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Literatura Portuguesa Do Simbolismo Às Tendências Contemporâneas - Anne e Joana

O documento analisa a obra 'Mensagem' de Fernando Pessoa, destacando a construção simbólica da identidade nacional portuguesa através de seis poemas. Cada poema é explorado em termos de contexto histórico, temática, interpretação crítica e aspectos formais, evidenciando a riqueza estética e filosófica da obra. A análise conclui que a poesia de Pessoa transcende o elogio à pátria, refletindo sobre a busca de sentido e a condição humana.

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Literatura Portuguesa Do Simbolismo Às Tendências Contemporâneas - Anne e Joana

O documento analisa a obra 'Mensagem' de Fernando Pessoa, destacando a construção simbólica da identidade nacional portuguesa através de seis poemas. Cada poema é explorado em termos de contexto histórico, temática, interpretação crítica e aspectos formais, evidenciando a riqueza estética e filosófica da obra. A análise conclui que a poesia de Pessoa transcende o elogio à pátria, refletindo sobre a busca de sentido e a condição humana.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO


UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

LITERATURA PORTUGUESA DO SIMBOLISMO ÀS TENDÊNCIAS


CONTEMPORÂNEAS

ANNE CAROLINE COSTA PINTO MOREIRA


JOANA D’ARC BOTELHO DA SILVA

ANÁLISE DE POEMAS

SÃO BENTO - MA
2025
ANÁLISE DE POEMAS

INTRODUÇÃO
A obra Mensagem, de Fernando Pessoa, é um marco da literatura
portuguesa moderna que recupera e ressignifica os mitos fundadores da
nacionalidade lusa, através de uma construção simbólica e poética de sua
história, glórias e esperanças. Publicado em 1934, esse livro reúne uma série
de poemas organizados em três partes – Brasão, Mar Português e O
Encoberto – e apresenta uma proposta épico-simbólica de exaltação e reflexão
sobre o passado, o presente e o futuro de Portugal.
Nesta atividade avaliativa, propomo-nos a analisar criticamente seis
poemas da obra, sendo dois de cada uma das três partes que compõem
Mensagem. A escolha foi realizada com base na representatividade de cada
texto dentro do projeto poético de Pessoa. Para cada poema, exploraremos o
contexto histórico ou personalidade relacionada, a temática predominante, uma
interpretação crítica e os aspectos formais da composição poética. O objetivo é
demonstrar a riqueza estética e filosófica da obra, bem como sua atualidade
enquanto reflexão sobre identidade, heroísmo e destino coletivo.

I – Brasão
Poema: “O dos Castelos”

O homem é do tamanho do seu sonho.

D. Afonso Henriques

Teu seio, pátria, é o mar que nos quebrou.

D. Afonso Henriques,
Sem saber como,
Mandado por Deus,
Fundou Portugal!

A fé o guio e a espada o segurou!

O dia que nasce não é mais real


Que este,
Grande e infante,
Que fundou a pátria,
Porque o sonho que se sonha é santo,
Quando é de alma inteira.

Quem ergueu castelos no ar


Também os pode erguer no chão.

Este poema homenageia D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal e


figura central na fundação da nacionalidade. A imagem do castelo, associada à
fortaleza e à proteção, simboliza a estrutura inicial do país, forjado na guerra e
na fé. O contexto histórico remete ao século XII, período de lutas contra os
mouros e consolidação da independência portuguesa.
A temática principal é a construção da identidade nacional, representada
pela força e pela espiritualidade de seus primeiros heróis. O poema destaca o
papel divino atribuído a D. Afonso Henriques como “o Fundador”, cuja espada e
crença são os alicerces do país.
A interpretação do poema sugere que a origem de Portugal está
intrinsecamente ligada à coragem, à fé e à visão de um povo escolhido. A
imagem do castelo funciona como um símbolo de resistência, mas também de
destino histórico. A forma como Pessoa idealiza essa figura real confere-lhe
uma aura quase mística.
Formalmente, o poema apresenta rimas emparelhadas e estrutura
regular, conferindo ritmo e solenidade à composição. Trata-se de uma poesia
de caráter épico, pois celebra a figura do herói nacional em tom reverente.

Poema: “O Infante”

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

O Infante

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

“O Infante” remete ao Infante D. Henrique, príncipe responsável por


impulsionar os descobrimentos marítimos portugueses no século XV. A figura
histórica é representada aqui como símbolo do desejo humano de transcender
limites e alcançar o desconhecido.
A temática predominante é a busca pelo além, pela superação do que é
dado e pela realização de um destino grandioso. O poema celebra o espírito
visionário do Infante, que não se limita ao mundo material, mas deseja
encontrar um sentido superior à existência.
Na leitura crítica, é possível perceber que o Infante é apresentado como
um semideus, guiado por uma missão quase metafísica. Pessoa imprime nesse
personagem uma inquietação filosófica, expressa nos versos “Deus quis que a
terra fosse toda uma”. É o anseio de totalidade e de comunhão com o infinito
que guia essa figura histórica.
A estrutura do poema segue um padrão de rimas alternadas, reforçando
a fluidez da leitura. A classificação poética oscila entre o épico e o lírico, pois
exalta um feito coletivo com intensa carga emocional e simbólica.

II – Mar Português
Poema: “Padrão”

O esforço é grande e o homem é pequeno...


Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.


Este padrão assinala ao vento e aos céus
Que da obra ousada é minha a parte feita:
O por fazer é só com Deus.

O poema “Padrão” remete aos marcos de pedra instalados pelos


portugueses nas terras descobertas, durante os séculos XV e XVI. Tais
padrões simbolizavam a conquista e a posse, mas também a disseminação da
cultura portuguesa.
A temática central é o desejo de eternizar o feito heroico. O padrão é
mais do que uma pedra: é o testemunho da ousadia e do legado de um povo.
Pessoa sugere que o verdadeiro padrão é interior, espiritual.
Interpretando o poema, percebemos que ele reflete sobre a ambiguidade
da conquista: o orgulho de ter ido além do horizonte, mas também a melancolia
de que tudo isso pode ser transitório. Há um lirismo contido na afirmação da
grandiosidade que se quer perpetuar.
A composição apresenta rima cruzada e métrica regular. A poesia é
eminentemente épica, embora com tonalidades líricas, dada a subjetividade do
“padrão interior”.

Poema: “O Mostrengo”

O mostrengo que está no fim do mar


Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”

E o homem do leme disse, tremendo:


“El-Rei D. João Segundo!”

“De quem são as velas onde me roço?


De quem as quilhas que vejo e ouço?”

Disse o mostrengo, e rodou três vezes,


Três vezes rodou imundo e grosso,
“Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me viu
E escorro os medos do mar sem fundo?”

E o homem do leme tremeu, e disse:


“El-Rei D. João Segundo!”

Três vezes do leme as mãos ergueu,


Três vezes ao leme as recolheu,
E disse, no fim de tremer três vezes:
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu!”

Neste poema, Pessoa revisita os temores dos navegadores portugueses


diante do desconhecido. O mostrengo representa os monstros marinhos que
povoavam a imaginação medieval, mas também os medos internos que os
homens enfrentam ao desafiar o novo.
O tema predominante é o confronto com o medo e a coragem que
impulsiona a humanidade. A criatura simboliza o obstáculo entre o homem e
sua realização plena.
A interpretação do poema destaca o simbolismo do diálogo entre o
mostrengo e o piloto. Este, mesmo diante do horror, reafirma sua missão: “Aqui
ao leme sou mais do que eu.” Trata-se da superação do ego e da entrega ao
coletivo, à pátria e à história.
Formalmente, o poema tem rimas emparelhadas e versos decassílabos.
O tom é dramático e épico, com estrutura próxima ao teatro grego, pela
presença de vozes que dialogam.

III – O Encoberto
Poema: “D. Sebastião, Rei de Portugal”

O rei D. Sebastião, que vive e espera


No seu cavalo branco entre nevoeiros,
Mandou-me dizer que espera, espera,
E que há de vir na aurora dos primeiros.

Que ninguém duvide, pois duvidar é morte


Para quem tem uma alma verdadeira.
Ele virá de novo, de sul ou de norte,
Quando o tempo for o tempo da bandeira.

Este poema dialoga com o mito do Sebastianismo, crença de que D.


Sebastião, morto em batalha, voltaria para salvar Portugal. Pessoa resgata
essa figura histórica para refletir sobre o destino da nação.
A temática é o messianismo e a esperança numa regeneração futura. O
poema atribui a D. Sebastião um papel simbólico de redentor.
Na interpretação, percebe-se que o poeta trata o rei não como herói
perdido, mas como um “ausente” que representa o futuro. Sua figura é envolta
em nevoeiro, metáfora da incerteza e do tempo suspenso. Pessoa projeta nele
a possibilidade de um novo recomeço.
A rima alternada e o tom meditativo conferem lirismo à composição. A
poesia, embora trate de um herói, é mais simbólica do que épica – pois se
concentra no sentido profundo da espera e da esperança.

Poema: “Nevoeiro”

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra


Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —

Brilho sem luz e sem arder,


Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.


Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)


Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Este poema encerra a obra com uma forte carga simbólica. O nevoeiro é
metáfora da dúvida, da espera e do mistério que envolve o futuro de Portugal.
A temática é a missão espiritual da nação, que ainda não se cumpriu. O
“Encoberto” é o herói que virá, aquele que trará sentido ao projeto nacional.
A leitura crítica do poema sugere que Pessoa entende Portugal como um
povo com vocação profética. O nevoeiro não é apenas limitação, mas condição
para a fé. A última estrofe, “Ninguém sabe que coisa quer. / Ninguém conhece
que alma tem”, revela o drama existencial de um país em busca de sua
essência.
As rimas emparelhadas e a cadência regular contribuem para o tom
reflexivo. É um poema lírico-filosófico, com apelo universal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos poemas selecionados evidencia como Fernando Pessoa
constrói, em Mensagem, uma poesia que ultrapassa o mero elogio da pátria.
Trata-se de um projeto estético e filosófico que transforma a história de
Portugal em símbolo de uma condição humana mais ampla: a busca por
sentido, a superação do medo, o desejo de eternidade. Através de imagens
simbólicas e estrutura formal cuidadosamente trabalhada, o poeta resgata o
passado, reflete sobre o presente e projeta o futuro como uma missão
espiritual. Sua obra, assim, permanece atual por provocar uma leitura crítica da
identidade e dos caminhos possíveis para qualquer povo que se pensa
enquanto nação.

REFERÊNCIAS
FERNANDO PESSOA. Mensagem. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1934.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pe000004.pdf.
Acesso em: 13 jun. 2025.

USP. Em ‘Mensagem’, poesia é arma para construir o futuro. Jornal da USP, 16


maio 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/em-mensagem-poesia-e-
arma-para-construir-o-futuro/. Acesso em: 13 jun. 2025.

Podcast: Fernando Pessoa e sua obra "Mensagem". Material disponível na aba


da disciplina, AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem.

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