tilhaço da pedra na vidraça” (v. 13); há, ainda, um resgate do sadis-
mo que palmilhava a infância dos tempos já idos, a partir do “fremir
da palmatória” (v. 14); o poema se fecha com uma intertextualidade
com Machado de Assis, recuperando uma passagem do capítulo “O
menino é o pai do homem”, de Memórias póstumas de Brás Cubas,
em que o protagonista se reconhece um verdadeiro “menino diabo”,
afirmando que crescera “como as magnólias e os gatos”2 (v. 15) – um
símile resgatado por José Telles.
A composição “Sob o luar de sua pele”3 se estrutura em quatro
dísticos, com versos livres e uma única toante na última estrofe:
Como um beija-flor
você pousa em minhas tardes
Tempestades de prazeres
Agonizam em nossa alcova
2 Neste romance, o defunto-autor, Brás Cubas, ao recontar sua vida, desenha a cena geral da
condição humana; ele, Brás Cubas, possui uma natureza complexa, cheia de contradições,
ambicioso e retraído, vaidoso e displicente, apaixonado e indiferente. Num laivo naturalista,
reconhece-se fruto de uma educação perniciosa: “Cresci, e nisso é que a família não inter-
veio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos” (ASSIS, 1997, p. 526).
3 Dedicatória: “. pourelle” (p. 52).
206
O novo se revela
toda vez que toco o luar de sua pele (p. 52).
Em
tua busca
sigo rastros de navios
torturados pelos ventos
uma esperança
navega numa lágrima
Existe
uma ameaça
de porto em minha dor
a solidão tropeça
em nossa crença
minha procura
amanhece em silêncio (p. 53).
207
cio”. A lógica do poético é estabelecida pela constelação semântica
da ideia de navegação: “navios” (v. 3); “navega” (v. 6); “porto” (v.
9). O ser – insone – é todo “procura” (v. 12).
Em “Lábios orvalhados pelo riso”, José Telles, em seis tercetos
simétricos, com versos livres e algumas rimas ocasionais, esplende sua
arte e seu engenho:
O corpo
(sala e antessala)
ainda exala o perfume dos lençóis
As ancas
tosca simetria
onde espio do amor o gesto insano
O colo
bela geografia
onde desafio em romaria o mais profano
O ventre
doce embriaguez
onde amanheço toda vez que estou insone
Nos seios
de haveres satisfeitos
agasalho meu corpo e deito meus prazeres
Nos lábios
orvalhados pelo riso
pouso e piso o chão da eternidade (p. 57).
208
paulatinamente, fragmentado em “ancas” (v. 4), em “colo” (v. 7), em
“ventre” (v. 10), em “seios” (v. 13) e em “lábios” (v. 16). Do primeiro ao
quarto terceto, as metáforas são elaboradas a partir de elipses mentais:
“sala e antessala” (v. 2); “tosca simetria” (v. 5); “bela geografia” (v. 8);
“doce embriaguez” (v. 11); nos dois últimos, pelo sentido conotativo
dos verbos: “agasalho” e “deito” (v. 15); e “pouso e piso” (v. 18).
A concepção de arte pela arte aproxima a poesia da escultura
em “O banho de Afrodite”, mas se os parnasianos compreendiam a
poesia como conceito, para José Telles, ela é puramente imagem:
209
prendem da estátua: “A mão desliza suavemente / entre a nudez e o
corpo” (v. 1 e v. 2) – instante em que os tecidos escorrem por sobre
o corpo, desnudando-o pouco a pouco. A metáfora final – “a nudez
perfura a noite” (v. 14) – aponta a capacidade das obras de arte, por-
tadoras do belo, de atravessar os séculos, constantemente atualizada.
A natureza prosaica, puramente coloquial, do título “Vem
comigo”4 vai de encontro à lhaneza do discurso lírico de seus versos,
brancos e livres, dispostos em três tercetos, num ritmo que progressi-
vamente se prolonga:
Vem comigo
ouvir a tristeza da noite
juntos entenderemos a canção que vem do silêncio.
Vem comigo
tocar os lábios da esperança
juntos recolheremos o espólio das perdas
210
como, por conta de sua natural riqueza, está sempre instigando o
leitor, desconcertando-o, levando, assim, ao questionamento de cer-
tezas; quando não, ao encontro do que suscita o que não é de todo
revelado, como no poema “A falta”:
Escorre
o mosto da dor
e fere.
Consola-me o ousio
que infere e compensa
a falta.
Uma ausência pula o muro
e amanhece dona de meu quintal. (p. 63).
211
poeta é exatamente a problemática da criação, bem como os efeitos
que o poema provoca no autor / leitor. Nesse sentido, a contemplação
do fazer poético – a poesia em seu estado de essência – abre diversos
caminhos por que se pode palmilhar o exercício de uma escritura.
Em “Canção germinal do amor eterno”6, José Telles explora
diversas possibilidades rítmicas:
Olha de lado.
Finge. Troca de mesa.
Agora, sorri para tua sombra
ou para minha silhueta
O mosto do amor
que entre nós deixou seu rastro
tem o gosto de todas as partes de teu corpo
Agora,
abusa de teu gesto insano
e deixa teu corpo sentir que ainda me deve
O dia a dia
entre nós se desespera
sem saber o que é novo, o que é velho
e quanto tua boca da minha se apodera
resplandece o prazer que se renova (p. 65-66).
212
um para outro: “Agora, sorri para tua sombra / ou para minha silhue-
ta” (v. 3 e v. 4). Após deixar “seu rastro” (v. 9), para que seja seguido
pelos amantes, e trazer em si o sabor “de todas as partes” (v. 10) do
corpo da amada, “o mosto do amor” (v. 8) derrama-se por sobre a
sede, nunca saciada: “ainda me deve” (v. 13). Para os amantes, o coti-
diano ainda não se revelou de todo: “sem saber o que é novo, o que é
velho” (v. 16); tudo é ainda uma permanente renovação: “resplandece
o prazer que se renova” (v. 18).
Nos poemas de circunstância, José Telles demonstra toda sua ha-
bilidade em, por meio de metáforas e, pela sucessão destas, em alego-
rias, redesenhar um quadro prosaico – a saída de uma administradora
de um restaurante, seus efeitos por sobre amigos e frequentadores do
espaço – em pura poesia, consoante os versos de “Uma rosa em fuga”7:
No ar um espaço vazio
uma dor por onde espio
uma saudade a chorar
213
E por ironia
essa dor mal consumida
diminui bastante o consumo de alegria
214
todos os beijos já pousaram em tua face,
todas as dores navegam em teu sorriso,
enfim, os céus a ti pertencem?
O axioma “As mães falam com Deus” (v. 1) resume o tema cen-
tral desta composição. A metáfora “Sua mão é pluma que cai” (v. 2)
é uma imagem por que se reflete a plenitude da delicadeza, reforçada
esta por outra metáfora, agora oriunda de uma zeugma8, “seu abra-
ço, aconchego e cura” (v. 3).
A forma verbal “podemos” (v. 4) revela ser o eu lírico porta-voz
da saudade e das dores de outros irmãos, a quem a palavra-poesia não
se revelou; desse modo, as interrogações a partir de “O que podemos
oferecer-te” (v. 4) desembocam em enumerações conotativas de uma
inescrutável pobreza, em contraste com riqueza a vestir a subjetivida-
de da mãe: dona de “todos os caminhos” (v. 5); guardiã de “todos os
beijos” (v. 6); e elmo para as procelas: “todas as dores navegam em
215
teu sorriso” (v. 7). Por fim, reconhece o eu lírico que suas incertezas
são, deveras, “querenças molhadas de saudade” (v. 19) – espelho de
suas dores cotidianas.
Sob o título de “A maestrina”9, José Telles compõe mais um
poema de circunstância, em versos livres brancos, em três estrofes,
progressivamente alongadas, como sugestão do clímax do espetáculo:
De repente,
mãos ensandecidas bailam no ar,
o império da maestrina desnuda cordas violadas.
No paço, uma multidão de silêncios
se submete ao esplendor dos sonhos e dos gestos
Ao olhar vigilante
desfilam, em salvas, sinfonias e prazeres,
movimentos apontam para os céus,
(recobertos com lençóis de arte),
Alpendrando lírica nos segredos de Deus.
Suas mãos ainda bailam
no estribilho das cordas e se espalham
querendo ninar a solidão do mundo
Quando tudo termina,
a reverência de seu corpo
se aventura até o último silêncio,
procurando abrigo nos escaninhos de Deus. (p. 72-73).
216
As “mãos ensandecidas” (v. 2) que “bailam no ar” (v. 2) aludem
aos movimentos da “maestrina” (v. 3) a desnudar “cordas violadas” (v.
3), diante de uma plateia – “uma multidão de silêncios” (v. 4) – extasia-
da. A “vastidão das coisas invisíveis” (v. 7) comporta as modulações dos
“acordes” (v. 12). A metáfora “lençóis de arte” (v. 16) sugere a presen-
ça de um toldo que, magicamente, abriga a todos os que, “no paço”
(v. 4), desprendem-se do mundo lá fora, alimentando-se do mosto do
alumbramento, pois, da “maestrina” (v. 3) as “mãos ainda bailam” (v.
18), multiplicando-se em afagos para a “solidão do mundo” (v. 20);
cerrada a música, as notas prosseguem ainda sua travessia em direção
ao sagrado: “procurando abrigo nos escaninhos de Deus” (v. 24).
Na composição “Desabafo”, mais uma vez, o homem e o poeta,
implicando uma maneira singular de construir metapoema; os versos
brancos e livres armam uma única estrofe:
Aqui estou
a tecer teias para esconder
amores
são vazadas mas são minhas
não preciso
de artimanhas para coser
estas linhas (p. 79).
217
a sua finalidade quando é percebida como obra de arte, ou melhor,
como objeto estético” (RAMOS, 1973, p. 29).
Em três dísticos, com simetria nos versos ímpares e nos pares,
todos brancos e livres, José Telles estrutura “O amanhecer das possibi-
lidades”, com sucessivas sugestões:
218
Onde
o silêncio
que me deixa falar os vãos tormentos?
Onde
a solidão
que me permite a companhia dos mortos?
Onde
a tristeza
se minh’alma lacrimeja enluarada pelas ruas?
Onde
a saudade
que me deixa ao sabor de toda ausência?
Onde
o amor
que deixa minha dor ao dispor do suicídio? (p. 81).
219
indagação e demonstração da linguagem do poema que se faz con-
temporaneamente à sua constituição estética efetiva, é um ponto de
encontro privilegiado” (CARONE, 1979, p. 41). A partir de composi-
ções desta natureza, o leitor, adentrando no território da metapoesia,
percebe que “as coisas se fazem mais amplas, / mais largas, ou mais
largamente / e deixam ver os interstícios / que a olho nu não se sen-
te, /// e que há na textura das coisas / por completas que sejam elas;
laboratório: que parece / tornar as coisas mais abertas” (MELO NETO,
1986, p. 99); e se, assim se fazem, é, justamente, “para que as entre-
mos por entre, / através do fundo, do centro; / laboratório: onde se
aprende / a aprender as coisas por dentro” (p. 99).
Não menos desafiadora é a leitura do poema “Ortografia do
silêncio”. Neste, mais uma vez, José Telles serve-se do metro curto,
de tonalidade livre, em rimas brancas, realizando um poema em
dois movimentos:
No peito,
invertebrado silêncio;
no poema,
vértebras fragmentadas
dor saía
pelo vermelho do crepúsculo
e pelo outono das metáforas (TELLES, 2014, p. 87).
220
em seu estado de plenitude, que ele, portanto, ainda se arraste pelas
águas turvas da elaboração criadora.
No segundo movimento, o eu lírico abandona os liames da inte-
rioridade e dá conta de uma cena externa: lá fora, o “crepúsculo” (v.
6) avermelhado funciona como alegoria do estado de desespero, de
angústia, enfim, dos sentimentos tortuosos, como se pode constatar no
“Grito”, de Edvard Munch, pois, nesta composição, o pintor norueguês:
Nossas auroras
tombaram envelhecidas
a primavera se despediu sem rosa
Os sonhos
pássaros feridos
em voos vãos
221
Tua fuga,
Crepúsculo
Deste solo de amor (p. 92).
De minha vila
quando partia
deixava minh’alma em mãos alheias
repousando
na superfície líquida dos sonhos
As estrelas
partilhavam comigo a distância e a solidão
222
brancas espumas
competiam com a fragilidade das juras
Dos sonhos
apenas uma dor a mim tocou (TELLES, 2014, p. 95).
Na intimidade do silêncio
muitas vezes não percebo
se é noite ou se é dia
mas é de lá que recolho
com muita paciência
alguma sabedoria. (p. 106).
223
vem-se aos olhos do homem os indícios temporais; o “silêncio” (v.
1), enquanto fonte, é água inesgotável e, como quer que seja, sem-
pre oferece algum fruto aos que têm fome. A poesia como alimento,
como possibilidade de resgate, no plano das volições, das coisas que
pelejas cotidianas transformam em perdas.
De todos os poemas encomiásticos12, a voz poemática abando-
na a sua dicção equilibrada, em muitos arroubos volitivos, em “Ária de
amor e de adeus a Airton Monte”:
Adeus Airton
hoje morre o canto
morre o conto
morre a palavra-poesia
morrem todos os boêmios
em suas epifanias
Adeus Airton
chora teu leitor
que lavava os olhos
com o cetim de tua prosa
com a leveza de teu canto bem urdido
Você Airton
era o café da manhã de nossas mesas
o nosso pão com manteiga festejado
líamos todas as manhãs
12 Poesia de louvor.
224
com a submissão dos apaixonados
como se cada palavra fosse um beijo
Adeus Airton
leva contigo a Praia de Iracema
o Estoril
a noite que te viu florescer
em pura boemia
Vai Airton
escrever onde o vento espalhe tuas letras
onde somente os deuses possam lê-las
– deuses do Olimpo
limpos das crostas periféricas
e do remorso do gesto
Vai Airton
salva a memória dos inúteis
com a tua palavra densa
que sangra
que desintegra as ancas
da tristeza dos covardes
Hoje
há uma imensidão de saudade
espalhada pelas ruas
só tu Airton
poderias deixar tanta saudade
hoje é o dia nacional da saudade
225
é a perda da palavra
é a saudade da viuvez de tua insônia
da mágica leveza de teu silêncio
Saudade
de teu canto que fazia da noite
cama e mesa
para exultar uma dor de cotovelo
que nasci
226
reconheça a janela em que, de quando em vez, debruça-se para, de um
solar de nuvens, contemplar as nossas dores, as nossas alegrias ou, tão
somente, os filamentos que o cotidiano nos oferece em seu estranho
banquete; portanto, um amigo de alpendre, guardião do que, em nós,
converte-se em sagrado: o apreço à amizade, a flor nos túmulos, os cor-
redores da memória, um fragmento de tarde, o desejo e suas vicissitu-
des, o digladiar-se entre Eros e Tânatos, o cotidiano familiar, a literatura
e outras artes.; enfim, a condição humana.
Na primeira estrofe deste poema, José Telles diz de sua lamú-
ria através da nasalização extraída da paronomásia13 – “canto” (v. 2)
/ “conto” (v. 3); a dramatização da perda imprime-se na passagem:
“morre a palavra-poesia” (v. 4) – implicando a fusão absoluta do ho-
mem com o artista: morto, Airton Monte levou metonimicamente
consigo “os boêmios” (v. 5) e secretas revelações: as “epifanias” (v. 6).
Na segunda estrofe, o sujeito da escrita demonstra, em seu la-
mento, desprezo – uma sanha – pelos conservadores, ridicularizados
pela sequência de rimas, cuja disposição força pausas dramáticas:
“acadêmicos / epidêmicos / endêmicos” (v. 7 a v. 9). De valor expres-
sionista, a imagem “olhos avinagrados” (v. 10) intensifica a corrosão
destes personagens pelo “remorso” (v. 11).
Na terceira estrofe, a sucessão metafórica “que lavava os olhos /
com o cetim de tua prosa” (v. 14 e v. 15) é uma síntese dos efeitos que a
crônica de Airton Monte fazia incidir sobre seus leitores – órfãos agora.
O “canto bem urdido” (v. 16) reproduz a maquete de seu laboratório.
A quarta estrofe, por sua vez, pertence ao mesmo movimento
da anterior: porque existem outras fomes, Airton Monte, “pão com
manteiga” (v. 19) servia, ele mesmo, a seus leitores, dando a “todas
as manhãs” (v. 20), ora sublimação, ora incentivo.
Na quinta estrofe, surge a geografia afetiva de Airton Monte: a
“Praia de Iracema” (v. 24); o “Estoril” (v. 25); tudo conformado pela
vasta sugestão da palavra “noite”, espaço-tempo do lúdico e do lírico.
227
A transfiguração da realidade é a tônica da sexta estrofe, pois o
“vento” (v. 29), espargindo as “letras” (v. 29), leva-as até aos “– deu-
ses do Olimpo” (v. 31).
Na sétima estrofe, José Telles ressalta ora o caráter de remição
das crônicas de Airton Monte, ora a lâmina de seus escritos: “que de-
sintegra as ancas / da tristeza dos covardes” (v. 38 e v. 39).
As seis últimas estrofes integram um só movimento: a partir de
“Hoje” (v. 40) a “traz notícias de lá. Amém!” (v. 72), tudo gravita em
torno da conversão de Airton Monte em uma “imensidão de sau-
dade” (v. 41) que, como um rio, ganha as “ruas” (v. 42) da cidade,
provocando a sua morte uma comoção geral: “hoje é o dia nacional
da saudade” (v. 45). Não propriamente uma “saudade de morte / de
perda / de choro” (v. 46 a v. 48); mas “a perda da palavra” (v. 50), o
esvaziamento de seus hábitos: a “fagia por cerveja” (v. 53); a “ma-
nia de amigos” (v. 54); principalmente, a sua “simplicidade operária”
(v. 55) – nesta última passagem, José Telles cultiva uma metáfora de
rara plasticidade, uma fotografia psicossocial de Airton Monte, sua
gaucherie, que o fazia herdeiro dos sapatos de Carlitos. O poema se
fecha com uma visão mí(s)tica: montado em seu “pegasus” (v. 70),
transfigurado, vai pastorear “estrelas” (v. 71), deixando todos os que
o amavam à espera de “notícias de lá” (v. 72).
De notável intensidade lírica, pelas sensações que provoca no
leitor, é o poema sob o título “O velho”, escrito em versos livres, com
rimas brancas e edificado em quatro movimentos:
Uma paisagem
esquecida no abandono da sala
No canto
uma velha cadeira
é apenas um tardo balouçar
228
Olhares fartos
contornam a tristeza
e apressadamente se vão
Na face
Esmorecida
palavras enrugadas de adeus (p. 124).
Minhas manhãs
são feridas
de uma aurora abandonada
Minhas tardes
são viúvas
de um pôr do sol suicida
Minhas noites
são amigas
de dores enluaradas (p. 126).
229
As marcas temporais comparecem nesse poema sob a forma de
alegoria: os estágios da experiência humana relacionam-se, inexora-
velmente, com exercícios de aprendizagem. Ressalta-se, como recurso
expressivo, o emprego, nas três estrofes, do enjambement como meio
para a representação mais precisa do transbordamento da emoção, uma
vez que rompe a linearidade da frase. Desse modo, o pensamento, por
instantes, é suspenso, tornando ainda mais forte a sensação emocional.
A partir do filme Amour, do cineasta austríaco Michael Haneke
– uma produção de 2012 –, professores da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte produziram um ensaio, que, consoante uma
perspectiva crítica, da película extraíram discussões acerca das relações
entre o público e o privado, as debilidades do corpo envelhecido e a
aproximação da morte, além de aspectos afetivos e relacionais que são
acionados no filme:
230
Uma dor retorna ao peito
com a seta do silêncio e da última paisagem
231
“Rituais do fim” é outro metapoema, em que também ocorre
a projeção homem / poesia, num dístico extremamente criativo, em
versos simétricos, em ritmo alexandrino:
Referências
ARAÚJO, Allyson Carvalho de; MERGULHÃO, Danilo Rafael da Silva;
NÓBREGA, Pedro Ricardo da Cunha. Representação do envelhecimento
em Amour: notas sobre os processos socioespaciais na velhice.
Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/index.php/RevEnvelhecer/
article/view/37348/27669>. Acesso em: 07 jan. 2016.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janei-
ro: Nova Aguilar, 1997. (Obra completa, v.1)
BATAILLE, Georges. O erotismo. São Paulo: Arx, 2004.
CARONE, Modesto. A poética do silêncio. São Paulo: Perspectiva, 1979.
ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1988.
GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
LEITÃO, Juarez. O poeta José Telles e a silhueta das areias. Revista da
Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,
n. 75, p. 100-103, 2014.
MELO NETO, João Cabral de. Poesias completas. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1986.
RAMOS, Maria Luiza. Fenomenologia da obra literária. São Paulo: Fo-
rense Universitária, 1973.
232
STAIGER, Emil. Conceptos fundamentales de poética. Madrid: Rialp, 1966.
TELLES, José. A silhueta das areias. Fortaleza: Premius, 2014.
TUFIC, Jorge. A silhueta das areias. In: TELLES, José. A silhueta das
areias. Fortaleza: Premius, 2014.
233
7ª Parte
Literatura Intercontextual
“Não Sou um Produto”
Esta série dá sequência a pesquisa que venho fazendo há algum
tempo. Trata-se de morar numa cidade, Fortaleza/CE, que ocupa o
terceiro lugar no Nordeste em violência contra a mulher, ficando atrás
apenas em Salvador/BA (19,76%) e Natal/RN (19,37%).
Em Fortaleza uma em cada cinco mulheres (18,97%), já sofreu
algum tipo de violência física. De acordo com a Organização Mundial de
Saúde existem três dimensões de violência contra a mulher: a emocio-
nal, a sexual e a física. Não à toa a Lei de Combate à Violência contra a
Mulher leva o nome de uma vítima nossa conterrânea, Maria da Penha.
Minha intenção é lembrar que a humanidade é regida por éticas
universais. Respeito, Compaixão e Solidariedade são sentimentos que
devem pautar a nossa vida. É sempre mais fácil e covarde agredir o
mais frágil. Dados recentes mostram que as mulheres negras e pardas,
em certas regiões do País, são as mais agredidas.
Procurei mostrá-las numa posição de Empoderamento do pró-
prio corpo.
São imagens que falam.
Venho juntando Códigos de barras para usá-los em colagens
(tudo na nossa vida moderna tem um código de barras), em que espe-
ro desafiar as certezas morais do espectador.
Côca Torquato
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249
8ª Parte
Programação Cultural
Programação Cultural realizada pela
Academia Cearense de Letras em 2016
Programação
16/11
Fortaleza: a cidade como chão poético de um povo apaixonado
José Borzacchiello da Silva
17/11
Fortaleza florescida: o baú de memórias da cidade na ficção de Angela
Gutiérrez
Élder Vidal
22/11
O Teatro e a Cidade
Oswald Barroso
253
23/11
A Fortaleza de Rachel de Queiroz
Maria de Lourdes Dias Leite Barbosa
Fortaleza em imagens
Nirez (pseud. profissional e literário de Miguel Ângelo de Azevedo)
254
9ª Parte
Nossos Mortos
JOSÉ TELLES DA SILVA nasceu em Bitupitá (Pi) no dia 12 de mar-
ço de 1943 e faleceu em Fortaleza, no dia 2 de junho de 2016. Médico
pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, em
1970, fez residência médica em Anestesia no Hospital dos Servidores
do Estado, curso de especialização na Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, PUC-RJ, e o curso Post Graduating in Anesthesiolo-
gy, Nova York, 2000 e 2001. Foi Chefe dos Serviços de Anestesiologia
e Coordenador da residência médica do Hospital Geral de Fortaleza
e do Instituto Dr. José Frota. Autor de vários trabalhos científicos pu-
blicados em revistas da especialidade e detentor do prêmio Laringos-
cópio de Ouro como responsável pela melhor residência médica em
Anestesiologia no Brasil.
Poeta, com grande atividade no mundo das letras como apresen-
tador de obras literárias, organizador de coletâneas da Sobrames e da
Feira Ideal do Livro. Colaborou com as revistas da Academia Cearen-
se de Letras, Contemporânea, Literapia, Urupema, Literatura, Espiral e
Acta literária (editor e coordenador). Tem as seguintes obras publica-
das: Conversando, 1996; Poemas estivais, 1997; Sermões de pradaria;
O lacre do silêncio, 2004; O solo das chuvas, 2007; e, no prelo, Canto
itinerante. Organizador e editor de seis fascículos dos livros Poemas de
mesa. Recebeu vários prêmios literários entre os quais se destacam o
Prêmio Osmundo Pontes de Literatura, poesia – 2007 e o Prêmio 50
anos da Faculdade de Medicina da UFC (2º lugar, gênero Poesias).
Foi fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Es-
critores – SOBRAMES, secção do Ceará, presidente da Academia de Le-
tras e Artes do Nordeste - ALANE, da Academia Fortalezense de Letras
e Diretor Cultural do Ideal Clube. Titular da cadeira nº 34 da Academia
Cearense de Letras, tendo se destacado com a desenvoltura e talento
que lhe eram peculiares, deixando saudades nos seus confrades.
257
10ª Parte
261
ros culturais Tales de Sá Cavalcante, Pio Rodrigues Neto e Oto de Sá
Cavalcante com a mesma finalidade.
Informação de que os dois quadros grandes e pesados do auditó-
rio e da sala da Presidência precisaram de suportes especiais, implanta-
dos nas paredes, para sustentarem as respectivas obras artísticas.
Colocação dos grandes degraus da entrada, com uns três
metros de extensão, em marmorite branco, material utilizado antiga-
mente, substituindo os anteriores, que estavam quebrados e precisa-
vam ter o mesmo material e estilo dos originais. Foi um trabalho de
alta precisão técnica, porquanto, segundo a arquiteta Andréa Alen-
car, só havia uma pessoa capaz de reproduzir e montar as referidas
peças em Fortaleza. Pesadíssimos e com detalhes especiais difíceis de
se integrarem, degraus e outras partes foram finalmente montados
e tudo deu certo. O conjunto da entrada foi complementado com o
novo portão que foi desenhado de acordo com os antigos desenhos
do palácio. Ainda receberá ele os símbolos em aço da ACL, que estão
sendo confeccionados.
Registrada a recuperação da antiga mesa artística do palácio, que
agora está no salão nobre, e das outras duas grandes estantes, a qual fi-
cam adornando o corredor de entrada, sendo que em uma delas também
foram colocados vidros protetores para os livros que ali se abrigarem.
Registrada a aquisição de cadeiras em cor preta para a sala da
secretaria, as quais combinam com os sofás da mesma cor, já adquiridos
anteriormente, formando um conjunto harmônico para aquele recanto
de entrada, que acolhe visitantes e membros da entidade.
Registrado que os nossos banheiros estão adaptados para defi-
cientes. É possível que, por enquanto, tal só exista na ACL, dentre as
instituições culturais da cidade.
Registrada a organização, em espaços planejados, das seguintes
galerias, as quais receberão os nomes designativos em letras de aço,
que estão sendo confeccionadas: Galeria dos membros atuais; dos só-
cios fundadores; dos ex-presidentes da ACL; da Padaria Espiritual e da
Academia Francesa (estes dois últimos conjuntos, só existentes na ACL).
262
A subestação elétrica continua sendo implantada em ritmo ace-
lerado. Informou-se que a empresa que a está construindo, trabalhou
nos feriados de Natal e Ano Novo. O presidente destacou a ajuda do
colaborador Affonso Taboza, que está sempre disponível.
Foi mencionado que a distribuição dos quadros nas paredes
procura contemplar, de forma harmoniosa, as obras históricas, exce-
to o quadro de Côca Torquato, que, por suas cores e simbolismos,
forma um belo conjunto com o quadro Vaqueiros, do pintor Rescala,
no Auditório 2. Representa, simbolicamente, uma homenagem, aos
pintores contemporâneo, e, também, aos membros da entidade, por
ser a sua autora esposa do Acadêmico da ACL, Virgílio Maia, atual
Vice-presidente. Outros quadros modernos, que forem considerados
importantes, irão figurar no memorial do piso inferior, que será criado.
A posse do Acadêmico Durval Aires Filho, no dia 20 de novembro,
transformou-se num importante acontecimento social e cultural, haja
vista que, apesar de ter sido no horário das nove horas da manhã de
uma sexta feira, lotou o auditório com um grande número de Acadê-
micos e com importantes personalidades, incluindo o atual Governador
do Estado do Ceará, Camilo Santana; o Presidente da Assembleia Le-
gislativa, Zezinho Aguiar; o Vice-presidente do Tribunal de Justiça, De-
sembargador Francisco de Assis Filgueira Mendes, representando o TJ e
também a sua Presidenta, Desembargadora Maria Iracema Martins do
Vale, ausente por problema de saúde; os ex Governadores do Estado do
Ceará, Adauto Bezerra e Lúcio Alcântara; o empresário Ivens Dias Bran-
co; dezenas de desembargadores e líderes da sociedade fortalezense,
das mais variadas áreas. Foi uma manhã memorável. Os discursos foram
leves e agradáveis e o fato tornou-se histórico por ter-se transformado
na primeira solenidade ocorrida no novo Auditório da ACL. Observe-se
que também naquele auditório foi visto pela primeira vez, por trás e ao
alto da mesa diretora, o belo símbolo da entidade, medindo 1.30m x
0.97m, feito em mármore sintético e pintado com folhas de ouro.
Informado pelo Presidente José Augusto Bezerra que se está res-
gatando a área externa da ACL, que restou do antigo Jardim do Palácio
263
da Luz. Estava esquecida desde a época em que foi cortado pela Rua Gui-
lherme Rocha e sem condições mínimas de uso. A porta que dava acesso
interno para o local foi restaurada. O piso está sendo refeito, inclusive
na parte de encanações, porque, além do péssimo estado, possuía várias
caixas de passagens de esgoto, que umedeciam o piso e penetravam nas
paredes do subsolo, com risco para partes elétricas e estruturais. As cai-
xas de passagens tiveram de ser rebaixadas para se poder andar normal-
mente. Os corrimões e os gradis estão sendo recuperados. Uma manta
cobrirá um recanto na parte final do piso, para proteger a subestação
elétrica, no andar inferior. Aquele local poderá servir de palco para uma
pequena orquestra, um coral ou similares. As paredes foram pintadas e
os postes antigos internos estão sendo recuperados, inclusive na parte
elétrica, para que possam voltar a iluminar como outrora. Grandes jarros
com plantas serão ali colocados. Constituir-se-ão numa pequena remi-
niscência do imenso jardim, que ali um dia existiu. Surgirá uma área em
que, vez por outra, um grupo de acadêmicos e familiares (umas sessenta
pessoas), poderão fazer tertúlias ao luar. Em termos de entidades cultu-
rais, cremos que será a única que possuirá uma área externa, privada, no
próprio local onde, juntamente com a Igreja do Rosário, ao lado, surgi-
ram os primeiros prédios públicos de Fortaleza. Por este fato, histórico e
cultural, chamaremos a esse espaço de “Jardim dos Poetas”.
Natal da ACL. A primeira parte ocorreu no auditório: lançamento
pelo autor, Acadêmico Sânzio de Azevedo, do precioso livro sobre As Atas
Perdidas da Padaria Espiritual, que será o livro oficial dos 120 anos da
entidade. Notável palestra da Acadêmica Angela Gutiérrez, que inclusive
levou os presentes a cantarem, com ela, algumas canções eternas. En-
trega de medalhas aos benfeitores: Secretária Cláudia Queiroz, Arquiteta
Andréa Alencar e o Coordenador do projeto da reforma do Palácio da
Luz, junto ao MINC, engenheiro Olímpio Rocha. Foi sorteada uma pin-
tura, doada pelo acadêmico João Soares. A segunda parte aconteceu no
salão nobre, onde se achava um conjunto de presépios e outras figuras
natalinas decorativas; um bolo gigante dos 121 anos da ACL, do qual
os participantes puderam levar um pedaço como lembrança; uma ho-
264
menagem tradicional às aniversariantes do mês: Regina Fiúza, Lourdinha
Leite Barbosa, Tereza Leite e a decana das instituições culturais cearenses,
Suzana Ribeiro; uma distribuição da agenda ACL 2016; um brinde afetivo
da ACL aos Acadêmicos e um coquetel natalino, resumiram a imagem de
paz e harmonia cristã, hoje existente na Casa de Thomás Pompeu.
O Presidente justificou a ausência do Acadêmico Ednilo Soárez,
que fora a Brasília em nome da FA7 receber o importante selo de
qualidade do curso de Direito, outorgado pela OAB a apenas 139 fa-
culdades brasileiras.
Foi demonstrada pela Presidência a difícil tarefa de prorrogar o
projeto de restauração do Palácio, para o final de 2016, pelo MINC. Tal
feito, negado de início, só se tornou possível porque o Sr. Ivens Dias Bran-
co, nosso sócio benemérito, ao apagar das luzes, quando já tínhamos
esgotado todas as outras instâncias, mandou uma carta ao próprio
MINC, dizendo da importância do projeto para o Ceará e informando
que gostaria de colaborar com ele no ano de 2016 e só poderia fazê-lo se
estivesse em vigor. Foi aprovado com a observação “excepcionalmente”.
Nada mais havendo a constar, a Presidência agradeceu a presen-
ça de todos, bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando
por encerrada a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
265
Relatório nº 02
266
Finalização dos detalhes de preços e forma da nova subestação
elétrica, para construí-la dentro das exigências da COELCE, incluindo
a utilização de um exaustor, já que ficará na parte de baixo e uma co-
berta de manta asfáltica, pois não poderá ter risco de vazamentos de
água. Tudo feito, o projeto já foi novamente para a COELCE.
Definição de que homenagens a acadêmicos e personalidades, feitas
pela ACL, como medalhas, placas, bustos ou nomes de salas vão acontecer.
Explicação do ofício feito para a SECULT, no qual se procura dar
continuidade ao pagamento mensal, pelo Estado, da conta de luz da
ACL, agora em nome da própria ACL, ao invés de ser no nome da
Casa de Cultura Raimundo Cela, como é feita deste quando a ACL
ocupou o Palácio da Luz. Apesar de muitas dificuldades para tal, mas
contando com a boa vontade do atual Secretário Fabiano dos Santos
Piúba, estamos esperançosos de que dê certo o nosso intento.
Informação de que o livro Falas Acadêmicas, coordenado pelo
Acadêmico Murilo Martins, e editado por esta gestão, está no prelo e
de que deverá ser entregue aos membros da entidade numa das duas
próximas reuniões.
Esclarecimento de que os custos de manutenção da entidade es-
tão muito altos, em razão do aumento de tudo e de que o número de
funcionários é demasiado para as necessidades da entidade, mas que
a demissão de alguns é dispendiosa, e não temos provisão para isto.
Embora a atual gestão tenha conseguido desligar um dos mais antigos
funcionários (trabalhava sem carteira assinada), ainda assim o déficit
mensal é de aproximadamente dezessete mil reais, o que é um alto
risco. Temos tido o apoio de algumas personalidades, as quais nos dão
ajuda permanente, mas as colaborações são as mesmas há quatro anos
e as despesas aumentaram muito nesse espaço de tempo. Há o risco
de algum desses apoiadores deixarem de colaborar, nesta época difícil,
bem como o pagamento de vários sócios estão com altos atrasos.
Visita do Presidente José Augusto Bezerra ao Sr. Gastão Bitten-
court, da FECOMÉRCIO, e consequente visita dele à ACL, no que pode-
rá resultar em alguma nova ajuda, mesmo que modesta, possivelmente.
267
Registrado que as despesas com material da parte externa das
instalações da nova subestação elétrica, no valor de R$ 8.000,00, fo-
ram assumidas pela COELCE, após contato da atual gestão com as
pessoas encarregadas, o que foi importante para nossa entidade.
Registro da inauguração da Galeria Osmundo Pontes, na Bi-
blioteca Justiniano de Serpa, com quadros da artista espanhola An-
gelines Olea, doados pelo próprio Acadêmico homenageado à ACL,
há muitos anos. Tornou-se um belo espaço artístico na área reserva-
da para os consulentes.
Regine Limaverde sugeriu o nome do confrade Ubiratan Aguiar
como candidato para a Presidência da entidade, na próxima gestão,
possivelmente em conjunto com o da confreira Angela Gutiérrez.O
Presidente José Augusto Bezerra disse que via com bons olhos os
nomes sugeridos, mas pedia que esse assunto só fosse tratado após
o mês de julho, pois a distância, no momento, ainda era longa e po-
deria causar divisões ou divergências desnecessárias, antes da hora,
no que todos concordaram.
A acadêmica Angela Gutiérrez falou sobre o esboço inicial do
novo Ciclo de Conferências, trazendo pormenores que foram aceitos
inicialmente pelos presentes, mas que serão aprofundados nas pró-
ximas reuniões.
Foi feito o destaque dos aniversariantes do mês: 02/03 – Teoberto
Landim; 07/03 – Virgílio Maia; 11/03 – Juarez Leitão; 12/03 – José Telles;
14/03 – Regine Limaverde; 21/03 – Mauro Benevides; 22/03 – Carlos
Augusto Viana; 23/03 – Horácio Dídimo; 31/03 – Murilo Martins.
Nada mais havendo a constar, a Presidência agradeceu a presen-
ça de todos, bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando
por encerrada a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
268
Acadêmicos Presentes: Angela Gutiérrez, Cid Carvalho, Ednilo So-
árez, Ernando Uchoa, Horácio Dídimo, José Augusto Bezerra, José
Telles, Juarez Leitão, Linhares Filho, Lourdinha Leite Barbosa, Regine
Limaverde, Ubiratan Aguiar
269
Relatório nº 03
270
últimos trabalhos de restauração da ACL, haja vista que as despesas
extras com a nova subestação elétrica, ocasionadas pelas exigências
da COELCE, perturbaram nosso plano financeiro de trabalho. O edital
cultural do BNB, sugerido pelo seu Presidente, não se adapta às ne-
cessidades da ACL e ficamos de enviar a este um novo pequeno pro-
jeto, pois as dificuldades financeiras e políticas do momento limitam
os horizontes de apoio. Mas, temos a expectativa de que se poderá
conseguir um modesto suporte desta instituição bancária.
Os consertos do telhado da ACL: em razão das fortes chuvas,
este apresentou alguns problemas. Vamos observar as novas chuvas
para vermos se ficaram bem feitos e se apresentam vazamentos em
outros pontos.
Os aparelhos de ar condicionado, apesar de todos novos, foram
internamente limpos por empresa especializada, e pôde-se observar que
a eficiência deles melhorou sensivelmente, pois haviam acumulado mui-
ta sujeira em pouco tempo, principalmente pelas reformas no prédio.
O confrade Dimas Macedo, um dos principais articuladores do
trabalho de interiorização da ACL, falou das previsões para a Acade-
mia Lavrense de Letras e mostrou o dinamismo daquela célula cultural
do nosso estado.
A Acadêmica Angela Gutiérrez falou do convite que recebera para
dar uma palestra na cidade de Quixeramobim, o que representa mais um
apoio para o mesmo projeto de interiorização cultural da nossa entidade.
A FECOMÉRCIO adquiriu à ACL, por R$ 1.600,00, vinte livros
sobre A História do Brasil em Manuscritos, do acadêmico José Augusto
Bezerra, que os doara à Academia para propiciar-lhe aquela aquisição.
Os livros, segundo os diretores do órgão adquirente, serão distribuídos
em centros culturais interioranos, do Ceará.
Ficou acertado que neste semestre, ainda, procuraremos enca-
minhar à definição do nome do novo Príncipe dos Poetas Cearenses.
Foi aprovada a cobrança de 13ª mensalidade aos acadêmicos,
como já é feito em algumas entidades culturais que têm altas despesas
no mês de dezembro, como a nossa.
271
Sucesso no lançamento do novo livro do Acadêmico Luciano
Maia, Aldeia Lonxana, no Ideal Clube, no dia 22 de março, com gran-
de participação do mundo cultural. Estiveram presentes, entre tantos,
o Presidente da ACL e vários Acadêmicos da nossa Instituição.
O excelente lançamento do novo livro do Acadêmico Horácio
Dídimo, Sonetilhos, no BNB Clube. Belíssima e concorrida festa, presti-
giada, entre muitos, pelo Presidente ACL e vários confrades.
Eficiente, e cheia de boa vontade, a revisão do livro Falas Acadê-
micas, feita pelo estimado confrade Sânzio de Azevedo.
O contrato assinado com a COELCE para a interligação da nova
subestação elétrica da ACL.
Justificaram as ausências os prezados confrades Ednilo Soárez,
Pedro Henrique Saraiva Leão e Giselda Medeiros.
Foi feito o registro dos seguintes Acadêmicos aniversariantes
do mês: 15-Genuíno Sales; 20-Ernando Uchoa; 28-Eduardo Diatahy
B. de Menezes.
Nada mais havendo a constar, a Presidência agradeceu a presen-
ça de todos, bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando
por encerrada a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
272
Relatório nº 04
273
Informação de que o Sr. Olímpio, nosso encarregado junto à CO-
ELCE, visita quase diariamente a entidade, no sentido de que a previsão
de ligação do dia 21/05/2016 não falhe, pois, inclusive, a parte interna
da entidade será totalmente desligada e, se não for feita a nova liga-
ção, via subestação, a ACL ficará sem luz até a solução do problema,
mas a Presidência informou que é um fator de risco calculado e que já
decidiu que a ligação ocorrerá, ficando na espera de que dê tudo certo.
Ao confrade Dimas Macedo relatou a importante festividade,
que incluirá a presença do governador do Estado Camilo Santana,
quando se comemorará os 200 anos de Fundação do Município de
Lavras da Mangabeira, em data programada para o dia 20 de maio
de 2016. A Academia Lavrense de Letras, no dia 16 de novembro de
2015, reuniu-se em Fortaleza, conjuntamente com a ACL, outorgando
o diploma de Sócio Honorário ao Presidente José Augusto Bezerra.
Desta feita fará a outorga do título de Sócio Honorário ao Confrade
Ednilo Soárez, querido e dinâmico Presidente do Instituto do Ceará.
Registrado o esforço para se colaborar com as exposições sobre
o artista Raimundo Cela, que ocorrerão no RJ e em SP. O presidente
José Augusto Bezerra lamentou não haver condições técnicas para o
transporte da tela do grande artista, existente no auditório principal,
para o local das exposições nos outros estados. A plenária da reunião
aprovou, antecipadamente, por unanimidade, o pedido da curadora
da exposição, Dra. Denise Mattar, acreditando-se na possibilidade do
transporte ser feito, porquanto, após exposição do Presidente José Au-
gusto Bezerra, todos concordaram em atender também a um pedido
pessoal do Chanceler Airton Queiroz sobre o assunto.
O ritual de escolha do novo Príncipe dos Poetas ficou delineado,
mas o Presidente José Augusto Bezerra ainda quer estudar melhor a
questão, para minimizar a exposição do nome de Acadêmicos e da
entidade ao grande público.
Uma rápida exposição da situação financeira da ACL, neste
ano delicado, embora o Presidente José Augusto Bezerra mantenha
o otimismo perante o futuro. Mais uma vez foi solicitado aos sócios
274
inadimplentes que coloquem suas mensalidades em dia, porquanto
isto também é muito importante.
O falecimento da irmã da Acadêmica Lourdinha Leite Barbosa,
Maria das Graças Dias, pelo que se registrou um voto de pesar da ACL
à estimada confreira.
A colaboração da ACL, feita pelo Presidente José Augusto Be-
zerra, no documentário da TV Assembleia, que está sendo feito sobre
o Barão de Studart.
A presença do presidente José Augusto Bezerra, na solenidade
de despedida do Cônsul Honorário da Alemanha, Dieter Gerding, que
sempre foi entusiástico participante das atividades culturais promovi-
das pela Academia Cearense de Letras.
Solicitada a maior presença possível de Acadêmicos na soleni-
dade que será feita pela Assembleia Legislativa do Estado, às 18h do
dia 20/5/2016, em homenagem ao nosso confrade Mauro Benevides,
pelos seus 60 anos ininterruptos de atividade política.
Registrou-se os aniversariantes do mês, a saber: dia 7, Noemi
Elisa Aderaldo; dia 10, Paulo Bonavides; dia 16, Lúcio Alcântara; dia
17, Batista de Lima e dia 25, Pedro Henrique Saraiva Leão.
O Presidente fez o convite para os presentes conhecerem a su-
bestação elétrica da ACL, que já está pronta, no subsolo da entidade.
Alguns Acadêmicos se dispuseram a fazer a visita.
Nada mais havendo a constar, a Presidência agradeceu a presen-
ça de todos, bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando
por encerrada a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
275
Relatório nº 05
276
livra de questionamentos que sempre nos perseguiram. Foi enviada cor-
respondência explicativa sobre o assunto para os Acadêmicos.
Conseguiu-se que a Prefeitura pintasse os dois lados da parte
externa do Palácio da Luz, pelo lado que dá para a Praça dos Leões,
coisa delicada, pois, como o prédio é do Estado, a Prefeitura não que-
ria pagar. Agora a Presidência está tentando que a Prefeitura pinte
também os outros dois lados, com o argumento de que ela deve ter-
minar o que já começou.
Reunião preliminar do Presidente José Augusto Bezerra com a
Acadêmica Angela Gutiérrez, Diretora Cultural da ACL, traçando as
linhas iniciais do Ciclo de Conferências de 2016. A Presidência já con-
versou com o atual Secretário da Cultura, e, em tese, já conseguiu o
apoio da SECULT para isto. Esclareceu que no mesmo projeto está-se
incluindo o patrocínio do livro com as Conferências do Ciclo (números
3 e 4), e da reimpressão do livro v.1, das Falas Acadêmicas, o qual foi
editado há quarenta anos (1976) e está esgotado. Se tudo der certo,
a coleção Falas Acadêmicas ficará completa, do v. 1 ao v. 4, pois o v. 2
já foi editado e entregue aos Acadêmicos.
O Presidente José Augusto Bezerra informou que já teve uma
terceira reunião com o Presidente da FECOMÉRCIO, Gastão Bitten-
court, e está finalizando o apoio da entidade para que todo mês, na
época de lua cheia, se promova uma tertúlia cultural no Jardim dos
Poetas, porquanto é o único local cultural externo entre as entidades
culturais da cidade e rememorará permanentemente o primeiro im-
portante grande jardim de Fortaleza e o lugar por onde se iniciou a
edificação de importantes prédios da nossa cidade, e além disso a ACL
receberá uma ajuda financeira para suas atividades em contrapartida.
A Presidência informou que é sua intenção oferecer a medalha
dos 120 anos, folheada a ouro, a cada um dos Acadêmicos atuais.Os
gregos ensinaram que era dever dos que fizeram algo juntos, agradece-
rem primeiramente aos deuses e depois aos homens. Não apenas com
palavras, mas também com algo real, para que os pósteros pudessem
lembrá-los. Criaram efígies, medalhas, bustos, estátuas e monumentos.
277
Ofertar, para eles, era tão importante quanto receber, pois ambos os
destinatáros, os da oferta e os da recepção, se sentiam honrados.
Na reinauguração da Praça dos Leões, o Prefeito, o Secretário da
Regional Centro e o representante do Governador destacaram que a
Academia Cearense de Letras tem sido um parceiro ativo para solução
dos problemas. De modo especial, relevamos a consecução da segu-
rança 24h na praça, que praticamente estava descartada, por causa do
IPHAN, mas que pela intermediação da ACL, na sua sede, conforme
correspondência informativa já feita para os acadêmicos, o assunto foi
reposicionado. Inúmeras outras parcerias junto com a Prefeitura deram
certo, tais como o deslocamento de famílias habitantes da praça para
albergues; retirada de delinquentes que comercializavam drogas; po-
das, limpeza das árvores e pintura delas; vinda da 10ª RM para fazer
solenidades militares na praça, por várias vezes, o que inibiu a ação
de moradores indevidos (em uma dessas batidas foram descobertas
e apreendidas vinte e seis facas que estavam escondidas nas areias e
em certos recantos da praça); colocação diurna permanente da Guar-
da Municipal; recuperação da iluminação dos postes no que é o atual
Jardim dos Poetas, que estavam apagados há bastante tempo; retirada
da parada de ônibus da Sena Madureira, que era um ponto impossível
de ser controlado, pois havia se tornado em um mercado persa; há
uns poucos dias foi colocada, finalmente, uma ótima iluminação no-
turna em toda a praça; encaminhamento de solicitação para pintar-se
a borda da calçada direita do quarteirão da Sena Madureira (meio fio),
transformando-o em local de estacionamento para visitantes da praça.
A viagem do Presidente José Augusto Bezerra a São Paulo, para
participar da Grande Exposição Raimundo Cela, um Mestre Brasileiro,
no Museu da Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado,
que reuniu mais de 150 obras do renomado artista cearense, que tem
uma das suas principais obras no Auditório maior da ACL.
Registro do enorme pesar de toda a nossa geração e de modo
especial da ACL, pelo falecimento de D. Yolanda Queiroz. O fato cons-
ternou a cidade. A ACL registrou seu pesar em nota à família.
278
Informação do Presidente José Augusto Bezerra de que a Acadê-
mica Regine Limaverde está-se recuperando de cirurgia no ombro e de
que brevemente estará em nossas reuniões. Sugeriu que os confrades
ligassem para ela, como forma de carinho e estima, pois isso era um
dos nossos prazeres e deveres acadêmicos.
Disse que a reinauguração do Palácio da Luz poderá ser no ani-
versário da ACL, comemorado em 17 de agosto. Mas como ainda
faltam inúmeros pequenos detalhes que ele persegue, não se podia
definir com segurança, no momento.
A Acadêmica Angela Gutiérrez, secundada pela Diretora Adminis-
trativa Regina Fiúza, e os demais Acadêmicos presentes, Ernando Uchoa
Lima, Pedro Paulo Montenegro, Beatriz Alcântara, Lúcio Alcântara, Ubi-
ratan Aguiar, Durval Aires, Linhares Filho e Lourdinha Leite Barbosa, re-
gistraram sua satisfação pela forma de trabalho do atual Presidente José
Augusto Bezerra, tendo o acadêmico Lúcio Alcântara sugerido que fos-
se feito um livro de memórias, que seria assinado por todos os acadêmi-
cos, referentes aos feitos da gestão. O Presidente agradeceu as palavras
sinceras e disse que aquele momento não estava previsto, mas que era
honroso sentir o carinho de todos e que, realmente, cada Acadêmico,
ao seu modo, dera um pouco de si para o que estava sendo feito.
O tema sobre a escolha de um novo nome para suceder Artur
Eduardo Benevides, como O Príncipe dos Poetas Cearenses, foi de-
batido num clima descontraído e, após os dois que estavam sendo
indicados, Linhares Filho e Horácio Dídimo, haverem dito que votariam
um no outro, o Presidente José Augusto Bezerra, disse que os dois
tinham os mesmos méritos, bem como outros que, voluntariamente,
tinham declinado das suas candidaturas, mas que a tradição era de
que apenas um nome fosse aclamado, para se evitar uma votação.
A unanimidade, falou ele, seria bom para a entidade e não exporia
o nome de nenhum acadêmico. De imediato, o Acadêmico Horácio
Dídimo disse que gostaria de fazer uma proposta: a de que o nome
indicado fosse o de Linhares Filho. O Presidente José Augusto Bezerra
pôs em votação a propositura, havendo ela sido aprovada por unani-
279
midade. Vários acadêmicos se pronunciaram enaltecendo o espírito de
desapego existente, particularmente o do Acadêmico Horácio Dídimo
e a reunião terminou em clima de alegria pelo fato de, mais uma vez,
a ACL haver saído fortalecida pela união.
Nada mais havendo a constar, a Presidência agradeceu a presen-
ça de todos, bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando
por encerrada a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
280
Relatório nº 06
281
Relevado o fato de haverem sido atendidas todas as solicitações
da ACL, junto à Prefeitura, em seus pleitos referentes à reforma da
Praça dos Leões, que agora está bela, sem moradores e excelentemen-
te iluminada durante a noite.
Colocação de um jarro gigante e uma atraente estátua no Jar-
dim dos Poetas, o qual se enriquece e começa a adquirir feição cada
vez mais de acordo com o imaginário do seu nome.
Preparação e envio do relatório nº 26 para os Acadêmicos.
Início da reforma da entrada do subsolo, pela rua Sena Madu-
reira, que envolverá despesas de reforma e de reconstrução parcial
de paredes, confecção de portas internas e externas, pintura in-
terna, criação de rede elétrica inexistente, aquisição de luminárias,
apliques e adereços adequados, reforma da escada atual, retirada
de grades de ferros que foram colocados para segurança, mas que
desfiguram a entrada e as ferragens originais, colocação de travas
de segurança nas atuais portas de entrada e confecção de portão
lateral de segurança, de acordo com o padrão das ferragens ori-
ginais. Deve-se colocar câmeras de segurança para saber tanto da
entrada de alguém pelas portas principais inferiores, como da saída
de alguém pela escada para o primeiro andar. Paralelamente está
se pintando a sala lateral da entrada, embaixo, pois o seu visual é
importante para se manter a boa aparência observada por quem
adentrar pela rua Sena Madureira. Essa é uma pequena amostra da
complexidade para se restaurar condignamente qualquer parte de
um local histórico, por menor que seja.
Primeiros contatos com a SECULT para conseguirmos verba para
o Ciclo de Conferências e para a publicação dos livros Falas Acadêmi-
cas, ainda faltantes.
Informação de que a secretária Cláudia Queiroz tirou férias de
11 a 20 de julho.
Esclarecimento de que, após longas conversas, conseguiu-se a
doação à ACL de importante mobiliário do Ex-governador do Estado
do Ceará, João Thomé de Saboya, que morou no Palácio da Luz. Os
282
móveis irão compor a decoração da sala da Presidência da ACL. En-
riquecerão o acervo histórico da entidade, além de se tornarem atra-
ções por sua beleza artística.
Registro da belíssima solenidade ocorrida na ACL, no dia 29 de
julho, em homenagem aos 170 anos da Princesa Isabel, a qual contou
com representação da família imperial e mais participantes de outros
Estados da Federação. Foi presidida pelo Acadêmico José Augusto
Bezerra e transcorreu dentro de significativo ritual, destacando-se a
palestra proferida pelo escritor José Luís Lira, troca de pequenas lem-
branças, pronunciamento das autoridades presentes e o lançamento
de um libreto bibliográfico sobre o tema, de autoria de José Luís Lira e
José Augusto Bezerra.
Doação de R$ 5.000,00 à ACL pelo empresário Roberto Macêdo.
Aquisição por um dos acadêmicos de duas cadeiras imperiais
que formarão o conjunto de entrada, juntamente com os bustos dos
primeiros Presidentes da ACL e o belíssimo quadro de Georgina de
Albuquerque, a introdutora do impressionismo no Brasil.
Esforço no sentido do recebimento de R$ 50.000,00, prometi-
dos pelo BNB, para esta parte final da reforma da ACL, o qual tem sido
dificultado pela situação de crise do País, mas imaginamos que enfim
conseguiremos. O Presidente José Augusto Bezerra ressaltou a impor-
tante contribuição do Acadêmico Lúcio Alcântara que tem trabalhado
fortemente pela solução do assunto.
O Presidente destacou o apoio jornalístico de Lúcio Brasileiro,
um amante do Palácio da Luz, da Praça dos Leões e da ACL.
O Presidente José Augusto Bezerra passou às mãos da Acadê-
mica Giselda Medeiros, para análise, pedido da escritora Ana Luíza
Almeida para ser sócia correspondente da ACL.
Foi feito o destaque para os seguintes aniversariantes do mês:
05-Marly Vasconcelos; 14-César Barros Leal e Giselda Medeiros;
24-Carlos d’Alge.
Após o Presidente José Augusto Bezerra consultar os participan-
tes e nada mais havendo a constar, agradeceu a presença de todos,
283
bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando por encerrada
a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
284
Relatório nº 07
285
mental sobre a história da Academia. As linhas gerais foram ajustadas
e ficou de voltar o mais breve, com os detalhes.
Ressaltados os pormenores da festividade de aniversário da ACL,
na qual será apresentado o novo Príncipe dos Poetas Cearenses, Linhares
Filho, que providenciará o convite para a solenidade, a qual ocorrerá em
agradável jantar nos salões do Ideal Clube, no dia 17/08/2016. Ficou re-
gistrado o apoio e o empenho do confrade Carlos Augusto Viana, Dire-
tor Cultural do Ideal Clube, para que tudo aconteça conforme o previsto.
O Presidente José Augusto Bezerra informou que naquela cele-
bração também será outorgada a medalha 120 anos –Benemérito, a
cada membro da entidade. Segundo ele, será um esforço da institui-
ção, dirigido justamente aos verdadeiros guardiões e mantenedores da
Academia Cearense de Letras.
Aprovado o modelo apresentado para o que será a bandeira
da Academia Cearense de Letras. Na inauguração do Palácio da Luz
já deverá constar nas panóplias instaladas nos auditórios, principal e
convencional da Instituição, bem como na sala da Presidência.
Aprovada a participação da ACL, como colaboradora, no con-
certo literomusical, promovido pela Orquestra Sinfônica do Ceará, em
homenagem às Academias de Letras Cearenses, no Teatro José de
Alencar, no dia 13 de outubro de 2016.
Aprovada a outorga de diplomas de agradecimento aos acadêmi-
cos ou não, que tenham colaborado para a reforma do Palácio da Luz.
A Acadêmica Angela Gutiérrez informou que o lançamento do
seu novo livro, O Silêncio da Penteadeira, ocorrerá no dia 30 de agosto
de 2016, às 19h, no Auditório maior da ACL, e aproveitou a oportuni-
dade para fazer o convite aos seus pares.
O Acadêmico Teoberto Landim, que, para nossa satisfação, está
retornando fortemente às atividades da ACL, ofereceu um exemplar
do seu novo livro Escalador de Sonhos e falou sobre seu conteúdo,
mostrando os desafios de se escrever, trabalhando ao mesmo tempo
em importantes outras missões.
286
O Monsenhor Manfredo falou da alegria de participar de mais
uma proveitosa e elevada reunião e disse que agora iria marcar a data
para o lançamento do seu novo livro, no auditório maior da ACL.
O Presidente José Augusto Bezerra esteve presente na solenidade
da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, na sessão em reme-
moração à D. Yolanda Queiroz, quando foi o orador convidado para
falar sobre a vida e a obra daquela importante personalidade cearense.
Também falaram de forma brilhante, cada um ao seu estilo, sobre D.
Yolanda, os Acadêmicos da ACL, Lúcio Alcântara e Cid Carvalho.
Foi distribuído entre os presentes à reunião o libreto Princesa Isabel
– a Redentora, edição comemorativa dos 170 anos da Princesa Imperial.
O Presidente José Augusto Bezerra, após consultar os participan-
tes e nada mais havendo a constar, agradeceu a presença de todos,
bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando por encerrada
a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
287
Relatório nº 08
288
Foi encaminhada a confecção da bandeira da entidade e das
placas faltantes com informações históricas sobre obras de arte ou de
pessoas homenageadas com o nome delas em salas da ACL.
Informado o estudo para uma iluminação na fachada, pela Sena
Madureira, para que o nome Palácio da Luz fique em sintonia com a
realidade, pois a frente da ACL, à noite, está muito escura.
O Presidente informou que está procurando ver a possibilidade
de implantar um sistema de pequenos pinos que dificultam ou impe-
dem a localização de pombos na fachada da ACL, pois sujam todas as
paredes e também restaurações realizadas.
Registrado o pleno êxito da reunião de aniversário da ACL no Ideal Clu-
be, no dia 17/08/2016, quando foi cumprido um significativo protocolo, o qual
constou da entrega da medalha 120 anos - Benemérito aos membros da ACL,
tendo sido feito um pequeno resumo da vida de cada homenageado. Foi entre-
gue a mesma bela medalha ao Secretário da Cultura, Fabiano Piúba, ao Secretá-
rio da Regional do Centro, Ricardo Sales, ao Presidente do Ideal Clube, Amarílio
Cavalcante, e à fundadora da SAL – Sociedade Amigas do Livro, a querida Su-
zana Ribeiro. Todos, permanentes parceiros e benfeitores da nossa Academia.
A segunda etapa da homenagem constou da apresentação ofi-
cial do novo Príncipe dos Poetas Cearenses, Linhares Filho, à comunida-
de cultural e também à comunidade social, dada a representatividade
das ilustres personalidades não pertencentes à ACL, que vieram presti-
giar o acontecimento. O novo Príncipe foi saudado, de forma magistral,
pelo laureado Acadêmico da ACL, Sânzio de Azevedo, seu amigo e
contemporâneo de atividades literárias, que traçou um impressionante
perfil, no tempo e no espaço, do homenageado, citando dados e fatos,
com preciosas interpretações, o que foi uma verdadeira aula. O novo
Príncipe dos Poetas fez um discurso de acolhimento da indicação de
forma também monumental, em peça literária que juntamente com
o da saudação, ficará nos anais da entidade, tanto pelo alto nível das
reflexões, quanto pela sonoridade poética das suas oralidades. Logo
após, seguiu-se um régio jantar, que recebeu a aprovação de todos. O
Presidente José Augusto Bezerra mencionou que, após a solenidade,
289
levou o confrade Sânzio de Azevedo para sua residência e ainda ecoava
em seus ouvidos as palavras do Sânzio, ditas baixinho, dentro do carro
e falando apenas para ele mesmo, que foram: - que noite maravilhosa!
Providenciada a abertura de uma conta na CEF para o recebimen-
to da verba para o Ciclo, conforme convênio com a SECULT. Registre-se
a burocracia desse fato, principalmente pelos bancos estarem em greve
e, tanto o Presidente José Augusto Bezerra como a Tesoureira, Giselda
Medeiros, tiveram que ir pessoalmente duas vezes à Agência, em horá-
rios diferentes, para atender as possibilidades internas da CEF.
Informado que o Minc está cobrando da entidade, em prazo
curtíssimo, o valor de R$ 15.000,00, referente à prestação de contas
do prêmio Osmundo Pontes, de 2004. A entidade recorreu e espera
um desfecho para dar uma definição a essa pendência.
Já encomendadas as cortinas faltantes para os demais locais da
ACL, aprovadas por todos.
Registrado o fato de que a ACL fez um ofício cobrando forte-
mente o cumprimento da segurança 24h para a Praça dos Leões, pro-
metida pela Prefeitura. Na realidade a ACL demanda a instalação do
trailer que proporcionará o apoio para os vigilantes poderem cumprir
decentemente suas atividades. Da mesma forma a ACL está cobrando
aos Poderes responsáveis uma solução para a implantação do estacio-
namento na rua Sena Madureira, para as pessoas que desejem visitar
a Praça dos Leões (General Tibúrcio).
Foi reiterado o convite para o lançamento do livro do confrade
Carlos Augusto Viana sobre a obra do poeta José Telles, no próximo
dia 15/09/2016, no Ideal Clube, às 19:30h.
Igualmente foi lembrado que o lançamento do livro Estação da
palavra, do Acadêmico Ubiratan Aguiar, ocorrerá no mesmo local, no
dia 22/09/2016. Solicitou-se a presença dos confrades ao evento.
Em virtude de, no dia 20/09/2016, terminar o prazo de inscrições
para a vaga que fora aberta para a sucessão do estimado confrade
José Telles, foi definida a seguinte Comissão Especial de Acadêmicos
para apreciação e parecer prévio, cumprindo-se orientação estatutá-
290
ria, sequencial, após o encerramento das inscrições: Beatriz Alcântara,
Ernando Uchoa lima e Regine Limaverde.
Informada a conclusão do belíssimo trabalho referente aos no-
vos jarros encomendados para o Jardim dos Poetas, cujas fotos se-
guem anexas, enviadas pela internet.
Informado que o parecer da Acadêmica Giselda Medeiros sobre
o pedido da escritora Ana Luíza Almeida, para ser sócia correspon-
dente da ACL, foi favorável, sendo acatado pelos presentes. Deverá
se proceder a coleta de 21 assinaturas e só após se informará à so-
licitante, a aprovação do seu nome. A secretária Cláudia Queiroz se
encarregará das providências administrativas.
Foi feito o destaque para os seguintes aniversariantes do mês:
07-Ubiratan Aguiar e 14 – Dimas Macedo.
O Presidente José Augusto Bezerra, após consultar os participan-
tes e nada mais havendo a constar, agradeceu a presença de todos,
bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando por encerrada
a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
291
Relatório nº 09
292
Providências para colocação do novo som no auditório grande,
com doze caixas distribuídas por entre as sancas do local, o que o ni-
vela aos melhores níveis técnicos da atualidade.
Recebimento pela ACL e, individualmente, pelos membros, do
livro Safira não é flor, romance do importante colaborador da entida-
de, Pádua Lopes.
Em andamento a publicação de três livros: Os Brilhantes, de Ro-
dolpho Theóphilo, prefaciado pelo Acadêmico Sânzio de Azevedo; O
Cajueiro do Fagundes, de Araripe Júnior, prefaciado pelo Acadêmico
Pedro Paulo Montenegro e Em Sonhos, de Alba Valdez, prefaciado
pela Acadêmica Angela Gutiérrez. Fazem parte da coleção Clássicos
Cearenses, cujo convênio para edição de um total de nove volumes
raros foi firmado pela ACL e a Fundação Demócrito Rocha. Esses três
livros iniciais deverão ser publicados até o final de dezembro, espera-
-se, pois já estão em processo de finalização.
Reiterado que a eleição para a cadeira nº 34, que está vazia,
ocorrerá no próximo dia 28/10/2016.
Registrada a presença do Presidente da ACL e de outros aca-
dêmicos no auditório da Reitoria, para prestigiar a posse do escritor
Roberto Victor, filho do colaborador Roberto Ribeiro, da AFL, no dia
27/09/2016.
O Presidente informa que está estudando a necessidade e a via-
bilidade de se colocar um novo ar condicionado no salão menor.
Registrada a entrega do Troféu Sereia de Ouro à Acadêmica An-
gela Gutiérrez, no dia 30/09/2016. A agraciada falou em nome dos
outros homenageados e deixou uma preciosa mensagem, a qual, atra-
vés de importantes reflexões, entusiasmou o público presente, que
a ovacionou em vários momentos do seu marcante discurso. A ACL
sente-se orgulhosa de, mais uma vez, ter um dos seus membros entre
os homenageados com a importante láurea.
Participação da Presidência na reunião mensal na casa do Aca-
dêmico Juarez Leitão, para o encontro “Tapioca e café”, que congrega
dezenas de importantes literatos. São servidos deliciosos ágapes, por
293
entre curiosos e interessantes causos literários, que se sucedem em
original bate-papo até tarde da noite.
Encontro da Presidência e da Acadêmica Angela Gutiérrez, com
o renomado artista Descartes Gadelha, ultimando-se os preparativos
para a conclusão dos dois bustos que adornarão a entrada da ACL,
bem como do quadro sobre o Palácio da Luz em sua gênese, que está
sendo criado pelo excepcional pintor.
Apresentada a bandeira da ACL, a qual foi aplaudida pelos pre-
sentes. Segundo depoimentos de alguns que ali estavam, distingue-se
pela simplicidade e expressividade, em sua plenitude.
Mencionado o esforço para se diminuir ou eliminar a presen-
ça de pombos nas paredes da entidade. A Presidência está procu-
rando usar recursos que apenas afugentem e não prejudiquem as
mencionadas aves.
A data definida para nossa reunião natalina foi o dia 12/12/2016,
a qual coincidirá com a eleição da nova Diretoria.
Após longa demanda, finalmente conseguiu-se, junto a Prefeitu-
ra, a iluminação da fachada da ACL, que estava na escuridão, à noite.
A funcionária Cláudia Queiroz passou a exercer a função de Di-
retora Administrativa Adjunta, a partir deste mês de novembro.
Informado o lançamento da obra Náufragos do Porto, sexto livro
do confrade Ednilo Soárez, Presidente do Instituto do Ceará, que ocor-
rerá no dia 27/10/2016, na rua Agerson Tabosa, ao lado da Faculdade
7 de Setembro.
Entrega pelo confrade Luciano Maia, que é um Acadêmico
muito conceituado internacionalmente, também, de um original da
importante Revista Ápices – de Buenos Aires, publicada sob a respon-
sabilidade do escritor Raul Lavalle. O Presidente agradeceu, em nome
da ACL, a grata contribuição trazida para a entidade, a qual contém,
entre outros importantes artigos, a tradução de uma valiosa bula papal
do acervo do Acadêmico José Augusto Bezerra.
Foi feito o destaque para o aniversariante do mês: 14/10 – F.S.
Nascimento.
294
Após o Presidente José Augusto Bezerra consultar os participan-
tes e nada mais havendo a constar, agradeceu a presença de todos e
bem como o espírito fraterno que ali prevaleceu, dando por encerrada
a produtiva reunião.
Cordialmente,
José Augusto Bezerra
Presidente
295
296
11ª Parte
Cadeira 2
PATRONOS OCUPANTES
Paulino Nogueira (1922) Guilherme Studart
Agapito dos Santos (1930) Amora Maciel
Álvaro Martins (atual) Luís Sucupira*
Atual: José Batista de Lima
Rua José Alves Cavalcante, 1163 - CEP 60.822-570 - Fortaleza - Ceará
1 Conforme estudo realizado pelo acadêmico José Murilo Martins, titular da cadeira nº 4
299
Cadeira 3
PATRONOS OCUPANTES
Senador Pompeu (1922) Tomás Pompeu
Álvaro Martins (1930) (Luís Sucupira)
Antônio Augusto (atual) Martins Filho
Atual: Carlos Augusto Viana
Rua: Manoel Jacaré, 171/1500 - CEP 60.175-110 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 4
PATRONOS OCUPANTES
Joaquim Catunda (1922) Antônio Augusto
Antônio Augusto (1930) J. J. Pontes Vieira
Antônio Bezerra (atual) (Raimundo Girão)
Milton Dias
Joaryvar Macedo
Atual: José Murilo de Carvalho Martins
Av. Beira Mar, 3660/401 - CEP 60.165-121 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 5
PATRONOS OCUPANTES
Adolfo Caminha (1922) Alf. Castro
Antônio Bezerra (1930) Antônio Furtado
Antônio Papi Júnior (atual) Fran Martins
Atual: Eduardo Diatahy Bezerra de Meneses
Rua Marlio Fernandes, 140 - Guararapes - CEP 60.810-025 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 6
PATRONOS OCUPANTES
Fausto Barreto (1922) Tomás Pompeu Sobrinho
Antônio Pompeu (1930) F. Alves de Andrade
Antônio Pompeu (atual) Natércia Campos
Atual: Virgílio Maia
Rua Joaquim Nabuco, 250/600 - CEP 60.125-120 - Fortaleza - Ceará
300
Cadeira 7
PATRONOS OCUPANTES
Liberato Barroso (1922) Antonino Fontenele
Araripe Júnior (1930) (Cruz Filho)
Clóvis Beviláqua (atual) Mário Linhares
Nertan Macedo
Atual : Marly Vasconcelos
Rua Martinho Rodrigues, 88 - Fátima - CEP 60.411-280 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 8
PATRONOS OCUPANTES
Álvaro Martins (1922) (Alba Valdez)
Capistrano de Abreu (1930) Valter Pompeu
Domingos Olímpio (atual) Fernandes Távora*
Aderbal Sales
Atual : Horácio Dídimo
Rua Moreira de Sousa, 525/403 - Parquelândia - CEP 60.450-080 - Fortaleza – Ceará
Cadeira 9
PATRONOS OCUPANTES
Tomás Lopes (1922) Carlos Câmara
Domingos Olímpio (1930) (Fernandes Távora)
Fausto Barreto (atual) Alencar Matos
João Clímaco Bezerra
Atual : Genuino Francisco de Sales
Rua Manuel Jesuíno, 728 - Varjota - CEP 60.175-270 – Fortaleza - Ceará
Cadeira 10
PATRONOS OCUPANTES
Lívio Barreto (1922) Sales Campos
Farias Brito (1930) Matos Peixoto*
Gonçalo Mororó, padre (atual) Abelardo Montenegro
Atual : Ednilo Soárez
Av. Beira Mar, 4777/1500 - CEP 60.165-121 - Fortaleza - Ceará
301
Cadeira 11
PATRONOS OCUPANTES
Antônio Bezerra (1922) (Otávio Lobo)
Fausto barreto (1930) Carvalho Júnior
Guilherme Studart, Barão (atual) Joaquim Alves
José Valdivino
Atual: Dimas Macedo
Rua Fonseca Lobo, 1355/801-A - CEP 60.175-020 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 12
PATRONOS OCUPANTES
Araripe Júnior (1922) (Cursino Belém)
Franklin Távora (1930) (Joel Linhares)
Heráclito Graça (atual) Natanael Cortez*
J. C. Alencar Araripe
Atual: José Augusto Bezerra
Av. Rui Barbosa, 748/800 - CEP 60.115-220 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 13
PATRONOS OCUPANTES
Martinho Rodrigues (1922) Soares Bulcão
Heráclito Graça (1930) (Natanael Cortez)
Jerônimo Tomé, dom (atual) Misael Gomes
Ribeiro Ramos
Cadeira 14
PATRONOS OCUPANTES
Antônio Ibiapina (1922) Jorge de Sousa
Jerônimo Tomé (1930) (Misael Gomes)
João Brígido (atual) Jáder de Carvalho*
José Maria Barros de Pinho
Atual: Ernando Uchoa Lima
Av. Beira-Mar, 4320/500 - CEP 60.165-121 - Fortaleza - Ceará
302
Cadeira 15
PATRONOS OCUPANTES
Antônio Martins (1922) José Lino da Justa
João Brígido (1930) (Jáder de Carvalho)
João Capistrano de Abreu (atual) Braga Montenegro
Atual: Padre Francisco Sadoc de Araújo
Rua da Ressurreição, 926 - Bairro: Pe. Ibiapina - CEP 62.022-345 - Sobral - Ceará
Cadeira 16
PATRONOS OCUPANTES
Antônio Ibiapina, padre (1922) Júlio Ibiapina
João Moreira (1930) Antônio Teodorico
João Franklin Távora (atual) Joel Linhares*
Newton Gonçalves
Atual: Maria Beatriz Rosário de Alcântara
Av. Antônio Justa, 3320/300 - CEP 60.165-090 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 17
PATRONOS OCUPANTES
José Avelino (1922) Álvaro de Alencar
Joaquim Catunda (1930) Renato Braga
Joaquim Catunda (atual)
Atual: Paulo Bonavides
Rua Manoelito Costa, 281- Lagoa Redonda - CEP 60.831-374 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 18
PATRONOS OCUPANTES
Soares Bezerra (1922) (Andrade Furtado)
Joaquim José Vieira, Dom (1930) Otávio Lobo*
José Cardoso de Moura Brasil (atual) Antônio Girão Barroso
Geraldo Fontenele
Atual: Angela Gutiérrez
Rua Deputado Moreira da Rocha, 865 - CEP 60.160-060 - Fortaleza - Ceará
303
Cadeira 19
PATRONOS OCUPANTES
Antônio Tibúrcio, general (1922) Raimundo Arruda
José Albano (1930) Martinz de Aguiar
José Albano (atual) Mozart Soriano Aderaldo
Atual: Juarez Leitão
Rua Silva Jatahy, 760/1000 - CEP 60.165-070 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 20
PATRONOS OCUPANTES
Tristão Araripe (1922) Antônio Drumond
José de Alencar (1930) Antônio Sales*
José Liberato Barroso (atual) Clodoaldo Pinto*
Atual: Cid Sabóia de Carvalho
Rua Gustavo Sampaio, 1999 - Alagadiço - CEP 60.455-001 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 21
PATRONOS OCUPANTES
Oliveira Sobrinho (1922) Raimundo Ribeiro
José Liberato Barroso (1930) (Clodoaldo Pinto)
José de Alencar (atual) Filgueiras Lima
Raimundo Girão*
Osmundo Pontes
Atual: Regine Limaverde
Rua Leonardo Mota, 460/202 - CEP 60.170-040 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 22
PATRONOS OCUPANTES
Paula Nei (1922) Quintino Cunha
Justiniano de Serpa (1930) Leiria de Andrade*
Justiniano de Serpa (atual) Alba Valdez*
Eduardo Campos
Atual: César Asfor Rocha
Av. Beira Mar, 1400 / 700 - CEP 60.165-121 – Fortaleza - Ceará
304
Cadeira 23
PATRONOS OCUPANTES
José Sombra (pai) (1922) José Sombra Filho
Lívio Barreto (1930) Elias Mallmann
Juvenal Galeno (atual) Henriqueta Galeno
Florival Seraine
Atual: Luciano Maia
Rua Paula Ney, 155/200 - CEP 60.140-020 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 24
PATRONOS OCUPANTES
Heráclito Graça (1922) Ferreira dos Santos
Mário da Silveira (1930) (Júlio Maciel)
Lívio Barreto (atual) Gastão Justa
Atual: Pedro Paulo Montenegro
Rua Visconde de Mauá, 3302 - CEP 60.125-125 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 25
PATRONOS OCUPANTES
Valdemiro Cavalcante (1922) Francisco Prado
Gonçalo Mororó. Padre (1930) Demócrito Rocha
Manuel de Oliveira Paiva (atual) Carlyle Martins
Cadeira 26
PATRONOS OCUPANTES
Visconde de Sabóia (1922) (Leiria de Andrade)
José Cardoso de Moura Brasil (1930) (Otávio Lobo)
Manoel Soares Bezerra (atual) Andrade Furtado*
Otacílio de Azevedo
Atual: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Av. Antônio Justa, 3320/300 - CEP 60.165-090 - Fortaleza - Ceará
305
Cadeira 27
PATRONOS OCUPANTES
Rocha Lima (1922) (Cruz Filho)
Manuel de Oliveira Paiva (1930) Papi Júnior*
Manuel Soriano Epifânio Leite
de Albuquerque (atual) Adonias Lima* – Durval Aires
Atual: César Oliveira Barros Leal
Rua José Carneiro da Silveira, 15/301 - CEP 60.150-260 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 28
PATRONOS OCUPANTES
João Brígido (1922) (Antônio Teodorico)
Oto de Alencar (1930) José Sombra Filho*
Mário da Silveira (atual) Leonardo Mota*
Júlio Maciel
João Jacques
Atual: Giselda Medeiros
Rua Castro Alves, 725 - CEP 60.130-210 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 29
PATRONOS OCUPANTES
Farias Brito (1922) (Matos Peixoto)
Paulino Nogueira (1930) Carlos Studart Filho
Paulino Nogueira (atual) Itamar Espindola
José Costa Matos
José Alves Fernandes
Atual: Ubiratan Diniz Aguiar
Rua Barbosa de Freitas, 1850/1300 - CEP 60. 170-020 - Fortaleza - Ceará
306
Cadeira 30
PATRONOS OCUPANTES
Alberto Nepomuceno (1922) (Beni Carvalho)
Senador Pompeu (1930) Adauto Fernandes
Raimundo Rocha Lima (Atual) Josaphat Linhares*
Atual: Linhares Filho
Rua Mário de Alencar Araripe, 185 - CEP 60.833-500 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 31
PATRONOS OCUPANTES
Domingos Olímpio (1922) (Fernandes Távora)
Pompílio Cruz (1930) Mozart Damasceno
Raimundo Farias Brito (atual) Leite Maranhão
Cursino Belém
Cláudio Martins – Francisco Carvalho
Atual: Maria de Lourdes Dias Leite Barbosa
Rua Bento Albuquerque, 399/702 - CEP 60.190-080 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 32
PATRONOS OCUPANTES
Franklin Távora (1922) (Leonardo Mota)
Raimundo Rocha Lima (1930) (Josaphat Linhares)
Raimundo Ulisses Pennafort, J. V. Ribeiro Ramos
cônego (atual) Moreira Campos
Rachel de Queiroz
Atual: Napoleão Nunes Maia Filho
Rua Cônego Braveza, 475 - CEP 60.822-820 - Fortaleza - Ceará
307
Cadeira 33
PATRONOS OCUPANTES
Visconde de Sabóia (1930) (Antônio Sales)
Rodolfo Teófilo (atual) (Tomás Pompeu Filho)
Perboyre e Silva
Otacílio Colares
Atual: Noemi Elisa Aderaldo
Rua Andrade Furtado, 333 / Apto 101 - CEP 60.192-070 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 34
PATRONOS OCUPANTES
Samuel Uchoa (1930) (Papi Júnior)
Samuel Uchoa (atual) Dolor Barreira
J. Figueiredo Filho
Denizard Macedo
Vinicius Barros Leal
Atual: José Telles da Silva (vaga – Falecimento, 2 junho 2016)
Rua Barbosa de Freitas, 101/702 - CEP 60.170-020 - Fortaleza - Ceará
Eleito: Flávio Leitão – (28 outubro de 2016)
Cadeira 35
PATRONOS OCUPANTES
Manuel Soriano Albuquerque (1930) João Augusto Frota, Padre
Tomás Pompeu (atual) Teodoro Cabral
Livino de Carvalho
Cândida Galeno
Argos Vasconcelos
Atual: João Soares Neto
Rua Ildefonso Albano, 200/100 - CEP 60.115-000- Fortaleza - Ceará
308
Cadeira 36
PATRONOS OCUPANTES
Tibúrcio Rodrigues (1930) Rodolfo Teófilo
Tomás Pompeu, senador (atual) J. Martins Rodrigues
Hugo Catunda
Atual: Carlos Neves d’Alge
Rua São Gabriel, 300/1701 - Aldeota - CEP 60.135-450 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 37
PATRONOS OCUPANTES
Tomás Lopes (1930) (Adonias Lima)
Tomás Lopes (atual) Mozart Firmeza
Manoel Albano Amora
Atual: Teoberto Landim
Av. Barão de Studart, 1966/502 - CEP 60.120-001 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 38
PATRONOS OCUPANTES
Tomás Pompeu (1930) (Júlio Maciel)
Tibúrcio Rodrigues (atual) Monte Arrais
Menezes Pimentel
Atual: F. S. Nascimento
Rua Prof. Francisco Gonçalves, 1104/202 - CEP 60.135-430 - Fortaleza - Ceará
309
Cadeira 39
PATRONOS OCUPANTES
Ulisses Pennafort, Cônego (1930) Moreira Azevedo
Tristão de A. Araripe Júnior (atual) Beni Carvalho*
Cruz Filho*
Plácido Aderaldo Castelo
José Rebouças Macambira
Atual: Mauro Benevides
Rua Tiburcio Cavalcante, 700/21.and. - CEP 60.125-100 - Fortaleza - Ceará
Cadeira 40
PATRONOS OCUPANTES
Luis Miranda (1922) Antônio Tomás, Padre
Valdemiro Cavalcante (1930) Emídio Barbosa
Visconde de Saboia (atual) Carlos Oliveira Ramos
Tomás Pompeu Filho*
Artur Eduardo Benevides
Atual: Durval Aires Filho
Rua Nelson Studart, 227 - CEP 60.811-040 - Fortaleza - Ceará
310