!meningite e Endocardite
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endocardite
Relevância: Alta
Todos as aulas da Mentoria possuem relevância moderada, alta ou muito alta,
baseado na incidência nas provas de residência médica dos últimos 5 anos.
Meningite e endocardite
Um tema algo incomum nas provas de residência, entretanto, prestando bastante atenção,
SEMPRE CAI ALGO DE MENINGITES. Pelo menos, nos últimos anos, uma ou outra questão
estava lá. Preste atenção nas condutas necessárias, tratamento e diagnóstico diferencial pelo
líquor. Já nas endocardites, conheça o jeitão da doença e entenda que FEBRE DE ORIGEM
DESCONHECIDA+ESPLENOMEGALIA+SOPRO é igual a ENDOCARDITE na sua prova.
E aí, pronto para gabaritar tudo relativo ao tema? Então vamos!!
Meningites
Conceito
Meningite é a inflamação das meninges, principalmente da leptomeninge. Para começar,
relembraremos rapidamente um pouco sobre a anatomia das meninges. São 3:
• Aracnoide: como uma aranha, esta emite teias que entram em contato com
a pia-máter. Entre estas trabéculas fica um espaço conhecido como espaço
subaracnoideo, onde corre o líquido cefalorraquidiano ou líquor (LCR). Forma, junto
à pia-máter, a leptomeninge.
Epidemiologia
A meningite bacteriana pode ser dividida em comunitária e associada a cuidados de saúde.
A comunitária ocorre mais no inverno e 90% dos casos são em crianças até 5 anos. Já com relação
a cuidados de saúde, neurocirurgia, traumatismo cranioencefálico (TCE) e fratura de base de crânio
são red flags importantes.
Etiologia
• No Brasil: o meningococo ocupa o 1º lugar (N meningitidis);
• No mundo: o pneumococo ocupa o 1º lugar (Streptococcus pneumoniae) e o
meningococo vem em segundo lugar.
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Meningite e endocardite
Pensar quando o caso falar em otite associada ou quadro respiratório. Nesse caso,
Streptococcus pneumoniae especificamente, a questão pode cobrar como agente etiológico o Haemophilus
influenzae também.
Pela idade:
Crianças Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae B (crianças não vacinadas).
Quadro clínico
Na sua prova, a tríade da meningite é muito prevalente. Logo, você deve suspeitar de meningite se
febre + alteração do nível de consciência + rigidez de nuca. A alteração do nível de consciência
é presente em 75% dos casos, associando-se a náuseas, vômitos e fotofobia. Cefaleia é bastante
frequente, de maneira que a colocam na tríade clássica em diversas referências. Crises convulsivas
podem ser vistas em 20% dos casos.
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Exame físico
Lembrar da tríade de Cushing (hipertensão arterial, bradicardia e alteração do ritmo respiratório) que
demarca a hipertensão intracraniana. Além disso, pode haver paralisia do 6º par (nervo abducente)
pela sua compressão no seio cavernoso, pupilas midriáticas e pouco reativas (pela compressão do
ramo parassimpático que corre externo ao 3º nervo craniano (nervo oculomotor). Além de postura de
descerebração em casos graves.
Os sinais de irritação meníngea, como Kernig, Brudzinski e Lewinson (clássico da irritação meníngea)
têm baixa especificidade e sensibilidade, porém, na sua prova eles são muito comuns.
Manobra para avaliar sinal de Kernig. Manobra para avaliar o sinal de Lewinson
ou parte da manobra de Brudzinski.
Se na prova houver petéquias e púrpuras, ligue o radar para meningococcemia (esta pode ocorrer tão
rápido que não dá tempo de haver meningite).
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Conduta
• Se paciente sem contraindicação à punção lombar: antibioticoterapia precoce +
punção lombar + hemocultura.
Idade Antibióticos
Nosocomial, pós-TCE,
Ceftazidima (cefalosporina de terceira geração que cobre Pseudomonas)
pós-neurocirurgia,
ou cefepime (cefalosporina de quarta geração) ou
neutropênicos, déficit de
meropenem + vancomicina + ampicilina
imunidade celular
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Punção lombar
Procedimento estéril no qual se acessa o espaço subaracnoideo por meio de punção nos espaços
intervertebrais abaixo de L3 (logo, L3-L4 ou L4-L5 ou L5-S1) com o paciente em posição fetal e em
decúbito lateral.
Análises a realizar durante a punção:
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E na análise laboratorial:
7. Látex para fungos, PCR para diversos agentes infecciosos e ELISA podem ser
solicitado, além de coloração com Tinta da China (nanquim).
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Se hemófilo (H. influenzae): Feito com RIFAMPICINA 600 mg VO por 4 dias com 1 comprimido por
dia ou 20 mg/Kg/dia em crianças.
Indicações:
Meningites virais
Quadro clínico
Geralmente semelhante à bacteriana, porém, menos grave. Sinais de irritação meníngea
geralmente ausentes.
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Vírus envolvidos
Os enterovírus (coxsackie, ecovírus etc.) causam 75-90% dos casos. Outros vírus que podem
causar são Herpes-virus (HSV), varicela zoster (VSV), Epstein-Barr e HIV, na maioria dos casos
restantes.
Diagnóstico
Através do LCR, que mostrará aumento da celularidade (porém com < 500 células/mm³) com
predomínio de mononucleares. Elevação discreta de proteínas e glicose normal, na maioria das
vezes. Pode-se fazer o diagnóstico etiológico mediante: sorologia pareada, coprocultura para vírus e
cultura de secreções de nasofaringe (primeiros 3 dias de doença). A PCR para vírus é o método mais
sensível dentre os últimos citados.
Tratamento
Geralmente suporte e sem internação.
No entanto, nos casos de meningoencefalite herpética, causada pelo HSV-1, devemos ficar atentos
para MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS E SINAIS NEUROLÓGICOS FOCAIS E DIFUSOS. O LCR
pode apresentar mais de 500 hemácias/mm³ em 20% dos pacientes. A ressonância nuclear
magnética pode apresentar hiperintensidade em lobos temporais (fica mais claro). O diagnóstico
é feito pela PCR do LCR e, em caso de dúvida da etiologia (entre bacteriana e por HSV-1), iniciar
tratamento para ambos. O tratamento é feito com aciclovir 10 mg/kg IV de 8/8 horas por 14-21 dias,
com repetição da punção lombar e PCR do líquor após este período. Bastante grave e comumente
podendo deixar sequelas.
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CCQ:
Preste atenção na celularidade, glicose e nas proteínas do
líquor para descobrir o agente etiológico.
Resposta: sabendo que o sinal de Brudzinski foi colocado para firmar o diagnóstico de meningite,
olharemos o líquor para avaliar o agente etiológico. O aumento de celularidade, principalmente
às custas de neutrófilos, associado ao quadro de início súbito (lembrar que tuberculosa e fúngica
costumam ser mais indolentes) e o aumento de proteínas fecha o diagnóstico de muito provável
meningite bacteriana. Não dou certeza, pois não tenho coloração de gram (bacterioscopia) ainda.
Porém, não brigaremos com a questão. Se a meningite é bacteriana, começaremos o tratamento de
um jovem brasileiro com ceftriaxone. Resposta, letra B.
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Endocardite
A endocardite é uma infecção microbiana que geralmente acomete as valvas cardíacas, entretanto,
também pode acometer defeitos septais, cordoalha tendínea e o endocárdio mural (parte de dentro
da parede do coração).
Classificação:
• Aguda: menos de 6 semanas entre o início do quadro e o óbito.
• Subaguda: mais de 6 semanas.
• Pode ser classificada quanto à clínica também, de modo que tendem a apresentar
patógenos diferentes para cada tipo das apresentações.
• Aguda: febre alta e rebaixamento do estado geral.
• Subaguda: febre baixa arrastada, perda ponderal e sudorese noturna.
Epidemiologia
Idade média dos pacientes: 47-69 anos. Os homens são mais acometidos do que as mulheres,
exceto entre os menores de 35 anos. As condições cardíacas predisponentes são uso de drogas
intravenosas, doenças degenerativas das valvas (entre elas, a cardiopatia reumática), uso de
dispositivos intratorácicos (como próteses valvares) e infecções nosocomiais.
Fisiopatologia
Um jato de sangue concentrado ou em alta velocidade acaba por lesar o endotélio. Rapidamente, o
corpo tende a criar uma endocardite trombótica não bacteriana (composta por plaquetas e fibrina em
sua maioria) nesses locais de facilidade de aderência plaquetária, principalmente em uma situação
de hipercoagulabilidade. Na presença de uma bacteremia qualquer, seja por procedimento dentário
ou cirúrgico, essas bactérias se fixam naquela lesão e reproduzem. Após uma sessão importante de
reprodução, aquela endocardite pode enviar êmbolos sépticos para qualquer região do corpo.
Fatores de risco
b) Próteses valvares: não são a maioria dos casos nos países desenvolvidos.
Se apresentar até 2 meses após a colocação da prótese, é considerada
precoce (e possivelmente com bactérias de origem hospitalar). Se após 1
ano, é considerada tardia (e possivelmente com bactérias consideradas
comunitárias). Qual diferença isso faz? Sabendo isso, podemos guiar o
tratamento pensando em qual o agente etiológico. O período entre 2 meses e
um ano não é caracterizado, podendo ocorrer etiologias diversas!
f) Doenças sistêmicas: diabetes, doença renal crônica e HIV são fatores de risco,
inclusive correlatos a agentes patogênicos não usuais, como Salmonella e
Streptococcus pneumoniae.
Microbiologia
Válvulas nativas:
Endocardite aguda: Staphylococcus aureus é o principal, podendo causar, inclusive a chamada tríade
de Austrian (ou tríade de Osler) que envolve endocardite, meningite e pneumonia.
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Meningite e endocardite
Endocardite subaguda: Streptococcus viridans (grupo com diversos estreptococos que habitam
a orofaringe. Entre eles há, S. mutans, S. sanguis e S. mitis). Entre idosos com lesões colônicas,
pensar em Streptococcus gallolyticus (antigo Streptococcus bovis). Os enterococos são o segundo
colocado entre os causadores de EI subaguda em valvas nativas e são ligados à bacteremia durante
manipulação do trato urinário (a maioria das lesões deste grupo é causada pelo Enterococcus faecalis).
O famoso grupo HACEK é um conjunto de bactérias gram-negativas que causam endocardite
raramente. O nome é um acrônimo para Haemophillus parainfluenzae, Haemophilua aphrophilus,
Actinobacillus actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella
kingii. Houve mudança taxonômica em alguns destes nomes, porém, o fato é irrelevante para as
provas de residência.
Próteses valvares
• Precoce (<2 meses): Estafilococos coagulase-negativos (epidermidis, principalmente),
S aureus, bacilos gram-negativos e espécies de Candida.
• Intermediária (2 meses a 1 ano): Estafilococos coagulase-negativos, S. aureus,
estreptococos e enterococos.
• Tardia (> 1 ano): estreptococos, S. aureus, estafilococos coagulase-negativos
e enterococos.
Staphylococcus aureus
Precoce (< 2 meses)
Staphylococcus epidermidis
Principais agentes causadores da endocardite de valva mecânica de acordo com o tempo de evolução.
Manifestações clínicas
Como a endocardite pode enviar êmbolos sépticos para diversos locais, a clínica pode ser muito
variada, causando confusão ao diagnóstico. A febre é o sintoma mais comum, estando presente em
85-90% dos casos. Sopro cardíaco novo também é um achado que levanta suspeita de endocardite
(sendo rara essa apresentação).
Assim, no quadro indolente, a presença de febre baixa, astenia, perda de peso, sudorese noturna
(lembra bastante tuberculose sem tosse) e sopro cardíaco à ausculta. Os sinais periféricos de
endocardite devem ser pesquisados, assim como os critérios de Duke. Achados laboratoriais, como a
VHS aumentada ou fator reumatoide positivo são comemorativos que podem estar presentes.
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Já o quadro agudo é agressivo. Toxemia importante, febre elevada, sopro cardíaco e prostração
importante são vistos. O laboratório conta com leucocitose e VHS elevada.
Manchas de Janeway.
Imunológicos:
Manchas de Roth.
2. Poliartrite ou poliartralgia.
Nódulo de Osler.
Tudo isso é muito bonito, entretanto, na sua prova, a endocardite será, na maioria das vezes: sopro
+ febre + ESPLENOMEGALIA.
(UEVA - 2018) No exame físico de uma mulher com febre recorrente há duas semanas, você observa
máculas eritematosas, hemorrágicas, indolores nas palmas das mãos, conforme ilustração a seguir.
A principal hipótese diagnóstica é:
CCQ:
Em questões que aparecer febre associada à alguma imagem,
a imagem terá o diagnóstico pedido pela questão.
Resposta: sabendo que se trata de um quadro típico de endocardite, sem lesões articulares, manchas
rosa-salmão, adenomegalias ou qualquer pista que aponte para as outras opções, firmamos o
diagnóstico ao reconhecer a fotografia das manchas de Janeway. Resposta certa, letra D.
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Exames complementares
Eletrólitos, ureia e creatinina, VHS, EAS/urina tipo 1, Radiografia de tórax, ECG, 3 hemoculturas
colhidas e um ecocardiograma (de preferência, transesofágico). Os exames renais para verificar
lesões possíveis por êmbolos e os cardíacos para verificação de lesões ao miocárdio. As hemoculturas
fazem parte dos critérios diagnósticos.
Critérios diagnósticos
Critérios de Duke modificados
Maiores:
1) Microorganismos típicos causadores de EI (endocardite infecciosa) isolados em
duas amostras de hemoculturas separadas (ex.: S. viridans, HACEK, S. aureus e
enterococcus).
Ou
Hemoculturas persistentemente positivas para microorganismo consistente com EI:
• 2 hemoculturas positivas com mais de 12 horas de diferença; ou
• 3 hemoculturas (todas positivas);
• 4 ou mais hemoculturas (maioria positiva) com mais de 1 hora de diferença
Ou
Uma única cultura positiva para Coxiella burnetii ou um título do anticorpo antifase
I IgG>1:800.
Menores:
2) Febre ≥ 38ºC;
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3) Caso não cresça nada na cultura em 48-72h, deve-se colher duas novas
hemoculturas.
Tratamento:
Diverge de acordo com as referências (Harrison, Cecil e AHA), entretanto, deve-se ter em mente
que, na maioria das vezes, é necessário iniciar a cobertura para S. aureus, com altas doses e longa
duração, até que saiam os resultados das hemoculturas. Além disso, o uso de terapia sinérgica de um
antibiótico que aja na parede celular (penicilina, ampicilina, Vancomicina) com um aminoglicosídeo
apresenta maior eficácia.
2. Se o MIC for entre 0,12 e 0,5 µg/mL, usar Pen G 4 milhões IV 4/4h por 4 semanas
ou ceftriaxone (mesma dose acima) + genta (mesma dose acima) por 2 semanas///
ou vancomicina apenas com dose acima por 4 semanas.
ASSIM, SEMPRE QUE USAR OS ANTIBIÓTICOS ACIMA LISTADOS, A DOSE
SERÁ A CITADA NO ITEM 1, EXCETO AS QUE TIVEREM A DOSE ESPECIFICADA.
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7. Se MRSA em valva protética: mesmo que item 5, trocar a oxacilina por vancomicina.
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Indicações de cirurgia
Problemas neurológicos, como AVEs devem retardar a cirurgia. Se isquêmico, por 2 a 3 semanas;
se hemorrágico, por 4 semanas. Múltiplas trocas valvares prévias e uso concomitante de drogas
contraindicam a cirurgia. As indicações são muito contraditórias, de modo que é um tema estudado
caso-a-caso, logo, dificilmente cairá na sua prova, exceto em casos absolutos, como:
Profilaxias
Critérios relativos ao paciente:
2. História de EI prévia;
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Drogas indicadas:
1. AMOXICILINA 2g 30-60 minutos antes do procedimento. Se alérgico, usar
clindamicina 600 mg ou azitromicina/claritromicina 500 mg.
2. Se não consegue utilizar via oral, AMPICILINA 2g IM ou IV. Se alérgico, usar
ceftriaxone/cefazolina 1g ou clindamicina 600 mg.
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